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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa Universidade Federal da Paraíba 15 a 18 de agosto de 2017 ISSN 2236-1855 4395 PERIÓDICOS EDUCACIONAIS BRASILEIROS NA CONFORMAÇÃO DAS DISCIPLINAS OU CORPOS DE SABERES DA DIDÁTICA EM INSTITUIÇÕES DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL: A REVISTA DIDÁTICA (1964-1975) EM FOCO 1 Rosane Michelli de Castro 2 Viviane Cássia Teixeira Reis 3 Introdução Nesta comunicação apresentamos resultados parciais da pesquisa “A história da Didática em instituições de formação de professores no Brasil (1827-2011) fase II: periódicos educacionais brasileiros na conformação das disciplinas ou corpos de saberes de Didática”, cujo objetivo geral é o de identificar, reunir, sistematizar e analisar aspectos de periódicos educacionais brasileiros, os quais teriam contribuído para a conformação das disciplinas ou corpos de saberes tidos como propriamente da Didática em instituições de formação de professores no Brasil, entre 1827 e 2011. O nosso interesse em desenvolver pesquisa histórica sobre a Didática em instituições de formação de professores no Brasil, como corpo de saberes sobre o “como ensinar”, entre 1827 e 1930, e como disciplinas, após 1930, é decorrente, num primeiro momento, da nossa crença de que, mediante os aspectos constitutivos da história da Didática, dos vários cursos de formação de professores no Brasil, em funcionamento em momentos históricos distintos, é possível se constituir o que se pode chamar de História da Didática na formação de professores no Brasil. Essa nossa formulação está pautada em Chervel (1990), para quem, uma disciplina escolar, 4 não existe fora da instituição e distante do saber do professor que a constituiu. 1 Esta comunicação é decorrente de pesquisa, cuja primeira fase foi financiada pela FAPESP. Processo 2012/10609-0. Dessa maneira, agradecemos esse apoio financeiro. 2 Doutora em Educação pela UNESP Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Filosofia e Ciências-FFC Campus de Marília, Professor Assistente Doutor do Dep. de Didática e do Programa de Pós-Graduação em Educação-PPGE, dessa faculdade. E-Mail: [email protected]. 3 Doutoranda em Educação junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação-PPGE da UNESP Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Faculdade de Filosofia e Ciências-FFC Campus de Marília. E- MAIL: [email protected]. 4 Em nossa pesquisa, as disciplinas de Didática, tanto das escolas normais de nível médio, como das instituições educacionais de formação de professores de nível superior, estão sendo tomadas como disciplinas escolares.

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ISSN 2236-1855 4395

PERIÓDICOS EDUCACIONAIS BRASILEIROS NA CONFORMAÇÃO DAS DISCIPLINAS OU CORPOS DE SABERES DA DIDÁTICA EM INSTITUIÇÕES

DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL: A REVISTA DIDÁTICA (1964-1975) EM FOCO1

Rosane Michelli de Castro 2

Viviane Cássia Teixeira Reis 3

Introdução

Nesta comunicação apresentamos resultados parciais da pesquisa “A história da

Didática em instituições de formação de professores no Brasil (1827-2011) –

fase II: periódicos educacionais brasileiros na conformação das disciplinas ou corpos de

saberes de Didática”, cujo objetivo geral é o de identificar, reunir, sistematizar e analisar

aspectos de periódicos educacionais brasileiros, os quais teriam contribuído para a

conformação das disciplinas ou corpos de saberes tidos como propriamente da Didática em

instituições de formação de professores no Brasil, entre 1827 e 2011.

O nosso interesse em desenvolver pesquisa histórica sobre a Didática em instituições de

formação de professores no Brasil, como corpo de saberes sobre o “como ensinar”, entre 1827

e 1930, e como disciplinas, após 1930, é decorrente, num primeiro momento, da nossa crença

de que, mediante os aspectos constitutivos da história da Didática, dos vários cursos de

formação de professores no Brasil, em funcionamento em momentos históricos distintos, é

possível se constituir o que se pode chamar de História da Didática na formação de

professores no Brasil.

Essa nossa formulação está pautada em Chervel (1990), para quem, uma disciplina

escolar,4 não existe fora da instituição e distante do saber do professor que a constituiu.

1 Esta comunicação é decorrente de pesquisa, cuja primeira fase foi financiada pela FAPESP. Processo 2012/10609-0. Dessa maneira, agradecemos esse apoio financeiro.

2 Doutora em Educação pela UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Faculdade de Filosofia e Ciências-FFC – Campus de Marília, Professor Assistente Doutor do Dep. de Didática e do Programa de Pós-Graduação em Educação-PPGE, dessa faculdade. E-Mail: [email protected].

3 Doutoranda em Educação junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação-PPGE da UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Faculdade de Filosofia e Ciências-FFC – Campus de Marília. E-MAIL: [email protected].

4 Em nossa pesquisa, as disciplinas de Didática, tanto das escolas normais de nível médio, como das instituições educacionais de formação de professores de nível superior, estão sendo tomadas como disciplinas escolares.

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Portanto, surgiu-nos a necessidade primeira de entender a relação da história das disciplinas

de Didática com a história das instituições educacionais, lócus da sua origem e

desenvolvimento. Assim, nossa pesquisa remete também ao campo de pesquisa sobre história

das instituições escolares.

Para tanto, pesquisadores em história das disciplinas escolares afirmam que é preciso ir

além de estudos legislativos, organizacionais, ou de demandas de escolarização e até mesmo

de pensamento pedagógico dessas escolas e instituições de ensino e compreender a

necessidade das práticas escolares que se materializam por meio das disciplinas, as quais

imprimem nos agentes do processo pedagógico a identidade que torna tal instituição

diferente, embora com o mesmo currículo, uma vez que os dispositivos legais buscam a

normatização e padronização das diversas instituições.

Assim, na pesquisa em Historia das Disciplinas Escolares e, neste nosso caso, na

pesquisa sobre a História da Didática nas várias instituições de formação de professores no

Brasil, é necessário, portanto, considerar que tais instituições educacionais estão inseridas

em determinado meio social, que implica em uma identidade cultural que lhe é singular e que

é, ao mesmo tempo, condicionante e condicionada por aspectos específicos das várias

disciplinas escolares que compõem a estrutura curricular de cada uma dessas instituições.

Nessa perspectiva, ainda é possível afirmar que nossa pesquisa também remete e se

situa no campo de conhecimentos sobre cultura escolar.5

Para Goodson (1995, p. 118), o objeto dos estudos em História das Disciplinas Escolares

estaria mais relacionado à construção social do currículo e do conhecimento e, nesse sentido,

interessa-se em compreender como “o estatuto, os recursos e a estruturação das disciplinas

escolares empurram o conhecimento da disciplina em direções específicas [...]”. Sob essa

perspectiva, ao comporem a área da história do currículo, a História das Disciplinas

Escolares buscaria analisar no interior da instituição educacional a relação

instituição/sociedade, enfatizando como as instituições são determinantes dos e, ao mesmo

tempo, determinadas por conhecimentos da sociedade culturalmente legitimados, sendo,

portanto, algo mais do que um simples instrumento de cultura da classe dominante.

Por todo exposto, admitimos com Chervel (1990), que a constituição e o funcionamento

das disciplinas de ensino colocam ao pesquisador alguns problemas, a saber: Como a escola

começa a agir para produzi-las? Se a escola se limitasse a adaptar os conteúdos das ciências

5 Segundo Julia (2001, p. 10) cultura escolar se refere a “um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos; normas e práticas coordenadas a finalidades que podem variar segundo as épocas (finalidades religiosas, sócio-políticas ou simplesmente de socialização).”

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para seu público, mediante disciplinas, seria possível fazê-lo totalmente? Para que tais

disciplinas serviriam? Quais expectativas dos pais ou do poder público, as disciplinas

atenderiam? De que maneira as disciplinas realizam a formação desejada sobre o espírito do

aluno? Qual é o resultado do ensino?

Segundo Chervel (1990), para responder esses e outros questionamentos, é preciso que

se compreenda a amplitude da noção de disciplina e que se reconheça que uma disciplina

escolar comporta não somente as práticas docentes da aula, mas também as grandes

finalidades que presidiram sua constituição e o fenômeno de aculturação da massa que ela

determina. Então, a História das Disciplinas escolares pode desempenhar um papel

importante não somente na História da Educação, mas também na História Cultural, no

âmbito da qual é possível a identificação de aspectos de uma história cultural dos saberes

pedagógicos.

Para a apreensão dessas finalidades do ensino de dada disciplina, sobretudo das

finalidades que a sociedade delega à instituição educacional, acreditamos, assim como Catani

e Bastos (1997, p. 5), que a imprensa educacional apresenta-se como fonte privilegiada, à

medida em que “[...] [permite] ao pesquisador estudar o pensamento pedagógico de um

determinado setor ou de um grupo social a partir do discurso veiculado e da ressonância dos

temas debatidos, dentro e fora do universo escolar.”

Segundo Silva (s.d., p. 1):

[...] as revistas e os periódicos constituem fontes privilegiadas, sendo uma das formas de se apreender, os modos de funcionamento do campo educacional, bem como as configurações específicas da vida e da cultura escolar. Seja enquanto imprensa educacional no seu conjunto, seja em relação a determinados impressos, ou ainda, por meio de seleções temáticas.

Para Catani e Bastos (1997, p. 7), os periódicos educacionais “[...] fazem circular

informações sobre o trabalho pedagógico, o aperfeiçoamento das práticas docentes, o ensino

específico das disciplinas, a organização dos sistemas, as reivindicações da categoria do

magistério e outros temas [...]”, afirmações que subsidiam a elaboração da hipótese

norteadora da nossa pesquisa de que, no caso da constituição dos saberes específicos do

currículo, de cada disciplina, no caso das disciplinas da Didática, os periódicos educacionais

fazem circular e dão forma aos discursos que as constituem, discursos esses resultantes de

um complexo processo envolvendo conflitos, mediações diferentes por diversos sujeitos e

instituições, diante dos papéis que, em cada época e sociedade, foram e são atribuídos a essas

instituições.

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Portanto, e com base em nosso quadro teórico, acreditamos que os periódicos

educacionais brasileiros, desde as primeiras iniciativas de sua publicação em 1832, com

Jornal da Sociedade Promotora da Instrução, mais de caráter educativo que escolar, como

discutido anteriormente, se configuram como veiculadores, disseminadores e legitimadores

do que Chervel (1990) denomina de “finalidades de objetivo”, quando de responsabilidade de

órgãos oficiais, e das chamadas “finalidades reais”, quando produzidos por grupos de

professores ou de estudantes de dada instituição, presidindo, portanto, a constituições dos

processos da instituição educativa, dentre eles da constituição das disciplinas ou corpos de

saberes em foco. Da mesma maneira, pelos motivos já expostos, acreditamos que existiram

periódicos de circulação geral, no período anterior a 1870, que tematizaram a educação e o

ensino a partir de outros campos sociais, e que também são passíveis de serem estudados

como veiculadores, disseminadores e legitimadores do que Chervel (1990) denomina de

“finalidades de objetivo” e ou das chamadas “finalidades reais”.

O interesse dos pesquisadores, tanto brasileiros, quanto estrangeiros, tanto pela

imprensa de circulação geral, quanto pela imprensa periódica educacional já possui uma

tradição e importantes resultados de pesquisas para a história da Educação.

Sobre a temática, Catani (1994) elaborou reflexões sobre a constituição desse campo de

pesquisa, fazendo um retrospecto das produções a respeito do tema e destacando os

trabalhos desenvolvidos nos centros de pesquisa do estado de São Paulo. De acordo com essa

pesquisadora, pesquisas sobre imprensa periódica educacional, imprensa de ensino ou

imprensa pedagógica como vêm sendo denominadas, vêm sendo realizadas desde meados de

1900 na França, logrando continuidade com os trabalhos de Pierre Caspard. Em Portugal,

destacam-se os trabalhos de Antonio Nóvoa, direcionados para a elaboração de um repertório

analítico da imprensa de ensino, além de trabalhos desenvolvidos na Bélgica, Itália e outros

países da Europa.

Assim, em continuidade às ações iniciadas com a fase I do projeto integrado

mencionado, esperamos buscamos atingir o objetivo central de identificar, reunir,

sistematizar e analisar aspectos de periódicos educacionais brasileiros, os quais teriam

contribuído para a conformação das disciplinas ou corpos de saberes tidos como

propriamente da Didática em instituições de formação de professores no Brasil, por meio da

análise de aspectos da produção acadêmico-científica brasileira sobre as revistas de

educação, do ensino, ou que os tematizaram, que remetem às disciplinas ou corpos de

saberes tidos como propriamente da Didática, entre 1832 e 2011.

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Trata-se de pesquisa histórica, documental quanto às fontes, norteada pelo

estabelecimento de repertório destinado a informar e oferecer condições para uma análise,

dentro outros aspectos, da predominância e recorrência das temáticas que remetem às

disciplinas ou corpos de saberes tidos como propriamente da Didática das instituições de

formação de professores no Brasil, entre 1827 e 2011, bem como informações sobre

produtores, colaboradores e leitores supostamente perspectivados, nos vários periódicos

localizados.

Como resultados parciais obtivemos 26 revistas educacionais com temáticas que

remetem às disciplinas ou corpos de saberes tidos como propriamente da Didática das

instituições de formação de professores no Brasil, no recorte temporal da pesquisa.

Neste texto, apresentamos temáticas centrais que remetem ao corpo de saberes da

Didática de uma dessas Revistas, da Didática (1964 – 1984).

Centralmente, apresentamos temáticas que foram abordadas na primeira publicação

dessa Revista, inaugurando o que se buscou constituir como sendo próprio da Didática.

A Revista Didática foi uma iniciativa dos docentes do departamento de Didática da

Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Marília, porém, conseguiu reunir artigos de

pesquisadores de todo o Brasil e exterior, a fim de contribuir para a formação de professores

do Ensino Primário e Secundário, Curso Normal e Superior, enfim para todos aqueles que,

direta ou indiretamente, estavam ligados por meio de seus professores às Faculdades de

Filosofia.

A formação de professores na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e a Revista Didática: aspectos históricos

Em 1957, o então governador de São Paulo, Jânio da Silva Quadros, assinou a Lei n.

3.871, de 25 de janeiro de 1957, criando a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras – FAFI de

Marília. A FAFI de Marília passou a funcionar em outubro de 1958, obteve a autorização para

iniciar o seu funcionamento em 16 de janeiro de 1959, sob o Decreto Federal n. 45.262, e o

seu reconhecimento ocorreu apenas em 16 de janeiro de 1965, sob o Decreto n. 44.528

(CASTRO, 2009).

Segundo Vaidergorn (1995, p. 176-177 apud CASTRO, 2009, p. 57), o primeiro diretor

da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília foi José Quirino Ribeiro, professor da

Universidade de São Paulo nomeado pelo governador do estado, como ocorreu com as

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demais faculdades de filosofia, ciências e letras – institutos isolados de ensino superior do

interior paulista, com exceção da Faculdade de Presidente Prudente.

Os primeiros cursos instalados, até o ano de 1964, foram os cursos de História,

Pedagogia, Letras e Ciências Sociais, sendo que os três primeiros iniciaram sua atividade em

1959 e o último, em 1963 (CASTRO, 2009, p. 57).

Segundo o Guia da Faculdade, publicado em 1962 e considerado o primeiro meio

impresso sistematizado, publicado com o objetivo de oferecer uma visão do conjunto de tudo

o que constituía a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília, os três objetivos que

nortearam a criação dessa Faculdade foram:

Desenvolvimento da alta cultura e da pesquisa original; especialização filosófica, literária e científica, bem como preparação de candidatos para o magistério secundário, normal e superior; e habilitação para o exercício das profissões liberais, científicas e técnicas relacionadas com os seus cursos (GUIA..., p. 11-12).

No sub-título do Guia da Faculdade (1962), “Estruturação Geral do Ensino”, são

apresentados os tipos de cursos organizados e instalados – os ordinários e os extraordinários

– e das instâncias por eles responsáveis.

Especialmente sobre os chamados cursos ordinários, as informações são as de que eles eram de responsabilidade dos três Departamentos da Faculdade: História, Letras [Anglo-Germânicas] e Pedagogia. Informa-se ainda que o currículo de bacharelado compreendia as três primeiras séries desses cursos, e, o de licenciatura compreendia um quarto ano, em que o bacharel recebia a formação didática (Didática Geral, Didática Especial, Psicologia Educacional e Administração Escolar). (CASTRO, 2009, p. 84).

Observa-se que tal formação didática mencionada ficou a cargo do então Departamento

de Pedagogia.

Sob a responsabilidade do Departamento de Pedagogia começaram a funcionar a

Escolinha de Arte de Marília e Laboratório de Biologia.

A “Escolinha de Arte de Marília” foi uma das iniciativas considerada em um dos pontos

altos da trajetória da faculdade.

Durante a décima primeira reunião da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília, realizada em 11 de março de 1960, ainda com Michel Pedro Sawaya na direção da Faculdade, a professora Maria Luíza de Barros apresentou, pelo Departamento de Pedagogia, planos para a organização de uma “Escolinha de Arte”, “[...] do tipo orientada no Rio pelo Prof. Augusto Rodrigues” (ATA da 11ª reunião de professores da Faculdade de Filosofia,

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Ciências e Letras de Marília, 1960, p. 18-20), iniciador das Escolinhas de Arte no Brasil.6 (CASTRO, 2009, p. 225-226). A “Escolinha de Arte de Marília” foi fundada em 21 de setembro de 1960, anexa à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília, como parte integrante do Laboratório Psicopedagógico, sob o patrocínio da cadeira de Psicologia. Recebia crianças de diversos níveis de idade, estabelecendo mais um elo entre a Faculdade e a comunidade mariliense, e proporcionava aos alunos da cadeira, em situação de estágio, circunstâncias especiais de observação da “[...] tarefa precípua da natureza infantil – o crescimento.” (GUIA, 1962, p. 46 apud CASTRO, 2009, p. 226).

No ano de 1962, foi organizado outro Departamento, o de Didática, cujo planejamento

e execução da instalação couberam à Nelly Novaes Coelho, professora da cadeira de Didática

Geral do Departamento de Pedagogia.

Sob a responsabilidade do Departamento de Didática foi criada, em 1964, a Revista

Didática.7 Ao lado da Revistas Alfa (1962-1975) – do Departamento de Letras – e da Revista

Estudos Históricos (1963-1975), a Didática (1964-1975) – iniciada no Departamento de

Didática, foi uma publicação que, segundo Castro (2009, p. 31) contemplou a divulgação das

atividades acadêmico-científicas e as produções delas resultantes do Departamento ao qual

esteve vinculada. Mas, a Didática, diferentemente da Alfa e da Estudos Históricos, também

contou, conforme Castro (2009, p. 31), “[...] com as produções do curso de Ciências Sociais,

criado em 1963, a pedido do Departamento de História; de Filosofia, que teve início em 1967;

de licenciatura em Ciências, instalado em 1968, e, suas habilitações em Ciências Biológicas e

Matemática, que tiveram início em 1975.”

Posteriormente, e considerando que as iniciativas para a criação do Departamento de

Didática couberam, como mencionado, a uma docente da cadeira de Didática Geral do

Departamento de Pedagogia, foi organizado o Departamento de Educação da Faculdade, com

a união do Departamento de Pedagogia com o de Didática. Assim, já no ano de 1966, na

publicação de n. 3 da Revista Didática, a informação é a de que essa Revista era de

responsabilidade do Departamento de Educação. Também em anos posteriores, o

Departamento de Letras Anglo-Germânicas perdeu essa denominação e constituiu o

Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas e o Departamento de Letras Modernas.

6 Enquanto na Ata mencionada o professor iniciador do movimento das Escolinhas de Arte no Brasil foi apresentado pelo nome de Augusto Rodrigues, na fotografia tomada por ocasião da visita desse professor à “Escolinha de Arte” de Marília, contida no Guia (1962, p. 47), ele foi apresentado pelo nome de Milton Rodrigues.

7 A composição e a impressão do primeiro número da Didática datou de 1965 e a sua última publicação foi a que reuniu o n. 11 e o n. 12, referentes, respectivamente, aos anos de 1974 e 1975, ainda com a Faculdade funcionando como instituto isolado, sob a denominação de Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília (CASTRO, 2009, p. 105).

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Em 1964 foi criado o “Centro de Orientação Didática”, sob a responsabilidade do

Departamento então de Didática da FFCL de Marília, o qual possuía biblioteca própria,

material mimeografado e ‘slides’ de orientação aos professores. Pela sua projeção esse centro

constituía uma das seções da Revista Didática.

Desde a sua criação, a FAFI, em atendimento aos compromissos assumidos pelos seus

docentes, teve todas as suas atividades voltadas para: “produzir e disseminar o conhecimento

novo, sobretudo daquele a serviço da educação, em todos os seus níveis e modalidades; e

prestar contas e mostrar a viabilidade da Faculdade aos órgãos reguladores e fiscalizadores

dos recursos e à comunidade local.” (CASTRO, 2009, p. 214).

Com relação ao Departamento de Pedagogia, depois Didática e, até 1975, de Educação,

a Revista Didática procurou demonstrar em suas páginas, aquele que foi o compromisso para

o qual esse Departamento foi criado, ou seja, o atendimento às demandas do ensino. Daí que

a Didática foi constituída por:

[...] “secções” para os professôres que militam no ensino primário e secundário, para que ensinam no curso normal e superior, enfim para todos aqueles que, direta ou indiretamente, estão ligados através de seus professôres às Faculdades de Filosofia. (DIDÁTICA, 1964, p.6).

Nesse sentido, foi organizada em 1964, sob a responsabilidade do Departamento de

Didática, a “V Semana da Faculdade” que teria contado com cerca de 500 professores de

todos os graus de ensino, o que teria acarretado a publicação da sua Revista “[...] aberta

àqueles que se interessam pelos problemas do ensino e, especialmente, àqueles que são

professôres militantes no magistério.” (DIDÁTICA, 1964, p. 5).

A Revista Didática (1964) e o campo de saberes da Didática no Ensino Superior

O período em que foi organizado o n. 1, de 1964, da Revista Didática foi um período

ainda caracterizado pela discussão, sobretudo entre pesquisadores da educação, sobre

aspectos do campo de estudos e práticas da Didática, da posição da Didática e dos seus

agentes no interior das faculdades (Garcia, 2000).

Conforme Quadro 1, da sequência, é possível percebermos tal situação apontada por

Garcia (2000).

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Autor Título Comentários Eurípedes Simões de Paula

“A pré-história e a origem do alfabeto” (p. 9-33).

Resumo da palestra proferida no salão nobre da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília, em 3 de outubro de 1963, por ocasião da “V Semana da Faculdade”, por Eurípedes Simões de Paula, professor de História da Civilização Antiga e Medieval da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, com o objetivo de demonstrar [..] como o alfabeto derivou da pictografia e que essa evolução se deu mais ou menos contemporaneamente em diversas regiões da terra. (p.33). Possui ilustrações.

Oswaldo Frota Pessoa

“O ensino das Ciências” (p. 35-45).

Artigo do livre-docente da cadeira de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, que fez a seguinte afirmação:

[...] Acho que a responsabilidade do professor de Ciências, portanto, tem de ser vista de um ângulo todo especial. Êle não é mais, apenas, a fonte de conhecimentos a serem transmitidos para a outra geração, êle é, principalmente, quem vai orientar a maneira pela qual os indivíduos usam os seus recursos mentais da maneira mais eficiente. Êste é o verdadeiro objetivo das ciências no curso secundário. (p.44).

Joel Martins

“Os fundamentos psicológicos do Curriculum” (p. 47-63).

Artigo do professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, que afirmou que um “[..] estudo dos fundamentos psicológicos do Curriculum deveria sempre ser precedido de uma análise filosófica dos fundamentos ou das idéias que constituem o conceito de curriculum.” (p.47).

Quadro 1 – Produções da “Conferências”, da Didática de n. 1, de 1964. Castro (2009, p. 215-216).

No Quadro 1, é possível afirmarmos que as temáticas acolhidas, tanto para o evento

científico promovido pelo Departamento de Didática, quanto pela Revista Didática remetem

a ideia da necessária formação de professores com base nos fundamentos da educação.

Segundo Garcia (2000), com a criação dos Colégios de Aplicação, sob a

responsabilidade da Cadeira de Didática, previsto pelo Decreto n. 9.053, de 12 de março de

1946, destinados à prática docente dos alunos matriculados no curso de Didática, teria

havido um movimento para articulação entre a teoria e a prática, e para a integração da

“Didática Geral” com as “Didáticas Especiais” ou Práticas de Ensino.

Entretanto, Garcia (2000) afirma que, ainda era possível perceber o caráter

instrumental e normativo da Didática no Ensino Superior, sob abordagem experimental,

sobretudo na década de 1960 que, segundo a autora, teria atingido o seu auge com o

movimento das escolas e classes experimentais.

Esse caráter instrumental e normativo da Didática também esteve presente nas

produções da “Mesas Redondas” da Didática, em seu n. 1, de 1964, conforme quadro 2.

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Autor Título Comentários Relatores: João Décio e Nelly Novaes Coelho (ambos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília)

“Mesas-redondas acerca do ensino de literatura no curso Secundário” (p. 67-72).

Pontos localizados e debatidos: - O problema da escolha dos autores e das obras; - História da literatura; - Como orientar a leitura e a análise dos textos

literários; - Esquema de ficha de leitura (para o curso

secundário); - A dosagem da matéria; - Sobre como superar a inexistência de bibliografia

especializada para o preparo do professor para orientação dos seus alunos.

Relatores: Jesus Belo Galvão da Faculdade

de Filosofia, Ciências e Letras de Assis, e

Ataliba T. de Castilho da Faculdade de

Filosofia, Ciências e Letras de Marília

“Mesas-redondas sobre metodologia da composição” (p. 73-79).

Sumário: - Introdução geral: 1. A “V Semana da Faculdade” e o

papel da Faculdade de Filosofia de Marília; - A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e a

renovação do Ensino de Português: 1. Amplitude do Ensino de Português;

- Metodologia da composição: 1. A composição oral; 2. A composição escrita; 3. Bibliografia seletiva;

- Sugestões e conclusões. Relatores: João

Fonseca da Faculdade de Filosofia, Ciências e

Letras da USP; Joel Martins, da Faculdade de Filosofia, Ciências e

Letras “Sedes Sapientiae” da PUC de São Paulo e Dorothea Severino, da FFCL de

Marília

“Mesa-redonda sobre ‘O ensino de Inglês’ ” (p.81-85).

Temas debatidos: - Estruturação do Curso de Inglês no Ensino

Secundário; - Problema da adoção do livro didático adequado à

série; - Demonstração prática; - Problema do livro didático para o Curso Colegial; - Objetivo do Ensino de Inglês no Curso Secundário.

Coordenador: José Roberto do Amaral

Lapa, da Faculdade de Filosofia, Ciências e

Letras de Marília

“Mesa-redonda sobre a História no curso secundário” (p. 87-88).

Pontos principais debatidos: - Fornecimento por parte das Faculdades de Filosofia

de recursos audio-visuais ao professorado de nível médio;

- O isolamento em que muitos professores de nível médio trabalham;

- Defesa do diálogo permanente e articulação entre o licenciado e a faculdade;

- Proposição de um planejamento regional para que cada Faculdade de Filosofia pública sirva a região com os recursos audio-visuais;

- Defesa da publicação de periódicos; - Trabalhos desenvolvidos pelos professores da

Faculdade objetivando a publicação de textos históricos para uso dos professores e alunos de nível médio.

Relator: Sylvia Magaldi, do Colégio de Aplicação

e da Faculdade de Filosofia, Ciências e

Letras da USP

“Mesa-redonda sobre o ensino da História” (p. 89-108).

Sessões dos dias 05 e 06/09/1963. Reflexões sobre alguns problemas suscitados pelo ensino da história: - Necessidade de uma tríplice perspectiva; sobre o

conteúdo histórico; adaptação do Ensino da História às condições do mundo moderno; história e educação cívica; a necessidade de despertar a imaginação e a razão durante o ensino médio; a variedade de métodos.

Seguem transcritos os programas de História propostos para o Curso Ginasial - Sylvia Magaldi.

Relator: Erasmo D’Almeida Magalhães

“Mesa-redonda sobre a Geografia no

Considerando os dispositivos regimentais da “V Semana da Faculdade”, o tema teve o seguinte desenvolvimento:

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da Faculdade de Filosofia, Ciências e

Letras da USP

curso secundário” (p. 109-124).

- Objetivos; - Apresentação para apreciação de três programas

para as quatros séries ginasiais; - Diferentes métodos de ensino; - Adoção de compêndios.

Relator: Oswaldo Sangiorgi, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade

Mackenzie

“Mesa-redonda sobre introdução da Matemática Moderna no ensino de qualquer grau” (p. 125-140).

Programa: - Objetivos; - Conteúdo e método; - Apreciação de proposta de assunto mínimo para um

moderno programa de Matemática para o Ginásio; - Idem para o Curso Colegial em 3 anos; - Demonstração prática com um classe de 1º série

Ginasial do Ginásio Estadual de Marília. Relator: Oswaldo Frota-Pessoa, da

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da

USP

“Mesa-redonda sobre o ensino da Biologia e da Biologia Educacional”. (p. 141-153).

Aspectos discutidos sobre a metodologia da biologia e da biologia educacional: - Objetivos de ensino; - Método expositivo x método de problemas; - O uso das atividades práticas; - O uso do livro didático; - Técnicas de motivação; - O treino do pensamento científico.

Relator: Joel Martins, da Faculdade de

Filosofia, Ciências e Letras “Sedes

Sapientiae” da PUC de São Paulo.

“Mesa-redonda sobre o ensino da Psicologia”. (p. 155-165).

Contribuições da psicologia à seção de educação das escolas normais – seminário conduzido no dia 06/09/1963 na faculdade de filosofia, ciências e letras de marília, sob os auspícios da cadeira de didática; - Problemática apresentada; - Discussão da problemática apresentada.

Relator: Maria Aparecida Rodrigues Cintra, da Cadeira de

Didática Geral da Faculdade de Filosofia,

Ciências e Letras de Marília.

“Mesa-redonda sobre a formação do professor primário”. (p. 161-165).

Pontos apresentados pelo relator: - Objetivos da Escola Normal – sua função como

escola profissional; o exame de admissão para as escolas normais – a clientela escolar;

- Formação do professor para as escolas normais – as Faculdades de Filosofia;

- Concurso de ingresso ao Magistério para o Curso Normal;

- A estrutura do Curso Normal: o currículo escolar, as matérias do curso e sua distribuição, o programa das matérias;

- A teoria e a prática: a escola de aplicação. Quadro 2 – Produções da “Mesas Redondas” da Didática de n. 1, de 1964. Castro (2009, p. 216-218).

Logo no artigo decorrente das “Mesas-redondas acerca do ensino de literatura no curso

Secundário”, o que temos é a prescrição quanto ao como orientar a leitura e a análise dos

textos literários, a ideia da possibilidade da ficha de leitura esquematizada e o quanto

desenvolver com relação ao conteúdo.

Em “Mesa-redonda sobre ‘O ensino de Inglês’”, o que temos é a instrumentalização do

como estruturar o Curso de Inglês no Ensino Secundário, aspectos referentes à adoção e aos

objetivos e, até, um exemplo de demonstração prática.

Em “Mesa-redonda sobre a História no curso secundário”, há a proposição de um

planejamento regional para que cada Faculdade de Filosofia pública sirva a região com os

recursos audio-visuais. A ideia do modelar, do prescrito, também aqui está posta.

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Em “Mesa-redonda sobre o ensino da História”, já há transcritos os programas de

História propostos para o Curso Ginasial, de Sylvia Magaldi.

Esse tom de prescrição acaba sendo amenizado apenas em “Mesa-redonda sobre a

formação do professor primário”, em que a necessidade da integração da teoria com a

prática: é abordada, ao se discutir aspectos da escola de aplicação.

Breves Considerações Finais

É possível afirmarmos, assim como em Castro (2009, p. 20) que os artigos publicados

possuía “[...] tom de recomendação, e, em alguns casos, até mesmo de prescrição de

procedimentos, atividades e ações aos professores.”

Observa-se que esse tom de prescrição presente nas produções do n. 1, de 1964, da

Didática também encontrava respaldo nas demandas dos próprios professores, dos vários

níveis, decorrentes das suas práticas pedagógicas.

Outro aspecto que também se sobressai nas produções do quadro 2, diz respeito ao que

Garcia (2000, 72) se refere quando à indefinição da Didática. De acordo com Garcia (2000,

p. 72), o campo da Didática “[...] viveu nesses tempos, em relação ao seu objetivo e

conteúdos, dificuldade que se evidencia na diversidade e abrangência das temáticas [...]” (p.

72).

Observa-se também, assim como afirma Garcia (2000, p. 81), que se tratou de um

período que as preocupações da Didática situava-se em “[...] questões mais gerais da

Pedagogia e da Didática, tais como sua importância na profissionalização do magistério e

questões relativas ao ensino-aprendizagem, e sua finalidades e objetivos”.

Finalmente, na Revista Didática, os discursos sobre os saberes da Didática, mesmo

buscando firmar-se nos fundamentos, “[...] unificava-se em torno de uma concepção que

privilegiava a dimensão técnica dessa disciplina [...]” (GARCIA, 2000, p. 90).

Referências

CASTRO, Rosane Michelli de. A história da Didática em instituições de formação de professores no Brasil (1827-2011) – fase I: fontes para a pesquisa. 183f. Relatório Final de Pesquisa (Regular) – Faculdade de Filosofia e Ciências – Unesp/Marília, Marília, 2014. ______. A produção de uma faculdade: as revistas Alfa, Estudos Históricos e Didática e a FAFI de Marília (1959-1975). São Paulo: Cultura Acadêmica; Marília: Fundepe, 2009.

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CATANI, Denice Barbara. Ensaios sobre a produção e circulação dos saberes pedagógicos. São Paulo, 1994. Tese (Livre Docência) – FEUSP, São Paulo. ______; BASTOS, Maria Helena Câmara. Apresentação. In: _______. Educação em Revista: a imprensa periódica e a história da educação. São Paulo: Escrituras, 1997. p. 5-10. CHERVEL, Andre. “História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa”. Teoria e Educação, Porto Alegre, n. 2, p. 177-229, 1990. DIDÁTICA. Departamento de Didática da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília. São Paulo: Secção Gráfica da Universidade de São Paulo, n. 1, 1964: Gráfica Canton Ltda. GOODSON, Ivor. Currículo: teoria e história. Petrópolis: Vozes, 1995. GUIA da Faculdade. Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Marília. Marília, S.P., 1962. 57p. Impr. JULIA, Dominique. A cultura escolar como objeto histórico. Revista Brasileira de História da Educação. Campinas-SP, n. 1, p. 9-43, jan./jun., 2001. SILVA, Cláudia Panizzolo Batista da. Imprensa periódica educacional: entre roteiros e compêndios; um estudo sobre a revista Atualidades Pedagógicas (1950-1962). s.d. Disponível em: http://sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe2/pdfs/Tema3/0387.pdf. Acesso em: 01 de setembro de 2015.