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  • Revista-Valise, Porto Alegre, v. 1, n. 2, ano 1, dezembro de 2011.

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    Resumo. Este artigo prope abordar questes metodolgicas acerca da pesquisa em arte, relacionando-as com sete propostas estratgicas inspiradas no jogo de xadrez: desenvolver capacidade de antecipao, enxergar linhas de fora, dominar as jogadas clssicas, desenvolver capacidade de adaptao rpida, enxergar a situao global e no !"#$!%&'&(!%'&"!)*+(,-!).&")'"')&*)'(!%&%!/#)&%!()+0(!)1

    Palavras-chave. pesquisa em arte, metodologia, estratgia.

    The researcher as strategist: seven strategic propositions inspired by the chess game and applied to the methodology of art research.

    Abstract. This article proposes to approach methodological questions on art research, tracing relations between the art research and six strategic proposals inspired by the chess game: to develop anticipation capacity, to see force lines, to master classic moves, to develop capacity of fast adaptation, to see the global situation not only the particular (!%#.&*'&")'"'%#&%2!"%.&*'&3$'2&4'2&*'&%!()+0(#1&

    Keywords. art research, methodology, strategy.

    Doutoranda em Poticas Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS. Mestre em Artes Visuais pela mesma instituio (2008). Bacharel em Artes Plsticas pela Universidade de Braslia UNB (2005). Professora efetiva no curso de licenciatura em artes visuais da URCA (Universidade Federal do Cariri). Como artista, participou de diversas exposies e sales de arte em Braslia (DF), So Paulo (SP), Fortaleza (CE), Crato (CE), Porto Alegre (RS), Blumenau (SC) e Madison (EUA).

    Pesquisador como estrategista:sete propostas estratgicas inspiradas no jogo de xadrez e aplicadas metodologia da pesquisa em arte.

    Ruth Sousa

  • Ruth Sousa, Pesquisador como estrategista.

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    Proponho, ao longo deste artigo, abordar algumas caractersticas estratgicas gerais do jogo de xadrez e relacion-las metodologia da pesquisa em arte. Ainda que esta abordagem possa trazer em si algumas contradies, pois se tratam de campos distintos, o objetivo deste texto escrutinar estas aproximaes de forma a procurar estabelecer relaes entre a noo de estratgia no xadrez e a noo de estratgia envolvida na construo de uma pesquisa acadmica em arte.

    A abordagem interdisciplinar ensaiada a partir da proposio do pensador francs Jean Lancri, que, em seu texto Colquio sobre a metodologia da pesquisa em artes plsticas na universidade (2002), defende o uso de conceitos oriundos de outras reas no desenvolvimento da pesquisa em arte. Para esta proposio o autor fundamenta-se na vertente adotada pela Universidade de Paris I Panthon Sorbonne e nos seus precursores (Bernard Teyssdre, Ren Passeron, Pierre Baqu).

    Segundo Lancri, a forma como o pesquisador em arte maneja os conceitos diferente da forma como os pesquisadores de outras reas os abordam. O pesquisador em arte faz uso de outra racionalidade (a racionalidade prpria da arte, remetendo o autor escola de Frankfurt), na qual se pode dizer que a razo se pe a sonhar e o sonho a raciocinar. Isto geraria um uso contraditrio dos conceitos, uso #%*#&5,#.&"!)!&6!$()+.&$7'&+$8!-+9!)+!&!&"#%5,+%!1&:&!,*')&!0);!&5,#+%,!+%1&=?&!%&('$*)!9+@A#%&$7'&9#%5,!-+0(!;&'%&('$(#+*'%&!&$7'&ser aparentemente. No os invalidam a no ser na condio de tomar a distncia para sair do campo artstico em que trabalham, mas basta que o artista-pesquisador se adiante !& )#*')$!)& $#%%#& (!;"'.& (!))#B!$9'& ('$%+B'& '& -#+*')C#%"#(*!9').& "!)!& 5,!-+0(DC-'%&novamente. (LANCRI, 2002, p. 30).

    A partir deste uso de conceitos advindos de outras reas que Lancri defende, prope-se neste texto a adoo do conceito de estratgia, tomado do xadrez, para aplic-lo pesquisa em arte, estabelecendo assim pontes entre os campos, ainda que precrias e eventualmente permeadas de contradies em uma primeira aproximao.

    Busca-se, em ltima instncia, usar estes termos tomados do xadrez no de uma maneira instrumental ou literal, mas tom-los como uma metfora potica para tratar dos processos envolvidos em uma pesquisa em arte. Para tanto, as

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    aproximaes entre os campos sero escrutinadas, de forma a situar o leitor no campo do qual emergem estes conceitos, o campo do xadrez, para ento defender o uso do termo estratgia para uma pesquisa potica em artes visuais.

    O ponto de partida para esta relao entre estratgia no xadrez e pesquisa em arte o texto de Sami Paavola, intitulado Abduo como lgica e metodologia da descoberta: a importncia das estratgias (2004). Neste, o autor traa algumas associaes entre a ideia de abduo (termo que pode ser relacionado noo de insight na pesquisa em arte) e o pensamento estratgico do xadrez.

    A partir desta primeira conexo, que Paavola estabelece de maneira muito breve, entre insight e estratgia, buscou-se o aprofundamento de referenciais tericos que adotassem o termo estratgia para tratar de pesquisa acadmica. E#%*!&F');!.&(4#B',C%#&!'&*#G)+('&H!!33'&I+$*+33!1&J%*#&!0);!&5,#

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    A capacidade de antecipao das consequncias de seus movimentos uma das mais desejadas pelos enxadristas, e esta habilidade mais bem treinada quando se consegue visualizar no s uma, mas vrias e, se possvel, todas as possibilidades reativas do adversrio para que se possa escolher qual a melhor. Alguns conseguem visualizar mentalmente boa parte destas consequncias, outros s at poucos lances frente, e outros, ainda, no conseguem visualizar ;#$*!-;#$*#& %#5,#)& *)L%& O'B!9!%& W& F)#$*#.& ")#(+%!$9'& ;'$*!)& 0%+(!;#$*#& !&$'8!&('$0B,)!@7'&B#)!-&9'&*!/,-#+)'&"!)!&('$*+$,!)&'&)!(+'(?$+'1&X%*!&!&;!+')&9+0(,-9!9#&9'&O'B!9')&+$+(+!$*#

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    explicao para a minha explicao (HINTIKKA apud PAAVOLA, 2009, p. 5)5. Esta caracterstica remete a outra habilidade primordial do xadrez:

    II Enxergar linhas de fora.

    Cada pea do tabuleiro irradia um campo de fora com caractersticas "!)*+(,-!)#%.&%#$9'&!%%+;.&;#%;'&5,#&0%+(!;#$*#&9+%*!$*#&9#&',*)!.&!&"#@!&!+$9!&pode impor-se em um ataque ou defesa. Cada pea tambm submetida ao ('$O,$*'&9#&F')@!%&[9!%&9#;!+%&"#@!%U&5,#&%#&;'9+0(!&!&(!9!&;'8+;#$*'1&\!/#)&)#('$4#(#)%*#%&(!;"'%&9#&F')@!.&"!)!&'&"#%5,+%!9').&%+B$+0(!&$7'&%G%*!)&(+#$*#&da posio hierrquica da instituio, seus membros, representantes, rgos que esto subordinados a ela e rgo aos quais ela est subordinada, mas tambm reconhecer o conjunto de referenciais tericos e pesquisas anteriores sobre seu tema, cuja fora irradiada sobre o trabalho em questo.

    III Dominar jogadas clssicas.

    Aps apreender as regras de funcionamento do jogo e de cada pea isoladamente, a lio seguinte do iniciante no xadrez o estudo de estratgias j consolidadas de como se ganhar uma partida em poucos lances. Este estudo geralmente desperta grande empolgao nos alunos, todavia, logo percebem que se trata de artifcios medocres que levam a uma vitria que nada acrescenta sua habilidade. uma repetio mecnica, burocrtica, de poucos movimentos que, se seguidos risca (e o adversrio mantendo o conjunto de reaes esperadas) levam necessariamente a um xeque-mate rpido.

    A partida, assim, acaba da maneira mais rpida possvel por meio de uma estratgia j consolidada no campo. Para ser levada a cabo, exige uma total desateno e/ou inabilidade por parte do oponente e um completo desinteresse do jogador na partida em questo. Estas estratgias consolidadas so por vezes ensinadas aos iniciantes no com o objetivo de faz-los ganhar rpido uma partida, mas de no perder igualmente rpido para outro que as domine ou ainda para que no se perca tempo com adversrios inferiores.

    Aplicando esta regra pesquisa, podemos associar estas estratgias a "!)!9+B;!%.&5,#.&%#B,$9'&I+$*+33!.&V$7'&%7'&;!$#+)!%&!,*';D*+(!%&9#&)#%'-8#)&problemas, mas do boas sugestes de como conduzir questes (HINTIKKA apud PAAVOLA, 2009, p. 2)6. Em se tratando de uma pesquisa acadmica em nvel de ps-graduao, recomendvel ter como ponto de partida os paradigmas, pois demonstrar um completo desconhecimento deles uma forma de se perder a

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    "!)*+9!&"',('%&-!$(#%1&]';'&!-#)*!&I+$*+33!.&V,;!&4+"G*#%#&5,#&$7'$(!+M!&bem com outras informaes relevantes estrategicamente ruim (HINTIKKA apud PAAVOLA, 2009, p. 9)7. Todavia, principalmente em uma pesquisa de doutorado, desejvel uma boa medida de originalidade na contribuio ao campo. E esta originalidade no residiria necessariamente na construo de novos paradigmas. No se trata de construir novas regras para o jogo ou uma nova estratgia a ser futuramente adotada como modelo consolidado para os demais pesquisadores. A originalidade est na forma como se juntam dados antes j conhecidos e o aplicam !'&(!%'%"#(?0('&5,#%*7'.&(';'&!"'$*!&I+$*+33!&[!",9&PAAVOLA, 2009, p. 4): V!&4+"G*#%#&%,B#)+9!&"'9#&%#)&%+&;#%;!&!-B'&OD&8#-4'&!*K&/#;&('$4#(+9'1&^ !%&!&;!$#+)!&"#-!&5,!-&%#&8L%*!&4+"G*#%#&%#)&!"-+(!9!&$'&(!%'%"#(?0('&5,#%*7'& crucial81&:&"#$%!;#$*'&9#&6!$()+&('$_,+&(';%*#&!)B,;#$*'&9#&I+$*+33!.&%#$9'&5,#&6!$()+&[QRR`.&"1&aRRU&)#;#*#C'%"#(+0(!;#$*#&W&"#%5,+%!&=)*#.&9#F#$9#$9'&5,#&V,;!&*#%#&=)*#%&>+%,!+%&*#;&"')&')+B+$!-+9!9#$*)#(),P!)&uma produo plstica com uma produo textual.

    Trata-se, portanto, de saber articular dois elementos distintos, encaixar dados. Da mesma forma, em se tratando do jogo do xadrez, a genialidade est em usar determinados movimentos j previstos pelo jogo que se encaixam perfeitamente em uma situao crtica, em detrimento de outros que poderiam trazer pouco benefcio. Da decorre outra caracterstica de um bom estrategista:

    IV Desenvolver capacidade de adaptao rpida.

    Uma vez que geralmente invivel antecipar todas as jogadas possveis do adversrio, o estrategista procura ater-se s que considera mais provveis ou relevantes (HINTIKKA apud PAAVOLA, 2009, p. 4)9. Quando ele se surpreende com uma reao que considerava improvvel, s vezes necessrio re-estruturar !*K& ;#%;'& *'9!& !& #%*)!*KB+!& #-!/')!9!1& I!O!& 8+%*!& 5,#.& $!%& "!)*+9!%& '0(+!+%.&assim como na pesquisa acadmica, existe um prazo para se realizar a jogada, no podendo esta deciso se delongar muito, ele deve se valer de um raciocnio treinado capaz de readaptar estratgias de forma rpida.

    Na pesquisa em arte, tanto se tratando do mtodo heurstico (tentativa e erro) na produo artstica, pelo teste de vrios meios de se chegar a um resultado plstico esperado, quanto na prpria escrita do texto acadmico, necessria ,;!&B)!$9#&9'%#&9#&_#M+/+-+9!9#&!9!"*!@7'&!&$'8!%&9#;!$9!%&"')&"!)*#&9'&"#%5,+%!9')&!)*#1&N#)&,;&)!(+'(?$+'&)D"+9'&'&%,0(+#$*#&"!)!&"#)(#/#)&5,!$9'&!%*)!*KB+!&$7'%*D&F,$(+'$!$9'&;'9+0(DC-!&!&*#;"'&9#&('$(-,+)&'&*)!/!-4'&$'&prazo esperado outra habilidade de um bom pesquisador.

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    V Enxergar a situao global e no apenas o caso particular.

    Deve-se tambm ter em mente que, apesar de possuir a habilidade de se adaptar rapidamente a uma nova estratgia, no o caso de se mudar de estratgia a cada perda momentnea no decorrer do percurso. Reconhece-se um jogador que est vencendo a partida no pela quantidade de peas que perdeu, mas sim pela posio estratgica das peas no tabuleiro sua frente. H que se considerar 5,#&V,;&"'$*'&(#$*)!-&$!%&)#B)!%%*)!*KB+(!%&K&5,#&$7'&"'9#;&%#)&O,-B!9!%&relao a movimentos particulares, mas a situao global da estratgia deve ser levada em considerao ao mesmo tempo (HINTIKKA apud PAAVOLA, 2009, p. 3)10. Portanto, o sucesso dos esforos do pesquisador tambm pode ser medido $7'&"#-'&!"!)#$*#&F)!(!%%'&9#&"!)*#%"#(?0(!&9!&*)!O#*G)+!&9!&"#%5,+%!.&;!%&"#-!&+$9+(!@7'&9#&5,#&%#,&;K*'9'&*#$9#&!&%#&;'%*)!)(+#$*#&(';'%*)!*KB+!&B-'/!-&de ao. Trunfos pontuais e particulares so desejveis, mas no so a medida de #0(+L$(+!&9'%&;K*'9'%&!9'*!9'%1&

    possvel que, apenas com poucas peas, ele consiga derrotar um adversrio que tenha muito mais recursos que ele, mas no sabe como us-los ( o caso de jogadores que mantm muitas peas no tabuleiro, mas o movimento de uma bloqueado pela presena de outra). O caso no o de se reter as peas no *!/,-#+)'&!&*'9'&'&(,%*'.&;!%&9#&%!/#)&,%DC-!%&9!&;!$#+)!&;!+%(+#$*#&"'%%?8#-1&&

    VI Propor trocas.

    J%*!& ;!$#+)!& ;!+%& #0(+#$*#& "'%%?8#-.& ;#$(+'$!9!& $'& *G"+('& !$*#)+').&inclui trocas com o adversrio. Ou seja, quando uma pea ameaada, ao invs de faz-la recuar para proteg-la, ela colocada em uma posio na qual possa ser capturada pelo adversrio. Todavia, esta perda momentnea resultaria em benefcio para o jogador, seja pela capacidade de capturar ele tambm uma pea 9'&!98#)%D)+'.&%#O!&"#-!&$'8!&"'%+@7'&;!+%&F!8')D8#-&5,#&"'%%!&%#&('$0B,)!)&$'&tabuleiro ao perder esta pea. Sabe-se que a pesquisa , tambm, no apenas resultado de decises estritamente do pesquisador, mas fruto de uma constante negociao e troca com orientador, colegas, instituio e avaliadores. Portanto, trata-se tambm de perceber quais so as trocas mais vantajosas e qual a melhor forma de se propor a troca. Aconselha-se testar a disposio da outra parte a aceitar trocas oferecendo peas menores para depois propor a troca de peas mais importantes (testar o modus operandi da outra parte durante a partida, alm de estudar suas tticas em jogadas anteriores). As trocas, todavia, nem sempre so equivalentes: s vezes troca-se uma pea por outra de mesmo valor, s vezes

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    por alguma de valor mais baixo ou mais alto, e, ainda, nos casos que requerem grande perspiccia, pode-se trocar a pea mais fraca do jogador pela pea mais importante da outra parte.

    !""#$%&'(#)%*(+,*%(-

    Como ltima das propostas estratgicas abordadas neste artigo, menciona-se a mais drstica e tambm inevitvel a toda pesquisa acadmica, em alguma medida: o sacrifcio. Esta estratgia usada em diversas situaes, como proteo de peas mais importantes, melhor posicionamento no tabuleiro, ou para obter qualquer vantagem no jogo.

    Um caso frequente de sacrifcio ocorre quando o rei ameaado, sendo que %,!&"#)(!&!(!))#*!)+!&$!&9#))'*!&('$%#5,#$*#&0;&9!&"!)*+9!1&b!)!&")'*#BLC-'&9'&xeque-mate, outra pea, que ser fatalmente perdida para o oponente, posicionada %#;&")'*#@7'&9+!$*#&9'&(!;"'&9#&F')@!&9'&!98#)%D)+'.&%!()+0(!$9'C!&F!8')&9!&pea mais importante. O jogador que se vale desta defesa ganha mais tempo para se manter no jogo e tentar conseguir a vitria. Em muitos casos ela ainda possvel mesmo aps sucessivos xeques do oponente e sacrifcios do jogador.

    O sacrifcio, na pesquisa, sempre necessrio em algum aspecto: seja o sacrifcio de referenciais, textos ou obras considerados importantes para o pesquisador, mas dos quais deve abrir mo para manter o cerne da sua pesquisa, seja o sacrifcio pessoal, com todo o dispndio de tempo, energia e emoo que exige uma pesquisa acadmica de longa durao. Os sacrifcios, momentos $'%&5,!+%&%#& *L;&!&(-!)!&%#$%!@7'&9#&)+%('&9'&0;&9!&"!)*+9!.&9#+M!;&!&;#$*#&em estado de alerta, e o raciocnio pode vir a funcionar mais rpido e com mais astcia diante da ameaa de um desfecho insatisfatrio. Excetuando-se os casos em que o risco evidente da perda da partida faz com que o jogador no consiga mais se concentrar, perdendo pea a pea sem reao, h o caso de jogadores que conseguem vislumbrar possibilidades geniais de se virar o jogo.

    O sacrifcio, apesar de ser, em alguns casos, a nica sada possvel, s vezes no executado por alguns jogadores. Ao perceber que devem continuar o jogo sem determinada pea ou posio vantajosa no tabuleiro, preferem desistir do mesmo, dando a vitria para o oponente. Esta atitude equivale ao jogador admitir que incapaz de ganhar o jogo sem esta pea, sendo que, como j foi dito em regra anterior, em xadrez se trata de saber explorar o mximo possvel do potencial de cada pea, e ter uma viso articulada de uma ao conjunta destas, ao invs de se concentrar em uma nica pea. comum grandes mestres de xadrez

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    ganharem uma partida apenas com as peas mais fracas, mas que, executando uma ao sincrnica, protegem umas s outras formando uma barreira de defesa intransponvel e um ataque inusitado.

    Portanto, quando necessrio, no se deve hesitar em conceder o sacrifcio para continuar o jogo. Algumas das mais interessantes vitrias so medidas pela (!"!(+9!9#&9'&O'B!9')&%!()+0(!)&'&5,#&!"!)#$*#;#$*#&%#)+!&'&%#,&"'$*'&;!+%&forte, e o fazem se valendo prioritariamente de sua capacidade de manejar todas as peas restantes, pensando em uma ao conjunta e sincrnica rumo ao alvo desejado.

    Assim, com esta ltima proposta estratgica inspirada no xadrez, encerram-se estas breves consideraes sobre metodologia da pesquisa em arte, desenvolvidas em sete tpicos: desenvolver capacidade de antecipao, enxergar linhas de fora, dominar as jogadas clssicas, desenvolver capacidade de adaptao rpida, enxergar a situao global e no apenas o caso particular, propor trocas e %!/#)&%!()+0(!)1

    Em detrimento de propor um compndio de normas metodolgicas, este pequeno texto prope uma leitura potica de estratgias enxadrsticas, buscando aplic-las ao campo da pesquisa em arte. Na passagem de um campo a outro, 0(!;&!%&('$*)!9+@A#%.&(';'&!&,*+-+P!@7'&9#&")+$(?"+'%&9#&,;&(!;"'&)!(+'$!-&"!)!&o campo imaginativo da prtica artstica. Juntamente com esta contradio, espero que tambm reste neste texto outra, tal qual propunha Lancri: o momento em que a razo se pe a sonhar e o sonho a raciocinar. Assim, esta relao entre xadrez e pesquisa e arte, ainda que contraditria, no seria invlida, mas de uma amplitude imaginativa prpria do raciocnio artstico.

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