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Suínos & Cia 19 Sanidade Ano VII - nº 43/2012 animais livres do patógeno em uma janela de tempo pré-determinada. Os princípios para o sucesso da DPMS são: (a) estabili- zação da sintomatologia clínica do plantel (antes do início das desmamas precoces) por meio de medicação/imunização do rebanho, (b) medicação de porcas e de leitões, (c) desmamar leitões entre 6 a 8 dias de vida, (d) alojamento dos desma- mados em múltiplos sítios segregados e medicação de leitões desmamados e (e) monitoria contínua de animais DPMS (sorologias, diagnósticos moleculares, acompanhamentos de abates). Esta técni- ca já foi descrita com sucesso para agen- tes como Mycoplasma hyopneumoniae e Actinobacillus pleuropneumoniae. Fechamento temporário de granja – técnica amplamente praticada na América do Norte para eliminação de PRRSv e M. hyop. de granjas, é economi- camente mais atrativa do que as demais, no caso de PRRSv, levando-se em conta o custo e a taxa esperada de sucesso, que gira por volta dos 85% (Torremorell et al., 2003; Holtkamp et al., 2012). Esta estra- tégia consiste na interrupção da entrada de animais de reposição por um período mé- dio de 28 semanas (Linhares et al., 2012). No caso de PRRSv, o fechamento de gran- ja é comumente associado à exposição de- liberada de todos os animais do rebanho ao vírus vivo (virulento ou atenuado). Deste modo, toda a população de animais é infectada e, eventualmente, desenvolve resposta imune protetora ao vírus e conse- quente imunidade de rebanho (livrando-se da população susceptível e quebrando o ciclo de transmissão). Eliminação a nível regional Como discutido na parte 1 desta série de artigos, patógenos podem ser dis- seminados regionalmente a partir de gran- jas infectadas, sendo transmitidos por vias diretas e indiretas para outras granjas com animais susceptíveis. As formas comuns de transmissão de patógenos entre granjas são por meio da introdução de animais e/ ou sêmen, veículos e outros fômites, in- setos e pássaros (vetores biológicos e/ou mecânicos) e aerossóis. É preciso ter conhecimento básico sobre as formas de excreção e transmissão de patógenos específicos, bem como uso de ferramentas de diagnóstico que permi- tam a identificação precoce de patógenos e a execução de estratégias de elimina- ção regional de forma coordenada entre sistemas de produção. O vírus da doença vesicular dos suínos foi erradicado da Itá- lia (Bellini et al., 2007), enquanto o vírus da aftosa foi erradicado de diversos paí- ses, incluindo a Colômbia (Gallego et al., 2007), Filipinas (Randolph et al., 2002) e o Japão (Sugiura et al., 2001). Similar- mente, o vírus da doença de Aujeszky foi erradicado de diversas regiões, incluindo a Espanha (Allepuz et al., 2008), a Nova Zelândia (MacDiarmid, 2000) e a Holan- da (Elbers et al., 2000). PRRSv foi elimi- nado do Chile (Torremorell et al., 2008), Suécia (Carlsson et al., 2009) e de algu- mas regiões específicas dos Estados Uni- dos (Corzo et al., 2011). Como exemplos locais, o vírus da febre suína africana foi erradicado em todo o território do Brasil (Moura et al., 2010), e o vírus da doen- ça de Aujeszky, de boa parte do território nacional. Conclusões Como descrito nas partes I, II e III desta trilogia, o controle e a erradicação de microrganismos infecciosos de siste- mas de produção de suínos são possíveis. Para tanto, é pré-requisito o conhecimento detalhado sobre ecologia e epidemiologia do patógeno-alvo, incluindo mecanismos de excreção, dinâmica da infecção, trans- missão entre animais e entre granjas e as diferentes formas de sobrevivência do pa- tógeno. O sucesso de tais programas sani- tários depende diretamente da disponibili- dade de ferramentas de diagnóstico. Ob- viamente não há receitas de bolo – cada programa terá necessidades específicas e contará com diferentes ferramentas de diagnóstico. Contudo, o importante é trabalhar com estratégias de monitoria sanitária que permitam um diagnóstico preciso, rápido e atual. Para o controle/eliminação de agentes infecciosos há a disponibilidade de diversas técnicas. Para algumas doenças não estamos prontos para eliminação por diversos fatores aqui descritos. Todavia, para outros patógenos, como Mycoplasma hyopneumoniae, A. pleuropneumoniae e PRRSv, há diversos relatos científicos documentando o sucesso da eliminação. Nestes casos, programas de biosseguridade são importantes para assegurar a sanidade do rebanho, justificando o investimento para eliminação. Ressaltamos também a importância da adoção de monitorias sanitárias, uti- lizando-se ferramentas diagnósticas que permitam investigações epidemiológicas em casos de novos surtos (epidemiologia molecular). A identificação da origem de surtos é de suma importância para o apri- moramento de programas de biosseguri- dade, prevenindo futuros casos. A barreira verde é uma das medidas de biosseguridade que assegura a sanidade do rebanho, auxiliando, assim, no controle e na disseminação dos agentes

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a Espanha (Allepuz et al., 2008), a Nova Zelândia (MacDiarmid, 2000) e a Holan- da (Elbers et al., 2000). PRRSv foi elimi- nado do Chile (Torremorell et al., 2008), Suécia (Carlsson et al., 2009) e de algu- mas regiões específicas dos Estados Uni- dos (Corzo et al., 2011). Como exemplos locais, o vírus da febre suína africana foi erradicado em todo o território do Brasil (Moura et al., 2010), e o vírus da doen- ça de Aujeszky, de boa parte do território nacional. 19 Suínos & Cia

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Suínos & Cia

19

Sanidade

Ano VII - nº 43/2012

animais livres do patógeno em uma janela de tempo pré-determinada. Os princípios para o sucesso da DPMS são: (a) estabili-zação da sintomatologia clínica do plantel (antes do início das desmamas precoces) por meio de medicação/imunização do rebanho, (b) medicação de porcas e de leitões, (c) desmamar leitões entre 6 a 8 dias de vida, (d) alojamento dos desma-mados em múltiplos sítios segregados e medicação de leitões desmamados e (e) monitoria contínua de animais DPMS (sorologias, diagnósticos moleculares, acompanhamentos de abates). Esta técni-ca já foi descrita com sucesso para agen-tes como Mycoplasma hyopneumoniae e Actinobacillus pleuropneumoniae.

Fechamento temporário de •granja – técnica amplamente praticada na América do Norte para eliminação de PRRSv e M. hyop. de granjas, é economi-camente mais atrativa do que as demais, no caso de PRRSv, levando-se em conta o custo e a taxa esperada de sucesso, que gira por volta dos 85% (Torremorell et al., 2003; Holtkamp et al., 2012). Esta estra-tégia consiste na interrupção da entrada de animais de reposição por um período mé-dio de 28 semanas (Linhares et al., 2012). No caso de PRRSv, o fechamento de gran-ja é comumente associado à exposição de-liberada de todos os animais do rebanho ao vírus vivo (virulento ou atenuado). Deste modo, toda a população de animais

é infectada e, eventualmente, desenvolve resposta imune protetora ao vírus e conse-quente imunidade de rebanho (livrando-se da população susceptível e quebrando o ciclo de transmissão).

Eliminação a nível regional

Como discutido na parte 1 desta série de artigos, patógenos podem ser dis-seminados regionalmente a partir de gran-jas infectadas, sendo transmitidos por vias diretas e indiretas para outras granjas com animais susceptíveis. As formas comuns de transmissão de patógenos entre granjas são por meio da introdução de animais e/ou sêmen, veículos e outros fômites, in-setos e pássaros (vetores biológicos e/ou mecânicos) e aerossóis.

É preciso ter conhecimento básico sobre as formas de excreção e transmissão de patógenos específicos, bem como uso de ferramentas de diagnóstico que permi-tam a identificação precoce de patógenos e a execução de estratégias de elimina-ção regional de forma coordenada entre sistemas de produção. O vírus da doença vesicular dos suínos foi erradicado da Itá-lia (Bellini et al., 2007), enquanto o vírus da aftosa foi erradicado de diversos paí-ses, incluindo a Colômbia (Gallego et al., 2007), Filipinas (Randolph et al., 2002) e o Japão (Sugiura et al., 2001). Similar-mente, o vírus da doença de Aujeszky foi erradicado de diversas regiões, incluindo

a Espanha (Allepuz et al., 2008), a Nova Zelândia (MacDiarmid, 2000) e a Holan-da (Elbers et al., 2000). PRRSv foi elimi-nado do Chile (Torremorell et al., 2008), Suécia (Carlsson et al., 2009) e de algu-mas regiões específicas dos Estados Uni-dos (Corzo et al., 2011). Como exemplos locais, o vírus da febre suína africana foi erradicado em todo o território do Brasil (Moura et al., 2010), e o vírus da doen-ça de Aujeszky, de boa parte do território nacional.

Conclusões

Como descrito nas partes I, II e III desta trilogia, o controle e a erradicação de microrganismos infecciosos de siste-mas de produção de suínos são possíveis. Para tanto, é pré-requisito o conhecimento detalhado sobre ecologia e epidemiologia do patógeno-alvo, incluindo mecanismos de excreção, dinâmica da infecção, trans-missão entre animais e entre granjas e as diferentes formas de sobrevivência do pa-tógeno.

O sucesso de tais programas sani-tários depende diretamente da disponibili-dade de ferramentas de diagnóstico. Ob-viamente não há receitas de bolo – cada programa terá necessidades específicas e contará com diferentes ferramentas de diagnóstico.

Contudo, o importante é trabalhar com estratégias de monitoria sanitária que permitam um diagnóstico preciso, rápido e atual. Para o controle/eliminação de agentes infecciosos há a disponibilidade de diversas técnicas. Para algumas doenças não estamos prontos para eliminação por diversos fatores aqui descritos. Todavia, para outros patógenos, como Mycoplasma hyopneumoniae, A. pleuropneumoniae e PRRSv, há diversos relatos científicos documentando o sucesso da eliminação. Nestes casos, programas de biosseguridade são importantes para assegurar a sanidade do rebanho, justificando o investimento para eliminação.

Ressaltamos também a importância da adoção de monitorias sanitárias, uti-lizando-se ferramentas diagnósticas que permitam investigações epidemiológicas em casos de novos surtos (epidemiologia molecular). A identificação da origem de surtos é de suma importância para o apri-moramento de programas de biosseguri-dade, prevenindo futuros casos.

A barreira verde é uma das medidas de biosseguridade que assegura a sanidade do rebanho, auxiliando, assim, no controle e na disseminação dos agentes