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PIERRE BOURDIEU: um mestre de oficio Maria de Fátima da Costa Gonçalves 1 Resumo: Este artigo analisa alguns dos fundamentais conceitos construídos por Pierre Bourdieu (1930 - 2002) que são acionados como noções operacionais para pensar as relações sociais do mundo contemporâneo, tomando por referência as matrizes da Sociologia Reflexiva e a análise de parte de seus artigos, conferências, pesquisas, ou seja, da sua produção intelectual. A análise das contribuições de Pierre Bourdieu se refere a assuntos específicos (embora seja muito tensa a clivagem dos seus argumentos), sobre quais foram empreendidos cortes, dado o volume de seus constructos teórico-metodológicos. Trata-se de algumas considerações sobre a sociologia reflexiva, a discussão em tomo da configuração do papel e do exercício do intelectual total, coletivo e negativo designativos conceituais para referendar o exame do conceito de intelectual e breves notas atinentes às suas ponderações sobre o neoliberalismo e a posição do Estado contemporâneo frente às políticas públicas, este enquanto um dos atributos específicos dessa esfera. A par de toda complexidade de argumentos e dos pontos polêmicos, essa apreciação como um todo é um tributo ao trabalho intelectual e à luta política do sociólogo francês morto em 23 de janeiro de 2002, em Paris. Palavras-chave: Pierre Bourdieu, Sociologia Reflexiva, produção de conhecimento, intelectual, Estado, estratégias neoliberais. A liberdade não é um dado, mas uma conquista, e coletiva. (BOURDIEU, 1990, p. 28) Para mim, a vida intelectual está mais próxima da vida de artista do que as rotinas de uma existência acadêmica (BOURDIEU, 1989, p. 39). INTRODUÇÃO Por ocasião de uma entrevista concedida em abril de 1985, Pierre Bourdieu (Deguin, 1930 Paris, 2002), discutindo a questão do espaço e da legitimação dos pensadores ditos universais, sublinhava naquele momento a sua precaução em utilizar as armas possíveis para exercer a crítica reflexiva aquela que todo pesquisador deve movimentar contra si mesmo e seus legados familiares do mond savant, lugar tranquilo, por onde repousam certezas 1 Professora do Departamento de Educação da Universidade Federal do Maranhão e aluna do Curso de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da UFMA.

Pierre Bourdieu- Um Mestre de Ofício

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Bourdieu um debate sobre o intelectual organico

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PIERRE BOURDIEU: um mestre de oficio Maria de Ftima da Costa Gonalves1 Resumo:Esteartigoanalisaalgunsdosfundamentaisconceitosconstrudospor PierreBourdieu(1930-2002)quesoacionadoscomonoesoperacionaispara pensarasrelaessociaisdomundocontemporneo,tomandoporrefernciaas matrizes da Sociologia Reflexiva e a anlise de parte de seus artigos, conferncias, pesquisas,ouseja,dasuaproduointelectual.Aanlisedascontribuiesde PierreBourdieuserefereaassuntosespecficos(emborasejamuitotensaa clivagemdosseusargumentos),sobrequaisforamempreendidoscortes,dadoo volumedeseusconstructosterico-metodolgicos.Trata-sedealgumas consideraes sobre a sociologia reflexiva, a discusso em tomo da configurao do papeledoexercciodointelectualtotal,coletivoenegativodesignativos conceituaisparareferendaroexamedoconceitodeintelectualebrevesnotas atinentesssuasponderaessobreoneoliberalismoeaposiodoEstado contemporneofrentespolticaspblicas,esteenquantoumdosatributos especficos dessa esfera. A par de toda complexidade de argumentos e dos pontos polmicos,essaapreciaocomoumtodoumtributoaotrabalhointelectuale luta poltica do socilogo francs morto em 23 de janeiro de 2002, em Paris. Palavras-chave:PierreBourdieu,SociologiaReflexiva,produodeconhecimento, intelectual, Estado, estratgias neoliberais. Aliberdadenoumdado,masumaconquista,ecoletiva. (BOURDIEU, 1990, p. 28) Paramim,avidaintelectualestmaisprximadavidadeartistado queasrotinasdeumaexistnciaacadmica(BOURDIEU,1989,p. 39). INTRODUO Porocasiodeumaentrevistaconcedidaemabrilde1985,PierreBourdieu (Deguin, 1930 Paris, 2002), discutindo a questo do espao e da legitimao dos pensadores ditosuniversais,sublinhavanaquelemomentoasuaprecauoemutilizarasarmaspossveis paraexerceracrticareflexivaaquelaquetodopesquisadordevemovimentarcontrasi mesmo e seus legados familiares domond savant, lugar tranquilo, por onde repousam certezas 1 Professora do Departamento de Educao da Universidade Federal do Maranho e aluna do Curso de Doutorado do Programa de Ps-Graduao em Polticas Pblicas da UFMA. dogmticas. (BOURDIEU, 1990). Era, sobremodo, um exerccio regulador da prtica de pesquisa equeparecet-lonorteadoaolongodesuaexperinciacomosocilogo:avigilncia epistemolgica,tocaraaGastonBachelard(1996).Osocilogofrancsinmerasvezes enclausurado2 ora nas molduras do estruturalismo, ora do positivismo, ora do marxismo, ora do weberianismooumesmonadiscutvelclassificaosavantdenominadacrtico-reprodutivista, estavaversandosobreumadassuaspreocupaescentraisaquestodoconhecimento,a suaproduo,assutilezasdeappt.Bebendonasfontesdeautoresefazendointerlocues comeles,Bachelard,Ganguilhem,Cassirer,Panofsky,Merleau-Ponty,Durkheim,Marx,Mauss, Husseri,Wittgenstein,Heidegger,Freud,Lacan,porexemplo,construiusuasargumentaes, respaldado na ideia de que o conhecimento se forma e se transforma ininterruptamente. Polemico,instiganteeafetoapoucaspalavras,PierreBourdieu,comoelemesmo chegou admitir, era uma exceo regra de excluso social do sistema de ensino francs: filho de um funcionrio doscorreios, nascido numa cidade da regio francesa de Barn, ascendeu condiodeprofessoruniversitrio3,primeiroemMoulinedepoisemLilie,parafinalmente chegaraoconsagradoCollegedeFrance.Nesteartigo,tratar-se-dascontribuiesdePierre Bourdieuemtrsdomniosespecficos(emborasejamuitotensaaclivagemdosseus argumentos):algumasconsideraessobreasociologiareflexiva,adiscussoemtornoda configurao do papel e doexerccio do intelectual e breves notas sobre as suas ponderaes, sobreoneoliberalismoeaposiodoEstadocontemporneofrentespolticaspblicas enquanto um dos atributos especficos dessa esfera. PIERREBOURDIEUEOPARADIGMADACARTAROUBADA:consideraessobrea produo do conhecimento e as prticas de Investigao cientfica Entregamos aqui os depoimentos que homens e mulheres nos confiaram a propsito de sua existncia e de sua dificuldade de viver. Organizamo-los e os apresentamos comoobjetivodeconseguirdoleitorquelhesconcedaumolhartocompreensivo quanto o que as exigncias do mtodo cientfico nos impe e nos permite conceder. [...] 2 Ao ser inquirido sobre a influncia de Weber e Marx na gnese dos conceitos que havia desenvolvido e se podia serconsideradoumweberiano,PierreBourdieurespondeu:[...]Enocostumoresponderaessasperguntas. Primeiro, porque, em geral, elas quase sempre so feitas- sei que no o seu caso - com uma inteno polmica, classificaria,paracatalogar,kathegoresthai,acusarpublicamente:Bourdieu,nofundo,durkheimeano.Oquedo pontodevistadequemdizisso,pejorativo;significa:eleridomarxista,eissomau.Ouento: Bourdieu marxista,eissomau.Trata-sequasesempredereduziroudedestruir.(BOURDIEU,1990,p,41)(grifoda autora) 3 Pierre Bourdieu foi diretor de Pesquisas da cole de Haute tudes em Sciences Sociales, professor do Collge de France, diretor da revista Actes de la Recherche em Sciences Sociales e da publicao Liber-Raisons dAgir e, ainda, do Centre de Sociologie Europenrie. Como,defato,noexperimentarumsentimentodeinquietaonomomentode tornarpblicasconversasprivadas,confidnciasrecolhidasnumarelaode confiana que s se pode estabelecer na relao entre duas pessoas? (BOURDIEU, 1993, p. 9) Aoproferiraaulainaugural4noCollgedeFrance,nodia23deabrilde1982, imprimiu,porassimdizer,amarcadasuaformadetrabalharcomainvestigaosociolgica, cuja validade estava na proporo direta de ser ele mesmo, enquanto cientista social, inquisidor das relaes evidentes e familiares, como costumava dizer e, que podiam obstruir a construo doobjetodeestudo.Porisso,emmeioaessaaula,essalio,paraguardaraforaquetem essapalavraesubmetidaaquipropositadamenterefernciaaoconceitodeautoridade pedaggica(BOURDIEU;PASSERON,1982)eaoprincpiodomagisterdixitaristotlico,como certamente queria Bourdieu fazer ressaltar, a profisso de socilogo no condiz com a condio de descobridor de leis sociais como pretendia Durkheim (1939, p. 39), mas de um desordeiro de fatosPraticar advidaradicalemsociologia pr-seumpoucoforadalei,devisesede divises do mundo social e dos sistemas classificatrios que parecem querer pr em ordem esse mundo.SersocilogoparaBourdieueraumoficiodoidoerigoroso,porquantodeveriasera contrapropostaaoconhecimentocadavezmaisadensadopelacertezadarepetio.Eassim disse na sua aula inaugural: Muitas realidades ou relaes que ele pe a descoberto no so invisveis, ou o so apenasnosentidodequeelascegamosolhos,segundooparadigmadacarta roubada caro a Lacan5. [...] Arecusaemreconhecerumarealidadetraumatizantesendoproporcionalaos interessesdefendidos,compreende-seaviolnciaextremadasreaesde resistnciaquesuscitam,entreosdetentoresdocapitalcultural,asanlisesque trazem luz do dia as condies de produo e de reproduo denegadas da cultura ..] (BOURDIEU, 1994, p. 31) (grifo da autora) Bourdieuempenhou-senosentidodechamaraatenoparaatendnciado cientista em naturalizar os dados, de autores, a realidade do mundo social como evidncias e os olharessedimentadosnasfamiliaridades,contraoreferidoautomatismodarepetioena buscadoexercciodaconversodoolhar6nainstnciaespecificadaproduodo 4 A aula inaugural proferida por Pierre Bourdieu em 1982- Leon sur la leon- foi traduzida para o portugus com o titulo de Lies de Aula 5AcartaroubadaumcontotraduzidoporCharlesBaudelaire eutilizadoporJacquesLacan(1901-1981)para trabalhar com a questo do que chamou de automatismo da repetio. No conto, h mis olhares e trs sujeitos: o primeiro um olhar que nada v (o Rei, a polcia), o segundo, o olhar de que v que o primeiro nada v e se engana por ver encoberto o que ele oculta (a Rainha e o ministro) e o terceiro olhar diz Lacan (...) o que v, desses dois olhares, que eles deixam a descoberto o que para esconder, paro disso se apodere quem quiser o ministro e por fim, Dupin (LACAN, 1998, p. 17). 6Trata-sedeproduzir,senoumhomemnovo,pelomenosumnovoolharumolharsociolgico.Eissono possvel sem uma verdadeira converso, uma metania, uma revoluo mental, uma mudana de toda a viso de mundo social (BOURDIEU, 1989, p. 49) conhecimento7 que esse pesquisador reuniu os argumentos e conceitos especficos para pensar asformaseascondiesdaproduodoconhecimento.Titulouesseexerccioespecificodo oficio de investigao cientfica de Sociologia Reflexiva (1989). Nesse sentido, tocou em pontos nevrlgicos, ou seja: nas estruturas sedimentadas referidasaochamadoconhecimentoortodoxo.Bourdieuchamouatenoparaoesquemada tradiomedieval:auctor(produtordodiscursonovo)-ledor(comentadordodiscurso)e, consequentemente,paraoprincpiodaauctortctasdoauctor(BOURDIEU,1990,p.135):a constantelegitimao econsagraodoconhecimentojproduzidoeaindistinoentreo que produzconhecimentoeaquelequeoreproduzcomosefosseproduo,processo,porassim dizer, denominado de senso comum douto (BOURDIEU, 1989, p. 46). Aponta-separaosprocedimentosqueooficiodosocilogo8requer,naspalavras textuaisdoautordeSociologiareflexiva(1939,p.21),premcausaosobjectospr-construdoseassim,deslocando-sedosdomniosfossilizadosdaortodoxiaparaoterreno incerto e arenoso da heterodoxia, daquilo que nasce da intranquilidade das tensas e complexas relaes do mundo social. AliodeBourdieu:ooficiodosocilogosimbolicamenteumritualcomoos trabalhosartesanaisdaschamadascorporaesdeoficio,estmuitodistantedaposio estticadopesquisadore,pareceserumaatividadequevaidoolhoamo9,umtrabalho minucioso,querequerabrangerolharesinquietosfrentespossveisfamiliaridadesdas evidnciasereinscreverformasdequestionareredimensionarsempreosdadosaserem trabalhadoseconfiguradosnumtextoquenasceinquietoeinseguroenoacaba.Pareceque nem mesmo comeou. Assim, a sensao de escrever o pensado e o analisado muito etrea e impondervel. Risvel, por vezes. Em outras, uma porta entreaberta. Bourdieu mostrou quea vulnerabilidade, a angstia e toda sorte de incertezas que rodam como fantasmas a atividade de pesquisa. No , pois, uma propriedade de pertena dos pesquisadoresincautos,masumestadodealma,porassimfalar,continuamentepresenteno trabalhodeinvestigaocientfica.Asdvidaseodoubleblind,comochamou(BOURDIEU, 7PierreBourdieuempreendeadiscussoemtornodaproduodoconhecimentoeminstnciasespecificaspor agentes especficos e consagrados pelo que denominou de senso pblico. Ver BOURDIEU, P. Campo intelectual e projeto criador In: Problemas do Estruturalismo. Rio de Janeiro: Zahar, 1968. 8 Le mtzer de soaalogue publicado em 1968, Bourdieu marcou posio face ira questes afetas esfera da produo do conhecimento, notadamente, da pesquisa cientifica. 9 Em As regras da arte, Pierre Bourdieu falou do olho do Quattrocento (livro de Michael Baxandall) para discutir aquilo que denominou de sociologia da percepo artstica, isto , a ruptura com as pr-noes que circunscrevem aanlisedastcnicasdeexpressoartstica(BOURDIEU,1996.p.350),Utiliza-sedessaanliseparatentar aproximar o olhar do pesquisa- dor como uma forma de percepo mais cuidadosa no sentido de romper com as demandas das familiaridades dos objetos pr-construdos. 1989)odilemaquemarcaainvestigaoeopesquisador,seestabelecemcomoproblemas comuns e que longe de se constituir num obstculo so formas necessrias para o exerccio de implosodoprincpiodascholasticview.ApontandoparaainfluenciadeLudwigWittgenstein, Bourdieu o citou, ao partilhar da mesma angstia do filsofo alemo. E de tal modo falou:Wittgenstein certamente o filsofo que me foi mais til nos momentos difceis, uma espciedesalvadorparaosgrandesperodosdeangstiaintelectual:quandose trata de questionar coisas to evidentes como obedecer a uma regra. Ou quando se trata de dizer coisas to simples (e, ao mesmo tempo, quase inefveis) como prati car uma prtica. (BOURDIEU, 1990, p. 21). Sim, em Pierre Bourdieu a lio da lio do ato de pesquisar um ritual por demais complexo,postoquesempre,antesdetudo,estoemjogoeemexposiocontnuaas ameaasdasincertezaseascertezasquedeixamdvidas,toradicaisquantonecessrias. Nesselugarestacriticaeodireitodeirparaalmdobvio.Valemaisoolhardevassode Dupin. PIERREBOURDIEUINCONFIDENTE:OMOVIMENTOCONTNUODOSCONCEITOS FORMULADOS PierreBourdieunopodeserlidodeformalinear,nuncasecomportoudeforma previsvel e presumvel. De forma acabada. Seus conceitos no esto circunscritos em um livro, emumtrabalho,emumapesquisa.Seusargumentoseassuasreformulaespercorrem trajetrialonga,instigantee,porvezes,dantidasensaodeumatransmutaoradicalna conformao dos conceitos. No h como falar desse agitador do discenso social referido a um comeo,meioefim.Longedisso,parecesemprerecomearouentoparecerefazerofeitoe desdizer o dito. oportuno resgatar-lhe alguns desses conceitos, ainda que de forma punctual, pondoemriscoasclivagensprofundasqueoscortame,ademais,oriscodeuma superficialidadeaqualosocilogoabjurouemnomedorigormetodolgi coqueuma investigao cientfica requer. A carreira acadmica desse socilogo esteve marcada por inmeras pesquisas, na maior parte referida a determinadas realidades empricas (gostava de se enfatizar sua oposio frente ao que denominou de takeri forgranted). Convm destacar que em 1975 criou a revista Actes de la Recherche em Sciences Sociales10 editada trimestralmente pela ditions du Seuil, 10 Conforme informao do peridico: Fonde em 1975 Ia Moison des sceces de lhomme et avec son soutien. Publie par le Centre de Sociologie Europene du Collge de France el de lEcol e de Hautes tudes en Sciences Sociales,laboratoireassocieauCNRSavecconcoursdoCo!lgedeFrance,dasIaMaisondasSciencesde lhomns.deIcoledeHautestudesemSciencesSoeialesetdoCentre NationaldoLivre. Informa-sequeessa publicaonotraduzidaparaoportuguseoltimolanamentofoiemdezembrode2001,apublicaode sendo que sua primeira pesquisa publicada em parceria com Yvette Delsault foi Le coutuner et as grife: contribuitin une thorie de la magie(estudo da linguagem da moda dos estilistas da alta-costura francesa) 11, inaugurando uma srie de trabalhos que tratariam de questes as mais diversasediversificadas.Aqui,oolharatentoeconvertidodocientistasocialnoconfirmava afinal o paradigma lacaniano da carta roubada. Diga-se,ento,queesse olharperscrutadortinhaum campodeacuidadeamplo medidaqueo socilogofrancsexcursionoupormeio dooficioquelheerapeculiar,pela casa cabila,passandopelamoda,literatura,esporte,mdia,gnesedoEstado,polticaspblicas, campoeconmico,burocracia,fotografia,sistemadeensino,dominaomasculina12(PINTO, 2000)enumacondiodealertaconstante,buscounaobservaocuidadosadasrelaes sociais,algumasquestessub-repticiamentepostasnossubterrneosdasdiscusses acadmicas. Uma das primeiras contribuies de Pierre Bourdieu foi Sociologie dAlgrie (1958), comopartedacoleoQuesais-je,TravailettravailleursemAlgrie,oqualem1979foi traduzido e editado no Brasil com o ttulo de O desencantamento do mundo. Paraalmdaspesquisasnasociedadecabila,essegaulsinquieto,em1964, escreveuumtrabalhoqueintitulouLeshrieters:lestudiantsetlacultureemparceriacom Jean-Claude Passeron, no qual, antes dos protestos de maio de 1968, fazia uma cida crtica ao sistema universitrio francs. Esse trabalho aventou conceitos como capital cultural. E o conceito decapitalculturalsubtendeumarelaoaumcertovalorqueele,enquantocapitalpossui,ao mododocapitalpordizer,econmico:umvalordetroca.nessesentidoqueosistemade ensino,especificadamente,ainstituioescolarcontribuiparaareproduodessecapital,de formaquetendeaseperpetuar,sendodotadodeumalegitimidadedadapelaautoridade pedaggica (agente ou instncia que realiza o trabalho pedaggico)13. Bourdieu, ao se valer de

nmero 140 que consagra as discusses em torno da ordem econmica e da democratizaopoltica da Rssia, as experincias do sufrgio censitrio e do sufrgio universa., enfim, a questo da democracia e do voto. 11Pode-sedestacardentreinmerasproduesdePierreBourdieueditadasemAcresdeLarechercheem Sciences Sociales: El si on parlait de lAfghanistan? (entrevista com o autor em 1980) no n.34, La Maison do Roi Raison dtat: um modle de Ia gense du charnp bureaucratique (1997) no n.118, Sur la Science de ltat (em parceria com Livier Christin e PierreEtienne WilI), em que discute algo bem oportuno para ser acionado nas analises dasestratgiasdegovernoedosprogramasdepolticaspblicas,denominadopelosautoresdesauoirs bureaucratique (BOURDIEU, P, (Directeur. Actes de la Recherche em Scier,ces Sociales. Paris: Seuil, n. 133, juin, 2000,p7).envolvendoandaadiscussodachamadafundaodoEstadoModerno.Emais:nodecursodos26 anosdepublicao,passarampeloperidicoautorescomoNorbertElias,LudwigWittgenstein,En.ingGoffman, Theda Skocpol. para citar alguns. 12 Com relao ao estudo da sociedade cabila, Bourdieu publicou, dentre outros, o trabalho Esquisse dune thorie de la pratique, precede de tais tudes detltnoogw kabyle (1972), 13 Sobre as categorias autoridade pedaggica, ao pedaggica, trabalho pedaggico e as formas de se articularem no sistema de ensino, com vista a reproduo das relaes sociais de produo, pode-se consultar A reproduo: elementos para uma teoria do sistema de ensino, em colaborao com J.C. Passeron e publicada em 1970. investigaessobreosistemadeensinofrancs,enos,mastambmdaconstituiodo campointelectualnaFranaemmomentosdados,porexemplo,quandoescandiuarelao entreasociedadefrancesadosculoXIXeoexamedaeducaosentimentaldeGustave Flaubert.Issoconsentepensarsobreamanutenodasdiferenassociaispr-existentes, emboraosagentessevalhamdocritriodomritoescolarededesempenhoouaquiloque diversas vezes ele denominou de ideologia do dom um conceito que ajuda a pensar a ordem social tal como . Em uma conferncia realizada na Universidade de Todai (Japo), em 1989, e quejuntamentecomoutrasintervenesestoreunidasnotrabalhoRazesPrticas:sobrea teoria da ao (1997), o autor explicou: Paratermosumavisoglobaldofuncionamentodosmecanismosdereproduo escolar,podemos,emumprimeiromomento,evocaraimagemutilizadapelofsico Maxwell para explicar como a eficcia da segunda lei da termodinmica poderia ser anulada:Maxwellimaginaumdemnioquefazatriagemdaspartculasem movimento, mais ou menos quentes, isto , mais ou menos rpidas, que chegam at ele,enviandoasmaisrpidasparaumrecipientecujatemperaturaseelevaeas maislentasparaoutro,cujatemperaturabaixa.Assimfazendo,elemantma diferena,aordemque,deoutromodo,tenderiaadesaparecer.Osistemaescolar agecomoodemniodeMaxwell:custadogastodeenergianecessriapara realizaraoperaodetriagem,elemantmaordempr-existente,isto,a separaodosalunosdotadosdequantidadesdesiguaisdecapitalcultural.Mais precisamente,atravsdeumasriedeoperaesdeseleo,eleseparaos detentoresdecapitalculturalherdadosdaquelesquenoopossuem.Sendoas diferenasdeaptidesinseparveisdasdiferenassociaisconformeocapital herdado, ele tende a manter as diferenas sociais pr-existentes. (BOURDIEU, 1996, p.36) (grifo da autora). HdeseobservarasformulaesdeBourdieusobreosistemadeensinocomo umainstncialegitimadadeconsagraoelegitimadoradeposies,maisintensamente, formadora,juntamentecomoutrasinstituiessociais,dohabitus.Esseconceitorealouas formas de entendimento do mundo social, a partir de critrios,princpios e classificaes por ele consideradas arbitrrias (por se tratar de vises de mundo de um grupo particular) e, em assim sendo,seconstituirnumaformadeacionarosconceitosdeviolnciasimblicaedepoder simblico que vo marcar essas posies dos agentes e instncias, sendo este ltimo um poder quasemgico,naspalavrasdeBourdieu(1989)porobterosresultadosquegeralmenteso obtidos com o poder da fora fsica. Aambarcando o referencial contido no conceito de hexis aristotlico, ele construiu a noo de habitus para pensar as prticas distintas e distintivas de diferentes grupos sociais e, aindamais,pensarasdiferenassimblicaseoquantumdocapitalculturalquepermitem diferentesposiesetomadasdeposionocamposocialporessesgruposouagentes.A noodehabitusuminstrumentoanalticoacionadoemmomentosdeextrematensonas prticassociais.Permitefalardasdiferenasedascategoriasdediferenciao,distinoe ordenamento do mundo social de forma relacional, contrariamente ao princpio de entendimento queconcebeanoodehabituscomoumconceitodevaloraoe/oudecritriofundantede uma postura mecnica de entendimento das prticas e conscincias dos agentes sociais. Pierre Bourdieu trabalhou essa noo operacional a partir de diversas perspectivas deanlisedasrealidadesempricascomasquaissuasinvestigaesforamseaproximando. Portanto, uma noo, assim como as demais e j dita,difcil de prescrev-la, de delimit-la. O trabalho Les sens pratique, publicado em 1980, o arcabouo da discusso que perduraria em outros trabalhos de Bourdieu, sobre o modo de pensar relacional e sobre a desubstantivao da visodemundosocial14seguidodeoutros,dentreosquais,HomoAcademicus(1984),La Noblessedtat(1989)e MisriadoMundo (1993)realizadojuntoasegmentosexcludosda Franaecompostode747pginas15,editadoem1993,falandodosofrimentosocialdeuma parcela considervel desses excludos. Em Mditations Pascaliennes (1997), uma autobiografia intelectualecientfica,PierreBourdieupsemxequeumconceitoquejtrabalhavaalgum tempo:capitalcultural.Questionando-o,ponderousobreoentendimentoquesepudesseter comoumacontrapartidadiretaeparticulardocapitaleconmicoepassa,ento,afalarsobre efeitosdecapitalquepermite,assim,pensarparaalmdavisodualistadocapital econmico e simblico. Outrostrabalhos,comoContrafogos:tticasparaenfrentarainvasoneoliberal (1998)eContrafogos2:porummovimentosocialeuropeu(2001)renemdiversas intervenesemmltiplasinstncias(entrevistas,jornaisnotadamente nosjornaisfranceses Le Monde e Libration -, pronunciamentos durante as greves de dezembro de 1995 contra o planodeseguridadesocialdopremiJupp,conferncias,encontros)dosocilogosobreas questesdachamadaglobalizao,dasposiesestrategicamenteadotadaspelospases europeus e pelos Estados Unidos, enfim, sobre a parafemlia dos mecanismos internacionais de dominao e excluso social. Porvezes,tem-seantidaimpressoquePierreBourdieuprecisouafastar-sedas suas proximidades empricas e conceituais para voltar a elas com mais intensidade, como o fez aoestudaradominaodaordemsocialmasculinatomadapelocritriobiolgicoe,portanto naturalenaturalizante,retornandoaocampodetrabalhoentreoscabilasque,segundoele, mantmrelaesdesimilitudescomaspercepesdomundoandrognicodasociedade 14Trata-sedadiscussoquetraztonaaquiloqueCassirerhaviachamadomododepensarsubstancialista,ou seja,omododetratarosconceitoscomosefossememsimesmoportadoresdepropriedadesintrnsecase imutveis, tornando-os em si mesmo, substantivos. Bourdieu pretendia chamar ateno para a forma relacional de pensar os conceitos e categorias analticas, ou seja, constru-los e pens-los a partir um do outro. 15 Resulta do trabalho de vrios pesquisadores da equipe de Pierre Bourdieu. europia. Assim procedeu em um dos seus trabalhosltimos, A dominao masculina (1998). Nesse mesmo trabalho, no Prefcio edio alem16, Pierre Bourdieu (1999) afirmou: desejarqueelassaibamtrabalharparainventareimpor,noseiomesmodo movimentosocialeapoiando-seemorganizaesnascidasdasrevoltascontraa discriminao simblica [...]. Adiante,colocam-seasprincipaisconstruesdePierreBourdieusobreoque denominou intelectual e as suas posies ou, para ser, menos bvios, as suas contraposies face s ensandecidas estratgias neoliberais. PIERRE BOURDIEU E AS RAZES DE AGIR: do intelectual total ao intelectual coletivo Pensoqueosintelectuais,esobretudo,ossocilogos,somaisdoquenunca necessrios. Eles so os nicos capazes de desempenhar o papel de ouvidores, de dizertudoaquiloqueodiscursodominantesufocaeoculta.Osbrasileirostmo direitodeestardecepcionadoscomosintelectuaise,notadamente,comtodosos sbios do poder, economistas ou socilogos, que colocam sua autoridade estatutria a servio dos mais aptos polticos, pelo menos a longo prazo, para destruir todos os direitossociaisadquiridosetodasassolidariedadesqueostornaram possveis.(BOURDIEU, 2000, p. 13) Costuma-sebuscarnofamiliarconceitodeerudioasinonmiaparaacategoria intelectual.Enocampomesmointelectual,naprocuraespecficaporvisesdemundo dominantes,asposiestericasdivergem.PassandoportericoscomoKarlMannheim, Antonio Gramsci, Michel Foucault e Edward Shills, para citar alguns que enriquecem o debate e marcamasdissenses,examinar-se-paraumabreveanlisedacategoriaemtela,emAs regrasdaarte(1996b),Contrafogos:tticasparaenfrentarainvasoneoliberal(1998)e Contrafogos2:porummovimentosocialeuropeu(2001)eLiber1(1997),trabalhosque Pierre Bourdieu marcou mais precisamente as construes sobre o intelectual. EmAsregrasdaarte,Bourdieu,quandoescreveuOintelectualtotalea onipotncia do pensamento (1996, p. 238), construiu um referencial para a categoria intelectual, ligando-ossuasprodueseposies.Trata-sedeumaleituradeJean-PaulSartre.Aose inserir Sartre simultaneamente em subcampos especficos do campo intelectual17 - filosofia (pelo contedo da filosofia existencialista, enquanto viso de mundo) e literatura (gnero do romance metafsicoquemediapelaformaodiscursodessavisodemundo),essesocilogogauls tentou inventariar essa trajetria de Sartre. A chamada onipotncia do pensamento expressa na anlise de Sartre, a respeito da obra de Gustave Flaubert, precisa ser pensada em sua relao 16 Este prefcio consta da edio brasileira de A dominao masculina (BOURDIEU, P, 1999) 17OcampointelectualparaBourdieusimilaraocampomagnticoporsetratardeumcampodeforas. (SOURDIEU, 1966, p. 105) comarepresentaosocialacercadafiguradointelectual:Sartreaoempreenderumaanlise da obra de Flaubert acaba por revelar a compreenso que tem de si mesmo enquanto intelectual sobaforma,deacordocomBourdieu,doconceitopsicanalticodedenegao(1996b).Sua escritaacabouporrevelar,afortiori,acompreensoqueoautordeLaNausepossuidesi mesmo enquanto intelectual. Sua escrita acabou por revelar sua prpria posio de escritor que deveriapermanecerabrigada.Destarte,oocultamentodesuaposiodeescritorcoloca-sena estritamedidaqueelege,comonicofundamentodesuaproduo,aonipotnciadoseu pensamento.SartreleitordeAeducaosentimentaldeFlaubertfoiocortemarcadopor Bourdieuparadiscutiraposiodointelectualque,aofalardooutro,habilita-seafalardesi prprio enquanto intelectual. Quando procedeu de forma a circunstanciar o conceito de intelectual total, Bourdieu argumentou que o intelectual estava sempre situado histrica e socialmente, de maneira que sua posiosocialdeescritoreseuprojetocriadorseriamdefinidostantoemrelaoaumcampo especficocampointelectualcomoemrelaoquelescomosquaisse comunicamcom os seus contemporneos. (1966). Aquesto da conscincia dointelectualcolocou-seporassimdizer,paraBourdieu daseguintemaneira:aproduointelectualpensadacomoinscritanumdeterminadotipode conhecimentoenumdeterminadomomento.Postanestestermos,oconceitodeintelectual permiterevelartantoosvalorescomoosistemaderepresentaesdadefiniosocialdo intelectuale,comisso,situarafunoeavocaorevolucionrialigadanovafigurado intelectual inaugurada por Emile Zola, a qual permite ponderar o partidopoltico como instncia quedenotaaindependnciaeadignidadedointelectual.Porassimdizer,Zolacontemploua figura do intelectual total ou engajado18 - simultaneamente relacionado no campo intelectual e no campo poltico e portador de uma voz e uma posio com pretenses ao universal. Essa posio polmica de Bourdieu o marca entre seus pares e os seus leitores: o socilogofrancspareceuaprioriquererabstrairointelectualdocampopoltico,enraizando-o nosmurosdaacademia.Noentanto,convmchamar atenoparaessacategoriaespecfica- intelectualtotalfoiconstrudaparadialogarcomas formulaeseposiesdemileZolae Jean-PaulSartre,adstritasaofinal dosculoXIXatmeadosdosculoXX,notadamenteface ao movimento francs de 1968. 18Sobreaconscinciadointelectual,MichelFoucaultemAmicrofsicadopoder(1993)distinguedoistiposde intelectual:ointelectualuniversaleointelectualespecfico.Segundoele,avocaorevolucionriaeopretenso monopliodcumaconscinciauniversaldointelectualsocritriosdeconstruododenominadointelectual universal, cuja funo seria colocar-se como a conscincia de todos, especialmentedo proletariado. Para Foucault essafiguradointelectualuniversaltornou-seobsoletadesdequesuafunonomaisnecessriaparaa sociedade, uma vez que, segundo ele, as massas j adquiriram conscincia. QuandoretomouoassuntoemLiber119,PierreBourdieunoartigoEnoentanto [...] afirmou que: [...]osintelectuaisnopodemmaissecontentarcomdennciasprofticasdo intelectualtotalmaneiradeSartre,nemcomasanlisescrticasdointelectual especifico,talcomoeradefinidoporFoucault.Paratanto,osintelectuaisdevem mobilizar-seeorganizar-seemescalainternacional(decertosevalendodasnovas tecnologiasdacomunicao),comvistasaconstituirumverdadeirointelectual coletivo,transdisciplinareinternacional,capazdeinstituir-seemcontrapodereficaz diantedospodereseconmicos,polticosedamdia,nacionaisesupranacionais, bemcomodecolocarnovasformasdeaoaserviodasdiferentesformas histricasdouniversalquesoindissociveistantosuaexistnciacomoseus interesses especficos. (BOURDIEU, 1997, p. 204) (grifos da autora) Aoativaroconceitodeintelectualcoletivoparafalaremformasdeintervenes estratgicasnomundosocial,oautordeAsRegrasdaArteestavacontrapondoafigurado intelectualtotal(apensar,umintelectualindividuocomoportadordeumaconscincia universal)resistnciacontraoquedenominouderegressointelectual,moralepoltica emanadadoimperialismoepelassuasconsequncias(BOURDIEU,1997,p.205)eao submeterpordiversasinstnciasdeintervenoasilusesdarazoeosabusosdopodera uma critica radical das prticas de violncia simblica. prudentenotarquePierreBourdieuestavaperpetrandorefernciaauma realidade a Europa solapada pelos lastros da lgica de mercado e juntamente com outros intelectuaisegruposorganizadosnogovernamentais,tentandoviabilizarprojetosdoque chamoudenovointernacionalismoparaseoporaoconceitodeimperialismo.Nessa circunstncia, no se pode perder de vista, a fala de um europeu e pertencente ao Collge de Frarce20,hajavistaadiscussonosdaquiloquedesignouporsofrimentossociais resultado das polticas restritivas de proteo social - em seu empreendimento de pesquisa que culminoucomotrabalhoAmisriadomundo(1993)comotambmdasquestesligadas implantao da moeda nica o euro e os critrios que deveriam compor aquilo que est como subttulo de Contrafogos 2: movimento social europeu21. AoserquestionadonumaentrevistadadaDroiteFerrenczi(BOURDIEU,1998,p. 9),PierreBourdieumencionouasformasdeinscreveralutadosintelectuaisnaconstruodo que chamava de contrapoder, sendo que uma delas seria a criao de novas formas de trabalho 19Trata-seumacoletneadeartigos-JrgenHabermas,TerryEagleton.GeorgesDuby, E.P.Thompson, Robert Darnton, Louis Pinto, dentre outros publicados na revista internacional de livros Liber criada em 1990 por Pierre Bourdieu. 20AssimseprocedeparademarcarasposiesdePierreBourdieunocampointelectualeciorelaoaoseu pertencimentoaosmovimentoseinstnciasdaFrana/Europa.Issoddecertamaneira,umaseguranaparase evitar transposies livres que afinal comprometem o uso operacional do conceito. 21 Publicado inicialmente no jornal Le Monde, com o titulo de Pour um mouvement social europen, publicado em junhode199(p.1,16-17),assimcomooutrosartigos,aexemplodeLaachiriectedeleuropasseauxateux publicado em setembro de 1997 (p. 19) e Lessence du neolibralisme publicado em maro de 1998 (p. 3). coletivo,capaz,segundoele,dereconstruirasideias,mobilizarvontadessemmistificaras conscincias (BOURDIEU, 1998, p. 19). Nessaanlise,elenopretendiaencontrar avoz do consensojqueestecontm dissenses ligadas s lutas pelas verdades de viso de mundo no campo intelectual. Mas ainda assim, no seria o dissenso o entrave formao de um movimento social contemporneo pelo intelectualcoletivo.Ocritriodedispersoseriamarcadopeloconceitodeintelectualnegativo que Pierre Bourdieu edificou tomando por base as intervenes da intelligentsia da mdia22 e dos polticos(BOURDIEU,1998,p.133),geridas pelabaixapolcia simblica, conformeforam suas prprias expresses: [...] baixa policia simblica anttese absoluta de tudo o que define o intelectual, a liberdadeemrelaoaospoderes,acrticadasideiasprontas,ademoliodas alternativassimplistas,arestauraodacomplexidadedosproblemasser consagrado pelos jornalistas como intelectual de pleno direito. (1998, p.133) Apardessasdiscusses,PierreBourdieufundouumgrupoeedi toradenominada Raisonsdagircomointuitodeconcebernovasformasdeexpressoparatransmitiraos militantesasconquistasmaisavanadasoriginariasdoterrenodainvestigaocientfica.Efoi assimque,desde1996,pretendefuncionarcomocircuitoalternativonosmercadoseditoriais, buscando a conciso da linguagem e uma estreita relao entre a cincia e a militncia. Esta umadasrazeseumadasrazesdeagirquefezBourdieulegarsuacontribuioparaum mundo fragilizado pelas hordas da agiotagem internacional e das incrias da poltica mundial. PIERREBOURDIEUEOESTADODOMAL-ESTARSOCIAL:emdefesadasestratgias de enfrentamento das polticas neoliberais Fala-semuitodosilnciodosintelectuais.Oquemeimpressionaosilnciodos polticos. (BOURDIEU, 1998, p. 13). A censura mais radical a ausncia. (BOURDIEU, 1989, p. 55). AsintervenesdePierreBourdieurelativaspresenacada vezmaisdiminutae circunscritadoEstadoadeterminadasepoucasatividadesemnomedaurgnciadosganhos econmicosdosinvestidoreseemdetrimentosdosganhosdasociedadequeoutorgapapis especficosesferapblicaestoemvrioslugares,sobvriasformasetrabalhadasem diversasinstnciasquevodesdeartigosescritosnosjornaisfrancesesLeMonde, 22ConvmconsultarSobreatelevisopublicadopelaoriginalmentepelaLiberditionsdeParisem1997eque causouumagrandepolemicacomosjornalistaseamdiaemgeral.Bourdieusobreissoescreveuumart igo denominado Questions sur um quiproqu no Le Monde em fevereiro de 1998 (p. 26) Libration,passandopelasanlisesdosartigosemActesdelaRechercheemSciences Sociales at pesquisas realizadas por longos anos e condensadas na publicao A misria do Mundo. No se pode corroborar com aideia de que Bourdieu teria adquirido uma performance polticasomentepelosidosdosanos90,umavezquesuaspublicaeseformulaes anteriorestratamdequestesligadasaoquedenominoucampopoltico,aexemplodeA delegao e o fetichismo poltico23 que trata, dentre outras demandas, das complexas relaes entreatransfernciadepoderpolticodeumparaoutroqueautorizaogovernanteaagirea falaremlugardaquelequealienouodireito.Emais:Arepresentaopoltica:elementospara umateoriadocampopoltico24quandoanalisoumarcasdasestratgiasdepoderearelao entre a lgica da oferta e da procura inscrita no campopoltico. Em outra interveno, Bourdieu coordenounaqualidadedediretordaActesdelaRechercheemSciencesSociales,estudo sobre a transformao do Estado Social em Estado Penal a exemplo do trabalho escrito por Loc Wacquant25.Comoautor,escreveuSursciencedeltat(BOURDIEU,n.133,2000)que discutiu num corte especfico, o Estado moderno ligado numa espcie de revanche, lgica do controleinternoquenasceadespeitodasinstituiesespecializadassobreotrabalho(dentre outros)docontrolepelosintendentesdapolcia,dajustiaedasfinanas26.Quandoelefalou dasfinanascomoformadecontrole,ampliouodebateparaapedraangulardastenses contemporneas:oreinoabsolutodalivrenegociata,porassimdizer,cujaconsequncia marcante o que denominou de flagelo neoliberal (1998). Bourdieu(1993,p.215),empreendeuumaanliseacuradaemAnobrezado Estado e o liberalismo, contido em A demisso do Estado27, afirmando que: [...]transformandooliberalismoeconmiconacondionecessriaesuficientede liberdadepoltica,ointervencionismodoEstadoassimiladoaototalitarismo.... associandoeficciaemodernidadeempresaprivada,porumlado,arcasmoe ineficinciaaoserviopblico,poroutro,pretende-sesubstituirarelaocomo cliente,supostamentemaisigualitriaemaiseficaz,pelarelaocomousurioe identifica-seamodernizaocomatransfernciaparaoprivadodosservios pblicosmaisrentveisecomaliquidaoesubmissodopessoalsubalternodos servios pblicos, considerados como responsveis por toda a ineficincia e excesso de formalismo. Referidocomplexaedensaquestoquesepodechamardeprivatizaodo pblico, Bourdieu destacou as formas de persuaso pelo senso pblico, notadamente pela mdia 23ApresentadacomoConferncianaAssociaodosEstudantesProtestantesdeParisem1984epublicadaem Actes de la recherche em Sciences Sociales, n. 36 de 1981. 24 Publicada em Actes de la Recherche em Sciences Saciales, n.64 de 1986. 25 La ascension de ltat pnal en Amerique contido em Actes de la recherche en Sciences Sociales, n. 14, 1998. 26ArevistaActesdelarechercheemScienceSocialesnuncafoitraduzidaparaoportugus.Portantoas assertivas contidas acima so de livre traduo, ou melhor, muito mais um ato de interpretao das formulaes de Bourdieu. 27 Partes integrantes de A misria do mundo (1993) e as estratgias dos planos e programas de governo, estes respaldados no argumento neoliberal dedeslocamentodasesferasdepoderedeciso.Soosprogramasdeprivatizaodas empresas estatais, a oferta de antecipao de desligamento de funcionrios do emprego pblico pelasdenominadaspolticasdeincentivodemissovoluntria,queosEstados contemporneossesubmetemaoscaprichosdomercadoedocapitaltransnacional.Por conseguinte,acompanhandooraciocniodeBourdieu,(1993,p.215),pedemdemissoda sua funo pblica e minimamente inalienvel. No caso especfico das pesquisas realizadas por ele eequipe,soanalisadas,porexemplo,aspolticaspblicasdestinadashabitaoe educao.Convidouaumareflexosobreossofrimentossociais(BOURDIEU,1993)e afirmou que: [...]temtambmmultiplicadoosespaossociais(camposesubcampos especializados)quetmoferecidoascondiesfavorveisaumdesenvolvimento semprecedentesdetodasasformasdepequenasmisrias.(BOURDIEU,1993,p. 13) Considerando-se,ainda,assuasintervenesreunidasemContrafogose Contrafogos2,empreendem-sealgumasressalvasquepodemsustentarumvigorosodebate emtermosdoneoliberalismo,dosprocessosdeexclusosocial,dachamadaglobalizao, enquantoespaoemunssononasregrasdemercadoeamarcadosmovimentossociaispor Bourdieu entendidos como portadores de um atributo que a solidariedade. UmdosrigorososargumentosdeBourdieuelaboradosparaexplicaroque denominou de abusos do poder o monoplio da razo por agentes ou instncias que julgam serdetentoresauto-proclamadosdaviolncialegtimaemnomedeumasupostajustia universal.Comisso,tantoapressoeconmicasimuladaderazesjurdicasquantoao imperialismo justificado pela legitimidade reconhecimento implcito de instncia autorizada dos organismos internacionais que parecem agir em nome de uma suposta alienao de direitos paragerirasquestesdasociedadeeaindamais,emnomedeumsupostoracionalismo,as razesimperialistas naanlisedeBourdieucamuflam oirracionalismoemcujabaserepousam toda sorte de violncias simblicas ou explcitas. Essa anlise feita em Frankfurt em 1995 parece quefoiescritahoje.Trata-sedesaberqueentreleaquiastrilhasdoirracionalismomundial no param de assumir consistncia e argumentos aparentemente irrefutveis. Tudo em nome de umasupostaordemmundial,ordemquesugeresuaexistnciacondicionadaaameaa constantedarazoenquantoestadosubstantivodedireito.Osocilogonaquelaocasio afirmou: Aviolnciaterrorista,atravsdoirracionalismododesesperonoqualseenraza quase sempre, remete violncia inerte dos poderes que invocam a razo. [...] E,pelaprpriahipocrisiadasracionalizaesdestinadasamascararseusduplos critrios,eletendeasuscitarouajustificarnoseiodospovosrabes,sul -americanos, africanos, uma revolta muito profunda contra a razo, que no pode ser separada dos abusos de poder que se armam ou se baseiam na razo (econmica, cientfica ou outra). Essesirracionalismossoemparteoprodutodonossoracionalismo,imperialista, invasor,conquistadoroumedocre,limitado,defensivo,regressivoerepressor, segundo os lugares e os momentos. Talvez faa parte da defesa da razo o combate quelesquemascaramsobasaparnciasdarazoosseusabusosdepoder,ou queseservemdearmasdarazoparajustificaroufundamentarumimprio arbitrrio. (BOURDIEU, 1998, p. 31) Poroutrolado,PierreBourdieudesenvolveuargumentosquepermitementendero Estado a partir de dois critrios: primeiro, como um lugar de conflitos e, logo, portadores de uma dissenso no aparente consenso; segundo, como uma instituio que tende a involuir no sentido dedeslocarseuatributodeEstadoSocialparaEstadoPenal.Comoumlugardeconflito,por exemplo,entreosministriosquetendemimpedirgastosconsideradosdesnecessriosou muitopesadosparaotesouroestataleosministriossociais,cujamarcaoestigmade gastadores.Nessedissenso,ospoderesabusivosdosministrioseseusgestoresaludema necessidadedeinserodopasnoprocessodachamadaglobalizaocomocondiode possibilidadedacontemporaneidade.PierreBourdieu(1998,p.48)diziaqueaglobalizao funciona nessas intrincadas relaes de poder como uma idia-fora, um discurso poderoso e arremata dizendo que: Demodogeral,oneoliberalismofazvoltar,sobasaparnciasdeumamensagem muito chique e muito moderna, as ideias mais arcaicas do patronato mais arcaico. caractersticodasrevoluesconservadoras,adosanos30naAlemanha,ade Tatcher,Reagarieoutros,apresentarrestauraescomorevolues.Arevoluo conservadora assume hoje uma forma indita: no se trata, como em outros tempos, de invocar um passado idealizado, atravs da exaltao da terra e do sangue, temas arcaicosdasvelhasmitologiasagrrias.Essarevoluoconservadoradotitionovo temcomobandeiraoprogresso.arazo,acinciaeconmica,nocaso)para justificararestauraoetentaassimtachardearcasmoopensamentoeaao progressistas. (BOURDIEU, 1998, p. 49) (grifos da autora) Aosetratar,porconseguinte,dasposiesassumidaspelosEstados contemporneosfacespolticaspblicas,notada-menteasdecortesocial,asprodues desse pensador francs notadamente em pesquisas junto aos segmentos excludos do processo de modernizao cultural, social e econmica, como o demonstrou em A Misria do Mundo e dascondutasdepolticadadespolitizao(BOURDIEU,2001,p.60)comosereferiuao arsenaldemedidasgestadasnarazoimperialistamundialemnomedeumprogramade globalizao,postoemxequeodiscursoeaprticaneoliberalquetendeaseimiscuirem todas as esferas e subesferas constitutivas das relaes sociais da contemporaneidade. GUISA DE UMA CONCLUSO: Pierre Bourdieu, o mestre francs da cincia social, o socilogo de todos os combates28 Asconstruestericasemetodolgicas,assimcomoasanlisesquePierre Bourdieuelaborouemrelaoadiversificadasformasdesociabilidadeederelaessociais, quando na condio de pesquisador ao modo do oficial de corporao do medievo, so de valor cientficoincomensurvelenopassaminclumesquelesdesejososdenoesoperacionais queosajudemapensaromundosocial.Polmico,provocante,mitificadoecombatido,o socilogodeBarnsnopassouindiferente.AsuapertenaaoCollgedeFrance,asua condio de autor de vrios trabalhos e pesquisas e, sendo um agente l egitimado e consagrado, suficientementevontadeparacriticar,posicionar-seeintervirnaqualidadedeintelectual incomodado com as misrias do mundo frente ao que chamou de invaso neoliberal. Num dos seusltimosartigosLanouveilevulgateplantaireemparceriacomLoicWacquant-publicados no suplemento LeMonde Diplomatiqueemmaiode 2000,PierreBourdieuafirmou queocapitalismo,asclasses,aexplorao,adominao,adesigualdadeforamrenegados condiodeultrapassadosporaquiloquetobemdenominoudenovavulgataplanetria, como sinnimo de expanso para o discurso da doxa, do lugar-comum, dos acordes neoliberais. A academia, como uma instncia de produo intelectual, s tinha sentido ligada ao atributodasformasdesejuntarsociedadeparaquestionarerefazerosentidodarevoluo, termo que foi apropriado pelos tecnoburocratas para se constituir na pea de defesa maior dessa poltica de razes imperialistas e totalitrias, no sentido mais usual e prximo da herana que faz lembrar um mundo que rui sob os abalos do irracionalismo humano. Ficam assim as lies de aula. Summary:Thisarticledealswithsomeofthefundamentalconceptsdevelopedby Pierre Bourdieu (1930 2002) which are actuated as operational notions in order to think social connections of the contemporary world, taking as reference the matrices ofhasReflexiveSociologyandtheanalysisofpartofhisarticles.conferences, researches,i.e.,ofhisintellectualproduction.TheanalysisofPierreBourdieus contribution refer to specific subjects (although the cleavage of his arguments is very hardi through which cuts have been undertaken, due to the amount of his theoretical methodologicalconstructs.Thediscussionaboutroleconfigurationintellectual total, collective and negative exercises related to some considerations concerning theexaminationoftheconceptoftheintellectualmanbriefnotespertainingtohis considerationsonneoliberalismandthepositionscontemporaryStatebeforepublic policies, as one of the specific attributes of the scope. Aware of the whole complexity oftheargumentsandcontroversialtopics,suchappraisalasawholeisatributeto 28Tomou-seemprestadoodesignativoMortoilmaestrofrancesedelilescienzesociali:dalial68afio atratopoteredeilaTVutilizadopelojornalitalianoLaStampade25dejaneirode2002,aonoticiaramortedo socilogo frances. Sezione cultura, p: 22 e pela matria do jornal francs Le Monde de 24 de janeiro de 2002. Culture, intitulada Pierre Bourdieu, le sociologue de tous les combais. theintellectualworkand thepoliticalstruggleofthisFrenchsociologistwhodiedon January 23 rd, 2002, in Paris. Keywords:PierreBourdieu,ReflexiveSociology,productionofintelectual knowledge, State, neoliberal strategies. REFERNCIAS BACHELARD,G.Aformaodoespritocientifico:contribuioparaumapsicanlisedo conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. BOURDIEU, P. Sociologie dAlgerie. Paris: PUF, 1958. BOURDIEU, P. et ai Le travail et les travallleurs em Algrie. Paris, Haye: Mouton, 1963. BOURDIEU, P. Les hritiers: les tudians et la culture. 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