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Planeamento Anual das Atividades Agrícolas e Gestão de Produtividade em Modo de Produção Biológico – Quinta dos Murças, Douro Vitória Edna Fernandes Rodrigues Mestrado em Engenharia Agronómica Departamento de Geociência, Ambiente e Ordenamento do Território 2018 Orientador Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz, Professor Auxiliar, FCUP Co-orientador José Luís Moreira da Silva, Gestor Vitivinícola, Quinta dos Murças S.A.

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Planeamento Anual das Atividades Agrícolas e Gestão de Produtividade em Modo de Produção Biológico – Quinta dos Murças, Douro

Vitória Edna Fernandes Rodrigues

Mestrado em Engenharia Agronómica Departamento de Geociência, Ambiente e Ordenamento do Território 2018

Orientador Jorge Bernardo Lacerda de Queiroz, Professor Auxiliar, FCUP

Co-orientador José Luís Moreira da Silva, Gestor Vitivinícola, Quinta dos Murças S.A.

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Todas as correções determinadas pelo júri, e só essas, foram efetuadas.

O Presidente do Júri,

Porto, ______/______/_________

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I

Agradecimentos

Esta Dissertação, além de ser resultado de muito empenho individual, é fruto do

contributo de muitas pessoas que muito me honra destacar.

À FCUP e a todos os docentes do Mestrado em Engenharia Agronómica, que de

alguma forma puderam contribuir para a melhoria dos meus conhecimentos teóricos e

práticos ao longo de todo o curso, em especial, ao Professor Doutor Jorge Bernardo

Lacerda de Queiroz, pela sua orientação nesta tese, a sua confiança neste trabalho e o

seu conhecimento partilhado.

À instituição que me acolheu, Grupo Esporão/Quinta dos Murças, expresso o

meu profundo agradecimento, pela excelente receção e integração por parte de todos

os colaboradores:

em especial ao gestor vitivinícola Dr. José Luís Moreira da Silva, que me

proporcionou a realização do estágio curricular e, também, me orientou e

motivou, prestando todo o auxílio, apoio, amizade e transmissão de

conhecimentos técnicos, que foram determinantes para a elaboração deste

relatório;

ao consultor em estratégia e sustentabilidade, Dr. Nuno Oliveira, pela partilha de

conhecimentos e material;

aos caseiros da quinta, Sr. Leonel e Sra. Ana Maria, bem como à gestora de

enoturismo Drª. Mariana, pela simpatia, disponibilidade, apoio e atenção

prestada ao longo deste estágio.

À minha família, em especial à minha mãe, pelo apoio incondicional, acreditando

sempre no meu esforço e empenho.

Por fim, a todas as pessoas que, ao longo do meu Mestrado em Engenharia

Agronómica me ajudaram, direta ou indiretamente, a cumprir os meus objetivos e a

realizar mais esta etapa da minha formação académica.

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II

Resumo

Serve este relatório, no âmbito do Mestrado em Engenharia Agronómica, como

suporte escrito de um estágio curricular, realizado em ambiente empresarial agrícola,

na Quinta dos Murças, em Covelinhas, Vila Real, na região demarcada do Douro (RDD).

Nesta exploração vitícola tive, a oportunidade, de acompanhar e executar alguns

trabalhos e tarefas inerentes a uma vinha, em modo de produção biológico (MPB). Este

modo de produção faz uso de métodos e práticas respeitadoras do ambiente, permitindo

uma gestão sustentável do ambiente e da paisagem. A biodiversidade possui, aqui, um

papel essencial na protecção da vinha e a sua promoção pode ser feita através de

acções de conservação e da implementação de infra-estruturas ecológicas (IEE).

Compreende, fundamentalmente, fazer o acompanhamento dos estados

fenológicos na videira e a verificação de infestantes, pragas e doenças, de forma a

aprender a intervir perante problemas concretos. Além disso e como objetivo central

deste relatório, desenvolveu-se, também, um plano de atividades realizadas na vinha,

concretamente, a sua calendarização e, também, a gestão da produtividade.

O trabalho conclui, constatando que, por um lado, o acompanhamento dos

estados fenológicos da videira é condição necessária para o ajuste dos timings das

atividades agrícolas, uma vez que o modo de produção biológico (MPB), assenta

sobretudo no controlo de infestantes, pragas e doenças e maior necessidade em mão-

de-obra; por outro lado, todo o trabalho de planeamento e calendarização desenvolvido

ao longo deste estágio na Quinta dos Murças vai permitir avaliar os índices de

produtividade, o tempo de execução das atividades, a eficiência, ou seja, uma melhor

rentabilização e gestão dos recursos.

Palavras-chave: Quinta dos Murças, Douro, MPB, Planeamento, Calendarização,

Atividades agrícolas, Gestão de produtividade.

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III

Abstract

This report is used as a written support for a curricular internship in Quinta dos

Murças, in Covelinhas, Vila Real, in the demarcated Douro region (RDD).

In this vineyard I had the opportunity to follow and execute some work and tasks

inherent to a vineyard, in organic production mode (MPB). This mode of production

makes use of environmentally friendly methods and practices, enabling sustainable

management of the environment and landscape. Biodiversity has an essential role here

in protecting the vineyard and its promotion can be done through conservation actions

and the implementation of ecological infrastructures (IEE).

Fundamentally, it includes the monitoring of phenological conditions in the vine

and the verification of weeds, pests and diseases, in order to learn to intervene in the

face of concrete problems. In addition, and as the central objective of this report, a plan

of activities carried out in the vineyard was developed, namely, its timing and also

productivity management.

The work concludes that, on the one hand, the monitoring of the phenological

stages of the grapevine is a necessary condition for adjusting the timings of agricultural

activities, since the organic production method (MPB) is based mainly on the control of

weeds, pests and diseases and greater need in labor; on the other hand, all the planning

and scheduling work developed at Quinta dos Murças will allow us to evaluate the

productivity indexes, the execution time of the activities, the efficiency, that is, a better

profitability and resource management.

Keywords: Quinta dos Murças, Douro, MPB, Planning, Scheduling, Agricultural activities,

Productivity management.

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IV

Índice

Agradecimentos ............................................................................................................. I

Resumo ........................................................................................................................ II

Abstract ....................................................................................................................... III

Índice de Tabelas...........................................................................................................VI

Índice de Figuras ........................................................................................................ VII

Abreviaturas ................................................................................................................ IX

1. Introdução ............................................................................................................... 1

2. Caracterização da Instituição .................................................................................. 3

2.1. O Grupo Esporão ............................................................................. 3

2.1.1. A visão, a missão e os valores do Grupo Esporão .......... 3

2.1.2. Estrutura de Governação do Grupo Esporão .................. 4

2.1.3. Plano estratégico do Grupo Esporão ............................... 5

2.1.4. A empresa Esporão ......................................................... 6

2.2. Quinta dos Murças S.A. .................................................................... 8

2.2.1. Resenha histórica ............................................................ 8

2.2.2. Território.. ........................................................................ 9

2.2.3. Ecologia ........................................................................ 10

2.2.4. A verticalidade das vinhas ao alto ................................. 11

2.2.5. As vinhas velhas, vinhas novas e o terroir ..................... 12

2.2.6. Adega e cave ................................................................ 13

2.2.7. Vinhos e prémios ........................................................... 16

3. Biodiversidade e Modo de Produção Biológico (MPB) .......................................... 20

3.1. A Biodiversidade ............................................................................ 20

3.1.1. As Infra-estruturas Ecológicas........………………………21

3.1.2. Ações de Conservação da Biodiversidade......................23

3.1.3. O Plano de Gestão da Biodiversidade e Ecossistemas da

Quinta dos Murças...........................................................24

3.1.4. O Campo Ampelográfico da Herdade do Esporão/Quinta

dos Murças......................................................................25

3.2. Modo de Produção Biológico (MPB) .............................................. .27

3.2.1. Conceito de Agricultura Biológica....................................27

3.2.2. Príncipios da Agricultura Biológica……...........................28

3.2.3. Fundamentos e Objetivos……….…................................29

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V

3.2.4. Medidas preventivas........................................................30

4. Materiais e Métodos ............................................................................................. .32

4.1. Atividades agrícolas na vinha e Estados fenológicos da

videira…………………………...........................................................32

4.1.1. Atividades agrícolas na vinha….......................................32

4.1.2. Estados fenológicos da videira………………………........37

4.2. MPB na Quinta dos Murças ............................................................ 38

5. Resultados e Discussão ........................................................................................ 45

5.1. Registos meteorológicos……...........................................................45

5.2. Controlo Fitossanitário…..……………………………………………...48

5.3. Evolução dos Estados Fenológicos…………………………………....49

5.4. Planeamento de atividades e Gestão da produtividade……………..52

6. Conclusão ............................................................................................................. 58

7. Referências bibliográficas ..................................................................................... 60

8. Anexos ................................................................................................................. .64

Anexo 1 - Estados Fenológicos da Videira segundo a Escala de Baggiolini e Escala

BBCH. (Serviço Nacional de Avisos Agrícolas SNAA, Circular nº 02/2017, 22 de

Fevereiro 2017).

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VI

Índice de Tabelas

Tabela 1 – Número de funcionários e sua distribuição por género e habilitações

profissionais (Esporão, 2017) ................................................................................... ....5

Tabela 2 – Variedade de castas (Esporão, 2017) ...................................................... .12

Tabela 3 – Estados fenológicos registados num talhão na zona do Margem da Quinta

dos Murças em 2017 e 2018 ....................................................................................... 49

Tabela 4 - Datas médias dos eventos fenológicos: Abrolhamento, Floração, Pintor e

datas de Vindima para o ano de 2018 e média dos últimos 4 anos (2014-2017), para

cada sub-região para a casta Touriga Franca (N – número de parcelas) (Carlos et al,

2018) .......................................................................................................................... 50

Tabela 5 - Calendarização das atividades realizadas na vinha ................................... 52

Tabela 6 - Planeamento anual da atividades realizadas na vinha, com indicação do

número de pessoas necessárias para efetuar os trabalhos agrícolas ......................... 56

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VII

Índice de Figuras

Figura 1 – Estrutura de Governação do Grupo Esporão (Esporão 2016).......................4

Figura 2 – Herdade do Esporão (Revista Vida rural)........................................................7

Figura 3 – Quinta dos Murças (Esporão 2017).................................................................7

Figura 4 – Casa recuperada da Quinta dos Murças (Esporão 2017)..............................9

Figura 5 – Vinhas ao Alto (Esporão 2017)......................................................................12

Figura 6 – Adega da Quinta dos Murças (Esporão 2017................................................14

Figura 7 – Cave da Quinta de Murças (Esporão 2017)...................................................15

Figura 8 – Quinta de Murças Minas, Reserva, Margem, VV47 (Esporão 2017)..............16

Figura 9 –Vinhos produzidos na Quinta dos Murças: Assobio Branco, Assobio Rosé,

Assobio Tinto, Quinta das Murças Reserva, Quinta das Murças Porto Tawny 10 anos,

Quinta das Murças Porto Vintage 2011 (Esporão

2017).............................................................................................................................18

Figura 10 – Campo ampelográfico (Esporão, 2017).......................................................26

Figura 11 – “Mancha de óleo”….....................................................................................40

Figura 12 – Esporos na páginas inferior da folha da videira............................................40

Figura 13 – Bagos cobertos com poeira branca acinzentada.........................................40

Figura 14 – Enrelvamento semeado com favas..............................................................42

Figura 15 – Organismo auxiliar: joaninha.......................................................................42

Figura 16 – Enrelvamento permanente..........................................................................43

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VIII

Figura 17 – Revestimento dos taludes e das bordaduras da estrada.............................43

Figura 18 – Plantações arbóreas...................................................................................43

Figura 19- Muros de pedra............................................................................................43

Figura 20 – Ruínas.........................................................................................................43

Figura 21 – Minas...........................................................................................................44

Figura 22 - Zona ripícola................................................................................................44

Figura 23 - Temperaturas mínimas, máximas e médias em oC registados nos meses de

Novembro de 2017 a Outubro de 2018 na estação meteorológica existente na Quinta

dos Murças....................................................................................................................45

Figura 24 – Temperatura média em oC e precipitação média, registadas de Novembro

de 2017 a Outubro de 2018 na estação meteorológica da Quinta dos Murças...............46

Figura 25 – Gráfico da precipitação e temperatura de Novembro de 2017 a Outubro de

2018 comparada com a Normal Climatológica 31-60.....................................................47

Figura 26 – Gráfico da precipitação (mm) e temperatura (oC) das campanhas vitícolas

de 2016-2017 e 2017-2018...........................................................................................47

Figura 27 – Evolução dos estados fenológicos da casta Touriga Franca nas parcelas:

Assobio, Margem, Campo Redondo e Minas.................................................................51

Figura 28 – Representação das horas/ha necessárias para realizar cada atividade nas

vinhas velhas no ano vitícola de 2016/2017...................................................................54

Figura 29 – Representação das horas/ha necessárias para realizar cada atividade nas

vinhas novas no ano vitícola de 2016/2017....................................................................54

Figura 30 – Representação das horas/ha necessárias para realizar cada atividade nas

vinhas velhas no ano vitícola de 2017/2018...................................................................55

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IX

Figura 31 – Representação das horas/ha necessárias para realizar cada atividade nas

vinhas novas no ano vitícola de 2017/2018....................................................................55

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X

Abreviaturas

FCUP Faculdade de Ciências da Universidade do Porto

DOC Denominação de Origem Controlada

RDD Região Demarcada do Douro

ADV Alto Douro Vinhateiro

OIV Organização Internacional da Vinha e do Vinho

IEE Infra-Estruturas Ecológicas

MPB Modo de Produção Biológico

PGBE Plano de Gestão de Biodiversidade e Ecossistemas

IFOAM Federação Internacional dos Movimentos da Agricultura Orgânica

OC Organismo de Controlo

OGM Organismo Genéticamente Modificado

VN Vinhas Novas

VV Vinhas Velhas

APAB Associação Portuguesa de Agricultura Biológica

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1

1. Introdução

O presente relatório é desenvolvido no âmbito da modalidade Estágio, efectivado

como parte integrante e conclusivo do Mestrado em Engenharia Agronómica, ministrado

pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).

O estágio, que integra uma formação de nível pós-graduado, desenvolveu-se na

área técnica da Viticultura, inserida na estrutura organizativa do Departamento

Agrícola/Enologia, da Herdade do Esporão, S.A., mais concretamente na Quinta dos

Murças, S.A.. Este projeto, com início em Janeiro de 2018 e conclusão em Agosto de

2018, teve uma duração de trinta e cinco horas semanais, distribuídas pelos cinco dias

da semana, excepto quando contempla as deslocações à FCUP.

A escolha da instituição de estágio prendeu-se com o facto de representar uma

empresa produtora de vinhos de elevada qualidade com grande projecção nacional e

internacional, sendo o maior proprietário de vinha biológica em Portugal e um dos

maiores do mundo. Esteve desde sempre presente o interesse e aprofundamento sobre

o grupo, calculando e ambicionando que seria a melhor opção para iniciar e desenvolver

conhecimentos e competências.

Devido à especificidade da empresa, o estágio foi precedido de uma

apresentação/entrevista com o responsável da Quinta dos Murças, de modo a perceber

quais os objectivos e necessidades inerentes que favorecessem e acrescentassem

novas competências práticas em consonância com a componente teórica desenvolvida

durante o percurso curricular.

Assim, através deste estágio pretende-se atingir os seguintes objetivos:

Integração na rotina de trabalho da Quinta dos Murças, concretamente no

Departamento de Viticultura;

Permitir o contacto com uma empresa de referência na área vitívinicola e, desta

forma, adquirir e aplicar os conhecimentos nesta área;

Conhecer métodos e técnicas de planeamento das atividades agrícolas e gestão

da produtividade, com o seguinte plano de trabalho/atividade: definição do plano

de trabalhos e gestão de métricas para cada actividade. Definição de padrões.

Por um lado, este estágio visa permitir a qualificação da autora do relatório.

Concretamente, o desenvolvimento das competências teórico-práticas adquiridas, a

utilização de ferramentas teórico-metodológicas e, também, facultar a sua introdução

num ambiente de valorização profissional, pois ao intervir perante problemas concretos

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2

através do contacto com profissionais em exercício, visa favorecer a passagem da

prática supervisionada à profissional e a integração no seu futuro meio profissional.

Por outro lado, visa trazer vantagens para a organização, na medida em que

identificará oportunidades de melhoria dos processos organizacionais, introduzindo

significativo valor acrescentado na resolução de problemas existentes em contexto de

trabalho agrícola.

Por fim, este relatório apresenta, em termos estruturais, três capítulos. O capítulo

I retrata a caracterização da instituição de estágio a Quinta dos Murças. Neste sentido,

de forma a compreender o seu funcionamento e conhecer as suas características

consideramos pertinente incluir neste capítulo o perfil do Grupo Esporão, a sua evolução

histórica, assim como os seus valores, missão e visão, as suas competências centrais,

o modelo organizacional, e por último, uma breve caracterização da Quinta dos Murças.

Com o capítulo II e sendo este o objectivo central do presente relatório, serão abordadas

as actividades desenvolvidas ao longo do estágio e o respectivo enquadramento teórico-

prático. Por último, capítulo III, estando a estagiária incluída na área da vitivinicultura,

torna-se fulcral conhecer e apreender quais os contributos e conhecimentos que poderá

oferecer à instituição de estágio.

Este trabalho termina com algumas reflexões finais focando os resultados

obtidos, no qual serão salientados os principais aspectos do estágio, proporcionando

uma visão integradora de todo o trabalho desenvolvido, bem como as aprendizagens

realizadas e obstáculos surgidos.

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2. Caracterização da Instituição

2.1. O Grupo Esporão

O Esporão nasceu no Alentejo, da vontade incondicional de fazer os melhores

vinhos, estando hoje, alargada a outros produtos e territórios. Inspira-se na Natureza,

respeita o Tempo da Terra, compreende a Cultura e a Comunidade onde está inserida,

protege o Património comum, investe numa responsabilidade concreta, individual e

colectiva na forma como planeia e desempenha as suas actividades, para a construção

de um futuro com sucesso (Esporão, 2015).

O ano de 2017, marcou a celebração do 750º aniversário da Defesa do Esporão

ou Herdade do Esporão como hoje se conhece. Desde a data da sua fundação, em

1267, até ao arranque da então Finagra, em 1973, com José Roquette, passaram-se

7,5 séculos. Nos últimos 44 anos aconteceu um pouco de tudo (Esporão, 2017).

O Grupo Esporão é constituído por um conjunto de empresas participadas e

principais actividades, sendo as políticas, os objetivos e os processos transversais a

todas as localizações (Esporão, 2015). As empresas incluídas na consolidação do

Grupo Esporão são (Esporão, 2015):

- ESPORÃO, SA (Sociedade-mãe, fundada em 1973, Lisboa);

- ESPORÃO PRODUÇÃO BIOLÓGICA, SA;

- ESPORÃO AZEITES, LDA;

- MURÇAS, SA;

- ESPORÃO VENDAS E MARKETING, SA;

- QUALIMPOR, SA;

- PRIMEDRINKS, SA;

- DBRANDS;

- ESPORÃO WINES & OLIVE OILS

Os seus produtos e serviços são prestados de forma personalizada em função

das necessidades de cada cliente.

2.1.1. A Visão, a Missão e os Valores do Grupo Esporão

O Grupo Esporão tem a visão de “ser uma empresa familiar, económica, social

e ambientalmente sustentável, capaz de oferecer experiências e produtos únicos que

melhorem a vida das pessoas” (Esporão, 2015). A sua missão é “fazer os melhores

produtos que a natureza proporciona, de forma responsável e inspiradora” (Esporão,

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4

2015). Os seus valores fundamentais são a responsabilidade: “apenas existimos se

integrados na sociedade, no meio ambiente que nos rodeia e num contexto económico

viável”; o inconformismo: “queremos um mundo melhor com oportunidades e sonhos

por realizar”; e a excelência: “primeiro fazemos melhor, depois fazemos mais. Não

aceitamos que “o ótimo seja inimigo do bom” (Esporão, 2015).

O Grupo Esporão assume uma política de sistema integrado – qualidade,

ambiente, energia: através da “gestão e melhoria contínua da sua actividade cumprindo

todos os requisitos legais e definindo objetivos ambiciosos, assegurando a informação

e os recursos necessários para os atingir, tendo sempre em mente a prevenção da

poluição, o impacto ambiental e a melhoria contínua do seu desempenho energético,

quer através de controlo operacional, ações de melhoria e aquisição de produtos e

serviços energeticamente eficientes” (Esporão, 2015).

2.1.2. Estrutura e Governação do Grupo Esporão

O Grupo Esporão tem um accionista único que é a família Roquette, estando em

funcionamento um modelo governativo comum a todas as empresas. Para a

prossecução dos seus principais objetivos possui um quadro técnico multidisciplinar e

de grande experiência (Figura 1).

Figura 1 – Estrutura de Governação do Grupo Esporão (Esporão, 2016)

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5

O método de seleção dos constituintes dos órgãos de gestão é prorrogativa da

JHR, SGPS e do Presidente do Conselho de Administração José Roquette. Tem,

também o Conselho de Direção que é o orgão de suporte à Administração e que reúne,

assiduamente, os Administradores Executivos (Administrador Delegado e Administrador

Financeiro) e todos os Diretores (Diretor Agrícola, Diretor Comercial, Diretor Compras,

Diretor Enologia, Diretor Financeiro, Diretor Financeiro, Diretor Manutenção, Diretor

Marketing, Diretor Melhoria Contínua e Sistemas e Informação e Diretor Produção) para

acompanhar, discutir e decidir sobre temas estratégicos e executivos (Esporão, 2016).

O Grupo Esporão encontra-se organizado por áreas técnicas, sendo estas

transversais às várias empresas do grupo. Para todos os departamentos, está

designado um Diretor, o qual assegura e é responsável pela gestão do Departamento,

nas várias localizações e empresas do grupo, onde ao todo é composta por 295

colaboradores (Tabela 1) (Esporão, 2017):

Tabela 1 – Número de funcionários e sua distribuição por género e habilitações profissionais (Esporão, 2017)

2.1.3. Plano estratégico do Grupo Esporão

O Grupo Esporão definiu quatro pilares de crescimento determinantes para as

etapas de diferenciação e prosperidade (Esporão, 2015):

• internacionalização: aumentar a dimensão internacional do negócio;

Homens %

Quadros superiores 7%

Quadros médios 14%

Encarregados e chefes de equipa 9%

Profissionais qualificados 12%

Profissionais semi-qualificados 55%

Profissionais não qualificados 2%

Mulheres

%

Quadros superiores 1%

Quadros médios 9%

Encarregados e chefes de equipa 3%

Profissionais qualificados 16%

Profissionais semi-qualificados 63%

Profissionais não qualificados 8%

Homens 139

Mulheres 156

Total 295

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• sustentabilidade: visão de longo prazo com base na eficiência e qualidade;

• proximidade: estreitar as relações existentes com clientes e consumidores;

• inovação: criar as condições ideias para um crescimento orgânico.

O Plano Estratégico 2015-2017 (Esporão, 2015), marcou os desenvolvimentos

cruciais para o Esporão: meta dos 50 milhões de euros em vendas; afirmação da sua

estratégia de agricultura biológica consolidada com o lançamento do Esporão Colheita;

maior aproximação e afinidade com parceiros chave em Portugal e em mercados

estratégicos estrangeiros (EUA, Canadá, Angola, França, China, Brasil); melhor

compreensão do impacto das alterações climáticas e da crise ecológica que se vive a

nível regional e global (Esporão, 2015). A partir de 2016, o grupo Esporão foi

considerado o maior proprietário de vinha biológica em Portugal e um dos maiores do

mundo: mais de 500ha de vinhas e 80ha de olival, sob gestão e certificação de Modo

de Produção Biológica (Esporão, 2016). Isto representa um maior compromisso com a

qualidade dos seus solos, plantas, frutas e produtos.

Atualmente, o Grupo Esporão, graças a esforços e compromissos conjuntos,

está focado em ir mais além, já que o novo Plano Estratégico 2018-2020 visa continuar

a “fazer os melhores produtos que a natureza oferece, de forma responsável e

inspiradora” e, também, que “as vendas e principais resultados económicos continuem

a crescer, fazendo com que o Esporão se projecte para além de 2020” (Esporão, 2016).

2.1.4. A Empresa Esporão, S.A.

A Esporão, S.A. tem sede na Herdade do Esporão, no coração do Alentejo e

integra-se na Rota de Vinhos de elevada qualidade e na DOC Reguengos de Monsaraz,

local onde concentra a sua actividade agrícola e industrial. É a empresa-mãe, líder de

um grupo económico com participações em várias empresas com actividades

complementares que se interligam no sentido de obter benefícios mútuos, incluindo os

decorrentes de economias de escala. Os seus escritórios são em Lisboa, onde se situam

a Administração e os diversos departamentos Comercial, Marketing, Financeiro,

Administrativo e Recursos Humanos, Melhoria contínua e Sistemas de informação e a

Administração, que apoiam as diversas filiais (Esporão, 2015).

Na cultura da empresa Esporão, S.A. (Figura 2) está a sustentabilidade e a

qualidade, que se reflete na realização da maior área de vinha biológica de Portugal, na

diminuição da pegada de carbono através da melhoria dos seus componentes, no gasto

de metade da água para produzir cada litro de vinho, na produção, com energia solar,

de metade da electricidade que consome e na reutilização de todos os resíduos

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orgânicos da sua produção, diminuindo os não orgânicos. A revista “Vida Rural”, no

âmbito da sua conferência anual “Agro In”, distinguiu o Esporão enquanto ‘Empresa que

Marca, com destaque para a filosofia de sustentabilidade (Esporão, 2017).

Figura 2 – Herdade do Esporão (Revista Vida Rural)

A partir deste ano 2018, todas as áreas agrícolas sob gestão do Esporão, desde

a Herdade do Esporão e dos Perdigões à Quinta dos Murças, já estão certificadas como

MPB (Esporão, 2017).

Doravante, para melhor compreensão do local de estágio far-se-á uma breve

caracterização da Quinta dos Murças, S.A. (Figura 3).

Figura 3 – Quinta dos Murças (Esporão, 2017)

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2.2. Quinta dos Murças, S.A.

A Quinta dos Murças situa-se no Norte de Portugal, na região demarcada do

Douro (RDD), centro da DOC Douro, na margem direita do rio Douro, perto da aldeia de

Covelinhas, entre a Régua e o Pinhão.

É a região demarcada mais antiga do mundo, estende-se ao longo do Rio Douro

e seus afluentes numa extensão de cerca de 250000 hectares, entre Barqueiros e Barca

d’Alva (Branco, 2010). Tem origem na delimitação territorial de 1756, data da primeira

demarcação das “Vinhas do Alto Douro”, que definiu mundialmente o primeiro modelo

institucional de organização de uma região vinícola. Originalmente estabelecida para

regular a produção do “vinho do Porto”, hoje a RDD circunscreve a Denominação de

Origem Controlada (DOC) dos vinhos do Porto e Douro (Branco, 2010). As vinhas foram

construídas num território caracterizado por uma paisagem irregular e sumptuosa, onde

dominam os vales fundos e escarpados, declives acentuados e pela quase inexistência

de terra e água. Os vinhedos que cobrem os grandes declives levantam-se do rio Douro

e configuram um imenso escadório de socalcos e patamares. A monumentalidade da

paisagem do Alto Douro Vinhateiro (ADV), com 24600 ha que se estende ao longo do

Rio Douro, tem reconhecido valor universal (Branco, 2010). Em 2001, foi inscrita na lista

do Património Mundial da Humanidade da UNESCO na categoria de paisagem cultural,

com longa tradição na produção de vinhos, é composta pelas sub-regiões do Baixo-

Corgo, Cima-Corgo e Douro Superior (Esporão, 2015).

Localizada no início da sub-região do Cima Corgo, mas próxima da sub-região

do Baixo Corgo, na Quinta dos Murças vai-se percebendo como as diferenças de

altitude, declive, exposição solar, castas, solos e amplitudes térmicas irão influenciar o

seu vinho produzido, sendo elementos determinantes na definição do perfil de um vinho.

A proximidade da quinta, à sub-região do Baixo-Corgo (zona mais fresca da região e

onde mais chove), faz com que os vinhos ali obtidos tenham, naturalmente, uma boa

acidez, e sejam mais frescos e elegantes. Mas, por estar na margem direita do Rio

Douro, onde praticamente todas as vinhas estão expostas a Sul, faz com que as uvas,

também, apresentem grande concentração, em equilíbrio com a frescura natural da

quinta (Relatório, 2016).

2.2.1. Resenha Histórica

É uma quinta histórica que remonta a 1714, situada em encostas xistosas

voltadas ao rio Douro e exposta, predominantemente, a sul, detentora de condições

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excepcionais para a produção de vinhos de qualidade (Esporão, 2015). Por isso, em

1758, nas demarcações pombalinas da região vitícola do Douro, a Quinta dos Murças

foi incluída na zona de feitoria, qualificada para produzir vinhos generosos de primeira

qualidade, destinados à exportação para Inglaterra (Esporão, 2015). Em 1770, data o

ano da primeira referência escrita à Quinta dos Murças, no livro de registo das

qualificações dos vinhos de embarque da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas

do Alto Douro (Esporão, 2015). Em 1947, a Quinta dos Murças foi totalmente

transformada, recebendo as primeiras vinhas ao alto plantadas na região do Douro, o

primeiro sistema de autovinificação alguma vez utilizado na região, assim como novos

armazéns de estágio e uma nova adega (Esporão, 2015). Durante muitos anos, a Quinta

permaneceu na posse da família Manuel Pinto de Azevedo até que, em 2008, o Grupo

Esporão adquiriu a propriedade aos seus bisnetos, assumindo posse de uma Quinta

com apetência para produzir vinhos do Douro e vinhos do Porto (Esporão, 2015).

A Quinta dos Murças tem, para além da adega típica da região do Douro, uma

casa senhorial construída no início do século XIX e restaurada em 2017 (Figura 4),

edifícios de apoio, escritórios, caves, minas e 1200 m2 de ruínas - as Ruínas Vale

Figueira - datadas de 1826 e a Estação de Comboios de Covelinhas, mesmo ali à porta,

onde passa o histórico comboio do Douro (Esporão, 2017).

Figura 4 – Casa recuperada da Quinta dos Murças (Esporão, 2017)

2.2.2. Território

Com uma área total de 155 ha, dos quais 48 ha são de vinhas de diferentes

idades e exposições, todas as parcelas da Quinta dos Murças estão classificadas como

letra A, a categoria máxima a que as vinhas, com 285000 videiras, podem aspirar na

região do Douro, ocupando zonas com 300 metros de altitude e zonas mais próximas

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da ampla frente de rio, com uma extensão de 3,2 km de margem do rio Douro, dois

hectares estão preenchidos com 800 laranjeiras, tangerineiras, limoeiros e 6000 pés de

oliveiras e ainda cerca de 100 ha com área florestal classificada, contribuindo tudo isto

para a existência de microclimas (Esporão, 2015).

2.2.3. Ecologia

Grande parte da Quinta dos Murças ainda se mantém no seu estado mais

agreste. As manchas de bosquetes e matos contribuem para a resiliência do agro-

ecossistema e permitem que as áreas de produção intercomuniquem com as áreas de

conservação, de forma a exponenciar o equilíbrio ecológico desta quinta como um todo

(Esporão, 2015).

Há séculos, que os viticultores observam e analisam um conjunto de fatores

típicos de cada região (a qualidade do solo, clima, altitude, chuvas, relevo, quantidade

e regularidade da luz solar, incidência de chuva, vento e humidade) para identificar o

melhor terroir para cada uva (Esporão, 2015). É este conjunto de fatores que influencia

o desempenho do vinhedo, a qualidade da uva colhida e acaba participando da

personalidade final do produto, como se fosse uma assinatura de cada região produtora

(Esporão, 2015). Ora, na Quinta dos Murças, em apenas 48,77 ha, de vinha, foram

identificados oito tipos de terroirs únicos no Douro (Esporão, 2015), fruto da aliança de

uma geografia rara (encostas íngremes, socalcos e ribeiros), de um vale amplo que

corre de este a oeste, um clima muito particular (invernos bastante frios, primaveras e

outonos bastante curtos e verões secos e abrasadores) amenizado pela longa frente do

rio Douro (reflector de luz solar), uma matriz de solos xistosos e cascalhentos sob

múltiplas exposições proporcionadas pela orografia agreste e, tão importante, pelas

vinhas enriquecidas por dezenas de castas autóctones, pelas oliveiras, tangerineiras,

limoeiros, amendoeiras e mata mediterrânica (pinheiros, zambujeiros, cornalheiras,

medronheiros, estevas, urzes, giestas e cogumelos silvestres), pelas suas vinhas

velhas, que ajudam a manter o equilíbrio do ecossistema, reunindo as condições ideais

para se produzirem vinhos únicos, reflectida em vinhos de terroir concentrados,

elegantes e de grande frescura (Esporão, 2015). Na quinta, os solos extremamente

pobres compostos por xistos, onde a flora desponta entre as fragas, conseguem

suportar um património de dezenas de castas regionais, ao beneficiar de muitas horas

de sol (Esporão, 2015). Com diferentes exposições solares, as vinhas orientadas a

Norte, estão mais protegidas do sol, resultando em uvas mais aromáticas e com maior

acidez; as vinhas com exposição Sul/Sudeste e vinhas próximas do rio resultam em

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uvas de grande concentração; as vinhas plantadas em encostas com exposição Oeste,

onde têm mais horas de sol durante a tarde, quando este é mais quente, dão origem a

uvas com maior concentração e maturação (Esporão, 2015).

2.2.4. A verticalidade e as vinhas ao alto

Foi na Quinta dos Murças, que foi plantada, em 1947, a primeira vinha vertical

da região, entre os 262 e os 292 metros de altitude, orientada para sudoeste, com 36º

a 47º de inclinação (Esporão, 2015). Esta vinha, acima do Campo Redondo, teve um

papel fundamental na região e na própria quinta. “Abriu caminho para que a verticalidade

fosse determinante nos vinhos do Douro e, também, serviu como oposição declarada

às habituais vinhas plantadas em patamares” (Esporão, 2015).

O território da Quinta dos Murças, preservando os 8 terroirs identificados em

2011, reestruturou parte da vinha e manteve a verticalidade impressionante das

vertentes cobertas de vinha que acolhem dezenas das castas autóctones da região, em

MPB. Hoje, cerca de 69% das vinhas da Quinta dos Murças estão plantadas na vertical

em grandes declives, com talhões desnivelados por taludes em terra e estradas de

trabalho (Esporão, 2016). Mais recentemente, nas encostas com declives mais

pronunciados, optou-se pela construção de patamares estreitos com um bardo,

apresentando apenas uma linha de vinha. Possui vinhas plantadas a diferentes cotas,

que vão dos 110 metros aos 300 metros, diferentes exposições solares (orientadas a

Norte, Sul/Sudeste e a Oeste), o que irá proporcionar perfis de vinhos distintos, o que é

acentuado pela presença de cinco minas e várias linhas de água espalhadas pela vinha

que ajudam a refrescar o ambiente, devolvendo água e equilibrio às uvas mais expostas

ao sol (Esporão, 2016).

As vinhas ao alto (Figura 5) apresentam inúmeras vantagens. A densidade de

plantação é superior, havendo uma maior concorrência entre as plantas que se traduz

numa produção mais equilibrada e num sistema radicular (raízes) mais profundo.

Também, um maior número de plantas por hectare favorece a fixação do solo e, uma

vez que não se aplica herbicidas, existe durante todo o ano um coberto vegetal, que

permite controlar e reduzir ainda mais o risco de erosão e de derrocadas. Além disso,

as vinhas em linha vertical e plantadas de norte para sul recebem sol de manhã até à

tarde e geram melhor arejamentos. Acredita-se que as vinhas plantadas na vertical

contribuem para que os vinhos produzidos, neste lugar, exprimam melhor o seu terroir

de origem (Esporão, 2017).

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Figura 5 – Vinhas ao Alto (Esporão, 2017)

2.2.5. As vinhas velhas, vinhas novas e terroir

A Quinta dos Murças possui 69% dos vinhedos de “vinhas velhas”, isto é,

plantadas antes de 1980, dispostos na vertical (Esporão, 2016). Por isso, a propriedade

tem uma densidade muito superior àquela considerada normal em patamares (31%),

entre 6000 a 7000 plantas por ha em vez de 4000, gerando uma enorme competição

entre as videiras e uma produção de apenas um a dois cachos por pé (Esporão, 2017).

Dos 48,77 ha de vinha total plantada na Quinta dos Murças, 10% têm uma idade

ligeiramente acima dos 65 anos, 60% têm entre 25 a 40 anos de idade e os restantes

30% foram plantados mais recentemente, entre 2009 e 2010 (14,97 ha) (Esporão, 2017).

Algumas das vinhas velhas remontam a 1947, alternando com vinhas jovens que

se dividem em dezenas de castas típicas do Douro. No entanto, embora estas vinhas

centenárias no Douro, com diversidade de castas, não produzam tanto como as novas,

a qualidade do produto é excepcional. Nas vinhas com idades compreendidas entre os

15 e 65 anos e plantadas em talhões por castas separadas, predominam as variedades

autóctones (Tabela 2):

Tabela 2 – Variedades de castas (Esporão, 2017)

Castas autóctones Outras Castas

Touriga Nacional Cabernet Sauvignon

Touriga Franca Sauvignon Blanc

Tinta Roriz Sousão

Tinto Cão

Tinta Amarela

Tinta Barroca

Tinta Francisca

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As vinhas velhas (33,8 ha) oferecem um produto de muita qualidade. A estóica

resistência das castas portuguesas Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz,

vinhas velhas plantadas em 1974, “vão exibindo uma considerável resiliência, fruto

porventura da sua capacidade epigenética de ativar/desativar genes e vias metabólicas,

aprendida ao longo de muitos anos diferentes” (Esporão, 2017). De facto, cada vez se

sabe mais sobre estes mecanismos genéticos e moleculares, que “permitem às plantas

mais “experientes” exibirem padrões de “comportamento” que não parecem depender

apenas do clone da casta que é utilizado” (Esporão, 2017).

Na Quinta dos Murças com 155 ha, nos seus 48,77 ha de vinhedos, foram

identificados oito terroirs (Esporão, 2016). Segundo a OIV (sem data), o terroir

vitivinícola é um “conceito que remete a um espaço no qual está se desenvolvendo um

conhecimento coletivo das interações entre o ambiente físico e biológico identificável e

as práticas enológicas aplicadas, proporcionando características distintas aos produtos

originários deste espaço”. “Terroir” inclui solo específico, topografia, clima,

características da paisagem e características da biodiversidade. (Resolução OIV / VITI

333/2010). A grande heterogeneidade na produção, com oscilações muito grandes, e a

riqueza do terroir da Quinta dos Murças permitem um método de vinificação particular.

Todas as 48 parcelas são vinificadas em separado e avaliadas o seu perfil, a expressão

fina dos seus terroirs, de forma a melhor compreender como as videiras respondem aos

ajustes que estão a ser feitos ao nível do equilíbrio ecológico dos talhões, numa

perspectiva ecossistémica (Esporão, 2016). Situadas entre 110 a 300 metros de altitude,

as parcelas vinhas velhas, que “carregam” as castas tradicionais do Douro, são

submetidas a práticas agrícolas sustentáveis, onde o controlo de infestantes é feito de

forma manual, sendo as uvas colhidas à mão, vinificadas em lagares de granito, com

recurso ao pisa a pé e prensadas numa antiga prensa vertical (Esporão, 2016).

A questão da altitude (mais elevada, exposição mais fresca) e da escolha mais

rigorosa de castas que correspondam às exigências do território, afigura-se como a

revolução inevitável. Por isso, há que expressar a diversidade destes terroirs em vinhos

muito distintos numa mesma quinta, preservando e respeitando ao máximo a natureza,

interferindo o mínimo possível na expressão da origem quer na vinha, quer na adega.

(Esporão, 2017)

2.2.6. Adega e Cave

A aposta em vinhos, cada vez mais naturais e autênticos, começa na vinha e

estende-se à adega (Figura 6).

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Figura 6 – Adega da Quinta dos Murças (Esporão 2017)

Na Quinta dos Murças são usados os processos de vinificação tradicionais do

Douro, tais como a vinificação em lagares de granito, a pisa a pé e a fermentação com

base em leveduras indígenas (Esporão, 2017).

Para que os vinhos expressem fielmente a natureza do lugar e das castas utiliza-

se a fermentação com leveduras indígenas. Sem quaisquer recursos a leveduras

“comerciais”, usando apenas o que o ecossistema (a raíz biológica do terroir) e o

microbioma, é um excelente indício de que a aposta no modo de produção biológico e

a conservação da biodiversidade dos taludes e das zonas de matos e ribeiras, em toda

a quinta dos Murças, serão a chave para originar vinhos de melhor qualidade e

expressão única (Esporão, 2017).

Para o processo de criação dos vinhos, as adegas correspondem às tradicionais

adegas durienses, concebidas de forma a poder processar em simultâneo uvas para

vinho do Porto e para o vinho do Douro (Esporão, 2017). No entanto, foram introduzidas

novas tecnologias e recuperaram-se, em simultâneo, meios de vinificação mais

tradicionais, como os lagares de granito. A extração em lagar é melhor e mais selectiva,

dando origem a vinhos mais concentrados, com mais cor e taninos. Faz parte da história

do Douro e define um estilo muito próprio de vinhos. A lagarada é um momento único,

onde a equipa junta-se para pisar a uva, a um ritmo único e constante, enquanto se

entoam cantigas. Atualmente, a adega, com 2000 metros quadrados, encontra-se

dividida em duas adegas paralelas que permite diferenciar as operações de acordo com

o patamar dos vinhos elaborados (Esporão, 2017):

- A adega de vinhos de colheita foi desenhada tendo em conta as necessidades

do projeto e apresenta um formato aberto para evitar a acumulação de gazes durante a

vindima. A adega está equipada com uma prensa pneumática e uma série de cubas

cilindricas e de inox tronco-cónicas de pequenas dimensões para permitir um controlo

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total sobre a forma como vinificam cada casta e cada parcela e equipamento para

“délastage” (Esporão, 2017).

- A adega dos lagares foi construída em 1955 e restaurada em 2010, para

produzir os vinhos à moda antiga com o recurso às conveniências da tecnologia

moderna, permitindo trabalhar as uvas nos 8 lagares de granito tradicionais com controlo

de temperatura, macerando as uvas com a tradicional pisa a pé. A prensagem é

realizada de forma lenta e muito suave numa antiga prensa vertical permitindo obter os

melhores resultados das uvas. Esta adega está reservada para os vinhos Quinta dos

Murças Reserva e para os vinhos do Porto (Esporão, 2017).

Figura 7 – Cave da Quinta de Murças (Esporão 2017)

A cave da Quinta dos Murças (Figura 7) comporta 19 cubas de betão, revestidas

em epóxi, e 6 cubas de inox, para estágio dos vinhos Colheitas, bem como cerca de 300

meias pipas e pipas de carvalho francês, americano e português de 225 litros e 550

litros para o envelhecimento dos vinhos Quinta dos Murças Reserva e parte do lote dos

vinhos Assobio. Salta, também, à vista 8 tonéis de 10 000 litros cada para o

envelhecimento do Vinho do Porto, 20 pipas de 550 litros e 31 cascos de 600 litros onde

vão estagiar os vinhos do Porto mais velhos, dando origem ao Quinta dos Murças Porto

Tawny 10 anos (Esporão, 2017). Um longo acervo que permite continuar a elaborar

vinhos do Porto Tawny, extraordinários na riqueza e na complexidade. A cave, possui

também, 2 tulipas de betão natural para o estágio do Quinta dos Murças Minas e, para

o estágio dos vinhos Quinta dos Murças e parte do lote do vinho Assobio Tinto (Esporão,

2017).

Para preservar o vinho, a cave da Quinta dos Murças é detentora de um sistema

de controlo de temperatura e humidade inovador. Utiliza a água fresca que nasce nas

minas da quinta associada a um sistema de solo radiante em toda a extensão da cave,

o que permite um controlo da temperatura e humidade de uma forma mais ecológica e

funcional (Esporão, 2017).

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2.2.7. Os vinhos e prémios

A história do Grupo Esporão no Douro é recente, contudo já muito trabalho foi

desenvolvido, de forma a desvendar o potencial da Quinta dos Murças e, a partir daí,

contar a sua história através dos vinhos (Figura 8).

Figura 8 – Quinta de Murças Minas, Reserva, Margem, VV47 (Esporão, 2017)

Cada parcela foi valorizada e descobriu-se diferenças entre cada uma, pelo que

começou-se a trabalhá-las de forma individual. Assim, com a identificação da

diversidade da Quinta dos Murças, o projeto começou a ganhar forma. Atualmente, na

Quinta dos Murças são produzidos os seguintes vinhos:

Quinta dos Murças Reserva Tinto: resulta de uma seleção de uvas colhidas em

vinhas velhas a 100 e 380 metros, contando com as castas Tinta Roriz, Tinta

Amarela, Tinta Barroca, Touriga Nacional, Touriga Francesa e Sousão. A

colheita das uvas é feita de forma manual e estas passam por um criterioso

controlo na mesa de seleção. A fermentação alcoólica é realizada com

temperaturas controladas (25 a 28ºC) em lagares de granito com o tradicional

pisa a pé. Refira-se, a propósito, que depois da fermentação em lagar, o Quinta

dos Murças Reserva estagia 12 meses em barricas de carvalho francês e

americano (Esporão, 2017);

Assobio DOC Douro Tinto, Branco e Rosé: surge das vinhas em encostas

íngremes orientadas a Norte, mais protegidas do sol e, por isso, dão origem a

vinhos mais aromáticos e menos maduros, com acidez e fruta viva, sendo

produzida com base nas variedades autóctones do Douro, as castas Touriga

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Nacional, Tinta Roriz e Touriga Franca. As uvas são colhidas manualmente

passando pela mesa de selecção. Após fermentação alcoólica com temperatura

controlada (24ºC-27ºC), cerca de 20% do primeiro lote estagia em barricas novas

e usadas de carvalho francês e americano durante doze meses (Esporão, 2017);

Quinta dos Murças VV47 Tinto: é um vinho que carrega uma história, uma vez

que tem origem na primeira vinha vertical plantada no Douro, em 1947, com

exposição solar a sudeste e uma inclinação de 40%, sendo um vinho de uma

parcela com diferentes castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Sousão, Tinta

Amarela, Tinta Barroca, Tinta, de aroma limpo e vivo, com muita fruta madura e

também muitas notas frescas e apimentadas e de sabor intenso e refinado

(Esporão, 2017);

Margem (Touriga Nacional, Touriga Franca) surge das vinhas situadas junto à

margem do Rio Douro (a Vinha do Rio), a 140m e 170m de altitude e com uma

exposição solar a sul e poente, o que contribui para uma maior maturação das

uvas (Esporão, 2017);

Minas tem origem em vinhas verticais expostas a sul/sudeste (vinhas das Minas

e Campo Redondo), entre os 110m e os 300m de altitude, originando uvas com

grande concentração, que apesar de estarem situadas numa zona quente com

muitas horas ao sol, também previligiam da presença de cinco minas de água

que vão refrescando o ambiente, mantendo a vinha em equilibrio e conferem o

nome ao vinho (Esporão, 2017);

Quinta dos Murças Ânfora (Tinta Francisca, Tinto Cão) provém de vinhas

plantadas numa encosta entre os 110 e os 300 metros de altitude, de vinhas

orientadas a sul, em que as uvas mais expostas atingem maior concentração,

que beneficiam da existência de várias minas de água, que vão refrescando o

ambiente e permitindo um equilíbrio entre a maior maturação e a frescura tão

característica de Murças (Esporão, 2017).

Ademais, estes vinhos do Douro da Quinta dos Murças (Figura 9), que vão exprimindo

uma história, também é produzido Vinho do Porto (Esporão, 2017):

Quinta dos Murças Porto Tawny 10 anos: trata-se de um vinho elegante, denso,

de acidez equilibrada e boas notas de fruta. Este Tawny é produzido com uvas

de qualidade superior (letra A), colhidas na Quinta dos Murças, com base nas

castas Tinta Roriz, Tinta Amarela, Tinta Barroca e Tinto Cão. No terceiro dia de

fermentação nos lagares, onde as uvas foram pisadas pelo tradicional processo

de pisa a pé, é adicionada aguardente vínica. Os lotes envelhecem em pipas

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usadas, por um período médio de 10 anos, e beneficiam da frescura natural da

cave da quinta (Esporão, 2017);

Quinta dos Murças Porto Vintage 2011: produzido com uvas de qualidade

superior (letra A), fermentado em lagares com pisa a pé, este Porto Vintage,

exibe o potencial da região de Covelinhas para fazer Porto Vintages de grande

elegância, intensidade e persistência. Após fermentação em lagar pelo

tradicional processo de pisa a pé, foi adicionada aguardente vínica (Esporão,

2017).

Figura 9 – Vinhos produzidos na Quinta dos Murças: Assobio Branco, Assobio Rosé, Assobio Tinto,

Quinta dos Murças Reserva, Quinta dos Murças Porto Tawny 10 anos, Quinta das Murças Porto

Vintage 2011 (Esporão 2017)

Ao longo destes anos, os vinhos da Quinta dos Murças têm recebido algumas

menções. Em 2015, a conceituada Wine Enthusiast, uma revista norte-americana de

referência, destacou o Quinta dos Murças Reserva 2010 na 57º posição, na seleção Top

das 100 adegas. Também, o Assobio Tinto 2016 foi incluído na lista Top 100 Values da

Wine Spectator. O Quinta dos Murças VV47 com 92 pontos na Wine Spectator. Em

2016, o Quinta dos Murças Reserva, no encontro com o Vinho e Sabores da Revista de

Vinhos, foi “A Escolha da Imprensa” na categoria de Vinhos Tintos; no Concurso de

Vinhos de Portugal – foi Medalha de Grande Ouro; e no Decanter Asia Wine Awards –

95 pontos foi Medalha de Platina para “Best Red Portugal”. Neste ano 2018, O Quinta

dos Murças Vintage 2015 conquista três prémios: Trophy no IWC, Platina no Decanter

World Wine Awards e ouro no Concours Mondial Bruxelles; a Wine Enthusiast

classificou, com 95 pontos, o Quinta dos Murças VV47 2013, o Quinta dos Murças

Margem 2016, com 91 pontos, o Quinta dos Murças Minas 2016, com 90 pontos

e, por fim, o Quinta dos Murças Reserva Tinto 2012, com 94 pontos. (Esporão,

2017)

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Por fim, a principal revista de vinhos Portuguesa, “Revista de Vinhos, 2018”,

também, distinguiu o Esporão com o “Prémio Inovação/Investigação 2017”, pelo

desempenho na agricultura biológica, construção sustentável e economia circular. Além

disso, o prémio “Lifetime Achievement”, do Drinks Business Green Awards, um

programa de destaque do reconhecimento na indústria de bebidas a nível mundial,

reconheceu José Roquette, do Grupo Esporão, o vencedor pela sua carreira na

promoção de práticas ecológicas, sustentáveis ou éticas na indústria das bebidas, de

forma a beneficiar e educar terceiros (Esporão, 2017).

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3. Biodiversidade e Modo de Produção

Biológico

Nos últimos anos, a Quinta dos Murças mudou a sua agricultura convencional

para uma agricultura integrada e, por fim, para uma agricultura biológica. Não aconteceu

de um dia para o outro, foi um longo processo de trabalho e respeito pela natureza.

Neste momento, a Quinta dos Murças está a 100% em modo de produção

biológico (MPB) e certificação orgânica, pelo que possui uma rica biodiversidade com a

presença de bosques, mata mediterrânea, oliveiras, laranjeiras e outras dezenas de

plantas que ajudam a manter o equilibrio do ecossistema (Esporão, 2017). A

combinação desta biodiversidade encontrada na quinta, associada às boas práticas

agrícolas utilizadas previligiam o carácter dos frutos e a expressão de diferentes terroirs

nos vinhos.

A preservação da biodiversidade e, por sua vez, os métodos de produção

biológica, são características que definem toda a produção dos vinhos da Quinta dos

Murças. Estas associadas a ações de sustentabilidade assumem-se como um

compromisso a longo prazo, já que pretende promover compromissos para com as

gerações futuras e potenciar a transição para padrões de produção e consumo que

minimizem o uso de recursos naturais e materiais tóxicos.

3.1. A Biodiversidade

A gestão de ecossistemas permite o apoio ao desenvolvimento e implementação

de boas práticas agrícolas e ambientais. Estas práticas fomentam a ligação entre a

biodiversidade da área envolvente. Segundo (Aguiar et al. 2005), “a biodiversidade é o

pilar da estabilidade do ecossistema dos mecanismos de regulação natural e da

qualidade da paisagem”. Numa vinha, a biodiversidade é a diversidade de animais,

plantas, fungos e microorganismos, seja ao nível genético, de espécies ou de

ecossistemas. Esta diversidade é necessária para sustentar funções, estruturas e

processos fundamentais neste agro-sistema.

A agricultura, também, depende do que a natureza oferece e a biodiversidade

tem um papel fundamental na disponibilização das seguintes dádivas da natureza

(Carlos et al. 2012): formação de solo, controlo da erosão, manutenção do ciclo

hidrológico, regulação climática, troca de nutrientes, regulação de pragas e doenças,

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polinização e fixação de carbono. “A esta multitude de acções da biodiversidade dá-se

o nome de biodiversidade funcional” (Carlos et al. 2012).

Por conseguinte, quanto mais diversificado um sistema for, mais resiliente ou

autoregulador se torna. A manutenção da biodiversidade nas vinhas resulta num

impacto positivo para a cultura. Um ambiente equilibrado e natural, com um agro-

ecossistema diversificado, melhora a produção vitivinícola a longo prazo. Muitas

espécies, relacionadas com a paisagem vitícola, são benéficas, por exemplo

combatendo pragas e fornecendo um solo rico para a videira. Para proporcionar estes

benefícios, a área deve ser gerida de forma a melhorar os componentes botânicos e

faunísticos. (Carlos et al. 2012).

3.1.1. As Infra-Estruturas Ecológicas

Nas explorações agrícolas, a biodiversidade funcional é incrementada através

da valorização ou da instalação de infra-estruturas ecológicas (IEE). Entende-se por

IEE, de acordo com (Carlos et al. 2013), “qualquer infra-estrutura existente na

exploração agrícola, ou num raio de cerca de 150 metros, com valor ecológico, e cuja

utilização aumenta a biodiversidade funcional da exploração, (i.e., a parte da

biodiversidade que pode ser diretamente utilizada pelo agricultor)”.

As distâncias entre as IEE e a cultura devem ser tidas em atenção, como forma

de assegurar a efetiva dispersão dos inimigos naturais e a colonização da última (Carlos

et al. 2013). Uma rede de IEE deverá ser composta por três elementos fundamentais,

cada uma com diferentes funções (Carlos et al. 2013):

Habitats permanentes: são de grande dimensão (prados, pastagens, florestas,

áreas ruderais e pomares tradicionais);

Habitats temporários: são de pequena dimensão (pequenos bosques, manchas

de arbustos e árvores, amontoados de pedras ou lenha e charcos);

Corredores ecológicos:são estruturas lineares (sebes, faixas com enrelvamento,

caminhos rurais e linhas de água).

As IEE podem promover serviços ecológicos nas explorações agrícolas, para o

viticultor e para a sociedade, através (Vaz, 2017):

Da proteção biológica de conservação contra pragas da cultura, com

consequente redução da necessidade do uso de pesticidas;

Do incremento da matéria orgânica do solo e melhoria da sua estrutura,

fomentando simultaneamente a actividade microbiana (patogéneos antagonistas

de pragas e doenças da vinha);

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Da prevenção de fenómenos de erosão, que assumem particular importância na

viticultura de montanha;

Da regulação dos ciclos hidrológicos;

Da conservação de espécies de animais ou plantas emblemáticas, raras ou

ameaçadas;

Do embelezamento da paisagem e fomento de atividades do ecoturismo.

As comunidades vegetais de porte herbáceo, arbustivo ou arbóreo, poderão ser

instaladas nas explorações agrícolas, desde que não interfiram com as atividades que

aí se desenvolvem, sob as seguintes formas (Carlos et al, 2013):

Enrelvamento na entrelinha (vegetação herbácea) ou nos taludes de vinha

(vegetação herbácea ou arbustiva);

Sebes (vegetação herbácea ou arbustiva);

Bordaduras de estradas, taludes de desnível, estruturas edificadas, hortas,

charcas (vegetação herbácea, arbustiva e arbórea);

Bosquetes (vegetação herbácea, arbustiva e arbórea);

Pomares (vegetação arbórea).

As comunidades vegetais proporcionam aos inimigos naturais das pragas na

vinha, uma variedade de recursos naturais, de entre os quais se destacam

(Carlos et al, 2013):

Abrigo e refúgio contra fatores ambientais adversos, como condições

metereológicas extremas ou exposição a pesticidas;

Fonte de alimento necessário ao seu desenvolvimento, sobrevivência e

reprodução, quer seja na forma de néctar ou polén, quer seja por possibilitar a

existência de presas alternativas, como afídeos, tripes ou ácaros, meladas

secretadas por alguns insectos e que são uma fonte de açucares essenciais;

Fonte de água.

Na instalação de IEE deve-se (Carlos et al, 2013):

tirar partido das IEE já existentes;

definir previamente o objetivo pretendido com a sua instalação;

preferir as espécies autóctones;

combinar as plantas de maneira que a floração seja escalonada (Primavera,

Verão e Outono);

criar uma canópia variada;

fazer uma manutenção adequada das IEE;

iniciar a instalação de IEE com pequenas manchas de vegetação “teste” que

possam ser monotorizadas regularmente.

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Na RDD existem 39 espécies de plantas potencialmente interessantes no

estabelecimento das IEE, destinadas a incrementar a proteção biológica de

conservação contra pragas da vinha. Na sua seleção deve-se atender às condições

edafo-climáticas do local onde se pretendem instalar (Carlos, 2012).

3.1.2. Ações de Conservação da Biodiversidade

Nas explorações agrícolas existem vários espaços que, não sendo utilizados

para a atividade produtiva, podem ser geridos por forma a fomentar a presença da

biodiversidade. Entre estes espaços incluem-se (Carlos, 2015):

Taludes de desnível de estradas ou parcelas;

Bordaduras das estradas e caminhos;

Linhas de água, lagos, minas, tanques;

Áreas envolventes a estruturas urbanas;

Zonas de viragem das máquinas (cabeceiras);

Áreas edificadas (casas, casebres, minas, pombais).

Nestes locais podem ser implementadas várias práticas de conservação da

biodiversidade do ecossistema vitícola (Carlos, 2015):

Preservar a vegetação natural de matas, matos, bosquetes, taludes;

Evitar a aplicação de herbicida, recorrendo apenas ao corte da vegetação ou

animais equídeos ou ovelhas, para promover o seu pastoreio;

Proteger habitats ripícolas, como linhas de água e zonas ribeirinhas, não

eliminando a vegetação num raio de 10 metros;

Promover a plantação de sebes e cobertos vegetais funcionais (enrelvamento);

Proteger e conservar massas de água como charcas, lagos, minas ou tanques;

Proteger espécies arbóreas autóctones ou variedades regionais de fruteiras;

Evitar a realização de queimadas ou de mobilizações na época de nidificação

das aves;

Instalar caixas ninho (aves) e postes (aves de rapina), abrigos (morcegos);

Instalar armadilhas sexuais e difusores (confusão sexual);

Instalar bebedouros e comedouros para a fauna;

Instalar aglomerados de lenha e pedras, como muros de pedra posta;

Não elimiar árvores mortas, com cavidades;

Instalar caixotes de lixo;

Evitar ou reduzir a caça;

Respeitar a natureza.

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Para além destas práticas a realizar em áreas não produtivas, deve efectuar-se

a seleção dos produtos fitofarmacêuticos aplicados na vinha (Despacho nº 5848/2002),

evitando a aplicação de pesticidas nocivos ou tóxicos para o homem, auxiliares ou meio

ambiente (Carlos, 2015).

3.1.3. O Plano de Gestão da Biodiversidade e Ecossistemas

da Quinta dos Murças

O incremento e manutenção da biodiversidade representam procedimentos úteis

para a viticultura em modo de produção biológico (MPB). Para tal é preciso demonstrar

que, através dum plano de acção ecológico (boas práticas agrícolas), é possível

conciliar eficientemente a actividade produtiva com a preservação da biodiversidade.

Durante o ano de 2017, foi desenvolvido o Plano de Gestão de Biodiversidade e

Ecossistemas da Quinta dos Murças (PGBE). É um documento de boas práticas

agrícolas e ambientais que fomentam a ligação da biodiversidade, como factor de

regulação, com o estado das áreas de produção, através de orientações que permitam

melhorar, de uma forma interligada e evolutiva, a gestão da quinta como um todo, em

que a paisagem e as características do território serão os principais determinantes da

diversidade dos vinhos (Esporão, 2015).

O intuito foi, precisamente, o de se conseguir desenvolver uma abordagem

construtiva da gestão da biodiversidade, recorrendo a bioindicadores, isto é, espécies

ou grupos taxonômicos superiores com características (como presença/ausência;

densidade populacional, dispersão, sucesso reprodutivo) que podem ser teoricamente

usadas como um índice para outros atributos ecossistêmicos mais difíceis ou caros de

mensurar (Landres et al,1988). Assim, na Quinta dos Murças, na avaliação das

respostas de ecossistemas às perturbações ambientais foram elencadas plantas (152

espécies de flora entre endemismos ibéricos e espécies exóticas), espécies de insectos

(como abelhas e borboletas) e de aves, quer as pequenas espécies de insectívoros

(chapins e felosas), quer as de rapina (falcões e milhafres), entre variadíssimas outras,

enquanto fontes de informação preciosa acerca do estado ecológico das áreas de vinha,

olival e, também, de bosquetes, taludes e linhas de água (Esporão, 2015). O

conhecimento destas espécies, assim como das comunidades e habitats que elas

formam, foram determinantes no planeamento e gestão de enrelvamentos, taludes e

linhas de sebes naturais, que sustentarão muitos dos inimigos naturais das principais

pragas da vinha e do olival, assim como irão ajudar na regulação da entrada de

organismos benéficos como insectos polinizadores (Esporão, 2015).

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Uma boa gestão, planeamento e execução dos trabalhos na vinha ao longo do

ciclo vegetativo, torna-se essencial, já que as operações da vinha sucedem-se ao longo

do ano, quase como as estações. Em pleno Inverno, a Quinta dos Murças prepara a

Primavera e sonha com a vindima. Logo, a leitura da biodiversidade permite visualizar

o que vai acontecendo na natureza, que varia ano após ano, e informa acerca do que

se pode esperar a cada estação. A vinha adormece à medida que as plantas entram em

torpor vegetativo, pois há muito mais actividade debaixo do solo do que acima deste

(Esporão, 2015). Os microorganismos e os pequenos invertebrados do solo rearranjam

a rede de raízes e hifas de fungos, numa operação de “manutenção” da “Wood Wide

Web”, uma intrincada forma de internet natural do solo que liga plantas e fungos de

forma a criar ecossistemas mais resilientes a riscos e ameaças como geadas, secas,

perda de nutrientes, pragas e doenças, invasões de espécies exóticas, entre outras

(Fleming, 2014). Pequenas sementes de plantas autóctones anuais, largadas durante o

Verão, recebem micro estímulos para germinarem em Fevereiro e Março. Desta forma,

darão início ao processo de restauro dos enrelvamentos que irão ajudar à regulação de

água, nutrientes e de organismos auxiliares da vinha e do olival. Os pinheiros,

zambujeiros, cornalheiras, medronheiros, estevas, urzes e giestas das manchas de

bosque que rodeiam a Quinta dos Murças e escondem cogumelos silvestres dão

valiosas informações sobre o lado biológico dos oito terroirs desta propriedade. Em cada

pedaço de vegetação, solo e rocha, as chuvas, o gelo e o vento ajudam a preparar a

entrada da Primavera. (Esporão, 2015)

Contudo, a Quinta dos Murças apresenta quatro diferentes tipos de exposição

solar e, consequentemente, quatro tipos de microclimas onde as condições de luz,

temperatura, humidade e fotoperíodo são igualmente distintas. Isso fará toda a

diferença, pois as estações do ano não chegam ao mesmo tempo. Vai criar um mosaico

de vitalidade e desenvolvimento das videiras, que implicará que até as mesmas castas

possam ter comportamentos e respostas metabólicas distintas, conforme esta tripla

combinação entre solos, biodiversidade e microclima (Esporão, 2018). A leitura fina de

bioindicadores como as plantas e a comunidade microbiológica do solo (microbioma),

poderá vir a possibilitar uma gestão proactiva da assinatura pretendida para cada um

dos 50 talhões de vinha (Esporão, 2018). Estes são vinificados separadamente, de

forma a conseguir vinhos de quinta com uma identidade muito própria, que representem

uma resposta efectiva ao desafio sublime do terroir (Esporão, 2018).

3.1.4. O Campo Ampelográfico da Herdade do Esporão –

Quinta dos Murças

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A Herdade do Esporão desenvolveu, em 2011, um estudo prévio, em conjunto

com o Instituto Nacional de Recursos Biológicos (INRB), para identificar o património

genético das castas de vinha e os clones mais relevantes no panorama nacional e

internacional.

De seguida, iniciou-se a prospeção do material vegetativo a instalar e plantou-

se uma linha, que corresponde a 120 plantas, de cada casta. Isto deu origem ao talhão

do Campo Ampelográfico (Figura 10) com 9,7ha, onde se cultivaram 21500 plantas

dispostas em 189 linhas paralelas (Esporão, 2017). Cada linha representa uma casta

distinta (Vitis vinífera L.): 87% castas portuguesas; 13% castas internacionais (Esporão,

2017). Aqui pode-se encontrar:

Todas as castas da região do Alentejo;

Todas as castas da região do Douro;

Principais castas de todas as regiões vitivinícolas de Portugal;

Castas nacionais com pouca expansão e com potencial vitivinícola;

Castas internacionais com potencial para a região do Alentejo.

Figura 10 - O campo ampelográfico (Esporão 2017)

O objectivo principal desta coleção é preservar o património vitivinícola nacional,

plantando castas em risco de desaparecerem dos encepamentos nacionais, avaliar as

suas potencialidades agronómicas dentro do mesmo terroir, retirar conclusões

científicas que sirvam o negócio e a viticultura em geral, estudar a adaptação de cada

casta às alterações climáticas e a modos de produção mais sustentáveis (viticultura

biológica). Assim, pode-se encarar um cenário de alterações climáticas com mais

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soluções: um estudo de 50 anos de dados climáticos, relativos a 27 regiões produtoras

de vinhos, sugere que o impacto do aquecimento global pode ter efeitos significativos

na qualidade do vinho num futuro próximo. (Esporão, 2017)

Foram recuperadas algumas variedades quase perdidas, que faziam parte do

encetamento tradicional do Alentejo e, também, realizaram-se ensaios de um número

elevado de castas pouco conhecidas em Portugal. Além disso, a partir de algumas linhas

de vinha, está-se a fazer microvinificações, para analisar o potencial destas castas em

anos e condições diversas, tentando perceber o potencial enológico de cada casta e a

sua capacidade de resistência a pestes e fungos, num cenário de produção biológica.

(Esporão, 2017)

A aposta no aumento da produção biológica, na longevidade da vinha e no

negócio do Grupo Esporão será bem sucedida, se houver respeito pelo equilíbrio dos

ecossistemas. Desta forma, pode-se ter uma viticultura com futuro, bem como promover

a preservação de variedades que estão em risco de extinção. A seleção de castas mais

resistentes é uma das formas de atenuar o impacto das alterações climáticas (Esporão,

2017).

Por conseguinte, é necessário continuar a apostar neste laboratório para

determinar os impactos das alterações climáticas na adequabilidade, sustentabilidade e

rentabilidade das castas.

3.2. Modo de Produção Biológico (MPB)

A viticultura biológica envolve um conhecimento profundo da cultura da vinha,

das pragas e das doenças, das técnicas de proteção fitossanitária, das práticas

agrícolas para a fertilidade do solo e a proteção da cultura, assim como um bom

conhecimento da biodiversidade local, que irá promover e fortalecer o ecossistema

vitícola, visando a sustentabilidade e a rentabilidade das videiras.

A videira é uma das plantas trepadeiras mais antigas do planeta, sendo uma

cultura permanente e de longa duração. Portugal possui uma inegável riqueza

patrimonial em variedades de videira (Vitis vinífera L.). No entanto, nas últimas décadas,

inúmeros stresses bióticos e abióticos têm causado uma elevada erosão genética das

variedades portuguesas, para a qual também muito tem contribuído o reduzido número

de genótipos cultivados (Esporão, 2017). Deste modo, é crucial uma aposta na

preservação da biodiversidade ainda existente, por forma a garantir o sucesso de uma

viticultura eficiente, sustentável, rentável e, também, biológica.

Aliada a uma preocupação crescente com o meio ambiente, a Quinta dos Murças

preocupa-se, em particular, com o impacto que a agricultura tem na biodiversidade da

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Produção Biológico – Quinta dos Murças, Douro

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exploração. Aqui, o ecossistema assume papel central na realização das atividades na

quinta, onde se inclue o modo de produção biológico (MPB).

3.2.1. Conceito de Agricultura Biológica

O conceito de Agricultura Biológica foi legalmente instituído pelo Regulamento

CE 2092/91, tendo sofrido diversas alterações e derrogações. Atualmente o documento

base assenta no Regulamento (CE) nº 834/2007, cujas normas de execução foram

publicadas no Regulamento (CE) nº 889/2008. A Agricultura Biológica é um modo de

produção em que são utilizadas práticas culturais respeitadoras do equilíbrio natural do

meio e em que se trabalha em compatibilidade com os ciclos e sistemas naturais da

terra, das plantas e dos animais (Barrote, 2010). Este princípio obriga a que seja

necessário manter e encorajar a biodiversidade, protegendo os habitats da fauna e flora

selvagens.

É considerado um dos instrumentos para um desenvolvimento rural sustentável,

porque produz produtos diferenciados com valor acrescentado e faz uso de métodos e

práticas respeitadoras do ambiente, permitindo uma agricultura em harmonia com o

ambiente e fonte estabilizadora do equilíbrio natural dos ecossistemas (Barrote, 2010).

3.2.2. Princípios da Agricultura Biológica

No texto intitulado “Principles of Organic Agriculture”, adotado pelo IFOAM, na

Assembleia Geral, realizada em 2005, consta quatro princípios essenciais da Agricultura

Biológica. Eles expressam a contribuição que o modo de produção biológico (MPB) pode

dar ao Mundo e oferecem uma perspectiva, com vista ao aperfeiçoamento da agricultura

no contexto global (IFOAM, 2005).

Estes princípios aplicam-se à agricultura no seu sentido mais amplo, incluindo a

forma como os povos manejam os solos, a água, as plantas e os animais, de modo a

produzir, preparar e distribuir alimentos e outros bens (IFOAM, 2005). Também, dizem

respeito ao modo como as pessoas interagem com o meio circundante, como se

relacionam entre si e como constroem a herança para as gerações vindouras. Segundo

a IFOAM (2005), o seu objetivo é inspirar ação e devem ser aplicados em conjunto:

- Princípio da Saúde: solos saudáveis originam produtos saudáveis que, por sua

vez, promovem a saúde dos animais e das pessoas.

- Princípio da Ecologia: a produção deve–se fundamentar em processos

ecológicos e na reciclagem.

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29

- Princípio da Justiça: a justiça caracteriza-se pela igualdade, o respeito, a

equidade e a responsabilidade pelo mundo compartilhado, tanto entre as pessoas como

nas suas relações com os outros seres vivos.

- Princípio da Precaução: a precaução e a responsabilidade são as principais

preocupações na escolha do manejo, do desenvolvimento e das tecnologias na

Agricultura Biológica.

Por conseguinte, segundo Barrote (2010), entre os princípios da Agricultura

Biológica contam-se o da utilização, sempre que possível, dos recursos renováveis, a

promoção do uso responsável e a conservação da água e a utilização de materiais

biodegradáveis, recicláveis e reciclados. A utilização racional dos recursos deve

conduzir ao estabelecimento de uma fileira de produção, de preparação e de distribuição

que seja socialmente justa e ecologicamente responsável (Barrote, 2010).

3.2.3. Os fundamentos e objetivos

O Modo de Produção Biológico (MPB) é exigente e aponta uma ligação essencial

entre solo, planta, animal e homem, por vezes descrita como holística (SATIVA, sem

data).

O solo é a base da agricultura e, por este motivo, desenvolver solos férteis e

saudáveis é essencial para originar produtos de elevada qualidade e em quantidade

suficiente. O conceito de solo como um sistema vivo que desenvolve as actividades de

organismos úteis é central no MPB. Desta forma, os sistemas de agricultura biológica

recorrem a práticas que mantenham a produtividade do solo, nutram as plantas e

controlem os inimigos das culturas. Além disso, a AB tem como objetivo fulcral contribuir

para a melhoria da vida dos solos e da qualidade da água, ajudando na perservação de

um património paisagistico e genético (Neves, 2012).

Na produção vegetal biológica são importantes: as práticas de mobilização e de

cultivo que mantenham ou aumentem a matéria orgânica do solo, reforcem a sua

estabilidade e biodiversidade e impeçam a compactação e erosão; a fertilidade e a

actividade biológica dos solos devem ser mantidas e melhoradas; o acompanhamento

e controlo dos danos causados por doenças e infestantes. Segundo Barrote (2010), para

uma boa protecção fitossanitária é essencial criar condições para um desenvolvimento

vegetativo equilibrado da planta, para que esta seja mais resistente: garantir um solo

fértil, rico em matéria orgânica e com teores de pH adequados, pois uma nutrição

equilibrada origina plantas com boas resistências a doenças (Black Foot, Flavescência

Dourada, Esca, Escoriose, Eutipiose, Míldio, Oídio, Podridão cinzenta, Podridão

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radicular, Acariose, Erinose) e pragas (Cigarrinha Verde ou Cicadela, Ácaros (Aranhiço

Amarelo, Aranhiço Vermelho), Cochonilha, Charoteiro (Cigarreiro), Pulgão da Vinha

(Áltica), Casaca de Ferro), Lagarta Esperta (Piral), Traça da uva).

Para converter uma exploração agrícola convencional em biológica, não basta a

substituição de adubos químicos por adubos orgânicos, nem pesticidas químicos de

síntese por pesticidas de origem vegetal, animal ou mineral. O período de conversão

definido pela legislação comunitária é de dois anos para culturas anuais e de três anos

para culturas perenes, período em que as regras da agricultura biológica já são

aplicadas (SATIVA, sem data). Não obstante, este período pode ser aumentado pelo

Organismo de Controlo (OC) tendo em conta a anterior utilização das parcelas (APAB)

(SATIVA, sem data).

Para assegurar que os produtos biológicos sejam produzidos em conformidade

com Regulamento Europeu de Agricultura Biológica, as actividades dos operadores em

todas as fases da produção, preparação e distribuição são sujeitas a um sistema de

controlo. Assim, é obrigatório que a cada produto biológico corresponda um Certificado

do Modo de Produção Biológico e que todos os operadores intervenientes no processo

de certificação de um produto tenham contrato com um Organismo de Controlo.

(SATIVA, sem data)

3.2.4. Medidas preventivas

Em MPB não se deve esperar que a doença se instale para depois atuar, é

fundamental, privilegiar medidas preventivas, de forma a evitar a ocorrência de

situações que obriguem à utilização de produtos fitossanitários, adubos e outros

(Barrote, 2010).

Torna-se indispensável um acompanhamento regular da cultura, de forma a

fazer a estimativa do risco de ataque, em função de fatores como as condições

meteorológicas, estado vegetativo da planta, entre outros. Segundo Barrote (2012),

pode ser necessário a aplicação de técnicas culturais que minimizam o ataque dos

agentes patogénicos, como o estabelecimento de diversidade cultural, através do

recurso a plantas com boa resistência que minimizem a suscetibilidade ao ataque e à

prática de rotações de culturas adequadas. Por outro lado, também devem ser aplicadas

outras medidas como a luta biológica, utilizando organismos vivos para lutar contra

outros organismos vivos indesejáveis e que se revelam nocivos às plantações. A luta

biológica passa por incentivar a conservação da fauna nativa, onde os predadores e os

parasitóides, num sistema ecologicamente equilibrado, representam a melhor forma de

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combater os inimigos das culturas (Barrote, 2012). Desta forma, sem recorrer ao uso de

químicos de síntese (a grande causa da queda da biodiversidade em sistemas

agrícolas), a proteção contra doenças (Black Rot, as Doenças do lenho – Esca,

Escoriose Americana, Escoriose Europeia e Eutipiose, o Míldio, o Oídio e a Podridão

Cinzenta) passa, numa fase inicial, pela escolha de variedades locais, mais resistentes

e melhor adaptadas (Neves, 2012).

No modo de produção biológico (MPB), os produtos biológicos são livres de

organismos geneticamente modificados (OGM) e são excluídos a hidroponia (cultura

sem solo), fertilizantes minerais azotados, herbicidas e todos os produtos químicos de

síntese, à exceção dos casos referenciados na regulamentação, que apenas poderão

ser utilizados para os efeitos e nas doses nela definidas (Barrote, 2010). Contudo, este

conceito não se baseia simplesmente na substituição de adubos e produtos

fitofarmacêuticos de síntese, por outros homologados para o modo de produção

biológico (DRAPN, 2011). A mudança nos sistemas de produção agrícola é profunda,

implementando-se variedades adaptadas às condições agro-climáticas locais,

melhorando a fertilidade do solo e promovendo a biodiversidade do sistema agrícola, de

forma a potenciar os processos ecológicos naturais benéficos (Neves, 2012).

Na sua grande maioria, os produtos que são permitidos no modo de produção

biológico (MPB) são utilizados no tratamento preventivo da doença, ou seja, ao

aparecimento dos primeiros sintomas, ou quando surgem condições favoráveis ao seu

desenvolvimento, não envolvendo a respetiva utilização um carácter curativo.

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4. Materiais e Métodos

4.1. Atividades agrícolas na vinha e Estados fenológicos da videira

É importante ajustar as atividades agrícolas na vinha aos estados fenológicos da

videira. A qualidade do vinho é determinada pelas uvas e pelos seus processos de

maturação e, por sua vez, estes dependem da interação do solo e das plantas, bem

como das modificações feitas pelas técnicas vitícolas do vinicultor, já que este pode

influenciar a expressão do terroir no seu vinho.

4.1.1. Atividades agrícolas na vinha

Ao longo do ano, as operações na vinha estão associadas a um rigoroso

calendário, que contribuirão para a obtenção de boas uvas e qualidade do vinho

produzido. Assim, a boa gestão e execução dos trabalhos na vinha ao longo do ciclo

vegetativo da videira, torna-se essencial. As atividades agrícolas na vinha sucedem-se

ao longo do ano, quase como as estações (Magalhães, 2008):

Mulching: ou cobertura do solo apresenta benefícios idênticos aos do

enrelvamento. Consiste na colocação de materiais sobre a superfície do solo

para manter a humidade e melhorar as suas condições. Trata-se de uma técnica

altamente eficiente na manutenção da humidade no solo, controlo da

germinação de infestantes e seu crescimento, proteção das raízes relativamente

a temperaturas extremas e na melhoria da biologia, arejamento, estrutura,

drenagem e fertilidade do solo. A composição e durabilidade dos materiais

utilizados são muito variáveis existindo várias opções orgânicas trituradas, como

a casca de pinheiro, lenha de poda triturada, estilha de desperdícios florestais,

bagaço de uva, etc. Estes materiais não disponibilizam azoto a curto prazo, mas

se aplicados em simultâneo com composto contribuirão para aumentar a

fertilidade do solo (Magalhães, 2008);

Escarificação: é uma reduzida mobilização do solo. Para além do controlo de

infestantes tem ainda outros efeitos segundo os objetivos com que são definidas:

aumento do arejamento nas camadas superior do solo, controlo o regime hídrico

do solo, melhoria da estrutura do solo, ntensificação de reações químicas e

bioquímicas entre componentes do solo, fertilizantes, ar e água, regularizações

da temperatura ao longo do perfil, condensação do vapor de água na camada

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superficial do solo mobilizado, promoção do crescimento radicular em

profundidade (Magalhães, 2008);

Sementeira: a sementeira pode ser direta com um distribuidor de sementes.

Utilizar, na sementeira da entrelinha, sempre técnicas de mobilização mínima,

podendo, no caso da incorporação de corretivos orgânicos recorrer ao uso de

grade de discos, ou, em alternativa utilizar técnicas de mobilização mínima na

remoção do coberto vegetal na totalidade das entrelinhas no período entre 1 de

Março e 1 de Agosto. As sementeiras de Outono/Inverno devem ser feitas logo

após a vindima. A sementeira de um coberto vegetal deve ser efetuada logo

após as primeiras chuvas outonais e previamente à ocorrência das primeiras

geadas (Magalhães, 2008);

Contagem de falhas: contar a falta de videiras na parcela (Magalhães, 2008);

Análise de terra: quando vai ser instalada uma cultura perene torna-se

necessário fazer uma análise detalhada da composição físico-quimica e

biológica do solo e das carateristicas dos horizontes, do seu perfil, de modo a

serem estabelecidos critérios para o controlo de pragas e doenças do solo,

fertilização e correção de fundo, fertilizações de manutenção e programação da

rega, caso esta se revele indispensável. Na colheita das amostras temos que

considerar duas situações, antes da instalação e após a instalação da vinha.

Após a instalação da vinha, é necessário realizar análises de solo periódicas de

rotina (Magalhães, 2008);

Poda: é uma intervenção cultural que consiste na remoção de qualquer órgão

vivo da planta (varas, pâmpanos, folhas), influenciando o seu comportamento

fisiológico. Exceptua-se desta definição, a supressão de inflorescências e de

cachos, tomando neste caso a designação de monda. A poda divide-se em poda

de Inverno, efectuada durante o período de repouso vegetativo, e poda em

verde. A poda de inverno procede-se à supressão de varas ou ao seu corte

parcial afim de deixar um determinado número de gomos (carga) (Magalhães,

2008);

Lenha da poda: (varas, cepas, ramos e pernadas) provenientes de plantas

doentes da vinha, pomar e olival devem ser retiradas e queimadas para evitar a

propagação. Não deixar a lenha de poda na proximidade das vinhas, durante o

Inverno e Primavera, porque constituem importantes focos de infecções de

doenças do lenho (Magalhães, 2008);

Triturar vides: a restante lenha da poda em boas condições sanitárias, é uma

boa prática, proceder á trituração, superfície do solo, o que vai contribuir para

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uma melhoria da estrutura e aumento da matéria orgânica do solo (Magalhães,

2008);

Postes/Aramação: uma boa estrutura física para suporte das cepas e sua

vegetação (embardamento) é fundamental. É constituída por postes, arames,

fixações de cabeceira e acessórios diversos. Nas novas vinhas mecanizadas são

utilizados geralmente postes de madeira tratada, postes metálicos ou soluções

mistas, em alternativa aos esteios em pedra de xisto (por vezes utilizados em

particular na recuperação de vinhas antigas pela tradição e manutenção da

paisagem original). Para sustentação da vegetação são utilizados e de

preferência aos arames de ferro macio zincado com galvanização simples, os de

aço inox com revestimento em zinco e alumínio com superior resistência à

corrosão e durabilidade, e ausência de resíduos ferrosos que poderiam originar

casse férrica nos vinhos (Magalhães, 2008);

Despedrega: remoção de pedras de diferentes dimensões existentes na

superfície do solo, afim de facilitar o trabalho de tratores e alfaias nas diversas

operações culturais posteriormente exigidas pela vinha (Magalhães, 2008);

Retrancha: consiste na plantação de novas plantas de videira brava (bacelos)

que serão enxertadas nos anos seguintes ou através de enxertos-prontos

(videiras já enxertadas). O processo de retrancha realiza-se durante o mês de

janeiro e contempla a abertura de furos de retrancha, a plantação e a rega. Pode

ser realizada manualmente ou com recurso a alfaias agrícolas (Magalhães,

2008);

Adubação: restitu ao solo parcialmente ou na totalidade, os elementos

consumidos pela planta, dependendo da fenologia da videira, esta operação

deve ser efetuada no início do período vegetativo da planta, normalmente,

segunda metade de Fevereiro e primeira metade de Março. A adubação contribui

pra o conveniente desenvolvimento dasplantas, sem que apresentem sintomas

de carência que podem prejudicar a quantidade e qualidade da produção

(Magalhães, 2008);

Escava: mobilização junto às cepas retirando a terra ao longo das linhas

pretendendo-se descobrir o colo da cepa para eliminação de raízes e corte de

ladrões provenientes dos porta enxertos. As covas ou regos abertos pela escava

permitem uma melor infiltração da água das chuvas e contrariam ainda em

terrenos de encosta a erosão provocada por escorrimentos superficiais.

Simultaneamente, são destruídas as infestantes Outono-Invernais já nascidas

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ao longo da linha de videiras podendo aí ser efetuadas fetilizações de Inverno

ou coberturas azotadas no nício da Primavera (Magalhães, 2008);

Colocação de Difusores: é um meio de proteção contra a traça da uva. Os

difusores devem ser colocados na vinha antes do início do primeiro voo (meados

de Março na RDD) (Magalhães, 2008);

Colocação de Tutores: colocação de canas de madeira, metal ou outro material

que apoia a videira e permite que a seiva chegue a toda a planta (Magalhães,

2008);

Empa/Atar: a empa prepara a videira para o processo de frutificação e

normalmente executa-se em simultâneo com a poda. Na empa, as varas da

videira dobram-se e amarram-se a tutores, de forma a distribuir a vegetação que

se vai desenvolver, contrariando a tendência natural que a videira tem para fazer

abrolhar os gomos mais distantes, um fenómeno denominado "dominância

apical". Ao dobrar a vara, dificulta-se a passagem da seiva, obrigando ao

desenvolvimento dos gomos da base que, de outra forma, não frutificariam. Atar

tem como finalidade sujeitar ao arame as varas de produção resultantes da poda,

quer no caso de formação de braços permanentes (cordão horizontal), quer

quando as varas sejam substituídas anualmente (guyot). A realização desta

operação é efetuada após a poda e antes do abrolhamento (Magalhães, 2008);

Poda em verde: é realizada na fase activa do ciclo vegetativo. Tem como

principal finalidade, facilitar o arejamento da planta permitindo melhorar a

eficácia os tratamentos, diminur o custo da poda de inverno e regularizar a

produção (Magalhães, 2008);

Controlo de infestantes (Roçadora): nas entrelinhas é realizado com recurso a

roçadoras e tem como objetivo manter as infestantes do enrelvamento com

dimensões reduzidas, realizando-se sempe que se justifique. O controlo das

infestantes no sistema vitícola é particularmente importante nas linhas,

entrelinhas e bordaduras das parcelas da vinha (Magalhães, 2008);

Capinar: é uma operação de manutenção do solo e refere-se a retirar as grama

e as ervas daninhas que foram entretanto nascendo (Magalhães, 2008);

Corte Sementeira: esta atividade refere-se ao corte do coberto vegetal semeado,

concretamente das fabáceas. O coberto vegetal é simplesmente cortado e

deixado na superfície do solo, pois estas espécies se auto ressemeia

(Magalhães, 2008);

Manutenção (Rega VN): dos sistemas de rega gota-a-gota, um método de rega

localizada, onde a água é aplicada através de emissores ou gotejadores

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(orifícios, labirintos, tubos auxiliares, vórtice, etc.) à superficie do solo sob a

forma de gotas. É um sistema tecnicamente complexo, que exige um grande

investimento inicial. Para manter estes equipamentos, é necessário deter um

nível conhecimento elevado. Em agricultura biológica, o sistema de rega gota-a-

gota é um dos mais adequados, pelo seu contributo para o equilíbrio dos

ecossistemas, já que permitem reduzir o consumo de água, minimizando os

riscos de perda de qualidade da mesma, para além de terem menos efeitos

negativos no solo (menor erosão) (Magalhães, 2008);

Tratamentos Fitosanitários: são procedimentos realizados para o controle de

doenças e pragas, utilizando métodos preventivos para evitar a proliferação e/ou

reduzir a sua acção. Tem como objetivo manter as plantas em estado sanitário

que permitam a obtenção de uvas de qualidade. Através da desfolha na videira,

da ampara há uma maior facilidade de atuação e aplicação dos tratamentos

fitossanitários (Magalhães, 2008);

Limpar taludes: o revestimento dos taludes deve ser feito com flora espontânea

sendo a sua gestão feita com cortes sucessivos com uma máquina limpa-

bermas. A altura dos taludes ao longo do patamar sofre grandes variações o que

constitui uma dificuldade acrescida no controlo da vegetação que nele se instala

(Magalhães, 2008);

Análises foliares: a análise foliar complementa a análise de solo com o objectivo

de estabelecer e gerir adequadamente a fertilização da vinha ao longo dos anos.

Tem vários objetivos, entre os quais saber qual o estado de nutrição da videira

num estado fenológico preciso e efetuar correções em micronutrientes. No caso

em que se observem sintomas de desequilíbrio nutricional em algumas zonas da

vinha, independentemente da época do ciclo vegetativo da vinha, deve-se

proceder a esta análise (Magalhães, 2008);

Vindima: é a colheita da uva e engloba o período entre a colheita das uvas e o

inicio da produção do vinho. A altura de iniciar a vindima é determinada de

acordo com o estado de maturação das uvas e as condições climatéricas. À

medida que os cachos amadurecem, a acidez dos bagos diminui e os teores de

açúcar aumentam. É possível fazer análises por amostragem e procurar

determinar a data da vindima em função da acidez e do grau de álcool previsível.

Em relação às condições climatéricas, é desejável que não chova, já que a água

e humidade absorvida pelos cachos é transmitida para o vinho (Magalhães,

2008).

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A calendarização destas atividades foi realizada e adaptada às condições

da Quinta dos Murças tendo em conta que esta se encontra em MPB, encontrando-se

no Capítulo dos “Resultados e Discussão” (Tabela 3)

4.1.2. Estados fenológicos da videira

A videira é uma trepadeira da família das vitáceas. Existem várias espécies de

vitácias, contudo a mais cultivada para o produção de vinho na Europa é a espécie vitis

vinefera L.. Esta apresenta diferenças no seu fenótipo morfológico e fisiológico. A

relação entre a instabilidade das propriedades varietais e as condições ambientais é

estabelecida em características hereditárias em termos de maleabilidade e seleção

fenotípica: assim, as propriedades do meio e a variação genética subjacente (fenótipo)

criam condições que permitem que as plantas se adaptem a seus respectivos habitats

(OIV, sem data). O meio em que a planta vive é determinado por vários fatores naturais

que influenciam seu comportamento e reações, metabolismo, crescimento e, finalmente,

o seu desenvolvimento.

A videira, como planta de folha caduca, depende da temperatura ambiente para

suportar toda a atividade enzimática, que está na base do seu ciclo vegetativo (OIV,

sem data). Ela tem um ciclo vegetativo anual próprio, com diferentes fases de

desenvolvimento, designadas por estados fenológicos, que se definem numa escala ao

longo do tempo biológico. As escalas são bastante importantes na gestão das práticas

culturais. Foram desenvolvidas várias escalas de descrição dos estados fenológicos

(Anexo I), entre elas a escala de Baggiolini (1952) baseada em letras para definição dos

diferentes estados e, também, a escala fenológica BBCH (Lorez et al. 1994) baseada

em números. Com base nestes estudos fenológicos é possivel determinar a duração de

cada estado e relacionar a prática cultural mais adequada para cada fase do ciclo da

cultura.

Após a vindima, com o avançar do Outono e o consequente abaixamento das

temperaturas, a videira vai deixando de ter condições que suportem a sua atividade, as

folhas amarelecem e caiem. Entre o fim do Outono e o início do Inverno, a videira entra

em repouso vegetativo e só dele sairá quando as temperaturas médias do solo

ultrapassarem os 12º (Magalhães, 2008). É durante este período de repouso vegetativo

que se realiza a poda. O início da Primavera representa o fim deste repouso e o ínicio

de um novo ciclo da videira. Esta manifesta-se através da perda de seiva pelos cortes

da poda (“choro”) e tal acontece porque as condições de temperatura começam a

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permitir a atividade enzimática da planta. Os estados fenológicos principais são:

(Magalhães, 2008)

Abrolhamento: os gomos dos nós deixados pela poda começam a intumescer,

parecendo como que cobertos de algodão. Em seguida aparece uma ponta

verde, ficando posteriormente as pequenas folhas perfeitamente visíveis e

separadas (livres).

Crescimento: Depois das pequenas folhas estarem visíveis, segue-se um

período de expansão vegetativa durante o qual os factos mais importantes, por

ordem cronológica, são: o aparecimento dos cachos, a separação dos cachos e

a separação dos botões florais.

Floração: A floração decorre, normalmente, na metade final da Primavera. É um

período crucial para a definição de uma colheita, pois se a floração decorrer

debaixo de chuva, o pólen é lavado dos estames e das flores, não se dá a

polinização e a consequente fecundação. A flor não “vinga” em fruto (desavinho)

e a colheita será bastante afetada.

Pintor: Segue-se um período de grande expansão vegetativa coincidente com

uma época de temperaturas mais elevadas. Os bagos passam pelo tamanho de

“grãos de chumbo” e “bago de ervilha”, até atingirem um certo tamanho que faz

com que os cachos fiquem completamente fechados. Até esta fase, os bagos

das castas brancas e tintas mantêm a coloração verde opaca. Entretanto, surge

o pintor (início da maturação) com o aparecimento da cor tinta nas películas dos

bagos tintos e da película trnaslúcida nas castas brancas. O pintor é

acompanhado pelo início da acumulação de açúcares livres (glucose e frutose),

potássio, aminoácidos, compostos fenólicos e perca de acidez (ácido tartárico e

ácido málico) no bago de uva, sendo o período mais importante do ano vitícola.

Maturação: A maturação será atingida se nenhum obstáculo, como temperatura

insuficiente, doenças ou desfolhas a impedirem. Por fim é tempo de vindima.

4.2. MPB na Quinta dos Murças

No Douro, região pioneira no país no estudo e promoção da biodiversidade

funcional em viticultura (Aguiar et al. 2005), destaca-se a Quinta dos Murças. Esta tem

em conta uma forma de planear holística de toda a exploração agrícola, pois preocupa-

se com o impacto que a agricultura tem na biodiversidade da exploração vitícola. Aqui,

o ecossistema assume papel central na realização das atividades na quinta, onde se

incluem preocupações com espécies, habitats, paisagens, complexidade dos terroirs,

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modo de produção biológico, mecanismos de regulação natural e saúde dos

consumidores.

Nesta exploração vitícola realizei um estágio curricular, onde tive, a

oportunidade, de acompanhar e executar alguns trabalhos e tarefas inerentes a uma

vinha, que se encontra em 100% modo de produção biológico (MPB). Aqui, a agricultura

biológica não se trata apenas de um modo de produção agrícola, mas, também, de uma

filosofia de vida em harmonia com o ambiente.

As operações na quinta sucedem-se ao longo do ano, quase como as estações,

e torna-se essencial a boa gestão e execução dos trabalhos ao longo do ciclo vegetativo

da videira. Com o fim do Inverno e o início da Primavera, as plantas rebentam,

começando o ciclo de tratamentos. Nesta altura, pude verificar in loco as pragas e as

doenças a que a videira está sujeita e os tratamentos a que está submetida.

No que diz respeito, às pragas mais comuns e prejudiciais que ocorrem nas

vinhas da Quinta dos Murças, temos a traça-da-uva, a cigarrinha verde e a cochonilha

algodão.

Considera-se a traça-da-uva Lobesia botrana a principal praga das vinhas da RDD,

embora a sua presença na quinta exista em percentagem pouco significativa, talvez

devido à incorporação da técnica de confusão sexual. Esta praga, para além dos

estragos diretos pelas lagartas há os estragos indiretos, nomeadamente, a podridão

cinzenta. A nocividade da praga difere entre gerações e depende das condições

climáticas e do local onde se desenvolve. Hiberna sob a forma de pupa nas cepas e, na

RDD desenvolve, de uma forma geral, três gerações capazes de provocar estragos nas

inflorescências/cachos da videira. A primeira geração de lagartas provoca estragos no

período pré-floração/alimpa (Maio), a segunda geração no período bago de

ervilha/pintor (de meados de Junho a meados de Julho) e a terceira geração no período

de maturação (de Agosto a Setembro) (Magalhães 2015).

A cigarrinha verde ou cicadela trata-se de um Cicadelídeo exclusivamente herbivoro e

das quatro espécies existentes, a Empoasca vitis (Göthe) é a que predomina nas

videiras da Quinta dos Murças. A duração do ciclo de vida de cigarrinha verde é de

aproximadamente 55-60 dias, completam geralmente três gerações anuais e o início de

uma quarta geração, se as condições climáticas forem favoráveis (Magalhães, 2015).

Por fim, temos a cochonilha algodão (Pseudococcus (=Planococcus) citri Risso) que é

uma praga que se instala em todos os orgãos da vinha (troncos, varas, folhas e cachos).

Conforme a humidade ambiente, desenvolve-se sobre as varas, folhas e cachos, a

fumagina – fungo negro – que dificulta as funções de respiração e de elaboração e

acumulação de reservas pelas folhas. Esta praga causa bastantes danos na videira, por

sugarem grandes quantidades de seiva da planta, enfraquecendo-a e diminuindo o teor

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de açúcar das uvas, provocando, no ano seguinte, varas mais curtas e fracas e

diminuição da colheita. Um dos sintomas da presença desta praga na videira é a

ocorrência de formigas que são atraídas pela melada produzida pelas cochonilhas

(Magalhães, 2015). Na quinta, já foram detetados predadores desta praga como os

crisopídeos, cujas larvas se alimentam das ninfas desta cochonilha e coccinelídeos.

Algumas das doenças mais comuns em Portugal são o míldio e o oídio que

atacam os órgãos da planta. A Quinta dos Murças não é excepção.

O míldio é uma doença que pode afetar tanto a folha, como o cacho ou o pampano e,

também ocasionar uma desfoliação precoce. Quando surge na folha, no inicio, surge

uma “mancha de óleo” (Figura 11) e, posteriormente, essas manchas necrosam ficando

secas e quebradiças nas partes afetadas; também, surge esporulado na página inferior

da folha (Figura 12) e, nos cachos, vê-se a necrose dos bagos. As condições ideais para

que ocorram as infeções de míldio são pampanos com 10cm, ocorrência de 10mm de

chuva e temperaturas mínimas iguais ou superiores a 10oC.

O oídio, tal como o míldio, ataca todos os órgãos verdes da videira (folhas, pecíolos,

ramos, gavinhas, inflorescências, bagos verdes). Os seus prejuízos são importantes

tanto ao nível da quantidade como da qualidade, uma vez que a sua presença interfere

nas características organoléticas dos vinhos resultantes de uvas. As inflorescências e

os bagos apresentam-se cobertos com uma poeira branca acinzentada (Figura 13),

verificando-se o posterior dessecamento dos botões florais. Além disso, quando os

ataques de oídio são fortes, pode abrir portas para a entrada da podridão-cinzenta

(Botrytis cinerea).

A Quinta dos Murças utiliza alguns tratamentos fitossanitários, que visam

proteger as plantas destas doenças. Recorre-se à calda bordalesa, cuja substância ativa

é sulfato de cobre, para prevenção contra antracnose, gomose, míldio, cancro, pinta

Figura 11 – “Mancha de óleo” Figura 12 – Esporos na página

inferior da folha da videira

Figura 13 – Bagos cobertos com

poeira branca acinzentada

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41

negra, podridão do pedúnculo, sarna ou verruga, septariose, bacteriose, podridão das

raízes e gafa, entre outras.

O óleo de verão é utilizado na prevenção contra cochonilhas, tripes, formas hibernantes

de insetos e ácaros, mosca branca, ácaros eriofídeos, aranhiço vermelho, entre outros.

Além disso, recorre-se ao enxofre (fungicida, acaricida, repulsivo) contra ácaros

eriofídeos, aranhiço vermelho, lepra, moniliose, oídio, pedrado, escoriose, erinose.

Por fim, são utilizadas as feromonas em armadilhas e difusores para o combate à traça-

da-uva. É uma técnica denominada confusão sexual, em que se aplica uma feromona

sexual feminina Lobesia botrana, que ocasiona confusão ao macho e o impossibilita de

localizar a fêmea, impedindo, assim, a reprodução e, consequentemente, a diminuição

do número de indivíduos.

Também uma das formas de combate praticada contra a cigarrinha verde é a técnica de

luta cultural, como o cultivo na bordadura da vinha ou na entrelinha de plantas que sejam

hospedeiras das cigarrinhas e mais atrativas do que a vinha.

Com a Primavera/Verão, as espécies vegetais começam a emergir/florir e entre

elas as infestantes. Na Quinta dos Murças, as infestantes (saramago, urtiga, grama,

alho da vinha, ervilhaca, avoadinha) são um problema a combater para proteção da

cultura da vinha. Embora a flora espontânea faça parte dos ecossistemas agrícolas, a

sua presença pode constituir hospedeiros alternativos às pragas, competir pela água e

nutrientes com as videiras, podem dificultar a mecanização, interferir com as operações

vitícolas (Esporão, 2018). A sua gestão é efetuada através do corte com roçadoras.

Ao longo do ano, as ações de conservação da biodiversidade conduzidas, nesta

quinta, refletem o empenho desta empresa no estabelecimento de uma estratégia, que

contribua tanto para a estabilidade do sistema vitícola, como para a sustentabilidade

ambiental duradoura (Carlos, 2015). Assim, na Quinta dos Murças, existem algumas

IEE que promovem a biodiversidade funcional, como por exemplo as coberturas

vegetais; plantações herbáceas, arbustivas e arbóreas; sebes; minas e grutas; tanques

e charcas; revestimento dos taludes e bordaduras da estrada; muros de pedra e

construções rurais. A implementação deste tipo de práticas são fundamentais, uma vez

que constituem autênticos nichos favoráveis ao desenvolvimento de organismos

auxiliares nativos, pois funcionam como abrigo, refúgio, nidificação e local de alimento

(néctar, polén e meladas) (Esporão, 2018).

Objetivamente, as coberturas vegetais visam a estruturação e descompactação

do solo da exploração agrícola, pois a rede de raízes permite o arejamento do solo e

penetração de água, disponibilizam nutrientes para a vinha, como o ferro e o azoto, a

estimulação da atividade biológica do solo, o combate da erosão do solo, pois as raízes

constituem um meio de suporte e retenção do solo, impedem a perda de nutrientes por

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lixiviação através da ação das chuvas e por fim, o controlo de infestantes. As

leguminosas possuem capacidade de fixar nutrientes ao solo.

Na Quinta dos Murças, temos a plantação de favas nas entrelinhas (Figura 14),

que melhoram a estrutura do solo e fornecem o azoto através da captação simbiótica

do azoto atmosférico que é acumulado nos nóduos radiculares, promove a fixação de

auxiliares (joaninhas (Figura 15), abelhas, crisopas) que são os predadores de pragas.

Todo este método, proporciona à videira o restabelecimento da sua nutrição mineral e

uma maior resistência ao ataque de fungos patogénicos e à sua desidratação.

A Quinta dos Murças, também, recorre ao enrelvamento natural de plantas

autóctones da RDD como a mistura de trevos (Figura 16), leituga, funcho, hipericão,

urtiga comum, cenoura brava, alecrim, pampilho de micão, énula-peganhosa, lavanda,

ervilhaca e coentros.

Outro método para estimular a biodiversidade é o revestimento dos taludes, que

é feito com flora espontânea como a que surge nas entrelinhas da vinha, e das

bordaduras da estrada (Figura 17). Nestas faz-se a plantação de arbustos, feita

essencialmente no fim de linha, com poder atrativo para os insetos, capacidade de

constituir abrigo à nidificação, relação simbiótica gerada pelo seu sistema radicular e

uso de frutos. Alguns dos exemplos de espécies arbustivas existentes na Quinta dos

Murças, que exercem ação atrativa sobre a fauna auxiliar são: o medronheiro, espargo,

esteva, estevinha, giesta, rosmaninho, tomilho, alecrim, urze, roseira, silva e

madressilva. A utilização das plantas herbáceas e arbustivas referidas, também,

existem noutras zonas envolventes e, juntamente, com as sebes funcionam como meio

Figura 14 – Enrelvamento semeado com

favas

Figura 15 – Organismo auxiliar: Joaninha

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de expansão da biodiversidade, uma vez que para além de abrigo aos organismos

auxiliares, permitem o embelezamento da paisagem e das áreas edificadas.

Acresce a presença de plantas arbóreas (Figura 18), que atraem aves, insetos e outras

espécies animais, como Loureiro, laranjeiras, limoeiros, figueiras, oliveiras,

amendoeiras e sabugueiro.

Na exploração vitícola existem muros de pedra (Figura 19), que constituem um

abrigo para répteis (cobras, lagartos e lagartixas) e insetos, ajudando também à

nidificação de abelhas. Os tradicionais muros de pedra na paisagem vitícola têm o intuito

de consolidar os terrenos de encosta e de combater contra os deslizamentos de terra.

As construções rurais (ruínas) também possuem um papel importante, pois servem de

local de nidificação de aves auxiliares que nidificam nos orifícios das paredes (Figura

20).

Na Quinta dos Murças existem 5 minas (Figura 21) que, além de refrescarem as

vinhas, albergam um grande número de morcegos de ferradura pequeno, que ajudam a

combater pragas de uma forma natural e sustentada.

Figura 16 – Enrelvamento

permanente

Figura 17 – Revestimento

dos taludes e das bordaduras

da estrada

Figura 19 – Muros de pedra Figura 20 – Ruínas

Figura 18 – Plantações arbóreas

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Relativamente, aos tanques e zonas ripícolas (Figura 22), que para além de

ajudarem a refrescar o ambiente e as uvas mais expostas ao sol, também favorecem a

presença de anfíbios auxiliares como a salamandras, sapos e rãs.

A implementação das IEE, pela Quinta dos Murças, atraem os organismos

auxiliares que combatem os inimigos da vinha.

Os organismos auxiliares permitem manter as pragas dentro de limites aceitáveis e não

prejudiciais à cultura da vinha. Entre os principais organismos auxiliares da vinha

encontram-se os Ácaros, Aranhas e Insetos. Também, as populações de aves auxiliares

podem ser aumentadas pela implementação de estruturas que levem à sua

aproximação e fixação (árvores, arbustos e contruções rurais). Ao longo da Quinta dos

Murças são avistadas algumas aves auxiliares entre as quais Alvéola-branca, a Carriça,

o Melro-azul, o Melro-preto, o Estorninho-preto, o Pisco-de-peito-ruivo, a Poupa, a

Toutinegra-de-barrete-preto, a Toutinegra-de-cabeça-preta, o Chapim-real, entre muitos

outras aves. A avifauna, na Quinta dos Murças, é muito rica e é importante no seu

sistema vitícola, uma vez que combate diversas pragas da vinha, porque se alimentam

de aracnídeos, anelídeos, larvas, entre outros, servindo como predadores naturais.

Além disso, os mamíferos (morcegos) e os vertebrados (rãs, sapos e cobras) que lá

existem, também são muito importantes para o equilibrio dos ecossistemas por

exercerem um forte contributo na limitação natural das pragas.

Como resultado destas observações e intervenções, verifica-se que é necessário

da parte da exploração vitícola, um grande acompanhamento regular da vinha, muita

sensibilidade para a deteção de problemas e boas estratégias de gestão e planeamento,

já que o modo de produção biológico assenta, sobretudo, na prevenção.

Figura 21 – Minas Figura 22 – Zona ripícola

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45

5. Resultados e Discussão

5.1. Registos meteorológicos

A caracterização climática da Quinta dos Murças foi realizada recorrendo aos dados

recolhidos pela estação meteorológica existente na zona do Campo Redondo. Foi possível

cnhecer a variação da temperatura e da precipitação no período que vai desde o início da

dormência da videira até à vindima, ou seja, dos últimos meses de 2017 até à vindima de

2018.

Nesta região, trata-se de um clima tipicamente mediterrâneo, podendo verificar-se a sua

evolução no gráfico da figura 23. Durante o período estival atingiram-se temperaturas

médias superiores a 25oC e no inverno temperaturas médias a rondar os 7oC. Nos meses

de Junho, Julho, Agosto e Setembro, registaram-se temperaturas máximas de 27,1oC;

29,5oC; 34,8oC e 33,2oC respetivamente, sendo as temperaturas mínimas registadas nos

meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro (3,8oC; 4,8oC; 2,9oC respetivamente).

Figura 23 - Temperaturas mínimas, máximas e médias em oC registados nos meses de Novembro

de 2017 a Outubro de 2018 na estação meteorológica existente na Quinta dos Murças

No gráfico da figura 24, é possível observar a variação da precipitação durante a

campanha 2017/2018, mais concretamente de Novembro de 2017 a Outubro de 2018, em

relação às temperaturas médias.

Durante este período, verificaram-se elevados níveis de pluviosidade nos meses de

Dezembro de 2017 a Junho de 2018 (96,8mm; 65,4mm; 73,8mm; 260,4mm; 88,0mm;

72,8mm; 113,6mm respetivamente), e observaram-se menores níveis de Julho a a Setembro

de 2018 (6,2mm; 0,0mm; 5,6mm respetivamente).

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Figura 24 - Temperatura média em oC e precipitação média, registadas de Novembro de 2017 a

Outubro de 2018 na estação meteorológica da Quinta dos Murças

Os valores de precipitação (mm) e de temperatura média (oC), de Novembro de 2017

a Outubro de 2018, são comparados com a Normal Climatológica de Adorigo, que

corresponde aos dados registados entre 1931 e 1960, em Soutelo do Douro.

A comparação com esta Normal Climatológica, deve-se à convenção pela Organização

Meteorológica Mundial, na qual o clima é caracterizado por valores médios de vários

elementos climáticos num período de 30 anos, sendo os valores recolhidos, durante um

período suficientemente longo, e assim, considerados como representativos deste local

(IPMA, 2018). Os dados, da Normal Climatológica de 1931 a 1960, foram cedidos pela

ADVID.

Observando os valores do gráfico da figura 25, é possível verificar que,

comparativamente à Normal Climatológica, a precipitação foi mais baixa em Novembro de

2017 e de Julho a Outubro de 2018, e maior nos meses de Março a Junho.

É de salientar, que no mês de Março de 2018, o valor da precipitação foi significativamente

maior do que o valor do mês correspondente à Normal Climatológica. Além disso, verificou-

se que o valor da precipitação em absoluto, foi maior de Novembro de 2017 a Outubro de

2018, quando comparado com os períodos homólogos de 1931 a 1960.

No que diz respeito à temperatura, verificou-se que esta foi ligeiramente inferior de

Novembro de 2017 a Julho de 2018, quando comparada com a Normal Climatológica.

Contudo, nos meses de Agosto e Setembro de 2018, a temperatura foi ligeiramente superior

quando comparada com a Normal.

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47

Figura 25 - Gráfico da precipitação e temperatura de Novembro de 2017 a Outubro de 2018 comparada

com a Normal Climatológica 31-60

Pela análise do gráfico da figura 26, é também possível estabelecer uma análise

comparativa entre a campanha anterior, de Novembro de 2016 a Outubro de 2017, com a

campanha em estudo, de Novembro de 2017 a Outuro de 2018. De um modo geral, no ano

vitícola em estudo, verifica-se uma maior precipitação, principalmente nos meses de Março

de 2018 a Junho de 2018. Além disso, os valores das temperaturas médias são ligeiramente

inferiores durante o ciclo vegetativo até ao início da maturação, sendo que as temperaturas

sobem a partir de Agosto de 2018 até Setembro de 2018. Com isto, pode-se concluir que o

ano vitícola de 2016-2017, foi um ano mais seco do que o ano vitícola 2017-2018.

Figura 26 - Gráfico da precipitação (mm) e temperatura (oC) das campanhas vitícolas de 2016-2017

e 2017-2018

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5.2. Controlo Fitossanitário

Durante este ano vitícola, as condições meteorológicas registadas durante o

Inverno (temperaturas abaixo da NC) e o início de Primavera (elevados registos de

precipitação no mês de Março, Abril, Maio e Junho), proporcionou boas condições para

o desenvolvimento do Míldio.

Na Quinta dos Murças, os primeiros sintomas de ataque do míldeo foram observados

em meados de Maio, mas de forma muito pontual, verificando-se nessa altura uma fraca

agressividade da doença, que se manteve até ao final desse mês. No entanto, a

instabilidade meteorológica verificada posteriormente, ao longo de todo o mês de Junho

e durante o mês de Julho, com vários episódios de precipitação, proporcionou as

condições favoráveis à ocorrência de subsequentes infeções da doença. Por isso,

verificou-se uma maior dificuldade na gestão dos tratamentos fitossanitários em MPB,

devido à redução da sua eficácia, quer pela diluição provocada pelo efeito da lavagem

das chuvas, quer pela intensidade do desenvolvimento da vegetação, que obrigou ao

encurtamento da renovação dos tratamentos.

A estratégia preventiva seguida na quinta dos Murças, foi de encurtar os intervalos entre

tratamentos preventivos, para se verificar uma menor agressividade do míldio no interior

da vinha.

No que diz respeito ao oídio, apesar do elevado vigor vegetativo e da

nebulosidade resultante da instabilidade climática (fatores de nocividade), esta doença

não se manifestou com grande intensidade. Os ataques de oídio na Quinta dos Murças,

apenas foram detetados em castas mais sensíveis e em cotas mais baixas, junto do rio.

Além disso, os elevados números de tratamentos realizados em simultâneo para o

controlo do míldio, tiveram, também, um efeito na menor expressão desta doença.

Para o controlo das pragas, mais concretamente da traça-da-uva, foi feito um

controlo visual dos ataques da traça-da-uva, à floração (1ª geração), não se tendo

verificado ataques significativos, uma vez que apenas se detetou a presença de um

adulto da praga, na zona do “Assobio” da Quinta dos Murças. Do mesmo modo, através

de um controlo visual, a segunda e terceira geração não atingiram o nível económico de

ataque, o que demonstra a eficácia da estratégia adotada dos difusores de confusão

sexual.

Relativamente à cochonilha algodão e à cigarrinha verde, também através de um

controlo visual, não foi detetada qualquer presença destas pragas nas videiras.

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5.3. Evolução dos Estados Fenológicos

As escalas utilizadas para acompanhar a evolução dos estados fenológicos da

videira, na Quinta dos Murças, foram a escala de Baggiolini e a escala BBCH (Anexo

1), sendo possível identificar as diferentes fases do desenvolvimento da videira.

Embora, tenha sido feito um acompanhamento dos estados fenológicos das

videiras, em todas as parcelas da Quinta dos Murças, escolheu-se a casta Touriga

Franca, por estar presente em quatro zonas distintas da exploração vitícola, que

traduzem vinhos que expressam diferentes terroirs.

Em primeiro lugar, apresenta-se o registo dos estados fenológicos da videira

(Tabela 3), num talhão específico, nos anos vitícolas 2016/2017 e 2017/2018.

Tabela 3 - Estados fenológicos registados num talhão específico de Touriga Franca, na zona do Margem da

Quinta dos Murças, em 2017 e 2018

Estados fenológicos Ano Vitícola 2017 Ano Vitícola 2018

Gomo de Inverno (A) Sem informação 20 de Março

Ponta Verde (C) Sem informação 29 de Março

Saída das Folhas (D) 16 de Março 12 de Abril

2-3 Folhas separadas (E) 24 de Março 19 de Abril

Cachos Visíveis (F) 7 de Abril 25 de Abril

Cachos Separados (G) 20 de Abril 30 de Abril

Botões Florais Separados (H)

30 de Abril 8 de Maio

Início da Floração (I) 7 de Maio 22 de Maio

Vingamento (J) 17 de Maio 29 de Maio

Bago de Chumbo (K) 24 de Maio 6 de Junho

Fecho dos Cachos (L) 5 de Junho 6 de Julho

Pintor (M) Sem informação 25 de Julho

Maturação (N) Sem informação 15 de Agosto

Vindima (N) 15 de Agosto 10 de Setembro

Tendo em conta, os dados (Tabela 3) recolhidos numa parcela na zona do “Margem”, na

Quinta dos Murças, referente à casta Touriga Franca, nos anos vitícolas 2016/2017 e

2017/2018, verifica-se que, no geral, houve um atraso no ciclo vegetativo da videira. Mais

especificamente, embora não exista informação disponível para uma possível comparação

com o ano vitícola de 2018, quanto às etapas do abrolhamento (“ponta verde”) e pintor,

contudo, verifica-se um atraso de quinze dias, face ao ano vitícola de 2017, para a floração.

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50

Estes valores estão em conformidade com o publicado pela ADVID, que afirmou que em

resultado da evolução climática, ocorrência de temperaturas mais baixas no decurso da

Primavera e de grande parte do Verão, condicionou o normal funcionamento da fenologia,

provocando um atraso generalizado no ciclo vegetativo da videira por toda a Região

Demarcada do Douro (RDD) (Carlos, et al. 2018), em especial na Quinta dos Murças.

Tabela 4 - Datas médias dos eventos fenológicos: Abrolhamento, Floração, Pintor e datas de Vindima para o ano de

2018 e média dos últimos 4 anos (2014-2017), para cada sub-região para a casta Touriga Franca (N – número de

parcelas) (Carlos, et al. 2018)

Casta Sub-

Região

Abrolhamento Floração Pintor Vindima

2018

Média

(2014-

2017)

2018

Média

(2014-

2017)

2018

Média

(2014-

2017)

2018

Média

(2014-

2017)

Touriga

Franca

Baixo-

Corgo

(n=1)

22-Mar 15-Mar 24-Mai 14-Mai 26-Jul 12-Jul 24-Set 17-Set

Cima-

Corgo

(n=2)

10-Abr 15-Mar 25-Mai 14-Mai 27-Jul 15-Jul 27-Set 20-Set

Ademais, com base nos dados recolhidos na rede de parcelas de referência da ADVID

(Tabela 4), e da análise efetuada à casta Touriga Franca (Tabela 3), tendo em conta que a

Quinta dos Murças se situa entre o Baixo-Corgo e Cima-Corgo, destaca-se o seguinte:

- o “Abrolhamento” (“ponta verde”) foi observado, por volta dos finais de Março, com

um atraso de sete dias face à média para o ano de 2018 e de catorze dias face à média

2014-2017, em relação ao Baixo-Corgo. Comparativamente com o Cima-Corgo, observou-

se um atraso de doze dias face à média para o ano 2018 e de desassete dias face à média

2014-2017;

- a “Floração” foi registada, por volta dos finais de Maio, apresentando um

adiantamento de dois dias face à média do ano 2018 e um atraso de oito dias face à média

de 2014-2017, relativamente ao Baixo-Corgo. Comparando com o Cima-Corgo, verificou-se

um adiantamento de três dias face à média para o ano 2018 e, também, um atraso de oito

dias face à média dos últimos 4 anos (2014-2017);

- o “Pintor” foi observado na segunda quinzena de Julho, com um adiantamento de

oito dias face à média para o ano 2018 e um atraso de seis dias face à média 2014-2017,

relativamente ao Baixo-Corgo. Em relação, ao Cima-Corgo, verificou-se um adiantamento

de nove dias face à média do ano 2018 e um atraso de três dias face à média para os últimos

4 anos (2014-2017);

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51

- apesar deste ano 2018, ter sido um ano atípico, as elevadas temperaturas durante

o período de maturação, promoveram uma recuperação do ciclo fenológico, verificando-se

que, por análise da média para o ano 2018, a vindima se iniciou mais cedo catorze dias e,

iniciou-se também mais cedo sete dias face à média para os últimos 4 anos (2014-2017),

em relação ao Baixo-Corgo. Contudo, comparando com o Cima-Corgo, verifica-se um

adiantamento de dezassete dias, face à média para o ano 2018 e de dez dias, face à média

para 2014-2017.

Em segundo lugar, apresenta-se um gráfico dos estados fenológicos da casta

Touriga Franca (Figura 27), presente em quatro zonas distintas da Quinta dos Murças.

Figura 27 - Evolução dos estados fenológicos da casta Touriga Franca nas parcelas: Assobio, Margem,

Campo Redondo e Minas

Pela análise, verifica-se que a mesma casta tem diferentes evoluções, influenciadas

pelas localizações das parcelas. Por um lado, a evolução do ciclo da casta é mais lenta

no “Assobio”, uma parcela íngreme com vinhas ao alto, orientada maioritariamente a

norte, mais protegida do sol e ventosa; por outro lado, na zona “Margem”, cuja parcela

se localiza junto à margem do rio Douro, logo a baixa altitude e com uma exposição

maioritariamente a sul, a casta apresenta uma evolução do estado fenológico mais

rápida. Na zona do “Campo Redondo” e “Minas” localizadas a uma altitude semelhante

e com exposição solar a sul/sudeste, a casta apresenta um estado evolutivo

semelhante. Este exemplo, determina como a mesma casta pode ter evoluções

diferentes influenciadas pelas localizações das parcelas, o que consequentemente vai

resultar em vinhos distintos que se expressam, essencialmente, pelos diferentes

terroirs.

Por conseguinte, o acompanhamento dos estados fenológicos da videira, nos

diversos talhões existentes na quinta, sendo fundamental para ajustar os timings das

atividades ao estado fenológico da videira, também, é essencial para determinar a fase

0

20

40

60

80

100

20-m

ar

27-m

ar

03-a

br

10-a

br

17-a

br

24-a

br

01-m

ai

08-m

ai

15-m

ai

22-m

ai

29-m

ai

05-j

un

12-j

un

19-j

un

26-j

un

03-j

ul

10-j

ul

17-j

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24-j

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Casta Touriga Franca

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de maturação das uvas e, consequentemente, a data da vindima. A determinação da

data da vindima é uma das decisões mais importantes, pois é ela que vai determinar os

perfis dos vinhos. Com base nestes estudos é possível determinar a duração de cada

estado e relacionar a prática cultural mais adequada para cada fase do ciclo da cultura.

5.4. Planeamento de atividades e Gestão da produtividade

Na elaboração do plano anual de atividades, foi feita uma calendarização de

todas as atividades realizadas na vinha da Quinta do Murças, e uma avaliação dos

índices de produtividade que contribuem para uma melhor rentabilização e gestão dos

recursos. Este trabalho de planeamento e gestão da produtividade, vai permitir iniciar

estratégias que a médio-curto prazo possam melhorar a produtividade.

De seguida, é apresentada uma calendarização (Tabela 5) de todas as

atividades realizadas nas vinhas da Quinta dos Murças. Nesta calendarização definida

pela Quinta dos Murças, está representado a azul escuro os meses em que essas

atividades são efetivamente realizadas e, a azul mais claro o período pelo qual se deve

continuar a fazer o controlo dessas atividades.

Tabela 5 - Calendarização das atividades a realizar na vinha

Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out

Mulching

Escarificação

Sementeira

Contagem de falhas

Análise de Terra

Cortar bravos

Poda

Lenha poda

Triturar Vides

Postes | Aramação

Despedrega

Retrancha

Adubação

Escava

Colocar Difusores

Colocação de tutores

Empa 1/Atar 1

Empa 2/Atar 2

Empa 3/Atar 3

Poda em verde 1

Poda em verde 2

Controlo de infestantes (Roçadora)

Capinar

Corte Sementeira

Manutenção (Rega VN)

1º Tratamento Fitossanitário

2º Tratamento Fitossanitário

3º Tratamento Fitossanitário

4º Tratamento Fitossanitário

5º Tratamento Fitossanitário

Limpar taludes

Análises Foliares

Vindima

Calendarização de atividades realizadas na vinha

Meses do anoAtividades realizadas

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Durante o ciclo vegetativo da videira, entre os diversos trabalhos realizados na vinha,

na sua maioria trabalhos manuais como a poda, a poda em verde, a empa/atar, entre

outras, assumem uma grande importância no equilíbrio e longevidade das videiras

assim como no processo de maturação das uvas. Além disso, os tratamentos

fitossanitários preventivos claramente assumem uma grande importância no combate

contra doenças e pragas. Como podemos verificar neste ano vitícola (2017/2018), a

Quinta dos Murças efetuou cinco tratamentos fitossanitários. Todos estes tratamentos

devem-se ao facto de ter sido um ano atípico, no sentido em que ocorreram muitos dias

de calor seguidos de dias de chuva, criando condições favoráveis para aparecimento de

míldio e oídio, assim como para o desenvolvimento de infestantes.

Para além, da elaboração de uma calendarização das atividades realizadas na

vinha, também foi feito uma análise dos tempos gastos em cada atividade, para o ano

2016/2017 e 2017/2018, de forma a definir um padrão (índices de produtividade). Estes

índices de produtividade dizem respeito às horas/ha necessárias para realizar uma

determinada atividade num determinado talhão. Desta forma, verificou-se que o tempo

gasto em cada atividade vai depender da inclinação do terreno, do índice de

pedrogosidade, do vigor da planta, entre outros fatores, o que vai, posteriormente,

permitir definir um padrão para cada atividade. O planeamento de atividades agrícolas,

vai permitir o cumprimento do timing das operações no momento adequado, e assim,

possibilitar um melhor controlo sobre a cultura da vinha, das pragas, doenças e

infestantes.

Da análise do ano vitícola 2016/2017, conclui-se que foram necessárias menos

horas/ha para realizar as atividades nas vinhas velhas (total de 334 horas/ha) (Figura

28) do que nas vinhas novas (total de 423 horas/ha) (Figura 29), o que se pode dever

ao facto de nas vinhas novas serem realizadas mais atividades, como o mulching,

escarificação, sementeira, contagem de falhas, corte sementeira, retrancha,

manutenção (Rega VN), capinar e limpar taludes, que não são desenvolvidas nas vinhas

velhas. Estes resutlados também indicam que em atividades como a despedrega, poda

em verde, escava e adubação, foram significativamente necessárias mais horas/ha nas

vinhas novas do que nas vinhas velhas. No caso da despedrega, esta diferença deve-

se ao facto de nas vinhas velhas existir muita pedra logo fazer uma despedrega acaba

por se tornar inviável. Na poda em verde, esta discrepância deve-se às videiras serem

mais vigorosas nas vinhas novas do que nas vinhas velhas. Relativamente à adubação,

esta não foi realizada nas vinhas velhas assim como a escava. Contudo, no caso da

vindima foram necessárias mais horas para as vinhas velhas do que para as vinhas

novas, devido à inclinação do terreno que torna a vindima mais árdua. Além disso,

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conclui-se que as operações como a poda e a vindima, são as que demoram mais tempo

tanto nas vinhas novas como nas vinhas velhas.

Figura 28– Representação das horas/ha necessárias para realizar cada atividade nas vinhas velhas no ano vitícola de

2016/2017

Figura 29 – Representação das horas/ha necessárias para realizar cada atividade nas vinhas novas no ano vitícola de

2016/2017

Comparando o ano vitícola 2017/2018, verifica-se, também, que foram

necessárias menos horas/ha para a realização de todas as atividades nas vinhas velhas

(total de 398 horas/ha) (Figura 30) do que nas velhas novas (total de 523 horas/ha)

(Figura 31), exatamente pelas mesmas razões já acima mencionadas para o ano

2016/2017. Como já referido anteriormente, a despedrega e a escava torna-se inviável

nas vinhas velhas, e as videiras tem mais vigor nas vinhas novas daí as diferenças no

tempo dispensado para a poda em verde. Por outro lado, atividades como os

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tratamentos fitossanitários e a vindima, apesar de pouco significativas as diferenças,

necessitaram de mais horas/ha nas vinhas velhas, uma vez que se trata de vinhas ao

alto, no geral não mecanizadas e com pulverização que deve ser feita manualmente, o

que dificulta o trabalho demorando mais tempo.

Figura 30- Representação das horas/ha necessárias para realizar cada atividade nas vinhas velhas no ano vitícola de

2017/2018

Figura 31 - Representação das horas/ha necessárias para realizar cada atividade nas vinhas novas no ano vitícola de

2017/2018

Depois de todo este trabalho desenvolvido, se aliarmos a calendarização aos índices de

produtividade obtidos, é possivel determinar o número de pessoas necessárias por mês

para realizarmos as atividades previstas na calendarização. Tendo em conta, que cada

atividade demorava no mínimo um mês a ser realizada, através do número de horas/ha

para realizar cada atividade, foi possível obter o número de pessoas necessárias para

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concluir as atividades atempadamente. Na tabela 6 os números inseridos no blocos

azuis correspondem ao número de pessoas necessárias para realizar a atividade num

mês. Pela análise verifica-se que no mês de Novembro foram necessárias cinco

pessoas para realizar todas as atividades previstas para aquele mês. Por outro lado, o

mês de Maio foi o mês em que foram necessárias mais pessoas (24 pessoas), para

realizar todas as atividades. Já no mês de Agosto e Outubro temos indicação de que

não foram necessárias pessoas, devido ao facto de não terem sido realizadas quaisquer

atividades inerentes à vinha nesses meses, no entanto, foram realizadas outras

atividades relativas à adega e ao enoturismo que não constam nos cálculos.

Com este planeamento, é possível prever o número de pessoas necessárias para

realizar cada atividade num mês, o que vai permitir uma melhor gestão do pessoal.

Desta forma, já é possível saber o número de pessoas que é necessário contratar em

determinado mês para realizar as atividades. A Quinta dos Murças, tem uma média de

cinco pessoas permanentes para efetuar as atividades, pelo que apenas no mês de

Novembro, Agosto e Outubro é que não necessita de contratar pessoal externo. Assim,

o próximo objetivo da quinta será ter o dobro dos funcionários permanentes, de forma a

reduzir os custos de contratação. Com esta ferramenta, que se vai tornando cada vez

mais robusta, ano após ano, também é possível determinar se o ano vitícola foi mais ou

menos produtivo. E uma menor produtividade, pode dever-se a vários fatores como: as

condições climáticas, equipa menos eficiente, condições do solo, entre outras.

Tabela 6 – Planeamento anual da atividades realizadas na vinha, com indicação do número de pessoas necessárias

para efetuar os trabalhos agrícolas

Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out

Mulching 1 1

Escarificação 1 1

Sementeira 1 1

Contagem de falhas 1 1

Análise de Terra 1 1

Cortar bravos 2 2 4

Poda 10 10 20

Lenha poda 5 5 10

Triturar Vides 2 2 4

Postes | Aramação 2 2 4

Despedrega 3 3

Retrancha 2 2

Adubação 2 2

Escava 2 2 2 2 2 2 12

Colocar Difusores 2 2

Colocação de tutores 1 1

Empa 1/Atar 1 3 3 3 9

Empa 2/Atar 2 2 2 2 6

Empa 3/Atar 3 2 2 2 6

Poda em verde 1 2 2 4

Poda em verde 2 2 2

Controlo de infestantes (Roçadora) 3 3 3 3 3 15

Capinar 1 1 1 1 4

Corte Sementeira 1 1

Manutenção (Rega VN) 1 1 2

1º Tratamento Fitossanitário 3 3

2º Tratamento Fitossanitário 2 2 2 2 8

3º Tratamento Fitossanitário 2 2 2 2 8

4º Tratamento Fitossanitário 2 2 2 6

5º Tratamento Fitossanitário 1 1 1 3

Limpar taludes 1 1 1 3

Análises Foliares 2 2

Vindima 18 18

Nº total pessoas necessárias/mês 5 10 20 21 15 23 24 20 13 0 18 0

Calendarização de atividades realizadas na vinha

Atividades realizadasMeses do ano Nº pessoas para realizar cada atividade

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Por fim, fazendo uma comparação entre os dois anos vitícolas, verifica-se que

entre as vinhas velhas e vinhas novas, foi necessário um maior número de horas/ha

para o controlo de infestantes com roçadora, no ano de 2017/2018 do que no ano

2016/2017, isto porque o ano de 2016/2017 foi mais seco, e este ano criaram-se

condições climáticas mais propícias ao crescimento de infestantes.

Em suma, o planeamento de atividades e a gestão da produtividade são

ferramentas essenciais numa empresa, pois permite um melhor controlo sobre a cultura

da vinha e de infestantes e, ter um tempo de resposta mais rápido face à monitorização

e combate de doenças e pragas, que são condições necessárias para quem segue um

Modo de Produção Biológico. Além disso, um planeamento anual atempado vai

possibilitar medir o desempenho e corrigir falhas, proporcionar uma melhor dinâmica e

comunicação entre todos os funcionários envolventes nas atividades da vinha e, dado

o mercado do vinho ser sazonal, no sentido em que determinada altura, como na

vindima, é necessário uma contratação temporária de pessoal externo, facilita a gestão

da mão-de-obra. Tudo isto consolidado vai permitir uma melhor rentabilização e acima

de tudo permitir minimizar custos.

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6. Conclusão

A realização deste estágio curricular na Quinta dos Murças, permitiu-me

desenvolver inúmeras tarefas realizadas numa exploração agrícola e experienciar,

acima de tudo, como funciona e se gere uma empresa vitícola desta magnitude. Toda

esta experiência permitiu que adquirisse conhecimentos mais profundos na área da

viticultura e desenvolvesse inúmeras competências, tanto a nível profissional como

pessoal. Além disso, neste estágio devido ao óptimo espírito de equipa e acolhimento,

facilmente me consegui adaptar às rotinas e metodologias de trabalho na quinta, o que

me permitiu desenvolver um trabalho bastante positivo durante a minha estadia.

Inicialmente, para uma melhor integração e conhecimento da empresa estive

uma semana na Herdade do Esporão (empresa-mãe), na região alentejana, onde tive a

oportunidade de contactar com a área de planeamento e de gestão, que serviu de base

para saber planear e calendarizar as actividades da vinha, na Quinta dos Murças.

Também, tive a oportunidade de conhecer a região de Reguengos de Monsaraz, bem

como o Alqueva. De regresso ao meu local de estágio, além de utilizar o que tinha

aprendido na Herdade do Esporão, participei em diversos projetos que estavam a ser

desenvolvidos na Quinta dos Murças, embora fora do âmbito do tema do relatório de

estágio, desde a monitorização de aves, identificação da biodiversidade e estudos

relativos ao microbioma do solo, que me deram muita satisfação e que desenvolveu

outras competências noutras áreas. Além disso, toda esta experiência permitiu-me obter

conhecimentos mais profundos sobre a agricultura biológica e como funciona uma

exploração vitícola em Modo de Produção Biológico. Este provoca muitos desafios, já

que os factores essenciais de gestão do solo (descompactação do solo, incorporação

de matéria orgânica, luta contra a flora adventícia), da biodiversidade (limitação natural

de pragas, fonte de alimento, abrigo e refúgio para organismos auxiliares, regulação do

ciclo hidrológico, manutenção da fertilidade do solo, aumento da qualidade dos

produtos) e da fitossanidade (tratamentos preventivos atempadamente) formam um

sistema integral e interligado.

No que respeita, ao planeamento das atividades e gestão da produtividade

considero-as ferramentas essenciais para quem faz viticultura biológica, pois permite

um melhor acompanhamento da vinha e, consequentemente, uma melhor rentabilização

dos recursos e uma minimização dos custos. No estágio, elaborou-se a calendarização

e o planeamento anual de atividades agrícolas, no sentido de avaliar os índices de

produtividade. Neste sentido, é possível determinar a sua distribuição no tempo

(mês/ano), as horas que o trabalhador agrícola utilizou para minimizar as técnicas

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utilizadas na vinha, o número de trabalhadores necessários, uma melhor gestão e

rentabilização dos recursos, o cumprimento de calendarização, uma melhor

operacionalização da mão-de-obra e uma valorização da capacidade produtiva, que

possibilita um trabalho de articulação entre todas as atividades envolvidas. Isto vai

permitir saber, quais os anos que foram menos ou mais produtivos, de modo a faciliar a

implementação de estratégias ou medidas corretivas e medir a eficiência, numa relação

entre os resultados observados e os recursos utilizados. Assim, as métricas de

qualidade são definidas como dados reais referentes à execução de um serviço (número

de horas, a própria produtividade da equipa). Elas são importantes para avaliar se um

negócio está seguindo os padrões exigidos pelo mercado e pelos clientes. Quanto

melhor estiver a qualidade desses aspetos, melhor será a sua lucratividade. O objetivo

da Quinta dos Murças é que as operações efetuadas na vinha deverão ter o

envolvimento de, pelo menos, 10 trabalhadores da própria exploração agrícola.

Logo, constatei que numa empresa vitícola as ações e decisões do dia-a-dia são

focalizadas nas operações da cultura da vinha, pelo que para suportar decisões de

planeamento e controlo de implementação é benéfico que o orçamento seja organizado

com informação base das diferentes operações de uma atividade, pois para uma

exploração agrícola é mais útil encontrar processos alternativos para diminuir os custos

de uma operação de colheita de uma atividade, do que diminuir custos em mão-de-obra

da empresa. A produtividade da agricultura está diretamente relacionada com a mão-

de-obra e depende de fatores como as tecnologias utilizadas, a formação profissional e

o grau de mecanização.

Por fim, importa salientar que a Quinta dos Murças é uma empresa que marca

pela diferença devido à sua filosofia de vida, apostando em nichos de mercado

específicos e garantindo aos seus consumidores produtos de qualidade e de segurança

alimentar.

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FCUP Planeamento Anual das Atividades Agrícolas e Gestão de Produtividade em Modo de

Produção Biológico – Quinta dos Murças, Douro

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8. Anexos

Anexo 1. Estados Fenológicos da Videira segundo a Escala de Baggiolini e Escala BBCH. (Serviço Nacional de Avisos

Agrícolas SNAA, Circular nº 02/2017, 22 de Fevereiro 2017)