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plástico bolha @OPlasticoBolha | jornalplasticobolha.blogspot.com | www.jornalplasticobolha.com.br Distribuição Gratuita Ano 7° - Número 31 aparentemente insólito... www.angeloabu.com.br Construção Quando um lúcido, claro dia recai todo sobre a vida espera-se com paciência o ocaso que a noite reinventa, organiza, pois não há cristão que aguente, a duração das certezas, a dureza da alegria, breve instante que promete, a construção dos barracos, de casas soltas, palafitas, sobre o tempo erigidas, escoradas por um prazo, igual ao termo da vida, pois não há alma que more, longe, fora do meu corpo, longe, fora do teu corpo, sem ter por Deus companhia. Chão das almas, chão de dunas, move o branco das espumas que se ergueram sobre o dia, lúcido, claro, forte e curto, como nuvem dada ao vento, como o galo, que do canto, borda a noite sobre o ocaso, sobre as casas e o pensamento. (Deus do céu não faz as casas, Deus do céu não ponte visa, Deus do céu não dá tijolo, nem compara, quando canta, a cigarra com a formiga.) Osmar Filho DESTAQUES ENTREVISTA COM CRISTIANE COSTA SOBRE A LITERATURA DIGITAL, POR MARILENA MORAES CLARA LUGãO E O CLUBE DA ESQUINA NA COLUNA POR DENTRO DO TOM ANTONIO MATTOSO INTERPRETA O SIGNIFICADO DO CANTO DAS CIGARRAS NA COLUNA ORáCULO MAURO FERREIRA ANALISA O NOVO DISCO DE QINHO NA COLUNA NOTAS NO PLáSTICO DOBRADINHA POéTICA ENTRE ALICE SANT’ANNA E DIEGO GRANDO ILUSTRAçõES DE INGRID BITTAR, RAïSSA DEGOES, ÂNGELO ABU E HEINZ LANGER TEXTOS DE MARIANA MILANI, JOãO ARTHUR DA SILVA SOUZA E CARLOS ANDREAS POEMAS DE PEDRO BASTOS, MARCELO MORAES CAETANO, SOFIA VAZ, LUíZA PROVEDEL, MASé LEMOS, DIOGO DUPREE, BRENO CESAR DE OLIVEIRA GóES, SILVIA CASTRO E DOMINGOS GUIMARAENS

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plástico bolha@ O P l a s t i c o B o l h a | j o r n a l p l a s t i c o b o l h a . b l o g s p o t . c o m | w w w. j o r n a l p l a s t i c o b o l h a . c o m . b r D is t r i b u i ç ã o G r a t u i t a A n o 7 ° - N ú m e r o 31

aparentemente insólito...

www.angeloabu.com.br

Construção

Quando um lúcido, claro diarecai todo sobre a vidaespera-se com paciênciao ocaso que a noitereinventa, organiza,pois não há cristão que aguente,a duração das certezas,a dureza da alegria,breve instante que promete,a construção dos barracos,de casas soltas, palafitas,sobre o tempo erigidas,escoradas por um prazo,igual ao termo da vida,pois não há alma que more,longe, fora do meu corpo,longe, fora do teu corpo,sem ter por Deus companhia.Chão das almas, chão de dunas,move o branco das espumasque se ergueram sobre o dia,lúcido, claro, forte e curto,como nuvem dada ao vento,como o galo, que do canto,borda a noite sobre o ocaso,sobre as casas e o pensamento.

(Deus do céu não faz as casas,Deus do céu não ponte visa,Deus do céu não dá tijolo,nem compara, quando canta,a cigarra com a formiga.)

Osmar Filho

DESTAQUESEntrEvista Com CriSTiANE COSTA sobrE a litEratura DiGital, por MArilENA MOrAES

ClArA lUgãO E o ClubE Da EsQuina na Coluna POr DENTrO DO TOM

ANTONiO MATTOSO intErprEta o siGnifiCaDo Do Canto Das CiGarras na Coluna OráCUlO

MAUrO FErrEirA analisa o novo DisCo DE Qinho na Coluna NOTAS NO PláSTiCO

DOBrADiNhA POéTiCA EntrE AliCE SANT’ANNA E DiEgO grANDO

ilUSTrAçõES DE iNgriD BiTTAr, rAïSSA DEgOES, ÂNgElO ABU E hEiNz lANgEr

TExTOS DE MAriANA MilANi, JOãO ArThUr DA SilvA SOUzA E CArlOS ANDrEAS

POEMAS DE PEDrO BASTOS, MArCElO MOrAES CAETANO, SOFiA vAz, lUízA PrOvEDEl, MASé lEMOS, DiOgO DUPrEE, BrENO CESAr DE OlivEirA góES, SilviA CASTrO E DOMiNgOS gUiMArAENS

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Carta 1pô galera,

sou fã, mas muito fã mesmo, de vocês e do trabalho que vocês desenvolvem com o plástico bolha. inclusive passei a receber, a cada edição, uma quantidade plausível de exemplares para distribuir aqui em bh. mas, de um tempo pra cá, parei de recebê-los, e a galera fica me cobrando, na faculdade, a cada passo, é um “Cadê o jornal das pala-vras?”, “Eu quero meu jornal que envolve pa-lavras”, “Cadê a poesia em jornal?”.

Então, galera, eu pergunto a vocês: Cadê o meu jornal literário repleto de sentimentos?

bruno

BOlhETiMEditorialsabe aqueles filmes de ficção científica em que, num futuro desconhecido, os ambientes têm um asfixiante aspecto clean, sem estante alguma, nenhum papel amassado em cima da mesa e, sobre-tudo, nada de livros? Então, não é porque as pessoas deixarão de ler, é que os milhares de páginas que compõem uma biblioteca estarão compactados em um (ou, dependendo da quantidade, alguns) dispositivos eletrônicos, livres da poeira e dos eventuais ácaros que a acompanham. sobre o início dessa revolução que se dá com o surgimento dos e-readers, você pode saber mais na entrevista com a professora da ECo-ufrJ Cristiane Costa. Ela explica, entre outras coisas, o impacto desse novo suporte nos hábitos de leitura. nós, com nosso tabloide, esperamos que as tecnologias novas e antigas ainda convivam em harmonia por muito tempo. além disso, esta edição vem recheada de vencedores do prêmio paulo britto de prosa e poesia, realizado pelo Departamento de letras da puC-rio, entre outras colaborações preciosas. para completar este bolhetim, abrimos a caixa postal do pb para mostrar as mensagens que recebemos e nos dão força para continuar com este trabalho.

EDiçÃo lucas viriato | isabella pacheco

ConsElho EDitorial alice sant’anna | felipe Wircker | Gabriel matos | marilena moraes

DiaGramaçÃo mariana Castro Dias

rEvisÃo Gabriel matos | marilena moraes

EQuipE felipe Wircker | pepê Canongia | fernando fernandes | ana helena da fonseca

WEbDEsiGn henrique silveira

Edição dedicada à memória do professor Jürgen heye

EDiçÃo abril de 2012 / Junho de 2012DistribuÍDo no estado do rio de Janeiro e em belo horizonte, são paulo, vitória, brasília, salvador, Curitiba, florianópolis e porto alegre tiraGEm 13.000 | imprEsso na Zm notícias

EnviE sEus tEXtos para [email protected]

Heinz Langer

equilíbrio poético

Carta 2Queria dar os parabéns ao plástico bolha, por tantas edições, pela obstinação; não deve ser fácil manter esse trabalho da forma como vocês mantêm, independentemente. meu primeiro poema no blog do pb foi meu primeiro texto em um blog que não fosse meu, e acredito que isso tenha acontecido a muitos outros que enviam textos e tudo o mais. agora estou com um livro pronto, vou procurar meios de publicá-lo ainda este ano, e vou fazer isso inspirado na força de von-tade de vocês. mando também um trecho do meu livro, pra ser encaixado lá no blog, quando der. valeu, forte abraço!

Danilo

Carta 3salve, salve, meus camaradas!

Como anda a vida, com os pés ou com as mãos? (de cabeça pra baixo)

acabei de pegar na livraria bossa nova e Companhia o jornal plástico bolha n°30!

Confesso que me senti um “poeta QuasE de verdade” hahuahuahu (ainda faltam algumas coisas para eu me considerar um “poeta de verdade”, se é que poetas são de verdade).

no meio de tantos poetas bons, ver breno & bráulio rabiscando as folhas de papel em uma página do Jornal fez com que o meu EGo (como dizem os psicanalistas) abrisse os olhos! (ou eu é que abri os olhos pro EGo, vai saber?) Enfim, dizem que essas coisas do EGo atingem os arianos (dizem).

mas enquanto eu não sei de verdade nenhuma, eu vou continuar escrevendo... (escrevendo a gente inventa verdades.)

valeu mais uma vez pelo espaço!

Grande abraço e até os próximos jornais & saraus espalhados pela vida.

breno

leia mais!

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tradição

luzes em neon

sob a tóquio high-tech

jaz um haicai

Tomás Duque Estrada Rosati

Ingrid Bittar

potência de fênix

o palito de fósforo contémo fogo estacionário dos incêndios;com o vento, em seu harém,amansa-os, empresta-lhes, reacende-os.

o poema e a ferrugemnão são nem bem, nem mal.não penetram sem que se sujemno nauta, no pavio, no mar, na cal.

um verso que se dominapode-se ver do erroda régua da indisciplinado carvão da neve do ferro.

o fato mais comezinhoé que poesia dorme:cedo acorda e vai passarinho,águia, embora (ou) conforme.

Escrever é falar sem manto,começo no ponto final?segue-se, apesar do entretanto,mirando-se, estátua de sal.

Escreve-se porque não se escutaa fala, tão pouco loquaz.tampouco se espera que a lutaacabe. E acaba-se em paz.

acento, o silêncio e seu ensaio,fogo se desfia;pássaro adentro. pensai-opoesia.

Marcelo Moraes Caetano

Ingrid Bittar

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oficina

Duas vezes por semanagrandes mestres têm encontroonde vinte afoitos anônimos aguardama abertura de arquivos

todos, unidos e munidos demartelos, chavesnotas, sílabas e acentosamoresdoloresaventurase esperanças

(e um passaporte diplomático)

observamno canto — sempre, é claro, à esquerdaluis, Gregório, augusto, Carlos e manelsempre os mesmosa contar nos dedos alexandrinos

fim da festa,parnasianas ficam com gregosmodernas com norte-americanosE, senhoras e senhores,o mundo ganha rápido às pressas,

um poeta.

Diogo Dupree

pÃEs antEpastos massas molhospiZZas salGaDos DoCEs tortas

av. armando lombardi, 800 - lojas C/D/E Condado de Cascais, barra da tijuca - rJ tel.: 2493-5611 / 2493-8939rua Conde bernadotte 26 - loja 110 leblon - rJ tel.: 2512-2226 / 2540-0036

www.ettore.com.br | @EttoreCucinaiT | www.facebook.com/ettorecucinaitaliana

a poesia em crise

Cesse tudo que a musa cantaQue outro valor mais alto se levanta.

Camões

All art is quite useless.

oscar Wilde

tive uma ideia para um poemaum poema que há de pôr em questãotudo aquilo que se pensa e já se pensousobre o mundoE sobre a poesiaE sobre a arte em geral.

tive uma ideia para um poemasó falta escrevê-loum poema que falará de uma coisa sóE falando dela falará de tudo.um poema que não falará de poesiaE por isso mesmo dirá mais do que qualquer outro poderia.

tive uma ideia para um poemasó falta escrevê-lo.

vou fazer um poema sem disfarceE sacudir a dura estrutura do mundoCom graça e seriedade.

Com meu poema transcenderei tudo e todostrocarei esta minha forma efêmerapela imortalidade das ideias.

meu poema me levará aonde nenhum homemnenhuma mulherJamais sonhou em ir.

tive uma ideia para um poemasó falta escrevê-lo.

não quero mais saber do lirismonem do modernismonem do pós-modernismonem do pós-pós-coisanenhuma.Quero que minha poesia sumaComo algodão-doce na boca.

minha poesia será leve como uma plumaE terá a força de impossíveis tanques de guerraE de cima deles, lá do alto, de braços abertosGritarei:abram-me todas as portas porque hei de passar!minha senha? t.s. Eliot!

mas não passo.sequer conheço a porta que quero abrir.Estou perdido nos destroços, nas ruínasDessa cidade irreal.não tenho para onde ir.(tinha uma pedra...mas uma pedra aonde,se não há nem caminho?)

Este meu poema,a verdade é que este poemanão vale coisa alguma.

Luíza Provedel

Toda última quarta do mês às 20hcom o quadro Espaço Plástico Bolha

http://cep.zip.netTeatro Sérgio Porto, Humaitá, Rio de Janeiro

Só indo. Só vendo. Ouvindo. Vivendo.

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Casa dos desejos

na sua casa não havia tapetes. foi isso que lembrou quando os pés sentiram o macio. naquela outra casa não se admitiam tapetes nem pelúcia, porque a mais nova era cheia das alergias e, mesmo depois de curada, agora tinha o caçula, e “Deus me livre outra vez”, era o que se dizia.

naquela outra casa também não se acordava de calafrio porque na barra da tijuca não faz frio como na zona sul, e isso era outra coisa que ela havia descoberto. ainda era tempo de se acostumar à mudança. por enquanto ainda acordava com a surpresa de estar em outro lugar, como quando se viaja e, ainda de olhos fechados, dá para lembrar que não se está em casa. mas ela estava naquela idade de se prever e sabia que era questão de tempo até lembrar, um dia, quem sabe na hora do almoço, dos anos passados no outro lar. a partir daquele dia, as tardes seriam vazias.

o problema em desejar certas coisas por muito tempo é que, quando a gente as tem, sente falta de desejá-las. talvez não tivesse tanta graça assim dormir às três e acordar ao meio-dia, nem ver tv em paz, nem cantar sossegada, sem choro de criança, sem “atende a porta” ou “traz o telefone”.

na casa nova não tinha café na cama, não tinha beijo do pirralho. não só sentiria falta de desejar o que agora a aprisionava, como passaria a desejar, com força, todas as outras coisas que já não tinha.

o caminho do tapete até o espelho era dos menores possíveis, mas era um caminho enorme, arrastado. Ela sabia que, naquela mania de se prever, acabava sempre antecipando tudo e, por isso mesmo, tentou adiar ao máximo a hora de se ver refletida.

De fato, chegando ao espelho, viu uma velha prematura exibindo sua solidão nos olhos cansados. fez que ia correr, mas voltou. parou quase de perfil, os olhos ainda alcançando o reflexo. Era uma velha sozinha. num choque, correu ao telefone. na pressa, discou um número a mais, agendando uma visita que, lhe foi dito — e era óbvio —, não precisava ser agendada.

logo que chegou, soube que a casa ainda lhe pertencia — ou que ela ainda pertencia à casa — quando percebeu que não estranhava cheiro nenhum. pediu um abraço, ganhou um outro, um “alô” da cozinheira gorda. Cada vez mais gorda, para mostrar que o tempo passava. atravessou a sala sem tapete, o triplo da sua, afundou no sofá e ali ficou para sempre, por alguns minutos. prestes a criar raízes e virar parte do assento, tomou outro choque e foi parar no corredor. Ele era tão minimamente enorme e arrastado como o caminho do tapete ao espelho. isso porque ela teria, e o sabia, que se encarar ao final.

E, como não poderia não ser, lá estava, pendurada na parede, a menina de olhos viris, a franja malcortada, um tênis de cada cor e um vestido azul de festa. Dessa vez, não fez que ia correr e nem pensou em ligar, porque ninguém atenderia. mas, agora sim, ficou em pé, descobrindo que era, ali, tão livre para desejar ser velha quanto seria, lá, para desejar ser moça.

Mariana Milani

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YTu

és cobraencouraçada. Só és dobra,

Nada sobra, És selada:

Trancafiada No teu claustro

Sem parede Que se mede

Só no rastro Da sua crosta.

Toda costas,Nada frente,És serpenteIntraçável.

Não dolente, Não doente, Só um ente Impermeável. -Inefável?- Que não para Ou se refuta, Tu que és clara, Tu que és rara, Tu que és tara Absoluta. Nada glosa Toda mote Que me mata E me resgata Sinuosa Dá-me

o bote

Cobra

Breno Cesar de Oliveira Góes

Catarata

da minha janelao que vejo é murocom grade aindatecendo uma divisãoo que enxergo são os limites das plantasverde-escuras, senãoe suas sombras projetadasnuma parede branca

— mais cinza que essa que então —desenhando moldurasmais duras que a grade a janelamoldaram em nãoso sol, qualquer traço de luzsó me chega refletido: sou beirada num muro de solidãoe as cortinas brancasleves, que voam a qualquer brisasó transparecem a mentira que sãotentam confundir-me a liberdadecomo que se eu pudesse de fatoter vontade não tendo nem ainda visão

eu recortada em verticaisentre / meadaentre / cortadalonge dos limites da razãovejo as plantas que caem,final de vida despencame proibidas que sãode me fazer ver mais alémsaem do meu campo de visãoque não entra mais nadamais ninguém

não sou cega porque não me dizemenquanto não dizem não sou nem o quêsó percebo que resisto nas marcas da chuva,na ferrugem do metal,na visão do imundo,talvez nas palavras que desejo,mas daqui nada vejonada é o mundonada mesmoe sendo só beiratoda vez que o vento entrasó me entra na alma poeirae nesse muro branco, é essa a minha deixa: eu sigo a vida lá foranas suas rachaduras, pela sua sujeira.

Sofia Vaz

www.leonardodavinci.com.brav. rio branco, 185 – subsolo – Ed. marquês do herval

Centro – rio de Janeiro/rJ tel.: (21) 2533-2237

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um Épico

entro numa farmáciatenho 30 anosentro para pedir um remédiopara calvícienão que seja calvomas um certo medo precoceda idadeuma vaidade que a invençãodo espelhonos impôs

não é culpa do espelho antes todo mundo queria ser velhologohoje todo mundo quer ser jovemsempre

o fato é que peço o remédiopara calvícieo atendente é mais novo que eue carecadurante alguns segundos me olhadescrentepega o remédiopergunta se eu tenho o cartão de descontosegue o protocoloe me entrega o remédiodescrente

vou andando pela ruade uma terra inventadade uma terra sonhadae olho o mundo que passaa péde carrobicicletasskatepatinspara que tanta roda meu Deus?o mundo passadescrenteo meu remédio para calvície sacoleja líquido na bolsa plásticapedi para o atendentenão me entregar a bolsaplásticamas ele seguiu o protocolodescrente

olho a bolsa plásticae penso no continente de plásticoque boia hoje no meio do pacíficodeserto de polímeroslembro dos pássarosencontrados mortoscom bolsas plásticasno estômagosempre me sinto um assassinode pássarosquando carrego uma bolsa plásticamatador de passarinhosigo andandoe lembrandoque não é de hoje que me sinto assimassassinono primário uma professorame olhou fundo nos olhoscom olhos lacrimosospor uma vírgulacomidaela contou que na segunda guerra mundialum batalhão avançado perguntouse deviam matar prisioneiros de guerranÃo tEnham piEDaDE!foi a respostamataram todos

mas faltou a vírgulanão, (vírgula)tenham piedade.não era para matar ninguémsempre que erro uma vírgula me sinto um assassinoum criminosode guerraas vírgulasbalas perdidasassassinando as frases

e um carro freia forteassovia borracha no asfaltobuziname xingaeu no meio da ruadistraído pelo plásticopela vírgula

meu primo sempre diz que eu não tenho medo dos carrospara mim parecem mesmoburrinhos pacatosruminando pichemas não sãoalguns não freiamoutros comem picheou melhorpetróleoe os pássaros com plástico no estômagocobertos de petróleonum acidenteecológicoe os peixes tentando respirarna superfície pastosadeserto de pichesandar de carro é ser um assassinode peixes

tenho 30 anosme chamo Domingossou um dia inútil da semanacaminhando pela utilidadedos diasas inutilezas que salvarão o mundoa preguiça de um domingoque salvará o mundo

sou Domingosme chamam Dodôsou uma ave extintade uma terra inventadauma terra sonhadanum domingo de solquando Deus cochilouinventaram o brasil.

Domingos Guimaraens

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a letra de “para lennon e mcCartney” mostra a visão dos autores sobre o modo como sua região se articula com o mundo, além de uma crítica à posição de esque-cimento e marginalização da américa latina em rela-ção à ideia de Europa e Estados unidos como “globo”.

para outro integrante do grupo, flávio venturini, o Clube da Esquina realizou uma mistura de várias coisas que aconteciam nos anos 1970 de uma forma

“muito bonita e muito mineira; abriu as portas (de minas) para o mundo”.

o desejo de união do continente latino-americano ganha força na música produzida pelo grupo e revela uma posição quanto à política internacional, como demonstram as gravações em língua espa-nhola e a grande influência de ritmos latinos nas melodias em questão.

As horas não se contavam/ E o que era negro anoiteceu/ Enquanto se esperava/ Eu estava em San Vicente/ Enquanto adormecia/ Eu estava em San Vicente/ Coração americano/ Um sabor de vidro e corte

Que distância tão sofrida/ Que mundo tão separado/ Jamás se hubiera encontrado/ Sin aportar nuevas vidas

a repressão, a violência e a luta por liberdade, pul-santes no contexto brasileiro nos anos 1970, marcam as músicas do grupo. para além disso, percebemos um hibridismo na sua capacidade de unir o religioso, o barroco, o hippie, o indígena, o latino, o roqueiro, o tradicional e o moderno. Eles não são os únicos nem os primeiros, mas se posicionam no contexto mundial reconhecendo a heterogeneidade, fazendo dela seu discurso e mostrando como, pelo menos estética ou artisticamente, ela pode construir uma harmonia. se o Clube da Esquina “abre as portas”, deixando minas ver o mundo, também mostra ao mundo o que é minas.

POr DENTrO DO TOM organização santuZa Cambraia navEs

“sou do mundo, sou minas Gerais”autora Convidada: Clara lugão

também houve referências a outras cidades e países no contexto da globalização. o uso de instrumentos andinos, muita percussão e elementos que lembram música de procissão, de igreja ou de festas folcló-ricas colabora para o registro dessas marcas locais.

na Europa e nas cidades latino-americanas for-madas a partir de modelos europeus, sobretudo espanhóis e portugueses, as cidades cumpriram funções modernizadoras e integradoras dos migran-tes, tanto estrangeiros como de diversas regiões do país. mesmo estabelecendo uma separação entre bairros ricos e pobres, centro e periferia, as cidades fomentam a convivência interétnica. foi um modo desigual, mas, em geral, menos segregador, de ar-ticular o local com o proveniente de outras partes da nação e de outras nações.

assim, a música do Clube da Esquina se aproxima do conceito das cosmopolíticas, formadas por discur-sos que tratam dos assuntos globais de forma intrín-seca e conscientes de sua natureza política. sobre essa consciência evidente, o depoimento de márcio borges, um dos compositores do grupo, pode ser revelador. Ele afirma que criava estimulado pelas discussões sobre cultura, revolução e socialismo, temas obrigatórios dos papos daquela época, e que via belo horizonte, mais do que nunca, como parte integrante do mundo. assim, percebia o surgimento, pela primeira vez na província, da consciência de pertencermos a uma civilização planetária.

o discurso de márcio borges mostra como havia, por parte desses músicos, um apreço pelo universal. a par dos exemplos já citados daquilo que é caracte-risticamente mineiro nessas canções, outros temas presentes são referências muito fortes. as guitarras e as melodias com clara influência dos beatles são aspectos que fazem parte do universo pop.

Porque vocês não sabem do lixo ocidental/ Não precisam mais temer/ Não precisam da solidão/ Todo dia é dia de viver/ Eu sou da América do Sul/ Eu sei, vocês não vão saber/ Mas agora sou cowboy/ Sou do ouro, eu sou vocês/ Sou do mundo, sou Minas Gerais

1 os nomes citados são denominações de grupos indígenas e também de ruas da cidade de belo horizonte.

o Clube da Esquina, grupo de amigos e produtores de música cujo auge da produção se deu no início dos anos 1970, teve como lugar de encontro a cidade de belo horizonte, em minas Gerais. pela intuição de que tanto melódica quanto tematicamente as can-ções do grupo tratam de elementos locais que se articulam com o global, é possível perceber o envol-vimento dos integrantes do Clube da Esquina com a ideia recorrente à época de união do continente latino-americano e o desenvolvimento, na cidade, do apreço pelas informações de caráter universal.

se na modernidade as culturas e identidades na-cionais dominam, se sobrepõem ao que é mais particularista ou local, na pós-modernidade, com a globalização, elas ainda têm força, mas começam a ser enfraquecidas pela valorização das identidades locais e regionais. o que há de mineiro é muito mais forte e perceptível na música do Clube da Esquina do que as características que podem ser conside-radas brasileiras. mesmo essas questões de cultura nacional são tratadas de uma maneira muito local. ao mesmo tempo, a identificação com questões internacionais também está muito presente, tanto na melodia quanto nas letras.

o Clube da Esquina reuniu músicos de diversas partes do brasil, mas belo horizonte, além de ser o local de reunião e produção de músicas, era tam-bém um tema claramente identificável nelas. para bruno viveiros martins, nas narrativas do Clube, as cidades seriam o local, por excelência, do viver co-letivo, e cada um de seus integrantes trouxe, com suas referências históricas e culturais particulares, também um pouco de sua cidade natal, o que fez da capital mineira um solo aglutinador.

Você pega o trem azul/ O sol na cabeça

Guajajaras, Tamoios, Tapuias/ Tubinambás, Aimorés1/ Todos no chão/ A cidade plantou no coração/ Tantos nomes de quem morreu/ Horizonte perdido no meio da selva/ Cresceu o arraial/ Arraial

se belo horizonte se mostra para o Clube da Esqui-na como o solo aglutinador das cidades mineiras,

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NOTAS NO PláSTiCO por mauro fErrEira

frida

sol a pinona metade do céuvísceras abertasDali vão brotando todas as coresfio fátuo de dor e sustopulsandoDando a formaÉ frida

Silvia Castro

Ingrid Bittar

Qinho consegue soar pop entre as estranhezas de seu segundo CD solo

segundo disco solo de Qinho, O Tempo Soa flagra o cantor e compositor em momento pop. marcos Coelho Coutinho, vulgo Qinho, é natural do rio de Janei-ro (rJ) e foi na cidade natal que abriu seu caminho no mercado fonográfico independente. De início, como líder da banda vulgoQinho&osCara. Depois, já pavimentando trilha individual, lançou Canduras (2009), disco calcado em sua voz opaca e em seu violão. produzido por bernardo palmeira, O Tempo Soa en-corpa o som de Qinho com banda sem eliminar as estranhezas de sua música indie, mas acenando cada vez mais forte para a cena pop. “macia bahia” (Qinho), tema introduzido pela cítara pilotada pelo guitarrista fábio lima (coprodutor do CD), confirma de cara esse aceno ao abrir o disco com melodia assoviável. Elba ramalho amacia seu vocal agreste para repaginar com Qinho “morena”, título menos ouvido do cancioneiro de Gonzaguinha (1945 - 1991). o acor-deom de ricardo rito dá leve sotaque nordestino à faixa sem reeditar toques-clichês do universo forrozeiro. mais expansiva, a faixa-título “o tempo soa” (Qinho) ostenta guitarras e certo peso de acento roqueiro sem desconstruir de todo a leveza em que se sustenta o disco. “mesmo assim” (Qinho) reitera a salutar estranheza na qual está embebida a brasilidade black do som de Qinho.

“troca” (Qinho) se banha nessa negritude suingante, ao passo que “segredinho” (Qinho) — faixa turbinada com a participação bem apropriada de mart’nália — se insinua sem vulgaridade para as rádios, até mais do que “irmã forte” (Qinho, andré Carvalho, rodrigo Cascardo e miguel Jost), música gravada por Qinho com amora pêra e escolhida para iniciar os trabalhos promocionais do disco. no fim do álbum, “Caminhada” (Qinho) se diferencia pela intensidade crescente do coro enquanto “Coração Gigante” (Qinho e botika) expõe o progressivo burilamento pop da música ainda estranha de Qinho, artista em trânsito por trilha nada óbvia.

Confira mais Notas Musicais em blognotasmusicais.blogspot.com

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ChuCrutE&bronZE

sábado, como é de costume a cada 15 dias, fui à feira do troca. sempre na praça Xv, a feira ocorre embaixo do viaduto da perimetral, para ser mais exato. o lugar não é dos mais convidativos na minha opinião, mas o cheiro das velharias, das raridades e do bom preço me agrada demais. nesse dia, apesar de não ser de costume, não queria me demorar, estava cansado e não queria ficar procurando coisas novas, nem pechinchar. uma das minhas raras visitas com objetivo. fui comprar uma agulha nova para minha vitrola, que alguém havia me feito o favor de quebrar (morar com os pais tem seus pontos baixos). assim que saí da barca, fui a passos largos em direção às barracas de discos e, logo na primeira, encontrei o que havia ido buscar. Com a minha agulha novinha em folha na mão, decidi voltar a passos também largos para as barcas, mas fui tão rápido que nem me lembrei de que aos sábados as barcas funcionam com intervalos de meia hora. pensei em ir até o ponto de ônibus, mas minha preguiça “sabatomatutina” me impedira. pensei, então, em dar uma volta pela feira até a barca chegar e eu voltar para casa. passei pelas barracas de quadrinhos, nada de novo. nas barracas de DvDs, os preços continuavam altos e os vendedores, irredutíveis. Cambada de mal-amados que vão morrer abraçados aos filmes! Já assisti à maioria, mas queria alguns para minha coleção, por isso os invejo e não é inveja boa, se que é existe esse negócio de inveja boa. perto da escadaria, como sempre, estavam os “vendedores” de celular. Dizem que com eles você consegue comprar os aparelhos mais modernos a preço de banana. mas, nem quando meu último celular “morreu”, eu cheguei perto daqueles caras. meu amigo que me levou à feira pela primeira vez resolveu um dia fazer barganha com eles, achando que faria um ótimo negócio. Enquanto negociava, se arrependeu ou, em outras palavras, percebeu, num arroubo moralista, que os aparelhos eram roubados e resolveu não participar da receptação, digo... “negociação”. Quando entrou no carro, percebeu que havia perdido seu celular. o dele mesmo, que havia levado cogitando uma troca. resolveu, então, voltar e comprar “qualquer coisa” para não ficar incomunicável. voltou apenas para que lhe fosse oferecido o seu próprio celular. ai! Como eu amo essa feira! tem dessas coisas, mas é só não dar mole. mais perigoso do que ser furtado, só o caldo de cana da barraca central. bebeu, morreu e arsênico da moenda são os apelidos do líquido (não merece ser chamado de caldo de cana) vendido nessa barraca, logo, acho que não preciso falar muito sobre a qualidade e os efeitos (que seu humilde cronista já sentiu) provocados por ele.

Já perto da hora de partir, me dirigi à estação das barcas, olhando os produtos expostos nas barracas. acho sempre muito engraçado como a maioria delas tem sempre as mesmas coisas à venda. É possível até utilizar alguns produtos como ponto de encontro. o enorme catálogo cultural de capa dura estampada por um palhaço de sorriso singelo e o vestido florido de grávida expostos logo no início da feira são ótimos pontos de encontro. Cansei de dizer “me encontra no palhaço!” e “te vejo embaixo do vestido!”. vez ou outra alguém ouvia por alto e franzia a testa, o que era muito engraçado. resolvi dar uma olhada em uma barraca que sempre me chamou a atenção, mas da qual, não sei por que motivo, nunca havia chegado perto. Ela é bem parecida com as outras, um pouco mais organizada talvez, chamava atenção pela enorme bandeira Dixie haste-ada num enorme mastro improvisado ao lado. Quando cheguei mais perto, percebi que havia todo tipo de material relacionado a guerra. Cantis, facas, capacetes e até fardas. “tudo original e usado em combate!” Era assim que um senhor que parecia ser o dono da barraca, com uma energia ironicamente belicosa, descrevia alguns itens para um rapaz. achei aquilo muito interessante, o cheiro de história que dali exalava era forte. Como um bom adorador de coisa velha, resolvi levar algo de lembrança, nada caro. olhei para um mural pendurado do meu lado e vi vários patches bordados, daqueles que você passa a ferro e eles colam na sua roupa. Enquanto meus olhos curiosos corriam o enorme quadro de feltro, o rapaz esticou um braço, passando na frente do meu rosto para pegar uma bandeira do mural. Eu, absorto com a minha difícil escolha diante de tantas opções, tomei um susto. mas meu susto maior foi ver que o patch que o rapaz estava segurando era todo preto com as letras ss, em branco, no meio. pois é, era o símbolo da schutzstaffel, uma espécie de polícia nazista. olhei em volta e, numa epifania muda e em preto e branco, vi que ninguém parecia constrangido. olhei de novo para o mural, à procura de uma suástica. Queria ver a seriedade da coisa. não vi nenhuma, mas fiquei com a sensação de que elas “aparecem” se você souber como pedir. fiquei também com uma pergunta na cabeça: “Quem usaria um sím-bolo daqueles?”. sei que em são paulo há alguns grupos neonazistas e que de vez em quando fazem uma besteira digna de noticiário, mas, aqui no rio, não esperava uma coisa dessas. acho que por estas bandas não fizeram nada digno de noticiário. ainda. me senti ingênuo e com medo. medo dos nazistas bronzeados da praça Xv.

João Arthur da Silva Souza

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DESAFiO POéTiCO a caverna de platão

Caçado pelos dogmas,

oprimido pelos homens,

inocente sábio platão,

torturado por mentes más.

o que fazem esses jovens?

a caverna onde esteve,

abriu sua mente,

a luz refletiu os doentes,

Julgado por olhos famintos,

virou apenas um mito.

insanos têm razão,

obcecados pelo seu mundo,

Enxergam sombras fictícias.

possuídos de fanatismo,

morrem de orgulho.

Estão acorrentados em suas poças,

poças de mentiras,

E na lei da vida,

hipocrisia é divina,

a verdade é que mata.

as vozes enlouquecem os homens

sugadores de sangue.

É proibido pensar,

várias mentes não pensam,

uma morre ao pensar.

Manuella Kleemann

para a próxima edição, entraremos no clima esportivo: quem topa fazer uma poesia sobre futebol? o poeta aponta o lápis, mira a ponta em cima da folha de papel, escreve e... poeeeeeeeeeeeema! É poeeeeeeeeeema!!

Envie suas poesias futebolísticas para [email protected]

neste desafio poético,

convidamos nossos leitores a

rememorarem a grandeza de

outros tempos. aqui vão alguns

dos poemas que recebemos

para o desafio de versar a partir

de um mito.

penélope

Em telao tramadoé tecidoem nósfiosnoveloscontornoscontrastesconsensoscorescem textostramamcom-tatostocametremamtexturade trezentostraçostrocentostroços

o minotauro pós-moderno

liberto de seu casulo –invólucro sintético anticoncepcional – o minotauro pós-moderno ganha as ruasCausando perplexidade e admiraçãotransgride a luz dos postespenetrando o lado oculto De uma nova geração:

metade mulher

metade coisa

Desnuda a moça liberdadetapada a vergonha materialpeitos de virgemE pernas de pauDão à vida (de uma vez só)uma ninhada de ninfasCobertas de pó

Bruno Borja

olimpo frustrante

amores platônicos,Enfureço-me com Eros,a mente vazia de arte,Enfureço-me com apolo. Eu que prometi ser meu próprio deus,Eu que sou meu próprio inimigo,meu próprio herói.sou meu tudo dentro do Caos (nada)Que também sou. as verdades se confundemse entrelaçamconhecimento e confusão,a sina/acima da humanidade. Enfureço-me com atenas. Ó, minha bela psiquê!por onde anda Eros?

Iago Souza

tapetestaciturnostraemtrançametraçamtecidosem tantospontoscontos,cantos,contase esperas

palavraspa-lavraslavramhiatoshistóriasiníciofim...no textotrama ocontexto ondeo drama tecea sina eo tecido dizo textoe a esperaaqui termina.

Lucia Helena Ramos

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nesta edição, a coluna oráculo conta com a participação especialíssima de sócrates, o mais sábio dos homens segundo o oráculo de Delfos, contando-nos o mito da origem das cigarras como consta no diálogo fedro de platão 258e–

–259d, que ora apresentamos em nossa tradução. não deixem que a prática ho-dierna de uma leitura dirigida aos olhos nos impeça de experimentar o sentido original de mito, ou seja, fala e narração. Em grego, conversar diz-se dialégesthai, que pode ser empregado tanto com um sentido comum e cotidiano, como ocorre na fala de sócrates, quanto filosófico de perguntar e responder, tendo em vista o conhecimento; nesta acepção, conversar significa praticar a dialética.

sócrates – as cigarras cantando também acima de nossas cabeças, no calor abafado e conversando umas com as outras, me parecem observar-nos. se então elas nos vissem do alto a nós dois, ao meio-dia, como muitos não conversando, mas dormindo e seduzidos por elas, por causa do ócio do pensamento, justamente ririam de nós, supondo alguns escravos terem chegado à sua pousada como cordeirinhos para fazer a sesta, junto à fonte. mas se nos virem conversando e navegando ao largo delas como das sereias sem ser seduzidos, elas admiradas talvez nos possam conceder a honra da parte dos deuses que concederiam aos homens.

fedro – Que honra elas podem conceder? pois eu nunca ouvi falar.

sócrates – não convém que um amante das musas nunca tenha ouvido falar de tais honras. Dizem que outrora as cigarras eram os homens dentre os que existiam, antes de terem nascido as musas. Quando nasceram as musas e apareceu o canto, então alguns homens foram arrebatados pelo prazer, de modo que, cantando, descuidaram de comer e beber e esqueceram-se de si mesmos, tendo morrido. originária deles surge a raça das cigarras, recebendo da parte das musas esta honra: desde o nascimento não precisar de nutrição, mas cantar sempre sem comer nem beber até a morte. Depois vão junto às musas relatar quem dos daqui honra a qual delas. Então relatando, por um lado, a terpsícore, aqueles que a têm honrado nos coros, tornam-nos mais caros a elas; por outro a Erato aqueles que a têm honrado no que concerne ao amor (éros), e assim às outras quanto à espécie de honra de cada uma delas, e à mais veneranda, a Calíope, e a urania relatam aqueles que dedicam seu tempo ao amor à sabedoria (philosopía) e que honram aquela arte que lhes é peculiar, as quais dentre musas, principalmente por se ocuparem com o céu e com assuntos divinos e humanos, emitem o mais belo canto. Então, por muitos motivos, deve-se, de algum modo, conversar e não dormir ao meio-dia.

por antonio mattosoOráCUlOouçam este mito. a ciclovia

- Meu caro, você conhece o terror que tenho de motos e carros. (e dos pedestres)

um passante debicicletase destaca no horizonte.sua intenção é atingir a ciclovia perfeita.Ele reclama:

- “a pista da ciclovia é inútil, ela termina, ela desemboca na rua”.

o ciclista sabe que precisapassar pelos carros para atingir aciclovia.

o ciclista sabe que precisapassar pelas motos para sair daciclovia.

Ele pedala altaneiropor alguns minutos respira a sensaçãoenfim esse espaço.

o espaço da ciclovia se confunde com a calçada.o pedestre flana.o pedestre invade aciclovia.na superioridade de sua preferênciasua prioridade absoluta facilita o acidente [alguém adverte].

manoel me disse que o carro deve manter a distância de dois metros dabicicleta.Qual a distância que o pedestre deve manter dabicicleta?

o pedestre vive seu estado de exceção.o pedestre turista vive seu estado de imposição.

- Ele tem razão! isso não é uma razão, diz michel.

[outro dia marília esbarrou com Deguy de bicicleta]

João quer pedalar continuamente mesmo não sendo um atleta.sem interrupções, de ponto a ponto, da esquina até ipanema, até a lagoa.

as pernas retraídasesticam-se continuadamente.se esforçam formandoondulações.

Elásticasas pernasna bicicletaondulam.

[marília depois me contou]

Deguy saiu dacicloviachegou na avenida debicicleta.

naquele momento interrompido em quecaía.ridículo na lama.Quando o poeta se estatelava nochão.

Masé Lemos

Mariana Dias

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Currículo lattes

Evidentemente este texto é excelente: fui eu que escrevi. a história começa em um edifício moderno, coberto de pichações e escadas

de emergência. vivo num quarto escuro nos fundos da garagem. tenho um duende desenhado nas costas. meu quarto é praticamente

todo ocupado por uma grande cama estilo império. o resto do espaço é ocupado pela estante onde estão reunidas minhas cruzes,

medalhas, terços, escapulários, candelabros, altares, crucifixos de porcelana e o pote de haxixe. sei esculpir, tecer, trançar, bordar, co-

ser, moldar, apertar, colorir, envernizar, cortar, montar e até reconstituir. apesar de meus inumeráveis talentos, não sou um homem de

negócios. Durante anos fui contramestre na marinha mercante; trabalhava no setor de exportação de pulôveres de bolinha. Quando

saíram de moda, segui para o ramo do barbante: tornei-me o maior fabricante do continente. Quando o nylon surgiu no mercado, perdi

a fábrica, a casa e a esposa. me recusava a trabalhar com nylon. Com a falência me vi obrigado a migrar para o ramo das artes e fundei

um grupo especializado em cançonetas patrióticas que tiveram um êxito incontestável, mas que durou poucas semanas. Em seguida,

resolvi renunciar à carreira artística, mas, não querendo fugir do mundo dos espetáculos, tornei-me empresário de um célebre acrobata.

percebi que começava a envelhecer quando, depois de passar uma noite fora, precisei passar dois dias inteiros em casa.

Carlos Andreas

fuga do campo das flores

ibocas fechadas repletas de terrabocas com línguas aterradasdentes com raízescéu da boca encobertoácido torrencialveneno gástrico

iibocas e beijos secoscascalhos trocadosfeito sentimentosfáceis de encontrare jogar fora do chão

lábios áridos pedindo irrigaçãopor alguém que chegue de verdadebocas pedem sementeselas germinam como pedraspara o plantio das flores

Pedro Bastos Ingrid Bittar

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DOBrADiNhASpor aliCE sant’anna & DiEGo GranDo

pistaspara Carol

1.

a estrada tem razão (fora do mapa)

e vias vicinais, acostamento, mato.

2.

fora do mapa a estrada é o não haver

de vento de varanda e vista conversível

hank Williams com chiado no dial

ou quarto de motel por qualquer nota amarrotada

contudo brisa de ar-condicionado

e ipod na entrada auxiliar.

3.

fora do mapa

estéril de cinema e literatura

a estrada é o carro azul que a percorre

depois da noite branca da véspera

(como a criança que sente fome

senta à mesa e não come)

é o rumo a tomar na interseção em y

o estrabismo do limpador de para-brisa

uma ideia que se desfaz (porque se faz)

a urgência de não saber o que

dizer se não há nada a ser dito

o medo que não tira férias

e vai junto viajar

a estrada — ainda não é tempo

de esticar as pernas —

sou eu no banco do carona.

4.

De ir e vir é a estrada

(nós dois que a inventamos).

Diego Grando

travelling

travelling—

esse papel só serve para ocupar

o banco do lado, poema-carona

em que se resume uma impressão

a um esqueleto, uma frase, uma fórmula

e quando ela brota, igualzinha, na vez seguinte

não precisa mais sentir nenhuma dor

lembra daquele poema

que diz a sereia de papel

e pronto: já aprendi

essa rua que sobe em curva

lá de cima pipocam casas onde você nunca

vai morar, mesmo que more, na lateral

os carros te atravessam em câmera lenta

tudo o que há nesta cidade é um ponto

de ônibus em frente ao supermercado

onde se vendem ovos para bater

suspiro na cintura, a manga arregaçada

pavlova nas datas especiais

Alice Sant’Anna

mafua.ufsc.br

a revista Mafuá, iniciativa de pesquisadores do núcleo de pesquisas em informática, literatura e linguística (nupill) da universidade federal de santa Catarina, está em sua 16ª edição e, ao contrário da maioria das revistas acadêmicas, é dedicada, principalmente, a ensaios e artigos de alunos de graduação. há também espaço para criações literárias e visuais, entrevistas e ensaios de profissionais que atuam fora do meio acadê-mico. a ideia é mesmo misturar as artes e as mí-dias e abrir espaço para experimentações.

escrevendoalice.wordpress.com

Ela assina como l. e se define como “desespera-damente alice”. Colocando em poemas, prosas e cartas seus conflitos e angústias, alice, como na história de Carroll, não para de se encantar e se surpreender com o mundo em que se encontra. no entanto, aqui se trata do mundo explicitamente concreto e supostamente real que vivemos e vemos diariamente, seja ao vivo ou em sonho.

escrevalolaescreva.blogspot.com

lola aronovich é professora da universidade federal do Ceará e doutora em língua inglesa pela universi-dade federal de santa Catarina. no entanto, em seu blog não trata de assuntos estritamente acadêmicos mas, entre muitos outros, de cinema, literatura, mídia e, principalmente, assuntos políticos, em especial relacionados a questões de gênero, sexo e a diversos preconceitos que vemos se manifestar (muitas vezes sutilmente) em situações corriqueiras. seu toque de ironia e seu humor peculiar dão um tom e um gosto especiais às postagens.

tremaliteratura.com

Escritores vindos de diferentes áreas do saber encon-tram-se no trema literatura. alguns se conheceram em uma oficina do escritor antonio torres na uErJ e, para manter o que os juntou ali, Eloise porto criou o trema e foi convidando outros autores a se junta-rem à equipe ao longo do tempo. a movimentação no site é grande. Dois autores fixos, que se revezam quinzenalmente, produzem textos diários. Em poe-mas, contos ou crônicas, o importante é trabalhar o contato inquietante com a escrita, afiar as palavras na relação cortante com a literatura.

vale o clique!

CliQUE AQUi

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Qual o impacto desse novo suporte na leitura?

os e-readers prometem revolucionar os hábitos de leitura, assim como o codex fez com os rolos de papiro. Em vez de duas páginas lado a lado, teremos uma única página, que também servirá para exibir vídeos, acessar a internet e nos comunicar com os amigos. podemos retomar o hábito de fazer anotações nas margens, sublinhar e usar tags para catalogarmos o que nos interessa. Em vez de comprar livros, poderemos baixá-los numa livraria virtual imediatamente. E, depois de lidos, eles não vão mais ocupar as prateleiras de casa. teremos bibliotecas gigantes ao alcance de um clique. mas ainda não se sabe qual será o custo disso para o universo da leitura tal como conhecemos hoje.

Seria essa, então, a chamada “quarta tela”?

sim, a revolução que torna incerto o futuro do livro e das livrarias, questiona a noção de autoria, abala as bases da indústria editorial e promete mudar completamente a forma como o leitor se relaciona com os livros já é chama-da pelos especialistas de “Quarta tela”. as três primeiras seriam as telas da televisão, do computador pessoal e do telefone celular. a quarta tela com que vamos nos acostumar a interagir diariamente será a do tablet.

Como são os livros já nascidos digitais?

os novos livros podem prescindir da leitura linear, integrar-se à internet, misturar palavra, vídeo, foto, som e animação, e literalmente explodir em 3D nas telas com cenários em realidade aumentada. neste novo universo literário, real e virtual não são mais mundos separados. objetos tridimensionais saltarão das páginas para intera-gir com movimentos do leitor e cenários reais. Cientistas da computação preveem que, assim como a web 1.0 foi guiada pela comunicação, e a 2.0 pela interatividade, a re-alidade aumentada e o 3D darão a tônica da internet 3.0.

Já se pode medir o impacto dos livros eletrônicos na criação literária?

ainda é cedo para medir o impacto na criação literária dessa literatura sem papel. o desenvolvimento dos meios tecnológicos afeta a atividade criativa. boa parte das obras produzidas em novos formatos ainda é experimental e não tem mais de 10 anos. sua produção pode ser conferida em sites como o do Elo (Eletronic literature organization) e o portal dedicado à cyberliteratura da biblioteca virtual miguel de Cervantes. no entanto, as editoras comerciais já começam a fazer suas próprias experiências, como a simon & schuster, que criou o vook (videobook). outras, como a penguin e a macmillan, já colocaram na rede vídeos demonstrando como seus livros serão reinventa-dos, ganhando recursos interativos, áudio, vídeo, mapas, espaço para anotações e comentários, mecanismos de busca e comunidades virtuais de leitores para trocar ideias.

por marilEna moraEs ENTrEviSTA

Cristiane Costa: a revolução dos hábitos de leitura

num mundo que parece não ter limites, em que ab-surdas previsões se fizeram realidade, os e-readers vêm revolucionar os hábitos de leitura. para falar sobre o “novo livro”, o pb convidou a professora CristianE hEnriQuEs Costa, doutora em Comunicação pela universidade federal do rio de Janeiro e pesquisadora do pós-doutorado do programa avançado de Cultura Contemporânea (paCC-ufrJ), pelo qual desenvolve pesquisas sobre novas estratégias narrativas em mí-dias digitais. Cristiane é professora e coordenadora do curso de Jornalismo da ECo/ufrJ e autora de Pena de aluguel: escritores jornalistas no Brasil 1904-2004 e de Eu compro essa mulher: romance e consumo nas teleno-velas brasileiras e mexicanas. por e-mail, ela nos contou das últimas (talvez já penúltimas) novidades. você sabia que os livros digitais já têm até “cheirinho de livro”? 

Diante das revoluções tecnológicas que vêm transformando os suportes de leitura, a pergun-ta que mais se tem feito é: o livro impresso pode acabar?

Essa é uma discussão que ainda assusta muita gente. mas não devemos esquecer que o livro tal como conhecemos hoje também é uma tecnologia. ao longo da história da humanidade, as palavras já foram difundidas em blocos de pedra, rolos de pergaminho, livros manuscritos e depois im-pressas por meio dos tipos móveis de Gutenberg, impresso-ras a laser e agora por e-readers. Em vez de lamentar e cogitar o fim do livro impresso, devemos nos preparar para viver a realidade dos dispositivos eletrônicos de leitura. apesar de inflamar corações e mentes, a discussão sobre o fim do livro é apenas a ponta do iceberg de outra revolução em curso: a das novas possibilidades de narrar e ler abertas pelas tecno-logias digitais. Essas inovações convergem de tal forma que, no futuro, as experiências de ler, ouvir e ver não serão mais distintas. Com a internet, uma nova semântica já começa a se instaurar. os próprios conceitos de “livro” e “literatura” já não parecem mais tão claros diante das novas mídias.

E qual tem sido a opinião da academia sobre o assunto?

Como em todas as discussões milenaristas, os debatedores podem ser divididos em duas correntes: os “apocalípticos” e os “integrados”, para usar os termos do filósofo italiano umberto Eco, que é, aliás, uma voz importante também nessa questão. na obra Não contem com o fim dos livros, ele e o escritor francês Jean-Claude Carrière procuram tranquilizar, numa série de conversas, os que temem que a era tecnológica se transforme num apocalipse que não deixará página sobre página. ao mesmo tempo, é um exemplo de como a discussão sobre o fim do livro é inútil, porque na maior parte do tempo é baseada em “achismos” e experiências pessoais que não são necessariamente compartilhadas pelas novas gerações, mesmo quando o debate é liderado por pensadores de renome.

O mundo de hoje exige novos suportes para o velho e bom livro?

nem sempre essas novas formas de narrativa são capa-zes de formar um “livro” no exato sentido do termo. o próprio livro deixa de ser um modelo absoluto, uma vez que esses novos gêneros narrativos se utilizam de vários suportes para sua “publicação” (no sentido original de “tornar público”, e não de “imprimir”, do senso comum). Embora alguns já encontrem aplicações comerciais, em geral não são desenvolvidos necessariamente para suprir uma necessidade da indústria editorial. E, sim, para via-bilizar necessidades de seus autores se expressarem de uma forma mais coerente com o mundo contemporâneo. tudo isso parece muito novo, experimental demais. no entanto, o hipertexto é forma de leitura/escrita anterior ao computador. há décadas lemos obras que permitem criar combinações entre suas partes, assemelhando-se à escritura multilinear do hipertexto digital. Entre elas estão clássicos que já na sua época revolucionaram a estrutura narrativa, como O livro da areia, de Jorge luis borges, O jogo da amarelinha, de Julio Cortázar, e Se um viajante numa noite de inverno, de italo Calvino. Do livro-labirinto de borges às construções hipertextuais de Cortázar, experimenta-se outra ordem de leitura, assim como o hipertexto digital, que tenta romper com a linearidade da página impressa.

É verdade que já há livros digitais com “cheirinho de livro”?

para quem não abre mão do “cheirinho de livro”, uma história divertida é a relatada pelo historiador americano robert Darnton em A questão dos livros: passado, presente e futuro. Ele conta que uma pesquisa constatou que 43% dos estudantes entrevistados con-sideravam o cheiro uma das maiores qualidades dos livros. E a única que aparentemente não poderia ser suplantada pelos livros eletrônicos. mas uma editora online, a Caféscribe, já apareceu com uma solução: oferecer um adesivo com aroma similar para ser colado em computadores.

Div

ulga

ção

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buraco negro

f.f.