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Perinho Santana Plataforma na poesia 1ª EDIÇÃO VITÓRIA DA CONQUISTA-BA GALINHA PULANDO 2015

Plataforma na poesia de Perinho Santana - perse.com.br · incrustada nos muros da estação de trem, nas paredes, na memória de quem por ali ... alma inconformada e incansável de

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Perinho Santana

Plataforma na poesia

1ª EDIÇÃO

VITÓRIA DA CONQUISTA-BA

GALINHA PULANDO 2015

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___________________________________________________ Valdeck Almeida de Jesus (Organizador)

PLATAFORMA NA POESIA. Perinho Santana. Vitória da Conquista, BA:

Editora Galinha Pulando, 2015.

89p.14x21 cm.

ISBN 978.85.66465-17-4

1. Poesia brasileira – Brasil. I. Título. II. Série.

CDD- B869.1

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Para não esquecer a poesia

O trabalho artístico do poeta Perinho Santana é

de se admirar. Tanto a obra quanto o seu criador evocam compromisso social,

preocupação com o meio ambiente, com as pessoas, a preservação da memória afetiva, as

relações que regem a comunidade, ou seja, tudo aquilo que a sociedade moderna rejeita:

carinho, cuidado, afetividade, respeito, solidariedade.

A poesia de Perinho nasce e cresce em

Plataforma, um bairro eminentemente negro, de origem e de cor, que ainda teima em se

destacar do resto da cidade. Ali, nos escombros da história, nas ruas onde os

holandeses marcharam na tentativa de dominar a cidade e se estabelecer em

Salvador, a poesia, os desenhos manuais e a magia do poeta se impregnam.

Onde não há papel, formulário, apoio

institucional, Perinho insiste; e sua marca fica incrustada nos muros da estação de trem, nas

paredes, na memória de quem por ali passa. Seus poemas de protesto revelam uma

alma inconformada e incansável de um guerreiro das letras. A marca do poeta fica

gravada nas muralhas que separam a Salvador

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pujante do século XXI e a Salvador da pobreza

e do descaso social.

Pelos menos um cavaleiro levanta sua espada contra a desigualdade e luta, solitário, para

derrubar o muro da insensatez, numa batalha contra o esquecimento, contra a falta de

incentivo dos projetos culturais governamentais, contra a falta de respeito à

cultura popular.

É assim que vejo a poesia e a pintura de Perinho Santana. E, por isso, patrocinei a

publicação desse primeiro livro dele, na tentativa de eternizar a memória de Perinho e

de Plataforma.

Valdeck Almeida de Jesus Escritor, Poeta, Jornalista e Mecenas

www.galinhapulando.com

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Perinho Santana – o poeta da vida e da

natureza

Péricles Bonfim de Santana, Perinho – apelido dado por seus pais e avós – agora

conhecido como Perinho Santana, é um homem simples, de pouca conversa, olhar

cabisbaixo, gestos comedidos. Mora sozinho em uma casa-livro, em Plataforma, bairro do

subúrbio ferroviário de Salvador. Ele é divorciado, pai de Mateus Santana, 20 anos,

que vive com a mãe, em Brotas. O interior da casinha de três cômodos onde ele vive tem

poesias em todas as paredes, na sala – que também serve de cozinha -, e nos dois quartos.

Em 1999, aos 40 anos de idade, começou a escrever, motivado pela curiosidade

que as letras lhe causaram quando, aos 8 anos, começou a alfabetização na igreja

evangélica que os pais freqüentavam. Sua inspiração foi a Bíblia, “a palavra de Deus”, e a

própria palavra “Deus” que, segundo acredita, é a única palavra positiva escrita com a letra

“d”. “As demais são negativas, mundanas”, diz. Ao associar letra com letra, foi se habituando a

sentir o som de cada palavra, criando uma poesia simples e objetiva.

Seus poemas falam de vida, de paz, de natureza, sentimentos e saudades. Sua obra

grava nos muros a recordação de amigos que se foram do bairro e dos que morreram.

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Eterniza a nostalgia, registra a história viva do

lugar onde vive desde criança. É uma relação umbilical que o poeta tem com a Mata Atlântica

e com o sentimento de pertencimento a Plataforma e à sua gente.

Esta mesma gente querida apaga as páginas do seu livro-muro, destrói os escritos

de Perinho. Muitas das ‘páginas’ já foram apagadas ou foram pichadas, outras foram

destruídas pelo tempo. Os muros que ele costuma usar como páginas para suas palavras

pertencem a uma empresa de transporte ferroviário. “O muro da viação férrea parece

que foi feito de páginas de livros, todas em branco. Algumas estavam sujas e depredadas.

Eu pinto o muro com tinta branca, escrevo meus poemas e faço desenhos para ilustrar,

dou vida e beleza ao que antes era só feiúra”. A mania de pintor é mais recente. “Eu

escrevia os poemas e pagava para alguém ‘pintar’ nos muros, sob minha supervisão”.

Depois ele resolveu realizar todo o trabalho, “para economizar e porque a pintura também

me atraiu”, confessa. Hoje, com 46 anos de idade, Perinho Santana diz já ter escrito mais

de 300 páginas do seu livro-muro. Ele já tentou publicar um livro convencional, mas não

conseguiu patrocínio para seu projeto. “Meus poemas são lidos por quem quiser, pois está

acessível, gratuitamente, pelo bairro inteiro”, se orgulha.

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Perinho se ressente de não ter registrado

todos os seus escritos em papel. “Agora não tenho como resgatar o que foi destruído nos

muros”, lamenta. Há dois anos ele passou a escrever num caderninho as mesmas poesias

que ‘pinta’ nas páginas-muros do bairro, “pois o restante se perdeu. Ficou gravado, apenas,

nos olhos de quem viu e leu”, desabafa.

Seu poema predileto não foge ao tema

central de sua escrita:

Natureza-mãe

É um grande espetáculo Trovões e estrondos para todos os lados

Relâmpagos deixando a noite em claro Chuvas grossas varrendo o chão

O céu negro dizendo que precisa chorar O mar bravo espumando a sua ira

É um grande espetáculo E nem por isso o homem sabe prezar a

vida.

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Plataforma em Verso e Prosa

Sábado, dia 05 de setembro de 2008... Sol

brilhando no céu, mar azul, gente bonita, o convite perfeito para uma cerveja, uma água

de coco, uma espreguiçar na areia…

Deixei tudo isso por uma tarde em Plataforma, bairro da região suburbana de Salvador,

distante cerca de 12 km do centro.

Percorrer as ruas do bairro, que surgiu no século XVI através do engenho instalado na

região, é como voltar ao passado, revisitar a Bahia Antiga, ter contato com a história. Afinal,

foi ali que aconteceu a invasão holandesa, em 1624. A igreja de São Brás, fundada em 1638,

é uma das mais antigas testemunhas dessa época. Está imponentemente instalada na

praça de mesmo nome, como guardiã do passado e ao mesmo tempo vislumbrando o

longo futuro.

A cidade do Salvador fervilha de veículos, gente de todo o mundo, abraçando o futuro

que traz consigo a poluição, a violência e outras mazelas. Enquanto isso, o bairro de

Plataforma guarda quase intacta a vida comunitária, em que as pessoas se conhecem

pelo nome, se falam na rua, na praça, na praia.

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Falar em praia, a enseada do Cabrito acolhe pesca e pescador. É ali que acontece o

desembarque do peixe, onde as embarcações de pequeno porte aguardam a maré subir para

partirem mar adentro em busca da subsistência. Boa parte da gente que habita o

entorno da enseada, vive da labuta no mar, sobrevive à margem da agitação que acontece

já a partir da península itapagipana, a poucos minutos de barco.

O “caminho pelo mar”, que liga Plataforma a

Ribeira, não é de hoje. Inaugurada, ou reinaugurada faz menos de dois anos, esta

ligação é antiga, foi desativada e agora volta com ares de "via náutica", trazendo e levando

moradores e estudantes, mas também turistas, que chegam de mansinho, vão ficando,

visitando e se espalhando pelo litoral.

Caminhar pelo bairro é inevitável e prazeroso. Inevitável porque o bairro tem o terreno

acidentado, muitas escadas, becos e vielas; prazeroso, pois aqui e ali a gente se depara

com uma gente simples, discreta, mas muito bonita, hospitaleira e educada. A vida em

comunidade faz as pessoas não perderem a noção de pertencimento, e as mantém mais

humanas e solidárias.

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Comer? Opções diversas se encontram. Desde abará e acarajé, peixes e mariscos, comida

rápida em uma lanchonete ou barraquinha na praça São Brás, até restaurante famoso como

o "Boca de Galinha".

Vale a pena passear, passar uma tarde em Plataforma! Ah, se Caymmi tivesse cantado,

também este bairro, em verso e prosa!!!

Autor: Valdeck Almeida de Jesus

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Amar

Ensinaram-me desde criança

O da vida o melhor Amar, amar, amar!

Acima de todas as coisas Porém nem assim

Nem todos Respeitam a vida!

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Amigos da Praça

Tomem conta de mim

Para eu sempre ficar assim Bonita, limpa, e conservada

Para eu sempre ser preservada Não abandone minhas plantas

As molhem todos os dias Pois dá vida ao meu espaço

E oxigenam vocês Sinto-me, sinto muito grata

A natureza agradece Amigos da praça!

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As rosas

Se as flores são perfumadas

E no seu caule existem espinhos Espinhos estes que lhes protegem

Contra aqueles que querem Ferir a sua rosa

E a rosa fica agradecida A conjuntura que lhe compôs

Como a raiz, o caule, a folha e a flor Que lhe deu toda matéria

E toda energia da terra Para seres uma rosa

Perfeita e bonita

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Beijos

Hoje acordei

Pensando naquele beijo Que você me deu

Entre muitos você me escolheu Ficou gravado na lembrança

Que o tempo não deixou Eu te esquecer

Minha linda namorada Marcou na minha história

Ficou guardado na minha memória Como foi tão bom

Viver com você!

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Bela como a natureza

Distante como as estrelas

Bela como a natureza Pura beleza

Nesta tatuagem colorida Neste rosto de menina

Neste coração de amor Como as estrelas que brilham

Como uma simples flor!

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Brasileiro

Na vida do brasileiro

Tem novela, tem futebol Tem praia quando tem sol

Não falta jogo de baralho Nem dama e dominó

A comida é feijoada Churrasco e mocotó

Brasileiro você é pura simpatia Em qualquer lugar deste mundo

Você é pura alegria Seu coração sempre está em festa

Nos seus rostos mora o sorriso Em qualquer lugar do planeta

É sempre bem recebido Brasileiro, brasileiro

Você é muito querido!

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Cantinho dos meus sonhos

Não sei aonde vou

Mas vou partir sem destino Malas prontas, lugar indefinido

A procura de qualquer paraíso Onde more a paz e o silêncio

Que eu possa namorar O mar e as estrelas

Que eu possa escrever poemas De amor e sobre a natureza

Um lugar calmo e bonito Que tenha rios e matas

Apenas os animais e as plantas Como companheiro

Que não precise ter dinheiro Preciso da terra para plantar

Do mar para pescar Das montanhas para meditar

Este é o cantinho que eu sonho Está dentro de mim

Este simples lugar!

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Carnaval de Paz

É no grito de guerra

É no grito sem dor Passando a paz

Passando amor Avenida reunida

Enfeitada e colorida O povo se agita

Esperando a nossa artista O trio aponta na pista

O povo pula, o povo brinca Sem violência, sem briga

É puro amor na avenida Lá vem Ivete cantando

A nossa musa A nossa eterna menina!

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Colégio Severo Pessoa

Meu pequeno colégio

Onde eu fiz o primário Aprendi o alfabeto

Foi onde eu escrevi Meus primeiros versos

Minha querida escola Até hoje na minha memória

Meu pequeno Severo Alunos de hoje

Honre este escudo Valorize este prédio