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Componente curricular: LÍNGUA PORTUGUESA 6º ano – 1º bimestre SEQUÊNCIA DIDÁTICA 3 – As interações verbais Unidade temática Eu conto e reconto Objetos de conhecimento Reconstrução das condições de produção, circulação e recepção Apreciação e réplica Estratégias de leitura Reconstrução da textualidade e compreensão dos efeitos de sentido provocados pelos usos de recursos linguísticos e multissemióticos Relação entre textos Construção da textualidade Habilidades (EF69LP44) Inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visões de mundo, em textos literários, reconhecendo nesses textos formas de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas e considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção. (EF67LP28) Ler, de forma autônoma, e compreender – selecionando procedimentos e estratégias de leitura adequados a diferentes objetivos e levando em conta características dos gêneros e suportes –, romances infanto-juvenis, contos populares, contos de terror, lendas brasileiras, indígenas e africanas, narrativas de aventuras, narrativas de enigma, mitos, crônicas, autobiografias, histórias em quadrinhos, mangás, poemas de forma livre e fixa (como sonetos e cordéis), vídeo-poemas, poemas visuais, dentre outros, expressando avaliação sobre o texto lido e estabelecendo preferências por gêneros, temas, autores. (EF69LP47) Analisar, em textos narrativos ficcionais, as diferentes formas de composição próprias de cada gênero, os recursos coesivos que constroem a passagem do tempo e articulam suas partes, a escolha lexical típica de cada gênero para a caracterização dos cenários e dos personagens e os efeitos de sentido decorrentes dos tempos verbais, dos tipos de discurso, dos verbos de enunciação e das variedades linguísticas (no discurso direto, se houver) empregados, identificando o enredo e o foco narrativo e percebendo como se estrutura a narrativa nos diferentes gêneros e os efeitos de sentido decorrentes do foco narrativo típico de cada gênero, da caracterização dos espaços físico e psicológico e dos tempos cronológico e psicológico, das diferentes vozes no texto (do narrador, de personagens em discurso direto e indireto), do uso de pontuação expressiva, palavras e expressões conotativas e processos figurativos e do uso de recursos linguístico-gramaticais próprios a cada gênero narrativo. (EF67LP27) Analisar, entre os textos literários e entre estes e outras manifestações artísticas (como cinema, teatro, música, artes visuais e midiáticas), referências explícitas ou implícitas a outros textos, quanto aos temas, personagens e recursos literários e semióticos. (EF67LP30) Criar narrativas ficcionais, tais como contos populares, contos de suspense, mistério, terror, humor, narrativas de enigma, crônicas, histórias em quadrinhos, dentre outros, que utilizem cenários e personagens realistas ou de fantasia, observando os elementos da estrutura narrativa próprios ao gênero pretendido, tais como enredo, personagens, tempo, espaço e narrador, utilizando tempos verbais adequados à narração de fatos passados, empregando conhecimentos sobre diferentes modos de se iniciar uma história e de inserir os discursos direto e indireto. Este material está em Licença Aberta — CC BY NC 3.0BR ou 4.0 International (permite a edição ou a criação de obras derivadas sobre a obra com fins não comerciais, contanto que atribuam crédito e que licenciem as criações sob os mesmos parâmetros da Licença Aberta). 1

pnld.moderna.com.br · Web viewO conflito acontece quando, ao contrário de receber algo com valor material, o filho caçula herda um gato. Com base nisso, o enredo é construído

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Componente curricular: LÍNGUA PORTUGUESA

6º ano – 1º bimestre

SEQUÊNCIA DIDÁTICA 3 – As interações verbais

Unidade temática

Eu conto e reconto

Objetos de conhecimento

Reconstrução das condições de produção, circulação e recepção

Apreciação e réplica

Estratégias de leitura

Reconstrução da textualidade e compreensão dos efeitos de sentido provocados pelos usos de recursos linguísticos e multissemióticos

Relação entre textos

Construção da textualidade

Habilidades

(EF69LP44) Inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visões de mundo, em textos literários, reconhecendo nesses textos formas de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas e considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção.

(EF67LP28) Ler, de forma autônoma, e compreender – selecionando procedimentos e estratégias de leitura adequados a diferentes objetivos e levando em conta características dos gêneros e suportes –, romances infanto-juvenis, contos populares, contos de terror, lendas brasileiras, indígenas e africanas, narrativas de aventuras, narrativas de enigma, mitos, crônicas, autobiografias, histórias em quadrinhos, mangás, poemas de forma livre e fixa (como sonetos e cordéis), vídeo-poemas, poemas visuais, dentre outros, expressando avaliação sobre o texto lido e estabelecendo preferências por gêneros, temas, autores.

(EF69LP47) Analisar, em textos narrativos ficcionais, as diferentes formas de composição próprias de cada gênero, os recursos coesivos que constroem a passagem do tempo e articulam suas partes, a escolha lexical típica de cada gênero para a caracterização dos cenários e dos personagens e os efeitos de sentido decorrentes dos tempos verbais, dos tipos de discurso, dos verbos de enunciação e das variedades linguísticas (no discurso direto, se houver) empregados, identificando o enredo e o foco narrativo e percebendo como se estrutura a narrativa nos diferentes gêneros e os efeitos de sentido decorrentes do foco narrativo típico de cada gênero, da caracterização dos espaços físico e psicológico e dos tempos cronológico e psicológico, das diferentes vozes no texto (do narrador, de personagens em discurso direto e indireto), do uso de pontuação expressiva, palavras e expressões conotativas e processos figurativos e do uso de recursos linguístico-gramaticais próprios a cada gênero narrativo.

(EF67LP27) Analisar, entre os textos literários e entre estes e outras manifestações artísticas (como cinema, teatro, música, artes visuais e midiáticas), referências explícitas ou implícitas a outros textos, quanto aos temas, personagens e recursos literários e semióticos.

(EF67LP30) Criar narrativas ficcionais, tais como contos populares, contos de suspense, mistério, terror, humor, narrativas de enigma, crônicas, histórias em quadrinhos, dentre outros, que utilizem cenários e personagens realistas ou de fantasia, observando os elementos da estrutura narrativa próprios ao gênero pretendido, tais como enredo, personagens, tempo, espaço e narrador, utilizando tempos verbais adequados à narração de fatos passados, empregando conhecimentos sobre diferentes modos de se iniciar uma história e de inserir os discursos direto e indireto.

Tempo estimado

7 aulas.

1ª Etapa: duas aulas. Sugere-se a primeira aula para a discussão dos contos de fadas e a segunda para a análise dos vídeos.

2ª Etapa: duas aulas. Sugere-se a primeira aula para a leitura e a análise do conto “O Gato de Botas” e a segunda para a discussão da forma composicional do gênero.

3ª Etapa: duas aulas. Sugere-se a primeira aula para exibição do filme e a segunda para discussão.

Avaliação: uma aula.

Desenvolvimento

Com esta sequência didática, pretendemos ampliar o trabalho com as interações verbais, iniciado na Unidade 2 do livro didático. Para isso, retomaremos as noções de interação verbal, interlocutores, situação de produção e de circulação, práticas sociais de leitura e escrita, gêneros do discurso e enunciado. Nesta Unidade do livro foram trabalhados contos populares brasileiros como “Pedro Malasartes e a sopa de pedras” e “O coelho medonho (O amigo Folhaço)”. Para a sequência didática, utilizaremos outro tipo de conto popular: o conto maravilhoso, de encantamento ou, ainda, como é mais conhecido: o conto de fadas.

1ª Etapa

Sondagem inicial: Explore com a turma alguns contos de fadas que eles conhecem e a maneira pela qual tiveram acesso a eles: livros, televisão ou internet. É possível que eles já tenham lido ou visto mais de uma versão da mesma história; portanto, explore com os alunos quais são essas adaptações e de quais eles gostam mais e por quê. Provavelmente, ao longo da escolarização e/ou da socialização em família, muitos tiveram contato com as versões escritas ou orais adaptadas para crianças, e as audiovisuais, por meio dos filmes da Disney, que constituem as mais famosas adaptações desses contos para o cinema. Em sequência, siga estas etapas.

Organização da turma: roda de conversa.

1. Questione a turma se eles conhecem os autores de alguns contos de fadas. Explique que, assim como os contos lidos na Unidade 2, os contos de fadas também são contos populares de tradição oral, recolhidos principalmente por Charles Perrault, os irmãos Grimm e Hans Christian Andersen. É muito importante enfatizar que os contos de fadas nem sempre foram escritos e que não são criações de Walt Disney, como muitos acreditam no senso comum.

2. Em seguida, pergunte quem eles acreditam que sejam os principais interlocutores que costumam ouvir ou ler os contos de fadas. Provavelmente, eles responderão que são as crianças. Então, mencione o fato de que, apesar de serem conhecidos na atualidade como histórias para crianças, elas nem sempre foram seu principal interlocutor. Na Idade Média, os contos de fadas eram histórias contadas oralmente para toda a família, com o objetivo de transmitir ensinamentos, crenças e costumes da época, como evitar andar sozinha em meio aos perigos da floresta (Chapeuzinho Vermelho). Em razão dos valores culturais vigentes naquele tempo, muitas dessas histórias continham episódios sangrentos e violentos, nada parecidas com as que conhecemos hoje.

Assim como acontece com as histórias orais, muitas versões podem ser contadas e recontadas. Desse modo, entre os séculos XVII, XVIII e XIX, Perrault, os irmãos Grimm e Andersen decidiram registrar os contos por escrito, introduzindo alguns elementos que amenizaram as histórias mais aterrorizantes, que não eram tão agradáveis para os costumes da Idade Moderna, influenciados especialmente por alguns ideais cristãos. Por exemplo, em Cinderela, na versão oral dos tempos medievais, a Gata Borralheira era interesseira e até mesmo matava sua madrasta para ficar com o príncipe. No entanto, na versão dos Grimm, Cinderela não mata a madrasta, que morre de forma trágica. A primeira vez em que o conto fica realmente encantador e repleto de detalhes mágicos é no século XX, quando Walt Disney o adapta para um filme, transformando-o em uma história adequada para o público que concebemos atualmente como infantil. Esta é a razão pela qual Disney é conhecido erroneamente como autor dessa e de muitas outras narrativas de encantamento, que ficaram conhecidas como “contos de fadas”.

3. Comente com os alunos que os contos de fadas, assim como todos os outros gêneros, são textos orais ou escritos que apresentam uma situação de produção e circulação coerentes com o contexto histórico e social em que foram criados. Por exemplo, na Idade Média, em sua maioria, as pessoas eram analfabetas, portanto, as histórias eram orais. Além disso, condiziam com os valores culturais da época. A partir do século XVII, essas histórias foram recontadas e registradas por meio da escrita, que se tornava mais acessível a certo número de pessoas. Também passaram a ser adaptadas aos valores culturais daquele momento. Atualmente, no século XXI, essas histórias também são adaptadas à linguagem multimidiática e multissemiótica por meio de livros ilustrados interativos, filmes, séries e jogos. Da mesma maneira, valores de nossos tempos são propagados nessas histórias, como no filme Enrolados (Disney, 2011), em que a princesa Rapunzel decide ser corajosa e enfrentar o mundo que deseja conhecer, isto é, ela possui a postura do que se espera de uma mulher contemporânea. Para ampliar essa questão, discuta com os alunos quais são os valores culturais e morais transmitidos nos contos de fadas e em que medida são compatíveis com a maneira como vivemos hoje em sociedade. Algumas discussões possíveis são:

A mulher deve ter como único sonho de vida casar-se com um homem, como acontece em muitos contos?

A mulher precisa ter a postura sempre passiva diante dos acontecimentos (como nos contos, esperar que o príncipe a acorde, a salve ou descubra quem é a dona do sapatinho de cristal)?

As madrastas e os padrastos são necessariamente figuras negativas, como as histórias mostram? Por quê?

4. Assim, debata com a turma que os interlocutores dos contos de fadas mudaram ao longo do tempo, o que pode acontecer em diversos outros gêneros. Por exemplo, durante muito tempo, os comerciais de produtos de limpeza eram destinados apenas às mulheres, por se considerar que o trabalho doméstico era essencialmente uma tarefa feminina. Nos dias atuais, após a conquista dos direitos da mulher e com os discursos feministas circulando com mais ênfase na sociedade, esses anúncios não se dirigem mais somente ao público feminino. Se for possível e você julgar pertinente, acesse na internet anúncios publicitários de produtos de limpeza para avaliar com os alunos para que interlocutores cada anúncio selecionado é dirigido e como isso pode ser identificado.

5. É possível mencionar o impacto que os suportes trazem para a produção e a circulação dos gêneros. Por exemplo, antes da expansão das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), as receitas eram apenas compartilhadas entre famílias, por meio de livros ou cadernos de receita. Para ter acesso a uma delas, era necessário copiar à mão a receita do livro de alguém ou simplesmente observar outra pessoa cozinhando e registrar as etapas dos procedimentos. Com a televisão, tornou-se possível que mais pessoas tivessem acesso à mesma receita. No entanto, ainda como em outra época, era possível somente assistir ao procedimento ou, ao mesmo tempo, registrar o modo de preparo mencionado. Com o advento da internet, diversos sites e páginas de redes sociais surgiram, modificando a maneira como as pessoas interagem com esses textos. Agora, não é mais necessário copiar à mão a receita, bastando imprimir ou acompanhar a receita pela tela do computador, tablet ou celular. Também é importante mencionar quanto esse gênero mudou na última década. Atualmente, as receitas circulam na forma de vídeos curtos (cerca de 1 minuto), em que o preparo é editado, de maneira que as pessoas possam acompanhar uma receita longa em pouco tempo. A maneira de filmar também difere muito do processo das receitas televisivas, pois não se focaliza a figura do cozinheiro, mostrando apenas as mãos daqueles que as fazem. Para mostrar essa diferença, e se julgar oportuno, busque com os alunos vídeos de receitas que circulam na internet e compare-os.

2ª Etapa

Organização da turma: leitura e discussão de texto em roda de conversa.

Encadeamento das etapas: Retome com os alunos o que foi discutido sobre os contos populares na primeira etapa e leia com a turma o conto “O Gato de Botas ou O Mestre Gato”. Sugerimos utilizar a versão de Charles Perrault ou dos irmãos Grimm, e não outras adaptadas para livros infantis. Para isso, recolha o material em uma biblioteca ou em arquivo disponível no site Domínio Público, conforme as sugestões bibliográficas nas Fontes de consulta. Após a leitura, pergunte se eles já conheciam essa versão e o que há de diferente em relação às demais. Compare também a esperteza do gato com a de Pedro Malasartes, estabelecendo algumas aproximações. Por exemplo, ambos enganam alguém para conseguir o que desejam. Em seguida, para situar o contexto de produção e de circulação do conto, siga as etapas:

1. Questione em que época o conto foi criado e peça que apontem elementos do texto, como personagens e cenário, que permitam confirmar a resposta. O objetivo dessa discussão é que os alunos percebam que a narrativa é um conto popular oral, de origem europeia, criado na Idade Média, pois apresenta elementos característicos dessa época: a presença de um moleiro, rei, princesa, marquês e castelo, em um contexto essencialmente rural.

2. Retome o que foi discutido na primeira etapa e pergunte aos alunos se o conto foi escrito por Charles Perrault ou pelos irmãos Grimm ou se é o caso de um conto popular, de tradição oral. É importante reiterar o fato de que a versão lida foi apenas registrada por Charles Perrault/irmãos Grimm, portanto, é possível que seja uma adaptação.

3. Em seguida, discuta com os alunos quais valores culturais estão presentes no conto lido e se a turma concorda com eles. Os valores culturais presentes no conto são questionáveis para a nossa época, uma vez que o Gato de Botas engana a todos para ajudar seu dono. Há, até mesmo, um momento em que o Mestre Gato ameaça os trabalhadores de maneira violenta, o que não condiz com o que esperamos de um personagem de contos de fadas hoje. É possível que os alunos se espantem com essa postura anti-heroica, que não representa plenamente a figura mais dócil e bem-humorada do Gato de Botas dos desenhos animados atuais, os quais serão discutidos na próxima etapa.

Organização da turma: trabalho individual.

4. Peça aos alunos que respondam, individualmente, em seus cadernos, às seguintes questões, com o objetivo de retomar as características do gênero conto, estudadas na Unidade 2:

Quais elementos do texto permitem afirmar que se trata de um conto popular?

Identifique a situação inicial, o conflito, o clímax e o desfecho do conto.

O narrador é um personagem ou apenas conta a história? Ele conhece o que sentem e pensam os personagens?

Como os diálogos estão marcados no conto? Identifique as duas maneiras possíveis de representar a fala em um texto escrito.

Na primeira questão, os alunos podem mencionar o fato de que, assim como a temática de outros contos populares, “O Gato de Botas” traz um ensinamento condizente com a visão de mundo de determinada cultura, no caso: a esperteza vale mais do que a riqueza material. Além disso, pode ser mencionado o fato de que há um animal com características humanas, outra ocorrência comum nesse tipo de conto.

Na segunda questão, a turma deve identificar que a situação inicial é configurada pelo recebimento da herança. O conflito acontece quando, ao contrário de receber algo com valor material, o filho caçula herda um gato. Com base nisso, o enredo é construído pelas peripécias do Gato ao enganar o rei, dizendo que seu amo é o rico marquês de Carabá (ou Sacobotas, em algumas versões), até chegar ao clímax na situação de o Gato engolir o ogro, o que finaliza seu plano para o moleiro se tornar rico. Assim, encaminha-se para o desfecho em que o rei, enganado, deseja que sua filha se case com o falso marquês.

Em seguida, na terceira questão, os alunos precisam identificar que se trata de um narrador onisciente, que conta a história sem participar dela, conhecendo os pensamentos e os sentimentos dos personagens.

Por fim, na quarta questão, pretende-se que a turma verifique que, nesse conto, os diálogos aparecem entre aspas e não com travessões, como aprenderam anteriormente, configurando, portanto, uma segunda maneira de a fala ser representada.

Organização da turma: roda de conversa.

5. Por fim, após a atividade individual, confira com os alunos as respostas e proponha a seguinte discussão: “‘O Gato de Botas’ é um conto de fadas igual aos demais que vocês conhecem?”. Conduza o debate para que a turma identifique diferenças e semelhanças entre esse conto e outros que conhecem. O objetivo é mostrar que os gêneros não são estáveis e podem apresentar variações no tema, no estilo e na forma composicional. Com relação ao tema, “O Gato de Botas” aborda ensinamentos de determinada cultura e traz à tona alguns assuntos comumente abordados em contos de fadas, como as relações hierárquicas da época medieval e o casamento arranjado pelas famílias, com base em interesses financeiros. No entanto, diferentemente de outros que abordam histórias de amor que superam esses valores (como o príncipe que se casa com uma plebeia, por exemplo), neste conto, um plebeu engana o rei para se casar com uma princesa, aproveitando-

-se desse costume social. Além disso, diferentemente de outros, a princesa não é a personagem principal. Assim, o conto se torna quase uma paródia de outros do mesmo gênero.

Em relação ao estilo, percebemos que o conto é narrado no passado, com expressões linguísticas que remetem à linguagem rebuscada dos contos de fadas. Contudo, não apresenta o famoso “Era uma vez” de diversos textos do gênero. Nesse aspecto, é importante mencionar que muitos contos populares brasileiros apresentam linguagem informal, o que não acontece nos contos de fadas.

Por fim, a forma composicional do conto segue a estrutura prevista (situação inicial, conflito, clímax e desfecho), mas apresenta uma diferença: a presença explícita da “moral”, o que aparece comumente em fábulas, remetendo a uma possível hibridização dos gêneros em “O Gato de Botas”.

3ª Etapa

Organização da turma: roda de conversa.

Encadeamento das etapas: Relembre com os alunos a história do conto O Gato de Botas.

Nesta etapa, os alunos devem comparar o conto popular com a versão do filme O Gato de Botas (DreamWorks, 2011). O objetivo é mostrar que todo enunciado tem relações dialógicas com outros enunciados e, por essa razão, faz referências a outros.

1. Assista com a turma ao filme O Gato de Botas (indicação bibliográfica nas Fontes de consulta). Contextualize para os alunos que o personagem surgiu pela primeira vez no filme Shrek. A princípio, o Gato foi contratado pelo rei Harold para matar o ogro Shrek, que desejava ficar junto de sua filha, a princesa Fiona. Depois de não conseguir realizar tal feito, ele passa a ajudar Shrek e se torna personagem recorrente na sequência de filmes. Apesar disso, o filme O Gato de Botas se passa cronologicamente antes das histórias de Shrek.

2. Discuta com os alunos quais são as semelhanças e as diferenças entre o personagem Gato de Botas no conto e o mesmo personagem no filme. Os alunos podem mencionar que, em ambos, o animal é falante e usa botas. Além disso, nas duas obras, o Gato é astuto e utiliza sua esperteza para resolver problemas. O lado “criminoso” do Gato de Botas apresentado no conto também é retomado no filme, quando descobrimos que o personagem esteve preso por roubar o banco de São Ricardo. Após constantes fugas, ele decide se redimir com a cidade, o que dá origem à narrativa. No entanto, diferentemente do conto, O Gato de Botas do filme apresenta sotaque hispânico e carrega uma espada, o que remete a outro personagem.

3. Questione a turma se eles conhecem qual é esse outro personagem a que o filme faz referência ao construir O Gato de Botas. Esse personagem é o Zorro, um homem da aristocracia californiana que decide defender os mais fracos do domínio mexicano na cidade. Para isso, ele se disfarça com sua máscara, uma capa negra e uma espada. Conhecido por sua astúcia, agilidade e esperteza, o personagem original foi criado em 1919, pelo escritor norte-americano Johnston McCulley. Depois disso, tornou-se figura popular em diversos filmes, HQs e jogos. Comente com os alunos o fato de a referência já ser explicitamente reconhecida, pois até mesmo o ator Antonio Banderas, intérprete de Zorro em dois filmes, dubla o personagem O Gato de Botas nos filmes.

4. Pergunte aos alunos por que eles acreditam que o personagem Zorro foi utilizado para a referência dialógica no filme O Gato de Botas. Para isso, eles devem identificar que ambos apresentam características em comum, como ser ágil, esperto e desejar ajudar os mais pobres, por meio de um anti-heroísmo, uma vez que, para reparar algumas injustiças, acabam muitas vezes cometendo outros crimes.

Organização da turma: trabalho em grupo.

5. Em grupos, com base no filme O Gato de Botas, peça aos alunos que discutam e identifiquem referências a outras histórias e personagens, além de Zorro. As narrativas referenciadas no filme são de outros quatro contos: “João e Maria”, “A galinha dos ovos de ouro”, “Mamãe Gansa” e “João e o pé de feijão”. Os personagens Jack e Jill fazem referência aos irmãos João e Maria, porém, em uma versão adulta e anti-

-heroica. Já o segundo e o terceiro contos podem ser identificados em uma hibridização feita mediante a personagem Gansa Dourada e a narrativa em torno dos ovos de ouro, até mesmo quando Humpty Dumpty descobre ser um desses ovos. Por fim, o quarto e último aparece nos pés de feijões mágicos, o gigante e o personagem João. Caso os alunos não tenham conhecimento prévio sobre os contos, recomendamos fazer a leitura ao longo da sequência didática, para que possam identificar melhor os elementos em uma relação intertextual.

Organização da turma: trabalho individual.

6. Retome com os alunos as histórias do conto e do filme O Gato de Botas. Os alunos devem produzir individualmente um conto de fadas, em que o Gato de Botas vive uma nova aventura. Para a construção do texto, devem-se considerar as características do gênero estudado (quanto ao tema, à forma composicional e ao estilo). Para elaborar sua própria história, os alunos podem considerar o conto lido e o filme, mostrando personagens já existentes e outras características do tempo e do espaço narrativo. Além disso, é possível também que os alunos façam referências a personagens e a elementos cênicos da série As Aventuras do Gato de Botas (Netflix, 2015), outra adaptação feita para o mesmo personagem do filme.

Organização da turma: roda de leitura.

7. Para finalizar, os alunos podem fazer a contação oral das histórias criadas na quarta etapa. Oriente-os a usar recursos expressivos de entonação de voz e expressão corporal, conforme aprenderam na Unidade 2 do livro didático.

Avaliação

Com o texto pronto, verifique se o aluno considera as características do personagem Gato de Botas (esperteza, astúcia, agilidade etc.), se apresenta uma aventura adequada ao universo temático dos contos de fadas e se há a forma composicional esperada para o gênero, composta de situação inicial, conflito, clímax e desfecho. Observe ainda se os diálogos dos personagens aparecem entre aspas e iniciados por travessão. Solicite os ajustes necessários, em atividade de reescrita.

Avalie ainda os alunos quanto aos seguintes itens:

1. Participou ativamente das discussões em sala de aula?

2. Inferiu os valores sociais, culturais e humanos presentes nos contos de fadas, considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção?

3. Leu, de forma autônoma, e compreendeu o conto de fadas escolhido, levando em conta as características do gênero conto já aprendidas?

4. Analisou o conto de fadas e identificou suas formas de composição possíveis, compreendendo que os gêneros são instáveis e flexíveis?

5. Analisou, na comparação entre o texto literário e os filmes, referências explícitas ou implícitas, em relação aos temas, personagens e recursos literários e semióticos?

Ofereça também uma ficha de autoavaliação:

Sim

Não

O que poderia ter

feito melhor

1. Participei ativamente das discussões em sala de aula?

2. Inferi os valores sociais, culturais e humanos presentes nos contos de fadas, levando em conta a autoria e o contexto social e histórico de sua produção?

3. Li e compreendi o conto de fadas escolhido, considerando as características do gênero conto já aprendidas?

4. Analisei o conto de fadas e identifiquei suas formas de composição possíveis, compreendendo que os gêneros são instáveis e flexíveis?

5. Analisei, na comparação entre o texto literário e os filmes, referências explícitas ou implícitas, em relação aos temas, personagens e recursos literários e semióticos?

Fontes de consulta

GRIMM, Irmãos. O gato de botas. In: ABREU, Rosa Ana et al. Alfabetização: livro do aluno. Brasília: FUNDESCOLA/SE-MEC, 2000, v. 2: contos, fábula, lendas e mitos. Disponível em: . Acesso em: 8 ago. 2018.

PERRAULT, Charles. O Gato de Botas. In: MACHADO, Ana Maria (Org.). Contos de Fadas de Perrault, Grimm, Andersen & outros. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2010 (e-book).

PUSS in Boots (O Gato de Botas). Direção de Chris Miller. Produção: DreamWorks Animation. Distribuição: Paramount Pictures, 2011 (90 min).

THE ADVENTURES of Puss in Boots (As Aventuras do Gato de Botas). Direção de Roy Bourdine, Ben Juwono, Douglas Lovelace e outros. Produção de Doug Langdale / DreamWorks Animation. Distribuição: Netflix, 2015 (22 min. por episódio.).

Este material está em Licença Aberta — CC BY NC 3.0BR ou 4.0 International (permite a edição ou a criação de obras derivadas sobre a obra com fins não comerciais, contanto que atribuam crédito e que licenciem as criações sob os mesmos parâmetros da Licença Aberta).

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