124
Política de Concorrência da Comunidade Europeia XXX Relatório sobre a Política de Concorrência 2000 Comissão Europeia Direcção-Geral da Concorrência

Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

Política de Concorrênciada Comunidade Europeia

XXX Relatóriosobre a Política de Concorrência

2000

Comissão EuropeiaDirecção-Geral da Concorrência

Page 2: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

Encontram-se disponíveis numerosas outras informações sobre a União Europeia na rede Internet, via servidor Europa (http://europa.eu.int)

Uma ficha bibliográfica figura no fim desta publicação

Luxemburgo: Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias, 2001

ISBN 92-894-0830-8

© Comunidades Europeias, 2001Reprodução autorizada mediante indicação da fonte

Printed in Belgium

IMPRESSO EM PAPEL BRANQUEADO SEM CLORO

Page 3: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

PREFÁCIO DE MARIO MONTI(membro da Comissão responsável pela política de concorrência)

Introdução

O ano 2000 foi, em muitos aspectos, um ano crucialpara a política de concorrência.

A forma como as empresas conduzem as suasactividades e concorrem entre si está a evoluirrapidamente e as autoridades de concorrência têmde dar resposta a estas alterações. Durante o ano2000, consagrámos grande parte da nossaactividade à adaptação da política de concorrênciaao novo contexto social e económico e à preparaçãopara os desafios do futuro.

Ao assumir as minhas funções, estava consciente deque a aplicação da legislação de concorrência nãoconstituía um exercício estático e comprometi-mea melhorar a nossa política em questões queconsiderava de importância fundamental: maiorparticipação dos consumidores nas questões deconcorrência; reforço da transparência da nossapolítica, nomeadamente no que se refere aosauxílios estatais; modernização das nossas regrastambém através de uma melhor integração dacomponente económica no contexto jurídico; e,por último, uma maior atenção à dimensãointernacional da concorrência.

Ao apresentar o Relatório Anual sobre a Políticade Concorrência deste ano gostaria de realçar osprogressos alcançados nestas áreas.

Política de concorrência e consumidores

Em diversas ocasiões expressei as minhaspreocupações quanto ao facto de os consumidoresnão estarem suficientemente conscientes dasrepercussões da política de concorrência sobre oseu bem-estar. Embora normalmente se aceite quea política de concorrência melhora a eficiênciaglobal da economia, é surpreendente que o seuefeito mais evidente, ou seja, o seu efeito sobre osconsumidores, seja frequentemente negligenciado.Os consumidores deveriam estar mais bem

informados, os seus interesses deveriam sertomados mais em consideração e deveriamparticipar mais directamente nas questões deconcorrência. Tal contribuiria, por seu lado, paracentrar mais claramente a política de concorrênciaem acções que, em última análise, beneficiam osinteresses dos consumidores.

Dia Europeu da Concorrência

Os nossos esforços para a concretização desteobjectivo levaram à realização de diversasiniciativas concretas. A mais importante foi adecisão de organizar, semestralmente, emcolaboração com o Parlamento Europeu, um DiaEuropeu da Concorrência no país que assegura aPresidência do Conselho. O seu objectivo consisteem informar o público dos benefícios que podemadvir da política de concorrência em termos deredução dos preços, diversidade da oferta, melhoriada qualidade dos produtos e dos serviços e emouvir as observações e preocupações dosconsumidores relativamente a mercados específicosde bens e serviços.

O primeiro Dia Europeu da Concorrênciarealizou-se em Lisboa, em 9 de Junho, e o segundoem Paris, em 17 de Outubro. As conferências foramabertas a todos os interessados, mas a presençados consumidores e das organizações deconsumidores foi particularmente incentivada. Odebate incidiu sobre questões e sectores de grandeinteresse para o consumidor, tal como aliberalização do sector das telecomunicações e aconcentração no sector da distribuição a retalho,embora frequentemente se tenha consagrado maioratenção à «protecção dos consumidores» do quepropriamente às questões de concorrência. Esperoque futuramente os dias europeus da concorrênciase tornem uma instância de intercâmbio de pontosde vista com as organizações de consumidoresrelativamente a aspectos importantes da política deconcorrência. Tal permitirá não só que os cidadãosadquiram uma melhor compreensão da política de 3

Page 4: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

concorrência, mas também contribuirá para queas autoridades de concorrência identifiquemeventuais práticas anticoncorrenciais e tirem partidoda experiência dos consumidores nos mercados.

Impacto das decisões individuais sobre os consumidores

Para além de iniciativas ad hoc, tentámosigualmente realçar, nos nossos comunicados deimprensa e publicações, as vantagens que asdecisões individuais conferem aos consumidores.No presente relatório anual optámos por seleccionarum pequeno número de decisões que poderãoconstituir exemplos úteis da forma como osconsumidores podem beneficiar da política deconcorrência.

No processo da Opel Nederland, as denúnciasapresentadas pelos consumidores fizeram com quea Comissão investigasse práticas que restringiamo comércio paralelo no sector dos veículosautomóveis. A decisão que se seguiu reafirma odireito dos consumidores de adquirirem um veículo,sem quaisquer restrições, no Estado-Membro emque os preços são mais baixos. Este processo éimportante porque demonstra que os consumidoresnão são apenas beneficiários passivos da políticade concorrência, mas podem também impulsionara acção da Comissão.

No processo Telefonica/Sogecable/AudiovisualSport, que envolveu o mercado relativamenterecente dos direitos de transmissão dos desafiosde futebol na televisão por assinatura, a Comissãointerveio para pôr termo a um acordo que pretendiafixar o preço da assinatura para ver na televisãoos desafios de futebol em Espanha. Na sequênciadesta intervenção, alguns operadores de caboreduziram significativamente os seus preços e,posteriormente, o operador espanhol de televisãodigital terrestre reduziu em 50% os preços paraver o futebol na televisão por assinatura. Osconsumidores beneficiarão igualmente de umaescolha muito mais ampla: os direitos detransmissão de futebol, anteriormente apenas àdisposição dos operadores de satélite digital,passarão a estar acessíveis a outros organismos deradiodifusão, o que proporcionará um leque maisamplo de transmissões de futebol nos três sistemasde radiodifusão digital (satélite, terrestre e cabo).

Mesmo nos casos de concentrações, em que asquestões podem parecer distantes das preocupaçõesdo consumidor final, a política de concorrência

pode afectar consideravelmente o seu bem-estar.No caso da concentração entre a TotalFina e a ElfAquitaine, a operação foi autorizada mediante acondição da alienação de instalações de transportee armazenagem, com o objectivo de preservar aconcorrência no mercado retalhista do combustívelde aquecimento para uso doméstico e do LPG,mantendo consequentemente uma pressão nosentido da descida dos preços. No mercado davenda de combustíveis nas auto-estradas, aexigência da alienação de 70 estações de serviçopermitirá a entrada no mercado de um grandeoperador retalhista (Carrefour), o que virá reforçara concorrência não só a nível dos preços, mastambém a nível do fornecimento de serviçosadicionais aos consumidores.

Reforço da transparência da política de concorrência

Uma melhor informação dos consumidores deveráfazer parte de um empenho mais ambicioso emgarantir aos cidadãos maior transparência. Nestecontexto, prossigo a prática de manter contactosregulares com o Parlamento Europeu por forma amanter os representantes democráticos dos cidadãoseuropeus constantemente a par das alterações maisrecentes da política de concorrência.

Registo dos auxílios estatais e painel de avaliação

A transparência não só dá resposta a umanecessidade geral de visibilidade da políticacomunitária, mas pode também melhorar a suaeficácia. Estou a pensar principalmente naspossibilidades de melhorar, através do reforço datransparência, a consciencialização quanto ànecessidade de aplicar regras de controlo estritasna União e de reforçar o processo de controlo pelospróprios homólogos. Tendo em conta estesobjectivos, a Comissão lançou já um registo públicono «Europa», o servidor da União, e irá elaboraruma painel de avaliação dos auxílios estatais quepoderá igualmente ser consultado através daInternet. O registo contém informações factuaissobre todas as decisões de auxílios estataisadoptadas pela Comissão a partir de Janeiro de2000 e está disponível em linha desde Março de2001. O painel de avaliação, que proporcionaráuma análise pormenorizada da situação dos auxíliosestatais na União Europeia, estará pronto em Julhode 2001.4

Page 5: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

PREFÁCIO DE MARIO MONTI

Estas iniciativas tornam o sistema mais transparentee vêm na sequência do pedido do Conselho Europeude Estocolmo para que os Estados-Membrosdemonstrem uma redução do rácio entre os auxíliosestatais e o PIB.

Comunicação sobre as soluções no âmbitodos processos de concentração

Gostaria também de referir outra iniciativadestinada a aumentar a transparência da nossapolítica, agora no domínio do controlo dasconcentrações. Em Dezembro, a Comissão adoptouuma comunicação sobre as soluções que as partesnuma operação de concentração podem proporpara eliminar os problemas de concorrênciasuscitados por uma determinada operação. AComissão é a primeira autoridade de concorrênciaa publicar este tipo de orientações ouaconselhamento sobre esta matéria. A comunicaçãodestina-se a apresentar de forma clara e objectivaos princípios administrativos e materiais em quea Comissão baseará a sua apreciação das soluçõese vem na sequência de amplas consultas realizadascom os Estados-Membros, com as empresas e como meio jurídico. Considero que se trata de umaevolução importante, particularmente se tivermosem conta que, apenas nos últimos dois anos, seregistaram cerca de 50 casos em que a Comissãoaceitou compromissos apresentados pelas partes naconcentração, antes de permitir que as operaçõesse realizassem.

Modernização das regras de concorrência

O actual processo de actualização das nossas regrase procedimentos é justificado pela necessidade dereforçar a aplicação da legislação de concorrênciacomunitária em toda a União Europeia. Estamosconvictos de que este objectivo final exige umasimplificação dos procedimentos, uma abordagemmais económica da análise dos processos e umamaior participação das autoridades nacionais deconcorrência e dos tribunais nacionais na aplicaçãoda legislação de concorrência da ComunidadeEuropeia.

No ano transacto tive já oportunidade de darinformações — inclusivamente no meu prefácio dorelatório anual — sobre este ambicioso programade reformas. Os trabalhos prosseguiram no ano2000 e resultaram em progressos tangíveis —espero — muito benéficos.

Reforma das regras de aplicação dos artigos 81.º e 82.º

Na sequência do amplo debate iniciado pelo livrobranco de 1999, a Comissão adoptou em 27 deSetembro de 2000 uma proposta de um novoregulamento destinado a substituir o Regulamenton.º 17, de 1962. Creio que esta poderá serconsiderada como a principal iniciativa legislativada Europa no domínio da concorrência desde aadopção do Regulamento das Concentrações em1989. Regozijo-me particularmente pelo facto deas principais orientações do projecto terem contadocom o apoio do Parlamento Europeu e do ComitéEconómico e Social e terem beneficiado dasopiniões de um amplo leque de interessados,incluindo peritos das autoridades de concorrênciados Estados-Membros e da EFTA, do sectoracadémico e profissional nesta área, bem como dopúblico em geral. Espero que a cooperação frutuosae o trabalho eficaz com o Parlamento Europeu e oConselho prossigam e permitam a aprovação dareforma em 2001.

Acordos verticais e horizontais

Os trabalhos sobre os acordos verticais que levaramà adopção, em 22 de Dezembro de 1999, de umanovo regulamento de isenção por categoria foramcomplementados em 2000 por um conjunto deorientações sobre as restrições verticais, aprovadoem 24 de Maio. As orientações auxiliarão asempresas a avaliarem a compatibilidade com asregras do Tratado de acordos não abrangidos peloregulamento. Posteriormente, em 29 de Novembrode 2000, a Comissão adoptou novos regulamentosrelativos a categorias de especialização e acordosde investigação e desenvolvimento. Foram tambémpublicadas orientações sobre a aplicação do artigo81.º do Tratado a um leque mais amplo de acordosde cooperação horizontal. Enquanto os novosregulamentos substituem dois regulamentos deisenção por categoria existentes, as orientaçõesvêm alargar de forma significativa o âmbito dascomunicações anteriores e abrangem um lequemais amplo dos tipos mais comuns de acordoshorizontais.

O conjunto de regulamentos e orientações sobre osacordos verticais e horizontais estabelece umquadro completo para a aplicação das regras deconcorrência à grande maioria de acordos entreempresas. Dá também resposta à intenção deaproximar mais a análise em matéria deconcorrência da fundamentação económica, de 5

Page 6: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

proporcionar aos operadores económicos umacompreensão mais clara das questões e conceitosem matéria de concorrência, e de libertar asempresas de obrigações administrativasextremamente pesadas.

É também importante realçar que este ano pudemosjá colher alguns dos benefícios desta novaabordagem. O número de notificações diminuiuem cerca de 40% relativamente ao ano anterior, oque vem indubitavelmente na sequência das novasregras sobre os acordos verticais e horizontais. Poroutro lado, foram iniciados ex officio cerca de 30%dos novos casos, comparativamente com apenas20% em 1999. Esta evolução coincide plenamentecom o objectivo político de abordar os acordos-tipoatravés da acção legislativa, utilizando os recursosdisponíveis para prosseguir uma política maisactiva e para concentrar a acção nas práticasanticoncorrenciais mais graves.

A dimensão internacional da política de concorrência

Os factores económicos e tecnológicos, juntamentecom a evolução política — tal como o alargamentoda União Europeia — fazem com que os mercadosmundiais se integrem cada vez mais. Este processotem de ser cuidadosamente acompanhado e gerido.

O alargamento da União Europeia tem implicaçõesprofundas a nível social e político e temos o deverde criar as condições para o seu êxito, semprejudicar o acervo comunitário. Simultaneamente,a globalização dos mercados, embora tenhapotencialidades para expandir e disseminar ariqueza económica, suscita a preocupação de poderbeneficiar os operadores mais poderosos emdetrimento, principalmente, dos consumidores edos países menos desenvolvidos. A política deconcorrência pode contribuir para evitar abusos ecriar o quadro necessário para o correctofuncionamento dos mecanismos do mercado anível internacional.

Alargamento

Na sequência do documento estratégico daComissão sobre o alargamento, de Novembro, aUnião Europeia deverá avaliar a situação nos paísescandidatos no segundo semestre de 2001, com oobjectivo de encerrar provisoriamente o capítulorelativo à concorrência nos casos em que ascondições estejam preenchidas.

A União Europeia tem afirmado repetidamenteque apenas se poderá considerar que os paísescandidatos estão prontos para a adesão se as suasempresas e autoridades públicas se acostumarema uma disciplina de concorrência semelhante à daComunidade muito antes da data de adesão. Tal énecessário para garantir que os operadoreseconómicos nos países candidatos podem suportaras pressões concorrenciais do mercado internoresultantes da aplicação plena e directa do acervoda concorrência após a adesão.

Esta questão leva-me a uma observação geral sobreo papel da política de concorrência. Estou convictode que a aplicação efectiva da política deconcorrência constitui um elemento essencial dofuncionamento da economia de mercado edesempenha claramente um papel central nomercado interno da União Europeia. Como jáverificámos, as empresas aprenderam a respeitaras regras e os consumidores estão cada vez maisconscientes dos seus benefícios. Para que seintegrem com êxito na União, os países candidatosnecessitam igualmente de uma cultura daconcorrência. À medida que a adesão se aproximaé, com efeito, oportuno e essencial encorajar odesenvolvimento desta cultura também nos paísescandidatos.

Durante este ano envidámos esforços especiais nosentido de auxiliar os países candidatos apreencherem estes requisitos. Para além daassistência técnica quotidiana aos serviços deconcorrência dos países candidatos, organizámostambém sessões de formação conjuntas e intensivassobre antitrust e auxílios estatais, bem comoconferências anuais entre a Comissão e os serviçosde concorrência dos países candidatos para osauxiliar a prepararem-se para o momento da adesão.

Ao analisar os resultados obtidos pelos paísescandidatos há duas questões que surgemclaramente.

Em primeiro lugar, a diferença entre os domíniosdos auxílios estatais e antitrust. Embora a maiorparte dos países candidatos possua já um regimeantitrust em funcionamento, não existe em muitosdeles uma disciplina adequada em matéria deauxílios estatais. Os países candidatos que aindanão criaram o quadro jurídico necessário ou asestruturas administrativas requeridas para o controlodos auxílios estatais deverão fazê-lo sem demora.

Em segundo lugar, existe uma grande diferençaentre o quadro jurídico e a sua aplicação na prática.6

Page 7: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

PREFÁCIO DE MARIO MONTI

A situação no domínio dos auxílios estatais éparticularmente preocupante. Diversos paísescandidatos utilizam nomeadamente regimes deauxílio fiscais incompatíveis para atrair oinvestimento estrangeiro ou para manter emfuncionamento empresas não viáveis. Esta situaçãonão só influencia negativamente as negociaçõesde adesão, mas coloca igualmente os investidoresnuma situação de incerteza jurídica e económica.Além disso, os regimes de auxílio utilizados paraapoiar empresas em dificuldade poderão prejudicaruma reestruturação económica correcta de sectoresfundamentais da economia dos países candidatos,o que fará com que não sejam os mesmosdevidamente preparados para o mercado comum.

Em conclusão, foram alcançados progressossignificativos na aproximação das legislações e nacriação de sistemas de mercado nos paísescandidatos. Contudo, para que a adesão seja umêxito para os países candidatos e por forma agarantir o funcionamento correcto do nossomercado interno após o alargamento, há aindamuito trabalho importante a realizar.

OMC e Fórum Global da Concorrência

A rápida globalização da economia mundial limitaem grande medida — tanto a nível jurídico comoprático — a nossa capacidade de aplicar as nossaspróprias regras fora do território. Mesmo quandoesta possibilidade existe, ela não é isenta dedificuldades: poderá dar origem a conflitos ouincoerências com as decisões de serviços outribunais estrangeiros, e mesmo a conflitos com alegislação de países estrangeiros. Desta forma, asempresas que desempenham as suas actividadesnum contexto global poderão subtrair-se à aplicaçãodas regras que são essenciais à gestão dos processoseconómico e social.

A principal resposta política de que as autoridadesde concorrência dispõem é a que as leva aestabelecer redes e instrumentos de gestão globalque garantam que a integração internacional dosmercados permite manter resultados competitivos,tornando assim o processo de globalização maiseficiente em termos económicos e mais aceitávelem termos sociais. Neste contexto, a política deconcorrência — e especificamente a cooperaçãointernacional em matéria de política de concorrência— tem um importante papel a desempenhar, sepretendemos evitar ressentimentos em relação à globalização e o ressurgir de tendênciasproteccionistas.

A Comissão reagiu a estes desafios estabelecendo,com êxito, formas de cooperação com agências deconcorrência estrangeiras, em especial com osEstados Unidos e mais recentemente com asautoridades do Canadá. Chegámos também a umacordo de princípio sobre os aspectos fundamentaisde um acordo com o Japão que esperamos possaser rubricado em 2001. Uma vez que não podemosesperar, de forma realista, criar a mesma relaçãode cooperação intensa com todos os nossosparceiros no mundo, estamos também convencidosda necessidade de criar um acordo-quadro a nívelda OMC que garanta o respeito de determinadosprincípios básicos da concorrência.

Todos estes aspectos são debatidos na secçãointernacional do relatório, mas existe uma iniciativaque gostaria aqui de realçar. Trata-se da ideia decriar uma espécie de fórum global, com uma amplabase, para a discussão geral de questões em matériade política da concorrência. Estou convencido de que uma instância deste tipo virá criar um centro de debates entre os responsáveis pelodesenvolvimento e gestão da política deconcorrência a nível mundial. Actualmente, maisde 80 países estabeleceram um determinado regimeno âmbito do direito da concorrência — muitosfizeram-no apenas há pouco — enquanto outrosestão a pensar fazê-lo no futuro. É sem dúvidanecessário criar uma instância onde se possa debatertodo o leque de questões de política de concorrência— substantivas, sistémicas e relativas à aplicaçãoda legislação. O objectivo final deverá consistirem alcançar o máximo de convergência e deconsenso entre os participantes através do diálogo,e trocar experiências sobre a política e a práticaem matéria de aplicação da legislação.

Em Fevereiro de 2001 participei, com diversosoutros altos funcionários e profissionais no domíniodo direito da concorrência, numa reunião informalpara um primeiro «brainstorming» sobre a formade lançar aquilo que se tornou conhecido por«Fórum Global da Concorrência».

Chegámos a acordo sobre o facto de o Fórum nãodever ser uma nova instituição internacional,devendo apenas envolver um mínimo de infra-estruturas permanentes e sendo o apoioprincipalmente fornecido pelos participantes.Deveria ser, antes do mais, uma instância dasautoridades de concorrência, mas deveria agregartodos os interessados, tanto públicos (porexemplo, outras organizações internacionais)como privados (por exemplo, organismos 7

Page 8: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

empresariais, profissionais, de consumidores eacadémicos), que poderiam ser associados deforma adequada ao Fórum, enquanto participantese «mediadores».

Gostaria de acrescentar que o Fórum não é proposto enquanto alternativa a umenquadramento legislativo multilateral em matériade concorrência a nível da OMC. Pelo contrário,as duas vias podem ser seguidas paralelamente eapoiar-se mutuamente, prosseguindo em últimainstância os mesmos objectivos de política deconcorrência.

O Fórum Global, e, na realidade, um acordo daOMC em matéria de concorrência, serão, naminha opinião, extremamente vantajosos para ospaíses em desenvolvimento. Os mercadosfechados e opacos e a ausência de umaconcorrência efectiva entre as empresasconstituem obstáculos ao crescimento económiconuma grande parte dos países emdesenvolvimento. A prossecução de uma fortepolítica de concorrência pelos países emdesenvolvimento deverá constituir um elementoimportante de qualquer reforma económicadestinada a promover o crescimento: promove aconcorrência industrial, premiando a eficiência ea inovação e promovendo assim o investimento.

Conclusão

Tenho vindo a salientar até agora algumas dasiniciativas adoptadas nas áreas que, creio,constituem as prioridades actuais para a política deconcorrência. Nenhuma destas iniciativas teriasido possível sem a dedicação e o profissionalismodos serviços da Direcção-Geral da Concorrência.Aproveito esta oportunidade para expressar o meuprofundo agradecimento pelo difícil trabalho querealizaram durante o último ano.

Em resumo, os processos de integração económicae de liberalização estão a libertar poderosas forçasde mercado. Estas forças podem ser perturbadoras,mas podem também ser canalizadas de formaconstrutiva para a realização de um maior bem-estarsocial. A política de concorrência está a contribuirde forma activa para a gestão destes processos mas,para que seja efectiva, deverá ser desenvolvida atodos os níveis uma «cultura da concorrência». Porisso, é importante conseguir uma maior participaçãodos consumidores, um reforço da transparência euma maior cooperação internacional. Estou confiantede que os trabalhos realizados nestas áreas,juntamente com a modernização do nosso quadrolegislativo, permitirão que a Comissão dê umamelhor resposta às necessidades sempre em evoluçãodo contexto social e económico.

8

Page 9: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

XXX Relatório sobre a Política de Concorrência2000

(publicado conjuntamente com o Relatório Geralsobre a Actividade da União Europeia — 2000)

SEC(2001) 694 final

Page 10: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços
Page 11: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

Estatísticas relativas à actividade da Comissão na aplicação do direito comunitário daconcorrência em 2000 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

Caixa 1: Dia Europeu da Concorrência em Lisboa e Paris . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

I — Acordos, decisões e práticas concertadas e abusos de posição dominante: artigos 81.º e 82.º; monopólios estatais e direitos monopolistas: artigos 31.º e 86.º . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

A — Modernização do quadro legislativo e das regras de interpretação . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

1. Novas regras da Comissão em matéria de concorrência no domínio das restrições verticais 17

2. Novas regras da Comissão em matéria de concorrência no domínio dos acordos de cooperação horizontal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

3. Proposta de novo regulamento de aplicação dos artigos 81.º e 82.º do Tratado CE . . . 21

B — Aplicação dos artigos 81.º, 82.º e 86.º . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

1. Artigo 81.º . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

2. Artigos 82.º e 86.º . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

Caixa 2: O impacto da política de concorrência nos consumidores . . . . . . . . . . . . . . 31

C — Análise sectorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

1. Indústrias básicas, bens de consumo e de equipamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

2. Indústrias de rede . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

Caixa 3: Serviços de interesse geral na Europa e concorrência . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

3. Serviços . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

Caixa 4: Transacções interempresas (B2B) através da Internet e mercados electrónicos B2B 52

D — Estatísticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

II — Controlo das operações de concentração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

A — Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

Caixa 5: O procedimento simplificado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

B — Aplicação do critério da posição dominante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

1. Posição dominante única . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

Caixa 6: MCI WorldCom/Sprint . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

2. Posição dominante colectiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

3. Concorrência potencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

C — Soluções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

D — Cooperação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

1. Cooperação com os Estados-Membros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

2. A dimensão internacional do controlo das operações de concentração . . . . . . . . . . . . . 72

E — Outros procedimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

1. Coimas; artigos 14.º e 15.º do Regulamento das Concentrações . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

2. Prevenção dos obstáculos a concentrações transfronteiras; artigo 21.º do Regulamento das Concentrações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

F — Estatísticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

III — Auxílios estatais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

A — Política geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

1. Modernizar o controlo dos auxílios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

2. Melhorar a transparência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

3. Auxílios à protecção do ambiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

B — Noção de auxílio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

1. Origem dos recursos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

2. Vantagens para uma empresa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

3. Especificidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 11

ÍNDICE

Page 12: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

4. Efeito sobre o comércio entre Estados-Membros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

C — Apreciação da compatibilidade dos auxílios com o mercado comum . . . . . . . . . . . . . . . . 82

1. Auxílios horizontais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

2. Auxílios com finalidade regional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86

3. Auxílios sectoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

D — Aspectos processuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96

1. Direitos dos terceiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96

2. Recuperação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96

Caixa 7: Auxílio ao grupo Magefesa — Recuperação de um auxílio . . . . . . . . . . . . . . 97

3. Protecção de expectativas legítimas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98

4. Não-execução de uma decisão anterior da Comissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98

5. Obrigação da Comissão de dar início ao processo de exame . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

6. Obrigação de notificação prévia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

7. Outras disposições do Tratado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

E — Estatísticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100

IV — Actividades internacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103

A — Alargamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103

1. Negociações de adesão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103

2. Progressos na aproximação das legislações de concorrência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103

3. Regras de aplicação no âmbito de acordos europeus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104

4. Prorrogação do estatuto previsto no n.º 3, alínea a), do artigo 87.º no âmbito dos acordos europeus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105

5. Assistência técnica aos países candidatos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105

6. Turquia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106

B — Cooperação bilateral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106

1. Estados Unidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106

2. Canadá . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107

3. Japão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108

4. Outros países da OCDE e EEE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109

5. Países mediterrânicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109

6. América do Sul . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109

7. Rússia, Ucrânia, Moldávia e outros novos Estados independentes (NEI) . . . . . . . . . . . 109

C — Cooperação multilateral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110

1. OMC: política comercial e de concorrência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110

2. OCDE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110

3. Cnuced . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110

4. Fórum Internacional no domínio da Concorrência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

V — Perspectivas para 2001 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113

1. Actividade legislativa e regulamentar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113

2. Actividades de controlo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113

3. Operações de concentração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115

4. Auxílios estatais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115

5. Actividades internacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116

Anexo — Processos analisados no relatório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117

12

Page 13: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

INTRODUÇÃO

1. A política de concorrência representa um dospilares da acção da Comissão Europeia no domínioeconómico. Esta acção inspira-se no princípio,consignado no Tratado, de «uma economia demercado aberta e de livre concorrência». Reconheceo papel fundamental desempenhado pelos mercadose pela concorrência para assegurar o bem-estar dosconsumidores, fomentar a melhor afectação possíveldos recursos e conferir aos operadores económicosos incentivos adequados para alcançar a eficiênciaprodutiva, a qualidade e a inovação. No entanto, oprincípio de uma economia de mercado aberta nãopressupõe um comportamento baseado numa féincondicional ou mesmo na indiferença face aofuncionamento dos mecanismos de mercado; exige,pelo contrário, uma supervisão constante parapreservar os referidos mecanismos. É o que acontece,nomeadamente, no contexto actual de mercados emrápida evolução e caracterizados por uma crescenteintegração a nível mundial. Além disso, a revisãode 2000 da «Estratégia para o mercado interno»,adoptada em 3 de Maio, deu um novo impulso àcriação de um quadro regulamentar e institucionalque fomenta a inovação, o investimento e a eficiênciaeconómica (1). A promoção da concorrência atravésdo melhoramento do ambiente económico éigualmente um dos objectivos estabelecidos na«Estratégia».

2. A evolução tecnológica e as iniciativas políticastêm vindo a transformar o ambiente económico. Aseconomias baseiam-se cada vez mais noconhecimento, como evidencia o crescimento dosector dos serviços. Os sistemas de informaçãoobrigaram as empresas a reexaminar e adaptar assuas relações comerciais com os clientes e osfornecedores, tendo-lhes permitido adoptar práticascomerciais mais eficientes e uma gestão maisrigorosa. Assiste-se gradualmente ao aparecimentodo comércio electrónico interempresas (business--to-business — B2B), que está a transformarradicalmente a gestão das cadeias de abastecimento.As transformações institucionais contribuíram parapromover a evolução tecnológica. O programa domercado único culminou na adopção de uma moedaúnica, numa maior integração dos mercados e naintensificação da concorrência entre empresas. Oprocesso de liberalização das indústrias de redepermitiu a abertura de muitos sectores fundamentaisaté então encerrados à concorrência. Esta evoluçãoafecta todos os aspectos relacionados com a políticade concorrência.

3. O ano 2000 pautou-se por uma actividadeintensa com vista a adaptar as regras e as práticasda política de concorrência ao novo contexto. Talconduziu à adopção de um novo regulamento deisenção por categoria no domínio dos acordoshorizontais, completado por um conjunto deorientações, tendo sido simultaneamente realizadosnovos progressos a nível da modernização dasregras de aplicação dos artigos 81.º e 82.º Forampublicadas novas orientações sobre as restriçõesverticais, com vista a complementar o regulamentode isenção por categoria adoptado em Dezembrode 1999. Em especial, no domínio da distribuiçãode veículos automóveis, foi elaborado um relatórioque analisa o regulamento em vigor (2) e que serviráde ponto de partida para uma reformulação doregime de distribuição de veículos automóveisnum futuro próximo. No domínio dasconcentrações, a Comissão adoptou umprocedimento simplificado para determinadascategorias de processos que não suscitampreocupações do ponto de vista da concorrência,bem como uma comunicação sobre as soluçõespassíveis de serem aceites neste âmbito. AComissão introduziu igualmente três regulamentossobre a aplicação da regra de minimis aos auxíliosestatais, sobre os auxílios a favor das pequenas emédias empresas e sobre os auxílios à formação.Por último, registaram-se progressos consideráveisna preparação de um acordo de cooperação com oJapão no domínio da concorrência. Prevê-se queo acordo será concluído no decurso de 2001.

4. A aplicação das regras de concorrência reflectiua realidade dos novos mercados e das novas práticasempresariais. A criação de mercados electrónicose a aplicação, por determinados sectores, de acordosvoluntários com objectivos ambientais representamdois exemplos de novas práticas que conduzirama decisões da Comissão. Em 2000, grande parte daactividade da Comissão no domínio da aplicaçãodas regras de concorrência centrou-se nos mercadosrecentemente liberalizados, em que não está aindaplenamente consolidado um quadro concorrencial.

5. A concorrência tem como seu corolário aconstante reafectação de recursos das empresasou sectores em declínio para empresas ou sectoresnovos ou em rápido crescimento. No contexto da«nova economia», caracterizada pela sua naturezaem grande medida incorpórea e pelo facto deassentar no conhecimento e na tecnologia, esteprocesso tem vindo a caracterizar-se por uma

13(1) COM(2000) 257 final, de 3 de Maio de 2000. (2) Regulamento (CEE) n.o 1475/95 da Comissão, de 28 de Junho de 1995.

Page 14: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

celeridade cada vez maior. Assume umaimportância fulcral não comprometer estareafectação e permitir que a transformação e areestruturação se desenrolem de forma harmoniosa,através de fusões, empresas comuns e aquisiçõesde empresas. Este processo, contudo, não estáisento de riscos. As concentrações podem conduzira uma estrutura de mercado caracterizada por umgrau de concentração excessivo, com menospossibilidades de escolha para os consumidores emaior margem para a adopção de práticasconcertadas entre o reduzido número de produtoresremanescentes.

6. Num contexto em que os mercados tendem aalargar-se e em que a massa crítica necessária paraser um operador activo tende a aumentar, o númeroe a complexidade das concentrações e das aliançasa analisar pela Comissão tem vindo a crescer deforma constante nos últimos anos. Em 2000, aComissão adoptou 345 decisões, o que representaum aumento de 18% em relação a 1999. Váriosdestes casos suscitaram questões importantes, oque conduziu ao desenvolvimento dos instrumentosanalíticos à disposição da Comissão,nomeadamente em termos de aplicação prática dateoria económica.

7. Num contexto cada vez mais concorrencial eintegrado, torna-se particularmente importante queos auxílios estatais não introduzam distorçõesinjustificadas no funcionamento dos mercados.Para além das iniciativas já referidas no sentidode actualizar e racionalizar o quadro legislativo, aComissão está convicta da necessidade de reforçara transparência neste domínio, devendo serintroduzido, para o efeito, um registo público eum painel de avaliação em matéria de auxíliosestatais. Paralelamente às novas iniciativas, aComissão centrou-se na aplicação correcta dassuas decisões, nomeadamente no que diz respeitoà recuperação de auxílio ilegais.

8. Ainda duas observações sobre a dimensãointernacional da política de concorrência. Emprimeiro lugar, o facto de o âmbito geográfico dosprocessos de concorrência ser cada vez maiorsignifica que um número crescente de operaçõescomerciais passou a estar abrangido pela jurisdiçãode um número cada vez maior de países queadoptaram regras de concorrência. Para analisardevidamente estes casos e evitar conflitos, aComissão tem frequentemente de colaborar deforma estreita e proceder ao intercâmbio deinformações com outras autoridades de

concorrência. Em segundo lugar, a Comissão temde dar grande atenção aos aspectos da concorrênciarelacionados com o alargamento, que não devecriar desequilíbrios importantes em matéria deauxílios estatais ou de competitividade. Por estarazão, é importante colaborar com os paísescandidatos e garantir que serão aplicadas as mesmasregras e com a mesma eficiência numa Uniãoalargada.

Estatísticas relativas à actividade da Comissão na aplicação do direitocomunitário da concorrência em 2000

9. Em 2000, o número total de processos novoscifrou-se em 1 206, englobando 297 no domínioantitrust (ao abrigo dos artigo 81.º, 82.º e 86.º),345 no das concentrações e 564 processos deauxílios estatais. Os dados comparáveis relativosa 1999 foram de 1 249 processos novos no total,incluindo 388 no domínio antitrust, 292 processosde concentrações e 569 de auxílios estatais. Aligeira diminuição do número global de processosdeveu-se, por conseguinte, à redução verificadano domínio antitrust, enquanto o número deprocessos de auxílios estatais permanece estávele o dos processos de concentrações continua aaumentar, tendo duplicado no decurso dos últimostrês anos.

10. A redução assinalável do número de novosprocessos no domínio antitrust pode ser atribuídaà recente evolução das políticas. A nova isençãopor categoria em matéria de restrições verticaisreduziu de forma acentuada a necessidade denotificar esse tipo de acordos. De igual forma, asnovas orientações sobre os acordos verticais e aspropostas que são objecto de debate público sobreas novas regras aplicáveis aos acordos horizontaisclarificaram o quadro de análise ao abrigo dasregras de concorrência, tendo possivelmenteatenuado a necessidade de submeter os processosà apreciação da Comissão.

11. Um segundo factor na redução do número deprocessos novos prende-se com o decréscimo nonúmero de denúncias. É de observar que estenúmero registou importantes flutuações ao longodos anos (112 em 2000, 149 em 1999, 192 em1998, 177 em 1997, 159 em 1996, 114 em 1995,170 em 1994 e 110 em 1993), pelo que é difícilextrair quaisquer conclusões a este respeito.

12. É de referir que quase 30% dos novos processos foram iniciados ex officio. Os processos14

Page 15: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

INTRODUÇÃO

ex officio também aumentaram, em termosabsolutos, em relação ao ano transacto (de 77 para84). Juntamente com a redução do número denotificações, esta evolução está de acordo com oobjectivo político pretendido de tratar os acordosnormalizados através de medidas legislativas,utilizando simultaneamente os recursos disponíveispara prosseguir uma política mais activa, centradanas práticas anticoncorrenciais que denotammaiores riscos.

13. O número total de processos encerradosascendeu a 1 209, englobando 379 no domínioantitrust, 355 no das concentrações e 446 processosde auxílios estatais (1). Os dados comparáveisrelativamente a 1999 foram de 1 321 processosencerrados, abrangendo 582 no domínio antitrust,279 concentrações e 460 processos de auxíliosestatais (2). A intensa actividade legislativa, bemcomo alguns cartéis que exigiram a afectação de

importantes recursos, fizeram desacelerar aactividade no domínio antitrust; não obstante, onúmero de processos encerrados (379) foiconsideravelmente mais elevado do que o númerode processos novos (297), contribuindo assim parauma nova redução dos atrasos neste domínio.

14. Conforme tinha já sucedido em 1999, aglobalização dos mercados, a introdução do euro,a conclusão do mercado interno e o futuroalargamento continuam a estar na origem de umaactividade intensa no domínio das concentraçõesna Europa. Em 2000, globalmente foramnotificados 345 casos novos (+18%), tendo sidotomadas, no total, 345 decisões formais, o querepresenta um incremento de 28% em relação a1999.

15. No domínio dos auxílios estatais, o númerode notificações manteve-se absolutamente estávelface a 1999 (469 em 1999 e 2000), tal como onúmero de procedimentos iniciados (67 contra 68em 1999) e de decisões finais negativas (26 contra33 em 1999). Ao invés, assistiu-se a um aumentosignificativo do número de processos pendentes(564 contra 428 em 1999), o que se pode explicarem parte pelos inúmeros procedimentos iniciadosdesde 1997 e que exigem recursos significativos.

15

Caixa 1: Dia Europeu da Concorrência em Lisboa e Paris

O comissário Monti tinha anunciado ao Parlamento Europeu, no início do seu mandato, uma série deiniciativas para melhorar a informação aos cidadãos sobre a política de concorrência, bem como para tornara acção da Comissão mais transparente e acessível aos consumidores, aforradores, utentes dos serviçospúblicos e trabalhadores da Comunidade. Os cidadãos deviam ser melhor informados das vantagens que podemadvir da política de concorrência em termos de diversidade da oferta, melhoria da qualidade dos produtose descidas de preços. Neste contexto, foi adoptada a ideia de um Dia Europeu da Concorrência, a organizarde seis em seis meses no país que detivesse a presidência do Conselho.

Dia Europeu da Concorrência em Lisboa ( 9 de Junho de 2000)

O primeiro Dia Europeu da Concorrência realizou-se em Lisboa, em Junho de 2000. Esta primeiramanifestação foi considerada um êxito pelos organizadores.

O Dia Europeu em Portugal inseria-se num programa mais alargado sobre a política de concorrência queabrangeu dois dias, tendo o primeiro sido consagrado aos aspectos nacionais.

A primeira mesa-redonda baseou-se no discurso de abertura do comissário Monti, centrado nas repercussõespositivas da política de concorrência para os cidadãos da União na sua vida quotidiana. Uma intervençãoda deputada Randzio-Plath, presidente da Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários do ParlamentoEuropeu, acolheu de forma muito favorável a temática abordada pelo comissário. Recordou, em particular,a importância do papel desempenhado pelos fornecedores de serviços de interesse geral no quadro de umaeconomia de mercado e da aplicação das regras da concorrência.

(1) Os dados relativos aos auxílios estatais baseiam-se no número dedecisões tomadas pela Comissão. Dado que algumas decisõesabrangem mais de um caso, os dados subestimam ligeiramente onúmero de processos de auxílios estatais encerrados mediante decisãoda Comissão.

(2) Os dados relativos aos auxílios estatais foram revistos depois dapublicação do XXIX Relatório sobre a Política de Concorrência de1999.

Page 16: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

16

Foram igualmente abordados temas mais específicos no decurso deste Dia Europeu, designadamente adistribuição automóvel na Europa, por um lado, e a aplicação das regras de concorrência às profissõesliberais, por outro.

O número de participantes elevou-se a cerca de 250 pessoas, oriundas de grupos que se interessam habitualmentepela política de concorrência: advogados, juristas, representantes de empresas, autoridades de concorrência,membros das embaixadas, etc. Estiveram igualmente presentes representantes das associações de consumidores,embora em menor escala.

Este primeiro evento representou uma oportunidade para colocar à disposição do público um certo númerode instrumentos de informação: vídeo sobre a política de concorrência, cartazes e painéis explicativos euma nova brochura de informação destinada ao grande público, intitulada «A política de concorrência e oscidadãos na Europa».

Dia Europeu da Concorrência em Paris (17 de Outubro de 2000)

O segundo Dia da Concorrência desenrolou-se em Paris, durante a manhã de 17 de Outubro de 2000.

O comissário Monti pronunciou o discurso de abertura, lançando um apelo aos consumidores e às suasassociações no sentido de serem intervenientes responsáveis nos mercados. Citando Pierre Mendès France,afirmou que «consumir é escolher livremente e de forma responsável».

A primeira mesa-redonda consagrada à liberalização do sector da telefonia permitiu apreciar os efeitospositivos da abertura deste sector à concorrência, sem prejuízo do impacto controverso do aumento daassinatura telefónica. Prevaleceu um vasto consenso no sentido de que a concorrência e a solidariedade nãoeram incompatíveis. Foi também realçado que a concorrência regulamentada representa a melhor dasgarantias para os cidadãos da União. Por último, foram manifestadas algumas preocupações entre osconsumidores sobre a convergência das empresas de telecomunicações/meios de comunicação/Internet.

A segunda mesa-redonda foi dedicada aos produtos de grande distribuição. Um dos pontos fortes dasdiscussões prendeu-se com os efeitos negativos para os consumidores individuais do aumento do poder deaquisições no sector da grande distribuição: diminuição da oferta, normalização dos produtos, etc.

O anfiteatro do centro de conferências contou com a presença de mais de 300 pessoas. Mais de metade dopúblico era composto por representantes de associações de consumidores. As autoridades belgas, suecas,britânicas e alemãs assistiram aos debates, tal como um representante do (Bureau Européen des Unions desConsommateurs (BEUC).

Os representantes das associações de consumidores participaram activamente nos debates. Intervieram paraexpor as suas opiniões e levantaram inúmeras questões. A importância e o vigor destas intervenções conferiramum tom marcadamente «consumista» aos debates com o público presente, nem sempre tendo as perguntasincidido sobre aspectos da «concorrência», mas sim sobre o tema da «defesa dos consumidores».

Page 17: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADAS E ABUSOSDE POSIÇÃO DOMINANTE: ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOSESTATAIS E DIREITOS MONOPOLISTAS: ARTIGOS 31.º E 86.º

A — Modernização do quadrolegislativo e das regras de interpretação

16. Em 27 de Setembro de 2000, a Comissãoadoptou uma proposta de regulamento destinadaa modernizar as regras processuais de aplicaçãodos artigos 81.º e 82.º do Tratado, em que eramdelineadas as regras comunitárias da concorrênciaaplicáveis às práticas restritivas entre empresase aos abusos de posição dominante. Trata-se dainiciativa legislativa mais importante na Europano domínio da concorrência desde a adopção doRegulamento das Concentrações em 1989,devendo contribuir em grande medida para oreforço de uma cultura de concorrência comuma nível da UE.

17. A clarificação e o reexame das regrassubstantivas representa um vector essencial doprocesso geral de reforma. Este reexame tem porobjectivo simplificar as regras e reduzir a cargaregulamentar que recai sobre as empresas,nomeadamente as empresas sem poder demercado, assegurando simultaneamente umcontrolo mais eficaz dos acordos implementadospelas empresas que dispõem de um poder demercado significativo. A Comissão concluiurecentemente os trabalhos no domínio dos acordosverticais, com a adopção de um novo regulamentode isenção por categoria e de orientações emmatéria de distribuição. Estas orientaçõesabrangem todos os sectores, à excepção dadistribuição de veículos automóveis.

18. Na área dos acordos horizontais, a Comissãoprocedeu à reformulação dos regulamentos deisenção por categoria aplicáveis aos acordos deinvestigação e desenvolvimento, bem como aosacordos de especialização. Estes regulamentos sãocomplementados por orientações sobre a aplicaçãodo artigo 81.º aos acordos de cooperação horizontal.As orientações nesta área reconhecem que asempresas precisam de reagir às crescentes pressõesconcorrenciais e a um mercado em mutação,induzidos pela globalização, pela celeridade dosprogressos tecnológicos e pela natureza geralmentemais dinâmica dos mercados. A cooperação podeconstituir frequentemente uma forma de repartir osriscos, realizar economias, reunir conhecimentose lançar a inovação de forma mais rápida.

1. Novas regras da Comissão em matéria de concorrência no domíniodas restrições verticais

19. Em 22 de Dezembro de 1999, a Comissãoadoptou o Regulamento (CE) n.o 2790/1999,relativo à aplicação do n.o 3 do artigo 81.º doTratado CE a determinadas categorias de acordosverticais e práticas concertadas (1). Em síntese, onovo regulamento de isenção por categoriacaracteriza-se por um vasto âmbito de aplicação eprevê a isenção por categoria, até um limiar de30% em termos de quota de mercado e sob reservade um número limitado de restrições graves e decondições, de todos os acordos verticais e práticasconcertadas entre duas ou mais empresas (2). Acimadeste limiar de 30%, presume-se que os acordos nãosão ilegais, mas podem exigir uma análiseindividual. No intuito de ajudar as empresas aprocederem a essa análise, a Comissão aprovouem 24 de Maio de 2000 um conjunto de orientaçõesrelativas às restrições verticais (3).

20. Estas orientações explicam o seguinte:

— quais os acordos verticais que não induzemgeralmente uma distorção da concorrência,não sendo assim abrangidos pelo n.o 1 do artigo81.º Trata-se, nomeadamente, dos acordosentre PME, de autênticos acordos de agênciae dos acordos em que nem o fornecedor, nemo adquirente têm um grau significativo depoder de mercado;

— quais os acordos verticais que beneficiam dazona de segurança criada pelo regulamentode isenção por categoria, o que é asseguradoatravés da descrição das respectivas condiçõesde aplicação;

— quais as circunstâncias que podem exigir a retirada dos benefícios inerentes à aplicaçãodo regulamento de isenção por categoria pela Comissão ou pelas autoridades dosEstados-Membros. Esta retirada pode vir a sernecessária, em especial, quando o acesso aomercado relevante for restringido de formasignificativa pelo efeito cumulativo de redesparalelas resultantes de acordos verticaissemelhantes aplicados por fornecedores ou compradores concorrentes. Pode ser

17

(1) JO L 336 de 29.12.1999, p. 21.(2) Ver pontos 8 a 19 do Relatório sobre a Política de Concorrência

de 1999.(3) Comunicação da Comissão — Orientações relativas às restrições

verticais (JO C 291 de 13.10.2000, p. 1).

Page 18: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

igualmente necessária quando o comprador,no contexto de um acordo de fornecimentoexclusivo ou de distribuição exclusiva, possuium poder significativo no mercado a jusante,onde revende os bens ou presta os serviços;

— uma série de questões relacionadas com a definição de mercado e o cálculo da quota de mercado que se podem colocarquando as empresas aplicam o limiar de 30%em termos de quota de mercado, para efeitosde aplicação do regulamento de isenção porcategoria;

— a política da Comissão nos casos em que éexcedido o limiar de 30% de quota demercado, que não são abrangidos peloregulamento da isenção por categoria. Éapresentado um quadro geral de análise, oqual é aplicado às restrições verticaisespecíficas mais importantes, tais como marcaúnica, distribuição exclusiva e distribuiçãoselectiva.

2. Novas regras da Comissão em matéria de concorrência no domíniodos acordos de cooperação horizontal

2.1. Introdução

21. Em 29 de Novembro de 2000, a Comissãoadoptou o Regulamento (CE) n.o 2658/2000,relativo à aplicação do n.o 3 do artigo 81.º doTratado a certas categorias de acordos deespecialização (1), o Regulamento (CE)n.o 2659/2000, relativo à aplicação do n.o 3 do artigo 81.º do Tratado a certas categorias de acordosde investigação e desenvolvimento (2) e asorientações sobre a aplicação do artigo 81.º doTratado CE aos acordos de cooperação horizontal(3) (4). Os novos regulamentos substituem os doisregulamentos de isenção por categoria existentesrelativos aos acordos de especialização (5) e aos

acordos de investigação e desenvolvimento (I&D) (6), cujo prazo de vigência findava em 31 deDezembro de 2000. As orientações, emborasubstituam duas comunicações existentes (queestabeleciam orientações no que respeita adeterminados tipos de acordos de cooperação nãoabrangidos pelo artigo 81.º (7) e ao tratamento dasempresas comuns com carácter de cooperação) (8),abrangem um leque mais vasto dos tipos de acordoshorizontais mais correntes e complementam osregulamentos de isenção por categoria nas áreas dainvestigação e desenvolvimento e em matéria deacordos de especialização.

22. As empresas precisam de reagir às crescentespressões concorrenciais e às alterações dosmercados induzidas pela globalização, pelaceleridade dos progressos tecnológicos e pelanatureza normalmente mais dinâmica dosmercados. A cooperação pode constituir uma formade repartir os riscos, realizar economias, reunirconhecimentos e lançar a inovação de forma maisrápida. Em especial, para as pequenas e médiasempresas, a cooperação representa um meioimportante de assegurar a adaptação a um mercadoem transformação. Os consumidores tiramigualmente partido destas vantagens, desde queseja mantida uma concorrência efectiva nomercado. Este reexame foi necessário não só paraadaptar as regras à nova evolução do mercado e dateoria económica, mas também, no quadro damodernização, para definir orientações claras paraos tribunais e as autoridades nacionais. O objectivocomum consiste em simplificar as regras e reduzira carga regulamentar que recai sobre as empresas,em especial sobre as empresas que não possuempoder de mercado.

23. As novas regras consagram a transição de umaabordagem regulamentar formal, subjacente àlegislação em vigor, para outra de natureza maiseconómica na apreciação dos acordos decooperação horizontal. O objectivo básicoprosseguido por esta nova abordagem é permitira cooperação entre concorrentes, sempre que tal

18

(1) JO L 304 de 5.12.2000, p. 3.(2) JO L 304 de 5.12.2000, p. 7.(3) JO C 3 de 6.1.2001, p. 2.(4) Os dois regulamentos de isenção por categoria e as orientações

podem ser consultados no sítio web da DG Concorrência:http://europa.eu.int/comm/competition/antitrust/legislation/.

(5) Regulamento (CEE) n.o 417/85 da Comissão, de 19 de Dezembrode 1984, relativo à aplicação do n.o 3 do artigo 85.º do Tratado a certascategorias de acordos de especialização (JO L 53 de 22.2.1985, p. 1), com a última redacção que lhe foi dada pelo Regulamento (CE) n.o 2236/97 (JO L 306 de 11.11.1997, p. 12).

(6) Regulamento (CEE) n.o 418/85 da Comissão, de 19 de Dezembro de1984, relativo à aplicação do n.o 3 do artigo 85.º do Tratado a certascategorias de acordos de investigação e desenvolvimento (JO L 53de 22.2.1985, p. 5), com a última redacção que lhe foi dada peloRegulamento (CE) n.o 2236/97 (JO L 306 de 11.11.1997, p. 12).

(7) Comunicação da Comissão relativa aos acordos, decisões e práticasconcertadas respeitantes à cooperação entre empresas (JO C 75 de29.7.1968, p. 3).

(8) Comunicação da Comissão relativa ao tratamento das empresascomuns com carácter de cooperação à luz do artigo 85.º do TratadoCEE (JO C 43 de 16.2.1993, p. 2).

Page 19: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADAS E ABUSOS DEPOSIÇÃO DOMINANTE: ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAIS E

DIREITOS MONOPOLISTAS: ARTIGOS 31.º E 86.º

contribua para o bem-estar económico, sem criarriscos a nível da concorrência.

2.2. Os regulamentos de isenção por categoria

24. Em relação aos regulamentos em vigor, osnovos regulamentos foram reformulados com vistaa tornar a sua utilização mais fácil e aumentar o seuâmbito de aplicação e a sua clareza. Os anterioresregulamentos de isenção por categoria nas áreas deI&D e de especialização não só definiam ascategorias de acordos abrangidos, comoenumeravam também as cláusulas isentas. Estasdenominadas «listas brancas» são suprimidas dosnovos regulamentos de isenção por categoria. Aoinvés, passam a estar isentos todos os acordos deI&D e de especialização, sob reserva dedeterminadas condições e excluindo as restriçõesgraves. Deste modo, os novos actos afastam-se deuma abordagem baseada em cláusulas individuais,conferindo uma maior liberdade contratual às partesnos referidos acordos.

25. Para além desta maior flexibilidade, são dereferir as seguintes alterações de relevo introduzidasno novo regulamento de isenção por categoria nodomínio da I&D:

1) supressão da necessidade de elaborar umaprograma-quadro antes da celebração deacordos de I&D;

2) aumento do limiar de isenção em termos dequota de mercado, que passa de 20% para 25%.Este aumento reconhece o facto de acooperação em matéria de I&D serparticularmente indutora de maior eficiência,sendo por outro lado menos susceptível decriar efeitos restritivos do que outros tipos decolaboração;

3) se o acordo previr a distribuição conjunta dosprodutos desenvolvidos em comum, o limiarem termos de quota de mercado passa dosactuais 10% para 25%;

4) alargamento da margem de segurança no quediz respeito às flutuações da quota de mercado,que aumenta de 2% para 5%;

5) extensão do período em que é coberta aexploração conjunta de produtos desenvolvidosem comum, independentemente das quotas demercado. Este período foi alargado de cincopara sete anos, atendendo ao facto de haver

uma série de sectores em que se revela poucoprovável a amortização de investimentos deI&D num prazo de cinco anos. Propõe-se omesmo período de sete anos para a autorizaçãode determinadas restrições associadas àexploração conjunta;

6) supressão do procedimento de não oposição,que deixou de ser necessário, uma vez que sãoisentas todas as restrições, salvo as mais graves,sob reserva de determinadas condições;

7) foi aditada uma disposição que permite aretirada da isenção por categoria nos casos emque um acordo eliminaria a concorrênciaefectiva em matéria de I&D num mercadoespecífico. Isto é necessário para proteger aconcorrência na área da inovação, uma vezque não seria viável aplicar os limiares normaisprevistos pelo regulamento em matéria dequotas de mercado a produtos totalmentenovos.

26. No que diz respeito ao novo regulamento deisenção por categoria no domínio dos acordos deespecialização, as principais alterações consistemno seguinte:

1) alargamento do âmbito de aplicação doregulamento, por forma a abranger aespecialização unilateral entre concorrentes.Tal constitui uma forma de externalização,em que uma parte aceita pôr termo ao fabricode determinados produtos e adquiri-los juntoda outra, que por sua vez aceita fabricar e fornecer os referidos produtos. Aespecialização unilateral entre concorrentesfoi abrangida devido à sua importânciacrescente em muitos sectores e ao seu potencialpara aumentar a eficiência. A especializaçãounilateral entre não concorrentes é abrangida,mediante determinadas condições, peloregulamento de isenção por categoria aplicávelaos acordos verticais (1);

2) no caso de uma especialização recíproca, éimposta a obrigação de fornecimento cruzado,para que nenhuma das partes se retire domercado a jusante da produção. Isto énecessário para impedir as partes de repartirem

19

(1) Regulamento (CE) n.o 2790/1999 da Comissão, de 22 de Novembrode 1999, relativo à aplicação do n.o 3 do artigo 81.º do Tratado adeterminadas categorias de acordos verticais e práticas concertadas(JO L 336 de 29.12.1999, p. 21).

Page 20: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

os mercados, sob a forma de um acordo deespecialização recíproca;

3) eliminação do limiar relativo ao volume denegócios;

4) alargamento da margem de segurança no quediz respeito às flutuações das quotas demercado, que passa de 2% para 5%, tal comosucede no regulamento de isenção porcategoria no domínio da I&D;

5) possibilidade de impor obrigações defornecimento exclusivo ou compra exclusiva.

27. Ambos os regulamentos prevêem um períodotransitório de 18 meses, durante o qual os acordosque não preenchem as condições dos novosregulamentos, mas que satisfazem as condiçõesde isenção previstas nos regulamentos anteriorescontinuam a ser abrangidos.

2.3. As orientações

28. As orientações complementam osregulamentos de isenção por categoria. Descrevema abordagem geral a seguir na apreciação dosacordos de cooperação horizontal. São assimaplicáveis aos acordos de I&D e de produção nãoabrangidos pelas isenções por categoria, bem comoa todas as outras formas habituais de colaboraçãoentre concorrentes. São abrangidos os seguintestipos de acordos: I&D, produção, compra,comercialização, normalização e ambiente. Asorientações descrevem a abordagem geral a seguirna apreciação dos acordos de cooperação horizontale definem um quadro analítico comum. Estasorientações auxiliarão as empresas a determinar,com um maior grau de certeza, se um acordo é ounão restritivo da concorrência e, em caso afirmativo,se pode beneficiar de uma isenção.

29. Todos os tipos de acordos de cooperaçãohorizontal abrangidos são analisados segundo umquadro analítico comum. O referido quadro podeser resumido da seguinte forma: um acordo decooperação horizontal só é susceptível de restringira concorrência se puder reduzir a concorrência nomercado de tal forma que permite prever efeitosnegativos a nível do mercado no que diz respeitoaos preços, à produção, à inovação ou à diversidadeou qualidade dos bens e serviços. Para criaremuma restrição da concorrência, as partes devemnormalmente dispor de instrumentos adequadospara coordenar o seu comportamento e um certopoder de mercado. Consequentemente, a

cooperação deve ser analisada no seu contextoeconómico, tendo em conta a natureza do acordoe o poder de mercado agregado das partes, quedeterminam, juntamente com outros factoresestruturais, a capacidade de a cooperação reduzira concorrência global numa medida significativa.

30. Estes dois critérios devem normalmente serapreciados em conjunto. Verificam-se, contudo,alguns casos em que a natureza de uma cooperaçãoaponta, à partida, para a aplicação do n.o 1 do artigo81.º Trata-se sobretudo de acordos que têm porobjecto restringir a concorrência mediante a fixaçãode preços, limitação da produção ou repartição dosmercados, clientes ou fontes de abastecimento.Estas denominadas restrições «graves» sãoconsideradas as mais prejudiciais, uma vez queinterferem directamente com o resultado doprocesso de concorrência. Por conseguinte, podepresumir-se que estas restrições produzem efeitosnegativos a nível do mercado e não se traduzem emquaisquer ganhos de eficiência, nem em quaisquervantagens para os consumidores. Deste modo, sãoquase sempre proibidas.

31. Por outro lado, existem igualmente algunsacordos horizontais em relação aos quais se podeafirmar desde o início que normalmente não éaplicável o disposto no n.o 1 do artigo 81.º Trata--se de acordos entre não concorrentes, dos acordosentre empresas concorrentes que não podem realizarde forma independente o projecto ou a actividadeabrangida pela cooperação, ou ainda da cooperaçãorelativamente a uma actividade que não influenciaos parâmetros relevantes da concorrência. Estesacordos de cooperação só seriam abrangidos pelon.o 1 do artigo 81.º se envolvessem empresas comum poder de mercado significativo e se fossemsusceptíveis de vedar o acesso ao mercado porparte de terceiros.

32. Em relação a todos os outros acordos, énecessária uma análise regida por cada um dosdois critérios (natureza do acordo e poder demercado e estrutura de mercado), a fim de decidirse são ou não abrangidos pelo n.o 1 do artigo 81.º

33. A discussão por tipo de acordo facilita quesejam tidos em conta problemas de concorrênciaespecíficos, associados às diferentes formas decooperação. Aborda igualmente as combinaçõesmais correntes, por exemplo, I&D comum, com asubsequente produção conjunta.

34. Na ausência de restrições graves e abaixo deum certo nível de poder de mercado, definido em20

Page 21: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADAS E ABUSOS DEPOSIÇÃO DOMINANTE: ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAIS E

DIREITOS MONOPOLISTAS: ARTIGOS 31.º E 86.º

termos de quota de mercado, as orientaçõesprevêem as denominadas «zonas de segurança»para os acordos de compra e de comercialização.Tal como sucede quando abrangidos por umregulamento de isenção por categoria, os agenteseconómicos uma vez inseridos nestas zonas desegurança não precisam normalmente de avaliar osefeitos dos seus acordos no mercado.

35. No caso de acordos de compra, muito emborase reconheça que não há qualquer limiar absolutorevelador de que a cooperação na área dasaquisições cria um certo poder de mercado, sendoassim abrangida pelo n.o 1 do artigo 81.º, asorientações salientam o facto de, na maior parte doscasos, se revelar pouco provável a existência de umpoder de mercado desse tipo se as partes no acordotiverem uma quota de mercado agregada inferiora 15% no(s) mercado(s) de compra, bem comouma quota de mercado agregada inferior a 15%no(s) mercado(s) de venda. Na eventualidade deacordos entre partes com quotas de mercadoinferiores a esses limiares serem abrangidos pelon.o 1 do artigo 81.º, as orientações estabelecemque, abaixo desses níveis de quotas de mercado, éprovável que o acordo em causa preencha ascondições previstas no n.o 3 do artigo 81.º (1).

36. No caso de acordos de comercialização quenão envolvam a fixação de preços, as orientaçõessublinham que na maioria dos casos é poucoprovável a existência de um grau suficiente depoder de mercado se as partes no acordo tiveremuma quota de mercado agregada inferior a 15%. Nocaso de um acordo abaixo deste nível de quotasde mercado ser abrangido pelo n.o 1 do artigo 81.º,as orientações estabelecem que é provável que oacordo em causa preencha as condições previstasno n.o 3 do artigo 81.º (2).

3. Proposta de novo regulamento de aplicação dos artigos 81.º e 82.º do Tratado CE

37. Em 27 de Setembro de 2000, a Comissãoadoptou uma proposta de novo regulamento deaplicação dos artigos 81.º e 82.º do Tratado CE (3).Este novo regulamento destina-se a substituir oRegulamento n.o 17 de 1962, bem como as regrasprocessuais contidas nos Regulamentos (CEE)

n.os 1017/68, 4056/86 e 3975/87, relativos aostransportes. A aplicação das regras de concorrênciano sector agrícola deverá continuar a ser regidapelo Regulamento n.o 26 de 1962.

38. A proposta do novo regulamento de aplicaçãofoi elaborada na sequência do livro branco daComissão de 28 de Abril de 1999 sobre amodernização das regras de aplicação dos artigos85.º e 86.º (novos artigos 81.º e 82.º) do TratadoCE (4), que lançou um debate público e académicoalargado sobre o tema. Na elaboração da proposta,a Comissão consultou um vasto número deinteressados. Em especial, a Comissão realizoudiscussões aprofundadas sobre uma série de temasrelacionados com a aplicação das propostascontidas no livro branco no âmbito de um grupode trabalho, composto por peritos das autoridadesde concorrência dos Estados-Membros. Os peritosdo Órgão de Fiscalização da EFTA e dasautoridades de concorrência dos Estados da EFTAforam incluídos nas consultas. Na elaboração daproposta, a Comissão teve igualmente em contaos resultados da consulta pública lançada nasequência do livro branco e, em especial, asopiniões manifestadas sobre o livro branco nasresoluções do Parlamento Europeu de 18 de Janeirode 2000 e do Comité Económico e Social de 8 deDezembro de 1999. Ambas as instituições apoiarama abordagem da Comissão delineada no livrobranco, insistindo simultaneamente na importânciade assegurar uma aplicação coerente do direitocomunitário da concorrência no âmbito de umsistema de poderes paralelos, bem como nanecessidade de manter um grau adequado desegurança jurídica.

39. As linhas gerais da proposta do novoregulamento de aplicação baseiam-se no livrobranco. Em especial, a proposta da Comissão tempor objecto assegurar a transição do sistema denotificação e autorização previsto no Regulamenton.o 17, que deixou de ser eficaz para a protecção daconcorrência na Comunidade, para um sistemabaseado na aplicabilidade directa do artigo 81.º noseu conjunto. A passagem para um novo sistemaestá prevista nos artigos 1.º e 6.º da proposta: o artigo1.º estabelece o princípio da aplicabilidade directado artigo 81.º no seu conjunto e o artigo 6.º confereaos tribunais nacionais poderes para aplicaremtambém o disposto no n.o 3 do artigo 81.º sempre quefor invocado o n.o 1 do mesmo artigo.

21(1) Ver ponto 130 das orientações.(2) Ver ponto 149 das orientações.(3) COM(2000) 582, ainda não publicado. (4) COM(1999) 101 ( JO C 132 de 12.5.1999).

Page 22: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

40. À luz do debate alargado e tendo em conta apreocupação sobre o risco de «renacionalização»do direito da concorrência (manifestadanomeadamente pelo Parlamento Europeu), bemcomo receios quanto à segurança jurídica para asempresas no novo sistema, a Comissão melhorouas suas propostas em diversos aspectos.Consequentemente, o novo regulamento propostocentra-se em três objectivos fundamentais, a saber:

— uma aplicação mais eficiente;

— uma maior igualdade das condições deconcorrência no mercado interno;

— um grau adequado de segurança jurídica paraas empresas.

3.1. Uma aplicação mais eficiente

41. O sistema proposto resultará numa aplicaçãomais alargada das regras comunitárias daconcorrência. Haverá um maior número deentidades responsáveis pela aplicação das regras,dado que, após a supressão da competênciaexclusiva da Comissão para adoptar decisões deisenção nos termos do n.o 3 do artigo 81.º, não sóa Comissão, como também as autoridades nacionaisde concorrência e os tribunais nacionais poderãoaplicar na íntegra os artigos 81.º e 82.º Além disso,a supressão do sistema de notificação e deautorização permitirá à Comissão centrar-se nasinfracções mais graves e na acção contra asmesmas.

42. Alguns elementos específicos da propostavisam reforçar o efeito global da transição paraum sistema de isenção legal. A título ilustrativo,a proposta da Comissão prevê uma aplicação maiseficiente pelas autoridades nacionais através dacooperação horizontal. O artigo 12.º da propostacria uma base jurídica para o intercâmbio deinformações entre a Comissão e as autoridades deconcorrência dos Estados-Membros e prevê apossibilidade de essas informações serem utilizadascomo elementos comprovativos no âmbito deprocessos de aplicação do direito comunitário daconcorrência.

43. Com vista a salvaguardar a concorrência, éigualmente necessário garantir que a Comissãodispõe de poderes de investigação suficientes eeficazes. Desde a publicação do livro branco e combase nas reacções por ele suscitadas, as propostasda Comissão nesta área registaram uma evoluçãoem vários aspectos. A proposta contém três

melhorias principais destinadas a assegurar umaaplicação mais eficaz dos artigos 81.º e 82.º

44. Em primeiro lugar, propõe-se a adaptação dospoderes atribuídos aos funcionários da Comissãoaquando da realização de inspecções. A experiênciadas autoridades de concorrência nacionais e da Comissão revela que a documentaçãoincriminatória é cada vez mais guardada e detectadaem residências privadas. Ao abrigo do regulamentoproposto, os funcionários da Comissão queprocedem a inspecções disporão assim dapossibilidade, sob reserva da devida autorizaçãojudiciária para o efeito, a conceder pelos tribunaisnacionais responsáveis, de realizar buscas nasresidências privadas de trabalhadores de umaempresa no caso de suspeitas quanto à existência dedocumentos profissionais nesses locais. Propõe-se,além disso, que os funcionários da Comissão, narealização das suas inspecções, possam selararmários ou gabinetes, a fim de assegurar que adocumentação não será retirada e destruída duranteas inspecções. Por último, os funcionários daComissão poderão formular oralmente perguntassobre a matéria objecto da inspecção.

45. Em segundo lugar, renunciando à ideia expostano livro branco de um controlo judicial centralizadopelo TPI, a Comissão propõe actualmente codificaras regras que regem as decisões judiciais a nívelnacional. Tal será aplicável sempre que umaempresa recuse permitir que a Comissão realizeuma inspecção e clarificará o âmbito de intervençãodos tribunais nacionais, em conformidade com oslimites já estabelecidos pelo Tribunal de Justiça.

46. Em terceiro lugar, conforme anunciado nolivro branco, a Comissão propõe que sejamadaptadas as coimas aplicáveis no caso de infracçãoàs regras processuais, bem como as sançõespecuniárias compulsórias, que foram definidas emtermos absolutos na década de sessenta. Um sistemabaseado nos dados relativos ao volume de negóciosé considerado como a solução mais adequada.

3.2. Regulamentar a relação entre os artigos 81.º e 82.º e os direitos da concorrência nacionais

47. A consulta pública, bem como a resolução doParlamento Europeu e o parecer do ComitéEconómico Social, identificaram a necessidade de assegurar a igualdade das condições deconcorrência em todo o mercado interno como umdesafio fundamental da reforma.22

Page 23: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADAS E ABUSOS DEPOSIÇÃO DOMINANTE: ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAIS E

DIREITOS MONOPOLISTAS: ARTIGOS 31.º E 86.º

48. À luz destas preocupações e atendendo àspossíveis vantagens em termos de uma aplicaçãomais eficiente, a Comissão propôs um novo artigo,com base no n.o 2, alínea e), do artigo 83.º doTratado CE, com vista a regulamentar a relaçãoentre os artigos 81.º e 82.º e o direito daconcorrência a nível nacional (artigo 3.º daproposta). O referido artigo prevê que sempre queum acordo ou prática for susceptível de afectar ocomércio entre os Estados-Membros, éexclusivamente aplicável o direito comunitário daconcorrência.

49. O artigo proposto baseia-se nas seguintesconsiderações. No sistema actual, o mesmo acordoou comportamento pode estar sujeito ao direitocomunitário da concorrência e ao direito daconcorrência de vários países. Em conformidadecom o princípio da primazia do direito comunitárioda concorrência, estabelecido pelo Tribunal deJustiça no processo Walt Wilhelm (1), o direitonacional só pode ser aplicado se não comprometera aplicação uniforme das regras comunitárias daconcorrência em todo o mercado interno. Oprincípio da primazia soluciona claramente osconflitos a favor do direito comunitário. Nãopermite, contudo, evitar incoerências e divergênciasno tratamento de acordos e práticas que afectam ocomércio entre Estados-Membros ao abrigo dodireito nacional dos países em causa.

50. O artigo 3.º assegura que os acordos e aspráticas susceptíveis de afectarem o comérciotransfronteiras são examinados ao abrigo de umconjunto único de regras, promovendo assim aigualdade das condições de concorrência em todaa Comunidade e eliminando os custos associadosà aplicação paralela do direito comunitário e dodireito nacional para as autoridades de concorrênciae as empresas. Esta disposição não limita a margemde manobra das autoridades de concorrêncianacionais, que poderão aplicar o direitocomunitário. A experiência adquirida a nívelnacional pode contribuir para o desenvolvimentoda política comunitária da concorrência no âmbitoda rede de autoridades de concorrência.

51. O artigo garante igualmente que todos os casosrelativos a acordos e práticas concertadas queafectam o comércio entre Estados-Membros ficamsujeitos aos mecanismos de cooperação no âmbitoda rede, suprimindo o risco de o funcionamentoadequado da rede poder ser comprometido pela

aplicação paralela do direito comunitário daconcorrência e do direito nacional da concorrência.

3.3. Cooperação no âmbito da rede entre a Comissão e as autoridades de concorrência nacionais

52. No que se refere às autoridades de concorrêncianacionais, a criação de uma rede em que todos osrespectivos membros aplicarão o mesmo direito eadoptarão uma política idêntica promoverá emgrande medida a eficiência, a coerência e aigualdade das condições de concorrência noconjunto do mercado único. A base formal para ainstituição da rede reside no artigo 11.º da propostade regulamento.

53. A Comissão está convicta de que umacooperação estreita no âmbito desta rede incentivaráo desenvolvimento de uma «cultura» deconcorrência comum em toda a Comunidade. Dadaa importância fulcral de medidas de aplicaçãocoerentes, foram propostos, além disso,determinados mecanismos formais. O n.o 4 doartigo 11.º da proposta de regulamento requer queas autoridades de concorrência nacionais consultema Comissão antes da adopção de quaisquer decisõesde proibição, decisões de aceitação decompromissos e decisões que retiram o benefíciode um Regulamento de isenção por categoria. Todasestas decisões têm implicações directas para osrespectivos destinatários. Por conseguinte, éimportante garantir que estas decisões se coadunamcom as práticas gerais da rede. No caso dedivergências importantes no âmbito da rede, aComissão dispõe do poder de avocar um processoinstruído por uma autoridade de concorrêncianacional, dando ela própria início a umprocedimento relativamente ao caso em questão.

54. A Comissão não tem qualquer intenção deutilizar os mecanismos previstos no artigo 11.ºcomo base para intervir sistematicamente nasdecisões das autoridades de concorrência dosEstados-Membros. Estes mecanismos destinam-sea criar uma rede de segurança com vista a detectare a solucionar problemas graves resultantes de umaeventual aplicação incoerente.

55. No intuito de clarificar ainda mais as bases decooperação no âmbito da rede, a Comissão estáem vias de elaborar um projecto de comunicaçãosobre o tema, em que serão nomeadamenteprevistos mecanismos claros, mas tambémflexíveis, para a atribuição dos processos, baseados 23

(1) Processo 14/68, Walt Wilhelm (1969), Colectânea, p. 1.

Page 24: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

no conceito da autoridade em melhores condiçõespara instruir o processo. A referida comunicaçãosubstituirá a que existe actualmente.Subsequentemente, uma discussão aprofundadacom as autoridades de concorrência dos Estados--Membros deverá conduzir à adopção, de comumacordo, de um memorando que permitirá a entradaem funcionamento da rede.

3.4. Aumento da cooperação com os tribunais nacionais

56. A proposta da Comissão destina-se igualmentea reforçar a cooperação entre a Comissão e ostribunais nacionais, a fim de promover a aplicaçãouniforme dos artigo 81.º e 82.º

57. O artigo 15.º do regulamento proposto consagrao direito de os tribunais nacionais obtereminformações de que a Comissão dispõe, para efeitosde aplicação dos artigo 81.º e 82.º Podem tambémsolicitar um parecer à Comissão sobre questõesrelacionadas com a aplicação das regrascomunitárias da concorrência. A Comissão definiráregras pormenorizadas sobre as suas práticas nestedomínio numa comunicação que substituirá acomunicação vigente relativa à cooperação entreos tribunais nacionais e a Comissão. Estas regrasincluirão um prazo para a Comissão responder aospedidos formulados pelos tribunais nacionais.

58. O mesmo artigo propõe que seja induzido odireito de a Comissão e as autoridades deconcorrência nacionais submeterem questões àapreciação dos tribunais nacionais, por via oral ouescrita. No caso das autoridades de concorrêncianacionais, este poder circunscreve-se aos tribunaisdo seu próprio Estado-Membro. A Comissão sópode intervir ao abrigo desta disposição no interessepúblico comunitário (na qualidade de amicuscuriae), ou seja, não pode intervir no interesse deuma das partes. Esta disposição visa nomeadamentepermitir à Comissão e às autoridades deconcorrência nacionais chamarem a atenção dostribunais para questões de importância considerável,tendo em vista a aplicação uniforme do direitocomunitário da concorrência. Ao abrigo destemecanismo, a Comissão poderá, por exemplo,chamar a atenção dos tribunais para casos queocorreram noutros Estados-Membros em quesurgiram problemas idênticos ou semelhantes. Ostribunais nacionais não são obrigados a respeitaros pareceres emitidos pela Comissão ou por umaautoridade de concorrência nacional. No entanto,as informações prestadas pela Comissão podem

revelar-se úteis para os tribunais sempre queponderam a possibilidade de submeter o assuntoao Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias.

3.5. Assegurar um grau adequado de segurança jurídica às empresas

59. Nos termos do Regulamento n.o 17, um acordoou uma decisão abrangidos pelo n.o 1 do artigo 81.ºsó se tornam válidos, isto é, só são invocáveisperante um tribunal civil se tiverem sido notificadosà Comissão e por ela isentos. Na prática, a maioriados casos notificados é encerrada através de umofício não vinculativo dos serviços da Comissão(o denominado «ofício de arquivamento»).

60. A proposta de regulamento elimina osobstáculos burocráticos inerentes ao procedimentode notificação e autorização, mantendosimultaneamente um grau adequado de segurançajurídica. Em especial, ao abrigo do novo sistemaproposto, os acordos e decisões que preenchem ascondições previstas no n.o 3 do artigo 81.º sãoválidos e aplicáveis ab initio, sem que sejanecessária qualquer decisão administrativa para oefeito. Deste modo, as empresas dispõem de umapresunção quanto à sua aplicabilidade no quadrodo direito civil, o que representa um elemento queintroduz uma maior segurança jurídica,independentemente da tomada de quaisquermedidas por uma administração.

61. O regulamento proposto não suprime anecessidade de as empresas avaliarem as suasoperações, a fim de verificar se são consentâneascom as regras da concorrência. Nos termos doRegulamento n.o 17, esta análise é realizada pelasempresas aquando da elaboração de umanotificação. A proposta equipara a aplicação dasregras de concorrência comunitárias a outras áreasde direito em que são as próprias empresas a ter deverificar a legalidade do seu comportamento.

62. No domínio do direito comunitário daconcorrência, esta análise pelas empresas do seucomportamento é facilitada pelas isenções porcategoria e pelas comunicações e orientações daComissão, que clarificam a aplicação das regrasrelevantes. No intuito de complementar as reformasem curso, a Comissão comprometeu-se a envidarainda mais esforços nesta área. Neste contexto, oartigo 28.º da proposta de regulamento confere àComissão poderes gerais para adoptar regulamentosde isenção por categoria, com vista a garantir queestá em condições de reagir com a devida celeridade24

Page 25: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADAS E ABUSOS DEPOSIÇÃO DOMINANTE: ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAIS E

DIREITOS MONOPOLISTAS: ARTIGOS 31.º E 86.º

às novas evoluções e às alterações das condiçõesdos mercados.

63. Além disso, no âmbito do novo sistema, dadaa existência de um maior número de entidadesresponsáveis pela aplicação do n.o 3 do artigo 81.º,a jurisprudência e a prática associada à suainterpretação desenvolver-se-ão de forma maisrápida sempre que ainda não existam, reforçandoassim o enquadramento para a avaliação. Por seuturno, a Comissão contribuirá igualmente para estaevolução, uma vez que continuará a definir apolítica neste domínio através da tomada das suaspróprias decisões relativas a casos individuais.Para além das decisões de proibição, a propostade regulamento prevê que, nos casos em que serevelar do interesse público comunitário, aComissão, actuando por iniciativa própria, podeadoptar decisões em que se conclua que não houvequalquer infracção. Tal permitirá à Comissão definira sua posição num caso paradigmático, por formaa clarificar o direito para todas as empresas que seencontrem em circunstâncias semelhantes.

64. Para solucionar os casos raros em que surgeum verdadeiro problema de previsibilidade jurídica,a Comissão continuará a estar disponível paradebater casos específicos com as empresas, sempreque necessário. Nas instâncias adequadas, aComissão prevê, além disso, fornecer orientaçõesàs empresas, sob a forma de pareceres. Estapossibilidade deve continuar a ser um poderdiscricionário da Comissão, a fim de nãocomprometer a reorientação projectada dos seusrecursos para as actividades em matéria deaplicação. A Comissão está em vias de elaboraruma comunicação sobre a formulação deorientações mais aprofundadas, em que serãodefinidos os critérios pelos quais a Comissãoexaminará os pedidos de parecer, bem como asrespectivas modalidades práticas.

3.6. Situação do processo legislativo

65. A proposta da Comissão foi transmitida aoConselho, ao Parlamento Europeu e ao ComitéEconómico Social.

66. Os trabalhos do Conselho sobre a proposta, anível do seu grupo de trabalho, foram encetados noinício de Outubro de 2000. Em 5 de Dezembro de 2000, o Conselho «Indústria» registou osprogressos realizados pelo grupo de trabalho. Estestrabalhos prosseguirão sob a presidência sueca em2001.

67. O Parlamento Europeu submeteu a propostaà apreciação da Comissão dos AssuntosEconómicos e Monetários (ECON), enquantocomissão responsável. Foi designado relator odeputado Evans (PPE/UK). A Comissão dosAssuntos Económicos e Monetários procedeu auma primeira troca de pontos de vista em 21 deNovembro de 2000. Em 27 de Fevereiro de 2001foi realizada uma audição pública. O ParlamentoEuropeu prevê adoptar a sua resolução em Junhode 2001.

B — Aplicação dos artigos 81.º,82.º e 86.º

1. Artigo 81.º

1.1. Cartéis

68. Os cartéis são acordos horizontais secretoscelebrados pelos principais operadores económicosde um determinado mercado, com vista a eliminara concorrência entre si, aumentar artificialmente ospreços e restringir a produção. Estas tentativas desubstituir a concorrência — a força motriz de umaeconomia de mercado — por uma regulaçãocoordenada e centralmente controlada do mercadoconstituem indubitavelmente as infracções maisgraves ao direito da concorrência.

69. Os participantes nos cartéis conspiram paramanter uma ilusão de concorrência enquanto, narealidade, os clientes não dispõem de qualquerescolha efectiva, devendo pagar preços maiselevados. Isto tem efeitos imediatos a nível de todaa cadeia de fornecimento, afectando, em derradeirainstância, o consumidor final. Estima-se que oscartéis internacionais representam uma perda decentenas de milhões de euros para a economiaeuropeia. Além disso, dado que os preços doscartéis são fixados de comum acordo em função dos custos do produtor menos competitivo,desencorajam as empresas mais eficientes demelhorarem a qualidade do produto, a tecnologiae racionalizar de forma mais geral os métodos deprodução e as vendas.

70. Num contexto de globalização económica, emque os danos potenciais provocados pelos cartéissão cada vez maiores, a Comissão reiterou o seuempenhamento em detectar e condenar estaspráticas com a maior determinação possível. Neste 25

Page 26: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

quadro, após a criação em Dezembro de 1998 deuma unidade especializada em cartéis, a profundareformulação do Regulamento n.o 17, actualmenteem debate, representará um importante passo naintensificação da luta da Comunidade Europeiacontra os cartéis. Com efeito, a Comissão propõeum reforço significativo dos seus poderes deinvestigação, por forma a estar em melhorescondições de defrontar o desafio de cartéis cada vezmais activos e sofisticados.

71. Desde 1998, o número de cartéis investigadospela Comissão tem vindo a registar um aumentoconsiderável. A maioria destas investigaçõesestava ainda a decorrer em 2000, sendo susceptívelde conduzir à adopção de decisões de proibiçãoem 2001. Este aumento significativo de casosdeve-se, em grande medida, aos efeitos positivosda comunicação da Comissão sobre a nãoaplicação ou redução de coimas nos processosrelativos a acordos, decisões e práticasconcertadas, adoptada em 1996 (1). Um númerocrescente de empresas que estão ou estiveramenvolvidas em práticas restritivas da concorrênciagraves ponderam agora as vantagens que poderãoobter da sua cooperação com a Comissão, o quelhes assegurará uma certa benevolência naapreciação dos seus comportamentos.

72. Muito embora as investigações relativas aoscartéis devam, em princípio, manter-seconfidenciais até à adopção de uma decisão final,podem ser emitidos comunicados de imprensa emcircunstâncias específicas, quando adequado. É oque acontece, por exemplo, no caso de umainvestigação desencadeada devido à apresentaçãode denúncias e/ou quando a Comissão desejachamar a atenção de terceiros para o caso emquestão. Neste contexto, a Comissão confirmouem Julho a existência de uma investigação emcurso relativa a um cartel no sector das vitaminas.Anunciou igualmente nesse mês a abertura de umprocesso contra aproximadamente 120 bancos eassociações bancárias devido à sua eventualparticipação em actividades de fixação de preçosa nível dos encargos aplicáveis às operaçõescambiais na zona do euro.

73. No ano 2000 foram adoptadas três decisõesformais de proibição de cartéis, no sector marítimo,no sector dos produtos alimentares para animais eno sector químico.

Fettcsa

74. Em 16 de Maio de 2000, a Comissão impôscoimas num valor total de quase 7 milhões de eurosa 15 companhias marítimas por terem acordadonão oferecer descontos em relação às suas tabelasde preços publicadas. As empresas tinham aderidoao acordo denominado Far East Trade TariffCharges and Surcharges Agreement (Fettcsa), quedeixou entretanto de vigorar e que englobavamembros da conferência marítima Far EasternFreight Conference (FEFC), bem como os seusprincipais concorrentes. Entre estes incluíam-se aHapag-Lloyd (Alemanha), a Maersk Sealand(Dinamarca) e a P&O Nedlloyd (Reino Unido).Os destinatários da decisão discutiram eventuaisformas de alinhar as suas práticas comerciais emmatéria de taxas e sobretaxas, o que conduziu aum acordo no sentido de não concederem descontosem relação às tabelas publicadas (2).

75. A Comissão concluiu que o acordo infringiaa proibição de cartéis consignada no artigo 81.º doTratado CE e rejeitou o argumento invocado pelasempresas de que o Fettcsa representava meramenteum «acordo técnico», permitido ao abrigo dasregras de concorrência aplicáveis ao sector dostransportes marítimos.

76. A Comissão calculou as coimas com base nassuas orientações publicadas. No entanto, muitoembora um acordo de preços horizontal entreconcorrentes com elevadas quotas de mercadodeva ser normalmente considerado como umainfracção «muito grave», podendo dar origem acoimas de, pelo menos, 20 milhões de euros porempresa, considerou-se oportuno neste casoqualificar a infracção como meramente «grave».Em última instância, um acordo no sentido de nãoconceder descontos foi considerado menosprejudicial do que a prática efectiva de fixação depreços. Foi igualmente tomado em consideraçãoo facto de os eventuais efeitos nocivos terem sidoprovavelmente de curta duração.

77. A Comissão teve também em conta o facto de o acordo Fettcsa ter sido abandonadoimediatamente após as empresas terem recebidouma comunicação de acusações em 1994, nãotendo sido realizadas mais reuniões após o enviopela Comissão às empresas de uma carta deadvertência em 1992. No cálculo das coimas, aComissão teve igualmente em conta o facto de ter

26(1) JO C 207 de 18.7.1996. (2) JO L 268 de 20.10.2000.

Page 27: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADAS E ABUSOS DEPOSIÇÃO DOMINANTE: ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAIS E

DIREITOS MONOPOLISTAS: ARTIGOS 31.º E 86.º

beneficiado de uma cooperação limitada das partes,bem como a duração do processo, que se deveuem larga medida à existência de outros casos maisimportantes neste sector.

O cartel de lisina

78. Em 7 de Junho, a Comissão aplicou coimasnum montante global de 110 milhões de euros acinco empresas por terem criado um cartel defixação de preços à escala mundial relativamenteà lisina, o aminoácido mais importante utilizadoem produtos alimentares para animais para efeitosnutritivos (os aminoácidos são as principaiscomponentes das proteínas). A investigação daComissão concluiu que a Archer Daniels MidlandCo (EUA), a Ajinomoto Co (Japão), a Cheil Jedang(Coreia), a Kyowa Akko (Japão) e a Sewon (Coreia)fixaram os preços de lisina à escala mundial,incluindo no Espaço Económico Europeu. Comvista a assegurar a manutenção dos preços fixados,as cinco empresas estabeleceram igualmente quotasem matéria de vendas e procederam ao intercâmbiode informações sensíveis, pelo menos no períodocompreendido entre Julho de 1990 e Junho de 1995 (1).

79. O interesse desta decisão prende-se sobretudocom a metodologia adoptada pela Comissão nafixação das coimas aos níveis acima mencionados.Tal é evidenciado pelo facto de a maior parte daapreciação jurídica da decisão incidir na questãodas coimas e os argumentos invocados pelas partesno que diz respeito a este aspecto. Na decisão, aComissão aplicou não só os princípios delineadosnas suas orientações de 1998 relativas ao métodode cálculo das coimas (a seguir denominadasorientações «metodológicas») (2), como aplicoutambém pela primeira vez a sua comunicação de1996 sobre a não aplicação ou redução de coimasnos processos relativos a acordos, decisões epráticas concertadas (a seguir denominada«comunicação sobre a redução das coimas»), porforma a ter em conta a cooperação de doisparticipantes no cartel desde o início das suasinvestigações, bem como o grau de cooperaçãoinferior posteriormente oferecido por outrosparticipantes (3).

80. A actuação proibida pela decisão da Comissãorepresenta claramente um cartel que visa a fixação

de preços e quotas de vendas, o que só por si éilegal. Nenhuma das empresas contestouefectivamente os factos. O referido cartelfuncionou, pelo menos, no período compreendidoentre o início de Junho de 1990 e Junho de 1995.Somente dois participantes aderiram ao cartel emmeados de Junho de 1992 (a ADM e a CheilJedang). A Comissão iniciou as suas investigaçõesem Julho de 1996, pouco depois de as autoridadesde concorrência norte-americanas terem acusadovários participantes no cartel de um procedimentoilegal. A investigação foi iniciada quando um dosdois líderes do cartel (ou seja, a Ajinomoto, sendoo outro líder a ADM) decidiu informar a Comissãosobre a existência do cartel no períodocompreendido entre Junho de 1992 (quando a ADMpenetrou no mercado de lisina no EEE) e Junho de1995.

81. A fim de calcular o montante básico dascoimas, a Comissão examinou em primeiro lugar,na sua decisão, a gravidade da infracção. A esterespeito, considera o cartel como uma infracçãomuito grave, com um impacto real sobre o mercadorelevante no EEE, na medida em que conduziu aníveis de preços mais elevados do que aqueles queteriam sido estabelecidos em condições normais deconcorrência. A Comissão explica, contudo, quese justifica um tratamento diferenciado entre oscinco participantes no cartel. Com efeito, tem emconta a disparidade considerável a nível da suadimensão e, deste modo, em termos da suacapacidade de provocar danos significativos aosclientes no EEE. O volume de negócios a nívelmundial é tomado como ponto de partida para acomparação da sua dimensão relativa, uma vezque é este volume de negócios que permite àComissão avaliar os verdadeiros recursos e aimportância das empresas em causa. Nesta base,a Comissão reúne, por um lado, a ADM e aAjinomoto e, por outro, as restantes três empresas,de dimensão muito mais reduzida. No que dizrespeito à gravidade da infracção, a Comissãoexplica também que não tem em conta as coimasimpostas pelas autoridades de concorrência dosEUA e do Canadá, dado que, de acordo com asinformações prestadas pelas referidas autoridades,estas coimas apenas tomaram em consideração osefeitos anticoncorrenciais resultantes do cartel anível mundial no respectivo território nacional.Para além da gravidade e segundo as orientaçõesde 1998, a duração é outro parâmetro a considerarno cálculo do montante básico da coima. No casoem apreço, o cartel teve uma duração média (trêsa cinco anos), acrescentando cada ano suplementar 27

(1) Comunicado de imprensa da Comissão IP/00/589, de 7 de Junho de2000.

(2) JO C 9 de 14.1.1998.(3) JO C 207 de 18.7.1996.

Page 28: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

10% ao montante da coima (ainda em conformidadecom as orientações de 1998).

82. No que se refere a circunstâncias agravantese atenuantes, a Comissão teceu as seguintesobservações. Considerou que os instigadorestinham sido a ADM e a Ajinomoto, tendo estefactor agravante conduzido a um aumento de 50%da coima dessas empresas. A Comissão identificapoucas circunstâncias atenuantes na decisão. Opapel passivo da Cheil Jedang na fase final docartel traduz-se numa pequena redução da coimaaplicável a esta empresa e todos os participantesno cartel beneficiaram de uma redução de 10% porterem posto termo à infracção imediatamente apósa intervenção de uma autoridade pública (asautoridades de concorrência norte-americanas e o FBI).

83. Em conformidade com a comunicação relativaà redução ou não aplicação de coimas, a Comissãopode decidir não impor ou reduzir as coimasaplicáveis às partes que com ela cooperaram nodecurso do procedimento. No caso em questão, asempresas cooperaram com a Comissão emdiferentes estádios da investigação e em relação adiferentes períodos abrangidos pela investigação.Pelos motivos explicados de forma pormenorizadana decisão, nenhuma das empresas satisfaz ascondições necessárias para beneficiar de imunidadeem matéria de coimas, de uma redução «muitosubstancial» da coima (isto é, de pelo menos 75%)ou mesmo de uma redução «substancial» (isto é,entre 50% e 75%). Todas as empresas beneficiam,contudo, de uma redução «significativa» (isto é,entre 10% a 50% da respectiva coima) devido à suacooperação.

84. A Ajinomoto e a Sewon foram as duasempresas que mais cooperaram com a Comissão.A empresa líder, a Ajinomoto, entregouinformações decisivas (embora incompletas) sobreo cartel antes da Comissão ter iniciado a suainvestigação. A Sewon interveio posteriormente eapresentou elementos comprovativos completos,nomeadamente em resposta ao pedido formal deinformações da Comissão. Por estas razões, aComissão atribui a ambas as empresas a maiorredução possível, ou seja, uma redução equivalentea 50% da coima.

85. A Kyowa Hakko Kogyo e a Cheil Jedangtambém apresentaram alguns elementossignificativos, embora não decisivos, queapontavam para a existência do cartel. Tal permitiu--lhes beneficiar de uma redução de 30% na coima.

86. Por último, a ADM não cooperou com aComissão durante a fase de recolha de informaçõesno âmbito do procedimento. Após ter recebido acomunicação de acusações informou, contudo, aComissão de que não contestava substancialmenteos factos expostos no referido documento. AComissão considera assim que a ADM devebeneficiar de uma redução de 10% no montanteda coima imposta.

87. Desde a adopção da decisão, todas as empresasimplicadas, com excepção da Ajinomoto,introduziram uma acção de anulação perante oTribunal de Primeira Instância (1).

Nova adopção de uma decisão anulada por motivos processuais

88. Em 13 de Dezembro de 2000, a Comissãoprocedeu a uma nova adopção de uma decisão emque era imposta uma coima de 3 milhões de eurosà empresa belga Solvay SA, por ter participado nocartel do carbonato de sódio no final dos anos 80.O carbonato de sódio é um produto químicoutilizado para o fabrico de vidro. No período emcausa, a Solvay celebrou um acordo com umaempresa alemã em que era garantida a esta últimaum volume mínimo de vendas, devendo a Solvayadquirir ela própria os eventuais excedentes, porforma a manter o preço de carbonato de sódioartificialmente elevado na Alemanha. Esta actuaçãoconstituía uma infracção ao artigo 85.º(presentemente 81.º) do Tratado CE (2).

89. A decisão inicial de imposição de uma coimaà Solvay e à empresa alemã foi adoptada em 19 de Dezembro de 1990, tendo sido anulada peloTribunal de Justiça por motivos meramenteprocessuais: a decisão tinha sido autenticada pelasassinaturas do presidente e do secretário-geral daComissão somente após a sua notificação aosrespectivos destinatários. Quando uma decisão éanulada pelo Tribunal por motivos meramenteprocessuais, a Comissão pode adoptar de novoessa decisão na medida em que se mantenhainalterada na sua parte substantiva. Porconseguinte, a Comissão procedeu à readopçãoda decisão que impunha uma coima à Solvay. A empresa alemã não recorreu da decisão iniciale pagou a sua coima no valor de 1 milhão de euros.

28

(1) Processos T-224/00 (ADM), T-220/00 (Cheil), T-223/00 (Kyowa)e T-230/00 (Sewon).

(2) Comunicado de imprensa da Comissão IP/00/1449, de 13 deDezembro de 2000.

Page 29: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADAS E ABUSOS DEPOSIÇÃO DOMINANTE: ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAIS E

DIREITOS MONOPOLISTAS: ARTIGOS 31.º E 86.º

1.2. Outros tipos de acordos

90. O artigo 81.º não incide apenas sobre os cartéis,mas também sobre outros tipos de acordos entreempresas que restringem ou distorcem aconcorrência. Pode ser o caso de acordos decooperação entre concorrentes ou acordos dedistribuição entre produtores e retalhistas. Apesardestes acordos poderem ser isentos da proibiçãoconsignada no artigo 81.º, se estiverem preenchidasas condições enunciadas no n.o 3 do mesmo artigo,há casos em que as vantagens para os consumidoresresultantes desses acordos não são suficientes parajustificar a restrição da concorrência a eles inerentes.Neste caso, a Comissão solicita às partes quealterem ou renunciem aos seus acordos. Em últimainstância, a Comissão pode exigir a supressão dosacordos no caso de terem sido já implementados,para além de impor coimas.

1.2.1. Alianças entre companhias aéreas

91. O sector dos transportes aéreos caracteriza-se por uma série de acordos de aliança. Isto podeexplicar-se pelos entraves regulamentares quetornam actualmente difícil para as companhiasaéreas de diferentes Estados-Membros procederemà fusão das suas actividades. A Comissão realizoudiversas investigações relativas a acordos entrecompanhias aéreas europeias que conduziram, em2000, à adopção de medidas formais no caso daaliança Qualiflyer e no caso da cooperação entrea Lufthansa e a SAS com a Austrian Airlines. Estescasos são debatidos mais pormenorizadamente nasecção relativa aos transportes aéreos do presenterelatório (1). Prosseguem as averiguações daComissão no que respeita a uma série de outrasalianças entre companhias aéreas, incluindoalgumas alianças aéreas transatlânticas.

1.2.2. Acordos de distribuição

92. No caso dos acordos de distribuição, aComissão preocupa-se sobretudo com o risco deestes poderem conduzir a uma segmentação domercado da UE, susceptível de comprometer oobjectivo do mercado único.

Opel

93. O direito de os consumidores adquiriremprodutos mais baratos noutros Estados-Membrosrepresenta um dos principais benefícios do mercado

único. A determinação da Comissão no sentido degarantir este direito foi demonstrada pela decisãode impor uma coima de 43 milhões de euros à OpelNederland BV (2). O importador neerlandês deveículos automóveis da marca Opel impediu aexportação de novos veículos para consumidoresfinais noutros Estados-Membros no períodocompreendido entre Setembro de 1996 e Janeirode 1998. Trata-se da segunda decisão importanteda Comissão neste domínio, na sequência dadecisão tomada contra a Volkswagen AG em Janeirode 1998, quando as denúncias apresentadas pelosconsumidores levaram a Comissão a investigar aspráticas dos fabricantes de veículos automóveis edos seus importadores, tendo essas averiguaçõesconduzido à imposição de elevadas coimas (3).Confirmou-se assim que as medidas adoptadaspelas empresas que afectam o bom funcionamentodo mercado único constituem uma infracção muitograve às regras comunitárias da concorrência, sendotratadas severamente.

JCB

94. Em 21 de Dezembro de 2000, a Comissãoadoptou uma decisão em que declarava que aempresa JCB Service, que controla as diferentesfiliais do grupo britânico JC Bamford, tinha violadoo artigo 81.º do Tratado CE (4). A Comissãoconsiderou que os acordos de distribuição demáquinas de construção JCB, celebrados entre ogrupo JCB e a sua rede de distribuidores exclusivos,tinham por objecto encerrar os mercados nacionaisfrancês, britânico, irlandês e italiano naComunidade. Os acordos previam diversas medidascom vista a restringir as vendas dos distribuidoresfora dos respectivos territórios exclusivos. Na suadecisão, a Comissão ordenou à JCB Service quepusesse termo à infracção e aplicou-lhe uma coimade 39,6 milhões de euros.

1.2.3. Acordos ambientais

CECED

95. O artigo 6.º do Tratado CE estabelece que asexigências em matéria de protecção do ambiente

29(1) Ver a secção I.C, capítulo 2.5.1, sobre os transportes aéreos.

(2) Decisão de 20 de Setembro de 2000 (JO L 59 de 28.2.2001);comunicado de imprensa IP/00/1028, de 20 de Setembro de 2000.Em 1 de Dezembro de 2000, a Opel interpôs um recurso perante oTribunal de Primeira Instância das Comunidades Europeias contraa decisão da Comissão (Processo T-368/00).

(3) Ver também a secção I.C, capítulo 1.1.1, sobre os veículosautomóveis.

(4) Comunicado de imprensa da Comissão IP/00/1526, de 21 deDezembro de 2000.

Page 30: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

devem ser integradas nas outras políticascomunitárias. Com efeito, as preocupaçõesambientais não se encontram de modo algum emcontradição com a política da concorrência, desdeque as restrições da concorrência sejamproporcionais e necessárias para atingir osobjectivos ambientais visados.

96. Este princípio é ilustrado claramente peladecisão CECED (1), em que a Comissão aprovapela primeira vez um acordo de cessação de fabrico,com vista a melhorar as consequências ambientaisdos produtos. Os participantes no acordo, isto é,quase todos os produtores e importadores europeusde máquinas de lavar domésticas, deixarão deproduzir e importar na UE as máquinas comrendimento energético mais baixo, a fim de reduziro consumo de energia e, deste modo, as emissõespoluentes resultantes da produção de electricidade.

97. Apesar de os participantes limitarem a sualiberdade de fabricar e comercializar alguns tiposde máquinas de lavar, restringindo assim aconcorrência na acepção do n.o 1 do artigo 81.º doTratado CE, o acordo satisfaz as condições parauma isenção nos termos do n.o 3 do artigo 81.º,dado que criará vantagens e poupanças importantespara os consumidores, nomeadamente ao reduziras emissões poluentes associadas à produção deelectricidade. A decisão favorável da Comissãotem em conta esta contribuição positiva para osobjectivos ambientais da União Europeia, embenefício das gerações actuais e futuras.

2. Artigos 82.º e 86.º

98. O artigo 82.º proíbe as empresas em posiçãodominante num dado mercado de explorarem estasituação em detrimento de terceiros. Esses abusospodem consistir, nomeadamente, em limitar a produção, aplicar preços excessivos,discriminatórios ou predatórios, subordinar asvendas a certas condições ou impor obrigaçõessuplementares não relacionadas com o produto ouserviço vendido. A Comissão entende que asempresas que não estão sujeitas a pressõesconcorrenciais abusam de forma particularmenteperigosa da sua posição quando bloqueiam ouatrasam, através de práticas desleais, a entrada deconcorrentes no mercado. Por esta razão, aComissão tem atribuído particular atenção aos

efeitos de posições dominantes nos mercadosrecentemente liberalizados, em que existe o riscode o comportamento do operador históricocomprometer os benefícios previstos em termosde reestruturação, inovação ou criação de empregoinerentes a estes processos de liberalização.

99. O artigo 86.º especifica que as regras daconcorrência são igualmente aplicáveis às empresaspúblicas e às empresas a que os Estados-Membrosconcedem direitos especiais ou exclusivos, namedida em que a aplicação dessas regras nãoconstitua obstáculo ao cumprimento, de direito oude facto, da missão particular que lhes foi confiada.

100. Informações pormenorizadas sobre asdecisões adoptadas ou os procedimentos iniciadosnesta área, em aplicação dos artigo 82.º e 86.º,articulados com o artigo 82.º, figuram nas secçõesrelativas aos serviços postais (2) e transportes aéreos (3) do presente relatório.

Descontos selectivos no sector químico:nova adopção de uma decisão

101. Em 13 de Dezembro de 2000, a Comissãoprocedeu a uma nova adopção de duas decisõesque impunham, respectivamente, coimas de20 milhões de euros à empresa belga Solvay SA ede 10 milhões de euros à empresa britânica ImperialChemicals Industries (ICI) plc, pelo abuso deposição dominante no mercado de carbonato desódio nos anos oitenta. O carbonato de sódio é umproduto químico utilizado para o fabrico de vidro.No período em causa, a Solvay e a ICI instituíramum sistema de descontos destinados a evitarqualquer risco de concorrência efectiva nos«territórios» respectivos, ou seja, a EuropaOcidental continental no caso da Solvay e o ReinoUnido e a Irlanda no caso da ICI.

102. A ICI e a Solvay instituíram cada uma um sistema de «descontos suplementares» («top-slice») destinados a manter os concorrentesafastados deste mercado. A maioria dos fabricantesde vidro, principais utilizadores do carbonato desódio, dispõem de um fornecedor principal no quese refere às suas necessidades básicas, mas possuemigualmente um segundo fornecedor, por forma anão estarem completamente dependentes doprimeiro. Para minimizar o impacto concorrencialdestes segundos fornecedores, a Solvay e a ICI

30 (1) F-1/36.718 (JO L 187 de 26.7.2000); comunicado de imprensa daComissão IP/00/148, de 11 de Fevereiro de 2000.

(2) Ver a secção I.C, capítulos 2.4.3, 2.4.4 e 2.4.5.(3) Ver a secção I.C, capítulo 2.5.2.

Page 31: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADAS E ABUSOS DEPOSIÇÃO DOMINANTE: ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAIS E

DIREITOS MONOPOLISTAS: ARTIGOS 31.º E 86.º

31

Caixa 2: O impacto da política de concorrência nos consumidores

Os consumidores não são os únicos, mas podem ser considerados os principais beneficiários da políticade concorrência. Quando existem condições de concorrência, os produtores procuram atrair clientespropondo-lhes preços mais baixos, uma qualidade mais elevada ou um melhor serviço do que os seusconcorrentes. Os consumidores beneficiam igualmente a longo prazo, uma vez que os esforços envidadospelas empresas no sentido de superar os seus concorrentes conduzem eventualmente a uma maior inovaçãoe eficiência a nível de determinadas produções. No entanto, nem sempre é fácil, ou mesmo possível,quantificar o impacto sobre os consumidores das decisões tomadas no âmbito da política de concorrência.Tal como se salientou, as empresas não concorrem apenas em matéria de preços e há muitas outras formasque permitem aos consumidores beneficiar de determinadas intervenções políticas, por exemplo emtermos de maior diversidade de produtos ou de melhores condições contratuais. Noutros casos, as decisõestomadas no âmbito da política de concorrência prendem-se com uma etapa intermédia da produção, peloque os consumidores finais não são directamente envolvidos. Neste caso, estas decisões podem intensificara concorrência nos mercados de produtos intermédios, criando condições para preços mais baixos a níveldo produto final. Contudo, é difícil quantificar as possíveis vantagens para os consumidores finais.

No presente relatório são feitas muitas alusões a decisões antitrust e decisões relativas a concentrações.Referem-se a seguir algumas destas decisões, que podem servir para ilustrar o tipo de vantagens que poderãoadvir para os consumidores da política de concorrência.

A decisão contra a Opel Nederland BV (1) constitui o segundo processo importante respeitante a obstáculosao comércio paralelo de veículos automóveis, após a decisão tomada contra a Volkswagen em 1998 (2). Adecisão obriga o importador neerlandês de veículos Opel a eliminar as medidas que impedem ou restringemos consumidores de outros Estados-Membros de adquirirem novos veículos da marca Opel com vista à suareexportação imediata. Esta decisão visa garantir o direito de os consumidores adquirirem um veículoautomóvel sem quaisquer entraves no Estado-Membro em que os preços são baixos. Se as importaçõesparalelas atingirem um volume importante, criarão alguma pressão sobre os fabricantes de veículos automóveisno sentido de reduzirem os preços desses veículos nos Estados-Membros em que tais preços são maiselevados. As importações paralelas criarão igualmente incentivos para os concessionários de veículosautomóveis melhorarem os serviços que prestam e oferecem igualmente outras vantagens.

desenvolveram um sistema de fixação de preços dedois níveis. A tonelagem básica era vendida aopreço normal, mas as quantidades adicionais queo cliente poderia ter adquirido a outro fornecedor(as «quantidades suplementares») eram propostascom um desconto substancial (e secreto).

103. Nalguns casos, isto significava que a Solvaye a ICI propunham a quantidade suplementar apraticamente metade do preço. Os clientes foraminformados de que o preço especial aplicável aesta quantidade suplementar dependia de aceitaremadquirir a maioria, se não mesmo a totalidade, dassuas necessidades junto do produtor em posiçãodominante. Em consequência desta prática, outrosprodutores foram impedidos de concorrerefectivamente com a Solvay e a ICI. Paraconcorrerem, teriam de ter proposto descontos

muito importantes em relação ao volume total dassuas vendas, enquanto a Solvay e a ICI apenasadoptavam esta prática em relação às quantidadessuplementares encomendadas pelos seus clientes.A Comissão considerou que se tratava de infracçõesmuito graves ao artigo 86.º (actual artigo 82.º),tendo adoptado, em 19 de Dezembro de 1990, duasdecisões em que foram aplicadas coimas nummontante considerado muito elevado nessa altura.O Tribunal de Justiça anulou estas decisõesmeramente por motivos processuais: nestascircunstâncias, a Comissão pode adoptar de novoa decisão, desde que a mesma não seja alterada nasua parte substantiva (1).

(1) Ver também o ponto 88.

(1) Ver também o ponto 106.(2) JO L 124 de 23.4.1998.

Page 32: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

32

No caso Telefonica/Sogecable/Audiovisual Sport (1), que implicava o mercado dos direitos de futebol paraa televisão por assinatura em Espanha, a intervenção da Comissão pôs termo ao acordo que fixava o preçoda assinatura para a transmissão televisiva dos jogos de futebol em Espanha. No início de Setembro de2000, aquando do início da nova época de futebol, era evidente a existência de uma concorrência muitoacentuada entre as empresas de radiodifusão sob a forma de promoções baseadas na oferta de jogos defutebol. Apesar destas promoções se centrarem nos novos assinantes, houve indícios de que alguns operadoresde cabo reduziram os preços de forma significativa para todas as categorias de clientes. Posteriormente, ooperador terrestre digital espanhol reduziu até 50% os preços dos jogos de futebol transmitidos através datelevisão por assinatura. Graças à intervenção da Comissão, os consumidores beneficiarão igualmente deum leque de escolha mais vasto: os direitos de futebol que anteriormente só podiam ser adquiridos pelosoperadores da televisão digital via satélite passaram a estar igualmente disponíveis para outras empresas deradiodifusão, o que alargou de forma substancial a oferta de jogos de futebol no âmbito dos três sistemasde distribuição digital (satélite, terrestre e por cabo).

No caso da concentração entre as empresas de electricidade alemãs Veba e Viag (2), a operação foi subordinadaà plena observância pelas partes de rigorosos compromissos em matéria de alienação. Estes compromissostinham por objectivo assegurar que a concorrência no mercado alemão da electricidade, recentementeliberalizado, não fosse entravada por um duopólio dominante entre a Veba/Viag e o seu maior concorrente,a RWE. Na instrução do processo, a Comissão cooperou estreitamente com o Bundeskartellamt alemão, queteve de investigar a concentração paralela entre a RWE e a VEW, que foi autorizada em condições semelhantes.Em consequência, os consumidores alemães continuarão a beneficiar da concorrência a nível do abastecimentode electricidade, o que tinha já conduzido a reduções de preços significativas, tanto para as empresas comopara os particulares, desde a supressão legal dos monopólios regionais das empresas de energia há doisanos. Sem a imposição destas importantes condições pela Comissão e pelo Bundeskartellamt, as duasconcentrações teriam criado uma situação em que a ausência de uma concorrência efectiva na Alemanhateria provavelmente conduzido a um novo aumento dos preços que iria atingir os níveis anteriores, anulandoassim os benefícios da liberalização. Uma maior concorrência no abastecimento da electricidade na sequênciada liberalização pode conduzir igualmente à melhoria dos serviços prestados pelas empresas neste sector(por exemplo, serviços polivalentes, maior escolha dos consumidores no que diz respeito às fontes deabastecimento — «energia verde», etc.).

A Comissão impôs igualmente condições na operação de concentração entre a TotalFina e a Elf Acquitaine (3),sem as quais se corria o risco de entravar a concorrência efectiva em diversos mercados do produto emFrança, incluindo nalguns mercados fundamentais para os consumidores, tais como o mercado grossista defuelóleo para aquecimento doméstico, o mercado retalhista de gás de petróleo liquefeito (GPL) e o mercadoda venda de combustíveis nas auto-estradas francesas. A exigência de alienação de uma grande parte dosactivos da entidade resultante da concentração no sector dos transportes e da armazenagem permitirá queos produtores não integrados se mantenham concorrenciais no mercado retalhista do aquecimento domésticoe de GPL, exercendo assim pressões no sentido da descida dos preços. No mercado da venda de combustíveisnas auto-estradas, a exigência da alienação de setenta estações de serviço preservará a concorrência efectivae permitirá a entrada de um grande operador retalhista (Carrefour) num sector tradicionalmente monopolizadopelos grupos energéticos. Este último aspecto deverá permitir desenvolver a concorrência não apenas emmatéria de preços, mas também no que diz respeito à prestação de serviços adicionais aos consumidores.

(1) Ver também o ponto 220.(2) Ver também o ponto 261.(3) Ver também o ponto 257.

Page 33: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADAS E ABUSOS DEPOSIÇÃO DOMINANTE: ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAIS E

DIREITOS MONOPOLISTAS: ARTIGOS 31.º E 86.º

C — Análise sectorial

1. Indústrias básicas, bens de consumoe de equipamento

1.1. Veículos automóveis

104. O Regulamento (CE) n.o 1475/95 (1) isentada proibição consignada no artigo 81.º os acordosde distribuição de veículos automóveis concluídosentre os fabricantes e seus concessionários no quese refere à venda e serviços de venda e pós-vendade veículos. Esta modalidade caracteriza-se pelacombinação de uma distribuição exclusiva eselectiva, ou seja, a distribuição é asseguradaunicamente por intermédio de concessionáriosautorizados, aos quais é concedido um territórioexclusivo de venda (ou um território onde o númerode outros concessionários pertencentes à mesmarede é limitado), sendo proibidas as vendas aintermediários não autorizados pelo fabricante. A isenção por categoria foi concedida com base na premissa de que existe uma concorrência efectivano âmbito da mesma marca e entre as diferentesmarcas no sector automóvel, que a independênciacomercial dos distribuidores será assim reforçadae que este sistema será vantajoso para os consumidores. A isenção conferida peloregulamento caduca em 30 de Setembro de 2002.

105. O regulamento contém inúmeras disposiçõescom vista a intensificar a concorrência no que se refere à distribuição de veículos e respectivaspeças sobresselentes, para que os consumidorespossam beneficiar de todas as vantagens potenciaisdecorrentes do mercado interno, permitindo-lhesnomeadamente efectuar aquisições transfronteiras.

1.1.1. Aplicação do regulamento de isençãoem 2000: caso de infracção

106. Não obstante estas disposições, a Comissãoverificou no âmbito do processo Opel Nederland (2) que nem sempre assim sucedia. Com

efeito, o importador de veículos Opel nos PaísesBaixos, a Opel Nederland BV, filial da GeneralMotors Nederland BV, aplicou entre Setembro de1996 e Janeiro de 1998 medidas destinadas arestringir ou impedir as vendas para exportaçãodos seus concessionários a clientes finais e aintermediários, prejudicando seriamente ofuncionamento do mercado interno, um dosobjectivos fundamentais da Comunidade.Atendendo à gravidade e à duração da infracção,a Comissão aplicou uma coima de 43 milhões deeuros à Opel Nederland BV. Após a decisão contraa Volkswagen em 1998 (3), a decisão Opel é asegunda decisão importante tomada contra umfabricante de veículos automóveis durante avigência do Regulamento (CE) n.o 1475/95.

107. Por outro lado, o Tribunal de PrimeiraInstância confirmou, através do seu acórdão de6 de Julho de 2000 (4), proferido no processoVolkswagen, a gravidade deste tipo de infracção,que impede os consumidores de beneficiaremplenamente das vantagens do mercado interno. OTribunal de Primeira Instância confirmou, emlinhas gerais, a decisão da Comissão, tendoconsiderado, porém, que não tinha ficadosuficientemente provada a existência de duas dascinco medidas denunciadas. O Tribunalfundamentou a apreciação da coima num períodode três anos e não os dez anos indicados na decisão.O Tribunal de Primeira Instância reduziu assim acoima de 120 milhões para 90 milhões de euros.

108. Nesta mesma óptica, a Comissão prosseguea instrução de outros processos que envolvemfabricantes de veículos automóveis, a quem foramenviadas em 1999 comunicações de acusações,bem como de outros processos relativos a medidasaplicadas com vista a impedir ou restringir ocomércio transfronteiras.

109. Uma característica específica dos processosOpel e Volkswagen, bem como de outros processosem curso, consiste no facto de terem sidodespoletados por denúnicas. Com efeito, aComissão recebe todos os anos várias centenas decartas provenientes de consumidores, bem como

33

(1) Regulamento (CE) n.o 1475/95 da Comissão, de 28 de Junho de1995, relativo à aplicação do n.o 3 do artigo 85.º do Tratado CE acertas categorias de acordos de distribuição e de serviço de vendae pós-venda de veículos automóveis.

(2) Decisão de 20 de Setembro de 2000 (JO L 59 de 28.2.2001);comunicado de imprensa IP/00/1028, de 20 de Setembro de 2000.Em 1 de Dezembro de 2000, a Opel interpôs recurso para o Tribunalde Primeira Instância das Comunidades Europeias da decisão daComissão (processo T-368/00).

(3) Decisão de 28 de Janeiro de 1998, publicada no JO L 124 de25.4.1998 (ver comunicado de imprensa IP/98/94, de 28 de Janeirode 1998).

(4) Acórdão de 6 de Julho de 2000 do Tribunal de Primeira Instânciadas Comunidades Europeias, processo T-98/273 Volkswagen (vercomunicado de imprensa IP/00/725, de 6 de Julho de 2000); em14 de Setembro de 2000, a Volkswagen interpôs recurso para oTribunal de Justiça das Comunidades Europeias do acórdão doTribunal de Primeira Instância (processo C-338/00).

Page 34: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

de intermediários autorizados, que descrevem asdificuldades com que se defrontam para a comprade um veículo automóvel noutro Estado-Membro.Foi com base nessas informações que a Comissãorealizou várias inspecções sem aviso prévio juntode diversos fabricantes.

1.1.2. Avaliação geral da aplicação do regulamento

110. O artigo 11.º do Regulamento (CE)n.o 1475/95 determina que a Comissão deveproceder à avaliação dos efeitos do sistema dedistribuição isento sobre os diferenciais de preçosentre Estados-Membros, e exige igualmente aelaboração de um relatório de avaliação doregulamento até ao final do ano 2000.

111. No que se refere às diferenças de preçospré-imposto entre os Estados-Membros da UniãoEuropeia, a Comissão elabora, duas vezes por ano,um relatório sobre a matéria, com base nasinformações prestadas pelos fabricantes em Maioe em Novembro de cada ano (1). No que se refereao período compreendido entre Novembro de 1999e Maio de 2000, a Comissão verificou que persistemimportantes diferenças de preços pré-imposto, noque diz respeito aos veículos novos na UniãoEuropeia, diferenças essas que rondam em média20%.

112. A Comissão procedeu igualmente à avaliaçãodo Regulamento de isenção, tendo adoptado orespectivo relatório em 15 de Novembro de 2000 (2).O objectivo da avaliação foi determinar se aindase mantêm válidas as premissas que levaram aComissão a adoptar este regulamento de isençãoe examinar os efeitos do sistema de distribuiçãoisento na evolução das diferenças de preços, naqualidade dos serviços prestados aos consumidorese, de forma mais geral, no funcionamento domercado interno a nível das vendas e serviçospós-venda de veículos novos.

113. A elaboração do relatório de avaliaçãobaseou-se nas respostas dadas aos questionáriosenviados pela Comissão aos fabricantes de veículos,às associações de consumidores, concessionários,reparadores independentes, importadoresindependentes, intermediários, produtores de peçassobresselentes e determinados operadores Internet.A Comissão baseou-se igualmente em estudosrecentes respeitantes ao sector automóvel e àdistribuição de veículos automóveis, no seurelatório semestral sobre as diferenças de preçosentre os Estados-Membros da União e na suaexperiência em matéria de problemas deconcorrência, obtida no âmbito do controlo daaplicação dos artigos 81.º e 82.º do Tratado (3).

114. O relatório de avaliação conclui que oregulamento de isenção apenas permitiu alcançarparcialmente os objectivos pretendidos. Por outrolado, algumas das premissas em que a Comissãose baseou para adoptar este regulamento afiguram--se discutíveis. Aparentemente, o sistema é tambémsusceptível de constituir um importante entraveao aparecimento de novas modalidades dedistribuição, nomeadamente através da Internet.

115. Após a adopção deste relatório de avaliação,todas as partes interessadas foram convidadas aapresentar as suas observações, nomeadamentedurante uma audição realizada em 13 e 14 deFevereiro de 2001. A Comissão convidouigualmente os terceiros interessados apronunciarem-se sobre dois estudos relativos àdistribuição automóvel, elaborados a seu pedido porempresas de consultoria (4).

116. A Comissão tenciona publicar até ao finalde 2001 as propostas relativas ao regime dedistribuição e serviços pós-venda de veículos novosque passará a ser aplicável após o termo da vigênciado Regulamento (CE) n.o 1475/95.

1.1.3. Evolução estrutural do sector

117. No sector automóvel nota-se também aexistência de uma colaboração cada vez maisfrequente entre os fabricantes. Por exemplo, o

34

(1) Os relatórios podem ser consultados nas representações da Comissãonos Estados-Membros, bem como na página Internet consagrada ao sector automóvel da Direcção-Geral da Concorrência:http://europa.eu.int/comm/competition/car_sector/#prices. AComissão comunica igualmente à imprensa as suas conclusõessobre a evolução das diferenças de preços (ver comunicados deimprensa IP/00/121, de 7 de Fevereiro de 2000, e IP/00/781, de13 de Julho de 2000).

(2) Relatório sobre a avaliação do Regulamento (CE) n.o 1475/95 relativoà aplicação do n.o 3 do artigo 85.º do Tratado CE a certas categoriasde acordos de distribuição e de serviço de venda e pós-venda deveículos automóveis, COM(2000) 0743 final, de 15 de Novembrode 2000. O relatório pode ser igualmente consultado na página«sector automóvel» da Direcção-Geral da Concorrência:http://europa.eu.int/comm/competition/car_sector/.

(3) Ver igualmente o Relatório sobre a Política de Concorrência de1999, pontos 145 e 146.

(4) Os dois estudos podem ser consultados na página «sector automóvel»da Direcção-Geral da Concorrência, no endereçohttp://europa.eu.int/comm/competition/car_sector/. O estudo «Arelação natural entre vendas e serviços pós-venda» foi realizadopela Autopolis e o estudo «Análise económica das diferenças depreços na União Europeia», por Hans Degryse e Frank Verboven(K. U. Leuven e CEPR).

Page 35: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADAS E ABUSOS DEPOSIÇÃO DOMINANTE: ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAIS E

DIREITOS MONOPOLISTAS: ARTIGOS 31.º E 86.º

grupo General Motors e a Fiat, para além dapermuta de participações cruzadas, notificaram asua cooperação no domínio das transmissões paraveículos automóveis, de compra de componentese peças sobresselentes para automóveis, daorganização de serviços financeiros para os seusconcessionários e clientes, do desenvolvimento deplataformas comuns e de programas de investigaçãoe desenvolvimento relacionados com a produçãode veículos de passageiros e veículos utilitáriosligeiros. A Comissão considerou que estavampreenchidas as condições para uma isenção da aplicação das regras comunitárias deconcorrência (1).

118. Esta evolução estrutural nota-se igualmenteno número de fusões e aquisições e de criação deempresas comuns entre fornecedores do sectorautomóvel (2), bem como na contínua tendênciade consolidação entre os fabricantes de veículosautomóveis (3). Uma outra evolução assinalávelconsiste na criação de plataformas Internet paraoperações interempresas (B2B), entre, por um lado,os produtores de veículos e, por outro, osfornecedores do sector automóvel, com vista aoptimizar as economias de escala em matéria deaquisições, bem como a optimizar a cadeia defornecimento e os processos de produção dosfornecedores e dos fabricantes de veículosautomóveis. Por exemplo, a plataforma Covisintreunirá, por um lado, a General Motors, a Ford, aDaimler Chrysler, a Renault, a Nissan e a Toyotae, por outro, a BASF, a Delphi Automotive, aFederal Mogul, a Johnson Controls, a LearCorporation e a Yazaki International. A criação eo funcionamento da Covisint serão objecto de umcuidadoso exame por parte da Comissão, dado queparticipam no acordo importantes operadores,designadamente grandes fabricantes de automóveis.

1.2. Combustíveis para automóveis

119. O dramático aumento do preço doscombustíveis no ano 2000 desencadeou um debatepúblico sobre as condições concorrenciais do sector.A Comissão e as autoridades de concorrêncianacionais reuniram-se e discutiram a aplicação das

regras de concorrência neste sector, a nível nacionale comunitário. Uma primeira reunião, realizadaem 29 de Setembro de 2000, em que as autoridadesnacionais e a Comissão procederam à troca depontos de vista sobre as suas experiências, foiseguida de uma segunda em 29 de Novembro de2000 (4). As autoridades nacionais de váriosEstados-Membros intervieram ao longo do anocontra infracções ao direito da concorrênciacometidas nos respectivos territórios no sector doscombustíveis para veículos automóveis. Asautoridades de concorrência italiana e suecaintervieram com êxito contra cartéis e a autoridadede concorrência alemã adoptou uma decisão contraa fixação de preços discriminatórios (5).

120. Acordou-se que as autoridades nacionaisdeviam centrar-se no combate aos cartéis, uma vezque a experiência revela que os cartéis em matériade preços neste sector, quando existentes, operama nível nacional ou regional. As autoridades deconcorrência nacionais foram igualmenteconvidadas a analisar a questão das restriçõesverticais nos seus mercados nacionais,nomeadamente o nível de encerramento dosmercados. O sector dos combustíveis para veículosautomóveis na Europa caracteriza-se por acordosde fornecimento exclusivo entre retalhistas efornecedores. O efeito cumulativo destes contratospode impedir a entrada no mercado de novosoperadores e de empresas independentes, nãointegradas («efeito de encerramento do mercado»).O novo regulamento de isenção por categoriarelativo às restrições verticais (6) reduziu a duraçãomáxima das cláusulas de não concorrência de 10para 5 anos, esperando-se que tal contribua para aabertura dos mercados. A Comissão e asautoridades nacionais cooperarão entre si nestaavaliação.

121. A Comissão, por seu turno, deu início a umainvestigação com vista a examinar a situação dasempresas independentes e não integradas em váriosEstados-Membros. É importante garantir que asempresas independentes dispõem de reaispossibilidades de penetrar nos mercados doscombustíveis automóveis, dado que os mercadosem que operam empresas independentes (porexemplo, França, Reino Unido e Alemanha) são

35

(1) Comunicado de imprensa da Comissão IP/00/932, de 16 de Agostode 2000.

(2) Processos de concentração M.1870 ZF/Brembo/DFI, M.1929Magnetti Marelli/SEIMA, M.2036 Valeo/Labinal, M.2046Valeo/Robert Bosch, M.2066 DANA/GETRAG e M.2102 MagnettiMarelli.

(3) Processos de concentração M.1998 Ford/LandRover e M.1847GM/SAAB.

(4) MEMO/00/55 de 20 de Setembro de 2000 e comunicados deimprensa da Comissão, IP/00/1090, de 29 de Setembro de 2000, eIP/00/1391, de 30 de Novembro de 2000

(5) Informações mais pormenorizadas sobre estas investigações constamdos relatórios das autoridades de concorrência nacionais relevantes.

(6) Ver também a secção I.A, capítulo 1.

Page 36: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

mais concorrenciais do que os mercados retalhistasem que os fornecedores verticalmente integradostêm uma forte presença.

2. Indústrias de rede

2.1. Gás

122. Em 2000 verificaram-se progressossignificativos na criação de um mercado único dogás. Em 10 de Agosto de 2000 findava o prazopara a transposição para o direito nacional daDirectiva 98/30/CE relativa ao mercado do gásnatural. Esta directiva prevê, nomeadamente:

— a supressão dos direitos de monopólio (taiscomo os monopólios de importação);

— a introdução de um regime de acesso a terceiros(que autoriza os clientes elegíveis a utilizarema rede de gás existente);

— uma abertura progressiva do mercado (emAgosto de 2000, pelo menos 20% do consumoanual total do mercado de gás nacional tinhade ser liberalizado); e

— autonomização de empresas integradasverticalmente (pelo menos no que diz respeitoà manutenção de contabilidades separadasrelativas a transporte, distribuição earmazenamento de uma empresa de gás).

123. A liberalização tem por objectivo introduzira concorrência nos mercados de gás, permitindo aosclientes trocar de fornecedor. Esta abertura dosmercados comunitários no sector do gás terá umimpacto na política da concorrência equivalenteao da liberalização dos mercados de electricidade.A política comunitária da concorrênciacomplementará a política do mercado interno, porforma a que a liberalização se torne uma realidadepara os consumidores.

124. Em relação aos 15 Estados-Membros,11 transpuseram a directiva do gás de formaatempada. Três Estados-Membros não respeitaramas suas obrigações na matéria (França,Luxemburgo e Portugal) e um Estado-Membronão procedeu à sua transposição completa(Alemanha). Por conseguinte, a Comissão decidiudar início a um procedimento contra estes últimosquatro Estados-Membros.

125. Dos Estados-Membros que transpuseram adirectiva, a maior parte optou pelas modalidadesconcorrenciais previstas na directiva em termosde acesso à rede. A maioria optou por um regimede acesso de terceiros regulamentado, escolhendoos restantes um regime de acesso negociado ouuma combinação de ambos os sistemas.

126. Muitos Estados-Membros procederam àabertura dos seus mercados em maior escala doque era exigido pela directiva. Em vez deestabelecerem um requisito mínimo de 20%, países como o Reino Unido e a Alemanhacomprometeram-se a assegurar a abertura a 100%do mercado. Nos próximos anos prevê-se que váriosEstados-Membros seguirão este exemplo, optandopor uma abertura a 100% dos seus mercados,nomeadamente a Áustria, a Bélgica, a Itália, osPaíses Baixos, a Espanha e a Suécia. Em média,aproximadamente 80% da procura total de gás foiliberalizada em Agosto de 2000.

127. No entanto, muito embora se tenha assistidoa um início prometedor no processo de liberalizaçãodos mercados de gás e apesar do elevado nívelmédio de abertura do mercado ser um indicadorfavorável e uma condição prévia muito importantepara que os clientes possam exercer o seu direitode escolha, tal não garante, por si só, a criação deum mercado de gás concorrencial na Europa, nãosendo também suficiente para assegurar que os clientes beneficiarão plenamente com aliberalização. Por conseguinte, devem ser aindaenvidados grandes esforços para fazer do mercadoúnico europeu do gás uma realidade.

128. A maioria dos Estados-Membrosmanifestou-se favorável à criação de umaautoridade reguladora independente, que deverácontrolar o sector do gás e, em especial, o regimede acesso de terceiros. A Comissão tem vindo acolaborar estreitamente com estas autoridadesrecém-criadas. Com base no modelo do «Fórum deFlorença», instituiu um fórum regulador do gás naUE, que se reuniu duas vezes em Madrid no ano2000. O Fórum reúne representantes de todos osEstados-Membros, entidades reguladoras nacionais,operadores de redes de transporte e empresas de gás,assegurando o quadro necessário para o debate sobrea harmonização das normas sectoriais e das práticasreguladoras. Em 2000, o fórum debruçou-sesobretudo sobre a criação de uma associaçãoeuropeia independente de operadores de redes detransporte e questões relacionadas com a rede, taiscomo os serviços prestados no âmbito do regime36

Page 37: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADAS E ABUSOS DEPOSIÇÃO DOMINANTE: ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAIS E

DIREITOS MONOPOLISTAS: ARTIGOS 31.º E 86.º

de acesso de terceiros e as tabelas de preçostransfronteiras, bem como questões deinteroperabilidade técnica. O fórum decidiuigualmente criar um grupo de trabalho para aceleraras discussões sobre, nomeadamente, a tarificaçãodo transporte, a equilibragem e o acesso ao gásarmazenado.

129. No Conselho Europeu de Lisboa de 23 e24 de Março de 2000, foi decidido «acelerar aliberalização em áreas tais como o gás (…)» (1).Deste modo, a Comissão proporá uma novadirectiva ao Conselho Europeu de Estocolmo, arealizar em Março de 2001 (2), no sentido daconclusão do mercado interno do gás.

130. No que diz respeito à aplicação do direito daconcorrência em 2000, a Comissão debruçou-sesobretudo sobre os acordos de cooperação entreprodutores e fornecedores de serviços conexos,bem como sobre os acordos de fornecimento alongo prazo (3).

131. No decurso das suas investigações, aComissão concluiu que actualmente a estruturados mercados europeus do gás não é favorável àconcorrência. Os mercados caracterizam-se poruma demarcação horizontal e vertical induzida,nomeadamente, pelos contratos de fornecimentoa longo prazo celebrados entre os membros de umacadeia de fornecimento vertical fortementeimplantada, que abrange desde os produtores de gásaté aos seus utilizadores finais.

132. A demarcação vertical significa que cadaoperador tem uma função bem definida no âmbitoda cadeia de fornecimento, abstendo-se geralmentede penetrar nos mercados do seus clientes e/oufornecedores (ou seja, inexistência de quaisquervendas directas dos produtores aos utilizadoresfinais). A demarcação horizontal significa que cadaimportador/grossista e/ou distribuidor regional/localdispõe de uma área de fornecimento tradicional, nãopenetrando normalmente, pelo menos por enquanto,na área de fornecimento limítrofe.

133. A Comissão verificou também que a maioriados mercados a montante (prospecção, produçãoe vendas a grossistas) se caracteriza por diversas

formas de cooperação entre concorrentes. A maioriados mercados a jusante (distribuição, transporte earmazenagem) parece assumir actualmente umadimensão nacional, no máximo. São geralmentedominados pelos antigos monopolistas, osdenominados «campeões nacionais». Trata-se, emgeral, de empresas verticalmente integradas quecontrolam os gasodutos e que são normalmentemonopólios naturais, sendo provável que tal semantenha no futuro.

134. Na definição das prioridades para a futurapolítica em matéria de aplicação, a Comissão teráem conta a actual estrutura do mercado. AComissão entende que a concorrência nos mercadosde gás só pode ser introduzida se forem satisfeitastrês condições, a saber:

— se os fornecedores puderem concorrerlivremente entre si para a obtenção de clientes;

— se os clientes puderem mudar livremente defornecedor;

— se for introduzido e mantido um regime deacesso de terceiros eficaz, não discriminatórioe baseado nos custos efectivos.

135. Nos próximos anos a Comissão daráprioridade à instrução dos processos quecontribuam para a criação de condições demercado concorrenciais. Deste modo, seráatribuída prioridade aos casos susceptíveis decontribuir para superar os problemas inerentesàs actividades de comercialização conjunta nosmercados a montante (por exemplo, vendasconjuntas). Será também dada prioridade aoscasos que limitam a capacidade de o adquirentevender o gás fora de um determinado território oua determinados utentes. Tais casos assumem umaimportância especial para efeitos da criação domercado interno do gás.

136. Será igualmente atribuída prioridade àsquestões de rede. Sem um regime de acesso deterceiros eficaz, os clientes não poderão optar pornovos fornecedores e estes últimos não poderãoabastecer os clientes que pretendem mudar defornecedor. Em conformidade com os princípiosgerais do direito da concorrência comunitário, asquestões transfronteiras merecerão uma atençãoespecial por parte da Comissão, enquanto asautoridades nacionais serão incentivadas a examinar os casos de dimensão nacional. 37

(1) Ver comunicado de imprensa Lisboa 100/00, de 24 de Março de2000.

(2) Ver comunicação da Comissão ao Conselho e ao Parlamento Europeusobre os recentes progressos verificados a nível da criação domercado interno da electricidade, COM(2000) 297 final, de 16 deMaio de 2000, p. 11.

(3) Ver também a parte II, sobre a GN/Endesa.

Page 38: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

2.2. Electricidade

137. O ano de 2000 foi o segundo ano daliberalização do mercado da electricidade. OnzeEstados-Membros procederam à plenatransposição da directiva de 1996. Dos quatrorestantes Estados-Membros, três não concluíramainda todos os actos legislativos necessários para que os operadores do mercado tenhamconhecimento do quadro em que passarão a actuar.Um Estado-Membro beneficia ainda, até 2001,de uma derrogação prevista na directiva.Encontram-se ainda pendentes os procedimentosiniciados pela Comissão com base no artigo 226.ºdo Tratado CE em relação aos Estados-Membrosque procederam à transposição tardia ou incompletada directiva.

138. Em 10 de Maio de 2000, a Comissão adoptouuma proposta de directiva do Parlamento Europeue do Conselho relativa à promoção da electricidadea partir de fontes de energia renováveis nomercado interno de electricidade (1). O objectivoestratégico da proposta consiste em criar umenquadramento para um aumento significativo, amédio prazo, da electricidade gerada na UE apartir de fontes renováveis e facilitar o seu acessoao mercado interno de electricidade. A fim dealcançar este objectivo, a directiva propõe queos Estados-Membros tomem as medidasnecessárias, incluindo medidas de apoio público,com vista a assegurar que o nível da electricidadeproduzida a partir de fontes de energia renováveis,em relação à totalidade do consumo deelectricidade na Comunidade, ronde os 22% em2010.

139. A aplicação do direito comunitário daconcorrência nesta área centrou-se em dois tiposde casos. Em primeiro lugar, nos casos de ligaçõescontratuais entre empresas produtoras deelectricidade que se tornaram concorrentes após aliberalização do mercado. Em especial, foiempreendida uma investigação sobre os vínculosentre a Electricité de France e a CompagnieNationale du Rhône, o antigo monopolista francêse uma pequena empresa local produtora deelectricidade, respectivamente.

140. Uma segunda questão relevante prendia-secom o acesso às interligações, isto é, as linhasutilizadas para interligar os sistemas de electricidade

dos diferentes Estados-Membros (2). Foramintroduzidos melhoramentos no que se refere aoacesso aos cabos que ligam as redes eléctricas dealta tensão dos países escandinavos à Alemanha,após intervenção da Comissão. A Comissãoabordará também outras interligaçõescongestionadas entre Estados-Membros da UniãoEuropeia, tais como as existentes nas fronteiras doReino Unido/França, Bélgica/Países Baixos,Alemanha/Países Baixos e França/Espanha.

141. A Comissão apreciou a sua primeira operaçãode concentração importante nos mercados deelectricidade em 2000 (3).

142. Não foram ainda ultimadas as orientaçõesrelativas ao tratamento dos custos ociosos ao abrigodas regras aplicáveis aos auxílios estatais. Prevê-sea sua adopção no primeiro semestre de 2001.

143. No que respeita aos mercados do gás, oConselho Europeu decidiu em Lisboa, em 23 e24 de Março de 2000, «acelerar a liberalização emáreas como a (…) electricidade (…)» (4). AComissão apresentará assim uma nova directiva aoConselho Europeu de Estocolmo, em Março de2001 (5), propondo a conclusão do mercado internoda electricidade.

2.3. Telecomunicações

2.3.1. Consolidação das directivas de liberalização

144. No quadro da revisão geral das directivassectoriais, a Comissão adoptou, em 12 de Julho, umprojecto de directiva que visa reunir num únicotexto todas as disposições não obsoletas daDirectiva 90/388/CEE, alterada sucessivamentepelas Directivas 94/46/CE, 95/51/CE, 96/2/CE,96/19/CE e 1999/64/CE. Como o processo deliberalização dos mercados de telecomunicaçõesna Europa foi já em grande parte concluído, apenassão mantidas as disposições ainda necessárias paramanter os objectivos prosseguidos por estadirectiva. O projecto de directiva não visa impornovas obrigações aos Estados-Membros. Várias

38 (1) Proposta da Comissão de directiva do Parlamento Europeu e doConselho, COM(2000) 279 final.

(2) Ver também a parte II, sobre o cabo Skagerrak, e o comunicado deimprensa da Comissão IP/01/30, de 11 de Janeiro de 2001.

(3) Ver processo VEBA/VIAG, ponto 261.(4) Ver comunicado de imprensa Lisboa 100/00, de 24 de Março de

2000.(5) Ver comunicação da Comissão ao Conselho e ao Parlamento Europeu

sobre os recentes progressos verificados a nível da criação domercado interno da electricidade, COM(2000) 297 final, de 16 deMaio de 2000, p. 11.

Page 39: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADAS E ABUSOS DEPOSIÇÃO DOMINANTE: ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAIS E

DIREITOS MONOPOLISTAS: ARTIGOS 31.º E 86.º

definições foram alteradas, a fim de ter em contaa evolução tecnológica mais recente no domíniodas telecomunicações.

145. A adopção definitiva da nova directivadecorrerá paralelamente com a adopção de seispropostas de directivas de harmonização aprovadaspela Comissão na mesma data.

2.3.2. Sexto relatório sobre a aplicação das directivas

146. Em 7 de Dezembro, a Comissão adoptou oseu sexto relatório sobre a aplicação do pacoteregulamentar das telecomunicações (1). Esterelatório faz o ponto da situação no que se refereà aplicação das directivas de liberalização e deharmonização em todos os Estados-Membros daUE.

147. Decorridos três anos após a liberalizaçãoglobal dos serviços de telecomunicações, o relatórioconfirma que a concorrência favoreceu o aumentodas taxas de penetração da telefonia móvel GSM,que atingiu 70% num Estado-Membro, sendosuperior a 39% em todos os restantes. A situaçãono mercado demonstra como os preços para osutilizadores particulares e comerciais continuama diminuir. No mercado grossista, os preços globaisdas linhas alugadas continuam a descer,particularmente nos mercados em que existempressões concorrenciais. Muito embora estes preçostenham diminuído de forma sensível desde 1997,as assinaturas anuais, tanto no que diz respeito àslinhas nacionais como internacionais, divergemconsideravelmente entre os Estados-Membros.Desde a liberalização, os encargos de interligaçãodiminuíram em 6,5% para o trânsito simples e em20,2% para o trânsito duplo, permanecendo estáveisa nível local.

148. Neste relatório, a Comissão identificouigualmente um determinado número de problemasque subsistem. Em primeiro lugar, osprocedimentos de autorização continuam a serpesados e burocráticos em vários Estados-Membrose as taxas de licenciamento são frequentementeonerosas, o que representa um entrave à entrada nomercado. Em matéria de interligação, os novosoperadores queixam-se de que as autoridadesreguladoras nem sempre são competentes paraverificar se os preços dos operadores históricossão orientados pelos respectivos custos. Foi muito

reduzido o número de Estados-Membros queasseguraram a instituição de instrumentoscontabilísticos adequados. Por último, subsistemproblemas preocupantes nalguns Estados-Membrosno que se refere à falta de reequilíbrio das taxas deassinatura telefónica, o que conduz a umacompressão das margens a nível dos encargosrelativos ao acesso ao lacete local.

2.3.3. Comunicação sobre a telefonia na Internet

149. A comunicação de 1998 sobre o estatuto dascomunicações vocais na Internet previa umreexame em 2000, em função da evolução domercado. Em 20 de Dezembro de 2000, a Comissãorealizou uma consulta pública e adoptou uma novacomunicação (2), que não visa substituir a de 1998,cujas conclusões continuam a ser válidas até àentrada em vigor do novo quadro regulamentar,previsto para 2002, mas tem como objecto principalclarificar as ambiguidades.

150. A análise da Comissão continua a sustentarque os serviços de telecomunicações na Internet nãosatisfazem, em geral, as condições de definição datelefonia vocal, pelo que não podem assim estarsujeitos à regulamentação sectorial. No entanto,quando o serviço, devido ao seu nível de qualidadee fiabilidade, substitui perfeitamente ascomunicações vocais encaminhadas de forma maistradicional, não há motivos para que o operadorescape ao dispositivo regulamentar aplicável àtelefonia vocal.

2.3.4. Controlo da aplicação das directivas

151. A Comissão continuou a velar pela aplicaçãoefectiva das directivas de liberalização nosEstados-Membros, bem como pela instituição doquadro regulamentar na Grécia, cujo períodotransitório para introduzir a concorrência findouem 31 de Dezembro.

152. Não obstante os progressos substanciaisrealizados pelos Estados-Membros, no final do ano encontravam-se ainda pendentes21 procedimentos de infracção contra Estados-Membros que não tinham procedido àtransposição correcta das directivas deliberalização com base no n.o 3 do artigo 86.º doTratado ou que não tinham notificado as medidasde transposição. A Comissão prosseguiu,

39(1) COM(2000) 814. (2) JO C 369 de 22.12.2000.

Page 40: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

nomeadamente, os procedimentos de infracçãoiniciados em anos anteriores contra os Estados-Membros que não tinham procedido àtransposição correcta das directivas deliberalização. O procedimento de infracçãoiniciado contra a França relativo ao cálculo docusto do serviço universal conduziu em Abril àintrodução de uma acção perante o Tribunal deJustiça. As práticas francesas contestadasprendem-se com o carácter não transparente dasmetodologias de avaliação e das regras de cálculoinstituídas em 1997, que se traduzem, além disso,numa sobreavaliação do custo do serviçouniversal.

153. A Comissão prosseguiu também osprocessos relativamente aos Estados-Membrosem que não foi concluído o reequilíbrio da taxade assinatura (Alemanha, Itália e Espanha e Françano âmbito do procedimento relativo ao serviçouniversal), em conformidade com a Directiva96/19/CE. Com efeito, é importante que estereequilíbrio seja realizado antes da desagregaçãodo acesso ao lacete local, a fim de evitar acompressão de margens, ou seja, situações emque os novos operadores suportariam os custosintermédios (neste caso, os das linhasdesagregadas) para poderem concorrer com ooperador dominante a nível dos preços retalhistaspor ele praticados, sendo este último igualmenteo fornecedor do bem intermédio. Nestaperspectiva, a Comissão dirigiu pareceresfundamentados à Itália e à Espanha, bem comouma notificação formal à Alemanha. Asautoridades italianas, na sequência deste parecerfundamentado, adoptaram em Dezembro medidasque permitem à Telecom Italia adaptar a taxa deassinatura numa proporção suficiente, pelo que oprocesso contra este país foi suspenso.

154. A Comissão formulou também um parecerfundamentado contra o Luxemburgo pordiscriminar os novos operadores em matéria dedireitos de passagem (1). Por último, a Comissãoenviou oito notificações formais aos Estados-Membros que não tinham ainda notificado asmedidas de transposição da Directiva 1999/64,que tem por objecto garantir que as redes detelecomunicações e as redes de televisão por cabopertencentes a um único operador sejam divididasem entidades jurídicas distintas.

2.3.5. Comunicação e inquérito sectorialsobre o acesso desagregado ao lacete local

155. A reduzida concorrência no lacete local (istoé, o último par de fios de cobre entre as centrais dosoperadores históricos e as instalações dosutilizadores finais) continua a ser fonte depreocupação. Na maioria dos países da UE, osoperadores históricos têm quotas de mercado queoscilam entre 95% e 100% a nível dos serviçosretalhistas de acesso e das comunicações locais, emrelação aos quais o controlo do lacete local lhesconfere um poder de controlo absoluto. Em 26 deAbril, a Comissão adoptou uma comunicação sobreo acesso desagreagado ao lacete local (2), indicandoque, mesmo na ausência de requisitosregulamentares específicos, a imposição decondições discriminatórias de acesso podemconstituir abusos de posição dominante pelosoperadores históricos, em violação do disposto noartigo 82.º

156. Em 12 de Julho, aquando da divulgação dasua proposta relativa a um novo quadroregulamentar para o sector dos serviços detelecomunicações (3), incluindo um regulamentosobre a oferta de acesso desagregado ao lacetelocal, a Comissão anunciou também que tinhalançado um inquérito sectorial sobre esta matéria.Este inquérito incide sobre a concorrência noâmbito do lacete local e averigua eventuais abusosde posição dominante por parte dos operadoreshistóricos.

2.3.6. Resultados iniciais do inquéritosectorial sobre as linhas alugadas

157. No que diz respeito à componente doinquérito sectorial sobre os preços das linhasalugadas, a Comissão apresentou, numa audiçãoorganizada em 22 de Setembro, os resultadosiniciais deste inquérito. As principais conclusõesapontam para uma descida substancial, desde aabertura do sector à concorrência, dos preços daslinhas alugadas, em especial das linhas alugadasde longa distância e internacionais. Parecem existirfortes pressões concorrenciais ao nível retalhista,conforme atestado pelos descontos substanciaisconcedidos pelos operadores históricos. Por outrolado, a procura de linhas alugadas tem vindo a

40 (1) Foi introduzida uma acção no Tribunal de Justiça em 27 de Fevereirode 2001.

(2) Comunicação: JO C 272 de 23.9.2000, p. 55.(3) Regulamento (CE) n.o 2887/2000 do Parlamento Europeu e do

Conselho, de 18 de Dezembro de 2000, relativo à oferta de acessodesagregado ao lacete local (JO L 336 de 30.12.2000), p. 4, aprovadonos termos do artigo 95.º do Tratado CE.

Page 41: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADAS E ABUSOS DEPOSIÇÃO DOMINANTE: ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAIS E

DIREITOS MONOPOLISTAS: ARTIGOS 31.º E 86.º

aumentar de forma espectacular, fomentadasobretudo pela Internet. A situação varia, contudo,de forma acentuada, consoante os Estados--Membros. O peso relativo das receitas provenientesdas linhas alugadas no volume de negócios totaldos operadores históricos é muito variável(oscilando entre 1% e 17% para as linhas alugadasnacionais e entre 13% e 27% para as linhas alugadas internacionais). Detectaram-se preçospotencialmente excessivos para as larguras debanda de 2 MBytes por segundo, de 34 MBytes/se de 155 MBytes/s. O inquérito revelou também aexistência de eventuais abusos não relacionadoscom os preços, tais como os descontos estratégicose os prazos discriminatórios no fornecimento delinhas alugadas.

158. No intuito de examinar os motivos dos preçoseventualmente excessivos nas linhas alugadasinternacionais, a Comissão iniciou cincoprocedimentos ex officio relativamente à Bélgica,Grécia, Itália, Portugal e Espanha. Numa primeiraetapa, a Comissão tem vindo a realizar reuniõesbilaterais com as autoridades de concorrência e as entidades reguladoras nacionais dos Estados-Membros em causa.

2.3.7. Inquérito sectorial sobre os serviços deitinerância («roaming»)

159. O inquérito sectorial sobre os serviços deitinerância baseou-se nos pedidos formais deinformações respeitantes aos custos, preços epráticas comerciais relacionados com a itinerânciamóvel, feitos a quase 200 operadores de redesmóveis, prestadores de serviços e autoridadesnacionais na UE. Considerou-se que os mercadospor grosso e a retalho assumiam uma dimensãosobretudo nacional, sendo praticamente inexistentesquaisquer ofertas retalhistas transnacionais. Oinquérito determinou a existência de rácios deconcentração superiores a 90% para os doisoperadores históricos na maioria dos mercadosnacionais de itinerância por grosso, sendogeneralizada a falta de uma definição dos preçosem função dos custos e de ofertas concorrenciais,nomeadamente a nível grossista, em toda a UE.

160. A Comissão discutiu as conclusões extraídasdo seu inquérito com as autoridades de concorrêncianacionais e os peritos das entidades reguladorasnacionais no sector das telecomunicações dosEstados-Membros da UE, numa reunião realizadaem Bruxelas, em 24 de Novembro. Nesta reuniãoa Comissão apresentou possíveis iniciativas parafazer face a uma série de alegados casos de colusão

e/ou abuso de posição dominante individual oucolectiva pelos operadores de redes móveis,identificados no decurso do inquérito. A Comissãobasear-se-á igualmente nas suas conclusões paraavaliar os acordos de itinerância normalizados epreferenciais, bem como as práticas de concessãode descontos a nível das taxas de itinerância porgrosso e a retalho, tencionando prestar às autoridadesnacionais e às empresas orientações sobre a aplicaçãodas regras da concorrência neste contexto.

2.3.8. Processos instruídos nos termos dos artigo 81.º e 82.º

Unisource

161. Em 29 de Dezembro, a Comissão adoptouuma decisão (1) em que revogou a decisão deisenção por ela tomada em 1997 (2) relativa àUnisource, uma vasta aliança de telecomunicaçõesà escala mundial entre três operadores detelecomunicações históricos, a saber, a KPN (PaísesBaixos), a Telia (Suécia) e a Swisscom (Suíça).

162. As partes informaram a Comissão que, devidoà evolução do mercado e aos prejuízos acumuladospela Unisource, os accionistas tinham decididorestringir severamente o âmbito de actividades dasua empresa comum, que actualmente presta apenasserviços de telecomunicações de valor acrescentadoa empresas multinacionais. Além disso, renunciaramàs cláusulas de não concorrência que impedem asempresas-mães de concorrer com a empresa comum,bem como aos acordos de distribuição exclusiva.

163. Atendendo a estas alterações, as partessolicitaram um reexame da decisão de 1997,nomeadamente para serem libertadas das condiçõese requisitos em matéria de apresentação deinformações, que foram impostos enquanto parteintegrante da decisão de isenção.

2.3.9. Processos instruídos nos termos do Regulamento das Concentrações

JV.46 — Callahan Invest/Kabel Nordrhein-Westfalen e JV.50 — Callahan Invest/KabelBaden-Württemberg

164. Em duas decisões de 19 de Junho e 1 Agosto,a Comissão autorizou a venda da rede regional de

41

(1) Comunicado de imprensa da Comissão IP/01/1, de 3 de Janeiro de2001.

(2) Decisão da Comissão de 29 de Outubro de 1997 (JO L 318 de20.11.1997).

Page 42: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

televisão por cabo da Deutsche Telekom (DT) naRenânia do Norte-Vestefália (KNW) e Baden-Württemberg (KBW) à Callahan Invest Limi-ted (1). Estas operações visam intensificar aconcorrência nos diferentes mercados de oferta deserviços de comunicações. Na sua análise dasconcentrações notificadas, a Comissão concluiuque as operações não criariam, nem reforçariamuma posição dominante.

165. A Comissão concluiu que, apesar de a KNWe a KBW, imediatamente após a operação, ficaremcom um monopólio de facto no que se refere àsoperações por cabo no seu território, a operação emsi não cria, nem reforça uma posição dominante nomercado dos serviços de televisão por assinaturana Alemanha, uma vez que a KNW e a KBWpassam apenas a assumir as posições anteriormentedetidas pela DT. Após procederem à melhoria darede de televisão por cabo, a KNW e a KBW estarãoem condições de concorrer com a DT através daprestação de serviços de telefonia vocal e deserviços de acesso à Internet a clientes finais.

166. A KNW e a KBW celebrarão diversosacordos com a filial da DT, a Media Services GmbH(MSG), com vista a obterem conteúdos, serviçostécnicos e determinados serviços de marketing ede venda associados à prestação de serviços detelevisão por assinatura pela KNW aos assinantesna Renânia do Norte-Vestefália. Estes acordos,contudo, não são abrangidos pela decisão daComissão de autorização da operação.

JV.48 — Vodafone, Vivendi e Canal+ (Vizzavi)

167. Em 20 de Julho, a Comissão aprovou a criaçãode uma empresa comum sob a forma de um portalInternet, a Vizzavi, entre a Vodafone, Vivendi eCanal+. A autorização foi possível após asempresas terem apresentado compromissos comvista a assegurar que os portais Internetconcorrentes dispunham de um acesso equitativoaos descodificadores e aos telemóveis dasempresas-mães.

168. A Vizzavi desenvolverá, comercializará,manterá e assegurará um portal Internet de acessomúltiplo e de marca própria em toda a Europa,assegurando aos clientes um quadro contínuo paraserviços interactivos baseados na web, assentesnuma diversidade de plataformas, tais como as

redes de telefonia fixa e móvel, os computadorespessoais e computadores de mão (palm top), bemcomo os aparelhos de televisão. A decisão asseguraque o actual modelo concorrencial de serviçosInternet, em que os consumidores podem optar pelo seu prestador de conteúdos,independentemente do seu fornecedor de acesso,é transposto para os mercados em desenvolvimentode serviços de acesso à Internet através detelemóveis e televisões.

169. A investigação da Comissão concluiu que aempresa comum teria suscitado preocupações doponto de vista da concorrência nos novos mercadosnacionais de portais Internet baseados na televisãoe nos novos mercados nacionais e pan-europeus deportais Internet baseados nos telemóveis. A fimde dissipar estas preocupações de concorrênciaidentificadas pela Comissão, as partes apresentaramcompromissos com vista a permitir que osconsumidores possam optar por um novo portalatravés dos telemóveis ou dos descodificadores,se assim o desejarem. As empresas facultarão aosconsumidores o acesso aos portais de terceiros,permitir-lhes-ão mudar eles próprios o portal ouautorizarão um operador de um terceiro portal amodificar o respectivo regime de acesso para osconsumidores.

2.4. Serviços postais

2.4.1. Proposta da Comissão relativa a uma maior abertura do mercado

170. Em 30 de Maio, a Comissão apresentou asua proposta de alteração da Directiva «ServiçosPostais», em que propõe uma série de medidasdestinadas a assegurar a abertura de uma partesubstancial do mercado de serviços postais àconcorrência até 2003 (2), seguida de uma novaabertura em 2007. A abordagem por etapas propostavisa conduzir a uma maior concorrência a níveldos serviços postais, assegurando simultaneamentesalvaguardas destinadas a garantir um serviçopostal universal em toda a União Europeia.

171. A partir de 1 de Janeiro de 2003, a Comissãopropõe que seja alargado o leque de serviços queos Estados-Membros devem abrir à concorrência.Tal incluiria os elementos postais com peso superior

42 (1) Comunicados de imprensa da Comissão IP/00637, de 20 de Junhode 2000, e IP/00/905, de 2 de Agosto de 2000.

(2) Proposta de Directiva do Parlamento Europeu e do Conselho, quealtera a Directiva 97/67/CE no que respeita à prossecução da aberturaà concorrência dos serviços postais da Comunidade, COM(2000)319 final.

Page 43: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADAS E ABUSOS DEPOSIÇÃO DOMINANTE: ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAIS E

DIREITOS MONOPOLISTAS: ARTIGOS 31.º E 86.º

a 50 gramas e os elementos com peso inferior a50 gramas sempre que o preço fosse, pelo menos,duas vezes e meio superior ao preço de uma cartanormalizada. Todo o correio transfronteiras e ocorreio expresso seriam igualmente abertos àconcorrência. Estima-se que a abertura total domercado resultante desta primeira etapacorresponde a aproximadamente 20% das receitasdos prestadores de serviços universais no domíniodos serviços postais. Além disso, a propostaestabelece uma definição precisa de serviçosespeciais, que não podem ser reservados nos termosda presente directiva, e exige a aplicação dosprincípios da transparência e da não discriminaçãonas tarifas especiais.

2.4.2. Controlo da aplicação do AcordoReims II

172. Em 15 de Setembro de 1999, a Comissãoadoptou uma decisão nos termos do n.o 3 do artigo81.º que isentava o Acordo Reims II até 31 deDezembro de 2001 (1). Neste acordo, 16 operadorespostais europeus estabeleceram a remuneração queo operador postal que envia correio transfronteirasdeve pagar ao operador postal que o recebe paradistribuir esse correio aos destinatários. Osaumentos da referida remuneração estãosubordinados a melhorias na qualidade do serviçode entrega do operador postal que recebe o correio.Na sua decisão, a Comissão impôs uma série decondições e obrigações às partes, a fim de assegurarque o acordo revertesse em benefício dosconsumidores.

173. Em 2000, na sequência da sua decisão, aComissão acompanhou a evolução dos serviços, emtermos de preço e qualidade, nos mercados decorreio intracomunitário. Nos últimos anos, aqualidade do serviço de correio transfronteirasintracomunitário tem vindo a ser reforçada deforma significativa, apesar de tal ser feito a partirde níveis muito baixos nalguns Estados-Membros.A Comissão dialogou igualmente com as partesno acordo, a fim de assegurar que respeitavam ascondições e satisfaziam as obrigações estabelecidasna decisão. Foram igualmente realizadas reuniõescom outros interessados, tais como as associaçõesde consumidores e de utilizadores.

2.4.3. Intercepção e imposição de tarifasexcessivas ao correio transfronteiras

174. A Comissão está a examinar actualmenteuma série de denúncias em que se alega que aDeutsche Post AG infringe o artigo 82.º devido aofacto de interceptar, atrasar e impor tarifasexcessivas ao correio transfronteiras normal por elarecebido. Na sequência de uma denúnciaapresentada pelos serviços de correio britânicos(UK Post Office), a Comissão deu início a umprocedimento formal contra a Deutsche Post em25 de Maio (2). A Comissão considerou que umasérie de expedições — interceptadas esubsequentemente sujeitas a uma tarifa de correionacional pela Deutsche Post AG devido à inclusãode um remetente alemão — eram expedições decorreio transfronteiras normais, enviadas a partirdo Reino Unido. Por conseguinte, a Comissãoconcluiu, a título preliminar, que a Deutsche Posttinha abusado da sua posição dominante nomercado de correio transfronteiras por ela recebidopara proceder à imposição de tarifas nacionaisintegrais sobre este tipo de expedições. A Comissãoconsiderou também que os atrasos significativosresultantes da intercepção desse correio poderiamser considerados uma infracção ao artigo 82.º

2.4.4. Embalagens enviadas no âmbito da venda por correspondência

175. Em 8 de Agosto, a Comissão deu início a umprocedimento formal contra a Deutsche Post AGrelativamente à sua política de preços no querespeita à entrega de embalagens expedidas porempresas de venda por correspondência (3). Nasua comunicação de acusações, a Comissãoconsiderou que a Deutsche Post abusava da suaposição dominante devido à aplicação de taxas defidelidade e descontos que impediam aconcorrência (4). A Comissão também examinouas elevadas tarifas aplicáveis às cartas na Alemanha.As comparações a nível internacional, tendo emconta factores como a densidade populacional e aqualidade do serviço, indicam que as tarifasaplicáveis às cartas normalizadas na Alemanha

43(1) Decisão da Comissão de 15 de Setembro de 1999, no âmbito doprocesso n.o IV/36.748 — Reims II (JO L 275 de 26.10.1999).

(2) Processo COMP/36.915 — Deutsche Post AG — Intercepção docorreio transfronteiras, comunicado de imprensa da ComissãoIP/00/562, de 31 de Maio de 2000.

(3) Processos apensos COMP/35.141 UPS/Deutsche Post AG eCOMP/37.121 DVPT/Deutsche Post AG. Comunicado de imprensada Comissão IP/00/919, de 8 de Agosto de 2000

(4) A comunicação de acusações emitida em 8 de Agosto de 2000 foiseguida de uma comunicação de acusações suplementar em 4 deOutubro de 2000; comunicado de imprensa da Comissão IP/00/1108,de 4 de Outubro de 2000.

Page 44: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

são as mais elevadas da União Europeia. A fim deexaminar se estas tarifas são excessivas, ou seja,se os custos imputados pela Deutsche Post AGestão efectivamente relacionados com os custosconcretos ou o valor do serviço prestado, aComissão solicitou informações suplementaressobre os custos à Deutsche Post.

176. Em 19 de Outubro, a Deutsche Post anunciouque tinha anulado todas as cláusulas nos seuscontratos com as empresas de venda porcorrespondência que previam descontos defidelidade em relação aos quais a Comissão tinhaformulado objecções, tendo declarado que estavama ser negociados acordos alternativos.

2.4.5. Novos serviços postais

177. Em 21 de Dezembro, a Comissão adoptouuma decisão sobre a prestação de novos serviçospostais na Itália que oferecem elementosespecíficos de valor acrescentado, nomeadamenteuma garantia de que as expedições enviadas por viaelectrónica chegarão ao seu destino numa data ouhora predeterminada (1). A decisão foi tomada nasequência de uma denúncia apresentada contra aItália, que se baseava no facto de ter sido totalmentereservada ao operador histórico a fase de entregado correio híbrido (em que as expedições postaissão geradas por via electrónica). A Comissão é daopinião que o Decreto-Lei italiano n.o 261, de 22 deJulho, que institui estas modalidades e que impedeos fornecedores privados de prestarem novosserviços de correio híbrido com característicasespecíficas, é incompatível com o n.o 1 do artigo86.º, em articulação com o artigo 82.º do Tratado.Nenhum Estado-Membro, à excepção da Itália,reservou para o operador histórico a fase de entregado correio híbrido a uma data ou horapredeterminada.

178. A fase de entrega do correio híbrido podeimplicar uma série de elementos de valoracrescentado, tais como uma garantia de que asexpedições geradas por via electrónica chegarãoao seu destino numa data ou hora predeterminada.O operador histórico em Itália não prestaactualmente esse novo serviço. A entrega a umadata ou hora predeterminada constitui um mercadodistinto, que diverge em grande medida dos serviçosde entrega tradicionais (serviço universal). Porconseguinte, não há motivos que justifiquem que

tal seja reservado ao prestador de serviçosuniversais, que não propõe o referido serviço. Alémdisso, a gama de serviços prestados pelo operadorhistórico não inclui actualmente a entrega garantidaa uma data ou hora predeterminada, pelo que nãosufocará quaisquer prejuízos se este serviço foratribuído a outro operador.

2.5. Transportes aéreos

2.5.1. Alianças

179. Prossegue a bom ritmo a consolidação nosector dos transportes aéreos, tendo a Comissãoexaminado uma série de alianças e concentraçõesno decurso de 2000. Em geral, a Comissãoconsidera que as alianças entre as companhiasaéreas são vantajosas para os passageiros, namedida em que alargam as redes e melhoram aeficiência. No entanto, as alianças podemigualmente restringir de forma significativa aconcorrência nas rotas individuais, pelo que podeser necessário impor condições para atenuar estasconsequências.

180. Em 28 de Fevereiro de 2000, a Comissãoenviou uma «carta de advertência» à Swissair,Sabena, TAP, AOM e Crossair, membros da aliançaQualiflyer, relativamente a um acordo que lhespermitia coordenar os preços das suas tarifas. Nacarta de advertência foi concedido às partes umprazo de três semanas para confirmarem à Comissãoque tinham posto termo ao acordo. Caso contrário,seria iniciado um procedimento formal contra ascompanhias aéreas que poderia conduzir à adopçãode uma decisão em que se concluísse que tinhasido cometida uma infracção, sendo impostascoimas para o efeito. Na sequência desta carta deadvertência, as partes puseram termo aos acordosde preços no que diz respeito às rotas entre Portugale Bélgica, entre Portugal e Suíça e entre Paris (Orly)e Bruxelas, rotas essas que eram exploradasunicamente pelos membros do grupo Qualiflyer.Por conseguinte, a Comissão não deu início aqualquer procedimento formal.

181. Em Outubro, a Comissão enviou cartas àLufthansa e SAS em que manifestava sérias dúvidasquanto à sua cooperação com a Austrian Airlines,que foi notificada à Comissão em Dezembro de1999. A Comissão entende que os acordos decooperação, na sua redacção actual, eliminariama concorrência num importante número de rotasentre a Áustria e a Alemanha e entre a Áustria e aEscandinávia. O envio das referidas cartas, em que44 (1) Comunicado de imprensa da Comissão IP/00/1522, de 21 de

Dezembro de 2000.

Page 45: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADAS E ABUSOS DEPOSIÇÃO DOMINANTE: ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAIS E

DIREITOS MONOPOLISTAS: ARTIGOS 31.º E 86.º

foram manifestadas sérias dúvidas, representou oprimeiro passo tomado pela Comissão no âmbitoda suas averiguações, que continuam a decorrer.As averiguações podem conduzir a uma decisão deproibição, salvo se as empresas dissiparem aspreocupações da Comissão.

182. Prosseguem as averiguações da Comissãosobre diversas outras alianças entre companhiasaéreas. Está prevista para o início de 2001 umadecisão sobre a cooperação entre a British Midland,a Lufthansa e a SAS.

183. A Comissão analisou igualmente em 2000 aconcentração entre a US Air/United. As partesaceitaram uma série de compromissos, tendo aconcentração sido autorizada no início de 2001.

2.5.2. Aeroportos

184. A Comissão tem vindo a examinar as taxasde aterragem em todos os aeroportos europeusdesde 28 de Junho de 1995, quando concluiu queo sistema de descontos aplicado no aeroportoprincipal de Bruxelas contrariava o direitocomunitário. Desde essa data, a maioria dosEstados-Membros modificou os seus sistemas detaxas de aterragem com vista a pôr termo a qualquertipo de discriminação. Em 1999, foram tomadasdecisões contra as autoridades aeroportuáriasportuguesas e finlandesas. As autoridadesportuguesas recorreram da decisão da Comissãopara o Tribunal de Justiça, mas as autoridadesfinlandesas comprometeram-se a respeitar a decisãoda Comissão e a alterar o seu sistema de taxas deaterragem até Janeiro de 2001.

185. Em Julho de 2000, a Comissão tomou umadecisão nos termos dos artigos 86.º e 82.º (1) emque concluía que o sistema de concessão dedescontos e de aplicação de diferentes taxas deaterragem, que variavam consoante o local deorigem do voo, conforme estabelecido peloGoverno espanhol, era discriminatório a favor dascompanhias aéreas nacionais. Em relação a todosos tipos de aviões, o sistema espanhol previa taxasmais elevadas para os voos intracomunitários doque para os voos nacionais. Além disso, previadescontos que aumentavam com o número deaterragens por mês. Os descontos iam de 9% a35%, no máximo. Na realidade, esse sistemafavorecia as companhias aéreas nacionais,

nomeadamente a Iberia, a Binter Canarias e aSpanair, que beneficiavam de descontos médiosde 20% a 25%. Não havia qualquer justificaçãoobjectiva para este tratamento discriminatório. Asautoridades espanholas informaram a Comissãoque o seu sistema de taxas de aterragem já foialterado, sendo agora consentâneo com o direitocomunitário.

186. Simultaneamente, foi enviada uma notificaçãoformal às autoridades italianas, a primeira etapa deum procedimento iniciado pela Comissão, quepoderá igualmente resultar numa decisão formal.Tal como no caso da Espanha, a Comissão concluiuque o sistema italiano discriminava as companhiasaéreas estrangeiras, favorecendo as companhiasaéreas italianas e, em especial, a Alitalia. As taxasde aterragem em Itália são fixadas por lei. Nostermos de um decreto de 27 de Outubro de 1998,os voos nacionais beneficiam de descontos queoscilam entre 57% e 64% em relação às taxas de aterragem normais aplicáveis aos voosinternacionais, em função do tipo de aeronave.Após a notificação formal, as autoridades italianasinformaram a Comissão de que o seu sistema detaxas de aterragem tinha sido alterado por formaa respeitar o direito comunitário.

187. Ao solicitar aos governos espanhol e italianoque suprimissem os sistemas respectivos, aComissão adoptou as últimas medidas com vistaà eliminação de taxas de aterragem discriminatóriasem todo o Espaço Económico Europeu.

188. Em 11 de Junho de 1998 (2), a Comissãoadoptou uma decisão nos termos do artigo 82.º doTratado CE relativamente aos Aéroports de Paris(ADP), em que exigia que fosse implantado umsistema de taxas comerciais não discriminatóriasrelativas à prestação de serviços de assistência emescala. A ADP interpôs recurso da decisão emAgosto de 1998.

189. O Tribunal de Primeira Instância rejeitou,em 12 de Dezembro de 2000 (3), os setefundamentos invocados no recurso da ADP. Esteacórdão é importante em pelo menos três vertentes,a saber: clarificação do regulamento processualaplicável às infra-estruturas de transporte,qualificação da gestão de um aeroporto comoactividade comercial e do seu gestionário comoempresa e confirmação, na sequência do acórdão

45(1) Comunicado de imprensa da Comissão IP/00/874, de 27 de Julhode 2000.

(2) JO L 230 de 18.8.1998, p. 10, e XXVIII Relatório sobre a Políticade Concorrência, p. 159.

(3) Processo T-128/98, ADP/Comissão, ainda não publicado.

Page 46: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

Corsica ferries (1), de que as empresas em causanão têm que operar nos mesmos mercados paraque caiam no âmbito de aplicação do artigo 82.º

190. Este acórdão confirma a política seguida pelaComissão no sector das infra-estruturas detransporte e, mais especificamente, no que se refereao seu acesso não discriminatório.

2.5.3. Sistemas de reserva

191. Em Julho de 2000, a Comissão encerrou umainvestigação iniciada ao abrigo do artigo 82.º sobrea alegada discriminação da Air France contra oSABRE, um sistema informatizado de reservasnorte-americano (SIR), após a companhia aéreafrancesa ter aceitado adoptar um código de boaconduta em que eram propostas ao SABREcondições equivalentes às propiciadas ao SIRAmadeus, em que a Air France tem umaparticipação, bem como a outros SIR. Estainvestigação concluída com êxito foi a primeira ater sido iniciada mediante pedido do departamentode Justiça dos Estados Unidos, em conformidadecom o acordo de cooperação bilateral entre a UniãoEuropeia e os Estados Unidos.

2.6. Transportes marítimos

2.6.1. Isenção por categoria para os consórcios de companhias marítimas regulares

192. Em 19 de Abril de 2000, a Comissão adoptouo Regulamento (CE) n.o 823/2000 (2), que prorrogaa isenção por categoria aplicável aos consórcios decompanhias marítimas regulares prevista noRegulamento (CE) n.o 870/95 da Comissão (3),cujo prazo de vigência de cinco anos terminou em25 de Abril.

193. A posição favorável da Comissão em matériade consórcios explica-se pelas vantagens inerentesa esta forma de cooperação. De modo geral, osconsórcios contribuem para melhorar não só aprodutividade, como também a qualidade dosserviços de transportes regulares prestados aosutentes, mediante a racionalização das actividadesdas empresas que são membros dos consórcio e arealização de economias de escala.

194. O novo regulamento, que prorrogou a isençãopor categoria por mais cinco anos, inclui alteraçõespor forma a clarificá-la em consonância com ainterpretação da Comissão do Regulamento (CE)n.o 870/95. Deste modo, o Regulamento (CE)n.o 823/2000 prevê, nomeadamente, que a isençãopor categoria é igualmente aplicável aos consórciosque exploram mais de uma rota (n.o 1 do artigo 1.º)e que os limiares em matéria de quotas de mercadodevem ser preenchidos no que diz respeito a todos os mercados em que o consórcio opera(artigos 6.º e 7.º).

195. A alteração mais importante introduzida peloRegulamento (CE) n.o 823/2000 a nível da isençãopor categoria, em comparação com o Regulamento(CE) n.o 870/95, prende-se com a referência alimiares de quotas de mercado, em vez dos limiaresde quotas comerciais (isto é, o volume de negóciosdo consórcio nas rotas por ele efectivamenteservidas) previstos no Regulamento (CE)n.o 870/95. A quota de mercado é o indicador dopoder de mercado normalmente utilizado nalegislação no domínio da concorrência. O critérioda quota comercial foi adoptado no regulamentoanterior devido ao facto de as companhiasmarítimas terem considerado que as quotas demercado seriam difíceis de calcular. A experiênciarevelou, contudo, que as companhias marítimaspodiam apresentar as quotas de mercado.

196. Foram isentos 11 consórcios ao abrigo doprocedimento de oposição previsto no Regulamento(CE) n.o 870/95, por um período equivalente aoprazo de vigência do referido regulamento. Esteprocedimento permitiu à Comissão verificar seesses consórcios estavam sujeitos a umaconcorrência efectiva, não havendo quaisquerindícios de uma alteração das circunstâncias, nosentido de que os consórcios tivessem deixado deestar sujeitos a essa concorrência efectiva. Nointuito de evitar a sobrecarga associada à renovaçãodas notificações, o Regulamento (CE) n.o 823/2000prevê que tais consórcios devem continuar a serisentos (vigésimo sétimo considerando, n.o 2 doartigo 13.º); tais acordos continuam a estar sujeitosa determinadas obrigações (artigo 9.º) e a Comissãopode revogar a isenção (artigo 12.º) a qualquermomento.

2.6.2. Consórcio Grand Alliance

197. Em Março de 2000, a Comissão concedeuuma isenção ao consórcio Grand Alliance, umacordo entre a Hapag-Lloyd Container Linie, a46

(1) Processo C-18/93, Corsica Ferries, Colectânea 1994, p. I-1783.(2) JO L 100 de 20.4.2000, p. 24, e comunicado de imprensa da Comissão

IP/00/404, de 25 de Abril de 2000.(3) JO L 89 de 21.4.1995, p. 7.

Page 47: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADAS E ABUSOS DEPOSIÇÃO DOMINANTE: ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAIS E

DIREITOS MONOPOLISTAS: ARTIGOS 31.º E 86.º

Malaysia International Shipping Corporation, aNippon Yusen Kaisha (NYK), a Orient OverseasContainer Line Limited (OOCL) e a P&ONedlloyd. O consórcio assegura um serviçomarítimo regular entre portos da Europa setentrionale meridional e portos do Extremo Oriente. Apóster analisado as condições nos mercados abrangidospelas actividades do consórcio, a Comissãoconcluiu que este último satisfazia os critérios parauma isenção nos termos do Regulamento (CE)n.o 870/95. Observou, em especial, que as partestinham realizado investimentos avultados a níveldos serviços prestados pelo consórcio, havendoprovas de que este continuaria a estar sujeito a umaconcorrência efectiva por parte de outrascompanhias marítimas.

2.6.3. Fettcsa

Em 16 de Maio de 2000, a Comissão adoptou umadecisão em que concluiu que os membros do acordodenominado Far East Trade Tariff Charges andSurcharges Agreement (Fettcsa) tinham infringidoa proibição de cartéis consignada no n.o 1 do artigo81.º do Tratado CE. Este caso é examinado nasecção do presente relatório relativa aos cartéis(parte I.B, capítulo 1.1.)

2.7. Transportes ferroviários

198. Nos últimos 30 anos tem vindo a assistir-sea um profundo declínio dos transportes ferroviáriosna Comunidade, não obstante o facto de, no mesmoperíodo, o transporte geral de passageiros e demercadorias ter registado um crescimento médiode 2,5% a 3% por ano. O crescimento tem sidoparticularmente acentuado a nível do transportede mercadorias transfronteiras, no âmbito da criaçãodo mercado interno. Infelizmente, contudo, o sector

ferroviário não beneficiou desta evolução. Noperíodo compreendido entre 1990 a 1998, otransporte rodoviário de mercadorias, avaliado emtoneladas/quilómetros, aumentou 35%, enquantoo transporte ferroviário diminuiu 6%. É de assinalarque a quota de mercado dos serviços ferroviáriosdiminuiu num segmento em que teria sidoparticularmente competitivo, ou seja, o transportea longa distância de produtos com grande volume.

199. Apesar de haver diversos motivos queexplicam esta evolução, o sector depara-se comdificuldades pelo facto de não ter sido ainda criadoum mercado interno a nível dos transportesferroviários. Até à data, os efeitos da Directiva91/440, relativa à introdução da concorrência nomercado ferroviário, têm sido negligenciáveis.Enquanto as empresas nacionais continuam aassegurar o tráfego transfronteiras com base nacooperação mútua, os novos operadores têm tidodificuldades para entrar no mercado. Emconsequência do moroso ritmo de liberalizaçãoregistado, os Estados-Membros acordaram emprincípio proceder uma maior abertura do mercadodo transporte ferroviário de mercadorias a nívelda CE, tendo sido estabelecido um acordo sobre umnovo «pacote de infra-estruturas» entre o Conselhoe o Parlamento Europeu em Novembro de 2000.É de prever que estas medidas permitirão ao sectorferroviário adquirir uma nova dinâmica. Daí quea política da concorrência deva desempenhar umpapel mais importante neste sector no futuro. Associedades nacionais tomaram a iniciativa deproceder a concentrações no sector do transportede mercadorias. Recentemente, a Comissão recebeutambém denúncias de novos concorrentes queoperam nos sectores de transporte ferroviário depassageiros e de mercadorias, estando a seractualmente investigadas diversas denúncias.

47

Caixa 3: Serviços de interesse geral na Europa e concorrência

Em resposta a um convite formulado pelo Conselho Europeu de Lisboa em Março de 2000, a Comissão adoptouem 20 de Setembro de 2000 uma versão actualizada da sua Comunicação sobre serviços de interesse geralna Europa. O texto em questão assinala um novo passo decisivo nos esforços desenvolvidos pela Comissãocom vista a explicar melhor as regras relevantes da CE e a política por ela prosseguida na sua aplicação.Um importante objectivo da nova Comunicação consiste em responder o mais concretamente possível àspreocupações que estiveram na origem do pedido do Conselho Europeu e em melhorar a segurança jurídicano âmbito da prestação dos serviços de interesse geral.

Para o efeito, a nova comunicação ilustra o âmbito de aplicação do direito comunitário vigente, bem comoa flexibilidade propiciada pelo actual quadro regulamentar, por forma a ter em conta as características

Page 48: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

48

específicas dos serviços de interesse geral nos Estados-Membros. Tal assume particular importância à luzdas inúmeras preocupações manifestadas quanto ao facto de o direito comunitário da concorrência e o direitono domínio do mercado interno poderem vir a comprometer o bom funcionamento dos serviços de interessegeral, nomeadamente a nível local e regional. Deste ponto de vista, é de destacar, como os mais importantes,os seguintes aspectos da nova comunicação:

— Em primeiro lugar, é explicado que os mecanismos de mercado asseguram muitas vezes serviços de interessegeral com um grau de segurança adequado e que a aplicação dos princípios da concorrência e do mercadointerno não comprometem a prestação de tais serviços, contribuindo mesmo muitas vezes para a suamelhoria. Isto não exclui a possibilidade de o Estado impor, através de regulamentação não discriminatória,determinadas normas em matéria de segurança, qualidade e regularidade sobre todos os operadores, namedida em que estes pretendam prestar serviços de interesse económico geral.

— Além disso, é confirmada a liberdade conferida aos Estados-Membros de definirem os serviços por elesconsiderados como serviços de interesse económico geral na acepção do n.o 2 do artigo 86.º do TratadoCE, sem prejuízo do controlo de erros manifestos pela Comissão, bem como o seu direito de incumbirempresas específicas da sua realização. Neste contexto, são definidas em pormenor as possibilidades deque dispõem os Estados-Membros para assegurar o funcionamento destes serviços através de medidasespecíficas que sejam compatíveis com o Tratado CE. É igualmente recordado que, nos termos do artigo295.º do Tratado CE, a Comunidade é neutra quanto à propriedade pública ou privada das empresas.

— Por último, são explicados todos os motivos pelos quais os serviços de interesse geral podem não serabrangidos pelo âmbito das regras comunitárias da concorrência (e das regras aplicáveis ao mercadointerno), ou podem não ser com elas compatíveis. Tal é válido quando as actividades em causa:

� assumem natureza não económica; ou

� não têm qualquer efeito sobre o comércio entre os Estados-Membros (ou não denotam quaisquer aspectos transfronteiras); ou

� são abrangidos por uma regra de de minimis; ou

� beneficiam de uma derrogação especial [tal como a prevista no n.o 3, alínea d), do artigo 87.º relativaaos auxílios estatais destinados a promover a cultura e a preservação do património]; ou

� quando, nos termos do n.o 2 do artigo 86.º, um eventual conflito com as regras comunitárias daconcorrência ou com as regras comunitárias aplicáveis no domínio do mercado interno for solucionadode forma a permitir a prossecução do serviço de interesse económico geral.

Nesta base, a nova comunicação demonstra como o direito comunitário, dentro dos limites do seu âmbitode aplicação, garante em benefício dos cidadãos o bom funcionamento dos serviços de interesse económicogeral de elevada qualidade, conjugando tal facto com as vantagens inerentes a mercados mais abertos econcorrenciais.

Neste contexto, é importante que a nova comunicação saliente a jurisprudência do Tribunal de Justiça nostermos da qual as indemnizações pagas pelo Estado a uma empresa para a prestação de serviços de interessegeral constituem um auxílio estatal que pode ser compatível com o Tratado CE, se forem preenchidos todosos requisitos enumerados no n.o 2 do artigo 86.º Isto significa, nomeadamente, que a indemnização não deveexceder os custos líquidos suplementares resultantes da função particular confiada à empresa beneficiária.Em relação ao sector dos transportes, esta abordagem é consignada especificamente no artigo 73.º do TratadoCE. Além disso, a Comissão declara na sua comunicação que sempre que a remuneração for fixada por umperíodo adequado na sequência de um procedimento aberto, transparente e não discriminatório, haverá umapresunção de que tais auxílios são compatíveis com as regras do Tratado em matéria de auxílios estatais.Esta abordagem assegura a prestação dos serviços de interesse económico geral de que uma empresa foiincumbida, evitando simultaneamente distorções da concorrência.

Page 49: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

3. Serviços

3.1. Serviços financeiros

200. Em 1 de Janeiro de 1999 foi introduzida umamoeda única em 11 Estados-Membros. Aintrodução do euro contribuirá para reforçar emgrande medida a concorrência no sector dosserviços financeiros. O efeito mais imediatoconsistirá na supressão dos obstáculos ao comércioque advêm do risco cambial e dos custos dasoperações associadas à conversão de divisas. Emconsequência, é provável que os fluxos comerciaisentre os Estados-Membros participantes sejamintensificados, aprofundando assim o mercado

único e a necessidade de uma maior integração naUnião. Neste contexto, revela-se mais importantedo que nunca melhorar a flexibilidade e a eficiênciado mercado, por forma a serem superadas asdeficiências estruturais a nível da oferta.

201. A política da concorrência representa uminstrumento fundamental neste contexto, com vistaa aproveitar plenamente os benefícios da UniãoEconómica e Monetária.

202. A título ilustrativo, pode referir-se que amoeda única, juntamente com a introdução denovas tecnologias, permitirá aos bancos concorrera nível das pequenas operações nos países em quenão têm qualquer presença física. Em termos de 49

Além disso, a comunicação também aborda as formas como a Comunidade, em colaboração com asautoridades locais, regionais e nacionais e com base no novo artigo 16.º do Tratado CE e no respeito do princípioda subsidiariedade, bem como da liberdade dos Estados-Membros para definirem os serviços de interesseeconómico geral, pode desenvolver uma política activa a nível europeu, com vista a garantir que todos oscidadãos da Europa disponham de acesso a serviços de melhor qualidade.

Por último, a nova comunicação descreve a experiência no domínio da liberalização de determinados serviçosde interesse económico geral (telecomunicações, transportes e energia) e faz o balanço da situação no quediz respeito a outros sectores específicos. A nova comunicação revela o seguinte:

— nos esforços desenvolvidos com vista a assegurar a abertura dos mercados e a introdução da concorrência,a Comissão adapta sempre a sua abordagem, bem como o ritmo das suas propostas e acções, àsespecificidades do sector relevante e aos requisitos inerentes à missão de serviço público nos referidossectores;

— esta forma de liberalização dos mercados manteve, e frequentemente melhorou, a qualidade e adisponibilidade dos serviços de interesse económico geral.

Após a sua adopção, a nova comunicação foi acolhida favoravelmente nas duas reuniões do Conselho«Mercado Interno», tendo sido acordada uma declaração relativa aos serviços de interesse económico geral.Esta declaração sublinha a importância do artigo 16.º do Tratado CE, sem prejuízo do disposto nos artigos73.º, 86.º e 87.º do Tratado CE, e congratula-se com a comunicação da Comissão pela sua abordagem debase, bem como pelas explicações pormenorizadas nela apresentadas. No entanto, é também realçada, umavez mais, a necessidade de os serviços de interesse económico geral serem prestados em condições desegurança jurídica e viabilidade económica. Neste contexto, a declaração apela para uma maior clarificaçãoda relação entre os métodos de financiamento dos serviços de interesse geral e a aplicação das regras emmatéria de auxílios estatais.

O Conselho Europeu de Nice (7 a 11 de Dezembro de 2000) aprovou a declaração do Conselho e convidouo Conselho e a Comissão a prosseguirem as suas discussões no quadro destas orientações e com base nodisposto no artigo 16.º do Tratado CE. Em relação ao ponto 36 da comunicação de 20 de Setembro de 2000,o Conselho Europeu tomou nota da intenção da Comissão de examinar, em estreita cooperação com osEstados-Membros, formas de assegurar uma maior previsibilidade e uma segurança jurídica acrescida naaplicação das regras de concorrência no domínio dos serviços de interesse geral. Neste âmbito, o ConselhoEuropeu manifestou as suas expectativas no sentido de o Conselho e a Comissão lhe apresentarem umrelatório sobre a aplicação das referidas orientações no Conselho Europeu de Dezembro de 2001.

I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADAS E ABUSOS DEPOSIÇÃO DOMINANTE: ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAIS E

DIREITOS MONOPOLISTAS: ARTIGOS 31.º E 86.º

Page 50: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

activos na zona do euro, as operações de concessãode empréstimos em qualquer Estado-Membropoderão ser financiadas a partir de depósitos obtidosnoutros Estados-Membros. Deverá ser assimintensificada a concorrência em segmentoshomogeneizados do mercado dos empréstimos,em que o contacto com os clientes é menosimportante (crédito ao consumo, empréstimoshipotecários correntes). Em suma, umaconcorrência mais intensa no sector financeirodeverá facilitar o acesso ao financiamento econtribuir para a redução dos respectivos custos,o que concederá maiores incentivos às empresasno sentido de realizarem ou incrementarem as suasactividades em matéria de investimento.

203. Este processo, contudo, tem de seracompanhado de perto. Existe o risco de asempresas poderem reagir ao aumento daconcorrência procurando reduzi-la, o que seráfacilitado pela introdução do euro, uma vez queuma maior transparência em matéria de preçostornará mais fácil acompanhar os preços dosconcorrentes. Será igualmente mais difícil nãorespeitar os preços acordados e dissimular estefacto por intermédio de flutuações cambiais.Incumbe à Comissão combater estas práticas. Umamaior concorrência no sector financeiro já serepercute favoravelmente nos clientes, que são osmais afectados pelo poder de mercado dosfornecedores e pelas práticas restritivas. Uma maiorconcorrência no sector financeiro terá implicaçõespositivas noutros sectores.

204. Em 2000, a Comissão demonstrou a sua firmedeterminação em combater os acordos proibidose em melhorar a concorrência no sector financeiro.Como já se referiu (1), foi iniciado um procedimentocontra quase 120 bancos e associações bancáriaspela sua possível participação em acordos comvista a fixar os encargos aplicáveis ao câmbio dedivisas na zona do euro. Outro exemplo é o processo«Cartes bancaires», respeitante às regras e aosactos internos deste grupo de cartões.

Groupement des cartes bancaires

205. Em 30 de Outubro de 2000, a Comissãoenviou um ofício de arquivamento ao Groupementdes cartes bancaires, relativo a uma série denotificações de regras e actos internos do referidoagrupamento, remontando a primeira a 1988 e aúltima a 1998. O Groupement des cartes bancaires

é a principal organização de cartões de pagamentoem França; adopta as regras e gere as infra-estruturas do sistema de cartões de pagamento«CB», cujos cartões, emitidos pelos bancosmembros do agrupamento, representam mais de90% das operações de pagamento por cartão emFrança.

206. O ofício de arquivamento só foi enviado apósa introdução de determinadas alterações nos acordosnotificados. Em primeiro lugar, foram introduzidasclarificações sobre o artigo 10.º do acordo deconstituição do agrupamento: foi alterado o seun.o 5, por forma a clarificar que o acordo do conselhode direcção do agrupamento, necessário para aemissão de novos cartões pelos bancos membros,apenas incidia sobre a «conformidade do cartãoem causa com as regras CB, nomeadamente no quese refere à sua apresentação visual». O n.o 7,conforme alterado, estabelece que a autorizaçãodo conselho de direcção para qualquer acordo entreum banco membro e outra rede de cartões visaunicamente «impedir qualquer atentado à imagem,à integridade e à segurança do sistema CB».

207. Uma moção do conselho de direcção de1995 relativa à emissão transfronteiras de cartõesfoi alterada a fim de precisar de forma clara e inequívoca as condições em que um cartãoemitido por um banco estrangeiro pode serprocessado através das infra-estruturas doagrupamento (infra-estrutura denominada «sistemaCB»). Com efeito, quando um cartão deste tipo éutilizado no sistema CB de forma minoritária emrelação à sua utilização global, não é exigida aadesão do banco emitente ao agrupamento. Quandoa maioria dos pagamentos efectuados através destecartão é processada no âmbito do sistema CB, énecessário que o banco emitente se torne membrodo agrupamento, respeite as suas regras internas epague as quotizações adequadas para efeitos deutilização do sistema CB. A Comissão consideraque o sistema «CB» não é uma infra-estruturaessencial, pelo que o agrupamento pode determinarse faculta ou não o acesso aos seus concorrentes(na condição de não fazer discriminações).

208. No que se refere à «comissão interbancáriade pagamento», a repartir entre os dois bancos queintervêm no tratamento de uma operação depagamento através do cartão CB, a Comissãoconsiderou que não lhe é aplicável o disposto noartigo 81.º, uma vez que esta comissão de caráctermeramente nacional não afecta o comércio entreos Estados-Membros.50

(1) Ver também o ponto 72.

Page 51: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADAS E ABUSOS DEPOSIÇÃO DOMINANTE: ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAIS E

DIREITOS MONOPOLISTAS: ARTIGOS 31.º E 86.º

3.2. Sociedade da Informação e Internet

209. A principal prioridade da Comissão nosmercados Internet consiste em criar condições paraum quadro aberto e concorrencial para odesenvolvimento da Internet, garantindo assim oseu acesso generalizado. É de referir que aabordagem básica da Comissão nos casosrelacionados com a Internet e sectores conexos éa de que os desenvolvimentos são geralmentefavoráveis à concorrência, muito embora osobjectivos fundamentais da política da concorrênciasejam igualmente válidos para a antiga e para anova economia. Podem ocorrer problemas deconcorrência na nova economia, o que sucedeefectivamente na prática.

210. A maioria dos casos que suscitarampreocupações prendia-se com a infra-estruturautilizada para o comércio electrónico ou para ocontrolo dos conteúdos a montante. Aspreocupações neste domínio centraram-senomeadamente na infra-estrutura detelecomunicações, mas a área dos nomes dosdomínios foi também fonte de preocupação. Evitarum registo especulativo, discriminatório e abusivoa nível dos nomes dos domínios na Internet revela--se fulcral para assegurar a supressão dos entravesgeográficos à concorrência. As preocupações emmatéria de concorrência não se centraram, até àdata, nos serviços de comércio electrónico em si.

211. A falta de concorrência no mercado de acessolocal em todos os Estados-Membros constitui umaquestão importante que deve ser abordada, a fimde assegurar o êxito da Internet na Europa. Acomunicação da Comissão (1) (adoptada em 26 deAbril), o regulamento relativo à oferta de acessodesagregado ao lacete local (2) (adoptado em 5 deDezembro) e o inquérito sectorial que foi lançadosobre este problema representam importantesmedidas políticas neste contexto. O mesmo sucedecom o inquérito sectorial sobre as linhas alugadas,dado que estas representam o elemento-chave paraa criação da Europa electrónica, ao assegurarem acapacidade de transmissão para a Internet.

212. De entre os casos específicos relacionadoscom a infra-estrutura de telecomunicações, podemser referidos os relativos à MCI Worldcom/Sprinte à empresa comum Vizzavi. Neste último caso,

muito embora as preocupações incidissem sobrea potencial criação de uma posição dominante nummercado situado na fronteira entre a infra-estruturae o comércio electrónico (isto é, os portais), a fontede preocupação principal residia no controlo dainfra-estrutura pelas partes, ou seja, as redes móveisda Vodafone e a infra-estrutura de descodificadoresda Canal+. Os processos relativos ao controlo dos conteúdos a montante e que suscitarampreocupações no sentido de tal poder vir a terrepercussões nos mercados a jusante, incluíram oscasos AOL/Time Warner e a Vivendi/Seagram.

213. Os serviços de comércio electrónico prestadosatravés das televisões, dos telemóveis oucomputadores pessoais levantam questões difíceisem matéria de definição de mercado, pelo que aComissão, independentemente de casos específicos,examinará esta problemática de forma maisaprofundada no próximo ano.

214. Tanto os serviços das empresas para osconsumidores (B2C), como os serviçosinterempresas (B2B) denotam potencialidades emtermos de aumento da concorrência e melhoria daeficiência. Desenvolver uma compreensão clarados eventuais benefícios destes serviços representaassim uma condição sine qua non para qualqueranálise no domínio da concorrência (ver a seguira caixa 4). À excepção de alguns casos importantesque suscitaram preocupações do ponto de vista daconcorrência, como os relativos à AOL/TimeWarner, Vizzavi e Vivendi/Universal, a maioriados casos não foi problemática, tendo conduzidoa um resultado positivo ao abrigo do Regulamentodas Concentrações ou do Regulamento n.o 17.

215. No entanto, serão combatidas quaisquertentativas da parte dos fabricantes no sentido deprotegerem os seus canais de distribuiçãotradicionais dos efeitos concorrenciais do comércioelectrónico. Neste contexto, é de referir que, emDezembro de 2000, a Comissão deu início a umprocedimento formal contra a B&W LoudspeakerLtd, dado que esta empresa tinha nomeadamenteproibido os seus concessionários autorizados derealizarem, sem motivos objectivos, comércio àdistância, incluindo vendas através da Internet. Apossibilidade de tirar pleno partido dos benefíciosdo comércio electrónico é comprometida pelaadopção de comportamentos deste tipo. AComissão está a investigar casos semelhantes nodomínio dos produtos electrónicos paraconsumidores, prevendo-se que a sua posição aeste respeito seja clarificada em 2001. 51

(1) Comunicação: JO C 272 de 23.9.2000, p. 55.(2) Regulamento (CE) n.o 2887/2000 do Parlamento Europeu e do

Conselho, relativo à oferta de acesso desagregado ao lacete local (JO L 336 de 30.12.2000, p. 4), aprovado nos termos do artigo 95.ºdo Tratado CE.

Page 52: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

52

Caixa 4: Transacções interempresas (B2B) através da Internet e mercadoselectrónicos B2B

A Comissão tem vindo a receber cada vez mais apelos no sentido de proceder à análise do impacto concorrencialdas transacções interempresas através da Internet (B2B). Trata-se de sistemas de software que permitem aosadquirentes e vendedores de bens semelhantes realizarem as suas aquisições através de sistemas informáticoscomuns. A Comissão já analisou e autorizou diversos mercados electrónicos deste tipo em inúmeros sectores.Os exemplos incluem mercados electrónicos para componentes de aeronaves (MyAircraft.com —UTC/Honeywell/i2), serviços prestados ao sector químico (Chemplorer.com — Bayer/DT/Infraserv Hoechst),equipamento de escritório (emaro.com — Deutsche Bank/SAP), serviços de administração pública(Governet.com — SAP/Siemens), opções a nível de divisas estrangeiras (Volbroker.com — DeutscheBank/UBS/Goldman Sachs/Citibank/JP Morgan/Natwest) e fundos de investimento (Cofunds.com —Newhouse/Jupiter/Scudder/M&G).

Existem quatro tipos gerais de mercados, apresentando todos eles inúmeras variações: os mercados electrónicosgeridos pelos adquirentes são criados por grandes adquirentes, frequentemente em colaboração com parceirosdo sector tecnológico. Os mercados electrónicos geridos por fornecedores são criados pelos mesmos. Oscriadores de mercados (market makers) são plataformas comerciais independentes, não controladas pelosadquirentes nem pelos vendedores, apoiados em capital de risco, sendo frequentemente inovadores. Osagregadores de conteúdo (content aggregators) são sítios que transcendem a mera criação de mercadoselectrónicos. Em vez disso, criam e mantêm catálogos polivalentes que facultam aos clientes o acesso aosserviços de vários fornecedores através de uma estrutura comum de pesquisa.

Os mercados electrónicos B2B podem ter importantes efeitos positivos a nível da concorrência, contribuindoprincipalmente para reforçar a transparência do mercado, o que tende não só a exercer pressões no sentidoda descida dos preços, como permite uma maior integração de mercados geográficos distintos, à medida quea Internet suprime os entraves geográficos que obstam a uma conjugação eficiente entre adquirentes evendedores. O comércio em linha que permite aos adquirentes agregar a sua procura podem ser particularmentebenéfico para as pequenas e médias empresas (PME). Além disso, os mercados electrónicos B2B deverãoser uma importante fonte de eficiência, uma vez que permitem reduzir os custos das operações e melhorara gestão das existências.

Estes efeitos favoráveis podem, contudo, nalguns casos ser contrabalançados por eventuais preocupaçõesdo ponto de vista da concorrência. Na realidade, não se trata de preocupações novas, mas a questão consisteem saber até que ponto estas preocupações resultantes da «antiga economia» são válidas na «nova economia».Pode ser elaborada a seguinte lista dos eventuais problemas de concorrência, sem que tenha um carácterexaustivo:

a) posição dominante a nível da rede: os efeitos de rede e os potenciais problemas resultantes de uma posiçãodominante a nível da rede colocam-se quando o valor de um sistema para o utilizador individual aumentacom o número de utilizadores. Tal pode conduzir a um «desequilíbrio» do mercado e à criação de umaposição dominante, se os efeitos de rede forem suficientemente fortes para que todos os operadores demercado sejam levados a utilizar a mesma rede. Este problema poderá eventualmente colocar-se nocontexto dos mercado electrónicos B2B, dado que as vantagens serão tanto mais importantes quantomaior for o número de adquirentes e fornecedores ligados ao mesmo sistema;

b) intercâmbio de informações: esta preocupação tem a ver com a capacidade de os adquirentes ou osvendedores procederem à troca de informações sensíveis em matéria de preços e quantidades ou detectareminformações deste tipo. Está relacionada com a concepção do sistema, nomeadamente o seu grau deabertura em termos de dados individuais provenientes de terceiros;

c) compras conjuntas/vendas conjuntas: trata-se de saber se os participantes no mercado electrónico podemefectivamente agrupar os volumes comprados ou vendidos. Nesse caso, colocar-se-iam preocupações doponto de vista da concorrência se estivessem em condições de coordenar o seu comportamento enquantoadquirentes ou vendedores. Este problema não diverge, em princípio, daquilo que sucede com as compras

Page 53: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

3.3. Meios de comunicação social

216. Nos últimos 12 meses, assistiu-se a umincremento da actividade de concentrações nosector dos meios de comunicação social.

217. A preparação e o desenvolvimento de serviçosde televisão digital, muitas vezes em combinaçãocom serviços interactivos, conduziu à criação deuma série de empresas comuns que reúnem osrecursos e os conhecimentos técnicos de duas oumais empresas, tais como a Kirch/BSkyB e aMicrosoft/Telewest. A tendência no sentido daintegração vertical também se tornou muitoacentuada, como é evidenciado por processos comoa AOL/Time Warner e a Vivendi/Universal. Porúltimo, no domínio dos serviços interactivos, apossibilidade acrescida de estes serviços seremdisponibilizados através de televisões, telemóveise computadores pessoais conduziu à criação daempresa comum Vizzavi entre a Vodafone, aVivendi e a Canal+. Alguns destes processoslevantaram preocupações quanto ao facto de opoder de mercado num determinado nível domercado poder ser utilizado para criar ou reforçaruma posição dominante noutros níveis, tendo sidoimpostas condições rigorosas para impedir aocorrência deste tipo de situações.

218. No domínio antitrust, colocaram-sepreocupações deste tipo em diversos outros casose a Comissão continuará a acompanhar de perto a

evolução no próximo ano, a fim de garantir que opoder de mercado existente não seja utilizado paraimpedir o desenvolvimento de novos mercados.

219. A título ilustrativo, a Comissão recebeu umnúmero crescente de denúncias informais sobre olicenciamento de direitos relacionados com váriasformas de media e com conteúdos de media autilizar no âmbito dos novos serviços, incluindo naInternet. Estes novos serviços põem claramenteem causa as estruturas de mercado existentes e osacordos em matéria de licenças. A Comissãoexaminará estes problemas de forma muitocuidadosa, velando para que sejam devidamentegarantidos os interesses dos titulares dos direitose dos novos prestadores de serviços.

220. A concessão de licenças relativas aos direitosde radiodifusão de eventos desportivos constituiu,uma vez mais, uma importante fonte depreocupação no domínio da concorrência. Paraalém da Fórmula 1, houve um trabalho considerávelno sector do futebol. Entre os processos nesteâmbito, o maior destaque foi concedido ao casoda Telefonica/Sogecable/Audiovisual Sport, emque a Comissão formulou uma comunicação deacusações nos termos do n.o 6 do artigo 15.º doRegulamento n.o 17, com vista a suprimir aimunidade de que beneficiavam a Telefonica e aSogecable em matéria de coimas, por teremnotificado o seu acordo. Na sequência da 53

ou vendas conjuntas «normais». Por conseguinte, o debate sobre estas questões nas novas orientaçõeshorizontais constituirá um bom ponto de partida para a sua análise;

d) discriminação/encerramento do mercado: diz respeito à propriedade dos mercados electrónicos B2B eàs regras aplicáveis a esses mercados. Tais regras podem ser utilizadas, por exemplo, para excluir certosparticipantes do mercado mais eficiente, colocando-os assim numa situação mais desvantajosa do pontode vista concorrencial. Poderia vir a surgir um problema de discriminação se alguns operadores nomercado (por exemplo, os criadores) beneficiassem de informações privilegiadas sobre as operações nomercado. Este problema colocou-se no âmbito do processo Volbroker, o primeiro mercado electrónicoB2B autorizado nos termos do artigo 81.º Neste caso, seis grandes bancos criaram uma empresa comumque prestava um serviço de corretagem electrónica para a negociação de opções em divisas estrangeiras,o que suscitou preocupações no que diz respeito ao acesso a informações confidenciais por parte dasempresas-mães. Para dissipar as preocupações nesta matéria, os proprietários do mercado electrónicoVolbroker.com garantiram à Comissão que assegurariam a devida compartimentação para impedirquaisquer fluxos de informação entre as empresas-mães e a empresa comum.

A análise dos mercados electrónicos B2B do ponto de vista da concorrência está ainda em curso. A Comissãodeverá analisar cuidadosamente o funcionamento de qualquer projecto de sistema de comércio B2B e assuas repercussões no mercado. Atendendo à natureza mundial assumida por muitos mercados electrónicos,tal será feito em estreita cooperação com outras autoridades da concorrência.

I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADAS E ABUSOS DEPOSIÇÃO DOMINANTE: ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAIS E

DIREITOS MONOPOLISTAS: ARTIGOS 31.º E 86.º

Page 54: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

comunicação de acusações, as partes concluíramuma série de acordos em matéria de concessão desublicenças, que eliminaram a necessidade deadoptar uma decisão formal. Prossegue a análisequanto ao fundo da questão.

3.4. Profissões liberais

221. Aquando do Dia da Concorrência realizadoem Lisboa em Junho de 2000, a Comissão teveoportunidade de salientar as vantagens para osconsumidores da sua política de concorrência nodomínio das profissões liberais.

222. Esta política, baseada na manutenção das regras profissionais de deontologia e nasupressão, nomeadamente, das restrições emmatéria de preços e publicidade, traduz-se numaoferta mais diversificada em termos de preços ede qualidade dos serviços, numa maioracessibilidade aos serviços por parte dos cidadãose numa melhor informação, que permite aoutilizador proceder a uma escolha consciente eobjectiva do profissional.

223. A Comissão aproveitou a ocasião paraincentivar: os Estados-Membros a caminhar paraa liberalização do sector, clarificando a legislaçãode molde a evitar que a sua aplicação protejaunicamente os interesses económicos dosmembros das profissões liberais, sem garantirsimultaneamente a qualidade do serviço; osprofissionais a respeitarem uma concorrência sãe eficaz na fixação individual e livre dosrespectivos preços, mediante a divulgação de umainformação exacta das condições dos serviçospor eles prestados, bem como das suascompetências específicas, pela inovação nosserviços e nas suas modalidades de prestação epela penetração em mercados transfronteiras; asordens profissionais a renunciarem às pressõespor elas exercidas sobre os poderes públicos como objectivo de impedir a liberalização e assegurarvantagens económicas cujos benefícios são, alongo prazo, ilusórios, atendendo à evolução dosmercados de serviços a nível mundial; osconsumidores e respectivas associações atornarem-se mais exigentes quanto à informaçãodisponível em matéria de serviços profissionaise aos preços a pagar, de forma a ser possível a suacomparação antes da tomada de uma decisão e,igualmente, a denunciar às autoridades daconcorrência nacionais ou à Comissão Europeiaeventuais práticas susceptíveis de falsear aconcorrência.

224. O Tribunal de Primeira Instância, pordespacho proferido em 22 de Fevereiro de 2000,rejeitou um pedido de intervenção, apresentadopela Ordem dos Advogados de língua francesa emBruxelas no âmbito do processo T-144/99EPI/Comissão, no qual o Instituto dos Mandatáriosacreditados junto do Instituto Europeu das Patentes(EPI) requer a anulação parcial da decisão daComissão de 7 de Abril de 1999 no processoIV/36.147 — Código de Conduta do IMA (1). OTribunal de Primeira Instância considerou que oeventual interesse da ordem profissional em causaé indirecto e longínquo, não justificando assim asua intervenção no litígio em causa. Comofundamento da sua decisão, o Tribunal de PrimeiraInstância indicou que cada caso e cada sectorrequerem uma apreciação específica. Porconseguinte, mesmo que um acórdão viesse aconfirmar a decisão da Comissão, tal não afectariadirectamente os membros da ordem profissional emcausa (pontos 15 a 17 do despacho) dado que osector representado pela associação era totalmentedistinto do sector abrangido pela decisão daComissão.

225. No seu acórdão de 18 de Junho de 1998 (2),o Tribunal de Justiça concluiu que ao adoptar emanter em vigor uma lei que impõe ao ConselhoNacional de Transitários Aduaneiros (ConsiglioNazionale degli Spedizionieri Doganali — CNSD)a obrigação de fixar uma tabela de preços aplicávela todos os transitários, a República Italiana nãotinha respeitado as obrigações que lhe incumbempor força dos artigos 5.º e 85.º do Tratado. Apóster recebido um parecer fundamentado daComissão, a Itália deu cumprimento a este acórdãodo Tribunal de Justiça mediante a adopção da Lein.o 213, de 25 de Julho de 2000. Foi assim suprimidaa disposição da lei de 22 de Dezembro de 1990que previa que as tabelas de preços deviam serdefinidas pelo CNSD. As tabelas de preços emcausa tinham igualmente sido objecto de umadecisão da Comissão de 30 de Junho de 1993 (3),em que se declarava que constituíam uma infracçãoàs regras comunitárias da concorrência. O recursointerposto pelo CNSD contra esta decisão foirejeitado por acórdão proferido pelo Tribunal dePrimeira Instância em 30 de Março de 2000 (4).

54

(1) JO L 106 de 23.4.1999, p. 14 a 27.(2) Processo C-35/1996.(3) Decisão da Comissão 93/438/CE, COMP 33 407 CNSD (JO L 203

de 13.8.1993, p. 27 a 33).(4) Processo T-513/93.

Page 55: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADAS E ABUSOS DEPOSIÇÃO DOMINANTE: ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAIS E

DIREITOS MONOPOLISTAS: ARTIGOS 31.º E 86.º

3.5. Desporto

226. Na aplicação das regras de concorrência doTratado CE ao sector do desporto, a Comissãocontinuou a respeitar os princípios gerais delineadosno seu relatório ao Conselho sobre o desporto (1).

227. Os progressos realizados na apreciação dedeterminadas práticas restritivas das organizaçõesdesportivas, em relação às quais continuam todaviaa decorrer procedimentos na matéria, já permitiramrealçar que a Comissão reconhece a especificidadedo sector do desporto e que, na sua intervenção, teráem conta as suas funções sociais, educativas eculturais, a fim de preservar o seu papel social. Poroutro lado, atribui uma importância primordial aoincentivo da formação e da protecção dos jovensdesportistas, à solidariedade entre grandes epequenos clubes desportivos e entre o desportoamador e o desporto profissional, à salvaguardada integridade das competições e à garantia daincerteza quanto aos resultados dessas competições.

228. Através da sua intervenção no domínio daconcorrência, a Comissão vela para que estesobjectivos legítimos sejam alcançados através dos meios menos restritivos possíveis, emconformidade com o disposto no Tratado CE,

nomeadamente mediante formas que não restrinjamde forma desproporcionada a liberdade decirculação dos jogadores no território do EEE. Foineste espírito que encetou um diálogo construtivocom as organizações desportivas, cujas regrasforam parcialmente impugnadas, com vista a obtersoluções satisfatórias para todas as partesinteressadas e melhorar a segurança jurídica nosector do desporto.

229. Por último, neste sector a Comissão aplica asregras da concorrência de forma a não comprometera autoridade reguladora das organizaçõesdesportivas no que diz respeito a regrasverdadeiramente desportivas, isto é, regrasintrínsecas a um desporto ou necessárias à suaorganização ou à organização das competições.Deste modo, toma em consideração os princípiosestabelecidos nos acórdãos Deliège (2) e Lehtonen (3). A Comissão partilha assim osprincípios gerais definidos pelo Conselho na suadeclaração relativa às características específicasdo desporto (4).

55

(1) COM(1999) 644 final.

(2) Acórdão do Tribunal de Justiça de 11 de Abril de 2000, processosapensos C-51/96 e C-191/97.

(3) Acórdão do Tribunal de Justiça de 13 de Abril de 2000, processoC-176/96.

(4) Anexo IV às conclusões da Presidência — Nice, 7, 8 e 9 de Dezembrode 2000.

Page 56: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

D — Estatísticas

56

Gráfico 1Processos novos

360

206 221 216162

10

114

521

159

447

177 192

149

388

112

297

101

499

101

509

77

84

82

47

0

100

200

300

400

500

600

1995 1996 1997 1998 1999 2000

Processos da iniciativa da Comissão

Denúncias

Notificações

343

514539490

367403

36

6842

27

2114

0

100

200

300

400

500

600

700

1995 1996 1997 1998 1999 2000

Decisões formais

Procedimento informal

Gráfico 2Processos tratados

Page 57: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

I — ACORDOS, DECISÕES E PRÁTICAS CONCERTADAS E ABUSOS DEPOSIÇÃO DOMINANTE: ARTIGOS 81.º E 82.º; MONOPÓLIOS ESTATAIS E

DIREITOS MONOPOLISTAS: ARTIGOS 31.º E 86.º

57

521

447499 509

388

297

388

517

581 582

379417

1 221

1 2801 262

1 204

1 013

931

0

200

400

600

800

1 000

1 200

1 400

1995 1996 1997 1998 1999 2000

Processos encerradosProcessos novos Processos pendentes em 31 de Dezembro

Gráfico 3Evolução do número de processos pendentes no final do ano

Page 58: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços
Page 59: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

A — Introdução

230. Muitas das características sublinhadas norelatório anual do ano passado continuam ainda aser relevantes. O número de casos é elevado e continua a aumentar; os casos envolveram umagama cada vez mais vasta de produtos e serviçosdiferentes, e os efeitos cada vez mais globais dasoperações de concentração implicaram um númeromaior de casos que exigiam uma cooperação comautoridades responsáveis pela concorrência deoutros países.

231. Os resultados estatísticos relativos às operações de concentração são os seguintes: globalmente, foram notificados 345 novos casos(+18%) e foram tomadas 345 decisões finaisdurante 2000, ou seja, 28% mais do que em 1999.Destes, 321 foram autorizados durante a primeirafase (+26%), 28 dos quais foram autorizados mediante certas condições (+47%), ou seja, autorizados mas acompanhados de compromissos(decisões do n.o 2 do artigo 6.º), e 293 foram autorizados sem condições [decisões do n.o 1, alíneab), do artigo 6.º]. Durante o ano, a Comissão tomou17 decisões na sequência de um exameaprofundado, mais 10 do que em 1999. Três destescasos foram autorizados sem condições, 12 foramautorizados acompanhados de condições e doisforam proibidos. Para além disso, foram retiradosseis casos da segunda fase antes de ser tomadauma decisão final.

232. Tal como a presente análise estatística para2000 indica, a experiência da Comissão naaplicação do critério da posição dominantecontinuou necessariamente a aumentar. Emborao Tribunal de Primeira Instância não tenhaproferido quaisquer acórdãos que tenhamconduzido a Comissão a rever radicalmente a sua análise quer quanto ao fundo quer a nívelanalítico (1), a análise evolutiva continuou numabase casuística.

233. O progresso tecnológico e a evolução docomércio que o acompanha continuaram ainfluenciar a natureza do trabalho da Comissão.Por exemplo, este ano foram analisados osprimeiros casos relativos ao sector «empresa aempresa» («B2B» do inglês «business-to--business»), e aos mercados electrónicos na

Internet (2). Embora estes intercâmbios possamconduzir a eficiências significativas e tenham umimpacto pró-competitivo, podem também terimplicações negativas para a concorrência, taiscomo permitir aos operadores presentes no mercadoexcluírem certas empresas ou imporem a outrascondições de venda ou compras agrupadas. Aapreciação destes factores continuará porconseguinte a constituir uma parte importante daanálise da Comissão em casos futuros.

234. A experiência da Comissão em matéria deapreciação de soluções continuou igualmente aaumentar rapidamente. Em 2000, foram oferecidose aceites compromissos em 40 casos, 28 durantea primeira fase e 12 na segunda fase. Foramoferecidos mas rejeitados compromissos nosprocessos Volvo/Scania e MCI Worldcom/Sprint.A Comissão progrediu consideravelmente emmatéria de controlo da execução doscompromissos aceites durante o ano, à medidaque o número total de casos com compromissospara aplicar e controlar continuou a aumentar.Esta experiência tanto na apreciação como nocontrolo das soluções reflecte-se em grande partena comunicação da Comissão relativa ao tratamentodas soluções adoptada em Dezembro de 2000. Osignificado desta comunicação é sublinhado pelofacto de nenhuma outra autoridade responsávelpela concorrência em qualquer parte do mundo terpublicado quaisquer orientações sobre a formacomo tratar as soluções. O objectivo dacomunicação consiste em estabelecer clara eobjectivamente não apenas os princípiosprocessuais mas também os princípiosfundamentais nos quais a Comissão baseará a suaapreciação das soluções (3). Os principais pontosda comunicação são discutidos na secção relativaà soluções.

235. Este ano verificaram-se provas da crescentevisibilidade do regime europeu em matéria deoperações de concentração. Uma parte deste debatecentrou-se na análise da Comissão de casosparticulares, tais como o duplo exame das operaçõesde concentração projectadas entre a Time Warnere a AOL e a EMI. As decisões de proibição queforam tomadas este ano foram também objecto dealgumas críticas. Por exemplo, na sequência da

59(1) O acórdão do TPI relativo ao processo Airtours/FirstChoice nãofoi ainda proferido.

(2) Processo M.1969 — UTC/Honeywell/i2/MyAircraft.com; processoM.2027 — Deutsche Bank/SAP/JV.

(3) Comunicação da Comissão sobre as soluções passíveis de seremaceites nos termos do Regulamento (CEE) n.o 4064/89 do Conselhoe do Regulamento (CE) n.o 447/98 da Comissão (JO C 68 de 2.3.2001,p. 3 a 11).

Page 60: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

proibição da Volvo/Scania, levantaram-se críticascontra operações de concentração entre grandesempresas que operam em Estados-Membros maispequenos. E na sequência da sua proibição do casoMCI WorldCom/Sprint, foram expressas algumaspreocupações de que o regime, e a forma como éaplicado, seja distorcido em relação a operações deconcentração entre empresas não europeias e emespecial empresas baseadas nos Estados Unidos.

236. Pode ser dada a mesma resposta a estas duaspreocupações, ou seja, que o objectivo de qualquersistema de controlo das operações de concentraçãoconsiste em garantir a ausência de efeitos negativosem qualquer mercado relevante, quer no âmbito doEEE quer inclua todo o EEE. Tal é independenteda dimensão desse mercado ou do país em que asempresas implicadas no caso projectado seencontram situadas. O factor crucial é que anecessidade de reestruturar o sector não justifiquequalquer prejuízo para o consumidor e que quandoas empresas necessitem de uma reestruturação,existam meios para tal sem prejudicar aconcorrência. As empresas que prevêem umareestruturação têm de reconhecer a importânciaque a Comissão atribui à protecção da concorrênciana UE, independentemente de se realizar a nívellocal, nacional, europeu ou mesmo global.

237. Foram também formuladas inúmerasobservações sobre as pressões que a Comissãoenfrenta em relação ao seu regime de concentraçõese os eventuais efeitos negativos que a actual pressãosobre os recursos pode ter sobre a qualidade e porconseguinte sobre a credibilidade do regime. Estapressão poderia ser atenuada de duas formas. Emprimeiro lugar, a task force concentrações continuaa procurar formas para melhorar a eficiência dassuas acções. Este ano verificou-se uma importanteevolução deste aspecto, nomeadamente a adopçãoem 26 de Julho da comunicação relativa a umprocedimento simplificado (1), que se destina asimplificar o tratamento de certas categorias decasos, que não suscitam preocupações em termosde concorrência. Da caixa 4 constam pormenorescompletos das categorias de casos que sãoabrangidos pelo procedimento simplificado. Apartir da data da sua introdução, a Comissão tomou41 decisões no âmbito deste procedimento.

238. A segunda fonte de alívio da pressão quepesa sobre os recursos virá na sequência doprocesso de reexame periódico da Comissão,completado em Junho de 2000. Como resultadodeste reexame, a Comissão decidiu afectar maioresrecursos à DG COMP para apoiar o seucompromisso de uma política forte em matéria deconcorrência, em especial, para aplicar oRegulamento das Concentrações. Estes recursosadicionais permitirão à task force concentraçõescontratar mais funcionários nos próximos dois a trêsanos. Como o comissário Monti sublinhou no seudiscurso proferido na conferência organizada paracelebrar o décimo aniversário do Regulamento dasConcentrações, o apoio activo do presidente Prodiconstitui um reconhecimento do papel vital que aaplicação da legislação em matéria de concorrênciadesempenhou e continua a desempenhar no reforçodo mercado único.

239. Esta conferência, realizada em Setembro de2000, proporcionou uma excelente oportunidadenão apenas para fazer o balanço dos primeiros dezanos do controlo comunitário em matéria deoperações de concentração, mas também paraperspectivar o futuro. A conferência foi organizadaconjuntamente pela Comissão e pela InternationalBar Association (IBA). Será publicada no início de2001 uma colectânea de todos os contributospreparados para a conferência bem como osdiscursos pronunciados nessa ocasião.

240. A conferência proporcionou igualmente umanova oportunidade para discutir uma vasta gamade questões, muitas das quais estão agora a seranalisadas no contexto da revisão do Regulamentodas Concentrações. Esta revisão dá seguimento aorelatório que a Comissão apresentou ao Conselhoem Junho, que prevê uma primeira análise doslimiares de volumes de negócios incluídos noregulamento. Este relatório cumpriu a obrigaçãojurídica introduzida aquando da última alteraçãodo Regulamentado das Concentrações em Junhode 1997. Durante o processo de preparação dorelatório, tornou-se evidente que existiam algumasquestões fundamentais, que necessitavam de umnovo exame. Por conseguinte, a Comissão lançouum vasto exercício de revisão destinado a garantirque o regulamento das concentrações constitui uminstrumento tão relevante e adequado quantopossível. Os exemplos que se seguem apresentamalguns dos tipos de problemas que estão a serexaminados: os limiares de volumes de negóciosestabelecidos no regulamento das concentraçõessituam-se ao nível mais apropriado? Como podem60

(1) Comunicação da Comissão relativa a um procedimento simplificadode tratamento de certas operações de concentração nos termos doRegulamento (CEE) n.o 4064/89 do Conselho (JO C217 de 29.7.2000, p. 32 a 34). Também disponível emhttp://europa.eu.int/comm/competition/mergers/legislation/simplified_procedure/.

Page 61: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

ser maximizados os benefícios potenciais nosacordos de repartição de tarefas incluídos nossistemas de remessa (artigos 9.º e 22.º)? O conceitode «concentração», tal como definido noRegulamento das Concentrações continua a seradequado a um mundo de alianças estratégicas,participações minoritárias e empresas comuns deprodução?

241. Em relação aos limiares dos volumes denegócios, a avaliação deve ser efectuada à luz deum dos princípios fundamentais subjacente aoregime comunitário aplicável às operações deconcentração, ou seja, o princípio de «balcão único»para o exame e controlo das concentrações queafectam os mercados europeus. Em especial, aComissão está preocupada com o facto de umnúmero significativo de operações com efeitostransfronteiras parecer continuar a não serabrangido pelo âmbito de aplicação doregulamento. A título de exemplo, dois processosrelativos ao sector da Bolsa (Euronext e iX) —ambos claramente com um interesse europeu — nãoforam ou não teriam sido considerados como tendouma dimensão comunitária com base nos limiaresprevistos no Regulamento das Concentrações. Doponto de vista da Comissão, tal levanta a questãode saber se tais operações se revestem de interessecomunitário, e em caso afirmativo, se este interesseé suficientemente protegido. De um ponto de vista

do sector, esta situação suscita preocupaçõesprincipalmente em relação às notificações múltiplas,que aumentam a insegurança jurídica bem comoo esforço e os custos daí decorrentes.

242. As alterações de 1997 introduzidas noRegulamento das Concentrações incluíram tambémalterações aos procedimentos de remessa entre a Comissão e as autoridades nacionais responsáveis pela concorrência (artigos 9.º e 22.º,respectivamente). Estas disposições destinavam-sea permitir que a Comissão afinasse as suas práticasde repartição de tarefas com os Estados-Membros.Contudo, o facto de nem uma única remessaconjunta ao abrigo do artigo 22.º ter sidoapresentada desde a sua introdução em Março de1998, constitui um claro indício de que o sistemanão está a funcionar como previsto.

243. A Comissão encontra-se actualmente numafase de investigação deste processo, em consultacom os Estados-Membros e, significativamente,com os países candidatos à adesão, bem comocom as comunidades empresarial e jurídica.Durante 2001, a Comissão publicará umdocumento de consulta formal, que apresente assuas conclusões e recomendações de alteração, eque constituirá então a base para um novo ciclode consultas antes da aplicação de qualquer destasrecomendações.

61

Caixa 5: O procedimento simplificado

A introdução do procedimento simplificado destina-se a aumentar a eficiência com que a Comissãotrata certas categorias de operações de concentração que não suscitam normalmente problemas em termosde concorrência. Este sistema foi introduzido pela adopção da comunicação e posto em prática em 1 deSetembro de 2000. O texto completo da comunicação encontra-se disponível no sítio da Comissão:http://europa.eu.int/comm/competition/mergers/legislation/simplified_procedure/.

A comunicação da Comissão relativa a um procedimento simplificado de tratamento de certas operaçõesde concentração nos termos do Regulamento (CEE) n.o 4064/89 do Conselho identifica três categorias decasos, que deveriam ser objecto de uma decisão rápida adoptada pela Comissão no final do exame normalde um mês. Esta comunicação é aplicável às seguintes categorias de concentrações:

— aquisição por duas ou mais empresas do controlo conjunto de uma empresa comum, desde que esta nãoexerça nem tencione exercer quaisquer actividades no território do Espaço Económico Europeu (EEE)(se o volume de negócios da empresa comum e o valor total dos activos transferidos para a empresacomum for inferior a 100 milhões de euros no território do EEE;

— nenhuma das partes na concentração exerce actividades comerciais no mesmo mercado de produtos eno mesmo mercado geográfico (relações horizontais), ou num mercado de produtos que se situe amontante ou a jusante de um mercado de produtos no qual uma outra parte na concentração exerce asua actividade (relações verticais);

Page 62: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

B — Aplicação do critério da posição dominante

244. Tal como previsto no n.o 3 do artigo 2.º doRegulamento das Concentrações, será declaradaincompatível com o mercado comum umaconcentração que crie ou reforce uma posiçãodominante em resultado da qual uma concorrênciaefectiva seja significativamente entravada nomercado comum ou numa parte substancial deste.A Comissão aplicou este critério não apenas noscasos em que a concentração teria dado origem auma posição dominante única no mercado, masigualmente nos casos em que a operação projectadateria criado uma posição dominante colectiva.

1. Posição dominante única

Volvo/Scania

245. A criação de uma posição dominante únicafoi analisada no processo Volvo/Scania (1), um dosprocessos mais marcantes do ano. Após terestabelecido — por uma série de razões (requisitostécnicos e hábitos de compra diferentes, bem comouma prática de discriminação de preços significativamesmo em países vizinhos) — que os mercadosdos camiões pesados e dos autocarros eram aindamercados de dimensão nacional, o inquérito daComissão revelou que a nova entidade deteria umaquota de mercado de 90% na Suécia e entre 50% e

70% na Irlanda, Noruega e Finlândia. Neste casosimples de sobreposições horizontais clássicas eelevadas quotas de mercado, os efeitos unilateraisda concentração foram cuidadosamente examinadostambém com base em instrumentos econométricossofisticados. A concentração projectada teria reunidoduas empresas já com posições de mercado estáveise largamente simétricas no mercado. Para além deter dado origem à criação de uma empresaconsideravelmente mais forte do que o seuconcorrente mais próximo, a operação teriaeliminado a concorrência entre dois concorrentesparticularmente próximos. Nesta decisão, aComissão tornou igualmente claro que a aplicaçãohomogénea do critério da posição dominante aqualquer mercado geográfico relevante,independentemente da sua dimensão, para além deestar conforme ao espírito e à letra do Regulamentodas Concentrações, garante também a defesa dosconsumidores contra os efeitos da posiçãodominante, tanto em pequenos como em grandesmercados. No que diz respeito aos compromissospropostos pela Volvo, a investigação da Comissãorevelou que eram insuficientes para resolver osproblemas de concorrência levantados pela operaçãoem questão. A Comissão proibiu finalmente aoperação. Na sequência da proibição as duasempresas encontraram com êxito parceirosalternativos (a Renault e a Volkswagenrespectivamente).

Framatome/Siemens/Cogéma

246. Em 6 de Dezembro de 2000, a ComissãoEuropeia autorizou a criação de uma empresa62

— duas ou mais das partes na concentração exercem actividades comerciais no mesmo mercado de produtose no mesmo mercado geográfico ou num mercado de produtos que se situe a montante ou a jusante deum mercado de produtos, no qual uma outra parte na concentração exerce a sua actividade desde quea sua quota de mercado combinada não corresponda a 15%, ou mais, no caso de relações horizontaise a 25%, ou mais, no caso de relações verticais.

A decisão simplificada incluirá informações sobre as partes, a natureza da concentração e os sectoreseconómicos envolvidos, bem como a indicação de que a concentração é declarada compatível com o mercadocomum, uma vez que é abrangida por uma ou mais das categorias referidas na comunicação, devendo a ouas categorias aplicáveis ser expressamente identificadas. Tal como acontece com todas as decisões normaisde compatibilidade, a Comissão publicará uma versão pública da decisão. Não existirá qualquer comunicadode imprensa, mas a autorização será anunciada no Midday Express da Comissão.

O procedimento simplificado poderá reduzir a carga administrativa suportada pelas partes notificantes. Daráainda aos Estados-Membros e a terceiros as mesmas possibilidades para apresentarem observações ouintervirem tal como no âmbito de um procedimento comum. A Comissão pode também, se necessário,retomar a qualquer momento os procedimentos normais de investigação.

(1) Processo M.1672, de 14 de Março de 2000.

Page 63: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

comum que reúne as actividades nucleares daFramatome SA (França) com as da Siemens AG(Alemanha). A empresa comum, tal comoinicialmente notificada, envolvia também aparticipação da Cogéma, uma outra empresafrancesa que desenvolve actividades no sectornuclear. Na sua forma inicial, a operação ameaçavacriar ou reforçar uma posição dominante nosmercados dos elementos de combustível utilizadosnos reactores nucleares. A operação só foiautorizada após ter sido acordado que a Cogémanão faria parte da empresa comum. Uma declaraçãoda França de que garantirá que a Électricité deFrance (EdF) se retirará do capital da Framatomee liberalizará a sua política de aquisições no quediz respeito aos elementos de combustívelconstituiu um outro factor atenuante. Desta forma,a França, o maior mercado de electricidade nuclearda Europa, torna-se acessível a concorrentes danova empresa comum.

AstraZeneca/Novartis

247. A Comissão autorizou igualmente este anouma importante operação de concentração entreas actividades agroquímicas da AstraZeneca e daNovartis numa empresa recentemente criada, aSyngenta. Face ao contexto de um rápido processode consolidação no sector, a Comissão considerounecessário neste caso dar início a uma investigaçãoda segunda fase no que diz respeito à criação destaempresa, a maior empresa mundial do sector. Emestreita cooperação com a FTC, autorizou estaoperação após terem sido apresentadoscompromissos substanciais. Tal como inicialmentenotificada, a operação teria conduzido à criaçãoou ao reforço de uma posição dominante em39 mercados de produtos fitossanitários, sendo osmais importantes os mercados dos fungicidas paracereais e dos herbicidas para o milho. Para chegara esta conclusão, a Comissão não se baseouexclusivamente na actual posição de mercado daspartes, mas teve igualmente em conta projectos dedesenvolvimento futuros nas suas carteiras deprodutos. A determinação dos mercados do produtorelevantes revelou-se particularmente difícil neste

caso (bem como no processo conexo M.1932 —BASF/American Cyanamid), uma vez que envolveua determinação de «cadeias de substituição»,problemas de «substituição unilateral» e a posiçãocompetitiva dos produtos de utilização polivalente.

248. O critério da posição dominante revelou-seum instrumento adequado para examinar os efeitosde concentrações não apenas em mercados clássicosda antiga economia, por exemplo, os que implicamo sector transformador, mas igualmente em váriossectores de serviços, mais especialmente os dastelecomunicações, Internet e meios de comunicação(incluindo as várias combinações interssectoriais).Nesses mercados, os instrumentos de controlo dasconcentrações devem sempre ser aplicados tendoem vista a salvaguarda dos progressos alcançadosno que diz respeito à liberalização e permitindoespaço para o fluxo de inovação, tendo ambos emúltima análise por objectivo o benefício dosconsumidores.

249. Foram também objecto de uma análiseaprofundada as situações de integração vertical eos subsequentes efeitos de encerramento dosmercados. Para além de reforçar a posição da novaentidade a um nível da cadeia do abastecimento,encerrando desta forma o acesso de outrosfornecedores a um ou vários mercadosverticalmente relacionados, a integração verticalaltera frequentemente os incentivos económicosdas empresas parte na concentração, conduzindoa uma alteração substancial do funcionamento domercado. Tal acontece de forma mais acentuada nossectores dos serviços supramencionados, em queo acesso às redes é essencial para o fornecimentode uma vasta gama de serviços, e em que osdenominados efeitos de encerramento podemtornar-se um problema importante. A Comissãoviu-se confrontada este ano com esse tipo de efeitosresultantes de operações de concentraçãohorizontais e verticais. A concentração proibidaWorldCom/Sprint constitui um exemplosignificativo, em que o efeito de encerramentoresulta de uma sobreposição horizontal, isto é, dacombinação das redes de dois operadores (ver infraa análise na caixa 6).

63

Page 64: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

64

Caixa 6: MCI WorldCom/Sprint

Introdução

A Comissão tomou em 28 de Junho de 2000 uma decisão de proibição da operação de concentração projectadaentre as duas empresas de telecomunicações americanas MCI WorldCom e Sprint, uma vez que teria criadouma posição dominante para a entidade resultante da concentração no mercado do fornecimento daconectividade no nível de topo ou universal à Internet.

Conectividade no nível de topo ou universal (Internet)

A projectada operação de concentração suscitou questões semelhantes às da concentração de 1998 entre aWorldCom e a MCI (1) em que a Comissão considerou que a operação de concentração entre a WorldCome a MCI teria criado uma posição dominante no mercado do fornecimento de conectividade no nível de topoou universal (Internet).

As partes notificantes alegaram que a definição de mercado utilizada pela Comissão na decisão WorldCom/MCIdevia ser reanalisada à luz das profundas alterações verificadas durante os últimos anos no sector da Internet,nomeadamente a liberalização dos mercados comunitários das telecomunicações com o resultante aumentode fornecedores europeus de serviços de Internet e de fornecedores de conteúdos; a crescente utilização demúltiplos fornecedores (a utilização de pelo menos dois fornecedores de conectividade para obter umaconectividade Internet); as técnicas de distribuição de conteúdos (tais técnicas permitem a regulação elimitação do fluxo de tráfego que é trocado na Internet) e preços de linhas alugadas mais baixos. Como resultado,as partes alegaram que a Internet não podia ser considerada como hierarquizada e que os fornecedoreseuropeus de serviços Internet deixaram de depender dos principais fornecedores de conectividade Internet(americanos) a fim de obterem uma conectividade Internet global.

A investigação da Comissão revelou contudo que nenhum dos factores apresentados pelas partes notificantestinham tido qualquer impacto significativo na estrutura do mercado. A Comissão reconheceu que existia umacerta diminuição da dependência dos fornecedores de conectividade no nível de topo e que devido aoaumento dos conteúdos europeus e da construção de redes europeias, o tráfego Internet intra-europeu tinhaaumentado. Contudo, existia ainda uma forte dependência mesmo por parte dos principais fornecedores europeusde conectividade Internet em relação aos fornecedores no nível de topo a fim de obterem uma conectividadeglobal e estes não conseguiam exercer qualquer pressão concorrencial sobre os fornecedores no nível detopo. A Comissão concluiu que a Internet tinha mantido a sua estrutura hierarquizada e que o mercadorelevante para efeitos de apreciação do presente caso era o mercado do fornecimento de conectividade nonível de topo ou universal (Internet).

Em relação à concorrência neste mercado, a investigação da Comissão revelou que a MCI WorldCom tinhamantido a sua posição de líder enquanto fornecedor de conectividade Internet no nível de topo sendo aSprint um dos seus principais concorrentes. A investigação revelou também que a operação de concentraçãoem questão teria conduzido, através da combinação das redes alargadas das partes na concentração e da grandebase de clientela, à criação de uma empresa com uma tal dimensão absoluta e relativa em comparação comos seus concorrentes que tanto os concorrentes como os clientes teriam ficado dependentes da nova empresapara obterem conectividade Internet universal. Esta operação teria permitido à empresa resultante daconcentração um comportamento independente tanto em relação aos seus concorrentes como aos seusclientes e dada a sua capacidade de controlar a evolução técnica, aumentar os preços e impor uma disciplinaao mercado através da degradação selectiva das suas interligações com concorrentes. Por conseguinte, aComissão concluiu que a operação de concentração, tal como inicialmente notificada, teria levantado gravesproblemas em termos de concorrência através da criação de uma posição dominante ou de um reforço daposição dominante da WorldCom no mercado global do fornecimento de conectividade Internet no nível

(1) Processo IV/M.1069 — WorldCom/MCI, decisão de 8 de Julho de 1998.

Page 65: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

65

de topo. Dada a estrutura hierarquizada da Internet e a natureza global do mercado, esta operação teriaafectado os consumidores de todo o mundo.

A fim de dissipar as preocupações da Comissão, as partes apresentaram como compromisso um projecto dealienação das actividades Internet da Sprint. Este compromisso foi em geral semelhante ao compromissoaceite pela Comissão na decisão WorldCom/MCI. No caso anterior, a Comissão tinha aceitado a alienaçãodas actividades Internet da MCI a fim de solucionar os seus problemas. Contudo, partindo da experiênciaadquirida com esta alienação bem como com a investigação no processo MCI WorldCom/Sprint, a Comissãoconsiderou que a proposta não era suficiente para solucionar os problemas de concorrência resultantes daoperação de concentração. Em especial, a Comissão considerou que a proposta era inadequada para restabelecercom uma segurança suficiente que a solução restauraria a concorrência efectiva no mercado da conectividadeInternet no nível de topo. As partes retiraram as soluções propostas numa fase posterior do procedimento.

Outros mercados

Durante a sua investigação, a Comissão examinou também outros problemas potenciais a nível da concorrênciarelacionados com o fornecimento de serviços globais de telecomunicações e de serviços internacionais detelefonia vocal. Não foram identificados quaisquer problemas de concorrência que afectassem a Europa paraalém de certas questões para as quais a Comissão chamou a atenção das autoridades norte-americanas emrelação a estes mercados. As questões examinadas, e as conclusões da Comissão em relação a estes outrosmercados, são explicadas mais em pormenor no comunicado de imprensa que se encontra no sítio da taskforce «Concentrações».

Procedimento

No dia antes de a Comissão ter previsto tomar a sua decisão relativa ao projecto de concentração, as partesretiraram o compromisso proposto e a sua notificação à Comissão. Contudo, dado que as partes apenasretiraram a notificação, mas não renunciaram ao acordo subjacente, que identificava a obrigação de notificara operação projectada, a Comissão sentiu-se obrigada mesmo assim a adoptar a sua decisão.

Cooperação com o departamento americano da Justiça

Esta operação de concentração projectada entre a MCI WorldCom e a Sprint foi tratada paralelamente pelaComissão Europeia e pelo departamento americano da Justiça. Na sequência do acordo bilateral de 1991relativo à cooperação no domínio de decisões, práticas concertadas e posições dominantes entre a ComissãoEuropeia e os Estados Unidos da América, as duas autoridades realizaram investigações independentes eseparadas, mas a Comissão e o departamento americano de Justiça cooperaram de forma construtiva em todasas fases do procedimento. Por exemplo, representantes do departamento americano da Justiça assistiram àaudição oral em Bruxelas e um representante da Comissão esteve presente num dos encontros (pitch meeting)que se realizou no departamento americano de Justiça. Este departamento apresentou em 27 de Junho de2000 uma denúncia num tribunal americano em que contestava a projectada operação de concentraçãonomeadamente por razões que se referiam ao mercado do fornecimento de conectividade no nível de topo.

Desenvolvimentos posteriores

Em 13 de Julho de 2000, a MCI WorldCom e a Sprint anunciaram que tinham cancelado o seu acordo deconcentração.

Em 27 de Setembro de 2000, a MCI WorldCom (agora WorldCom) introduziu uma acção de anulação dadecisão da Comissão ao abrigo dos artigos 230.º e 231.º do Tratado CE.

Page 66: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

Vodafone-Airtouch/Mannesmann

250. Um outro processo desta categoria é aoperação Vodafone/Mannesmann, que levantouproblemas de concorrência no mercado emergentedos serviços de telefonia móvel pan-europeuscontínuos. O fornecimento destes serviços dependeem grande medida da capacidade dos operadoresde localizarem exactamente os seus clientes quandoestes se encontram fora do alcance da sua própriarede. A investigação da Comissão tinhademonstrado que existe uma procura emergentede tais serviços por parte de clientes móveisinternacionalmente, em especial grandes empresasque exercem inúmeras actividades transfronteirasna Europa. Na sequência da concentração, a novaentidade teria disposto de uma única localizaçãono mercado comum, com o controlo exclusivo dos operadores de telefonia móvel em oito Estados-Membros e o controlo conjunto em três.Através desta ampla localização, afigura-se que aentidade resultante da concentração se encontrarianuma posição única para criar uma rede integradaque permitiria uma rápida implementação dofornecimento de serviços pan-europeus contínuosde ponta, pelo menos nos Estados-Membros em quedeteria um controlo exclusivo. Por outro lado, osconcorrentes da entidade resultante daconcentração, devido às suas localizaçõessegmentadas e às dificuldades de integração dassuas redes numa única rede contínua, nãoconseguiriam acompanhar essa situação a curtoou médio prazo (em média 3 a 5 anos). Aconcentração foi finalmente autorizada na sequênciade compromissos apresentados pelas partes. Assoluções aceites em relação a este problemaespecífico consistiram na concessão a outrosoperadores de telefonia móvel da possibilidade defornecerem serviços pan-europeus contínuos deponta aos seus clientes através da utilização darede integrada da entidade resultante daconcentração. Devido contudo à rápida evoluçãodo sector, incluindo nomeadamente a concessão delicenças UMTS e o facto de os concorrentestentarem com toda a probabilidade criar infra--estruturas alternativas, este compromisso foilimitado a um período de três anos.

AOL/Time Warner

251. Nos casos de integração vertical, é importantereconhecer que podem surgir efeitos deencerramento, especialmente quando uma daspartes na concentração beneficia de um podersignificativo num mercado a montante ou a jusante.

No processo America Online Inc (AOL)/TimeWarner, a Comissão temia que a AOL, devido àconcentração com a Time Warner (que por seulado tinha planeado fundir as suas actividades deregisto e de edição musical com a EMI), e devidoàs suas empresas comuns europeias com aBertelsmann, viesse a controlar a principal fontede direitos de edição musical na Europa. A AOLé o principal fornecedor de acesso à Internet nosEUA e o único fornecedor desse tipo com umapresença pan-europeia. A Time Warner é uma dasmaiores empresas de meios de comunicação e deentretenimento a nível mundial com interesses emestações de televisão, edição de revistas e livros,música, filmes e redes por cabo. A concentraçãocriou o primeiro fornecedor de conteúdos Internetverticalmente integrado, distribuindo conteúdosda marca Time Warner (música, informações,filmes, etc.) através da rede de distribuição Internetda AOL.

252. Devido às ligações estruturais e contratuaisentre a AOL e a Bertelsmann, a nova entidade teriatambém um acesso preferencial aos conteúdos daBertelsmann e, em especial, ao seu grande catálogomusical. Por conseguinte, a nova empresa teriacontrolado a principal fonte de direitos de ediçãomusical na Europa, um mercado em que um terçoé detido pela Time Warner e pela Bertelsmann.Nestas circunstâncias, era provável que a novaentidade viesse a ocupar uma posição dominanteno mercado emergente do fornecimento de músicaem linha na Internet tornando-se um guardião domercado e conseguindo desta forma ditar ascondições de difusão dos ficheiros audio na Internet.Para além disso, teria podido formatar os conteúdosmusicais da Time Warner e da Bertelsmann demodo a serem compatíveis apenas com o logicialde leitura da AOL (Winamp), mas não com os dosconcorrentes. Por outro lado, o Winamp teriaconseguido passar música de empresasconcorrentes que em geral utilizam formatoscomuns. Assim, devido às limitações técnicas deoutros operadores, a nova entidade teria tambémconseguido impor o Winamp como o logicialdominante.

253. A Comissão aprovou esta operação graças aum conjunto de compromissos proposto pelaspartes e destinado principalmente a reduzir asrelações entre a Bertelsmann e a AOL. Esteobjectivo será atingido de uma forma progressiva,sob a supervisão de um organismo independenteencarregado de velar pelo seu cumprimento. Umasérie de medidas provisórias garantirão que as66

Page 67: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

relações entre as duas empresas serão mantidasem condições de igualdade até à retirada total daBertelsmann.

Vivendi/Canal+/Seagram

254. O processo Vivendi/Canal+/Seagram colocouproblemas semelhantes de integração vertical e deencerramento do mercado. As preocupações daComissão em matéria de concorrência centraram-seno mercado da televisão mediante pagamento (emque o Canal+ é o operador dominante na Europa),no mercado pan-europeu emergente de portais e nomercado emergente da música em linha. Nomercado da televisão mediante pagamento, aComissão considerou que o acesso, provavelmenteexclusivo, do Canal+ aos filmes «premium» (1)produzidos e co-produzidos pela Universal daSeagram teria reforçado a sua actual posiçãodominante em França, Espanha, Itália, Bélgica ePaíses Baixos e criado uma posição dominante nomesmo mercado na região nórdica.

255. O pacote de compromissos oferecido pelaspartes inclui o acesso de concorrentes à produçãoe co-produção de filmes da Universal. As partescomprometeram-se em especial a não concederao Canal+ os denominados direitos «de primeiraexclusividade» (2) em relação a mais de 50% daprodução e da co-produção da Universal. Estecompromisso é aplicável a certos países europeuse tem uma duração de cinco anos.

256. Ao acrescentar o conteúdo musical daUniversal ao portal multiacesso da Vivendi(Vizzavi), a operação levantaria também sériasdúvidas quanto à criação de uma posição dominanteno mercado pan-europeu emergente dos portais e nomercado emergente da música em linha. Esteproblema foi remediado pela proposta da Vivendide dar aos portais rivais acesso ao conteúdo musicalem linha da Universal por um período de cinco anos.

TotalFina/Elf

257. Problemas de integração vertical foramigualmente levantados em concentrações da

economia clássica. A aquisição da Elf-Aquitainepela TotalFina exigiu uma análise da questão daposição dominante única tal como suscitada atravésdo agrupamento de operadores nacionais deprimeira linha e o risco de criação de verdadeiros«campeões nacionais». A preocupação daComissão consistiu em identificar e eliminarsobreposições de actividades e tambémestrangulamentos que permitissem à nova entidadeencerrar o mercado em seu proveito através docontrolo da logística de importação, de transportee distribuição de produtos petrolíferos refinados.Especificamente, nos mercados da venda decombustível por grosso e do fuelóleo doméstico,a nova entidade, para além de ameaçar o equilíbrioconcorrencial do mercado francês, teria tambémefectivamente controlado a «cadeia logística» istoé, a maior parte dos depósitos franceses deimportação, os três principais oleodutos queabastecem toda a França e um número substancialde depósitos de distribuição. Para além disso, anova entidade teria adquirido uma posiçãodominante no mercado da venda de combustíveispara veículos automóveis nas auto-estradasfrancesas. No mercado do gás de petróleo liquefeito(LPG), a nova entidade teria igualmente adquiridouma posição dominante, em especial através doseu controlo das infra-estruturas logísticasnecessária às importações, armazenagem eengarrafamento, que a teria tornado completamenteindependente em todo o território francêsdispensando-a da necessidade de proceder, talcomo é prática normal no sector, a swaps a níveldo acesso às infra-estruturas com os seusconcorrentes. Esta operação exigiu igualmente umexame aprofundado devido ao seu impactosignificativo previsto sobre mercados vitais paraos consumidores nomeadamente os mercados decombustíveis para veículos automóveis, fuelóleodoméstico e recursos energéticos em geral. Assoluções relativas a vários problemas deconcorrência, para além das supramencionadas,permitiram à Comissão autorizar a operação emquestão. Em resumo, a TotalFina comprometeu-seprincipalmente a alienar uma grande parte dos seusinvestimentos nas logísticas de transporte e dearmazenagem (uma operação que se prevê conduzira uma transformação fundamental da logísticapetrolífera em França), ou seja, a ceder 70 estaçõesde serviço de auto-estrada e a alienar a Elf Antargas,o que terá o efeito de eliminar quaisquersobreposições entre as actividades de LPG daspartes na concentração. No final de 2000, tinha-serealizado a maior parte destas alienações. 67

(1) A fim de fazer face à concorrência feroz que se exerce no mercadoda televisão mediante pagamento, os operadores deste tipo detelevisão devem adquirir conteúdos essenciais tais como filmes«premium».

(2) Os filmes «premium» que são transmitidos na televisão mediantepagamento logo após a sua exibição no cinema e nas cassetes vídeosão alegadamente filmes em «primeira exclusividade», ou seja,antes de serem mais amplamente difundidos na televisão.

Page 68: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

258. Em 13 de Setembro, a Comissão rejeitouuma lista de compradores proposta pela TotalFinaElf para a aquisição das estações de serviços deauto-estrada, que a empresa se tinha comprometidoa alienar. Tendo em conta a estrutura de mercadoresultante de toda a operação, a Comissão decidiuque dois dos adquirentes propostos não forneciamgarantias suficientes quanto à sua viabilidadeenquanto operadores potencial ou efectivamentepresentes nos mercados em questão e quanto à suacapacidade para manterem e desenvolverem umaconcorrência efectiva. A TotalFina Elf propôsentão uma nova lista de compradores, que incluíanomeadamente um novo candidato ao mercado, acadeia de supermercados Carrefour, que foi aceitepela Comissão em 7 de Novembro de 2000. Umadas duas empresas, que exerce actividades sob adesignação de «Le Mirabellier», inicialmenterejeitada pela Comissão, não foi retida pelaTotalFina Elf na sua lista final de compradorespropostos. Esta empresa introduziu, ao abrigo doartigo 230.º do Tratado CE, uma acção de anulaçãoda decisão da Comissão e um pedido de medidasprovisórias, solicitando a suspensão da decisãocontestada e exigindo que a Comissão ordenasseà TotalFina Elf a suspensão da execução dos seuscompromissos. O pedido de medidas provisóriasfoi rejeitado pelo Tribunal em 17 de Janeiro de2001.

2. Posição dominante colectiva

259. A Comissão aplicou o critério da posiçãodominante tal como estabelecido no n.o 3 do artigo2.º do Regulamento das Concentrações, nos casosem que a operação de concentração teria criadouma posição dominante colectiva. O Tribunal deJustiça e o Tribunal de Primeira Instância apoiaramesta abordagem da Comissão. Ao examinar umaposição dominante colectiva e os seus efeitos, aComissão está consciente das especificidades decada sector e procede em grande medida a umaanálise sem preconceitos e numa base casuística.Está actualmente a elaborar uma colectâneainteressante das suas decisões neste domínio, queconstituirá eventualmente a base de um futuracomunicação relativa à posição dominantecolectiva.

260. A questão da posição dominante colectivafoi discutida este ano numa série de processos,nomeadamente os processos nos sectores dosserviços, tais como a operação VEBA/VIAG e a

operação EMI/Time Warner, cuja notificação foiretirada.

VEBA/VIAG

261. A Comissão examinou o processoVEBA/VIAG paralelamente à investigação doBundeskartellamt do processo RWE/VEW. Nasequência destas duas operações, as duas novasentidades teriam controlado muito mais de 80%do mercado alemão da electricidade fornecida apartir da rede interconectada. Uma série de factoresteriam estabelecido uma estrutura de mercadoconducente a efeitos coordenados, nomeadamente,a total homogeneidade do produto, a transparênciado mercado, estruturas de custos semelhantesdevido à composição análoga do seu parque decentrais eléctricas e à sua exploração conjunta dealgumas grandes centrais eléctricas, inúmeras inter-relações entre a VEBA/VIAG e a RWE, aperspectiva de um crescimento reduzido da procurae uma baixa elasticidade da electricidade em termosde preços enquanto produto. Ambas as operaçõesforam autorizadas devido a compromissosoferecidos pelas partes às respectivas autoridades.Os compromissos oferecidos consistiamprincipalmente em alienações relativas a inúmerasholdings, especialmente na parte oriental daAlemanha, reduzindo desta forma importantesligações entre os dois novos grupos, etransformando a VEAG, um importante produtorde electricidade controlado conjuntamente por doisduopolistas, num concorrente independente. Oscompromissos previam também melhoramentosnas regras de base que regem a transmissão atravésda rede explorada pelas duas principais entidadesinterconectadas.

Outokumpu/Avesta Sheffield

262. A Comissão não aplica de uma formaautomática os critérios de avaliação de uma posiçãodominante colectiva (isto é, critérios destinados aestabelecer se o mercado em causa é propício aoaparecimento de uma posição dominante colectiva,tal como o grau de concentração do mercado, asua transparência, a homogeneidade do produto,o crescimento do mercado, os obstáculos à entrada,a existência de um poder de compensação por partedo comprador ou de ligações estruturais, etc.). Noprocesso Outokumpu/Avesta Sheffield, a operaçãoteria reduzido de seis para cinco na UE osfabricantes de produtos planos de aço laminado aquente e a frio. Apesar de um mercado68

Page 69: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

relativamente transparente e dos importantesobstáculos à entrada, a investigação da Comissãorevelou uma elevada taxa de crescimento (mais de5% por ano) dando origem a um aumento das taxasde utilização das capacidades. Foi concluído queestes factores em conjugação com as diferentesestruturas de custos das empresas não teriamconduzido ao aparecimento de efeitos coordenadosno mercado.

Alcan/Péchiney/Alussuisse

263. Uma série de concentrações no sector doalumínio, que foram objecto de exame este ano,apesar de suscitarem principalmente problemasde posição dominante única, permitiu à Comissãoaprofundar a sua reflexão em relação aos efeitoscoordenados no mercado e em matéria de colusão.No processo Alcan/Péchiney, a avaliação daComissão baseou-se principalmente na ideia deque as partes na concentração podiam utilizar umaligação estrutural existente, neste caso uma empresacomum, com um concorrente, como mecanismo deretaliação para dissuadir esse concorrente de selançar numa guerra de preços.

264. A tripla operação de concentração entre aAlcan, a Péchiney e a Alusuisse teria reunidoempresas que abrangem todas as actividades dosector do alumínio e teria criado o segundo maiorprodutor de alumínio a nível mundial. Uma vezque a Alcan tinha lançado ofertas de permuta deacções relativamente a duas outras empresas, umaconcentração poderia realizar-se sem a outra e aComissão pôde investigar os dois processos deforma aprofundada e independente. A operaçãoAlcan/Péchiney não se realizou e foi abandonadapelas partes tendo em conta o facto de a Comissãotencionar proibi-la. Por outro lado, a Comissãoaprovou a operação Alcan/Alussuisse, sujeita aocumprimento de certos compromissos em termosde alienações.

Alcoa/Reynolds e Rexam/AmericanNational Can

265. Num outro caso que envolvia uma posiçãodominante única (Alcoa/Reynolds), a Comissãoadquiriu uma experiência valiosa no que dizrespeito ao funcionamento dos mercados objectode concursos. Esta experiência, tal como aplicadano processo Rexam/American National Can,permitiu à Comissão concluir que uma situaçãode posição dominante colectiva poderia ser criada

e mantida em mercados caracterizados porconcursos públicos frequentes.

3. Concorrência potencial

Air Liquide/BOC

266. Finalmente, deve referir-se que a Comissãoteve a oportunidade de analisar um denominadoefeito indirecto de uma operação de concentração,nomeadamente, o seu impacto sobre a concorrênciapotencial no processo Air Liquide/BOC. As partesnotificantes invocam frequentemente umaconcorrência existente potencial e suficiente comoargumento de defesa que poderia militar a favor daaprovação de uma concentração.

267. Nesse processo a Comissão concluiu que aconcentração projectada teria reforçado a posiçãodominante da BOC no Reino Unido e na Irlandaatravés da eliminação da ameaça da entrada nomercado do seu concorrente mais credível e daredução da probabilidade de entrada de outrosfornecedores. A posição dominante da BOC eraextremamente forte, uma vez que esta empresa emalguns mercados do produto atingia uma quota demercado de quase 100%. Considerou-se que asduas partes beneficiavam de um número devantagens suplementares nos seus mercadosnacionais, nomeadamente através da sua integraçãovertical. Na sequência da concentração, a novaentidade teria criado uma rede de distribuição semparalelo na Europa, que lhe teria conferido umpoder ainda maior para impedir outros concorrentesde entrarem no mercado. Neste contexto, foiconsiderado que a supressão da Air Liquideenquanto candidato potencial mais credível àentrada no mercado do Reino Unido teria reforçadoa posição dominante detida pela BOC. A operaçãofoi abandonada pelas partes na sequência dofracasso das negociações que tinham sido iniciadasnos EUA com a Federal Trade Commission.

C — Soluções

268. Em Dezembro de 2000, a Comissão adoptouuma comunicação relativa às soluções (1), tornando-se assim a primeira autoridade daconcorrência a publicar orientações ou

69(1) JO C 68 de 2.3.2001. A comunicação está disponível na Internet:http://europa.eu.int/comm/competition/ mergers/legislation/.

Page 70: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

recomendações sobre esta matéria. Estacomunicação destina-se a estabelecer clara eobjectivamente os princípios administrativos efundamentais nos quais a Comissão baseará a suaapreciação das soluções e resulta de consultasalargadas realizadas nos últimos meses com osEstados-Membros e com as comunidadesempresarial e jurídica.

269. Embora a comunicação estabeleça osprincípios de base, deve notar-se que a prática daComissão em matéria de apreciação das soluçõesestá a evoluir muito rapidamente e que a fim detratar das questões numa base casuística, aComissão deve manter um certo grau deflexibilidade. Para além disso, um númeroimportante de casos de concentração que envolvemsoluções está a aumentar a um ritmo tão rápidoque se torna cada vez mais difícil acompanhar aevolução nesta área. Para situar a discussão quese segue no seu contexto, recorde-se que só nosúltimos dois anos a Comissão aceitoucompromissos propostos pelas partes naconcentração em cerca de 50 processos antes deautorizar a realização da operação.

270. A comunicação expõe os princípios geraissubjacentes aos procedimentos da Comissão. Emespecial, sublinha que embora incumba à Comissãodemonstrar que uma concentração cria ou reforçauma posição dominante, susceptível de entravar aconcorrência, é da responsabilidade das partesdemonstrar que as soluções que propõemeliminarão os problemas identificados pelaComissão.

271. A Comissão deve tomar em consideraçãouma série de factores para determinar se a soluçãorestabelecerá ou não a concorrência. O tipo desolução proposta constitui um factor vital, mas aComissão deve também ter em conta o risco deque uma solução proposta possa não poder seraplicada completa e atempadamente.

272. Tal como a experiência da Comissão notratamento de propostas o demonstrou, as soluçõesdevem não apenas parecer apropriadas pararestabelecer a concorrência mas devemefectivamente restaurá-la. Por exemplo, a Comissãojá não considera suficiente aceitar que a alienaçãode activos sobrepostos resolverá necessariamenteproblemas de concorrência originados por umadeterminada operação de concentração. Ainda queos activos adequados possam ser identificados, umcompromisso que se limite a alienar esses activos— independentemente de quem os compre — pode

não ser suficiente. Os activos a alienar devem nãosó representar uma actividade existente, mas devemtambém ser vendidos a um adquirente com osincentivos apropriados para entrar em concorrênciano mercado.

273. Um processo deste ano (TotalFina/ElfAquitaine) (1) ilustra claramente estes dois pontos.Em primeiro lugar, a Comissão rejeitou uma listade compradores proposta pela TotalFina Elf, devidoao facto de estes não terem incentivos paraefectivamente entrarem em concorrência nomercado da venda de gasolina nas auto-estradasfrancesas. Em segundo lugar, as partes propuseramvender vários activos a fim de eliminar osproblemas de concorrência no sector do LPG.Contudo, devido aos resultados negativosresultantes do critério de mercado utilizado pelaComissão relativamente à viabilidade das soluçõespropostas, as partes tiveram de comprometer-se aalienar toda uma filial, uma solução que foiclaramente para além da eliminação dasobreposição.

274. Existem casos em que a viabilidade doconjunto a alienar tendo em conta os activos partedas actividades, depende numa grande medida daidentidade do comprador. Nessas circunstâncias,a Comissão só pode autorizar a operação deconcentração se as partes se comprometerem a nãorealizar a operação notificada antes de teremconcluído um acordo vinculativo com o compradorrelativamente às actividades alienadas (denominado«comprador inicial»), aprovado pela Comissão. Oprimeiro, e o único caso até agora em que aComissão impôs esta condição foi o processoBosch/Rexroth (2). Para solucionar as preocupaçõesda Comissão de que as actividades a vender fossemenfraquecidas antes da sua venda e tendo em contacertas dúvidas quanto a poder encontrar umcomprador forte, a Bosch concordou em encontrarum «comprador inicial».

275. A Comunicação reconhece que embora aalienação constitua a solução preferida, não é oúnico tipo de solução aceitável para a Comissão.Podem existir situações em que a alienação não épossível ou os problemas de concorrência emquestão possam resultar de factores específicos,tais como a existência de acordos exclusivos, acombinação de redes, ou a combinação de patentesimportantes. Um exemplo de um caso em que opacote de soluções incluía elementos deste tipo

70 (1) Processo M.1628, de 9 de Fevereiro de 2000.(2) Processo M.2060, de 13 de Dezembro de 2000.

Page 71: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

para além das alienações foi o processo AstraZeneca/Novartis (1), uma concentração queconduziu à criação do principal grupo mundial deprodutos fitossanitários. A fim de obter autorizaçãoda Comissão, as partes nesta operação apresentaramum extenso conjunto de soluções, que consistianão apenas em alienações de produtos, querepresentaram vendas totais a nível mundialsuperiores a 250 milhões de euros este ano, masigualmente na concessão de licenças para os seusprodutos e na denúncia de acordos de distribuiçãorelativamente a produtos de terceiros.

276. O processo Vodafone Airtouch/Mannesmann (2)constituiu um outro exemplo de um caso em queos problemas foram resolvidos não através dealienações, mas através da redução de obstáculosà entrada no mercado. Neste caso, a soluçãodestinava-se a resolver os problemas ligados aomercado emergente dos serviços detelecomunicações móveis pan-europeias contínuaspara as empresas e os mercados de serviços deitinerância grossistas pan-europeus. Estesproblemas foram solucionados através decompromissos destinados a conferir aos outrosoperadores de telefonia móvel a possibilidade deprestarem estes serviços aos seus clientes utilizandoa rede integrada da Vodafone Airtouch/Mannesmann.Devido à rápida evolução do sector da telefoniamóvel e à concessão das licenças UMTS de terceirageração e devido ao facto de os concorrentestentarem criar infra-estruturas alternativas, oscompromissos limitaram-se a um período de trêsanos.

277. O grau de complexidade das operaçõesaumenta as incertezas associados à avaliação daeficácia das soluções propostas. Contudo, as partesdevem reflectir bem antes de propor um pacote desoluções demasiado complexo. Fazê-lo, pode lançardúvidas quanto à viabilidade de toda a operação.Um princípio importante que tem sido sublinhadopelo comissário Monti em várias ocasiões duranteo ano é que a solução não pode ser mais complexado que o problema que pretende resolver.

278. Uma outra característica de algumas dassoluções aceites este ano foi que a Comissãoinsistiu na eliminação de participaçõesminoritárias ou ligações entre concorrentes queameacem entravar uma concorrência efectiva emcertos mercados. Tal aconteceu no processo

Vivendi/Canal+/Seagram (3) através daeliminação da participação na BSkyB, e noprocesso AOL/Time Warner (4), através daredução da ligação com a Bertelsmann. Trata-sede uma questão que surgiu também no processoGenerali/INA (5), em que a aprovação foicondicionada à eliminação de participaçõesminoritárias em empresas seguradorasconcorrentes, bem como no processoVolvo/Renault VI (6), que só foi autorizada apósa Volvo ter concordado em vender a participaçãominoritária que tinha comprado na Scania, seuprincipal concorrente nos países nórdicos.

D — Cooperação

1. Cooperação com os Estados-Membros

279. É fácil esquecer o avanço considerável que representa a forma especial como o controlo comunitário das operações de concentraçãoinclui as abordagens e os pontos de vista dasautoridades responsáveis pela concorrência dos 15 Estados-Membros da UE. Durante a primeirafase (um mês a seis semanas) os Estados-Membrosrecebem uma cópia de cada notificação apresentadano âmbito do Regulamento das Concentrações,são informados sobre quais os compromissosapresentados pelas empresas para resolver osproblemas de concorrência e podem expressar osseus pontos vista a qualquer momento doprocedimento incluindo a possibilidade de solicitara remessa de um processo se estiverem satisfeitosos critérios previstos no artigo 9.º do Regulamentodas Concentrações. Em 2000, a Comissão tomouseis decisões em aplicação do artigo 9.º, foramefectuadas duas remessas totais (7) para asautoridades do Reino Unido e quatro remessasparciais para França, Espanha e Reino Unido (8).

280. A cooperação em investigações da segundafase (período adicional de quatro meses) é aindamais estreita. Neste caso, os Estados-Membros são

71(1) Processo M.1806, de 26 de Julho de 2000.(2) Processo M.1795, de 12 de Abril de 2000.

(3) Processo M.2050, de 13 de Outubro de 2000.(4) Processo M.1825, de 11 de Outubro de 2000.(5) Processo M.1712, de 12 de Janeiro de 2000.(6) Processo M.1980, de 1 de Setembro de 2000.(7) Processos M.1779 (Anglo American/Tarmac) e M.1827

(Hanson/Pioneer).(8) Duas no processo M.1684 (Carrefour/Promodes), uma para as

autoridades francesas e uma para as autoridades espanholas;processo M.2044 (Interbrew/Bass) e processo M.2154(C3D/Rhone/GoAhead), ambas para o Reino Unido.

Page 72: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

precisamente informados sobre a decisão daComissão de dar início ao procedimento dasegunda fase, sobre as objecções da Comissão ea resposta das partes e são convidados para aaudição, informados, consoante o caso, sobre assoluções propostas e a posição da Comissão sobreestas e finalmente e mais importante ainda sãoconsultados sobre o projecto de decisão de cadaprocesso da segunda fase, numa reunião doComité Consultivo. Este Comité Consultivoreúne-se igualmente para examinar aspectosimportantes não relacionados com processos, taiscomo as comunicações da Comissão que dãoorientações e que definem a política da Comissãoem vários domínios do Regulamento dasConcentrações e processos que impliquem coimas.Em 2000, realizaram-se 18 destas reuniões doComité Consultivo (por vezes incidindo sobrevários processos ou questões).

281. Em 2000, os esforços conjugados daComissão e dos Estados-Membros deram origem,numa grande maioria dos votos expressos em casosindividuais de concentrações, no ComitéConsultivo, a um apoio unânime da posição daComissão, tendo os pontos restantes sido aprovadospor maioria relativa (quantificada por votos empontos individuais). Em mais de metade dosprocessos, o Comité Consultivo concordou porunanimidade com a Comissão sobre todos os pontose em outros concordou por unanimidade em algunspontos e noutros ainda por maioria.

282. Existem inúmeros processos em que osEstados-Membros individuais têm um interesseespecial e em que permanecem por conseguinteem estreito contacto com a Comissão. Em muitosdestes casos, os Estados-Membros forneceraminformações úteis para a avaliação em termos deconcorrência. Um exemplo elucidativo decolaboração entre um Estado-Membro e aComissão em 2000 foi o processo VEBA/VIAG.Nesse caso, o Bundeskartellamt alemão e aComissão alcançaram na realidade umaextraordinária sintonia a nível de processos, tendoo Bundeskartellamt examinado em paralelo umcaso estreitamente associado ao processoVEBA/VIAG no sector da electricidade, oRWE/VEW. Esta estreita colaboração foi muitofrutífera, uma vez que deu resultados plenamentecoerentes e satisfatórios, que terão um impactopositivo essencial no processo de liberalizaçãodeste sector. Um outro exemplo foi o processoGenerali/INA, em que as autoridades italianasapoiaram fortemente a investigação da Comissão,

em especial no que diz respeito à apreciação dassoluções propostas.

2. A dimensão internacional do controlodas operações de concentração

283. Devido aos efeitos conjugados dainternacionalização, das alterações tecnológicas,e das reestruturações, o aumento global dasactividades de concentração continuou a aumentar,dando um novo impulso à necessidade de reforçara dimensão internacional do controlo comunitáriodas operações de concentração. Mais de 60 paísesimpõem agora requisitos de notificação na faseanterior à concentração e este número crescentede autoridades de concorrência que aplicam alegislação nacional às operações de concentraçãolevou algumas empresas a procurar a autorizaçãodas operações projectadas junto de cerca de40 autoridades diferentes; esta situação não sóaumenta significativamente os custos da operaçãopara estas empresas, mas aumenta também o riscode decisões contraditórias. Foram efectuadosdurante 2000 por várias ocasiões e nos dois ladosdo Atlântico (1) convites à manifestação de interessepara promover uma cooperação internacionalefectiva especialmente no domínio dasconcentrações.

2.1. Cooperação com o Canadá e os EUA

284. Continuou durante o ano de 2000 uma estreitacooperação bilateral com as autoridadesresponsáveis pela concorrência dos principaisparceiros comerciais da UE, e nomeadamente como departamento americano de Justiça e a FederalTrade Commission, bem como com o CanadianCompetition Bureau. Estas questões são discutidas

72

(1) Ver discurso proferido pelo comissário Monti na conferência daJapan Foundation, Washington DC, em 23 de Junho de 2000; osdiscursos respectivos de Joel Klein, procurador-geral adjunto, doSr. Schaub, director-geral, e do comissário Monti proferidos naconferência realizada em Bruxelas, em 14 e 15 de Setembro, porocasião do décimo aniversário do Regulamento das Concentrações;os discursos respectivos do comissário Monti e do Sr. Melamed,procurador-geral adjunto em exercício do departamento americanoda Justiça, pronunciados na Universidade de Fordham, em NovaIorque, em 19 e 20 de Outubro de 2000 e o discurso que o comissárioMonti proferiu no Instituto Universitário Europeu de Fiesole, em27 de Outubro de 2000. A necessidade de reexaminar os problemasassociados às notificações múltiplas foi igualmente analisada peloComité Consultivo para a Política Internacional em matéria deconcorrência americano, que apresentou o seu relatório final à Sr.ªReno e ao Sr. Klein, respectivamente procuradora-geral e procurador--geral adjunto dos EUA em Fevereiro de 2000.

Page 73: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

mais pormenorizadamente no capítulo IV(«Actividades internacionais»).

2.2. Cooperação com os países da EFTA e com os países candidatos à adesão

285. O controlo comunitário das operações deconcentração não só incorpora os sistemas deconcorrência dos seus 15 Estados-Membros, masnuma grande medida também, através dacooperação com o Órgão de Fiscalização daEFTA, os dos outros membros europeus doEspaço Económico Europeu, a Noruega, a Islândiae o Listenstaine. No que diz respeito à investigaçãoaprofundada da segunda fase, esta cooperaçãochegou ao seu mais alto nível no ano de 2000.

286. Foram desenvolvidos contactos com os paísescandidatos à adesão. As suas autoridadesresponsáveis pela concorrência foram tambémconvidadas a apresentar observações no contextodo exercício de revisão do Regulamento dasConcentrações de 2000, tendo apresentadocontributos valiosos. Os próximos anos assistirãoa um novo reforço desta cooperação, que éconsiderada pela Comissão como um passoimportante para uma eventual adesão.

E — Outros procedimentos

1. Coimas; artigos 14.º e 15.º do Regulamento das Concentrações

287. Numa decisão distinta, a Comissão aplicoupela primeira vez coimas a uma parte nãonotificante por não ter fornecido as informaçõessolicitadas no âmbito do Regulamento dasConcentrações. As coimas foram impostas àMitsubishi Heavy Industries por não ter fornecidoinformações no que diz respeito a uma empresacomum no ano passado entre a Kvaerner e aAhlström. A primeira coima, no valor de50 000 euros, referia-se a não ter cumprido a decisãoda Comissão, nos termos do n.o 1, alínea c), doartigo 14.º do Regulamento das Concentrações. Asegunda foi uma sanção pecuniária compensatóriaque totalizou 900 000 euros. Trata-se da primeiravez que a Comissão aplicou uma coima a umaempresa que não é uma parte notificante (ou umaparte que não cumpriu a obrigação de notificação)num processo de concentração. É também a

primeira vez que foi imposta a uma empresa umasanção pecuniária compensatória num processodeste tipo. As medidas foram tomadas por aComissão ter considerado que o comportamentoda Mitsubishi constituiu uma grave infracção àlegislação comunitária, uma vez que as informaçõessolicitadas eram necessárias para a devida avaliaçãoda operação Ahlström/Kvaerner. Ao adoptar estadecisão, a Comissão pretendeu sublinhar a suadeterminação em fazer respeitar as regras da UniãoEuropeia em matéria de controlo das operações deconcentração, o que pressupõe o fornecimento deinformações correctas tanto das partes naconcentração como dos concorrentes a quem ésolicitado o seu contributo.

2. Prevenção dos obstáculos a concentrações transfronteiras; artigo 21.º do Regulamento das Concentrações

288. A Comissão tem igualmente a preocupaçãode evitar que as operações de concentração dedimensão comunitária sejam bloqueadas porEstados-Membros por proteccionismo ou outrasrazões inaceitáveis. Neste contexto, a Comissãotomou uma decisão ao abrigo do artigo 21.º doRegulamento das Concentrações contra medidastomadas pelas autoridades portuguesas. Estadecisão vem na sequência de medidas semelhantestomadas contra o Governo português no anopassado no processo BSCH/A. Champalimaud (1).Na decisão tomada este ano, a Comissão considerouque, ao impedir a aquisição proposta pela SecilCompanhia Geral de Cal e Cimentos SA e oHolderbank da empresa portuguesa CimporCimentos de Portugal SGPS, o Governo portuguêstinha infringido as suas obrigações ao abrigo doartigo 21.º do Regulamento das Concentrações. AComissão considerou que as decisões ministeriaisde oposição à aquisição não se destinavam aproteger qualquer interesse legítimo, tal comoreconhecido nos termos do artigo 21.º doRegulamento das Concentrações. Ambos os casosindicam claramente que a Comissão tencionaproteger o seu direito exclusivo de reexaminar asoperações de concentração com dimensãocomunitária e que contestará quaisquer outrasinfracções semelhantes.

73

(1) Processo IV/M.1616.

Page 74: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

74

0

50

100

150

200

250

300

350

400

1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Gráfico 4Nú ões finais adoptadas anualmente desde 1994 e número de notificações

F — Estatísticas

Page 75: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

II — CONTROLO DAS OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO

75

Gráfico 5Repartição por tipos de operações (1993-2000)

OPA9%

Diversos6%

Empresascomuns/controlo

conjunto46%

Aquisição de participaçã ária

39%

Page 76: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços
Page 77: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

III — AUXÍLIOS ESTATAIS

A — Política geral

289. Em 2000, a Comissão prosseguiu econcretizou, no domínio dos auxílio estatais, osesforços de racionalização e de modernização dasua acção iniciados nos anos anteriores. A adopçãopela Comissão de três regulamentos relativos aosauxílios às pequenas e médias empresas, aosauxílios à formação e à aplicação da regra deminimis, contribui em grande medida para arealização deste objectivo (ver infra). Paralelamentea esta acção de racionalização e de modernização,foi consagrada especial atenção à correcta aplicaçãodas decisões da Comissão, nomeadamente emmatéria de recuperação de auxílios pagosilegalmente (ver caixa 7).

290. O oitavo relatório sobre os auxílios estataisna União Europeia (1), adoptado pela Comissãoem Abril, abrange os anos 1996-1998. Duranteeste período, os 15 Estados-Membros concederam,

em média anual, 93 mil milhões de euros deauxílios, ao sector transformador, agricultura,pesca, carvão, transportes e serviços. Este montante,que continua a ser elevado em termos absolutos,corresponde contudo a uma diminuição de 11%relativamente ao período precedente de 1994-1996.

291. Relativamente ao período anterior, o sectortransformador continua a ser o principal beneficiáriodos auxílios pagos, com 33 mil milhões de eurosrecebidos em média anual, o que representa 2,3% do valor acrescentado (EU-15). No período1996-1998, 57% dos auxílios pagos ao sectortransformador tinham por objectivo odesenvolvimento regional. Os objectivoshorizontais e os sectores específicos representaramrespectivamente 35% e 8% dos auxílios ao sectortransformador. De salientar também que os auxíliosad hoc às empresas passaram a representar menosde 10% dos auxílios ao sector transformador.

292. Todavia, apesar de se manter a baixatendencial observada desde há alguns anos, ooitavo relatório sublinha a persistência de umelevado montante total dos auxílios pagos. As diferenças entre Estados-Membros, em termos de níveis relativos dos auxílios pagos,continuam a ser significativas. Consoante osEstados-Membros, os auxílios pagos aos sectortransformador variam entre 0,7% e 4,9% do valoracrescentado. Estas diferenças são ainda maisimportantes se for utilizado o critério do montantede auxílio por trabalhador, que varia entre 188 e1 955 euros.

1. Modernizar o controlo dos auxílios

293. Em 6 de Dezembro, a Comissão manifestouo seu acordo de princípio relativamente à adopçãode três regulamentos, com base no Regulamentode Habilitação (CE) n.o 994/98 (2), que permitirãoconcretizar a sua acção em matéria demodernização do controlo dos auxílios estatais.Trata-se com efeito de dois regulamentos de isençãorelativos aos auxílios às pequenas e médias

empresas (3) e aos auxílios à formação (4) e de umregulamento que codifica a aplicação da regra deminimis (5). Desta forma, os Estados-Membrospoderão doravante conceder auxílios que satisfaçamas condições fixadas pelos regulamentos de isenção,sem notificação prévia e acordo da Comissão. Oregulamento relativo à regra de minimis codifica,por seu turno, a aplicação desta regra, expostaanteriormente numa comunicação da Comissãode 6 de Março de 1996. Desta forma, nos termosda regra de minimis, as medidas de auxílio a umaempresa que não excedam o limite máximo de100 000 euros durante um período de três anos nãosão consideradas auxílios estatais na acepção doTratado, na medida em que não alteram ascondições das trocas comerciais nem falseiam aconcorrência. Estas medidas estão assim isentasda obrigação de notificação.

294. Os efeitos positivos destes regulamentosbeneficiam não só a Comissão, mas também os

77

1994-1996 1996-1998

Auxílios estatais globais (em mil milhões de euros) 104,2 93,1

Auxílios estatais ao sector transformadoe (em mil milhões de euros) 38,5 32,6

Auxílios estatais enquanto percentagem do valor acrescentado no sector transformador 2,8 2,3

(1) COM(2000) 205.(2) JO L 142 de 14.5.1998.

(3) Regulamento (CE) n.o 68/2001, de 12 de Janeiro de 2001 (JO L 10de 13.1.2001).

(4) Regulamento (CE) n.o 69/2001, de 12 de Janeiro de 2001 (JO L 10de 13.1.2001).

(5) Regulamento (CE) n.o 70/2001, de 12 de Janeiro de 2001 (JO L 10de 13.1.2001).

Page 78: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

Estados-Membros, que poderão distribuir osauxílios abrangidos pelos regulamentossupracitados de forma muito mais rápida do queanteriormente. Esta simplificação dosprocedimentos não é contudo sinónimo de ummenor controlo ou de um relaxamento das regrasem matéria de auxílios estatais. Com efeito, osEstados-Membros continuam a estar obrigados,relativamente a cada auxílio concedido, a informara Comissão das suas modalidades e a forneceranualmente relatórios recapitulativos relativos aoconjunto dos auxílios pagos. Por outro lado, namedida em que os regulamentos, que sãodirectamente aplicáveis nos Estados-Membros,fixam critérios de compatibilidade a respeitar, seráreforçado o papel dos órgãos jurisdicionaisnacionais em matéria de controlo.

295. A inerente redução do número de notificaçõespermitirá a prazo que a Comissão reforce o seucontrolo em matéria de auxílios estatais, permitindonomeadamente uma concentração dos recursosnos casos mais importantes em termos de distorçãoda concorrência.

2. Melhorar a transparência

296. Não se pode, no entanto, conceber umreforço do controlo em matéria de auxílios estataissem uma maior transparência da acção daComissão. Nesta óptica, a Comissão procede aolançamento de um registo e de um quadro deacompanhamento públicos dos auxílios estatais.Esta acção inscreve-se no âmbito da política deredução do volume dos auxílios reafirmada porocasião do Conselho Europeu de Lisboa em quea Comissão, o Conselho e os Estados-Membrosforam convidados a prosseguir os seus esforçosno sentido de promover a concorrência e reduziro nível geral dos auxílios. No mesmo espírito, asconclusões do Conselho «Mercado Interno» de 16 de Março de 2000 sugerem o desenvolvimentode uma estratégia tendente a uma redução do nívelgeral dos auxílios, centrada num reforço davigilância e na avaliação dos seus efeitoseconómicos, nomeadamente através de dadosestatísticos.

297. Era igualmente necessário promover atransparência a nível da contabilidade de certasempresas, para que a Comissão pudesse tratar onúmero crescente de casos relativos a subvençõescruzadas. Desta forma, a alteração introduzida em

26 de Julho (1) na Directiva 80/723/CEE (2) relativaà transparência das relações financeiras entre osEstados-Membros e as empresas públicas, obrigaas empresas que prestam serviços de interesse geral(relativamente aos quais recebem umacompensação) e que desenvolvem uma actividadecomercial clássica, a manterem uma contabilidadeseparada para estas actividades distintas.

298. Esta alteração, que se aplica tanto às empresaspúblicas como às empresas privadas, não visacontudo, por forma a não impor obrigaçõesdesproporcionadas, as pequenas e médias empresas,as empresas que prestam serviços não susceptíveisde falsear a concorrência ou de alterar as trocascomerciais e as empresas relativamente às quais omontante da compensação pela prestação de umserviço de interesse geral foi fixado através de umprocedimento aberto, transparente e nãodiscriminatório.

3. Auxílios à protecção do ambiente

299. A protecção do ambiente constitui umapreocupação fundamental da União Europeia. Nestecontexto, a Comissão reconheceu há muito que aconcessão de auxílios estatais poderá ser necessária,mediante determinadas condições, a fim depromover os esforços das empresas em matéria deambiente.

300. Ao manifestar o seu acordo de princípio, em21 de Dezembro, relativamente à adopção de umnovo enquadramento comunitário dos auxíliosestatais a favor do ambiente, a Comissão, ao mesmotempo que esclarece a aplicação do princípio dopoluidor-pagador, pretende reforçar o carácter deincentivo dos auxílios a favor da protecção doambiente. Desta forma, o novo enquadramento,embora já não preveja a possibilidade de pagamentode auxílios destinados a assegurar a conformidadedas empresas com as novas normas comunitárias,à excepção das PME relativamente às quais estesauxílios continuam a ser possíveis durante umperíodo limitado, prevê explicitamente apossibilidade de auxílios para as empresas que vãomais além do que as normas em vigor.

301. No que se refere às energias renováveis,objecto de particular atenção, os Estados-Membrospoderão doravante conceder, nomeadamente,

78 (1) JO L 193 de 29.7.2000.(2) JO L 195 de 29.7.1980.

Page 79: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

III — AUXÍLIOS ESTATAIS

auxílios destinados a cobrir a diferença entre ocusto de produção da energia produzida a partirde fontes renováveis e os preços de mercado destaenergia até ao momento da amortização dasinstalações. Em matéria de redução de impostos,foi adoptada uma abordagem flexível. Entre asdiversas possibilidades que se oferecem aosEstados-Membros, estes poderão nomeadamenteconceder isenções de 10 anos não degressivas àsempresas que assinaram acordos voluntários emmatéria de protecção do ambiente. Na ausência deum acordo voluntário, as empresas poderãoobviamente beneficiar de reduções, desde quecontinuem a pagar uma parte significativa dosimpostos em causa.

B — Noção de auxílio

302. Segundo a definição constante do n.o 1 doartigo 87.º do Tratado CE, os auxílios estatais sãoincompatíveis com o mercado comum se: a) sãoconcedidos pelos Estados ou provenientes derecursos estatais, b) falseiam a concorrência aoconceder uma vantagem económica ao beneficiário,concedendo-a selectivamente a «certas empresas»ou «certas produções» e c) afectam as trocascomerciais entre Estados-Membros. A forma deconcessão do auxílio (redução de juros,desagravamento fiscal, empréstimo, garantia,fornecimento de bens ou serviços em condiçõespreferenciais, injecções de capital em condições nãoaceitáveis por um investidor privado, etc.) não érelevante.

1. Origem dos recursos

303. Para que uma medida seja considerada umauxílio, deverá determinar-se que confere umavantagem financiada pelo Estado. O Tribunal deJustiça voltou a confirmar, no seu acórdão LadbrokeRacing Ltd/Comissão (1), que o n.o 1 do artigo 87.ºdo Tratado CE abrange todos os meios financeirosque o sector público pode efectivamente utilizarpara apoiar as empresas, não sendo relevante queesses meios pertençam ou não de modo permanenteao património do referido sector. O facto de osmontantes em causa estarem constantemente sobcontrolo público, e portanto à disposição dasautoridades nacionais competentes, é suficientepara que sejam qualificados de auxílios estatais e

para que a referida medida seja abrangida pelo n.o 1 do artigo 87.º do Tratado CE.

304. A questão de saber se estão envolvidosrecursos estatais surge com particular acuidadenos processos em que um Estado-Membro ou umasociedade gestora de participações sociaispropriedade do Estado pretende adquirir umaparticipação no capital de uma empresa. O Estadoactua como um investidor público, um papel que,em si, é perfeitamente legítimo ao abrigo doTratado. Uma vez que o auxílio estatal deve serapreciado com base nos seus efeitos, a Comissãodesenvolveu o conceito do investidor privado numaeconomia de mercado: deve ser estabelecido, emcada caso, se a participação pública no capital daempresa se destina à obtenção de um rendimento,tendo sido consequentemente adquirida pelo Estadoou pela sociedade gestora de participações sociaispública, da mesma forma que o poderia ter sido porum adquirente privado, ou se foi adquirida porrazões de interesse público, devendo nesse caso aaquisição ser considerada como uma forma deintervenção do Estado, na sua qualidade deautoridade pública. Quando se pretende injectarcapital público numa empresa, deverá ser colocadaa questão de saber se um investidor privado agiriado mesmo modo. Esta condição é satisfeita, emespecial, quando se pode prever que o capitalinvestido produzirá uma rendibilidade normal, sobforma de dividendos ou mais-valias.

305. No processo Parco Navi SpA (2) a Comissãodecidiu que a injecção de capital por parte de umasociedade gestora de participações pública sedestinava a obter uma rendibilidade razoável docapital investido dentro de um prazo razoável, nãoconstituindo um auxílio estatal.

306. A Comissão examinou se os descontosconcedidos às fábricas de papel pela Électricité deFrance (3) (EDF) constituem auxílios estatais. AComissão concluiu que um operador privado teriapreferido vender uma unidade adicional deelectricidade sem cobrir o seu custo total, em vezde não realizar qualquer venda. Nesta perspectiva,considerou-se que o comportamento da EDF sejustificava em termos comerciais. Contudo, aComissão salientou que a decisão deveria serapreciada tendo em conta as circunstânciasespecíficas do mercado francês (a investigação

79(1) Acórdão do TJCE de 16 de Maio de 2000, processo C-83/98 P.

(2) Processo N-132/99, decisão da Comissão de 25 de Fevereiro de2000 (JO C 162 de 10.6.2000).

(3) Processo C-39/98 (ex-NN-52/98), decisão da Comissão de 11 deAbril de 2000, ainda não publicada.

Page 80: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

dizia respeito ao período entre 1990-1996, ou seja,antes da actual liberalização do mercado daelectricidade. Nessa altura, a EDF dispunha decapacidade excedentária de energia nuclear).

307. No processo Siciliana Acque Minerali Srl(1), a Comissão adoptou uma decisão negativa umavez que, nas circunstâncias, nenhum investidorprivado teria procedido a uma injecção de capitalpara recapitalizar a empresa na perspectiva da suaprivatização, uma vez que não existiam quaisquerperspectivas de recuperação da sua viabilidadeeconómica.

308. No que se refere às operações derecapitalização efectuadas pelo Crédit Lyonnais afavor da sua filial Tasq (2), a Comissão realçoumais uma vez o facto de se tratar de recursospúblicos, uma vez que a participação públicapermitia ao Estado exercer o controlo sobre o CréditLyonnais. A Comissão reconheceu igualmenteque, independentemente de consideraçõestemporais, a intervenção estatal estava emconformidade com os princípios de uma gestãoempresarial sólida, que tinha por objectivominimizar as perdas e preservar os interesses das participações públicas, não estandoconsequentemente envolvidos quaisquer auxíliosestatais.

309. No caso Georgsmarienhütte (GMH) undGröditzer (3), a Comissão deu início a um processoformal de exame uma vez que tinha dúvidas quantoao facto de um investidor privado concordar como pagamento de uma taxa relativa aos serviços daholding, tendo em conta que a Gröditzer estavapraticamente numa situação de falência.

310. A Comissão deu início a um processo no quese refere à empresa SEPI (Sociedad Estatal deParticipaciones Industriales) (4) uma vez queduvidava seriamente se a aquisição de estaleirosnavais e de uma fábrica de motores a diesel pelaSEPI podia ser considerada como uma verdadeiratransacção de mercado ou se se tratava de umainjecção de capital, e portanto de um auxílio estatal,uma vez que a SEPI era já o accionista em últimaanálise das entidades adquiridas.

311. A Comissão expressou dúvidas quanto aofacto de um investidor numa economia de mercadoter concedido apoio financeiro a uma empresapraticamente em situação de falência no processoKahla Porzellan GmbH, na Alemanha (5).

312. Na sua decisão no âmbito do processoEspanha/Comissão (6) relativa aos auxílios a favorda Tubacex, o Tribunal de Justiça recorreu ao novocritério de credor público por forma a apreciar seestavam incluídos elementos de auxílio estatal nosprocessos em que o Estado subscreveu um acordode reembolso e rescalonamento. O Tribunalsalientou que, nestes processos, o Estado não actuoucomo um investidor público cuja conduta deve sercomparada com a de um investidor privado queinveste capital com o objectivo de realizar lucro,mas sim como um credor público que, tal como umcredor privado, pretende recuperar os montantesque lhe são devidos. Com base nestes novoscritérios de apreciação, a Comissão reviu as suasdecisões de recuperação no que se refere à TubacexSA (7) e à SNIACE SA (8), concluindo que oscredores públicos tinham actuado como um credorprivado, com o objectivo de maximizar a taxa dejuro de mora, aplicando as taxas de juro legais àsdívidas. Consequentemente, a Comissão considerouque as medidas não constituíam auxílios estatais.

313. No processo Ganzliner BeschichtungspulverGmbH (9), a Comissão considerou que a renúnciaao reembolso de parte dos empréstimos concedidospor bancos públicos estava em conformidade como princípio do credor privado, uma vez que,comparativamente com uma hipotética liquidação,o acordo de pagamento proporcionava um ganholíquido para todos os credores.

2. Vantagens para uma empresa

314. O n.o 1 do artigo 87.º do Tratado CE definea fonte do auxílio e o seu efeito, mas nãoproporciona qualquer definição de auxílio ou umalista dos tipos de medidas proibidas. Contudo, oconceito tem vindo a ser desenvolvido pela

80

(1) Decisão da Comissão de 21 de Junho de 2000 (JO L 272 de25.10.2000, p. 36).

(2) Decisão da Comissão de 3 de Maio de 2000 (JO L 272 de 25.10.2000,p. 29).

(3) Processo C-43/2000, decisão da Comissão de 19 de Julho de 2000(JO C 3 de 6.1.2001).

(4) Processo NN-61/2000, decisão da Comissão de 12 de Julho de 2000(JO C 328 de 18.11.2000).

(5) Processo NN-142/99, decisão da Comissão de 15 de Novembro de2000, ainda não publicada.

(6) Acórdão do TJCE de 29 de Abril de 2000, processo C-342/96,Colectânea 1999, p. I-2459.

(7) Processo C-9/95, decisão da Comissão de 31 de Outubro de 2000(JO L 52 de 22.2.2001).

(8) Processo C-5/2000 (ex-C-68/97 e NN-118/97), decisão da Comissãode 20 de Setembro de 2000, ainda não publicada.

(9) Processo N-714/99, decisão da Comissão de 4 de Outubro de 2000,ainda não publicada.

Page 81: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

III — AUXÍLIOS ESTATAIS

Comissão e pelo Tribunal de Justiça. Segundo esteúltimo, o auxílio é definido como uma vantagemconferida a uma empresa pelas autoridadespúblicas, sem qualquer remuneração ou medianteuma remuneração que corresponde apenas de formamínima ao montante em que a vantagem pode seravaliada. Uma definição deste tipo abrange tantoa afectação de recursos como a redução dosencargos que a empresa teria de suportar, o quelhe permite efectuar poupanças.

315. Desta forma, o Tribunal de Justiça sublinhou,na sua decisão República Federal daAlemanha/Comissão (1) no que diz respeito à leialemã relativa ao imposto sobre o rendimento, quea origem da vantagem indirectamente concedidaàs empresas por essa lei decorre da renúncia peloEstado-Membro às receitas fiscais que terianormalmente cobrado, na medida em que é talrenúncia que confere aos investidores apossibilidade de adquirirem participações em taisempresas em condições fiscalmente maisvantajosas. O facto de os investidores tomarementão uma decisão autónoma não tem por efeitosuprimir o vínculo existente entre a redução fiscale a vantagem de que gozam as empresas em causa,uma vez que, em termos económicos, a alteraçãodas condições de mercado gerada pela referidavantagem resulta da perda de recursos fiscais porparte dos poderes públicos.

316. Uma vantagem económica pode serconcedida através de diferentes meios e em diversascircunstâncias. Poderá ser obtida através dascondições em que as empresas têm acesso à infra--estrutura ou a exploram, por exemplo criando umparque industrial e disponibilizando infra-estrutura.Para estabelecer uma linha de demarcação, aComissão concluiu, no processo Lenzing Lyozell(LLG) (2), que não estava envolvido qualquerelemento de auxílio estatal, uma vez que os preçosque a LLG paga pelos meios de processamentobásico incluindo electricidade, vapor industrial,água industrial, arrefecimento, ar pressurizado,tratamento de água e eliminação de resíduosconstituem preços normais de mercado. Alémdisso, a Comissão excluiu a existência de auxíliosestatais sob a forma de fornecimento de infra--estrutura específica, uma vez que a LLG pagauma contrapartida financeira normal para beneficiardas ligações à infra-estrutura.

317. Por forma a fazer face a uma procuratradicionalmente baixa, que faz baixar os preçosde mercado das propriedades no País de Gales,impedindo que os investidores privados obtenhamuma rendibilidade suficiente em tais investimentos,o que levou a uma penúria no mercado deinstalações comerciais e a uma oferta insuficientede propriedades comerciais adequadas, o ReinoUnido criou um regime de desenvolvimento deinfra-estruturas empresariais (3). Com base nacomunicação da Comissão no que respeita aauxílios estatais no âmbito da venda de terreno eimóveis públicos (4), a Comissão chegou àconclusão de que não estava a ser concedidoqualquer auxílio estatal, uma vez que o preço demercado dos terrenos e dos edifícios emdesenvolvimento era determinado por concursopúblico ou através de avaliação de peritosindependentes.

318. O preço de venda de uma participação públicanão contém elementos de auxílio estatal quando avenda é efectuada através de um processo deconcurso aberto, não condicional e nãodiscriminatório. A Comissão realçou na sua decisãoKali und Salz GmbH (5) que os Estados-Membrosnão são, contudo, obrigados a utilizar esteprocedimento quando procedem à alienação dassuas participações públicas. Embora não tenhasido efectuado qualquer concurso público, o preçofinal obtido resultou de um procedimento que nãoexcluía de forma arbitrária da venda qualquerinvestidor potencial. As negociações entre todas aspartes interessadas que actuavam em nome dosseus interesses económicos, realizaram-se segundoos princípios de mercado.

319. No que se refere ao apoio ao financiamentodas instalações de cabos na província de Bolzano (6), a Comissão concluiu que,normalmente, este tipo de auxílio deverá serconsiderado um auxílio estatal aos proprietários eoperadores, uma vez que o serviço tem finalidadesturísticas e claramente comerciais e concorrenciais.O financiamento destas instalações não pode serjustificado ao abrigo do n.o 2 do artigo 86.º doTratado CE, uma vez que as mesmas não fornecemnormalmente um serviço de interesse económico

81(1) Acórdão do TJCE de 19 de Setembro de 2000, processo C-156/98.(2) Processo C-61/98, decisão da Comissão de 19 de Julho de 2000

(JO L 38 de 8.2.2001).

(3) Processo N-657/99, decisão da Comissão de 6 de Dezembro de2000, ainda não publicada.

(4) JO C 209 de 10.7.1997.(5) Processo C-21/99 (ex-NN-27/99), decisão da Comissão de 13 de

Junho de 2000 (JO L 44 de 15.2.2001).(6) Processo NN-1/2000, decisão da Comissão de 19 de Julho de 2000,

ainda não publicada.

Page 82: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

geral nem satisfazem necessidades gerais e básicasda população, procurando antes realizar lucrosatravés do turismo.

3. Especificidade

320. Para ser abrangida pelo n.o 1 do artigo 87.º doTratado, a medida não deve apenas ser uma medidaestatal, devendo também ser selectiva, afectando oequilíbrio entre a empresa beneficiária e os seusconcorrentes. Este carácter selectivo distingue asmedidas de auxílio estatal das medidas gerais deapoio económico, que se aplicam a todas as empresasem todos os sectores da actividade económica numdeterminado Estado-Membro. Desde que nãofavoreçam um domínio de actividade específico,estas medidas gerais integram as competências dosEstados-Membros em termos de opções de políticaeconómica. Desta forma, as medidas que produzemum impacto transsectorial, e que são aplicáveis de igual forma em todo o território de um Estado-Membro, destinando-se a favorecer toda aeconomia, não constituem auxílios estatais naacepção do n.o 1 do artigo 87.º do Tratado CE.

321. Em 1992, a Comissão considerou que o regimedinamarquês que prevê uma taxa de base mais baixapara o imposto sobre os rendimentos (1) constituium auxílio estatal, uma vez que poderá proporcionarbenefícios a apenas determinados sectores. Contudo,os dados apresentados revelaram que, de facto, oregime está a ser aplicado tanto no sector privadocomo no sector público, nos sectores transformador,comercial e dos serviços e tanto a grandes empresascomo às PME. Consequentemente, a medida nãofavorece, na realidade, determinadas empresas oua produção de determinados bens, tendo a Comissãoaprovado o regime dinamarquês e também o regimesueco destinado a reduzir a base do imposto sobreo rendimento no que se refere aos peritos recrutadosno estrangeiro (1).

322. No que se refere ao regime de auxílio fiscalrelativo a reduções fiscais a favor do investimentona Madeira (2), a Comissão concluiu que asmedidas concediam uma vantagem selectiva, umavez que as isenções fiscais apenas podiam serobtidas caso o beneficiário estivesse registado naMadeira e procedesse ao reinvestimento total ou parcial dos seus lucros na região.

Consequentemente, a medida constituía um auxíliona acepção do n.o 1 do artigo 87.º do Tratado CE.

4. Efeito sobre o comércio entre Estados-Membros

323. Após determinar que a medida confere umavantagem, é financiada através de recursos estataise é selectiva, pode concluir-se que constitui umauxílio estatal na acepção do n.o 1 do artigo 87.º doTratado CE. Para que este artigo se aplique, amedida deverá também provocar uma distorçãoda concorrência e afectar o comércio entre Estados--Membros. Por forma a estabelecer o impacto destadistorção sobre o comércio entre Estados-Membros,bastará concluir que o beneficiário exerce, mesmoparcialmente, actividades que são objecto decomércio entre Estados-Membros.

324. Contudo, o efeito sobre a concorrência deveser apreciável. Neste contexto, o Tribunal de Justiçarealçou mais uma vez na sua decisão RepúblicaFederal da Alemanha/Comissão (3) que o montanterelativamente reduzido de auxílio ou a dimensãorelativamente pequena da empresa beneficiárianão exclui, por si só, a possibilidade de o comérciointracomunitário ser afectado. Quando o auxílioconcedido pelo Estado ou através de recursosestatais reforça a posição de uma empresa,comparativamente com outras empresasconcorrentes a nível do comércio intracomunitário,deverá considerar-se que estas empresas sãoafectadas pelo auxílio. Foi o que aconteceu no casoem apreço, uma vez que as outras empresas, a quenão se aplicava a medida em causa, só poderiamaumentar os seus recursos próprios em condiçõesmenos favoráveis, quer estivessem estabelecidasna Alemanha ou noutro Estado-Membro.

C — Apreciação da compatibilidadedos auxílios com o mercadocomum

1. Auxílios horizontais

1.1. Pequenas e médias empresas

325. No contexto da aplicação do bónus a favordas pequenas e médias empresas previsto em

82(1) Decisão da Comissão de 3 de Maio de 2000 (JO C 284 de 7.10.2000).(2) Processo N-96/2000, decisão da Comissão de 28 de Junho de 2000

(JO C 266 de 16.9.2000). (3) Acórdão do TJCE de 19 de Setembro de 2000, processo C-156/98.

Page 83: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

III — AUXÍLIOS ESTATAIS

diversos regimes de auxílios nacionais, a aplicaçãoda definição relativa ao critério da independênciasuscitou dúvidas quanto à possibilidade decontornar a lei. Consequentemente, a Comissãodecidiu reduzir a intensidade de auxílio no casoSolar Tech Srl (1) uma vez que a empresa estavaestreitamente ligada a um grande grupo. Devido aofacto de a Solar Tech ser directa e indirectamentecontrolada por uma grande empresa do sector daconstrução, esta não enfrenta as limitações típicasdas pequenas e médias empresas em termos decapacidade de acesso ao capital e ao crédito, fontesde informações, novas tecnologias, etc. Destaforma, a Comissão excluiu a aplicação do bónusPME previsto no regime de auxílio regionalrelevante, uma vez que não estava preenchido ocritério da independência previsto nas orientaçõesrelativas às PME.

1.2. Auxílios à investigação e desenvolvimento

326. Ao aplicar o enquadramento comunitário dosauxílios estatais à investigação e desenvolvimentode 1996, a Comissão pretende em especial que sejasalientado o efeito de incentivo do auxílio. Quantomais perto a investigação e o desenvolvimentoestiverem do mercado, mais rigorosa é a aplicaçãodeste princípio. Consequentemente, os trabalhosde investigação fundamental levados a cabo pelasinstituições públicas não constituem auxílios,enquanto os trabalhos de investigação fundamentalrealizados por empresas são abrangidos pelo n.o 1do artigo 87.º do Tratado CE. No entanto, uma vezque este tipo de investigação está afastado domercado, poderá ser compatível com o Tratado seos resultados forem, em princípio, amplamentedisponibilizados para exploração numa base nãodiscriminatória.

327. A Comissão salientou o carácter de incentivodo plano tecnológico ferroviário (2), do programaITEA (3), do programa alemão de investigaçãorelativamente à mobilidade e tráfego terrestre (4),bem como das medidas relativas aos créditosfiscais (5).

328. O plano tecnológico destina-se a promoverestudos para o lançamento de tecnologias paraaumentar a segurança do tráfego. No caso do ITEA,notificado em conjunto pela França e os PaísesBaixos, a Comissão recordou que sublinhou já pordiversas vezes a importância da indústria datecnologia da informação que desempenha um papelfundamental na sociedade da informação do séculoXXI. Consequentemente, considerou que esteprograma apresentava interesse comunitário. Oprograma alemão centrar-se-á no desenvolvimentode novas estruturas de transporte que, através deuma cooperação entre os diversos modos detransporte, tornará possível garantir a mobilidade ereduzir simultaneamente os gastos em transportese, em especial, a pressão global do tráfego,aumentando a segurança do sector. Além disso,deverão ser desenvolvidas, com a ajuda da telemáticano domínio dos transportes, novas tecnologias«inteligentes» de informação, comunicação eaconselhamento. No caso relativo aos créditos fiscais,o Reino Unido prevê um crédito fiscal no que serefere a despesas em matéria de I&D. A Comissãoconsiderou que o auxílio produz um efeito deincentivo, principalmente porque se destinaexclusivamente a pequenas e médias empresas.

329. Após algumas dúvidas quanto à proximidadedo mercado do projecto relativo à tecnologia deimpressão de jacto de tinta a cores, e ao seu efeitode incentivo, que levaram a Comissão a dar inícioa um processo para efectuar uma investigação maisaprofundada, a Comissão concluiu que a investigaçãorealizada pela Océ (6) podia ser qualificada dedesenvolvimento «pré-concorrencial» e produziaum efeito de incentivo na empresa, sendo assimcompatível com o Tratado CE.

330. Quanto à compatibilidade das actividades deinvestigação e desenvolvimento industriais, aComissão concluiu no processo Fondo specialerotativo per la ricerca technologica (7) que poderãoser elegíveis ao abrigo do regime, desde que sejamacessórias relativamente à fase pré-concorrencialde investigação.

1.3. Emprego e formação

331. Em conformidade com os compromissos queassumira, a Comissão adoptou em 21 de Dezembro

83

(1) Processo C-17/00, decisão da Comissão de 15 de Novembro de2000, ainda não publicada.

(2) Processo N-676/99, decisão da Comissão de 14 de Março de 2000(JO C 272 de 23.9.2000).

(3) Processo N-73/2000, N-85/2000, decisão da Comissão de 11 deAbril de 2000 (JO C 284 de 7.10.2000).

(4) Processo N-743/99, decisão da Comissão de 1 de Fevereiro de 2000(JO C 232 de 12.8.2000).

(5) Processo N-802/99, decisão da Comissão de 15 de Fevereiro de2000 (JO C 162 de 10.6.2000).

(6) Processo C-18/1998, decisão da Comissão de 18 de Outubro de2000, ainda não publicada.

(7) Processo N-445/2000, decisão da Comissão de 21 de Dezembro de2000.

Page 84: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

um relatório de aplicação das orientações relativasaos auxílios ao emprego (1). Este relatório sublinhaque, embora a aplicação das orientações não tenhana generalidade suscitado dificuldades de maior,numerosos auxílios estatais que têm por objectivodirecto ou indirecto a promoção do emprego sãotratados separadamente enquanto auxílios aoinvestimento. Este facto parece explicar o númerorelativamente reduzido de regimes notificadosdesde 1995, em média 10 a 12 regimes por ano.

332. Para além da questão da relação entre osauxílios ao emprego e os auxílios ao investimento,que podem prosseguir o mesmo objectivo, orelatório identifica três domínios susceptíveis deserem aprofundados no futuro. Trata-se daquantificação das condições e dos níveis de auxílioadmissíveis, da definição de categorias específicasde trabalhadores (desempregados de longa duração,jovens trabalhadores, etc.) que podem beneficiarde condições mais favoráveis e da aplicação deregimes de auxílios ao emprego nos «sectoressensíveis» (siderurgia, automóvel, construção navaletc.).

333. A Comissão deverá ter em conta todos estesaspectos na elaboração de um novo texto querevestirá a forma quer de novas orientaçõesaplicáveis aos auxílios notificados, quer de umregulamento de isenção nos termos do qual osEstados-Membros deixariam de ser obrigados anotificar os auxílios que preenchem determinadoscritérios. As orientações actuais permanecerão emvigor (2) até que a Comissão decida se esta últimaabordagem, já utilizada para os auxílios às PME,à formação e à regra de minimis (ver supra), éigualmente adequada para os auxílios ao emprego.

334. O enquadramento dos auxílios à formação (3)estabelece que as intensidades de auxílio devem sermoduladas em função da dimensão da empresabeneficiária, da região em causa, do tipo deformação previsto e do tipo de público visado(trabalhadores desfavorecidos). Na medida em queo regime francês dos compromissos em matériade desenvolvimento da formação (4) satisfaziatodos estes critérios, bem como as restantescondições previstas no enquadramento em vigor,a Comissão autorizou a sua aplicação.

1.4. Ambiente

335. Em 2000, a Comissão dispôs de váriasocasiões para apresentar a sua interpretação doenquadramento comunitário dos auxílios estataisa favor do ambiente (5) que foi prorrogado até 31 deDezembro de 2000 e será substituído por um novoenquadramento, relativamente ao qual a Comissãomanifestou o seu acordo de princípio em 21 deDezembro de 2000 (ver supra, secção III.A.3).

336. No que se refere a um regime de auxíliossueco que prevê a melhoria do ambiente no interiordos edifícios (6), a Comissão realçou em primeirolugar que, desde que essas medidas sejam adoptadaspor indivíduos ou instituições públicas, não sãoabrangidas pelo âmbito de aplicação do n.o 1 doartigo 87.º do Tratado CE, uma vez que osbeneficiários não têm quaisquer ligações comactividades comerciais. Contudo, a Comissãomanifestou sérias dúvidas quanto à compatibilidadedos auxílios concedidos aos proprietários deimóveis ou a empresas imobiliárias públicas eprivadas. A Comissão deu início a um processopor forma a avaliar estas medidas, principalmenteà luz do objectivo da saúde pública, tal comoprevisto no artigo 152.º do Tratado CE.

337. Em 29 de Março de 2000, a Comissãodecidiu não levantar objecções no que se referea um regime relativo à introdução de autorizaçõesde emissão negociáveis de CO2 proposto pelaDinamarca (7), que tem por objectivo adistribuição de autorizações de emissão aprodutores de electricidade estabelecidos naDinamarca, com base nas suas emissões habituaisao longo do período de 1994-1998, uma vez queo regime contribuirá para o reforço da protecçãodo ambiente. A Comissão apreciou o regime faceao contexto do Protocolo de Quioto à Convenção--Quadro das Nações Unidas sobre as AlteraçõesClimáticas, de Dezembro de 1997. Nos termosdesta Convenção, a Comunidade Europeiacomprometeu-se a reduzir as suas emissões em 8%durante o período 2008-2012. Na União Europeiafoi acordada a nível interno uma partilha dasresponsabilidades, o que para a Dinamarca implicauma redução de 21% durante este período.Simultaneamente, a Comissão realçou a

84

(1) JO C 334 de 12.12.1995, p. 4.(2) Ver comunicação da Comissão (JO C 371 de 23.12.2000, p. 12).(3) Enquadramento dos auxílios à formação (JO C 343 de 11.11.1998).(4) Processo N-753/99, decisão da Comissão de 28 de Junho de 2000

(JO C 284 de 7.10.2000).

(5) Enquadramento comunitário dos auxílios estatais a favor do ambiente(JO C 37 de 3.2.2001).

(6) Processo C-2/2000 (ex-N-718/99), decisão da Comissão de 12 deJulho de 2000 (JO L 295 de 23.11.2000).

(7) Processo N-653/99, decisão da Comissão de 29 de Março de 2000(JO C 322 de 11.11.2000).

Page 85: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

III — AUXÍLIOS ESTATAIS

importância de salvaguardar a liberdade deestabelecimento. Uma vez que as autoridadesdinamarquesas garantiram que aos novosparticipantes no mercado da electricidadedinamarquês serão concedidas autorizações deemissão com base em critérios objectivos e nãodiscriminatórios, a Comissão concluiu pelacompatibilidade do regime com o mercadocomum.

338. No que se refere às medidas ambientais noâmbito da legislação fiscal, a Comissão autorizouo prosseguimento da reforma dos impostosecológicos na Alemanha (1), reconhecendo que aintrodução de impostos e encargos ambientaistem que ser acompanhada por auxílios estatais,uma vez que algumas das empresas poderão nãoestar em condições de suportar imediatamente oencargo financeiro adicional necessitando de umaisenção temporária. A principal característicadesta prorrogação é o aumento anual gradual dosimpostos sobre a electricidade e os combustíveis.A Comissão aprovou o regime, tomando emconsideração as circunstâncias excepcionais que o caracterizam, principalmente o facto de este tipo de impostos gerais sobre a energianão ser actualmente aplicado em todos os Estados-Membros da Comunidade, o que podeafectar a posição concorrencial das empresas emcausa.

339. Neste contexto, a Comissão aprovoutambém excepcionalmente um auxílio aofuncionamento no que se refere a uma isençãode cinco anos, aplicável às unidades de produçãoeléctrica de ciclo combinado (2), relativamente aoimposto sobre os combustíveis minerais, tendoem conta a sua eficácia em termos de protecçãodo ambiente. A Comissão chegou à conclusão deque estavam envolvidos auxílios estatais, umavez que nem todos os participantes no mercadopodem beneficiar da medida, visto que aregulamentação favorecia principalmente asactuais empresas de produção eléctrica em termosde abastecimento da rede. No entanto, a isençãofiscal foi considerada compatível com o Tratadona medida em que se destina a criar incentivos parainvestimentos em centrais de gás e de vapor comum desempenho energético superior, o quecontribui para a protecção do ambiente.

1.5. Auxílios de emergência e à reestruturação

340. Em 8 de Julho de 1999 (3), a Comissãoadoptou uma revisão das orientações comunitáriasdos auxílios estatais de emergência e àreestruturação concedidos a empresas emdificuldade. Através desta revisão, a Comissãopretendia ajustar as regras em vigor principalmenteem caso de auxílios repetidos à reestruturação.Desta forma, o princípio de «uma única vez»impede a concessão de um segundo auxílio àreestruturação à mesma empresa. Este princípiojustifica-se para evitar que as empresas que nãoconseguem sobreviver sejam artificialmentemantidas no mercado através de contínuasreestruturações. Além disso, as novas empresas(incluindo as criadas a partir dos activos dasanteriores) estão excluídas dos auxílios deemergência e à reestruturação. Por último, põetermo ao tratamento especial dos casos relativosà antiga Alemanha de Leste. O princípio «umaúnica vez» aplicar-se-á plenamente após 31 deDezembro de 2000.

341. A Comissão analisou igualmente a questãode saber se uma empresa, que retomou os activosde uma empresa em falência, pode ser consideradacomo uma nova empresa ou deve serresponsabilizada pelo reembolso de auxíliosincompatíveis com o Tratado CE. Foi o queaconteceu no processo Graf von HennebergPorzellan GmbH (4) e Kahla Porzellan GmbH (5).A Comissão deu início ao processo visto ter sériasdúvidas que se tratasse de novas empresassusceptíveis de beneficiar de auxílios àreestruturação, uma vez que tinham retomado todosos activos e continuavam a desenvolver a suaactividade sob a mesma designação.

342. No que se refere aos processos dereestruturação prolongados, a Comissão teve dedeterminar se os devia considerar como umareestruturação em curso ou como diversosprocessos subsequentes de reestruturação. No casoda Lintra (6), a reestruturação incluía a sociedadegestora de participações sociais e oito filiais. Osplanos de reestruturação para as filiais sobreviventes

85

(1) Processo N-575a/99, decisão da Comissão de 15 de Fevereiro de 2000 (JO C 322 de 11.11.2000).

(2) Processo N-555/00, decisão da Comissão de 22 de Novembro de 2000 (JO C 37 de 3.02.2001).

(3) JO C 288 de 9.10.1999.(4) Processo NN-135/99, decisão da Comissão de 13 de Junho de 2000

(JO C 272 de 23.9.2000).(5) Processo NN-142/99, decisão da Comissão de 15 de Novembro de

2000, ainda não publicada.(6) Doppstadt GmbH (processo C-39/2000) e ILKA MAFA

Kältemaschinenbau GmbH (processo C-38/2000). Decisão daComissão de 12 de Julho de 2000 (JO C 278 de 30.9.2000).

Page 86: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

eram claramente diferentes do plano original.Consequentemente, a Comissão dividiu o longoperíodo de reestruturação. No que diz respeito àsmedidas de privatização que envolviamtransferências de activos seleccionados da BabcockWilcox SA (1) para uma empresa privada, aComissão decidiu alargar o processo a que derainício em Abril de 1998 (2), a fim de verificar seos diversos programas de reestruturação poderiamser considerados como uma medida integrada,normalmente apenas permitida em caso de forçamaior.

343. Em diversos casos, a Comissão esclareceu queos três critérios fundamentais, ou seja, a viabilidadedo plano de reestruturação, a ausência de distorçõesindevidas da concorrência e a proporcionalidadedo auxílio devem ser estritamente respeitados.Uma vez que um destes requisitos não forarespeitado, deu início a processos relativos àHirschfelder Leinen und Textil GmbH (3), SKL-Motoren and Systmetechnnik GmbH (4) e Holzmann(5), tendo aprovado os auxílios à WildauerKurbelwelle (6) dado o aumento substancial dacontribuição do investidor e à Bau Union Ost Group(7), uma vez que o auxílio se limitava ao mínimonecessário para aplicar o programa dereestruturação.

2. Auxílios com finalidade regional

344. Os auxílios com finalidade regional são, delonge, a maior categoria de auxílios estatais naComunidade. Entre 1996 e 1998, os Estados--Membros concederam 18,8 mil milhões de eurosde auxílios estatais com finalidade regional. Estemontante representava 57,6% de todos os auxíliosestatais concedidos à indústria e aos serviços naUnião. Ao longo dos anos, a Comissão temobservado um aumento significativo das medidasde auxílio regional em toda a Comunidade.

345. Com a introdução das orientações relativasaos auxílios estatais com finalidade regional (8),a Comissão pretendeu reforçar o controlo deste importante tipo de auxílios estatais.Paralelamente à adopção destas novas orientações,a Comissão propôs também medidas adequadasaos Estados-Membros por forma a que, até 1 deJaneiro de 2000, os regimes de auxílio existentesfossem adaptados às novas regras. Convidouigualmente os Estados-Membros a adoptar novosmapas de auxílios regionais a partir de 1 de Janeirode 2000. Simultaneamente, a Comissão pretendeuutilizar esta oportunidade para proceder a umaredução significativa da cobertura dos mapas deauxílio regional na Comunidade, nomeadamentepara tomar em consideração os níveis mais recentesda dívida dos Estados-Membros e tendo tambémem vista o próximo alargamento da União Europeia.

346. Os mapas foram definidos com base nummétodo transparente e objectivo que garante aigualdade de tratamento dos 15 Estados-Membros.Simultaneamente, a Comissão conseguiu, com aajuda dos Estados-Membros, reduzir a coberturaem termos de população dos mapas de auxílioregional de 46,7% para 42,7% da populaçãocomunitária. A aplicação rigorosa dos critérios deelegibilidade contribuiu para uma demarcaçãomais estrita das regiões assistidas, o que permitiuque os Estados-Membros centrassem a suaassistência regional nas regiões que registam osproblemas económicos mais graves.

347. Além disso, a Comissão reduziu asintensidades de auxílio máximas aplicáveis nasáreas de auxílio regional. As orientações de 1998prevêem limites máximos de intensidade de auxílionas regiões menos favorecidas [as denominadasregiões do n.o 3, alínea a), do artigo 87.º] que nãodeverão normalmente exceder 50% após impostos(75% no passado). No que se refere às restantesáreas de auxílios regionais [as denominadas regiõesdo n.o 3, alínea c), do artigo 87.º], este limitemáximo foi fixado em 20% após impostos(comparativamente com 30% no passado). Em1999, a Comissão tinha já aprovado os mapas deauxílios regionais dos cinco novos Länder daAlemanha, da Finlândia, da Dinamarca, da Irlanda,da Grécia e das regiões portuguesas abrangidaspelo n.o 3, alínea a), do artigo 87.º Em 2000, foramaprovados os restantes mapas, após a Comissãoter convencido os Estados-Membros a fixarem oslimites de intensidade de auxílio em níveis

86

(1) Processo C-33/98 (ex-N-220/2000), decisão da Comissão de 13 deJunho de 2000 (JO C 232 de 12.8.2000).

(2) JO C 249 de 8.8.1998.(3) Processo C-28/2000, decisão da Comissão de 11 de Abril de 2000

(JO C 272 de 23.9.2000).(4) Processo NN-56/98, decisão da Comissão de 26 de Julho de 2000

(JO C 27 de 27.1.2001).(5) Processo N-769/99, decisão da Comissão de 18 de Janeiro de 2000

(JO C 110 de 14.11.2000).(6) Processo C-30/ 98, decisão da Comissão de 13 de Junho de 2000

(JO L 287 de 14.11.2000).(7) Processo NN-19/98, decisão da Comissão de 18 de Janeiro de 2000

(JO C 121 de 29.4.2000). (8) JO C 74 de 10.3.1998.

Page 87: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

III — AUXÍLIOS ESTATAIS

significativamente inferiores a estes limitesmáximos. Assim, o limite médio de intensidadede auxílio, durante o período 2000 a 2006, seráapenas de 39% nas regiões do n.o 3, alínea a), doartigo 87.º e de apenas 17% nas regiões do n.o 3,alínea c), do artigo 87.º

348. No que se refere aos auxílios ao funcionamentoao abrigo de regimes de auxílios regionais, aComissão realçou a importância de tais auxíliosserem degressivos e limitados no tempo. Além disso,devem ser justificados pelo seu efeito de incentivoem termos de desenvolvimento regional, pela suanatureza e pela sua proporcionalidade relativamenteàs deficiência que pretendem ajudar a ultrapassar.Desta forma, a Comissão deu início a um processorelativo a um regime português relativo a auxíliosfiscais na zona franca da Madeira (1) e adoptouuma decisão negativa relativamente ao artigo 29.ºterdo decreto da Valónia de 25 de Junho de 1992 (2),que prevê um auxílio ao funcionamento que não énem degressivo, nem limitado no tempo. Foi tambémadoptada uma decisão negativa em 21 de Dezembro,relativamente ao regime sueco que estipula que ascontribuições para a segurança social a pagarrelativamente a cada pessoa empregada numestabelecimento no Norte da Suécia são reduzidasem oito pontos percentuais (3). Neste caso, aComissão concluiu que não estava preenchida acondição fundamental no âmbito dos auxílios aotransporte, ou seja, a existência de uma relaçãodirecta entre o auxílio concedido a beneficiáriosindividuais e os custos de transporte adicionaisincorridos por esses beneficiários, e que,consequentemente, o regime não poderia ser aceitena sua actual forma.

349. Todavia, a fim de tomar em consideração aentrada em vigor do novo n.o 2 do artigo 299.º doTratado relativo às regiões ultraperiféricas da UniãoEuropeia, a Comissão procedeu, em 26 de Julho (4)a uma revisão das orientações relativas aos auxílioscom finalidade regional. A concessão de auxíliosao funcionamento não degressivos e não limitadosno tempo é doravante possível nestas regiõesultraperiféricas, desde que sejam elegíveis paraauxílios com finalidade regional, quando taisauxílios se destinam a compensar os custosadicionais inerentes às suas deficiências específicas.

350. Por forma a permitir um controlo maissistemático dos auxílios regionais concedidos agrandes projectos de investimento móveis e paraevitar «leilões» de subsídios entre Estados-Membros,a Comissão adoptou em 1998 o enquadramentomultissectorial dos auxílios com finalidade regionalpara grandes projectos de investimento (5). Oenquadramento foi introduzido durante um períodoexperimental de três anos, com o objectivo delimitar os auxílios concedidos a grandes projectosa um nível que impeça, tanto quanto possível, osefeitos negativos sobre a concorrência masmantenha o carácter atractivo da área beneficiária.Nos termos do enquadramento, a Comissãocomeçou a analisar a experiência obtida durante operíodo da sua aplicação, a fim de determinar quaisos ajustamentos a propor após o termo do seu prazode validade em 2001, e se o enquadramento deveriaser prorrogado, revisto ou revogado.

351. A Comissão adoptou 14 decisões com baseno enquadramento multissectorial. Em seis casos,a intensidade de auxílio foi reduzida após a pré-notificação, entre 2% e 10%. No caso SolarTech (6), a Comissão decidiu pela primeira vez darinício a um processo e na sua decisão final reduziusignificativamente a intensidade de auxílio.

352. No caso da Pilkington Glass France SAS eInterpane Glass Coating France SAS (7), aComissão aplicou dois factores de correcçãodiferentes, uma vez que estavam em causa doismercados relevantes (vidro flutuado e vidrorevestido laminado). Dado que o projecto diziarespeito a uma fábrica inteiramente integrada, aComissão ponderou os dois factores, com base nascapacidades adicionais que seriam introduzidasno mercado, tendo chegado à conclusão que aintensidade de auxílio prevista era compatível como enquadramento multissectorial.

3. Auxílios sectoriais

3.1. Sectores sujeitos a regras específicas

3.1.1. Construção naval

353. No seu terceiro relatório sobre a situação domercado mundial da construção naval, adoptado

87

(1) Processo C-37/2000 (ex-NN-60/2000), decisão da Comissão de28 de Junho de 2000 (JO C 301 de 21.10.2000).

(2) Processo C-37/93, decisão da Comissão de 29 de Março de 2000(JO L 191 de 27.7.2000).

(3) Processo C-15/2000, ainda não publicado.(4) JO C 258 de 9.9.2000.

(5) JO C 107 de 7.4.1998.(6) Processo C-17/2000, decisão da Comissão de 15 de Novembro de

2000, ainda não publicada.(7) Processo N-291/2000, decisão da Comissão de 26 de Julho de 2000

(JO C 293 de 14.10.2000).

Page 88: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

em 15 de Novembro, a Comissão salienta ascontínuas dificuldades no domínio da construçãonaval e a persistência do baixo nível de preços,apesar da melhoria registada no nível dasencomendas. O relatório conclui que esta situaçãoresulta principalmente do nível extremamente baixodas propostas dos estaleiros navais da Coreia doSul. A Comissão decidiu que, na ausência de umacordo negociado com a Coreia do Sul antes de1 de Maio de 2001, apresentaria esta questão àOrganização Mundial do Comércio. Além disso,nesta perspectiva, a Comissão proporá a aplicaçãode um dispositivo defensivo de apoio temporário,destinado a fazer face às práticas desleais da Coreiado Sul até à conclusão do processo perante aOrganização Mundial do Comércio. Em 29 deNovembro, a Comissão reafirmou a sua oposiçãorelativamente à prorrogação dos auxílios aofuncionamento ligados a contratos de construçãonaval após 31 de Dezembro de 2000, cuja supressãoé prevista pelo Regulamento (CE) n.o 1540/98 doConselho relativo aos auxílio à construção naval (1).

354. Em 12 de Julho de 2000, a Comissão deuinício a um processo formal de exame no que serefere à aquisição, pela Sociedad Estátal deParticipaciones Industriales (SEPI) (2), por ummontante de 60 milhões de euros, dos estaleirosnavais Juliana e Cádiz e da fábrica de motores adiesel Manises, que pertencem à sua filial AstillerosEspañoles. Com base nas informações de quedispõe, e na ausência de reacção das autoridadesespanholas a diversos pedidos de informação, aComissão considera, na presente fase, que atransacção não foi efectuada em condições normaisde mercado e que se assimilaria a uma injecção decapital susceptível de constituir um auxílio estatal.

355. Durante 2000, a Comissão adoptou trêsdecisões relativamente à empresa alemã KvaernerWarnow Werft GmbH (KWW), filial do gruponorueguês Kvaerner a.s. Em 2 de Fevereiro (3), foidado início a um processo formal de examerelativamente aos auxílios pagos a esta empresano âmbito da sua reestruturação que decorreu entre1993 e 1995. Os 262,2 milhões de euros recebidosneste contexto, destinados a cobrir os prejuízosfuturos da empresa, ultrapassam em 61 milhõesde euros os prejuízos reais registados. Desta forma,a Comissão manifestou dúvidas quanto àcompatibilidade desta verba excedentária. Em

16 de Fevereiro (4), a Comissão decidiu que aKWW devia reembolsar 6,3 milhões de euros,devido ao facto de ter excedido significativamentea sua capacidade durante 1997. Estas limitações decapacidade tinham sido impostas como condiçãopara a concessão de 1 247 milhões de marcosalemães aquando da privatização da KWW em1992. Em 29 de Março (5), a Comissão encerrouo processo formal de exame a que dera início em1998, concluindo que as limitações de capacidadeda KWW tinham sido respeitadas em 1999.

356. A Comissão consagrou igualmente especialatenção à aplicação das regras em matéria de ajudaao desenvolvimento no sector da construção naval.Desta forma, deu início, em 18 de Janeiro de 2000,a um processo formal de exame relativamente auma ajuda ao desenvolvimento que os PaísesBaixos projectavam conceder à Indonésia tendo emvista o fornecimento de diversos navios (6). Esteprocesso justificou-se porque a Comissão tinhadúvidas quanto ao facto de, na adjudicação destecontrato de ajuda ao desenvolvimento a diversosestaleiros navais, ter sido seguido um processoaberto. Na sequência das provas documentais edas garantias fornecidas pelas autoridadesneerlandesas no âmbito do processo a Comissãoautorizou o projecto de auxílio supracitado em13 de Dezembro (7).

3.1.2. Siderurgia

357. O sexto Código dos Auxílios à Siderurgia, quese aplicará até ao termo de vigência do TratadoCECA em Julho de 2002, apenas prevê apossibilidade de concessão de auxílios num númeromuito limitado de casos. Trata-se dos auxílios àinvestigação e desenvolvimento, dos auxílios afavor de protecção do ambiente e dos auxíliossociais destinados a financiar o encerramento deinstalações siderúrgicas.

358. Em aplicação deste código, a Comissãodecidiu, em 15 de Novembro, que os 13,8 milhõesde euros de auxílio pagos pela Bélgica à empresaCockerill Sambre SA (8) eram incompatíveis como mercado comum. Estes auxílios, que sedestinavam a cobrir o custo adicional ligado a umaredução do tempo de trabalho, não podiam

88(1) JO L 202 de 18.7.1998.(2) Processo NN-61/2000 (JO C 328 de 18.11.2000).(3) Processo NN-93/1999 (JO C 134 de 13.5.2000).

(4) Processo C-46/1999 (JO L 120 de 20.5.2000).(5) Processo C-66/1998 (JO L 156 de 29.6.2000).(6) Processo N-233/1999 (JO C 101 de 8.4.2000).(7) Processo C-3/2000, ainda não publicado.(8) Processo C-76/1999, decisão da Comissão de 15 de Novembro de

2000 (JO L 71 de 13.3.2001).

Page 89: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

III — AUXÍLIOS ESTATAIS

beneficiar de nenhuma das derrogações previstaspelo sexto Código dos Auxílios à Siderurgia. AComissão ordenou a recuperação dos montantes jápagos e a suspensão dos pagamentos ainda nãoefectuados.

359. Nos termos da lei alemã de 1971 sobre odesenvolvimento das regiões fronteiriças da República Democrática Alemã e daChecoslováquia, ZonenrandförderungsgesetzZonRFG, as empresas Salzgitter AG e PreussagAG e respectivas filiais beneficiaram, entre 1980e 1995, de diversas vantagens fiscais que assumirama forma de reservas isentas ou de amortizaçõesaceleradas. A Comissão tinha, com efeito, aprovadoa lei supracitada ao abrigo das disposições doTratado CE, mas esta aprovação não abrange asempresas siderúrgicas que relevam do TratadoCECA e do Código dos Auxílios à Siderurgia. Porconseguinte, a Comissão declarou os auxílios pagosincompatíveis com o mercado comum e ordenoua sua recuperação junto da Salzgitter AG-Stahlund Technologie (1), empresa que agrupa doravanteos activos das sociedades supracitadas.

3.1.3. Carvão

360. Quatro Estados-Membros produzemactualmente carvão na União Europeia. Devido àscondições geológicas desfavoráveis, a maior partedas minas da União Europeia não são competitivasrelativamente ao carvão importado, mas os Estados--Membros em causa optaram por apoiar a suaindústria de extracção de carvão principalmente porconsiderações de ordem social e regional. Os auxíliosestatais são regulados pela Decisão 3632/CECA/93que estabelece as condições de concessão dosauxílios. Os Estados-Membros notificam os auxíliosanualmente e a Comissão analisa cuidadosamenteos pedidos e autoriza-os eventualmente. Esteenquadramento manter-se-á em vigor até ao termode vigência do Tratado CECA.

361. Em 2000, a Comissão autorizou regimes deauxílios estatais que permitiram que a Alemanha (2),a França (3), a Espanha (4) e o Reino Unido (5)

concedessem o financiamento público necessárioà indústria do carvão. Os montantes totaisautorizados ultrapassam os 6,8 mil milhões deeuros relativamente a 2000. Estes auxílios cobrema diferença entre os custos de produção e o preçodo carvão no mercado internacional e também umacompensação relativa ao pagamento de encargossociais e alguns custos excepcionais. Em 13 deDezembro, a Comissão autorizou auxíliosindividuais ao abrigo do regime geral relativo àmina Longannet (6).

362. Foram autorizados regimes semelhantes noque se refere à Alemanha (7) relativamente a 2001,bem como para a França (8) para o período entre1997 e 1999. A aprovação dos auxílios alemãesexigiu longas negociações devido a opiniõesdivergentes acerca da viabilidade a longo prazode algumas minas. A Comissão suspendeu tambéma autorização no que se refere à França devido àalegada existência de auxílios não declarados. AComissão enviou uma carta de notificação formalao Governo francês em 9 de Julho de 1999, tendoa questão sido finalmente resolvida em Setembro,após complexas negociações.

363. Em 18 de Janeiro, a Comissão tomou umadecisão no sentido de enviar uma carta denotificação formal ao Governo alemão sobre aconcessão de auxílios estatais alegadamente ilegaisno âmbito da fusão da RAG e da Saarbergwerke (9).A Comissão está actualmente a investigar o caso,com base nas informações enviadas pelo Governoalemão no final do ano.

3.1.4. Indústria automóvel

364. Em 13 de Junho de 2000, a ComissãoEuropeia decidiu prorrogar por um ano, ou seja, até31 de Dezembro de 2001, a validade doenquadramento comunitário dos auxílios estataisno sector dos veículos automóveis (10). Estaprorrogação deverá permitir à Comissão analisarcuidadosamente a possibilidade de uma substituiçãodo actual enquadramento do sector automóvel peloenquadramento multissectorial de auxílios com

89

(1) Processo C-10/1999, decisão da Comissão de 28 de Junho de 2000(JO L 323 de 20.12.2000).

(2) Decisão da Comissão, de 21 de Dezembro de 2000, 2/1999, aindanão publicada.

(3) Decisão da Comissão, de 20 de Setembro de 2000,1/2000, ainda não publicada.

(4) Decisão da Comissão, de 13 de Dezembro de 2000, 2/2000, aindanão publicada.

(5) Decisão da Comissão, de 15 de Novembro de 2000, 3/2000, aindanão publicada.

(6) Decisão da Comissão, de 13 de Dezembro de 2000, 4/2000, aindanão publicada.

(7) Decisão da Comissão, de 21 de Dezembro de 2000, 1/2001, aindanão publicada.

(8) Decisões da Comissão, de 20 de Setembro de 2000, 3/1997, 2/1998,1/1999, ainda não publicadas.

(9) JO C 101 de 8.4.2000.(10) JO C 279 de 15.9.1997.

Page 90: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

finalidade regional a favor dos grandes projectosde investimento (1).

365. Para serem compatíveis com o mercadocomum, os auxílios regionais no sector automóveldevem ser necessários para a realização do projectode investimento na região assistida em causa. Aaplicação deste princípio levou a Comissão a tomaruma decisão negativa relativamente a um projectode pagamento de 46 mil milhões de liras(24 milhões de euros) de auxílios regionais a favorda reestruturação da fábrica Fiat em Rivalta(Piemonte). Com efeito, o estudo de localização emque se baseava a decisão da Fiat de proceder a uminvestimento em Rivalta fora realizado em 1993-1994. Ora, foi apenas a partir de Março de 1995 queRivalta foi considerada uma região assistidasusceptível de beneficiar da derrogação previstano n.o 3, alínea c), do artigo 87.º do Tratado CE.Desta forma, a Comissão concluiu que não tinhasido demonstrado pelo Governo italiano que a Fiatconsiderava a concessão de um auxílio regionalcomo critério necessário à selecção de Rivalta.Pelas mesmas razões, foi adoptada uma decisãoparcialmente negativa relativamente ao projectode auxílio a favor da fábrica MirafioriCarrozzeria (2). Nesta decisão, a Comissão proibiua concessão de um auxílio de 2,9 milhões de euros(5,63 mil milhões de liras), mas consideroucompatível com o mercado comum a concessãode 3,56 milhões de euros de auxílio (6,9 mil milhõesde liras) destinados a financiar investimentosinovadores.

366. Para além de apreciar a necessidade do auxílioe o carácter inovador dos investimentos, a Comissãodeve igualmente assegurar-se da proporcionalidadedo auxílio, da admissibilidade dos custos e dasconsequências para as capacidades de produção.Na medida em que existiam dúvidas sobre aobservância destes elementos, a Comissão decidiu,em 20 de Setembro, dar início a um processo formalde exame no que se refere ao projecto que previaa concessão de 40 milhões de libras esterlinas afavor da renovação da fábrica de Sunderland daNissan Motor Manufacturing Ltd (3).

367. A Comissão decidiu igualmente dar início aum processo relativamente a um projecto de auxílioà investigação e desenvolvimento de 16,3 milhõesde euros (31,58 mil milhões de liras) destinado à

empresa IVECO (4), filial do grupo Fiat, devido àssuas dúvidas quanto ao carácter de incentivo dosauxílios previstos, bem como quanto à suaclassificação enquanto projecto de investigaçãopré-concorrencial.

368. Durante o ano 2000, a Comissão encerrou doisprocessos formais de exame na sequência da retiradadas notificações. Após a cessão, pelo grupo BMW,da produção de veículos da marca Rover aoconsórcio Phœnix, as autoridades britânicasinformaram a Comissão da retirada da sua notificaçãorelativa à fábrica da Rover em Longbridge (5).Registe-se que a Comissão tinha dado início aoprocesso formal de exame relativamente a este casoem 22 de Dezembro de 1999.

369. Da mesma forma, na sequência das dúvidasexpressas pela Comissão relativamente a umprojecto de concessão de auxílios com finalidaderegional à fábrica Ford de Genk (6) (Flandres), asautoridades belgas informaram a Comissão daretirada da sua notificação.

3.1.5. Sector das fibras sintéticas

370. Tendo em conta o período de tempo muitoreduzido durante o qual o código dos auxílios aosector das fibras sintéticas se manterá em vigor,uma vez que a prorrogação do seu prazo de validadetermina em 31 de Agosto de 2001, a Comissãoiniciou a sua análise para determinar se se justificavaainda um tratamento especial deste sector. Uma vez que a vigência do enquadramentomultissectorial relativo aos grandes projectos deinvestimento chega ao seu termo na mesma altura,a Comissão iniciou a análise de ambos osenquadramentos à luz da experiência adquiridanos últimos três anos.

371. Quanto ao investimento significativoacompanhado por uma substancial redução decapacidade por parte da Delon Filament GmbH (7)na Alemanha, a Comissão decidiu adoptar umadecisão favorável, baseando-se no facto de não severificar qualquer escassez estrutural da oferta nomercado relevante e de o auxílio permitir umasignificativa redução de capacidade.

90

(1) JO C 94 de 30.3.1996.(2) Processo C-5/1999, decisão da Comissão de 12 de Julho de 2000,

ainda não publicada.(3) Processo N-786/1999 (JO C 354 de 9.12.2000).

(4) Processo C-41/2000, ex-N-670/99, ainda não publicado.(5) Processo C-79/1999, decisão da Comissão de 20 de Setembro de

2000, ainda não publicada.(6) Processo C-29/2000, ainda não publicado.(7) Processo N-406/1999, decisão da Comissão de 1 de Março de 2000

(JO C 134 de 13.5.2000).

Page 91: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

III — AUXÍLIOS ESTATAIS

372. Da mesma forma, a Comissão aprovou umauxílio a favor da Exporplás (1) no que se refereao sector do polipropileno, uma vez que não seregista qualquer escassez estrutural da oferta desteproduto e que o projecto implicará uma redução dacapacidade de produção da empresa em causa.

3.1.6. Transportes

373. Em 26 de Julho, a Comissão adoptou duaspropostas de regulamentos do Conselho relativosao financiamento público no sector dos transportesterrestres. Estes regulamentos irão transpor, parao direito derivado, as isenções previstas no artigo73.º do Tratado da União Europeia.

374. O primeiro regulamento proposto virásubstituir o Regulamento (CEE) n.o 1107/70 doConselho (2) e pretende fornecer uma base jurídicapara a isenção de auxílios estatais no contexto dofinanciamento de infra-estruturas de transporte, etambém para a concessão de auxílios relacionadoscom a utilização de determinadas infra-estruturas.O segundo regulamento, que virá substituir oRegulamento (CEE) n.o 1191/69 do Conselho (3),proporcionará um quadro adaptado à actualevolução do mercado dos transportes depassageiros, com o objectivo de dar resposta àsnecessidades do público. Estabelecerá regras paraum acesso não discriminatório ao mercado econdições transparentes para o financiamentopúblico destes serviços.

3.1.6.1. Navegação interior

375. A política comunitária em matéria detransportes destina-se, nomeadamente, a promovera navegação interior como um modo de transporteseguro, ecológico, eficaz em termos de consumode energia e que dispõe de capacidades residuaisimportantes. O desenvolvimento de actividadesque orientem o transporte rodoviário demercadorias para outros modos de transporte, taiscomo a navegação interior reveste, com efeito, um

interesse comum, na acepção do n.o 3, alínea c), doartigo 87.º do Tratado CE. Desta forma, uminstrumento comunitário específico incentiva, desde1999, os Estados-Membros a adoptaremdeterminadas medidas a favor da navegaçãointerior (4).

376. Os auxílios atribuídos ao sector da navegaçãointerior em 2000, nomeadamente à Bélgica (5),França (6) e Alemanha (7), constituem regimes deauxílios destinados a auxiliar os transportadores porvia navegável a realizarem a completa liberalizaçãodo sector que, nos termos da Directiva 96/75/CEdo Conselho, se concretizou em 1 de Janeiro de2000.

3.1.6.2. Aviação

377. A Comissão prosseguiu em 2000, em matériade auxílios à aviação civil, a política definida nasorientações de Dezembro de 1994. Autorizouregimes de auxílios sociais, auxílios aoinvestimento e disposições financeiras relacionadascom a reestruturação das companhias aéreas.

378. Em 1 de Março, a Comissão decidiu que oregime de auxílios de carácter social instituído afavor de determinadas categorias de passageiros (8),nomeadamente todas as pessoas com residênciaprincipal na Córsega, nas oito ligações denominadas«de litoral a litoral» que servem a ilha, eracompatível com o Tratado CE.

379. Em 4 de Outubro de 2000, a Comissão nãolevantou objecções relativamente ao pagamentode um auxílio individual no montante de 2 350 000pesetas à empresa espanhola Aero TransportInternacional SA (9), estabelecida na Catalunha.

380. Após analisar as condições da primeira faseda privatização da companhia aérea portuguesaTransportes Aéreos Portugueses SA (TAP) (10), aComissão decidiu, em 20 de Setembro de 2000, queesta primeira fase não incluía qualquer elementode auxílio estatal.

91

(1) Processo N-440/2000, decisão da Comissão de 21 de Dezembro de2000, ainda não publicada.

(2) Regulamento (CEE) n.o 1107/70 do Conselho, de 4 de Junho de1970, relativo aos auxílios concedidos no domínio dos transportesferroviários, rodoviários e por via navegável (JO L 130 de 15.6.1970,p. 1).

(3) Regulamento (CEE) n.o 1191/69 do Conselho, de 26 de Junho de1969, relativo à acção dos Estados-Membros em matéria deobrigações inerentes à noção de serviço público no domínio dostransportes ferroviários, rodoviários e por via navegável (JO L 156de 28.6.1969, p. 1), com a última redacção que lhe foi dada peloRegulamento (CEE) n.o 1893/91 de 20 Junho 1991 (JO L 169 de29.6.1991, p. 1).

(4) Regulamento (CE) n.o 718/1999 do Conselho relativo a uma políticade capacidade das frotas comunitárias de navegação interior comvista à promoção do transporte por via navegável.

(5) Decisão de 12 de Julho de 2000, N-567/1999 (JO C 284 de7.10.2000).

(6) Decisão de 18 de Outubro de 2000, N-564/2000 (JO C 380 de30.12.2000).

(7) Decisão de 16 de Maio de 2000, N-180/2000 (JO C 184 de 1.7.2000).(8) Processo N-24/2000, ainda não publicado.(9) Processo N-950/1999, ainda não publicado.(10) Processo N-336/2000, ainda não publicado.

Page 92: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

381. Por decisão de 4 de Outubro de 2000, aComissão alterou a sua decisão anterior de 14 deAgosto de 1998 (1) relativa aos auxílios àreestruturação concedidos à empresa grega OlympicAirways (2).

3.1.6.3. Transportes rodoviários

382. A Comissão tem vindo a prosseguir, nosúltimos anos, uma política favorável relativamenteaos auxílios destinados a facilitar odesenvolvimento de um sector e que podem serisentos ao abrigo do n.o 3, alínea c), do artigo 87.ºdo Tratado. A Comissão considera, neste contexto,que podem ser concedidos auxílios aofinanciamento de investimentos que beneficiampequenas e médias empresas de transporterodoviário, tanto no mercado do transporte depassageiros como de mercadorias, que contribuampara a sua eficácia económica global e para acooperação entre as empresas.

383. Numa decisão proferida sobre uma medidade auxílio do Estado espanhol relativa à aquisiçãode veículos (processo Renove I) (3), o Tribunal dePrimeira Instância confirmou a política daComissão de não permitir a concessão de auxíliosestatais para aquisição de veículos em mercadosde transportes com capacidade excedentária detonelagem.

384. A Comissão adoptou diversas decisões nodomínio dos transportes de passageiros e demercadorias, em conformidade com a políticaestabelecida em matéria de auxílios estatais nestesdomínios. Estas decisões diziam nomeadamenterespeito a um regime neerlandês de investigaçãoe desenvolvimento (4), ao financiamento de infra--estruturas de estacionamento acessíveis aopúblico (5) nos Países Baixos e a um regime queautoriza a concessão de auxílios ao investimentopara o transporte público de passageiros em LaRioja (6). Em 26 de Julho, a Comissão adoptouigualmente uma decisão final negativarelativamente a diversas medidas do regimeespanhol Renove II, tendo consequentementesolicitado à Espanha que recuperasse os auxíliosconcedidos em 1997 para aquisição de veículoscomerciais (7), em condições não compatíveis com

o mercado comum. Este processo veio no seguimento da decisão relativa ao processoRenove I acima mencionado, que abrangia operíodo entre Agosto de 1994 e o final de 1996.

385. No caso das medidas a favor da Asetra (8),associação sem fins lucrativos que agrupa empresasde transporte rodoviário e urbano, com o objectivode promover a criação de um sistema de informaçãoe de serviços no domínio dos transportes, aComissão decidiu, em 31 de Março, não levantarobjecções. Com efeito, uma vez que a Asetra nãoé uma empresa que exerça actividades económicas,as medidas de apoio em seu benefício não podemser equiparadas a auxílios estatais.

386. Ao aplicar, pela primeira vez, o n.o 2 do artigo86.º do Tratado CE aos auxílios ao sector dostransportes terrestres, a Comissão decidiu, em 4 deOutubro, não levantar objecções relativamente àreforma do regime de exploração das concessõesdas auto-estradas francesas (9).

3.1.6.4. Transportes combinados e transportesferroviários

387. Tal como nos anos anteriores, a Comissãotem uma posição favorável relativamente aosauxílios que promovem o desenvolvimento dosector ferroviário e dos transportes combinados,com impacto positivo sobre a distribuição modal.Além disso, a Comissão autorizou auxílios aoinvestimento para a construção de infra-estruturasde transportes combinados.

388. Em 31 de Outubro, a Comissão encerrou oprocesso relativo ao auxílio neerlandês à NS Cargono que se refere à linha de transportes Roterdão--Praga, a que dera início em 1999. As autoridadesneerlandesas informaram a Comissão de que a NSCargo (10) tinha reembolsado o auxílio,alegadamente incompatível com o Tratado daUnião Europeia.

389. Na sua decisão de 14 de Setembro, aComissão não levantou quaisquer objecções contraum regime neerlandês de auxílios à construçãode terminais terrestres (11). As intensidades deauxílio aplicam-se a actividades de investigaçãocomercial e o regime previa salvaguardassuficientes contra distorções de concorrência entreterminais.

92

(1) JO L 128 de 21.5.1999.(2) Processo N-541/2000, ainda não publicado.(3) Processo T-55/99 — Renove I, de 29 de Outubro de 2000.(4) Processo N-183/2000 (JO C 362 de 16.12.2000).(5) Processo N-464/1999 (JO C 134 de 13.5.2000).(6) Processo N-694/2000 (JO C 202 de 15.7.2000).(7) Processo C-65/1998, ainda não publicado.

(8) Processo N-673/1999 (JO C 184 de 1.7.2000).(9) Processo N-540/2000 (JO C 354 de 9.12.2000).(10) Processo C-30/1999 (JO L 38 de 8.2.2001).(11) Processo N-208/2000 (JO C 315 de 4.11.2000).

Page 93: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

III — AUXÍLIOS ESTATAIS

390. Em 4 de Outubro, a Comissão autorizou umauxílio ad hoc do Governo neerlandês a doisoperadores de terminais intermodais no porto deRoterdão (1). Invocando precedentes, a Comissãonão levantou também qualquer objecção a doisregimes de auxílio da província italiana deBozen (2) e a região italiana do Piemonte (3).Autorizou a concessão de auxílios ao investimentopara o transporte combinado e para as empresas detransporte rodoviário.

391. Na sequência de uma denúncia, a Comissãodeu início em 15 de Novembro a um processorelativo à participação comercial e financeira daDeutsche Bahn no operador de encaminhamentode carga BahnTrans (4), uma vez que tinha dúvidasquanto ao facto de a transacção poder implicarauxílios estatais ilegais.

3.1.6.5. Transportes marítimos

392. No sector dos transportes marítimos, aComissão autorizou diversas medidas de auxílioestatal nos termos das orientações comunitáriassobre auxílios estatais aos transportes marítimos (5),destinadas a reduzir os encargos fiscais e desegurança social das empresas de transportesmarítimos. A questão da compensação dasobrigações de serviço público foi também analisadapela Comissão, que adoptou a primeira decisãonos termos do n.o 2 do artigo 86.º do Tratado CEneste sector.

393. Em 15 de Fevereiro, a Comissão autorizoua aplicação de um regime de auxílios estatais suecopara a formação de marítimos (6). Foi autorizadoum regime semelhante (7) relativamente à Finlândiaem 11 de Agosto.

394. Em 12 de Julho, a Comissão autorizou aproposta do Reino Unido relativa a um impostosobre a arqueação (8), uma medida fiscal destinadaa promover a competitividade dos transportesmarítimos do Reino Unido no mercado mundial,através da criação de um contexto fiscal favorável

para as empresas do sector a exemplo de outrosgrandes países de tradição marítima. Para asempresas actualmente sujeitas ao imposto britânicosobre o rendimento das sociedades que decidamoptar por este regime, os lucros provenientes dasactividades marítimas elegíveis serão calculadoscom base na arqueação líquida de cada um dosnavios por elas explorados. Os lucros virtuais assimcalculados substituirão a actual avaliação fiscaldos rendimentos obtidos dentro e fora do ReinoUnido a partir daquelas actividades, sendo sujeitosao imposto britânico sobre o rendimento dassociedades. Trata-se do quarto regime deste tipoque foi introduzido na Comunidade após os daGrécia, Países Baixos e Alemanha.

395. No mesmo dia, a Comissão notificou a Itáliapara que fornecesse as informações relativas aoregime de auxílios no sector portuário (9), a fim depoder apreciar a compatibilidade deste regime como Tratado.

396. Em 19 de Julho, a Comissão decidiu encerraro processo nos termos do n.o 2 do artigo 88.º doTratado CE relativamente ao auxílio não notificadoa favor da Compañía Trasmediterránea (10), porconsiderar que a Espanha tinha aplicado este auxílioestatal ilegalmente, em violação do n.o 3 do artigo88.º do Tratado.

397. Em 27 de Julho, a Comissão autorizou aBélgica a isentar as empresas dos sectores damarinha mercante, da dragagem e dos rebocadoresda obrigação de pagar um imposto profissionalcom retenção na fonte dos trabalhadorescomunitários do sector dos transportes marítimosempregados a bordo de navios que arvorampavilhão de um Estado-Membro (11).

398. Em 14 de Agosto, a Comissão autorizou aFinlândia a conceder, exclusivamente para o anode 2000, um auxílio equivalente a 40% dascontribuições devidas pelas empresas marítimasao regime de pensão dos marítimos (12).

399. Em 15 de Novembro, a Comissão decidiunão levantar qualquer objecção à alteração propostae à prorrogação de um regime de auxíliosdinamarquês relativo à formação de marítimos (13).

93

(1) Processo N-577/1999 (JO C 354 de 9.12.2000).(2) Processo N-755/1999, decisão da Comissão de 15 de Novembro

de 2000, ainda não publicada, e decisão da Comissão de 21 deDezembro de 2000, N-508/1999, ainda não publicada.

(3) Decisão da Comissão de 21 de Dezembro de 2000, N-815/A/1999,ainda não publicada.

(4) Decisão da Comissão de 15 de Novembro de 2000 (JO C 52 de17.2.2001).

(5) JO C 205 de 5.7.1997.(6) Processo N-819/1999 (JO C 258 de 9.9.2000).(7) Processo N-33/2000, ainda não publicado.(8) Processo N-790/1999 (JO C 258 de 9.9.2000).

(9) Processo C-81/2000.(10) Processo C-10/1998, ainda não publicado (corrigenda de 21 de

Dezembro de 2000).(11) Processo N-142/2000, ainda não publicado.(12) Processo N-33/2000, ainda não publicado.(13) Processo N-441/2000 (JO C 380 de 30.12.2000).

Page 94: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

400. Em 29 de Novembro, na sequência daanulação pelo Tribunal de Primeira Instância dadecisão da Comissão de 7 de Junho de 1995, aComissão adoptou uma decisão negativarelativamente à companhia marítima Ferries Golfode Vizcaya (1).

401. Em 7 de Dezembro, a Comissão autorizou aFrança a prorrogar, para além de 2000, o regimede reembolso da parte marítima do impostoprofissional (2), cuja instauração em 1990 esucessivas prorrogações tinham sido aprovadasoportunamente pela Comissão.

402. Em 13 de Dezembro, a Comissão autorizoua França a financiar estudos de viabilidadepreviamente ao lançamento de novas linhas detransporte marítimo de curta distância (3). Emcontrapartida, decidiu dar início ao processo deexame relativamente a medidas destinadas a cobriras despesas operacionais relacionadas com a criaçãodestas linhas (4).

3.1.7. Agricultura

403. Desde 1 de Janeiro de 2000, a Comissão temvindo a aplicar as «Orientações comunitárias paraos auxílios estatais no sector agrícola» (5), adoptadasem 24 de Novembro de 1999, às novas medidas deauxílio estatal instauradas após esta data. Porconseguinte, os Estados-Membros tiveram deajustar os seus regimes de auxílio existentes porforma a dar cumprimento às novas regras duranteo corrente ano.

404. As novas orientações codificam e simplificamas regras aplicadas pela Comissão no passado.Além disso, foram introduzidas diversas alteraçõesimportantes por forma a garantir a compatibilidadedas regras da União Europeia relativas aos auxíliosestatais com a nova política de desenvolvimentorural (6) introduzida no âmbito das reformas da«Agenda 2000».

405. O ponto de partida das novas orientaçõesreside no facto de qualquer auxílio estatal ao sectoragrícola dever ser compatível com a política

agrícola comum (PAC) da União Europeia e comas obrigações internacionais da União Europeia, emespecial o acordo da OMC relativo à agricultura.Uma vez que o Conselho decidiu excluir apossibilidade de Estados-Membros individuaisporem em risco o frágil equilíbrio do apoio daUnião Europeia aos preços dos produtos ou aosregimes de desenvolvimento rural, é proibidoqualquer auxílio estatal que interfira com osmecanismos das organizações comuns de mercado.Para além destas novas orientações, a Comissão estáa analisar a possibilidade de um novoenquadramento para a promoção e publicidade dosprodutos agrícolas.

406. Em 2000, a Comissão recebeu cerca de 250notificações de auxílios estatais destinados ao sectoragrícola, tendo tomado decisões relativamente a261 casos, sendo a maioria proveniente da Itália,Alemanha, Países Baixos, Espanha e França. Diziamprincipalmente respeito a: a) investimentos e outrostipos de intervenção em sectores como orepovoamento florestal em França, a crise da dioxinana Bélgica, o sector da suinicultura em França,Irlanda, Portugal, Países Baixos e Reino Unido eo sector do açúcar, dos citrinos e do tabaco emItália; b) medidas fiscais relacionadas com iniciativasa favor do ambiente nos Países Baixos e algunscasos de privatização e de auxílios de emergênciae à reestruturação na Alemanha e em Portugal.

3.1.8. Pesca

407. O sector da pesca, devido às suascaracterísticas sociais e económicas continua a serobjecto de uma intervenção pública significativa,tanto a nível comunitário como nacional.

408. A Comissão analisou a compatibilidade dosregimes nacionais que concedem auxílios no sectorcom as linhas directrizes para o exame dos auxíliosestatais no sector das pescas e da aquicultura (7).Após a entrada em vigor, em Janeiro, doRegulamento (CE) n.o 2792/1999 do Conselho, de15 de Dezembro de 1999, que define os critériose condições das acções estruturais no sector daspescas (8), a Comissão procedeu, durante o ano, aostrabalhos de revisão das linhas directrizes, tendoem vista assegurar a sua coerência com a novaregulamentação estrutural.

409. As novas linhas directrizes são mais precisasem determinados domínios. Desta forma,

94

(1) Processo C-32/1993, ainda não publicado.(2) Processo N-593/2000, ainda não publicado.(3) Processo N-697/2000, ainda não publicado.(4) Processo C-65/2000 ex-N-697, ainda não publicado.(5) JO C 28 de 1.2.2000, p. 2, alterado pelo JO C 232 de 12.8.2000,

p. 19.(6) Regulamento (CE) n.o 1257/1999 do Conselho, de 17 de Maio de

1999, relativo ao apoio do Fundo Europeu de Orientação e deGarantia Agrícola (FEOGA) ao desenvolvimento rural (JO L 160de 26.6.1999, p. 80).

(7) JO C 100 de 27.3.1997.(8) JO L 337 de 30.12.1999.

Page 95: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

III — AUXÍLIOS ESTATAIS

estabelecem que as orientações comunitáriasrelativas aos auxílios com finalidade regional nãose aplicam ao sector da pesca e que os elementosdos regimes de auxílios regionais aplicáveis aosector da pesca serão analisados com base naslinhas directrizes « pesca». Por outro lado,introduzem um maior número de elementos paraa apreciação dos auxílios à formação, aos serviçosde aconselhamento e à pesca experimental, bemcomo uma melhor definição das condições deconcessão de auxílios de emergência e àreestruturação a favor de empresas em dificuldade.São assim estabelecidas condições maispormenorizadas no que se refere aos auxíliosdestinados a melhorar a gestão e o controlo dasactividades de pesca e no caso de aquisição deembarcações em segunda mão. No que diz respeitoa casos específicos, são estabelecidos elementosmais pormenorizados em matéria de auxílios aorendimento (as medidas relacionadas comcircunstâncias excepcionais deverão ser analisadasnuma base casuística e, em caso de cessaçãotemporária de actividade, remete-se para a aplicaçãoda disposição relevante das linhas directrizes), oponto relativo aos créditos de gestão foi suprimidoe foram introduzidos pontos específicos no que serefere aos auxílios destinados a dar resposta aosdanos causados por catástrofes naturais ou poroutros acontecimentos extraordinários, aos prémiosde seguro, às regiões ultraperiféricas e aos auxíliosao emprego. As novas linhas directrizes contêmigualmente dois anexos, o que implica um controloreforçado dos regimes aprovados, um relativo àsinformações que devem ser fornecidas aquandoda notificação do regime de auxílio e um outrosobre as informações que devem figurar no relatórioanual a comunicar à Comissão, relativo a todos osregimes de auxílio existentes ou a todos os auxíliosespecíficos concedidos fora de um regime de auxílioaprovado, que não foram sujeitos a qualquerobrigação específica de apresentação de relatóriosno âmbito de uma decisão condicional. As linhasdirectrizes assim alteradas foram objecto de umaconsulta aos Estados-Membros e foram adoptadaspela Comissão em Novembro. São aplicáveis atodos os regimes notificados a partir de Janeiro de2001.

410. Por último, convém sublinhar o númeroelevado de regimes notificados à Comissão,sobretudo durante o segundo semestre de 2000,uma vez que foram notificadas todas as medidasde auxílio nacionais de co-financiamento adoptadasno âmbito do instrumento financeiro de orientação

da pesca e no contexto da preparação das medidasde aplicação do novo quadro comunitário de apoio.

3.2. Sectores não objecto de regulamentação específica

3.2.1. Saúde pública

411. No contexto do regime ambiental sueco (1),a Comissão concluiu que o enquadramentocomunitário dos auxílios estatais a favor doambiente não podia aplicar-se. Uma vez que oregime se destinava a contribuir para a melhoriageral da saúde pública, incluindo a saúde esegurança dos trabalhadores, a Comissão adoptouuma decisão favorável com base nas disposiçõesdo Tratado relativas à segurança e saúde dostrabalhadores e também à saúde pública e àprotecção ambiental em geral (artigos 137.º, 152.ºe 174.º do Tratado CE, respectivamente), que sãoreconhecidos como objectivos da Comunidade.

3.2.2. Sector financeiro

412. Em 2000, a Comissão prosseguiu a sua acçãono sentido de uma aplicação rigorosa das regras emmatéria de auxílios estatais no sector financeiro.Pela primeira vez desde 1994, a Comissão não tevede tratar de casos de auxílio a instituições emdificuldade e concentrou os seus esforços emauxílios concedidos a favor de bancos em França,Itália e Alemanha.

413. Em França, a Comissão avançouconsideravelmente na avaliação económicaextremamente complexa do auxílio de que o CréditMutuel (2) beneficia através do direito de monopóliode distribuição do livret bleu, uma caderneta depoupança isenta de impostos. Os serviços daComissão foram alertados para a reestruturaçãoda Caisse des Dépôts et Consignations, através deuma separação das actividades comerciais e dasactividades de serviço público. Estes, emborativessem apreciado a maior transparência da novaorganização, consideraram não ser necessárioadoptar uma posição sobre o mecanismo degarantia, uma vez que o mesmo vai seroportunamente analisado no contexto mais amplodo sector bancário europeu.

95

(1) Processo C-2/2000 (ex-N-718/99), decisão da Comissão de 12 deJulho de 2000 (JO L 295 de 23.11.2000).

(2) Decisão da Comissão de 16 de Dezembro de 1997 (JO C 146 de12.5.1998).

Page 96: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

414. No que se refere à Itália, a Comissão decidiu,em 4 de Outubro de 2000, dar início a um processoformal nos termos do n.o 2 do artigo 88.º contra osauxílios fiscais a bancos italianos e a fundaçõesbancárias (1). As medidas de auxílio, introduzidaspela Lei 461/98 e pelo Decreto relacionado 153/99,permitem, nomeadamente, a concessão debenefícios fiscais a bancos que realizam uma fusãoou uma reestruturação semelhante.

415. No que se refere à Alemanha, a Comissãoanalisou uma denúncia apresentada pela FederaçãoBancária Europeia contra o sistema de garantiaspúblicas para as instituições de crédito de direitopúblico, ou seja, principalmente os bancos de aforroe os Landesbanken. Embora a análise estivesseainda a decorrer no final de 2000, a apreciaçãopreliminar indica que o sistema de garantia constituide facto um auxílio estatal na acepção do n.o 1 doartigo 87.º do Tratado CE. A Comissão tencionaadoptar medidas adequadas num futuro próximo,logo que as investigações preliminares estejamconcluídas.

3.2.3. Acontecimentos extraordinários

416. Na sequência do desastre causado pelonaufrágio do petroleiro Erika (2), o Governo francêspropôs um regime de auxílio destinado asubvencionar as pequenas e médias empresas quesofreram danos devido ao alastramento da manchade petróleo. Poderão ser elegíveis para auxílios oscustos decorrentes da substituição de instalaçõesdanificadas, a destruição de existências e prejuízosfinanceiros excepcionais. O auxílio diz respeito àparte não coberta pelo seguro. Tendo consideradoque os auxílios concedidos eram proporcionaisaos danos sofridos, a Comissão aprovou o regimecom base no n.o 2, alínea b), do artigo 87.º, uma vezque os danos foram causados por uma calamidadenatural e que o naufrágio do petroleiro constituiuum acontecimento extraordinário na acepção destadisposição.

D — Aspectos processuais

417. Desde que foram estabelecidas as regrasprocessuais pelo Regulamento (CE) n.o 659/1999do Conselho (3), a Comissão e o Tribunal de Justiça

aplicaram e especificaram por diversas ocasiõesos direitos processuais das partes interessadas, aobrigação de recuperação dos Estados-Membrose a obrigação da Comissão de agir em caso dedenúncia.

1. Direitos dos terceiros

418. Por diversas ocasiões, terceiros solicitaramacesso ao processo em casos de auxílios estatais.A Comissão recusou tal acesso com base no factode a parte no processo ser o Estado-Membro. Esta prática foi expressamente confirmada peloTribunal de Primeira Instância no processoUfex/Comissão (4).

419. No caso Comité d’entreprises de la Sociétéfrançaise de production/Comissão (5), o Tribunalde Justiça rejeitou o recurso do comité de empresae do sindicato do sector em causa contra umadecisão da Comissão segundo a qual, visto que setratava de particulares que não são destinatáriosda decisão, esta não lhes dizia individualmenterespeito, na acepção do quarto parágrafo do artigo173.° do Tratado CE. Assim, e no que se refereaos auxílios estatais, uma empresa não pode invocarunicamente a sua qualidade de concorrente emrelação à empresa beneficiária do auxílio, devendoalém disso, tendo em conta o seu grau departicipação eventual num processo e a importânciada ameaça à sua posição no mercado, provar quese encontra numa posição de facto que aindividualiza de forma análoga à do beneficiário.A qualidade de negociadores dos aspectos sociaisno âmbito da empresa apresentava apenas umvínculo ténue com o objecto da decisão em causa.

2. Recuperação

420. Durante o corrente ano, a Comissão foichamada a pronunciar-se quanto ao facto de saberse a recuperação dos auxílios ilegais devia integraros activos vendidos pelo beneficiário do auxílio aoutra empresa:

1) venda separada de activos: a Comissãoconsiderou que a obrigação de reembolsarauxílios estatais continua a aplicar-se à empresavendedora, uma vez que os activos sãosubstituídos por numerário que estará

96

(1) Processo C-54/2000 (ex-NN/70) (JO C 44 de 10.2.2001).(2) Decisão da Comissão de 4 de Outubro de 2000 (JO C 380 de

30.12.2000).(3) 22 de Março de 1999 (JO L 83 de 27.3.1999).

(4) Acórdão do TJCE de 14 de Novembro de 2000, T-613/97.(5) Acórdão do TJCE de 23 de Maio de 2000, processo C-106/98 P.

Page 97: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

III — AUXÍLIOS ESTATAIS

disponível para reembolsar os credores,incluindo o Estado;

2) nos casos em que os activos são vendidos comvista à prossecução da actividade: este segundogrupo de casos diz respeito à venda de activospor uma empresa em funcionamento, com oobjectivo de prosseguir a actividade económicada empresa. Poderão ser distinguidas duassituações: a) o adquirente retoma algumas dasresponsabilidades da anterior empresa. Nestecontexto, os credores cujas responsabilidadessão transferidas têm prioridade relativamenteà recuperação da dívida; b) a situação em queexiste uma identidade em termos depropriedade dos dois lados da transacção, ouseja, quando os activos da empresa falida sãoadquiridos pela sua filial ou por outra empresaque é propriedade, em última análise, damesma entidade. A Comissão optou por nãoaplicar a teoria segundo a qual o benefício doauxílio é transferido para os futurosproprietários, uma vez que na generalidadenão se verifica qualquer transferência devantagens quando a venda de activos érealizada em condições de mercado, tendoantes considerado que a obrigação derecuperação integraria os activos, devendoesta transacção ser tratada de forma análogaa uma venda de acções. Desta forma, aobrigação de reembolsar o auxílio estatalincumbe à empresa adquirente. Contudo, umavez que no caso de identidade de propriedadeentre adquirente e vendedor, combinada coma impossibilidade de recuperação junto daempresa-mãe beneficiária, nenhuma das duasalternativas possíveis é aplicável parasolucionar a distorção (recuperação ourestabelecimento das condições de mercado

através da liquidação e venda dos activos aosconcorrentes), a Comissão não aceita quepossam ser evitadas as consequências de umadecisão negativa utilizando este tipo de acordointragrupo.

421. Esta abordagem foi utilizada nos processosSystem Microelectronic Innovation GmbH (SMI) (1)e CDA Compact Disc Albrechts GmbH (CDA) (2)em que a Comissão notificou o Governo alemãopara recuperar o auxílio junto da empresa sucessora,que era a verdadeira beneficiária do auxílio, postoutilizar os activos da empresa falida cuja situaçãotinha sido melhorada graças ao auxílio (efeito detransbordamento). Em qualquer caso casos, deviaimpedir-se que a Alemanha escapasse àsconsequências da decisão de recuperação.Consequentemente, a Comissão decidiu alargar asua decisão a medidas de auxílio a favor de qualqueroutra empresa que prossiga as actividades daempresa inicial, utilizando os activos e/ou a infra-estrutura dessa mesma empresa.

422. No processo Manufacture corrézienne devêtements (3), a Comissão deu início a um processono que se refere a auxílios destinados asubvencionar uma empresa em dificuldades. Umavez que não tinha sido fornecido qualquer planode reestruturação válido, a Comissão considerouque o auxílio era incompatível com o Tratado CEe notificou a França no sentido de recuperar oauxílio junto da empresa em falência.

97

(1) Processo C-45/1997, decisão da Comissão de 11 de Abril de 2000(JO L 238 de 22.9.2000).

(2) Processo C-42/1998, decisão da Comissão de 21 de Junho de 2000(JO L 318 de 22.11.2000).

(3) Processo C-29/99 (ex-NN-20/99), decisão da Comissão de 21 deJunho de 2000 (JO L 293 de 22.11.2000).

Caixa 7: Auxílio ao grupo Magefesa — Recuperação de um auxílio

O Tribunal de Justiça (1) confirmou pela primeira vez a análise da Comissão, segundo a qual o comportamentodas autoridades públicas relativamente a uma empresa devedora que tinha cessado de cumprir as suasobrigações, que consistia em permitir que a mesma prosseguisse as suas actividades, poderá, em determinadascircunstâncias, tal como no caso em apreço, levar a concluir que os auxílios estatais são ilegais.

Em 1987, foi apresentada à Comissão uma denúncia relativamente a um auxílio estatal a favor do grupo espanholMagefesa. Através de decisão de 20 de Dezembro de 1989, a Comissão declarou as medidas de auxíliosincompatíveis com o mercado comum, tendo notificado o Governo espanhol para que procedesse à suarecuperação. Na sequência de diversas denúncias apresentadas em 1997 relativamente às vantagens de que

(1) Acórdão do TJCE, processo C-480/98, Reino Unido/Comissão, ainda não publicado.

Page 98: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

3. Protecção de expectativas legítimas

423. No processo relativo à Lei n.o 95/79 (1), queintroduziu um regime que constituía umaderrogação aos procedimentos normais defalência, a Comissão concluiu que o regime nãoera compatível com o Tratado CE. No que serefere à recuperação dos auxílios ilegalmenteconcedidos a cerca de 500 empresas durante 20 anos, Comissão tomou devidamente em consideração a necessidade de a decisão de recuperação ser compatível com o princípiogeral do direito comunitário consignado no n.o 1 do artigo 14.º do Regulamento (CE)n.o 659/1999 do Conselho de 22 de Março de 1999, nomeadamente a protecção dasexpectativas legítimas que a atitude da Comissãotinha suscitado no passado, tanto junto do Governo italiano, como dos beneficiários.Consequentemente, a Comissão decidiu não solicitar a recuperação do auxílio concedidoilegalmente durante os vinte anos de aplicação.

4. Não-execução de uma decisãoanterior da Comissão

424. No processo da Westdeutsche LandesbankGirozentrale (WestLB) (2), a Comissão concluiu quea Alemanha não tinha aplicado correctamente asua decisão de 8 de Julho de 1999 (3) no que serefere às injecções de capital em condiçõesfavoráveis. Os auxílios estatais envolvidosdeveriam ser imediatamente recuperados junto daWestLB. As autoridades alemãs tinhamapresentado diversas propostas de aplicação dadecisão que não se afiguraram satisfatórias.

425. No que se refere aos auxílios estatais sobforma de créditos fiscais especiais concedidos aestaleiros navais comerciais de propriedade pública,no âmbito da sociedade gestora de participaçõessociais pública Sociedad Estátal de ParticipacionesIndustriales (4), apesar de diversas cartas deinsistência, a Espanha não deu cumprimento àdecisão de recuperação que lhe tinha sido

98

a Magefesa beneficiava devido à não restituição dos auxílios recebidos, a Comissão deu início a um processocontra o grupo Magefesa e contra o seu sucessor legal.

Em 14 de Outubro de 1998, a Comissão declarou que o auxílio que consistia no não pagamento de impostose contribuições sociais era ilegal, notificando mais uma vez o Governo espanhol para recuperar o auxílioacrescido de juros.

Face a esta decisão de recuperação, o Governo espanhol interpôs uma acção no Tribunal de Justiça.Invocava que, nos termos da legislação espanhola, não existe qualquer obrigação imposta a um credorpúblico, para que solicite uma declaração de falência ou a liquidação de uma empresa por forma a obteros montantes em dívida. Além disso, o grupo Magefesa não teria obtido qualquer vantagem provenientede recursos públicos, uma vez que as entidades públicas não renunciaram às dívidas, tendo tomado todasas medidas legais à sua disposição. No âmbito do processo, a Comissão insistiu que as autoridadesespanholas não tinham esgotado todas as soluções legais para obter o reembolso das dívidas. Embora alegislação nacional em causa se aplicasse a todas as empresas, sendo portanto uma medida de caráctergeral, a Comissão afirmou que, na acepção do n.o 1 do artigo 87.º do Tratado CE, o facto de as autoridadespúblicas não tomarem as medidas adequadas em determinadas circunstâncias poderá também constituiruma vantagem. Por conseguinte, as empresas do grupo Magefesa poderiam prosseguir as suas actividadessem satisfazer quer as suas obrigações fiscais quer as suas obrigações face à segurança social.

O Tribunal rejeitou o recurso espanhol, afirmando que o facto de o Governo espanhol não ter tomado todasas medidas legais necessárias para recuperar o auxílio conferia uma vantagem à empresa. O não pagamentode impostos e contribuições constituía um auxílio ilegal incompatível com o mercado comum e a Espanhadeveria proceder à recuperação do auxílio.

(1) Processo C-68/99 (ex-NN-96/99), decisão da Comissão de 16 deMaio de 2000, ainda não publicada.

(2) Decisão da Comissão de 11 de Abril de 2000 (JO C 211 de22.7.2000).

(3) JO L 150 de 23.6.2000.(4) Processo C-3/99.

Page 99: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

III — AUXÍLIOS ESTATAIS

comunicada em Dezembro de 1999. A Comissãodecidiu apresentar ambos os casos ao Tribunal deJustiça das Comunidades Europeias.

5. Obrigação da Comissão de dar inícioao processo de exame

426. No processo SIC/Comissão (1), o Tribunallembrou em primeiro lugar que a Comissão, aoproferir uma decisão favorável, apenas se poderrestringir à análise preliminar nos termos do n.o 3do artigo 87.º do Tratado CE quando, após umaanálise inicial, tem garantias de que o auxílio écompatível com o mercado comum. No caso emapreço, contudo, o Tribunal deduziu do facto de aComissão nas suas cartas ao Estado-Membro terexpresso por diversas vezes as suas sérias dúvidasquanto à compatibilidade do auxílio com o TratadoCE, que a Comissão tinha o dever de dar início aum processo nos termos do n.o 3 do artigo 88.º doTratado CE. Quanto à duração da investigaçãopreliminar do auxílio não notificado, o Tribunalrecordou que embora a Comissão não seja obrigadaa efectuar uma análise inicial das medidas emquestão no período de dois meses previsto noAcórdão Lorenz (2), é obrigada, quando terceirosapresentam denúncias, a realizar oportunamenteuma investigação diligente e imparcial.

6. Obrigação de notificação prévia

427. No processo Governo francês/Comissão (3),o Tribunal referiu que o n.o 3 do artigo 88.º doTratado CE não consagra uma obrigação simplesde notificação mas a obrigação de uma notificaçãoprévia que, enquanto tal, comporta e implica oefeito suspensivo previsto na última frase deste

número. Consequentemente, esta disposição nãopermite uma dissociação das obrigações aíprevistas, que incluem em conjunto a obrigaçãode notificação de todos os novos auxílios e desuspensão temporária da sua execução.

7. Outras disposições do Tratado

428. O Tribunal de Justiça recordou que decorreclaramente da economia geral do Tratado que osprocessos nos termos do artigo 88.º do Tratado CEnunca deverão produzir um resultado contrário às disposições específicas do Tratado.Consequentemente, o regime de auxílio relativoao imposto alemão sobre os rendimentos (4), quecontém determinadas condições contrárias a outrasdisposições do Tratado, não pôde ser consideradocompatível com o mercado comum. Embora afiscalidade directa seja uma matéria da competênciados Estados-Membros, estes devem contudoexercer os seus poderes em matéria de fiscalidadedirecta em conformidade com a legislaçãocomunitária. Consequentemente, o Tribunal concluiuque, se um Estado-Membro concede, mesmoindirectamente, uma vantagem fiscal a empresasestabelecidas no seu território, recusando-se aconceder o benefício desta vantagem a empresasestabelecidas noutros Estados-Membros, adiferença de tratamento entre as duas categoriasserá, em princípio, proibida pelo artigo 52.º doTratado CE, desde que não exista qualquerdiferença objectiva entre as duas situações. Ora, talnão acontece entre uma empresa estabelecida numEstado-Membro que não a República Federal daAlemanha, que desenvolve as suas actividadeseconómicas nos novos Länder através de umasucursal, agência ou estabelecimento fixo, a qualnão pode aceder ao benefício da medida contestada,e uma empresa registada no território alemão, quebeneficia da vantagem fiscal introduzida pelasmedidas.

99

(1) Acórdão do Tribunal de Primeira Instância, T-46/97, de 10 de Maiode 2000.

(2) Acórdão do TJCE de 11 de Dezembro de 1973, processo C-120/73,Colectânea 1973, p. 1471.

(3) Acórdão do TJCE de 22 de Junho de 2000, processo C-332/98. (4) Acórdão do TJCE de 19 de Setembro de 2000, processo C-156/98.

Page 100: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

E — Estatísticas (1)

100

469

680

550515

342

469

86

113

91 140

98

97

9

10

3 1

5

2

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1995 1996 1997 1998 1999 2000

803

644 656

444

569 564

Auxílios existentes

Auxílios notificados

Auxílios não notificados

Gráfico 6Evolução do número de casos registados (em sectores que não a agricultura, pescas, transportes e indústria hulhífera) entre 995 e 2000

(1) Os dados relativos a 1999 foram revistos depois da publicação do XXIX Relatório sobre a Política de Concorrência de 1999.

19951996

19971998

19992000

619

474 502460

460 475

0

100

200

300

400

500

600

700

Gráfico 7Evolução do número de decisões adoptadas pela Comissão (em sectores quenão a agricultura, pesca, transportes e indústria hulhífera) entre 1995 e 2000

Page 101: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

III — AUXÍLIOS ESTATAIS

101

19

15

17

16

26

33

2

61

11

47

79

1

122

5

21

475

0 100 200 300 400 500

Reino Unido

Finlândia

Portugal

Áustria

Países Baixos

Itália

Irlanda

França

Espanha

Grécia

Alemanha

Dinamarca

Bélgica

União Europeia

Luxemburgo

Suécia

Gráfico 8Número de decisões por Estado-Membro (em sectores que não aagricultura, pescas, transportes e indústria hulhífera)

Page 102: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços
Page 103: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

IV — ACTIVIDADES INTERNACIONAIS

A — Alargamento

1. Negociações de adesão

429. Na sequência do Conselho Europeu doLuxemburgo de Dezembro de 1997, deram-seinício em Março de 1998 às negociações de adesãocom a República Checa, a Estónia, a Hungria, aPolónia, a Eslovénia e Chipre. Prosseguiram em2000 as negociações relativas ao capítulo daconcorrência no que se refere a todos estes paísescandidatos.

430. Na sequência do Conselho Europeu deHelsínquia de Dezembro de 1999, deram-se inícioem Fevereiro de 2000 às negociações de adesãocom Malta, Eslováquia, Letónia, Lituânia, Roméniae Bulgária. O capítulo da concorrência foiimediatamente iniciado com a Letónia, a Lituâniae a Eslováquia e no Outono de 2000 em relação aMalta e à Roménia.

431. As posições de negociação comuns da UEtornam claro que, antes de as negociações emmatéria de concorrência poderem serprovisoriamente encerradas, devem estar reunidasnos países candidatos três condições: a) oenquadramento legislativo necessário (nosdomínios do combate aos acordos, decisões epráticas concertadas e aos auxílios estatais); b) acapacidade administrativa necessária; e c) ademonstração credível da aplicação efectiva doacervo comunitário em matéria de concorrência.

Estas três condições devem estar satisfeitas antesda adesão. Os países candidatos devem demonstrarque as suas empresas e as suas autoridades seacostumaram a funcionar num enquadramentosemelhante ao da UE e que estarão por conseguinteem condições de suportar as pressõesconcorrenciais do mercado interno.

432. O Conselho «Assuntos Gerais» de 4 deDezembro de 2000 congratulou-se com o «mapadas estradas» apresentado pelo documento deestratégia da Comissão sobre o alargamento.Segundo este documento, a UE deve ter comoprioridade a definição de posições comuns,nomeadamente as posições relativas a pedidos demedidas transitórias, no segundo semestre de 2001relativamente a vários capítulos incluindo o dapolítica da concorrência. O Conselho considerouque o mapa representava: «… uma referênciaimportante que reflecte o empenho da União, porseu lado, em identificar problemas levantados

pelas negociações, incluindo os pedidos dedisposições transitórias e em adoptar posições denegociação nos capítulos do acervo com base numdeterminado calendário, tendo em vista oencerramento provisório dos vários capítulos apóso cumprimento das condições».

2. Progressos na aproximação das legislações de concorrência

433. A Comissão Europeia apresenta regularmenterelatórios sobre os progressos alcançados por cadaum dos países candidatos à adesão. Os terceirosrelatórios regulares dos dez países PECO, Chipre,Malta e Turquia adoptados pela Comissão Europeiaem Novembro de 2000, avaliam os progressosefectuados desde os relatórios anterioresapresentados pela Comissão Europeia em 1999.

434. Os resultados no domínio dos acordos,decisões e práticas concertadas e das operações deconcentração são em geral satisfatórios, quer de umponto de vista legislativo quer no que diz respeitoà criação da capacidade administrativa necessária.Todos os países candidatos adoptaram a legislaçãode base em matéria de concorrência, que retomaos elementos essenciais dos artigos 81.º e 82.º doTratado CE e a maior parte deles estabeleceramtambém um controlo das operações deconcentração. Foram instituídas autoridadesresponsáveis pela concorrência de uma formarelativamente rápida e sem demasiada controvérsia.

435. O principal desafio com que se defrontam asautoridades responsáveis pela concorrência nospaíses candidatos é agora afectar os seus recursosde forma a dar prioridade à aplicação da políticade luta contra os acordos, decisões e práticasconcertadas no que diz respeito aoscomportamentos anticoncorrenciais que entravammuito gravemente o funcionamento adequado dosmercados, tais como os cartéis, as aquisiçõesmonopolistas e as práticas de exclusão das empresasem posição dominante.

436. Em contraste com os progressos alcançadosno domínio do combate aos acordos, decisões epráticas concertadas, a introdução de um controlodos auxílios estatais nos países candidatosdemonstrou ser muito mais controversa, lenta epoliticamente sensível. O início das negociaçõesde adesão contribuiu para acelerar a criação deenquadramentos jurídicos e processuais para ocontrolo dos auxílios estatais. Contudo, a aplicação 103

Page 104: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

na prática da disciplina em matéria de auxíliosestatais está em geral longe de ser satisfatória.

437. A maior parte dos países candidatos criaramautoridades nacionais encarregadas do controlodos auxílios estatais. A Comissão sublinhou queestas autoridades deviam efectivamente controlaros auxílios estatais novos e existentesindependentemente das autoridades que osconcedem. As autoridades de controlo devemreceber uma notificação prévia de todas as novasmedidas de auxílio. Devem ter poderes pararecolher todas as informações necessárias paraexaminar os auxílios estatais, independentementeda sua proveniência. Para além disso, devem terpoderes para emitir um parecer independenterelativamente à compatibilidade de todos os novosauxílios com os acordos europeus, antes da suaconcessão. Contudo, nem todas as autoridades decontrolo parecem receber, de forma sistemática,informações relativas a todos os novos auxíliosconcedidos, que lhes permitam exercer os seusdeveres de uma forma exaustiva.

438. A fim de garantir a transparência necessária,vários países candidatos necessitam ainda deassegurar a criação de inventários exaustivos dosauxílios existentes e que sejam permanentementeactualizados. Para além disso, a Comissão colaboraactualmente com as autoridades de controlo dospaíses candidatos a fim de garantir que os seusrelatórios anuais em matéria de auxílios estataisestão conformes à metodologia do relatório daComissão relativo aos auxílios estatais.

439. A Comissão chamou a atenção de váriospaíses candidatos para a necessidade de tornarconformes com o acervo comunitário muito antesda adesão os seus regimes de auxílios fiscais,frequentemente utilizados para atrair investimentoestrangeiro bem como as suas medidas relativas aauxílios estatais aplicáveis às denominadas zonas«económicas especiais».

3. Regras de aplicação no âmbito de acordos europeus

440. Tendo em vista completar o enquadramentojurídico das relações entre a Comunidade e os10 países associados da Europa Central e Oriental(PECO) no domínio da concorrência, foram objectode negociações com esses países dois conjuntosde regras de execução. O primeiro diz respeito àexecução das disposições dos acordos europeusem matéria de concorrência aplicáveis a empresas

(antitrust). O segundo refere-se às regras relativasaos auxílios estatais.

441. As regras de execução das disposições emmatéria de concorrência aplicáveis às empresasforam já adoptadas em nove PECO, nomeadamentena Bulgária (1), na República Checa (2), naEstónia (3), na Hungria (4), na Polónia (5), naRoménia (6), e na República Eslovaca (7), naLituânia (8), e na Eslovénia (9). No que diz respeitoà Letónia, a Comissão Europeia apresentou aoConselho a sua proposta em matéria de regras deaplicação. O texto das regras de aplicação ébasicamente o mesmo para todos os paísesassociados e inclui principalmente regrasprocessuais, isto é, regras respeitantes às questõesde competência para tratar casos, processos denotificação de casos à outra parte, consulta, cortesiae intercâmbio de informações. No que diz respeitoa certos problemas de ordem constitucionalrelativamente à aplicação das regras de execuçãona Hungria, prosseguiram as discussões para tentarresolver as dificuldades que subsistem.

442. A República Checa é actualmente o únicopaís associado em que as regras de aplicação emmatéria de auxílios estatais estão já em vigor (10).As regras de aplicação constituem um sistema dedois pilares do controlo dos auxílios estatais. Dolado da Comunidade, a Comissão Europeia apreciaa compatibilidade dos auxílios estatais concedidospelos Estados-Membros com base nas regrascomunitárias na matéria. Por parte da RepúblicaCheca, a autoridade nacional de controlo devecontrolar e examinar os auxílios públicos existentese novos concedidos pelo seu país, com base noscritérios decorrentes da aplicação das regrascomunitárias em matéria de auxílios estatais. Asregras de aplicação incluem procedimentos deconsulta e de resolução de problemas, regras em

104

(1) Decisão n.o 2/97 do Conselho de Associação UE-Bulgária, de 7 deOutubro de 1997 (JO L 15 de 21.1.1998).

(2) Decisão n.o 1/96 do Conselho de Associação UE-República Checa,de 30 de Janeiro de 1996 (JO L 31 de 9.2.1996).

(3) Decisão n.o 1/99 do Conselho de Associação UE-Estónia, de 28 deAbril de 1999 (JO L 144 de 9.6.1999).

(4) Decisão n.o 2/96 do Conselho de Associação UE-Hungria, de 6 deNovembro de 1996 (JO L 295 de 20.11.1996).

(5) Decisão n.o 1/96 do Conselho de Associação UE-Polónia, de 16 deJulho de 1996 (JO L 208 de 17.8.1996).

(6) Decisão n.o 1/99 do Conselho de Associação UE-Roménia, de 16 deMarço de 1999 (JO L 96 de 10.4.1999).

(7) Decisão n.o 1/96 do Conselho de Associação UE-Eslováquia, de 15de Agosto de 1996 (JO L 295 de 20.11.1996).

(8) Decisão n.o 4/99 do Conselho de Associação UE-Lituânia, de 26 deMaio de 1999 (JO L 156 de 23.6.1999).

(9) Decisão n.o 4/2000 do Conselho de Associação UE-Eslovénia, de21 de Dezembro de 2000, ainda não publicada no JO.

(10) Decisão n.o 1/98 do Conselho de Associação UE-República Checa,de 24 de Junho de 1998 (JO L 195 de 11.7.1998).

Page 105: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

IV — ACTIVIDADES INTERNACIONAIS

matéria de transparência (isto é, a República Checadeve elaborar e actualizar um inventário dos seusregimes de auxílio e de concessão de auxílioindividuais), e regras relativas ao intercâmbio deinformações. Após o trabalho preparatório doConselho em 2000, um projecto de regras deaplicação em matéria de auxílios estatais aguardaa aprovação pelos respectivos conselhos deassociação com a Letónia, a Lituânia, a Estónia, aBulgária, a Roménia, a Polónia e a Eslovénia. AComissão Europeia apresentou igualmente aoConselho a sua proposta em matéria de regras deaplicação para a República Eslovaca.

4. Prorrogação do estatuto previsto non.o 3, alínea a), do artigo 87.º no âmbitodos acordos europeus

443. Os acordos europeus prevêem que os auxíliospúblicos concedidos pelos países associados devemser apreciados tomando em consideração quedurante um período de cinco anos, estes paísesdevem ser considerados áreas da Comunidadeidênticas às descritas no n.o 3, alínea a), do artigo87.º do Tratado que institui a ComunidadeEuropeia. Após os trabalhos preparatórios noConselho, os Conselhos de associação UE--Bulgária, UE-Lituânia, UE-Roménia e o UE--Estónia decidiram prorrogar este estatuto por umnovo período de cinco anos (1). São aguardadasdecisões análogas pelos respectivos conselhos deassociação com a Letónia, a República Checa e aPolónia. A Comissão Europeia apresentouigualmente ao Conselho a sua proposta relativa àprorrogação do estatuto previsto no n.o 3, alínea a)do artigo 87.º em relação à Hungria e à Eslováquia.No que se refere à Eslovénia, foi preparado umprojecto de proposta para adopção pela Comissãotendo em vista a sua apresentação ao Conselho.

444. A decisão do Conselho de associaçãoespecifica que o país associado deve apresen-tar dados relativos ao PIB per capita a nível doNUTS II. A autoridade de controlo dos auxíliosestatais do país associado e a Comissão Europeiaavaliarão então conjuntamente a possibilidade deas várias regiões beneficiarem desse estatuto, bem

como as intensidades máximas dos auxílios, a fimde elaborar o mapa de auxílios com finalidaderegional com base nas orientações comunitáriasna matéria. Seguidamente, será apresentada umaproposta conjunta ao Conselho de associação, quetomará a decisão.

5. Assistência técnica aos paísescandidatos

445. Tendo em conta as dificuldades que subsistem,a assistência técnica no domínio da concorrênciacontinua a constituir um instrumento essencial parapreparar os países candidatos à adesão. São tomadasmedidas específicas no âmbito dos programas Phare.No âmbito dos programas de geminação, destinadosa reforçar as instituições dos países candidatos,peritos dos Estados-Membros da UE são destacadospor longos períodos junto dos PECO, a fim deaconselhar as autoridades nacionais responsáveispela concorrência e pelo controlo dos auxíliosestatais.

446. A Comissão Europeia prosseguiu uma políticavoluntarista de intensificação dos seus contactoscom as autoridades responsáveis pela concorrênciados países candidatos. Em 25 e 26 de Setembro,realizou-se em Tallin, na Estónia, a sextaconferência anual em matéria de concorrência entreos países candidatos e a Comissão Europeia. Asdelegações incluíram funcionários de alto níveldas respectivas autoridades responsáveis pelaconcorrência e pela concessão de auxílios estatais.A conferência anual serve de fórum para ointercâmbio de pontos de vista e experiências.Permite igualmente estabelecer e reforçar contactosprofissionais entre funcionários responsáveis pelaconcorrência. A conferência deste ano centrou-semais especialmente nas práticas de aplicação dalegislação e na importância de garantir umaaplicação efectiva das regras relativas aos acordos,decisões e práticas concertadas e aos auxíliosestatais.

447. A DG Concorrência continuou a organizardurante o ano de 2000 várias reuniões bilaterais comas autoridades responsáveis pela concorrência epelo controlo dos auxílios estatais dos paísescandidatos. Realizaram-se discussões técnicas anível de peritos em matéria de aproximação dasregras da concorrência, do reforço das instituiçõese do controlo do cumprimento da legislação.Realizaram-se também reuniões semelhantes emmatéria de aproximação das legislações no domínio 105

(1) Decisão n.o 1/2000 do Conselho de Associação UE-Bulgária, de 28 de Fevereiro de 2000 (JO L 144 de 17.6.2000); Decisão n.o 2/2000do Conselho de Associação UE-Roménia, de 17 de Julho de 2000(JO L 230 de 12.9.2000); Decisão n.o 2/2000 do Conselho deAssociação UE-Lituânia, de 24 de Julho de 2000 (JO L 199 de5.10.2000). Decisão n.o 3/2000 do Conselho de Associação UE--Estónia, de 1 de Dezembro de 2000 (JO L 21 de 23.1.2001).

Page 106: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

dos auxílios estatais, da criação de autoridades decontrolo dos auxílios estatais, de questõesespecíficas em matéria de auxílios estatais, taiscomo a elaboração dos relatórios anuais em matériade auxílios estatais, dos mapas de auxílios comfinalidade regional, da incidência das medidas deincentivo ao investimento e das zonas económicasespeciais sobre os auxílios estatais e da apreciaçãode casos individuais nos sectores sensíveis.

6. Turquia

448. A Decisão n.o 1/95 do Conselho de associaçãoCE/Turquia, relativa à aplicação da fase final daUnião aduaneira a ser criada entre a Comunidadee a Turquia bem como o artigo 7.º do acordo decomércio livre entre a Turquia e a CECA exigema adopção das regras necessárias à aplicação dasdisposições em matéria de concorrência. Apósconsulta dos Estados-Membros, essas regras deaplicação foram formalmente propostas ao Governoturco e posteriormente discutidas a nível de peritospelas delegações das duas partes. Alcançaram-seprogressos consideráveis numa primeira leituraconjunta do projecto de texto, e as poucas questõespendentes deverão ser resolvidas num futuro muitopróximo, permitindo assim uma adopção rápidadas referidas regras.

B — Cooperação bilateral

1. Estados Unidos

449. A Comissão apresenta anualmente umrelatório pormenorizado ao Conselho e aoParlamento Europeu sobre as suas actividades decooperação com os EUA no âmbito do Acordo deCooperação de 1991 (1) e do acordo de cortesiapositiva de 1998 (2). O último relatório abrangeuo período de 1 de Janeiro a 31 de Dezembro de1999 (3). O relatório sobre 2000 será publicadodurante 2001.

450. Durante o ano de 2000, a Comissãoprosseguiu a sua estreita cooperação com odepartamento americano de Justiça (DoJ) e coma Comissão Federal do Comércio (FTC) numnúmero cada vez maior de casos. A tendênciapara a globalização dos mercados continuou aum ritmo elevado durante o ano, tal como odemonstrou de forma bem visível o número recorde o nível das concentrações transnacionais: o anode 2000 registou um aumento significativo donúmero de operações notificadas tanto à Comissãocomo aos serviços americanos da concorrência.A cooperação bilateral foi particularmente intensano que diz respeito a estas operações deconcentração de dimensão mundial. As discussõesentre serviços europeus e americanos daconcorrência tende a centrar-se em questões comoa definição dos mercados, o eventual impactosobre a concorrência de uma operação nessesmercados e o valor das soluções propostas pelaspartes na concentração.

451. As investigações relativas a concentraçõesque implicaram uma estreita cooperaçãotransatlântica incluíram nomeadamente osprocessos Alcoa/Reynolds, MCI Worldcom/Sprint,Novartis/AstraZeneca, Boeing/Hughes, AOL/TimeWarner, e Time Warner/EMI. A Comissãocooperou também estreitamente com os seushomólogos americanos em várias investigaçõesnão relacionadas com concentrações, por exemplo,os respectivos inquéritos da Comissão e da FTCrespeitantes à criação de uma empresa comum deserviços interempresas Covisint entre os fabricantesde peças sobressalentes para veículos automóveis.A cooperação UE/EUA em processos deconcorrência é analisada de forma maisaprofundada no capítulo do presente relatórioconsagrado ao controlo das operações deconcentração e no Sexto relatório ao Conselho eao Parlamento Europeu para o ano de 2000, que serápublicado durante 2001.

452. No quadro da cooperação entre a Comissãoe o DoJ no processo MCI Worldcom/Sprint, umfuncionário da Comissão assistiu pela primeiravez a uma «pitch meeting» entre o DoJ e as partesna concentração. Essas reuniões são geralmenterealizadas imediatamente antes das autoridadesamericanas decidirem se tomam ou não medidaspara proibir uma concentração projectada.Representantes do DoJ americano e da FTCassistiram já a audições orais em alguns processosda Comissão que envolviam importantes interesses106

(1) Acordo entre as Comunidades Europeias e o Governo dos EstadosUnidos da América relativo à aplicação dos respectivos direitos daconcorrência (JO L 95 de 27.4.1995, rectificado pelo JO L 131 de15.6.1995).

(2) Acordo entre as Comunidades Europeias e o Governo dos EstadosUnidos da América relativo aos princípios de cortesia positiva naaplicação dos respectivos direitos da concorrência (JO L 173 de18.6.1998).

(3) Adoptado em 4 de Outubro de 2000, COM(2000) 618 final; verRelatório da Concorrência de 1999, p. 319 a 332.

Page 107: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

IV — ACTIVIDADES INTERNACIONAIS

americanos (1). Em 1999, a Comissão concluiuacordos administrativos com o DoJ e a FTCrelativamente à assistência mútua em certas fasesdos procedimentos iniciados em casos individuaisque envolvam a aplicação das respectivas regrasem matéria de concorrência. Prevêem que podeser aceite em casos apropriados um pedido departicipação numa audição ou numa reunião, sujeitoa garantias ou acordos satisfatórios relativos àconfidencialidade e à utilização de informações. Aparticipação nas audições ou em reuniões só épossível com o consentimento expresso das pessoasem causa nos procedimentos de aplicação e osacordos não limitam de qualquer forma os direitosde que beneficiam essas pessoas.

453. O primeiro processo iniciado com base numpedido de cortesia positiva foi encerrado duranteo ano. Em Julho de 2000, a Comissão Europeiadecidiu encerrar uma investigação da Air Francepor alegada discriminação contra o SABRE, umsistema americano informatizado de reservas (SIR),após a companhia francesa ter aceite um código deboa conduta que oferecia à SABRE condiçõesequivalentes às oferecidas ao sistema Amadeus,de que é co-proprietária, bem como a outrossistemas informatizados de reservas. Na origemda investigação estava uma denúncia inicialmenteapresentada ao DoJ americano, alegando quealgumas companhias associadas ao Amadeus(nomeadamente a Air France, a Iberia, a Lufthansae a SAS) tinham abusado da posição dominante deque beneficiavam nos seus mercados respectivos.Invocando pela primeira vez o mecanismo de«cortesia positiva» previsto no acordo decooperação em matéria de concorrência UE/EUAde 1991 (2) (um mecanismo posteriormentedesenvolvido ainda mais pelo acordo de cortesiapositiva de 1998), o DoJ tinha solicitado que aComissão investigasse as alegações no âmbito dasregras comunitárias em matéria de concorrência.A cortesia positiva possibilita que os serviçosamericanos da concorrência solicitem à Comissãoque investigue um comportamentoanticoncorrencial alegadamente realizado naEuropa e inversamente. Tratou-se do primeiro (eaté à data o único) pedido a ser apresentado nostermos de qualquer dos acordos.

454. Existiram inúmeros contactos bilaterais entrea Comissão e as autoridades americanas relevantesdurante o ano de 2000: o comissário Monti efectuouuma primeira visita oficial alargada a Washington,em Junho na sua qualidade de comissárioresponsável pela concorrência e aproveitou a ocasiãopara se encontrar nomeadamente com membrosimportantes da Administração e do Congresso; areunião bilateral anual Comissão/DoJ/FTCrealizou-se em Washington em Julho. Efectuaram-se também reuniões durante o ano entrea Comissão e o departamento americano dosTransportes, a Comissão Federal americana dasComunicações e a Comissão Marítima Federal dosEUA (todas responsáveis pela gestão das questõesde concorrência nos seus respectivos sectores).

455. Em 1999, a Comissão, o DoJ e a FTC dosEUA acordaram em criar um grupo de trabalhodestinado a intensificar a cooperação transatlânticano domínio do controlo das concentrações. Estegrupo de trabalho foi mandatado para se centrar:1) num estudo aprofundado das respectivasabordagens comunitária e americana em matériade definição e aplicação de soluções (em especial,alienações) e no controlo do cumprimento dasdisposições após a concentração; e 2) na exploraçãode possibilidades para uma maior convergênciada análise/metodologia das operações deconcentração tratadas pelas duas jurisdições,especialmente no que diz respeito às respectivasabordagens comunitária e americana face a umaposição dominante oligopolista/colectiva. O grupode trabalho centrou as suas deliberações nassoluções durante o ano de 2000 e o seu trabalhosobre essa questão está prestes a ser concluído.Estas discussões foram particularmente úteis nocontexto da preparação da comunicação daComissão relativa às soluções em operações deconcentração adoptada em Dezembro (3). O grupode trabalho UE/EUA prosseguirá no próximo anoo estudo das posições dominantes oligopolísticas.

2. Canadá

456. Em Junho de 1999, entrou em vigor o acordorelativo à cooperação em matéria de concorrênciaentre as Comunidades Europeias e o Governocanadiano (4). O ano de 2000 foi o primeiro ano

107

(1) Representantes do DoJ e da FTC assistiram a várias audições oraisna UE durante o ano de 2000 (processos TimeWarner/EMI,AOL/TimeWarner, Worldcom MCI/Sprint, Alcoa/Reynolds).

(2) Ver artigo V.2.

(3) Ver igualmente a secção II.C do presente relatório.(4) Acordo entre as Comunidades Europeias e o Governo do Canadá

no que diz respeito à aplicação das respectivas legislações em matériade concorrência (JO L 175 de 10.7.1993, p. 50 a 60).

Page 108: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

completo de aplicação do acordo e pode concluir--se que tal facilitou um aumento acentuado donível de cooperação entre as ComunidadesEuropeias e o Canadá no que diz respeito àaplicação das respectivas regras em matéria deconcorrência. Um número crescente de casos derelevância mútua para a UE e o Canadá está a seranalisado pelas autoridades responsáveis pelaconcorrência das duas partes. Anualmente, aComissão apresenta relatórios pormenorizados aoConselho e ao Parlamento Europeu sobre as suasactividades de cooperação com o Canadá. Oprimeiro relatório abrangeu o período de Junho aDezembro de 1999 (1). O relatório para 2000 serápublicado durante o ano de 2001.

457. Têm sido frequentes e úteis os contactos entrea Comissão Europeia e a sua homóloga canadiana,ou seja, o «Bureau» canadiano para a concorrência.As discussões disseram respeito a processosconcretos e a questões mais gerais de política daconcorrência. As duas autoridades debruçaram-sepor exemplo não só sobre o exame de operaçõesde concentração de dimensão mundial notificadasàs duas autoridades, mas também num certo númerode reformas legislativas propostas ou introduzidasnos seus territórios de competência respectivos.

458. É de mencionar as teleconferências trilateraisUE/EUA/Canadá no processo DowChemical/Union Carbide, e uma reunião trilateralUE/EUA/Canadá em Washington no contexto doprocesso relativo à concentração Alcoa/Reynolds.

3. Japão

459. Na reunião bilateral anual entre a Comissãoe autoridade de concorrência japonesa (a Fair TradeCommission do Japão) de Tóquio em 28 e 29 deOutubro de 1999, a delegação da Comissão referiuo seu interesse em reforçar as relações bilateraiscom o Japão no domínio da concorrência. As duaspartes exploraram por conseguinte a possibilidadede concluir um acordo de cooperação semelhanteaos acordos entre a UE e os EUA (1991) e o Canadá(1998), bem como ao acordo EUA/Japão (1999).

460. A Comissão desenvolveu discussõesexploratórias intensas e informais com o Japão,tendo sido estabelecido que existe um interessemútuo no reforço da cooperação bilateral no domínio

da concorrência. Em 8 de Junho, a Comissão obtevedo Conselho um mandato de negociação, que lhepermitiu dar início a duas importantes sessões denegociações com as Autoridades japonesas em 13e 14 de Junho e 3 e 4 de Julho de 2000. As duasdelegações conseguiram resolver todas as questõese em especial as disposições relativas à utilização,divulgação e protecção de informações confidenciaisbem como à comunicação de informações pelaComissão às autoridades responsáveis pelaconcorrência dos Estados-Membros em causa emaspectos de cooperação UE/Japão.

461. Em 11 de Julho, o grupo de trabalho doConselho expressou um parecer favorávelrelativamente ao texto negociado. Por conseguinte,foi possível anunciar na cimeira UE/Japão, em19 de Julho em Tóquio, que as duas partes tinhamalcançado «uma compreensão mútua dos elementosimportantes do acordo de cooperação que previamconcluir no domínio da concorrência». Prevê-seque o acordo seja concluído durante 2001.

462. Este projecto de acordo abrange, em especial,o intercâmbio de informações mas não derroga àsregras em matéria de confidencialidade previstasnos regulamentos de aplicação dos artigo 81.º e82.º do Tratado CE. Contém disposições relativasà comunicação de informações pela Comissão àsautoridades competentes dos Estados-Membrosem causa, com o objectivo de informar estasautoridades sobre as notificações e outrasinformações relativas à cooperação e coordenaçãodas actividades de aplicação da legislação no âmbitodo acordo previsto entre a Comissão e o Japão.Inclui também disposições de organização práticada cooperação entre a Comissão e as autoridadesjaponesas em matéria de concorrência bem comoa coordenação das suas respectivas actividades deaplicação. Finalmente, o acordo inspira-se nosprincípios da cortesia negativa e positiva.

463. Para além de inúmeras reuniões e contactosoficiais entre a Comissão e as autoridades japonesas no contexto das negociações do acordo,realizou-se em Bruxelas em 24 de Novembro areunião bilateral anual entre a Comissão e aJapanese Fair Trade Commission.

464. A Comissão elaborou uma nova lista depropostas tendo em vista a prossecução dadesregulamentação no Japão. Esta lista contémuma série de propostas no domínio da concorrência.As propostas foram apresentadas no âmbito dodiálogo UE-Japão sobre a reforma regulamentar eem resposta ao convite para apresentação de108 (1) Relatório COM(2000) 645 final, adoptado em 13 de Outubro de 2000.

Ver igualmente Relatório da Concorrência de 1999, p. 333 e 335.

Page 109: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

IV — ACTIVIDADES INTERNACIONAIS

observações lançado aos governos estrangeiros noâmbito da revisão de 30 de Março de 1999 do programa trienal de promoção dadesregulamentação.

4. Outros países da OCDE e EEE

465. Durante 2000, a Comissão cooperou com asautoridades responsáveis pela concorrência devários países da OCDE e nomeadamente com aAustrália, a Suíça, a Noruega e a Coreia. Estescontactos disseram respeito tanto a questõesrelativas a processos concretos como a questõesmais gerais respeitantes à política da concorrência.

466. Durante o ano, a Comissão prosseguiuigualmente a sua estreita cooperação com o Órgãode Fiscalização da EFTA, responsável pela aplicaçãodo Acordo sobre o Espaço Económico Europeu emnome da Noruega, Islândia e Listenstaine.

5. Países mediterrânicos

467. Só estão em vigor os acordoseuromediterrânicos concluídos entre a UE eMarrocos, Tunísia e Israel. No que diz respeitoaos outros acordos euromediterrânicos, o acordocom a Jordânia não foi ainda ratificado. Asnegociações com o Egipto foram concluídas e oacordo rubricado em Janeiro de 2001. O acordoprovisório com a Autoridade Palestiniana seráobjecto de uma renegociação final. Realizaram-sereuniões de negociação com o Líbano e a Síria, naperspectiva do relançamento da políticamediterrânica. As disposições relativas àconcorrência, em todos estes acordos concluídose nos projectados, prevêem compromissos paraaproximar as políticas de concorrência destes paísescom o regime comunitário. A DG Concorrênciaparticipou em Marrocos igualmente num primeiroseminário sobre a concorrência.

6. América do Sul

468. O mecanismo de cooperação entre asautoridades de concorrência previsto no acordoentre a União Europeia e o México entrou em vigorem Julho. Permite o intercâmbio de informações,a coordenação de certas actividades, o exame dasrestrições de concorrência no território de umaparte quando os efeitos afectem negativamente osinteresses da outra parte, bem como uma disposição

relativa à cooperação técnica. É assim asseguradapor este mecanismo uma melhor transparência dosprocessos relativos aos acordos entre empresas,aos abusos de posição dominante ou às operaçõesde concentração.

469. Realizaram-se negociações entre a UniãoEuropeia, o Mercosul e o Chile para a liberalizaçãodos intercâmbios. Após ter fixado os objectivosdas negociações e a organização dos trabalhos,foram analisadas pelo grupo técnico 3 as questõesde concorrência. O objectivo consiste em que aaplicação das regras de concorrência pelas partesgarantam um tratamento equivalente às empresassituadas em cada um dos dois territórios. Destaforma, será possível criar mecanismos decooperação e de coordenação entre as autoridadesde concorrência respectivas.

470. Quanto à Comunidade andina, foiestabelecido um projecto pela DG RelaçõesExternas com propostas de cooperação técnica.Este projecto encontra-se em análise no SCR e nogrupo PVDALA do Conselho antes de se dar inícioao procedimento em 2001, para o qual a DGConcorrência dará o contributo da sua experiência.

471. Durante o ano passado prosseguiramactividades de informação directa sobre a doutrinacomunitária bem como através do BoletínLatinoamericano de Competencia e com o apoiodo seminário latino-americano de concorrênciaorganizado pela Cnuced na Costa Rica.

7. Rússia, Ucrânia, Moldávia e outrosnovos Estados independentes (NEI)

472. Os acordos de parceria e cooperação (APC),que a UE concluiu com a Rússia, a Ucrânia, aMoldávia e a maior parte das antigas RepúblicasSoviéticas, incluem, numa maior ou menor medida— um compromisso destes países — em tomaremmedidas para uma aproximação da sua legislaçãoem matéria de concorrência e de auxílios estataisà das Comunidades. Foram feitos alguns progressosno que diz respeito à aplicação de acordos decooperação e parceria UE-Rússia, UE-Ucrânia eUE-Moldávia no último ano. Em especial, aUcrânia e a Moldávia informaram a Comissão dasmedidas tomadas para cumprir as suas obrigaçõesno âmbito dos acordos. Vários projectos TACIS,destinados a fornecer a perícia necessária, estãoigualmente a ser desenvolvidos ou sê-lo-ão nopróximo ano. A Comissão participou activamenteem conferências internacionais organizadas pelas 109

Page 110: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

autoridades responsáveis pela concorrência daUcrânia e da Rússia, que se realizaramrespectivamente em Kiev e Moscovo.

473. Efectuaram-se contactos intensos entre aComissão e representantes da Federação da Rússia,em especial com o ministro da política de combateaos monopólios, no contexto do cumprimento porparte deste país das suas obrigações no âmbito dosAPC no domínio do controlo dos auxílios estatais.Em reuniões frutuosas, os delegados russosinformaram a Comissão dos progressos alcançadoscom um projecto de legislação russa, que cria umaautoridade de controlo dos auxílios estatais, emcumprimento da obrigação prevista no artigo 53.ºdos APC, segundo o qual as partes devem definirconjuntamente categorias e regras para os auxíliosestatais que tenham por efeito falsear o comércioe a concorrência entre as Comunidades Europeiase a Federação da Rússia.

C — Cooperação multilateral

1. OMC: política comercial e de concorrência

474. O grupo de trabalho da OMC relativo àinteracção entre a política comercial e a política deconcorrência realizou três reuniões em 2000 (15 e16 de Junho, 2 e 3 de Outubro e 21 de Novembro).Na reunião de Junho, a Comissão apresentou empormenor as vantagens do futuro enquadramentopara os países em desenvolvimento(complementaria as suas reformas económicas eregulamentares e permitir-lhes-ia abordar aspráticas anticoncorrenciais internacionais queimpedem o seu desenvolvimento) e debruçou-sesobre os seus principais problemas (a necessidadede uma aplicação flexível e progressiva doenquadramento, assistência técnica reforçada ecoordenada e apoio à construção das capacidadesnecessárias para participar de forma significativaem actividades de cooperação internacionais nodomínio da concorrência).

475. Na reunião de Outubro, a Comissão apresentoua sua posição de uma forma mais aceitável para osseus parceiros comerciais, em especial os EUA e ospaíses em desenvolvimento, a fim de construir asalianças necessárias e intensificar os esforços nosentido de criar um enquadramento de regras deconcorrência no âmbito da OMC.

476. As negociações no domínio do comércio e daconcorrência no âmbito da OMC devem ser

realistas e centrar-se, numa primeira fase nosobjectivos que podem ser alcançados no contextode um ciclo curto de negociações globais. O âmbitodessas negociações deve por conseguinte limitar-sea três questões que parecem ter atingido umamaturidade suficiente: princípios fundamentais emmatéria de legislação e política interna daconcorrência, modalidades de base para acooperação e a integração dos aspectos dedesenvolvimento num enquadramento multilateralno domínio da concorrência. Um comité da políticada concorrência a ser criado no âmbito da OMCgerirá este enquadramento de base. Serãonecessários maiores esforços no sentido deaprofundar o trabalho de formação e de análiserelativo a questões de concorrência mais complexasnuma perspectiva de mais longo prazo.

477. Na reunião de Novembro, o grupo de trabalhoreviu e adoptou o relatório 2000 do grupo a enviarao Conselho Geral (1).

2. OCDE

478. A Comissão continuou a desempenhar umpapel activo nos trabalhos do comité do direito eda política da concorrência da OCDE, em especialnas mesas redondas e nas reuniões de grupos detrabalho organizadas em 2000 (concorrência nosector farmacêutico, operações de concentraçãonos serviços financeiros, concentrações e aliançasentre companhias aéreas, regimes de redução decoimas, concorrência no sector do gás natural,empresas comuns, comércio electrónico,mecanismos públicos e privados de resolução delitígios e concorrência nos transportes terrestres).

3. Cnuced

479. A Comissão participou activamente na quartaconferência das Nações Unidas para a revisão detodos os aspectos do conjunto de princípios e regrascomerciais equitativas acordadas multilateralmentepara o controlo das práticas comerciais restritivas(«RBP Review»), que decorreu em Genebra, de24 a 29 de Setembro. A resolução adoptada prevêa continuação das reuniões anuais do grupointergovernamental de peritos da política daconcorrência («GIE») e chama a atenção para

110(1) Relatório (2000) do grupo de trabalho sobre a interacção entre as

políticas de comércio e da concorrência para o Conselho Geral,WT/WGTCP/4, 30 de Novembro de 2000.

Page 111: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

IV — ACTIVIDADES INTERNACIONAIS

algumas questões que devem ser tomadas emconsideração, tais como a cooperação relativa aocontrolo das operações de concentração e a interfaceentre a política da concorrência e os direitos depropriedade intelectual. Para além disso, a resoluçãoconvida igualmente o Secretariado da Cnuced aprosseguir o estudo de uma série de questões,nomeadamente o controlo das operações deconcentração, os benefícios da legislação emmatéria de concorrência para os consumidores epara combater a pobreza, bem como as ligaçõesentre concorrência e investimento estrangeiro.Finalmente, a resolução apela à Cnuced no sentidode clarificar as formas de aplicação aos países em desenvolvimento de eventuais acordosinternacionais em matéria de concorrência.

480. A Cnuced mostrou-se em geral sensível àposição comunitária em matéria de comércio econcorrência na OMC, sugerindo que a actualreflexão da Comunidade sobre a questão daflexibilidade e progresso para os países emdesenvolvimento possa constituir um meio paraavançar, caso outros países concordem.

4. Fórum Internacional no domínio da Concorrência

481. A crescente internacionalização das nossaseconomias constitui um desafio importante paraas autoridades de concorrência em todo o mundo.A fim de dar resposta a este desafio, a Comissãointensificou as suas relações bilaterais com asautoridades responsáveis pela concorrência dosprincipais parceiros comerciais da UE. No entanto,como a UE e os seus Estados-Membros oreconheceram há algum tempo, o bilateralismo

tem as suas limitações: é conveniente aplicar igualmente abordagens multilaterais,nomeadamente continuando na via da criação deum enquadramento multilateral da legislação nodomínio da concorrência a nível da OMC.

482. Simultaneamente, o comissário Monti propôs,durante um discurso que proferiu no InstitutoUniversitário de Fiesole (1), a criação de um «fóruminternacional da concorrência» alargado, queresponderia à necessidade de dispor de umainstância de discussão agrupando os responsáveispelo desenvolvimento e pela gestão da política deconcorrência em todo o mundo. Mais de 80 paísesadoptaram hoje, de certa forma, um quadrolegislativo da concorrência, muitos dos quais apenasna última década, e prevendo outros países fazero mesmo. A criação de um fórum mundial noâmbito do qual seja partilhada e discutida aexperiência adquirida na gestão de diversoselementos da política da concorrência (questõesde fundo, sistémicas e relacionadas com a aplicaçãodo direito) afigura-se uma necessidade premente.

483. O objectivo final deve consistir em alcançarum máximo de convergência e consenso entre osparticipantes, através do diálogo e de umintercâmbio de experiências em matéria de políticae de prática da aplicação do direito. O consensodeve resultar de uma compreensão comum dasmelhores abordagens para os problemaseconómicos de fundo bem como para as questõesde aplicação do direito. O comissário Montimanifestou a sua intenção de lançar esta iniciativadurante o ano de 2001.

111

(1) Ver comunicado de imprensa IP/00/1230, de 27 de Outubro de 2000.

Page 112: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços
Page 113: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

V — PERSPECTIVAS PARA 2001

1. Actividade legislativa e regulamentar

484. À medida que a integração dos mercadosavança, quer a nível da UE quer a nível mundial,afigura-se vital que esta evolução se reflicta nasregras processuais e materiais da Comunidade. ADG Concorrência prosseguirá por conseguinte arevisão das regras processuais e materiais paraefeitos de aplicação dos artigos 81.º e 82.º

Proposta de um novo regulamento de aplicação dos artigos 81.º e 82.º do Tratado CE

485. Em 2001, os trabalhos relativos à propostada Comissão de um novo regulamento de aplicaçãodos artigos 81.º e 82.º do Tratado CE (1)prosseguirão no Conselho no âmbito daspresidências sueca e belga. Prevê-se que ostrabalhos de fundo realizados a nível dos peritospermitam a apresentação ao Conselho «Indústria»no segundo semestre da presidência sueca de umrelatório substancial sobre progressos alcançados.O Parlamento Europeu e o Comité Económico eSocial examinarão a proposta no primeiro semestrede 2001. Os trabalhos das outras instituiçõesrelativos à proposta de regulamento serãocompletados quando a Comissão elaborar osprojectos preliminares de várias futurascomunicações destinadas a acompanhar o novoregulamento.

Acordos verticais

486. O Regulamento n.o 240/96 estabelece ascondições de isenção por categoria dos acordosde transferência de tecnologia, incluindo osacordos de licença e de patente de saber-fazer.Nos termos do artigo 12.º, a Comissão deveelaborar um relatório intercalar relativo aofuncionamento desse regulamento até ao final doquarto ano subsequente à sua entrada em vigor.Com base nesse relatório, a Comissão deve avaliarse é necessária qualquer adaptação às actuaisregras, particularmente à luz das recentes reformaspolíticas no domínio das restrições verticais e dosacordos de cooperação horizontal. A Comissãotenciona publicar o seu relatório de avaliação atéao final de 2001.

Regulamento de isenção por categoria noque diz respeito à distribuição de veículosautomóveis

487. O Regulamento de isenção por categoria(CE) n.° 1475/95 relativo à distribuição de veículosautomóveis termina em 30 de Setembro de 2002.A Comissão continuará os seus trabalhos depreparação de um novo regime para a distribuiçãodos veículos automóveis baseando-se no relatóriode avaliação de Novembro de 2000 e nas reacçõesque este relatório suscitou.

Comunicação «de minimis»

488. A Comissão tenciona rever a sua actualcomunicação de minimis (2) até ao final de 2001.A comunicação de minimis descreve os acordosque a Comissão considera de menor importânciae não abrangidos pelo n.o 1 do artigo 81.º Oobjectivo da revisão consiste em garantir acoerência entre a comunicação de minimis e osregulamentos de isenção por categoriarecentemente adoptados para os acordos verticaise horizontais (3). Prevê-se a publicação de umprojecto de texto no Jornal Oficial para consultapública antes do Verão.

Consultor-auditor

489. Está prevista uma revisão do mandato doconsultor-auditor que deve ser adoptado pelaComissão no primeiro semestre de 2001.

2. Actividades de controlo

490. A parte principal do trabalho da Comissãode execução das regras antitrust continuará aconsistir no tratamento de casos concretos.Implicará um esforço sustentado para melhoraruma cooperação que já é boa com as autoridadesnacionais regulamentares e da concorrência. Serádada uma grande prioridade às infracções gravesda concorrência, em especial aos abusos deposição dominante e aos cartéis. Para além disso,centrar-se-á em especial nos mercadosrecentemente liberalizados ou em vias deliberalização, tais como a energia, os transportesaéreos, as telecomunicações e o sector postal, deforma a garantir que os anteriores monopólios não

113(1) COM(2000) 582, JO C 365 E de 19.12.2000.

(2) JO C 372 de 9.12.1997.(3) Regulamentos de isenção por categoria 2790/1999, 2658/2000 e

2659/2000.

Page 114: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

abusem da sua posição tradicional ou realizemuma colusão a fim de manter ou reforçar essaposição.

Cartéis

491. A fim de aumentar a eficiência na detecçãoe tratamento de casos de cartéis, a Comissãoadoptou em 1996 um regime de redução de coimas(«Comunicação sobre a não aplicação ou a reduçãode coimas nos processos relativos a acordos,decisões e práticas concertadas») (1). A experiênciademonstra que esta prática conduziu a um aumentosubstancial do número de cartéis descobertos esancionados. O regime de redução de coimas seráainda mais desenvolvido a fim de aumentar a suaeficiência e, se necessário, a comunicação de 1996será actualizada e revista durante 2001.

492. O acesso ao processo constitui uma dasprincipais garantias processuais destinadas aproteger o direito da defesa. A fim de tomar emconsideração a experiência adquirida até agora noâmbito da comunicação da Comissão relativa àsregras de procedimento interno para o tratamentodos pedidos de consulta do processo (2) — bemcomo a adaptação desta comunicação à recentejurisprudência do TPI — será realizada em 2001uma revisão da comunicação.

Liberalização

493. A liberalização constitui um objectivoessencial da política comunitária em matéria de concorrência. Deve ser considerada como um conceito abrangente, isto é, a criação e asalvaguarda de um acesso ao mercado equitativoe sem restrições em sectores fortementeregulamentados ou em sectores a que sãoconcedidos direitos especiais ou exclusivos. Em geral, a aplicação das regras em matéria de concorrência deve apoiar os esforçosespecíficos de liberalização em benefício dosconsumidores.

494. No sector das telecomunicações, todos osmercados nacionais foram agora liberalizados.Contudo, o ritmo de concorrência efectiva divergeainda acentuadamente entre Estados-Membros emercados. Três questões principais determinarãoa evolução do sector.

— Os operadores históricos estão ainda numaposição de «monopólio de facto» no mercadolocal com uma quota de mercado de cerca de100% em quase todos os Estados-Membros.Por conseguinte, a Comissão garantirá aabertura do acesso local, garantindo o acessoa terceiros e evitando manobras dilatórias porparte das empresas existentes e situações depreços falseados.

— A concorrência no mercado da telefonia móvellimita-se principalmente ao mercado retalhistanacional ainda que recentemente novosoperadores pan-europeus tenham começadoa funcionar. Continuam a existir problemasquanto ao acesso às redes e ao ponto final daschamadas em redes móveis bem como osencargos de mobilidade. A Comissão podepor conseguinte dar início a procedimentoscontra empresas individuais.

— A divulgação da Internet na União deve serpromovida, o que implicará que os preços daslinhas alugadas sejam substancialmentereduzidos em toda a Europa e que a Internetse mantenha um meio de comunicação aberto.

495. No sector postal, a Comissão recebeu váriasdenúncias de que os operadores existentes nomercado, que beneficiam de uma área reservada,oferecem serviços em mercados abertos àconcorrência sem cobrirem os custos adicionaisassociados ao fornecimento desses serviços. Asempresas privadas estão preocupadas com o factode as empresas no mercado entrarem emconcorrência com elas sem imputar os custos dealuguer de uma forma apropriada aos mercadoscompetitivos (práticas de subvenções cruzadas). AComissão procurará resolver estas questões,nomeadamente através da definição do nível doscustos que uma empresa no mercado deve cobrirquando entra em mercados competitivos («preçomínimo»). Se este nível de custos não for cobertopelas receitas da empresa no mercado competitivo,a Comissão deve aplicar soluções adequadas. Nestecontexto, poderá tornar-se necessário em certoscasos um exame dos preços aplicáveis na áreareservada.

496. No sector dos transportes aéreos, a Comissãoadoptará uma posição definitiva sobre importantesalianças intracomunitárias e transatlânticas. AComissão procederá igualmente a uma consultaampla e aberta sobre os eventuais efeitosanticoncorrenciais das consultas tarifárias para otransporte de passageiros no quadro da IATA.114 (1) JO C 207 de 18.7.1996.

(2) JO C 23 de 23.1.1997.

Page 115: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

V — PERSPECTIVAS PARA 2001

Estas disposições sectoriais são abrangidas peloRegulamento de isenção por categoria n.o 1617/93da Comissão, que termina em 30 de Junho de 2001.

497. Para além de uma maior liberalizaçãonecessária nas áreas tradicionalmente reservadase supramencionadas, um objectivo associadoconsiste em garantir que a criação de um mercadoúnico em certos sectores emergentes, que eramtradicionalmente abertos à concorrência, não sejaprejudicado por práticas anticoncorrenciais. Podecitar-se o caso da gestão dos resíduos,nomeadamente a reciclagem de materiais deacondicionamento. A aplicação das regras deconcorrência a estes novos mercados tem porobjectivo garantir que estes sejam abertos e que aconcorrência se realize num enquadramento quemantém elevados níveis de protecção ambiental.

3. Operações de concentração

498. No domínio do controlo das operações deconcentração, a prioridade da Comissão para 2001será a prossecução do exercício de revisão doRegulamento das Concentrações na sequência dorelatório apresentado pela Comissão ao Conselhoem Junho de 2000. Os resultados do inquéritoaprofundado centrado em limiares e remessas quefoi lançado após esse relatório, será analisadojuntamente com outras questões associadas à suaeventual revisão, durante o ano de 2001. Oobjectivo consiste em elaborar, durante este ano,um documento de consulta formal que apresenteas conclusões e as recomendações de alteração daComissão.

499. Também este ano, a Comissão prevê finalizaros seus trabalhos sobre a revisão da actualcomunicação relativa às restrições acessórias (JO C 203 de 14.8.1990), tendo em vista reforçara clareza e transparência do seu significado eâmbito. A Comissão continuará também aelaboração de uma nova comunicação destinada adar orientações sobre o conceito e o tratamentodas posições dominantes colectivas no âmbito doRegulamento das Concentrações. Quanto àsdiscussões com os EUA, estas prosseguirão combase em dois projectos de cooperação, um relativoàs soluções, o outro abordando as posiçõesdominantes colectivas, embora sejam exploradasoutras áreas de cooperação no contexto da iniciativaglobal no domínio da concorrência.

500. A Comissão tenciona igualmente debruçar--se sobre os seus métodos internos de trabalho. As

medidas previstas neste domínio incluemorientações internas a fim de garantir a eficiênciados compromissos, bem como um textonormalizado para o mandato dos administradorese um sistema de controlo electrónico documprimento pelas partes dos seus compromissos.Para além disso, a Comissão compromete-se amelhorar os seus métodos de investigação a níveldas concentrações elaborando orientações internassobre os pedidos de informações e cartasnormalizadas nos termos do artigo 11.º doRegulamento das Concentrações.

4. Auxílios estatais

501. Os auxílios estatais continuam a diminuirem percentagem do PIB, mas os auxílios a favorde sectores específicos e empresas individuaiscontinuam a ser demasiado elevados. Continuarãoos esforços para garantir uma redução dasdistorções da concorrência na UE causadas porauxílios nacionais, incluindo a prossecução de umapolítica rigorosa de reembolso dos auxílios ilegaise incompatíveis e de um controlo mais eficaz dorespeito das condições e obrigações impostas pelaComissão nas suas decisões relativas a auxíliosestatais. A Comissão empenhar-se-á em especialna melhoria da transparência através doestabelecimento progressivo de um registo e deum painel de avaliação dos auxílios estataisacessível ao público. Esta maior transparênciadeverá dar origem a uma pressão entre Estados--Membros no sentido de reduzirem o volume dosauxílios estatais.

502. No que diz respeito às questões horizontais,a Comissão continuará a desenvolver os seusesforços para reformar o enquadramento legislativoa fim de modernizar os seus procedimentos epermitir orientar os seus recursos para questõesmais importantes. Tal implica, nomeadamente, arevisão de vários enquadramentos e orientações,cuja validade termina em 2001 ou que necessitamde ser actualizados, em especial o enquadramentocomunitário dos auxílios estatais à investigação edesenvolvimento, o enquadramento multissectorialdos auxílios com finalidade regional para grandesprojectos de investimento e as orientações relativasaos auxílios ao emprego. Na sequência do pedidodos Estados-Membros efectuado no Conselho«Ecofin» informal de Versalhes de Setembro de2000, a Comissão prevê também clarificar aaplicação das regras em matéria de auxílios estatais 115

Page 116: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

a medidas relativas ao financiamento de capitaisde risco.

5. Actividades internacionais

503. No domínio internacional, a Comissãoprosseguirá a aplicação da sua política de reforçoda cooperação bilateral com os seus homólogosestrangeiros, e simultaneamente explorando aspossibilidades de desenvolvimento da cooperaçãomultilateral. No que diz respeito ao primeiroaspecto, a Comissão empenhar-se-á em garantirque seja assinado durante 2001 um acordo decooperação entre a UE e o Japão, que preveja umacooperação entre a Comissão e a «Japanese FairTrade Commission», e explorará também apossibilidade de negociar e concluir novos acordosde cooperação com países terceiros. No que serefere às iniciativas multilaterais, a Comissãocontinuará os seus esforços a favor da criação deum enquadramento jurídico em matéria de

concorrência no âmbito da OMC, em primeirolugar garantindo que a questão constará da ordemde trabalhos para o próximo ciclo de negociaçõescomerciais. Entretanto, será dada uma prioridadeespecial à criação de um fórum internacional daconcorrência, tal como proposto pelo comissárioMonti em 2000.

504. Com a adopção do documento de estratégiapara o alargamento e os denominados «mapas deestradas» pelo Conselho Europeu de Nice, oalargamento da União Europeia entra numa fasecrucial. A principal prioridade da Comissão para2001 consistirá em avaliar a aplicação da políticade concorrência pelos países candidatos,examinando um certo número de casos«experimentais», quer em termos de políticaantitrust quer em matéria de auxílios estatais, afim de verificar se será possível encerrarprovisoriamente o capítulo da concorrência nasnegociações com os países candidatos até ao finalde 2001.

116

Page 117: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

1. Artigos 81.º, 82.º e 86.º

Processo Publicação Ponto

Aeroportos de Paris JO L 230 de 18.8.1998 188

B&W Loudspeaker Ltd IP/00/1418 de 6.12.2000 215

Callahan Invest LimitedRenânia do Norte Vestefália IP/00/637 de 20.6.2000 164

Callahan Invest Limited Bade Vurtenberga IP/00/905 de 2.8.2000 164

Cartel Soda Ash IP/00/1449 de 13.12.2000 88

CECED JO L 187 de 26.7.2000 96

Código de Conduta do IMA JO L 106 de 23.4.1999 224

Deutsche Post AG — Intercepção do correio transfronteiras IP/00/562 de 31.5.2000 174

FEFC JO L 268 de 20.10.2000 74

Fettcsa JO L 268 de 20.10.2000 74

Groupement des Cartes Bancaires 205

JCB Service IP/00/1526 de 21.12.2000 94

Kirch/BSkyB JO C 110 de 15.4.2000 217

Lisina IP/00/589 de 7.6.2000 78

Lufthansa e SAS IP/00/1159 de 13.10.2000 181

Microsoft/Telewest JO C 94 de 1.4.2000 217

Novos serviços postais em Itália IP/00/1522 de 21.12.2000 177

Opel IP/00/1028 de 20.9.2000 106

Processos apensos UPS/Deutsche Post AG e DVPT/Deutsche Post AG IP/00/919 de 8.8.2000 175

Qualiflyer 180

SABRE IP/00/835 de 25.7.2000 191 e 453

Solvay e ICI JO L 187 de 26.7.2000 101

Taxas de aterragem IP/00/874 de 27.7.2000 185

Telefonica/Sogecable/Audiovisual Sport IP/00/1352 de 23.11.2000 220

Unisource JO L 052 de 22.2.2001 161

Vodafone, Vivendi e Canal+ IP/00/821 de 24.7.2000 167

2. Controlo das concentrações

Processo Publicação Ponto

Air Liquide/BOC IP/00/46 de 18.1.2000 266

Alcoa/Reynolds IP/00/424 de 4.5.2000 265, 451 e 458

America Online Inc (AOL)/Time Warner IP/00/1145 de 11.10.2000 251 e 451

Astra Zeneca e Novartis IP/00/844 de 26.7.2000 247 e 451

Boeing/Hughes IP/00/1067 de 27.9.2000 451

Bosch/Rexroth IP/00/1457, 13.12.2000 274

BSCH/A. Champalimaud IP/99/533 de 20.7.1999IP/99/610 de 3.8.1999IP/99/669 de 9.9.1999IP/99/749 de 13.10.1999IP/99/773 de 20.10.1999IP/99/774 de 20.10.1999IP/99/818 de 3.11.1999IP/00/21 de 12.1.2000IP/00/296 de 27.3.2000 288

Framatome SA/Siemens/Cogema/JV IP/00/1414 de 6.12.2000 246

Generali/INA IP/00/29 de 13.1.2000 278

MCI WorldCom/Sprint IP/00/668 de 28.6.2000 Caixa 6 e 451 117

ANEXO — PROCESSOS ANALISADOS NO RELATÓRIO

Page 118: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

Mitsubishi Heavy Industries JO L 4/2001 de 9.1.2001 287

Outokumpu/Avesta Sheffield IP/00/613 de 13.6.2000 262

Rexam/American National Can IP/00/814 de 20.7.2000 265

Secil — Companhia Geral de Cal e Cimentos SA e Holderbank/Cimpor IP/00/1338 de 22.11.2000 288

TotalFina IP/00/135 de 9.2.2000 257

VEBA/VIAG IP/00/613 de 13.6.2000 261

Vivendi/Canal+/Seagram IP/00/1162 de 16.10.2000 254

Vodafone Airtouch/Mannesmann IP/00/373 de 12.4.2000 276

Vodafone/Mannesman IP/00/373 de 12.4.2000 250

Volvo/Renault VI IP/00/962 de 4.9.2000 278

Volvo/Scania IP/00/257 de 14.3.2000 245

3. Auxílios estatais

Processo Publicação Ponto

Aero Transport Internacional SA 379

Ajuda ao desenvolvimento a favor da Indonésia JO C 101 de 8.4.2000 356

ASETRA JO C 184 de 1.7.2000 385

Auxílio neerlandês à NS Cargo JO L 38 de 8.2.2001 388

Babcock Wilcox SA JO C 232 de 12.8.2000 342

Bancos italianos e fundações bancárias JO C 44 de 10.2.2001 414

Bau Union Ost Group JO C 121 de 29.4.2000 343

CDA Compact Disc Albrechts GmbH (CDA) JO L 318 de 22.11.2000 421

Cockerill Sambre SA JO C 71 de 13.3.2001 358

Compañía Trasmediterránea IP/00/808 de 19.7.2000 396

Compromissos de desenvolvimento da formação em França JO C 284 de 7.10.2000 334

Concessões das auto-estradas francesas JO C 354 de 9.12.2000 386

Crédit Mutuel JO C 146 de 12.5.1998 413

Créditos fiscais no Reino Unido JO C 162 de 10.6.2000 327

Delon Filament GmbH JO C 134 de 13.5.2000 371

Deutsche Bahn JO C 52 de 17.2.2001 391

Électricité de France IP/00/370 de 11.4.2000 306

Erika JO C 380 de 30.12.2000 416

Exporplás 372

Ferries Golfo de Vizcaya 400

Fiat Rivalta JO L 117 de 18.5.2000 365

Fondo Speciale Rotativo per la Ricerca Technologica IP/00/1517 de 21.12.2000 330

Ganzliner Beschichtungspulver GmbH 313

Georgsmarienhütte (GMH) und Gröditzer JO C 310 de 28.10.2000 309

Graf von Henneberg Porzellan GmbH JO C 272 de 23.9.2000 341

Hirschfelder Leinen und Textil GmbH JO C 272 de 23.9.2000 343

Holzmann JO C 110 de 14.11.2000 343

Ilha de Córsega 378

Kahla Porzellan GmbH, na Alemanha IP/00/1305 de 15.11.2000 311 e 341

Kali und Salz GmbH JO L 44 de 15.2.2001 318

Kvaerner Warnow Werft GmbH (KWW) JO C 134 de 13.5.2000, JO L 120 de 20.5.2000, JO L 156 de 29.6.2000 355

Landesbanken 415

Lenzing Lyozell (LLG) JO L 38 de 8.2.2001 316 118

Page 119: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

Lintra JO C 278 de 30.9.2000 342

Magefesa JO L 198 de 30.7.1999 Caixa 7

Manufacture Corrézienne de Vêtements JO L 293 de 22.11.2000 422

Nissan Motor Manufacturing Ltd JO C 354 de 9.12.2000 366

Océ IP/00/1176 de 18.100.2000 329

Olympic Airways IP/00/1113 de 4.10.2000 381

Parco Navi SpA JO C 162 de 10.6.2000 305

Pilkington Glass France SAS e Interpane Glass Coating France SAS JO C 293 de 14.10.2000 352

Plano Tecnológico Ferroviário JO C 272 de 23.9.2000 327

Porto de Roterdão JO C 354 de 9.12.2000 390

Programa alemão de investigação relativamente à mobilidade e tráfego terrestre JO C 232 de 12.8.2000 327

Programa ITEA JO C 284 de 7.10.2000 327

Província italiana de Bozen 390

Reforma dos impostos ecológicos na Alemanha JO C 322 de 11.11.2000 338

Região italiana de Piemonte 390

Regime de auxílios dinamarquês relativo à formação dos marítimos JO C 380 de 30.12.2000 399

Regime de auxílios finlandês para a formação dos marítimos JO C 258 de 9.9.2000 393

Regime de auxílios sueco para a formação de marítimos JO C 258 de 9.9.2000 393

Regime de auxílios sueco que prevê a melhoria do ambiente no interior dos edifícios JO L 295 de 23.11.2000 336 e 411

Regime de desenvolvimento de infra-estruturas empresariais no Reino Unido 317

Regime dinamarquês que prevê uma taxa de base mais baixa para o imposto sobre o rendimento JO C 284 de 7.10.2000 321

Regime neerlandês de auxílios à construção de terminais terrestres JO C 315 de 4.11.2000 389

Regime português de auxílios fiscais na Madeira JO C 266 de 16.9.2000 322

Regime relativo à introdução de autorizações negociáveis de emissões de CO2 proposto pela Dinamarca JO C 322 de 11.11.2000 337

Regime relativo a um imposto sobre a arqueação no Reino Unido JO C 258 de 9.9.2000 394

Regime sueco destinado a reduzir a base do imposto sobre o rendimento para peritos recrutados no estrangeiro JO C 284 de 7.10.2000 321

Regime sueco relativo às prestações para a Segurança Social IP/00/1510 de 21.12.2000 348

Siciliana Acque Minerali Srl JO L 272 de 25.10.2000 307

SKL-Motoren and Systmetechnnik GmbH JO C 27 de 27.1.2001 343

Sociedad Estatal de Participaciones Industriales (SEPI) JO C 328 de 18.11.2000 310 e 354

Solar Tech IP/00/1304 de 15.11.2000 325 e 351

System Microelectronic Innovation GmbH (SMI) JO L 238 de 22.9.2000 421

Tasq JO L 272 de 25.10.2000 308

Transportes Aéreos Portugueses SA (TAP) 380

Tubacex JO L 52 de 22.2.2001 312

Unidades de produção eléctrica de ciclo combinado JO C 37 de 3.2.2001 339

Westdeutsche Landesbank Girozentrale (WestLB) JO C 211 de 22.7.2000 424

Wildauer Kurbelwelle JO L 287 de 14.11.2000 343

Zonenrandförderungsgesetz ZonRFG JO L 323 de 20.12.2000 359 119

ANEXO — PROCESSOS ANALISADOS NO RELATÓRIO

Page 120: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços
Page 121: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços
Page 122: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços
Page 123: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços

Comissão Europeia

Política de Concorrência da Comunidade Europeia — 2000

Luxemburgo: Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias

2001 — 119 p. — 21 x 29,7 cm

ISBN 92-894-0830-8

Page 124: Politica de Concorrência de Comunidade Europeia · 2019. 8. 16. · ouvir as observações e preocupações dos consumidores relativamente a mercados específicos de bens e serviços