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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 860 POLÍTICAS URBANAS NA RMM E SEUS REFLEXOS AO COMÉRCIO DE PRODUTOS E SERVIÇOS DE MANACAPURU-AM 1 MOISÉS BARBOSA DA SILVA 2 RESUMO: No presente trabalho é descrito as contribuições das intervenções públicas e privadas ocorridas na Região Metropolitana de Manaus (RMM) aos estabelecimentos de comércio a varejo de combustíveis do Município de Manacapuru. A criação da RMM aconteceu no ano de 2007, desde então o setor público e privado realizaram diversas intervenções urbanas na região, a de maior expressividade foi a Ponte Rio Negro. A conexão da metrópole com os demais municípios estimula o surgimento de novos estabelecimentos que por consequência oferecem variedades de produtos e de prestação de serviços para quem o utiliza. Palavras-chave: RMM; Intervenções urbanas; Postos de gasolina Abstract: In this paper we described the contributions of public and private interventions occurred in the Metropolitan Region of Manaus (RMM) the retail trade establishments in the city of Manacapuru fuels. The creation of RMM happened in 2007, since then the public and private sector held several urban interventions in the region, the highest expression was the Rio Negro Bridge. The metropolis of connection with other municipalities stimulates the emergence of new establishments therefore offer varieties of products and the provision of services to those using it. Key-words: RMM; Urban interventions; Gas stations 1 Introdução Recentemente o município de Manacapuru passou por transformações sociais, espaciais e econômicas em decorrência de políticas urbanas ocorridas na Região Metropolitana de Manaus (RMM), como a construção da Ponte Rio Negro. A Ponte Rio Negro constitui-se uma ação pública em parceria com setor privado que causou significativas modificações à dinâmica dos setores da economia, sobretudo pelo fato do surgimento de estabelecimentos de comércio e serviços. De tantas atividades presentes nos municípios (Iranduba, Manacapuru e Novo Airão) que foram conectados pela ponte, os que apresentaram significativas modificações e permanências na oferta de serviços e comércio de produtos foram os postos de gasolina. O intenso uso da ponte modificou a dinâmica urbano-regional dos municípios, devido a maior parte do transporte de cargas e passageiros que antes 1 Artigo financiado pelo Programa de Apoio a Núcleos de Excelência PRONEX/ Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas - FAPEAM/ Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq; 2 Mestrando no Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Amazonas PPGGEO/UFAM.

POLÍTICAS URBANAS NA RMM E SEUS REFLEXOS AO … · Manaus, sede da Província do Amazonas. O desmembramento da área que ... 1895. A criação da comarca de Manacapuru aconteceu

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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

860

POLÍTICAS URBANAS NA RMM E SEUS REFLEXOS AO COMÉRCIO DE PRODUTOS E SERVIÇOS DE MANACAPURU-AM1

MOISÉS BARBOSA DA SILVA2

RESUMO: No presente trabalho é descrito as contribuições das intervenções públicas e privadas

ocorridas na Região Metropolitana de Manaus (RMM) aos estabelecimentos de comércio a varejo de combustíveis do Município de Manacapuru. A criação da RMM aconteceu no ano de 2007, desde então o setor público e privado realizaram diversas intervenções urbanas na região, a de maior expressividade foi a Ponte Rio Negro. A conexão da metrópole com os demais municípios estimula o surgimento de novos estabelecimentos que por consequência oferecem variedades de produtos e de prestação de serviços para quem o utiliza. Palavras-chave: RMM; Intervenções urbanas; Postos de gasolina Abstract: In this paper we described the contributions of public and private interventions occurred in

the Metropolitan Region of Manaus (RMM) the retail trade establishments in the city of Manacapuru fuels. The creation of RMM happened in 2007, since then the public and private sector held several urban interventions in the region, the highest expression was the Rio Negro Bridge. The metropolis of connection with other municipalities stimulates the emergence of new establishments therefore offer varieties of products and the provision of services to those using it.

Key-words: RMM; Urban interventions; Gas stations

1 – Introdução

Recentemente o município de Manacapuru passou por transformações

sociais, espaciais e econômicas em decorrência de políticas urbanas ocorridas na

Região Metropolitana de Manaus (RMM), como a construção da Ponte Rio Negro.

A Ponte Rio Negro constitui-se uma ação pública em parceria com setor

privado que causou significativas modificações à dinâmica dos setores da economia,

sobretudo pelo fato do surgimento de estabelecimentos de comércio e serviços. De

tantas atividades presentes nos municípios (Iranduba, Manacapuru e Novo Airão)

que foram conectados pela ponte, os que apresentaram significativas modificações e

permanências na oferta de serviços e comércio de produtos foram os postos de

gasolina. O intenso uso da ponte modificou a dinâmica urbano-regional dos

municípios, devido a maior parte do transporte de cargas e passageiros que antes

1 Artigo financiado pelo Programa de Apoio a Núcleos de Excelência – PRONEX/ Fundação de

Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas - FAPEAM/ Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq; 2 Mestrando no Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Amazonas –

PPGGEO/UFAM.

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era realizada por modal hidroviário passar a ser transportada por meio rodoviário,

causando consequências diversas aos estabelecimentos.

Num primeiro olhar, de todos os municípios interligados pela ponte,

Manacapuru é o que mais apresentou alterações no seu espaço urbano-regional.

Estudos anteriores feitos por Sousa (2013) e Lima (2014) mostram que as

infraestruturas construídas na região provocaram mudanças na dinâmica do mesmo,

em especial nas atividades econômicas.

Devido as suas peculiaridades - realização de diversas festas ao longo ano,

possuir ligações fluviais com demais municípios vizinhos (motivo que leva as

pessoas ir para Manacapuru via a rodovia Manoel Urbano para encurtar viagem aos

demais municípios: Caapiranga; Anamã; Beruri), exercer importante função urbana

na Região Metropolitana – as políticas públicas, resultante de ações públicas e

privadas, tornam-se mais intensas e ganham importância e com isso modifica as

relações socioeconômicas dos espaços de consumo, as quais tornam-se cada vez

mais mediadas pelo modo de produção capitalista.

2 - Desenvolvimento

2.1 A produção do espaço urbano de Manacapuru

O espaço geográfico é o lugar resultante de ações sociais ocorridas em

diferentes tempos. É “um espaço mutável e diferenciado cuja aparência visível é a

paisagem, [...] subdividido, mas sempre em função do ponto de vista segundo o qual

o consideramos, [...] fracionado, cujos elementos se apresentam desigualmente

solidários uns aos outros” (DOLLFUS, 1972 p. 08). De modo geral, a produção do

espaço é um fato histórico, entretanto a intensidade dos eventos é recente. Foi com

o advento da industrialização que o espaço tornou-se mais dinâmico, pois este induz

a modernidade da cidade para outros lugares por meio de subsistemas

modificadores de hábitos cotidianos.

Derivado de fatores diversos, o espaço geográfico é formado de

particularidades sociais do passado em adaptação com as do presente. Possui uma

diversidade de contrastes resultante da industrialização que “caracteriza a sociedade

moderna” (LEFEBVRE, 2001 p. 11). Esta planificação do modo de viver urbano pela

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superfície terrestre insere no espaço sistemas de objetos e sistemas de valores,

modificadores da realidade social e espacial.

Este processo de urbanização é bem mais visível no espaço urbano, o qual

é o lugar onde as transformações sócioespaciais têm maior expressividade. De

acordo com Dollfus (1972 p. 78) “o espaço urbano é a superfície ocupada pelas

cidades ou pelo menos a superfície necessária ao funcionamento interno da

aglomeração”. É “produto da materialização de relações sociais que se realizam –

em um determinado momento - enquanto emprego de tempo” (CARLOS, 2007 p.

55). O espaço urbano é fragmentado (áreas residências, indústrias, comércio,

serviços), entretanto existem articulações e dependências das partes através dos

fluxos de pessoas, produtos e informações derivados do desenvolvimento histórico-

geográfico de cada lugar.

O desenvolvimento dos lugares, como no município de Manacapuru, é o

reflexo dos interesses sociais e de seu desenvolvimento histórico-geográfico. As

primeiras ocupações humanas do município foram realizadas por índios Dessana e

Mura, e a povoação começou a beira do lago Manacapuru, o qual deu nome ao

Município, e se estendeu até a margem esquerda do Rio Solimões onde atualmente

está localizada a sede municipal. A criação administrativa da povoação ocorreu a

partir da aprovação da Lei n.° 148 de 12 de agosto de 1865 que instituiu a Freguesia

de Nossa Senhora de Nazaré de Manacapuru a qual pertencia ao território de

Manaus, sede da Província do Amazonas. O desmembramento da área que

atualmente pertence ao município ocorreu a partir da aprovação da Lei n.° 83, de 27

de setembro de 1894, mas a sua concretização apenas começou em 16 de junho de

1895. A criação da comarca de Manacapuru aconteceu com a promulgação da Lei

n.° 354, de 10 de setembro de 1901, e o título de cidade ocorreu em 16 de julho de

1932 através do Ato estadual nº 1.639 (SEPLAN).

O município possui limites territoriais com Iranduba, Manaquiri, Beruri,

Anamã, Caapiranga e Novo Airão (Figura 1). A distância da sede municipal para a

capital do Estado corresponde a 88 km por via fluvial, para quem sai de Manaus e

navega pelo Rio Negro até o Rio Solimões. Por via terrestre o caminho a ser

percorrido é de 99 km através da AM 070, conhecida também como rodovia Manoel

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Urbano. O território do município tem uma extensão de 7.330,075 km2

e a população

total corresponde a 85.141 habitantes. Na zona urbana 60. 174 pessoas residem

em onze bairros: Centro; Aparecida; Biribiri; Liberdade; Morada do Sol; São

Francisco; São José; Terra Preta; União; Correnteza; Nova Manacá, e na área rural

24.967 pessoas estão distribuídas em 185 comunidades (IBGE, 2010).

Os últimos censos realizados pelo IBGE mostram que a predominância de

população urbana de Manacapuru é recente. A transição ocorreu no decênio em que

começaram as explorações comerciais de petróleo no município de Coari. Até 1980

a população predominante era rural, após esse período verificou-se uma inversão

demográfica (Gráfico 1). Segundo Silva e Sousa (2011, p. 143) parte desta

modificação é resultante do transporte do petróleo de Coari para Manaus que até

então era realizado por meio de balsas, o qual colaborou para o crescimento da

arrecadação de receitas, como: Royalties de Petróleo, e Imposto sobre Circulação

de Mercadorias e Serviços (ICMS).

Figura 1: Região Metropolitana de Manaus e em destaque os município de Manaus, Iranduba, Manacapuru e Novo Airão

Fonte: SIPAM, 2014.

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O censo de 1991 mostrou que a população do município passou a estar

concentrado na área urbana e a partir dos anos 2000 o evento se intensificou em

decorrência da implantação do gasoduto Coari-Manaus (iniciado em 2006 e que

começou em Coari e atravessou o território de Codajás, Anori, Anamã, Caapiranga,

Manacapuru, Iranduba e Manaus e foi concluído no ano de 2009) e da criação da

Região Metropolitana de Manaus (RMM) em 2007. Estes eventos contribuíram para

contínuas mudanças na dinâmica demográfica do município que de acordo com o

censo de 2010, o percentual de população urbana correspondeu a 71% contra 29%

de populações rurais.

Gráfico 1: Transição demográfica do município de Manacapuru

Fonte: IBGE. Acesso em 10 de janeiro de 2015. Organização: Moisés Silva, 2015.

Com a criação da RMM ocorreu vários eventos que modificaram a dinâmica

socioespacial de Manacapuru (Figura 1). As intervenções urbanas que mais se

destacam é a inauguração da Ponte Rio Negro e a duplicação dos primeiros onze

quilômetros (11 km) da rodovia Manoel Urbano as quais são resultantes de ações

públicas e privadas. Nos dois primeiros municípios a proximidade com a metrópole e

mais as suas funções urbanas foram fatores que veio a cooperar para a circulação

de capital e de pessoas aos municípios. Estas intervenções são estímulos a

reprodução do subsistema do automóvel que por consequência causou

18.230 36.019

47.662 60.174

42.788 21.154

26.033

24.297

1980 1991 2000 2010

CENSO DEMOGRÁFICO

Pop. Urbana Pop. Rural

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transformações diversas nos espaços de consumo dos municípios, mais

especificamente de comércio a varejo de combustíveis do município de Manacapuru,

como é descrito ao longo deste trabalho.

2.2 Ponte Rio Negro e os reflexos ao comércio de produtos e serviços nos

postos de gasolina

O atual processo de produção do espaço urbano do município de

Manacapuru tem influências das construções de equipamentos urbanos os quais

são atrativos a concentração/circulação de pessoas e capital. Nos últimos anos uma

série de ações públicas e privadas tem estimulado intensas transformações

espaciais na RMM. Estudos realizados por Sousa (2013) destacam as ações do

Poder Público e Privado como eventos que muito contribui nas transformações

urbano-regional. A criação da Região Metropolitana de Manaus (RMM) em 2007,

inauguração da Ponte Rio Negro em 2011, e o início da duplicação da rodovia

Manoel Urbano são fatores que instigam as mudanças sócioespaciais em Iranduba,

Manacapuru e Novo Airão que passaram a ser interligados por meio da ponte.

A Região Metropolitana de Manaus foi um ato político-admistrativo criado em

30 de maio de 2007. A RMM é composta pelos municípios de Manaus, Careiro da

Várzea, Iranduba, Itacoatiara, Manacapuru, Novo Airão, Presidente Figueiredo e Rio

Preto da Eva (Figura 1). Embora não exista conurbação de áreas urbanas dos

municípios, o poder público em parceria com setor privado realiza constantes

intervenções para a concretização da mesma (SOUSA, 2013 p. 66).

A intervenção espacial concebida para concretizar a RMM consistiu na

construção da Ponte Rio Negro (Figura 2). A inauguração da ponte Rio Negro

ocorreu no dia 24 de outubro de 2011, e resultou em mudanças na dinâmica urbano-

regional destes municípios devido às alterações no uso de modais de transporte de

cargas e passageiros. O que antes era realizado por modal hidroviário passou a ser

transportado por meio rodoviário e a influenciar no surgimento de novas atividades

econômicas ao longo da rodovia. Este objeto geográfico transformou o cotidiano das

cidades, e ao mesmo tempo assegurou a reprodução dos interesses públicos e

privados em Iranduba e Manacapuru.

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Figura 2: Ponte Rio Negro sentido Manaus – Iranduba

Foto: Moisés Silva, 2014.

O uso da ponte modificou o cotidiano nas atividades socioeconômicas que

de um dia para outro viram as consequências já esperadas da instalação da mesma.

Os modais de transportes utilizados na travessia do rio negro, anteriormente a

existência da ponte, foram os primeiros a passar por modificações. A última balsa a

realizar travessia de pessoas, automóveis e produtos no trecho Manaus-Iranduba-

Manaus ocorreu no dia 23 de outubro de 2011, dali em diante a maioria destes

meios de travessia foram substituídos pelos automóveis. Toda a rede de serviços

que se beneficiava da atividade foi alterada, dentre eles as existente no Porto de

São Raimundo, nome do bairro de onde saiam às balsas de Manaus, e Porto do

distrito de Cacau-Pirêra localizado em Iranduba. Algumas atividades comerciais

existentes nos dois portos se adaptaram com o menor fluxo de pessoas, porém

outros se deslocaram para a margem da rodovia Manoel Urbano (feiras e

estabelecimento de café regional).

As mudanças espaciais ocorridas na RMM são descrita por Sousa (2013 p.

89) como eventos transformadores da dinâmica socioeconômicas dos portos de São

Raimundo e Cacau-Pirêra;

O peso da dinâmica econômica e financeira produzida e reproduzida em função da travessia, que partia do Porto de São Raimundo, ficou mais evidente depois de sua cessão, tanto para o comércio nas

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imediações desse bairro de Manaus quanto para o distrito de Cacau-Pirêra. As filas dos carros e a grande movimentação de pessoas à espera para seguir viagem estimulavam o comércio ambulante e a venda de lanches, especialmente nos fins de semana, quando o número de veículos e passageiros aumentava consideravelmente (SOUSA, 2013 p. 89).

A facilidade da travessia do rio Negro intensificou as viagens de carros que

acarretou em mudanças econômicas diversas nos postos de combustíveis, pois este

ir e vir fez com que estes espaços ganhassem mais importância à economia do

município e a receber incentivos por parte do Poder Público. As especificidades de

Manacapuru também tem grande influência na atual quantidade de

estabelecimentos de comércio a varejo de combustíveis. Ao longo dos anos o

Estado desenvolve investimentos nestas atividades com o intuito de gerar valores

aos mesmos, uma vez que são concedidas licenças de permissão de funcionamento

pelo Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas – IPAAM, e também

as lojas que funcionam nas suas dependências.

Estas ações são interpretadas não somente como contribuintes ao

crescimento econômico, mas também como de produção do espaço urbano-

regional. Sousa (2013 p. 24) afirma que as ações públicas e privadas são forças que

se coadunam para transformações sócioespaciais, embora seus interesses sejam

divergentes, na maioria das vezes são convergentes, visto que estes eventos

resultam na valorização dos lugares, um fator que beneficia o Estado, o capital e

demais agentes sociais. As atuações públicas/privadas são consideradas ações

fundamentais ao desenvolvimento das atividades econômicas a partir das

especificidades do espaço urbano de Manacapuru.

Por meio do uso do automóvel utiliza-se com maior intensidade os espaços

de consumo via festas populares, festas religiosas, trabalho, lazer, dentre outros

motivos. O consumo de produtos e utilização de serviços foi facilitado em

decorrência do subsistema do automóvel que “minimiza pressões da cotidianidade,

leva ao extremo o privilégio social concedido ao intermediário ao meio, e ao mesmo

tempo condensa esforços para sair do cotidiano” (LEFEBVRE 1991, p. 113). É um

objeto indispensável a realidade vivida, um prolongamento do corpo do homem, uma

prótese a mais (SANTOS, 2006, p. 42).

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A vocação para realização de diversas festas foi uma das especificidades do

município que foi beneficiado por meio das intervenções urbanas e é um dos álibis

utilizados para produção e circulação de capital nos espaços de consumo. A

circulação de capital é necessária para manutenção dos interesses econômicos e de

produção do espaço urbano-regional, e essa mobilidade de capital estimula

surgimentos de atividades complementares nos postos de combustíveis (Figura 3).

Os postos de combustíveis tem demonstrado uma dinâmica resultante das

intervenções espaciais ocorridos na região. O crescente número de postos de

combustíveis em Manacapuru (mostrado no quadro 1 com os dados disponibilizados

pela Agência Nacional de Petróleo – ANP) é o demonstrativo de que a facilidade do

ir e vir rodoviário estimulou o setor de comércio de combustíveis para veículos.

As políticas urbanas são responsáveis por transformações múltiplas na

economia e no espaço. O número crescente da frota de veículos em Manacapuru

(gráfico 2) são fatos que comprovam a influência das intervenções espaciais na

dinâmica do postos de combustíveis. De acordo com os dados do Departamento

Nacional de Trânsito (DENATRAN) nos anos de 2010 a 2013 ocorreu um

crescimento da quantidade de motocicletas, motonetas e carros. É através destes

Figura 3: Posto de combustível

O estabelecimento possui uma variedade de serviços e produtos

oferecidos/comercializados na loja de conveniência, troca de óleo e

drogaria. Foto: Moisés Silva, 2014.

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que as distâncias são percorridas em tempos menores via viagens municipal e

intermunicipal.

Decorrentes dos eventos públicos e privados cresce o número de

estabelecimentos que comercializam combustíveis derivados do petróleo (Quadro 1)

e no mesmo local a diversidade lojas que oferecem serviços complementares para

quem está em trânsito: troca de óleo, lojas de conveniência, caixas eletrônicos,

drogarias, casas lotéricas (Figura 3).

A dinâmica destes lugares são resultantes de políticas urbanas que

estimulam novos hábitos de consumo no cotidiano dos municípios da RMM, como

em Manacapuru, pois é por meio destes que os estabelecimentos se transformam

em lugar de consumo e consumo do lugar, visto que ao mesmo tempo em que

mercadorias são consumidas os lugares também o são em decorrência das políticas

públicas realizadas na RMM.

Gráfico 2: Quantidade de automóveis nos anos de 2010 a 2013

Fonte: DENATRAN. Acesso em 25 de janeiro de 2015. Organização: Moisés Silva, 2015.

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CONCLUSÃO

Desde o início da exploração comercial de petróleo no município de Coari, o

município de Manacapuru passou por transformações diversas. A criação da RMM e

a inauguração da Ponte Rio Negro foram elementos que cooperaram para que as

mudanças se tornasse mais acentuadas, causando modificações no consumo de

produtos e prestação de serviços nos postos de gasolina.

A atual dinâmica destes espaços de consumo é decorrente das intervenções

urbanas, resultantes de investimentos públicos e privados, e de incentivos às

peculiaridades do município, visto que tornam-se álibis ao uso dos

estabelecimentos. Na ausência de grande número da indústria estes lugares

funcionam como locais que mantém os interesses públicos através da arrecadação

de receitas, e também de interesses privados.

Os postos de gasolina são lugares onde os modos de vida urbanos estão

evidentes e em constantes transformações, visto que as adequações acontecem

para satisfazer as necessidades diversas das pessoas que lhes frequentam de

forma passageira. O fato de acontecer à comercialização de serviços e produtos e o

uso do espaço para fins diversos, caracteriza estes estabelecimentos como espaços

de consumo, onde os modos urbanos se fazem presentes nas mais variadas formas

os quais contribuem produção e circulação de capital.

Quadro 1: Quantidade de postos de gasolina no município

Período de concessões CVCE* (Pontão) CVCV** (Posto de gasolina)

2001 a 2006 02 05

2009 a 2014 01 08

*Comércio a Varejo de Combustíveis para Embarcações. **Comércio a Varejo de Combustíveis para Veículos. Fonte: ANP - 2015. Organização: Moisés Silva, 2015.

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REFERÊNCIAS

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