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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES – SCHLA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS - DECISO MARCIA CRISTINA DOS SANTOS POLÍTICAS PÚBLICAS DE AÇÃO AFIRMATIVA: O IMPACTO DAS COTAS RACIAIS NA UFPR (2005 – 2012) Curitiba 2013

POLÍTICAS PÚBLICAS DE AÇÃO AFIRMATIVA: O IMPACTO DAS …€¦ · apresentado como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES – SCHLA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS - DECISO

MARCIA CRISTINA DOS SANTOS

POLÍTICAS PÚBLICAS DE AÇÃO AFIRMATIVA: O IMPACTO DA S COTAS

RACIAIS NA UFPR (2005 – 2012)

Curitiba

2013

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Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado como requisito parcial à

obtenção do grau de Bacharel em Ciências

Sociais pela Universidade Federal do

Paraná.

Orientador: Profº. Drº. Emerson Urizzi Cervi

MARCIA CRISTINA DOS SANTOS

POLÍTICAS PÚBLICAS DE AÇÃO AFIRMATIVA: O IMPACTO DA S COTAS

RACIAIS NA UFPR (2005 – 2012)

Curitiba

2013

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AGRADECIMENTOS

O caminho percorrido até aqui foi possibilitado por inúmeras participações

especiais, foram muitas palavras de apoio, muitos momentos de diversão, muitas

risadas, muitas festas, muitos telefonemas, e-mails, mensagens, vários ombros

emprestados e muitas lágrimas amparadas. Às atitudes singelas e às grandes

concessões tenho muito que agradecer e muitos a quem agradecer.

Aos meus pais, meus primeiros mestres, que não tiveram acesso nem a

educação básica e com toda a sua sabedoria me ensinaram a amar, respeitar e

aceitar as pessoas como elas são. Ao meu pai, Gentil de França dos Santos, que

sempre foi um exemplo de otimismo, confiança e dedicação, que me ensinou o valor

do trabalho e da perseverança. À minha mãe Maria Lucia da Glória Santos, que

sempre esteve disposta a me ouvir, aconselhar, defender e até chorar comigo,

mesmo por telefone e de madrugada.

Aos meus irmãos e irmãs: Fá, Fran, Willian e Alexandre, que de alguma

forma me motivaram a chegar até aqui, entrei na universidade com intenção de

mostrá-los que a educação seria o melhor caminho para mudar a nossa realidade. `

Aos meus sobrinhos e sobrinhas: Allan, Jean, Ellen, Heitor, Alex, Luis Otávio

e Aléxia, por existirem e por todo carinho recebido que renova as minhas energias.

Ao Wellingthon Wilhans da Silva, meu marido e companheiro de todas as

horas, por estar ao meu lado e por me apoiado durante todo o período de

elaboração deste trabalho.

Ao Afroatitude e ao NEAB por terem me inserido na discussão da temática

racial e me auxiliado na construção de uma identidade, por te me proporcionado a

oportunidade de conviver com histórias de vida semelhantes, trocar experiências e

dividir aflições. A convivência nesses grupos foi fundamental para minha formação.

Ao Professor Emerson Urizzi Cervi que aceitou me orientar e sem o qual

esse trabalho não seria finalizado.

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Ao Professor Marcos Silva da Silveira, por todo o apoio prestado enquanto

orientador de projeto de pesquisa no NEAB e por ter aceitado participar da minha

banca.

À Kaciane Daniella de Almeida, pela amizade e por estar presente em

momentos importantes da minha vida acadêmica, foi quem leu o primeiro texto

escrito por mim quando mudei para o curso de Ciências Sociais, que estava bem

ruim, lembro até hoje da cara que ela fez, e agora que aceitou participar da minha

banca. Espero ter melhorado!

Ao queridíssimo Daniel Carlos Santos da Silva, pela companhia em

momentos tão sublimes regados ao som de Cazuza, pelo carinho e amizade, apesar

de termos nos visto pouco ultimamente, e principalmente por revisar meu texto em

tempo recorde.

Aos amigos que são a minha segunda família, mesmo que eu tenha passado

um tempo distante, Giovane e Claudia, pelo carinho, apoio, pelas broncas e por

muitas vezes acreditar mais em mim do que eu mesma. Michele e Celso, compadres

queridos, especialmente à Mi, pela bela amizade que construímos nesses 10 anos,

pelas conversas mirabolantes, por me ensinar a gostar de Rock e por me dar de

presente a Bianca que é a afilhada mais linda do mundo e o Vinícius criança que eu

gosto muito.

Às amigas amadas Camila Valore Godoy, Aline Maria Dalabona e Priscila

Ogassawara, pela preocupação constante, pelo apoio, pelas pizzas, chocolates e

pelo carinho.

Aos meus corações Júlio Cezar Marques e José Roberto Souza de Oliveira

presentes que a UFPR e o Afroatitude me deram a 8 anos atrás, por terem me

acolhido e cuidado de mim sempre, mesmo com todas a zoações, pelas festas,

botecos, bebedeiras, comilanças e maluquices.

Às queridas Lívia Fernanda Morales, Flávia Bozza e Júlia Tadra Ribeiro,

Pelas conversas, pelos conselhos, pelos cafés, pela convivência dentro e fora da

academia que foi fundamental durante a minha graduação.

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Por um mundo onde sejamos socialmente iguais,

humanamente diferentes e totalmente livres.

Rosa Luxemburgo

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RESUMO

As políticas públicas de ação afirmativa são políticas compensatórias que

visam tratar os desiguais como desiguais, oferecendo grupos excluídos a

oportunidade de inclusão, como é o caso das cotas raciais que tem como objetivo

inserir grupos étnicos até então excluídos ou com pouca representatividade nas

universidades públicas federais. Quando as discussões sobre a necessidade dessas

políticas iniciaram os números mostravam que o ambiente acadêmico era um

espaço de maioria branca, sendo que estes representavam 96% dos universitários

brasileiros; apesar de, na época 45% da população do país ser negra, apenas 2%

dos universitários brasileiros eram negros. As políticas públicas de ação afirmativa

no Brasil surgiram com intuito de alterar essa realidade e inserir os negros no ensino

superior. Neste sentido, vale a pena o esforço de sistematizaça pesquisa busca

verificar o impacto destas políticas na UFPR, principalmente no sentido de constatar

se elas foram capazes de inserir negros e produzir maior diversidade racial na

instituição, através da comparação com outras seis universidades que adotaram

políticas semelhantes.

Palavras chave: Políticas públicas de ação afirmativa. cotas raciais. UFPR

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Negros e Brancos na educação básica ....................................... 12

Quadro 1- Principais características das cotas nas universidades ............... 48

Tabela 2 - Percentual de aprovados nos processos seletivos da UFPR entre

2004 e 2010, de acordo com autoclassificação racial .................................. 55

Tabela 3 - Aprovados por cotas no vestibular da UFPR entre 2005 e 2012 56

Quadro 2 - Principais características das cotas na UFPR ........................... 59

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LISTA DE SIGLAS

ADPF Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental

APUFSC Sindicato dos Professores da UFSC

CEAO Centro de Estudos Afro-orientais

CED Centro de Ciências da Educação

CEFET Centro Federal de Educação Tecnológica

CEPE Conselho de Ensino e Pesquisa

CNCD Conselho Nacional de Combate a Discriminação

CNPIR Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial

Conapir Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial

CONSEPE Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão

COUN Conselho Universitário

CTC Centro Tecnológico

CUN Conselho Universitário

DCE Diretório Central dos Estudantes

DEM Partido Democratas

DEM Partido Democratas

FCP Fundação Cultural Palmares

FCP Fundação Cultural Palmares

FIPIR Fórum Intergovernamental de Promoção da Igualdade

Racial

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GTAA Grupo de Trabalho para as Ações Afirmativas

GTEGC Grupo de Trabalho de Etnia, Gênero e Classe

GTI Grupo de Trabalho Interministerial

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário

MEC Ministério da Educação

MJ Ministério da Justiça

MRE Ministério das Relações Exteriores

MTE Ministério do Trabalho e Emprego

MTE Ministério do Trabalho e emprego

NEN Núcleo de Estudos Negros

ONU Organização das Nações Unidas

PNAA Programa Nacional de Ações Afirmativas

PNDH Programa Nacional de Direitos Humanos

PNPIR Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial

PROUNI Programa Universidade para Todos

REUNI Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e

expansão das universidades federais

SDH Secretaria de Direitos Humanos

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SEDH Secretaria de Direitos humanos

Seppir Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial

SINTUFSC Sindicato dos Trabalhadores da UFSC

SPM Secretaria Para Mulher

STF Superior Tribunal Federal

TEN Teatro Experimental do Negro

UFBA Universidade Federal da Bahia

UFJF Universidade Federal de Juiz de fora

UFPR Universidade Federal do Paraná

UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

UFSM Universidade Federal de Santa Maria

UNB Universidade de Brasília

USP Universidade de São Paulo

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SUMÁRIO

Introdução ..................................................................................................... 12

1. Fatos relevantes no contexto histórico de criação das políticas

públicas de ação afirmativa. ................................................................................... 16

1.1 As políticas públicas de ação afirmativa na educação superior. .... 24

2. Políticas públicas de ação afirmativa no ensino superior: as cotas

raciais nas universidades federais brasileiras. ....................................................... 32

UNB .............................................................................................................. 34

UFBA ............................................................................................................ 35

UFJF ............................................................................................................. 38

UFSM ........................................................................................................... 39

UFRGS ......................................................................................................... 41

UFSC ............................................................................................................ 45

3. As cotas Raciais na UFPR ................................................................. 51

Considerações finais .................................................................................... 61

Referências Bibliográficas ............................................................................ 67

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INTRODUÇÃO

O objeto de análise deste trabalho é o sistema de cotas raciais da

Universidade Federal do Paraná, que estudaremos com o intuito de apresentar o

processo de implantação, mas principalmente do impacto produzido pela adoção

dessa política afirmativa no sentido de alterar ou não a diversidade racial no quadro

discente da instituição, para tanto descreveremos os mesmos pontos em outras seis

IES federais.

A adoção de políticas públicas de ação afirmativa pelas universidades

brasileiras mostrou-se uma necessidade, de acordo com Carvalho (2005) o Brasil

possui a segunda maior população afrodescendente do mundo, ficando atrás

apenas da Nigéria, trata-se de uma população de composta por 45% de negros1. No

Brasil, 22 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza, 70% são negros,

53 milhões de milhões de pessoas vivem na pobreza, 63% são negros, no Brasil em

geral a pobreza tem a cor negra (CARVALHO, 2005, p. 27); ainda de acordo com

esse autor, com base em pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica

Aplicada (IPEA), ser negro no Brasil significa ter menos acesso à educação. A tabela

a seguir mostra dados utilizados por Carvalho (2005)2:

Tabela 1 - Brancos e negros na educação básica

Brancos Negros

Analfabetos com mais de 15 anos 8,30% 20%

Analfabetos funcionais (adultos) 26,40% 46,90%

Não concluíram o Ensino Fundamental (adultos) 57% 75,30%

Não concluíram o Ensino Médio (18 a 23 anos) 63% 84%

Completaram o Ensino Médio 13% 3%

Fonte: (CARVALHO, 2005)

1 no entanto, o censo 2010 mostrou um aumento considerável da população negra que passou a representar 50,7% da população do país

2 Em 2012, 36,8% dos estudantes negros entre 18 e 24 anos estavam no ensino superior, contra 65,7% dos brancos. “O aumento da frequência observada para os jovens pretos ou pardos no ensino superior, nível educacional adequado para essa faixa etária, não foi suficiente para alcançar a mesma proporção apresentada pelos jovens brancos dez anos antes” (IBGE, 2012, p. 116).

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Carvalho (2005) insiste que a desigualdade no Brasil é crônica e os

números mostram que uma melhora universalista no ensino básico não é suficiente

para resolvê-las, segundo o autor as melhorias na educação da população brasileira

ao longo do século XX são evidentes, no entanto, em relação aos negros não houve

mudanças, a diferença de 2,2 anos referente á média de frequência escolar entre

negros e brancos é a mesma do final do século XIX.

“Apesar de a Universidade pública brasileira ser um dos poucos

redutos de exercício do pensamento crítico em nosso país, se a

observarmos a partir da perspectiva da justiça racial impressiona a

indiferença e o desconhecimento do mundo acadêmico a respeito da

exclusão racial com que, desde sua origem convive.” (CARVALHO, 2005, p.

19).

Segundo Carvalho (2005), no período de realização de sua pesquisa 96%

dos universitários brasileiros eram brancos, 2% negros e 1% amarelo, comparando

ao percentual dessas populações os números são assustadores. Além de mostrar

números que comprovam o posicionamento marginal em relação à sociedade

ocupado pela população negra, Carvalho (2005), mostra a baixa representatividade

em cargos considerados de alto prestígio e as diferenças de evidente preconceito

racial que comparam pessoas de mesma classe social e escolaridade e ainda assim

o negro fica numa condição inferior.

A Universidade Federal do Paraná (UFPR) foi a segunda universidade

federal a aprovar o plano de metas responsável pela inserção dessas medidas como

forma de democratizar o acesso ao ensino superior, o nosso interesse nesse

trabalho consiste em identificar a efetividade das cotas raciais no período de 2005 a

2012, considerando que em 2005 começou a vigorar a política de cotas da UFPR e

2012, além de tratar-se do ano anterior à finalização deste trabalho é também o ano

de aprovação da Lei Federal 12711/12 que estabelece a adoção de cotas em todas

as universidades públicas3 e muda significativamente o quadro das políticas

afirmativas no Brasil, além de determinar que todas as instituições públicas federais

devem adotar um sistema de reserva de vagas (sociais e étnicas), a lei padroniza a

3 Trataremos mais detalhes referentes á Lei no decorrer do texto.

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maneira como isso deve ser feito, alterando alguns processos já vigentes, como é o

caso da UFPR, que para adequar-se à Lei passará por mudanças que não serão

tratadas aqui. Acreditamos que a abordagem dos resultados produzidos pelas

políticas públicas podem identificar perdas e ganhos, mostrando pontos a serem

tratados para alcançar melhores resultados. Partimos do pressuposto que a política

de cotas da UFPR ainda possui diversos pontos que necessitam de revisão e que o

processo seletivo adotado pela universidade não foi o mais adequado para garantir a

eficácia da política de cotas, porém, o número de negros na Universidade aumentou

se comparado aos anos anteriores à implantação do sistema, para verificar se a

nossa hipótese se confirma, falaremos do processo de implantação do sistema de

cotas explicando as discussões prévias à implantação e o processo seletivo com

base nos texto de Silva, 2008; Bevilaqua, 2005a e 2005b; posteriormente

apresentaremos dados relativos ao ingresso de alunos e a identificação dos prós e

contras da adoção do sistema de cotas nas perspectivas de Souza, 2007; Porto,

2011; Porto et al, 2012; Cervi, 2013 e Marçal, 2012. O trabalho faz um apanhado da

produção bibliográfica a respeito do assunto apresentando os principais resultados

obtidos. Tratamos especificamente da UFPR apenas no terceiro capítulo, antes

disso, no primeiro capítulo procuramos fazer uma síntese do contexto histórico das

políticas públicas de ação afirmativa no Brasil, com intuito de mostrar como a

necessidade de criar políticas compensatórias chegou ao âmbito governamental,

mostrando as primeiras políticas voltadas para população negra, alguns projetos de

lei e as resistências sofridas, numa segunda parte do primeiro capítulo falamos

diretamente da Educação superior e de como apesar de não haver obrigatoriedade

da adoção das políticas afirmativas o número de universidades que adotaram

sistemas próprios de seleção foi crescente, além de comentarmos a tramitação dos

projetos de lei que somente anos mais tarde resultaram na sanção da lei de cotas

em 2012.

O segundo capítulo vai tratar de seis casos específicos de universidades que

adotaram sistemas de cotas raciais Universidade de Brasília (UNB), a Universidade

Federal da Bahia (UFBA), a Universidade Federal de Juiz de fora (UFJF), a

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade Federal de

Santa Maria (UFSM), e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), vamos

apresentar um pouco do processo de implantação e impacto nessas universidades

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para finalmente comparar com os resultados apresentados sobre a UFPR.

Poderíamos nos limitar a analisar os resultados da UFPR, contudo a comparação

com outros casos aumenta as perspectivas de análise facilitando a identificação de

aspectos positivos e negativos.

No capítulo 3 apresentaremos dados referentes à UFPR, é importante

ressaltar que as pesquisas realizadas por Porto, 2011; Porto (et al., 2012); Cervi

(2013) e Silva (2008) que foram baseadas em dados fornecidos pelo Núcleo de

concursos da UFPR4, alicerçaram nosso trabalho e nos deram condições de

constatar as alterações ocorridas no quadro discente da UFPR a partir da

implantação do sistema de cotas em 2005. Neste capítulo apresentaremos as dados

numéricos que evidenciam os resultados das políticas afirmativas na UFPR, além de

mostrar os problemas da política apontados por essas pesquisas, assim como

proposições de mudanças que podem interferir positivamente nos resultados. A

metodologia utilizada foi revisão de textos e documentos que continham dados e

informações das universidades analisadas.

4 Agradecemos ao NC pelo fornecimento dos dados de possibilitaram a elaboração dos trabalhos que embasaram nossa pesquisa.

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1. FATOS RELEVANTES NO CONTEXTO HISTÓRICO DE CRIAÇÃ O DAS

POLÍTICAS PÚBLICAS DE AÇÃO AFIRMATIVA.

As discussões sobre ações afirmativas no Brasil são norteadas pela ideia de

igualdade presente na democracia, visam oferecer a grupos discriminados e

excluídos um tratamento diferenciado para compensar as desvantagens devido a

sua situação de vítimas do racismo e de outras formas de discriminação. São

conhecidas também pelas terminologias “ação afirmativa, ação positiva,

discriminação positiva ou política compensatória” (MUNANGA, 2003)

Segundo Moehlecke (2002), as ações afirmativas para população negra

tiveram origem nos Estados Unidos na década de 1960 e se difundiram pelo mundo

produzindo ações semelhantes em diversos países, variando o público-alvo de

acordo com as situações existentes em cada um deles. As principais áreas afetadas

foram o mercado de trabalho, o sistema educacional e a representação política. São

políticas de promoção da representação de grupos inferiorizados na sociedade,

como minorias étnicas, raciais e de gênero, concedendo-lhes uma preferência com

objetivo de assegurar o acesso a determinados bens, econômicos ou não.

As políticas públicas surgem da necessidade de assegurar determinados

direitos de cidadania de forma generalizada ou a determinados grupos específicos

da sociedade, são ações que partem direta ou indiretamente do Estado nos âmbitos

federal, estadual e municipal, com participação de entidade pública ou privada. Suas

ações são baseadas na Constituição. Elas coexistem com as políticas universalistas,

mantendo o princípio da igualdade sem deixar de respeitar as diferenças entre os

diversos grupos presentes na sociedade. As políticas públicas de Ação Afirmativa

têm a finalidade de inserir os grupos excluídos proporcionando igualdade de

oportunidades e a diversidade cultural e social nos diversos espaços institucionais,

são vistas como políticas compensatórias destinadas a reparar injustiças históricas e

possuem um caráter temporário.

No Brasil, as políticas públicas foram criadas com características peculiares,

resultantes do processo histórico de formação da sociedade, principalmente por

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conta da ideia de igualdade introduzida pelo mito da democracia racial5, possuíam

caráter generalista e assistencialista, eram destinadas a combater a pobreza como

um todo sem considerar a alteridade. Essa formação social com base numa cultura

de negação de diferenças e da convivência pacífica entre as raças dificultou a

inserção de qualquer tipo de ação que visasse a equiparação entre grupos étnicos,

porém em consequência da intensa luta travada pelo Movimento Negro6, o conceito

de ação afirmativa foi inserido no debate sobre políticas públicas no país.

Em 1980, é formulado o primeiro projeto de lei inerente ao que pode ser

definido como ação afirmativa, o Projeto de Lei nº 1332 de 1983, apresentado pelo

então deputado federal Abdias do Nascimento7, que propunha uma “ação

compensatória”, que estabeleceria mecanismos de compensação para afro-

brasileiros após séculos de discriminação (MOEHLECKE, 2002). Como militante do

Movimento Negro brasileiro, Abdias do Nascimento conhecia a demanda da

população e tentou com o projeto de Lei sanar as desigualdades, principalmente no

que se refere ao acesso ao mercado de trabalho e à educação. O projeto não foi

aprovado, mas as reivindicações foram mantidas.

A primeira instituição governamental voltada para os negros no Brasil foi a

Fundação Cultural Palmares (FCP) em 1988, com o objetivo de promover e

preservar a influência negra na sociedade brasileira, na época foi uma grande

conquista, mas o fato de estar submetida ao Ministério da Cultura explicitava uma

perspectiva cultural das relações raciais. Suas ações não tinham como objetivo

sanar as distâncias entre negros e brancos na sociedade. Apesar de tratar certas

demandas do Movimento Negro, foram impostas outras atribuições por parte do

5 Ideia introduzida no Brasil a partir de 1930, geralmente atribuída a Gilberto Freire, que exaltava a convivência pacífica entre negros e brancos com intuito de negar a existência de desigualdade.

6 Foi o primeiro movimento social do Brasil, surgiu na década de 1930 - lutavam por igualdade de direitos e acesso a educação para os negros libertos proporcionando-lhes condições de participar ativamente da sociedade.

7 Militante do Movimento Negro, idealizador do Teatro Experimental do Negro (TEN) que surgiu com o objetivo de valorizar o negro no teatro e criar um novo tipo de dramaturgia, além do ensaio de peças promovia a alfabetização de adultos. Trabalhava a cidadania e a valorização social do negro através da conscientização, da alfabetização, da cultura e da arte.

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Estado que a afastavam do propósito principal, um exemplo foi a delegação da

responsabilidade pela identificação e delimitação de áreas quilombolas que lhe deu

um novo perfil e fez com que estivesse diretamente ligada ao Ministério do

Desenvolvimento Agrário (MDA). É importante destacar que ainda em 1988, surgiu o

primeiro marco legal brasileiro para criminalização da discriminação, a Constituição

Federal que condena a prática do racismo e o considera crime inafiançável.

Somente a partir de 1990 as reivindicações relacionadas às questões raciais

começaram a ganhar força perante o governo, destacando-se a Marcha “Zumbi dos

Palmares, contra o Racismo pela Cidadania e a Vida”, que aconteceu em 1995 e

impulsionou o tratamento das questões raciais no país. A marcha contou com a

presença de mais de 30 mil pessoas, durante a manifestação foi entregue ao

Presidente da República um relatório sobre a situação do negro no Brasil e um

programa de ações para superação do racismo e das desigualdades raciais. Em

resposta às demandas apresentadas pelos manifestantes e com o intuito de discutir

e propor ações de combate à discriminação, no dia 20 de novembro de 1995 foi

instituído por decreto presidencial o Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) de

valorização da população negra, ligado ao ministério da justiça. Pesquisadores

brasileiros e americanos foram convocados para um seminário internacional

intitulado: “Multiculturalismo e Racismo: o papel da ação afirmativa nos estados

democráticos contemporâneos”, essa foi a primeira ação do governo brasileiro no

sentido de discutir políticas públicas específicas para a população negra no Brasil.

Para o GTI, as ações afirmativas podem surgir tanto no âmbito do Estado quanto da

iniciativa privada, tem objetivo de eliminar desigualdades historicamente

acumuladas, garantir a igualdade de oportunidade e tratamento, além de compensar

perdas advindas da discriminação (IPEA, 2003).

Em 1996 foi criada a Secretaria de Direitos Humanos, responsável pela

elaboração do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), cujo objetivo é

propor políticas públicas para promoção dos direitos humanos no país. Apesar do

caráter generalista, o PNDH tem um espaço destinado ao tratamento das questões

raciais, dentre as propostas apresentadas destacam-se as seguintes: “formular

políticas compensatórias que promovam social e economicamente a comunidade

negra; apoiar a definição de ações de valorização para a população negra e com

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políticas públicas; aperfeiçoar as normas de combate à discriminação contra a

população negra; apoiar as ações da iniciativa privada que realizem discriminação

positiva” (BRASIL,1996). Essa é primeira manifestação institucional destinada a

implementação de ações afirmativas.

Outra ação importante no sentido de promover a igualdade racial se deu em

1997, com o lançamento do Programa “Brasil Gênero e Raça” pelo Ministério do

Trabalho e Emprego (MTE), cuja ação principal foi criar núcleos de promoção da

igualdade de oportunidades e de combate à discriminação no emprego e na

profissão. Os núcleos ficavam nas delegacias e subdelegacias regionais do

Trabalho, porém apesar da proposta inicial seus trabalhos foram direcionados mais

especificamente para pessoas com deficiência. A década de 90 foi muito significativa

para as relações raciais no Brasil, Embora não tendo alcançado grandes resultados,

os esforços voltados para a implantação de uma política pública foram a primeira

conquista no campo institucional.

Nos anos 2000 e 2001 a temática racial ganhou muita força no Brasil como

consequência da III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação

Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, que se realizou entre 31 de agosto e 07

de setembro de 2001. O evento foi promovido pela Organização das Nações Unidas

(ONU) e realizado em Durban, na África do Sul, tendo participação de 600

representantes brasileiros. Houve grande mobilização no país com o intuito de

preparar a participação no evento, no ano de 2000 foi criado um comitê que tinha a

responsabilidade de organizar e preparar a participação brasileira em Durban, o

grupo foi composto por representantes de organizações governamentais e não

governamentais.

Uma das ações preparatórias foi a organização de reuniões pré-conferência

e encontros que pudessem dar subsídio aos trabalhos do comitê, essas reuniões

aconteceram em todo o país e os encontros foram organizados tanto pela SDH

quanto pela Fundação Palmares. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

(IPEA) teve papel de destaque não apenas nesta etapa, foi o responsável pelo

fornecimento de diagnósticos inéditos que retratavam a amplitude da desigualdade

no Brasil. Os dados serviram para subsidiar as discussões e posteriormente foram

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reconhecidos como oficiais pelo governo que os utilizou como base para ações

futuras. Ainda nesse interim foi realizada a I Conferência Nacional Contra o Racismo

e Intolerância, na cidade do Rio de Janeiro, em julho de 2001 contou com a

participação de aproximadamente 1700 delegados de todas as regiões do país e foi

um evento de grande destaque nesse período que antecedeu a Conferência

Mundial.

Simultaneamente aos eventos que precederam a participação do Brasil em

Durban, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) criou portaria, que

reservava 20% das vagas para negros na estrutura institucional do Ministério e do

INCRA, ação que deveria ser adotada também pelas empresas terceirizadas que

prestavam serviços para o órgão e o Ministro da Justiça. Este assinou portaria que

determinava a contratação de 20% de negros, 20% de mulheres e 5% de portadores

de deficiência física para os cargos de assessoramento do Ministério. Em 2002 o

Ministério das Relações Exteriores (MRE) determinou a concessão de 20 bolsas de

estudo federais a afrodescendentes que se preparam para o concurso de admissão

ao Instituto Rio Branco (MOEHLECKE).

Após a conferência em Durban foi criado no âmbito do Governo Federal o

Conselho Nacional de Combate à Discriminação (CNCD), ligado a Secretaria de

Estado de Direitos humanos e vinculada ao Ministério da Justiça (MJ), com o

objetivo de incentivar a criação de políticas públicas afirmativas de promoção da

igualdade racial. O conselho exerceu essa função até a mudança de governo. Em

2002 foi lançado o II PNDH, que além de reconhecer os males causados pela

escravidão e a necessidade de medidas compensatórias que possam combater seus

efeitos, ampliou as metas dedicadas à valorização da população negra e introduziu o

termo “afrodescendente”, proveniente da declaração e do plano de ação de Durban.

Em maio de 2002 a Secretaria de Direitos humanos criou o Plano Nacional de Ações

Afirmativas que tinha a função de criar medidas específicas de inclusão de

afrodescendentes, mulheres e pessoas portadoras de deficiência no âmbito da

administração pública. No mesmo ano, o então presidente Fernando Henrique

Cardoso, propôs através do Decreto 4228 a criação do Programa Nacional de Ações

Afirmativas (PNAA), com o objetivo de realizar metas percentuais de participação de

afrodescendentes, mulheres e pessoas com deficiência em cargos de direção da

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administração pública federal (IPEA, 2010), porém não houve tempo hábil para

efetivação do programa, nem foi dado continuidade pelo governo posterior.

As ações ocorridas entre os anos de 1995 e 2002 foram muito importantes

para as relações raciais no Brasil, asseguraram a inserção da temática no espaço

governamental, no entanto devido a falta de uma estrutura que cumprisse o papel de

coordenar e assegurar a sua continuidade, muitas acabaram se dissipando ou se

desviando do objetivo inicial, não atingindo o resultado esperado

Em 2003, Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse como presidente, seu plano

de governo tinha despertado esperança de avanços nas questões raciais. A

novidade trazida pelo governo Lula foi a proposta de criar uma estrutura

administrativa diretamente ligada à Presidência da República, que seria responsável

por promover a igualdade e proteção de grupos raciais e étnicos afetados pela

discriminação, com foco principal na população negra.

A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) foi

criada em 21 de março de 2003, com status de ministério, tendo o objetivo de

assessorar, articular, formular e coordenar políticas de promoção da igualdade. Ela

não é uma instituição que dedicada à “atividade fim”. Seu trabalho deve estar

associado a outras instituições para obtenção de resultados, pode mobilizar toda a

máquina pública, especialmente aquelas ligadas à política social para seus fins.

Logo após a criação da Seppir foram criados por meio de decretos o Conselho

Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), a Política Nacional de

Promoção da Igualdade Racial (PNPIR), regulamentação de procedimentos

relacionados à comunidades quilombolas, e o Fórum Intergovernamental de

Promoção da Igualdade Racial (FIPIR).

O CNPIR é responsável pela proposição de políticas de promoção da

igualdade racial, possui um caráter consultivo que possibilitou a inserção da

sociedade civil nos debates e é presidido pelo titular da Seppir. O conselho conta

com a participação de representantes dos governos estaduais, entidades da

sociedade civil, principalmente as identificadas com o Movimento Negro, três

personalidades conhecidas no âmbito das relações raciais, designadas pela

presidência da República e o Presidente da Fundação Palmares que fica

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previamente convidado para as reuniões do conselho. Os objetivos da PNPIR são:

a “eliminação de qualquer fonte de discriminação e desigualdade raciais direta ou

indireta, mediante a geração de oportunidades; articulação temática de raça e

gênero e adoção de políticas que objetivem o fim da violação dos direitos humanos.”

(BRASIL, 2003). Para alcançar seus objetivos conta com a cooperação de órgãos

gestores de programas “finalísticos” que serão capazes de por em prática as suas

decisões, trabalha em conjunto com outros ministérios, assim como articula ações

junto a órgãos governamentais de âmbito municipal e estadual e sociedade civil

(IPEA 2004). O FIPIR surge com objetivo de reunir esforços em prol da causa racial,

implementando estratégias que possibilitem a incorporação da Política Nacional de

Promoção da Igualdade Racial pelos estados e municípios. Houve um avanço

progressivo nas conquistas pela igualdade racial no Brasil, mas as verdadeiras

políticas públicas de ação afirmativa voltadas para a população negra surgiram

somente após a criação da Seppir.

Em 2005, o governo federal cogitou a possibilidade de extinguir a Seppir,

assim como as outras secretarias especiais - Secretaria Para Mulher (SPM) e

Secretaria de Direitos humanos (SEDH) - por considerar a existência de problemas

na gestão das instituições. Os resultados ficaram abaixo do esperado e houve

necessidade de maior racionalidade do uso de recursos na máquina estatal e uso

dos recursos federais. A possibilidade mobilizou diversos setores da sociedade,

principalmente os movimentos sociais que defenderam a preservação da grande

conquista alcançada com o surgimento desses órgãos cuja prioridade era o

tratamento das questões de raça, gênero e direitos humanos, em resposta às

pressões o governo abandonou a ideia de extinguir as secretarias, mas submeteu a

SEDH à Secretaria Geral da República (IPEA, 2004-11).

Entre 30 de junho e 02 de julho de 2005, realizou-se a I Conferência

Nacional de Promoção da Igualdade Racial (I Conapir), que reuniu representantes

do governo e da sociedade para definição do PNPIR sobre o tema “Estado e

sociedade – juntos promovendo a igualdade racial”. Em novembro de 2005 o

governo criou o GTI para elaboração do PNPIR, o grupo contou com a participação

de representantes de ministérios e secretarias ligadas ao governo federal e entre

suas atribuições tinham a responsabilidade de sistematizar as diretrizes propostas

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na I Conapir. Em 2006 foram realizadas no Brasil duas conferências internacionais

que debateram temas relevantes para as políticas públicas. A II Conferência de

Intelectuais Africanos e da Diáspora, realizada na cidade de Salvador, teve o

objetivo de estreitar as relações entre o Brasil e o continente africano. A conferência

debateu estudos e experiências com temas diversificados, entre eles ações

afirmativas e políticas de combate ao racismo, à xenofobia e a outras formas

correlatas de discriminação. Por sua vez, a Conferência Regional das Américas

sobre Avanços e Desafios no Plano de Ação contra o Racismo, a discriminação

Racial, a Xenofobia e as Intolerâncias Correlatas, aconteceu em Brasília. Foi

organizada pela Seppir em conjunto com o governo do Chile e teve como objetivo

discutir políticas de combate ao racismo com base no plano de ação da conferência

de Durban realizada em 2001. Os documentos gerados por essas conferências

serviram para reforçar diretrizes da intervenção do governo brasileiro no combate ao

racismo e discriminação (IPEA, 2007).

A intensificação de esforços direcionados à promoção da igualdade racial no

Brasil aconteceu após a conferência realizada em Durban, no ano de 2001. Tanto as

ações preparatórias quanto às intervenções posteriores ao evento foram de extrema

importância para as mudanças que ocorreram no tratamento das questões raciais no

Brasil. No ano de 2009, aconteceu em Genebra, na Suíça, um novo encontro com o

intuito de reafirmar os compromissos assumidos em Durban. A Conferência de

revisão de Durban evidenciou os resultados alcançados em diversos países, mas

pediu a intensificação de ações de combate à discriminação nas áreas da saúde,

educação, trabalho, moradia e políticas administrativas, além de salientar a

importância da adoção de políticas e planos de ação nacionais para prevenir,

combater e erradicar o racismo, a discriminação racial e outras formas correlatas de

intolerância (IPEA, 2010-18).

Em 20 de julho de 2010 entrou em vigor a Lei nº 12288/10 que instituiu o

Estatuto da Igualdade Racial, proveniente do Projeto de Lei 213/2003, destinado a

garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa

dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às

demais formas de intolerância étnica (BRASIL, 2010). Mais uma conquista atribuída

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ao Movimento Negro, que visa garantir os direitos da população afrodescendente e

reafirma o compromisso público/institucional em relação à causa.

1.1 AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE AÇÃO AFIRMATIVA NA EDUCAÇÃO

SUPERIOR.

É notório que o acesso e a permanência dos afro-brasileiros no sistema educacional brasileiro, em qualquer dos seus níveis, nunca se deu de forma tranquila, e também é notório sua exclusão do ensino superior. (SISS, 2003, pag 17)

A inserção dos negros na educação sempre foi um tema controverso na

sociedade brasileira. Carvalho (2005) na proposta de cotas para estudantes negros

na UNB, fala da condição histórica da universidade brasileira servir de abrigo para a

elite branca que a criou. Segundo dados apresentados no documento, em 2002, do

total de universitários brasileiros, 97% eram brancos, 2% negros e 1% amarelos, o

que comprova a situação de desigualdade nas condições de acesso, principalmente

se consideramos que, segundo o IBGE, em 2000, a proporção de pessoas

autodeclaradas negras na população brasileira era de 41,7%. A temática racial

ganhou muita força no país principalmente a partir do período pré-conferência de

Durban, que além de acalorar as discussões relacionadas ao assunto interferiu na

produção acadêmica despertando o olhar da academia para o tema.

A primeira política pública de ação afirmativa voltada para área da educação

no Brasil foi a Lei 10639/038, que determina a obrigatoriedade do ensino de história

e cultura africana e afro-brasileira no ensino fundamental e médio. Essa lei foi o

primeiro passo dado no âmbito da educação e até hoje enfrenta muitas dificuldades

na sua implementação. Posteriormente foi alterada pela Lei nº 11.645/08, que inclui

a história indígena também como temática obrigatória na educação básica, não

8 Como o ensino básico não é o foco do trabalho citamos a lei apenas para contextualização.

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obstante à importância dessa lei, não trataremos maiores detalhes devido ao foco do

trabalho.

Dentre as ações do governo com objetivo de incluir os negros no ensino

superior, há três programas que se destacam: o Programa Diversidade na

universidade, que se dedica a preparação dos negros através da oferta de cursos

pré-vestibulares gratuitos e bolsa de estudo para aumentar as chances de ingresso

na universidade; há também a iniciativa de aumentar a quantidade de negros nas

IES particulares através do Programa Universidade para Todos (PROUNI) e a

reserva de vagas nas universidades públicas por meio do sistema de cotas.

O governo Lula foi o precursor das políticas afirmativas no Brasil, porém

mesmo diante da sua posição declaradamente favorável à política de cotas nas

universidades, na prática a execução dos planos relacionados a essa política não

foram tão simples. Em dezembro de 2003 a Seppir recomendou ao MEC

implementação de cotas raciais nas Instituições de Ensino Superior (IES), entretanto

o ministro da educação ignorou a informação por considerar que não havia

consenso sobre a matéria na sociedade (IPEA, 2004-9). Em 2004 seu sucessor

manifestou-se a favor da implantação de medidas direcionadas às populações mais

pobres, mas que não fossem exclusivamente raciais. As dificuldades de acesso ao

ensino superior vão além da pobreza, apesar de os negros representarem maioria

entre os pobres no país, a discriminação racial traz outras consequências como

baixa autoestima e alto índice de marginalização que impossibilita uma política

destinada à pobres interferir na desigualdade que atinge a população negra, apesar

da relevância das políticas voltadas aos mais carentes, elas não são capazes de

resolver distorções raciais (IPEA 2004-9).

As cotas raciais no ensino superior são as mais polêmicas. Desde o início

houve muita manifestação contrária, principalmente por parte da mídia. A inclusão

no ensino superior é a maneira mais rápida de acabar com certos aspectos das

desigualdades raciais, além de atuarem em espaços particularmente privilegiados da

vida social (IPEA, 2010). Afora sua função formativa, a educação gera

oportunidades que ampliam as opções de acesso ao mercado de trabalho e de

ascensão social, nesse sentido as políticas afirmativas são incômodas para certos

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grupos por representar a possibilidade de estabelecer mudanças significativas na

estrutura da sociedade. Em 1999 foi apresentado à Câmara do Deputados, pela

Deputada Nice Lobão o Projeto de Lei nº 73/99 que propunha regulamentação para

políticas de cotas nas instituições públicas, reservando uma parcela das vagas para

a população negra e indígena. O projeto tramitou na Câmara durante anos sem ser

aprovado.

Em 2003, por determinação da presidência da República, foi constituído sob

o comando da Seppir em trabalho conjunto com o MEC, o Grupo de Trabalho

responsável por formular medidas de acesso e permanência de estudantes

afrodescendentes no ensino superior. Em dezembro do mesmo ano, os especialistas

do grupo encaminharam ao presidente um relatório que mostrava a necessidade de

adoção de cotas para acesso ao ensino superior. Em maio de 2004 foi encaminhado

ao legislativo federal dois projetos de lei de ações afirmativas, um relativo às

universidades federais e outro às universidades particulares. As propostas

apresentadas visavam a criação de reserva de vagas de caráter social, com uma

parcela dessas vagas destinadas às populações negras, pretos e pardos (IPEA,

2004).

O Projeto de lei nº 3627/2004 determina que 50% das vagas das

universidades federais sejam destinadas a alunos que concluíram o ensino médio

integralmente em escola pública e uma parte dessas vagas a candidatos negros e

indígenas conforme a proporção desses grupos nas unidades federativas. Com base

no último censo do IBGE, em caso de não preenchimento desse contingente as

vagas serão completadas por estudantes de escolas públicas. De acordo com esse

projeto a maioria das vagas serão ocupadas por estudantes brancos, no entanto

mesmo sendo “cota da cota” o projeto do Ministério da Educação (MEC), assegura

maior acesso dos estudantes negros ao ensino superior (IPEA, 2004).

Em 2005 o Projeto de Lei 3627/04 foi apensado ao Projeto de Lei 73/99. Em

2006 foi aprovado pela comissão de direitos humanos da Câmara dos Deputados

um substitutivo do Projeto de lei nº 3627/2004, ao invés de ser imediato como no

anterior, concede prazo de 4 anos de implementação do sistema de reserva de

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vagas. No entanto, após ser encaminhado ao Senado Federal o projeto não teve

aprovação imediata, levou mais alguns anos para que produzisse algum resultado.

Um ponto positivo das políticas de ação afirmativa no Brasil é que

independente da existência de uma lei federal que regulasse as cotas, houve

adesão das universidades ao sistema de reserva de vagas, algumas por resoluções

internas e outras em obediência a leis estaduais. Em 2006 o total de universidades

públicas que possuíam sistema de cotas raciais era 22, sendo 9 federais e 13

estaduais (IPEA, 13 p302). Cada universidade implantou um sistema autônomo

respondendo a deliberações de seus conselhos universitários. Algumas

apresentaram mudanças mais significativas, como a Universidade Federal da Bahia

(UFBA), que antes considerava apenas o desempenho na primeira e na segunda

fase do vestibular. Critérios como cor, gênero, renda ou origem escolar não

interferiam nesse processo. Após implantação do sistema de reserva, candidatos

oriundos do sistema público de ensino que obtivessem pontuação mínima na

primeira fase passavam a ter condições de concorrer na segunda (REIS, 2007). Já a

Unicamp, que inicialmente se mostrou contrária às cotas, adotou um sistema de

pontuação extra no vestibular para alunos de escola pública, entre eles negros e

indígenas (CARVALHO, 2005). No ano de 2007 o IPEA identificou 38 instituições de

ensino que adotaram algum tipo de política de ação afirmava para negros. Essa

pesquisa mostra a existência de diversos formatos de programas, sendo que a

principal modalidade de ações afirmativas são as cotas, implantadas em 33

universidades, as outras cinco que aparecem na pesquisa introduziram sistema de

bônus em seus vestibulares (JACCOUD, 2008).

Em 21 e 22 de agosto de 2006, a UNB realizou o Seminário de Políticas

Afirmativas para a Inclusão Racial no Ensino Superior, para discutir as experiências

de instituição de cotas raciais nas universidades públicas brasileiras, Entre os

resultados do seminário podemos destacar que na maioria das universidades não

existe problema de mérito, em alguns casos os alunos cotistas acabam

apresentando desempenho acima da média, além de ter baixo índice de evasão e

desistência antes de efetivar a matrícula. Dentre os pontos negativos o que merece

maior destaque é a dificuldade enfrentada pelos alunos para permanência no curso.

Outra constatação importante desse seminário foi a falta de acompanhamento

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sistemático por parte da Seppir e do MEC das experiências de implantação das

cotas nas universidades, nem apoio aos alunos ou às instituições. (IPEA, 13, p303).

Os resultados do seminário foram bons, já que as preocupações com possíveis

problemas que permearam as discussões prévias à implantação dos sistemas

apresentaram um resultado positivo, porém a preocupação com a permanência

continua até hoje como um problema a ser superado.

Cabe destacar um esforço aplicado com o objetivo de contribuir para a

permanência dos alunos cotistas raciais em nível federal. Em 2004, a partir da

parceria entre o Programa Nacional de DST/ Aids e universidades que possuíam

programas de ação afirmativa para negros, foi lançado o Programa Brasil

Afroatitude, que concedia bolsas de estudo aos alunos cotistas de 10 universidades

públicas. Eram 50 bolsas para cada universidade financiadas pelo Ministério da

Saúde, com duração de 2 anos. Para ter direito ao recebimento das bolsas os

alunos desenvolviam atividades de extensão, pesquisa e monitoria sobre DST/ Aids,

racismo e população negra. O benefício foi concedido até o final de 2006 e o

Programa está inativo desde 2007, por falta de recursos, segundo o MS (IPEA,

2009).

Com o intuito de ampliar o número de vagas nas instituições públicas,

reduzir a evasão e ocupar vagas ociosas, em 24 de abril de 2007 foi instituído

através do decreto 6096 o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e

Expansão das Universidades Federais (Reuni), através da adoção de medidas que

criam condições de expandir a estrutura física, acadêmica e pedagógica das

universidades federais. Apesar de expressar preocupação com acesso e

permanência de alunos o programa não faz nenhuma referência às cotas raciais.

As cotas raciais no ensino superior foram um grande passo para a

população afro-brasileira que durante muito tempo foi privada até mesmo do acesso

à educação básica9 e aos poucos foi ganhando espaço através das reivindicações

9 O acesso do negro à educação no Brasil foi dificultado pelo próprio sistema, algumas das leis vigentes no século XIX evidenciam condição que lhes foi imposta e comprova que estes foram “legalmente” privados do ingresso na educação formal. Alguns exemplos são o artigo 6º da Constituição de 1854 e a Reforma Couto Ferraz.

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do movimento negro. Nos últimos anos, principalmente após a conferência de

Durban, as políticas de ação afirmativa tem encontrado muito espaço para debate,

principalmente no meio acadêmico onde a desigualdade racial era predominante.

São muitas pesquisas, trabalhos e grupos de discussão abordando o conteúdo, isso

sem dúvida é uma grande conquista, principalmente no nosso país, que durante

muito tempo se baseou em uma política universalista, incapaz de superar

desigualdades e baseada na ideia de inexistência de racismo. Atualmente a

discriminação racial é um fato, são diversos estudos abordando, comparando

condições e situações da vida cotidiana da perspectiva racial, como expectativa de

vida, renda, salários, níveis educacionais, entre outros índices que não podem ser

atribuídos apenas à situação de pobreza, mas estão relacionados claramente a

processos discriminatórios.

Paixão (Et Al, 2012), por meio de dados relativos ao ano de 2010, mostra

que em comparação com o total de vagas nas universidades o número de

beneficiários de cotas ainda é pequeno. A maioria das vagas destinadas às cotas

nas universidades foram ocupadas por optantes das cotas sociais e uma minoria por

cotistas étnicos, além disso aponta insuficiência de programas de assistência

estudantil, identificando o aumento do número de ingressantes por reserva de vaga

e a adoção de políticas de apoio estudantil como desafio para as políticas

afirmativas até 2010.

De acordo com Lázaro (Et Al, 2012), considerando jovens entre 18 e 24

anos o número de negros no ensino superior passou de 4% em 1997 para 19,8%

em 2011. A mudança é significativa e certamente resultante das políticas de ação

afirmativa, mas ainda há um grande contingente de negros excluídos do ensino

superior, 80% segundo os autores, esse número significativo aponta para a

necessidade de políticas que invistam no percurso escolar, principalmente no ensino

médio, preparando o aluno para disputar uma vaga em curso superior. Assim como

Lázaro (et al,2012), Cunha, (2012) acredita que é preciso estimular a cultura do

ensino superior desde o ensino fundamental, para isso sugere a parceria entre IES

públicas e institutos federais e as escolas públicas. Para o autor as políticas com

recorte étnico-racial criam um ambiente favorável para as lutas antirracistas.

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Uma década após o polêmico início das discussões acerca da implantação

do sistema de cotas raciais na primeira universidade federal brasileira, a UNB, em 29

de agosto de 2012 finalmente foi sancionada pela Presidente Dilma Rousseff a lei de

cotas, cuja origem pode ser atribuída aos projetos de lei 73/99, 3627/04 e outros que

foram apensados a eles. A Lei 12711/2012, regulamentada pelo Decreto 7824/12 de

19 de outubro de 2012, dispõe sobre o ingresso nas Universidades Federais e

Instituições Federais de ensino técnico de nível médio. Determina que as instituições

federais que ofertam vagas para curso superior devem reservar 50% das vagas para

estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escola pública,

proporção de vagas no mínimo igual a de pretos, pardos e indígenas que compõe a

população da unidade da Federação onde a instituição estiver localizada, segundo o

último Censo Demográfico divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística - IBGE, que será reservada, por curso e turno, aos autodeclarados

pretos, pardos e indígenas (Brasil, 2012).

Esta lei aponta caminhos para maior equidade e diversidade na educação

superior e respeita a demanda do Movimento Negro não confundindo racismo e

pobreza, no entanto os indígenas ficam em desvantagem, já que a lei prevê a

consideração da proporção dos grupos étnicos nos estados, apenas 0,43% da

população brasileira é formada por indígenas (LÁZARO et al, 2012). Para Heringer

(2012) no cenário favorável proporcionado pela promulgação da lei e o respaldo

constitucional unânime das políticas afirmativas, torna-se ainda mais importante

analisar experiências em curso e avaliações realizadas, para descobrirmos o quanto

caminhamos e quais são os aprendizados indispensáveis e os limites a serem

superados para uma efetiva democratização do ensino superior. Santos (2012)

acredita que a lei representa uma conquista no respeito à democratização do acesso

ao ensino superior público, mas não é suficiente para sanar todos os problemas da

educação brasileira, nesse sentido concorda com Lázaro (Et al., 2012) e Cunha

(2012) defendendo a necessidade de intervenção na educação básica e

especialmente no ensino médio. A luta e o combate a todo tipo de discriminação,

melhoria na distribuição de renda, entre outros, são mecanismos indispensáveis à

promoção da verdadeira inclusão (SANTOS, 2013, p. 305).

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A referida lei é sem dúvida um grande êxito, principalmente pela atenção

específica dedicada aos grupos étnicos, no entanto, insere as cotas raciais dentro da

reserva de vagas para alunos de escolas públicas, além de estipular renda mínima

para alunos que optarem por concorrer às vagas reservadas. No que se refere às

cotas para o grupo racial negro (pretos e pardos), simboliza uma grande conquista

cujo mérito deve ser atribuído ao Movimento Negro cuja participação foi essencial

em todos os processos que culminaram nessa conquista. Contudo, acreditamos que

impõe certa padronização do processo de seleção como a inserção das cotas raciais

dentro da reserva de vagas para egressos de escolas públicas, assim como a

autodeclaração e esses podem ser pontos problemáticos, a autonomia no

estabelecimento dos critérios na adoção de políticas afirmativas que, em alguns

casos podem ser alterados drasticamente com a adequação à lei.

Acreditamos que deveria estar assegurada a possibilidade de cada

instituição analisar a viabilidade da mudança e se adequar da melhor forma possível

para não retroceder nos resultados já alcançados. Muitas universidades adotam

algum tipo de comprovação em seus processos seletivos como apresentação de

fotos e bancas de identificação racial. Com a autodeclaração esses processos serão

alterados, podendo trazer problemas para essas instituições. Até o momento

procuramos apresentar o percurso das políticas públicas de ação afirmativa no

Brasil, ressaltando os fatos que consideramos mais relevantes para a compreensão

do processo, na sequência vamos explicitar alguns resultados obtidos.

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2. POLÍTICAS PÚBLICAS DE AÇÃO AFIRMATIVA NO ENSINO SUPERIOR: AS

COTAS RACIAIS NAS UNIVERSIDADES FEDERAIS BRASILEIRA S.

Dentre as políticas públicas de ação afirmativa adotadas no Brasil, as cotas

raciais foram as mais polêmicas. De acordo com José Jorge de Carvalho (2005),

houve muita resistência por parte de algumas instituições, principalmente as mais

renomadas do país e uma polarização de opiniões em torno do tema.

Entre os episódios que evidenciaram posições contrárias podemos destacar

dois que tiveram repercussão nacional e ocuparam espaço na mídia por algum

tempo, o primeiro deles foi o manifesto contra cotas, documento intitulado “Cidadãos

Antirracistas Contra as Leis Raciais”10, que também ficou conhecido como

“manifesto dos 113 cidadãos antirracistas”, documento elaborado por artistas,

intelectuais, empresários e ativistas de movimentos sociais, que apresentavam

argumentos contra a adoção de cotas, que de acordo com Silveira (2012, p. 140)

ignoravam a ressignificação da noção de raça elos movimentos negros e

banalizavam a legitimidade de suas reivindicações, além de apresentar uma crença,

que o autor qualifica como ingênua de que o aparato jurídico legal do Estado poderia

alterar a estrutura sociocultural. Para Silveira (2012) o tipo de crítica utilizada no

documento esvaziava o debate, afastando os agentes sociais envolvidos nas

questões substantivas das políticas afirmativas, além de banalizar a evidente

exclusão dos afrodescendentes do ensino superior não contribuía para a alteração

do quadro vigente na universidade pública no sentido de torná-lo mais plural.

Outro episódio importante foi a Arguição de Descumprimento de Preceito

Fundamental (ADPF) nº 186, movida pelo Partido Democratas (DEM) em 2009 que

juntamente com o Recurso Extraordinário (RE) 597.285/RS, movido por um aluno da

UFRGS, que alegava ter sido prejudicado pelo sistema de cotas, resultou na

Audiência Pública sobre a Constitucionalidade de Políticas de Ação Afirmativa de

Acesso ao Ensino Superior, convocada pelo relator Ministro Ricardo Lewandowski

entre os dias 3 e 5 de março de 2010, no Superior Tribunal Federal (STF). Essa

10 O documento pode ser consultado na íntegra no seguinte link: http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u401519.shtml (acesso em 02/07/2013).

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audiência foi extremamente importante para o debate sobre políticas afirmativas no

Brasil, não apenas por ter dado espaço à manifestação de opiniões favoráveis e

contrárias que fomentaram o debate sobre o assunto, mas principalmente pelo

resultado final, já que foi julgada improcedente por unanimidade, dando forças às

políticas de ação afirmativa com recorte racial, não apenas na UNB, mas em todo o

país.

Mesmo diante das controvérsias sobre o assunto, desde 2002 foi crescente

o número de IES públicas que aderiram a algum tipo ação afirmativa. Em 2012 já

havia mais de cem instituições que possuíam algum tipo de reserva de vagas,

apesar desse número nem todas divulgaram os dados referentes ao acesso e

permanência dos estudantes que ingressaram através desses sistemas (SANTOS,

2013). Jocélio Teles dos Santos (2013) acredita que as razões para a não

divulgação dos resultados podem ser diversas, porém destaca três possibilidades: o

receio de publicizar dados que possam ser considerados negativos devido à reação

da mídia; a falta de tradição em pesquisa sobre relações raciais e, por fim, por

problemas burocráticos internos das próprias instituições. A falta de acesso a dados

relevantes, assim como a falta de padronização de processos, impossibilitam a

elaboração de um estudo sistemático capaz de abranger todas as instituições,

portanto trabalharemos apenas com algumas delas. Selecionamos seis que

apresentaram informações relevantes e atualizadas para a nossa pesquisa, além de

possuírem análises publicadas que podem ser utilizadas como referência.

Apresentaremos informações relativas à implantação dos sistemas como forma de

contextualização e algumas informações do impacto, principalmente no que se

refere ao quadro de alteração da diversidade racial pós-implantação das políticas de

ação afirmativa.

Para comparação com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), as

instituições selecionadas para este capítulo são as seguintes: Universidade de

Brasília (UNB), a Universidade Federal da Bahia (UFBA), a Universidade Federal de

Juiz de fora (UFJF), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e a Universidade Federal de Santa

Catarina (UFSC).

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UNB

Dentre as universidades federais brasileiras, a primeira a implantar um

sistema de reserva de vagas foi a UNB, a primeira proposta foi apresentada em

1999 e ganhou muita força em 2001, após a conferência de Durban, como afirma

Carvalho (2012). Em 2002, os professores José Jorge de Carvalho e Rita Segatto,

reescreveram o documento que haviam preparado em 1999 e apresentaram uma

versão revisada e ampliada do texto “Uma proposta de cotas para estudantes

negros na Universidade de Brasília”11, ao Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão

(CEPE). A primeira parte tratava das diferenças entre negros e brancos no Brasil e

da quase ausência dos negros no ensino superior, apresentava dados das ações

afirmativas que já estavam em curso no país e justificava à necessidade de cotas. A

segunda parte comentava as reações ao sistema, a eficácia e a necessidade de

órgãos de apoio e acompanhamento das medidas. É interessante ressaltar que o

texto não trata apenas do corpo discente das universidades brasileiras, mas aborda

também a inexpressiva participação de negros no corpo docente dessas instituições

e em cargos públicos em geral. Como exemplifica Carvalho (2002), a Universidade

de São Paulo (USP), uma das maiores universidades do país, possuía um total de

504 professores e destes apenas 3 eram negros, sendo que um deles era nascido

no Zaire e tinha formação no exterior.

Finalmente, após cinco anos de debate, foi instituído o sistema de cotas da

UNB, aprovado pelo CEPE. A partir do primeiro semestre de 2004, foram reservados

20% das vagas de todos os cursos para candidatos negros, a proposta inicial era

que essa política seria mantida por 10 anos. Após esse período seria avaliada com o

intuito de verificar o impacto e a satisfação dos objetivos propostos, as vagas

destinadas à reserva que não fossem preenchidas voltava para a concorrência geral.

Os candidatos negros teriam que atingir uma nota mínima estabelecida pela UNB

para serem aprovados, a redação e habilidades específicas continuariam sendo

eliminatórias, os ingressantes negros integrariam as mesmas turmas que os

11 O texto integral está disponível no link: http://afro-latinos.palmares.gov.br/_temp/sites/000/6/download/biblioteca/arquivos/PROJETO_DE_COTAS_Proposta%20de%20JJCarvalcho.pdf (Acesso em 02/07/2013)

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brancos, cursariam as mesmas disciplinas e seriam avaliados da mesma forma

(CARVALHO, 2002). As condições propostas descartavam a possibilidade de uma

formação de qualidade inferior para negros, deixando claro que independente da

forma de ingresso ao se formarem teriam cumprido todas as exigências necessárias

de maneira satisfatória.

De acordo com o Relatório de autoavaliação institucional da UNB – 201212,

do total de candidatos aprovados no vestibular de 2004, 19% ingressaram pelo

sistema de cotas, apenas 1% das vagas reservadas não foram preenchidas

retornando para a concorrência geral. Desde o primeiro ano da política foram 6891

cotistas matriculados na universidade e no aniversário de oito anos do sistema, em

2012 haviam 1452 cotistas formados. O mesmo relatório comenta que, em 2011 a

UNB sediou uma audiência pública para avaliar resultados e debater ampliação de

políticas públicas de ação afirmativa e os dados apresentados confirmaram os

benefícios dessas políticas.

UFBA

A primeira proposta de implementação de ações afirmativas na UFBA foi

elaborada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) e encaminhada à Reitoria em

2003, que solicitou ao Centro de Estudos Afro-orientais (CEAO) que coordenasse as

atividades destinadas à análise da proposta (REIS, 2007). Em outubro de 2002 foi

entregue ao Reitor o “Documento preliminar para o debate sobre a adoção de

mecanismos de ampliação do acesso e permanência de negros na UFBA”. A

proposta inicial era reservar 40% das vagas do vestibular de 2003 para estudantes

negros (SANTOS e QUEIROZ, 2012). De acordo com Jocélio Teles dos Santos e

Delcele Mascarenhas de Queiroz (2012), em 21 de outubro de 2002 foi deliberada

pelo Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (CONSEPE) a constituição de um

grupo de trabalho cujo objetivo era “estudar, sistematizar e apresentar um

documento proposta sobre estratégia de inclusão social”. Com o passar do tempo

houve alteração na composição do grupo, mas o objetivo foi mantido, uma das

12 Disponível em http://www.unb.br/unb/cpa/relatorio_autoavaliacao.pdf (Acesso em 19/07/2013)

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estratégias para elaboração da proposta foi analisar as que já haviam sido

aprovadas em outras universidades brasileiras, entre elas a UNB e a UFPR. Os

autores comentam que o texto inicial apresentado pelo DCE e responsável pela

criação do grupo demonstrava a falta de acesso dos estudantes negros e egressos

de escolas públicas ao ensino superior através de dados coletados na universidade

entre os anos de 1998 e 2001. Esses dados também apontavam para uma diferença

ainda mais significativa em cursos de alto prestígio, um exemplo apresentado é que

dentre as 160 vagas do curso de medicina, no máximo 7 eram ocupadas por

estudantes oriundos de escolas públicas (SANTOS e QUEIROZ, 2012).

A partir da análise dos dados o grupo concluiu que o problema de exclusão

na UFBA estava relacionado à má qualidade do ensino fundamental e médio

público, que não era um problema centrado no estado, mas do país como um todo.

Essa constatação serviu de base para a primeira proposta, dividida em quatros

eixos:

1) preparação: ações que visavam a melhoria da escola pública e

preparação para o ingresso;

2) Ingresso: isenção de taxas e reserva de vagas para pobres,

afrodescendentes e “índiodescendentes”;

3) Permanência: acompanhamento e reforço de políticas, oferta de bolsas;

4) Assistência pós-formação: preparação para pós graduação e mercado de

trabalho.

As três primeiras propostas foram amplamente discutidas, mas

apresentavam divergências sobre o percentual de vagas a ser reservado, para os

integrantes do GT seria necessário um percentual superior à 40%. Conforme Santos

e Queiroz, (2012), a ideia de reserva de vagas para grupos excluídos considerando

sua origem na escola pública foi reforçada por documento encaminhado ao GT pelo

Comitê Pró-Cotas. Na tentativa de evitar mal entendidos as vagas restantes seriam

destinadas a negros que tivessem estudado em escola privada. Em 2004 o Comitê

rejeitou a proposta que reservaria vagas para alunos de escolas públicas, que

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tivessem cursado da 5ª série do ensino fundamental ao ensino médio, sendo 80% do

total para negros, e 20% para não-negros. Para Santos e Queiroz (2012), os

professores viam as cotas sociais como indício de maior possibilidade de adesão em

conselhos superiores, além de defenderem o fato de a instituição ser pública e a

situação servir como reforço na possibilidade de processos judiciais. Diante do

impasse a discussão foi estendida para outros estudantes e membros da sociedade

civil. O debate alcançou inclusive o campo virtual, mas chegando ao consenso13,

ficou estipulado que 43% do total de vagas da universidade seriam destinadas às

cotas sendo dividido da seguinte forma: 85% desse total para negros e 15% para

não negros, como nos mostram SANTOS e QUEIROZ (2012). Em 2004 a UFBA

tornou-se a terceira universidade federal brasileira a aprovar um sistema de reserva

de vagas seguindo a UNB e a UFPR.

Em relação aos impactos do sistema de cotas na UFBA, podemos

considerar os resultados positivos. A pesquisa apresenta diversos dados, mas

selecionaremos apenas os mais relevantes. Segundo Santos e Queiroz (2013) o

maior impacto ocorreu nos cursos considerados de alto prestígio e de maior

concorrência14.

Entre 1998 e 2004 o índice de alunos egressos de escolas públicas variou

entre 39,2% e 49,8%, considerando a participação nos vestibulares o percentual de

brancos cai de 48,2%, em 1998, para 27,3%, em 2004, o que indica maior procura

de estudantes negros (SANTOS e QUEIROZ, 2013). Em 2005 pretos e pardos já

totalizam 70% dos inscritos, sendo constatado um aumento de pretos em relação

aos pardos entre os inscritos, também foi possível perceber na UFBA redução de

estudantes cujos pais possuem instrução superior e elevação do número de

estudantes com pais que nunca frequentaram a escola ou tem curso primário

13 SANTOS E QUEIROZ (2012a) descrevem o debate virtual em torno do assunto com maiores detalhes.

14 Dentre os selecionados para esses cursos nos últimos nove anos mais de 50% são do sexo masculino, atingindo 63% em 2007. Os autores justificam a situação com o fato de a maioria desses cursos serem engenharias, profissões tradicionalmente ocupadas por homens, mas consideram a evidência do padrão desigual entre homens e mulheres na apropriação de espaços de prestígio social.

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incompleto (SANTOS e QUEIROZ, 2013). Assim, como outras universidades que

optaram por adotar políticas afirmativas, a UFBA enfrentou polêmicas durante o

processo de implantação, mas apresentou resultados positivos em relação às ações

afirmativas adotadas.

UFJF

Tentando seguir uma ordem cronológica na apresentação de informações

das instituições selecionadas, o próximo caso a ser exposto é o da UFJF, a partir

dos estudos de implantação e impacto do sistema de cotas. Segundo BERALDO e

MAGRONE (2012) as discussões a respeito de cotas na UFJF iniciaram em 2004,

quando o Conselho Superior da Universidade (CONSU) designou uma comissão

que seria responsável pela apresentação de sugestões para a implantação de um

sistema de cotas na instituição que estivesse de acordo com o Projeto de lei nº

3627/2004. A comissão tinha uma composição heterogênea, presidida pelo

Professor Ignácio Godinho Delgado, contava com a participação de outros

professores, acadêmicos, sindicalistas, representantes de movimentos sociais e

outras entidades estudantis públicas e particulares. Após pouco mais de um mês de

discussões a comissão divulga relatório, publicado pela Editora UFJF e distribuído

para a comunidade universitária. Em 04 de novembro de 2004 o CONSU aprovou o

relatório e editou a Resolução 16/2004 baseado no mesmo, em 24 de fevereiro de

2005 após discussão das condições de implantação do sistema é elaborada a

Resolução 05/2005 que disciplina a anterior e estabelece a adoção do sistema de

cotas (BERALDO e MAGRONE, 2012). A proposta aprovada apresentava as

seguintes condições: prazo de 10 anos, com previsão de revisão após os três

primeiros. Nesse período a condição para ingresso seria ter cursado pelo menos

sete séries do ensino básico em escolas públicas, após isso os candidatos deveriam

ter cursado pelo menos 4 séries do ensino fundamental e todo o ensino médio em

escolas públicas. Os percentuais de vagas seriam crescentes 30% em 2006 até 50%

a partir de 2008, sendo 25% destes percentuais reservados para candidatos

autodeclarados negros (BERALDO e MAGRONE, 2012).

Em relação aos resultados, a efetividade da política de cotas se destacou

nos cursos mais concorridos como medicina, direito e engenharia civil, no que se

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refere à inclusão de alunos de escolas públicas. Entre 2006 e 2011 apenas 30% das

vagas fixadas às cotas foram preenchidas por alunos egressos de escolas públicas

e 8% por alunos negros. Apesar de ser ofertado o número previsto de vagas não

houve demanda para supri-las, desta forma voltaram para a concorrência geral

conforme estava previsto nas regras (BERALDO e MAGRONE, 2013). Outra

constatação importante é que ao comparar as médias de rendimento acadêmico dos

alunos, apesar de estarem muito próximas, as dos cotistas raciais são inferiores às

dos cotistas sociais e dos não cotistas. Beraldo e Magrone (2013) concluem que no

caso da UFJF há necessidade de mudanças para a elaboração de uma política

eficaz, identificam diversos problemas que precisam ser corrigidos, como por

exemplo, o ingresso de alunos de escolas públicas com altos rendimentos como

egressos dos colégios de aplicação e dos Centros Federais de Educação

Tecnológica (CEFET’s). Para os autores estes alunos deveriam se enquadrar na

condição de não cotistas. Do período em que as cotas foram adotadas até 2011, “de

cada 100 alunos ingressantes apenas 23 ingressaram na UFJF dentro do espírito

que orientou a política de cotas” (BERALDO e MAGRONE, 2013).

UFSM

Em sua análise acerca da implantação do sistema de cotas na UFSM, Paulo

Roberto Cardoso da Silveira e Maria Íris C. Messias da Silveira (2012) atribuem a

conquista a dois fatores: uma pressão do movimento social negro, associado a

outras entidades, e uma pressão governamental exercida sobre as IES para

adotarem mecanismos de acesso à universidade para grupos historicamente

prejudicados, pressão essa atribuída ao REUNI (Programa de Apoio a Planos de

Reestruturação e expansão das universidades federais), que visava ampliar o

acesso e a permanência ao ensino superior. Assim como em outras universidades a

resistência a esse tipo de política, principalmente a racial, era muito grande. Os

autores acreditam que o sistema de reserva de vagas só foi possível a partir do

momento que houve o apoio institucional unido a pressão exercida pelos

movimentos sociais, apontam ainda como outra conquista do movimento negro

alcançada em reunião com o reitor e a ministra da SEPPIR, Matilde Ribeiro, que foi

a criação de comissão consultiva responsável por debater as polêmicas

relacionadas à proporção que deveria ser destinada à reserva de vagas para pretos

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e pardos e a construção de argumentação em defesa das cotas raciais e não

apenas sociais.

Ao analisar dados a partir de 2004 a comissão constatou as mesmas

divergências constantes em outras universidades, a população negra no RS era de

17%, na instituição estes representavam apenas 2% do total de alunos. Durante os

diversos eventos realizados para discutir ações afirmativas foi possível notar a

posição contrária da universidade, principalmente em relação às cotas raciais

(SILVEIRA e SILVEIRA, 2012), os autores acreditam que uma das evidências disso

foi ao grande número de ausentes em 11 de agosto de 2007, dia em que foi

aprovada no Conselho de Ensino e Pesquisa (CEPE) a Resolução 011/200715. A

resolução estabelecia a adoção de política de cotas na UFSM pelo prazo de 10 anos

e determinava a reserva de 20% para alunos que concluíram o total do ensino

fundamental e médio em escolas públicas. No vestibular de 2008 10% das vagas de

cada curso foram destinadas a afrodescendentes, aumentando um por cento ao ano

e chegando ao máximo de 15% em 2013, 5 vagas para indígenas em 2008 e 10 nos

anos posteriores e 5% para portadores de necessidades especiais.

Apesar de existir um extenso banco de dados sobre os alunos da UFSM, a

maneira como eles estão disponíveis impossibilita uma análise aprofundada sobre a

adoção do sistema de cotas sobre seus alunos. No período entre 2008 e 2011 a

média geral dos alunos que ingressaram pela concorrência universal na

universidade é 7,27, a média dos cotistas raciais é 6,35, dos portadores de

necessidades especiais 6,19 e dos cotistas sociais 7,29. A média dos cotistas

sociais é equivalente a dos ingressantes pelo sistema universal, situação que separa

a ideia que liga dificuldade de acesso à dificuldade de aprendizagem e desmistifica o

discurso da meritocracia relacionado à classificação e desempenho no vestibular

(SILVEIRA Et al., 2013). O maior problema encontrado desde a implantação do

sistema de cotas na UFSM é a falta de um programa de permanência, afinal é

insuficiente apenas inserir o aluno no ambiente acadêmico, pois dificuldades

econômicas e culturais podem resultar na evasão desses alunos. Os dados apontam

15 Disponível no Link: http://w3.ufsm.br/prograd/afirmativas/res011_2007.pdf (acesso em 05/07/2013)

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para um índice de 7,61% de abandono entre os cotistas raciais e 6,75% entre os

sociais (SILVEIRA Et al., 2013). De acordo com o Relatório do Programa de ações

afirmativas de inclusão racial e social da UFSM (2008 – 2011) as vagas destinadas

aos alunos negros não foram totalmente ocupadas. Nesse período foram ofertadas

nos concursos vestibulares 1510 vagas para cotistas raciais, 826 foram classificados

e 808 se matricularam, o relatório não apresenta o índice de abandono para o ano

de 2011, mas até 2010 era 68 o número de alunos evadidos dentre os que tinham

ingressado a partir do sistema de cotas raciais.

UFRGS

A disponibilidade de informações sobre o processo de implantação de

reserva de vagas da UFRGS foi o que mais nos chamou atenção até o momento,

talvez pela descrição detalhada e rica de elementos sociológicos apresentados por

José Carlos Gomes dos Anjos16. O autor afirma que houve intensificação das

discussões a partir da formação do Grupo de Trabalho para as Ações Afirmativas

(GTAA), em 2006, que surgiu da iniciativa de um grupo de alunos que o procuraram

com esse objetivo. Houve muita discussão no interior da academia com participação

de representantes de movimentos sociais17, porém quando foi oficializada pela

reitoria a Comissão Especial Ações Afirmativas, que seria responsável pela

elaboração de uma proposta de políticas afirmativas para a UFRGS, foi formada

apenas por membros do Conselho de Extensão e Pesquisa (CEPE) e do Conselho

Universitário (CONSUN). Apesar de as primeiras reuniões serem abertas, apenas os

membros internos da universidade tinham direito a voz (ANJOS, 2012). Ao descrever

uma reunião em que um representante do movimento negro foi impedido de se

manifestar e comentar a estruturação de uma comissão formada por uma minoria

negra - apenas três pessoas (ANJOS, 2012) - demonstra claramente seu

inconformismo com o fato de uma comissão de maioria branca ser responsável por

16 ANJOS, José Carlos Gomes dos. A religiosidade afro-brasileira e política de reserva de vagas na Universidade federal do Rio Grande do Sul. In: SANTOS, Jocélio Teles (org.). Cotas nas Universidades: análises dos processos de decisão. Salvador CEAO, 2012. p. 183-207

17 Segundo o autor o movimento negro de Porto Alegre já debatia políticas afirmativas desde os anos 90.

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decidir sobre a inserção de negros numa das maiores universidades brasileiras.

Assim como em outras universidades, a comissão tinha preferência por adoção de

políticas sociais, a primeira proposta pensada pelo GTAA e pela comissão era de

reserva de 15% para estudantes negros e 15% para oriundos de escolas públicas,

porém, prevendo a reprovação dos conselheiros a comissão solicitou adiamento da

reunião do dia 15 para o dia 29 de junho com o intuito de adiar a proposta. No dia 15

os professores do CONSUN passaram por um corredor, onde manifestantes

gritavam “quem é contra cotas é racista” e no dia 29, de acordo com ANJOS (2012)

a especificidades das relações sociais e políticas estabelecidas entre os estudantes

integrantes do GTAA, militantes do Movimento negro e lideranças religiosas afro-

brasileiras possibilitou um fato que ele chamou de inusitado. Lideranças religiosas

foram convocadas pelos estudantes para fazer um axé e receberem os integrantes

do CONSUN com pipocas (como parte de um ritual que simboliza limpeza), inclusive

o reitor18. Nesta data foi aprovada a Resolução 134/2007 do CONSUN que estipula

a reserva de 30% das vagas do vestibular para estudantes que concluíram pelo

menos metade do ensino fundamental e totalidade do médio em escolas públicas,

sendo metade destinada a candidatos autodeclarados negros e a criação de 10

vagas para estudantes indígenas indicados por suas comunidades, que prestam

prova especial.

As particularidades do processo seletivo19 se mostraram de extrema

importância para a compreensão dos impactos da adoção de políticas de ação

afirmativa na UFRGS, por isso optamos por descrevê-los para facilitar o

entendimento da análise feita por Monsma (Et al., 2013). Como em outras

universidades as políticas afirmativas da UFRGS tinham prazo previsto de 5 anos,

sendo avaliada anualmente com possibilidade de renovação. Todos os candidatos

18 A exclusão de dos movimentos dos estudantes e de integrantes de movimentos sociais imposta pela instituição foi suprida de maneira surpreendente através de um ritual religioso carregado de simbolismo.

19 Apesar de resumidas as informações apresentadas foram extraídas do Artigo: As consequências das ações afirmativas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul uma análise preliminar. Escrito por Karl Monsma, João Vicente Silva Souza e Fernanda Oliveira

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ao vestibular da UFRGS a partir do ano de 2008 (exceto os indígenas) fazem as

mesmas provas, nas quais os pesos variam de acordo com os cursos20. Dentre os

não eliminados pelos critérios anteriores é aplicado um ponto de corte para pré-

classificação, estes serão ordenados por curso de acordo com o escore, sendo pré-

classificados o total de candidatos referente a quatro vezes o número de vagas

oferecidas, os outros serão eliminados sem terem suas redações corrigidas. Os pré-

classificados devem atingir 30% da nota máxima na correção da redação, caso

contrário serão eliminados; os que permanecem tem as notas somadas à pontuação

anterior para obtenção de escore e classificação final. Após a classificação final, o

que define se o candidato foi aprovado ou não é o número de vagas para cada

modalidade. Para o “Acesso universal” são reservadas 70% do total de vagas de

cada curso, que serão ocupadas pelos candidatos com melhores escores,

independente da modalidade escolhida no ato da inscrição. No caso da modalidade

“Ensino público” há reserva de 15% de alunos oriundos de escolas públicas, cuja

pontuação foi insuficiente para se classificar na modalidade “Acesso universal”,

incluindo candidatos negros e não negros. A última modalidade é a “Ensino público

autodeclarado negro” com reserva de 15%, não há garantias de ocupação do total

dessas vagas por candidatos negros, já que para chegar a essa fase do processo

precisam atingir a nota de corte e não ser eliminados pelos outros critérios

apresentados, assim, as vagas passam a ser destinas a candidatos da modalidade

“Ensino Público” e ainda se não tiverem candidatos aptos neste grupo, as vagas

podem ser destinadas à modalidade “Acesso universal”. Com o intuito de aumentar

o número de cotistas negros aprovados no vestibular a partir de 2012, foi revista a

Resolução que deu origem ao sistema, com ampliação das vagas para cotistas

raciais nas listas de pré-classificação.

Entre 2007 e 2008 houve aumento de 31,8% para 41,1% de alunos oriundos

de escola pública que se identificam como brancos ou amarelos. Dos que se

identificam como negros o número foi maior, de 3,6% para 11,6%. Dentro desse

20 Serão desclassificados de imediato os alunos que não acertarem pelo menos uma questão em cada uma das provas objetivas e pelo menos 30% de todas as questões dessas provas e os candidatos que obtiverem escore mais de cinco desvios padrões abaixo da média na prova.

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grupo houve maior proporção de pretos, de 1,0% para 6,4%, enquanto os pardos

aumentaram de 2,6% para 5,2% (MONSMA et al., 2013). Esses dados apresentados

pelos autores podem ser considerados reflexos de um problema a ser superado no

que se refere às cotas raciais. Ao observarem o censo 2010 percebem que a

proporção de pardos no Rio Grande do Sul é quase o dobro da proporção de pretos

e constatam que os dados dos vestibulares de 2005 a 2007 refletem essa

proporção. Porém, nos anos posteriores o número de aprovados pretos oriundos de

escolas públicas superou o de pardos e mesmo ao incluir os alunos pardos de

escolas particulares o número continua um pouco superior. Segundo os autores a

discrepância de dados pode ser atribuída à confusão e falta de informações na hora

de escolher a modalidade de ingresso e desconsideram a possibilidade dos alunos

não optarem pela modalidade “Ensino público autodeclarado negro” por receio de

sofrerem algum tipo de preconceito, mas desconfiam que a maioria não saiba que

pode escolher tal modalidade, visto que para além da academia e dos movimentos

sociais, ser negro é ser preto (MONSMA et al., 2013). A permanência também é um

problema na UFRGS, há reclamações de pouca oferta de bolsa, de pagarem pouco

e exigirem trabalhos mecânicos, além de haver segregação dos alunos cotistas, já

que uma das regras da universidade é que as matrículas sejam feitas por ordem de

classificação no vestibular (MONSMA et al., 2013).

Apesar de as políticas de ações afirmativas na UFRGS terem partido de um

grupo de negros, Anjos (2012) conclui que os maiores beneficiados foram alunos

brancos egressos de escolas públicas, mas afirma que essa também era uma

demanda dos negros em 2007, no entanto, não havia expectativa que houvesse

uma diferença esmagadora. De acordo com Monsma (Et al., 2013) houve aumento

na diversidade social e racial entre os alunos de graduação da UFRGS, porém a

mudança é menos evidente nos cursos mais disputados. A complexidade do sistema

prejudicou a ocupação do total de vagas destinadas para alunos negros nos

primeiros anos de vigência da política, mas após a alteração na Resolução no ano

de 2012 foi possível aos negros ocuparem todas as vagas que lhes eram de direito.

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UFSC

O programa de políticas de ações afirmativas da UFSC foi resultante de um

longo processo de discussão iniciado em 2002 após a conferência de Durban, com o

Grupo de Trabalho de Etnia, Gênero e Classe (GTEGC) da Associação dos

Professores da UFSC. As discussões se mantiveram de maneira difusa durante

muito tempo (TRAGTENBERG, 2012), porém, durante seminário realizado pelo

Núcleo de Estudos Negros (NEN) de Florianópolis cuja abertura contou com uma

mesa sobre políticas afirmativas, composta por Marcelo de Paula Paixão (UFRJ),

José Jorge de Carvalho (UNB) e frei David Raimundo dos Santos (Educafro – Rede

de pré-vestibulares para negros e carentes), coordenada por José Nilton de Almeida

do NEN, frei David questionou diretamente o representante administrativo da UFSC,

o pró-reitor de ensino de graduação sobre quando a Universidade teria cotas

(TRAGTENBERG, 2012). Em abril de 2006, quando foi constituída uma comissão

responsável por estudar o acesso de estudantes considerando a diversidade étnico-

racial e socioeconômica (TRAGTENBERG et al., 2013), foram convidados para

participar da comissão representantes da Comissão Permanente de Vestibular

(COPERVE), do sindicato de professores da universidade (APUFSC) e dos

trabalhadores (SINTUFSC), do DCE, da Secretaria Estadual de Educação (SED), do

movimento social negro e um representante dos índios guaranis. O SINTUFSC

rejeitou o convite, o DCE participou de apenas algumas reuniões e o representante

indígena compareceu apenas uma vez (TRAGTENBERG, 2012). A estratégia

adotada pela comissão foi de levantar dados sobre as desigualdades e realizar

discussões abertas à sociedade e com gestores, para enfim elaborarem a proposta

a ser apresentada ao Conselho Universitário (CUN). Foram realizados diversos

seminários com participação de docentes de universidades que possuíam sistemas

de cotas, além de discussões a respeito das melhores estratégias a serem adotadas

no caso específico da UFSC (TRAGTENBERG, 2012).

A Resolução 008/200721 do CUN/UFSC, aprovada em 10 de julho de 2007,

determina a criação de ações afirmativas na universidade beneficiando três grupos

21 Disponível em: http://www.vestibular2011.ufsc.br/resolucao_acoes_afirmativas.pdf (Acesso em 07/07/2013)

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específicos: alunos que estudaram o ensino fundamental e médio integralmente em

escolas públicas; pertencentes ao grupo racial negro e aos povos indígenas, de

acordo com o artigo 16 dessa resolução, as Políticas afirmativas estariam sujeitas à

avaliação nos 5 anos subsequentes à implantação. Ela prevê preparação para o

acesso ao ensino superior através da oferta de cursos pré-vestibulares destinados

principalmente aos egressos de escolas públicas; divulgação do programa de ações

afirmativas e apoio de atividades de extensão nesta área. Quanto às vagas, 30% do

total serão reservadas às ações afirmativas, sendo 20% para alunos oriundos de

escolas públicas e 10% para negros que tenham cursado integralmente o ensino

fundamental e médio em escolas públicas. O programa prevê ainda ações de

acompanhamento e permanência, além de se preocupar com a inserção sócio-

profissional dos egressos. Para TRAGTENBERG (2012), a experiência das várias

universidades que já haviam aderido a um sistema de reserva de vagas,

proporcionou à UFSC a possibilidade de adoção de programa amplo de ação

afirmativa, capaz de prever desde a preparação do acesso até o acompanhamento

de egressos.

Tivemos que observar a experiência da UFSC de forma diferenciada, já que

as ações afirmativas desta universidade iniciaram na fase de preparação para o

vestibular, os impactos também começam a aparecer desse ponto. Conforme dados

apresentados por Tragtenberg (Et al., 2013), em relação ao pré-vestibular e

divulgação de vagas, a UFSC tem alcançado êxito em seus objetivos, segundo os

autores, o curso existe desde 2003, mas a partir de 2009 pôde contar com uma

parceria com a SED e atualmente os critérios de acesso ao curso são: ensino médio

regular ou supletivo em escolas públicas e cadastro socioeconômico. Os dados

mostram que após a implantação das políticas de ação afirmativa o número de

aprovados no vestibular da UFSC que fizeram o curso teve um aumento

progressivo. Em 2006, período prévio à implantação do sistema, o percentual de

aprovação era de 20%, em 2010 passou para 54% e em 2012 foram 72%. Outro

dado relevante é que de cada três aprovados por cotas, tanto raciais, quanto sociais

na UFSC, dois fizeram o curso pré-vestibular da universidade (TRAGTENBERG et

al., 2013).

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Para constatar se houve alteração no número de estudantes negros que

tiveram acesso ao ensino superior a partir da adoção de políticas afirmativas, os

autores utilizaram a análise da razão entre brancos por pretos + pardos. Em 2004, o

resultado foi 11,7; em 2008, primeiro ano de vigência das políticas de ação

afirmativa, caiu para 5,2 vezes e em 2011, o resultado foi 6,4 vezes mais brancos

que negros e pardos (TRAGTENBERG et al., 2013). De acordo com o “Relatório de

avaliação do período de 2008 – 2012 e proposta de revisão das Políticas de Ação

Afirmativa da UFSC”22, em relação à diversidade dos alunos houve uniformidade

entre os vários centros de ensino. Para exemplificar utilizam o caso de dois centros

que possuem situações opostas, o Centro Tecnológico (CTC), que possui alta

seletividade, e o Centro de Ciências da Educação (CED), que possui baixa

seletividade. O relatório mostra os dados antes e depois da implantação da política,

foi constatado aumento no percentual de negros nos dois casos, no CTC a variação

foi de 7,9% entre 2004 e 2007 para 13,7% entre 2008 e 2011; no CED foi de 9,6%

para 15,9%, respectivamente no mesmo período. Entendemos que a escolha dos

exemplos apresentados nos relatórios serve para mostrar que, apesar de haver

diferenças percentuais entre cursos e áreas, as políticas de ação afirmativa foram

efetivas, aumentando o número de negros na universidade.

A partir das informações compiladas neste trabalho elaboramos o quadro

abaixo, no qual enfatizamos as informações mais relevantes a que tivemos acesso,

para finalmente tecer uma conclusão acerca dos impactos das políticas públicas de

ação afirmativa na UFPR23. As informações que seguem referentes às universidades

tratadas no segundo capítulo já foram escritas em forma de texto, reorganizamos

desta forma para facilitar a visualização. O campo “Ano” que consta no quadro,

refere-se ao ano de aprovação da lei de cotas nas universidades, a aplicação das

políticas se deu nos anos seguintes à aprovação em todas elas.

22O relatório a que nos referimos é que avalia os 5 anos de Políticas de Ação Afirmativa na UFSC disponível em http://acoes-afirmativas.ufsc.br/files/2013/06/ufsc_relatorio_cotas_2008-2012.pdf (Acesso em 07/07/2013)

23 As informações que se referem à UFPR estarão especificadas no terceiro capítulo deste trabalho.

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Após o exemplo dado por José Jorge de Carvalho e Rita Segatto, todas as

outras universidades pesquisadas passaram por processos semelhantes, foram

nomeadas comissões responsáveis por elaborar propostas que contemplassem as

necessidades da instituição em relação à adoção de políticas afirmativas. Essas

propostas eram apresentadas para os conselhos superiores que debatiam e

deliberavam sobre o assunto. Apesar de demorados, em todas elas houve

aprovação e os resultados predominantemente positivos estão apresentados nesse

trabalho. Percebemos um grande otimismo nas análises da UFBA e da UFRGS

(referente ao ano de 2012). Na primeira, apesar de não falar sobre o número de

aprovados, já constatava crescimento na participação no vestibular desde 2002

(52,5%) e em 2005 teve participação acima 70%24 (SANTOS e QUEIROZ, 2013). A

UFRGS possui o processo seletivo mais complexo do nosso universo de pesquisa e

por conta disso dentre os anos de 2008 e 2011 não conseguiu preencher as vagas

destinadas às cotas raciais, os negros eram barrados nas etapas iniciais do

processo. A partir de 2012 houve ampliação das listas de pré-classificação para

cotistas, o que possibilitou o preenchimento do total de vagas. Em geral os impactos

das políticas de cotas conseguem produzir maior diversidade racial nas

universidades, mas na maioria dos casos não houve ocupação do total de vagas

oferecidas. No caso da UFJF, Beraldo e Magrone (2012) atribuem o problema à falta

de demanda. Monsma (Et al, 2012) afirmam que até 2011 as vagas da UFRGS não

foram ocupadas tanto pela complexidade do processo seletivo, quanto pela falta de

informação. Eles constataram baixa participação de pardos no processo e dizem que

isso acontece porque para além dos muros da academia e dos movimentos sociais

ser negro é ser preto. A UFSC também constatou aumento significativo de

estudantes de cor preta e parda em 2008, porém após aumento da nota mínima

para aprovação no vestibular, em 2009 e 2010 houve queda também significativa

(TRAGTENBERG et al., 2013). A UFSM aumentou o número de negros, mas

também não teve todas as vagas ocupadas e ainda apresenta sérios problemas de

evasão, que evidenciam a necessidade de programas de permanência. Contudo, os

24 É importante lembrar que a população de negros na Bahia de acordo com o censo 2010 é de 76,6%

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dados relativos às médias dos alunos mostram que os rendimentos de cotistas e não

cotistas estão muito próximos25.

Quadro 1 – Principais características das cotas nas universidades Instituição Ano Observações importantes UNB 2003 • Elaboração da proposta de política de cotas partiu de professores, a

primeira foi apresentada em 1999. (CARVALHO, 2005) • Talvez por ser uma das universidades mais importantes do país esteve

no centro de uma das maiores polêmica (ADPF 186). • Resultados considerados positivos, o relatório de 2012 comenta

apenas os do primeiro ano após política de cotas e mostra que 19% das vagas destinadas às cotas raciais foram ocupadas.

UFBA 2004 • Primeira proposta partiu do DCE em 2003 (SANTOS e QUEIROZ, 2012).

• Resultados positivos, o maior impacto pode ser observado em cursos de maior prestígio, sendo que mais de 50% das vagas foram ocupadas por pessoas do sexo masculino nos últimos 9 anos (a justificativa dos autores consta no texto) (SANTOS e QUEIROZ, 2013).

• Em 2005, 70% dos inscritos no vestibular são pretos e pardos (SANTOS e QUEIROZ, 2013).

UFJF

2006

• O CONSU designou uma comissão para elaborar uma proposta com base no PL 3627/04

• Teve destaque inclusão de alunos de escola pública em cursos de alto prestígio

• Entre 2006 e 2011 apenas 30% das vagas destinadas à alunos de escolas públicas foram preenchidas e 8% das destinadas à negros, apesar de a universidade ter ofertado o número previsto de vagas não houve demanda para suprir (BERALDO e MAGRONE, 2013).

UFSM 2007 • Atribuem a conquista à pressão do movimento social negro associado a outras entidades e a pressão governamental exercida pelo REUNI (SILVEIRA e SILVEIRA, 2012)

• Relatório do Programa de ações afirmativas de inclusão racial e social da UFSM (2008 – 2011) mostra que as vagas destinadas às cotas raciais não foram totalmente ocupadas

• Acreditam que um dos maiores problemas da universidade seja a falta de um programa de permanência os dados apontam para um índice de 7,61% de abandono entre os cotistas raciais e 6,75% entre os sociais (SILVEIRA et al. 2013).

• Mostram que os alunos apresentam rendimentos muito próximos.

UFRGS 2007 • Iniciativa dos alunos que solicitaram auxílio de um professor em 2006, mas a decisão final foi tomada por um grupo “fechado” (ANJOS, 2012)

• Até o vestibular de 2011 não foram ocupadas todas as vagas destinadas às cotas, devido à complexidades do processo seletivo, mas entre 2007 e 2008 houve aumento de 3,6% para 11,6%, com maior proporção de pretos dentro desse número pretos de 1,0% para 6,4%. Como a proporção de pardos no Estado é o dobro da de pretos, é provável que a grande maioria das pessoas não saiba que podem concorrer às cotas (MONSMA et al. 2012).

• Devido a alteração no processo seletivo que aumentou o número de

25 Os números exatos referentes aos rendimentos foram apresentados no 2º capítulo desse trabalho.

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vagas para pré-classificados negros em 2012 foram ocupadas todas as vagas destinas das ás cotas raciais

UFSC 2007 • Discussões iniciadas no sindicato dos professores em 2002 • A política afirmativa tem preocupação com a preparação do aluno,

ofertando curso pré-vestibular, que apesar de não ter recorte racial, de cada três aprovados por cotas tanto raciais quanto sociais dois são alunos do curso.

• A política foi efetiva no sentido de aumentar o número de negros na Universidade como comprova o “Relatório de avaliação do período de 2008 – 2012 e proposta de revisão das Políticas de Ação Afirmativa da UFSC” ao comparar a diferença do percentual de alunos negros no período pré e pós cotas em dois centros de estudos diferentes, um de alto e outros de baixo prestígio, mostrando diferença de 5,8% e 6,3%, respectivamente.

Neste capítulo procuramos através de textos, relatórios e análises

publicados a respeito do assunto, sintetizar informações sobre os processos de

implantação do sistema de cotas em seis universidades públicas federais, com

intenção de compará-las com os dados relativos à adoção de políticas afirmativas

raciais na UFPR, que trataremos detalhadamente no próximo capítulo.

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3. AS COTAS RACIAIS NA UFPR

A Universidade Federal do Paraná (UFPR) foi a segunda universidade

federal do país a adotar políticas de ação afirmativa, em maio de 2004. Assim como

nas outras universidades que fizeram essa opção, houve um longo processo entre o

inicio das discussões e a implantação do sistema. De acordo com Silva (2008), em

2001 a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC) promoveu um seminário para

discussão de políticas públicas no ensino superior que pode ser considerado o

marco inicial de inserção da temática na universidade. No ano seguinte, em 2002, é

dado o primeiro passo institucional com a finalidade de criar uma política afirmativa,

com a nomeação, pelo Reitor, de uma comissão responsável por elaborar propostas

para serem aplicadas no vestibular de 2003, porém essa comissão não produziu o

esperado no decorrer de um ano e foi substituída (SILVA, 2008). A nova comissão

foi inicialmente composta por três professores e uma procuradora da Universidade,

em outubro de 2003 foram incluídos mais uma professora e dois estudantes, todos

com vínculo com a temática racial (PORTO, 2011). Entre junho e agosto de 2003 o

grupo elaborou uma versão preliminar de proposta do Plano de metas, no entanto

ficou definido que ela só seria discutida pelo Conselho Universitário (COUN) após

ser amplamente debatida pela comunidade universitária (SILVA, 2008). De agosto a

dezembro de 2003 a proposta foi discutida com órgãos consultivos e deliberativos26

da universidade e do DCE, intermediada pelos membros da comissão e com espaço

garantido institucionalmente. Os sindicatos dos professores e servidores

administrativos não atenderam aos pedidos de coorganizarem eventos para

discussão da proposta (SILVA, 2008). De acordo com Silva (2008) 27, os debates

estabelecidos não demonstravam resistência em relação às cotas sociais, nem a

proposta de vagas suplementares para indígenas, entretanto, as cotas raciais eram

as que causavam maiores objeções, com a maioria dos argumentos utilizados

contra, fundados na falsa ideia de democracia racial comum na sociedade brasileira,

os debates foram responsáveis pela desconstrução desse mito. “Grande parte da

26 A proposta foi discutida com os 12 Conselhos Setoriais e com o Conselho da Escola Técnica.

27 O autor foi um dos integrantes da Comissão

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comunidade universitária operava (e provavelmente opera) com a suposição que no

Brasil as relações raciais são cordiais, as situações de discriminação são episódicas,

as desigualdades são definidas pelo eixo da classe social” (SILVA, 2008, p.163). Os

pontos de vista manifestos proporcionaram à comissão possibilidade de desmistificar

estas perspectivas. Isso ocorreu por meio da apresentação de dados de pesquisa

que evidenciaram o abismo social que separa negros e brancos no país, apresentar

hipóteses explicativas e informações sobre a necessidade de adoção de políticas

para combater desigualdades, ganhando assim “parte considerável da audiência”

(SILVA, 2008, p.163). Apesar de inicialmente ter identificado o direcionamento

recebido como tentativa de protelar o debate sobre políticas afirmativas para negros

como afirma (SILVA, 2008), o resultado final das discussões foi positivo.

Com base nos debates produzidos a partir da proposta preliminar, entre

janeiro e fevereiro de 2004 a comissão redigiu o relatório e o plano de metas. Em 30

de abril de 2004 foi apresentado o Processo 14898/04-12 ao COUN, no qual entre

outros documentos, continha o “Relatório e Exposição dos Motivos para o Plano de

Metas de Inclusão Racial e Social na Universidade Federal do Paraná”. Este,

buscava discutir a necessidade de democratização do acesso à universidade. O eixo

da argumentação da proposta construída pela comissão se dava na temática da

exclusão devido ao racismo, englobando a questão indígena na questão racial

(PORTO, 2011). Ao Diretor do Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, foi

atribuído o relato do processo. Não podemos deixar de acentuar que este Setor tem

posicionamento favorável à política de ações afirmativas. O relato do Diretor possui

quatorze páginas, apoia a proposta apresentada pela comissão, expondo sugestões

relevantes em relação aos indígenas, como a criação de vagas suplementares e

uma política de permanência específica para o grupo (PORTO, 2011). Conforme

Silva (2008) o relator melhorou o texto, mas manteve a argumentação básica, o

texto apresentado, assim como o relatório, desenvolve-se no sentido de desmistificar

a ideia sobre as relações raciais cordiais e utiliza pesquisas que comprovam que as

desigualdades raciais no Brasil são importantes e não episódicas, além de distinguir

desigualdade social de desigualdade racial (SILVA, 2008), é importante ressaltar

que o parecer do relator demonstrava que a UFPR já contava com um percentual

superior a 20% de alunos egressos de escolas públicas e que o estabelecimento de

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cotas para esse segmento seria dispensável exceto nos cursos de maior prestígio

(BEVILAQUA, 2005a).

O Plano de Metas para a Inclusão Social e Racial da UFPR foi aprovado

pelo COUN, em 10 de maio de 2004 após três sessões de acaloradas discussões28.

As cotas sociais não eram questionadas, o problema maior estava na reserva de

vaga para negros, os conselheiros que se posicionavam contra as cotas para negros

e manifestavam indiretamente apoio às cotas para escolas públicas (BEVILAQUA,

2005a). Segundo Silva (2008), foram dois os contra-argumentos utilizados pelos

conselheiros. O primeiro defendia que a entrada de alunos (pobres) de escola

pública fosse a única forma de acesso diferenciada, os negros seriam contemplados

por representarem maioria dentre os alunos das escolas públicas, o outro aceitava a

cota racial desde que os candidatos negros fossem também pobres. Os argumentos

não se sustentaram e por fim, ficou estabelecido na UFPR reserva de vagas

independentes para negros e alunos de escolas públicas.

A Resolução 37/2004 resultante do processo 14898/04-12, estabelece por

um período de 10 anos, reserva de 20% das vagas ofertadas nos processos

seletivos para negros, 20% para alunos que tenham feito os cursos fundamental e

médio exclusivamente em escola pública. Em relação aos indígenas, a proposta era

ofertar vagas suplementares, segundo demanda intermediada pela FUNAI, que

aumentariam gradativamente, começando com 5 vagas para os anos de 2005 e

2006, passando para 7 vagas nos anos de 2007 e 2008 até atingir 10 vagas a partir

de 2009 29. A resolução prevê nos capítulos II e III ações referentes à permanência e

implantação de um sistema de acompanhamento de estudantes na universidade,

conforme Porto (et al., 2012) e estratégias de divulgação das políticas afirmativas. A

implementação de programa de apoio acadêmico e psicopedagógico e/ou tutoria é

28 BEVILAQUA, Cimea B. 2005 a. Entre o Previsível e o contingente: etnografia do processo de decisão sobre uma política de ação afirmativa in Revista de Antropologia, v. 48, n. 1, São Paulo: USP.

29 As cotas raciais e para escolas públicas referem-se a um percentual dentre as vagas já ofertadas pela universidade que é reservado para esses grupos, no caso dos indígenas são criadas vagas extras pra inserção dos alunos de acordo com a necessidade apontada pelo grupo e pela FUNAI e em conjunto com as IES estaduais.

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destinada a todos os estudantes que apresentem dificuldades no acompanhamento

de disciplinas, independente de serem ou não cotistas. Ou seja é um programa geral

da Universidade que existe independente da política de cotas. Quanto ao

acompanhamento e avaliação, a resolução previa implementação de um programa

que produzisse relatórios anuais, que seriam apresentados ao COUN, o que não

aconteceu. Em 2009, a comissão que tinha essa responsabilidade solicitou sua

recomposição ao reitor, mas ainda não teve retorno, alguns membros continuam

acompanhando e avaliando o plano de metas por interesses de pesquisa próprios

(PORTO Et al., 2012). Algumas questões operacionais foram definidas após a

aprovação da política pelo COUN, como a decisão de manter em sigilo o nome dos

alunos ingressantes através das políticas de cotas, a realização de autodeclaração

racial dos aprovados de próprio punho e o estabelecimento de uma banca composta

por três membros, sendo pelo menos um representante da UFPR e representantes

do movimento negro responsáveis pela hetero-classificação dos candidatos e

aprovados nos vestibulares de 2003 a 2006 (SILVA, 2008, p. 167). Inicialmente, os

candidatos que não apresentassem fenótipo30 afro-brasileiro eram desclassificados

do processo seletivo, no entanto, após alterações, nos últimos vestibulares os

aprovados na primeira fase passavam pela banca e caso não fossem reconhecidos

como afrodescendentes voltavam para a concorrência geral na segunda fase.

O primeiro ano de políticas afirmativas na UFPR foi também o primeiro ano

do processo seletivo separado em duas fases31, esse processo foi detalhadamente

explicado pelo Pró-Reitor de graduação na reunião do COUN, que resultou na

aprovação do Plano de metas (BEVILAQUA, 2005a). A partir do vestibular de 2004

para ingresso em 2005, ficou estabelecido que os alunos realizassem uma prova de

conhecimentos gerais na qual concorreriam em igualdade de condições. A reserva

de vagas ocorreria apenas na segunda fase, na qual seriam aplicadas as provas de

compreensão e produção de textos e alguns cursos teriam provas específicas.

30 As condições para aprovação no processo são descritas no edital, mas consistem em apresentação de características fenotípicas que identifiquem o candidato como pertencente ao grupo racial negro (preto ou pardo).

31 A alteração no processo seletivo foi aprovada em uma Reunião do COUN que antecedeu a Reunião na qual houve aprovação da adoção de política de cotas.

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Nesse vestibular, de acordo com o Edital 01/2004, seriam convocados para a

segunda fase do vestibular os melhores classificados em número “N” vezes o

número de vagas, sendo que “N” dependeria da relação candidato/vaga em cada

curso:

a) N=3, quando a relação candidato/vaga for igual ou inferior a 10;

b) N=4, quando a relação candidato/vaga for superior a 10 e inferior a 15;

c) N=5, quando a relação candidato/vaga for igual ou superior a 15 e inferior a 20, ou;

d) N=6, quando a relação candidato/vaga for igual ou superior a 20;

A partir do vestibular ocorrido em 2005 para ingresso em 2006 houve

alteração nos índices, conforme o edital 03/2005:

a) N=2, quando a relação candidato/vaga for igual ou inferior a 5;

b) N=3, quando a relação candidato/vaga for superior a 5 e inferior a 15;

c) N=4, quando a relação candidato/vaga for igual ou superior a 15 e inferior a 20, ou;

d) N=5, quando a relação candidato/vaga for igual ou superior a 20;

Essa alteração interfere diretamente na ocupação de vagas para cotistas

raciais (PORTO et al., 2012), o que será perceptível nos dados que apresentaremos

posteriormente. Ao estudar os dados referentes ao período de 2004 a 2010,

observando apenas o percentual de alunos que ingressaram pelo sistema de cotas

raciais na UFPR, Porto (et al., 2012) afirmam que a mudança no perfil dos

aprovados é “evidente e numericamente significativa” desde o início do sistema de

cotas. No ano de 2005 houve um número superior ao dobro de aprovados em 2004.

Nos anos posteriores houve redução no número de aprovados, mas ainda se

manteve superior a 2004 conforme a tabela a seguir.

Tabela 2: Percentual de aprovados nos processos seletivos da UFPR entre 2004 e 2010, de acordo com autoclassificação racial

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Brancos 85,53% 74,68% 80,31% 81,27% 79,37% 79,32% 79,56%

Negros 9,30% 20,57% 15,30% 14,80% 16,01% 16,46% 16,44%

Fonte: (PORTO et al, 2012)

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A tabela mostra que entre 2005 e 2010 houve aumento no número de

negros aprovados no vestibular da UFPR. Em comparação com outros dados32,

Porto (et al., 2012) consideram que a política de cotas foi capaz de gerar

democratização do acesso à universidade, porém em relação à população de negros

no Estado, o número de aprovados ainda é bem inferior. Para fazer essa afirmação

os autores utilizam dados da Pesquisa Nacional por amostra de Domicílios (PNAD)

2008 que apresentam um percentual de 28,89% de negros no Estado (PORTO et

al., 2012)33. É relevante para nosso estudo advertir que a tabela acima não

apresenta distinção entre a opção escolhida pelo aluno na hora da inscrição. Há

alunos que se autodeclararam negros, mas foram aprovados pela concorrência geral

e pelas cotas sociais. A tabela a seguir mostra número e percentual de aprovados

em cada uma das categorias entre os anos de 2005 e 2012.

Tabela 3 - Aprovados por cotas no vestibular da UFPR entre 2005 e 2012

ano racial escola Pública geral total

n % n % n % n %

2005 492 11,9 897 21,7 2.744 66,3 4.133 100

2006 306 7,1 899 21 3.067 71,7 4.272 100

2007 279 6,3 889 20,2 3.224 73,4 4.392 100

2008 291 6,6 1.089 24,9 2.989 68,1 4.369 100

2009 319 6,2 1.298 25,1 3.556 68,7 5.173 100

2010 363 6,9 1.350 25,8 3.516 67,2 5.229 100

2011 282 5,4 1.346 25,4 3.668 69,2 5.298 100

2012 286 5,4 1.596 30,2 3.399 64,4 5.281 100

média 05-12 327,2 6,9 1.170,50 24,2 3.270,30 68,6 4.768,3 100

Fonte: (CERVI, 2013)

Em todos os anos foi constatado um percentual superior a 20% referente à

ocupação de vagas reservadas a alunos oriundos de escolas públicas, cuja

explicação até 2007 pode ser atribuída ao fato de alguns candidatos, apesar de

terem optado por concorrer à reserva de vagas, conseguirem ser aprovados pela

classificação geral (SILVA, 2008). De acordo com Porto (2011), no início de 2007,

32 Tabela 1 Percentual de inscritos nos processos seletivos da UFPR de 2004 a 2010 (PORTO et al, 2012) página 226.

33 Os dados atuais, de acordo com o Censo 2010, divulgados pelo IBGE mostram que o percentual de negros no Estado é de 27,4%.

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foram convocadas pelo reitor uma série de reuniões para avaliação do plano de

metas e revisão da Resolução 37/04, das quais participaram professores,

funcionários envolvidos com a elaboração e a implantação das políticas afirmativas

na Universidade, responsáveis por programas de bolsas para cotistas, membros do

Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (NEAB) e da Comissão para Acompanhamento e

Avaliação do Plano de Metas. Foram muitos os temas debatidos, mas é válido

destacar a análise de dados que mostrava a relevância das cotas raciais na

mudança do perfil racial dos aprovados e como tal mudança não aconteceria se

houvesse apenas cotas sociais (PORTO, 2011). Esse resultado foi essencial para o

momento, no sentido de garantir a independência entre as cotas raciais e sociais, já

que o reitor demonstrou tendência a vincular as duas. Outro resultado importante

apresentado foi a constatação de como a redução de vagas na segunda etapa do

vestibular reduziu a inclusão racial (PORTO, 2011), no entanto, este não foi sequer

considerado. A Resolução 37/04 determinava que as vagas não ocupadas pelas

cotas voltassem para a concorrência geral, porém, a partir da revisão do plano de

metas pelo impacto do social relevante e bons resultados alcançados pelos cotistas

entre 2005 e 2007, as vagas remanescentes de uma das cotas deverão ser

aproveitadas pela outra antes de passar para a concorrência geral, medida que

resultou na maior inserção de alunos egressos de escolas públicas (PORTO et al.,

2012). Se não houvesse essa alteração na resolução o percentual de aprovados por

vagas gerais seria superior a 70% (CERVI, 2013). Outra alteração importante que

resultou dessa revisão foi a decisão de que não deveria ser mantido o sigilo sobre o

nome dos cotistas (PORTO, 2011), já que tal decisão dificultava o acompanhamento

e avaliação dos impactos produzidos pelas cotas.

Em todos os anos é possível observar que o percentual de negros

classificados para a segunda fase não atinge os 20% do total de vagas reservado.

Para Silva (2008), em sua análise que abrange os resultados de 2005 e 2006,

podem existir três explicações. A primeira foi a ampliação do Programa Universidade

para Todos (PROUNI), que pode ter direcionado possíveis candidatos a instituições

particulares. A segunda foi a criação da terceira fase no vestibular para a área de

exatas, na qual os candidatos classificados cursariam conteúdos considerados

básicos referente à matemática no primeiro semestre de 2006, a nota final, que

definia se o candidato seria ou não aprovado, considerava a média das duas fases

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somada às avaliações deste semestre chamado de curso preparatório. Finalmente,

a terceira hipótese de Silva (2008), em conformidade com Porto (et al., 2012) e Cervi

(2013) está relacionada com a explicação dada anteriormente referente à redução

do número de candidatos classificados para a segunda fase. A partir de 2006 houve

alteração nas regras no processo seletivo, cujo resultado foi o decréscimo no

percentual de cotistas raciais aprovados, a alteração do índice N reduziu o número

de vagas para a segunda fase. Em 2005 11,9% dos aprovados eram cotistas raciais,

nos anos posteriores esse número chegou ao máximo de 7,1% (2006). Para Porto

(et al., 2012) esse número não afeta as cotas sociais e a concorrência geral, mas

impede que os negros inscritos por cotas raciais, que representam uma quantidade

menor de candidatos, se classifiquem para a segunda fase, gerando redução no

percentual preenchido por esses candidatos, principalmente por serem estes os que

geralmente apresentam as menores médias. Consideramos ainda, outra hipótese

pertinente que se refere ao distanciamento social e simbólico existente entre os

jovens negros e a universidade (MARÇAL, 2011), que pode ser relacionada ao não

cumprimento dos itens d e e descritos no capítulo III da Resolução 37/04. Eles

determinam a inserção de referência às populações atendidas pelo plano de metas

em seus cartazes e materiais de divulgação, incentivando a inscrição de eventuais

candidatos e a divulgação do plano de metas nas escolas públicas do Paraná. Em

relação a isso Souza (2007), afirma que apesar de aparecerem pessoas negras no

cartaz do concurso vestibular de 2006 e a chamada fosse: “Venha viver a

diversidade”, no material publicitário e no site da universidade aparecem poucos

negros e na divulgação dos cursos de graduação não apareceu nenhum negro.

Podemos constatar uma alteração relevante no que se refere à inserção de

negros na UFPR, não há dúvidas que houve modificação no perfil dos alunos

ingressantes, no entanto, para Porto (2011), apesar dos altos índices de inserção de

cotistas sociais, os resultados ficaram muito aquém do que era esperado. A autora

defende que a inclusão de pobres não garante a inclusão de negros. No

entendimento de Cervi (2013), os resultados foram limitados, e o fato de não ter

gerado uma redução significativa no índice destinado às vagas universais, significa

que o vestibular continuou restringindo o ingresso de pretos e pardos nos cursos da

UFPR. Mesmo sendo um mecanismo de inclusão, a política de cotas não alcançou

o objetivo, ao observarmos o percentual de aprovados na tabela 2 perceberemos

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que os índices estão muito distantes dos 20% propostos pelo plano de metas. Se

metade dos candidatos fossem aprovados para a segunda fase haveria condições

de preenchimento das vagas (CERVI, 2013). Para Cervi (2013), a regra que

determina a validade da política de cotas apenas para segunda fase do vestibular é

excludente, já que apenas os que passam pela primeira fase tem acesso a ela:

Ou seja, essa regra neutraliza o princípio de tratar como desiguais os perfis de alunos que não tiveram condições igualitárias de formação escolar até o ensino médio, reduzindo muito o potencial de inclusão das cotas raciais no vestibular, que é o princípio das políticas sociais compensatórias. (CERVI, 2013, Pag 72).

Com todas as limitações apresentadas, a maioria dos negros que

ingressaram na UFPR entre 2005 e 2012 fez opção pelo sistema de cotas raciais

(MARÇAL, 2011). Segundo Cervi (2013), em termos gerais, as consequências das

políticas de cotas nos vestibulares da UFPR entre os anos de 2005 e 2012 foram

positivas com o aumento do número de aprovados de pele preta e parda, todavia,

como já comentamos, esse número tem apresentado um leve declínio. Mesmo não

tendo atingido a proposta inicial do plano de metas, os números foram capazes de

comprovar a efetividade da política afirmativa no vestibular (CERVI, 2013)34. Enfim,

como fizemos com as instituições estudadas no capítulo 2, apresentaremos a seguir

o quadro com informações relativas à UFPR:

Quadro 2 - Principais características das cotas na UFPR

Instituição Ano Observações importantes UFPR

2004 • Iniciativa de professores, resistência por parte do DCE e Sindicatos dos Professores e Funcionários (PORTO, 2011)

• Discussões iniciadas em 2001 • Aumentou o número de negros na universidade, atingindo um número

maior em 2005, com decréscimo nos anos subsequentes (PORTO et al, 2012) (CERVI, 2013)

• Em nenhum dos anos da política de cotas conseguiu ocupar o total de vagas reservadas para afrodescendentes, em 2005 ultrapassou 50% das vagas reservadas, nos anos seguintes nem atingiu esse percentual. Nos 8 anos de políticas afirmativas a UFPR aprovou uma média 6,9% de afrodescendentes

• Os maiores beneficiados com as políticas de cotas da UFPR foram os cotistas sociais, principalmente a partir de 2007, quando começaram a ocupar as vagas remanescentes das cotas raciais. (PORTO, 2011), (PORTO et al, 2012) (CERVI, 2013)

34 Ao comparar a diferença de sexo entre os ingressantes por cotas raciais na UFPR Cervi (2013), constatou a efetividade da política em inserir mulheres negras, tais resultados não serão detalhados por não haver nenhum recorte de gênero em nossa pesquisa.

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O processo de implantação foi similar em quase todas as universidades,

entretanto, as iniciativas tiveram procedências diversas dependendo do caso

partiram de professores, alunos, representantes de movimentos sociais, sindicatos

ou da própria instituição, mas sempre encontraram algum tipo de resistência, como o

caso da UFPR, teve que enfrentar resistência por parte do DCE e dos sindicatos dos

professores e dos alunos (Processo 14898/04-2, apud PORTO, 2011), além dos

evidentes posicionamentos contrários manifestos na reunião do COUN

detalhadamente descritos por (BEVILAQUA, 2005a). Mesmo não tendo um processo

tão complexo quanto o da UFRGS, o aumento de vagas na primeira fase do

vestibular da UFPR seria capaz de inserir maior número de negros, a prova disso é

maior percentual de inserção no ano de 2005, quando o índice N aplicado na

segunda fase do vestibular tinha valor superior.

Os resultados apresentados até agora são suficientes para responder o

questionamento inicial colocado por este trabalho, no entanto, ainda existem muitas

questões a serem respondidas sobre as políticas de ação afirmativa da UFPR.

Temos percebido grande preocupação com a permanência dos alunos que

ingressam por cotas nas universidades públicas e a UFPR não é exceção. Assim

como constatado no percurso dessa pesquisa, em diversas universidades, alguns

pesquisadores da UFPR também tem colocado esse questionamento em suas

pesquisas. Certamente se tivéssemos dados sobre evasão poderíamos nos

aprofundar nessa discussão, mas a falta de acesso a alguns dados ainda é um

problema a ser sanado, assim como a criação de mecanismos que assegurem a

permanência dos alunos que ingressam através do sistema de cotas, possivelmente

retomamos este assunto em outra oportunidade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dentre as constatações mais importantes feitas por este trabalho, cabe

destacar a importância do movimento negro enquanto protagonista das conquista

pelos direitos voltados à população afrodescendente em todos os momentos

históricos do país. Desde seu surgimento nos anos 1930 até as conquistas atuais,

relacionadas às políticas públicas de ação afirmativa, que surgiram da necessidade

de tratar os desiguais como desiguais e visam oferecer a grupos discriminados e

excluídos um tratamento diferenciado para compensar as desvantagens devido à

sua situação de vítimas do racismo e de outras formas de discriminação

(MUNANGA, 2003). Foram as inúmeras manifestações produzidas por esse

movimento social que começaram a abrir espaço para a discussão da temática racial

no país, mas o grande reforço foi dado pela III Conferência Mundial de Combate ao

Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, realizada em

Durban, na África do Sul, no ano de 2001. Além de produzir diversos debates a

respeito do assunto no período prévio à conferência, ganhou muita força no período

posterior, principalmente no âmbito do governo federal. A partir daí as políticas

públicas de ação afirmativa no formato de reserva de vagas para negros nas

universidades começaram a ganhar espaço. No caso das universidades estudadas,

este movimento social teve mais participação no processo de adoção de políticas

afirmativas e obteve mais avanços que umas que em outras.

A primeira universidade federal a aderir a um sistema de reserva de vagas

para afrodescendentes foi a UNB, que a partir do processo seletivo de 2004 teve

20% das vagas reservadas para negros. A primeira proposta foi apresentada em

1999, sendo reapresentada em 2002 e aprovada em 2003, ou seja, foram 5 anos

entre a apresentação da primeira proposta e a implantação do sistema. A UFPR foi a

segunda a aprovar um sistema de reserva de vagas, com 20% para negros e 20%

para alunos de escolas públicas, além da criação de vagas suplementares para

indígenas. A terceira universidade a aprovar o sistema de cotas foi a UFBA, no

mesmo ano que a UFPR, 43% do total de vagas da universidade seriam destinadas

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às cotas sendo dividido da seguinte forma: 85% desse total para negros e 15% para

não negros. Em 2006 foi aprovado o sistema de cotas na UFJF, para ter direito a

vaga o candidato deveria ter cursado sete séries do ensino básico em escolas

públicas, pelo menos 4 séries do ensino fundamental e todo o ensino médio em

escolas públicas. Os percentuais de vagas seriam crescentes 30% em 2006 até 50%

a partir de 2008, sendo 25% destes percentuais reservados para candidatos

autodeclarados negros. A UFSM estabeleceu, em 2007, reserva de 20% para alunos

que concluíram o total do ensino fundamental e médio em escolas públicas, no

vestibular de 2008 10% das vagas de cada curso foram destinadas a

afrodescendentes aumentando um por cento ao ano chegando ao máximo de 15%

em 2013, 5 vagas para indígenas em 2008 e 10 nos anos posteriores e 5% para

portadores de necessidades especiais, a UFRGS também em 2007 reservou 30%

das vagas do vestibular para estudantes que concluíram pelo menos metade do

ensino fundamental e totalidade do médio em escolas públicas, sendo metade

destinada a candidatos autodeclarados negros e a criação de 10 vagas para

estudantes indígenas indicados por suas comunidades, que prestam prova especial.

Finalmente em 2008, a UFSC criou seu sistema de cotas no qual 20% das vagas

ficariam reservadas para alunos que concluíram o total do ensino fundamental e

médio em escolas públicas, no vestibular de 2008 10% das vagas de cada curso

foram destinadas a afrodescendentes aumentando um por cento ao ano chegando

ao máximo de 15% em 2013, 5 vagas para indígenas em 2008 e 10 nos anos

posteriores e 5% para portadores de necessidades especiais. Como foi possível

perceber, cada universidade adotou um sistema específico de reserva de vagas, a

maioria optou por manter uma ligação entre as cotas raciais e sociais, que ficaram

separadas apenas na UFPR e na UFSM, o percentual reservado também variou de

uma universidade para outra, a UFBA foi a que reservou o maior número de vagas

para negros, situação facilmente explicada por ter a maior proporção de negros no

Estado.

O processo de implantação foi semelhante em todas as universidades,

apenas na UFJF a adoção da política de cotas foi iniciativa da instituição, nas outras

universidades a iniciativa foi tomada por professores, alunos, sindicatos, movimentos

sociais ou DCE, o que há em comum é que a partir do primeiro passo dado foram

constituídas comissões responsáveis pela elaboração das propostas que fossem

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mais adequadas para cada instituição e posteriormente essas propostas foram

votadas e aprovadas pelos conselhos superiores das universidades, todos os casos

geraram polêmicas internas e externas, destacamos principalmente os casos da

carta dos 113 cidadãos antirracistas e a ADPF 186, que tiveram repercussão

nacional.

Quanto aos resultados além da UFPR, outras três análises mostraram que o

total de vagas reservadas para cotas raciais não foram totalmente preenchidas, a

UFJF, que teve apenas 30% das cotas sociais e 8% das cotas raciais preenchidas, a

não ocupação das vagas é atribuída à falta de demanda, outro ponto comum dessa

universidade com a UFPR foi o sucesso na inclusão de alunos egressos de escolas

públicas em cursos de alto prestígio (BERALDO E MAGRONE, 2013). Na UFSM

além de não haver ocupação do total de vagas, há grande preocupação com os

altos índices de evasão dos alunos cotistas, no entanto, os rendimentos próximos

entre candidatos ingressantes pela concorrência geral, cotistas sociais e raciais são

um aspecto positivo indicado por Silveira (Et al., 2013). A terceira pesquisa que traz

essa informação é da UFRGS, entre 2007 e 2011 as vagas destinadas às cotas não

foram totalmente ocupadas, Monsma (Et al., 2013), atribuem o problema à

complexidade do processo seletivo e afirmam que em 2012, após o aumento do

número de vagas para pré-classificados cotistas houve preenchimento do total de

vagas, outra constatação destes autores é o aumento do número de pretos inscritos

no vestibular, superior ao de pardos, situação que diverge da proporção desses

grupos no Estado. Segundo (MONSMA et al., 2013), isso acontece por falta de

informações, acreditam que a maioria dos pardos nem saiba que podem concorrer

pelo sistema de cotas. A UNB apresenta apenas os dados do primeiro vestibular em

seu relatório que mostra que 19% do total de 20% das vagas foram ocupadas, a

UFBA e a UFSC não falam a respeito da ocupação de vagas, mas garantem o

sucesso da política na inserção de negros na universidade, no caso da UFBA em

2005 70% dos inscritos no vestibular se declararam pretos ou pardos, assim como

na UFPR e na UFJF, o maior sucesso pode ser notado nos cursos de alto prestígio

(SANTOS E QUEIROZ, 2013). Conforme Tragtenberg (2012) o fato de ter adotado

a política de cotas depois de outras universidades se constituiu num benefício para a

UFSC que pôde se basear em outros exemplos, sem dúvida apresentou o programa

mais completo dentre os estudados, tratando desde a preparação do aluno através

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do curso pré-vestibular. O aumento de alunos negros foi constatado tanto em cursos

de alto quanto de baixo prestígio, ficando comprovada a efetividade da política de

cotas adotada pela instituição.

Como podemos ver ainda há muitos problemas a serem resolvidos para ter

uma política de cotas raciais totalmente eficaz, na UFPR, assim como em outras

instituições as políticas afirmativas beneficiaram muito mais alunos egressos de

escolas públicas do que negros, em nenhum dos oito anos em que vigorou a política

de cotas na instituição o número de negros que ingressaram chegou próximo a

ocupar o total de vagas, a partir de 2006 o número de negros ingressantes pelo

sistema de cotas se tornou ainda menor devido às alterações no processo seletivo e

em 2007 com as mudanças na Resolução 37/04 aumentou o número de cotistas

sociais, nesse caso é válido lembrar que de acordo com o parecer do Relator do

Processo 14898/04-12 ao COUN antes da implantação do sistema de cotas, a UFPR

já contava com um percentual de 20% alunos de escola pública, situação que

reforça a necessidade de cotas raciais e não apenas sociais, de acordo com Porto

(2011), a inclusão social não é capaz de resolver as distorções raciais presentes na

universidade.

Para Cervi (2013) os números são capazes de provar que houve aumento

no quantidade de negros na UFPR a partir de 2005, no entanto, a partir da nossa

pesquisa constatamos diversos problemas que impedem o alcance dos objetivos

propostos inicialmente, porém gostaríamos de evidenciar as possíveis soluções

apresentadas pelo trabalho. Para Porto (et al., 2012) o aumento do número de

candidatos selecionados para a segunda fase poderia inserir mais negros na

universidade, apesar das diferenças nos processos seletivos essa estratégia foi bem

sucedida no vestibular da UFRGS, o aumento do número de vagas para pré-

classificados cotistas foi capaz de garantir a ocupação do total de vagas em 2012,

ou ainda a extensão da política de cotas para as duas fases do vestibular, deixando

de tratar como iguais os diferentes, mantendo o princípio das políticas públicas de

ação afirmativa como sugere CERVI (2013). Finalmente, mas não menos importante

poderia trabalhar o distanciamento simbólico entre os negros e a universidade

(MARÇAL, 2011) cumprindo com o previsto no capítulo III da Resolução 37/04:

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d) integrar em todos os seus documentos e materiais de divulgação oficiais referências às

populações atendidas nesse Plano de Metas com o fim de incentivar a inscrição dos potenciais

candidatos;

e) divulgar esse Plano de Metas nas escolas públicas do Estado do Paraná.

A média de cotistas raciais que ingressaram na UFPR nos últimos oito anos

é de 6,9%, como comentamos anteriormente a partir do vestibular 2013 a

universidade deverá se adequar à Lei 12711/12, que estipula reserva de 50% das

vagas para estudantes que tenham cursado ensino médio integralmente em escola

pública, sendo que dentro deste percentual será reservado para autodeclarados

pretos, pardos e indígenas, em proporção no mínimo igual à de pretos, pardos e

indígenas na população da unidade da Federação onde está instalada a instituição,

segundo o último censo do IBGE. De acordo com censo 2010, 27,4% da população

paranaense é formada por pretos e pardos, ou seja, esse será o percentual de cotas

raciais da universidade e, apesar de não abordarmos os detalhes referentes às

mudanças é válido mostrar em termos de números que a UFPR tem uma difícil

missão para cumprir.

Ouvimos muitos discursos que versam a respeito da necessidade de “mudar

a cara da universidade”, podemos afirmar que mesmo que quantitativamente o

sistema de cotas da UFPR não tenha alcançado seu ápice, de 2005 podemos

perceber maior quantidade de alunos negros na instituição, não apenas nos cursos

de graduação como na pós graduação, valendo a pena citar que podemos encontrar

dentre os ingressantes pelo sistema de cotas em anos anteriores, pessoas

formadas e inseridas no mercado de trabalho, mestrandos, mestres e doutorandos,

situação não era comum antes da adoção de políticas afirmativas35. Mesmo que

uma parte dos alunos pretos e pardos não tenha optado pelas cotas raciais,

sabemos que a maioria deles ingressou através dessa política, o que comprova a

necessidade desses mecanismos de inserção.

35 Observação da autora que ingressou na UFPR em 2005 através do sistema de cotas no curso de Química, participou do Programa Brasil Afroatitude (2005-2006) e mudou de curso, para Ciências Sociais em 2007 através de processo interno de ocupação de vagas remanescentes.

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A pesquisa realizada para elaboração desse trabalho mostrou a necessidade

de revisão e análise das políticas afirmativas no Brasil e apontou dificuldades

comuns em instituições distintas, o que nos leva a pensar que o debate e a troca de

experiências entre IES que possuem o mesmo sistema podem mostrar possíveis

caminhos para adequação e resolução de problemas.

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