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POLYANA PEREIRA COELHO A SUSTENTABILIDADE DO AMBIENTE URBANO E OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO MUNICIPAL: RECOMENDAÇÕES PARA UM CÓDIGO DE OBRAS PARA O MUNICÍPIO DE OURO PRETO MG Belo Horizonte Escola de Arquitetura da UFMG 2015

POLYANA PEREIRA COELHO · 2019. 11. 14. · POLYANA PEREIRA COELHO A SUSTENTABILIDADE DO AMBIENTE URBANO E OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO MUNICIPAL: RECOMENDAÇÕES PARA UM CÓDIGO DE

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Page 1: POLYANA PEREIRA COELHO · 2019. 11. 14. · POLYANA PEREIRA COELHO A SUSTENTABILIDADE DO AMBIENTE URBANO E OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO MUNICIPAL: RECOMENDAÇÕES PARA UM CÓDIGO DE

POLYANA PEREIRA COELHO

A SUSTENTABILIDADE DO AMBIENTE URBANO E OS INSTRUMENTOS DE

GESTAtildeO MUNICIPAL RECOMENDACcedilOtildeES PARA UM COacuteDIGO DE OBRAS

PARA O MUNICIacutePIO DE OURO PRETO ndash MG

Belo Horizonte

Escola de Arquitetura da UFMG

2015

1

POLYANA PEREIRA COELHO

A SUSTENTABILIDADE DO AMBIENTE URBANO E OS INSTRUMENTOS DE

GESTAtildeO MUNICIPAL RECOMENDACcedilOtildeES PARA UM COacuteDIGO DE OBRAS PARA O

MUNICIacutePIO DE OURO PRETO ndash MG

Monografia apresentada ao Curso de Especializaccedilatildeo

em Sistemas Tecnoloacutegicos e Sustentabilidade

Aplicados ao Ambiente Construiacutedo da Escola de

Arquitetura da Universidade Federal de Minas

Gerais como requisito parcial para a obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de Especialista em Sistemas Tecnoloacutegicos e

Sustentabilidade Aplicados ao Ambiente Construiacutedo

Orientadora Profordf Eleonora Sad Assis

Belo Horizonte

Escola de Arquitetura da UFMG

2015

2

AGRADECIMENTOS

Minha eterna gratidatildeo a todos que contribuiacuteram para a superaccedilatildeo de mais essa

etapa Aos meus familiares tatildeo amados ao querido Fillipe aos meus colegas de trabalho da

Secretaria de Cultura e Patrimocircnio sempre disponiacuteveis a ajudar agraves parceiras da Seacutetima

Arquitetura tatildeo compreensivas e aos professores do curso que possibilitaram a elaboraccedilatildeo

desse trabalho

3

RESUMO

A sustentabilidade do ambiente urbano embora seja uma pauta relativamente recente no

Brasil jaacute atingiu o patamar de demanda prioritaacuteria Isso porque a exploraccedilatildeo predatoacuteria dos

recursos naturais tem destruiacutedo o meio ambiente Aleacutem disso os centros urbanos se tornaram

verdadeiros depoacutesitos de lixo esgoto e poluiccedilatildeo Diante desse contexto o presente trabalho

busca identificar os instrumentos de gestatildeo municipal que podem contribuir para a mudanccedila

dessa realidade urbana Satildeo apresentados portanto os instrumentos do planejamento

municipal regulamentados pelo Estatuto da Cidade aleacutem dos instrumentos de controle

ambiental como por exemplo a Agenda 21 Local que podem interferir positivamente no bem

estar e no conforto ambiental das cidades Para o estudo de caso foi escolhido o municiacutepio de

Ouro Preto MG que tem aproximadamente 300 anos de histoacuteria e uma configuraccedilatildeo urbana

protegida Tal estudo de caso agregou a preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico como mais uma

variaacutevel presente no contexto da regulaccedilatildeo urbana Sendo assim a fim de entender a

articulaccedilatildeo desses trecircs importantes aspectos da poliacutetica urbana municipal - a preservaccedilatildeo a

regulaccedilatildeo e a sustentabilidade - o trabalho em questatildeo tratou das possibilidades de alcance do

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees Por fim na tentativa de identificar as diretrizes necessaacuterias

para se transformar os centros urbanos em espaccedilos sustentaacuteveis buscou-se apontar a partir do

reconhecimento do clima local de Ouro Preto algumas recomendaccedilotildees arquitetocircnicas capazes

de avanccedilar na consolidaccedilatildeo de construccedilotildees comprometidas com o conforto ambiental e com a

eficiecircncia energeacutetica

Palavras-chave sustentabilidade gestatildeo municipal conforto ambiental Ouro Preto - MG

4

ABSTRACT

The sustainability of the urban environment although it is a relatively new agenda in Brazil

has reached the level of priority demand Thats because the predatory exploitation of natural

resources has destroyed the environment Furthermore urban centers have become true

rubbish dumps sewer and pollution In this context this paper seeks to identify the municipal

management tools that can contribute to changing this urban reality They are presented so

the instruments of municipal planning regulated by the City Statute addition to the

instruments of environmental control for example the Local Agenda 21 that may positively

affect the well-being and environmental comfort of cities For the case study was chosen the

city of Ouro Preto Minas Gerais which has about 300 years of history and a protected urban

setting Such a case study added the preservation of historical heritage as another variable

present in the context of urban regulation So in order to understand the relationship of these

three important aspects of municipal urban policy - the preservation regulation and

sustainability - the work in question dealt with the range of possibilities of Works and

Building Code Finally in an attempt to identify the policies needed to transform urban areas

into sustainable spaces we tried to point out from the recognition of the local climate of Ouro

Preto some architectural recommendations able to move forward in the consolidation of

buildings committed to comfort environmental and energy efficiency

Keywords sustentability municipal planning environment comfort Ouro Preto - MG

5

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 6

2 O ESTATUTO DA CIDADE E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL 8

3 O PLANO DIRETOR E OS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO

MUNICIPAL 14

4 OS DESAFIOS DA REGULACcedilAtildeO URBANA FRENTE AgraveS INTERVENCcedilOtildeES NAS

EDIFICACcedilOtildeES E NOS CONJUNTOS URBANOS TOMBADOS 20

5 O MUNICIacutePIO DE OURO PRETO UM ESTUDO DE CASO 27

51 DA COLONIZACcedilAtildeO AO SEacuteCULO XX 27

52 O CONTEXTO ATUAL 34

6 ENSAIO PARA UM COacuteDIGO DE OBRAS PRINCIPAIS ESTRATEacuteGIAS PARA

A PROMOCcedilAtildeO DA EFICIEcircNCIA ENERGEacuteTICA NO MUNICIacutePIO DE OURO

PRETO 42

61 O RECONHECIMENTO DO CLIMA E AS RECOMENDACcedilOtildeES

ARQUITETOcircNICAS INICIAIS 42

62 O COacuteDIGO DE OBRAS E O CONFORTO AMBIENTAL EM OURO PRETO ndash

ESTRATEacuteGIAS PRIORITAacuteRIAS 54

7 CONCLUSAtildeO 58

6

1 INTRODUCcedilAtildeO

A praacutetica de ordenaccedilatildeo do territoacuterio nacional atraveacutes do planejamento urbano

modificou-se significativamente no iniacutecio do Segundo Milecircnio A aprovaccedilatildeo do Estatuto da

Cidade e a incorporaccedilatildeo dos preceitos do equiliacutebrio ambiental e do desenvolvimento

sustentaacutevel nas diretrizes para o desenvolvimento urbano impactaram positivamente o quadro

juriacutedico brasileiro Contudo enfrentam-se ainda inuacutemeras dificuldades na aplicaccedilatildeo das

diretrizes previstas nesse novo ordenamento o que se traduz num gigantesco atraso quanto agrave

transformaccedilatildeo das cidades brasileiras em cidades sustentaacuteveis

Atualmente satildeo os municiacutepios os entes federativos com maior capacidade de

transformaccedilatildeo da realidade local uma vez que os principais instrumentos aplicaacuteveis ao

contexto urbano estatildeo inseridos no Plano Diretor ou noutro plano urbano de competecircncia do

municiacutepio Sendo assim faz-se necessaacuterio aprofundar o conhecimento e entendimento dos

instrumentos da gestatildeo municipal analisando os limites e possibilidades encontrados nas

administraccedilotildees da maioria das cidades brasileiras A identificaccedilatildeo do contexto poliacutetico local eacute

fundamental para a compreensatildeo da realidade urbana pois o sucesso na aplicaccedilatildeo de

legislaccedilotildees transformadoras depende da vontade poliacutetica das gestotildees municipais em promover

a democratizaccedilatildeo da cidade e o bem-estar coletivo

Nesse contexto de reconhecimento dos instrumentos de gestatildeo municipal buscou-

se identificar e avaliar as poliacuteticas de promoccedilatildeo da sustentabilidade no ambiente urbano

Assim aleacutem da anaacutelise dos Planos Diretores e da Lei de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo do

Solo o presente trabalho buscou investigar a existecircncia e a implementaccedilatildeo de outros

importantes instrumentos de promoccedilatildeo do equiliacutebrio ambiental tais como a Agenda 21 e o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees

Quanto agrave sustentabilidade do ambiente urbano cabe ressaltar a importacircncia em se

pensar a interaccedilatildeo das edificaccedilotildees no territoacuterio de forma que estas contribuam positivamente

com o clima urbano Assim estatildeo diretamente relacionadas agrave sustentabilidade do ambiente

urbano as diretrizes relativas ao uso agrave seguranccedila agrave salubridade agrave acessibilidade e agrave

preservaccedilatildeo dos elementos histoacutericos artiacutesticos e culturais assim como diretrizes resultantes

de estudos climaacuteticos que aplicados ao desenho urbano possibilitem adaptaccedilatildeo das

edificaccedilotildees agraves caracteriacutesticas climaacuteticas locais ao conforto teacutermico luminoso e acuacutestico

Tambeacutem faz parte dessa transformaccedilatildeo urbana iniciativas que utilizem fontes de energia

alternativas e que combatam o desperdiacutecio de recursos

7

A partir do exposto acima foi escolhido como caso de estudo o Municiacutepio de Ouro

Preto situado na Regiatildeo Central de Minas Gerais Com um conjunto urbano de

aproximadamente 300 anos a cidade de Ouro Preto estaacute entre os 19 bens brasileiros

considerados Patrimocircnio Cultural da Humanidade pela UNESCO e entre os 77 conjuntos

urbanos tombados pelo IPHAN

Estudar Ouro Preto portanto pressupotildee acrescentar um olhar preservacionista aos

apontamentos sobre a regulaccedilatildeo urbana e o desenvolvimento sustentaacutevel Dentro dessa

realidade faz-se necessaacuterio desenvolver uma interaccedilatildeo entre esses trecircs importantes aspectos da

poliacutetica urbana municipal preservaccedilatildeo regulaccedilatildeo e sustentabilidade

Sendo assim o objetivo geral da pesquisa consiste em analisar dentro do contexto

juriacutedico do municiacutepio de Ouro Preto as leis pertinentes agrave regulaccedilatildeo urbana a fim de avaliar a

aplicaccedilatildeo dos preceitos do Estatuto da Cidade Ademais o presente trabalho procura

identificar os principais entraves e barreiras que atualmente impedem que a expansatildeo da

cidade ocorra de forma vinculada agrave qualidade de vida dos cidadatildeos agrave proteccedilatildeo ambiental e

vinculada agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico

A partir da identificaccedilatildeo e contextualizaccedilatildeo das legislaccedilotildees municipais foram

abordadas algumas iniciativas de promoccedilatildeo da sustentabilidade a fim de avanccedilar na

construccedilatildeo de uma base de dados climaacuteticos do municiacutepio capaz de orientar a elaboraccedilatildeo de

condicionantes urbaniacutesticas e diretrizes construtivas comprometidas com a proteccedilatildeo do meio

ambiente e com as premissas do conforto ambiental Dentro do rol de legislaccedilotildees municipais

destacou-se um importante instrumento da regulaccedilatildeo urbana o Coacutedigo de Obras e

Edificaccedilotildees Foram abordados na pesquisa aspectos importantes quanto agrave elaboraccedilatildeo e

atualizaccedilatildeo deste instrumento como por exemplo a incorporaccedilatildeo dos criteacuterios de

sustentabilidade a fim de elevar a qualidade das edificaccedilotildees e garantir o conforto do usuaacuterio

Para a anaacutelise do clima da cidade de Ouro Preto foram utilizados o diagrama de

Givoni as Tabelas de Mahoney aleacutem da NBR 15220 parte 3 A sistematizaccedilatildeo dos resultados

dessas trecircs ferramentas possibilitou a interpretaccedilatildeo das variaacuteveis climaacuteticas o que eacute

fundamental para a formulaccedilatildeo de recomendaccedilotildees arquitetocircnicas Tal resultado embasou o

apontamento global apresentado no uacuteltimo capiacutetulo quanto agraves principais recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas e agraves estrateacutegias prioritaacuterias de promoccedilatildeo do conforto ambiental

O trabalho deveraacute contribuir com os estudos que estatildeo sendo elaborados pelas

equipes teacutecnicas locais e com a conformaccedilatildeo de um pensamento criacutetico a cerca das poliacuteticas

puacuteblicas de promoccedilatildeo da sustentabilidade da regulaccedilatildeo urbana e da proteccedilatildeo patrimonial

8

2 O ESTATUTO DA CIDADE E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL

O iniacutecio do seacuteculo XXI podemos dizer foi marcado por uma mudanccedila qualitativa

no tocante ao Planejamento Urbano Brasileiro O Estatuto da Cidade Lei nordm 10257 foi

aprovado pelo Congresso Nacional em 2001 e representou uma grande vitoacuteria nos marcos do

planejamento urbano pois vinha sendo reivindicado pelos movimentos sociais de luta pela

reforma urbana desde a deacutecada de 1980 O Estatuto da Cidade veio regulamentar o Capiacutetulo II

da Constituiccedilatildeo Federal capiacutetulo este que trata da Poliacutetica Urbana composto pelos artigos

182 e 183 que ressaltam dentre outros aspectos como a poliacutetica de desenvolvimento urbano

deve estar diretamente associada agrave funccedilatildeo social da cidade e da propriedade urbana A

aprovaccedilatildeo desta lei significaria uma mudanccedila qualitativa nos marcos juriacutedico e institucional

dos municiacutepios por articular instrumentos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria habitaccedilatildeo saneamento

mobilidade e de gestatildeo de resiacuteduos aleacutem de introduzir o equiliacutebrio ambiental como item

essencial ao desenvolvimento urbano sustentaacutevel No Capiacutetulo 01 do Estatuto ndash Diretrizes

Gerais o primeiro artigo diz o seguinte

Art 1ordm Na execuccedilatildeo da poliacutetica urbana de que tratam os artigos 182 e 183 da

Constituiccedilatildeo Federal seraacute aplicado o previsto nesta Lei [] Paraacutegrafo uacutenico Para

todos os efeitos esta Lei denominada Estatuto da Cidade estabelece normas de

ordem puacuteblica e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol

do bem coletivo da seguranccedila e do bem-estar dos cidadatildeos bem como do equiliacutebrio

ambiental (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

O texto do Estatuto da Cidade tratou portanto de incorporar ao conjunto de

diretrizes da poliacutetica urbana o equiliacutebrio ambiental como um novo conceito como uma

demanda essencial ao desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis conforme estaacute disposto no

capiacutetulo introdutoacuterio da supracitada Lei

Contudo mesmo jaacute estando consolidado haacute mais de uma deacutecada o desafio

colocado pelo Estatuto da Cidade tem se aprofundado a cada dia A retirada de mateacuteria-prima

da natureza a exploraccedilatildeo de recursos energeacuteticos a demanda por aacutegua potaacutevel e por

alimentos assim como a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos satildeo intensificadas com o passar dos

anos e com o crescimento exponencial das cidades Nas grandes metroacutepoles o problema

ambiental jaacute alcanccedilou o alerta vermelho quanto agrave gravidade da situaccedilatildeo a poluiccedilatildeo a

impermeabilizaccedilatildeo dos solos a falta de vegetaccedilatildeo e de barreiras geograacuteficas naturais tecircm

provocado inuacutemeros danos ao meio ambiente urbano que sofre com a falta de chuva ou com o

excesso dela com a draacutestica alteraccedilatildeo do microclima e com a formaccedilatildeo de ilhas de calor cada

dia mais agressivas ao bem-estar da populaccedilatildeo

9

Nos municiacutepios menores embora os problemas ambientais sejam percebidos com

menor intensidade a poliacutetica urbana tambeacutem estaacute voltada para a exploraccedilatildeo e esgotamento

dos recursos naturais Natildeo haacute uma poliacutetica efetiva de proteccedilatildeo das aacutereas de risco das aacutereas de

proteccedilatildeo permanente assim como natildeo haacute saneamento baacutesico em toda a aacuterea urbana Soma-se

a esses problemas a falta de estaccedilotildees de tratamento de efluentes que resulta na utilizaccedilatildeo dos

cursos drsquoaacutegua como canais de esgotamento sanitaacuterio e consequentemente na contaminaccedilatildeo

dos recursos hiacutedricos de toda uma regiatildeo

A partir desses elementos evidencia-se que a promulgaccedilatildeo do Estatuto da Cidade

apesar do avanccedilo representado natildeo conseguiu resolver por si soacute os inuacutemeros problemas

ambientais urbanos que afetam agraves cidades brasileiras Tais problemas estatildeo diretamente

vinculados aos paracircmetros de parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo padrotildees construtivos e

padrotildees ediliacutecios das cidades definidos pela legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal quando

existente Os municiacutepios encontram enorme dificuldade em aplicar os preceitos do Estatuto

por falta de uma legislaccedilatildeo urbana forte aprimorada e atualizada que possa contemplar todos

os aspectos de uma regulaccedilatildeo urbana voltada para a sustentabilidade e para o bem-estar

coletivo

Eacute neste cenaacuterio que entram em cena os instrumentos da poliacutetica urbana previstos

no Capiacutetulo II do Estatuto da Cidade organizados em seis categorias que satildeo

I ndash planos nacionais regionais e estaduais de ordenaccedilatildeo do territoacuterio e de

desenvolvimento econocircmico e social

II ndash planejamento das regiotildees metropolitanas aglomeraccedilotildees urbanas e

microrregiotildees

III ndash planejamento municipal

IV ndash institutos tributaacuterios e financeiros

V ndash institutos juriacutedicos e poliacuteticos

VI ndash estudo preacutevio de impacto ambiental (EIA) e estudo preacutevio de impacto de

vizinhanccedila (EIV) (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho

2001)

As categorias III - planejamento municipal IV - institutos tributaacuterios e financeiros

e V - instrumentos juriacutedicos e poliacuteticos se desdobram em outros variados instrumentos que

associados e devidamente estabelecidos por lei especiacutefica serviratildeo de base para que os

municiacutepios avancem na construccedilatildeo de um ambiente urbano equilibrado inclusivo e

sustentaacutevel Destaca-se nesse quadro de instrumentos dentro da categoria ldquoplanejamento

municipalrdquo o Plano Diretor que constituindo o ldquoinstrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e expansatildeo urbanardquo possibilitaraacute para aleacutem da ordenaccedilatildeo do solo a

articulaccedilatildeo com outros processos de planejamento na esfera municipal Tal instrumento seraacute

melhor abordado no proacuteximo capiacutetulo

10

Apresentados os processos de planejamento e os instrumentos da poliacutetica urbana

trazidos pelo Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio avanccedilar no entendimento da

sustentabilidade enquanto conceito uma vez que esta passaraacute a compor um corpo uacutenico com o

que vier a se entender por ldquodesenvolvimentordquo

A preocupaccedilatildeo com o ordenamento juriacutedico de proteccedilatildeo e defesa do meio

ambiente se materializou no Brasil inicialmente em 1981 a partir da promulgaccedilatildeo da Lei

6938 que instituiu a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente O SISNAMA Sistema Nacional

do Meio Ambiente reuniu os oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Direta - Uniatildeo Estados

DF e Municiacutepios - responsaacuteveis pela proteccedilatildeo e melhoria da qualidade ambiental

Em 2002 a construccedilatildeo da Agenda 21 Brasileira buscou associar o conceito de

sustentabilidade agraves poliacuteticas de desenvolvimento urbano As Agendas Nacionais foram

desenvolvidas a partir da Agenda 21 Global Esta uacuteltima resultou das discussotildees realizadas na

Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD)

mais conhecida como Rio 92 A Agenda 21 consiste em um programa de accedilatildeo voltado para a

aplicaccedilatildeo de meacutetodos de proteccedilatildeo ambiental justiccedila social e eficiecircncia econocircmica Eacute um

documento de 40 capiacutetulos com mais de 2500 recomendaccedilotildees praacuteticas e foi assinado por 179

paiacuteses formalizando o compromisso dessas naccedilotildees com o Desenvolvimento Sustentaacutevel do

Planeta Instrumento de planejamento participativo a Agenda 21 deve ser um resultado de

accedilotildees que congreguem governo e sociedade civil e por isso eacute um instrumento aliado das novas

frentes de trabalho inauguradas pelo Estatuto da Cidade A partir dos trechos a seguir

retirados respectivamente da Agenda 21 e do Estatuto da Cidade pode-se perceber a afinidade

nas pretensotildees dos dois Instrumentos de Planejamento

71 Nos paiacuteses industrializados os padrotildees de consumo das cidades representam

uma pressatildeo muito seacuteria sobre o ecossistema global ao passo que no mundo em

desenvolvimento os assentamentos humanos necessitam de mais mateacuteria-prima

energia e desenvolvimento econocircmico simplesmente para superar seus problemas

econocircmicos e sociais baacutesicos Em muitas regiotildees do mundo em especial nos paiacuteses

em desenvolvimento as condiccedilotildees dos assentamentos humanos vecircm se

deteriorando sobretudo em decorrecircncia do baixo volume de investimentos no setor

imputaacutevel agraves restriccedilotildees relativas a recursos com que esses paiacuteses se deparam em

todas as aacutereas Nos paiacuteses de baixa renda sobre os quais haacute dados recentes apenas

56 por cento do orccedilamento do Governo central em meacutedia foram dedicados a

habitaccedilatildeo lazer seguridade social e bem-estar social [] Objetivo 78 O objetivo eacute

oferecer habitaccedilatildeo adequada a populaccedilotildees em raacutepido crescimento e aos pobres

atualmente carentes tanto de aacutereas rurais como urbanas por meio de uma

abordagem que possibilite o desenvolvimento e a melhoria de condiccedilotildees de moradia

ambientalmente saudaacuteveis (AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do

Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992)

11

Estatuto da Cidade Capiacutetulo 1 ndash Diretrizes Gerais Art 2ordm A poliacutetica urbana tem por

objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e da

propriedade urbana mediante as seguintes diretrizes gerais I ndash garantia do direito a

cidades sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao

saneamento ambiental agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos

puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para as presentes e futuras geraccedilotildees [] Art 3ordm

Compete agrave Uniatildeo entre outras atribuiccedilotildees de interesse da poliacutetica urbana IV -

instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano inclusive habitaccedilatildeo saneamento

baacutesico transportes urbanos e infraestrutura de energia e telecomunicaccedilotildees

(BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

O texto da Agenda 21 mais especificamente o Preacircmbulo enfatiza que o sucesso

na aplicaccedilatildeo desse plano de accedilatildeo depende primeiramente do comprometimento dos governos

com a preparaccedilatildeo de estrateacutegias planos poliacuteticas e processos nacionais para a concretizaccedilatildeo

dos objetivos estabelecidos

A Agenda 21 Brasileira foi desenvolvida no periacuteodo de 1996 a 2002 e teve como

eixo a sustentabilidade a partir da compatibilizaccedilatildeo entre conservaccedilatildeo ambiental justiccedila

social e crescimento econocircmico

Ao aprofundar-se na elaboraccedilatildeo de diretrizes para problemas de ordem estrutural

a Agenda 21 Brasileira foi elevada a programa dentro do Plano Plurianual de Governo (entre

2004 e 2007)1 o que daria maior forccedila poliacutetica e institucional agrave Agenda Sendo assim a partir

de soluccedilotildees integradas planejadas a meacutedio e longo prazos e a partir da associaccedilatildeo entre

governo e sociedade seria possiacutevel tratar de questotildees como ldquoeconomia da poupanccedila na

sociedade do conhecimento inclusatildeo social para uma sociedade solidaacuteria estrateacutegia para a

sustentabilidade urbana e rural recursos naturais estrateacutegicos governanccedila e eacutetica para a

promoccedilatildeo da sustentabilidaderdquo (AGENDA 21 BRASILEIRA 2004 p04) O Programa foi

estruturado em trecircs accedilotildees implementar a Agenda 21 Brasileira promover a elaboraccedilatildeo e

implementaccedilatildeo de Agendas 21 Locais e formaccedilatildeo continuada em Agenda 21

Vale destacar a importacircncia da Agenda 21 Local enquanto instrumento

complementar aos instrumentos da poliacutetica municipal de desenvolvimento urbano

A Agenda 21 Local eacute um dos principais instrumentos para se conduzir processos de

mobilizaccedilatildeo troca de informaccedilotildees geraccedilatildeo de consensos em torno dos problemas e

1 Importante destacar que ldquoO Plano Plurianual (PPA) eacute um instrumento previsto no art 165 da Constituiccedilatildeo

Federal destinado a organizar e viabilizar a accedilatildeo puacuteblica com vistas a cumprir os fundamentos e os objetivos da

Repuacuteblica Por meio dele eacute declarado o conjunto das poliacuteticas puacuteblicas do governo para um periacuteodo de quatro

anos e os caminhos trilhados para viabilizar as metas previstas construindo um Brasil melhorrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwmpgovbrministerioaspindex=10ampler=s1086gt Acesso em 06 jun 2015 O Plano Plurianual

referente ao periacuteodo 2004 ndash 2007 foi regulamentado pela Lei Nordm 10933 de 2004 sancionada pelo entatildeo

Presidente Luiacutez Inaacutecio Lula da Silva

12

soluccedilotildees locais e estabelecimento de prioridades para a gestatildeo de desde um estado

municiacutepio bacia hidrograacutefica unidade de conservaccedilatildeo ateacute um bairro uma escola O

processo deve ser articulado com outros projetos programas e atividades do governo

e sociedade sendo consolidado dentre outros a partir do envolvimento dos agentes

regionais e locais anaacutelise identificaccedilatildeo e promoccedilatildeo de instrumentos financeiros

difusatildeo e intercacircmbio de experiecircncias definiccedilatildeo de indicadores de desempenho

(AGENDA 21 Brasileira accedilotildees prioritaacuteriasComissatildeo de Poliacuteticas de

Desenvolvimento Sustentaacutevel e da Agenda 21 Nacional 2 ed Brasiacutelia Ministeacuterio

do Meio Ambiente 2004)

Desde entatildeo o esforccedilo em fomentar a construccedilatildeo das Agendas 21 Locais gerou

um resultado positivo embora muito aqueacutem do necessaacuterio para uma mudanccedila substancial nas

poliacuteticas em prol do desenvolvimento sustentaacutevel Em 2013 apenas 215 dos municiacutepios

brasileiros possuiacuteam processos em andamento relativos agrave Agenda 21 conforme foi

identificado pela IBGE a partir da Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros (MUNIC

2013) 2 Tal percentual apesar da pouca expressividade demarca um processo positivo de

mudanccedila tendo em vista que nos dados dos anos anteriores observava-se percentuais ainda

menores aleacutem de um processo de decliacutenio em 2009 a pesquisa indicou que 199 dos

municiacutepios haviam iniciado a elaboraccedilatildeo da agenda 21 enquanto em 2012 o percentual

baixou para 181

Nota-se ante ao exposto ateacute aqui que existe um arcabouccedilo legal significativo em

prol do desenvolvimento urbano sustentaacutevel Contudo a aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo existente e a

obtenccedilatildeo de resultados positivos estatildeo longe de se tornar uma realidade no Brasil Sendo

assim faz-se necessaacuterio reforccedilar a cada dia os compromissos estabelecidos nas Leis

Brasileiras e trabalhar na efetivaccedilatildeo dos instrumentos de promoccedilatildeo do equiliacutebrio ambiental a

partir da aplicaccedilatildeo das premissas da sustentabilidade Atingir o desenvolvimento urbano

sustentaacutevel natildeo eacute somente uma das opccedilotildees mas a uacutenica opccedilatildeo existente se quisermos que o

planeta tenha vida longa Preservar o meio ambiente deve ser uma accedilatildeo constante associada a

todas agraves demais poliacuteticas puacuteblicas Quanto agrave iniciativa privada esta deveraacute ser

permanentemente fiscalizada Regulamentar as atividades de exploraccedilatildeo da natureza e buscar

a inibiccedilatildeo severa de atividades de impacto ambiental satildeo tarefas urgentes que o Poder Puacuteblico

deve assimilar o quanto antes

2 Ressalta-se que ldquoA Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais ndash MUNIC eacute realizada desde o ano de 1999

pelo IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Na versatildeo de 2013 foram destacados os aspectos

relevantes da gestatildeo e da estrutura dos 5570 municiacutepios brasileiros a partir dos seguintes eixos perfil dos

gestores municipais recursos humanos das administraccedilotildees municipais legislaccedilatildeo e instrumentos de

planejamento sauacutede meio ambiente poliacutetica de gecircnero ndash temas jaacute investigados em anos anteriores ndash aleacutem de

gestatildeo de riscos e resposta a desastres este ineacutedito ateacute entatildeordquo Disponiacutevel em

lthttpwwwibgegovbrhomeestatisticaeconomiaperfilmunic2013defaultshtmgt Acesso em 06 jun 2015)

13

Somente com a permanente preocupaccedilatildeo do Estado para com o tema seraacute

possiacutevel consolidar o desenvolvimento urbano a partir da aplicaccedilatildeo das premissas da

sustentabilidade do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

14

3 O PLANO DIRETOR E OS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO

MUNICIPAL

Para introduzir a discussatildeo do Plano Diretor e demais instrumentos de

planejamento municipal previstos no Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio retomar o momento

da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 com destaque para o Art30 que determina as tarefas de

competecircncia dos Municiacutepios Dentre tais competecircncias destacam-se os incisos VIII e IX

diretamente relacionados ao planejamento urbano

Art 30 Compete aos Municiacutepios [] VIII - promover no que couber adequado

ordenamento territorial mediante planejamento e controle do uso do parcelamento e

da ocupaccedilatildeo do solo urbano IX - promover a proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-

cultural local observada a legislaccedilatildeo e a accedilatildeo fiscalizadora federal e estadual

(BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de

1988)

Aleacutem de delimitar as competecircncias municipais a Constituiccedilatildeo tambeacutem apontou

no Art182 do Capiacutetulo II o Plano Diretor - velho conhecido dos Teacutecnicos e Governantes -

como principal instrumento a ser utilizado pelos Municiacutepios no desenvolvimento da poliacutetica

urbana

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo Poder Puacuteblico

municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem por objetivo ordenar o

pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus

habitantes sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio para

cidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e de expansatildeo urbana sect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua

funccedilatildeo social quando atende agraves exigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade

expressas no plano diretor (BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do

Brasil de 5 de outubro de 1988)

Contudo tal instrumento natildeo representou uma novidade A expressatildeo Plano

Diretor foi utilizada pela primeira vez no Brasil em 1930 a partir do Plano Agache3

desenvolvido para o Rio de Janeiro Posteriormente foram desenvolvidos planos diretores em

todo o territoacuterio brasileiro planos estes que ficariam engavetados por falta de vontade

3 Nota-se que ldquoO Plano Agache foi a primeira proposta de intervenccedilatildeo urbaniacutestica na cidade do Rio de Janeiro

com preocupaccedilotildees genuinamente modernas Concluiacutedo em 1930 introduziu no cenaacuterio nacional algumas

questotildees tiacutepicas da cidade industrial tais como o planejamento do transporte de massas e do abastecimento de

aacuteguas a habitaccedilatildeo operaacuteria e o crescimento das favelas Aleacutem disso com discussotildees emergentes que iam desde a

necessidade de um zoneamento para a cidade ateacute a delimitaccedilatildeo de aacutereas verdes ultrapassou os limites do

Academicismo das intervenccedilotildees predecessoras de Pereira Passos e Paulo de Frontinrdquo Disponiacutevel em

lthttpplanourbanoriorjgovbrgt Acesso em 06 de jun 2015

15

poliacutetica A nomenclatura e o conteuacutedo dos planos diretores variaram com o passar dos anos

segundo Villaccedila

Por fim cabe abordar historicamente as jaacute mencionadas mudanccedilas na nomenclatura

nas formas nos conteuacutedos e nas metodologias dos planos Em primeiro lugar cai em

desuso a expressatildeo plano de melhoramentos e embelezamento e entra em cena a

expressatildeo urbanismo Depois esta cai em desuso sendo substituiacuteda por

planejamento urbano e plano diretor Em segundo lugar os conteuacutedos e

metodologias de elaboraccedilatildeo dos planos sofrem alteraccedilotildees radicais De enormes

volumes com centenas de paacuteginas recheados de mapas pesquisas e estatiacutesticas

elaborados por equipes multidisciplinares e abordando enorme leque de problemas

transformam-se em meros projetos de lei agraves vezes contendo apenas declaraccedilotildees de

princiacutepios poliacuteticas ou diretrizes gerais agraves vezes ateacute sem mapas ou com poucos

mapas Um simples projeto de lei publicado no Diaacuterio Oficial (CSABA Deaacutek

SUELI Ramos Schiffer (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo

Editora da Universidade de Satildeo Paulo 1999 p191)

A realidade eacute que os planos diretores desenvolvidos no Brasil entre as deacutecadas de

1940 e 1990 natildeo correspondiam ao pensamento dos governantes e das classes dominantes e

por isso natildeo contaram com intenccedilatildeo real de aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo Os objetivos apontados

natildeo seriam atingidos pois o Plano Diretor natildeo se tornara uma prioridade em nenhuma das

esferas administrativas do paiacutes

O ressurgimento do instrumento Plano Diretor em 1988 embora isento de grandes

novidades veio acompanhado da premissa da funccedilatildeo social da propriedade um aspecto

positivo e inovador da poliacutetica urbana poreacutem praticamente inviaacutevel de ser aplicado num

primeiro momento pelos obstaacuteculos constantes na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal Contudo

diante da pressatildeo dos movimentos sociais e populares que se fortaleceram durante o processo

de redemocratizaccedilatildeo tais planos foram se tornando mais politizados abordando aspectos

especiacuteficos da competecircncia municipal e tratando das polecircmicas voltadas para o territoacuterio

inclusive sobre a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria no espaccedilo urbano

Em 2001 a poliacutetica urbana foi regulamentada pela Lei 10257 - Estatuto da

Cidade ndash devidamente apresentada no capiacutetulo anterior Com uma abordagem democraacutetico-

participativa voltada para os interesses coletivos tal lei possibilitou uma mudanccedila expressiva

no planejamento urbano principalmente na esfera municipal

O Plano Diretor Participativo como seraacute chamado a partir de entatildeo se torna o

principal dentre outros sete instrumentos de planejamento municipal expressos no Art 4ordm

inciso III da Lei 10257

Art 4o Para os fins desta Lei seratildeo utilizados entre outros instrumentos [] III ndash

planejamento municipal em especial a) plano diretor b) disciplina do

parcelamento do uso e da ocupaccedilatildeo do solo c) zoneamento ambiental d) plano

plurianual e) diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual f) gestatildeo orccedilamentaacuteria

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participativa g) planos programas e projetos setoriais h) planos de

desenvolvimento econocircmico e social (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade

de 10 de julho 2001)

O conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelos planos diretores foi estabelecido na

resoluccedilatildeo nordm34 de 01 de julho de 2005 pelo Conselho das Cidades A tal conselho

regulamentado pelo Decreto 5031 2004 competia emitir orientaccedilotildees e recomendaccedilotildees sobre

a aplicaccedilatildeo da Lei 10257 de 2001 (Estatuto da Cidade) e dos demais atos normativos

relacionados ao desenvolvimento urbano A inclusatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel das

cidades nas novas diretrizes da poliacutetica urbana teraacute no plano diretor a sua expressatildeo

fundamental Dentre o conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelo Plano Diretor Participativo

merece destaque o Art 2ordm inciso III aleacutem do Art 5ordm inciso VII do Estatuto da Cidade

Art 2deg As funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade urbana seratildeo definidas a partir

da destinaccedilatildeo de cada porccedilatildeo do territoacuterio do municiacutepio bem como da identificaccedilatildeo

dos imoacuteveis natildeo edificados subutilizados e natildeo utilizados no caso de sua existecircncia

de forma a garantir [] III - a universalizaccedilatildeo do acesso aacute aacutegua potaacutevel aos

serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio a coleta e disposiccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos e ao

manejo sustentaacutevel das aacuteguas pluviais de forma integrada aacutes poliacuteticas ambientais de

recursos hiacutedricos e de sauacutede [] Art 5deg A instituiccedilatildeo das Zonas Especiais

considerando o interesse local deveraacute [] VII - demarcar as aacutereas de proteccedilatildeo

preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e construiacutedo do patrimocircnio

cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico (BRASIL Lei nordm10257

Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

Ao estabelecer as diretrizes de ordenaccedilatildeo do solo o Plano Diretor estabelece que

a propriedade urbana deve servir agrave qualidade de vida dos cidadatildeos agrave justiccedila social e ao

desenvolvimento sustentaacutevel das atividades econocircmicas A referecircncia territorial que estrutura

as estrateacutegias definidas pelo Plano Diretor eacute o macrozoneamento Este subdivide o territoacuterio

municipal a partir da identificaccedilatildeo das potencialidades e das caracteriacutesticas de cada aacuterea Satildeo

algumas categorias utilizadas na definiccedilatildeo do macrozoneamento aacutereas aptas agrave urbanizaccedilatildeo

aacutereas propiacutecias ao desenvolvimento de atividades rurais aacutereas de preservaccedilatildeo e aacutereas de

exploraccedilatildeo econocircmica Aleacutem da definiccedilatildeo de intenccedilotildees para os vetores do territoacuterio

municipal o macrozoneamento define tambeacutem o periacutemetro urbano e as zonas de expansatildeo

urbana enquanto instrumentos de direcionamento da urbanizaccedilatildeo da gestatildeo ambiental e do

crescimento econocircmico A delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano deve ser feita a partir de planta

referenciada com clara indicaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e fiacutesicos limiacutetrofes e deve servir

para direcionar o adensamento populacional para as aacutereas providas de infraestrutura

garantindo a proteccedilatildeo das aacutereas de interesse ambiental e a reserva de aacutereas para produccedilatildeo

agriacutecola e ocupaccedilatildeo rural A alteraccedilatildeo de tal periacutemetro conforme previsto no Art42B do

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Estatuto da Cidade deveraacute instituiacuteda por lei municipal e deve ser resultado de projeto

especiacutefico que contemple o conteuacutedo miacutenimo e que atenda agraves diretrizes do Plano Diretor

O segundo instrumento de planejamento municipal apresentado no Art 4ordm do

Estatuto da Cidade o parcelamento o uso e a ocupaccedilatildeo do solo eacute tambeacutem um importante

instrumento para a concretizaccedilatildeo dos preceitos da sustentabilidade do ambiente urbano A

Legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal definiraacute o zoneamento da aacuterea urbana Tal zoneamento

responsaacutevel pela subdivisatildeo do periacutemetro urbano em diferentes categorias eacute o principal

instrumento da regulaccedilatildeo urbana A definiccedilatildeo das categorias deveraacute ser pautada pelo melhor

aproveitamento e pela ampliaccedilatildeo do acesso agrave terra urbanizada O zoneamento orienta o

ordenamento urbano a partir das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo do solo definindo os paracircmetros

urbaniacutesticos - coeficiente de aproveitamento taxa de ocupaccedilatildeo afastamentos gabaritos - de

forma que os projetos de edificaccedilotildees e demais intervenccedilotildees mantenham uma densidade de

ocupaccedilatildeo que favoreccedila o conforto ambiental urbano Dentre os criteacuterios para a definiccedilatildeo dos

diferentes paracircmetros urbaniacutesticos que incidem sobre o territoacuterio estatildeo proteccedilatildeo das aacutereas

ambientalmente fraacutegeis adensamento de aacutereas providas de infraestrutura limitaccedilatildeo de usos a

partir da capacidade viaacuteria controle da permeabilidade do solo preservaccedilatildeo e proteccedilatildeo de

conjuntos de valor histoacuterico cultural ou ambiental distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo de baixa renda

em aacutereas bem localizadas e servidas de infraestrutura condiccedilotildees climaacuteticas locais

As diretrizes para o parcelamento geralmente compoem junto com os paracircmetros

urbaniacutesticos a mesma lei municipal O parcelamento merece destaque pois trata dos novos

espaccedilos que seratildeo incorporados ao tecido urbano da cidade e portanto deveraacute estar

integralmente articulado com as estrateacutegias do desenvolvimento urbano Eacute regulamentado em

acircmbito geral pela Lei Federal 676679 acrescida das alteraccedilotildees posteriores definidas nas leis

978599 e 1144507 O parcelamento configura um processo de expansatildeo horizontal ou

adensamento da aacuterea urbanizada e consiste na subdivisatildeo de um determinado imoacutevel sob as

formas de desmembramento (quando haacute o aproveitamento do sistema viaacuterio existente) ou

loteamento (quando haacute abertura de novas vias e logradouros ou modificaccedilatildeo dos existentes)

Deveratildeo ser contempladas na Lei de Parcelamento as aacutereas que natildeo admitiratildeo parcelamento

os paracircmetros de dimensionamento de lotes quadras e sistema viaacuterio as aacutereas de uso puacuteblico

as faixas de proteccedilatildeo a infraestrutura baacutesica os procedimentos administrativos para

aprovaccedilatildeo do projeto as contrapartidas do empreendedor as penalidades sobre infraccedilotildees

assim como os procedimentos para regularizaccedilatildeo das aacutereas em desconformidade com a Lei

Paracircmetros de conforto ambiental tais como ventos favoraacuteveis orientaccedilatildeo solar vegetaccedilatildeo

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sistema de abastecimento de aacutegua sistema de esgotamento sanitaacuterio e sistema de drenagem

devem ser definidos em lei e cobrados nos projetos de parcelamento a fim de minimizar os

impactos ao meio ambiente

Vale destacar que o sucesso na elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo das Leis de Parcelamento

Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo depende primeiramente do comprometimento da gestatildeo municipal

com a democratizaccedilatildeo da cidade e com o bem-estar coletivo caso contraacuterio tal legislaccedilatildeo

poderaacute aprofundar a segregaccedilatildeo privilegiando a iniciativa privada a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria

e os interesses individuais

O zoneamento ambiental terceiro instrumento de planejamento municipal

apontado na lista do Art 4ordm do Estatuto da Cidade eacute tambeacutem um instrumento da Poliacutetica

Nacional do Meio Ambiente regida pela Lei 693881 Art 9ordm O zoneamento ambiental pode

ser considerado uma expressatildeo sinocircnima do Zoneamento Ecoloacutegico-Econocircmico ndash ZEE que

foi regulamentado pelo Decreto 429702

CAPITULO I - DOS OBJETIVOS E PRINCIacutePIOS ndash [] Art 2ordm O ZEE

instrumento de organizaccedilatildeo do territoacuterio a ser obrigatoriamente seguido na

implantaccedilatildeo de planos obras e atividades puacuteblicas e privadas estabelece medidas e

padrotildees de proteccedilatildeo ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental dos

recursos hiacutedricos e do solo e a conservaccedilatildeo da biodiversidade garantindo o

desenvolvimento sustentaacutevel e a melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo

Art 3ordm O ZEE tem por objetivo geral organizar de forma vinculada as decisotildees dos

agentes puacuteblicos e privados quanto a planos programas projetos e atividades que

direta ou indiretamente utilizem recursos naturais assegurando a plena manutenccedilatildeo

do capital e dos serviccedilos ambientais dos ecossistemas Paraacutegrafo uacutenico O ZEE na

distribuiccedilatildeo espacial das atividades econocircmicas levaraacute em conta a importacircncia

ecoloacutegica as limitaccedilotildees e as fragilidades dos ecossistemas estabelecendo vedaccedilotildees

restriccedilotildees e alternativas de exploraccedilatildeo do territoacuterio e determinando quando for o

caso inclusive a relocalizaccedilatildeo de atividades incompatiacuteveis com suas diretrizes

gerais (BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002)

O zoneamento ambiental ou ZEE eacute o instrumento que possibilita traccedilar um

panorama sobre a utilizaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais de um determinado

municiacutepio gerando as bases para um planejamento urbano comprometido com a

sustentabilidade ecoloacutegica econocircmica e social Tambeacutem eacute um instrumento de caraacuteter

democraacutetico-participativo e deve portanto ser acompanhado pela Administraccedilatildeo Puacuteblica em

seus diferentes niacuteveis e pela sociedade civil Tal instrumento assim como o zoneamento

urbano divide o territoacuterio em diferentes categorias As categorias do zoneamento ambiental

satildeo definidas a partir dos princiacutepios da utilidade e da simplicidade de forma a configurar

limites claros e compreensiacuteveis ao poder puacuteblico e aos cidadatildeos As diretrizes gerais e

especiacuteficas do zoneamento deveratildeo conter a capacidade de suporte ambiental de determinada

aacuterea a necessidade de proteccedilatildeo dos recursos renovaacuteveis e natildeo-renovaacuteveis a definiccedilatildeo de aacutereas

19

para unidades de conservaccedilatildeo integral a permissatildeo para exploraccedilatildeo de recursos naturais as

medidas para o desenvolvimento sustentaacutevel do setor rural medidas de ajustamento entre usos

conflitantes aleacutem de planos programas e fonte de recursos para viabilizar as atividades

apontadas para cada zona

Apesar de ser um importante instrumento de suporte agrave proteccedilatildeo do meio ambiente

o zoneamento ambiental ou ZEE ainda tem sido pouco utilizado pelos municiacutepios brasileiros

Contudo os dados da Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais (MUNIC 2013)

demonstraram que tem havido um crescimento do percentual de municiacutepios com legislaccedilatildeo

especiacutefica sobre a questatildeo ambiental o que traz um pouco de esperanccedila quanto agrave mudanccedila

dos paradigmas de proteccedilatildeo do meio ambiente A MUNIC 2013 apontou que em 2012

554 dos municiacutepios tinham legislaccedilatildeo ambiental jaacute em 2013 esse percentual subiu para

655

Por uacuteltimo os demais instrumentos de planejamento municipal apontados no Art

4ordm do Estatuto da Cidade - plano plurianual diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual

gestatildeo orccedilamentaacuteria participativa planos programas e projetos setoriais planos de

desenvolvimento econocircmico e social ndash tratariam de garantir a gestatildeo democraacutetica da cidade a

partir da realizaccedilatildeo de debates audiecircncias e consultas puacuteblicas como condiccedilatildeo para a

aprovaccedilatildeo das Leis Municipais Tais instrumentos apesar de natildeo-urbaniacutesticos tecircm uma

importacircncia decisiva na reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais Contudo embora tenham se

efetivado na maioria dos municiacutepios brasileiros ainda permanecem em sua maioria

mergulhados na velha poliacutetica clientelista que transforma os foacuteruns de participaccedilatildeo em

espaccedilos esvaziados pouco divulgados redutos de manobras poliacuteticas e trocas de favores

Infelizmente a garantia da gestatildeo democraacutetica natildeo seraacute alcanccedilada apenas por atos normativos

assim como as diretrizes estabelecidas para o desenvolvimento urbano sustentaacutevel tambeacutem

natildeo ser tornaratildeo realidade apenas por forccedila de Lei Eacute necessaacuterio mudar o caraacuteter da gestatildeo do

territoacuterio que atualmente se caracteriza pela anulaccedilatildeo da atuaccedilatildeo teacutecnica das diferentes aacutereas

do conhecimento a fim de garantir que o interesse privado prevaleccedila sobre os diretos coletivos

de toda uma cidade Eacute necessaacuterio colocar em praacutetica os preceitos das leis brasileiras efetivar

os instrumentos com real participaccedilatildeo popular lanccedilar as bases para um modelo de gestatildeo

realmente democraacutetico inclusivo e comprometido com o bem estar coletivo e com a justiccedila

social

20

4 OS DESAFIOS DA REGULACcedilAtildeO URBANA FRENTE AgraveS INTERVENCcedilOtildeES NAS

EDIFICACcedilOtildeES E NOS CONJUNTOS URBANOS TOMBADOS

A proteccedilatildeo e a preservaccedilatildeo dos siacutetios urbanos de valor histoacuterico arquitetocircnico

cultural ou paisagiacutestico satildeo imprescindiacuteveis para a manutenccedilatildeo da identidade e da memoacuteria

dos diferentes grupos sociais que por ali passaram ou nele se estabeleceram O registro da

histoacuteria deve ser deixado agraves geraccedilotildees futuras como siacutembolo do conhecimento e da experiecircncia

adquirida ao longo do tempo A proteccedilatildeo de um determinado siacutetio pode inclusive ser

utilizada quando a memoacuteria coletiva e a afetividade de uma comunidade para com um

determinado espaccedilo adquirir grande relevacircncia cultural gerando uma ambiecircncia a ser

protegida mesmo que esta tenha se consolidado em um periacuteodo recente

Atualmente a preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos e a conservaccedilatildeo dos imoacuteveis

urbanos tecircm no desenvolvimento urbano sustentaacutevel um importante aliado A disseminaccedilatildeo

da loacutegica do consumo que atinge tanto os bens materiais moacuteveis quanto os imoacuteveis resulta

numa produccedilatildeo exagerada desses bens o que demanda enorme quantidade de mateacuteria-prima e

energia e causa impacto no meio ambiente Sendo assim as poliacuteticas de preservaccedilatildeo e o

incentivo ao reuso de edifiacutecios e objetos contribuem para a sustentabilidade e o equiliacutebrio

ambiental

Hoje existem no Brasil doze siacutetios urbanos e sete siacutetios naturais que satildeo

considerados Patrimocircnio Cultural da Humanidade e portanto tombados internacionalmente

pela UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

Dentre os conjuntos tombados internacionalmente destaca-se a predominacircncia dos centros

histoacutericos de caracteriacutesticas coloniais tais como o Centro Histoacuterico de Ouro Preto MG

Olinda PE Salvador BA Satildeo Luiz do Maranhatildeo MA Diamantina MG e Goiaacutes GO Natildeo

menos importante o tombamento nacional realizado pelo IPHAN ndash Instituto do Patrimocircnio

Histoacuterico e Artiacutestico Nacional preserva 77 conjuntos urbanos espalhados por todas as regiotildees

do Brasil com destaque para a regiatildeo nordeste que conta com 30 desses centros tombados

Somam-se a esse contingente os conjuntos tombados estadualmente e municipalmente que

natildeo seratildeo aqui enumerados

A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio estaacute presente no ordenamento

juriacutedico brasileiro desde 1937 quando por meio do Decreto-Lei nordm25 criou-se o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash SPHAN (atual IPHAN) para proteger as cidades

e os monumentos da modernizaccedilatildeo das reformas urbanas e do interesse imobiliaacuterio

21

Reafirmada pelo Art 216 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e pelo Art 2ordm inciso XII do

Estatuto da Cidade a proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e

construiacutedo do patrimocircnio cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico tornou-se

diretriz obrigatoacuteria a ser contemplada pelos planos urbanos e legislaccedilotildees municipais

Contudo a preservaccedilatildeo dos conjuntos urbanos tombados natildeo pressupotildee o

congelamento das cidades Os paracircmetros para as intervenccedilotildees contemporacircneas deveratildeo ser

definidos em leis especiacuteficas de modo a evitar que o novo se sobreponha ou se confunda com

o existente A preservaccedilatildeo do conjunto tombado soacute seraacute possiacutevel se for permitido agrave cidade

expandir-se adensar-se e modificar-se Caso contraacuterio centro e cidade se tornaratildeo obsoletos

Percebe-se portanto que a regulaccedilatildeo urbana nas cidades histoacutericas enfrenta um

grande desafio preservar o antigo e abrir-se ao novo Sendo assim como proceder e quais

instrumentos utilizar Como a legislaccedilatildeo municipal deveraacute ser elaborada e aplicada a fim de

contemplar a preservaccedilatildeo do conjunto tombado e a expansatildeo da cidade seguindo os preceitos

da sustentabilidade

A preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos associada agrave expansatildeo sustentaacutevel das cidades eacute

um tema que vem sendo amplamente discutido inclusive em acircmbito internacional Nos paiacuteses

do norte e principalmente no continente europeu os siacutetios urbanos que demandam poliacuteticas

de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo remontam de seacuteculos e ateacute mesmo de milecircnios passados Embora

uma grande parte do patrimocircnio mundial tenha se perdido com a destruiccedilatildeo resultante das

guerras das cataacutestrofes e da imposiccedilatildeo de novas culturas como aconteceu principalmente nos

paiacuteses do sul que tiveram a cultura originaacuteria destruiacuteda pela colonizaccedilatildeo ainda haacute muito

patrimocircnio a ser preservado E natildeo eacute de hoje que os teacutecnicos e profissionais de diversas aacutereas

do conhecimento tecircm desenvolvido teorias e instrumentos para assegurar a salvaguarda de

todo esse patrimocircnio

Desde entatildeo leis documentos planos guias e coacutedigos vecircm sendo desenvolvidos

com o objetivo de orientar e direcionar as accedilotildees e intervenccedilotildees sobre o patrimocircnio cultural das

cidades com vistas ao desenvolvimento sustentaacutevel

Um importante documento desenvolvido em 2008 pelo Governo da Escoacutecia o

ldquoSustainable Development Guidance for Estate Managementrdquo buscou sistematizar a partir

dos preceitos da sustentabilidade estrateacutegias e orientaccedilotildees para a realizaccedilatildeo de intervenccedilotildees

principalmente para as novas construccedilotildees Tal preocupaccedilatildeo se intensificou apoacutes a discussatildeo

sobre as mudanccedilas climaacuteticas e os efeitos futuros ldquoThe Stern Review on the Economics of

Climate Changerdquo realizada pelo Governo do Reino Unido O documento ldquoSustainable

22

Development Guidance for Estate Managementrdquo se assemelha a um guia para o

desenvolvimento sustentaacutevel que aborda as estrateacutegias de accedilatildeo e recomendaccedilotildees para fazer da

Escoacutecia um paiacutes mais ecoloacutegico

Segundo esse Guia que trata da proteccedilatildeo do ambiente natural e da manutenccedilatildeo do

ambiente construiacutedo a sustentabilidade deveraacute ser uma prerrogativa tanto nas novas

construccedilotildees como na manutenccedilatildeo das edificaccedilotildees existentes nas conversotildees de uso nas

ampliaccedilotildees no retrofit4 e nas demoliccedilotildees No item 36 ldquoEmbedding sustainability within the

estate strategy processrdquo satildeo apontados os itens a serem observados na elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias e projetos para o desenvolvimento manutenccedilatildeo ou restauraccedilatildeo de edificaccedilotildees Satildeo

eles biodiversidade layout flexiacutevel nas construccedilotildees materiais construtivos e a possibilidade

de recuperaccedilatildeo reciclagem e reuso gestatildeo da aacutegua diminuiccedilatildeo da poluiccedilatildeo energia

certificada minimizaccedilatildeo do consumo de energia atraveacutes do isolamento e da ventilaccedilatildeo

natural utilizaccedilatildeo de energias renovaacuteveis como energia solar diminuiccedilatildeo do desperdiacutecio e

aumento da reciclagem dentre outros itens A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio

conforme jaacute foi discutido no iniacutecio deste capiacutetulo tambeacutem estaacute presente no Guia conforme

aponta o item 43 ldquoHistoric Buildingsrdquo Neste item direciona-se a atenccedilatildeo para as amplas

possibilidades de reuso e reabilitaccedilatildeo dessas edificaccedilotildees Tal situaccedilatildeo deve partir da

intervenccedilatildeo miacutenima e deve garantir que as caracteriacutesticas histoacutericas ou culturais dos edifiacutecios

sejam devidamente respeitadas e mantidas O Guia trata tambeacutem do procedimento para

reparos que na medida do possiacutevel deve ser feito atraveacutes das teacutecnicas tradicionais e dos

materiais originais ou compatiacuteveis sempre com apoio de profissional especializado Eacute

enfatizada tambeacutem a obrigatoriedade em solicitar das autoridades competentes autorizaccedilatildeo

para as intervenccedilotildees Por uacuteltimo apoacutes feitas todas as consideraccedilotildees sobre os aspectos

positivos da reutilizaccedilatildeo de um determinado edifiacutecio no caso de se decidir pela demoliccedilatildeo do

mesmo o Guia aponta os cuidados a serem obsevados na disposiccedilatildeo final dos resiacuteduos no

aterro sanitaacuterio alertando para a importacircncia em separar os resiacuteduos toacutexicos Os materiais

resultantes da demoliccedilatildeo como accedilo fundaccedilotildees de concreto ceracircmica madeira de assoalho

instalaccedilotildees internas placas de gesso carpete e janelas satildeo frequentemente passiacuteveis de

4 ldquoTermo utilizado principalmente em engenharia para designar o processo de modernizaccedilatildeo de algum

equipamento jaacute considerado ultrapassado ou fora de normardquo Disponiacutevel em

lthttpwwweletrobrascomrelatorio_sustentabilidade_2013anexosglossariogt Acesso em 06 de jun 2015

23

reciclagem revenda ou reutilizaccedilatildeo e natildeo devem ser descartados resultando na diminuiccedilatildeo do

desperdiacutecio e na reduccedilatildeo da exploraccedilatildeo dos recursos naturais

Outro importante documento a ser citado aqui como relevante para a proteccedilatildeo do

patrimocircnio histoacuterico e para o desenvolvimento sustentaacutevel o ldquoCalifornia Code of

Regulations Title 24rdquotambeacutem chamado de ldquoCalifornia Building Standards Coderdquo foi

finalizado em 1998 e aprovado pela ldquoCalifornia Building Standards Commissionrdquo em 2007

Tal documento trata dos paracircmetros gerais para a construccedilatildeo de edificaccedilotildees no Estado da

Califoacuternia Este Coacutedigo eacute dividido em 12 partes e traz na parte 8 de tiacutetulo ldquoCalifornia

Historical Building Code (CHBC)rdquo as exigecircncias a serem cumpridas para a permissatildeo de

reparos alteraccedilotildees e adiccedilotildees necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo relocaccedilatildeo mudanccedila de

uso ou continuaccedilatildeo de uso em edificaccedilotildees de reconhecido valor cultural ou histoacuterico5 Com o

objetivo de proteger a sauacutede e a seguranccedila das pessoas o California Historical Building Code

(CHBC) busca orientar as accedilotildees para a recuperaccedilatildeo das edificaccedilotildees histoacutericas garantindo a

preservaccedilatildeo da integridade e das caracteriacutesticas de tais edificaccedilotildees Ao todo satildeo 10 capiacutetulos

que abordam em resumo os seguintes temas capiacutetulo 01 ldquoAdministrationrdquo trata dos casos

sujeitos agrave aplicaccedilatildeo do coacutedigo cap02 ldquoDefinitionsrdquo trata das definiccedilotildees dos termos frases e

palavras necessaacuterios agrave compreensatildeo dos demais capiacutetulos cap03 ldquoUse and Occupancyrdquo trata

das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo dos edifiacutecios tais como altura maacutexima e nuacutemero de

pavimentos dimensatildeo miacutenima dos cocircmodos diretrizes de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo cap04

ldquoFire Protectionrdquo trata da proteccedilatildeo contra incecircndio e indica as diretrizes em relaccedilatildeo aos

materiais shafts telhado sistemas de alarme sistemas automaacuteticos de proteccedilatildeo como

sprinklers dentre outras tecnologias cap05 ldquoMeans of Egressrdquo trata das meios de saiacuteda das

edificaccedilotildees abordando entre outros elementos as escadas portas janelas grades e guarda-

corpos cap06 ldquoAccessibilityrdquo trata da acessibilidade aos portadores de necessidades especiais

a partir da utilizaccedilatildeo das dimensotildees miacutenimas e demais diretrizes estabelecidas para as

entradas portas banheiros rampas elevadores dentre outros cap07 ldquoStructural

5 Conforme o California Building Standards Code Parte 08 paacutegina 04 as edificaccedilotildees de reconhecido valor

cultural ou histoacuterico para as quais se utilizaraacute o CHBC satildeo ldquoFor the purposes of this part a qualified historical

building or structure is any structure or collection of structures and their associated sites deemed of importance

to the history architecture or culture of an area by an appropriate local or state governmental jurisdiction This

shall include structures on existing or future national state or local historical registers or official inventories

such as the National Register of Historic Places State Historical Landmarks State Points of Historical Interest

and city or county registers or inventories of historical or architecturally significant sites places historic districts

or landmarksrdquo (CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS 2007 p 4)

24

Regulationsrdquo trata da regulaccedilatildeo sobre os sistemas estruturais a partir da identificaccedilatildeo da

situaccedilatildeo da estrutura por profissional especializado identificaccedilatildeo dos acreacutescimos posteriores agrave

construccedilatildeo do edifiacutecio das cargas incidentes da performance dos parapeitos e da situaccedilatildeo dos

revestimentos externos e decorativos cap8 ldquoArchaic Materials and Methods of Constructionrdquo

trata dos meacutetodos e materiais construtivos tradicionais das edificaccedilotildees histoacutericas e das

diretrizes para a recuperaccedilatildeo de alvenarias adobe madeira concreto accedilo ferro vidros e

vidraccedilas cap09 ldquoMechanical Plumbing and Electrical Requirementsrdquo trata das exigecircncias

em relaccedilatildeo agraves instalaccedilotildees eleacutetricas aos encanamentos e sistemas mecacircnicos Por uacuteltimo o

cap10 ldquoQualified Historical Districts Sites and Open Spacesrdquo trata das orientaccedilotildees para a

preservaccedilatildeo dos espaccedilos abertos e siacutetios histoacutericos a partir da manutenccedilatildeo da configuraccedilatildeo

espacial existente e dos elementos constitutivos da paisagem

No Brasil o instrumento que mais se assemelha aos exemplos citados acima eacute o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees Utilizado para regulamentar os criteacuterios e procedimentos a

serem utilizados na elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de projetos de edificaccedilotildees e controlar as atividades

de construccedilatildeo6 o Coacutedigo de Obras eacute instituiacutedo por lei municipal como instrumento

complementar a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo citada anteriormente no Capiacutetulo 02 O

atendimento agraves condiccedilotildees estabelecidas nesses dois instrumentos da regulaccedilatildeo urbana ndash e o

atendimento a outras legislaccedilotildees quando for o caso - eacute requisito para a obtenccedilatildeo da licenccedila

urbaniacutestica Somente por meio da licenccedila municipal que afirma a compatibilizaccedilatildeo dos

interesses individuais e coletivos com o desenvolvimento urbano o proprietaacuterio poderaacute

exercer o seu direito sobre a propriedade sendo-lhe permitido executar as intervenccedilotildees

devidamente aprovadas Tambeacutem devem ser previstas em lei assim como os procedimentos

para o licenciamento as bases para a efetivaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo municipal como a

determinaccedilatildeo das infraccedilotildees e a previsatildeo de sanccedilotildees e multas aplicaacuteveis a cada caso

Subordinado agraves estrateacutegias de desenvolvimento estabelecidas no Plano Diretor o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees assim como a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo deve ser

elaborado a partir da preocupaccedilatildeo em se estabelecer uma boa interaccedilatildeo entre as novas

edificaccedilotildees e o conjunto urbano construiacutedo Para essa interaccedilatildeo as construccedilotildees devem atender

agraves premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica natildeo de forma isolada mas de

6 ldquoPara fins de direito entende-se por construccedilatildeo toda realizaccedilatildeo material e intencional de algueacutem visando a

adaptar o imoacutevel agraves suas conveniecircncias Nesse sentido tanto eacute construccedilatildeo a edificaccedilatildeo ou reforma como a

demoliccedilatildeo o muramento a escavaccedilatildeo o aterro a pintura e demais trabalhos destinados a beneficiar tapar

desobstruir conservar ou embelezar o preacutediordquo (BARANDIER ALMEIDA MORAIS 2013 p 147)

25

forma a interferir positivamente sobre o clima urbano e sobre a qualidade ambiental Assim

para aleacutem das diretrizes relativas ao uso agrave seguranccedila agrave salubridade agrave acessibilidade e agrave

preservaccedilatildeo dos elementos histoacutericos artiacutesticos e culturais tambeacutem devem ser elaborados

estudos climaacuteticos que aplicados ao desenho urbano possibilitem a formulaccedilatildeo de diretrizes

em prol da adaptaccedilatildeo das edificaccedilotildees agraves caracteriacutesticas climaacuteticas locais ao conforto teacutermico

luminoso e acuacutestico aleacutem da formulaccedilatildeo de diretrizes para a utilizaccedilatildeo de fontes de energia

alternativas e combate ao desperdiacutecio

Voltando aos dados obtidos pela Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros

realizada pelo IBGE em 2013 conforme pode ser visto no graacutefico abaixo do total de

municiacutepios brasileiros 624 declararam ter Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees enquanto 542

declararam ter Lei de Zoneamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo Esses dados demonstram que os

instrumentos legais embora apresentem um grande potencial de transformaccedilatildeo da realidade

urbana ainda satildeo pouco aplicados

Graacutefico do Percentual de municiacutepios segundo o tipo de instrumento de planejamento

existente - MUNIC -2013

Fonte Pesquisa ldquoPERFIL DOS MUNICIacutePIOS BRASILEIROS 2013rdquo (IBGE 2014)

Dentre os Coacutedigos de Obras existentes muitos estatildeo desatualizados defasados e

por isso natildeo configuram um mecanismo relevante quanto agrave alteraccedilatildeo do cenaacuterio das cidades

brasileiras Aleacutem disso a falha na articulaccedilatildeo dos diversos dispositivos de orientaccedilatildeo controle

e fiscalizaccedilatildeo das construccedilotildees resulta na aplicaccedilatildeo desequilibrada da lei consolidando

poliacuteticas de favorecimento exclusatildeo e segregaccedilatildeo aleacutem de ampliar a cada dia a destruiccedilatildeo e

os prejuiacutezos ambientais

26

Apesar de termos avanccedilado na construccedilatildeo conceitual dos instrumentos capazes de

nos levar ao sonhado desenvolvimento sustentaacutevel estamos ainda muito aqueacutem de efetivaacute-los

na praacutetica e no dia-a-dia dos municiacutepios A gestatildeo urbana da qual o planejamento eacute

interdependente configura a um dos principais obstaacuteculos agrave superaccedilatildeo da loacutegica atual de

valorizaccedilatildeo dos interesses individuais sobre os coletivos A falta interesse em destinar

recursos para a soluccedilatildeo de parte dos problemas soacutecio-espaciais tambeacutem eacute um grande

obstaacuteculo A melhoria da infraestrutura urbana os projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria a

construccedilatildeo de moradias populares sustentaacuteveis e a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados jaacute

configurariam um passo adiante na concretizaccedilatildeo da sustentabilidade no ambiente urbano

Sendo assim conhecidos os obstaacuteculos ou pelo menos parte deles eacute fundamental lanccedilarmos

as bases para a sua superaccedilatildeo fortalecendo os ideais de transformaccedilatildeo das cidades

27

5 O MUNICIacutePIO DE OURO PRETO UM ESTUDO DE CASO

51 Da colonizaccedilatildeo ao Seacuteculo XX

Localizado na Regiatildeo Central de Minas Gerais (ou Macrorregiatildeo Metaluacutergica) o

municiacutepio de Ouro Preto eacute possui uma aacuterea aproximada de 1245kmsup2 e sua populaccedilatildeo totaliza

cerca de 70281 habitantes7 Posicionado na porccedilatildeo centro-sul do Estado Ouro Preto tem

como principais confrontantes os municiacutepios de Mariana Itabirito Ouro Branco Congonhas

e Santa Baacuterbara Aleacutem do distrito-sede o territoacuterio eacute dividido em mais 12 distritos

Amarantina Antocircnio Pereira Cachoeira do Campo Engenheiro Correia Glaura Lavras

Novas Miguel Burnier Santa Rita Santo Antocircnio do Leite Santo Antocircnio do Salto Satildeo

Bartolomeu e Rodrigo Silva

Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ouro Preto no estado de

Minas Gerais

Fonte SMCP - PMOP

7 IBGE Diretoria de Pesquisas Coordenaccedilatildeo de Populaccedilatildeo e Indicadores Sociais ndash ldquoEstimativas da populaccedilatildeo

residente com data de referecircncia 1o de julho de 2014 publicada no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo em 28082014rdquo

Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314610ampsearch=||infogrE1ficosinformaE7F5e

s-completasgt Acesso em 06 jun 2015

28

Ouro Preto e municiacutepios limiacutetrofes

Fonte SMCP - PMOP

Mapa dos Distritos de Ouro Preto

Fonte SMCP - PMOP

Desencadeados pela exploraccedilatildeo auriacutefera do seacuteculo XVII - iniciada na regiatildeo de

Minas Gerais provavelmente em 1698 - os arraiais e agrupamentos humanos se consolidaram

na regiatildeo montanhosa e acidentada do municiacutepio de Ouro Preto primeiramente nas encostas

iacutengremes e arredores das minas e posteriormente nas margens dos rios e nos fundos de vale O

povoamento foi se intensificando em torno dos principais eixos de ligaccedilatildeo entre os nuacutecleos

29

urbanos vizinhos resultando num desenho urbano linear e longitudinal diferente do modelo

reticulado de ordenaccedilatildeo do territoacuterio que foi caracteriacutestico do Brasil Colocircnia

Agrave primeira configuraccedilatildeo urbana consolidada em 1711 deu-se o nome de Vila

Rica de Albuquerque que posteriormente em 1720 foi elevada agrave capital da Capitania das

Minas Gerais Ao longo do seacuteculo XVIII foram efetivadas as intervenccedilotildees urbanas mais

significativas e foram construiacutedas as principais referecircncias arquitetocircnicas de Ouro Preto As

principais pontes os chafarizes o Centro Administrativo (atual Praccedila Tiradentes) o Palaacutecio

dos Governadores a Casa de Cacircmara e Cadeia assim como as inuacutemeras capelas e igrejas de

estilo barroco das diversas ordens e irmandades religiosas consolidaram o cenaacuterio

setecentista que configura o atual centro histoacuterico da cidade O final do seacuteculo XVIII foi

marcado pelo esgotamento das minas de ouro o que desencadeou um esvaziamento

populacional da Vila pela crise de abastecimento e decadecircncia econocircmica

O seacuteculo XIX contudo trouxe as mudanccedilas advindas da era do Impeacuterio e em

1823 Vila Rica de Albuquerque foi elevada agrave cidade sob o tiacutetulo de Imperial Cidade de Ouro

Preto A partir daiacute a cidade passou por diversas modernizaccedilotildees a fim de se consolidar

enquanto capital da proviacutencia de Minas Gerais A criaccedilatildeo da Escola de Farmaacutecia do Liceu de

Artes e Ofiacutecios da Escola de Minas a construccedilatildeo da Estaccedilatildeo Ferroviaacuteria e a implantaccedilatildeo da

Companhia Industrial Ouro-Pretana satildeo exemplos importantes da expansatildeo e do

desenvolvimento da cidade durante o seacuteculo XIX Ao final deste seacuteculo jaacute sob a eacutegide do

periacuteodo republicano a cidade de Ouro Preto perde o status de capital da proviacutencia que em

1897 passou para Belo Horizonte Tal fato ocasionou pela segunda vez um processo de

esvaziamento e crise econocircmica na cidade Assim distante dos ideais de modernizaccedilatildeo e

desenvolvimento que cercavam a nova capital a ausecircncia de poliacuteticas de renovaccedilatildeo foi o que

garantiu a preservaccedilatildeo das feiccedilotildees urbanas da antiga Vila Rica A partir de entatildeo diversos

intelectuais da eacutepoca viajaram ateacute Ouro Preto e verificando o mal estado de conservaccedilatildeo e o

abandono da cidade comeccedilaram a produzir uma nova consciecircncia em relaccedilatildeo agrave necessidade

de se preservar os registros do passado

30

Mapa da evoluccedilatildeo urbana de Ouro Preto ndash do seacuteculo XVII ao seacuteculo XX

Fonte IGA ndash Instituto de Geociecircncias Aplicadas - 2003

Igreja de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo ndash registros do

periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

Ponte vizinha agrave Casa dos Contos - registros do periacuteodo

entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

31

Igreja N S do Pilar ndash registros do periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015apresentacao

A tradiccedilatildeo quanto agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico somente se consolidou

no Brasil a partir do seacuteculo XX Em 1931 surgiu o primeiro decreto municipal8 voltado para a

preservaccedilatildeo do cenaacuterio arquitetocircnico da cidade de Ouro preto proibindo as construccedilotildees em

desacordo com o estilo colonial predominante Em 1933 por meio do decreto nacional

22928 Ouro Preto foi erigida a Monumento Nacional Em 1938 o conjunto histoacuterico da

cidade foi tombado pelo SPHAN - Serviccedilo do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional que

havia sido criado no ano anterior Os anos seguintes foram marcados por inuacutemeras obras de

restauraccedilatildeo e tombamentos individuais

8 Decreto 13 de 19 de setembro de 1931 ldquoConsiderando que a cidade de Ouro Preto escriacutenio das tradiccedilotildees

mineiras deve conservar o seu aspecto colonial transmitido dos nossos antepassados Considerando que esta

feiccedilatildeo colonial de seus edifiacutecios de seus preacutedios das ruas e praccedilas desperta grande interesse por parte dos

turistas que frequumlentemente vecircm visitar a cidade e suas cercanias Considerando que ferem dolorosamente a

sensibilidade dos turistas os preacutedios que destoam do tipo colonial DECRETA Art 1deg - Natildeo eacute permitida no

periacutemetro urbano a construccedilatildeo de preacutedios e de edifiacutecios em desacordo com o estilo colonial da cidade Art 2deg -

Os atuais preacutedios existentes no periacutemetro urbano em desacordo com o artigo antecedente deveratildeo ser

modificados nas respectivas fachadas quando estas tenham que receber reparos []rdquo (OLIVEIRA 1997 p 7)

32

A sistematizaccedilatildeo de normas aplicaacuteveis agraves novas construccedilotildees foi realizada pelo

SPHAN (que em 1970 passou a ser chamado IPHAN9) para regular o crescimento da cidade e

o intenso surgimento de novas moradias que caracterizaram as deacutecadas de 1950 e 1960 Tal

crescimento se deu principalmente pela chegada de induacutestrias metaluacutergicas para a exploraccedilatildeo

da bauxita e produccedilatildeo de alumiacutenio primaacuterio Assim o ldquoestilo patrimocircniordquo surgiu das

exigecircncias normativas quanto agrave utilizaccedilatildeo dos elementos arquitetocircnicos tradicionais do

periacuteodo colonial

Um primeiro plano urbano foi elaborado pelo arquiteto portuguecircs Viana de Lima

entre os anos 1968 e 1970 com o objetivo de ldquopreservarrdquo o nuacutecleo histoacuterico da cidade e

consolidar o estilo patrimocircnio atraveacutes da eliminaccedilatildeo dos ecletismos da demoliccedilatildeo de obras

desprovidas de qualidade esteacutetica e do preenchimento dos vazios urbanos Nos anos seguintes

a discussatildeo sobre a salvaguarda do patrimocircnio se intensificou e deu origem a diversos outros

planos10

e programas de preservaccedilatildeo que obtiveram pouco sucesso na aplicaccedilatildeo praacutetica Em

21 de setembro de 1980 Ouro Preto recebeu da UNESCO o tiacutetulo de Patrimocircnio Cultural da

Humanidade e passou a ter visibilidade internacional

Ao final do seacuteculo XX a preocupaccedilatildeo com o desenvolvimento urbano da cidade e

com a proteccedilatildeo patrimonial gerou novas demandas em relaccedilatildeo agrave regulaccedilatildeo urbana e coube ao

IPHAN o papel de legislar sobre as intervenccedilotildees no centro histoacuterico As accedilotildees da

Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) do Instituto Estadual do Patrimocircnio Histoacuterico e

Artiacutestico (IEPHA) e do Instituto Estadual de Florestas (IEF) em pareceria com o governo

municipal e com o IPHAN foram decisivas na preservaccedilatildeo do patrimocircnio neste periacuteodo Em

1990 foram publicadas por meio da Lei 571990 as diretrizes para do Plano Diretor do

Municiacutepio sob as delineaccedilotildees inauguradas pela Constituiccedilatildeo Federal Tais diretrizes eram

bastante simplificadas e restritas aos zoneamentos e a questatildeo da preservaccedilatildeo do patrimocircnio

9 Em 1937 por meio da Lei nordm 378 foi fundado o SPHAN como oacutergatildeo oficial de preservaccedilatildeo do patrimocircnio

cultural brasileiro No mesmo ano foi promulgado o Decreto-Lei nordm 25 que regulamentou as atividades do

SPHAN Em 1946 o SPHAN teve o seu nome alterado para Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (DPHAN) Em 1970 o DPHAN eacute transformado em Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (IPHAN)

10 ldquoEm Minas Gerais a Fundaccedilatildeo Joatildeo Pinheiro (FJP) realizou um extenso diagnoacutestico e elaborou planos

diretores para diversas cidades coloniais mineiras bem como o Plano de Conservaccedilatildeo Valorizaccedilatildeo e

Desenvolvimento de Ouro Preto e Mariana em 1975 Esse Plano trata sobre a preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

patrimocircnio vinculado com as necessidades de desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio Por isso

abordou desde questotildees histoacutericas e culturais ateacute a anaacutelise de aspectos fiacutesico- territoriais tais como siacutetio natural

estudo das estruturas urbanas paisagismo e legislaccedilatildeo urbanardquo (SILVA OLIVEIRA 2005 p 180)

33

foi pouco abordada Jaacute em 1996 uma nova versatildeo do plano foi elaborada e diferentemente do

texto anterior o novo plano contemplou a preocupaccedilatildeo com o patrimocircnio e a preservaccedilatildeo

como instrumentos interligados agrave poliacutetica urbana

Art 1ordm - Em conformidade com a Constituiccedilatildeo Federal e com a Lei Orgacircnica

Municipal fica instituiacutedo o Plano Diretor de Ouro Preto (PDOP) fixando diretrizes

e instrumentos para o pleno desenvolvimento do Municiacutepio em consonacircncia com as

funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade [] Art 2ordm - O conjunto artiacutestico

arquitetocircnico urbaniacutestico paisagiacutestico e ambiental de relevante valor cultural

sediado no Municiacutepio objeto de tombamento federal e de reconhecimento

internacional pela UNESCO como Patrimocircnio Cultural da Humanidade eacute

considerado bem inalienaacutevel de sua populaccedilatildeo cabendo a ela exercer de forma

concorrente com as Administraccedilotildees Puacuteblicas a sua guarda proteccedilatildeo e gestatildeo

Paraacutegrafo uacutenico ndash A preservaccedilatildeo e a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural e ambiental

do Municiacutepio eacute fator determinante para o desenvolvimento urbano para a geraccedilatildeo de

empregos e para melhor distribuiccedilatildeo de renda Lei Complementar 0196 Ouro Preto

(OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996)

Em 1997 foi criado ldquoPlano de Reabilitaccedilatildeo do Siacutetio Histoacuterico de Ouro Pretordquo a

partir do ldquoMonumentardquo programa federal de iniciativa do Ministeacuterio da Cultura e patrocinado

pelo BID que sob a premissa do desenvolvimento econocircmico-social sustentaacutevel buscou

revitalizar os centros histoacutericos urbanos de 26 cidades brasileiras O Plano traccedilado para Ouro

Preto natildeo foi totalmente implementado mas alavancou as poliacuteticas de preservaccedilatildeo do

municiacutepio e deixou intervenccedilotildees significativas como por exemplo a recuperaccedilatildeo do Parque

Horto dos Contos (fundo de vale do Ribeiratildeo do Funil) aacuterea verde mais significativa da regiatildeo

central

34

Mapa Cadastral de Ouro Preto ndash Periacutemetro de tombamento pelo IPHAN

Fonte Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano - PMOP

52 O contexto atual

O conceito de patrimocircnio e de preservaccedilatildeo adotado no Brasil foi se modificando

ao longo da histoacuteria como foi apontado nos iniacutecio deste capiacutetulo Assim agrave medida que o

conceito adquiria relevacircncia as poliacuteticas de preservaccedilatildeo foram sendo instauradas nas esferas

administrativas Os avanccedilos iniciados no final do seacuteculo XX se consolidaram jaacute nos primeiros

anos do seacuteculo XXI O novo seacuteculo trouxe consigo uma mudanccedila significativa em relaccedilatildeo ao

desenvolvimento dos siacutetios histoacutericos que deixaram de ser vistos como uma ldquoobra de arte

intocaacutevelrdquo e passaram a ser tratados como espaccedilos socializados repletos de interaccedilatildeo cultural

e portanto passiacuteveis de transformaccedilatildeo Aleacutem dos centros urbanos o patrimocircnio imaterial

tambeacutem recebeu especial atenccedilatildeo e apoacutes 20 anos de discussatildeo a Convenccedilatildeo para a

Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial consolidada pela UNESCO em 2003 avanccedilou

no reconhecimento e na defesa das heranccedilas culturais dos povos ao redor do mundo

As transformaccedilotildees na relaccedilatildeo da preservaccedilatildeo com o planejamento urbano se

efetivaram em 2003 a partir da criaccedilatildeo do Plano de Preservaccedilatildeo de Siacutetio Histoacuterico Urbano

(PPSH) Este plano foi um instrumento de caraacuteter normativo que incidiu sobre os siacutetios

35

urbanos tombados em niacutevel federal a fim de aliar preservaccedilatildeo e desenvolvimento e incentivar

a gestatildeo compartilhada Nesse mesmo ano foi realizado o Encontro Nacional de Cidades

Histoacutericas que tratou da gestatildeo compartilhada do patrimocircnio cultural e da efetivaccedilatildeo das

poliacuteticas de preservaccedilatildeo associadas agrave legislaccedilatildeo urbana e ambiental

As mudanccedilas do iniacutecio do seacuteculo natildeo demoraram a repercutir no Municiacutepio de

Ouro Preto A partir da portaria ndeg 122 instituiacuteda em 2004 pelo presidente do IPHAN

definiu-se as diretrizes de intervenccedilatildeo e os paracircmetros para aprovaccedilatildeo de projeto no centro

histoacuterico da cidade a fim de garantir a manutenccedilatildeo das caracteriacutesticas da unidade e da

harmonia do conjunto urbano

Mapa dos bairros do municiacutepio de Ouro Preto

Fonte Secretaria Municipal de Patrimocircnio e Desenvolvimento Urbano - PMOP

36

Mapa esquemaacutetico ndash Periacutemetro urbano periacutemetro tombado e demais delimitaccedilotildees de interesse do distrito sede

Elaboraccedilatildeo Guilherme I N Ataiacutedes Base mapa do Plano Diretor

Foto da Praccedila Tiradentes

Fonte httpmondegocombrpraca-tiradentes

37

Foto Campus UFOP

Fonte httpwwwseeufopbrp=490

Foto IFMG

Fonte httpwwwouropretoifmgedubrcomunicacaoimagens-e-videoscampus-ouro-

pretocampusimage_view_fullscreen

Em 2006 a remodelaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Patrimocircnio e

Desenvolvimento Urbano (antiga Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio) deu um novo

impulso agrave preservaccedilatildeo no acircmbito da gestatildeo municipal unindo as poliacuteticas de proteccedilatildeo agraves

poliacuteticas de planejamento urbano O Grupo de Assessoramento Teacutecnico ndash GAT e o Conselho

Municipal de Patrimocircnio foram novamente colocados em accedilatildeo Um novo Plano Diretor

promulgado ao final deste mesmo ano atraveacutes da Lei Complementar Nordm 29 agregou as

conquistas do Estatuto da Cidade aos preceitos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio e acrescentou as

diretrizes para a proteccedilatildeo ambiental Os temas funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

estruturaccedilatildeo territorial desenvolvimento econocircmico proteccedilatildeo ambiental proteccedilatildeo ao

patrimocircnio cultural poliacutetica de desenvolvimento social produccedilatildeo da cidade e mobilidade

urbana intitulam alguns dos capiacutetulos da Lei Os instrumentos da poliacutetica urbana para o

cumprimento da funccedilatildeo social da propriedade aparecem no texto logo em sequecircncia A Lei de

38

Parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo conforme previsatildeo do Art 81 do Plano Diretor foi

promulgada no mesmo dia 28 de dezembro de 2006

A partir de entatildeo o municiacutepio assume sua funccedilatildeo enquanto principal oacutergatildeo de

gestatildeo do territoacuterio tarefa que anteriormente era desempenhada pelo Governo Federal e pelo

IPHAN Ao final de 2010 por meio da Lei Complementar Nordm 91 o Plano Diretor passa por

alteraccedilotildees pontuais e em 2011 a Lei de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo eacute amplamente

revisada dando origem aos paracircmetros utilizados nos dias atuais

Dentro desse resumido panorama legislativo apresentado pode-se perceber que o

Municiacutepio de Ouro Preto acompanhou em grande parte os avanccedilos inaugurados pelo

Estatuto da Cidade e concretizou ao menos em forma de Lei a regulamentaccedilatildeo das diretrizes

e dos instrumentos capazes de fazer valer a funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

Contudo tais avanccedilos representam muito pouco frente ao gigantesco desafio

enunciado no Art 2 inciso II do mesmo Estatuto quanto agrave ldquogarantia do direito a cidades

sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao saneamento ambiental

agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para

as presentes e futuras geraccedilotildeesrdquo(Lei 10257 2001)

Aleacutem da amplitude da tarefa outros elementos dificultam ainda mais o processo

de construccedilatildeo de uma nova realidade como por exemplo a negligecircncia dos gestores puacuteblicos

para com a atualizaccedilatildeo necessaacuteria e obrigatoacuteria das Leis O Plano Diretor de Ouro Preto

indica jaacute no Capiacutetulo 1 artigo 1ordm sect3ordm o prazo maacuteximo para a revisatildeo do mesmo estabelecido

em cinco anos a partir da sua publicaccedilatildeo ou seja 2011 Sendo assim percebe-se que a Lei

de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo revisada em 2011 embora seja o principal instrumento de

controle urbaniacutestico ateacute os dias de hoje jaacute nasceu defasada pois utilizou como referecircncia a

estrateacutegia de desenvolvimento urbano definida no Plano Diretor de 2006 desconsiderando os

impactos e as mudanccedilas territoriais sociais e culturais ocorridos desde entatildeo No geral os

gestores municipais tratam apenas de alteraccedilotildees pontuais que apenas mascaram o quadro de

estagnaccedilatildeo e desatualizaccedilatildeo das leis urbaniacutesticas Tal conduta conforma um enorme obstaacuteculo

na concretizaccedilatildeo das diretrizes do Estatuto da Cidade

Nos capiacutetulos anteriores ao tratarmos do desenvolvimento sustentaacutevel dois

importantes instrumentos foram apontados como peccedilas-chave da consolidaccedilatildeo de uma nova

experiecircncia de sustentabilidade no ambiente urbano a agenda 21 e o coacutedigo de obras

O primeiro deles a agenda 21 local foi estabelecida em 15 de maio de 2007 por

meio da Lei Nordm 333

39

Art 1ordm Fica criado no acircmbito do Municiacutepio de Ouro Preto o Programa da Agenda 21

Local processo e instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento

sustentaacutevel e que tem como eixo central a sustentabilidade compatibilizando a

conservaccedilatildeo ambiental a justiccedila social e o crescimento econocircmico Art 2ordm Para

efeitos de execuccedilatildeo da Agenda 21 Local o Poder Executivo instalaraacute o Foacuterum Ouro-

pretano da Agenda 21 Local (OURO PRETO Lei nordm333 Agenda 21 Local de 11

de maio de 2007)

No texto da Lei foram previstos os capiacutetulos a serem desenvolvidos Agenda 21

Estrutural Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade A

responsabilidade recaiu sobre o Foacuterum Ouro-Pretano da Agenda 21 Local Aleacutem da Lei de

criaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel encontrar nos registros legislativos digitais da Cacircmara Municipal a

Portaria Nordm 1707 que nomeia uma Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos Naturais

e Agenda 21 Local

Outra fonte de informaccedilotildees sobre a Agenda 21 Local de Ouro Preto foi encontrada

no acervo digital da Universidade Federal de Ouro Preto sob o tiacutetulo ldquoAgenda 21 Local

consolidando as bases para o desenvolvimento sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escalardquo

(OLIVEIRA 2010) Nesse trabalho foram apontadas as iniciativas que acompanharam a

criaccedilatildeo da Agenda 21 Local dentre as quais se destacam em ordem cronoloacutegica 1ordm Encontro

de Processos de Agendas 21 Locais ndash fevereiro de 2007 Plenaacuteria na Cacircmara Municipal de

Ouro preto para apresentaccedilatildeo da Agenda 21 ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio de Capacitaccedilatildeo para

a Agenda 21 Local ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio Teacutecnico de Diagnoacutestico para referecircncia da

Agenda 21 Local ndash abril de 2007 Seminaacuterio de Implantaccedilatildeo da Agenda 21 Mineral de Ouro

Preto ndash abril de 2007 Assinatura do Termo de Cooperaccedilatildeo Muacutetua entre a Prefeitura

Municipal a Cacircmara Municipal a ONG Interforum Global e a UFOP ndash maio de 2007

Seminaacuterio Intermunicipal de Agenda 21 Local ndash maio de 2007 Seminaacuterio Geral de

Capacitaccedilatildeo da Agenda 21 Local ndash agosto de 2007

Para aleacutem dos registros oficiais e dos dados encontrados no trabalho mencionado

no paraacutegrafo anterior foram encontradas somente notiacutecias informais11

sobre a criaccedilatildeo e

lanccedilamento da Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude todas datadas de 2007

11 Destacam-se ldquoO presidente da Cacircmara vereador Mauriacutelio Zacarias (PMDB) implantou no dia 20 de abril a

Agenda 21 da Mineraccedilatildeo de Ouro Preto A Agenda 21 da Mineraccedilatildeo eacute uma das subdivisotildees da Agenda 21

Global um conjunto de accedilotildees recomendadas pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) para garantir o

desenvolvimento sustentaacutevel do planeta no seacuteculo XXIrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwcmopmggovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=70agenda-21-da-mineracao-e-

implantada-em-ouro-pretoampcatid=61reunioesgt Acesso em 06 jun 2015 ldquoJuntos pela sustentabilidade o

Foacuterum da Agenda 21 Local de Ouro Preto daacute iniacutecio ao desenvolvimento de accedilotildees especiacuteficas para a implantaccedilatildeo

do capiacutetulo Agenda 21 da Juventude na escola e na universidade O lanccedilamento da Agenda 21 da Escola

acontece no dia 21 de junho quinta-feira agraves 10h no Centro de Artes e Convenccedilotildees da UFOPrdquo ndash Notiacutecia sobre a

40

Conclui-se portanto que a iniciativa da Agenda 21 Local assim como muitas das

diretrizes definidas nas Leis do Planejamento Urbano estagnou no ano de 2007 e avanccedilou

pouco em relaccedilatildeo agraves primeiras linhas da Lei Embora se tenha a informaccedilatildeo de que os Grupos

de Trabalho continuaram a desenvolver suas atividades nos anos seguintes os registros dessas

accedilotildees praacuteticas satildeo praticamente inexistentes e tais atividades praticamente natildeo efetivaram

mudanccedilas na realidade do Municiacutepio

Quanto ao Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees outro importante instrumento da gestatildeo

municipal capaz de estabelecer as bases para um ambiente urbano sustentaacutevel este nunca foi

regulamentado pelo Municiacutepio Embora citado inuacutemeras vezes no Coacutedigo de Posturas que foi

instituiacutedo em 1980 atraveacutes da Lei 178 o Coacutedigo de Obras nunca adquiriu formato oficial para

aplicaccedilatildeo e regulaccedilatildeo do territoacuterio O uacutenico registro oficial encontrado nos arquivos

eletrocircnicos da Cacircmara Municipal diz respeito a uma comissatildeo especial formada em 1992

para emissatildeo de parecer sobre o anteprojeto de Coacutedigo de Obras de Ouro Preto elaborado

pela ENGEARP ndash Arquitetura e Engenharia Ltda12

Um segundo registro foi encontrado nos

arquivos do diaacuterio oficial eletrocircnico do municiacutepio e consiste numa breve menccedilatildeo do coacutedigo de

obras numa ata de uma das reuniotildees do COMPURB Conselho Municipal de Poliacutetica

Urbana13

em abril de 2013 Apesar dos registros quase inexistentes em consulta ao corpo

teacutecnico do Departamento de Aprovaccedilatildeo de Projetos da Secretaria de Cultura e Patrimocircnio

foram identificadas algumas iniciativas quanto agrave elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo de Obras para o

municiacutepio dentre as quais se destaca o modelo desenvolvido em 2012 Tal modelo em

conformidade com as diretrizes dos coacutedigos internacionais jaacute apontados neste trabalho

ressaltou que as edificaccedilotildees e instalaccedilotildees deveriam atender agraves condiccedilotildees miacutenimas de

seguranccedila conforto ambiental higiene salubridade harmonia esteacutetica e acessibilidade

criaccedilatildeo da Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade ndash 16 de junho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwufopedubrindexphpoption=com_contentamptask=viewampid=600ampItemid=50gt Acesso em 06 jun

2015 ldquoO grupo de trabalho da Agenda 21 Local de Ouro Preto a Associaccedilatildeo Comercial de Ouro Preto e a

Cacircmara da Mulher Empreendedora de Ouro Preto convidam para uma palestra com o seguinte tema lsquoAgenda 21

de Ouro Preto -Desafios e Possibilidades da Participaccedilatildeo do Comeacutercio na Sustentabilidade Localrsquordquo Notiacutecia sobre

o Grupo de Trabalho da Agenda Ouro Preto ndash 10 de julho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwfundacaoaprenderorgbr189gt Acesso em 06 jun 2015

12 Portaria Nordm 0292 ndash 04 de fevereiro de 1992 Disponiacutevel em

lthttpwwwsistemasiglaorgarquivossisnormNJ_img(2562)pdfgt Acesso em 06 jun 2015

13 ldquo[] Gabriel sugeriu que seja incluiacutedo esses criteacuterios no coacutedigo de obrasrdquo Ata da 58ordf Reuniatildeo extraordinaacuteria

do Conselho Municipal de Poliacutetica Urbana ndash COMPURB (extraiacutedo do Diaacuterio Oficial do Municiacutepio ldquoAno V ndash

Ouro Preto 1ordm de Abril de 2013 ndash Nordm766rdquo) Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrdiario-

oficial2076601-04-2013gt Acesso em 27 jun 2015

41

Contudo eacute importante destacar que os paracircmetros necessaacuterios para o atendimento do conforto

ambiental - como criteacuterios de adequaccedilatildeo agraves caracteriacutesticas do clima local diretrizes de

conforto teacutermico luminoso e acuacutestico ndash assim como as diretrizes de eficiecircncia energeacutetica natildeo

foram contemplados no texto diminuindo consideravelmente a possibilidade de sucesso do

instrumento quanto agrave transformaccedilatildeo do ambiente urbano

Sendo assim entendendo a importacircncia que o instrumento ldquocoacutedigo de obrasrdquo tem

na conformaccedilatildeo de espaccedilos urbanos mais confortaacuteveis e equilibrados e buscando contribuir

para o Municiacutepio na consolidaccedilatildeo de Leis atualizadas e transformadoras o capiacutetulo seguinte

trataraacute do desenvolvimento de algumas dessas diretrizes para que as construccedilotildees passem a

incorporar as premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica e passem a contribuir

positivamente para o clima urbano a para a qualidade ambiental

42

6 ENSAIO PARA UM COacuteDIGO DE OBRAS PRINCIPAIS ESTRATEacuteGIAS PARA

A PROMOCcedilAtildeO DA EFICIEcircNCIA ENERGEacuteTICA NO MUNICIacutePIO DE OURO

PRETO

61 O reconhecimento do clima e as recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais

O reconhecimento do clima eacute o primeiro passo a ser dado para o desenvolvimento

das diretrizes construtivas para um determinado local O clima ldquoeacute a condiccedilatildeo meacutedia do tempo

em uma dada regiatildeo baseada em mediccedilotildees em longos periacuteodos de tempo (30 anos ou mais)rdquo

(LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 71) A anaacutelise climaacutetica feita no Brasil utiliza

em geral os dados publicados pelo Instituto Nacional e pelo Departamento Nacional de

Meteorologia por meio das Normais Climatoloacutegicas Essa publicaccedilatildeo sistematiza dentre

outros dados os valores meacutedios e extremos mensais de temperatura umidade precipitaccedilatildeo

nebulosidade e horas de sol para um periacuteodo de 30 anos A utilizaccedilatildeo dessas variaacuteveis

climaacuteticas no desenvolvimento dos projetos arquitetocircnicos possibilita a construccedilatildeo de

edificaccedilotildees mais confortaacuteveis e mais eficientes quanto ao consumo de energia

O municiacutepio de Ouro Preto contou com uma estaccedilatildeo de mediccedilatildeo e monitoramento

climaacutetico no periacuteodo entre 1976 a 1990 Sendo assim por natildeo ter permanecido em vigecircncia

pelo periacuteodo miacutenimo de 30 anos os dados do municiacutepio natildeo foram contemplados na

publicaccedilatildeo das Normais Climatoloacutegicas e podem ser encontrados apenas no registro histoacuterico

do INMET a partir do BDMEP Os dados coletados nesse periacuteodo de 14 anos embora natildeo

tenham sido publicados satildeo fundamentais para analisar o comportamento das variaacuteveis

climaacuteticas no local de estudo conforme seraacute visto nas anaacutelises a seguir

Referenciada geograficamente pelas coordenadas14

Latitude Sul 20deg23rsquo28rdquo e

Longitude Oeste 43deg30rsquo20rdquo Ouro Preto possui altitude correspondente a 1150 metros sendo

que o ponto mais alto o Pico Itacolomi estaacute situado a 1772 metros de altura A latitude e a

altitude satildeo dois importantes fatores geograacuteficos do clima quanto maior a latitude menor eacute a

temperatura superficial e quanto maior a altitude menor seraacute a temperatura e a pressatildeo

atmosfeacuterica

14 Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrlocalizacaogt Acesso em 27 jun 2015

43

Para entendermos o clima no municiacutepio e para traccedilarmos as diretrizes construtivas

que garantam o bom desempenho das edificaccedilotildees faz-se necessaacuterio primeiramente consultar

o Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro definido na parte 3 da NBR 15220

O Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro consiste na ldquodivisatildeo do territoacuterio brasileiro

em oito zonas relativamente homogecircneas quanto ao clima e para cada uma destas zonas

formulou-se um conjunto de recomendaccedilotildees teacutecnico-construtivas que otimizam o desempenho

teacutermico das edificaccedilotildees atraveacutes de sua melhor adequaccedilatildeo climaacuteticardquo (ABNT 2003) O

Zoneamento resulta da aplicaccedilatildeo da Carta Bioclimaacutetica sugerida por Givoni ldquoinserindo os

dados mensais de temperatura meacutedia e umidade relativa para cada mecircs do ano e para cada

uma das localidades agrupando entatildeo aquelas classificadas como um mesmo tipo climaacuteticordquo

(FERREIRA 2014 p432)

As diretrizes construtivas desenvolvidas na Norma tratam basicamente do

comportamento da envoltoacuteria da edificaccedilatildeo a partir da indicaccedilatildeo do tamanho das aberturas

para ventilaccedilatildeo da proteccedilatildeo das aberturas das vedaccedilotildees externas (paredes e cobertura) e das

estrateacutegias de condicionamento passivo

A NBR 15220-3 estaacute vigente desde 2005 e sua aplicaccedilatildeo estaacute direcionada para as

edificaccedilotildees de ateacute trecircs pavimentos destinadas agrave habitaccedilatildeo multifamiliar de interesse social

Contudo os preceitos nela indicados podem e devem servir como base para a adequaccedilatildeo

climaacutetica das demais edificaccedilotildees desde que a Norma natildeo seja aplicada de forma isolada isto

eacute devem ser estudados outros procedimentos e devem ser utilizadas novas ferramentas a fim

de cruzar os resultados e avanccedilar na elaboraccedilatildeo de paracircmetros construtivos cada vez mais

completos e dinacircmicos

Segundo a Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica obtida atraveacutes do programa ZBBR o

municiacutepio de Ouro Preto estaacute localizado na Zona Bioclimaacutetica 3

44

Fonte Programa ZBBR ndash Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica dos Municiacutepios Brasileiros

Em destaque o Municiacutepio de Ouro Preto ndash MG

Para as edificaccedilotildees inseridas nesta zona bioclimaacutetica a NBR 15220 traz as

seguintes orientaccedilotildees

- Quanto agraves aberturas tamanho meacutedio (15 a 25) e que possibilitem a entrada do sol

durante o inverno

- Quanto agraves vedaccedilotildees externas paredes externas leves15

e refletoras cobertura leve e

isolada

- Quanto ao condicionamento teacutermico passivo ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo

aquecimento solar durante o inverno e vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia

teacutermica

15 Quanto agrave caracterizaccedilatildeo das envoltoacuterias como ldquolevesrdquo podemos agregar para melhor entendimento a

explicaccedilatildeo de que tais envoltoacuterias devem ser de baixa ineacutercia teacutermica ou seja devem possibilitar que o ambiente

interno seja influenciado pela temperatura do ar exterior sem grande atraso Assim pode-se dizer que as

recomendaccedilotildees de envoltoacuterias leves ocorrem em ambientes onde se deseja que os ambientes internos agrave

edificaccedilatildeo sofram influecircncia direta da temperatura do exterior

45

A partir das orientaccedilotildees da Norma percebe-se que a classificaccedilatildeo das zonas

bioclimaacuteticas embora tenha uma importante contribuiccedilatildeo esta natildeo pode ser utilizada

isoladamente por natildeo agregar importantes elementos agrave caracterizaccedilatildeo do clima local como jaacute

foi dito anteriormente Sendo assim outros dados de Ouro Preto devem ser observados para

aprofundarmos um pouco mais nas recomendaccedilotildees construtivas

Dentro do espectro das variaacuteveis climaacuteticas que caracterizam uma regiatildeo merece

destaque a temperatura e a umidade A temperatura ldquoeacute a variaacutevel climaacutetica mais conhecida e

de mais faacutecil mediccedilatildeo A variaccedilatildeo da temperatura na superfiacutecie da Terra resulta basicamente

dos fluxos das grandes massas de ar e da diferente recepccedilatildeo da radiaccedilatildeo do sol de local para

localrdquo (LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 77) A temperatura varia principalmente

em funccedilatildeo da velocidade do ar mas tambeacutem eacute influenciada em maior ou menor grau pelo

tipo de solo e de vegetaccedilatildeo pela topografia e pela altitude A temperatura meacutedia anual de

Ouro Preto eacute de 185deg conforme os dados sistematizados pelo INMET A temperatura

maacutexima verificada geralmente no mecircs de fevereiro corresponde a 252deg e a temperatura

miacutenima que ocorre no mecircs de julho corresponde a 112deg Quanto agrave umidade do ar esta

resulta da evaporaccedilatildeo das aacuteguas e da evapotranspiraccedilatildeo dos vegetais e pode ser definida em

absoluta e relativa ldquoComo definiccedilatildeo de umidade absoluta tem-se que eacute o peso do vapor de

aacutegua contido em uma unidade de volume de ar (gm3) e a umidade relativa eacute a relaccedilatildeo da

umidade absoluta com a capacidade maacutexima do ar de reter vapor drsquoaacutegua agravequela temperaturardquo

(FROTA 1995 p62) A umidade do ar tem relaccedilatildeo inversa com a temperatura portanto

quanto menor a temperatura maior a possibilidade de saturaccedilatildeo do ar pela ampliaccedilatildeo da

umidade ao limite de 100 A pluviosidade tambeacutem deve ser observada pois tem relaccedilatildeo

direta com a umidade do ar sendo que a chuva proveacutem em grande parte de massas de ar

uacutemido em ascensatildeo Os dados do INMET apontam que a meacutedia anual da pluviosidade em

Ouro Preto eacute de 16703mm sendo junho o mecircs mais seco com 129mm e dezembro o mecircs

mais uacutemido com 3579mm

46

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641 (continuaccedilatildeo)

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

47

48

A partir dos dados acima eacute possiacutevel verificar inicialmente que se trata de um

clima de baixas temperaturas muito uacutemido (umidade relativa praticamente sempre acima de

80) com alta nebulosidade (o que significa que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou

nublado) e com abundacircncia de chuvas principalmente no veratildeo

Tais caracteriacutesticas satildeo acentuadas pela influecircncia da barreira orograacutefica

provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta que conforma o

Morro Satildeo Sebastiatildeo Sendo assim grande parte da mancha urbana de Ouro Preto situada agrave

barlavento da barreira natural sofre influecircncia das chuvas que resultam do resfriamento e

condensaccedilatildeo do ar em ascensatildeo aprofundando ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade citadas anteriormente

Representaccedilatildeo da influecircncia dos ventos e da topografia na mancha urbana da cidade de Ouro

Preto - a formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem base da imagem de sateacutelite extraiacuteda do Google Maps

Exemplo da chuva a barlavento resultante da formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem Sistemas Tecnoloacutegicos em Conforto Ambiental ndash Eleonora Sad Assis

Parte da malha urbana de Ouro Preto

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Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem timblindimwordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem fotografandoondeopeixeparawordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

A partir das variaacuteveis climaacuteticas sistematizadas pelo INMET podemos avanccedilar na

utilizaccedilatildeo do Diagrama Bioclimaacutetico de Givoni (DBG) que orientou a definiccedilatildeo do

Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro assim como utilizar outro instrumento de anaacutelise as

Tabelas de Mahoney que tambeacutem auxiliam na definiccedilatildeo das diretrizes construtivas

O Diagrama de Givoni nos permite identificar quais recursos satildeo necessaacuterios para

que as edificaccedilotildees atendam agraves condiccedilotildees de conforto Este instrumento aponta quais preceitos

da arquitetura bioclimaacutetica devem ser priorizados tais como ventilaccedilatildeo ineacutercia teacutermica e

50

insolaccedilatildeo assim como aponta a necessidade de soluccedilotildees mecacircnicas para o atendimento ao

conforto teacutermico

Diagrama de Givoni relativo agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O Diagrama de Givoni referente agrave Ouro Preto assinala que na maior parte do

tempo as edificaccedilotildees necessitam de aquecimento passivo tendo em vista o quadro recorrente

de baixas temperaturas e de alta umidade relativa Algumas estrateacutegias de aquecimento

passivo podem ser adaptadas agrave realidade local para melhor aproveitamento Quanto agrave cidade

de Ouro Preto deve-se pensar o ganho teacutermico principalmente durante o inverno Nessa

estaccedilatildeo embora se tenha uma queda significativa das temperaturas tem-se cerca de 6 horas

de insolaccedilatildeo diaacuteria quase duas horas a mais do que nas outras estaccedilotildees O aproveitamento

dessa radiaccedilatildeo solar deve servir para manter o ambiente aquecido durante a noite sendo

assim a utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior insolaccedilatildeo deve

possibilitar a maacutexima entrada de calor durante o dia Quanto aos materiais internos estes

devem possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser

devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente

Voltando ao Diagrama de Givoni se compararmos o resultado da cidade de Ouro

Preto com a cidade de Belo Horizonte que estaacute na mesma zona bioclimaacutetica e estaacute a 858

51

metros de altitude perceberemos o quanto eacute importante cruzar os dados de diferentes

instrumentos de anaacutelise para acertar nas diretrizes de projeto Os dados de Belo Horizonte

resultam numa linha meacutedia predominantemente inserida na zona de conforto chegando a

alcanccedilar a zona de influecircncia da ventilaccedilatildeo em algumas horas dos meses de janeiro fevereiro

e marccedilo

Diagrama de Givoni relativo agrave Belo Horizonte

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O outro meacutetodo importante de anaacutelise voltado especificamente para as

recomendaccedilotildees de projeto arquitetocircnico consiste na sistematizaccedilatildeo das recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas atraveacutes das ldquoTabelas de Mahoneyrdquo Tal meacutetodo deve ser utilizado

simultaneamente ao Diagrama de Givoni a fim de se comparar os resultados e ajustar as

diretrizes construtivas Dentre as orientaccedilotildees da Tabela de Mahoney para Ouro Preto merece

destaque a utilizaccedilatildeo de grandes aberturas (para garantir ventilaccedilatildeo abundante e permanente)

e de envoltoacuterias leves Contudo diretrizes como reduccedilatildeo da exposiccedilatildeo ao sol e proteccedilatildeo da

insolaccedilatildeo direta natildeo favorecem o aquecimento passivo conforme a necessidade observada a

partir do Diagrama de Givoni e portanto devem ser relativizadas Seguem abaixo as

recomendaccedilotildees das Tabelas de Mahoney para Ouro Preto

52

Tabela de Mahoney relativa agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

Sendo assim a partir do conhecimento das variaacuteveis climaacuteticas e dos resultados

apresentados eacute possiacutevel formular a seguinte tabela resumo quanto agraves recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas iniciais para Ouro Preto

14 Tabela de Recomendaccedilotildees Arquitetocircnicas

Total de Indicadores

Uacutemido Aacuterido

H1 H2 H3 A1 A2 A3

1 11 4 0 0 0

1 PLANTA DE SITUACcedilAtildeO

0 -10 X Construccedilotildees orientadas segundo eixo longitudinal leste-oeste

11 ou 5 -12 a fim de diminuir a exposiccedilatildeo ao sol

12 0 - 4 Plantas compactas com paacutetios internos

2 ESPACcedilAMENTO ENTRE CONSTRUCcedilOtildeES

11 ou Grandes espaccedilamentos para favorecer a penetraccedilatildeo do vento

12

2 -10 Como acima mas com proteccedilatildeo contra vento quente ou frio

0 ou 1 X Distribuiccedilatildeo compacta

3 CIRCULACcedilAtildeO DE AR

3 - 12 X Construccedilotildees com orientaccedilatildeo simples aberturas que permitam

1 ou 0 - 5 circulaccedilatildeo de ar permanente

2 6 - 12 Construccedilotildees com orientaccedilatildeo dupla circulaccedilatildeo de ar cruzada

0 2 -12 aberturas de ar controlaacuteveis

0 ou 1 Basta renovaccedilatildeo higiecircnica do ar

4 DIMENSOtildeES DAS ABERTURAS

0 ou 0 X Grandes 40 a 80 das fachadas norte e sul

1 1 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

2 - 5

6 - 10 Intermediaacuterias 20 a 35 da superfiacutecie das paredes

11 ou 0 - 3 Pequenas 15 a 25 da superfiacutecie das paredes

12 4 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

5 POSICcedilAtildeO DAS ABERTURAS

3 - 12 X Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do

1 ou 0 - 5 lado exposto ao vento

2 6 - 12 Como acima mas tambeacutem aberturas nas paredes internas

0 2 - 12

6 PROTECcedilAtildeO DAS ABERTURAS

0 - 2 X Proteger da insolaccedilatildeo direta

2 - 12 X Proteger da chuva

7 PAREDES E PISOS

0 - 2 X Construccedilotildees leves baixa ineacutercia teacutermica

3 - 12 Construccedilotildees maciccedilas tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

8 COBERTURA

10 a 0 - 2 Leve (pouca ineacutecia) superfiacutecie refletora uso de cacircmara de ar

12 3 - 12 X Leve e bem isolada

0 a 0 - 5

9 6 - 12 Maciccedila tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

9 ESPACcedilOS EXTERIORES

1 - 12 Espaccedilo para dormir ao ar livre

1 - 12 X Adequada drenagem para a chuva

3 - 12 X Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

53

Tabela resumo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas

Diagrama de Givoni

Tabelas de Mahoney

NBR 15220 ndash Parte 03

Tamanho e caracteriacutesticas das aberturas

Esquadrias devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia do calor no ambiente

Aberturas que permitam a circulaccedilatildeo de ar permanente

Tamanho meacutedio

Grandes ndash de 40 a 80 das fachadas norte e sul

Possibilitar a entrada do sol durante o inverno

Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do lado exposto ao vento

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees externas

Leves Leves e refletoras

Baixa ineacutercia teacutermica

Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees internas

Possibilitar o armazenamento do calor absorvido

Vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia teacutermica

Caracteriacutesticas da cobertura

Leve e bem isolada Leve e isolada

Condicionamento teacutermico passivo

Ganho teacutermico principalmente durante o inverno

Aberturas protegidas da insolaccedilatildeo direta e protegidas da chuva

Ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo aquecimento solar durante o inverno e

Somando-se os diversos meacutetodos de anaacutelise climaacutetica tecircm maior relevacircncia a

seguintes diretrizes

- ventilaccedilatildeo abundante principalmente durante o veratildeo a fim de reduzir a temperatura no

interior da edificaccedilatildeo e os efeitos da umidade que aumenta ainda mais em funccedilatildeo das chuvas

tiacutepicas desse periacuteodo A ventilaccedilatildeo cruzada deve ser fomentada e deve ser observado o sentido

54

predominante do vento que na cidade em questatildeo eacute sudeste a fim de se alcanccedilar melhores

resultados no conforto da edificaccedilatildeo

- aquecimento passivo para os meses de inverno a fim de diminuir o desconforto

causado pelas baixas temperaturas

- paredes leves (com baixa ineacutercia teacutermica ou seja conseguem ganhar ou perder calor

rapidamente a partir da interferecircncia e da temperatura do ar exterior) e protegidas da umidade

proveniente das chuvas fortes

- coberturas leves e bem isoladas (capazes de reter o calor absorvido durante o dia)

- as edificaccedilotildees devem estar protegidas das chuvas e devem contar com sistemas de

drenagem eficientes que possibilitem o raacutepido escoamento ou aproveitamento dessa aacutegua

62 O Coacutedigo de Obras e o conforto ambiental em Ouro Preto ndash estrateacutegias prioritaacuterias

A utilizaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental nos projetos e nas edificaccedilotildees

tem um impacto social positivo baseado em pelo menos trecircs fatores importantes melhoria das

condiccedilotildees de habitabilidade da edificaccedilatildeo e portanto melhor qualidade de vida para o

usuaacuterio melhoria nas condiccedilotildees climaacuteticas do meio externo ampliando o bem estar coletivo

reduccedilatildeo no consumo de energia e utilizaccedilatildeo eficiente do sistema de abastecimento a partir da

correta utilizaccedilatildeo dos sistemas ativos (iluminaccedilatildeo artificial condicionamento e aquecimento

de ar)

Para garantir a aplicaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental o Coacutedigo de Obras

e Edificaccedilotildees do municiacutepio deve incorporar dois importantes artigos que seratildeo detalhados

abaixo conforme o texto sugerido pelo Guia Teacutecnico ldquoElaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de

obras e edificaccedilotildeesrdquo da ELETROBRAacuteS (BAHIA GUEDES 2012)

O primeiro artigo de destaque deve ser inserido no capiacutetulo que trata das

DISPOSICcedilOtildeES PRELIMINARES e deve enumerar as diretrizes gerais para os projetos e

construccedilotildees buscando elencar tanto as demandas contemporacircneas expressas nas novas

legislaccedilotildees como os anseios para um espaccedilo urbano equilibrado e sustentaacutevel Nesse

contexto a substituiccedilatildeo da expressatildeo ldquopadrotildees miacutenimosrdquo que podem ser exemplificados pelas

diretrizes generalistas frequentemente encontradas nas legislaccedilotildees como a previsatildeo de 16 e

18 de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo para todas as localidades por ldquopadrotildees eficientesrdquo

estabelecidos atraveacutes de estudos teacutecnicos que agreguem a complexidade do clima local e que

permitam ampliar as condiccedilotildees de sustentabilidade das edificaccedilotildees ao tratar da otimizaccedilatildeo de

resultados quanto ao atendimento do conforto teacutermico visual e acuacutestico com baixo consumo

55

de energia A configuraccedilatildeo do texto deve se aproximar ao maacuteximo da proposta apresentada

pelo Guia Teacutecnico paacutegina 62

As obras instalaccedilotildees e edificaccedilotildees sejam puacuteblicas sejam privadas deveratildeo atender

agraves seguintes diretrizes gerais de forma a assegurar padrotildees eficientes de seguranccedila e

solidez salubridade e sauacutede conforto ambiental e desempenho energeacutetico

acessibilidade e livre tracircnsito de pessoas prevenccedilatildeo e uso sustentaacutevel dos recursos

naturais em cada caso e sempre que couber I - Subordinaccedilatildeo do interesse particular

ao interesse coletivo II - Promoccedilatildeo do direito agrave cidade sustentaacutevel e da funccedilatildeo

social da propriedade III - Utilizaccedilatildeo das normas teacutecnicas brasileiras e

regulamentaccedilotildees aplicaacuteveis para orientaccedilatildeo do desenvolvimento de projetos e

execuccedilatildeo de obras IV - Desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas sempre que

necessaacuterio com base nas praacuteticas locais beneacuteficas e na produccedilatildeo cientiacutefica tendo em

vista a manutenccedilatildeo da qualidade do local onde se daacute a intervenccedilatildeo e a correlaccedilatildeo

com valores culturais da populaccedilatildeo V - Garantia das condiccedilotildees de acessibilidade

circulaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo pela populaccedilatildeo em geral das edificaccedilotildees e do espaccedilo e

mobiliaacuterio urbano de uso puacuteblico e coletivo com adoccedilatildeo de soluccedilotildees especiacuteficas

para as pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida conforme previsto nas

normas teacutecnicas e na legislaccedilatildeo aplicaacutevel VI - Adoccedilatildeo de paracircmetros climaacuteticos

para o desenvolvimento de projetos de arquitetura de parcelamentos do solo e de

desenho urbano tendo em vista a correta orientaccedilatildeo solar da edificaccedilatildeo e demais

elementos as melhores condiccedilotildees de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo e pela escolha de

materiais construtivos e soluccedilotildees urbaniacutesticas adequadas em funccedilatildeo das

condicionantes ambientais locais de temperatura pluviosidade dominacircncia de

ventos ruiacutedo e paisagem natural aleacutem dos aspectos culturais que interagem com

essas condiccedilotildees VII - Utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis materiais de

construccedilatildeo certificados e ajudas teacutecnicas disponiacuteveis em complemento agrave promoccedilatildeo

do conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade das edificaccedilotildees e do

meio urbano VIII - Implantaccedilatildeo do objeto arquitetocircnico no lote bem como do

mobiliaacuterio urbano e demais artefatos nos logradouros puacuteblicos garantidas a

acessibilidade a qualidade esteacutetica e tecnoloacutegica de forma a potencializar os

atributos da paisagem urbana e evitar a poluiccedilatildeo visual IX - Adoccedilatildeo preferencial de

espeacutecies nativas na arborizaccedilatildeo puacuteblica demais projetos paisagiacutesticos e no

ajardinamento de lotes particulares X - Simplificaccedilatildeo dos procedimentos

administrativos pelo Poder Puacuteblico e promoccedilatildeo da assistecircncia para habitaccedilatildeo de

interesse social pelos agentes promotores tendo em vista facilitar a regularidade e a

correta execuccedilatildeo de projetos e obras inclusive apoiando as iniciativas de

autoconstruccedilatildeo da clientela de baixa renda (BAHIA GUEDES 2012)

O segundo artigo de grande relevacircncia deve ser inserido no capiacutetulo ldquoDAS

CONDICcedilOtildeES RELATIVAS AgraveS EDIFICACcedilOtildeESrdquo Neste capiacutetulo devem ser tratados os

paracircmetros teacutecnicos e geomeacutetricos capazes de materializar o conforto ambiental dos projetos e

edificaccedilotildees a partir do contexto climaacutetico da cidade As diretrizes apontadas devem buscar o

equiliacutebrio entre as condicionantes internas (relaccedilatildeo do usuaacuterio com a edificaccedilatildeo) e externas

(relaccedilatildeo da edificaccedilatildeo com o entorno) Quanto aos paracircmetros teacutecnicos esses devem ser

baseados nas recomendaccedilotildees do Programa Nacional de Conservaccedilatildeo de Energia Eleacutetrica ndash

PROCEL e devem se aproximar dos padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees

residenciais que satildeo atualmente estabelecidos pelo INMETRO a partir do RTQ-R ndash

Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais O texto do artigo deve seguir a sugestatildeo do Guia Teacutecnico paacutegina 107

56

Os projetos de construccedilatildeo ou reforma aleacutem de atenderem aos paracircmetros de

habitabilidade estabelecidos neste Coacutedigo devem ser orientados para a promoccedilatildeo da

sustentabilidade e eficiecircncia energeacutetica da edificaccedilatildeo com o objetivo de reduzir as

emissotildees de gases de efeito estufa (GEE) e os impactos ambientais gerados pela

construccedilatildeo e pela sua utilizaccedilatildeo ao longo do tempo racionalizando o uso da energia

da aacutegua e dos materiais nela empregados a partir das seguintes diretrizes I -

Racionalidade do projeto e do planejamento do processo de execuccedilatildeo das obras II -

Gestatildeo sustentaacutevel da obras e das praacuteticas de construccedilatildeo de forma a evitar o

desperdiacutecio de materiais III - Uso de materiais de construccedilatildeo e acabamentos

sustentaacuteveis considerando a adoccedilatildeo de materiais originaacuterios da regiatildeo produzidos

de forma sustentaacutevel e legalizada de materiais reaproveitados ou de demoliccedilatildeo e de

materiais certificados ou de comprovada responsabilidade ambiental do fabricante

IV - Ativaccedilatildeo do uso de edificaccedilotildees de valor cultural histoacuterico ou arquitetocircnico

maximizando as condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do bem imoacutevel na interaccedilatildeo com as

premissas de conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade V -

Aplicaccedilatildeo das estrateacutegias para projetos de acordo com o Zoneamento Bioclimaacutetico

brasileiro conforme NBR 15220-3 para concepccedilatildeo arquitetocircnica implantaccedilatildeo no

lote orientaccedilatildeo solar dos ambientes localizaccedilatildeo de aberturas e especificaccedilatildeo de

materiais de construccedilatildeo em prol do desempenho teacutermico da edificaccedilatildeo VI -

Aproveitamento das caracteriacutesticas climaacuteticas locais para a promoccedilatildeo do conforto

ambiental da edificaccedilatildeo a partir da consideraccedilatildeo dos seguintes fatores principais a)

Qualidade do ar b) Conforto higroteacutermico c) Conforto luminoso (ou lumiacutenico) d)

Conforto acuacutestico VII - Adoccedilatildeo de especificaccedilotildees de projeto com o objetivo de

potencializar as caracteriacutesticas climaacuteticas locais beneacuteficas eou remediar as de maior

rigor ao longo das diferentes estaccedilotildees do ano em benefiacutecio do desempenho teacutermico

e da ventilaccedilatildeo e iluminaccedilatildeo naturais da edificaccedilatildeo [] VIII - Planejamento

paisagiacutestico como elemento contribuinte para o conforto ambiental da edificaccedilatildeo

[] IX - Adoccedilatildeo de materiais construtivos que melhorem o desempenho teacutermico da

edificaccedilatildeo com base nas orientaccedilotildees e tabelas da NBR 15220-3 e especificaccedilatildeo de

equipamentos mecanismos e instalaccedilotildees que favoreccedilam a economia de energia

eleacutetrica e a reduccedilatildeo do consumo e aacutegua tratada [] (BAHIA GUEDES 2012)

Esses dois artigos apresentados embora configurem o ponto de partida natildeo satildeo

suficientes para a transformaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras em uma ferramenta concreta de

promoccedilatildeo do conforto ambiental da eficiecircncia energeacutetica e da sustentabilidade do meio

ambiente urbano Os desdobramentos desse texto devem resultar em paracircmetros teacutecnicos

como dimensionamentos diretrizes de desenho configuraccedilotildees espaciais miacutenimas dentre

inuacutemeros outros elementos de aplicaccedilatildeo obrigatoacuteria ou optativa Sendo assim o Coacutedigo de

Obras deve regulamentar por exemplo o dimensionamento de compartimentos a disposiccedilatildeo

e o dimensionamento de mobiliaacuterio fixo como louccedilas sanitaacuterias o peacute-direito as proporccedilotildees

das aberturas de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo assim como as taxas de renovaccedilatildeo do ar os niacuteveis de

ruiacutedo para o conforto acuacutestico as condiccedilotildees favoraacuteveis de transmitacircncia e a absortacircncia das

paredes e coberturas para o conforto teacutermico o dimensionamento e as condiccedilotildees das

circulaccedilotildees horizontais e verticais as instalaccedilotildees prediais dentre inuacutemeros outros itens Os

teacutecnicos devem se debruccedilar sobre tais requisitos teacutecnicos a fim de otimizar os resultados

quanto agrave construccedilatildeo da sustentabilidade no municiacutepio Deve-se utilizar as normas ABNT em

auxiacutelio agrave formulaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos a exemplo da NBR 10151 sobre Avaliaccedilatildeo do

57

Ruiacutedo em Aacutereas Habitadas NBR 5382 sobre Iluminacircncia de Interiores NBR 15215 sobre

Iluminaccedilatildeo Natural NBR 9284 sobre Equipamentos Urbanos dentre outras

Por fim deve-se prezar pela total interaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras com o conjunto

da legislaccedilatildeo urbaniacutestica local a fim de estabelecer uma relaccedilatildeo sequencial entre as etapas de e

concepccedilatildeo planejamento e construccedilatildeo das edificaccedilotildees passando das diretrizes gerais agraves

exigecircncias especiacuteficas O texto do coacutedigo de obras deve ser objetivo e didaacutetico sem incorrer

em simplificaccedilotildees O conteuacutedo deve ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e

teacutecnicos da aacuterea como pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees A dedicaccedilatildeo dos

teacutecnicos e profissionais na elaboraccedilatildeo das diretrizes transformadoras a busca pela

conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo sobre o conforto no ambiente urbano assim como a luta contra a

supremacia dos interesses privados sobre a coletividade satildeo itens importantes quanto agrave

concretizaccedilatildeo desse importante instrumento que foi apresentado e defendido ao longo do

presente trabalho

58

7 CONCLUSAtildeO

Diante das anaacutelises apresentadas ao longo deste trabalho principalmente quanto

ao ordenamento juriacutedico brasileiro para a regulaccedilatildeo urbana e o desenvolvimento sustentaacutevel

ficou comprovada a existecircncia de um conjunto significativo de legislaccedilotildees capazes de

embasar uma transformaccedilatildeo das cidades brasileiras em territoacuterios democraacuteticos igualitaacuterios e

sustentaacuteveis Poreacutem a previsatildeo legal eacute apenas o iniacutecio de um longo caminho ateacute a

transformaccedilatildeo concreta da realidade Para se avanccedilar nesse caminho uma mudanccedila poliacutetica eacute

imprescindiacutevel uma vez que as decisotildees sobre o espaccedilo urbano e sua regulamentaccedilatildeo

dependem necessariamente do interesse do gestor urbano materializado na figura dos

prefeitos e governantes das diversas esferas administrativas

Em relaccedilatildeo ao municiacutepio de Ouro Preto foi identificado que embora haja um

conjunto significativo de diretrizes urbaniacutesticas contidas no Plano Diretor e na Lei de Uso e

Ocupaccedilatildeo do Solo estas ainda satildeo insuficientes para subsidiar um desenvolvimento local

pautado na responsabilidade ambiental e na qualidade do meio ambiente urbano Isso se deve

principalmente ao fato de natildeo haver um coacutedigo de obras e edificaccedilotildees e tambeacutem ao fato de

que as iniciativas de proteccedilatildeo ambiental tal como a Agenda 21 Local natildeo foram colocadas

em praacutetica Neste sentido em relaccedilatildeo ao processo legislativo conclui-se que haacute uma

defasagem na aplicaccedilatildeo dos instrumentos de planejamento municipal previstos no Estatuto da

Cidade principalmente o Plano Diretor Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo Agenda 21 Local e Coacutedigo

de Obras e Edificaccedilotildees Aleacutem disso faltam elementos de combate agrave especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e

instrumentos de regulaccedilatildeo do solo urbano como o IPTU progressivo regularizaccedilatildeo onerosa a

assistecircncia teacutecnica gratuita dentre outros instrumentos tributaacuterios e financeiros juriacutedicos e

poliacuteticos que infelizmente ainda natildeo satildeo aplicados no municiacutepio Nesse contexto os outros

instrumentos de planejamento tais como o plano plurianual orccedilamento participativo

programas setoriais e planos de desenvolvimento econocircmico e social embora natildeo configurem

instrumentos urbaniacutesticos se colocam como ferramentas aliadas da gestatildeo democraacutetica da

cidade e da reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais visto que o processo de mudanccedila eacute

essencialmente poliacutetico Nesse sentido eacute extremamente importante que esses instrumentos

sejam pautados na real participaccedilatildeo popular na inclusatildeo e na justiccedila social

Quanto agrave sustentabilidade no ambiente urbano identificou-se que a preservaccedilatildeo e

proteccedilatildeo patrimonial pautadas no conforto do usuaacuterio a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados

a melhoria da infraestrutura urbana a concretizaccedilatildeo de projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria

59

assim como a construccedilatildeo de habitaccedilatildeo social de qualidade satildeo questotildees fundamentais para a

transformaccedilatildeo das cidades em territoacuterios democraacuteticos e sustentaacuteveis Essas demandas estatildeo

diretamente ligadas agrave mudanccedila no paradigma do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

pois uma vez colocadas em praacutetica alteram significativamente a configuraccedilatildeo das cidades

influenciando no clima urbano e na qualidade ambiental

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de uma base de dados climaacuteticos relativos ao municiacutepio

a partir das Normais Climatoloacutegicas obtidas no periacuteodo entre 1976 e 1990 foi possiacutevel

caracterizar o clima de Ouro Preto como um clima de baixas temperaturas muito uacutemido

(umidade relativa praticamente sempre acima de 80) com alta nebulosidade (o que significa

que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou nublado) e com abundacircncia de chuvas

principalmente no veratildeo Foi tambeacutem identificada uma grande interferecircncia do efeito da

barreira orograacutefica provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta

que conforma o Morro Satildeo Sebastiatildeo o que aprofunda ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade

Para a elaboraccedilatildeo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais foram utilizados os

resultados do diagrama de Givoni das Tabelas de Mahoney e da NBR 15220 Assim para a

cidade de Ouro Preto concluiu-se que a arquitetura deve priorizar o ganho teacutermico

principalmente durante o inverno pois nessa estaccedilatildeo tem-se uma queda significativa das

temperaturas o que afeta consideravelmente o conforto do usuaacuterio Esse ganho teacutermico deve

ser pensado a partir da utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior

insolaccedilatildeo o que possibilita um melhor aproveitamento dessa radiaccedilatildeo solar que deve servir

para manter o ambiente aquecido durante a noite Quanto aos materiais internos estes devem

possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser devidamente

isoladas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente Em relaccedilatildeo ao veratildeo foi

identificada a necessidade de ventilaccedilatildeo cruzada para reduzir os efeitos das temperaturas

elevadas e da alta umidade aleacutem de envoltoacuterias bem protegidas das chuvas

Por fim quanto agrave elaboraccedilatildeo do coacutedigo de obras foi possiacutevel apontar a

necessidade de se estabelecer as diretrizes para os projetos e construccedilotildees a partir dos

paracircmetros das normas teacutecnicas brasileiras do desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas com

base nas praacuteticas locais da garantia da acessibilidade das edificaccedilotildees agrave populaccedilatildeo em geral

da consideraccedilatildeo dos paracircmetros climaacuteticos e da utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis Foi

abordada a necessidade de aproximaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos do coacutedigo de obras aos

padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees residenciais previstos no RTQ-R

60

(Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais INMETRO) aleacutem da necessidade de se construir um texto objetivo e didaacutetico

que possa ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e teacutecnicos da aacuterea quanto

pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees

61

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 15220 Desempenho

teacutermico de edificaccedilotildees Rio de Janeiro ABNT 2005

BAHIA S R GUEDES P de A Elaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de obras e

edificaccedilotildees 2ordfed Rio de janeiro IBAMDUMA ELETROBRAS PROCEL 2012

BARANDIER H ALMEIDA M C T MORAIS R Planejamento e Controle Ambiental

Urbano e a Eficiecircncia Energeacutetica Rio de Janeiro IBAMDUMA ELETROBRASPROCEL

2013

BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988

BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002

BRASIL Lei nordm 10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do Desenvolvimento

Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Pesquisa nacional para identificar os resultados de

implementaccedilatildeo de processos de agendas 21 locais Brasiacutelia 2009

CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS Tiacutetulo 24 Parte 8 California Historical

Building Code 1ordm Ed Washington 2007

CSABA D SUELI R S (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo Editora da

Universidade de Satildeo Paulo 1999

FERREIRA C SOUZA H A de ASSIS E S de Estudo do clima brasileiro reflexotildees e

recomendaccedilotildees sobre a adequaccedilatildeo climaacutetica de habitaccedilotildees In XV Encontro Nacional de

Tecnologia do Ambiente Construiacutedo Maceioacute 2014

FROTA A B SCHIFFER S R Manual de Conforto Teacutermico Satildeo Paulo Nobel 1995

IBGE Perfil dos municiacutepios brasileiros 2013 Brasiacutelia 2014

LAMBERTS R DUTRA L PEREIRA FO R Eficiecircncia Energeacutetica na Arquitetura 3ordfed

ELETROBRASPROCEL 2014

MENICONI R O A Construccedilatildeo de uma Cidade-Monumento o caso de Ouro Preto Belo

Horizonte Escola de Arquitetura e Urbanismo UFMG 1999 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OLIVEIRA L B Agenda 21 Local consolidando as bases para o desenvolvimento

sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escala UFOP 2010

62

OLIVEIRA M A Os valores culturais da paisagem urbana em Ouro Preto Um Estudo de

Caso das Aacutereas Verdes na Ladeira Santa Efigecircnia e Entorno Proacuteximo Salvador Mestrado em

Arquitetura e Urbanismo da UFBA 1997

OLIVEIRA M R S Gestatildeo Patrimonial em Ouro Preto Alcances e Limites das Poliacuteticas

Puacuteblicas Preservacionistas Campinas Poacutes ndash Graduaccedilatildeo em Geografia Anaacutelise Ambiental e

Dinacircmica Territorial da UNICAMP 2005 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OURO PRETO Lei complementar nordm 011996 Institui o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro

Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 022005 Estabelece a Estrutura Baacutesica e a

organizaccedilatildeo administrativa da Prefeitura Municipal de Ouro Preto e da outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 152006 Altera a Lei Complementar ndeg 021005

modifica a denominaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Turismo Induacutestria e Comeacutercio e da

Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio suas respectivas competecircncias e daacute outras

providecircncias de 27 de Abril de 2006

OURO PRETO Lei Complementar nordm 302006 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 28 de

Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei complementar nordm 912010 Altera a Lei Complementar nordm292006 que

estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 932011 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 20 de

Janeiro de 2011

OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996

OURO PRETO Lei complementar nordm292006 Estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de

Ouro Preto de 28 de Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei nordm 333 Dispotildee sobre o Programa da Agenda 21 Local de 11 de maio de

2007

OURO PRETO Lei nordm 5790 Dispotildee sobre as diretrizes baacutesicas do Plano Diretor do

Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Portaria 0292 Nomeia Comissatildeo Especial

OURO PRETO Portaria 1707 Nomeia Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos

Naturais e Agenda 21 Local

Page 2: POLYANA PEREIRA COELHO · 2019. 11. 14. · POLYANA PEREIRA COELHO A SUSTENTABILIDADE DO AMBIENTE URBANO E OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO MUNICIPAL: RECOMENDAÇÕES PARA UM CÓDIGO DE

1

POLYANA PEREIRA COELHO

A SUSTENTABILIDADE DO AMBIENTE URBANO E OS INSTRUMENTOS DE

GESTAtildeO MUNICIPAL RECOMENDACcedilOtildeES PARA UM COacuteDIGO DE OBRAS PARA O

MUNICIacutePIO DE OURO PRETO ndash MG

Monografia apresentada ao Curso de Especializaccedilatildeo

em Sistemas Tecnoloacutegicos e Sustentabilidade

Aplicados ao Ambiente Construiacutedo da Escola de

Arquitetura da Universidade Federal de Minas

Gerais como requisito parcial para a obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de Especialista em Sistemas Tecnoloacutegicos e

Sustentabilidade Aplicados ao Ambiente Construiacutedo

Orientadora Profordf Eleonora Sad Assis

Belo Horizonte

Escola de Arquitetura da UFMG

2015

2

AGRADECIMENTOS

Minha eterna gratidatildeo a todos que contribuiacuteram para a superaccedilatildeo de mais essa

etapa Aos meus familiares tatildeo amados ao querido Fillipe aos meus colegas de trabalho da

Secretaria de Cultura e Patrimocircnio sempre disponiacuteveis a ajudar agraves parceiras da Seacutetima

Arquitetura tatildeo compreensivas e aos professores do curso que possibilitaram a elaboraccedilatildeo

desse trabalho

3

RESUMO

A sustentabilidade do ambiente urbano embora seja uma pauta relativamente recente no

Brasil jaacute atingiu o patamar de demanda prioritaacuteria Isso porque a exploraccedilatildeo predatoacuteria dos

recursos naturais tem destruiacutedo o meio ambiente Aleacutem disso os centros urbanos se tornaram

verdadeiros depoacutesitos de lixo esgoto e poluiccedilatildeo Diante desse contexto o presente trabalho

busca identificar os instrumentos de gestatildeo municipal que podem contribuir para a mudanccedila

dessa realidade urbana Satildeo apresentados portanto os instrumentos do planejamento

municipal regulamentados pelo Estatuto da Cidade aleacutem dos instrumentos de controle

ambiental como por exemplo a Agenda 21 Local que podem interferir positivamente no bem

estar e no conforto ambiental das cidades Para o estudo de caso foi escolhido o municiacutepio de

Ouro Preto MG que tem aproximadamente 300 anos de histoacuteria e uma configuraccedilatildeo urbana

protegida Tal estudo de caso agregou a preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico como mais uma

variaacutevel presente no contexto da regulaccedilatildeo urbana Sendo assim a fim de entender a

articulaccedilatildeo desses trecircs importantes aspectos da poliacutetica urbana municipal - a preservaccedilatildeo a

regulaccedilatildeo e a sustentabilidade - o trabalho em questatildeo tratou das possibilidades de alcance do

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees Por fim na tentativa de identificar as diretrizes necessaacuterias

para se transformar os centros urbanos em espaccedilos sustentaacuteveis buscou-se apontar a partir do

reconhecimento do clima local de Ouro Preto algumas recomendaccedilotildees arquitetocircnicas capazes

de avanccedilar na consolidaccedilatildeo de construccedilotildees comprometidas com o conforto ambiental e com a

eficiecircncia energeacutetica

Palavras-chave sustentabilidade gestatildeo municipal conforto ambiental Ouro Preto - MG

4

ABSTRACT

The sustainability of the urban environment although it is a relatively new agenda in Brazil

has reached the level of priority demand Thats because the predatory exploitation of natural

resources has destroyed the environment Furthermore urban centers have become true

rubbish dumps sewer and pollution In this context this paper seeks to identify the municipal

management tools that can contribute to changing this urban reality They are presented so

the instruments of municipal planning regulated by the City Statute addition to the

instruments of environmental control for example the Local Agenda 21 that may positively

affect the well-being and environmental comfort of cities For the case study was chosen the

city of Ouro Preto Minas Gerais which has about 300 years of history and a protected urban

setting Such a case study added the preservation of historical heritage as another variable

present in the context of urban regulation So in order to understand the relationship of these

three important aspects of municipal urban policy - the preservation regulation and

sustainability - the work in question dealt with the range of possibilities of Works and

Building Code Finally in an attempt to identify the policies needed to transform urban areas

into sustainable spaces we tried to point out from the recognition of the local climate of Ouro

Preto some architectural recommendations able to move forward in the consolidation of

buildings committed to comfort environmental and energy efficiency

Keywords sustentability municipal planning environment comfort Ouro Preto - MG

5

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 6

2 O ESTATUTO DA CIDADE E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL 8

3 O PLANO DIRETOR E OS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO

MUNICIPAL 14

4 OS DESAFIOS DA REGULACcedilAtildeO URBANA FRENTE AgraveS INTERVENCcedilOtildeES NAS

EDIFICACcedilOtildeES E NOS CONJUNTOS URBANOS TOMBADOS 20

5 O MUNICIacutePIO DE OURO PRETO UM ESTUDO DE CASO 27

51 DA COLONIZACcedilAtildeO AO SEacuteCULO XX 27

52 O CONTEXTO ATUAL 34

6 ENSAIO PARA UM COacuteDIGO DE OBRAS PRINCIPAIS ESTRATEacuteGIAS PARA

A PROMOCcedilAtildeO DA EFICIEcircNCIA ENERGEacuteTICA NO MUNICIacutePIO DE OURO

PRETO 42

61 O RECONHECIMENTO DO CLIMA E AS RECOMENDACcedilOtildeES

ARQUITETOcircNICAS INICIAIS 42

62 O COacuteDIGO DE OBRAS E O CONFORTO AMBIENTAL EM OURO PRETO ndash

ESTRATEacuteGIAS PRIORITAacuteRIAS 54

7 CONCLUSAtildeO 58

6

1 INTRODUCcedilAtildeO

A praacutetica de ordenaccedilatildeo do territoacuterio nacional atraveacutes do planejamento urbano

modificou-se significativamente no iniacutecio do Segundo Milecircnio A aprovaccedilatildeo do Estatuto da

Cidade e a incorporaccedilatildeo dos preceitos do equiliacutebrio ambiental e do desenvolvimento

sustentaacutevel nas diretrizes para o desenvolvimento urbano impactaram positivamente o quadro

juriacutedico brasileiro Contudo enfrentam-se ainda inuacutemeras dificuldades na aplicaccedilatildeo das

diretrizes previstas nesse novo ordenamento o que se traduz num gigantesco atraso quanto agrave

transformaccedilatildeo das cidades brasileiras em cidades sustentaacuteveis

Atualmente satildeo os municiacutepios os entes federativos com maior capacidade de

transformaccedilatildeo da realidade local uma vez que os principais instrumentos aplicaacuteveis ao

contexto urbano estatildeo inseridos no Plano Diretor ou noutro plano urbano de competecircncia do

municiacutepio Sendo assim faz-se necessaacuterio aprofundar o conhecimento e entendimento dos

instrumentos da gestatildeo municipal analisando os limites e possibilidades encontrados nas

administraccedilotildees da maioria das cidades brasileiras A identificaccedilatildeo do contexto poliacutetico local eacute

fundamental para a compreensatildeo da realidade urbana pois o sucesso na aplicaccedilatildeo de

legislaccedilotildees transformadoras depende da vontade poliacutetica das gestotildees municipais em promover

a democratizaccedilatildeo da cidade e o bem-estar coletivo

Nesse contexto de reconhecimento dos instrumentos de gestatildeo municipal buscou-

se identificar e avaliar as poliacuteticas de promoccedilatildeo da sustentabilidade no ambiente urbano

Assim aleacutem da anaacutelise dos Planos Diretores e da Lei de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo do

Solo o presente trabalho buscou investigar a existecircncia e a implementaccedilatildeo de outros

importantes instrumentos de promoccedilatildeo do equiliacutebrio ambiental tais como a Agenda 21 e o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees

Quanto agrave sustentabilidade do ambiente urbano cabe ressaltar a importacircncia em se

pensar a interaccedilatildeo das edificaccedilotildees no territoacuterio de forma que estas contribuam positivamente

com o clima urbano Assim estatildeo diretamente relacionadas agrave sustentabilidade do ambiente

urbano as diretrizes relativas ao uso agrave seguranccedila agrave salubridade agrave acessibilidade e agrave

preservaccedilatildeo dos elementos histoacutericos artiacutesticos e culturais assim como diretrizes resultantes

de estudos climaacuteticos que aplicados ao desenho urbano possibilitem adaptaccedilatildeo das

edificaccedilotildees agraves caracteriacutesticas climaacuteticas locais ao conforto teacutermico luminoso e acuacutestico

Tambeacutem faz parte dessa transformaccedilatildeo urbana iniciativas que utilizem fontes de energia

alternativas e que combatam o desperdiacutecio de recursos

7

A partir do exposto acima foi escolhido como caso de estudo o Municiacutepio de Ouro

Preto situado na Regiatildeo Central de Minas Gerais Com um conjunto urbano de

aproximadamente 300 anos a cidade de Ouro Preto estaacute entre os 19 bens brasileiros

considerados Patrimocircnio Cultural da Humanidade pela UNESCO e entre os 77 conjuntos

urbanos tombados pelo IPHAN

Estudar Ouro Preto portanto pressupotildee acrescentar um olhar preservacionista aos

apontamentos sobre a regulaccedilatildeo urbana e o desenvolvimento sustentaacutevel Dentro dessa

realidade faz-se necessaacuterio desenvolver uma interaccedilatildeo entre esses trecircs importantes aspectos da

poliacutetica urbana municipal preservaccedilatildeo regulaccedilatildeo e sustentabilidade

Sendo assim o objetivo geral da pesquisa consiste em analisar dentro do contexto

juriacutedico do municiacutepio de Ouro Preto as leis pertinentes agrave regulaccedilatildeo urbana a fim de avaliar a

aplicaccedilatildeo dos preceitos do Estatuto da Cidade Ademais o presente trabalho procura

identificar os principais entraves e barreiras que atualmente impedem que a expansatildeo da

cidade ocorra de forma vinculada agrave qualidade de vida dos cidadatildeos agrave proteccedilatildeo ambiental e

vinculada agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico

A partir da identificaccedilatildeo e contextualizaccedilatildeo das legislaccedilotildees municipais foram

abordadas algumas iniciativas de promoccedilatildeo da sustentabilidade a fim de avanccedilar na

construccedilatildeo de uma base de dados climaacuteticos do municiacutepio capaz de orientar a elaboraccedilatildeo de

condicionantes urbaniacutesticas e diretrizes construtivas comprometidas com a proteccedilatildeo do meio

ambiente e com as premissas do conforto ambiental Dentro do rol de legislaccedilotildees municipais

destacou-se um importante instrumento da regulaccedilatildeo urbana o Coacutedigo de Obras e

Edificaccedilotildees Foram abordados na pesquisa aspectos importantes quanto agrave elaboraccedilatildeo e

atualizaccedilatildeo deste instrumento como por exemplo a incorporaccedilatildeo dos criteacuterios de

sustentabilidade a fim de elevar a qualidade das edificaccedilotildees e garantir o conforto do usuaacuterio

Para a anaacutelise do clima da cidade de Ouro Preto foram utilizados o diagrama de

Givoni as Tabelas de Mahoney aleacutem da NBR 15220 parte 3 A sistematizaccedilatildeo dos resultados

dessas trecircs ferramentas possibilitou a interpretaccedilatildeo das variaacuteveis climaacuteticas o que eacute

fundamental para a formulaccedilatildeo de recomendaccedilotildees arquitetocircnicas Tal resultado embasou o

apontamento global apresentado no uacuteltimo capiacutetulo quanto agraves principais recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas e agraves estrateacutegias prioritaacuterias de promoccedilatildeo do conforto ambiental

O trabalho deveraacute contribuir com os estudos que estatildeo sendo elaborados pelas

equipes teacutecnicas locais e com a conformaccedilatildeo de um pensamento criacutetico a cerca das poliacuteticas

puacuteblicas de promoccedilatildeo da sustentabilidade da regulaccedilatildeo urbana e da proteccedilatildeo patrimonial

8

2 O ESTATUTO DA CIDADE E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL

O iniacutecio do seacuteculo XXI podemos dizer foi marcado por uma mudanccedila qualitativa

no tocante ao Planejamento Urbano Brasileiro O Estatuto da Cidade Lei nordm 10257 foi

aprovado pelo Congresso Nacional em 2001 e representou uma grande vitoacuteria nos marcos do

planejamento urbano pois vinha sendo reivindicado pelos movimentos sociais de luta pela

reforma urbana desde a deacutecada de 1980 O Estatuto da Cidade veio regulamentar o Capiacutetulo II

da Constituiccedilatildeo Federal capiacutetulo este que trata da Poliacutetica Urbana composto pelos artigos

182 e 183 que ressaltam dentre outros aspectos como a poliacutetica de desenvolvimento urbano

deve estar diretamente associada agrave funccedilatildeo social da cidade e da propriedade urbana A

aprovaccedilatildeo desta lei significaria uma mudanccedila qualitativa nos marcos juriacutedico e institucional

dos municiacutepios por articular instrumentos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria habitaccedilatildeo saneamento

mobilidade e de gestatildeo de resiacuteduos aleacutem de introduzir o equiliacutebrio ambiental como item

essencial ao desenvolvimento urbano sustentaacutevel No Capiacutetulo 01 do Estatuto ndash Diretrizes

Gerais o primeiro artigo diz o seguinte

Art 1ordm Na execuccedilatildeo da poliacutetica urbana de que tratam os artigos 182 e 183 da

Constituiccedilatildeo Federal seraacute aplicado o previsto nesta Lei [] Paraacutegrafo uacutenico Para

todos os efeitos esta Lei denominada Estatuto da Cidade estabelece normas de

ordem puacuteblica e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol

do bem coletivo da seguranccedila e do bem-estar dos cidadatildeos bem como do equiliacutebrio

ambiental (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

O texto do Estatuto da Cidade tratou portanto de incorporar ao conjunto de

diretrizes da poliacutetica urbana o equiliacutebrio ambiental como um novo conceito como uma

demanda essencial ao desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis conforme estaacute disposto no

capiacutetulo introdutoacuterio da supracitada Lei

Contudo mesmo jaacute estando consolidado haacute mais de uma deacutecada o desafio

colocado pelo Estatuto da Cidade tem se aprofundado a cada dia A retirada de mateacuteria-prima

da natureza a exploraccedilatildeo de recursos energeacuteticos a demanda por aacutegua potaacutevel e por

alimentos assim como a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos satildeo intensificadas com o passar dos

anos e com o crescimento exponencial das cidades Nas grandes metroacutepoles o problema

ambiental jaacute alcanccedilou o alerta vermelho quanto agrave gravidade da situaccedilatildeo a poluiccedilatildeo a

impermeabilizaccedilatildeo dos solos a falta de vegetaccedilatildeo e de barreiras geograacuteficas naturais tecircm

provocado inuacutemeros danos ao meio ambiente urbano que sofre com a falta de chuva ou com o

excesso dela com a draacutestica alteraccedilatildeo do microclima e com a formaccedilatildeo de ilhas de calor cada

dia mais agressivas ao bem-estar da populaccedilatildeo

9

Nos municiacutepios menores embora os problemas ambientais sejam percebidos com

menor intensidade a poliacutetica urbana tambeacutem estaacute voltada para a exploraccedilatildeo e esgotamento

dos recursos naturais Natildeo haacute uma poliacutetica efetiva de proteccedilatildeo das aacutereas de risco das aacutereas de

proteccedilatildeo permanente assim como natildeo haacute saneamento baacutesico em toda a aacuterea urbana Soma-se

a esses problemas a falta de estaccedilotildees de tratamento de efluentes que resulta na utilizaccedilatildeo dos

cursos drsquoaacutegua como canais de esgotamento sanitaacuterio e consequentemente na contaminaccedilatildeo

dos recursos hiacutedricos de toda uma regiatildeo

A partir desses elementos evidencia-se que a promulgaccedilatildeo do Estatuto da Cidade

apesar do avanccedilo representado natildeo conseguiu resolver por si soacute os inuacutemeros problemas

ambientais urbanos que afetam agraves cidades brasileiras Tais problemas estatildeo diretamente

vinculados aos paracircmetros de parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo padrotildees construtivos e

padrotildees ediliacutecios das cidades definidos pela legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal quando

existente Os municiacutepios encontram enorme dificuldade em aplicar os preceitos do Estatuto

por falta de uma legislaccedilatildeo urbana forte aprimorada e atualizada que possa contemplar todos

os aspectos de uma regulaccedilatildeo urbana voltada para a sustentabilidade e para o bem-estar

coletivo

Eacute neste cenaacuterio que entram em cena os instrumentos da poliacutetica urbana previstos

no Capiacutetulo II do Estatuto da Cidade organizados em seis categorias que satildeo

I ndash planos nacionais regionais e estaduais de ordenaccedilatildeo do territoacuterio e de

desenvolvimento econocircmico e social

II ndash planejamento das regiotildees metropolitanas aglomeraccedilotildees urbanas e

microrregiotildees

III ndash planejamento municipal

IV ndash institutos tributaacuterios e financeiros

V ndash institutos juriacutedicos e poliacuteticos

VI ndash estudo preacutevio de impacto ambiental (EIA) e estudo preacutevio de impacto de

vizinhanccedila (EIV) (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho

2001)

As categorias III - planejamento municipal IV - institutos tributaacuterios e financeiros

e V - instrumentos juriacutedicos e poliacuteticos se desdobram em outros variados instrumentos que

associados e devidamente estabelecidos por lei especiacutefica serviratildeo de base para que os

municiacutepios avancem na construccedilatildeo de um ambiente urbano equilibrado inclusivo e

sustentaacutevel Destaca-se nesse quadro de instrumentos dentro da categoria ldquoplanejamento

municipalrdquo o Plano Diretor que constituindo o ldquoinstrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e expansatildeo urbanardquo possibilitaraacute para aleacutem da ordenaccedilatildeo do solo a

articulaccedilatildeo com outros processos de planejamento na esfera municipal Tal instrumento seraacute

melhor abordado no proacuteximo capiacutetulo

10

Apresentados os processos de planejamento e os instrumentos da poliacutetica urbana

trazidos pelo Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio avanccedilar no entendimento da

sustentabilidade enquanto conceito uma vez que esta passaraacute a compor um corpo uacutenico com o

que vier a se entender por ldquodesenvolvimentordquo

A preocupaccedilatildeo com o ordenamento juriacutedico de proteccedilatildeo e defesa do meio

ambiente se materializou no Brasil inicialmente em 1981 a partir da promulgaccedilatildeo da Lei

6938 que instituiu a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente O SISNAMA Sistema Nacional

do Meio Ambiente reuniu os oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Direta - Uniatildeo Estados

DF e Municiacutepios - responsaacuteveis pela proteccedilatildeo e melhoria da qualidade ambiental

Em 2002 a construccedilatildeo da Agenda 21 Brasileira buscou associar o conceito de

sustentabilidade agraves poliacuteticas de desenvolvimento urbano As Agendas Nacionais foram

desenvolvidas a partir da Agenda 21 Global Esta uacuteltima resultou das discussotildees realizadas na

Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD)

mais conhecida como Rio 92 A Agenda 21 consiste em um programa de accedilatildeo voltado para a

aplicaccedilatildeo de meacutetodos de proteccedilatildeo ambiental justiccedila social e eficiecircncia econocircmica Eacute um

documento de 40 capiacutetulos com mais de 2500 recomendaccedilotildees praacuteticas e foi assinado por 179

paiacuteses formalizando o compromisso dessas naccedilotildees com o Desenvolvimento Sustentaacutevel do

Planeta Instrumento de planejamento participativo a Agenda 21 deve ser um resultado de

accedilotildees que congreguem governo e sociedade civil e por isso eacute um instrumento aliado das novas

frentes de trabalho inauguradas pelo Estatuto da Cidade A partir dos trechos a seguir

retirados respectivamente da Agenda 21 e do Estatuto da Cidade pode-se perceber a afinidade

nas pretensotildees dos dois Instrumentos de Planejamento

71 Nos paiacuteses industrializados os padrotildees de consumo das cidades representam

uma pressatildeo muito seacuteria sobre o ecossistema global ao passo que no mundo em

desenvolvimento os assentamentos humanos necessitam de mais mateacuteria-prima

energia e desenvolvimento econocircmico simplesmente para superar seus problemas

econocircmicos e sociais baacutesicos Em muitas regiotildees do mundo em especial nos paiacuteses

em desenvolvimento as condiccedilotildees dos assentamentos humanos vecircm se

deteriorando sobretudo em decorrecircncia do baixo volume de investimentos no setor

imputaacutevel agraves restriccedilotildees relativas a recursos com que esses paiacuteses se deparam em

todas as aacutereas Nos paiacuteses de baixa renda sobre os quais haacute dados recentes apenas

56 por cento do orccedilamento do Governo central em meacutedia foram dedicados a

habitaccedilatildeo lazer seguridade social e bem-estar social [] Objetivo 78 O objetivo eacute

oferecer habitaccedilatildeo adequada a populaccedilotildees em raacutepido crescimento e aos pobres

atualmente carentes tanto de aacutereas rurais como urbanas por meio de uma

abordagem que possibilite o desenvolvimento e a melhoria de condiccedilotildees de moradia

ambientalmente saudaacuteveis (AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do

Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992)

11

Estatuto da Cidade Capiacutetulo 1 ndash Diretrizes Gerais Art 2ordm A poliacutetica urbana tem por

objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e da

propriedade urbana mediante as seguintes diretrizes gerais I ndash garantia do direito a

cidades sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao

saneamento ambiental agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos

puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para as presentes e futuras geraccedilotildees [] Art 3ordm

Compete agrave Uniatildeo entre outras atribuiccedilotildees de interesse da poliacutetica urbana IV -

instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano inclusive habitaccedilatildeo saneamento

baacutesico transportes urbanos e infraestrutura de energia e telecomunicaccedilotildees

(BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

O texto da Agenda 21 mais especificamente o Preacircmbulo enfatiza que o sucesso

na aplicaccedilatildeo desse plano de accedilatildeo depende primeiramente do comprometimento dos governos

com a preparaccedilatildeo de estrateacutegias planos poliacuteticas e processos nacionais para a concretizaccedilatildeo

dos objetivos estabelecidos

A Agenda 21 Brasileira foi desenvolvida no periacuteodo de 1996 a 2002 e teve como

eixo a sustentabilidade a partir da compatibilizaccedilatildeo entre conservaccedilatildeo ambiental justiccedila

social e crescimento econocircmico

Ao aprofundar-se na elaboraccedilatildeo de diretrizes para problemas de ordem estrutural

a Agenda 21 Brasileira foi elevada a programa dentro do Plano Plurianual de Governo (entre

2004 e 2007)1 o que daria maior forccedila poliacutetica e institucional agrave Agenda Sendo assim a partir

de soluccedilotildees integradas planejadas a meacutedio e longo prazos e a partir da associaccedilatildeo entre

governo e sociedade seria possiacutevel tratar de questotildees como ldquoeconomia da poupanccedila na

sociedade do conhecimento inclusatildeo social para uma sociedade solidaacuteria estrateacutegia para a

sustentabilidade urbana e rural recursos naturais estrateacutegicos governanccedila e eacutetica para a

promoccedilatildeo da sustentabilidaderdquo (AGENDA 21 BRASILEIRA 2004 p04) O Programa foi

estruturado em trecircs accedilotildees implementar a Agenda 21 Brasileira promover a elaboraccedilatildeo e

implementaccedilatildeo de Agendas 21 Locais e formaccedilatildeo continuada em Agenda 21

Vale destacar a importacircncia da Agenda 21 Local enquanto instrumento

complementar aos instrumentos da poliacutetica municipal de desenvolvimento urbano

A Agenda 21 Local eacute um dos principais instrumentos para se conduzir processos de

mobilizaccedilatildeo troca de informaccedilotildees geraccedilatildeo de consensos em torno dos problemas e

1 Importante destacar que ldquoO Plano Plurianual (PPA) eacute um instrumento previsto no art 165 da Constituiccedilatildeo

Federal destinado a organizar e viabilizar a accedilatildeo puacuteblica com vistas a cumprir os fundamentos e os objetivos da

Repuacuteblica Por meio dele eacute declarado o conjunto das poliacuteticas puacuteblicas do governo para um periacuteodo de quatro

anos e os caminhos trilhados para viabilizar as metas previstas construindo um Brasil melhorrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwmpgovbrministerioaspindex=10ampler=s1086gt Acesso em 06 jun 2015 O Plano Plurianual

referente ao periacuteodo 2004 ndash 2007 foi regulamentado pela Lei Nordm 10933 de 2004 sancionada pelo entatildeo

Presidente Luiacutez Inaacutecio Lula da Silva

12

soluccedilotildees locais e estabelecimento de prioridades para a gestatildeo de desde um estado

municiacutepio bacia hidrograacutefica unidade de conservaccedilatildeo ateacute um bairro uma escola O

processo deve ser articulado com outros projetos programas e atividades do governo

e sociedade sendo consolidado dentre outros a partir do envolvimento dos agentes

regionais e locais anaacutelise identificaccedilatildeo e promoccedilatildeo de instrumentos financeiros

difusatildeo e intercacircmbio de experiecircncias definiccedilatildeo de indicadores de desempenho

(AGENDA 21 Brasileira accedilotildees prioritaacuteriasComissatildeo de Poliacuteticas de

Desenvolvimento Sustentaacutevel e da Agenda 21 Nacional 2 ed Brasiacutelia Ministeacuterio

do Meio Ambiente 2004)

Desde entatildeo o esforccedilo em fomentar a construccedilatildeo das Agendas 21 Locais gerou

um resultado positivo embora muito aqueacutem do necessaacuterio para uma mudanccedila substancial nas

poliacuteticas em prol do desenvolvimento sustentaacutevel Em 2013 apenas 215 dos municiacutepios

brasileiros possuiacuteam processos em andamento relativos agrave Agenda 21 conforme foi

identificado pela IBGE a partir da Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros (MUNIC

2013) 2 Tal percentual apesar da pouca expressividade demarca um processo positivo de

mudanccedila tendo em vista que nos dados dos anos anteriores observava-se percentuais ainda

menores aleacutem de um processo de decliacutenio em 2009 a pesquisa indicou que 199 dos

municiacutepios haviam iniciado a elaboraccedilatildeo da agenda 21 enquanto em 2012 o percentual

baixou para 181

Nota-se ante ao exposto ateacute aqui que existe um arcabouccedilo legal significativo em

prol do desenvolvimento urbano sustentaacutevel Contudo a aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo existente e a

obtenccedilatildeo de resultados positivos estatildeo longe de se tornar uma realidade no Brasil Sendo

assim faz-se necessaacuterio reforccedilar a cada dia os compromissos estabelecidos nas Leis

Brasileiras e trabalhar na efetivaccedilatildeo dos instrumentos de promoccedilatildeo do equiliacutebrio ambiental a

partir da aplicaccedilatildeo das premissas da sustentabilidade Atingir o desenvolvimento urbano

sustentaacutevel natildeo eacute somente uma das opccedilotildees mas a uacutenica opccedilatildeo existente se quisermos que o

planeta tenha vida longa Preservar o meio ambiente deve ser uma accedilatildeo constante associada a

todas agraves demais poliacuteticas puacuteblicas Quanto agrave iniciativa privada esta deveraacute ser

permanentemente fiscalizada Regulamentar as atividades de exploraccedilatildeo da natureza e buscar

a inibiccedilatildeo severa de atividades de impacto ambiental satildeo tarefas urgentes que o Poder Puacuteblico

deve assimilar o quanto antes

2 Ressalta-se que ldquoA Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais ndash MUNIC eacute realizada desde o ano de 1999

pelo IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Na versatildeo de 2013 foram destacados os aspectos

relevantes da gestatildeo e da estrutura dos 5570 municiacutepios brasileiros a partir dos seguintes eixos perfil dos

gestores municipais recursos humanos das administraccedilotildees municipais legislaccedilatildeo e instrumentos de

planejamento sauacutede meio ambiente poliacutetica de gecircnero ndash temas jaacute investigados em anos anteriores ndash aleacutem de

gestatildeo de riscos e resposta a desastres este ineacutedito ateacute entatildeordquo Disponiacutevel em

lthttpwwwibgegovbrhomeestatisticaeconomiaperfilmunic2013defaultshtmgt Acesso em 06 jun 2015)

13

Somente com a permanente preocupaccedilatildeo do Estado para com o tema seraacute

possiacutevel consolidar o desenvolvimento urbano a partir da aplicaccedilatildeo das premissas da

sustentabilidade do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

14

3 O PLANO DIRETOR E OS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO

MUNICIPAL

Para introduzir a discussatildeo do Plano Diretor e demais instrumentos de

planejamento municipal previstos no Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio retomar o momento

da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 com destaque para o Art30 que determina as tarefas de

competecircncia dos Municiacutepios Dentre tais competecircncias destacam-se os incisos VIII e IX

diretamente relacionados ao planejamento urbano

Art 30 Compete aos Municiacutepios [] VIII - promover no que couber adequado

ordenamento territorial mediante planejamento e controle do uso do parcelamento e

da ocupaccedilatildeo do solo urbano IX - promover a proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-

cultural local observada a legislaccedilatildeo e a accedilatildeo fiscalizadora federal e estadual

(BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de

1988)

Aleacutem de delimitar as competecircncias municipais a Constituiccedilatildeo tambeacutem apontou

no Art182 do Capiacutetulo II o Plano Diretor - velho conhecido dos Teacutecnicos e Governantes -

como principal instrumento a ser utilizado pelos Municiacutepios no desenvolvimento da poliacutetica

urbana

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo Poder Puacuteblico

municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem por objetivo ordenar o

pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus

habitantes sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio para

cidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e de expansatildeo urbana sect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua

funccedilatildeo social quando atende agraves exigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade

expressas no plano diretor (BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do

Brasil de 5 de outubro de 1988)

Contudo tal instrumento natildeo representou uma novidade A expressatildeo Plano

Diretor foi utilizada pela primeira vez no Brasil em 1930 a partir do Plano Agache3

desenvolvido para o Rio de Janeiro Posteriormente foram desenvolvidos planos diretores em

todo o territoacuterio brasileiro planos estes que ficariam engavetados por falta de vontade

3 Nota-se que ldquoO Plano Agache foi a primeira proposta de intervenccedilatildeo urbaniacutestica na cidade do Rio de Janeiro

com preocupaccedilotildees genuinamente modernas Concluiacutedo em 1930 introduziu no cenaacuterio nacional algumas

questotildees tiacutepicas da cidade industrial tais como o planejamento do transporte de massas e do abastecimento de

aacuteguas a habitaccedilatildeo operaacuteria e o crescimento das favelas Aleacutem disso com discussotildees emergentes que iam desde a

necessidade de um zoneamento para a cidade ateacute a delimitaccedilatildeo de aacutereas verdes ultrapassou os limites do

Academicismo das intervenccedilotildees predecessoras de Pereira Passos e Paulo de Frontinrdquo Disponiacutevel em

lthttpplanourbanoriorjgovbrgt Acesso em 06 de jun 2015

15

poliacutetica A nomenclatura e o conteuacutedo dos planos diretores variaram com o passar dos anos

segundo Villaccedila

Por fim cabe abordar historicamente as jaacute mencionadas mudanccedilas na nomenclatura

nas formas nos conteuacutedos e nas metodologias dos planos Em primeiro lugar cai em

desuso a expressatildeo plano de melhoramentos e embelezamento e entra em cena a

expressatildeo urbanismo Depois esta cai em desuso sendo substituiacuteda por

planejamento urbano e plano diretor Em segundo lugar os conteuacutedos e

metodologias de elaboraccedilatildeo dos planos sofrem alteraccedilotildees radicais De enormes

volumes com centenas de paacuteginas recheados de mapas pesquisas e estatiacutesticas

elaborados por equipes multidisciplinares e abordando enorme leque de problemas

transformam-se em meros projetos de lei agraves vezes contendo apenas declaraccedilotildees de

princiacutepios poliacuteticas ou diretrizes gerais agraves vezes ateacute sem mapas ou com poucos

mapas Um simples projeto de lei publicado no Diaacuterio Oficial (CSABA Deaacutek

SUELI Ramos Schiffer (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo

Editora da Universidade de Satildeo Paulo 1999 p191)

A realidade eacute que os planos diretores desenvolvidos no Brasil entre as deacutecadas de

1940 e 1990 natildeo correspondiam ao pensamento dos governantes e das classes dominantes e

por isso natildeo contaram com intenccedilatildeo real de aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo Os objetivos apontados

natildeo seriam atingidos pois o Plano Diretor natildeo se tornara uma prioridade em nenhuma das

esferas administrativas do paiacutes

O ressurgimento do instrumento Plano Diretor em 1988 embora isento de grandes

novidades veio acompanhado da premissa da funccedilatildeo social da propriedade um aspecto

positivo e inovador da poliacutetica urbana poreacutem praticamente inviaacutevel de ser aplicado num

primeiro momento pelos obstaacuteculos constantes na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal Contudo

diante da pressatildeo dos movimentos sociais e populares que se fortaleceram durante o processo

de redemocratizaccedilatildeo tais planos foram se tornando mais politizados abordando aspectos

especiacuteficos da competecircncia municipal e tratando das polecircmicas voltadas para o territoacuterio

inclusive sobre a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria no espaccedilo urbano

Em 2001 a poliacutetica urbana foi regulamentada pela Lei 10257 - Estatuto da

Cidade ndash devidamente apresentada no capiacutetulo anterior Com uma abordagem democraacutetico-

participativa voltada para os interesses coletivos tal lei possibilitou uma mudanccedila expressiva

no planejamento urbano principalmente na esfera municipal

O Plano Diretor Participativo como seraacute chamado a partir de entatildeo se torna o

principal dentre outros sete instrumentos de planejamento municipal expressos no Art 4ordm

inciso III da Lei 10257

Art 4o Para os fins desta Lei seratildeo utilizados entre outros instrumentos [] III ndash

planejamento municipal em especial a) plano diretor b) disciplina do

parcelamento do uso e da ocupaccedilatildeo do solo c) zoneamento ambiental d) plano

plurianual e) diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual f) gestatildeo orccedilamentaacuteria

16

participativa g) planos programas e projetos setoriais h) planos de

desenvolvimento econocircmico e social (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade

de 10 de julho 2001)

O conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelos planos diretores foi estabelecido na

resoluccedilatildeo nordm34 de 01 de julho de 2005 pelo Conselho das Cidades A tal conselho

regulamentado pelo Decreto 5031 2004 competia emitir orientaccedilotildees e recomendaccedilotildees sobre

a aplicaccedilatildeo da Lei 10257 de 2001 (Estatuto da Cidade) e dos demais atos normativos

relacionados ao desenvolvimento urbano A inclusatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel das

cidades nas novas diretrizes da poliacutetica urbana teraacute no plano diretor a sua expressatildeo

fundamental Dentre o conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelo Plano Diretor Participativo

merece destaque o Art 2ordm inciso III aleacutem do Art 5ordm inciso VII do Estatuto da Cidade

Art 2deg As funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade urbana seratildeo definidas a partir

da destinaccedilatildeo de cada porccedilatildeo do territoacuterio do municiacutepio bem como da identificaccedilatildeo

dos imoacuteveis natildeo edificados subutilizados e natildeo utilizados no caso de sua existecircncia

de forma a garantir [] III - a universalizaccedilatildeo do acesso aacute aacutegua potaacutevel aos

serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio a coleta e disposiccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos e ao

manejo sustentaacutevel das aacuteguas pluviais de forma integrada aacutes poliacuteticas ambientais de

recursos hiacutedricos e de sauacutede [] Art 5deg A instituiccedilatildeo das Zonas Especiais

considerando o interesse local deveraacute [] VII - demarcar as aacutereas de proteccedilatildeo

preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e construiacutedo do patrimocircnio

cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico (BRASIL Lei nordm10257

Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

Ao estabelecer as diretrizes de ordenaccedilatildeo do solo o Plano Diretor estabelece que

a propriedade urbana deve servir agrave qualidade de vida dos cidadatildeos agrave justiccedila social e ao

desenvolvimento sustentaacutevel das atividades econocircmicas A referecircncia territorial que estrutura

as estrateacutegias definidas pelo Plano Diretor eacute o macrozoneamento Este subdivide o territoacuterio

municipal a partir da identificaccedilatildeo das potencialidades e das caracteriacutesticas de cada aacuterea Satildeo

algumas categorias utilizadas na definiccedilatildeo do macrozoneamento aacutereas aptas agrave urbanizaccedilatildeo

aacutereas propiacutecias ao desenvolvimento de atividades rurais aacutereas de preservaccedilatildeo e aacutereas de

exploraccedilatildeo econocircmica Aleacutem da definiccedilatildeo de intenccedilotildees para os vetores do territoacuterio

municipal o macrozoneamento define tambeacutem o periacutemetro urbano e as zonas de expansatildeo

urbana enquanto instrumentos de direcionamento da urbanizaccedilatildeo da gestatildeo ambiental e do

crescimento econocircmico A delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano deve ser feita a partir de planta

referenciada com clara indicaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e fiacutesicos limiacutetrofes e deve servir

para direcionar o adensamento populacional para as aacutereas providas de infraestrutura

garantindo a proteccedilatildeo das aacutereas de interesse ambiental e a reserva de aacutereas para produccedilatildeo

agriacutecola e ocupaccedilatildeo rural A alteraccedilatildeo de tal periacutemetro conforme previsto no Art42B do

17

Estatuto da Cidade deveraacute instituiacuteda por lei municipal e deve ser resultado de projeto

especiacutefico que contemple o conteuacutedo miacutenimo e que atenda agraves diretrizes do Plano Diretor

O segundo instrumento de planejamento municipal apresentado no Art 4ordm do

Estatuto da Cidade o parcelamento o uso e a ocupaccedilatildeo do solo eacute tambeacutem um importante

instrumento para a concretizaccedilatildeo dos preceitos da sustentabilidade do ambiente urbano A

Legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal definiraacute o zoneamento da aacuterea urbana Tal zoneamento

responsaacutevel pela subdivisatildeo do periacutemetro urbano em diferentes categorias eacute o principal

instrumento da regulaccedilatildeo urbana A definiccedilatildeo das categorias deveraacute ser pautada pelo melhor

aproveitamento e pela ampliaccedilatildeo do acesso agrave terra urbanizada O zoneamento orienta o

ordenamento urbano a partir das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo do solo definindo os paracircmetros

urbaniacutesticos - coeficiente de aproveitamento taxa de ocupaccedilatildeo afastamentos gabaritos - de

forma que os projetos de edificaccedilotildees e demais intervenccedilotildees mantenham uma densidade de

ocupaccedilatildeo que favoreccedila o conforto ambiental urbano Dentre os criteacuterios para a definiccedilatildeo dos

diferentes paracircmetros urbaniacutesticos que incidem sobre o territoacuterio estatildeo proteccedilatildeo das aacutereas

ambientalmente fraacutegeis adensamento de aacutereas providas de infraestrutura limitaccedilatildeo de usos a

partir da capacidade viaacuteria controle da permeabilidade do solo preservaccedilatildeo e proteccedilatildeo de

conjuntos de valor histoacuterico cultural ou ambiental distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo de baixa renda

em aacutereas bem localizadas e servidas de infraestrutura condiccedilotildees climaacuteticas locais

As diretrizes para o parcelamento geralmente compoem junto com os paracircmetros

urbaniacutesticos a mesma lei municipal O parcelamento merece destaque pois trata dos novos

espaccedilos que seratildeo incorporados ao tecido urbano da cidade e portanto deveraacute estar

integralmente articulado com as estrateacutegias do desenvolvimento urbano Eacute regulamentado em

acircmbito geral pela Lei Federal 676679 acrescida das alteraccedilotildees posteriores definidas nas leis

978599 e 1144507 O parcelamento configura um processo de expansatildeo horizontal ou

adensamento da aacuterea urbanizada e consiste na subdivisatildeo de um determinado imoacutevel sob as

formas de desmembramento (quando haacute o aproveitamento do sistema viaacuterio existente) ou

loteamento (quando haacute abertura de novas vias e logradouros ou modificaccedilatildeo dos existentes)

Deveratildeo ser contempladas na Lei de Parcelamento as aacutereas que natildeo admitiratildeo parcelamento

os paracircmetros de dimensionamento de lotes quadras e sistema viaacuterio as aacutereas de uso puacuteblico

as faixas de proteccedilatildeo a infraestrutura baacutesica os procedimentos administrativos para

aprovaccedilatildeo do projeto as contrapartidas do empreendedor as penalidades sobre infraccedilotildees

assim como os procedimentos para regularizaccedilatildeo das aacutereas em desconformidade com a Lei

Paracircmetros de conforto ambiental tais como ventos favoraacuteveis orientaccedilatildeo solar vegetaccedilatildeo

18

sistema de abastecimento de aacutegua sistema de esgotamento sanitaacuterio e sistema de drenagem

devem ser definidos em lei e cobrados nos projetos de parcelamento a fim de minimizar os

impactos ao meio ambiente

Vale destacar que o sucesso na elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo das Leis de Parcelamento

Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo depende primeiramente do comprometimento da gestatildeo municipal

com a democratizaccedilatildeo da cidade e com o bem-estar coletivo caso contraacuterio tal legislaccedilatildeo

poderaacute aprofundar a segregaccedilatildeo privilegiando a iniciativa privada a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria

e os interesses individuais

O zoneamento ambiental terceiro instrumento de planejamento municipal

apontado na lista do Art 4ordm do Estatuto da Cidade eacute tambeacutem um instrumento da Poliacutetica

Nacional do Meio Ambiente regida pela Lei 693881 Art 9ordm O zoneamento ambiental pode

ser considerado uma expressatildeo sinocircnima do Zoneamento Ecoloacutegico-Econocircmico ndash ZEE que

foi regulamentado pelo Decreto 429702

CAPITULO I - DOS OBJETIVOS E PRINCIacutePIOS ndash [] Art 2ordm O ZEE

instrumento de organizaccedilatildeo do territoacuterio a ser obrigatoriamente seguido na

implantaccedilatildeo de planos obras e atividades puacuteblicas e privadas estabelece medidas e

padrotildees de proteccedilatildeo ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental dos

recursos hiacutedricos e do solo e a conservaccedilatildeo da biodiversidade garantindo o

desenvolvimento sustentaacutevel e a melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo

Art 3ordm O ZEE tem por objetivo geral organizar de forma vinculada as decisotildees dos

agentes puacuteblicos e privados quanto a planos programas projetos e atividades que

direta ou indiretamente utilizem recursos naturais assegurando a plena manutenccedilatildeo

do capital e dos serviccedilos ambientais dos ecossistemas Paraacutegrafo uacutenico O ZEE na

distribuiccedilatildeo espacial das atividades econocircmicas levaraacute em conta a importacircncia

ecoloacutegica as limitaccedilotildees e as fragilidades dos ecossistemas estabelecendo vedaccedilotildees

restriccedilotildees e alternativas de exploraccedilatildeo do territoacuterio e determinando quando for o

caso inclusive a relocalizaccedilatildeo de atividades incompatiacuteveis com suas diretrizes

gerais (BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002)

O zoneamento ambiental ou ZEE eacute o instrumento que possibilita traccedilar um

panorama sobre a utilizaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais de um determinado

municiacutepio gerando as bases para um planejamento urbano comprometido com a

sustentabilidade ecoloacutegica econocircmica e social Tambeacutem eacute um instrumento de caraacuteter

democraacutetico-participativo e deve portanto ser acompanhado pela Administraccedilatildeo Puacuteblica em

seus diferentes niacuteveis e pela sociedade civil Tal instrumento assim como o zoneamento

urbano divide o territoacuterio em diferentes categorias As categorias do zoneamento ambiental

satildeo definidas a partir dos princiacutepios da utilidade e da simplicidade de forma a configurar

limites claros e compreensiacuteveis ao poder puacuteblico e aos cidadatildeos As diretrizes gerais e

especiacuteficas do zoneamento deveratildeo conter a capacidade de suporte ambiental de determinada

aacuterea a necessidade de proteccedilatildeo dos recursos renovaacuteveis e natildeo-renovaacuteveis a definiccedilatildeo de aacutereas

19

para unidades de conservaccedilatildeo integral a permissatildeo para exploraccedilatildeo de recursos naturais as

medidas para o desenvolvimento sustentaacutevel do setor rural medidas de ajustamento entre usos

conflitantes aleacutem de planos programas e fonte de recursos para viabilizar as atividades

apontadas para cada zona

Apesar de ser um importante instrumento de suporte agrave proteccedilatildeo do meio ambiente

o zoneamento ambiental ou ZEE ainda tem sido pouco utilizado pelos municiacutepios brasileiros

Contudo os dados da Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais (MUNIC 2013)

demonstraram que tem havido um crescimento do percentual de municiacutepios com legislaccedilatildeo

especiacutefica sobre a questatildeo ambiental o que traz um pouco de esperanccedila quanto agrave mudanccedila

dos paradigmas de proteccedilatildeo do meio ambiente A MUNIC 2013 apontou que em 2012

554 dos municiacutepios tinham legislaccedilatildeo ambiental jaacute em 2013 esse percentual subiu para

655

Por uacuteltimo os demais instrumentos de planejamento municipal apontados no Art

4ordm do Estatuto da Cidade - plano plurianual diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual

gestatildeo orccedilamentaacuteria participativa planos programas e projetos setoriais planos de

desenvolvimento econocircmico e social ndash tratariam de garantir a gestatildeo democraacutetica da cidade a

partir da realizaccedilatildeo de debates audiecircncias e consultas puacuteblicas como condiccedilatildeo para a

aprovaccedilatildeo das Leis Municipais Tais instrumentos apesar de natildeo-urbaniacutesticos tecircm uma

importacircncia decisiva na reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais Contudo embora tenham se

efetivado na maioria dos municiacutepios brasileiros ainda permanecem em sua maioria

mergulhados na velha poliacutetica clientelista que transforma os foacuteruns de participaccedilatildeo em

espaccedilos esvaziados pouco divulgados redutos de manobras poliacuteticas e trocas de favores

Infelizmente a garantia da gestatildeo democraacutetica natildeo seraacute alcanccedilada apenas por atos normativos

assim como as diretrizes estabelecidas para o desenvolvimento urbano sustentaacutevel tambeacutem

natildeo ser tornaratildeo realidade apenas por forccedila de Lei Eacute necessaacuterio mudar o caraacuteter da gestatildeo do

territoacuterio que atualmente se caracteriza pela anulaccedilatildeo da atuaccedilatildeo teacutecnica das diferentes aacutereas

do conhecimento a fim de garantir que o interesse privado prevaleccedila sobre os diretos coletivos

de toda uma cidade Eacute necessaacuterio colocar em praacutetica os preceitos das leis brasileiras efetivar

os instrumentos com real participaccedilatildeo popular lanccedilar as bases para um modelo de gestatildeo

realmente democraacutetico inclusivo e comprometido com o bem estar coletivo e com a justiccedila

social

20

4 OS DESAFIOS DA REGULACcedilAtildeO URBANA FRENTE AgraveS INTERVENCcedilOtildeES NAS

EDIFICACcedilOtildeES E NOS CONJUNTOS URBANOS TOMBADOS

A proteccedilatildeo e a preservaccedilatildeo dos siacutetios urbanos de valor histoacuterico arquitetocircnico

cultural ou paisagiacutestico satildeo imprescindiacuteveis para a manutenccedilatildeo da identidade e da memoacuteria

dos diferentes grupos sociais que por ali passaram ou nele se estabeleceram O registro da

histoacuteria deve ser deixado agraves geraccedilotildees futuras como siacutembolo do conhecimento e da experiecircncia

adquirida ao longo do tempo A proteccedilatildeo de um determinado siacutetio pode inclusive ser

utilizada quando a memoacuteria coletiva e a afetividade de uma comunidade para com um

determinado espaccedilo adquirir grande relevacircncia cultural gerando uma ambiecircncia a ser

protegida mesmo que esta tenha se consolidado em um periacuteodo recente

Atualmente a preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos e a conservaccedilatildeo dos imoacuteveis

urbanos tecircm no desenvolvimento urbano sustentaacutevel um importante aliado A disseminaccedilatildeo

da loacutegica do consumo que atinge tanto os bens materiais moacuteveis quanto os imoacuteveis resulta

numa produccedilatildeo exagerada desses bens o que demanda enorme quantidade de mateacuteria-prima e

energia e causa impacto no meio ambiente Sendo assim as poliacuteticas de preservaccedilatildeo e o

incentivo ao reuso de edifiacutecios e objetos contribuem para a sustentabilidade e o equiliacutebrio

ambiental

Hoje existem no Brasil doze siacutetios urbanos e sete siacutetios naturais que satildeo

considerados Patrimocircnio Cultural da Humanidade e portanto tombados internacionalmente

pela UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

Dentre os conjuntos tombados internacionalmente destaca-se a predominacircncia dos centros

histoacutericos de caracteriacutesticas coloniais tais como o Centro Histoacuterico de Ouro Preto MG

Olinda PE Salvador BA Satildeo Luiz do Maranhatildeo MA Diamantina MG e Goiaacutes GO Natildeo

menos importante o tombamento nacional realizado pelo IPHAN ndash Instituto do Patrimocircnio

Histoacuterico e Artiacutestico Nacional preserva 77 conjuntos urbanos espalhados por todas as regiotildees

do Brasil com destaque para a regiatildeo nordeste que conta com 30 desses centros tombados

Somam-se a esse contingente os conjuntos tombados estadualmente e municipalmente que

natildeo seratildeo aqui enumerados

A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio estaacute presente no ordenamento

juriacutedico brasileiro desde 1937 quando por meio do Decreto-Lei nordm25 criou-se o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash SPHAN (atual IPHAN) para proteger as cidades

e os monumentos da modernizaccedilatildeo das reformas urbanas e do interesse imobiliaacuterio

21

Reafirmada pelo Art 216 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e pelo Art 2ordm inciso XII do

Estatuto da Cidade a proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e

construiacutedo do patrimocircnio cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico tornou-se

diretriz obrigatoacuteria a ser contemplada pelos planos urbanos e legislaccedilotildees municipais

Contudo a preservaccedilatildeo dos conjuntos urbanos tombados natildeo pressupotildee o

congelamento das cidades Os paracircmetros para as intervenccedilotildees contemporacircneas deveratildeo ser

definidos em leis especiacuteficas de modo a evitar que o novo se sobreponha ou se confunda com

o existente A preservaccedilatildeo do conjunto tombado soacute seraacute possiacutevel se for permitido agrave cidade

expandir-se adensar-se e modificar-se Caso contraacuterio centro e cidade se tornaratildeo obsoletos

Percebe-se portanto que a regulaccedilatildeo urbana nas cidades histoacutericas enfrenta um

grande desafio preservar o antigo e abrir-se ao novo Sendo assim como proceder e quais

instrumentos utilizar Como a legislaccedilatildeo municipal deveraacute ser elaborada e aplicada a fim de

contemplar a preservaccedilatildeo do conjunto tombado e a expansatildeo da cidade seguindo os preceitos

da sustentabilidade

A preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos associada agrave expansatildeo sustentaacutevel das cidades eacute

um tema que vem sendo amplamente discutido inclusive em acircmbito internacional Nos paiacuteses

do norte e principalmente no continente europeu os siacutetios urbanos que demandam poliacuteticas

de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo remontam de seacuteculos e ateacute mesmo de milecircnios passados Embora

uma grande parte do patrimocircnio mundial tenha se perdido com a destruiccedilatildeo resultante das

guerras das cataacutestrofes e da imposiccedilatildeo de novas culturas como aconteceu principalmente nos

paiacuteses do sul que tiveram a cultura originaacuteria destruiacuteda pela colonizaccedilatildeo ainda haacute muito

patrimocircnio a ser preservado E natildeo eacute de hoje que os teacutecnicos e profissionais de diversas aacutereas

do conhecimento tecircm desenvolvido teorias e instrumentos para assegurar a salvaguarda de

todo esse patrimocircnio

Desde entatildeo leis documentos planos guias e coacutedigos vecircm sendo desenvolvidos

com o objetivo de orientar e direcionar as accedilotildees e intervenccedilotildees sobre o patrimocircnio cultural das

cidades com vistas ao desenvolvimento sustentaacutevel

Um importante documento desenvolvido em 2008 pelo Governo da Escoacutecia o

ldquoSustainable Development Guidance for Estate Managementrdquo buscou sistematizar a partir

dos preceitos da sustentabilidade estrateacutegias e orientaccedilotildees para a realizaccedilatildeo de intervenccedilotildees

principalmente para as novas construccedilotildees Tal preocupaccedilatildeo se intensificou apoacutes a discussatildeo

sobre as mudanccedilas climaacuteticas e os efeitos futuros ldquoThe Stern Review on the Economics of

Climate Changerdquo realizada pelo Governo do Reino Unido O documento ldquoSustainable

22

Development Guidance for Estate Managementrdquo se assemelha a um guia para o

desenvolvimento sustentaacutevel que aborda as estrateacutegias de accedilatildeo e recomendaccedilotildees para fazer da

Escoacutecia um paiacutes mais ecoloacutegico

Segundo esse Guia que trata da proteccedilatildeo do ambiente natural e da manutenccedilatildeo do

ambiente construiacutedo a sustentabilidade deveraacute ser uma prerrogativa tanto nas novas

construccedilotildees como na manutenccedilatildeo das edificaccedilotildees existentes nas conversotildees de uso nas

ampliaccedilotildees no retrofit4 e nas demoliccedilotildees No item 36 ldquoEmbedding sustainability within the

estate strategy processrdquo satildeo apontados os itens a serem observados na elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias e projetos para o desenvolvimento manutenccedilatildeo ou restauraccedilatildeo de edificaccedilotildees Satildeo

eles biodiversidade layout flexiacutevel nas construccedilotildees materiais construtivos e a possibilidade

de recuperaccedilatildeo reciclagem e reuso gestatildeo da aacutegua diminuiccedilatildeo da poluiccedilatildeo energia

certificada minimizaccedilatildeo do consumo de energia atraveacutes do isolamento e da ventilaccedilatildeo

natural utilizaccedilatildeo de energias renovaacuteveis como energia solar diminuiccedilatildeo do desperdiacutecio e

aumento da reciclagem dentre outros itens A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio

conforme jaacute foi discutido no iniacutecio deste capiacutetulo tambeacutem estaacute presente no Guia conforme

aponta o item 43 ldquoHistoric Buildingsrdquo Neste item direciona-se a atenccedilatildeo para as amplas

possibilidades de reuso e reabilitaccedilatildeo dessas edificaccedilotildees Tal situaccedilatildeo deve partir da

intervenccedilatildeo miacutenima e deve garantir que as caracteriacutesticas histoacutericas ou culturais dos edifiacutecios

sejam devidamente respeitadas e mantidas O Guia trata tambeacutem do procedimento para

reparos que na medida do possiacutevel deve ser feito atraveacutes das teacutecnicas tradicionais e dos

materiais originais ou compatiacuteveis sempre com apoio de profissional especializado Eacute

enfatizada tambeacutem a obrigatoriedade em solicitar das autoridades competentes autorizaccedilatildeo

para as intervenccedilotildees Por uacuteltimo apoacutes feitas todas as consideraccedilotildees sobre os aspectos

positivos da reutilizaccedilatildeo de um determinado edifiacutecio no caso de se decidir pela demoliccedilatildeo do

mesmo o Guia aponta os cuidados a serem obsevados na disposiccedilatildeo final dos resiacuteduos no

aterro sanitaacuterio alertando para a importacircncia em separar os resiacuteduos toacutexicos Os materiais

resultantes da demoliccedilatildeo como accedilo fundaccedilotildees de concreto ceracircmica madeira de assoalho

instalaccedilotildees internas placas de gesso carpete e janelas satildeo frequentemente passiacuteveis de

4 ldquoTermo utilizado principalmente em engenharia para designar o processo de modernizaccedilatildeo de algum

equipamento jaacute considerado ultrapassado ou fora de normardquo Disponiacutevel em

lthttpwwweletrobrascomrelatorio_sustentabilidade_2013anexosglossariogt Acesso em 06 de jun 2015

23

reciclagem revenda ou reutilizaccedilatildeo e natildeo devem ser descartados resultando na diminuiccedilatildeo do

desperdiacutecio e na reduccedilatildeo da exploraccedilatildeo dos recursos naturais

Outro importante documento a ser citado aqui como relevante para a proteccedilatildeo do

patrimocircnio histoacuterico e para o desenvolvimento sustentaacutevel o ldquoCalifornia Code of

Regulations Title 24rdquotambeacutem chamado de ldquoCalifornia Building Standards Coderdquo foi

finalizado em 1998 e aprovado pela ldquoCalifornia Building Standards Commissionrdquo em 2007

Tal documento trata dos paracircmetros gerais para a construccedilatildeo de edificaccedilotildees no Estado da

Califoacuternia Este Coacutedigo eacute dividido em 12 partes e traz na parte 8 de tiacutetulo ldquoCalifornia

Historical Building Code (CHBC)rdquo as exigecircncias a serem cumpridas para a permissatildeo de

reparos alteraccedilotildees e adiccedilotildees necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo relocaccedilatildeo mudanccedila de

uso ou continuaccedilatildeo de uso em edificaccedilotildees de reconhecido valor cultural ou histoacuterico5 Com o

objetivo de proteger a sauacutede e a seguranccedila das pessoas o California Historical Building Code

(CHBC) busca orientar as accedilotildees para a recuperaccedilatildeo das edificaccedilotildees histoacutericas garantindo a

preservaccedilatildeo da integridade e das caracteriacutesticas de tais edificaccedilotildees Ao todo satildeo 10 capiacutetulos

que abordam em resumo os seguintes temas capiacutetulo 01 ldquoAdministrationrdquo trata dos casos

sujeitos agrave aplicaccedilatildeo do coacutedigo cap02 ldquoDefinitionsrdquo trata das definiccedilotildees dos termos frases e

palavras necessaacuterios agrave compreensatildeo dos demais capiacutetulos cap03 ldquoUse and Occupancyrdquo trata

das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo dos edifiacutecios tais como altura maacutexima e nuacutemero de

pavimentos dimensatildeo miacutenima dos cocircmodos diretrizes de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo cap04

ldquoFire Protectionrdquo trata da proteccedilatildeo contra incecircndio e indica as diretrizes em relaccedilatildeo aos

materiais shafts telhado sistemas de alarme sistemas automaacuteticos de proteccedilatildeo como

sprinklers dentre outras tecnologias cap05 ldquoMeans of Egressrdquo trata das meios de saiacuteda das

edificaccedilotildees abordando entre outros elementos as escadas portas janelas grades e guarda-

corpos cap06 ldquoAccessibilityrdquo trata da acessibilidade aos portadores de necessidades especiais

a partir da utilizaccedilatildeo das dimensotildees miacutenimas e demais diretrizes estabelecidas para as

entradas portas banheiros rampas elevadores dentre outros cap07 ldquoStructural

5 Conforme o California Building Standards Code Parte 08 paacutegina 04 as edificaccedilotildees de reconhecido valor

cultural ou histoacuterico para as quais se utilizaraacute o CHBC satildeo ldquoFor the purposes of this part a qualified historical

building or structure is any structure or collection of structures and their associated sites deemed of importance

to the history architecture or culture of an area by an appropriate local or state governmental jurisdiction This

shall include structures on existing or future national state or local historical registers or official inventories

such as the National Register of Historic Places State Historical Landmarks State Points of Historical Interest

and city or county registers or inventories of historical or architecturally significant sites places historic districts

or landmarksrdquo (CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS 2007 p 4)

24

Regulationsrdquo trata da regulaccedilatildeo sobre os sistemas estruturais a partir da identificaccedilatildeo da

situaccedilatildeo da estrutura por profissional especializado identificaccedilatildeo dos acreacutescimos posteriores agrave

construccedilatildeo do edifiacutecio das cargas incidentes da performance dos parapeitos e da situaccedilatildeo dos

revestimentos externos e decorativos cap8 ldquoArchaic Materials and Methods of Constructionrdquo

trata dos meacutetodos e materiais construtivos tradicionais das edificaccedilotildees histoacutericas e das

diretrizes para a recuperaccedilatildeo de alvenarias adobe madeira concreto accedilo ferro vidros e

vidraccedilas cap09 ldquoMechanical Plumbing and Electrical Requirementsrdquo trata das exigecircncias

em relaccedilatildeo agraves instalaccedilotildees eleacutetricas aos encanamentos e sistemas mecacircnicos Por uacuteltimo o

cap10 ldquoQualified Historical Districts Sites and Open Spacesrdquo trata das orientaccedilotildees para a

preservaccedilatildeo dos espaccedilos abertos e siacutetios histoacutericos a partir da manutenccedilatildeo da configuraccedilatildeo

espacial existente e dos elementos constitutivos da paisagem

No Brasil o instrumento que mais se assemelha aos exemplos citados acima eacute o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees Utilizado para regulamentar os criteacuterios e procedimentos a

serem utilizados na elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de projetos de edificaccedilotildees e controlar as atividades

de construccedilatildeo6 o Coacutedigo de Obras eacute instituiacutedo por lei municipal como instrumento

complementar a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo citada anteriormente no Capiacutetulo 02 O

atendimento agraves condiccedilotildees estabelecidas nesses dois instrumentos da regulaccedilatildeo urbana ndash e o

atendimento a outras legislaccedilotildees quando for o caso - eacute requisito para a obtenccedilatildeo da licenccedila

urbaniacutestica Somente por meio da licenccedila municipal que afirma a compatibilizaccedilatildeo dos

interesses individuais e coletivos com o desenvolvimento urbano o proprietaacuterio poderaacute

exercer o seu direito sobre a propriedade sendo-lhe permitido executar as intervenccedilotildees

devidamente aprovadas Tambeacutem devem ser previstas em lei assim como os procedimentos

para o licenciamento as bases para a efetivaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo municipal como a

determinaccedilatildeo das infraccedilotildees e a previsatildeo de sanccedilotildees e multas aplicaacuteveis a cada caso

Subordinado agraves estrateacutegias de desenvolvimento estabelecidas no Plano Diretor o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees assim como a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo deve ser

elaborado a partir da preocupaccedilatildeo em se estabelecer uma boa interaccedilatildeo entre as novas

edificaccedilotildees e o conjunto urbano construiacutedo Para essa interaccedilatildeo as construccedilotildees devem atender

agraves premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica natildeo de forma isolada mas de

6 ldquoPara fins de direito entende-se por construccedilatildeo toda realizaccedilatildeo material e intencional de algueacutem visando a

adaptar o imoacutevel agraves suas conveniecircncias Nesse sentido tanto eacute construccedilatildeo a edificaccedilatildeo ou reforma como a

demoliccedilatildeo o muramento a escavaccedilatildeo o aterro a pintura e demais trabalhos destinados a beneficiar tapar

desobstruir conservar ou embelezar o preacutediordquo (BARANDIER ALMEIDA MORAIS 2013 p 147)

25

forma a interferir positivamente sobre o clima urbano e sobre a qualidade ambiental Assim

para aleacutem das diretrizes relativas ao uso agrave seguranccedila agrave salubridade agrave acessibilidade e agrave

preservaccedilatildeo dos elementos histoacutericos artiacutesticos e culturais tambeacutem devem ser elaborados

estudos climaacuteticos que aplicados ao desenho urbano possibilitem a formulaccedilatildeo de diretrizes

em prol da adaptaccedilatildeo das edificaccedilotildees agraves caracteriacutesticas climaacuteticas locais ao conforto teacutermico

luminoso e acuacutestico aleacutem da formulaccedilatildeo de diretrizes para a utilizaccedilatildeo de fontes de energia

alternativas e combate ao desperdiacutecio

Voltando aos dados obtidos pela Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros

realizada pelo IBGE em 2013 conforme pode ser visto no graacutefico abaixo do total de

municiacutepios brasileiros 624 declararam ter Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees enquanto 542

declararam ter Lei de Zoneamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo Esses dados demonstram que os

instrumentos legais embora apresentem um grande potencial de transformaccedilatildeo da realidade

urbana ainda satildeo pouco aplicados

Graacutefico do Percentual de municiacutepios segundo o tipo de instrumento de planejamento

existente - MUNIC -2013

Fonte Pesquisa ldquoPERFIL DOS MUNICIacutePIOS BRASILEIROS 2013rdquo (IBGE 2014)

Dentre os Coacutedigos de Obras existentes muitos estatildeo desatualizados defasados e

por isso natildeo configuram um mecanismo relevante quanto agrave alteraccedilatildeo do cenaacuterio das cidades

brasileiras Aleacutem disso a falha na articulaccedilatildeo dos diversos dispositivos de orientaccedilatildeo controle

e fiscalizaccedilatildeo das construccedilotildees resulta na aplicaccedilatildeo desequilibrada da lei consolidando

poliacuteticas de favorecimento exclusatildeo e segregaccedilatildeo aleacutem de ampliar a cada dia a destruiccedilatildeo e

os prejuiacutezos ambientais

26

Apesar de termos avanccedilado na construccedilatildeo conceitual dos instrumentos capazes de

nos levar ao sonhado desenvolvimento sustentaacutevel estamos ainda muito aqueacutem de efetivaacute-los

na praacutetica e no dia-a-dia dos municiacutepios A gestatildeo urbana da qual o planejamento eacute

interdependente configura a um dos principais obstaacuteculos agrave superaccedilatildeo da loacutegica atual de

valorizaccedilatildeo dos interesses individuais sobre os coletivos A falta interesse em destinar

recursos para a soluccedilatildeo de parte dos problemas soacutecio-espaciais tambeacutem eacute um grande

obstaacuteculo A melhoria da infraestrutura urbana os projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria a

construccedilatildeo de moradias populares sustentaacuteveis e a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados jaacute

configurariam um passo adiante na concretizaccedilatildeo da sustentabilidade no ambiente urbano

Sendo assim conhecidos os obstaacuteculos ou pelo menos parte deles eacute fundamental lanccedilarmos

as bases para a sua superaccedilatildeo fortalecendo os ideais de transformaccedilatildeo das cidades

27

5 O MUNICIacutePIO DE OURO PRETO UM ESTUDO DE CASO

51 Da colonizaccedilatildeo ao Seacuteculo XX

Localizado na Regiatildeo Central de Minas Gerais (ou Macrorregiatildeo Metaluacutergica) o

municiacutepio de Ouro Preto eacute possui uma aacuterea aproximada de 1245kmsup2 e sua populaccedilatildeo totaliza

cerca de 70281 habitantes7 Posicionado na porccedilatildeo centro-sul do Estado Ouro Preto tem

como principais confrontantes os municiacutepios de Mariana Itabirito Ouro Branco Congonhas

e Santa Baacuterbara Aleacutem do distrito-sede o territoacuterio eacute dividido em mais 12 distritos

Amarantina Antocircnio Pereira Cachoeira do Campo Engenheiro Correia Glaura Lavras

Novas Miguel Burnier Santa Rita Santo Antocircnio do Leite Santo Antocircnio do Salto Satildeo

Bartolomeu e Rodrigo Silva

Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ouro Preto no estado de

Minas Gerais

Fonte SMCP - PMOP

7 IBGE Diretoria de Pesquisas Coordenaccedilatildeo de Populaccedilatildeo e Indicadores Sociais ndash ldquoEstimativas da populaccedilatildeo

residente com data de referecircncia 1o de julho de 2014 publicada no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo em 28082014rdquo

Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314610ampsearch=||infogrE1ficosinformaE7F5e

s-completasgt Acesso em 06 jun 2015

28

Ouro Preto e municiacutepios limiacutetrofes

Fonte SMCP - PMOP

Mapa dos Distritos de Ouro Preto

Fonte SMCP - PMOP

Desencadeados pela exploraccedilatildeo auriacutefera do seacuteculo XVII - iniciada na regiatildeo de

Minas Gerais provavelmente em 1698 - os arraiais e agrupamentos humanos se consolidaram

na regiatildeo montanhosa e acidentada do municiacutepio de Ouro Preto primeiramente nas encostas

iacutengremes e arredores das minas e posteriormente nas margens dos rios e nos fundos de vale O

povoamento foi se intensificando em torno dos principais eixos de ligaccedilatildeo entre os nuacutecleos

29

urbanos vizinhos resultando num desenho urbano linear e longitudinal diferente do modelo

reticulado de ordenaccedilatildeo do territoacuterio que foi caracteriacutestico do Brasil Colocircnia

Agrave primeira configuraccedilatildeo urbana consolidada em 1711 deu-se o nome de Vila

Rica de Albuquerque que posteriormente em 1720 foi elevada agrave capital da Capitania das

Minas Gerais Ao longo do seacuteculo XVIII foram efetivadas as intervenccedilotildees urbanas mais

significativas e foram construiacutedas as principais referecircncias arquitetocircnicas de Ouro Preto As

principais pontes os chafarizes o Centro Administrativo (atual Praccedila Tiradentes) o Palaacutecio

dos Governadores a Casa de Cacircmara e Cadeia assim como as inuacutemeras capelas e igrejas de

estilo barroco das diversas ordens e irmandades religiosas consolidaram o cenaacuterio

setecentista que configura o atual centro histoacuterico da cidade O final do seacuteculo XVIII foi

marcado pelo esgotamento das minas de ouro o que desencadeou um esvaziamento

populacional da Vila pela crise de abastecimento e decadecircncia econocircmica

O seacuteculo XIX contudo trouxe as mudanccedilas advindas da era do Impeacuterio e em

1823 Vila Rica de Albuquerque foi elevada agrave cidade sob o tiacutetulo de Imperial Cidade de Ouro

Preto A partir daiacute a cidade passou por diversas modernizaccedilotildees a fim de se consolidar

enquanto capital da proviacutencia de Minas Gerais A criaccedilatildeo da Escola de Farmaacutecia do Liceu de

Artes e Ofiacutecios da Escola de Minas a construccedilatildeo da Estaccedilatildeo Ferroviaacuteria e a implantaccedilatildeo da

Companhia Industrial Ouro-Pretana satildeo exemplos importantes da expansatildeo e do

desenvolvimento da cidade durante o seacuteculo XIX Ao final deste seacuteculo jaacute sob a eacutegide do

periacuteodo republicano a cidade de Ouro Preto perde o status de capital da proviacutencia que em

1897 passou para Belo Horizonte Tal fato ocasionou pela segunda vez um processo de

esvaziamento e crise econocircmica na cidade Assim distante dos ideais de modernizaccedilatildeo e

desenvolvimento que cercavam a nova capital a ausecircncia de poliacuteticas de renovaccedilatildeo foi o que

garantiu a preservaccedilatildeo das feiccedilotildees urbanas da antiga Vila Rica A partir de entatildeo diversos

intelectuais da eacutepoca viajaram ateacute Ouro Preto e verificando o mal estado de conservaccedilatildeo e o

abandono da cidade comeccedilaram a produzir uma nova consciecircncia em relaccedilatildeo agrave necessidade

de se preservar os registros do passado

30

Mapa da evoluccedilatildeo urbana de Ouro Preto ndash do seacuteculo XVII ao seacuteculo XX

Fonte IGA ndash Instituto de Geociecircncias Aplicadas - 2003

Igreja de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo ndash registros do

periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

Ponte vizinha agrave Casa dos Contos - registros do periacuteodo

entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

31

Igreja N S do Pilar ndash registros do periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015apresentacao

A tradiccedilatildeo quanto agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico somente se consolidou

no Brasil a partir do seacuteculo XX Em 1931 surgiu o primeiro decreto municipal8 voltado para a

preservaccedilatildeo do cenaacuterio arquitetocircnico da cidade de Ouro preto proibindo as construccedilotildees em

desacordo com o estilo colonial predominante Em 1933 por meio do decreto nacional

22928 Ouro Preto foi erigida a Monumento Nacional Em 1938 o conjunto histoacuterico da

cidade foi tombado pelo SPHAN - Serviccedilo do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional que

havia sido criado no ano anterior Os anos seguintes foram marcados por inuacutemeras obras de

restauraccedilatildeo e tombamentos individuais

8 Decreto 13 de 19 de setembro de 1931 ldquoConsiderando que a cidade de Ouro Preto escriacutenio das tradiccedilotildees

mineiras deve conservar o seu aspecto colonial transmitido dos nossos antepassados Considerando que esta

feiccedilatildeo colonial de seus edifiacutecios de seus preacutedios das ruas e praccedilas desperta grande interesse por parte dos

turistas que frequumlentemente vecircm visitar a cidade e suas cercanias Considerando que ferem dolorosamente a

sensibilidade dos turistas os preacutedios que destoam do tipo colonial DECRETA Art 1deg - Natildeo eacute permitida no

periacutemetro urbano a construccedilatildeo de preacutedios e de edifiacutecios em desacordo com o estilo colonial da cidade Art 2deg -

Os atuais preacutedios existentes no periacutemetro urbano em desacordo com o artigo antecedente deveratildeo ser

modificados nas respectivas fachadas quando estas tenham que receber reparos []rdquo (OLIVEIRA 1997 p 7)

32

A sistematizaccedilatildeo de normas aplicaacuteveis agraves novas construccedilotildees foi realizada pelo

SPHAN (que em 1970 passou a ser chamado IPHAN9) para regular o crescimento da cidade e

o intenso surgimento de novas moradias que caracterizaram as deacutecadas de 1950 e 1960 Tal

crescimento se deu principalmente pela chegada de induacutestrias metaluacutergicas para a exploraccedilatildeo

da bauxita e produccedilatildeo de alumiacutenio primaacuterio Assim o ldquoestilo patrimocircniordquo surgiu das

exigecircncias normativas quanto agrave utilizaccedilatildeo dos elementos arquitetocircnicos tradicionais do

periacuteodo colonial

Um primeiro plano urbano foi elaborado pelo arquiteto portuguecircs Viana de Lima

entre os anos 1968 e 1970 com o objetivo de ldquopreservarrdquo o nuacutecleo histoacuterico da cidade e

consolidar o estilo patrimocircnio atraveacutes da eliminaccedilatildeo dos ecletismos da demoliccedilatildeo de obras

desprovidas de qualidade esteacutetica e do preenchimento dos vazios urbanos Nos anos seguintes

a discussatildeo sobre a salvaguarda do patrimocircnio se intensificou e deu origem a diversos outros

planos10

e programas de preservaccedilatildeo que obtiveram pouco sucesso na aplicaccedilatildeo praacutetica Em

21 de setembro de 1980 Ouro Preto recebeu da UNESCO o tiacutetulo de Patrimocircnio Cultural da

Humanidade e passou a ter visibilidade internacional

Ao final do seacuteculo XX a preocupaccedilatildeo com o desenvolvimento urbano da cidade e

com a proteccedilatildeo patrimonial gerou novas demandas em relaccedilatildeo agrave regulaccedilatildeo urbana e coube ao

IPHAN o papel de legislar sobre as intervenccedilotildees no centro histoacuterico As accedilotildees da

Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) do Instituto Estadual do Patrimocircnio Histoacuterico e

Artiacutestico (IEPHA) e do Instituto Estadual de Florestas (IEF) em pareceria com o governo

municipal e com o IPHAN foram decisivas na preservaccedilatildeo do patrimocircnio neste periacuteodo Em

1990 foram publicadas por meio da Lei 571990 as diretrizes para do Plano Diretor do

Municiacutepio sob as delineaccedilotildees inauguradas pela Constituiccedilatildeo Federal Tais diretrizes eram

bastante simplificadas e restritas aos zoneamentos e a questatildeo da preservaccedilatildeo do patrimocircnio

9 Em 1937 por meio da Lei nordm 378 foi fundado o SPHAN como oacutergatildeo oficial de preservaccedilatildeo do patrimocircnio

cultural brasileiro No mesmo ano foi promulgado o Decreto-Lei nordm 25 que regulamentou as atividades do

SPHAN Em 1946 o SPHAN teve o seu nome alterado para Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (DPHAN) Em 1970 o DPHAN eacute transformado em Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (IPHAN)

10 ldquoEm Minas Gerais a Fundaccedilatildeo Joatildeo Pinheiro (FJP) realizou um extenso diagnoacutestico e elaborou planos

diretores para diversas cidades coloniais mineiras bem como o Plano de Conservaccedilatildeo Valorizaccedilatildeo e

Desenvolvimento de Ouro Preto e Mariana em 1975 Esse Plano trata sobre a preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

patrimocircnio vinculado com as necessidades de desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio Por isso

abordou desde questotildees histoacutericas e culturais ateacute a anaacutelise de aspectos fiacutesico- territoriais tais como siacutetio natural

estudo das estruturas urbanas paisagismo e legislaccedilatildeo urbanardquo (SILVA OLIVEIRA 2005 p 180)

33

foi pouco abordada Jaacute em 1996 uma nova versatildeo do plano foi elaborada e diferentemente do

texto anterior o novo plano contemplou a preocupaccedilatildeo com o patrimocircnio e a preservaccedilatildeo

como instrumentos interligados agrave poliacutetica urbana

Art 1ordm - Em conformidade com a Constituiccedilatildeo Federal e com a Lei Orgacircnica

Municipal fica instituiacutedo o Plano Diretor de Ouro Preto (PDOP) fixando diretrizes

e instrumentos para o pleno desenvolvimento do Municiacutepio em consonacircncia com as

funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade [] Art 2ordm - O conjunto artiacutestico

arquitetocircnico urbaniacutestico paisagiacutestico e ambiental de relevante valor cultural

sediado no Municiacutepio objeto de tombamento federal e de reconhecimento

internacional pela UNESCO como Patrimocircnio Cultural da Humanidade eacute

considerado bem inalienaacutevel de sua populaccedilatildeo cabendo a ela exercer de forma

concorrente com as Administraccedilotildees Puacuteblicas a sua guarda proteccedilatildeo e gestatildeo

Paraacutegrafo uacutenico ndash A preservaccedilatildeo e a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural e ambiental

do Municiacutepio eacute fator determinante para o desenvolvimento urbano para a geraccedilatildeo de

empregos e para melhor distribuiccedilatildeo de renda Lei Complementar 0196 Ouro Preto

(OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996)

Em 1997 foi criado ldquoPlano de Reabilitaccedilatildeo do Siacutetio Histoacuterico de Ouro Pretordquo a

partir do ldquoMonumentardquo programa federal de iniciativa do Ministeacuterio da Cultura e patrocinado

pelo BID que sob a premissa do desenvolvimento econocircmico-social sustentaacutevel buscou

revitalizar os centros histoacutericos urbanos de 26 cidades brasileiras O Plano traccedilado para Ouro

Preto natildeo foi totalmente implementado mas alavancou as poliacuteticas de preservaccedilatildeo do

municiacutepio e deixou intervenccedilotildees significativas como por exemplo a recuperaccedilatildeo do Parque

Horto dos Contos (fundo de vale do Ribeiratildeo do Funil) aacuterea verde mais significativa da regiatildeo

central

34

Mapa Cadastral de Ouro Preto ndash Periacutemetro de tombamento pelo IPHAN

Fonte Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano - PMOP

52 O contexto atual

O conceito de patrimocircnio e de preservaccedilatildeo adotado no Brasil foi se modificando

ao longo da histoacuteria como foi apontado nos iniacutecio deste capiacutetulo Assim agrave medida que o

conceito adquiria relevacircncia as poliacuteticas de preservaccedilatildeo foram sendo instauradas nas esferas

administrativas Os avanccedilos iniciados no final do seacuteculo XX se consolidaram jaacute nos primeiros

anos do seacuteculo XXI O novo seacuteculo trouxe consigo uma mudanccedila significativa em relaccedilatildeo ao

desenvolvimento dos siacutetios histoacutericos que deixaram de ser vistos como uma ldquoobra de arte

intocaacutevelrdquo e passaram a ser tratados como espaccedilos socializados repletos de interaccedilatildeo cultural

e portanto passiacuteveis de transformaccedilatildeo Aleacutem dos centros urbanos o patrimocircnio imaterial

tambeacutem recebeu especial atenccedilatildeo e apoacutes 20 anos de discussatildeo a Convenccedilatildeo para a

Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial consolidada pela UNESCO em 2003 avanccedilou

no reconhecimento e na defesa das heranccedilas culturais dos povos ao redor do mundo

As transformaccedilotildees na relaccedilatildeo da preservaccedilatildeo com o planejamento urbano se

efetivaram em 2003 a partir da criaccedilatildeo do Plano de Preservaccedilatildeo de Siacutetio Histoacuterico Urbano

(PPSH) Este plano foi um instrumento de caraacuteter normativo que incidiu sobre os siacutetios

35

urbanos tombados em niacutevel federal a fim de aliar preservaccedilatildeo e desenvolvimento e incentivar

a gestatildeo compartilhada Nesse mesmo ano foi realizado o Encontro Nacional de Cidades

Histoacutericas que tratou da gestatildeo compartilhada do patrimocircnio cultural e da efetivaccedilatildeo das

poliacuteticas de preservaccedilatildeo associadas agrave legislaccedilatildeo urbana e ambiental

As mudanccedilas do iniacutecio do seacuteculo natildeo demoraram a repercutir no Municiacutepio de

Ouro Preto A partir da portaria ndeg 122 instituiacuteda em 2004 pelo presidente do IPHAN

definiu-se as diretrizes de intervenccedilatildeo e os paracircmetros para aprovaccedilatildeo de projeto no centro

histoacuterico da cidade a fim de garantir a manutenccedilatildeo das caracteriacutesticas da unidade e da

harmonia do conjunto urbano

Mapa dos bairros do municiacutepio de Ouro Preto

Fonte Secretaria Municipal de Patrimocircnio e Desenvolvimento Urbano - PMOP

36

Mapa esquemaacutetico ndash Periacutemetro urbano periacutemetro tombado e demais delimitaccedilotildees de interesse do distrito sede

Elaboraccedilatildeo Guilherme I N Ataiacutedes Base mapa do Plano Diretor

Foto da Praccedila Tiradentes

Fonte httpmondegocombrpraca-tiradentes

37

Foto Campus UFOP

Fonte httpwwwseeufopbrp=490

Foto IFMG

Fonte httpwwwouropretoifmgedubrcomunicacaoimagens-e-videoscampus-ouro-

pretocampusimage_view_fullscreen

Em 2006 a remodelaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Patrimocircnio e

Desenvolvimento Urbano (antiga Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio) deu um novo

impulso agrave preservaccedilatildeo no acircmbito da gestatildeo municipal unindo as poliacuteticas de proteccedilatildeo agraves

poliacuteticas de planejamento urbano O Grupo de Assessoramento Teacutecnico ndash GAT e o Conselho

Municipal de Patrimocircnio foram novamente colocados em accedilatildeo Um novo Plano Diretor

promulgado ao final deste mesmo ano atraveacutes da Lei Complementar Nordm 29 agregou as

conquistas do Estatuto da Cidade aos preceitos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio e acrescentou as

diretrizes para a proteccedilatildeo ambiental Os temas funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

estruturaccedilatildeo territorial desenvolvimento econocircmico proteccedilatildeo ambiental proteccedilatildeo ao

patrimocircnio cultural poliacutetica de desenvolvimento social produccedilatildeo da cidade e mobilidade

urbana intitulam alguns dos capiacutetulos da Lei Os instrumentos da poliacutetica urbana para o

cumprimento da funccedilatildeo social da propriedade aparecem no texto logo em sequecircncia A Lei de

38

Parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo conforme previsatildeo do Art 81 do Plano Diretor foi

promulgada no mesmo dia 28 de dezembro de 2006

A partir de entatildeo o municiacutepio assume sua funccedilatildeo enquanto principal oacutergatildeo de

gestatildeo do territoacuterio tarefa que anteriormente era desempenhada pelo Governo Federal e pelo

IPHAN Ao final de 2010 por meio da Lei Complementar Nordm 91 o Plano Diretor passa por

alteraccedilotildees pontuais e em 2011 a Lei de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo eacute amplamente

revisada dando origem aos paracircmetros utilizados nos dias atuais

Dentro desse resumido panorama legislativo apresentado pode-se perceber que o

Municiacutepio de Ouro Preto acompanhou em grande parte os avanccedilos inaugurados pelo

Estatuto da Cidade e concretizou ao menos em forma de Lei a regulamentaccedilatildeo das diretrizes

e dos instrumentos capazes de fazer valer a funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

Contudo tais avanccedilos representam muito pouco frente ao gigantesco desafio

enunciado no Art 2 inciso II do mesmo Estatuto quanto agrave ldquogarantia do direito a cidades

sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao saneamento ambiental

agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para

as presentes e futuras geraccedilotildeesrdquo(Lei 10257 2001)

Aleacutem da amplitude da tarefa outros elementos dificultam ainda mais o processo

de construccedilatildeo de uma nova realidade como por exemplo a negligecircncia dos gestores puacuteblicos

para com a atualizaccedilatildeo necessaacuteria e obrigatoacuteria das Leis O Plano Diretor de Ouro Preto

indica jaacute no Capiacutetulo 1 artigo 1ordm sect3ordm o prazo maacuteximo para a revisatildeo do mesmo estabelecido

em cinco anos a partir da sua publicaccedilatildeo ou seja 2011 Sendo assim percebe-se que a Lei

de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo revisada em 2011 embora seja o principal instrumento de

controle urbaniacutestico ateacute os dias de hoje jaacute nasceu defasada pois utilizou como referecircncia a

estrateacutegia de desenvolvimento urbano definida no Plano Diretor de 2006 desconsiderando os

impactos e as mudanccedilas territoriais sociais e culturais ocorridos desde entatildeo No geral os

gestores municipais tratam apenas de alteraccedilotildees pontuais que apenas mascaram o quadro de

estagnaccedilatildeo e desatualizaccedilatildeo das leis urbaniacutesticas Tal conduta conforma um enorme obstaacuteculo

na concretizaccedilatildeo das diretrizes do Estatuto da Cidade

Nos capiacutetulos anteriores ao tratarmos do desenvolvimento sustentaacutevel dois

importantes instrumentos foram apontados como peccedilas-chave da consolidaccedilatildeo de uma nova

experiecircncia de sustentabilidade no ambiente urbano a agenda 21 e o coacutedigo de obras

O primeiro deles a agenda 21 local foi estabelecida em 15 de maio de 2007 por

meio da Lei Nordm 333

39

Art 1ordm Fica criado no acircmbito do Municiacutepio de Ouro Preto o Programa da Agenda 21

Local processo e instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento

sustentaacutevel e que tem como eixo central a sustentabilidade compatibilizando a

conservaccedilatildeo ambiental a justiccedila social e o crescimento econocircmico Art 2ordm Para

efeitos de execuccedilatildeo da Agenda 21 Local o Poder Executivo instalaraacute o Foacuterum Ouro-

pretano da Agenda 21 Local (OURO PRETO Lei nordm333 Agenda 21 Local de 11

de maio de 2007)

No texto da Lei foram previstos os capiacutetulos a serem desenvolvidos Agenda 21

Estrutural Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade A

responsabilidade recaiu sobre o Foacuterum Ouro-Pretano da Agenda 21 Local Aleacutem da Lei de

criaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel encontrar nos registros legislativos digitais da Cacircmara Municipal a

Portaria Nordm 1707 que nomeia uma Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos Naturais

e Agenda 21 Local

Outra fonte de informaccedilotildees sobre a Agenda 21 Local de Ouro Preto foi encontrada

no acervo digital da Universidade Federal de Ouro Preto sob o tiacutetulo ldquoAgenda 21 Local

consolidando as bases para o desenvolvimento sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escalardquo

(OLIVEIRA 2010) Nesse trabalho foram apontadas as iniciativas que acompanharam a

criaccedilatildeo da Agenda 21 Local dentre as quais se destacam em ordem cronoloacutegica 1ordm Encontro

de Processos de Agendas 21 Locais ndash fevereiro de 2007 Plenaacuteria na Cacircmara Municipal de

Ouro preto para apresentaccedilatildeo da Agenda 21 ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio de Capacitaccedilatildeo para

a Agenda 21 Local ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio Teacutecnico de Diagnoacutestico para referecircncia da

Agenda 21 Local ndash abril de 2007 Seminaacuterio de Implantaccedilatildeo da Agenda 21 Mineral de Ouro

Preto ndash abril de 2007 Assinatura do Termo de Cooperaccedilatildeo Muacutetua entre a Prefeitura

Municipal a Cacircmara Municipal a ONG Interforum Global e a UFOP ndash maio de 2007

Seminaacuterio Intermunicipal de Agenda 21 Local ndash maio de 2007 Seminaacuterio Geral de

Capacitaccedilatildeo da Agenda 21 Local ndash agosto de 2007

Para aleacutem dos registros oficiais e dos dados encontrados no trabalho mencionado

no paraacutegrafo anterior foram encontradas somente notiacutecias informais11

sobre a criaccedilatildeo e

lanccedilamento da Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude todas datadas de 2007

11 Destacam-se ldquoO presidente da Cacircmara vereador Mauriacutelio Zacarias (PMDB) implantou no dia 20 de abril a

Agenda 21 da Mineraccedilatildeo de Ouro Preto A Agenda 21 da Mineraccedilatildeo eacute uma das subdivisotildees da Agenda 21

Global um conjunto de accedilotildees recomendadas pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) para garantir o

desenvolvimento sustentaacutevel do planeta no seacuteculo XXIrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwcmopmggovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=70agenda-21-da-mineracao-e-

implantada-em-ouro-pretoampcatid=61reunioesgt Acesso em 06 jun 2015 ldquoJuntos pela sustentabilidade o

Foacuterum da Agenda 21 Local de Ouro Preto daacute iniacutecio ao desenvolvimento de accedilotildees especiacuteficas para a implantaccedilatildeo

do capiacutetulo Agenda 21 da Juventude na escola e na universidade O lanccedilamento da Agenda 21 da Escola

acontece no dia 21 de junho quinta-feira agraves 10h no Centro de Artes e Convenccedilotildees da UFOPrdquo ndash Notiacutecia sobre a

40

Conclui-se portanto que a iniciativa da Agenda 21 Local assim como muitas das

diretrizes definidas nas Leis do Planejamento Urbano estagnou no ano de 2007 e avanccedilou

pouco em relaccedilatildeo agraves primeiras linhas da Lei Embora se tenha a informaccedilatildeo de que os Grupos

de Trabalho continuaram a desenvolver suas atividades nos anos seguintes os registros dessas

accedilotildees praacuteticas satildeo praticamente inexistentes e tais atividades praticamente natildeo efetivaram

mudanccedilas na realidade do Municiacutepio

Quanto ao Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees outro importante instrumento da gestatildeo

municipal capaz de estabelecer as bases para um ambiente urbano sustentaacutevel este nunca foi

regulamentado pelo Municiacutepio Embora citado inuacutemeras vezes no Coacutedigo de Posturas que foi

instituiacutedo em 1980 atraveacutes da Lei 178 o Coacutedigo de Obras nunca adquiriu formato oficial para

aplicaccedilatildeo e regulaccedilatildeo do territoacuterio O uacutenico registro oficial encontrado nos arquivos

eletrocircnicos da Cacircmara Municipal diz respeito a uma comissatildeo especial formada em 1992

para emissatildeo de parecer sobre o anteprojeto de Coacutedigo de Obras de Ouro Preto elaborado

pela ENGEARP ndash Arquitetura e Engenharia Ltda12

Um segundo registro foi encontrado nos

arquivos do diaacuterio oficial eletrocircnico do municiacutepio e consiste numa breve menccedilatildeo do coacutedigo de

obras numa ata de uma das reuniotildees do COMPURB Conselho Municipal de Poliacutetica

Urbana13

em abril de 2013 Apesar dos registros quase inexistentes em consulta ao corpo

teacutecnico do Departamento de Aprovaccedilatildeo de Projetos da Secretaria de Cultura e Patrimocircnio

foram identificadas algumas iniciativas quanto agrave elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo de Obras para o

municiacutepio dentre as quais se destaca o modelo desenvolvido em 2012 Tal modelo em

conformidade com as diretrizes dos coacutedigos internacionais jaacute apontados neste trabalho

ressaltou que as edificaccedilotildees e instalaccedilotildees deveriam atender agraves condiccedilotildees miacutenimas de

seguranccedila conforto ambiental higiene salubridade harmonia esteacutetica e acessibilidade

criaccedilatildeo da Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade ndash 16 de junho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwufopedubrindexphpoption=com_contentamptask=viewampid=600ampItemid=50gt Acesso em 06 jun

2015 ldquoO grupo de trabalho da Agenda 21 Local de Ouro Preto a Associaccedilatildeo Comercial de Ouro Preto e a

Cacircmara da Mulher Empreendedora de Ouro Preto convidam para uma palestra com o seguinte tema lsquoAgenda 21

de Ouro Preto -Desafios e Possibilidades da Participaccedilatildeo do Comeacutercio na Sustentabilidade Localrsquordquo Notiacutecia sobre

o Grupo de Trabalho da Agenda Ouro Preto ndash 10 de julho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwfundacaoaprenderorgbr189gt Acesso em 06 jun 2015

12 Portaria Nordm 0292 ndash 04 de fevereiro de 1992 Disponiacutevel em

lthttpwwwsistemasiglaorgarquivossisnormNJ_img(2562)pdfgt Acesso em 06 jun 2015

13 ldquo[] Gabriel sugeriu que seja incluiacutedo esses criteacuterios no coacutedigo de obrasrdquo Ata da 58ordf Reuniatildeo extraordinaacuteria

do Conselho Municipal de Poliacutetica Urbana ndash COMPURB (extraiacutedo do Diaacuterio Oficial do Municiacutepio ldquoAno V ndash

Ouro Preto 1ordm de Abril de 2013 ndash Nordm766rdquo) Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrdiario-

oficial2076601-04-2013gt Acesso em 27 jun 2015

41

Contudo eacute importante destacar que os paracircmetros necessaacuterios para o atendimento do conforto

ambiental - como criteacuterios de adequaccedilatildeo agraves caracteriacutesticas do clima local diretrizes de

conforto teacutermico luminoso e acuacutestico ndash assim como as diretrizes de eficiecircncia energeacutetica natildeo

foram contemplados no texto diminuindo consideravelmente a possibilidade de sucesso do

instrumento quanto agrave transformaccedilatildeo do ambiente urbano

Sendo assim entendendo a importacircncia que o instrumento ldquocoacutedigo de obrasrdquo tem

na conformaccedilatildeo de espaccedilos urbanos mais confortaacuteveis e equilibrados e buscando contribuir

para o Municiacutepio na consolidaccedilatildeo de Leis atualizadas e transformadoras o capiacutetulo seguinte

trataraacute do desenvolvimento de algumas dessas diretrizes para que as construccedilotildees passem a

incorporar as premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica e passem a contribuir

positivamente para o clima urbano a para a qualidade ambiental

42

6 ENSAIO PARA UM COacuteDIGO DE OBRAS PRINCIPAIS ESTRATEacuteGIAS PARA

A PROMOCcedilAtildeO DA EFICIEcircNCIA ENERGEacuteTICA NO MUNICIacutePIO DE OURO

PRETO

61 O reconhecimento do clima e as recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais

O reconhecimento do clima eacute o primeiro passo a ser dado para o desenvolvimento

das diretrizes construtivas para um determinado local O clima ldquoeacute a condiccedilatildeo meacutedia do tempo

em uma dada regiatildeo baseada em mediccedilotildees em longos periacuteodos de tempo (30 anos ou mais)rdquo

(LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 71) A anaacutelise climaacutetica feita no Brasil utiliza

em geral os dados publicados pelo Instituto Nacional e pelo Departamento Nacional de

Meteorologia por meio das Normais Climatoloacutegicas Essa publicaccedilatildeo sistematiza dentre

outros dados os valores meacutedios e extremos mensais de temperatura umidade precipitaccedilatildeo

nebulosidade e horas de sol para um periacuteodo de 30 anos A utilizaccedilatildeo dessas variaacuteveis

climaacuteticas no desenvolvimento dos projetos arquitetocircnicos possibilita a construccedilatildeo de

edificaccedilotildees mais confortaacuteveis e mais eficientes quanto ao consumo de energia

O municiacutepio de Ouro Preto contou com uma estaccedilatildeo de mediccedilatildeo e monitoramento

climaacutetico no periacuteodo entre 1976 a 1990 Sendo assim por natildeo ter permanecido em vigecircncia

pelo periacuteodo miacutenimo de 30 anos os dados do municiacutepio natildeo foram contemplados na

publicaccedilatildeo das Normais Climatoloacutegicas e podem ser encontrados apenas no registro histoacuterico

do INMET a partir do BDMEP Os dados coletados nesse periacuteodo de 14 anos embora natildeo

tenham sido publicados satildeo fundamentais para analisar o comportamento das variaacuteveis

climaacuteticas no local de estudo conforme seraacute visto nas anaacutelises a seguir

Referenciada geograficamente pelas coordenadas14

Latitude Sul 20deg23rsquo28rdquo e

Longitude Oeste 43deg30rsquo20rdquo Ouro Preto possui altitude correspondente a 1150 metros sendo

que o ponto mais alto o Pico Itacolomi estaacute situado a 1772 metros de altura A latitude e a

altitude satildeo dois importantes fatores geograacuteficos do clima quanto maior a latitude menor eacute a

temperatura superficial e quanto maior a altitude menor seraacute a temperatura e a pressatildeo

atmosfeacuterica

14 Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrlocalizacaogt Acesso em 27 jun 2015

43

Para entendermos o clima no municiacutepio e para traccedilarmos as diretrizes construtivas

que garantam o bom desempenho das edificaccedilotildees faz-se necessaacuterio primeiramente consultar

o Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro definido na parte 3 da NBR 15220

O Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro consiste na ldquodivisatildeo do territoacuterio brasileiro

em oito zonas relativamente homogecircneas quanto ao clima e para cada uma destas zonas

formulou-se um conjunto de recomendaccedilotildees teacutecnico-construtivas que otimizam o desempenho

teacutermico das edificaccedilotildees atraveacutes de sua melhor adequaccedilatildeo climaacuteticardquo (ABNT 2003) O

Zoneamento resulta da aplicaccedilatildeo da Carta Bioclimaacutetica sugerida por Givoni ldquoinserindo os

dados mensais de temperatura meacutedia e umidade relativa para cada mecircs do ano e para cada

uma das localidades agrupando entatildeo aquelas classificadas como um mesmo tipo climaacuteticordquo

(FERREIRA 2014 p432)

As diretrizes construtivas desenvolvidas na Norma tratam basicamente do

comportamento da envoltoacuteria da edificaccedilatildeo a partir da indicaccedilatildeo do tamanho das aberturas

para ventilaccedilatildeo da proteccedilatildeo das aberturas das vedaccedilotildees externas (paredes e cobertura) e das

estrateacutegias de condicionamento passivo

A NBR 15220-3 estaacute vigente desde 2005 e sua aplicaccedilatildeo estaacute direcionada para as

edificaccedilotildees de ateacute trecircs pavimentos destinadas agrave habitaccedilatildeo multifamiliar de interesse social

Contudo os preceitos nela indicados podem e devem servir como base para a adequaccedilatildeo

climaacutetica das demais edificaccedilotildees desde que a Norma natildeo seja aplicada de forma isolada isto

eacute devem ser estudados outros procedimentos e devem ser utilizadas novas ferramentas a fim

de cruzar os resultados e avanccedilar na elaboraccedilatildeo de paracircmetros construtivos cada vez mais

completos e dinacircmicos

Segundo a Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica obtida atraveacutes do programa ZBBR o

municiacutepio de Ouro Preto estaacute localizado na Zona Bioclimaacutetica 3

44

Fonte Programa ZBBR ndash Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica dos Municiacutepios Brasileiros

Em destaque o Municiacutepio de Ouro Preto ndash MG

Para as edificaccedilotildees inseridas nesta zona bioclimaacutetica a NBR 15220 traz as

seguintes orientaccedilotildees

- Quanto agraves aberturas tamanho meacutedio (15 a 25) e que possibilitem a entrada do sol

durante o inverno

- Quanto agraves vedaccedilotildees externas paredes externas leves15

e refletoras cobertura leve e

isolada

- Quanto ao condicionamento teacutermico passivo ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo

aquecimento solar durante o inverno e vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia

teacutermica

15 Quanto agrave caracterizaccedilatildeo das envoltoacuterias como ldquolevesrdquo podemos agregar para melhor entendimento a

explicaccedilatildeo de que tais envoltoacuterias devem ser de baixa ineacutercia teacutermica ou seja devem possibilitar que o ambiente

interno seja influenciado pela temperatura do ar exterior sem grande atraso Assim pode-se dizer que as

recomendaccedilotildees de envoltoacuterias leves ocorrem em ambientes onde se deseja que os ambientes internos agrave

edificaccedilatildeo sofram influecircncia direta da temperatura do exterior

45

A partir das orientaccedilotildees da Norma percebe-se que a classificaccedilatildeo das zonas

bioclimaacuteticas embora tenha uma importante contribuiccedilatildeo esta natildeo pode ser utilizada

isoladamente por natildeo agregar importantes elementos agrave caracterizaccedilatildeo do clima local como jaacute

foi dito anteriormente Sendo assim outros dados de Ouro Preto devem ser observados para

aprofundarmos um pouco mais nas recomendaccedilotildees construtivas

Dentro do espectro das variaacuteveis climaacuteticas que caracterizam uma regiatildeo merece

destaque a temperatura e a umidade A temperatura ldquoeacute a variaacutevel climaacutetica mais conhecida e

de mais faacutecil mediccedilatildeo A variaccedilatildeo da temperatura na superfiacutecie da Terra resulta basicamente

dos fluxos das grandes massas de ar e da diferente recepccedilatildeo da radiaccedilatildeo do sol de local para

localrdquo (LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 77) A temperatura varia principalmente

em funccedilatildeo da velocidade do ar mas tambeacutem eacute influenciada em maior ou menor grau pelo

tipo de solo e de vegetaccedilatildeo pela topografia e pela altitude A temperatura meacutedia anual de

Ouro Preto eacute de 185deg conforme os dados sistematizados pelo INMET A temperatura

maacutexima verificada geralmente no mecircs de fevereiro corresponde a 252deg e a temperatura

miacutenima que ocorre no mecircs de julho corresponde a 112deg Quanto agrave umidade do ar esta

resulta da evaporaccedilatildeo das aacuteguas e da evapotranspiraccedilatildeo dos vegetais e pode ser definida em

absoluta e relativa ldquoComo definiccedilatildeo de umidade absoluta tem-se que eacute o peso do vapor de

aacutegua contido em uma unidade de volume de ar (gm3) e a umidade relativa eacute a relaccedilatildeo da

umidade absoluta com a capacidade maacutexima do ar de reter vapor drsquoaacutegua agravequela temperaturardquo

(FROTA 1995 p62) A umidade do ar tem relaccedilatildeo inversa com a temperatura portanto

quanto menor a temperatura maior a possibilidade de saturaccedilatildeo do ar pela ampliaccedilatildeo da

umidade ao limite de 100 A pluviosidade tambeacutem deve ser observada pois tem relaccedilatildeo

direta com a umidade do ar sendo que a chuva proveacutem em grande parte de massas de ar

uacutemido em ascensatildeo Os dados do INMET apontam que a meacutedia anual da pluviosidade em

Ouro Preto eacute de 16703mm sendo junho o mecircs mais seco com 129mm e dezembro o mecircs

mais uacutemido com 3579mm

46

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641 (continuaccedilatildeo)

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

47

48

A partir dos dados acima eacute possiacutevel verificar inicialmente que se trata de um

clima de baixas temperaturas muito uacutemido (umidade relativa praticamente sempre acima de

80) com alta nebulosidade (o que significa que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou

nublado) e com abundacircncia de chuvas principalmente no veratildeo

Tais caracteriacutesticas satildeo acentuadas pela influecircncia da barreira orograacutefica

provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta que conforma o

Morro Satildeo Sebastiatildeo Sendo assim grande parte da mancha urbana de Ouro Preto situada agrave

barlavento da barreira natural sofre influecircncia das chuvas que resultam do resfriamento e

condensaccedilatildeo do ar em ascensatildeo aprofundando ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade citadas anteriormente

Representaccedilatildeo da influecircncia dos ventos e da topografia na mancha urbana da cidade de Ouro

Preto - a formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem base da imagem de sateacutelite extraiacuteda do Google Maps

Exemplo da chuva a barlavento resultante da formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem Sistemas Tecnoloacutegicos em Conforto Ambiental ndash Eleonora Sad Assis

Parte da malha urbana de Ouro Preto

49

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem timblindimwordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem fotografandoondeopeixeparawordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

A partir das variaacuteveis climaacuteticas sistematizadas pelo INMET podemos avanccedilar na

utilizaccedilatildeo do Diagrama Bioclimaacutetico de Givoni (DBG) que orientou a definiccedilatildeo do

Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro assim como utilizar outro instrumento de anaacutelise as

Tabelas de Mahoney que tambeacutem auxiliam na definiccedilatildeo das diretrizes construtivas

O Diagrama de Givoni nos permite identificar quais recursos satildeo necessaacuterios para

que as edificaccedilotildees atendam agraves condiccedilotildees de conforto Este instrumento aponta quais preceitos

da arquitetura bioclimaacutetica devem ser priorizados tais como ventilaccedilatildeo ineacutercia teacutermica e

50

insolaccedilatildeo assim como aponta a necessidade de soluccedilotildees mecacircnicas para o atendimento ao

conforto teacutermico

Diagrama de Givoni relativo agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O Diagrama de Givoni referente agrave Ouro Preto assinala que na maior parte do

tempo as edificaccedilotildees necessitam de aquecimento passivo tendo em vista o quadro recorrente

de baixas temperaturas e de alta umidade relativa Algumas estrateacutegias de aquecimento

passivo podem ser adaptadas agrave realidade local para melhor aproveitamento Quanto agrave cidade

de Ouro Preto deve-se pensar o ganho teacutermico principalmente durante o inverno Nessa

estaccedilatildeo embora se tenha uma queda significativa das temperaturas tem-se cerca de 6 horas

de insolaccedilatildeo diaacuteria quase duas horas a mais do que nas outras estaccedilotildees O aproveitamento

dessa radiaccedilatildeo solar deve servir para manter o ambiente aquecido durante a noite sendo

assim a utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior insolaccedilatildeo deve

possibilitar a maacutexima entrada de calor durante o dia Quanto aos materiais internos estes

devem possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser

devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente

Voltando ao Diagrama de Givoni se compararmos o resultado da cidade de Ouro

Preto com a cidade de Belo Horizonte que estaacute na mesma zona bioclimaacutetica e estaacute a 858

51

metros de altitude perceberemos o quanto eacute importante cruzar os dados de diferentes

instrumentos de anaacutelise para acertar nas diretrizes de projeto Os dados de Belo Horizonte

resultam numa linha meacutedia predominantemente inserida na zona de conforto chegando a

alcanccedilar a zona de influecircncia da ventilaccedilatildeo em algumas horas dos meses de janeiro fevereiro

e marccedilo

Diagrama de Givoni relativo agrave Belo Horizonte

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O outro meacutetodo importante de anaacutelise voltado especificamente para as

recomendaccedilotildees de projeto arquitetocircnico consiste na sistematizaccedilatildeo das recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas atraveacutes das ldquoTabelas de Mahoneyrdquo Tal meacutetodo deve ser utilizado

simultaneamente ao Diagrama de Givoni a fim de se comparar os resultados e ajustar as

diretrizes construtivas Dentre as orientaccedilotildees da Tabela de Mahoney para Ouro Preto merece

destaque a utilizaccedilatildeo de grandes aberturas (para garantir ventilaccedilatildeo abundante e permanente)

e de envoltoacuterias leves Contudo diretrizes como reduccedilatildeo da exposiccedilatildeo ao sol e proteccedilatildeo da

insolaccedilatildeo direta natildeo favorecem o aquecimento passivo conforme a necessidade observada a

partir do Diagrama de Givoni e portanto devem ser relativizadas Seguem abaixo as

recomendaccedilotildees das Tabelas de Mahoney para Ouro Preto

52

Tabela de Mahoney relativa agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

Sendo assim a partir do conhecimento das variaacuteveis climaacuteticas e dos resultados

apresentados eacute possiacutevel formular a seguinte tabela resumo quanto agraves recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas iniciais para Ouro Preto

14 Tabela de Recomendaccedilotildees Arquitetocircnicas

Total de Indicadores

Uacutemido Aacuterido

H1 H2 H3 A1 A2 A3

1 11 4 0 0 0

1 PLANTA DE SITUACcedilAtildeO

0 -10 X Construccedilotildees orientadas segundo eixo longitudinal leste-oeste

11 ou 5 -12 a fim de diminuir a exposiccedilatildeo ao sol

12 0 - 4 Plantas compactas com paacutetios internos

2 ESPACcedilAMENTO ENTRE CONSTRUCcedilOtildeES

11 ou Grandes espaccedilamentos para favorecer a penetraccedilatildeo do vento

12

2 -10 Como acima mas com proteccedilatildeo contra vento quente ou frio

0 ou 1 X Distribuiccedilatildeo compacta

3 CIRCULACcedilAtildeO DE AR

3 - 12 X Construccedilotildees com orientaccedilatildeo simples aberturas que permitam

1 ou 0 - 5 circulaccedilatildeo de ar permanente

2 6 - 12 Construccedilotildees com orientaccedilatildeo dupla circulaccedilatildeo de ar cruzada

0 2 -12 aberturas de ar controlaacuteveis

0 ou 1 Basta renovaccedilatildeo higiecircnica do ar

4 DIMENSOtildeES DAS ABERTURAS

0 ou 0 X Grandes 40 a 80 das fachadas norte e sul

1 1 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

2 - 5

6 - 10 Intermediaacuterias 20 a 35 da superfiacutecie das paredes

11 ou 0 - 3 Pequenas 15 a 25 da superfiacutecie das paredes

12 4 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

5 POSICcedilAtildeO DAS ABERTURAS

3 - 12 X Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do

1 ou 0 - 5 lado exposto ao vento

2 6 - 12 Como acima mas tambeacutem aberturas nas paredes internas

0 2 - 12

6 PROTECcedilAtildeO DAS ABERTURAS

0 - 2 X Proteger da insolaccedilatildeo direta

2 - 12 X Proteger da chuva

7 PAREDES E PISOS

0 - 2 X Construccedilotildees leves baixa ineacutercia teacutermica

3 - 12 Construccedilotildees maciccedilas tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

8 COBERTURA

10 a 0 - 2 Leve (pouca ineacutecia) superfiacutecie refletora uso de cacircmara de ar

12 3 - 12 X Leve e bem isolada

0 a 0 - 5

9 6 - 12 Maciccedila tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

9 ESPACcedilOS EXTERIORES

1 - 12 Espaccedilo para dormir ao ar livre

1 - 12 X Adequada drenagem para a chuva

3 - 12 X Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

53

Tabela resumo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas

Diagrama de Givoni

Tabelas de Mahoney

NBR 15220 ndash Parte 03

Tamanho e caracteriacutesticas das aberturas

Esquadrias devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia do calor no ambiente

Aberturas que permitam a circulaccedilatildeo de ar permanente

Tamanho meacutedio

Grandes ndash de 40 a 80 das fachadas norte e sul

Possibilitar a entrada do sol durante o inverno

Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do lado exposto ao vento

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees externas

Leves Leves e refletoras

Baixa ineacutercia teacutermica

Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees internas

Possibilitar o armazenamento do calor absorvido

Vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia teacutermica

Caracteriacutesticas da cobertura

Leve e bem isolada Leve e isolada

Condicionamento teacutermico passivo

Ganho teacutermico principalmente durante o inverno

Aberturas protegidas da insolaccedilatildeo direta e protegidas da chuva

Ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo aquecimento solar durante o inverno e

Somando-se os diversos meacutetodos de anaacutelise climaacutetica tecircm maior relevacircncia a

seguintes diretrizes

- ventilaccedilatildeo abundante principalmente durante o veratildeo a fim de reduzir a temperatura no

interior da edificaccedilatildeo e os efeitos da umidade que aumenta ainda mais em funccedilatildeo das chuvas

tiacutepicas desse periacuteodo A ventilaccedilatildeo cruzada deve ser fomentada e deve ser observado o sentido

54

predominante do vento que na cidade em questatildeo eacute sudeste a fim de se alcanccedilar melhores

resultados no conforto da edificaccedilatildeo

- aquecimento passivo para os meses de inverno a fim de diminuir o desconforto

causado pelas baixas temperaturas

- paredes leves (com baixa ineacutercia teacutermica ou seja conseguem ganhar ou perder calor

rapidamente a partir da interferecircncia e da temperatura do ar exterior) e protegidas da umidade

proveniente das chuvas fortes

- coberturas leves e bem isoladas (capazes de reter o calor absorvido durante o dia)

- as edificaccedilotildees devem estar protegidas das chuvas e devem contar com sistemas de

drenagem eficientes que possibilitem o raacutepido escoamento ou aproveitamento dessa aacutegua

62 O Coacutedigo de Obras e o conforto ambiental em Ouro Preto ndash estrateacutegias prioritaacuterias

A utilizaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental nos projetos e nas edificaccedilotildees

tem um impacto social positivo baseado em pelo menos trecircs fatores importantes melhoria das

condiccedilotildees de habitabilidade da edificaccedilatildeo e portanto melhor qualidade de vida para o

usuaacuterio melhoria nas condiccedilotildees climaacuteticas do meio externo ampliando o bem estar coletivo

reduccedilatildeo no consumo de energia e utilizaccedilatildeo eficiente do sistema de abastecimento a partir da

correta utilizaccedilatildeo dos sistemas ativos (iluminaccedilatildeo artificial condicionamento e aquecimento

de ar)

Para garantir a aplicaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental o Coacutedigo de Obras

e Edificaccedilotildees do municiacutepio deve incorporar dois importantes artigos que seratildeo detalhados

abaixo conforme o texto sugerido pelo Guia Teacutecnico ldquoElaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de

obras e edificaccedilotildeesrdquo da ELETROBRAacuteS (BAHIA GUEDES 2012)

O primeiro artigo de destaque deve ser inserido no capiacutetulo que trata das

DISPOSICcedilOtildeES PRELIMINARES e deve enumerar as diretrizes gerais para os projetos e

construccedilotildees buscando elencar tanto as demandas contemporacircneas expressas nas novas

legislaccedilotildees como os anseios para um espaccedilo urbano equilibrado e sustentaacutevel Nesse

contexto a substituiccedilatildeo da expressatildeo ldquopadrotildees miacutenimosrdquo que podem ser exemplificados pelas

diretrizes generalistas frequentemente encontradas nas legislaccedilotildees como a previsatildeo de 16 e

18 de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo para todas as localidades por ldquopadrotildees eficientesrdquo

estabelecidos atraveacutes de estudos teacutecnicos que agreguem a complexidade do clima local e que

permitam ampliar as condiccedilotildees de sustentabilidade das edificaccedilotildees ao tratar da otimizaccedilatildeo de

resultados quanto ao atendimento do conforto teacutermico visual e acuacutestico com baixo consumo

55

de energia A configuraccedilatildeo do texto deve se aproximar ao maacuteximo da proposta apresentada

pelo Guia Teacutecnico paacutegina 62

As obras instalaccedilotildees e edificaccedilotildees sejam puacuteblicas sejam privadas deveratildeo atender

agraves seguintes diretrizes gerais de forma a assegurar padrotildees eficientes de seguranccedila e

solidez salubridade e sauacutede conforto ambiental e desempenho energeacutetico

acessibilidade e livre tracircnsito de pessoas prevenccedilatildeo e uso sustentaacutevel dos recursos

naturais em cada caso e sempre que couber I - Subordinaccedilatildeo do interesse particular

ao interesse coletivo II - Promoccedilatildeo do direito agrave cidade sustentaacutevel e da funccedilatildeo

social da propriedade III - Utilizaccedilatildeo das normas teacutecnicas brasileiras e

regulamentaccedilotildees aplicaacuteveis para orientaccedilatildeo do desenvolvimento de projetos e

execuccedilatildeo de obras IV - Desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas sempre que

necessaacuterio com base nas praacuteticas locais beneacuteficas e na produccedilatildeo cientiacutefica tendo em

vista a manutenccedilatildeo da qualidade do local onde se daacute a intervenccedilatildeo e a correlaccedilatildeo

com valores culturais da populaccedilatildeo V - Garantia das condiccedilotildees de acessibilidade

circulaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo pela populaccedilatildeo em geral das edificaccedilotildees e do espaccedilo e

mobiliaacuterio urbano de uso puacuteblico e coletivo com adoccedilatildeo de soluccedilotildees especiacuteficas

para as pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida conforme previsto nas

normas teacutecnicas e na legislaccedilatildeo aplicaacutevel VI - Adoccedilatildeo de paracircmetros climaacuteticos

para o desenvolvimento de projetos de arquitetura de parcelamentos do solo e de

desenho urbano tendo em vista a correta orientaccedilatildeo solar da edificaccedilatildeo e demais

elementos as melhores condiccedilotildees de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo e pela escolha de

materiais construtivos e soluccedilotildees urbaniacutesticas adequadas em funccedilatildeo das

condicionantes ambientais locais de temperatura pluviosidade dominacircncia de

ventos ruiacutedo e paisagem natural aleacutem dos aspectos culturais que interagem com

essas condiccedilotildees VII - Utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis materiais de

construccedilatildeo certificados e ajudas teacutecnicas disponiacuteveis em complemento agrave promoccedilatildeo

do conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade das edificaccedilotildees e do

meio urbano VIII - Implantaccedilatildeo do objeto arquitetocircnico no lote bem como do

mobiliaacuterio urbano e demais artefatos nos logradouros puacuteblicos garantidas a

acessibilidade a qualidade esteacutetica e tecnoloacutegica de forma a potencializar os

atributos da paisagem urbana e evitar a poluiccedilatildeo visual IX - Adoccedilatildeo preferencial de

espeacutecies nativas na arborizaccedilatildeo puacuteblica demais projetos paisagiacutesticos e no

ajardinamento de lotes particulares X - Simplificaccedilatildeo dos procedimentos

administrativos pelo Poder Puacuteblico e promoccedilatildeo da assistecircncia para habitaccedilatildeo de

interesse social pelos agentes promotores tendo em vista facilitar a regularidade e a

correta execuccedilatildeo de projetos e obras inclusive apoiando as iniciativas de

autoconstruccedilatildeo da clientela de baixa renda (BAHIA GUEDES 2012)

O segundo artigo de grande relevacircncia deve ser inserido no capiacutetulo ldquoDAS

CONDICcedilOtildeES RELATIVAS AgraveS EDIFICACcedilOtildeESrdquo Neste capiacutetulo devem ser tratados os

paracircmetros teacutecnicos e geomeacutetricos capazes de materializar o conforto ambiental dos projetos e

edificaccedilotildees a partir do contexto climaacutetico da cidade As diretrizes apontadas devem buscar o

equiliacutebrio entre as condicionantes internas (relaccedilatildeo do usuaacuterio com a edificaccedilatildeo) e externas

(relaccedilatildeo da edificaccedilatildeo com o entorno) Quanto aos paracircmetros teacutecnicos esses devem ser

baseados nas recomendaccedilotildees do Programa Nacional de Conservaccedilatildeo de Energia Eleacutetrica ndash

PROCEL e devem se aproximar dos padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees

residenciais que satildeo atualmente estabelecidos pelo INMETRO a partir do RTQ-R ndash

Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais O texto do artigo deve seguir a sugestatildeo do Guia Teacutecnico paacutegina 107

56

Os projetos de construccedilatildeo ou reforma aleacutem de atenderem aos paracircmetros de

habitabilidade estabelecidos neste Coacutedigo devem ser orientados para a promoccedilatildeo da

sustentabilidade e eficiecircncia energeacutetica da edificaccedilatildeo com o objetivo de reduzir as

emissotildees de gases de efeito estufa (GEE) e os impactos ambientais gerados pela

construccedilatildeo e pela sua utilizaccedilatildeo ao longo do tempo racionalizando o uso da energia

da aacutegua e dos materiais nela empregados a partir das seguintes diretrizes I -

Racionalidade do projeto e do planejamento do processo de execuccedilatildeo das obras II -

Gestatildeo sustentaacutevel da obras e das praacuteticas de construccedilatildeo de forma a evitar o

desperdiacutecio de materiais III - Uso de materiais de construccedilatildeo e acabamentos

sustentaacuteveis considerando a adoccedilatildeo de materiais originaacuterios da regiatildeo produzidos

de forma sustentaacutevel e legalizada de materiais reaproveitados ou de demoliccedilatildeo e de

materiais certificados ou de comprovada responsabilidade ambiental do fabricante

IV - Ativaccedilatildeo do uso de edificaccedilotildees de valor cultural histoacuterico ou arquitetocircnico

maximizando as condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do bem imoacutevel na interaccedilatildeo com as

premissas de conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade V -

Aplicaccedilatildeo das estrateacutegias para projetos de acordo com o Zoneamento Bioclimaacutetico

brasileiro conforme NBR 15220-3 para concepccedilatildeo arquitetocircnica implantaccedilatildeo no

lote orientaccedilatildeo solar dos ambientes localizaccedilatildeo de aberturas e especificaccedilatildeo de

materiais de construccedilatildeo em prol do desempenho teacutermico da edificaccedilatildeo VI -

Aproveitamento das caracteriacutesticas climaacuteticas locais para a promoccedilatildeo do conforto

ambiental da edificaccedilatildeo a partir da consideraccedilatildeo dos seguintes fatores principais a)

Qualidade do ar b) Conforto higroteacutermico c) Conforto luminoso (ou lumiacutenico) d)

Conforto acuacutestico VII - Adoccedilatildeo de especificaccedilotildees de projeto com o objetivo de

potencializar as caracteriacutesticas climaacuteticas locais beneacuteficas eou remediar as de maior

rigor ao longo das diferentes estaccedilotildees do ano em benefiacutecio do desempenho teacutermico

e da ventilaccedilatildeo e iluminaccedilatildeo naturais da edificaccedilatildeo [] VIII - Planejamento

paisagiacutestico como elemento contribuinte para o conforto ambiental da edificaccedilatildeo

[] IX - Adoccedilatildeo de materiais construtivos que melhorem o desempenho teacutermico da

edificaccedilatildeo com base nas orientaccedilotildees e tabelas da NBR 15220-3 e especificaccedilatildeo de

equipamentos mecanismos e instalaccedilotildees que favoreccedilam a economia de energia

eleacutetrica e a reduccedilatildeo do consumo e aacutegua tratada [] (BAHIA GUEDES 2012)

Esses dois artigos apresentados embora configurem o ponto de partida natildeo satildeo

suficientes para a transformaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras em uma ferramenta concreta de

promoccedilatildeo do conforto ambiental da eficiecircncia energeacutetica e da sustentabilidade do meio

ambiente urbano Os desdobramentos desse texto devem resultar em paracircmetros teacutecnicos

como dimensionamentos diretrizes de desenho configuraccedilotildees espaciais miacutenimas dentre

inuacutemeros outros elementos de aplicaccedilatildeo obrigatoacuteria ou optativa Sendo assim o Coacutedigo de

Obras deve regulamentar por exemplo o dimensionamento de compartimentos a disposiccedilatildeo

e o dimensionamento de mobiliaacuterio fixo como louccedilas sanitaacuterias o peacute-direito as proporccedilotildees

das aberturas de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo assim como as taxas de renovaccedilatildeo do ar os niacuteveis de

ruiacutedo para o conforto acuacutestico as condiccedilotildees favoraacuteveis de transmitacircncia e a absortacircncia das

paredes e coberturas para o conforto teacutermico o dimensionamento e as condiccedilotildees das

circulaccedilotildees horizontais e verticais as instalaccedilotildees prediais dentre inuacutemeros outros itens Os

teacutecnicos devem se debruccedilar sobre tais requisitos teacutecnicos a fim de otimizar os resultados

quanto agrave construccedilatildeo da sustentabilidade no municiacutepio Deve-se utilizar as normas ABNT em

auxiacutelio agrave formulaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos a exemplo da NBR 10151 sobre Avaliaccedilatildeo do

57

Ruiacutedo em Aacutereas Habitadas NBR 5382 sobre Iluminacircncia de Interiores NBR 15215 sobre

Iluminaccedilatildeo Natural NBR 9284 sobre Equipamentos Urbanos dentre outras

Por fim deve-se prezar pela total interaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras com o conjunto

da legislaccedilatildeo urbaniacutestica local a fim de estabelecer uma relaccedilatildeo sequencial entre as etapas de e

concepccedilatildeo planejamento e construccedilatildeo das edificaccedilotildees passando das diretrizes gerais agraves

exigecircncias especiacuteficas O texto do coacutedigo de obras deve ser objetivo e didaacutetico sem incorrer

em simplificaccedilotildees O conteuacutedo deve ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e

teacutecnicos da aacuterea como pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees A dedicaccedilatildeo dos

teacutecnicos e profissionais na elaboraccedilatildeo das diretrizes transformadoras a busca pela

conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo sobre o conforto no ambiente urbano assim como a luta contra a

supremacia dos interesses privados sobre a coletividade satildeo itens importantes quanto agrave

concretizaccedilatildeo desse importante instrumento que foi apresentado e defendido ao longo do

presente trabalho

58

7 CONCLUSAtildeO

Diante das anaacutelises apresentadas ao longo deste trabalho principalmente quanto

ao ordenamento juriacutedico brasileiro para a regulaccedilatildeo urbana e o desenvolvimento sustentaacutevel

ficou comprovada a existecircncia de um conjunto significativo de legislaccedilotildees capazes de

embasar uma transformaccedilatildeo das cidades brasileiras em territoacuterios democraacuteticos igualitaacuterios e

sustentaacuteveis Poreacutem a previsatildeo legal eacute apenas o iniacutecio de um longo caminho ateacute a

transformaccedilatildeo concreta da realidade Para se avanccedilar nesse caminho uma mudanccedila poliacutetica eacute

imprescindiacutevel uma vez que as decisotildees sobre o espaccedilo urbano e sua regulamentaccedilatildeo

dependem necessariamente do interesse do gestor urbano materializado na figura dos

prefeitos e governantes das diversas esferas administrativas

Em relaccedilatildeo ao municiacutepio de Ouro Preto foi identificado que embora haja um

conjunto significativo de diretrizes urbaniacutesticas contidas no Plano Diretor e na Lei de Uso e

Ocupaccedilatildeo do Solo estas ainda satildeo insuficientes para subsidiar um desenvolvimento local

pautado na responsabilidade ambiental e na qualidade do meio ambiente urbano Isso se deve

principalmente ao fato de natildeo haver um coacutedigo de obras e edificaccedilotildees e tambeacutem ao fato de

que as iniciativas de proteccedilatildeo ambiental tal como a Agenda 21 Local natildeo foram colocadas

em praacutetica Neste sentido em relaccedilatildeo ao processo legislativo conclui-se que haacute uma

defasagem na aplicaccedilatildeo dos instrumentos de planejamento municipal previstos no Estatuto da

Cidade principalmente o Plano Diretor Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo Agenda 21 Local e Coacutedigo

de Obras e Edificaccedilotildees Aleacutem disso faltam elementos de combate agrave especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e

instrumentos de regulaccedilatildeo do solo urbano como o IPTU progressivo regularizaccedilatildeo onerosa a

assistecircncia teacutecnica gratuita dentre outros instrumentos tributaacuterios e financeiros juriacutedicos e

poliacuteticos que infelizmente ainda natildeo satildeo aplicados no municiacutepio Nesse contexto os outros

instrumentos de planejamento tais como o plano plurianual orccedilamento participativo

programas setoriais e planos de desenvolvimento econocircmico e social embora natildeo configurem

instrumentos urbaniacutesticos se colocam como ferramentas aliadas da gestatildeo democraacutetica da

cidade e da reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais visto que o processo de mudanccedila eacute

essencialmente poliacutetico Nesse sentido eacute extremamente importante que esses instrumentos

sejam pautados na real participaccedilatildeo popular na inclusatildeo e na justiccedila social

Quanto agrave sustentabilidade no ambiente urbano identificou-se que a preservaccedilatildeo e

proteccedilatildeo patrimonial pautadas no conforto do usuaacuterio a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados

a melhoria da infraestrutura urbana a concretizaccedilatildeo de projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria

59

assim como a construccedilatildeo de habitaccedilatildeo social de qualidade satildeo questotildees fundamentais para a

transformaccedilatildeo das cidades em territoacuterios democraacuteticos e sustentaacuteveis Essas demandas estatildeo

diretamente ligadas agrave mudanccedila no paradigma do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

pois uma vez colocadas em praacutetica alteram significativamente a configuraccedilatildeo das cidades

influenciando no clima urbano e na qualidade ambiental

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de uma base de dados climaacuteticos relativos ao municiacutepio

a partir das Normais Climatoloacutegicas obtidas no periacuteodo entre 1976 e 1990 foi possiacutevel

caracterizar o clima de Ouro Preto como um clima de baixas temperaturas muito uacutemido

(umidade relativa praticamente sempre acima de 80) com alta nebulosidade (o que significa

que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou nublado) e com abundacircncia de chuvas

principalmente no veratildeo Foi tambeacutem identificada uma grande interferecircncia do efeito da

barreira orograacutefica provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta

que conforma o Morro Satildeo Sebastiatildeo o que aprofunda ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade

Para a elaboraccedilatildeo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais foram utilizados os

resultados do diagrama de Givoni das Tabelas de Mahoney e da NBR 15220 Assim para a

cidade de Ouro Preto concluiu-se que a arquitetura deve priorizar o ganho teacutermico

principalmente durante o inverno pois nessa estaccedilatildeo tem-se uma queda significativa das

temperaturas o que afeta consideravelmente o conforto do usuaacuterio Esse ganho teacutermico deve

ser pensado a partir da utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior

insolaccedilatildeo o que possibilita um melhor aproveitamento dessa radiaccedilatildeo solar que deve servir

para manter o ambiente aquecido durante a noite Quanto aos materiais internos estes devem

possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser devidamente

isoladas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente Em relaccedilatildeo ao veratildeo foi

identificada a necessidade de ventilaccedilatildeo cruzada para reduzir os efeitos das temperaturas

elevadas e da alta umidade aleacutem de envoltoacuterias bem protegidas das chuvas

Por fim quanto agrave elaboraccedilatildeo do coacutedigo de obras foi possiacutevel apontar a

necessidade de se estabelecer as diretrizes para os projetos e construccedilotildees a partir dos

paracircmetros das normas teacutecnicas brasileiras do desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas com

base nas praacuteticas locais da garantia da acessibilidade das edificaccedilotildees agrave populaccedilatildeo em geral

da consideraccedilatildeo dos paracircmetros climaacuteticos e da utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis Foi

abordada a necessidade de aproximaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos do coacutedigo de obras aos

padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees residenciais previstos no RTQ-R

60

(Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais INMETRO) aleacutem da necessidade de se construir um texto objetivo e didaacutetico

que possa ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e teacutecnicos da aacuterea quanto

pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees

61

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 15220 Desempenho

teacutermico de edificaccedilotildees Rio de Janeiro ABNT 2005

BAHIA S R GUEDES P de A Elaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de obras e

edificaccedilotildees 2ordfed Rio de janeiro IBAMDUMA ELETROBRAS PROCEL 2012

BARANDIER H ALMEIDA M C T MORAIS R Planejamento e Controle Ambiental

Urbano e a Eficiecircncia Energeacutetica Rio de Janeiro IBAMDUMA ELETROBRASPROCEL

2013

BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988

BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002

BRASIL Lei nordm 10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do Desenvolvimento

Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Pesquisa nacional para identificar os resultados de

implementaccedilatildeo de processos de agendas 21 locais Brasiacutelia 2009

CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS Tiacutetulo 24 Parte 8 California Historical

Building Code 1ordm Ed Washington 2007

CSABA D SUELI R S (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo Editora da

Universidade de Satildeo Paulo 1999

FERREIRA C SOUZA H A de ASSIS E S de Estudo do clima brasileiro reflexotildees e

recomendaccedilotildees sobre a adequaccedilatildeo climaacutetica de habitaccedilotildees In XV Encontro Nacional de

Tecnologia do Ambiente Construiacutedo Maceioacute 2014

FROTA A B SCHIFFER S R Manual de Conforto Teacutermico Satildeo Paulo Nobel 1995

IBGE Perfil dos municiacutepios brasileiros 2013 Brasiacutelia 2014

LAMBERTS R DUTRA L PEREIRA FO R Eficiecircncia Energeacutetica na Arquitetura 3ordfed

ELETROBRASPROCEL 2014

MENICONI R O A Construccedilatildeo de uma Cidade-Monumento o caso de Ouro Preto Belo

Horizonte Escola de Arquitetura e Urbanismo UFMG 1999 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OLIVEIRA L B Agenda 21 Local consolidando as bases para o desenvolvimento

sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escala UFOP 2010

62

OLIVEIRA M A Os valores culturais da paisagem urbana em Ouro Preto Um Estudo de

Caso das Aacutereas Verdes na Ladeira Santa Efigecircnia e Entorno Proacuteximo Salvador Mestrado em

Arquitetura e Urbanismo da UFBA 1997

OLIVEIRA M R S Gestatildeo Patrimonial em Ouro Preto Alcances e Limites das Poliacuteticas

Puacuteblicas Preservacionistas Campinas Poacutes ndash Graduaccedilatildeo em Geografia Anaacutelise Ambiental e

Dinacircmica Territorial da UNICAMP 2005 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OURO PRETO Lei complementar nordm 011996 Institui o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro

Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 022005 Estabelece a Estrutura Baacutesica e a

organizaccedilatildeo administrativa da Prefeitura Municipal de Ouro Preto e da outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 152006 Altera a Lei Complementar ndeg 021005

modifica a denominaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Turismo Induacutestria e Comeacutercio e da

Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio suas respectivas competecircncias e daacute outras

providecircncias de 27 de Abril de 2006

OURO PRETO Lei Complementar nordm 302006 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 28 de

Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei complementar nordm 912010 Altera a Lei Complementar nordm292006 que

estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 932011 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 20 de

Janeiro de 2011

OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996

OURO PRETO Lei complementar nordm292006 Estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de

Ouro Preto de 28 de Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei nordm 333 Dispotildee sobre o Programa da Agenda 21 Local de 11 de maio de

2007

OURO PRETO Lei nordm 5790 Dispotildee sobre as diretrizes baacutesicas do Plano Diretor do

Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Portaria 0292 Nomeia Comissatildeo Especial

OURO PRETO Portaria 1707 Nomeia Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos

Naturais e Agenda 21 Local

Page 3: POLYANA PEREIRA COELHO · 2019. 11. 14. · POLYANA PEREIRA COELHO A SUSTENTABILIDADE DO AMBIENTE URBANO E OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO MUNICIPAL: RECOMENDAÇÕES PARA UM CÓDIGO DE

2

AGRADECIMENTOS

Minha eterna gratidatildeo a todos que contribuiacuteram para a superaccedilatildeo de mais essa

etapa Aos meus familiares tatildeo amados ao querido Fillipe aos meus colegas de trabalho da

Secretaria de Cultura e Patrimocircnio sempre disponiacuteveis a ajudar agraves parceiras da Seacutetima

Arquitetura tatildeo compreensivas e aos professores do curso que possibilitaram a elaboraccedilatildeo

desse trabalho

3

RESUMO

A sustentabilidade do ambiente urbano embora seja uma pauta relativamente recente no

Brasil jaacute atingiu o patamar de demanda prioritaacuteria Isso porque a exploraccedilatildeo predatoacuteria dos

recursos naturais tem destruiacutedo o meio ambiente Aleacutem disso os centros urbanos se tornaram

verdadeiros depoacutesitos de lixo esgoto e poluiccedilatildeo Diante desse contexto o presente trabalho

busca identificar os instrumentos de gestatildeo municipal que podem contribuir para a mudanccedila

dessa realidade urbana Satildeo apresentados portanto os instrumentos do planejamento

municipal regulamentados pelo Estatuto da Cidade aleacutem dos instrumentos de controle

ambiental como por exemplo a Agenda 21 Local que podem interferir positivamente no bem

estar e no conforto ambiental das cidades Para o estudo de caso foi escolhido o municiacutepio de

Ouro Preto MG que tem aproximadamente 300 anos de histoacuteria e uma configuraccedilatildeo urbana

protegida Tal estudo de caso agregou a preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico como mais uma

variaacutevel presente no contexto da regulaccedilatildeo urbana Sendo assim a fim de entender a

articulaccedilatildeo desses trecircs importantes aspectos da poliacutetica urbana municipal - a preservaccedilatildeo a

regulaccedilatildeo e a sustentabilidade - o trabalho em questatildeo tratou das possibilidades de alcance do

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees Por fim na tentativa de identificar as diretrizes necessaacuterias

para se transformar os centros urbanos em espaccedilos sustentaacuteveis buscou-se apontar a partir do

reconhecimento do clima local de Ouro Preto algumas recomendaccedilotildees arquitetocircnicas capazes

de avanccedilar na consolidaccedilatildeo de construccedilotildees comprometidas com o conforto ambiental e com a

eficiecircncia energeacutetica

Palavras-chave sustentabilidade gestatildeo municipal conforto ambiental Ouro Preto - MG

4

ABSTRACT

The sustainability of the urban environment although it is a relatively new agenda in Brazil

has reached the level of priority demand Thats because the predatory exploitation of natural

resources has destroyed the environment Furthermore urban centers have become true

rubbish dumps sewer and pollution In this context this paper seeks to identify the municipal

management tools that can contribute to changing this urban reality They are presented so

the instruments of municipal planning regulated by the City Statute addition to the

instruments of environmental control for example the Local Agenda 21 that may positively

affect the well-being and environmental comfort of cities For the case study was chosen the

city of Ouro Preto Minas Gerais which has about 300 years of history and a protected urban

setting Such a case study added the preservation of historical heritage as another variable

present in the context of urban regulation So in order to understand the relationship of these

three important aspects of municipal urban policy - the preservation regulation and

sustainability - the work in question dealt with the range of possibilities of Works and

Building Code Finally in an attempt to identify the policies needed to transform urban areas

into sustainable spaces we tried to point out from the recognition of the local climate of Ouro

Preto some architectural recommendations able to move forward in the consolidation of

buildings committed to comfort environmental and energy efficiency

Keywords sustentability municipal planning environment comfort Ouro Preto - MG

5

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 6

2 O ESTATUTO DA CIDADE E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL 8

3 O PLANO DIRETOR E OS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO

MUNICIPAL 14

4 OS DESAFIOS DA REGULACcedilAtildeO URBANA FRENTE AgraveS INTERVENCcedilOtildeES NAS

EDIFICACcedilOtildeES E NOS CONJUNTOS URBANOS TOMBADOS 20

5 O MUNICIacutePIO DE OURO PRETO UM ESTUDO DE CASO 27

51 DA COLONIZACcedilAtildeO AO SEacuteCULO XX 27

52 O CONTEXTO ATUAL 34

6 ENSAIO PARA UM COacuteDIGO DE OBRAS PRINCIPAIS ESTRATEacuteGIAS PARA

A PROMOCcedilAtildeO DA EFICIEcircNCIA ENERGEacuteTICA NO MUNICIacutePIO DE OURO

PRETO 42

61 O RECONHECIMENTO DO CLIMA E AS RECOMENDACcedilOtildeES

ARQUITETOcircNICAS INICIAIS 42

62 O COacuteDIGO DE OBRAS E O CONFORTO AMBIENTAL EM OURO PRETO ndash

ESTRATEacuteGIAS PRIORITAacuteRIAS 54

7 CONCLUSAtildeO 58

6

1 INTRODUCcedilAtildeO

A praacutetica de ordenaccedilatildeo do territoacuterio nacional atraveacutes do planejamento urbano

modificou-se significativamente no iniacutecio do Segundo Milecircnio A aprovaccedilatildeo do Estatuto da

Cidade e a incorporaccedilatildeo dos preceitos do equiliacutebrio ambiental e do desenvolvimento

sustentaacutevel nas diretrizes para o desenvolvimento urbano impactaram positivamente o quadro

juriacutedico brasileiro Contudo enfrentam-se ainda inuacutemeras dificuldades na aplicaccedilatildeo das

diretrizes previstas nesse novo ordenamento o que se traduz num gigantesco atraso quanto agrave

transformaccedilatildeo das cidades brasileiras em cidades sustentaacuteveis

Atualmente satildeo os municiacutepios os entes federativos com maior capacidade de

transformaccedilatildeo da realidade local uma vez que os principais instrumentos aplicaacuteveis ao

contexto urbano estatildeo inseridos no Plano Diretor ou noutro plano urbano de competecircncia do

municiacutepio Sendo assim faz-se necessaacuterio aprofundar o conhecimento e entendimento dos

instrumentos da gestatildeo municipal analisando os limites e possibilidades encontrados nas

administraccedilotildees da maioria das cidades brasileiras A identificaccedilatildeo do contexto poliacutetico local eacute

fundamental para a compreensatildeo da realidade urbana pois o sucesso na aplicaccedilatildeo de

legislaccedilotildees transformadoras depende da vontade poliacutetica das gestotildees municipais em promover

a democratizaccedilatildeo da cidade e o bem-estar coletivo

Nesse contexto de reconhecimento dos instrumentos de gestatildeo municipal buscou-

se identificar e avaliar as poliacuteticas de promoccedilatildeo da sustentabilidade no ambiente urbano

Assim aleacutem da anaacutelise dos Planos Diretores e da Lei de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo do

Solo o presente trabalho buscou investigar a existecircncia e a implementaccedilatildeo de outros

importantes instrumentos de promoccedilatildeo do equiliacutebrio ambiental tais como a Agenda 21 e o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees

Quanto agrave sustentabilidade do ambiente urbano cabe ressaltar a importacircncia em se

pensar a interaccedilatildeo das edificaccedilotildees no territoacuterio de forma que estas contribuam positivamente

com o clima urbano Assim estatildeo diretamente relacionadas agrave sustentabilidade do ambiente

urbano as diretrizes relativas ao uso agrave seguranccedila agrave salubridade agrave acessibilidade e agrave

preservaccedilatildeo dos elementos histoacutericos artiacutesticos e culturais assim como diretrizes resultantes

de estudos climaacuteticos que aplicados ao desenho urbano possibilitem adaptaccedilatildeo das

edificaccedilotildees agraves caracteriacutesticas climaacuteticas locais ao conforto teacutermico luminoso e acuacutestico

Tambeacutem faz parte dessa transformaccedilatildeo urbana iniciativas que utilizem fontes de energia

alternativas e que combatam o desperdiacutecio de recursos

7

A partir do exposto acima foi escolhido como caso de estudo o Municiacutepio de Ouro

Preto situado na Regiatildeo Central de Minas Gerais Com um conjunto urbano de

aproximadamente 300 anos a cidade de Ouro Preto estaacute entre os 19 bens brasileiros

considerados Patrimocircnio Cultural da Humanidade pela UNESCO e entre os 77 conjuntos

urbanos tombados pelo IPHAN

Estudar Ouro Preto portanto pressupotildee acrescentar um olhar preservacionista aos

apontamentos sobre a regulaccedilatildeo urbana e o desenvolvimento sustentaacutevel Dentro dessa

realidade faz-se necessaacuterio desenvolver uma interaccedilatildeo entre esses trecircs importantes aspectos da

poliacutetica urbana municipal preservaccedilatildeo regulaccedilatildeo e sustentabilidade

Sendo assim o objetivo geral da pesquisa consiste em analisar dentro do contexto

juriacutedico do municiacutepio de Ouro Preto as leis pertinentes agrave regulaccedilatildeo urbana a fim de avaliar a

aplicaccedilatildeo dos preceitos do Estatuto da Cidade Ademais o presente trabalho procura

identificar os principais entraves e barreiras que atualmente impedem que a expansatildeo da

cidade ocorra de forma vinculada agrave qualidade de vida dos cidadatildeos agrave proteccedilatildeo ambiental e

vinculada agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico

A partir da identificaccedilatildeo e contextualizaccedilatildeo das legislaccedilotildees municipais foram

abordadas algumas iniciativas de promoccedilatildeo da sustentabilidade a fim de avanccedilar na

construccedilatildeo de uma base de dados climaacuteticos do municiacutepio capaz de orientar a elaboraccedilatildeo de

condicionantes urbaniacutesticas e diretrizes construtivas comprometidas com a proteccedilatildeo do meio

ambiente e com as premissas do conforto ambiental Dentro do rol de legislaccedilotildees municipais

destacou-se um importante instrumento da regulaccedilatildeo urbana o Coacutedigo de Obras e

Edificaccedilotildees Foram abordados na pesquisa aspectos importantes quanto agrave elaboraccedilatildeo e

atualizaccedilatildeo deste instrumento como por exemplo a incorporaccedilatildeo dos criteacuterios de

sustentabilidade a fim de elevar a qualidade das edificaccedilotildees e garantir o conforto do usuaacuterio

Para a anaacutelise do clima da cidade de Ouro Preto foram utilizados o diagrama de

Givoni as Tabelas de Mahoney aleacutem da NBR 15220 parte 3 A sistematizaccedilatildeo dos resultados

dessas trecircs ferramentas possibilitou a interpretaccedilatildeo das variaacuteveis climaacuteticas o que eacute

fundamental para a formulaccedilatildeo de recomendaccedilotildees arquitetocircnicas Tal resultado embasou o

apontamento global apresentado no uacuteltimo capiacutetulo quanto agraves principais recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas e agraves estrateacutegias prioritaacuterias de promoccedilatildeo do conforto ambiental

O trabalho deveraacute contribuir com os estudos que estatildeo sendo elaborados pelas

equipes teacutecnicas locais e com a conformaccedilatildeo de um pensamento criacutetico a cerca das poliacuteticas

puacuteblicas de promoccedilatildeo da sustentabilidade da regulaccedilatildeo urbana e da proteccedilatildeo patrimonial

8

2 O ESTATUTO DA CIDADE E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL

O iniacutecio do seacuteculo XXI podemos dizer foi marcado por uma mudanccedila qualitativa

no tocante ao Planejamento Urbano Brasileiro O Estatuto da Cidade Lei nordm 10257 foi

aprovado pelo Congresso Nacional em 2001 e representou uma grande vitoacuteria nos marcos do

planejamento urbano pois vinha sendo reivindicado pelos movimentos sociais de luta pela

reforma urbana desde a deacutecada de 1980 O Estatuto da Cidade veio regulamentar o Capiacutetulo II

da Constituiccedilatildeo Federal capiacutetulo este que trata da Poliacutetica Urbana composto pelos artigos

182 e 183 que ressaltam dentre outros aspectos como a poliacutetica de desenvolvimento urbano

deve estar diretamente associada agrave funccedilatildeo social da cidade e da propriedade urbana A

aprovaccedilatildeo desta lei significaria uma mudanccedila qualitativa nos marcos juriacutedico e institucional

dos municiacutepios por articular instrumentos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria habitaccedilatildeo saneamento

mobilidade e de gestatildeo de resiacuteduos aleacutem de introduzir o equiliacutebrio ambiental como item

essencial ao desenvolvimento urbano sustentaacutevel No Capiacutetulo 01 do Estatuto ndash Diretrizes

Gerais o primeiro artigo diz o seguinte

Art 1ordm Na execuccedilatildeo da poliacutetica urbana de que tratam os artigos 182 e 183 da

Constituiccedilatildeo Federal seraacute aplicado o previsto nesta Lei [] Paraacutegrafo uacutenico Para

todos os efeitos esta Lei denominada Estatuto da Cidade estabelece normas de

ordem puacuteblica e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol

do bem coletivo da seguranccedila e do bem-estar dos cidadatildeos bem como do equiliacutebrio

ambiental (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

O texto do Estatuto da Cidade tratou portanto de incorporar ao conjunto de

diretrizes da poliacutetica urbana o equiliacutebrio ambiental como um novo conceito como uma

demanda essencial ao desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis conforme estaacute disposto no

capiacutetulo introdutoacuterio da supracitada Lei

Contudo mesmo jaacute estando consolidado haacute mais de uma deacutecada o desafio

colocado pelo Estatuto da Cidade tem se aprofundado a cada dia A retirada de mateacuteria-prima

da natureza a exploraccedilatildeo de recursos energeacuteticos a demanda por aacutegua potaacutevel e por

alimentos assim como a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos satildeo intensificadas com o passar dos

anos e com o crescimento exponencial das cidades Nas grandes metroacutepoles o problema

ambiental jaacute alcanccedilou o alerta vermelho quanto agrave gravidade da situaccedilatildeo a poluiccedilatildeo a

impermeabilizaccedilatildeo dos solos a falta de vegetaccedilatildeo e de barreiras geograacuteficas naturais tecircm

provocado inuacutemeros danos ao meio ambiente urbano que sofre com a falta de chuva ou com o

excesso dela com a draacutestica alteraccedilatildeo do microclima e com a formaccedilatildeo de ilhas de calor cada

dia mais agressivas ao bem-estar da populaccedilatildeo

9

Nos municiacutepios menores embora os problemas ambientais sejam percebidos com

menor intensidade a poliacutetica urbana tambeacutem estaacute voltada para a exploraccedilatildeo e esgotamento

dos recursos naturais Natildeo haacute uma poliacutetica efetiva de proteccedilatildeo das aacutereas de risco das aacutereas de

proteccedilatildeo permanente assim como natildeo haacute saneamento baacutesico em toda a aacuterea urbana Soma-se

a esses problemas a falta de estaccedilotildees de tratamento de efluentes que resulta na utilizaccedilatildeo dos

cursos drsquoaacutegua como canais de esgotamento sanitaacuterio e consequentemente na contaminaccedilatildeo

dos recursos hiacutedricos de toda uma regiatildeo

A partir desses elementos evidencia-se que a promulgaccedilatildeo do Estatuto da Cidade

apesar do avanccedilo representado natildeo conseguiu resolver por si soacute os inuacutemeros problemas

ambientais urbanos que afetam agraves cidades brasileiras Tais problemas estatildeo diretamente

vinculados aos paracircmetros de parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo padrotildees construtivos e

padrotildees ediliacutecios das cidades definidos pela legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal quando

existente Os municiacutepios encontram enorme dificuldade em aplicar os preceitos do Estatuto

por falta de uma legislaccedilatildeo urbana forte aprimorada e atualizada que possa contemplar todos

os aspectos de uma regulaccedilatildeo urbana voltada para a sustentabilidade e para o bem-estar

coletivo

Eacute neste cenaacuterio que entram em cena os instrumentos da poliacutetica urbana previstos

no Capiacutetulo II do Estatuto da Cidade organizados em seis categorias que satildeo

I ndash planos nacionais regionais e estaduais de ordenaccedilatildeo do territoacuterio e de

desenvolvimento econocircmico e social

II ndash planejamento das regiotildees metropolitanas aglomeraccedilotildees urbanas e

microrregiotildees

III ndash planejamento municipal

IV ndash institutos tributaacuterios e financeiros

V ndash institutos juriacutedicos e poliacuteticos

VI ndash estudo preacutevio de impacto ambiental (EIA) e estudo preacutevio de impacto de

vizinhanccedila (EIV) (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho

2001)

As categorias III - planejamento municipal IV - institutos tributaacuterios e financeiros

e V - instrumentos juriacutedicos e poliacuteticos se desdobram em outros variados instrumentos que

associados e devidamente estabelecidos por lei especiacutefica serviratildeo de base para que os

municiacutepios avancem na construccedilatildeo de um ambiente urbano equilibrado inclusivo e

sustentaacutevel Destaca-se nesse quadro de instrumentos dentro da categoria ldquoplanejamento

municipalrdquo o Plano Diretor que constituindo o ldquoinstrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e expansatildeo urbanardquo possibilitaraacute para aleacutem da ordenaccedilatildeo do solo a

articulaccedilatildeo com outros processos de planejamento na esfera municipal Tal instrumento seraacute

melhor abordado no proacuteximo capiacutetulo

10

Apresentados os processos de planejamento e os instrumentos da poliacutetica urbana

trazidos pelo Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio avanccedilar no entendimento da

sustentabilidade enquanto conceito uma vez que esta passaraacute a compor um corpo uacutenico com o

que vier a se entender por ldquodesenvolvimentordquo

A preocupaccedilatildeo com o ordenamento juriacutedico de proteccedilatildeo e defesa do meio

ambiente se materializou no Brasil inicialmente em 1981 a partir da promulgaccedilatildeo da Lei

6938 que instituiu a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente O SISNAMA Sistema Nacional

do Meio Ambiente reuniu os oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Direta - Uniatildeo Estados

DF e Municiacutepios - responsaacuteveis pela proteccedilatildeo e melhoria da qualidade ambiental

Em 2002 a construccedilatildeo da Agenda 21 Brasileira buscou associar o conceito de

sustentabilidade agraves poliacuteticas de desenvolvimento urbano As Agendas Nacionais foram

desenvolvidas a partir da Agenda 21 Global Esta uacuteltima resultou das discussotildees realizadas na

Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD)

mais conhecida como Rio 92 A Agenda 21 consiste em um programa de accedilatildeo voltado para a

aplicaccedilatildeo de meacutetodos de proteccedilatildeo ambiental justiccedila social e eficiecircncia econocircmica Eacute um

documento de 40 capiacutetulos com mais de 2500 recomendaccedilotildees praacuteticas e foi assinado por 179

paiacuteses formalizando o compromisso dessas naccedilotildees com o Desenvolvimento Sustentaacutevel do

Planeta Instrumento de planejamento participativo a Agenda 21 deve ser um resultado de

accedilotildees que congreguem governo e sociedade civil e por isso eacute um instrumento aliado das novas

frentes de trabalho inauguradas pelo Estatuto da Cidade A partir dos trechos a seguir

retirados respectivamente da Agenda 21 e do Estatuto da Cidade pode-se perceber a afinidade

nas pretensotildees dos dois Instrumentos de Planejamento

71 Nos paiacuteses industrializados os padrotildees de consumo das cidades representam

uma pressatildeo muito seacuteria sobre o ecossistema global ao passo que no mundo em

desenvolvimento os assentamentos humanos necessitam de mais mateacuteria-prima

energia e desenvolvimento econocircmico simplesmente para superar seus problemas

econocircmicos e sociais baacutesicos Em muitas regiotildees do mundo em especial nos paiacuteses

em desenvolvimento as condiccedilotildees dos assentamentos humanos vecircm se

deteriorando sobretudo em decorrecircncia do baixo volume de investimentos no setor

imputaacutevel agraves restriccedilotildees relativas a recursos com que esses paiacuteses se deparam em

todas as aacutereas Nos paiacuteses de baixa renda sobre os quais haacute dados recentes apenas

56 por cento do orccedilamento do Governo central em meacutedia foram dedicados a

habitaccedilatildeo lazer seguridade social e bem-estar social [] Objetivo 78 O objetivo eacute

oferecer habitaccedilatildeo adequada a populaccedilotildees em raacutepido crescimento e aos pobres

atualmente carentes tanto de aacutereas rurais como urbanas por meio de uma

abordagem que possibilite o desenvolvimento e a melhoria de condiccedilotildees de moradia

ambientalmente saudaacuteveis (AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do

Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992)

11

Estatuto da Cidade Capiacutetulo 1 ndash Diretrizes Gerais Art 2ordm A poliacutetica urbana tem por

objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e da

propriedade urbana mediante as seguintes diretrizes gerais I ndash garantia do direito a

cidades sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao

saneamento ambiental agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos

puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para as presentes e futuras geraccedilotildees [] Art 3ordm

Compete agrave Uniatildeo entre outras atribuiccedilotildees de interesse da poliacutetica urbana IV -

instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano inclusive habitaccedilatildeo saneamento

baacutesico transportes urbanos e infraestrutura de energia e telecomunicaccedilotildees

(BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

O texto da Agenda 21 mais especificamente o Preacircmbulo enfatiza que o sucesso

na aplicaccedilatildeo desse plano de accedilatildeo depende primeiramente do comprometimento dos governos

com a preparaccedilatildeo de estrateacutegias planos poliacuteticas e processos nacionais para a concretizaccedilatildeo

dos objetivos estabelecidos

A Agenda 21 Brasileira foi desenvolvida no periacuteodo de 1996 a 2002 e teve como

eixo a sustentabilidade a partir da compatibilizaccedilatildeo entre conservaccedilatildeo ambiental justiccedila

social e crescimento econocircmico

Ao aprofundar-se na elaboraccedilatildeo de diretrizes para problemas de ordem estrutural

a Agenda 21 Brasileira foi elevada a programa dentro do Plano Plurianual de Governo (entre

2004 e 2007)1 o que daria maior forccedila poliacutetica e institucional agrave Agenda Sendo assim a partir

de soluccedilotildees integradas planejadas a meacutedio e longo prazos e a partir da associaccedilatildeo entre

governo e sociedade seria possiacutevel tratar de questotildees como ldquoeconomia da poupanccedila na

sociedade do conhecimento inclusatildeo social para uma sociedade solidaacuteria estrateacutegia para a

sustentabilidade urbana e rural recursos naturais estrateacutegicos governanccedila e eacutetica para a

promoccedilatildeo da sustentabilidaderdquo (AGENDA 21 BRASILEIRA 2004 p04) O Programa foi

estruturado em trecircs accedilotildees implementar a Agenda 21 Brasileira promover a elaboraccedilatildeo e

implementaccedilatildeo de Agendas 21 Locais e formaccedilatildeo continuada em Agenda 21

Vale destacar a importacircncia da Agenda 21 Local enquanto instrumento

complementar aos instrumentos da poliacutetica municipal de desenvolvimento urbano

A Agenda 21 Local eacute um dos principais instrumentos para se conduzir processos de

mobilizaccedilatildeo troca de informaccedilotildees geraccedilatildeo de consensos em torno dos problemas e

1 Importante destacar que ldquoO Plano Plurianual (PPA) eacute um instrumento previsto no art 165 da Constituiccedilatildeo

Federal destinado a organizar e viabilizar a accedilatildeo puacuteblica com vistas a cumprir os fundamentos e os objetivos da

Repuacuteblica Por meio dele eacute declarado o conjunto das poliacuteticas puacuteblicas do governo para um periacuteodo de quatro

anos e os caminhos trilhados para viabilizar as metas previstas construindo um Brasil melhorrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwmpgovbrministerioaspindex=10ampler=s1086gt Acesso em 06 jun 2015 O Plano Plurianual

referente ao periacuteodo 2004 ndash 2007 foi regulamentado pela Lei Nordm 10933 de 2004 sancionada pelo entatildeo

Presidente Luiacutez Inaacutecio Lula da Silva

12

soluccedilotildees locais e estabelecimento de prioridades para a gestatildeo de desde um estado

municiacutepio bacia hidrograacutefica unidade de conservaccedilatildeo ateacute um bairro uma escola O

processo deve ser articulado com outros projetos programas e atividades do governo

e sociedade sendo consolidado dentre outros a partir do envolvimento dos agentes

regionais e locais anaacutelise identificaccedilatildeo e promoccedilatildeo de instrumentos financeiros

difusatildeo e intercacircmbio de experiecircncias definiccedilatildeo de indicadores de desempenho

(AGENDA 21 Brasileira accedilotildees prioritaacuteriasComissatildeo de Poliacuteticas de

Desenvolvimento Sustentaacutevel e da Agenda 21 Nacional 2 ed Brasiacutelia Ministeacuterio

do Meio Ambiente 2004)

Desde entatildeo o esforccedilo em fomentar a construccedilatildeo das Agendas 21 Locais gerou

um resultado positivo embora muito aqueacutem do necessaacuterio para uma mudanccedila substancial nas

poliacuteticas em prol do desenvolvimento sustentaacutevel Em 2013 apenas 215 dos municiacutepios

brasileiros possuiacuteam processos em andamento relativos agrave Agenda 21 conforme foi

identificado pela IBGE a partir da Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros (MUNIC

2013) 2 Tal percentual apesar da pouca expressividade demarca um processo positivo de

mudanccedila tendo em vista que nos dados dos anos anteriores observava-se percentuais ainda

menores aleacutem de um processo de decliacutenio em 2009 a pesquisa indicou que 199 dos

municiacutepios haviam iniciado a elaboraccedilatildeo da agenda 21 enquanto em 2012 o percentual

baixou para 181

Nota-se ante ao exposto ateacute aqui que existe um arcabouccedilo legal significativo em

prol do desenvolvimento urbano sustentaacutevel Contudo a aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo existente e a

obtenccedilatildeo de resultados positivos estatildeo longe de se tornar uma realidade no Brasil Sendo

assim faz-se necessaacuterio reforccedilar a cada dia os compromissos estabelecidos nas Leis

Brasileiras e trabalhar na efetivaccedilatildeo dos instrumentos de promoccedilatildeo do equiliacutebrio ambiental a

partir da aplicaccedilatildeo das premissas da sustentabilidade Atingir o desenvolvimento urbano

sustentaacutevel natildeo eacute somente uma das opccedilotildees mas a uacutenica opccedilatildeo existente se quisermos que o

planeta tenha vida longa Preservar o meio ambiente deve ser uma accedilatildeo constante associada a

todas agraves demais poliacuteticas puacuteblicas Quanto agrave iniciativa privada esta deveraacute ser

permanentemente fiscalizada Regulamentar as atividades de exploraccedilatildeo da natureza e buscar

a inibiccedilatildeo severa de atividades de impacto ambiental satildeo tarefas urgentes que o Poder Puacuteblico

deve assimilar o quanto antes

2 Ressalta-se que ldquoA Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais ndash MUNIC eacute realizada desde o ano de 1999

pelo IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Na versatildeo de 2013 foram destacados os aspectos

relevantes da gestatildeo e da estrutura dos 5570 municiacutepios brasileiros a partir dos seguintes eixos perfil dos

gestores municipais recursos humanos das administraccedilotildees municipais legislaccedilatildeo e instrumentos de

planejamento sauacutede meio ambiente poliacutetica de gecircnero ndash temas jaacute investigados em anos anteriores ndash aleacutem de

gestatildeo de riscos e resposta a desastres este ineacutedito ateacute entatildeordquo Disponiacutevel em

lthttpwwwibgegovbrhomeestatisticaeconomiaperfilmunic2013defaultshtmgt Acesso em 06 jun 2015)

13

Somente com a permanente preocupaccedilatildeo do Estado para com o tema seraacute

possiacutevel consolidar o desenvolvimento urbano a partir da aplicaccedilatildeo das premissas da

sustentabilidade do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

14

3 O PLANO DIRETOR E OS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO

MUNICIPAL

Para introduzir a discussatildeo do Plano Diretor e demais instrumentos de

planejamento municipal previstos no Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio retomar o momento

da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 com destaque para o Art30 que determina as tarefas de

competecircncia dos Municiacutepios Dentre tais competecircncias destacam-se os incisos VIII e IX

diretamente relacionados ao planejamento urbano

Art 30 Compete aos Municiacutepios [] VIII - promover no que couber adequado

ordenamento territorial mediante planejamento e controle do uso do parcelamento e

da ocupaccedilatildeo do solo urbano IX - promover a proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-

cultural local observada a legislaccedilatildeo e a accedilatildeo fiscalizadora federal e estadual

(BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de

1988)

Aleacutem de delimitar as competecircncias municipais a Constituiccedilatildeo tambeacutem apontou

no Art182 do Capiacutetulo II o Plano Diretor - velho conhecido dos Teacutecnicos e Governantes -

como principal instrumento a ser utilizado pelos Municiacutepios no desenvolvimento da poliacutetica

urbana

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo Poder Puacuteblico

municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem por objetivo ordenar o

pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus

habitantes sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio para

cidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e de expansatildeo urbana sect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua

funccedilatildeo social quando atende agraves exigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade

expressas no plano diretor (BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do

Brasil de 5 de outubro de 1988)

Contudo tal instrumento natildeo representou uma novidade A expressatildeo Plano

Diretor foi utilizada pela primeira vez no Brasil em 1930 a partir do Plano Agache3

desenvolvido para o Rio de Janeiro Posteriormente foram desenvolvidos planos diretores em

todo o territoacuterio brasileiro planos estes que ficariam engavetados por falta de vontade

3 Nota-se que ldquoO Plano Agache foi a primeira proposta de intervenccedilatildeo urbaniacutestica na cidade do Rio de Janeiro

com preocupaccedilotildees genuinamente modernas Concluiacutedo em 1930 introduziu no cenaacuterio nacional algumas

questotildees tiacutepicas da cidade industrial tais como o planejamento do transporte de massas e do abastecimento de

aacuteguas a habitaccedilatildeo operaacuteria e o crescimento das favelas Aleacutem disso com discussotildees emergentes que iam desde a

necessidade de um zoneamento para a cidade ateacute a delimitaccedilatildeo de aacutereas verdes ultrapassou os limites do

Academicismo das intervenccedilotildees predecessoras de Pereira Passos e Paulo de Frontinrdquo Disponiacutevel em

lthttpplanourbanoriorjgovbrgt Acesso em 06 de jun 2015

15

poliacutetica A nomenclatura e o conteuacutedo dos planos diretores variaram com o passar dos anos

segundo Villaccedila

Por fim cabe abordar historicamente as jaacute mencionadas mudanccedilas na nomenclatura

nas formas nos conteuacutedos e nas metodologias dos planos Em primeiro lugar cai em

desuso a expressatildeo plano de melhoramentos e embelezamento e entra em cena a

expressatildeo urbanismo Depois esta cai em desuso sendo substituiacuteda por

planejamento urbano e plano diretor Em segundo lugar os conteuacutedos e

metodologias de elaboraccedilatildeo dos planos sofrem alteraccedilotildees radicais De enormes

volumes com centenas de paacuteginas recheados de mapas pesquisas e estatiacutesticas

elaborados por equipes multidisciplinares e abordando enorme leque de problemas

transformam-se em meros projetos de lei agraves vezes contendo apenas declaraccedilotildees de

princiacutepios poliacuteticas ou diretrizes gerais agraves vezes ateacute sem mapas ou com poucos

mapas Um simples projeto de lei publicado no Diaacuterio Oficial (CSABA Deaacutek

SUELI Ramos Schiffer (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo

Editora da Universidade de Satildeo Paulo 1999 p191)

A realidade eacute que os planos diretores desenvolvidos no Brasil entre as deacutecadas de

1940 e 1990 natildeo correspondiam ao pensamento dos governantes e das classes dominantes e

por isso natildeo contaram com intenccedilatildeo real de aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo Os objetivos apontados

natildeo seriam atingidos pois o Plano Diretor natildeo se tornara uma prioridade em nenhuma das

esferas administrativas do paiacutes

O ressurgimento do instrumento Plano Diretor em 1988 embora isento de grandes

novidades veio acompanhado da premissa da funccedilatildeo social da propriedade um aspecto

positivo e inovador da poliacutetica urbana poreacutem praticamente inviaacutevel de ser aplicado num

primeiro momento pelos obstaacuteculos constantes na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal Contudo

diante da pressatildeo dos movimentos sociais e populares que se fortaleceram durante o processo

de redemocratizaccedilatildeo tais planos foram se tornando mais politizados abordando aspectos

especiacuteficos da competecircncia municipal e tratando das polecircmicas voltadas para o territoacuterio

inclusive sobre a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria no espaccedilo urbano

Em 2001 a poliacutetica urbana foi regulamentada pela Lei 10257 - Estatuto da

Cidade ndash devidamente apresentada no capiacutetulo anterior Com uma abordagem democraacutetico-

participativa voltada para os interesses coletivos tal lei possibilitou uma mudanccedila expressiva

no planejamento urbano principalmente na esfera municipal

O Plano Diretor Participativo como seraacute chamado a partir de entatildeo se torna o

principal dentre outros sete instrumentos de planejamento municipal expressos no Art 4ordm

inciso III da Lei 10257

Art 4o Para os fins desta Lei seratildeo utilizados entre outros instrumentos [] III ndash

planejamento municipal em especial a) plano diretor b) disciplina do

parcelamento do uso e da ocupaccedilatildeo do solo c) zoneamento ambiental d) plano

plurianual e) diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual f) gestatildeo orccedilamentaacuteria

16

participativa g) planos programas e projetos setoriais h) planos de

desenvolvimento econocircmico e social (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade

de 10 de julho 2001)

O conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelos planos diretores foi estabelecido na

resoluccedilatildeo nordm34 de 01 de julho de 2005 pelo Conselho das Cidades A tal conselho

regulamentado pelo Decreto 5031 2004 competia emitir orientaccedilotildees e recomendaccedilotildees sobre

a aplicaccedilatildeo da Lei 10257 de 2001 (Estatuto da Cidade) e dos demais atos normativos

relacionados ao desenvolvimento urbano A inclusatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel das

cidades nas novas diretrizes da poliacutetica urbana teraacute no plano diretor a sua expressatildeo

fundamental Dentre o conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelo Plano Diretor Participativo

merece destaque o Art 2ordm inciso III aleacutem do Art 5ordm inciso VII do Estatuto da Cidade

Art 2deg As funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade urbana seratildeo definidas a partir

da destinaccedilatildeo de cada porccedilatildeo do territoacuterio do municiacutepio bem como da identificaccedilatildeo

dos imoacuteveis natildeo edificados subutilizados e natildeo utilizados no caso de sua existecircncia

de forma a garantir [] III - a universalizaccedilatildeo do acesso aacute aacutegua potaacutevel aos

serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio a coleta e disposiccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos e ao

manejo sustentaacutevel das aacuteguas pluviais de forma integrada aacutes poliacuteticas ambientais de

recursos hiacutedricos e de sauacutede [] Art 5deg A instituiccedilatildeo das Zonas Especiais

considerando o interesse local deveraacute [] VII - demarcar as aacutereas de proteccedilatildeo

preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e construiacutedo do patrimocircnio

cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico (BRASIL Lei nordm10257

Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

Ao estabelecer as diretrizes de ordenaccedilatildeo do solo o Plano Diretor estabelece que

a propriedade urbana deve servir agrave qualidade de vida dos cidadatildeos agrave justiccedila social e ao

desenvolvimento sustentaacutevel das atividades econocircmicas A referecircncia territorial que estrutura

as estrateacutegias definidas pelo Plano Diretor eacute o macrozoneamento Este subdivide o territoacuterio

municipal a partir da identificaccedilatildeo das potencialidades e das caracteriacutesticas de cada aacuterea Satildeo

algumas categorias utilizadas na definiccedilatildeo do macrozoneamento aacutereas aptas agrave urbanizaccedilatildeo

aacutereas propiacutecias ao desenvolvimento de atividades rurais aacutereas de preservaccedilatildeo e aacutereas de

exploraccedilatildeo econocircmica Aleacutem da definiccedilatildeo de intenccedilotildees para os vetores do territoacuterio

municipal o macrozoneamento define tambeacutem o periacutemetro urbano e as zonas de expansatildeo

urbana enquanto instrumentos de direcionamento da urbanizaccedilatildeo da gestatildeo ambiental e do

crescimento econocircmico A delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano deve ser feita a partir de planta

referenciada com clara indicaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e fiacutesicos limiacutetrofes e deve servir

para direcionar o adensamento populacional para as aacutereas providas de infraestrutura

garantindo a proteccedilatildeo das aacutereas de interesse ambiental e a reserva de aacutereas para produccedilatildeo

agriacutecola e ocupaccedilatildeo rural A alteraccedilatildeo de tal periacutemetro conforme previsto no Art42B do

17

Estatuto da Cidade deveraacute instituiacuteda por lei municipal e deve ser resultado de projeto

especiacutefico que contemple o conteuacutedo miacutenimo e que atenda agraves diretrizes do Plano Diretor

O segundo instrumento de planejamento municipal apresentado no Art 4ordm do

Estatuto da Cidade o parcelamento o uso e a ocupaccedilatildeo do solo eacute tambeacutem um importante

instrumento para a concretizaccedilatildeo dos preceitos da sustentabilidade do ambiente urbano A

Legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal definiraacute o zoneamento da aacuterea urbana Tal zoneamento

responsaacutevel pela subdivisatildeo do periacutemetro urbano em diferentes categorias eacute o principal

instrumento da regulaccedilatildeo urbana A definiccedilatildeo das categorias deveraacute ser pautada pelo melhor

aproveitamento e pela ampliaccedilatildeo do acesso agrave terra urbanizada O zoneamento orienta o

ordenamento urbano a partir das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo do solo definindo os paracircmetros

urbaniacutesticos - coeficiente de aproveitamento taxa de ocupaccedilatildeo afastamentos gabaritos - de

forma que os projetos de edificaccedilotildees e demais intervenccedilotildees mantenham uma densidade de

ocupaccedilatildeo que favoreccedila o conforto ambiental urbano Dentre os criteacuterios para a definiccedilatildeo dos

diferentes paracircmetros urbaniacutesticos que incidem sobre o territoacuterio estatildeo proteccedilatildeo das aacutereas

ambientalmente fraacutegeis adensamento de aacutereas providas de infraestrutura limitaccedilatildeo de usos a

partir da capacidade viaacuteria controle da permeabilidade do solo preservaccedilatildeo e proteccedilatildeo de

conjuntos de valor histoacuterico cultural ou ambiental distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo de baixa renda

em aacutereas bem localizadas e servidas de infraestrutura condiccedilotildees climaacuteticas locais

As diretrizes para o parcelamento geralmente compoem junto com os paracircmetros

urbaniacutesticos a mesma lei municipal O parcelamento merece destaque pois trata dos novos

espaccedilos que seratildeo incorporados ao tecido urbano da cidade e portanto deveraacute estar

integralmente articulado com as estrateacutegias do desenvolvimento urbano Eacute regulamentado em

acircmbito geral pela Lei Federal 676679 acrescida das alteraccedilotildees posteriores definidas nas leis

978599 e 1144507 O parcelamento configura um processo de expansatildeo horizontal ou

adensamento da aacuterea urbanizada e consiste na subdivisatildeo de um determinado imoacutevel sob as

formas de desmembramento (quando haacute o aproveitamento do sistema viaacuterio existente) ou

loteamento (quando haacute abertura de novas vias e logradouros ou modificaccedilatildeo dos existentes)

Deveratildeo ser contempladas na Lei de Parcelamento as aacutereas que natildeo admitiratildeo parcelamento

os paracircmetros de dimensionamento de lotes quadras e sistema viaacuterio as aacutereas de uso puacuteblico

as faixas de proteccedilatildeo a infraestrutura baacutesica os procedimentos administrativos para

aprovaccedilatildeo do projeto as contrapartidas do empreendedor as penalidades sobre infraccedilotildees

assim como os procedimentos para regularizaccedilatildeo das aacutereas em desconformidade com a Lei

Paracircmetros de conforto ambiental tais como ventos favoraacuteveis orientaccedilatildeo solar vegetaccedilatildeo

18

sistema de abastecimento de aacutegua sistema de esgotamento sanitaacuterio e sistema de drenagem

devem ser definidos em lei e cobrados nos projetos de parcelamento a fim de minimizar os

impactos ao meio ambiente

Vale destacar que o sucesso na elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo das Leis de Parcelamento

Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo depende primeiramente do comprometimento da gestatildeo municipal

com a democratizaccedilatildeo da cidade e com o bem-estar coletivo caso contraacuterio tal legislaccedilatildeo

poderaacute aprofundar a segregaccedilatildeo privilegiando a iniciativa privada a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria

e os interesses individuais

O zoneamento ambiental terceiro instrumento de planejamento municipal

apontado na lista do Art 4ordm do Estatuto da Cidade eacute tambeacutem um instrumento da Poliacutetica

Nacional do Meio Ambiente regida pela Lei 693881 Art 9ordm O zoneamento ambiental pode

ser considerado uma expressatildeo sinocircnima do Zoneamento Ecoloacutegico-Econocircmico ndash ZEE que

foi regulamentado pelo Decreto 429702

CAPITULO I - DOS OBJETIVOS E PRINCIacutePIOS ndash [] Art 2ordm O ZEE

instrumento de organizaccedilatildeo do territoacuterio a ser obrigatoriamente seguido na

implantaccedilatildeo de planos obras e atividades puacuteblicas e privadas estabelece medidas e

padrotildees de proteccedilatildeo ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental dos

recursos hiacutedricos e do solo e a conservaccedilatildeo da biodiversidade garantindo o

desenvolvimento sustentaacutevel e a melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo

Art 3ordm O ZEE tem por objetivo geral organizar de forma vinculada as decisotildees dos

agentes puacuteblicos e privados quanto a planos programas projetos e atividades que

direta ou indiretamente utilizem recursos naturais assegurando a plena manutenccedilatildeo

do capital e dos serviccedilos ambientais dos ecossistemas Paraacutegrafo uacutenico O ZEE na

distribuiccedilatildeo espacial das atividades econocircmicas levaraacute em conta a importacircncia

ecoloacutegica as limitaccedilotildees e as fragilidades dos ecossistemas estabelecendo vedaccedilotildees

restriccedilotildees e alternativas de exploraccedilatildeo do territoacuterio e determinando quando for o

caso inclusive a relocalizaccedilatildeo de atividades incompatiacuteveis com suas diretrizes

gerais (BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002)

O zoneamento ambiental ou ZEE eacute o instrumento que possibilita traccedilar um

panorama sobre a utilizaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais de um determinado

municiacutepio gerando as bases para um planejamento urbano comprometido com a

sustentabilidade ecoloacutegica econocircmica e social Tambeacutem eacute um instrumento de caraacuteter

democraacutetico-participativo e deve portanto ser acompanhado pela Administraccedilatildeo Puacuteblica em

seus diferentes niacuteveis e pela sociedade civil Tal instrumento assim como o zoneamento

urbano divide o territoacuterio em diferentes categorias As categorias do zoneamento ambiental

satildeo definidas a partir dos princiacutepios da utilidade e da simplicidade de forma a configurar

limites claros e compreensiacuteveis ao poder puacuteblico e aos cidadatildeos As diretrizes gerais e

especiacuteficas do zoneamento deveratildeo conter a capacidade de suporte ambiental de determinada

aacuterea a necessidade de proteccedilatildeo dos recursos renovaacuteveis e natildeo-renovaacuteveis a definiccedilatildeo de aacutereas

19

para unidades de conservaccedilatildeo integral a permissatildeo para exploraccedilatildeo de recursos naturais as

medidas para o desenvolvimento sustentaacutevel do setor rural medidas de ajustamento entre usos

conflitantes aleacutem de planos programas e fonte de recursos para viabilizar as atividades

apontadas para cada zona

Apesar de ser um importante instrumento de suporte agrave proteccedilatildeo do meio ambiente

o zoneamento ambiental ou ZEE ainda tem sido pouco utilizado pelos municiacutepios brasileiros

Contudo os dados da Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais (MUNIC 2013)

demonstraram que tem havido um crescimento do percentual de municiacutepios com legislaccedilatildeo

especiacutefica sobre a questatildeo ambiental o que traz um pouco de esperanccedila quanto agrave mudanccedila

dos paradigmas de proteccedilatildeo do meio ambiente A MUNIC 2013 apontou que em 2012

554 dos municiacutepios tinham legislaccedilatildeo ambiental jaacute em 2013 esse percentual subiu para

655

Por uacuteltimo os demais instrumentos de planejamento municipal apontados no Art

4ordm do Estatuto da Cidade - plano plurianual diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual

gestatildeo orccedilamentaacuteria participativa planos programas e projetos setoriais planos de

desenvolvimento econocircmico e social ndash tratariam de garantir a gestatildeo democraacutetica da cidade a

partir da realizaccedilatildeo de debates audiecircncias e consultas puacuteblicas como condiccedilatildeo para a

aprovaccedilatildeo das Leis Municipais Tais instrumentos apesar de natildeo-urbaniacutesticos tecircm uma

importacircncia decisiva na reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais Contudo embora tenham se

efetivado na maioria dos municiacutepios brasileiros ainda permanecem em sua maioria

mergulhados na velha poliacutetica clientelista que transforma os foacuteruns de participaccedilatildeo em

espaccedilos esvaziados pouco divulgados redutos de manobras poliacuteticas e trocas de favores

Infelizmente a garantia da gestatildeo democraacutetica natildeo seraacute alcanccedilada apenas por atos normativos

assim como as diretrizes estabelecidas para o desenvolvimento urbano sustentaacutevel tambeacutem

natildeo ser tornaratildeo realidade apenas por forccedila de Lei Eacute necessaacuterio mudar o caraacuteter da gestatildeo do

territoacuterio que atualmente se caracteriza pela anulaccedilatildeo da atuaccedilatildeo teacutecnica das diferentes aacutereas

do conhecimento a fim de garantir que o interesse privado prevaleccedila sobre os diretos coletivos

de toda uma cidade Eacute necessaacuterio colocar em praacutetica os preceitos das leis brasileiras efetivar

os instrumentos com real participaccedilatildeo popular lanccedilar as bases para um modelo de gestatildeo

realmente democraacutetico inclusivo e comprometido com o bem estar coletivo e com a justiccedila

social

20

4 OS DESAFIOS DA REGULACcedilAtildeO URBANA FRENTE AgraveS INTERVENCcedilOtildeES NAS

EDIFICACcedilOtildeES E NOS CONJUNTOS URBANOS TOMBADOS

A proteccedilatildeo e a preservaccedilatildeo dos siacutetios urbanos de valor histoacuterico arquitetocircnico

cultural ou paisagiacutestico satildeo imprescindiacuteveis para a manutenccedilatildeo da identidade e da memoacuteria

dos diferentes grupos sociais que por ali passaram ou nele se estabeleceram O registro da

histoacuteria deve ser deixado agraves geraccedilotildees futuras como siacutembolo do conhecimento e da experiecircncia

adquirida ao longo do tempo A proteccedilatildeo de um determinado siacutetio pode inclusive ser

utilizada quando a memoacuteria coletiva e a afetividade de uma comunidade para com um

determinado espaccedilo adquirir grande relevacircncia cultural gerando uma ambiecircncia a ser

protegida mesmo que esta tenha se consolidado em um periacuteodo recente

Atualmente a preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos e a conservaccedilatildeo dos imoacuteveis

urbanos tecircm no desenvolvimento urbano sustentaacutevel um importante aliado A disseminaccedilatildeo

da loacutegica do consumo que atinge tanto os bens materiais moacuteveis quanto os imoacuteveis resulta

numa produccedilatildeo exagerada desses bens o que demanda enorme quantidade de mateacuteria-prima e

energia e causa impacto no meio ambiente Sendo assim as poliacuteticas de preservaccedilatildeo e o

incentivo ao reuso de edifiacutecios e objetos contribuem para a sustentabilidade e o equiliacutebrio

ambiental

Hoje existem no Brasil doze siacutetios urbanos e sete siacutetios naturais que satildeo

considerados Patrimocircnio Cultural da Humanidade e portanto tombados internacionalmente

pela UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

Dentre os conjuntos tombados internacionalmente destaca-se a predominacircncia dos centros

histoacutericos de caracteriacutesticas coloniais tais como o Centro Histoacuterico de Ouro Preto MG

Olinda PE Salvador BA Satildeo Luiz do Maranhatildeo MA Diamantina MG e Goiaacutes GO Natildeo

menos importante o tombamento nacional realizado pelo IPHAN ndash Instituto do Patrimocircnio

Histoacuterico e Artiacutestico Nacional preserva 77 conjuntos urbanos espalhados por todas as regiotildees

do Brasil com destaque para a regiatildeo nordeste que conta com 30 desses centros tombados

Somam-se a esse contingente os conjuntos tombados estadualmente e municipalmente que

natildeo seratildeo aqui enumerados

A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio estaacute presente no ordenamento

juriacutedico brasileiro desde 1937 quando por meio do Decreto-Lei nordm25 criou-se o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash SPHAN (atual IPHAN) para proteger as cidades

e os monumentos da modernizaccedilatildeo das reformas urbanas e do interesse imobiliaacuterio

21

Reafirmada pelo Art 216 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e pelo Art 2ordm inciso XII do

Estatuto da Cidade a proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e

construiacutedo do patrimocircnio cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico tornou-se

diretriz obrigatoacuteria a ser contemplada pelos planos urbanos e legislaccedilotildees municipais

Contudo a preservaccedilatildeo dos conjuntos urbanos tombados natildeo pressupotildee o

congelamento das cidades Os paracircmetros para as intervenccedilotildees contemporacircneas deveratildeo ser

definidos em leis especiacuteficas de modo a evitar que o novo se sobreponha ou se confunda com

o existente A preservaccedilatildeo do conjunto tombado soacute seraacute possiacutevel se for permitido agrave cidade

expandir-se adensar-se e modificar-se Caso contraacuterio centro e cidade se tornaratildeo obsoletos

Percebe-se portanto que a regulaccedilatildeo urbana nas cidades histoacutericas enfrenta um

grande desafio preservar o antigo e abrir-se ao novo Sendo assim como proceder e quais

instrumentos utilizar Como a legislaccedilatildeo municipal deveraacute ser elaborada e aplicada a fim de

contemplar a preservaccedilatildeo do conjunto tombado e a expansatildeo da cidade seguindo os preceitos

da sustentabilidade

A preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos associada agrave expansatildeo sustentaacutevel das cidades eacute

um tema que vem sendo amplamente discutido inclusive em acircmbito internacional Nos paiacuteses

do norte e principalmente no continente europeu os siacutetios urbanos que demandam poliacuteticas

de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo remontam de seacuteculos e ateacute mesmo de milecircnios passados Embora

uma grande parte do patrimocircnio mundial tenha se perdido com a destruiccedilatildeo resultante das

guerras das cataacutestrofes e da imposiccedilatildeo de novas culturas como aconteceu principalmente nos

paiacuteses do sul que tiveram a cultura originaacuteria destruiacuteda pela colonizaccedilatildeo ainda haacute muito

patrimocircnio a ser preservado E natildeo eacute de hoje que os teacutecnicos e profissionais de diversas aacutereas

do conhecimento tecircm desenvolvido teorias e instrumentos para assegurar a salvaguarda de

todo esse patrimocircnio

Desde entatildeo leis documentos planos guias e coacutedigos vecircm sendo desenvolvidos

com o objetivo de orientar e direcionar as accedilotildees e intervenccedilotildees sobre o patrimocircnio cultural das

cidades com vistas ao desenvolvimento sustentaacutevel

Um importante documento desenvolvido em 2008 pelo Governo da Escoacutecia o

ldquoSustainable Development Guidance for Estate Managementrdquo buscou sistematizar a partir

dos preceitos da sustentabilidade estrateacutegias e orientaccedilotildees para a realizaccedilatildeo de intervenccedilotildees

principalmente para as novas construccedilotildees Tal preocupaccedilatildeo se intensificou apoacutes a discussatildeo

sobre as mudanccedilas climaacuteticas e os efeitos futuros ldquoThe Stern Review on the Economics of

Climate Changerdquo realizada pelo Governo do Reino Unido O documento ldquoSustainable

22

Development Guidance for Estate Managementrdquo se assemelha a um guia para o

desenvolvimento sustentaacutevel que aborda as estrateacutegias de accedilatildeo e recomendaccedilotildees para fazer da

Escoacutecia um paiacutes mais ecoloacutegico

Segundo esse Guia que trata da proteccedilatildeo do ambiente natural e da manutenccedilatildeo do

ambiente construiacutedo a sustentabilidade deveraacute ser uma prerrogativa tanto nas novas

construccedilotildees como na manutenccedilatildeo das edificaccedilotildees existentes nas conversotildees de uso nas

ampliaccedilotildees no retrofit4 e nas demoliccedilotildees No item 36 ldquoEmbedding sustainability within the

estate strategy processrdquo satildeo apontados os itens a serem observados na elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias e projetos para o desenvolvimento manutenccedilatildeo ou restauraccedilatildeo de edificaccedilotildees Satildeo

eles biodiversidade layout flexiacutevel nas construccedilotildees materiais construtivos e a possibilidade

de recuperaccedilatildeo reciclagem e reuso gestatildeo da aacutegua diminuiccedilatildeo da poluiccedilatildeo energia

certificada minimizaccedilatildeo do consumo de energia atraveacutes do isolamento e da ventilaccedilatildeo

natural utilizaccedilatildeo de energias renovaacuteveis como energia solar diminuiccedilatildeo do desperdiacutecio e

aumento da reciclagem dentre outros itens A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio

conforme jaacute foi discutido no iniacutecio deste capiacutetulo tambeacutem estaacute presente no Guia conforme

aponta o item 43 ldquoHistoric Buildingsrdquo Neste item direciona-se a atenccedilatildeo para as amplas

possibilidades de reuso e reabilitaccedilatildeo dessas edificaccedilotildees Tal situaccedilatildeo deve partir da

intervenccedilatildeo miacutenima e deve garantir que as caracteriacutesticas histoacutericas ou culturais dos edifiacutecios

sejam devidamente respeitadas e mantidas O Guia trata tambeacutem do procedimento para

reparos que na medida do possiacutevel deve ser feito atraveacutes das teacutecnicas tradicionais e dos

materiais originais ou compatiacuteveis sempre com apoio de profissional especializado Eacute

enfatizada tambeacutem a obrigatoriedade em solicitar das autoridades competentes autorizaccedilatildeo

para as intervenccedilotildees Por uacuteltimo apoacutes feitas todas as consideraccedilotildees sobre os aspectos

positivos da reutilizaccedilatildeo de um determinado edifiacutecio no caso de se decidir pela demoliccedilatildeo do

mesmo o Guia aponta os cuidados a serem obsevados na disposiccedilatildeo final dos resiacuteduos no

aterro sanitaacuterio alertando para a importacircncia em separar os resiacuteduos toacutexicos Os materiais

resultantes da demoliccedilatildeo como accedilo fundaccedilotildees de concreto ceracircmica madeira de assoalho

instalaccedilotildees internas placas de gesso carpete e janelas satildeo frequentemente passiacuteveis de

4 ldquoTermo utilizado principalmente em engenharia para designar o processo de modernizaccedilatildeo de algum

equipamento jaacute considerado ultrapassado ou fora de normardquo Disponiacutevel em

lthttpwwweletrobrascomrelatorio_sustentabilidade_2013anexosglossariogt Acesso em 06 de jun 2015

23

reciclagem revenda ou reutilizaccedilatildeo e natildeo devem ser descartados resultando na diminuiccedilatildeo do

desperdiacutecio e na reduccedilatildeo da exploraccedilatildeo dos recursos naturais

Outro importante documento a ser citado aqui como relevante para a proteccedilatildeo do

patrimocircnio histoacuterico e para o desenvolvimento sustentaacutevel o ldquoCalifornia Code of

Regulations Title 24rdquotambeacutem chamado de ldquoCalifornia Building Standards Coderdquo foi

finalizado em 1998 e aprovado pela ldquoCalifornia Building Standards Commissionrdquo em 2007

Tal documento trata dos paracircmetros gerais para a construccedilatildeo de edificaccedilotildees no Estado da

Califoacuternia Este Coacutedigo eacute dividido em 12 partes e traz na parte 8 de tiacutetulo ldquoCalifornia

Historical Building Code (CHBC)rdquo as exigecircncias a serem cumpridas para a permissatildeo de

reparos alteraccedilotildees e adiccedilotildees necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo relocaccedilatildeo mudanccedila de

uso ou continuaccedilatildeo de uso em edificaccedilotildees de reconhecido valor cultural ou histoacuterico5 Com o

objetivo de proteger a sauacutede e a seguranccedila das pessoas o California Historical Building Code

(CHBC) busca orientar as accedilotildees para a recuperaccedilatildeo das edificaccedilotildees histoacutericas garantindo a

preservaccedilatildeo da integridade e das caracteriacutesticas de tais edificaccedilotildees Ao todo satildeo 10 capiacutetulos

que abordam em resumo os seguintes temas capiacutetulo 01 ldquoAdministrationrdquo trata dos casos

sujeitos agrave aplicaccedilatildeo do coacutedigo cap02 ldquoDefinitionsrdquo trata das definiccedilotildees dos termos frases e

palavras necessaacuterios agrave compreensatildeo dos demais capiacutetulos cap03 ldquoUse and Occupancyrdquo trata

das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo dos edifiacutecios tais como altura maacutexima e nuacutemero de

pavimentos dimensatildeo miacutenima dos cocircmodos diretrizes de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo cap04

ldquoFire Protectionrdquo trata da proteccedilatildeo contra incecircndio e indica as diretrizes em relaccedilatildeo aos

materiais shafts telhado sistemas de alarme sistemas automaacuteticos de proteccedilatildeo como

sprinklers dentre outras tecnologias cap05 ldquoMeans of Egressrdquo trata das meios de saiacuteda das

edificaccedilotildees abordando entre outros elementos as escadas portas janelas grades e guarda-

corpos cap06 ldquoAccessibilityrdquo trata da acessibilidade aos portadores de necessidades especiais

a partir da utilizaccedilatildeo das dimensotildees miacutenimas e demais diretrizes estabelecidas para as

entradas portas banheiros rampas elevadores dentre outros cap07 ldquoStructural

5 Conforme o California Building Standards Code Parte 08 paacutegina 04 as edificaccedilotildees de reconhecido valor

cultural ou histoacuterico para as quais se utilizaraacute o CHBC satildeo ldquoFor the purposes of this part a qualified historical

building or structure is any structure or collection of structures and their associated sites deemed of importance

to the history architecture or culture of an area by an appropriate local or state governmental jurisdiction This

shall include structures on existing or future national state or local historical registers or official inventories

such as the National Register of Historic Places State Historical Landmarks State Points of Historical Interest

and city or county registers or inventories of historical or architecturally significant sites places historic districts

or landmarksrdquo (CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS 2007 p 4)

24

Regulationsrdquo trata da regulaccedilatildeo sobre os sistemas estruturais a partir da identificaccedilatildeo da

situaccedilatildeo da estrutura por profissional especializado identificaccedilatildeo dos acreacutescimos posteriores agrave

construccedilatildeo do edifiacutecio das cargas incidentes da performance dos parapeitos e da situaccedilatildeo dos

revestimentos externos e decorativos cap8 ldquoArchaic Materials and Methods of Constructionrdquo

trata dos meacutetodos e materiais construtivos tradicionais das edificaccedilotildees histoacutericas e das

diretrizes para a recuperaccedilatildeo de alvenarias adobe madeira concreto accedilo ferro vidros e

vidraccedilas cap09 ldquoMechanical Plumbing and Electrical Requirementsrdquo trata das exigecircncias

em relaccedilatildeo agraves instalaccedilotildees eleacutetricas aos encanamentos e sistemas mecacircnicos Por uacuteltimo o

cap10 ldquoQualified Historical Districts Sites and Open Spacesrdquo trata das orientaccedilotildees para a

preservaccedilatildeo dos espaccedilos abertos e siacutetios histoacutericos a partir da manutenccedilatildeo da configuraccedilatildeo

espacial existente e dos elementos constitutivos da paisagem

No Brasil o instrumento que mais se assemelha aos exemplos citados acima eacute o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees Utilizado para regulamentar os criteacuterios e procedimentos a

serem utilizados na elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de projetos de edificaccedilotildees e controlar as atividades

de construccedilatildeo6 o Coacutedigo de Obras eacute instituiacutedo por lei municipal como instrumento

complementar a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo citada anteriormente no Capiacutetulo 02 O

atendimento agraves condiccedilotildees estabelecidas nesses dois instrumentos da regulaccedilatildeo urbana ndash e o

atendimento a outras legislaccedilotildees quando for o caso - eacute requisito para a obtenccedilatildeo da licenccedila

urbaniacutestica Somente por meio da licenccedila municipal que afirma a compatibilizaccedilatildeo dos

interesses individuais e coletivos com o desenvolvimento urbano o proprietaacuterio poderaacute

exercer o seu direito sobre a propriedade sendo-lhe permitido executar as intervenccedilotildees

devidamente aprovadas Tambeacutem devem ser previstas em lei assim como os procedimentos

para o licenciamento as bases para a efetivaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo municipal como a

determinaccedilatildeo das infraccedilotildees e a previsatildeo de sanccedilotildees e multas aplicaacuteveis a cada caso

Subordinado agraves estrateacutegias de desenvolvimento estabelecidas no Plano Diretor o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees assim como a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo deve ser

elaborado a partir da preocupaccedilatildeo em se estabelecer uma boa interaccedilatildeo entre as novas

edificaccedilotildees e o conjunto urbano construiacutedo Para essa interaccedilatildeo as construccedilotildees devem atender

agraves premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica natildeo de forma isolada mas de

6 ldquoPara fins de direito entende-se por construccedilatildeo toda realizaccedilatildeo material e intencional de algueacutem visando a

adaptar o imoacutevel agraves suas conveniecircncias Nesse sentido tanto eacute construccedilatildeo a edificaccedilatildeo ou reforma como a

demoliccedilatildeo o muramento a escavaccedilatildeo o aterro a pintura e demais trabalhos destinados a beneficiar tapar

desobstruir conservar ou embelezar o preacutediordquo (BARANDIER ALMEIDA MORAIS 2013 p 147)

25

forma a interferir positivamente sobre o clima urbano e sobre a qualidade ambiental Assim

para aleacutem das diretrizes relativas ao uso agrave seguranccedila agrave salubridade agrave acessibilidade e agrave

preservaccedilatildeo dos elementos histoacutericos artiacutesticos e culturais tambeacutem devem ser elaborados

estudos climaacuteticos que aplicados ao desenho urbano possibilitem a formulaccedilatildeo de diretrizes

em prol da adaptaccedilatildeo das edificaccedilotildees agraves caracteriacutesticas climaacuteticas locais ao conforto teacutermico

luminoso e acuacutestico aleacutem da formulaccedilatildeo de diretrizes para a utilizaccedilatildeo de fontes de energia

alternativas e combate ao desperdiacutecio

Voltando aos dados obtidos pela Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros

realizada pelo IBGE em 2013 conforme pode ser visto no graacutefico abaixo do total de

municiacutepios brasileiros 624 declararam ter Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees enquanto 542

declararam ter Lei de Zoneamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo Esses dados demonstram que os

instrumentos legais embora apresentem um grande potencial de transformaccedilatildeo da realidade

urbana ainda satildeo pouco aplicados

Graacutefico do Percentual de municiacutepios segundo o tipo de instrumento de planejamento

existente - MUNIC -2013

Fonte Pesquisa ldquoPERFIL DOS MUNICIacutePIOS BRASILEIROS 2013rdquo (IBGE 2014)

Dentre os Coacutedigos de Obras existentes muitos estatildeo desatualizados defasados e

por isso natildeo configuram um mecanismo relevante quanto agrave alteraccedilatildeo do cenaacuterio das cidades

brasileiras Aleacutem disso a falha na articulaccedilatildeo dos diversos dispositivos de orientaccedilatildeo controle

e fiscalizaccedilatildeo das construccedilotildees resulta na aplicaccedilatildeo desequilibrada da lei consolidando

poliacuteticas de favorecimento exclusatildeo e segregaccedilatildeo aleacutem de ampliar a cada dia a destruiccedilatildeo e

os prejuiacutezos ambientais

26

Apesar de termos avanccedilado na construccedilatildeo conceitual dos instrumentos capazes de

nos levar ao sonhado desenvolvimento sustentaacutevel estamos ainda muito aqueacutem de efetivaacute-los

na praacutetica e no dia-a-dia dos municiacutepios A gestatildeo urbana da qual o planejamento eacute

interdependente configura a um dos principais obstaacuteculos agrave superaccedilatildeo da loacutegica atual de

valorizaccedilatildeo dos interesses individuais sobre os coletivos A falta interesse em destinar

recursos para a soluccedilatildeo de parte dos problemas soacutecio-espaciais tambeacutem eacute um grande

obstaacuteculo A melhoria da infraestrutura urbana os projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria a

construccedilatildeo de moradias populares sustentaacuteveis e a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados jaacute

configurariam um passo adiante na concretizaccedilatildeo da sustentabilidade no ambiente urbano

Sendo assim conhecidos os obstaacuteculos ou pelo menos parte deles eacute fundamental lanccedilarmos

as bases para a sua superaccedilatildeo fortalecendo os ideais de transformaccedilatildeo das cidades

27

5 O MUNICIacutePIO DE OURO PRETO UM ESTUDO DE CASO

51 Da colonizaccedilatildeo ao Seacuteculo XX

Localizado na Regiatildeo Central de Minas Gerais (ou Macrorregiatildeo Metaluacutergica) o

municiacutepio de Ouro Preto eacute possui uma aacuterea aproximada de 1245kmsup2 e sua populaccedilatildeo totaliza

cerca de 70281 habitantes7 Posicionado na porccedilatildeo centro-sul do Estado Ouro Preto tem

como principais confrontantes os municiacutepios de Mariana Itabirito Ouro Branco Congonhas

e Santa Baacuterbara Aleacutem do distrito-sede o territoacuterio eacute dividido em mais 12 distritos

Amarantina Antocircnio Pereira Cachoeira do Campo Engenheiro Correia Glaura Lavras

Novas Miguel Burnier Santa Rita Santo Antocircnio do Leite Santo Antocircnio do Salto Satildeo

Bartolomeu e Rodrigo Silva

Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ouro Preto no estado de

Minas Gerais

Fonte SMCP - PMOP

7 IBGE Diretoria de Pesquisas Coordenaccedilatildeo de Populaccedilatildeo e Indicadores Sociais ndash ldquoEstimativas da populaccedilatildeo

residente com data de referecircncia 1o de julho de 2014 publicada no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo em 28082014rdquo

Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314610ampsearch=||infogrE1ficosinformaE7F5e

s-completasgt Acesso em 06 jun 2015

28

Ouro Preto e municiacutepios limiacutetrofes

Fonte SMCP - PMOP

Mapa dos Distritos de Ouro Preto

Fonte SMCP - PMOP

Desencadeados pela exploraccedilatildeo auriacutefera do seacuteculo XVII - iniciada na regiatildeo de

Minas Gerais provavelmente em 1698 - os arraiais e agrupamentos humanos se consolidaram

na regiatildeo montanhosa e acidentada do municiacutepio de Ouro Preto primeiramente nas encostas

iacutengremes e arredores das minas e posteriormente nas margens dos rios e nos fundos de vale O

povoamento foi se intensificando em torno dos principais eixos de ligaccedilatildeo entre os nuacutecleos

29

urbanos vizinhos resultando num desenho urbano linear e longitudinal diferente do modelo

reticulado de ordenaccedilatildeo do territoacuterio que foi caracteriacutestico do Brasil Colocircnia

Agrave primeira configuraccedilatildeo urbana consolidada em 1711 deu-se o nome de Vila

Rica de Albuquerque que posteriormente em 1720 foi elevada agrave capital da Capitania das

Minas Gerais Ao longo do seacuteculo XVIII foram efetivadas as intervenccedilotildees urbanas mais

significativas e foram construiacutedas as principais referecircncias arquitetocircnicas de Ouro Preto As

principais pontes os chafarizes o Centro Administrativo (atual Praccedila Tiradentes) o Palaacutecio

dos Governadores a Casa de Cacircmara e Cadeia assim como as inuacutemeras capelas e igrejas de

estilo barroco das diversas ordens e irmandades religiosas consolidaram o cenaacuterio

setecentista que configura o atual centro histoacuterico da cidade O final do seacuteculo XVIII foi

marcado pelo esgotamento das minas de ouro o que desencadeou um esvaziamento

populacional da Vila pela crise de abastecimento e decadecircncia econocircmica

O seacuteculo XIX contudo trouxe as mudanccedilas advindas da era do Impeacuterio e em

1823 Vila Rica de Albuquerque foi elevada agrave cidade sob o tiacutetulo de Imperial Cidade de Ouro

Preto A partir daiacute a cidade passou por diversas modernizaccedilotildees a fim de se consolidar

enquanto capital da proviacutencia de Minas Gerais A criaccedilatildeo da Escola de Farmaacutecia do Liceu de

Artes e Ofiacutecios da Escola de Minas a construccedilatildeo da Estaccedilatildeo Ferroviaacuteria e a implantaccedilatildeo da

Companhia Industrial Ouro-Pretana satildeo exemplos importantes da expansatildeo e do

desenvolvimento da cidade durante o seacuteculo XIX Ao final deste seacuteculo jaacute sob a eacutegide do

periacuteodo republicano a cidade de Ouro Preto perde o status de capital da proviacutencia que em

1897 passou para Belo Horizonte Tal fato ocasionou pela segunda vez um processo de

esvaziamento e crise econocircmica na cidade Assim distante dos ideais de modernizaccedilatildeo e

desenvolvimento que cercavam a nova capital a ausecircncia de poliacuteticas de renovaccedilatildeo foi o que

garantiu a preservaccedilatildeo das feiccedilotildees urbanas da antiga Vila Rica A partir de entatildeo diversos

intelectuais da eacutepoca viajaram ateacute Ouro Preto e verificando o mal estado de conservaccedilatildeo e o

abandono da cidade comeccedilaram a produzir uma nova consciecircncia em relaccedilatildeo agrave necessidade

de se preservar os registros do passado

30

Mapa da evoluccedilatildeo urbana de Ouro Preto ndash do seacuteculo XVII ao seacuteculo XX

Fonte IGA ndash Instituto de Geociecircncias Aplicadas - 2003

Igreja de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo ndash registros do

periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

Ponte vizinha agrave Casa dos Contos - registros do periacuteodo

entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

31

Igreja N S do Pilar ndash registros do periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015apresentacao

A tradiccedilatildeo quanto agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico somente se consolidou

no Brasil a partir do seacuteculo XX Em 1931 surgiu o primeiro decreto municipal8 voltado para a

preservaccedilatildeo do cenaacuterio arquitetocircnico da cidade de Ouro preto proibindo as construccedilotildees em

desacordo com o estilo colonial predominante Em 1933 por meio do decreto nacional

22928 Ouro Preto foi erigida a Monumento Nacional Em 1938 o conjunto histoacuterico da

cidade foi tombado pelo SPHAN - Serviccedilo do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional que

havia sido criado no ano anterior Os anos seguintes foram marcados por inuacutemeras obras de

restauraccedilatildeo e tombamentos individuais

8 Decreto 13 de 19 de setembro de 1931 ldquoConsiderando que a cidade de Ouro Preto escriacutenio das tradiccedilotildees

mineiras deve conservar o seu aspecto colonial transmitido dos nossos antepassados Considerando que esta

feiccedilatildeo colonial de seus edifiacutecios de seus preacutedios das ruas e praccedilas desperta grande interesse por parte dos

turistas que frequumlentemente vecircm visitar a cidade e suas cercanias Considerando que ferem dolorosamente a

sensibilidade dos turistas os preacutedios que destoam do tipo colonial DECRETA Art 1deg - Natildeo eacute permitida no

periacutemetro urbano a construccedilatildeo de preacutedios e de edifiacutecios em desacordo com o estilo colonial da cidade Art 2deg -

Os atuais preacutedios existentes no periacutemetro urbano em desacordo com o artigo antecedente deveratildeo ser

modificados nas respectivas fachadas quando estas tenham que receber reparos []rdquo (OLIVEIRA 1997 p 7)

32

A sistematizaccedilatildeo de normas aplicaacuteveis agraves novas construccedilotildees foi realizada pelo

SPHAN (que em 1970 passou a ser chamado IPHAN9) para regular o crescimento da cidade e

o intenso surgimento de novas moradias que caracterizaram as deacutecadas de 1950 e 1960 Tal

crescimento se deu principalmente pela chegada de induacutestrias metaluacutergicas para a exploraccedilatildeo

da bauxita e produccedilatildeo de alumiacutenio primaacuterio Assim o ldquoestilo patrimocircniordquo surgiu das

exigecircncias normativas quanto agrave utilizaccedilatildeo dos elementos arquitetocircnicos tradicionais do

periacuteodo colonial

Um primeiro plano urbano foi elaborado pelo arquiteto portuguecircs Viana de Lima

entre os anos 1968 e 1970 com o objetivo de ldquopreservarrdquo o nuacutecleo histoacuterico da cidade e

consolidar o estilo patrimocircnio atraveacutes da eliminaccedilatildeo dos ecletismos da demoliccedilatildeo de obras

desprovidas de qualidade esteacutetica e do preenchimento dos vazios urbanos Nos anos seguintes

a discussatildeo sobre a salvaguarda do patrimocircnio se intensificou e deu origem a diversos outros

planos10

e programas de preservaccedilatildeo que obtiveram pouco sucesso na aplicaccedilatildeo praacutetica Em

21 de setembro de 1980 Ouro Preto recebeu da UNESCO o tiacutetulo de Patrimocircnio Cultural da

Humanidade e passou a ter visibilidade internacional

Ao final do seacuteculo XX a preocupaccedilatildeo com o desenvolvimento urbano da cidade e

com a proteccedilatildeo patrimonial gerou novas demandas em relaccedilatildeo agrave regulaccedilatildeo urbana e coube ao

IPHAN o papel de legislar sobre as intervenccedilotildees no centro histoacuterico As accedilotildees da

Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) do Instituto Estadual do Patrimocircnio Histoacuterico e

Artiacutestico (IEPHA) e do Instituto Estadual de Florestas (IEF) em pareceria com o governo

municipal e com o IPHAN foram decisivas na preservaccedilatildeo do patrimocircnio neste periacuteodo Em

1990 foram publicadas por meio da Lei 571990 as diretrizes para do Plano Diretor do

Municiacutepio sob as delineaccedilotildees inauguradas pela Constituiccedilatildeo Federal Tais diretrizes eram

bastante simplificadas e restritas aos zoneamentos e a questatildeo da preservaccedilatildeo do patrimocircnio

9 Em 1937 por meio da Lei nordm 378 foi fundado o SPHAN como oacutergatildeo oficial de preservaccedilatildeo do patrimocircnio

cultural brasileiro No mesmo ano foi promulgado o Decreto-Lei nordm 25 que regulamentou as atividades do

SPHAN Em 1946 o SPHAN teve o seu nome alterado para Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (DPHAN) Em 1970 o DPHAN eacute transformado em Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (IPHAN)

10 ldquoEm Minas Gerais a Fundaccedilatildeo Joatildeo Pinheiro (FJP) realizou um extenso diagnoacutestico e elaborou planos

diretores para diversas cidades coloniais mineiras bem como o Plano de Conservaccedilatildeo Valorizaccedilatildeo e

Desenvolvimento de Ouro Preto e Mariana em 1975 Esse Plano trata sobre a preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

patrimocircnio vinculado com as necessidades de desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio Por isso

abordou desde questotildees histoacutericas e culturais ateacute a anaacutelise de aspectos fiacutesico- territoriais tais como siacutetio natural

estudo das estruturas urbanas paisagismo e legislaccedilatildeo urbanardquo (SILVA OLIVEIRA 2005 p 180)

33

foi pouco abordada Jaacute em 1996 uma nova versatildeo do plano foi elaborada e diferentemente do

texto anterior o novo plano contemplou a preocupaccedilatildeo com o patrimocircnio e a preservaccedilatildeo

como instrumentos interligados agrave poliacutetica urbana

Art 1ordm - Em conformidade com a Constituiccedilatildeo Federal e com a Lei Orgacircnica

Municipal fica instituiacutedo o Plano Diretor de Ouro Preto (PDOP) fixando diretrizes

e instrumentos para o pleno desenvolvimento do Municiacutepio em consonacircncia com as

funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade [] Art 2ordm - O conjunto artiacutestico

arquitetocircnico urbaniacutestico paisagiacutestico e ambiental de relevante valor cultural

sediado no Municiacutepio objeto de tombamento federal e de reconhecimento

internacional pela UNESCO como Patrimocircnio Cultural da Humanidade eacute

considerado bem inalienaacutevel de sua populaccedilatildeo cabendo a ela exercer de forma

concorrente com as Administraccedilotildees Puacuteblicas a sua guarda proteccedilatildeo e gestatildeo

Paraacutegrafo uacutenico ndash A preservaccedilatildeo e a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural e ambiental

do Municiacutepio eacute fator determinante para o desenvolvimento urbano para a geraccedilatildeo de

empregos e para melhor distribuiccedilatildeo de renda Lei Complementar 0196 Ouro Preto

(OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996)

Em 1997 foi criado ldquoPlano de Reabilitaccedilatildeo do Siacutetio Histoacuterico de Ouro Pretordquo a

partir do ldquoMonumentardquo programa federal de iniciativa do Ministeacuterio da Cultura e patrocinado

pelo BID que sob a premissa do desenvolvimento econocircmico-social sustentaacutevel buscou

revitalizar os centros histoacutericos urbanos de 26 cidades brasileiras O Plano traccedilado para Ouro

Preto natildeo foi totalmente implementado mas alavancou as poliacuteticas de preservaccedilatildeo do

municiacutepio e deixou intervenccedilotildees significativas como por exemplo a recuperaccedilatildeo do Parque

Horto dos Contos (fundo de vale do Ribeiratildeo do Funil) aacuterea verde mais significativa da regiatildeo

central

34

Mapa Cadastral de Ouro Preto ndash Periacutemetro de tombamento pelo IPHAN

Fonte Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano - PMOP

52 O contexto atual

O conceito de patrimocircnio e de preservaccedilatildeo adotado no Brasil foi se modificando

ao longo da histoacuteria como foi apontado nos iniacutecio deste capiacutetulo Assim agrave medida que o

conceito adquiria relevacircncia as poliacuteticas de preservaccedilatildeo foram sendo instauradas nas esferas

administrativas Os avanccedilos iniciados no final do seacuteculo XX se consolidaram jaacute nos primeiros

anos do seacuteculo XXI O novo seacuteculo trouxe consigo uma mudanccedila significativa em relaccedilatildeo ao

desenvolvimento dos siacutetios histoacutericos que deixaram de ser vistos como uma ldquoobra de arte

intocaacutevelrdquo e passaram a ser tratados como espaccedilos socializados repletos de interaccedilatildeo cultural

e portanto passiacuteveis de transformaccedilatildeo Aleacutem dos centros urbanos o patrimocircnio imaterial

tambeacutem recebeu especial atenccedilatildeo e apoacutes 20 anos de discussatildeo a Convenccedilatildeo para a

Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial consolidada pela UNESCO em 2003 avanccedilou

no reconhecimento e na defesa das heranccedilas culturais dos povos ao redor do mundo

As transformaccedilotildees na relaccedilatildeo da preservaccedilatildeo com o planejamento urbano se

efetivaram em 2003 a partir da criaccedilatildeo do Plano de Preservaccedilatildeo de Siacutetio Histoacuterico Urbano

(PPSH) Este plano foi um instrumento de caraacuteter normativo que incidiu sobre os siacutetios

35

urbanos tombados em niacutevel federal a fim de aliar preservaccedilatildeo e desenvolvimento e incentivar

a gestatildeo compartilhada Nesse mesmo ano foi realizado o Encontro Nacional de Cidades

Histoacutericas que tratou da gestatildeo compartilhada do patrimocircnio cultural e da efetivaccedilatildeo das

poliacuteticas de preservaccedilatildeo associadas agrave legislaccedilatildeo urbana e ambiental

As mudanccedilas do iniacutecio do seacuteculo natildeo demoraram a repercutir no Municiacutepio de

Ouro Preto A partir da portaria ndeg 122 instituiacuteda em 2004 pelo presidente do IPHAN

definiu-se as diretrizes de intervenccedilatildeo e os paracircmetros para aprovaccedilatildeo de projeto no centro

histoacuterico da cidade a fim de garantir a manutenccedilatildeo das caracteriacutesticas da unidade e da

harmonia do conjunto urbano

Mapa dos bairros do municiacutepio de Ouro Preto

Fonte Secretaria Municipal de Patrimocircnio e Desenvolvimento Urbano - PMOP

36

Mapa esquemaacutetico ndash Periacutemetro urbano periacutemetro tombado e demais delimitaccedilotildees de interesse do distrito sede

Elaboraccedilatildeo Guilherme I N Ataiacutedes Base mapa do Plano Diretor

Foto da Praccedila Tiradentes

Fonte httpmondegocombrpraca-tiradentes

37

Foto Campus UFOP

Fonte httpwwwseeufopbrp=490

Foto IFMG

Fonte httpwwwouropretoifmgedubrcomunicacaoimagens-e-videoscampus-ouro-

pretocampusimage_view_fullscreen

Em 2006 a remodelaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Patrimocircnio e

Desenvolvimento Urbano (antiga Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio) deu um novo

impulso agrave preservaccedilatildeo no acircmbito da gestatildeo municipal unindo as poliacuteticas de proteccedilatildeo agraves

poliacuteticas de planejamento urbano O Grupo de Assessoramento Teacutecnico ndash GAT e o Conselho

Municipal de Patrimocircnio foram novamente colocados em accedilatildeo Um novo Plano Diretor

promulgado ao final deste mesmo ano atraveacutes da Lei Complementar Nordm 29 agregou as

conquistas do Estatuto da Cidade aos preceitos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio e acrescentou as

diretrizes para a proteccedilatildeo ambiental Os temas funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

estruturaccedilatildeo territorial desenvolvimento econocircmico proteccedilatildeo ambiental proteccedilatildeo ao

patrimocircnio cultural poliacutetica de desenvolvimento social produccedilatildeo da cidade e mobilidade

urbana intitulam alguns dos capiacutetulos da Lei Os instrumentos da poliacutetica urbana para o

cumprimento da funccedilatildeo social da propriedade aparecem no texto logo em sequecircncia A Lei de

38

Parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo conforme previsatildeo do Art 81 do Plano Diretor foi

promulgada no mesmo dia 28 de dezembro de 2006

A partir de entatildeo o municiacutepio assume sua funccedilatildeo enquanto principal oacutergatildeo de

gestatildeo do territoacuterio tarefa que anteriormente era desempenhada pelo Governo Federal e pelo

IPHAN Ao final de 2010 por meio da Lei Complementar Nordm 91 o Plano Diretor passa por

alteraccedilotildees pontuais e em 2011 a Lei de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo eacute amplamente

revisada dando origem aos paracircmetros utilizados nos dias atuais

Dentro desse resumido panorama legislativo apresentado pode-se perceber que o

Municiacutepio de Ouro Preto acompanhou em grande parte os avanccedilos inaugurados pelo

Estatuto da Cidade e concretizou ao menos em forma de Lei a regulamentaccedilatildeo das diretrizes

e dos instrumentos capazes de fazer valer a funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

Contudo tais avanccedilos representam muito pouco frente ao gigantesco desafio

enunciado no Art 2 inciso II do mesmo Estatuto quanto agrave ldquogarantia do direito a cidades

sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao saneamento ambiental

agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para

as presentes e futuras geraccedilotildeesrdquo(Lei 10257 2001)

Aleacutem da amplitude da tarefa outros elementos dificultam ainda mais o processo

de construccedilatildeo de uma nova realidade como por exemplo a negligecircncia dos gestores puacuteblicos

para com a atualizaccedilatildeo necessaacuteria e obrigatoacuteria das Leis O Plano Diretor de Ouro Preto

indica jaacute no Capiacutetulo 1 artigo 1ordm sect3ordm o prazo maacuteximo para a revisatildeo do mesmo estabelecido

em cinco anos a partir da sua publicaccedilatildeo ou seja 2011 Sendo assim percebe-se que a Lei

de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo revisada em 2011 embora seja o principal instrumento de

controle urbaniacutestico ateacute os dias de hoje jaacute nasceu defasada pois utilizou como referecircncia a

estrateacutegia de desenvolvimento urbano definida no Plano Diretor de 2006 desconsiderando os

impactos e as mudanccedilas territoriais sociais e culturais ocorridos desde entatildeo No geral os

gestores municipais tratam apenas de alteraccedilotildees pontuais que apenas mascaram o quadro de

estagnaccedilatildeo e desatualizaccedilatildeo das leis urbaniacutesticas Tal conduta conforma um enorme obstaacuteculo

na concretizaccedilatildeo das diretrizes do Estatuto da Cidade

Nos capiacutetulos anteriores ao tratarmos do desenvolvimento sustentaacutevel dois

importantes instrumentos foram apontados como peccedilas-chave da consolidaccedilatildeo de uma nova

experiecircncia de sustentabilidade no ambiente urbano a agenda 21 e o coacutedigo de obras

O primeiro deles a agenda 21 local foi estabelecida em 15 de maio de 2007 por

meio da Lei Nordm 333

39

Art 1ordm Fica criado no acircmbito do Municiacutepio de Ouro Preto o Programa da Agenda 21

Local processo e instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento

sustentaacutevel e que tem como eixo central a sustentabilidade compatibilizando a

conservaccedilatildeo ambiental a justiccedila social e o crescimento econocircmico Art 2ordm Para

efeitos de execuccedilatildeo da Agenda 21 Local o Poder Executivo instalaraacute o Foacuterum Ouro-

pretano da Agenda 21 Local (OURO PRETO Lei nordm333 Agenda 21 Local de 11

de maio de 2007)

No texto da Lei foram previstos os capiacutetulos a serem desenvolvidos Agenda 21

Estrutural Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade A

responsabilidade recaiu sobre o Foacuterum Ouro-Pretano da Agenda 21 Local Aleacutem da Lei de

criaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel encontrar nos registros legislativos digitais da Cacircmara Municipal a

Portaria Nordm 1707 que nomeia uma Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos Naturais

e Agenda 21 Local

Outra fonte de informaccedilotildees sobre a Agenda 21 Local de Ouro Preto foi encontrada

no acervo digital da Universidade Federal de Ouro Preto sob o tiacutetulo ldquoAgenda 21 Local

consolidando as bases para o desenvolvimento sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escalardquo

(OLIVEIRA 2010) Nesse trabalho foram apontadas as iniciativas que acompanharam a

criaccedilatildeo da Agenda 21 Local dentre as quais se destacam em ordem cronoloacutegica 1ordm Encontro

de Processos de Agendas 21 Locais ndash fevereiro de 2007 Plenaacuteria na Cacircmara Municipal de

Ouro preto para apresentaccedilatildeo da Agenda 21 ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio de Capacitaccedilatildeo para

a Agenda 21 Local ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio Teacutecnico de Diagnoacutestico para referecircncia da

Agenda 21 Local ndash abril de 2007 Seminaacuterio de Implantaccedilatildeo da Agenda 21 Mineral de Ouro

Preto ndash abril de 2007 Assinatura do Termo de Cooperaccedilatildeo Muacutetua entre a Prefeitura

Municipal a Cacircmara Municipal a ONG Interforum Global e a UFOP ndash maio de 2007

Seminaacuterio Intermunicipal de Agenda 21 Local ndash maio de 2007 Seminaacuterio Geral de

Capacitaccedilatildeo da Agenda 21 Local ndash agosto de 2007

Para aleacutem dos registros oficiais e dos dados encontrados no trabalho mencionado

no paraacutegrafo anterior foram encontradas somente notiacutecias informais11

sobre a criaccedilatildeo e

lanccedilamento da Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude todas datadas de 2007

11 Destacam-se ldquoO presidente da Cacircmara vereador Mauriacutelio Zacarias (PMDB) implantou no dia 20 de abril a

Agenda 21 da Mineraccedilatildeo de Ouro Preto A Agenda 21 da Mineraccedilatildeo eacute uma das subdivisotildees da Agenda 21

Global um conjunto de accedilotildees recomendadas pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) para garantir o

desenvolvimento sustentaacutevel do planeta no seacuteculo XXIrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwcmopmggovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=70agenda-21-da-mineracao-e-

implantada-em-ouro-pretoampcatid=61reunioesgt Acesso em 06 jun 2015 ldquoJuntos pela sustentabilidade o

Foacuterum da Agenda 21 Local de Ouro Preto daacute iniacutecio ao desenvolvimento de accedilotildees especiacuteficas para a implantaccedilatildeo

do capiacutetulo Agenda 21 da Juventude na escola e na universidade O lanccedilamento da Agenda 21 da Escola

acontece no dia 21 de junho quinta-feira agraves 10h no Centro de Artes e Convenccedilotildees da UFOPrdquo ndash Notiacutecia sobre a

40

Conclui-se portanto que a iniciativa da Agenda 21 Local assim como muitas das

diretrizes definidas nas Leis do Planejamento Urbano estagnou no ano de 2007 e avanccedilou

pouco em relaccedilatildeo agraves primeiras linhas da Lei Embora se tenha a informaccedilatildeo de que os Grupos

de Trabalho continuaram a desenvolver suas atividades nos anos seguintes os registros dessas

accedilotildees praacuteticas satildeo praticamente inexistentes e tais atividades praticamente natildeo efetivaram

mudanccedilas na realidade do Municiacutepio

Quanto ao Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees outro importante instrumento da gestatildeo

municipal capaz de estabelecer as bases para um ambiente urbano sustentaacutevel este nunca foi

regulamentado pelo Municiacutepio Embora citado inuacutemeras vezes no Coacutedigo de Posturas que foi

instituiacutedo em 1980 atraveacutes da Lei 178 o Coacutedigo de Obras nunca adquiriu formato oficial para

aplicaccedilatildeo e regulaccedilatildeo do territoacuterio O uacutenico registro oficial encontrado nos arquivos

eletrocircnicos da Cacircmara Municipal diz respeito a uma comissatildeo especial formada em 1992

para emissatildeo de parecer sobre o anteprojeto de Coacutedigo de Obras de Ouro Preto elaborado

pela ENGEARP ndash Arquitetura e Engenharia Ltda12

Um segundo registro foi encontrado nos

arquivos do diaacuterio oficial eletrocircnico do municiacutepio e consiste numa breve menccedilatildeo do coacutedigo de

obras numa ata de uma das reuniotildees do COMPURB Conselho Municipal de Poliacutetica

Urbana13

em abril de 2013 Apesar dos registros quase inexistentes em consulta ao corpo

teacutecnico do Departamento de Aprovaccedilatildeo de Projetos da Secretaria de Cultura e Patrimocircnio

foram identificadas algumas iniciativas quanto agrave elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo de Obras para o

municiacutepio dentre as quais se destaca o modelo desenvolvido em 2012 Tal modelo em

conformidade com as diretrizes dos coacutedigos internacionais jaacute apontados neste trabalho

ressaltou que as edificaccedilotildees e instalaccedilotildees deveriam atender agraves condiccedilotildees miacutenimas de

seguranccedila conforto ambiental higiene salubridade harmonia esteacutetica e acessibilidade

criaccedilatildeo da Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade ndash 16 de junho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwufopedubrindexphpoption=com_contentamptask=viewampid=600ampItemid=50gt Acesso em 06 jun

2015 ldquoO grupo de trabalho da Agenda 21 Local de Ouro Preto a Associaccedilatildeo Comercial de Ouro Preto e a

Cacircmara da Mulher Empreendedora de Ouro Preto convidam para uma palestra com o seguinte tema lsquoAgenda 21

de Ouro Preto -Desafios e Possibilidades da Participaccedilatildeo do Comeacutercio na Sustentabilidade Localrsquordquo Notiacutecia sobre

o Grupo de Trabalho da Agenda Ouro Preto ndash 10 de julho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwfundacaoaprenderorgbr189gt Acesso em 06 jun 2015

12 Portaria Nordm 0292 ndash 04 de fevereiro de 1992 Disponiacutevel em

lthttpwwwsistemasiglaorgarquivossisnormNJ_img(2562)pdfgt Acesso em 06 jun 2015

13 ldquo[] Gabriel sugeriu que seja incluiacutedo esses criteacuterios no coacutedigo de obrasrdquo Ata da 58ordf Reuniatildeo extraordinaacuteria

do Conselho Municipal de Poliacutetica Urbana ndash COMPURB (extraiacutedo do Diaacuterio Oficial do Municiacutepio ldquoAno V ndash

Ouro Preto 1ordm de Abril de 2013 ndash Nordm766rdquo) Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrdiario-

oficial2076601-04-2013gt Acesso em 27 jun 2015

41

Contudo eacute importante destacar que os paracircmetros necessaacuterios para o atendimento do conforto

ambiental - como criteacuterios de adequaccedilatildeo agraves caracteriacutesticas do clima local diretrizes de

conforto teacutermico luminoso e acuacutestico ndash assim como as diretrizes de eficiecircncia energeacutetica natildeo

foram contemplados no texto diminuindo consideravelmente a possibilidade de sucesso do

instrumento quanto agrave transformaccedilatildeo do ambiente urbano

Sendo assim entendendo a importacircncia que o instrumento ldquocoacutedigo de obrasrdquo tem

na conformaccedilatildeo de espaccedilos urbanos mais confortaacuteveis e equilibrados e buscando contribuir

para o Municiacutepio na consolidaccedilatildeo de Leis atualizadas e transformadoras o capiacutetulo seguinte

trataraacute do desenvolvimento de algumas dessas diretrizes para que as construccedilotildees passem a

incorporar as premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica e passem a contribuir

positivamente para o clima urbano a para a qualidade ambiental

42

6 ENSAIO PARA UM COacuteDIGO DE OBRAS PRINCIPAIS ESTRATEacuteGIAS PARA

A PROMOCcedilAtildeO DA EFICIEcircNCIA ENERGEacuteTICA NO MUNICIacutePIO DE OURO

PRETO

61 O reconhecimento do clima e as recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais

O reconhecimento do clima eacute o primeiro passo a ser dado para o desenvolvimento

das diretrizes construtivas para um determinado local O clima ldquoeacute a condiccedilatildeo meacutedia do tempo

em uma dada regiatildeo baseada em mediccedilotildees em longos periacuteodos de tempo (30 anos ou mais)rdquo

(LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 71) A anaacutelise climaacutetica feita no Brasil utiliza

em geral os dados publicados pelo Instituto Nacional e pelo Departamento Nacional de

Meteorologia por meio das Normais Climatoloacutegicas Essa publicaccedilatildeo sistematiza dentre

outros dados os valores meacutedios e extremos mensais de temperatura umidade precipitaccedilatildeo

nebulosidade e horas de sol para um periacuteodo de 30 anos A utilizaccedilatildeo dessas variaacuteveis

climaacuteticas no desenvolvimento dos projetos arquitetocircnicos possibilita a construccedilatildeo de

edificaccedilotildees mais confortaacuteveis e mais eficientes quanto ao consumo de energia

O municiacutepio de Ouro Preto contou com uma estaccedilatildeo de mediccedilatildeo e monitoramento

climaacutetico no periacuteodo entre 1976 a 1990 Sendo assim por natildeo ter permanecido em vigecircncia

pelo periacuteodo miacutenimo de 30 anos os dados do municiacutepio natildeo foram contemplados na

publicaccedilatildeo das Normais Climatoloacutegicas e podem ser encontrados apenas no registro histoacuterico

do INMET a partir do BDMEP Os dados coletados nesse periacuteodo de 14 anos embora natildeo

tenham sido publicados satildeo fundamentais para analisar o comportamento das variaacuteveis

climaacuteticas no local de estudo conforme seraacute visto nas anaacutelises a seguir

Referenciada geograficamente pelas coordenadas14

Latitude Sul 20deg23rsquo28rdquo e

Longitude Oeste 43deg30rsquo20rdquo Ouro Preto possui altitude correspondente a 1150 metros sendo

que o ponto mais alto o Pico Itacolomi estaacute situado a 1772 metros de altura A latitude e a

altitude satildeo dois importantes fatores geograacuteficos do clima quanto maior a latitude menor eacute a

temperatura superficial e quanto maior a altitude menor seraacute a temperatura e a pressatildeo

atmosfeacuterica

14 Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrlocalizacaogt Acesso em 27 jun 2015

43

Para entendermos o clima no municiacutepio e para traccedilarmos as diretrizes construtivas

que garantam o bom desempenho das edificaccedilotildees faz-se necessaacuterio primeiramente consultar

o Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro definido na parte 3 da NBR 15220

O Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro consiste na ldquodivisatildeo do territoacuterio brasileiro

em oito zonas relativamente homogecircneas quanto ao clima e para cada uma destas zonas

formulou-se um conjunto de recomendaccedilotildees teacutecnico-construtivas que otimizam o desempenho

teacutermico das edificaccedilotildees atraveacutes de sua melhor adequaccedilatildeo climaacuteticardquo (ABNT 2003) O

Zoneamento resulta da aplicaccedilatildeo da Carta Bioclimaacutetica sugerida por Givoni ldquoinserindo os

dados mensais de temperatura meacutedia e umidade relativa para cada mecircs do ano e para cada

uma das localidades agrupando entatildeo aquelas classificadas como um mesmo tipo climaacuteticordquo

(FERREIRA 2014 p432)

As diretrizes construtivas desenvolvidas na Norma tratam basicamente do

comportamento da envoltoacuteria da edificaccedilatildeo a partir da indicaccedilatildeo do tamanho das aberturas

para ventilaccedilatildeo da proteccedilatildeo das aberturas das vedaccedilotildees externas (paredes e cobertura) e das

estrateacutegias de condicionamento passivo

A NBR 15220-3 estaacute vigente desde 2005 e sua aplicaccedilatildeo estaacute direcionada para as

edificaccedilotildees de ateacute trecircs pavimentos destinadas agrave habitaccedilatildeo multifamiliar de interesse social

Contudo os preceitos nela indicados podem e devem servir como base para a adequaccedilatildeo

climaacutetica das demais edificaccedilotildees desde que a Norma natildeo seja aplicada de forma isolada isto

eacute devem ser estudados outros procedimentos e devem ser utilizadas novas ferramentas a fim

de cruzar os resultados e avanccedilar na elaboraccedilatildeo de paracircmetros construtivos cada vez mais

completos e dinacircmicos

Segundo a Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica obtida atraveacutes do programa ZBBR o

municiacutepio de Ouro Preto estaacute localizado na Zona Bioclimaacutetica 3

44

Fonte Programa ZBBR ndash Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica dos Municiacutepios Brasileiros

Em destaque o Municiacutepio de Ouro Preto ndash MG

Para as edificaccedilotildees inseridas nesta zona bioclimaacutetica a NBR 15220 traz as

seguintes orientaccedilotildees

- Quanto agraves aberturas tamanho meacutedio (15 a 25) e que possibilitem a entrada do sol

durante o inverno

- Quanto agraves vedaccedilotildees externas paredes externas leves15

e refletoras cobertura leve e

isolada

- Quanto ao condicionamento teacutermico passivo ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo

aquecimento solar durante o inverno e vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia

teacutermica

15 Quanto agrave caracterizaccedilatildeo das envoltoacuterias como ldquolevesrdquo podemos agregar para melhor entendimento a

explicaccedilatildeo de que tais envoltoacuterias devem ser de baixa ineacutercia teacutermica ou seja devem possibilitar que o ambiente

interno seja influenciado pela temperatura do ar exterior sem grande atraso Assim pode-se dizer que as

recomendaccedilotildees de envoltoacuterias leves ocorrem em ambientes onde se deseja que os ambientes internos agrave

edificaccedilatildeo sofram influecircncia direta da temperatura do exterior

45

A partir das orientaccedilotildees da Norma percebe-se que a classificaccedilatildeo das zonas

bioclimaacuteticas embora tenha uma importante contribuiccedilatildeo esta natildeo pode ser utilizada

isoladamente por natildeo agregar importantes elementos agrave caracterizaccedilatildeo do clima local como jaacute

foi dito anteriormente Sendo assim outros dados de Ouro Preto devem ser observados para

aprofundarmos um pouco mais nas recomendaccedilotildees construtivas

Dentro do espectro das variaacuteveis climaacuteticas que caracterizam uma regiatildeo merece

destaque a temperatura e a umidade A temperatura ldquoeacute a variaacutevel climaacutetica mais conhecida e

de mais faacutecil mediccedilatildeo A variaccedilatildeo da temperatura na superfiacutecie da Terra resulta basicamente

dos fluxos das grandes massas de ar e da diferente recepccedilatildeo da radiaccedilatildeo do sol de local para

localrdquo (LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 77) A temperatura varia principalmente

em funccedilatildeo da velocidade do ar mas tambeacutem eacute influenciada em maior ou menor grau pelo

tipo de solo e de vegetaccedilatildeo pela topografia e pela altitude A temperatura meacutedia anual de

Ouro Preto eacute de 185deg conforme os dados sistematizados pelo INMET A temperatura

maacutexima verificada geralmente no mecircs de fevereiro corresponde a 252deg e a temperatura

miacutenima que ocorre no mecircs de julho corresponde a 112deg Quanto agrave umidade do ar esta

resulta da evaporaccedilatildeo das aacuteguas e da evapotranspiraccedilatildeo dos vegetais e pode ser definida em

absoluta e relativa ldquoComo definiccedilatildeo de umidade absoluta tem-se que eacute o peso do vapor de

aacutegua contido em uma unidade de volume de ar (gm3) e a umidade relativa eacute a relaccedilatildeo da

umidade absoluta com a capacidade maacutexima do ar de reter vapor drsquoaacutegua agravequela temperaturardquo

(FROTA 1995 p62) A umidade do ar tem relaccedilatildeo inversa com a temperatura portanto

quanto menor a temperatura maior a possibilidade de saturaccedilatildeo do ar pela ampliaccedilatildeo da

umidade ao limite de 100 A pluviosidade tambeacutem deve ser observada pois tem relaccedilatildeo

direta com a umidade do ar sendo que a chuva proveacutem em grande parte de massas de ar

uacutemido em ascensatildeo Os dados do INMET apontam que a meacutedia anual da pluviosidade em

Ouro Preto eacute de 16703mm sendo junho o mecircs mais seco com 129mm e dezembro o mecircs

mais uacutemido com 3579mm

46

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641 (continuaccedilatildeo)

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

47

48

A partir dos dados acima eacute possiacutevel verificar inicialmente que se trata de um

clima de baixas temperaturas muito uacutemido (umidade relativa praticamente sempre acima de

80) com alta nebulosidade (o que significa que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou

nublado) e com abundacircncia de chuvas principalmente no veratildeo

Tais caracteriacutesticas satildeo acentuadas pela influecircncia da barreira orograacutefica

provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta que conforma o

Morro Satildeo Sebastiatildeo Sendo assim grande parte da mancha urbana de Ouro Preto situada agrave

barlavento da barreira natural sofre influecircncia das chuvas que resultam do resfriamento e

condensaccedilatildeo do ar em ascensatildeo aprofundando ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade citadas anteriormente

Representaccedilatildeo da influecircncia dos ventos e da topografia na mancha urbana da cidade de Ouro

Preto - a formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem base da imagem de sateacutelite extraiacuteda do Google Maps

Exemplo da chuva a barlavento resultante da formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem Sistemas Tecnoloacutegicos em Conforto Ambiental ndash Eleonora Sad Assis

Parte da malha urbana de Ouro Preto

49

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem timblindimwordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem fotografandoondeopeixeparawordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

A partir das variaacuteveis climaacuteticas sistematizadas pelo INMET podemos avanccedilar na

utilizaccedilatildeo do Diagrama Bioclimaacutetico de Givoni (DBG) que orientou a definiccedilatildeo do

Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro assim como utilizar outro instrumento de anaacutelise as

Tabelas de Mahoney que tambeacutem auxiliam na definiccedilatildeo das diretrizes construtivas

O Diagrama de Givoni nos permite identificar quais recursos satildeo necessaacuterios para

que as edificaccedilotildees atendam agraves condiccedilotildees de conforto Este instrumento aponta quais preceitos

da arquitetura bioclimaacutetica devem ser priorizados tais como ventilaccedilatildeo ineacutercia teacutermica e

50

insolaccedilatildeo assim como aponta a necessidade de soluccedilotildees mecacircnicas para o atendimento ao

conforto teacutermico

Diagrama de Givoni relativo agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O Diagrama de Givoni referente agrave Ouro Preto assinala que na maior parte do

tempo as edificaccedilotildees necessitam de aquecimento passivo tendo em vista o quadro recorrente

de baixas temperaturas e de alta umidade relativa Algumas estrateacutegias de aquecimento

passivo podem ser adaptadas agrave realidade local para melhor aproveitamento Quanto agrave cidade

de Ouro Preto deve-se pensar o ganho teacutermico principalmente durante o inverno Nessa

estaccedilatildeo embora se tenha uma queda significativa das temperaturas tem-se cerca de 6 horas

de insolaccedilatildeo diaacuteria quase duas horas a mais do que nas outras estaccedilotildees O aproveitamento

dessa radiaccedilatildeo solar deve servir para manter o ambiente aquecido durante a noite sendo

assim a utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior insolaccedilatildeo deve

possibilitar a maacutexima entrada de calor durante o dia Quanto aos materiais internos estes

devem possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser

devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente

Voltando ao Diagrama de Givoni se compararmos o resultado da cidade de Ouro

Preto com a cidade de Belo Horizonte que estaacute na mesma zona bioclimaacutetica e estaacute a 858

51

metros de altitude perceberemos o quanto eacute importante cruzar os dados de diferentes

instrumentos de anaacutelise para acertar nas diretrizes de projeto Os dados de Belo Horizonte

resultam numa linha meacutedia predominantemente inserida na zona de conforto chegando a

alcanccedilar a zona de influecircncia da ventilaccedilatildeo em algumas horas dos meses de janeiro fevereiro

e marccedilo

Diagrama de Givoni relativo agrave Belo Horizonte

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O outro meacutetodo importante de anaacutelise voltado especificamente para as

recomendaccedilotildees de projeto arquitetocircnico consiste na sistematizaccedilatildeo das recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas atraveacutes das ldquoTabelas de Mahoneyrdquo Tal meacutetodo deve ser utilizado

simultaneamente ao Diagrama de Givoni a fim de se comparar os resultados e ajustar as

diretrizes construtivas Dentre as orientaccedilotildees da Tabela de Mahoney para Ouro Preto merece

destaque a utilizaccedilatildeo de grandes aberturas (para garantir ventilaccedilatildeo abundante e permanente)

e de envoltoacuterias leves Contudo diretrizes como reduccedilatildeo da exposiccedilatildeo ao sol e proteccedilatildeo da

insolaccedilatildeo direta natildeo favorecem o aquecimento passivo conforme a necessidade observada a

partir do Diagrama de Givoni e portanto devem ser relativizadas Seguem abaixo as

recomendaccedilotildees das Tabelas de Mahoney para Ouro Preto

52

Tabela de Mahoney relativa agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

Sendo assim a partir do conhecimento das variaacuteveis climaacuteticas e dos resultados

apresentados eacute possiacutevel formular a seguinte tabela resumo quanto agraves recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas iniciais para Ouro Preto

14 Tabela de Recomendaccedilotildees Arquitetocircnicas

Total de Indicadores

Uacutemido Aacuterido

H1 H2 H3 A1 A2 A3

1 11 4 0 0 0

1 PLANTA DE SITUACcedilAtildeO

0 -10 X Construccedilotildees orientadas segundo eixo longitudinal leste-oeste

11 ou 5 -12 a fim de diminuir a exposiccedilatildeo ao sol

12 0 - 4 Plantas compactas com paacutetios internos

2 ESPACcedilAMENTO ENTRE CONSTRUCcedilOtildeES

11 ou Grandes espaccedilamentos para favorecer a penetraccedilatildeo do vento

12

2 -10 Como acima mas com proteccedilatildeo contra vento quente ou frio

0 ou 1 X Distribuiccedilatildeo compacta

3 CIRCULACcedilAtildeO DE AR

3 - 12 X Construccedilotildees com orientaccedilatildeo simples aberturas que permitam

1 ou 0 - 5 circulaccedilatildeo de ar permanente

2 6 - 12 Construccedilotildees com orientaccedilatildeo dupla circulaccedilatildeo de ar cruzada

0 2 -12 aberturas de ar controlaacuteveis

0 ou 1 Basta renovaccedilatildeo higiecircnica do ar

4 DIMENSOtildeES DAS ABERTURAS

0 ou 0 X Grandes 40 a 80 das fachadas norte e sul

1 1 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

2 - 5

6 - 10 Intermediaacuterias 20 a 35 da superfiacutecie das paredes

11 ou 0 - 3 Pequenas 15 a 25 da superfiacutecie das paredes

12 4 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

5 POSICcedilAtildeO DAS ABERTURAS

3 - 12 X Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do

1 ou 0 - 5 lado exposto ao vento

2 6 - 12 Como acima mas tambeacutem aberturas nas paredes internas

0 2 - 12

6 PROTECcedilAtildeO DAS ABERTURAS

0 - 2 X Proteger da insolaccedilatildeo direta

2 - 12 X Proteger da chuva

7 PAREDES E PISOS

0 - 2 X Construccedilotildees leves baixa ineacutercia teacutermica

3 - 12 Construccedilotildees maciccedilas tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

8 COBERTURA

10 a 0 - 2 Leve (pouca ineacutecia) superfiacutecie refletora uso de cacircmara de ar

12 3 - 12 X Leve e bem isolada

0 a 0 - 5

9 6 - 12 Maciccedila tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

9 ESPACcedilOS EXTERIORES

1 - 12 Espaccedilo para dormir ao ar livre

1 - 12 X Adequada drenagem para a chuva

3 - 12 X Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

53

Tabela resumo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas

Diagrama de Givoni

Tabelas de Mahoney

NBR 15220 ndash Parte 03

Tamanho e caracteriacutesticas das aberturas

Esquadrias devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia do calor no ambiente

Aberturas que permitam a circulaccedilatildeo de ar permanente

Tamanho meacutedio

Grandes ndash de 40 a 80 das fachadas norte e sul

Possibilitar a entrada do sol durante o inverno

Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do lado exposto ao vento

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees externas

Leves Leves e refletoras

Baixa ineacutercia teacutermica

Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees internas

Possibilitar o armazenamento do calor absorvido

Vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia teacutermica

Caracteriacutesticas da cobertura

Leve e bem isolada Leve e isolada

Condicionamento teacutermico passivo

Ganho teacutermico principalmente durante o inverno

Aberturas protegidas da insolaccedilatildeo direta e protegidas da chuva

Ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo aquecimento solar durante o inverno e

Somando-se os diversos meacutetodos de anaacutelise climaacutetica tecircm maior relevacircncia a

seguintes diretrizes

- ventilaccedilatildeo abundante principalmente durante o veratildeo a fim de reduzir a temperatura no

interior da edificaccedilatildeo e os efeitos da umidade que aumenta ainda mais em funccedilatildeo das chuvas

tiacutepicas desse periacuteodo A ventilaccedilatildeo cruzada deve ser fomentada e deve ser observado o sentido

54

predominante do vento que na cidade em questatildeo eacute sudeste a fim de se alcanccedilar melhores

resultados no conforto da edificaccedilatildeo

- aquecimento passivo para os meses de inverno a fim de diminuir o desconforto

causado pelas baixas temperaturas

- paredes leves (com baixa ineacutercia teacutermica ou seja conseguem ganhar ou perder calor

rapidamente a partir da interferecircncia e da temperatura do ar exterior) e protegidas da umidade

proveniente das chuvas fortes

- coberturas leves e bem isoladas (capazes de reter o calor absorvido durante o dia)

- as edificaccedilotildees devem estar protegidas das chuvas e devem contar com sistemas de

drenagem eficientes que possibilitem o raacutepido escoamento ou aproveitamento dessa aacutegua

62 O Coacutedigo de Obras e o conforto ambiental em Ouro Preto ndash estrateacutegias prioritaacuterias

A utilizaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental nos projetos e nas edificaccedilotildees

tem um impacto social positivo baseado em pelo menos trecircs fatores importantes melhoria das

condiccedilotildees de habitabilidade da edificaccedilatildeo e portanto melhor qualidade de vida para o

usuaacuterio melhoria nas condiccedilotildees climaacuteticas do meio externo ampliando o bem estar coletivo

reduccedilatildeo no consumo de energia e utilizaccedilatildeo eficiente do sistema de abastecimento a partir da

correta utilizaccedilatildeo dos sistemas ativos (iluminaccedilatildeo artificial condicionamento e aquecimento

de ar)

Para garantir a aplicaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental o Coacutedigo de Obras

e Edificaccedilotildees do municiacutepio deve incorporar dois importantes artigos que seratildeo detalhados

abaixo conforme o texto sugerido pelo Guia Teacutecnico ldquoElaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de

obras e edificaccedilotildeesrdquo da ELETROBRAacuteS (BAHIA GUEDES 2012)

O primeiro artigo de destaque deve ser inserido no capiacutetulo que trata das

DISPOSICcedilOtildeES PRELIMINARES e deve enumerar as diretrizes gerais para os projetos e

construccedilotildees buscando elencar tanto as demandas contemporacircneas expressas nas novas

legislaccedilotildees como os anseios para um espaccedilo urbano equilibrado e sustentaacutevel Nesse

contexto a substituiccedilatildeo da expressatildeo ldquopadrotildees miacutenimosrdquo que podem ser exemplificados pelas

diretrizes generalistas frequentemente encontradas nas legislaccedilotildees como a previsatildeo de 16 e

18 de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo para todas as localidades por ldquopadrotildees eficientesrdquo

estabelecidos atraveacutes de estudos teacutecnicos que agreguem a complexidade do clima local e que

permitam ampliar as condiccedilotildees de sustentabilidade das edificaccedilotildees ao tratar da otimizaccedilatildeo de

resultados quanto ao atendimento do conforto teacutermico visual e acuacutestico com baixo consumo

55

de energia A configuraccedilatildeo do texto deve se aproximar ao maacuteximo da proposta apresentada

pelo Guia Teacutecnico paacutegina 62

As obras instalaccedilotildees e edificaccedilotildees sejam puacuteblicas sejam privadas deveratildeo atender

agraves seguintes diretrizes gerais de forma a assegurar padrotildees eficientes de seguranccedila e

solidez salubridade e sauacutede conforto ambiental e desempenho energeacutetico

acessibilidade e livre tracircnsito de pessoas prevenccedilatildeo e uso sustentaacutevel dos recursos

naturais em cada caso e sempre que couber I - Subordinaccedilatildeo do interesse particular

ao interesse coletivo II - Promoccedilatildeo do direito agrave cidade sustentaacutevel e da funccedilatildeo

social da propriedade III - Utilizaccedilatildeo das normas teacutecnicas brasileiras e

regulamentaccedilotildees aplicaacuteveis para orientaccedilatildeo do desenvolvimento de projetos e

execuccedilatildeo de obras IV - Desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas sempre que

necessaacuterio com base nas praacuteticas locais beneacuteficas e na produccedilatildeo cientiacutefica tendo em

vista a manutenccedilatildeo da qualidade do local onde se daacute a intervenccedilatildeo e a correlaccedilatildeo

com valores culturais da populaccedilatildeo V - Garantia das condiccedilotildees de acessibilidade

circulaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo pela populaccedilatildeo em geral das edificaccedilotildees e do espaccedilo e

mobiliaacuterio urbano de uso puacuteblico e coletivo com adoccedilatildeo de soluccedilotildees especiacuteficas

para as pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida conforme previsto nas

normas teacutecnicas e na legislaccedilatildeo aplicaacutevel VI - Adoccedilatildeo de paracircmetros climaacuteticos

para o desenvolvimento de projetos de arquitetura de parcelamentos do solo e de

desenho urbano tendo em vista a correta orientaccedilatildeo solar da edificaccedilatildeo e demais

elementos as melhores condiccedilotildees de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo e pela escolha de

materiais construtivos e soluccedilotildees urbaniacutesticas adequadas em funccedilatildeo das

condicionantes ambientais locais de temperatura pluviosidade dominacircncia de

ventos ruiacutedo e paisagem natural aleacutem dos aspectos culturais que interagem com

essas condiccedilotildees VII - Utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis materiais de

construccedilatildeo certificados e ajudas teacutecnicas disponiacuteveis em complemento agrave promoccedilatildeo

do conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade das edificaccedilotildees e do

meio urbano VIII - Implantaccedilatildeo do objeto arquitetocircnico no lote bem como do

mobiliaacuterio urbano e demais artefatos nos logradouros puacuteblicos garantidas a

acessibilidade a qualidade esteacutetica e tecnoloacutegica de forma a potencializar os

atributos da paisagem urbana e evitar a poluiccedilatildeo visual IX - Adoccedilatildeo preferencial de

espeacutecies nativas na arborizaccedilatildeo puacuteblica demais projetos paisagiacutesticos e no

ajardinamento de lotes particulares X - Simplificaccedilatildeo dos procedimentos

administrativos pelo Poder Puacuteblico e promoccedilatildeo da assistecircncia para habitaccedilatildeo de

interesse social pelos agentes promotores tendo em vista facilitar a regularidade e a

correta execuccedilatildeo de projetos e obras inclusive apoiando as iniciativas de

autoconstruccedilatildeo da clientela de baixa renda (BAHIA GUEDES 2012)

O segundo artigo de grande relevacircncia deve ser inserido no capiacutetulo ldquoDAS

CONDICcedilOtildeES RELATIVAS AgraveS EDIFICACcedilOtildeESrdquo Neste capiacutetulo devem ser tratados os

paracircmetros teacutecnicos e geomeacutetricos capazes de materializar o conforto ambiental dos projetos e

edificaccedilotildees a partir do contexto climaacutetico da cidade As diretrizes apontadas devem buscar o

equiliacutebrio entre as condicionantes internas (relaccedilatildeo do usuaacuterio com a edificaccedilatildeo) e externas

(relaccedilatildeo da edificaccedilatildeo com o entorno) Quanto aos paracircmetros teacutecnicos esses devem ser

baseados nas recomendaccedilotildees do Programa Nacional de Conservaccedilatildeo de Energia Eleacutetrica ndash

PROCEL e devem se aproximar dos padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees

residenciais que satildeo atualmente estabelecidos pelo INMETRO a partir do RTQ-R ndash

Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais O texto do artigo deve seguir a sugestatildeo do Guia Teacutecnico paacutegina 107

56

Os projetos de construccedilatildeo ou reforma aleacutem de atenderem aos paracircmetros de

habitabilidade estabelecidos neste Coacutedigo devem ser orientados para a promoccedilatildeo da

sustentabilidade e eficiecircncia energeacutetica da edificaccedilatildeo com o objetivo de reduzir as

emissotildees de gases de efeito estufa (GEE) e os impactos ambientais gerados pela

construccedilatildeo e pela sua utilizaccedilatildeo ao longo do tempo racionalizando o uso da energia

da aacutegua e dos materiais nela empregados a partir das seguintes diretrizes I -

Racionalidade do projeto e do planejamento do processo de execuccedilatildeo das obras II -

Gestatildeo sustentaacutevel da obras e das praacuteticas de construccedilatildeo de forma a evitar o

desperdiacutecio de materiais III - Uso de materiais de construccedilatildeo e acabamentos

sustentaacuteveis considerando a adoccedilatildeo de materiais originaacuterios da regiatildeo produzidos

de forma sustentaacutevel e legalizada de materiais reaproveitados ou de demoliccedilatildeo e de

materiais certificados ou de comprovada responsabilidade ambiental do fabricante

IV - Ativaccedilatildeo do uso de edificaccedilotildees de valor cultural histoacuterico ou arquitetocircnico

maximizando as condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do bem imoacutevel na interaccedilatildeo com as

premissas de conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade V -

Aplicaccedilatildeo das estrateacutegias para projetos de acordo com o Zoneamento Bioclimaacutetico

brasileiro conforme NBR 15220-3 para concepccedilatildeo arquitetocircnica implantaccedilatildeo no

lote orientaccedilatildeo solar dos ambientes localizaccedilatildeo de aberturas e especificaccedilatildeo de

materiais de construccedilatildeo em prol do desempenho teacutermico da edificaccedilatildeo VI -

Aproveitamento das caracteriacutesticas climaacuteticas locais para a promoccedilatildeo do conforto

ambiental da edificaccedilatildeo a partir da consideraccedilatildeo dos seguintes fatores principais a)

Qualidade do ar b) Conforto higroteacutermico c) Conforto luminoso (ou lumiacutenico) d)

Conforto acuacutestico VII - Adoccedilatildeo de especificaccedilotildees de projeto com o objetivo de

potencializar as caracteriacutesticas climaacuteticas locais beneacuteficas eou remediar as de maior

rigor ao longo das diferentes estaccedilotildees do ano em benefiacutecio do desempenho teacutermico

e da ventilaccedilatildeo e iluminaccedilatildeo naturais da edificaccedilatildeo [] VIII - Planejamento

paisagiacutestico como elemento contribuinte para o conforto ambiental da edificaccedilatildeo

[] IX - Adoccedilatildeo de materiais construtivos que melhorem o desempenho teacutermico da

edificaccedilatildeo com base nas orientaccedilotildees e tabelas da NBR 15220-3 e especificaccedilatildeo de

equipamentos mecanismos e instalaccedilotildees que favoreccedilam a economia de energia

eleacutetrica e a reduccedilatildeo do consumo e aacutegua tratada [] (BAHIA GUEDES 2012)

Esses dois artigos apresentados embora configurem o ponto de partida natildeo satildeo

suficientes para a transformaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras em uma ferramenta concreta de

promoccedilatildeo do conforto ambiental da eficiecircncia energeacutetica e da sustentabilidade do meio

ambiente urbano Os desdobramentos desse texto devem resultar em paracircmetros teacutecnicos

como dimensionamentos diretrizes de desenho configuraccedilotildees espaciais miacutenimas dentre

inuacutemeros outros elementos de aplicaccedilatildeo obrigatoacuteria ou optativa Sendo assim o Coacutedigo de

Obras deve regulamentar por exemplo o dimensionamento de compartimentos a disposiccedilatildeo

e o dimensionamento de mobiliaacuterio fixo como louccedilas sanitaacuterias o peacute-direito as proporccedilotildees

das aberturas de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo assim como as taxas de renovaccedilatildeo do ar os niacuteveis de

ruiacutedo para o conforto acuacutestico as condiccedilotildees favoraacuteveis de transmitacircncia e a absortacircncia das

paredes e coberturas para o conforto teacutermico o dimensionamento e as condiccedilotildees das

circulaccedilotildees horizontais e verticais as instalaccedilotildees prediais dentre inuacutemeros outros itens Os

teacutecnicos devem se debruccedilar sobre tais requisitos teacutecnicos a fim de otimizar os resultados

quanto agrave construccedilatildeo da sustentabilidade no municiacutepio Deve-se utilizar as normas ABNT em

auxiacutelio agrave formulaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos a exemplo da NBR 10151 sobre Avaliaccedilatildeo do

57

Ruiacutedo em Aacutereas Habitadas NBR 5382 sobre Iluminacircncia de Interiores NBR 15215 sobre

Iluminaccedilatildeo Natural NBR 9284 sobre Equipamentos Urbanos dentre outras

Por fim deve-se prezar pela total interaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras com o conjunto

da legislaccedilatildeo urbaniacutestica local a fim de estabelecer uma relaccedilatildeo sequencial entre as etapas de e

concepccedilatildeo planejamento e construccedilatildeo das edificaccedilotildees passando das diretrizes gerais agraves

exigecircncias especiacuteficas O texto do coacutedigo de obras deve ser objetivo e didaacutetico sem incorrer

em simplificaccedilotildees O conteuacutedo deve ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e

teacutecnicos da aacuterea como pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees A dedicaccedilatildeo dos

teacutecnicos e profissionais na elaboraccedilatildeo das diretrizes transformadoras a busca pela

conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo sobre o conforto no ambiente urbano assim como a luta contra a

supremacia dos interesses privados sobre a coletividade satildeo itens importantes quanto agrave

concretizaccedilatildeo desse importante instrumento que foi apresentado e defendido ao longo do

presente trabalho

58

7 CONCLUSAtildeO

Diante das anaacutelises apresentadas ao longo deste trabalho principalmente quanto

ao ordenamento juriacutedico brasileiro para a regulaccedilatildeo urbana e o desenvolvimento sustentaacutevel

ficou comprovada a existecircncia de um conjunto significativo de legislaccedilotildees capazes de

embasar uma transformaccedilatildeo das cidades brasileiras em territoacuterios democraacuteticos igualitaacuterios e

sustentaacuteveis Poreacutem a previsatildeo legal eacute apenas o iniacutecio de um longo caminho ateacute a

transformaccedilatildeo concreta da realidade Para se avanccedilar nesse caminho uma mudanccedila poliacutetica eacute

imprescindiacutevel uma vez que as decisotildees sobre o espaccedilo urbano e sua regulamentaccedilatildeo

dependem necessariamente do interesse do gestor urbano materializado na figura dos

prefeitos e governantes das diversas esferas administrativas

Em relaccedilatildeo ao municiacutepio de Ouro Preto foi identificado que embora haja um

conjunto significativo de diretrizes urbaniacutesticas contidas no Plano Diretor e na Lei de Uso e

Ocupaccedilatildeo do Solo estas ainda satildeo insuficientes para subsidiar um desenvolvimento local

pautado na responsabilidade ambiental e na qualidade do meio ambiente urbano Isso se deve

principalmente ao fato de natildeo haver um coacutedigo de obras e edificaccedilotildees e tambeacutem ao fato de

que as iniciativas de proteccedilatildeo ambiental tal como a Agenda 21 Local natildeo foram colocadas

em praacutetica Neste sentido em relaccedilatildeo ao processo legislativo conclui-se que haacute uma

defasagem na aplicaccedilatildeo dos instrumentos de planejamento municipal previstos no Estatuto da

Cidade principalmente o Plano Diretor Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo Agenda 21 Local e Coacutedigo

de Obras e Edificaccedilotildees Aleacutem disso faltam elementos de combate agrave especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e

instrumentos de regulaccedilatildeo do solo urbano como o IPTU progressivo regularizaccedilatildeo onerosa a

assistecircncia teacutecnica gratuita dentre outros instrumentos tributaacuterios e financeiros juriacutedicos e

poliacuteticos que infelizmente ainda natildeo satildeo aplicados no municiacutepio Nesse contexto os outros

instrumentos de planejamento tais como o plano plurianual orccedilamento participativo

programas setoriais e planos de desenvolvimento econocircmico e social embora natildeo configurem

instrumentos urbaniacutesticos se colocam como ferramentas aliadas da gestatildeo democraacutetica da

cidade e da reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais visto que o processo de mudanccedila eacute

essencialmente poliacutetico Nesse sentido eacute extremamente importante que esses instrumentos

sejam pautados na real participaccedilatildeo popular na inclusatildeo e na justiccedila social

Quanto agrave sustentabilidade no ambiente urbano identificou-se que a preservaccedilatildeo e

proteccedilatildeo patrimonial pautadas no conforto do usuaacuterio a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados

a melhoria da infraestrutura urbana a concretizaccedilatildeo de projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria

59

assim como a construccedilatildeo de habitaccedilatildeo social de qualidade satildeo questotildees fundamentais para a

transformaccedilatildeo das cidades em territoacuterios democraacuteticos e sustentaacuteveis Essas demandas estatildeo

diretamente ligadas agrave mudanccedila no paradigma do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

pois uma vez colocadas em praacutetica alteram significativamente a configuraccedilatildeo das cidades

influenciando no clima urbano e na qualidade ambiental

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de uma base de dados climaacuteticos relativos ao municiacutepio

a partir das Normais Climatoloacutegicas obtidas no periacuteodo entre 1976 e 1990 foi possiacutevel

caracterizar o clima de Ouro Preto como um clima de baixas temperaturas muito uacutemido

(umidade relativa praticamente sempre acima de 80) com alta nebulosidade (o que significa

que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou nublado) e com abundacircncia de chuvas

principalmente no veratildeo Foi tambeacutem identificada uma grande interferecircncia do efeito da

barreira orograacutefica provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta

que conforma o Morro Satildeo Sebastiatildeo o que aprofunda ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade

Para a elaboraccedilatildeo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais foram utilizados os

resultados do diagrama de Givoni das Tabelas de Mahoney e da NBR 15220 Assim para a

cidade de Ouro Preto concluiu-se que a arquitetura deve priorizar o ganho teacutermico

principalmente durante o inverno pois nessa estaccedilatildeo tem-se uma queda significativa das

temperaturas o que afeta consideravelmente o conforto do usuaacuterio Esse ganho teacutermico deve

ser pensado a partir da utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior

insolaccedilatildeo o que possibilita um melhor aproveitamento dessa radiaccedilatildeo solar que deve servir

para manter o ambiente aquecido durante a noite Quanto aos materiais internos estes devem

possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser devidamente

isoladas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente Em relaccedilatildeo ao veratildeo foi

identificada a necessidade de ventilaccedilatildeo cruzada para reduzir os efeitos das temperaturas

elevadas e da alta umidade aleacutem de envoltoacuterias bem protegidas das chuvas

Por fim quanto agrave elaboraccedilatildeo do coacutedigo de obras foi possiacutevel apontar a

necessidade de se estabelecer as diretrizes para os projetos e construccedilotildees a partir dos

paracircmetros das normas teacutecnicas brasileiras do desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas com

base nas praacuteticas locais da garantia da acessibilidade das edificaccedilotildees agrave populaccedilatildeo em geral

da consideraccedilatildeo dos paracircmetros climaacuteticos e da utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis Foi

abordada a necessidade de aproximaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos do coacutedigo de obras aos

padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees residenciais previstos no RTQ-R

60

(Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais INMETRO) aleacutem da necessidade de se construir um texto objetivo e didaacutetico

que possa ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e teacutecnicos da aacuterea quanto

pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees

61

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 15220 Desempenho

teacutermico de edificaccedilotildees Rio de Janeiro ABNT 2005

BAHIA S R GUEDES P de A Elaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de obras e

edificaccedilotildees 2ordfed Rio de janeiro IBAMDUMA ELETROBRAS PROCEL 2012

BARANDIER H ALMEIDA M C T MORAIS R Planejamento e Controle Ambiental

Urbano e a Eficiecircncia Energeacutetica Rio de Janeiro IBAMDUMA ELETROBRASPROCEL

2013

BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988

BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002

BRASIL Lei nordm 10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do Desenvolvimento

Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Pesquisa nacional para identificar os resultados de

implementaccedilatildeo de processos de agendas 21 locais Brasiacutelia 2009

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Building Code 1ordm Ed Washington 2007

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FERREIRA C SOUZA H A de ASSIS E S de Estudo do clima brasileiro reflexotildees e

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IBGE Perfil dos municiacutepios brasileiros 2013 Brasiacutelia 2014

LAMBERTS R DUTRA L PEREIRA FO R Eficiecircncia Energeacutetica na Arquitetura 3ordfed

ELETROBRASPROCEL 2014

MENICONI R O A Construccedilatildeo de uma Cidade-Monumento o caso de Ouro Preto Belo

Horizonte Escola de Arquitetura e Urbanismo UFMG 1999 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OLIVEIRA L B Agenda 21 Local consolidando as bases para o desenvolvimento

sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escala UFOP 2010

62

OLIVEIRA M A Os valores culturais da paisagem urbana em Ouro Preto Um Estudo de

Caso das Aacutereas Verdes na Ladeira Santa Efigecircnia e Entorno Proacuteximo Salvador Mestrado em

Arquitetura e Urbanismo da UFBA 1997

OLIVEIRA M R S Gestatildeo Patrimonial em Ouro Preto Alcances e Limites das Poliacuteticas

Puacuteblicas Preservacionistas Campinas Poacutes ndash Graduaccedilatildeo em Geografia Anaacutelise Ambiental e

Dinacircmica Territorial da UNICAMP 2005 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OURO PRETO Lei complementar nordm 011996 Institui o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro

Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 022005 Estabelece a Estrutura Baacutesica e a

organizaccedilatildeo administrativa da Prefeitura Municipal de Ouro Preto e da outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 152006 Altera a Lei Complementar ndeg 021005

modifica a denominaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Turismo Induacutestria e Comeacutercio e da

Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio suas respectivas competecircncias e daacute outras

providecircncias de 27 de Abril de 2006

OURO PRETO Lei Complementar nordm 302006 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 28 de

Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei complementar nordm 912010 Altera a Lei Complementar nordm292006 que

estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 932011 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 20 de

Janeiro de 2011

OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996

OURO PRETO Lei complementar nordm292006 Estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de

Ouro Preto de 28 de Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei nordm 333 Dispotildee sobre o Programa da Agenda 21 Local de 11 de maio de

2007

OURO PRETO Lei nordm 5790 Dispotildee sobre as diretrizes baacutesicas do Plano Diretor do

Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Portaria 0292 Nomeia Comissatildeo Especial

OURO PRETO Portaria 1707 Nomeia Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos

Naturais e Agenda 21 Local

Page 4: POLYANA PEREIRA COELHO · 2019. 11. 14. · POLYANA PEREIRA COELHO A SUSTENTABILIDADE DO AMBIENTE URBANO E OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO MUNICIPAL: RECOMENDAÇÕES PARA UM CÓDIGO DE

3

RESUMO

A sustentabilidade do ambiente urbano embora seja uma pauta relativamente recente no

Brasil jaacute atingiu o patamar de demanda prioritaacuteria Isso porque a exploraccedilatildeo predatoacuteria dos

recursos naturais tem destruiacutedo o meio ambiente Aleacutem disso os centros urbanos se tornaram

verdadeiros depoacutesitos de lixo esgoto e poluiccedilatildeo Diante desse contexto o presente trabalho

busca identificar os instrumentos de gestatildeo municipal que podem contribuir para a mudanccedila

dessa realidade urbana Satildeo apresentados portanto os instrumentos do planejamento

municipal regulamentados pelo Estatuto da Cidade aleacutem dos instrumentos de controle

ambiental como por exemplo a Agenda 21 Local que podem interferir positivamente no bem

estar e no conforto ambiental das cidades Para o estudo de caso foi escolhido o municiacutepio de

Ouro Preto MG que tem aproximadamente 300 anos de histoacuteria e uma configuraccedilatildeo urbana

protegida Tal estudo de caso agregou a preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico como mais uma

variaacutevel presente no contexto da regulaccedilatildeo urbana Sendo assim a fim de entender a

articulaccedilatildeo desses trecircs importantes aspectos da poliacutetica urbana municipal - a preservaccedilatildeo a

regulaccedilatildeo e a sustentabilidade - o trabalho em questatildeo tratou das possibilidades de alcance do

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees Por fim na tentativa de identificar as diretrizes necessaacuterias

para se transformar os centros urbanos em espaccedilos sustentaacuteveis buscou-se apontar a partir do

reconhecimento do clima local de Ouro Preto algumas recomendaccedilotildees arquitetocircnicas capazes

de avanccedilar na consolidaccedilatildeo de construccedilotildees comprometidas com o conforto ambiental e com a

eficiecircncia energeacutetica

Palavras-chave sustentabilidade gestatildeo municipal conforto ambiental Ouro Preto - MG

4

ABSTRACT

The sustainability of the urban environment although it is a relatively new agenda in Brazil

has reached the level of priority demand Thats because the predatory exploitation of natural

resources has destroyed the environment Furthermore urban centers have become true

rubbish dumps sewer and pollution In this context this paper seeks to identify the municipal

management tools that can contribute to changing this urban reality They are presented so

the instruments of municipal planning regulated by the City Statute addition to the

instruments of environmental control for example the Local Agenda 21 that may positively

affect the well-being and environmental comfort of cities For the case study was chosen the

city of Ouro Preto Minas Gerais which has about 300 years of history and a protected urban

setting Such a case study added the preservation of historical heritage as another variable

present in the context of urban regulation So in order to understand the relationship of these

three important aspects of municipal urban policy - the preservation regulation and

sustainability - the work in question dealt with the range of possibilities of Works and

Building Code Finally in an attempt to identify the policies needed to transform urban areas

into sustainable spaces we tried to point out from the recognition of the local climate of Ouro

Preto some architectural recommendations able to move forward in the consolidation of

buildings committed to comfort environmental and energy efficiency

Keywords sustentability municipal planning environment comfort Ouro Preto - MG

5

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 6

2 O ESTATUTO DA CIDADE E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL 8

3 O PLANO DIRETOR E OS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO

MUNICIPAL 14

4 OS DESAFIOS DA REGULACcedilAtildeO URBANA FRENTE AgraveS INTERVENCcedilOtildeES NAS

EDIFICACcedilOtildeES E NOS CONJUNTOS URBANOS TOMBADOS 20

5 O MUNICIacutePIO DE OURO PRETO UM ESTUDO DE CASO 27

51 DA COLONIZACcedilAtildeO AO SEacuteCULO XX 27

52 O CONTEXTO ATUAL 34

6 ENSAIO PARA UM COacuteDIGO DE OBRAS PRINCIPAIS ESTRATEacuteGIAS PARA

A PROMOCcedilAtildeO DA EFICIEcircNCIA ENERGEacuteTICA NO MUNICIacutePIO DE OURO

PRETO 42

61 O RECONHECIMENTO DO CLIMA E AS RECOMENDACcedilOtildeES

ARQUITETOcircNICAS INICIAIS 42

62 O COacuteDIGO DE OBRAS E O CONFORTO AMBIENTAL EM OURO PRETO ndash

ESTRATEacuteGIAS PRIORITAacuteRIAS 54

7 CONCLUSAtildeO 58

6

1 INTRODUCcedilAtildeO

A praacutetica de ordenaccedilatildeo do territoacuterio nacional atraveacutes do planejamento urbano

modificou-se significativamente no iniacutecio do Segundo Milecircnio A aprovaccedilatildeo do Estatuto da

Cidade e a incorporaccedilatildeo dos preceitos do equiliacutebrio ambiental e do desenvolvimento

sustentaacutevel nas diretrizes para o desenvolvimento urbano impactaram positivamente o quadro

juriacutedico brasileiro Contudo enfrentam-se ainda inuacutemeras dificuldades na aplicaccedilatildeo das

diretrizes previstas nesse novo ordenamento o que se traduz num gigantesco atraso quanto agrave

transformaccedilatildeo das cidades brasileiras em cidades sustentaacuteveis

Atualmente satildeo os municiacutepios os entes federativos com maior capacidade de

transformaccedilatildeo da realidade local uma vez que os principais instrumentos aplicaacuteveis ao

contexto urbano estatildeo inseridos no Plano Diretor ou noutro plano urbano de competecircncia do

municiacutepio Sendo assim faz-se necessaacuterio aprofundar o conhecimento e entendimento dos

instrumentos da gestatildeo municipal analisando os limites e possibilidades encontrados nas

administraccedilotildees da maioria das cidades brasileiras A identificaccedilatildeo do contexto poliacutetico local eacute

fundamental para a compreensatildeo da realidade urbana pois o sucesso na aplicaccedilatildeo de

legislaccedilotildees transformadoras depende da vontade poliacutetica das gestotildees municipais em promover

a democratizaccedilatildeo da cidade e o bem-estar coletivo

Nesse contexto de reconhecimento dos instrumentos de gestatildeo municipal buscou-

se identificar e avaliar as poliacuteticas de promoccedilatildeo da sustentabilidade no ambiente urbano

Assim aleacutem da anaacutelise dos Planos Diretores e da Lei de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo do

Solo o presente trabalho buscou investigar a existecircncia e a implementaccedilatildeo de outros

importantes instrumentos de promoccedilatildeo do equiliacutebrio ambiental tais como a Agenda 21 e o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees

Quanto agrave sustentabilidade do ambiente urbano cabe ressaltar a importacircncia em se

pensar a interaccedilatildeo das edificaccedilotildees no territoacuterio de forma que estas contribuam positivamente

com o clima urbano Assim estatildeo diretamente relacionadas agrave sustentabilidade do ambiente

urbano as diretrizes relativas ao uso agrave seguranccedila agrave salubridade agrave acessibilidade e agrave

preservaccedilatildeo dos elementos histoacutericos artiacutesticos e culturais assim como diretrizes resultantes

de estudos climaacuteticos que aplicados ao desenho urbano possibilitem adaptaccedilatildeo das

edificaccedilotildees agraves caracteriacutesticas climaacuteticas locais ao conforto teacutermico luminoso e acuacutestico

Tambeacutem faz parte dessa transformaccedilatildeo urbana iniciativas que utilizem fontes de energia

alternativas e que combatam o desperdiacutecio de recursos

7

A partir do exposto acima foi escolhido como caso de estudo o Municiacutepio de Ouro

Preto situado na Regiatildeo Central de Minas Gerais Com um conjunto urbano de

aproximadamente 300 anos a cidade de Ouro Preto estaacute entre os 19 bens brasileiros

considerados Patrimocircnio Cultural da Humanidade pela UNESCO e entre os 77 conjuntos

urbanos tombados pelo IPHAN

Estudar Ouro Preto portanto pressupotildee acrescentar um olhar preservacionista aos

apontamentos sobre a regulaccedilatildeo urbana e o desenvolvimento sustentaacutevel Dentro dessa

realidade faz-se necessaacuterio desenvolver uma interaccedilatildeo entre esses trecircs importantes aspectos da

poliacutetica urbana municipal preservaccedilatildeo regulaccedilatildeo e sustentabilidade

Sendo assim o objetivo geral da pesquisa consiste em analisar dentro do contexto

juriacutedico do municiacutepio de Ouro Preto as leis pertinentes agrave regulaccedilatildeo urbana a fim de avaliar a

aplicaccedilatildeo dos preceitos do Estatuto da Cidade Ademais o presente trabalho procura

identificar os principais entraves e barreiras que atualmente impedem que a expansatildeo da

cidade ocorra de forma vinculada agrave qualidade de vida dos cidadatildeos agrave proteccedilatildeo ambiental e

vinculada agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico

A partir da identificaccedilatildeo e contextualizaccedilatildeo das legislaccedilotildees municipais foram

abordadas algumas iniciativas de promoccedilatildeo da sustentabilidade a fim de avanccedilar na

construccedilatildeo de uma base de dados climaacuteticos do municiacutepio capaz de orientar a elaboraccedilatildeo de

condicionantes urbaniacutesticas e diretrizes construtivas comprometidas com a proteccedilatildeo do meio

ambiente e com as premissas do conforto ambiental Dentro do rol de legislaccedilotildees municipais

destacou-se um importante instrumento da regulaccedilatildeo urbana o Coacutedigo de Obras e

Edificaccedilotildees Foram abordados na pesquisa aspectos importantes quanto agrave elaboraccedilatildeo e

atualizaccedilatildeo deste instrumento como por exemplo a incorporaccedilatildeo dos criteacuterios de

sustentabilidade a fim de elevar a qualidade das edificaccedilotildees e garantir o conforto do usuaacuterio

Para a anaacutelise do clima da cidade de Ouro Preto foram utilizados o diagrama de

Givoni as Tabelas de Mahoney aleacutem da NBR 15220 parte 3 A sistematizaccedilatildeo dos resultados

dessas trecircs ferramentas possibilitou a interpretaccedilatildeo das variaacuteveis climaacuteticas o que eacute

fundamental para a formulaccedilatildeo de recomendaccedilotildees arquitetocircnicas Tal resultado embasou o

apontamento global apresentado no uacuteltimo capiacutetulo quanto agraves principais recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas e agraves estrateacutegias prioritaacuterias de promoccedilatildeo do conforto ambiental

O trabalho deveraacute contribuir com os estudos que estatildeo sendo elaborados pelas

equipes teacutecnicas locais e com a conformaccedilatildeo de um pensamento criacutetico a cerca das poliacuteticas

puacuteblicas de promoccedilatildeo da sustentabilidade da regulaccedilatildeo urbana e da proteccedilatildeo patrimonial

8

2 O ESTATUTO DA CIDADE E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL

O iniacutecio do seacuteculo XXI podemos dizer foi marcado por uma mudanccedila qualitativa

no tocante ao Planejamento Urbano Brasileiro O Estatuto da Cidade Lei nordm 10257 foi

aprovado pelo Congresso Nacional em 2001 e representou uma grande vitoacuteria nos marcos do

planejamento urbano pois vinha sendo reivindicado pelos movimentos sociais de luta pela

reforma urbana desde a deacutecada de 1980 O Estatuto da Cidade veio regulamentar o Capiacutetulo II

da Constituiccedilatildeo Federal capiacutetulo este que trata da Poliacutetica Urbana composto pelos artigos

182 e 183 que ressaltam dentre outros aspectos como a poliacutetica de desenvolvimento urbano

deve estar diretamente associada agrave funccedilatildeo social da cidade e da propriedade urbana A

aprovaccedilatildeo desta lei significaria uma mudanccedila qualitativa nos marcos juriacutedico e institucional

dos municiacutepios por articular instrumentos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria habitaccedilatildeo saneamento

mobilidade e de gestatildeo de resiacuteduos aleacutem de introduzir o equiliacutebrio ambiental como item

essencial ao desenvolvimento urbano sustentaacutevel No Capiacutetulo 01 do Estatuto ndash Diretrizes

Gerais o primeiro artigo diz o seguinte

Art 1ordm Na execuccedilatildeo da poliacutetica urbana de que tratam os artigos 182 e 183 da

Constituiccedilatildeo Federal seraacute aplicado o previsto nesta Lei [] Paraacutegrafo uacutenico Para

todos os efeitos esta Lei denominada Estatuto da Cidade estabelece normas de

ordem puacuteblica e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol

do bem coletivo da seguranccedila e do bem-estar dos cidadatildeos bem como do equiliacutebrio

ambiental (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

O texto do Estatuto da Cidade tratou portanto de incorporar ao conjunto de

diretrizes da poliacutetica urbana o equiliacutebrio ambiental como um novo conceito como uma

demanda essencial ao desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis conforme estaacute disposto no

capiacutetulo introdutoacuterio da supracitada Lei

Contudo mesmo jaacute estando consolidado haacute mais de uma deacutecada o desafio

colocado pelo Estatuto da Cidade tem se aprofundado a cada dia A retirada de mateacuteria-prima

da natureza a exploraccedilatildeo de recursos energeacuteticos a demanda por aacutegua potaacutevel e por

alimentos assim como a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos satildeo intensificadas com o passar dos

anos e com o crescimento exponencial das cidades Nas grandes metroacutepoles o problema

ambiental jaacute alcanccedilou o alerta vermelho quanto agrave gravidade da situaccedilatildeo a poluiccedilatildeo a

impermeabilizaccedilatildeo dos solos a falta de vegetaccedilatildeo e de barreiras geograacuteficas naturais tecircm

provocado inuacutemeros danos ao meio ambiente urbano que sofre com a falta de chuva ou com o

excesso dela com a draacutestica alteraccedilatildeo do microclima e com a formaccedilatildeo de ilhas de calor cada

dia mais agressivas ao bem-estar da populaccedilatildeo

9

Nos municiacutepios menores embora os problemas ambientais sejam percebidos com

menor intensidade a poliacutetica urbana tambeacutem estaacute voltada para a exploraccedilatildeo e esgotamento

dos recursos naturais Natildeo haacute uma poliacutetica efetiva de proteccedilatildeo das aacutereas de risco das aacutereas de

proteccedilatildeo permanente assim como natildeo haacute saneamento baacutesico em toda a aacuterea urbana Soma-se

a esses problemas a falta de estaccedilotildees de tratamento de efluentes que resulta na utilizaccedilatildeo dos

cursos drsquoaacutegua como canais de esgotamento sanitaacuterio e consequentemente na contaminaccedilatildeo

dos recursos hiacutedricos de toda uma regiatildeo

A partir desses elementos evidencia-se que a promulgaccedilatildeo do Estatuto da Cidade

apesar do avanccedilo representado natildeo conseguiu resolver por si soacute os inuacutemeros problemas

ambientais urbanos que afetam agraves cidades brasileiras Tais problemas estatildeo diretamente

vinculados aos paracircmetros de parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo padrotildees construtivos e

padrotildees ediliacutecios das cidades definidos pela legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal quando

existente Os municiacutepios encontram enorme dificuldade em aplicar os preceitos do Estatuto

por falta de uma legislaccedilatildeo urbana forte aprimorada e atualizada que possa contemplar todos

os aspectos de uma regulaccedilatildeo urbana voltada para a sustentabilidade e para o bem-estar

coletivo

Eacute neste cenaacuterio que entram em cena os instrumentos da poliacutetica urbana previstos

no Capiacutetulo II do Estatuto da Cidade organizados em seis categorias que satildeo

I ndash planos nacionais regionais e estaduais de ordenaccedilatildeo do territoacuterio e de

desenvolvimento econocircmico e social

II ndash planejamento das regiotildees metropolitanas aglomeraccedilotildees urbanas e

microrregiotildees

III ndash planejamento municipal

IV ndash institutos tributaacuterios e financeiros

V ndash institutos juriacutedicos e poliacuteticos

VI ndash estudo preacutevio de impacto ambiental (EIA) e estudo preacutevio de impacto de

vizinhanccedila (EIV) (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho

2001)

As categorias III - planejamento municipal IV - institutos tributaacuterios e financeiros

e V - instrumentos juriacutedicos e poliacuteticos se desdobram em outros variados instrumentos que

associados e devidamente estabelecidos por lei especiacutefica serviratildeo de base para que os

municiacutepios avancem na construccedilatildeo de um ambiente urbano equilibrado inclusivo e

sustentaacutevel Destaca-se nesse quadro de instrumentos dentro da categoria ldquoplanejamento

municipalrdquo o Plano Diretor que constituindo o ldquoinstrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e expansatildeo urbanardquo possibilitaraacute para aleacutem da ordenaccedilatildeo do solo a

articulaccedilatildeo com outros processos de planejamento na esfera municipal Tal instrumento seraacute

melhor abordado no proacuteximo capiacutetulo

10

Apresentados os processos de planejamento e os instrumentos da poliacutetica urbana

trazidos pelo Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio avanccedilar no entendimento da

sustentabilidade enquanto conceito uma vez que esta passaraacute a compor um corpo uacutenico com o

que vier a se entender por ldquodesenvolvimentordquo

A preocupaccedilatildeo com o ordenamento juriacutedico de proteccedilatildeo e defesa do meio

ambiente se materializou no Brasil inicialmente em 1981 a partir da promulgaccedilatildeo da Lei

6938 que instituiu a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente O SISNAMA Sistema Nacional

do Meio Ambiente reuniu os oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Direta - Uniatildeo Estados

DF e Municiacutepios - responsaacuteveis pela proteccedilatildeo e melhoria da qualidade ambiental

Em 2002 a construccedilatildeo da Agenda 21 Brasileira buscou associar o conceito de

sustentabilidade agraves poliacuteticas de desenvolvimento urbano As Agendas Nacionais foram

desenvolvidas a partir da Agenda 21 Global Esta uacuteltima resultou das discussotildees realizadas na

Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD)

mais conhecida como Rio 92 A Agenda 21 consiste em um programa de accedilatildeo voltado para a

aplicaccedilatildeo de meacutetodos de proteccedilatildeo ambiental justiccedila social e eficiecircncia econocircmica Eacute um

documento de 40 capiacutetulos com mais de 2500 recomendaccedilotildees praacuteticas e foi assinado por 179

paiacuteses formalizando o compromisso dessas naccedilotildees com o Desenvolvimento Sustentaacutevel do

Planeta Instrumento de planejamento participativo a Agenda 21 deve ser um resultado de

accedilotildees que congreguem governo e sociedade civil e por isso eacute um instrumento aliado das novas

frentes de trabalho inauguradas pelo Estatuto da Cidade A partir dos trechos a seguir

retirados respectivamente da Agenda 21 e do Estatuto da Cidade pode-se perceber a afinidade

nas pretensotildees dos dois Instrumentos de Planejamento

71 Nos paiacuteses industrializados os padrotildees de consumo das cidades representam

uma pressatildeo muito seacuteria sobre o ecossistema global ao passo que no mundo em

desenvolvimento os assentamentos humanos necessitam de mais mateacuteria-prima

energia e desenvolvimento econocircmico simplesmente para superar seus problemas

econocircmicos e sociais baacutesicos Em muitas regiotildees do mundo em especial nos paiacuteses

em desenvolvimento as condiccedilotildees dos assentamentos humanos vecircm se

deteriorando sobretudo em decorrecircncia do baixo volume de investimentos no setor

imputaacutevel agraves restriccedilotildees relativas a recursos com que esses paiacuteses se deparam em

todas as aacutereas Nos paiacuteses de baixa renda sobre os quais haacute dados recentes apenas

56 por cento do orccedilamento do Governo central em meacutedia foram dedicados a

habitaccedilatildeo lazer seguridade social e bem-estar social [] Objetivo 78 O objetivo eacute

oferecer habitaccedilatildeo adequada a populaccedilotildees em raacutepido crescimento e aos pobres

atualmente carentes tanto de aacutereas rurais como urbanas por meio de uma

abordagem que possibilite o desenvolvimento e a melhoria de condiccedilotildees de moradia

ambientalmente saudaacuteveis (AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do

Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992)

11

Estatuto da Cidade Capiacutetulo 1 ndash Diretrizes Gerais Art 2ordm A poliacutetica urbana tem por

objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e da

propriedade urbana mediante as seguintes diretrizes gerais I ndash garantia do direito a

cidades sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao

saneamento ambiental agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos

puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para as presentes e futuras geraccedilotildees [] Art 3ordm

Compete agrave Uniatildeo entre outras atribuiccedilotildees de interesse da poliacutetica urbana IV -

instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano inclusive habitaccedilatildeo saneamento

baacutesico transportes urbanos e infraestrutura de energia e telecomunicaccedilotildees

(BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

O texto da Agenda 21 mais especificamente o Preacircmbulo enfatiza que o sucesso

na aplicaccedilatildeo desse plano de accedilatildeo depende primeiramente do comprometimento dos governos

com a preparaccedilatildeo de estrateacutegias planos poliacuteticas e processos nacionais para a concretizaccedilatildeo

dos objetivos estabelecidos

A Agenda 21 Brasileira foi desenvolvida no periacuteodo de 1996 a 2002 e teve como

eixo a sustentabilidade a partir da compatibilizaccedilatildeo entre conservaccedilatildeo ambiental justiccedila

social e crescimento econocircmico

Ao aprofundar-se na elaboraccedilatildeo de diretrizes para problemas de ordem estrutural

a Agenda 21 Brasileira foi elevada a programa dentro do Plano Plurianual de Governo (entre

2004 e 2007)1 o que daria maior forccedila poliacutetica e institucional agrave Agenda Sendo assim a partir

de soluccedilotildees integradas planejadas a meacutedio e longo prazos e a partir da associaccedilatildeo entre

governo e sociedade seria possiacutevel tratar de questotildees como ldquoeconomia da poupanccedila na

sociedade do conhecimento inclusatildeo social para uma sociedade solidaacuteria estrateacutegia para a

sustentabilidade urbana e rural recursos naturais estrateacutegicos governanccedila e eacutetica para a

promoccedilatildeo da sustentabilidaderdquo (AGENDA 21 BRASILEIRA 2004 p04) O Programa foi

estruturado em trecircs accedilotildees implementar a Agenda 21 Brasileira promover a elaboraccedilatildeo e

implementaccedilatildeo de Agendas 21 Locais e formaccedilatildeo continuada em Agenda 21

Vale destacar a importacircncia da Agenda 21 Local enquanto instrumento

complementar aos instrumentos da poliacutetica municipal de desenvolvimento urbano

A Agenda 21 Local eacute um dos principais instrumentos para se conduzir processos de

mobilizaccedilatildeo troca de informaccedilotildees geraccedilatildeo de consensos em torno dos problemas e

1 Importante destacar que ldquoO Plano Plurianual (PPA) eacute um instrumento previsto no art 165 da Constituiccedilatildeo

Federal destinado a organizar e viabilizar a accedilatildeo puacuteblica com vistas a cumprir os fundamentos e os objetivos da

Repuacuteblica Por meio dele eacute declarado o conjunto das poliacuteticas puacuteblicas do governo para um periacuteodo de quatro

anos e os caminhos trilhados para viabilizar as metas previstas construindo um Brasil melhorrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwmpgovbrministerioaspindex=10ampler=s1086gt Acesso em 06 jun 2015 O Plano Plurianual

referente ao periacuteodo 2004 ndash 2007 foi regulamentado pela Lei Nordm 10933 de 2004 sancionada pelo entatildeo

Presidente Luiacutez Inaacutecio Lula da Silva

12

soluccedilotildees locais e estabelecimento de prioridades para a gestatildeo de desde um estado

municiacutepio bacia hidrograacutefica unidade de conservaccedilatildeo ateacute um bairro uma escola O

processo deve ser articulado com outros projetos programas e atividades do governo

e sociedade sendo consolidado dentre outros a partir do envolvimento dos agentes

regionais e locais anaacutelise identificaccedilatildeo e promoccedilatildeo de instrumentos financeiros

difusatildeo e intercacircmbio de experiecircncias definiccedilatildeo de indicadores de desempenho

(AGENDA 21 Brasileira accedilotildees prioritaacuteriasComissatildeo de Poliacuteticas de

Desenvolvimento Sustentaacutevel e da Agenda 21 Nacional 2 ed Brasiacutelia Ministeacuterio

do Meio Ambiente 2004)

Desde entatildeo o esforccedilo em fomentar a construccedilatildeo das Agendas 21 Locais gerou

um resultado positivo embora muito aqueacutem do necessaacuterio para uma mudanccedila substancial nas

poliacuteticas em prol do desenvolvimento sustentaacutevel Em 2013 apenas 215 dos municiacutepios

brasileiros possuiacuteam processos em andamento relativos agrave Agenda 21 conforme foi

identificado pela IBGE a partir da Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros (MUNIC

2013) 2 Tal percentual apesar da pouca expressividade demarca um processo positivo de

mudanccedila tendo em vista que nos dados dos anos anteriores observava-se percentuais ainda

menores aleacutem de um processo de decliacutenio em 2009 a pesquisa indicou que 199 dos

municiacutepios haviam iniciado a elaboraccedilatildeo da agenda 21 enquanto em 2012 o percentual

baixou para 181

Nota-se ante ao exposto ateacute aqui que existe um arcabouccedilo legal significativo em

prol do desenvolvimento urbano sustentaacutevel Contudo a aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo existente e a

obtenccedilatildeo de resultados positivos estatildeo longe de se tornar uma realidade no Brasil Sendo

assim faz-se necessaacuterio reforccedilar a cada dia os compromissos estabelecidos nas Leis

Brasileiras e trabalhar na efetivaccedilatildeo dos instrumentos de promoccedilatildeo do equiliacutebrio ambiental a

partir da aplicaccedilatildeo das premissas da sustentabilidade Atingir o desenvolvimento urbano

sustentaacutevel natildeo eacute somente uma das opccedilotildees mas a uacutenica opccedilatildeo existente se quisermos que o

planeta tenha vida longa Preservar o meio ambiente deve ser uma accedilatildeo constante associada a

todas agraves demais poliacuteticas puacuteblicas Quanto agrave iniciativa privada esta deveraacute ser

permanentemente fiscalizada Regulamentar as atividades de exploraccedilatildeo da natureza e buscar

a inibiccedilatildeo severa de atividades de impacto ambiental satildeo tarefas urgentes que o Poder Puacuteblico

deve assimilar o quanto antes

2 Ressalta-se que ldquoA Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais ndash MUNIC eacute realizada desde o ano de 1999

pelo IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Na versatildeo de 2013 foram destacados os aspectos

relevantes da gestatildeo e da estrutura dos 5570 municiacutepios brasileiros a partir dos seguintes eixos perfil dos

gestores municipais recursos humanos das administraccedilotildees municipais legislaccedilatildeo e instrumentos de

planejamento sauacutede meio ambiente poliacutetica de gecircnero ndash temas jaacute investigados em anos anteriores ndash aleacutem de

gestatildeo de riscos e resposta a desastres este ineacutedito ateacute entatildeordquo Disponiacutevel em

lthttpwwwibgegovbrhomeestatisticaeconomiaperfilmunic2013defaultshtmgt Acesso em 06 jun 2015)

13

Somente com a permanente preocupaccedilatildeo do Estado para com o tema seraacute

possiacutevel consolidar o desenvolvimento urbano a partir da aplicaccedilatildeo das premissas da

sustentabilidade do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

14

3 O PLANO DIRETOR E OS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO

MUNICIPAL

Para introduzir a discussatildeo do Plano Diretor e demais instrumentos de

planejamento municipal previstos no Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio retomar o momento

da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 com destaque para o Art30 que determina as tarefas de

competecircncia dos Municiacutepios Dentre tais competecircncias destacam-se os incisos VIII e IX

diretamente relacionados ao planejamento urbano

Art 30 Compete aos Municiacutepios [] VIII - promover no que couber adequado

ordenamento territorial mediante planejamento e controle do uso do parcelamento e

da ocupaccedilatildeo do solo urbano IX - promover a proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-

cultural local observada a legislaccedilatildeo e a accedilatildeo fiscalizadora federal e estadual

(BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de

1988)

Aleacutem de delimitar as competecircncias municipais a Constituiccedilatildeo tambeacutem apontou

no Art182 do Capiacutetulo II o Plano Diretor - velho conhecido dos Teacutecnicos e Governantes -

como principal instrumento a ser utilizado pelos Municiacutepios no desenvolvimento da poliacutetica

urbana

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo Poder Puacuteblico

municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem por objetivo ordenar o

pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus

habitantes sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio para

cidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e de expansatildeo urbana sect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua

funccedilatildeo social quando atende agraves exigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade

expressas no plano diretor (BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do

Brasil de 5 de outubro de 1988)

Contudo tal instrumento natildeo representou uma novidade A expressatildeo Plano

Diretor foi utilizada pela primeira vez no Brasil em 1930 a partir do Plano Agache3

desenvolvido para o Rio de Janeiro Posteriormente foram desenvolvidos planos diretores em

todo o territoacuterio brasileiro planos estes que ficariam engavetados por falta de vontade

3 Nota-se que ldquoO Plano Agache foi a primeira proposta de intervenccedilatildeo urbaniacutestica na cidade do Rio de Janeiro

com preocupaccedilotildees genuinamente modernas Concluiacutedo em 1930 introduziu no cenaacuterio nacional algumas

questotildees tiacutepicas da cidade industrial tais como o planejamento do transporte de massas e do abastecimento de

aacuteguas a habitaccedilatildeo operaacuteria e o crescimento das favelas Aleacutem disso com discussotildees emergentes que iam desde a

necessidade de um zoneamento para a cidade ateacute a delimitaccedilatildeo de aacutereas verdes ultrapassou os limites do

Academicismo das intervenccedilotildees predecessoras de Pereira Passos e Paulo de Frontinrdquo Disponiacutevel em

lthttpplanourbanoriorjgovbrgt Acesso em 06 de jun 2015

15

poliacutetica A nomenclatura e o conteuacutedo dos planos diretores variaram com o passar dos anos

segundo Villaccedila

Por fim cabe abordar historicamente as jaacute mencionadas mudanccedilas na nomenclatura

nas formas nos conteuacutedos e nas metodologias dos planos Em primeiro lugar cai em

desuso a expressatildeo plano de melhoramentos e embelezamento e entra em cena a

expressatildeo urbanismo Depois esta cai em desuso sendo substituiacuteda por

planejamento urbano e plano diretor Em segundo lugar os conteuacutedos e

metodologias de elaboraccedilatildeo dos planos sofrem alteraccedilotildees radicais De enormes

volumes com centenas de paacuteginas recheados de mapas pesquisas e estatiacutesticas

elaborados por equipes multidisciplinares e abordando enorme leque de problemas

transformam-se em meros projetos de lei agraves vezes contendo apenas declaraccedilotildees de

princiacutepios poliacuteticas ou diretrizes gerais agraves vezes ateacute sem mapas ou com poucos

mapas Um simples projeto de lei publicado no Diaacuterio Oficial (CSABA Deaacutek

SUELI Ramos Schiffer (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo

Editora da Universidade de Satildeo Paulo 1999 p191)

A realidade eacute que os planos diretores desenvolvidos no Brasil entre as deacutecadas de

1940 e 1990 natildeo correspondiam ao pensamento dos governantes e das classes dominantes e

por isso natildeo contaram com intenccedilatildeo real de aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo Os objetivos apontados

natildeo seriam atingidos pois o Plano Diretor natildeo se tornara uma prioridade em nenhuma das

esferas administrativas do paiacutes

O ressurgimento do instrumento Plano Diretor em 1988 embora isento de grandes

novidades veio acompanhado da premissa da funccedilatildeo social da propriedade um aspecto

positivo e inovador da poliacutetica urbana poreacutem praticamente inviaacutevel de ser aplicado num

primeiro momento pelos obstaacuteculos constantes na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal Contudo

diante da pressatildeo dos movimentos sociais e populares que se fortaleceram durante o processo

de redemocratizaccedilatildeo tais planos foram se tornando mais politizados abordando aspectos

especiacuteficos da competecircncia municipal e tratando das polecircmicas voltadas para o territoacuterio

inclusive sobre a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria no espaccedilo urbano

Em 2001 a poliacutetica urbana foi regulamentada pela Lei 10257 - Estatuto da

Cidade ndash devidamente apresentada no capiacutetulo anterior Com uma abordagem democraacutetico-

participativa voltada para os interesses coletivos tal lei possibilitou uma mudanccedila expressiva

no planejamento urbano principalmente na esfera municipal

O Plano Diretor Participativo como seraacute chamado a partir de entatildeo se torna o

principal dentre outros sete instrumentos de planejamento municipal expressos no Art 4ordm

inciso III da Lei 10257

Art 4o Para os fins desta Lei seratildeo utilizados entre outros instrumentos [] III ndash

planejamento municipal em especial a) plano diretor b) disciplina do

parcelamento do uso e da ocupaccedilatildeo do solo c) zoneamento ambiental d) plano

plurianual e) diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual f) gestatildeo orccedilamentaacuteria

16

participativa g) planos programas e projetos setoriais h) planos de

desenvolvimento econocircmico e social (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade

de 10 de julho 2001)

O conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelos planos diretores foi estabelecido na

resoluccedilatildeo nordm34 de 01 de julho de 2005 pelo Conselho das Cidades A tal conselho

regulamentado pelo Decreto 5031 2004 competia emitir orientaccedilotildees e recomendaccedilotildees sobre

a aplicaccedilatildeo da Lei 10257 de 2001 (Estatuto da Cidade) e dos demais atos normativos

relacionados ao desenvolvimento urbano A inclusatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel das

cidades nas novas diretrizes da poliacutetica urbana teraacute no plano diretor a sua expressatildeo

fundamental Dentre o conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelo Plano Diretor Participativo

merece destaque o Art 2ordm inciso III aleacutem do Art 5ordm inciso VII do Estatuto da Cidade

Art 2deg As funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade urbana seratildeo definidas a partir

da destinaccedilatildeo de cada porccedilatildeo do territoacuterio do municiacutepio bem como da identificaccedilatildeo

dos imoacuteveis natildeo edificados subutilizados e natildeo utilizados no caso de sua existecircncia

de forma a garantir [] III - a universalizaccedilatildeo do acesso aacute aacutegua potaacutevel aos

serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio a coleta e disposiccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos e ao

manejo sustentaacutevel das aacuteguas pluviais de forma integrada aacutes poliacuteticas ambientais de

recursos hiacutedricos e de sauacutede [] Art 5deg A instituiccedilatildeo das Zonas Especiais

considerando o interesse local deveraacute [] VII - demarcar as aacutereas de proteccedilatildeo

preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e construiacutedo do patrimocircnio

cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico (BRASIL Lei nordm10257

Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

Ao estabelecer as diretrizes de ordenaccedilatildeo do solo o Plano Diretor estabelece que

a propriedade urbana deve servir agrave qualidade de vida dos cidadatildeos agrave justiccedila social e ao

desenvolvimento sustentaacutevel das atividades econocircmicas A referecircncia territorial que estrutura

as estrateacutegias definidas pelo Plano Diretor eacute o macrozoneamento Este subdivide o territoacuterio

municipal a partir da identificaccedilatildeo das potencialidades e das caracteriacutesticas de cada aacuterea Satildeo

algumas categorias utilizadas na definiccedilatildeo do macrozoneamento aacutereas aptas agrave urbanizaccedilatildeo

aacutereas propiacutecias ao desenvolvimento de atividades rurais aacutereas de preservaccedilatildeo e aacutereas de

exploraccedilatildeo econocircmica Aleacutem da definiccedilatildeo de intenccedilotildees para os vetores do territoacuterio

municipal o macrozoneamento define tambeacutem o periacutemetro urbano e as zonas de expansatildeo

urbana enquanto instrumentos de direcionamento da urbanizaccedilatildeo da gestatildeo ambiental e do

crescimento econocircmico A delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano deve ser feita a partir de planta

referenciada com clara indicaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e fiacutesicos limiacutetrofes e deve servir

para direcionar o adensamento populacional para as aacutereas providas de infraestrutura

garantindo a proteccedilatildeo das aacutereas de interesse ambiental e a reserva de aacutereas para produccedilatildeo

agriacutecola e ocupaccedilatildeo rural A alteraccedilatildeo de tal periacutemetro conforme previsto no Art42B do

17

Estatuto da Cidade deveraacute instituiacuteda por lei municipal e deve ser resultado de projeto

especiacutefico que contemple o conteuacutedo miacutenimo e que atenda agraves diretrizes do Plano Diretor

O segundo instrumento de planejamento municipal apresentado no Art 4ordm do

Estatuto da Cidade o parcelamento o uso e a ocupaccedilatildeo do solo eacute tambeacutem um importante

instrumento para a concretizaccedilatildeo dos preceitos da sustentabilidade do ambiente urbano A

Legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal definiraacute o zoneamento da aacuterea urbana Tal zoneamento

responsaacutevel pela subdivisatildeo do periacutemetro urbano em diferentes categorias eacute o principal

instrumento da regulaccedilatildeo urbana A definiccedilatildeo das categorias deveraacute ser pautada pelo melhor

aproveitamento e pela ampliaccedilatildeo do acesso agrave terra urbanizada O zoneamento orienta o

ordenamento urbano a partir das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo do solo definindo os paracircmetros

urbaniacutesticos - coeficiente de aproveitamento taxa de ocupaccedilatildeo afastamentos gabaritos - de

forma que os projetos de edificaccedilotildees e demais intervenccedilotildees mantenham uma densidade de

ocupaccedilatildeo que favoreccedila o conforto ambiental urbano Dentre os criteacuterios para a definiccedilatildeo dos

diferentes paracircmetros urbaniacutesticos que incidem sobre o territoacuterio estatildeo proteccedilatildeo das aacutereas

ambientalmente fraacutegeis adensamento de aacutereas providas de infraestrutura limitaccedilatildeo de usos a

partir da capacidade viaacuteria controle da permeabilidade do solo preservaccedilatildeo e proteccedilatildeo de

conjuntos de valor histoacuterico cultural ou ambiental distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo de baixa renda

em aacutereas bem localizadas e servidas de infraestrutura condiccedilotildees climaacuteticas locais

As diretrizes para o parcelamento geralmente compoem junto com os paracircmetros

urbaniacutesticos a mesma lei municipal O parcelamento merece destaque pois trata dos novos

espaccedilos que seratildeo incorporados ao tecido urbano da cidade e portanto deveraacute estar

integralmente articulado com as estrateacutegias do desenvolvimento urbano Eacute regulamentado em

acircmbito geral pela Lei Federal 676679 acrescida das alteraccedilotildees posteriores definidas nas leis

978599 e 1144507 O parcelamento configura um processo de expansatildeo horizontal ou

adensamento da aacuterea urbanizada e consiste na subdivisatildeo de um determinado imoacutevel sob as

formas de desmembramento (quando haacute o aproveitamento do sistema viaacuterio existente) ou

loteamento (quando haacute abertura de novas vias e logradouros ou modificaccedilatildeo dos existentes)

Deveratildeo ser contempladas na Lei de Parcelamento as aacutereas que natildeo admitiratildeo parcelamento

os paracircmetros de dimensionamento de lotes quadras e sistema viaacuterio as aacutereas de uso puacuteblico

as faixas de proteccedilatildeo a infraestrutura baacutesica os procedimentos administrativos para

aprovaccedilatildeo do projeto as contrapartidas do empreendedor as penalidades sobre infraccedilotildees

assim como os procedimentos para regularizaccedilatildeo das aacutereas em desconformidade com a Lei

Paracircmetros de conforto ambiental tais como ventos favoraacuteveis orientaccedilatildeo solar vegetaccedilatildeo

18

sistema de abastecimento de aacutegua sistema de esgotamento sanitaacuterio e sistema de drenagem

devem ser definidos em lei e cobrados nos projetos de parcelamento a fim de minimizar os

impactos ao meio ambiente

Vale destacar que o sucesso na elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo das Leis de Parcelamento

Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo depende primeiramente do comprometimento da gestatildeo municipal

com a democratizaccedilatildeo da cidade e com o bem-estar coletivo caso contraacuterio tal legislaccedilatildeo

poderaacute aprofundar a segregaccedilatildeo privilegiando a iniciativa privada a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria

e os interesses individuais

O zoneamento ambiental terceiro instrumento de planejamento municipal

apontado na lista do Art 4ordm do Estatuto da Cidade eacute tambeacutem um instrumento da Poliacutetica

Nacional do Meio Ambiente regida pela Lei 693881 Art 9ordm O zoneamento ambiental pode

ser considerado uma expressatildeo sinocircnima do Zoneamento Ecoloacutegico-Econocircmico ndash ZEE que

foi regulamentado pelo Decreto 429702

CAPITULO I - DOS OBJETIVOS E PRINCIacutePIOS ndash [] Art 2ordm O ZEE

instrumento de organizaccedilatildeo do territoacuterio a ser obrigatoriamente seguido na

implantaccedilatildeo de planos obras e atividades puacuteblicas e privadas estabelece medidas e

padrotildees de proteccedilatildeo ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental dos

recursos hiacutedricos e do solo e a conservaccedilatildeo da biodiversidade garantindo o

desenvolvimento sustentaacutevel e a melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo

Art 3ordm O ZEE tem por objetivo geral organizar de forma vinculada as decisotildees dos

agentes puacuteblicos e privados quanto a planos programas projetos e atividades que

direta ou indiretamente utilizem recursos naturais assegurando a plena manutenccedilatildeo

do capital e dos serviccedilos ambientais dos ecossistemas Paraacutegrafo uacutenico O ZEE na

distribuiccedilatildeo espacial das atividades econocircmicas levaraacute em conta a importacircncia

ecoloacutegica as limitaccedilotildees e as fragilidades dos ecossistemas estabelecendo vedaccedilotildees

restriccedilotildees e alternativas de exploraccedilatildeo do territoacuterio e determinando quando for o

caso inclusive a relocalizaccedilatildeo de atividades incompatiacuteveis com suas diretrizes

gerais (BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002)

O zoneamento ambiental ou ZEE eacute o instrumento que possibilita traccedilar um

panorama sobre a utilizaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais de um determinado

municiacutepio gerando as bases para um planejamento urbano comprometido com a

sustentabilidade ecoloacutegica econocircmica e social Tambeacutem eacute um instrumento de caraacuteter

democraacutetico-participativo e deve portanto ser acompanhado pela Administraccedilatildeo Puacuteblica em

seus diferentes niacuteveis e pela sociedade civil Tal instrumento assim como o zoneamento

urbano divide o territoacuterio em diferentes categorias As categorias do zoneamento ambiental

satildeo definidas a partir dos princiacutepios da utilidade e da simplicidade de forma a configurar

limites claros e compreensiacuteveis ao poder puacuteblico e aos cidadatildeos As diretrizes gerais e

especiacuteficas do zoneamento deveratildeo conter a capacidade de suporte ambiental de determinada

aacuterea a necessidade de proteccedilatildeo dos recursos renovaacuteveis e natildeo-renovaacuteveis a definiccedilatildeo de aacutereas

19

para unidades de conservaccedilatildeo integral a permissatildeo para exploraccedilatildeo de recursos naturais as

medidas para o desenvolvimento sustentaacutevel do setor rural medidas de ajustamento entre usos

conflitantes aleacutem de planos programas e fonte de recursos para viabilizar as atividades

apontadas para cada zona

Apesar de ser um importante instrumento de suporte agrave proteccedilatildeo do meio ambiente

o zoneamento ambiental ou ZEE ainda tem sido pouco utilizado pelos municiacutepios brasileiros

Contudo os dados da Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais (MUNIC 2013)

demonstraram que tem havido um crescimento do percentual de municiacutepios com legislaccedilatildeo

especiacutefica sobre a questatildeo ambiental o que traz um pouco de esperanccedila quanto agrave mudanccedila

dos paradigmas de proteccedilatildeo do meio ambiente A MUNIC 2013 apontou que em 2012

554 dos municiacutepios tinham legislaccedilatildeo ambiental jaacute em 2013 esse percentual subiu para

655

Por uacuteltimo os demais instrumentos de planejamento municipal apontados no Art

4ordm do Estatuto da Cidade - plano plurianual diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual

gestatildeo orccedilamentaacuteria participativa planos programas e projetos setoriais planos de

desenvolvimento econocircmico e social ndash tratariam de garantir a gestatildeo democraacutetica da cidade a

partir da realizaccedilatildeo de debates audiecircncias e consultas puacuteblicas como condiccedilatildeo para a

aprovaccedilatildeo das Leis Municipais Tais instrumentos apesar de natildeo-urbaniacutesticos tecircm uma

importacircncia decisiva na reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais Contudo embora tenham se

efetivado na maioria dos municiacutepios brasileiros ainda permanecem em sua maioria

mergulhados na velha poliacutetica clientelista que transforma os foacuteruns de participaccedilatildeo em

espaccedilos esvaziados pouco divulgados redutos de manobras poliacuteticas e trocas de favores

Infelizmente a garantia da gestatildeo democraacutetica natildeo seraacute alcanccedilada apenas por atos normativos

assim como as diretrizes estabelecidas para o desenvolvimento urbano sustentaacutevel tambeacutem

natildeo ser tornaratildeo realidade apenas por forccedila de Lei Eacute necessaacuterio mudar o caraacuteter da gestatildeo do

territoacuterio que atualmente se caracteriza pela anulaccedilatildeo da atuaccedilatildeo teacutecnica das diferentes aacutereas

do conhecimento a fim de garantir que o interesse privado prevaleccedila sobre os diretos coletivos

de toda uma cidade Eacute necessaacuterio colocar em praacutetica os preceitos das leis brasileiras efetivar

os instrumentos com real participaccedilatildeo popular lanccedilar as bases para um modelo de gestatildeo

realmente democraacutetico inclusivo e comprometido com o bem estar coletivo e com a justiccedila

social

20

4 OS DESAFIOS DA REGULACcedilAtildeO URBANA FRENTE AgraveS INTERVENCcedilOtildeES NAS

EDIFICACcedilOtildeES E NOS CONJUNTOS URBANOS TOMBADOS

A proteccedilatildeo e a preservaccedilatildeo dos siacutetios urbanos de valor histoacuterico arquitetocircnico

cultural ou paisagiacutestico satildeo imprescindiacuteveis para a manutenccedilatildeo da identidade e da memoacuteria

dos diferentes grupos sociais que por ali passaram ou nele se estabeleceram O registro da

histoacuteria deve ser deixado agraves geraccedilotildees futuras como siacutembolo do conhecimento e da experiecircncia

adquirida ao longo do tempo A proteccedilatildeo de um determinado siacutetio pode inclusive ser

utilizada quando a memoacuteria coletiva e a afetividade de uma comunidade para com um

determinado espaccedilo adquirir grande relevacircncia cultural gerando uma ambiecircncia a ser

protegida mesmo que esta tenha se consolidado em um periacuteodo recente

Atualmente a preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos e a conservaccedilatildeo dos imoacuteveis

urbanos tecircm no desenvolvimento urbano sustentaacutevel um importante aliado A disseminaccedilatildeo

da loacutegica do consumo que atinge tanto os bens materiais moacuteveis quanto os imoacuteveis resulta

numa produccedilatildeo exagerada desses bens o que demanda enorme quantidade de mateacuteria-prima e

energia e causa impacto no meio ambiente Sendo assim as poliacuteticas de preservaccedilatildeo e o

incentivo ao reuso de edifiacutecios e objetos contribuem para a sustentabilidade e o equiliacutebrio

ambiental

Hoje existem no Brasil doze siacutetios urbanos e sete siacutetios naturais que satildeo

considerados Patrimocircnio Cultural da Humanidade e portanto tombados internacionalmente

pela UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

Dentre os conjuntos tombados internacionalmente destaca-se a predominacircncia dos centros

histoacutericos de caracteriacutesticas coloniais tais como o Centro Histoacuterico de Ouro Preto MG

Olinda PE Salvador BA Satildeo Luiz do Maranhatildeo MA Diamantina MG e Goiaacutes GO Natildeo

menos importante o tombamento nacional realizado pelo IPHAN ndash Instituto do Patrimocircnio

Histoacuterico e Artiacutestico Nacional preserva 77 conjuntos urbanos espalhados por todas as regiotildees

do Brasil com destaque para a regiatildeo nordeste que conta com 30 desses centros tombados

Somam-se a esse contingente os conjuntos tombados estadualmente e municipalmente que

natildeo seratildeo aqui enumerados

A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio estaacute presente no ordenamento

juriacutedico brasileiro desde 1937 quando por meio do Decreto-Lei nordm25 criou-se o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash SPHAN (atual IPHAN) para proteger as cidades

e os monumentos da modernizaccedilatildeo das reformas urbanas e do interesse imobiliaacuterio

21

Reafirmada pelo Art 216 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e pelo Art 2ordm inciso XII do

Estatuto da Cidade a proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e

construiacutedo do patrimocircnio cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico tornou-se

diretriz obrigatoacuteria a ser contemplada pelos planos urbanos e legislaccedilotildees municipais

Contudo a preservaccedilatildeo dos conjuntos urbanos tombados natildeo pressupotildee o

congelamento das cidades Os paracircmetros para as intervenccedilotildees contemporacircneas deveratildeo ser

definidos em leis especiacuteficas de modo a evitar que o novo se sobreponha ou se confunda com

o existente A preservaccedilatildeo do conjunto tombado soacute seraacute possiacutevel se for permitido agrave cidade

expandir-se adensar-se e modificar-se Caso contraacuterio centro e cidade se tornaratildeo obsoletos

Percebe-se portanto que a regulaccedilatildeo urbana nas cidades histoacutericas enfrenta um

grande desafio preservar o antigo e abrir-se ao novo Sendo assim como proceder e quais

instrumentos utilizar Como a legislaccedilatildeo municipal deveraacute ser elaborada e aplicada a fim de

contemplar a preservaccedilatildeo do conjunto tombado e a expansatildeo da cidade seguindo os preceitos

da sustentabilidade

A preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos associada agrave expansatildeo sustentaacutevel das cidades eacute

um tema que vem sendo amplamente discutido inclusive em acircmbito internacional Nos paiacuteses

do norte e principalmente no continente europeu os siacutetios urbanos que demandam poliacuteticas

de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo remontam de seacuteculos e ateacute mesmo de milecircnios passados Embora

uma grande parte do patrimocircnio mundial tenha se perdido com a destruiccedilatildeo resultante das

guerras das cataacutestrofes e da imposiccedilatildeo de novas culturas como aconteceu principalmente nos

paiacuteses do sul que tiveram a cultura originaacuteria destruiacuteda pela colonizaccedilatildeo ainda haacute muito

patrimocircnio a ser preservado E natildeo eacute de hoje que os teacutecnicos e profissionais de diversas aacutereas

do conhecimento tecircm desenvolvido teorias e instrumentos para assegurar a salvaguarda de

todo esse patrimocircnio

Desde entatildeo leis documentos planos guias e coacutedigos vecircm sendo desenvolvidos

com o objetivo de orientar e direcionar as accedilotildees e intervenccedilotildees sobre o patrimocircnio cultural das

cidades com vistas ao desenvolvimento sustentaacutevel

Um importante documento desenvolvido em 2008 pelo Governo da Escoacutecia o

ldquoSustainable Development Guidance for Estate Managementrdquo buscou sistematizar a partir

dos preceitos da sustentabilidade estrateacutegias e orientaccedilotildees para a realizaccedilatildeo de intervenccedilotildees

principalmente para as novas construccedilotildees Tal preocupaccedilatildeo se intensificou apoacutes a discussatildeo

sobre as mudanccedilas climaacuteticas e os efeitos futuros ldquoThe Stern Review on the Economics of

Climate Changerdquo realizada pelo Governo do Reino Unido O documento ldquoSustainable

22

Development Guidance for Estate Managementrdquo se assemelha a um guia para o

desenvolvimento sustentaacutevel que aborda as estrateacutegias de accedilatildeo e recomendaccedilotildees para fazer da

Escoacutecia um paiacutes mais ecoloacutegico

Segundo esse Guia que trata da proteccedilatildeo do ambiente natural e da manutenccedilatildeo do

ambiente construiacutedo a sustentabilidade deveraacute ser uma prerrogativa tanto nas novas

construccedilotildees como na manutenccedilatildeo das edificaccedilotildees existentes nas conversotildees de uso nas

ampliaccedilotildees no retrofit4 e nas demoliccedilotildees No item 36 ldquoEmbedding sustainability within the

estate strategy processrdquo satildeo apontados os itens a serem observados na elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias e projetos para o desenvolvimento manutenccedilatildeo ou restauraccedilatildeo de edificaccedilotildees Satildeo

eles biodiversidade layout flexiacutevel nas construccedilotildees materiais construtivos e a possibilidade

de recuperaccedilatildeo reciclagem e reuso gestatildeo da aacutegua diminuiccedilatildeo da poluiccedilatildeo energia

certificada minimizaccedilatildeo do consumo de energia atraveacutes do isolamento e da ventilaccedilatildeo

natural utilizaccedilatildeo de energias renovaacuteveis como energia solar diminuiccedilatildeo do desperdiacutecio e

aumento da reciclagem dentre outros itens A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio

conforme jaacute foi discutido no iniacutecio deste capiacutetulo tambeacutem estaacute presente no Guia conforme

aponta o item 43 ldquoHistoric Buildingsrdquo Neste item direciona-se a atenccedilatildeo para as amplas

possibilidades de reuso e reabilitaccedilatildeo dessas edificaccedilotildees Tal situaccedilatildeo deve partir da

intervenccedilatildeo miacutenima e deve garantir que as caracteriacutesticas histoacutericas ou culturais dos edifiacutecios

sejam devidamente respeitadas e mantidas O Guia trata tambeacutem do procedimento para

reparos que na medida do possiacutevel deve ser feito atraveacutes das teacutecnicas tradicionais e dos

materiais originais ou compatiacuteveis sempre com apoio de profissional especializado Eacute

enfatizada tambeacutem a obrigatoriedade em solicitar das autoridades competentes autorizaccedilatildeo

para as intervenccedilotildees Por uacuteltimo apoacutes feitas todas as consideraccedilotildees sobre os aspectos

positivos da reutilizaccedilatildeo de um determinado edifiacutecio no caso de se decidir pela demoliccedilatildeo do

mesmo o Guia aponta os cuidados a serem obsevados na disposiccedilatildeo final dos resiacuteduos no

aterro sanitaacuterio alertando para a importacircncia em separar os resiacuteduos toacutexicos Os materiais

resultantes da demoliccedilatildeo como accedilo fundaccedilotildees de concreto ceracircmica madeira de assoalho

instalaccedilotildees internas placas de gesso carpete e janelas satildeo frequentemente passiacuteveis de

4 ldquoTermo utilizado principalmente em engenharia para designar o processo de modernizaccedilatildeo de algum

equipamento jaacute considerado ultrapassado ou fora de normardquo Disponiacutevel em

lthttpwwweletrobrascomrelatorio_sustentabilidade_2013anexosglossariogt Acesso em 06 de jun 2015

23

reciclagem revenda ou reutilizaccedilatildeo e natildeo devem ser descartados resultando na diminuiccedilatildeo do

desperdiacutecio e na reduccedilatildeo da exploraccedilatildeo dos recursos naturais

Outro importante documento a ser citado aqui como relevante para a proteccedilatildeo do

patrimocircnio histoacuterico e para o desenvolvimento sustentaacutevel o ldquoCalifornia Code of

Regulations Title 24rdquotambeacutem chamado de ldquoCalifornia Building Standards Coderdquo foi

finalizado em 1998 e aprovado pela ldquoCalifornia Building Standards Commissionrdquo em 2007

Tal documento trata dos paracircmetros gerais para a construccedilatildeo de edificaccedilotildees no Estado da

Califoacuternia Este Coacutedigo eacute dividido em 12 partes e traz na parte 8 de tiacutetulo ldquoCalifornia

Historical Building Code (CHBC)rdquo as exigecircncias a serem cumpridas para a permissatildeo de

reparos alteraccedilotildees e adiccedilotildees necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo relocaccedilatildeo mudanccedila de

uso ou continuaccedilatildeo de uso em edificaccedilotildees de reconhecido valor cultural ou histoacuterico5 Com o

objetivo de proteger a sauacutede e a seguranccedila das pessoas o California Historical Building Code

(CHBC) busca orientar as accedilotildees para a recuperaccedilatildeo das edificaccedilotildees histoacutericas garantindo a

preservaccedilatildeo da integridade e das caracteriacutesticas de tais edificaccedilotildees Ao todo satildeo 10 capiacutetulos

que abordam em resumo os seguintes temas capiacutetulo 01 ldquoAdministrationrdquo trata dos casos

sujeitos agrave aplicaccedilatildeo do coacutedigo cap02 ldquoDefinitionsrdquo trata das definiccedilotildees dos termos frases e

palavras necessaacuterios agrave compreensatildeo dos demais capiacutetulos cap03 ldquoUse and Occupancyrdquo trata

das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo dos edifiacutecios tais como altura maacutexima e nuacutemero de

pavimentos dimensatildeo miacutenima dos cocircmodos diretrizes de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo cap04

ldquoFire Protectionrdquo trata da proteccedilatildeo contra incecircndio e indica as diretrizes em relaccedilatildeo aos

materiais shafts telhado sistemas de alarme sistemas automaacuteticos de proteccedilatildeo como

sprinklers dentre outras tecnologias cap05 ldquoMeans of Egressrdquo trata das meios de saiacuteda das

edificaccedilotildees abordando entre outros elementos as escadas portas janelas grades e guarda-

corpos cap06 ldquoAccessibilityrdquo trata da acessibilidade aos portadores de necessidades especiais

a partir da utilizaccedilatildeo das dimensotildees miacutenimas e demais diretrizes estabelecidas para as

entradas portas banheiros rampas elevadores dentre outros cap07 ldquoStructural

5 Conforme o California Building Standards Code Parte 08 paacutegina 04 as edificaccedilotildees de reconhecido valor

cultural ou histoacuterico para as quais se utilizaraacute o CHBC satildeo ldquoFor the purposes of this part a qualified historical

building or structure is any structure or collection of structures and their associated sites deemed of importance

to the history architecture or culture of an area by an appropriate local or state governmental jurisdiction This

shall include structures on existing or future national state or local historical registers or official inventories

such as the National Register of Historic Places State Historical Landmarks State Points of Historical Interest

and city or county registers or inventories of historical or architecturally significant sites places historic districts

or landmarksrdquo (CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS 2007 p 4)

24

Regulationsrdquo trata da regulaccedilatildeo sobre os sistemas estruturais a partir da identificaccedilatildeo da

situaccedilatildeo da estrutura por profissional especializado identificaccedilatildeo dos acreacutescimos posteriores agrave

construccedilatildeo do edifiacutecio das cargas incidentes da performance dos parapeitos e da situaccedilatildeo dos

revestimentos externos e decorativos cap8 ldquoArchaic Materials and Methods of Constructionrdquo

trata dos meacutetodos e materiais construtivos tradicionais das edificaccedilotildees histoacutericas e das

diretrizes para a recuperaccedilatildeo de alvenarias adobe madeira concreto accedilo ferro vidros e

vidraccedilas cap09 ldquoMechanical Plumbing and Electrical Requirementsrdquo trata das exigecircncias

em relaccedilatildeo agraves instalaccedilotildees eleacutetricas aos encanamentos e sistemas mecacircnicos Por uacuteltimo o

cap10 ldquoQualified Historical Districts Sites and Open Spacesrdquo trata das orientaccedilotildees para a

preservaccedilatildeo dos espaccedilos abertos e siacutetios histoacutericos a partir da manutenccedilatildeo da configuraccedilatildeo

espacial existente e dos elementos constitutivos da paisagem

No Brasil o instrumento que mais se assemelha aos exemplos citados acima eacute o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees Utilizado para regulamentar os criteacuterios e procedimentos a

serem utilizados na elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de projetos de edificaccedilotildees e controlar as atividades

de construccedilatildeo6 o Coacutedigo de Obras eacute instituiacutedo por lei municipal como instrumento

complementar a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo citada anteriormente no Capiacutetulo 02 O

atendimento agraves condiccedilotildees estabelecidas nesses dois instrumentos da regulaccedilatildeo urbana ndash e o

atendimento a outras legislaccedilotildees quando for o caso - eacute requisito para a obtenccedilatildeo da licenccedila

urbaniacutestica Somente por meio da licenccedila municipal que afirma a compatibilizaccedilatildeo dos

interesses individuais e coletivos com o desenvolvimento urbano o proprietaacuterio poderaacute

exercer o seu direito sobre a propriedade sendo-lhe permitido executar as intervenccedilotildees

devidamente aprovadas Tambeacutem devem ser previstas em lei assim como os procedimentos

para o licenciamento as bases para a efetivaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo municipal como a

determinaccedilatildeo das infraccedilotildees e a previsatildeo de sanccedilotildees e multas aplicaacuteveis a cada caso

Subordinado agraves estrateacutegias de desenvolvimento estabelecidas no Plano Diretor o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees assim como a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo deve ser

elaborado a partir da preocupaccedilatildeo em se estabelecer uma boa interaccedilatildeo entre as novas

edificaccedilotildees e o conjunto urbano construiacutedo Para essa interaccedilatildeo as construccedilotildees devem atender

agraves premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica natildeo de forma isolada mas de

6 ldquoPara fins de direito entende-se por construccedilatildeo toda realizaccedilatildeo material e intencional de algueacutem visando a

adaptar o imoacutevel agraves suas conveniecircncias Nesse sentido tanto eacute construccedilatildeo a edificaccedilatildeo ou reforma como a

demoliccedilatildeo o muramento a escavaccedilatildeo o aterro a pintura e demais trabalhos destinados a beneficiar tapar

desobstruir conservar ou embelezar o preacutediordquo (BARANDIER ALMEIDA MORAIS 2013 p 147)

25

forma a interferir positivamente sobre o clima urbano e sobre a qualidade ambiental Assim

para aleacutem das diretrizes relativas ao uso agrave seguranccedila agrave salubridade agrave acessibilidade e agrave

preservaccedilatildeo dos elementos histoacutericos artiacutesticos e culturais tambeacutem devem ser elaborados

estudos climaacuteticos que aplicados ao desenho urbano possibilitem a formulaccedilatildeo de diretrizes

em prol da adaptaccedilatildeo das edificaccedilotildees agraves caracteriacutesticas climaacuteticas locais ao conforto teacutermico

luminoso e acuacutestico aleacutem da formulaccedilatildeo de diretrizes para a utilizaccedilatildeo de fontes de energia

alternativas e combate ao desperdiacutecio

Voltando aos dados obtidos pela Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros

realizada pelo IBGE em 2013 conforme pode ser visto no graacutefico abaixo do total de

municiacutepios brasileiros 624 declararam ter Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees enquanto 542

declararam ter Lei de Zoneamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo Esses dados demonstram que os

instrumentos legais embora apresentem um grande potencial de transformaccedilatildeo da realidade

urbana ainda satildeo pouco aplicados

Graacutefico do Percentual de municiacutepios segundo o tipo de instrumento de planejamento

existente - MUNIC -2013

Fonte Pesquisa ldquoPERFIL DOS MUNICIacutePIOS BRASILEIROS 2013rdquo (IBGE 2014)

Dentre os Coacutedigos de Obras existentes muitos estatildeo desatualizados defasados e

por isso natildeo configuram um mecanismo relevante quanto agrave alteraccedilatildeo do cenaacuterio das cidades

brasileiras Aleacutem disso a falha na articulaccedilatildeo dos diversos dispositivos de orientaccedilatildeo controle

e fiscalizaccedilatildeo das construccedilotildees resulta na aplicaccedilatildeo desequilibrada da lei consolidando

poliacuteticas de favorecimento exclusatildeo e segregaccedilatildeo aleacutem de ampliar a cada dia a destruiccedilatildeo e

os prejuiacutezos ambientais

26

Apesar de termos avanccedilado na construccedilatildeo conceitual dos instrumentos capazes de

nos levar ao sonhado desenvolvimento sustentaacutevel estamos ainda muito aqueacutem de efetivaacute-los

na praacutetica e no dia-a-dia dos municiacutepios A gestatildeo urbana da qual o planejamento eacute

interdependente configura a um dos principais obstaacuteculos agrave superaccedilatildeo da loacutegica atual de

valorizaccedilatildeo dos interesses individuais sobre os coletivos A falta interesse em destinar

recursos para a soluccedilatildeo de parte dos problemas soacutecio-espaciais tambeacutem eacute um grande

obstaacuteculo A melhoria da infraestrutura urbana os projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria a

construccedilatildeo de moradias populares sustentaacuteveis e a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados jaacute

configurariam um passo adiante na concretizaccedilatildeo da sustentabilidade no ambiente urbano

Sendo assim conhecidos os obstaacuteculos ou pelo menos parte deles eacute fundamental lanccedilarmos

as bases para a sua superaccedilatildeo fortalecendo os ideais de transformaccedilatildeo das cidades

27

5 O MUNICIacutePIO DE OURO PRETO UM ESTUDO DE CASO

51 Da colonizaccedilatildeo ao Seacuteculo XX

Localizado na Regiatildeo Central de Minas Gerais (ou Macrorregiatildeo Metaluacutergica) o

municiacutepio de Ouro Preto eacute possui uma aacuterea aproximada de 1245kmsup2 e sua populaccedilatildeo totaliza

cerca de 70281 habitantes7 Posicionado na porccedilatildeo centro-sul do Estado Ouro Preto tem

como principais confrontantes os municiacutepios de Mariana Itabirito Ouro Branco Congonhas

e Santa Baacuterbara Aleacutem do distrito-sede o territoacuterio eacute dividido em mais 12 distritos

Amarantina Antocircnio Pereira Cachoeira do Campo Engenheiro Correia Glaura Lavras

Novas Miguel Burnier Santa Rita Santo Antocircnio do Leite Santo Antocircnio do Salto Satildeo

Bartolomeu e Rodrigo Silva

Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ouro Preto no estado de

Minas Gerais

Fonte SMCP - PMOP

7 IBGE Diretoria de Pesquisas Coordenaccedilatildeo de Populaccedilatildeo e Indicadores Sociais ndash ldquoEstimativas da populaccedilatildeo

residente com data de referecircncia 1o de julho de 2014 publicada no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo em 28082014rdquo

Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314610ampsearch=||infogrE1ficosinformaE7F5e

s-completasgt Acesso em 06 jun 2015

28

Ouro Preto e municiacutepios limiacutetrofes

Fonte SMCP - PMOP

Mapa dos Distritos de Ouro Preto

Fonte SMCP - PMOP

Desencadeados pela exploraccedilatildeo auriacutefera do seacuteculo XVII - iniciada na regiatildeo de

Minas Gerais provavelmente em 1698 - os arraiais e agrupamentos humanos se consolidaram

na regiatildeo montanhosa e acidentada do municiacutepio de Ouro Preto primeiramente nas encostas

iacutengremes e arredores das minas e posteriormente nas margens dos rios e nos fundos de vale O

povoamento foi se intensificando em torno dos principais eixos de ligaccedilatildeo entre os nuacutecleos

29

urbanos vizinhos resultando num desenho urbano linear e longitudinal diferente do modelo

reticulado de ordenaccedilatildeo do territoacuterio que foi caracteriacutestico do Brasil Colocircnia

Agrave primeira configuraccedilatildeo urbana consolidada em 1711 deu-se o nome de Vila

Rica de Albuquerque que posteriormente em 1720 foi elevada agrave capital da Capitania das

Minas Gerais Ao longo do seacuteculo XVIII foram efetivadas as intervenccedilotildees urbanas mais

significativas e foram construiacutedas as principais referecircncias arquitetocircnicas de Ouro Preto As

principais pontes os chafarizes o Centro Administrativo (atual Praccedila Tiradentes) o Palaacutecio

dos Governadores a Casa de Cacircmara e Cadeia assim como as inuacutemeras capelas e igrejas de

estilo barroco das diversas ordens e irmandades religiosas consolidaram o cenaacuterio

setecentista que configura o atual centro histoacuterico da cidade O final do seacuteculo XVIII foi

marcado pelo esgotamento das minas de ouro o que desencadeou um esvaziamento

populacional da Vila pela crise de abastecimento e decadecircncia econocircmica

O seacuteculo XIX contudo trouxe as mudanccedilas advindas da era do Impeacuterio e em

1823 Vila Rica de Albuquerque foi elevada agrave cidade sob o tiacutetulo de Imperial Cidade de Ouro

Preto A partir daiacute a cidade passou por diversas modernizaccedilotildees a fim de se consolidar

enquanto capital da proviacutencia de Minas Gerais A criaccedilatildeo da Escola de Farmaacutecia do Liceu de

Artes e Ofiacutecios da Escola de Minas a construccedilatildeo da Estaccedilatildeo Ferroviaacuteria e a implantaccedilatildeo da

Companhia Industrial Ouro-Pretana satildeo exemplos importantes da expansatildeo e do

desenvolvimento da cidade durante o seacuteculo XIX Ao final deste seacuteculo jaacute sob a eacutegide do

periacuteodo republicano a cidade de Ouro Preto perde o status de capital da proviacutencia que em

1897 passou para Belo Horizonte Tal fato ocasionou pela segunda vez um processo de

esvaziamento e crise econocircmica na cidade Assim distante dos ideais de modernizaccedilatildeo e

desenvolvimento que cercavam a nova capital a ausecircncia de poliacuteticas de renovaccedilatildeo foi o que

garantiu a preservaccedilatildeo das feiccedilotildees urbanas da antiga Vila Rica A partir de entatildeo diversos

intelectuais da eacutepoca viajaram ateacute Ouro Preto e verificando o mal estado de conservaccedilatildeo e o

abandono da cidade comeccedilaram a produzir uma nova consciecircncia em relaccedilatildeo agrave necessidade

de se preservar os registros do passado

30

Mapa da evoluccedilatildeo urbana de Ouro Preto ndash do seacuteculo XVII ao seacuteculo XX

Fonte IGA ndash Instituto de Geociecircncias Aplicadas - 2003

Igreja de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo ndash registros do

periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

Ponte vizinha agrave Casa dos Contos - registros do periacuteodo

entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

31

Igreja N S do Pilar ndash registros do periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015apresentacao

A tradiccedilatildeo quanto agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico somente se consolidou

no Brasil a partir do seacuteculo XX Em 1931 surgiu o primeiro decreto municipal8 voltado para a

preservaccedilatildeo do cenaacuterio arquitetocircnico da cidade de Ouro preto proibindo as construccedilotildees em

desacordo com o estilo colonial predominante Em 1933 por meio do decreto nacional

22928 Ouro Preto foi erigida a Monumento Nacional Em 1938 o conjunto histoacuterico da

cidade foi tombado pelo SPHAN - Serviccedilo do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional que

havia sido criado no ano anterior Os anos seguintes foram marcados por inuacutemeras obras de

restauraccedilatildeo e tombamentos individuais

8 Decreto 13 de 19 de setembro de 1931 ldquoConsiderando que a cidade de Ouro Preto escriacutenio das tradiccedilotildees

mineiras deve conservar o seu aspecto colonial transmitido dos nossos antepassados Considerando que esta

feiccedilatildeo colonial de seus edifiacutecios de seus preacutedios das ruas e praccedilas desperta grande interesse por parte dos

turistas que frequumlentemente vecircm visitar a cidade e suas cercanias Considerando que ferem dolorosamente a

sensibilidade dos turistas os preacutedios que destoam do tipo colonial DECRETA Art 1deg - Natildeo eacute permitida no

periacutemetro urbano a construccedilatildeo de preacutedios e de edifiacutecios em desacordo com o estilo colonial da cidade Art 2deg -

Os atuais preacutedios existentes no periacutemetro urbano em desacordo com o artigo antecedente deveratildeo ser

modificados nas respectivas fachadas quando estas tenham que receber reparos []rdquo (OLIVEIRA 1997 p 7)

32

A sistematizaccedilatildeo de normas aplicaacuteveis agraves novas construccedilotildees foi realizada pelo

SPHAN (que em 1970 passou a ser chamado IPHAN9) para regular o crescimento da cidade e

o intenso surgimento de novas moradias que caracterizaram as deacutecadas de 1950 e 1960 Tal

crescimento se deu principalmente pela chegada de induacutestrias metaluacutergicas para a exploraccedilatildeo

da bauxita e produccedilatildeo de alumiacutenio primaacuterio Assim o ldquoestilo patrimocircniordquo surgiu das

exigecircncias normativas quanto agrave utilizaccedilatildeo dos elementos arquitetocircnicos tradicionais do

periacuteodo colonial

Um primeiro plano urbano foi elaborado pelo arquiteto portuguecircs Viana de Lima

entre os anos 1968 e 1970 com o objetivo de ldquopreservarrdquo o nuacutecleo histoacuterico da cidade e

consolidar o estilo patrimocircnio atraveacutes da eliminaccedilatildeo dos ecletismos da demoliccedilatildeo de obras

desprovidas de qualidade esteacutetica e do preenchimento dos vazios urbanos Nos anos seguintes

a discussatildeo sobre a salvaguarda do patrimocircnio se intensificou e deu origem a diversos outros

planos10

e programas de preservaccedilatildeo que obtiveram pouco sucesso na aplicaccedilatildeo praacutetica Em

21 de setembro de 1980 Ouro Preto recebeu da UNESCO o tiacutetulo de Patrimocircnio Cultural da

Humanidade e passou a ter visibilidade internacional

Ao final do seacuteculo XX a preocupaccedilatildeo com o desenvolvimento urbano da cidade e

com a proteccedilatildeo patrimonial gerou novas demandas em relaccedilatildeo agrave regulaccedilatildeo urbana e coube ao

IPHAN o papel de legislar sobre as intervenccedilotildees no centro histoacuterico As accedilotildees da

Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) do Instituto Estadual do Patrimocircnio Histoacuterico e

Artiacutestico (IEPHA) e do Instituto Estadual de Florestas (IEF) em pareceria com o governo

municipal e com o IPHAN foram decisivas na preservaccedilatildeo do patrimocircnio neste periacuteodo Em

1990 foram publicadas por meio da Lei 571990 as diretrizes para do Plano Diretor do

Municiacutepio sob as delineaccedilotildees inauguradas pela Constituiccedilatildeo Federal Tais diretrizes eram

bastante simplificadas e restritas aos zoneamentos e a questatildeo da preservaccedilatildeo do patrimocircnio

9 Em 1937 por meio da Lei nordm 378 foi fundado o SPHAN como oacutergatildeo oficial de preservaccedilatildeo do patrimocircnio

cultural brasileiro No mesmo ano foi promulgado o Decreto-Lei nordm 25 que regulamentou as atividades do

SPHAN Em 1946 o SPHAN teve o seu nome alterado para Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (DPHAN) Em 1970 o DPHAN eacute transformado em Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (IPHAN)

10 ldquoEm Minas Gerais a Fundaccedilatildeo Joatildeo Pinheiro (FJP) realizou um extenso diagnoacutestico e elaborou planos

diretores para diversas cidades coloniais mineiras bem como o Plano de Conservaccedilatildeo Valorizaccedilatildeo e

Desenvolvimento de Ouro Preto e Mariana em 1975 Esse Plano trata sobre a preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

patrimocircnio vinculado com as necessidades de desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio Por isso

abordou desde questotildees histoacutericas e culturais ateacute a anaacutelise de aspectos fiacutesico- territoriais tais como siacutetio natural

estudo das estruturas urbanas paisagismo e legislaccedilatildeo urbanardquo (SILVA OLIVEIRA 2005 p 180)

33

foi pouco abordada Jaacute em 1996 uma nova versatildeo do plano foi elaborada e diferentemente do

texto anterior o novo plano contemplou a preocupaccedilatildeo com o patrimocircnio e a preservaccedilatildeo

como instrumentos interligados agrave poliacutetica urbana

Art 1ordm - Em conformidade com a Constituiccedilatildeo Federal e com a Lei Orgacircnica

Municipal fica instituiacutedo o Plano Diretor de Ouro Preto (PDOP) fixando diretrizes

e instrumentos para o pleno desenvolvimento do Municiacutepio em consonacircncia com as

funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade [] Art 2ordm - O conjunto artiacutestico

arquitetocircnico urbaniacutestico paisagiacutestico e ambiental de relevante valor cultural

sediado no Municiacutepio objeto de tombamento federal e de reconhecimento

internacional pela UNESCO como Patrimocircnio Cultural da Humanidade eacute

considerado bem inalienaacutevel de sua populaccedilatildeo cabendo a ela exercer de forma

concorrente com as Administraccedilotildees Puacuteblicas a sua guarda proteccedilatildeo e gestatildeo

Paraacutegrafo uacutenico ndash A preservaccedilatildeo e a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural e ambiental

do Municiacutepio eacute fator determinante para o desenvolvimento urbano para a geraccedilatildeo de

empregos e para melhor distribuiccedilatildeo de renda Lei Complementar 0196 Ouro Preto

(OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996)

Em 1997 foi criado ldquoPlano de Reabilitaccedilatildeo do Siacutetio Histoacuterico de Ouro Pretordquo a

partir do ldquoMonumentardquo programa federal de iniciativa do Ministeacuterio da Cultura e patrocinado

pelo BID que sob a premissa do desenvolvimento econocircmico-social sustentaacutevel buscou

revitalizar os centros histoacutericos urbanos de 26 cidades brasileiras O Plano traccedilado para Ouro

Preto natildeo foi totalmente implementado mas alavancou as poliacuteticas de preservaccedilatildeo do

municiacutepio e deixou intervenccedilotildees significativas como por exemplo a recuperaccedilatildeo do Parque

Horto dos Contos (fundo de vale do Ribeiratildeo do Funil) aacuterea verde mais significativa da regiatildeo

central

34

Mapa Cadastral de Ouro Preto ndash Periacutemetro de tombamento pelo IPHAN

Fonte Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano - PMOP

52 O contexto atual

O conceito de patrimocircnio e de preservaccedilatildeo adotado no Brasil foi se modificando

ao longo da histoacuteria como foi apontado nos iniacutecio deste capiacutetulo Assim agrave medida que o

conceito adquiria relevacircncia as poliacuteticas de preservaccedilatildeo foram sendo instauradas nas esferas

administrativas Os avanccedilos iniciados no final do seacuteculo XX se consolidaram jaacute nos primeiros

anos do seacuteculo XXI O novo seacuteculo trouxe consigo uma mudanccedila significativa em relaccedilatildeo ao

desenvolvimento dos siacutetios histoacutericos que deixaram de ser vistos como uma ldquoobra de arte

intocaacutevelrdquo e passaram a ser tratados como espaccedilos socializados repletos de interaccedilatildeo cultural

e portanto passiacuteveis de transformaccedilatildeo Aleacutem dos centros urbanos o patrimocircnio imaterial

tambeacutem recebeu especial atenccedilatildeo e apoacutes 20 anos de discussatildeo a Convenccedilatildeo para a

Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial consolidada pela UNESCO em 2003 avanccedilou

no reconhecimento e na defesa das heranccedilas culturais dos povos ao redor do mundo

As transformaccedilotildees na relaccedilatildeo da preservaccedilatildeo com o planejamento urbano se

efetivaram em 2003 a partir da criaccedilatildeo do Plano de Preservaccedilatildeo de Siacutetio Histoacuterico Urbano

(PPSH) Este plano foi um instrumento de caraacuteter normativo que incidiu sobre os siacutetios

35

urbanos tombados em niacutevel federal a fim de aliar preservaccedilatildeo e desenvolvimento e incentivar

a gestatildeo compartilhada Nesse mesmo ano foi realizado o Encontro Nacional de Cidades

Histoacutericas que tratou da gestatildeo compartilhada do patrimocircnio cultural e da efetivaccedilatildeo das

poliacuteticas de preservaccedilatildeo associadas agrave legislaccedilatildeo urbana e ambiental

As mudanccedilas do iniacutecio do seacuteculo natildeo demoraram a repercutir no Municiacutepio de

Ouro Preto A partir da portaria ndeg 122 instituiacuteda em 2004 pelo presidente do IPHAN

definiu-se as diretrizes de intervenccedilatildeo e os paracircmetros para aprovaccedilatildeo de projeto no centro

histoacuterico da cidade a fim de garantir a manutenccedilatildeo das caracteriacutesticas da unidade e da

harmonia do conjunto urbano

Mapa dos bairros do municiacutepio de Ouro Preto

Fonte Secretaria Municipal de Patrimocircnio e Desenvolvimento Urbano - PMOP

36

Mapa esquemaacutetico ndash Periacutemetro urbano periacutemetro tombado e demais delimitaccedilotildees de interesse do distrito sede

Elaboraccedilatildeo Guilherme I N Ataiacutedes Base mapa do Plano Diretor

Foto da Praccedila Tiradentes

Fonte httpmondegocombrpraca-tiradentes

37

Foto Campus UFOP

Fonte httpwwwseeufopbrp=490

Foto IFMG

Fonte httpwwwouropretoifmgedubrcomunicacaoimagens-e-videoscampus-ouro-

pretocampusimage_view_fullscreen

Em 2006 a remodelaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Patrimocircnio e

Desenvolvimento Urbano (antiga Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio) deu um novo

impulso agrave preservaccedilatildeo no acircmbito da gestatildeo municipal unindo as poliacuteticas de proteccedilatildeo agraves

poliacuteticas de planejamento urbano O Grupo de Assessoramento Teacutecnico ndash GAT e o Conselho

Municipal de Patrimocircnio foram novamente colocados em accedilatildeo Um novo Plano Diretor

promulgado ao final deste mesmo ano atraveacutes da Lei Complementar Nordm 29 agregou as

conquistas do Estatuto da Cidade aos preceitos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio e acrescentou as

diretrizes para a proteccedilatildeo ambiental Os temas funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

estruturaccedilatildeo territorial desenvolvimento econocircmico proteccedilatildeo ambiental proteccedilatildeo ao

patrimocircnio cultural poliacutetica de desenvolvimento social produccedilatildeo da cidade e mobilidade

urbana intitulam alguns dos capiacutetulos da Lei Os instrumentos da poliacutetica urbana para o

cumprimento da funccedilatildeo social da propriedade aparecem no texto logo em sequecircncia A Lei de

38

Parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo conforme previsatildeo do Art 81 do Plano Diretor foi

promulgada no mesmo dia 28 de dezembro de 2006

A partir de entatildeo o municiacutepio assume sua funccedilatildeo enquanto principal oacutergatildeo de

gestatildeo do territoacuterio tarefa que anteriormente era desempenhada pelo Governo Federal e pelo

IPHAN Ao final de 2010 por meio da Lei Complementar Nordm 91 o Plano Diretor passa por

alteraccedilotildees pontuais e em 2011 a Lei de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo eacute amplamente

revisada dando origem aos paracircmetros utilizados nos dias atuais

Dentro desse resumido panorama legislativo apresentado pode-se perceber que o

Municiacutepio de Ouro Preto acompanhou em grande parte os avanccedilos inaugurados pelo

Estatuto da Cidade e concretizou ao menos em forma de Lei a regulamentaccedilatildeo das diretrizes

e dos instrumentos capazes de fazer valer a funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

Contudo tais avanccedilos representam muito pouco frente ao gigantesco desafio

enunciado no Art 2 inciso II do mesmo Estatuto quanto agrave ldquogarantia do direito a cidades

sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao saneamento ambiental

agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para

as presentes e futuras geraccedilotildeesrdquo(Lei 10257 2001)

Aleacutem da amplitude da tarefa outros elementos dificultam ainda mais o processo

de construccedilatildeo de uma nova realidade como por exemplo a negligecircncia dos gestores puacuteblicos

para com a atualizaccedilatildeo necessaacuteria e obrigatoacuteria das Leis O Plano Diretor de Ouro Preto

indica jaacute no Capiacutetulo 1 artigo 1ordm sect3ordm o prazo maacuteximo para a revisatildeo do mesmo estabelecido

em cinco anos a partir da sua publicaccedilatildeo ou seja 2011 Sendo assim percebe-se que a Lei

de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo revisada em 2011 embora seja o principal instrumento de

controle urbaniacutestico ateacute os dias de hoje jaacute nasceu defasada pois utilizou como referecircncia a

estrateacutegia de desenvolvimento urbano definida no Plano Diretor de 2006 desconsiderando os

impactos e as mudanccedilas territoriais sociais e culturais ocorridos desde entatildeo No geral os

gestores municipais tratam apenas de alteraccedilotildees pontuais que apenas mascaram o quadro de

estagnaccedilatildeo e desatualizaccedilatildeo das leis urbaniacutesticas Tal conduta conforma um enorme obstaacuteculo

na concretizaccedilatildeo das diretrizes do Estatuto da Cidade

Nos capiacutetulos anteriores ao tratarmos do desenvolvimento sustentaacutevel dois

importantes instrumentos foram apontados como peccedilas-chave da consolidaccedilatildeo de uma nova

experiecircncia de sustentabilidade no ambiente urbano a agenda 21 e o coacutedigo de obras

O primeiro deles a agenda 21 local foi estabelecida em 15 de maio de 2007 por

meio da Lei Nordm 333

39

Art 1ordm Fica criado no acircmbito do Municiacutepio de Ouro Preto o Programa da Agenda 21

Local processo e instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento

sustentaacutevel e que tem como eixo central a sustentabilidade compatibilizando a

conservaccedilatildeo ambiental a justiccedila social e o crescimento econocircmico Art 2ordm Para

efeitos de execuccedilatildeo da Agenda 21 Local o Poder Executivo instalaraacute o Foacuterum Ouro-

pretano da Agenda 21 Local (OURO PRETO Lei nordm333 Agenda 21 Local de 11

de maio de 2007)

No texto da Lei foram previstos os capiacutetulos a serem desenvolvidos Agenda 21

Estrutural Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade A

responsabilidade recaiu sobre o Foacuterum Ouro-Pretano da Agenda 21 Local Aleacutem da Lei de

criaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel encontrar nos registros legislativos digitais da Cacircmara Municipal a

Portaria Nordm 1707 que nomeia uma Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos Naturais

e Agenda 21 Local

Outra fonte de informaccedilotildees sobre a Agenda 21 Local de Ouro Preto foi encontrada

no acervo digital da Universidade Federal de Ouro Preto sob o tiacutetulo ldquoAgenda 21 Local

consolidando as bases para o desenvolvimento sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escalardquo

(OLIVEIRA 2010) Nesse trabalho foram apontadas as iniciativas que acompanharam a

criaccedilatildeo da Agenda 21 Local dentre as quais se destacam em ordem cronoloacutegica 1ordm Encontro

de Processos de Agendas 21 Locais ndash fevereiro de 2007 Plenaacuteria na Cacircmara Municipal de

Ouro preto para apresentaccedilatildeo da Agenda 21 ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio de Capacitaccedilatildeo para

a Agenda 21 Local ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio Teacutecnico de Diagnoacutestico para referecircncia da

Agenda 21 Local ndash abril de 2007 Seminaacuterio de Implantaccedilatildeo da Agenda 21 Mineral de Ouro

Preto ndash abril de 2007 Assinatura do Termo de Cooperaccedilatildeo Muacutetua entre a Prefeitura

Municipal a Cacircmara Municipal a ONG Interforum Global e a UFOP ndash maio de 2007

Seminaacuterio Intermunicipal de Agenda 21 Local ndash maio de 2007 Seminaacuterio Geral de

Capacitaccedilatildeo da Agenda 21 Local ndash agosto de 2007

Para aleacutem dos registros oficiais e dos dados encontrados no trabalho mencionado

no paraacutegrafo anterior foram encontradas somente notiacutecias informais11

sobre a criaccedilatildeo e

lanccedilamento da Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude todas datadas de 2007

11 Destacam-se ldquoO presidente da Cacircmara vereador Mauriacutelio Zacarias (PMDB) implantou no dia 20 de abril a

Agenda 21 da Mineraccedilatildeo de Ouro Preto A Agenda 21 da Mineraccedilatildeo eacute uma das subdivisotildees da Agenda 21

Global um conjunto de accedilotildees recomendadas pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) para garantir o

desenvolvimento sustentaacutevel do planeta no seacuteculo XXIrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwcmopmggovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=70agenda-21-da-mineracao-e-

implantada-em-ouro-pretoampcatid=61reunioesgt Acesso em 06 jun 2015 ldquoJuntos pela sustentabilidade o

Foacuterum da Agenda 21 Local de Ouro Preto daacute iniacutecio ao desenvolvimento de accedilotildees especiacuteficas para a implantaccedilatildeo

do capiacutetulo Agenda 21 da Juventude na escola e na universidade O lanccedilamento da Agenda 21 da Escola

acontece no dia 21 de junho quinta-feira agraves 10h no Centro de Artes e Convenccedilotildees da UFOPrdquo ndash Notiacutecia sobre a

40

Conclui-se portanto que a iniciativa da Agenda 21 Local assim como muitas das

diretrizes definidas nas Leis do Planejamento Urbano estagnou no ano de 2007 e avanccedilou

pouco em relaccedilatildeo agraves primeiras linhas da Lei Embora se tenha a informaccedilatildeo de que os Grupos

de Trabalho continuaram a desenvolver suas atividades nos anos seguintes os registros dessas

accedilotildees praacuteticas satildeo praticamente inexistentes e tais atividades praticamente natildeo efetivaram

mudanccedilas na realidade do Municiacutepio

Quanto ao Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees outro importante instrumento da gestatildeo

municipal capaz de estabelecer as bases para um ambiente urbano sustentaacutevel este nunca foi

regulamentado pelo Municiacutepio Embora citado inuacutemeras vezes no Coacutedigo de Posturas que foi

instituiacutedo em 1980 atraveacutes da Lei 178 o Coacutedigo de Obras nunca adquiriu formato oficial para

aplicaccedilatildeo e regulaccedilatildeo do territoacuterio O uacutenico registro oficial encontrado nos arquivos

eletrocircnicos da Cacircmara Municipal diz respeito a uma comissatildeo especial formada em 1992

para emissatildeo de parecer sobre o anteprojeto de Coacutedigo de Obras de Ouro Preto elaborado

pela ENGEARP ndash Arquitetura e Engenharia Ltda12

Um segundo registro foi encontrado nos

arquivos do diaacuterio oficial eletrocircnico do municiacutepio e consiste numa breve menccedilatildeo do coacutedigo de

obras numa ata de uma das reuniotildees do COMPURB Conselho Municipal de Poliacutetica

Urbana13

em abril de 2013 Apesar dos registros quase inexistentes em consulta ao corpo

teacutecnico do Departamento de Aprovaccedilatildeo de Projetos da Secretaria de Cultura e Patrimocircnio

foram identificadas algumas iniciativas quanto agrave elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo de Obras para o

municiacutepio dentre as quais se destaca o modelo desenvolvido em 2012 Tal modelo em

conformidade com as diretrizes dos coacutedigos internacionais jaacute apontados neste trabalho

ressaltou que as edificaccedilotildees e instalaccedilotildees deveriam atender agraves condiccedilotildees miacutenimas de

seguranccedila conforto ambiental higiene salubridade harmonia esteacutetica e acessibilidade

criaccedilatildeo da Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade ndash 16 de junho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwufopedubrindexphpoption=com_contentamptask=viewampid=600ampItemid=50gt Acesso em 06 jun

2015 ldquoO grupo de trabalho da Agenda 21 Local de Ouro Preto a Associaccedilatildeo Comercial de Ouro Preto e a

Cacircmara da Mulher Empreendedora de Ouro Preto convidam para uma palestra com o seguinte tema lsquoAgenda 21

de Ouro Preto -Desafios e Possibilidades da Participaccedilatildeo do Comeacutercio na Sustentabilidade Localrsquordquo Notiacutecia sobre

o Grupo de Trabalho da Agenda Ouro Preto ndash 10 de julho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwfundacaoaprenderorgbr189gt Acesso em 06 jun 2015

12 Portaria Nordm 0292 ndash 04 de fevereiro de 1992 Disponiacutevel em

lthttpwwwsistemasiglaorgarquivossisnormNJ_img(2562)pdfgt Acesso em 06 jun 2015

13 ldquo[] Gabriel sugeriu que seja incluiacutedo esses criteacuterios no coacutedigo de obrasrdquo Ata da 58ordf Reuniatildeo extraordinaacuteria

do Conselho Municipal de Poliacutetica Urbana ndash COMPURB (extraiacutedo do Diaacuterio Oficial do Municiacutepio ldquoAno V ndash

Ouro Preto 1ordm de Abril de 2013 ndash Nordm766rdquo) Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrdiario-

oficial2076601-04-2013gt Acesso em 27 jun 2015

41

Contudo eacute importante destacar que os paracircmetros necessaacuterios para o atendimento do conforto

ambiental - como criteacuterios de adequaccedilatildeo agraves caracteriacutesticas do clima local diretrizes de

conforto teacutermico luminoso e acuacutestico ndash assim como as diretrizes de eficiecircncia energeacutetica natildeo

foram contemplados no texto diminuindo consideravelmente a possibilidade de sucesso do

instrumento quanto agrave transformaccedilatildeo do ambiente urbano

Sendo assim entendendo a importacircncia que o instrumento ldquocoacutedigo de obrasrdquo tem

na conformaccedilatildeo de espaccedilos urbanos mais confortaacuteveis e equilibrados e buscando contribuir

para o Municiacutepio na consolidaccedilatildeo de Leis atualizadas e transformadoras o capiacutetulo seguinte

trataraacute do desenvolvimento de algumas dessas diretrizes para que as construccedilotildees passem a

incorporar as premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica e passem a contribuir

positivamente para o clima urbano a para a qualidade ambiental

42

6 ENSAIO PARA UM COacuteDIGO DE OBRAS PRINCIPAIS ESTRATEacuteGIAS PARA

A PROMOCcedilAtildeO DA EFICIEcircNCIA ENERGEacuteTICA NO MUNICIacutePIO DE OURO

PRETO

61 O reconhecimento do clima e as recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais

O reconhecimento do clima eacute o primeiro passo a ser dado para o desenvolvimento

das diretrizes construtivas para um determinado local O clima ldquoeacute a condiccedilatildeo meacutedia do tempo

em uma dada regiatildeo baseada em mediccedilotildees em longos periacuteodos de tempo (30 anos ou mais)rdquo

(LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 71) A anaacutelise climaacutetica feita no Brasil utiliza

em geral os dados publicados pelo Instituto Nacional e pelo Departamento Nacional de

Meteorologia por meio das Normais Climatoloacutegicas Essa publicaccedilatildeo sistematiza dentre

outros dados os valores meacutedios e extremos mensais de temperatura umidade precipitaccedilatildeo

nebulosidade e horas de sol para um periacuteodo de 30 anos A utilizaccedilatildeo dessas variaacuteveis

climaacuteticas no desenvolvimento dos projetos arquitetocircnicos possibilita a construccedilatildeo de

edificaccedilotildees mais confortaacuteveis e mais eficientes quanto ao consumo de energia

O municiacutepio de Ouro Preto contou com uma estaccedilatildeo de mediccedilatildeo e monitoramento

climaacutetico no periacuteodo entre 1976 a 1990 Sendo assim por natildeo ter permanecido em vigecircncia

pelo periacuteodo miacutenimo de 30 anos os dados do municiacutepio natildeo foram contemplados na

publicaccedilatildeo das Normais Climatoloacutegicas e podem ser encontrados apenas no registro histoacuterico

do INMET a partir do BDMEP Os dados coletados nesse periacuteodo de 14 anos embora natildeo

tenham sido publicados satildeo fundamentais para analisar o comportamento das variaacuteveis

climaacuteticas no local de estudo conforme seraacute visto nas anaacutelises a seguir

Referenciada geograficamente pelas coordenadas14

Latitude Sul 20deg23rsquo28rdquo e

Longitude Oeste 43deg30rsquo20rdquo Ouro Preto possui altitude correspondente a 1150 metros sendo

que o ponto mais alto o Pico Itacolomi estaacute situado a 1772 metros de altura A latitude e a

altitude satildeo dois importantes fatores geograacuteficos do clima quanto maior a latitude menor eacute a

temperatura superficial e quanto maior a altitude menor seraacute a temperatura e a pressatildeo

atmosfeacuterica

14 Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrlocalizacaogt Acesso em 27 jun 2015

43

Para entendermos o clima no municiacutepio e para traccedilarmos as diretrizes construtivas

que garantam o bom desempenho das edificaccedilotildees faz-se necessaacuterio primeiramente consultar

o Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro definido na parte 3 da NBR 15220

O Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro consiste na ldquodivisatildeo do territoacuterio brasileiro

em oito zonas relativamente homogecircneas quanto ao clima e para cada uma destas zonas

formulou-se um conjunto de recomendaccedilotildees teacutecnico-construtivas que otimizam o desempenho

teacutermico das edificaccedilotildees atraveacutes de sua melhor adequaccedilatildeo climaacuteticardquo (ABNT 2003) O

Zoneamento resulta da aplicaccedilatildeo da Carta Bioclimaacutetica sugerida por Givoni ldquoinserindo os

dados mensais de temperatura meacutedia e umidade relativa para cada mecircs do ano e para cada

uma das localidades agrupando entatildeo aquelas classificadas como um mesmo tipo climaacuteticordquo

(FERREIRA 2014 p432)

As diretrizes construtivas desenvolvidas na Norma tratam basicamente do

comportamento da envoltoacuteria da edificaccedilatildeo a partir da indicaccedilatildeo do tamanho das aberturas

para ventilaccedilatildeo da proteccedilatildeo das aberturas das vedaccedilotildees externas (paredes e cobertura) e das

estrateacutegias de condicionamento passivo

A NBR 15220-3 estaacute vigente desde 2005 e sua aplicaccedilatildeo estaacute direcionada para as

edificaccedilotildees de ateacute trecircs pavimentos destinadas agrave habitaccedilatildeo multifamiliar de interesse social

Contudo os preceitos nela indicados podem e devem servir como base para a adequaccedilatildeo

climaacutetica das demais edificaccedilotildees desde que a Norma natildeo seja aplicada de forma isolada isto

eacute devem ser estudados outros procedimentos e devem ser utilizadas novas ferramentas a fim

de cruzar os resultados e avanccedilar na elaboraccedilatildeo de paracircmetros construtivos cada vez mais

completos e dinacircmicos

Segundo a Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica obtida atraveacutes do programa ZBBR o

municiacutepio de Ouro Preto estaacute localizado na Zona Bioclimaacutetica 3

44

Fonte Programa ZBBR ndash Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica dos Municiacutepios Brasileiros

Em destaque o Municiacutepio de Ouro Preto ndash MG

Para as edificaccedilotildees inseridas nesta zona bioclimaacutetica a NBR 15220 traz as

seguintes orientaccedilotildees

- Quanto agraves aberturas tamanho meacutedio (15 a 25) e que possibilitem a entrada do sol

durante o inverno

- Quanto agraves vedaccedilotildees externas paredes externas leves15

e refletoras cobertura leve e

isolada

- Quanto ao condicionamento teacutermico passivo ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo

aquecimento solar durante o inverno e vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia

teacutermica

15 Quanto agrave caracterizaccedilatildeo das envoltoacuterias como ldquolevesrdquo podemos agregar para melhor entendimento a

explicaccedilatildeo de que tais envoltoacuterias devem ser de baixa ineacutercia teacutermica ou seja devem possibilitar que o ambiente

interno seja influenciado pela temperatura do ar exterior sem grande atraso Assim pode-se dizer que as

recomendaccedilotildees de envoltoacuterias leves ocorrem em ambientes onde se deseja que os ambientes internos agrave

edificaccedilatildeo sofram influecircncia direta da temperatura do exterior

45

A partir das orientaccedilotildees da Norma percebe-se que a classificaccedilatildeo das zonas

bioclimaacuteticas embora tenha uma importante contribuiccedilatildeo esta natildeo pode ser utilizada

isoladamente por natildeo agregar importantes elementos agrave caracterizaccedilatildeo do clima local como jaacute

foi dito anteriormente Sendo assim outros dados de Ouro Preto devem ser observados para

aprofundarmos um pouco mais nas recomendaccedilotildees construtivas

Dentro do espectro das variaacuteveis climaacuteticas que caracterizam uma regiatildeo merece

destaque a temperatura e a umidade A temperatura ldquoeacute a variaacutevel climaacutetica mais conhecida e

de mais faacutecil mediccedilatildeo A variaccedilatildeo da temperatura na superfiacutecie da Terra resulta basicamente

dos fluxos das grandes massas de ar e da diferente recepccedilatildeo da radiaccedilatildeo do sol de local para

localrdquo (LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 77) A temperatura varia principalmente

em funccedilatildeo da velocidade do ar mas tambeacutem eacute influenciada em maior ou menor grau pelo

tipo de solo e de vegetaccedilatildeo pela topografia e pela altitude A temperatura meacutedia anual de

Ouro Preto eacute de 185deg conforme os dados sistematizados pelo INMET A temperatura

maacutexima verificada geralmente no mecircs de fevereiro corresponde a 252deg e a temperatura

miacutenima que ocorre no mecircs de julho corresponde a 112deg Quanto agrave umidade do ar esta

resulta da evaporaccedilatildeo das aacuteguas e da evapotranspiraccedilatildeo dos vegetais e pode ser definida em

absoluta e relativa ldquoComo definiccedilatildeo de umidade absoluta tem-se que eacute o peso do vapor de

aacutegua contido em uma unidade de volume de ar (gm3) e a umidade relativa eacute a relaccedilatildeo da

umidade absoluta com a capacidade maacutexima do ar de reter vapor drsquoaacutegua agravequela temperaturardquo

(FROTA 1995 p62) A umidade do ar tem relaccedilatildeo inversa com a temperatura portanto

quanto menor a temperatura maior a possibilidade de saturaccedilatildeo do ar pela ampliaccedilatildeo da

umidade ao limite de 100 A pluviosidade tambeacutem deve ser observada pois tem relaccedilatildeo

direta com a umidade do ar sendo que a chuva proveacutem em grande parte de massas de ar

uacutemido em ascensatildeo Os dados do INMET apontam que a meacutedia anual da pluviosidade em

Ouro Preto eacute de 16703mm sendo junho o mecircs mais seco com 129mm e dezembro o mecircs

mais uacutemido com 3579mm

46

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641 (continuaccedilatildeo)

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

47

48

A partir dos dados acima eacute possiacutevel verificar inicialmente que se trata de um

clima de baixas temperaturas muito uacutemido (umidade relativa praticamente sempre acima de

80) com alta nebulosidade (o que significa que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou

nublado) e com abundacircncia de chuvas principalmente no veratildeo

Tais caracteriacutesticas satildeo acentuadas pela influecircncia da barreira orograacutefica

provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta que conforma o

Morro Satildeo Sebastiatildeo Sendo assim grande parte da mancha urbana de Ouro Preto situada agrave

barlavento da barreira natural sofre influecircncia das chuvas que resultam do resfriamento e

condensaccedilatildeo do ar em ascensatildeo aprofundando ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade citadas anteriormente

Representaccedilatildeo da influecircncia dos ventos e da topografia na mancha urbana da cidade de Ouro

Preto - a formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem base da imagem de sateacutelite extraiacuteda do Google Maps

Exemplo da chuva a barlavento resultante da formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem Sistemas Tecnoloacutegicos em Conforto Ambiental ndash Eleonora Sad Assis

Parte da malha urbana de Ouro Preto

49

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem timblindimwordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem fotografandoondeopeixeparawordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

A partir das variaacuteveis climaacuteticas sistematizadas pelo INMET podemos avanccedilar na

utilizaccedilatildeo do Diagrama Bioclimaacutetico de Givoni (DBG) que orientou a definiccedilatildeo do

Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro assim como utilizar outro instrumento de anaacutelise as

Tabelas de Mahoney que tambeacutem auxiliam na definiccedilatildeo das diretrizes construtivas

O Diagrama de Givoni nos permite identificar quais recursos satildeo necessaacuterios para

que as edificaccedilotildees atendam agraves condiccedilotildees de conforto Este instrumento aponta quais preceitos

da arquitetura bioclimaacutetica devem ser priorizados tais como ventilaccedilatildeo ineacutercia teacutermica e

50

insolaccedilatildeo assim como aponta a necessidade de soluccedilotildees mecacircnicas para o atendimento ao

conforto teacutermico

Diagrama de Givoni relativo agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O Diagrama de Givoni referente agrave Ouro Preto assinala que na maior parte do

tempo as edificaccedilotildees necessitam de aquecimento passivo tendo em vista o quadro recorrente

de baixas temperaturas e de alta umidade relativa Algumas estrateacutegias de aquecimento

passivo podem ser adaptadas agrave realidade local para melhor aproveitamento Quanto agrave cidade

de Ouro Preto deve-se pensar o ganho teacutermico principalmente durante o inverno Nessa

estaccedilatildeo embora se tenha uma queda significativa das temperaturas tem-se cerca de 6 horas

de insolaccedilatildeo diaacuteria quase duas horas a mais do que nas outras estaccedilotildees O aproveitamento

dessa radiaccedilatildeo solar deve servir para manter o ambiente aquecido durante a noite sendo

assim a utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior insolaccedilatildeo deve

possibilitar a maacutexima entrada de calor durante o dia Quanto aos materiais internos estes

devem possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser

devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente

Voltando ao Diagrama de Givoni se compararmos o resultado da cidade de Ouro

Preto com a cidade de Belo Horizonte que estaacute na mesma zona bioclimaacutetica e estaacute a 858

51

metros de altitude perceberemos o quanto eacute importante cruzar os dados de diferentes

instrumentos de anaacutelise para acertar nas diretrizes de projeto Os dados de Belo Horizonte

resultam numa linha meacutedia predominantemente inserida na zona de conforto chegando a

alcanccedilar a zona de influecircncia da ventilaccedilatildeo em algumas horas dos meses de janeiro fevereiro

e marccedilo

Diagrama de Givoni relativo agrave Belo Horizonte

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O outro meacutetodo importante de anaacutelise voltado especificamente para as

recomendaccedilotildees de projeto arquitetocircnico consiste na sistematizaccedilatildeo das recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas atraveacutes das ldquoTabelas de Mahoneyrdquo Tal meacutetodo deve ser utilizado

simultaneamente ao Diagrama de Givoni a fim de se comparar os resultados e ajustar as

diretrizes construtivas Dentre as orientaccedilotildees da Tabela de Mahoney para Ouro Preto merece

destaque a utilizaccedilatildeo de grandes aberturas (para garantir ventilaccedilatildeo abundante e permanente)

e de envoltoacuterias leves Contudo diretrizes como reduccedilatildeo da exposiccedilatildeo ao sol e proteccedilatildeo da

insolaccedilatildeo direta natildeo favorecem o aquecimento passivo conforme a necessidade observada a

partir do Diagrama de Givoni e portanto devem ser relativizadas Seguem abaixo as

recomendaccedilotildees das Tabelas de Mahoney para Ouro Preto

52

Tabela de Mahoney relativa agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

Sendo assim a partir do conhecimento das variaacuteveis climaacuteticas e dos resultados

apresentados eacute possiacutevel formular a seguinte tabela resumo quanto agraves recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas iniciais para Ouro Preto

14 Tabela de Recomendaccedilotildees Arquitetocircnicas

Total de Indicadores

Uacutemido Aacuterido

H1 H2 H3 A1 A2 A3

1 11 4 0 0 0

1 PLANTA DE SITUACcedilAtildeO

0 -10 X Construccedilotildees orientadas segundo eixo longitudinal leste-oeste

11 ou 5 -12 a fim de diminuir a exposiccedilatildeo ao sol

12 0 - 4 Plantas compactas com paacutetios internos

2 ESPACcedilAMENTO ENTRE CONSTRUCcedilOtildeES

11 ou Grandes espaccedilamentos para favorecer a penetraccedilatildeo do vento

12

2 -10 Como acima mas com proteccedilatildeo contra vento quente ou frio

0 ou 1 X Distribuiccedilatildeo compacta

3 CIRCULACcedilAtildeO DE AR

3 - 12 X Construccedilotildees com orientaccedilatildeo simples aberturas que permitam

1 ou 0 - 5 circulaccedilatildeo de ar permanente

2 6 - 12 Construccedilotildees com orientaccedilatildeo dupla circulaccedilatildeo de ar cruzada

0 2 -12 aberturas de ar controlaacuteveis

0 ou 1 Basta renovaccedilatildeo higiecircnica do ar

4 DIMENSOtildeES DAS ABERTURAS

0 ou 0 X Grandes 40 a 80 das fachadas norte e sul

1 1 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

2 - 5

6 - 10 Intermediaacuterias 20 a 35 da superfiacutecie das paredes

11 ou 0 - 3 Pequenas 15 a 25 da superfiacutecie das paredes

12 4 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

5 POSICcedilAtildeO DAS ABERTURAS

3 - 12 X Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do

1 ou 0 - 5 lado exposto ao vento

2 6 - 12 Como acima mas tambeacutem aberturas nas paredes internas

0 2 - 12

6 PROTECcedilAtildeO DAS ABERTURAS

0 - 2 X Proteger da insolaccedilatildeo direta

2 - 12 X Proteger da chuva

7 PAREDES E PISOS

0 - 2 X Construccedilotildees leves baixa ineacutercia teacutermica

3 - 12 Construccedilotildees maciccedilas tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

8 COBERTURA

10 a 0 - 2 Leve (pouca ineacutecia) superfiacutecie refletora uso de cacircmara de ar

12 3 - 12 X Leve e bem isolada

0 a 0 - 5

9 6 - 12 Maciccedila tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

9 ESPACcedilOS EXTERIORES

1 - 12 Espaccedilo para dormir ao ar livre

1 - 12 X Adequada drenagem para a chuva

3 - 12 X Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

53

Tabela resumo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas

Diagrama de Givoni

Tabelas de Mahoney

NBR 15220 ndash Parte 03

Tamanho e caracteriacutesticas das aberturas

Esquadrias devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia do calor no ambiente

Aberturas que permitam a circulaccedilatildeo de ar permanente

Tamanho meacutedio

Grandes ndash de 40 a 80 das fachadas norte e sul

Possibilitar a entrada do sol durante o inverno

Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do lado exposto ao vento

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees externas

Leves Leves e refletoras

Baixa ineacutercia teacutermica

Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees internas

Possibilitar o armazenamento do calor absorvido

Vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia teacutermica

Caracteriacutesticas da cobertura

Leve e bem isolada Leve e isolada

Condicionamento teacutermico passivo

Ganho teacutermico principalmente durante o inverno

Aberturas protegidas da insolaccedilatildeo direta e protegidas da chuva

Ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo aquecimento solar durante o inverno e

Somando-se os diversos meacutetodos de anaacutelise climaacutetica tecircm maior relevacircncia a

seguintes diretrizes

- ventilaccedilatildeo abundante principalmente durante o veratildeo a fim de reduzir a temperatura no

interior da edificaccedilatildeo e os efeitos da umidade que aumenta ainda mais em funccedilatildeo das chuvas

tiacutepicas desse periacuteodo A ventilaccedilatildeo cruzada deve ser fomentada e deve ser observado o sentido

54

predominante do vento que na cidade em questatildeo eacute sudeste a fim de se alcanccedilar melhores

resultados no conforto da edificaccedilatildeo

- aquecimento passivo para os meses de inverno a fim de diminuir o desconforto

causado pelas baixas temperaturas

- paredes leves (com baixa ineacutercia teacutermica ou seja conseguem ganhar ou perder calor

rapidamente a partir da interferecircncia e da temperatura do ar exterior) e protegidas da umidade

proveniente das chuvas fortes

- coberturas leves e bem isoladas (capazes de reter o calor absorvido durante o dia)

- as edificaccedilotildees devem estar protegidas das chuvas e devem contar com sistemas de

drenagem eficientes que possibilitem o raacutepido escoamento ou aproveitamento dessa aacutegua

62 O Coacutedigo de Obras e o conforto ambiental em Ouro Preto ndash estrateacutegias prioritaacuterias

A utilizaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental nos projetos e nas edificaccedilotildees

tem um impacto social positivo baseado em pelo menos trecircs fatores importantes melhoria das

condiccedilotildees de habitabilidade da edificaccedilatildeo e portanto melhor qualidade de vida para o

usuaacuterio melhoria nas condiccedilotildees climaacuteticas do meio externo ampliando o bem estar coletivo

reduccedilatildeo no consumo de energia e utilizaccedilatildeo eficiente do sistema de abastecimento a partir da

correta utilizaccedilatildeo dos sistemas ativos (iluminaccedilatildeo artificial condicionamento e aquecimento

de ar)

Para garantir a aplicaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental o Coacutedigo de Obras

e Edificaccedilotildees do municiacutepio deve incorporar dois importantes artigos que seratildeo detalhados

abaixo conforme o texto sugerido pelo Guia Teacutecnico ldquoElaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de

obras e edificaccedilotildeesrdquo da ELETROBRAacuteS (BAHIA GUEDES 2012)

O primeiro artigo de destaque deve ser inserido no capiacutetulo que trata das

DISPOSICcedilOtildeES PRELIMINARES e deve enumerar as diretrizes gerais para os projetos e

construccedilotildees buscando elencar tanto as demandas contemporacircneas expressas nas novas

legislaccedilotildees como os anseios para um espaccedilo urbano equilibrado e sustentaacutevel Nesse

contexto a substituiccedilatildeo da expressatildeo ldquopadrotildees miacutenimosrdquo que podem ser exemplificados pelas

diretrizes generalistas frequentemente encontradas nas legislaccedilotildees como a previsatildeo de 16 e

18 de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo para todas as localidades por ldquopadrotildees eficientesrdquo

estabelecidos atraveacutes de estudos teacutecnicos que agreguem a complexidade do clima local e que

permitam ampliar as condiccedilotildees de sustentabilidade das edificaccedilotildees ao tratar da otimizaccedilatildeo de

resultados quanto ao atendimento do conforto teacutermico visual e acuacutestico com baixo consumo

55

de energia A configuraccedilatildeo do texto deve se aproximar ao maacuteximo da proposta apresentada

pelo Guia Teacutecnico paacutegina 62

As obras instalaccedilotildees e edificaccedilotildees sejam puacuteblicas sejam privadas deveratildeo atender

agraves seguintes diretrizes gerais de forma a assegurar padrotildees eficientes de seguranccedila e

solidez salubridade e sauacutede conforto ambiental e desempenho energeacutetico

acessibilidade e livre tracircnsito de pessoas prevenccedilatildeo e uso sustentaacutevel dos recursos

naturais em cada caso e sempre que couber I - Subordinaccedilatildeo do interesse particular

ao interesse coletivo II - Promoccedilatildeo do direito agrave cidade sustentaacutevel e da funccedilatildeo

social da propriedade III - Utilizaccedilatildeo das normas teacutecnicas brasileiras e

regulamentaccedilotildees aplicaacuteveis para orientaccedilatildeo do desenvolvimento de projetos e

execuccedilatildeo de obras IV - Desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas sempre que

necessaacuterio com base nas praacuteticas locais beneacuteficas e na produccedilatildeo cientiacutefica tendo em

vista a manutenccedilatildeo da qualidade do local onde se daacute a intervenccedilatildeo e a correlaccedilatildeo

com valores culturais da populaccedilatildeo V - Garantia das condiccedilotildees de acessibilidade

circulaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo pela populaccedilatildeo em geral das edificaccedilotildees e do espaccedilo e

mobiliaacuterio urbano de uso puacuteblico e coletivo com adoccedilatildeo de soluccedilotildees especiacuteficas

para as pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida conforme previsto nas

normas teacutecnicas e na legislaccedilatildeo aplicaacutevel VI - Adoccedilatildeo de paracircmetros climaacuteticos

para o desenvolvimento de projetos de arquitetura de parcelamentos do solo e de

desenho urbano tendo em vista a correta orientaccedilatildeo solar da edificaccedilatildeo e demais

elementos as melhores condiccedilotildees de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo e pela escolha de

materiais construtivos e soluccedilotildees urbaniacutesticas adequadas em funccedilatildeo das

condicionantes ambientais locais de temperatura pluviosidade dominacircncia de

ventos ruiacutedo e paisagem natural aleacutem dos aspectos culturais que interagem com

essas condiccedilotildees VII - Utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis materiais de

construccedilatildeo certificados e ajudas teacutecnicas disponiacuteveis em complemento agrave promoccedilatildeo

do conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade das edificaccedilotildees e do

meio urbano VIII - Implantaccedilatildeo do objeto arquitetocircnico no lote bem como do

mobiliaacuterio urbano e demais artefatos nos logradouros puacuteblicos garantidas a

acessibilidade a qualidade esteacutetica e tecnoloacutegica de forma a potencializar os

atributos da paisagem urbana e evitar a poluiccedilatildeo visual IX - Adoccedilatildeo preferencial de

espeacutecies nativas na arborizaccedilatildeo puacuteblica demais projetos paisagiacutesticos e no

ajardinamento de lotes particulares X - Simplificaccedilatildeo dos procedimentos

administrativos pelo Poder Puacuteblico e promoccedilatildeo da assistecircncia para habitaccedilatildeo de

interesse social pelos agentes promotores tendo em vista facilitar a regularidade e a

correta execuccedilatildeo de projetos e obras inclusive apoiando as iniciativas de

autoconstruccedilatildeo da clientela de baixa renda (BAHIA GUEDES 2012)

O segundo artigo de grande relevacircncia deve ser inserido no capiacutetulo ldquoDAS

CONDICcedilOtildeES RELATIVAS AgraveS EDIFICACcedilOtildeESrdquo Neste capiacutetulo devem ser tratados os

paracircmetros teacutecnicos e geomeacutetricos capazes de materializar o conforto ambiental dos projetos e

edificaccedilotildees a partir do contexto climaacutetico da cidade As diretrizes apontadas devem buscar o

equiliacutebrio entre as condicionantes internas (relaccedilatildeo do usuaacuterio com a edificaccedilatildeo) e externas

(relaccedilatildeo da edificaccedilatildeo com o entorno) Quanto aos paracircmetros teacutecnicos esses devem ser

baseados nas recomendaccedilotildees do Programa Nacional de Conservaccedilatildeo de Energia Eleacutetrica ndash

PROCEL e devem se aproximar dos padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees

residenciais que satildeo atualmente estabelecidos pelo INMETRO a partir do RTQ-R ndash

Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais O texto do artigo deve seguir a sugestatildeo do Guia Teacutecnico paacutegina 107

56

Os projetos de construccedilatildeo ou reforma aleacutem de atenderem aos paracircmetros de

habitabilidade estabelecidos neste Coacutedigo devem ser orientados para a promoccedilatildeo da

sustentabilidade e eficiecircncia energeacutetica da edificaccedilatildeo com o objetivo de reduzir as

emissotildees de gases de efeito estufa (GEE) e os impactos ambientais gerados pela

construccedilatildeo e pela sua utilizaccedilatildeo ao longo do tempo racionalizando o uso da energia

da aacutegua e dos materiais nela empregados a partir das seguintes diretrizes I -

Racionalidade do projeto e do planejamento do processo de execuccedilatildeo das obras II -

Gestatildeo sustentaacutevel da obras e das praacuteticas de construccedilatildeo de forma a evitar o

desperdiacutecio de materiais III - Uso de materiais de construccedilatildeo e acabamentos

sustentaacuteveis considerando a adoccedilatildeo de materiais originaacuterios da regiatildeo produzidos

de forma sustentaacutevel e legalizada de materiais reaproveitados ou de demoliccedilatildeo e de

materiais certificados ou de comprovada responsabilidade ambiental do fabricante

IV - Ativaccedilatildeo do uso de edificaccedilotildees de valor cultural histoacuterico ou arquitetocircnico

maximizando as condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do bem imoacutevel na interaccedilatildeo com as

premissas de conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade V -

Aplicaccedilatildeo das estrateacutegias para projetos de acordo com o Zoneamento Bioclimaacutetico

brasileiro conforme NBR 15220-3 para concepccedilatildeo arquitetocircnica implantaccedilatildeo no

lote orientaccedilatildeo solar dos ambientes localizaccedilatildeo de aberturas e especificaccedilatildeo de

materiais de construccedilatildeo em prol do desempenho teacutermico da edificaccedilatildeo VI -

Aproveitamento das caracteriacutesticas climaacuteticas locais para a promoccedilatildeo do conforto

ambiental da edificaccedilatildeo a partir da consideraccedilatildeo dos seguintes fatores principais a)

Qualidade do ar b) Conforto higroteacutermico c) Conforto luminoso (ou lumiacutenico) d)

Conforto acuacutestico VII - Adoccedilatildeo de especificaccedilotildees de projeto com o objetivo de

potencializar as caracteriacutesticas climaacuteticas locais beneacuteficas eou remediar as de maior

rigor ao longo das diferentes estaccedilotildees do ano em benefiacutecio do desempenho teacutermico

e da ventilaccedilatildeo e iluminaccedilatildeo naturais da edificaccedilatildeo [] VIII - Planejamento

paisagiacutestico como elemento contribuinte para o conforto ambiental da edificaccedilatildeo

[] IX - Adoccedilatildeo de materiais construtivos que melhorem o desempenho teacutermico da

edificaccedilatildeo com base nas orientaccedilotildees e tabelas da NBR 15220-3 e especificaccedilatildeo de

equipamentos mecanismos e instalaccedilotildees que favoreccedilam a economia de energia

eleacutetrica e a reduccedilatildeo do consumo e aacutegua tratada [] (BAHIA GUEDES 2012)

Esses dois artigos apresentados embora configurem o ponto de partida natildeo satildeo

suficientes para a transformaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras em uma ferramenta concreta de

promoccedilatildeo do conforto ambiental da eficiecircncia energeacutetica e da sustentabilidade do meio

ambiente urbano Os desdobramentos desse texto devem resultar em paracircmetros teacutecnicos

como dimensionamentos diretrizes de desenho configuraccedilotildees espaciais miacutenimas dentre

inuacutemeros outros elementos de aplicaccedilatildeo obrigatoacuteria ou optativa Sendo assim o Coacutedigo de

Obras deve regulamentar por exemplo o dimensionamento de compartimentos a disposiccedilatildeo

e o dimensionamento de mobiliaacuterio fixo como louccedilas sanitaacuterias o peacute-direito as proporccedilotildees

das aberturas de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo assim como as taxas de renovaccedilatildeo do ar os niacuteveis de

ruiacutedo para o conforto acuacutestico as condiccedilotildees favoraacuteveis de transmitacircncia e a absortacircncia das

paredes e coberturas para o conforto teacutermico o dimensionamento e as condiccedilotildees das

circulaccedilotildees horizontais e verticais as instalaccedilotildees prediais dentre inuacutemeros outros itens Os

teacutecnicos devem se debruccedilar sobre tais requisitos teacutecnicos a fim de otimizar os resultados

quanto agrave construccedilatildeo da sustentabilidade no municiacutepio Deve-se utilizar as normas ABNT em

auxiacutelio agrave formulaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos a exemplo da NBR 10151 sobre Avaliaccedilatildeo do

57

Ruiacutedo em Aacutereas Habitadas NBR 5382 sobre Iluminacircncia de Interiores NBR 15215 sobre

Iluminaccedilatildeo Natural NBR 9284 sobre Equipamentos Urbanos dentre outras

Por fim deve-se prezar pela total interaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras com o conjunto

da legislaccedilatildeo urbaniacutestica local a fim de estabelecer uma relaccedilatildeo sequencial entre as etapas de e

concepccedilatildeo planejamento e construccedilatildeo das edificaccedilotildees passando das diretrizes gerais agraves

exigecircncias especiacuteficas O texto do coacutedigo de obras deve ser objetivo e didaacutetico sem incorrer

em simplificaccedilotildees O conteuacutedo deve ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e

teacutecnicos da aacuterea como pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees A dedicaccedilatildeo dos

teacutecnicos e profissionais na elaboraccedilatildeo das diretrizes transformadoras a busca pela

conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo sobre o conforto no ambiente urbano assim como a luta contra a

supremacia dos interesses privados sobre a coletividade satildeo itens importantes quanto agrave

concretizaccedilatildeo desse importante instrumento que foi apresentado e defendido ao longo do

presente trabalho

58

7 CONCLUSAtildeO

Diante das anaacutelises apresentadas ao longo deste trabalho principalmente quanto

ao ordenamento juriacutedico brasileiro para a regulaccedilatildeo urbana e o desenvolvimento sustentaacutevel

ficou comprovada a existecircncia de um conjunto significativo de legislaccedilotildees capazes de

embasar uma transformaccedilatildeo das cidades brasileiras em territoacuterios democraacuteticos igualitaacuterios e

sustentaacuteveis Poreacutem a previsatildeo legal eacute apenas o iniacutecio de um longo caminho ateacute a

transformaccedilatildeo concreta da realidade Para se avanccedilar nesse caminho uma mudanccedila poliacutetica eacute

imprescindiacutevel uma vez que as decisotildees sobre o espaccedilo urbano e sua regulamentaccedilatildeo

dependem necessariamente do interesse do gestor urbano materializado na figura dos

prefeitos e governantes das diversas esferas administrativas

Em relaccedilatildeo ao municiacutepio de Ouro Preto foi identificado que embora haja um

conjunto significativo de diretrizes urbaniacutesticas contidas no Plano Diretor e na Lei de Uso e

Ocupaccedilatildeo do Solo estas ainda satildeo insuficientes para subsidiar um desenvolvimento local

pautado na responsabilidade ambiental e na qualidade do meio ambiente urbano Isso se deve

principalmente ao fato de natildeo haver um coacutedigo de obras e edificaccedilotildees e tambeacutem ao fato de

que as iniciativas de proteccedilatildeo ambiental tal como a Agenda 21 Local natildeo foram colocadas

em praacutetica Neste sentido em relaccedilatildeo ao processo legislativo conclui-se que haacute uma

defasagem na aplicaccedilatildeo dos instrumentos de planejamento municipal previstos no Estatuto da

Cidade principalmente o Plano Diretor Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo Agenda 21 Local e Coacutedigo

de Obras e Edificaccedilotildees Aleacutem disso faltam elementos de combate agrave especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e

instrumentos de regulaccedilatildeo do solo urbano como o IPTU progressivo regularizaccedilatildeo onerosa a

assistecircncia teacutecnica gratuita dentre outros instrumentos tributaacuterios e financeiros juriacutedicos e

poliacuteticos que infelizmente ainda natildeo satildeo aplicados no municiacutepio Nesse contexto os outros

instrumentos de planejamento tais como o plano plurianual orccedilamento participativo

programas setoriais e planos de desenvolvimento econocircmico e social embora natildeo configurem

instrumentos urbaniacutesticos se colocam como ferramentas aliadas da gestatildeo democraacutetica da

cidade e da reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais visto que o processo de mudanccedila eacute

essencialmente poliacutetico Nesse sentido eacute extremamente importante que esses instrumentos

sejam pautados na real participaccedilatildeo popular na inclusatildeo e na justiccedila social

Quanto agrave sustentabilidade no ambiente urbano identificou-se que a preservaccedilatildeo e

proteccedilatildeo patrimonial pautadas no conforto do usuaacuterio a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados

a melhoria da infraestrutura urbana a concretizaccedilatildeo de projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria

59

assim como a construccedilatildeo de habitaccedilatildeo social de qualidade satildeo questotildees fundamentais para a

transformaccedilatildeo das cidades em territoacuterios democraacuteticos e sustentaacuteveis Essas demandas estatildeo

diretamente ligadas agrave mudanccedila no paradigma do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

pois uma vez colocadas em praacutetica alteram significativamente a configuraccedilatildeo das cidades

influenciando no clima urbano e na qualidade ambiental

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de uma base de dados climaacuteticos relativos ao municiacutepio

a partir das Normais Climatoloacutegicas obtidas no periacuteodo entre 1976 e 1990 foi possiacutevel

caracterizar o clima de Ouro Preto como um clima de baixas temperaturas muito uacutemido

(umidade relativa praticamente sempre acima de 80) com alta nebulosidade (o que significa

que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou nublado) e com abundacircncia de chuvas

principalmente no veratildeo Foi tambeacutem identificada uma grande interferecircncia do efeito da

barreira orograacutefica provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta

que conforma o Morro Satildeo Sebastiatildeo o que aprofunda ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade

Para a elaboraccedilatildeo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais foram utilizados os

resultados do diagrama de Givoni das Tabelas de Mahoney e da NBR 15220 Assim para a

cidade de Ouro Preto concluiu-se que a arquitetura deve priorizar o ganho teacutermico

principalmente durante o inverno pois nessa estaccedilatildeo tem-se uma queda significativa das

temperaturas o que afeta consideravelmente o conforto do usuaacuterio Esse ganho teacutermico deve

ser pensado a partir da utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior

insolaccedilatildeo o que possibilita um melhor aproveitamento dessa radiaccedilatildeo solar que deve servir

para manter o ambiente aquecido durante a noite Quanto aos materiais internos estes devem

possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser devidamente

isoladas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente Em relaccedilatildeo ao veratildeo foi

identificada a necessidade de ventilaccedilatildeo cruzada para reduzir os efeitos das temperaturas

elevadas e da alta umidade aleacutem de envoltoacuterias bem protegidas das chuvas

Por fim quanto agrave elaboraccedilatildeo do coacutedigo de obras foi possiacutevel apontar a

necessidade de se estabelecer as diretrizes para os projetos e construccedilotildees a partir dos

paracircmetros das normas teacutecnicas brasileiras do desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas com

base nas praacuteticas locais da garantia da acessibilidade das edificaccedilotildees agrave populaccedilatildeo em geral

da consideraccedilatildeo dos paracircmetros climaacuteticos e da utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis Foi

abordada a necessidade de aproximaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos do coacutedigo de obras aos

padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees residenciais previstos no RTQ-R

60

(Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais INMETRO) aleacutem da necessidade de se construir um texto objetivo e didaacutetico

que possa ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e teacutecnicos da aacuterea quanto

pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees

61

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 15220 Desempenho

teacutermico de edificaccedilotildees Rio de Janeiro ABNT 2005

BAHIA S R GUEDES P de A Elaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de obras e

edificaccedilotildees 2ordfed Rio de janeiro IBAMDUMA ELETROBRAS PROCEL 2012

BARANDIER H ALMEIDA M C T MORAIS R Planejamento e Controle Ambiental

Urbano e a Eficiecircncia Energeacutetica Rio de Janeiro IBAMDUMA ELETROBRASPROCEL

2013

BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988

BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002

BRASIL Lei nordm 10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do Desenvolvimento

Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Pesquisa nacional para identificar os resultados de

implementaccedilatildeo de processos de agendas 21 locais Brasiacutelia 2009

CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS Tiacutetulo 24 Parte 8 California Historical

Building Code 1ordm Ed Washington 2007

CSABA D SUELI R S (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo Editora da

Universidade de Satildeo Paulo 1999

FERREIRA C SOUZA H A de ASSIS E S de Estudo do clima brasileiro reflexotildees e

recomendaccedilotildees sobre a adequaccedilatildeo climaacutetica de habitaccedilotildees In XV Encontro Nacional de

Tecnologia do Ambiente Construiacutedo Maceioacute 2014

FROTA A B SCHIFFER S R Manual de Conforto Teacutermico Satildeo Paulo Nobel 1995

IBGE Perfil dos municiacutepios brasileiros 2013 Brasiacutelia 2014

LAMBERTS R DUTRA L PEREIRA FO R Eficiecircncia Energeacutetica na Arquitetura 3ordfed

ELETROBRASPROCEL 2014

MENICONI R O A Construccedilatildeo de uma Cidade-Monumento o caso de Ouro Preto Belo

Horizonte Escola de Arquitetura e Urbanismo UFMG 1999 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OLIVEIRA L B Agenda 21 Local consolidando as bases para o desenvolvimento

sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escala UFOP 2010

62

OLIVEIRA M A Os valores culturais da paisagem urbana em Ouro Preto Um Estudo de

Caso das Aacutereas Verdes na Ladeira Santa Efigecircnia e Entorno Proacuteximo Salvador Mestrado em

Arquitetura e Urbanismo da UFBA 1997

OLIVEIRA M R S Gestatildeo Patrimonial em Ouro Preto Alcances e Limites das Poliacuteticas

Puacuteblicas Preservacionistas Campinas Poacutes ndash Graduaccedilatildeo em Geografia Anaacutelise Ambiental e

Dinacircmica Territorial da UNICAMP 2005 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OURO PRETO Lei complementar nordm 011996 Institui o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro

Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 022005 Estabelece a Estrutura Baacutesica e a

organizaccedilatildeo administrativa da Prefeitura Municipal de Ouro Preto e da outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 152006 Altera a Lei Complementar ndeg 021005

modifica a denominaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Turismo Induacutestria e Comeacutercio e da

Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio suas respectivas competecircncias e daacute outras

providecircncias de 27 de Abril de 2006

OURO PRETO Lei Complementar nordm 302006 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 28 de

Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei complementar nordm 912010 Altera a Lei Complementar nordm292006 que

estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 932011 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 20 de

Janeiro de 2011

OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996

OURO PRETO Lei complementar nordm292006 Estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de

Ouro Preto de 28 de Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei nordm 333 Dispotildee sobre o Programa da Agenda 21 Local de 11 de maio de

2007

OURO PRETO Lei nordm 5790 Dispotildee sobre as diretrizes baacutesicas do Plano Diretor do

Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Portaria 0292 Nomeia Comissatildeo Especial

OURO PRETO Portaria 1707 Nomeia Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos

Naturais e Agenda 21 Local

Page 5: POLYANA PEREIRA COELHO · 2019. 11. 14. · POLYANA PEREIRA COELHO A SUSTENTABILIDADE DO AMBIENTE URBANO E OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO MUNICIPAL: RECOMENDAÇÕES PARA UM CÓDIGO DE

4

ABSTRACT

The sustainability of the urban environment although it is a relatively new agenda in Brazil

has reached the level of priority demand Thats because the predatory exploitation of natural

resources has destroyed the environment Furthermore urban centers have become true

rubbish dumps sewer and pollution In this context this paper seeks to identify the municipal

management tools that can contribute to changing this urban reality They are presented so

the instruments of municipal planning regulated by the City Statute addition to the

instruments of environmental control for example the Local Agenda 21 that may positively

affect the well-being and environmental comfort of cities For the case study was chosen the

city of Ouro Preto Minas Gerais which has about 300 years of history and a protected urban

setting Such a case study added the preservation of historical heritage as another variable

present in the context of urban regulation So in order to understand the relationship of these

three important aspects of municipal urban policy - the preservation regulation and

sustainability - the work in question dealt with the range of possibilities of Works and

Building Code Finally in an attempt to identify the policies needed to transform urban areas

into sustainable spaces we tried to point out from the recognition of the local climate of Ouro

Preto some architectural recommendations able to move forward in the consolidation of

buildings committed to comfort environmental and energy efficiency

Keywords sustentability municipal planning environment comfort Ouro Preto - MG

5

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 6

2 O ESTATUTO DA CIDADE E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL 8

3 O PLANO DIRETOR E OS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO

MUNICIPAL 14

4 OS DESAFIOS DA REGULACcedilAtildeO URBANA FRENTE AgraveS INTERVENCcedilOtildeES NAS

EDIFICACcedilOtildeES E NOS CONJUNTOS URBANOS TOMBADOS 20

5 O MUNICIacutePIO DE OURO PRETO UM ESTUDO DE CASO 27

51 DA COLONIZACcedilAtildeO AO SEacuteCULO XX 27

52 O CONTEXTO ATUAL 34

6 ENSAIO PARA UM COacuteDIGO DE OBRAS PRINCIPAIS ESTRATEacuteGIAS PARA

A PROMOCcedilAtildeO DA EFICIEcircNCIA ENERGEacuteTICA NO MUNICIacutePIO DE OURO

PRETO 42

61 O RECONHECIMENTO DO CLIMA E AS RECOMENDACcedilOtildeES

ARQUITETOcircNICAS INICIAIS 42

62 O COacuteDIGO DE OBRAS E O CONFORTO AMBIENTAL EM OURO PRETO ndash

ESTRATEacuteGIAS PRIORITAacuteRIAS 54

7 CONCLUSAtildeO 58

6

1 INTRODUCcedilAtildeO

A praacutetica de ordenaccedilatildeo do territoacuterio nacional atraveacutes do planejamento urbano

modificou-se significativamente no iniacutecio do Segundo Milecircnio A aprovaccedilatildeo do Estatuto da

Cidade e a incorporaccedilatildeo dos preceitos do equiliacutebrio ambiental e do desenvolvimento

sustentaacutevel nas diretrizes para o desenvolvimento urbano impactaram positivamente o quadro

juriacutedico brasileiro Contudo enfrentam-se ainda inuacutemeras dificuldades na aplicaccedilatildeo das

diretrizes previstas nesse novo ordenamento o que se traduz num gigantesco atraso quanto agrave

transformaccedilatildeo das cidades brasileiras em cidades sustentaacuteveis

Atualmente satildeo os municiacutepios os entes federativos com maior capacidade de

transformaccedilatildeo da realidade local uma vez que os principais instrumentos aplicaacuteveis ao

contexto urbano estatildeo inseridos no Plano Diretor ou noutro plano urbano de competecircncia do

municiacutepio Sendo assim faz-se necessaacuterio aprofundar o conhecimento e entendimento dos

instrumentos da gestatildeo municipal analisando os limites e possibilidades encontrados nas

administraccedilotildees da maioria das cidades brasileiras A identificaccedilatildeo do contexto poliacutetico local eacute

fundamental para a compreensatildeo da realidade urbana pois o sucesso na aplicaccedilatildeo de

legislaccedilotildees transformadoras depende da vontade poliacutetica das gestotildees municipais em promover

a democratizaccedilatildeo da cidade e o bem-estar coletivo

Nesse contexto de reconhecimento dos instrumentos de gestatildeo municipal buscou-

se identificar e avaliar as poliacuteticas de promoccedilatildeo da sustentabilidade no ambiente urbano

Assim aleacutem da anaacutelise dos Planos Diretores e da Lei de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo do

Solo o presente trabalho buscou investigar a existecircncia e a implementaccedilatildeo de outros

importantes instrumentos de promoccedilatildeo do equiliacutebrio ambiental tais como a Agenda 21 e o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees

Quanto agrave sustentabilidade do ambiente urbano cabe ressaltar a importacircncia em se

pensar a interaccedilatildeo das edificaccedilotildees no territoacuterio de forma que estas contribuam positivamente

com o clima urbano Assim estatildeo diretamente relacionadas agrave sustentabilidade do ambiente

urbano as diretrizes relativas ao uso agrave seguranccedila agrave salubridade agrave acessibilidade e agrave

preservaccedilatildeo dos elementos histoacutericos artiacutesticos e culturais assim como diretrizes resultantes

de estudos climaacuteticos que aplicados ao desenho urbano possibilitem adaptaccedilatildeo das

edificaccedilotildees agraves caracteriacutesticas climaacuteticas locais ao conforto teacutermico luminoso e acuacutestico

Tambeacutem faz parte dessa transformaccedilatildeo urbana iniciativas que utilizem fontes de energia

alternativas e que combatam o desperdiacutecio de recursos

7

A partir do exposto acima foi escolhido como caso de estudo o Municiacutepio de Ouro

Preto situado na Regiatildeo Central de Minas Gerais Com um conjunto urbano de

aproximadamente 300 anos a cidade de Ouro Preto estaacute entre os 19 bens brasileiros

considerados Patrimocircnio Cultural da Humanidade pela UNESCO e entre os 77 conjuntos

urbanos tombados pelo IPHAN

Estudar Ouro Preto portanto pressupotildee acrescentar um olhar preservacionista aos

apontamentos sobre a regulaccedilatildeo urbana e o desenvolvimento sustentaacutevel Dentro dessa

realidade faz-se necessaacuterio desenvolver uma interaccedilatildeo entre esses trecircs importantes aspectos da

poliacutetica urbana municipal preservaccedilatildeo regulaccedilatildeo e sustentabilidade

Sendo assim o objetivo geral da pesquisa consiste em analisar dentro do contexto

juriacutedico do municiacutepio de Ouro Preto as leis pertinentes agrave regulaccedilatildeo urbana a fim de avaliar a

aplicaccedilatildeo dos preceitos do Estatuto da Cidade Ademais o presente trabalho procura

identificar os principais entraves e barreiras que atualmente impedem que a expansatildeo da

cidade ocorra de forma vinculada agrave qualidade de vida dos cidadatildeos agrave proteccedilatildeo ambiental e

vinculada agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico

A partir da identificaccedilatildeo e contextualizaccedilatildeo das legislaccedilotildees municipais foram

abordadas algumas iniciativas de promoccedilatildeo da sustentabilidade a fim de avanccedilar na

construccedilatildeo de uma base de dados climaacuteticos do municiacutepio capaz de orientar a elaboraccedilatildeo de

condicionantes urbaniacutesticas e diretrizes construtivas comprometidas com a proteccedilatildeo do meio

ambiente e com as premissas do conforto ambiental Dentro do rol de legislaccedilotildees municipais

destacou-se um importante instrumento da regulaccedilatildeo urbana o Coacutedigo de Obras e

Edificaccedilotildees Foram abordados na pesquisa aspectos importantes quanto agrave elaboraccedilatildeo e

atualizaccedilatildeo deste instrumento como por exemplo a incorporaccedilatildeo dos criteacuterios de

sustentabilidade a fim de elevar a qualidade das edificaccedilotildees e garantir o conforto do usuaacuterio

Para a anaacutelise do clima da cidade de Ouro Preto foram utilizados o diagrama de

Givoni as Tabelas de Mahoney aleacutem da NBR 15220 parte 3 A sistematizaccedilatildeo dos resultados

dessas trecircs ferramentas possibilitou a interpretaccedilatildeo das variaacuteveis climaacuteticas o que eacute

fundamental para a formulaccedilatildeo de recomendaccedilotildees arquitetocircnicas Tal resultado embasou o

apontamento global apresentado no uacuteltimo capiacutetulo quanto agraves principais recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas e agraves estrateacutegias prioritaacuterias de promoccedilatildeo do conforto ambiental

O trabalho deveraacute contribuir com os estudos que estatildeo sendo elaborados pelas

equipes teacutecnicas locais e com a conformaccedilatildeo de um pensamento criacutetico a cerca das poliacuteticas

puacuteblicas de promoccedilatildeo da sustentabilidade da regulaccedilatildeo urbana e da proteccedilatildeo patrimonial

8

2 O ESTATUTO DA CIDADE E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL

O iniacutecio do seacuteculo XXI podemos dizer foi marcado por uma mudanccedila qualitativa

no tocante ao Planejamento Urbano Brasileiro O Estatuto da Cidade Lei nordm 10257 foi

aprovado pelo Congresso Nacional em 2001 e representou uma grande vitoacuteria nos marcos do

planejamento urbano pois vinha sendo reivindicado pelos movimentos sociais de luta pela

reforma urbana desde a deacutecada de 1980 O Estatuto da Cidade veio regulamentar o Capiacutetulo II

da Constituiccedilatildeo Federal capiacutetulo este que trata da Poliacutetica Urbana composto pelos artigos

182 e 183 que ressaltam dentre outros aspectos como a poliacutetica de desenvolvimento urbano

deve estar diretamente associada agrave funccedilatildeo social da cidade e da propriedade urbana A

aprovaccedilatildeo desta lei significaria uma mudanccedila qualitativa nos marcos juriacutedico e institucional

dos municiacutepios por articular instrumentos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria habitaccedilatildeo saneamento

mobilidade e de gestatildeo de resiacuteduos aleacutem de introduzir o equiliacutebrio ambiental como item

essencial ao desenvolvimento urbano sustentaacutevel No Capiacutetulo 01 do Estatuto ndash Diretrizes

Gerais o primeiro artigo diz o seguinte

Art 1ordm Na execuccedilatildeo da poliacutetica urbana de que tratam os artigos 182 e 183 da

Constituiccedilatildeo Federal seraacute aplicado o previsto nesta Lei [] Paraacutegrafo uacutenico Para

todos os efeitos esta Lei denominada Estatuto da Cidade estabelece normas de

ordem puacuteblica e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol

do bem coletivo da seguranccedila e do bem-estar dos cidadatildeos bem como do equiliacutebrio

ambiental (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

O texto do Estatuto da Cidade tratou portanto de incorporar ao conjunto de

diretrizes da poliacutetica urbana o equiliacutebrio ambiental como um novo conceito como uma

demanda essencial ao desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis conforme estaacute disposto no

capiacutetulo introdutoacuterio da supracitada Lei

Contudo mesmo jaacute estando consolidado haacute mais de uma deacutecada o desafio

colocado pelo Estatuto da Cidade tem se aprofundado a cada dia A retirada de mateacuteria-prima

da natureza a exploraccedilatildeo de recursos energeacuteticos a demanda por aacutegua potaacutevel e por

alimentos assim como a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos satildeo intensificadas com o passar dos

anos e com o crescimento exponencial das cidades Nas grandes metroacutepoles o problema

ambiental jaacute alcanccedilou o alerta vermelho quanto agrave gravidade da situaccedilatildeo a poluiccedilatildeo a

impermeabilizaccedilatildeo dos solos a falta de vegetaccedilatildeo e de barreiras geograacuteficas naturais tecircm

provocado inuacutemeros danos ao meio ambiente urbano que sofre com a falta de chuva ou com o

excesso dela com a draacutestica alteraccedilatildeo do microclima e com a formaccedilatildeo de ilhas de calor cada

dia mais agressivas ao bem-estar da populaccedilatildeo

9

Nos municiacutepios menores embora os problemas ambientais sejam percebidos com

menor intensidade a poliacutetica urbana tambeacutem estaacute voltada para a exploraccedilatildeo e esgotamento

dos recursos naturais Natildeo haacute uma poliacutetica efetiva de proteccedilatildeo das aacutereas de risco das aacutereas de

proteccedilatildeo permanente assim como natildeo haacute saneamento baacutesico em toda a aacuterea urbana Soma-se

a esses problemas a falta de estaccedilotildees de tratamento de efluentes que resulta na utilizaccedilatildeo dos

cursos drsquoaacutegua como canais de esgotamento sanitaacuterio e consequentemente na contaminaccedilatildeo

dos recursos hiacutedricos de toda uma regiatildeo

A partir desses elementos evidencia-se que a promulgaccedilatildeo do Estatuto da Cidade

apesar do avanccedilo representado natildeo conseguiu resolver por si soacute os inuacutemeros problemas

ambientais urbanos que afetam agraves cidades brasileiras Tais problemas estatildeo diretamente

vinculados aos paracircmetros de parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo padrotildees construtivos e

padrotildees ediliacutecios das cidades definidos pela legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal quando

existente Os municiacutepios encontram enorme dificuldade em aplicar os preceitos do Estatuto

por falta de uma legislaccedilatildeo urbana forte aprimorada e atualizada que possa contemplar todos

os aspectos de uma regulaccedilatildeo urbana voltada para a sustentabilidade e para o bem-estar

coletivo

Eacute neste cenaacuterio que entram em cena os instrumentos da poliacutetica urbana previstos

no Capiacutetulo II do Estatuto da Cidade organizados em seis categorias que satildeo

I ndash planos nacionais regionais e estaduais de ordenaccedilatildeo do territoacuterio e de

desenvolvimento econocircmico e social

II ndash planejamento das regiotildees metropolitanas aglomeraccedilotildees urbanas e

microrregiotildees

III ndash planejamento municipal

IV ndash institutos tributaacuterios e financeiros

V ndash institutos juriacutedicos e poliacuteticos

VI ndash estudo preacutevio de impacto ambiental (EIA) e estudo preacutevio de impacto de

vizinhanccedila (EIV) (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho

2001)

As categorias III - planejamento municipal IV - institutos tributaacuterios e financeiros

e V - instrumentos juriacutedicos e poliacuteticos se desdobram em outros variados instrumentos que

associados e devidamente estabelecidos por lei especiacutefica serviratildeo de base para que os

municiacutepios avancem na construccedilatildeo de um ambiente urbano equilibrado inclusivo e

sustentaacutevel Destaca-se nesse quadro de instrumentos dentro da categoria ldquoplanejamento

municipalrdquo o Plano Diretor que constituindo o ldquoinstrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e expansatildeo urbanardquo possibilitaraacute para aleacutem da ordenaccedilatildeo do solo a

articulaccedilatildeo com outros processos de planejamento na esfera municipal Tal instrumento seraacute

melhor abordado no proacuteximo capiacutetulo

10

Apresentados os processos de planejamento e os instrumentos da poliacutetica urbana

trazidos pelo Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio avanccedilar no entendimento da

sustentabilidade enquanto conceito uma vez que esta passaraacute a compor um corpo uacutenico com o

que vier a se entender por ldquodesenvolvimentordquo

A preocupaccedilatildeo com o ordenamento juriacutedico de proteccedilatildeo e defesa do meio

ambiente se materializou no Brasil inicialmente em 1981 a partir da promulgaccedilatildeo da Lei

6938 que instituiu a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente O SISNAMA Sistema Nacional

do Meio Ambiente reuniu os oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Direta - Uniatildeo Estados

DF e Municiacutepios - responsaacuteveis pela proteccedilatildeo e melhoria da qualidade ambiental

Em 2002 a construccedilatildeo da Agenda 21 Brasileira buscou associar o conceito de

sustentabilidade agraves poliacuteticas de desenvolvimento urbano As Agendas Nacionais foram

desenvolvidas a partir da Agenda 21 Global Esta uacuteltima resultou das discussotildees realizadas na

Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD)

mais conhecida como Rio 92 A Agenda 21 consiste em um programa de accedilatildeo voltado para a

aplicaccedilatildeo de meacutetodos de proteccedilatildeo ambiental justiccedila social e eficiecircncia econocircmica Eacute um

documento de 40 capiacutetulos com mais de 2500 recomendaccedilotildees praacuteticas e foi assinado por 179

paiacuteses formalizando o compromisso dessas naccedilotildees com o Desenvolvimento Sustentaacutevel do

Planeta Instrumento de planejamento participativo a Agenda 21 deve ser um resultado de

accedilotildees que congreguem governo e sociedade civil e por isso eacute um instrumento aliado das novas

frentes de trabalho inauguradas pelo Estatuto da Cidade A partir dos trechos a seguir

retirados respectivamente da Agenda 21 e do Estatuto da Cidade pode-se perceber a afinidade

nas pretensotildees dos dois Instrumentos de Planejamento

71 Nos paiacuteses industrializados os padrotildees de consumo das cidades representam

uma pressatildeo muito seacuteria sobre o ecossistema global ao passo que no mundo em

desenvolvimento os assentamentos humanos necessitam de mais mateacuteria-prima

energia e desenvolvimento econocircmico simplesmente para superar seus problemas

econocircmicos e sociais baacutesicos Em muitas regiotildees do mundo em especial nos paiacuteses

em desenvolvimento as condiccedilotildees dos assentamentos humanos vecircm se

deteriorando sobretudo em decorrecircncia do baixo volume de investimentos no setor

imputaacutevel agraves restriccedilotildees relativas a recursos com que esses paiacuteses se deparam em

todas as aacutereas Nos paiacuteses de baixa renda sobre os quais haacute dados recentes apenas

56 por cento do orccedilamento do Governo central em meacutedia foram dedicados a

habitaccedilatildeo lazer seguridade social e bem-estar social [] Objetivo 78 O objetivo eacute

oferecer habitaccedilatildeo adequada a populaccedilotildees em raacutepido crescimento e aos pobres

atualmente carentes tanto de aacutereas rurais como urbanas por meio de uma

abordagem que possibilite o desenvolvimento e a melhoria de condiccedilotildees de moradia

ambientalmente saudaacuteveis (AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do

Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992)

11

Estatuto da Cidade Capiacutetulo 1 ndash Diretrizes Gerais Art 2ordm A poliacutetica urbana tem por

objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e da

propriedade urbana mediante as seguintes diretrizes gerais I ndash garantia do direito a

cidades sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao

saneamento ambiental agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos

puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para as presentes e futuras geraccedilotildees [] Art 3ordm

Compete agrave Uniatildeo entre outras atribuiccedilotildees de interesse da poliacutetica urbana IV -

instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano inclusive habitaccedilatildeo saneamento

baacutesico transportes urbanos e infraestrutura de energia e telecomunicaccedilotildees

(BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

O texto da Agenda 21 mais especificamente o Preacircmbulo enfatiza que o sucesso

na aplicaccedilatildeo desse plano de accedilatildeo depende primeiramente do comprometimento dos governos

com a preparaccedilatildeo de estrateacutegias planos poliacuteticas e processos nacionais para a concretizaccedilatildeo

dos objetivos estabelecidos

A Agenda 21 Brasileira foi desenvolvida no periacuteodo de 1996 a 2002 e teve como

eixo a sustentabilidade a partir da compatibilizaccedilatildeo entre conservaccedilatildeo ambiental justiccedila

social e crescimento econocircmico

Ao aprofundar-se na elaboraccedilatildeo de diretrizes para problemas de ordem estrutural

a Agenda 21 Brasileira foi elevada a programa dentro do Plano Plurianual de Governo (entre

2004 e 2007)1 o que daria maior forccedila poliacutetica e institucional agrave Agenda Sendo assim a partir

de soluccedilotildees integradas planejadas a meacutedio e longo prazos e a partir da associaccedilatildeo entre

governo e sociedade seria possiacutevel tratar de questotildees como ldquoeconomia da poupanccedila na

sociedade do conhecimento inclusatildeo social para uma sociedade solidaacuteria estrateacutegia para a

sustentabilidade urbana e rural recursos naturais estrateacutegicos governanccedila e eacutetica para a

promoccedilatildeo da sustentabilidaderdquo (AGENDA 21 BRASILEIRA 2004 p04) O Programa foi

estruturado em trecircs accedilotildees implementar a Agenda 21 Brasileira promover a elaboraccedilatildeo e

implementaccedilatildeo de Agendas 21 Locais e formaccedilatildeo continuada em Agenda 21

Vale destacar a importacircncia da Agenda 21 Local enquanto instrumento

complementar aos instrumentos da poliacutetica municipal de desenvolvimento urbano

A Agenda 21 Local eacute um dos principais instrumentos para se conduzir processos de

mobilizaccedilatildeo troca de informaccedilotildees geraccedilatildeo de consensos em torno dos problemas e

1 Importante destacar que ldquoO Plano Plurianual (PPA) eacute um instrumento previsto no art 165 da Constituiccedilatildeo

Federal destinado a organizar e viabilizar a accedilatildeo puacuteblica com vistas a cumprir os fundamentos e os objetivos da

Repuacuteblica Por meio dele eacute declarado o conjunto das poliacuteticas puacuteblicas do governo para um periacuteodo de quatro

anos e os caminhos trilhados para viabilizar as metas previstas construindo um Brasil melhorrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwmpgovbrministerioaspindex=10ampler=s1086gt Acesso em 06 jun 2015 O Plano Plurianual

referente ao periacuteodo 2004 ndash 2007 foi regulamentado pela Lei Nordm 10933 de 2004 sancionada pelo entatildeo

Presidente Luiacutez Inaacutecio Lula da Silva

12

soluccedilotildees locais e estabelecimento de prioridades para a gestatildeo de desde um estado

municiacutepio bacia hidrograacutefica unidade de conservaccedilatildeo ateacute um bairro uma escola O

processo deve ser articulado com outros projetos programas e atividades do governo

e sociedade sendo consolidado dentre outros a partir do envolvimento dos agentes

regionais e locais anaacutelise identificaccedilatildeo e promoccedilatildeo de instrumentos financeiros

difusatildeo e intercacircmbio de experiecircncias definiccedilatildeo de indicadores de desempenho

(AGENDA 21 Brasileira accedilotildees prioritaacuteriasComissatildeo de Poliacuteticas de

Desenvolvimento Sustentaacutevel e da Agenda 21 Nacional 2 ed Brasiacutelia Ministeacuterio

do Meio Ambiente 2004)

Desde entatildeo o esforccedilo em fomentar a construccedilatildeo das Agendas 21 Locais gerou

um resultado positivo embora muito aqueacutem do necessaacuterio para uma mudanccedila substancial nas

poliacuteticas em prol do desenvolvimento sustentaacutevel Em 2013 apenas 215 dos municiacutepios

brasileiros possuiacuteam processos em andamento relativos agrave Agenda 21 conforme foi

identificado pela IBGE a partir da Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros (MUNIC

2013) 2 Tal percentual apesar da pouca expressividade demarca um processo positivo de

mudanccedila tendo em vista que nos dados dos anos anteriores observava-se percentuais ainda

menores aleacutem de um processo de decliacutenio em 2009 a pesquisa indicou que 199 dos

municiacutepios haviam iniciado a elaboraccedilatildeo da agenda 21 enquanto em 2012 o percentual

baixou para 181

Nota-se ante ao exposto ateacute aqui que existe um arcabouccedilo legal significativo em

prol do desenvolvimento urbano sustentaacutevel Contudo a aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo existente e a

obtenccedilatildeo de resultados positivos estatildeo longe de se tornar uma realidade no Brasil Sendo

assim faz-se necessaacuterio reforccedilar a cada dia os compromissos estabelecidos nas Leis

Brasileiras e trabalhar na efetivaccedilatildeo dos instrumentos de promoccedilatildeo do equiliacutebrio ambiental a

partir da aplicaccedilatildeo das premissas da sustentabilidade Atingir o desenvolvimento urbano

sustentaacutevel natildeo eacute somente uma das opccedilotildees mas a uacutenica opccedilatildeo existente se quisermos que o

planeta tenha vida longa Preservar o meio ambiente deve ser uma accedilatildeo constante associada a

todas agraves demais poliacuteticas puacuteblicas Quanto agrave iniciativa privada esta deveraacute ser

permanentemente fiscalizada Regulamentar as atividades de exploraccedilatildeo da natureza e buscar

a inibiccedilatildeo severa de atividades de impacto ambiental satildeo tarefas urgentes que o Poder Puacuteblico

deve assimilar o quanto antes

2 Ressalta-se que ldquoA Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais ndash MUNIC eacute realizada desde o ano de 1999

pelo IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Na versatildeo de 2013 foram destacados os aspectos

relevantes da gestatildeo e da estrutura dos 5570 municiacutepios brasileiros a partir dos seguintes eixos perfil dos

gestores municipais recursos humanos das administraccedilotildees municipais legislaccedilatildeo e instrumentos de

planejamento sauacutede meio ambiente poliacutetica de gecircnero ndash temas jaacute investigados em anos anteriores ndash aleacutem de

gestatildeo de riscos e resposta a desastres este ineacutedito ateacute entatildeordquo Disponiacutevel em

lthttpwwwibgegovbrhomeestatisticaeconomiaperfilmunic2013defaultshtmgt Acesso em 06 jun 2015)

13

Somente com a permanente preocupaccedilatildeo do Estado para com o tema seraacute

possiacutevel consolidar o desenvolvimento urbano a partir da aplicaccedilatildeo das premissas da

sustentabilidade do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

14

3 O PLANO DIRETOR E OS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO

MUNICIPAL

Para introduzir a discussatildeo do Plano Diretor e demais instrumentos de

planejamento municipal previstos no Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio retomar o momento

da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 com destaque para o Art30 que determina as tarefas de

competecircncia dos Municiacutepios Dentre tais competecircncias destacam-se os incisos VIII e IX

diretamente relacionados ao planejamento urbano

Art 30 Compete aos Municiacutepios [] VIII - promover no que couber adequado

ordenamento territorial mediante planejamento e controle do uso do parcelamento e

da ocupaccedilatildeo do solo urbano IX - promover a proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-

cultural local observada a legislaccedilatildeo e a accedilatildeo fiscalizadora federal e estadual

(BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de

1988)

Aleacutem de delimitar as competecircncias municipais a Constituiccedilatildeo tambeacutem apontou

no Art182 do Capiacutetulo II o Plano Diretor - velho conhecido dos Teacutecnicos e Governantes -

como principal instrumento a ser utilizado pelos Municiacutepios no desenvolvimento da poliacutetica

urbana

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo Poder Puacuteblico

municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem por objetivo ordenar o

pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus

habitantes sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio para

cidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e de expansatildeo urbana sect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua

funccedilatildeo social quando atende agraves exigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade

expressas no plano diretor (BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do

Brasil de 5 de outubro de 1988)

Contudo tal instrumento natildeo representou uma novidade A expressatildeo Plano

Diretor foi utilizada pela primeira vez no Brasil em 1930 a partir do Plano Agache3

desenvolvido para o Rio de Janeiro Posteriormente foram desenvolvidos planos diretores em

todo o territoacuterio brasileiro planos estes que ficariam engavetados por falta de vontade

3 Nota-se que ldquoO Plano Agache foi a primeira proposta de intervenccedilatildeo urbaniacutestica na cidade do Rio de Janeiro

com preocupaccedilotildees genuinamente modernas Concluiacutedo em 1930 introduziu no cenaacuterio nacional algumas

questotildees tiacutepicas da cidade industrial tais como o planejamento do transporte de massas e do abastecimento de

aacuteguas a habitaccedilatildeo operaacuteria e o crescimento das favelas Aleacutem disso com discussotildees emergentes que iam desde a

necessidade de um zoneamento para a cidade ateacute a delimitaccedilatildeo de aacutereas verdes ultrapassou os limites do

Academicismo das intervenccedilotildees predecessoras de Pereira Passos e Paulo de Frontinrdquo Disponiacutevel em

lthttpplanourbanoriorjgovbrgt Acesso em 06 de jun 2015

15

poliacutetica A nomenclatura e o conteuacutedo dos planos diretores variaram com o passar dos anos

segundo Villaccedila

Por fim cabe abordar historicamente as jaacute mencionadas mudanccedilas na nomenclatura

nas formas nos conteuacutedos e nas metodologias dos planos Em primeiro lugar cai em

desuso a expressatildeo plano de melhoramentos e embelezamento e entra em cena a

expressatildeo urbanismo Depois esta cai em desuso sendo substituiacuteda por

planejamento urbano e plano diretor Em segundo lugar os conteuacutedos e

metodologias de elaboraccedilatildeo dos planos sofrem alteraccedilotildees radicais De enormes

volumes com centenas de paacuteginas recheados de mapas pesquisas e estatiacutesticas

elaborados por equipes multidisciplinares e abordando enorme leque de problemas

transformam-se em meros projetos de lei agraves vezes contendo apenas declaraccedilotildees de

princiacutepios poliacuteticas ou diretrizes gerais agraves vezes ateacute sem mapas ou com poucos

mapas Um simples projeto de lei publicado no Diaacuterio Oficial (CSABA Deaacutek

SUELI Ramos Schiffer (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo

Editora da Universidade de Satildeo Paulo 1999 p191)

A realidade eacute que os planos diretores desenvolvidos no Brasil entre as deacutecadas de

1940 e 1990 natildeo correspondiam ao pensamento dos governantes e das classes dominantes e

por isso natildeo contaram com intenccedilatildeo real de aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo Os objetivos apontados

natildeo seriam atingidos pois o Plano Diretor natildeo se tornara uma prioridade em nenhuma das

esferas administrativas do paiacutes

O ressurgimento do instrumento Plano Diretor em 1988 embora isento de grandes

novidades veio acompanhado da premissa da funccedilatildeo social da propriedade um aspecto

positivo e inovador da poliacutetica urbana poreacutem praticamente inviaacutevel de ser aplicado num

primeiro momento pelos obstaacuteculos constantes na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal Contudo

diante da pressatildeo dos movimentos sociais e populares que se fortaleceram durante o processo

de redemocratizaccedilatildeo tais planos foram se tornando mais politizados abordando aspectos

especiacuteficos da competecircncia municipal e tratando das polecircmicas voltadas para o territoacuterio

inclusive sobre a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria no espaccedilo urbano

Em 2001 a poliacutetica urbana foi regulamentada pela Lei 10257 - Estatuto da

Cidade ndash devidamente apresentada no capiacutetulo anterior Com uma abordagem democraacutetico-

participativa voltada para os interesses coletivos tal lei possibilitou uma mudanccedila expressiva

no planejamento urbano principalmente na esfera municipal

O Plano Diretor Participativo como seraacute chamado a partir de entatildeo se torna o

principal dentre outros sete instrumentos de planejamento municipal expressos no Art 4ordm

inciso III da Lei 10257

Art 4o Para os fins desta Lei seratildeo utilizados entre outros instrumentos [] III ndash

planejamento municipal em especial a) plano diretor b) disciplina do

parcelamento do uso e da ocupaccedilatildeo do solo c) zoneamento ambiental d) plano

plurianual e) diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual f) gestatildeo orccedilamentaacuteria

16

participativa g) planos programas e projetos setoriais h) planos de

desenvolvimento econocircmico e social (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade

de 10 de julho 2001)

O conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelos planos diretores foi estabelecido na

resoluccedilatildeo nordm34 de 01 de julho de 2005 pelo Conselho das Cidades A tal conselho

regulamentado pelo Decreto 5031 2004 competia emitir orientaccedilotildees e recomendaccedilotildees sobre

a aplicaccedilatildeo da Lei 10257 de 2001 (Estatuto da Cidade) e dos demais atos normativos

relacionados ao desenvolvimento urbano A inclusatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel das

cidades nas novas diretrizes da poliacutetica urbana teraacute no plano diretor a sua expressatildeo

fundamental Dentre o conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelo Plano Diretor Participativo

merece destaque o Art 2ordm inciso III aleacutem do Art 5ordm inciso VII do Estatuto da Cidade

Art 2deg As funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade urbana seratildeo definidas a partir

da destinaccedilatildeo de cada porccedilatildeo do territoacuterio do municiacutepio bem como da identificaccedilatildeo

dos imoacuteveis natildeo edificados subutilizados e natildeo utilizados no caso de sua existecircncia

de forma a garantir [] III - a universalizaccedilatildeo do acesso aacute aacutegua potaacutevel aos

serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio a coleta e disposiccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos e ao

manejo sustentaacutevel das aacuteguas pluviais de forma integrada aacutes poliacuteticas ambientais de

recursos hiacutedricos e de sauacutede [] Art 5deg A instituiccedilatildeo das Zonas Especiais

considerando o interesse local deveraacute [] VII - demarcar as aacutereas de proteccedilatildeo

preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e construiacutedo do patrimocircnio

cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico (BRASIL Lei nordm10257

Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

Ao estabelecer as diretrizes de ordenaccedilatildeo do solo o Plano Diretor estabelece que

a propriedade urbana deve servir agrave qualidade de vida dos cidadatildeos agrave justiccedila social e ao

desenvolvimento sustentaacutevel das atividades econocircmicas A referecircncia territorial que estrutura

as estrateacutegias definidas pelo Plano Diretor eacute o macrozoneamento Este subdivide o territoacuterio

municipal a partir da identificaccedilatildeo das potencialidades e das caracteriacutesticas de cada aacuterea Satildeo

algumas categorias utilizadas na definiccedilatildeo do macrozoneamento aacutereas aptas agrave urbanizaccedilatildeo

aacutereas propiacutecias ao desenvolvimento de atividades rurais aacutereas de preservaccedilatildeo e aacutereas de

exploraccedilatildeo econocircmica Aleacutem da definiccedilatildeo de intenccedilotildees para os vetores do territoacuterio

municipal o macrozoneamento define tambeacutem o periacutemetro urbano e as zonas de expansatildeo

urbana enquanto instrumentos de direcionamento da urbanizaccedilatildeo da gestatildeo ambiental e do

crescimento econocircmico A delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano deve ser feita a partir de planta

referenciada com clara indicaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e fiacutesicos limiacutetrofes e deve servir

para direcionar o adensamento populacional para as aacutereas providas de infraestrutura

garantindo a proteccedilatildeo das aacutereas de interesse ambiental e a reserva de aacutereas para produccedilatildeo

agriacutecola e ocupaccedilatildeo rural A alteraccedilatildeo de tal periacutemetro conforme previsto no Art42B do

17

Estatuto da Cidade deveraacute instituiacuteda por lei municipal e deve ser resultado de projeto

especiacutefico que contemple o conteuacutedo miacutenimo e que atenda agraves diretrizes do Plano Diretor

O segundo instrumento de planejamento municipal apresentado no Art 4ordm do

Estatuto da Cidade o parcelamento o uso e a ocupaccedilatildeo do solo eacute tambeacutem um importante

instrumento para a concretizaccedilatildeo dos preceitos da sustentabilidade do ambiente urbano A

Legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal definiraacute o zoneamento da aacuterea urbana Tal zoneamento

responsaacutevel pela subdivisatildeo do periacutemetro urbano em diferentes categorias eacute o principal

instrumento da regulaccedilatildeo urbana A definiccedilatildeo das categorias deveraacute ser pautada pelo melhor

aproveitamento e pela ampliaccedilatildeo do acesso agrave terra urbanizada O zoneamento orienta o

ordenamento urbano a partir das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo do solo definindo os paracircmetros

urbaniacutesticos - coeficiente de aproveitamento taxa de ocupaccedilatildeo afastamentos gabaritos - de

forma que os projetos de edificaccedilotildees e demais intervenccedilotildees mantenham uma densidade de

ocupaccedilatildeo que favoreccedila o conforto ambiental urbano Dentre os criteacuterios para a definiccedilatildeo dos

diferentes paracircmetros urbaniacutesticos que incidem sobre o territoacuterio estatildeo proteccedilatildeo das aacutereas

ambientalmente fraacutegeis adensamento de aacutereas providas de infraestrutura limitaccedilatildeo de usos a

partir da capacidade viaacuteria controle da permeabilidade do solo preservaccedilatildeo e proteccedilatildeo de

conjuntos de valor histoacuterico cultural ou ambiental distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo de baixa renda

em aacutereas bem localizadas e servidas de infraestrutura condiccedilotildees climaacuteticas locais

As diretrizes para o parcelamento geralmente compoem junto com os paracircmetros

urbaniacutesticos a mesma lei municipal O parcelamento merece destaque pois trata dos novos

espaccedilos que seratildeo incorporados ao tecido urbano da cidade e portanto deveraacute estar

integralmente articulado com as estrateacutegias do desenvolvimento urbano Eacute regulamentado em

acircmbito geral pela Lei Federal 676679 acrescida das alteraccedilotildees posteriores definidas nas leis

978599 e 1144507 O parcelamento configura um processo de expansatildeo horizontal ou

adensamento da aacuterea urbanizada e consiste na subdivisatildeo de um determinado imoacutevel sob as

formas de desmembramento (quando haacute o aproveitamento do sistema viaacuterio existente) ou

loteamento (quando haacute abertura de novas vias e logradouros ou modificaccedilatildeo dos existentes)

Deveratildeo ser contempladas na Lei de Parcelamento as aacutereas que natildeo admitiratildeo parcelamento

os paracircmetros de dimensionamento de lotes quadras e sistema viaacuterio as aacutereas de uso puacuteblico

as faixas de proteccedilatildeo a infraestrutura baacutesica os procedimentos administrativos para

aprovaccedilatildeo do projeto as contrapartidas do empreendedor as penalidades sobre infraccedilotildees

assim como os procedimentos para regularizaccedilatildeo das aacutereas em desconformidade com a Lei

Paracircmetros de conforto ambiental tais como ventos favoraacuteveis orientaccedilatildeo solar vegetaccedilatildeo

18

sistema de abastecimento de aacutegua sistema de esgotamento sanitaacuterio e sistema de drenagem

devem ser definidos em lei e cobrados nos projetos de parcelamento a fim de minimizar os

impactos ao meio ambiente

Vale destacar que o sucesso na elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo das Leis de Parcelamento

Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo depende primeiramente do comprometimento da gestatildeo municipal

com a democratizaccedilatildeo da cidade e com o bem-estar coletivo caso contraacuterio tal legislaccedilatildeo

poderaacute aprofundar a segregaccedilatildeo privilegiando a iniciativa privada a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria

e os interesses individuais

O zoneamento ambiental terceiro instrumento de planejamento municipal

apontado na lista do Art 4ordm do Estatuto da Cidade eacute tambeacutem um instrumento da Poliacutetica

Nacional do Meio Ambiente regida pela Lei 693881 Art 9ordm O zoneamento ambiental pode

ser considerado uma expressatildeo sinocircnima do Zoneamento Ecoloacutegico-Econocircmico ndash ZEE que

foi regulamentado pelo Decreto 429702

CAPITULO I - DOS OBJETIVOS E PRINCIacutePIOS ndash [] Art 2ordm O ZEE

instrumento de organizaccedilatildeo do territoacuterio a ser obrigatoriamente seguido na

implantaccedilatildeo de planos obras e atividades puacuteblicas e privadas estabelece medidas e

padrotildees de proteccedilatildeo ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental dos

recursos hiacutedricos e do solo e a conservaccedilatildeo da biodiversidade garantindo o

desenvolvimento sustentaacutevel e a melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo

Art 3ordm O ZEE tem por objetivo geral organizar de forma vinculada as decisotildees dos

agentes puacuteblicos e privados quanto a planos programas projetos e atividades que

direta ou indiretamente utilizem recursos naturais assegurando a plena manutenccedilatildeo

do capital e dos serviccedilos ambientais dos ecossistemas Paraacutegrafo uacutenico O ZEE na

distribuiccedilatildeo espacial das atividades econocircmicas levaraacute em conta a importacircncia

ecoloacutegica as limitaccedilotildees e as fragilidades dos ecossistemas estabelecendo vedaccedilotildees

restriccedilotildees e alternativas de exploraccedilatildeo do territoacuterio e determinando quando for o

caso inclusive a relocalizaccedilatildeo de atividades incompatiacuteveis com suas diretrizes

gerais (BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002)

O zoneamento ambiental ou ZEE eacute o instrumento que possibilita traccedilar um

panorama sobre a utilizaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais de um determinado

municiacutepio gerando as bases para um planejamento urbano comprometido com a

sustentabilidade ecoloacutegica econocircmica e social Tambeacutem eacute um instrumento de caraacuteter

democraacutetico-participativo e deve portanto ser acompanhado pela Administraccedilatildeo Puacuteblica em

seus diferentes niacuteveis e pela sociedade civil Tal instrumento assim como o zoneamento

urbano divide o territoacuterio em diferentes categorias As categorias do zoneamento ambiental

satildeo definidas a partir dos princiacutepios da utilidade e da simplicidade de forma a configurar

limites claros e compreensiacuteveis ao poder puacuteblico e aos cidadatildeos As diretrizes gerais e

especiacuteficas do zoneamento deveratildeo conter a capacidade de suporte ambiental de determinada

aacuterea a necessidade de proteccedilatildeo dos recursos renovaacuteveis e natildeo-renovaacuteveis a definiccedilatildeo de aacutereas

19

para unidades de conservaccedilatildeo integral a permissatildeo para exploraccedilatildeo de recursos naturais as

medidas para o desenvolvimento sustentaacutevel do setor rural medidas de ajustamento entre usos

conflitantes aleacutem de planos programas e fonte de recursos para viabilizar as atividades

apontadas para cada zona

Apesar de ser um importante instrumento de suporte agrave proteccedilatildeo do meio ambiente

o zoneamento ambiental ou ZEE ainda tem sido pouco utilizado pelos municiacutepios brasileiros

Contudo os dados da Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais (MUNIC 2013)

demonstraram que tem havido um crescimento do percentual de municiacutepios com legislaccedilatildeo

especiacutefica sobre a questatildeo ambiental o que traz um pouco de esperanccedila quanto agrave mudanccedila

dos paradigmas de proteccedilatildeo do meio ambiente A MUNIC 2013 apontou que em 2012

554 dos municiacutepios tinham legislaccedilatildeo ambiental jaacute em 2013 esse percentual subiu para

655

Por uacuteltimo os demais instrumentos de planejamento municipal apontados no Art

4ordm do Estatuto da Cidade - plano plurianual diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual

gestatildeo orccedilamentaacuteria participativa planos programas e projetos setoriais planos de

desenvolvimento econocircmico e social ndash tratariam de garantir a gestatildeo democraacutetica da cidade a

partir da realizaccedilatildeo de debates audiecircncias e consultas puacuteblicas como condiccedilatildeo para a

aprovaccedilatildeo das Leis Municipais Tais instrumentos apesar de natildeo-urbaniacutesticos tecircm uma

importacircncia decisiva na reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais Contudo embora tenham se

efetivado na maioria dos municiacutepios brasileiros ainda permanecem em sua maioria

mergulhados na velha poliacutetica clientelista que transforma os foacuteruns de participaccedilatildeo em

espaccedilos esvaziados pouco divulgados redutos de manobras poliacuteticas e trocas de favores

Infelizmente a garantia da gestatildeo democraacutetica natildeo seraacute alcanccedilada apenas por atos normativos

assim como as diretrizes estabelecidas para o desenvolvimento urbano sustentaacutevel tambeacutem

natildeo ser tornaratildeo realidade apenas por forccedila de Lei Eacute necessaacuterio mudar o caraacuteter da gestatildeo do

territoacuterio que atualmente se caracteriza pela anulaccedilatildeo da atuaccedilatildeo teacutecnica das diferentes aacutereas

do conhecimento a fim de garantir que o interesse privado prevaleccedila sobre os diretos coletivos

de toda uma cidade Eacute necessaacuterio colocar em praacutetica os preceitos das leis brasileiras efetivar

os instrumentos com real participaccedilatildeo popular lanccedilar as bases para um modelo de gestatildeo

realmente democraacutetico inclusivo e comprometido com o bem estar coletivo e com a justiccedila

social

20

4 OS DESAFIOS DA REGULACcedilAtildeO URBANA FRENTE AgraveS INTERVENCcedilOtildeES NAS

EDIFICACcedilOtildeES E NOS CONJUNTOS URBANOS TOMBADOS

A proteccedilatildeo e a preservaccedilatildeo dos siacutetios urbanos de valor histoacuterico arquitetocircnico

cultural ou paisagiacutestico satildeo imprescindiacuteveis para a manutenccedilatildeo da identidade e da memoacuteria

dos diferentes grupos sociais que por ali passaram ou nele se estabeleceram O registro da

histoacuteria deve ser deixado agraves geraccedilotildees futuras como siacutembolo do conhecimento e da experiecircncia

adquirida ao longo do tempo A proteccedilatildeo de um determinado siacutetio pode inclusive ser

utilizada quando a memoacuteria coletiva e a afetividade de uma comunidade para com um

determinado espaccedilo adquirir grande relevacircncia cultural gerando uma ambiecircncia a ser

protegida mesmo que esta tenha se consolidado em um periacuteodo recente

Atualmente a preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos e a conservaccedilatildeo dos imoacuteveis

urbanos tecircm no desenvolvimento urbano sustentaacutevel um importante aliado A disseminaccedilatildeo

da loacutegica do consumo que atinge tanto os bens materiais moacuteveis quanto os imoacuteveis resulta

numa produccedilatildeo exagerada desses bens o que demanda enorme quantidade de mateacuteria-prima e

energia e causa impacto no meio ambiente Sendo assim as poliacuteticas de preservaccedilatildeo e o

incentivo ao reuso de edifiacutecios e objetos contribuem para a sustentabilidade e o equiliacutebrio

ambiental

Hoje existem no Brasil doze siacutetios urbanos e sete siacutetios naturais que satildeo

considerados Patrimocircnio Cultural da Humanidade e portanto tombados internacionalmente

pela UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

Dentre os conjuntos tombados internacionalmente destaca-se a predominacircncia dos centros

histoacutericos de caracteriacutesticas coloniais tais como o Centro Histoacuterico de Ouro Preto MG

Olinda PE Salvador BA Satildeo Luiz do Maranhatildeo MA Diamantina MG e Goiaacutes GO Natildeo

menos importante o tombamento nacional realizado pelo IPHAN ndash Instituto do Patrimocircnio

Histoacuterico e Artiacutestico Nacional preserva 77 conjuntos urbanos espalhados por todas as regiotildees

do Brasil com destaque para a regiatildeo nordeste que conta com 30 desses centros tombados

Somam-se a esse contingente os conjuntos tombados estadualmente e municipalmente que

natildeo seratildeo aqui enumerados

A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio estaacute presente no ordenamento

juriacutedico brasileiro desde 1937 quando por meio do Decreto-Lei nordm25 criou-se o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash SPHAN (atual IPHAN) para proteger as cidades

e os monumentos da modernizaccedilatildeo das reformas urbanas e do interesse imobiliaacuterio

21

Reafirmada pelo Art 216 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e pelo Art 2ordm inciso XII do

Estatuto da Cidade a proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e

construiacutedo do patrimocircnio cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico tornou-se

diretriz obrigatoacuteria a ser contemplada pelos planos urbanos e legislaccedilotildees municipais

Contudo a preservaccedilatildeo dos conjuntos urbanos tombados natildeo pressupotildee o

congelamento das cidades Os paracircmetros para as intervenccedilotildees contemporacircneas deveratildeo ser

definidos em leis especiacuteficas de modo a evitar que o novo se sobreponha ou se confunda com

o existente A preservaccedilatildeo do conjunto tombado soacute seraacute possiacutevel se for permitido agrave cidade

expandir-se adensar-se e modificar-se Caso contraacuterio centro e cidade se tornaratildeo obsoletos

Percebe-se portanto que a regulaccedilatildeo urbana nas cidades histoacutericas enfrenta um

grande desafio preservar o antigo e abrir-se ao novo Sendo assim como proceder e quais

instrumentos utilizar Como a legislaccedilatildeo municipal deveraacute ser elaborada e aplicada a fim de

contemplar a preservaccedilatildeo do conjunto tombado e a expansatildeo da cidade seguindo os preceitos

da sustentabilidade

A preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos associada agrave expansatildeo sustentaacutevel das cidades eacute

um tema que vem sendo amplamente discutido inclusive em acircmbito internacional Nos paiacuteses

do norte e principalmente no continente europeu os siacutetios urbanos que demandam poliacuteticas

de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo remontam de seacuteculos e ateacute mesmo de milecircnios passados Embora

uma grande parte do patrimocircnio mundial tenha se perdido com a destruiccedilatildeo resultante das

guerras das cataacutestrofes e da imposiccedilatildeo de novas culturas como aconteceu principalmente nos

paiacuteses do sul que tiveram a cultura originaacuteria destruiacuteda pela colonizaccedilatildeo ainda haacute muito

patrimocircnio a ser preservado E natildeo eacute de hoje que os teacutecnicos e profissionais de diversas aacutereas

do conhecimento tecircm desenvolvido teorias e instrumentos para assegurar a salvaguarda de

todo esse patrimocircnio

Desde entatildeo leis documentos planos guias e coacutedigos vecircm sendo desenvolvidos

com o objetivo de orientar e direcionar as accedilotildees e intervenccedilotildees sobre o patrimocircnio cultural das

cidades com vistas ao desenvolvimento sustentaacutevel

Um importante documento desenvolvido em 2008 pelo Governo da Escoacutecia o

ldquoSustainable Development Guidance for Estate Managementrdquo buscou sistematizar a partir

dos preceitos da sustentabilidade estrateacutegias e orientaccedilotildees para a realizaccedilatildeo de intervenccedilotildees

principalmente para as novas construccedilotildees Tal preocupaccedilatildeo se intensificou apoacutes a discussatildeo

sobre as mudanccedilas climaacuteticas e os efeitos futuros ldquoThe Stern Review on the Economics of

Climate Changerdquo realizada pelo Governo do Reino Unido O documento ldquoSustainable

22

Development Guidance for Estate Managementrdquo se assemelha a um guia para o

desenvolvimento sustentaacutevel que aborda as estrateacutegias de accedilatildeo e recomendaccedilotildees para fazer da

Escoacutecia um paiacutes mais ecoloacutegico

Segundo esse Guia que trata da proteccedilatildeo do ambiente natural e da manutenccedilatildeo do

ambiente construiacutedo a sustentabilidade deveraacute ser uma prerrogativa tanto nas novas

construccedilotildees como na manutenccedilatildeo das edificaccedilotildees existentes nas conversotildees de uso nas

ampliaccedilotildees no retrofit4 e nas demoliccedilotildees No item 36 ldquoEmbedding sustainability within the

estate strategy processrdquo satildeo apontados os itens a serem observados na elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias e projetos para o desenvolvimento manutenccedilatildeo ou restauraccedilatildeo de edificaccedilotildees Satildeo

eles biodiversidade layout flexiacutevel nas construccedilotildees materiais construtivos e a possibilidade

de recuperaccedilatildeo reciclagem e reuso gestatildeo da aacutegua diminuiccedilatildeo da poluiccedilatildeo energia

certificada minimizaccedilatildeo do consumo de energia atraveacutes do isolamento e da ventilaccedilatildeo

natural utilizaccedilatildeo de energias renovaacuteveis como energia solar diminuiccedilatildeo do desperdiacutecio e

aumento da reciclagem dentre outros itens A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio

conforme jaacute foi discutido no iniacutecio deste capiacutetulo tambeacutem estaacute presente no Guia conforme

aponta o item 43 ldquoHistoric Buildingsrdquo Neste item direciona-se a atenccedilatildeo para as amplas

possibilidades de reuso e reabilitaccedilatildeo dessas edificaccedilotildees Tal situaccedilatildeo deve partir da

intervenccedilatildeo miacutenima e deve garantir que as caracteriacutesticas histoacutericas ou culturais dos edifiacutecios

sejam devidamente respeitadas e mantidas O Guia trata tambeacutem do procedimento para

reparos que na medida do possiacutevel deve ser feito atraveacutes das teacutecnicas tradicionais e dos

materiais originais ou compatiacuteveis sempre com apoio de profissional especializado Eacute

enfatizada tambeacutem a obrigatoriedade em solicitar das autoridades competentes autorizaccedilatildeo

para as intervenccedilotildees Por uacuteltimo apoacutes feitas todas as consideraccedilotildees sobre os aspectos

positivos da reutilizaccedilatildeo de um determinado edifiacutecio no caso de se decidir pela demoliccedilatildeo do

mesmo o Guia aponta os cuidados a serem obsevados na disposiccedilatildeo final dos resiacuteduos no

aterro sanitaacuterio alertando para a importacircncia em separar os resiacuteduos toacutexicos Os materiais

resultantes da demoliccedilatildeo como accedilo fundaccedilotildees de concreto ceracircmica madeira de assoalho

instalaccedilotildees internas placas de gesso carpete e janelas satildeo frequentemente passiacuteveis de

4 ldquoTermo utilizado principalmente em engenharia para designar o processo de modernizaccedilatildeo de algum

equipamento jaacute considerado ultrapassado ou fora de normardquo Disponiacutevel em

lthttpwwweletrobrascomrelatorio_sustentabilidade_2013anexosglossariogt Acesso em 06 de jun 2015

23

reciclagem revenda ou reutilizaccedilatildeo e natildeo devem ser descartados resultando na diminuiccedilatildeo do

desperdiacutecio e na reduccedilatildeo da exploraccedilatildeo dos recursos naturais

Outro importante documento a ser citado aqui como relevante para a proteccedilatildeo do

patrimocircnio histoacuterico e para o desenvolvimento sustentaacutevel o ldquoCalifornia Code of

Regulations Title 24rdquotambeacutem chamado de ldquoCalifornia Building Standards Coderdquo foi

finalizado em 1998 e aprovado pela ldquoCalifornia Building Standards Commissionrdquo em 2007

Tal documento trata dos paracircmetros gerais para a construccedilatildeo de edificaccedilotildees no Estado da

Califoacuternia Este Coacutedigo eacute dividido em 12 partes e traz na parte 8 de tiacutetulo ldquoCalifornia

Historical Building Code (CHBC)rdquo as exigecircncias a serem cumpridas para a permissatildeo de

reparos alteraccedilotildees e adiccedilotildees necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo relocaccedilatildeo mudanccedila de

uso ou continuaccedilatildeo de uso em edificaccedilotildees de reconhecido valor cultural ou histoacuterico5 Com o

objetivo de proteger a sauacutede e a seguranccedila das pessoas o California Historical Building Code

(CHBC) busca orientar as accedilotildees para a recuperaccedilatildeo das edificaccedilotildees histoacutericas garantindo a

preservaccedilatildeo da integridade e das caracteriacutesticas de tais edificaccedilotildees Ao todo satildeo 10 capiacutetulos

que abordam em resumo os seguintes temas capiacutetulo 01 ldquoAdministrationrdquo trata dos casos

sujeitos agrave aplicaccedilatildeo do coacutedigo cap02 ldquoDefinitionsrdquo trata das definiccedilotildees dos termos frases e

palavras necessaacuterios agrave compreensatildeo dos demais capiacutetulos cap03 ldquoUse and Occupancyrdquo trata

das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo dos edifiacutecios tais como altura maacutexima e nuacutemero de

pavimentos dimensatildeo miacutenima dos cocircmodos diretrizes de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo cap04

ldquoFire Protectionrdquo trata da proteccedilatildeo contra incecircndio e indica as diretrizes em relaccedilatildeo aos

materiais shafts telhado sistemas de alarme sistemas automaacuteticos de proteccedilatildeo como

sprinklers dentre outras tecnologias cap05 ldquoMeans of Egressrdquo trata das meios de saiacuteda das

edificaccedilotildees abordando entre outros elementos as escadas portas janelas grades e guarda-

corpos cap06 ldquoAccessibilityrdquo trata da acessibilidade aos portadores de necessidades especiais

a partir da utilizaccedilatildeo das dimensotildees miacutenimas e demais diretrizes estabelecidas para as

entradas portas banheiros rampas elevadores dentre outros cap07 ldquoStructural

5 Conforme o California Building Standards Code Parte 08 paacutegina 04 as edificaccedilotildees de reconhecido valor

cultural ou histoacuterico para as quais se utilizaraacute o CHBC satildeo ldquoFor the purposes of this part a qualified historical

building or structure is any structure or collection of structures and their associated sites deemed of importance

to the history architecture or culture of an area by an appropriate local or state governmental jurisdiction This

shall include structures on existing or future national state or local historical registers or official inventories

such as the National Register of Historic Places State Historical Landmarks State Points of Historical Interest

and city or county registers or inventories of historical or architecturally significant sites places historic districts

or landmarksrdquo (CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS 2007 p 4)

24

Regulationsrdquo trata da regulaccedilatildeo sobre os sistemas estruturais a partir da identificaccedilatildeo da

situaccedilatildeo da estrutura por profissional especializado identificaccedilatildeo dos acreacutescimos posteriores agrave

construccedilatildeo do edifiacutecio das cargas incidentes da performance dos parapeitos e da situaccedilatildeo dos

revestimentos externos e decorativos cap8 ldquoArchaic Materials and Methods of Constructionrdquo

trata dos meacutetodos e materiais construtivos tradicionais das edificaccedilotildees histoacutericas e das

diretrizes para a recuperaccedilatildeo de alvenarias adobe madeira concreto accedilo ferro vidros e

vidraccedilas cap09 ldquoMechanical Plumbing and Electrical Requirementsrdquo trata das exigecircncias

em relaccedilatildeo agraves instalaccedilotildees eleacutetricas aos encanamentos e sistemas mecacircnicos Por uacuteltimo o

cap10 ldquoQualified Historical Districts Sites and Open Spacesrdquo trata das orientaccedilotildees para a

preservaccedilatildeo dos espaccedilos abertos e siacutetios histoacutericos a partir da manutenccedilatildeo da configuraccedilatildeo

espacial existente e dos elementos constitutivos da paisagem

No Brasil o instrumento que mais se assemelha aos exemplos citados acima eacute o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees Utilizado para regulamentar os criteacuterios e procedimentos a

serem utilizados na elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de projetos de edificaccedilotildees e controlar as atividades

de construccedilatildeo6 o Coacutedigo de Obras eacute instituiacutedo por lei municipal como instrumento

complementar a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo citada anteriormente no Capiacutetulo 02 O

atendimento agraves condiccedilotildees estabelecidas nesses dois instrumentos da regulaccedilatildeo urbana ndash e o

atendimento a outras legislaccedilotildees quando for o caso - eacute requisito para a obtenccedilatildeo da licenccedila

urbaniacutestica Somente por meio da licenccedila municipal que afirma a compatibilizaccedilatildeo dos

interesses individuais e coletivos com o desenvolvimento urbano o proprietaacuterio poderaacute

exercer o seu direito sobre a propriedade sendo-lhe permitido executar as intervenccedilotildees

devidamente aprovadas Tambeacutem devem ser previstas em lei assim como os procedimentos

para o licenciamento as bases para a efetivaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo municipal como a

determinaccedilatildeo das infraccedilotildees e a previsatildeo de sanccedilotildees e multas aplicaacuteveis a cada caso

Subordinado agraves estrateacutegias de desenvolvimento estabelecidas no Plano Diretor o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees assim como a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo deve ser

elaborado a partir da preocupaccedilatildeo em se estabelecer uma boa interaccedilatildeo entre as novas

edificaccedilotildees e o conjunto urbano construiacutedo Para essa interaccedilatildeo as construccedilotildees devem atender

agraves premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica natildeo de forma isolada mas de

6 ldquoPara fins de direito entende-se por construccedilatildeo toda realizaccedilatildeo material e intencional de algueacutem visando a

adaptar o imoacutevel agraves suas conveniecircncias Nesse sentido tanto eacute construccedilatildeo a edificaccedilatildeo ou reforma como a

demoliccedilatildeo o muramento a escavaccedilatildeo o aterro a pintura e demais trabalhos destinados a beneficiar tapar

desobstruir conservar ou embelezar o preacutediordquo (BARANDIER ALMEIDA MORAIS 2013 p 147)

25

forma a interferir positivamente sobre o clima urbano e sobre a qualidade ambiental Assim

para aleacutem das diretrizes relativas ao uso agrave seguranccedila agrave salubridade agrave acessibilidade e agrave

preservaccedilatildeo dos elementos histoacutericos artiacutesticos e culturais tambeacutem devem ser elaborados

estudos climaacuteticos que aplicados ao desenho urbano possibilitem a formulaccedilatildeo de diretrizes

em prol da adaptaccedilatildeo das edificaccedilotildees agraves caracteriacutesticas climaacuteticas locais ao conforto teacutermico

luminoso e acuacutestico aleacutem da formulaccedilatildeo de diretrizes para a utilizaccedilatildeo de fontes de energia

alternativas e combate ao desperdiacutecio

Voltando aos dados obtidos pela Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros

realizada pelo IBGE em 2013 conforme pode ser visto no graacutefico abaixo do total de

municiacutepios brasileiros 624 declararam ter Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees enquanto 542

declararam ter Lei de Zoneamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo Esses dados demonstram que os

instrumentos legais embora apresentem um grande potencial de transformaccedilatildeo da realidade

urbana ainda satildeo pouco aplicados

Graacutefico do Percentual de municiacutepios segundo o tipo de instrumento de planejamento

existente - MUNIC -2013

Fonte Pesquisa ldquoPERFIL DOS MUNICIacutePIOS BRASILEIROS 2013rdquo (IBGE 2014)

Dentre os Coacutedigos de Obras existentes muitos estatildeo desatualizados defasados e

por isso natildeo configuram um mecanismo relevante quanto agrave alteraccedilatildeo do cenaacuterio das cidades

brasileiras Aleacutem disso a falha na articulaccedilatildeo dos diversos dispositivos de orientaccedilatildeo controle

e fiscalizaccedilatildeo das construccedilotildees resulta na aplicaccedilatildeo desequilibrada da lei consolidando

poliacuteticas de favorecimento exclusatildeo e segregaccedilatildeo aleacutem de ampliar a cada dia a destruiccedilatildeo e

os prejuiacutezos ambientais

26

Apesar de termos avanccedilado na construccedilatildeo conceitual dos instrumentos capazes de

nos levar ao sonhado desenvolvimento sustentaacutevel estamos ainda muito aqueacutem de efetivaacute-los

na praacutetica e no dia-a-dia dos municiacutepios A gestatildeo urbana da qual o planejamento eacute

interdependente configura a um dos principais obstaacuteculos agrave superaccedilatildeo da loacutegica atual de

valorizaccedilatildeo dos interesses individuais sobre os coletivos A falta interesse em destinar

recursos para a soluccedilatildeo de parte dos problemas soacutecio-espaciais tambeacutem eacute um grande

obstaacuteculo A melhoria da infraestrutura urbana os projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria a

construccedilatildeo de moradias populares sustentaacuteveis e a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados jaacute

configurariam um passo adiante na concretizaccedilatildeo da sustentabilidade no ambiente urbano

Sendo assim conhecidos os obstaacuteculos ou pelo menos parte deles eacute fundamental lanccedilarmos

as bases para a sua superaccedilatildeo fortalecendo os ideais de transformaccedilatildeo das cidades

27

5 O MUNICIacutePIO DE OURO PRETO UM ESTUDO DE CASO

51 Da colonizaccedilatildeo ao Seacuteculo XX

Localizado na Regiatildeo Central de Minas Gerais (ou Macrorregiatildeo Metaluacutergica) o

municiacutepio de Ouro Preto eacute possui uma aacuterea aproximada de 1245kmsup2 e sua populaccedilatildeo totaliza

cerca de 70281 habitantes7 Posicionado na porccedilatildeo centro-sul do Estado Ouro Preto tem

como principais confrontantes os municiacutepios de Mariana Itabirito Ouro Branco Congonhas

e Santa Baacuterbara Aleacutem do distrito-sede o territoacuterio eacute dividido em mais 12 distritos

Amarantina Antocircnio Pereira Cachoeira do Campo Engenheiro Correia Glaura Lavras

Novas Miguel Burnier Santa Rita Santo Antocircnio do Leite Santo Antocircnio do Salto Satildeo

Bartolomeu e Rodrigo Silva

Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ouro Preto no estado de

Minas Gerais

Fonte SMCP - PMOP

7 IBGE Diretoria de Pesquisas Coordenaccedilatildeo de Populaccedilatildeo e Indicadores Sociais ndash ldquoEstimativas da populaccedilatildeo

residente com data de referecircncia 1o de julho de 2014 publicada no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo em 28082014rdquo

Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314610ampsearch=||infogrE1ficosinformaE7F5e

s-completasgt Acesso em 06 jun 2015

28

Ouro Preto e municiacutepios limiacutetrofes

Fonte SMCP - PMOP

Mapa dos Distritos de Ouro Preto

Fonte SMCP - PMOP

Desencadeados pela exploraccedilatildeo auriacutefera do seacuteculo XVII - iniciada na regiatildeo de

Minas Gerais provavelmente em 1698 - os arraiais e agrupamentos humanos se consolidaram

na regiatildeo montanhosa e acidentada do municiacutepio de Ouro Preto primeiramente nas encostas

iacutengremes e arredores das minas e posteriormente nas margens dos rios e nos fundos de vale O

povoamento foi se intensificando em torno dos principais eixos de ligaccedilatildeo entre os nuacutecleos

29

urbanos vizinhos resultando num desenho urbano linear e longitudinal diferente do modelo

reticulado de ordenaccedilatildeo do territoacuterio que foi caracteriacutestico do Brasil Colocircnia

Agrave primeira configuraccedilatildeo urbana consolidada em 1711 deu-se o nome de Vila

Rica de Albuquerque que posteriormente em 1720 foi elevada agrave capital da Capitania das

Minas Gerais Ao longo do seacuteculo XVIII foram efetivadas as intervenccedilotildees urbanas mais

significativas e foram construiacutedas as principais referecircncias arquitetocircnicas de Ouro Preto As

principais pontes os chafarizes o Centro Administrativo (atual Praccedila Tiradentes) o Palaacutecio

dos Governadores a Casa de Cacircmara e Cadeia assim como as inuacutemeras capelas e igrejas de

estilo barroco das diversas ordens e irmandades religiosas consolidaram o cenaacuterio

setecentista que configura o atual centro histoacuterico da cidade O final do seacuteculo XVIII foi

marcado pelo esgotamento das minas de ouro o que desencadeou um esvaziamento

populacional da Vila pela crise de abastecimento e decadecircncia econocircmica

O seacuteculo XIX contudo trouxe as mudanccedilas advindas da era do Impeacuterio e em

1823 Vila Rica de Albuquerque foi elevada agrave cidade sob o tiacutetulo de Imperial Cidade de Ouro

Preto A partir daiacute a cidade passou por diversas modernizaccedilotildees a fim de se consolidar

enquanto capital da proviacutencia de Minas Gerais A criaccedilatildeo da Escola de Farmaacutecia do Liceu de

Artes e Ofiacutecios da Escola de Minas a construccedilatildeo da Estaccedilatildeo Ferroviaacuteria e a implantaccedilatildeo da

Companhia Industrial Ouro-Pretana satildeo exemplos importantes da expansatildeo e do

desenvolvimento da cidade durante o seacuteculo XIX Ao final deste seacuteculo jaacute sob a eacutegide do

periacuteodo republicano a cidade de Ouro Preto perde o status de capital da proviacutencia que em

1897 passou para Belo Horizonte Tal fato ocasionou pela segunda vez um processo de

esvaziamento e crise econocircmica na cidade Assim distante dos ideais de modernizaccedilatildeo e

desenvolvimento que cercavam a nova capital a ausecircncia de poliacuteticas de renovaccedilatildeo foi o que

garantiu a preservaccedilatildeo das feiccedilotildees urbanas da antiga Vila Rica A partir de entatildeo diversos

intelectuais da eacutepoca viajaram ateacute Ouro Preto e verificando o mal estado de conservaccedilatildeo e o

abandono da cidade comeccedilaram a produzir uma nova consciecircncia em relaccedilatildeo agrave necessidade

de se preservar os registros do passado

30

Mapa da evoluccedilatildeo urbana de Ouro Preto ndash do seacuteculo XVII ao seacuteculo XX

Fonte IGA ndash Instituto de Geociecircncias Aplicadas - 2003

Igreja de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo ndash registros do

periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

Ponte vizinha agrave Casa dos Contos - registros do periacuteodo

entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

31

Igreja N S do Pilar ndash registros do periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015apresentacao

A tradiccedilatildeo quanto agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico somente se consolidou

no Brasil a partir do seacuteculo XX Em 1931 surgiu o primeiro decreto municipal8 voltado para a

preservaccedilatildeo do cenaacuterio arquitetocircnico da cidade de Ouro preto proibindo as construccedilotildees em

desacordo com o estilo colonial predominante Em 1933 por meio do decreto nacional

22928 Ouro Preto foi erigida a Monumento Nacional Em 1938 o conjunto histoacuterico da

cidade foi tombado pelo SPHAN - Serviccedilo do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional que

havia sido criado no ano anterior Os anos seguintes foram marcados por inuacutemeras obras de

restauraccedilatildeo e tombamentos individuais

8 Decreto 13 de 19 de setembro de 1931 ldquoConsiderando que a cidade de Ouro Preto escriacutenio das tradiccedilotildees

mineiras deve conservar o seu aspecto colonial transmitido dos nossos antepassados Considerando que esta

feiccedilatildeo colonial de seus edifiacutecios de seus preacutedios das ruas e praccedilas desperta grande interesse por parte dos

turistas que frequumlentemente vecircm visitar a cidade e suas cercanias Considerando que ferem dolorosamente a

sensibilidade dos turistas os preacutedios que destoam do tipo colonial DECRETA Art 1deg - Natildeo eacute permitida no

periacutemetro urbano a construccedilatildeo de preacutedios e de edifiacutecios em desacordo com o estilo colonial da cidade Art 2deg -

Os atuais preacutedios existentes no periacutemetro urbano em desacordo com o artigo antecedente deveratildeo ser

modificados nas respectivas fachadas quando estas tenham que receber reparos []rdquo (OLIVEIRA 1997 p 7)

32

A sistematizaccedilatildeo de normas aplicaacuteveis agraves novas construccedilotildees foi realizada pelo

SPHAN (que em 1970 passou a ser chamado IPHAN9) para regular o crescimento da cidade e

o intenso surgimento de novas moradias que caracterizaram as deacutecadas de 1950 e 1960 Tal

crescimento se deu principalmente pela chegada de induacutestrias metaluacutergicas para a exploraccedilatildeo

da bauxita e produccedilatildeo de alumiacutenio primaacuterio Assim o ldquoestilo patrimocircniordquo surgiu das

exigecircncias normativas quanto agrave utilizaccedilatildeo dos elementos arquitetocircnicos tradicionais do

periacuteodo colonial

Um primeiro plano urbano foi elaborado pelo arquiteto portuguecircs Viana de Lima

entre os anos 1968 e 1970 com o objetivo de ldquopreservarrdquo o nuacutecleo histoacuterico da cidade e

consolidar o estilo patrimocircnio atraveacutes da eliminaccedilatildeo dos ecletismos da demoliccedilatildeo de obras

desprovidas de qualidade esteacutetica e do preenchimento dos vazios urbanos Nos anos seguintes

a discussatildeo sobre a salvaguarda do patrimocircnio se intensificou e deu origem a diversos outros

planos10

e programas de preservaccedilatildeo que obtiveram pouco sucesso na aplicaccedilatildeo praacutetica Em

21 de setembro de 1980 Ouro Preto recebeu da UNESCO o tiacutetulo de Patrimocircnio Cultural da

Humanidade e passou a ter visibilidade internacional

Ao final do seacuteculo XX a preocupaccedilatildeo com o desenvolvimento urbano da cidade e

com a proteccedilatildeo patrimonial gerou novas demandas em relaccedilatildeo agrave regulaccedilatildeo urbana e coube ao

IPHAN o papel de legislar sobre as intervenccedilotildees no centro histoacuterico As accedilotildees da

Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) do Instituto Estadual do Patrimocircnio Histoacuterico e

Artiacutestico (IEPHA) e do Instituto Estadual de Florestas (IEF) em pareceria com o governo

municipal e com o IPHAN foram decisivas na preservaccedilatildeo do patrimocircnio neste periacuteodo Em

1990 foram publicadas por meio da Lei 571990 as diretrizes para do Plano Diretor do

Municiacutepio sob as delineaccedilotildees inauguradas pela Constituiccedilatildeo Federal Tais diretrizes eram

bastante simplificadas e restritas aos zoneamentos e a questatildeo da preservaccedilatildeo do patrimocircnio

9 Em 1937 por meio da Lei nordm 378 foi fundado o SPHAN como oacutergatildeo oficial de preservaccedilatildeo do patrimocircnio

cultural brasileiro No mesmo ano foi promulgado o Decreto-Lei nordm 25 que regulamentou as atividades do

SPHAN Em 1946 o SPHAN teve o seu nome alterado para Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (DPHAN) Em 1970 o DPHAN eacute transformado em Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (IPHAN)

10 ldquoEm Minas Gerais a Fundaccedilatildeo Joatildeo Pinheiro (FJP) realizou um extenso diagnoacutestico e elaborou planos

diretores para diversas cidades coloniais mineiras bem como o Plano de Conservaccedilatildeo Valorizaccedilatildeo e

Desenvolvimento de Ouro Preto e Mariana em 1975 Esse Plano trata sobre a preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

patrimocircnio vinculado com as necessidades de desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio Por isso

abordou desde questotildees histoacutericas e culturais ateacute a anaacutelise de aspectos fiacutesico- territoriais tais como siacutetio natural

estudo das estruturas urbanas paisagismo e legislaccedilatildeo urbanardquo (SILVA OLIVEIRA 2005 p 180)

33

foi pouco abordada Jaacute em 1996 uma nova versatildeo do plano foi elaborada e diferentemente do

texto anterior o novo plano contemplou a preocupaccedilatildeo com o patrimocircnio e a preservaccedilatildeo

como instrumentos interligados agrave poliacutetica urbana

Art 1ordm - Em conformidade com a Constituiccedilatildeo Federal e com a Lei Orgacircnica

Municipal fica instituiacutedo o Plano Diretor de Ouro Preto (PDOP) fixando diretrizes

e instrumentos para o pleno desenvolvimento do Municiacutepio em consonacircncia com as

funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade [] Art 2ordm - O conjunto artiacutestico

arquitetocircnico urbaniacutestico paisagiacutestico e ambiental de relevante valor cultural

sediado no Municiacutepio objeto de tombamento federal e de reconhecimento

internacional pela UNESCO como Patrimocircnio Cultural da Humanidade eacute

considerado bem inalienaacutevel de sua populaccedilatildeo cabendo a ela exercer de forma

concorrente com as Administraccedilotildees Puacuteblicas a sua guarda proteccedilatildeo e gestatildeo

Paraacutegrafo uacutenico ndash A preservaccedilatildeo e a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural e ambiental

do Municiacutepio eacute fator determinante para o desenvolvimento urbano para a geraccedilatildeo de

empregos e para melhor distribuiccedilatildeo de renda Lei Complementar 0196 Ouro Preto

(OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996)

Em 1997 foi criado ldquoPlano de Reabilitaccedilatildeo do Siacutetio Histoacuterico de Ouro Pretordquo a

partir do ldquoMonumentardquo programa federal de iniciativa do Ministeacuterio da Cultura e patrocinado

pelo BID que sob a premissa do desenvolvimento econocircmico-social sustentaacutevel buscou

revitalizar os centros histoacutericos urbanos de 26 cidades brasileiras O Plano traccedilado para Ouro

Preto natildeo foi totalmente implementado mas alavancou as poliacuteticas de preservaccedilatildeo do

municiacutepio e deixou intervenccedilotildees significativas como por exemplo a recuperaccedilatildeo do Parque

Horto dos Contos (fundo de vale do Ribeiratildeo do Funil) aacuterea verde mais significativa da regiatildeo

central

34

Mapa Cadastral de Ouro Preto ndash Periacutemetro de tombamento pelo IPHAN

Fonte Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano - PMOP

52 O contexto atual

O conceito de patrimocircnio e de preservaccedilatildeo adotado no Brasil foi se modificando

ao longo da histoacuteria como foi apontado nos iniacutecio deste capiacutetulo Assim agrave medida que o

conceito adquiria relevacircncia as poliacuteticas de preservaccedilatildeo foram sendo instauradas nas esferas

administrativas Os avanccedilos iniciados no final do seacuteculo XX se consolidaram jaacute nos primeiros

anos do seacuteculo XXI O novo seacuteculo trouxe consigo uma mudanccedila significativa em relaccedilatildeo ao

desenvolvimento dos siacutetios histoacutericos que deixaram de ser vistos como uma ldquoobra de arte

intocaacutevelrdquo e passaram a ser tratados como espaccedilos socializados repletos de interaccedilatildeo cultural

e portanto passiacuteveis de transformaccedilatildeo Aleacutem dos centros urbanos o patrimocircnio imaterial

tambeacutem recebeu especial atenccedilatildeo e apoacutes 20 anos de discussatildeo a Convenccedilatildeo para a

Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial consolidada pela UNESCO em 2003 avanccedilou

no reconhecimento e na defesa das heranccedilas culturais dos povos ao redor do mundo

As transformaccedilotildees na relaccedilatildeo da preservaccedilatildeo com o planejamento urbano se

efetivaram em 2003 a partir da criaccedilatildeo do Plano de Preservaccedilatildeo de Siacutetio Histoacuterico Urbano

(PPSH) Este plano foi um instrumento de caraacuteter normativo que incidiu sobre os siacutetios

35

urbanos tombados em niacutevel federal a fim de aliar preservaccedilatildeo e desenvolvimento e incentivar

a gestatildeo compartilhada Nesse mesmo ano foi realizado o Encontro Nacional de Cidades

Histoacutericas que tratou da gestatildeo compartilhada do patrimocircnio cultural e da efetivaccedilatildeo das

poliacuteticas de preservaccedilatildeo associadas agrave legislaccedilatildeo urbana e ambiental

As mudanccedilas do iniacutecio do seacuteculo natildeo demoraram a repercutir no Municiacutepio de

Ouro Preto A partir da portaria ndeg 122 instituiacuteda em 2004 pelo presidente do IPHAN

definiu-se as diretrizes de intervenccedilatildeo e os paracircmetros para aprovaccedilatildeo de projeto no centro

histoacuterico da cidade a fim de garantir a manutenccedilatildeo das caracteriacutesticas da unidade e da

harmonia do conjunto urbano

Mapa dos bairros do municiacutepio de Ouro Preto

Fonte Secretaria Municipal de Patrimocircnio e Desenvolvimento Urbano - PMOP

36

Mapa esquemaacutetico ndash Periacutemetro urbano periacutemetro tombado e demais delimitaccedilotildees de interesse do distrito sede

Elaboraccedilatildeo Guilherme I N Ataiacutedes Base mapa do Plano Diretor

Foto da Praccedila Tiradentes

Fonte httpmondegocombrpraca-tiradentes

37

Foto Campus UFOP

Fonte httpwwwseeufopbrp=490

Foto IFMG

Fonte httpwwwouropretoifmgedubrcomunicacaoimagens-e-videoscampus-ouro-

pretocampusimage_view_fullscreen

Em 2006 a remodelaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Patrimocircnio e

Desenvolvimento Urbano (antiga Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio) deu um novo

impulso agrave preservaccedilatildeo no acircmbito da gestatildeo municipal unindo as poliacuteticas de proteccedilatildeo agraves

poliacuteticas de planejamento urbano O Grupo de Assessoramento Teacutecnico ndash GAT e o Conselho

Municipal de Patrimocircnio foram novamente colocados em accedilatildeo Um novo Plano Diretor

promulgado ao final deste mesmo ano atraveacutes da Lei Complementar Nordm 29 agregou as

conquistas do Estatuto da Cidade aos preceitos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio e acrescentou as

diretrizes para a proteccedilatildeo ambiental Os temas funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

estruturaccedilatildeo territorial desenvolvimento econocircmico proteccedilatildeo ambiental proteccedilatildeo ao

patrimocircnio cultural poliacutetica de desenvolvimento social produccedilatildeo da cidade e mobilidade

urbana intitulam alguns dos capiacutetulos da Lei Os instrumentos da poliacutetica urbana para o

cumprimento da funccedilatildeo social da propriedade aparecem no texto logo em sequecircncia A Lei de

38

Parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo conforme previsatildeo do Art 81 do Plano Diretor foi

promulgada no mesmo dia 28 de dezembro de 2006

A partir de entatildeo o municiacutepio assume sua funccedilatildeo enquanto principal oacutergatildeo de

gestatildeo do territoacuterio tarefa que anteriormente era desempenhada pelo Governo Federal e pelo

IPHAN Ao final de 2010 por meio da Lei Complementar Nordm 91 o Plano Diretor passa por

alteraccedilotildees pontuais e em 2011 a Lei de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo eacute amplamente

revisada dando origem aos paracircmetros utilizados nos dias atuais

Dentro desse resumido panorama legislativo apresentado pode-se perceber que o

Municiacutepio de Ouro Preto acompanhou em grande parte os avanccedilos inaugurados pelo

Estatuto da Cidade e concretizou ao menos em forma de Lei a regulamentaccedilatildeo das diretrizes

e dos instrumentos capazes de fazer valer a funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

Contudo tais avanccedilos representam muito pouco frente ao gigantesco desafio

enunciado no Art 2 inciso II do mesmo Estatuto quanto agrave ldquogarantia do direito a cidades

sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao saneamento ambiental

agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para

as presentes e futuras geraccedilotildeesrdquo(Lei 10257 2001)

Aleacutem da amplitude da tarefa outros elementos dificultam ainda mais o processo

de construccedilatildeo de uma nova realidade como por exemplo a negligecircncia dos gestores puacuteblicos

para com a atualizaccedilatildeo necessaacuteria e obrigatoacuteria das Leis O Plano Diretor de Ouro Preto

indica jaacute no Capiacutetulo 1 artigo 1ordm sect3ordm o prazo maacuteximo para a revisatildeo do mesmo estabelecido

em cinco anos a partir da sua publicaccedilatildeo ou seja 2011 Sendo assim percebe-se que a Lei

de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo revisada em 2011 embora seja o principal instrumento de

controle urbaniacutestico ateacute os dias de hoje jaacute nasceu defasada pois utilizou como referecircncia a

estrateacutegia de desenvolvimento urbano definida no Plano Diretor de 2006 desconsiderando os

impactos e as mudanccedilas territoriais sociais e culturais ocorridos desde entatildeo No geral os

gestores municipais tratam apenas de alteraccedilotildees pontuais que apenas mascaram o quadro de

estagnaccedilatildeo e desatualizaccedilatildeo das leis urbaniacutesticas Tal conduta conforma um enorme obstaacuteculo

na concretizaccedilatildeo das diretrizes do Estatuto da Cidade

Nos capiacutetulos anteriores ao tratarmos do desenvolvimento sustentaacutevel dois

importantes instrumentos foram apontados como peccedilas-chave da consolidaccedilatildeo de uma nova

experiecircncia de sustentabilidade no ambiente urbano a agenda 21 e o coacutedigo de obras

O primeiro deles a agenda 21 local foi estabelecida em 15 de maio de 2007 por

meio da Lei Nordm 333

39

Art 1ordm Fica criado no acircmbito do Municiacutepio de Ouro Preto o Programa da Agenda 21

Local processo e instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento

sustentaacutevel e que tem como eixo central a sustentabilidade compatibilizando a

conservaccedilatildeo ambiental a justiccedila social e o crescimento econocircmico Art 2ordm Para

efeitos de execuccedilatildeo da Agenda 21 Local o Poder Executivo instalaraacute o Foacuterum Ouro-

pretano da Agenda 21 Local (OURO PRETO Lei nordm333 Agenda 21 Local de 11

de maio de 2007)

No texto da Lei foram previstos os capiacutetulos a serem desenvolvidos Agenda 21

Estrutural Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade A

responsabilidade recaiu sobre o Foacuterum Ouro-Pretano da Agenda 21 Local Aleacutem da Lei de

criaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel encontrar nos registros legislativos digitais da Cacircmara Municipal a

Portaria Nordm 1707 que nomeia uma Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos Naturais

e Agenda 21 Local

Outra fonte de informaccedilotildees sobre a Agenda 21 Local de Ouro Preto foi encontrada

no acervo digital da Universidade Federal de Ouro Preto sob o tiacutetulo ldquoAgenda 21 Local

consolidando as bases para o desenvolvimento sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escalardquo

(OLIVEIRA 2010) Nesse trabalho foram apontadas as iniciativas que acompanharam a

criaccedilatildeo da Agenda 21 Local dentre as quais se destacam em ordem cronoloacutegica 1ordm Encontro

de Processos de Agendas 21 Locais ndash fevereiro de 2007 Plenaacuteria na Cacircmara Municipal de

Ouro preto para apresentaccedilatildeo da Agenda 21 ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio de Capacitaccedilatildeo para

a Agenda 21 Local ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio Teacutecnico de Diagnoacutestico para referecircncia da

Agenda 21 Local ndash abril de 2007 Seminaacuterio de Implantaccedilatildeo da Agenda 21 Mineral de Ouro

Preto ndash abril de 2007 Assinatura do Termo de Cooperaccedilatildeo Muacutetua entre a Prefeitura

Municipal a Cacircmara Municipal a ONG Interforum Global e a UFOP ndash maio de 2007

Seminaacuterio Intermunicipal de Agenda 21 Local ndash maio de 2007 Seminaacuterio Geral de

Capacitaccedilatildeo da Agenda 21 Local ndash agosto de 2007

Para aleacutem dos registros oficiais e dos dados encontrados no trabalho mencionado

no paraacutegrafo anterior foram encontradas somente notiacutecias informais11

sobre a criaccedilatildeo e

lanccedilamento da Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude todas datadas de 2007

11 Destacam-se ldquoO presidente da Cacircmara vereador Mauriacutelio Zacarias (PMDB) implantou no dia 20 de abril a

Agenda 21 da Mineraccedilatildeo de Ouro Preto A Agenda 21 da Mineraccedilatildeo eacute uma das subdivisotildees da Agenda 21

Global um conjunto de accedilotildees recomendadas pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) para garantir o

desenvolvimento sustentaacutevel do planeta no seacuteculo XXIrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwcmopmggovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=70agenda-21-da-mineracao-e-

implantada-em-ouro-pretoampcatid=61reunioesgt Acesso em 06 jun 2015 ldquoJuntos pela sustentabilidade o

Foacuterum da Agenda 21 Local de Ouro Preto daacute iniacutecio ao desenvolvimento de accedilotildees especiacuteficas para a implantaccedilatildeo

do capiacutetulo Agenda 21 da Juventude na escola e na universidade O lanccedilamento da Agenda 21 da Escola

acontece no dia 21 de junho quinta-feira agraves 10h no Centro de Artes e Convenccedilotildees da UFOPrdquo ndash Notiacutecia sobre a

40

Conclui-se portanto que a iniciativa da Agenda 21 Local assim como muitas das

diretrizes definidas nas Leis do Planejamento Urbano estagnou no ano de 2007 e avanccedilou

pouco em relaccedilatildeo agraves primeiras linhas da Lei Embora se tenha a informaccedilatildeo de que os Grupos

de Trabalho continuaram a desenvolver suas atividades nos anos seguintes os registros dessas

accedilotildees praacuteticas satildeo praticamente inexistentes e tais atividades praticamente natildeo efetivaram

mudanccedilas na realidade do Municiacutepio

Quanto ao Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees outro importante instrumento da gestatildeo

municipal capaz de estabelecer as bases para um ambiente urbano sustentaacutevel este nunca foi

regulamentado pelo Municiacutepio Embora citado inuacutemeras vezes no Coacutedigo de Posturas que foi

instituiacutedo em 1980 atraveacutes da Lei 178 o Coacutedigo de Obras nunca adquiriu formato oficial para

aplicaccedilatildeo e regulaccedilatildeo do territoacuterio O uacutenico registro oficial encontrado nos arquivos

eletrocircnicos da Cacircmara Municipal diz respeito a uma comissatildeo especial formada em 1992

para emissatildeo de parecer sobre o anteprojeto de Coacutedigo de Obras de Ouro Preto elaborado

pela ENGEARP ndash Arquitetura e Engenharia Ltda12

Um segundo registro foi encontrado nos

arquivos do diaacuterio oficial eletrocircnico do municiacutepio e consiste numa breve menccedilatildeo do coacutedigo de

obras numa ata de uma das reuniotildees do COMPURB Conselho Municipal de Poliacutetica

Urbana13

em abril de 2013 Apesar dos registros quase inexistentes em consulta ao corpo

teacutecnico do Departamento de Aprovaccedilatildeo de Projetos da Secretaria de Cultura e Patrimocircnio

foram identificadas algumas iniciativas quanto agrave elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo de Obras para o

municiacutepio dentre as quais se destaca o modelo desenvolvido em 2012 Tal modelo em

conformidade com as diretrizes dos coacutedigos internacionais jaacute apontados neste trabalho

ressaltou que as edificaccedilotildees e instalaccedilotildees deveriam atender agraves condiccedilotildees miacutenimas de

seguranccedila conforto ambiental higiene salubridade harmonia esteacutetica e acessibilidade

criaccedilatildeo da Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade ndash 16 de junho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwufopedubrindexphpoption=com_contentamptask=viewampid=600ampItemid=50gt Acesso em 06 jun

2015 ldquoO grupo de trabalho da Agenda 21 Local de Ouro Preto a Associaccedilatildeo Comercial de Ouro Preto e a

Cacircmara da Mulher Empreendedora de Ouro Preto convidam para uma palestra com o seguinte tema lsquoAgenda 21

de Ouro Preto -Desafios e Possibilidades da Participaccedilatildeo do Comeacutercio na Sustentabilidade Localrsquordquo Notiacutecia sobre

o Grupo de Trabalho da Agenda Ouro Preto ndash 10 de julho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwfundacaoaprenderorgbr189gt Acesso em 06 jun 2015

12 Portaria Nordm 0292 ndash 04 de fevereiro de 1992 Disponiacutevel em

lthttpwwwsistemasiglaorgarquivossisnormNJ_img(2562)pdfgt Acesso em 06 jun 2015

13 ldquo[] Gabriel sugeriu que seja incluiacutedo esses criteacuterios no coacutedigo de obrasrdquo Ata da 58ordf Reuniatildeo extraordinaacuteria

do Conselho Municipal de Poliacutetica Urbana ndash COMPURB (extraiacutedo do Diaacuterio Oficial do Municiacutepio ldquoAno V ndash

Ouro Preto 1ordm de Abril de 2013 ndash Nordm766rdquo) Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrdiario-

oficial2076601-04-2013gt Acesso em 27 jun 2015

41

Contudo eacute importante destacar que os paracircmetros necessaacuterios para o atendimento do conforto

ambiental - como criteacuterios de adequaccedilatildeo agraves caracteriacutesticas do clima local diretrizes de

conforto teacutermico luminoso e acuacutestico ndash assim como as diretrizes de eficiecircncia energeacutetica natildeo

foram contemplados no texto diminuindo consideravelmente a possibilidade de sucesso do

instrumento quanto agrave transformaccedilatildeo do ambiente urbano

Sendo assim entendendo a importacircncia que o instrumento ldquocoacutedigo de obrasrdquo tem

na conformaccedilatildeo de espaccedilos urbanos mais confortaacuteveis e equilibrados e buscando contribuir

para o Municiacutepio na consolidaccedilatildeo de Leis atualizadas e transformadoras o capiacutetulo seguinte

trataraacute do desenvolvimento de algumas dessas diretrizes para que as construccedilotildees passem a

incorporar as premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica e passem a contribuir

positivamente para o clima urbano a para a qualidade ambiental

42

6 ENSAIO PARA UM COacuteDIGO DE OBRAS PRINCIPAIS ESTRATEacuteGIAS PARA

A PROMOCcedilAtildeO DA EFICIEcircNCIA ENERGEacuteTICA NO MUNICIacutePIO DE OURO

PRETO

61 O reconhecimento do clima e as recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais

O reconhecimento do clima eacute o primeiro passo a ser dado para o desenvolvimento

das diretrizes construtivas para um determinado local O clima ldquoeacute a condiccedilatildeo meacutedia do tempo

em uma dada regiatildeo baseada em mediccedilotildees em longos periacuteodos de tempo (30 anos ou mais)rdquo

(LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 71) A anaacutelise climaacutetica feita no Brasil utiliza

em geral os dados publicados pelo Instituto Nacional e pelo Departamento Nacional de

Meteorologia por meio das Normais Climatoloacutegicas Essa publicaccedilatildeo sistematiza dentre

outros dados os valores meacutedios e extremos mensais de temperatura umidade precipitaccedilatildeo

nebulosidade e horas de sol para um periacuteodo de 30 anos A utilizaccedilatildeo dessas variaacuteveis

climaacuteticas no desenvolvimento dos projetos arquitetocircnicos possibilita a construccedilatildeo de

edificaccedilotildees mais confortaacuteveis e mais eficientes quanto ao consumo de energia

O municiacutepio de Ouro Preto contou com uma estaccedilatildeo de mediccedilatildeo e monitoramento

climaacutetico no periacuteodo entre 1976 a 1990 Sendo assim por natildeo ter permanecido em vigecircncia

pelo periacuteodo miacutenimo de 30 anos os dados do municiacutepio natildeo foram contemplados na

publicaccedilatildeo das Normais Climatoloacutegicas e podem ser encontrados apenas no registro histoacuterico

do INMET a partir do BDMEP Os dados coletados nesse periacuteodo de 14 anos embora natildeo

tenham sido publicados satildeo fundamentais para analisar o comportamento das variaacuteveis

climaacuteticas no local de estudo conforme seraacute visto nas anaacutelises a seguir

Referenciada geograficamente pelas coordenadas14

Latitude Sul 20deg23rsquo28rdquo e

Longitude Oeste 43deg30rsquo20rdquo Ouro Preto possui altitude correspondente a 1150 metros sendo

que o ponto mais alto o Pico Itacolomi estaacute situado a 1772 metros de altura A latitude e a

altitude satildeo dois importantes fatores geograacuteficos do clima quanto maior a latitude menor eacute a

temperatura superficial e quanto maior a altitude menor seraacute a temperatura e a pressatildeo

atmosfeacuterica

14 Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrlocalizacaogt Acesso em 27 jun 2015

43

Para entendermos o clima no municiacutepio e para traccedilarmos as diretrizes construtivas

que garantam o bom desempenho das edificaccedilotildees faz-se necessaacuterio primeiramente consultar

o Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro definido na parte 3 da NBR 15220

O Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro consiste na ldquodivisatildeo do territoacuterio brasileiro

em oito zonas relativamente homogecircneas quanto ao clima e para cada uma destas zonas

formulou-se um conjunto de recomendaccedilotildees teacutecnico-construtivas que otimizam o desempenho

teacutermico das edificaccedilotildees atraveacutes de sua melhor adequaccedilatildeo climaacuteticardquo (ABNT 2003) O

Zoneamento resulta da aplicaccedilatildeo da Carta Bioclimaacutetica sugerida por Givoni ldquoinserindo os

dados mensais de temperatura meacutedia e umidade relativa para cada mecircs do ano e para cada

uma das localidades agrupando entatildeo aquelas classificadas como um mesmo tipo climaacuteticordquo

(FERREIRA 2014 p432)

As diretrizes construtivas desenvolvidas na Norma tratam basicamente do

comportamento da envoltoacuteria da edificaccedilatildeo a partir da indicaccedilatildeo do tamanho das aberturas

para ventilaccedilatildeo da proteccedilatildeo das aberturas das vedaccedilotildees externas (paredes e cobertura) e das

estrateacutegias de condicionamento passivo

A NBR 15220-3 estaacute vigente desde 2005 e sua aplicaccedilatildeo estaacute direcionada para as

edificaccedilotildees de ateacute trecircs pavimentos destinadas agrave habitaccedilatildeo multifamiliar de interesse social

Contudo os preceitos nela indicados podem e devem servir como base para a adequaccedilatildeo

climaacutetica das demais edificaccedilotildees desde que a Norma natildeo seja aplicada de forma isolada isto

eacute devem ser estudados outros procedimentos e devem ser utilizadas novas ferramentas a fim

de cruzar os resultados e avanccedilar na elaboraccedilatildeo de paracircmetros construtivos cada vez mais

completos e dinacircmicos

Segundo a Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica obtida atraveacutes do programa ZBBR o

municiacutepio de Ouro Preto estaacute localizado na Zona Bioclimaacutetica 3

44

Fonte Programa ZBBR ndash Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica dos Municiacutepios Brasileiros

Em destaque o Municiacutepio de Ouro Preto ndash MG

Para as edificaccedilotildees inseridas nesta zona bioclimaacutetica a NBR 15220 traz as

seguintes orientaccedilotildees

- Quanto agraves aberturas tamanho meacutedio (15 a 25) e que possibilitem a entrada do sol

durante o inverno

- Quanto agraves vedaccedilotildees externas paredes externas leves15

e refletoras cobertura leve e

isolada

- Quanto ao condicionamento teacutermico passivo ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo

aquecimento solar durante o inverno e vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia

teacutermica

15 Quanto agrave caracterizaccedilatildeo das envoltoacuterias como ldquolevesrdquo podemos agregar para melhor entendimento a

explicaccedilatildeo de que tais envoltoacuterias devem ser de baixa ineacutercia teacutermica ou seja devem possibilitar que o ambiente

interno seja influenciado pela temperatura do ar exterior sem grande atraso Assim pode-se dizer que as

recomendaccedilotildees de envoltoacuterias leves ocorrem em ambientes onde se deseja que os ambientes internos agrave

edificaccedilatildeo sofram influecircncia direta da temperatura do exterior

45

A partir das orientaccedilotildees da Norma percebe-se que a classificaccedilatildeo das zonas

bioclimaacuteticas embora tenha uma importante contribuiccedilatildeo esta natildeo pode ser utilizada

isoladamente por natildeo agregar importantes elementos agrave caracterizaccedilatildeo do clima local como jaacute

foi dito anteriormente Sendo assim outros dados de Ouro Preto devem ser observados para

aprofundarmos um pouco mais nas recomendaccedilotildees construtivas

Dentro do espectro das variaacuteveis climaacuteticas que caracterizam uma regiatildeo merece

destaque a temperatura e a umidade A temperatura ldquoeacute a variaacutevel climaacutetica mais conhecida e

de mais faacutecil mediccedilatildeo A variaccedilatildeo da temperatura na superfiacutecie da Terra resulta basicamente

dos fluxos das grandes massas de ar e da diferente recepccedilatildeo da radiaccedilatildeo do sol de local para

localrdquo (LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 77) A temperatura varia principalmente

em funccedilatildeo da velocidade do ar mas tambeacutem eacute influenciada em maior ou menor grau pelo

tipo de solo e de vegetaccedilatildeo pela topografia e pela altitude A temperatura meacutedia anual de

Ouro Preto eacute de 185deg conforme os dados sistematizados pelo INMET A temperatura

maacutexima verificada geralmente no mecircs de fevereiro corresponde a 252deg e a temperatura

miacutenima que ocorre no mecircs de julho corresponde a 112deg Quanto agrave umidade do ar esta

resulta da evaporaccedilatildeo das aacuteguas e da evapotranspiraccedilatildeo dos vegetais e pode ser definida em

absoluta e relativa ldquoComo definiccedilatildeo de umidade absoluta tem-se que eacute o peso do vapor de

aacutegua contido em uma unidade de volume de ar (gm3) e a umidade relativa eacute a relaccedilatildeo da

umidade absoluta com a capacidade maacutexima do ar de reter vapor drsquoaacutegua agravequela temperaturardquo

(FROTA 1995 p62) A umidade do ar tem relaccedilatildeo inversa com a temperatura portanto

quanto menor a temperatura maior a possibilidade de saturaccedilatildeo do ar pela ampliaccedilatildeo da

umidade ao limite de 100 A pluviosidade tambeacutem deve ser observada pois tem relaccedilatildeo

direta com a umidade do ar sendo que a chuva proveacutem em grande parte de massas de ar

uacutemido em ascensatildeo Os dados do INMET apontam que a meacutedia anual da pluviosidade em

Ouro Preto eacute de 16703mm sendo junho o mecircs mais seco com 129mm e dezembro o mecircs

mais uacutemido com 3579mm

46

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641 (continuaccedilatildeo)

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

47

48

A partir dos dados acima eacute possiacutevel verificar inicialmente que se trata de um

clima de baixas temperaturas muito uacutemido (umidade relativa praticamente sempre acima de

80) com alta nebulosidade (o que significa que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou

nublado) e com abundacircncia de chuvas principalmente no veratildeo

Tais caracteriacutesticas satildeo acentuadas pela influecircncia da barreira orograacutefica

provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta que conforma o

Morro Satildeo Sebastiatildeo Sendo assim grande parte da mancha urbana de Ouro Preto situada agrave

barlavento da barreira natural sofre influecircncia das chuvas que resultam do resfriamento e

condensaccedilatildeo do ar em ascensatildeo aprofundando ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade citadas anteriormente

Representaccedilatildeo da influecircncia dos ventos e da topografia na mancha urbana da cidade de Ouro

Preto - a formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem base da imagem de sateacutelite extraiacuteda do Google Maps

Exemplo da chuva a barlavento resultante da formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem Sistemas Tecnoloacutegicos em Conforto Ambiental ndash Eleonora Sad Assis

Parte da malha urbana de Ouro Preto

49

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem timblindimwordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem fotografandoondeopeixeparawordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

A partir das variaacuteveis climaacuteticas sistematizadas pelo INMET podemos avanccedilar na

utilizaccedilatildeo do Diagrama Bioclimaacutetico de Givoni (DBG) que orientou a definiccedilatildeo do

Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro assim como utilizar outro instrumento de anaacutelise as

Tabelas de Mahoney que tambeacutem auxiliam na definiccedilatildeo das diretrizes construtivas

O Diagrama de Givoni nos permite identificar quais recursos satildeo necessaacuterios para

que as edificaccedilotildees atendam agraves condiccedilotildees de conforto Este instrumento aponta quais preceitos

da arquitetura bioclimaacutetica devem ser priorizados tais como ventilaccedilatildeo ineacutercia teacutermica e

50

insolaccedilatildeo assim como aponta a necessidade de soluccedilotildees mecacircnicas para o atendimento ao

conforto teacutermico

Diagrama de Givoni relativo agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O Diagrama de Givoni referente agrave Ouro Preto assinala que na maior parte do

tempo as edificaccedilotildees necessitam de aquecimento passivo tendo em vista o quadro recorrente

de baixas temperaturas e de alta umidade relativa Algumas estrateacutegias de aquecimento

passivo podem ser adaptadas agrave realidade local para melhor aproveitamento Quanto agrave cidade

de Ouro Preto deve-se pensar o ganho teacutermico principalmente durante o inverno Nessa

estaccedilatildeo embora se tenha uma queda significativa das temperaturas tem-se cerca de 6 horas

de insolaccedilatildeo diaacuteria quase duas horas a mais do que nas outras estaccedilotildees O aproveitamento

dessa radiaccedilatildeo solar deve servir para manter o ambiente aquecido durante a noite sendo

assim a utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior insolaccedilatildeo deve

possibilitar a maacutexima entrada de calor durante o dia Quanto aos materiais internos estes

devem possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser

devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente

Voltando ao Diagrama de Givoni se compararmos o resultado da cidade de Ouro

Preto com a cidade de Belo Horizonte que estaacute na mesma zona bioclimaacutetica e estaacute a 858

51

metros de altitude perceberemos o quanto eacute importante cruzar os dados de diferentes

instrumentos de anaacutelise para acertar nas diretrizes de projeto Os dados de Belo Horizonte

resultam numa linha meacutedia predominantemente inserida na zona de conforto chegando a

alcanccedilar a zona de influecircncia da ventilaccedilatildeo em algumas horas dos meses de janeiro fevereiro

e marccedilo

Diagrama de Givoni relativo agrave Belo Horizonte

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O outro meacutetodo importante de anaacutelise voltado especificamente para as

recomendaccedilotildees de projeto arquitetocircnico consiste na sistematizaccedilatildeo das recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas atraveacutes das ldquoTabelas de Mahoneyrdquo Tal meacutetodo deve ser utilizado

simultaneamente ao Diagrama de Givoni a fim de se comparar os resultados e ajustar as

diretrizes construtivas Dentre as orientaccedilotildees da Tabela de Mahoney para Ouro Preto merece

destaque a utilizaccedilatildeo de grandes aberturas (para garantir ventilaccedilatildeo abundante e permanente)

e de envoltoacuterias leves Contudo diretrizes como reduccedilatildeo da exposiccedilatildeo ao sol e proteccedilatildeo da

insolaccedilatildeo direta natildeo favorecem o aquecimento passivo conforme a necessidade observada a

partir do Diagrama de Givoni e portanto devem ser relativizadas Seguem abaixo as

recomendaccedilotildees das Tabelas de Mahoney para Ouro Preto

52

Tabela de Mahoney relativa agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

Sendo assim a partir do conhecimento das variaacuteveis climaacuteticas e dos resultados

apresentados eacute possiacutevel formular a seguinte tabela resumo quanto agraves recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas iniciais para Ouro Preto

14 Tabela de Recomendaccedilotildees Arquitetocircnicas

Total de Indicadores

Uacutemido Aacuterido

H1 H2 H3 A1 A2 A3

1 11 4 0 0 0

1 PLANTA DE SITUACcedilAtildeO

0 -10 X Construccedilotildees orientadas segundo eixo longitudinal leste-oeste

11 ou 5 -12 a fim de diminuir a exposiccedilatildeo ao sol

12 0 - 4 Plantas compactas com paacutetios internos

2 ESPACcedilAMENTO ENTRE CONSTRUCcedilOtildeES

11 ou Grandes espaccedilamentos para favorecer a penetraccedilatildeo do vento

12

2 -10 Como acima mas com proteccedilatildeo contra vento quente ou frio

0 ou 1 X Distribuiccedilatildeo compacta

3 CIRCULACcedilAtildeO DE AR

3 - 12 X Construccedilotildees com orientaccedilatildeo simples aberturas que permitam

1 ou 0 - 5 circulaccedilatildeo de ar permanente

2 6 - 12 Construccedilotildees com orientaccedilatildeo dupla circulaccedilatildeo de ar cruzada

0 2 -12 aberturas de ar controlaacuteveis

0 ou 1 Basta renovaccedilatildeo higiecircnica do ar

4 DIMENSOtildeES DAS ABERTURAS

0 ou 0 X Grandes 40 a 80 das fachadas norte e sul

1 1 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

2 - 5

6 - 10 Intermediaacuterias 20 a 35 da superfiacutecie das paredes

11 ou 0 - 3 Pequenas 15 a 25 da superfiacutecie das paredes

12 4 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

5 POSICcedilAtildeO DAS ABERTURAS

3 - 12 X Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do

1 ou 0 - 5 lado exposto ao vento

2 6 - 12 Como acima mas tambeacutem aberturas nas paredes internas

0 2 - 12

6 PROTECcedilAtildeO DAS ABERTURAS

0 - 2 X Proteger da insolaccedilatildeo direta

2 - 12 X Proteger da chuva

7 PAREDES E PISOS

0 - 2 X Construccedilotildees leves baixa ineacutercia teacutermica

3 - 12 Construccedilotildees maciccedilas tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

8 COBERTURA

10 a 0 - 2 Leve (pouca ineacutecia) superfiacutecie refletora uso de cacircmara de ar

12 3 - 12 X Leve e bem isolada

0 a 0 - 5

9 6 - 12 Maciccedila tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

9 ESPACcedilOS EXTERIORES

1 - 12 Espaccedilo para dormir ao ar livre

1 - 12 X Adequada drenagem para a chuva

3 - 12 X Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

53

Tabela resumo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas

Diagrama de Givoni

Tabelas de Mahoney

NBR 15220 ndash Parte 03

Tamanho e caracteriacutesticas das aberturas

Esquadrias devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia do calor no ambiente

Aberturas que permitam a circulaccedilatildeo de ar permanente

Tamanho meacutedio

Grandes ndash de 40 a 80 das fachadas norte e sul

Possibilitar a entrada do sol durante o inverno

Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do lado exposto ao vento

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees externas

Leves Leves e refletoras

Baixa ineacutercia teacutermica

Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees internas

Possibilitar o armazenamento do calor absorvido

Vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia teacutermica

Caracteriacutesticas da cobertura

Leve e bem isolada Leve e isolada

Condicionamento teacutermico passivo

Ganho teacutermico principalmente durante o inverno

Aberturas protegidas da insolaccedilatildeo direta e protegidas da chuva

Ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo aquecimento solar durante o inverno e

Somando-se os diversos meacutetodos de anaacutelise climaacutetica tecircm maior relevacircncia a

seguintes diretrizes

- ventilaccedilatildeo abundante principalmente durante o veratildeo a fim de reduzir a temperatura no

interior da edificaccedilatildeo e os efeitos da umidade que aumenta ainda mais em funccedilatildeo das chuvas

tiacutepicas desse periacuteodo A ventilaccedilatildeo cruzada deve ser fomentada e deve ser observado o sentido

54

predominante do vento que na cidade em questatildeo eacute sudeste a fim de se alcanccedilar melhores

resultados no conforto da edificaccedilatildeo

- aquecimento passivo para os meses de inverno a fim de diminuir o desconforto

causado pelas baixas temperaturas

- paredes leves (com baixa ineacutercia teacutermica ou seja conseguem ganhar ou perder calor

rapidamente a partir da interferecircncia e da temperatura do ar exterior) e protegidas da umidade

proveniente das chuvas fortes

- coberturas leves e bem isoladas (capazes de reter o calor absorvido durante o dia)

- as edificaccedilotildees devem estar protegidas das chuvas e devem contar com sistemas de

drenagem eficientes que possibilitem o raacutepido escoamento ou aproveitamento dessa aacutegua

62 O Coacutedigo de Obras e o conforto ambiental em Ouro Preto ndash estrateacutegias prioritaacuterias

A utilizaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental nos projetos e nas edificaccedilotildees

tem um impacto social positivo baseado em pelo menos trecircs fatores importantes melhoria das

condiccedilotildees de habitabilidade da edificaccedilatildeo e portanto melhor qualidade de vida para o

usuaacuterio melhoria nas condiccedilotildees climaacuteticas do meio externo ampliando o bem estar coletivo

reduccedilatildeo no consumo de energia e utilizaccedilatildeo eficiente do sistema de abastecimento a partir da

correta utilizaccedilatildeo dos sistemas ativos (iluminaccedilatildeo artificial condicionamento e aquecimento

de ar)

Para garantir a aplicaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental o Coacutedigo de Obras

e Edificaccedilotildees do municiacutepio deve incorporar dois importantes artigos que seratildeo detalhados

abaixo conforme o texto sugerido pelo Guia Teacutecnico ldquoElaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de

obras e edificaccedilotildeesrdquo da ELETROBRAacuteS (BAHIA GUEDES 2012)

O primeiro artigo de destaque deve ser inserido no capiacutetulo que trata das

DISPOSICcedilOtildeES PRELIMINARES e deve enumerar as diretrizes gerais para os projetos e

construccedilotildees buscando elencar tanto as demandas contemporacircneas expressas nas novas

legislaccedilotildees como os anseios para um espaccedilo urbano equilibrado e sustentaacutevel Nesse

contexto a substituiccedilatildeo da expressatildeo ldquopadrotildees miacutenimosrdquo que podem ser exemplificados pelas

diretrizes generalistas frequentemente encontradas nas legislaccedilotildees como a previsatildeo de 16 e

18 de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo para todas as localidades por ldquopadrotildees eficientesrdquo

estabelecidos atraveacutes de estudos teacutecnicos que agreguem a complexidade do clima local e que

permitam ampliar as condiccedilotildees de sustentabilidade das edificaccedilotildees ao tratar da otimizaccedilatildeo de

resultados quanto ao atendimento do conforto teacutermico visual e acuacutestico com baixo consumo

55

de energia A configuraccedilatildeo do texto deve se aproximar ao maacuteximo da proposta apresentada

pelo Guia Teacutecnico paacutegina 62

As obras instalaccedilotildees e edificaccedilotildees sejam puacuteblicas sejam privadas deveratildeo atender

agraves seguintes diretrizes gerais de forma a assegurar padrotildees eficientes de seguranccedila e

solidez salubridade e sauacutede conforto ambiental e desempenho energeacutetico

acessibilidade e livre tracircnsito de pessoas prevenccedilatildeo e uso sustentaacutevel dos recursos

naturais em cada caso e sempre que couber I - Subordinaccedilatildeo do interesse particular

ao interesse coletivo II - Promoccedilatildeo do direito agrave cidade sustentaacutevel e da funccedilatildeo

social da propriedade III - Utilizaccedilatildeo das normas teacutecnicas brasileiras e

regulamentaccedilotildees aplicaacuteveis para orientaccedilatildeo do desenvolvimento de projetos e

execuccedilatildeo de obras IV - Desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas sempre que

necessaacuterio com base nas praacuteticas locais beneacuteficas e na produccedilatildeo cientiacutefica tendo em

vista a manutenccedilatildeo da qualidade do local onde se daacute a intervenccedilatildeo e a correlaccedilatildeo

com valores culturais da populaccedilatildeo V - Garantia das condiccedilotildees de acessibilidade

circulaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo pela populaccedilatildeo em geral das edificaccedilotildees e do espaccedilo e

mobiliaacuterio urbano de uso puacuteblico e coletivo com adoccedilatildeo de soluccedilotildees especiacuteficas

para as pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida conforme previsto nas

normas teacutecnicas e na legislaccedilatildeo aplicaacutevel VI - Adoccedilatildeo de paracircmetros climaacuteticos

para o desenvolvimento de projetos de arquitetura de parcelamentos do solo e de

desenho urbano tendo em vista a correta orientaccedilatildeo solar da edificaccedilatildeo e demais

elementos as melhores condiccedilotildees de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo e pela escolha de

materiais construtivos e soluccedilotildees urbaniacutesticas adequadas em funccedilatildeo das

condicionantes ambientais locais de temperatura pluviosidade dominacircncia de

ventos ruiacutedo e paisagem natural aleacutem dos aspectos culturais que interagem com

essas condiccedilotildees VII - Utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis materiais de

construccedilatildeo certificados e ajudas teacutecnicas disponiacuteveis em complemento agrave promoccedilatildeo

do conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade das edificaccedilotildees e do

meio urbano VIII - Implantaccedilatildeo do objeto arquitetocircnico no lote bem como do

mobiliaacuterio urbano e demais artefatos nos logradouros puacuteblicos garantidas a

acessibilidade a qualidade esteacutetica e tecnoloacutegica de forma a potencializar os

atributos da paisagem urbana e evitar a poluiccedilatildeo visual IX - Adoccedilatildeo preferencial de

espeacutecies nativas na arborizaccedilatildeo puacuteblica demais projetos paisagiacutesticos e no

ajardinamento de lotes particulares X - Simplificaccedilatildeo dos procedimentos

administrativos pelo Poder Puacuteblico e promoccedilatildeo da assistecircncia para habitaccedilatildeo de

interesse social pelos agentes promotores tendo em vista facilitar a regularidade e a

correta execuccedilatildeo de projetos e obras inclusive apoiando as iniciativas de

autoconstruccedilatildeo da clientela de baixa renda (BAHIA GUEDES 2012)

O segundo artigo de grande relevacircncia deve ser inserido no capiacutetulo ldquoDAS

CONDICcedilOtildeES RELATIVAS AgraveS EDIFICACcedilOtildeESrdquo Neste capiacutetulo devem ser tratados os

paracircmetros teacutecnicos e geomeacutetricos capazes de materializar o conforto ambiental dos projetos e

edificaccedilotildees a partir do contexto climaacutetico da cidade As diretrizes apontadas devem buscar o

equiliacutebrio entre as condicionantes internas (relaccedilatildeo do usuaacuterio com a edificaccedilatildeo) e externas

(relaccedilatildeo da edificaccedilatildeo com o entorno) Quanto aos paracircmetros teacutecnicos esses devem ser

baseados nas recomendaccedilotildees do Programa Nacional de Conservaccedilatildeo de Energia Eleacutetrica ndash

PROCEL e devem se aproximar dos padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees

residenciais que satildeo atualmente estabelecidos pelo INMETRO a partir do RTQ-R ndash

Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais O texto do artigo deve seguir a sugestatildeo do Guia Teacutecnico paacutegina 107

56

Os projetos de construccedilatildeo ou reforma aleacutem de atenderem aos paracircmetros de

habitabilidade estabelecidos neste Coacutedigo devem ser orientados para a promoccedilatildeo da

sustentabilidade e eficiecircncia energeacutetica da edificaccedilatildeo com o objetivo de reduzir as

emissotildees de gases de efeito estufa (GEE) e os impactos ambientais gerados pela

construccedilatildeo e pela sua utilizaccedilatildeo ao longo do tempo racionalizando o uso da energia

da aacutegua e dos materiais nela empregados a partir das seguintes diretrizes I -

Racionalidade do projeto e do planejamento do processo de execuccedilatildeo das obras II -

Gestatildeo sustentaacutevel da obras e das praacuteticas de construccedilatildeo de forma a evitar o

desperdiacutecio de materiais III - Uso de materiais de construccedilatildeo e acabamentos

sustentaacuteveis considerando a adoccedilatildeo de materiais originaacuterios da regiatildeo produzidos

de forma sustentaacutevel e legalizada de materiais reaproveitados ou de demoliccedilatildeo e de

materiais certificados ou de comprovada responsabilidade ambiental do fabricante

IV - Ativaccedilatildeo do uso de edificaccedilotildees de valor cultural histoacuterico ou arquitetocircnico

maximizando as condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do bem imoacutevel na interaccedilatildeo com as

premissas de conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade V -

Aplicaccedilatildeo das estrateacutegias para projetos de acordo com o Zoneamento Bioclimaacutetico

brasileiro conforme NBR 15220-3 para concepccedilatildeo arquitetocircnica implantaccedilatildeo no

lote orientaccedilatildeo solar dos ambientes localizaccedilatildeo de aberturas e especificaccedilatildeo de

materiais de construccedilatildeo em prol do desempenho teacutermico da edificaccedilatildeo VI -

Aproveitamento das caracteriacutesticas climaacuteticas locais para a promoccedilatildeo do conforto

ambiental da edificaccedilatildeo a partir da consideraccedilatildeo dos seguintes fatores principais a)

Qualidade do ar b) Conforto higroteacutermico c) Conforto luminoso (ou lumiacutenico) d)

Conforto acuacutestico VII - Adoccedilatildeo de especificaccedilotildees de projeto com o objetivo de

potencializar as caracteriacutesticas climaacuteticas locais beneacuteficas eou remediar as de maior

rigor ao longo das diferentes estaccedilotildees do ano em benefiacutecio do desempenho teacutermico

e da ventilaccedilatildeo e iluminaccedilatildeo naturais da edificaccedilatildeo [] VIII - Planejamento

paisagiacutestico como elemento contribuinte para o conforto ambiental da edificaccedilatildeo

[] IX - Adoccedilatildeo de materiais construtivos que melhorem o desempenho teacutermico da

edificaccedilatildeo com base nas orientaccedilotildees e tabelas da NBR 15220-3 e especificaccedilatildeo de

equipamentos mecanismos e instalaccedilotildees que favoreccedilam a economia de energia

eleacutetrica e a reduccedilatildeo do consumo e aacutegua tratada [] (BAHIA GUEDES 2012)

Esses dois artigos apresentados embora configurem o ponto de partida natildeo satildeo

suficientes para a transformaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras em uma ferramenta concreta de

promoccedilatildeo do conforto ambiental da eficiecircncia energeacutetica e da sustentabilidade do meio

ambiente urbano Os desdobramentos desse texto devem resultar em paracircmetros teacutecnicos

como dimensionamentos diretrizes de desenho configuraccedilotildees espaciais miacutenimas dentre

inuacutemeros outros elementos de aplicaccedilatildeo obrigatoacuteria ou optativa Sendo assim o Coacutedigo de

Obras deve regulamentar por exemplo o dimensionamento de compartimentos a disposiccedilatildeo

e o dimensionamento de mobiliaacuterio fixo como louccedilas sanitaacuterias o peacute-direito as proporccedilotildees

das aberturas de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo assim como as taxas de renovaccedilatildeo do ar os niacuteveis de

ruiacutedo para o conforto acuacutestico as condiccedilotildees favoraacuteveis de transmitacircncia e a absortacircncia das

paredes e coberturas para o conforto teacutermico o dimensionamento e as condiccedilotildees das

circulaccedilotildees horizontais e verticais as instalaccedilotildees prediais dentre inuacutemeros outros itens Os

teacutecnicos devem se debruccedilar sobre tais requisitos teacutecnicos a fim de otimizar os resultados

quanto agrave construccedilatildeo da sustentabilidade no municiacutepio Deve-se utilizar as normas ABNT em

auxiacutelio agrave formulaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos a exemplo da NBR 10151 sobre Avaliaccedilatildeo do

57

Ruiacutedo em Aacutereas Habitadas NBR 5382 sobre Iluminacircncia de Interiores NBR 15215 sobre

Iluminaccedilatildeo Natural NBR 9284 sobre Equipamentos Urbanos dentre outras

Por fim deve-se prezar pela total interaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras com o conjunto

da legislaccedilatildeo urbaniacutestica local a fim de estabelecer uma relaccedilatildeo sequencial entre as etapas de e

concepccedilatildeo planejamento e construccedilatildeo das edificaccedilotildees passando das diretrizes gerais agraves

exigecircncias especiacuteficas O texto do coacutedigo de obras deve ser objetivo e didaacutetico sem incorrer

em simplificaccedilotildees O conteuacutedo deve ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e

teacutecnicos da aacuterea como pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees A dedicaccedilatildeo dos

teacutecnicos e profissionais na elaboraccedilatildeo das diretrizes transformadoras a busca pela

conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo sobre o conforto no ambiente urbano assim como a luta contra a

supremacia dos interesses privados sobre a coletividade satildeo itens importantes quanto agrave

concretizaccedilatildeo desse importante instrumento que foi apresentado e defendido ao longo do

presente trabalho

58

7 CONCLUSAtildeO

Diante das anaacutelises apresentadas ao longo deste trabalho principalmente quanto

ao ordenamento juriacutedico brasileiro para a regulaccedilatildeo urbana e o desenvolvimento sustentaacutevel

ficou comprovada a existecircncia de um conjunto significativo de legislaccedilotildees capazes de

embasar uma transformaccedilatildeo das cidades brasileiras em territoacuterios democraacuteticos igualitaacuterios e

sustentaacuteveis Poreacutem a previsatildeo legal eacute apenas o iniacutecio de um longo caminho ateacute a

transformaccedilatildeo concreta da realidade Para se avanccedilar nesse caminho uma mudanccedila poliacutetica eacute

imprescindiacutevel uma vez que as decisotildees sobre o espaccedilo urbano e sua regulamentaccedilatildeo

dependem necessariamente do interesse do gestor urbano materializado na figura dos

prefeitos e governantes das diversas esferas administrativas

Em relaccedilatildeo ao municiacutepio de Ouro Preto foi identificado que embora haja um

conjunto significativo de diretrizes urbaniacutesticas contidas no Plano Diretor e na Lei de Uso e

Ocupaccedilatildeo do Solo estas ainda satildeo insuficientes para subsidiar um desenvolvimento local

pautado na responsabilidade ambiental e na qualidade do meio ambiente urbano Isso se deve

principalmente ao fato de natildeo haver um coacutedigo de obras e edificaccedilotildees e tambeacutem ao fato de

que as iniciativas de proteccedilatildeo ambiental tal como a Agenda 21 Local natildeo foram colocadas

em praacutetica Neste sentido em relaccedilatildeo ao processo legislativo conclui-se que haacute uma

defasagem na aplicaccedilatildeo dos instrumentos de planejamento municipal previstos no Estatuto da

Cidade principalmente o Plano Diretor Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo Agenda 21 Local e Coacutedigo

de Obras e Edificaccedilotildees Aleacutem disso faltam elementos de combate agrave especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e

instrumentos de regulaccedilatildeo do solo urbano como o IPTU progressivo regularizaccedilatildeo onerosa a

assistecircncia teacutecnica gratuita dentre outros instrumentos tributaacuterios e financeiros juriacutedicos e

poliacuteticos que infelizmente ainda natildeo satildeo aplicados no municiacutepio Nesse contexto os outros

instrumentos de planejamento tais como o plano plurianual orccedilamento participativo

programas setoriais e planos de desenvolvimento econocircmico e social embora natildeo configurem

instrumentos urbaniacutesticos se colocam como ferramentas aliadas da gestatildeo democraacutetica da

cidade e da reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais visto que o processo de mudanccedila eacute

essencialmente poliacutetico Nesse sentido eacute extremamente importante que esses instrumentos

sejam pautados na real participaccedilatildeo popular na inclusatildeo e na justiccedila social

Quanto agrave sustentabilidade no ambiente urbano identificou-se que a preservaccedilatildeo e

proteccedilatildeo patrimonial pautadas no conforto do usuaacuterio a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados

a melhoria da infraestrutura urbana a concretizaccedilatildeo de projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria

59

assim como a construccedilatildeo de habitaccedilatildeo social de qualidade satildeo questotildees fundamentais para a

transformaccedilatildeo das cidades em territoacuterios democraacuteticos e sustentaacuteveis Essas demandas estatildeo

diretamente ligadas agrave mudanccedila no paradigma do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

pois uma vez colocadas em praacutetica alteram significativamente a configuraccedilatildeo das cidades

influenciando no clima urbano e na qualidade ambiental

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de uma base de dados climaacuteticos relativos ao municiacutepio

a partir das Normais Climatoloacutegicas obtidas no periacuteodo entre 1976 e 1990 foi possiacutevel

caracterizar o clima de Ouro Preto como um clima de baixas temperaturas muito uacutemido

(umidade relativa praticamente sempre acima de 80) com alta nebulosidade (o que significa

que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou nublado) e com abundacircncia de chuvas

principalmente no veratildeo Foi tambeacutem identificada uma grande interferecircncia do efeito da

barreira orograacutefica provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta

que conforma o Morro Satildeo Sebastiatildeo o que aprofunda ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade

Para a elaboraccedilatildeo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais foram utilizados os

resultados do diagrama de Givoni das Tabelas de Mahoney e da NBR 15220 Assim para a

cidade de Ouro Preto concluiu-se que a arquitetura deve priorizar o ganho teacutermico

principalmente durante o inverno pois nessa estaccedilatildeo tem-se uma queda significativa das

temperaturas o que afeta consideravelmente o conforto do usuaacuterio Esse ganho teacutermico deve

ser pensado a partir da utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior

insolaccedilatildeo o que possibilita um melhor aproveitamento dessa radiaccedilatildeo solar que deve servir

para manter o ambiente aquecido durante a noite Quanto aos materiais internos estes devem

possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser devidamente

isoladas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente Em relaccedilatildeo ao veratildeo foi

identificada a necessidade de ventilaccedilatildeo cruzada para reduzir os efeitos das temperaturas

elevadas e da alta umidade aleacutem de envoltoacuterias bem protegidas das chuvas

Por fim quanto agrave elaboraccedilatildeo do coacutedigo de obras foi possiacutevel apontar a

necessidade de se estabelecer as diretrizes para os projetos e construccedilotildees a partir dos

paracircmetros das normas teacutecnicas brasileiras do desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas com

base nas praacuteticas locais da garantia da acessibilidade das edificaccedilotildees agrave populaccedilatildeo em geral

da consideraccedilatildeo dos paracircmetros climaacuteticos e da utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis Foi

abordada a necessidade de aproximaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos do coacutedigo de obras aos

padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees residenciais previstos no RTQ-R

60

(Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais INMETRO) aleacutem da necessidade de se construir um texto objetivo e didaacutetico

que possa ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e teacutecnicos da aacuterea quanto

pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees

61

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 15220 Desempenho

teacutermico de edificaccedilotildees Rio de Janeiro ABNT 2005

BAHIA S R GUEDES P de A Elaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de obras e

edificaccedilotildees 2ordfed Rio de janeiro IBAMDUMA ELETROBRAS PROCEL 2012

BARANDIER H ALMEIDA M C T MORAIS R Planejamento e Controle Ambiental

Urbano e a Eficiecircncia Energeacutetica Rio de Janeiro IBAMDUMA ELETROBRASPROCEL

2013

BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988

BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002

BRASIL Lei nordm 10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do Desenvolvimento

Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Pesquisa nacional para identificar os resultados de

implementaccedilatildeo de processos de agendas 21 locais Brasiacutelia 2009

CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS Tiacutetulo 24 Parte 8 California Historical

Building Code 1ordm Ed Washington 2007

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FERREIRA C SOUZA H A de ASSIS E S de Estudo do clima brasileiro reflexotildees e

recomendaccedilotildees sobre a adequaccedilatildeo climaacutetica de habitaccedilotildees In XV Encontro Nacional de

Tecnologia do Ambiente Construiacutedo Maceioacute 2014

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IBGE Perfil dos municiacutepios brasileiros 2013 Brasiacutelia 2014

LAMBERTS R DUTRA L PEREIRA FO R Eficiecircncia Energeacutetica na Arquitetura 3ordfed

ELETROBRASPROCEL 2014

MENICONI R O A Construccedilatildeo de uma Cidade-Monumento o caso de Ouro Preto Belo

Horizonte Escola de Arquitetura e Urbanismo UFMG 1999 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OLIVEIRA L B Agenda 21 Local consolidando as bases para o desenvolvimento

sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escala UFOP 2010

62

OLIVEIRA M A Os valores culturais da paisagem urbana em Ouro Preto Um Estudo de

Caso das Aacutereas Verdes na Ladeira Santa Efigecircnia e Entorno Proacuteximo Salvador Mestrado em

Arquitetura e Urbanismo da UFBA 1997

OLIVEIRA M R S Gestatildeo Patrimonial em Ouro Preto Alcances e Limites das Poliacuteticas

Puacuteblicas Preservacionistas Campinas Poacutes ndash Graduaccedilatildeo em Geografia Anaacutelise Ambiental e

Dinacircmica Territorial da UNICAMP 2005 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OURO PRETO Lei complementar nordm 011996 Institui o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro

Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 022005 Estabelece a Estrutura Baacutesica e a

organizaccedilatildeo administrativa da Prefeitura Municipal de Ouro Preto e da outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 152006 Altera a Lei Complementar ndeg 021005

modifica a denominaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Turismo Induacutestria e Comeacutercio e da

Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio suas respectivas competecircncias e daacute outras

providecircncias de 27 de Abril de 2006

OURO PRETO Lei Complementar nordm 302006 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 28 de

Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei complementar nordm 912010 Altera a Lei Complementar nordm292006 que

estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 932011 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 20 de

Janeiro de 2011

OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996

OURO PRETO Lei complementar nordm292006 Estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de

Ouro Preto de 28 de Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei nordm 333 Dispotildee sobre o Programa da Agenda 21 Local de 11 de maio de

2007

OURO PRETO Lei nordm 5790 Dispotildee sobre as diretrizes baacutesicas do Plano Diretor do

Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Portaria 0292 Nomeia Comissatildeo Especial

OURO PRETO Portaria 1707 Nomeia Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos

Naturais e Agenda 21 Local

Page 6: POLYANA PEREIRA COELHO · 2019. 11. 14. · POLYANA PEREIRA COELHO A SUSTENTABILIDADE DO AMBIENTE URBANO E OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO MUNICIPAL: RECOMENDAÇÕES PARA UM CÓDIGO DE

5

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 6

2 O ESTATUTO DA CIDADE E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL 8

3 O PLANO DIRETOR E OS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO

MUNICIPAL 14

4 OS DESAFIOS DA REGULACcedilAtildeO URBANA FRENTE AgraveS INTERVENCcedilOtildeES NAS

EDIFICACcedilOtildeES E NOS CONJUNTOS URBANOS TOMBADOS 20

5 O MUNICIacutePIO DE OURO PRETO UM ESTUDO DE CASO 27

51 DA COLONIZACcedilAtildeO AO SEacuteCULO XX 27

52 O CONTEXTO ATUAL 34

6 ENSAIO PARA UM COacuteDIGO DE OBRAS PRINCIPAIS ESTRATEacuteGIAS PARA

A PROMOCcedilAtildeO DA EFICIEcircNCIA ENERGEacuteTICA NO MUNICIacutePIO DE OURO

PRETO 42

61 O RECONHECIMENTO DO CLIMA E AS RECOMENDACcedilOtildeES

ARQUITETOcircNICAS INICIAIS 42

62 O COacuteDIGO DE OBRAS E O CONFORTO AMBIENTAL EM OURO PRETO ndash

ESTRATEacuteGIAS PRIORITAacuteRIAS 54

7 CONCLUSAtildeO 58

6

1 INTRODUCcedilAtildeO

A praacutetica de ordenaccedilatildeo do territoacuterio nacional atraveacutes do planejamento urbano

modificou-se significativamente no iniacutecio do Segundo Milecircnio A aprovaccedilatildeo do Estatuto da

Cidade e a incorporaccedilatildeo dos preceitos do equiliacutebrio ambiental e do desenvolvimento

sustentaacutevel nas diretrizes para o desenvolvimento urbano impactaram positivamente o quadro

juriacutedico brasileiro Contudo enfrentam-se ainda inuacutemeras dificuldades na aplicaccedilatildeo das

diretrizes previstas nesse novo ordenamento o que se traduz num gigantesco atraso quanto agrave

transformaccedilatildeo das cidades brasileiras em cidades sustentaacuteveis

Atualmente satildeo os municiacutepios os entes federativos com maior capacidade de

transformaccedilatildeo da realidade local uma vez que os principais instrumentos aplicaacuteveis ao

contexto urbano estatildeo inseridos no Plano Diretor ou noutro plano urbano de competecircncia do

municiacutepio Sendo assim faz-se necessaacuterio aprofundar o conhecimento e entendimento dos

instrumentos da gestatildeo municipal analisando os limites e possibilidades encontrados nas

administraccedilotildees da maioria das cidades brasileiras A identificaccedilatildeo do contexto poliacutetico local eacute

fundamental para a compreensatildeo da realidade urbana pois o sucesso na aplicaccedilatildeo de

legislaccedilotildees transformadoras depende da vontade poliacutetica das gestotildees municipais em promover

a democratizaccedilatildeo da cidade e o bem-estar coletivo

Nesse contexto de reconhecimento dos instrumentos de gestatildeo municipal buscou-

se identificar e avaliar as poliacuteticas de promoccedilatildeo da sustentabilidade no ambiente urbano

Assim aleacutem da anaacutelise dos Planos Diretores e da Lei de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo do

Solo o presente trabalho buscou investigar a existecircncia e a implementaccedilatildeo de outros

importantes instrumentos de promoccedilatildeo do equiliacutebrio ambiental tais como a Agenda 21 e o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees

Quanto agrave sustentabilidade do ambiente urbano cabe ressaltar a importacircncia em se

pensar a interaccedilatildeo das edificaccedilotildees no territoacuterio de forma que estas contribuam positivamente

com o clima urbano Assim estatildeo diretamente relacionadas agrave sustentabilidade do ambiente

urbano as diretrizes relativas ao uso agrave seguranccedila agrave salubridade agrave acessibilidade e agrave

preservaccedilatildeo dos elementos histoacutericos artiacutesticos e culturais assim como diretrizes resultantes

de estudos climaacuteticos que aplicados ao desenho urbano possibilitem adaptaccedilatildeo das

edificaccedilotildees agraves caracteriacutesticas climaacuteticas locais ao conforto teacutermico luminoso e acuacutestico

Tambeacutem faz parte dessa transformaccedilatildeo urbana iniciativas que utilizem fontes de energia

alternativas e que combatam o desperdiacutecio de recursos

7

A partir do exposto acima foi escolhido como caso de estudo o Municiacutepio de Ouro

Preto situado na Regiatildeo Central de Minas Gerais Com um conjunto urbano de

aproximadamente 300 anos a cidade de Ouro Preto estaacute entre os 19 bens brasileiros

considerados Patrimocircnio Cultural da Humanidade pela UNESCO e entre os 77 conjuntos

urbanos tombados pelo IPHAN

Estudar Ouro Preto portanto pressupotildee acrescentar um olhar preservacionista aos

apontamentos sobre a regulaccedilatildeo urbana e o desenvolvimento sustentaacutevel Dentro dessa

realidade faz-se necessaacuterio desenvolver uma interaccedilatildeo entre esses trecircs importantes aspectos da

poliacutetica urbana municipal preservaccedilatildeo regulaccedilatildeo e sustentabilidade

Sendo assim o objetivo geral da pesquisa consiste em analisar dentro do contexto

juriacutedico do municiacutepio de Ouro Preto as leis pertinentes agrave regulaccedilatildeo urbana a fim de avaliar a

aplicaccedilatildeo dos preceitos do Estatuto da Cidade Ademais o presente trabalho procura

identificar os principais entraves e barreiras que atualmente impedem que a expansatildeo da

cidade ocorra de forma vinculada agrave qualidade de vida dos cidadatildeos agrave proteccedilatildeo ambiental e

vinculada agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico

A partir da identificaccedilatildeo e contextualizaccedilatildeo das legislaccedilotildees municipais foram

abordadas algumas iniciativas de promoccedilatildeo da sustentabilidade a fim de avanccedilar na

construccedilatildeo de uma base de dados climaacuteticos do municiacutepio capaz de orientar a elaboraccedilatildeo de

condicionantes urbaniacutesticas e diretrizes construtivas comprometidas com a proteccedilatildeo do meio

ambiente e com as premissas do conforto ambiental Dentro do rol de legislaccedilotildees municipais

destacou-se um importante instrumento da regulaccedilatildeo urbana o Coacutedigo de Obras e

Edificaccedilotildees Foram abordados na pesquisa aspectos importantes quanto agrave elaboraccedilatildeo e

atualizaccedilatildeo deste instrumento como por exemplo a incorporaccedilatildeo dos criteacuterios de

sustentabilidade a fim de elevar a qualidade das edificaccedilotildees e garantir o conforto do usuaacuterio

Para a anaacutelise do clima da cidade de Ouro Preto foram utilizados o diagrama de

Givoni as Tabelas de Mahoney aleacutem da NBR 15220 parte 3 A sistematizaccedilatildeo dos resultados

dessas trecircs ferramentas possibilitou a interpretaccedilatildeo das variaacuteveis climaacuteticas o que eacute

fundamental para a formulaccedilatildeo de recomendaccedilotildees arquitetocircnicas Tal resultado embasou o

apontamento global apresentado no uacuteltimo capiacutetulo quanto agraves principais recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas e agraves estrateacutegias prioritaacuterias de promoccedilatildeo do conforto ambiental

O trabalho deveraacute contribuir com os estudos que estatildeo sendo elaborados pelas

equipes teacutecnicas locais e com a conformaccedilatildeo de um pensamento criacutetico a cerca das poliacuteticas

puacuteblicas de promoccedilatildeo da sustentabilidade da regulaccedilatildeo urbana e da proteccedilatildeo patrimonial

8

2 O ESTATUTO DA CIDADE E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL

O iniacutecio do seacuteculo XXI podemos dizer foi marcado por uma mudanccedila qualitativa

no tocante ao Planejamento Urbano Brasileiro O Estatuto da Cidade Lei nordm 10257 foi

aprovado pelo Congresso Nacional em 2001 e representou uma grande vitoacuteria nos marcos do

planejamento urbano pois vinha sendo reivindicado pelos movimentos sociais de luta pela

reforma urbana desde a deacutecada de 1980 O Estatuto da Cidade veio regulamentar o Capiacutetulo II

da Constituiccedilatildeo Federal capiacutetulo este que trata da Poliacutetica Urbana composto pelos artigos

182 e 183 que ressaltam dentre outros aspectos como a poliacutetica de desenvolvimento urbano

deve estar diretamente associada agrave funccedilatildeo social da cidade e da propriedade urbana A

aprovaccedilatildeo desta lei significaria uma mudanccedila qualitativa nos marcos juriacutedico e institucional

dos municiacutepios por articular instrumentos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria habitaccedilatildeo saneamento

mobilidade e de gestatildeo de resiacuteduos aleacutem de introduzir o equiliacutebrio ambiental como item

essencial ao desenvolvimento urbano sustentaacutevel No Capiacutetulo 01 do Estatuto ndash Diretrizes

Gerais o primeiro artigo diz o seguinte

Art 1ordm Na execuccedilatildeo da poliacutetica urbana de que tratam os artigos 182 e 183 da

Constituiccedilatildeo Federal seraacute aplicado o previsto nesta Lei [] Paraacutegrafo uacutenico Para

todos os efeitos esta Lei denominada Estatuto da Cidade estabelece normas de

ordem puacuteblica e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol

do bem coletivo da seguranccedila e do bem-estar dos cidadatildeos bem como do equiliacutebrio

ambiental (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

O texto do Estatuto da Cidade tratou portanto de incorporar ao conjunto de

diretrizes da poliacutetica urbana o equiliacutebrio ambiental como um novo conceito como uma

demanda essencial ao desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis conforme estaacute disposto no

capiacutetulo introdutoacuterio da supracitada Lei

Contudo mesmo jaacute estando consolidado haacute mais de uma deacutecada o desafio

colocado pelo Estatuto da Cidade tem se aprofundado a cada dia A retirada de mateacuteria-prima

da natureza a exploraccedilatildeo de recursos energeacuteticos a demanda por aacutegua potaacutevel e por

alimentos assim como a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos satildeo intensificadas com o passar dos

anos e com o crescimento exponencial das cidades Nas grandes metroacutepoles o problema

ambiental jaacute alcanccedilou o alerta vermelho quanto agrave gravidade da situaccedilatildeo a poluiccedilatildeo a

impermeabilizaccedilatildeo dos solos a falta de vegetaccedilatildeo e de barreiras geograacuteficas naturais tecircm

provocado inuacutemeros danos ao meio ambiente urbano que sofre com a falta de chuva ou com o

excesso dela com a draacutestica alteraccedilatildeo do microclima e com a formaccedilatildeo de ilhas de calor cada

dia mais agressivas ao bem-estar da populaccedilatildeo

9

Nos municiacutepios menores embora os problemas ambientais sejam percebidos com

menor intensidade a poliacutetica urbana tambeacutem estaacute voltada para a exploraccedilatildeo e esgotamento

dos recursos naturais Natildeo haacute uma poliacutetica efetiva de proteccedilatildeo das aacutereas de risco das aacutereas de

proteccedilatildeo permanente assim como natildeo haacute saneamento baacutesico em toda a aacuterea urbana Soma-se

a esses problemas a falta de estaccedilotildees de tratamento de efluentes que resulta na utilizaccedilatildeo dos

cursos drsquoaacutegua como canais de esgotamento sanitaacuterio e consequentemente na contaminaccedilatildeo

dos recursos hiacutedricos de toda uma regiatildeo

A partir desses elementos evidencia-se que a promulgaccedilatildeo do Estatuto da Cidade

apesar do avanccedilo representado natildeo conseguiu resolver por si soacute os inuacutemeros problemas

ambientais urbanos que afetam agraves cidades brasileiras Tais problemas estatildeo diretamente

vinculados aos paracircmetros de parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo padrotildees construtivos e

padrotildees ediliacutecios das cidades definidos pela legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal quando

existente Os municiacutepios encontram enorme dificuldade em aplicar os preceitos do Estatuto

por falta de uma legislaccedilatildeo urbana forte aprimorada e atualizada que possa contemplar todos

os aspectos de uma regulaccedilatildeo urbana voltada para a sustentabilidade e para o bem-estar

coletivo

Eacute neste cenaacuterio que entram em cena os instrumentos da poliacutetica urbana previstos

no Capiacutetulo II do Estatuto da Cidade organizados em seis categorias que satildeo

I ndash planos nacionais regionais e estaduais de ordenaccedilatildeo do territoacuterio e de

desenvolvimento econocircmico e social

II ndash planejamento das regiotildees metropolitanas aglomeraccedilotildees urbanas e

microrregiotildees

III ndash planejamento municipal

IV ndash institutos tributaacuterios e financeiros

V ndash institutos juriacutedicos e poliacuteticos

VI ndash estudo preacutevio de impacto ambiental (EIA) e estudo preacutevio de impacto de

vizinhanccedila (EIV) (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho

2001)

As categorias III - planejamento municipal IV - institutos tributaacuterios e financeiros

e V - instrumentos juriacutedicos e poliacuteticos se desdobram em outros variados instrumentos que

associados e devidamente estabelecidos por lei especiacutefica serviratildeo de base para que os

municiacutepios avancem na construccedilatildeo de um ambiente urbano equilibrado inclusivo e

sustentaacutevel Destaca-se nesse quadro de instrumentos dentro da categoria ldquoplanejamento

municipalrdquo o Plano Diretor que constituindo o ldquoinstrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e expansatildeo urbanardquo possibilitaraacute para aleacutem da ordenaccedilatildeo do solo a

articulaccedilatildeo com outros processos de planejamento na esfera municipal Tal instrumento seraacute

melhor abordado no proacuteximo capiacutetulo

10

Apresentados os processos de planejamento e os instrumentos da poliacutetica urbana

trazidos pelo Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio avanccedilar no entendimento da

sustentabilidade enquanto conceito uma vez que esta passaraacute a compor um corpo uacutenico com o

que vier a se entender por ldquodesenvolvimentordquo

A preocupaccedilatildeo com o ordenamento juriacutedico de proteccedilatildeo e defesa do meio

ambiente se materializou no Brasil inicialmente em 1981 a partir da promulgaccedilatildeo da Lei

6938 que instituiu a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente O SISNAMA Sistema Nacional

do Meio Ambiente reuniu os oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Direta - Uniatildeo Estados

DF e Municiacutepios - responsaacuteveis pela proteccedilatildeo e melhoria da qualidade ambiental

Em 2002 a construccedilatildeo da Agenda 21 Brasileira buscou associar o conceito de

sustentabilidade agraves poliacuteticas de desenvolvimento urbano As Agendas Nacionais foram

desenvolvidas a partir da Agenda 21 Global Esta uacuteltima resultou das discussotildees realizadas na

Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD)

mais conhecida como Rio 92 A Agenda 21 consiste em um programa de accedilatildeo voltado para a

aplicaccedilatildeo de meacutetodos de proteccedilatildeo ambiental justiccedila social e eficiecircncia econocircmica Eacute um

documento de 40 capiacutetulos com mais de 2500 recomendaccedilotildees praacuteticas e foi assinado por 179

paiacuteses formalizando o compromisso dessas naccedilotildees com o Desenvolvimento Sustentaacutevel do

Planeta Instrumento de planejamento participativo a Agenda 21 deve ser um resultado de

accedilotildees que congreguem governo e sociedade civil e por isso eacute um instrumento aliado das novas

frentes de trabalho inauguradas pelo Estatuto da Cidade A partir dos trechos a seguir

retirados respectivamente da Agenda 21 e do Estatuto da Cidade pode-se perceber a afinidade

nas pretensotildees dos dois Instrumentos de Planejamento

71 Nos paiacuteses industrializados os padrotildees de consumo das cidades representam

uma pressatildeo muito seacuteria sobre o ecossistema global ao passo que no mundo em

desenvolvimento os assentamentos humanos necessitam de mais mateacuteria-prima

energia e desenvolvimento econocircmico simplesmente para superar seus problemas

econocircmicos e sociais baacutesicos Em muitas regiotildees do mundo em especial nos paiacuteses

em desenvolvimento as condiccedilotildees dos assentamentos humanos vecircm se

deteriorando sobretudo em decorrecircncia do baixo volume de investimentos no setor

imputaacutevel agraves restriccedilotildees relativas a recursos com que esses paiacuteses se deparam em

todas as aacutereas Nos paiacuteses de baixa renda sobre os quais haacute dados recentes apenas

56 por cento do orccedilamento do Governo central em meacutedia foram dedicados a

habitaccedilatildeo lazer seguridade social e bem-estar social [] Objetivo 78 O objetivo eacute

oferecer habitaccedilatildeo adequada a populaccedilotildees em raacutepido crescimento e aos pobres

atualmente carentes tanto de aacutereas rurais como urbanas por meio de uma

abordagem que possibilite o desenvolvimento e a melhoria de condiccedilotildees de moradia

ambientalmente saudaacuteveis (AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do

Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992)

11

Estatuto da Cidade Capiacutetulo 1 ndash Diretrizes Gerais Art 2ordm A poliacutetica urbana tem por

objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e da

propriedade urbana mediante as seguintes diretrizes gerais I ndash garantia do direito a

cidades sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao

saneamento ambiental agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos

puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para as presentes e futuras geraccedilotildees [] Art 3ordm

Compete agrave Uniatildeo entre outras atribuiccedilotildees de interesse da poliacutetica urbana IV -

instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano inclusive habitaccedilatildeo saneamento

baacutesico transportes urbanos e infraestrutura de energia e telecomunicaccedilotildees

(BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

O texto da Agenda 21 mais especificamente o Preacircmbulo enfatiza que o sucesso

na aplicaccedilatildeo desse plano de accedilatildeo depende primeiramente do comprometimento dos governos

com a preparaccedilatildeo de estrateacutegias planos poliacuteticas e processos nacionais para a concretizaccedilatildeo

dos objetivos estabelecidos

A Agenda 21 Brasileira foi desenvolvida no periacuteodo de 1996 a 2002 e teve como

eixo a sustentabilidade a partir da compatibilizaccedilatildeo entre conservaccedilatildeo ambiental justiccedila

social e crescimento econocircmico

Ao aprofundar-se na elaboraccedilatildeo de diretrizes para problemas de ordem estrutural

a Agenda 21 Brasileira foi elevada a programa dentro do Plano Plurianual de Governo (entre

2004 e 2007)1 o que daria maior forccedila poliacutetica e institucional agrave Agenda Sendo assim a partir

de soluccedilotildees integradas planejadas a meacutedio e longo prazos e a partir da associaccedilatildeo entre

governo e sociedade seria possiacutevel tratar de questotildees como ldquoeconomia da poupanccedila na

sociedade do conhecimento inclusatildeo social para uma sociedade solidaacuteria estrateacutegia para a

sustentabilidade urbana e rural recursos naturais estrateacutegicos governanccedila e eacutetica para a

promoccedilatildeo da sustentabilidaderdquo (AGENDA 21 BRASILEIRA 2004 p04) O Programa foi

estruturado em trecircs accedilotildees implementar a Agenda 21 Brasileira promover a elaboraccedilatildeo e

implementaccedilatildeo de Agendas 21 Locais e formaccedilatildeo continuada em Agenda 21

Vale destacar a importacircncia da Agenda 21 Local enquanto instrumento

complementar aos instrumentos da poliacutetica municipal de desenvolvimento urbano

A Agenda 21 Local eacute um dos principais instrumentos para se conduzir processos de

mobilizaccedilatildeo troca de informaccedilotildees geraccedilatildeo de consensos em torno dos problemas e

1 Importante destacar que ldquoO Plano Plurianual (PPA) eacute um instrumento previsto no art 165 da Constituiccedilatildeo

Federal destinado a organizar e viabilizar a accedilatildeo puacuteblica com vistas a cumprir os fundamentos e os objetivos da

Repuacuteblica Por meio dele eacute declarado o conjunto das poliacuteticas puacuteblicas do governo para um periacuteodo de quatro

anos e os caminhos trilhados para viabilizar as metas previstas construindo um Brasil melhorrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwmpgovbrministerioaspindex=10ampler=s1086gt Acesso em 06 jun 2015 O Plano Plurianual

referente ao periacuteodo 2004 ndash 2007 foi regulamentado pela Lei Nordm 10933 de 2004 sancionada pelo entatildeo

Presidente Luiacutez Inaacutecio Lula da Silva

12

soluccedilotildees locais e estabelecimento de prioridades para a gestatildeo de desde um estado

municiacutepio bacia hidrograacutefica unidade de conservaccedilatildeo ateacute um bairro uma escola O

processo deve ser articulado com outros projetos programas e atividades do governo

e sociedade sendo consolidado dentre outros a partir do envolvimento dos agentes

regionais e locais anaacutelise identificaccedilatildeo e promoccedilatildeo de instrumentos financeiros

difusatildeo e intercacircmbio de experiecircncias definiccedilatildeo de indicadores de desempenho

(AGENDA 21 Brasileira accedilotildees prioritaacuteriasComissatildeo de Poliacuteticas de

Desenvolvimento Sustentaacutevel e da Agenda 21 Nacional 2 ed Brasiacutelia Ministeacuterio

do Meio Ambiente 2004)

Desde entatildeo o esforccedilo em fomentar a construccedilatildeo das Agendas 21 Locais gerou

um resultado positivo embora muito aqueacutem do necessaacuterio para uma mudanccedila substancial nas

poliacuteticas em prol do desenvolvimento sustentaacutevel Em 2013 apenas 215 dos municiacutepios

brasileiros possuiacuteam processos em andamento relativos agrave Agenda 21 conforme foi

identificado pela IBGE a partir da Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros (MUNIC

2013) 2 Tal percentual apesar da pouca expressividade demarca um processo positivo de

mudanccedila tendo em vista que nos dados dos anos anteriores observava-se percentuais ainda

menores aleacutem de um processo de decliacutenio em 2009 a pesquisa indicou que 199 dos

municiacutepios haviam iniciado a elaboraccedilatildeo da agenda 21 enquanto em 2012 o percentual

baixou para 181

Nota-se ante ao exposto ateacute aqui que existe um arcabouccedilo legal significativo em

prol do desenvolvimento urbano sustentaacutevel Contudo a aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo existente e a

obtenccedilatildeo de resultados positivos estatildeo longe de se tornar uma realidade no Brasil Sendo

assim faz-se necessaacuterio reforccedilar a cada dia os compromissos estabelecidos nas Leis

Brasileiras e trabalhar na efetivaccedilatildeo dos instrumentos de promoccedilatildeo do equiliacutebrio ambiental a

partir da aplicaccedilatildeo das premissas da sustentabilidade Atingir o desenvolvimento urbano

sustentaacutevel natildeo eacute somente uma das opccedilotildees mas a uacutenica opccedilatildeo existente se quisermos que o

planeta tenha vida longa Preservar o meio ambiente deve ser uma accedilatildeo constante associada a

todas agraves demais poliacuteticas puacuteblicas Quanto agrave iniciativa privada esta deveraacute ser

permanentemente fiscalizada Regulamentar as atividades de exploraccedilatildeo da natureza e buscar

a inibiccedilatildeo severa de atividades de impacto ambiental satildeo tarefas urgentes que o Poder Puacuteblico

deve assimilar o quanto antes

2 Ressalta-se que ldquoA Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais ndash MUNIC eacute realizada desde o ano de 1999

pelo IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Na versatildeo de 2013 foram destacados os aspectos

relevantes da gestatildeo e da estrutura dos 5570 municiacutepios brasileiros a partir dos seguintes eixos perfil dos

gestores municipais recursos humanos das administraccedilotildees municipais legislaccedilatildeo e instrumentos de

planejamento sauacutede meio ambiente poliacutetica de gecircnero ndash temas jaacute investigados em anos anteriores ndash aleacutem de

gestatildeo de riscos e resposta a desastres este ineacutedito ateacute entatildeordquo Disponiacutevel em

lthttpwwwibgegovbrhomeestatisticaeconomiaperfilmunic2013defaultshtmgt Acesso em 06 jun 2015)

13

Somente com a permanente preocupaccedilatildeo do Estado para com o tema seraacute

possiacutevel consolidar o desenvolvimento urbano a partir da aplicaccedilatildeo das premissas da

sustentabilidade do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

14

3 O PLANO DIRETOR E OS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO

MUNICIPAL

Para introduzir a discussatildeo do Plano Diretor e demais instrumentos de

planejamento municipal previstos no Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio retomar o momento

da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 com destaque para o Art30 que determina as tarefas de

competecircncia dos Municiacutepios Dentre tais competecircncias destacam-se os incisos VIII e IX

diretamente relacionados ao planejamento urbano

Art 30 Compete aos Municiacutepios [] VIII - promover no que couber adequado

ordenamento territorial mediante planejamento e controle do uso do parcelamento e

da ocupaccedilatildeo do solo urbano IX - promover a proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-

cultural local observada a legislaccedilatildeo e a accedilatildeo fiscalizadora federal e estadual

(BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de

1988)

Aleacutem de delimitar as competecircncias municipais a Constituiccedilatildeo tambeacutem apontou

no Art182 do Capiacutetulo II o Plano Diretor - velho conhecido dos Teacutecnicos e Governantes -

como principal instrumento a ser utilizado pelos Municiacutepios no desenvolvimento da poliacutetica

urbana

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo Poder Puacuteblico

municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem por objetivo ordenar o

pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus

habitantes sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio para

cidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e de expansatildeo urbana sect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua

funccedilatildeo social quando atende agraves exigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade

expressas no plano diretor (BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do

Brasil de 5 de outubro de 1988)

Contudo tal instrumento natildeo representou uma novidade A expressatildeo Plano

Diretor foi utilizada pela primeira vez no Brasil em 1930 a partir do Plano Agache3

desenvolvido para o Rio de Janeiro Posteriormente foram desenvolvidos planos diretores em

todo o territoacuterio brasileiro planos estes que ficariam engavetados por falta de vontade

3 Nota-se que ldquoO Plano Agache foi a primeira proposta de intervenccedilatildeo urbaniacutestica na cidade do Rio de Janeiro

com preocupaccedilotildees genuinamente modernas Concluiacutedo em 1930 introduziu no cenaacuterio nacional algumas

questotildees tiacutepicas da cidade industrial tais como o planejamento do transporte de massas e do abastecimento de

aacuteguas a habitaccedilatildeo operaacuteria e o crescimento das favelas Aleacutem disso com discussotildees emergentes que iam desde a

necessidade de um zoneamento para a cidade ateacute a delimitaccedilatildeo de aacutereas verdes ultrapassou os limites do

Academicismo das intervenccedilotildees predecessoras de Pereira Passos e Paulo de Frontinrdquo Disponiacutevel em

lthttpplanourbanoriorjgovbrgt Acesso em 06 de jun 2015

15

poliacutetica A nomenclatura e o conteuacutedo dos planos diretores variaram com o passar dos anos

segundo Villaccedila

Por fim cabe abordar historicamente as jaacute mencionadas mudanccedilas na nomenclatura

nas formas nos conteuacutedos e nas metodologias dos planos Em primeiro lugar cai em

desuso a expressatildeo plano de melhoramentos e embelezamento e entra em cena a

expressatildeo urbanismo Depois esta cai em desuso sendo substituiacuteda por

planejamento urbano e plano diretor Em segundo lugar os conteuacutedos e

metodologias de elaboraccedilatildeo dos planos sofrem alteraccedilotildees radicais De enormes

volumes com centenas de paacuteginas recheados de mapas pesquisas e estatiacutesticas

elaborados por equipes multidisciplinares e abordando enorme leque de problemas

transformam-se em meros projetos de lei agraves vezes contendo apenas declaraccedilotildees de

princiacutepios poliacuteticas ou diretrizes gerais agraves vezes ateacute sem mapas ou com poucos

mapas Um simples projeto de lei publicado no Diaacuterio Oficial (CSABA Deaacutek

SUELI Ramos Schiffer (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo

Editora da Universidade de Satildeo Paulo 1999 p191)

A realidade eacute que os planos diretores desenvolvidos no Brasil entre as deacutecadas de

1940 e 1990 natildeo correspondiam ao pensamento dos governantes e das classes dominantes e

por isso natildeo contaram com intenccedilatildeo real de aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo Os objetivos apontados

natildeo seriam atingidos pois o Plano Diretor natildeo se tornara uma prioridade em nenhuma das

esferas administrativas do paiacutes

O ressurgimento do instrumento Plano Diretor em 1988 embora isento de grandes

novidades veio acompanhado da premissa da funccedilatildeo social da propriedade um aspecto

positivo e inovador da poliacutetica urbana poreacutem praticamente inviaacutevel de ser aplicado num

primeiro momento pelos obstaacuteculos constantes na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal Contudo

diante da pressatildeo dos movimentos sociais e populares que se fortaleceram durante o processo

de redemocratizaccedilatildeo tais planos foram se tornando mais politizados abordando aspectos

especiacuteficos da competecircncia municipal e tratando das polecircmicas voltadas para o territoacuterio

inclusive sobre a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria no espaccedilo urbano

Em 2001 a poliacutetica urbana foi regulamentada pela Lei 10257 - Estatuto da

Cidade ndash devidamente apresentada no capiacutetulo anterior Com uma abordagem democraacutetico-

participativa voltada para os interesses coletivos tal lei possibilitou uma mudanccedila expressiva

no planejamento urbano principalmente na esfera municipal

O Plano Diretor Participativo como seraacute chamado a partir de entatildeo se torna o

principal dentre outros sete instrumentos de planejamento municipal expressos no Art 4ordm

inciso III da Lei 10257

Art 4o Para os fins desta Lei seratildeo utilizados entre outros instrumentos [] III ndash

planejamento municipal em especial a) plano diretor b) disciplina do

parcelamento do uso e da ocupaccedilatildeo do solo c) zoneamento ambiental d) plano

plurianual e) diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual f) gestatildeo orccedilamentaacuteria

16

participativa g) planos programas e projetos setoriais h) planos de

desenvolvimento econocircmico e social (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade

de 10 de julho 2001)

O conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelos planos diretores foi estabelecido na

resoluccedilatildeo nordm34 de 01 de julho de 2005 pelo Conselho das Cidades A tal conselho

regulamentado pelo Decreto 5031 2004 competia emitir orientaccedilotildees e recomendaccedilotildees sobre

a aplicaccedilatildeo da Lei 10257 de 2001 (Estatuto da Cidade) e dos demais atos normativos

relacionados ao desenvolvimento urbano A inclusatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel das

cidades nas novas diretrizes da poliacutetica urbana teraacute no plano diretor a sua expressatildeo

fundamental Dentre o conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelo Plano Diretor Participativo

merece destaque o Art 2ordm inciso III aleacutem do Art 5ordm inciso VII do Estatuto da Cidade

Art 2deg As funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade urbana seratildeo definidas a partir

da destinaccedilatildeo de cada porccedilatildeo do territoacuterio do municiacutepio bem como da identificaccedilatildeo

dos imoacuteveis natildeo edificados subutilizados e natildeo utilizados no caso de sua existecircncia

de forma a garantir [] III - a universalizaccedilatildeo do acesso aacute aacutegua potaacutevel aos

serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio a coleta e disposiccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos e ao

manejo sustentaacutevel das aacuteguas pluviais de forma integrada aacutes poliacuteticas ambientais de

recursos hiacutedricos e de sauacutede [] Art 5deg A instituiccedilatildeo das Zonas Especiais

considerando o interesse local deveraacute [] VII - demarcar as aacutereas de proteccedilatildeo

preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e construiacutedo do patrimocircnio

cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico (BRASIL Lei nordm10257

Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

Ao estabelecer as diretrizes de ordenaccedilatildeo do solo o Plano Diretor estabelece que

a propriedade urbana deve servir agrave qualidade de vida dos cidadatildeos agrave justiccedila social e ao

desenvolvimento sustentaacutevel das atividades econocircmicas A referecircncia territorial que estrutura

as estrateacutegias definidas pelo Plano Diretor eacute o macrozoneamento Este subdivide o territoacuterio

municipal a partir da identificaccedilatildeo das potencialidades e das caracteriacutesticas de cada aacuterea Satildeo

algumas categorias utilizadas na definiccedilatildeo do macrozoneamento aacutereas aptas agrave urbanizaccedilatildeo

aacutereas propiacutecias ao desenvolvimento de atividades rurais aacutereas de preservaccedilatildeo e aacutereas de

exploraccedilatildeo econocircmica Aleacutem da definiccedilatildeo de intenccedilotildees para os vetores do territoacuterio

municipal o macrozoneamento define tambeacutem o periacutemetro urbano e as zonas de expansatildeo

urbana enquanto instrumentos de direcionamento da urbanizaccedilatildeo da gestatildeo ambiental e do

crescimento econocircmico A delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano deve ser feita a partir de planta

referenciada com clara indicaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e fiacutesicos limiacutetrofes e deve servir

para direcionar o adensamento populacional para as aacutereas providas de infraestrutura

garantindo a proteccedilatildeo das aacutereas de interesse ambiental e a reserva de aacutereas para produccedilatildeo

agriacutecola e ocupaccedilatildeo rural A alteraccedilatildeo de tal periacutemetro conforme previsto no Art42B do

17

Estatuto da Cidade deveraacute instituiacuteda por lei municipal e deve ser resultado de projeto

especiacutefico que contemple o conteuacutedo miacutenimo e que atenda agraves diretrizes do Plano Diretor

O segundo instrumento de planejamento municipal apresentado no Art 4ordm do

Estatuto da Cidade o parcelamento o uso e a ocupaccedilatildeo do solo eacute tambeacutem um importante

instrumento para a concretizaccedilatildeo dos preceitos da sustentabilidade do ambiente urbano A

Legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal definiraacute o zoneamento da aacuterea urbana Tal zoneamento

responsaacutevel pela subdivisatildeo do periacutemetro urbano em diferentes categorias eacute o principal

instrumento da regulaccedilatildeo urbana A definiccedilatildeo das categorias deveraacute ser pautada pelo melhor

aproveitamento e pela ampliaccedilatildeo do acesso agrave terra urbanizada O zoneamento orienta o

ordenamento urbano a partir das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo do solo definindo os paracircmetros

urbaniacutesticos - coeficiente de aproveitamento taxa de ocupaccedilatildeo afastamentos gabaritos - de

forma que os projetos de edificaccedilotildees e demais intervenccedilotildees mantenham uma densidade de

ocupaccedilatildeo que favoreccedila o conforto ambiental urbano Dentre os criteacuterios para a definiccedilatildeo dos

diferentes paracircmetros urbaniacutesticos que incidem sobre o territoacuterio estatildeo proteccedilatildeo das aacutereas

ambientalmente fraacutegeis adensamento de aacutereas providas de infraestrutura limitaccedilatildeo de usos a

partir da capacidade viaacuteria controle da permeabilidade do solo preservaccedilatildeo e proteccedilatildeo de

conjuntos de valor histoacuterico cultural ou ambiental distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo de baixa renda

em aacutereas bem localizadas e servidas de infraestrutura condiccedilotildees climaacuteticas locais

As diretrizes para o parcelamento geralmente compoem junto com os paracircmetros

urbaniacutesticos a mesma lei municipal O parcelamento merece destaque pois trata dos novos

espaccedilos que seratildeo incorporados ao tecido urbano da cidade e portanto deveraacute estar

integralmente articulado com as estrateacutegias do desenvolvimento urbano Eacute regulamentado em

acircmbito geral pela Lei Federal 676679 acrescida das alteraccedilotildees posteriores definidas nas leis

978599 e 1144507 O parcelamento configura um processo de expansatildeo horizontal ou

adensamento da aacuterea urbanizada e consiste na subdivisatildeo de um determinado imoacutevel sob as

formas de desmembramento (quando haacute o aproveitamento do sistema viaacuterio existente) ou

loteamento (quando haacute abertura de novas vias e logradouros ou modificaccedilatildeo dos existentes)

Deveratildeo ser contempladas na Lei de Parcelamento as aacutereas que natildeo admitiratildeo parcelamento

os paracircmetros de dimensionamento de lotes quadras e sistema viaacuterio as aacutereas de uso puacuteblico

as faixas de proteccedilatildeo a infraestrutura baacutesica os procedimentos administrativos para

aprovaccedilatildeo do projeto as contrapartidas do empreendedor as penalidades sobre infraccedilotildees

assim como os procedimentos para regularizaccedilatildeo das aacutereas em desconformidade com a Lei

Paracircmetros de conforto ambiental tais como ventos favoraacuteveis orientaccedilatildeo solar vegetaccedilatildeo

18

sistema de abastecimento de aacutegua sistema de esgotamento sanitaacuterio e sistema de drenagem

devem ser definidos em lei e cobrados nos projetos de parcelamento a fim de minimizar os

impactos ao meio ambiente

Vale destacar que o sucesso na elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo das Leis de Parcelamento

Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo depende primeiramente do comprometimento da gestatildeo municipal

com a democratizaccedilatildeo da cidade e com o bem-estar coletivo caso contraacuterio tal legislaccedilatildeo

poderaacute aprofundar a segregaccedilatildeo privilegiando a iniciativa privada a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria

e os interesses individuais

O zoneamento ambiental terceiro instrumento de planejamento municipal

apontado na lista do Art 4ordm do Estatuto da Cidade eacute tambeacutem um instrumento da Poliacutetica

Nacional do Meio Ambiente regida pela Lei 693881 Art 9ordm O zoneamento ambiental pode

ser considerado uma expressatildeo sinocircnima do Zoneamento Ecoloacutegico-Econocircmico ndash ZEE que

foi regulamentado pelo Decreto 429702

CAPITULO I - DOS OBJETIVOS E PRINCIacutePIOS ndash [] Art 2ordm O ZEE

instrumento de organizaccedilatildeo do territoacuterio a ser obrigatoriamente seguido na

implantaccedilatildeo de planos obras e atividades puacuteblicas e privadas estabelece medidas e

padrotildees de proteccedilatildeo ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental dos

recursos hiacutedricos e do solo e a conservaccedilatildeo da biodiversidade garantindo o

desenvolvimento sustentaacutevel e a melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo

Art 3ordm O ZEE tem por objetivo geral organizar de forma vinculada as decisotildees dos

agentes puacuteblicos e privados quanto a planos programas projetos e atividades que

direta ou indiretamente utilizem recursos naturais assegurando a plena manutenccedilatildeo

do capital e dos serviccedilos ambientais dos ecossistemas Paraacutegrafo uacutenico O ZEE na

distribuiccedilatildeo espacial das atividades econocircmicas levaraacute em conta a importacircncia

ecoloacutegica as limitaccedilotildees e as fragilidades dos ecossistemas estabelecendo vedaccedilotildees

restriccedilotildees e alternativas de exploraccedilatildeo do territoacuterio e determinando quando for o

caso inclusive a relocalizaccedilatildeo de atividades incompatiacuteveis com suas diretrizes

gerais (BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002)

O zoneamento ambiental ou ZEE eacute o instrumento que possibilita traccedilar um

panorama sobre a utilizaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais de um determinado

municiacutepio gerando as bases para um planejamento urbano comprometido com a

sustentabilidade ecoloacutegica econocircmica e social Tambeacutem eacute um instrumento de caraacuteter

democraacutetico-participativo e deve portanto ser acompanhado pela Administraccedilatildeo Puacuteblica em

seus diferentes niacuteveis e pela sociedade civil Tal instrumento assim como o zoneamento

urbano divide o territoacuterio em diferentes categorias As categorias do zoneamento ambiental

satildeo definidas a partir dos princiacutepios da utilidade e da simplicidade de forma a configurar

limites claros e compreensiacuteveis ao poder puacuteblico e aos cidadatildeos As diretrizes gerais e

especiacuteficas do zoneamento deveratildeo conter a capacidade de suporte ambiental de determinada

aacuterea a necessidade de proteccedilatildeo dos recursos renovaacuteveis e natildeo-renovaacuteveis a definiccedilatildeo de aacutereas

19

para unidades de conservaccedilatildeo integral a permissatildeo para exploraccedilatildeo de recursos naturais as

medidas para o desenvolvimento sustentaacutevel do setor rural medidas de ajustamento entre usos

conflitantes aleacutem de planos programas e fonte de recursos para viabilizar as atividades

apontadas para cada zona

Apesar de ser um importante instrumento de suporte agrave proteccedilatildeo do meio ambiente

o zoneamento ambiental ou ZEE ainda tem sido pouco utilizado pelos municiacutepios brasileiros

Contudo os dados da Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais (MUNIC 2013)

demonstraram que tem havido um crescimento do percentual de municiacutepios com legislaccedilatildeo

especiacutefica sobre a questatildeo ambiental o que traz um pouco de esperanccedila quanto agrave mudanccedila

dos paradigmas de proteccedilatildeo do meio ambiente A MUNIC 2013 apontou que em 2012

554 dos municiacutepios tinham legislaccedilatildeo ambiental jaacute em 2013 esse percentual subiu para

655

Por uacuteltimo os demais instrumentos de planejamento municipal apontados no Art

4ordm do Estatuto da Cidade - plano plurianual diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual

gestatildeo orccedilamentaacuteria participativa planos programas e projetos setoriais planos de

desenvolvimento econocircmico e social ndash tratariam de garantir a gestatildeo democraacutetica da cidade a

partir da realizaccedilatildeo de debates audiecircncias e consultas puacuteblicas como condiccedilatildeo para a

aprovaccedilatildeo das Leis Municipais Tais instrumentos apesar de natildeo-urbaniacutesticos tecircm uma

importacircncia decisiva na reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais Contudo embora tenham se

efetivado na maioria dos municiacutepios brasileiros ainda permanecem em sua maioria

mergulhados na velha poliacutetica clientelista que transforma os foacuteruns de participaccedilatildeo em

espaccedilos esvaziados pouco divulgados redutos de manobras poliacuteticas e trocas de favores

Infelizmente a garantia da gestatildeo democraacutetica natildeo seraacute alcanccedilada apenas por atos normativos

assim como as diretrizes estabelecidas para o desenvolvimento urbano sustentaacutevel tambeacutem

natildeo ser tornaratildeo realidade apenas por forccedila de Lei Eacute necessaacuterio mudar o caraacuteter da gestatildeo do

territoacuterio que atualmente se caracteriza pela anulaccedilatildeo da atuaccedilatildeo teacutecnica das diferentes aacutereas

do conhecimento a fim de garantir que o interesse privado prevaleccedila sobre os diretos coletivos

de toda uma cidade Eacute necessaacuterio colocar em praacutetica os preceitos das leis brasileiras efetivar

os instrumentos com real participaccedilatildeo popular lanccedilar as bases para um modelo de gestatildeo

realmente democraacutetico inclusivo e comprometido com o bem estar coletivo e com a justiccedila

social

20

4 OS DESAFIOS DA REGULACcedilAtildeO URBANA FRENTE AgraveS INTERVENCcedilOtildeES NAS

EDIFICACcedilOtildeES E NOS CONJUNTOS URBANOS TOMBADOS

A proteccedilatildeo e a preservaccedilatildeo dos siacutetios urbanos de valor histoacuterico arquitetocircnico

cultural ou paisagiacutestico satildeo imprescindiacuteveis para a manutenccedilatildeo da identidade e da memoacuteria

dos diferentes grupos sociais que por ali passaram ou nele se estabeleceram O registro da

histoacuteria deve ser deixado agraves geraccedilotildees futuras como siacutembolo do conhecimento e da experiecircncia

adquirida ao longo do tempo A proteccedilatildeo de um determinado siacutetio pode inclusive ser

utilizada quando a memoacuteria coletiva e a afetividade de uma comunidade para com um

determinado espaccedilo adquirir grande relevacircncia cultural gerando uma ambiecircncia a ser

protegida mesmo que esta tenha se consolidado em um periacuteodo recente

Atualmente a preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos e a conservaccedilatildeo dos imoacuteveis

urbanos tecircm no desenvolvimento urbano sustentaacutevel um importante aliado A disseminaccedilatildeo

da loacutegica do consumo que atinge tanto os bens materiais moacuteveis quanto os imoacuteveis resulta

numa produccedilatildeo exagerada desses bens o que demanda enorme quantidade de mateacuteria-prima e

energia e causa impacto no meio ambiente Sendo assim as poliacuteticas de preservaccedilatildeo e o

incentivo ao reuso de edifiacutecios e objetos contribuem para a sustentabilidade e o equiliacutebrio

ambiental

Hoje existem no Brasil doze siacutetios urbanos e sete siacutetios naturais que satildeo

considerados Patrimocircnio Cultural da Humanidade e portanto tombados internacionalmente

pela UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

Dentre os conjuntos tombados internacionalmente destaca-se a predominacircncia dos centros

histoacutericos de caracteriacutesticas coloniais tais como o Centro Histoacuterico de Ouro Preto MG

Olinda PE Salvador BA Satildeo Luiz do Maranhatildeo MA Diamantina MG e Goiaacutes GO Natildeo

menos importante o tombamento nacional realizado pelo IPHAN ndash Instituto do Patrimocircnio

Histoacuterico e Artiacutestico Nacional preserva 77 conjuntos urbanos espalhados por todas as regiotildees

do Brasil com destaque para a regiatildeo nordeste que conta com 30 desses centros tombados

Somam-se a esse contingente os conjuntos tombados estadualmente e municipalmente que

natildeo seratildeo aqui enumerados

A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio estaacute presente no ordenamento

juriacutedico brasileiro desde 1937 quando por meio do Decreto-Lei nordm25 criou-se o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash SPHAN (atual IPHAN) para proteger as cidades

e os monumentos da modernizaccedilatildeo das reformas urbanas e do interesse imobiliaacuterio

21

Reafirmada pelo Art 216 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e pelo Art 2ordm inciso XII do

Estatuto da Cidade a proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e

construiacutedo do patrimocircnio cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico tornou-se

diretriz obrigatoacuteria a ser contemplada pelos planos urbanos e legislaccedilotildees municipais

Contudo a preservaccedilatildeo dos conjuntos urbanos tombados natildeo pressupotildee o

congelamento das cidades Os paracircmetros para as intervenccedilotildees contemporacircneas deveratildeo ser

definidos em leis especiacuteficas de modo a evitar que o novo se sobreponha ou se confunda com

o existente A preservaccedilatildeo do conjunto tombado soacute seraacute possiacutevel se for permitido agrave cidade

expandir-se adensar-se e modificar-se Caso contraacuterio centro e cidade se tornaratildeo obsoletos

Percebe-se portanto que a regulaccedilatildeo urbana nas cidades histoacutericas enfrenta um

grande desafio preservar o antigo e abrir-se ao novo Sendo assim como proceder e quais

instrumentos utilizar Como a legislaccedilatildeo municipal deveraacute ser elaborada e aplicada a fim de

contemplar a preservaccedilatildeo do conjunto tombado e a expansatildeo da cidade seguindo os preceitos

da sustentabilidade

A preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos associada agrave expansatildeo sustentaacutevel das cidades eacute

um tema que vem sendo amplamente discutido inclusive em acircmbito internacional Nos paiacuteses

do norte e principalmente no continente europeu os siacutetios urbanos que demandam poliacuteticas

de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo remontam de seacuteculos e ateacute mesmo de milecircnios passados Embora

uma grande parte do patrimocircnio mundial tenha se perdido com a destruiccedilatildeo resultante das

guerras das cataacutestrofes e da imposiccedilatildeo de novas culturas como aconteceu principalmente nos

paiacuteses do sul que tiveram a cultura originaacuteria destruiacuteda pela colonizaccedilatildeo ainda haacute muito

patrimocircnio a ser preservado E natildeo eacute de hoje que os teacutecnicos e profissionais de diversas aacutereas

do conhecimento tecircm desenvolvido teorias e instrumentos para assegurar a salvaguarda de

todo esse patrimocircnio

Desde entatildeo leis documentos planos guias e coacutedigos vecircm sendo desenvolvidos

com o objetivo de orientar e direcionar as accedilotildees e intervenccedilotildees sobre o patrimocircnio cultural das

cidades com vistas ao desenvolvimento sustentaacutevel

Um importante documento desenvolvido em 2008 pelo Governo da Escoacutecia o

ldquoSustainable Development Guidance for Estate Managementrdquo buscou sistematizar a partir

dos preceitos da sustentabilidade estrateacutegias e orientaccedilotildees para a realizaccedilatildeo de intervenccedilotildees

principalmente para as novas construccedilotildees Tal preocupaccedilatildeo se intensificou apoacutes a discussatildeo

sobre as mudanccedilas climaacuteticas e os efeitos futuros ldquoThe Stern Review on the Economics of

Climate Changerdquo realizada pelo Governo do Reino Unido O documento ldquoSustainable

22

Development Guidance for Estate Managementrdquo se assemelha a um guia para o

desenvolvimento sustentaacutevel que aborda as estrateacutegias de accedilatildeo e recomendaccedilotildees para fazer da

Escoacutecia um paiacutes mais ecoloacutegico

Segundo esse Guia que trata da proteccedilatildeo do ambiente natural e da manutenccedilatildeo do

ambiente construiacutedo a sustentabilidade deveraacute ser uma prerrogativa tanto nas novas

construccedilotildees como na manutenccedilatildeo das edificaccedilotildees existentes nas conversotildees de uso nas

ampliaccedilotildees no retrofit4 e nas demoliccedilotildees No item 36 ldquoEmbedding sustainability within the

estate strategy processrdquo satildeo apontados os itens a serem observados na elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias e projetos para o desenvolvimento manutenccedilatildeo ou restauraccedilatildeo de edificaccedilotildees Satildeo

eles biodiversidade layout flexiacutevel nas construccedilotildees materiais construtivos e a possibilidade

de recuperaccedilatildeo reciclagem e reuso gestatildeo da aacutegua diminuiccedilatildeo da poluiccedilatildeo energia

certificada minimizaccedilatildeo do consumo de energia atraveacutes do isolamento e da ventilaccedilatildeo

natural utilizaccedilatildeo de energias renovaacuteveis como energia solar diminuiccedilatildeo do desperdiacutecio e

aumento da reciclagem dentre outros itens A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio

conforme jaacute foi discutido no iniacutecio deste capiacutetulo tambeacutem estaacute presente no Guia conforme

aponta o item 43 ldquoHistoric Buildingsrdquo Neste item direciona-se a atenccedilatildeo para as amplas

possibilidades de reuso e reabilitaccedilatildeo dessas edificaccedilotildees Tal situaccedilatildeo deve partir da

intervenccedilatildeo miacutenima e deve garantir que as caracteriacutesticas histoacutericas ou culturais dos edifiacutecios

sejam devidamente respeitadas e mantidas O Guia trata tambeacutem do procedimento para

reparos que na medida do possiacutevel deve ser feito atraveacutes das teacutecnicas tradicionais e dos

materiais originais ou compatiacuteveis sempre com apoio de profissional especializado Eacute

enfatizada tambeacutem a obrigatoriedade em solicitar das autoridades competentes autorizaccedilatildeo

para as intervenccedilotildees Por uacuteltimo apoacutes feitas todas as consideraccedilotildees sobre os aspectos

positivos da reutilizaccedilatildeo de um determinado edifiacutecio no caso de se decidir pela demoliccedilatildeo do

mesmo o Guia aponta os cuidados a serem obsevados na disposiccedilatildeo final dos resiacuteduos no

aterro sanitaacuterio alertando para a importacircncia em separar os resiacuteduos toacutexicos Os materiais

resultantes da demoliccedilatildeo como accedilo fundaccedilotildees de concreto ceracircmica madeira de assoalho

instalaccedilotildees internas placas de gesso carpete e janelas satildeo frequentemente passiacuteveis de

4 ldquoTermo utilizado principalmente em engenharia para designar o processo de modernizaccedilatildeo de algum

equipamento jaacute considerado ultrapassado ou fora de normardquo Disponiacutevel em

lthttpwwweletrobrascomrelatorio_sustentabilidade_2013anexosglossariogt Acesso em 06 de jun 2015

23

reciclagem revenda ou reutilizaccedilatildeo e natildeo devem ser descartados resultando na diminuiccedilatildeo do

desperdiacutecio e na reduccedilatildeo da exploraccedilatildeo dos recursos naturais

Outro importante documento a ser citado aqui como relevante para a proteccedilatildeo do

patrimocircnio histoacuterico e para o desenvolvimento sustentaacutevel o ldquoCalifornia Code of

Regulations Title 24rdquotambeacutem chamado de ldquoCalifornia Building Standards Coderdquo foi

finalizado em 1998 e aprovado pela ldquoCalifornia Building Standards Commissionrdquo em 2007

Tal documento trata dos paracircmetros gerais para a construccedilatildeo de edificaccedilotildees no Estado da

Califoacuternia Este Coacutedigo eacute dividido em 12 partes e traz na parte 8 de tiacutetulo ldquoCalifornia

Historical Building Code (CHBC)rdquo as exigecircncias a serem cumpridas para a permissatildeo de

reparos alteraccedilotildees e adiccedilotildees necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo relocaccedilatildeo mudanccedila de

uso ou continuaccedilatildeo de uso em edificaccedilotildees de reconhecido valor cultural ou histoacuterico5 Com o

objetivo de proteger a sauacutede e a seguranccedila das pessoas o California Historical Building Code

(CHBC) busca orientar as accedilotildees para a recuperaccedilatildeo das edificaccedilotildees histoacutericas garantindo a

preservaccedilatildeo da integridade e das caracteriacutesticas de tais edificaccedilotildees Ao todo satildeo 10 capiacutetulos

que abordam em resumo os seguintes temas capiacutetulo 01 ldquoAdministrationrdquo trata dos casos

sujeitos agrave aplicaccedilatildeo do coacutedigo cap02 ldquoDefinitionsrdquo trata das definiccedilotildees dos termos frases e

palavras necessaacuterios agrave compreensatildeo dos demais capiacutetulos cap03 ldquoUse and Occupancyrdquo trata

das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo dos edifiacutecios tais como altura maacutexima e nuacutemero de

pavimentos dimensatildeo miacutenima dos cocircmodos diretrizes de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo cap04

ldquoFire Protectionrdquo trata da proteccedilatildeo contra incecircndio e indica as diretrizes em relaccedilatildeo aos

materiais shafts telhado sistemas de alarme sistemas automaacuteticos de proteccedilatildeo como

sprinklers dentre outras tecnologias cap05 ldquoMeans of Egressrdquo trata das meios de saiacuteda das

edificaccedilotildees abordando entre outros elementos as escadas portas janelas grades e guarda-

corpos cap06 ldquoAccessibilityrdquo trata da acessibilidade aos portadores de necessidades especiais

a partir da utilizaccedilatildeo das dimensotildees miacutenimas e demais diretrizes estabelecidas para as

entradas portas banheiros rampas elevadores dentre outros cap07 ldquoStructural

5 Conforme o California Building Standards Code Parte 08 paacutegina 04 as edificaccedilotildees de reconhecido valor

cultural ou histoacuterico para as quais se utilizaraacute o CHBC satildeo ldquoFor the purposes of this part a qualified historical

building or structure is any structure or collection of structures and their associated sites deemed of importance

to the history architecture or culture of an area by an appropriate local or state governmental jurisdiction This

shall include structures on existing or future national state or local historical registers or official inventories

such as the National Register of Historic Places State Historical Landmarks State Points of Historical Interest

and city or county registers or inventories of historical or architecturally significant sites places historic districts

or landmarksrdquo (CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS 2007 p 4)

24

Regulationsrdquo trata da regulaccedilatildeo sobre os sistemas estruturais a partir da identificaccedilatildeo da

situaccedilatildeo da estrutura por profissional especializado identificaccedilatildeo dos acreacutescimos posteriores agrave

construccedilatildeo do edifiacutecio das cargas incidentes da performance dos parapeitos e da situaccedilatildeo dos

revestimentos externos e decorativos cap8 ldquoArchaic Materials and Methods of Constructionrdquo

trata dos meacutetodos e materiais construtivos tradicionais das edificaccedilotildees histoacutericas e das

diretrizes para a recuperaccedilatildeo de alvenarias adobe madeira concreto accedilo ferro vidros e

vidraccedilas cap09 ldquoMechanical Plumbing and Electrical Requirementsrdquo trata das exigecircncias

em relaccedilatildeo agraves instalaccedilotildees eleacutetricas aos encanamentos e sistemas mecacircnicos Por uacuteltimo o

cap10 ldquoQualified Historical Districts Sites and Open Spacesrdquo trata das orientaccedilotildees para a

preservaccedilatildeo dos espaccedilos abertos e siacutetios histoacutericos a partir da manutenccedilatildeo da configuraccedilatildeo

espacial existente e dos elementos constitutivos da paisagem

No Brasil o instrumento que mais se assemelha aos exemplos citados acima eacute o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees Utilizado para regulamentar os criteacuterios e procedimentos a

serem utilizados na elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de projetos de edificaccedilotildees e controlar as atividades

de construccedilatildeo6 o Coacutedigo de Obras eacute instituiacutedo por lei municipal como instrumento

complementar a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo citada anteriormente no Capiacutetulo 02 O

atendimento agraves condiccedilotildees estabelecidas nesses dois instrumentos da regulaccedilatildeo urbana ndash e o

atendimento a outras legislaccedilotildees quando for o caso - eacute requisito para a obtenccedilatildeo da licenccedila

urbaniacutestica Somente por meio da licenccedila municipal que afirma a compatibilizaccedilatildeo dos

interesses individuais e coletivos com o desenvolvimento urbano o proprietaacuterio poderaacute

exercer o seu direito sobre a propriedade sendo-lhe permitido executar as intervenccedilotildees

devidamente aprovadas Tambeacutem devem ser previstas em lei assim como os procedimentos

para o licenciamento as bases para a efetivaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo municipal como a

determinaccedilatildeo das infraccedilotildees e a previsatildeo de sanccedilotildees e multas aplicaacuteveis a cada caso

Subordinado agraves estrateacutegias de desenvolvimento estabelecidas no Plano Diretor o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees assim como a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo deve ser

elaborado a partir da preocupaccedilatildeo em se estabelecer uma boa interaccedilatildeo entre as novas

edificaccedilotildees e o conjunto urbano construiacutedo Para essa interaccedilatildeo as construccedilotildees devem atender

agraves premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica natildeo de forma isolada mas de

6 ldquoPara fins de direito entende-se por construccedilatildeo toda realizaccedilatildeo material e intencional de algueacutem visando a

adaptar o imoacutevel agraves suas conveniecircncias Nesse sentido tanto eacute construccedilatildeo a edificaccedilatildeo ou reforma como a

demoliccedilatildeo o muramento a escavaccedilatildeo o aterro a pintura e demais trabalhos destinados a beneficiar tapar

desobstruir conservar ou embelezar o preacutediordquo (BARANDIER ALMEIDA MORAIS 2013 p 147)

25

forma a interferir positivamente sobre o clima urbano e sobre a qualidade ambiental Assim

para aleacutem das diretrizes relativas ao uso agrave seguranccedila agrave salubridade agrave acessibilidade e agrave

preservaccedilatildeo dos elementos histoacutericos artiacutesticos e culturais tambeacutem devem ser elaborados

estudos climaacuteticos que aplicados ao desenho urbano possibilitem a formulaccedilatildeo de diretrizes

em prol da adaptaccedilatildeo das edificaccedilotildees agraves caracteriacutesticas climaacuteticas locais ao conforto teacutermico

luminoso e acuacutestico aleacutem da formulaccedilatildeo de diretrizes para a utilizaccedilatildeo de fontes de energia

alternativas e combate ao desperdiacutecio

Voltando aos dados obtidos pela Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros

realizada pelo IBGE em 2013 conforme pode ser visto no graacutefico abaixo do total de

municiacutepios brasileiros 624 declararam ter Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees enquanto 542

declararam ter Lei de Zoneamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo Esses dados demonstram que os

instrumentos legais embora apresentem um grande potencial de transformaccedilatildeo da realidade

urbana ainda satildeo pouco aplicados

Graacutefico do Percentual de municiacutepios segundo o tipo de instrumento de planejamento

existente - MUNIC -2013

Fonte Pesquisa ldquoPERFIL DOS MUNICIacutePIOS BRASILEIROS 2013rdquo (IBGE 2014)

Dentre os Coacutedigos de Obras existentes muitos estatildeo desatualizados defasados e

por isso natildeo configuram um mecanismo relevante quanto agrave alteraccedilatildeo do cenaacuterio das cidades

brasileiras Aleacutem disso a falha na articulaccedilatildeo dos diversos dispositivos de orientaccedilatildeo controle

e fiscalizaccedilatildeo das construccedilotildees resulta na aplicaccedilatildeo desequilibrada da lei consolidando

poliacuteticas de favorecimento exclusatildeo e segregaccedilatildeo aleacutem de ampliar a cada dia a destruiccedilatildeo e

os prejuiacutezos ambientais

26

Apesar de termos avanccedilado na construccedilatildeo conceitual dos instrumentos capazes de

nos levar ao sonhado desenvolvimento sustentaacutevel estamos ainda muito aqueacutem de efetivaacute-los

na praacutetica e no dia-a-dia dos municiacutepios A gestatildeo urbana da qual o planejamento eacute

interdependente configura a um dos principais obstaacuteculos agrave superaccedilatildeo da loacutegica atual de

valorizaccedilatildeo dos interesses individuais sobre os coletivos A falta interesse em destinar

recursos para a soluccedilatildeo de parte dos problemas soacutecio-espaciais tambeacutem eacute um grande

obstaacuteculo A melhoria da infraestrutura urbana os projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria a

construccedilatildeo de moradias populares sustentaacuteveis e a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados jaacute

configurariam um passo adiante na concretizaccedilatildeo da sustentabilidade no ambiente urbano

Sendo assim conhecidos os obstaacuteculos ou pelo menos parte deles eacute fundamental lanccedilarmos

as bases para a sua superaccedilatildeo fortalecendo os ideais de transformaccedilatildeo das cidades

27

5 O MUNICIacutePIO DE OURO PRETO UM ESTUDO DE CASO

51 Da colonizaccedilatildeo ao Seacuteculo XX

Localizado na Regiatildeo Central de Minas Gerais (ou Macrorregiatildeo Metaluacutergica) o

municiacutepio de Ouro Preto eacute possui uma aacuterea aproximada de 1245kmsup2 e sua populaccedilatildeo totaliza

cerca de 70281 habitantes7 Posicionado na porccedilatildeo centro-sul do Estado Ouro Preto tem

como principais confrontantes os municiacutepios de Mariana Itabirito Ouro Branco Congonhas

e Santa Baacuterbara Aleacutem do distrito-sede o territoacuterio eacute dividido em mais 12 distritos

Amarantina Antocircnio Pereira Cachoeira do Campo Engenheiro Correia Glaura Lavras

Novas Miguel Burnier Santa Rita Santo Antocircnio do Leite Santo Antocircnio do Salto Satildeo

Bartolomeu e Rodrigo Silva

Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ouro Preto no estado de

Minas Gerais

Fonte SMCP - PMOP

7 IBGE Diretoria de Pesquisas Coordenaccedilatildeo de Populaccedilatildeo e Indicadores Sociais ndash ldquoEstimativas da populaccedilatildeo

residente com data de referecircncia 1o de julho de 2014 publicada no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo em 28082014rdquo

Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314610ampsearch=||infogrE1ficosinformaE7F5e

s-completasgt Acesso em 06 jun 2015

28

Ouro Preto e municiacutepios limiacutetrofes

Fonte SMCP - PMOP

Mapa dos Distritos de Ouro Preto

Fonte SMCP - PMOP

Desencadeados pela exploraccedilatildeo auriacutefera do seacuteculo XVII - iniciada na regiatildeo de

Minas Gerais provavelmente em 1698 - os arraiais e agrupamentos humanos se consolidaram

na regiatildeo montanhosa e acidentada do municiacutepio de Ouro Preto primeiramente nas encostas

iacutengremes e arredores das minas e posteriormente nas margens dos rios e nos fundos de vale O

povoamento foi se intensificando em torno dos principais eixos de ligaccedilatildeo entre os nuacutecleos

29

urbanos vizinhos resultando num desenho urbano linear e longitudinal diferente do modelo

reticulado de ordenaccedilatildeo do territoacuterio que foi caracteriacutestico do Brasil Colocircnia

Agrave primeira configuraccedilatildeo urbana consolidada em 1711 deu-se o nome de Vila

Rica de Albuquerque que posteriormente em 1720 foi elevada agrave capital da Capitania das

Minas Gerais Ao longo do seacuteculo XVIII foram efetivadas as intervenccedilotildees urbanas mais

significativas e foram construiacutedas as principais referecircncias arquitetocircnicas de Ouro Preto As

principais pontes os chafarizes o Centro Administrativo (atual Praccedila Tiradentes) o Palaacutecio

dos Governadores a Casa de Cacircmara e Cadeia assim como as inuacutemeras capelas e igrejas de

estilo barroco das diversas ordens e irmandades religiosas consolidaram o cenaacuterio

setecentista que configura o atual centro histoacuterico da cidade O final do seacuteculo XVIII foi

marcado pelo esgotamento das minas de ouro o que desencadeou um esvaziamento

populacional da Vila pela crise de abastecimento e decadecircncia econocircmica

O seacuteculo XIX contudo trouxe as mudanccedilas advindas da era do Impeacuterio e em

1823 Vila Rica de Albuquerque foi elevada agrave cidade sob o tiacutetulo de Imperial Cidade de Ouro

Preto A partir daiacute a cidade passou por diversas modernizaccedilotildees a fim de se consolidar

enquanto capital da proviacutencia de Minas Gerais A criaccedilatildeo da Escola de Farmaacutecia do Liceu de

Artes e Ofiacutecios da Escola de Minas a construccedilatildeo da Estaccedilatildeo Ferroviaacuteria e a implantaccedilatildeo da

Companhia Industrial Ouro-Pretana satildeo exemplos importantes da expansatildeo e do

desenvolvimento da cidade durante o seacuteculo XIX Ao final deste seacuteculo jaacute sob a eacutegide do

periacuteodo republicano a cidade de Ouro Preto perde o status de capital da proviacutencia que em

1897 passou para Belo Horizonte Tal fato ocasionou pela segunda vez um processo de

esvaziamento e crise econocircmica na cidade Assim distante dos ideais de modernizaccedilatildeo e

desenvolvimento que cercavam a nova capital a ausecircncia de poliacuteticas de renovaccedilatildeo foi o que

garantiu a preservaccedilatildeo das feiccedilotildees urbanas da antiga Vila Rica A partir de entatildeo diversos

intelectuais da eacutepoca viajaram ateacute Ouro Preto e verificando o mal estado de conservaccedilatildeo e o

abandono da cidade comeccedilaram a produzir uma nova consciecircncia em relaccedilatildeo agrave necessidade

de se preservar os registros do passado

30

Mapa da evoluccedilatildeo urbana de Ouro Preto ndash do seacuteculo XVII ao seacuteculo XX

Fonte IGA ndash Instituto de Geociecircncias Aplicadas - 2003

Igreja de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo ndash registros do

periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

Ponte vizinha agrave Casa dos Contos - registros do periacuteodo

entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

31

Igreja N S do Pilar ndash registros do periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015apresentacao

A tradiccedilatildeo quanto agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico somente se consolidou

no Brasil a partir do seacuteculo XX Em 1931 surgiu o primeiro decreto municipal8 voltado para a

preservaccedilatildeo do cenaacuterio arquitetocircnico da cidade de Ouro preto proibindo as construccedilotildees em

desacordo com o estilo colonial predominante Em 1933 por meio do decreto nacional

22928 Ouro Preto foi erigida a Monumento Nacional Em 1938 o conjunto histoacuterico da

cidade foi tombado pelo SPHAN - Serviccedilo do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional que

havia sido criado no ano anterior Os anos seguintes foram marcados por inuacutemeras obras de

restauraccedilatildeo e tombamentos individuais

8 Decreto 13 de 19 de setembro de 1931 ldquoConsiderando que a cidade de Ouro Preto escriacutenio das tradiccedilotildees

mineiras deve conservar o seu aspecto colonial transmitido dos nossos antepassados Considerando que esta

feiccedilatildeo colonial de seus edifiacutecios de seus preacutedios das ruas e praccedilas desperta grande interesse por parte dos

turistas que frequumlentemente vecircm visitar a cidade e suas cercanias Considerando que ferem dolorosamente a

sensibilidade dos turistas os preacutedios que destoam do tipo colonial DECRETA Art 1deg - Natildeo eacute permitida no

periacutemetro urbano a construccedilatildeo de preacutedios e de edifiacutecios em desacordo com o estilo colonial da cidade Art 2deg -

Os atuais preacutedios existentes no periacutemetro urbano em desacordo com o artigo antecedente deveratildeo ser

modificados nas respectivas fachadas quando estas tenham que receber reparos []rdquo (OLIVEIRA 1997 p 7)

32

A sistematizaccedilatildeo de normas aplicaacuteveis agraves novas construccedilotildees foi realizada pelo

SPHAN (que em 1970 passou a ser chamado IPHAN9) para regular o crescimento da cidade e

o intenso surgimento de novas moradias que caracterizaram as deacutecadas de 1950 e 1960 Tal

crescimento se deu principalmente pela chegada de induacutestrias metaluacutergicas para a exploraccedilatildeo

da bauxita e produccedilatildeo de alumiacutenio primaacuterio Assim o ldquoestilo patrimocircniordquo surgiu das

exigecircncias normativas quanto agrave utilizaccedilatildeo dos elementos arquitetocircnicos tradicionais do

periacuteodo colonial

Um primeiro plano urbano foi elaborado pelo arquiteto portuguecircs Viana de Lima

entre os anos 1968 e 1970 com o objetivo de ldquopreservarrdquo o nuacutecleo histoacuterico da cidade e

consolidar o estilo patrimocircnio atraveacutes da eliminaccedilatildeo dos ecletismos da demoliccedilatildeo de obras

desprovidas de qualidade esteacutetica e do preenchimento dos vazios urbanos Nos anos seguintes

a discussatildeo sobre a salvaguarda do patrimocircnio se intensificou e deu origem a diversos outros

planos10

e programas de preservaccedilatildeo que obtiveram pouco sucesso na aplicaccedilatildeo praacutetica Em

21 de setembro de 1980 Ouro Preto recebeu da UNESCO o tiacutetulo de Patrimocircnio Cultural da

Humanidade e passou a ter visibilidade internacional

Ao final do seacuteculo XX a preocupaccedilatildeo com o desenvolvimento urbano da cidade e

com a proteccedilatildeo patrimonial gerou novas demandas em relaccedilatildeo agrave regulaccedilatildeo urbana e coube ao

IPHAN o papel de legislar sobre as intervenccedilotildees no centro histoacuterico As accedilotildees da

Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) do Instituto Estadual do Patrimocircnio Histoacuterico e

Artiacutestico (IEPHA) e do Instituto Estadual de Florestas (IEF) em pareceria com o governo

municipal e com o IPHAN foram decisivas na preservaccedilatildeo do patrimocircnio neste periacuteodo Em

1990 foram publicadas por meio da Lei 571990 as diretrizes para do Plano Diretor do

Municiacutepio sob as delineaccedilotildees inauguradas pela Constituiccedilatildeo Federal Tais diretrizes eram

bastante simplificadas e restritas aos zoneamentos e a questatildeo da preservaccedilatildeo do patrimocircnio

9 Em 1937 por meio da Lei nordm 378 foi fundado o SPHAN como oacutergatildeo oficial de preservaccedilatildeo do patrimocircnio

cultural brasileiro No mesmo ano foi promulgado o Decreto-Lei nordm 25 que regulamentou as atividades do

SPHAN Em 1946 o SPHAN teve o seu nome alterado para Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (DPHAN) Em 1970 o DPHAN eacute transformado em Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (IPHAN)

10 ldquoEm Minas Gerais a Fundaccedilatildeo Joatildeo Pinheiro (FJP) realizou um extenso diagnoacutestico e elaborou planos

diretores para diversas cidades coloniais mineiras bem como o Plano de Conservaccedilatildeo Valorizaccedilatildeo e

Desenvolvimento de Ouro Preto e Mariana em 1975 Esse Plano trata sobre a preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

patrimocircnio vinculado com as necessidades de desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio Por isso

abordou desde questotildees histoacutericas e culturais ateacute a anaacutelise de aspectos fiacutesico- territoriais tais como siacutetio natural

estudo das estruturas urbanas paisagismo e legislaccedilatildeo urbanardquo (SILVA OLIVEIRA 2005 p 180)

33

foi pouco abordada Jaacute em 1996 uma nova versatildeo do plano foi elaborada e diferentemente do

texto anterior o novo plano contemplou a preocupaccedilatildeo com o patrimocircnio e a preservaccedilatildeo

como instrumentos interligados agrave poliacutetica urbana

Art 1ordm - Em conformidade com a Constituiccedilatildeo Federal e com a Lei Orgacircnica

Municipal fica instituiacutedo o Plano Diretor de Ouro Preto (PDOP) fixando diretrizes

e instrumentos para o pleno desenvolvimento do Municiacutepio em consonacircncia com as

funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade [] Art 2ordm - O conjunto artiacutestico

arquitetocircnico urbaniacutestico paisagiacutestico e ambiental de relevante valor cultural

sediado no Municiacutepio objeto de tombamento federal e de reconhecimento

internacional pela UNESCO como Patrimocircnio Cultural da Humanidade eacute

considerado bem inalienaacutevel de sua populaccedilatildeo cabendo a ela exercer de forma

concorrente com as Administraccedilotildees Puacuteblicas a sua guarda proteccedilatildeo e gestatildeo

Paraacutegrafo uacutenico ndash A preservaccedilatildeo e a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural e ambiental

do Municiacutepio eacute fator determinante para o desenvolvimento urbano para a geraccedilatildeo de

empregos e para melhor distribuiccedilatildeo de renda Lei Complementar 0196 Ouro Preto

(OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996)

Em 1997 foi criado ldquoPlano de Reabilitaccedilatildeo do Siacutetio Histoacuterico de Ouro Pretordquo a

partir do ldquoMonumentardquo programa federal de iniciativa do Ministeacuterio da Cultura e patrocinado

pelo BID que sob a premissa do desenvolvimento econocircmico-social sustentaacutevel buscou

revitalizar os centros histoacutericos urbanos de 26 cidades brasileiras O Plano traccedilado para Ouro

Preto natildeo foi totalmente implementado mas alavancou as poliacuteticas de preservaccedilatildeo do

municiacutepio e deixou intervenccedilotildees significativas como por exemplo a recuperaccedilatildeo do Parque

Horto dos Contos (fundo de vale do Ribeiratildeo do Funil) aacuterea verde mais significativa da regiatildeo

central

34

Mapa Cadastral de Ouro Preto ndash Periacutemetro de tombamento pelo IPHAN

Fonte Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano - PMOP

52 O contexto atual

O conceito de patrimocircnio e de preservaccedilatildeo adotado no Brasil foi se modificando

ao longo da histoacuteria como foi apontado nos iniacutecio deste capiacutetulo Assim agrave medida que o

conceito adquiria relevacircncia as poliacuteticas de preservaccedilatildeo foram sendo instauradas nas esferas

administrativas Os avanccedilos iniciados no final do seacuteculo XX se consolidaram jaacute nos primeiros

anos do seacuteculo XXI O novo seacuteculo trouxe consigo uma mudanccedila significativa em relaccedilatildeo ao

desenvolvimento dos siacutetios histoacutericos que deixaram de ser vistos como uma ldquoobra de arte

intocaacutevelrdquo e passaram a ser tratados como espaccedilos socializados repletos de interaccedilatildeo cultural

e portanto passiacuteveis de transformaccedilatildeo Aleacutem dos centros urbanos o patrimocircnio imaterial

tambeacutem recebeu especial atenccedilatildeo e apoacutes 20 anos de discussatildeo a Convenccedilatildeo para a

Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial consolidada pela UNESCO em 2003 avanccedilou

no reconhecimento e na defesa das heranccedilas culturais dos povos ao redor do mundo

As transformaccedilotildees na relaccedilatildeo da preservaccedilatildeo com o planejamento urbano se

efetivaram em 2003 a partir da criaccedilatildeo do Plano de Preservaccedilatildeo de Siacutetio Histoacuterico Urbano

(PPSH) Este plano foi um instrumento de caraacuteter normativo que incidiu sobre os siacutetios

35

urbanos tombados em niacutevel federal a fim de aliar preservaccedilatildeo e desenvolvimento e incentivar

a gestatildeo compartilhada Nesse mesmo ano foi realizado o Encontro Nacional de Cidades

Histoacutericas que tratou da gestatildeo compartilhada do patrimocircnio cultural e da efetivaccedilatildeo das

poliacuteticas de preservaccedilatildeo associadas agrave legislaccedilatildeo urbana e ambiental

As mudanccedilas do iniacutecio do seacuteculo natildeo demoraram a repercutir no Municiacutepio de

Ouro Preto A partir da portaria ndeg 122 instituiacuteda em 2004 pelo presidente do IPHAN

definiu-se as diretrizes de intervenccedilatildeo e os paracircmetros para aprovaccedilatildeo de projeto no centro

histoacuterico da cidade a fim de garantir a manutenccedilatildeo das caracteriacutesticas da unidade e da

harmonia do conjunto urbano

Mapa dos bairros do municiacutepio de Ouro Preto

Fonte Secretaria Municipal de Patrimocircnio e Desenvolvimento Urbano - PMOP

36

Mapa esquemaacutetico ndash Periacutemetro urbano periacutemetro tombado e demais delimitaccedilotildees de interesse do distrito sede

Elaboraccedilatildeo Guilherme I N Ataiacutedes Base mapa do Plano Diretor

Foto da Praccedila Tiradentes

Fonte httpmondegocombrpraca-tiradentes

37

Foto Campus UFOP

Fonte httpwwwseeufopbrp=490

Foto IFMG

Fonte httpwwwouropretoifmgedubrcomunicacaoimagens-e-videoscampus-ouro-

pretocampusimage_view_fullscreen

Em 2006 a remodelaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Patrimocircnio e

Desenvolvimento Urbano (antiga Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio) deu um novo

impulso agrave preservaccedilatildeo no acircmbito da gestatildeo municipal unindo as poliacuteticas de proteccedilatildeo agraves

poliacuteticas de planejamento urbano O Grupo de Assessoramento Teacutecnico ndash GAT e o Conselho

Municipal de Patrimocircnio foram novamente colocados em accedilatildeo Um novo Plano Diretor

promulgado ao final deste mesmo ano atraveacutes da Lei Complementar Nordm 29 agregou as

conquistas do Estatuto da Cidade aos preceitos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio e acrescentou as

diretrizes para a proteccedilatildeo ambiental Os temas funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

estruturaccedilatildeo territorial desenvolvimento econocircmico proteccedilatildeo ambiental proteccedilatildeo ao

patrimocircnio cultural poliacutetica de desenvolvimento social produccedilatildeo da cidade e mobilidade

urbana intitulam alguns dos capiacutetulos da Lei Os instrumentos da poliacutetica urbana para o

cumprimento da funccedilatildeo social da propriedade aparecem no texto logo em sequecircncia A Lei de

38

Parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo conforme previsatildeo do Art 81 do Plano Diretor foi

promulgada no mesmo dia 28 de dezembro de 2006

A partir de entatildeo o municiacutepio assume sua funccedilatildeo enquanto principal oacutergatildeo de

gestatildeo do territoacuterio tarefa que anteriormente era desempenhada pelo Governo Federal e pelo

IPHAN Ao final de 2010 por meio da Lei Complementar Nordm 91 o Plano Diretor passa por

alteraccedilotildees pontuais e em 2011 a Lei de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo eacute amplamente

revisada dando origem aos paracircmetros utilizados nos dias atuais

Dentro desse resumido panorama legislativo apresentado pode-se perceber que o

Municiacutepio de Ouro Preto acompanhou em grande parte os avanccedilos inaugurados pelo

Estatuto da Cidade e concretizou ao menos em forma de Lei a regulamentaccedilatildeo das diretrizes

e dos instrumentos capazes de fazer valer a funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

Contudo tais avanccedilos representam muito pouco frente ao gigantesco desafio

enunciado no Art 2 inciso II do mesmo Estatuto quanto agrave ldquogarantia do direito a cidades

sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao saneamento ambiental

agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para

as presentes e futuras geraccedilotildeesrdquo(Lei 10257 2001)

Aleacutem da amplitude da tarefa outros elementos dificultam ainda mais o processo

de construccedilatildeo de uma nova realidade como por exemplo a negligecircncia dos gestores puacuteblicos

para com a atualizaccedilatildeo necessaacuteria e obrigatoacuteria das Leis O Plano Diretor de Ouro Preto

indica jaacute no Capiacutetulo 1 artigo 1ordm sect3ordm o prazo maacuteximo para a revisatildeo do mesmo estabelecido

em cinco anos a partir da sua publicaccedilatildeo ou seja 2011 Sendo assim percebe-se que a Lei

de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo revisada em 2011 embora seja o principal instrumento de

controle urbaniacutestico ateacute os dias de hoje jaacute nasceu defasada pois utilizou como referecircncia a

estrateacutegia de desenvolvimento urbano definida no Plano Diretor de 2006 desconsiderando os

impactos e as mudanccedilas territoriais sociais e culturais ocorridos desde entatildeo No geral os

gestores municipais tratam apenas de alteraccedilotildees pontuais que apenas mascaram o quadro de

estagnaccedilatildeo e desatualizaccedilatildeo das leis urbaniacutesticas Tal conduta conforma um enorme obstaacuteculo

na concretizaccedilatildeo das diretrizes do Estatuto da Cidade

Nos capiacutetulos anteriores ao tratarmos do desenvolvimento sustentaacutevel dois

importantes instrumentos foram apontados como peccedilas-chave da consolidaccedilatildeo de uma nova

experiecircncia de sustentabilidade no ambiente urbano a agenda 21 e o coacutedigo de obras

O primeiro deles a agenda 21 local foi estabelecida em 15 de maio de 2007 por

meio da Lei Nordm 333

39

Art 1ordm Fica criado no acircmbito do Municiacutepio de Ouro Preto o Programa da Agenda 21

Local processo e instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento

sustentaacutevel e que tem como eixo central a sustentabilidade compatibilizando a

conservaccedilatildeo ambiental a justiccedila social e o crescimento econocircmico Art 2ordm Para

efeitos de execuccedilatildeo da Agenda 21 Local o Poder Executivo instalaraacute o Foacuterum Ouro-

pretano da Agenda 21 Local (OURO PRETO Lei nordm333 Agenda 21 Local de 11

de maio de 2007)

No texto da Lei foram previstos os capiacutetulos a serem desenvolvidos Agenda 21

Estrutural Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade A

responsabilidade recaiu sobre o Foacuterum Ouro-Pretano da Agenda 21 Local Aleacutem da Lei de

criaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel encontrar nos registros legislativos digitais da Cacircmara Municipal a

Portaria Nordm 1707 que nomeia uma Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos Naturais

e Agenda 21 Local

Outra fonte de informaccedilotildees sobre a Agenda 21 Local de Ouro Preto foi encontrada

no acervo digital da Universidade Federal de Ouro Preto sob o tiacutetulo ldquoAgenda 21 Local

consolidando as bases para o desenvolvimento sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escalardquo

(OLIVEIRA 2010) Nesse trabalho foram apontadas as iniciativas que acompanharam a

criaccedilatildeo da Agenda 21 Local dentre as quais se destacam em ordem cronoloacutegica 1ordm Encontro

de Processos de Agendas 21 Locais ndash fevereiro de 2007 Plenaacuteria na Cacircmara Municipal de

Ouro preto para apresentaccedilatildeo da Agenda 21 ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio de Capacitaccedilatildeo para

a Agenda 21 Local ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio Teacutecnico de Diagnoacutestico para referecircncia da

Agenda 21 Local ndash abril de 2007 Seminaacuterio de Implantaccedilatildeo da Agenda 21 Mineral de Ouro

Preto ndash abril de 2007 Assinatura do Termo de Cooperaccedilatildeo Muacutetua entre a Prefeitura

Municipal a Cacircmara Municipal a ONG Interforum Global e a UFOP ndash maio de 2007

Seminaacuterio Intermunicipal de Agenda 21 Local ndash maio de 2007 Seminaacuterio Geral de

Capacitaccedilatildeo da Agenda 21 Local ndash agosto de 2007

Para aleacutem dos registros oficiais e dos dados encontrados no trabalho mencionado

no paraacutegrafo anterior foram encontradas somente notiacutecias informais11

sobre a criaccedilatildeo e

lanccedilamento da Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude todas datadas de 2007

11 Destacam-se ldquoO presidente da Cacircmara vereador Mauriacutelio Zacarias (PMDB) implantou no dia 20 de abril a

Agenda 21 da Mineraccedilatildeo de Ouro Preto A Agenda 21 da Mineraccedilatildeo eacute uma das subdivisotildees da Agenda 21

Global um conjunto de accedilotildees recomendadas pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) para garantir o

desenvolvimento sustentaacutevel do planeta no seacuteculo XXIrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwcmopmggovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=70agenda-21-da-mineracao-e-

implantada-em-ouro-pretoampcatid=61reunioesgt Acesso em 06 jun 2015 ldquoJuntos pela sustentabilidade o

Foacuterum da Agenda 21 Local de Ouro Preto daacute iniacutecio ao desenvolvimento de accedilotildees especiacuteficas para a implantaccedilatildeo

do capiacutetulo Agenda 21 da Juventude na escola e na universidade O lanccedilamento da Agenda 21 da Escola

acontece no dia 21 de junho quinta-feira agraves 10h no Centro de Artes e Convenccedilotildees da UFOPrdquo ndash Notiacutecia sobre a

40

Conclui-se portanto que a iniciativa da Agenda 21 Local assim como muitas das

diretrizes definidas nas Leis do Planejamento Urbano estagnou no ano de 2007 e avanccedilou

pouco em relaccedilatildeo agraves primeiras linhas da Lei Embora se tenha a informaccedilatildeo de que os Grupos

de Trabalho continuaram a desenvolver suas atividades nos anos seguintes os registros dessas

accedilotildees praacuteticas satildeo praticamente inexistentes e tais atividades praticamente natildeo efetivaram

mudanccedilas na realidade do Municiacutepio

Quanto ao Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees outro importante instrumento da gestatildeo

municipal capaz de estabelecer as bases para um ambiente urbano sustentaacutevel este nunca foi

regulamentado pelo Municiacutepio Embora citado inuacutemeras vezes no Coacutedigo de Posturas que foi

instituiacutedo em 1980 atraveacutes da Lei 178 o Coacutedigo de Obras nunca adquiriu formato oficial para

aplicaccedilatildeo e regulaccedilatildeo do territoacuterio O uacutenico registro oficial encontrado nos arquivos

eletrocircnicos da Cacircmara Municipal diz respeito a uma comissatildeo especial formada em 1992

para emissatildeo de parecer sobre o anteprojeto de Coacutedigo de Obras de Ouro Preto elaborado

pela ENGEARP ndash Arquitetura e Engenharia Ltda12

Um segundo registro foi encontrado nos

arquivos do diaacuterio oficial eletrocircnico do municiacutepio e consiste numa breve menccedilatildeo do coacutedigo de

obras numa ata de uma das reuniotildees do COMPURB Conselho Municipal de Poliacutetica

Urbana13

em abril de 2013 Apesar dos registros quase inexistentes em consulta ao corpo

teacutecnico do Departamento de Aprovaccedilatildeo de Projetos da Secretaria de Cultura e Patrimocircnio

foram identificadas algumas iniciativas quanto agrave elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo de Obras para o

municiacutepio dentre as quais se destaca o modelo desenvolvido em 2012 Tal modelo em

conformidade com as diretrizes dos coacutedigos internacionais jaacute apontados neste trabalho

ressaltou que as edificaccedilotildees e instalaccedilotildees deveriam atender agraves condiccedilotildees miacutenimas de

seguranccedila conforto ambiental higiene salubridade harmonia esteacutetica e acessibilidade

criaccedilatildeo da Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade ndash 16 de junho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwufopedubrindexphpoption=com_contentamptask=viewampid=600ampItemid=50gt Acesso em 06 jun

2015 ldquoO grupo de trabalho da Agenda 21 Local de Ouro Preto a Associaccedilatildeo Comercial de Ouro Preto e a

Cacircmara da Mulher Empreendedora de Ouro Preto convidam para uma palestra com o seguinte tema lsquoAgenda 21

de Ouro Preto -Desafios e Possibilidades da Participaccedilatildeo do Comeacutercio na Sustentabilidade Localrsquordquo Notiacutecia sobre

o Grupo de Trabalho da Agenda Ouro Preto ndash 10 de julho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwfundacaoaprenderorgbr189gt Acesso em 06 jun 2015

12 Portaria Nordm 0292 ndash 04 de fevereiro de 1992 Disponiacutevel em

lthttpwwwsistemasiglaorgarquivossisnormNJ_img(2562)pdfgt Acesso em 06 jun 2015

13 ldquo[] Gabriel sugeriu que seja incluiacutedo esses criteacuterios no coacutedigo de obrasrdquo Ata da 58ordf Reuniatildeo extraordinaacuteria

do Conselho Municipal de Poliacutetica Urbana ndash COMPURB (extraiacutedo do Diaacuterio Oficial do Municiacutepio ldquoAno V ndash

Ouro Preto 1ordm de Abril de 2013 ndash Nordm766rdquo) Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrdiario-

oficial2076601-04-2013gt Acesso em 27 jun 2015

41

Contudo eacute importante destacar que os paracircmetros necessaacuterios para o atendimento do conforto

ambiental - como criteacuterios de adequaccedilatildeo agraves caracteriacutesticas do clima local diretrizes de

conforto teacutermico luminoso e acuacutestico ndash assim como as diretrizes de eficiecircncia energeacutetica natildeo

foram contemplados no texto diminuindo consideravelmente a possibilidade de sucesso do

instrumento quanto agrave transformaccedilatildeo do ambiente urbano

Sendo assim entendendo a importacircncia que o instrumento ldquocoacutedigo de obrasrdquo tem

na conformaccedilatildeo de espaccedilos urbanos mais confortaacuteveis e equilibrados e buscando contribuir

para o Municiacutepio na consolidaccedilatildeo de Leis atualizadas e transformadoras o capiacutetulo seguinte

trataraacute do desenvolvimento de algumas dessas diretrizes para que as construccedilotildees passem a

incorporar as premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica e passem a contribuir

positivamente para o clima urbano a para a qualidade ambiental

42

6 ENSAIO PARA UM COacuteDIGO DE OBRAS PRINCIPAIS ESTRATEacuteGIAS PARA

A PROMOCcedilAtildeO DA EFICIEcircNCIA ENERGEacuteTICA NO MUNICIacutePIO DE OURO

PRETO

61 O reconhecimento do clima e as recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais

O reconhecimento do clima eacute o primeiro passo a ser dado para o desenvolvimento

das diretrizes construtivas para um determinado local O clima ldquoeacute a condiccedilatildeo meacutedia do tempo

em uma dada regiatildeo baseada em mediccedilotildees em longos periacuteodos de tempo (30 anos ou mais)rdquo

(LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 71) A anaacutelise climaacutetica feita no Brasil utiliza

em geral os dados publicados pelo Instituto Nacional e pelo Departamento Nacional de

Meteorologia por meio das Normais Climatoloacutegicas Essa publicaccedilatildeo sistematiza dentre

outros dados os valores meacutedios e extremos mensais de temperatura umidade precipitaccedilatildeo

nebulosidade e horas de sol para um periacuteodo de 30 anos A utilizaccedilatildeo dessas variaacuteveis

climaacuteticas no desenvolvimento dos projetos arquitetocircnicos possibilita a construccedilatildeo de

edificaccedilotildees mais confortaacuteveis e mais eficientes quanto ao consumo de energia

O municiacutepio de Ouro Preto contou com uma estaccedilatildeo de mediccedilatildeo e monitoramento

climaacutetico no periacuteodo entre 1976 a 1990 Sendo assim por natildeo ter permanecido em vigecircncia

pelo periacuteodo miacutenimo de 30 anos os dados do municiacutepio natildeo foram contemplados na

publicaccedilatildeo das Normais Climatoloacutegicas e podem ser encontrados apenas no registro histoacuterico

do INMET a partir do BDMEP Os dados coletados nesse periacuteodo de 14 anos embora natildeo

tenham sido publicados satildeo fundamentais para analisar o comportamento das variaacuteveis

climaacuteticas no local de estudo conforme seraacute visto nas anaacutelises a seguir

Referenciada geograficamente pelas coordenadas14

Latitude Sul 20deg23rsquo28rdquo e

Longitude Oeste 43deg30rsquo20rdquo Ouro Preto possui altitude correspondente a 1150 metros sendo

que o ponto mais alto o Pico Itacolomi estaacute situado a 1772 metros de altura A latitude e a

altitude satildeo dois importantes fatores geograacuteficos do clima quanto maior a latitude menor eacute a

temperatura superficial e quanto maior a altitude menor seraacute a temperatura e a pressatildeo

atmosfeacuterica

14 Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrlocalizacaogt Acesso em 27 jun 2015

43

Para entendermos o clima no municiacutepio e para traccedilarmos as diretrizes construtivas

que garantam o bom desempenho das edificaccedilotildees faz-se necessaacuterio primeiramente consultar

o Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro definido na parte 3 da NBR 15220

O Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro consiste na ldquodivisatildeo do territoacuterio brasileiro

em oito zonas relativamente homogecircneas quanto ao clima e para cada uma destas zonas

formulou-se um conjunto de recomendaccedilotildees teacutecnico-construtivas que otimizam o desempenho

teacutermico das edificaccedilotildees atraveacutes de sua melhor adequaccedilatildeo climaacuteticardquo (ABNT 2003) O

Zoneamento resulta da aplicaccedilatildeo da Carta Bioclimaacutetica sugerida por Givoni ldquoinserindo os

dados mensais de temperatura meacutedia e umidade relativa para cada mecircs do ano e para cada

uma das localidades agrupando entatildeo aquelas classificadas como um mesmo tipo climaacuteticordquo

(FERREIRA 2014 p432)

As diretrizes construtivas desenvolvidas na Norma tratam basicamente do

comportamento da envoltoacuteria da edificaccedilatildeo a partir da indicaccedilatildeo do tamanho das aberturas

para ventilaccedilatildeo da proteccedilatildeo das aberturas das vedaccedilotildees externas (paredes e cobertura) e das

estrateacutegias de condicionamento passivo

A NBR 15220-3 estaacute vigente desde 2005 e sua aplicaccedilatildeo estaacute direcionada para as

edificaccedilotildees de ateacute trecircs pavimentos destinadas agrave habitaccedilatildeo multifamiliar de interesse social

Contudo os preceitos nela indicados podem e devem servir como base para a adequaccedilatildeo

climaacutetica das demais edificaccedilotildees desde que a Norma natildeo seja aplicada de forma isolada isto

eacute devem ser estudados outros procedimentos e devem ser utilizadas novas ferramentas a fim

de cruzar os resultados e avanccedilar na elaboraccedilatildeo de paracircmetros construtivos cada vez mais

completos e dinacircmicos

Segundo a Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica obtida atraveacutes do programa ZBBR o

municiacutepio de Ouro Preto estaacute localizado na Zona Bioclimaacutetica 3

44

Fonte Programa ZBBR ndash Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica dos Municiacutepios Brasileiros

Em destaque o Municiacutepio de Ouro Preto ndash MG

Para as edificaccedilotildees inseridas nesta zona bioclimaacutetica a NBR 15220 traz as

seguintes orientaccedilotildees

- Quanto agraves aberturas tamanho meacutedio (15 a 25) e que possibilitem a entrada do sol

durante o inverno

- Quanto agraves vedaccedilotildees externas paredes externas leves15

e refletoras cobertura leve e

isolada

- Quanto ao condicionamento teacutermico passivo ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo

aquecimento solar durante o inverno e vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia

teacutermica

15 Quanto agrave caracterizaccedilatildeo das envoltoacuterias como ldquolevesrdquo podemos agregar para melhor entendimento a

explicaccedilatildeo de que tais envoltoacuterias devem ser de baixa ineacutercia teacutermica ou seja devem possibilitar que o ambiente

interno seja influenciado pela temperatura do ar exterior sem grande atraso Assim pode-se dizer que as

recomendaccedilotildees de envoltoacuterias leves ocorrem em ambientes onde se deseja que os ambientes internos agrave

edificaccedilatildeo sofram influecircncia direta da temperatura do exterior

45

A partir das orientaccedilotildees da Norma percebe-se que a classificaccedilatildeo das zonas

bioclimaacuteticas embora tenha uma importante contribuiccedilatildeo esta natildeo pode ser utilizada

isoladamente por natildeo agregar importantes elementos agrave caracterizaccedilatildeo do clima local como jaacute

foi dito anteriormente Sendo assim outros dados de Ouro Preto devem ser observados para

aprofundarmos um pouco mais nas recomendaccedilotildees construtivas

Dentro do espectro das variaacuteveis climaacuteticas que caracterizam uma regiatildeo merece

destaque a temperatura e a umidade A temperatura ldquoeacute a variaacutevel climaacutetica mais conhecida e

de mais faacutecil mediccedilatildeo A variaccedilatildeo da temperatura na superfiacutecie da Terra resulta basicamente

dos fluxos das grandes massas de ar e da diferente recepccedilatildeo da radiaccedilatildeo do sol de local para

localrdquo (LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 77) A temperatura varia principalmente

em funccedilatildeo da velocidade do ar mas tambeacutem eacute influenciada em maior ou menor grau pelo

tipo de solo e de vegetaccedilatildeo pela topografia e pela altitude A temperatura meacutedia anual de

Ouro Preto eacute de 185deg conforme os dados sistematizados pelo INMET A temperatura

maacutexima verificada geralmente no mecircs de fevereiro corresponde a 252deg e a temperatura

miacutenima que ocorre no mecircs de julho corresponde a 112deg Quanto agrave umidade do ar esta

resulta da evaporaccedilatildeo das aacuteguas e da evapotranspiraccedilatildeo dos vegetais e pode ser definida em

absoluta e relativa ldquoComo definiccedilatildeo de umidade absoluta tem-se que eacute o peso do vapor de

aacutegua contido em uma unidade de volume de ar (gm3) e a umidade relativa eacute a relaccedilatildeo da

umidade absoluta com a capacidade maacutexima do ar de reter vapor drsquoaacutegua agravequela temperaturardquo

(FROTA 1995 p62) A umidade do ar tem relaccedilatildeo inversa com a temperatura portanto

quanto menor a temperatura maior a possibilidade de saturaccedilatildeo do ar pela ampliaccedilatildeo da

umidade ao limite de 100 A pluviosidade tambeacutem deve ser observada pois tem relaccedilatildeo

direta com a umidade do ar sendo que a chuva proveacutem em grande parte de massas de ar

uacutemido em ascensatildeo Os dados do INMET apontam que a meacutedia anual da pluviosidade em

Ouro Preto eacute de 16703mm sendo junho o mecircs mais seco com 129mm e dezembro o mecircs

mais uacutemido com 3579mm

46

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641 (continuaccedilatildeo)

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

47

48

A partir dos dados acima eacute possiacutevel verificar inicialmente que se trata de um

clima de baixas temperaturas muito uacutemido (umidade relativa praticamente sempre acima de

80) com alta nebulosidade (o que significa que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou

nublado) e com abundacircncia de chuvas principalmente no veratildeo

Tais caracteriacutesticas satildeo acentuadas pela influecircncia da barreira orograacutefica

provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta que conforma o

Morro Satildeo Sebastiatildeo Sendo assim grande parte da mancha urbana de Ouro Preto situada agrave

barlavento da barreira natural sofre influecircncia das chuvas que resultam do resfriamento e

condensaccedilatildeo do ar em ascensatildeo aprofundando ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade citadas anteriormente

Representaccedilatildeo da influecircncia dos ventos e da topografia na mancha urbana da cidade de Ouro

Preto - a formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem base da imagem de sateacutelite extraiacuteda do Google Maps

Exemplo da chuva a barlavento resultante da formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem Sistemas Tecnoloacutegicos em Conforto Ambiental ndash Eleonora Sad Assis

Parte da malha urbana de Ouro Preto

49

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem timblindimwordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem fotografandoondeopeixeparawordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

A partir das variaacuteveis climaacuteticas sistematizadas pelo INMET podemos avanccedilar na

utilizaccedilatildeo do Diagrama Bioclimaacutetico de Givoni (DBG) que orientou a definiccedilatildeo do

Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro assim como utilizar outro instrumento de anaacutelise as

Tabelas de Mahoney que tambeacutem auxiliam na definiccedilatildeo das diretrizes construtivas

O Diagrama de Givoni nos permite identificar quais recursos satildeo necessaacuterios para

que as edificaccedilotildees atendam agraves condiccedilotildees de conforto Este instrumento aponta quais preceitos

da arquitetura bioclimaacutetica devem ser priorizados tais como ventilaccedilatildeo ineacutercia teacutermica e

50

insolaccedilatildeo assim como aponta a necessidade de soluccedilotildees mecacircnicas para o atendimento ao

conforto teacutermico

Diagrama de Givoni relativo agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O Diagrama de Givoni referente agrave Ouro Preto assinala que na maior parte do

tempo as edificaccedilotildees necessitam de aquecimento passivo tendo em vista o quadro recorrente

de baixas temperaturas e de alta umidade relativa Algumas estrateacutegias de aquecimento

passivo podem ser adaptadas agrave realidade local para melhor aproveitamento Quanto agrave cidade

de Ouro Preto deve-se pensar o ganho teacutermico principalmente durante o inverno Nessa

estaccedilatildeo embora se tenha uma queda significativa das temperaturas tem-se cerca de 6 horas

de insolaccedilatildeo diaacuteria quase duas horas a mais do que nas outras estaccedilotildees O aproveitamento

dessa radiaccedilatildeo solar deve servir para manter o ambiente aquecido durante a noite sendo

assim a utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior insolaccedilatildeo deve

possibilitar a maacutexima entrada de calor durante o dia Quanto aos materiais internos estes

devem possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser

devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente

Voltando ao Diagrama de Givoni se compararmos o resultado da cidade de Ouro

Preto com a cidade de Belo Horizonte que estaacute na mesma zona bioclimaacutetica e estaacute a 858

51

metros de altitude perceberemos o quanto eacute importante cruzar os dados de diferentes

instrumentos de anaacutelise para acertar nas diretrizes de projeto Os dados de Belo Horizonte

resultam numa linha meacutedia predominantemente inserida na zona de conforto chegando a

alcanccedilar a zona de influecircncia da ventilaccedilatildeo em algumas horas dos meses de janeiro fevereiro

e marccedilo

Diagrama de Givoni relativo agrave Belo Horizonte

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O outro meacutetodo importante de anaacutelise voltado especificamente para as

recomendaccedilotildees de projeto arquitetocircnico consiste na sistematizaccedilatildeo das recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas atraveacutes das ldquoTabelas de Mahoneyrdquo Tal meacutetodo deve ser utilizado

simultaneamente ao Diagrama de Givoni a fim de se comparar os resultados e ajustar as

diretrizes construtivas Dentre as orientaccedilotildees da Tabela de Mahoney para Ouro Preto merece

destaque a utilizaccedilatildeo de grandes aberturas (para garantir ventilaccedilatildeo abundante e permanente)

e de envoltoacuterias leves Contudo diretrizes como reduccedilatildeo da exposiccedilatildeo ao sol e proteccedilatildeo da

insolaccedilatildeo direta natildeo favorecem o aquecimento passivo conforme a necessidade observada a

partir do Diagrama de Givoni e portanto devem ser relativizadas Seguem abaixo as

recomendaccedilotildees das Tabelas de Mahoney para Ouro Preto

52

Tabela de Mahoney relativa agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

Sendo assim a partir do conhecimento das variaacuteveis climaacuteticas e dos resultados

apresentados eacute possiacutevel formular a seguinte tabela resumo quanto agraves recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas iniciais para Ouro Preto

14 Tabela de Recomendaccedilotildees Arquitetocircnicas

Total de Indicadores

Uacutemido Aacuterido

H1 H2 H3 A1 A2 A3

1 11 4 0 0 0

1 PLANTA DE SITUACcedilAtildeO

0 -10 X Construccedilotildees orientadas segundo eixo longitudinal leste-oeste

11 ou 5 -12 a fim de diminuir a exposiccedilatildeo ao sol

12 0 - 4 Plantas compactas com paacutetios internos

2 ESPACcedilAMENTO ENTRE CONSTRUCcedilOtildeES

11 ou Grandes espaccedilamentos para favorecer a penetraccedilatildeo do vento

12

2 -10 Como acima mas com proteccedilatildeo contra vento quente ou frio

0 ou 1 X Distribuiccedilatildeo compacta

3 CIRCULACcedilAtildeO DE AR

3 - 12 X Construccedilotildees com orientaccedilatildeo simples aberturas que permitam

1 ou 0 - 5 circulaccedilatildeo de ar permanente

2 6 - 12 Construccedilotildees com orientaccedilatildeo dupla circulaccedilatildeo de ar cruzada

0 2 -12 aberturas de ar controlaacuteveis

0 ou 1 Basta renovaccedilatildeo higiecircnica do ar

4 DIMENSOtildeES DAS ABERTURAS

0 ou 0 X Grandes 40 a 80 das fachadas norte e sul

1 1 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

2 - 5

6 - 10 Intermediaacuterias 20 a 35 da superfiacutecie das paredes

11 ou 0 - 3 Pequenas 15 a 25 da superfiacutecie das paredes

12 4 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

5 POSICcedilAtildeO DAS ABERTURAS

3 - 12 X Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do

1 ou 0 - 5 lado exposto ao vento

2 6 - 12 Como acima mas tambeacutem aberturas nas paredes internas

0 2 - 12

6 PROTECcedilAtildeO DAS ABERTURAS

0 - 2 X Proteger da insolaccedilatildeo direta

2 - 12 X Proteger da chuva

7 PAREDES E PISOS

0 - 2 X Construccedilotildees leves baixa ineacutercia teacutermica

3 - 12 Construccedilotildees maciccedilas tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

8 COBERTURA

10 a 0 - 2 Leve (pouca ineacutecia) superfiacutecie refletora uso de cacircmara de ar

12 3 - 12 X Leve e bem isolada

0 a 0 - 5

9 6 - 12 Maciccedila tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

9 ESPACcedilOS EXTERIORES

1 - 12 Espaccedilo para dormir ao ar livre

1 - 12 X Adequada drenagem para a chuva

3 - 12 X Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

53

Tabela resumo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas

Diagrama de Givoni

Tabelas de Mahoney

NBR 15220 ndash Parte 03

Tamanho e caracteriacutesticas das aberturas

Esquadrias devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia do calor no ambiente

Aberturas que permitam a circulaccedilatildeo de ar permanente

Tamanho meacutedio

Grandes ndash de 40 a 80 das fachadas norte e sul

Possibilitar a entrada do sol durante o inverno

Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do lado exposto ao vento

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees externas

Leves Leves e refletoras

Baixa ineacutercia teacutermica

Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees internas

Possibilitar o armazenamento do calor absorvido

Vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia teacutermica

Caracteriacutesticas da cobertura

Leve e bem isolada Leve e isolada

Condicionamento teacutermico passivo

Ganho teacutermico principalmente durante o inverno

Aberturas protegidas da insolaccedilatildeo direta e protegidas da chuva

Ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo aquecimento solar durante o inverno e

Somando-se os diversos meacutetodos de anaacutelise climaacutetica tecircm maior relevacircncia a

seguintes diretrizes

- ventilaccedilatildeo abundante principalmente durante o veratildeo a fim de reduzir a temperatura no

interior da edificaccedilatildeo e os efeitos da umidade que aumenta ainda mais em funccedilatildeo das chuvas

tiacutepicas desse periacuteodo A ventilaccedilatildeo cruzada deve ser fomentada e deve ser observado o sentido

54

predominante do vento que na cidade em questatildeo eacute sudeste a fim de se alcanccedilar melhores

resultados no conforto da edificaccedilatildeo

- aquecimento passivo para os meses de inverno a fim de diminuir o desconforto

causado pelas baixas temperaturas

- paredes leves (com baixa ineacutercia teacutermica ou seja conseguem ganhar ou perder calor

rapidamente a partir da interferecircncia e da temperatura do ar exterior) e protegidas da umidade

proveniente das chuvas fortes

- coberturas leves e bem isoladas (capazes de reter o calor absorvido durante o dia)

- as edificaccedilotildees devem estar protegidas das chuvas e devem contar com sistemas de

drenagem eficientes que possibilitem o raacutepido escoamento ou aproveitamento dessa aacutegua

62 O Coacutedigo de Obras e o conforto ambiental em Ouro Preto ndash estrateacutegias prioritaacuterias

A utilizaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental nos projetos e nas edificaccedilotildees

tem um impacto social positivo baseado em pelo menos trecircs fatores importantes melhoria das

condiccedilotildees de habitabilidade da edificaccedilatildeo e portanto melhor qualidade de vida para o

usuaacuterio melhoria nas condiccedilotildees climaacuteticas do meio externo ampliando o bem estar coletivo

reduccedilatildeo no consumo de energia e utilizaccedilatildeo eficiente do sistema de abastecimento a partir da

correta utilizaccedilatildeo dos sistemas ativos (iluminaccedilatildeo artificial condicionamento e aquecimento

de ar)

Para garantir a aplicaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental o Coacutedigo de Obras

e Edificaccedilotildees do municiacutepio deve incorporar dois importantes artigos que seratildeo detalhados

abaixo conforme o texto sugerido pelo Guia Teacutecnico ldquoElaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de

obras e edificaccedilotildeesrdquo da ELETROBRAacuteS (BAHIA GUEDES 2012)

O primeiro artigo de destaque deve ser inserido no capiacutetulo que trata das

DISPOSICcedilOtildeES PRELIMINARES e deve enumerar as diretrizes gerais para os projetos e

construccedilotildees buscando elencar tanto as demandas contemporacircneas expressas nas novas

legislaccedilotildees como os anseios para um espaccedilo urbano equilibrado e sustentaacutevel Nesse

contexto a substituiccedilatildeo da expressatildeo ldquopadrotildees miacutenimosrdquo que podem ser exemplificados pelas

diretrizes generalistas frequentemente encontradas nas legislaccedilotildees como a previsatildeo de 16 e

18 de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo para todas as localidades por ldquopadrotildees eficientesrdquo

estabelecidos atraveacutes de estudos teacutecnicos que agreguem a complexidade do clima local e que

permitam ampliar as condiccedilotildees de sustentabilidade das edificaccedilotildees ao tratar da otimizaccedilatildeo de

resultados quanto ao atendimento do conforto teacutermico visual e acuacutestico com baixo consumo

55

de energia A configuraccedilatildeo do texto deve se aproximar ao maacuteximo da proposta apresentada

pelo Guia Teacutecnico paacutegina 62

As obras instalaccedilotildees e edificaccedilotildees sejam puacuteblicas sejam privadas deveratildeo atender

agraves seguintes diretrizes gerais de forma a assegurar padrotildees eficientes de seguranccedila e

solidez salubridade e sauacutede conforto ambiental e desempenho energeacutetico

acessibilidade e livre tracircnsito de pessoas prevenccedilatildeo e uso sustentaacutevel dos recursos

naturais em cada caso e sempre que couber I - Subordinaccedilatildeo do interesse particular

ao interesse coletivo II - Promoccedilatildeo do direito agrave cidade sustentaacutevel e da funccedilatildeo

social da propriedade III - Utilizaccedilatildeo das normas teacutecnicas brasileiras e

regulamentaccedilotildees aplicaacuteveis para orientaccedilatildeo do desenvolvimento de projetos e

execuccedilatildeo de obras IV - Desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas sempre que

necessaacuterio com base nas praacuteticas locais beneacuteficas e na produccedilatildeo cientiacutefica tendo em

vista a manutenccedilatildeo da qualidade do local onde se daacute a intervenccedilatildeo e a correlaccedilatildeo

com valores culturais da populaccedilatildeo V - Garantia das condiccedilotildees de acessibilidade

circulaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo pela populaccedilatildeo em geral das edificaccedilotildees e do espaccedilo e

mobiliaacuterio urbano de uso puacuteblico e coletivo com adoccedilatildeo de soluccedilotildees especiacuteficas

para as pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida conforme previsto nas

normas teacutecnicas e na legislaccedilatildeo aplicaacutevel VI - Adoccedilatildeo de paracircmetros climaacuteticos

para o desenvolvimento de projetos de arquitetura de parcelamentos do solo e de

desenho urbano tendo em vista a correta orientaccedilatildeo solar da edificaccedilatildeo e demais

elementos as melhores condiccedilotildees de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo e pela escolha de

materiais construtivos e soluccedilotildees urbaniacutesticas adequadas em funccedilatildeo das

condicionantes ambientais locais de temperatura pluviosidade dominacircncia de

ventos ruiacutedo e paisagem natural aleacutem dos aspectos culturais que interagem com

essas condiccedilotildees VII - Utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis materiais de

construccedilatildeo certificados e ajudas teacutecnicas disponiacuteveis em complemento agrave promoccedilatildeo

do conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade das edificaccedilotildees e do

meio urbano VIII - Implantaccedilatildeo do objeto arquitetocircnico no lote bem como do

mobiliaacuterio urbano e demais artefatos nos logradouros puacuteblicos garantidas a

acessibilidade a qualidade esteacutetica e tecnoloacutegica de forma a potencializar os

atributos da paisagem urbana e evitar a poluiccedilatildeo visual IX - Adoccedilatildeo preferencial de

espeacutecies nativas na arborizaccedilatildeo puacuteblica demais projetos paisagiacutesticos e no

ajardinamento de lotes particulares X - Simplificaccedilatildeo dos procedimentos

administrativos pelo Poder Puacuteblico e promoccedilatildeo da assistecircncia para habitaccedilatildeo de

interesse social pelos agentes promotores tendo em vista facilitar a regularidade e a

correta execuccedilatildeo de projetos e obras inclusive apoiando as iniciativas de

autoconstruccedilatildeo da clientela de baixa renda (BAHIA GUEDES 2012)

O segundo artigo de grande relevacircncia deve ser inserido no capiacutetulo ldquoDAS

CONDICcedilOtildeES RELATIVAS AgraveS EDIFICACcedilOtildeESrdquo Neste capiacutetulo devem ser tratados os

paracircmetros teacutecnicos e geomeacutetricos capazes de materializar o conforto ambiental dos projetos e

edificaccedilotildees a partir do contexto climaacutetico da cidade As diretrizes apontadas devem buscar o

equiliacutebrio entre as condicionantes internas (relaccedilatildeo do usuaacuterio com a edificaccedilatildeo) e externas

(relaccedilatildeo da edificaccedilatildeo com o entorno) Quanto aos paracircmetros teacutecnicos esses devem ser

baseados nas recomendaccedilotildees do Programa Nacional de Conservaccedilatildeo de Energia Eleacutetrica ndash

PROCEL e devem se aproximar dos padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees

residenciais que satildeo atualmente estabelecidos pelo INMETRO a partir do RTQ-R ndash

Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais O texto do artigo deve seguir a sugestatildeo do Guia Teacutecnico paacutegina 107

56

Os projetos de construccedilatildeo ou reforma aleacutem de atenderem aos paracircmetros de

habitabilidade estabelecidos neste Coacutedigo devem ser orientados para a promoccedilatildeo da

sustentabilidade e eficiecircncia energeacutetica da edificaccedilatildeo com o objetivo de reduzir as

emissotildees de gases de efeito estufa (GEE) e os impactos ambientais gerados pela

construccedilatildeo e pela sua utilizaccedilatildeo ao longo do tempo racionalizando o uso da energia

da aacutegua e dos materiais nela empregados a partir das seguintes diretrizes I -

Racionalidade do projeto e do planejamento do processo de execuccedilatildeo das obras II -

Gestatildeo sustentaacutevel da obras e das praacuteticas de construccedilatildeo de forma a evitar o

desperdiacutecio de materiais III - Uso de materiais de construccedilatildeo e acabamentos

sustentaacuteveis considerando a adoccedilatildeo de materiais originaacuterios da regiatildeo produzidos

de forma sustentaacutevel e legalizada de materiais reaproveitados ou de demoliccedilatildeo e de

materiais certificados ou de comprovada responsabilidade ambiental do fabricante

IV - Ativaccedilatildeo do uso de edificaccedilotildees de valor cultural histoacuterico ou arquitetocircnico

maximizando as condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do bem imoacutevel na interaccedilatildeo com as

premissas de conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade V -

Aplicaccedilatildeo das estrateacutegias para projetos de acordo com o Zoneamento Bioclimaacutetico

brasileiro conforme NBR 15220-3 para concepccedilatildeo arquitetocircnica implantaccedilatildeo no

lote orientaccedilatildeo solar dos ambientes localizaccedilatildeo de aberturas e especificaccedilatildeo de

materiais de construccedilatildeo em prol do desempenho teacutermico da edificaccedilatildeo VI -

Aproveitamento das caracteriacutesticas climaacuteticas locais para a promoccedilatildeo do conforto

ambiental da edificaccedilatildeo a partir da consideraccedilatildeo dos seguintes fatores principais a)

Qualidade do ar b) Conforto higroteacutermico c) Conforto luminoso (ou lumiacutenico) d)

Conforto acuacutestico VII - Adoccedilatildeo de especificaccedilotildees de projeto com o objetivo de

potencializar as caracteriacutesticas climaacuteticas locais beneacuteficas eou remediar as de maior

rigor ao longo das diferentes estaccedilotildees do ano em benefiacutecio do desempenho teacutermico

e da ventilaccedilatildeo e iluminaccedilatildeo naturais da edificaccedilatildeo [] VIII - Planejamento

paisagiacutestico como elemento contribuinte para o conforto ambiental da edificaccedilatildeo

[] IX - Adoccedilatildeo de materiais construtivos que melhorem o desempenho teacutermico da

edificaccedilatildeo com base nas orientaccedilotildees e tabelas da NBR 15220-3 e especificaccedilatildeo de

equipamentos mecanismos e instalaccedilotildees que favoreccedilam a economia de energia

eleacutetrica e a reduccedilatildeo do consumo e aacutegua tratada [] (BAHIA GUEDES 2012)

Esses dois artigos apresentados embora configurem o ponto de partida natildeo satildeo

suficientes para a transformaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras em uma ferramenta concreta de

promoccedilatildeo do conforto ambiental da eficiecircncia energeacutetica e da sustentabilidade do meio

ambiente urbano Os desdobramentos desse texto devem resultar em paracircmetros teacutecnicos

como dimensionamentos diretrizes de desenho configuraccedilotildees espaciais miacutenimas dentre

inuacutemeros outros elementos de aplicaccedilatildeo obrigatoacuteria ou optativa Sendo assim o Coacutedigo de

Obras deve regulamentar por exemplo o dimensionamento de compartimentos a disposiccedilatildeo

e o dimensionamento de mobiliaacuterio fixo como louccedilas sanitaacuterias o peacute-direito as proporccedilotildees

das aberturas de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo assim como as taxas de renovaccedilatildeo do ar os niacuteveis de

ruiacutedo para o conforto acuacutestico as condiccedilotildees favoraacuteveis de transmitacircncia e a absortacircncia das

paredes e coberturas para o conforto teacutermico o dimensionamento e as condiccedilotildees das

circulaccedilotildees horizontais e verticais as instalaccedilotildees prediais dentre inuacutemeros outros itens Os

teacutecnicos devem se debruccedilar sobre tais requisitos teacutecnicos a fim de otimizar os resultados

quanto agrave construccedilatildeo da sustentabilidade no municiacutepio Deve-se utilizar as normas ABNT em

auxiacutelio agrave formulaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos a exemplo da NBR 10151 sobre Avaliaccedilatildeo do

57

Ruiacutedo em Aacutereas Habitadas NBR 5382 sobre Iluminacircncia de Interiores NBR 15215 sobre

Iluminaccedilatildeo Natural NBR 9284 sobre Equipamentos Urbanos dentre outras

Por fim deve-se prezar pela total interaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras com o conjunto

da legislaccedilatildeo urbaniacutestica local a fim de estabelecer uma relaccedilatildeo sequencial entre as etapas de e

concepccedilatildeo planejamento e construccedilatildeo das edificaccedilotildees passando das diretrizes gerais agraves

exigecircncias especiacuteficas O texto do coacutedigo de obras deve ser objetivo e didaacutetico sem incorrer

em simplificaccedilotildees O conteuacutedo deve ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e

teacutecnicos da aacuterea como pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees A dedicaccedilatildeo dos

teacutecnicos e profissionais na elaboraccedilatildeo das diretrizes transformadoras a busca pela

conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo sobre o conforto no ambiente urbano assim como a luta contra a

supremacia dos interesses privados sobre a coletividade satildeo itens importantes quanto agrave

concretizaccedilatildeo desse importante instrumento que foi apresentado e defendido ao longo do

presente trabalho

58

7 CONCLUSAtildeO

Diante das anaacutelises apresentadas ao longo deste trabalho principalmente quanto

ao ordenamento juriacutedico brasileiro para a regulaccedilatildeo urbana e o desenvolvimento sustentaacutevel

ficou comprovada a existecircncia de um conjunto significativo de legislaccedilotildees capazes de

embasar uma transformaccedilatildeo das cidades brasileiras em territoacuterios democraacuteticos igualitaacuterios e

sustentaacuteveis Poreacutem a previsatildeo legal eacute apenas o iniacutecio de um longo caminho ateacute a

transformaccedilatildeo concreta da realidade Para se avanccedilar nesse caminho uma mudanccedila poliacutetica eacute

imprescindiacutevel uma vez que as decisotildees sobre o espaccedilo urbano e sua regulamentaccedilatildeo

dependem necessariamente do interesse do gestor urbano materializado na figura dos

prefeitos e governantes das diversas esferas administrativas

Em relaccedilatildeo ao municiacutepio de Ouro Preto foi identificado que embora haja um

conjunto significativo de diretrizes urbaniacutesticas contidas no Plano Diretor e na Lei de Uso e

Ocupaccedilatildeo do Solo estas ainda satildeo insuficientes para subsidiar um desenvolvimento local

pautado na responsabilidade ambiental e na qualidade do meio ambiente urbano Isso se deve

principalmente ao fato de natildeo haver um coacutedigo de obras e edificaccedilotildees e tambeacutem ao fato de

que as iniciativas de proteccedilatildeo ambiental tal como a Agenda 21 Local natildeo foram colocadas

em praacutetica Neste sentido em relaccedilatildeo ao processo legislativo conclui-se que haacute uma

defasagem na aplicaccedilatildeo dos instrumentos de planejamento municipal previstos no Estatuto da

Cidade principalmente o Plano Diretor Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo Agenda 21 Local e Coacutedigo

de Obras e Edificaccedilotildees Aleacutem disso faltam elementos de combate agrave especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e

instrumentos de regulaccedilatildeo do solo urbano como o IPTU progressivo regularizaccedilatildeo onerosa a

assistecircncia teacutecnica gratuita dentre outros instrumentos tributaacuterios e financeiros juriacutedicos e

poliacuteticos que infelizmente ainda natildeo satildeo aplicados no municiacutepio Nesse contexto os outros

instrumentos de planejamento tais como o plano plurianual orccedilamento participativo

programas setoriais e planos de desenvolvimento econocircmico e social embora natildeo configurem

instrumentos urbaniacutesticos se colocam como ferramentas aliadas da gestatildeo democraacutetica da

cidade e da reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais visto que o processo de mudanccedila eacute

essencialmente poliacutetico Nesse sentido eacute extremamente importante que esses instrumentos

sejam pautados na real participaccedilatildeo popular na inclusatildeo e na justiccedila social

Quanto agrave sustentabilidade no ambiente urbano identificou-se que a preservaccedilatildeo e

proteccedilatildeo patrimonial pautadas no conforto do usuaacuterio a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados

a melhoria da infraestrutura urbana a concretizaccedilatildeo de projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria

59

assim como a construccedilatildeo de habitaccedilatildeo social de qualidade satildeo questotildees fundamentais para a

transformaccedilatildeo das cidades em territoacuterios democraacuteticos e sustentaacuteveis Essas demandas estatildeo

diretamente ligadas agrave mudanccedila no paradigma do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

pois uma vez colocadas em praacutetica alteram significativamente a configuraccedilatildeo das cidades

influenciando no clima urbano e na qualidade ambiental

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de uma base de dados climaacuteticos relativos ao municiacutepio

a partir das Normais Climatoloacutegicas obtidas no periacuteodo entre 1976 e 1990 foi possiacutevel

caracterizar o clima de Ouro Preto como um clima de baixas temperaturas muito uacutemido

(umidade relativa praticamente sempre acima de 80) com alta nebulosidade (o que significa

que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou nublado) e com abundacircncia de chuvas

principalmente no veratildeo Foi tambeacutem identificada uma grande interferecircncia do efeito da

barreira orograacutefica provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta

que conforma o Morro Satildeo Sebastiatildeo o que aprofunda ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade

Para a elaboraccedilatildeo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais foram utilizados os

resultados do diagrama de Givoni das Tabelas de Mahoney e da NBR 15220 Assim para a

cidade de Ouro Preto concluiu-se que a arquitetura deve priorizar o ganho teacutermico

principalmente durante o inverno pois nessa estaccedilatildeo tem-se uma queda significativa das

temperaturas o que afeta consideravelmente o conforto do usuaacuterio Esse ganho teacutermico deve

ser pensado a partir da utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior

insolaccedilatildeo o que possibilita um melhor aproveitamento dessa radiaccedilatildeo solar que deve servir

para manter o ambiente aquecido durante a noite Quanto aos materiais internos estes devem

possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser devidamente

isoladas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente Em relaccedilatildeo ao veratildeo foi

identificada a necessidade de ventilaccedilatildeo cruzada para reduzir os efeitos das temperaturas

elevadas e da alta umidade aleacutem de envoltoacuterias bem protegidas das chuvas

Por fim quanto agrave elaboraccedilatildeo do coacutedigo de obras foi possiacutevel apontar a

necessidade de se estabelecer as diretrizes para os projetos e construccedilotildees a partir dos

paracircmetros das normas teacutecnicas brasileiras do desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas com

base nas praacuteticas locais da garantia da acessibilidade das edificaccedilotildees agrave populaccedilatildeo em geral

da consideraccedilatildeo dos paracircmetros climaacuteticos e da utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis Foi

abordada a necessidade de aproximaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos do coacutedigo de obras aos

padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees residenciais previstos no RTQ-R

60

(Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais INMETRO) aleacutem da necessidade de se construir um texto objetivo e didaacutetico

que possa ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e teacutecnicos da aacuterea quanto

pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees

61

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 15220 Desempenho

teacutermico de edificaccedilotildees Rio de Janeiro ABNT 2005

BAHIA S R GUEDES P de A Elaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de obras e

edificaccedilotildees 2ordfed Rio de janeiro IBAMDUMA ELETROBRAS PROCEL 2012

BARANDIER H ALMEIDA M C T MORAIS R Planejamento e Controle Ambiental

Urbano e a Eficiecircncia Energeacutetica Rio de Janeiro IBAMDUMA ELETROBRASPROCEL

2013

BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988

BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002

BRASIL Lei nordm 10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do Desenvolvimento

Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Pesquisa nacional para identificar os resultados de

implementaccedilatildeo de processos de agendas 21 locais Brasiacutelia 2009

CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS Tiacutetulo 24 Parte 8 California Historical

Building Code 1ordm Ed Washington 2007

CSABA D SUELI R S (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo Editora da

Universidade de Satildeo Paulo 1999

FERREIRA C SOUZA H A de ASSIS E S de Estudo do clima brasileiro reflexotildees e

recomendaccedilotildees sobre a adequaccedilatildeo climaacutetica de habitaccedilotildees In XV Encontro Nacional de

Tecnologia do Ambiente Construiacutedo Maceioacute 2014

FROTA A B SCHIFFER S R Manual de Conforto Teacutermico Satildeo Paulo Nobel 1995

IBGE Perfil dos municiacutepios brasileiros 2013 Brasiacutelia 2014

LAMBERTS R DUTRA L PEREIRA FO R Eficiecircncia Energeacutetica na Arquitetura 3ordfed

ELETROBRASPROCEL 2014

MENICONI R O A Construccedilatildeo de uma Cidade-Monumento o caso de Ouro Preto Belo

Horizonte Escola de Arquitetura e Urbanismo UFMG 1999 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OLIVEIRA L B Agenda 21 Local consolidando as bases para o desenvolvimento

sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escala UFOP 2010

62

OLIVEIRA M A Os valores culturais da paisagem urbana em Ouro Preto Um Estudo de

Caso das Aacutereas Verdes na Ladeira Santa Efigecircnia e Entorno Proacuteximo Salvador Mestrado em

Arquitetura e Urbanismo da UFBA 1997

OLIVEIRA M R S Gestatildeo Patrimonial em Ouro Preto Alcances e Limites das Poliacuteticas

Puacuteblicas Preservacionistas Campinas Poacutes ndash Graduaccedilatildeo em Geografia Anaacutelise Ambiental e

Dinacircmica Territorial da UNICAMP 2005 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OURO PRETO Lei complementar nordm 011996 Institui o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro

Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 022005 Estabelece a Estrutura Baacutesica e a

organizaccedilatildeo administrativa da Prefeitura Municipal de Ouro Preto e da outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 152006 Altera a Lei Complementar ndeg 021005

modifica a denominaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Turismo Induacutestria e Comeacutercio e da

Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio suas respectivas competecircncias e daacute outras

providecircncias de 27 de Abril de 2006

OURO PRETO Lei Complementar nordm 302006 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 28 de

Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei complementar nordm 912010 Altera a Lei Complementar nordm292006 que

estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 932011 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 20 de

Janeiro de 2011

OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996

OURO PRETO Lei complementar nordm292006 Estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de

Ouro Preto de 28 de Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei nordm 333 Dispotildee sobre o Programa da Agenda 21 Local de 11 de maio de

2007

OURO PRETO Lei nordm 5790 Dispotildee sobre as diretrizes baacutesicas do Plano Diretor do

Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Portaria 0292 Nomeia Comissatildeo Especial

OURO PRETO Portaria 1707 Nomeia Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos

Naturais e Agenda 21 Local

Page 7: POLYANA PEREIRA COELHO · 2019. 11. 14. · POLYANA PEREIRA COELHO A SUSTENTABILIDADE DO AMBIENTE URBANO E OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO MUNICIPAL: RECOMENDAÇÕES PARA UM CÓDIGO DE

6

1 INTRODUCcedilAtildeO

A praacutetica de ordenaccedilatildeo do territoacuterio nacional atraveacutes do planejamento urbano

modificou-se significativamente no iniacutecio do Segundo Milecircnio A aprovaccedilatildeo do Estatuto da

Cidade e a incorporaccedilatildeo dos preceitos do equiliacutebrio ambiental e do desenvolvimento

sustentaacutevel nas diretrizes para o desenvolvimento urbano impactaram positivamente o quadro

juriacutedico brasileiro Contudo enfrentam-se ainda inuacutemeras dificuldades na aplicaccedilatildeo das

diretrizes previstas nesse novo ordenamento o que se traduz num gigantesco atraso quanto agrave

transformaccedilatildeo das cidades brasileiras em cidades sustentaacuteveis

Atualmente satildeo os municiacutepios os entes federativos com maior capacidade de

transformaccedilatildeo da realidade local uma vez que os principais instrumentos aplicaacuteveis ao

contexto urbano estatildeo inseridos no Plano Diretor ou noutro plano urbano de competecircncia do

municiacutepio Sendo assim faz-se necessaacuterio aprofundar o conhecimento e entendimento dos

instrumentos da gestatildeo municipal analisando os limites e possibilidades encontrados nas

administraccedilotildees da maioria das cidades brasileiras A identificaccedilatildeo do contexto poliacutetico local eacute

fundamental para a compreensatildeo da realidade urbana pois o sucesso na aplicaccedilatildeo de

legislaccedilotildees transformadoras depende da vontade poliacutetica das gestotildees municipais em promover

a democratizaccedilatildeo da cidade e o bem-estar coletivo

Nesse contexto de reconhecimento dos instrumentos de gestatildeo municipal buscou-

se identificar e avaliar as poliacuteticas de promoccedilatildeo da sustentabilidade no ambiente urbano

Assim aleacutem da anaacutelise dos Planos Diretores e da Lei de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo do

Solo o presente trabalho buscou investigar a existecircncia e a implementaccedilatildeo de outros

importantes instrumentos de promoccedilatildeo do equiliacutebrio ambiental tais como a Agenda 21 e o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees

Quanto agrave sustentabilidade do ambiente urbano cabe ressaltar a importacircncia em se

pensar a interaccedilatildeo das edificaccedilotildees no territoacuterio de forma que estas contribuam positivamente

com o clima urbano Assim estatildeo diretamente relacionadas agrave sustentabilidade do ambiente

urbano as diretrizes relativas ao uso agrave seguranccedila agrave salubridade agrave acessibilidade e agrave

preservaccedilatildeo dos elementos histoacutericos artiacutesticos e culturais assim como diretrizes resultantes

de estudos climaacuteticos que aplicados ao desenho urbano possibilitem adaptaccedilatildeo das

edificaccedilotildees agraves caracteriacutesticas climaacuteticas locais ao conforto teacutermico luminoso e acuacutestico

Tambeacutem faz parte dessa transformaccedilatildeo urbana iniciativas que utilizem fontes de energia

alternativas e que combatam o desperdiacutecio de recursos

7

A partir do exposto acima foi escolhido como caso de estudo o Municiacutepio de Ouro

Preto situado na Regiatildeo Central de Minas Gerais Com um conjunto urbano de

aproximadamente 300 anos a cidade de Ouro Preto estaacute entre os 19 bens brasileiros

considerados Patrimocircnio Cultural da Humanidade pela UNESCO e entre os 77 conjuntos

urbanos tombados pelo IPHAN

Estudar Ouro Preto portanto pressupotildee acrescentar um olhar preservacionista aos

apontamentos sobre a regulaccedilatildeo urbana e o desenvolvimento sustentaacutevel Dentro dessa

realidade faz-se necessaacuterio desenvolver uma interaccedilatildeo entre esses trecircs importantes aspectos da

poliacutetica urbana municipal preservaccedilatildeo regulaccedilatildeo e sustentabilidade

Sendo assim o objetivo geral da pesquisa consiste em analisar dentro do contexto

juriacutedico do municiacutepio de Ouro Preto as leis pertinentes agrave regulaccedilatildeo urbana a fim de avaliar a

aplicaccedilatildeo dos preceitos do Estatuto da Cidade Ademais o presente trabalho procura

identificar os principais entraves e barreiras que atualmente impedem que a expansatildeo da

cidade ocorra de forma vinculada agrave qualidade de vida dos cidadatildeos agrave proteccedilatildeo ambiental e

vinculada agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico

A partir da identificaccedilatildeo e contextualizaccedilatildeo das legislaccedilotildees municipais foram

abordadas algumas iniciativas de promoccedilatildeo da sustentabilidade a fim de avanccedilar na

construccedilatildeo de uma base de dados climaacuteticos do municiacutepio capaz de orientar a elaboraccedilatildeo de

condicionantes urbaniacutesticas e diretrizes construtivas comprometidas com a proteccedilatildeo do meio

ambiente e com as premissas do conforto ambiental Dentro do rol de legislaccedilotildees municipais

destacou-se um importante instrumento da regulaccedilatildeo urbana o Coacutedigo de Obras e

Edificaccedilotildees Foram abordados na pesquisa aspectos importantes quanto agrave elaboraccedilatildeo e

atualizaccedilatildeo deste instrumento como por exemplo a incorporaccedilatildeo dos criteacuterios de

sustentabilidade a fim de elevar a qualidade das edificaccedilotildees e garantir o conforto do usuaacuterio

Para a anaacutelise do clima da cidade de Ouro Preto foram utilizados o diagrama de

Givoni as Tabelas de Mahoney aleacutem da NBR 15220 parte 3 A sistematizaccedilatildeo dos resultados

dessas trecircs ferramentas possibilitou a interpretaccedilatildeo das variaacuteveis climaacuteticas o que eacute

fundamental para a formulaccedilatildeo de recomendaccedilotildees arquitetocircnicas Tal resultado embasou o

apontamento global apresentado no uacuteltimo capiacutetulo quanto agraves principais recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas e agraves estrateacutegias prioritaacuterias de promoccedilatildeo do conforto ambiental

O trabalho deveraacute contribuir com os estudos que estatildeo sendo elaborados pelas

equipes teacutecnicas locais e com a conformaccedilatildeo de um pensamento criacutetico a cerca das poliacuteticas

puacuteblicas de promoccedilatildeo da sustentabilidade da regulaccedilatildeo urbana e da proteccedilatildeo patrimonial

8

2 O ESTATUTO DA CIDADE E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL

O iniacutecio do seacuteculo XXI podemos dizer foi marcado por uma mudanccedila qualitativa

no tocante ao Planejamento Urbano Brasileiro O Estatuto da Cidade Lei nordm 10257 foi

aprovado pelo Congresso Nacional em 2001 e representou uma grande vitoacuteria nos marcos do

planejamento urbano pois vinha sendo reivindicado pelos movimentos sociais de luta pela

reforma urbana desde a deacutecada de 1980 O Estatuto da Cidade veio regulamentar o Capiacutetulo II

da Constituiccedilatildeo Federal capiacutetulo este que trata da Poliacutetica Urbana composto pelos artigos

182 e 183 que ressaltam dentre outros aspectos como a poliacutetica de desenvolvimento urbano

deve estar diretamente associada agrave funccedilatildeo social da cidade e da propriedade urbana A

aprovaccedilatildeo desta lei significaria uma mudanccedila qualitativa nos marcos juriacutedico e institucional

dos municiacutepios por articular instrumentos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria habitaccedilatildeo saneamento

mobilidade e de gestatildeo de resiacuteduos aleacutem de introduzir o equiliacutebrio ambiental como item

essencial ao desenvolvimento urbano sustentaacutevel No Capiacutetulo 01 do Estatuto ndash Diretrizes

Gerais o primeiro artigo diz o seguinte

Art 1ordm Na execuccedilatildeo da poliacutetica urbana de que tratam os artigos 182 e 183 da

Constituiccedilatildeo Federal seraacute aplicado o previsto nesta Lei [] Paraacutegrafo uacutenico Para

todos os efeitos esta Lei denominada Estatuto da Cidade estabelece normas de

ordem puacuteblica e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol

do bem coletivo da seguranccedila e do bem-estar dos cidadatildeos bem como do equiliacutebrio

ambiental (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

O texto do Estatuto da Cidade tratou portanto de incorporar ao conjunto de

diretrizes da poliacutetica urbana o equiliacutebrio ambiental como um novo conceito como uma

demanda essencial ao desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis conforme estaacute disposto no

capiacutetulo introdutoacuterio da supracitada Lei

Contudo mesmo jaacute estando consolidado haacute mais de uma deacutecada o desafio

colocado pelo Estatuto da Cidade tem se aprofundado a cada dia A retirada de mateacuteria-prima

da natureza a exploraccedilatildeo de recursos energeacuteticos a demanda por aacutegua potaacutevel e por

alimentos assim como a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos satildeo intensificadas com o passar dos

anos e com o crescimento exponencial das cidades Nas grandes metroacutepoles o problema

ambiental jaacute alcanccedilou o alerta vermelho quanto agrave gravidade da situaccedilatildeo a poluiccedilatildeo a

impermeabilizaccedilatildeo dos solos a falta de vegetaccedilatildeo e de barreiras geograacuteficas naturais tecircm

provocado inuacutemeros danos ao meio ambiente urbano que sofre com a falta de chuva ou com o

excesso dela com a draacutestica alteraccedilatildeo do microclima e com a formaccedilatildeo de ilhas de calor cada

dia mais agressivas ao bem-estar da populaccedilatildeo

9

Nos municiacutepios menores embora os problemas ambientais sejam percebidos com

menor intensidade a poliacutetica urbana tambeacutem estaacute voltada para a exploraccedilatildeo e esgotamento

dos recursos naturais Natildeo haacute uma poliacutetica efetiva de proteccedilatildeo das aacutereas de risco das aacutereas de

proteccedilatildeo permanente assim como natildeo haacute saneamento baacutesico em toda a aacuterea urbana Soma-se

a esses problemas a falta de estaccedilotildees de tratamento de efluentes que resulta na utilizaccedilatildeo dos

cursos drsquoaacutegua como canais de esgotamento sanitaacuterio e consequentemente na contaminaccedilatildeo

dos recursos hiacutedricos de toda uma regiatildeo

A partir desses elementos evidencia-se que a promulgaccedilatildeo do Estatuto da Cidade

apesar do avanccedilo representado natildeo conseguiu resolver por si soacute os inuacutemeros problemas

ambientais urbanos que afetam agraves cidades brasileiras Tais problemas estatildeo diretamente

vinculados aos paracircmetros de parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo padrotildees construtivos e

padrotildees ediliacutecios das cidades definidos pela legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal quando

existente Os municiacutepios encontram enorme dificuldade em aplicar os preceitos do Estatuto

por falta de uma legislaccedilatildeo urbana forte aprimorada e atualizada que possa contemplar todos

os aspectos de uma regulaccedilatildeo urbana voltada para a sustentabilidade e para o bem-estar

coletivo

Eacute neste cenaacuterio que entram em cena os instrumentos da poliacutetica urbana previstos

no Capiacutetulo II do Estatuto da Cidade organizados em seis categorias que satildeo

I ndash planos nacionais regionais e estaduais de ordenaccedilatildeo do territoacuterio e de

desenvolvimento econocircmico e social

II ndash planejamento das regiotildees metropolitanas aglomeraccedilotildees urbanas e

microrregiotildees

III ndash planejamento municipal

IV ndash institutos tributaacuterios e financeiros

V ndash institutos juriacutedicos e poliacuteticos

VI ndash estudo preacutevio de impacto ambiental (EIA) e estudo preacutevio de impacto de

vizinhanccedila (EIV) (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho

2001)

As categorias III - planejamento municipal IV - institutos tributaacuterios e financeiros

e V - instrumentos juriacutedicos e poliacuteticos se desdobram em outros variados instrumentos que

associados e devidamente estabelecidos por lei especiacutefica serviratildeo de base para que os

municiacutepios avancem na construccedilatildeo de um ambiente urbano equilibrado inclusivo e

sustentaacutevel Destaca-se nesse quadro de instrumentos dentro da categoria ldquoplanejamento

municipalrdquo o Plano Diretor que constituindo o ldquoinstrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e expansatildeo urbanardquo possibilitaraacute para aleacutem da ordenaccedilatildeo do solo a

articulaccedilatildeo com outros processos de planejamento na esfera municipal Tal instrumento seraacute

melhor abordado no proacuteximo capiacutetulo

10

Apresentados os processos de planejamento e os instrumentos da poliacutetica urbana

trazidos pelo Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio avanccedilar no entendimento da

sustentabilidade enquanto conceito uma vez que esta passaraacute a compor um corpo uacutenico com o

que vier a se entender por ldquodesenvolvimentordquo

A preocupaccedilatildeo com o ordenamento juriacutedico de proteccedilatildeo e defesa do meio

ambiente se materializou no Brasil inicialmente em 1981 a partir da promulgaccedilatildeo da Lei

6938 que instituiu a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente O SISNAMA Sistema Nacional

do Meio Ambiente reuniu os oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Direta - Uniatildeo Estados

DF e Municiacutepios - responsaacuteveis pela proteccedilatildeo e melhoria da qualidade ambiental

Em 2002 a construccedilatildeo da Agenda 21 Brasileira buscou associar o conceito de

sustentabilidade agraves poliacuteticas de desenvolvimento urbano As Agendas Nacionais foram

desenvolvidas a partir da Agenda 21 Global Esta uacuteltima resultou das discussotildees realizadas na

Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD)

mais conhecida como Rio 92 A Agenda 21 consiste em um programa de accedilatildeo voltado para a

aplicaccedilatildeo de meacutetodos de proteccedilatildeo ambiental justiccedila social e eficiecircncia econocircmica Eacute um

documento de 40 capiacutetulos com mais de 2500 recomendaccedilotildees praacuteticas e foi assinado por 179

paiacuteses formalizando o compromisso dessas naccedilotildees com o Desenvolvimento Sustentaacutevel do

Planeta Instrumento de planejamento participativo a Agenda 21 deve ser um resultado de

accedilotildees que congreguem governo e sociedade civil e por isso eacute um instrumento aliado das novas

frentes de trabalho inauguradas pelo Estatuto da Cidade A partir dos trechos a seguir

retirados respectivamente da Agenda 21 e do Estatuto da Cidade pode-se perceber a afinidade

nas pretensotildees dos dois Instrumentos de Planejamento

71 Nos paiacuteses industrializados os padrotildees de consumo das cidades representam

uma pressatildeo muito seacuteria sobre o ecossistema global ao passo que no mundo em

desenvolvimento os assentamentos humanos necessitam de mais mateacuteria-prima

energia e desenvolvimento econocircmico simplesmente para superar seus problemas

econocircmicos e sociais baacutesicos Em muitas regiotildees do mundo em especial nos paiacuteses

em desenvolvimento as condiccedilotildees dos assentamentos humanos vecircm se

deteriorando sobretudo em decorrecircncia do baixo volume de investimentos no setor

imputaacutevel agraves restriccedilotildees relativas a recursos com que esses paiacuteses se deparam em

todas as aacutereas Nos paiacuteses de baixa renda sobre os quais haacute dados recentes apenas

56 por cento do orccedilamento do Governo central em meacutedia foram dedicados a

habitaccedilatildeo lazer seguridade social e bem-estar social [] Objetivo 78 O objetivo eacute

oferecer habitaccedilatildeo adequada a populaccedilotildees em raacutepido crescimento e aos pobres

atualmente carentes tanto de aacutereas rurais como urbanas por meio de uma

abordagem que possibilite o desenvolvimento e a melhoria de condiccedilotildees de moradia

ambientalmente saudaacuteveis (AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do

Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992)

11

Estatuto da Cidade Capiacutetulo 1 ndash Diretrizes Gerais Art 2ordm A poliacutetica urbana tem por

objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e da

propriedade urbana mediante as seguintes diretrizes gerais I ndash garantia do direito a

cidades sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao

saneamento ambiental agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos

puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para as presentes e futuras geraccedilotildees [] Art 3ordm

Compete agrave Uniatildeo entre outras atribuiccedilotildees de interesse da poliacutetica urbana IV -

instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano inclusive habitaccedilatildeo saneamento

baacutesico transportes urbanos e infraestrutura de energia e telecomunicaccedilotildees

(BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

O texto da Agenda 21 mais especificamente o Preacircmbulo enfatiza que o sucesso

na aplicaccedilatildeo desse plano de accedilatildeo depende primeiramente do comprometimento dos governos

com a preparaccedilatildeo de estrateacutegias planos poliacuteticas e processos nacionais para a concretizaccedilatildeo

dos objetivos estabelecidos

A Agenda 21 Brasileira foi desenvolvida no periacuteodo de 1996 a 2002 e teve como

eixo a sustentabilidade a partir da compatibilizaccedilatildeo entre conservaccedilatildeo ambiental justiccedila

social e crescimento econocircmico

Ao aprofundar-se na elaboraccedilatildeo de diretrizes para problemas de ordem estrutural

a Agenda 21 Brasileira foi elevada a programa dentro do Plano Plurianual de Governo (entre

2004 e 2007)1 o que daria maior forccedila poliacutetica e institucional agrave Agenda Sendo assim a partir

de soluccedilotildees integradas planejadas a meacutedio e longo prazos e a partir da associaccedilatildeo entre

governo e sociedade seria possiacutevel tratar de questotildees como ldquoeconomia da poupanccedila na

sociedade do conhecimento inclusatildeo social para uma sociedade solidaacuteria estrateacutegia para a

sustentabilidade urbana e rural recursos naturais estrateacutegicos governanccedila e eacutetica para a

promoccedilatildeo da sustentabilidaderdquo (AGENDA 21 BRASILEIRA 2004 p04) O Programa foi

estruturado em trecircs accedilotildees implementar a Agenda 21 Brasileira promover a elaboraccedilatildeo e

implementaccedilatildeo de Agendas 21 Locais e formaccedilatildeo continuada em Agenda 21

Vale destacar a importacircncia da Agenda 21 Local enquanto instrumento

complementar aos instrumentos da poliacutetica municipal de desenvolvimento urbano

A Agenda 21 Local eacute um dos principais instrumentos para se conduzir processos de

mobilizaccedilatildeo troca de informaccedilotildees geraccedilatildeo de consensos em torno dos problemas e

1 Importante destacar que ldquoO Plano Plurianual (PPA) eacute um instrumento previsto no art 165 da Constituiccedilatildeo

Federal destinado a organizar e viabilizar a accedilatildeo puacuteblica com vistas a cumprir os fundamentos e os objetivos da

Repuacuteblica Por meio dele eacute declarado o conjunto das poliacuteticas puacuteblicas do governo para um periacuteodo de quatro

anos e os caminhos trilhados para viabilizar as metas previstas construindo um Brasil melhorrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwmpgovbrministerioaspindex=10ampler=s1086gt Acesso em 06 jun 2015 O Plano Plurianual

referente ao periacuteodo 2004 ndash 2007 foi regulamentado pela Lei Nordm 10933 de 2004 sancionada pelo entatildeo

Presidente Luiacutez Inaacutecio Lula da Silva

12

soluccedilotildees locais e estabelecimento de prioridades para a gestatildeo de desde um estado

municiacutepio bacia hidrograacutefica unidade de conservaccedilatildeo ateacute um bairro uma escola O

processo deve ser articulado com outros projetos programas e atividades do governo

e sociedade sendo consolidado dentre outros a partir do envolvimento dos agentes

regionais e locais anaacutelise identificaccedilatildeo e promoccedilatildeo de instrumentos financeiros

difusatildeo e intercacircmbio de experiecircncias definiccedilatildeo de indicadores de desempenho

(AGENDA 21 Brasileira accedilotildees prioritaacuteriasComissatildeo de Poliacuteticas de

Desenvolvimento Sustentaacutevel e da Agenda 21 Nacional 2 ed Brasiacutelia Ministeacuterio

do Meio Ambiente 2004)

Desde entatildeo o esforccedilo em fomentar a construccedilatildeo das Agendas 21 Locais gerou

um resultado positivo embora muito aqueacutem do necessaacuterio para uma mudanccedila substancial nas

poliacuteticas em prol do desenvolvimento sustentaacutevel Em 2013 apenas 215 dos municiacutepios

brasileiros possuiacuteam processos em andamento relativos agrave Agenda 21 conforme foi

identificado pela IBGE a partir da Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros (MUNIC

2013) 2 Tal percentual apesar da pouca expressividade demarca um processo positivo de

mudanccedila tendo em vista que nos dados dos anos anteriores observava-se percentuais ainda

menores aleacutem de um processo de decliacutenio em 2009 a pesquisa indicou que 199 dos

municiacutepios haviam iniciado a elaboraccedilatildeo da agenda 21 enquanto em 2012 o percentual

baixou para 181

Nota-se ante ao exposto ateacute aqui que existe um arcabouccedilo legal significativo em

prol do desenvolvimento urbano sustentaacutevel Contudo a aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo existente e a

obtenccedilatildeo de resultados positivos estatildeo longe de se tornar uma realidade no Brasil Sendo

assim faz-se necessaacuterio reforccedilar a cada dia os compromissos estabelecidos nas Leis

Brasileiras e trabalhar na efetivaccedilatildeo dos instrumentos de promoccedilatildeo do equiliacutebrio ambiental a

partir da aplicaccedilatildeo das premissas da sustentabilidade Atingir o desenvolvimento urbano

sustentaacutevel natildeo eacute somente uma das opccedilotildees mas a uacutenica opccedilatildeo existente se quisermos que o

planeta tenha vida longa Preservar o meio ambiente deve ser uma accedilatildeo constante associada a

todas agraves demais poliacuteticas puacuteblicas Quanto agrave iniciativa privada esta deveraacute ser

permanentemente fiscalizada Regulamentar as atividades de exploraccedilatildeo da natureza e buscar

a inibiccedilatildeo severa de atividades de impacto ambiental satildeo tarefas urgentes que o Poder Puacuteblico

deve assimilar o quanto antes

2 Ressalta-se que ldquoA Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais ndash MUNIC eacute realizada desde o ano de 1999

pelo IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Na versatildeo de 2013 foram destacados os aspectos

relevantes da gestatildeo e da estrutura dos 5570 municiacutepios brasileiros a partir dos seguintes eixos perfil dos

gestores municipais recursos humanos das administraccedilotildees municipais legislaccedilatildeo e instrumentos de

planejamento sauacutede meio ambiente poliacutetica de gecircnero ndash temas jaacute investigados em anos anteriores ndash aleacutem de

gestatildeo de riscos e resposta a desastres este ineacutedito ateacute entatildeordquo Disponiacutevel em

lthttpwwwibgegovbrhomeestatisticaeconomiaperfilmunic2013defaultshtmgt Acesso em 06 jun 2015)

13

Somente com a permanente preocupaccedilatildeo do Estado para com o tema seraacute

possiacutevel consolidar o desenvolvimento urbano a partir da aplicaccedilatildeo das premissas da

sustentabilidade do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

14

3 O PLANO DIRETOR E OS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO

MUNICIPAL

Para introduzir a discussatildeo do Plano Diretor e demais instrumentos de

planejamento municipal previstos no Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio retomar o momento

da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 com destaque para o Art30 que determina as tarefas de

competecircncia dos Municiacutepios Dentre tais competecircncias destacam-se os incisos VIII e IX

diretamente relacionados ao planejamento urbano

Art 30 Compete aos Municiacutepios [] VIII - promover no que couber adequado

ordenamento territorial mediante planejamento e controle do uso do parcelamento e

da ocupaccedilatildeo do solo urbano IX - promover a proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-

cultural local observada a legislaccedilatildeo e a accedilatildeo fiscalizadora federal e estadual

(BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de

1988)

Aleacutem de delimitar as competecircncias municipais a Constituiccedilatildeo tambeacutem apontou

no Art182 do Capiacutetulo II o Plano Diretor - velho conhecido dos Teacutecnicos e Governantes -

como principal instrumento a ser utilizado pelos Municiacutepios no desenvolvimento da poliacutetica

urbana

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo Poder Puacuteblico

municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem por objetivo ordenar o

pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus

habitantes sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio para

cidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e de expansatildeo urbana sect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua

funccedilatildeo social quando atende agraves exigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade

expressas no plano diretor (BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do

Brasil de 5 de outubro de 1988)

Contudo tal instrumento natildeo representou uma novidade A expressatildeo Plano

Diretor foi utilizada pela primeira vez no Brasil em 1930 a partir do Plano Agache3

desenvolvido para o Rio de Janeiro Posteriormente foram desenvolvidos planos diretores em

todo o territoacuterio brasileiro planos estes que ficariam engavetados por falta de vontade

3 Nota-se que ldquoO Plano Agache foi a primeira proposta de intervenccedilatildeo urbaniacutestica na cidade do Rio de Janeiro

com preocupaccedilotildees genuinamente modernas Concluiacutedo em 1930 introduziu no cenaacuterio nacional algumas

questotildees tiacutepicas da cidade industrial tais como o planejamento do transporte de massas e do abastecimento de

aacuteguas a habitaccedilatildeo operaacuteria e o crescimento das favelas Aleacutem disso com discussotildees emergentes que iam desde a

necessidade de um zoneamento para a cidade ateacute a delimitaccedilatildeo de aacutereas verdes ultrapassou os limites do

Academicismo das intervenccedilotildees predecessoras de Pereira Passos e Paulo de Frontinrdquo Disponiacutevel em

lthttpplanourbanoriorjgovbrgt Acesso em 06 de jun 2015

15

poliacutetica A nomenclatura e o conteuacutedo dos planos diretores variaram com o passar dos anos

segundo Villaccedila

Por fim cabe abordar historicamente as jaacute mencionadas mudanccedilas na nomenclatura

nas formas nos conteuacutedos e nas metodologias dos planos Em primeiro lugar cai em

desuso a expressatildeo plano de melhoramentos e embelezamento e entra em cena a

expressatildeo urbanismo Depois esta cai em desuso sendo substituiacuteda por

planejamento urbano e plano diretor Em segundo lugar os conteuacutedos e

metodologias de elaboraccedilatildeo dos planos sofrem alteraccedilotildees radicais De enormes

volumes com centenas de paacuteginas recheados de mapas pesquisas e estatiacutesticas

elaborados por equipes multidisciplinares e abordando enorme leque de problemas

transformam-se em meros projetos de lei agraves vezes contendo apenas declaraccedilotildees de

princiacutepios poliacuteticas ou diretrizes gerais agraves vezes ateacute sem mapas ou com poucos

mapas Um simples projeto de lei publicado no Diaacuterio Oficial (CSABA Deaacutek

SUELI Ramos Schiffer (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo

Editora da Universidade de Satildeo Paulo 1999 p191)

A realidade eacute que os planos diretores desenvolvidos no Brasil entre as deacutecadas de

1940 e 1990 natildeo correspondiam ao pensamento dos governantes e das classes dominantes e

por isso natildeo contaram com intenccedilatildeo real de aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo Os objetivos apontados

natildeo seriam atingidos pois o Plano Diretor natildeo se tornara uma prioridade em nenhuma das

esferas administrativas do paiacutes

O ressurgimento do instrumento Plano Diretor em 1988 embora isento de grandes

novidades veio acompanhado da premissa da funccedilatildeo social da propriedade um aspecto

positivo e inovador da poliacutetica urbana poreacutem praticamente inviaacutevel de ser aplicado num

primeiro momento pelos obstaacuteculos constantes na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal Contudo

diante da pressatildeo dos movimentos sociais e populares que se fortaleceram durante o processo

de redemocratizaccedilatildeo tais planos foram se tornando mais politizados abordando aspectos

especiacuteficos da competecircncia municipal e tratando das polecircmicas voltadas para o territoacuterio

inclusive sobre a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria no espaccedilo urbano

Em 2001 a poliacutetica urbana foi regulamentada pela Lei 10257 - Estatuto da

Cidade ndash devidamente apresentada no capiacutetulo anterior Com uma abordagem democraacutetico-

participativa voltada para os interesses coletivos tal lei possibilitou uma mudanccedila expressiva

no planejamento urbano principalmente na esfera municipal

O Plano Diretor Participativo como seraacute chamado a partir de entatildeo se torna o

principal dentre outros sete instrumentos de planejamento municipal expressos no Art 4ordm

inciso III da Lei 10257

Art 4o Para os fins desta Lei seratildeo utilizados entre outros instrumentos [] III ndash

planejamento municipal em especial a) plano diretor b) disciplina do

parcelamento do uso e da ocupaccedilatildeo do solo c) zoneamento ambiental d) plano

plurianual e) diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual f) gestatildeo orccedilamentaacuteria

16

participativa g) planos programas e projetos setoriais h) planos de

desenvolvimento econocircmico e social (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade

de 10 de julho 2001)

O conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelos planos diretores foi estabelecido na

resoluccedilatildeo nordm34 de 01 de julho de 2005 pelo Conselho das Cidades A tal conselho

regulamentado pelo Decreto 5031 2004 competia emitir orientaccedilotildees e recomendaccedilotildees sobre

a aplicaccedilatildeo da Lei 10257 de 2001 (Estatuto da Cidade) e dos demais atos normativos

relacionados ao desenvolvimento urbano A inclusatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel das

cidades nas novas diretrizes da poliacutetica urbana teraacute no plano diretor a sua expressatildeo

fundamental Dentre o conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelo Plano Diretor Participativo

merece destaque o Art 2ordm inciso III aleacutem do Art 5ordm inciso VII do Estatuto da Cidade

Art 2deg As funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade urbana seratildeo definidas a partir

da destinaccedilatildeo de cada porccedilatildeo do territoacuterio do municiacutepio bem como da identificaccedilatildeo

dos imoacuteveis natildeo edificados subutilizados e natildeo utilizados no caso de sua existecircncia

de forma a garantir [] III - a universalizaccedilatildeo do acesso aacute aacutegua potaacutevel aos

serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio a coleta e disposiccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos e ao

manejo sustentaacutevel das aacuteguas pluviais de forma integrada aacutes poliacuteticas ambientais de

recursos hiacutedricos e de sauacutede [] Art 5deg A instituiccedilatildeo das Zonas Especiais

considerando o interesse local deveraacute [] VII - demarcar as aacutereas de proteccedilatildeo

preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e construiacutedo do patrimocircnio

cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico (BRASIL Lei nordm10257

Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

Ao estabelecer as diretrizes de ordenaccedilatildeo do solo o Plano Diretor estabelece que

a propriedade urbana deve servir agrave qualidade de vida dos cidadatildeos agrave justiccedila social e ao

desenvolvimento sustentaacutevel das atividades econocircmicas A referecircncia territorial que estrutura

as estrateacutegias definidas pelo Plano Diretor eacute o macrozoneamento Este subdivide o territoacuterio

municipal a partir da identificaccedilatildeo das potencialidades e das caracteriacutesticas de cada aacuterea Satildeo

algumas categorias utilizadas na definiccedilatildeo do macrozoneamento aacutereas aptas agrave urbanizaccedilatildeo

aacutereas propiacutecias ao desenvolvimento de atividades rurais aacutereas de preservaccedilatildeo e aacutereas de

exploraccedilatildeo econocircmica Aleacutem da definiccedilatildeo de intenccedilotildees para os vetores do territoacuterio

municipal o macrozoneamento define tambeacutem o periacutemetro urbano e as zonas de expansatildeo

urbana enquanto instrumentos de direcionamento da urbanizaccedilatildeo da gestatildeo ambiental e do

crescimento econocircmico A delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano deve ser feita a partir de planta

referenciada com clara indicaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e fiacutesicos limiacutetrofes e deve servir

para direcionar o adensamento populacional para as aacutereas providas de infraestrutura

garantindo a proteccedilatildeo das aacutereas de interesse ambiental e a reserva de aacutereas para produccedilatildeo

agriacutecola e ocupaccedilatildeo rural A alteraccedilatildeo de tal periacutemetro conforme previsto no Art42B do

17

Estatuto da Cidade deveraacute instituiacuteda por lei municipal e deve ser resultado de projeto

especiacutefico que contemple o conteuacutedo miacutenimo e que atenda agraves diretrizes do Plano Diretor

O segundo instrumento de planejamento municipal apresentado no Art 4ordm do

Estatuto da Cidade o parcelamento o uso e a ocupaccedilatildeo do solo eacute tambeacutem um importante

instrumento para a concretizaccedilatildeo dos preceitos da sustentabilidade do ambiente urbano A

Legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal definiraacute o zoneamento da aacuterea urbana Tal zoneamento

responsaacutevel pela subdivisatildeo do periacutemetro urbano em diferentes categorias eacute o principal

instrumento da regulaccedilatildeo urbana A definiccedilatildeo das categorias deveraacute ser pautada pelo melhor

aproveitamento e pela ampliaccedilatildeo do acesso agrave terra urbanizada O zoneamento orienta o

ordenamento urbano a partir das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo do solo definindo os paracircmetros

urbaniacutesticos - coeficiente de aproveitamento taxa de ocupaccedilatildeo afastamentos gabaritos - de

forma que os projetos de edificaccedilotildees e demais intervenccedilotildees mantenham uma densidade de

ocupaccedilatildeo que favoreccedila o conforto ambiental urbano Dentre os criteacuterios para a definiccedilatildeo dos

diferentes paracircmetros urbaniacutesticos que incidem sobre o territoacuterio estatildeo proteccedilatildeo das aacutereas

ambientalmente fraacutegeis adensamento de aacutereas providas de infraestrutura limitaccedilatildeo de usos a

partir da capacidade viaacuteria controle da permeabilidade do solo preservaccedilatildeo e proteccedilatildeo de

conjuntos de valor histoacuterico cultural ou ambiental distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo de baixa renda

em aacutereas bem localizadas e servidas de infraestrutura condiccedilotildees climaacuteticas locais

As diretrizes para o parcelamento geralmente compoem junto com os paracircmetros

urbaniacutesticos a mesma lei municipal O parcelamento merece destaque pois trata dos novos

espaccedilos que seratildeo incorporados ao tecido urbano da cidade e portanto deveraacute estar

integralmente articulado com as estrateacutegias do desenvolvimento urbano Eacute regulamentado em

acircmbito geral pela Lei Federal 676679 acrescida das alteraccedilotildees posteriores definidas nas leis

978599 e 1144507 O parcelamento configura um processo de expansatildeo horizontal ou

adensamento da aacuterea urbanizada e consiste na subdivisatildeo de um determinado imoacutevel sob as

formas de desmembramento (quando haacute o aproveitamento do sistema viaacuterio existente) ou

loteamento (quando haacute abertura de novas vias e logradouros ou modificaccedilatildeo dos existentes)

Deveratildeo ser contempladas na Lei de Parcelamento as aacutereas que natildeo admitiratildeo parcelamento

os paracircmetros de dimensionamento de lotes quadras e sistema viaacuterio as aacutereas de uso puacuteblico

as faixas de proteccedilatildeo a infraestrutura baacutesica os procedimentos administrativos para

aprovaccedilatildeo do projeto as contrapartidas do empreendedor as penalidades sobre infraccedilotildees

assim como os procedimentos para regularizaccedilatildeo das aacutereas em desconformidade com a Lei

Paracircmetros de conforto ambiental tais como ventos favoraacuteveis orientaccedilatildeo solar vegetaccedilatildeo

18

sistema de abastecimento de aacutegua sistema de esgotamento sanitaacuterio e sistema de drenagem

devem ser definidos em lei e cobrados nos projetos de parcelamento a fim de minimizar os

impactos ao meio ambiente

Vale destacar que o sucesso na elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo das Leis de Parcelamento

Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo depende primeiramente do comprometimento da gestatildeo municipal

com a democratizaccedilatildeo da cidade e com o bem-estar coletivo caso contraacuterio tal legislaccedilatildeo

poderaacute aprofundar a segregaccedilatildeo privilegiando a iniciativa privada a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria

e os interesses individuais

O zoneamento ambiental terceiro instrumento de planejamento municipal

apontado na lista do Art 4ordm do Estatuto da Cidade eacute tambeacutem um instrumento da Poliacutetica

Nacional do Meio Ambiente regida pela Lei 693881 Art 9ordm O zoneamento ambiental pode

ser considerado uma expressatildeo sinocircnima do Zoneamento Ecoloacutegico-Econocircmico ndash ZEE que

foi regulamentado pelo Decreto 429702

CAPITULO I - DOS OBJETIVOS E PRINCIacutePIOS ndash [] Art 2ordm O ZEE

instrumento de organizaccedilatildeo do territoacuterio a ser obrigatoriamente seguido na

implantaccedilatildeo de planos obras e atividades puacuteblicas e privadas estabelece medidas e

padrotildees de proteccedilatildeo ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental dos

recursos hiacutedricos e do solo e a conservaccedilatildeo da biodiversidade garantindo o

desenvolvimento sustentaacutevel e a melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo

Art 3ordm O ZEE tem por objetivo geral organizar de forma vinculada as decisotildees dos

agentes puacuteblicos e privados quanto a planos programas projetos e atividades que

direta ou indiretamente utilizem recursos naturais assegurando a plena manutenccedilatildeo

do capital e dos serviccedilos ambientais dos ecossistemas Paraacutegrafo uacutenico O ZEE na

distribuiccedilatildeo espacial das atividades econocircmicas levaraacute em conta a importacircncia

ecoloacutegica as limitaccedilotildees e as fragilidades dos ecossistemas estabelecendo vedaccedilotildees

restriccedilotildees e alternativas de exploraccedilatildeo do territoacuterio e determinando quando for o

caso inclusive a relocalizaccedilatildeo de atividades incompatiacuteveis com suas diretrizes

gerais (BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002)

O zoneamento ambiental ou ZEE eacute o instrumento que possibilita traccedilar um

panorama sobre a utilizaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais de um determinado

municiacutepio gerando as bases para um planejamento urbano comprometido com a

sustentabilidade ecoloacutegica econocircmica e social Tambeacutem eacute um instrumento de caraacuteter

democraacutetico-participativo e deve portanto ser acompanhado pela Administraccedilatildeo Puacuteblica em

seus diferentes niacuteveis e pela sociedade civil Tal instrumento assim como o zoneamento

urbano divide o territoacuterio em diferentes categorias As categorias do zoneamento ambiental

satildeo definidas a partir dos princiacutepios da utilidade e da simplicidade de forma a configurar

limites claros e compreensiacuteveis ao poder puacuteblico e aos cidadatildeos As diretrizes gerais e

especiacuteficas do zoneamento deveratildeo conter a capacidade de suporte ambiental de determinada

aacuterea a necessidade de proteccedilatildeo dos recursos renovaacuteveis e natildeo-renovaacuteveis a definiccedilatildeo de aacutereas

19

para unidades de conservaccedilatildeo integral a permissatildeo para exploraccedilatildeo de recursos naturais as

medidas para o desenvolvimento sustentaacutevel do setor rural medidas de ajustamento entre usos

conflitantes aleacutem de planos programas e fonte de recursos para viabilizar as atividades

apontadas para cada zona

Apesar de ser um importante instrumento de suporte agrave proteccedilatildeo do meio ambiente

o zoneamento ambiental ou ZEE ainda tem sido pouco utilizado pelos municiacutepios brasileiros

Contudo os dados da Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais (MUNIC 2013)

demonstraram que tem havido um crescimento do percentual de municiacutepios com legislaccedilatildeo

especiacutefica sobre a questatildeo ambiental o que traz um pouco de esperanccedila quanto agrave mudanccedila

dos paradigmas de proteccedilatildeo do meio ambiente A MUNIC 2013 apontou que em 2012

554 dos municiacutepios tinham legislaccedilatildeo ambiental jaacute em 2013 esse percentual subiu para

655

Por uacuteltimo os demais instrumentos de planejamento municipal apontados no Art

4ordm do Estatuto da Cidade - plano plurianual diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual

gestatildeo orccedilamentaacuteria participativa planos programas e projetos setoriais planos de

desenvolvimento econocircmico e social ndash tratariam de garantir a gestatildeo democraacutetica da cidade a

partir da realizaccedilatildeo de debates audiecircncias e consultas puacuteblicas como condiccedilatildeo para a

aprovaccedilatildeo das Leis Municipais Tais instrumentos apesar de natildeo-urbaniacutesticos tecircm uma

importacircncia decisiva na reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais Contudo embora tenham se

efetivado na maioria dos municiacutepios brasileiros ainda permanecem em sua maioria

mergulhados na velha poliacutetica clientelista que transforma os foacuteruns de participaccedilatildeo em

espaccedilos esvaziados pouco divulgados redutos de manobras poliacuteticas e trocas de favores

Infelizmente a garantia da gestatildeo democraacutetica natildeo seraacute alcanccedilada apenas por atos normativos

assim como as diretrizes estabelecidas para o desenvolvimento urbano sustentaacutevel tambeacutem

natildeo ser tornaratildeo realidade apenas por forccedila de Lei Eacute necessaacuterio mudar o caraacuteter da gestatildeo do

territoacuterio que atualmente se caracteriza pela anulaccedilatildeo da atuaccedilatildeo teacutecnica das diferentes aacutereas

do conhecimento a fim de garantir que o interesse privado prevaleccedila sobre os diretos coletivos

de toda uma cidade Eacute necessaacuterio colocar em praacutetica os preceitos das leis brasileiras efetivar

os instrumentos com real participaccedilatildeo popular lanccedilar as bases para um modelo de gestatildeo

realmente democraacutetico inclusivo e comprometido com o bem estar coletivo e com a justiccedila

social

20

4 OS DESAFIOS DA REGULACcedilAtildeO URBANA FRENTE AgraveS INTERVENCcedilOtildeES NAS

EDIFICACcedilOtildeES E NOS CONJUNTOS URBANOS TOMBADOS

A proteccedilatildeo e a preservaccedilatildeo dos siacutetios urbanos de valor histoacuterico arquitetocircnico

cultural ou paisagiacutestico satildeo imprescindiacuteveis para a manutenccedilatildeo da identidade e da memoacuteria

dos diferentes grupos sociais que por ali passaram ou nele se estabeleceram O registro da

histoacuteria deve ser deixado agraves geraccedilotildees futuras como siacutembolo do conhecimento e da experiecircncia

adquirida ao longo do tempo A proteccedilatildeo de um determinado siacutetio pode inclusive ser

utilizada quando a memoacuteria coletiva e a afetividade de uma comunidade para com um

determinado espaccedilo adquirir grande relevacircncia cultural gerando uma ambiecircncia a ser

protegida mesmo que esta tenha se consolidado em um periacuteodo recente

Atualmente a preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos e a conservaccedilatildeo dos imoacuteveis

urbanos tecircm no desenvolvimento urbano sustentaacutevel um importante aliado A disseminaccedilatildeo

da loacutegica do consumo que atinge tanto os bens materiais moacuteveis quanto os imoacuteveis resulta

numa produccedilatildeo exagerada desses bens o que demanda enorme quantidade de mateacuteria-prima e

energia e causa impacto no meio ambiente Sendo assim as poliacuteticas de preservaccedilatildeo e o

incentivo ao reuso de edifiacutecios e objetos contribuem para a sustentabilidade e o equiliacutebrio

ambiental

Hoje existem no Brasil doze siacutetios urbanos e sete siacutetios naturais que satildeo

considerados Patrimocircnio Cultural da Humanidade e portanto tombados internacionalmente

pela UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

Dentre os conjuntos tombados internacionalmente destaca-se a predominacircncia dos centros

histoacutericos de caracteriacutesticas coloniais tais como o Centro Histoacuterico de Ouro Preto MG

Olinda PE Salvador BA Satildeo Luiz do Maranhatildeo MA Diamantina MG e Goiaacutes GO Natildeo

menos importante o tombamento nacional realizado pelo IPHAN ndash Instituto do Patrimocircnio

Histoacuterico e Artiacutestico Nacional preserva 77 conjuntos urbanos espalhados por todas as regiotildees

do Brasil com destaque para a regiatildeo nordeste que conta com 30 desses centros tombados

Somam-se a esse contingente os conjuntos tombados estadualmente e municipalmente que

natildeo seratildeo aqui enumerados

A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio estaacute presente no ordenamento

juriacutedico brasileiro desde 1937 quando por meio do Decreto-Lei nordm25 criou-se o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash SPHAN (atual IPHAN) para proteger as cidades

e os monumentos da modernizaccedilatildeo das reformas urbanas e do interesse imobiliaacuterio

21

Reafirmada pelo Art 216 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e pelo Art 2ordm inciso XII do

Estatuto da Cidade a proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e

construiacutedo do patrimocircnio cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico tornou-se

diretriz obrigatoacuteria a ser contemplada pelos planos urbanos e legislaccedilotildees municipais

Contudo a preservaccedilatildeo dos conjuntos urbanos tombados natildeo pressupotildee o

congelamento das cidades Os paracircmetros para as intervenccedilotildees contemporacircneas deveratildeo ser

definidos em leis especiacuteficas de modo a evitar que o novo se sobreponha ou se confunda com

o existente A preservaccedilatildeo do conjunto tombado soacute seraacute possiacutevel se for permitido agrave cidade

expandir-se adensar-se e modificar-se Caso contraacuterio centro e cidade se tornaratildeo obsoletos

Percebe-se portanto que a regulaccedilatildeo urbana nas cidades histoacutericas enfrenta um

grande desafio preservar o antigo e abrir-se ao novo Sendo assim como proceder e quais

instrumentos utilizar Como a legislaccedilatildeo municipal deveraacute ser elaborada e aplicada a fim de

contemplar a preservaccedilatildeo do conjunto tombado e a expansatildeo da cidade seguindo os preceitos

da sustentabilidade

A preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos associada agrave expansatildeo sustentaacutevel das cidades eacute

um tema que vem sendo amplamente discutido inclusive em acircmbito internacional Nos paiacuteses

do norte e principalmente no continente europeu os siacutetios urbanos que demandam poliacuteticas

de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo remontam de seacuteculos e ateacute mesmo de milecircnios passados Embora

uma grande parte do patrimocircnio mundial tenha se perdido com a destruiccedilatildeo resultante das

guerras das cataacutestrofes e da imposiccedilatildeo de novas culturas como aconteceu principalmente nos

paiacuteses do sul que tiveram a cultura originaacuteria destruiacuteda pela colonizaccedilatildeo ainda haacute muito

patrimocircnio a ser preservado E natildeo eacute de hoje que os teacutecnicos e profissionais de diversas aacutereas

do conhecimento tecircm desenvolvido teorias e instrumentos para assegurar a salvaguarda de

todo esse patrimocircnio

Desde entatildeo leis documentos planos guias e coacutedigos vecircm sendo desenvolvidos

com o objetivo de orientar e direcionar as accedilotildees e intervenccedilotildees sobre o patrimocircnio cultural das

cidades com vistas ao desenvolvimento sustentaacutevel

Um importante documento desenvolvido em 2008 pelo Governo da Escoacutecia o

ldquoSustainable Development Guidance for Estate Managementrdquo buscou sistematizar a partir

dos preceitos da sustentabilidade estrateacutegias e orientaccedilotildees para a realizaccedilatildeo de intervenccedilotildees

principalmente para as novas construccedilotildees Tal preocupaccedilatildeo se intensificou apoacutes a discussatildeo

sobre as mudanccedilas climaacuteticas e os efeitos futuros ldquoThe Stern Review on the Economics of

Climate Changerdquo realizada pelo Governo do Reino Unido O documento ldquoSustainable

22

Development Guidance for Estate Managementrdquo se assemelha a um guia para o

desenvolvimento sustentaacutevel que aborda as estrateacutegias de accedilatildeo e recomendaccedilotildees para fazer da

Escoacutecia um paiacutes mais ecoloacutegico

Segundo esse Guia que trata da proteccedilatildeo do ambiente natural e da manutenccedilatildeo do

ambiente construiacutedo a sustentabilidade deveraacute ser uma prerrogativa tanto nas novas

construccedilotildees como na manutenccedilatildeo das edificaccedilotildees existentes nas conversotildees de uso nas

ampliaccedilotildees no retrofit4 e nas demoliccedilotildees No item 36 ldquoEmbedding sustainability within the

estate strategy processrdquo satildeo apontados os itens a serem observados na elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias e projetos para o desenvolvimento manutenccedilatildeo ou restauraccedilatildeo de edificaccedilotildees Satildeo

eles biodiversidade layout flexiacutevel nas construccedilotildees materiais construtivos e a possibilidade

de recuperaccedilatildeo reciclagem e reuso gestatildeo da aacutegua diminuiccedilatildeo da poluiccedilatildeo energia

certificada minimizaccedilatildeo do consumo de energia atraveacutes do isolamento e da ventilaccedilatildeo

natural utilizaccedilatildeo de energias renovaacuteveis como energia solar diminuiccedilatildeo do desperdiacutecio e

aumento da reciclagem dentre outros itens A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio

conforme jaacute foi discutido no iniacutecio deste capiacutetulo tambeacutem estaacute presente no Guia conforme

aponta o item 43 ldquoHistoric Buildingsrdquo Neste item direciona-se a atenccedilatildeo para as amplas

possibilidades de reuso e reabilitaccedilatildeo dessas edificaccedilotildees Tal situaccedilatildeo deve partir da

intervenccedilatildeo miacutenima e deve garantir que as caracteriacutesticas histoacutericas ou culturais dos edifiacutecios

sejam devidamente respeitadas e mantidas O Guia trata tambeacutem do procedimento para

reparos que na medida do possiacutevel deve ser feito atraveacutes das teacutecnicas tradicionais e dos

materiais originais ou compatiacuteveis sempre com apoio de profissional especializado Eacute

enfatizada tambeacutem a obrigatoriedade em solicitar das autoridades competentes autorizaccedilatildeo

para as intervenccedilotildees Por uacuteltimo apoacutes feitas todas as consideraccedilotildees sobre os aspectos

positivos da reutilizaccedilatildeo de um determinado edifiacutecio no caso de se decidir pela demoliccedilatildeo do

mesmo o Guia aponta os cuidados a serem obsevados na disposiccedilatildeo final dos resiacuteduos no

aterro sanitaacuterio alertando para a importacircncia em separar os resiacuteduos toacutexicos Os materiais

resultantes da demoliccedilatildeo como accedilo fundaccedilotildees de concreto ceracircmica madeira de assoalho

instalaccedilotildees internas placas de gesso carpete e janelas satildeo frequentemente passiacuteveis de

4 ldquoTermo utilizado principalmente em engenharia para designar o processo de modernizaccedilatildeo de algum

equipamento jaacute considerado ultrapassado ou fora de normardquo Disponiacutevel em

lthttpwwweletrobrascomrelatorio_sustentabilidade_2013anexosglossariogt Acesso em 06 de jun 2015

23

reciclagem revenda ou reutilizaccedilatildeo e natildeo devem ser descartados resultando na diminuiccedilatildeo do

desperdiacutecio e na reduccedilatildeo da exploraccedilatildeo dos recursos naturais

Outro importante documento a ser citado aqui como relevante para a proteccedilatildeo do

patrimocircnio histoacuterico e para o desenvolvimento sustentaacutevel o ldquoCalifornia Code of

Regulations Title 24rdquotambeacutem chamado de ldquoCalifornia Building Standards Coderdquo foi

finalizado em 1998 e aprovado pela ldquoCalifornia Building Standards Commissionrdquo em 2007

Tal documento trata dos paracircmetros gerais para a construccedilatildeo de edificaccedilotildees no Estado da

Califoacuternia Este Coacutedigo eacute dividido em 12 partes e traz na parte 8 de tiacutetulo ldquoCalifornia

Historical Building Code (CHBC)rdquo as exigecircncias a serem cumpridas para a permissatildeo de

reparos alteraccedilotildees e adiccedilotildees necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo relocaccedilatildeo mudanccedila de

uso ou continuaccedilatildeo de uso em edificaccedilotildees de reconhecido valor cultural ou histoacuterico5 Com o

objetivo de proteger a sauacutede e a seguranccedila das pessoas o California Historical Building Code

(CHBC) busca orientar as accedilotildees para a recuperaccedilatildeo das edificaccedilotildees histoacutericas garantindo a

preservaccedilatildeo da integridade e das caracteriacutesticas de tais edificaccedilotildees Ao todo satildeo 10 capiacutetulos

que abordam em resumo os seguintes temas capiacutetulo 01 ldquoAdministrationrdquo trata dos casos

sujeitos agrave aplicaccedilatildeo do coacutedigo cap02 ldquoDefinitionsrdquo trata das definiccedilotildees dos termos frases e

palavras necessaacuterios agrave compreensatildeo dos demais capiacutetulos cap03 ldquoUse and Occupancyrdquo trata

das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo dos edifiacutecios tais como altura maacutexima e nuacutemero de

pavimentos dimensatildeo miacutenima dos cocircmodos diretrizes de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo cap04

ldquoFire Protectionrdquo trata da proteccedilatildeo contra incecircndio e indica as diretrizes em relaccedilatildeo aos

materiais shafts telhado sistemas de alarme sistemas automaacuteticos de proteccedilatildeo como

sprinklers dentre outras tecnologias cap05 ldquoMeans of Egressrdquo trata das meios de saiacuteda das

edificaccedilotildees abordando entre outros elementos as escadas portas janelas grades e guarda-

corpos cap06 ldquoAccessibilityrdquo trata da acessibilidade aos portadores de necessidades especiais

a partir da utilizaccedilatildeo das dimensotildees miacutenimas e demais diretrizes estabelecidas para as

entradas portas banheiros rampas elevadores dentre outros cap07 ldquoStructural

5 Conforme o California Building Standards Code Parte 08 paacutegina 04 as edificaccedilotildees de reconhecido valor

cultural ou histoacuterico para as quais se utilizaraacute o CHBC satildeo ldquoFor the purposes of this part a qualified historical

building or structure is any structure or collection of structures and their associated sites deemed of importance

to the history architecture or culture of an area by an appropriate local or state governmental jurisdiction This

shall include structures on existing or future national state or local historical registers or official inventories

such as the National Register of Historic Places State Historical Landmarks State Points of Historical Interest

and city or county registers or inventories of historical or architecturally significant sites places historic districts

or landmarksrdquo (CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS 2007 p 4)

24

Regulationsrdquo trata da regulaccedilatildeo sobre os sistemas estruturais a partir da identificaccedilatildeo da

situaccedilatildeo da estrutura por profissional especializado identificaccedilatildeo dos acreacutescimos posteriores agrave

construccedilatildeo do edifiacutecio das cargas incidentes da performance dos parapeitos e da situaccedilatildeo dos

revestimentos externos e decorativos cap8 ldquoArchaic Materials and Methods of Constructionrdquo

trata dos meacutetodos e materiais construtivos tradicionais das edificaccedilotildees histoacutericas e das

diretrizes para a recuperaccedilatildeo de alvenarias adobe madeira concreto accedilo ferro vidros e

vidraccedilas cap09 ldquoMechanical Plumbing and Electrical Requirementsrdquo trata das exigecircncias

em relaccedilatildeo agraves instalaccedilotildees eleacutetricas aos encanamentos e sistemas mecacircnicos Por uacuteltimo o

cap10 ldquoQualified Historical Districts Sites and Open Spacesrdquo trata das orientaccedilotildees para a

preservaccedilatildeo dos espaccedilos abertos e siacutetios histoacutericos a partir da manutenccedilatildeo da configuraccedilatildeo

espacial existente e dos elementos constitutivos da paisagem

No Brasil o instrumento que mais se assemelha aos exemplos citados acima eacute o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees Utilizado para regulamentar os criteacuterios e procedimentos a

serem utilizados na elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de projetos de edificaccedilotildees e controlar as atividades

de construccedilatildeo6 o Coacutedigo de Obras eacute instituiacutedo por lei municipal como instrumento

complementar a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo citada anteriormente no Capiacutetulo 02 O

atendimento agraves condiccedilotildees estabelecidas nesses dois instrumentos da regulaccedilatildeo urbana ndash e o

atendimento a outras legislaccedilotildees quando for o caso - eacute requisito para a obtenccedilatildeo da licenccedila

urbaniacutestica Somente por meio da licenccedila municipal que afirma a compatibilizaccedilatildeo dos

interesses individuais e coletivos com o desenvolvimento urbano o proprietaacuterio poderaacute

exercer o seu direito sobre a propriedade sendo-lhe permitido executar as intervenccedilotildees

devidamente aprovadas Tambeacutem devem ser previstas em lei assim como os procedimentos

para o licenciamento as bases para a efetivaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo municipal como a

determinaccedilatildeo das infraccedilotildees e a previsatildeo de sanccedilotildees e multas aplicaacuteveis a cada caso

Subordinado agraves estrateacutegias de desenvolvimento estabelecidas no Plano Diretor o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees assim como a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo deve ser

elaborado a partir da preocupaccedilatildeo em se estabelecer uma boa interaccedilatildeo entre as novas

edificaccedilotildees e o conjunto urbano construiacutedo Para essa interaccedilatildeo as construccedilotildees devem atender

agraves premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica natildeo de forma isolada mas de

6 ldquoPara fins de direito entende-se por construccedilatildeo toda realizaccedilatildeo material e intencional de algueacutem visando a

adaptar o imoacutevel agraves suas conveniecircncias Nesse sentido tanto eacute construccedilatildeo a edificaccedilatildeo ou reforma como a

demoliccedilatildeo o muramento a escavaccedilatildeo o aterro a pintura e demais trabalhos destinados a beneficiar tapar

desobstruir conservar ou embelezar o preacutediordquo (BARANDIER ALMEIDA MORAIS 2013 p 147)

25

forma a interferir positivamente sobre o clima urbano e sobre a qualidade ambiental Assim

para aleacutem das diretrizes relativas ao uso agrave seguranccedila agrave salubridade agrave acessibilidade e agrave

preservaccedilatildeo dos elementos histoacutericos artiacutesticos e culturais tambeacutem devem ser elaborados

estudos climaacuteticos que aplicados ao desenho urbano possibilitem a formulaccedilatildeo de diretrizes

em prol da adaptaccedilatildeo das edificaccedilotildees agraves caracteriacutesticas climaacuteticas locais ao conforto teacutermico

luminoso e acuacutestico aleacutem da formulaccedilatildeo de diretrizes para a utilizaccedilatildeo de fontes de energia

alternativas e combate ao desperdiacutecio

Voltando aos dados obtidos pela Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros

realizada pelo IBGE em 2013 conforme pode ser visto no graacutefico abaixo do total de

municiacutepios brasileiros 624 declararam ter Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees enquanto 542

declararam ter Lei de Zoneamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo Esses dados demonstram que os

instrumentos legais embora apresentem um grande potencial de transformaccedilatildeo da realidade

urbana ainda satildeo pouco aplicados

Graacutefico do Percentual de municiacutepios segundo o tipo de instrumento de planejamento

existente - MUNIC -2013

Fonte Pesquisa ldquoPERFIL DOS MUNICIacutePIOS BRASILEIROS 2013rdquo (IBGE 2014)

Dentre os Coacutedigos de Obras existentes muitos estatildeo desatualizados defasados e

por isso natildeo configuram um mecanismo relevante quanto agrave alteraccedilatildeo do cenaacuterio das cidades

brasileiras Aleacutem disso a falha na articulaccedilatildeo dos diversos dispositivos de orientaccedilatildeo controle

e fiscalizaccedilatildeo das construccedilotildees resulta na aplicaccedilatildeo desequilibrada da lei consolidando

poliacuteticas de favorecimento exclusatildeo e segregaccedilatildeo aleacutem de ampliar a cada dia a destruiccedilatildeo e

os prejuiacutezos ambientais

26

Apesar de termos avanccedilado na construccedilatildeo conceitual dos instrumentos capazes de

nos levar ao sonhado desenvolvimento sustentaacutevel estamos ainda muito aqueacutem de efetivaacute-los

na praacutetica e no dia-a-dia dos municiacutepios A gestatildeo urbana da qual o planejamento eacute

interdependente configura a um dos principais obstaacuteculos agrave superaccedilatildeo da loacutegica atual de

valorizaccedilatildeo dos interesses individuais sobre os coletivos A falta interesse em destinar

recursos para a soluccedilatildeo de parte dos problemas soacutecio-espaciais tambeacutem eacute um grande

obstaacuteculo A melhoria da infraestrutura urbana os projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria a

construccedilatildeo de moradias populares sustentaacuteveis e a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados jaacute

configurariam um passo adiante na concretizaccedilatildeo da sustentabilidade no ambiente urbano

Sendo assim conhecidos os obstaacuteculos ou pelo menos parte deles eacute fundamental lanccedilarmos

as bases para a sua superaccedilatildeo fortalecendo os ideais de transformaccedilatildeo das cidades

27

5 O MUNICIacutePIO DE OURO PRETO UM ESTUDO DE CASO

51 Da colonizaccedilatildeo ao Seacuteculo XX

Localizado na Regiatildeo Central de Minas Gerais (ou Macrorregiatildeo Metaluacutergica) o

municiacutepio de Ouro Preto eacute possui uma aacuterea aproximada de 1245kmsup2 e sua populaccedilatildeo totaliza

cerca de 70281 habitantes7 Posicionado na porccedilatildeo centro-sul do Estado Ouro Preto tem

como principais confrontantes os municiacutepios de Mariana Itabirito Ouro Branco Congonhas

e Santa Baacuterbara Aleacutem do distrito-sede o territoacuterio eacute dividido em mais 12 distritos

Amarantina Antocircnio Pereira Cachoeira do Campo Engenheiro Correia Glaura Lavras

Novas Miguel Burnier Santa Rita Santo Antocircnio do Leite Santo Antocircnio do Salto Satildeo

Bartolomeu e Rodrigo Silva

Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ouro Preto no estado de

Minas Gerais

Fonte SMCP - PMOP

7 IBGE Diretoria de Pesquisas Coordenaccedilatildeo de Populaccedilatildeo e Indicadores Sociais ndash ldquoEstimativas da populaccedilatildeo

residente com data de referecircncia 1o de julho de 2014 publicada no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo em 28082014rdquo

Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314610ampsearch=||infogrE1ficosinformaE7F5e

s-completasgt Acesso em 06 jun 2015

28

Ouro Preto e municiacutepios limiacutetrofes

Fonte SMCP - PMOP

Mapa dos Distritos de Ouro Preto

Fonte SMCP - PMOP

Desencadeados pela exploraccedilatildeo auriacutefera do seacuteculo XVII - iniciada na regiatildeo de

Minas Gerais provavelmente em 1698 - os arraiais e agrupamentos humanos se consolidaram

na regiatildeo montanhosa e acidentada do municiacutepio de Ouro Preto primeiramente nas encostas

iacutengremes e arredores das minas e posteriormente nas margens dos rios e nos fundos de vale O

povoamento foi se intensificando em torno dos principais eixos de ligaccedilatildeo entre os nuacutecleos

29

urbanos vizinhos resultando num desenho urbano linear e longitudinal diferente do modelo

reticulado de ordenaccedilatildeo do territoacuterio que foi caracteriacutestico do Brasil Colocircnia

Agrave primeira configuraccedilatildeo urbana consolidada em 1711 deu-se o nome de Vila

Rica de Albuquerque que posteriormente em 1720 foi elevada agrave capital da Capitania das

Minas Gerais Ao longo do seacuteculo XVIII foram efetivadas as intervenccedilotildees urbanas mais

significativas e foram construiacutedas as principais referecircncias arquitetocircnicas de Ouro Preto As

principais pontes os chafarizes o Centro Administrativo (atual Praccedila Tiradentes) o Palaacutecio

dos Governadores a Casa de Cacircmara e Cadeia assim como as inuacutemeras capelas e igrejas de

estilo barroco das diversas ordens e irmandades religiosas consolidaram o cenaacuterio

setecentista que configura o atual centro histoacuterico da cidade O final do seacuteculo XVIII foi

marcado pelo esgotamento das minas de ouro o que desencadeou um esvaziamento

populacional da Vila pela crise de abastecimento e decadecircncia econocircmica

O seacuteculo XIX contudo trouxe as mudanccedilas advindas da era do Impeacuterio e em

1823 Vila Rica de Albuquerque foi elevada agrave cidade sob o tiacutetulo de Imperial Cidade de Ouro

Preto A partir daiacute a cidade passou por diversas modernizaccedilotildees a fim de se consolidar

enquanto capital da proviacutencia de Minas Gerais A criaccedilatildeo da Escola de Farmaacutecia do Liceu de

Artes e Ofiacutecios da Escola de Minas a construccedilatildeo da Estaccedilatildeo Ferroviaacuteria e a implantaccedilatildeo da

Companhia Industrial Ouro-Pretana satildeo exemplos importantes da expansatildeo e do

desenvolvimento da cidade durante o seacuteculo XIX Ao final deste seacuteculo jaacute sob a eacutegide do

periacuteodo republicano a cidade de Ouro Preto perde o status de capital da proviacutencia que em

1897 passou para Belo Horizonte Tal fato ocasionou pela segunda vez um processo de

esvaziamento e crise econocircmica na cidade Assim distante dos ideais de modernizaccedilatildeo e

desenvolvimento que cercavam a nova capital a ausecircncia de poliacuteticas de renovaccedilatildeo foi o que

garantiu a preservaccedilatildeo das feiccedilotildees urbanas da antiga Vila Rica A partir de entatildeo diversos

intelectuais da eacutepoca viajaram ateacute Ouro Preto e verificando o mal estado de conservaccedilatildeo e o

abandono da cidade comeccedilaram a produzir uma nova consciecircncia em relaccedilatildeo agrave necessidade

de se preservar os registros do passado

30

Mapa da evoluccedilatildeo urbana de Ouro Preto ndash do seacuteculo XVII ao seacuteculo XX

Fonte IGA ndash Instituto de Geociecircncias Aplicadas - 2003

Igreja de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo ndash registros do

periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

Ponte vizinha agrave Casa dos Contos - registros do periacuteodo

entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

31

Igreja N S do Pilar ndash registros do periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015apresentacao

A tradiccedilatildeo quanto agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico somente se consolidou

no Brasil a partir do seacuteculo XX Em 1931 surgiu o primeiro decreto municipal8 voltado para a

preservaccedilatildeo do cenaacuterio arquitetocircnico da cidade de Ouro preto proibindo as construccedilotildees em

desacordo com o estilo colonial predominante Em 1933 por meio do decreto nacional

22928 Ouro Preto foi erigida a Monumento Nacional Em 1938 o conjunto histoacuterico da

cidade foi tombado pelo SPHAN - Serviccedilo do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional que

havia sido criado no ano anterior Os anos seguintes foram marcados por inuacutemeras obras de

restauraccedilatildeo e tombamentos individuais

8 Decreto 13 de 19 de setembro de 1931 ldquoConsiderando que a cidade de Ouro Preto escriacutenio das tradiccedilotildees

mineiras deve conservar o seu aspecto colonial transmitido dos nossos antepassados Considerando que esta

feiccedilatildeo colonial de seus edifiacutecios de seus preacutedios das ruas e praccedilas desperta grande interesse por parte dos

turistas que frequumlentemente vecircm visitar a cidade e suas cercanias Considerando que ferem dolorosamente a

sensibilidade dos turistas os preacutedios que destoam do tipo colonial DECRETA Art 1deg - Natildeo eacute permitida no

periacutemetro urbano a construccedilatildeo de preacutedios e de edifiacutecios em desacordo com o estilo colonial da cidade Art 2deg -

Os atuais preacutedios existentes no periacutemetro urbano em desacordo com o artigo antecedente deveratildeo ser

modificados nas respectivas fachadas quando estas tenham que receber reparos []rdquo (OLIVEIRA 1997 p 7)

32

A sistematizaccedilatildeo de normas aplicaacuteveis agraves novas construccedilotildees foi realizada pelo

SPHAN (que em 1970 passou a ser chamado IPHAN9) para regular o crescimento da cidade e

o intenso surgimento de novas moradias que caracterizaram as deacutecadas de 1950 e 1960 Tal

crescimento se deu principalmente pela chegada de induacutestrias metaluacutergicas para a exploraccedilatildeo

da bauxita e produccedilatildeo de alumiacutenio primaacuterio Assim o ldquoestilo patrimocircniordquo surgiu das

exigecircncias normativas quanto agrave utilizaccedilatildeo dos elementos arquitetocircnicos tradicionais do

periacuteodo colonial

Um primeiro plano urbano foi elaborado pelo arquiteto portuguecircs Viana de Lima

entre os anos 1968 e 1970 com o objetivo de ldquopreservarrdquo o nuacutecleo histoacuterico da cidade e

consolidar o estilo patrimocircnio atraveacutes da eliminaccedilatildeo dos ecletismos da demoliccedilatildeo de obras

desprovidas de qualidade esteacutetica e do preenchimento dos vazios urbanos Nos anos seguintes

a discussatildeo sobre a salvaguarda do patrimocircnio se intensificou e deu origem a diversos outros

planos10

e programas de preservaccedilatildeo que obtiveram pouco sucesso na aplicaccedilatildeo praacutetica Em

21 de setembro de 1980 Ouro Preto recebeu da UNESCO o tiacutetulo de Patrimocircnio Cultural da

Humanidade e passou a ter visibilidade internacional

Ao final do seacuteculo XX a preocupaccedilatildeo com o desenvolvimento urbano da cidade e

com a proteccedilatildeo patrimonial gerou novas demandas em relaccedilatildeo agrave regulaccedilatildeo urbana e coube ao

IPHAN o papel de legislar sobre as intervenccedilotildees no centro histoacuterico As accedilotildees da

Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) do Instituto Estadual do Patrimocircnio Histoacuterico e

Artiacutestico (IEPHA) e do Instituto Estadual de Florestas (IEF) em pareceria com o governo

municipal e com o IPHAN foram decisivas na preservaccedilatildeo do patrimocircnio neste periacuteodo Em

1990 foram publicadas por meio da Lei 571990 as diretrizes para do Plano Diretor do

Municiacutepio sob as delineaccedilotildees inauguradas pela Constituiccedilatildeo Federal Tais diretrizes eram

bastante simplificadas e restritas aos zoneamentos e a questatildeo da preservaccedilatildeo do patrimocircnio

9 Em 1937 por meio da Lei nordm 378 foi fundado o SPHAN como oacutergatildeo oficial de preservaccedilatildeo do patrimocircnio

cultural brasileiro No mesmo ano foi promulgado o Decreto-Lei nordm 25 que regulamentou as atividades do

SPHAN Em 1946 o SPHAN teve o seu nome alterado para Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (DPHAN) Em 1970 o DPHAN eacute transformado em Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (IPHAN)

10 ldquoEm Minas Gerais a Fundaccedilatildeo Joatildeo Pinheiro (FJP) realizou um extenso diagnoacutestico e elaborou planos

diretores para diversas cidades coloniais mineiras bem como o Plano de Conservaccedilatildeo Valorizaccedilatildeo e

Desenvolvimento de Ouro Preto e Mariana em 1975 Esse Plano trata sobre a preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

patrimocircnio vinculado com as necessidades de desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio Por isso

abordou desde questotildees histoacutericas e culturais ateacute a anaacutelise de aspectos fiacutesico- territoriais tais como siacutetio natural

estudo das estruturas urbanas paisagismo e legislaccedilatildeo urbanardquo (SILVA OLIVEIRA 2005 p 180)

33

foi pouco abordada Jaacute em 1996 uma nova versatildeo do plano foi elaborada e diferentemente do

texto anterior o novo plano contemplou a preocupaccedilatildeo com o patrimocircnio e a preservaccedilatildeo

como instrumentos interligados agrave poliacutetica urbana

Art 1ordm - Em conformidade com a Constituiccedilatildeo Federal e com a Lei Orgacircnica

Municipal fica instituiacutedo o Plano Diretor de Ouro Preto (PDOP) fixando diretrizes

e instrumentos para o pleno desenvolvimento do Municiacutepio em consonacircncia com as

funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade [] Art 2ordm - O conjunto artiacutestico

arquitetocircnico urbaniacutestico paisagiacutestico e ambiental de relevante valor cultural

sediado no Municiacutepio objeto de tombamento federal e de reconhecimento

internacional pela UNESCO como Patrimocircnio Cultural da Humanidade eacute

considerado bem inalienaacutevel de sua populaccedilatildeo cabendo a ela exercer de forma

concorrente com as Administraccedilotildees Puacuteblicas a sua guarda proteccedilatildeo e gestatildeo

Paraacutegrafo uacutenico ndash A preservaccedilatildeo e a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural e ambiental

do Municiacutepio eacute fator determinante para o desenvolvimento urbano para a geraccedilatildeo de

empregos e para melhor distribuiccedilatildeo de renda Lei Complementar 0196 Ouro Preto

(OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996)

Em 1997 foi criado ldquoPlano de Reabilitaccedilatildeo do Siacutetio Histoacuterico de Ouro Pretordquo a

partir do ldquoMonumentardquo programa federal de iniciativa do Ministeacuterio da Cultura e patrocinado

pelo BID que sob a premissa do desenvolvimento econocircmico-social sustentaacutevel buscou

revitalizar os centros histoacutericos urbanos de 26 cidades brasileiras O Plano traccedilado para Ouro

Preto natildeo foi totalmente implementado mas alavancou as poliacuteticas de preservaccedilatildeo do

municiacutepio e deixou intervenccedilotildees significativas como por exemplo a recuperaccedilatildeo do Parque

Horto dos Contos (fundo de vale do Ribeiratildeo do Funil) aacuterea verde mais significativa da regiatildeo

central

34

Mapa Cadastral de Ouro Preto ndash Periacutemetro de tombamento pelo IPHAN

Fonte Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano - PMOP

52 O contexto atual

O conceito de patrimocircnio e de preservaccedilatildeo adotado no Brasil foi se modificando

ao longo da histoacuteria como foi apontado nos iniacutecio deste capiacutetulo Assim agrave medida que o

conceito adquiria relevacircncia as poliacuteticas de preservaccedilatildeo foram sendo instauradas nas esferas

administrativas Os avanccedilos iniciados no final do seacuteculo XX se consolidaram jaacute nos primeiros

anos do seacuteculo XXI O novo seacuteculo trouxe consigo uma mudanccedila significativa em relaccedilatildeo ao

desenvolvimento dos siacutetios histoacutericos que deixaram de ser vistos como uma ldquoobra de arte

intocaacutevelrdquo e passaram a ser tratados como espaccedilos socializados repletos de interaccedilatildeo cultural

e portanto passiacuteveis de transformaccedilatildeo Aleacutem dos centros urbanos o patrimocircnio imaterial

tambeacutem recebeu especial atenccedilatildeo e apoacutes 20 anos de discussatildeo a Convenccedilatildeo para a

Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial consolidada pela UNESCO em 2003 avanccedilou

no reconhecimento e na defesa das heranccedilas culturais dos povos ao redor do mundo

As transformaccedilotildees na relaccedilatildeo da preservaccedilatildeo com o planejamento urbano se

efetivaram em 2003 a partir da criaccedilatildeo do Plano de Preservaccedilatildeo de Siacutetio Histoacuterico Urbano

(PPSH) Este plano foi um instrumento de caraacuteter normativo que incidiu sobre os siacutetios

35

urbanos tombados em niacutevel federal a fim de aliar preservaccedilatildeo e desenvolvimento e incentivar

a gestatildeo compartilhada Nesse mesmo ano foi realizado o Encontro Nacional de Cidades

Histoacutericas que tratou da gestatildeo compartilhada do patrimocircnio cultural e da efetivaccedilatildeo das

poliacuteticas de preservaccedilatildeo associadas agrave legislaccedilatildeo urbana e ambiental

As mudanccedilas do iniacutecio do seacuteculo natildeo demoraram a repercutir no Municiacutepio de

Ouro Preto A partir da portaria ndeg 122 instituiacuteda em 2004 pelo presidente do IPHAN

definiu-se as diretrizes de intervenccedilatildeo e os paracircmetros para aprovaccedilatildeo de projeto no centro

histoacuterico da cidade a fim de garantir a manutenccedilatildeo das caracteriacutesticas da unidade e da

harmonia do conjunto urbano

Mapa dos bairros do municiacutepio de Ouro Preto

Fonte Secretaria Municipal de Patrimocircnio e Desenvolvimento Urbano - PMOP

36

Mapa esquemaacutetico ndash Periacutemetro urbano periacutemetro tombado e demais delimitaccedilotildees de interesse do distrito sede

Elaboraccedilatildeo Guilherme I N Ataiacutedes Base mapa do Plano Diretor

Foto da Praccedila Tiradentes

Fonte httpmondegocombrpraca-tiradentes

37

Foto Campus UFOP

Fonte httpwwwseeufopbrp=490

Foto IFMG

Fonte httpwwwouropretoifmgedubrcomunicacaoimagens-e-videoscampus-ouro-

pretocampusimage_view_fullscreen

Em 2006 a remodelaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Patrimocircnio e

Desenvolvimento Urbano (antiga Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio) deu um novo

impulso agrave preservaccedilatildeo no acircmbito da gestatildeo municipal unindo as poliacuteticas de proteccedilatildeo agraves

poliacuteticas de planejamento urbano O Grupo de Assessoramento Teacutecnico ndash GAT e o Conselho

Municipal de Patrimocircnio foram novamente colocados em accedilatildeo Um novo Plano Diretor

promulgado ao final deste mesmo ano atraveacutes da Lei Complementar Nordm 29 agregou as

conquistas do Estatuto da Cidade aos preceitos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio e acrescentou as

diretrizes para a proteccedilatildeo ambiental Os temas funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

estruturaccedilatildeo territorial desenvolvimento econocircmico proteccedilatildeo ambiental proteccedilatildeo ao

patrimocircnio cultural poliacutetica de desenvolvimento social produccedilatildeo da cidade e mobilidade

urbana intitulam alguns dos capiacutetulos da Lei Os instrumentos da poliacutetica urbana para o

cumprimento da funccedilatildeo social da propriedade aparecem no texto logo em sequecircncia A Lei de

38

Parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo conforme previsatildeo do Art 81 do Plano Diretor foi

promulgada no mesmo dia 28 de dezembro de 2006

A partir de entatildeo o municiacutepio assume sua funccedilatildeo enquanto principal oacutergatildeo de

gestatildeo do territoacuterio tarefa que anteriormente era desempenhada pelo Governo Federal e pelo

IPHAN Ao final de 2010 por meio da Lei Complementar Nordm 91 o Plano Diretor passa por

alteraccedilotildees pontuais e em 2011 a Lei de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo eacute amplamente

revisada dando origem aos paracircmetros utilizados nos dias atuais

Dentro desse resumido panorama legislativo apresentado pode-se perceber que o

Municiacutepio de Ouro Preto acompanhou em grande parte os avanccedilos inaugurados pelo

Estatuto da Cidade e concretizou ao menos em forma de Lei a regulamentaccedilatildeo das diretrizes

e dos instrumentos capazes de fazer valer a funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

Contudo tais avanccedilos representam muito pouco frente ao gigantesco desafio

enunciado no Art 2 inciso II do mesmo Estatuto quanto agrave ldquogarantia do direito a cidades

sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao saneamento ambiental

agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para

as presentes e futuras geraccedilotildeesrdquo(Lei 10257 2001)

Aleacutem da amplitude da tarefa outros elementos dificultam ainda mais o processo

de construccedilatildeo de uma nova realidade como por exemplo a negligecircncia dos gestores puacuteblicos

para com a atualizaccedilatildeo necessaacuteria e obrigatoacuteria das Leis O Plano Diretor de Ouro Preto

indica jaacute no Capiacutetulo 1 artigo 1ordm sect3ordm o prazo maacuteximo para a revisatildeo do mesmo estabelecido

em cinco anos a partir da sua publicaccedilatildeo ou seja 2011 Sendo assim percebe-se que a Lei

de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo revisada em 2011 embora seja o principal instrumento de

controle urbaniacutestico ateacute os dias de hoje jaacute nasceu defasada pois utilizou como referecircncia a

estrateacutegia de desenvolvimento urbano definida no Plano Diretor de 2006 desconsiderando os

impactos e as mudanccedilas territoriais sociais e culturais ocorridos desde entatildeo No geral os

gestores municipais tratam apenas de alteraccedilotildees pontuais que apenas mascaram o quadro de

estagnaccedilatildeo e desatualizaccedilatildeo das leis urbaniacutesticas Tal conduta conforma um enorme obstaacuteculo

na concretizaccedilatildeo das diretrizes do Estatuto da Cidade

Nos capiacutetulos anteriores ao tratarmos do desenvolvimento sustentaacutevel dois

importantes instrumentos foram apontados como peccedilas-chave da consolidaccedilatildeo de uma nova

experiecircncia de sustentabilidade no ambiente urbano a agenda 21 e o coacutedigo de obras

O primeiro deles a agenda 21 local foi estabelecida em 15 de maio de 2007 por

meio da Lei Nordm 333

39

Art 1ordm Fica criado no acircmbito do Municiacutepio de Ouro Preto o Programa da Agenda 21

Local processo e instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento

sustentaacutevel e que tem como eixo central a sustentabilidade compatibilizando a

conservaccedilatildeo ambiental a justiccedila social e o crescimento econocircmico Art 2ordm Para

efeitos de execuccedilatildeo da Agenda 21 Local o Poder Executivo instalaraacute o Foacuterum Ouro-

pretano da Agenda 21 Local (OURO PRETO Lei nordm333 Agenda 21 Local de 11

de maio de 2007)

No texto da Lei foram previstos os capiacutetulos a serem desenvolvidos Agenda 21

Estrutural Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade A

responsabilidade recaiu sobre o Foacuterum Ouro-Pretano da Agenda 21 Local Aleacutem da Lei de

criaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel encontrar nos registros legislativos digitais da Cacircmara Municipal a

Portaria Nordm 1707 que nomeia uma Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos Naturais

e Agenda 21 Local

Outra fonte de informaccedilotildees sobre a Agenda 21 Local de Ouro Preto foi encontrada

no acervo digital da Universidade Federal de Ouro Preto sob o tiacutetulo ldquoAgenda 21 Local

consolidando as bases para o desenvolvimento sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escalardquo

(OLIVEIRA 2010) Nesse trabalho foram apontadas as iniciativas que acompanharam a

criaccedilatildeo da Agenda 21 Local dentre as quais se destacam em ordem cronoloacutegica 1ordm Encontro

de Processos de Agendas 21 Locais ndash fevereiro de 2007 Plenaacuteria na Cacircmara Municipal de

Ouro preto para apresentaccedilatildeo da Agenda 21 ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio de Capacitaccedilatildeo para

a Agenda 21 Local ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio Teacutecnico de Diagnoacutestico para referecircncia da

Agenda 21 Local ndash abril de 2007 Seminaacuterio de Implantaccedilatildeo da Agenda 21 Mineral de Ouro

Preto ndash abril de 2007 Assinatura do Termo de Cooperaccedilatildeo Muacutetua entre a Prefeitura

Municipal a Cacircmara Municipal a ONG Interforum Global e a UFOP ndash maio de 2007

Seminaacuterio Intermunicipal de Agenda 21 Local ndash maio de 2007 Seminaacuterio Geral de

Capacitaccedilatildeo da Agenda 21 Local ndash agosto de 2007

Para aleacutem dos registros oficiais e dos dados encontrados no trabalho mencionado

no paraacutegrafo anterior foram encontradas somente notiacutecias informais11

sobre a criaccedilatildeo e

lanccedilamento da Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude todas datadas de 2007

11 Destacam-se ldquoO presidente da Cacircmara vereador Mauriacutelio Zacarias (PMDB) implantou no dia 20 de abril a

Agenda 21 da Mineraccedilatildeo de Ouro Preto A Agenda 21 da Mineraccedilatildeo eacute uma das subdivisotildees da Agenda 21

Global um conjunto de accedilotildees recomendadas pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) para garantir o

desenvolvimento sustentaacutevel do planeta no seacuteculo XXIrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwcmopmggovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=70agenda-21-da-mineracao-e-

implantada-em-ouro-pretoampcatid=61reunioesgt Acesso em 06 jun 2015 ldquoJuntos pela sustentabilidade o

Foacuterum da Agenda 21 Local de Ouro Preto daacute iniacutecio ao desenvolvimento de accedilotildees especiacuteficas para a implantaccedilatildeo

do capiacutetulo Agenda 21 da Juventude na escola e na universidade O lanccedilamento da Agenda 21 da Escola

acontece no dia 21 de junho quinta-feira agraves 10h no Centro de Artes e Convenccedilotildees da UFOPrdquo ndash Notiacutecia sobre a

40

Conclui-se portanto que a iniciativa da Agenda 21 Local assim como muitas das

diretrizes definidas nas Leis do Planejamento Urbano estagnou no ano de 2007 e avanccedilou

pouco em relaccedilatildeo agraves primeiras linhas da Lei Embora se tenha a informaccedilatildeo de que os Grupos

de Trabalho continuaram a desenvolver suas atividades nos anos seguintes os registros dessas

accedilotildees praacuteticas satildeo praticamente inexistentes e tais atividades praticamente natildeo efetivaram

mudanccedilas na realidade do Municiacutepio

Quanto ao Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees outro importante instrumento da gestatildeo

municipal capaz de estabelecer as bases para um ambiente urbano sustentaacutevel este nunca foi

regulamentado pelo Municiacutepio Embora citado inuacutemeras vezes no Coacutedigo de Posturas que foi

instituiacutedo em 1980 atraveacutes da Lei 178 o Coacutedigo de Obras nunca adquiriu formato oficial para

aplicaccedilatildeo e regulaccedilatildeo do territoacuterio O uacutenico registro oficial encontrado nos arquivos

eletrocircnicos da Cacircmara Municipal diz respeito a uma comissatildeo especial formada em 1992

para emissatildeo de parecer sobre o anteprojeto de Coacutedigo de Obras de Ouro Preto elaborado

pela ENGEARP ndash Arquitetura e Engenharia Ltda12

Um segundo registro foi encontrado nos

arquivos do diaacuterio oficial eletrocircnico do municiacutepio e consiste numa breve menccedilatildeo do coacutedigo de

obras numa ata de uma das reuniotildees do COMPURB Conselho Municipal de Poliacutetica

Urbana13

em abril de 2013 Apesar dos registros quase inexistentes em consulta ao corpo

teacutecnico do Departamento de Aprovaccedilatildeo de Projetos da Secretaria de Cultura e Patrimocircnio

foram identificadas algumas iniciativas quanto agrave elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo de Obras para o

municiacutepio dentre as quais se destaca o modelo desenvolvido em 2012 Tal modelo em

conformidade com as diretrizes dos coacutedigos internacionais jaacute apontados neste trabalho

ressaltou que as edificaccedilotildees e instalaccedilotildees deveriam atender agraves condiccedilotildees miacutenimas de

seguranccedila conforto ambiental higiene salubridade harmonia esteacutetica e acessibilidade

criaccedilatildeo da Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade ndash 16 de junho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwufopedubrindexphpoption=com_contentamptask=viewampid=600ampItemid=50gt Acesso em 06 jun

2015 ldquoO grupo de trabalho da Agenda 21 Local de Ouro Preto a Associaccedilatildeo Comercial de Ouro Preto e a

Cacircmara da Mulher Empreendedora de Ouro Preto convidam para uma palestra com o seguinte tema lsquoAgenda 21

de Ouro Preto -Desafios e Possibilidades da Participaccedilatildeo do Comeacutercio na Sustentabilidade Localrsquordquo Notiacutecia sobre

o Grupo de Trabalho da Agenda Ouro Preto ndash 10 de julho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwfundacaoaprenderorgbr189gt Acesso em 06 jun 2015

12 Portaria Nordm 0292 ndash 04 de fevereiro de 1992 Disponiacutevel em

lthttpwwwsistemasiglaorgarquivossisnormNJ_img(2562)pdfgt Acesso em 06 jun 2015

13 ldquo[] Gabriel sugeriu que seja incluiacutedo esses criteacuterios no coacutedigo de obrasrdquo Ata da 58ordf Reuniatildeo extraordinaacuteria

do Conselho Municipal de Poliacutetica Urbana ndash COMPURB (extraiacutedo do Diaacuterio Oficial do Municiacutepio ldquoAno V ndash

Ouro Preto 1ordm de Abril de 2013 ndash Nordm766rdquo) Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrdiario-

oficial2076601-04-2013gt Acesso em 27 jun 2015

41

Contudo eacute importante destacar que os paracircmetros necessaacuterios para o atendimento do conforto

ambiental - como criteacuterios de adequaccedilatildeo agraves caracteriacutesticas do clima local diretrizes de

conforto teacutermico luminoso e acuacutestico ndash assim como as diretrizes de eficiecircncia energeacutetica natildeo

foram contemplados no texto diminuindo consideravelmente a possibilidade de sucesso do

instrumento quanto agrave transformaccedilatildeo do ambiente urbano

Sendo assim entendendo a importacircncia que o instrumento ldquocoacutedigo de obrasrdquo tem

na conformaccedilatildeo de espaccedilos urbanos mais confortaacuteveis e equilibrados e buscando contribuir

para o Municiacutepio na consolidaccedilatildeo de Leis atualizadas e transformadoras o capiacutetulo seguinte

trataraacute do desenvolvimento de algumas dessas diretrizes para que as construccedilotildees passem a

incorporar as premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica e passem a contribuir

positivamente para o clima urbano a para a qualidade ambiental

42

6 ENSAIO PARA UM COacuteDIGO DE OBRAS PRINCIPAIS ESTRATEacuteGIAS PARA

A PROMOCcedilAtildeO DA EFICIEcircNCIA ENERGEacuteTICA NO MUNICIacutePIO DE OURO

PRETO

61 O reconhecimento do clima e as recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais

O reconhecimento do clima eacute o primeiro passo a ser dado para o desenvolvimento

das diretrizes construtivas para um determinado local O clima ldquoeacute a condiccedilatildeo meacutedia do tempo

em uma dada regiatildeo baseada em mediccedilotildees em longos periacuteodos de tempo (30 anos ou mais)rdquo

(LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 71) A anaacutelise climaacutetica feita no Brasil utiliza

em geral os dados publicados pelo Instituto Nacional e pelo Departamento Nacional de

Meteorologia por meio das Normais Climatoloacutegicas Essa publicaccedilatildeo sistematiza dentre

outros dados os valores meacutedios e extremos mensais de temperatura umidade precipitaccedilatildeo

nebulosidade e horas de sol para um periacuteodo de 30 anos A utilizaccedilatildeo dessas variaacuteveis

climaacuteticas no desenvolvimento dos projetos arquitetocircnicos possibilita a construccedilatildeo de

edificaccedilotildees mais confortaacuteveis e mais eficientes quanto ao consumo de energia

O municiacutepio de Ouro Preto contou com uma estaccedilatildeo de mediccedilatildeo e monitoramento

climaacutetico no periacuteodo entre 1976 a 1990 Sendo assim por natildeo ter permanecido em vigecircncia

pelo periacuteodo miacutenimo de 30 anos os dados do municiacutepio natildeo foram contemplados na

publicaccedilatildeo das Normais Climatoloacutegicas e podem ser encontrados apenas no registro histoacuterico

do INMET a partir do BDMEP Os dados coletados nesse periacuteodo de 14 anos embora natildeo

tenham sido publicados satildeo fundamentais para analisar o comportamento das variaacuteveis

climaacuteticas no local de estudo conforme seraacute visto nas anaacutelises a seguir

Referenciada geograficamente pelas coordenadas14

Latitude Sul 20deg23rsquo28rdquo e

Longitude Oeste 43deg30rsquo20rdquo Ouro Preto possui altitude correspondente a 1150 metros sendo

que o ponto mais alto o Pico Itacolomi estaacute situado a 1772 metros de altura A latitude e a

altitude satildeo dois importantes fatores geograacuteficos do clima quanto maior a latitude menor eacute a

temperatura superficial e quanto maior a altitude menor seraacute a temperatura e a pressatildeo

atmosfeacuterica

14 Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrlocalizacaogt Acesso em 27 jun 2015

43

Para entendermos o clima no municiacutepio e para traccedilarmos as diretrizes construtivas

que garantam o bom desempenho das edificaccedilotildees faz-se necessaacuterio primeiramente consultar

o Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro definido na parte 3 da NBR 15220

O Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro consiste na ldquodivisatildeo do territoacuterio brasileiro

em oito zonas relativamente homogecircneas quanto ao clima e para cada uma destas zonas

formulou-se um conjunto de recomendaccedilotildees teacutecnico-construtivas que otimizam o desempenho

teacutermico das edificaccedilotildees atraveacutes de sua melhor adequaccedilatildeo climaacuteticardquo (ABNT 2003) O

Zoneamento resulta da aplicaccedilatildeo da Carta Bioclimaacutetica sugerida por Givoni ldquoinserindo os

dados mensais de temperatura meacutedia e umidade relativa para cada mecircs do ano e para cada

uma das localidades agrupando entatildeo aquelas classificadas como um mesmo tipo climaacuteticordquo

(FERREIRA 2014 p432)

As diretrizes construtivas desenvolvidas na Norma tratam basicamente do

comportamento da envoltoacuteria da edificaccedilatildeo a partir da indicaccedilatildeo do tamanho das aberturas

para ventilaccedilatildeo da proteccedilatildeo das aberturas das vedaccedilotildees externas (paredes e cobertura) e das

estrateacutegias de condicionamento passivo

A NBR 15220-3 estaacute vigente desde 2005 e sua aplicaccedilatildeo estaacute direcionada para as

edificaccedilotildees de ateacute trecircs pavimentos destinadas agrave habitaccedilatildeo multifamiliar de interesse social

Contudo os preceitos nela indicados podem e devem servir como base para a adequaccedilatildeo

climaacutetica das demais edificaccedilotildees desde que a Norma natildeo seja aplicada de forma isolada isto

eacute devem ser estudados outros procedimentos e devem ser utilizadas novas ferramentas a fim

de cruzar os resultados e avanccedilar na elaboraccedilatildeo de paracircmetros construtivos cada vez mais

completos e dinacircmicos

Segundo a Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica obtida atraveacutes do programa ZBBR o

municiacutepio de Ouro Preto estaacute localizado na Zona Bioclimaacutetica 3

44

Fonte Programa ZBBR ndash Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica dos Municiacutepios Brasileiros

Em destaque o Municiacutepio de Ouro Preto ndash MG

Para as edificaccedilotildees inseridas nesta zona bioclimaacutetica a NBR 15220 traz as

seguintes orientaccedilotildees

- Quanto agraves aberturas tamanho meacutedio (15 a 25) e que possibilitem a entrada do sol

durante o inverno

- Quanto agraves vedaccedilotildees externas paredes externas leves15

e refletoras cobertura leve e

isolada

- Quanto ao condicionamento teacutermico passivo ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo

aquecimento solar durante o inverno e vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia

teacutermica

15 Quanto agrave caracterizaccedilatildeo das envoltoacuterias como ldquolevesrdquo podemos agregar para melhor entendimento a

explicaccedilatildeo de que tais envoltoacuterias devem ser de baixa ineacutercia teacutermica ou seja devem possibilitar que o ambiente

interno seja influenciado pela temperatura do ar exterior sem grande atraso Assim pode-se dizer que as

recomendaccedilotildees de envoltoacuterias leves ocorrem em ambientes onde se deseja que os ambientes internos agrave

edificaccedilatildeo sofram influecircncia direta da temperatura do exterior

45

A partir das orientaccedilotildees da Norma percebe-se que a classificaccedilatildeo das zonas

bioclimaacuteticas embora tenha uma importante contribuiccedilatildeo esta natildeo pode ser utilizada

isoladamente por natildeo agregar importantes elementos agrave caracterizaccedilatildeo do clima local como jaacute

foi dito anteriormente Sendo assim outros dados de Ouro Preto devem ser observados para

aprofundarmos um pouco mais nas recomendaccedilotildees construtivas

Dentro do espectro das variaacuteveis climaacuteticas que caracterizam uma regiatildeo merece

destaque a temperatura e a umidade A temperatura ldquoeacute a variaacutevel climaacutetica mais conhecida e

de mais faacutecil mediccedilatildeo A variaccedilatildeo da temperatura na superfiacutecie da Terra resulta basicamente

dos fluxos das grandes massas de ar e da diferente recepccedilatildeo da radiaccedilatildeo do sol de local para

localrdquo (LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 77) A temperatura varia principalmente

em funccedilatildeo da velocidade do ar mas tambeacutem eacute influenciada em maior ou menor grau pelo

tipo de solo e de vegetaccedilatildeo pela topografia e pela altitude A temperatura meacutedia anual de

Ouro Preto eacute de 185deg conforme os dados sistematizados pelo INMET A temperatura

maacutexima verificada geralmente no mecircs de fevereiro corresponde a 252deg e a temperatura

miacutenima que ocorre no mecircs de julho corresponde a 112deg Quanto agrave umidade do ar esta

resulta da evaporaccedilatildeo das aacuteguas e da evapotranspiraccedilatildeo dos vegetais e pode ser definida em

absoluta e relativa ldquoComo definiccedilatildeo de umidade absoluta tem-se que eacute o peso do vapor de

aacutegua contido em uma unidade de volume de ar (gm3) e a umidade relativa eacute a relaccedilatildeo da

umidade absoluta com a capacidade maacutexima do ar de reter vapor drsquoaacutegua agravequela temperaturardquo

(FROTA 1995 p62) A umidade do ar tem relaccedilatildeo inversa com a temperatura portanto

quanto menor a temperatura maior a possibilidade de saturaccedilatildeo do ar pela ampliaccedilatildeo da

umidade ao limite de 100 A pluviosidade tambeacutem deve ser observada pois tem relaccedilatildeo

direta com a umidade do ar sendo que a chuva proveacutem em grande parte de massas de ar

uacutemido em ascensatildeo Os dados do INMET apontam que a meacutedia anual da pluviosidade em

Ouro Preto eacute de 16703mm sendo junho o mecircs mais seco com 129mm e dezembro o mecircs

mais uacutemido com 3579mm

46

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641 (continuaccedilatildeo)

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

47

48

A partir dos dados acima eacute possiacutevel verificar inicialmente que se trata de um

clima de baixas temperaturas muito uacutemido (umidade relativa praticamente sempre acima de

80) com alta nebulosidade (o que significa que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou

nublado) e com abundacircncia de chuvas principalmente no veratildeo

Tais caracteriacutesticas satildeo acentuadas pela influecircncia da barreira orograacutefica

provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta que conforma o

Morro Satildeo Sebastiatildeo Sendo assim grande parte da mancha urbana de Ouro Preto situada agrave

barlavento da barreira natural sofre influecircncia das chuvas que resultam do resfriamento e

condensaccedilatildeo do ar em ascensatildeo aprofundando ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade citadas anteriormente

Representaccedilatildeo da influecircncia dos ventos e da topografia na mancha urbana da cidade de Ouro

Preto - a formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem base da imagem de sateacutelite extraiacuteda do Google Maps

Exemplo da chuva a barlavento resultante da formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem Sistemas Tecnoloacutegicos em Conforto Ambiental ndash Eleonora Sad Assis

Parte da malha urbana de Ouro Preto

49

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem timblindimwordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem fotografandoondeopeixeparawordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

A partir das variaacuteveis climaacuteticas sistematizadas pelo INMET podemos avanccedilar na

utilizaccedilatildeo do Diagrama Bioclimaacutetico de Givoni (DBG) que orientou a definiccedilatildeo do

Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro assim como utilizar outro instrumento de anaacutelise as

Tabelas de Mahoney que tambeacutem auxiliam na definiccedilatildeo das diretrizes construtivas

O Diagrama de Givoni nos permite identificar quais recursos satildeo necessaacuterios para

que as edificaccedilotildees atendam agraves condiccedilotildees de conforto Este instrumento aponta quais preceitos

da arquitetura bioclimaacutetica devem ser priorizados tais como ventilaccedilatildeo ineacutercia teacutermica e

50

insolaccedilatildeo assim como aponta a necessidade de soluccedilotildees mecacircnicas para o atendimento ao

conforto teacutermico

Diagrama de Givoni relativo agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O Diagrama de Givoni referente agrave Ouro Preto assinala que na maior parte do

tempo as edificaccedilotildees necessitam de aquecimento passivo tendo em vista o quadro recorrente

de baixas temperaturas e de alta umidade relativa Algumas estrateacutegias de aquecimento

passivo podem ser adaptadas agrave realidade local para melhor aproveitamento Quanto agrave cidade

de Ouro Preto deve-se pensar o ganho teacutermico principalmente durante o inverno Nessa

estaccedilatildeo embora se tenha uma queda significativa das temperaturas tem-se cerca de 6 horas

de insolaccedilatildeo diaacuteria quase duas horas a mais do que nas outras estaccedilotildees O aproveitamento

dessa radiaccedilatildeo solar deve servir para manter o ambiente aquecido durante a noite sendo

assim a utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior insolaccedilatildeo deve

possibilitar a maacutexima entrada de calor durante o dia Quanto aos materiais internos estes

devem possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser

devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente

Voltando ao Diagrama de Givoni se compararmos o resultado da cidade de Ouro

Preto com a cidade de Belo Horizonte que estaacute na mesma zona bioclimaacutetica e estaacute a 858

51

metros de altitude perceberemos o quanto eacute importante cruzar os dados de diferentes

instrumentos de anaacutelise para acertar nas diretrizes de projeto Os dados de Belo Horizonte

resultam numa linha meacutedia predominantemente inserida na zona de conforto chegando a

alcanccedilar a zona de influecircncia da ventilaccedilatildeo em algumas horas dos meses de janeiro fevereiro

e marccedilo

Diagrama de Givoni relativo agrave Belo Horizonte

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O outro meacutetodo importante de anaacutelise voltado especificamente para as

recomendaccedilotildees de projeto arquitetocircnico consiste na sistematizaccedilatildeo das recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas atraveacutes das ldquoTabelas de Mahoneyrdquo Tal meacutetodo deve ser utilizado

simultaneamente ao Diagrama de Givoni a fim de se comparar os resultados e ajustar as

diretrizes construtivas Dentre as orientaccedilotildees da Tabela de Mahoney para Ouro Preto merece

destaque a utilizaccedilatildeo de grandes aberturas (para garantir ventilaccedilatildeo abundante e permanente)

e de envoltoacuterias leves Contudo diretrizes como reduccedilatildeo da exposiccedilatildeo ao sol e proteccedilatildeo da

insolaccedilatildeo direta natildeo favorecem o aquecimento passivo conforme a necessidade observada a

partir do Diagrama de Givoni e portanto devem ser relativizadas Seguem abaixo as

recomendaccedilotildees das Tabelas de Mahoney para Ouro Preto

52

Tabela de Mahoney relativa agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

Sendo assim a partir do conhecimento das variaacuteveis climaacuteticas e dos resultados

apresentados eacute possiacutevel formular a seguinte tabela resumo quanto agraves recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas iniciais para Ouro Preto

14 Tabela de Recomendaccedilotildees Arquitetocircnicas

Total de Indicadores

Uacutemido Aacuterido

H1 H2 H3 A1 A2 A3

1 11 4 0 0 0

1 PLANTA DE SITUACcedilAtildeO

0 -10 X Construccedilotildees orientadas segundo eixo longitudinal leste-oeste

11 ou 5 -12 a fim de diminuir a exposiccedilatildeo ao sol

12 0 - 4 Plantas compactas com paacutetios internos

2 ESPACcedilAMENTO ENTRE CONSTRUCcedilOtildeES

11 ou Grandes espaccedilamentos para favorecer a penetraccedilatildeo do vento

12

2 -10 Como acima mas com proteccedilatildeo contra vento quente ou frio

0 ou 1 X Distribuiccedilatildeo compacta

3 CIRCULACcedilAtildeO DE AR

3 - 12 X Construccedilotildees com orientaccedilatildeo simples aberturas que permitam

1 ou 0 - 5 circulaccedilatildeo de ar permanente

2 6 - 12 Construccedilotildees com orientaccedilatildeo dupla circulaccedilatildeo de ar cruzada

0 2 -12 aberturas de ar controlaacuteveis

0 ou 1 Basta renovaccedilatildeo higiecircnica do ar

4 DIMENSOtildeES DAS ABERTURAS

0 ou 0 X Grandes 40 a 80 das fachadas norte e sul

1 1 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

2 - 5

6 - 10 Intermediaacuterias 20 a 35 da superfiacutecie das paredes

11 ou 0 - 3 Pequenas 15 a 25 da superfiacutecie das paredes

12 4 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

5 POSICcedilAtildeO DAS ABERTURAS

3 - 12 X Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do

1 ou 0 - 5 lado exposto ao vento

2 6 - 12 Como acima mas tambeacutem aberturas nas paredes internas

0 2 - 12

6 PROTECcedilAtildeO DAS ABERTURAS

0 - 2 X Proteger da insolaccedilatildeo direta

2 - 12 X Proteger da chuva

7 PAREDES E PISOS

0 - 2 X Construccedilotildees leves baixa ineacutercia teacutermica

3 - 12 Construccedilotildees maciccedilas tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

8 COBERTURA

10 a 0 - 2 Leve (pouca ineacutecia) superfiacutecie refletora uso de cacircmara de ar

12 3 - 12 X Leve e bem isolada

0 a 0 - 5

9 6 - 12 Maciccedila tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

9 ESPACcedilOS EXTERIORES

1 - 12 Espaccedilo para dormir ao ar livre

1 - 12 X Adequada drenagem para a chuva

3 - 12 X Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

53

Tabela resumo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas

Diagrama de Givoni

Tabelas de Mahoney

NBR 15220 ndash Parte 03

Tamanho e caracteriacutesticas das aberturas

Esquadrias devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia do calor no ambiente

Aberturas que permitam a circulaccedilatildeo de ar permanente

Tamanho meacutedio

Grandes ndash de 40 a 80 das fachadas norte e sul

Possibilitar a entrada do sol durante o inverno

Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do lado exposto ao vento

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees externas

Leves Leves e refletoras

Baixa ineacutercia teacutermica

Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees internas

Possibilitar o armazenamento do calor absorvido

Vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia teacutermica

Caracteriacutesticas da cobertura

Leve e bem isolada Leve e isolada

Condicionamento teacutermico passivo

Ganho teacutermico principalmente durante o inverno

Aberturas protegidas da insolaccedilatildeo direta e protegidas da chuva

Ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo aquecimento solar durante o inverno e

Somando-se os diversos meacutetodos de anaacutelise climaacutetica tecircm maior relevacircncia a

seguintes diretrizes

- ventilaccedilatildeo abundante principalmente durante o veratildeo a fim de reduzir a temperatura no

interior da edificaccedilatildeo e os efeitos da umidade que aumenta ainda mais em funccedilatildeo das chuvas

tiacutepicas desse periacuteodo A ventilaccedilatildeo cruzada deve ser fomentada e deve ser observado o sentido

54

predominante do vento que na cidade em questatildeo eacute sudeste a fim de se alcanccedilar melhores

resultados no conforto da edificaccedilatildeo

- aquecimento passivo para os meses de inverno a fim de diminuir o desconforto

causado pelas baixas temperaturas

- paredes leves (com baixa ineacutercia teacutermica ou seja conseguem ganhar ou perder calor

rapidamente a partir da interferecircncia e da temperatura do ar exterior) e protegidas da umidade

proveniente das chuvas fortes

- coberturas leves e bem isoladas (capazes de reter o calor absorvido durante o dia)

- as edificaccedilotildees devem estar protegidas das chuvas e devem contar com sistemas de

drenagem eficientes que possibilitem o raacutepido escoamento ou aproveitamento dessa aacutegua

62 O Coacutedigo de Obras e o conforto ambiental em Ouro Preto ndash estrateacutegias prioritaacuterias

A utilizaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental nos projetos e nas edificaccedilotildees

tem um impacto social positivo baseado em pelo menos trecircs fatores importantes melhoria das

condiccedilotildees de habitabilidade da edificaccedilatildeo e portanto melhor qualidade de vida para o

usuaacuterio melhoria nas condiccedilotildees climaacuteticas do meio externo ampliando o bem estar coletivo

reduccedilatildeo no consumo de energia e utilizaccedilatildeo eficiente do sistema de abastecimento a partir da

correta utilizaccedilatildeo dos sistemas ativos (iluminaccedilatildeo artificial condicionamento e aquecimento

de ar)

Para garantir a aplicaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental o Coacutedigo de Obras

e Edificaccedilotildees do municiacutepio deve incorporar dois importantes artigos que seratildeo detalhados

abaixo conforme o texto sugerido pelo Guia Teacutecnico ldquoElaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de

obras e edificaccedilotildeesrdquo da ELETROBRAacuteS (BAHIA GUEDES 2012)

O primeiro artigo de destaque deve ser inserido no capiacutetulo que trata das

DISPOSICcedilOtildeES PRELIMINARES e deve enumerar as diretrizes gerais para os projetos e

construccedilotildees buscando elencar tanto as demandas contemporacircneas expressas nas novas

legislaccedilotildees como os anseios para um espaccedilo urbano equilibrado e sustentaacutevel Nesse

contexto a substituiccedilatildeo da expressatildeo ldquopadrotildees miacutenimosrdquo que podem ser exemplificados pelas

diretrizes generalistas frequentemente encontradas nas legislaccedilotildees como a previsatildeo de 16 e

18 de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo para todas as localidades por ldquopadrotildees eficientesrdquo

estabelecidos atraveacutes de estudos teacutecnicos que agreguem a complexidade do clima local e que

permitam ampliar as condiccedilotildees de sustentabilidade das edificaccedilotildees ao tratar da otimizaccedilatildeo de

resultados quanto ao atendimento do conforto teacutermico visual e acuacutestico com baixo consumo

55

de energia A configuraccedilatildeo do texto deve se aproximar ao maacuteximo da proposta apresentada

pelo Guia Teacutecnico paacutegina 62

As obras instalaccedilotildees e edificaccedilotildees sejam puacuteblicas sejam privadas deveratildeo atender

agraves seguintes diretrizes gerais de forma a assegurar padrotildees eficientes de seguranccedila e

solidez salubridade e sauacutede conforto ambiental e desempenho energeacutetico

acessibilidade e livre tracircnsito de pessoas prevenccedilatildeo e uso sustentaacutevel dos recursos

naturais em cada caso e sempre que couber I - Subordinaccedilatildeo do interesse particular

ao interesse coletivo II - Promoccedilatildeo do direito agrave cidade sustentaacutevel e da funccedilatildeo

social da propriedade III - Utilizaccedilatildeo das normas teacutecnicas brasileiras e

regulamentaccedilotildees aplicaacuteveis para orientaccedilatildeo do desenvolvimento de projetos e

execuccedilatildeo de obras IV - Desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas sempre que

necessaacuterio com base nas praacuteticas locais beneacuteficas e na produccedilatildeo cientiacutefica tendo em

vista a manutenccedilatildeo da qualidade do local onde se daacute a intervenccedilatildeo e a correlaccedilatildeo

com valores culturais da populaccedilatildeo V - Garantia das condiccedilotildees de acessibilidade

circulaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo pela populaccedilatildeo em geral das edificaccedilotildees e do espaccedilo e

mobiliaacuterio urbano de uso puacuteblico e coletivo com adoccedilatildeo de soluccedilotildees especiacuteficas

para as pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida conforme previsto nas

normas teacutecnicas e na legislaccedilatildeo aplicaacutevel VI - Adoccedilatildeo de paracircmetros climaacuteticos

para o desenvolvimento de projetos de arquitetura de parcelamentos do solo e de

desenho urbano tendo em vista a correta orientaccedilatildeo solar da edificaccedilatildeo e demais

elementos as melhores condiccedilotildees de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo e pela escolha de

materiais construtivos e soluccedilotildees urbaniacutesticas adequadas em funccedilatildeo das

condicionantes ambientais locais de temperatura pluviosidade dominacircncia de

ventos ruiacutedo e paisagem natural aleacutem dos aspectos culturais que interagem com

essas condiccedilotildees VII - Utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis materiais de

construccedilatildeo certificados e ajudas teacutecnicas disponiacuteveis em complemento agrave promoccedilatildeo

do conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade das edificaccedilotildees e do

meio urbano VIII - Implantaccedilatildeo do objeto arquitetocircnico no lote bem como do

mobiliaacuterio urbano e demais artefatos nos logradouros puacuteblicos garantidas a

acessibilidade a qualidade esteacutetica e tecnoloacutegica de forma a potencializar os

atributos da paisagem urbana e evitar a poluiccedilatildeo visual IX - Adoccedilatildeo preferencial de

espeacutecies nativas na arborizaccedilatildeo puacuteblica demais projetos paisagiacutesticos e no

ajardinamento de lotes particulares X - Simplificaccedilatildeo dos procedimentos

administrativos pelo Poder Puacuteblico e promoccedilatildeo da assistecircncia para habitaccedilatildeo de

interesse social pelos agentes promotores tendo em vista facilitar a regularidade e a

correta execuccedilatildeo de projetos e obras inclusive apoiando as iniciativas de

autoconstruccedilatildeo da clientela de baixa renda (BAHIA GUEDES 2012)

O segundo artigo de grande relevacircncia deve ser inserido no capiacutetulo ldquoDAS

CONDICcedilOtildeES RELATIVAS AgraveS EDIFICACcedilOtildeESrdquo Neste capiacutetulo devem ser tratados os

paracircmetros teacutecnicos e geomeacutetricos capazes de materializar o conforto ambiental dos projetos e

edificaccedilotildees a partir do contexto climaacutetico da cidade As diretrizes apontadas devem buscar o

equiliacutebrio entre as condicionantes internas (relaccedilatildeo do usuaacuterio com a edificaccedilatildeo) e externas

(relaccedilatildeo da edificaccedilatildeo com o entorno) Quanto aos paracircmetros teacutecnicos esses devem ser

baseados nas recomendaccedilotildees do Programa Nacional de Conservaccedilatildeo de Energia Eleacutetrica ndash

PROCEL e devem se aproximar dos padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees

residenciais que satildeo atualmente estabelecidos pelo INMETRO a partir do RTQ-R ndash

Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais O texto do artigo deve seguir a sugestatildeo do Guia Teacutecnico paacutegina 107

56

Os projetos de construccedilatildeo ou reforma aleacutem de atenderem aos paracircmetros de

habitabilidade estabelecidos neste Coacutedigo devem ser orientados para a promoccedilatildeo da

sustentabilidade e eficiecircncia energeacutetica da edificaccedilatildeo com o objetivo de reduzir as

emissotildees de gases de efeito estufa (GEE) e os impactos ambientais gerados pela

construccedilatildeo e pela sua utilizaccedilatildeo ao longo do tempo racionalizando o uso da energia

da aacutegua e dos materiais nela empregados a partir das seguintes diretrizes I -

Racionalidade do projeto e do planejamento do processo de execuccedilatildeo das obras II -

Gestatildeo sustentaacutevel da obras e das praacuteticas de construccedilatildeo de forma a evitar o

desperdiacutecio de materiais III - Uso de materiais de construccedilatildeo e acabamentos

sustentaacuteveis considerando a adoccedilatildeo de materiais originaacuterios da regiatildeo produzidos

de forma sustentaacutevel e legalizada de materiais reaproveitados ou de demoliccedilatildeo e de

materiais certificados ou de comprovada responsabilidade ambiental do fabricante

IV - Ativaccedilatildeo do uso de edificaccedilotildees de valor cultural histoacuterico ou arquitetocircnico

maximizando as condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do bem imoacutevel na interaccedilatildeo com as

premissas de conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade V -

Aplicaccedilatildeo das estrateacutegias para projetos de acordo com o Zoneamento Bioclimaacutetico

brasileiro conforme NBR 15220-3 para concepccedilatildeo arquitetocircnica implantaccedilatildeo no

lote orientaccedilatildeo solar dos ambientes localizaccedilatildeo de aberturas e especificaccedilatildeo de

materiais de construccedilatildeo em prol do desempenho teacutermico da edificaccedilatildeo VI -

Aproveitamento das caracteriacutesticas climaacuteticas locais para a promoccedilatildeo do conforto

ambiental da edificaccedilatildeo a partir da consideraccedilatildeo dos seguintes fatores principais a)

Qualidade do ar b) Conforto higroteacutermico c) Conforto luminoso (ou lumiacutenico) d)

Conforto acuacutestico VII - Adoccedilatildeo de especificaccedilotildees de projeto com o objetivo de

potencializar as caracteriacutesticas climaacuteticas locais beneacuteficas eou remediar as de maior

rigor ao longo das diferentes estaccedilotildees do ano em benefiacutecio do desempenho teacutermico

e da ventilaccedilatildeo e iluminaccedilatildeo naturais da edificaccedilatildeo [] VIII - Planejamento

paisagiacutestico como elemento contribuinte para o conforto ambiental da edificaccedilatildeo

[] IX - Adoccedilatildeo de materiais construtivos que melhorem o desempenho teacutermico da

edificaccedilatildeo com base nas orientaccedilotildees e tabelas da NBR 15220-3 e especificaccedilatildeo de

equipamentos mecanismos e instalaccedilotildees que favoreccedilam a economia de energia

eleacutetrica e a reduccedilatildeo do consumo e aacutegua tratada [] (BAHIA GUEDES 2012)

Esses dois artigos apresentados embora configurem o ponto de partida natildeo satildeo

suficientes para a transformaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras em uma ferramenta concreta de

promoccedilatildeo do conforto ambiental da eficiecircncia energeacutetica e da sustentabilidade do meio

ambiente urbano Os desdobramentos desse texto devem resultar em paracircmetros teacutecnicos

como dimensionamentos diretrizes de desenho configuraccedilotildees espaciais miacutenimas dentre

inuacutemeros outros elementos de aplicaccedilatildeo obrigatoacuteria ou optativa Sendo assim o Coacutedigo de

Obras deve regulamentar por exemplo o dimensionamento de compartimentos a disposiccedilatildeo

e o dimensionamento de mobiliaacuterio fixo como louccedilas sanitaacuterias o peacute-direito as proporccedilotildees

das aberturas de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo assim como as taxas de renovaccedilatildeo do ar os niacuteveis de

ruiacutedo para o conforto acuacutestico as condiccedilotildees favoraacuteveis de transmitacircncia e a absortacircncia das

paredes e coberturas para o conforto teacutermico o dimensionamento e as condiccedilotildees das

circulaccedilotildees horizontais e verticais as instalaccedilotildees prediais dentre inuacutemeros outros itens Os

teacutecnicos devem se debruccedilar sobre tais requisitos teacutecnicos a fim de otimizar os resultados

quanto agrave construccedilatildeo da sustentabilidade no municiacutepio Deve-se utilizar as normas ABNT em

auxiacutelio agrave formulaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos a exemplo da NBR 10151 sobre Avaliaccedilatildeo do

57

Ruiacutedo em Aacutereas Habitadas NBR 5382 sobre Iluminacircncia de Interiores NBR 15215 sobre

Iluminaccedilatildeo Natural NBR 9284 sobre Equipamentos Urbanos dentre outras

Por fim deve-se prezar pela total interaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras com o conjunto

da legislaccedilatildeo urbaniacutestica local a fim de estabelecer uma relaccedilatildeo sequencial entre as etapas de e

concepccedilatildeo planejamento e construccedilatildeo das edificaccedilotildees passando das diretrizes gerais agraves

exigecircncias especiacuteficas O texto do coacutedigo de obras deve ser objetivo e didaacutetico sem incorrer

em simplificaccedilotildees O conteuacutedo deve ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e

teacutecnicos da aacuterea como pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees A dedicaccedilatildeo dos

teacutecnicos e profissionais na elaboraccedilatildeo das diretrizes transformadoras a busca pela

conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo sobre o conforto no ambiente urbano assim como a luta contra a

supremacia dos interesses privados sobre a coletividade satildeo itens importantes quanto agrave

concretizaccedilatildeo desse importante instrumento que foi apresentado e defendido ao longo do

presente trabalho

58

7 CONCLUSAtildeO

Diante das anaacutelises apresentadas ao longo deste trabalho principalmente quanto

ao ordenamento juriacutedico brasileiro para a regulaccedilatildeo urbana e o desenvolvimento sustentaacutevel

ficou comprovada a existecircncia de um conjunto significativo de legislaccedilotildees capazes de

embasar uma transformaccedilatildeo das cidades brasileiras em territoacuterios democraacuteticos igualitaacuterios e

sustentaacuteveis Poreacutem a previsatildeo legal eacute apenas o iniacutecio de um longo caminho ateacute a

transformaccedilatildeo concreta da realidade Para se avanccedilar nesse caminho uma mudanccedila poliacutetica eacute

imprescindiacutevel uma vez que as decisotildees sobre o espaccedilo urbano e sua regulamentaccedilatildeo

dependem necessariamente do interesse do gestor urbano materializado na figura dos

prefeitos e governantes das diversas esferas administrativas

Em relaccedilatildeo ao municiacutepio de Ouro Preto foi identificado que embora haja um

conjunto significativo de diretrizes urbaniacutesticas contidas no Plano Diretor e na Lei de Uso e

Ocupaccedilatildeo do Solo estas ainda satildeo insuficientes para subsidiar um desenvolvimento local

pautado na responsabilidade ambiental e na qualidade do meio ambiente urbano Isso se deve

principalmente ao fato de natildeo haver um coacutedigo de obras e edificaccedilotildees e tambeacutem ao fato de

que as iniciativas de proteccedilatildeo ambiental tal como a Agenda 21 Local natildeo foram colocadas

em praacutetica Neste sentido em relaccedilatildeo ao processo legislativo conclui-se que haacute uma

defasagem na aplicaccedilatildeo dos instrumentos de planejamento municipal previstos no Estatuto da

Cidade principalmente o Plano Diretor Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo Agenda 21 Local e Coacutedigo

de Obras e Edificaccedilotildees Aleacutem disso faltam elementos de combate agrave especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e

instrumentos de regulaccedilatildeo do solo urbano como o IPTU progressivo regularizaccedilatildeo onerosa a

assistecircncia teacutecnica gratuita dentre outros instrumentos tributaacuterios e financeiros juriacutedicos e

poliacuteticos que infelizmente ainda natildeo satildeo aplicados no municiacutepio Nesse contexto os outros

instrumentos de planejamento tais como o plano plurianual orccedilamento participativo

programas setoriais e planos de desenvolvimento econocircmico e social embora natildeo configurem

instrumentos urbaniacutesticos se colocam como ferramentas aliadas da gestatildeo democraacutetica da

cidade e da reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais visto que o processo de mudanccedila eacute

essencialmente poliacutetico Nesse sentido eacute extremamente importante que esses instrumentos

sejam pautados na real participaccedilatildeo popular na inclusatildeo e na justiccedila social

Quanto agrave sustentabilidade no ambiente urbano identificou-se que a preservaccedilatildeo e

proteccedilatildeo patrimonial pautadas no conforto do usuaacuterio a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados

a melhoria da infraestrutura urbana a concretizaccedilatildeo de projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria

59

assim como a construccedilatildeo de habitaccedilatildeo social de qualidade satildeo questotildees fundamentais para a

transformaccedilatildeo das cidades em territoacuterios democraacuteticos e sustentaacuteveis Essas demandas estatildeo

diretamente ligadas agrave mudanccedila no paradigma do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

pois uma vez colocadas em praacutetica alteram significativamente a configuraccedilatildeo das cidades

influenciando no clima urbano e na qualidade ambiental

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de uma base de dados climaacuteticos relativos ao municiacutepio

a partir das Normais Climatoloacutegicas obtidas no periacuteodo entre 1976 e 1990 foi possiacutevel

caracterizar o clima de Ouro Preto como um clima de baixas temperaturas muito uacutemido

(umidade relativa praticamente sempre acima de 80) com alta nebulosidade (o que significa

que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou nublado) e com abundacircncia de chuvas

principalmente no veratildeo Foi tambeacutem identificada uma grande interferecircncia do efeito da

barreira orograacutefica provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta

que conforma o Morro Satildeo Sebastiatildeo o que aprofunda ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade

Para a elaboraccedilatildeo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais foram utilizados os

resultados do diagrama de Givoni das Tabelas de Mahoney e da NBR 15220 Assim para a

cidade de Ouro Preto concluiu-se que a arquitetura deve priorizar o ganho teacutermico

principalmente durante o inverno pois nessa estaccedilatildeo tem-se uma queda significativa das

temperaturas o que afeta consideravelmente o conforto do usuaacuterio Esse ganho teacutermico deve

ser pensado a partir da utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior

insolaccedilatildeo o que possibilita um melhor aproveitamento dessa radiaccedilatildeo solar que deve servir

para manter o ambiente aquecido durante a noite Quanto aos materiais internos estes devem

possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser devidamente

isoladas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente Em relaccedilatildeo ao veratildeo foi

identificada a necessidade de ventilaccedilatildeo cruzada para reduzir os efeitos das temperaturas

elevadas e da alta umidade aleacutem de envoltoacuterias bem protegidas das chuvas

Por fim quanto agrave elaboraccedilatildeo do coacutedigo de obras foi possiacutevel apontar a

necessidade de se estabelecer as diretrizes para os projetos e construccedilotildees a partir dos

paracircmetros das normas teacutecnicas brasileiras do desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas com

base nas praacuteticas locais da garantia da acessibilidade das edificaccedilotildees agrave populaccedilatildeo em geral

da consideraccedilatildeo dos paracircmetros climaacuteticos e da utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis Foi

abordada a necessidade de aproximaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos do coacutedigo de obras aos

padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees residenciais previstos no RTQ-R

60

(Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais INMETRO) aleacutem da necessidade de se construir um texto objetivo e didaacutetico

que possa ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e teacutecnicos da aacuterea quanto

pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees

61

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 15220 Desempenho

teacutermico de edificaccedilotildees Rio de Janeiro ABNT 2005

BAHIA S R GUEDES P de A Elaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de obras e

edificaccedilotildees 2ordfed Rio de janeiro IBAMDUMA ELETROBRAS PROCEL 2012

BARANDIER H ALMEIDA M C T MORAIS R Planejamento e Controle Ambiental

Urbano e a Eficiecircncia Energeacutetica Rio de Janeiro IBAMDUMA ELETROBRASPROCEL

2013

BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988

BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002

BRASIL Lei nordm 10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do Desenvolvimento

Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Pesquisa nacional para identificar os resultados de

implementaccedilatildeo de processos de agendas 21 locais Brasiacutelia 2009

CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS Tiacutetulo 24 Parte 8 California Historical

Building Code 1ordm Ed Washington 2007

CSABA D SUELI R S (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo Editora da

Universidade de Satildeo Paulo 1999

FERREIRA C SOUZA H A de ASSIS E S de Estudo do clima brasileiro reflexotildees e

recomendaccedilotildees sobre a adequaccedilatildeo climaacutetica de habitaccedilotildees In XV Encontro Nacional de

Tecnologia do Ambiente Construiacutedo Maceioacute 2014

FROTA A B SCHIFFER S R Manual de Conforto Teacutermico Satildeo Paulo Nobel 1995

IBGE Perfil dos municiacutepios brasileiros 2013 Brasiacutelia 2014

LAMBERTS R DUTRA L PEREIRA FO R Eficiecircncia Energeacutetica na Arquitetura 3ordfed

ELETROBRASPROCEL 2014

MENICONI R O A Construccedilatildeo de uma Cidade-Monumento o caso de Ouro Preto Belo

Horizonte Escola de Arquitetura e Urbanismo UFMG 1999 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OLIVEIRA L B Agenda 21 Local consolidando as bases para o desenvolvimento

sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escala UFOP 2010

62

OLIVEIRA M A Os valores culturais da paisagem urbana em Ouro Preto Um Estudo de

Caso das Aacutereas Verdes na Ladeira Santa Efigecircnia e Entorno Proacuteximo Salvador Mestrado em

Arquitetura e Urbanismo da UFBA 1997

OLIVEIRA M R S Gestatildeo Patrimonial em Ouro Preto Alcances e Limites das Poliacuteticas

Puacuteblicas Preservacionistas Campinas Poacutes ndash Graduaccedilatildeo em Geografia Anaacutelise Ambiental e

Dinacircmica Territorial da UNICAMP 2005 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OURO PRETO Lei complementar nordm 011996 Institui o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro

Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 022005 Estabelece a Estrutura Baacutesica e a

organizaccedilatildeo administrativa da Prefeitura Municipal de Ouro Preto e da outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 152006 Altera a Lei Complementar ndeg 021005

modifica a denominaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Turismo Induacutestria e Comeacutercio e da

Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio suas respectivas competecircncias e daacute outras

providecircncias de 27 de Abril de 2006

OURO PRETO Lei Complementar nordm 302006 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 28 de

Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei complementar nordm 912010 Altera a Lei Complementar nordm292006 que

estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 932011 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 20 de

Janeiro de 2011

OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996

OURO PRETO Lei complementar nordm292006 Estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de

Ouro Preto de 28 de Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei nordm 333 Dispotildee sobre o Programa da Agenda 21 Local de 11 de maio de

2007

OURO PRETO Lei nordm 5790 Dispotildee sobre as diretrizes baacutesicas do Plano Diretor do

Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Portaria 0292 Nomeia Comissatildeo Especial

OURO PRETO Portaria 1707 Nomeia Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos

Naturais e Agenda 21 Local

Page 8: POLYANA PEREIRA COELHO · 2019. 11. 14. · POLYANA PEREIRA COELHO A SUSTENTABILIDADE DO AMBIENTE URBANO E OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO MUNICIPAL: RECOMENDAÇÕES PARA UM CÓDIGO DE

7

A partir do exposto acima foi escolhido como caso de estudo o Municiacutepio de Ouro

Preto situado na Regiatildeo Central de Minas Gerais Com um conjunto urbano de

aproximadamente 300 anos a cidade de Ouro Preto estaacute entre os 19 bens brasileiros

considerados Patrimocircnio Cultural da Humanidade pela UNESCO e entre os 77 conjuntos

urbanos tombados pelo IPHAN

Estudar Ouro Preto portanto pressupotildee acrescentar um olhar preservacionista aos

apontamentos sobre a regulaccedilatildeo urbana e o desenvolvimento sustentaacutevel Dentro dessa

realidade faz-se necessaacuterio desenvolver uma interaccedilatildeo entre esses trecircs importantes aspectos da

poliacutetica urbana municipal preservaccedilatildeo regulaccedilatildeo e sustentabilidade

Sendo assim o objetivo geral da pesquisa consiste em analisar dentro do contexto

juriacutedico do municiacutepio de Ouro Preto as leis pertinentes agrave regulaccedilatildeo urbana a fim de avaliar a

aplicaccedilatildeo dos preceitos do Estatuto da Cidade Ademais o presente trabalho procura

identificar os principais entraves e barreiras que atualmente impedem que a expansatildeo da

cidade ocorra de forma vinculada agrave qualidade de vida dos cidadatildeos agrave proteccedilatildeo ambiental e

vinculada agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico

A partir da identificaccedilatildeo e contextualizaccedilatildeo das legislaccedilotildees municipais foram

abordadas algumas iniciativas de promoccedilatildeo da sustentabilidade a fim de avanccedilar na

construccedilatildeo de uma base de dados climaacuteticos do municiacutepio capaz de orientar a elaboraccedilatildeo de

condicionantes urbaniacutesticas e diretrizes construtivas comprometidas com a proteccedilatildeo do meio

ambiente e com as premissas do conforto ambiental Dentro do rol de legislaccedilotildees municipais

destacou-se um importante instrumento da regulaccedilatildeo urbana o Coacutedigo de Obras e

Edificaccedilotildees Foram abordados na pesquisa aspectos importantes quanto agrave elaboraccedilatildeo e

atualizaccedilatildeo deste instrumento como por exemplo a incorporaccedilatildeo dos criteacuterios de

sustentabilidade a fim de elevar a qualidade das edificaccedilotildees e garantir o conforto do usuaacuterio

Para a anaacutelise do clima da cidade de Ouro Preto foram utilizados o diagrama de

Givoni as Tabelas de Mahoney aleacutem da NBR 15220 parte 3 A sistematizaccedilatildeo dos resultados

dessas trecircs ferramentas possibilitou a interpretaccedilatildeo das variaacuteveis climaacuteticas o que eacute

fundamental para a formulaccedilatildeo de recomendaccedilotildees arquitetocircnicas Tal resultado embasou o

apontamento global apresentado no uacuteltimo capiacutetulo quanto agraves principais recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas e agraves estrateacutegias prioritaacuterias de promoccedilatildeo do conforto ambiental

O trabalho deveraacute contribuir com os estudos que estatildeo sendo elaborados pelas

equipes teacutecnicas locais e com a conformaccedilatildeo de um pensamento criacutetico a cerca das poliacuteticas

puacuteblicas de promoccedilatildeo da sustentabilidade da regulaccedilatildeo urbana e da proteccedilatildeo patrimonial

8

2 O ESTATUTO DA CIDADE E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL

O iniacutecio do seacuteculo XXI podemos dizer foi marcado por uma mudanccedila qualitativa

no tocante ao Planejamento Urbano Brasileiro O Estatuto da Cidade Lei nordm 10257 foi

aprovado pelo Congresso Nacional em 2001 e representou uma grande vitoacuteria nos marcos do

planejamento urbano pois vinha sendo reivindicado pelos movimentos sociais de luta pela

reforma urbana desde a deacutecada de 1980 O Estatuto da Cidade veio regulamentar o Capiacutetulo II

da Constituiccedilatildeo Federal capiacutetulo este que trata da Poliacutetica Urbana composto pelos artigos

182 e 183 que ressaltam dentre outros aspectos como a poliacutetica de desenvolvimento urbano

deve estar diretamente associada agrave funccedilatildeo social da cidade e da propriedade urbana A

aprovaccedilatildeo desta lei significaria uma mudanccedila qualitativa nos marcos juriacutedico e institucional

dos municiacutepios por articular instrumentos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria habitaccedilatildeo saneamento

mobilidade e de gestatildeo de resiacuteduos aleacutem de introduzir o equiliacutebrio ambiental como item

essencial ao desenvolvimento urbano sustentaacutevel No Capiacutetulo 01 do Estatuto ndash Diretrizes

Gerais o primeiro artigo diz o seguinte

Art 1ordm Na execuccedilatildeo da poliacutetica urbana de que tratam os artigos 182 e 183 da

Constituiccedilatildeo Federal seraacute aplicado o previsto nesta Lei [] Paraacutegrafo uacutenico Para

todos os efeitos esta Lei denominada Estatuto da Cidade estabelece normas de

ordem puacuteblica e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol

do bem coletivo da seguranccedila e do bem-estar dos cidadatildeos bem como do equiliacutebrio

ambiental (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

O texto do Estatuto da Cidade tratou portanto de incorporar ao conjunto de

diretrizes da poliacutetica urbana o equiliacutebrio ambiental como um novo conceito como uma

demanda essencial ao desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis conforme estaacute disposto no

capiacutetulo introdutoacuterio da supracitada Lei

Contudo mesmo jaacute estando consolidado haacute mais de uma deacutecada o desafio

colocado pelo Estatuto da Cidade tem se aprofundado a cada dia A retirada de mateacuteria-prima

da natureza a exploraccedilatildeo de recursos energeacuteticos a demanda por aacutegua potaacutevel e por

alimentos assim como a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos satildeo intensificadas com o passar dos

anos e com o crescimento exponencial das cidades Nas grandes metroacutepoles o problema

ambiental jaacute alcanccedilou o alerta vermelho quanto agrave gravidade da situaccedilatildeo a poluiccedilatildeo a

impermeabilizaccedilatildeo dos solos a falta de vegetaccedilatildeo e de barreiras geograacuteficas naturais tecircm

provocado inuacutemeros danos ao meio ambiente urbano que sofre com a falta de chuva ou com o

excesso dela com a draacutestica alteraccedilatildeo do microclima e com a formaccedilatildeo de ilhas de calor cada

dia mais agressivas ao bem-estar da populaccedilatildeo

9

Nos municiacutepios menores embora os problemas ambientais sejam percebidos com

menor intensidade a poliacutetica urbana tambeacutem estaacute voltada para a exploraccedilatildeo e esgotamento

dos recursos naturais Natildeo haacute uma poliacutetica efetiva de proteccedilatildeo das aacutereas de risco das aacutereas de

proteccedilatildeo permanente assim como natildeo haacute saneamento baacutesico em toda a aacuterea urbana Soma-se

a esses problemas a falta de estaccedilotildees de tratamento de efluentes que resulta na utilizaccedilatildeo dos

cursos drsquoaacutegua como canais de esgotamento sanitaacuterio e consequentemente na contaminaccedilatildeo

dos recursos hiacutedricos de toda uma regiatildeo

A partir desses elementos evidencia-se que a promulgaccedilatildeo do Estatuto da Cidade

apesar do avanccedilo representado natildeo conseguiu resolver por si soacute os inuacutemeros problemas

ambientais urbanos que afetam agraves cidades brasileiras Tais problemas estatildeo diretamente

vinculados aos paracircmetros de parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo padrotildees construtivos e

padrotildees ediliacutecios das cidades definidos pela legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal quando

existente Os municiacutepios encontram enorme dificuldade em aplicar os preceitos do Estatuto

por falta de uma legislaccedilatildeo urbana forte aprimorada e atualizada que possa contemplar todos

os aspectos de uma regulaccedilatildeo urbana voltada para a sustentabilidade e para o bem-estar

coletivo

Eacute neste cenaacuterio que entram em cena os instrumentos da poliacutetica urbana previstos

no Capiacutetulo II do Estatuto da Cidade organizados em seis categorias que satildeo

I ndash planos nacionais regionais e estaduais de ordenaccedilatildeo do territoacuterio e de

desenvolvimento econocircmico e social

II ndash planejamento das regiotildees metropolitanas aglomeraccedilotildees urbanas e

microrregiotildees

III ndash planejamento municipal

IV ndash institutos tributaacuterios e financeiros

V ndash institutos juriacutedicos e poliacuteticos

VI ndash estudo preacutevio de impacto ambiental (EIA) e estudo preacutevio de impacto de

vizinhanccedila (EIV) (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho

2001)

As categorias III - planejamento municipal IV - institutos tributaacuterios e financeiros

e V - instrumentos juriacutedicos e poliacuteticos se desdobram em outros variados instrumentos que

associados e devidamente estabelecidos por lei especiacutefica serviratildeo de base para que os

municiacutepios avancem na construccedilatildeo de um ambiente urbano equilibrado inclusivo e

sustentaacutevel Destaca-se nesse quadro de instrumentos dentro da categoria ldquoplanejamento

municipalrdquo o Plano Diretor que constituindo o ldquoinstrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e expansatildeo urbanardquo possibilitaraacute para aleacutem da ordenaccedilatildeo do solo a

articulaccedilatildeo com outros processos de planejamento na esfera municipal Tal instrumento seraacute

melhor abordado no proacuteximo capiacutetulo

10

Apresentados os processos de planejamento e os instrumentos da poliacutetica urbana

trazidos pelo Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio avanccedilar no entendimento da

sustentabilidade enquanto conceito uma vez que esta passaraacute a compor um corpo uacutenico com o

que vier a se entender por ldquodesenvolvimentordquo

A preocupaccedilatildeo com o ordenamento juriacutedico de proteccedilatildeo e defesa do meio

ambiente se materializou no Brasil inicialmente em 1981 a partir da promulgaccedilatildeo da Lei

6938 que instituiu a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente O SISNAMA Sistema Nacional

do Meio Ambiente reuniu os oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Direta - Uniatildeo Estados

DF e Municiacutepios - responsaacuteveis pela proteccedilatildeo e melhoria da qualidade ambiental

Em 2002 a construccedilatildeo da Agenda 21 Brasileira buscou associar o conceito de

sustentabilidade agraves poliacuteticas de desenvolvimento urbano As Agendas Nacionais foram

desenvolvidas a partir da Agenda 21 Global Esta uacuteltima resultou das discussotildees realizadas na

Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD)

mais conhecida como Rio 92 A Agenda 21 consiste em um programa de accedilatildeo voltado para a

aplicaccedilatildeo de meacutetodos de proteccedilatildeo ambiental justiccedila social e eficiecircncia econocircmica Eacute um

documento de 40 capiacutetulos com mais de 2500 recomendaccedilotildees praacuteticas e foi assinado por 179

paiacuteses formalizando o compromisso dessas naccedilotildees com o Desenvolvimento Sustentaacutevel do

Planeta Instrumento de planejamento participativo a Agenda 21 deve ser um resultado de

accedilotildees que congreguem governo e sociedade civil e por isso eacute um instrumento aliado das novas

frentes de trabalho inauguradas pelo Estatuto da Cidade A partir dos trechos a seguir

retirados respectivamente da Agenda 21 e do Estatuto da Cidade pode-se perceber a afinidade

nas pretensotildees dos dois Instrumentos de Planejamento

71 Nos paiacuteses industrializados os padrotildees de consumo das cidades representam

uma pressatildeo muito seacuteria sobre o ecossistema global ao passo que no mundo em

desenvolvimento os assentamentos humanos necessitam de mais mateacuteria-prima

energia e desenvolvimento econocircmico simplesmente para superar seus problemas

econocircmicos e sociais baacutesicos Em muitas regiotildees do mundo em especial nos paiacuteses

em desenvolvimento as condiccedilotildees dos assentamentos humanos vecircm se

deteriorando sobretudo em decorrecircncia do baixo volume de investimentos no setor

imputaacutevel agraves restriccedilotildees relativas a recursos com que esses paiacuteses se deparam em

todas as aacutereas Nos paiacuteses de baixa renda sobre os quais haacute dados recentes apenas

56 por cento do orccedilamento do Governo central em meacutedia foram dedicados a

habitaccedilatildeo lazer seguridade social e bem-estar social [] Objetivo 78 O objetivo eacute

oferecer habitaccedilatildeo adequada a populaccedilotildees em raacutepido crescimento e aos pobres

atualmente carentes tanto de aacutereas rurais como urbanas por meio de uma

abordagem que possibilite o desenvolvimento e a melhoria de condiccedilotildees de moradia

ambientalmente saudaacuteveis (AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do

Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992)

11

Estatuto da Cidade Capiacutetulo 1 ndash Diretrizes Gerais Art 2ordm A poliacutetica urbana tem por

objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e da

propriedade urbana mediante as seguintes diretrizes gerais I ndash garantia do direito a

cidades sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao

saneamento ambiental agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos

puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para as presentes e futuras geraccedilotildees [] Art 3ordm

Compete agrave Uniatildeo entre outras atribuiccedilotildees de interesse da poliacutetica urbana IV -

instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano inclusive habitaccedilatildeo saneamento

baacutesico transportes urbanos e infraestrutura de energia e telecomunicaccedilotildees

(BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

O texto da Agenda 21 mais especificamente o Preacircmbulo enfatiza que o sucesso

na aplicaccedilatildeo desse plano de accedilatildeo depende primeiramente do comprometimento dos governos

com a preparaccedilatildeo de estrateacutegias planos poliacuteticas e processos nacionais para a concretizaccedilatildeo

dos objetivos estabelecidos

A Agenda 21 Brasileira foi desenvolvida no periacuteodo de 1996 a 2002 e teve como

eixo a sustentabilidade a partir da compatibilizaccedilatildeo entre conservaccedilatildeo ambiental justiccedila

social e crescimento econocircmico

Ao aprofundar-se na elaboraccedilatildeo de diretrizes para problemas de ordem estrutural

a Agenda 21 Brasileira foi elevada a programa dentro do Plano Plurianual de Governo (entre

2004 e 2007)1 o que daria maior forccedila poliacutetica e institucional agrave Agenda Sendo assim a partir

de soluccedilotildees integradas planejadas a meacutedio e longo prazos e a partir da associaccedilatildeo entre

governo e sociedade seria possiacutevel tratar de questotildees como ldquoeconomia da poupanccedila na

sociedade do conhecimento inclusatildeo social para uma sociedade solidaacuteria estrateacutegia para a

sustentabilidade urbana e rural recursos naturais estrateacutegicos governanccedila e eacutetica para a

promoccedilatildeo da sustentabilidaderdquo (AGENDA 21 BRASILEIRA 2004 p04) O Programa foi

estruturado em trecircs accedilotildees implementar a Agenda 21 Brasileira promover a elaboraccedilatildeo e

implementaccedilatildeo de Agendas 21 Locais e formaccedilatildeo continuada em Agenda 21

Vale destacar a importacircncia da Agenda 21 Local enquanto instrumento

complementar aos instrumentos da poliacutetica municipal de desenvolvimento urbano

A Agenda 21 Local eacute um dos principais instrumentos para se conduzir processos de

mobilizaccedilatildeo troca de informaccedilotildees geraccedilatildeo de consensos em torno dos problemas e

1 Importante destacar que ldquoO Plano Plurianual (PPA) eacute um instrumento previsto no art 165 da Constituiccedilatildeo

Federal destinado a organizar e viabilizar a accedilatildeo puacuteblica com vistas a cumprir os fundamentos e os objetivos da

Repuacuteblica Por meio dele eacute declarado o conjunto das poliacuteticas puacuteblicas do governo para um periacuteodo de quatro

anos e os caminhos trilhados para viabilizar as metas previstas construindo um Brasil melhorrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwmpgovbrministerioaspindex=10ampler=s1086gt Acesso em 06 jun 2015 O Plano Plurianual

referente ao periacuteodo 2004 ndash 2007 foi regulamentado pela Lei Nordm 10933 de 2004 sancionada pelo entatildeo

Presidente Luiacutez Inaacutecio Lula da Silva

12

soluccedilotildees locais e estabelecimento de prioridades para a gestatildeo de desde um estado

municiacutepio bacia hidrograacutefica unidade de conservaccedilatildeo ateacute um bairro uma escola O

processo deve ser articulado com outros projetos programas e atividades do governo

e sociedade sendo consolidado dentre outros a partir do envolvimento dos agentes

regionais e locais anaacutelise identificaccedilatildeo e promoccedilatildeo de instrumentos financeiros

difusatildeo e intercacircmbio de experiecircncias definiccedilatildeo de indicadores de desempenho

(AGENDA 21 Brasileira accedilotildees prioritaacuteriasComissatildeo de Poliacuteticas de

Desenvolvimento Sustentaacutevel e da Agenda 21 Nacional 2 ed Brasiacutelia Ministeacuterio

do Meio Ambiente 2004)

Desde entatildeo o esforccedilo em fomentar a construccedilatildeo das Agendas 21 Locais gerou

um resultado positivo embora muito aqueacutem do necessaacuterio para uma mudanccedila substancial nas

poliacuteticas em prol do desenvolvimento sustentaacutevel Em 2013 apenas 215 dos municiacutepios

brasileiros possuiacuteam processos em andamento relativos agrave Agenda 21 conforme foi

identificado pela IBGE a partir da Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros (MUNIC

2013) 2 Tal percentual apesar da pouca expressividade demarca um processo positivo de

mudanccedila tendo em vista que nos dados dos anos anteriores observava-se percentuais ainda

menores aleacutem de um processo de decliacutenio em 2009 a pesquisa indicou que 199 dos

municiacutepios haviam iniciado a elaboraccedilatildeo da agenda 21 enquanto em 2012 o percentual

baixou para 181

Nota-se ante ao exposto ateacute aqui que existe um arcabouccedilo legal significativo em

prol do desenvolvimento urbano sustentaacutevel Contudo a aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo existente e a

obtenccedilatildeo de resultados positivos estatildeo longe de se tornar uma realidade no Brasil Sendo

assim faz-se necessaacuterio reforccedilar a cada dia os compromissos estabelecidos nas Leis

Brasileiras e trabalhar na efetivaccedilatildeo dos instrumentos de promoccedilatildeo do equiliacutebrio ambiental a

partir da aplicaccedilatildeo das premissas da sustentabilidade Atingir o desenvolvimento urbano

sustentaacutevel natildeo eacute somente uma das opccedilotildees mas a uacutenica opccedilatildeo existente se quisermos que o

planeta tenha vida longa Preservar o meio ambiente deve ser uma accedilatildeo constante associada a

todas agraves demais poliacuteticas puacuteblicas Quanto agrave iniciativa privada esta deveraacute ser

permanentemente fiscalizada Regulamentar as atividades de exploraccedilatildeo da natureza e buscar

a inibiccedilatildeo severa de atividades de impacto ambiental satildeo tarefas urgentes que o Poder Puacuteblico

deve assimilar o quanto antes

2 Ressalta-se que ldquoA Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais ndash MUNIC eacute realizada desde o ano de 1999

pelo IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Na versatildeo de 2013 foram destacados os aspectos

relevantes da gestatildeo e da estrutura dos 5570 municiacutepios brasileiros a partir dos seguintes eixos perfil dos

gestores municipais recursos humanos das administraccedilotildees municipais legislaccedilatildeo e instrumentos de

planejamento sauacutede meio ambiente poliacutetica de gecircnero ndash temas jaacute investigados em anos anteriores ndash aleacutem de

gestatildeo de riscos e resposta a desastres este ineacutedito ateacute entatildeordquo Disponiacutevel em

lthttpwwwibgegovbrhomeestatisticaeconomiaperfilmunic2013defaultshtmgt Acesso em 06 jun 2015)

13

Somente com a permanente preocupaccedilatildeo do Estado para com o tema seraacute

possiacutevel consolidar o desenvolvimento urbano a partir da aplicaccedilatildeo das premissas da

sustentabilidade do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

14

3 O PLANO DIRETOR E OS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO

MUNICIPAL

Para introduzir a discussatildeo do Plano Diretor e demais instrumentos de

planejamento municipal previstos no Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio retomar o momento

da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 com destaque para o Art30 que determina as tarefas de

competecircncia dos Municiacutepios Dentre tais competecircncias destacam-se os incisos VIII e IX

diretamente relacionados ao planejamento urbano

Art 30 Compete aos Municiacutepios [] VIII - promover no que couber adequado

ordenamento territorial mediante planejamento e controle do uso do parcelamento e

da ocupaccedilatildeo do solo urbano IX - promover a proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-

cultural local observada a legislaccedilatildeo e a accedilatildeo fiscalizadora federal e estadual

(BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de

1988)

Aleacutem de delimitar as competecircncias municipais a Constituiccedilatildeo tambeacutem apontou

no Art182 do Capiacutetulo II o Plano Diretor - velho conhecido dos Teacutecnicos e Governantes -

como principal instrumento a ser utilizado pelos Municiacutepios no desenvolvimento da poliacutetica

urbana

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo Poder Puacuteblico

municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem por objetivo ordenar o

pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus

habitantes sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio para

cidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e de expansatildeo urbana sect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua

funccedilatildeo social quando atende agraves exigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade

expressas no plano diretor (BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do

Brasil de 5 de outubro de 1988)

Contudo tal instrumento natildeo representou uma novidade A expressatildeo Plano

Diretor foi utilizada pela primeira vez no Brasil em 1930 a partir do Plano Agache3

desenvolvido para o Rio de Janeiro Posteriormente foram desenvolvidos planos diretores em

todo o territoacuterio brasileiro planos estes que ficariam engavetados por falta de vontade

3 Nota-se que ldquoO Plano Agache foi a primeira proposta de intervenccedilatildeo urbaniacutestica na cidade do Rio de Janeiro

com preocupaccedilotildees genuinamente modernas Concluiacutedo em 1930 introduziu no cenaacuterio nacional algumas

questotildees tiacutepicas da cidade industrial tais como o planejamento do transporte de massas e do abastecimento de

aacuteguas a habitaccedilatildeo operaacuteria e o crescimento das favelas Aleacutem disso com discussotildees emergentes que iam desde a

necessidade de um zoneamento para a cidade ateacute a delimitaccedilatildeo de aacutereas verdes ultrapassou os limites do

Academicismo das intervenccedilotildees predecessoras de Pereira Passos e Paulo de Frontinrdquo Disponiacutevel em

lthttpplanourbanoriorjgovbrgt Acesso em 06 de jun 2015

15

poliacutetica A nomenclatura e o conteuacutedo dos planos diretores variaram com o passar dos anos

segundo Villaccedila

Por fim cabe abordar historicamente as jaacute mencionadas mudanccedilas na nomenclatura

nas formas nos conteuacutedos e nas metodologias dos planos Em primeiro lugar cai em

desuso a expressatildeo plano de melhoramentos e embelezamento e entra em cena a

expressatildeo urbanismo Depois esta cai em desuso sendo substituiacuteda por

planejamento urbano e plano diretor Em segundo lugar os conteuacutedos e

metodologias de elaboraccedilatildeo dos planos sofrem alteraccedilotildees radicais De enormes

volumes com centenas de paacuteginas recheados de mapas pesquisas e estatiacutesticas

elaborados por equipes multidisciplinares e abordando enorme leque de problemas

transformam-se em meros projetos de lei agraves vezes contendo apenas declaraccedilotildees de

princiacutepios poliacuteticas ou diretrizes gerais agraves vezes ateacute sem mapas ou com poucos

mapas Um simples projeto de lei publicado no Diaacuterio Oficial (CSABA Deaacutek

SUELI Ramos Schiffer (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo

Editora da Universidade de Satildeo Paulo 1999 p191)

A realidade eacute que os planos diretores desenvolvidos no Brasil entre as deacutecadas de

1940 e 1990 natildeo correspondiam ao pensamento dos governantes e das classes dominantes e

por isso natildeo contaram com intenccedilatildeo real de aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo Os objetivos apontados

natildeo seriam atingidos pois o Plano Diretor natildeo se tornara uma prioridade em nenhuma das

esferas administrativas do paiacutes

O ressurgimento do instrumento Plano Diretor em 1988 embora isento de grandes

novidades veio acompanhado da premissa da funccedilatildeo social da propriedade um aspecto

positivo e inovador da poliacutetica urbana poreacutem praticamente inviaacutevel de ser aplicado num

primeiro momento pelos obstaacuteculos constantes na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal Contudo

diante da pressatildeo dos movimentos sociais e populares que se fortaleceram durante o processo

de redemocratizaccedilatildeo tais planos foram se tornando mais politizados abordando aspectos

especiacuteficos da competecircncia municipal e tratando das polecircmicas voltadas para o territoacuterio

inclusive sobre a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria no espaccedilo urbano

Em 2001 a poliacutetica urbana foi regulamentada pela Lei 10257 - Estatuto da

Cidade ndash devidamente apresentada no capiacutetulo anterior Com uma abordagem democraacutetico-

participativa voltada para os interesses coletivos tal lei possibilitou uma mudanccedila expressiva

no planejamento urbano principalmente na esfera municipal

O Plano Diretor Participativo como seraacute chamado a partir de entatildeo se torna o

principal dentre outros sete instrumentos de planejamento municipal expressos no Art 4ordm

inciso III da Lei 10257

Art 4o Para os fins desta Lei seratildeo utilizados entre outros instrumentos [] III ndash

planejamento municipal em especial a) plano diretor b) disciplina do

parcelamento do uso e da ocupaccedilatildeo do solo c) zoneamento ambiental d) plano

plurianual e) diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual f) gestatildeo orccedilamentaacuteria

16

participativa g) planos programas e projetos setoriais h) planos de

desenvolvimento econocircmico e social (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade

de 10 de julho 2001)

O conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelos planos diretores foi estabelecido na

resoluccedilatildeo nordm34 de 01 de julho de 2005 pelo Conselho das Cidades A tal conselho

regulamentado pelo Decreto 5031 2004 competia emitir orientaccedilotildees e recomendaccedilotildees sobre

a aplicaccedilatildeo da Lei 10257 de 2001 (Estatuto da Cidade) e dos demais atos normativos

relacionados ao desenvolvimento urbano A inclusatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel das

cidades nas novas diretrizes da poliacutetica urbana teraacute no plano diretor a sua expressatildeo

fundamental Dentre o conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelo Plano Diretor Participativo

merece destaque o Art 2ordm inciso III aleacutem do Art 5ordm inciso VII do Estatuto da Cidade

Art 2deg As funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade urbana seratildeo definidas a partir

da destinaccedilatildeo de cada porccedilatildeo do territoacuterio do municiacutepio bem como da identificaccedilatildeo

dos imoacuteveis natildeo edificados subutilizados e natildeo utilizados no caso de sua existecircncia

de forma a garantir [] III - a universalizaccedilatildeo do acesso aacute aacutegua potaacutevel aos

serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio a coleta e disposiccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos e ao

manejo sustentaacutevel das aacuteguas pluviais de forma integrada aacutes poliacuteticas ambientais de

recursos hiacutedricos e de sauacutede [] Art 5deg A instituiccedilatildeo das Zonas Especiais

considerando o interesse local deveraacute [] VII - demarcar as aacutereas de proteccedilatildeo

preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e construiacutedo do patrimocircnio

cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico (BRASIL Lei nordm10257

Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

Ao estabelecer as diretrizes de ordenaccedilatildeo do solo o Plano Diretor estabelece que

a propriedade urbana deve servir agrave qualidade de vida dos cidadatildeos agrave justiccedila social e ao

desenvolvimento sustentaacutevel das atividades econocircmicas A referecircncia territorial que estrutura

as estrateacutegias definidas pelo Plano Diretor eacute o macrozoneamento Este subdivide o territoacuterio

municipal a partir da identificaccedilatildeo das potencialidades e das caracteriacutesticas de cada aacuterea Satildeo

algumas categorias utilizadas na definiccedilatildeo do macrozoneamento aacutereas aptas agrave urbanizaccedilatildeo

aacutereas propiacutecias ao desenvolvimento de atividades rurais aacutereas de preservaccedilatildeo e aacutereas de

exploraccedilatildeo econocircmica Aleacutem da definiccedilatildeo de intenccedilotildees para os vetores do territoacuterio

municipal o macrozoneamento define tambeacutem o periacutemetro urbano e as zonas de expansatildeo

urbana enquanto instrumentos de direcionamento da urbanizaccedilatildeo da gestatildeo ambiental e do

crescimento econocircmico A delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano deve ser feita a partir de planta

referenciada com clara indicaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e fiacutesicos limiacutetrofes e deve servir

para direcionar o adensamento populacional para as aacutereas providas de infraestrutura

garantindo a proteccedilatildeo das aacutereas de interesse ambiental e a reserva de aacutereas para produccedilatildeo

agriacutecola e ocupaccedilatildeo rural A alteraccedilatildeo de tal periacutemetro conforme previsto no Art42B do

17

Estatuto da Cidade deveraacute instituiacuteda por lei municipal e deve ser resultado de projeto

especiacutefico que contemple o conteuacutedo miacutenimo e que atenda agraves diretrizes do Plano Diretor

O segundo instrumento de planejamento municipal apresentado no Art 4ordm do

Estatuto da Cidade o parcelamento o uso e a ocupaccedilatildeo do solo eacute tambeacutem um importante

instrumento para a concretizaccedilatildeo dos preceitos da sustentabilidade do ambiente urbano A

Legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal definiraacute o zoneamento da aacuterea urbana Tal zoneamento

responsaacutevel pela subdivisatildeo do periacutemetro urbano em diferentes categorias eacute o principal

instrumento da regulaccedilatildeo urbana A definiccedilatildeo das categorias deveraacute ser pautada pelo melhor

aproveitamento e pela ampliaccedilatildeo do acesso agrave terra urbanizada O zoneamento orienta o

ordenamento urbano a partir das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo do solo definindo os paracircmetros

urbaniacutesticos - coeficiente de aproveitamento taxa de ocupaccedilatildeo afastamentos gabaritos - de

forma que os projetos de edificaccedilotildees e demais intervenccedilotildees mantenham uma densidade de

ocupaccedilatildeo que favoreccedila o conforto ambiental urbano Dentre os criteacuterios para a definiccedilatildeo dos

diferentes paracircmetros urbaniacutesticos que incidem sobre o territoacuterio estatildeo proteccedilatildeo das aacutereas

ambientalmente fraacutegeis adensamento de aacutereas providas de infraestrutura limitaccedilatildeo de usos a

partir da capacidade viaacuteria controle da permeabilidade do solo preservaccedilatildeo e proteccedilatildeo de

conjuntos de valor histoacuterico cultural ou ambiental distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo de baixa renda

em aacutereas bem localizadas e servidas de infraestrutura condiccedilotildees climaacuteticas locais

As diretrizes para o parcelamento geralmente compoem junto com os paracircmetros

urbaniacutesticos a mesma lei municipal O parcelamento merece destaque pois trata dos novos

espaccedilos que seratildeo incorporados ao tecido urbano da cidade e portanto deveraacute estar

integralmente articulado com as estrateacutegias do desenvolvimento urbano Eacute regulamentado em

acircmbito geral pela Lei Federal 676679 acrescida das alteraccedilotildees posteriores definidas nas leis

978599 e 1144507 O parcelamento configura um processo de expansatildeo horizontal ou

adensamento da aacuterea urbanizada e consiste na subdivisatildeo de um determinado imoacutevel sob as

formas de desmembramento (quando haacute o aproveitamento do sistema viaacuterio existente) ou

loteamento (quando haacute abertura de novas vias e logradouros ou modificaccedilatildeo dos existentes)

Deveratildeo ser contempladas na Lei de Parcelamento as aacutereas que natildeo admitiratildeo parcelamento

os paracircmetros de dimensionamento de lotes quadras e sistema viaacuterio as aacutereas de uso puacuteblico

as faixas de proteccedilatildeo a infraestrutura baacutesica os procedimentos administrativos para

aprovaccedilatildeo do projeto as contrapartidas do empreendedor as penalidades sobre infraccedilotildees

assim como os procedimentos para regularizaccedilatildeo das aacutereas em desconformidade com a Lei

Paracircmetros de conforto ambiental tais como ventos favoraacuteveis orientaccedilatildeo solar vegetaccedilatildeo

18

sistema de abastecimento de aacutegua sistema de esgotamento sanitaacuterio e sistema de drenagem

devem ser definidos em lei e cobrados nos projetos de parcelamento a fim de minimizar os

impactos ao meio ambiente

Vale destacar que o sucesso na elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo das Leis de Parcelamento

Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo depende primeiramente do comprometimento da gestatildeo municipal

com a democratizaccedilatildeo da cidade e com o bem-estar coletivo caso contraacuterio tal legislaccedilatildeo

poderaacute aprofundar a segregaccedilatildeo privilegiando a iniciativa privada a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria

e os interesses individuais

O zoneamento ambiental terceiro instrumento de planejamento municipal

apontado na lista do Art 4ordm do Estatuto da Cidade eacute tambeacutem um instrumento da Poliacutetica

Nacional do Meio Ambiente regida pela Lei 693881 Art 9ordm O zoneamento ambiental pode

ser considerado uma expressatildeo sinocircnima do Zoneamento Ecoloacutegico-Econocircmico ndash ZEE que

foi regulamentado pelo Decreto 429702

CAPITULO I - DOS OBJETIVOS E PRINCIacutePIOS ndash [] Art 2ordm O ZEE

instrumento de organizaccedilatildeo do territoacuterio a ser obrigatoriamente seguido na

implantaccedilatildeo de planos obras e atividades puacuteblicas e privadas estabelece medidas e

padrotildees de proteccedilatildeo ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental dos

recursos hiacutedricos e do solo e a conservaccedilatildeo da biodiversidade garantindo o

desenvolvimento sustentaacutevel e a melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo

Art 3ordm O ZEE tem por objetivo geral organizar de forma vinculada as decisotildees dos

agentes puacuteblicos e privados quanto a planos programas projetos e atividades que

direta ou indiretamente utilizem recursos naturais assegurando a plena manutenccedilatildeo

do capital e dos serviccedilos ambientais dos ecossistemas Paraacutegrafo uacutenico O ZEE na

distribuiccedilatildeo espacial das atividades econocircmicas levaraacute em conta a importacircncia

ecoloacutegica as limitaccedilotildees e as fragilidades dos ecossistemas estabelecendo vedaccedilotildees

restriccedilotildees e alternativas de exploraccedilatildeo do territoacuterio e determinando quando for o

caso inclusive a relocalizaccedilatildeo de atividades incompatiacuteveis com suas diretrizes

gerais (BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002)

O zoneamento ambiental ou ZEE eacute o instrumento que possibilita traccedilar um

panorama sobre a utilizaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais de um determinado

municiacutepio gerando as bases para um planejamento urbano comprometido com a

sustentabilidade ecoloacutegica econocircmica e social Tambeacutem eacute um instrumento de caraacuteter

democraacutetico-participativo e deve portanto ser acompanhado pela Administraccedilatildeo Puacuteblica em

seus diferentes niacuteveis e pela sociedade civil Tal instrumento assim como o zoneamento

urbano divide o territoacuterio em diferentes categorias As categorias do zoneamento ambiental

satildeo definidas a partir dos princiacutepios da utilidade e da simplicidade de forma a configurar

limites claros e compreensiacuteveis ao poder puacuteblico e aos cidadatildeos As diretrizes gerais e

especiacuteficas do zoneamento deveratildeo conter a capacidade de suporte ambiental de determinada

aacuterea a necessidade de proteccedilatildeo dos recursos renovaacuteveis e natildeo-renovaacuteveis a definiccedilatildeo de aacutereas

19

para unidades de conservaccedilatildeo integral a permissatildeo para exploraccedilatildeo de recursos naturais as

medidas para o desenvolvimento sustentaacutevel do setor rural medidas de ajustamento entre usos

conflitantes aleacutem de planos programas e fonte de recursos para viabilizar as atividades

apontadas para cada zona

Apesar de ser um importante instrumento de suporte agrave proteccedilatildeo do meio ambiente

o zoneamento ambiental ou ZEE ainda tem sido pouco utilizado pelos municiacutepios brasileiros

Contudo os dados da Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais (MUNIC 2013)

demonstraram que tem havido um crescimento do percentual de municiacutepios com legislaccedilatildeo

especiacutefica sobre a questatildeo ambiental o que traz um pouco de esperanccedila quanto agrave mudanccedila

dos paradigmas de proteccedilatildeo do meio ambiente A MUNIC 2013 apontou que em 2012

554 dos municiacutepios tinham legislaccedilatildeo ambiental jaacute em 2013 esse percentual subiu para

655

Por uacuteltimo os demais instrumentos de planejamento municipal apontados no Art

4ordm do Estatuto da Cidade - plano plurianual diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual

gestatildeo orccedilamentaacuteria participativa planos programas e projetos setoriais planos de

desenvolvimento econocircmico e social ndash tratariam de garantir a gestatildeo democraacutetica da cidade a

partir da realizaccedilatildeo de debates audiecircncias e consultas puacuteblicas como condiccedilatildeo para a

aprovaccedilatildeo das Leis Municipais Tais instrumentos apesar de natildeo-urbaniacutesticos tecircm uma

importacircncia decisiva na reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais Contudo embora tenham se

efetivado na maioria dos municiacutepios brasileiros ainda permanecem em sua maioria

mergulhados na velha poliacutetica clientelista que transforma os foacuteruns de participaccedilatildeo em

espaccedilos esvaziados pouco divulgados redutos de manobras poliacuteticas e trocas de favores

Infelizmente a garantia da gestatildeo democraacutetica natildeo seraacute alcanccedilada apenas por atos normativos

assim como as diretrizes estabelecidas para o desenvolvimento urbano sustentaacutevel tambeacutem

natildeo ser tornaratildeo realidade apenas por forccedila de Lei Eacute necessaacuterio mudar o caraacuteter da gestatildeo do

territoacuterio que atualmente se caracteriza pela anulaccedilatildeo da atuaccedilatildeo teacutecnica das diferentes aacutereas

do conhecimento a fim de garantir que o interesse privado prevaleccedila sobre os diretos coletivos

de toda uma cidade Eacute necessaacuterio colocar em praacutetica os preceitos das leis brasileiras efetivar

os instrumentos com real participaccedilatildeo popular lanccedilar as bases para um modelo de gestatildeo

realmente democraacutetico inclusivo e comprometido com o bem estar coletivo e com a justiccedila

social

20

4 OS DESAFIOS DA REGULACcedilAtildeO URBANA FRENTE AgraveS INTERVENCcedilOtildeES NAS

EDIFICACcedilOtildeES E NOS CONJUNTOS URBANOS TOMBADOS

A proteccedilatildeo e a preservaccedilatildeo dos siacutetios urbanos de valor histoacuterico arquitetocircnico

cultural ou paisagiacutestico satildeo imprescindiacuteveis para a manutenccedilatildeo da identidade e da memoacuteria

dos diferentes grupos sociais que por ali passaram ou nele se estabeleceram O registro da

histoacuteria deve ser deixado agraves geraccedilotildees futuras como siacutembolo do conhecimento e da experiecircncia

adquirida ao longo do tempo A proteccedilatildeo de um determinado siacutetio pode inclusive ser

utilizada quando a memoacuteria coletiva e a afetividade de uma comunidade para com um

determinado espaccedilo adquirir grande relevacircncia cultural gerando uma ambiecircncia a ser

protegida mesmo que esta tenha se consolidado em um periacuteodo recente

Atualmente a preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos e a conservaccedilatildeo dos imoacuteveis

urbanos tecircm no desenvolvimento urbano sustentaacutevel um importante aliado A disseminaccedilatildeo

da loacutegica do consumo que atinge tanto os bens materiais moacuteveis quanto os imoacuteveis resulta

numa produccedilatildeo exagerada desses bens o que demanda enorme quantidade de mateacuteria-prima e

energia e causa impacto no meio ambiente Sendo assim as poliacuteticas de preservaccedilatildeo e o

incentivo ao reuso de edifiacutecios e objetos contribuem para a sustentabilidade e o equiliacutebrio

ambiental

Hoje existem no Brasil doze siacutetios urbanos e sete siacutetios naturais que satildeo

considerados Patrimocircnio Cultural da Humanidade e portanto tombados internacionalmente

pela UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

Dentre os conjuntos tombados internacionalmente destaca-se a predominacircncia dos centros

histoacutericos de caracteriacutesticas coloniais tais como o Centro Histoacuterico de Ouro Preto MG

Olinda PE Salvador BA Satildeo Luiz do Maranhatildeo MA Diamantina MG e Goiaacutes GO Natildeo

menos importante o tombamento nacional realizado pelo IPHAN ndash Instituto do Patrimocircnio

Histoacuterico e Artiacutestico Nacional preserva 77 conjuntos urbanos espalhados por todas as regiotildees

do Brasil com destaque para a regiatildeo nordeste que conta com 30 desses centros tombados

Somam-se a esse contingente os conjuntos tombados estadualmente e municipalmente que

natildeo seratildeo aqui enumerados

A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio estaacute presente no ordenamento

juriacutedico brasileiro desde 1937 quando por meio do Decreto-Lei nordm25 criou-se o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash SPHAN (atual IPHAN) para proteger as cidades

e os monumentos da modernizaccedilatildeo das reformas urbanas e do interesse imobiliaacuterio

21

Reafirmada pelo Art 216 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e pelo Art 2ordm inciso XII do

Estatuto da Cidade a proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e

construiacutedo do patrimocircnio cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico tornou-se

diretriz obrigatoacuteria a ser contemplada pelos planos urbanos e legislaccedilotildees municipais

Contudo a preservaccedilatildeo dos conjuntos urbanos tombados natildeo pressupotildee o

congelamento das cidades Os paracircmetros para as intervenccedilotildees contemporacircneas deveratildeo ser

definidos em leis especiacuteficas de modo a evitar que o novo se sobreponha ou se confunda com

o existente A preservaccedilatildeo do conjunto tombado soacute seraacute possiacutevel se for permitido agrave cidade

expandir-se adensar-se e modificar-se Caso contraacuterio centro e cidade se tornaratildeo obsoletos

Percebe-se portanto que a regulaccedilatildeo urbana nas cidades histoacutericas enfrenta um

grande desafio preservar o antigo e abrir-se ao novo Sendo assim como proceder e quais

instrumentos utilizar Como a legislaccedilatildeo municipal deveraacute ser elaborada e aplicada a fim de

contemplar a preservaccedilatildeo do conjunto tombado e a expansatildeo da cidade seguindo os preceitos

da sustentabilidade

A preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos associada agrave expansatildeo sustentaacutevel das cidades eacute

um tema que vem sendo amplamente discutido inclusive em acircmbito internacional Nos paiacuteses

do norte e principalmente no continente europeu os siacutetios urbanos que demandam poliacuteticas

de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo remontam de seacuteculos e ateacute mesmo de milecircnios passados Embora

uma grande parte do patrimocircnio mundial tenha se perdido com a destruiccedilatildeo resultante das

guerras das cataacutestrofes e da imposiccedilatildeo de novas culturas como aconteceu principalmente nos

paiacuteses do sul que tiveram a cultura originaacuteria destruiacuteda pela colonizaccedilatildeo ainda haacute muito

patrimocircnio a ser preservado E natildeo eacute de hoje que os teacutecnicos e profissionais de diversas aacutereas

do conhecimento tecircm desenvolvido teorias e instrumentos para assegurar a salvaguarda de

todo esse patrimocircnio

Desde entatildeo leis documentos planos guias e coacutedigos vecircm sendo desenvolvidos

com o objetivo de orientar e direcionar as accedilotildees e intervenccedilotildees sobre o patrimocircnio cultural das

cidades com vistas ao desenvolvimento sustentaacutevel

Um importante documento desenvolvido em 2008 pelo Governo da Escoacutecia o

ldquoSustainable Development Guidance for Estate Managementrdquo buscou sistematizar a partir

dos preceitos da sustentabilidade estrateacutegias e orientaccedilotildees para a realizaccedilatildeo de intervenccedilotildees

principalmente para as novas construccedilotildees Tal preocupaccedilatildeo se intensificou apoacutes a discussatildeo

sobre as mudanccedilas climaacuteticas e os efeitos futuros ldquoThe Stern Review on the Economics of

Climate Changerdquo realizada pelo Governo do Reino Unido O documento ldquoSustainable

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Development Guidance for Estate Managementrdquo se assemelha a um guia para o

desenvolvimento sustentaacutevel que aborda as estrateacutegias de accedilatildeo e recomendaccedilotildees para fazer da

Escoacutecia um paiacutes mais ecoloacutegico

Segundo esse Guia que trata da proteccedilatildeo do ambiente natural e da manutenccedilatildeo do

ambiente construiacutedo a sustentabilidade deveraacute ser uma prerrogativa tanto nas novas

construccedilotildees como na manutenccedilatildeo das edificaccedilotildees existentes nas conversotildees de uso nas

ampliaccedilotildees no retrofit4 e nas demoliccedilotildees No item 36 ldquoEmbedding sustainability within the

estate strategy processrdquo satildeo apontados os itens a serem observados na elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias e projetos para o desenvolvimento manutenccedilatildeo ou restauraccedilatildeo de edificaccedilotildees Satildeo

eles biodiversidade layout flexiacutevel nas construccedilotildees materiais construtivos e a possibilidade

de recuperaccedilatildeo reciclagem e reuso gestatildeo da aacutegua diminuiccedilatildeo da poluiccedilatildeo energia

certificada minimizaccedilatildeo do consumo de energia atraveacutes do isolamento e da ventilaccedilatildeo

natural utilizaccedilatildeo de energias renovaacuteveis como energia solar diminuiccedilatildeo do desperdiacutecio e

aumento da reciclagem dentre outros itens A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio

conforme jaacute foi discutido no iniacutecio deste capiacutetulo tambeacutem estaacute presente no Guia conforme

aponta o item 43 ldquoHistoric Buildingsrdquo Neste item direciona-se a atenccedilatildeo para as amplas

possibilidades de reuso e reabilitaccedilatildeo dessas edificaccedilotildees Tal situaccedilatildeo deve partir da

intervenccedilatildeo miacutenima e deve garantir que as caracteriacutesticas histoacutericas ou culturais dos edifiacutecios

sejam devidamente respeitadas e mantidas O Guia trata tambeacutem do procedimento para

reparos que na medida do possiacutevel deve ser feito atraveacutes das teacutecnicas tradicionais e dos

materiais originais ou compatiacuteveis sempre com apoio de profissional especializado Eacute

enfatizada tambeacutem a obrigatoriedade em solicitar das autoridades competentes autorizaccedilatildeo

para as intervenccedilotildees Por uacuteltimo apoacutes feitas todas as consideraccedilotildees sobre os aspectos

positivos da reutilizaccedilatildeo de um determinado edifiacutecio no caso de se decidir pela demoliccedilatildeo do

mesmo o Guia aponta os cuidados a serem obsevados na disposiccedilatildeo final dos resiacuteduos no

aterro sanitaacuterio alertando para a importacircncia em separar os resiacuteduos toacutexicos Os materiais

resultantes da demoliccedilatildeo como accedilo fundaccedilotildees de concreto ceracircmica madeira de assoalho

instalaccedilotildees internas placas de gesso carpete e janelas satildeo frequentemente passiacuteveis de

4 ldquoTermo utilizado principalmente em engenharia para designar o processo de modernizaccedilatildeo de algum

equipamento jaacute considerado ultrapassado ou fora de normardquo Disponiacutevel em

lthttpwwweletrobrascomrelatorio_sustentabilidade_2013anexosglossariogt Acesso em 06 de jun 2015

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reciclagem revenda ou reutilizaccedilatildeo e natildeo devem ser descartados resultando na diminuiccedilatildeo do

desperdiacutecio e na reduccedilatildeo da exploraccedilatildeo dos recursos naturais

Outro importante documento a ser citado aqui como relevante para a proteccedilatildeo do

patrimocircnio histoacuterico e para o desenvolvimento sustentaacutevel o ldquoCalifornia Code of

Regulations Title 24rdquotambeacutem chamado de ldquoCalifornia Building Standards Coderdquo foi

finalizado em 1998 e aprovado pela ldquoCalifornia Building Standards Commissionrdquo em 2007

Tal documento trata dos paracircmetros gerais para a construccedilatildeo de edificaccedilotildees no Estado da

Califoacuternia Este Coacutedigo eacute dividido em 12 partes e traz na parte 8 de tiacutetulo ldquoCalifornia

Historical Building Code (CHBC)rdquo as exigecircncias a serem cumpridas para a permissatildeo de

reparos alteraccedilotildees e adiccedilotildees necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo relocaccedilatildeo mudanccedila de

uso ou continuaccedilatildeo de uso em edificaccedilotildees de reconhecido valor cultural ou histoacuterico5 Com o

objetivo de proteger a sauacutede e a seguranccedila das pessoas o California Historical Building Code

(CHBC) busca orientar as accedilotildees para a recuperaccedilatildeo das edificaccedilotildees histoacutericas garantindo a

preservaccedilatildeo da integridade e das caracteriacutesticas de tais edificaccedilotildees Ao todo satildeo 10 capiacutetulos

que abordam em resumo os seguintes temas capiacutetulo 01 ldquoAdministrationrdquo trata dos casos

sujeitos agrave aplicaccedilatildeo do coacutedigo cap02 ldquoDefinitionsrdquo trata das definiccedilotildees dos termos frases e

palavras necessaacuterios agrave compreensatildeo dos demais capiacutetulos cap03 ldquoUse and Occupancyrdquo trata

das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo dos edifiacutecios tais como altura maacutexima e nuacutemero de

pavimentos dimensatildeo miacutenima dos cocircmodos diretrizes de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo cap04

ldquoFire Protectionrdquo trata da proteccedilatildeo contra incecircndio e indica as diretrizes em relaccedilatildeo aos

materiais shafts telhado sistemas de alarme sistemas automaacuteticos de proteccedilatildeo como

sprinklers dentre outras tecnologias cap05 ldquoMeans of Egressrdquo trata das meios de saiacuteda das

edificaccedilotildees abordando entre outros elementos as escadas portas janelas grades e guarda-

corpos cap06 ldquoAccessibilityrdquo trata da acessibilidade aos portadores de necessidades especiais

a partir da utilizaccedilatildeo das dimensotildees miacutenimas e demais diretrizes estabelecidas para as

entradas portas banheiros rampas elevadores dentre outros cap07 ldquoStructural

5 Conforme o California Building Standards Code Parte 08 paacutegina 04 as edificaccedilotildees de reconhecido valor

cultural ou histoacuterico para as quais se utilizaraacute o CHBC satildeo ldquoFor the purposes of this part a qualified historical

building or structure is any structure or collection of structures and their associated sites deemed of importance

to the history architecture or culture of an area by an appropriate local or state governmental jurisdiction This

shall include structures on existing or future national state or local historical registers or official inventories

such as the National Register of Historic Places State Historical Landmarks State Points of Historical Interest

and city or county registers or inventories of historical or architecturally significant sites places historic districts

or landmarksrdquo (CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS 2007 p 4)

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Regulationsrdquo trata da regulaccedilatildeo sobre os sistemas estruturais a partir da identificaccedilatildeo da

situaccedilatildeo da estrutura por profissional especializado identificaccedilatildeo dos acreacutescimos posteriores agrave

construccedilatildeo do edifiacutecio das cargas incidentes da performance dos parapeitos e da situaccedilatildeo dos

revestimentos externos e decorativos cap8 ldquoArchaic Materials and Methods of Constructionrdquo

trata dos meacutetodos e materiais construtivos tradicionais das edificaccedilotildees histoacutericas e das

diretrizes para a recuperaccedilatildeo de alvenarias adobe madeira concreto accedilo ferro vidros e

vidraccedilas cap09 ldquoMechanical Plumbing and Electrical Requirementsrdquo trata das exigecircncias

em relaccedilatildeo agraves instalaccedilotildees eleacutetricas aos encanamentos e sistemas mecacircnicos Por uacuteltimo o

cap10 ldquoQualified Historical Districts Sites and Open Spacesrdquo trata das orientaccedilotildees para a

preservaccedilatildeo dos espaccedilos abertos e siacutetios histoacutericos a partir da manutenccedilatildeo da configuraccedilatildeo

espacial existente e dos elementos constitutivos da paisagem

No Brasil o instrumento que mais se assemelha aos exemplos citados acima eacute o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees Utilizado para regulamentar os criteacuterios e procedimentos a

serem utilizados na elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de projetos de edificaccedilotildees e controlar as atividades

de construccedilatildeo6 o Coacutedigo de Obras eacute instituiacutedo por lei municipal como instrumento

complementar a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo citada anteriormente no Capiacutetulo 02 O

atendimento agraves condiccedilotildees estabelecidas nesses dois instrumentos da regulaccedilatildeo urbana ndash e o

atendimento a outras legislaccedilotildees quando for o caso - eacute requisito para a obtenccedilatildeo da licenccedila

urbaniacutestica Somente por meio da licenccedila municipal que afirma a compatibilizaccedilatildeo dos

interesses individuais e coletivos com o desenvolvimento urbano o proprietaacuterio poderaacute

exercer o seu direito sobre a propriedade sendo-lhe permitido executar as intervenccedilotildees

devidamente aprovadas Tambeacutem devem ser previstas em lei assim como os procedimentos

para o licenciamento as bases para a efetivaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo municipal como a

determinaccedilatildeo das infraccedilotildees e a previsatildeo de sanccedilotildees e multas aplicaacuteveis a cada caso

Subordinado agraves estrateacutegias de desenvolvimento estabelecidas no Plano Diretor o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees assim como a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo deve ser

elaborado a partir da preocupaccedilatildeo em se estabelecer uma boa interaccedilatildeo entre as novas

edificaccedilotildees e o conjunto urbano construiacutedo Para essa interaccedilatildeo as construccedilotildees devem atender

agraves premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica natildeo de forma isolada mas de

6 ldquoPara fins de direito entende-se por construccedilatildeo toda realizaccedilatildeo material e intencional de algueacutem visando a

adaptar o imoacutevel agraves suas conveniecircncias Nesse sentido tanto eacute construccedilatildeo a edificaccedilatildeo ou reforma como a

demoliccedilatildeo o muramento a escavaccedilatildeo o aterro a pintura e demais trabalhos destinados a beneficiar tapar

desobstruir conservar ou embelezar o preacutediordquo (BARANDIER ALMEIDA MORAIS 2013 p 147)

25

forma a interferir positivamente sobre o clima urbano e sobre a qualidade ambiental Assim

para aleacutem das diretrizes relativas ao uso agrave seguranccedila agrave salubridade agrave acessibilidade e agrave

preservaccedilatildeo dos elementos histoacutericos artiacutesticos e culturais tambeacutem devem ser elaborados

estudos climaacuteticos que aplicados ao desenho urbano possibilitem a formulaccedilatildeo de diretrizes

em prol da adaptaccedilatildeo das edificaccedilotildees agraves caracteriacutesticas climaacuteticas locais ao conforto teacutermico

luminoso e acuacutestico aleacutem da formulaccedilatildeo de diretrizes para a utilizaccedilatildeo de fontes de energia

alternativas e combate ao desperdiacutecio

Voltando aos dados obtidos pela Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros

realizada pelo IBGE em 2013 conforme pode ser visto no graacutefico abaixo do total de

municiacutepios brasileiros 624 declararam ter Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees enquanto 542

declararam ter Lei de Zoneamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo Esses dados demonstram que os

instrumentos legais embora apresentem um grande potencial de transformaccedilatildeo da realidade

urbana ainda satildeo pouco aplicados

Graacutefico do Percentual de municiacutepios segundo o tipo de instrumento de planejamento

existente - MUNIC -2013

Fonte Pesquisa ldquoPERFIL DOS MUNICIacutePIOS BRASILEIROS 2013rdquo (IBGE 2014)

Dentre os Coacutedigos de Obras existentes muitos estatildeo desatualizados defasados e

por isso natildeo configuram um mecanismo relevante quanto agrave alteraccedilatildeo do cenaacuterio das cidades

brasileiras Aleacutem disso a falha na articulaccedilatildeo dos diversos dispositivos de orientaccedilatildeo controle

e fiscalizaccedilatildeo das construccedilotildees resulta na aplicaccedilatildeo desequilibrada da lei consolidando

poliacuteticas de favorecimento exclusatildeo e segregaccedilatildeo aleacutem de ampliar a cada dia a destruiccedilatildeo e

os prejuiacutezos ambientais

26

Apesar de termos avanccedilado na construccedilatildeo conceitual dos instrumentos capazes de

nos levar ao sonhado desenvolvimento sustentaacutevel estamos ainda muito aqueacutem de efetivaacute-los

na praacutetica e no dia-a-dia dos municiacutepios A gestatildeo urbana da qual o planejamento eacute

interdependente configura a um dos principais obstaacuteculos agrave superaccedilatildeo da loacutegica atual de

valorizaccedilatildeo dos interesses individuais sobre os coletivos A falta interesse em destinar

recursos para a soluccedilatildeo de parte dos problemas soacutecio-espaciais tambeacutem eacute um grande

obstaacuteculo A melhoria da infraestrutura urbana os projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria a

construccedilatildeo de moradias populares sustentaacuteveis e a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados jaacute

configurariam um passo adiante na concretizaccedilatildeo da sustentabilidade no ambiente urbano

Sendo assim conhecidos os obstaacuteculos ou pelo menos parte deles eacute fundamental lanccedilarmos

as bases para a sua superaccedilatildeo fortalecendo os ideais de transformaccedilatildeo das cidades

27

5 O MUNICIacutePIO DE OURO PRETO UM ESTUDO DE CASO

51 Da colonizaccedilatildeo ao Seacuteculo XX

Localizado na Regiatildeo Central de Minas Gerais (ou Macrorregiatildeo Metaluacutergica) o

municiacutepio de Ouro Preto eacute possui uma aacuterea aproximada de 1245kmsup2 e sua populaccedilatildeo totaliza

cerca de 70281 habitantes7 Posicionado na porccedilatildeo centro-sul do Estado Ouro Preto tem

como principais confrontantes os municiacutepios de Mariana Itabirito Ouro Branco Congonhas

e Santa Baacuterbara Aleacutem do distrito-sede o territoacuterio eacute dividido em mais 12 distritos

Amarantina Antocircnio Pereira Cachoeira do Campo Engenheiro Correia Glaura Lavras

Novas Miguel Burnier Santa Rita Santo Antocircnio do Leite Santo Antocircnio do Salto Satildeo

Bartolomeu e Rodrigo Silva

Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ouro Preto no estado de

Minas Gerais

Fonte SMCP - PMOP

7 IBGE Diretoria de Pesquisas Coordenaccedilatildeo de Populaccedilatildeo e Indicadores Sociais ndash ldquoEstimativas da populaccedilatildeo

residente com data de referecircncia 1o de julho de 2014 publicada no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo em 28082014rdquo

Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314610ampsearch=||infogrE1ficosinformaE7F5e

s-completasgt Acesso em 06 jun 2015

28

Ouro Preto e municiacutepios limiacutetrofes

Fonte SMCP - PMOP

Mapa dos Distritos de Ouro Preto

Fonte SMCP - PMOP

Desencadeados pela exploraccedilatildeo auriacutefera do seacuteculo XVII - iniciada na regiatildeo de

Minas Gerais provavelmente em 1698 - os arraiais e agrupamentos humanos se consolidaram

na regiatildeo montanhosa e acidentada do municiacutepio de Ouro Preto primeiramente nas encostas

iacutengremes e arredores das minas e posteriormente nas margens dos rios e nos fundos de vale O

povoamento foi se intensificando em torno dos principais eixos de ligaccedilatildeo entre os nuacutecleos

29

urbanos vizinhos resultando num desenho urbano linear e longitudinal diferente do modelo

reticulado de ordenaccedilatildeo do territoacuterio que foi caracteriacutestico do Brasil Colocircnia

Agrave primeira configuraccedilatildeo urbana consolidada em 1711 deu-se o nome de Vila

Rica de Albuquerque que posteriormente em 1720 foi elevada agrave capital da Capitania das

Minas Gerais Ao longo do seacuteculo XVIII foram efetivadas as intervenccedilotildees urbanas mais

significativas e foram construiacutedas as principais referecircncias arquitetocircnicas de Ouro Preto As

principais pontes os chafarizes o Centro Administrativo (atual Praccedila Tiradentes) o Palaacutecio

dos Governadores a Casa de Cacircmara e Cadeia assim como as inuacutemeras capelas e igrejas de

estilo barroco das diversas ordens e irmandades religiosas consolidaram o cenaacuterio

setecentista que configura o atual centro histoacuterico da cidade O final do seacuteculo XVIII foi

marcado pelo esgotamento das minas de ouro o que desencadeou um esvaziamento

populacional da Vila pela crise de abastecimento e decadecircncia econocircmica

O seacuteculo XIX contudo trouxe as mudanccedilas advindas da era do Impeacuterio e em

1823 Vila Rica de Albuquerque foi elevada agrave cidade sob o tiacutetulo de Imperial Cidade de Ouro

Preto A partir daiacute a cidade passou por diversas modernizaccedilotildees a fim de se consolidar

enquanto capital da proviacutencia de Minas Gerais A criaccedilatildeo da Escola de Farmaacutecia do Liceu de

Artes e Ofiacutecios da Escola de Minas a construccedilatildeo da Estaccedilatildeo Ferroviaacuteria e a implantaccedilatildeo da

Companhia Industrial Ouro-Pretana satildeo exemplos importantes da expansatildeo e do

desenvolvimento da cidade durante o seacuteculo XIX Ao final deste seacuteculo jaacute sob a eacutegide do

periacuteodo republicano a cidade de Ouro Preto perde o status de capital da proviacutencia que em

1897 passou para Belo Horizonte Tal fato ocasionou pela segunda vez um processo de

esvaziamento e crise econocircmica na cidade Assim distante dos ideais de modernizaccedilatildeo e

desenvolvimento que cercavam a nova capital a ausecircncia de poliacuteticas de renovaccedilatildeo foi o que

garantiu a preservaccedilatildeo das feiccedilotildees urbanas da antiga Vila Rica A partir de entatildeo diversos

intelectuais da eacutepoca viajaram ateacute Ouro Preto e verificando o mal estado de conservaccedilatildeo e o

abandono da cidade comeccedilaram a produzir uma nova consciecircncia em relaccedilatildeo agrave necessidade

de se preservar os registros do passado

30

Mapa da evoluccedilatildeo urbana de Ouro Preto ndash do seacuteculo XVII ao seacuteculo XX

Fonte IGA ndash Instituto de Geociecircncias Aplicadas - 2003

Igreja de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo ndash registros do

periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

Ponte vizinha agrave Casa dos Contos - registros do periacuteodo

entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

31

Igreja N S do Pilar ndash registros do periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015apresentacao

A tradiccedilatildeo quanto agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico somente se consolidou

no Brasil a partir do seacuteculo XX Em 1931 surgiu o primeiro decreto municipal8 voltado para a

preservaccedilatildeo do cenaacuterio arquitetocircnico da cidade de Ouro preto proibindo as construccedilotildees em

desacordo com o estilo colonial predominante Em 1933 por meio do decreto nacional

22928 Ouro Preto foi erigida a Monumento Nacional Em 1938 o conjunto histoacuterico da

cidade foi tombado pelo SPHAN - Serviccedilo do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional que

havia sido criado no ano anterior Os anos seguintes foram marcados por inuacutemeras obras de

restauraccedilatildeo e tombamentos individuais

8 Decreto 13 de 19 de setembro de 1931 ldquoConsiderando que a cidade de Ouro Preto escriacutenio das tradiccedilotildees

mineiras deve conservar o seu aspecto colonial transmitido dos nossos antepassados Considerando que esta

feiccedilatildeo colonial de seus edifiacutecios de seus preacutedios das ruas e praccedilas desperta grande interesse por parte dos

turistas que frequumlentemente vecircm visitar a cidade e suas cercanias Considerando que ferem dolorosamente a

sensibilidade dos turistas os preacutedios que destoam do tipo colonial DECRETA Art 1deg - Natildeo eacute permitida no

periacutemetro urbano a construccedilatildeo de preacutedios e de edifiacutecios em desacordo com o estilo colonial da cidade Art 2deg -

Os atuais preacutedios existentes no periacutemetro urbano em desacordo com o artigo antecedente deveratildeo ser

modificados nas respectivas fachadas quando estas tenham que receber reparos []rdquo (OLIVEIRA 1997 p 7)

32

A sistematizaccedilatildeo de normas aplicaacuteveis agraves novas construccedilotildees foi realizada pelo

SPHAN (que em 1970 passou a ser chamado IPHAN9) para regular o crescimento da cidade e

o intenso surgimento de novas moradias que caracterizaram as deacutecadas de 1950 e 1960 Tal

crescimento se deu principalmente pela chegada de induacutestrias metaluacutergicas para a exploraccedilatildeo

da bauxita e produccedilatildeo de alumiacutenio primaacuterio Assim o ldquoestilo patrimocircniordquo surgiu das

exigecircncias normativas quanto agrave utilizaccedilatildeo dos elementos arquitetocircnicos tradicionais do

periacuteodo colonial

Um primeiro plano urbano foi elaborado pelo arquiteto portuguecircs Viana de Lima

entre os anos 1968 e 1970 com o objetivo de ldquopreservarrdquo o nuacutecleo histoacuterico da cidade e

consolidar o estilo patrimocircnio atraveacutes da eliminaccedilatildeo dos ecletismos da demoliccedilatildeo de obras

desprovidas de qualidade esteacutetica e do preenchimento dos vazios urbanos Nos anos seguintes

a discussatildeo sobre a salvaguarda do patrimocircnio se intensificou e deu origem a diversos outros

planos10

e programas de preservaccedilatildeo que obtiveram pouco sucesso na aplicaccedilatildeo praacutetica Em

21 de setembro de 1980 Ouro Preto recebeu da UNESCO o tiacutetulo de Patrimocircnio Cultural da

Humanidade e passou a ter visibilidade internacional

Ao final do seacuteculo XX a preocupaccedilatildeo com o desenvolvimento urbano da cidade e

com a proteccedilatildeo patrimonial gerou novas demandas em relaccedilatildeo agrave regulaccedilatildeo urbana e coube ao

IPHAN o papel de legislar sobre as intervenccedilotildees no centro histoacuterico As accedilotildees da

Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) do Instituto Estadual do Patrimocircnio Histoacuterico e

Artiacutestico (IEPHA) e do Instituto Estadual de Florestas (IEF) em pareceria com o governo

municipal e com o IPHAN foram decisivas na preservaccedilatildeo do patrimocircnio neste periacuteodo Em

1990 foram publicadas por meio da Lei 571990 as diretrizes para do Plano Diretor do

Municiacutepio sob as delineaccedilotildees inauguradas pela Constituiccedilatildeo Federal Tais diretrizes eram

bastante simplificadas e restritas aos zoneamentos e a questatildeo da preservaccedilatildeo do patrimocircnio

9 Em 1937 por meio da Lei nordm 378 foi fundado o SPHAN como oacutergatildeo oficial de preservaccedilatildeo do patrimocircnio

cultural brasileiro No mesmo ano foi promulgado o Decreto-Lei nordm 25 que regulamentou as atividades do

SPHAN Em 1946 o SPHAN teve o seu nome alterado para Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (DPHAN) Em 1970 o DPHAN eacute transformado em Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (IPHAN)

10 ldquoEm Minas Gerais a Fundaccedilatildeo Joatildeo Pinheiro (FJP) realizou um extenso diagnoacutestico e elaborou planos

diretores para diversas cidades coloniais mineiras bem como o Plano de Conservaccedilatildeo Valorizaccedilatildeo e

Desenvolvimento de Ouro Preto e Mariana em 1975 Esse Plano trata sobre a preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

patrimocircnio vinculado com as necessidades de desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio Por isso

abordou desde questotildees histoacutericas e culturais ateacute a anaacutelise de aspectos fiacutesico- territoriais tais como siacutetio natural

estudo das estruturas urbanas paisagismo e legislaccedilatildeo urbanardquo (SILVA OLIVEIRA 2005 p 180)

33

foi pouco abordada Jaacute em 1996 uma nova versatildeo do plano foi elaborada e diferentemente do

texto anterior o novo plano contemplou a preocupaccedilatildeo com o patrimocircnio e a preservaccedilatildeo

como instrumentos interligados agrave poliacutetica urbana

Art 1ordm - Em conformidade com a Constituiccedilatildeo Federal e com a Lei Orgacircnica

Municipal fica instituiacutedo o Plano Diretor de Ouro Preto (PDOP) fixando diretrizes

e instrumentos para o pleno desenvolvimento do Municiacutepio em consonacircncia com as

funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade [] Art 2ordm - O conjunto artiacutestico

arquitetocircnico urbaniacutestico paisagiacutestico e ambiental de relevante valor cultural

sediado no Municiacutepio objeto de tombamento federal e de reconhecimento

internacional pela UNESCO como Patrimocircnio Cultural da Humanidade eacute

considerado bem inalienaacutevel de sua populaccedilatildeo cabendo a ela exercer de forma

concorrente com as Administraccedilotildees Puacuteblicas a sua guarda proteccedilatildeo e gestatildeo

Paraacutegrafo uacutenico ndash A preservaccedilatildeo e a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural e ambiental

do Municiacutepio eacute fator determinante para o desenvolvimento urbano para a geraccedilatildeo de

empregos e para melhor distribuiccedilatildeo de renda Lei Complementar 0196 Ouro Preto

(OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996)

Em 1997 foi criado ldquoPlano de Reabilitaccedilatildeo do Siacutetio Histoacuterico de Ouro Pretordquo a

partir do ldquoMonumentardquo programa federal de iniciativa do Ministeacuterio da Cultura e patrocinado

pelo BID que sob a premissa do desenvolvimento econocircmico-social sustentaacutevel buscou

revitalizar os centros histoacutericos urbanos de 26 cidades brasileiras O Plano traccedilado para Ouro

Preto natildeo foi totalmente implementado mas alavancou as poliacuteticas de preservaccedilatildeo do

municiacutepio e deixou intervenccedilotildees significativas como por exemplo a recuperaccedilatildeo do Parque

Horto dos Contos (fundo de vale do Ribeiratildeo do Funil) aacuterea verde mais significativa da regiatildeo

central

34

Mapa Cadastral de Ouro Preto ndash Periacutemetro de tombamento pelo IPHAN

Fonte Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano - PMOP

52 O contexto atual

O conceito de patrimocircnio e de preservaccedilatildeo adotado no Brasil foi se modificando

ao longo da histoacuteria como foi apontado nos iniacutecio deste capiacutetulo Assim agrave medida que o

conceito adquiria relevacircncia as poliacuteticas de preservaccedilatildeo foram sendo instauradas nas esferas

administrativas Os avanccedilos iniciados no final do seacuteculo XX se consolidaram jaacute nos primeiros

anos do seacuteculo XXI O novo seacuteculo trouxe consigo uma mudanccedila significativa em relaccedilatildeo ao

desenvolvimento dos siacutetios histoacutericos que deixaram de ser vistos como uma ldquoobra de arte

intocaacutevelrdquo e passaram a ser tratados como espaccedilos socializados repletos de interaccedilatildeo cultural

e portanto passiacuteveis de transformaccedilatildeo Aleacutem dos centros urbanos o patrimocircnio imaterial

tambeacutem recebeu especial atenccedilatildeo e apoacutes 20 anos de discussatildeo a Convenccedilatildeo para a

Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial consolidada pela UNESCO em 2003 avanccedilou

no reconhecimento e na defesa das heranccedilas culturais dos povos ao redor do mundo

As transformaccedilotildees na relaccedilatildeo da preservaccedilatildeo com o planejamento urbano se

efetivaram em 2003 a partir da criaccedilatildeo do Plano de Preservaccedilatildeo de Siacutetio Histoacuterico Urbano

(PPSH) Este plano foi um instrumento de caraacuteter normativo que incidiu sobre os siacutetios

35

urbanos tombados em niacutevel federal a fim de aliar preservaccedilatildeo e desenvolvimento e incentivar

a gestatildeo compartilhada Nesse mesmo ano foi realizado o Encontro Nacional de Cidades

Histoacutericas que tratou da gestatildeo compartilhada do patrimocircnio cultural e da efetivaccedilatildeo das

poliacuteticas de preservaccedilatildeo associadas agrave legislaccedilatildeo urbana e ambiental

As mudanccedilas do iniacutecio do seacuteculo natildeo demoraram a repercutir no Municiacutepio de

Ouro Preto A partir da portaria ndeg 122 instituiacuteda em 2004 pelo presidente do IPHAN

definiu-se as diretrizes de intervenccedilatildeo e os paracircmetros para aprovaccedilatildeo de projeto no centro

histoacuterico da cidade a fim de garantir a manutenccedilatildeo das caracteriacutesticas da unidade e da

harmonia do conjunto urbano

Mapa dos bairros do municiacutepio de Ouro Preto

Fonte Secretaria Municipal de Patrimocircnio e Desenvolvimento Urbano - PMOP

36

Mapa esquemaacutetico ndash Periacutemetro urbano periacutemetro tombado e demais delimitaccedilotildees de interesse do distrito sede

Elaboraccedilatildeo Guilherme I N Ataiacutedes Base mapa do Plano Diretor

Foto da Praccedila Tiradentes

Fonte httpmondegocombrpraca-tiradentes

37

Foto Campus UFOP

Fonte httpwwwseeufopbrp=490

Foto IFMG

Fonte httpwwwouropretoifmgedubrcomunicacaoimagens-e-videoscampus-ouro-

pretocampusimage_view_fullscreen

Em 2006 a remodelaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Patrimocircnio e

Desenvolvimento Urbano (antiga Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio) deu um novo

impulso agrave preservaccedilatildeo no acircmbito da gestatildeo municipal unindo as poliacuteticas de proteccedilatildeo agraves

poliacuteticas de planejamento urbano O Grupo de Assessoramento Teacutecnico ndash GAT e o Conselho

Municipal de Patrimocircnio foram novamente colocados em accedilatildeo Um novo Plano Diretor

promulgado ao final deste mesmo ano atraveacutes da Lei Complementar Nordm 29 agregou as

conquistas do Estatuto da Cidade aos preceitos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio e acrescentou as

diretrizes para a proteccedilatildeo ambiental Os temas funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

estruturaccedilatildeo territorial desenvolvimento econocircmico proteccedilatildeo ambiental proteccedilatildeo ao

patrimocircnio cultural poliacutetica de desenvolvimento social produccedilatildeo da cidade e mobilidade

urbana intitulam alguns dos capiacutetulos da Lei Os instrumentos da poliacutetica urbana para o

cumprimento da funccedilatildeo social da propriedade aparecem no texto logo em sequecircncia A Lei de

38

Parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo conforme previsatildeo do Art 81 do Plano Diretor foi

promulgada no mesmo dia 28 de dezembro de 2006

A partir de entatildeo o municiacutepio assume sua funccedilatildeo enquanto principal oacutergatildeo de

gestatildeo do territoacuterio tarefa que anteriormente era desempenhada pelo Governo Federal e pelo

IPHAN Ao final de 2010 por meio da Lei Complementar Nordm 91 o Plano Diretor passa por

alteraccedilotildees pontuais e em 2011 a Lei de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo eacute amplamente

revisada dando origem aos paracircmetros utilizados nos dias atuais

Dentro desse resumido panorama legislativo apresentado pode-se perceber que o

Municiacutepio de Ouro Preto acompanhou em grande parte os avanccedilos inaugurados pelo

Estatuto da Cidade e concretizou ao menos em forma de Lei a regulamentaccedilatildeo das diretrizes

e dos instrumentos capazes de fazer valer a funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

Contudo tais avanccedilos representam muito pouco frente ao gigantesco desafio

enunciado no Art 2 inciso II do mesmo Estatuto quanto agrave ldquogarantia do direito a cidades

sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao saneamento ambiental

agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para

as presentes e futuras geraccedilotildeesrdquo(Lei 10257 2001)

Aleacutem da amplitude da tarefa outros elementos dificultam ainda mais o processo

de construccedilatildeo de uma nova realidade como por exemplo a negligecircncia dos gestores puacuteblicos

para com a atualizaccedilatildeo necessaacuteria e obrigatoacuteria das Leis O Plano Diretor de Ouro Preto

indica jaacute no Capiacutetulo 1 artigo 1ordm sect3ordm o prazo maacuteximo para a revisatildeo do mesmo estabelecido

em cinco anos a partir da sua publicaccedilatildeo ou seja 2011 Sendo assim percebe-se que a Lei

de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo revisada em 2011 embora seja o principal instrumento de

controle urbaniacutestico ateacute os dias de hoje jaacute nasceu defasada pois utilizou como referecircncia a

estrateacutegia de desenvolvimento urbano definida no Plano Diretor de 2006 desconsiderando os

impactos e as mudanccedilas territoriais sociais e culturais ocorridos desde entatildeo No geral os

gestores municipais tratam apenas de alteraccedilotildees pontuais que apenas mascaram o quadro de

estagnaccedilatildeo e desatualizaccedilatildeo das leis urbaniacutesticas Tal conduta conforma um enorme obstaacuteculo

na concretizaccedilatildeo das diretrizes do Estatuto da Cidade

Nos capiacutetulos anteriores ao tratarmos do desenvolvimento sustentaacutevel dois

importantes instrumentos foram apontados como peccedilas-chave da consolidaccedilatildeo de uma nova

experiecircncia de sustentabilidade no ambiente urbano a agenda 21 e o coacutedigo de obras

O primeiro deles a agenda 21 local foi estabelecida em 15 de maio de 2007 por

meio da Lei Nordm 333

39

Art 1ordm Fica criado no acircmbito do Municiacutepio de Ouro Preto o Programa da Agenda 21

Local processo e instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento

sustentaacutevel e que tem como eixo central a sustentabilidade compatibilizando a

conservaccedilatildeo ambiental a justiccedila social e o crescimento econocircmico Art 2ordm Para

efeitos de execuccedilatildeo da Agenda 21 Local o Poder Executivo instalaraacute o Foacuterum Ouro-

pretano da Agenda 21 Local (OURO PRETO Lei nordm333 Agenda 21 Local de 11

de maio de 2007)

No texto da Lei foram previstos os capiacutetulos a serem desenvolvidos Agenda 21

Estrutural Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade A

responsabilidade recaiu sobre o Foacuterum Ouro-Pretano da Agenda 21 Local Aleacutem da Lei de

criaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel encontrar nos registros legislativos digitais da Cacircmara Municipal a

Portaria Nordm 1707 que nomeia uma Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos Naturais

e Agenda 21 Local

Outra fonte de informaccedilotildees sobre a Agenda 21 Local de Ouro Preto foi encontrada

no acervo digital da Universidade Federal de Ouro Preto sob o tiacutetulo ldquoAgenda 21 Local

consolidando as bases para o desenvolvimento sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escalardquo

(OLIVEIRA 2010) Nesse trabalho foram apontadas as iniciativas que acompanharam a

criaccedilatildeo da Agenda 21 Local dentre as quais se destacam em ordem cronoloacutegica 1ordm Encontro

de Processos de Agendas 21 Locais ndash fevereiro de 2007 Plenaacuteria na Cacircmara Municipal de

Ouro preto para apresentaccedilatildeo da Agenda 21 ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio de Capacitaccedilatildeo para

a Agenda 21 Local ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio Teacutecnico de Diagnoacutestico para referecircncia da

Agenda 21 Local ndash abril de 2007 Seminaacuterio de Implantaccedilatildeo da Agenda 21 Mineral de Ouro

Preto ndash abril de 2007 Assinatura do Termo de Cooperaccedilatildeo Muacutetua entre a Prefeitura

Municipal a Cacircmara Municipal a ONG Interforum Global e a UFOP ndash maio de 2007

Seminaacuterio Intermunicipal de Agenda 21 Local ndash maio de 2007 Seminaacuterio Geral de

Capacitaccedilatildeo da Agenda 21 Local ndash agosto de 2007

Para aleacutem dos registros oficiais e dos dados encontrados no trabalho mencionado

no paraacutegrafo anterior foram encontradas somente notiacutecias informais11

sobre a criaccedilatildeo e

lanccedilamento da Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude todas datadas de 2007

11 Destacam-se ldquoO presidente da Cacircmara vereador Mauriacutelio Zacarias (PMDB) implantou no dia 20 de abril a

Agenda 21 da Mineraccedilatildeo de Ouro Preto A Agenda 21 da Mineraccedilatildeo eacute uma das subdivisotildees da Agenda 21

Global um conjunto de accedilotildees recomendadas pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) para garantir o

desenvolvimento sustentaacutevel do planeta no seacuteculo XXIrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwcmopmggovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=70agenda-21-da-mineracao-e-

implantada-em-ouro-pretoampcatid=61reunioesgt Acesso em 06 jun 2015 ldquoJuntos pela sustentabilidade o

Foacuterum da Agenda 21 Local de Ouro Preto daacute iniacutecio ao desenvolvimento de accedilotildees especiacuteficas para a implantaccedilatildeo

do capiacutetulo Agenda 21 da Juventude na escola e na universidade O lanccedilamento da Agenda 21 da Escola

acontece no dia 21 de junho quinta-feira agraves 10h no Centro de Artes e Convenccedilotildees da UFOPrdquo ndash Notiacutecia sobre a

40

Conclui-se portanto que a iniciativa da Agenda 21 Local assim como muitas das

diretrizes definidas nas Leis do Planejamento Urbano estagnou no ano de 2007 e avanccedilou

pouco em relaccedilatildeo agraves primeiras linhas da Lei Embora se tenha a informaccedilatildeo de que os Grupos

de Trabalho continuaram a desenvolver suas atividades nos anos seguintes os registros dessas

accedilotildees praacuteticas satildeo praticamente inexistentes e tais atividades praticamente natildeo efetivaram

mudanccedilas na realidade do Municiacutepio

Quanto ao Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees outro importante instrumento da gestatildeo

municipal capaz de estabelecer as bases para um ambiente urbano sustentaacutevel este nunca foi

regulamentado pelo Municiacutepio Embora citado inuacutemeras vezes no Coacutedigo de Posturas que foi

instituiacutedo em 1980 atraveacutes da Lei 178 o Coacutedigo de Obras nunca adquiriu formato oficial para

aplicaccedilatildeo e regulaccedilatildeo do territoacuterio O uacutenico registro oficial encontrado nos arquivos

eletrocircnicos da Cacircmara Municipal diz respeito a uma comissatildeo especial formada em 1992

para emissatildeo de parecer sobre o anteprojeto de Coacutedigo de Obras de Ouro Preto elaborado

pela ENGEARP ndash Arquitetura e Engenharia Ltda12

Um segundo registro foi encontrado nos

arquivos do diaacuterio oficial eletrocircnico do municiacutepio e consiste numa breve menccedilatildeo do coacutedigo de

obras numa ata de uma das reuniotildees do COMPURB Conselho Municipal de Poliacutetica

Urbana13

em abril de 2013 Apesar dos registros quase inexistentes em consulta ao corpo

teacutecnico do Departamento de Aprovaccedilatildeo de Projetos da Secretaria de Cultura e Patrimocircnio

foram identificadas algumas iniciativas quanto agrave elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo de Obras para o

municiacutepio dentre as quais se destaca o modelo desenvolvido em 2012 Tal modelo em

conformidade com as diretrizes dos coacutedigos internacionais jaacute apontados neste trabalho

ressaltou que as edificaccedilotildees e instalaccedilotildees deveriam atender agraves condiccedilotildees miacutenimas de

seguranccedila conforto ambiental higiene salubridade harmonia esteacutetica e acessibilidade

criaccedilatildeo da Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade ndash 16 de junho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwufopedubrindexphpoption=com_contentamptask=viewampid=600ampItemid=50gt Acesso em 06 jun

2015 ldquoO grupo de trabalho da Agenda 21 Local de Ouro Preto a Associaccedilatildeo Comercial de Ouro Preto e a

Cacircmara da Mulher Empreendedora de Ouro Preto convidam para uma palestra com o seguinte tema lsquoAgenda 21

de Ouro Preto -Desafios e Possibilidades da Participaccedilatildeo do Comeacutercio na Sustentabilidade Localrsquordquo Notiacutecia sobre

o Grupo de Trabalho da Agenda Ouro Preto ndash 10 de julho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwfundacaoaprenderorgbr189gt Acesso em 06 jun 2015

12 Portaria Nordm 0292 ndash 04 de fevereiro de 1992 Disponiacutevel em

lthttpwwwsistemasiglaorgarquivossisnormNJ_img(2562)pdfgt Acesso em 06 jun 2015

13 ldquo[] Gabriel sugeriu que seja incluiacutedo esses criteacuterios no coacutedigo de obrasrdquo Ata da 58ordf Reuniatildeo extraordinaacuteria

do Conselho Municipal de Poliacutetica Urbana ndash COMPURB (extraiacutedo do Diaacuterio Oficial do Municiacutepio ldquoAno V ndash

Ouro Preto 1ordm de Abril de 2013 ndash Nordm766rdquo) Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrdiario-

oficial2076601-04-2013gt Acesso em 27 jun 2015

41

Contudo eacute importante destacar que os paracircmetros necessaacuterios para o atendimento do conforto

ambiental - como criteacuterios de adequaccedilatildeo agraves caracteriacutesticas do clima local diretrizes de

conforto teacutermico luminoso e acuacutestico ndash assim como as diretrizes de eficiecircncia energeacutetica natildeo

foram contemplados no texto diminuindo consideravelmente a possibilidade de sucesso do

instrumento quanto agrave transformaccedilatildeo do ambiente urbano

Sendo assim entendendo a importacircncia que o instrumento ldquocoacutedigo de obrasrdquo tem

na conformaccedilatildeo de espaccedilos urbanos mais confortaacuteveis e equilibrados e buscando contribuir

para o Municiacutepio na consolidaccedilatildeo de Leis atualizadas e transformadoras o capiacutetulo seguinte

trataraacute do desenvolvimento de algumas dessas diretrizes para que as construccedilotildees passem a

incorporar as premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica e passem a contribuir

positivamente para o clima urbano a para a qualidade ambiental

42

6 ENSAIO PARA UM COacuteDIGO DE OBRAS PRINCIPAIS ESTRATEacuteGIAS PARA

A PROMOCcedilAtildeO DA EFICIEcircNCIA ENERGEacuteTICA NO MUNICIacutePIO DE OURO

PRETO

61 O reconhecimento do clima e as recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais

O reconhecimento do clima eacute o primeiro passo a ser dado para o desenvolvimento

das diretrizes construtivas para um determinado local O clima ldquoeacute a condiccedilatildeo meacutedia do tempo

em uma dada regiatildeo baseada em mediccedilotildees em longos periacuteodos de tempo (30 anos ou mais)rdquo

(LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 71) A anaacutelise climaacutetica feita no Brasil utiliza

em geral os dados publicados pelo Instituto Nacional e pelo Departamento Nacional de

Meteorologia por meio das Normais Climatoloacutegicas Essa publicaccedilatildeo sistematiza dentre

outros dados os valores meacutedios e extremos mensais de temperatura umidade precipitaccedilatildeo

nebulosidade e horas de sol para um periacuteodo de 30 anos A utilizaccedilatildeo dessas variaacuteveis

climaacuteticas no desenvolvimento dos projetos arquitetocircnicos possibilita a construccedilatildeo de

edificaccedilotildees mais confortaacuteveis e mais eficientes quanto ao consumo de energia

O municiacutepio de Ouro Preto contou com uma estaccedilatildeo de mediccedilatildeo e monitoramento

climaacutetico no periacuteodo entre 1976 a 1990 Sendo assim por natildeo ter permanecido em vigecircncia

pelo periacuteodo miacutenimo de 30 anos os dados do municiacutepio natildeo foram contemplados na

publicaccedilatildeo das Normais Climatoloacutegicas e podem ser encontrados apenas no registro histoacuterico

do INMET a partir do BDMEP Os dados coletados nesse periacuteodo de 14 anos embora natildeo

tenham sido publicados satildeo fundamentais para analisar o comportamento das variaacuteveis

climaacuteticas no local de estudo conforme seraacute visto nas anaacutelises a seguir

Referenciada geograficamente pelas coordenadas14

Latitude Sul 20deg23rsquo28rdquo e

Longitude Oeste 43deg30rsquo20rdquo Ouro Preto possui altitude correspondente a 1150 metros sendo

que o ponto mais alto o Pico Itacolomi estaacute situado a 1772 metros de altura A latitude e a

altitude satildeo dois importantes fatores geograacuteficos do clima quanto maior a latitude menor eacute a

temperatura superficial e quanto maior a altitude menor seraacute a temperatura e a pressatildeo

atmosfeacuterica

14 Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrlocalizacaogt Acesso em 27 jun 2015

43

Para entendermos o clima no municiacutepio e para traccedilarmos as diretrizes construtivas

que garantam o bom desempenho das edificaccedilotildees faz-se necessaacuterio primeiramente consultar

o Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro definido na parte 3 da NBR 15220

O Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro consiste na ldquodivisatildeo do territoacuterio brasileiro

em oito zonas relativamente homogecircneas quanto ao clima e para cada uma destas zonas

formulou-se um conjunto de recomendaccedilotildees teacutecnico-construtivas que otimizam o desempenho

teacutermico das edificaccedilotildees atraveacutes de sua melhor adequaccedilatildeo climaacuteticardquo (ABNT 2003) O

Zoneamento resulta da aplicaccedilatildeo da Carta Bioclimaacutetica sugerida por Givoni ldquoinserindo os

dados mensais de temperatura meacutedia e umidade relativa para cada mecircs do ano e para cada

uma das localidades agrupando entatildeo aquelas classificadas como um mesmo tipo climaacuteticordquo

(FERREIRA 2014 p432)

As diretrizes construtivas desenvolvidas na Norma tratam basicamente do

comportamento da envoltoacuteria da edificaccedilatildeo a partir da indicaccedilatildeo do tamanho das aberturas

para ventilaccedilatildeo da proteccedilatildeo das aberturas das vedaccedilotildees externas (paredes e cobertura) e das

estrateacutegias de condicionamento passivo

A NBR 15220-3 estaacute vigente desde 2005 e sua aplicaccedilatildeo estaacute direcionada para as

edificaccedilotildees de ateacute trecircs pavimentos destinadas agrave habitaccedilatildeo multifamiliar de interesse social

Contudo os preceitos nela indicados podem e devem servir como base para a adequaccedilatildeo

climaacutetica das demais edificaccedilotildees desde que a Norma natildeo seja aplicada de forma isolada isto

eacute devem ser estudados outros procedimentos e devem ser utilizadas novas ferramentas a fim

de cruzar os resultados e avanccedilar na elaboraccedilatildeo de paracircmetros construtivos cada vez mais

completos e dinacircmicos

Segundo a Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica obtida atraveacutes do programa ZBBR o

municiacutepio de Ouro Preto estaacute localizado na Zona Bioclimaacutetica 3

44

Fonte Programa ZBBR ndash Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica dos Municiacutepios Brasileiros

Em destaque o Municiacutepio de Ouro Preto ndash MG

Para as edificaccedilotildees inseridas nesta zona bioclimaacutetica a NBR 15220 traz as

seguintes orientaccedilotildees

- Quanto agraves aberturas tamanho meacutedio (15 a 25) e que possibilitem a entrada do sol

durante o inverno

- Quanto agraves vedaccedilotildees externas paredes externas leves15

e refletoras cobertura leve e

isolada

- Quanto ao condicionamento teacutermico passivo ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo

aquecimento solar durante o inverno e vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia

teacutermica

15 Quanto agrave caracterizaccedilatildeo das envoltoacuterias como ldquolevesrdquo podemos agregar para melhor entendimento a

explicaccedilatildeo de que tais envoltoacuterias devem ser de baixa ineacutercia teacutermica ou seja devem possibilitar que o ambiente

interno seja influenciado pela temperatura do ar exterior sem grande atraso Assim pode-se dizer que as

recomendaccedilotildees de envoltoacuterias leves ocorrem em ambientes onde se deseja que os ambientes internos agrave

edificaccedilatildeo sofram influecircncia direta da temperatura do exterior

45

A partir das orientaccedilotildees da Norma percebe-se que a classificaccedilatildeo das zonas

bioclimaacuteticas embora tenha uma importante contribuiccedilatildeo esta natildeo pode ser utilizada

isoladamente por natildeo agregar importantes elementos agrave caracterizaccedilatildeo do clima local como jaacute

foi dito anteriormente Sendo assim outros dados de Ouro Preto devem ser observados para

aprofundarmos um pouco mais nas recomendaccedilotildees construtivas

Dentro do espectro das variaacuteveis climaacuteticas que caracterizam uma regiatildeo merece

destaque a temperatura e a umidade A temperatura ldquoeacute a variaacutevel climaacutetica mais conhecida e

de mais faacutecil mediccedilatildeo A variaccedilatildeo da temperatura na superfiacutecie da Terra resulta basicamente

dos fluxos das grandes massas de ar e da diferente recepccedilatildeo da radiaccedilatildeo do sol de local para

localrdquo (LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 77) A temperatura varia principalmente

em funccedilatildeo da velocidade do ar mas tambeacutem eacute influenciada em maior ou menor grau pelo

tipo de solo e de vegetaccedilatildeo pela topografia e pela altitude A temperatura meacutedia anual de

Ouro Preto eacute de 185deg conforme os dados sistematizados pelo INMET A temperatura

maacutexima verificada geralmente no mecircs de fevereiro corresponde a 252deg e a temperatura

miacutenima que ocorre no mecircs de julho corresponde a 112deg Quanto agrave umidade do ar esta

resulta da evaporaccedilatildeo das aacuteguas e da evapotranspiraccedilatildeo dos vegetais e pode ser definida em

absoluta e relativa ldquoComo definiccedilatildeo de umidade absoluta tem-se que eacute o peso do vapor de

aacutegua contido em uma unidade de volume de ar (gm3) e a umidade relativa eacute a relaccedilatildeo da

umidade absoluta com a capacidade maacutexima do ar de reter vapor drsquoaacutegua agravequela temperaturardquo

(FROTA 1995 p62) A umidade do ar tem relaccedilatildeo inversa com a temperatura portanto

quanto menor a temperatura maior a possibilidade de saturaccedilatildeo do ar pela ampliaccedilatildeo da

umidade ao limite de 100 A pluviosidade tambeacutem deve ser observada pois tem relaccedilatildeo

direta com a umidade do ar sendo que a chuva proveacutem em grande parte de massas de ar

uacutemido em ascensatildeo Os dados do INMET apontam que a meacutedia anual da pluviosidade em

Ouro Preto eacute de 16703mm sendo junho o mecircs mais seco com 129mm e dezembro o mecircs

mais uacutemido com 3579mm

46

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641 (continuaccedilatildeo)

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

47

48

A partir dos dados acima eacute possiacutevel verificar inicialmente que se trata de um

clima de baixas temperaturas muito uacutemido (umidade relativa praticamente sempre acima de

80) com alta nebulosidade (o que significa que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou

nublado) e com abundacircncia de chuvas principalmente no veratildeo

Tais caracteriacutesticas satildeo acentuadas pela influecircncia da barreira orograacutefica

provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta que conforma o

Morro Satildeo Sebastiatildeo Sendo assim grande parte da mancha urbana de Ouro Preto situada agrave

barlavento da barreira natural sofre influecircncia das chuvas que resultam do resfriamento e

condensaccedilatildeo do ar em ascensatildeo aprofundando ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade citadas anteriormente

Representaccedilatildeo da influecircncia dos ventos e da topografia na mancha urbana da cidade de Ouro

Preto - a formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem base da imagem de sateacutelite extraiacuteda do Google Maps

Exemplo da chuva a barlavento resultante da formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem Sistemas Tecnoloacutegicos em Conforto Ambiental ndash Eleonora Sad Assis

Parte da malha urbana de Ouro Preto

49

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem timblindimwordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem fotografandoondeopeixeparawordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

A partir das variaacuteveis climaacuteticas sistematizadas pelo INMET podemos avanccedilar na

utilizaccedilatildeo do Diagrama Bioclimaacutetico de Givoni (DBG) que orientou a definiccedilatildeo do

Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro assim como utilizar outro instrumento de anaacutelise as

Tabelas de Mahoney que tambeacutem auxiliam na definiccedilatildeo das diretrizes construtivas

O Diagrama de Givoni nos permite identificar quais recursos satildeo necessaacuterios para

que as edificaccedilotildees atendam agraves condiccedilotildees de conforto Este instrumento aponta quais preceitos

da arquitetura bioclimaacutetica devem ser priorizados tais como ventilaccedilatildeo ineacutercia teacutermica e

50

insolaccedilatildeo assim como aponta a necessidade de soluccedilotildees mecacircnicas para o atendimento ao

conforto teacutermico

Diagrama de Givoni relativo agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O Diagrama de Givoni referente agrave Ouro Preto assinala que na maior parte do

tempo as edificaccedilotildees necessitam de aquecimento passivo tendo em vista o quadro recorrente

de baixas temperaturas e de alta umidade relativa Algumas estrateacutegias de aquecimento

passivo podem ser adaptadas agrave realidade local para melhor aproveitamento Quanto agrave cidade

de Ouro Preto deve-se pensar o ganho teacutermico principalmente durante o inverno Nessa

estaccedilatildeo embora se tenha uma queda significativa das temperaturas tem-se cerca de 6 horas

de insolaccedilatildeo diaacuteria quase duas horas a mais do que nas outras estaccedilotildees O aproveitamento

dessa radiaccedilatildeo solar deve servir para manter o ambiente aquecido durante a noite sendo

assim a utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior insolaccedilatildeo deve

possibilitar a maacutexima entrada de calor durante o dia Quanto aos materiais internos estes

devem possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser

devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente

Voltando ao Diagrama de Givoni se compararmos o resultado da cidade de Ouro

Preto com a cidade de Belo Horizonte que estaacute na mesma zona bioclimaacutetica e estaacute a 858

51

metros de altitude perceberemos o quanto eacute importante cruzar os dados de diferentes

instrumentos de anaacutelise para acertar nas diretrizes de projeto Os dados de Belo Horizonte

resultam numa linha meacutedia predominantemente inserida na zona de conforto chegando a

alcanccedilar a zona de influecircncia da ventilaccedilatildeo em algumas horas dos meses de janeiro fevereiro

e marccedilo

Diagrama de Givoni relativo agrave Belo Horizonte

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O outro meacutetodo importante de anaacutelise voltado especificamente para as

recomendaccedilotildees de projeto arquitetocircnico consiste na sistematizaccedilatildeo das recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas atraveacutes das ldquoTabelas de Mahoneyrdquo Tal meacutetodo deve ser utilizado

simultaneamente ao Diagrama de Givoni a fim de se comparar os resultados e ajustar as

diretrizes construtivas Dentre as orientaccedilotildees da Tabela de Mahoney para Ouro Preto merece

destaque a utilizaccedilatildeo de grandes aberturas (para garantir ventilaccedilatildeo abundante e permanente)

e de envoltoacuterias leves Contudo diretrizes como reduccedilatildeo da exposiccedilatildeo ao sol e proteccedilatildeo da

insolaccedilatildeo direta natildeo favorecem o aquecimento passivo conforme a necessidade observada a

partir do Diagrama de Givoni e portanto devem ser relativizadas Seguem abaixo as

recomendaccedilotildees das Tabelas de Mahoney para Ouro Preto

52

Tabela de Mahoney relativa agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

Sendo assim a partir do conhecimento das variaacuteveis climaacuteticas e dos resultados

apresentados eacute possiacutevel formular a seguinte tabela resumo quanto agraves recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas iniciais para Ouro Preto

14 Tabela de Recomendaccedilotildees Arquitetocircnicas

Total de Indicadores

Uacutemido Aacuterido

H1 H2 H3 A1 A2 A3

1 11 4 0 0 0

1 PLANTA DE SITUACcedilAtildeO

0 -10 X Construccedilotildees orientadas segundo eixo longitudinal leste-oeste

11 ou 5 -12 a fim de diminuir a exposiccedilatildeo ao sol

12 0 - 4 Plantas compactas com paacutetios internos

2 ESPACcedilAMENTO ENTRE CONSTRUCcedilOtildeES

11 ou Grandes espaccedilamentos para favorecer a penetraccedilatildeo do vento

12

2 -10 Como acima mas com proteccedilatildeo contra vento quente ou frio

0 ou 1 X Distribuiccedilatildeo compacta

3 CIRCULACcedilAtildeO DE AR

3 - 12 X Construccedilotildees com orientaccedilatildeo simples aberturas que permitam

1 ou 0 - 5 circulaccedilatildeo de ar permanente

2 6 - 12 Construccedilotildees com orientaccedilatildeo dupla circulaccedilatildeo de ar cruzada

0 2 -12 aberturas de ar controlaacuteveis

0 ou 1 Basta renovaccedilatildeo higiecircnica do ar

4 DIMENSOtildeES DAS ABERTURAS

0 ou 0 X Grandes 40 a 80 das fachadas norte e sul

1 1 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

2 - 5

6 - 10 Intermediaacuterias 20 a 35 da superfiacutecie das paredes

11 ou 0 - 3 Pequenas 15 a 25 da superfiacutecie das paredes

12 4 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

5 POSICcedilAtildeO DAS ABERTURAS

3 - 12 X Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do

1 ou 0 - 5 lado exposto ao vento

2 6 - 12 Como acima mas tambeacutem aberturas nas paredes internas

0 2 - 12

6 PROTECcedilAtildeO DAS ABERTURAS

0 - 2 X Proteger da insolaccedilatildeo direta

2 - 12 X Proteger da chuva

7 PAREDES E PISOS

0 - 2 X Construccedilotildees leves baixa ineacutercia teacutermica

3 - 12 Construccedilotildees maciccedilas tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

8 COBERTURA

10 a 0 - 2 Leve (pouca ineacutecia) superfiacutecie refletora uso de cacircmara de ar

12 3 - 12 X Leve e bem isolada

0 a 0 - 5

9 6 - 12 Maciccedila tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

9 ESPACcedilOS EXTERIORES

1 - 12 Espaccedilo para dormir ao ar livre

1 - 12 X Adequada drenagem para a chuva

3 - 12 X Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

53

Tabela resumo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas

Diagrama de Givoni

Tabelas de Mahoney

NBR 15220 ndash Parte 03

Tamanho e caracteriacutesticas das aberturas

Esquadrias devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia do calor no ambiente

Aberturas que permitam a circulaccedilatildeo de ar permanente

Tamanho meacutedio

Grandes ndash de 40 a 80 das fachadas norte e sul

Possibilitar a entrada do sol durante o inverno

Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do lado exposto ao vento

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees externas

Leves Leves e refletoras

Baixa ineacutercia teacutermica

Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees internas

Possibilitar o armazenamento do calor absorvido

Vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia teacutermica

Caracteriacutesticas da cobertura

Leve e bem isolada Leve e isolada

Condicionamento teacutermico passivo

Ganho teacutermico principalmente durante o inverno

Aberturas protegidas da insolaccedilatildeo direta e protegidas da chuva

Ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo aquecimento solar durante o inverno e

Somando-se os diversos meacutetodos de anaacutelise climaacutetica tecircm maior relevacircncia a

seguintes diretrizes

- ventilaccedilatildeo abundante principalmente durante o veratildeo a fim de reduzir a temperatura no

interior da edificaccedilatildeo e os efeitos da umidade que aumenta ainda mais em funccedilatildeo das chuvas

tiacutepicas desse periacuteodo A ventilaccedilatildeo cruzada deve ser fomentada e deve ser observado o sentido

54

predominante do vento que na cidade em questatildeo eacute sudeste a fim de se alcanccedilar melhores

resultados no conforto da edificaccedilatildeo

- aquecimento passivo para os meses de inverno a fim de diminuir o desconforto

causado pelas baixas temperaturas

- paredes leves (com baixa ineacutercia teacutermica ou seja conseguem ganhar ou perder calor

rapidamente a partir da interferecircncia e da temperatura do ar exterior) e protegidas da umidade

proveniente das chuvas fortes

- coberturas leves e bem isoladas (capazes de reter o calor absorvido durante o dia)

- as edificaccedilotildees devem estar protegidas das chuvas e devem contar com sistemas de

drenagem eficientes que possibilitem o raacutepido escoamento ou aproveitamento dessa aacutegua

62 O Coacutedigo de Obras e o conforto ambiental em Ouro Preto ndash estrateacutegias prioritaacuterias

A utilizaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental nos projetos e nas edificaccedilotildees

tem um impacto social positivo baseado em pelo menos trecircs fatores importantes melhoria das

condiccedilotildees de habitabilidade da edificaccedilatildeo e portanto melhor qualidade de vida para o

usuaacuterio melhoria nas condiccedilotildees climaacuteticas do meio externo ampliando o bem estar coletivo

reduccedilatildeo no consumo de energia e utilizaccedilatildeo eficiente do sistema de abastecimento a partir da

correta utilizaccedilatildeo dos sistemas ativos (iluminaccedilatildeo artificial condicionamento e aquecimento

de ar)

Para garantir a aplicaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental o Coacutedigo de Obras

e Edificaccedilotildees do municiacutepio deve incorporar dois importantes artigos que seratildeo detalhados

abaixo conforme o texto sugerido pelo Guia Teacutecnico ldquoElaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de

obras e edificaccedilotildeesrdquo da ELETROBRAacuteS (BAHIA GUEDES 2012)

O primeiro artigo de destaque deve ser inserido no capiacutetulo que trata das

DISPOSICcedilOtildeES PRELIMINARES e deve enumerar as diretrizes gerais para os projetos e

construccedilotildees buscando elencar tanto as demandas contemporacircneas expressas nas novas

legislaccedilotildees como os anseios para um espaccedilo urbano equilibrado e sustentaacutevel Nesse

contexto a substituiccedilatildeo da expressatildeo ldquopadrotildees miacutenimosrdquo que podem ser exemplificados pelas

diretrizes generalistas frequentemente encontradas nas legislaccedilotildees como a previsatildeo de 16 e

18 de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo para todas as localidades por ldquopadrotildees eficientesrdquo

estabelecidos atraveacutes de estudos teacutecnicos que agreguem a complexidade do clima local e que

permitam ampliar as condiccedilotildees de sustentabilidade das edificaccedilotildees ao tratar da otimizaccedilatildeo de

resultados quanto ao atendimento do conforto teacutermico visual e acuacutestico com baixo consumo

55

de energia A configuraccedilatildeo do texto deve se aproximar ao maacuteximo da proposta apresentada

pelo Guia Teacutecnico paacutegina 62

As obras instalaccedilotildees e edificaccedilotildees sejam puacuteblicas sejam privadas deveratildeo atender

agraves seguintes diretrizes gerais de forma a assegurar padrotildees eficientes de seguranccedila e

solidez salubridade e sauacutede conforto ambiental e desempenho energeacutetico

acessibilidade e livre tracircnsito de pessoas prevenccedilatildeo e uso sustentaacutevel dos recursos

naturais em cada caso e sempre que couber I - Subordinaccedilatildeo do interesse particular

ao interesse coletivo II - Promoccedilatildeo do direito agrave cidade sustentaacutevel e da funccedilatildeo

social da propriedade III - Utilizaccedilatildeo das normas teacutecnicas brasileiras e

regulamentaccedilotildees aplicaacuteveis para orientaccedilatildeo do desenvolvimento de projetos e

execuccedilatildeo de obras IV - Desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas sempre que

necessaacuterio com base nas praacuteticas locais beneacuteficas e na produccedilatildeo cientiacutefica tendo em

vista a manutenccedilatildeo da qualidade do local onde se daacute a intervenccedilatildeo e a correlaccedilatildeo

com valores culturais da populaccedilatildeo V - Garantia das condiccedilotildees de acessibilidade

circulaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo pela populaccedilatildeo em geral das edificaccedilotildees e do espaccedilo e

mobiliaacuterio urbano de uso puacuteblico e coletivo com adoccedilatildeo de soluccedilotildees especiacuteficas

para as pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida conforme previsto nas

normas teacutecnicas e na legislaccedilatildeo aplicaacutevel VI - Adoccedilatildeo de paracircmetros climaacuteticos

para o desenvolvimento de projetos de arquitetura de parcelamentos do solo e de

desenho urbano tendo em vista a correta orientaccedilatildeo solar da edificaccedilatildeo e demais

elementos as melhores condiccedilotildees de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo e pela escolha de

materiais construtivos e soluccedilotildees urbaniacutesticas adequadas em funccedilatildeo das

condicionantes ambientais locais de temperatura pluviosidade dominacircncia de

ventos ruiacutedo e paisagem natural aleacutem dos aspectos culturais que interagem com

essas condiccedilotildees VII - Utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis materiais de

construccedilatildeo certificados e ajudas teacutecnicas disponiacuteveis em complemento agrave promoccedilatildeo

do conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade das edificaccedilotildees e do

meio urbano VIII - Implantaccedilatildeo do objeto arquitetocircnico no lote bem como do

mobiliaacuterio urbano e demais artefatos nos logradouros puacuteblicos garantidas a

acessibilidade a qualidade esteacutetica e tecnoloacutegica de forma a potencializar os

atributos da paisagem urbana e evitar a poluiccedilatildeo visual IX - Adoccedilatildeo preferencial de

espeacutecies nativas na arborizaccedilatildeo puacuteblica demais projetos paisagiacutesticos e no

ajardinamento de lotes particulares X - Simplificaccedilatildeo dos procedimentos

administrativos pelo Poder Puacuteblico e promoccedilatildeo da assistecircncia para habitaccedilatildeo de

interesse social pelos agentes promotores tendo em vista facilitar a regularidade e a

correta execuccedilatildeo de projetos e obras inclusive apoiando as iniciativas de

autoconstruccedilatildeo da clientela de baixa renda (BAHIA GUEDES 2012)

O segundo artigo de grande relevacircncia deve ser inserido no capiacutetulo ldquoDAS

CONDICcedilOtildeES RELATIVAS AgraveS EDIFICACcedilOtildeESrdquo Neste capiacutetulo devem ser tratados os

paracircmetros teacutecnicos e geomeacutetricos capazes de materializar o conforto ambiental dos projetos e

edificaccedilotildees a partir do contexto climaacutetico da cidade As diretrizes apontadas devem buscar o

equiliacutebrio entre as condicionantes internas (relaccedilatildeo do usuaacuterio com a edificaccedilatildeo) e externas

(relaccedilatildeo da edificaccedilatildeo com o entorno) Quanto aos paracircmetros teacutecnicos esses devem ser

baseados nas recomendaccedilotildees do Programa Nacional de Conservaccedilatildeo de Energia Eleacutetrica ndash

PROCEL e devem se aproximar dos padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees

residenciais que satildeo atualmente estabelecidos pelo INMETRO a partir do RTQ-R ndash

Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais O texto do artigo deve seguir a sugestatildeo do Guia Teacutecnico paacutegina 107

56

Os projetos de construccedilatildeo ou reforma aleacutem de atenderem aos paracircmetros de

habitabilidade estabelecidos neste Coacutedigo devem ser orientados para a promoccedilatildeo da

sustentabilidade e eficiecircncia energeacutetica da edificaccedilatildeo com o objetivo de reduzir as

emissotildees de gases de efeito estufa (GEE) e os impactos ambientais gerados pela

construccedilatildeo e pela sua utilizaccedilatildeo ao longo do tempo racionalizando o uso da energia

da aacutegua e dos materiais nela empregados a partir das seguintes diretrizes I -

Racionalidade do projeto e do planejamento do processo de execuccedilatildeo das obras II -

Gestatildeo sustentaacutevel da obras e das praacuteticas de construccedilatildeo de forma a evitar o

desperdiacutecio de materiais III - Uso de materiais de construccedilatildeo e acabamentos

sustentaacuteveis considerando a adoccedilatildeo de materiais originaacuterios da regiatildeo produzidos

de forma sustentaacutevel e legalizada de materiais reaproveitados ou de demoliccedilatildeo e de

materiais certificados ou de comprovada responsabilidade ambiental do fabricante

IV - Ativaccedilatildeo do uso de edificaccedilotildees de valor cultural histoacuterico ou arquitetocircnico

maximizando as condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do bem imoacutevel na interaccedilatildeo com as

premissas de conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade V -

Aplicaccedilatildeo das estrateacutegias para projetos de acordo com o Zoneamento Bioclimaacutetico

brasileiro conforme NBR 15220-3 para concepccedilatildeo arquitetocircnica implantaccedilatildeo no

lote orientaccedilatildeo solar dos ambientes localizaccedilatildeo de aberturas e especificaccedilatildeo de

materiais de construccedilatildeo em prol do desempenho teacutermico da edificaccedilatildeo VI -

Aproveitamento das caracteriacutesticas climaacuteticas locais para a promoccedilatildeo do conforto

ambiental da edificaccedilatildeo a partir da consideraccedilatildeo dos seguintes fatores principais a)

Qualidade do ar b) Conforto higroteacutermico c) Conforto luminoso (ou lumiacutenico) d)

Conforto acuacutestico VII - Adoccedilatildeo de especificaccedilotildees de projeto com o objetivo de

potencializar as caracteriacutesticas climaacuteticas locais beneacuteficas eou remediar as de maior

rigor ao longo das diferentes estaccedilotildees do ano em benefiacutecio do desempenho teacutermico

e da ventilaccedilatildeo e iluminaccedilatildeo naturais da edificaccedilatildeo [] VIII - Planejamento

paisagiacutestico como elemento contribuinte para o conforto ambiental da edificaccedilatildeo

[] IX - Adoccedilatildeo de materiais construtivos que melhorem o desempenho teacutermico da

edificaccedilatildeo com base nas orientaccedilotildees e tabelas da NBR 15220-3 e especificaccedilatildeo de

equipamentos mecanismos e instalaccedilotildees que favoreccedilam a economia de energia

eleacutetrica e a reduccedilatildeo do consumo e aacutegua tratada [] (BAHIA GUEDES 2012)

Esses dois artigos apresentados embora configurem o ponto de partida natildeo satildeo

suficientes para a transformaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras em uma ferramenta concreta de

promoccedilatildeo do conforto ambiental da eficiecircncia energeacutetica e da sustentabilidade do meio

ambiente urbano Os desdobramentos desse texto devem resultar em paracircmetros teacutecnicos

como dimensionamentos diretrizes de desenho configuraccedilotildees espaciais miacutenimas dentre

inuacutemeros outros elementos de aplicaccedilatildeo obrigatoacuteria ou optativa Sendo assim o Coacutedigo de

Obras deve regulamentar por exemplo o dimensionamento de compartimentos a disposiccedilatildeo

e o dimensionamento de mobiliaacuterio fixo como louccedilas sanitaacuterias o peacute-direito as proporccedilotildees

das aberturas de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo assim como as taxas de renovaccedilatildeo do ar os niacuteveis de

ruiacutedo para o conforto acuacutestico as condiccedilotildees favoraacuteveis de transmitacircncia e a absortacircncia das

paredes e coberturas para o conforto teacutermico o dimensionamento e as condiccedilotildees das

circulaccedilotildees horizontais e verticais as instalaccedilotildees prediais dentre inuacutemeros outros itens Os

teacutecnicos devem se debruccedilar sobre tais requisitos teacutecnicos a fim de otimizar os resultados

quanto agrave construccedilatildeo da sustentabilidade no municiacutepio Deve-se utilizar as normas ABNT em

auxiacutelio agrave formulaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos a exemplo da NBR 10151 sobre Avaliaccedilatildeo do

57

Ruiacutedo em Aacutereas Habitadas NBR 5382 sobre Iluminacircncia de Interiores NBR 15215 sobre

Iluminaccedilatildeo Natural NBR 9284 sobre Equipamentos Urbanos dentre outras

Por fim deve-se prezar pela total interaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras com o conjunto

da legislaccedilatildeo urbaniacutestica local a fim de estabelecer uma relaccedilatildeo sequencial entre as etapas de e

concepccedilatildeo planejamento e construccedilatildeo das edificaccedilotildees passando das diretrizes gerais agraves

exigecircncias especiacuteficas O texto do coacutedigo de obras deve ser objetivo e didaacutetico sem incorrer

em simplificaccedilotildees O conteuacutedo deve ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e

teacutecnicos da aacuterea como pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees A dedicaccedilatildeo dos

teacutecnicos e profissionais na elaboraccedilatildeo das diretrizes transformadoras a busca pela

conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo sobre o conforto no ambiente urbano assim como a luta contra a

supremacia dos interesses privados sobre a coletividade satildeo itens importantes quanto agrave

concretizaccedilatildeo desse importante instrumento que foi apresentado e defendido ao longo do

presente trabalho

58

7 CONCLUSAtildeO

Diante das anaacutelises apresentadas ao longo deste trabalho principalmente quanto

ao ordenamento juriacutedico brasileiro para a regulaccedilatildeo urbana e o desenvolvimento sustentaacutevel

ficou comprovada a existecircncia de um conjunto significativo de legislaccedilotildees capazes de

embasar uma transformaccedilatildeo das cidades brasileiras em territoacuterios democraacuteticos igualitaacuterios e

sustentaacuteveis Poreacutem a previsatildeo legal eacute apenas o iniacutecio de um longo caminho ateacute a

transformaccedilatildeo concreta da realidade Para se avanccedilar nesse caminho uma mudanccedila poliacutetica eacute

imprescindiacutevel uma vez que as decisotildees sobre o espaccedilo urbano e sua regulamentaccedilatildeo

dependem necessariamente do interesse do gestor urbano materializado na figura dos

prefeitos e governantes das diversas esferas administrativas

Em relaccedilatildeo ao municiacutepio de Ouro Preto foi identificado que embora haja um

conjunto significativo de diretrizes urbaniacutesticas contidas no Plano Diretor e na Lei de Uso e

Ocupaccedilatildeo do Solo estas ainda satildeo insuficientes para subsidiar um desenvolvimento local

pautado na responsabilidade ambiental e na qualidade do meio ambiente urbano Isso se deve

principalmente ao fato de natildeo haver um coacutedigo de obras e edificaccedilotildees e tambeacutem ao fato de

que as iniciativas de proteccedilatildeo ambiental tal como a Agenda 21 Local natildeo foram colocadas

em praacutetica Neste sentido em relaccedilatildeo ao processo legislativo conclui-se que haacute uma

defasagem na aplicaccedilatildeo dos instrumentos de planejamento municipal previstos no Estatuto da

Cidade principalmente o Plano Diretor Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo Agenda 21 Local e Coacutedigo

de Obras e Edificaccedilotildees Aleacutem disso faltam elementos de combate agrave especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e

instrumentos de regulaccedilatildeo do solo urbano como o IPTU progressivo regularizaccedilatildeo onerosa a

assistecircncia teacutecnica gratuita dentre outros instrumentos tributaacuterios e financeiros juriacutedicos e

poliacuteticos que infelizmente ainda natildeo satildeo aplicados no municiacutepio Nesse contexto os outros

instrumentos de planejamento tais como o plano plurianual orccedilamento participativo

programas setoriais e planos de desenvolvimento econocircmico e social embora natildeo configurem

instrumentos urbaniacutesticos se colocam como ferramentas aliadas da gestatildeo democraacutetica da

cidade e da reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais visto que o processo de mudanccedila eacute

essencialmente poliacutetico Nesse sentido eacute extremamente importante que esses instrumentos

sejam pautados na real participaccedilatildeo popular na inclusatildeo e na justiccedila social

Quanto agrave sustentabilidade no ambiente urbano identificou-se que a preservaccedilatildeo e

proteccedilatildeo patrimonial pautadas no conforto do usuaacuterio a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados

a melhoria da infraestrutura urbana a concretizaccedilatildeo de projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria

59

assim como a construccedilatildeo de habitaccedilatildeo social de qualidade satildeo questotildees fundamentais para a

transformaccedilatildeo das cidades em territoacuterios democraacuteticos e sustentaacuteveis Essas demandas estatildeo

diretamente ligadas agrave mudanccedila no paradigma do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

pois uma vez colocadas em praacutetica alteram significativamente a configuraccedilatildeo das cidades

influenciando no clima urbano e na qualidade ambiental

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de uma base de dados climaacuteticos relativos ao municiacutepio

a partir das Normais Climatoloacutegicas obtidas no periacuteodo entre 1976 e 1990 foi possiacutevel

caracterizar o clima de Ouro Preto como um clima de baixas temperaturas muito uacutemido

(umidade relativa praticamente sempre acima de 80) com alta nebulosidade (o que significa

que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou nublado) e com abundacircncia de chuvas

principalmente no veratildeo Foi tambeacutem identificada uma grande interferecircncia do efeito da

barreira orograacutefica provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta

que conforma o Morro Satildeo Sebastiatildeo o que aprofunda ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade

Para a elaboraccedilatildeo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais foram utilizados os

resultados do diagrama de Givoni das Tabelas de Mahoney e da NBR 15220 Assim para a

cidade de Ouro Preto concluiu-se que a arquitetura deve priorizar o ganho teacutermico

principalmente durante o inverno pois nessa estaccedilatildeo tem-se uma queda significativa das

temperaturas o que afeta consideravelmente o conforto do usuaacuterio Esse ganho teacutermico deve

ser pensado a partir da utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior

insolaccedilatildeo o que possibilita um melhor aproveitamento dessa radiaccedilatildeo solar que deve servir

para manter o ambiente aquecido durante a noite Quanto aos materiais internos estes devem

possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser devidamente

isoladas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente Em relaccedilatildeo ao veratildeo foi

identificada a necessidade de ventilaccedilatildeo cruzada para reduzir os efeitos das temperaturas

elevadas e da alta umidade aleacutem de envoltoacuterias bem protegidas das chuvas

Por fim quanto agrave elaboraccedilatildeo do coacutedigo de obras foi possiacutevel apontar a

necessidade de se estabelecer as diretrizes para os projetos e construccedilotildees a partir dos

paracircmetros das normas teacutecnicas brasileiras do desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas com

base nas praacuteticas locais da garantia da acessibilidade das edificaccedilotildees agrave populaccedilatildeo em geral

da consideraccedilatildeo dos paracircmetros climaacuteticos e da utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis Foi

abordada a necessidade de aproximaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos do coacutedigo de obras aos

padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees residenciais previstos no RTQ-R

60

(Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais INMETRO) aleacutem da necessidade de se construir um texto objetivo e didaacutetico

que possa ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e teacutecnicos da aacuterea quanto

pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees

61

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 15220 Desempenho

teacutermico de edificaccedilotildees Rio de Janeiro ABNT 2005

BAHIA S R GUEDES P de A Elaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de obras e

edificaccedilotildees 2ordfed Rio de janeiro IBAMDUMA ELETROBRAS PROCEL 2012

BARANDIER H ALMEIDA M C T MORAIS R Planejamento e Controle Ambiental

Urbano e a Eficiecircncia Energeacutetica Rio de Janeiro IBAMDUMA ELETROBRASPROCEL

2013

BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988

BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002

BRASIL Lei nordm 10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do Desenvolvimento

Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Pesquisa nacional para identificar os resultados de

implementaccedilatildeo de processos de agendas 21 locais Brasiacutelia 2009

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Building Code 1ordm Ed Washington 2007

CSABA D SUELI R S (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo Editora da

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FERREIRA C SOUZA H A de ASSIS E S de Estudo do clima brasileiro reflexotildees e

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Tecnologia do Ambiente Construiacutedo Maceioacute 2014

FROTA A B SCHIFFER S R Manual de Conforto Teacutermico Satildeo Paulo Nobel 1995

IBGE Perfil dos municiacutepios brasileiros 2013 Brasiacutelia 2014

LAMBERTS R DUTRA L PEREIRA FO R Eficiecircncia Energeacutetica na Arquitetura 3ordfed

ELETROBRASPROCEL 2014

MENICONI R O A Construccedilatildeo de uma Cidade-Monumento o caso de Ouro Preto Belo

Horizonte Escola de Arquitetura e Urbanismo UFMG 1999 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OLIVEIRA L B Agenda 21 Local consolidando as bases para o desenvolvimento

sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escala UFOP 2010

62

OLIVEIRA M A Os valores culturais da paisagem urbana em Ouro Preto Um Estudo de

Caso das Aacutereas Verdes na Ladeira Santa Efigecircnia e Entorno Proacuteximo Salvador Mestrado em

Arquitetura e Urbanismo da UFBA 1997

OLIVEIRA M R S Gestatildeo Patrimonial em Ouro Preto Alcances e Limites das Poliacuteticas

Puacuteblicas Preservacionistas Campinas Poacutes ndash Graduaccedilatildeo em Geografia Anaacutelise Ambiental e

Dinacircmica Territorial da UNICAMP 2005 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OURO PRETO Lei complementar nordm 011996 Institui o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro

Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 022005 Estabelece a Estrutura Baacutesica e a

organizaccedilatildeo administrativa da Prefeitura Municipal de Ouro Preto e da outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 152006 Altera a Lei Complementar ndeg 021005

modifica a denominaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Turismo Induacutestria e Comeacutercio e da

Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio suas respectivas competecircncias e daacute outras

providecircncias de 27 de Abril de 2006

OURO PRETO Lei Complementar nordm 302006 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 28 de

Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei complementar nordm 912010 Altera a Lei Complementar nordm292006 que

estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 932011 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 20 de

Janeiro de 2011

OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996

OURO PRETO Lei complementar nordm292006 Estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de

Ouro Preto de 28 de Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei nordm 333 Dispotildee sobre o Programa da Agenda 21 Local de 11 de maio de

2007

OURO PRETO Lei nordm 5790 Dispotildee sobre as diretrizes baacutesicas do Plano Diretor do

Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Portaria 0292 Nomeia Comissatildeo Especial

OURO PRETO Portaria 1707 Nomeia Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos

Naturais e Agenda 21 Local

Page 9: POLYANA PEREIRA COELHO · 2019. 11. 14. · POLYANA PEREIRA COELHO A SUSTENTABILIDADE DO AMBIENTE URBANO E OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO MUNICIPAL: RECOMENDAÇÕES PARA UM CÓDIGO DE

8

2 O ESTATUTO DA CIDADE E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL

O iniacutecio do seacuteculo XXI podemos dizer foi marcado por uma mudanccedila qualitativa

no tocante ao Planejamento Urbano Brasileiro O Estatuto da Cidade Lei nordm 10257 foi

aprovado pelo Congresso Nacional em 2001 e representou uma grande vitoacuteria nos marcos do

planejamento urbano pois vinha sendo reivindicado pelos movimentos sociais de luta pela

reforma urbana desde a deacutecada de 1980 O Estatuto da Cidade veio regulamentar o Capiacutetulo II

da Constituiccedilatildeo Federal capiacutetulo este que trata da Poliacutetica Urbana composto pelos artigos

182 e 183 que ressaltam dentre outros aspectos como a poliacutetica de desenvolvimento urbano

deve estar diretamente associada agrave funccedilatildeo social da cidade e da propriedade urbana A

aprovaccedilatildeo desta lei significaria uma mudanccedila qualitativa nos marcos juriacutedico e institucional

dos municiacutepios por articular instrumentos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria habitaccedilatildeo saneamento

mobilidade e de gestatildeo de resiacuteduos aleacutem de introduzir o equiliacutebrio ambiental como item

essencial ao desenvolvimento urbano sustentaacutevel No Capiacutetulo 01 do Estatuto ndash Diretrizes

Gerais o primeiro artigo diz o seguinte

Art 1ordm Na execuccedilatildeo da poliacutetica urbana de que tratam os artigos 182 e 183 da

Constituiccedilatildeo Federal seraacute aplicado o previsto nesta Lei [] Paraacutegrafo uacutenico Para

todos os efeitos esta Lei denominada Estatuto da Cidade estabelece normas de

ordem puacuteblica e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol

do bem coletivo da seguranccedila e do bem-estar dos cidadatildeos bem como do equiliacutebrio

ambiental (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

O texto do Estatuto da Cidade tratou portanto de incorporar ao conjunto de

diretrizes da poliacutetica urbana o equiliacutebrio ambiental como um novo conceito como uma

demanda essencial ao desenvolvimento de cidades sustentaacuteveis conforme estaacute disposto no

capiacutetulo introdutoacuterio da supracitada Lei

Contudo mesmo jaacute estando consolidado haacute mais de uma deacutecada o desafio

colocado pelo Estatuto da Cidade tem se aprofundado a cada dia A retirada de mateacuteria-prima

da natureza a exploraccedilatildeo de recursos energeacuteticos a demanda por aacutegua potaacutevel e por

alimentos assim como a geraccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos satildeo intensificadas com o passar dos

anos e com o crescimento exponencial das cidades Nas grandes metroacutepoles o problema

ambiental jaacute alcanccedilou o alerta vermelho quanto agrave gravidade da situaccedilatildeo a poluiccedilatildeo a

impermeabilizaccedilatildeo dos solos a falta de vegetaccedilatildeo e de barreiras geograacuteficas naturais tecircm

provocado inuacutemeros danos ao meio ambiente urbano que sofre com a falta de chuva ou com o

excesso dela com a draacutestica alteraccedilatildeo do microclima e com a formaccedilatildeo de ilhas de calor cada

dia mais agressivas ao bem-estar da populaccedilatildeo

9

Nos municiacutepios menores embora os problemas ambientais sejam percebidos com

menor intensidade a poliacutetica urbana tambeacutem estaacute voltada para a exploraccedilatildeo e esgotamento

dos recursos naturais Natildeo haacute uma poliacutetica efetiva de proteccedilatildeo das aacutereas de risco das aacutereas de

proteccedilatildeo permanente assim como natildeo haacute saneamento baacutesico em toda a aacuterea urbana Soma-se

a esses problemas a falta de estaccedilotildees de tratamento de efluentes que resulta na utilizaccedilatildeo dos

cursos drsquoaacutegua como canais de esgotamento sanitaacuterio e consequentemente na contaminaccedilatildeo

dos recursos hiacutedricos de toda uma regiatildeo

A partir desses elementos evidencia-se que a promulgaccedilatildeo do Estatuto da Cidade

apesar do avanccedilo representado natildeo conseguiu resolver por si soacute os inuacutemeros problemas

ambientais urbanos que afetam agraves cidades brasileiras Tais problemas estatildeo diretamente

vinculados aos paracircmetros de parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo padrotildees construtivos e

padrotildees ediliacutecios das cidades definidos pela legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal quando

existente Os municiacutepios encontram enorme dificuldade em aplicar os preceitos do Estatuto

por falta de uma legislaccedilatildeo urbana forte aprimorada e atualizada que possa contemplar todos

os aspectos de uma regulaccedilatildeo urbana voltada para a sustentabilidade e para o bem-estar

coletivo

Eacute neste cenaacuterio que entram em cena os instrumentos da poliacutetica urbana previstos

no Capiacutetulo II do Estatuto da Cidade organizados em seis categorias que satildeo

I ndash planos nacionais regionais e estaduais de ordenaccedilatildeo do territoacuterio e de

desenvolvimento econocircmico e social

II ndash planejamento das regiotildees metropolitanas aglomeraccedilotildees urbanas e

microrregiotildees

III ndash planejamento municipal

IV ndash institutos tributaacuterios e financeiros

V ndash institutos juriacutedicos e poliacuteticos

VI ndash estudo preacutevio de impacto ambiental (EIA) e estudo preacutevio de impacto de

vizinhanccedila (EIV) (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho

2001)

As categorias III - planejamento municipal IV - institutos tributaacuterios e financeiros

e V - instrumentos juriacutedicos e poliacuteticos se desdobram em outros variados instrumentos que

associados e devidamente estabelecidos por lei especiacutefica serviratildeo de base para que os

municiacutepios avancem na construccedilatildeo de um ambiente urbano equilibrado inclusivo e

sustentaacutevel Destaca-se nesse quadro de instrumentos dentro da categoria ldquoplanejamento

municipalrdquo o Plano Diretor que constituindo o ldquoinstrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e expansatildeo urbanardquo possibilitaraacute para aleacutem da ordenaccedilatildeo do solo a

articulaccedilatildeo com outros processos de planejamento na esfera municipal Tal instrumento seraacute

melhor abordado no proacuteximo capiacutetulo

10

Apresentados os processos de planejamento e os instrumentos da poliacutetica urbana

trazidos pelo Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio avanccedilar no entendimento da

sustentabilidade enquanto conceito uma vez que esta passaraacute a compor um corpo uacutenico com o

que vier a se entender por ldquodesenvolvimentordquo

A preocupaccedilatildeo com o ordenamento juriacutedico de proteccedilatildeo e defesa do meio

ambiente se materializou no Brasil inicialmente em 1981 a partir da promulgaccedilatildeo da Lei

6938 que instituiu a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente O SISNAMA Sistema Nacional

do Meio Ambiente reuniu os oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Direta - Uniatildeo Estados

DF e Municiacutepios - responsaacuteveis pela proteccedilatildeo e melhoria da qualidade ambiental

Em 2002 a construccedilatildeo da Agenda 21 Brasileira buscou associar o conceito de

sustentabilidade agraves poliacuteticas de desenvolvimento urbano As Agendas Nacionais foram

desenvolvidas a partir da Agenda 21 Global Esta uacuteltima resultou das discussotildees realizadas na

Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD)

mais conhecida como Rio 92 A Agenda 21 consiste em um programa de accedilatildeo voltado para a

aplicaccedilatildeo de meacutetodos de proteccedilatildeo ambiental justiccedila social e eficiecircncia econocircmica Eacute um

documento de 40 capiacutetulos com mais de 2500 recomendaccedilotildees praacuteticas e foi assinado por 179

paiacuteses formalizando o compromisso dessas naccedilotildees com o Desenvolvimento Sustentaacutevel do

Planeta Instrumento de planejamento participativo a Agenda 21 deve ser um resultado de

accedilotildees que congreguem governo e sociedade civil e por isso eacute um instrumento aliado das novas

frentes de trabalho inauguradas pelo Estatuto da Cidade A partir dos trechos a seguir

retirados respectivamente da Agenda 21 e do Estatuto da Cidade pode-se perceber a afinidade

nas pretensotildees dos dois Instrumentos de Planejamento

71 Nos paiacuteses industrializados os padrotildees de consumo das cidades representam

uma pressatildeo muito seacuteria sobre o ecossistema global ao passo que no mundo em

desenvolvimento os assentamentos humanos necessitam de mais mateacuteria-prima

energia e desenvolvimento econocircmico simplesmente para superar seus problemas

econocircmicos e sociais baacutesicos Em muitas regiotildees do mundo em especial nos paiacuteses

em desenvolvimento as condiccedilotildees dos assentamentos humanos vecircm se

deteriorando sobretudo em decorrecircncia do baixo volume de investimentos no setor

imputaacutevel agraves restriccedilotildees relativas a recursos com que esses paiacuteses se deparam em

todas as aacutereas Nos paiacuteses de baixa renda sobre os quais haacute dados recentes apenas

56 por cento do orccedilamento do Governo central em meacutedia foram dedicados a

habitaccedilatildeo lazer seguridade social e bem-estar social [] Objetivo 78 O objetivo eacute

oferecer habitaccedilatildeo adequada a populaccedilotildees em raacutepido crescimento e aos pobres

atualmente carentes tanto de aacutereas rurais como urbanas por meio de uma

abordagem que possibilite o desenvolvimento e a melhoria de condiccedilotildees de moradia

ambientalmente saudaacuteveis (AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do

Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992)

11

Estatuto da Cidade Capiacutetulo 1 ndash Diretrizes Gerais Art 2ordm A poliacutetica urbana tem por

objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e da

propriedade urbana mediante as seguintes diretrizes gerais I ndash garantia do direito a

cidades sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao

saneamento ambiental agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos

puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para as presentes e futuras geraccedilotildees [] Art 3ordm

Compete agrave Uniatildeo entre outras atribuiccedilotildees de interesse da poliacutetica urbana IV -

instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano inclusive habitaccedilatildeo saneamento

baacutesico transportes urbanos e infraestrutura de energia e telecomunicaccedilotildees

(BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

O texto da Agenda 21 mais especificamente o Preacircmbulo enfatiza que o sucesso

na aplicaccedilatildeo desse plano de accedilatildeo depende primeiramente do comprometimento dos governos

com a preparaccedilatildeo de estrateacutegias planos poliacuteticas e processos nacionais para a concretizaccedilatildeo

dos objetivos estabelecidos

A Agenda 21 Brasileira foi desenvolvida no periacuteodo de 1996 a 2002 e teve como

eixo a sustentabilidade a partir da compatibilizaccedilatildeo entre conservaccedilatildeo ambiental justiccedila

social e crescimento econocircmico

Ao aprofundar-se na elaboraccedilatildeo de diretrizes para problemas de ordem estrutural

a Agenda 21 Brasileira foi elevada a programa dentro do Plano Plurianual de Governo (entre

2004 e 2007)1 o que daria maior forccedila poliacutetica e institucional agrave Agenda Sendo assim a partir

de soluccedilotildees integradas planejadas a meacutedio e longo prazos e a partir da associaccedilatildeo entre

governo e sociedade seria possiacutevel tratar de questotildees como ldquoeconomia da poupanccedila na

sociedade do conhecimento inclusatildeo social para uma sociedade solidaacuteria estrateacutegia para a

sustentabilidade urbana e rural recursos naturais estrateacutegicos governanccedila e eacutetica para a

promoccedilatildeo da sustentabilidaderdquo (AGENDA 21 BRASILEIRA 2004 p04) O Programa foi

estruturado em trecircs accedilotildees implementar a Agenda 21 Brasileira promover a elaboraccedilatildeo e

implementaccedilatildeo de Agendas 21 Locais e formaccedilatildeo continuada em Agenda 21

Vale destacar a importacircncia da Agenda 21 Local enquanto instrumento

complementar aos instrumentos da poliacutetica municipal de desenvolvimento urbano

A Agenda 21 Local eacute um dos principais instrumentos para se conduzir processos de

mobilizaccedilatildeo troca de informaccedilotildees geraccedilatildeo de consensos em torno dos problemas e

1 Importante destacar que ldquoO Plano Plurianual (PPA) eacute um instrumento previsto no art 165 da Constituiccedilatildeo

Federal destinado a organizar e viabilizar a accedilatildeo puacuteblica com vistas a cumprir os fundamentos e os objetivos da

Repuacuteblica Por meio dele eacute declarado o conjunto das poliacuteticas puacuteblicas do governo para um periacuteodo de quatro

anos e os caminhos trilhados para viabilizar as metas previstas construindo um Brasil melhorrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwmpgovbrministerioaspindex=10ampler=s1086gt Acesso em 06 jun 2015 O Plano Plurianual

referente ao periacuteodo 2004 ndash 2007 foi regulamentado pela Lei Nordm 10933 de 2004 sancionada pelo entatildeo

Presidente Luiacutez Inaacutecio Lula da Silva

12

soluccedilotildees locais e estabelecimento de prioridades para a gestatildeo de desde um estado

municiacutepio bacia hidrograacutefica unidade de conservaccedilatildeo ateacute um bairro uma escola O

processo deve ser articulado com outros projetos programas e atividades do governo

e sociedade sendo consolidado dentre outros a partir do envolvimento dos agentes

regionais e locais anaacutelise identificaccedilatildeo e promoccedilatildeo de instrumentos financeiros

difusatildeo e intercacircmbio de experiecircncias definiccedilatildeo de indicadores de desempenho

(AGENDA 21 Brasileira accedilotildees prioritaacuteriasComissatildeo de Poliacuteticas de

Desenvolvimento Sustentaacutevel e da Agenda 21 Nacional 2 ed Brasiacutelia Ministeacuterio

do Meio Ambiente 2004)

Desde entatildeo o esforccedilo em fomentar a construccedilatildeo das Agendas 21 Locais gerou

um resultado positivo embora muito aqueacutem do necessaacuterio para uma mudanccedila substancial nas

poliacuteticas em prol do desenvolvimento sustentaacutevel Em 2013 apenas 215 dos municiacutepios

brasileiros possuiacuteam processos em andamento relativos agrave Agenda 21 conforme foi

identificado pela IBGE a partir da Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros (MUNIC

2013) 2 Tal percentual apesar da pouca expressividade demarca um processo positivo de

mudanccedila tendo em vista que nos dados dos anos anteriores observava-se percentuais ainda

menores aleacutem de um processo de decliacutenio em 2009 a pesquisa indicou que 199 dos

municiacutepios haviam iniciado a elaboraccedilatildeo da agenda 21 enquanto em 2012 o percentual

baixou para 181

Nota-se ante ao exposto ateacute aqui que existe um arcabouccedilo legal significativo em

prol do desenvolvimento urbano sustentaacutevel Contudo a aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo existente e a

obtenccedilatildeo de resultados positivos estatildeo longe de se tornar uma realidade no Brasil Sendo

assim faz-se necessaacuterio reforccedilar a cada dia os compromissos estabelecidos nas Leis

Brasileiras e trabalhar na efetivaccedilatildeo dos instrumentos de promoccedilatildeo do equiliacutebrio ambiental a

partir da aplicaccedilatildeo das premissas da sustentabilidade Atingir o desenvolvimento urbano

sustentaacutevel natildeo eacute somente uma das opccedilotildees mas a uacutenica opccedilatildeo existente se quisermos que o

planeta tenha vida longa Preservar o meio ambiente deve ser uma accedilatildeo constante associada a

todas agraves demais poliacuteticas puacuteblicas Quanto agrave iniciativa privada esta deveraacute ser

permanentemente fiscalizada Regulamentar as atividades de exploraccedilatildeo da natureza e buscar

a inibiccedilatildeo severa de atividades de impacto ambiental satildeo tarefas urgentes que o Poder Puacuteblico

deve assimilar o quanto antes

2 Ressalta-se que ldquoA Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais ndash MUNIC eacute realizada desde o ano de 1999

pelo IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Na versatildeo de 2013 foram destacados os aspectos

relevantes da gestatildeo e da estrutura dos 5570 municiacutepios brasileiros a partir dos seguintes eixos perfil dos

gestores municipais recursos humanos das administraccedilotildees municipais legislaccedilatildeo e instrumentos de

planejamento sauacutede meio ambiente poliacutetica de gecircnero ndash temas jaacute investigados em anos anteriores ndash aleacutem de

gestatildeo de riscos e resposta a desastres este ineacutedito ateacute entatildeordquo Disponiacutevel em

lthttpwwwibgegovbrhomeestatisticaeconomiaperfilmunic2013defaultshtmgt Acesso em 06 jun 2015)

13

Somente com a permanente preocupaccedilatildeo do Estado para com o tema seraacute

possiacutevel consolidar o desenvolvimento urbano a partir da aplicaccedilatildeo das premissas da

sustentabilidade do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

14

3 O PLANO DIRETOR E OS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO

MUNICIPAL

Para introduzir a discussatildeo do Plano Diretor e demais instrumentos de

planejamento municipal previstos no Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio retomar o momento

da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 com destaque para o Art30 que determina as tarefas de

competecircncia dos Municiacutepios Dentre tais competecircncias destacam-se os incisos VIII e IX

diretamente relacionados ao planejamento urbano

Art 30 Compete aos Municiacutepios [] VIII - promover no que couber adequado

ordenamento territorial mediante planejamento e controle do uso do parcelamento e

da ocupaccedilatildeo do solo urbano IX - promover a proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-

cultural local observada a legislaccedilatildeo e a accedilatildeo fiscalizadora federal e estadual

(BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de

1988)

Aleacutem de delimitar as competecircncias municipais a Constituiccedilatildeo tambeacutem apontou

no Art182 do Capiacutetulo II o Plano Diretor - velho conhecido dos Teacutecnicos e Governantes -

como principal instrumento a ser utilizado pelos Municiacutepios no desenvolvimento da poliacutetica

urbana

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo Poder Puacuteblico

municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem por objetivo ordenar o

pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus

habitantes sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio para

cidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e de expansatildeo urbana sect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua

funccedilatildeo social quando atende agraves exigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade

expressas no plano diretor (BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do

Brasil de 5 de outubro de 1988)

Contudo tal instrumento natildeo representou uma novidade A expressatildeo Plano

Diretor foi utilizada pela primeira vez no Brasil em 1930 a partir do Plano Agache3

desenvolvido para o Rio de Janeiro Posteriormente foram desenvolvidos planos diretores em

todo o territoacuterio brasileiro planos estes que ficariam engavetados por falta de vontade

3 Nota-se que ldquoO Plano Agache foi a primeira proposta de intervenccedilatildeo urbaniacutestica na cidade do Rio de Janeiro

com preocupaccedilotildees genuinamente modernas Concluiacutedo em 1930 introduziu no cenaacuterio nacional algumas

questotildees tiacutepicas da cidade industrial tais como o planejamento do transporte de massas e do abastecimento de

aacuteguas a habitaccedilatildeo operaacuteria e o crescimento das favelas Aleacutem disso com discussotildees emergentes que iam desde a

necessidade de um zoneamento para a cidade ateacute a delimitaccedilatildeo de aacutereas verdes ultrapassou os limites do

Academicismo das intervenccedilotildees predecessoras de Pereira Passos e Paulo de Frontinrdquo Disponiacutevel em

lthttpplanourbanoriorjgovbrgt Acesso em 06 de jun 2015

15

poliacutetica A nomenclatura e o conteuacutedo dos planos diretores variaram com o passar dos anos

segundo Villaccedila

Por fim cabe abordar historicamente as jaacute mencionadas mudanccedilas na nomenclatura

nas formas nos conteuacutedos e nas metodologias dos planos Em primeiro lugar cai em

desuso a expressatildeo plano de melhoramentos e embelezamento e entra em cena a

expressatildeo urbanismo Depois esta cai em desuso sendo substituiacuteda por

planejamento urbano e plano diretor Em segundo lugar os conteuacutedos e

metodologias de elaboraccedilatildeo dos planos sofrem alteraccedilotildees radicais De enormes

volumes com centenas de paacuteginas recheados de mapas pesquisas e estatiacutesticas

elaborados por equipes multidisciplinares e abordando enorme leque de problemas

transformam-se em meros projetos de lei agraves vezes contendo apenas declaraccedilotildees de

princiacutepios poliacuteticas ou diretrizes gerais agraves vezes ateacute sem mapas ou com poucos

mapas Um simples projeto de lei publicado no Diaacuterio Oficial (CSABA Deaacutek

SUELI Ramos Schiffer (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo

Editora da Universidade de Satildeo Paulo 1999 p191)

A realidade eacute que os planos diretores desenvolvidos no Brasil entre as deacutecadas de

1940 e 1990 natildeo correspondiam ao pensamento dos governantes e das classes dominantes e

por isso natildeo contaram com intenccedilatildeo real de aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo Os objetivos apontados

natildeo seriam atingidos pois o Plano Diretor natildeo se tornara uma prioridade em nenhuma das

esferas administrativas do paiacutes

O ressurgimento do instrumento Plano Diretor em 1988 embora isento de grandes

novidades veio acompanhado da premissa da funccedilatildeo social da propriedade um aspecto

positivo e inovador da poliacutetica urbana poreacutem praticamente inviaacutevel de ser aplicado num

primeiro momento pelos obstaacuteculos constantes na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal Contudo

diante da pressatildeo dos movimentos sociais e populares que se fortaleceram durante o processo

de redemocratizaccedilatildeo tais planos foram se tornando mais politizados abordando aspectos

especiacuteficos da competecircncia municipal e tratando das polecircmicas voltadas para o territoacuterio

inclusive sobre a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria no espaccedilo urbano

Em 2001 a poliacutetica urbana foi regulamentada pela Lei 10257 - Estatuto da

Cidade ndash devidamente apresentada no capiacutetulo anterior Com uma abordagem democraacutetico-

participativa voltada para os interesses coletivos tal lei possibilitou uma mudanccedila expressiva

no planejamento urbano principalmente na esfera municipal

O Plano Diretor Participativo como seraacute chamado a partir de entatildeo se torna o

principal dentre outros sete instrumentos de planejamento municipal expressos no Art 4ordm

inciso III da Lei 10257

Art 4o Para os fins desta Lei seratildeo utilizados entre outros instrumentos [] III ndash

planejamento municipal em especial a) plano diretor b) disciplina do

parcelamento do uso e da ocupaccedilatildeo do solo c) zoneamento ambiental d) plano

plurianual e) diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual f) gestatildeo orccedilamentaacuteria

16

participativa g) planos programas e projetos setoriais h) planos de

desenvolvimento econocircmico e social (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade

de 10 de julho 2001)

O conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelos planos diretores foi estabelecido na

resoluccedilatildeo nordm34 de 01 de julho de 2005 pelo Conselho das Cidades A tal conselho

regulamentado pelo Decreto 5031 2004 competia emitir orientaccedilotildees e recomendaccedilotildees sobre

a aplicaccedilatildeo da Lei 10257 de 2001 (Estatuto da Cidade) e dos demais atos normativos

relacionados ao desenvolvimento urbano A inclusatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel das

cidades nas novas diretrizes da poliacutetica urbana teraacute no plano diretor a sua expressatildeo

fundamental Dentre o conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelo Plano Diretor Participativo

merece destaque o Art 2ordm inciso III aleacutem do Art 5ordm inciso VII do Estatuto da Cidade

Art 2deg As funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade urbana seratildeo definidas a partir

da destinaccedilatildeo de cada porccedilatildeo do territoacuterio do municiacutepio bem como da identificaccedilatildeo

dos imoacuteveis natildeo edificados subutilizados e natildeo utilizados no caso de sua existecircncia

de forma a garantir [] III - a universalizaccedilatildeo do acesso aacute aacutegua potaacutevel aos

serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio a coleta e disposiccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos e ao

manejo sustentaacutevel das aacuteguas pluviais de forma integrada aacutes poliacuteticas ambientais de

recursos hiacutedricos e de sauacutede [] Art 5deg A instituiccedilatildeo das Zonas Especiais

considerando o interesse local deveraacute [] VII - demarcar as aacutereas de proteccedilatildeo

preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e construiacutedo do patrimocircnio

cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico (BRASIL Lei nordm10257

Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

Ao estabelecer as diretrizes de ordenaccedilatildeo do solo o Plano Diretor estabelece que

a propriedade urbana deve servir agrave qualidade de vida dos cidadatildeos agrave justiccedila social e ao

desenvolvimento sustentaacutevel das atividades econocircmicas A referecircncia territorial que estrutura

as estrateacutegias definidas pelo Plano Diretor eacute o macrozoneamento Este subdivide o territoacuterio

municipal a partir da identificaccedilatildeo das potencialidades e das caracteriacutesticas de cada aacuterea Satildeo

algumas categorias utilizadas na definiccedilatildeo do macrozoneamento aacutereas aptas agrave urbanizaccedilatildeo

aacutereas propiacutecias ao desenvolvimento de atividades rurais aacutereas de preservaccedilatildeo e aacutereas de

exploraccedilatildeo econocircmica Aleacutem da definiccedilatildeo de intenccedilotildees para os vetores do territoacuterio

municipal o macrozoneamento define tambeacutem o periacutemetro urbano e as zonas de expansatildeo

urbana enquanto instrumentos de direcionamento da urbanizaccedilatildeo da gestatildeo ambiental e do

crescimento econocircmico A delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano deve ser feita a partir de planta

referenciada com clara indicaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e fiacutesicos limiacutetrofes e deve servir

para direcionar o adensamento populacional para as aacutereas providas de infraestrutura

garantindo a proteccedilatildeo das aacutereas de interesse ambiental e a reserva de aacutereas para produccedilatildeo

agriacutecola e ocupaccedilatildeo rural A alteraccedilatildeo de tal periacutemetro conforme previsto no Art42B do

17

Estatuto da Cidade deveraacute instituiacuteda por lei municipal e deve ser resultado de projeto

especiacutefico que contemple o conteuacutedo miacutenimo e que atenda agraves diretrizes do Plano Diretor

O segundo instrumento de planejamento municipal apresentado no Art 4ordm do

Estatuto da Cidade o parcelamento o uso e a ocupaccedilatildeo do solo eacute tambeacutem um importante

instrumento para a concretizaccedilatildeo dos preceitos da sustentabilidade do ambiente urbano A

Legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal definiraacute o zoneamento da aacuterea urbana Tal zoneamento

responsaacutevel pela subdivisatildeo do periacutemetro urbano em diferentes categorias eacute o principal

instrumento da regulaccedilatildeo urbana A definiccedilatildeo das categorias deveraacute ser pautada pelo melhor

aproveitamento e pela ampliaccedilatildeo do acesso agrave terra urbanizada O zoneamento orienta o

ordenamento urbano a partir das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo do solo definindo os paracircmetros

urbaniacutesticos - coeficiente de aproveitamento taxa de ocupaccedilatildeo afastamentos gabaritos - de

forma que os projetos de edificaccedilotildees e demais intervenccedilotildees mantenham uma densidade de

ocupaccedilatildeo que favoreccedila o conforto ambiental urbano Dentre os criteacuterios para a definiccedilatildeo dos

diferentes paracircmetros urbaniacutesticos que incidem sobre o territoacuterio estatildeo proteccedilatildeo das aacutereas

ambientalmente fraacutegeis adensamento de aacutereas providas de infraestrutura limitaccedilatildeo de usos a

partir da capacidade viaacuteria controle da permeabilidade do solo preservaccedilatildeo e proteccedilatildeo de

conjuntos de valor histoacuterico cultural ou ambiental distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo de baixa renda

em aacutereas bem localizadas e servidas de infraestrutura condiccedilotildees climaacuteticas locais

As diretrizes para o parcelamento geralmente compoem junto com os paracircmetros

urbaniacutesticos a mesma lei municipal O parcelamento merece destaque pois trata dos novos

espaccedilos que seratildeo incorporados ao tecido urbano da cidade e portanto deveraacute estar

integralmente articulado com as estrateacutegias do desenvolvimento urbano Eacute regulamentado em

acircmbito geral pela Lei Federal 676679 acrescida das alteraccedilotildees posteriores definidas nas leis

978599 e 1144507 O parcelamento configura um processo de expansatildeo horizontal ou

adensamento da aacuterea urbanizada e consiste na subdivisatildeo de um determinado imoacutevel sob as

formas de desmembramento (quando haacute o aproveitamento do sistema viaacuterio existente) ou

loteamento (quando haacute abertura de novas vias e logradouros ou modificaccedilatildeo dos existentes)

Deveratildeo ser contempladas na Lei de Parcelamento as aacutereas que natildeo admitiratildeo parcelamento

os paracircmetros de dimensionamento de lotes quadras e sistema viaacuterio as aacutereas de uso puacuteblico

as faixas de proteccedilatildeo a infraestrutura baacutesica os procedimentos administrativos para

aprovaccedilatildeo do projeto as contrapartidas do empreendedor as penalidades sobre infraccedilotildees

assim como os procedimentos para regularizaccedilatildeo das aacutereas em desconformidade com a Lei

Paracircmetros de conforto ambiental tais como ventos favoraacuteveis orientaccedilatildeo solar vegetaccedilatildeo

18

sistema de abastecimento de aacutegua sistema de esgotamento sanitaacuterio e sistema de drenagem

devem ser definidos em lei e cobrados nos projetos de parcelamento a fim de minimizar os

impactos ao meio ambiente

Vale destacar que o sucesso na elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo das Leis de Parcelamento

Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo depende primeiramente do comprometimento da gestatildeo municipal

com a democratizaccedilatildeo da cidade e com o bem-estar coletivo caso contraacuterio tal legislaccedilatildeo

poderaacute aprofundar a segregaccedilatildeo privilegiando a iniciativa privada a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria

e os interesses individuais

O zoneamento ambiental terceiro instrumento de planejamento municipal

apontado na lista do Art 4ordm do Estatuto da Cidade eacute tambeacutem um instrumento da Poliacutetica

Nacional do Meio Ambiente regida pela Lei 693881 Art 9ordm O zoneamento ambiental pode

ser considerado uma expressatildeo sinocircnima do Zoneamento Ecoloacutegico-Econocircmico ndash ZEE que

foi regulamentado pelo Decreto 429702

CAPITULO I - DOS OBJETIVOS E PRINCIacutePIOS ndash [] Art 2ordm O ZEE

instrumento de organizaccedilatildeo do territoacuterio a ser obrigatoriamente seguido na

implantaccedilatildeo de planos obras e atividades puacuteblicas e privadas estabelece medidas e

padrotildees de proteccedilatildeo ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental dos

recursos hiacutedricos e do solo e a conservaccedilatildeo da biodiversidade garantindo o

desenvolvimento sustentaacutevel e a melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo

Art 3ordm O ZEE tem por objetivo geral organizar de forma vinculada as decisotildees dos

agentes puacuteblicos e privados quanto a planos programas projetos e atividades que

direta ou indiretamente utilizem recursos naturais assegurando a plena manutenccedilatildeo

do capital e dos serviccedilos ambientais dos ecossistemas Paraacutegrafo uacutenico O ZEE na

distribuiccedilatildeo espacial das atividades econocircmicas levaraacute em conta a importacircncia

ecoloacutegica as limitaccedilotildees e as fragilidades dos ecossistemas estabelecendo vedaccedilotildees

restriccedilotildees e alternativas de exploraccedilatildeo do territoacuterio e determinando quando for o

caso inclusive a relocalizaccedilatildeo de atividades incompatiacuteveis com suas diretrizes

gerais (BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002)

O zoneamento ambiental ou ZEE eacute o instrumento que possibilita traccedilar um

panorama sobre a utilizaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais de um determinado

municiacutepio gerando as bases para um planejamento urbano comprometido com a

sustentabilidade ecoloacutegica econocircmica e social Tambeacutem eacute um instrumento de caraacuteter

democraacutetico-participativo e deve portanto ser acompanhado pela Administraccedilatildeo Puacuteblica em

seus diferentes niacuteveis e pela sociedade civil Tal instrumento assim como o zoneamento

urbano divide o territoacuterio em diferentes categorias As categorias do zoneamento ambiental

satildeo definidas a partir dos princiacutepios da utilidade e da simplicidade de forma a configurar

limites claros e compreensiacuteveis ao poder puacuteblico e aos cidadatildeos As diretrizes gerais e

especiacuteficas do zoneamento deveratildeo conter a capacidade de suporte ambiental de determinada

aacuterea a necessidade de proteccedilatildeo dos recursos renovaacuteveis e natildeo-renovaacuteveis a definiccedilatildeo de aacutereas

19

para unidades de conservaccedilatildeo integral a permissatildeo para exploraccedilatildeo de recursos naturais as

medidas para o desenvolvimento sustentaacutevel do setor rural medidas de ajustamento entre usos

conflitantes aleacutem de planos programas e fonte de recursos para viabilizar as atividades

apontadas para cada zona

Apesar de ser um importante instrumento de suporte agrave proteccedilatildeo do meio ambiente

o zoneamento ambiental ou ZEE ainda tem sido pouco utilizado pelos municiacutepios brasileiros

Contudo os dados da Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais (MUNIC 2013)

demonstraram que tem havido um crescimento do percentual de municiacutepios com legislaccedilatildeo

especiacutefica sobre a questatildeo ambiental o que traz um pouco de esperanccedila quanto agrave mudanccedila

dos paradigmas de proteccedilatildeo do meio ambiente A MUNIC 2013 apontou que em 2012

554 dos municiacutepios tinham legislaccedilatildeo ambiental jaacute em 2013 esse percentual subiu para

655

Por uacuteltimo os demais instrumentos de planejamento municipal apontados no Art

4ordm do Estatuto da Cidade - plano plurianual diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual

gestatildeo orccedilamentaacuteria participativa planos programas e projetos setoriais planos de

desenvolvimento econocircmico e social ndash tratariam de garantir a gestatildeo democraacutetica da cidade a

partir da realizaccedilatildeo de debates audiecircncias e consultas puacuteblicas como condiccedilatildeo para a

aprovaccedilatildeo das Leis Municipais Tais instrumentos apesar de natildeo-urbaniacutesticos tecircm uma

importacircncia decisiva na reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais Contudo embora tenham se

efetivado na maioria dos municiacutepios brasileiros ainda permanecem em sua maioria

mergulhados na velha poliacutetica clientelista que transforma os foacuteruns de participaccedilatildeo em

espaccedilos esvaziados pouco divulgados redutos de manobras poliacuteticas e trocas de favores

Infelizmente a garantia da gestatildeo democraacutetica natildeo seraacute alcanccedilada apenas por atos normativos

assim como as diretrizes estabelecidas para o desenvolvimento urbano sustentaacutevel tambeacutem

natildeo ser tornaratildeo realidade apenas por forccedila de Lei Eacute necessaacuterio mudar o caraacuteter da gestatildeo do

territoacuterio que atualmente se caracteriza pela anulaccedilatildeo da atuaccedilatildeo teacutecnica das diferentes aacutereas

do conhecimento a fim de garantir que o interesse privado prevaleccedila sobre os diretos coletivos

de toda uma cidade Eacute necessaacuterio colocar em praacutetica os preceitos das leis brasileiras efetivar

os instrumentos com real participaccedilatildeo popular lanccedilar as bases para um modelo de gestatildeo

realmente democraacutetico inclusivo e comprometido com o bem estar coletivo e com a justiccedila

social

20

4 OS DESAFIOS DA REGULACcedilAtildeO URBANA FRENTE AgraveS INTERVENCcedilOtildeES NAS

EDIFICACcedilOtildeES E NOS CONJUNTOS URBANOS TOMBADOS

A proteccedilatildeo e a preservaccedilatildeo dos siacutetios urbanos de valor histoacuterico arquitetocircnico

cultural ou paisagiacutestico satildeo imprescindiacuteveis para a manutenccedilatildeo da identidade e da memoacuteria

dos diferentes grupos sociais que por ali passaram ou nele se estabeleceram O registro da

histoacuteria deve ser deixado agraves geraccedilotildees futuras como siacutembolo do conhecimento e da experiecircncia

adquirida ao longo do tempo A proteccedilatildeo de um determinado siacutetio pode inclusive ser

utilizada quando a memoacuteria coletiva e a afetividade de uma comunidade para com um

determinado espaccedilo adquirir grande relevacircncia cultural gerando uma ambiecircncia a ser

protegida mesmo que esta tenha se consolidado em um periacuteodo recente

Atualmente a preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos e a conservaccedilatildeo dos imoacuteveis

urbanos tecircm no desenvolvimento urbano sustentaacutevel um importante aliado A disseminaccedilatildeo

da loacutegica do consumo que atinge tanto os bens materiais moacuteveis quanto os imoacuteveis resulta

numa produccedilatildeo exagerada desses bens o que demanda enorme quantidade de mateacuteria-prima e

energia e causa impacto no meio ambiente Sendo assim as poliacuteticas de preservaccedilatildeo e o

incentivo ao reuso de edifiacutecios e objetos contribuem para a sustentabilidade e o equiliacutebrio

ambiental

Hoje existem no Brasil doze siacutetios urbanos e sete siacutetios naturais que satildeo

considerados Patrimocircnio Cultural da Humanidade e portanto tombados internacionalmente

pela UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

Dentre os conjuntos tombados internacionalmente destaca-se a predominacircncia dos centros

histoacutericos de caracteriacutesticas coloniais tais como o Centro Histoacuterico de Ouro Preto MG

Olinda PE Salvador BA Satildeo Luiz do Maranhatildeo MA Diamantina MG e Goiaacutes GO Natildeo

menos importante o tombamento nacional realizado pelo IPHAN ndash Instituto do Patrimocircnio

Histoacuterico e Artiacutestico Nacional preserva 77 conjuntos urbanos espalhados por todas as regiotildees

do Brasil com destaque para a regiatildeo nordeste que conta com 30 desses centros tombados

Somam-se a esse contingente os conjuntos tombados estadualmente e municipalmente que

natildeo seratildeo aqui enumerados

A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio estaacute presente no ordenamento

juriacutedico brasileiro desde 1937 quando por meio do Decreto-Lei nordm25 criou-se o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash SPHAN (atual IPHAN) para proteger as cidades

e os monumentos da modernizaccedilatildeo das reformas urbanas e do interesse imobiliaacuterio

21

Reafirmada pelo Art 216 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e pelo Art 2ordm inciso XII do

Estatuto da Cidade a proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e

construiacutedo do patrimocircnio cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico tornou-se

diretriz obrigatoacuteria a ser contemplada pelos planos urbanos e legislaccedilotildees municipais

Contudo a preservaccedilatildeo dos conjuntos urbanos tombados natildeo pressupotildee o

congelamento das cidades Os paracircmetros para as intervenccedilotildees contemporacircneas deveratildeo ser

definidos em leis especiacuteficas de modo a evitar que o novo se sobreponha ou se confunda com

o existente A preservaccedilatildeo do conjunto tombado soacute seraacute possiacutevel se for permitido agrave cidade

expandir-se adensar-se e modificar-se Caso contraacuterio centro e cidade se tornaratildeo obsoletos

Percebe-se portanto que a regulaccedilatildeo urbana nas cidades histoacutericas enfrenta um

grande desafio preservar o antigo e abrir-se ao novo Sendo assim como proceder e quais

instrumentos utilizar Como a legislaccedilatildeo municipal deveraacute ser elaborada e aplicada a fim de

contemplar a preservaccedilatildeo do conjunto tombado e a expansatildeo da cidade seguindo os preceitos

da sustentabilidade

A preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos associada agrave expansatildeo sustentaacutevel das cidades eacute

um tema que vem sendo amplamente discutido inclusive em acircmbito internacional Nos paiacuteses

do norte e principalmente no continente europeu os siacutetios urbanos que demandam poliacuteticas

de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo remontam de seacuteculos e ateacute mesmo de milecircnios passados Embora

uma grande parte do patrimocircnio mundial tenha se perdido com a destruiccedilatildeo resultante das

guerras das cataacutestrofes e da imposiccedilatildeo de novas culturas como aconteceu principalmente nos

paiacuteses do sul que tiveram a cultura originaacuteria destruiacuteda pela colonizaccedilatildeo ainda haacute muito

patrimocircnio a ser preservado E natildeo eacute de hoje que os teacutecnicos e profissionais de diversas aacutereas

do conhecimento tecircm desenvolvido teorias e instrumentos para assegurar a salvaguarda de

todo esse patrimocircnio

Desde entatildeo leis documentos planos guias e coacutedigos vecircm sendo desenvolvidos

com o objetivo de orientar e direcionar as accedilotildees e intervenccedilotildees sobre o patrimocircnio cultural das

cidades com vistas ao desenvolvimento sustentaacutevel

Um importante documento desenvolvido em 2008 pelo Governo da Escoacutecia o

ldquoSustainable Development Guidance for Estate Managementrdquo buscou sistematizar a partir

dos preceitos da sustentabilidade estrateacutegias e orientaccedilotildees para a realizaccedilatildeo de intervenccedilotildees

principalmente para as novas construccedilotildees Tal preocupaccedilatildeo se intensificou apoacutes a discussatildeo

sobre as mudanccedilas climaacuteticas e os efeitos futuros ldquoThe Stern Review on the Economics of

Climate Changerdquo realizada pelo Governo do Reino Unido O documento ldquoSustainable

22

Development Guidance for Estate Managementrdquo se assemelha a um guia para o

desenvolvimento sustentaacutevel que aborda as estrateacutegias de accedilatildeo e recomendaccedilotildees para fazer da

Escoacutecia um paiacutes mais ecoloacutegico

Segundo esse Guia que trata da proteccedilatildeo do ambiente natural e da manutenccedilatildeo do

ambiente construiacutedo a sustentabilidade deveraacute ser uma prerrogativa tanto nas novas

construccedilotildees como na manutenccedilatildeo das edificaccedilotildees existentes nas conversotildees de uso nas

ampliaccedilotildees no retrofit4 e nas demoliccedilotildees No item 36 ldquoEmbedding sustainability within the

estate strategy processrdquo satildeo apontados os itens a serem observados na elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias e projetos para o desenvolvimento manutenccedilatildeo ou restauraccedilatildeo de edificaccedilotildees Satildeo

eles biodiversidade layout flexiacutevel nas construccedilotildees materiais construtivos e a possibilidade

de recuperaccedilatildeo reciclagem e reuso gestatildeo da aacutegua diminuiccedilatildeo da poluiccedilatildeo energia

certificada minimizaccedilatildeo do consumo de energia atraveacutes do isolamento e da ventilaccedilatildeo

natural utilizaccedilatildeo de energias renovaacuteveis como energia solar diminuiccedilatildeo do desperdiacutecio e

aumento da reciclagem dentre outros itens A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio

conforme jaacute foi discutido no iniacutecio deste capiacutetulo tambeacutem estaacute presente no Guia conforme

aponta o item 43 ldquoHistoric Buildingsrdquo Neste item direciona-se a atenccedilatildeo para as amplas

possibilidades de reuso e reabilitaccedilatildeo dessas edificaccedilotildees Tal situaccedilatildeo deve partir da

intervenccedilatildeo miacutenima e deve garantir que as caracteriacutesticas histoacutericas ou culturais dos edifiacutecios

sejam devidamente respeitadas e mantidas O Guia trata tambeacutem do procedimento para

reparos que na medida do possiacutevel deve ser feito atraveacutes das teacutecnicas tradicionais e dos

materiais originais ou compatiacuteveis sempre com apoio de profissional especializado Eacute

enfatizada tambeacutem a obrigatoriedade em solicitar das autoridades competentes autorizaccedilatildeo

para as intervenccedilotildees Por uacuteltimo apoacutes feitas todas as consideraccedilotildees sobre os aspectos

positivos da reutilizaccedilatildeo de um determinado edifiacutecio no caso de se decidir pela demoliccedilatildeo do

mesmo o Guia aponta os cuidados a serem obsevados na disposiccedilatildeo final dos resiacuteduos no

aterro sanitaacuterio alertando para a importacircncia em separar os resiacuteduos toacutexicos Os materiais

resultantes da demoliccedilatildeo como accedilo fundaccedilotildees de concreto ceracircmica madeira de assoalho

instalaccedilotildees internas placas de gesso carpete e janelas satildeo frequentemente passiacuteveis de

4 ldquoTermo utilizado principalmente em engenharia para designar o processo de modernizaccedilatildeo de algum

equipamento jaacute considerado ultrapassado ou fora de normardquo Disponiacutevel em

lthttpwwweletrobrascomrelatorio_sustentabilidade_2013anexosglossariogt Acesso em 06 de jun 2015

23

reciclagem revenda ou reutilizaccedilatildeo e natildeo devem ser descartados resultando na diminuiccedilatildeo do

desperdiacutecio e na reduccedilatildeo da exploraccedilatildeo dos recursos naturais

Outro importante documento a ser citado aqui como relevante para a proteccedilatildeo do

patrimocircnio histoacuterico e para o desenvolvimento sustentaacutevel o ldquoCalifornia Code of

Regulations Title 24rdquotambeacutem chamado de ldquoCalifornia Building Standards Coderdquo foi

finalizado em 1998 e aprovado pela ldquoCalifornia Building Standards Commissionrdquo em 2007

Tal documento trata dos paracircmetros gerais para a construccedilatildeo de edificaccedilotildees no Estado da

Califoacuternia Este Coacutedigo eacute dividido em 12 partes e traz na parte 8 de tiacutetulo ldquoCalifornia

Historical Building Code (CHBC)rdquo as exigecircncias a serem cumpridas para a permissatildeo de

reparos alteraccedilotildees e adiccedilotildees necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo relocaccedilatildeo mudanccedila de

uso ou continuaccedilatildeo de uso em edificaccedilotildees de reconhecido valor cultural ou histoacuterico5 Com o

objetivo de proteger a sauacutede e a seguranccedila das pessoas o California Historical Building Code

(CHBC) busca orientar as accedilotildees para a recuperaccedilatildeo das edificaccedilotildees histoacutericas garantindo a

preservaccedilatildeo da integridade e das caracteriacutesticas de tais edificaccedilotildees Ao todo satildeo 10 capiacutetulos

que abordam em resumo os seguintes temas capiacutetulo 01 ldquoAdministrationrdquo trata dos casos

sujeitos agrave aplicaccedilatildeo do coacutedigo cap02 ldquoDefinitionsrdquo trata das definiccedilotildees dos termos frases e

palavras necessaacuterios agrave compreensatildeo dos demais capiacutetulos cap03 ldquoUse and Occupancyrdquo trata

das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo dos edifiacutecios tais como altura maacutexima e nuacutemero de

pavimentos dimensatildeo miacutenima dos cocircmodos diretrizes de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo cap04

ldquoFire Protectionrdquo trata da proteccedilatildeo contra incecircndio e indica as diretrizes em relaccedilatildeo aos

materiais shafts telhado sistemas de alarme sistemas automaacuteticos de proteccedilatildeo como

sprinklers dentre outras tecnologias cap05 ldquoMeans of Egressrdquo trata das meios de saiacuteda das

edificaccedilotildees abordando entre outros elementos as escadas portas janelas grades e guarda-

corpos cap06 ldquoAccessibilityrdquo trata da acessibilidade aos portadores de necessidades especiais

a partir da utilizaccedilatildeo das dimensotildees miacutenimas e demais diretrizes estabelecidas para as

entradas portas banheiros rampas elevadores dentre outros cap07 ldquoStructural

5 Conforme o California Building Standards Code Parte 08 paacutegina 04 as edificaccedilotildees de reconhecido valor

cultural ou histoacuterico para as quais se utilizaraacute o CHBC satildeo ldquoFor the purposes of this part a qualified historical

building or structure is any structure or collection of structures and their associated sites deemed of importance

to the history architecture or culture of an area by an appropriate local or state governmental jurisdiction This

shall include structures on existing or future national state or local historical registers or official inventories

such as the National Register of Historic Places State Historical Landmarks State Points of Historical Interest

and city or county registers or inventories of historical or architecturally significant sites places historic districts

or landmarksrdquo (CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS 2007 p 4)

24

Regulationsrdquo trata da regulaccedilatildeo sobre os sistemas estruturais a partir da identificaccedilatildeo da

situaccedilatildeo da estrutura por profissional especializado identificaccedilatildeo dos acreacutescimos posteriores agrave

construccedilatildeo do edifiacutecio das cargas incidentes da performance dos parapeitos e da situaccedilatildeo dos

revestimentos externos e decorativos cap8 ldquoArchaic Materials and Methods of Constructionrdquo

trata dos meacutetodos e materiais construtivos tradicionais das edificaccedilotildees histoacutericas e das

diretrizes para a recuperaccedilatildeo de alvenarias adobe madeira concreto accedilo ferro vidros e

vidraccedilas cap09 ldquoMechanical Plumbing and Electrical Requirementsrdquo trata das exigecircncias

em relaccedilatildeo agraves instalaccedilotildees eleacutetricas aos encanamentos e sistemas mecacircnicos Por uacuteltimo o

cap10 ldquoQualified Historical Districts Sites and Open Spacesrdquo trata das orientaccedilotildees para a

preservaccedilatildeo dos espaccedilos abertos e siacutetios histoacutericos a partir da manutenccedilatildeo da configuraccedilatildeo

espacial existente e dos elementos constitutivos da paisagem

No Brasil o instrumento que mais se assemelha aos exemplos citados acima eacute o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees Utilizado para regulamentar os criteacuterios e procedimentos a

serem utilizados na elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de projetos de edificaccedilotildees e controlar as atividades

de construccedilatildeo6 o Coacutedigo de Obras eacute instituiacutedo por lei municipal como instrumento

complementar a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo citada anteriormente no Capiacutetulo 02 O

atendimento agraves condiccedilotildees estabelecidas nesses dois instrumentos da regulaccedilatildeo urbana ndash e o

atendimento a outras legislaccedilotildees quando for o caso - eacute requisito para a obtenccedilatildeo da licenccedila

urbaniacutestica Somente por meio da licenccedila municipal que afirma a compatibilizaccedilatildeo dos

interesses individuais e coletivos com o desenvolvimento urbano o proprietaacuterio poderaacute

exercer o seu direito sobre a propriedade sendo-lhe permitido executar as intervenccedilotildees

devidamente aprovadas Tambeacutem devem ser previstas em lei assim como os procedimentos

para o licenciamento as bases para a efetivaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo municipal como a

determinaccedilatildeo das infraccedilotildees e a previsatildeo de sanccedilotildees e multas aplicaacuteveis a cada caso

Subordinado agraves estrateacutegias de desenvolvimento estabelecidas no Plano Diretor o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees assim como a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo deve ser

elaborado a partir da preocupaccedilatildeo em se estabelecer uma boa interaccedilatildeo entre as novas

edificaccedilotildees e o conjunto urbano construiacutedo Para essa interaccedilatildeo as construccedilotildees devem atender

agraves premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica natildeo de forma isolada mas de

6 ldquoPara fins de direito entende-se por construccedilatildeo toda realizaccedilatildeo material e intencional de algueacutem visando a

adaptar o imoacutevel agraves suas conveniecircncias Nesse sentido tanto eacute construccedilatildeo a edificaccedilatildeo ou reforma como a

demoliccedilatildeo o muramento a escavaccedilatildeo o aterro a pintura e demais trabalhos destinados a beneficiar tapar

desobstruir conservar ou embelezar o preacutediordquo (BARANDIER ALMEIDA MORAIS 2013 p 147)

25

forma a interferir positivamente sobre o clima urbano e sobre a qualidade ambiental Assim

para aleacutem das diretrizes relativas ao uso agrave seguranccedila agrave salubridade agrave acessibilidade e agrave

preservaccedilatildeo dos elementos histoacutericos artiacutesticos e culturais tambeacutem devem ser elaborados

estudos climaacuteticos que aplicados ao desenho urbano possibilitem a formulaccedilatildeo de diretrizes

em prol da adaptaccedilatildeo das edificaccedilotildees agraves caracteriacutesticas climaacuteticas locais ao conforto teacutermico

luminoso e acuacutestico aleacutem da formulaccedilatildeo de diretrizes para a utilizaccedilatildeo de fontes de energia

alternativas e combate ao desperdiacutecio

Voltando aos dados obtidos pela Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros

realizada pelo IBGE em 2013 conforme pode ser visto no graacutefico abaixo do total de

municiacutepios brasileiros 624 declararam ter Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees enquanto 542

declararam ter Lei de Zoneamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo Esses dados demonstram que os

instrumentos legais embora apresentem um grande potencial de transformaccedilatildeo da realidade

urbana ainda satildeo pouco aplicados

Graacutefico do Percentual de municiacutepios segundo o tipo de instrumento de planejamento

existente - MUNIC -2013

Fonte Pesquisa ldquoPERFIL DOS MUNICIacutePIOS BRASILEIROS 2013rdquo (IBGE 2014)

Dentre os Coacutedigos de Obras existentes muitos estatildeo desatualizados defasados e

por isso natildeo configuram um mecanismo relevante quanto agrave alteraccedilatildeo do cenaacuterio das cidades

brasileiras Aleacutem disso a falha na articulaccedilatildeo dos diversos dispositivos de orientaccedilatildeo controle

e fiscalizaccedilatildeo das construccedilotildees resulta na aplicaccedilatildeo desequilibrada da lei consolidando

poliacuteticas de favorecimento exclusatildeo e segregaccedilatildeo aleacutem de ampliar a cada dia a destruiccedilatildeo e

os prejuiacutezos ambientais

26

Apesar de termos avanccedilado na construccedilatildeo conceitual dos instrumentos capazes de

nos levar ao sonhado desenvolvimento sustentaacutevel estamos ainda muito aqueacutem de efetivaacute-los

na praacutetica e no dia-a-dia dos municiacutepios A gestatildeo urbana da qual o planejamento eacute

interdependente configura a um dos principais obstaacuteculos agrave superaccedilatildeo da loacutegica atual de

valorizaccedilatildeo dos interesses individuais sobre os coletivos A falta interesse em destinar

recursos para a soluccedilatildeo de parte dos problemas soacutecio-espaciais tambeacutem eacute um grande

obstaacuteculo A melhoria da infraestrutura urbana os projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria a

construccedilatildeo de moradias populares sustentaacuteveis e a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados jaacute

configurariam um passo adiante na concretizaccedilatildeo da sustentabilidade no ambiente urbano

Sendo assim conhecidos os obstaacuteculos ou pelo menos parte deles eacute fundamental lanccedilarmos

as bases para a sua superaccedilatildeo fortalecendo os ideais de transformaccedilatildeo das cidades

27

5 O MUNICIacutePIO DE OURO PRETO UM ESTUDO DE CASO

51 Da colonizaccedilatildeo ao Seacuteculo XX

Localizado na Regiatildeo Central de Minas Gerais (ou Macrorregiatildeo Metaluacutergica) o

municiacutepio de Ouro Preto eacute possui uma aacuterea aproximada de 1245kmsup2 e sua populaccedilatildeo totaliza

cerca de 70281 habitantes7 Posicionado na porccedilatildeo centro-sul do Estado Ouro Preto tem

como principais confrontantes os municiacutepios de Mariana Itabirito Ouro Branco Congonhas

e Santa Baacuterbara Aleacutem do distrito-sede o territoacuterio eacute dividido em mais 12 distritos

Amarantina Antocircnio Pereira Cachoeira do Campo Engenheiro Correia Glaura Lavras

Novas Miguel Burnier Santa Rita Santo Antocircnio do Leite Santo Antocircnio do Salto Satildeo

Bartolomeu e Rodrigo Silva

Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ouro Preto no estado de

Minas Gerais

Fonte SMCP - PMOP

7 IBGE Diretoria de Pesquisas Coordenaccedilatildeo de Populaccedilatildeo e Indicadores Sociais ndash ldquoEstimativas da populaccedilatildeo

residente com data de referecircncia 1o de julho de 2014 publicada no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo em 28082014rdquo

Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314610ampsearch=||infogrE1ficosinformaE7F5e

s-completasgt Acesso em 06 jun 2015

28

Ouro Preto e municiacutepios limiacutetrofes

Fonte SMCP - PMOP

Mapa dos Distritos de Ouro Preto

Fonte SMCP - PMOP

Desencadeados pela exploraccedilatildeo auriacutefera do seacuteculo XVII - iniciada na regiatildeo de

Minas Gerais provavelmente em 1698 - os arraiais e agrupamentos humanos se consolidaram

na regiatildeo montanhosa e acidentada do municiacutepio de Ouro Preto primeiramente nas encostas

iacutengremes e arredores das minas e posteriormente nas margens dos rios e nos fundos de vale O

povoamento foi se intensificando em torno dos principais eixos de ligaccedilatildeo entre os nuacutecleos

29

urbanos vizinhos resultando num desenho urbano linear e longitudinal diferente do modelo

reticulado de ordenaccedilatildeo do territoacuterio que foi caracteriacutestico do Brasil Colocircnia

Agrave primeira configuraccedilatildeo urbana consolidada em 1711 deu-se o nome de Vila

Rica de Albuquerque que posteriormente em 1720 foi elevada agrave capital da Capitania das

Minas Gerais Ao longo do seacuteculo XVIII foram efetivadas as intervenccedilotildees urbanas mais

significativas e foram construiacutedas as principais referecircncias arquitetocircnicas de Ouro Preto As

principais pontes os chafarizes o Centro Administrativo (atual Praccedila Tiradentes) o Palaacutecio

dos Governadores a Casa de Cacircmara e Cadeia assim como as inuacutemeras capelas e igrejas de

estilo barroco das diversas ordens e irmandades religiosas consolidaram o cenaacuterio

setecentista que configura o atual centro histoacuterico da cidade O final do seacuteculo XVIII foi

marcado pelo esgotamento das minas de ouro o que desencadeou um esvaziamento

populacional da Vila pela crise de abastecimento e decadecircncia econocircmica

O seacuteculo XIX contudo trouxe as mudanccedilas advindas da era do Impeacuterio e em

1823 Vila Rica de Albuquerque foi elevada agrave cidade sob o tiacutetulo de Imperial Cidade de Ouro

Preto A partir daiacute a cidade passou por diversas modernizaccedilotildees a fim de se consolidar

enquanto capital da proviacutencia de Minas Gerais A criaccedilatildeo da Escola de Farmaacutecia do Liceu de

Artes e Ofiacutecios da Escola de Minas a construccedilatildeo da Estaccedilatildeo Ferroviaacuteria e a implantaccedilatildeo da

Companhia Industrial Ouro-Pretana satildeo exemplos importantes da expansatildeo e do

desenvolvimento da cidade durante o seacuteculo XIX Ao final deste seacuteculo jaacute sob a eacutegide do

periacuteodo republicano a cidade de Ouro Preto perde o status de capital da proviacutencia que em

1897 passou para Belo Horizonte Tal fato ocasionou pela segunda vez um processo de

esvaziamento e crise econocircmica na cidade Assim distante dos ideais de modernizaccedilatildeo e

desenvolvimento que cercavam a nova capital a ausecircncia de poliacuteticas de renovaccedilatildeo foi o que

garantiu a preservaccedilatildeo das feiccedilotildees urbanas da antiga Vila Rica A partir de entatildeo diversos

intelectuais da eacutepoca viajaram ateacute Ouro Preto e verificando o mal estado de conservaccedilatildeo e o

abandono da cidade comeccedilaram a produzir uma nova consciecircncia em relaccedilatildeo agrave necessidade

de se preservar os registros do passado

30

Mapa da evoluccedilatildeo urbana de Ouro Preto ndash do seacuteculo XVII ao seacuteculo XX

Fonte IGA ndash Instituto de Geociecircncias Aplicadas - 2003

Igreja de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo ndash registros do

periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

Ponte vizinha agrave Casa dos Contos - registros do periacuteodo

entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

31

Igreja N S do Pilar ndash registros do periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015apresentacao

A tradiccedilatildeo quanto agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico somente se consolidou

no Brasil a partir do seacuteculo XX Em 1931 surgiu o primeiro decreto municipal8 voltado para a

preservaccedilatildeo do cenaacuterio arquitetocircnico da cidade de Ouro preto proibindo as construccedilotildees em

desacordo com o estilo colonial predominante Em 1933 por meio do decreto nacional

22928 Ouro Preto foi erigida a Monumento Nacional Em 1938 o conjunto histoacuterico da

cidade foi tombado pelo SPHAN - Serviccedilo do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional que

havia sido criado no ano anterior Os anos seguintes foram marcados por inuacutemeras obras de

restauraccedilatildeo e tombamentos individuais

8 Decreto 13 de 19 de setembro de 1931 ldquoConsiderando que a cidade de Ouro Preto escriacutenio das tradiccedilotildees

mineiras deve conservar o seu aspecto colonial transmitido dos nossos antepassados Considerando que esta

feiccedilatildeo colonial de seus edifiacutecios de seus preacutedios das ruas e praccedilas desperta grande interesse por parte dos

turistas que frequumlentemente vecircm visitar a cidade e suas cercanias Considerando que ferem dolorosamente a

sensibilidade dos turistas os preacutedios que destoam do tipo colonial DECRETA Art 1deg - Natildeo eacute permitida no

periacutemetro urbano a construccedilatildeo de preacutedios e de edifiacutecios em desacordo com o estilo colonial da cidade Art 2deg -

Os atuais preacutedios existentes no periacutemetro urbano em desacordo com o artigo antecedente deveratildeo ser

modificados nas respectivas fachadas quando estas tenham que receber reparos []rdquo (OLIVEIRA 1997 p 7)

32

A sistematizaccedilatildeo de normas aplicaacuteveis agraves novas construccedilotildees foi realizada pelo

SPHAN (que em 1970 passou a ser chamado IPHAN9) para regular o crescimento da cidade e

o intenso surgimento de novas moradias que caracterizaram as deacutecadas de 1950 e 1960 Tal

crescimento se deu principalmente pela chegada de induacutestrias metaluacutergicas para a exploraccedilatildeo

da bauxita e produccedilatildeo de alumiacutenio primaacuterio Assim o ldquoestilo patrimocircniordquo surgiu das

exigecircncias normativas quanto agrave utilizaccedilatildeo dos elementos arquitetocircnicos tradicionais do

periacuteodo colonial

Um primeiro plano urbano foi elaborado pelo arquiteto portuguecircs Viana de Lima

entre os anos 1968 e 1970 com o objetivo de ldquopreservarrdquo o nuacutecleo histoacuterico da cidade e

consolidar o estilo patrimocircnio atraveacutes da eliminaccedilatildeo dos ecletismos da demoliccedilatildeo de obras

desprovidas de qualidade esteacutetica e do preenchimento dos vazios urbanos Nos anos seguintes

a discussatildeo sobre a salvaguarda do patrimocircnio se intensificou e deu origem a diversos outros

planos10

e programas de preservaccedilatildeo que obtiveram pouco sucesso na aplicaccedilatildeo praacutetica Em

21 de setembro de 1980 Ouro Preto recebeu da UNESCO o tiacutetulo de Patrimocircnio Cultural da

Humanidade e passou a ter visibilidade internacional

Ao final do seacuteculo XX a preocupaccedilatildeo com o desenvolvimento urbano da cidade e

com a proteccedilatildeo patrimonial gerou novas demandas em relaccedilatildeo agrave regulaccedilatildeo urbana e coube ao

IPHAN o papel de legislar sobre as intervenccedilotildees no centro histoacuterico As accedilotildees da

Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) do Instituto Estadual do Patrimocircnio Histoacuterico e

Artiacutestico (IEPHA) e do Instituto Estadual de Florestas (IEF) em pareceria com o governo

municipal e com o IPHAN foram decisivas na preservaccedilatildeo do patrimocircnio neste periacuteodo Em

1990 foram publicadas por meio da Lei 571990 as diretrizes para do Plano Diretor do

Municiacutepio sob as delineaccedilotildees inauguradas pela Constituiccedilatildeo Federal Tais diretrizes eram

bastante simplificadas e restritas aos zoneamentos e a questatildeo da preservaccedilatildeo do patrimocircnio

9 Em 1937 por meio da Lei nordm 378 foi fundado o SPHAN como oacutergatildeo oficial de preservaccedilatildeo do patrimocircnio

cultural brasileiro No mesmo ano foi promulgado o Decreto-Lei nordm 25 que regulamentou as atividades do

SPHAN Em 1946 o SPHAN teve o seu nome alterado para Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (DPHAN) Em 1970 o DPHAN eacute transformado em Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (IPHAN)

10 ldquoEm Minas Gerais a Fundaccedilatildeo Joatildeo Pinheiro (FJP) realizou um extenso diagnoacutestico e elaborou planos

diretores para diversas cidades coloniais mineiras bem como o Plano de Conservaccedilatildeo Valorizaccedilatildeo e

Desenvolvimento de Ouro Preto e Mariana em 1975 Esse Plano trata sobre a preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

patrimocircnio vinculado com as necessidades de desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio Por isso

abordou desde questotildees histoacutericas e culturais ateacute a anaacutelise de aspectos fiacutesico- territoriais tais como siacutetio natural

estudo das estruturas urbanas paisagismo e legislaccedilatildeo urbanardquo (SILVA OLIVEIRA 2005 p 180)

33

foi pouco abordada Jaacute em 1996 uma nova versatildeo do plano foi elaborada e diferentemente do

texto anterior o novo plano contemplou a preocupaccedilatildeo com o patrimocircnio e a preservaccedilatildeo

como instrumentos interligados agrave poliacutetica urbana

Art 1ordm - Em conformidade com a Constituiccedilatildeo Federal e com a Lei Orgacircnica

Municipal fica instituiacutedo o Plano Diretor de Ouro Preto (PDOP) fixando diretrizes

e instrumentos para o pleno desenvolvimento do Municiacutepio em consonacircncia com as

funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade [] Art 2ordm - O conjunto artiacutestico

arquitetocircnico urbaniacutestico paisagiacutestico e ambiental de relevante valor cultural

sediado no Municiacutepio objeto de tombamento federal e de reconhecimento

internacional pela UNESCO como Patrimocircnio Cultural da Humanidade eacute

considerado bem inalienaacutevel de sua populaccedilatildeo cabendo a ela exercer de forma

concorrente com as Administraccedilotildees Puacuteblicas a sua guarda proteccedilatildeo e gestatildeo

Paraacutegrafo uacutenico ndash A preservaccedilatildeo e a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural e ambiental

do Municiacutepio eacute fator determinante para o desenvolvimento urbano para a geraccedilatildeo de

empregos e para melhor distribuiccedilatildeo de renda Lei Complementar 0196 Ouro Preto

(OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996)

Em 1997 foi criado ldquoPlano de Reabilitaccedilatildeo do Siacutetio Histoacuterico de Ouro Pretordquo a

partir do ldquoMonumentardquo programa federal de iniciativa do Ministeacuterio da Cultura e patrocinado

pelo BID que sob a premissa do desenvolvimento econocircmico-social sustentaacutevel buscou

revitalizar os centros histoacutericos urbanos de 26 cidades brasileiras O Plano traccedilado para Ouro

Preto natildeo foi totalmente implementado mas alavancou as poliacuteticas de preservaccedilatildeo do

municiacutepio e deixou intervenccedilotildees significativas como por exemplo a recuperaccedilatildeo do Parque

Horto dos Contos (fundo de vale do Ribeiratildeo do Funil) aacuterea verde mais significativa da regiatildeo

central

34

Mapa Cadastral de Ouro Preto ndash Periacutemetro de tombamento pelo IPHAN

Fonte Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano - PMOP

52 O contexto atual

O conceito de patrimocircnio e de preservaccedilatildeo adotado no Brasil foi se modificando

ao longo da histoacuteria como foi apontado nos iniacutecio deste capiacutetulo Assim agrave medida que o

conceito adquiria relevacircncia as poliacuteticas de preservaccedilatildeo foram sendo instauradas nas esferas

administrativas Os avanccedilos iniciados no final do seacuteculo XX se consolidaram jaacute nos primeiros

anos do seacuteculo XXI O novo seacuteculo trouxe consigo uma mudanccedila significativa em relaccedilatildeo ao

desenvolvimento dos siacutetios histoacutericos que deixaram de ser vistos como uma ldquoobra de arte

intocaacutevelrdquo e passaram a ser tratados como espaccedilos socializados repletos de interaccedilatildeo cultural

e portanto passiacuteveis de transformaccedilatildeo Aleacutem dos centros urbanos o patrimocircnio imaterial

tambeacutem recebeu especial atenccedilatildeo e apoacutes 20 anos de discussatildeo a Convenccedilatildeo para a

Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial consolidada pela UNESCO em 2003 avanccedilou

no reconhecimento e na defesa das heranccedilas culturais dos povos ao redor do mundo

As transformaccedilotildees na relaccedilatildeo da preservaccedilatildeo com o planejamento urbano se

efetivaram em 2003 a partir da criaccedilatildeo do Plano de Preservaccedilatildeo de Siacutetio Histoacuterico Urbano

(PPSH) Este plano foi um instrumento de caraacuteter normativo que incidiu sobre os siacutetios

35

urbanos tombados em niacutevel federal a fim de aliar preservaccedilatildeo e desenvolvimento e incentivar

a gestatildeo compartilhada Nesse mesmo ano foi realizado o Encontro Nacional de Cidades

Histoacutericas que tratou da gestatildeo compartilhada do patrimocircnio cultural e da efetivaccedilatildeo das

poliacuteticas de preservaccedilatildeo associadas agrave legislaccedilatildeo urbana e ambiental

As mudanccedilas do iniacutecio do seacuteculo natildeo demoraram a repercutir no Municiacutepio de

Ouro Preto A partir da portaria ndeg 122 instituiacuteda em 2004 pelo presidente do IPHAN

definiu-se as diretrizes de intervenccedilatildeo e os paracircmetros para aprovaccedilatildeo de projeto no centro

histoacuterico da cidade a fim de garantir a manutenccedilatildeo das caracteriacutesticas da unidade e da

harmonia do conjunto urbano

Mapa dos bairros do municiacutepio de Ouro Preto

Fonte Secretaria Municipal de Patrimocircnio e Desenvolvimento Urbano - PMOP

36

Mapa esquemaacutetico ndash Periacutemetro urbano periacutemetro tombado e demais delimitaccedilotildees de interesse do distrito sede

Elaboraccedilatildeo Guilherme I N Ataiacutedes Base mapa do Plano Diretor

Foto da Praccedila Tiradentes

Fonte httpmondegocombrpraca-tiradentes

37

Foto Campus UFOP

Fonte httpwwwseeufopbrp=490

Foto IFMG

Fonte httpwwwouropretoifmgedubrcomunicacaoimagens-e-videoscampus-ouro-

pretocampusimage_view_fullscreen

Em 2006 a remodelaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Patrimocircnio e

Desenvolvimento Urbano (antiga Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio) deu um novo

impulso agrave preservaccedilatildeo no acircmbito da gestatildeo municipal unindo as poliacuteticas de proteccedilatildeo agraves

poliacuteticas de planejamento urbano O Grupo de Assessoramento Teacutecnico ndash GAT e o Conselho

Municipal de Patrimocircnio foram novamente colocados em accedilatildeo Um novo Plano Diretor

promulgado ao final deste mesmo ano atraveacutes da Lei Complementar Nordm 29 agregou as

conquistas do Estatuto da Cidade aos preceitos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio e acrescentou as

diretrizes para a proteccedilatildeo ambiental Os temas funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

estruturaccedilatildeo territorial desenvolvimento econocircmico proteccedilatildeo ambiental proteccedilatildeo ao

patrimocircnio cultural poliacutetica de desenvolvimento social produccedilatildeo da cidade e mobilidade

urbana intitulam alguns dos capiacutetulos da Lei Os instrumentos da poliacutetica urbana para o

cumprimento da funccedilatildeo social da propriedade aparecem no texto logo em sequecircncia A Lei de

38

Parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo conforme previsatildeo do Art 81 do Plano Diretor foi

promulgada no mesmo dia 28 de dezembro de 2006

A partir de entatildeo o municiacutepio assume sua funccedilatildeo enquanto principal oacutergatildeo de

gestatildeo do territoacuterio tarefa que anteriormente era desempenhada pelo Governo Federal e pelo

IPHAN Ao final de 2010 por meio da Lei Complementar Nordm 91 o Plano Diretor passa por

alteraccedilotildees pontuais e em 2011 a Lei de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo eacute amplamente

revisada dando origem aos paracircmetros utilizados nos dias atuais

Dentro desse resumido panorama legislativo apresentado pode-se perceber que o

Municiacutepio de Ouro Preto acompanhou em grande parte os avanccedilos inaugurados pelo

Estatuto da Cidade e concretizou ao menos em forma de Lei a regulamentaccedilatildeo das diretrizes

e dos instrumentos capazes de fazer valer a funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

Contudo tais avanccedilos representam muito pouco frente ao gigantesco desafio

enunciado no Art 2 inciso II do mesmo Estatuto quanto agrave ldquogarantia do direito a cidades

sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao saneamento ambiental

agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para

as presentes e futuras geraccedilotildeesrdquo(Lei 10257 2001)

Aleacutem da amplitude da tarefa outros elementos dificultam ainda mais o processo

de construccedilatildeo de uma nova realidade como por exemplo a negligecircncia dos gestores puacuteblicos

para com a atualizaccedilatildeo necessaacuteria e obrigatoacuteria das Leis O Plano Diretor de Ouro Preto

indica jaacute no Capiacutetulo 1 artigo 1ordm sect3ordm o prazo maacuteximo para a revisatildeo do mesmo estabelecido

em cinco anos a partir da sua publicaccedilatildeo ou seja 2011 Sendo assim percebe-se que a Lei

de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo revisada em 2011 embora seja o principal instrumento de

controle urbaniacutestico ateacute os dias de hoje jaacute nasceu defasada pois utilizou como referecircncia a

estrateacutegia de desenvolvimento urbano definida no Plano Diretor de 2006 desconsiderando os

impactos e as mudanccedilas territoriais sociais e culturais ocorridos desde entatildeo No geral os

gestores municipais tratam apenas de alteraccedilotildees pontuais que apenas mascaram o quadro de

estagnaccedilatildeo e desatualizaccedilatildeo das leis urbaniacutesticas Tal conduta conforma um enorme obstaacuteculo

na concretizaccedilatildeo das diretrizes do Estatuto da Cidade

Nos capiacutetulos anteriores ao tratarmos do desenvolvimento sustentaacutevel dois

importantes instrumentos foram apontados como peccedilas-chave da consolidaccedilatildeo de uma nova

experiecircncia de sustentabilidade no ambiente urbano a agenda 21 e o coacutedigo de obras

O primeiro deles a agenda 21 local foi estabelecida em 15 de maio de 2007 por

meio da Lei Nordm 333

39

Art 1ordm Fica criado no acircmbito do Municiacutepio de Ouro Preto o Programa da Agenda 21

Local processo e instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento

sustentaacutevel e que tem como eixo central a sustentabilidade compatibilizando a

conservaccedilatildeo ambiental a justiccedila social e o crescimento econocircmico Art 2ordm Para

efeitos de execuccedilatildeo da Agenda 21 Local o Poder Executivo instalaraacute o Foacuterum Ouro-

pretano da Agenda 21 Local (OURO PRETO Lei nordm333 Agenda 21 Local de 11

de maio de 2007)

No texto da Lei foram previstos os capiacutetulos a serem desenvolvidos Agenda 21

Estrutural Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade A

responsabilidade recaiu sobre o Foacuterum Ouro-Pretano da Agenda 21 Local Aleacutem da Lei de

criaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel encontrar nos registros legislativos digitais da Cacircmara Municipal a

Portaria Nordm 1707 que nomeia uma Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos Naturais

e Agenda 21 Local

Outra fonte de informaccedilotildees sobre a Agenda 21 Local de Ouro Preto foi encontrada

no acervo digital da Universidade Federal de Ouro Preto sob o tiacutetulo ldquoAgenda 21 Local

consolidando as bases para o desenvolvimento sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escalardquo

(OLIVEIRA 2010) Nesse trabalho foram apontadas as iniciativas que acompanharam a

criaccedilatildeo da Agenda 21 Local dentre as quais se destacam em ordem cronoloacutegica 1ordm Encontro

de Processos de Agendas 21 Locais ndash fevereiro de 2007 Plenaacuteria na Cacircmara Municipal de

Ouro preto para apresentaccedilatildeo da Agenda 21 ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio de Capacitaccedilatildeo para

a Agenda 21 Local ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio Teacutecnico de Diagnoacutestico para referecircncia da

Agenda 21 Local ndash abril de 2007 Seminaacuterio de Implantaccedilatildeo da Agenda 21 Mineral de Ouro

Preto ndash abril de 2007 Assinatura do Termo de Cooperaccedilatildeo Muacutetua entre a Prefeitura

Municipal a Cacircmara Municipal a ONG Interforum Global e a UFOP ndash maio de 2007

Seminaacuterio Intermunicipal de Agenda 21 Local ndash maio de 2007 Seminaacuterio Geral de

Capacitaccedilatildeo da Agenda 21 Local ndash agosto de 2007

Para aleacutem dos registros oficiais e dos dados encontrados no trabalho mencionado

no paraacutegrafo anterior foram encontradas somente notiacutecias informais11

sobre a criaccedilatildeo e

lanccedilamento da Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude todas datadas de 2007

11 Destacam-se ldquoO presidente da Cacircmara vereador Mauriacutelio Zacarias (PMDB) implantou no dia 20 de abril a

Agenda 21 da Mineraccedilatildeo de Ouro Preto A Agenda 21 da Mineraccedilatildeo eacute uma das subdivisotildees da Agenda 21

Global um conjunto de accedilotildees recomendadas pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) para garantir o

desenvolvimento sustentaacutevel do planeta no seacuteculo XXIrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwcmopmggovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=70agenda-21-da-mineracao-e-

implantada-em-ouro-pretoampcatid=61reunioesgt Acesso em 06 jun 2015 ldquoJuntos pela sustentabilidade o

Foacuterum da Agenda 21 Local de Ouro Preto daacute iniacutecio ao desenvolvimento de accedilotildees especiacuteficas para a implantaccedilatildeo

do capiacutetulo Agenda 21 da Juventude na escola e na universidade O lanccedilamento da Agenda 21 da Escola

acontece no dia 21 de junho quinta-feira agraves 10h no Centro de Artes e Convenccedilotildees da UFOPrdquo ndash Notiacutecia sobre a

40

Conclui-se portanto que a iniciativa da Agenda 21 Local assim como muitas das

diretrizes definidas nas Leis do Planejamento Urbano estagnou no ano de 2007 e avanccedilou

pouco em relaccedilatildeo agraves primeiras linhas da Lei Embora se tenha a informaccedilatildeo de que os Grupos

de Trabalho continuaram a desenvolver suas atividades nos anos seguintes os registros dessas

accedilotildees praacuteticas satildeo praticamente inexistentes e tais atividades praticamente natildeo efetivaram

mudanccedilas na realidade do Municiacutepio

Quanto ao Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees outro importante instrumento da gestatildeo

municipal capaz de estabelecer as bases para um ambiente urbano sustentaacutevel este nunca foi

regulamentado pelo Municiacutepio Embora citado inuacutemeras vezes no Coacutedigo de Posturas que foi

instituiacutedo em 1980 atraveacutes da Lei 178 o Coacutedigo de Obras nunca adquiriu formato oficial para

aplicaccedilatildeo e regulaccedilatildeo do territoacuterio O uacutenico registro oficial encontrado nos arquivos

eletrocircnicos da Cacircmara Municipal diz respeito a uma comissatildeo especial formada em 1992

para emissatildeo de parecer sobre o anteprojeto de Coacutedigo de Obras de Ouro Preto elaborado

pela ENGEARP ndash Arquitetura e Engenharia Ltda12

Um segundo registro foi encontrado nos

arquivos do diaacuterio oficial eletrocircnico do municiacutepio e consiste numa breve menccedilatildeo do coacutedigo de

obras numa ata de uma das reuniotildees do COMPURB Conselho Municipal de Poliacutetica

Urbana13

em abril de 2013 Apesar dos registros quase inexistentes em consulta ao corpo

teacutecnico do Departamento de Aprovaccedilatildeo de Projetos da Secretaria de Cultura e Patrimocircnio

foram identificadas algumas iniciativas quanto agrave elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo de Obras para o

municiacutepio dentre as quais se destaca o modelo desenvolvido em 2012 Tal modelo em

conformidade com as diretrizes dos coacutedigos internacionais jaacute apontados neste trabalho

ressaltou que as edificaccedilotildees e instalaccedilotildees deveriam atender agraves condiccedilotildees miacutenimas de

seguranccedila conforto ambiental higiene salubridade harmonia esteacutetica e acessibilidade

criaccedilatildeo da Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade ndash 16 de junho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwufopedubrindexphpoption=com_contentamptask=viewampid=600ampItemid=50gt Acesso em 06 jun

2015 ldquoO grupo de trabalho da Agenda 21 Local de Ouro Preto a Associaccedilatildeo Comercial de Ouro Preto e a

Cacircmara da Mulher Empreendedora de Ouro Preto convidam para uma palestra com o seguinte tema lsquoAgenda 21

de Ouro Preto -Desafios e Possibilidades da Participaccedilatildeo do Comeacutercio na Sustentabilidade Localrsquordquo Notiacutecia sobre

o Grupo de Trabalho da Agenda Ouro Preto ndash 10 de julho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwfundacaoaprenderorgbr189gt Acesso em 06 jun 2015

12 Portaria Nordm 0292 ndash 04 de fevereiro de 1992 Disponiacutevel em

lthttpwwwsistemasiglaorgarquivossisnormNJ_img(2562)pdfgt Acesso em 06 jun 2015

13 ldquo[] Gabriel sugeriu que seja incluiacutedo esses criteacuterios no coacutedigo de obrasrdquo Ata da 58ordf Reuniatildeo extraordinaacuteria

do Conselho Municipal de Poliacutetica Urbana ndash COMPURB (extraiacutedo do Diaacuterio Oficial do Municiacutepio ldquoAno V ndash

Ouro Preto 1ordm de Abril de 2013 ndash Nordm766rdquo) Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrdiario-

oficial2076601-04-2013gt Acesso em 27 jun 2015

41

Contudo eacute importante destacar que os paracircmetros necessaacuterios para o atendimento do conforto

ambiental - como criteacuterios de adequaccedilatildeo agraves caracteriacutesticas do clima local diretrizes de

conforto teacutermico luminoso e acuacutestico ndash assim como as diretrizes de eficiecircncia energeacutetica natildeo

foram contemplados no texto diminuindo consideravelmente a possibilidade de sucesso do

instrumento quanto agrave transformaccedilatildeo do ambiente urbano

Sendo assim entendendo a importacircncia que o instrumento ldquocoacutedigo de obrasrdquo tem

na conformaccedilatildeo de espaccedilos urbanos mais confortaacuteveis e equilibrados e buscando contribuir

para o Municiacutepio na consolidaccedilatildeo de Leis atualizadas e transformadoras o capiacutetulo seguinte

trataraacute do desenvolvimento de algumas dessas diretrizes para que as construccedilotildees passem a

incorporar as premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica e passem a contribuir

positivamente para o clima urbano a para a qualidade ambiental

42

6 ENSAIO PARA UM COacuteDIGO DE OBRAS PRINCIPAIS ESTRATEacuteGIAS PARA

A PROMOCcedilAtildeO DA EFICIEcircNCIA ENERGEacuteTICA NO MUNICIacutePIO DE OURO

PRETO

61 O reconhecimento do clima e as recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais

O reconhecimento do clima eacute o primeiro passo a ser dado para o desenvolvimento

das diretrizes construtivas para um determinado local O clima ldquoeacute a condiccedilatildeo meacutedia do tempo

em uma dada regiatildeo baseada em mediccedilotildees em longos periacuteodos de tempo (30 anos ou mais)rdquo

(LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 71) A anaacutelise climaacutetica feita no Brasil utiliza

em geral os dados publicados pelo Instituto Nacional e pelo Departamento Nacional de

Meteorologia por meio das Normais Climatoloacutegicas Essa publicaccedilatildeo sistematiza dentre

outros dados os valores meacutedios e extremos mensais de temperatura umidade precipitaccedilatildeo

nebulosidade e horas de sol para um periacuteodo de 30 anos A utilizaccedilatildeo dessas variaacuteveis

climaacuteticas no desenvolvimento dos projetos arquitetocircnicos possibilita a construccedilatildeo de

edificaccedilotildees mais confortaacuteveis e mais eficientes quanto ao consumo de energia

O municiacutepio de Ouro Preto contou com uma estaccedilatildeo de mediccedilatildeo e monitoramento

climaacutetico no periacuteodo entre 1976 a 1990 Sendo assim por natildeo ter permanecido em vigecircncia

pelo periacuteodo miacutenimo de 30 anos os dados do municiacutepio natildeo foram contemplados na

publicaccedilatildeo das Normais Climatoloacutegicas e podem ser encontrados apenas no registro histoacuterico

do INMET a partir do BDMEP Os dados coletados nesse periacuteodo de 14 anos embora natildeo

tenham sido publicados satildeo fundamentais para analisar o comportamento das variaacuteveis

climaacuteticas no local de estudo conforme seraacute visto nas anaacutelises a seguir

Referenciada geograficamente pelas coordenadas14

Latitude Sul 20deg23rsquo28rdquo e

Longitude Oeste 43deg30rsquo20rdquo Ouro Preto possui altitude correspondente a 1150 metros sendo

que o ponto mais alto o Pico Itacolomi estaacute situado a 1772 metros de altura A latitude e a

altitude satildeo dois importantes fatores geograacuteficos do clima quanto maior a latitude menor eacute a

temperatura superficial e quanto maior a altitude menor seraacute a temperatura e a pressatildeo

atmosfeacuterica

14 Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrlocalizacaogt Acesso em 27 jun 2015

43

Para entendermos o clima no municiacutepio e para traccedilarmos as diretrizes construtivas

que garantam o bom desempenho das edificaccedilotildees faz-se necessaacuterio primeiramente consultar

o Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro definido na parte 3 da NBR 15220

O Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro consiste na ldquodivisatildeo do territoacuterio brasileiro

em oito zonas relativamente homogecircneas quanto ao clima e para cada uma destas zonas

formulou-se um conjunto de recomendaccedilotildees teacutecnico-construtivas que otimizam o desempenho

teacutermico das edificaccedilotildees atraveacutes de sua melhor adequaccedilatildeo climaacuteticardquo (ABNT 2003) O

Zoneamento resulta da aplicaccedilatildeo da Carta Bioclimaacutetica sugerida por Givoni ldquoinserindo os

dados mensais de temperatura meacutedia e umidade relativa para cada mecircs do ano e para cada

uma das localidades agrupando entatildeo aquelas classificadas como um mesmo tipo climaacuteticordquo

(FERREIRA 2014 p432)

As diretrizes construtivas desenvolvidas na Norma tratam basicamente do

comportamento da envoltoacuteria da edificaccedilatildeo a partir da indicaccedilatildeo do tamanho das aberturas

para ventilaccedilatildeo da proteccedilatildeo das aberturas das vedaccedilotildees externas (paredes e cobertura) e das

estrateacutegias de condicionamento passivo

A NBR 15220-3 estaacute vigente desde 2005 e sua aplicaccedilatildeo estaacute direcionada para as

edificaccedilotildees de ateacute trecircs pavimentos destinadas agrave habitaccedilatildeo multifamiliar de interesse social

Contudo os preceitos nela indicados podem e devem servir como base para a adequaccedilatildeo

climaacutetica das demais edificaccedilotildees desde que a Norma natildeo seja aplicada de forma isolada isto

eacute devem ser estudados outros procedimentos e devem ser utilizadas novas ferramentas a fim

de cruzar os resultados e avanccedilar na elaboraccedilatildeo de paracircmetros construtivos cada vez mais

completos e dinacircmicos

Segundo a Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica obtida atraveacutes do programa ZBBR o

municiacutepio de Ouro Preto estaacute localizado na Zona Bioclimaacutetica 3

44

Fonte Programa ZBBR ndash Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica dos Municiacutepios Brasileiros

Em destaque o Municiacutepio de Ouro Preto ndash MG

Para as edificaccedilotildees inseridas nesta zona bioclimaacutetica a NBR 15220 traz as

seguintes orientaccedilotildees

- Quanto agraves aberturas tamanho meacutedio (15 a 25) e que possibilitem a entrada do sol

durante o inverno

- Quanto agraves vedaccedilotildees externas paredes externas leves15

e refletoras cobertura leve e

isolada

- Quanto ao condicionamento teacutermico passivo ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo

aquecimento solar durante o inverno e vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia

teacutermica

15 Quanto agrave caracterizaccedilatildeo das envoltoacuterias como ldquolevesrdquo podemos agregar para melhor entendimento a

explicaccedilatildeo de que tais envoltoacuterias devem ser de baixa ineacutercia teacutermica ou seja devem possibilitar que o ambiente

interno seja influenciado pela temperatura do ar exterior sem grande atraso Assim pode-se dizer que as

recomendaccedilotildees de envoltoacuterias leves ocorrem em ambientes onde se deseja que os ambientes internos agrave

edificaccedilatildeo sofram influecircncia direta da temperatura do exterior

45

A partir das orientaccedilotildees da Norma percebe-se que a classificaccedilatildeo das zonas

bioclimaacuteticas embora tenha uma importante contribuiccedilatildeo esta natildeo pode ser utilizada

isoladamente por natildeo agregar importantes elementos agrave caracterizaccedilatildeo do clima local como jaacute

foi dito anteriormente Sendo assim outros dados de Ouro Preto devem ser observados para

aprofundarmos um pouco mais nas recomendaccedilotildees construtivas

Dentro do espectro das variaacuteveis climaacuteticas que caracterizam uma regiatildeo merece

destaque a temperatura e a umidade A temperatura ldquoeacute a variaacutevel climaacutetica mais conhecida e

de mais faacutecil mediccedilatildeo A variaccedilatildeo da temperatura na superfiacutecie da Terra resulta basicamente

dos fluxos das grandes massas de ar e da diferente recepccedilatildeo da radiaccedilatildeo do sol de local para

localrdquo (LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 77) A temperatura varia principalmente

em funccedilatildeo da velocidade do ar mas tambeacutem eacute influenciada em maior ou menor grau pelo

tipo de solo e de vegetaccedilatildeo pela topografia e pela altitude A temperatura meacutedia anual de

Ouro Preto eacute de 185deg conforme os dados sistematizados pelo INMET A temperatura

maacutexima verificada geralmente no mecircs de fevereiro corresponde a 252deg e a temperatura

miacutenima que ocorre no mecircs de julho corresponde a 112deg Quanto agrave umidade do ar esta

resulta da evaporaccedilatildeo das aacuteguas e da evapotranspiraccedilatildeo dos vegetais e pode ser definida em

absoluta e relativa ldquoComo definiccedilatildeo de umidade absoluta tem-se que eacute o peso do vapor de

aacutegua contido em uma unidade de volume de ar (gm3) e a umidade relativa eacute a relaccedilatildeo da

umidade absoluta com a capacidade maacutexima do ar de reter vapor drsquoaacutegua agravequela temperaturardquo

(FROTA 1995 p62) A umidade do ar tem relaccedilatildeo inversa com a temperatura portanto

quanto menor a temperatura maior a possibilidade de saturaccedilatildeo do ar pela ampliaccedilatildeo da

umidade ao limite de 100 A pluviosidade tambeacutem deve ser observada pois tem relaccedilatildeo

direta com a umidade do ar sendo que a chuva proveacutem em grande parte de massas de ar

uacutemido em ascensatildeo Os dados do INMET apontam que a meacutedia anual da pluviosidade em

Ouro Preto eacute de 16703mm sendo junho o mecircs mais seco com 129mm e dezembro o mecircs

mais uacutemido com 3579mm

46

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641 (continuaccedilatildeo)

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

47

48

A partir dos dados acima eacute possiacutevel verificar inicialmente que se trata de um

clima de baixas temperaturas muito uacutemido (umidade relativa praticamente sempre acima de

80) com alta nebulosidade (o que significa que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou

nublado) e com abundacircncia de chuvas principalmente no veratildeo

Tais caracteriacutesticas satildeo acentuadas pela influecircncia da barreira orograacutefica

provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta que conforma o

Morro Satildeo Sebastiatildeo Sendo assim grande parte da mancha urbana de Ouro Preto situada agrave

barlavento da barreira natural sofre influecircncia das chuvas que resultam do resfriamento e

condensaccedilatildeo do ar em ascensatildeo aprofundando ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade citadas anteriormente

Representaccedilatildeo da influecircncia dos ventos e da topografia na mancha urbana da cidade de Ouro

Preto - a formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem base da imagem de sateacutelite extraiacuteda do Google Maps

Exemplo da chuva a barlavento resultante da formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem Sistemas Tecnoloacutegicos em Conforto Ambiental ndash Eleonora Sad Assis

Parte da malha urbana de Ouro Preto

49

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem timblindimwordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem fotografandoondeopeixeparawordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

A partir das variaacuteveis climaacuteticas sistematizadas pelo INMET podemos avanccedilar na

utilizaccedilatildeo do Diagrama Bioclimaacutetico de Givoni (DBG) que orientou a definiccedilatildeo do

Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro assim como utilizar outro instrumento de anaacutelise as

Tabelas de Mahoney que tambeacutem auxiliam na definiccedilatildeo das diretrizes construtivas

O Diagrama de Givoni nos permite identificar quais recursos satildeo necessaacuterios para

que as edificaccedilotildees atendam agraves condiccedilotildees de conforto Este instrumento aponta quais preceitos

da arquitetura bioclimaacutetica devem ser priorizados tais como ventilaccedilatildeo ineacutercia teacutermica e

50

insolaccedilatildeo assim como aponta a necessidade de soluccedilotildees mecacircnicas para o atendimento ao

conforto teacutermico

Diagrama de Givoni relativo agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O Diagrama de Givoni referente agrave Ouro Preto assinala que na maior parte do

tempo as edificaccedilotildees necessitam de aquecimento passivo tendo em vista o quadro recorrente

de baixas temperaturas e de alta umidade relativa Algumas estrateacutegias de aquecimento

passivo podem ser adaptadas agrave realidade local para melhor aproveitamento Quanto agrave cidade

de Ouro Preto deve-se pensar o ganho teacutermico principalmente durante o inverno Nessa

estaccedilatildeo embora se tenha uma queda significativa das temperaturas tem-se cerca de 6 horas

de insolaccedilatildeo diaacuteria quase duas horas a mais do que nas outras estaccedilotildees O aproveitamento

dessa radiaccedilatildeo solar deve servir para manter o ambiente aquecido durante a noite sendo

assim a utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior insolaccedilatildeo deve

possibilitar a maacutexima entrada de calor durante o dia Quanto aos materiais internos estes

devem possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser

devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente

Voltando ao Diagrama de Givoni se compararmos o resultado da cidade de Ouro

Preto com a cidade de Belo Horizonte que estaacute na mesma zona bioclimaacutetica e estaacute a 858

51

metros de altitude perceberemos o quanto eacute importante cruzar os dados de diferentes

instrumentos de anaacutelise para acertar nas diretrizes de projeto Os dados de Belo Horizonte

resultam numa linha meacutedia predominantemente inserida na zona de conforto chegando a

alcanccedilar a zona de influecircncia da ventilaccedilatildeo em algumas horas dos meses de janeiro fevereiro

e marccedilo

Diagrama de Givoni relativo agrave Belo Horizonte

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O outro meacutetodo importante de anaacutelise voltado especificamente para as

recomendaccedilotildees de projeto arquitetocircnico consiste na sistematizaccedilatildeo das recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas atraveacutes das ldquoTabelas de Mahoneyrdquo Tal meacutetodo deve ser utilizado

simultaneamente ao Diagrama de Givoni a fim de se comparar os resultados e ajustar as

diretrizes construtivas Dentre as orientaccedilotildees da Tabela de Mahoney para Ouro Preto merece

destaque a utilizaccedilatildeo de grandes aberturas (para garantir ventilaccedilatildeo abundante e permanente)

e de envoltoacuterias leves Contudo diretrizes como reduccedilatildeo da exposiccedilatildeo ao sol e proteccedilatildeo da

insolaccedilatildeo direta natildeo favorecem o aquecimento passivo conforme a necessidade observada a

partir do Diagrama de Givoni e portanto devem ser relativizadas Seguem abaixo as

recomendaccedilotildees das Tabelas de Mahoney para Ouro Preto

52

Tabela de Mahoney relativa agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

Sendo assim a partir do conhecimento das variaacuteveis climaacuteticas e dos resultados

apresentados eacute possiacutevel formular a seguinte tabela resumo quanto agraves recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas iniciais para Ouro Preto

14 Tabela de Recomendaccedilotildees Arquitetocircnicas

Total de Indicadores

Uacutemido Aacuterido

H1 H2 H3 A1 A2 A3

1 11 4 0 0 0

1 PLANTA DE SITUACcedilAtildeO

0 -10 X Construccedilotildees orientadas segundo eixo longitudinal leste-oeste

11 ou 5 -12 a fim de diminuir a exposiccedilatildeo ao sol

12 0 - 4 Plantas compactas com paacutetios internos

2 ESPACcedilAMENTO ENTRE CONSTRUCcedilOtildeES

11 ou Grandes espaccedilamentos para favorecer a penetraccedilatildeo do vento

12

2 -10 Como acima mas com proteccedilatildeo contra vento quente ou frio

0 ou 1 X Distribuiccedilatildeo compacta

3 CIRCULACcedilAtildeO DE AR

3 - 12 X Construccedilotildees com orientaccedilatildeo simples aberturas que permitam

1 ou 0 - 5 circulaccedilatildeo de ar permanente

2 6 - 12 Construccedilotildees com orientaccedilatildeo dupla circulaccedilatildeo de ar cruzada

0 2 -12 aberturas de ar controlaacuteveis

0 ou 1 Basta renovaccedilatildeo higiecircnica do ar

4 DIMENSOtildeES DAS ABERTURAS

0 ou 0 X Grandes 40 a 80 das fachadas norte e sul

1 1 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

2 - 5

6 - 10 Intermediaacuterias 20 a 35 da superfiacutecie das paredes

11 ou 0 - 3 Pequenas 15 a 25 da superfiacutecie das paredes

12 4 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

5 POSICcedilAtildeO DAS ABERTURAS

3 - 12 X Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do

1 ou 0 - 5 lado exposto ao vento

2 6 - 12 Como acima mas tambeacutem aberturas nas paredes internas

0 2 - 12

6 PROTECcedilAtildeO DAS ABERTURAS

0 - 2 X Proteger da insolaccedilatildeo direta

2 - 12 X Proteger da chuva

7 PAREDES E PISOS

0 - 2 X Construccedilotildees leves baixa ineacutercia teacutermica

3 - 12 Construccedilotildees maciccedilas tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

8 COBERTURA

10 a 0 - 2 Leve (pouca ineacutecia) superfiacutecie refletora uso de cacircmara de ar

12 3 - 12 X Leve e bem isolada

0 a 0 - 5

9 6 - 12 Maciccedila tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

9 ESPACcedilOS EXTERIORES

1 - 12 Espaccedilo para dormir ao ar livre

1 - 12 X Adequada drenagem para a chuva

3 - 12 X Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

53

Tabela resumo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas

Diagrama de Givoni

Tabelas de Mahoney

NBR 15220 ndash Parte 03

Tamanho e caracteriacutesticas das aberturas

Esquadrias devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia do calor no ambiente

Aberturas que permitam a circulaccedilatildeo de ar permanente

Tamanho meacutedio

Grandes ndash de 40 a 80 das fachadas norte e sul

Possibilitar a entrada do sol durante o inverno

Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do lado exposto ao vento

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees externas

Leves Leves e refletoras

Baixa ineacutercia teacutermica

Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees internas

Possibilitar o armazenamento do calor absorvido

Vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia teacutermica

Caracteriacutesticas da cobertura

Leve e bem isolada Leve e isolada

Condicionamento teacutermico passivo

Ganho teacutermico principalmente durante o inverno

Aberturas protegidas da insolaccedilatildeo direta e protegidas da chuva

Ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo aquecimento solar durante o inverno e

Somando-se os diversos meacutetodos de anaacutelise climaacutetica tecircm maior relevacircncia a

seguintes diretrizes

- ventilaccedilatildeo abundante principalmente durante o veratildeo a fim de reduzir a temperatura no

interior da edificaccedilatildeo e os efeitos da umidade que aumenta ainda mais em funccedilatildeo das chuvas

tiacutepicas desse periacuteodo A ventilaccedilatildeo cruzada deve ser fomentada e deve ser observado o sentido

54

predominante do vento que na cidade em questatildeo eacute sudeste a fim de se alcanccedilar melhores

resultados no conforto da edificaccedilatildeo

- aquecimento passivo para os meses de inverno a fim de diminuir o desconforto

causado pelas baixas temperaturas

- paredes leves (com baixa ineacutercia teacutermica ou seja conseguem ganhar ou perder calor

rapidamente a partir da interferecircncia e da temperatura do ar exterior) e protegidas da umidade

proveniente das chuvas fortes

- coberturas leves e bem isoladas (capazes de reter o calor absorvido durante o dia)

- as edificaccedilotildees devem estar protegidas das chuvas e devem contar com sistemas de

drenagem eficientes que possibilitem o raacutepido escoamento ou aproveitamento dessa aacutegua

62 O Coacutedigo de Obras e o conforto ambiental em Ouro Preto ndash estrateacutegias prioritaacuterias

A utilizaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental nos projetos e nas edificaccedilotildees

tem um impacto social positivo baseado em pelo menos trecircs fatores importantes melhoria das

condiccedilotildees de habitabilidade da edificaccedilatildeo e portanto melhor qualidade de vida para o

usuaacuterio melhoria nas condiccedilotildees climaacuteticas do meio externo ampliando o bem estar coletivo

reduccedilatildeo no consumo de energia e utilizaccedilatildeo eficiente do sistema de abastecimento a partir da

correta utilizaccedilatildeo dos sistemas ativos (iluminaccedilatildeo artificial condicionamento e aquecimento

de ar)

Para garantir a aplicaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental o Coacutedigo de Obras

e Edificaccedilotildees do municiacutepio deve incorporar dois importantes artigos que seratildeo detalhados

abaixo conforme o texto sugerido pelo Guia Teacutecnico ldquoElaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de

obras e edificaccedilotildeesrdquo da ELETROBRAacuteS (BAHIA GUEDES 2012)

O primeiro artigo de destaque deve ser inserido no capiacutetulo que trata das

DISPOSICcedilOtildeES PRELIMINARES e deve enumerar as diretrizes gerais para os projetos e

construccedilotildees buscando elencar tanto as demandas contemporacircneas expressas nas novas

legislaccedilotildees como os anseios para um espaccedilo urbano equilibrado e sustentaacutevel Nesse

contexto a substituiccedilatildeo da expressatildeo ldquopadrotildees miacutenimosrdquo que podem ser exemplificados pelas

diretrizes generalistas frequentemente encontradas nas legislaccedilotildees como a previsatildeo de 16 e

18 de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo para todas as localidades por ldquopadrotildees eficientesrdquo

estabelecidos atraveacutes de estudos teacutecnicos que agreguem a complexidade do clima local e que

permitam ampliar as condiccedilotildees de sustentabilidade das edificaccedilotildees ao tratar da otimizaccedilatildeo de

resultados quanto ao atendimento do conforto teacutermico visual e acuacutestico com baixo consumo

55

de energia A configuraccedilatildeo do texto deve se aproximar ao maacuteximo da proposta apresentada

pelo Guia Teacutecnico paacutegina 62

As obras instalaccedilotildees e edificaccedilotildees sejam puacuteblicas sejam privadas deveratildeo atender

agraves seguintes diretrizes gerais de forma a assegurar padrotildees eficientes de seguranccedila e

solidez salubridade e sauacutede conforto ambiental e desempenho energeacutetico

acessibilidade e livre tracircnsito de pessoas prevenccedilatildeo e uso sustentaacutevel dos recursos

naturais em cada caso e sempre que couber I - Subordinaccedilatildeo do interesse particular

ao interesse coletivo II - Promoccedilatildeo do direito agrave cidade sustentaacutevel e da funccedilatildeo

social da propriedade III - Utilizaccedilatildeo das normas teacutecnicas brasileiras e

regulamentaccedilotildees aplicaacuteveis para orientaccedilatildeo do desenvolvimento de projetos e

execuccedilatildeo de obras IV - Desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas sempre que

necessaacuterio com base nas praacuteticas locais beneacuteficas e na produccedilatildeo cientiacutefica tendo em

vista a manutenccedilatildeo da qualidade do local onde se daacute a intervenccedilatildeo e a correlaccedilatildeo

com valores culturais da populaccedilatildeo V - Garantia das condiccedilotildees de acessibilidade

circulaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo pela populaccedilatildeo em geral das edificaccedilotildees e do espaccedilo e

mobiliaacuterio urbano de uso puacuteblico e coletivo com adoccedilatildeo de soluccedilotildees especiacuteficas

para as pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida conforme previsto nas

normas teacutecnicas e na legislaccedilatildeo aplicaacutevel VI - Adoccedilatildeo de paracircmetros climaacuteticos

para o desenvolvimento de projetos de arquitetura de parcelamentos do solo e de

desenho urbano tendo em vista a correta orientaccedilatildeo solar da edificaccedilatildeo e demais

elementos as melhores condiccedilotildees de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo e pela escolha de

materiais construtivos e soluccedilotildees urbaniacutesticas adequadas em funccedilatildeo das

condicionantes ambientais locais de temperatura pluviosidade dominacircncia de

ventos ruiacutedo e paisagem natural aleacutem dos aspectos culturais que interagem com

essas condiccedilotildees VII - Utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis materiais de

construccedilatildeo certificados e ajudas teacutecnicas disponiacuteveis em complemento agrave promoccedilatildeo

do conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade das edificaccedilotildees e do

meio urbano VIII - Implantaccedilatildeo do objeto arquitetocircnico no lote bem como do

mobiliaacuterio urbano e demais artefatos nos logradouros puacuteblicos garantidas a

acessibilidade a qualidade esteacutetica e tecnoloacutegica de forma a potencializar os

atributos da paisagem urbana e evitar a poluiccedilatildeo visual IX - Adoccedilatildeo preferencial de

espeacutecies nativas na arborizaccedilatildeo puacuteblica demais projetos paisagiacutesticos e no

ajardinamento de lotes particulares X - Simplificaccedilatildeo dos procedimentos

administrativos pelo Poder Puacuteblico e promoccedilatildeo da assistecircncia para habitaccedilatildeo de

interesse social pelos agentes promotores tendo em vista facilitar a regularidade e a

correta execuccedilatildeo de projetos e obras inclusive apoiando as iniciativas de

autoconstruccedilatildeo da clientela de baixa renda (BAHIA GUEDES 2012)

O segundo artigo de grande relevacircncia deve ser inserido no capiacutetulo ldquoDAS

CONDICcedilOtildeES RELATIVAS AgraveS EDIFICACcedilOtildeESrdquo Neste capiacutetulo devem ser tratados os

paracircmetros teacutecnicos e geomeacutetricos capazes de materializar o conforto ambiental dos projetos e

edificaccedilotildees a partir do contexto climaacutetico da cidade As diretrizes apontadas devem buscar o

equiliacutebrio entre as condicionantes internas (relaccedilatildeo do usuaacuterio com a edificaccedilatildeo) e externas

(relaccedilatildeo da edificaccedilatildeo com o entorno) Quanto aos paracircmetros teacutecnicos esses devem ser

baseados nas recomendaccedilotildees do Programa Nacional de Conservaccedilatildeo de Energia Eleacutetrica ndash

PROCEL e devem se aproximar dos padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees

residenciais que satildeo atualmente estabelecidos pelo INMETRO a partir do RTQ-R ndash

Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais O texto do artigo deve seguir a sugestatildeo do Guia Teacutecnico paacutegina 107

56

Os projetos de construccedilatildeo ou reforma aleacutem de atenderem aos paracircmetros de

habitabilidade estabelecidos neste Coacutedigo devem ser orientados para a promoccedilatildeo da

sustentabilidade e eficiecircncia energeacutetica da edificaccedilatildeo com o objetivo de reduzir as

emissotildees de gases de efeito estufa (GEE) e os impactos ambientais gerados pela

construccedilatildeo e pela sua utilizaccedilatildeo ao longo do tempo racionalizando o uso da energia

da aacutegua e dos materiais nela empregados a partir das seguintes diretrizes I -

Racionalidade do projeto e do planejamento do processo de execuccedilatildeo das obras II -

Gestatildeo sustentaacutevel da obras e das praacuteticas de construccedilatildeo de forma a evitar o

desperdiacutecio de materiais III - Uso de materiais de construccedilatildeo e acabamentos

sustentaacuteveis considerando a adoccedilatildeo de materiais originaacuterios da regiatildeo produzidos

de forma sustentaacutevel e legalizada de materiais reaproveitados ou de demoliccedilatildeo e de

materiais certificados ou de comprovada responsabilidade ambiental do fabricante

IV - Ativaccedilatildeo do uso de edificaccedilotildees de valor cultural histoacuterico ou arquitetocircnico

maximizando as condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do bem imoacutevel na interaccedilatildeo com as

premissas de conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade V -

Aplicaccedilatildeo das estrateacutegias para projetos de acordo com o Zoneamento Bioclimaacutetico

brasileiro conforme NBR 15220-3 para concepccedilatildeo arquitetocircnica implantaccedilatildeo no

lote orientaccedilatildeo solar dos ambientes localizaccedilatildeo de aberturas e especificaccedilatildeo de

materiais de construccedilatildeo em prol do desempenho teacutermico da edificaccedilatildeo VI -

Aproveitamento das caracteriacutesticas climaacuteticas locais para a promoccedilatildeo do conforto

ambiental da edificaccedilatildeo a partir da consideraccedilatildeo dos seguintes fatores principais a)

Qualidade do ar b) Conforto higroteacutermico c) Conforto luminoso (ou lumiacutenico) d)

Conforto acuacutestico VII - Adoccedilatildeo de especificaccedilotildees de projeto com o objetivo de

potencializar as caracteriacutesticas climaacuteticas locais beneacuteficas eou remediar as de maior

rigor ao longo das diferentes estaccedilotildees do ano em benefiacutecio do desempenho teacutermico

e da ventilaccedilatildeo e iluminaccedilatildeo naturais da edificaccedilatildeo [] VIII - Planejamento

paisagiacutestico como elemento contribuinte para o conforto ambiental da edificaccedilatildeo

[] IX - Adoccedilatildeo de materiais construtivos que melhorem o desempenho teacutermico da

edificaccedilatildeo com base nas orientaccedilotildees e tabelas da NBR 15220-3 e especificaccedilatildeo de

equipamentos mecanismos e instalaccedilotildees que favoreccedilam a economia de energia

eleacutetrica e a reduccedilatildeo do consumo e aacutegua tratada [] (BAHIA GUEDES 2012)

Esses dois artigos apresentados embora configurem o ponto de partida natildeo satildeo

suficientes para a transformaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras em uma ferramenta concreta de

promoccedilatildeo do conforto ambiental da eficiecircncia energeacutetica e da sustentabilidade do meio

ambiente urbano Os desdobramentos desse texto devem resultar em paracircmetros teacutecnicos

como dimensionamentos diretrizes de desenho configuraccedilotildees espaciais miacutenimas dentre

inuacutemeros outros elementos de aplicaccedilatildeo obrigatoacuteria ou optativa Sendo assim o Coacutedigo de

Obras deve regulamentar por exemplo o dimensionamento de compartimentos a disposiccedilatildeo

e o dimensionamento de mobiliaacuterio fixo como louccedilas sanitaacuterias o peacute-direito as proporccedilotildees

das aberturas de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo assim como as taxas de renovaccedilatildeo do ar os niacuteveis de

ruiacutedo para o conforto acuacutestico as condiccedilotildees favoraacuteveis de transmitacircncia e a absortacircncia das

paredes e coberturas para o conforto teacutermico o dimensionamento e as condiccedilotildees das

circulaccedilotildees horizontais e verticais as instalaccedilotildees prediais dentre inuacutemeros outros itens Os

teacutecnicos devem se debruccedilar sobre tais requisitos teacutecnicos a fim de otimizar os resultados

quanto agrave construccedilatildeo da sustentabilidade no municiacutepio Deve-se utilizar as normas ABNT em

auxiacutelio agrave formulaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos a exemplo da NBR 10151 sobre Avaliaccedilatildeo do

57

Ruiacutedo em Aacutereas Habitadas NBR 5382 sobre Iluminacircncia de Interiores NBR 15215 sobre

Iluminaccedilatildeo Natural NBR 9284 sobre Equipamentos Urbanos dentre outras

Por fim deve-se prezar pela total interaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras com o conjunto

da legislaccedilatildeo urbaniacutestica local a fim de estabelecer uma relaccedilatildeo sequencial entre as etapas de e

concepccedilatildeo planejamento e construccedilatildeo das edificaccedilotildees passando das diretrizes gerais agraves

exigecircncias especiacuteficas O texto do coacutedigo de obras deve ser objetivo e didaacutetico sem incorrer

em simplificaccedilotildees O conteuacutedo deve ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e

teacutecnicos da aacuterea como pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees A dedicaccedilatildeo dos

teacutecnicos e profissionais na elaboraccedilatildeo das diretrizes transformadoras a busca pela

conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo sobre o conforto no ambiente urbano assim como a luta contra a

supremacia dos interesses privados sobre a coletividade satildeo itens importantes quanto agrave

concretizaccedilatildeo desse importante instrumento que foi apresentado e defendido ao longo do

presente trabalho

58

7 CONCLUSAtildeO

Diante das anaacutelises apresentadas ao longo deste trabalho principalmente quanto

ao ordenamento juriacutedico brasileiro para a regulaccedilatildeo urbana e o desenvolvimento sustentaacutevel

ficou comprovada a existecircncia de um conjunto significativo de legislaccedilotildees capazes de

embasar uma transformaccedilatildeo das cidades brasileiras em territoacuterios democraacuteticos igualitaacuterios e

sustentaacuteveis Poreacutem a previsatildeo legal eacute apenas o iniacutecio de um longo caminho ateacute a

transformaccedilatildeo concreta da realidade Para se avanccedilar nesse caminho uma mudanccedila poliacutetica eacute

imprescindiacutevel uma vez que as decisotildees sobre o espaccedilo urbano e sua regulamentaccedilatildeo

dependem necessariamente do interesse do gestor urbano materializado na figura dos

prefeitos e governantes das diversas esferas administrativas

Em relaccedilatildeo ao municiacutepio de Ouro Preto foi identificado que embora haja um

conjunto significativo de diretrizes urbaniacutesticas contidas no Plano Diretor e na Lei de Uso e

Ocupaccedilatildeo do Solo estas ainda satildeo insuficientes para subsidiar um desenvolvimento local

pautado na responsabilidade ambiental e na qualidade do meio ambiente urbano Isso se deve

principalmente ao fato de natildeo haver um coacutedigo de obras e edificaccedilotildees e tambeacutem ao fato de

que as iniciativas de proteccedilatildeo ambiental tal como a Agenda 21 Local natildeo foram colocadas

em praacutetica Neste sentido em relaccedilatildeo ao processo legislativo conclui-se que haacute uma

defasagem na aplicaccedilatildeo dos instrumentos de planejamento municipal previstos no Estatuto da

Cidade principalmente o Plano Diretor Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo Agenda 21 Local e Coacutedigo

de Obras e Edificaccedilotildees Aleacutem disso faltam elementos de combate agrave especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e

instrumentos de regulaccedilatildeo do solo urbano como o IPTU progressivo regularizaccedilatildeo onerosa a

assistecircncia teacutecnica gratuita dentre outros instrumentos tributaacuterios e financeiros juriacutedicos e

poliacuteticos que infelizmente ainda natildeo satildeo aplicados no municiacutepio Nesse contexto os outros

instrumentos de planejamento tais como o plano plurianual orccedilamento participativo

programas setoriais e planos de desenvolvimento econocircmico e social embora natildeo configurem

instrumentos urbaniacutesticos se colocam como ferramentas aliadas da gestatildeo democraacutetica da

cidade e da reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais visto que o processo de mudanccedila eacute

essencialmente poliacutetico Nesse sentido eacute extremamente importante que esses instrumentos

sejam pautados na real participaccedilatildeo popular na inclusatildeo e na justiccedila social

Quanto agrave sustentabilidade no ambiente urbano identificou-se que a preservaccedilatildeo e

proteccedilatildeo patrimonial pautadas no conforto do usuaacuterio a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados

a melhoria da infraestrutura urbana a concretizaccedilatildeo de projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria

59

assim como a construccedilatildeo de habitaccedilatildeo social de qualidade satildeo questotildees fundamentais para a

transformaccedilatildeo das cidades em territoacuterios democraacuteticos e sustentaacuteveis Essas demandas estatildeo

diretamente ligadas agrave mudanccedila no paradigma do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

pois uma vez colocadas em praacutetica alteram significativamente a configuraccedilatildeo das cidades

influenciando no clima urbano e na qualidade ambiental

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de uma base de dados climaacuteticos relativos ao municiacutepio

a partir das Normais Climatoloacutegicas obtidas no periacuteodo entre 1976 e 1990 foi possiacutevel

caracterizar o clima de Ouro Preto como um clima de baixas temperaturas muito uacutemido

(umidade relativa praticamente sempre acima de 80) com alta nebulosidade (o que significa

que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou nublado) e com abundacircncia de chuvas

principalmente no veratildeo Foi tambeacutem identificada uma grande interferecircncia do efeito da

barreira orograacutefica provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta

que conforma o Morro Satildeo Sebastiatildeo o que aprofunda ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade

Para a elaboraccedilatildeo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais foram utilizados os

resultados do diagrama de Givoni das Tabelas de Mahoney e da NBR 15220 Assim para a

cidade de Ouro Preto concluiu-se que a arquitetura deve priorizar o ganho teacutermico

principalmente durante o inverno pois nessa estaccedilatildeo tem-se uma queda significativa das

temperaturas o que afeta consideravelmente o conforto do usuaacuterio Esse ganho teacutermico deve

ser pensado a partir da utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior

insolaccedilatildeo o que possibilita um melhor aproveitamento dessa radiaccedilatildeo solar que deve servir

para manter o ambiente aquecido durante a noite Quanto aos materiais internos estes devem

possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser devidamente

isoladas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente Em relaccedilatildeo ao veratildeo foi

identificada a necessidade de ventilaccedilatildeo cruzada para reduzir os efeitos das temperaturas

elevadas e da alta umidade aleacutem de envoltoacuterias bem protegidas das chuvas

Por fim quanto agrave elaboraccedilatildeo do coacutedigo de obras foi possiacutevel apontar a

necessidade de se estabelecer as diretrizes para os projetos e construccedilotildees a partir dos

paracircmetros das normas teacutecnicas brasileiras do desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas com

base nas praacuteticas locais da garantia da acessibilidade das edificaccedilotildees agrave populaccedilatildeo em geral

da consideraccedilatildeo dos paracircmetros climaacuteticos e da utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis Foi

abordada a necessidade de aproximaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos do coacutedigo de obras aos

padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees residenciais previstos no RTQ-R

60

(Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais INMETRO) aleacutem da necessidade de se construir um texto objetivo e didaacutetico

que possa ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e teacutecnicos da aacuterea quanto

pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees

61

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 15220 Desempenho

teacutermico de edificaccedilotildees Rio de Janeiro ABNT 2005

BAHIA S R GUEDES P de A Elaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de obras e

edificaccedilotildees 2ordfed Rio de janeiro IBAMDUMA ELETROBRAS PROCEL 2012

BARANDIER H ALMEIDA M C T MORAIS R Planejamento e Controle Ambiental

Urbano e a Eficiecircncia Energeacutetica Rio de Janeiro IBAMDUMA ELETROBRASPROCEL

2013

BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988

BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002

BRASIL Lei nordm 10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do Desenvolvimento

Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Pesquisa nacional para identificar os resultados de

implementaccedilatildeo de processos de agendas 21 locais Brasiacutelia 2009

CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS Tiacutetulo 24 Parte 8 California Historical

Building Code 1ordm Ed Washington 2007

CSABA D SUELI R S (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo Editora da

Universidade de Satildeo Paulo 1999

FERREIRA C SOUZA H A de ASSIS E S de Estudo do clima brasileiro reflexotildees e

recomendaccedilotildees sobre a adequaccedilatildeo climaacutetica de habitaccedilotildees In XV Encontro Nacional de

Tecnologia do Ambiente Construiacutedo Maceioacute 2014

FROTA A B SCHIFFER S R Manual de Conforto Teacutermico Satildeo Paulo Nobel 1995

IBGE Perfil dos municiacutepios brasileiros 2013 Brasiacutelia 2014

LAMBERTS R DUTRA L PEREIRA FO R Eficiecircncia Energeacutetica na Arquitetura 3ordfed

ELETROBRASPROCEL 2014

MENICONI R O A Construccedilatildeo de uma Cidade-Monumento o caso de Ouro Preto Belo

Horizonte Escola de Arquitetura e Urbanismo UFMG 1999 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OLIVEIRA L B Agenda 21 Local consolidando as bases para o desenvolvimento

sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escala UFOP 2010

62

OLIVEIRA M A Os valores culturais da paisagem urbana em Ouro Preto Um Estudo de

Caso das Aacutereas Verdes na Ladeira Santa Efigecircnia e Entorno Proacuteximo Salvador Mestrado em

Arquitetura e Urbanismo da UFBA 1997

OLIVEIRA M R S Gestatildeo Patrimonial em Ouro Preto Alcances e Limites das Poliacuteticas

Puacuteblicas Preservacionistas Campinas Poacutes ndash Graduaccedilatildeo em Geografia Anaacutelise Ambiental e

Dinacircmica Territorial da UNICAMP 2005 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OURO PRETO Lei complementar nordm 011996 Institui o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro

Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 022005 Estabelece a Estrutura Baacutesica e a

organizaccedilatildeo administrativa da Prefeitura Municipal de Ouro Preto e da outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 152006 Altera a Lei Complementar ndeg 021005

modifica a denominaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Turismo Induacutestria e Comeacutercio e da

Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio suas respectivas competecircncias e daacute outras

providecircncias de 27 de Abril de 2006

OURO PRETO Lei Complementar nordm 302006 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 28 de

Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei complementar nordm 912010 Altera a Lei Complementar nordm292006 que

estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 932011 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 20 de

Janeiro de 2011

OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996

OURO PRETO Lei complementar nordm292006 Estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de

Ouro Preto de 28 de Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei nordm 333 Dispotildee sobre o Programa da Agenda 21 Local de 11 de maio de

2007

OURO PRETO Lei nordm 5790 Dispotildee sobre as diretrizes baacutesicas do Plano Diretor do

Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Portaria 0292 Nomeia Comissatildeo Especial

OURO PRETO Portaria 1707 Nomeia Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos

Naturais e Agenda 21 Local

Page 10: POLYANA PEREIRA COELHO · 2019. 11. 14. · POLYANA PEREIRA COELHO A SUSTENTABILIDADE DO AMBIENTE URBANO E OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO MUNICIPAL: RECOMENDAÇÕES PARA UM CÓDIGO DE

9

Nos municiacutepios menores embora os problemas ambientais sejam percebidos com

menor intensidade a poliacutetica urbana tambeacutem estaacute voltada para a exploraccedilatildeo e esgotamento

dos recursos naturais Natildeo haacute uma poliacutetica efetiva de proteccedilatildeo das aacutereas de risco das aacutereas de

proteccedilatildeo permanente assim como natildeo haacute saneamento baacutesico em toda a aacuterea urbana Soma-se

a esses problemas a falta de estaccedilotildees de tratamento de efluentes que resulta na utilizaccedilatildeo dos

cursos drsquoaacutegua como canais de esgotamento sanitaacuterio e consequentemente na contaminaccedilatildeo

dos recursos hiacutedricos de toda uma regiatildeo

A partir desses elementos evidencia-se que a promulgaccedilatildeo do Estatuto da Cidade

apesar do avanccedilo representado natildeo conseguiu resolver por si soacute os inuacutemeros problemas

ambientais urbanos que afetam agraves cidades brasileiras Tais problemas estatildeo diretamente

vinculados aos paracircmetros de parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo padrotildees construtivos e

padrotildees ediliacutecios das cidades definidos pela legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal quando

existente Os municiacutepios encontram enorme dificuldade em aplicar os preceitos do Estatuto

por falta de uma legislaccedilatildeo urbana forte aprimorada e atualizada que possa contemplar todos

os aspectos de uma regulaccedilatildeo urbana voltada para a sustentabilidade e para o bem-estar

coletivo

Eacute neste cenaacuterio que entram em cena os instrumentos da poliacutetica urbana previstos

no Capiacutetulo II do Estatuto da Cidade organizados em seis categorias que satildeo

I ndash planos nacionais regionais e estaduais de ordenaccedilatildeo do territoacuterio e de

desenvolvimento econocircmico e social

II ndash planejamento das regiotildees metropolitanas aglomeraccedilotildees urbanas e

microrregiotildees

III ndash planejamento municipal

IV ndash institutos tributaacuterios e financeiros

V ndash institutos juriacutedicos e poliacuteticos

VI ndash estudo preacutevio de impacto ambiental (EIA) e estudo preacutevio de impacto de

vizinhanccedila (EIV) (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho

2001)

As categorias III - planejamento municipal IV - institutos tributaacuterios e financeiros

e V - instrumentos juriacutedicos e poliacuteticos se desdobram em outros variados instrumentos que

associados e devidamente estabelecidos por lei especiacutefica serviratildeo de base para que os

municiacutepios avancem na construccedilatildeo de um ambiente urbano equilibrado inclusivo e

sustentaacutevel Destaca-se nesse quadro de instrumentos dentro da categoria ldquoplanejamento

municipalrdquo o Plano Diretor que constituindo o ldquoinstrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e expansatildeo urbanardquo possibilitaraacute para aleacutem da ordenaccedilatildeo do solo a

articulaccedilatildeo com outros processos de planejamento na esfera municipal Tal instrumento seraacute

melhor abordado no proacuteximo capiacutetulo

10

Apresentados os processos de planejamento e os instrumentos da poliacutetica urbana

trazidos pelo Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio avanccedilar no entendimento da

sustentabilidade enquanto conceito uma vez que esta passaraacute a compor um corpo uacutenico com o

que vier a se entender por ldquodesenvolvimentordquo

A preocupaccedilatildeo com o ordenamento juriacutedico de proteccedilatildeo e defesa do meio

ambiente se materializou no Brasil inicialmente em 1981 a partir da promulgaccedilatildeo da Lei

6938 que instituiu a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente O SISNAMA Sistema Nacional

do Meio Ambiente reuniu os oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Direta - Uniatildeo Estados

DF e Municiacutepios - responsaacuteveis pela proteccedilatildeo e melhoria da qualidade ambiental

Em 2002 a construccedilatildeo da Agenda 21 Brasileira buscou associar o conceito de

sustentabilidade agraves poliacuteticas de desenvolvimento urbano As Agendas Nacionais foram

desenvolvidas a partir da Agenda 21 Global Esta uacuteltima resultou das discussotildees realizadas na

Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD)

mais conhecida como Rio 92 A Agenda 21 consiste em um programa de accedilatildeo voltado para a

aplicaccedilatildeo de meacutetodos de proteccedilatildeo ambiental justiccedila social e eficiecircncia econocircmica Eacute um

documento de 40 capiacutetulos com mais de 2500 recomendaccedilotildees praacuteticas e foi assinado por 179

paiacuteses formalizando o compromisso dessas naccedilotildees com o Desenvolvimento Sustentaacutevel do

Planeta Instrumento de planejamento participativo a Agenda 21 deve ser um resultado de

accedilotildees que congreguem governo e sociedade civil e por isso eacute um instrumento aliado das novas

frentes de trabalho inauguradas pelo Estatuto da Cidade A partir dos trechos a seguir

retirados respectivamente da Agenda 21 e do Estatuto da Cidade pode-se perceber a afinidade

nas pretensotildees dos dois Instrumentos de Planejamento

71 Nos paiacuteses industrializados os padrotildees de consumo das cidades representam

uma pressatildeo muito seacuteria sobre o ecossistema global ao passo que no mundo em

desenvolvimento os assentamentos humanos necessitam de mais mateacuteria-prima

energia e desenvolvimento econocircmico simplesmente para superar seus problemas

econocircmicos e sociais baacutesicos Em muitas regiotildees do mundo em especial nos paiacuteses

em desenvolvimento as condiccedilotildees dos assentamentos humanos vecircm se

deteriorando sobretudo em decorrecircncia do baixo volume de investimentos no setor

imputaacutevel agraves restriccedilotildees relativas a recursos com que esses paiacuteses se deparam em

todas as aacutereas Nos paiacuteses de baixa renda sobre os quais haacute dados recentes apenas

56 por cento do orccedilamento do Governo central em meacutedia foram dedicados a

habitaccedilatildeo lazer seguridade social e bem-estar social [] Objetivo 78 O objetivo eacute

oferecer habitaccedilatildeo adequada a populaccedilotildees em raacutepido crescimento e aos pobres

atualmente carentes tanto de aacutereas rurais como urbanas por meio de uma

abordagem que possibilite o desenvolvimento e a melhoria de condiccedilotildees de moradia

ambientalmente saudaacuteveis (AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do

Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992)

11

Estatuto da Cidade Capiacutetulo 1 ndash Diretrizes Gerais Art 2ordm A poliacutetica urbana tem por

objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e da

propriedade urbana mediante as seguintes diretrizes gerais I ndash garantia do direito a

cidades sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao

saneamento ambiental agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos

puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para as presentes e futuras geraccedilotildees [] Art 3ordm

Compete agrave Uniatildeo entre outras atribuiccedilotildees de interesse da poliacutetica urbana IV -

instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano inclusive habitaccedilatildeo saneamento

baacutesico transportes urbanos e infraestrutura de energia e telecomunicaccedilotildees

(BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

O texto da Agenda 21 mais especificamente o Preacircmbulo enfatiza que o sucesso

na aplicaccedilatildeo desse plano de accedilatildeo depende primeiramente do comprometimento dos governos

com a preparaccedilatildeo de estrateacutegias planos poliacuteticas e processos nacionais para a concretizaccedilatildeo

dos objetivos estabelecidos

A Agenda 21 Brasileira foi desenvolvida no periacuteodo de 1996 a 2002 e teve como

eixo a sustentabilidade a partir da compatibilizaccedilatildeo entre conservaccedilatildeo ambiental justiccedila

social e crescimento econocircmico

Ao aprofundar-se na elaboraccedilatildeo de diretrizes para problemas de ordem estrutural

a Agenda 21 Brasileira foi elevada a programa dentro do Plano Plurianual de Governo (entre

2004 e 2007)1 o que daria maior forccedila poliacutetica e institucional agrave Agenda Sendo assim a partir

de soluccedilotildees integradas planejadas a meacutedio e longo prazos e a partir da associaccedilatildeo entre

governo e sociedade seria possiacutevel tratar de questotildees como ldquoeconomia da poupanccedila na

sociedade do conhecimento inclusatildeo social para uma sociedade solidaacuteria estrateacutegia para a

sustentabilidade urbana e rural recursos naturais estrateacutegicos governanccedila e eacutetica para a

promoccedilatildeo da sustentabilidaderdquo (AGENDA 21 BRASILEIRA 2004 p04) O Programa foi

estruturado em trecircs accedilotildees implementar a Agenda 21 Brasileira promover a elaboraccedilatildeo e

implementaccedilatildeo de Agendas 21 Locais e formaccedilatildeo continuada em Agenda 21

Vale destacar a importacircncia da Agenda 21 Local enquanto instrumento

complementar aos instrumentos da poliacutetica municipal de desenvolvimento urbano

A Agenda 21 Local eacute um dos principais instrumentos para se conduzir processos de

mobilizaccedilatildeo troca de informaccedilotildees geraccedilatildeo de consensos em torno dos problemas e

1 Importante destacar que ldquoO Plano Plurianual (PPA) eacute um instrumento previsto no art 165 da Constituiccedilatildeo

Federal destinado a organizar e viabilizar a accedilatildeo puacuteblica com vistas a cumprir os fundamentos e os objetivos da

Repuacuteblica Por meio dele eacute declarado o conjunto das poliacuteticas puacuteblicas do governo para um periacuteodo de quatro

anos e os caminhos trilhados para viabilizar as metas previstas construindo um Brasil melhorrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwmpgovbrministerioaspindex=10ampler=s1086gt Acesso em 06 jun 2015 O Plano Plurianual

referente ao periacuteodo 2004 ndash 2007 foi regulamentado pela Lei Nordm 10933 de 2004 sancionada pelo entatildeo

Presidente Luiacutez Inaacutecio Lula da Silva

12

soluccedilotildees locais e estabelecimento de prioridades para a gestatildeo de desde um estado

municiacutepio bacia hidrograacutefica unidade de conservaccedilatildeo ateacute um bairro uma escola O

processo deve ser articulado com outros projetos programas e atividades do governo

e sociedade sendo consolidado dentre outros a partir do envolvimento dos agentes

regionais e locais anaacutelise identificaccedilatildeo e promoccedilatildeo de instrumentos financeiros

difusatildeo e intercacircmbio de experiecircncias definiccedilatildeo de indicadores de desempenho

(AGENDA 21 Brasileira accedilotildees prioritaacuteriasComissatildeo de Poliacuteticas de

Desenvolvimento Sustentaacutevel e da Agenda 21 Nacional 2 ed Brasiacutelia Ministeacuterio

do Meio Ambiente 2004)

Desde entatildeo o esforccedilo em fomentar a construccedilatildeo das Agendas 21 Locais gerou

um resultado positivo embora muito aqueacutem do necessaacuterio para uma mudanccedila substancial nas

poliacuteticas em prol do desenvolvimento sustentaacutevel Em 2013 apenas 215 dos municiacutepios

brasileiros possuiacuteam processos em andamento relativos agrave Agenda 21 conforme foi

identificado pela IBGE a partir da Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros (MUNIC

2013) 2 Tal percentual apesar da pouca expressividade demarca um processo positivo de

mudanccedila tendo em vista que nos dados dos anos anteriores observava-se percentuais ainda

menores aleacutem de um processo de decliacutenio em 2009 a pesquisa indicou que 199 dos

municiacutepios haviam iniciado a elaboraccedilatildeo da agenda 21 enquanto em 2012 o percentual

baixou para 181

Nota-se ante ao exposto ateacute aqui que existe um arcabouccedilo legal significativo em

prol do desenvolvimento urbano sustentaacutevel Contudo a aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo existente e a

obtenccedilatildeo de resultados positivos estatildeo longe de se tornar uma realidade no Brasil Sendo

assim faz-se necessaacuterio reforccedilar a cada dia os compromissos estabelecidos nas Leis

Brasileiras e trabalhar na efetivaccedilatildeo dos instrumentos de promoccedilatildeo do equiliacutebrio ambiental a

partir da aplicaccedilatildeo das premissas da sustentabilidade Atingir o desenvolvimento urbano

sustentaacutevel natildeo eacute somente uma das opccedilotildees mas a uacutenica opccedilatildeo existente se quisermos que o

planeta tenha vida longa Preservar o meio ambiente deve ser uma accedilatildeo constante associada a

todas agraves demais poliacuteticas puacuteblicas Quanto agrave iniciativa privada esta deveraacute ser

permanentemente fiscalizada Regulamentar as atividades de exploraccedilatildeo da natureza e buscar

a inibiccedilatildeo severa de atividades de impacto ambiental satildeo tarefas urgentes que o Poder Puacuteblico

deve assimilar o quanto antes

2 Ressalta-se que ldquoA Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais ndash MUNIC eacute realizada desde o ano de 1999

pelo IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Na versatildeo de 2013 foram destacados os aspectos

relevantes da gestatildeo e da estrutura dos 5570 municiacutepios brasileiros a partir dos seguintes eixos perfil dos

gestores municipais recursos humanos das administraccedilotildees municipais legislaccedilatildeo e instrumentos de

planejamento sauacutede meio ambiente poliacutetica de gecircnero ndash temas jaacute investigados em anos anteriores ndash aleacutem de

gestatildeo de riscos e resposta a desastres este ineacutedito ateacute entatildeordquo Disponiacutevel em

lthttpwwwibgegovbrhomeestatisticaeconomiaperfilmunic2013defaultshtmgt Acesso em 06 jun 2015)

13

Somente com a permanente preocupaccedilatildeo do Estado para com o tema seraacute

possiacutevel consolidar o desenvolvimento urbano a partir da aplicaccedilatildeo das premissas da

sustentabilidade do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

14

3 O PLANO DIRETOR E OS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO

MUNICIPAL

Para introduzir a discussatildeo do Plano Diretor e demais instrumentos de

planejamento municipal previstos no Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio retomar o momento

da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 com destaque para o Art30 que determina as tarefas de

competecircncia dos Municiacutepios Dentre tais competecircncias destacam-se os incisos VIII e IX

diretamente relacionados ao planejamento urbano

Art 30 Compete aos Municiacutepios [] VIII - promover no que couber adequado

ordenamento territorial mediante planejamento e controle do uso do parcelamento e

da ocupaccedilatildeo do solo urbano IX - promover a proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-

cultural local observada a legislaccedilatildeo e a accedilatildeo fiscalizadora federal e estadual

(BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de

1988)

Aleacutem de delimitar as competecircncias municipais a Constituiccedilatildeo tambeacutem apontou

no Art182 do Capiacutetulo II o Plano Diretor - velho conhecido dos Teacutecnicos e Governantes -

como principal instrumento a ser utilizado pelos Municiacutepios no desenvolvimento da poliacutetica

urbana

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo Poder Puacuteblico

municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem por objetivo ordenar o

pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus

habitantes sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio para

cidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e de expansatildeo urbana sect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua

funccedilatildeo social quando atende agraves exigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade

expressas no plano diretor (BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do

Brasil de 5 de outubro de 1988)

Contudo tal instrumento natildeo representou uma novidade A expressatildeo Plano

Diretor foi utilizada pela primeira vez no Brasil em 1930 a partir do Plano Agache3

desenvolvido para o Rio de Janeiro Posteriormente foram desenvolvidos planos diretores em

todo o territoacuterio brasileiro planos estes que ficariam engavetados por falta de vontade

3 Nota-se que ldquoO Plano Agache foi a primeira proposta de intervenccedilatildeo urbaniacutestica na cidade do Rio de Janeiro

com preocupaccedilotildees genuinamente modernas Concluiacutedo em 1930 introduziu no cenaacuterio nacional algumas

questotildees tiacutepicas da cidade industrial tais como o planejamento do transporte de massas e do abastecimento de

aacuteguas a habitaccedilatildeo operaacuteria e o crescimento das favelas Aleacutem disso com discussotildees emergentes que iam desde a

necessidade de um zoneamento para a cidade ateacute a delimitaccedilatildeo de aacutereas verdes ultrapassou os limites do

Academicismo das intervenccedilotildees predecessoras de Pereira Passos e Paulo de Frontinrdquo Disponiacutevel em

lthttpplanourbanoriorjgovbrgt Acesso em 06 de jun 2015

15

poliacutetica A nomenclatura e o conteuacutedo dos planos diretores variaram com o passar dos anos

segundo Villaccedila

Por fim cabe abordar historicamente as jaacute mencionadas mudanccedilas na nomenclatura

nas formas nos conteuacutedos e nas metodologias dos planos Em primeiro lugar cai em

desuso a expressatildeo plano de melhoramentos e embelezamento e entra em cena a

expressatildeo urbanismo Depois esta cai em desuso sendo substituiacuteda por

planejamento urbano e plano diretor Em segundo lugar os conteuacutedos e

metodologias de elaboraccedilatildeo dos planos sofrem alteraccedilotildees radicais De enormes

volumes com centenas de paacuteginas recheados de mapas pesquisas e estatiacutesticas

elaborados por equipes multidisciplinares e abordando enorme leque de problemas

transformam-se em meros projetos de lei agraves vezes contendo apenas declaraccedilotildees de

princiacutepios poliacuteticas ou diretrizes gerais agraves vezes ateacute sem mapas ou com poucos

mapas Um simples projeto de lei publicado no Diaacuterio Oficial (CSABA Deaacutek

SUELI Ramos Schiffer (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo

Editora da Universidade de Satildeo Paulo 1999 p191)

A realidade eacute que os planos diretores desenvolvidos no Brasil entre as deacutecadas de

1940 e 1990 natildeo correspondiam ao pensamento dos governantes e das classes dominantes e

por isso natildeo contaram com intenccedilatildeo real de aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo Os objetivos apontados

natildeo seriam atingidos pois o Plano Diretor natildeo se tornara uma prioridade em nenhuma das

esferas administrativas do paiacutes

O ressurgimento do instrumento Plano Diretor em 1988 embora isento de grandes

novidades veio acompanhado da premissa da funccedilatildeo social da propriedade um aspecto

positivo e inovador da poliacutetica urbana poreacutem praticamente inviaacutevel de ser aplicado num

primeiro momento pelos obstaacuteculos constantes na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal Contudo

diante da pressatildeo dos movimentos sociais e populares que se fortaleceram durante o processo

de redemocratizaccedilatildeo tais planos foram se tornando mais politizados abordando aspectos

especiacuteficos da competecircncia municipal e tratando das polecircmicas voltadas para o territoacuterio

inclusive sobre a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria no espaccedilo urbano

Em 2001 a poliacutetica urbana foi regulamentada pela Lei 10257 - Estatuto da

Cidade ndash devidamente apresentada no capiacutetulo anterior Com uma abordagem democraacutetico-

participativa voltada para os interesses coletivos tal lei possibilitou uma mudanccedila expressiva

no planejamento urbano principalmente na esfera municipal

O Plano Diretor Participativo como seraacute chamado a partir de entatildeo se torna o

principal dentre outros sete instrumentos de planejamento municipal expressos no Art 4ordm

inciso III da Lei 10257

Art 4o Para os fins desta Lei seratildeo utilizados entre outros instrumentos [] III ndash

planejamento municipal em especial a) plano diretor b) disciplina do

parcelamento do uso e da ocupaccedilatildeo do solo c) zoneamento ambiental d) plano

plurianual e) diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual f) gestatildeo orccedilamentaacuteria

16

participativa g) planos programas e projetos setoriais h) planos de

desenvolvimento econocircmico e social (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade

de 10 de julho 2001)

O conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelos planos diretores foi estabelecido na

resoluccedilatildeo nordm34 de 01 de julho de 2005 pelo Conselho das Cidades A tal conselho

regulamentado pelo Decreto 5031 2004 competia emitir orientaccedilotildees e recomendaccedilotildees sobre

a aplicaccedilatildeo da Lei 10257 de 2001 (Estatuto da Cidade) e dos demais atos normativos

relacionados ao desenvolvimento urbano A inclusatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel das

cidades nas novas diretrizes da poliacutetica urbana teraacute no plano diretor a sua expressatildeo

fundamental Dentre o conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelo Plano Diretor Participativo

merece destaque o Art 2ordm inciso III aleacutem do Art 5ordm inciso VII do Estatuto da Cidade

Art 2deg As funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade urbana seratildeo definidas a partir

da destinaccedilatildeo de cada porccedilatildeo do territoacuterio do municiacutepio bem como da identificaccedilatildeo

dos imoacuteveis natildeo edificados subutilizados e natildeo utilizados no caso de sua existecircncia

de forma a garantir [] III - a universalizaccedilatildeo do acesso aacute aacutegua potaacutevel aos

serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio a coleta e disposiccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos e ao

manejo sustentaacutevel das aacuteguas pluviais de forma integrada aacutes poliacuteticas ambientais de

recursos hiacutedricos e de sauacutede [] Art 5deg A instituiccedilatildeo das Zonas Especiais

considerando o interesse local deveraacute [] VII - demarcar as aacutereas de proteccedilatildeo

preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e construiacutedo do patrimocircnio

cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico (BRASIL Lei nordm10257

Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

Ao estabelecer as diretrizes de ordenaccedilatildeo do solo o Plano Diretor estabelece que

a propriedade urbana deve servir agrave qualidade de vida dos cidadatildeos agrave justiccedila social e ao

desenvolvimento sustentaacutevel das atividades econocircmicas A referecircncia territorial que estrutura

as estrateacutegias definidas pelo Plano Diretor eacute o macrozoneamento Este subdivide o territoacuterio

municipal a partir da identificaccedilatildeo das potencialidades e das caracteriacutesticas de cada aacuterea Satildeo

algumas categorias utilizadas na definiccedilatildeo do macrozoneamento aacutereas aptas agrave urbanizaccedilatildeo

aacutereas propiacutecias ao desenvolvimento de atividades rurais aacutereas de preservaccedilatildeo e aacutereas de

exploraccedilatildeo econocircmica Aleacutem da definiccedilatildeo de intenccedilotildees para os vetores do territoacuterio

municipal o macrozoneamento define tambeacutem o periacutemetro urbano e as zonas de expansatildeo

urbana enquanto instrumentos de direcionamento da urbanizaccedilatildeo da gestatildeo ambiental e do

crescimento econocircmico A delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano deve ser feita a partir de planta

referenciada com clara indicaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e fiacutesicos limiacutetrofes e deve servir

para direcionar o adensamento populacional para as aacutereas providas de infraestrutura

garantindo a proteccedilatildeo das aacutereas de interesse ambiental e a reserva de aacutereas para produccedilatildeo

agriacutecola e ocupaccedilatildeo rural A alteraccedilatildeo de tal periacutemetro conforme previsto no Art42B do

17

Estatuto da Cidade deveraacute instituiacuteda por lei municipal e deve ser resultado de projeto

especiacutefico que contemple o conteuacutedo miacutenimo e que atenda agraves diretrizes do Plano Diretor

O segundo instrumento de planejamento municipal apresentado no Art 4ordm do

Estatuto da Cidade o parcelamento o uso e a ocupaccedilatildeo do solo eacute tambeacutem um importante

instrumento para a concretizaccedilatildeo dos preceitos da sustentabilidade do ambiente urbano A

Legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal definiraacute o zoneamento da aacuterea urbana Tal zoneamento

responsaacutevel pela subdivisatildeo do periacutemetro urbano em diferentes categorias eacute o principal

instrumento da regulaccedilatildeo urbana A definiccedilatildeo das categorias deveraacute ser pautada pelo melhor

aproveitamento e pela ampliaccedilatildeo do acesso agrave terra urbanizada O zoneamento orienta o

ordenamento urbano a partir das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo do solo definindo os paracircmetros

urbaniacutesticos - coeficiente de aproveitamento taxa de ocupaccedilatildeo afastamentos gabaritos - de

forma que os projetos de edificaccedilotildees e demais intervenccedilotildees mantenham uma densidade de

ocupaccedilatildeo que favoreccedila o conforto ambiental urbano Dentre os criteacuterios para a definiccedilatildeo dos

diferentes paracircmetros urbaniacutesticos que incidem sobre o territoacuterio estatildeo proteccedilatildeo das aacutereas

ambientalmente fraacutegeis adensamento de aacutereas providas de infraestrutura limitaccedilatildeo de usos a

partir da capacidade viaacuteria controle da permeabilidade do solo preservaccedilatildeo e proteccedilatildeo de

conjuntos de valor histoacuterico cultural ou ambiental distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo de baixa renda

em aacutereas bem localizadas e servidas de infraestrutura condiccedilotildees climaacuteticas locais

As diretrizes para o parcelamento geralmente compoem junto com os paracircmetros

urbaniacutesticos a mesma lei municipal O parcelamento merece destaque pois trata dos novos

espaccedilos que seratildeo incorporados ao tecido urbano da cidade e portanto deveraacute estar

integralmente articulado com as estrateacutegias do desenvolvimento urbano Eacute regulamentado em

acircmbito geral pela Lei Federal 676679 acrescida das alteraccedilotildees posteriores definidas nas leis

978599 e 1144507 O parcelamento configura um processo de expansatildeo horizontal ou

adensamento da aacuterea urbanizada e consiste na subdivisatildeo de um determinado imoacutevel sob as

formas de desmembramento (quando haacute o aproveitamento do sistema viaacuterio existente) ou

loteamento (quando haacute abertura de novas vias e logradouros ou modificaccedilatildeo dos existentes)

Deveratildeo ser contempladas na Lei de Parcelamento as aacutereas que natildeo admitiratildeo parcelamento

os paracircmetros de dimensionamento de lotes quadras e sistema viaacuterio as aacutereas de uso puacuteblico

as faixas de proteccedilatildeo a infraestrutura baacutesica os procedimentos administrativos para

aprovaccedilatildeo do projeto as contrapartidas do empreendedor as penalidades sobre infraccedilotildees

assim como os procedimentos para regularizaccedilatildeo das aacutereas em desconformidade com a Lei

Paracircmetros de conforto ambiental tais como ventos favoraacuteveis orientaccedilatildeo solar vegetaccedilatildeo

18

sistema de abastecimento de aacutegua sistema de esgotamento sanitaacuterio e sistema de drenagem

devem ser definidos em lei e cobrados nos projetos de parcelamento a fim de minimizar os

impactos ao meio ambiente

Vale destacar que o sucesso na elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo das Leis de Parcelamento

Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo depende primeiramente do comprometimento da gestatildeo municipal

com a democratizaccedilatildeo da cidade e com o bem-estar coletivo caso contraacuterio tal legislaccedilatildeo

poderaacute aprofundar a segregaccedilatildeo privilegiando a iniciativa privada a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria

e os interesses individuais

O zoneamento ambiental terceiro instrumento de planejamento municipal

apontado na lista do Art 4ordm do Estatuto da Cidade eacute tambeacutem um instrumento da Poliacutetica

Nacional do Meio Ambiente regida pela Lei 693881 Art 9ordm O zoneamento ambiental pode

ser considerado uma expressatildeo sinocircnima do Zoneamento Ecoloacutegico-Econocircmico ndash ZEE que

foi regulamentado pelo Decreto 429702

CAPITULO I - DOS OBJETIVOS E PRINCIacutePIOS ndash [] Art 2ordm O ZEE

instrumento de organizaccedilatildeo do territoacuterio a ser obrigatoriamente seguido na

implantaccedilatildeo de planos obras e atividades puacuteblicas e privadas estabelece medidas e

padrotildees de proteccedilatildeo ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental dos

recursos hiacutedricos e do solo e a conservaccedilatildeo da biodiversidade garantindo o

desenvolvimento sustentaacutevel e a melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo

Art 3ordm O ZEE tem por objetivo geral organizar de forma vinculada as decisotildees dos

agentes puacuteblicos e privados quanto a planos programas projetos e atividades que

direta ou indiretamente utilizem recursos naturais assegurando a plena manutenccedilatildeo

do capital e dos serviccedilos ambientais dos ecossistemas Paraacutegrafo uacutenico O ZEE na

distribuiccedilatildeo espacial das atividades econocircmicas levaraacute em conta a importacircncia

ecoloacutegica as limitaccedilotildees e as fragilidades dos ecossistemas estabelecendo vedaccedilotildees

restriccedilotildees e alternativas de exploraccedilatildeo do territoacuterio e determinando quando for o

caso inclusive a relocalizaccedilatildeo de atividades incompatiacuteveis com suas diretrizes

gerais (BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002)

O zoneamento ambiental ou ZEE eacute o instrumento que possibilita traccedilar um

panorama sobre a utilizaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais de um determinado

municiacutepio gerando as bases para um planejamento urbano comprometido com a

sustentabilidade ecoloacutegica econocircmica e social Tambeacutem eacute um instrumento de caraacuteter

democraacutetico-participativo e deve portanto ser acompanhado pela Administraccedilatildeo Puacuteblica em

seus diferentes niacuteveis e pela sociedade civil Tal instrumento assim como o zoneamento

urbano divide o territoacuterio em diferentes categorias As categorias do zoneamento ambiental

satildeo definidas a partir dos princiacutepios da utilidade e da simplicidade de forma a configurar

limites claros e compreensiacuteveis ao poder puacuteblico e aos cidadatildeos As diretrizes gerais e

especiacuteficas do zoneamento deveratildeo conter a capacidade de suporte ambiental de determinada

aacuterea a necessidade de proteccedilatildeo dos recursos renovaacuteveis e natildeo-renovaacuteveis a definiccedilatildeo de aacutereas

19

para unidades de conservaccedilatildeo integral a permissatildeo para exploraccedilatildeo de recursos naturais as

medidas para o desenvolvimento sustentaacutevel do setor rural medidas de ajustamento entre usos

conflitantes aleacutem de planos programas e fonte de recursos para viabilizar as atividades

apontadas para cada zona

Apesar de ser um importante instrumento de suporte agrave proteccedilatildeo do meio ambiente

o zoneamento ambiental ou ZEE ainda tem sido pouco utilizado pelos municiacutepios brasileiros

Contudo os dados da Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais (MUNIC 2013)

demonstraram que tem havido um crescimento do percentual de municiacutepios com legislaccedilatildeo

especiacutefica sobre a questatildeo ambiental o que traz um pouco de esperanccedila quanto agrave mudanccedila

dos paradigmas de proteccedilatildeo do meio ambiente A MUNIC 2013 apontou que em 2012

554 dos municiacutepios tinham legislaccedilatildeo ambiental jaacute em 2013 esse percentual subiu para

655

Por uacuteltimo os demais instrumentos de planejamento municipal apontados no Art

4ordm do Estatuto da Cidade - plano plurianual diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual

gestatildeo orccedilamentaacuteria participativa planos programas e projetos setoriais planos de

desenvolvimento econocircmico e social ndash tratariam de garantir a gestatildeo democraacutetica da cidade a

partir da realizaccedilatildeo de debates audiecircncias e consultas puacuteblicas como condiccedilatildeo para a

aprovaccedilatildeo das Leis Municipais Tais instrumentos apesar de natildeo-urbaniacutesticos tecircm uma

importacircncia decisiva na reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais Contudo embora tenham se

efetivado na maioria dos municiacutepios brasileiros ainda permanecem em sua maioria

mergulhados na velha poliacutetica clientelista que transforma os foacuteruns de participaccedilatildeo em

espaccedilos esvaziados pouco divulgados redutos de manobras poliacuteticas e trocas de favores

Infelizmente a garantia da gestatildeo democraacutetica natildeo seraacute alcanccedilada apenas por atos normativos

assim como as diretrizes estabelecidas para o desenvolvimento urbano sustentaacutevel tambeacutem

natildeo ser tornaratildeo realidade apenas por forccedila de Lei Eacute necessaacuterio mudar o caraacuteter da gestatildeo do

territoacuterio que atualmente se caracteriza pela anulaccedilatildeo da atuaccedilatildeo teacutecnica das diferentes aacutereas

do conhecimento a fim de garantir que o interesse privado prevaleccedila sobre os diretos coletivos

de toda uma cidade Eacute necessaacuterio colocar em praacutetica os preceitos das leis brasileiras efetivar

os instrumentos com real participaccedilatildeo popular lanccedilar as bases para um modelo de gestatildeo

realmente democraacutetico inclusivo e comprometido com o bem estar coletivo e com a justiccedila

social

20

4 OS DESAFIOS DA REGULACcedilAtildeO URBANA FRENTE AgraveS INTERVENCcedilOtildeES NAS

EDIFICACcedilOtildeES E NOS CONJUNTOS URBANOS TOMBADOS

A proteccedilatildeo e a preservaccedilatildeo dos siacutetios urbanos de valor histoacuterico arquitetocircnico

cultural ou paisagiacutestico satildeo imprescindiacuteveis para a manutenccedilatildeo da identidade e da memoacuteria

dos diferentes grupos sociais que por ali passaram ou nele se estabeleceram O registro da

histoacuteria deve ser deixado agraves geraccedilotildees futuras como siacutembolo do conhecimento e da experiecircncia

adquirida ao longo do tempo A proteccedilatildeo de um determinado siacutetio pode inclusive ser

utilizada quando a memoacuteria coletiva e a afetividade de uma comunidade para com um

determinado espaccedilo adquirir grande relevacircncia cultural gerando uma ambiecircncia a ser

protegida mesmo que esta tenha se consolidado em um periacuteodo recente

Atualmente a preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos e a conservaccedilatildeo dos imoacuteveis

urbanos tecircm no desenvolvimento urbano sustentaacutevel um importante aliado A disseminaccedilatildeo

da loacutegica do consumo que atinge tanto os bens materiais moacuteveis quanto os imoacuteveis resulta

numa produccedilatildeo exagerada desses bens o que demanda enorme quantidade de mateacuteria-prima e

energia e causa impacto no meio ambiente Sendo assim as poliacuteticas de preservaccedilatildeo e o

incentivo ao reuso de edifiacutecios e objetos contribuem para a sustentabilidade e o equiliacutebrio

ambiental

Hoje existem no Brasil doze siacutetios urbanos e sete siacutetios naturais que satildeo

considerados Patrimocircnio Cultural da Humanidade e portanto tombados internacionalmente

pela UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

Dentre os conjuntos tombados internacionalmente destaca-se a predominacircncia dos centros

histoacutericos de caracteriacutesticas coloniais tais como o Centro Histoacuterico de Ouro Preto MG

Olinda PE Salvador BA Satildeo Luiz do Maranhatildeo MA Diamantina MG e Goiaacutes GO Natildeo

menos importante o tombamento nacional realizado pelo IPHAN ndash Instituto do Patrimocircnio

Histoacuterico e Artiacutestico Nacional preserva 77 conjuntos urbanos espalhados por todas as regiotildees

do Brasil com destaque para a regiatildeo nordeste que conta com 30 desses centros tombados

Somam-se a esse contingente os conjuntos tombados estadualmente e municipalmente que

natildeo seratildeo aqui enumerados

A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio estaacute presente no ordenamento

juriacutedico brasileiro desde 1937 quando por meio do Decreto-Lei nordm25 criou-se o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash SPHAN (atual IPHAN) para proteger as cidades

e os monumentos da modernizaccedilatildeo das reformas urbanas e do interesse imobiliaacuterio

21

Reafirmada pelo Art 216 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e pelo Art 2ordm inciso XII do

Estatuto da Cidade a proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e

construiacutedo do patrimocircnio cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico tornou-se

diretriz obrigatoacuteria a ser contemplada pelos planos urbanos e legislaccedilotildees municipais

Contudo a preservaccedilatildeo dos conjuntos urbanos tombados natildeo pressupotildee o

congelamento das cidades Os paracircmetros para as intervenccedilotildees contemporacircneas deveratildeo ser

definidos em leis especiacuteficas de modo a evitar que o novo se sobreponha ou se confunda com

o existente A preservaccedilatildeo do conjunto tombado soacute seraacute possiacutevel se for permitido agrave cidade

expandir-se adensar-se e modificar-se Caso contraacuterio centro e cidade se tornaratildeo obsoletos

Percebe-se portanto que a regulaccedilatildeo urbana nas cidades histoacutericas enfrenta um

grande desafio preservar o antigo e abrir-se ao novo Sendo assim como proceder e quais

instrumentos utilizar Como a legislaccedilatildeo municipal deveraacute ser elaborada e aplicada a fim de

contemplar a preservaccedilatildeo do conjunto tombado e a expansatildeo da cidade seguindo os preceitos

da sustentabilidade

A preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos associada agrave expansatildeo sustentaacutevel das cidades eacute

um tema que vem sendo amplamente discutido inclusive em acircmbito internacional Nos paiacuteses

do norte e principalmente no continente europeu os siacutetios urbanos que demandam poliacuteticas

de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo remontam de seacuteculos e ateacute mesmo de milecircnios passados Embora

uma grande parte do patrimocircnio mundial tenha se perdido com a destruiccedilatildeo resultante das

guerras das cataacutestrofes e da imposiccedilatildeo de novas culturas como aconteceu principalmente nos

paiacuteses do sul que tiveram a cultura originaacuteria destruiacuteda pela colonizaccedilatildeo ainda haacute muito

patrimocircnio a ser preservado E natildeo eacute de hoje que os teacutecnicos e profissionais de diversas aacutereas

do conhecimento tecircm desenvolvido teorias e instrumentos para assegurar a salvaguarda de

todo esse patrimocircnio

Desde entatildeo leis documentos planos guias e coacutedigos vecircm sendo desenvolvidos

com o objetivo de orientar e direcionar as accedilotildees e intervenccedilotildees sobre o patrimocircnio cultural das

cidades com vistas ao desenvolvimento sustentaacutevel

Um importante documento desenvolvido em 2008 pelo Governo da Escoacutecia o

ldquoSustainable Development Guidance for Estate Managementrdquo buscou sistematizar a partir

dos preceitos da sustentabilidade estrateacutegias e orientaccedilotildees para a realizaccedilatildeo de intervenccedilotildees

principalmente para as novas construccedilotildees Tal preocupaccedilatildeo se intensificou apoacutes a discussatildeo

sobre as mudanccedilas climaacuteticas e os efeitos futuros ldquoThe Stern Review on the Economics of

Climate Changerdquo realizada pelo Governo do Reino Unido O documento ldquoSustainable

22

Development Guidance for Estate Managementrdquo se assemelha a um guia para o

desenvolvimento sustentaacutevel que aborda as estrateacutegias de accedilatildeo e recomendaccedilotildees para fazer da

Escoacutecia um paiacutes mais ecoloacutegico

Segundo esse Guia que trata da proteccedilatildeo do ambiente natural e da manutenccedilatildeo do

ambiente construiacutedo a sustentabilidade deveraacute ser uma prerrogativa tanto nas novas

construccedilotildees como na manutenccedilatildeo das edificaccedilotildees existentes nas conversotildees de uso nas

ampliaccedilotildees no retrofit4 e nas demoliccedilotildees No item 36 ldquoEmbedding sustainability within the

estate strategy processrdquo satildeo apontados os itens a serem observados na elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias e projetos para o desenvolvimento manutenccedilatildeo ou restauraccedilatildeo de edificaccedilotildees Satildeo

eles biodiversidade layout flexiacutevel nas construccedilotildees materiais construtivos e a possibilidade

de recuperaccedilatildeo reciclagem e reuso gestatildeo da aacutegua diminuiccedilatildeo da poluiccedilatildeo energia

certificada minimizaccedilatildeo do consumo de energia atraveacutes do isolamento e da ventilaccedilatildeo

natural utilizaccedilatildeo de energias renovaacuteveis como energia solar diminuiccedilatildeo do desperdiacutecio e

aumento da reciclagem dentre outros itens A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio

conforme jaacute foi discutido no iniacutecio deste capiacutetulo tambeacutem estaacute presente no Guia conforme

aponta o item 43 ldquoHistoric Buildingsrdquo Neste item direciona-se a atenccedilatildeo para as amplas

possibilidades de reuso e reabilitaccedilatildeo dessas edificaccedilotildees Tal situaccedilatildeo deve partir da

intervenccedilatildeo miacutenima e deve garantir que as caracteriacutesticas histoacutericas ou culturais dos edifiacutecios

sejam devidamente respeitadas e mantidas O Guia trata tambeacutem do procedimento para

reparos que na medida do possiacutevel deve ser feito atraveacutes das teacutecnicas tradicionais e dos

materiais originais ou compatiacuteveis sempre com apoio de profissional especializado Eacute

enfatizada tambeacutem a obrigatoriedade em solicitar das autoridades competentes autorizaccedilatildeo

para as intervenccedilotildees Por uacuteltimo apoacutes feitas todas as consideraccedilotildees sobre os aspectos

positivos da reutilizaccedilatildeo de um determinado edifiacutecio no caso de se decidir pela demoliccedilatildeo do

mesmo o Guia aponta os cuidados a serem obsevados na disposiccedilatildeo final dos resiacuteduos no

aterro sanitaacuterio alertando para a importacircncia em separar os resiacuteduos toacutexicos Os materiais

resultantes da demoliccedilatildeo como accedilo fundaccedilotildees de concreto ceracircmica madeira de assoalho

instalaccedilotildees internas placas de gesso carpete e janelas satildeo frequentemente passiacuteveis de

4 ldquoTermo utilizado principalmente em engenharia para designar o processo de modernizaccedilatildeo de algum

equipamento jaacute considerado ultrapassado ou fora de normardquo Disponiacutevel em

lthttpwwweletrobrascomrelatorio_sustentabilidade_2013anexosglossariogt Acesso em 06 de jun 2015

23

reciclagem revenda ou reutilizaccedilatildeo e natildeo devem ser descartados resultando na diminuiccedilatildeo do

desperdiacutecio e na reduccedilatildeo da exploraccedilatildeo dos recursos naturais

Outro importante documento a ser citado aqui como relevante para a proteccedilatildeo do

patrimocircnio histoacuterico e para o desenvolvimento sustentaacutevel o ldquoCalifornia Code of

Regulations Title 24rdquotambeacutem chamado de ldquoCalifornia Building Standards Coderdquo foi

finalizado em 1998 e aprovado pela ldquoCalifornia Building Standards Commissionrdquo em 2007

Tal documento trata dos paracircmetros gerais para a construccedilatildeo de edificaccedilotildees no Estado da

Califoacuternia Este Coacutedigo eacute dividido em 12 partes e traz na parte 8 de tiacutetulo ldquoCalifornia

Historical Building Code (CHBC)rdquo as exigecircncias a serem cumpridas para a permissatildeo de

reparos alteraccedilotildees e adiccedilotildees necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo relocaccedilatildeo mudanccedila de

uso ou continuaccedilatildeo de uso em edificaccedilotildees de reconhecido valor cultural ou histoacuterico5 Com o

objetivo de proteger a sauacutede e a seguranccedila das pessoas o California Historical Building Code

(CHBC) busca orientar as accedilotildees para a recuperaccedilatildeo das edificaccedilotildees histoacutericas garantindo a

preservaccedilatildeo da integridade e das caracteriacutesticas de tais edificaccedilotildees Ao todo satildeo 10 capiacutetulos

que abordam em resumo os seguintes temas capiacutetulo 01 ldquoAdministrationrdquo trata dos casos

sujeitos agrave aplicaccedilatildeo do coacutedigo cap02 ldquoDefinitionsrdquo trata das definiccedilotildees dos termos frases e

palavras necessaacuterios agrave compreensatildeo dos demais capiacutetulos cap03 ldquoUse and Occupancyrdquo trata

das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo dos edifiacutecios tais como altura maacutexima e nuacutemero de

pavimentos dimensatildeo miacutenima dos cocircmodos diretrizes de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo cap04

ldquoFire Protectionrdquo trata da proteccedilatildeo contra incecircndio e indica as diretrizes em relaccedilatildeo aos

materiais shafts telhado sistemas de alarme sistemas automaacuteticos de proteccedilatildeo como

sprinklers dentre outras tecnologias cap05 ldquoMeans of Egressrdquo trata das meios de saiacuteda das

edificaccedilotildees abordando entre outros elementos as escadas portas janelas grades e guarda-

corpos cap06 ldquoAccessibilityrdquo trata da acessibilidade aos portadores de necessidades especiais

a partir da utilizaccedilatildeo das dimensotildees miacutenimas e demais diretrizes estabelecidas para as

entradas portas banheiros rampas elevadores dentre outros cap07 ldquoStructural

5 Conforme o California Building Standards Code Parte 08 paacutegina 04 as edificaccedilotildees de reconhecido valor

cultural ou histoacuterico para as quais se utilizaraacute o CHBC satildeo ldquoFor the purposes of this part a qualified historical

building or structure is any structure or collection of structures and their associated sites deemed of importance

to the history architecture or culture of an area by an appropriate local or state governmental jurisdiction This

shall include structures on existing or future national state or local historical registers or official inventories

such as the National Register of Historic Places State Historical Landmarks State Points of Historical Interest

and city or county registers or inventories of historical or architecturally significant sites places historic districts

or landmarksrdquo (CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS 2007 p 4)

24

Regulationsrdquo trata da regulaccedilatildeo sobre os sistemas estruturais a partir da identificaccedilatildeo da

situaccedilatildeo da estrutura por profissional especializado identificaccedilatildeo dos acreacutescimos posteriores agrave

construccedilatildeo do edifiacutecio das cargas incidentes da performance dos parapeitos e da situaccedilatildeo dos

revestimentos externos e decorativos cap8 ldquoArchaic Materials and Methods of Constructionrdquo

trata dos meacutetodos e materiais construtivos tradicionais das edificaccedilotildees histoacutericas e das

diretrizes para a recuperaccedilatildeo de alvenarias adobe madeira concreto accedilo ferro vidros e

vidraccedilas cap09 ldquoMechanical Plumbing and Electrical Requirementsrdquo trata das exigecircncias

em relaccedilatildeo agraves instalaccedilotildees eleacutetricas aos encanamentos e sistemas mecacircnicos Por uacuteltimo o

cap10 ldquoQualified Historical Districts Sites and Open Spacesrdquo trata das orientaccedilotildees para a

preservaccedilatildeo dos espaccedilos abertos e siacutetios histoacutericos a partir da manutenccedilatildeo da configuraccedilatildeo

espacial existente e dos elementos constitutivos da paisagem

No Brasil o instrumento que mais se assemelha aos exemplos citados acima eacute o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees Utilizado para regulamentar os criteacuterios e procedimentos a

serem utilizados na elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de projetos de edificaccedilotildees e controlar as atividades

de construccedilatildeo6 o Coacutedigo de Obras eacute instituiacutedo por lei municipal como instrumento

complementar a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo citada anteriormente no Capiacutetulo 02 O

atendimento agraves condiccedilotildees estabelecidas nesses dois instrumentos da regulaccedilatildeo urbana ndash e o

atendimento a outras legislaccedilotildees quando for o caso - eacute requisito para a obtenccedilatildeo da licenccedila

urbaniacutestica Somente por meio da licenccedila municipal que afirma a compatibilizaccedilatildeo dos

interesses individuais e coletivos com o desenvolvimento urbano o proprietaacuterio poderaacute

exercer o seu direito sobre a propriedade sendo-lhe permitido executar as intervenccedilotildees

devidamente aprovadas Tambeacutem devem ser previstas em lei assim como os procedimentos

para o licenciamento as bases para a efetivaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo municipal como a

determinaccedilatildeo das infraccedilotildees e a previsatildeo de sanccedilotildees e multas aplicaacuteveis a cada caso

Subordinado agraves estrateacutegias de desenvolvimento estabelecidas no Plano Diretor o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees assim como a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo deve ser

elaborado a partir da preocupaccedilatildeo em se estabelecer uma boa interaccedilatildeo entre as novas

edificaccedilotildees e o conjunto urbano construiacutedo Para essa interaccedilatildeo as construccedilotildees devem atender

agraves premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica natildeo de forma isolada mas de

6 ldquoPara fins de direito entende-se por construccedilatildeo toda realizaccedilatildeo material e intencional de algueacutem visando a

adaptar o imoacutevel agraves suas conveniecircncias Nesse sentido tanto eacute construccedilatildeo a edificaccedilatildeo ou reforma como a

demoliccedilatildeo o muramento a escavaccedilatildeo o aterro a pintura e demais trabalhos destinados a beneficiar tapar

desobstruir conservar ou embelezar o preacutediordquo (BARANDIER ALMEIDA MORAIS 2013 p 147)

25

forma a interferir positivamente sobre o clima urbano e sobre a qualidade ambiental Assim

para aleacutem das diretrizes relativas ao uso agrave seguranccedila agrave salubridade agrave acessibilidade e agrave

preservaccedilatildeo dos elementos histoacutericos artiacutesticos e culturais tambeacutem devem ser elaborados

estudos climaacuteticos que aplicados ao desenho urbano possibilitem a formulaccedilatildeo de diretrizes

em prol da adaptaccedilatildeo das edificaccedilotildees agraves caracteriacutesticas climaacuteticas locais ao conforto teacutermico

luminoso e acuacutestico aleacutem da formulaccedilatildeo de diretrizes para a utilizaccedilatildeo de fontes de energia

alternativas e combate ao desperdiacutecio

Voltando aos dados obtidos pela Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros

realizada pelo IBGE em 2013 conforme pode ser visto no graacutefico abaixo do total de

municiacutepios brasileiros 624 declararam ter Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees enquanto 542

declararam ter Lei de Zoneamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo Esses dados demonstram que os

instrumentos legais embora apresentem um grande potencial de transformaccedilatildeo da realidade

urbana ainda satildeo pouco aplicados

Graacutefico do Percentual de municiacutepios segundo o tipo de instrumento de planejamento

existente - MUNIC -2013

Fonte Pesquisa ldquoPERFIL DOS MUNICIacutePIOS BRASILEIROS 2013rdquo (IBGE 2014)

Dentre os Coacutedigos de Obras existentes muitos estatildeo desatualizados defasados e

por isso natildeo configuram um mecanismo relevante quanto agrave alteraccedilatildeo do cenaacuterio das cidades

brasileiras Aleacutem disso a falha na articulaccedilatildeo dos diversos dispositivos de orientaccedilatildeo controle

e fiscalizaccedilatildeo das construccedilotildees resulta na aplicaccedilatildeo desequilibrada da lei consolidando

poliacuteticas de favorecimento exclusatildeo e segregaccedilatildeo aleacutem de ampliar a cada dia a destruiccedilatildeo e

os prejuiacutezos ambientais

26

Apesar de termos avanccedilado na construccedilatildeo conceitual dos instrumentos capazes de

nos levar ao sonhado desenvolvimento sustentaacutevel estamos ainda muito aqueacutem de efetivaacute-los

na praacutetica e no dia-a-dia dos municiacutepios A gestatildeo urbana da qual o planejamento eacute

interdependente configura a um dos principais obstaacuteculos agrave superaccedilatildeo da loacutegica atual de

valorizaccedilatildeo dos interesses individuais sobre os coletivos A falta interesse em destinar

recursos para a soluccedilatildeo de parte dos problemas soacutecio-espaciais tambeacutem eacute um grande

obstaacuteculo A melhoria da infraestrutura urbana os projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria a

construccedilatildeo de moradias populares sustentaacuteveis e a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados jaacute

configurariam um passo adiante na concretizaccedilatildeo da sustentabilidade no ambiente urbano

Sendo assim conhecidos os obstaacuteculos ou pelo menos parte deles eacute fundamental lanccedilarmos

as bases para a sua superaccedilatildeo fortalecendo os ideais de transformaccedilatildeo das cidades

27

5 O MUNICIacutePIO DE OURO PRETO UM ESTUDO DE CASO

51 Da colonizaccedilatildeo ao Seacuteculo XX

Localizado na Regiatildeo Central de Minas Gerais (ou Macrorregiatildeo Metaluacutergica) o

municiacutepio de Ouro Preto eacute possui uma aacuterea aproximada de 1245kmsup2 e sua populaccedilatildeo totaliza

cerca de 70281 habitantes7 Posicionado na porccedilatildeo centro-sul do Estado Ouro Preto tem

como principais confrontantes os municiacutepios de Mariana Itabirito Ouro Branco Congonhas

e Santa Baacuterbara Aleacutem do distrito-sede o territoacuterio eacute dividido em mais 12 distritos

Amarantina Antocircnio Pereira Cachoeira do Campo Engenheiro Correia Glaura Lavras

Novas Miguel Burnier Santa Rita Santo Antocircnio do Leite Santo Antocircnio do Salto Satildeo

Bartolomeu e Rodrigo Silva

Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ouro Preto no estado de

Minas Gerais

Fonte SMCP - PMOP

7 IBGE Diretoria de Pesquisas Coordenaccedilatildeo de Populaccedilatildeo e Indicadores Sociais ndash ldquoEstimativas da populaccedilatildeo

residente com data de referecircncia 1o de julho de 2014 publicada no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo em 28082014rdquo

Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314610ampsearch=||infogrE1ficosinformaE7F5e

s-completasgt Acesso em 06 jun 2015

28

Ouro Preto e municiacutepios limiacutetrofes

Fonte SMCP - PMOP

Mapa dos Distritos de Ouro Preto

Fonte SMCP - PMOP

Desencadeados pela exploraccedilatildeo auriacutefera do seacuteculo XVII - iniciada na regiatildeo de

Minas Gerais provavelmente em 1698 - os arraiais e agrupamentos humanos se consolidaram

na regiatildeo montanhosa e acidentada do municiacutepio de Ouro Preto primeiramente nas encostas

iacutengremes e arredores das minas e posteriormente nas margens dos rios e nos fundos de vale O

povoamento foi se intensificando em torno dos principais eixos de ligaccedilatildeo entre os nuacutecleos

29

urbanos vizinhos resultando num desenho urbano linear e longitudinal diferente do modelo

reticulado de ordenaccedilatildeo do territoacuterio que foi caracteriacutestico do Brasil Colocircnia

Agrave primeira configuraccedilatildeo urbana consolidada em 1711 deu-se o nome de Vila

Rica de Albuquerque que posteriormente em 1720 foi elevada agrave capital da Capitania das

Minas Gerais Ao longo do seacuteculo XVIII foram efetivadas as intervenccedilotildees urbanas mais

significativas e foram construiacutedas as principais referecircncias arquitetocircnicas de Ouro Preto As

principais pontes os chafarizes o Centro Administrativo (atual Praccedila Tiradentes) o Palaacutecio

dos Governadores a Casa de Cacircmara e Cadeia assim como as inuacutemeras capelas e igrejas de

estilo barroco das diversas ordens e irmandades religiosas consolidaram o cenaacuterio

setecentista que configura o atual centro histoacuterico da cidade O final do seacuteculo XVIII foi

marcado pelo esgotamento das minas de ouro o que desencadeou um esvaziamento

populacional da Vila pela crise de abastecimento e decadecircncia econocircmica

O seacuteculo XIX contudo trouxe as mudanccedilas advindas da era do Impeacuterio e em

1823 Vila Rica de Albuquerque foi elevada agrave cidade sob o tiacutetulo de Imperial Cidade de Ouro

Preto A partir daiacute a cidade passou por diversas modernizaccedilotildees a fim de se consolidar

enquanto capital da proviacutencia de Minas Gerais A criaccedilatildeo da Escola de Farmaacutecia do Liceu de

Artes e Ofiacutecios da Escola de Minas a construccedilatildeo da Estaccedilatildeo Ferroviaacuteria e a implantaccedilatildeo da

Companhia Industrial Ouro-Pretana satildeo exemplos importantes da expansatildeo e do

desenvolvimento da cidade durante o seacuteculo XIX Ao final deste seacuteculo jaacute sob a eacutegide do

periacuteodo republicano a cidade de Ouro Preto perde o status de capital da proviacutencia que em

1897 passou para Belo Horizonte Tal fato ocasionou pela segunda vez um processo de

esvaziamento e crise econocircmica na cidade Assim distante dos ideais de modernizaccedilatildeo e

desenvolvimento que cercavam a nova capital a ausecircncia de poliacuteticas de renovaccedilatildeo foi o que

garantiu a preservaccedilatildeo das feiccedilotildees urbanas da antiga Vila Rica A partir de entatildeo diversos

intelectuais da eacutepoca viajaram ateacute Ouro Preto e verificando o mal estado de conservaccedilatildeo e o

abandono da cidade comeccedilaram a produzir uma nova consciecircncia em relaccedilatildeo agrave necessidade

de se preservar os registros do passado

30

Mapa da evoluccedilatildeo urbana de Ouro Preto ndash do seacuteculo XVII ao seacuteculo XX

Fonte IGA ndash Instituto de Geociecircncias Aplicadas - 2003

Igreja de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo ndash registros do

periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

Ponte vizinha agrave Casa dos Contos - registros do periacuteodo

entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

31

Igreja N S do Pilar ndash registros do periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015apresentacao

A tradiccedilatildeo quanto agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico somente se consolidou

no Brasil a partir do seacuteculo XX Em 1931 surgiu o primeiro decreto municipal8 voltado para a

preservaccedilatildeo do cenaacuterio arquitetocircnico da cidade de Ouro preto proibindo as construccedilotildees em

desacordo com o estilo colonial predominante Em 1933 por meio do decreto nacional

22928 Ouro Preto foi erigida a Monumento Nacional Em 1938 o conjunto histoacuterico da

cidade foi tombado pelo SPHAN - Serviccedilo do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional que

havia sido criado no ano anterior Os anos seguintes foram marcados por inuacutemeras obras de

restauraccedilatildeo e tombamentos individuais

8 Decreto 13 de 19 de setembro de 1931 ldquoConsiderando que a cidade de Ouro Preto escriacutenio das tradiccedilotildees

mineiras deve conservar o seu aspecto colonial transmitido dos nossos antepassados Considerando que esta

feiccedilatildeo colonial de seus edifiacutecios de seus preacutedios das ruas e praccedilas desperta grande interesse por parte dos

turistas que frequumlentemente vecircm visitar a cidade e suas cercanias Considerando que ferem dolorosamente a

sensibilidade dos turistas os preacutedios que destoam do tipo colonial DECRETA Art 1deg - Natildeo eacute permitida no

periacutemetro urbano a construccedilatildeo de preacutedios e de edifiacutecios em desacordo com o estilo colonial da cidade Art 2deg -

Os atuais preacutedios existentes no periacutemetro urbano em desacordo com o artigo antecedente deveratildeo ser

modificados nas respectivas fachadas quando estas tenham que receber reparos []rdquo (OLIVEIRA 1997 p 7)

32

A sistematizaccedilatildeo de normas aplicaacuteveis agraves novas construccedilotildees foi realizada pelo

SPHAN (que em 1970 passou a ser chamado IPHAN9) para regular o crescimento da cidade e

o intenso surgimento de novas moradias que caracterizaram as deacutecadas de 1950 e 1960 Tal

crescimento se deu principalmente pela chegada de induacutestrias metaluacutergicas para a exploraccedilatildeo

da bauxita e produccedilatildeo de alumiacutenio primaacuterio Assim o ldquoestilo patrimocircniordquo surgiu das

exigecircncias normativas quanto agrave utilizaccedilatildeo dos elementos arquitetocircnicos tradicionais do

periacuteodo colonial

Um primeiro plano urbano foi elaborado pelo arquiteto portuguecircs Viana de Lima

entre os anos 1968 e 1970 com o objetivo de ldquopreservarrdquo o nuacutecleo histoacuterico da cidade e

consolidar o estilo patrimocircnio atraveacutes da eliminaccedilatildeo dos ecletismos da demoliccedilatildeo de obras

desprovidas de qualidade esteacutetica e do preenchimento dos vazios urbanos Nos anos seguintes

a discussatildeo sobre a salvaguarda do patrimocircnio se intensificou e deu origem a diversos outros

planos10

e programas de preservaccedilatildeo que obtiveram pouco sucesso na aplicaccedilatildeo praacutetica Em

21 de setembro de 1980 Ouro Preto recebeu da UNESCO o tiacutetulo de Patrimocircnio Cultural da

Humanidade e passou a ter visibilidade internacional

Ao final do seacuteculo XX a preocupaccedilatildeo com o desenvolvimento urbano da cidade e

com a proteccedilatildeo patrimonial gerou novas demandas em relaccedilatildeo agrave regulaccedilatildeo urbana e coube ao

IPHAN o papel de legislar sobre as intervenccedilotildees no centro histoacuterico As accedilotildees da

Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) do Instituto Estadual do Patrimocircnio Histoacuterico e

Artiacutestico (IEPHA) e do Instituto Estadual de Florestas (IEF) em pareceria com o governo

municipal e com o IPHAN foram decisivas na preservaccedilatildeo do patrimocircnio neste periacuteodo Em

1990 foram publicadas por meio da Lei 571990 as diretrizes para do Plano Diretor do

Municiacutepio sob as delineaccedilotildees inauguradas pela Constituiccedilatildeo Federal Tais diretrizes eram

bastante simplificadas e restritas aos zoneamentos e a questatildeo da preservaccedilatildeo do patrimocircnio

9 Em 1937 por meio da Lei nordm 378 foi fundado o SPHAN como oacutergatildeo oficial de preservaccedilatildeo do patrimocircnio

cultural brasileiro No mesmo ano foi promulgado o Decreto-Lei nordm 25 que regulamentou as atividades do

SPHAN Em 1946 o SPHAN teve o seu nome alterado para Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (DPHAN) Em 1970 o DPHAN eacute transformado em Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (IPHAN)

10 ldquoEm Minas Gerais a Fundaccedilatildeo Joatildeo Pinheiro (FJP) realizou um extenso diagnoacutestico e elaborou planos

diretores para diversas cidades coloniais mineiras bem como o Plano de Conservaccedilatildeo Valorizaccedilatildeo e

Desenvolvimento de Ouro Preto e Mariana em 1975 Esse Plano trata sobre a preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

patrimocircnio vinculado com as necessidades de desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio Por isso

abordou desde questotildees histoacutericas e culturais ateacute a anaacutelise de aspectos fiacutesico- territoriais tais como siacutetio natural

estudo das estruturas urbanas paisagismo e legislaccedilatildeo urbanardquo (SILVA OLIVEIRA 2005 p 180)

33

foi pouco abordada Jaacute em 1996 uma nova versatildeo do plano foi elaborada e diferentemente do

texto anterior o novo plano contemplou a preocupaccedilatildeo com o patrimocircnio e a preservaccedilatildeo

como instrumentos interligados agrave poliacutetica urbana

Art 1ordm - Em conformidade com a Constituiccedilatildeo Federal e com a Lei Orgacircnica

Municipal fica instituiacutedo o Plano Diretor de Ouro Preto (PDOP) fixando diretrizes

e instrumentos para o pleno desenvolvimento do Municiacutepio em consonacircncia com as

funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade [] Art 2ordm - O conjunto artiacutestico

arquitetocircnico urbaniacutestico paisagiacutestico e ambiental de relevante valor cultural

sediado no Municiacutepio objeto de tombamento federal e de reconhecimento

internacional pela UNESCO como Patrimocircnio Cultural da Humanidade eacute

considerado bem inalienaacutevel de sua populaccedilatildeo cabendo a ela exercer de forma

concorrente com as Administraccedilotildees Puacuteblicas a sua guarda proteccedilatildeo e gestatildeo

Paraacutegrafo uacutenico ndash A preservaccedilatildeo e a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural e ambiental

do Municiacutepio eacute fator determinante para o desenvolvimento urbano para a geraccedilatildeo de

empregos e para melhor distribuiccedilatildeo de renda Lei Complementar 0196 Ouro Preto

(OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996)

Em 1997 foi criado ldquoPlano de Reabilitaccedilatildeo do Siacutetio Histoacuterico de Ouro Pretordquo a

partir do ldquoMonumentardquo programa federal de iniciativa do Ministeacuterio da Cultura e patrocinado

pelo BID que sob a premissa do desenvolvimento econocircmico-social sustentaacutevel buscou

revitalizar os centros histoacutericos urbanos de 26 cidades brasileiras O Plano traccedilado para Ouro

Preto natildeo foi totalmente implementado mas alavancou as poliacuteticas de preservaccedilatildeo do

municiacutepio e deixou intervenccedilotildees significativas como por exemplo a recuperaccedilatildeo do Parque

Horto dos Contos (fundo de vale do Ribeiratildeo do Funil) aacuterea verde mais significativa da regiatildeo

central

34

Mapa Cadastral de Ouro Preto ndash Periacutemetro de tombamento pelo IPHAN

Fonte Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano - PMOP

52 O contexto atual

O conceito de patrimocircnio e de preservaccedilatildeo adotado no Brasil foi se modificando

ao longo da histoacuteria como foi apontado nos iniacutecio deste capiacutetulo Assim agrave medida que o

conceito adquiria relevacircncia as poliacuteticas de preservaccedilatildeo foram sendo instauradas nas esferas

administrativas Os avanccedilos iniciados no final do seacuteculo XX se consolidaram jaacute nos primeiros

anos do seacuteculo XXI O novo seacuteculo trouxe consigo uma mudanccedila significativa em relaccedilatildeo ao

desenvolvimento dos siacutetios histoacutericos que deixaram de ser vistos como uma ldquoobra de arte

intocaacutevelrdquo e passaram a ser tratados como espaccedilos socializados repletos de interaccedilatildeo cultural

e portanto passiacuteveis de transformaccedilatildeo Aleacutem dos centros urbanos o patrimocircnio imaterial

tambeacutem recebeu especial atenccedilatildeo e apoacutes 20 anos de discussatildeo a Convenccedilatildeo para a

Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial consolidada pela UNESCO em 2003 avanccedilou

no reconhecimento e na defesa das heranccedilas culturais dos povos ao redor do mundo

As transformaccedilotildees na relaccedilatildeo da preservaccedilatildeo com o planejamento urbano se

efetivaram em 2003 a partir da criaccedilatildeo do Plano de Preservaccedilatildeo de Siacutetio Histoacuterico Urbano

(PPSH) Este plano foi um instrumento de caraacuteter normativo que incidiu sobre os siacutetios

35

urbanos tombados em niacutevel federal a fim de aliar preservaccedilatildeo e desenvolvimento e incentivar

a gestatildeo compartilhada Nesse mesmo ano foi realizado o Encontro Nacional de Cidades

Histoacutericas que tratou da gestatildeo compartilhada do patrimocircnio cultural e da efetivaccedilatildeo das

poliacuteticas de preservaccedilatildeo associadas agrave legislaccedilatildeo urbana e ambiental

As mudanccedilas do iniacutecio do seacuteculo natildeo demoraram a repercutir no Municiacutepio de

Ouro Preto A partir da portaria ndeg 122 instituiacuteda em 2004 pelo presidente do IPHAN

definiu-se as diretrizes de intervenccedilatildeo e os paracircmetros para aprovaccedilatildeo de projeto no centro

histoacuterico da cidade a fim de garantir a manutenccedilatildeo das caracteriacutesticas da unidade e da

harmonia do conjunto urbano

Mapa dos bairros do municiacutepio de Ouro Preto

Fonte Secretaria Municipal de Patrimocircnio e Desenvolvimento Urbano - PMOP

36

Mapa esquemaacutetico ndash Periacutemetro urbano periacutemetro tombado e demais delimitaccedilotildees de interesse do distrito sede

Elaboraccedilatildeo Guilherme I N Ataiacutedes Base mapa do Plano Diretor

Foto da Praccedila Tiradentes

Fonte httpmondegocombrpraca-tiradentes

37

Foto Campus UFOP

Fonte httpwwwseeufopbrp=490

Foto IFMG

Fonte httpwwwouropretoifmgedubrcomunicacaoimagens-e-videoscampus-ouro-

pretocampusimage_view_fullscreen

Em 2006 a remodelaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Patrimocircnio e

Desenvolvimento Urbano (antiga Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio) deu um novo

impulso agrave preservaccedilatildeo no acircmbito da gestatildeo municipal unindo as poliacuteticas de proteccedilatildeo agraves

poliacuteticas de planejamento urbano O Grupo de Assessoramento Teacutecnico ndash GAT e o Conselho

Municipal de Patrimocircnio foram novamente colocados em accedilatildeo Um novo Plano Diretor

promulgado ao final deste mesmo ano atraveacutes da Lei Complementar Nordm 29 agregou as

conquistas do Estatuto da Cidade aos preceitos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio e acrescentou as

diretrizes para a proteccedilatildeo ambiental Os temas funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

estruturaccedilatildeo territorial desenvolvimento econocircmico proteccedilatildeo ambiental proteccedilatildeo ao

patrimocircnio cultural poliacutetica de desenvolvimento social produccedilatildeo da cidade e mobilidade

urbana intitulam alguns dos capiacutetulos da Lei Os instrumentos da poliacutetica urbana para o

cumprimento da funccedilatildeo social da propriedade aparecem no texto logo em sequecircncia A Lei de

38

Parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo conforme previsatildeo do Art 81 do Plano Diretor foi

promulgada no mesmo dia 28 de dezembro de 2006

A partir de entatildeo o municiacutepio assume sua funccedilatildeo enquanto principal oacutergatildeo de

gestatildeo do territoacuterio tarefa que anteriormente era desempenhada pelo Governo Federal e pelo

IPHAN Ao final de 2010 por meio da Lei Complementar Nordm 91 o Plano Diretor passa por

alteraccedilotildees pontuais e em 2011 a Lei de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo eacute amplamente

revisada dando origem aos paracircmetros utilizados nos dias atuais

Dentro desse resumido panorama legislativo apresentado pode-se perceber que o

Municiacutepio de Ouro Preto acompanhou em grande parte os avanccedilos inaugurados pelo

Estatuto da Cidade e concretizou ao menos em forma de Lei a regulamentaccedilatildeo das diretrizes

e dos instrumentos capazes de fazer valer a funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

Contudo tais avanccedilos representam muito pouco frente ao gigantesco desafio

enunciado no Art 2 inciso II do mesmo Estatuto quanto agrave ldquogarantia do direito a cidades

sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao saneamento ambiental

agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para

as presentes e futuras geraccedilotildeesrdquo(Lei 10257 2001)

Aleacutem da amplitude da tarefa outros elementos dificultam ainda mais o processo

de construccedilatildeo de uma nova realidade como por exemplo a negligecircncia dos gestores puacuteblicos

para com a atualizaccedilatildeo necessaacuteria e obrigatoacuteria das Leis O Plano Diretor de Ouro Preto

indica jaacute no Capiacutetulo 1 artigo 1ordm sect3ordm o prazo maacuteximo para a revisatildeo do mesmo estabelecido

em cinco anos a partir da sua publicaccedilatildeo ou seja 2011 Sendo assim percebe-se que a Lei

de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo revisada em 2011 embora seja o principal instrumento de

controle urbaniacutestico ateacute os dias de hoje jaacute nasceu defasada pois utilizou como referecircncia a

estrateacutegia de desenvolvimento urbano definida no Plano Diretor de 2006 desconsiderando os

impactos e as mudanccedilas territoriais sociais e culturais ocorridos desde entatildeo No geral os

gestores municipais tratam apenas de alteraccedilotildees pontuais que apenas mascaram o quadro de

estagnaccedilatildeo e desatualizaccedilatildeo das leis urbaniacutesticas Tal conduta conforma um enorme obstaacuteculo

na concretizaccedilatildeo das diretrizes do Estatuto da Cidade

Nos capiacutetulos anteriores ao tratarmos do desenvolvimento sustentaacutevel dois

importantes instrumentos foram apontados como peccedilas-chave da consolidaccedilatildeo de uma nova

experiecircncia de sustentabilidade no ambiente urbano a agenda 21 e o coacutedigo de obras

O primeiro deles a agenda 21 local foi estabelecida em 15 de maio de 2007 por

meio da Lei Nordm 333

39

Art 1ordm Fica criado no acircmbito do Municiacutepio de Ouro Preto o Programa da Agenda 21

Local processo e instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento

sustentaacutevel e que tem como eixo central a sustentabilidade compatibilizando a

conservaccedilatildeo ambiental a justiccedila social e o crescimento econocircmico Art 2ordm Para

efeitos de execuccedilatildeo da Agenda 21 Local o Poder Executivo instalaraacute o Foacuterum Ouro-

pretano da Agenda 21 Local (OURO PRETO Lei nordm333 Agenda 21 Local de 11

de maio de 2007)

No texto da Lei foram previstos os capiacutetulos a serem desenvolvidos Agenda 21

Estrutural Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade A

responsabilidade recaiu sobre o Foacuterum Ouro-Pretano da Agenda 21 Local Aleacutem da Lei de

criaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel encontrar nos registros legislativos digitais da Cacircmara Municipal a

Portaria Nordm 1707 que nomeia uma Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos Naturais

e Agenda 21 Local

Outra fonte de informaccedilotildees sobre a Agenda 21 Local de Ouro Preto foi encontrada

no acervo digital da Universidade Federal de Ouro Preto sob o tiacutetulo ldquoAgenda 21 Local

consolidando as bases para o desenvolvimento sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escalardquo

(OLIVEIRA 2010) Nesse trabalho foram apontadas as iniciativas que acompanharam a

criaccedilatildeo da Agenda 21 Local dentre as quais se destacam em ordem cronoloacutegica 1ordm Encontro

de Processos de Agendas 21 Locais ndash fevereiro de 2007 Plenaacuteria na Cacircmara Municipal de

Ouro preto para apresentaccedilatildeo da Agenda 21 ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio de Capacitaccedilatildeo para

a Agenda 21 Local ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio Teacutecnico de Diagnoacutestico para referecircncia da

Agenda 21 Local ndash abril de 2007 Seminaacuterio de Implantaccedilatildeo da Agenda 21 Mineral de Ouro

Preto ndash abril de 2007 Assinatura do Termo de Cooperaccedilatildeo Muacutetua entre a Prefeitura

Municipal a Cacircmara Municipal a ONG Interforum Global e a UFOP ndash maio de 2007

Seminaacuterio Intermunicipal de Agenda 21 Local ndash maio de 2007 Seminaacuterio Geral de

Capacitaccedilatildeo da Agenda 21 Local ndash agosto de 2007

Para aleacutem dos registros oficiais e dos dados encontrados no trabalho mencionado

no paraacutegrafo anterior foram encontradas somente notiacutecias informais11

sobre a criaccedilatildeo e

lanccedilamento da Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude todas datadas de 2007

11 Destacam-se ldquoO presidente da Cacircmara vereador Mauriacutelio Zacarias (PMDB) implantou no dia 20 de abril a

Agenda 21 da Mineraccedilatildeo de Ouro Preto A Agenda 21 da Mineraccedilatildeo eacute uma das subdivisotildees da Agenda 21

Global um conjunto de accedilotildees recomendadas pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) para garantir o

desenvolvimento sustentaacutevel do planeta no seacuteculo XXIrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwcmopmggovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=70agenda-21-da-mineracao-e-

implantada-em-ouro-pretoampcatid=61reunioesgt Acesso em 06 jun 2015 ldquoJuntos pela sustentabilidade o

Foacuterum da Agenda 21 Local de Ouro Preto daacute iniacutecio ao desenvolvimento de accedilotildees especiacuteficas para a implantaccedilatildeo

do capiacutetulo Agenda 21 da Juventude na escola e na universidade O lanccedilamento da Agenda 21 da Escola

acontece no dia 21 de junho quinta-feira agraves 10h no Centro de Artes e Convenccedilotildees da UFOPrdquo ndash Notiacutecia sobre a

40

Conclui-se portanto que a iniciativa da Agenda 21 Local assim como muitas das

diretrizes definidas nas Leis do Planejamento Urbano estagnou no ano de 2007 e avanccedilou

pouco em relaccedilatildeo agraves primeiras linhas da Lei Embora se tenha a informaccedilatildeo de que os Grupos

de Trabalho continuaram a desenvolver suas atividades nos anos seguintes os registros dessas

accedilotildees praacuteticas satildeo praticamente inexistentes e tais atividades praticamente natildeo efetivaram

mudanccedilas na realidade do Municiacutepio

Quanto ao Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees outro importante instrumento da gestatildeo

municipal capaz de estabelecer as bases para um ambiente urbano sustentaacutevel este nunca foi

regulamentado pelo Municiacutepio Embora citado inuacutemeras vezes no Coacutedigo de Posturas que foi

instituiacutedo em 1980 atraveacutes da Lei 178 o Coacutedigo de Obras nunca adquiriu formato oficial para

aplicaccedilatildeo e regulaccedilatildeo do territoacuterio O uacutenico registro oficial encontrado nos arquivos

eletrocircnicos da Cacircmara Municipal diz respeito a uma comissatildeo especial formada em 1992

para emissatildeo de parecer sobre o anteprojeto de Coacutedigo de Obras de Ouro Preto elaborado

pela ENGEARP ndash Arquitetura e Engenharia Ltda12

Um segundo registro foi encontrado nos

arquivos do diaacuterio oficial eletrocircnico do municiacutepio e consiste numa breve menccedilatildeo do coacutedigo de

obras numa ata de uma das reuniotildees do COMPURB Conselho Municipal de Poliacutetica

Urbana13

em abril de 2013 Apesar dos registros quase inexistentes em consulta ao corpo

teacutecnico do Departamento de Aprovaccedilatildeo de Projetos da Secretaria de Cultura e Patrimocircnio

foram identificadas algumas iniciativas quanto agrave elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo de Obras para o

municiacutepio dentre as quais se destaca o modelo desenvolvido em 2012 Tal modelo em

conformidade com as diretrizes dos coacutedigos internacionais jaacute apontados neste trabalho

ressaltou que as edificaccedilotildees e instalaccedilotildees deveriam atender agraves condiccedilotildees miacutenimas de

seguranccedila conforto ambiental higiene salubridade harmonia esteacutetica e acessibilidade

criaccedilatildeo da Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade ndash 16 de junho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwufopedubrindexphpoption=com_contentamptask=viewampid=600ampItemid=50gt Acesso em 06 jun

2015 ldquoO grupo de trabalho da Agenda 21 Local de Ouro Preto a Associaccedilatildeo Comercial de Ouro Preto e a

Cacircmara da Mulher Empreendedora de Ouro Preto convidam para uma palestra com o seguinte tema lsquoAgenda 21

de Ouro Preto -Desafios e Possibilidades da Participaccedilatildeo do Comeacutercio na Sustentabilidade Localrsquordquo Notiacutecia sobre

o Grupo de Trabalho da Agenda Ouro Preto ndash 10 de julho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwfundacaoaprenderorgbr189gt Acesso em 06 jun 2015

12 Portaria Nordm 0292 ndash 04 de fevereiro de 1992 Disponiacutevel em

lthttpwwwsistemasiglaorgarquivossisnormNJ_img(2562)pdfgt Acesso em 06 jun 2015

13 ldquo[] Gabriel sugeriu que seja incluiacutedo esses criteacuterios no coacutedigo de obrasrdquo Ata da 58ordf Reuniatildeo extraordinaacuteria

do Conselho Municipal de Poliacutetica Urbana ndash COMPURB (extraiacutedo do Diaacuterio Oficial do Municiacutepio ldquoAno V ndash

Ouro Preto 1ordm de Abril de 2013 ndash Nordm766rdquo) Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrdiario-

oficial2076601-04-2013gt Acesso em 27 jun 2015

41

Contudo eacute importante destacar que os paracircmetros necessaacuterios para o atendimento do conforto

ambiental - como criteacuterios de adequaccedilatildeo agraves caracteriacutesticas do clima local diretrizes de

conforto teacutermico luminoso e acuacutestico ndash assim como as diretrizes de eficiecircncia energeacutetica natildeo

foram contemplados no texto diminuindo consideravelmente a possibilidade de sucesso do

instrumento quanto agrave transformaccedilatildeo do ambiente urbano

Sendo assim entendendo a importacircncia que o instrumento ldquocoacutedigo de obrasrdquo tem

na conformaccedilatildeo de espaccedilos urbanos mais confortaacuteveis e equilibrados e buscando contribuir

para o Municiacutepio na consolidaccedilatildeo de Leis atualizadas e transformadoras o capiacutetulo seguinte

trataraacute do desenvolvimento de algumas dessas diretrizes para que as construccedilotildees passem a

incorporar as premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica e passem a contribuir

positivamente para o clima urbano a para a qualidade ambiental

42

6 ENSAIO PARA UM COacuteDIGO DE OBRAS PRINCIPAIS ESTRATEacuteGIAS PARA

A PROMOCcedilAtildeO DA EFICIEcircNCIA ENERGEacuteTICA NO MUNICIacutePIO DE OURO

PRETO

61 O reconhecimento do clima e as recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais

O reconhecimento do clima eacute o primeiro passo a ser dado para o desenvolvimento

das diretrizes construtivas para um determinado local O clima ldquoeacute a condiccedilatildeo meacutedia do tempo

em uma dada regiatildeo baseada em mediccedilotildees em longos periacuteodos de tempo (30 anos ou mais)rdquo

(LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 71) A anaacutelise climaacutetica feita no Brasil utiliza

em geral os dados publicados pelo Instituto Nacional e pelo Departamento Nacional de

Meteorologia por meio das Normais Climatoloacutegicas Essa publicaccedilatildeo sistematiza dentre

outros dados os valores meacutedios e extremos mensais de temperatura umidade precipitaccedilatildeo

nebulosidade e horas de sol para um periacuteodo de 30 anos A utilizaccedilatildeo dessas variaacuteveis

climaacuteticas no desenvolvimento dos projetos arquitetocircnicos possibilita a construccedilatildeo de

edificaccedilotildees mais confortaacuteveis e mais eficientes quanto ao consumo de energia

O municiacutepio de Ouro Preto contou com uma estaccedilatildeo de mediccedilatildeo e monitoramento

climaacutetico no periacuteodo entre 1976 a 1990 Sendo assim por natildeo ter permanecido em vigecircncia

pelo periacuteodo miacutenimo de 30 anos os dados do municiacutepio natildeo foram contemplados na

publicaccedilatildeo das Normais Climatoloacutegicas e podem ser encontrados apenas no registro histoacuterico

do INMET a partir do BDMEP Os dados coletados nesse periacuteodo de 14 anos embora natildeo

tenham sido publicados satildeo fundamentais para analisar o comportamento das variaacuteveis

climaacuteticas no local de estudo conforme seraacute visto nas anaacutelises a seguir

Referenciada geograficamente pelas coordenadas14

Latitude Sul 20deg23rsquo28rdquo e

Longitude Oeste 43deg30rsquo20rdquo Ouro Preto possui altitude correspondente a 1150 metros sendo

que o ponto mais alto o Pico Itacolomi estaacute situado a 1772 metros de altura A latitude e a

altitude satildeo dois importantes fatores geograacuteficos do clima quanto maior a latitude menor eacute a

temperatura superficial e quanto maior a altitude menor seraacute a temperatura e a pressatildeo

atmosfeacuterica

14 Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrlocalizacaogt Acesso em 27 jun 2015

43

Para entendermos o clima no municiacutepio e para traccedilarmos as diretrizes construtivas

que garantam o bom desempenho das edificaccedilotildees faz-se necessaacuterio primeiramente consultar

o Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro definido na parte 3 da NBR 15220

O Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro consiste na ldquodivisatildeo do territoacuterio brasileiro

em oito zonas relativamente homogecircneas quanto ao clima e para cada uma destas zonas

formulou-se um conjunto de recomendaccedilotildees teacutecnico-construtivas que otimizam o desempenho

teacutermico das edificaccedilotildees atraveacutes de sua melhor adequaccedilatildeo climaacuteticardquo (ABNT 2003) O

Zoneamento resulta da aplicaccedilatildeo da Carta Bioclimaacutetica sugerida por Givoni ldquoinserindo os

dados mensais de temperatura meacutedia e umidade relativa para cada mecircs do ano e para cada

uma das localidades agrupando entatildeo aquelas classificadas como um mesmo tipo climaacuteticordquo

(FERREIRA 2014 p432)

As diretrizes construtivas desenvolvidas na Norma tratam basicamente do

comportamento da envoltoacuteria da edificaccedilatildeo a partir da indicaccedilatildeo do tamanho das aberturas

para ventilaccedilatildeo da proteccedilatildeo das aberturas das vedaccedilotildees externas (paredes e cobertura) e das

estrateacutegias de condicionamento passivo

A NBR 15220-3 estaacute vigente desde 2005 e sua aplicaccedilatildeo estaacute direcionada para as

edificaccedilotildees de ateacute trecircs pavimentos destinadas agrave habitaccedilatildeo multifamiliar de interesse social

Contudo os preceitos nela indicados podem e devem servir como base para a adequaccedilatildeo

climaacutetica das demais edificaccedilotildees desde que a Norma natildeo seja aplicada de forma isolada isto

eacute devem ser estudados outros procedimentos e devem ser utilizadas novas ferramentas a fim

de cruzar os resultados e avanccedilar na elaboraccedilatildeo de paracircmetros construtivos cada vez mais

completos e dinacircmicos

Segundo a Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica obtida atraveacutes do programa ZBBR o

municiacutepio de Ouro Preto estaacute localizado na Zona Bioclimaacutetica 3

44

Fonte Programa ZBBR ndash Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica dos Municiacutepios Brasileiros

Em destaque o Municiacutepio de Ouro Preto ndash MG

Para as edificaccedilotildees inseridas nesta zona bioclimaacutetica a NBR 15220 traz as

seguintes orientaccedilotildees

- Quanto agraves aberturas tamanho meacutedio (15 a 25) e que possibilitem a entrada do sol

durante o inverno

- Quanto agraves vedaccedilotildees externas paredes externas leves15

e refletoras cobertura leve e

isolada

- Quanto ao condicionamento teacutermico passivo ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo

aquecimento solar durante o inverno e vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia

teacutermica

15 Quanto agrave caracterizaccedilatildeo das envoltoacuterias como ldquolevesrdquo podemos agregar para melhor entendimento a

explicaccedilatildeo de que tais envoltoacuterias devem ser de baixa ineacutercia teacutermica ou seja devem possibilitar que o ambiente

interno seja influenciado pela temperatura do ar exterior sem grande atraso Assim pode-se dizer que as

recomendaccedilotildees de envoltoacuterias leves ocorrem em ambientes onde se deseja que os ambientes internos agrave

edificaccedilatildeo sofram influecircncia direta da temperatura do exterior

45

A partir das orientaccedilotildees da Norma percebe-se que a classificaccedilatildeo das zonas

bioclimaacuteticas embora tenha uma importante contribuiccedilatildeo esta natildeo pode ser utilizada

isoladamente por natildeo agregar importantes elementos agrave caracterizaccedilatildeo do clima local como jaacute

foi dito anteriormente Sendo assim outros dados de Ouro Preto devem ser observados para

aprofundarmos um pouco mais nas recomendaccedilotildees construtivas

Dentro do espectro das variaacuteveis climaacuteticas que caracterizam uma regiatildeo merece

destaque a temperatura e a umidade A temperatura ldquoeacute a variaacutevel climaacutetica mais conhecida e

de mais faacutecil mediccedilatildeo A variaccedilatildeo da temperatura na superfiacutecie da Terra resulta basicamente

dos fluxos das grandes massas de ar e da diferente recepccedilatildeo da radiaccedilatildeo do sol de local para

localrdquo (LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 77) A temperatura varia principalmente

em funccedilatildeo da velocidade do ar mas tambeacutem eacute influenciada em maior ou menor grau pelo

tipo de solo e de vegetaccedilatildeo pela topografia e pela altitude A temperatura meacutedia anual de

Ouro Preto eacute de 185deg conforme os dados sistematizados pelo INMET A temperatura

maacutexima verificada geralmente no mecircs de fevereiro corresponde a 252deg e a temperatura

miacutenima que ocorre no mecircs de julho corresponde a 112deg Quanto agrave umidade do ar esta

resulta da evaporaccedilatildeo das aacuteguas e da evapotranspiraccedilatildeo dos vegetais e pode ser definida em

absoluta e relativa ldquoComo definiccedilatildeo de umidade absoluta tem-se que eacute o peso do vapor de

aacutegua contido em uma unidade de volume de ar (gm3) e a umidade relativa eacute a relaccedilatildeo da

umidade absoluta com a capacidade maacutexima do ar de reter vapor drsquoaacutegua agravequela temperaturardquo

(FROTA 1995 p62) A umidade do ar tem relaccedilatildeo inversa com a temperatura portanto

quanto menor a temperatura maior a possibilidade de saturaccedilatildeo do ar pela ampliaccedilatildeo da

umidade ao limite de 100 A pluviosidade tambeacutem deve ser observada pois tem relaccedilatildeo

direta com a umidade do ar sendo que a chuva proveacutem em grande parte de massas de ar

uacutemido em ascensatildeo Os dados do INMET apontam que a meacutedia anual da pluviosidade em

Ouro Preto eacute de 16703mm sendo junho o mecircs mais seco com 129mm e dezembro o mecircs

mais uacutemido com 3579mm

46

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641 (continuaccedilatildeo)

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

47

48

A partir dos dados acima eacute possiacutevel verificar inicialmente que se trata de um

clima de baixas temperaturas muito uacutemido (umidade relativa praticamente sempre acima de

80) com alta nebulosidade (o que significa que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou

nublado) e com abundacircncia de chuvas principalmente no veratildeo

Tais caracteriacutesticas satildeo acentuadas pela influecircncia da barreira orograacutefica

provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta que conforma o

Morro Satildeo Sebastiatildeo Sendo assim grande parte da mancha urbana de Ouro Preto situada agrave

barlavento da barreira natural sofre influecircncia das chuvas que resultam do resfriamento e

condensaccedilatildeo do ar em ascensatildeo aprofundando ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade citadas anteriormente

Representaccedilatildeo da influecircncia dos ventos e da topografia na mancha urbana da cidade de Ouro

Preto - a formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem base da imagem de sateacutelite extraiacuteda do Google Maps

Exemplo da chuva a barlavento resultante da formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem Sistemas Tecnoloacutegicos em Conforto Ambiental ndash Eleonora Sad Assis

Parte da malha urbana de Ouro Preto

49

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem timblindimwordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem fotografandoondeopeixeparawordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

A partir das variaacuteveis climaacuteticas sistematizadas pelo INMET podemos avanccedilar na

utilizaccedilatildeo do Diagrama Bioclimaacutetico de Givoni (DBG) que orientou a definiccedilatildeo do

Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro assim como utilizar outro instrumento de anaacutelise as

Tabelas de Mahoney que tambeacutem auxiliam na definiccedilatildeo das diretrizes construtivas

O Diagrama de Givoni nos permite identificar quais recursos satildeo necessaacuterios para

que as edificaccedilotildees atendam agraves condiccedilotildees de conforto Este instrumento aponta quais preceitos

da arquitetura bioclimaacutetica devem ser priorizados tais como ventilaccedilatildeo ineacutercia teacutermica e

50

insolaccedilatildeo assim como aponta a necessidade de soluccedilotildees mecacircnicas para o atendimento ao

conforto teacutermico

Diagrama de Givoni relativo agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O Diagrama de Givoni referente agrave Ouro Preto assinala que na maior parte do

tempo as edificaccedilotildees necessitam de aquecimento passivo tendo em vista o quadro recorrente

de baixas temperaturas e de alta umidade relativa Algumas estrateacutegias de aquecimento

passivo podem ser adaptadas agrave realidade local para melhor aproveitamento Quanto agrave cidade

de Ouro Preto deve-se pensar o ganho teacutermico principalmente durante o inverno Nessa

estaccedilatildeo embora se tenha uma queda significativa das temperaturas tem-se cerca de 6 horas

de insolaccedilatildeo diaacuteria quase duas horas a mais do que nas outras estaccedilotildees O aproveitamento

dessa radiaccedilatildeo solar deve servir para manter o ambiente aquecido durante a noite sendo

assim a utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior insolaccedilatildeo deve

possibilitar a maacutexima entrada de calor durante o dia Quanto aos materiais internos estes

devem possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser

devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente

Voltando ao Diagrama de Givoni se compararmos o resultado da cidade de Ouro

Preto com a cidade de Belo Horizonte que estaacute na mesma zona bioclimaacutetica e estaacute a 858

51

metros de altitude perceberemos o quanto eacute importante cruzar os dados de diferentes

instrumentos de anaacutelise para acertar nas diretrizes de projeto Os dados de Belo Horizonte

resultam numa linha meacutedia predominantemente inserida na zona de conforto chegando a

alcanccedilar a zona de influecircncia da ventilaccedilatildeo em algumas horas dos meses de janeiro fevereiro

e marccedilo

Diagrama de Givoni relativo agrave Belo Horizonte

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O outro meacutetodo importante de anaacutelise voltado especificamente para as

recomendaccedilotildees de projeto arquitetocircnico consiste na sistematizaccedilatildeo das recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas atraveacutes das ldquoTabelas de Mahoneyrdquo Tal meacutetodo deve ser utilizado

simultaneamente ao Diagrama de Givoni a fim de se comparar os resultados e ajustar as

diretrizes construtivas Dentre as orientaccedilotildees da Tabela de Mahoney para Ouro Preto merece

destaque a utilizaccedilatildeo de grandes aberturas (para garantir ventilaccedilatildeo abundante e permanente)

e de envoltoacuterias leves Contudo diretrizes como reduccedilatildeo da exposiccedilatildeo ao sol e proteccedilatildeo da

insolaccedilatildeo direta natildeo favorecem o aquecimento passivo conforme a necessidade observada a

partir do Diagrama de Givoni e portanto devem ser relativizadas Seguem abaixo as

recomendaccedilotildees das Tabelas de Mahoney para Ouro Preto

52

Tabela de Mahoney relativa agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

Sendo assim a partir do conhecimento das variaacuteveis climaacuteticas e dos resultados

apresentados eacute possiacutevel formular a seguinte tabela resumo quanto agraves recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas iniciais para Ouro Preto

14 Tabela de Recomendaccedilotildees Arquitetocircnicas

Total de Indicadores

Uacutemido Aacuterido

H1 H2 H3 A1 A2 A3

1 11 4 0 0 0

1 PLANTA DE SITUACcedilAtildeO

0 -10 X Construccedilotildees orientadas segundo eixo longitudinal leste-oeste

11 ou 5 -12 a fim de diminuir a exposiccedilatildeo ao sol

12 0 - 4 Plantas compactas com paacutetios internos

2 ESPACcedilAMENTO ENTRE CONSTRUCcedilOtildeES

11 ou Grandes espaccedilamentos para favorecer a penetraccedilatildeo do vento

12

2 -10 Como acima mas com proteccedilatildeo contra vento quente ou frio

0 ou 1 X Distribuiccedilatildeo compacta

3 CIRCULACcedilAtildeO DE AR

3 - 12 X Construccedilotildees com orientaccedilatildeo simples aberturas que permitam

1 ou 0 - 5 circulaccedilatildeo de ar permanente

2 6 - 12 Construccedilotildees com orientaccedilatildeo dupla circulaccedilatildeo de ar cruzada

0 2 -12 aberturas de ar controlaacuteveis

0 ou 1 Basta renovaccedilatildeo higiecircnica do ar

4 DIMENSOtildeES DAS ABERTURAS

0 ou 0 X Grandes 40 a 80 das fachadas norte e sul

1 1 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

2 - 5

6 - 10 Intermediaacuterias 20 a 35 da superfiacutecie das paredes

11 ou 0 - 3 Pequenas 15 a 25 da superfiacutecie das paredes

12 4 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

5 POSICcedilAtildeO DAS ABERTURAS

3 - 12 X Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do

1 ou 0 - 5 lado exposto ao vento

2 6 - 12 Como acima mas tambeacutem aberturas nas paredes internas

0 2 - 12

6 PROTECcedilAtildeO DAS ABERTURAS

0 - 2 X Proteger da insolaccedilatildeo direta

2 - 12 X Proteger da chuva

7 PAREDES E PISOS

0 - 2 X Construccedilotildees leves baixa ineacutercia teacutermica

3 - 12 Construccedilotildees maciccedilas tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

8 COBERTURA

10 a 0 - 2 Leve (pouca ineacutecia) superfiacutecie refletora uso de cacircmara de ar

12 3 - 12 X Leve e bem isolada

0 a 0 - 5

9 6 - 12 Maciccedila tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

9 ESPACcedilOS EXTERIORES

1 - 12 Espaccedilo para dormir ao ar livre

1 - 12 X Adequada drenagem para a chuva

3 - 12 X Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

53

Tabela resumo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas

Diagrama de Givoni

Tabelas de Mahoney

NBR 15220 ndash Parte 03

Tamanho e caracteriacutesticas das aberturas

Esquadrias devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia do calor no ambiente

Aberturas que permitam a circulaccedilatildeo de ar permanente

Tamanho meacutedio

Grandes ndash de 40 a 80 das fachadas norte e sul

Possibilitar a entrada do sol durante o inverno

Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do lado exposto ao vento

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees externas

Leves Leves e refletoras

Baixa ineacutercia teacutermica

Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees internas

Possibilitar o armazenamento do calor absorvido

Vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia teacutermica

Caracteriacutesticas da cobertura

Leve e bem isolada Leve e isolada

Condicionamento teacutermico passivo

Ganho teacutermico principalmente durante o inverno

Aberturas protegidas da insolaccedilatildeo direta e protegidas da chuva

Ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo aquecimento solar durante o inverno e

Somando-se os diversos meacutetodos de anaacutelise climaacutetica tecircm maior relevacircncia a

seguintes diretrizes

- ventilaccedilatildeo abundante principalmente durante o veratildeo a fim de reduzir a temperatura no

interior da edificaccedilatildeo e os efeitos da umidade que aumenta ainda mais em funccedilatildeo das chuvas

tiacutepicas desse periacuteodo A ventilaccedilatildeo cruzada deve ser fomentada e deve ser observado o sentido

54

predominante do vento que na cidade em questatildeo eacute sudeste a fim de se alcanccedilar melhores

resultados no conforto da edificaccedilatildeo

- aquecimento passivo para os meses de inverno a fim de diminuir o desconforto

causado pelas baixas temperaturas

- paredes leves (com baixa ineacutercia teacutermica ou seja conseguem ganhar ou perder calor

rapidamente a partir da interferecircncia e da temperatura do ar exterior) e protegidas da umidade

proveniente das chuvas fortes

- coberturas leves e bem isoladas (capazes de reter o calor absorvido durante o dia)

- as edificaccedilotildees devem estar protegidas das chuvas e devem contar com sistemas de

drenagem eficientes que possibilitem o raacutepido escoamento ou aproveitamento dessa aacutegua

62 O Coacutedigo de Obras e o conforto ambiental em Ouro Preto ndash estrateacutegias prioritaacuterias

A utilizaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental nos projetos e nas edificaccedilotildees

tem um impacto social positivo baseado em pelo menos trecircs fatores importantes melhoria das

condiccedilotildees de habitabilidade da edificaccedilatildeo e portanto melhor qualidade de vida para o

usuaacuterio melhoria nas condiccedilotildees climaacuteticas do meio externo ampliando o bem estar coletivo

reduccedilatildeo no consumo de energia e utilizaccedilatildeo eficiente do sistema de abastecimento a partir da

correta utilizaccedilatildeo dos sistemas ativos (iluminaccedilatildeo artificial condicionamento e aquecimento

de ar)

Para garantir a aplicaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental o Coacutedigo de Obras

e Edificaccedilotildees do municiacutepio deve incorporar dois importantes artigos que seratildeo detalhados

abaixo conforme o texto sugerido pelo Guia Teacutecnico ldquoElaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de

obras e edificaccedilotildeesrdquo da ELETROBRAacuteS (BAHIA GUEDES 2012)

O primeiro artigo de destaque deve ser inserido no capiacutetulo que trata das

DISPOSICcedilOtildeES PRELIMINARES e deve enumerar as diretrizes gerais para os projetos e

construccedilotildees buscando elencar tanto as demandas contemporacircneas expressas nas novas

legislaccedilotildees como os anseios para um espaccedilo urbano equilibrado e sustentaacutevel Nesse

contexto a substituiccedilatildeo da expressatildeo ldquopadrotildees miacutenimosrdquo que podem ser exemplificados pelas

diretrizes generalistas frequentemente encontradas nas legislaccedilotildees como a previsatildeo de 16 e

18 de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo para todas as localidades por ldquopadrotildees eficientesrdquo

estabelecidos atraveacutes de estudos teacutecnicos que agreguem a complexidade do clima local e que

permitam ampliar as condiccedilotildees de sustentabilidade das edificaccedilotildees ao tratar da otimizaccedilatildeo de

resultados quanto ao atendimento do conforto teacutermico visual e acuacutestico com baixo consumo

55

de energia A configuraccedilatildeo do texto deve se aproximar ao maacuteximo da proposta apresentada

pelo Guia Teacutecnico paacutegina 62

As obras instalaccedilotildees e edificaccedilotildees sejam puacuteblicas sejam privadas deveratildeo atender

agraves seguintes diretrizes gerais de forma a assegurar padrotildees eficientes de seguranccedila e

solidez salubridade e sauacutede conforto ambiental e desempenho energeacutetico

acessibilidade e livre tracircnsito de pessoas prevenccedilatildeo e uso sustentaacutevel dos recursos

naturais em cada caso e sempre que couber I - Subordinaccedilatildeo do interesse particular

ao interesse coletivo II - Promoccedilatildeo do direito agrave cidade sustentaacutevel e da funccedilatildeo

social da propriedade III - Utilizaccedilatildeo das normas teacutecnicas brasileiras e

regulamentaccedilotildees aplicaacuteveis para orientaccedilatildeo do desenvolvimento de projetos e

execuccedilatildeo de obras IV - Desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas sempre que

necessaacuterio com base nas praacuteticas locais beneacuteficas e na produccedilatildeo cientiacutefica tendo em

vista a manutenccedilatildeo da qualidade do local onde se daacute a intervenccedilatildeo e a correlaccedilatildeo

com valores culturais da populaccedilatildeo V - Garantia das condiccedilotildees de acessibilidade

circulaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo pela populaccedilatildeo em geral das edificaccedilotildees e do espaccedilo e

mobiliaacuterio urbano de uso puacuteblico e coletivo com adoccedilatildeo de soluccedilotildees especiacuteficas

para as pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida conforme previsto nas

normas teacutecnicas e na legislaccedilatildeo aplicaacutevel VI - Adoccedilatildeo de paracircmetros climaacuteticos

para o desenvolvimento de projetos de arquitetura de parcelamentos do solo e de

desenho urbano tendo em vista a correta orientaccedilatildeo solar da edificaccedilatildeo e demais

elementos as melhores condiccedilotildees de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo e pela escolha de

materiais construtivos e soluccedilotildees urbaniacutesticas adequadas em funccedilatildeo das

condicionantes ambientais locais de temperatura pluviosidade dominacircncia de

ventos ruiacutedo e paisagem natural aleacutem dos aspectos culturais que interagem com

essas condiccedilotildees VII - Utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis materiais de

construccedilatildeo certificados e ajudas teacutecnicas disponiacuteveis em complemento agrave promoccedilatildeo

do conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade das edificaccedilotildees e do

meio urbano VIII - Implantaccedilatildeo do objeto arquitetocircnico no lote bem como do

mobiliaacuterio urbano e demais artefatos nos logradouros puacuteblicos garantidas a

acessibilidade a qualidade esteacutetica e tecnoloacutegica de forma a potencializar os

atributos da paisagem urbana e evitar a poluiccedilatildeo visual IX - Adoccedilatildeo preferencial de

espeacutecies nativas na arborizaccedilatildeo puacuteblica demais projetos paisagiacutesticos e no

ajardinamento de lotes particulares X - Simplificaccedilatildeo dos procedimentos

administrativos pelo Poder Puacuteblico e promoccedilatildeo da assistecircncia para habitaccedilatildeo de

interesse social pelos agentes promotores tendo em vista facilitar a regularidade e a

correta execuccedilatildeo de projetos e obras inclusive apoiando as iniciativas de

autoconstruccedilatildeo da clientela de baixa renda (BAHIA GUEDES 2012)

O segundo artigo de grande relevacircncia deve ser inserido no capiacutetulo ldquoDAS

CONDICcedilOtildeES RELATIVAS AgraveS EDIFICACcedilOtildeESrdquo Neste capiacutetulo devem ser tratados os

paracircmetros teacutecnicos e geomeacutetricos capazes de materializar o conforto ambiental dos projetos e

edificaccedilotildees a partir do contexto climaacutetico da cidade As diretrizes apontadas devem buscar o

equiliacutebrio entre as condicionantes internas (relaccedilatildeo do usuaacuterio com a edificaccedilatildeo) e externas

(relaccedilatildeo da edificaccedilatildeo com o entorno) Quanto aos paracircmetros teacutecnicos esses devem ser

baseados nas recomendaccedilotildees do Programa Nacional de Conservaccedilatildeo de Energia Eleacutetrica ndash

PROCEL e devem se aproximar dos padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees

residenciais que satildeo atualmente estabelecidos pelo INMETRO a partir do RTQ-R ndash

Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais O texto do artigo deve seguir a sugestatildeo do Guia Teacutecnico paacutegina 107

56

Os projetos de construccedilatildeo ou reforma aleacutem de atenderem aos paracircmetros de

habitabilidade estabelecidos neste Coacutedigo devem ser orientados para a promoccedilatildeo da

sustentabilidade e eficiecircncia energeacutetica da edificaccedilatildeo com o objetivo de reduzir as

emissotildees de gases de efeito estufa (GEE) e os impactos ambientais gerados pela

construccedilatildeo e pela sua utilizaccedilatildeo ao longo do tempo racionalizando o uso da energia

da aacutegua e dos materiais nela empregados a partir das seguintes diretrizes I -

Racionalidade do projeto e do planejamento do processo de execuccedilatildeo das obras II -

Gestatildeo sustentaacutevel da obras e das praacuteticas de construccedilatildeo de forma a evitar o

desperdiacutecio de materiais III - Uso de materiais de construccedilatildeo e acabamentos

sustentaacuteveis considerando a adoccedilatildeo de materiais originaacuterios da regiatildeo produzidos

de forma sustentaacutevel e legalizada de materiais reaproveitados ou de demoliccedilatildeo e de

materiais certificados ou de comprovada responsabilidade ambiental do fabricante

IV - Ativaccedilatildeo do uso de edificaccedilotildees de valor cultural histoacuterico ou arquitetocircnico

maximizando as condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do bem imoacutevel na interaccedilatildeo com as

premissas de conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade V -

Aplicaccedilatildeo das estrateacutegias para projetos de acordo com o Zoneamento Bioclimaacutetico

brasileiro conforme NBR 15220-3 para concepccedilatildeo arquitetocircnica implantaccedilatildeo no

lote orientaccedilatildeo solar dos ambientes localizaccedilatildeo de aberturas e especificaccedilatildeo de

materiais de construccedilatildeo em prol do desempenho teacutermico da edificaccedilatildeo VI -

Aproveitamento das caracteriacutesticas climaacuteticas locais para a promoccedilatildeo do conforto

ambiental da edificaccedilatildeo a partir da consideraccedilatildeo dos seguintes fatores principais a)

Qualidade do ar b) Conforto higroteacutermico c) Conforto luminoso (ou lumiacutenico) d)

Conforto acuacutestico VII - Adoccedilatildeo de especificaccedilotildees de projeto com o objetivo de

potencializar as caracteriacutesticas climaacuteticas locais beneacuteficas eou remediar as de maior

rigor ao longo das diferentes estaccedilotildees do ano em benefiacutecio do desempenho teacutermico

e da ventilaccedilatildeo e iluminaccedilatildeo naturais da edificaccedilatildeo [] VIII - Planejamento

paisagiacutestico como elemento contribuinte para o conforto ambiental da edificaccedilatildeo

[] IX - Adoccedilatildeo de materiais construtivos que melhorem o desempenho teacutermico da

edificaccedilatildeo com base nas orientaccedilotildees e tabelas da NBR 15220-3 e especificaccedilatildeo de

equipamentos mecanismos e instalaccedilotildees que favoreccedilam a economia de energia

eleacutetrica e a reduccedilatildeo do consumo e aacutegua tratada [] (BAHIA GUEDES 2012)

Esses dois artigos apresentados embora configurem o ponto de partida natildeo satildeo

suficientes para a transformaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras em uma ferramenta concreta de

promoccedilatildeo do conforto ambiental da eficiecircncia energeacutetica e da sustentabilidade do meio

ambiente urbano Os desdobramentos desse texto devem resultar em paracircmetros teacutecnicos

como dimensionamentos diretrizes de desenho configuraccedilotildees espaciais miacutenimas dentre

inuacutemeros outros elementos de aplicaccedilatildeo obrigatoacuteria ou optativa Sendo assim o Coacutedigo de

Obras deve regulamentar por exemplo o dimensionamento de compartimentos a disposiccedilatildeo

e o dimensionamento de mobiliaacuterio fixo como louccedilas sanitaacuterias o peacute-direito as proporccedilotildees

das aberturas de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo assim como as taxas de renovaccedilatildeo do ar os niacuteveis de

ruiacutedo para o conforto acuacutestico as condiccedilotildees favoraacuteveis de transmitacircncia e a absortacircncia das

paredes e coberturas para o conforto teacutermico o dimensionamento e as condiccedilotildees das

circulaccedilotildees horizontais e verticais as instalaccedilotildees prediais dentre inuacutemeros outros itens Os

teacutecnicos devem se debruccedilar sobre tais requisitos teacutecnicos a fim de otimizar os resultados

quanto agrave construccedilatildeo da sustentabilidade no municiacutepio Deve-se utilizar as normas ABNT em

auxiacutelio agrave formulaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos a exemplo da NBR 10151 sobre Avaliaccedilatildeo do

57

Ruiacutedo em Aacutereas Habitadas NBR 5382 sobre Iluminacircncia de Interiores NBR 15215 sobre

Iluminaccedilatildeo Natural NBR 9284 sobre Equipamentos Urbanos dentre outras

Por fim deve-se prezar pela total interaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras com o conjunto

da legislaccedilatildeo urbaniacutestica local a fim de estabelecer uma relaccedilatildeo sequencial entre as etapas de e

concepccedilatildeo planejamento e construccedilatildeo das edificaccedilotildees passando das diretrizes gerais agraves

exigecircncias especiacuteficas O texto do coacutedigo de obras deve ser objetivo e didaacutetico sem incorrer

em simplificaccedilotildees O conteuacutedo deve ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e

teacutecnicos da aacuterea como pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees A dedicaccedilatildeo dos

teacutecnicos e profissionais na elaboraccedilatildeo das diretrizes transformadoras a busca pela

conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo sobre o conforto no ambiente urbano assim como a luta contra a

supremacia dos interesses privados sobre a coletividade satildeo itens importantes quanto agrave

concretizaccedilatildeo desse importante instrumento que foi apresentado e defendido ao longo do

presente trabalho

58

7 CONCLUSAtildeO

Diante das anaacutelises apresentadas ao longo deste trabalho principalmente quanto

ao ordenamento juriacutedico brasileiro para a regulaccedilatildeo urbana e o desenvolvimento sustentaacutevel

ficou comprovada a existecircncia de um conjunto significativo de legislaccedilotildees capazes de

embasar uma transformaccedilatildeo das cidades brasileiras em territoacuterios democraacuteticos igualitaacuterios e

sustentaacuteveis Poreacutem a previsatildeo legal eacute apenas o iniacutecio de um longo caminho ateacute a

transformaccedilatildeo concreta da realidade Para se avanccedilar nesse caminho uma mudanccedila poliacutetica eacute

imprescindiacutevel uma vez que as decisotildees sobre o espaccedilo urbano e sua regulamentaccedilatildeo

dependem necessariamente do interesse do gestor urbano materializado na figura dos

prefeitos e governantes das diversas esferas administrativas

Em relaccedilatildeo ao municiacutepio de Ouro Preto foi identificado que embora haja um

conjunto significativo de diretrizes urbaniacutesticas contidas no Plano Diretor e na Lei de Uso e

Ocupaccedilatildeo do Solo estas ainda satildeo insuficientes para subsidiar um desenvolvimento local

pautado na responsabilidade ambiental e na qualidade do meio ambiente urbano Isso se deve

principalmente ao fato de natildeo haver um coacutedigo de obras e edificaccedilotildees e tambeacutem ao fato de

que as iniciativas de proteccedilatildeo ambiental tal como a Agenda 21 Local natildeo foram colocadas

em praacutetica Neste sentido em relaccedilatildeo ao processo legislativo conclui-se que haacute uma

defasagem na aplicaccedilatildeo dos instrumentos de planejamento municipal previstos no Estatuto da

Cidade principalmente o Plano Diretor Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo Agenda 21 Local e Coacutedigo

de Obras e Edificaccedilotildees Aleacutem disso faltam elementos de combate agrave especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e

instrumentos de regulaccedilatildeo do solo urbano como o IPTU progressivo regularizaccedilatildeo onerosa a

assistecircncia teacutecnica gratuita dentre outros instrumentos tributaacuterios e financeiros juriacutedicos e

poliacuteticos que infelizmente ainda natildeo satildeo aplicados no municiacutepio Nesse contexto os outros

instrumentos de planejamento tais como o plano plurianual orccedilamento participativo

programas setoriais e planos de desenvolvimento econocircmico e social embora natildeo configurem

instrumentos urbaniacutesticos se colocam como ferramentas aliadas da gestatildeo democraacutetica da

cidade e da reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais visto que o processo de mudanccedila eacute

essencialmente poliacutetico Nesse sentido eacute extremamente importante que esses instrumentos

sejam pautados na real participaccedilatildeo popular na inclusatildeo e na justiccedila social

Quanto agrave sustentabilidade no ambiente urbano identificou-se que a preservaccedilatildeo e

proteccedilatildeo patrimonial pautadas no conforto do usuaacuterio a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados

a melhoria da infraestrutura urbana a concretizaccedilatildeo de projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria

59

assim como a construccedilatildeo de habitaccedilatildeo social de qualidade satildeo questotildees fundamentais para a

transformaccedilatildeo das cidades em territoacuterios democraacuteticos e sustentaacuteveis Essas demandas estatildeo

diretamente ligadas agrave mudanccedila no paradigma do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

pois uma vez colocadas em praacutetica alteram significativamente a configuraccedilatildeo das cidades

influenciando no clima urbano e na qualidade ambiental

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de uma base de dados climaacuteticos relativos ao municiacutepio

a partir das Normais Climatoloacutegicas obtidas no periacuteodo entre 1976 e 1990 foi possiacutevel

caracterizar o clima de Ouro Preto como um clima de baixas temperaturas muito uacutemido

(umidade relativa praticamente sempre acima de 80) com alta nebulosidade (o que significa

que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou nublado) e com abundacircncia de chuvas

principalmente no veratildeo Foi tambeacutem identificada uma grande interferecircncia do efeito da

barreira orograacutefica provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta

que conforma o Morro Satildeo Sebastiatildeo o que aprofunda ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade

Para a elaboraccedilatildeo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais foram utilizados os

resultados do diagrama de Givoni das Tabelas de Mahoney e da NBR 15220 Assim para a

cidade de Ouro Preto concluiu-se que a arquitetura deve priorizar o ganho teacutermico

principalmente durante o inverno pois nessa estaccedilatildeo tem-se uma queda significativa das

temperaturas o que afeta consideravelmente o conforto do usuaacuterio Esse ganho teacutermico deve

ser pensado a partir da utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior

insolaccedilatildeo o que possibilita um melhor aproveitamento dessa radiaccedilatildeo solar que deve servir

para manter o ambiente aquecido durante a noite Quanto aos materiais internos estes devem

possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser devidamente

isoladas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente Em relaccedilatildeo ao veratildeo foi

identificada a necessidade de ventilaccedilatildeo cruzada para reduzir os efeitos das temperaturas

elevadas e da alta umidade aleacutem de envoltoacuterias bem protegidas das chuvas

Por fim quanto agrave elaboraccedilatildeo do coacutedigo de obras foi possiacutevel apontar a

necessidade de se estabelecer as diretrizes para os projetos e construccedilotildees a partir dos

paracircmetros das normas teacutecnicas brasileiras do desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas com

base nas praacuteticas locais da garantia da acessibilidade das edificaccedilotildees agrave populaccedilatildeo em geral

da consideraccedilatildeo dos paracircmetros climaacuteticos e da utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis Foi

abordada a necessidade de aproximaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos do coacutedigo de obras aos

padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees residenciais previstos no RTQ-R

60

(Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais INMETRO) aleacutem da necessidade de se construir um texto objetivo e didaacutetico

que possa ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e teacutecnicos da aacuterea quanto

pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees

61

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 15220 Desempenho

teacutermico de edificaccedilotildees Rio de Janeiro ABNT 2005

BAHIA S R GUEDES P de A Elaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de obras e

edificaccedilotildees 2ordfed Rio de janeiro IBAMDUMA ELETROBRAS PROCEL 2012

BARANDIER H ALMEIDA M C T MORAIS R Planejamento e Controle Ambiental

Urbano e a Eficiecircncia Energeacutetica Rio de Janeiro IBAMDUMA ELETROBRASPROCEL

2013

BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988

BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002

BRASIL Lei nordm 10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do Desenvolvimento

Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Pesquisa nacional para identificar os resultados de

implementaccedilatildeo de processos de agendas 21 locais Brasiacutelia 2009

CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS Tiacutetulo 24 Parte 8 California Historical

Building Code 1ordm Ed Washington 2007

CSABA D SUELI R S (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo Editora da

Universidade de Satildeo Paulo 1999

FERREIRA C SOUZA H A de ASSIS E S de Estudo do clima brasileiro reflexotildees e

recomendaccedilotildees sobre a adequaccedilatildeo climaacutetica de habitaccedilotildees In XV Encontro Nacional de

Tecnologia do Ambiente Construiacutedo Maceioacute 2014

FROTA A B SCHIFFER S R Manual de Conforto Teacutermico Satildeo Paulo Nobel 1995

IBGE Perfil dos municiacutepios brasileiros 2013 Brasiacutelia 2014

LAMBERTS R DUTRA L PEREIRA FO R Eficiecircncia Energeacutetica na Arquitetura 3ordfed

ELETROBRASPROCEL 2014

MENICONI R O A Construccedilatildeo de uma Cidade-Monumento o caso de Ouro Preto Belo

Horizonte Escola de Arquitetura e Urbanismo UFMG 1999 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OLIVEIRA L B Agenda 21 Local consolidando as bases para o desenvolvimento

sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escala UFOP 2010

62

OLIVEIRA M A Os valores culturais da paisagem urbana em Ouro Preto Um Estudo de

Caso das Aacutereas Verdes na Ladeira Santa Efigecircnia e Entorno Proacuteximo Salvador Mestrado em

Arquitetura e Urbanismo da UFBA 1997

OLIVEIRA M R S Gestatildeo Patrimonial em Ouro Preto Alcances e Limites das Poliacuteticas

Puacuteblicas Preservacionistas Campinas Poacutes ndash Graduaccedilatildeo em Geografia Anaacutelise Ambiental e

Dinacircmica Territorial da UNICAMP 2005 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OURO PRETO Lei complementar nordm 011996 Institui o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro

Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 022005 Estabelece a Estrutura Baacutesica e a

organizaccedilatildeo administrativa da Prefeitura Municipal de Ouro Preto e da outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 152006 Altera a Lei Complementar ndeg 021005

modifica a denominaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Turismo Induacutestria e Comeacutercio e da

Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio suas respectivas competecircncias e daacute outras

providecircncias de 27 de Abril de 2006

OURO PRETO Lei Complementar nordm 302006 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 28 de

Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei complementar nordm 912010 Altera a Lei Complementar nordm292006 que

estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 932011 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 20 de

Janeiro de 2011

OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996

OURO PRETO Lei complementar nordm292006 Estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de

Ouro Preto de 28 de Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei nordm 333 Dispotildee sobre o Programa da Agenda 21 Local de 11 de maio de

2007

OURO PRETO Lei nordm 5790 Dispotildee sobre as diretrizes baacutesicas do Plano Diretor do

Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Portaria 0292 Nomeia Comissatildeo Especial

OURO PRETO Portaria 1707 Nomeia Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos

Naturais e Agenda 21 Local

Page 11: POLYANA PEREIRA COELHO · 2019. 11. 14. · POLYANA PEREIRA COELHO A SUSTENTABILIDADE DO AMBIENTE URBANO E OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO MUNICIPAL: RECOMENDAÇÕES PARA UM CÓDIGO DE

10

Apresentados os processos de planejamento e os instrumentos da poliacutetica urbana

trazidos pelo Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio avanccedilar no entendimento da

sustentabilidade enquanto conceito uma vez que esta passaraacute a compor um corpo uacutenico com o

que vier a se entender por ldquodesenvolvimentordquo

A preocupaccedilatildeo com o ordenamento juriacutedico de proteccedilatildeo e defesa do meio

ambiente se materializou no Brasil inicialmente em 1981 a partir da promulgaccedilatildeo da Lei

6938 que instituiu a Poliacutetica Nacional do Meio Ambiente O SISNAMA Sistema Nacional

do Meio Ambiente reuniu os oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Direta - Uniatildeo Estados

DF e Municiacutepios - responsaacuteveis pela proteccedilatildeo e melhoria da qualidade ambiental

Em 2002 a construccedilatildeo da Agenda 21 Brasileira buscou associar o conceito de

sustentabilidade agraves poliacuteticas de desenvolvimento urbano As Agendas Nacionais foram

desenvolvidas a partir da Agenda 21 Global Esta uacuteltima resultou das discussotildees realizadas na

Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD)

mais conhecida como Rio 92 A Agenda 21 consiste em um programa de accedilatildeo voltado para a

aplicaccedilatildeo de meacutetodos de proteccedilatildeo ambiental justiccedila social e eficiecircncia econocircmica Eacute um

documento de 40 capiacutetulos com mais de 2500 recomendaccedilotildees praacuteticas e foi assinado por 179

paiacuteses formalizando o compromisso dessas naccedilotildees com o Desenvolvimento Sustentaacutevel do

Planeta Instrumento de planejamento participativo a Agenda 21 deve ser um resultado de

accedilotildees que congreguem governo e sociedade civil e por isso eacute um instrumento aliado das novas

frentes de trabalho inauguradas pelo Estatuto da Cidade A partir dos trechos a seguir

retirados respectivamente da Agenda 21 e do Estatuto da Cidade pode-se perceber a afinidade

nas pretensotildees dos dois Instrumentos de Planejamento

71 Nos paiacuteses industrializados os padrotildees de consumo das cidades representam

uma pressatildeo muito seacuteria sobre o ecossistema global ao passo que no mundo em

desenvolvimento os assentamentos humanos necessitam de mais mateacuteria-prima

energia e desenvolvimento econocircmico simplesmente para superar seus problemas

econocircmicos e sociais baacutesicos Em muitas regiotildees do mundo em especial nos paiacuteses

em desenvolvimento as condiccedilotildees dos assentamentos humanos vecircm se

deteriorando sobretudo em decorrecircncia do baixo volume de investimentos no setor

imputaacutevel agraves restriccedilotildees relativas a recursos com que esses paiacuteses se deparam em

todas as aacutereas Nos paiacuteses de baixa renda sobre os quais haacute dados recentes apenas

56 por cento do orccedilamento do Governo central em meacutedia foram dedicados a

habitaccedilatildeo lazer seguridade social e bem-estar social [] Objetivo 78 O objetivo eacute

oferecer habitaccedilatildeo adequada a populaccedilotildees em raacutepido crescimento e aos pobres

atualmente carentes tanto de aacutereas rurais como urbanas por meio de uma

abordagem que possibilite o desenvolvimento e a melhoria de condiccedilotildees de moradia

ambientalmente saudaacuteveis (AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do

Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992)

11

Estatuto da Cidade Capiacutetulo 1 ndash Diretrizes Gerais Art 2ordm A poliacutetica urbana tem por

objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e da

propriedade urbana mediante as seguintes diretrizes gerais I ndash garantia do direito a

cidades sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao

saneamento ambiental agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos

puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para as presentes e futuras geraccedilotildees [] Art 3ordm

Compete agrave Uniatildeo entre outras atribuiccedilotildees de interesse da poliacutetica urbana IV -

instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano inclusive habitaccedilatildeo saneamento

baacutesico transportes urbanos e infraestrutura de energia e telecomunicaccedilotildees

(BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

O texto da Agenda 21 mais especificamente o Preacircmbulo enfatiza que o sucesso

na aplicaccedilatildeo desse plano de accedilatildeo depende primeiramente do comprometimento dos governos

com a preparaccedilatildeo de estrateacutegias planos poliacuteticas e processos nacionais para a concretizaccedilatildeo

dos objetivos estabelecidos

A Agenda 21 Brasileira foi desenvolvida no periacuteodo de 1996 a 2002 e teve como

eixo a sustentabilidade a partir da compatibilizaccedilatildeo entre conservaccedilatildeo ambiental justiccedila

social e crescimento econocircmico

Ao aprofundar-se na elaboraccedilatildeo de diretrizes para problemas de ordem estrutural

a Agenda 21 Brasileira foi elevada a programa dentro do Plano Plurianual de Governo (entre

2004 e 2007)1 o que daria maior forccedila poliacutetica e institucional agrave Agenda Sendo assim a partir

de soluccedilotildees integradas planejadas a meacutedio e longo prazos e a partir da associaccedilatildeo entre

governo e sociedade seria possiacutevel tratar de questotildees como ldquoeconomia da poupanccedila na

sociedade do conhecimento inclusatildeo social para uma sociedade solidaacuteria estrateacutegia para a

sustentabilidade urbana e rural recursos naturais estrateacutegicos governanccedila e eacutetica para a

promoccedilatildeo da sustentabilidaderdquo (AGENDA 21 BRASILEIRA 2004 p04) O Programa foi

estruturado em trecircs accedilotildees implementar a Agenda 21 Brasileira promover a elaboraccedilatildeo e

implementaccedilatildeo de Agendas 21 Locais e formaccedilatildeo continuada em Agenda 21

Vale destacar a importacircncia da Agenda 21 Local enquanto instrumento

complementar aos instrumentos da poliacutetica municipal de desenvolvimento urbano

A Agenda 21 Local eacute um dos principais instrumentos para se conduzir processos de

mobilizaccedilatildeo troca de informaccedilotildees geraccedilatildeo de consensos em torno dos problemas e

1 Importante destacar que ldquoO Plano Plurianual (PPA) eacute um instrumento previsto no art 165 da Constituiccedilatildeo

Federal destinado a organizar e viabilizar a accedilatildeo puacuteblica com vistas a cumprir os fundamentos e os objetivos da

Repuacuteblica Por meio dele eacute declarado o conjunto das poliacuteticas puacuteblicas do governo para um periacuteodo de quatro

anos e os caminhos trilhados para viabilizar as metas previstas construindo um Brasil melhorrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwmpgovbrministerioaspindex=10ampler=s1086gt Acesso em 06 jun 2015 O Plano Plurianual

referente ao periacuteodo 2004 ndash 2007 foi regulamentado pela Lei Nordm 10933 de 2004 sancionada pelo entatildeo

Presidente Luiacutez Inaacutecio Lula da Silva

12

soluccedilotildees locais e estabelecimento de prioridades para a gestatildeo de desde um estado

municiacutepio bacia hidrograacutefica unidade de conservaccedilatildeo ateacute um bairro uma escola O

processo deve ser articulado com outros projetos programas e atividades do governo

e sociedade sendo consolidado dentre outros a partir do envolvimento dos agentes

regionais e locais anaacutelise identificaccedilatildeo e promoccedilatildeo de instrumentos financeiros

difusatildeo e intercacircmbio de experiecircncias definiccedilatildeo de indicadores de desempenho

(AGENDA 21 Brasileira accedilotildees prioritaacuteriasComissatildeo de Poliacuteticas de

Desenvolvimento Sustentaacutevel e da Agenda 21 Nacional 2 ed Brasiacutelia Ministeacuterio

do Meio Ambiente 2004)

Desde entatildeo o esforccedilo em fomentar a construccedilatildeo das Agendas 21 Locais gerou

um resultado positivo embora muito aqueacutem do necessaacuterio para uma mudanccedila substancial nas

poliacuteticas em prol do desenvolvimento sustentaacutevel Em 2013 apenas 215 dos municiacutepios

brasileiros possuiacuteam processos em andamento relativos agrave Agenda 21 conforme foi

identificado pela IBGE a partir da Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros (MUNIC

2013) 2 Tal percentual apesar da pouca expressividade demarca um processo positivo de

mudanccedila tendo em vista que nos dados dos anos anteriores observava-se percentuais ainda

menores aleacutem de um processo de decliacutenio em 2009 a pesquisa indicou que 199 dos

municiacutepios haviam iniciado a elaboraccedilatildeo da agenda 21 enquanto em 2012 o percentual

baixou para 181

Nota-se ante ao exposto ateacute aqui que existe um arcabouccedilo legal significativo em

prol do desenvolvimento urbano sustentaacutevel Contudo a aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo existente e a

obtenccedilatildeo de resultados positivos estatildeo longe de se tornar uma realidade no Brasil Sendo

assim faz-se necessaacuterio reforccedilar a cada dia os compromissos estabelecidos nas Leis

Brasileiras e trabalhar na efetivaccedilatildeo dos instrumentos de promoccedilatildeo do equiliacutebrio ambiental a

partir da aplicaccedilatildeo das premissas da sustentabilidade Atingir o desenvolvimento urbano

sustentaacutevel natildeo eacute somente uma das opccedilotildees mas a uacutenica opccedilatildeo existente se quisermos que o

planeta tenha vida longa Preservar o meio ambiente deve ser uma accedilatildeo constante associada a

todas agraves demais poliacuteticas puacuteblicas Quanto agrave iniciativa privada esta deveraacute ser

permanentemente fiscalizada Regulamentar as atividades de exploraccedilatildeo da natureza e buscar

a inibiccedilatildeo severa de atividades de impacto ambiental satildeo tarefas urgentes que o Poder Puacuteblico

deve assimilar o quanto antes

2 Ressalta-se que ldquoA Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais ndash MUNIC eacute realizada desde o ano de 1999

pelo IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Na versatildeo de 2013 foram destacados os aspectos

relevantes da gestatildeo e da estrutura dos 5570 municiacutepios brasileiros a partir dos seguintes eixos perfil dos

gestores municipais recursos humanos das administraccedilotildees municipais legislaccedilatildeo e instrumentos de

planejamento sauacutede meio ambiente poliacutetica de gecircnero ndash temas jaacute investigados em anos anteriores ndash aleacutem de

gestatildeo de riscos e resposta a desastres este ineacutedito ateacute entatildeordquo Disponiacutevel em

lthttpwwwibgegovbrhomeestatisticaeconomiaperfilmunic2013defaultshtmgt Acesso em 06 jun 2015)

13

Somente com a permanente preocupaccedilatildeo do Estado para com o tema seraacute

possiacutevel consolidar o desenvolvimento urbano a partir da aplicaccedilatildeo das premissas da

sustentabilidade do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

14

3 O PLANO DIRETOR E OS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO

MUNICIPAL

Para introduzir a discussatildeo do Plano Diretor e demais instrumentos de

planejamento municipal previstos no Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio retomar o momento

da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 com destaque para o Art30 que determina as tarefas de

competecircncia dos Municiacutepios Dentre tais competecircncias destacam-se os incisos VIII e IX

diretamente relacionados ao planejamento urbano

Art 30 Compete aos Municiacutepios [] VIII - promover no que couber adequado

ordenamento territorial mediante planejamento e controle do uso do parcelamento e

da ocupaccedilatildeo do solo urbano IX - promover a proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-

cultural local observada a legislaccedilatildeo e a accedilatildeo fiscalizadora federal e estadual

(BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de

1988)

Aleacutem de delimitar as competecircncias municipais a Constituiccedilatildeo tambeacutem apontou

no Art182 do Capiacutetulo II o Plano Diretor - velho conhecido dos Teacutecnicos e Governantes -

como principal instrumento a ser utilizado pelos Municiacutepios no desenvolvimento da poliacutetica

urbana

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo Poder Puacuteblico

municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem por objetivo ordenar o

pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus

habitantes sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio para

cidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e de expansatildeo urbana sect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua

funccedilatildeo social quando atende agraves exigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade

expressas no plano diretor (BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do

Brasil de 5 de outubro de 1988)

Contudo tal instrumento natildeo representou uma novidade A expressatildeo Plano

Diretor foi utilizada pela primeira vez no Brasil em 1930 a partir do Plano Agache3

desenvolvido para o Rio de Janeiro Posteriormente foram desenvolvidos planos diretores em

todo o territoacuterio brasileiro planos estes que ficariam engavetados por falta de vontade

3 Nota-se que ldquoO Plano Agache foi a primeira proposta de intervenccedilatildeo urbaniacutestica na cidade do Rio de Janeiro

com preocupaccedilotildees genuinamente modernas Concluiacutedo em 1930 introduziu no cenaacuterio nacional algumas

questotildees tiacutepicas da cidade industrial tais como o planejamento do transporte de massas e do abastecimento de

aacuteguas a habitaccedilatildeo operaacuteria e o crescimento das favelas Aleacutem disso com discussotildees emergentes que iam desde a

necessidade de um zoneamento para a cidade ateacute a delimitaccedilatildeo de aacutereas verdes ultrapassou os limites do

Academicismo das intervenccedilotildees predecessoras de Pereira Passos e Paulo de Frontinrdquo Disponiacutevel em

lthttpplanourbanoriorjgovbrgt Acesso em 06 de jun 2015

15

poliacutetica A nomenclatura e o conteuacutedo dos planos diretores variaram com o passar dos anos

segundo Villaccedila

Por fim cabe abordar historicamente as jaacute mencionadas mudanccedilas na nomenclatura

nas formas nos conteuacutedos e nas metodologias dos planos Em primeiro lugar cai em

desuso a expressatildeo plano de melhoramentos e embelezamento e entra em cena a

expressatildeo urbanismo Depois esta cai em desuso sendo substituiacuteda por

planejamento urbano e plano diretor Em segundo lugar os conteuacutedos e

metodologias de elaboraccedilatildeo dos planos sofrem alteraccedilotildees radicais De enormes

volumes com centenas de paacuteginas recheados de mapas pesquisas e estatiacutesticas

elaborados por equipes multidisciplinares e abordando enorme leque de problemas

transformam-se em meros projetos de lei agraves vezes contendo apenas declaraccedilotildees de

princiacutepios poliacuteticas ou diretrizes gerais agraves vezes ateacute sem mapas ou com poucos

mapas Um simples projeto de lei publicado no Diaacuterio Oficial (CSABA Deaacutek

SUELI Ramos Schiffer (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo

Editora da Universidade de Satildeo Paulo 1999 p191)

A realidade eacute que os planos diretores desenvolvidos no Brasil entre as deacutecadas de

1940 e 1990 natildeo correspondiam ao pensamento dos governantes e das classes dominantes e

por isso natildeo contaram com intenccedilatildeo real de aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo Os objetivos apontados

natildeo seriam atingidos pois o Plano Diretor natildeo se tornara uma prioridade em nenhuma das

esferas administrativas do paiacutes

O ressurgimento do instrumento Plano Diretor em 1988 embora isento de grandes

novidades veio acompanhado da premissa da funccedilatildeo social da propriedade um aspecto

positivo e inovador da poliacutetica urbana poreacutem praticamente inviaacutevel de ser aplicado num

primeiro momento pelos obstaacuteculos constantes na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal Contudo

diante da pressatildeo dos movimentos sociais e populares que se fortaleceram durante o processo

de redemocratizaccedilatildeo tais planos foram se tornando mais politizados abordando aspectos

especiacuteficos da competecircncia municipal e tratando das polecircmicas voltadas para o territoacuterio

inclusive sobre a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria no espaccedilo urbano

Em 2001 a poliacutetica urbana foi regulamentada pela Lei 10257 - Estatuto da

Cidade ndash devidamente apresentada no capiacutetulo anterior Com uma abordagem democraacutetico-

participativa voltada para os interesses coletivos tal lei possibilitou uma mudanccedila expressiva

no planejamento urbano principalmente na esfera municipal

O Plano Diretor Participativo como seraacute chamado a partir de entatildeo se torna o

principal dentre outros sete instrumentos de planejamento municipal expressos no Art 4ordm

inciso III da Lei 10257

Art 4o Para os fins desta Lei seratildeo utilizados entre outros instrumentos [] III ndash

planejamento municipal em especial a) plano diretor b) disciplina do

parcelamento do uso e da ocupaccedilatildeo do solo c) zoneamento ambiental d) plano

plurianual e) diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual f) gestatildeo orccedilamentaacuteria

16

participativa g) planos programas e projetos setoriais h) planos de

desenvolvimento econocircmico e social (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade

de 10 de julho 2001)

O conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelos planos diretores foi estabelecido na

resoluccedilatildeo nordm34 de 01 de julho de 2005 pelo Conselho das Cidades A tal conselho

regulamentado pelo Decreto 5031 2004 competia emitir orientaccedilotildees e recomendaccedilotildees sobre

a aplicaccedilatildeo da Lei 10257 de 2001 (Estatuto da Cidade) e dos demais atos normativos

relacionados ao desenvolvimento urbano A inclusatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel das

cidades nas novas diretrizes da poliacutetica urbana teraacute no plano diretor a sua expressatildeo

fundamental Dentre o conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelo Plano Diretor Participativo

merece destaque o Art 2ordm inciso III aleacutem do Art 5ordm inciso VII do Estatuto da Cidade

Art 2deg As funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade urbana seratildeo definidas a partir

da destinaccedilatildeo de cada porccedilatildeo do territoacuterio do municiacutepio bem como da identificaccedilatildeo

dos imoacuteveis natildeo edificados subutilizados e natildeo utilizados no caso de sua existecircncia

de forma a garantir [] III - a universalizaccedilatildeo do acesso aacute aacutegua potaacutevel aos

serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio a coleta e disposiccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos e ao

manejo sustentaacutevel das aacuteguas pluviais de forma integrada aacutes poliacuteticas ambientais de

recursos hiacutedricos e de sauacutede [] Art 5deg A instituiccedilatildeo das Zonas Especiais

considerando o interesse local deveraacute [] VII - demarcar as aacutereas de proteccedilatildeo

preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e construiacutedo do patrimocircnio

cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico (BRASIL Lei nordm10257

Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

Ao estabelecer as diretrizes de ordenaccedilatildeo do solo o Plano Diretor estabelece que

a propriedade urbana deve servir agrave qualidade de vida dos cidadatildeos agrave justiccedila social e ao

desenvolvimento sustentaacutevel das atividades econocircmicas A referecircncia territorial que estrutura

as estrateacutegias definidas pelo Plano Diretor eacute o macrozoneamento Este subdivide o territoacuterio

municipal a partir da identificaccedilatildeo das potencialidades e das caracteriacutesticas de cada aacuterea Satildeo

algumas categorias utilizadas na definiccedilatildeo do macrozoneamento aacutereas aptas agrave urbanizaccedilatildeo

aacutereas propiacutecias ao desenvolvimento de atividades rurais aacutereas de preservaccedilatildeo e aacutereas de

exploraccedilatildeo econocircmica Aleacutem da definiccedilatildeo de intenccedilotildees para os vetores do territoacuterio

municipal o macrozoneamento define tambeacutem o periacutemetro urbano e as zonas de expansatildeo

urbana enquanto instrumentos de direcionamento da urbanizaccedilatildeo da gestatildeo ambiental e do

crescimento econocircmico A delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano deve ser feita a partir de planta

referenciada com clara indicaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e fiacutesicos limiacutetrofes e deve servir

para direcionar o adensamento populacional para as aacutereas providas de infraestrutura

garantindo a proteccedilatildeo das aacutereas de interesse ambiental e a reserva de aacutereas para produccedilatildeo

agriacutecola e ocupaccedilatildeo rural A alteraccedilatildeo de tal periacutemetro conforme previsto no Art42B do

17

Estatuto da Cidade deveraacute instituiacuteda por lei municipal e deve ser resultado de projeto

especiacutefico que contemple o conteuacutedo miacutenimo e que atenda agraves diretrizes do Plano Diretor

O segundo instrumento de planejamento municipal apresentado no Art 4ordm do

Estatuto da Cidade o parcelamento o uso e a ocupaccedilatildeo do solo eacute tambeacutem um importante

instrumento para a concretizaccedilatildeo dos preceitos da sustentabilidade do ambiente urbano A

Legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal definiraacute o zoneamento da aacuterea urbana Tal zoneamento

responsaacutevel pela subdivisatildeo do periacutemetro urbano em diferentes categorias eacute o principal

instrumento da regulaccedilatildeo urbana A definiccedilatildeo das categorias deveraacute ser pautada pelo melhor

aproveitamento e pela ampliaccedilatildeo do acesso agrave terra urbanizada O zoneamento orienta o

ordenamento urbano a partir das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo do solo definindo os paracircmetros

urbaniacutesticos - coeficiente de aproveitamento taxa de ocupaccedilatildeo afastamentos gabaritos - de

forma que os projetos de edificaccedilotildees e demais intervenccedilotildees mantenham uma densidade de

ocupaccedilatildeo que favoreccedila o conforto ambiental urbano Dentre os criteacuterios para a definiccedilatildeo dos

diferentes paracircmetros urbaniacutesticos que incidem sobre o territoacuterio estatildeo proteccedilatildeo das aacutereas

ambientalmente fraacutegeis adensamento de aacutereas providas de infraestrutura limitaccedilatildeo de usos a

partir da capacidade viaacuteria controle da permeabilidade do solo preservaccedilatildeo e proteccedilatildeo de

conjuntos de valor histoacuterico cultural ou ambiental distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo de baixa renda

em aacutereas bem localizadas e servidas de infraestrutura condiccedilotildees climaacuteticas locais

As diretrizes para o parcelamento geralmente compoem junto com os paracircmetros

urbaniacutesticos a mesma lei municipal O parcelamento merece destaque pois trata dos novos

espaccedilos que seratildeo incorporados ao tecido urbano da cidade e portanto deveraacute estar

integralmente articulado com as estrateacutegias do desenvolvimento urbano Eacute regulamentado em

acircmbito geral pela Lei Federal 676679 acrescida das alteraccedilotildees posteriores definidas nas leis

978599 e 1144507 O parcelamento configura um processo de expansatildeo horizontal ou

adensamento da aacuterea urbanizada e consiste na subdivisatildeo de um determinado imoacutevel sob as

formas de desmembramento (quando haacute o aproveitamento do sistema viaacuterio existente) ou

loteamento (quando haacute abertura de novas vias e logradouros ou modificaccedilatildeo dos existentes)

Deveratildeo ser contempladas na Lei de Parcelamento as aacutereas que natildeo admitiratildeo parcelamento

os paracircmetros de dimensionamento de lotes quadras e sistema viaacuterio as aacutereas de uso puacuteblico

as faixas de proteccedilatildeo a infraestrutura baacutesica os procedimentos administrativos para

aprovaccedilatildeo do projeto as contrapartidas do empreendedor as penalidades sobre infraccedilotildees

assim como os procedimentos para regularizaccedilatildeo das aacutereas em desconformidade com a Lei

Paracircmetros de conforto ambiental tais como ventos favoraacuteveis orientaccedilatildeo solar vegetaccedilatildeo

18

sistema de abastecimento de aacutegua sistema de esgotamento sanitaacuterio e sistema de drenagem

devem ser definidos em lei e cobrados nos projetos de parcelamento a fim de minimizar os

impactos ao meio ambiente

Vale destacar que o sucesso na elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo das Leis de Parcelamento

Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo depende primeiramente do comprometimento da gestatildeo municipal

com a democratizaccedilatildeo da cidade e com o bem-estar coletivo caso contraacuterio tal legislaccedilatildeo

poderaacute aprofundar a segregaccedilatildeo privilegiando a iniciativa privada a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria

e os interesses individuais

O zoneamento ambiental terceiro instrumento de planejamento municipal

apontado na lista do Art 4ordm do Estatuto da Cidade eacute tambeacutem um instrumento da Poliacutetica

Nacional do Meio Ambiente regida pela Lei 693881 Art 9ordm O zoneamento ambiental pode

ser considerado uma expressatildeo sinocircnima do Zoneamento Ecoloacutegico-Econocircmico ndash ZEE que

foi regulamentado pelo Decreto 429702

CAPITULO I - DOS OBJETIVOS E PRINCIacutePIOS ndash [] Art 2ordm O ZEE

instrumento de organizaccedilatildeo do territoacuterio a ser obrigatoriamente seguido na

implantaccedilatildeo de planos obras e atividades puacuteblicas e privadas estabelece medidas e

padrotildees de proteccedilatildeo ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental dos

recursos hiacutedricos e do solo e a conservaccedilatildeo da biodiversidade garantindo o

desenvolvimento sustentaacutevel e a melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo

Art 3ordm O ZEE tem por objetivo geral organizar de forma vinculada as decisotildees dos

agentes puacuteblicos e privados quanto a planos programas projetos e atividades que

direta ou indiretamente utilizem recursos naturais assegurando a plena manutenccedilatildeo

do capital e dos serviccedilos ambientais dos ecossistemas Paraacutegrafo uacutenico O ZEE na

distribuiccedilatildeo espacial das atividades econocircmicas levaraacute em conta a importacircncia

ecoloacutegica as limitaccedilotildees e as fragilidades dos ecossistemas estabelecendo vedaccedilotildees

restriccedilotildees e alternativas de exploraccedilatildeo do territoacuterio e determinando quando for o

caso inclusive a relocalizaccedilatildeo de atividades incompatiacuteveis com suas diretrizes

gerais (BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002)

O zoneamento ambiental ou ZEE eacute o instrumento que possibilita traccedilar um

panorama sobre a utilizaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais de um determinado

municiacutepio gerando as bases para um planejamento urbano comprometido com a

sustentabilidade ecoloacutegica econocircmica e social Tambeacutem eacute um instrumento de caraacuteter

democraacutetico-participativo e deve portanto ser acompanhado pela Administraccedilatildeo Puacuteblica em

seus diferentes niacuteveis e pela sociedade civil Tal instrumento assim como o zoneamento

urbano divide o territoacuterio em diferentes categorias As categorias do zoneamento ambiental

satildeo definidas a partir dos princiacutepios da utilidade e da simplicidade de forma a configurar

limites claros e compreensiacuteveis ao poder puacuteblico e aos cidadatildeos As diretrizes gerais e

especiacuteficas do zoneamento deveratildeo conter a capacidade de suporte ambiental de determinada

aacuterea a necessidade de proteccedilatildeo dos recursos renovaacuteveis e natildeo-renovaacuteveis a definiccedilatildeo de aacutereas

19

para unidades de conservaccedilatildeo integral a permissatildeo para exploraccedilatildeo de recursos naturais as

medidas para o desenvolvimento sustentaacutevel do setor rural medidas de ajustamento entre usos

conflitantes aleacutem de planos programas e fonte de recursos para viabilizar as atividades

apontadas para cada zona

Apesar de ser um importante instrumento de suporte agrave proteccedilatildeo do meio ambiente

o zoneamento ambiental ou ZEE ainda tem sido pouco utilizado pelos municiacutepios brasileiros

Contudo os dados da Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais (MUNIC 2013)

demonstraram que tem havido um crescimento do percentual de municiacutepios com legislaccedilatildeo

especiacutefica sobre a questatildeo ambiental o que traz um pouco de esperanccedila quanto agrave mudanccedila

dos paradigmas de proteccedilatildeo do meio ambiente A MUNIC 2013 apontou que em 2012

554 dos municiacutepios tinham legislaccedilatildeo ambiental jaacute em 2013 esse percentual subiu para

655

Por uacuteltimo os demais instrumentos de planejamento municipal apontados no Art

4ordm do Estatuto da Cidade - plano plurianual diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual

gestatildeo orccedilamentaacuteria participativa planos programas e projetos setoriais planos de

desenvolvimento econocircmico e social ndash tratariam de garantir a gestatildeo democraacutetica da cidade a

partir da realizaccedilatildeo de debates audiecircncias e consultas puacuteblicas como condiccedilatildeo para a

aprovaccedilatildeo das Leis Municipais Tais instrumentos apesar de natildeo-urbaniacutesticos tecircm uma

importacircncia decisiva na reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais Contudo embora tenham se

efetivado na maioria dos municiacutepios brasileiros ainda permanecem em sua maioria

mergulhados na velha poliacutetica clientelista que transforma os foacuteruns de participaccedilatildeo em

espaccedilos esvaziados pouco divulgados redutos de manobras poliacuteticas e trocas de favores

Infelizmente a garantia da gestatildeo democraacutetica natildeo seraacute alcanccedilada apenas por atos normativos

assim como as diretrizes estabelecidas para o desenvolvimento urbano sustentaacutevel tambeacutem

natildeo ser tornaratildeo realidade apenas por forccedila de Lei Eacute necessaacuterio mudar o caraacuteter da gestatildeo do

territoacuterio que atualmente se caracteriza pela anulaccedilatildeo da atuaccedilatildeo teacutecnica das diferentes aacutereas

do conhecimento a fim de garantir que o interesse privado prevaleccedila sobre os diretos coletivos

de toda uma cidade Eacute necessaacuterio colocar em praacutetica os preceitos das leis brasileiras efetivar

os instrumentos com real participaccedilatildeo popular lanccedilar as bases para um modelo de gestatildeo

realmente democraacutetico inclusivo e comprometido com o bem estar coletivo e com a justiccedila

social

20

4 OS DESAFIOS DA REGULACcedilAtildeO URBANA FRENTE AgraveS INTERVENCcedilOtildeES NAS

EDIFICACcedilOtildeES E NOS CONJUNTOS URBANOS TOMBADOS

A proteccedilatildeo e a preservaccedilatildeo dos siacutetios urbanos de valor histoacuterico arquitetocircnico

cultural ou paisagiacutestico satildeo imprescindiacuteveis para a manutenccedilatildeo da identidade e da memoacuteria

dos diferentes grupos sociais que por ali passaram ou nele se estabeleceram O registro da

histoacuteria deve ser deixado agraves geraccedilotildees futuras como siacutembolo do conhecimento e da experiecircncia

adquirida ao longo do tempo A proteccedilatildeo de um determinado siacutetio pode inclusive ser

utilizada quando a memoacuteria coletiva e a afetividade de uma comunidade para com um

determinado espaccedilo adquirir grande relevacircncia cultural gerando uma ambiecircncia a ser

protegida mesmo que esta tenha se consolidado em um periacuteodo recente

Atualmente a preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos e a conservaccedilatildeo dos imoacuteveis

urbanos tecircm no desenvolvimento urbano sustentaacutevel um importante aliado A disseminaccedilatildeo

da loacutegica do consumo que atinge tanto os bens materiais moacuteveis quanto os imoacuteveis resulta

numa produccedilatildeo exagerada desses bens o que demanda enorme quantidade de mateacuteria-prima e

energia e causa impacto no meio ambiente Sendo assim as poliacuteticas de preservaccedilatildeo e o

incentivo ao reuso de edifiacutecios e objetos contribuem para a sustentabilidade e o equiliacutebrio

ambiental

Hoje existem no Brasil doze siacutetios urbanos e sete siacutetios naturais que satildeo

considerados Patrimocircnio Cultural da Humanidade e portanto tombados internacionalmente

pela UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

Dentre os conjuntos tombados internacionalmente destaca-se a predominacircncia dos centros

histoacutericos de caracteriacutesticas coloniais tais como o Centro Histoacuterico de Ouro Preto MG

Olinda PE Salvador BA Satildeo Luiz do Maranhatildeo MA Diamantina MG e Goiaacutes GO Natildeo

menos importante o tombamento nacional realizado pelo IPHAN ndash Instituto do Patrimocircnio

Histoacuterico e Artiacutestico Nacional preserva 77 conjuntos urbanos espalhados por todas as regiotildees

do Brasil com destaque para a regiatildeo nordeste que conta com 30 desses centros tombados

Somam-se a esse contingente os conjuntos tombados estadualmente e municipalmente que

natildeo seratildeo aqui enumerados

A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio estaacute presente no ordenamento

juriacutedico brasileiro desde 1937 quando por meio do Decreto-Lei nordm25 criou-se o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash SPHAN (atual IPHAN) para proteger as cidades

e os monumentos da modernizaccedilatildeo das reformas urbanas e do interesse imobiliaacuterio

21

Reafirmada pelo Art 216 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e pelo Art 2ordm inciso XII do

Estatuto da Cidade a proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e

construiacutedo do patrimocircnio cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico tornou-se

diretriz obrigatoacuteria a ser contemplada pelos planos urbanos e legislaccedilotildees municipais

Contudo a preservaccedilatildeo dos conjuntos urbanos tombados natildeo pressupotildee o

congelamento das cidades Os paracircmetros para as intervenccedilotildees contemporacircneas deveratildeo ser

definidos em leis especiacuteficas de modo a evitar que o novo se sobreponha ou se confunda com

o existente A preservaccedilatildeo do conjunto tombado soacute seraacute possiacutevel se for permitido agrave cidade

expandir-se adensar-se e modificar-se Caso contraacuterio centro e cidade se tornaratildeo obsoletos

Percebe-se portanto que a regulaccedilatildeo urbana nas cidades histoacutericas enfrenta um

grande desafio preservar o antigo e abrir-se ao novo Sendo assim como proceder e quais

instrumentos utilizar Como a legislaccedilatildeo municipal deveraacute ser elaborada e aplicada a fim de

contemplar a preservaccedilatildeo do conjunto tombado e a expansatildeo da cidade seguindo os preceitos

da sustentabilidade

A preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos associada agrave expansatildeo sustentaacutevel das cidades eacute

um tema que vem sendo amplamente discutido inclusive em acircmbito internacional Nos paiacuteses

do norte e principalmente no continente europeu os siacutetios urbanos que demandam poliacuteticas

de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo remontam de seacuteculos e ateacute mesmo de milecircnios passados Embora

uma grande parte do patrimocircnio mundial tenha se perdido com a destruiccedilatildeo resultante das

guerras das cataacutestrofes e da imposiccedilatildeo de novas culturas como aconteceu principalmente nos

paiacuteses do sul que tiveram a cultura originaacuteria destruiacuteda pela colonizaccedilatildeo ainda haacute muito

patrimocircnio a ser preservado E natildeo eacute de hoje que os teacutecnicos e profissionais de diversas aacutereas

do conhecimento tecircm desenvolvido teorias e instrumentos para assegurar a salvaguarda de

todo esse patrimocircnio

Desde entatildeo leis documentos planos guias e coacutedigos vecircm sendo desenvolvidos

com o objetivo de orientar e direcionar as accedilotildees e intervenccedilotildees sobre o patrimocircnio cultural das

cidades com vistas ao desenvolvimento sustentaacutevel

Um importante documento desenvolvido em 2008 pelo Governo da Escoacutecia o

ldquoSustainable Development Guidance for Estate Managementrdquo buscou sistematizar a partir

dos preceitos da sustentabilidade estrateacutegias e orientaccedilotildees para a realizaccedilatildeo de intervenccedilotildees

principalmente para as novas construccedilotildees Tal preocupaccedilatildeo se intensificou apoacutes a discussatildeo

sobre as mudanccedilas climaacuteticas e os efeitos futuros ldquoThe Stern Review on the Economics of

Climate Changerdquo realizada pelo Governo do Reino Unido O documento ldquoSustainable

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Development Guidance for Estate Managementrdquo se assemelha a um guia para o

desenvolvimento sustentaacutevel que aborda as estrateacutegias de accedilatildeo e recomendaccedilotildees para fazer da

Escoacutecia um paiacutes mais ecoloacutegico

Segundo esse Guia que trata da proteccedilatildeo do ambiente natural e da manutenccedilatildeo do

ambiente construiacutedo a sustentabilidade deveraacute ser uma prerrogativa tanto nas novas

construccedilotildees como na manutenccedilatildeo das edificaccedilotildees existentes nas conversotildees de uso nas

ampliaccedilotildees no retrofit4 e nas demoliccedilotildees No item 36 ldquoEmbedding sustainability within the

estate strategy processrdquo satildeo apontados os itens a serem observados na elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias e projetos para o desenvolvimento manutenccedilatildeo ou restauraccedilatildeo de edificaccedilotildees Satildeo

eles biodiversidade layout flexiacutevel nas construccedilotildees materiais construtivos e a possibilidade

de recuperaccedilatildeo reciclagem e reuso gestatildeo da aacutegua diminuiccedilatildeo da poluiccedilatildeo energia

certificada minimizaccedilatildeo do consumo de energia atraveacutes do isolamento e da ventilaccedilatildeo

natural utilizaccedilatildeo de energias renovaacuteveis como energia solar diminuiccedilatildeo do desperdiacutecio e

aumento da reciclagem dentre outros itens A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio

conforme jaacute foi discutido no iniacutecio deste capiacutetulo tambeacutem estaacute presente no Guia conforme

aponta o item 43 ldquoHistoric Buildingsrdquo Neste item direciona-se a atenccedilatildeo para as amplas

possibilidades de reuso e reabilitaccedilatildeo dessas edificaccedilotildees Tal situaccedilatildeo deve partir da

intervenccedilatildeo miacutenima e deve garantir que as caracteriacutesticas histoacutericas ou culturais dos edifiacutecios

sejam devidamente respeitadas e mantidas O Guia trata tambeacutem do procedimento para

reparos que na medida do possiacutevel deve ser feito atraveacutes das teacutecnicas tradicionais e dos

materiais originais ou compatiacuteveis sempre com apoio de profissional especializado Eacute

enfatizada tambeacutem a obrigatoriedade em solicitar das autoridades competentes autorizaccedilatildeo

para as intervenccedilotildees Por uacuteltimo apoacutes feitas todas as consideraccedilotildees sobre os aspectos

positivos da reutilizaccedilatildeo de um determinado edifiacutecio no caso de se decidir pela demoliccedilatildeo do

mesmo o Guia aponta os cuidados a serem obsevados na disposiccedilatildeo final dos resiacuteduos no

aterro sanitaacuterio alertando para a importacircncia em separar os resiacuteduos toacutexicos Os materiais

resultantes da demoliccedilatildeo como accedilo fundaccedilotildees de concreto ceracircmica madeira de assoalho

instalaccedilotildees internas placas de gesso carpete e janelas satildeo frequentemente passiacuteveis de

4 ldquoTermo utilizado principalmente em engenharia para designar o processo de modernizaccedilatildeo de algum

equipamento jaacute considerado ultrapassado ou fora de normardquo Disponiacutevel em

lthttpwwweletrobrascomrelatorio_sustentabilidade_2013anexosglossariogt Acesso em 06 de jun 2015

23

reciclagem revenda ou reutilizaccedilatildeo e natildeo devem ser descartados resultando na diminuiccedilatildeo do

desperdiacutecio e na reduccedilatildeo da exploraccedilatildeo dos recursos naturais

Outro importante documento a ser citado aqui como relevante para a proteccedilatildeo do

patrimocircnio histoacuterico e para o desenvolvimento sustentaacutevel o ldquoCalifornia Code of

Regulations Title 24rdquotambeacutem chamado de ldquoCalifornia Building Standards Coderdquo foi

finalizado em 1998 e aprovado pela ldquoCalifornia Building Standards Commissionrdquo em 2007

Tal documento trata dos paracircmetros gerais para a construccedilatildeo de edificaccedilotildees no Estado da

Califoacuternia Este Coacutedigo eacute dividido em 12 partes e traz na parte 8 de tiacutetulo ldquoCalifornia

Historical Building Code (CHBC)rdquo as exigecircncias a serem cumpridas para a permissatildeo de

reparos alteraccedilotildees e adiccedilotildees necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo relocaccedilatildeo mudanccedila de

uso ou continuaccedilatildeo de uso em edificaccedilotildees de reconhecido valor cultural ou histoacuterico5 Com o

objetivo de proteger a sauacutede e a seguranccedila das pessoas o California Historical Building Code

(CHBC) busca orientar as accedilotildees para a recuperaccedilatildeo das edificaccedilotildees histoacutericas garantindo a

preservaccedilatildeo da integridade e das caracteriacutesticas de tais edificaccedilotildees Ao todo satildeo 10 capiacutetulos

que abordam em resumo os seguintes temas capiacutetulo 01 ldquoAdministrationrdquo trata dos casos

sujeitos agrave aplicaccedilatildeo do coacutedigo cap02 ldquoDefinitionsrdquo trata das definiccedilotildees dos termos frases e

palavras necessaacuterios agrave compreensatildeo dos demais capiacutetulos cap03 ldquoUse and Occupancyrdquo trata

das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo dos edifiacutecios tais como altura maacutexima e nuacutemero de

pavimentos dimensatildeo miacutenima dos cocircmodos diretrizes de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo cap04

ldquoFire Protectionrdquo trata da proteccedilatildeo contra incecircndio e indica as diretrizes em relaccedilatildeo aos

materiais shafts telhado sistemas de alarme sistemas automaacuteticos de proteccedilatildeo como

sprinklers dentre outras tecnologias cap05 ldquoMeans of Egressrdquo trata das meios de saiacuteda das

edificaccedilotildees abordando entre outros elementos as escadas portas janelas grades e guarda-

corpos cap06 ldquoAccessibilityrdquo trata da acessibilidade aos portadores de necessidades especiais

a partir da utilizaccedilatildeo das dimensotildees miacutenimas e demais diretrizes estabelecidas para as

entradas portas banheiros rampas elevadores dentre outros cap07 ldquoStructural

5 Conforme o California Building Standards Code Parte 08 paacutegina 04 as edificaccedilotildees de reconhecido valor

cultural ou histoacuterico para as quais se utilizaraacute o CHBC satildeo ldquoFor the purposes of this part a qualified historical

building or structure is any structure or collection of structures and their associated sites deemed of importance

to the history architecture or culture of an area by an appropriate local or state governmental jurisdiction This

shall include structures on existing or future national state or local historical registers or official inventories

such as the National Register of Historic Places State Historical Landmarks State Points of Historical Interest

and city or county registers or inventories of historical or architecturally significant sites places historic districts

or landmarksrdquo (CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS 2007 p 4)

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Regulationsrdquo trata da regulaccedilatildeo sobre os sistemas estruturais a partir da identificaccedilatildeo da

situaccedilatildeo da estrutura por profissional especializado identificaccedilatildeo dos acreacutescimos posteriores agrave

construccedilatildeo do edifiacutecio das cargas incidentes da performance dos parapeitos e da situaccedilatildeo dos

revestimentos externos e decorativos cap8 ldquoArchaic Materials and Methods of Constructionrdquo

trata dos meacutetodos e materiais construtivos tradicionais das edificaccedilotildees histoacutericas e das

diretrizes para a recuperaccedilatildeo de alvenarias adobe madeira concreto accedilo ferro vidros e

vidraccedilas cap09 ldquoMechanical Plumbing and Electrical Requirementsrdquo trata das exigecircncias

em relaccedilatildeo agraves instalaccedilotildees eleacutetricas aos encanamentos e sistemas mecacircnicos Por uacuteltimo o

cap10 ldquoQualified Historical Districts Sites and Open Spacesrdquo trata das orientaccedilotildees para a

preservaccedilatildeo dos espaccedilos abertos e siacutetios histoacutericos a partir da manutenccedilatildeo da configuraccedilatildeo

espacial existente e dos elementos constitutivos da paisagem

No Brasil o instrumento que mais se assemelha aos exemplos citados acima eacute o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees Utilizado para regulamentar os criteacuterios e procedimentos a

serem utilizados na elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de projetos de edificaccedilotildees e controlar as atividades

de construccedilatildeo6 o Coacutedigo de Obras eacute instituiacutedo por lei municipal como instrumento

complementar a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo citada anteriormente no Capiacutetulo 02 O

atendimento agraves condiccedilotildees estabelecidas nesses dois instrumentos da regulaccedilatildeo urbana ndash e o

atendimento a outras legislaccedilotildees quando for o caso - eacute requisito para a obtenccedilatildeo da licenccedila

urbaniacutestica Somente por meio da licenccedila municipal que afirma a compatibilizaccedilatildeo dos

interesses individuais e coletivos com o desenvolvimento urbano o proprietaacuterio poderaacute

exercer o seu direito sobre a propriedade sendo-lhe permitido executar as intervenccedilotildees

devidamente aprovadas Tambeacutem devem ser previstas em lei assim como os procedimentos

para o licenciamento as bases para a efetivaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo municipal como a

determinaccedilatildeo das infraccedilotildees e a previsatildeo de sanccedilotildees e multas aplicaacuteveis a cada caso

Subordinado agraves estrateacutegias de desenvolvimento estabelecidas no Plano Diretor o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees assim como a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo deve ser

elaborado a partir da preocupaccedilatildeo em se estabelecer uma boa interaccedilatildeo entre as novas

edificaccedilotildees e o conjunto urbano construiacutedo Para essa interaccedilatildeo as construccedilotildees devem atender

agraves premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica natildeo de forma isolada mas de

6 ldquoPara fins de direito entende-se por construccedilatildeo toda realizaccedilatildeo material e intencional de algueacutem visando a

adaptar o imoacutevel agraves suas conveniecircncias Nesse sentido tanto eacute construccedilatildeo a edificaccedilatildeo ou reforma como a

demoliccedilatildeo o muramento a escavaccedilatildeo o aterro a pintura e demais trabalhos destinados a beneficiar tapar

desobstruir conservar ou embelezar o preacutediordquo (BARANDIER ALMEIDA MORAIS 2013 p 147)

25

forma a interferir positivamente sobre o clima urbano e sobre a qualidade ambiental Assim

para aleacutem das diretrizes relativas ao uso agrave seguranccedila agrave salubridade agrave acessibilidade e agrave

preservaccedilatildeo dos elementos histoacutericos artiacutesticos e culturais tambeacutem devem ser elaborados

estudos climaacuteticos que aplicados ao desenho urbano possibilitem a formulaccedilatildeo de diretrizes

em prol da adaptaccedilatildeo das edificaccedilotildees agraves caracteriacutesticas climaacuteticas locais ao conforto teacutermico

luminoso e acuacutestico aleacutem da formulaccedilatildeo de diretrizes para a utilizaccedilatildeo de fontes de energia

alternativas e combate ao desperdiacutecio

Voltando aos dados obtidos pela Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros

realizada pelo IBGE em 2013 conforme pode ser visto no graacutefico abaixo do total de

municiacutepios brasileiros 624 declararam ter Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees enquanto 542

declararam ter Lei de Zoneamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo Esses dados demonstram que os

instrumentos legais embora apresentem um grande potencial de transformaccedilatildeo da realidade

urbana ainda satildeo pouco aplicados

Graacutefico do Percentual de municiacutepios segundo o tipo de instrumento de planejamento

existente - MUNIC -2013

Fonte Pesquisa ldquoPERFIL DOS MUNICIacutePIOS BRASILEIROS 2013rdquo (IBGE 2014)

Dentre os Coacutedigos de Obras existentes muitos estatildeo desatualizados defasados e

por isso natildeo configuram um mecanismo relevante quanto agrave alteraccedilatildeo do cenaacuterio das cidades

brasileiras Aleacutem disso a falha na articulaccedilatildeo dos diversos dispositivos de orientaccedilatildeo controle

e fiscalizaccedilatildeo das construccedilotildees resulta na aplicaccedilatildeo desequilibrada da lei consolidando

poliacuteticas de favorecimento exclusatildeo e segregaccedilatildeo aleacutem de ampliar a cada dia a destruiccedilatildeo e

os prejuiacutezos ambientais

26

Apesar de termos avanccedilado na construccedilatildeo conceitual dos instrumentos capazes de

nos levar ao sonhado desenvolvimento sustentaacutevel estamos ainda muito aqueacutem de efetivaacute-los

na praacutetica e no dia-a-dia dos municiacutepios A gestatildeo urbana da qual o planejamento eacute

interdependente configura a um dos principais obstaacuteculos agrave superaccedilatildeo da loacutegica atual de

valorizaccedilatildeo dos interesses individuais sobre os coletivos A falta interesse em destinar

recursos para a soluccedilatildeo de parte dos problemas soacutecio-espaciais tambeacutem eacute um grande

obstaacuteculo A melhoria da infraestrutura urbana os projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria a

construccedilatildeo de moradias populares sustentaacuteveis e a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados jaacute

configurariam um passo adiante na concretizaccedilatildeo da sustentabilidade no ambiente urbano

Sendo assim conhecidos os obstaacuteculos ou pelo menos parte deles eacute fundamental lanccedilarmos

as bases para a sua superaccedilatildeo fortalecendo os ideais de transformaccedilatildeo das cidades

27

5 O MUNICIacutePIO DE OURO PRETO UM ESTUDO DE CASO

51 Da colonizaccedilatildeo ao Seacuteculo XX

Localizado na Regiatildeo Central de Minas Gerais (ou Macrorregiatildeo Metaluacutergica) o

municiacutepio de Ouro Preto eacute possui uma aacuterea aproximada de 1245kmsup2 e sua populaccedilatildeo totaliza

cerca de 70281 habitantes7 Posicionado na porccedilatildeo centro-sul do Estado Ouro Preto tem

como principais confrontantes os municiacutepios de Mariana Itabirito Ouro Branco Congonhas

e Santa Baacuterbara Aleacutem do distrito-sede o territoacuterio eacute dividido em mais 12 distritos

Amarantina Antocircnio Pereira Cachoeira do Campo Engenheiro Correia Glaura Lavras

Novas Miguel Burnier Santa Rita Santo Antocircnio do Leite Santo Antocircnio do Salto Satildeo

Bartolomeu e Rodrigo Silva

Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ouro Preto no estado de

Minas Gerais

Fonte SMCP - PMOP

7 IBGE Diretoria de Pesquisas Coordenaccedilatildeo de Populaccedilatildeo e Indicadores Sociais ndash ldquoEstimativas da populaccedilatildeo

residente com data de referecircncia 1o de julho de 2014 publicada no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo em 28082014rdquo

Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314610ampsearch=||infogrE1ficosinformaE7F5e

s-completasgt Acesso em 06 jun 2015

28

Ouro Preto e municiacutepios limiacutetrofes

Fonte SMCP - PMOP

Mapa dos Distritos de Ouro Preto

Fonte SMCP - PMOP

Desencadeados pela exploraccedilatildeo auriacutefera do seacuteculo XVII - iniciada na regiatildeo de

Minas Gerais provavelmente em 1698 - os arraiais e agrupamentos humanos se consolidaram

na regiatildeo montanhosa e acidentada do municiacutepio de Ouro Preto primeiramente nas encostas

iacutengremes e arredores das minas e posteriormente nas margens dos rios e nos fundos de vale O

povoamento foi se intensificando em torno dos principais eixos de ligaccedilatildeo entre os nuacutecleos

29

urbanos vizinhos resultando num desenho urbano linear e longitudinal diferente do modelo

reticulado de ordenaccedilatildeo do territoacuterio que foi caracteriacutestico do Brasil Colocircnia

Agrave primeira configuraccedilatildeo urbana consolidada em 1711 deu-se o nome de Vila

Rica de Albuquerque que posteriormente em 1720 foi elevada agrave capital da Capitania das

Minas Gerais Ao longo do seacuteculo XVIII foram efetivadas as intervenccedilotildees urbanas mais

significativas e foram construiacutedas as principais referecircncias arquitetocircnicas de Ouro Preto As

principais pontes os chafarizes o Centro Administrativo (atual Praccedila Tiradentes) o Palaacutecio

dos Governadores a Casa de Cacircmara e Cadeia assim como as inuacutemeras capelas e igrejas de

estilo barroco das diversas ordens e irmandades religiosas consolidaram o cenaacuterio

setecentista que configura o atual centro histoacuterico da cidade O final do seacuteculo XVIII foi

marcado pelo esgotamento das minas de ouro o que desencadeou um esvaziamento

populacional da Vila pela crise de abastecimento e decadecircncia econocircmica

O seacuteculo XIX contudo trouxe as mudanccedilas advindas da era do Impeacuterio e em

1823 Vila Rica de Albuquerque foi elevada agrave cidade sob o tiacutetulo de Imperial Cidade de Ouro

Preto A partir daiacute a cidade passou por diversas modernizaccedilotildees a fim de se consolidar

enquanto capital da proviacutencia de Minas Gerais A criaccedilatildeo da Escola de Farmaacutecia do Liceu de

Artes e Ofiacutecios da Escola de Minas a construccedilatildeo da Estaccedilatildeo Ferroviaacuteria e a implantaccedilatildeo da

Companhia Industrial Ouro-Pretana satildeo exemplos importantes da expansatildeo e do

desenvolvimento da cidade durante o seacuteculo XIX Ao final deste seacuteculo jaacute sob a eacutegide do

periacuteodo republicano a cidade de Ouro Preto perde o status de capital da proviacutencia que em

1897 passou para Belo Horizonte Tal fato ocasionou pela segunda vez um processo de

esvaziamento e crise econocircmica na cidade Assim distante dos ideais de modernizaccedilatildeo e

desenvolvimento que cercavam a nova capital a ausecircncia de poliacuteticas de renovaccedilatildeo foi o que

garantiu a preservaccedilatildeo das feiccedilotildees urbanas da antiga Vila Rica A partir de entatildeo diversos

intelectuais da eacutepoca viajaram ateacute Ouro Preto e verificando o mal estado de conservaccedilatildeo e o

abandono da cidade comeccedilaram a produzir uma nova consciecircncia em relaccedilatildeo agrave necessidade

de se preservar os registros do passado

30

Mapa da evoluccedilatildeo urbana de Ouro Preto ndash do seacuteculo XVII ao seacuteculo XX

Fonte IGA ndash Instituto de Geociecircncias Aplicadas - 2003

Igreja de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo ndash registros do

periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

Ponte vizinha agrave Casa dos Contos - registros do periacuteodo

entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

31

Igreja N S do Pilar ndash registros do periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015apresentacao

A tradiccedilatildeo quanto agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico somente se consolidou

no Brasil a partir do seacuteculo XX Em 1931 surgiu o primeiro decreto municipal8 voltado para a

preservaccedilatildeo do cenaacuterio arquitetocircnico da cidade de Ouro preto proibindo as construccedilotildees em

desacordo com o estilo colonial predominante Em 1933 por meio do decreto nacional

22928 Ouro Preto foi erigida a Monumento Nacional Em 1938 o conjunto histoacuterico da

cidade foi tombado pelo SPHAN - Serviccedilo do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional que

havia sido criado no ano anterior Os anos seguintes foram marcados por inuacutemeras obras de

restauraccedilatildeo e tombamentos individuais

8 Decreto 13 de 19 de setembro de 1931 ldquoConsiderando que a cidade de Ouro Preto escriacutenio das tradiccedilotildees

mineiras deve conservar o seu aspecto colonial transmitido dos nossos antepassados Considerando que esta

feiccedilatildeo colonial de seus edifiacutecios de seus preacutedios das ruas e praccedilas desperta grande interesse por parte dos

turistas que frequumlentemente vecircm visitar a cidade e suas cercanias Considerando que ferem dolorosamente a

sensibilidade dos turistas os preacutedios que destoam do tipo colonial DECRETA Art 1deg - Natildeo eacute permitida no

periacutemetro urbano a construccedilatildeo de preacutedios e de edifiacutecios em desacordo com o estilo colonial da cidade Art 2deg -

Os atuais preacutedios existentes no periacutemetro urbano em desacordo com o artigo antecedente deveratildeo ser

modificados nas respectivas fachadas quando estas tenham que receber reparos []rdquo (OLIVEIRA 1997 p 7)

32

A sistematizaccedilatildeo de normas aplicaacuteveis agraves novas construccedilotildees foi realizada pelo

SPHAN (que em 1970 passou a ser chamado IPHAN9) para regular o crescimento da cidade e

o intenso surgimento de novas moradias que caracterizaram as deacutecadas de 1950 e 1960 Tal

crescimento se deu principalmente pela chegada de induacutestrias metaluacutergicas para a exploraccedilatildeo

da bauxita e produccedilatildeo de alumiacutenio primaacuterio Assim o ldquoestilo patrimocircniordquo surgiu das

exigecircncias normativas quanto agrave utilizaccedilatildeo dos elementos arquitetocircnicos tradicionais do

periacuteodo colonial

Um primeiro plano urbano foi elaborado pelo arquiteto portuguecircs Viana de Lima

entre os anos 1968 e 1970 com o objetivo de ldquopreservarrdquo o nuacutecleo histoacuterico da cidade e

consolidar o estilo patrimocircnio atraveacutes da eliminaccedilatildeo dos ecletismos da demoliccedilatildeo de obras

desprovidas de qualidade esteacutetica e do preenchimento dos vazios urbanos Nos anos seguintes

a discussatildeo sobre a salvaguarda do patrimocircnio se intensificou e deu origem a diversos outros

planos10

e programas de preservaccedilatildeo que obtiveram pouco sucesso na aplicaccedilatildeo praacutetica Em

21 de setembro de 1980 Ouro Preto recebeu da UNESCO o tiacutetulo de Patrimocircnio Cultural da

Humanidade e passou a ter visibilidade internacional

Ao final do seacuteculo XX a preocupaccedilatildeo com o desenvolvimento urbano da cidade e

com a proteccedilatildeo patrimonial gerou novas demandas em relaccedilatildeo agrave regulaccedilatildeo urbana e coube ao

IPHAN o papel de legislar sobre as intervenccedilotildees no centro histoacuterico As accedilotildees da

Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) do Instituto Estadual do Patrimocircnio Histoacuterico e

Artiacutestico (IEPHA) e do Instituto Estadual de Florestas (IEF) em pareceria com o governo

municipal e com o IPHAN foram decisivas na preservaccedilatildeo do patrimocircnio neste periacuteodo Em

1990 foram publicadas por meio da Lei 571990 as diretrizes para do Plano Diretor do

Municiacutepio sob as delineaccedilotildees inauguradas pela Constituiccedilatildeo Federal Tais diretrizes eram

bastante simplificadas e restritas aos zoneamentos e a questatildeo da preservaccedilatildeo do patrimocircnio

9 Em 1937 por meio da Lei nordm 378 foi fundado o SPHAN como oacutergatildeo oficial de preservaccedilatildeo do patrimocircnio

cultural brasileiro No mesmo ano foi promulgado o Decreto-Lei nordm 25 que regulamentou as atividades do

SPHAN Em 1946 o SPHAN teve o seu nome alterado para Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (DPHAN) Em 1970 o DPHAN eacute transformado em Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (IPHAN)

10 ldquoEm Minas Gerais a Fundaccedilatildeo Joatildeo Pinheiro (FJP) realizou um extenso diagnoacutestico e elaborou planos

diretores para diversas cidades coloniais mineiras bem como o Plano de Conservaccedilatildeo Valorizaccedilatildeo e

Desenvolvimento de Ouro Preto e Mariana em 1975 Esse Plano trata sobre a preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

patrimocircnio vinculado com as necessidades de desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio Por isso

abordou desde questotildees histoacutericas e culturais ateacute a anaacutelise de aspectos fiacutesico- territoriais tais como siacutetio natural

estudo das estruturas urbanas paisagismo e legislaccedilatildeo urbanardquo (SILVA OLIVEIRA 2005 p 180)

33

foi pouco abordada Jaacute em 1996 uma nova versatildeo do plano foi elaborada e diferentemente do

texto anterior o novo plano contemplou a preocupaccedilatildeo com o patrimocircnio e a preservaccedilatildeo

como instrumentos interligados agrave poliacutetica urbana

Art 1ordm - Em conformidade com a Constituiccedilatildeo Federal e com a Lei Orgacircnica

Municipal fica instituiacutedo o Plano Diretor de Ouro Preto (PDOP) fixando diretrizes

e instrumentos para o pleno desenvolvimento do Municiacutepio em consonacircncia com as

funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade [] Art 2ordm - O conjunto artiacutestico

arquitetocircnico urbaniacutestico paisagiacutestico e ambiental de relevante valor cultural

sediado no Municiacutepio objeto de tombamento federal e de reconhecimento

internacional pela UNESCO como Patrimocircnio Cultural da Humanidade eacute

considerado bem inalienaacutevel de sua populaccedilatildeo cabendo a ela exercer de forma

concorrente com as Administraccedilotildees Puacuteblicas a sua guarda proteccedilatildeo e gestatildeo

Paraacutegrafo uacutenico ndash A preservaccedilatildeo e a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural e ambiental

do Municiacutepio eacute fator determinante para o desenvolvimento urbano para a geraccedilatildeo de

empregos e para melhor distribuiccedilatildeo de renda Lei Complementar 0196 Ouro Preto

(OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996)

Em 1997 foi criado ldquoPlano de Reabilitaccedilatildeo do Siacutetio Histoacuterico de Ouro Pretordquo a

partir do ldquoMonumentardquo programa federal de iniciativa do Ministeacuterio da Cultura e patrocinado

pelo BID que sob a premissa do desenvolvimento econocircmico-social sustentaacutevel buscou

revitalizar os centros histoacutericos urbanos de 26 cidades brasileiras O Plano traccedilado para Ouro

Preto natildeo foi totalmente implementado mas alavancou as poliacuteticas de preservaccedilatildeo do

municiacutepio e deixou intervenccedilotildees significativas como por exemplo a recuperaccedilatildeo do Parque

Horto dos Contos (fundo de vale do Ribeiratildeo do Funil) aacuterea verde mais significativa da regiatildeo

central

34

Mapa Cadastral de Ouro Preto ndash Periacutemetro de tombamento pelo IPHAN

Fonte Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano - PMOP

52 O contexto atual

O conceito de patrimocircnio e de preservaccedilatildeo adotado no Brasil foi se modificando

ao longo da histoacuteria como foi apontado nos iniacutecio deste capiacutetulo Assim agrave medida que o

conceito adquiria relevacircncia as poliacuteticas de preservaccedilatildeo foram sendo instauradas nas esferas

administrativas Os avanccedilos iniciados no final do seacuteculo XX se consolidaram jaacute nos primeiros

anos do seacuteculo XXI O novo seacuteculo trouxe consigo uma mudanccedila significativa em relaccedilatildeo ao

desenvolvimento dos siacutetios histoacutericos que deixaram de ser vistos como uma ldquoobra de arte

intocaacutevelrdquo e passaram a ser tratados como espaccedilos socializados repletos de interaccedilatildeo cultural

e portanto passiacuteveis de transformaccedilatildeo Aleacutem dos centros urbanos o patrimocircnio imaterial

tambeacutem recebeu especial atenccedilatildeo e apoacutes 20 anos de discussatildeo a Convenccedilatildeo para a

Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial consolidada pela UNESCO em 2003 avanccedilou

no reconhecimento e na defesa das heranccedilas culturais dos povos ao redor do mundo

As transformaccedilotildees na relaccedilatildeo da preservaccedilatildeo com o planejamento urbano se

efetivaram em 2003 a partir da criaccedilatildeo do Plano de Preservaccedilatildeo de Siacutetio Histoacuterico Urbano

(PPSH) Este plano foi um instrumento de caraacuteter normativo que incidiu sobre os siacutetios

35

urbanos tombados em niacutevel federal a fim de aliar preservaccedilatildeo e desenvolvimento e incentivar

a gestatildeo compartilhada Nesse mesmo ano foi realizado o Encontro Nacional de Cidades

Histoacutericas que tratou da gestatildeo compartilhada do patrimocircnio cultural e da efetivaccedilatildeo das

poliacuteticas de preservaccedilatildeo associadas agrave legislaccedilatildeo urbana e ambiental

As mudanccedilas do iniacutecio do seacuteculo natildeo demoraram a repercutir no Municiacutepio de

Ouro Preto A partir da portaria ndeg 122 instituiacuteda em 2004 pelo presidente do IPHAN

definiu-se as diretrizes de intervenccedilatildeo e os paracircmetros para aprovaccedilatildeo de projeto no centro

histoacuterico da cidade a fim de garantir a manutenccedilatildeo das caracteriacutesticas da unidade e da

harmonia do conjunto urbano

Mapa dos bairros do municiacutepio de Ouro Preto

Fonte Secretaria Municipal de Patrimocircnio e Desenvolvimento Urbano - PMOP

36

Mapa esquemaacutetico ndash Periacutemetro urbano periacutemetro tombado e demais delimitaccedilotildees de interesse do distrito sede

Elaboraccedilatildeo Guilherme I N Ataiacutedes Base mapa do Plano Diretor

Foto da Praccedila Tiradentes

Fonte httpmondegocombrpraca-tiradentes

37

Foto Campus UFOP

Fonte httpwwwseeufopbrp=490

Foto IFMG

Fonte httpwwwouropretoifmgedubrcomunicacaoimagens-e-videoscampus-ouro-

pretocampusimage_view_fullscreen

Em 2006 a remodelaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Patrimocircnio e

Desenvolvimento Urbano (antiga Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio) deu um novo

impulso agrave preservaccedilatildeo no acircmbito da gestatildeo municipal unindo as poliacuteticas de proteccedilatildeo agraves

poliacuteticas de planejamento urbano O Grupo de Assessoramento Teacutecnico ndash GAT e o Conselho

Municipal de Patrimocircnio foram novamente colocados em accedilatildeo Um novo Plano Diretor

promulgado ao final deste mesmo ano atraveacutes da Lei Complementar Nordm 29 agregou as

conquistas do Estatuto da Cidade aos preceitos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio e acrescentou as

diretrizes para a proteccedilatildeo ambiental Os temas funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

estruturaccedilatildeo territorial desenvolvimento econocircmico proteccedilatildeo ambiental proteccedilatildeo ao

patrimocircnio cultural poliacutetica de desenvolvimento social produccedilatildeo da cidade e mobilidade

urbana intitulam alguns dos capiacutetulos da Lei Os instrumentos da poliacutetica urbana para o

cumprimento da funccedilatildeo social da propriedade aparecem no texto logo em sequecircncia A Lei de

38

Parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo conforme previsatildeo do Art 81 do Plano Diretor foi

promulgada no mesmo dia 28 de dezembro de 2006

A partir de entatildeo o municiacutepio assume sua funccedilatildeo enquanto principal oacutergatildeo de

gestatildeo do territoacuterio tarefa que anteriormente era desempenhada pelo Governo Federal e pelo

IPHAN Ao final de 2010 por meio da Lei Complementar Nordm 91 o Plano Diretor passa por

alteraccedilotildees pontuais e em 2011 a Lei de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo eacute amplamente

revisada dando origem aos paracircmetros utilizados nos dias atuais

Dentro desse resumido panorama legislativo apresentado pode-se perceber que o

Municiacutepio de Ouro Preto acompanhou em grande parte os avanccedilos inaugurados pelo

Estatuto da Cidade e concretizou ao menos em forma de Lei a regulamentaccedilatildeo das diretrizes

e dos instrumentos capazes de fazer valer a funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

Contudo tais avanccedilos representam muito pouco frente ao gigantesco desafio

enunciado no Art 2 inciso II do mesmo Estatuto quanto agrave ldquogarantia do direito a cidades

sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao saneamento ambiental

agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para

as presentes e futuras geraccedilotildeesrdquo(Lei 10257 2001)

Aleacutem da amplitude da tarefa outros elementos dificultam ainda mais o processo

de construccedilatildeo de uma nova realidade como por exemplo a negligecircncia dos gestores puacuteblicos

para com a atualizaccedilatildeo necessaacuteria e obrigatoacuteria das Leis O Plano Diretor de Ouro Preto

indica jaacute no Capiacutetulo 1 artigo 1ordm sect3ordm o prazo maacuteximo para a revisatildeo do mesmo estabelecido

em cinco anos a partir da sua publicaccedilatildeo ou seja 2011 Sendo assim percebe-se que a Lei

de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo revisada em 2011 embora seja o principal instrumento de

controle urbaniacutestico ateacute os dias de hoje jaacute nasceu defasada pois utilizou como referecircncia a

estrateacutegia de desenvolvimento urbano definida no Plano Diretor de 2006 desconsiderando os

impactos e as mudanccedilas territoriais sociais e culturais ocorridos desde entatildeo No geral os

gestores municipais tratam apenas de alteraccedilotildees pontuais que apenas mascaram o quadro de

estagnaccedilatildeo e desatualizaccedilatildeo das leis urbaniacutesticas Tal conduta conforma um enorme obstaacuteculo

na concretizaccedilatildeo das diretrizes do Estatuto da Cidade

Nos capiacutetulos anteriores ao tratarmos do desenvolvimento sustentaacutevel dois

importantes instrumentos foram apontados como peccedilas-chave da consolidaccedilatildeo de uma nova

experiecircncia de sustentabilidade no ambiente urbano a agenda 21 e o coacutedigo de obras

O primeiro deles a agenda 21 local foi estabelecida em 15 de maio de 2007 por

meio da Lei Nordm 333

39

Art 1ordm Fica criado no acircmbito do Municiacutepio de Ouro Preto o Programa da Agenda 21

Local processo e instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento

sustentaacutevel e que tem como eixo central a sustentabilidade compatibilizando a

conservaccedilatildeo ambiental a justiccedila social e o crescimento econocircmico Art 2ordm Para

efeitos de execuccedilatildeo da Agenda 21 Local o Poder Executivo instalaraacute o Foacuterum Ouro-

pretano da Agenda 21 Local (OURO PRETO Lei nordm333 Agenda 21 Local de 11

de maio de 2007)

No texto da Lei foram previstos os capiacutetulos a serem desenvolvidos Agenda 21

Estrutural Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade A

responsabilidade recaiu sobre o Foacuterum Ouro-Pretano da Agenda 21 Local Aleacutem da Lei de

criaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel encontrar nos registros legislativos digitais da Cacircmara Municipal a

Portaria Nordm 1707 que nomeia uma Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos Naturais

e Agenda 21 Local

Outra fonte de informaccedilotildees sobre a Agenda 21 Local de Ouro Preto foi encontrada

no acervo digital da Universidade Federal de Ouro Preto sob o tiacutetulo ldquoAgenda 21 Local

consolidando as bases para o desenvolvimento sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escalardquo

(OLIVEIRA 2010) Nesse trabalho foram apontadas as iniciativas que acompanharam a

criaccedilatildeo da Agenda 21 Local dentre as quais se destacam em ordem cronoloacutegica 1ordm Encontro

de Processos de Agendas 21 Locais ndash fevereiro de 2007 Plenaacuteria na Cacircmara Municipal de

Ouro preto para apresentaccedilatildeo da Agenda 21 ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio de Capacitaccedilatildeo para

a Agenda 21 Local ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio Teacutecnico de Diagnoacutestico para referecircncia da

Agenda 21 Local ndash abril de 2007 Seminaacuterio de Implantaccedilatildeo da Agenda 21 Mineral de Ouro

Preto ndash abril de 2007 Assinatura do Termo de Cooperaccedilatildeo Muacutetua entre a Prefeitura

Municipal a Cacircmara Municipal a ONG Interforum Global e a UFOP ndash maio de 2007

Seminaacuterio Intermunicipal de Agenda 21 Local ndash maio de 2007 Seminaacuterio Geral de

Capacitaccedilatildeo da Agenda 21 Local ndash agosto de 2007

Para aleacutem dos registros oficiais e dos dados encontrados no trabalho mencionado

no paraacutegrafo anterior foram encontradas somente notiacutecias informais11

sobre a criaccedilatildeo e

lanccedilamento da Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude todas datadas de 2007

11 Destacam-se ldquoO presidente da Cacircmara vereador Mauriacutelio Zacarias (PMDB) implantou no dia 20 de abril a

Agenda 21 da Mineraccedilatildeo de Ouro Preto A Agenda 21 da Mineraccedilatildeo eacute uma das subdivisotildees da Agenda 21

Global um conjunto de accedilotildees recomendadas pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) para garantir o

desenvolvimento sustentaacutevel do planeta no seacuteculo XXIrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwcmopmggovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=70agenda-21-da-mineracao-e-

implantada-em-ouro-pretoampcatid=61reunioesgt Acesso em 06 jun 2015 ldquoJuntos pela sustentabilidade o

Foacuterum da Agenda 21 Local de Ouro Preto daacute iniacutecio ao desenvolvimento de accedilotildees especiacuteficas para a implantaccedilatildeo

do capiacutetulo Agenda 21 da Juventude na escola e na universidade O lanccedilamento da Agenda 21 da Escola

acontece no dia 21 de junho quinta-feira agraves 10h no Centro de Artes e Convenccedilotildees da UFOPrdquo ndash Notiacutecia sobre a

40

Conclui-se portanto que a iniciativa da Agenda 21 Local assim como muitas das

diretrizes definidas nas Leis do Planejamento Urbano estagnou no ano de 2007 e avanccedilou

pouco em relaccedilatildeo agraves primeiras linhas da Lei Embora se tenha a informaccedilatildeo de que os Grupos

de Trabalho continuaram a desenvolver suas atividades nos anos seguintes os registros dessas

accedilotildees praacuteticas satildeo praticamente inexistentes e tais atividades praticamente natildeo efetivaram

mudanccedilas na realidade do Municiacutepio

Quanto ao Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees outro importante instrumento da gestatildeo

municipal capaz de estabelecer as bases para um ambiente urbano sustentaacutevel este nunca foi

regulamentado pelo Municiacutepio Embora citado inuacutemeras vezes no Coacutedigo de Posturas que foi

instituiacutedo em 1980 atraveacutes da Lei 178 o Coacutedigo de Obras nunca adquiriu formato oficial para

aplicaccedilatildeo e regulaccedilatildeo do territoacuterio O uacutenico registro oficial encontrado nos arquivos

eletrocircnicos da Cacircmara Municipal diz respeito a uma comissatildeo especial formada em 1992

para emissatildeo de parecer sobre o anteprojeto de Coacutedigo de Obras de Ouro Preto elaborado

pela ENGEARP ndash Arquitetura e Engenharia Ltda12

Um segundo registro foi encontrado nos

arquivos do diaacuterio oficial eletrocircnico do municiacutepio e consiste numa breve menccedilatildeo do coacutedigo de

obras numa ata de uma das reuniotildees do COMPURB Conselho Municipal de Poliacutetica

Urbana13

em abril de 2013 Apesar dos registros quase inexistentes em consulta ao corpo

teacutecnico do Departamento de Aprovaccedilatildeo de Projetos da Secretaria de Cultura e Patrimocircnio

foram identificadas algumas iniciativas quanto agrave elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo de Obras para o

municiacutepio dentre as quais se destaca o modelo desenvolvido em 2012 Tal modelo em

conformidade com as diretrizes dos coacutedigos internacionais jaacute apontados neste trabalho

ressaltou que as edificaccedilotildees e instalaccedilotildees deveriam atender agraves condiccedilotildees miacutenimas de

seguranccedila conforto ambiental higiene salubridade harmonia esteacutetica e acessibilidade

criaccedilatildeo da Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade ndash 16 de junho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwufopedubrindexphpoption=com_contentamptask=viewampid=600ampItemid=50gt Acesso em 06 jun

2015 ldquoO grupo de trabalho da Agenda 21 Local de Ouro Preto a Associaccedilatildeo Comercial de Ouro Preto e a

Cacircmara da Mulher Empreendedora de Ouro Preto convidam para uma palestra com o seguinte tema lsquoAgenda 21

de Ouro Preto -Desafios e Possibilidades da Participaccedilatildeo do Comeacutercio na Sustentabilidade Localrsquordquo Notiacutecia sobre

o Grupo de Trabalho da Agenda Ouro Preto ndash 10 de julho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwfundacaoaprenderorgbr189gt Acesso em 06 jun 2015

12 Portaria Nordm 0292 ndash 04 de fevereiro de 1992 Disponiacutevel em

lthttpwwwsistemasiglaorgarquivossisnormNJ_img(2562)pdfgt Acesso em 06 jun 2015

13 ldquo[] Gabriel sugeriu que seja incluiacutedo esses criteacuterios no coacutedigo de obrasrdquo Ata da 58ordf Reuniatildeo extraordinaacuteria

do Conselho Municipal de Poliacutetica Urbana ndash COMPURB (extraiacutedo do Diaacuterio Oficial do Municiacutepio ldquoAno V ndash

Ouro Preto 1ordm de Abril de 2013 ndash Nordm766rdquo) Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrdiario-

oficial2076601-04-2013gt Acesso em 27 jun 2015

41

Contudo eacute importante destacar que os paracircmetros necessaacuterios para o atendimento do conforto

ambiental - como criteacuterios de adequaccedilatildeo agraves caracteriacutesticas do clima local diretrizes de

conforto teacutermico luminoso e acuacutestico ndash assim como as diretrizes de eficiecircncia energeacutetica natildeo

foram contemplados no texto diminuindo consideravelmente a possibilidade de sucesso do

instrumento quanto agrave transformaccedilatildeo do ambiente urbano

Sendo assim entendendo a importacircncia que o instrumento ldquocoacutedigo de obrasrdquo tem

na conformaccedilatildeo de espaccedilos urbanos mais confortaacuteveis e equilibrados e buscando contribuir

para o Municiacutepio na consolidaccedilatildeo de Leis atualizadas e transformadoras o capiacutetulo seguinte

trataraacute do desenvolvimento de algumas dessas diretrizes para que as construccedilotildees passem a

incorporar as premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica e passem a contribuir

positivamente para o clima urbano a para a qualidade ambiental

42

6 ENSAIO PARA UM COacuteDIGO DE OBRAS PRINCIPAIS ESTRATEacuteGIAS PARA

A PROMOCcedilAtildeO DA EFICIEcircNCIA ENERGEacuteTICA NO MUNICIacutePIO DE OURO

PRETO

61 O reconhecimento do clima e as recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais

O reconhecimento do clima eacute o primeiro passo a ser dado para o desenvolvimento

das diretrizes construtivas para um determinado local O clima ldquoeacute a condiccedilatildeo meacutedia do tempo

em uma dada regiatildeo baseada em mediccedilotildees em longos periacuteodos de tempo (30 anos ou mais)rdquo

(LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 71) A anaacutelise climaacutetica feita no Brasil utiliza

em geral os dados publicados pelo Instituto Nacional e pelo Departamento Nacional de

Meteorologia por meio das Normais Climatoloacutegicas Essa publicaccedilatildeo sistematiza dentre

outros dados os valores meacutedios e extremos mensais de temperatura umidade precipitaccedilatildeo

nebulosidade e horas de sol para um periacuteodo de 30 anos A utilizaccedilatildeo dessas variaacuteveis

climaacuteticas no desenvolvimento dos projetos arquitetocircnicos possibilita a construccedilatildeo de

edificaccedilotildees mais confortaacuteveis e mais eficientes quanto ao consumo de energia

O municiacutepio de Ouro Preto contou com uma estaccedilatildeo de mediccedilatildeo e monitoramento

climaacutetico no periacuteodo entre 1976 a 1990 Sendo assim por natildeo ter permanecido em vigecircncia

pelo periacuteodo miacutenimo de 30 anos os dados do municiacutepio natildeo foram contemplados na

publicaccedilatildeo das Normais Climatoloacutegicas e podem ser encontrados apenas no registro histoacuterico

do INMET a partir do BDMEP Os dados coletados nesse periacuteodo de 14 anos embora natildeo

tenham sido publicados satildeo fundamentais para analisar o comportamento das variaacuteveis

climaacuteticas no local de estudo conforme seraacute visto nas anaacutelises a seguir

Referenciada geograficamente pelas coordenadas14

Latitude Sul 20deg23rsquo28rdquo e

Longitude Oeste 43deg30rsquo20rdquo Ouro Preto possui altitude correspondente a 1150 metros sendo

que o ponto mais alto o Pico Itacolomi estaacute situado a 1772 metros de altura A latitude e a

altitude satildeo dois importantes fatores geograacuteficos do clima quanto maior a latitude menor eacute a

temperatura superficial e quanto maior a altitude menor seraacute a temperatura e a pressatildeo

atmosfeacuterica

14 Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrlocalizacaogt Acesso em 27 jun 2015

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Para entendermos o clima no municiacutepio e para traccedilarmos as diretrizes construtivas

que garantam o bom desempenho das edificaccedilotildees faz-se necessaacuterio primeiramente consultar

o Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro definido na parte 3 da NBR 15220

O Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro consiste na ldquodivisatildeo do territoacuterio brasileiro

em oito zonas relativamente homogecircneas quanto ao clima e para cada uma destas zonas

formulou-se um conjunto de recomendaccedilotildees teacutecnico-construtivas que otimizam o desempenho

teacutermico das edificaccedilotildees atraveacutes de sua melhor adequaccedilatildeo climaacuteticardquo (ABNT 2003) O

Zoneamento resulta da aplicaccedilatildeo da Carta Bioclimaacutetica sugerida por Givoni ldquoinserindo os

dados mensais de temperatura meacutedia e umidade relativa para cada mecircs do ano e para cada

uma das localidades agrupando entatildeo aquelas classificadas como um mesmo tipo climaacuteticordquo

(FERREIRA 2014 p432)

As diretrizes construtivas desenvolvidas na Norma tratam basicamente do

comportamento da envoltoacuteria da edificaccedilatildeo a partir da indicaccedilatildeo do tamanho das aberturas

para ventilaccedilatildeo da proteccedilatildeo das aberturas das vedaccedilotildees externas (paredes e cobertura) e das

estrateacutegias de condicionamento passivo

A NBR 15220-3 estaacute vigente desde 2005 e sua aplicaccedilatildeo estaacute direcionada para as

edificaccedilotildees de ateacute trecircs pavimentos destinadas agrave habitaccedilatildeo multifamiliar de interesse social

Contudo os preceitos nela indicados podem e devem servir como base para a adequaccedilatildeo

climaacutetica das demais edificaccedilotildees desde que a Norma natildeo seja aplicada de forma isolada isto

eacute devem ser estudados outros procedimentos e devem ser utilizadas novas ferramentas a fim

de cruzar os resultados e avanccedilar na elaboraccedilatildeo de paracircmetros construtivos cada vez mais

completos e dinacircmicos

Segundo a Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica obtida atraveacutes do programa ZBBR o

municiacutepio de Ouro Preto estaacute localizado na Zona Bioclimaacutetica 3

44

Fonte Programa ZBBR ndash Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica dos Municiacutepios Brasileiros

Em destaque o Municiacutepio de Ouro Preto ndash MG

Para as edificaccedilotildees inseridas nesta zona bioclimaacutetica a NBR 15220 traz as

seguintes orientaccedilotildees

- Quanto agraves aberturas tamanho meacutedio (15 a 25) e que possibilitem a entrada do sol

durante o inverno

- Quanto agraves vedaccedilotildees externas paredes externas leves15

e refletoras cobertura leve e

isolada

- Quanto ao condicionamento teacutermico passivo ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo

aquecimento solar durante o inverno e vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia

teacutermica

15 Quanto agrave caracterizaccedilatildeo das envoltoacuterias como ldquolevesrdquo podemos agregar para melhor entendimento a

explicaccedilatildeo de que tais envoltoacuterias devem ser de baixa ineacutercia teacutermica ou seja devem possibilitar que o ambiente

interno seja influenciado pela temperatura do ar exterior sem grande atraso Assim pode-se dizer que as

recomendaccedilotildees de envoltoacuterias leves ocorrem em ambientes onde se deseja que os ambientes internos agrave

edificaccedilatildeo sofram influecircncia direta da temperatura do exterior

45

A partir das orientaccedilotildees da Norma percebe-se que a classificaccedilatildeo das zonas

bioclimaacuteticas embora tenha uma importante contribuiccedilatildeo esta natildeo pode ser utilizada

isoladamente por natildeo agregar importantes elementos agrave caracterizaccedilatildeo do clima local como jaacute

foi dito anteriormente Sendo assim outros dados de Ouro Preto devem ser observados para

aprofundarmos um pouco mais nas recomendaccedilotildees construtivas

Dentro do espectro das variaacuteveis climaacuteticas que caracterizam uma regiatildeo merece

destaque a temperatura e a umidade A temperatura ldquoeacute a variaacutevel climaacutetica mais conhecida e

de mais faacutecil mediccedilatildeo A variaccedilatildeo da temperatura na superfiacutecie da Terra resulta basicamente

dos fluxos das grandes massas de ar e da diferente recepccedilatildeo da radiaccedilatildeo do sol de local para

localrdquo (LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 77) A temperatura varia principalmente

em funccedilatildeo da velocidade do ar mas tambeacutem eacute influenciada em maior ou menor grau pelo

tipo de solo e de vegetaccedilatildeo pela topografia e pela altitude A temperatura meacutedia anual de

Ouro Preto eacute de 185deg conforme os dados sistematizados pelo INMET A temperatura

maacutexima verificada geralmente no mecircs de fevereiro corresponde a 252deg e a temperatura

miacutenima que ocorre no mecircs de julho corresponde a 112deg Quanto agrave umidade do ar esta

resulta da evaporaccedilatildeo das aacuteguas e da evapotranspiraccedilatildeo dos vegetais e pode ser definida em

absoluta e relativa ldquoComo definiccedilatildeo de umidade absoluta tem-se que eacute o peso do vapor de

aacutegua contido em uma unidade de volume de ar (gm3) e a umidade relativa eacute a relaccedilatildeo da

umidade absoluta com a capacidade maacutexima do ar de reter vapor drsquoaacutegua agravequela temperaturardquo

(FROTA 1995 p62) A umidade do ar tem relaccedilatildeo inversa com a temperatura portanto

quanto menor a temperatura maior a possibilidade de saturaccedilatildeo do ar pela ampliaccedilatildeo da

umidade ao limite de 100 A pluviosidade tambeacutem deve ser observada pois tem relaccedilatildeo

direta com a umidade do ar sendo que a chuva proveacutem em grande parte de massas de ar

uacutemido em ascensatildeo Os dados do INMET apontam que a meacutedia anual da pluviosidade em

Ouro Preto eacute de 16703mm sendo junho o mecircs mais seco com 129mm e dezembro o mecircs

mais uacutemido com 3579mm

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Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641 (continuaccedilatildeo)

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

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48

A partir dos dados acima eacute possiacutevel verificar inicialmente que se trata de um

clima de baixas temperaturas muito uacutemido (umidade relativa praticamente sempre acima de

80) com alta nebulosidade (o que significa que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou

nublado) e com abundacircncia de chuvas principalmente no veratildeo

Tais caracteriacutesticas satildeo acentuadas pela influecircncia da barreira orograacutefica

provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta que conforma o

Morro Satildeo Sebastiatildeo Sendo assim grande parte da mancha urbana de Ouro Preto situada agrave

barlavento da barreira natural sofre influecircncia das chuvas que resultam do resfriamento e

condensaccedilatildeo do ar em ascensatildeo aprofundando ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade citadas anteriormente

Representaccedilatildeo da influecircncia dos ventos e da topografia na mancha urbana da cidade de Ouro

Preto - a formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem base da imagem de sateacutelite extraiacuteda do Google Maps

Exemplo da chuva a barlavento resultante da formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem Sistemas Tecnoloacutegicos em Conforto Ambiental ndash Eleonora Sad Assis

Parte da malha urbana de Ouro Preto

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Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem timblindimwordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem fotografandoondeopeixeparawordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

A partir das variaacuteveis climaacuteticas sistematizadas pelo INMET podemos avanccedilar na

utilizaccedilatildeo do Diagrama Bioclimaacutetico de Givoni (DBG) que orientou a definiccedilatildeo do

Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro assim como utilizar outro instrumento de anaacutelise as

Tabelas de Mahoney que tambeacutem auxiliam na definiccedilatildeo das diretrizes construtivas

O Diagrama de Givoni nos permite identificar quais recursos satildeo necessaacuterios para

que as edificaccedilotildees atendam agraves condiccedilotildees de conforto Este instrumento aponta quais preceitos

da arquitetura bioclimaacutetica devem ser priorizados tais como ventilaccedilatildeo ineacutercia teacutermica e

50

insolaccedilatildeo assim como aponta a necessidade de soluccedilotildees mecacircnicas para o atendimento ao

conforto teacutermico

Diagrama de Givoni relativo agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O Diagrama de Givoni referente agrave Ouro Preto assinala que na maior parte do

tempo as edificaccedilotildees necessitam de aquecimento passivo tendo em vista o quadro recorrente

de baixas temperaturas e de alta umidade relativa Algumas estrateacutegias de aquecimento

passivo podem ser adaptadas agrave realidade local para melhor aproveitamento Quanto agrave cidade

de Ouro Preto deve-se pensar o ganho teacutermico principalmente durante o inverno Nessa

estaccedilatildeo embora se tenha uma queda significativa das temperaturas tem-se cerca de 6 horas

de insolaccedilatildeo diaacuteria quase duas horas a mais do que nas outras estaccedilotildees O aproveitamento

dessa radiaccedilatildeo solar deve servir para manter o ambiente aquecido durante a noite sendo

assim a utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior insolaccedilatildeo deve

possibilitar a maacutexima entrada de calor durante o dia Quanto aos materiais internos estes

devem possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser

devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente

Voltando ao Diagrama de Givoni se compararmos o resultado da cidade de Ouro

Preto com a cidade de Belo Horizonte que estaacute na mesma zona bioclimaacutetica e estaacute a 858

51

metros de altitude perceberemos o quanto eacute importante cruzar os dados de diferentes

instrumentos de anaacutelise para acertar nas diretrizes de projeto Os dados de Belo Horizonte

resultam numa linha meacutedia predominantemente inserida na zona de conforto chegando a

alcanccedilar a zona de influecircncia da ventilaccedilatildeo em algumas horas dos meses de janeiro fevereiro

e marccedilo

Diagrama de Givoni relativo agrave Belo Horizonte

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O outro meacutetodo importante de anaacutelise voltado especificamente para as

recomendaccedilotildees de projeto arquitetocircnico consiste na sistematizaccedilatildeo das recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas atraveacutes das ldquoTabelas de Mahoneyrdquo Tal meacutetodo deve ser utilizado

simultaneamente ao Diagrama de Givoni a fim de se comparar os resultados e ajustar as

diretrizes construtivas Dentre as orientaccedilotildees da Tabela de Mahoney para Ouro Preto merece

destaque a utilizaccedilatildeo de grandes aberturas (para garantir ventilaccedilatildeo abundante e permanente)

e de envoltoacuterias leves Contudo diretrizes como reduccedilatildeo da exposiccedilatildeo ao sol e proteccedilatildeo da

insolaccedilatildeo direta natildeo favorecem o aquecimento passivo conforme a necessidade observada a

partir do Diagrama de Givoni e portanto devem ser relativizadas Seguem abaixo as

recomendaccedilotildees das Tabelas de Mahoney para Ouro Preto

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Tabela de Mahoney relativa agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

Sendo assim a partir do conhecimento das variaacuteveis climaacuteticas e dos resultados

apresentados eacute possiacutevel formular a seguinte tabela resumo quanto agraves recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas iniciais para Ouro Preto

14 Tabela de Recomendaccedilotildees Arquitetocircnicas

Total de Indicadores

Uacutemido Aacuterido

H1 H2 H3 A1 A2 A3

1 11 4 0 0 0

1 PLANTA DE SITUACcedilAtildeO

0 -10 X Construccedilotildees orientadas segundo eixo longitudinal leste-oeste

11 ou 5 -12 a fim de diminuir a exposiccedilatildeo ao sol

12 0 - 4 Plantas compactas com paacutetios internos

2 ESPACcedilAMENTO ENTRE CONSTRUCcedilOtildeES

11 ou Grandes espaccedilamentos para favorecer a penetraccedilatildeo do vento

12

2 -10 Como acima mas com proteccedilatildeo contra vento quente ou frio

0 ou 1 X Distribuiccedilatildeo compacta

3 CIRCULACcedilAtildeO DE AR

3 - 12 X Construccedilotildees com orientaccedilatildeo simples aberturas que permitam

1 ou 0 - 5 circulaccedilatildeo de ar permanente

2 6 - 12 Construccedilotildees com orientaccedilatildeo dupla circulaccedilatildeo de ar cruzada

0 2 -12 aberturas de ar controlaacuteveis

0 ou 1 Basta renovaccedilatildeo higiecircnica do ar

4 DIMENSOtildeES DAS ABERTURAS

0 ou 0 X Grandes 40 a 80 das fachadas norte e sul

1 1 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

2 - 5

6 - 10 Intermediaacuterias 20 a 35 da superfiacutecie das paredes

11 ou 0 - 3 Pequenas 15 a 25 da superfiacutecie das paredes

12 4 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

5 POSICcedilAtildeO DAS ABERTURAS

3 - 12 X Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do

1 ou 0 - 5 lado exposto ao vento

2 6 - 12 Como acima mas tambeacutem aberturas nas paredes internas

0 2 - 12

6 PROTECcedilAtildeO DAS ABERTURAS

0 - 2 X Proteger da insolaccedilatildeo direta

2 - 12 X Proteger da chuva

7 PAREDES E PISOS

0 - 2 X Construccedilotildees leves baixa ineacutercia teacutermica

3 - 12 Construccedilotildees maciccedilas tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

8 COBERTURA

10 a 0 - 2 Leve (pouca ineacutecia) superfiacutecie refletora uso de cacircmara de ar

12 3 - 12 X Leve e bem isolada

0 a 0 - 5

9 6 - 12 Maciccedila tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

9 ESPACcedilOS EXTERIORES

1 - 12 Espaccedilo para dormir ao ar livre

1 - 12 X Adequada drenagem para a chuva

3 - 12 X Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

53

Tabela resumo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas

Diagrama de Givoni

Tabelas de Mahoney

NBR 15220 ndash Parte 03

Tamanho e caracteriacutesticas das aberturas

Esquadrias devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia do calor no ambiente

Aberturas que permitam a circulaccedilatildeo de ar permanente

Tamanho meacutedio

Grandes ndash de 40 a 80 das fachadas norte e sul

Possibilitar a entrada do sol durante o inverno

Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do lado exposto ao vento

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees externas

Leves Leves e refletoras

Baixa ineacutercia teacutermica

Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees internas

Possibilitar o armazenamento do calor absorvido

Vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia teacutermica

Caracteriacutesticas da cobertura

Leve e bem isolada Leve e isolada

Condicionamento teacutermico passivo

Ganho teacutermico principalmente durante o inverno

Aberturas protegidas da insolaccedilatildeo direta e protegidas da chuva

Ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo aquecimento solar durante o inverno e

Somando-se os diversos meacutetodos de anaacutelise climaacutetica tecircm maior relevacircncia a

seguintes diretrizes

- ventilaccedilatildeo abundante principalmente durante o veratildeo a fim de reduzir a temperatura no

interior da edificaccedilatildeo e os efeitos da umidade que aumenta ainda mais em funccedilatildeo das chuvas

tiacutepicas desse periacuteodo A ventilaccedilatildeo cruzada deve ser fomentada e deve ser observado o sentido

54

predominante do vento que na cidade em questatildeo eacute sudeste a fim de se alcanccedilar melhores

resultados no conforto da edificaccedilatildeo

- aquecimento passivo para os meses de inverno a fim de diminuir o desconforto

causado pelas baixas temperaturas

- paredes leves (com baixa ineacutercia teacutermica ou seja conseguem ganhar ou perder calor

rapidamente a partir da interferecircncia e da temperatura do ar exterior) e protegidas da umidade

proveniente das chuvas fortes

- coberturas leves e bem isoladas (capazes de reter o calor absorvido durante o dia)

- as edificaccedilotildees devem estar protegidas das chuvas e devem contar com sistemas de

drenagem eficientes que possibilitem o raacutepido escoamento ou aproveitamento dessa aacutegua

62 O Coacutedigo de Obras e o conforto ambiental em Ouro Preto ndash estrateacutegias prioritaacuterias

A utilizaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental nos projetos e nas edificaccedilotildees

tem um impacto social positivo baseado em pelo menos trecircs fatores importantes melhoria das

condiccedilotildees de habitabilidade da edificaccedilatildeo e portanto melhor qualidade de vida para o

usuaacuterio melhoria nas condiccedilotildees climaacuteticas do meio externo ampliando o bem estar coletivo

reduccedilatildeo no consumo de energia e utilizaccedilatildeo eficiente do sistema de abastecimento a partir da

correta utilizaccedilatildeo dos sistemas ativos (iluminaccedilatildeo artificial condicionamento e aquecimento

de ar)

Para garantir a aplicaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental o Coacutedigo de Obras

e Edificaccedilotildees do municiacutepio deve incorporar dois importantes artigos que seratildeo detalhados

abaixo conforme o texto sugerido pelo Guia Teacutecnico ldquoElaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de

obras e edificaccedilotildeesrdquo da ELETROBRAacuteS (BAHIA GUEDES 2012)

O primeiro artigo de destaque deve ser inserido no capiacutetulo que trata das

DISPOSICcedilOtildeES PRELIMINARES e deve enumerar as diretrizes gerais para os projetos e

construccedilotildees buscando elencar tanto as demandas contemporacircneas expressas nas novas

legislaccedilotildees como os anseios para um espaccedilo urbano equilibrado e sustentaacutevel Nesse

contexto a substituiccedilatildeo da expressatildeo ldquopadrotildees miacutenimosrdquo que podem ser exemplificados pelas

diretrizes generalistas frequentemente encontradas nas legislaccedilotildees como a previsatildeo de 16 e

18 de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo para todas as localidades por ldquopadrotildees eficientesrdquo

estabelecidos atraveacutes de estudos teacutecnicos que agreguem a complexidade do clima local e que

permitam ampliar as condiccedilotildees de sustentabilidade das edificaccedilotildees ao tratar da otimizaccedilatildeo de

resultados quanto ao atendimento do conforto teacutermico visual e acuacutestico com baixo consumo

55

de energia A configuraccedilatildeo do texto deve se aproximar ao maacuteximo da proposta apresentada

pelo Guia Teacutecnico paacutegina 62

As obras instalaccedilotildees e edificaccedilotildees sejam puacuteblicas sejam privadas deveratildeo atender

agraves seguintes diretrizes gerais de forma a assegurar padrotildees eficientes de seguranccedila e

solidez salubridade e sauacutede conforto ambiental e desempenho energeacutetico

acessibilidade e livre tracircnsito de pessoas prevenccedilatildeo e uso sustentaacutevel dos recursos

naturais em cada caso e sempre que couber I - Subordinaccedilatildeo do interesse particular

ao interesse coletivo II - Promoccedilatildeo do direito agrave cidade sustentaacutevel e da funccedilatildeo

social da propriedade III - Utilizaccedilatildeo das normas teacutecnicas brasileiras e

regulamentaccedilotildees aplicaacuteveis para orientaccedilatildeo do desenvolvimento de projetos e

execuccedilatildeo de obras IV - Desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas sempre que

necessaacuterio com base nas praacuteticas locais beneacuteficas e na produccedilatildeo cientiacutefica tendo em

vista a manutenccedilatildeo da qualidade do local onde se daacute a intervenccedilatildeo e a correlaccedilatildeo

com valores culturais da populaccedilatildeo V - Garantia das condiccedilotildees de acessibilidade

circulaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo pela populaccedilatildeo em geral das edificaccedilotildees e do espaccedilo e

mobiliaacuterio urbano de uso puacuteblico e coletivo com adoccedilatildeo de soluccedilotildees especiacuteficas

para as pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida conforme previsto nas

normas teacutecnicas e na legislaccedilatildeo aplicaacutevel VI - Adoccedilatildeo de paracircmetros climaacuteticos

para o desenvolvimento de projetos de arquitetura de parcelamentos do solo e de

desenho urbano tendo em vista a correta orientaccedilatildeo solar da edificaccedilatildeo e demais

elementos as melhores condiccedilotildees de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo e pela escolha de

materiais construtivos e soluccedilotildees urbaniacutesticas adequadas em funccedilatildeo das

condicionantes ambientais locais de temperatura pluviosidade dominacircncia de

ventos ruiacutedo e paisagem natural aleacutem dos aspectos culturais que interagem com

essas condiccedilotildees VII - Utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis materiais de

construccedilatildeo certificados e ajudas teacutecnicas disponiacuteveis em complemento agrave promoccedilatildeo

do conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade das edificaccedilotildees e do

meio urbano VIII - Implantaccedilatildeo do objeto arquitetocircnico no lote bem como do

mobiliaacuterio urbano e demais artefatos nos logradouros puacuteblicos garantidas a

acessibilidade a qualidade esteacutetica e tecnoloacutegica de forma a potencializar os

atributos da paisagem urbana e evitar a poluiccedilatildeo visual IX - Adoccedilatildeo preferencial de

espeacutecies nativas na arborizaccedilatildeo puacuteblica demais projetos paisagiacutesticos e no

ajardinamento de lotes particulares X - Simplificaccedilatildeo dos procedimentos

administrativos pelo Poder Puacuteblico e promoccedilatildeo da assistecircncia para habitaccedilatildeo de

interesse social pelos agentes promotores tendo em vista facilitar a regularidade e a

correta execuccedilatildeo de projetos e obras inclusive apoiando as iniciativas de

autoconstruccedilatildeo da clientela de baixa renda (BAHIA GUEDES 2012)

O segundo artigo de grande relevacircncia deve ser inserido no capiacutetulo ldquoDAS

CONDICcedilOtildeES RELATIVAS AgraveS EDIFICACcedilOtildeESrdquo Neste capiacutetulo devem ser tratados os

paracircmetros teacutecnicos e geomeacutetricos capazes de materializar o conforto ambiental dos projetos e

edificaccedilotildees a partir do contexto climaacutetico da cidade As diretrizes apontadas devem buscar o

equiliacutebrio entre as condicionantes internas (relaccedilatildeo do usuaacuterio com a edificaccedilatildeo) e externas

(relaccedilatildeo da edificaccedilatildeo com o entorno) Quanto aos paracircmetros teacutecnicos esses devem ser

baseados nas recomendaccedilotildees do Programa Nacional de Conservaccedilatildeo de Energia Eleacutetrica ndash

PROCEL e devem se aproximar dos padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees

residenciais que satildeo atualmente estabelecidos pelo INMETRO a partir do RTQ-R ndash

Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais O texto do artigo deve seguir a sugestatildeo do Guia Teacutecnico paacutegina 107

56

Os projetos de construccedilatildeo ou reforma aleacutem de atenderem aos paracircmetros de

habitabilidade estabelecidos neste Coacutedigo devem ser orientados para a promoccedilatildeo da

sustentabilidade e eficiecircncia energeacutetica da edificaccedilatildeo com o objetivo de reduzir as

emissotildees de gases de efeito estufa (GEE) e os impactos ambientais gerados pela

construccedilatildeo e pela sua utilizaccedilatildeo ao longo do tempo racionalizando o uso da energia

da aacutegua e dos materiais nela empregados a partir das seguintes diretrizes I -

Racionalidade do projeto e do planejamento do processo de execuccedilatildeo das obras II -

Gestatildeo sustentaacutevel da obras e das praacuteticas de construccedilatildeo de forma a evitar o

desperdiacutecio de materiais III - Uso de materiais de construccedilatildeo e acabamentos

sustentaacuteveis considerando a adoccedilatildeo de materiais originaacuterios da regiatildeo produzidos

de forma sustentaacutevel e legalizada de materiais reaproveitados ou de demoliccedilatildeo e de

materiais certificados ou de comprovada responsabilidade ambiental do fabricante

IV - Ativaccedilatildeo do uso de edificaccedilotildees de valor cultural histoacuterico ou arquitetocircnico

maximizando as condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do bem imoacutevel na interaccedilatildeo com as

premissas de conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade V -

Aplicaccedilatildeo das estrateacutegias para projetos de acordo com o Zoneamento Bioclimaacutetico

brasileiro conforme NBR 15220-3 para concepccedilatildeo arquitetocircnica implantaccedilatildeo no

lote orientaccedilatildeo solar dos ambientes localizaccedilatildeo de aberturas e especificaccedilatildeo de

materiais de construccedilatildeo em prol do desempenho teacutermico da edificaccedilatildeo VI -

Aproveitamento das caracteriacutesticas climaacuteticas locais para a promoccedilatildeo do conforto

ambiental da edificaccedilatildeo a partir da consideraccedilatildeo dos seguintes fatores principais a)

Qualidade do ar b) Conforto higroteacutermico c) Conforto luminoso (ou lumiacutenico) d)

Conforto acuacutestico VII - Adoccedilatildeo de especificaccedilotildees de projeto com o objetivo de

potencializar as caracteriacutesticas climaacuteticas locais beneacuteficas eou remediar as de maior

rigor ao longo das diferentes estaccedilotildees do ano em benefiacutecio do desempenho teacutermico

e da ventilaccedilatildeo e iluminaccedilatildeo naturais da edificaccedilatildeo [] VIII - Planejamento

paisagiacutestico como elemento contribuinte para o conforto ambiental da edificaccedilatildeo

[] IX - Adoccedilatildeo de materiais construtivos que melhorem o desempenho teacutermico da

edificaccedilatildeo com base nas orientaccedilotildees e tabelas da NBR 15220-3 e especificaccedilatildeo de

equipamentos mecanismos e instalaccedilotildees que favoreccedilam a economia de energia

eleacutetrica e a reduccedilatildeo do consumo e aacutegua tratada [] (BAHIA GUEDES 2012)

Esses dois artigos apresentados embora configurem o ponto de partida natildeo satildeo

suficientes para a transformaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras em uma ferramenta concreta de

promoccedilatildeo do conforto ambiental da eficiecircncia energeacutetica e da sustentabilidade do meio

ambiente urbano Os desdobramentos desse texto devem resultar em paracircmetros teacutecnicos

como dimensionamentos diretrizes de desenho configuraccedilotildees espaciais miacutenimas dentre

inuacutemeros outros elementos de aplicaccedilatildeo obrigatoacuteria ou optativa Sendo assim o Coacutedigo de

Obras deve regulamentar por exemplo o dimensionamento de compartimentos a disposiccedilatildeo

e o dimensionamento de mobiliaacuterio fixo como louccedilas sanitaacuterias o peacute-direito as proporccedilotildees

das aberturas de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo assim como as taxas de renovaccedilatildeo do ar os niacuteveis de

ruiacutedo para o conforto acuacutestico as condiccedilotildees favoraacuteveis de transmitacircncia e a absortacircncia das

paredes e coberturas para o conforto teacutermico o dimensionamento e as condiccedilotildees das

circulaccedilotildees horizontais e verticais as instalaccedilotildees prediais dentre inuacutemeros outros itens Os

teacutecnicos devem se debruccedilar sobre tais requisitos teacutecnicos a fim de otimizar os resultados

quanto agrave construccedilatildeo da sustentabilidade no municiacutepio Deve-se utilizar as normas ABNT em

auxiacutelio agrave formulaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos a exemplo da NBR 10151 sobre Avaliaccedilatildeo do

57

Ruiacutedo em Aacutereas Habitadas NBR 5382 sobre Iluminacircncia de Interiores NBR 15215 sobre

Iluminaccedilatildeo Natural NBR 9284 sobre Equipamentos Urbanos dentre outras

Por fim deve-se prezar pela total interaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras com o conjunto

da legislaccedilatildeo urbaniacutestica local a fim de estabelecer uma relaccedilatildeo sequencial entre as etapas de e

concepccedilatildeo planejamento e construccedilatildeo das edificaccedilotildees passando das diretrizes gerais agraves

exigecircncias especiacuteficas O texto do coacutedigo de obras deve ser objetivo e didaacutetico sem incorrer

em simplificaccedilotildees O conteuacutedo deve ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e

teacutecnicos da aacuterea como pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees A dedicaccedilatildeo dos

teacutecnicos e profissionais na elaboraccedilatildeo das diretrizes transformadoras a busca pela

conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo sobre o conforto no ambiente urbano assim como a luta contra a

supremacia dos interesses privados sobre a coletividade satildeo itens importantes quanto agrave

concretizaccedilatildeo desse importante instrumento que foi apresentado e defendido ao longo do

presente trabalho

58

7 CONCLUSAtildeO

Diante das anaacutelises apresentadas ao longo deste trabalho principalmente quanto

ao ordenamento juriacutedico brasileiro para a regulaccedilatildeo urbana e o desenvolvimento sustentaacutevel

ficou comprovada a existecircncia de um conjunto significativo de legislaccedilotildees capazes de

embasar uma transformaccedilatildeo das cidades brasileiras em territoacuterios democraacuteticos igualitaacuterios e

sustentaacuteveis Poreacutem a previsatildeo legal eacute apenas o iniacutecio de um longo caminho ateacute a

transformaccedilatildeo concreta da realidade Para se avanccedilar nesse caminho uma mudanccedila poliacutetica eacute

imprescindiacutevel uma vez que as decisotildees sobre o espaccedilo urbano e sua regulamentaccedilatildeo

dependem necessariamente do interesse do gestor urbano materializado na figura dos

prefeitos e governantes das diversas esferas administrativas

Em relaccedilatildeo ao municiacutepio de Ouro Preto foi identificado que embora haja um

conjunto significativo de diretrizes urbaniacutesticas contidas no Plano Diretor e na Lei de Uso e

Ocupaccedilatildeo do Solo estas ainda satildeo insuficientes para subsidiar um desenvolvimento local

pautado na responsabilidade ambiental e na qualidade do meio ambiente urbano Isso se deve

principalmente ao fato de natildeo haver um coacutedigo de obras e edificaccedilotildees e tambeacutem ao fato de

que as iniciativas de proteccedilatildeo ambiental tal como a Agenda 21 Local natildeo foram colocadas

em praacutetica Neste sentido em relaccedilatildeo ao processo legislativo conclui-se que haacute uma

defasagem na aplicaccedilatildeo dos instrumentos de planejamento municipal previstos no Estatuto da

Cidade principalmente o Plano Diretor Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo Agenda 21 Local e Coacutedigo

de Obras e Edificaccedilotildees Aleacutem disso faltam elementos de combate agrave especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e

instrumentos de regulaccedilatildeo do solo urbano como o IPTU progressivo regularizaccedilatildeo onerosa a

assistecircncia teacutecnica gratuita dentre outros instrumentos tributaacuterios e financeiros juriacutedicos e

poliacuteticos que infelizmente ainda natildeo satildeo aplicados no municiacutepio Nesse contexto os outros

instrumentos de planejamento tais como o plano plurianual orccedilamento participativo

programas setoriais e planos de desenvolvimento econocircmico e social embora natildeo configurem

instrumentos urbaniacutesticos se colocam como ferramentas aliadas da gestatildeo democraacutetica da

cidade e da reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais visto que o processo de mudanccedila eacute

essencialmente poliacutetico Nesse sentido eacute extremamente importante que esses instrumentos

sejam pautados na real participaccedilatildeo popular na inclusatildeo e na justiccedila social

Quanto agrave sustentabilidade no ambiente urbano identificou-se que a preservaccedilatildeo e

proteccedilatildeo patrimonial pautadas no conforto do usuaacuterio a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados

a melhoria da infraestrutura urbana a concretizaccedilatildeo de projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria

59

assim como a construccedilatildeo de habitaccedilatildeo social de qualidade satildeo questotildees fundamentais para a

transformaccedilatildeo das cidades em territoacuterios democraacuteticos e sustentaacuteveis Essas demandas estatildeo

diretamente ligadas agrave mudanccedila no paradigma do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

pois uma vez colocadas em praacutetica alteram significativamente a configuraccedilatildeo das cidades

influenciando no clima urbano e na qualidade ambiental

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de uma base de dados climaacuteticos relativos ao municiacutepio

a partir das Normais Climatoloacutegicas obtidas no periacuteodo entre 1976 e 1990 foi possiacutevel

caracterizar o clima de Ouro Preto como um clima de baixas temperaturas muito uacutemido

(umidade relativa praticamente sempre acima de 80) com alta nebulosidade (o que significa

que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou nublado) e com abundacircncia de chuvas

principalmente no veratildeo Foi tambeacutem identificada uma grande interferecircncia do efeito da

barreira orograacutefica provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta

que conforma o Morro Satildeo Sebastiatildeo o que aprofunda ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade

Para a elaboraccedilatildeo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais foram utilizados os

resultados do diagrama de Givoni das Tabelas de Mahoney e da NBR 15220 Assim para a

cidade de Ouro Preto concluiu-se que a arquitetura deve priorizar o ganho teacutermico

principalmente durante o inverno pois nessa estaccedilatildeo tem-se uma queda significativa das

temperaturas o que afeta consideravelmente o conforto do usuaacuterio Esse ganho teacutermico deve

ser pensado a partir da utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior

insolaccedilatildeo o que possibilita um melhor aproveitamento dessa radiaccedilatildeo solar que deve servir

para manter o ambiente aquecido durante a noite Quanto aos materiais internos estes devem

possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser devidamente

isoladas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente Em relaccedilatildeo ao veratildeo foi

identificada a necessidade de ventilaccedilatildeo cruzada para reduzir os efeitos das temperaturas

elevadas e da alta umidade aleacutem de envoltoacuterias bem protegidas das chuvas

Por fim quanto agrave elaboraccedilatildeo do coacutedigo de obras foi possiacutevel apontar a

necessidade de se estabelecer as diretrizes para os projetos e construccedilotildees a partir dos

paracircmetros das normas teacutecnicas brasileiras do desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas com

base nas praacuteticas locais da garantia da acessibilidade das edificaccedilotildees agrave populaccedilatildeo em geral

da consideraccedilatildeo dos paracircmetros climaacuteticos e da utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis Foi

abordada a necessidade de aproximaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos do coacutedigo de obras aos

padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees residenciais previstos no RTQ-R

60

(Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais INMETRO) aleacutem da necessidade de se construir um texto objetivo e didaacutetico

que possa ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e teacutecnicos da aacuterea quanto

pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees

61

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 15220 Desempenho

teacutermico de edificaccedilotildees Rio de Janeiro ABNT 2005

BAHIA S R GUEDES P de A Elaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de obras e

edificaccedilotildees 2ordfed Rio de janeiro IBAMDUMA ELETROBRAS PROCEL 2012

BARANDIER H ALMEIDA M C T MORAIS R Planejamento e Controle Ambiental

Urbano e a Eficiecircncia Energeacutetica Rio de Janeiro IBAMDUMA ELETROBRASPROCEL

2013

BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988

BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002

BRASIL Lei nordm 10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do Desenvolvimento

Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Pesquisa nacional para identificar os resultados de

implementaccedilatildeo de processos de agendas 21 locais Brasiacutelia 2009

CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS Tiacutetulo 24 Parte 8 California Historical

Building Code 1ordm Ed Washington 2007

CSABA D SUELI R S (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo Editora da

Universidade de Satildeo Paulo 1999

FERREIRA C SOUZA H A de ASSIS E S de Estudo do clima brasileiro reflexotildees e

recomendaccedilotildees sobre a adequaccedilatildeo climaacutetica de habitaccedilotildees In XV Encontro Nacional de

Tecnologia do Ambiente Construiacutedo Maceioacute 2014

FROTA A B SCHIFFER S R Manual de Conforto Teacutermico Satildeo Paulo Nobel 1995

IBGE Perfil dos municiacutepios brasileiros 2013 Brasiacutelia 2014

LAMBERTS R DUTRA L PEREIRA FO R Eficiecircncia Energeacutetica na Arquitetura 3ordfed

ELETROBRASPROCEL 2014

MENICONI R O A Construccedilatildeo de uma Cidade-Monumento o caso de Ouro Preto Belo

Horizonte Escola de Arquitetura e Urbanismo UFMG 1999 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OLIVEIRA L B Agenda 21 Local consolidando as bases para o desenvolvimento

sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escala UFOP 2010

62

OLIVEIRA M A Os valores culturais da paisagem urbana em Ouro Preto Um Estudo de

Caso das Aacutereas Verdes na Ladeira Santa Efigecircnia e Entorno Proacuteximo Salvador Mestrado em

Arquitetura e Urbanismo da UFBA 1997

OLIVEIRA M R S Gestatildeo Patrimonial em Ouro Preto Alcances e Limites das Poliacuteticas

Puacuteblicas Preservacionistas Campinas Poacutes ndash Graduaccedilatildeo em Geografia Anaacutelise Ambiental e

Dinacircmica Territorial da UNICAMP 2005 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OURO PRETO Lei complementar nordm 011996 Institui o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro

Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 022005 Estabelece a Estrutura Baacutesica e a

organizaccedilatildeo administrativa da Prefeitura Municipal de Ouro Preto e da outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 152006 Altera a Lei Complementar ndeg 021005

modifica a denominaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Turismo Induacutestria e Comeacutercio e da

Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio suas respectivas competecircncias e daacute outras

providecircncias de 27 de Abril de 2006

OURO PRETO Lei Complementar nordm 302006 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 28 de

Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei complementar nordm 912010 Altera a Lei Complementar nordm292006 que

estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 932011 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 20 de

Janeiro de 2011

OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996

OURO PRETO Lei complementar nordm292006 Estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de

Ouro Preto de 28 de Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei nordm 333 Dispotildee sobre o Programa da Agenda 21 Local de 11 de maio de

2007

OURO PRETO Lei nordm 5790 Dispotildee sobre as diretrizes baacutesicas do Plano Diretor do

Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Portaria 0292 Nomeia Comissatildeo Especial

OURO PRETO Portaria 1707 Nomeia Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos

Naturais e Agenda 21 Local

Page 12: POLYANA PEREIRA COELHO · 2019. 11. 14. · POLYANA PEREIRA COELHO A SUSTENTABILIDADE DO AMBIENTE URBANO E OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO MUNICIPAL: RECOMENDAÇÕES PARA UM CÓDIGO DE

11

Estatuto da Cidade Capiacutetulo 1 ndash Diretrizes Gerais Art 2ordm A poliacutetica urbana tem por

objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e da

propriedade urbana mediante as seguintes diretrizes gerais I ndash garantia do direito a

cidades sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao

saneamento ambiental agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos

puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para as presentes e futuras geraccedilotildees [] Art 3ordm

Compete agrave Uniatildeo entre outras atribuiccedilotildees de interesse da poliacutetica urbana IV -

instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano inclusive habitaccedilatildeo saneamento

baacutesico transportes urbanos e infraestrutura de energia e telecomunicaccedilotildees

(BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

O texto da Agenda 21 mais especificamente o Preacircmbulo enfatiza que o sucesso

na aplicaccedilatildeo desse plano de accedilatildeo depende primeiramente do comprometimento dos governos

com a preparaccedilatildeo de estrateacutegias planos poliacuteticas e processos nacionais para a concretizaccedilatildeo

dos objetivos estabelecidos

A Agenda 21 Brasileira foi desenvolvida no periacuteodo de 1996 a 2002 e teve como

eixo a sustentabilidade a partir da compatibilizaccedilatildeo entre conservaccedilatildeo ambiental justiccedila

social e crescimento econocircmico

Ao aprofundar-se na elaboraccedilatildeo de diretrizes para problemas de ordem estrutural

a Agenda 21 Brasileira foi elevada a programa dentro do Plano Plurianual de Governo (entre

2004 e 2007)1 o que daria maior forccedila poliacutetica e institucional agrave Agenda Sendo assim a partir

de soluccedilotildees integradas planejadas a meacutedio e longo prazos e a partir da associaccedilatildeo entre

governo e sociedade seria possiacutevel tratar de questotildees como ldquoeconomia da poupanccedila na

sociedade do conhecimento inclusatildeo social para uma sociedade solidaacuteria estrateacutegia para a

sustentabilidade urbana e rural recursos naturais estrateacutegicos governanccedila e eacutetica para a

promoccedilatildeo da sustentabilidaderdquo (AGENDA 21 BRASILEIRA 2004 p04) O Programa foi

estruturado em trecircs accedilotildees implementar a Agenda 21 Brasileira promover a elaboraccedilatildeo e

implementaccedilatildeo de Agendas 21 Locais e formaccedilatildeo continuada em Agenda 21

Vale destacar a importacircncia da Agenda 21 Local enquanto instrumento

complementar aos instrumentos da poliacutetica municipal de desenvolvimento urbano

A Agenda 21 Local eacute um dos principais instrumentos para se conduzir processos de

mobilizaccedilatildeo troca de informaccedilotildees geraccedilatildeo de consensos em torno dos problemas e

1 Importante destacar que ldquoO Plano Plurianual (PPA) eacute um instrumento previsto no art 165 da Constituiccedilatildeo

Federal destinado a organizar e viabilizar a accedilatildeo puacuteblica com vistas a cumprir os fundamentos e os objetivos da

Repuacuteblica Por meio dele eacute declarado o conjunto das poliacuteticas puacuteblicas do governo para um periacuteodo de quatro

anos e os caminhos trilhados para viabilizar as metas previstas construindo um Brasil melhorrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwmpgovbrministerioaspindex=10ampler=s1086gt Acesso em 06 jun 2015 O Plano Plurianual

referente ao periacuteodo 2004 ndash 2007 foi regulamentado pela Lei Nordm 10933 de 2004 sancionada pelo entatildeo

Presidente Luiacutez Inaacutecio Lula da Silva

12

soluccedilotildees locais e estabelecimento de prioridades para a gestatildeo de desde um estado

municiacutepio bacia hidrograacutefica unidade de conservaccedilatildeo ateacute um bairro uma escola O

processo deve ser articulado com outros projetos programas e atividades do governo

e sociedade sendo consolidado dentre outros a partir do envolvimento dos agentes

regionais e locais anaacutelise identificaccedilatildeo e promoccedilatildeo de instrumentos financeiros

difusatildeo e intercacircmbio de experiecircncias definiccedilatildeo de indicadores de desempenho

(AGENDA 21 Brasileira accedilotildees prioritaacuteriasComissatildeo de Poliacuteticas de

Desenvolvimento Sustentaacutevel e da Agenda 21 Nacional 2 ed Brasiacutelia Ministeacuterio

do Meio Ambiente 2004)

Desde entatildeo o esforccedilo em fomentar a construccedilatildeo das Agendas 21 Locais gerou

um resultado positivo embora muito aqueacutem do necessaacuterio para uma mudanccedila substancial nas

poliacuteticas em prol do desenvolvimento sustentaacutevel Em 2013 apenas 215 dos municiacutepios

brasileiros possuiacuteam processos em andamento relativos agrave Agenda 21 conforme foi

identificado pela IBGE a partir da Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros (MUNIC

2013) 2 Tal percentual apesar da pouca expressividade demarca um processo positivo de

mudanccedila tendo em vista que nos dados dos anos anteriores observava-se percentuais ainda

menores aleacutem de um processo de decliacutenio em 2009 a pesquisa indicou que 199 dos

municiacutepios haviam iniciado a elaboraccedilatildeo da agenda 21 enquanto em 2012 o percentual

baixou para 181

Nota-se ante ao exposto ateacute aqui que existe um arcabouccedilo legal significativo em

prol do desenvolvimento urbano sustentaacutevel Contudo a aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo existente e a

obtenccedilatildeo de resultados positivos estatildeo longe de se tornar uma realidade no Brasil Sendo

assim faz-se necessaacuterio reforccedilar a cada dia os compromissos estabelecidos nas Leis

Brasileiras e trabalhar na efetivaccedilatildeo dos instrumentos de promoccedilatildeo do equiliacutebrio ambiental a

partir da aplicaccedilatildeo das premissas da sustentabilidade Atingir o desenvolvimento urbano

sustentaacutevel natildeo eacute somente uma das opccedilotildees mas a uacutenica opccedilatildeo existente se quisermos que o

planeta tenha vida longa Preservar o meio ambiente deve ser uma accedilatildeo constante associada a

todas agraves demais poliacuteticas puacuteblicas Quanto agrave iniciativa privada esta deveraacute ser

permanentemente fiscalizada Regulamentar as atividades de exploraccedilatildeo da natureza e buscar

a inibiccedilatildeo severa de atividades de impacto ambiental satildeo tarefas urgentes que o Poder Puacuteblico

deve assimilar o quanto antes

2 Ressalta-se que ldquoA Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais ndash MUNIC eacute realizada desde o ano de 1999

pelo IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Na versatildeo de 2013 foram destacados os aspectos

relevantes da gestatildeo e da estrutura dos 5570 municiacutepios brasileiros a partir dos seguintes eixos perfil dos

gestores municipais recursos humanos das administraccedilotildees municipais legislaccedilatildeo e instrumentos de

planejamento sauacutede meio ambiente poliacutetica de gecircnero ndash temas jaacute investigados em anos anteriores ndash aleacutem de

gestatildeo de riscos e resposta a desastres este ineacutedito ateacute entatildeordquo Disponiacutevel em

lthttpwwwibgegovbrhomeestatisticaeconomiaperfilmunic2013defaultshtmgt Acesso em 06 jun 2015)

13

Somente com a permanente preocupaccedilatildeo do Estado para com o tema seraacute

possiacutevel consolidar o desenvolvimento urbano a partir da aplicaccedilatildeo das premissas da

sustentabilidade do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

14

3 O PLANO DIRETOR E OS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO

MUNICIPAL

Para introduzir a discussatildeo do Plano Diretor e demais instrumentos de

planejamento municipal previstos no Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio retomar o momento

da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 com destaque para o Art30 que determina as tarefas de

competecircncia dos Municiacutepios Dentre tais competecircncias destacam-se os incisos VIII e IX

diretamente relacionados ao planejamento urbano

Art 30 Compete aos Municiacutepios [] VIII - promover no que couber adequado

ordenamento territorial mediante planejamento e controle do uso do parcelamento e

da ocupaccedilatildeo do solo urbano IX - promover a proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-

cultural local observada a legislaccedilatildeo e a accedilatildeo fiscalizadora federal e estadual

(BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de

1988)

Aleacutem de delimitar as competecircncias municipais a Constituiccedilatildeo tambeacutem apontou

no Art182 do Capiacutetulo II o Plano Diretor - velho conhecido dos Teacutecnicos e Governantes -

como principal instrumento a ser utilizado pelos Municiacutepios no desenvolvimento da poliacutetica

urbana

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo Poder Puacuteblico

municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem por objetivo ordenar o

pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus

habitantes sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio para

cidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e de expansatildeo urbana sect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua

funccedilatildeo social quando atende agraves exigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade

expressas no plano diretor (BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do

Brasil de 5 de outubro de 1988)

Contudo tal instrumento natildeo representou uma novidade A expressatildeo Plano

Diretor foi utilizada pela primeira vez no Brasil em 1930 a partir do Plano Agache3

desenvolvido para o Rio de Janeiro Posteriormente foram desenvolvidos planos diretores em

todo o territoacuterio brasileiro planos estes que ficariam engavetados por falta de vontade

3 Nota-se que ldquoO Plano Agache foi a primeira proposta de intervenccedilatildeo urbaniacutestica na cidade do Rio de Janeiro

com preocupaccedilotildees genuinamente modernas Concluiacutedo em 1930 introduziu no cenaacuterio nacional algumas

questotildees tiacutepicas da cidade industrial tais como o planejamento do transporte de massas e do abastecimento de

aacuteguas a habitaccedilatildeo operaacuteria e o crescimento das favelas Aleacutem disso com discussotildees emergentes que iam desde a

necessidade de um zoneamento para a cidade ateacute a delimitaccedilatildeo de aacutereas verdes ultrapassou os limites do

Academicismo das intervenccedilotildees predecessoras de Pereira Passos e Paulo de Frontinrdquo Disponiacutevel em

lthttpplanourbanoriorjgovbrgt Acesso em 06 de jun 2015

15

poliacutetica A nomenclatura e o conteuacutedo dos planos diretores variaram com o passar dos anos

segundo Villaccedila

Por fim cabe abordar historicamente as jaacute mencionadas mudanccedilas na nomenclatura

nas formas nos conteuacutedos e nas metodologias dos planos Em primeiro lugar cai em

desuso a expressatildeo plano de melhoramentos e embelezamento e entra em cena a

expressatildeo urbanismo Depois esta cai em desuso sendo substituiacuteda por

planejamento urbano e plano diretor Em segundo lugar os conteuacutedos e

metodologias de elaboraccedilatildeo dos planos sofrem alteraccedilotildees radicais De enormes

volumes com centenas de paacuteginas recheados de mapas pesquisas e estatiacutesticas

elaborados por equipes multidisciplinares e abordando enorme leque de problemas

transformam-se em meros projetos de lei agraves vezes contendo apenas declaraccedilotildees de

princiacutepios poliacuteticas ou diretrizes gerais agraves vezes ateacute sem mapas ou com poucos

mapas Um simples projeto de lei publicado no Diaacuterio Oficial (CSABA Deaacutek

SUELI Ramos Schiffer (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo

Editora da Universidade de Satildeo Paulo 1999 p191)

A realidade eacute que os planos diretores desenvolvidos no Brasil entre as deacutecadas de

1940 e 1990 natildeo correspondiam ao pensamento dos governantes e das classes dominantes e

por isso natildeo contaram com intenccedilatildeo real de aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo Os objetivos apontados

natildeo seriam atingidos pois o Plano Diretor natildeo se tornara uma prioridade em nenhuma das

esferas administrativas do paiacutes

O ressurgimento do instrumento Plano Diretor em 1988 embora isento de grandes

novidades veio acompanhado da premissa da funccedilatildeo social da propriedade um aspecto

positivo e inovador da poliacutetica urbana poreacutem praticamente inviaacutevel de ser aplicado num

primeiro momento pelos obstaacuteculos constantes na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal Contudo

diante da pressatildeo dos movimentos sociais e populares que se fortaleceram durante o processo

de redemocratizaccedilatildeo tais planos foram se tornando mais politizados abordando aspectos

especiacuteficos da competecircncia municipal e tratando das polecircmicas voltadas para o territoacuterio

inclusive sobre a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria no espaccedilo urbano

Em 2001 a poliacutetica urbana foi regulamentada pela Lei 10257 - Estatuto da

Cidade ndash devidamente apresentada no capiacutetulo anterior Com uma abordagem democraacutetico-

participativa voltada para os interesses coletivos tal lei possibilitou uma mudanccedila expressiva

no planejamento urbano principalmente na esfera municipal

O Plano Diretor Participativo como seraacute chamado a partir de entatildeo se torna o

principal dentre outros sete instrumentos de planejamento municipal expressos no Art 4ordm

inciso III da Lei 10257

Art 4o Para os fins desta Lei seratildeo utilizados entre outros instrumentos [] III ndash

planejamento municipal em especial a) plano diretor b) disciplina do

parcelamento do uso e da ocupaccedilatildeo do solo c) zoneamento ambiental d) plano

plurianual e) diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual f) gestatildeo orccedilamentaacuteria

16

participativa g) planos programas e projetos setoriais h) planos de

desenvolvimento econocircmico e social (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade

de 10 de julho 2001)

O conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelos planos diretores foi estabelecido na

resoluccedilatildeo nordm34 de 01 de julho de 2005 pelo Conselho das Cidades A tal conselho

regulamentado pelo Decreto 5031 2004 competia emitir orientaccedilotildees e recomendaccedilotildees sobre

a aplicaccedilatildeo da Lei 10257 de 2001 (Estatuto da Cidade) e dos demais atos normativos

relacionados ao desenvolvimento urbano A inclusatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel das

cidades nas novas diretrizes da poliacutetica urbana teraacute no plano diretor a sua expressatildeo

fundamental Dentre o conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelo Plano Diretor Participativo

merece destaque o Art 2ordm inciso III aleacutem do Art 5ordm inciso VII do Estatuto da Cidade

Art 2deg As funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade urbana seratildeo definidas a partir

da destinaccedilatildeo de cada porccedilatildeo do territoacuterio do municiacutepio bem como da identificaccedilatildeo

dos imoacuteveis natildeo edificados subutilizados e natildeo utilizados no caso de sua existecircncia

de forma a garantir [] III - a universalizaccedilatildeo do acesso aacute aacutegua potaacutevel aos

serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio a coleta e disposiccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos e ao

manejo sustentaacutevel das aacuteguas pluviais de forma integrada aacutes poliacuteticas ambientais de

recursos hiacutedricos e de sauacutede [] Art 5deg A instituiccedilatildeo das Zonas Especiais

considerando o interesse local deveraacute [] VII - demarcar as aacutereas de proteccedilatildeo

preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e construiacutedo do patrimocircnio

cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico (BRASIL Lei nordm10257

Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

Ao estabelecer as diretrizes de ordenaccedilatildeo do solo o Plano Diretor estabelece que

a propriedade urbana deve servir agrave qualidade de vida dos cidadatildeos agrave justiccedila social e ao

desenvolvimento sustentaacutevel das atividades econocircmicas A referecircncia territorial que estrutura

as estrateacutegias definidas pelo Plano Diretor eacute o macrozoneamento Este subdivide o territoacuterio

municipal a partir da identificaccedilatildeo das potencialidades e das caracteriacutesticas de cada aacuterea Satildeo

algumas categorias utilizadas na definiccedilatildeo do macrozoneamento aacutereas aptas agrave urbanizaccedilatildeo

aacutereas propiacutecias ao desenvolvimento de atividades rurais aacutereas de preservaccedilatildeo e aacutereas de

exploraccedilatildeo econocircmica Aleacutem da definiccedilatildeo de intenccedilotildees para os vetores do territoacuterio

municipal o macrozoneamento define tambeacutem o periacutemetro urbano e as zonas de expansatildeo

urbana enquanto instrumentos de direcionamento da urbanizaccedilatildeo da gestatildeo ambiental e do

crescimento econocircmico A delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano deve ser feita a partir de planta

referenciada com clara indicaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e fiacutesicos limiacutetrofes e deve servir

para direcionar o adensamento populacional para as aacutereas providas de infraestrutura

garantindo a proteccedilatildeo das aacutereas de interesse ambiental e a reserva de aacutereas para produccedilatildeo

agriacutecola e ocupaccedilatildeo rural A alteraccedilatildeo de tal periacutemetro conforme previsto no Art42B do

17

Estatuto da Cidade deveraacute instituiacuteda por lei municipal e deve ser resultado de projeto

especiacutefico que contemple o conteuacutedo miacutenimo e que atenda agraves diretrizes do Plano Diretor

O segundo instrumento de planejamento municipal apresentado no Art 4ordm do

Estatuto da Cidade o parcelamento o uso e a ocupaccedilatildeo do solo eacute tambeacutem um importante

instrumento para a concretizaccedilatildeo dos preceitos da sustentabilidade do ambiente urbano A

Legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal definiraacute o zoneamento da aacuterea urbana Tal zoneamento

responsaacutevel pela subdivisatildeo do periacutemetro urbano em diferentes categorias eacute o principal

instrumento da regulaccedilatildeo urbana A definiccedilatildeo das categorias deveraacute ser pautada pelo melhor

aproveitamento e pela ampliaccedilatildeo do acesso agrave terra urbanizada O zoneamento orienta o

ordenamento urbano a partir das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo do solo definindo os paracircmetros

urbaniacutesticos - coeficiente de aproveitamento taxa de ocupaccedilatildeo afastamentos gabaritos - de

forma que os projetos de edificaccedilotildees e demais intervenccedilotildees mantenham uma densidade de

ocupaccedilatildeo que favoreccedila o conforto ambiental urbano Dentre os criteacuterios para a definiccedilatildeo dos

diferentes paracircmetros urbaniacutesticos que incidem sobre o territoacuterio estatildeo proteccedilatildeo das aacutereas

ambientalmente fraacutegeis adensamento de aacutereas providas de infraestrutura limitaccedilatildeo de usos a

partir da capacidade viaacuteria controle da permeabilidade do solo preservaccedilatildeo e proteccedilatildeo de

conjuntos de valor histoacuterico cultural ou ambiental distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo de baixa renda

em aacutereas bem localizadas e servidas de infraestrutura condiccedilotildees climaacuteticas locais

As diretrizes para o parcelamento geralmente compoem junto com os paracircmetros

urbaniacutesticos a mesma lei municipal O parcelamento merece destaque pois trata dos novos

espaccedilos que seratildeo incorporados ao tecido urbano da cidade e portanto deveraacute estar

integralmente articulado com as estrateacutegias do desenvolvimento urbano Eacute regulamentado em

acircmbito geral pela Lei Federal 676679 acrescida das alteraccedilotildees posteriores definidas nas leis

978599 e 1144507 O parcelamento configura um processo de expansatildeo horizontal ou

adensamento da aacuterea urbanizada e consiste na subdivisatildeo de um determinado imoacutevel sob as

formas de desmembramento (quando haacute o aproveitamento do sistema viaacuterio existente) ou

loteamento (quando haacute abertura de novas vias e logradouros ou modificaccedilatildeo dos existentes)

Deveratildeo ser contempladas na Lei de Parcelamento as aacutereas que natildeo admitiratildeo parcelamento

os paracircmetros de dimensionamento de lotes quadras e sistema viaacuterio as aacutereas de uso puacuteblico

as faixas de proteccedilatildeo a infraestrutura baacutesica os procedimentos administrativos para

aprovaccedilatildeo do projeto as contrapartidas do empreendedor as penalidades sobre infraccedilotildees

assim como os procedimentos para regularizaccedilatildeo das aacutereas em desconformidade com a Lei

Paracircmetros de conforto ambiental tais como ventos favoraacuteveis orientaccedilatildeo solar vegetaccedilatildeo

18

sistema de abastecimento de aacutegua sistema de esgotamento sanitaacuterio e sistema de drenagem

devem ser definidos em lei e cobrados nos projetos de parcelamento a fim de minimizar os

impactos ao meio ambiente

Vale destacar que o sucesso na elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo das Leis de Parcelamento

Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo depende primeiramente do comprometimento da gestatildeo municipal

com a democratizaccedilatildeo da cidade e com o bem-estar coletivo caso contraacuterio tal legislaccedilatildeo

poderaacute aprofundar a segregaccedilatildeo privilegiando a iniciativa privada a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria

e os interesses individuais

O zoneamento ambiental terceiro instrumento de planejamento municipal

apontado na lista do Art 4ordm do Estatuto da Cidade eacute tambeacutem um instrumento da Poliacutetica

Nacional do Meio Ambiente regida pela Lei 693881 Art 9ordm O zoneamento ambiental pode

ser considerado uma expressatildeo sinocircnima do Zoneamento Ecoloacutegico-Econocircmico ndash ZEE que

foi regulamentado pelo Decreto 429702

CAPITULO I - DOS OBJETIVOS E PRINCIacutePIOS ndash [] Art 2ordm O ZEE

instrumento de organizaccedilatildeo do territoacuterio a ser obrigatoriamente seguido na

implantaccedilatildeo de planos obras e atividades puacuteblicas e privadas estabelece medidas e

padrotildees de proteccedilatildeo ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental dos

recursos hiacutedricos e do solo e a conservaccedilatildeo da biodiversidade garantindo o

desenvolvimento sustentaacutevel e a melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo

Art 3ordm O ZEE tem por objetivo geral organizar de forma vinculada as decisotildees dos

agentes puacuteblicos e privados quanto a planos programas projetos e atividades que

direta ou indiretamente utilizem recursos naturais assegurando a plena manutenccedilatildeo

do capital e dos serviccedilos ambientais dos ecossistemas Paraacutegrafo uacutenico O ZEE na

distribuiccedilatildeo espacial das atividades econocircmicas levaraacute em conta a importacircncia

ecoloacutegica as limitaccedilotildees e as fragilidades dos ecossistemas estabelecendo vedaccedilotildees

restriccedilotildees e alternativas de exploraccedilatildeo do territoacuterio e determinando quando for o

caso inclusive a relocalizaccedilatildeo de atividades incompatiacuteveis com suas diretrizes

gerais (BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002)

O zoneamento ambiental ou ZEE eacute o instrumento que possibilita traccedilar um

panorama sobre a utilizaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais de um determinado

municiacutepio gerando as bases para um planejamento urbano comprometido com a

sustentabilidade ecoloacutegica econocircmica e social Tambeacutem eacute um instrumento de caraacuteter

democraacutetico-participativo e deve portanto ser acompanhado pela Administraccedilatildeo Puacuteblica em

seus diferentes niacuteveis e pela sociedade civil Tal instrumento assim como o zoneamento

urbano divide o territoacuterio em diferentes categorias As categorias do zoneamento ambiental

satildeo definidas a partir dos princiacutepios da utilidade e da simplicidade de forma a configurar

limites claros e compreensiacuteveis ao poder puacuteblico e aos cidadatildeos As diretrizes gerais e

especiacuteficas do zoneamento deveratildeo conter a capacidade de suporte ambiental de determinada

aacuterea a necessidade de proteccedilatildeo dos recursos renovaacuteveis e natildeo-renovaacuteveis a definiccedilatildeo de aacutereas

19

para unidades de conservaccedilatildeo integral a permissatildeo para exploraccedilatildeo de recursos naturais as

medidas para o desenvolvimento sustentaacutevel do setor rural medidas de ajustamento entre usos

conflitantes aleacutem de planos programas e fonte de recursos para viabilizar as atividades

apontadas para cada zona

Apesar de ser um importante instrumento de suporte agrave proteccedilatildeo do meio ambiente

o zoneamento ambiental ou ZEE ainda tem sido pouco utilizado pelos municiacutepios brasileiros

Contudo os dados da Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais (MUNIC 2013)

demonstraram que tem havido um crescimento do percentual de municiacutepios com legislaccedilatildeo

especiacutefica sobre a questatildeo ambiental o que traz um pouco de esperanccedila quanto agrave mudanccedila

dos paradigmas de proteccedilatildeo do meio ambiente A MUNIC 2013 apontou que em 2012

554 dos municiacutepios tinham legislaccedilatildeo ambiental jaacute em 2013 esse percentual subiu para

655

Por uacuteltimo os demais instrumentos de planejamento municipal apontados no Art

4ordm do Estatuto da Cidade - plano plurianual diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual

gestatildeo orccedilamentaacuteria participativa planos programas e projetos setoriais planos de

desenvolvimento econocircmico e social ndash tratariam de garantir a gestatildeo democraacutetica da cidade a

partir da realizaccedilatildeo de debates audiecircncias e consultas puacuteblicas como condiccedilatildeo para a

aprovaccedilatildeo das Leis Municipais Tais instrumentos apesar de natildeo-urbaniacutesticos tecircm uma

importacircncia decisiva na reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais Contudo embora tenham se

efetivado na maioria dos municiacutepios brasileiros ainda permanecem em sua maioria

mergulhados na velha poliacutetica clientelista que transforma os foacuteruns de participaccedilatildeo em

espaccedilos esvaziados pouco divulgados redutos de manobras poliacuteticas e trocas de favores

Infelizmente a garantia da gestatildeo democraacutetica natildeo seraacute alcanccedilada apenas por atos normativos

assim como as diretrizes estabelecidas para o desenvolvimento urbano sustentaacutevel tambeacutem

natildeo ser tornaratildeo realidade apenas por forccedila de Lei Eacute necessaacuterio mudar o caraacuteter da gestatildeo do

territoacuterio que atualmente se caracteriza pela anulaccedilatildeo da atuaccedilatildeo teacutecnica das diferentes aacutereas

do conhecimento a fim de garantir que o interesse privado prevaleccedila sobre os diretos coletivos

de toda uma cidade Eacute necessaacuterio colocar em praacutetica os preceitos das leis brasileiras efetivar

os instrumentos com real participaccedilatildeo popular lanccedilar as bases para um modelo de gestatildeo

realmente democraacutetico inclusivo e comprometido com o bem estar coletivo e com a justiccedila

social

20

4 OS DESAFIOS DA REGULACcedilAtildeO URBANA FRENTE AgraveS INTERVENCcedilOtildeES NAS

EDIFICACcedilOtildeES E NOS CONJUNTOS URBANOS TOMBADOS

A proteccedilatildeo e a preservaccedilatildeo dos siacutetios urbanos de valor histoacuterico arquitetocircnico

cultural ou paisagiacutestico satildeo imprescindiacuteveis para a manutenccedilatildeo da identidade e da memoacuteria

dos diferentes grupos sociais que por ali passaram ou nele se estabeleceram O registro da

histoacuteria deve ser deixado agraves geraccedilotildees futuras como siacutembolo do conhecimento e da experiecircncia

adquirida ao longo do tempo A proteccedilatildeo de um determinado siacutetio pode inclusive ser

utilizada quando a memoacuteria coletiva e a afetividade de uma comunidade para com um

determinado espaccedilo adquirir grande relevacircncia cultural gerando uma ambiecircncia a ser

protegida mesmo que esta tenha se consolidado em um periacuteodo recente

Atualmente a preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos e a conservaccedilatildeo dos imoacuteveis

urbanos tecircm no desenvolvimento urbano sustentaacutevel um importante aliado A disseminaccedilatildeo

da loacutegica do consumo que atinge tanto os bens materiais moacuteveis quanto os imoacuteveis resulta

numa produccedilatildeo exagerada desses bens o que demanda enorme quantidade de mateacuteria-prima e

energia e causa impacto no meio ambiente Sendo assim as poliacuteticas de preservaccedilatildeo e o

incentivo ao reuso de edifiacutecios e objetos contribuem para a sustentabilidade e o equiliacutebrio

ambiental

Hoje existem no Brasil doze siacutetios urbanos e sete siacutetios naturais que satildeo

considerados Patrimocircnio Cultural da Humanidade e portanto tombados internacionalmente

pela UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

Dentre os conjuntos tombados internacionalmente destaca-se a predominacircncia dos centros

histoacutericos de caracteriacutesticas coloniais tais como o Centro Histoacuterico de Ouro Preto MG

Olinda PE Salvador BA Satildeo Luiz do Maranhatildeo MA Diamantina MG e Goiaacutes GO Natildeo

menos importante o tombamento nacional realizado pelo IPHAN ndash Instituto do Patrimocircnio

Histoacuterico e Artiacutestico Nacional preserva 77 conjuntos urbanos espalhados por todas as regiotildees

do Brasil com destaque para a regiatildeo nordeste que conta com 30 desses centros tombados

Somam-se a esse contingente os conjuntos tombados estadualmente e municipalmente que

natildeo seratildeo aqui enumerados

A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio estaacute presente no ordenamento

juriacutedico brasileiro desde 1937 quando por meio do Decreto-Lei nordm25 criou-se o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash SPHAN (atual IPHAN) para proteger as cidades

e os monumentos da modernizaccedilatildeo das reformas urbanas e do interesse imobiliaacuterio

21

Reafirmada pelo Art 216 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e pelo Art 2ordm inciso XII do

Estatuto da Cidade a proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e

construiacutedo do patrimocircnio cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico tornou-se

diretriz obrigatoacuteria a ser contemplada pelos planos urbanos e legislaccedilotildees municipais

Contudo a preservaccedilatildeo dos conjuntos urbanos tombados natildeo pressupotildee o

congelamento das cidades Os paracircmetros para as intervenccedilotildees contemporacircneas deveratildeo ser

definidos em leis especiacuteficas de modo a evitar que o novo se sobreponha ou se confunda com

o existente A preservaccedilatildeo do conjunto tombado soacute seraacute possiacutevel se for permitido agrave cidade

expandir-se adensar-se e modificar-se Caso contraacuterio centro e cidade se tornaratildeo obsoletos

Percebe-se portanto que a regulaccedilatildeo urbana nas cidades histoacutericas enfrenta um

grande desafio preservar o antigo e abrir-se ao novo Sendo assim como proceder e quais

instrumentos utilizar Como a legislaccedilatildeo municipal deveraacute ser elaborada e aplicada a fim de

contemplar a preservaccedilatildeo do conjunto tombado e a expansatildeo da cidade seguindo os preceitos

da sustentabilidade

A preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos associada agrave expansatildeo sustentaacutevel das cidades eacute

um tema que vem sendo amplamente discutido inclusive em acircmbito internacional Nos paiacuteses

do norte e principalmente no continente europeu os siacutetios urbanos que demandam poliacuteticas

de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo remontam de seacuteculos e ateacute mesmo de milecircnios passados Embora

uma grande parte do patrimocircnio mundial tenha se perdido com a destruiccedilatildeo resultante das

guerras das cataacutestrofes e da imposiccedilatildeo de novas culturas como aconteceu principalmente nos

paiacuteses do sul que tiveram a cultura originaacuteria destruiacuteda pela colonizaccedilatildeo ainda haacute muito

patrimocircnio a ser preservado E natildeo eacute de hoje que os teacutecnicos e profissionais de diversas aacutereas

do conhecimento tecircm desenvolvido teorias e instrumentos para assegurar a salvaguarda de

todo esse patrimocircnio

Desde entatildeo leis documentos planos guias e coacutedigos vecircm sendo desenvolvidos

com o objetivo de orientar e direcionar as accedilotildees e intervenccedilotildees sobre o patrimocircnio cultural das

cidades com vistas ao desenvolvimento sustentaacutevel

Um importante documento desenvolvido em 2008 pelo Governo da Escoacutecia o

ldquoSustainable Development Guidance for Estate Managementrdquo buscou sistematizar a partir

dos preceitos da sustentabilidade estrateacutegias e orientaccedilotildees para a realizaccedilatildeo de intervenccedilotildees

principalmente para as novas construccedilotildees Tal preocupaccedilatildeo se intensificou apoacutes a discussatildeo

sobre as mudanccedilas climaacuteticas e os efeitos futuros ldquoThe Stern Review on the Economics of

Climate Changerdquo realizada pelo Governo do Reino Unido O documento ldquoSustainable

22

Development Guidance for Estate Managementrdquo se assemelha a um guia para o

desenvolvimento sustentaacutevel que aborda as estrateacutegias de accedilatildeo e recomendaccedilotildees para fazer da

Escoacutecia um paiacutes mais ecoloacutegico

Segundo esse Guia que trata da proteccedilatildeo do ambiente natural e da manutenccedilatildeo do

ambiente construiacutedo a sustentabilidade deveraacute ser uma prerrogativa tanto nas novas

construccedilotildees como na manutenccedilatildeo das edificaccedilotildees existentes nas conversotildees de uso nas

ampliaccedilotildees no retrofit4 e nas demoliccedilotildees No item 36 ldquoEmbedding sustainability within the

estate strategy processrdquo satildeo apontados os itens a serem observados na elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias e projetos para o desenvolvimento manutenccedilatildeo ou restauraccedilatildeo de edificaccedilotildees Satildeo

eles biodiversidade layout flexiacutevel nas construccedilotildees materiais construtivos e a possibilidade

de recuperaccedilatildeo reciclagem e reuso gestatildeo da aacutegua diminuiccedilatildeo da poluiccedilatildeo energia

certificada minimizaccedilatildeo do consumo de energia atraveacutes do isolamento e da ventilaccedilatildeo

natural utilizaccedilatildeo de energias renovaacuteveis como energia solar diminuiccedilatildeo do desperdiacutecio e

aumento da reciclagem dentre outros itens A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio

conforme jaacute foi discutido no iniacutecio deste capiacutetulo tambeacutem estaacute presente no Guia conforme

aponta o item 43 ldquoHistoric Buildingsrdquo Neste item direciona-se a atenccedilatildeo para as amplas

possibilidades de reuso e reabilitaccedilatildeo dessas edificaccedilotildees Tal situaccedilatildeo deve partir da

intervenccedilatildeo miacutenima e deve garantir que as caracteriacutesticas histoacutericas ou culturais dos edifiacutecios

sejam devidamente respeitadas e mantidas O Guia trata tambeacutem do procedimento para

reparos que na medida do possiacutevel deve ser feito atraveacutes das teacutecnicas tradicionais e dos

materiais originais ou compatiacuteveis sempre com apoio de profissional especializado Eacute

enfatizada tambeacutem a obrigatoriedade em solicitar das autoridades competentes autorizaccedilatildeo

para as intervenccedilotildees Por uacuteltimo apoacutes feitas todas as consideraccedilotildees sobre os aspectos

positivos da reutilizaccedilatildeo de um determinado edifiacutecio no caso de se decidir pela demoliccedilatildeo do

mesmo o Guia aponta os cuidados a serem obsevados na disposiccedilatildeo final dos resiacuteduos no

aterro sanitaacuterio alertando para a importacircncia em separar os resiacuteduos toacutexicos Os materiais

resultantes da demoliccedilatildeo como accedilo fundaccedilotildees de concreto ceracircmica madeira de assoalho

instalaccedilotildees internas placas de gesso carpete e janelas satildeo frequentemente passiacuteveis de

4 ldquoTermo utilizado principalmente em engenharia para designar o processo de modernizaccedilatildeo de algum

equipamento jaacute considerado ultrapassado ou fora de normardquo Disponiacutevel em

lthttpwwweletrobrascomrelatorio_sustentabilidade_2013anexosglossariogt Acesso em 06 de jun 2015

23

reciclagem revenda ou reutilizaccedilatildeo e natildeo devem ser descartados resultando na diminuiccedilatildeo do

desperdiacutecio e na reduccedilatildeo da exploraccedilatildeo dos recursos naturais

Outro importante documento a ser citado aqui como relevante para a proteccedilatildeo do

patrimocircnio histoacuterico e para o desenvolvimento sustentaacutevel o ldquoCalifornia Code of

Regulations Title 24rdquotambeacutem chamado de ldquoCalifornia Building Standards Coderdquo foi

finalizado em 1998 e aprovado pela ldquoCalifornia Building Standards Commissionrdquo em 2007

Tal documento trata dos paracircmetros gerais para a construccedilatildeo de edificaccedilotildees no Estado da

Califoacuternia Este Coacutedigo eacute dividido em 12 partes e traz na parte 8 de tiacutetulo ldquoCalifornia

Historical Building Code (CHBC)rdquo as exigecircncias a serem cumpridas para a permissatildeo de

reparos alteraccedilotildees e adiccedilotildees necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo relocaccedilatildeo mudanccedila de

uso ou continuaccedilatildeo de uso em edificaccedilotildees de reconhecido valor cultural ou histoacuterico5 Com o

objetivo de proteger a sauacutede e a seguranccedila das pessoas o California Historical Building Code

(CHBC) busca orientar as accedilotildees para a recuperaccedilatildeo das edificaccedilotildees histoacutericas garantindo a

preservaccedilatildeo da integridade e das caracteriacutesticas de tais edificaccedilotildees Ao todo satildeo 10 capiacutetulos

que abordam em resumo os seguintes temas capiacutetulo 01 ldquoAdministrationrdquo trata dos casos

sujeitos agrave aplicaccedilatildeo do coacutedigo cap02 ldquoDefinitionsrdquo trata das definiccedilotildees dos termos frases e

palavras necessaacuterios agrave compreensatildeo dos demais capiacutetulos cap03 ldquoUse and Occupancyrdquo trata

das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo dos edifiacutecios tais como altura maacutexima e nuacutemero de

pavimentos dimensatildeo miacutenima dos cocircmodos diretrizes de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo cap04

ldquoFire Protectionrdquo trata da proteccedilatildeo contra incecircndio e indica as diretrizes em relaccedilatildeo aos

materiais shafts telhado sistemas de alarme sistemas automaacuteticos de proteccedilatildeo como

sprinklers dentre outras tecnologias cap05 ldquoMeans of Egressrdquo trata das meios de saiacuteda das

edificaccedilotildees abordando entre outros elementos as escadas portas janelas grades e guarda-

corpos cap06 ldquoAccessibilityrdquo trata da acessibilidade aos portadores de necessidades especiais

a partir da utilizaccedilatildeo das dimensotildees miacutenimas e demais diretrizes estabelecidas para as

entradas portas banheiros rampas elevadores dentre outros cap07 ldquoStructural

5 Conforme o California Building Standards Code Parte 08 paacutegina 04 as edificaccedilotildees de reconhecido valor

cultural ou histoacuterico para as quais se utilizaraacute o CHBC satildeo ldquoFor the purposes of this part a qualified historical

building or structure is any structure or collection of structures and their associated sites deemed of importance

to the history architecture or culture of an area by an appropriate local or state governmental jurisdiction This

shall include structures on existing or future national state or local historical registers or official inventories

such as the National Register of Historic Places State Historical Landmarks State Points of Historical Interest

and city or county registers or inventories of historical or architecturally significant sites places historic districts

or landmarksrdquo (CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS 2007 p 4)

24

Regulationsrdquo trata da regulaccedilatildeo sobre os sistemas estruturais a partir da identificaccedilatildeo da

situaccedilatildeo da estrutura por profissional especializado identificaccedilatildeo dos acreacutescimos posteriores agrave

construccedilatildeo do edifiacutecio das cargas incidentes da performance dos parapeitos e da situaccedilatildeo dos

revestimentos externos e decorativos cap8 ldquoArchaic Materials and Methods of Constructionrdquo

trata dos meacutetodos e materiais construtivos tradicionais das edificaccedilotildees histoacutericas e das

diretrizes para a recuperaccedilatildeo de alvenarias adobe madeira concreto accedilo ferro vidros e

vidraccedilas cap09 ldquoMechanical Plumbing and Electrical Requirementsrdquo trata das exigecircncias

em relaccedilatildeo agraves instalaccedilotildees eleacutetricas aos encanamentos e sistemas mecacircnicos Por uacuteltimo o

cap10 ldquoQualified Historical Districts Sites and Open Spacesrdquo trata das orientaccedilotildees para a

preservaccedilatildeo dos espaccedilos abertos e siacutetios histoacutericos a partir da manutenccedilatildeo da configuraccedilatildeo

espacial existente e dos elementos constitutivos da paisagem

No Brasil o instrumento que mais se assemelha aos exemplos citados acima eacute o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees Utilizado para regulamentar os criteacuterios e procedimentos a

serem utilizados na elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de projetos de edificaccedilotildees e controlar as atividades

de construccedilatildeo6 o Coacutedigo de Obras eacute instituiacutedo por lei municipal como instrumento

complementar a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo citada anteriormente no Capiacutetulo 02 O

atendimento agraves condiccedilotildees estabelecidas nesses dois instrumentos da regulaccedilatildeo urbana ndash e o

atendimento a outras legislaccedilotildees quando for o caso - eacute requisito para a obtenccedilatildeo da licenccedila

urbaniacutestica Somente por meio da licenccedila municipal que afirma a compatibilizaccedilatildeo dos

interesses individuais e coletivos com o desenvolvimento urbano o proprietaacuterio poderaacute

exercer o seu direito sobre a propriedade sendo-lhe permitido executar as intervenccedilotildees

devidamente aprovadas Tambeacutem devem ser previstas em lei assim como os procedimentos

para o licenciamento as bases para a efetivaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo municipal como a

determinaccedilatildeo das infraccedilotildees e a previsatildeo de sanccedilotildees e multas aplicaacuteveis a cada caso

Subordinado agraves estrateacutegias de desenvolvimento estabelecidas no Plano Diretor o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees assim como a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo deve ser

elaborado a partir da preocupaccedilatildeo em se estabelecer uma boa interaccedilatildeo entre as novas

edificaccedilotildees e o conjunto urbano construiacutedo Para essa interaccedilatildeo as construccedilotildees devem atender

agraves premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica natildeo de forma isolada mas de

6 ldquoPara fins de direito entende-se por construccedilatildeo toda realizaccedilatildeo material e intencional de algueacutem visando a

adaptar o imoacutevel agraves suas conveniecircncias Nesse sentido tanto eacute construccedilatildeo a edificaccedilatildeo ou reforma como a

demoliccedilatildeo o muramento a escavaccedilatildeo o aterro a pintura e demais trabalhos destinados a beneficiar tapar

desobstruir conservar ou embelezar o preacutediordquo (BARANDIER ALMEIDA MORAIS 2013 p 147)

25

forma a interferir positivamente sobre o clima urbano e sobre a qualidade ambiental Assim

para aleacutem das diretrizes relativas ao uso agrave seguranccedila agrave salubridade agrave acessibilidade e agrave

preservaccedilatildeo dos elementos histoacutericos artiacutesticos e culturais tambeacutem devem ser elaborados

estudos climaacuteticos que aplicados ao desenho urbano possibilitem a formulaccedilatildeo de diretrizes

em prol da adaptaccedilatildeo das edificaccedilotildees agraves caracteriacutesticas climaacuteticas locais ao conforto teacutermico

luminoso e acuacutestico aleacutem da formulaccedilatildeo de diretrizes para a utilizaccedilatildeo de fontes de energia

alternativas e combate ao desperdiacutecio

Voltando aos dados obtidos pela Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros

realizada pelo IBGE em 2013 conforme pode ser visto no graacutefico abaixo do total de

municiacutepios brasileiros 624 declararam ter Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees enquanto 542

declararam ter Lei de Zoneamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo Esses dados demonstram que os

instrumentos legais embora apresentem um grande potencial de transformaccedilatildeo da realidade

urbana ainda satildeo pouco aplicados

Graacutefico do Percentual de municiacutepios segundo o tipo de instrumento de planejamento

existente - MUNIC -2013

Fonte Pesquisa ldquoPERFIL DOS MUNICIacutePIOS BRASILEIROS 2013rdquo (IBGE 2014)

Dentre os Coacutedigos de Obras existentes muitos estatildeo desatualizados defasados e

por isso natildeo configuram um mecanismo relevante quanto agrave alteraccedilatildeo do cenaacuterio das cidades

brasileiras Aleacutem disso a falha na articulaccedilatildeo dos diversos dispositivos de orientaccedilatildeo controle

e fiscalizaccedilatildeo das construccedilotildees resulta na aplicaccedilatildeo desequilibrada da lei consolidando

poliacuteticas de favorecimento exclusatildeo e segregaccedilatildeo aleacutem de ampliar a cada dia a destruiccedilatildeo e

os prejuiacutezos ambientais

26

Apesar de termos avanccedilado na construccedilatildeo conceitual dos instrumentos capazes de

nos levar ao sonhado desenvolvimento sustentaacutevel estamos ainda muito aqueacutem de efetivaacute-los

na praacutetica e no dia-a-dia dos municiacutepios A gestatildeo urbana da qual o planejamento eacute

interdependente configura a um dos principais obstaacuteculos agrave superaccedilatildeo da loacutegica atual de

valorizaccedilatildeo dos interesses individuais sobre os coletivos A falta interesse em destinar

recursos para a soluccedilatildeo de parte dos problemas soacutecio-espaciais tambeacutem eacute um grande

obstaacuteculo A melhoria da infraestrutura urbana os projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria a

construccedilatildeo de moradias populares sustentaacuteveis e a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados jaacute

configurariam um passo adiante na concretizaccedilatildeo da sustentabilidade no ambiente urbano

Sendo assim conhecidos os obstaacuteculos ou pelo menos parte deles eacute fundamental lanccedilarmos

as bases para a sua superaccedilatildeo fortalecendo os ideais de transformaccedilatildeo das cidades

27

5 O MUNICIacutePIO DE OURO PRETO UM ESTUDO DE CASO

51 Da colonizaccedilatildeo ao Seacuteculo XX

Localizado na Regiatildeo Central de Minas Gerais (ou Macrorregiatildeo Metaluacutergica) o

municiacutepio de Ouro Preto eacute possui uma aacuterea aproximada de 1245kmsup2 e sua populaccedilatildeo totaliza

cerca de 70281 habitantes7 Posicionado na porccedilatildeo centro-sul do Estado Ouro Preto tem

como principais confrontantes os municiacutepios de Mariana Itabirito Ouro Branco Congonhas

e Santa Baacuterbara Aleacutem do distrito-sede o territoacuterio eacute dividido em mais 12 distritos

Amarantina Antocircnio Pereira Cachoeira do Campo Engenheiro Correia Glaura Lavras

Novas Miguel Burnier Santa Rita Santo Antocircnio do Leite Santo Antocircnio do Salto Satildeo

Bartolomeu e Rodrigo Silva

Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ouro Preto no estado de

Minas Gerais

Fonte SMCP - PMOP

7 IBGE Diretoria de Pesquisas Coordenaccedilatildeo de Populaccedilatildeo e Indicadores Sociais ndash ldquoEstimativas da populaccedilatildeo

residente com data de referecircncia 1o de julho de 2014 publicada no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo em 28082014rdquo

Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314610ampsearch=||infogrE1ficosinformaE7F5e

s-completasgt Acesso em 06 jun 2015

28

Ouro Preto e municiacutepios limiacutetrofes

Fonte SMCP - PMOP

Mapa dos Distritos de Ouro Preto

Fonte SMCP - PMOP

Desencadeados pela exploraccedilatildeo auriacutefera do seacuteculo XVII - iniciada na regiatildeo de

Minas Gerais provavelmente em 1698 - os arraiais e agrupamentos humanos se consolidaram

na regiatildeo montanhosa e acidentada do municiacutepio de Ouro Preto primeiramente nas encostas

iacutengremes e arredores das minas e posteriormente nas margens dos rios e nos fundos de vale O

povoamento foi se intensificando em torno dos principais eixos de ligaccedilatildeo entre os nuacutecleos

29

urbanos vizinhos resultando num desenho urbano linear e longitudinal diferente do modelo

reticulado de ordenaccedilatildeo do territoacuterio que foi caracteriacutestico do Brasil Colocircnia

Agrave primeira configuraccedilatildeo urbana consolidada em 1711 deu-se o nome de Vila

Rica de Albuquerque que posteriormente em 1720 foi elevada agrave capital da Capitania das

Minas Gerais Ao longo do seacuteculo XVIII foram efetivadas as intervenccedilotildees urbanas mais

significativas e foram construiacutedas as principais referecircncias arquitetocircnicas de Ouro Preto As

principais pontes os chafarizes o Centro Administrativo (atual Praccedila Tiradentes) o Palaacutecio

dos Governadores a Casa de Cacircmara e Cadeia assim como as inuacutemeras capelas e igrejas de

estilo barroco das diversas ordens e irmandades religiosas consolidaram o cenaacuterio

setecentista que configura o atual centro histoacuterico da cidade O final do seacuteculo XVIII foi

marcado pelo esgotamento das minas de ouro o que desencadeou um esvaziamento

populacional da Vila pela crise de abastecimento e decadecircncia econocircmica

O seacuteculo XIX contudo trouxe as mudanccedilas advindas da era do Impeacuterio e em

1823 Vila Rica de Albuquerque foi elevada agrave cidade sob o tiacutetulo de Imperial Cidade de Ouro

Preto A partir daiacute a cidade passou por diversas modernizaccedilotildees a fim de se consolidar

enquanto capital da proviacutencia de Minas Gerais A criaccedilatildeo da Escola de Farmaacutecia do Liceu de

Artes e Ofiacutecios da Escola de Minas a construccedilatildeo da Estaccedilatildeo Ferroviaacuteria e a implantaccedilatildeo da

Companhia Industrial Ouro-Pretana satildeo exemplos importantes da expansatildeo e do

desenvolvimento da cidade durante o seacuteculo XIX Ao final deste seacuteculo jaacute sob a eacutegide do

periacuteodo republicano a cidade de Ouro Preto perde o status de capital da proviacutencia que em

1897 passou para Belo Horizonte Tal fato ocasionou pela segunda vez um processo de

esvaziamento e crise econocircmica na cidade Assim distante dos ideais de modernizaccedilatildeo e

desenvolvimento que cercavam a nova capital a ausecircncia de poliacuteticas de renovaccedilatildeo foi o que

garantiu a preservaccedilatildeo das feiccedilotildees urbanas da antiga Vila Rica A partir de entatildeo diversos

intelectuais da eacutepoca viajaram ateacute Ouro Preto e verificando o mal estado de conservaccedilatildeo e o

abandono da cidade comeccedilaram a produzir uma nova consciecircncia em relaccedilatildeo agrave necessidade

de se preservar os registros do passado

30

Mapa da evoluccedilatildeo urbana de Ouro Preto ndash do seacuteculo XVII ao seacuteculo XX

Fonte IGA ndash Instituto de Geociecircncias Aplicadas - 2003

Igreja de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo ndash registros do

periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

Ponte vizinha agrave Casa dos Contos - registros do periacuteodo

entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

31

Igreja N S do Pilar ndash registros do periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015apresentacao

A tradiccedilatildeo quanto agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico somente se consolidou

no Brasil a partir do seacuteculo XX Em 1931 surgiu o primeiro decreto municipal8 voltado para a

preservaccedilatildeo do cenaacuterio arquitetocircnico da cidade de Ouro preto proibindo as construccedilotildees em

desacordo com o estilo colonial predominante Em 1933 por meio do decreto nacional

22928 Ouro Preto foi erigida a Monumento Nacional Em 1938 o conjunto histoacuterico da

cidade foi tombado pelo SPHAN - Serviccedilo do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional que

havia sido criado no ano anterior Os anos seguintes foram marcados por inuacutemeras obras de

restauraccedilatildeo e tombamentos individuais

8 Decreto 13 de 19 de setembro de 1931 ldquoConsiderando que a cidade de Ouro Preto escriacutenio das tradiccedilotildees

mineiras deve conservar o seu aspecto colonial transmitido dos nossos antepassados Considerando que esta

feiccedilatildeo colonial de seus edifiacutecios de seus preacutedios das ruas e praccedilas desperta grande interesse por parte dos

turistas que frequumlentemente vecircm visitar a cidade e suas cercanias Considerando que ferem dolorosamente a

sensibilidade dos turistas os preacutedios que destoam do tipo colonial DECRETA Art 1deg - Natildeo eacute permitida no

periacutemetro urbano a construccedilatildeo de preacutedios e de edifiacutecios em desacordo com o estilo colonial da cidade Art 2deg -

Os atuais preacutedios existentes no periacutemetro urbano em desacordo com o artigo antecedente deveratildeo ser

modificados nas respectivas fachadas quando estas tenham que receber reparos []rdquo (OLIVEIRA 1997 p 7)

32

A sistematizaccedilatildeo de normas aplicaacuteveis agraves novas construccedilotildees foi realizada pelo

SPHAN (que em 1970 passou a ser chamado IPHAN9) para regular o crescimento da cidade e

o intenso surgimento de novas moradias que caracterizaram as deacutecadas de 1950 e 1960 Tal

crescimento se deu principalmente pela chegada de induacutestrias metaluacutergicas para a exploraccedilatildeo

da bauxita e produccedilatildeo de alumiacutenio primaacuterio Assim o ldquoestilo patrimocircniordquo surgiu das

exigecircncias normativas quanto agrave utilizaccedilatildeo dos elementos arquitetocircnicos tradicionais do

periacuteodo colonial

Um primeiro plano urbano foi elaborado pelo arquiteto portuguecircs Viana de Lima

entre os anos 1968 e 1970 com o objetivo de ldquopreservarrdquo o nuacutecleo histoacuterico da cidade e

consolidar o estilo patrimocircnio atraveacutes da eliminaccedilatildeo dos ecletismos da demoliccedilatildeo de obras

desprovidas de qualidade esteacutetica e do preenchimento dos vazios urbanos Nos anos seguintes

a discussatildeo sobre a salvaguarda do patrimocircnio se intensificou e deu origem a diversos outros

planos10

e programas de preservaccedilatildeo que obtiveram pouco sucesso na aplicaccedilatildeo praacutetica Em

21 de setembro de 1980 Ouro Preto recebeu da UNESCO o tiacutetulo de Patrimocircnio Cultural da

Humanidade e passou a ter visibilidade internacional

Ao final do seacuteculo XX a preocupaccedilatildeo com o desenvolvimento urbano da cidade e

com a proteccedilatildeo patrimonial gerou novas demandas em relaccedilatildeo agrave regulaccedilatildeo urbana e coube ao

IPHAN o papel de legislar sobre as intervenccedilotildees no centro histoacuterico As accedilotildees da

Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) do Instituto Estadual do Patrimocircnio Histoacuterico e

Artiacutestico (IEPHA) e do Instituto Estadual de Florestas (IEF) em pareceria com o governo

municipal e com o IPHAN foram decisivas na preservaccedilatildeo do patrimocircnio neste periacuteodo Em

1990 foram publicadas por meio da Lei 571990 as diretrizes para do Plano Diretor do

Municiacutepio sob as delineaccedilotildees inauguradas pela Constituiccedilatildeo Federal Tais diretrizes eram

bastante simplificadas e restritas aos zoneamentos e a questatildeo da preservaccedilatildeo do patrimocircnio

9 Em 1937 por meio da Lei nordm 378 foi fundado o SPHAN como oacutergatildeo oficial de preservaccedilatildeo do patrimocircnio

cultural brasileiro No mesmo ano foi promulgado o Decreto-Lei nordm 25 que regulamentou as atividades do

SPHAN Em 1946 o SPHAN teve o seu nome alterado para Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (DPHAN) Em 1970 o DPHAN eacute transformado em Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (IPHAN)

10 ldquoEm Minas Gerais a Fundaccedilatildeo Joatildeo Pinheiro (FJP) realizou um extenso diagnoacutestico e elaborou planos

diretores para diversas cidades coloniais mineiras bem como o Plano de Conservaccedilatildeo Valorizaccedilatildeo e

Desenvolvimento de Ouro Preto e Mariana em 1975 Esse Plano trata sobre a preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

patrimocircnio vinculado com as necessidades de desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio Por isso

abordou desde questotildees histoacutericas e culturais ateacute a anaacutelise de aspectos fiacutesico- territoriais tais como siacutetio natural

estudo das estruturas urbanas paisagismo e legislaccedilatildeo urbanardquo (SILVA OLIVEIRA 2005 p 180)

33

foi pouco abordada Jaacute em 1996 uma nova versatildeo do plano foi elaborada e diferentemente do

texto anterior o novo plano contemplou a preocupaccedilatildeo com o patrimocircnio e a preservaccedilatildeo

como instrumentos interligados agrave poliacutetica urbana

Art 1ordm - Em conformidade com a Constituiccedilatildeo Federal e com a Lei Orgacircnica

Municipal fica instituiacutedo o Plano Diretor de Ouro Preto (PDOP) fixando diretrizes

e instrumentos para o pleno desenvolvimento do Municiacutepio em consonacircncia com as

funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade [] Art 2ordm - O conjunto artiacutestico

arquitetocircnico urbaniacutestico paisagiacutestico e ambiental de relevante valor cultural

sediado no Municiacutepio objeto de tombamento federal e de reconhecimento

internacional pela UNESCO como Patrimocircnio Cultural da Humanidade eacute

considerado bem inalienaacutevel de sua populaccedilatildeo cabendo a ela exercer de forma

concorrente com as Administraccedilotildees Puacuteblicas a sua guarda proteccedilatildeo e gestatildeo

Paraacutegrafo uacutenico ndash A preservaccedilatildeo e a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural e ambiental

do Municiacutepio eacute fator determinante para o desenvolvimento urbano para a geraccedilatildeo de

empregos e para melhor distribuiccedilatildeo de renda Lei Complementar 0196 Ouro Preto

(OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996)

Em 1997 foi criado ldquoPlano de Reabilitaccedilatildeo do Siacutetio Histoacuterico de Ouro Pretordquo a

partir do ldquoMonumentardquo programa federal de iniciativa do Ministeacuterio da Cultura e patrocinado

pelo BID que sob a premissa do desenvolvimento econocircmico-social sustentaacutevel buscou

revitalizar os centros histoacutericos urbanos de 26 cidades brasileiras O Plano traccedilado para Ouro

Preto natildeo foi totalmente implementado mas alavancou as poliacuteticas de preservaccedilatildeo do

municiacutepio e deixou intervenccedilotildees significativas como por exemplo a recuperaccedilatildeo do Parque

Horto dos Contos (fundo de vale do Ribeiratildeo do Funil) aacuterea verde mais significativa da regiatildeo

central

34

Mapa Cadastral de Ouro Preto ndash Periacutemetro de tombamento pelo IPHAN

Fonte Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano - PMOP

52 O contexto atual

O conceito de patrimocircnio e de preservaccedilatildeo adotado no Brasil foi se modificando

ao longo da histoacuteria como foi apontado nos iniacutecio deste capiacutetulo Assim agrave medida que o

conceito adquiria relevacircncia as poliacuteticas de preservaccedilatildeo foram sendo instauradas nas esferas

administrativas Os avanccedilos iniciados no final do seacuteculo XX se consolidaram jaacute nos primeiros

anos do seacuteculo XXI O novo seacuteculo trouxe consigo uma mudanccedila significativa em relaccedilatildeo ao

desenvolvimento dos siacutetios histoacutericos que deixaram de ser vistos como uma ldquoobra de arte

intocaacutevelrdquo e passaram a ser tratados como espaccedilos socializados repletos de interaccedilatildeo cultural

e portanto passiacuteveis de transformaccedilatildeo Aleacutem dos centros urbanos o patrimocircnio imaterial

tambeacutem recebeu especial atenccedilatildeo e apoacutes 20 anos de discussatildeo a Convenccedilatildeo para a

Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial consolidada pela UNESCO em 2003 avanccedilou

no reconhecimento e na defesa das heranccedilas culturais dos povos ao redor do mundo

As transformaccedilotildees na relaccedilatildeo da preservaccedilatildeo com o planejamento urbano se

efetivaram em 2003 a partir da criaccedilatildeo do Plano de Preservaccedilatildeo de Siacutetio Histoacuterico Urbano

(PPSH) Este plano foi um instrumento de caraacuteter normativo que incidiu sobre os siacutetios

35

urbanos tombados em niacutevel federal a fim de aliar preservaccedilatildeo e desenvolvimento e incentivar

a gestatildeo compartilhada Nesse mesmo ano foi realizado o Encontro Nacional de Cidades

Histoacutericas que tratou da gestatildeo compartilhada do patrimocircnio cultural e da efetivaccedilatildeo das

poliacuteticas de preservaccedilatildeo associadas agrave legislaccedilatildeo urbana e ambiental

As mudanccedilas do iniacutecio do seacuteculo natildeo demoraram a repercutir no Municiacutepio de

Ouro Preto A partir da portaria ndeg 122 instituiacuteda em 2004 pelo presidente do IPHAN

definiu-se as diretrizes de intervenccedilatildeo e os paracircmetros para aprovaccedilatildeo de projeto no centro

histoacuterico da cidade a fim de garantir a manutenccedilatildeo das caracteriacutesticas da unidade e da

harmonia do conjunto urbano

Mapa dos bairros do municiacutepio de Ouro Preto

Fonte Secretaria Municipal de Patrimocircnio e Desenvolvimento Urbano - PMOP

36

Mapa esquemaacutetico ndash Periacutemetro urbano periacutemetro tombado e demais delimitaccedilotildees de interesse do distrito sede

Elaboraccedilatildeo Guilherme I N Ataiacutedes Base mapa do Plano Diretor

Foto da Praccedila Tiradentes

Fonte httpmondegocombrpraca-tiradentes

37

Foto Campus UFOP

Fonte httpwwwseeufopbrp=490

Foto IFMG

Fonte httpwwwouropretoifmgedubrcomunicacaoimagens-e-videoscampus-ouro-

pretocampusimage_view_fullscreen

Em 2006 a remodelaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Patrimocircnio e

Desenvolvimento Urbano (antiga Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio) deu um novo

impulso agrave preservaccedilatildeo no acircmbito da gestatildeo municipal unindo as poliacuteticas de proteccedilatildeo agraves

poliacuteticas de planejamento urbano O Grupo de Assessoramento Teacutecnico ndash GAT e o Conselho

Municipal de Patrimocircnio foram novamente colocados em accedilatildeo Um novo Plano Diretor

promulgado ao final deste mesmo ano atraveacutes da Lei Complementar Nordm 29 agregou as

conquistas do Estatuto da Cidade aos preceitos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio e acrescentou as

diretrizes para a proteccedilatildeo ambiental Os temas funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

estruturaccedilatildeo territorial desenvolvimento econocircmico proteccedilatildeo ambiental proteccedilatildeo ao

patrimocircnio cultural poliacutetica de desenvolvimento social produccedilatildeo da cidade e mobilidade

urbana intitulam alguns dos capiacutetulos da Lei Os instrumentos da poliacutetica urbana para o

cumprimento da funccedilatildeo social da propriedade aparecem no texto logo em sequecircncia A Lei de

38

Parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo conforme previsatildeo do Art 81 do Plano Diretor foi

promulgada no mesmo dia 28 de dezembro de 2006

A partir de entatildeo o municiacutepio assume sua funccedilatildeo enquanto principal oacutergatildeo de

gestatildeo do territoacuterio tarefa que anteriormente era desempenhada pelo Governo Federal e pelo

IPHAN Ao final de 2010 por meio da Lei Complementar Nordm 91 o Plano Diretor passa por

alteraccedilotildees pontuais e em 2011 a Lei de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo eacute amplamente

revisada dando origem aos paracircmetros utilizados nos dias atuais

Dentro desse resumido panorama legislativo apresentado pode-se perceber que o

Municiacutepio de Ouro Preto acompanhou em grande parte os avanccedilos inaugurados pelo

Estatuto da Cidade e concretizou ao menos em forma de Lei a regulamentaccedilatildeo das diretrizes

e dos instrumentos capazes de fazer valer a funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

Contudo tais avanccedilos representam muito pouco frente ao gigantesco desafio

enunciado no Art 2 inciso II do mesmo Estatuto quanto agrave ldquogarantia do direito a cidades

sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao saneamento ambiental

agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para

as presentes e futuras geraccedilotildeesrdquo(Lei 10257 2001)

Aleacutem da amplitude da tarefa outros elementos dificultam ainda mais o processo

de construccedilatildeo de uma nova realidade como por exemplo a negligecircncia dos gestores puacuteblicos

para com a atualizaccedilatildeo necessaacuteria e obrigatoacuteria das Leis O Plano Diretor de Ouro Preto

indica jaacute no Capiacutetulo 1 artigo 1ordm sect3ordm o prazo maacuteximo para a revisatildeo do mesmo estabelecido

em cinco anos a partir da sua publicaccedilatildeo ou seja 2011 Sendo assim percebe-se que a Lei

de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo revisada em 2011 embora seja o principal instrumento de

controle urbaniacutestico ateacute os dias de hoje jaacute nasceu defasada pois utilizou como referecircncia a

estrateacutegia de desenvolvimento urbano definida no Plano Diretor de 2006 desconsiderando os

impactos e as mudanccedilas territoriais sociais e culturais ocorridos desde entatildeo No geral os

gestores municipais tratam apenas de alteraccedilotildees pontuais que apenas mascaram o quadro de

estagnaccedilatildeo e desatualizaccedilatildeo das leis urbaniacutesticas Tal conduta conforma um enorme obstaacuteculo

na concretizaccedilatildeo das diretrizes do Estatuto da Cidade

Nos capiacutetulos anteriores ao tratarmos do desenvolvimento sustentaacutevel dois

importantes instrumentos foram apontados como peccedilas-chave da consolidaccedilatildeo de uma nova

experiecircncia de sustentabilidade no ambiente urbano a agenda 21 e o coacutedigo de obras

O primeiro deles a agenda 21 local foi estabelecida em 15 de maio de 2007 por

meio da Lei Nordm 333

39

Art 1ordm Fica criado no acircmbito do Municiacutepio de Ouro Preto o Programa da Agenda 21

Local processo e instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento

sustentaacutevel e que tem como eixo central a sustentabilidade compatibilizando a

conservaccedilatildeo ambiental a justiccedila social e o crescimento econocircmico Art 2ordm Para

efeitos de execuccedilatildeo da Agenda 21 Local o Poder Executivo instalaraacute o Foacuterum Ouro-

pretano da Agenda 21 Local (OURO PRETO Lei nordm333 Agenda 21 Local de 11

de maio de 2007)

No texto da Lei foram previstos os capiacutetulos a serem desenvolvidos Agenda 21

Estrutural Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade A

responsabilidade recaiu sobre o Foacuterum Ouro-Pretano da Agenda 21 Local Aleacutem da Lei de

criaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel encontrar nos registros legislativos digitais da Cacircmara Municipal a

Portaria Nordm 1707 que nomeia uma Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos Naturais

e Agenda 21 Local

Outra fonte de informaccedilotildees sobre a Agenda 21 Local de Ouro Preto foi encontrada

no acervo digital da Universidade Federal de Ouro Preto sob o tiacutetulo ldquoAgenda 21 Local

consolidando as bases para o desenvolvimento sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escalardquo

(OLIVEIRA 2010) Nesse trabalho foram apontadas as iniciativas que acompanharam a

criaccedilatildeo da Agenda 21 Local dentre as quais se destacam em ordem cronoloacutegica 1ordm Encontro

de Processos de Agendas 21 Locais ndash fevereiro de 2007 Plenaacuteria na Cacircmara Municipal de

Ouro preto para apresentaccedilatildeo da Agenda 21 ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio de Capacitaccedilatildeo para

a Agenda 21 Local ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio Teacutecnico de Diagnoacutestico para referecircncia da

Agenda 21 Local ndash abril de 2007 Seminaacuterio de Implantaccedilatildeo da Agenda 21 Mineral de Ouro

Preto ndash abril de 2007 Assinatura do Termo de Cooperaccedilatildeo Muacutetua entre a Prefeitura

Municipal a Cacircmara Municipal a ONG Interforum Global e a UFOP ndash maio de 2007

Seminaacuterio Intermunicipal de Agenda 21 Local ndash maio de 2007 Seminaacuterio Geral de

Capacitaccedilatildeo da Agenda 21 Local ndash agosto de 2007

Para aleacutem dos registros oficiais e dos dados encontrados no trabalho mencionado

no paraacutegrafo anterior foram encontradas somente notiacutecias informais11

sobre a criaccedilatildeo e

lanccedilamento da Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude todas datadas de 2007

11 Destacam-se ldquoO presidente da Cacircmara vereador Mauriacutelio Zacarias (PMDB) implantou no dia 20 de abril a

Agenda 21 da Mineraccedilatildeo de Ouro Preto A Agenda 21 da Mineraccedilatildeo eacute uma das subdivisotildees da Agenda 21

Global um conjunto de accedilotildees recomendadas pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) para garantir o

desenvolvimento sustentaacutevel do planeta no seacuteculo XXIrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwcmopmggovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=70agenda-21-da-mineracao-e-

implantada-em-ouro-pretoampcatid=61reunioesgt Acesso em 06 jun 2015 ldquoJuntos pela sustentabilidade o

Foacuterum da Agenda 21 Local de Ouro Preto daacute iniacutecio ao desenvolvimento de accedilotildees especiacuteficas para a implantaccedilatildeo

do capiacutetulo Agenda 21 da Juventude na escola e na universidade O lanccedilamento da Agenda 21 da Escola

acontece no dia 21 de junho quinta-feira agraves 10h no Centro de Artes e Convenccedilotildees da UFOPrdquo ndash Notiacutecia sobre a

40

Conclui-se portanto que a iniciativa da Agenda 21 Local assim como muitas das

diretrizes definidas nas Leis do Planejamento Urbano estagnou no ano de 2007 e avanccedilou

pouco em relaccedilatildeo agraves primeiras linhas da Lei Embora se tenha a informaccedilatildeo de que os Grupos

de Trabalho continuaram a desenvolver suas atividades nos anos seguintes os registros dessas

accedilotildees praacuteticas satildeo praticamente inexistentes e tais atividades praticamente natildeo efetivaram

mudanccedilas na realidade do Municiacutepio

Quanto ao Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees outro importante instrumento da gestatildeo

municipal capaz de estabelecer as bases para um ambiente urbano sustentaacutevel este nunca foi

regulamentado pelo Municiacutepio Embora citado inuacutemeras vezes no Coacutedigo de Posturas que foi

instituiacutedo em 1980 atraveacutes da Lei 178 o Coacutedigo de Obras nunca adquiriu formato oficial para

aplicaccedilatildeo e regulaccedilatildeo do territoacuterio O uacutenico registro oficial encontrado nos arquivos

eletrocircnicos da Cacircmara Municipal diz respeito a uma comissatildeo especial formada em 1992

para emissatildeo de parecer sobre o anteprojeto de Coacutedigo de Obras de Ouro Preto elaborado

pela ENGEARP ndash Arquitetura e Engenharia Ltda12

Um segundo registro foi encontrado nos

arquivos do diaacuterio oficial eletrocircnico do municiacutepio e consiste numa breve menccedilatildeo do coacutedigo de

obras numa ata de uma das reuniotildees do COMPURB Conselho Municipal de Poliacutetica

Urbana13

em abril de 2013 Apesar dos registros quase inexistentes em consulta ao corpo

teacutecnico do Departamento de Aprovaccedilatildeo de Projetos da Secretaria de Cultura e Patrimocircnio

foram identificadas algumas iniciativas quanto agrave elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo de Obras para o

municiacutepio dentre as quais se destaca o modelo desenvolvido em 2012 Tal modelo em

conformidade com as diretrizes dos coacutedigos internacionais jaacute apontados neste trabalho

ressaltou que as edificaccedilotildees e instalaccedilotildees deveriam atender agraves condiccedilotildees miacutenimas de

seguranccedila conforto ambiental higiene salubridade harmonia esteacutetica e acessibilidade

criaccedilatildeo da Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade ndash 16 de junho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwufopedubrindexphpoption=com_contentamptask=viewampid=600ampItemid=50gt Acesso em 06 jun

2015 ldquoO grupo de trabalho da Agenda 21 Local de Ouro Preto a Associaccedilatildeo Comercial de Ouro Preto e a

Cacircmara da Mulher Empreendedora de Ouro Preto convidam para uma palestra com o seguinte tema lsquoAgenda 21

de Ouro Preto -Desafios e Possibilidades da Participaccedilatildeo do Comeacutercio na Sustentabilidade Localrsquordquo Notiacutecia sobre

o Grupo de Trabalho da Agenda Ouro Preto ndash 10 de julho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwfundacaoaprenderorgbr189gt Acesso em 06 jun 2015

12 Portaria Nordm 0292 ndash 04 de fevereiro de 1992 Disponiacutevel em

lthttpwwwsistemasiglaorgarquivossisnormNJ_img(2562)pdfgt Acesso em 06 jun 2015

13 ldquo[] Gabriel sugeriu que seja incluiacutedo esses criteacuterios no coacutedigo de obrasrdquo Ata da 58ordf Reuniatildeo extraordinaacuteria

do Conselho Municipal de Poliacutetica Urbana ndash COMPURB (extraiacutedo do Diaacuterio Oficial do Municiacutepio ldquoAno V ndash

Ouro Preto 1ordm de Abril de 2013 ndash Nordm766rdquo) Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrdiario-

oficial2076601-04-2013gt Acesso em 27 jun 2015

41

Contudo eacute importante destacar que os paracircmetros necessaacuterios para o atendimento do conforto

ambiental - como criteacuterios de adequaccedilatildeo agraves caracteriacutesticas do clima local diretrizes de

conforto teacutermico luminoso e acuacutestico ndash assim como as diretrizes de eficiecircncia energeacutetica natildeo

foram contemplados no texto diminuindo consideravelmente a possibilidade de sucesso do

instrumento quanto agrave transformaccedilatildeo do ambiente urbano

Sendo assim entendendo a importacircncia que o instrumento ldquocoacutedigo de obrasrdquo tem

na conformaccedilatildeo de espaccedilos urbanos mais confortaacuteveis e equilibrados e buscando contribuir

para o Municiacutepio na consolidaccedilatildeo de Leis atualizadas e transformadoras o capiacutetulo seguinte

trataraacute do desenvolvimento de algumas dessas diretrizes para que as construccedilotildees passem a

incorporar as premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica e passem a contribuir

positivamente para o clima urbano a para a qualidade ambiental

42

6 ENSAIO PARA UM COacuteDIGO DE OBRAS PRINCIPAIS ESTRATEacuteGIAS PARA

A PROMOCcedilAtildeO DA EFICIEcircNCIA ENERGEacuteTICA NO MUNICIacutePIO DE OURO

PRETO

61 O reconhecimento do clima e as recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais

O reconhecimento do clima eacute o primeiro passo a ser dado para o desenvolvimento

das diretrizes construtivas para um determinado local O clima ldquoeacute a condiccedilatildeo meacutedia do tempo

em uma dada regiatildeo baseada em mediccedilotildees em longos periacuteodos de tempo (30 anos ou mais)rdquo

(LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 71) A anaacutelise climaacutetica feita no Brasil utiliza

em geral os dados publicados pelo Instituto Nacional e pelo Departamento Nacional de

Meteorologia por meio das Normais Climatoloacutegicas Essa publicaccedilatildeo sistematiza dentre

outros dados os valores meacutedios e extremos mensais de temperatura umidade precipitaccedilatildeo

nebulosidade e horas de sol para um periacuteodo de 30 anos A utilizaccedilatildeo dessas variaacuteveis

climaacuteticas no desenvolvimento dos projetos arquitetocircnicos possibilita a construccedilatildeo de

edificaccedilotildees mais confortaacuteveis e mais eficientes quanto ao consumo de energia

O municiacutepio de Ouro Preto contou com uma estaccedilatildeo de mediccedilatildeo e monitoramento

climaacutetico no periacuteodo entre 1976 a 1990 Sendo assim por natildeo ter permanecido em vigecircncia

pelo periacuteodo miacutenimo de 30 anos os dados do municiacutepio natildeo foram contemplados na

publicaccedilatildeo das Normais Climatoloacutegicas e podem ser encontrados apenas no registro histoacuterico

do INMET a partir do BDMEP Os dados coletados nesse periacuteodo de 14 anos embora natildeo

tenham sido publicados satildeo fundamentais para analisar o comportamento das variaacuteveis

climaacuteticas no local de estudo conforme seraacute visto nas anaacutelises a seguir

Referenciada geograficamente pelas coordenadas14

Latitude Sul 20deg23rsquo28rdquo e

Longitude Oeste 43deg30rsquo20rdquo Ouro Preto possui altitude correspondente a 1150 metros sendo

que o ponto mais alto o Pico Itacolomi estaacute situado a 1772 metros de altura A latitude e a

altitude satildeo dois importantes fatores geograacuteficos do clima quanto maior a latitude menor eacute a

temperatura superficial e quanto maior a altitude menor seraacute a temperatura e a pressatildeo

atmosfeacuterica

14 Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrlocalizacaogt Acesso em 27 jun 2015

43

Para entendermos o clima no municiacutepio e para traccedilarmos as diretrizes construtivas

que garantam o bom desempenho das edificaccedilotildees faz-se necessaacuterio primeiramente consultar

o Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro definido na parte 3 da NBR 15220

O Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro consiste na ldquodivisatildeo do territoacuterio brasileiro

em oito zonas relativamente homogecircneas quanto ao clima e para cada uma destas zonas

formulou-se um conjunto de recomendaccedilotildees teacutecnico-construtivas que otimizam o desempenho

teacutermico das edificaccedilotildees atraveacutes de sua melhor adequaccedilatildeo climaacuteticardquo (ABNT 2003) O

Zoneamento resulta da aplicaccedilatildeo da Carta Bioclimaacutetica sugerida por Givoni ldquoinserindo os

dados mensais de temperatura meacutedia e umidade relativa para cada mecircs do ano e para cada

uma das localidades agrupando entatildeo aquelas classificadas como um mesmo tipo climaacuteticordquo

(FERREIRA 2014 p432)

As diretrizes construtivas desenvolvidas na Norma tratam basicamente do

comportamento da envoltoacuteria da edificaccedilatildeo a partir da indicaccedilatildeo do tamanho das aberturas

para ventilaccedilatildeo da proteccedilatildeo das aberturas das vedaccedilotildees externas (paredes e cobertura) e das

estrateacutegias de condicionamento passivo

A NBR 15220-3 estaacute vigente desde 2005 e sua aplicaccedilatildeo estaacute direcionada para as

edificaccedilotildees de ateacute trecircs pavimentos destinadas agrave habitaccedilatildeo multifamiliar de interesse social

Contudo os preceitos nela indicados podem e devem servir como base para a adequaccedilatildeo

climaacutetica das demais edificaccedilotildees desde que a Norma natildeo seja aplicada de forma isolada isto

eacute devem ser estudados outros procedimentos e devem ser utilizadas novas ferramentas a fim

de cruzar os resultados e avanccedilar na elaboraccedilatildeo de paracircmetros construtivos cada vez mais

completos e dinacircmicos

Segundo a Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica obtida atraveacutes do programa ZBBR o

municiacutepio de Ouro Preto estaacute localizado na Zona Bioclimaacutetica 3

44

Fonte Programa ZBBR ndash Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica dos Municiacutepios Brasileiros

Em destaque o Municiacutepio de Ouro Preto ndash MG

Para as edificaccedilotildees inseridas nesta zona bioclimaacutetica a NBR 15220 traz as

seguintes orientaccedilotildees

- Quanto agraves aberturas tamanho meacutedio (15 a 25) e que possibilitem a entrada do sol

durante o inverno

- Quanto agraves vedaccedilotildees externas paredes externas leves15

e refletoras cobertura leve e

isolada

- Quanto ao condicionamento teacutermico passivo ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo

aquecimento solar durante o inverno e vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia

teacutermica

15 Quanto agrave caracterizaccedilatildeo das envoltoacuterias como ldquolevesrdquo podemos agregar para melhor entendimento a

explicaccedilatildeo de que tais envoltoacuterias devem ser de baixa ineacutercia teacutermica ou seja devem possibilitar que o ambiente

interno seja influenciado pela temperatura do ar exterior sem grande atraso Assim pode-se dizer que as

recomendaccedilotildees de envoltoacuterias leves ocorrem em ambientes onde se deseja que os ambientes internos agrave

edificaccedilatildeo sofram influecircncia direta da temperatura do exterior

45

A partir das orientaccedilotildees da Norma percebe-se que a classificaccedilatildeo das zonas

bioclimaacuteticas embora tenha uma importante contribuiccedilatildeo esta natildeo pode ser utilizada

isoladamente por natildeo agregar importantes elementos agrave caracterizaccedilatildeo do clima local como jaacute

foi dito anteriormente Sendo assim outros dados de Ouro Preto devem ser observados para

aprofundarmos um pouco mais nas recomendaccedilotildees construtivas

Dentro do espectro das variaacuteveis climaacuteticas que caracterizam uma regiatildeo merece

destaque a temperatura e a umidade A temperatura ldquoeacute a variaacutevel climaacutetica mais conhecida e

de mais faacutecil mediccedilatildeo A variaccedilatildeo da temperatura na superfiacutecie da Terra resulta basicamente

dos fluxos das grandes massas de ar e da diferente recepccedilatildeo da radiaccedilatildeo do sol de local para

localrdquo (LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 77) A temperatura varia principalmente

em funccedilatildeo da velocidade do ar mas tambeacutem eacute influenciada em maior ou menor grau pelo

tipo de solo e de vegetaccedilatildeo pela topografia e pela altitude A temperatura meacutedia anual de

Ouro Preto eacute de 185deg conforme os dados sistematizados pelo INMET A temperatura

maacutexima verificada geralmente no mecircs de fevereiro corresponde a 252deg e a temperatura

miacutenima que ocorre no mecircs de julho corresponde a 112deg Quanto agrave umidade do ar esta

resulta da evaporaccedilatildeo das aacuteguas e da evapotranspiraccedilatildeo dos vegetais e pode ser definida em

absoluta e relativa ldquoComo definiccedilatildeo de umidade absoluta tem-se que eacute o peso do vapor de

aacutegua contido em uma unidade de volume de ar (gm3) e a umidade relativa eacute a relaccedilatildeo da

umidade absoluta com a capacidade maacutexima do ar de reter vapor drsquoaacutegua agravequela temperaturardquo

(FROTA 1995 p62) A umidade do ar tem relaccedilatildeo inversa com a temperatura portanto

quanto menor a temperatura maior a possibilidade de saturaccedilatildeo do ar pela ampliaccedilatildeo da

umidade ao limite de 100 A pluviosidade tambeacutem deve ser observada pois tem relaccedilatildeo

direta com a umidade do ar sendo que a chuva proveacutem em grande parte de massas de ar

uacutemido em ascensatildeo Os dados do INMET apontam que a meacutedia anual da pluviosidade em

Ouro Preto eacute de 16703mm sendo junho o mecircs mais seco com 129mm e dezembro o mecircs

mais uacutemido com 3579mm

46

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641 (continuaccedilatildeo)

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

47

48

A partir dos dados acima eacute possiacutevel verificar inicialmente que se trata de um

clima de baixas temperaturas muito uacutemido (umidade relativa praticamente sempre acima de

80) com alta nebulosidade (o que significa que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou

nublado) e com abundacircncia de chuvas principalmente no veratildeo

Tais caracteriacutesticas satildeo acentuadas pela influecircncia da barreira orograacutefica

provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta que conforma o

Morro Satildeo Sebastiatildeo Sendo assim grande parte da mancha urbana de Ouro Preto situada agrave

barlavento da barreira natural sofre influecircncia das chuvas que resultam do resfriamento e

condensaccedilatildeo do ar em ascensatildeo aprofundando ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade citadas anteriormente

Representaccedilatildeo da influecircncia dos ventos e da topografia na mancha urbana da cidade de Ouro

Preto - a formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem base da imagem de sateacutelite extraiacuteda do Google Maps

Exemplo da chuva a barlavento resultante da formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem Sistemas Tecnoloacutegicos em Conforto Ambiental ndash Eleonora Sad Assis

Parte da malha urbana de Ouro Preto

49

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem timblindimwordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem fotografandoondeopeixeparawordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

A partir das variaacuteveis climaacuteticas sistematizadas pelo INMET podemos avanccedilar na

utilizaccedilatildeo do Diagrama Bioclimaacutetico de Givoni (DBG) que orientou a definiccedilatildeo do

Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro assim como utilizar outro instrumento de anaacutelise as

Tabelas de Mahoney que tambeacutem auxiliam na definiccedilatildeo das diretrizes construtivas

O Diagrama de Givoni nos permite identificar quais recursos satildeo necessaacuterios para

que as edificaccedilotildees atendam agraves condiccedilotildees de conforto Este instrumento aponta quais preceitos

da arquitetura bioclimaacutetica devem ser priorizados tais como ventilaccedilatildeo ineacutercia teacutermica e

50

insolaccedilatildeo assim como aponta a necessidade de soluccedilotildees mecacircnicas para o atendimento ao

conforto teacutermico

Diagrama de Givoni relativo agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O Diagrama de Givoni referente agrave Ouro Preto assinala que na maior parte do

tempo as edificaccedilotildees necessitam de aquecimento passivo tendo em vista o quadro recorrente

de baixas temperaturas e de alta umidade relativa Algumas estrateacutegias de aquecimento

passivo podem ser adaptadas agrave realidade local para melhor aproveitamento Quanto agrave cidade

de Ouro Preto deve-se pensar o ganho teacutermico principalmente durante o inverno Nessa

estaccedilatildeo embora se tenha uma queda significativa das temperaturas tem-se cerca de 6 horas

de insolaccedilatildeo diaacuteria quase duas horas a mais do que nas outras estaccedilotildees O aproveitamento

dessa radiaccedilatildeo solar deve servir para manter o ambiente aquecido durante a noite sendo

assim a utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior insolaccedilatildeo deve

possibilitar a maacutexima entrada de calor durante o dia Quanto aos materiais internos estes

devem possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser

devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente

Voltando ao Diagrama de Givoni se compararmos o resultado da cidade de Ouro

Preto com a cidade de Belo Horizonte que estaacute na mesma zona bioclimaacutetica e estaacute a 858

51

metros de altitude perceberemos o quanto eacute importante cruzar os dados de diferentes

instrumentos de anaacutelise para acertar nas diretrizes de projeto Os dados de Belo Horizonte

resultam numa linha meacutedia predominantemente inserida na zona de conforto chegando a

alcanccedilar a zona de influecircncia da ventilaccedilatildeo em algumas horas dos meses de janeiro fevereiro

e marccedilo

Diagrama de Givoni relativo agrave Belo Horizonte

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O outro meacutetodo importante de anaacutelise voltado especificamente para as

recomendaccedilotildees de projeto arquitetocircnico consiste na sistematizaccedilatildeo das recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas atraveacutes das ldquoTabelas de Mahoneyrdquo Tal meacutetodo deve ser utilizado

simultaneamente ao Diagrama de Givoni a fim de se comparar os resultados e ajustar as

diretrizes construtivas Dentre as orientaccedilotildees da Tabela de Mahoney para Ouro Preto merece

destaque a utilizaccedilatildeo de grandes aberturas (para garantir ventilaccedilatildeo abundante e permanente)

e de envoltoacuterias leves Contudo diretrizes como reduccedilatildeo da exposiccedilatildeo ao sol e proteccedilatildeo da

insolaccedilatildeo direta natildeo favorecem o aquecimento passivo conforme a necessidade observada a

partir do Diagrama de Givoni e portanto devem ser relativizadas Seguem abaixo as

recomendaccedilotildees das Tabelas de Mahoney para Ouro Preto

52

Tabela de Mahoney relativa agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

Sendo assim a partir do conhecimento das variaacuteveis climaacuteticas e dos resultados

apresentados eacute possiacutevel formular a seguinte tabela resumo quanto agraves recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas iniciais para Ouro Preto

14 Tabela de Recomendaccedilotildees Arquitetocircnicas

Total de Indicadores

Uacutemido Aacuterido

H1 H2 H3 A1 A2 A3

1 11 4 0 0 0

1 PLANTA DE SITUACcedilAtildeO

0 -10 X Construccedilotildees orientadas segundo eixo longitudinal leste-oeste

11 ou 5 -12 a fim de diminuir a exposiccedilatildeo ao sol

12 0 - 4 Plantas compactas com paacutetios internos

2 ESPACcedilAMENTO ENTRE CONSTRUCcedilOtildeES

11 ou Grandes espaccedilamentos para favorecer a penetraccedilatildeo do vento

12

2 -10 Como acima mas com proteccedilatildeo contra vento quente ou frio

0 ou 1 X Distribuiccedilatildeo compacta

3 CIRCULACcedilAtildeO DE AR

3 - 12 X Construccedilotildees com orientaccedilatildeo simples aberturas que permitam

1 ou 0 - 5 circulaccedilatildeo de ar permanente

2 6 - 12 Construccedilotildees com orientaccedilatildeo dupla circulaccedilatildeo de ar cruzada

0 2 -12 aberturas de ar controlaacuteveis

0 ou 1 Basta renovaccedilatildeo higiecircnica do ar

4 DIMENSOtildeES DAS ABERTURAS

0 ou 0 X Grandes 40 a 80 das fachadas norte e sul

1 1 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

2 - 5

6 - 10 Intermediaacuterias 20 a 35 da superfiacutecie das paredes

11 ou 0 - 3 Pequenas 15 a 25 da superfiacutecie das paredes

12 4 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

5 POSICcedilAtildeO DAS ABERTURAS

3 - 12 X Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do

1 ou 0 - 5 lado exposto ao vento

2 6 - 12 Como acima mas tambeacutem aberturas nas paredes internas

0 2 - 12

6 PROTECcedilAtildeO DAS ABERTURAS

0 - 2 X Proteger da insolaccedilatildeo direta

2 - 12 X Proteger da chuva

7 PAREDES E PISOS

0 - 2 X Construccedilotildees leves baixa ineacutercia teacutermica

3 - 12 Construccedilotildees maciccedilas tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

8 COBERTURA

10 a 0 - 2 Leve (pouca ineacutecia) superfiacutecie refletora uso de cacircmara de ar

12 3 - 12 X Leve e bem isolada

0 a 0 - 5

9 6 - 12 Maciccedila tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

9 ESPACcedilOS EXTERIORES

1 - 12 Espaccedilo para dormir ao ar livre

1 - 12 X Adequada drenagem para a chuva

3 - 12 X Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

53

Tabela resumo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas

Diagrama de Givoni

Tabelas de Mahoney

NBR 15220 ndash Parte 03

Tamanho e caracteriacutesticas das aberturas

Esquadrias devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia do calor no ambiente

Aberturas que permitam a circulaccedilatildeo de ar permanente

Tamanho meacutedio

Grandes ndash de 40 a 80 das fachadas norte e sul

Possibilitar a entrada do sol durante o inverno

Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do lado exposto ao vento

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees externas

Leves Leves e refletoras

Baixa ineacutercia teacutermica

Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees internas

Possibilitar o armazenamento do calor absorvido

Vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia teacutermica

Caracteriacutesticas da cobertura

Leve e bem isolada Leve e isolada

Condicionamento teacutermico passivo

Ganho teacutermico principalmente durante o inverno

Aberturas protegidas da insolaccedilatildeo direta e protegidas da chuva

Ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo aquecimento solar durante o inverno e

Somando-se os diversos meacutetodos de anaacutelise climaacutetica tecircm maior relevacircncia a

seguintes diretrizes

- ventilaccedilatildeo abundante principalmente durante o veratildeo a fim de reduzir a temperatura no

interior da edificaccedilatildeo e os efeitos da umidade que aumenta ainda mais em funccedilatildeo das chuvas

tiacutepicas desse periacuteodo A ventilaccedilatildeo cruzada deve ser fomentada e deve ser observado o sentido

54

predominante do vento que na cidade em questatildeo eacute sudeste a fim de se alcanccedilar melhores

resultados no conforto da edificaccedilatildeo

- aquecimento passivo para os meses de inverno a fim de diminuir o desconforto

causado pelas baixas temperaturas

- paredes leves (com baixa ineacutercia teacutermica ou seja conseguem ganhar ou perder calor

rapidamente a partir da interferecircncia e da temperatura do ar exterior) e protegidas da umidade

proveniente das chuvas fortes

- coberturas leves e bem isoladas (capazes de reter o calor absorvido durante o dia)

- as edificaccedilotildees devem estar protegidas das chuvas e devem contar com sistemas de

drenagem eficientes que possibilitem o raacutepido escoamento ou aproveitamento dessa aacutegua

62 O Coacutedigo de Obras e o conforto ambiental em Ouro Preto ndash estrateacutegias prioritaacuterias

A utilizaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental nos projetos e nas edificaccedilotildees

tem um impacto social positivo baseado em pelo menos trecircs fatores importantes melhoria das

condiccedilotildees de habitabilidade da edificaccedilatildeo e portanto melhor qualidade de vida para o

usuaacuterio melhoria nas condiccedilotildees climaacuteticas do meio externo ampliando o bem estar coletivo

reduccedilatildeo no consumo de energia e utilizaccedilatildeo eficiente do sistema de abastecimento a partir da

correta utilizaccedilatildeo dos sistemas ativos (iluminaccedilatildeo artificial condicionamento e aquecimento

de ar)

Para garantir a aplicaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental o Coacutedigo de Obras

e Edificaccedilotildees do municiacutepio deve incorporar dois importantes artigos que seratildeo detalhados

abaixo conforme o texto sugerido pelo Guia Teacutecnico ldquoElaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de

obras e edificaccedilotildeesrdquo da ELETROBRAacuteS (BAHIA GUEDES 2012)

O primeiro artigo de destaque deve ser inserido no capiacutetulo que trata das

DISPOSICcedilOtildeES PRELIMINARES e deve enumerar as diretrizes gerais para os projetos e

construccedilotildees buscando elencar tanto as demandas contemporacircneas expressas nas novas

legislaccedilotildees como os anseios para um espaccedilo urbano equilibrado e sustentaacutevel Nesse

contexto a substituiccedilatildeo da expressatildeo ldquopadrotildees miacutenimosrdquo que podem ser exemplificados pelas

diretrizes generalistas frequentemente encontradas nas legislaccedilotildees como a previsatildeo de 16 e

18 de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo para todas as localidades por ldquopadrotildees eficientesrdquo

estabelecidos atraveacutes de estudos teacutecnicos que agreguem a complexidade do clima local e que

permitam ampliar as condiccedilotildees de sustentabilidade das edificaccedilotildees ao tratar da otimizaccedilatildeo de

resultados quanto ao atendimento do conforto teacutermico visual e acuacutestico com baixo consumo

55

de energia A configuraccedilatildeo do texto deve se aproximar ao maacuteximo da proposta apresentada

pelo Guia Teacutecnico paacutegina 62

As obras instalaccedilotildees e edificaccedilotildees sejam puacuteblicas sejam privadas deveratildeo atender

agraves seguintes diretrizes gerais de forma a assegurar padrotildees eficientes de seguranccedila e

solidez salubridade e sauacutede conforto ambiental e desempenho energeacutetico

acessibilidade e livre tracircnsito de pessoas prevenccedilatildeo e uso sustentaacutevel dos recursos

naturais em cada caso e sempre que couber I - Subordinaccedilatildeo do interesse particular

ao interesse coletivo II - Promoccedilatildeo do direito agrave cidade sustentaacutevel e da funccedilatildeo

social da propriedade III - Utilizaccedilatildeo das normas teacutecnicas brasileiras e

regulamentaccedilotildees aplicaacuteveis para orientaccedilatildeo do desenvolvimento de projetos e

execuccedilatildeo de obras IV - Desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas sempre que

necessaacuterio com base nas praacuteticas locais beneacuteficas e na produccedilatildeo cientiacutefica tendo em

vista a manutenccedilatildeo da qualidade do local onde se daacute a intervenccedilatildeo e a correlaccedilatildeo

com valores culturais da populaccedilatildeo V - Garantia das condiccedilotildees de acessibilidade

circulaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo pela populaccedilatildeo em geral das edificaccedilotildees e do espaccedilo e

mobiliaacuterio urbano de uso puacuteblico e coletivo com adoccedilatildeo de soluccedilotildees especiacuteficas

para as pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida conforme previsto nas

normas teacutecnicas e na legislaccedilatildeo aplicaacutevel VI - Adoccedilatildeo de paracircmetros climaacuteticos

para o desenvolvimento de projetos de arquitetura de parcelamentos do solo e de

desenho urbano tendo em vista a correta orientaccedilatildeo solar da edificaccedilatildeo e demais

elementos as melhores condiccedilotildees de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo e pela escolha de

materiais construtivos e soluccedilotildees urbaniacutesticas adequadas em funccedilatildeo das

condicionantes ambientais locais de temperatura pluviosidade dominacircncia de

ventos ruiacutedo e paisagem natural aleacutem dos aspectos culturais que interagem com

essas condiccedilotildees VII - Utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis materiais de

construccedilatildeo certificados e ajudas teacutecnicas disponiacuteveis em complemento agrave promoccedilatildeo

do conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade das edificaccedilotildees e do

meio urbano VIII - Implantaccedilatildeo do objeto arquitetocircnico no lote bem como do

mobiliaacuterio urbano e demais artefatos nos logradouros puacuteblicos garantidas a

acessibilidade a qualidade esteacutetica e tecnoloacutegica de forma a potencializar os

atributos da paisagem urbana e evitar a poluiccedilatildeo visual IX - Adoccedilatildeo preferencial de

espeacutecies nativas na arborizaccedilatildeo puacuteblica demais projetos paisagiacutesticos e no

ajardinamento de lotes particulares X - Simplificaccedilatildeo dos procedimentos

administrativos pelo Poder Puacuteblico e promoccedilatildeo da assistecircncia para habitaccedilatildeo de

interesse social pelos agentes promotores tendo em vista facilitar a regularidade e a

correta execuccedilatildeo de projetos e obras inclusive apoiando as iniciativas de

autoconstruccedilatildeo da clientela de baixa renda (BAHIA GUEDES 2012)

O segundo artigo de grande relevacircncia deve ser inserido no capiacutetulo ldquoDAS

CONDICcedilOtildeES RELATIVAS AgraveS EDIFICACcedilOtildeESrdquo Neste capiacutetulo devem ser tratados os

paracircmetros teacutecnicos e geomeacutetricos capazes de materializar o conforto ambiental dos projetos e

edificaccedilotildees a partir do contexto climaacutetico da cidade As diretrizes apontadas devem buscar o

equiliacutebrio entre as condicionantes internas (relaccedilatildeo do usuaacuterio com a edificaccedilatildeo) e externas

(relaccedilatildeo da edificaccedilatildeo com o entorno) Quanto aos paracircmetros teacutecnicos esses devem ser

baseados nas recomendaccedilotildees do Programa Nacional de Conservaccedilatildeo de Energia Eleacutetrica ndash

PROCEL e devem se aproximar dos padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees

residenciais que satildeo atualmente estabelecidos pelo INMETRO a partir do RTQ-R ndash

Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais O texto do artigo deve seguir a sugestatildeo do Guia Teacutecnico paacutegina 107

56

Os projetos de construccedilatildeo ou reforma aleacutem de atenderem aos paracircmetros de

habitabilidade estabelecidos neste Coacutedigo devem ser orientados para a promoccedilatildeo da

sustentabilidade e eficiecircncia energeacutetica da edificaccedilatildeo com o objetivo de reduzir as

emissotildees de gases de efeito estufa (GEE) e os impactos ambientais gerados pela

construccedilatildeo e pela sua utilizaccedilatildeo ao longo do tempo racionalizando o uso da energia

da aacutegua e dos materiais nela empregados a partir das seguintes diretrizes I -

Racionalidade do projeto e do planejamento do processo de execuccedilatildeo das obras II -

Gestatildeo sustentaacutevel da obras e das praacuteticas de construccedilatildeo de forma a evitar o

desperdiacutecio de materiais III - Uso de materiais de construccedilatildeo e acabamentos

sustentaacuteveis considerando a adoccedilatildeo de materiais originaacuterios da regiatildeo produzidos

de forma sustentaacutevel e legalizada de materiais reaproveitados ou de demoliccedilatildeo e de

materiais certificados ou de comprovada responsabilidade ambiental do fabricante

IV - Ativaccedilatildeo do uso de edificaccedilotildees de valor cultural histoacuterico ou arquitetocircnico

maximizando as condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do bem imoacutevel na interaccedilatildeo com as

premissas de conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade V -

Aplicaccedilatildeo das estrateacutegias para projetos de acordo com o Zoneamento Bioclimaacutetico

brasileiro conforme NBR 15220-3 para concepccedilatildeo arquitetocircnica implantaccedilatildeo no

lote orientaccedilatildeo solar dos ambientes localizaccedilatildeo de aberturas e especificaccedilatildeo de

materiais de construccedilatildeo em prol do desempenho teacutermico da edificaccedilatildeo VI -

Aproveitamento das caracteriacutesticas climaacuteticas locais para a promoccedilatildeo do conforto

ambiental da edificaccedilatildeo a partir da consideraccedilatildeo dos seguintes fatores principais a)

Qualidade do ar b) Conforto higroteacutermico c) Conforto luminoso (ou lumiacutenico) d)

Conforto acuacutestico VII - Adoccedilatildeo de especificaccedilotildees de projeto com o objetivo de

potencializar as caracteriacutesticas climaacuteticas locais beneacuteficas eou remediar as de maior

rigor ao longo das diferentes estaccedilotildees do ano em benefiacutecio do desempenho teacutermico

e da ventilaccedilatildeo e iluminaccedilatildeo naturais da edificaccedilatildeo [] VIII - Planejamento

paisagiacutestico como elemento contribuinte para o conforto ambiental da edificaccedilatildeo

[] IX - Adoccedilatildeo de materiais construtivos que melhorem o desempenho teacutermico da

edificaccedilatildeo com base nas orientaccedilotildees e tabelas da NBR 15220-3 e especificaccedilatildeo de

equipamentos mecanismos e instalaccedilotildees que favoreccedilam a economia de energia

eleacutetrica e a reduccedilatildeo do consumo e aacutegua tratada [] (BAHIA GUEDES 2012)

Esses dois artigos apresentados embora configurem o ponto de partida natildeo satildeo

suficientes para a transformaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras em uma ferramenta concreta de

promoccedilatildeo do conforto ambiental da eficiecircncia energeacutetica e da sustentabilidade do meio

ambiente urbano Os desdobramentos desse texto devem resultar em paracircmetros teacutecnicos

como dimensionamentos diretrizes de desenho configuraccedilotildees espaciais miacutenimas dentre

inuacutemeros outros elementos de aplicaccedilatildeo obrigatoacuteria ou optativa Sendo assim o Coacutedigo de

Obras deve regulamentar por exemplo o dimensionamento de compartimentos a disposiccedilatildeo

e o dimensionamento de mobiliaacuterio fixo como louccedilas sanitaacuterias o peacute-direito as proporccedilotildees

das aberturas de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo assim como as taxas de renovaccedilatildeo do ar os niacuteveis de

ruiacutedo para o conforto acuacutestico as condiccedilotildees favoraacuteveis de transmitacircncia e a absortacircncia das

paredes e coberturas para o conforto teacutermico o dimensionamento e as condiccedilotildees das

circulaccedilotildees horizontais e verticais as instalaccedilotildees prediais dentre inuacutemeros outros itens Os

teacutecnicos devem se debruccedilar sobre tais requisitos teacutecnicos a fim de otimizar os resultados

quanto agrave construccedilatildeo da sustentabilidade no municiacutepio Deve-se utilizar as normas ABNT em

auxiacutelio agrave formulaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos a exemplo da NBR 10151 sobre Avaliaccedilatildeo do

57

Ruiacutedo em Aacutereas Habitadas NBR 5382 sobre Iluminacircncia de Interiores NBR 15215 sobre

Iluminaccedilatildeo Natural NBR 9284 sobre Equipamentos Urbanos dentre outras

Por fim deve-se prezar pela total interaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras com o conjunto

da legislaccedilatildeo urbaniacutestica local a fim de estabelecer uma relaccedilatildeo sequencial entre as etapas de e

concepccedilatildeo planejamento e construccedilatildeo das edificaccedilotildees passando das diretrizes gerais agraves

exigecircncias especiacuteficas O texto do coacutedigo de obras deve ser objetivo e didaacutetico sem incorrer

em simplificaccedilotildees O conteuacutedo deve ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e

teacutecnicos da aacuterea como pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees A dedicaccedilatildeo dos

teacutecnicos e profissionais na elaboraccedilatildeo das diretrizes transformadoras a busca pela

conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo sobre o conforto no ambiente urbano assim como a luta contra a

supremacia dos interesses privados sobre a coletividade satildeo itens importantes quanto agrave

concretizaccedilatildeo desse importante instrumento que foi apresentado e defendido ao longo do

presente trabalho

58

7 CONCLUSAtildeO

Diante das anaacutelises apresentadas ao longo deste trabalho principalmente quanto

ao ordenamento juriacutedico brasileiro para a regulaccedilatildeo urbana e o desenvolvimento sustentaacutevel

ficou comprovada a existecircncia de um conjunto significativo de legislaccedilotildees capazes de

embasar uma transformaccedilatildeo das cidades brasileiras em territoacuterios democraacuteticos igualitaacuterios e

sustentaacuteveis Poreacutem a previsatildeo legal eacute apenas o iniacutecio de um longo caminho ateacute a

transformaccedilatildeo concreta da realidade Para se avanccedilar nesse caminho uma mudanccedila poliacutetica eacute

imprescindiacutevel uma vez que as decisotildees sobre o espaccedilo urbano e sua regulamentaccedilatildeo

dependem necessariamente do interesse do gestor urbano materializado na figura dos

prefeitos e governantes das diversas esferas administrativas

Em relaccedilatildeo ao municiacutepio de Ouro Preto foi identificado que embora haja um

conjunto significativo de diretrizes urbaniacutesticas contidas no Plano Diretor e na Lei de Uso e

Ocupaccedilatildeo do Solo estas ainda satildeo insuficientes para subsidiar um desenvolvimento local

pautado na responsabilidade ambiental e na qualidade do meio ambiente urbano Isso se deve

principalmente ao fato de natildeo haver um coacutedigo de obras e edificaccedilotildees e tambeacutem ao fato de

que as iniciativas de proteccedilatildeo ambiental tal como a Agenda 21 Local natildeo foram colocadas

em praacutetica Neste sentido em relaccedilatildeo ao processo legislativo conclui-se que haacute uma

defasagem na aplicaccedilatildeo dos instrumentos de planejamento municipal previstos no Estatuto da

Cidade principalmente o Plano Diretor Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo Agenda 21 Local e Coacutedigo

de Obras e Edificaccedilotildees Aleacutem disso faltam elementos de combate agrave especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e

instrumentos de regulaccedilatildeo do solo urbano como o IPTU progressivo regularizaccedilatildeo onerosa a

assistecircncia teacutecnica gratuita dentre outros instrumentos tributaacuterios e financeiros juriacutedicos e

poliacuteticos que infelizmente ainda natildeo satildeo aplicados no municiacutepio Nesse contexto os outros

instrumentos de planejamento tais como o plano plurianual orccedilamento participativo

programas setoriais e planos de desenvolvimento econocircmico e social embora natildeo configurem

instrumentos urbaniacutesticos se colocam como ferramentas aliadas da gestatildeo democraacutetica da

cidade e da reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais visto que o processo de mudanccedila eacute

essencialmente poliacutetico Nesse sentido eacute extremamente importante que esses instrumentos

sejam pautados na real participaccedilatildeo popular na inclusatildeo e na justiccedila social

Quanto agrave sustentabilidade no ambiente urbano identificou-se que a preservaccedilatildeo e

proteccedilatildeo patrimonial pautadas no conforto do usuaacuterio a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados

a melhoria da infraestrutura urbana a concretizaccedilatildeo de projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria

59

assim como a construccedilatildeo de habitaccedilatildeo social de qualidade satildeo questotildees fundamentais para a

transformaccedilatildeo das cidades em territoacuterios democraacuteticos e sustentaacuteveis Essas demandas estatildeo

diretamente ligadas agrave mudanccedila no paradigma do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

pois uma vez colocadas em praacutetica alteram significativamente a configuraccedilatildeo das cidades

influenciando no clima urbano e na qualidade ambiental

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de uma base de dados climaacuteticos relativos ao municiacutepio

a partir das Normais Climatoloacutegicas obtidas no periacuteodo entre 1976 e 1990 foi possiacutevel

caracterizar o clima de Ouro Preto como um clima de baixas temperaturas muito uacutemido

(umidade relativa praticamente sempre acima de 80) com alta nebulosidade (o que significa

que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou nublado) e com abundacircncia de chuvas

principalmente no veratildeo Foi tambeacutem identificada uma grande interferecircncia do efeito da

barreira orograacutefica provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta

que conforma o Morro Satildeo Sebastiatildeo o que aprofunda ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade

Para a elaboraccedilatildeo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais foram utilizados os

resultados do diagrama de Givoni das Tabelas de Mahoney e da NBR 15220 Assim para a

cidade de Ouro Preto concluiu-se que a arquitetura deve priorizar o ganho teacutermico

principalmente durante o inverno pois nessa estaccedilatildeo tem-se uma queda significativa das

temperaturas o que afeta consideravelmente o conforto do usuaacuterio Esse ganho teacutermico deve

ser pensado a partir da utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior

insolaccedilatildeo o que possibilita um melhor aproveitamento dessa radiaccedilatildeo solar que deve servir

para manter o ambiente aquecido durante a noite Quanto aos materiais internos estes devem

possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser devidamente

isoladas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente Em relaccedilatildeo ao veratildeo foi

identificada a necessidade de ventilaccedilatildeo cruzada para reduzir os efeitos das temperaturas

elevadas e da alta umidade aleacutem de envoltoacuterias bem protegidas das chuvas

Por fim quanto agrave elaboraccedilatildeo do coacutedigo de obras foi possiacutevel apontar a

necessidade de se estabelecer as diretrizes para os projetos e construccedilotildees a partir dos

paracircmetros das normas teacutecnicas brasileiras do desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas com

base nas praacuteticas locais da garantia da acessibilidade das edificaccedilotildees agrave populaccedilatildeo em geral

da consideraccedilatildeo dos paracircmetros climaacuteticos e da utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis Foi

abordada a necessidade de aproximaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos do coacutedigo de obras aos

padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees residenciais previstos no RTQ-R

60

(Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais INMETRO) aleacutem da necessidade de se construir um texto objetivo e didaacutetico

que possa ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e teacutecnicos da aacuterea quanto

pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees

61

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 15220 Desempenho

teacutermico de edificaccedilotildees Rio de Janeiro ABNT 2005

BAHIA S R GUEDES P de A Elaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de obras e

edificaccedilotildees 2ordfed Rio de janeiro IBAMDUMA ELETROBRAS PROCEL 2012

BARANDIER H ALMEIDA M C T MORAIS R Planejamento e Controle Ambiental

Urbano e a Eficiecircncia Energeacutetica Rio de Janeiro IBAMDUMA ELETROBRASPROCEL

2013

BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988

BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002

BRASIL Lei nordm 10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do Desenvolvimento

Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Pesquisa nacional para identificar os resultados de

implementaccedilatildeo de processos de agendas 21 locais Brasiacutelia 2009

CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS Tiacutetulo 24 Parte 8 California Historical

Building Code 1ordm Ed Washington 2007

CSABA D SUELI R S (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo Editora da

Universidade de Satildeo Paulo 1999

FERREIRA C SOUZA H A de ASSIS E S de Estudo do clima brasileiro reflexotildees e

recomendaccedilotildees sobre a adequaccedilatildeo climaacutetica de habitaccedilotildees In XV Encontro Nacional de

Tecnologia do Ambiente Construiacutedo Maceioacute 2014

FROTA A B SCHIFFER S R Manual de Conforto Teacutermico Satildeo Paulo Nobel 1995

IBGE Perfil dos municiacutepios brasileiros 2013 Brasiacutelia 2014

LAMBERTS R DUTRA L PEREIRA FO R Eficiecircncia Energeacutetica na Arquitetura 3ordfed

ELETROBRASPROCEL 2014

MENICONI R O A Construccedilatildeo de uma Cidade-Monumento o caso de Ouro Preto Belo

Horizonte Escola de Arquitetura e Urbanismo UFMG 1999 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OLIVEIRA L B Agenda 21 Local consolidando as bases para o desenvolvimento

sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escala UFOP 2010

62

OLIVEIRA M A Os valores culturais da paisagem urbana em Ouro Preto Um Estudo de

Caso das Aacutereas Verdes na Ladeira Santa Efigecircnia e Entorno Proacuteximo Salvador Mestrado em

Arquitetura e Urbanismo da UFBA 1997

OLIVEIRA M R S Gestatildeo Patrimonial em Ouro Preto Alcances e Limites das Poliacuteticas

Puacuteblicas Preservacionistas Campinas Poacutes ndash Graduaccedilatildeo em Geografia Anaacutelise Ambiental e

Dinacircmica Territorial da UNICAMP 2005 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OURO PRETO Lei complementar nordm 011996 Institui o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro

Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 022005 Estabelece a Estrutura Baacutesica e a

organizaccedilatildeo administrativa da Prefeitura Municipal de Ouro Preto e da outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 152006 Altera a Lei Complementar ndeg 021005

modifica a denominaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Turismo Induacutestria e Comeacutercio e da

Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio suas respectivas competecircncias e daacute outras

providecircncias de 27 de Abril de 2006

OURO PRETO Lei Complementar nordm 302006 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 28 de

Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei complementar nordm 912010 Altera a Lei Complementar nordm292006 que

estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 932011 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 20 de

Janeiro de 2011

OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996

OURO PRETO Lei complementar nordm292006 Estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de

Ouro Preto de 28 de Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei nordm 333 Dispotildee sobre o Programa da Agenda 21 Local de 11 de maio de

2007

OURO PRETO Lei nordm 5790 Dispotildee sobre as diretrizes baacutesicas do Plano Diretor do

Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Portaria 0292 Nomeia Comissatildeo Especial

OURO PRETO Portaria 1707 Nomeia Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos

Naturais e Agenda 21 Local

Page 13: POLYANA PEREIRA COELHO · 2019. 11. 14. · POLYANA PEREIRA COELHO A SUSTENTABILIDADE DO AMBIENTE URBANO E OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO MUNICIPAL: RECOMENDAÇÕES PARA UM CÓDIGO DE

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soluccedilotildees locais e estabelecimento de prioridades para a gestatildeo de desde um estado

municiacutepio bacia hidrograacutefica unidade de conservaccedilatildeo ateacute um bairro uma escola O

processo deve ser articulado com outros projetos programas e atividades do governo

e sociedade sendo consolidado dentre outros a partir do envolvimento dos agentes

regionais e locais anaacutelise identificaccedilatildeo e promoccedilatildeo de instrumentos financeiros

difusatildeo e intercacircmbio de experiecircncias definiccedilatildeo de indicadores de desempenho

(AGENDA 21 Brasileira accedilotildees prioritaacuteriasComissatildeo de Poliacuteticas de

Desenvolvimento Sustentaacutevel e da Agenda 21 Nacional 2 ed Brasiacutelia Ministeacuterio

do Meio Ambiente 2004)

Desde entatildeo o esforccedilo em fomentar a construccedilatildeo das Agendas 21 Locais gerou

um resultado positivo embora muito aqueacutem do necessaacuterio para uma mudanccedila substancial nas

poliacuteticas em prol do desenvolvimento sustentaacutevel Em 2013 apenas 215 dos municiacutepios

brasileiros possuiacuteam processos em andamento relativos agrave Agenda 21 conforme foi

identificado pela IBGE a partir da Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros (MUNIC

2013) 2 Tal percentual apesar da pouca expressividade demarca um processo positivo de

mudanccedila tendo em vista que nos dados dos anos anteriores observava-se percentuais ainda

menores aleacutem de um processo de decliacutenio em 2009 a pesquisa indicou que 199 dos

municiacutepios haviam iniciado a elaboraccedilatildeo da agenda 21 enquanto em 2012 o percentual

baixou para 181

Nota-se ante ao exposto ateacute aqui que existe um arcabouccedilo legal significativo em

prol do desenvolvimento urbano sustentaacutevel Contudo a aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo existente e a

obtenccedilatildeo de resultados positivos estatildeo longe de se tornar uma realidade no Brasil Sendo

assim faz-se necessaacuterio reforccedilar a cada dia os compromissos estabelecidos nas Leis

Brasileiras e trabalhar na efetivaccedilatildeo dos instrumentos de promoccedilatildeo do equiliacutebrio ambiental a

partir da aplicaccedilatildeo das premissas da sustentabilidade Atingir o desenvolvimento urbano

sustentaacutevel natildeo eacute somente uma das opccedilotildees mas a uacutenica opccedilatildeo existente se quisermos que o

planeta tenha vida longa Preservar o meio ambiente deve ser uma accedilatildeo constante associada a

todas agraves demais poliacuteticas puacuteblicas Quanto agrave iniciativa privada esta deveraacute ser

permanentemente fiscalizada Regulamentar as atividades de exploraccedilatildeo da natureza e buscar

a inibiccedilatildeo severa de atividades de impacto ambiental satildeo tarefas urgentes que o Poder Puacuteblico

deve assimilar o quanto antes

2 Ressalta-se que ldquoA Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais ndash MUNIC eacute realizada desde o ano de 1999

pelo IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Na versatildeo de 2013 foram destacados os aspectos

relevantes da gestatildeo e da estrutura dos 5570 municiacutepios brasileiros a partir dos seguintes eixos perfil dos

gestores municipais recursos humanos das administraccedilotildees municipais legislaccedilatildeo e instrumentos de

planejamento sauacutede meio ambiente poliacutetica de gecircnero ndash temas jaacute investigados em anos anteriores ndash aleacutem de

gestatildeo de riscos e resposta a desastres este ineacutedito ateacute entatildeordquo Disponiacutevel em

lthttpwwwibgegovbrhomeestatisticaeconomiaperfilmunic2013defaultshtmgt Acesso em 06 jun 2015)

13

Somente com a permanente preocupaccedilatildeo do Estado para com o tema seraacute

possiacutevel consolidar o desenvolvimento urbano a partir da aplicaccedilatildeo das premissas da

sustentabilidade do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

14

3 O PLANO DIRETOR E OS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO

MUNICIPAL

Para introduzir a discussatildeo do Plano Diretor e demais instrumentos de

planejamento municipal previstos no Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio retomar o momento

da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 com destaque para o Art30 que determina as tarefas de

competecircncia dos Municiacutepios Dentre tais competecircncias destacam-se os incisos VIII e IX

diretamente relacionados ao planejamento urbano

Art 30 Compete aos Municiacutepios [] VIII - promover no que couber adequado

ordenamento territorial mediante planejamento e controle do uso do parcelamento e

da ocupaccedilatildeo do solo urbano IX - promover a proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-

cultural local observada a legislaccedilatildeo e a accedilatildeo fiscalizadora federal e estadual

(BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de

1988)

Aleacutem de delimitar as competecircncias municipais a Constituiccedilatildeo tambeacutem apontou

no Art182 do Capiacutetulo II o Plano Diretor - velho conhecido dos Teacutecnicos e Governantes -

como principal instrumento a ser utilizado pelos Municiacutepios no desenvolvimento da poliacutetica

urbana

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo Poder Puacuteblico

municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem por objetivo ordenar o

pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus

habitantes sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio para

cidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e de expansatildeo urbana sect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua

funccedilatildeo social quando atende agraves exigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade

expressas no plano diretor (BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do

Brasil de 5 de outubro de 1988)

Contudo tal instrumento natildeo representou uma novidade A expressatildeo Plano

Diretor foi utilizada pela primeira vez no Brasil em 1930 a partir do Plano Agache3

desenvolvido para o Rio de Janeiro Posteriormente foram desenvolvidos planos diretores em

todo o territoacuterio brasileiro planos estes que ficariam engavetados por falta de vontade

3 Nota-se que ldquoO Plano Agache foi a primeira proposta de intervenccedilatildeo urbaniacutestica na cidade do Rio de Janeiro

com preocupaccedilotildees genuinamente modernas Concluiacutedo em 1930 introduziu no cenaacuterio nacional algumas

questotildees tiacutepicas da cidade industrial tais como o planejamento do transporte de massas e do abastecimento de

aacuteguas a habitaccedilatildeo operaacuteria e o crescimento das favelas Aleacutem disso com discussotildees emergentes que iam desde a

necessidade de um zoneamento para a cidade ateacute a delimitaccedilatildeo de aacutereas verdes ultrapassou os limites do

Academicismo das intervenccedilotildees predecessoras de Pereira Passos e Paulo de Frontinrdquo Disponiacutevel em

lthttpplanourbanoriorjgovbrgt Acesso em 06 de jun 2015

15

poliacutetica A nomenclatura e o conteuacutedo dos planos diretores variaram com o passar dos anos

segundo Villaccedila

Por fim cabe abordar historicamente as jaacute mencionadas mudanccedilas na nomenclatura

nas formas nos conteuacutedos e nas metodologias dos planos Em primeiro lugar cai em

desuso a expressatildeo plano de melhoramentos e embelezamento e entra em cena a

expressatildeo urbanismo Depois esta cai em desuso sendo substituiacuteda por

planejamento urbano e plano diretor Em segundo lugar os conteuacutedos e

metodologias de elaboraccedilatildeo dos planos sofrem alteraccedilotildees radicais De enormes

volumes com centenas de paacuteginas recheados de mapas pesquisas e estatiacutesticas

elaborados por equipes multidisciplinares e abordando enorme leque de problemas

transformam-se em meros projetos de lei agraves vezes contendo apenas declaraccedilotildees de

princiacutepios poliacuteticas ou diretrizes gerais agraves vezes ateacute sem mapas ou com poucos

mapas Um simples projeto de lei publicado no Diaacuterio Oficial (CSABA Deaacutek

SUELI Ramos Schiffer (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo

Editora da Universidade de Satildeo Paulo 1999 p191)

A realidade eacute que os planos diretores desenvolvidos no Brasil entre as deacutecadas de

1940 e 1990 natildeo correspondiam ao pensamento dos governantes e das classes dominantes e

por isso natildeo contaram com intenccedilatildeo real de aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo Os objetivos apontados

natildeo seriam atingidos pois o Plano Diretor natildeo se tornara uma prioridade em nenhuma das

esferas administrativas do paiacutes

O ressurgimento do instrumento Plano Diretor em 1988 embora isento de grandes

novidades veio acompanhado da premissa da funccedilatildeo social da propriedade um aspecto

positivo e inovador da poliacutetica urbana poreacutem praticamente inviaacutevel de ser aplicado num

primeiro momento pelos obstaacuteculos constantes na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal Contudo

diante da pressatildeo dos movimentos sociais e populares que se fortaleceram durante o processo

de redemocratizaccedilatildeo tais planos foram se tornando mais politizados abordando aspectos

especiacuteficos da competecircncia municipal e tratando das polecircmicas voltadas para o territoacuterio

inclusive sobre a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria no espaccedilo urbano

Em 2001 a poliacutetica urbana foi regulamentada pela Lei 10257 - Estatuto da

Cidade ndash devidamente apresentada no capiacutetulo anterior Com uma abordagem democraacutetico-

participativa voltada para os interesses coletivos tal lei possibilitou uma mudanccedila expressiva

no planejamento urbano principalmente na esfera municipal

O Plano Diretor Participativo como seraacute chamado a partir de entatildeo se torna o

principal dentre outros sete instrumentos de planejamento municipal expressos no Art 4ordm

inciso III da Lei 10257

Art 4o Para os fins desta Lei seratildeo utilizados entre outros instrumentos [] III ndash

planejamento municipal em especial a) plano diretor b) disciplina do

parcelamento do uso e da ocupaccedilatildeo do solo c) zoneamento ambiental d) plano

plurianual e) diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual f) gestatildeo orccedilamentaacuteria

16

participativa g) planos programas e projetos setoriais h) planos de

desenvolvimento econocircmico e social (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade

de 10 de julho 2001)

O conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelos planos diretores foi estabelecido na

resoluccedilatildeo nordm34 de 01 de julho de 2005 pelo Conselho das Cidades A tal conselho

regulamentado pelo Decreto 5031 2004 competia emitir orientaccedilotildees e recomendaccedilotildees sobre

a aplicaccedilatildeo da Lei 10257 de 2001 (Estatuto da Cidade) e dos demais atos normativos

relacionados ao desenvolvimento urbano A inclusatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel das

cidades nas novas diretrizes da poliacutetica urbana teraacute no plano diretor a sua expressatildeo

fundamental Dentre o conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelo Plano Diretor Participativo

merece destaque o Art 2ordm inciso III aleacutem do Art 5ordm inciso VII do Estatuto da Cidade

Art 2deg As funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade urbana seratildeo definidas a partir

da destinaccedilatildeo de cada porccedilatildeo do territoacuterio do municiacutepio bem como da identificaccedilatildeo

dos imoacuteveis natildeo edificados subutilizados e natildeo utilizados no caso de sua existecircncia

de forma a garantir [] III - a universalizaccedilatildeo do acesso aacute aacutegua potaacutevel aos

serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio a coleta e disposiccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos e ao

manejo sustentaacutevel das aacuteguas pluviais de forma integrada aacutes poliacuteticas ambientais de

recursos hiacutedricos e de sauacutede [] Art 5deg A instituiccedilatildeo das Zonas Especiais

considerando o interesse local deveraacute [] VII - demarcar as aacutereas de proteccedilatildeo

preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e construiacutedo do patrimocircnio

cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico (BRASIL Lei nordm10257

Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

Ao estabelecer as diretrizes de ordenaccedilatildeo do solo o Plano Diretor estabelece que

a propriedade urbana deve servir agrave qualidade de vida dos cidadatildeos agrave justiccedila social e ao

desenvolvimento sustentaacutevel das atividades econocircmicas A referecircncia territorial que estrutura

as estrateacutegias definidas pelo Plano Diretor eacute o macrozoneamento Este subdivide o territoacuterio

municipal a partir da identificaccedilatildeo das potencialidades e das caracteriacutesticas de cada aacuterea Satildeo

algumas categorias utilizadas na definiccedilatildeo do macrozoneamento aacutereas aptas agrave urbanizaccedilatildeo

aacutereas propiacutecias ao desenvolvimento de atividades rurais aacutereas de preservaccedilatildeo e aacutereas de

exploraccedilatildeo econocircmica Aleacutem da definiccedilatildeo de intenccedilotildees para os vetores do territoacuterio

municipal o macrozoneamento define tambeacutem o periacutemetro urbano e as zonas de expansatildeo

urbana enquanto instrumentos de direcionamento da urbanizaccedilatildeo da gestatildeo ambiental e do

crescimento econocircmico A delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano deve ser feita a partir de planta

referenciada com clara indicaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e fiacutesicos limiacutetrofes e deve servir

para direcionar o adensamento populacional para as aacutereas providas de infraestrutura

garantindo a proteccedilatildeo das aacutereas de interesse ambiental e a reserva de aacutereas para produccedilatildeo

agriacutecola e ocupaccedilatildeo rural A alteraccedilatildeo de tal periacutemetro conforme previsto no Art42B do

17

Estatuto da Cidade deveraacute instituiacuteda por lei municipal e deve ser resultado de projeto

especiacutefico que contemple o conteuacutedo miacutenimo e que atenda agraves diretrizes do Plano Diretor

O segundo instrumento de planejamento municipal apresentado no Art 4ordm do

Estatuto da Cidade o parcelamento o uso e a ocupaccedilatildeo do solo eacute tambeacutem um importante

instrumento para a concretizaccedilatildeo dos preceitos da sustentabilidade do ambiente urbano A

Legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal definiraacute o zoneamento da aacuterea urbana Tal zoneamento

responsaacutevel pela subdivisatildeo do periacutemetro urbano em diferentes categorias eacute o principal

instrumento da regulaccedilatildeo urbana A definiccedilatildeo das categorias deveraacute ser pautada pelo melhor

aproveitamento e pela ampliaccedilatildeo do acesso agrave terra urbanizada O zoneamento orienta o

ordenamento urbano a partir das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo do solo definindo os paracircmetros

urbaniacutesticos - coeficiente de aproveitamento taxa de ocupaccedilatildeo afastamentos gabaritos - de

forma que os projetos de edificaccedilotildees e demais intervenccedilotildees mantenham uma densidade de

ocupaccedilatildeo que favoreccedila o conforto ambiental urbano Dentre os criteacuterios para a definiccedilatildeo dos

diferentes paracircmetros urbaniacutesticos que incidem sobre o territoacuterio estatildeo proteccedilatildeo das aacutereas

ambientalmente fraacutegeis adensamento de aacutereas providas de infraestrutura limitaccedilatildeo de usos a

partir da capacidade viaacuteria controle da permeabilidade do solo preservaccedilatildeo e proteccedilatildeo de

conjuntos de valor histoacuterico cultural ou ambiental distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo de baixa renda

em aacutereas bem localizadas e servidas de infraestrutura condiccedilotildees climaacuteticas locais

As diretrizes para o parcelamento geralmente compoem junto com os paracircmetros

urbaniacutesticos a mesma lei municipal O parcelamento merece destaque pois trata dos novos

espaccedilos que seratildeo incorporados ao tecido urbano da cidade e portanto deveraacute estar

integralmente articulado com as estrateacutegias do desenvolvimento urbano Eacute regulamentado em

acircmbito geral pela Lei Federal 676679 acrescida das alteraccedilotildees posteriores definidas nas leis

978599 e 1144507 O parcelamento configura um processo de expansatildeo horizontal ou

adensamento da aacuterea urbanizada e consiste na subdivisatildeo de um determinado imoacutevel sob as

formas de desmembramento (quando haacute o aproveitamento do sistema viaacuterio existente) ou

loteamento (quando haacute abertura de novas vias e logradouros ou modificaccedilatildeo dos existentes)

Deveratildeo ser contempladas na Lei de Parcelamento as aacutereas que natildeo admitiratildeo parcelamento

os paracircmetros de dimensionamento de lotes quadras e sistema viaacuterio as aacutereas de uso puacuteblico

as faixas de proteccedilatildeo a infraestrutura baacutesica os procedimentos administrativos para

aprovaccedilatildeo do projeto as contrapartidas do empreendedor as penalidades sobre infraccedilotildees

assim como os procedimentos para regularizaccedilatildeo das aacutereas em desconformidade com a Lei

Paracircmetros de conforto ambiental tais como ventos favoraacuteveis orientaccedilatildeo solar vegetaccedilatildeo

18

sistema de abastecimento de aacutegua sistema de esgotamento sanitaacuterio e sistema de drenagem

devem ser definidos em lei e cobrados nos projetos de parcelamento a fim de minimizar os

impactos ao meio ambiente

Vale destacar que o sucesso na elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo das Leis de Parcelamento

Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo depende primeiramente do comprometimento da gestatildeo municipal

com a democratizaccedilatildeo da cidade e com o bem-estar coletivo caso contraacuterio tal legislaccedilatildeo

poderaacute aprofundar a segregaccedilatildeo privilegiando a iniciativa privada a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria

e os interesses individuais

O zoneamento ambiental terceiro instrumento de planejamento municipal

apontado na lista do Art 4ordm do Estatuto da Cidade eacute tambeacutem um instrumento da Poliacutetica

Nacional do Meio Ambiente regida pela Lei 693881 Art 9ordm O zoneamento ambiental pode

ser considerado uma expressatildeo sinocircnima do Zoneamento Ecoloacutegico-Econocircmico ndash ZEE que

foi regulamentado pelo Decreto 429702

CAPITULO I - DOS OBJETIVOS E PRINCIacutePIOS ndash [] Art 2ordm O ZEE

instrumento de organizaccedilatildeo do territoacuterio a ser obrigatoriamente seguido na

implantaccedilatildeo de planos obras e atividades puacuteblicas e privadas estabelece medidas e

padrotildees de proteccedilatildeo ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental dos

recursos hiacutedricos e do solo e a conservaccedilatildeo da biodiversidade garantindo o

desenvolvimento sustentaacutevel e a melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo

Art 3ordm O ZEE tem por objetivo geral organizar de forma vinculada as decisotildees dos

agentes puacuteblicos e privados quanto a planos programas projetos e atividades que

direta ou indiretamente utilizem recursos naturais assegurando a plena manutenccedilatildeo

do capital e dos serviccedilos ambientais dos ecossistemas Paraacutegrafo uacutenico O ZEE na

distribuiccedilatildeo espacial das atividades econocircmicas levaraacute em conta a importacircncia

ecoloacutegica as limitaccedilotildees e as fragilidades dos ecossistemas estabelecendo vedaccedilotildees

restriccedilotildees e alternativas de exploraccedilatildeo do territoacuterio e determinando quando for o

caso inclusive a relocalizaccedilatildeo de atividades incompatiacuteveis com suas diretrizes

gerais (BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002)

O zoneamento ambiental ou ZEE eacute o instrumento que possibilita traccedilar um

panorama sobre a utilizaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais de um determinado

municiacutepio gerando as bases para um planejamento urbano comprometido com a

sustentabilidade ecoloacutegica econocircmica e social Tambeacutem eacute um instrumento de caraacuteter

democraacutetico-participativo e deve portanto ser acompanhado pela Administraccedilatildeo Puacuteblica em

seus diferentes niacuteveis e pela sociedade civil Tal instrumento assim como o zoneamento

urbano divide o territoacuterio em diferentes categorias As categorias do zoneamento ambiental

satildeo definidas a partir dos princiacutepios da utilidade e da simplicidade de forma a configurar

limites claros e compreensiacuteveis ao poder puacuteblico e aos cidadatildeos As diretrizes gerais e

especiacuteficas do zoneamento deveratildeo conter a capacidade de suporte ambiental de determinada

aacuterea a necessidade de proteccedilatildeo dos recursos renovaacuteveis e natildeo-renovaacuteveis a definiccedilatildeo de aacutereas

19

para unidades de conservaccedilatildeo integral a permissatildeo para exploraccedilatildeo de recursos naturais as

medidas para o desenvolvimento sustentaacutevel do setor rural medidas de ajustamento entre usos

conflitantes aleacutem de planos programas e fonte de recursos para viabilizar as atividades

apontadas para cada zona

Apesar de ser um importante instrumento de suporte agrave proteccedilatildeo do meio ambiente

o zoneamento ambiental ou ZEE ainda tem sido pouco utilizado pelos municiacutepios brasileiros

Contudo os dados da Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais (MUNIC 2013)

demonstraram que tem havido um crescimento do percentual de municiacutepios com legislaccedilatildeo

especiacutefica sobre a questatildeo ambiental o que traz um pouco de esperanccedila quanto agrave mudanccedila

dos paradigmas de proteccedilatildeo do meio ambiente A MUNIC 2013 apontou que em 2012

554 dos municiacutepios tinham legislaccedilatildeo ambiental jaacute em 2013 esse percentual subiu para

655

Por uacuteltimo os demais instrumentos de planejamento municipal apontados no Art

4ordm do Estatuto da Cidade - plano plurianual diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual

gestatildeo orccedilamentaacuteria participativa planos programas e projetos setoriais planos de

desenvolvimento econocircmico e social ndash tratariam de garantir a gestatildeo democraacutetica da cidade a

partir da realizaccedilatildeo de debates audiecircncias e consultas puacuteblicas como condiccedilatildeo para a

aprovaccedilatildeo das Leis Municipais Tais instrumentos apesar de natildeo-urbaniacutesticos tecircm uma

importacircncia decisiva na reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais Contudo embora tenham se

efetivado na maioria dos municiacutepios brasileiros ainda permanecem em sua maioria

mergulhados na velha poliacutetica clientelista que transforma os foacuteruns de participaccedilatildeo em

espaccedilos esvaziados pouco divulgados redutos de manobras poliacuteticas e trocas de favores

Infelizmente a garantia da gestatildeo democraacutetica natildeo seraacute alcanccedilada apenas por atos normativos

assim como as diretrizes estabelecidas para o desenvolvimento urbano sustentaacutevel tambeacutem

natildeo ser tornaratildeo realidade apenas por forccedila de Lei Eacute necessaacuterio mudar o caraacuteter da gestatildeo do

territoacuterio que atualmente se caracteriza pela anulaccedilatildeo da atuaccedilatildeo teacutecnica das diferentes aacutereas

do conhecimento a fim de garantir que o interesse privado prevaleccedila sobre os diretos coletivos

de toda uma cidade Eacute necessaacuterio colocar em praacutetica os preceitos das leis brasileiras efetivar

os instrumentos com real participaccedilatildeo popular lanccedilar as bases para um modelo de gestatildeo

realmente democraacutetico inclusivo e comprometido com o bem estar coletivo e com a justiccedila

social

20

4 OS DESAFIOS DA REGULACcedilAtildeO URBANA FRENTE AgraveS INTERVENCcedilOtildeES NAS

EDIFICACcedilOtildeES E NOS CONJUNTOS URBANOS TOMBADOS

A proteccedilatildeo e a preservaccedilatildeo dos siacutetios urbanos de valor histoacuterico arquitetocircnico

cultural ou paisagiacutestico satildeo imprescindiacuteveis para a manutenccedilatildeo da identidade e da memoacuteria

dos diferentes grupos sociais que por ali passaram ou nele se estabeleceram O registro da

histoacuteria deve ser deixado agraves geraccedilotildees futuras como siacutembolo do conhecimento e da experiecircncia

adquirida ao longo do tempo A proteccedilatildeo de um determinado siacutetio pode inclusive ser

utilizada quando a memoacuteria coletiva e a afetividade de uma comunidade para com um

determinado espaccedilo adquirir grande relevacircncia cultural gerando uma ambiecircncia a ser

protegida mesmo que esta tenha se consolidado em um periacuteodo recente

Atualmente a preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos e a conservaccedilatildeo dos imoacuteveis

urbanos tecircm no desenvolvimento urbano sustentaacutevel um importante aliado A disseminaccedilatildeo

da loacutegica do consumo que atinge tanto os bens materiais moacuteveis quanto os imoacuteveis resulta

numa produccedilatildeo exagerada desses bens o que demanda enorme quantidade de mateacuteria-prima e

energia e causa impacto no meio ambiente Sendo assim as poliacuteticas de preservaccedilatildeo e o

incentivo ao reuso de edifiacutecios e objetos contribuem para a sustentabilidade e o equiliacutebrio

ambiental

Hoje existem no Brasil doze siacutetios urbanos e sete siacutetios naturais que satildeo

considerados Patrimocircnio Cultural da Humanidade e portanto tombados internacionalmente

pela UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

Dentre os conjuntos tombados internacionalmente destaca-se a predominacircncia dos centros

histoacutericos de caracteriacutesticas coloniais tais como o Centro Histoacuterico de Ouro Preto MG

Olinda PE Salvador BA Satildeo Luiz do Maranhatildeo MA Diamantina MG e Goiaacutes GO Natildeo

menos importante o tombamento nacional realizado pelo IPHAN ndash Instituto do Patrimocircnio

Histoacuterico e Artiacutestico Nacional preserva 77 conjuntos urbanos espalhados por todas as regiotildees

do Brasil com destaque para a regiatildeo nordeste que conta com 30 desses centros tombados

Somam-se a esse contingente os conjuntos tombados estadualmente e municipalmente que

natildeo seratildeo aqui enumerados

A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio estaacute presente no ordenamento

juriacutedico brasileiro desde 1937 quando por meio do Decreto-Lei nordm25 criou-se o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash SPHAN (atual IPHAN) para proteger as cidades

e os monumentos da modernizaccedilatildeo das reformas urbanas e do interesse imobiliaacuterio

21

Reafirmada pelo Art 216 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e pelo Art 2ordm inciso XII do

Estatuto da Cidade a proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e

construiacutedo do patrimocircnio cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico tornou-se

diretriz obrigatoacuteria a ser contemplada pelos planos urbanos e legislaccedilotildees municipais

Contudo a preservaccedilatildeo dos conjuntos urbanos tombados natildeo pressupotildee o

congelamento das cidades Os paracircmetros para as intervenccedilotildees contemporacircneas deveratildeo ser

definidos em leis especiacuteficas de modo a evitar que o novo se sobreponha ou se confunda com

o existente A preservaccedilatildeo do conjunto tombado soacute seraacute possiacutevel se for permitido agrave cidade

expandir-se adensar-se e modificar-se Caso contraacuterio centro e cidade se tornaratildeo obsoletos

Percebe-se portanto que a regulaccedilatildeo urbana nas cidades histoacutericas enfrenta um

grande desafio preservar o antigo e abrir-se ao novo Sendo assim como proceder e quais

instrumentos utilizar Como a legislaccedilatildeo municipal deveraacute ser elaborada e aplicada a fim de

contemplar a preservaccedilatildeo do conjunto tombado e a expansatildeo da cidade seguindo os preceitos

da sustentabilidade

A preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos associada agrave expansatildeo sustentaacutevel das cidades eacute

um tema que vem sendo amplamente discutido inclusive em acircmbito internacional Nos paiacuteses

do norte e principalmente no continente europeu os siacutetios urbanos que demandam poliacuteticas

de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo remontam de seacuteculos e ateacute mesmo de milecircnios passados Embora

uma grande parte do patrimocircnio mundial tenha se perdido com a destruiccedilatildeo resultante das

guerras das cataacutestrofes e da imposiccedilatildeo de novas culturas como aconteceu principalmente nos

paiacuteses do sul que tiveram a cultura originaacuteria destruiacuteda pela colonizaccedilatildeo ainda haacute muito

patrimocircnio a ser preservado E natildeo eacute de hoje que os teacutecnicos e profissionais de diversas aacutereas

do conhecimento tecircm desenvolvido teorias e instrumentos para assegurar a salvaguarda de

todo esse patrimocircnio

Desde entatildeo leis documentos planos guias e coacutedigos vecircm sendo desenvolvidos

com o objetivo de orientar e direcionar as accedilotildees e intervenccedilotildees sobre o patrimocircnio cultural das

cidades com vistas ao desenvolvimento sustentaacutevel

Um importante documento desenvolvido em 2008 pelo Governo da Escoacutecia o

ldquoSustainable Development Guidance for Estate Managementrdquo buscou sistematizar a partir

dos preceitos da sustentabilidade estrateacutegias e orientaccedilotildees para a realizaccedilatildeo de intervenccedilotildees

principalmente para as novas construccedilotildees Tal preocupaccedilatildeo se intensificou apoacutes a discussatildeo

sobre as mudanccedilas climaacuteticas e os efeitos futuros ldquoThe Stern Review on the Economics of

Climate Changerdquo realizada pelo Governo do Reino Unido O documento ldquoSustainable

22

Development Guidance for Estate Managementrdquo se assemelha a um guia para o

desenvolvimento sustentaacutevel que aborda as estrateacutegias de accedilatildeo e recomendaccedilotildees para fazer da

Escoacutecia um paiacutes mais ecoloacutegico

Segundo esse Guia que trata da proteccedilatildeo do ambiente natural e da manutenccedilatildeo do

ambiente construiacutedo a sustentabilidade deveraacute ser uma prerrogativa tanto nas novas

construccedilotildees como na manutenccedilatildeo das edificaccedilotildees existentes nas conversotildees de uso nas

ampliaccedilotildees no retrofit4 e nas demoliccedilotildees No item 36 ldquoEmbedding sustainability within the

estate strategy processrdquo satildeo apontados os itens a serem observados na elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias e projetos para o desenvolvimento manutenccedilatildeo ou restauraccedilatildeo de edificaccedilotildees Satildeo

eles biodiversidade layout flexiacutevel nas construccedilotildees materiais construtivos e a possibilidade

de recuperaccedilatildeo reciclagem e reuso gestatildeo da aacutegua diminuiccedilatildeo da poluiccedilatildeo energia

certificada minimizaccedilatildeo do consumo de energia atraveacutes do isolamento e da ventilaccedilatildeo

natural utilizaccedilatildeo de energias renovaacuteveis como energia solar diminuiccedilatildeo do desperdiacutecio e

aumento da reciclagem dentre outros itens A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio

conforme jaacute foi discutido no iniacutecio deste capiacutetulo tambeacutem estaacute presente no Guia conforme

aponta o item 43 ldquoHistoric Buildingsrdquo Neste item direciona-se a atenccedilatildeo para as amplas

possibilidades de reuso e reabilitaccedilatildeo dessas edificaccedilotildees Tal situaccedilatildeo deve partir da

intervenccedilatildeo miacutenima e deve garantir que as caracteriacutesticas histoacutericas ou culturais dos edifiacutecios

sejam devidamente respeitadas e mantidas O Guia trata tambeacutem do procedimento para

reparos que na medida do possiacutevel deve ser feito atraveacutes das teacutecnicas tradicionais e dos

materiais originais ou compatiacuteveis sempre com apoio de profissional especializado Eacute

enfatizada tambeacutem a obrigatoriedade em solicitar das autoridades competentes autorizaccedilatildeo

para as intervenccedilotildees Por uacuteltimo apoacutes feitas todas as consideraccedilotildees sobre os aspectos

positivos da reutilizaccedilatildeo de um determinado edifiacutecio no caso de se decidir pela demoliccedilatildeo do

mesmo o Guia aponta os cuidados a serem obsevados na disposiccedilatildeo final dos resiacuteduos no

aterro sanitaacuterio alertando para a importacircncia em separar os resiacuteduos toacutexicos Os materiais

resultantes da demoliccedilatildeo como accedilo fundaccedilotildees de concreto ceracircmica madeira de assoalho

instalaccedilotildees internas placas de gesso carpete e janelas satildeo frequentemente passiacuteveis de

4 ldquoTermo utilizado principalmente em engenharia para designar o processo de modernizaccedilatildeo de algum

equipamento jaacute considerado ultrapassado ou fora de normardquo Disponiacutevel em

lthttpwwweletrobrascomrelatorio_sustentabilidade_2013anexosglossariogt Acesso em 06 de jun 2015

23

reciclagem revenda ou reutilizaccedilatildeo e natildeo devem ser descartados resultando na diminuiccedilatildeo do

desperdiacutecio e na reduccedilatildeo da exploraccedilatildeo dos recursos naturais

Outro importante documento a ser citado aqui como relevante para a proteccedilatildeo do

patrimocircnio histoacuterico e para o desenvolvimento sustentaacutevel o ldquoCalifornia Code of

Regulations Title 24rdquotambeacutem chamado de ldquoCalifornia Building Standards Coderdquo foi

finalizado em 1998 e aprovado pela ldquoCalifornia Building Standards Commissionrdquo em 2007

Tal documento trata dos paracircmetros gerais para a construccedilatildeo de edificaccedilotildees no Estado da

Califoacuternia Este Coacutedigo eacute dividido em 12 partes e traz na parte 8 de tiacutetulo ldquoCalifornia

Historical Building Code (CHBC)rdquo as exigecircncias a serem cumpridas para a permissatildeo de

reparos alteraccedilotildees e adiccedilotildees necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo relocaccedilatildeo mudanccedila de

uso ou continuaccedilatildeo de uso em edificaccedilotildees de reconhecido valor cultural ou histoacuterico5 Com o

objetivo de proteger a sauacutede e a seguranccedila das pessoas o California Historical Building Code

(CHBC) busca orientar as accedilotildees para a recuperaccedilatildeo das edificaccedilotildees histoacutericas garantindo a

preservaccedilatildeo da integridade e das caracteriacutesticas de tais edificaccedilotildees Ao todo satildeo 10 capiacutetulos

que abordam em resumo os seguintes temas capiacutetulo 01 ldquoAdministrationrdquo trata dos casos

sujeitos agrave aplicaccedilatildeo do coacutedigo cap02 ldquoDefinitionsrdquo trata das definiccedilotildees dos termos frases e

palavras necessaacuterios agrave compreensatildeo dos demais capiacutetulos cap03 ldquoUse and Occupancyrdquo trata

das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo dos edifiacutecios tais como altura maacutexima e nuacutemero de

pavimentos dimensatildeo miacutenima dos cocircmodos diretrizes de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo cap04

ldquoFire Protectionrdquo trata da proteccedilatildeo contra incecircndio e indica as diretrizes em relaccedilatildeo aos

materiais shafts telhado sistemas de alarme sistemas automaacuteticos de proteccedilatildeo como

sprinklers dentre outras tecnologias cap05 ldquoMeans of Egressrdquo trata das meios de saiacuteda das

edificaccedilotildees abordando entre outros elementos as escadas portas janelas grades e guarda-

corpos cap06 ldquoAccessibilityrdquo trata da acessibilidade aos portadores de necessidades especiais

a partir da utilizaccedilatildeo das dimensotildees miacutenimas e demais diretrizes estabelecidas para as

entradas portas banheiros rampas elevadores dentre outros cap07 ldquoStructural

5 Conforme o California Building Standards Code Parte 08 paacutegina 04 as edificaccedilotildees de reconhecido valor

cultural ou histoacuterico para as quais se utilizaraacute o CHBC satildeo ldquoFor the purposes of this part a qualified historical

building or structure is any structure or collection of structures and their associated sites deemed of importance

to the history architecture or culture of an area by an appropriate local or state governmental jurisdiction This

shall include structures on existing or future national state or local historical registers or official inventories

such as the National Register of Historic Places State Historical Landmarks State Points of Historical Interest

and city or county registers or inventories of historical or architecturally significant sites places historic districts

or landmarksrdquo (CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS 2007 p 4)

24

Regulationsrdquo trata da regulaccedilatildeo sobre os sistemas estruturais a partir da identificaccedilatildeo da

situaccedilatildeo da estrutura por profissional especializado identificaccedilatildeo dos acreacutescimos posteriores agrave

construccedilatildeo do edifiacutecio das cargas incidentes da performance dos parapeitos e da situaccedilatildeo dos

revestimentos externos e decorativos cap8 ldquoArchaic Materials and Methods of Constructionrdquo

trata dos meacutetodos e materiais construtivos tradicionais das edificaccedilotildees histoacutericas e das

diretrizes para a recuperaccedilatildeo de alvenarias adobe madeira concreto accedilo ferro vidros e

vidraccedilas cap09 ldquoMechanical Plumbing and Electrical Requirementsrdquo trata das exigecircncias

em relaccedilatildeo agraves instalaccedilotildees eleacutetricas aos encanamentos e sistemas mecacircnicos Por uacuteltimo o

cap10 ldquoQualified Historical Districts Sites and Open Spacesrdquo trata das orientaccedilotildees para a

preservaccedilatildeo dos espaccedilos abertos e siacutetios histoacutericos a partir da manutenccedilatildeo da configuraccedilatildeo

espacial existente e dos elementos constitutivos da paisagem

No Brasil o instrumento que mais se assemelha aos exemplos citados acima eacute o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees Utilizado para regulamentar os criteacuterios e procedimentos a

serem utilizados na elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de projetos de edificaccedilotildees e controlar as atividades

de construccedilatildeo6 o Coacutedigo de Obras eacute instituiacutedo por lei municipal como instrumento

complementar a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo citada anteriormente no Capiacutetulo 02 O

atendimento agraves condiccedilotildees estabelecidas nesses dois instrumentos da regulaccedilatildeo urbana ndash e o

atendimento a outras legislaccedilotildees quando for o caso - eacute requisito para a obtenccedilatildeo da licenccedila

urbaniacutestica Somente por meio da licenccedila municipal que afirma a compatibilizaccedilatildeo dos

interesses individuais e coletivos com o desenvolvimento urbano o proprietaacuterio poderaacute

exercer o seu direito sobre a propriedade sendo-lhe permitido executar as intervenccedilotildees

devidamente aprovadas Tambeacutem devem ser previstas em lei assim como os procedimentos

para o licenciamento as bases para a efetivaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo municipal como a

determinaccedilatildeo das infraccedilotildees e a previsatildeo de sanccedilotildees e multas aplicaacuteveis a cada caso

Subordinado agraves estrateacutegias de desenvolvimento estabelecidas no Plano Diretor o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees assim como a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo deve ser

elaborado a partir da preocupaccedilatildeo em se estabelecer uma boa interaccedilatildeo entre as novas

edificaccedilotildees e o conjunto urbano construiacutedo Para essa interaccedilatildeo as construccedilotildees devem atender

agraves premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica natildeo de forma isolada mas de

6 ldquoPara fins de direito entende-se por construccedilatildeo toda realizaccedilatildeo material e intencional de algueacutem visando a

adaptar o imoacutevel agraves suas conveniecircncias Nesse sentido tanto eacute construccedilatildeo a edificaccedilatildeo ou reforma como a

demoliccedilatildeo o muramento a escavaccedilatildeo o aterro a pintura e demais trabalhos destinados a beneficiar tapar

desobstruir conservar ou embelezar o preacutediordquo (BARANDIER ALMEIDA MORAIS 2013 p 147)

25

forma a interferir positivamente sobre o clima urbano e sobre a qualidade ambiental Assim

para aleacutem das diretrizes relativas ao uso agrave seguranccedila agrave salubridade agrave acessibilidade e agrave

preservaccedilatildeo dos elementos histoacutericos artiacutesticos e culturais tambeacutem devem ser elaborados

estudos climaacuteticos que aplicados ao desenho urbano possibilitem a formulaccedilatildeo de diretrizes

em prol da adaptaccedilatildeo das edificaccedilotildees agraves caracteriacutesticas climaacuteticas locais ao conforto teacutermico

luminoso e acuacutestico aleacutem da formulaccedilatildeo de diretrizes para a utilizaccedilatildeo de fontes de energia

alternativas e combate ao desperdiacutecio

Voltando aos dados obtidos pela Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros

realizada pelo IBGE em 2013 conforme pode ser visto no graacutefico abaixo do total de

municiacutepios brasileiros 624 declararam ter Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees enquanto 542

declararam ter Lei de Zoneamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo Esses dados demonstram que os

instrumentos legais embora apresentem um grande potencial de transformaccedilatildeo da realidade

urbana ainda satildeo pouco aplicados

Graacutefico do Percentual de municiacutepios segundo o tipo de instrumento de planejamento

existente - MUNIC -2013

Fonte Pesquisa ldquoPERFIL DOS MUNICIacutePIOS BRASILEIROS 2013rdquo (IBGE 2014)

Dentre os Coacutedigos de Obras existentes muitos estatildeo desatualizados defasados e

por isso natildeo configuram um mecanismo relevante quanto agrave alteraccedilatildeo do cenaacuterio das cidades

brasileiras Aleacutem disso a falha na articulaccedilatildeo dos diversos dispositivos de orientaccedilatildeo controle

e fiscalizaccedilatildeo das construccedilotildees resulta na aplicaccedilatildeo desequilibrada da lei consolidando

poliacuteticas de favorecimento exclusatildeo e segregaccedilatildeo aleacutem de ampliar a cada dia a destruiccedilatildeo e

os prejuiacutezos ambientais

26

Apesar de termos avanccedilado na construccedilatildeo conceitual dos instrumentos capazes de

nos levar ao sonhado desenvolvimento sustentaacutevel estamos ainda muito aqueacutem de efetivaacute-los

na praacutetica e no dia-a-dia dos municiacutepios A gestatildeo urbana da qual o planejamento eacute

interdependente configura a um dos principais obstaacuteculos agrave superaccedilatildeo da loacutegica atual de

valorizaccedilatildeo dos interesses individuais sobre os coletivos A falta interesse em destinar

recursos para a soluccedilatildeo de parte dos problemas soacutecio-espaciais tambeacutem eacute um grande

obstaacuteculo A melhoria da infraestrutura urbana os projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria a

construccedilatildeo de moradias populares sustentaacuteveis e a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados jaacute

configurariam um passo adiante na concretizaccedilatildeo da sustentabilidade no ambiente urbano

Sendo assim conhecidos os obstaacuteculos ou pelo menos parte deles eacute fundamental lanccedilarmos

as bases para a sua superaccedilatildeo fortalecendo os ideais de transformaccedilatildeo das cidades

27

5 O MUNICIacutePIO DE OURO PRETO UM ESTUDO DE CASO

51 Da colonizaccedilatildeo ao Seacuteculo XX

Localizado na Regiatildeo Central de Minas Gerais (ou Macrorregiatildeo Metaluacutergica) o

municiacutepio de Ouro Preto eacute possui uma aacuterea aproximada de 1245kmsup2 e sua populaccedilatildeo totaliza

cerca de 70281 habitantes7 Posicionado na porccedilatildeo centro-sul do Estado Ouro Preto tem

como principais confrontantes os municiacutepios de Mariana Itabirito Ouro Branco Congonhas

e Santa Baacuterbara Aleacutem do distrito-sede o territoacuterio eacute dividido em mais 12 distritos

Amarantina Antocircnio Pereira Cachoeira do Campo Engenheiro Correia Glaura Lavras

Novas Miguel Burnier Santa Rita Santo Antocircnio do Leite Santo Antocircnio do Salto Satildeo

Bartolomeu e Rodrigo Silva

Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ouro Preto no estado de

Minas Gerais

Fonte SMCP - PMOP

7 IBGE Diretoria de Pesquisas Coordenaccedilatildeo de Populaccedilatildeo e Indicadores Sociais ndash ldquoEstimativas da populaccedilatildeo

residente com data de referecircncia 1o de julho de 2014 publicada no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo em 28082014rdquo

Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314610ampsearch=||infogrE1ficosinformaE7F5e

s-completasgt Acesso em 06 jun 2015

28

Ouro Preto e municiacutepios limiacutetrofes

Fonte SMCP - PMOP

Mapa dos Distritos de Ouro Preto

Fonte SMCP - PMOP

Desencadeados pela exploraccedilatildeo auriacutefera do seacuteculo XVII - iniciada na regiatildeo de

Minas Gerais provavelmente em 1698 - os arraiais e agrupamentos humanos se consolidaram

na regiatildeo montanhosa e acidentada do municiacutepio de Ouro Preto primeiramente nas encostas

iacutengremes e arredores das minas e posteriormente nas margens dos rios e nos fundos de vale O

povoamento foi se intensificando em torno dos principais eixos de ligaccedilatildeo entre os nuacutecleos

29

urbanos vizinhos resultando num desenho urbano linear e longitudinal diferente do modelo

reticulado de ordenaccedilatildeo do territoacuterio que foi caracteriacutestico do Brasil Colocircnia

Agrave primeira configuraccedilatildeo urbana consolidada em 1711 deu-se o nome de Vila

Rica de Albuquerque que posteriormente em 1720 foi elevada agrave capital da Capitania das

Minas Gerais Ao longo do seacuteculo XVIII foram efetivadas as intervenccedilotildees urbanas mais

significativas e foram construiacutedas as principais referecircncias arquitetocircnicas de Ouro Preto As

principais pontes os chafarizes o Centro Administrativo (atual Praccedila Tiradentes) o Palaacutecio

dos Governadores a Casa de Cacircmara e Cadeia assim como as inuacutemeras capelas e igrejas de

estilo barroco das diversas ordens e irmandades religiosas consolidaram o cenaacuterio

setecentista que configura o atual centro histoacuterico da cidade O final do seacuteculo XVIII foi

marcado pelo esgotamento das minas de ouro o que desencadeou um esvaziamento

populacional da Vila pela crise de abastecimento e decadecircncia econocircmica

O seacuteculo XIX contudo trouxe as mudanccedilas advindas da era do Impeacuterio e em

1823 Vila Rica de Albuquerque foi elevada agrave cidade sob o tiacutetulo de Imperial Cidade de Ouro

Preto A partir daiacute a cidade passou por diversas modernizaccedilotildees a fim de se consolidar

enquanto capital da proviacutencia de Minas Gerais A criaccedilatildeo da Escola de Farmaacutecia do Liceu de

Artes e Ofiacutecios da Escola de Minas a construccedilatildeo da Estaccedilatildeo Ferroviaacuteria e a implantaccedilatildeo da

Companhia Industrial Ouro-Pretana satildeo exemplos importantes da expansatildeo e do

desenvolvimento da cidade durante o seacuteculo XIX Ao final deste seacuteculo jaacute sob a eacutegide do

periacuteodo republicano a cidade de Ouro Preto perde o status de capital da proviacutencia que em

1897 passou para Belo Horizonte Tal fato ocasionou pela segunda vez um processo de

esvaziamento e crise econocircmica na cidade Assim distante dos ideais de modernizaccedilatildeo e

desenvolvimento que cercavam a nova capital a ausecircncia de poliacuteticas de renovaccedilatildeo foi o que

garantiu a preservaccedilatildeo das feiccedilotildees urbanas da antiga Vila Rica A partir de entatildeo diversos

intelectuais da eacutepoca viajaram ateacute Ouro Preto e verificando o mal estado de conservaccedilatildeo e o

abandono da cidade comeccedilaram a produzir uma nova consciecircncia em relaccedilatildeo agrave necessidade

de se preservar os registros do passado

30

Mapa da evoluccedilatildeo urbana de Ouro Preto ndash do seacuteculo XVII ao seacuteculo XX

Fonte IGA ndash Instituto de Geociecircncias Aplicadas - 2003

Igreja de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo ndash registros do

periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

Ponte vizinha agrave Casa dos Contos - registros do periacuteodo

entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

31

Igreja N S do Pilar ndash registros do periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015apresentacao

A tradiccedilatildeo quanto agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico somente se consolidou

no Brasil a partir do seacuteculo XX Em 1931 surgiu o primeiro decreto municipal8 voltado para a

preservaccedilatildeo do cenaacuterio arquitetocircnico da cidade de Ouro preto proibindo as construccedilotildees em

desacordo com o estilo colonial predominante Em 1933 por meio do decreto nacional

22928 Ouro Preto foi erigida a Monumento Nacional Em 1938 o conjunto histoacuterico da

cidade foi tombado pelo SPHAN - Serviccedilo do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional que

havia sido criado no ano anterior Os anos seguintes foram marcados por inuacutemeras obras de

restauraccedilatildeo e tombamentos individuais

8 Decreto 13 de 19 de setembro de 1931 ldquoConsiderando que a cidade de Ouro Preto escriacutenio das tradiccedilotildees

mineiras deve conservar o seu aspecto colonial transmitido dos nossos antepassados Considerando que esta

feiccedilatildeo colonial de seus edifiacutecios de seus preacutedios das ruas e praccedilas desperta grande interesse por parte dos

turistas que frequumlentemente vecircm visitar a cidade e suas cercanias Considerando que ferem dolorosamente a

sensibilidade dos turistas os preacutedios que destoam do tipo colonial DECRETA Art 1deg - Natildeo eacute permitida no

periacutemetro urbano a construccedilatildeo de preacutedios e de edifiacutecios em desacordo com o estilo colonial da cidade Art 2deg -

Os atuais preacutedios existentes no periacutemetro urbano em desacordo com o artigo antecedente deveratildeo ser

modificados nas respectivas fachadas quando estas tenham que receber reparos []rdquo (OLIVEIRA 1997 p 7)

32

A sistematizaccedilatildeo de normas aplicaacuteveis agraves novas construccedilotildees foi realizada pelo

SPHAN (que em 1970 passou a ser chamado IPHAN9) para regular o crescimento da cidade e

o intenso surgimento de novas moradias que caracterizaram as deacutecadas de 1950 e 1960 Tal

crescimento se deu principalmente pela chegada de induacutestrias metaluacutergicas para a exploraccedilatildeo

da bauxita e produccedilatildeo de alumiacutenio primaacuterio Assim o ldquoestilo patrimocircniordquo surgiu das

exigecircncias normativas quanto agrave utilizaccedilatildeo dos elementos arquitetocircnicos tradicionais do

periacuteodo colonial

Um primeiro plano urbano foi elaborado pelo arquiteto portuguecircs Viana de Lima

entre os anos 1968 e 1970 com o objetivo de ldquopreservarrdquo o nuacutecleo histoacuterico da cidade e

consolidar o estilo patrimocircnio atraveacutes da eliminaccedilatildeo dos ecletismos da demoliccedilatildeo de obras

desprovidas de qualidade esteacutetica e do preenchimento dos vazios urbanos Nos anos seguintes

a discussatildeo sobre a salvaguarda do patrimocircnio se intensificou e deu origem a diversos outros

planos10

e programas de preservaccedilatildeo que obtiveram pouco sucesso na aplicaccedilatildeo praacutetica Em

21 de setembro de 1980 Ouro Preto recebeu da UNESCO o tiacutetulo de Patrimocircnio Cultural da

Humanidade e passou a ter visibilidade internacional

Ao final do seacuteculo XX a preocupaccedilatildeo com o desenvolvimento urbano da cidade e

com a proteccedilatildeo patrimonial gerou novas demandas em relaccedilatildeo agrave regulaccedilatildeo urbana e coube ao

IPHAN o papel de legislar sobre as intervenccedilotildees no centro histoacuterico As accedilotildees da

Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) do Instituto Estadual do Patrimocircnio Histoacuterico e

Artiacutestico (IEPHA) e do Instituto Estadual de Florestas (IEF) em pareceria com o governo

municipal e com o IPHAN foram decisivas na preservaccedilatildeo do patrimocircnio neste periacuteodo Em

1990 foram publicadas por meio da Lei 571990 as diretrizes para do Plano Diretor do

Municiacutepio sob as delineaccedilotildees inauguradas pela Constituiccedilatildeo Federal Tais diretrizes eram

bastante simplificadas e restritas aos zoneamentos e a questatildeo da preservaccedilatildeo do patrimocircnio

9 Em 1937 por meio da Lei nordm 378 foi fundado o SPHAN como oacutergatildeo oficial de preservaccedilatildeo do patrimocircnio

cultural brasileiro No mesmo ano foi promulgado o Decreto-Lei nordm 25 que regulamentou as atividades do

SPHAN Em 1946 o SPHAN teve o seu nome alterado para Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (DPHAN) Em 1970 o DPHAN eacute transformado em Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (IPHAN)

10 ldquoEm Minas Gerais a Fundaccedilatildeo Joatildeo Pinheiro (FJP) realizou um extenso diagnoacutestico e elaborou planos

diretores para diversas cidades coloniais mineiras bem como o Plano de Conservaccedilatildeo Valorizaccedilatildeo e

Desenvolvimento de Ouro Preto e Mariana em 1975 Esse Plano trata sobre a preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

patrimocircnio vinculado com as necessidades de desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio Por isso

abordou desde questotildees histoacutericas e culturais ateacute a anaacutelise de aspectos fiacutesico- territoriais tais como siacutetio natural

estudo das estruturas urbanas paisagismo e legislaccedilatildeo urbanardquo (SILVA OLIVEIRA 2005 p 180)

33

foi pouco abordada Jaacute em 1996 uma nova versatildeo do plano foi elaborada e diferentemente do

texto anterior o novo plano contemplou a preocupaccedilatildeo com o patrimocircnio e a preservaccedilatildeo

como instrumentos interligados agrave poliacutetica urbana

Art 1ordm - Em conformidade com a Constituiccedilatildeo Federal e com a Lei Orgacircnica

Municipal fica instituiacutedo o Plano Diretor de Ouro Preto (PDOP) fixando diretrizes

e instrumentos para o pleno desenvolvimento do Municiacutepio em consonacircncia com as

funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade [] Art 2ordm - O conjunto artiacutestico

arquitetocircnico urbaniacutestico paisagiacutestico e ambiental de relevante valor cultural

sediado no Municiacutepio objeto de tombamento federal e de reconhecimento

internacional pela UNESCO como Patrimocircnio Cultural da Humanidade eacute

considerado bem inalienaacutevel de sua populaccedilatildeo cabendo a ela exercer de forma

concorrente com as Administraccedilotildees Puacuteblicas a sua guarda proteccedilatildeo e gestatildeo

Paraacutegrafo uacutenico ndash A preservaccedilatildeo e a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural e ambiental

do Municiacutepio eacute fator determinante para o desenvolvimento urbano para a geraccedilatildeo de

empregos e para melhor distribuiccedilatildeo de renda Lei Complementar 0196 Ouro Preto

(OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996)

Em 1997 foi criado ldquoPlano de Reabilitaccedilatildeo do Siacutetio Histoacuterico de Ouro Pretordquo a

partir do ldquoMonumentardquo programa federal de iniciativa do Ministeacuterio da Cultura e patrocinado

pelo BID que sob a premissa do desenvolvimento econocircmico-social sustentaacutevel buscou

revitalizar os centros histoacutericos urbanos de 26 cidades brasileiras O Plano traccedilado para Ouro

Preto natildeo foi totalmente implementado mas alavancou as poliacuteticas de preservaccedilatildeo do

municiacutepio e deixou intervenccedilotildees significativas como por exemplo a recuperaccedilatildeo do Parque

Horto dos Contos (fundo de vale do Ribeiratildeo do Funil) aacuterea verde mais significativa da regiatildeo

central

34

Mapa Cadastral de Ouro Preto ndash Periacutemetro de tombamento pelo IPHAN

Fonte Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano - PMOP

52 O contexto atual

O conceito de patrimocircnio e de preservaccedilatildeo adotado no Brasil foi se modificando

ao longo da histoacuteria como foi apontado nos iniacutecio deste capiacutetulo Assim agrave medida que o

conceito adquiria relevacircncia as poliacuteticas de preservaccedilatildeo foram sendo instauradas nas esferas

administrativas Os avanccedilos iniciados no final do seacuteculo XX se consolidaram jaacute nos primeiros

anos do seacuteculo XXI O novo seacuteculo trouxe consigo uma mudanccedila significativa em relaccedilatildeo ao

desenvolvimento dos siacutetios histoacutericos que deixaram de ser vistos como uma ldquoobra de arte

intocaacutevelrdquo e passaram a ser tratados como espaccedilos socializados repletos de interaccedilatildeo cultural

e portanto passiacuteveis de transformaccedilatildeo Aleacutem dos centros urbanos o patrimocircnio imaterial

tambeacutem recebeu especial atenccedilatildeo e apoacutes 20 anos de discussatildeo a Convenccedilatildeo para a

Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial consolidada pela UNESCO em 2003 avanccedilou

no reconhecimento e na defesa das heranccedilas culturais dos povos ao redor do mundo

As transformaccedilotildees na relaccedilatildeo da preservaccedilatildeo com o planejamento urbano se

efetivaram em 2003 a partir da criaccedilatildeo do Plano de Preservaccedilatildeo de Siacutetio Histoacuterico Urbano

(PPSH) Este plano foi um instrumento de caraacuteter normativo que incidiu sobre os siacutetios

35

urbanos tombados em niacutevel federal a fim de aliar preservaccedilatildeo e desenvolvimento e incentivar

a gestatildeo compartilhada Nesse mesmo ano foi realizado o Encontro Nacional de Cidades

Histoacutericas que tratou da gestatildeo compartilhada do patrimocircnio cultural e da efetivaccedilatildeo das

poliacuteticas de preservaccedilatildeo associadas agrave legislaccedilatildeo urbana e ambiental

As mudanccedilas do iniacutecio do seacuteculo natildeo demoraram a repercutir no Municiacutepio de

Ouro Preto A partir da portaria ndeg 122 instituiacuteda em 2004 pelo presidente do IPHAN

definiu-se as diretrizes de intervenccedilatildeo e os paracircmetros para aprovaccedilatildeo de projeto no centro

histoacuterico da cidade a fim de garantir a manutenccedilatildeo das caracteriacutesticas da unidade e da

harmonia do conjunto urbano

Mapa dos bairros do municiacutepio de Ouro Preto

Fonte Secretaria Municipal de Patrimocircnio e Desenvolvimento Urbano - PMOP

36

Mapa esquemaacutetico ndash Periacutemetro urbano periacutemetro tombado e demais delimitaccedilotildees de interesse do distrito sede

Elaboraccedilatildeo Guilherme I N Ataiacutedes Base mapa do Plano Diretor

Foto da Praccedila Tiradentes

Fonte httpmondegocombrpraca-tiradentes

37

Foto Campus UFOP

Fonte httpwwwseeufopbrp=490

Foto IFMG

Fonte httpwwwouropretoifmgedubrcomunicacaoimagens-e-videoscampus-ouro-

pretocampusimage_view_fullscreen

Em 2006 a remodelaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Patrimocircnio e

Desenvolvimento Urbano (antiga Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio) deu um novo

impulso agrave preservaccedilatildeo no acircmbito da gestatildeo municipal unindo as poliacuteticas de proteccedilatildeo agraves

poliacuteticas de planejamento urbano O Grupo de Assessoramento Teacutecnico ndash GAT e o Conselho

Municipal de Patrimocircnio foram novamente colocados em accedilatildeo Um novo Plano Diretor

promulgado ao final deste mesmo ano atraveacutes da Lei Complementar Nordm 29 agregou as

conquistas do Estatuto da Cidade aos preceitos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio e acrescentou as

diretrizes para a proteccedilatildeo ambiental Os temas funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

estruturaccedilatildeo territorial desenvolvimento econocircmico proteccedilatildeo ambiental proteccedilatildeo ao

patrimocircnio cultural poliacutetica de desenvolvimento social produccedilatildeo da cidade e mobilidade

urbana intitulam alguns dos capiacutetulos da Lei Os instrumentos da poliacutetica urbana para o

cumprimento da funccedilatildeo social da propriedade aparecem no texto logo em sequecircncia A Lei de

38

Parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo conforme previsatildeo do Art 81 do Plano Diretor foi

promulgada no mesmo dia 28 de dezembro de 2006

A partir de entatildeo o municiacutepio assume sua funccedilatildeo enquanto principal oacutergatildeo de

gestatildeo do territoacuterio tarefa que anteriormente era desempenhada pelo Governo Federal e pelo

IPHAN Ao final de 2010 por meio da Lei Complementar Nordm 91 o Plano Diretor passa por

alteraccedilotildees pontuais e em 2011 a Lei de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo eacute amplamente

revisada dando origem aos paracircmetros utilizados nos dias atuais

Dentro desse resumido panorama legislativo apresentado pode-se perceber que o

Municiacutepio de Ouro Preto acompanhou em grande parte os avanccedilos inaugurados pelo

Estatuto da Cidade e concretizou ao menos em forma de Lei a regulamentaccedilatildeo das diretrizes

e dos instrumentos capazes de fazer valer a funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

Contudo tais avanccedilos representam muito pouco frente ao gigantesco desafio

enunciado no Art 2 inciso II do mesmo Estatuto quanto agrave ldquogarantia do direito a cidades

sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao saneamento ambiental

agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para

as presentes e futuras geraccedilotildeesrdquo(Lei 10257 2001)

Aleacutem da amplitude da tarefa outros elementos dificultam ainda mais o processo

de construccedilatildeo de uma nova realidade como por exemplo a negligecircncia dos gestores puacuteblicos

para com a atualizaccedilatildeo necessaacuteria e obrigatoacuteria das Leis O Plano Diretor de Ouro Preto

indica jaacute no Capiacutetulo 1 artigo 1ordm sect3ordm o prazo maacuteximo para a revisatildeo do mesmo estabelecido

em cinco anos a partir da sua publicaccedilatildeo ou seja 2011 Sendo assim percebe-se que a Lei

de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo revisada em 2011 embora seja o principal instrumento de

controle urbaniacutestico ateacute os dias de hoje jaacute nasceu defasada pois utilizou como referecircncia a

estrateacutegia de desenvolvimento urbano definida no Plano Diretor de 2006 desconsiderando os

impactos e as mudanccedilas territoriais sociais e culturais ocorridos desde entatildeo No geral os

gestores municipais tratam apenas de alteraccedilotildees pontuais que apenas mascaram o quadro de

estagnaccedilatildeo e desatualizaccedilatildeo das leis urbaniacutesticas Tal conduta conforma um enorme obstaacuteculo

na concretizaccedilatildeo das diretrizes do Estatuto da Cidade

Nos capiacutetulos anteriores ao tratarmos do desenvolvimento sustentaacutevel dois

importantes instrumentos foram apontados como peccedilas-chave da consolidaccedilatildeo de uma nova

experiecircncia de sustentabilidade no ambiente urbano a agenda 21 e o coacutedigo de obras

O primeiro deles a agenda 21 local foi estabelecida em 15 de maio de 2007 por

meio da Lei Nordm 333

39

Art 1ordm Fica criado no acircmbito do Municiacutepio de Ouro Preto o Programa da Agenda 21

Local processo e instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento

sustentaacutevel e que tem como eixo central a sustentabilidade compatibilizando a

conservaccedilatildeo ambiental a justiccedila social e o crescimento econocircmico Art 2ordm Para

efeitos de execuccedilatildeo da Agenda 21 Local o Poder Executivo instalaraacute o Foacuterum Ouro-

pretano da Agenda 21 Local (OURO PRETO Lei nordm333 Agenda 21 Local de 11

de maio de 2007)

No texto da Lei foram previstos os capiacutetulos a serem desenvolvidos Agenda 21

Estrutural Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade A

responsabilidade recaiu sobre o Foacuterum Ouro-Pretano da Agenda 21 Local Aleacutem da Lei de

criaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel encontrar nos registros legislativos digitais da Cacircmara Municipal a

Portaria Nordm 1707 que nomeia uma Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos Naturais

e Agenda 21 Local

Outra fonte de informaccedilotildees sobre a Agenda 21 Local de Ouro Preto foi encontrada

no acervo digital da Universidade Federal de Ouro Preto sob o tiacutetulo ldquoAgenda 21 Local

consolidando as bases para o desenvolvimento sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escalardquo

(OLIVEIRA 2010) Nesse trabalho foram apontadas as iniciativas que acompanharam a

criaccedilatildeo da Agenda 21 Local dentre as quais se destacam em ordem cronoloacutegica 1ordm Encontro

de Processos de Agendas 21 Locais ndash fevereiro de 2007 Plenaacuteria na Cacircmara Municipal de

Ouro preto para apresentaccedilatildeo da Agenda 21 ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio de Capacitaccedilatildeo para

a Agenda 21 Local ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio Teacutecnico de Diagnoacutestico para referecircncia da

Agenda 21 Local ndash abril de 2007 Seminaacuterio de Implantaccedilatildeo da Agenda 21 Mineral de Ouro

Preto ndash abril de 2007 Assinatura do Termo de Cooperaccedilatildeo Muacutetua entre a Prefeitura

Municipal a Cacircmara Municipal a ONG Interforum Global e a UFOP ndash maio de 2007

Seminaacuterio Intermunicipal de Agenda 21 Local ndash maio de 2007 Seminaacuterio Geral de

Capacitaccedilatildeo da Agenda 21 Local ndash agosto de 2007

Para aleacutem dos registros oficiais e dos dados encontrados no trabalho mencionado

no paraacutegrafo anterior foram encontradas somente notiacutecias informais11

sobre a criaccedilatildeo e

lanccedilamento da Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude todas datadas de 2007

11 Destacam-se ldquoO presidente da Cacircmara vereador Mauriacutelio Zacarias (PMDB) implantou no dia 20 de abril a

Agenda 21 da Mineraccedilatildeo de Ouro Preto A Agenda 21 da Mineraccedilatildeo eacute uma das subdivisotildees da Agenda 21

Global um conjunto de accedilotildees recomendadas pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) para garantir o

desenvolvimento sustentaacutevel do planeta no seacuteculo XXIrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwcmopmggovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=70agenda-21-da-mineracao-e-

implantada-em-ouro-pretoampcatid=61reunioesgt Acesso em 06 jun 2015 ldquoJuntos pela sustentabilidade o

Foacuterum da Agenda 21 Local de Ouro Preto daacute iniacutecio ao desenvolvimento de accedilotildees especiacuteficas para a implantaccedilatildeo

do capiacutetulo Agenda 21 da Juventude na escola e na universidade O lanccedilamento da Agenda 21 da Escola

acontece no dia 21 de junho quinta-feira agraves 10h no Centro de Artes e Convenccedilotildees da UFOPrdquo ndash Notiacutecia sobre a

40

Conclui-se portanto que a iniciativa da Agenda 21 Local assim como muitas das

diretrizes definidas nas Leis do Planejamento Urbano estagnou no ano de 2007 e avanccedilou

pouco em relaccedilatildeo agraves primeiras linhas da Lei Embora se tenha a informaccedilatildeo de que os Grupos

de Trabalho continuaram a desenvolver suas atividades nos anos seguintes os registros dessas

accedilotildees praacuteticas satildeo praticamente inexistentes e tais atividades praticamente natildeo efetivaram

mudanccedilas na realidade do Municiacutepio

Quanto ao Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees outro importante instrumento da gestatildeo

municipal capaz de estabelecer as bases para um ambiente urbano sustentaacutevel este nunca foi

regulamentado pelo Municiacutepio Embora citado inuacutemeras vezes no Coacutedigo de Posturas que foi

instituiacutedo em 1980 atraveacutes da Lei 178 o Coacutedigo de Obras nunca adquiriu formato oficial para

aplicaccedilatildeo e regulaccedilatildeo do territoacuterio O uacutenico registro oficial encontrado nos arquivos

eletrocircnicos da Cacircmara Municipal diz respeito a uma comissatildeo especial formada em 1992

para emissatildeo de parecer sobre o anteprojeto de Coacutedigo de Obras de Ouro Preto elaborado

pela ENGEARP ndash Arquitetura e Engenharia Ltda12

Um segundo registro foi encontrado nos

arquivos do diaacuterio oficial eletrocircnico do municiacutepio e consiste numa breve menccedilatildeo do coacutedigo de

obras numa ata de uma das reuniotildees do COMPURB Conselho Municipal de Poliacutetica

Urbana13

em abril de 2013 Apesar dos registros quase inexistentes em consulta ao corpo

teacutecnico do Departamento de Aprovaccedilatildeo de Projetos da Secretaria de Cultura e Patrimocircnio

foram identificadas algumas iniciativas quanto agrave elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo de Obras para o

municiacutepio dentre as quais se destaca o modelo desenvolvido em 2012 Tal modelo em

conformidade com as diretrizes dos coacutedigos internacionais jaacute apontados neste trabalho

ressaltou que as edificaccedilotildees e instalaccedilotildees deveriam atender agraves condiccedilotildees miacutenimas de

seguranccedila conforto ambiental higiene salubridade harmonia esteacutetica e acessibilidade

criaccedilatildeo da Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade ndash 16 de junho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwufopedubrindexphpoption=com_contentamptask=viewampid=600ampItemid=50gt Acesso em 06 jun

2015 ldquoO grupo de trabalho da Agenda 21 Local de Ouro Preto a Associaccedilatildeo Comercial de Ouro Preto e a

Cacircmara da Mulher Empreendedora de Ouro Preto convidam para uma palestra com o seguinte tema lsquoAgenda 21

de Ouro Preto -Desafios e Possibilidades da Participaccedilatildeo do Comeacutercio na Sustentabilidade Localrsquordquo Notiacutecia sobre

o Grupo de Trabalho da Agenda Ouro Preto ndash 10 de julho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwfundacaoaprenderorgbr189gt Acesso em 06 jun 2015

12 Portaria Nordm 0292 ndash 04 de fevereiro de 1992 Disponiacutevel em

lthttpwwwsistemasiglaorgarquivossisnormNJ_img(2562)pdfgt Acesso em 06 jun 2015

13 ldquo[] Gabriel sugeriu que seja incluiacutedo esses criteacuterios no coacutedigo de obrasrdquo Ata da 58ordf Reuniatildeo extraordinaacuteria

do Conselho Municipal de Poliacutetica Urbana ndash COMPURB (extraiacutedo do Diaacuterio Oficial do Municiacutepio ldquoAno V ndash

Ouro Preto 1ordm de Abril de 2013 ndash Nordm766rdquo) Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrdiario-

oficial2076601-04-2013gt Acesso em 27 jun 2015

41

Contudo eacute importante destacar que os paracircmetros necessaacuterios para o atendimento do conforto

ambiental - como criteacuterios de adequaccedilatildeo agraves caracteriacutesticas do clima local diretrizes de

conforto teacutermico luminoso e acuacutestico ndash assim como as diretrizes de eficiecircncia energeacutetica natildeo

foram contemplados no texto diminuindo consideravelmente a possibilidade de sucesso do

instrumento quanto agrave transformaccedilatildeo do ambiente urbano

Sendo assim entendendo a importacircncia que o instrumento ldquocoacutedigo de obrasrdquo tem

na conformaccedilatildeo de espaccedilos urbanos mais confortaacuteveis e equilibrados e buscando contribuir

para o Municiacutepio na consolidaccedilatildeo de Leis atualizadas e transformadoras o capiacutetulo seguinte

trataraacute do desenvolvimento de algumas dessas diretrizes para que as construccedilotildees passem a

incorporar as premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica e passem a contribuir

positivamente para o clima urbano a para a qualidade ambiental

42

6 ENSAIO PARA UM COacuteDIGO DE OBRAS PRINCIPAIS ESTRATEacuteGIAS PARA

A PROMOCcedilAtildeO DA EFICIEcircNCIA ENERGEacuteTICA NO MUNICIacutePIO DE OURO

PRETO

61 O reconhecimento do clima e as recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais

O reconhecimento do clima eacute o primeiro passo a ser dado para o desenvolvimento

das diretrizes construtivas para um determinado local O clima ldquoeacute a condiccedilatildeo meacutedia do tempo

em uma dada regiatildeo baseada em mediccedilotildees em longos periacuteodos de tempo (30 anos ou mais)rdquo

(LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 71) A anaacutelise climaacutetica feita no Brasil utiliza

em geral os dados publicados pelo Instituto Nacional e pelo Departamento Nacional de

Meteorologia por meio das Normais Climatoloacutegicas Essa publicaccedilatildeo sistematiza dentre

outros dados os valores meacutedios e extremos mensais de temperatura umidade precipitaccedilatildeo

nebulosidade e horas de sol para um periacuteodo de 30 anos A utilizaccedilatildeo dessas variaacuteveis

climaacuteticas no desenvolvimento dos projetos arquitetocircnicos possibilita a construccedilatildeo de

edificaccedilotildees mais confortaacuteveis e mais eficientes quanto ao consumo de energia

O municiacutepio de Ouro Preto contou com uma estaccedilatildeo de mediccedilatildeo e monitoramento

climaacutetico no periacuteodo entre 1976 a 1990 Sendo assim por natildeo ter permanecido em vigecircncia

pelo periacuteodo miacutenimo de 30 anos os dados do municiacutepio natildeo foram contemplados na

publicaccedilatildeo das Normais Climatoloacutegicas e podem ser encontrados apenas no registro histoacuterico

do INMET a partir do BDMEP Os dados coletados nesse periacuteodo de 14 anos embora natildeo

tenham sido publicados satildeo fundamentais para analisar o comportamento das variaacuteveis

climaacuteticas no local de estudo conforme seraacute visto nas anaacutelises a seguir

Referenciada geograficamente pelas coordenadas14

Latitude Sul 20deg23rsquo28rdquo e

Longitude Oeste 43deg30rsquo20rdquo Ouro Preto possui altitude correspondente a 1150 metros sendo

que o ponto mais alto o Pico Itacolomi estaacute situado a 1772 metros de altura A latitude e a

altitude satildeo dois importantes fatores geograacuteficos do clima quanto maior a latitude menor eacute a

temperatura superficial e quanto maior a altitude menor seraacute a temperatura e a pressatildeo

atmosfeacuterica

14 Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrlocalizacaogt Acesso em 27 jun 2015

43

Para entendermos o clima no municiacutepio e para traccedilarmos as diretrizes construtivas

que garantam o bom desempenho das edificaccedilotildees faz-se necessaacuterio primeiramente consultar

o Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro definido na parte 3 da NBR 15220

O Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro consiste na ldquodivisatildeo do territoacuterio brasileiro

em oito zonas relativamente homogecircneas quanto ao clima e para cada uma destas zonas

formulou-se um conjunto de recomendaccedilotildees teacutecnico-construtivas que otimizam o desempenho

teacutermico das edificaccedilotildees atraveacutes de sua melhor adequaccedilatildeo climaacuteticardquo (ABNT 2003) O

Zoneamento resulta da aplicaccedilatildeo da Carta Bioclimaacutetica sugerida por Givoni ldquoinserindo os

dados mensais de temperatura meacutedia e umidade relativa para cada mecircs do ano e para cada

uma das localidades agrupando entatildeo aquelas classificadas como um mesmo tipo climaacuteticordquo

(FERREIRA 2014 p432)

As diretrizes construtivas desenvolvidas na Norma tratam basicamente do

comportamento da envoltoacuteria da edificaccedilatildeo a partir da indicaccedilatildeo do tamanho das aberturas

para ventilaccedilatildeo da proteccedilatildeo das aberturas das vedaccedilotildees externas (paredes e cobertura) e das

estrateacutegias de condicionamento passivo

A NBR 15220-3 estaacute vigente desde 2005 e sua aplicaccedilatildeo estaacute direcionada para as

edificaccedilotildees de ateacute trecircs pavimentos destinadas agrave habitaccedilatildeo multifamiliar de interesse social

Contudo os preceitos nela indicados podem e devem servir como base para a adequaccedilatildeo

climaacutetica das demais edificaccedilotildees desde que a Norma natildeo seja aplicada de forma isolada isto

eacute devem ser estudados outros procedimentos e devem ser utilizadas novas ferramentas a fim

de cruzar os resultados e avanccedilar na elaboraccedilatildeo de paracircmetros construtivos cada vez mais

completos e dinacircmicos

Segundo a Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica obtida atraveacutes do programa ZBBR o

municiacutepio de Ouro Preto estaacute localizado na Zona Bioclimaacutetica 3

44

Fonte Programa ZBBR ndash Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica dos Municiacutepios Brasileiros

Em destaque o Municiacutepio de Ouro Preto ndash MG

Para as edificaccedilotildees inseridas nesta zona bioclimaacutetica a NBR 15220 traz as

seguintes orientaccedilotildees

- Quanto agraves aberturas tamanho meacutedio (15 a 25) e que possibilitem a entrada do sol

durante o inverno

- Quanto agraves vedaccedilotildees externas paredes externas leves15

e refletoras cobertura leve e

isolada

- Quanto ao condicionamento teacutermico passivo ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo

aquecimento solar durante o inverno e vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia

teacutermica

15 Quanto agrave caracterizaccedilatildeo das envoltoacuterias como ldquolevesrdquo podemos agregar para melhor entendimento a

explicaccedilatildeo de que tais envoltoacuterias devem ser de baixa ineacutercia teacutermica ou seja devem possibilitar que o ambiente

interno seja influenciado pela temperatura do ar exterior sem grande atraso Assim pode-se dizer que as

recomendaccedilotildees de envoltoacuterias leves ocorrem em ambientes onde se deseja que os ambientes internos agrave

edificaccedilatildeo sofram influecircncia direta da temperatura do exterior

45

A partir das orientaccedilotildees da Norma percebe-se que a classificaccedilatildeo das zonas

bioclimaacuteticas embora tenha uma importante contribuiccedilatildeo esta natildeo pode ser utilizada

isoladamente por natildeo agregar importantes elementos agrave caracterizaccedilatildeo do clima local como jaacute

foi dito anteriormente Sendo assim outros dados de Ouro Preto devem ser observados para

aprofundarmos um pouco mais nas recomendaccedilotildees construtivas

Dentro do espectro das variaacuteveis climaacuteticas que caracterizam uma regiatildeo merece

destaque a temperatura e a umidade A temperatura ldquoeacute a variaacutevel climaacutetica mais conhecida e

de mais faacutecil mediccedilatildeo A variaccedilatildeo da temperatura na superfiacutecie da Terra resulta basicamente

dos fluxos das grandes massas de ar e da diferente recepccedilatildeo da radiaccedilatildeo do sol de local para

localrdquo (LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 77) A temperatura varia principalmente

em funccedilatildeo da velocidade do ar mas tambeacutem eacute influenciada em maior ou menor grau pelo

tipo de solo e de vegetaccedilatildeo pela topografia e pela altitude A temperatura meacutedia anual de

Ouro Preto eacute de 185deg conforme os dados sistematizados pelo INMET A temperatura

maacutexima verificada geralmente no mecircs de fevereiro corresponde a 252deg e a temperatura

miacutenima que ocorre no mecircs de julho corresponde a 112deg Quanto agrave umidade do ar esta

resulta da evaporaccedilatildeo das aacuteguas e da evapotranspiraccedilatildeo dos vegetais e pode ser definida em

absoluta e relativa ldquoComo definiccedilatildeo de umidade absoluta tem-se que eacute o peso do vapor de

aacutegua contido em uma unidade de volume de ar (gm3) e a umidade relativa eacute a relaccedilatildeo da

umidade absoluta com a capacidade maacutexima do ar de reter vapor drsquoaacutegua agravequela temperaturardquo

(FROTA 1995 p62) A umidade do ar tem relaccedilatildeo inversa com a temperatura portanto

quanto menor a temperatura maior a possibilidade de saturaccedilatildeo do ar pela ampliaccedilatildeo da

umidade ao limite de 100 A pluviosidade tambeacutem deve ser observada pois tem relaccedilatildeo

direta com a umidade do ar sendo que a chuva proveacutem em grande parte de massas de ar

uacutemido em ascensatildeo Os dados do INMET apontam que a meacutedia anual da pluviosidade em

Ouro Preto eacute de 16703mm sendo junho o mecircs mais seco com 129mm e dezembro o mecircs

mais uacutemido com 3579mm

46

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641 (continuaccedilatildeo)

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

47

48

A partir dos dados acima eacute possiacutevel verificar inicialmente que se trata de um

clima de baixas temperaturas muito uacutemido (umidade relativa praticamente sempre acima de

80) com alta nebulosidade (o que significa que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou

nublado) e com abundacircncia de chuvas principalmente no veratildeo

Tais caracteriacutesticas satildeo acentuadas pela influecircncia da barreira orograacutefica

provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta que conforma o

Morro Satildeo Sebastiatildeo Sendo assim grande parte da mancha urbana de Ouro Preto situada agrave

barlavento da barreira natural sofre influecircncia das chuvas que resultam do resfriamento e

condensaccedilatildeo do ar em ascensatildeo aprofundando ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade citadas anteriormente

Representaccedilatildeo da influecircncia dos ventos e da topografia na mancha urbana da cidade de Ouro

Preto - a formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem base da imagem de sateacutelite extraiacuteda do Google Maps

Exemplo da chuva a barlavento resultante da formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem Sistemas Tecnoloacutegicos em Conforto Ambiental ndash Eleonora Sad Assis

Parte da malha urbana de Ouro Preto

49

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem timblindimwordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem fotografandoondeopeixeparawordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

A partir das variaacuteveis climaacuteticas sistematizadas pelo INMET podemos avanccedilar na

utilizaccedilatildeo do Diagrama Bioclimaacutetico de Givoni (DBG) que orientou a definiccedilatildeo do

Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro assim como utilizar outro instrumento de anaacutelise as

Tabelas de Mahoney que tambeacutem auxiliam na definiccedilatildeo das diretrizes construtivas

O Diagrama de Givoni nos permite identificar quais recursos satildeo necessaacuterios para

que as edificaccedilotildees atendam agraves condiccedilotildees de conforto Este instrumento aponta quais preceitos

da arquitetura bioclimaacutetica devem ser priorizados tais como ventilaccedilatildeo ineacutercia teacutermica e

50

insolaccedilatildeo assim como aponta a necessidade de soluccedilotildees mecacircnicas para o atendimento ao

conforto teacutermico

Diagrama de Givoni relativo agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O Diagrama de Givoni referente agrave Ouro Preto assinala que na maior parte do

tempo as edificaccedilotildees necessitam de aquecimento passivo tendo em vista o quadro recorrente

de baixas temperaturas e de alta umidade relativa Algumas estrateacutegias de aquecimento

passivo podem ser adaptadas agrave realidade local para melhor aproveitamento Quanto agrave cidade

de Ouro Preto deve-se pensar o ganho teacutermico principalmente durante o inverno Nessa

estaccedilatildeo embora se tenha uma queda significativa das temperaturas tem-se cerca de 6 horas

de insolaccedilatildeo diaacuteria quase duas horas a mais do que nas outras estaccedilotildees O aproveitamento

dessa radiaccedilatildeo solar deve servir para manter o ambiente aquecido durante a noite sendo

assim a utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior insolaccedilatildeo deve

possibilitar a maacutexima entrada de calor durante o dia Quanto aos materiais internos estes

devem possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser

devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente

Voltando ao Diagrama de Givoni se compararmos o resultado da cidade de Ouro

Preto com a cidade de Belo Horizonte que estaacute na mesma zona bioclimaacutetica e estaacute a 858

51

metros de altitude perceberemos o quanto eacute importante cruzar os dados de diferentes

instrumentos de anaacutelise para acertar nas diretrizes de projeto Os dados de Belo Horizonte

resultam numa linha meacutedia predominantemente inserida na zona de conforto chegando a

alcanccedilar a zona de influecircncia da ventilaccedilatildeo em algumas horas dos meses de janeiro fevereiro

e marccedilo

Diagrama de Givoni relativo agrave Belo Horizonte

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O outro meacutetodo importante de anaacutelise voltado especificamente para as

recomendaccedilotildees de projeto arquitetocircnico consiste na sistematizaccedilatildeo das recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas atraveacutes das ldquoTabelas de Mahoneyrdquo Tal meacutetodo deve ser utilizado

simultaneamente ao Diagrama de Givoni a fim de se comparar os resultados e ajustar as

diretrizes construtivas Dentre as orientaccedilotildees da Tabela de Mahoney para Ouro Preto merece

destaque a utilizaccedilatildeo de grandes aberturas (para garantir ventilaccedilatildeo abundante e permanente)

e de envoltoacuterias leves Contudo diretrizes como reduccedilatildeo da exposiccedilatildeo ao sol e proteccedilatildeo da

insolaccedilatildeo direta natildeo favorecem o aquecimento passivo conforme a necessidade observada a

partir do Diagrama de Givoni e portanto devem ser relativizadas Seguem abaixo as

recomendaccedilotildees das Tabelas de Mahoney para Ouro Preto

52

Tabela de Mahoney relativa agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

Sendo assim a partir do conhecimento das variaacuteveis climaacuteticas e dos resultados

apresentados eacute possiacutevel formular a seguinte tabela resumo quanto agraves recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas iniciais para Ouro Preto

14 Tabela de Recomendaccedilotildees Arquitetocircnicas

Total de Indicadores

Uacutemido Aacuterido

H1 H2 H3 A1 A2 A3

1 11 4 0 0 0

1 PLANTA DE SITUACcedilAtildeO

0 -10 X Construccedilotildees orientadas segundo eixo longitudinal leste-oeste

11 ou 5 -12 a fim de diminuir a exposiccedilatildeo ao sol

12 0 - 4 Plantas compactas com paacutetios internos

2 ESPACcedilAMENTO ENTRE CONSTRUCcedilOtildeES

11 ou Grandes espaccedilamentos para favorecer a penetraccedilatildeo do vento

12

2 -10 Como acima mas com proteccedilatildeo contra vento quente ou frio

0 ou 1 X Distribuiccedilatildeo compacta

3 CIRCULACcedilAtildeO DE AR

3 - 12 X Construccedilotildees com orientaccedilatildeo simples aberturas que permitam

1 ou 0 - 5 circulaccedilatildeo de ar permanente

2 6 - 12 Construccedilotildees com orientaccedilatildeo dupla circulaccedilatildeo de ar cruzada

0 2 -12 aberturas de ar controlaacuteveis

0 ou 1 Basta renovaccedilatildeo higiecircnica do ar

4 DIMENSOtildeES DAS ABERTURAS

0 ou 0 X Grandes 40 a 80 das fachadas norte e sul

1 1 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

2 - 5

6 - 10 Intermediaacuterias 20 a 35 da superfiacutecie das paredes

11 ou 0 - 3 Pequenas 15 a 25 da superfiacutecie das paredes

12 4 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

5 POSICcedilAtildeO DAS ABERTURAS

3 - 12 X Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do

1 ou 0 - 5 lado exposto ao vento

2 6 - 12 Como acima mas tambeacutem aberturas nas paredes internas

0 2 - 12

6 PROTECcedilAtildeO DAS ABERTURAS

0 - 2 X Proteger da insolaccedilatildeo direta

2 - 12 X Proteger da chuva

7 PAREDES E PISOS

0 - 2 X Construccedilotildees leves baixa ineacutercia teacutermica

3 - 12 Construccedilotildees maciccedilas tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

8 COBERTURA

10 a 0 - 2 Leve (pouca ineacutecia) superfiacutecie refletora uso de cacircmara de ar

12 3 - 12 X Leve e bem isolada

0 a 0 - 5

9 6 - 12 Maciccedila tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

9 ESPACcedilOS EXTERIORES

1 - 12 Espaccedilo para dormir ao ar livre

1 - 12 X Adequada drenagem para a chuva

3 - 12 X Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

53

Tabela resumo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas

Diagrama de Givoni

Tabelas de Mahoney

NBR 15220 ndash Parte 03

Tamanho e caracteriacutesticas das aberturas

Esquadrias devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia do calor no ambiente

Aberturas que permitam a circulaccedilatildeo de ar permanente

Tamanho meacutedio

Grandes ndash de 40 a 80 das fachadas norte e sul

Possibilitar a entrada do sol durante o inverno

Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do lado exposto ao vento

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees externas

Leves Leves e refletoras

Baixa ineacutercia teacutermica

Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees internas

Possibilitar o armazenamento do calor absorvido

Vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia teacutermica

Caracteriacutesticas da cobertura

Leve e bem isolada Leve e isolada

Condicionamento teacutermico passivo

Ganho teacutermico principalmente durante o inverno

Aberturas protegidas da insolaccedilatildeo direta e protegidas da chuva

Ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo aquecimento solar durante o inverno e

Somando-se os diversos meacutetodos de anaacutelise climaacutetica tecircm maior relevacircncia a

seguintes diretrizes

- ventilaccedilatildeo abundante principalmente durante o veratildeo a fim de reduzir a temperatura no

interior da edificaccedilatildeo e os efeitos da umidade que aumenta ainda mais em funccedilatildeo das chuvas

tiacutepicas desse periacuteodo A ventilaccedilatildeo cruzada deve ser fomentada e deve ser observado o sentido

54

predominante do vento que na cidade em questatildeo eacute sudeste a fim de se alcanccedilar melhores

resultados no conforto da edificaccedilatildeo

- aquecimento passivo para os meses de inverno a fim de diminuir o desconforto

causado pelas baixas temperaturas

- paredes leves (com baixa ineacutercia teacutermica ou seja conseguem ganhar ou perder calor

rapidamente a partir da interferecircncia e da temperatura do ar exterior) e protegidas da umidade

proveniente das chuvas fortes

- coberturas leves e bem isoladas (capazes de reter o calor absorvido durante o dia)

- as edificaccedilotildees devem estar protegidas das chuvas e devem contar com sistemas de

drenagem eficientes que possibilitem o raacutepido escoamento ou aproveitamento dessa aacutegua

62 O Coacutedigo de Obras e o conforto ambiental em Ouro Preto ndash estrateacutegias prioritaacuterias

A utilizaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental nos projetos e nas edificaccedilotildees

tem um impacto social positivo baseado em pelo menos trecircs fatores importantes melhoria das

condiccedilotildees de habitabilidade da edificaccedilatildeo e portanto melhor qualidade de vida para o

usuaacuterio melhoria nas condiccedilotildees climaacuteticas do meio externo ampliando o bem estar coletivo

reduccedilatildeo no consumo de energia e utilizaccedilatildeo eficiente do sistema de abastecimento a partir da

correta utilizaccedilatildeo dos sistemas ativos (iluminaccedilatildeo artificial condicionamento e aquecimento

de ar)

Para garantir a aplicaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental o Coacutedigo de Obras

e Edificaccedilotildees do municiacutepio deve incorporar dois importantes artigos que seratildeo detalhados

abaixo conforme o texto sugerido pelo Guia Teacutecnico ldquoElaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de

obras e edificaccedilotildeesrdquo da ELETROBRAacuteS (BAHIA GUEDES 2012)

O primeiro artigo de destaque deve ser inserido no capiacutetulo que trata das

DISPOSICcedilOtildeES PRELIMINARES e deve enumerar as diretrizes gerais para os projetos e

construccedilotildees buscando elencar tanto as demandas contemporacircneas expressas nas novas

legislaccedilotildees como os anseios para um espaccedilo urbano equilibrado e sustentaacutevel Nesse

contexto a substituiccedilatildeo da expressatildeo ldquopadrotildees miacutenimosrdquo que podem ser exemplificados pelas

diretrizes generalistas frequentemente encontradas nas legislaccedilotildees como a previsatildeo de 16 e

18 de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo para todas as localidades por ldquopadrotildees eficientesrdquo

estabelecidos atraveacutes de estudos teacutecnicos que agreguem a complexidade do clima local e que

permitam ampliar as condiccedilotildees de sustentabilidade das edificaccedilotildees ao tratar da otimizaccedilatildeo de

resultados quanto ao atendimento do conforto teacutermico visual e acuacutestico com baixo consumo

55

de energia A configuraccedilatildeo do texto deve se aproximar ao maacuteximo da proposta apresentada

pelo Guia Teacutecnico paacutegina 62

As obras instalaccedilotildees e edificaccedilotildees sejam puacuteblicas sejam privadas deveratildeo atender

agraves seguintes diretrizes gerais de forma a assegurar padrotildees eficientes de seguranccedila e

solidez salubridade e sauacutede conforto ambiental e desempenho energeacutetico

acessibilidade e livre tracircnsito de pessoas prevenccedilatildeo e uso sustentaacutevel dos recursos

naturais em cada caso e sempre que couber I - Subordinaccedilatildeo do interesse particular

ao interesse coletivo II - Promoccedilatildeo do direito agrave cidade sustentaacutevel e da funccedilatildeo

social da propriedade III - Utilizaccedilatildeo das normas teacutecnicas brasileiras e

regulamentaccedilotildees aplicaacuteveis para orientaccedilatildeo do desenvolvimento de projetos e

execuccedilatildeo de obras IV - Desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas sempre que

necessaacuterio com base nas praacuteticas locais beneacuteficas e na produccedilatildeo cientiacutefica tendo em

vista a manutenccedilatildeo da qualidade do local onde se daacute a intervenccedilatildeo e a correlaccedilatildeo

com valores culturais da populaccedilatildeo V - Garantia das condiccedilotildees de acessibilidade

circulaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo pela populaccedilatildeo em geral das edificaccedilotildees e do espaccedilo e

mobiliaacuterio urbano de uso puacuteblico e coletivo com adoccedilatildeo de soluccedilotildees especiacuteficas

para as pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida conforme previsto nas

normas teacutecnicas e na legislaccedilatildeo aplicaacutevel VI - Adoccedilatildeo de paracircmetros climaacuteticos

para o desenvolvimento de projetos de arquitetura de parcelamentos do solo e de

desenho urbano tendo em vista a correta orientaccedilatildeo solar da edificaccedilatildeo e demais

elementos as melhores condiccedilotildees de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo e pela escolha de

materiais construtivos e soluccedilotildees urbaniacutesticas adequadas em funccedilatildeo das

condicionantes ambientais locais de temperatura pluviosidade dominacircncia de

ventos ruiacutedo e paisagem natural aleacutem dos aspectos culturais que interagem com

essas condiccedilotildees VII - Utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis materiais de

construccedilatildeo certificados e ajudas teacutecnicas disponiacuteveis em complemento agrave promoccedilatildeo

do conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade das edificaccedilotildees e do

meio urbano VIII - Implantaccedilatildeo do objeto arquitetocircnico no lote bem como do

mobiliaacuterio urbano e demais artefatos nos logradouros puacuteblicos garantidas a

acessibilidade a qualidade esteacutetica e tecnoloacutegica de forma a potencializar os

atributos da paisagem urbana e evitar a poluiccedilatildeo visual IX - Adoccedilatildeo preferencial de

espeacutecies nativas na arborizaccedilatildeo puacuteblica demais projetos paisagiacutesticos e no

ajardinamento de lotes particulares X - Simplificaccedilatildeo dos procedimentos

administrativos pelo Poder Puacuteblico e promoccedilatildeo da assistecircncia para habitaccedilatildeo de

interesse social pelos agentes promotores tendo em vista facilitar a regularidade e a

correta execuccedilatildeo de projetos e obras inclusive apoiando as iniciativas de

autoconstruccedilatildeo da clientela de baixa renda (BAHIA GUEDES 2012)

O segundo artigo de grande relevacircncia deve ser inserido no capiacutetulo ldquoDAS

CONDICcedilOtildeES RELATIVAS AgraveS EDIFICACcedilOtildeESrdquo Neste capiacutetulo devem ser tratados os

paracircmetros teacutecnicos e geomeacutetricos capazes de materializar o conforto ambiental dos projetos e

edificaccedilotildees a partir do contexto climaacutetico da cidade As diretrizes apontadas devem buscar o

equiliacutebrio entre as condicionantes internas (relaccedilatildeo do usuaacuterio com a edificaccedilatildeo) e externas

(relaccedilatildeo da edificaccedilatildeo com o entorno) Quanto aos paracircmetros teacutecnicos esses devem ser

baseados nas recomendaccedilotildees do Programa Nacional de Conservaccedilatildeo de Energia Eleacutetrica ndash

PROCEL e devem se aproximar dos padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees

residenciais que satildeo atualmente estabelecidos pelo INMETRO a partir do RTQ-R ndash

Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais O texto do artigo deve seguir a sugestatildeo do Guia Teacutecnico paacutegina 107

56

Os projetos de construccedilatildeo ou reforma aleacutem de atenderem aos paracircmetros de

habitabilidade estabelecidos neste Coacutedigo devem ser orientados para a promoccedilatildeo da

sustentabilidade e eficiecircncia energeacutetica da edificaccedilatildeo com o objetivo de reduzir as

emissotildees de gases de efeito estufa (GEE) e os impactos ambientais gerados pela

construccedilatildeo e pela sua utilizaccedilatildeo ao longo do tempo racionalizando o uso da energia

da aacutegua e dos materiais nela empregados a partir das seguintes diretrizes I -

Racionalidade do projeto e do planejamento do processo de execuccedilatildeo das obras II -

Gestatildeo sustentaacutevel da obras e das praacuteticas de construccedilatildeo de forma a evitar o

desperdiacutecio de materiais III - Uso de materiais de construccedilatildeo e acabamentos

sustentaacuteveis considerando a adoccedilatildeo de materiais originaacuterios da regiatildeo produzidos

de forma sustentaacutevel e legalizada de materiais reaproveitados ou de demoliccedilatildeo e de

materiais certificados ou de comprovada responsabilidade ambiental do fabricante

IV - Ativaccedilatildeo do uso de edificaccedilotildees de valor cultural histoacuterico ou arquitetocircnico

maximizando as condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do bem imoacutevel na interaccedilatildeo com as

premissas de conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade V -

Aplicaccedilatildeo das estrateacutegias para projetos de acordo com o Zoneamento Bioclimaacutetico

brasileiro conforme NBR 15220-3 para concepccedilatildeo arquitetocircnica implantaccedilatildeo no

lote orientaccedilatildeo solar dos ambientes localizaccedilatildeo de aberturas e especificaccedilatildeo de

materiais de construccedilatildeo em prol do desempenho teacutermico da edificaccedilatildeo VI -

Aproveitamento das caracteriacutesticas climaacuteticas locais para a promoccedilatildeo do conforto

ambiental da edificaccedilatildeo a partir da consideraccedilatildeo dos seguintes fatores principais a)

Qualidade do ar b) Conforto higroteacutermico c) Conforto luminoso (ou lumiacutenico) d)

Conforto acuacutestico VII - Adoccedilatildeo de especificaccedilotildees de projeto com o objetivo de

potencializar as caracteriacutesticas climaacuteticas locais beneacuteficas eou remediar as de maior

rigor ao longo das diferentes estaccedilotildees do ano em benefiacutecio do desempenho teacutermico

e da ventilaccedilatildeo e iluminaccedilatildeo naturais da edificaccedilatildeo [] VIII - Planejamento

paisagiacutestico como elemento contribuinte para o conforto ambiental da edificaccedilatildeo

[] IX - Adoccedilatildeo de materiais construtivos que melhorem o desempenho teacutermico da

edificaccedilatildeo com base nas orientaccedilotildees e tabelas da NBR 15220-3 e especificaccedilatildeo de

equipamentos mecanismos e instalaccedilotildees que favoreccedilam a economia de energia

eleacutetrica e a reduccedilatildeo do consumo e aacutegua tratada [] (BAHIA GUEDES 2012)

Esses dois artigos apresentados embora configurem o ponto de partida natildeo satildeo

suficientes para a transformaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras em uma ferramenta concreta de

promoccedilatildeo do conforto ambiental da eficiecircncia energeacutetica e da sustentabilidade do meio

ambiente urbano Os desdobramentos desse texto devem resultar em paracircmetros teacutecnicos

como dimensionamentos diretrizes de desenho configuraccedilotildees espaciais miacutenimas dentre

inuacutemeros outros elementos de aplicaccedilatildeo obrigatoacuteria ou optativa Sendo assim o Coacutedigo de

Obras deve regulamentar por exemplo o dimensionamento de compartimentos a disposiccedilatildeo

e o dimensionamento de mobiliaacuterio fixo como louccedilas sanitaacuterias o peacute-direito as proporccedilotildees

das aberturas de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo assim como as taxas de renovaccedilatildeo do ar os niacuteveis de

ruiacutedo para o conforto acuacutestico as condiccedilotildees favoraacuteveis de transmitacircncia e a absortacircncia das

paredes e coberturas para o conforto teacutermico o dimensionamento e as condiccedilotildees das

circulaccedilotildees horizontais e verticais as instalaccedilotildees prediais dentre inuacutemeros outros itens Os

teacutecnicos devem se debruccedilar sobre tais requisitos teacutecnicos a fim de otimizar os resultados

quanto agrave construccedilatildeo da sustentabilidade no municiacutepio Deve-se utilizar as normas ABNT em

auxiacutelio agrave formulaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos a exemplo da NBR 10151 sobre Avaliaccedilatildeo do

57

Ruiacutedo em Aacutereas Habitadas NBR 5382 sobre Iluminacircncia de Interiores NBR 15215 sobre

Iluminaccedilatildeo Natural NBR 9284 sobre Equipamentos Urbanos dentre outras

Por fim deve-se prezar pela total interaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras com o conjunto

da legislaccedilatildeo urbaniacutestica local a fim de estabelecer uma relaccedilatildeo sequencial entre as etapas de e

concepccedilatildeo planejamento e construccedilatildeo das edificaccedilotildees passando das diretrizes gerais agraves

exigecircncias especiacuteficas O texto do coacutedigo de obras deve ser objetivo e didaacutetico sem incorrer

em simplificaccedilotildees O conteuacutedo deve ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e

teacutecnicos da aacuterea como pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees A dedicaccedilatildeo dos

teacutecnicos e profissionais na elaboraccedilatildeo das diretrizes transformadoras a busca pela

conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo sobre o conforto no ambiente urbano assim como a luta contra a

supremacia dos interesses privados sobre a coletividade satildeo itens importantes quanto agrave

concretizaccedilatildeo desse importante instrumento que foi apresentado e defendido ao longo do

presente trabalho

58

7 CONCLUSAtildeO

Diante das anaacutelises apresentadas ao longo deste trabalho principalmente quanto

ao ordenamento juriacutedico brasileiro para a regulaccedilatildeo urbana e o desenvolvimento sustentaacutevel

ficou comprovada a existecircncia de um conjunto significativo de legislaccedilotildees capazes de

embasar uma transformaccedilatildeo das cidades brasileiras em territoacuterios democraacuteticos igualitaacuterios e

sustentaacuteveis Poreacutem a previsatildeo legal eacute apenas o iniacutecio de um longo caminho ateacute a

transformaccedilatildeo concreta da realidade Para se avanccedilar nesse caminho uma mudanccedila poliacutetica eacute

imprescindiacutevel uma vez que as decisotildees sobre o espaccedilo urbano e sua regulamentaccedilatildeo

dependem necessariamente do interesse do gestor urbano materializado na figura dos

prefeitos e governantes das diversas esferas administrativas

Em relaccedilatildeo ao municiacutepio de Ouro Preto foi identificado que embora haja um

conjunto significativo de diretrizes urbaniacutesticas contidas no Plano Diretor e na Lei de Uso e

Ocupaccedilatildeo do Solo estas ainda satildeo insuficientes para subsidiar um desenvolvimento local

pautado na responsabilidade ambiental e na qualidade do meio ambiente urbano Isso se deve

principalmente ao fato de natildeo haver um coacutedigo de obras e edificaccedilotildees e tambeacutem ao fato de

que as iniciativas de proteccedilatildeo ambiental tal como a Agenda 21 Local natildeo foram colocadas

em praacutetica Neste sentido em relaccedilatildeo ao processo legislativo conclui-se que haacute uma

defasagem na aplicaccedilatildeo dos instrumentos de planejamento municipal previstos no Estatuto da

Cidade principalmente o Plano Diretor Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo Agenda 21 Local e Coacutedigo

de Obras e Edificaccedilotildees Aleacutem disso faltam elementos de combate agrave especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e

instrumentos de regulaccedilatildeo do solo urbano como o IPTU progressivo regularizaccedilatildeo onerosa a

assistecircncia teacutecnica gratuita dentre outros instrumentos tributaacuterios e financeiros juriacutedicos e

poliacuteticos que infelizmente ainda natildeo satildeo aplicados no municiacutepio Nesse contexto os outros

instrumentos de planejamento tais como o plano plurianual orccedilamento participativo

programas setoriais e planos de desenvolvimento econocircmico e social embora natildeo configurem

instrumentos urbaniacutesticos se colocam como ferramentas aliadas da gestatildeo democraacutetica da

cidade e da reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais visto que o processo de mudanccedila eacute

essencialmente poliacutetico Nesse sentido eacute extremamente importante que esses instrumentos

sejam pautados na real participaccedilatildeo popular na inclusatildeo e na justiccedila social

Quanto agrave sustentabilidade no ambiente urbano identificou-se que a preservaccedilatildeo e

proteccedilatildeo patrimonial pautadas no conforto do usuaacuterio a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados

a melhoria da infraestrutura urbana a concretizaccedilatildeo de projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria

59

assim como a construccedilatildeo de habitaccedilatildeo social de qualidade satildeo questotildees fundamentais para a

transformaccedilatildeo das cidades em territoacuterios democraacuteticos e sustentaacuteveis Essas demandas estatildeo

diretamente ligadas agrave mudanccedila no paradigma do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

pois uma vez colocadas em praacutetica alteram significativamente a configuraccedilatildeo das cidades

influenciando no clima urbano e na qualidade ambiental

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de uma base de dados climaacuteticos relativos ao municiacutepio

a partir das Normais Climatoloacutegicas obtidas no periacuteodo entre 1976 e 1990 foi possiacutevel

caracterizar o clima de Ouro Preto como um clima de baixas temperaturas muito uacutemido

(umidade relativa praticamente sempre acima de 80) com alta nebulosidade (o que significa

que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou nublado) e com abundacircncia de chuvas

principalmente no veratildeo Foi tambeacutem identificada uma grande interferecircncia do efeito da

barreira orograacutefica provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta

que conforma o Morro Satildeo Sebastiatildeo o que aprofunda ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade

Para a elaboraccedilatildeo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais foram utilizados os

resultados do diagrama de Givoni das Tabelas de Mahoney e da NBR 15220 Assim para a

cidade de Ouro Preto concluiu-se que a arquitetura deve priorizar o ganho teacutermico

principalmente durante o inverno pois nessa estaccedilatildeo tem-se uma queda significativa das

temperaturas o que afeta consideravelmente o conforto do usuaacuterio Esse ganho teacutermico deve

ser pensado a partir da utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior

insolaccedilatildeo o que possibilita um melhor aproveitamento dessa radiaccedilatildeo solar que deve servir

para manter o ambiente aquecido durante a noite Quanto aos materiais internos estes devem

possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser devidamente

isoladas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente Em relaccedilatildeo ao veratildeo foi

identificada a necessidade de ventilaccedilatildeo cruzada para reduzir os efeitos das temperaturas

elevadas e da alta umidade aleacutem de envoltoacuterias bem protegidas das chuvas

Por fim quanto agrave elaboraccedilatildeo do coacutedigo de obras foi possiacutevel apontar a

necessidade de se estabelecer as diretrizes para os projetos e construccedilotildees a partir dos

paracircmetros das normas teacutecnicas brasileiras do desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas com

base nas praacuteticas locais da garantia da acessibilidade das edificaccedilotildees agrave populaccedilatildeo em geral

da consideraccedilatildeo dos paracircmetros climaacuteticos e da utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis Foi

abordada a necessidade de aproximaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos do coacutedigo de obras aos

padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees residenciais previstos no RTQ-R

60

(Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais INMETRO) aleacutem da necessidade de se construir um texto objetivo e didaacutetico

que possa ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e teacutecnicos da aacuterea quanto

pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees

61

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 15220 Desempenho

teacutermico de edificaccedilotildees Rio de Janeiro ABNT 2005

BAHIA S R GUEDES P de A Elaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de obras e

edificaccedilotildees 2ordfed Rio de janeiro IBAMDUMA ELETROBRAS PROCEL 2012

BARANDIER H ALMEIDA M C T MORAIS R Planejamento e Controle Ambiental

Urbano e a Eficiecircncia Energeacutetica Rio de Janeiro IBAMDUMA ELETROBRASPROCEL

2013

BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988

BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002

BRASIL Lei nordm 10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do Desenvolvimento

Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Pesquisa nacional para identificar os resultados de

implementaccedilatildeo de processos de agendas 21 locais Brasiacutelia 2009

CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS Tiacutetulo 24 Parte 8 California Historical

Building Code 1ordm Ed Washington 2007

CSABA D SUELI R S (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo Editora da

Universidade de Satildeo Paulo 1999

FERREIRA C SOUZA H A de ASSIS E S de Estudo do clima brasileiro reflexotildees e

recomendaccedilotildees sobre a adequaccedilatildeo climaacutetica de habitaccedilotildees In XV Encontro Nacional de

Tecnologia do Ambiente Construiacutedo Maceioacute 2014

FROTA A B SCHIFFER S R Manual de Conforto Teacutermico Satildeo Paulo Nobel 1995

IBGE Perfil dos municiacutepios brasileiros 2013 Brasiacutelia 2014

LAMBERTS R DUTRA L PEREIRA FO R Eficiecircncia Energeacutetica na Arquitetura 3ordfed

ELETROBRASPROCEL 2014

MENICONI R O A Construccedilatildeo de uma Cidade-Monumento o caso de Ouro Preto Belo

Horizonte Escola de Arquitetura e Urbanismo UFMG 1999 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OLIVEIRA L B Agenda 21 Local consolidando as bases para o desenvolvimento

sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escala UFOP 2010

62

OLIVEIRA M A Os valores culturais da paisagem urbana em Ouro Preto Um Estudo de

Caso das Aacutereas Verdes na Ladeira Santa Efigecircnia e Entorno Proacuteximo Salvador Mestrado em

Arquitetura e Urbanismo da UFBA 1997

OLIVEIRA M R S Gestatildeo Patrimonial em Ouro Preto Alcances e Limites das Poliacuteticas

Puacuteblicas Preservacionistas Campinas Poacutes ndash Graduaccedilatildeo em Geografia Anaacutelise Ambiental e

Dinacircmica Territorial da UNICAMP 2005 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OURO PRETO Lei complementar nordm 011996 Institui o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro

Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 022005 Estabelece a Estrutura Baacutesica e a

organizaccedilatildeo administrativa da Prefeitura Municipal de Ouro Preto e da outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 152006 Altera a Lei Complementar ndeg 021005

modifica a denominaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Turismo Induacutestria e Comeacutercio e da

Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio suas respectivas competecircncias e daacute outras

providecircncias de 27 de Abril de 2006

OURO PRETO Lei Complementar nordm 302006 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 28 de

Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei complementar nordm 912010 Altera a Lei Complementar nordm292006 que

estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 932011 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 20 de

Janeiro de 2011

OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996

OURO PRETO Lei complementar nordm292006 Estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de

Ouro Preto de 28 de Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei nordm 333 Dispotildee sobre o Programa da Agenda 21 Local de 11 de maio de

2007

OURO PRETO Lei nordm 5790 Dispotildee sobre as diretrizes baacutesicas do Plano Diretor do

Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Portaria 0292 Nomeia Comissatildeo Especial

OURO PRETO Portaria 1707 Nomeia Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos

Naturais e Agenda 21 Local

Page 14: POLYANA PEREIRA COELHO · 2019. 11. 14. · POLYANA PEREIRA COELHO A SUSTENTABILIDADE DO AMBIENTE URBANO E OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO MUNICIPAL: RECOMENDAÇÕES PARA UM CÓDIGO DE

13

Somente com a permanente preocupaccedilatildeo do Estado para com o tema seraacute

possiacutevel consolidar o desenvolvimento urbano a partir da aplicaccedilatildeo das premissas da

sustentabilidade do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

14

3 O PLANO DIRETOR E OS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO

MUNICIPAL

Para introduzir a discussatildeo do Plano Diretor e demais instrumentos de

planejamento municipal previstos no Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio retomar o momento

da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 com destaque para o Art30 que determina as tarefas de

competecircncia dos Municiacutepios Dentre tais competecircncias destacam-se os incisos VIII e IX

diretamente relacionados ao planejamento urbano

Art 30 Compete aos Municiacutepios [] VIII - promover no que couber adequado

ordenamento territorial mediante planejamento e controle do uso do parcelamento e

da ocupaccedilatildeo do solo urbano IX - promover a proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-

cultural local observada a legislaccedilatildeo e a accedilatildeo fiscalizadora federal e estadual

(BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de

1988)

Aleacutem de delimitar as competecircncias municipais a Constituiccedilatildeo tambeacutem apontou

no Art182 do Capiacutetulo II o Plano Diretor - velho conhecido dos Teacutecnicos e Governantes -

como principal instrumento a ser utilizado pelos Municiacutepios no desenvolvimento da poliacutetica

urbana

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo Poder Puacuteblico

municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem por objetivo ordenar o

pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus

habitantes sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio para

cidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e de expansatildeo urbana sect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua

funccedilatildeo social quando atende agraves exigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade

expressas no plano diretor (BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do

Brasil de 5 de outubro de 1988)

Contudo tal instrumento natildeo representou uma novidade A expressatildeo Plano

Diretor foi utilizada pela primeira vez no Brasil em 1930 a partir do Plano Agache3

desenvolvido para o Rio de Janeiro Posteriormente foram desenvolvidos planos diretores em

todo o territoacuterio brasileiro planos estes que ficariam engavetados por falta de vontade

3 Nota-se que ldquoO Plano Agache foi a primeira proposta de intervenccedilatildeo urbaniacutestica na cidade do Rio de Janeiro

com preocupaccedilotildees genuinamente modernas Concluiacutedo em 1930 introduziu no cenaacuterio nacional algumas

questotildees tiacutepicas da cidade industrial tais como o planejamento do transporte de massas e do abastecimento de

aacuteguas a habitaccedilatildeo operaacuteria e o crescimento das favelas Aleacutem disso com discussotildees emergentes que iam desde a

necessidade de um zoneamento para a cidade ateacute a delimitaccedilatildeo de aacutereas verdes ultrapassou os limites do

Academicismo das intervenccedilotildees predecessoras de Pereira Passos e Paulo de Frontinrdquo Disponiacutevel em

lthttpplanourbanoriorjgovbrgt Acesso em 06 de jun 2015

15

poliacutetica A nomenclatura e o conteuacutedo dos planos diretores variaram com o passar dos anos

segundo Villaccedila

Por fim cabe abordar historicamente as jaacute mencionadas mudanccedilas na nomenclatura

nas formas nos conteuacutedos e nas metodologias dos planos Em primeiro lugar cai em

desuso a expressatildeo plano de melhoramentos e embelezamento e entra em cena a

expressatildeo urbanismo Depois esta cai em desuso sendo substituiacuteda por

planejamento urbano e plano diretor Em segundo lugar os conteuacutedos e

metodologias de elaboraccedilatildeo dos planos sofrem alteraccedilotildees radicais De enormes

volumes com centenas de paacuteginas recheados de mapas pesquisas e estatiacutesticas

elaborados por equipes multidisciplinares e abordando enorme leque de problemas

transformam-se em meros projetos de lei agraves vezes contendo apenas declaraccedilotildees de

princiacutepios poliacuteticas ou diretrizes gerais agraves vezes ateacute sem mapas ou com poucos

mapas Um simples projeto de lei publicado no Diaacuterio Oficial (CSABA Deaacutek

SUELI Ramos Schiffer (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo

Editora da Universidade de Satildeo Paulo 1999 p191)

A realidade eacute que os planos diretores desenvolvidos no Brasil entre as deacutecadas de

1940 e 1990 natildeo correspondiam ao pensamento dos governantes e das classes dominantes e

por isso natildeo contaram com intenccedilatildeo real de aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo Os objetivos apontados

natildeo seriam atingidos pois o Plano Diretor natildeo se tornara uma prioridade em nenhuma das

esferas administrativas do paiacutes

O ressurgimento do instrumento Plano Diretor em 1988 embora isento de grandes

novidades veio acompanhado da premissa da funccedilatildeo social da propriedade um aspecto

positivo e inovador da poliacutetica urbana poreacutem praticamente inviaacutevel de ser aplicado num

primeiro momento pelos obstaacuteculos constantes na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal Contudo

diante da pressatildeo dos movimentos sociais e populares que se fortaleceram durante o processo

de redemocratizaccedilatildeo tais planos foram se tornando mais politizados abordando aspectos

especiacuteficos da competecircncia municipal e tratando das polecircmicas voltadas para o territoacuterio

inclusive sobre a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria no espaccedilo urbano

Em 2001 a poliacutetica urbana foi regulamentada pela Lei 10257 - Estatuto da

Cidade ndash devidamente apresentada no capiacutetulo anterior Com uma abordagem democraacutetico-

participativa voltada para os interesses coletivos tal lei possibilitou uma mudanccedila expressiva

no planejamento urbano principalmente na esfera municipal

O Plano Diretor Participativo como seraacute chamado a partir de entatildeo se torna o

principal dentre outros sete instrumentos de planejamento municipal expressos no Art 4ordm

inciso III da Lei 10257

Art 4o Para os fins desta Lei seratildeo utilizados entre outros instrumentos [] III ndash

planejamento municipal em especial a) plano diretor b) disciplina do

parcelamento do uso e da ocupaccedilatildeo do solo c) zoneamento ambiental d) plano

plurianual e) diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual f) gestatildeo orccedilamentaacuteria

16

participativa g) planos programas e projetos setoriais h) planos de

desenvolvimento econocircmico e social (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade

de 10 de julho 2001)

O conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelos planos diretores foi estabelecido na

resoluccedilatildeo nordm34 de 01 de julho de 2005 pelo Conselho das Cidades A tal conselho

regulamentado pelo Decreto 5031 2004 competia emitir orientaccedilotildees e recomendaccedilotildees sobre

a aplicaccedilatildeo da Lei 10257 de 2001 (Estatuto da Cidade) e dos demais atos normativos

relacionados ao desenvolvimento urbano A inclusatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel das

cidades nas novas diretrizes da poliacutetica urbana teraacute no plano diretor a sua expressatildeo

fundamental Dentre o conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelo Plano Diretor Participativo

merece destaque o Art 2ordm inciso III aleacutem do Art 5ordm inciso VII do Estatuto da Cidade

Art 2deg As funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade urbana seratildeo definidas a partir

da destinaccedilatildeo de cada porccedilatildeo do territoacuterio do municiacutepio bem como da identificaccedilatildeo

dos imoacuteveis natildeo edificados subutilizados e natildeo utilizados no caso de sua existecircncia

de forma a garantir [] III - a universalizaccedilatildeo do acesso aacute aacutegua potaacutevel aos

serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio a coleta e disposiccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos e ao

manejo sustentaacutevel das aacuteguas pluviais de forma integrada aacutes poliacuteticas ambientais de

recursos hiacutedricos e de sauacutede [] Art 5deg A instituiccedilatildeo das Zonas Especiais

considerando o interesse local deveraacute [] VII - demarcar as aacutereas de proteccedilatildeo

preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e construiacutedo do patrimocircnio

cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico (BRASIL Lei nordm10257

Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

Ao estabelecer as diretrizes de ordenaccedilatildeo do solo o Plano Diretor estabelece que

a propriedade urbana deve servir agrave qualidade de vida dos cidadatildeos agrave justiccedila social e ao

desenvolvimento sustentaacutevel das atividades econocircmicas A referecircncia territorial que estrutura

as estrateacutegias definidas pelo Plano Diretor eacute o macrozoneamento Este subdivide o territoacuterio

municipal a partir da identificaccedilatildeo das potencialidades e das caracteriacutesticas de cada aacuterea Satildeo

algumas categorias utilizadas na definiccedilatildeo do macrozoneamento aacutereas aptas agrave urbanizaccedilatildeo

aacutereas propiacutecias ao desenvolvimento de atividades rurais aacutereas de preservaccedilatildeo e aacutereas de

exploraccedilatildeo econocircmica Aleacutem da definiccedilatildeo de intenccedilotildees para os vetores do territoacuterio

municipal o macrozoneamento define tambeacutem o periacutemetro urbano e as zonas de expansatildeo

urbana enquanto instrumentos de direcionamento da urbanizaccedilatildeo da gestatildeo ambiental e do

crescimento econocircmico A delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano deve ser feita a partir de planta

referenciada com clara indicaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e fiacutesicos limiacutetrofes e deve servir

para direcionar o adensamento populacional para as aacutereas providas de infraestrutura

garantindo a proteccedilatildeo das aacutereas de interesse ambiental e a reserva de aacutereas para produccedilatildeo

agriacutecola e ocupaccedilatildeo rural A alteraccedilatildeo de tal periacutemetro conforme previsto no Art42B do

17

Estatuto da Cidade deveraacute instituiacuteda por lei municipal e deve ser resultado de projeto

especiacutefico que contemple o conteuacutedo miacutenimo e que atenda agraves diretrizes do Plano Diretor

O segundo instrumento de planejamento municipal apresentado no Art 4ordm do

Estatuto da Cidade o parcelamento o uso e a ocupaccedilatildeo do solo eacute tambeacutem um importante

instrumento para a concretizaccedilatildeo dos preceitos da sustentabilidade do ambiente urbano A

Legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal definiraacute o zoneamento da aacuterea urbana Tal zoneamento

responsaacutevel pela subdivisatildeo do periacutemetro urbano em diferentes categorias eacute o principal

instrumento da regulaccedilatildeo urbana A definiccedilatildeo das categorias deveraacute ser pautada pelo melhor

aproveitamento e pela ampliaccedilatildeo do acesso agrave terra urbanizada O zoneamento orienta o

ordenamento urbano a partir das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo do solo definindo os paracircmetros

urbaniacutesticos - coeficiente de aproveitamento taxa de ocupaccedilatildeo afastamentos gabaritos - de

forma que os projetos de edificaccedilotildees e demais intervenccedilotildees mantenham uma densidade de

ocupaccedilatildeo que favoreccedila o conforto ambiental urbano Dentre os criteacuterios para a definiccedilatildeo dos

diferentes paracircmetros urbaniacutesticos que incidem sobre o territoacuterio estatildeo proteccedilatildeo das aacutereas

ambientalmente fraacutegeis adensamento de aacutereas providas de infraestrutura limitaccedilatildeo de usos a

partir da capacidade viaacuteria controle da permeabilidade do solo preservaccedilatildeo e proteccedilatildeo de

conjuntos de valor histoacuterico cultural ou ambiental distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo de baixa renda

em aacutereas bem localizadas e servidas de infraestrutura condiccedilotildees climaacuteticas locais

As diretrizes para o parcelamento geralmente compoem junto com os paracircmetros

urbaniacutesticos a mesma lei municipal O parcelamento merece destaque pois trata dos novos

espaccedilos que seratildeo incorporados ao tecido urbano da cidade e portanto deveraacute estar

integralmente articulado com as estrateacutegias do desenvolvimento urbano Eacute regulamentado em

acircmbito geral pela Lei Federal 676679 acrescida das alteraccedilotildees posteriores definidas nas leis

978599 e 1144507 O parcelamento configura um processo de expansatildeo horizontal ou

adensamento da aacuterea urbanizada e consiste na subdivisatildeo de um determinado imoacutevel sob as

formas de desmembramento (quando haacute o aproveitamento do sistema viaacuterio existente) ou

loteamento (quando haacute abertura de novas vias e logradouros ou modificaccedilatildeo dos existentes)

Deveratildeo ser contempladas na Lei de Parcelamento as aacutereas que natildeo admitiratildeo parcelamento

os paracircmetros de dimensionamento de lotes quadras e sistema viaacuterio as aacutereas de uso puacuteblico

as faixas de proteccedilatildeo a infraestrutura baacutesica os procedimentos administrativos para

aprovaccedilatildeo do projeto as contrapartidas do empreendedor as penalidades sobre infraccedilotildees

assim como os procedimentos para regularizaccedilatildeo das aacutereas em desconformidade com a Lei

Paracircmetros de conforto ambiental tais como ventos favoraacuteveis orientaccedilatildeo solar vegetaccedilatildeo

18

sistema de abastecimento de aacutegua sistema de esgotamento sanitaacuterio e sistema de drenagem

devem ser definidos em lei e cobrados nos projetos de parcelamento a fim de minimizar os

impactos ao meio ambiente

Vale destacar que o sucesso na elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo das Leis de Parcelamento

Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo depende primeiramente do comprometimento da gestatildeo municipal

com a democratizaccedilatildeo da cidade e com o bem-estar coletivo caso contraacuterio tal legislaccedilatildeo

poderaacute aprofundar a segregaccedilatildeo privilegiando a iniciativa privada a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria

e os interesses individuais

O zoneamento ambiental terceiro instrumento de planejamento municipal

apontado na lista do Art 4ordm do Estatuto da Cidade eacute tambeacutem um instrumento da Poliacutetica

Nacional do Meio Ambiente regida pela Lei 693881 Art 9ordm O zoneamento ambiental pode

ser considerado uma expressatildeo sinocircnima do Zoneamento Ecoloacutegico-Econocircmico ndash ZEE que

foi regulamentado pelo Decreto 429702

CAPITULO I - DOS OBJETIVOS E PRINCIacutePIOS ndash [] Art 2ordm O ZEE

instrumento de organizaccedilatildeo do territoacuterio a ser obrigatoriamente seguido na

implantaccedilatildeo de planos obras e atividades puacuteblicas e privadas estabelece medidas e

padrotildees de proteccedilatildeo ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental dos

recursos hiacutedricos e do solo e a conservaccedilatildeo da biodiversidade garantindo o

desenvolvimento sustentaacutevel e a melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo

Art 3ordm O ZEE tem por objetivo geral organizar de forma vinculada as decisotildees dos

agentes puacuteblicos e privados quanto a planos programas projetos e atividades que

direta ou indiretamente utilizem recursos naturais assegurando a plena manutenccedilatildeo

do capital e dos serviccedilos ambientais dos ecossistemas Paraacutegrafo uacutenico O ZEE na

distribuiccedilatildeo espacial das atividades econocircmicas levaraacute em conta a importacircncia

ecoloacutegica as limitaccedilotildees e as fragilidades dos ecossistemas estabelecendo vedaccedilotildees

restriccedilotildees e alternativas de exploraccedilatildeo do territoacuterio e determinando quando for o

caso inclusive a relocalizaccedilatildeo de atividades incompatiacuteveis com suas diretrizes

gerais (BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002)

O zoneamento ambiental ou ZEE eacute o instrumento que possibilita traccedilar um

panorama sobre a utilizaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais de um determinado

municiacutepio gerando as bases para um planejamento urbano comprometido com a

sustentabilidade ecoloacutegica econocircmica e social Tambeacutem eacute um instrumento de caraacuteter

democraacutetico-participativo e deve portanto ser acompanhado pela Administraccedilatildeo Puacuteblica em

seus diferentes niacuteveis e pela sociedade civil Tal instrumento assim como o zoneamento

urbano divide o territoacuterio em diferentes categorias As categorias do zoneamento ambiental

satildeo definidas a partir dos princiacutepios da utilidade e da simplicidade de forma a configurar

limites claros e compreensiacuteveis ao poder puacuteblico e aos cidadatildeos As diretrizes gerais e

especiacuteficas do zoneamento deveratildeo conter a capacidade de suporte ambiental de determinada

aacuterea a necessidade de proteccedilatildeo dos recursos renovaacuteveis e natildeo-renovaacuteveis a definiccedilatildeo de aacutereas

19

para unidades de conservaccedilatildeo integral a permissatildeo para exploraccedilatildeo de recursos naturais as

medidas para o desenvolvimento sustentaacutevel do setor rural medidas de ajustamento entre usos

conflitantes aleacutem de planos programas e fonte de recursos para viabilizar as atividades

apontadas para cada zona

Apesar de ser um importante instrumento de suporte agrave proteccedilatildeo do meio ambiente

o zoneamento ambiental ou ZEE ainda tem sido pouco utilizado pelos municiacutepios brasileiros

Contudo os dados da Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais (MUNIC 2013)

demonstraram que tem havido um crescimento do percentual de municiacutepios com legislaccedilatildeo

especiacutefica sobre a questatildeo ambiental o que traz um pouco de esperanccedila quanto agrave mudanccedila

dos paradigmas de proteccedilatildeo do meio ambiente A MUNIC 2013 apontou que em 2012

554 dos municiacutepios tinham legislaccedilatildeo ambiental jaacute em 2013 esse percentual subiu para

655

Por uacuteltimo os demais instrumentos de planejamento municipal apontados no Art

4ordm do Estatuto da Cidade - plano plurianual diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual

gestatildeo orccedilamentaacuteria participativa planos programas e projetos setoriais planos de

desenvolvimento econocircmico e social ndash tratariam de garantir a gestatildeo democraacutetica da cidade a

partir da realizaccedilatildeo de debates audiecircncias e consultas puacuteblicas como condiccedilatildeo para a

aprovaccedilatildeo das Leis Municipais Tais instrumentos apesar de natildeo-urbaniacutesticos tecircm uma

importacircncia decisiva na reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais Contudo embora tenham se

efetivado na maioria dos municiacutepios brasileiros ainda permanecem em sua maioria

mergulhados na velha poliacutetica clientelista que transforma os foacuteruns de participaccedilatildeo em

espaccedilos esvaziados pouco divulgados redutos de manobras poliacuteticas e trocas de favores

Infelizmente a garantia da gestatildeo democraacutetica natildeo seraacute alcanccedilada apenas por atos normativos

assim como as diretrizes estabelecidas para o desenvolvimento urbano sustentaacutevel tambeacutem

natildeo ser tornaratildeo realidade apenas por forccedila de Lei Eacute necessaacuterio mudar o caraacuteter da gestatildeo do

territoacuterio que atualmente se caracteriza pela anulaccedilatildeo da atuaccedilatildeo teacutecnica das diferentes aacutereas

do conhecimento a fim de garantir que o interesse privado prevaleccedila sobre os diretos coletivos

de toda uma cidade Eacute necessaacuterio colocar em praacutetica os preceitos das leis brasileiras efetivar

os instrumentos com real participaccedilatildeo popular lanccedilar as bases para um modelo de gestatildeo

realmente democraacutetico inclusivo e comprometido com o bem estar coletivo e com a justiccedila

social

20

4 OS DESAFIOS DA REGULACcedilAtildeO URBANA FRENTE AgraveS INTERVENCcedilOtildeES NAS

EDIFICACcedilOtildeES E NOS CONJUNTOS URBANOS TOMBADOS

A proteccedilatildeo e a preservaccedilatildeo dos siacutetios urbanos de valor histoacuterico arquitetocircnico

cultural ou paisagiacutestico satildeo imprescindiacuteveis para a manutenccedilatildeo da identidade e da memoacuteria

dos diferentes grupos sociais que por ali passaram ou nele se estabeleceram O registro da

histoacuteria deve ser deixado agraves geraccedilotildees futuras como siacutembolo do conhecimento e da experiecircncia

adquirida ao longo do tempo A proteccedilatildeo de um determinado siacutetio pode inclusive ser

utilizada quando a memoacuteria coletiva e a afetividade de uma comunidade para com um

determinado espaccedilo adquirir grande relevacircncia cultural gerando uma ambiecircncia a ser

protegida mesmo que esta tenha se consolidado em um periacuteodo recente

Atualmente a preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos e a conservaccedilatildeo dos imoacuteveis

urbanos tecircm no desenvolvimento urbano sustentaacutevel um importante aliado A disseminaccedilatildeo

da loacutegica do consumo que atinge tanto os bens materiais moacuteveis quanto os imoacuteveis resulta

numa produccedilatildeo exagerada desses bens o que demanda enorme quantidade de mateacuteria-prima e

energia e causa impacto no meio ambiente Sendo assim as poliacuteticas de preservaccedilatildeo e o

incentivo ao reuso de edifiacutecios e objetos contribuem para a sustentabilidade e o equiliacutebrio

ambiental

Hoje existem no Brasil doze siacutetios urbanos e sete siacutetios naturais que satildeo

considerados Patrimocircnio Cultural da Humanidade e portanto tombados internacionalmente

pela UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

Dentre os conjuntos tombados internacionalmente destaca-se a predominacircncia dos centros

histoacutericos de caracteriacutesticas coloniais tais como o Centro Histoacuterico de Ouro Preto MG

Olinda PE Salvador BA Satildeo Luiz do Maranhatildeo MA Diamantina MG e Goiaacutes GO Natildeo

menos importante o tombamento nacional realizado pelo IPHAN ndash Instituto do Patrimocircnio

Histoacuterico e Artiacutestico Nacional preserva 77 conjuntos urbanos espalhados por todas as regiotildees

do Brasil com destaque para a regiatildeo nordeste que conta com 30 desses centros tombados

Somam-se a esse contingente os conjuntos tombados estadualmente e municipalmente que

natildeo seratildeo aqui enumerados

A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio estaacute presente no ordenamento

juriacutedico brasileiro desde 1937 quando por meio do Decreto-Lei nordm25 criou-se o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash SPHAN (atual IPHAN) para proteger as cidades

e os monumentos da modernizaccedilatildeo das reformas urbanas e do interesse imobiliaacuterio

21

Reafirmada pelo Art 216 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e pelo Art 2ordm inciso XII do

Estatuto da Cidade a proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e

construiacutedo do patrimocircnio cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico tornou-se

diretriz obrigatoacuteria a ser contemplada pelos planos urbanos e legislaccedilotildees municipais

Contudo a preservaccedilatildeo dos conjuntos urbanos tombados natildeo pressupotildee o

congelamento das cidades Os paracircmetros para as intervenccedilotildees contemporacircneas deveratildeo ser

definidos em leis especiacuteficas de modo a evitar que o novo se sobreponha ou se confunda com

o existente A preservaccedilatildeo do conjunto tombado soacute seraacute possiacutevel se for permitido agrave cidade

expandir-se adensar-se e modificar-se Caso contraacuterio centro e cidade se tornaratildeo obsoletos

Percebe-se portanto que a regulaccedilatildeo urbana nas cidades histoacutericas enfrenta um

grande desafio preservar o antigo e abrir-se ao novo Sendo assim como proceder e quais

instrumentos utilizar Como a legislaccedilatildeo municipal deveraacute ser elaborada e aplicada a fim de

contemplar a preservaccedilatildeo do conjunto tombado e a expansatildeo da cidade seguindo os preceitos

da sustentabilidade

A preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos associada agrave expansatildeo sustentaacutevel das cidades eacute

um tema que vem sendo amplamente discutido inclusive em acircmbito internacional Nos paiacuteses

do norte e principalmente no continente europeu os siacutetios urbanos que demandam poliacuteticas

de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo remontam de seacuteculos e ateacute mesmo de milecircnios passados Embora

uma grande parte do patrimocircnio mundial tenha se perdido com a destruiccedilatildeo resultante das

guerras das cataacutestrofes e da imposiccedilatildeo de novas culturas como aconteceu principalmente nos

paiacuteses do sul que tiveram a cultura originaacuteria destruiacuteda pela colonizaccedilatildeo ainda haacute muito

patrimocircnio a ser preservado E natildeo eacute de hoje que os teacutecnicos e profissionais de diversas aacutereas

do conhecimento tecircm desenvolvido teorias e instrumentos para assegurar a salvaguarda de

todo esse patrimocircnio

Desde entatildeo leis documentos planos guias e coacutedigos vecircm sendo desenvolvidos

com o objetivo de orientar e direcionar as accedilotildees e intervenccedilotildees sobre o patrimocircnio cultural das

cidades com vistas ao desenvolvimento sustentaacutevel

Um importante documento desenvolvido em 2008 pelo Governo da Escoacutecia o

ldquoSustainable Development Guidance for Estate Managementrdquo buscou sistematizar a partir

dos preceitos da sustentabilidade estrateacutegias e orientaccedilotildees para a realizaccedilatildeo de intervenccedilotildees

principalmente para as novas construccedilotildees Tal preocupaccedilatildeo se intensificou apoacutes a discussatildeo

sobre as mudanccedilas climaacuteticas e os efeitos futuros ldquoThe Stern Review on the Economics of

Climate Changerdquo realizada pelo Governo do Reino Unido O documento ldquoSustainable

22

Development Guidance for Estate Managementrdquo se assemelha a um guia para o

desenvolvimento sustentaacutevel que aborda as estrateacutegias de accedilatildeo e recomendaccedilotildees para fazer da

Escoacutecia um paiacutes mais ecoloacutegico

Segundo esse Guia que trata da proteccedilatildeo do ambiente natural e da manutenccedilatildeo do

ambiente construiacutedo a sustentabilidade deveraacute ser uma prerrogativa tanto nas novas

construccedilotildees como na manutenccedilatildeo das edificaccedilotildees existentes nas conversotildees de uso nas

ampliaccedilotildees no retrofit4 e nas demoliccedilotildees No item 36 ldquoEmbedding sustainability within the

estate strategy processrdquo satildeo apontados os itens a serem observados na elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias e projetos para o desenvolvimento manutenccedilatildeo ou restauraccedilatildeo de edificaccedilotildees Satildeo

eles biodiversidade layout flexiacutevel nas construccedilotildees materiais construtivos e a possibilidade

de recuperaccedilatildeo reciclagem e reuso gestatildeo da aacutegua diminuiccedilatildeo da poluiccedilatildeo energia

certificada minimizaccedilatildeo do consumo de energia atraveacutes do isolamento e da ventilaccedilatildeo

natural utilizaccedilatildeo de energias renovaacuteveis como energia solar diminuiccedilatildeo do desperdiacutecio e

aumento da reciclagem dentre outros itens A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio

conforme jaacute foi discutido no iniacutecio deste capiacutetulo tambeacutem estaacute presente no Guia conforme

aponta o item 43 ldquoHistoric Buildingsrdquo Neste item direciona-se a atenccedilatildeo para as amplas

possibilidades de reuso e reabilitaccedilatildeo dessas edificaccedilotildees Tal situaccedilatildeo deve partir da

intervenccedilatildeo miacutenima e deve garantir que as caracteriacutesticas histoacutericas ou culturais dos edifiacutecios

sejam devidamente respeitadas e mantidas O Guia trata tambeacutem do procedimento para

reparos que na medida do possiacutevel deve ser feito atraveacutes das teacutecnicas tradicionais e dos

materiais originais ou compatiacuteveis sempre com apoio de profissional especializado Eacute

enfatizada tambeacutem a obrigatoriedade em solicitar das autoridades competentes autorizaccedilatildeo

para as intervenccedilotildees Por uacuteltimo apoacutes feitas todas as consideraccedilotildees sobre os aspectos

positivos da reutilizaccedilatildeo de um determinado edifiacutecio no caso de se decidir pela demoliccedilatildeo do

mesmo o Guia aponta os cuidados a serem obsevados na disposiccedilatildeo final dos resiacuteduos no

aterro sanitaacuterio alertando para a importacircncia em separar os resiacuteduos toacutexicos Os materiais

resultantes da demoliccedilatildeo como accedilo fundaccedilotildees de concreto ceracircmica madeira de assoalho

instalaccedilotildees internas placas de gesso carpete e janelas satildeo frequentemente passiacuteveis de

4 ldquoTermo utilizado principalmente em engenharia para designar o processo de modernizaccedilatildeo de algum

equipamento jaacute considerado ultrapassado ou fora de normardquo Disponiacutevel em

lthttpwwweletrobrascomrelatorio_sustentabilidade_2013anexosglossariogt Acesso em 06 de jun 2015

23

reciclagem revenda ou reutilizaccedilatildeo e natildeo devem ser descartados resultando na diminuiccedilatildeo do

desperdiacutecio e na reduccedilatildeo da exploraccedilatildeo dos recursos naturais

Outro importante documento a ser citado aqui como relevante para a proteccedilatildeo do

patrimocircnio histoacuterico e para o desenvolvimento sustentaacutevel o ldquoCalifornia Code of

Regulations Title 24rdquotambeacutem chamado de ldquoCalifornia Building Standards Coderdquo foi

finalizado em 1998 e aprovado pela ldquoCalifornia Building Standards Commissionrdquo em 2007

Tal documento trata dos paracircmetros gerais para a construccedilatildeo de edificaccedilotildees no Estado da

Califoacuternia Este Coacutedigo eacute dividido em 12 partes e traz na parte 8 de tiacutetulo ldquoCalifornia

Historical Building Code (CHBC)rdquo as exigecircncias a serem cumpridas para a permissatildeo de

reparos alteraccedilotildees e adiccedilotildees necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo relocaccedilatildeo mudanccedila de

uso ou continuaccedilatildeo de uso em edificaccedilotildees de reconhecido valor cultural ou histoacuterico5 Com o

objetivo de proteger a sauacutede e a seguranccedila das pessoas o California Historical Building Code

(CHBC) busca orientar as accedilotildees para a recuperaccedilatildeo das edificaccedilotildees histoacutericas garantindo a

preservaccedilatildeo da integridade e das caracteriacutesticas de tais edificaccedilotildees Ao todo satildeo 10 capiacutetulos

que abordam em resumo os seguintes temas capiacutetulo 01 ldquoAdministrationrdquo trata dos casos

sujeitos agrave aplicaccedilatildeo do coacutedigo cap02 ldquoDefinitionsrdquo trata das definiccedilotildees dos termos frases e

palavras necessaacuterios agrave compreensatildeo dos demais capiacutetulos cap03 ldquoUse and Occupancyrdquo trata

das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo dos edifiacutecios tais como altura maacutexima e nuacutemero de

pavimentos dimensatildeo miacutenima dos cocircmodos diretrizes de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo cap04

ldquoFire Protectionrdquo trata da proteccedilatildeo contra incecircndio e indica as diretrizes em relaccedilatildeo aos

materiais shafts telhado sistemas de alarme sistemas automaacuteticos de proteccedilatildeo como

sprinklers dentre outras tecnologias cap05 ldquoMeans of Egressrdquo trata das meios de saiacuteda das

edificaccedilotildees abordando entre outros elementos as escadas portas janelas grades e guarda-

corpos cap06 ldquoAccessibilityrdquo trata da acessibilidade aos portadores de necessidades especiais

a partir da utilizaccedilatildeo das dimensotildees miacutenimas e demais diretrizes estabelecidas para as

entradas portas banheiros rampas elevadores dentre outros cap07 ldquoStructural

5 Conforme o California Building Standards Code Parte 08 paacutegina 04 as edificaccedilotildees de reconhecido valor

cultural ou histoacuterico para as quais se utilizaraacute o CHBC satildeo ldquoFor the purposes of this part a qualified historical

building or structure is any structure or collection of structures and their associated sites deemed of importance

to the history architecture or culture of an area by an appropriate local or state governmental jurisdiction This

shall include structures on existing or future national state or local historical registers or official inventories

such as the National Register of Historic Places State Historical Landmarks State Points of Historical Interest

and city or county registers or inventories of historical or architecturally significant sites places historic districts

or landmarksrdquo (CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS 2007 p 4)

24

Regulationsrdquo trata da regulaccedilatildeo sobre os sistemas estruturais a partir da identificaccedilatildeo da

situaccedilatildeo da estrutura por profissional especializado identificaccedilatildeo dos acreacutescimos posteriores agrave

construccedilatildeo do edifiacutecio das cargas incidentes da performance dos parapeitos e da situaccedilatildeo dos

revestimentos externos e decorativos cap8 ldquoArchaic Materials and Methods of Constructionrdquo

trata dos meacutetodos e materiais construtivos tradicionais das edificaccedilotildees histoacutericas e das

diretrizes para a recuperaccedilatildeo de alvenarias adobe madeira concreto accedilo ferro vidros e

vidraccedilas cap09 ldquoMechanical Plumbing and Electrical Requirementsrdquo trata das exigecircncias

em relaccedilatildeo agraves instalaccedilotildees eleacutetricas aos encanamentos e sistemas mecacircnicos Por uacuteltimo o

cap10 ldquoQualified Historical Districts Sites and Open Spacesrdquo trata das orientaccedilotildees para a

preservaccedilatildeo dos espaccedilos abertos e siacutetios histoacutericos a partir da manutenccedilatildeo da configuraccedilatildeo

espacial existente e dos elementos constitutivos da paisagem

No Brasil o instrumento que mais se assemelha aos exemplos citados acima eacute o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees Utilizado para regulamentar os criteacuterios e procedimentos a

serem utilizados na elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de projetos de edificaccedilotildees e controlar as atividades

de construccedilatildeo6 o Coacutedigo de Obras eacute instituiacutedo por lei municipal como instrumento

complementar a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo citada anteriormente no Capiacutetulo 02 O

atendimento agraves condiccedilotildees estabelecidas nesses dois instrumentos da regulaccedilatildeo urbana ndash e o

atendimento a outras legislaccedilotildees quando for o caso - eacute requisito para a obtenccedilatildeo da licenccedila

urbaniacutestica Somente por meio da licenccedila municipal que afirma a compatibilizaccedilatildeo dos

interesses individuais e coletivos com o desenvolvimento urbano o proprietaacuterio poderaacute

exercer o seu direito sobre a propriedade sendo-lhe permitido executar as intervenccedilotildees

devidamente aprovadas Tambeacutem devem ser previstas em lei assim como os procedimentos

para o licenciamento as bases para a efetivaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo municipal como a

determinaccedilatildeo das infraccedilotildees e a previsatildeo de sanccedilotildees e multas aplicaacuteveis a cada caso

Subordinado agraves estrateacutegias de desenvolvimento estabelecidas no Plano Diretor o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees assim como a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo deve ser

elaborado a partir da preocupaccedilatildeo em se estabelecer uma boa interaccedilatildeo entre as novas

edificaccedilotildees e o conjunto urbano construiacutedo Para essa interaccedilatildeo as construccedilotildees devem atender

agraves premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica natildeo de forma isolada mas de

6 ldquoPara fins de direito entende-se por construccedilatildeo toda realizaccedilatildeo material e intencional de algueacutem visando a

adaptar o imoacutevel agraves suas conveniecircncias Nesse sentido tanto eacute construccedilatildeo a edificaccedilatildeo ou reforma como a

demoliccedilatildeo o muramento a escavaccedilatildeo o aterro a pintura e demais trabalhos destinados a beneficiar tapar

desobstruir conservar ou embelezar o preacutediordquo (BARANDIER ALMEIDA MORAIS 2013 p 147)

25

forma a interferir positivamente sobre o clima urbano e sobre a qualidade ambiental Assim

para aleacutem das diretrizes relativas ao uso agrave seguranccedila agrave salubridade agrave acessibilidade e agrave

preservaccedilatildeo dos elementos histoacutericos artiacutesticos e culturais tambeacutem devem ser elaborados

estudos climaacuteticos que aplicados ao desenho urbano possibilitem a formulaccedilatildeo de diretrizes

em prol da adaptaccedilatildeo das edificaccedilotildees agraves caracteriacutesticas climaacuteticas locais ao conforto teacutermico

luminoso e acuacutestico aleacutem da formulaccedilatildeo de diretrizes para a utilizaccedilatildeo de fontes de energia

alternativas e combate ao desperdiacutecio

Voltando aos dados obtidos pela Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros

realizada pelo IBGE em 2013 conforme pode ser visto no graacutefico abaixo do total de

municiacutepios brasileiros 624 declararam ter Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees enquanto 542

declararam ter Lei de Zoneamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo Esses dados demonstram que os

instrumentos legais embora apresentem um grande potencial de transformaccedilatildeo da realidade

urbana ainda satildeo pouco aplicados

Graacutefico do Percentual de municiacutepios segundo o tipo de instrumento de planejamento

existente - MUNIC -2013

Fonte Pesquisa ldquoPERFIL DOS MUNICIacutePIOS BRASILEIROS 2013rdquo (IBGE 2014)

Dentre os Coacutedigos de Obras existentes muitos estatildeo desatualizados defasados e

por isso natildeo configuram um mecanismo relevante quanto agrave alteraccedilatildeo do cenaacuterio das cidades

brasileiras Aleacutem disso a falha na articulaccedilatildeo dos diversos dispositivos de orientaccedilatildeo controle

e fiscalizaccedilatildeo das construccedilotildees resulta na aplicaccedilatildeo desequilibrada da lei consolidando

poliacuteticas de favorecimento exclusatildeo e segregaccedilatildeo aleacutem de ampliar a cada dia a destruiccedilatildeo e

os prejuiacutezos ambientais

26

Apesar de termos avanccedilado na construccedilatildeo conceitual dos instrumentos capazes de

nos levar ao sonhado desenvolvimento sustentaacutevel estamos ainda muito aqueacutem de efetivaacute-los

na praacutetica e no dia-a-dia dos municiacutepios A gestatildeo urbana da qual o planejamento eacute

interdependente configura a um dos principais obstaacuteculos agrave superaccedilatildeo da loacutegica atual de

valorizaccedilatildeo dos interesses individuais sobre os coletivos A falta interesse em destinar

recursos para a soluccedilatildeo de parte dos problemas soacutecio-espaciais tambeacutem eacute um grande

obstaacuteculo A melhoria da infraestrutura urbana os projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria a

construccedilatildeo de moradias populares sustentaacuteveis e a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados jaacute

configurariam um passo adiante na concretizaccedilatildeo da sustentabilidade no ambiente urbano

Sendo assim conhecidos os obstaacuteculos ou pelo menos parte deles eacute fundamental lanccedilarmos

as bases para a sua superaccedilatildeo fortalecendo os ideais de transformaccedilatildeo das cidades

27

5 O MUNICIacutePIO DE OURO PRETO UM ESTUDO DE CASO

51 Da colonizaccedilatildeo ao Seacuteculo XX

Localizado na Regiatildeo Central de Minas Gerais (ou Macrorregiatildeo Metaluacutergica) o

municiacutepio de Ouro Preto eacute possui uma aacuterea aproximada de 1245kmsup2 e sua populaccedilatildeo totaliza

cerca de 70281 habitantes7 Posicionado na porccedilatildeo centro-sul do Estado Ouro Preto tem

como principais confrontantes os municiacutepios de Mariana Itabirito Ouro Branco Congonhas

e Santa Baacuterbara Aleacutem do distrito-sede o territoacuterio eacute dividido em mais 12 distritos

Amarantina Antocircnio Pereira Cachoeira do Campo Engenheiro Correia Glaura Lavras

Novas Miguel Burnier Santa Rita Santo Antocircnio do Leite Santo Antocircnio do Salto Satildeo

Bartolomeu e Rodrigo Silva

Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ouro Preto no estado de

Minas Gerais

Fonte SMCP - PMOP

7 IBGE Diretoria de Pesquisas Coordenaccedilatildeo de Populaccedilatildeo e Indicadores Sociais ndash ldquoEstimativas da populaccedilatildeo

residente com data de referecircncia 1o de julho de 2014 publicada no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo em 28082014rdquo

Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314610ampsearch=||infogrE1ficosinformaE7F5e

s-completasgt Acesso em 06 jun 2015

28

Ouro Preto e municiacutepios limiacutetrofes

Fonte SMCP - PMOP

Mapa dos Distritos de Ouro Preto

Fonte SMCP - PMOP

Desencadeados pela exploraccedilatildeo auriacutefera do seacuteculo XVII - iniciada na regiatildeo de

Minas Gerais provavelmente em 1698 - os arraiais e agrupamentos humanos se consolidaram

na regiatildeo montanhosa e acidentada do municiacutepio de Ouro Preto primeiramente nas encostas

iacutengremes e arredores das minas e posteriormente nas margens dos rios e nos fundos de vale O

povoamento foi se intensificando em torno dos principais eixos de ligaccedilatildeo entre os nuacutecleos

29

urbanos vizinhos resultando num desenho urbano linear e longitudinal diferente do modelo

reticulado de ordenaccedilatildeo do territoacuterio que foi caracteriacutestico do Brasil Colocircnia

Agrave primeira configuraccedilatildeo urbana consolidada em 1711 deu-se o nome de Vila

Rica de Albuquerque que posteriormente em 1720 foi elevada agrave capital da Capitania das

Minas Gerais Ao longo do seacuteculo XVIII foram efetivadas as intervenccedilotildees urbanas mais

significativas e foram construiacutedas as principais referecircncias arquitetocircnicas de Ouro Preto As

principais pontes os chafarizes o Centro Administrativo (atual Praccedila Tiradentes) o Palaacutecio

dos Governadores a Casa de Cacircmara e Cadeia assim como as inuacutemeras capelas e igrejas de

estilo barroco das diversas ordens e irmandades religiosas consolidaram o cenaacuterio

setecentista que configura o atual centro histoacuterico da cidade O final do seacuteculo XVIII foi

marcado pelo esgotamento das minas de ouro o que desencadeou um esvaziamento

populacional da Vila pela crise de abastecimento e decadecircncia econocircmica

O seacuteculo XIX contudo trouxe as mudanccedilas advindas da era do Impeacuterio e em

1823 Vila Rica de Albuquerque foi elevada agrave cidade sob o tiacutetulo de Imperial Cidade de Ouro

Preto A partir daiacute a cidade passou por diversas modernizaccedilotildees a fim de se consolidar

enquanto capital da proviacutencia de Minas Gerais A criaccedilatildeo da Escola de Farmaacutecia do Liceu de

Artes e Ofiacutecios da Escola de Minas a construccedilatildeo da Estaccedilatildeo Ferroviaacuteria e a implantaccedilatildeo da

Companhia Industrial Ouro-Pretana satildeo exemplos importantes da expansatildeo e do

desenvolvimento da cidade durante o seacuteculo XIX Ao final deste seacuteculo jaacute sob a eacutegide do

periacuteodo republicano a cidade de Ouro Preto perde o status de capital da proviacutencia que em

1897 passou para Belo Horizonte Tal fato ocasionou pela segunda vez um processo de

esvaziamento e crise econocircmica na cidade Assim distante dos ideais de modernizaccedilatildeo e

desenvolvimento que cercavam a nova capital a ausecircncia de poliacuteticas de renovaccedilatildeo foi o que

garantiu a preservaccedilatildeo das feiccedilotildees urbanas da antiga Vila Rica A partir de entatildeo diversos

intelectuais da eacutepoca viajaram ateacute Ouro Preto e verificando o mal estado de conservaccedilatildeo e o

abandono da cidade comeccedilaram a produzir uma nova consciecircncia em relaccedilatildeo agrave necessidade

de se preservar os registros do passado

30

Mapa da evoluccedilatildeo urbana de Ouro Preto ndash do seacuteculo XVII ao seacuteculo XX

Fonte IGA ndash Instituto de Geociecircncias Aplicadas - 2003

Igreja de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo ndash registros do

periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

Ponte vizinha agrave Casa dos Contos - registros do periacuteodo

entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

31

Igreja N S do Pilar ndash registros do periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015apresentacao

A tradiccedilatildeo quanto agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico somente se consolidou

no Brasil a partir do seacuteculo XX Em 1931 surgiu o primeiro decreto municipal8 voltado para a

preservaccedilatildeo do cenaacuterio arquitetocircnico da cidade de Ouro preto proibindo as construccedilotildees em

desacordo com o estilo colonial predominante Em 1933 por meio do decreto nacional

22928 Ouro Preto foi erigida a Monumento Nacional Em 1938 o conjunto histoacuterico da

cidade foi tombado pelo SPHAN - Serviccedilo do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional que

havia sido criado no ano anterior Os anos seguintes foram marcados por inuacutemeras obras de

restauraccedilatildeo e tombamentos individuais

8 Decreto 13 de 19 de setembro de 1931 ldquoConsiderando que a cidade de Ouro Preto escriacutenio das tradiccedilotildees

mineiras deve conservar o seu aspecto colonial transmitido dos nossos antepassados Considerando que esta

feiccedilatildeo colonial de seus edifiacutecios de seus preacutedios das ruas e praccedilas desperta grande interesse por parte dos

turistas que frequumlentemente vecircm visitar a cidade e suas cercanias Considerando que ferem dolorosamente a

sensibilidade dos turistas os preacutedios que destoam do tipo colonial DECRETA Art 1deg - Natildeo eacute permitida no

periacutemetro urbano a construccedilatildeo de preacutedios e de edifiacutecios em desacordo com o estilo colonial da cidade Art 2deg -

Os atuais preacutedios existentes no periacutemetro urbano em desacordo com o artigo antecedente deveratildeo ser

modificados nas respectivas fachadas quando estas tenham que receber reparos []rdquo (OLIVEIRA 1997 p 7)

32

A sistematizaccedilatildeo de normas aplicaacuteveis agraves novas construccedilotildees foi realizada pelo

SPHAN (que em 1970 passou a ser chamado IPHAN9) para regular o crescimento da cidade e

o intenso surgimento de novas moradias que caracterizaram as deacutecadas de 1950 e 1960 Tal

crescimento se deu principalmente pela chegada de induacutestrias metaluacutergicas para a exploraccedilatildeo

da bauxita e produccedilatildeo de alumiacutenio primaacuterio Assim o ldquoestilo patrimocircniordquo surgiu das

exigecircncias normativas quanto agrave utilizaccedilatildeo dos elementos arquitetocircnicos tradicionais do

periacuteodo colonial

Um primeiro plano urbano foi elaborado pelo arquiteto portuguecircs Viana de Lima

entre os anos 1968 e 1970 com o objetivo de ldquopreservarrdquo o nuacutecleo histoacuterico da cidade e

consolidar o estilo patrimocircnio atraveacutes da eliminaccedilatildeo dos ecletismos da demoliccedilatildeo de obras

desprovidas de qualidade esteacutetica e do preenchimento dos vazios urbanos Nos anos seguintes

a discussatildeo sobre a salvaguarda do patrimocircnio se intensificou e deu origem a diversos outros

planos10

e programas de preservaccedilatildeo que obtiveram pouco sucesso na aplicaccedilatildeo praacutetica Em

21 de setembro de 1980 Ouro Preto recebeu da UNESCO o tiacutetulo de Patrimocircnio Cultural da

Humanidade e passou a ter visibilidade internacional

Ao final do seacuteculo XX a preocupaccedilatildeo com o desenvolvimento urbano da cidade e

com a proteccedilatildeo patrimonial gerou novas demandas em relaccedilatildeo agrave regulaccedilatildeo urbana e coube ao

IPHAN o papel de legislar sobre as intervenccedilotildees no centro histoacuterico As accedilotildees da

Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) do Instituto Estadual do Patrimocircnio Histoacuterico e

Artiacutestico (IEPHA) e do Instituto Estadual de Florestas (IEF) em pareceria com o governo

municipal e com o IPHAN foram decisivas na preservaccedilatildeo do patrimocircnio neste periacuteodo Em

1990 foram publicadas por meio da Lei 571990 as diretrizes para do Plano Diretor do

Municiacutepio sob as delineaccedilotildees inauguradas pela Constituiccedilatildeo Federal Tais diretrizes eram

bastante simplificadas e restritas aos zoneamentos e a questatildeo da preservaccedilatildeo do patrimocircnio

9 Em 1937 por meio da Lei nordm 378 foi fundado o SPHAN como oacutergatildeo oficial de preservaccedilatildeo do patrimocircnio

cultural brasileiro No mesmo ano foi promulgado o Decreto-Lei nordm 25 que regulamentou as atividades do

SPHAN Em 1946 o SPHAN teve o seu nome alterado para Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (DPHAN) Em 1970 o DPHAN eacute transformado em Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (IPHAN)

10 ldquoEm Minas Gerais a Fundaccedilatildeo Joatildeo Pinheiro (FJP) realizou um extenso diagnoacutestico e elaborou planos

diretores para diversas cidades coloniais mineiras bem como o Plano de Conservaccedilatildeo Valorizaccedilatildeo e

Desenvolvimento de Ouro Preto e Mariana em 1975 Esse Plano trata sobre a preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

patrimocircnio vinculado com as necessidades de desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio Por isso

abordou desde questotildees histoacutericas e culturais ateacute a anaacutelise de aspectos fiacutesico- territoriais tais como siacutetio natural

estudo das estruturas urbanas paisagismo e legislaccedilatildeo urbanardquo (SILVA OLIVEIRA 2005 p 180)

33

foi pouco abordada Jaacute em 1996 uma nova versatildeo do plano foi elaborada e diferentemente do

texto anterior o novo plano contemplou a preocupaccedilatildeo com o patrimocircnio e a preservaccedilatildeo

como instrumentos interligados agrave poliacutetica urbana

Art 1ordm - Em conformidade com a Constituiccedilatildeo Federal e com a Lei Orgacircnica

Municipal fica instituiacutedo o Plano Diretor de Ouro Preto (PDOP) fixando diretrizes

e instrumentos para o pleno desenvolvimento do Municiacutepio em consonacircncia com as

funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade [] Art 2ordm - O conjunto artiacutestico

arquitetocircnico urbaniacutestico paisagiacutestico e ambiental de relevante valor cultural

sediado no Municiacutepio objeto de tombamento federal e de reconhecimento

internacional pela UNESCO como Patrimocircnio Cultural da Humanidade eacute

considerado bem inalienaacutevel de sua populaccedilatildeo cabendo a ela exercer de forma

concorrente com as Administraccedilotildees Puacuteblicas a sua guarda proteccedilatildeo e gestatildeo

Paraacutegrafo uacutenico ndash A preservaccedilatildeo e a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural e ambiental

do Municiacutepio eacute fator determinante para o desenvolvimento urbano para a geraccedilatildeo de

empregos e para melhor distribuiccedilatildeo de renda Lei Complementar 0196 Ouro Preto

(OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996)

Em 1997 foi criado ldquoPlano de Reabilitaccedilatildeo do Siacutetio Histoacuterico de Ouro Pretordquo a

partir do ldquoMonumentardquo programa federal de iniciativa do Ministeacuterio da Cultura e patrocinado

pelo BID que sob a premissa do desenvolvimento econocircmico-social sustentaacutevel buscou

revitalizar os centros histoacutericos urbanos de 26 cidades brasileiras O Plano traccedilado para Ouro

Preto natildeo foi totalmente implementado mas alavancou as poliacuteticas de preservaccedilatildeo do

municiacutepio e deixou intervenccedilotildees significativas como por exemplo a recuperaccedilatildeo do Parque

Horto dos Contos (fundo de vale do Ribeiratildeo do Funil) aacuterea verde mais significativa da regiatildeo

central

34

Mapa Cadastral de Ouro Preto ndash Periacutemetro de tombamento pelo IPHAN

Fonte Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano - PMOP

52 O contexto atual

O conceito de patrimocircnio e de preservaccedilatildeo adotado no Brasil foi se modificando

ao longo da histoacuteria como foi apontado nos iniacutecio deste capiacutetulo Assim agrave medida que o

conceito adquiria relevacircncia as poliacuteticas de preservaccedilatildeo foram sendo instauradas nas esferas

administrativas Os avanccedilos iniciados no final do seacuteculo XX se consolidaram jaacute nos primeiros

anos do seacuteculo XXI O novo seacuteculo trouxe consigo uma mudanccedila significativa em relaccedilatildeo ao

desenvolvimento dos siacutetios histoacutericos que deixaram de ser vistos como uma ldquoobra de arte

intocaacutevelrdquo e passaram a ser tratados como espaccedilos socializados repletos de interaccedilatildeo cultural

e portanto passiacuteveis de transformaccedilatildeo Aleacutem dos centros urbanos o patrimocircnio imaterial

tambeacutem recebeu especial atenccedilatildeo e apoacutes 20 anos de discussatildeo a Convenccedilatildeo para a

Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial consolidada pela UNESCO em 2003 avanccedilou

no reconhecimento e na defesa das heranccedilas culturais dos povos ao redor do mundo

As transformaccedilotildees na relaccedilatildeo da preservaccedilatildeo com o planejamento urbano se

efetivaram em 2003 a partir da criaccedilatildeo do Plano de Preservaccedilatildeo de Siacutetio Histoacuterico Urbano

(PPSH) Este plano foi um instrumento de caraacuteter normativo que incidiu sobre os siacutetios

35

urbanos tombados em niacutevel federal a fim de aliar preservaccedilatildeo e desenvolvimento e incentivar

a gestatildeo compartilhada Nesse mesmo ano foi realizado o Encontro Nacional de Cidades

Histoacutericas que tratou da gestatildeo compartilhada do patrimocircnio cultural e da efetivaccedilatildeo das

poliacuteticas de preservaccedilatildeo associadas agrave legislaccedilatildeo urbana e ambiental

As mudanccedilas do iniacutecio do seacuteculo natildeo demoraram a repercutir no Municiacutepio de

Ouro Preto A partir da portaria ndeg 122 instituiacuteda em 2004 pelo presidente do IPHAN

definiu-se as diretrizes de intervenccedilatildeo e os paracircmetros para aprovaccedilatildeo de projeto no centro

histoacuterico da cidade a fim de garantir a manutenccedilatildeo das caracteriacutesticas da unidade e da

harmonia do conjunto urbano

Mapa dos bairros do municiacutepio de Ouro Preto

Fonte Secretaria Municipal de Patrimocircnio e Desenvolvimento Urbano - PMOP

36

Mapa esquemaacutetico ndash Periacutemetro urbano periacutemetro tombado e demais delimitaccedilotildees de interesse do distrito sede

Elaboraccedilatildeo Guilherme I N Ataiacutedes Base mapa do Plano Diretor

Foto da Praccedila Tiradentes

Fonte httpmondegocombrpraca-tiradentes

37

Foto Campus UFOP

Fonte httpwwwseeufopbrp=490

Foto IFMG

Fonte httpwwwouropretoifmgedubrcomunicacaoimagens-e-videoscampus-ouro-

pretocampusimage_view_fullscreen

Em 2006 a remodelaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Patrimocircnio e

Desenvolvimento Urbano (antiga Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio) deu um novo

impulso agrave preservaccedilatildeo no acircmbito da gestatildeo municipal unindo as poliacuteticas de proteccedilatildeo agraves

poliacuteticas de planejamento urbano O Grupo de Assessoramento Teacutecnico ndash GAT e o Conselho

Municipal de Patrimocircnio foram novamente colocados em accedilatildeo Um novo Plano Diretor

promulgado ao final deste mesmo ano atraveacutes da Lei Complementar Nordm 29 agregou as

conquistas do Estatuto da Cidade aos preceitos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio e acrescentou as

diretrizes para a proteccedilatildeo ambiental Os temas funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

estruturaccedilatildeo territorial desenvolvimento econocircmico proteccedilatildeo ambiental proteccedilatildeo ao

patrimocircnio cultural poliacutetica de desenvolvimento social produccedilatildeo da cidade e mobilidade

urbana intitulam alguns dos capiacutetulos da Lei Os instrumentos da poliacutetica urbana para o

cumprimento da funccedilatildeo social da propriedade aparecem no texto logo em sequecircncia A Lei de

38

Parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo conforme previsatildeo do Art 81 do Plano Diretor foi

promulgada no mesmo dia 28 de dezembro de 2006

A partir de entatildeo o municiacutepio assume sua funccedilatildeo enquanto principal oacutergatildeo de

gestatildeo do territoacuterio tarefa que anteriormente era desempenhada pelo Governo Federal e pelo

IPHAN Ao final de 2010 por meio da Lei Complementar Nordm 91 o Plano Diretor passa por

alteraccedilotildees pontuais e em 2011 a Lei de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo eacute amplamente

revisada dando origem aos paracircmetros utilizados nos dias atuais

Dentro desse resumido panorama legislativo apresentado pode-se perceber que o

Municiacutepio de Ouro Preto acompanhou em grande parte os avanccedilos inaugurados pelo

Estatuto da Cidade e concretizou ao menos em forma de Lei a regulamentaccedilatildeo das diretrizes

e dos instrumentos capazes de fazer valer a funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

Contudo tais avanccedilos representam muito pouco frente ao gigantesco desafio

enunciado no Art 2 inciso II do mesmo Estatuto quanto agrave ldquogarantia do direito a cidades

sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao saneamento ambiental

agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para

as presentes e futuras geraccedilotildeesrdquo(Lei 10257 2001)

Aleacutem da amplitude da tarefa outros elementos dificultam ainda mais o processo

de construccedilatildeo de uma nova realidade como por exemplo a negligecircncia dos gestores puacuteblicos

para com a atualizaccedilatildeo necessaacuteria e obrigatoacuteria das Leis O Plano Diretor de Ouro Preto

indica jaacute no Capiacutetulo 1 artigo 1ordm sect3ordm o prazo maacuteximo para a revisatildeo do mesmo estabelecido

em cinco anos a partir da sua publicaccedilatildeo ou seja 2011 Sendo assim percebe-se que a Lei

de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo revisada em 2011 embora seja o principal instrumento de

controle urbaniacutestico ateacute os dias de hoje jaacute nasceu defasada pois utilizou como referecircncia a

estrateacutegia de desenvolvimento urbano definida no Plano Diretor de 2006 desconsiderando os

impactos e as mudanccedilas territoriais sociais e culturais ocorridos desde entatildeo No geral os

gestores municipais tratam apenas de alteraccedilotildees pontuais que apenas mascaram o quadro de

estagnaccedilatildeo e desatualizaccedilatildeo das leis urbaniacutesticas Tal conduta conforma um enorme obstaacuteculo

na concretizaccedilatildeo das diretrizes do Estatuto da Cidade

Nos capiacutetulos anteriores ao tratarmos do desenvolvimento sustentaacutevel dois

importantes instrumentos foram apontados como peccedilas-chave da consolidaccedilatildeo de uma nova

experiecircncia de sustentabilidade no ambiente urbano a agenda 21 e o coacutedigo de obras

O primeiro deles a agenda 21 local foi estabelecida em 15 de maio de 2007 por

meio da Lei Nordm 333

39

Art 1ordm Fica criado no acircmbito do Municiacutepio de Ouro Preto o Programa da Agenda 21

Local processo e instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento

sustentaacutevel e que tem como eixo central a sustentabilidade compatibilizando a

conservaccedilatildeo ambiental a justiccedila social e o crescimento econocircmico Art 2ordm Para

efeitos de execuccedilatildeo da Agenda 21 Local o Poder Executivo instalaraacute o Foacuterum Ouro-

pretano da Agenda 21 Local (OURO PRETO Lei nordm333 Agenda 21 Local de 11

de maio de 2007)

No texto da Lei foram previstos os capiacutetulos a serem desenvolvidos Agenda 21

Estrutural Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade A

responsabilidade recaiu sobre o Foacuterum Ouro-Pretano da Agenda 21 Local Aleacutem da Lei de

criaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel encontrar nos registros legislativos digitais da Cacircmara Municipal a

Portaria Nordm 1707 que nomeia uma Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos Naturais

e Agenda 21 Local

Outra fonte de informaccedilotildees sobre a Agenda 21 Local de Ouro Preto foi encontrada

no acervo digital da Universidade Federal de Ouro Preto sob o tiacutetulo ldquoAgenda 21 Local

consolidando as bases para o desenvolvimento sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escalardquo

(OLIVEIRA 2010) Nesse trabalho foram apontadas as iniciativas que acompanharam a

criaccedilatildeo da Agenda 21 Local dentre as quais se destacam em ordem cronoloacutegica 1ordm Encontro

de Processos de Agendas 21 Locais ndash fevereiro de 2007 Plenaacuteria na Cacircmara Municipal de

Ouro preto para apresentaccedilatildeo da Agenda 21 ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio de Capacitaccedilatildeo para

a Agenda 21 Local ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio Teacutecnico de Diagnoacutestico para referecircncia da

Agenda 21 Local ndash abril de 2007 Seminaacuterio de Implantaccedilatildeo da Agenda 21 Mineral de Ouro

Preto ndash abril de 2007 Assinatura do Termo de Cooperaccedilatildeo Muacutetua entre a Prefeitura

Municipal a Cacircmara Municipal a ONG Interforum Global e a UFOP ndash maio de 2007

Seminaacuterio Intermunicipal de Agenda 21 Local ndash maio de 2007 Seminaacuterio Geral de

Capacitaccedilatildeo da Agenda 21 Local ndash agosto de 2007

Para aleacutem dos registros oficiais e dos dados encontrados no trabalho mencionado

no paraacutegrafo anterior foram encontradas somente notiacutecias informais11

sobre a criaccedilatildeo e

lanccedilamento da Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude todas datadas de 2007

11 Destacam-se ldquoO presidente da Cacircmara vereador Mauriacutelio Zacarias (PMDB) implantou no dia 20 de abril a

Agenda 21 da Mineraccedilatildeo de Ouro Preto A Agenda 21 da Mineraccedilatildeo eacute uma das subdivisotildees da Agenda 21

Global um conjunto de accedilotildees recomendadas pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) para garantir o

desenvolvimento sustentaacutevel do planeta no seacuteculo XXIrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwcmopmggovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=70agenda-21-da-mineracao-e-

implantada-em-ouro-pretoampcatid=61reunioesgt Acesso em 06 jun 2015 ldquoJuntos pela sustentabilidade o

Foacuterum da Agenda 21 Local de Ouro Preto daacute iniacutecio ao desenvolvimento de accedilotildees especiacuteficas para a implantaccedilatildeo

do capiacutetulo Agenda 21 da Juventude na escola e na universidade O lanccedilamento da Agenda 21 da Escola

acontece no dia 21 de junho quinta-feira agraves 10h no Centro de Artes e Convenccedilotildees da UFOPrdquo ndash Notiacutecia sobre a

40

Conclui-se portanto que a iniciativa da Agenda 21 Local assim como muitas das

diretrizes definidas nas Leis do Planejamento Urbano estagnou no ano de 2007 e avanccedilou

pouco em relaccedilatildeo agraves primeiras linhas da Lei Embora se tenha a informaccedilatildeo de que os Grupos

de Trabalho continuaram a desenvolver suas atividades nos anos seguintes os registros dessas

accedilotildees praacuteticas satildeo praticamente inexistentes e tais atividades praticamente natildeo efetivaram

mudanccedilas na realidade do Municiacutepio

Quanto ao Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees outro importante instrumento da gestatildeo

municipal capaz de estabelecer as bases para um ambiente urbano sustentaacutevel este nunca foi

regulamentado pelo Municiacutepio Embora citado inuacutemeras vezes no Coacutedigo de Posturas que foi

instituiacutedo em 1980 atraveacutes da Lei 178 o Coacutedigo de Obras nunca adquiriu formato oficial para

aplicaccedilatildeo e regulaccedilatildeo do territoacuterio O uacutenico registro oficial encontrado nos arquivos

eletrocircnicos da Cacircmara Municipal diz respeito a uma comissatildeo especial formada em 1992

para emissatildeo de parecer sobre o anteprojeto de Coacutedigo de Obras de Ouro Preto elaborado

pela ENGEARP ndash Arquitetura e Engenharia Ltda12

Um segundo registro foi encontrado nos

arquivos do diaacuterio oficial eletrocircnico do municiacutepio e consiste numa breve menccedilatildeo do coacutedigo de

obras numa ata de uma das reuniotildees do COMPURB Conselho Municipal de Poliacutetica

Urbana13

em abril de 2013 Apesar dos registros quase inexistentes em consulta ao corpo

teacutecnico do Departamento de Aprovaccedilatildeo de Projetos da Secretaria de Cultura e Patrimocircnio

foram identificadas algumas iniciativas quanto agrave elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo de Obras para o

municiacutepio dentre as quais se destaca o modelo desenvolvido em 2012 Tal modelo em

conformidade com as diretrizes dos coacutedigos internacionais jaacute apontados neste trabalho

ressaltou que as edificaccedilotildees e instalaccedilotildees deveriam atender agraves condiccedilotildees miacutenimas de

seguranccedila conforto ambiental higiene salubridade harmonia esteacutetica e acessibilidade

criaccedilatildeo da Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade ndash 16 de junho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwufopedubrindexphpoption=com_contentamptask=viewampid=600ampItemid=50gt Acesso em 06 jun

2015 ldquoO grupo de trabalho da Agenda 21 Local de Ouro Preto a Associaccedilatildeo Comercial de Ouro Preto e a

Cacircmara da Mulher Empreendedora de Ouro Preto convidam para uma palestra com o seguinte tema lsquoAgenda 21

de Ouro Preto -Desafios e Possibilidades da Participaccedilatildeo do Comeacutercio na Sustentabilidade Localrsquordquo Notiacutecia sobre

o Grupo de Trabalho da Agenda Ouro Preto ndash 10 de julho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwfundacaoaprenderorgbr189gt Acesso em 06 jun 2015

12 Portaria Nordm 0292 ndash 04 de fevereiro de 1992 Disponiacutevel em

lthttpwwwsistemasiglaorgarquivossisnormNJ_img(2562)pdfgt Acesso em 06 jun 2015

13 ldquo[] Gabriel sugeriu que seja incluiacutedo esses criteacuterios no coacutedigo de obrasrdquo Ata da 58ordf Reuniatildeo extraordinaacuteria

do Conselho Municipal de Poliacutetica Urbana ndash COMPURB (extraiacutedo do Diaacuterio Oficial do Municiacutepio ldquoAno V ndash

Ouro Preto 1ordm de Abril de 2013 ndash Nordm766rdquo) Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrdiario-

oficial2076601-04-2013gt Acesso em 27 jun 2015

41

Contudo eacute importante destacar que os paracircmetros necessaacuterios para o atendimento do conforto

ambiental - como criteacuterios de adequaccedilatildeo agraves caracteriacutesticas do clima local diretrizes de

conforto teacutermico luminoso e acuacutestico ndash assim como as diretrizes de eficiecircncia energeacutetica natildeo

foram contemplados no texto diminuindo consideravelmente a possibilidade de sucesso do

instrumento quanto agrave transformaccedilatildeo do ambiente urbano

Sendo assim entendendo a importacircncia que o instrumento ldquocoacutedigo de obrasrdquo tem

na conformaccedilatildeo de espaccedilos urbanos mais confortaacuteveis e equilibrados e buscando contribuir

para o Municiacutepio na consolidaccedilatildeo de Leis atualizadas e transformadoras o capiacutetulo seguinte

trataraacute do desenvolvimento de algumas dessas diretrizes para que as construccedilotildees passem a

incorporar as premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica e passem a contribuir

positivamente para o clima urbano a para a qualidade ambiental

42

6 ENSAIO PARA UM COacuteDIGO DE OBRAS PRINCIPAIS ESTRATEacuteGIAS PARA

A PROMOCcedilAtildeO DA EFICIEcircNCIA ENERGEacuteTICA NO MUNICIacutePIO DE OURO

PRETO

61 O reconhecimento do clima e as recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais

O reconhecimento do clima eacute o primeiro passo a ser dado para o desenvolvimento

das diretrizes construtivas para um determinado local O clima ldquoeacute a condiccedilatildeo meacutedia do tempo

em uma dada regiatildeo baseada em mediccedilotildees em longos periacuteodos de tempo (30 anos ou mais)rdquo

(LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 71) A anaacutelise climaacutetica feita no Brasil utiliza

em geral os dados publicados pelo Instituto Nacional e pelo Departamento Nacional de

Meteorologia por meio das Normais Climatoloacutegicas Essa publicaccedilatildeo sistematiza dentre

outros dados os valores meacutedios e extremos mensais de temperatura umidade precipitaccedilatildeo

nebulosidade e horas de sol para um periacuteodo de 30 anos A utilizaccedilatildeo dessas variaacuteveis

climaacuteticas no desenvolvimento dos projetos arquitetocircnicos possibilita a construccedilatildeo de

edificaccedilotildees mais confortaacuteveis e mais eficientes quanto ao consumo de energia

O municiacutepio de Ouro Preto contou com uma estaccedilatildeo de mediccedilatildeo e monitoramento

climaacutetico no periacuteodo entre 1976 a 1990 Sendo assim por natildeo ter permanecido em vigecircncia

pelo periacuteodo miacutenimo de 30 anos os dados do municiacutepio natildeo foram contemplados na

publicaccedilatildeo das Normais Climatoloacutegicas e podem ser encontrados apenas no registro histoacuterico

do INMET a partir do BDMEP Os dados coletados nesse periacuteodo de 14 anos embora natildeo

tenham sido publicados satildeo fundamentais para analisar o comportamento das variaacuteveis

climaacuteticas no local de estudo conforme seraacute visto nas anaacutelises a seguir

Referenciada geograficamente pelas coordenadas14

Latitude Sul 20deg23rsquo28rdquo e

Longitude Oeste 43deg30rsquo20rdquo Ouro Preto possui altitude correspondente a 1150 metros sendo

que o ponto mais alto o Pico Itacolomi estaacute situado a 1772 metros de altura A latitude e a

altitude satildeo dois importantes fatores geograacuteficos do clima quanto maior a latitude menor eacute a

temperatura superficial e quanto maior a altitude menor seraacute a temperatura e a pressatildeo

atmosfeacuterica

14 Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrlocalizacaogt Acesso em 27 jun 2015

43

Para entendermos o clima no municiacutepio e para traccedilarmos as diretrizes construtivas

que garantam o bom desempenho das edificaccedilotildees faz-se necessaacuterio primeiramente consultar

o Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro definido na parte 3 da NBR 15220

O Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro consiste na ldquodivisatildeo do territoacuterio brasileiro

em oito zonas relativamente homogecircneas quanto ao clima e para cada uma destas zonas

formulou-se um conjunto de recomendaccedilotildees teacutecnico-construtivas que otimizam o desempenho

teacutermico das edificaccedilotildees atraveacutes de sua melhor adequaccedilatildeo climaacuteticardquo (ABNT 2003) O

Zoneamento resulta da aplicaccedilatildeo da Carta Bioclimaacutetica sugerida por Givoni ldquoinserindo os

dados mensais de temperatura meacutedia e umidade relativa para cada mecircs do ano e para cada

uma das localidades agrupando entatildeo aquelas classificadas como um mesmo tipo climaacuteticordquo

(FERREIRA 2014 p432)

As diretrizes construtivas desenvolvidas na Norma tratam basicamente do

comportamento da envoltoacuteria da edificaccedilatildeo a partir da indicaccedilatildeo do tamanho das aberturas

para ventilaccedilatildeo da proteccedilatildeo das aberturas das vedaccedilotildees externas (paredes e cobertura) e das

estrateacutegias de condicionamento passivo

A NBR 15220-3 estaacute vigente desde 2005 e sua aplicaccedilatildeo estaacute direcionada para as

edificaccedilotildees de ateacute trecircs pavimentos destinadas agrave habitaccedilatildeo multifamiliar de interesse social

Contudo os preceitos nela indicados podem e devem servir como base para a adequaccedilatildeo

climaacutetica das demais edificaccedilotildees desde que a Norma natildeo seja aplicada de forma isolada isto

eacute devem ser estudados outros procedimentos e devem ser utilizadas novas ferramentas a fim

de cruzar os resultados e avanccedilar na elaboraccedilatildeo de paracircmetros construtivos cada vez mais

completos e dinacircmicos

Segundo a Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica obtida atraveacutes do programa ZBBR o

municiacutepio de Ouro Preto estaacute localizado na Zona Bioclimaacutetica 3

44

Fonte Programa ZBBR ndash Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica dos Municiacutepios Brasileiros

Em destaque o Municiacutepio de Ouro Preto ndash MG

Para as edificaccedilotildees inseridas nesta zona bioclimaacutetica a NBR 15220 traz as

seguintes orientaccedilotildees

- Quanto agraves aberturas tamanho meacutedio (15 a 25) e que possibilitem a entrada do sol

durante o inverno

- Quanto agraves vedaccedilotildees externas paredes externas leves15

e refletoras cobertura leve e

isolada

- Quanto ao condicionamento teacutermico passivo ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo

aquecimento solar durante o inverno e vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia

teacutermica

15 Quanto agrave caracterizaccedilatildeo das envoltoacuterias como ldquolevesrdquo podemos agregar para melhor entendimento a

explicaccedilatildeo de que tais envoltoacuterias devem ser de baixa ineacutercia teacutermica ou seja devem possibilitar que o ambiente

interno seja influenciado pela temperatura do ar exterior sem grande atraso Assim pode-se dizer que as

recomendaccedilotildees de envoltoacuterias leves ocorrem em ambientes onde se deseja que os ambientes internos agrave

edificaccedilatildeo sofram influecircncia direta da temperatura do exterior

45

A partir das orientaccedilotildees da Norma percebe-se que a classificaccedilatildeo das zonas

bioclimaacuteticas embora tenha uma importante contribuiccedilatildeo esta natildeo pode ser utilizada

isoladamente por natildeo agregar importantes elementos agrave caracterizaccedilatildeo do clima local como jaacute

foi dito anteriormente Sendo assim outros dados de Ouro Preto devem ser observados para

aprofundarmos um pouco mais nas recomendaccedilotildees construtivas

Dentro do espectro das variaacuteveis climaacuteticas que caracterizam uma regiatildeo merece

destaque a temperatura e a umidade A temperatura ldquoeacute a variaacutevel climaacutetica mais conhecida e

de mais faacutecil mediccedilatildeo A variaccedilatildeo da temperatura na superfiacutecie da Terra resulta basicamente

dos fluxos das grandes massas de ar e da diferente recepccedilatildeo da radiaccedilatildeo do sol de local para

localrdquo (LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 77) A temperatura varia principalmente

em funccedilatildeo da velocidade do ar mas tambeacutem eacute influenciada em maior ou menor grau pelo

tipo de solo e de vegetaccedilatildeo pela topografia e pela altitude A temperatura meacutedia anual de

Ouro Preto eacute de 185deg conforme os dados sistematizados pelo INMET A temperatura

maacutexima verificada geralmente no mecircs de fevereiro corresponde a 252deg e a temperatura

miacutenima que ocorre no mecircs de julho corresponde a 112deg Quanto agrave umidade do ar esta

resulta da evaporaccedilatildeo das aacuteguas e da evapotranspiraccedilatildeo dos vegetais e pode ser definida em

absoluta e relativa ldquoComo definiccedilatildeo de umidade absoluta tem-se que eacute o peso do vapor de

aacutegua contido em uma unidade de volume de ar (gm3) e a umidade relativa eacute a relaccedilatildeo da

umidade absoluta com a capacidade maacutexima do ar de reter vapor drsquoaacutegua agravequela temperaturardquo

(FROTA 1995 p62) A umidade do ar tem relaccedilatildeo inversa com a temperatura portanto

quanto menor a temperatura maior a possibilidade de saturaccedilatildeo do ar pela ampliaccedilatildeo da

umidade ao limite de 100 A pluviosidade tambeacutem deve ser observada pois tem relaccedilatildeo

direta com a umidade do ar sendo que a chuva proveacutem em grande parte de massas de ar

uacutemido em ascensatildeo Os dados do INMET apontam que a meacutedia anual da pluviosidade em

Ouro Preto eacute de 16703mm sendo junho o mecircs mais seco com 129mm e dezembro o mecircs

mais uacutemido com 3579mm

46

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641 (continuaccedilatildeo)

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

47

48

A partir dos dados acima eacute possiacutevel verificar inicialmente que se trata de um

clima de baixas temperaturas muito uacutemido (umidade relativa praticamente sempre acima de

80) com alta nebulosidade (o que significa que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou

nublado) e com abundacircncia de chuvas principalmente no veratildeo

Tais caracteriacutesticas satildeo acentuadas pela influecircncia da barreira orograacutefica

provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta que conforma o

Morro Satildeo Sebastiatildeo Sendo assim grande parte da mancha urbana de Ouro Preto situada agrave

barlavento da barreira natural sofre influecircncia das chuvas que resultam do resfriamento e

condensaccedilatildeo do ar em ascensatildeo aprofundando ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade citadas anteriormente

Representaccedilatildeo da influecircncia dos ventos e da topografia na mancha urbana da cidade de Ouro

Preto - a formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem base da imagem de sateacutelite extraiacuteda do Google Maps

Exemplo da chuva a barlavento resultante da formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem Sistemas Tecnoloacutegicos em Conforto Ambiental ndash Eleonora Sad Assis

Parte da malha urbana de Ouro Preto

49

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem timblindimwordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem fotografandoondeopeixeparawordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

A partir das variaacuteveis climaacuteticas sistematizadas pelo INMET podemos avanccedilar na

utilizaccedilatildeo do Diagrama Bioclimaacutetico de Givoni (DBG) que orientou a definiccedilatildeo do

Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro assim como utilizar outro instrumento de anaacutelise as

Tabelas de Mahoney que tambeacutem auxiliam na definiccedilatildeo das diretrizes construtivas

O Diagrama de Givoni nos permite identificar quais recursos satildeo necessaacuterios para

que as edificaccedilotildees atendam agraves condiccedilotildees de conforto Este instrumento aponta quais preceitos

da arquitetura bioclimaacutetica devem ser priorizados tais como ventilaccedilatildeo ineacutercia teacutermica e

50

insolaccedilatildeo assim como aponta a necessidade de soluccedilotildees mecacircnicas para o atendimento ao

conforto teacutermico

Diagrama de Givoni relativo agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O Diagrama de Givoni referente agrave Ouro Preto assinala que na maior parte do

tempo as edificaccedilotildees necessitam de aquecimento passivo tendo em vista o quadro recorrente

de baixas temperaturas e de alta umidade relativa Algumas estrateacutegias de aquecimento

passivo podem ser adaptadas agrave realidade local para melhor aproveitamento Quanto agrave cidade

de Ouro Preto deve-se pensar o ganho teacutermico principalmente durante o inverno Nessa

estaccedilatildeo embora se tenha uma queda significativa das temperaturas tem-se cerca de 6 horas

de insolaccedilatildeo diaacuteria quase duas horas a mais do que nas outras estaccedilotildees O aproveitamento

dessa radiaccedilatildeo solar deve servir para manter o ambiente aquecido durante a noite sendo

assim a utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior insolaccedilatildeo deve

possibilitar a maacutexima entrada de calor durante o dia Quanto aos materiais internos estes

devem possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser

devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente

Voltando ao Diagrama de Givoni se compararmos o resultado da cidade de Ouro

Preto com a cidade de Belo Horizonte que estaacute na mesma zona bioclimaacutetica e estaacute a 858

51

metros de altitude perceberemos o quanto eacute importante cruzar os dados de diferentes

instrumentos de anaacutelise para acertar nas diretrizes de projeto Os dados de Belo Horizonte

resultam numa linha meacutedia predominantemente inserida na zona de conforto chegando a

alcanccedilar a zona de influecircncia da ventilaccedilatildeo em algumas horas dos meses de janeiro fevereiro

e marccedilo

Diagrama de Givoni relativo agrave Belo Horizonte

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O outro meacutetodo importante de anaacutelise voltado especificamente para as

recomendaccedilotildees de projeto arquitetocircnico consiste na sistematizaccedilatildeo das recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas atraveacutes das ldquoTabelas de Mahoneyrdquo Tal meacutetodo deve ser utilizado

simultaneamente ao Diagrama de Givoni a fim de se comparar os resultados e ajustar as

diretrizes construtivas Dentre as orientaccedilotildees da Tabela de Mahoney para Ouro Preto merece

destaque a utilizaccedilatildeo de grandes aberturas (para garantir ventilaccedilatildeo abundante e permanente)

e de envoltoacuterias leves Contudo diretrizes como reduccedilatildeo da exposiccedilatildeo ao sol e proteccedilatildeo da

insolaccedilatildeo direta natildeo favorecem o aquecimento passivo conforme a necessidade observada a

partir do Diagrama de Givoni e portanto devem ser relativizadas Seguem abaixo as

recomendaccedilotildees das Tabelas de Mahoney para Ouro Preto

52

Tabela de Mahoney relativa agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

Sendo assim a partir do conhecimento das variaacuteveis climaacuteticas e dos resultados

apresentados eacute possiacutevel formular a seguinte tabela resumo quanto agraves recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas iniciais para Ouro Preto

14 Tabela de Recomendaccedilotildees Arquitetocircnicas

Total de Indicadores

Uacutemido Aacuterido

H1 H2 H3 A1 A2 A3

1 11 4 0 0 0

1 PLANTA DE SITUACcedilAtildeO

0 -10 X Construccedilotildees orientadas segundo eixo longitudinal leste-oeste

11 ou 5 -12 a fim de diminuir a exposiccedilatildeo ao sol

12 0 - 4 Plantas compactas com paacutetios internos

2 ESPACcedilAMENTO ENTRE CONSTRUCcedilOtildeES

11 ou Grandes espaccedilamentos para favorecer a penetraccedilatildeo do vento

12

2 -10 Como acima mas com proteccedilatildeo contra vento quente ou frio

0 ou 1 X Distribuiccedilatildeo compacta

3 CIRCULACcedilAtildeO DE AR

3 - 12 X Construccedilotildees com orientaccedilatildeo simples aberturas que permitam

1 ou 0 - 5 circulaccedilatildeo de ar permanente

2 6 - 12 Construccedilotildees com orientaccedilatildeo dupla circulaccedilatildeo de ar cruzada

0 2 -12 aberturas de ar controlaacuteveis

0 ou 1 Basta renovaccedilatildeo higiecircnica do ar

4 DIMENSOtildeES DAS ABERTURAS

0 ou 0 X Grandes 40 a 80 das fachadas norte e sul

1 1 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

2 - 5

6 - 10 Intermediaacuterias 20 a 35 da superfiacutecie das paredes

11 ou 0 - 3 Pequenas 15 a 25 da superfiacutecie das paredes

12 4 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

5 POSICcedilAtildeO DAS ABERTURAS

3 - 12 X Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do

1 ou 0 - 5 lado exposto ao vento

2 6 - 12 Como acima mas tambeacutem aberturas nas paredes internas

0 2 - 12

6 PROTECcedilAtildeO DAS ABERTURAS

0 - 2 X Proteger da insolaccedilatildeo direta

2 - 12 X Proteger da chuva

7 PAREDES E PISOS

0 - 2 X Construccedilotildees leves baixa ineacutercia teacutermica

3 - 12 Construccedilotildees maciccedilas tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

8 COBERTURA

10 a 0 - 2 Leve (pouca ineacutecia) superfiacutecie refletora uso de cacircmara de ar

12 3 - 12 X Leve e bem isolada

0 a 0 - 5

9 6 - 12 Maciccedila tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

9 ESPACcedilOS EXTERIORES

1 - 12 Espaccedilo para dormir ao ar livre

1 - 12 X Adequada drenagem para a chuva

3 - 12 X Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

53

Tabela resumo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas

Diagrama de Givoni

Tabelas de Mahoney

NBR 15220 ndash Parte 03

Tamanho e caracteriacutesticas das aberturas

Esquadrias devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia do calor no ambiente

Aberturas que permitam a circulaccedilatildeo de ar permanente

Tamanho meacutedio

Grandes ndash de 40 a 80 das fachadas norte e sul

Possibilitar a entrada do sol durante o inverno

Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do lado exposto ao vento

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees externas

Leves Leves e refletoras

Baixa ineacutercia teacutermica

Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees internas

Possibilitar o armazenamento do calor absorvido

Vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia teacutermica

Caracteriacutesticas da cobertura

Leve e bem isolada Leve e isolada

Condicionamento teacutermico passivo

Ganho teacutermico principalmente durante o inverno

Aberturas protegidas da insolaccedilatildeo direta e protegidas da chuva

Ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo aquecimento solar durante o inverno e

Somando-se os diversos meacutetodos de anaacutelise climaacutetica tecircm maior relevacircncia a

seguintes diretrizes

- ventilaccedilatildeo abundante principalmente durante o veratildeo a fim de reduzir a temperatura no

interior da edificaccedilatildeo e os efeitos da umidade que aumenta ainda mais em funccedilatildeo das chuvas

tiacutepicas desse periacuteodo A ventilaccedilatildeo cruzada deve ser fomentada e deve ser observado o sentido

54

predominante do vento que na cidade em questatildeo eacute sudeste a fim de se alcanccedilar melhores

resultados no conforto da edificaccedilatildeo

- aquecimento passivo para os meses de inverno a fim de diminuir o desconforto

causado pelas baixas temperaturas

- paredes leves (com baixa ineacutercia teacutermica ou seja conseguem ganhar ou perder calor

rapidamente a partir da interferecircncia e da temperatura do ar exterior) e protegidas da umidade

proveniente das chuvas fortes

- coberturas leves e bem isoladas (capazes de reter o calor absorvido durante o dia)

- as edificaccedilotildees devem estar protegidas das chuvas e devem contar com sistemas de

drenagem eficientes que possibilitem o raacutepido escoamento ou aproveitamento dessa aacutegua

62 O Coacutedigo de Obras e o conforto ambiental em Ouro Preto ndash estrateacutegias prioritaacuterias

A utilizaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental nos projetos e nas edificaccedilotildees

tem um impacto social positivo baseado em pelo menos trecircs fatores importantes melhoria das

condiccedilotildees de habitabilidade da edificaccedilatildeo e portanto melhor qualidade de vida para o

usuaacuterio melhoria nas condiccedilotildees climaacuteticas do meio externo ampliando o bem estar coletivo

reduccedilatildeo no consumo de energia e utilizaccedilatildeo eficiente do sistema de abastecimento a partir da

correta utilizaccedilatildeo dos sistemas ativos (iluminaccedilatildeo artificial condicionamento e aquecimento

de ar)

Para garantir a aplicaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental o Coacutedigo de Obras

e Edificaccedilotildees do municiacutepio deve incorporar dois importantes artigos que seratildeo detalhados

abaixo conforme o texto sugerido pelo Guia Teacutecnico ldquoElaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de

obras e edificaccedilotildeesrdquo da ELETROBRAacuteS (BAHIA GUEDES 2012)

O primeiro artigo de destaque deve ser inserido no capiacutetulo que trata das

DISPOSICcedilOtildeES PRELIMINARES e deve enumerar as diretrizes gerais para os projetos e

construccedilotildees buscando elencar tanto as demandas contemporacircneas expressas nas novas

legislaccedilotildees como os anseios para um espaccedilo urbano equilibrado e sustentaacutevel Nesse

contexto a substituiccedilatildeo da expressatildeo ldquopadrotildees miacutenimosrdquo que podem ser exemplificados pelas

diretrizes generalistas frequentemente encontradas nas legislaccedilotildees como a previsatildeo de 16 e

18 de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo para todas as localidades por ldquopadrotildees eficientesrdquo

estabelecidos atraveacutes de estudos teacutecnicos que agreguem a complexidade do clima local e que

permitam ampliar as condiccedilotildees de sustentabilidade das edificaccedilotildees ao tratar da otimizaccedilatildeo de

resultados quanto ao atendimento do conforto teacutermico visual e acuacutestico com baixo consumo

55

de energia A configuraccedilatildeo do texto deve se aproximar ao maacuteximo da proposta apresentada

pelo Guia Teacutecnico paacutegina 62

As obras instalaccedilotildees e edificaccedilotildees sejam puacuteblicas sejam privadas deveratildeo atender

agraves seguintes diretrizes gerais de forma a assegurar padrotildees eficientes de seguranccedila e

solidez salubridade e sauacutede conforto ambiental e desempenho energeacutetico

acessibilidade e livre tracircnsito de pessoas prevenccedilatildeo e uso sustentaacutevel dos recursos

naturais em cada caso e sempre que couber I - Subordinaccedilatildeo do interesse particular

ao interesse coletivo II - Promoccedilatildeo do direito agrave cidade sustentaacutevel e da funccedilatildeo

social da propriedade III - Utilizaccedilatildeo das normas teacutecnicas brasileiras e

regulamentaccedilotildees aplicaacuteveis para orientaccedilatildeo do desenvolvimento de projetos e

execuccedilatildeo de obras IV - Desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas sempre que

necessaacuterio com base nas praacuteticas locais beneacuteficas e na produccedilatildeo cientiacutefica tendo em

vista a manutenccedilatildeo da qualidade do local onde se daacute a intervenccedilatildeo e a correlaccedilatildeo

com valores culturais da populaccedilatildeo V - Garantia das condiccedilotildees de acessibilidade

circulaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo pela populaccedilatildeo em geral das edificaccedilotildees e do espaccedilo e

mobiliaacuterio urbano de uso puacuteblico e coletivo com adoccedilatildeo de soluccedilotildees especiacuteficas

para as pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida conforme previsto nas

normas teacutecnicas e na legislaccedilatildeo aplicaacutevel VI - Adoccedilatildeo de paracircmetros climaacuteticos

para o desenvolvimento de projetos de arquitetura de parcelamentos do solo e de

desenho urbano tendo em vista a correta orientaccedilatildeo solar da edificaccedilatildeo e demais

elementos as melhores condiccedilotildees de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo e pela escolha de

materiais construtivos e soluccedilotildees urbaniacutesticas adequadas em funccedilatildeo das

condicionantes ambientais locais de temperatura pluviosidade dominacircncia de

ventos ruiacutedo e paisagem natural aleacutem dos aspectos culturais que interagem com

essas condiccedilotildees VII - Utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis materiais de

construccedilatildeo certificados e ajudas teacutecnicas disponiacuteveis em complemento agrave promoccedilatildeo

do conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade das edificaccedilotildees e do

meio urbano VIII - Implantaccedilatildeo do objeto arquitetocircnico no lote bem como do

mobiliaacuterio urbano e demais artefatos nos logradouros puacuteblicos garantidas a

acessibilidade a qualidade esteacutetica e tecnoloacutegica de forma a potencializar os

atributos da paisagem urbana e evitar a poluiccedilatildeo visual IX - Adoccedilatildeo preferencial de

espeacutecies nativas na arborizaccedilatildeo puacuteblica demais projetos paisagiacutesticos e no

ajardinamento de lotes particulares X - Simplificaccedilatildeo dos procedimentos

administrativos pelo Poder Puacuteblico e promoccedilatildeo da assistecircncia para habitaccedilatildeo de

interesse social pelos agentes promotores tendo em vista facilitar a regularidade e a

correta execuccedilatildeo de projetos e obras inclusive apoiando as iniciativas de

autoconstruccedilatildeo da clientela de baixa renda (BAHIA GUEDES 2012)

O segundo artigo de grande relevacircncia deve ser inserido no capiacutetulo ldquoDAS

CONDICcedilOtildeES RELATIVAS AgraveS EDIFICACcedilOtildeESrdquo Neste capiacutetulo devem ser tratados os

paracircmetros teacutecnicos e geomeacutetricos capazes de materializar o conforto ambiental dos projetos e

edificaccedilotildees a partir do contexto climaacutetico da cidade As diretrizes apontadas devem buscar o

equiliacutebrio entre as condicionantes internas (relaccedilatildeo do usuaacuterio com a edificaccedilatildeo) e externas

(relaccedilatildeo da edificaccedilatildeo com o entorno) Quanto aos paracircmetros teacutecnicos esses devem ser

baseados nas recomendaccedilotildees do Programa Nacional de Conservaccedilatildeo de Energia Eleacutetrica ndash

PROCEL e devem se aproximar dos padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees

residenciais que satildeo atualmente estabelecidos pelo INMETRO a partir do RTQ-R ndash

Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais O texto do artigo deve seguir a sugestatildeo do Guia Teacutecnico paacutegina 107

56

Os projetos de construccedilatildeo ou reforma aleacutem de atenderem aos paracircmetros de

habitabilidade estabelecidos neste Coacutedigo devem ser orientados para a promoccedilatildeo da

sustentabilidade e eficiecircncia energeacutetica da edificaccedilatildeo com o objetivo de reduzir as

emissotildees de gases de efeito estufa (GEE) e os impactos ambientais gerados pela

construccedilatildeo e pela sua utilizaccedilatildeo ao longo do tempo racionalizando o uso da energia

da aacutegua e dos materiais nela empregados a partir das seguintes diretrizes I -

Racionalidade do projeto e do planejamento do processo de execuccedilatildeo das obras II -

Gestatildeo sustentaacutevel da obras e das praacuteticas de construccedilatildeo de forma a evitar o

desperdiacutecio de materiais III - Uso de materiais de construccedilatildeo e acabamentos

sustentaacuteveis considerando a adoccedilatildeo de materiais originaacuterios da regiatildeo produzidos

de forma sustentaacutevel e legalizada de materiais reaproveitados ou de demoliccedilatildeo e de

materiais certificados ou de comprovada responsabilidade ambiental do fabricante

IV - Ativaccedilatildeo do uso de edificaccedilotildees de valor cultural histoacuterico ou arquitetocircnico

maximizando as condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do bem imoacutevel na interaccedilatildeo com as

premissas de conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade V -

Aplicaccedilatildeo das estrateacutegias para projetos de acordo com o Zoneamento Bioclimaacutetico

brasileiro conforme NBR 15220-3 para concepccedilatildeo arquitetocircnica implantaccedilatildeo no

lote orientaccedilatildeo solar dos ambientes localizaccedilatildeo de aberturas e especificaccedilatildeo de

materiais de construccedilatildeo em prol do desempenho teacutermico da edificaccedilatildeo VI -

Aproveitamento das caracteriacutesticas climaacuteticas locais para a promoccedilatildeo do conforto

ambiental da edificaccedilatildeo a partir da consideraccedilatildeo dos seguintes fatores principais a)

Qualidade do ar b) Conforto higroteacutermico c) Conforto luminoso (ou lumiacutenico) d)

Conforto acuacutestico VII - Adoccedilatildeo de especificaccedilotildees de projeto com o objetivo de

potencializar as caracteriacutesticas climaacuteticas locais beneacuteficas eou remediar as de maior

rigor ao longo das diferentes estaccedilotildees do ano em benefiacutecio do desempenho teacutermico

e da ventilaccedilatildeo e iluminaccedilatildeo naturais da edificaccedilatildeo [] VIII - Planejamento

paisagiacutestico como elemento contribuinte para o conforto ambiental da edificaccedilatildeo

[] IX - Adoccedilatildeo de materiais construtivos que melhorem o desempenho teacutermico da

edificaccedilatildeo com base nas orientaccedilotildees e tabelas da NBR 15220-3 e especificaccedilatildeo de

equipamentos mecanismos e instalaccedilotildees que favoreccedilam a economia de energia

eleacutetrica e a reduccedilatildeo do consumo e aacutegua tratada [] (BAHIA GUEDES 2012)

Esses dois artigos apresentados embora configurem o ponto de partida natildeo satildeo

suficientes para a transformaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras em uma ferramenta concreta de

promoccedilatildeo do conforto ambiental da eficiecircncia energeacutetica e da sustentabilidade do meio

ambiente urbano Os desdobramentos desse texto devem resultar em paracircmetros teacutecnicos

como dimensionamentos diretrizes de desenho configuraccedilotildees espaciais miacutenimas dentre

inuacutemeros outros elementos de aplicaccedilatildeo obrigatoacuteria ou optativa Sendo assim o Coacutedigo de

Obras deve regulamentar por exemplo o dimensionamento de compartimentos a disposiccedilatildeo

e o dimensionamento de mobiliaacuterio fixo como louccedilas sanitaacuterias o peacute-direito as proporccedilotildees

das aberturas de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo assim como as taxas de renovaccedilatildeo do ar os niacuteveis de

ruiacutedo para o conforto acuacutestico as condiccedilotildees favoraacuteveis de transmitacircncia e a absortacircncia das

paredes e coberturas para o conforto teacutermico o dimensionamento e as condiccedilotildees das

circulaccedilotildees horizontais e verticais as instalaccedilotildees prediais dentre inuacutemeros outros itens Os

teacutecnicos devem se debruccedilar sobre tais requisitos teacutecnicos a fim de otimizar os resultados

quanto agrave construccedilatildeo da sustentabilidade no municiacutepio Deve-se utilizar as normas ABNT em

auxiacutelio agrave formulaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos a exemplo da NBR 10151 sobre Avaliaccedilatildeo do

57

Ruiacutedo em Aacutereas Habitadas NBR 5382 sobre Iluminacircncia de Interiores NBR 15215 sobre

Iluminaccedilatildeo Natural NBR 9284 sobre Equipamentos Urbanos dentre outras

Por fim deve-se prezar pela total interaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras com o conjunto

da legislaccedilatildeo urbaniacutestica local a fim de estabelecer uma relaccedilatildeo sequencial entre as etapas de e

concepccedilatildeo planejamento e construccedilatildeo das edificaccedilotildees passando das diretrizes gerais agraves

exigecircncias especiacuteficas O texto do coacutedigo de obras deve ser objetivo e didaacutetico sem incorrer

em simplificaccedilotildees O conteuacutedo deve ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e

teacutecnicos da aacuterea como pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees A dedicaccedilatildeo dos

teacutecnicos e profissionais na elaboraccedilatildeo das diretrizes transformadoras a busca pela

conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo sobre o conforto no ambiente urbano assim como a luta contra a

supremacia dos interesses privados sobre a coletividade satildeo itens importantes quanto agrave

concretizaccedilatildeo desse importante instrumento que foi apresentado e defendido ao longo do

presente trabalho

58

7 CONCLUSAtildeO

Diante das anaacutelises apresentadas ao longo deste trabalho principalmente quanto

ao ordenamento juriacutedico brasileiro para a regulaccedilatildeo urbana e o desenvolvimento sustentaacutevel

ficou comprovada a existecircncia de um conjunto significativo de legislaccedilotildees capazes de

embasar uma transformaccedilatildeo das cidades brasileiras em territoacuterios democraacuteticos igualitaacuterios e

sustentaacuteveis Poreacutem a previsatildeo legal eacute apenas o iniacutecio de um longo caminho ateacute a

transformaccedilatildeo concreta da realidade Para se avanccedilar nesse caminho uma mudanccedila poliacutetica eacute

imprescindiacutevel uma vez que as decisotildees sobre o espaccedilo urbano e sua regulamentaccedilatildeo

dependem necessariamente do interesse do gestor urbano materializado na figura dos

prefeitos e governantes das diversas esferas administrativas

Em relaccedilatildeo ao municiacutepio de Ouro Preto foi identificado que embora haja um

conjunto significativo de diretrizes urbaniacutesticas contidas no Plano Diretor e na Lei de Uso e

Ocupaccedilatildeo do Solo estas ainda satildeo insuficientes para subsidiar um desenvolvimento local

pautado na responsabilidade ambiental e na qualidade do meio ambiente urbano Isso se deve

principalmente ao fato de natildeo haver um coacutedigo de obras e edificaccedilotildees e tambeacutem ao fato de

que as iniciativas de proteccedilatildeo ambiental tal como a Agenda 21 Local natildeo foram colocadas

em praacutetica Neste sentido em relaccedilatildeo ao processo legislativo conclui-se que haacute uma

defasagem na aplicaccedilatildeo dos instrumentos de planejamento municipal previstos no Estatuto da

Cidade principalmente o Plano Diretor Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo Agenda 21 Local e Coacutedigo

de Obras e Edificaccedilotildees Aleacutem disso faltam elementos de combate agrave especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e

instrumentos de regulaccedilatildeo do solo urbano como o IPTU progressivo regularizaccedilatildeo onerosa a

assistecircncia teacutecnica gratuita dentre outros instrumentos tributaacuterios e financeiros juriacutedicos e

poliacuteticos que infelizmente ainda natildeo satildeo aplicados no municiacutepio Nesse contexto os outros

instrumentos de planejamento tais como o plano plurianual orccedilamento participativo

programas setoriais e planos de desenvolvimento econocircmico e social embora natildeo configurem

instrumentos urbaniacutesticos se colocam como ferramentas aliadas da gestatildeo democraacutetica da

cidade e da reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais visto que o processo de mudanccedila eacute

essencialmente poliacutetico Nesse sentido eacute extremamente importante que esses instrumentos

sejam pautados na real participaccedilatildeo popular na inclusatildeo e na justiccedila social

Quanto agrave sustentabilidade no ambiente urbano identificou-se que a preservaccedilatildeo e

proteccedilatildeo patrimonial pautadas no conforto do usuaacuterio a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados

a melhoria da infraestrutura urbana a concretizaccedilatildeo de projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria

59

assim como a construccedilatildeo de habitaccedilatildeo social de qualidade satildeo questotildees fundamentais para a

transformaccedilatildeo das cidades em territoacuterios democraacuteticos e sustentaacuteveis Essas demandas estatildeo

diretamente ligadas agrave mudanccedila no paradigma do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

pois uma vez colocadas em praacutetica alteram significativamente a configuraccedilatildeo das cidades

influenciando no clima urbano e na qualidade ambiental

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de uma base de dados climaacuteticos relativos ao municiacutepio

a partir das Normais Climatoloacutegicas obtidas no periacuteodo entre 1976 e 1990 foi possiacutevel

caracterizar o clima de Ouro Preto como um clima de baixas temperaturas muito uacutemido

(umidade relativa praticamente sempre acima de 80) com alta nebulosidade (o que significa

que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou nublado) e com abundacircncia de chuvas

principalmente no veratildeo Foi tambeacutem identificada uma grande interferecircncia do efeito da

barreira orograacutefica provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta

que conforma o Morro Satildeo Sebastiatildeo o que aprofunda ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade

Para a elaboraccedilatildeo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais foram utilizados os

resultados do diagrama de Givoni das Tabelas de Mahoney e da NBR 15220 Assim para a

cidade de Ouro Preto concluiu-se que a arquitetura deve priorizar o ganho teacutermico

principalmente durante o inverno pois nessa estaccedilatildeo tem-se uma queda significativa das

temperaturas o que afeta consideravelmente o conforto do usuaacuterio Esse ganho teacutermico deve

ser pensado a partir da utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior

insolaccedilatildeo o que possibilita um melhor aproveitamento dessa radiaccedilatildeo solar que deve servir

para manter o ambiente aquecido durante a noite Quanto aos materiais internos estes devem

possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser devidamente

isoladas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente Em relaccedilatildeo ao veratildeo foi

identificada a necessidade de ventilaccedilatildeo cruzada para reduzir os efeitos das temperaturas

elevadas e da alta umidade aleacutem de envoltoacuterias bem protegidas das chuvas

Por fim quanto agrave elaboraccedilatildeo do coacutedigo de obras foi possiacutevel apontar a

necessidade de se estabelecer as diretrizes para os projetos e construccedilotildees a partir dos

paracircmetros das normas teacutecnicas brasileiras do desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas com

base nas praacuteticas locais da garantia da acessibilidade das edificaccedilotildees agrave populaccedilatildeo em geral

da consideraccedilatildeo dos paracircmetros climaacuteticos e da utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis Foi

abordada a necessidade de aproximaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos do coacutedigo de obras aos

padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees residenciais previstos no RTQ-R

60

(Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais INMETRO) aleacutem da necessidade de se construir um texto objetivo e didaacutetico

que possa ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e teacutecnicos da aacuterea quanto

pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees

61

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 15220 Desempenho

teacutermico de edificaccedilotildees Rio de Janeiro ABNT 2005

BAHIA S R GUEDES P de A Elaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de obras e

edificaccedilotildees 2ordfed Rio de janeiro IBAMDUMA ELETROBRAS PROCEL 2012

BARANDIER H ALMEIDA M C T MORAIS R Planejamento e Controle Ambiental

Urbano e a Eficiecircncia Energeacutetica Rio de Janeiro IBAMDUMA ELETROBRASPROCEL

2013

BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988

BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002

BRASIL Lei nordm 10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do Desenvolvimento

Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Pesquisa nacional para identificar os resultados de

implementaccedilatildeo de processos de agendas 21 locais Brasiacutelia 2009

CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS Tiacutetulo 24 Parte 8 California Historical

Building Code 1ordm Ed Washington 2007

CSABA D SUELI R S (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo Editora da

Universidade de Satildeo Paulo 1999

FERREIRA C SOUZA H A de ASSIS E S de Estudo do clima brasileiro reflexotildees e

recomendaccedilotildees sobre a adequaccedilatildeo climaacutetica de habitaccedilotildees In XV Encontro Nacional de

Tecnologia do Ambiente Construiacutedo Maceioacute 2014

FROTA A B SCHIFFER S R Manual de Conforto Teacutermico Satildeo Paulo Nobel 1995

IBGE Perfil dos municiacutepios brasileiros 2013 Brasiacutelia 2014

LAMBERTS R DUTRA L PEREIRA FO R Eficiecircncia Energeacutetica na Arquitetura 3ordfed

ELETROBRASPROCEL 2014

MENICONI R O A Construccedilatildeo de uma Cidade-Monumento o caso de Ouro Preto Belo

Horizonte Escola de Arquitetura e Urbanismo UFMG 1999 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OLIVEIRA L B Agenda 21 Local consolidando as bases para o desenvolvimento

sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escala UFOP 2010

62

OLIVEIRA M A Os valores culturais da paisagem urbana em Ouro Preto Um Estudo de

Caso das Aacutereas Verdes na Ladeira Santa Efigecircnia e Entorno Proacuteximo Salvador Mestrado em

Arquitetura e Urbanismo da UFBA 1997

OLIVEIRA M R S Gestatildeo Patrimonial em Ouro Preto Alcances e Limites das Poliacuteticas

Puacuteblicas Preservacionistas Campinas Poacutes ndash Graduaccedilatildeo em Geografia Anaacutelise Ambiental e

Dinacircmica Territorial da UNICAMP 2005 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OURO PRETO Lei complementar nordm 011996 Institui o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro

Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 022005 Estabelece a Estrutura Baacutesica e a

organizaccedilatildeo administrativa da Prefeitura Municipal de Ouro Preto e da outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 152006 Altera a Lei Complementar ndeg 021005

modifica a denominaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Turismo Induacutestria e Comeacutercio e da

Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio suas respectivas competecircncias e daacute outras

providecircncias de 27 de Abril de 2006

OURO PRETO Lei Complementar nordm 302006 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 28 de

Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei complementar nordm 912010 Altera a Lei Complementar nordm292006 que

estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 932011 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 20 de

Janeiro de 2011

OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996

OURO PRETO Lei complementar nordm292006 Estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de

Ouro Preto de 28 de Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei nordm 333 Dispotildee sobre o Programa da Agenda 21 Local de 11 de maio de

2007

OURO PRETO Lei nordm 5790 Dispotildee sobre as diretrizes baacutesicas do Plano Diretor do

Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Portaria 0292 Nomeia Comissatildeo Especial

OURO PRETO Portaria 1707 Nomeia Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos

Naturais e Agenda 21 Local

Page 15: POLYANA PEREIRA COELHO · 2019. 11. 14. · POLYANA PEREIRA COELHO A SUSTENTABILIDADE DO AMBIENTE URBANO E OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO MUNICIPAL: RECOMENDAÇÕES PARA UM CÓDIGO DE

14

3 O PLANO DIRETOR E OS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO

MUNICIPAL

Para introduzir a discussatildeo do Plano Diretor e demais instrumentos de

planejamento municipal previstos no Estatuto da Cidade faz-se necessaacuterio retomar o momento

da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 com destaque para o Art30 que determina as tarefas de

competecircncia dos Municiacutepios Dentre tais competecircncias destacam-se os incisos VIII e IX

diretamente relacionados ao planejamento urbano

Art 30 Compete aos Municiacutepios [] VIII - promover no que couber adequado

ordenamento territorial mediante planejamento e controle do uso do parcelamento e

da ocupaccedilatildeo do solo urbano IX - promover a proteccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico-

cultural local observada a legislaccedilatildeo e a accedilatildeo fiscalizadora federal e estadual

(BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de

1988)

Aleacutem de delimitar as competecircncias municipais a Constituiccedilatildeo tambeacutem apontou

no Art182 do Capiacutetulo II o Plano Diretor - velho conhecido dos Teacutecnicos e Governantes -

como principal instrumento a ser utilizado pelos Municiacutepios no desenvolvimento da poliacutetica

urbana

Art 182 A poliacutetica de desenvolvimento urbano executada pelo Poder Puacuteblico

municipal conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem por objetivo ordenar o

pleno desenvolvimento das funccedilotildees sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus

habitantes sect 1ordm O plano diretor aprovado pela Cacircmara Municipal obrigatoacuterio para

cidades com mais de vinte mil habitantes eacute o instrumento baacutesico da poliacutetica de

desenvolvimento e de expansatildeo urbana sect 2ordm A propriedade urbana cumpre sua

funccedilatildeo social quando atende agraves exigecircncias fundamentais de ordenaccedilatildeo da cidade

expressas no plano diretor (BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do

Brasil de 5 de outubro de 1988)

Contudo tal instrumento natildeo representou uma novidade A expressatildeo Plano

Diretor foi utilizada pela primeira vez no Brasil em 1930 a partir do Plano Agache3

desenvolvido para o Rio de Janeiro Posteriormente foram desenvolvidos planos diretores em

todo o territoacuterio brasileiro planos estes que ficariam engavetados por falta de vontade

3 Nota-se que ldquoO Plano Agache foi a primeira proposta de intervenccedilatildeo urbaniacutestica na cidade do Rio de Janeiro

com preocupaccedilotildees genuinamente modernas Concluiacutedo em 1930 introduziu no cenaacuterio nacional algumas

questotildees tiacutepicas da cidade industrial tais como o planejamento do transporte de massas e do abastecimento de

aacuteguas a habitaccedilatildeo operaacuteria e o crescimento das favelas Aleacutem disso com discussotildees emergentes que iam desde a

necessidade de um zoneamento para a cidade ateacute a delimitaccedilatildeo de aacutereas verdes ultrapassou os limites do

Academicismo das intervenccedilotildees predecessoras de Pereira Passos e Paulo de Frontinrdquo Disponiacutevel em

lthttpplanourbanoriorjgovbrgt Acesso em 06 de jun 2015

15

poliacutetica A nomenclatura e o conteuacutedo dos planos diretores variaram com o passar dos anos

segundo Villaccedila

Por fim cabe abordar historicamente as jaacute mencionadas mudanccedilas na nomenclatura

nas formas nos conteuacutedos e nas metodologias dos planos Em primeiro lugar cai em

desuso a expressatildeo plano de melhoramentos e embelezamento e entra em cena a

expressatildeo urbanismo Depois esta cai em desuso sendo substituiacuteda por

planejamento urbano e plano diretor Em segundo lugar os conteuacutedos e

metodologias de elaboraccedilatildeo dos planos sofrem alteraccedilotildees radicais De enormes

volumes com centenas de paacuteginas recheados de mapas pesquisas e estatiacutesticas

elaborados por equipes multidisciplinares e abordando enorme leque de problemas

transformam-se em meros projetos de lei agraves vezes contendo apenas declaraccedilotildees de

princiacutepios poliacuteticas ou diretrizes gerais agraves vezes ateacute sem mapas ou com poucos

mapas Um simples projeto de lei publicado no Diaacuterio Oficial (CSABA Deaacutek

SUELI Ramos Schiffer (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo

Editora da Universidade de Satildeo Paulo 1999 p191)

A realidade eacute que os planos diretores desenvolvidos no Brasil entre as deacutecadas de

1940 e 1990 natildeo correspondiam ao pensamento dos governantes e das classes dominantes e

por isso natildeo contaram com intenccedilatildeo real de aplicaccedilatildeo e execuccedilatildeo Os objetivos apontados

natildeo seriam atingidos pois o Plano Diretor natildeo se tornara uma prioridade em nenhuma das

esferas administrativas do paiacutes

O ressurgimento do instrumento Plano Diretor em 1988 embora isento de grandes

novidades veio acompanhado da premissa da funccedilatildeo social da propriedade um aspecto

positivo e inovador da poliacutetica urbana poreacutem praticamente inviaacutevel de ser aplicado num

primeiro momento pelos obstaacuteculos constantes na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal Contudo

diante da pressatildeo dos movimentos sociais e populares que se fortaleceram durante o processo

de redemocratizaccedilatildeo tais planos foram se tornando mais politizados abordando aspectos

especiacuteficos da competecircncia municipal e tratando das polecircmicas voltadas para o territoacuterio

inclusive sobre a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria no espaccedilo urbano

Em 2001 a poliacutetica urbana foi regulamentada pela Lei 10257 - Estatuto da

Cidade ndash devidamente apresentada no capiacutetulo anterior Com uma abordagem democraacutetico-

participativa voltada para os interesses coletivos tal lei possibilitou uma mudanccedila expressiva

no planejamento urbano principalmente na esfera municipal

O Plano Diretor Participativo como seraacute chamado a partir de entatildeo se torna o

principal dentre outros sete instrumentos de planejamento municipal expressos no Art 4ordm

inciso III da Lei 10257

Art 4o Para os fins desta Lei seratildeo utilizados entre outros instrumentos [] III ndash

planejamento municipal em especial a) plano diretor b) disciplina do

parcelamento do uso e da ocupaccedilatildeo do solo c) zoneamento ambiental d) plano

plurianual e) diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual f) gestatildeo orccedilamentaacuteria

16

participativa g) planos programas e projetos setoriais h) planos de

desenvolvimento econocircmico e social (BRASIL Lei nordm10257 Estatuto da Cidade

de 10 de julho 2001)

O conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelos planos diretores foi estabelecido na

resoluccedilatildeo nordm34 de 01 de julho de 2005 pelo Conselho das Cidades A tal conselho

regulamentado pelo Decreto 5031 2004 competia emitir orientaccedilotildees e recomendaccedilotildees sobre

a aplicaccedilatildeo da Lei 10257 de 2001 (Estatuto da Cidade) e dos demais atos normativos

relacionados ao desenvolvimento urbano A inclusatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel das

cidades nas novas diretrizes da poliacutetica urbana teraacute no plano diretor a sua expressatildeo

fundamental Dentre o conteuacutedo miacutenimo a ser contemplado pelo Plano Diretor Participativo

merece destaque o Art 2ordm inciso III aleacutem do Art 5ordm inciso VII do Estatuto da Cidade

Art 2deg As funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade urbana seratildeo definidas a partir

da destinaccedilatildeo de cada porccedilatildeo do territoacuterio do municiacutepio bem como da identificaccedilatildeo

dos imoacuteveis natildeo edificados subutilizados e natildeo utilizados no caso de sua existecircncia

de forma a garantir [] III - a universalizaccedilatildeo do acesso aacute aacutegua potaacutevel aos

serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio a coleta e disposiccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos e ao

manejo sustentaacutevel das aacuteguas pluviais de forma integrada aacutes poliacuteticas ambientais de

recursos hiacutedricos e de sauacutede [] Art 5deg A instituiccedilatildeo das Zonas Especiais

considerando o interesse local deveraacute [] VII - demarcar as aacutereas de proteccedilatildeo

preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e construiacutedo do patrimocircnio

cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico (BRASIL Lei nordm10257

Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001)

Ao estabelecer as diretrizes de ordenaccedilatildeo do solo o Plano Diretor estabelece que

a propriedade urbana deve servir agrave qualidade de vida dos cidadatildeos agrave justiccedila social e ao

desenvolvimento sustentaacutevel das atividades econocircmicas A referecircncia territorial que estrutura

as estrateacutegias definidas pelo Plano Diretor eacute o macrozoneamento Este subdivide o territoacuterio

municipal a partir da identificaccedilatildeo das potencialidades e das caracteriacutesticas de cada aacuterea Satildeo

algumas categorias utilizadas na definiccedilatildeo do macrozoneamento aacutereas aptas agrave urbanizaccedilatildeo

aacutereas propiacutecias ao desenvolvimento de atividades rurais aacutereas de preservaccedilatildeo e aacutereas de

exploraccedilatildeo econocircmica Aleacutem da definiccedilatildeo de intenccedilotildees para os vetores do territoacuterio

municipal o macrozoneamento define tambeacutem o periacutemetro urbano e as zonas de expansatildeo

urbana enquanto instrumentos de direcionamento da urbanizaccedilatildeo da gestatildeo ambiental e do

crescimento econocircmico A delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano deve ser feita a partir de planta

referenciada com clara indicaccedilatildeo dos elementos geograacuteficos e fiacutesicos limiacutetrofes e deve servir

para direcionar o adensamento populacional para as aacutereas providas de infraestrutura

garantindo a proteccedilatildeo das aacutereas de interesse ambiental e a reserva de aacutereas para produccedilatildeo

agriacutecola e ocupaccedilatildeo rural A alteraccedilatildeo de tal periacutemetro conforme previsto no Art42B do

17

Estatuto da Cidade deveraacute instituiacuteda por lei municipal e deve ser resultado de projeto

especiacutefico que contemple o conteuacutedo miacutenimo e que atenda agraves diretrizes do Plano Diretor

O segundo instrumento de planejamento municipal apresentado no Art 4ordm do

Estatuto da Cidade o parcelamento o uso e a ocupaccedilatildeo do solo eacute tambeacutem um importante

instrumento para a concretizaccedilatildeo dos preceitos da sustentabilidade do ambiente urbano A

Legislaccedilatildeo urbaniacutestica municipal definiraacute o zoneamento da aacuterea urbana Tal zoneamento

responsaacutevel pela subdivisatildeo do periacutemetro urbano em diferentes categorias eacute o principal

instrumento da regulaccedilatildeo urbana A definiccedilatildeo das categorias deveraacute ser pautada pelo melhor

aproveitamento e pela ampliaccedilatildeo do acesso agrave terra urbanizada O zoneamento orienta o

ordenamento urbano a partir das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo do solo definindo os paracircmetros

urbaniacutesticos - coeficiente de aproveitamento taxa de ocupaccedilatildeo afastamentos gabaritos - de

forma que os projetos de edificaccedilotildees e demais intervenccedilotildees mantenham uma densidade de

ocupaccedilatildeo que favoreccedila o conforto ambiental urbano Dentre os criteacuterios para a definiccedilatildeo dos

diferentes paracircmetros urbaniacutesticos que incidem sobre o territoacuterio estatildeo proteccedilatildeo das aacutereas

ambientalmente fraacutegeis adensamento de aacutereas providas de infraestrutura limitaccedilatildeo de usos a

partir da capacidade viaacuteria controle da permeabilidade do solo preservaccedilatildeo e proteccedilatildeo de

conjuntos de valor histoacuterico cultural ou ambiental distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo de baixa renda

em aacutereas bem localizadas e servidas de infraestrutura condiccedilotildees climaacuteticas locais

As diretrizes para o parcelamento geralmente compoem junto com os paracircmetros

urbaniacutesticos a mesma lei municipal O parcelamento merece destaque pois trata dos novos

espaccedilos que seratildeo incorporados ao tecido urbano da cidade e portanto deveraacute estar

integralmente articulado com as estrateacutegias do desenvolvimento urbano Eacute regulamentado em

acircmbito geral pela Lei Federal 676679 acrescida das alteraccedilotildees posteriores definidas nas leis

978599 e 1144507 O parcelamento configura um processo de expansatildeo horizontal ou

adensamento da aacuterea urbanizada e consiste na subdivisatildeo de um determinado imoacutevel sob as

formas de desmembramento (quando haacute o aproveitamento do sistema viaacuterio existente) ou

loteamento (quando haacute abertura de novas vias e logradouros ou modificaccedilatildeo dos existentes)

Deveratildeo ser contempladas na Lei de Parcelamento as aacutereas que natildeo admitiratildeo parcelamento

os paracircmetros de dimensionamento de lotes quadras e sistema viaacuterio as aacutereas de uso puacuteblico

as faixas de proteccedilatildeo a infraestrutura baacutesica os procedimentos administrativos para

aprovaccedilatildeo do projeto as contrapartidas do empreendedor as penalidades sobre infraccedilotildees

assim como os procedimentos para regularizaccedilatildeo das aacutereas em desconformidade com a Lei

Paracircmetros de conforto ambiental tais como ventos favoraacuteveis orientaccedilatildeo solar vegetaccedilatildeo

18

sistema de abastecimento de aacutegua sistema de esgotamento sanitaacuterio e sistema de drenagem

devem ser definidos em lei e cobrados nos projetos de parcelamento a fim de minimizar os

impactos ao meio ambiente

Vale destacar que o sucesso na elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo das Leis de Parcelamento

Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo depende primeiramente do comprometimento da gestatildeo municipal

com a democratizaccedilatildeo da cidade e com o bem-estar coletivo caso contraacuterio tal legislaccedilatildeo

poderaacute aprofundar a segregaccedilatildeo privilegiando a iniciativa privada a especulaccedilatildeo imobiliaacuteria

e os interesses individuais

O zoneamento ambiental terceiro instrumento de planejamento municipal

apontado na lista do Art 4ordm do Estatuto da Cidade eacute tambeacutem um instrumento da Poliacutetica

Nacional do Meio Ambiente regida pela Lei 693881 Art 9ordm O zoneamento ambiental pode

ser considerado uma expressatildeo sinocircnima do Zoneamento Ecoloacutegico-Econocircmico ndash ZEE que

foi regulamentado pelo Decreto 429702

CAPITULO I - DOS OBJETIVOS E PRINCIacutePIOS ndash [] Art 2ordm O ZEE

instrumento de organizaccedilatildeo do territoacuterio a ser obrigatoriamente seguido na

implantaccedilatildeo de planos obras e atividades puacuteblicas e privadas estabelece medidas e

padrotildees de proteccedilatildeo ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental dos

recursos hiacutedricos e do solo e a conservaccedilatildeo da biodiversidade garantindo o

desenvolvimento sustentaacutevel e a melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo

Art 3ordm O ZEE tem por objetivo geral organizar de forma vinculada as decisotildees dos

agentes puacuteblicos e privados quanto a planos programas projetos e atividades que

direta ou indiretamente utilizem recursos naturais assegurando a plena manutenccedilatildeo

do capital e dos serviccedilos ambientais dos ecossistemas Paraacutegrafo uacutenico O ZEE na

distribuiccedilatildeo espacial das atividades econocircmicas levaraacute em conta a importacircncia

ecoloacutegica as limitaccedilotildees e as fragilidades dos ecossistemas estabelecendo vedaccedilotildees

restriccedilotildees e alternativas de exploraccedilatildeo do territoacuterio e determinando quando for o

caso inclusive a relocalizaccedilatildeo de atividades incompatiacuteveis com suas diretrizes

gerais (BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002)

O zoneamento ambiental ou ZEE eacute o instrumento que possibilita traccedilar um

panorama sobre a utilizaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais de um determinado

municiacutepio gerando as bases para um planejamento urbano comprometido com a

sustentabilidade ecoloacutegica econocircmica e social Tambeacutem eacute um instrumento de caraacuteter

democraacutetico-participativo e deve portanto ser acompanhado pela Administraccedilatildeo Puacuteblica em

seus diferentes niacuteveis e pela sociedade civil Tal instrumento assim como o zoneamento

urbano divide o territoacuterio em diferentes categorias As categorias do zoneamento ambiental

satildeo definidas a partir dos princiacutepios da utilidade e da simplicidade de forma a configurar

limites claros e compreensiacuteveis ao poder puacuteblico e aos cidadatildeos As diretrizes gerais e

especiacuteficas do zoneamento deveratildeo conter a capacidade de suporte ambiental de determinada

aacuterea a necessidade de proteccedilatildeo dos recursos renovaacuteveis e natildeo-renovaacuteveis a definiccedilatildeo de aacutereas

19

para unidades de conservaccedilatildeo integral a permissatildeo para exploraccedilatildeo de recursos naturais as

medidas para o desenvolvimento sustentaacutevel do setor rural medidas de ajustamento entre usos

conflitantes aleacutem de planos programas e fonte de recursos para viabilizar as atividades

apontadas para cada zona

Apesar de ser um importante instrumento de suporte agrave proteccedilatildeo do meio ambiente

o zoneamento ambiental ou ZEE ainda tem sido pouco utilizado pelos municiacutepios brasileiros

Contudo os dados da Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais (MUNIC 2013)

demonstraram que tem havido um crescimento do percentual de municiacutepios com legislaccedilatildeo

especiacutefica sobre a questatildeo ambiental o que traz um pouco de esperanccedila quanto agrave mudanccedila

dos paradigmas de proteccedilatildeo do meio ambiente A MUNIC 2013 apontou que em 2012

554 dos municiacutepios tinham legislaccedilatildeo ambiental jaacute em 2013 esse percentual subiu para

655

Por uacuteltimo os demais instrumentos de planejamento municipal apontados no Art

4ordm do Estatuto da Cidade - plano plurianual diretrizes orccedilamentaacuterias e orccedilamento anual

gestatildeo orccedilamentaacuteria participativa planos programas e projetos setoriais planos de

desenvolvimento econocircmico e social ndash tratariam de garantir a gestatildeo democraacutetica da cidade a

partir da realizaccedilatildeo de debates audiecircncias e consultas puacuteblicas como condiccedilatildeo para a

aprovaccedilatildeo das Leis Municipais Tais instrumentos apesar de natildeo-urbaniacutesticos tecircm uma

importacircncia decisiva na reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais Contudo embora tenham se

efetivado na maioria dos municiacutepios brasileiros ainda permanecem em sua maioria

mergulhados na velha poliacutetica clientelista que transforma os foacuteruns de participaccedilatildeo em

espaccedilos esvaziados pouco divulgados redutos de manobras poliacuteticas e trocas de favores

Infelizmente a garantia da gestatildeo democraacutetica natildeo seraacute alcanccedilada apenas por atos normativos

assim como as diretrizes estabelecidas para o desenvolvimento urbano sustentaacutevel tambeacutem

natildeo ser tornaratildeo realidade apenas por forccedila de Lei Eacute necessaacuterio mudar o caraacuteter da gestatildeo do

territoacuterio que atualmente se caracteriza pela anulaccedilatildeo da atuaccedilatildeo teacutecnica das diferentes aacutereas

do conhecimento a fim de garantir que o interesse privado prevaleccedila sobre os diretos coletivos

de toda uma cidade Eacute necessaacuterio colocar em praacutetica os preceitos das leis brasileiras efetivar

os instrumentos com real participaccedilatildeo popular lanccedilar as bases para um modelo de gestatildeo

realmente democraacutetico inclusivo e comprometido com o bem estar coletivo e com a justiccedila

social

20

4 OS DESAFIOS DA REGULACcedilAtildeO URBANA FRENTE AgraveS INTERVENCcedilOtildeES NAS

EDIFICACcedilOtildeES E NOS CONJUNTOS URBANOS TOMBADOS

A proteccedilatildeo e a preservaccedilatildeo dos siacutetios urbanos de valor histoacuterico arquitetocircnico

cultural ou paisagiacutestico satildeo imprescindiacuteveis para a manutenccedilatildeo da identidade e da memoacuteria

dos diferentes grupos sociais que por ali passaram ou nele se estabeleceram O registro da

histoacuteria deve ser deixado agraves geraccedilotildees futuras como siacutembolo do conhecimento e da experiecircncia

adquirida ao longo do tempo A proteccedilatildeo de um determinado siacutetio pode inclusive ser

utilizada quando a memoacuteria coletiva e a afetividade de uma comunidade para com um

determinado espaccedilo adquirir grande relevacircncia cultural gerando uma ambiecircncia a ser

protegida mesmo que esta tenha se consolidado em um periacuteodo recente

Atualmente a preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos e a conservaccedilatildeo dos imoacuteveis

urbanos tecircm no desenvolvimento urbano sustentaacutevel um importante aliado A disseminaccedilatildeo

da loacutegica do consumo que atinge tanto os bens materiais moacuteveis quanto os imoacuteveis resulta

numa produccedilatildeo exagerada desses bens o que demanda enorme quantidade de mateacuteria-prima e

energia e causa impacto no meio ambiente Sendo assim as poliacuteticas de preservaccedilatildeo e o

incentivo ao reuso de edifiacutecios e objetos contribuem para a sustentabilidade e o equiliacutebrio

ambiental

Hoje existem no Brasil doze siacutetios urbanos e sete siacutetios naturais que satildeo

considerados Patrimocircnio Cultural da Humanidade e portanto tombados internacionalmente

pela UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

Dentre os conjuntos tombados internacionalmente destaca-se a predominacircncia dos centros

histoacutericos de caracteriacutesticas coloniais tais como o Centro Histoacuterico de Ouro Preto MG

Olinda PE Salvador BA Satildeo Luiz do Maranhatildeo MA Diamantina MG e Goiaacutes GO Natildeo

menos importante o tombamento nacional realizado pelo IPHAN ndash Instituto do Patrimocircnio

Histoacuterico e Artiacutestico Nacional preserva 77 conjuntos urbanos espalhados por todas as regiotildees

do Brasil com destaque para a regiatildeo nordeste que conta com 30 desses centros tombados

Somam-se a esse contingente os conjuntos tombados estadualmente e municipalmente que

natildeo seratildeo aqui enumerados

A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio estaacute presente no ordenamento

juriacutedico brasileiro desde 1937 quando por meio do Decreto-Lei nordm25 criou-se o Serviccedilo do

Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash SPHAN (atual IPHAN) para proteger as cidades

e os monumentos da modernizaccedilatildeo das reformas urbanas e do interesse imobiliaacuterio

21

Reafirmada pelo Art 216 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e pelo Art 2ordm inciso XII do

Estatuto da Cidade a proteccedilatildeo preservaccedilatildeo e recuperaccedilatildeo do meio ambiente natural e

construiacutedo do patrimocircnio cultural histoacuterico artiacutestico paisagiacutestico e arqueoloacutegico tornou-se

diretriz obrigatoacuteria a ser contemplada pelos planos urbanos e legislaccedilotildees municipais

Contudo a preservaccedilatildeo dos conjuntos urbanos tombados natildeo pressupotildee o

congelamento das cidades Os paracircmetros para as intervenccedilotildees contemporacircneas deveratildeo ser

definidos em leis especiacuteficas de modo a evitar que o novo se sobreponha ou se confunda com

o existente A preservaccedilatildeo do conjunto tombado soacute seraacute possiacutevel se for permitido agrave cidade

expandir-se adensar-se e modificar-se Caso contraacuterio centro e cidade se tornaratildeo obsoletos

Percebe-se portanto que a regulaccedilatildeo urbana nas cidades histoacutericas enfrenta um

grande desafio preservar o antigo e abrir-se ao novo Sendo assim como proceder e quais

instrumentos utilizar Como a legislaccedilatildeo municipal deveraacute ser elaborada e aplicada a fim de

contemplar a preservaccedilatildeo do conjunto tombado e a expansatildeo da cidade seguindo os preceitos

da sustentabilidade

A preservaccedilatildeo dos siacutetios histoacutericos associada agrave expansatildeo sustentaacutevel das cidades eacute

um tema que vem sendo amplamente discutido inclusive em acircmbito internacional Nos paiacuteses

do norte e principalmente no continente europeu os siacutetios urbanos que demandam poliacuteticas

de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo remontam de seacuteculos e ateacute mesmo de milecircnios passados Embora

uma grande parte do patrimocircnio mundial tenha se perdido com a destruiccedilatildeo resultante das

guerras das cataacutestrofes e da imposiccedilatildeo de novas culturas como aconteceu principalmente nos

paiacuteses do sul que tiveram a cultura originaacuteria destruiacuteda pela colonizaccedilatildeo ainda haacute muito

patrimocircnio a ser preservado E natildeo eacute de hoje que os teacutecnicos e profissionais de diversas aacutereas

do conhecimento tecircm desenvolvido teorias e instrumentos para assegurar a salvaguarda de

todo esse patrimocircnio

Desde entatildeo leis documentos planos guias e coacutedigos vecircm sendo desenvolvidos

com o objetivo de orientar e direcionar as accedilotildees e intervenccedilotildees sobre o patrimocircnio cultural das

cidades com vistas ao desenvolvimento sustentaacutevel

Um importante documento desenvolvido em 2008 pelo Governo da Escoacutecia o

ldquoSustainable Development Guidance for Estate Managementrdquo buscou sistematizar a partir

dos preceitos da sustentabilidade estrateacutegias e orientaccedilotildees para a realizaccedilatildeo de intervenccedilotildees

principalmente para as novas construccedilotildees Tal preocupaccedilatildeo se intensificou apoacutes a discussatildeo

sobre as mudanccedilas climaacuteticas e os efeitos futuros ldquoThe Stern Review on the Economics of

Climate Changerdquo realizada pelo Governo do Reino Unido O documento ldquoSustainable

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Development Guidance for Estate Managementrdquo se assemelha a um guia para o

desenvolvimento sustentaacutevel que aborda as estrateacutegias de accedilatildeo e recomendaccedilotildees para fazer da

Escoacutecia um paiacutes mais ecoloacutegico

Segundo esse Guia que trata da proteccedilatildeo do ambiente natural e da manutenccedilatildeo do

ambiente construiacutedo a sustentabilidade deveraacute ser uma prerrogativa tanto nas novas

construccedilotildees como na manutenccedilatildeo das edificaccedilotildees existentes nas conversotildees de uso nas

ampliaccedilotildees no retrofit4 e nas demoliccedilotildees No item 36 ldquoEmbedding sustainability within the

estate strategy processrdquo satildeo apontados os itens a serem observados na elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias e projetos para o desenvolvimento manutenccedilatildeo ou restauraccedilatildeo de edificaccedilotildees Satildeo

eles biodiversidade layout flexiacutevel nas construccedilotildees materiais construtivos e a possibilidade

de recuperaccedilatildeo reciclagem e reuso gestatildeo da aacutegua diminuiccedilatildeo da poluiccedilatildeo energia

certificada minimizaccedilatildeo do consumo de energia atraveacutes do isolamento e da ventilaccedilatildeo

natural utilizaccedilatildeo de energias renovaacuteveis como energia solar diminuiccedilatildeo do desperdiacutecio e

aumento da reciclagem dentre outros itens A preocupaccedilatildeo com a proteccedilatildeo do patrimocircnio

conforme jaacute foi discutido no iniacutecio deste capiacutetulo tambeacutem estaacute presente no Guia conforme

aponta o item 43 ldquoHistoric Buildingsrdquo Neste item direciona-se a atenccedilatildeo para as amplas

possibilidades de reuso e reabilitaccedilatildeo dessas edificaccedilotildees Tal situaccedilatildeo deve partir da

intervenccedilatildeo miacutenima e deve garantir que as caracteriacutesticas histoacutericas ou culturais dos edifiacutecios

sejam devidamente respeitadas e mantidas O Guia trata tambeacutem do procedimento para

reparos que na medida do possiacutevel deve ser feito atraveacutes das teacutecnicas tradicionais e dos

materiais originais ou compatiacuteveis sempre com apoio de profissional especializado Eacute

enfatizada tambeacutem a obrigatoriedade em solicitar das autoridades competentes autorizaccedilatildeo

para as intervenccedilotildees Por uacuteltimo apoacutes feitas todas as consideraccedilotildees sobre os aspectos

positivos da reutilizaccedilatildeo de um determinado edifiacutecio no caso de se decidir pela demoliccedilatildeo do

mesmo o Guia aponta os cuidados a serem obsevados na disposiccedilatildeo final dos resiacuteduos no

aterro sanitaacuterio alertando para a importacircncia em separar os resiacuteduos toacutexicos Os materiais

resultantes da demoliccedilatildeo como accedilo fundaccedilotildees de concreto ceracircmica madeira de assoalho

instalaccedilotildees internas placas de gesso carpete e janelas satildeo frequentemente passiacuteveis de

4 ldquoTermo utilizado principalmente em engenharia para designar o processo de modernizaccedilatildeo de algum

equipamento jaacute considerado ultrapassado ou fora de normardquo Disponiacutevel em

lthttpwwweletrobrascomrelatorio_sustentabilidade_2013anexosglossariogt Acesso em 06 de jun 2015

23

reciclagem revenda ou reutilizaccedilatildeo e natildeo devem ser descartados resultando na diminuiccedilatildeo do

desperdiacutecio e na reduccedilatildeo da exploraccedilatildeo dos recursos naturais

Outro importante documento a ser citado aqui como relevante para a proteccedilatildeo do

patrimocircnio histoacuterico e para o desenvolvimento sustentaacutevel o ldquoCalifornia Code of

Regulations Title 24rdquotambeacutem chamado de ldquoCalifornia Building Standards Coderdquo foi

finalizado em 1998 e aprovado pela ldquoCalifornia Building Standards Commissionrdquo em 2007

Tal documento trata dos paracircmetros gerais para a construccedilatildeo de edificaccedilotildees no Estado da

Califoacuternia Este Coacutedigo eacute dividido em 12 partes e traz na parte 8 de tiacutetulo ldquoCalifornia

Historical Building Code (CHBC)rdquo as exigecircncias a serem cumpridas para a permissatildeo de

reparos alteraccedilotildees e adiccedilotildees necessaacuterias agrave preservaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo relocaccedilatildeo mudanccedila de

uso ou continuaccedilatildeo de uso em edificaccedilotildees de reconhecido valor cultural ou histoacuterico5 Com o

objetivo de proteger a sauacutede e a seguranccedila das pessoas o California Historical Building Code

(CHBC) busca orientar as accedilotildees para a recuperaccedilatildeo das edificaccedilotildees histoacutericas garantindo a

preservaccedilatildeo da integridade e das caracteriacutesticas de tais edificaccedilotildees Ao todo satildeo 10 capiacutetulos

que abordam em resumo os seguintes temas capiacutetulo 01 ldquoAdministrationrdquo trata dos casos

sujeitos agrave aplicaccedilatildeo do coacutedigo cap02 ldquoDefinitionsrdquo trata das definiccedilotildees dos termos frases e

palavras necessaacuterios agrave compreensatildeo dos demais capiacutetulos cap03 ldquoUse and Occupancyrdquo trata

das diretrizes de uso e ocupaccedilatildeo dos edifiacutecios tais como altura maacutexima e nuacutemero de

pavimentos dimensatildeo miacutenima dos cocircmodos diretrizes de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo cap04

ldquoFire Protectionrdquo trata da proteccedilatildeo contra incecircndio e indica as diretrizes em relaccedilatildeo aos

materiais shafts telhado sistemas de alarme sistemas automaacuteticos de proteccedilatildeo como

sprinklers dentre outras tecnologias cap05 ldquoMeans of Egressrdquo trata das meios de saiacuteda das

edificaccedilotildees abordando entre outros elementos as escadas portas janelas grades e guarda-

corpos cap06 ldquoAccessibilityrdquo trata da acessibilidade aos portadores de necessidades especiais

a partir da utilizaccedilatildeo das dimensotildees miacutenimas e demais diretrizes estabelecidas para as

entradas portas banheiros rampas elevadores dentre outros cap07 ldquoStructural

5 Conforme o California Building Standards Code Parte 08 paacutegina 04 as edificaccedilotildees de reconhecido valor

cultural ou histoacuterico para as quais se utilizaraacute o CHBC satildeo ldquoFor the purposes of this part a qualified historical

building or structure is any structure or collection of structures and their associated sites deemed of importance

to the history architecture or culture of an area by an appropriate local or state governmental jurisdiction This

shall include structures on existing or future national state or local historical registers or official inventories

such as the National Register of Historic Places State Historical Landmarks State Points of Historical Interest

and city or county registers or inventories of historical or architecturally significant sites places historic districts

or landmarksrdquo (CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS 2007 p 4)

24

Regulationsrdquo trata da regulaccedilatildeo sobre os sistemas estruturais a partir da identificaccedilatildeo da

situaccedilatildeo da estrutura por profissional especializado identificaccedilatildeo dos acreacutescimos posteriores agrave

construccedilatildeo do edifiacutecio das cargas incidentes da performance dos parapeitos e da situaccedilatildeo dos

revestimentos externos e decorativos cap8 ldquoArchaic Materials and Methods of Constructionrdquo

trata dos meacutetodos e materiais construtivos tradicionais das edificaccedilotildees histoacutericas e das

diretrizes para a recuperaccedilatildeo de alvenarias adobe madeira concreto accedilo ferro vidros e

vidraccedilas cap09 ldquoMechanical Plumbing and Electrical Requirementsrdquo trata das exigecircncias

em relaccedilatildeo agraves instalaccedilotildees eleacutetricas aos encanamentos e sistemas mecacircnicos Por uacuteltimo o

cap10 ldquoQualified Historical Districts Sites and Open Spacesrdquo trata das orientaccedilotildees para a

preservaccedilatildeo dos espaccedilos abertos e siacutetios histoacutericos a partir da manutenccedilatildeo da configuraccedilatildeo

espacial existente e dos elementos constitutivos da paisagem

No Brasil o instrumento que mais se assemelha aos exemplos citados acima eacute o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees Utilizado para regulamentar os criteacuterios e procedimentos a

serem utilizados na elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de projetos de edificaccedilotildees e controlar as atividades

de construccedilatildeo6 o Coacutedigo de Obras eacute instituiacutedo por lei municipal como instrumento

complementar a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo citada anteriormente no Capiacutetulo 02 O

atendimento agraves condiccedilotildees estabelecidas nesses dois instrumentos da regulaccedilatildeo urbana ndash e o

atendimento a outras legislaccedilotildees quando for o caso - eacute requisito para a obtenccedilatildeo da licenccedila

urbaniacutestica Somente por meio da licenccedila municipal que afirma a compatibilizaccedilatildeo dos

interesses individuais e coletivos com o desenvolvimento urbano o proprietaacuterio poderaacute

exercer o seu direito sobre a propriedade sendo-lhe permitido executar as intervenccedilotildees

devidamente aprovadas Tambeacutem devem ser previstas em lei assim como os procedimentos

para o licenciamento as bases para a efetivaccedilatildeo da fiscalizaccedilatildeo municipal como a

determinaccedilatildeo das infraccedilotildees e a previsatildeo de sanccedilotildees e multas aplicaacuteveis a cada caso

Subordinado agraves estrateacutegias de desenvolvimento estabelecidas no Plano Diretor o

Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees assim como a Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo deve ser

elaborado a partir da preocupaccedilatildeo em se estabelecer uma boa interaccedilatildeo entre as novas

edificaccedilotildees e o conjunto urbano construiacutedo Para essa interaccedilatildeo as construccedilotildees devem atender

agraves premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica natildeo de forma isolada mas de

6 ldquoPara fins de direito entende-se por construccedilatildeo toda realizaccedilatildeo material e intencional de algueacutem visando a

adaptar o imoacutevel agraves suas conveniecircncias Nesse sentido tanto eacute construccedilatildeo a edificaccedilatildeo ou reforma como a

demoliccedilatildeo o muramento a escavaccedilatildeo o aterro a pintura e demais trabalhos destinados a beneficiar tapar

desobstruir conservar ou embelezar o preacutediordquo (BARANDIER ALMEIDA MORAIS 2013 p 147)

25

forma a interferir positivamente sobre o clima urbano e sobre a qualidade ambiental Assim

para aleacutem das diretrizes relativas ao uso agrave seguranccedila agrave salubridade agrave acessibilidade e agrave

preservaccedilatildeo dos elementos histoacutericos artiacutesticos e culturais tambeacutem devem ser elaborados

estudos climaacuteticos que aplicados ao desenho urbano possibilitem a formulaccedilatildeo de diretrizes

em prol da adaptaccedilatildeo das edificaccedilotildees agraves caracteriacutesticas climaacuteticas locais ao conforto teacutermico

luminoso e acuacutestico aleacutem da formulaccedilatildeo de diretrizes para a utilizaccedilatildeo de fontes de energia

alternativas e combate ao desperdiacutecio

Voltando aos dados obtidos pela Pesquisa de Perfil dos Municiacutepios Brasileiros

realizada pelo IBGE em 2013 conforme pode ser visto no graacutefico abaixo do total de

municiacutepios brasileiros 624 declararam ter Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees enquanto 542

declararam ter Lei de Zoneamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo Esses dados demonstram que os

instrumentos legais embora apresentem um grande potencial de transformaccedilatildeo da realidade

urbana ainda satildeo pouco aplicados

Graacutefico do Percentual de municiacutepios segundo o tipo de instrumento de planejamento

existente - MUNIC -2013

Fonte Pesquisa ldquoPERFIL DOS MUNICIacutePIOS BRASILEIROS 2013rdquo (IBGE 2014)

Dentre os Coacutedigos de Obras existentes muitos estatildeo desatualizados defasados e

por isso natildeo configuram um mecanismo relevante quanto agrave alteraccedilatildeo do cenaacuterio das cidades

brasileiras Aleacutem disso a falha na articulaccedilatildeo dos diversos dispositivos de orientaccedilatildeo controle

e fiscalizaccedilatildeo das construccedilotildees resulta na aplicaccedilatildeo desequilibrada da lei consolidando

poliacuteticas de favorecimento exclusatildeo e segregaccedilatildeo aleacutem de ampliar a cada dia a destruiccedilatildeo e

os prejuiacutezos ambientais

26

Apesar de termos avanccedilado na construccedilatildeo conceitual dos instrumentos capazes de

nos levar ao sonhado desenvolvimento sustentaacutevel estamos ainda muito aqueacutem de efetivaacute-los

na praacutetica e no dia-a-dia dos municiacutepios A gestatildeo urbana da qual o planejamento eacute

interdependente configura a um dos principais obstaacuteculos agrave superaccedilatildeo da loacutegica atual de

valorizaccedilatildeo dos interesses individuais sobre os coletivos A falta interesse em destinar

recursos para a soluccedilatildeo de parte dos problemas soacutecio-espaciais tambeacutem eacute um grande

obstaacuteculo A melhoria da infraestrutura urbana os projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria a

construccedilatildeo de moradias populares sustentaacuteveis e a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados jaacute

configurariam um passo adiante na concretizaccedilatildeo da sustentabilidade no ambiente urbano

Sendo assim conhecidos os obstaacuteculos ou pelo menos parte deles eacute fundamental lanccedilarmos

as bases para a sua superaccedilatildeo fortalecendo os ideais de transformaccedilatildeo das cidades

27

5 O MUNICIacutePIO DE OURO PRETO UM ESTUDO DE CASO

51 Da colonizaccedilatildeo ao Seacuteculo XX

Localizado na Regiatildeo Central de Minas Gerais (ou Macrorregiatildeo Metaluacutergica) o

municiacutepio de Ouro Preto eacute possui uma aacuterea aproximada de 1245kmsup2 e sua populaccedilatildeo totaliza

cerca de 70281 habitantes7 Posicionado na porccedilatildeo centro-sul do Estado Ouro Preto tem

como principais confrontantes os municiacutepios de Mariana Itabirito Ouro Branco Congonhas

e Santa Baacuterbara Aleacutem do distrito-sede o territoacuterio eacute dividido em mais 12 distritos

Amarantina Antocircnio Pereira Cachoeira do Campo Engenheiro Correia Glaura Lavras

Novas Miguel Burnier Santa Rita Santo Antocircnio do Leite Santo Antocircnio do Salto Satildeo

Bartolomeu e Rodrigo Silva

Localizaccedilatildeo do municiacutepio de Ouro Preto no estado de

Minas Gerais

Fonte SMCP - PMOP

7 IBGE Diretoria de Pesquisas Coordenaccedilatildeo de Populaccedilatildeo e Indicadores Sociais ndash ldquoEstimativas da populaccedilatildeo

residente com data de referecircncia 1o de julho de 2014 publicada no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo em 28082014rdquo

Disponiacutevel em

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314610ampsearch=||infogrE1ficosinformaE7F5e

s-completasgt Acesso em 06 jun 2015

28

Ouro Preto e municiacutepios limiacutetrofes

Fonte SMCP - PMOP

Mapa dos Distritos de Ouro Preto

Fonte SMCP - PMOP

Desencadeados pela exploraccedilatildeo auriacutefera do seacuteculo XVII - iniciada na regiatildeo de

Minas Gerais provavelmente em 1698 - os arraiais e agrupamentos humanos se consolidaram

na regiatildeo montanhosa e acidentada do municiacutepio de Ouro Preto primeiramente nas encostas

iacutengremes e arredores das minas e posteriormente nas margens dos rios e nos fundos de vale O

povoamento foi se intensificando em torno dos principais eixos de ligaccedilatildeo entre os nuacutecleos

29

urbanos vizinhos resultando num desenho urbano linear e longitudinal diferente do modelo

reticulado de ordenaccedilatildeo do territoacuterio que foi caracteriacutestico do Brasil Colocircnia

Agrave primeira configuraccedilatildeo urbana consolidada em 1711 deu-se o nome de Vila

Rica de Albuquerque que posteriormente em 1720 foi elevada agrave capital da Capitania das

Minas Gerais Ao longo do seacuteculo XVIII foram efetivadas as intervenccedilotildees urbanas mais

significativas e foram construiacutedas as principais referecircncias arquitetocircnicas de Ouro Preto As

principais pontes os chafarizes o Centro Administrativo (atual Praccedila Tiradentes) o Palaacutecio

dos Governadores a Casa de Cacircmara e Cadeia assim como as inuacutemeras capelas e igrejas de

estilo barroco das diversas ordens e irmandades religiosas consolidaram o cenaacuterio

setecentista que configura o atual centro histoacuterico da cidade O final do seacuteculo XVIII foi

marcado pelo esgotamento das minas de ouro o que desencadeou um esvaziamento

populacional da Vila pela crise de abastecimento e decadecircncia econocircmica

O seacuteculo XIX contudo trouxe as mudanccedilas advindas da era do Impeacuterio e em

1823 Vila Rica de Albuquerque foi elevada agrave cidade sob o tiacutetulo de Imperial Cidade de Ouro

Preto A partir daiacute a cidade passou por diversas modernizaccedilotildees a fim de se consolidar

enquanto capital da proviacutencia de Minas Gerais A criaccedilatildeo da Escola de Farmaacutecia do Liceu de

Artes e Ofiacutecios da Escola de Minas a construccedilatildeo da Estaccedilatildeo Ferroviaacuteria e a implantaccedilatildeo da

Companhia Industrial Ouro-Pretana satildeo exemplos importantes da expansatildeo e do

desenvolvimento da cidade durante o seacuteculo XIX Ao final deste seacuteculo jaacute sob a eacutegide do

periacuteodo republicano a cidade de Ouro Preto perde o status de capital da proviacutencia que em

1897 passou para Belo Horizonte Tal fato ocasionou pela segunda vez um processo de

esvaziamento e crise econocircmica na cidade Assim distante dos ideais de modernizaccedilatildeo e

desenvolvimento que cercavam a nova capital a ausecircncia de poliacuteticas de renovaccedilatildeo foi o que

garantiu a preservaccedilatildeo das feiccedilotildees urbanas da antiga Vila Rica A partir de entatildeo diversos

intelectuais da eacutepoca viajaram ateacute Ouro Preto e verificando o mal estado de conservaccedilatildeo e o

abandono da cidade comeccedilaram a produzir uma nova consciecircncia em relaccedilatildeo agrave necessidade

de se preservar os registros do passado

30

Mapa da evoluccedilatildeo urbana de Ouro Preto ndash do seacuteculo XVII ao seacuteculo XX

Fonte IGA ndash Instituto de Geociecircncias Aplicadas - 2003

Igreja de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo ndash registros do

periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

Ponte vizinha agrave Casa dos Contos - registros do periacuteodo

entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em

httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015ap

resentacao

31

Igreja N S do Pilar ndash registros do periacuteodo entre 1923 -1948

Fonte acervo Luiz Fontana ndash disponiacutevel em httpwwwouropretomggovbrluiz_fontana_2015apresentacao

A tradiccedilatildeo quanto agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico somente se consolidou

no Brasil a partir do seacuteculo XX Em 1931 surgiu o primeiro decreto municipal8 voltado para a

preservaccedilatildeo do cenaacuterio arquitetocircnico da cidade de Ouro preto proibindo as construccedilotildees em

desacordo com o estilo colonial predominante Em 1933 por meio do decreto nacional

22928 Ouro Preto foi erigida a Monumento Nacional Em 1938 o conjunto histoacuterico da

cidade foi tombado pelo SPHAN - Serviccedilo do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional que

havia sido criado no ano anterior Os anos seguintes foram marcados por inuacutemeras obras de

restauraccedilatildeo e tombamentos individuais

8 Decreto 13 de 19 de setembro de 1931 ldquoConsiderando que a cidade de Ouro Preto escriacutenio das tradiccedilotildees

mineiras deve conservar o seu aspecto colonial transmitido dos nossos antepassados Considerando que esta

feiccedilatildeo colonial de seus edifiacutecios de seus preacutedios das ruas e praccedilas desperta grande interesse por parte dos

turistas que frequumlentemente vecircm visitar a cidade e suas cercanias Considerando que ferem dolorosamente a

sensibilidade dos turistas os preacutedios que destoam do tipo colonial DECRETA Art 1deg - Natildeo eacute permitida no

periacutemetro urbano a construccedilatildeo de preacutedios e de edifiacutecios em desacordo com o estilo colonial da cidade Art 2deg -

Os atuais preacutedios existentes no periacutemetro urbano em desacordo com o artigo antecedente deveratildeo ser

modificados nas respectivas fachadas quando estas tenham que receber reparos []rdquo (OLIVEIRA 1997 p 7)

32

A sistematizaccedilatildeo de normas aplicaacuteveis agraves novas construccedilotildees foi realizada pelo

SPHAN (que em 1970 passou a ser chamado IPHAN9) para regular o crescimento da cidade e

o intenso surgimento de novas moradias que caracterizaram as deacutecadas de 1950 e 1960 Tal

crescimento se deu principalmente pela chegada de induacutestrias metaluacutergicas para a exploraccedilatildeo

da bauxita e produccedilatildeo de alumiacutenio primaacuterio Assim o ldquoestilo patrimocircniordquo surgiu das

exigecircncias normativas quanto agrave utilizaccedilatildeo dos elementos arquitetocircnicos tradicionais do

periacuteodo colonial

Um primeiro plano urbano foi elaborado pelo arquiteto portuguecircs Viana de Lima

entre os anos 1968 e 1970 com o objetivo de ldquopreservarrdquo o nuacutecleo histoacuterico da cidade e

consolidar o estilo patrimocircnio atraveacutes da eliminaccedilatildeo dos ecletismos da demoliccedilatildeo de obras

desprovidas de qualidade esteacutetica e do preenchimento dos vazios urbanos Nos anos seguintes

a discussatildeo sobre a salvaguarda do patrimocircnio se intensificou e deu origem a diversos outros

planos10

e programas de preservaccedilatildeo que obtiveram pouco sucesso na aplicaccedilatildeo praacutetica Em

21 de setembro de 1980 Ouro Preto recebeu da UNESCO o tiacutetulo de Patrimocircnio Cultural da

Humanidade e passou a ter visibilidade internacional

Ao final do seacuteculo XX a preocupaccedilatildeo com o desenvolvimento urbano da cidade e

com a proteccedilatildeo patrimonial gerou novas demandas em relaccedilatildeo agrave regulaccedilatildeo urbana e coube ao

IPHAN o papel de legislar sobre as intervenccedilotildees no centro histoacuterico As accedilotildees da

Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) do Instituto Estadual do Patrimocircnio Histoacuterico e

Artiacutestico (IEPHA) e do Instituto Estadual de Florestas (IEF) em pareceria com o governo

municipal e com o IPHAN foram decisivas na preservaccedilatildeo do patrimocircnio neste periacuteodo Em

1990 foram publicadas por meio da Lei 571990 as diretrizes para do Plano Diretor do

Municiacutepio sob as delineaccedilotildees inauguradas pela Constituiccedilatildeo Federal Tais diretrizes eram

bastante simplificadas e restritas aos zoneamentos e a questatildeo da preservaccedilatildeo do patrimocircnio

9 Em 1937 por meio da Lei nordm 378 foi fundado o SPHAN como oacutergatildeo oficial de preservaccedilatildeo do patrimocircnio

cultural brasileiro No mesmo ano foi promulgado o Decreto-Lei nordm 25 que regulamentou as atividades do

SPHAN Em 1946 o SPHAN teve o seu nome alterado para Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (DPHAN) Em 1970 o DPHAN eacute transformado em Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico

Nacional (IPHAN)

10 ldquoEm Minas Gerais a Fundaccedilatildeo Joatildeo Pinheiro (FJP) realizou um extenso diagnoacutestico e elaborou planos

diretores para diversas cidades coloniais mineiras bem como o Plano de Conservaccedilatildeo Valorizaccedilatildeo e

Desenvolvimento de Ouro Preto e Mariana em 1975 Esse Plano trata sobre a preservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do

patrimocircnio vinculado com as necessidades de desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio Por isso

abordou desde questotildees histoacutericas e culturais ateacute a anaacutelise de aspectos fiacutesico- territoriais tais como siacutetio natural

estudo das estruturas urbanas paisagismo e legislaccedilatildeo urbanardquo (SILVA OLIVEIRA 2005 p 180)

33

foi pouco abordada Jaacute em 1996 uma nova versatildeo do plano foi elaborada e diferentemente do

texto anterior o novo plano contemplou a preocupaccedilatildeo com o patrimocircnio e a preservaccedilatildeo

como instrumentos interligados agrave poliacutetica urbana

Art 1ordm - Em conformidade com a Constituiccedilatildeo Federal e com a Lei Orgacircnica

Municipal fica instituiacutedo o Plano Diretor de Ouro Preto (PDOP) fixando diretrizes

e instrumentos para o pleno desenvolvimento do Municiacutepio em consonacircncia com as

funccedilotildees sociais da cidade e da propriedade [] Art 2ordm - O conjunto artiacutestico

arquitetocircnico urbaniacutestico paisagiacutestico e ambiental de relevante valor cultural

sediado no Municiacutepio objeto de tombamento federal e de reconhecimento

internacional pela UNESCO como Patrimocircnio Cultural da Humanidade eacute

considerado bem inalienaacutevel de sua populaccedilatildeo cabendo a ela exercer de forma

concorrente com as Administraccedilotildees Puacuteblicas a sua guarda proteccedilatildeo e gestatildeo

Paraacutegrafo uacutenico ndash A preservaccedilatildeo e a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural e ambiental

do Municiacutepio eacute fator determinante para o desenvolvimento urbano para a geraccedilatildeo de

empregos e para melhor distribuiccedilatildeo de renda Lei Complementar 0196 Ouro Preto

(OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996)

Em 1997 foi criado ldquoPlano de Reabilitaccedilatildeo do Siacutetio Histoacuterico de Ouro Pretordquo a

partir do ldquoMonumentardquo programa federal de iniciativa do Ministeacuterio da Cultura e patrocinado

pelo BID que sob a premissa do desenvolvimento econocircmico-social sustentaacutevel buscou

revitalizar os centros histoacutericos urbanos de 26 cidades brasileiras O Plano traccedilado para Ouro

Preto natildeo foi totalmente implementado mas alavancou as poliacuteticas de preservaccedilatildeo do

municiacutepio e deixou intervenccedilotildees significativas como por exemplo a recuperaccedilatildeo do Parque

Horto dos Contos (fundo de vale do Ribeiratildeo do Funil) aacuterea verde mais significativa da regiatildeo

central

34

Mapa Cadastral de Ouro Preto ndash Periacutemetro de tombamento pelo IPHAN

Fonte Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano - PMOP

52 O contexto atual

O conceito de patrimocircnio e de preservaccedilatildeo adotado no Brasil foi se modificando

ao longo da histoacuteria como foi apontado nos iniacutecio deste capiacutetulo Assim agrave medida que o

conceito adquiria relevacircncia as poliacuteticas de preservaccedilatildeo foram sendo instauradas nas esferas

administrativas Os avanccedilos iniciados no final do seacuteculo XX se consolidaram jaacute nos primeiros

anos do seacuteculo XXI O novo seacuteculo trouxe consigo uma mudanccedila significativa em relaccedilatildeo ao

desenvolvimento dos siacutetios histoacutericos que deixaram de ser vistos como uma ldquoobra de arte

intocaacutevelrdquo e passaram a ser tratados como espaccedilos socializados repletos de interaccedilatildeo cultural

e portanto passiacuteveis de transformaccedilatildeo Aleacutem dos centros urbanos o patrimocircnio imaterial

tambeacutem recebeu especial atenccedilatildeo e apoacutes 20 anos de discussatildeo a Convenccedilatildeo para a

Salvaguarda do Patrimocircnio Cultural Imaterial consolidada pela UNESCO em 2003 avanccedilou

no reconhecimento e na defesa das heranccedilas culturais dos povos ao redor do mundo

As transformaccedilotildees na relaccedilatildeo da preservaccedilatildeo com o planejamento urbano se

efetivaram em 2003 a partir da criaccedilatildeo do Plano de Preservaccedilatildeo de Siacutetio Histoacuterico Urbano

(PPSH) Este plano foi um instrumento de caraacuteter normativo que incidiu sobre os siacutetios

35

urbanos tombados em niacutevel federal a fim de aliar preservaccedilatildeo e desenvolvimento e incentivar

a gestatildeo compartilhada Nesse mesmo ano foi realizado o Encontro Nacional de Cidades

Histoacutericas que tratou da gestatildeo compartilhada do patrimocircnio cultural e da efetivaccedilatildeo das

poliacuteticas de preservaccedilatildeo associadas agrave legislaccedilatildeo urbana e ambiental

As mudanccedilas do iniacutecio do seacuteculo natildeo demoraram a repercutir no Municiacutepio de

Ouro Preto A partir da portaria ndeg 122 instituiacuteda em 2004 pelo presidente do IPHAN

definiu-se as diretrizes de intervenccedilatildeo e os paracircmetros para aprovaccedilatildeo de projeto no centro

histoacuterico da cidade a fim de garantir a manutenccedilatildeo das caracteriacutesticas da unidade e da

harmonia do conjunto urbano

Mapa dos bairros do municiacutepio de Ouro Preto

Fonte Secretaria Municipal de Patrimocircnio e Desenvolvimento Urbano - PMOP

36

Mapa esquemaacutetico ndash Periacutemetro urbano periacutemetro tombado e demais delimitaccedilotildees de interesse do distrito sede

Elaboraccedilatildeo Guilherme I N Ataiacutedes Base mapa do Plano Diretor

Foto da Praccedila Tiradentes

Fonte httpmondegocombrpraca-tiradentes

37

Foto Campus UFOP

Fonte httpwwwseeufopbrp=490

Foto IFMG

Fonte httpwwwouropretoifmgedubrcomunicacaoimagens-e-videoscampus-ouro-

pretocampusimage_view_fullscreen

Em 2006 a remodelaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Patrimocircnio e

Desenvolvimento Urbano (antiga Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio) deu um novo

impulso agrave preservaccedilatildeo no acircmbito da gestatildeo municipal unindo as poliacuteticas de proteccedilatildeo agraves

poliacuteticas de planejamento urbano O Grupo de Assessoramento Teacutecnico ndash GAT e o Conselho

Municipal de Patrimocircnio foram novamente colocados em accedilatildeo Um novo Plano Diretor

promulgado ao final deste mesmo ano atraveacutes da Lei Complementar Nordm 29 agregou as

conquistas do Estatuto da Cidade aos preceitos da preservaccedilatildeo do patrimocircnio e acrescentou as

diretrizes para a proteccedilatildeo ambiental Os temas funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

estruturaccedilatildeo territorial desenvolvimento econocircmico proteccedilatildeo ambiental proteccedilatildeo ao

patrimocircnio cultural poliacutetica de desenvolvimento social produccedilatildeo da cidade e mobilidade

urbana intitulam alguns dos capiacutetulos da Lei Os instrumentos da poliacutetica urbana para o

cumprimento da funccedilatildeo social da propriedade aparecem no texto logo em sequecircncia A Lei de

38

Parcelamento uso e ocupaccedilatildeo do solo conforme previsatildeo do Art 81 do Plano Diretor foi

promulgada no mesmo dia 28 de dezembro de 2006

A partir de entatildeo o municiacutepio assume sua funccedilatildeo enquanto principal oacutergatildeo de

gestatildeo do territoacuterio tarefa que anteriormente era desempenhada pelo Governo Federal e pelo

IPHAN Ao final de 2010 por meio da Lei Complementar Nordm 91 o Plano Diretor passa por

alteraccedilotildees pontuais e em 2011 a Lei de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo eacute amplamente

revisada dando origem aos paracircmetros utilizados nos dias atuais

Dentro desse resumido panorama legislativo apresentado pode-se perceber que o

Municiacutepio de Ouro Preto acompanhou em grande parte os avanccedilos inaugurados pelo

Estatuto da Cidade e concretizou ao menos em forma de Lei a regulamentaccedilatildeo das diretrizes

e dos instrumentos capazes de fazer valer a funccedilatildeo social da cidade e da propriedade

Contudo tais avanccedilos representam muito pouco frente ao gigantesco desafio

enunciado no Art 2 inciso II do mesmo Estatuto quanto agrave ldquogarantia do direito a cidades

sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave moradia ao saneamento ambiental

agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos serviccedilos puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para

as presentes e futuras geraccedilotildeesrdquo(Lei 10257 2001)

Aleacutem da amplitude da tarefa outros elementos dificultam ainda mais o processo

de construccedilatildeo de uma nova realidade como por exemplo a negligecircncia dos gestores puacuteblicos

para com a atualizaccedilatildeo necessaacuteria e obrigatoacuteria das Leis O Plano Diretor de Ouro Preto

indica jaacute no Capiacutetulo 1 artigo 1ordm sect3ordm o prazo maacuteximo para a revisatildeo do mesmo estabelecido

em cinco anos a partir da sua publicaccedilatildeo ou seja 2011 Sendo assim percebe-se que a Lei

de Parcelamento Uso e Ocupaccedilatildeo revisada em 2011 embora seja o principal instrumento de

controle urbaniacutestico ateacute os dias de hoje jaacute nasceu defasada pois utilizou como referecircncia a

estrateacutegia de desenvolvimento urbano definida no Plano Diretor de 2006 desconsiderando os

impactos e as mudanccedilas territoriais sociais e culturais ocorridos desde entatildeo No geral os

gestores municipais tratam apenas de alteraccedilotildees pontuais que apenas mascaram o quadro de

estagnaccedilatildeo e desatualizaccedilatildeo das leis urbaniacutesticas Tal conduta conforma um enorme obstaacuteculo

na concretizaccedilatildeo das diretrizes do Estatuto da Cidade

Nos capiacutetulos anteriores ao tratarmos do desenvolvimento sustentaacutevel dois

importantes instrumentos foram apontados como peccedilas-chave da consolidaccedilatildeo de uma nova

experiecircncia de sustentabilidade no ambiente urbano a agenda 21 e o coacutedigo de obras

O primeiro deles a agenda 21 local foi estabelecida em 15 de maio de 2007 por

meio da Lei Nordm 333

39

Art 1ordm Fica criado no acircmbito do Municiacutepio de Ouro Preto o Programa da Agenda 21

Local processo e instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento

sustentaacutevel e que tem como eixo central a sustentabilidade compatibilizando a

conservaccedilatildeo ambiental a justiccedila social e o crescimento econocircmico Art 2ordm Para

efeitos de execuccedilatildeo da Agenda 21 Local o Poder Executivo instalaraacute o Foacuterum Ouro-

pretano da Agenda 21 Local (OURO PRETO Lei nordm333 Agenda 21 Local de 11

de maio de 2007)

No texto da Lei foram previstos os capiacutetulos a serem desenvolvidos Agenda 21

Estrutural Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade A

responsabilidade recaiu sobre o Foacuterum Ouro-Pretano da Agenda 21 Local Aleacutem da Lei de

criaccedilatildeo tambeacutem eacute possiacutevel encontrar nos registros legislativos digitais da Cacircmara Municipal a

Portaria Nordm 1707 que nomeia uma Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos Naturais

e Agenda 21 Local

Outra fonte de informaccedilotildees sobre a Agenda 21 Local de Ouro Preto foi encontrada

no acervo digital da Universidade Federal de Ouro Preto sob o tiacutetulo ldquoAgenda 21 Local

consolidando as bases para o desenvolvimento sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escalardquo

(OLIVEIRA 2010) Nesse trabalho foram apontadas as iniciativas que acompanharam a

criaccedilatildeo da Agenda 21 Local dentre as quais se destacam em ordem cronoloacutegica 1ordm Encontro

de Processos de Agendas 21 Locais ndash fevereiro de 2007 Plenaacuteria na Cacircmara Municipal de

Ouro preto para apresentaccedilatildeo da Agenda 21 ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio de Capacitaccedilatildeo para

a Agenda 21 Local ndash marccedilo de 2007 Seminaacuterio Teacutecnico de Diagnoacutestico para referecircncia da

Agenda 21 Local ndash abril de 2007 Seminaacuterio de Implantaccedilatildeo da Agenda 21 Mineral de Ouro

Preto ndash abril de 2007 Assinatura do Termo de Cooperaccedilatildeo Muacutetua entre a Prefeitura

Municipal a Cacircmara Municipal a ONG Interforum Global e a UFOP ndash maio de 2007

Seminaacuterio Intermunicipal de Agenda 21 Local ndash maio de 2007 Seminaacuterio Geral de

Capacitaccedilatildeo da Agenda 21 Local ndash agosto de 2007

Para aleacutem dos registros oficiais e dos dados encontrados no trabalho mencionado

no paraacutegrafo anterior foram encontradas somente notiacutecias informais11

sobre a criaccedilatildeo e

lanccedilamento da Agenda 21 Mineral e Agenda 21 da Juventude todas datadas de 2007

11 Destacam-se ldquoO presidente da Cacircmara vereador Mauriacutelio Zacarias (PMDB) implantou no dia 20 de abril a

Agenda 21 da Mineraccedilatildeo de Ouro Preto A Agenda 21 da Mineraccedilatildeo eacute uma das subdivisotildees da Agenda 21

Global um conjunto de accedilotildees recomendadas pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) para garantir o

desenvolvimento sustentaacutevel do planeta no seacuteculo XXIrdquo Disponiacutevel em

lthttpwwwcmopmggovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=70agenda-21-da-mineracao-e-

implantada-em-ouro-pretoampcatid=61reunioesgt Acesso em 06 jun 2015 ldquoJuntos pela sustentabilidade o

Foacuterum da Agenda 21 Local de Ouro Preto daacute iniacutecio ao desenvolvimento de accedilotildees especiacuteficas para a implantaccedilatildeo

do capiacutetulo Agenda 21 da Juventude na escola e na universidade O lanccedilamento da Agenda 21 da Escola

acontece no dia 21 de junho quinta-feira agraves 10h no Centro de Artes e Convenccedilotildees da UFOPrdquo ndash Notiacutecia sobre a

40

Conclui-se portanto que a iniciativa da Agenda 21 Local assim como muitas das

diretrizes definidas nas Leis do Planejamento Urbano estagnou no ano de 2007 e avanccedilou

pouco em relaccedilatildeo agraves primeiras linhas da Lei Embora se tenha a informaccedilatildeo de que os Grupos

de Trabalho continuaram a desenvolver suas atividades nos anos seguintes os registros dessas

accedilotildees praacuteticas satildeo praticamente inexistentes e tais atividades praticamente natildeo efetivaram

mudanccedilas na realidade do Municiacutepio

Quanto ao Coacutedigo de Obras e Edificaccedilotildees outro importante instrumento da gestatildeo

municipal capaz de estabelecer as bases para um ambiente urbano sustentaacutevel este nunca foi

regulamentado pelo Municiacutepio Embora citado inuacutemeras vezes no Coacutedigo de Posturas que foi

instituiacutedo em 1980 atraveacutes da Lei 178 o Coacutedigo de Obras nunca adquiriu formato oficial para

aplicaccedilatildeo e regulaccedilatildeo do territoacuterio O uacutenico registro oficial encontrado nos arquivos

eletrocircnicos da Cacircmara Municipal diz respeito a uma comissatildeo especial formada em 1992

para emissatildeo de parecer sobre o anteprojeto de Coacutedigo de Obras de Ouro Preto elaborado

pela ENGEARP ndash Arquitetura e Engenharia Ltda12

Um segundo registro foi encontrado nos

arquivos do diaacuterio oficial eletrocircnico do municiacutepio e consiste numa breve menccedilatildeo do coacutedigo de

obras numa ata de uma das reuniotildees do COMPURB Conselho Municipal de Poliacutetica

Urbana13

em abril de 2013 Apesar dos registros quase inexistentes em consulta ao corpo

teacutecnico do Departamento de Aprovaccedilatildeo de Projetos da Secretaria de Cultura e Patrimocircnio

foram identificadas algumas iniciativas quanto agrave elaboraccedilatildeo de um Coacutedigo de Obras para o

municiacutepio dentre as quais se destaca o modelo desenvolvido em 2012 Tal modelo em

conformidade com as diretrizes dos coacutedigos internacionais jaacute apontados neste trabalho

ressaltou que as edificaccedilotildees e instalaccedilotildees deveriam atender agraves condiccedilotildees miacutenimas de

seguranccedila conforto ambiental higiene salubridade harmonia esteacutetica e acessibilidade

criaccedilatildeo da Agenda 21 da Juventude na Escola e Universidade ndash 16 de junho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwufopedubrindexphpoption=com_contentamptask=viewampid=600ampItemid=50gt Acesso em 06 jun

2015 ldquoO grupo de trabalho da Agenda 21 Local de Ouro Preto a Associaccedilatildeo Comercial de Ouro Preto e a

Cacircmara da Mulher Empreendedora de Ouro Preto convidam para uma palestra com o seguinte tema lsquoAgenda 21

de Ouro Preto -Desafios e Possibilidades da Participaccedilatildeo do Comeacutercio na Sustentabilidade Localrsquordquo Notiacutecia sobre

o Grupo de Trabalho da Agenda Ouro Preto ndash 10 de julho de 2007 Disponiacutevel em

lthttpwwwfundacaoaprenderorgbr189gt Acesso em 06 jun 2015

12 Portaria Nordm 0292 ndash 04 de fevereiro de 1992 Disponiacutevel em

lthttpwwwsistemasiglaorgarquivossisnormNJ_img(2562)pdfgt Acesso em 06 jun 2015

13 ldquo[] Gabriel sugeriu que seja incluiacutedo esses criteacuterios no coacutedigo de obrasrdquo Ata da 58ordf Reuniatildeo extraordinaacuteria

do Conselho Municipal de Poliacutetica Urbana ndash COMPURB (extraiacutedo do Diaacuterio Oficial do Municiacutepio ldquoAno V ndash

Ouro Preto 1ordm de Abril de 2013 ndash Nordm766rdquo) Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrdiario-

oficial2076601-04-2013gt Acesso em 27 jun 2015

41

Contudo eacute importante destacar que os paracircmetros necessaacuterios para o atendimento do conforto

ambiental - como criteacuterios de adequaccedilatildeo agraves caracteriacutesticas do clima local diretrizes de

conforto teacutermico luminoso e acuacutestico ndash assim como as diretrizes de eficiecircncia energeacutetica natildeo

foram contemplados no texto diminuindo consideravelmente a possibilidade de sucesso do

instrumento quanto agrave transformaccedilatildeo do ambiente urbano

Sendo assim entendendo a importacircncia que o instrumento ldquocoacutedigo de obrasrdquo tem

na conformaccedilatildeo de espaccedilos urbanos mais confortaacuteveis e equilibrados e buscando contribuir

para o Municiacutepio na consolidaccedilatildeo de Leis atualizadas e transformadoras o capiacutetulo seguinte

trataraacute do desenvolvimento de algumas dessas diretrizes para que as construccedilotildees passem a

incorporar as premissas do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica e passem a contribuir

positivamente para o clima urbano a para a qualidade ambiental

42

6 ENSAIO PARA UM COacuteDIGO DE OBRAS PRINCIPAIS ESTRATEacuteGIAS PARA

A PROMOCcedilAtildeO DA EFICIEcircNCIA ENERGEacuteTICA NO MUNICIacutePIO DE OURO

PRETO

61 O reconhecimento do clima e as recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais

O reconhecimento do clima eacute o primeiro passo a ser dado para o desenvolvimento

das diretrizes construtivas para um determinado local O clima ldquoeacute a condiccedilatildeo meacutedia do tempo

em uma dada regiatildeo baseada em mediccedilotildees em longos periacuteodos de tempo (30 anos ou mais)rdquo

(LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 71) A anaacutelise climaacutetica feita no Brasil utiliza

em geral os dados publicados pelo Instituto Nacional e pelo Departamento Nacional de

Meteorologia por meio das Normais Climatoloacutegicas Essa publicaccedilatildeo sistematiza dentre

outros dados os valores meacutedios e extremos mensais de temperatura umidade precipitaccedilatildeo

nebulosidade e horas de sol para um periacuteodo de 30 anos A utilizaccedilatildeo dessas variaacuteveis

climaacuteticas no desenvolvimento dos projetos arquitetocircnicos possibilita a construccedilatildeo de

edificaccedilotildees mais confortaacuteveis e mais eficientes quanto ao consumo de energia

O municiacutepio de Ouro Preto contou com uma estaccedilatildeo de mediccedilatildeo e monitoramento

climaacutetico no periacuteodo entre 1976 a 1990 Sendo assim por natildeo ter permanecido em vigecircncia

pelo periacuteodo miacutenimo de 30 anos os dados do municiacutepio natildeo foram contemplados na

publicaccedilatildeo das Normais Climatoloacutegicas e podem ser encontrados apenas no registro histoacuterico

do INMET a partir do BDMEP Os dados coletados nesse periacuteodo de 14 anos embora natildeo

tenham sido publicados satildeo fundamentais para analisar o comportamento das variaacuteveis

climaacuteticas no local de estudo conforme seraacute visto nas anaacutelises a seguir

Referenciada geograficamente pelas coordenadas14

Latitude Sul 20deg23rsquo28rdquo e

Longitude Oeste 43deg30rsquo20rdquo Ouro Preto possui altitude correspondente a 1150 metros sendo

que o ponto mais alto o Pico Itacolomi estaacute situado a 1772 metros de altura A latitude e a

altitude satildeo dois importantes fatores geograacuteficos do clima quanto maior a latitude menor eacute a

temperatura superficial e quanto maior a altitude menor seraacute a temperatura e a pressatildeo

atmosfeacuterica

14 Disponiacutevel em lthttpwwwouropretomggovbrlocalizacaogt Acesso em 27 jun 2015

43

Para entendermos o clima no municiacutepio e para traccedilarmos as diretrizes construtivas

que garantam o bom desempenho das edificaccedilotildees faz-se necessaacuterio primeiramente consultar

o Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro definido na parte 3 da NBR 15220

O Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro consiste na ldquodivisatildeo do territoacuterio brasileiro

em oito zonas relativamente homogecircneas quanto ao clima e para cada uma destas zonas

formulou-se um conjunto de recomendaccedilotildees teacutecnico-construtivas que otimizam o desempenho

teacutermico das edificaccedilotildees atraveacutes de sua melhor adequaccedilatildeo climaacuteticardquo (ABNT 2003) O

Zoneamento resulta da aplicaccedilatildeo da Carta Bioclimaacutetica sugerida por Givoni ldquoinserindo os

dados mensais de temperatura meacutedia e umidade relativa para cada mecircs do ano e para cada

uma das localidades agrupando entatildeo aquelas classificadas como um mesmo tipo climaacuteticordquo

(FERREIRA 2014 p432)

As diretrizes construtivas desenvolvidas na Norma tratam basicamente do

comportamento da envoltoacuteria da edificaccedilatildeo a partir da indicaccedilatildeo do tamanho das aberturas

para ventilaccedilatildeo da proteccedilatildeo das aberturas das vedaccedilotildees externas (paredes e cobertura) e das

estrateacutegias de condicionamento passivo

A NBR 15220-3 estaacute vigente desde 2005 e sua aplicaccedilatildeo estaacute direcionada para as

edificaccedilotildees de ateacute trecircs pavimentos destinadas agrave habitaccedilatildeo multifamiliar de interesse social

Contudo os preceitos nela indicados podem e devem servir como base para a adequaccedilatildeo

climaacutetica das demais edificaccedilotildees desde que a Norma natildeo seja aplicada de forma isolada isto

eacute devem ser estudados outros procedimentos e devem ser utilizadas novas ferramentas a fim

de cruzar os resultados e avanccedilar na elaboraccedilatildeo de paracircmetros construtivos cada vez mais

completos e dinacircmicos

Segundo a Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica obtida atraveacutes do programa ZBBR o

municiacutepio de Ouro Preto estaacute localizado na Zona Bioclimaacutetica 3

44

Fonte Programa ZBBR ndash Classificaccedilatildeo Bioclimaacutetica dos Municiacutepios Brasileiros

Em destaque o Municiacutepio de Ouro Preto ndash MG

Para as edificaccedilotildees inseridas nesta zona bioclimaacutetica a NBR 15220 traz as

seguintes orientaccedilotildees

- Quanto agraves aberturas tamanho meacutedio (15 a 25) e que possibilitem a entrada do sol

durante o inverno

- Quanto agraves vedaccedilotildees externas paredes externas leves15

e refletoras cobertura leve e

isolada

- Quanto ao condicionamento teacutermico passivo ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo

aquecimento solar durante o inverno e vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia

teacutermica

15 Quanto agrave caracterizaccedilatildeo das envoltoacuterias como ldquolevesrdquo podemos agregar para melhor entendimento a

explicaccedilatildeo de que tais envoltoacuterias devem ser de baixa ineacutercia teacutermica ou seja devem possibilitar que o ambiente

interno seja influenciado pela temperatura do ar exterior sem grande atraso Assim pode-se dizer que as

recomendaccedilotildees de envoltoacuterias leves ocorrem em ambientes onde se deseja que os ambientes internos agrave

edificaccedilatildeo sofram influecircncia direta da temperatura do exterior

45

A partir das orientaccedilotildees da Norma percebe-se que a classificaccedilatildeo das zonas

bioclimaacuteticas embora tenha uma importante contribuiccedilatildeo esta natildeo pode ser utilizada

isoladamente por natildeo agregar importantes elementos agrave caracterizaccedilatildeo do clima local como jaacute

foi dito anteriormente Sendo assim outros dados de Ouro Preto devem ser observados para

aprofundarmos um pouco mais nas recomendaccedilotildees construtivas

Dentro do espectro das variaacuteveis climaacuteticas que caracterizam uma regiatildeo merece

destaque a temperatura e a umidade A temperatura ldquoeacute a variaacutevel climaacutetica mais conhecida e

de mais faacutecil mediccedilatildeo A variaccedilatildeo da temperatura na superfiacutecie da Terra resulta basicamente

dos fluxos das grandes massas de ar e da diferente recepccedilatildeo da radiaccedilatildeo do sol de local para

localrdquo (LAMBERTS DUTRA PEREIRA 2014 p 77) A temperatura varia principalmente

em funccedilatildeo da velocidade do ar mas tambeacutem eacute influenciada em maior ou menor grau pelo

tipo de solo e de vegetaccedilatildeo pela topografia e pela altitude A temperatura meacutedia anual de

Ouro Preto eacute de 185deg conforme os dados sistematizados pelo INMET A temperatura

maacutexima verificada geralmente no mecircs de fevereiro corresponde a 252deg e a temperatura

miacutenima que ocorre no mecircs de julho corresponde a 112deg Quanto agrave umidade do ar esta

resulta da evaporaccedilatildeo das aacuteguas e da evapotranspiraccedilatildeo dos vegetais e pode ser definida em

absoluta e relativa ldquoComo definiccedilatildeo de umidade absoluta tem-se que eacute o peso do vapor de

aacutegua contido em uma unidade de volume de ar (gm3) e a umidade relativa eacute a relaccedilatildeo da

umidade absoluta com a capacidade maacutexima do ar de reter vapor drsquoaacutegua agravequela temperaturardquo

(FROTA 1995 p62) A umidade do ar tem relaccedilatildeo inversa com a temperatura portanto

quanto menor a temperatura maior a possibilidade de saturaccedilatildeo do ar pela ampliaccedilatildeo da

umidade ao limite de 100 A pluviosidade tambeacutem deve ser observada pois tem relaccedilatildeo

direta com a umidade do ar sendo que a chuva proveacutem em grande parte de massas de ar

uacutemido em ascensatildeo Os dados do INMET apontam que a meacutedia anual da pluviosidade em

Ouro Preto eacute de 16703mm sendo junho o mecircs mais seco com 129mm e dezembro o mecircs

mais uacutemido com 3579mm

46

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

Dados da Estaccedilatildeo Meteoroloacutegica de Ouro Preto ndash nuacutemero 83641 (continuaccedilatildeo)

Periacuteodo 1976 a 1990

(Fonte INMET natildeo publicado)

47

48

A partir dos dados acima eacute possiacutevel verificar inicialmente que se trata de um

clima de baixas temperaturas muito uacutemido (umidade relativa praticamente sempre acima de

80) com alta nebulosidade (o que significa que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou

nublado) e com abundacircncia de chuvas principalmente no veratildeo

Tais caracteriacutesticas satildeo acentuadas pela influecircncia da barreira orograacutefica

provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta que conforma o

Morro Satildeo Sebastiatildeo Sendo assim grande parte da mancha urbana de Ouro Preto situada agrave

barlavento da barreira natural sofre influecircncia das chuvas que resultam do resfriamento e

condensaccedilatildeo do ar em ascensatildeo aprofundando ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade citadas anteriormente

Representaccedilatildeo da influecircncia dos ventos e da topografia na mancha urbana da cidade de Ouro

Preto - a formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem base da imagem de sateacutelite extraiacuteda do Google Maps

Exemplo da chuva a barlavento resultante da formaccedilatildeo de barreira orograacutefica

Fonte da imagem Sistemas Tecnoloacutegicos em Conforto Ambiental ndash Eleonora Sad Assis

Parte da malha urbana de Ouro Preto

49

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem timblindimwordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

Vista da barreira natural em Ouro Preto sob a qual incide o vento constante sudeste

Em destaque a Igreja Satildeo Francisco de Paula e ao fundo o Bairro Satildeo Cristoacutevatildeo

Fonte da imagem fotografandoondeopeixeparawordpresscom (acessado em 21 de junho de 2015)

A partir das variaacuteveis climaacuteticas sistematizadas pelo INMET podemos avanccedilar na

utilizaccedilatildeo do Diagrama Bioclimaacutetico de Givoni (DBG) que orientou a definiccedilatildeo do

Zoneamento Bioclimaacutetico Brasileiro assim como utilizar outro instrumento de anaacutelise as

Tabelas de Mahoney que tambeacutem auxiliam na definiccedilatildeo das diretrizes construtivas

O Diagrama de Givoni nos permite identificar quais recursos satildeo necessaacuterios para

que as edificaccedilotildees atendam agraves condiccedilotildees de conforto Este instrumento aponta quais preceitos

da arquitetura bioclimaacutetica devem ser priorizados tais como ventilaccedilatildeo ineacutercia teacutermica e

50

insolaccedilatildeo assim como aponta a necessidade de soluccedilotildees mecacircnicas para o atendimento ao

conforto teacutermico

Diagrama de Givoni relativo agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O Diagrama de Givoni referente agrave Ouro Preto assinala que na maior parte do

tempo as edificaccedilotildees necessitam de aquecimento passivo tendo em vista o quadro recorrente

de baixas temperaturas e de alta umidade relativa Algumas estrateacutegias de aquecimento

passivo podem ser adaptadas agrave realidade local para melhor aproveitamento Quanto agrave cidade

de Ouro Preto deve-se pensar o ganho teacutermico principalmente durante o inverno Nessa

estaccedilatildeo embora se tenha uma queda significativa das temperaturas tem-se cerca de 6 horas

de insolaccedilatildeo diaacuteria quase duas horas a mais do que nas outras estaccedilotildees O aproveitamento

dessa radiaccedilatildeo solar deve servir para manter o ambiente aquecido durante a noite sendo

assim a utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior insolaccedilatildeo deve

possibilitar a maacutexima entrada de calor durante o dia Quanto aos materiais internos estes

devem possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser

devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente

Voltando ao Diagrama de Givoni se compararmos o resultado da cidade de Ouro

Preto com a cidade de Belo Horizonte que estaacute na mesma zona bioclimaacutetica e estaacute a 858

51

metros de altitude perceberemos o quanto eacute importante cruzar os dados de diferentes

instrumentos de anaacutelise para acertar nas diretrizes de projeto Os dados de Belo Horizonte

resultam numa linha meacutedia predominantemente inserida na zona de conforto chegando a

alcanccedilar a zona de influecircncia da ventilaccedilatildeo em algumas horas dos meses de janeiro fevereiro

e marccedilo

Diagrama de Givoni relativo agrave Belo Horizonte

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

O outro meacutetodo importante de anaacutelise voltado especificamente para as

recomendaccedilotildees de projeto arquitetocircnico consiste na sistematizaccedilatildeo das recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas atraveacutes das ldquoTabelas de Mahoneyrdquo Tal meacutetodo deve ser utilizado

simultaneamente ao Diagrama de Givoni a fim de se comparar os resultados e ajustar as

diretrizes construtivas Dentre as orientaccedilotildees da Tabela de Mahoney para Ouro Preto merece

destaque a utilizaccedilatildeo de grandes aberturas (para garantir ventilaccedilatildeo abundante e permanente)

e de envoltoacuterias leves Contudo diretrizes como reduccedilatildeo da exposiccedilatildeo ao sol e proteccedilatildeo da

insolaccedilatildeo direta natildeo favorecem o aquecimento passivo conforme a necessidade observada a

partir do Diagrama de Givoni e portanto devem ser relativizadas Seguem abaixo as

recomendaccedilotildees das Tabelas de Mahoney para Ouro Preto

52

Tabela de Mahoney relativa agrave Ouro Preto

Fonte Tabela Psicromeacutetrica ndash Eleonora Sad Assis

Sendo assim a partir do conhecimento das variaacuteveis climaacuteticas e dos resultados

apresentados eacute possiacutevel formular a seguinte tabela resumo quanto agraves recomendaccedilotildees

arquitetocircnicas iniciais para Ouro Preto

14 Tabela de Recomendaccedilotildees Arquitetocircnicas

Total de Indicadores

Uacutemido Aacuterido

H1 H2 H3 A1 A2 A3

1 11 4 0 0 0

1 PLANTA DE SITUACcedilAtildeO

0 -10 X Construccedilotildees orientadas segundo eixo longitudinal leste-oeste

11 ou 5 -12 a fim de diminuir a exposiccedilatildeo ao sol

12 0 - 4 Plantas compactas com paacutetios internos

2 ESPACcedilAMENTO ENTRE CONSTRUCcedilOtildeES

11 ou Grandes espaccedilamentos para favorecer a penetraccedilatildeo do vento

12

2 -10 Como acima mas com proteccedilatildeo contra vento quente ou frio

0 ou 1 X Distribuiccedilatildeo compacta

3 CIRCULACcedilAtildeO DE AR

3 - 12 X Construccedilotildees com orientaccedilatildeo simples aberturas que permitam

1 ou 0 - 5 circulaccedilatildeo de ar permanente

2 6 - 12 Construccedilotildees com orientaccedilatildeo dupla circulaccedilatildeo de ar cruzada

0 2 -12 aberturas de ar controlaacuteveis

0 ou 1 Basta renovaccedilatildeo higiecircnica do ar

4 DIMENSOtildeES DAS ABERTURAS

0 ou 0 X Grandes 40 a 80 das fachadas norte e sul

1 1 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

2 - 5

6 - 10 Intermediaacuterias 20 a 35 da superfiacutecie das paredes

11 ou 0 - 3 Pequenas 15 a 25 da superfiacutecie das paredes

12 4 - 12 Meacutedias 25 a 40 da superfiacutecie das paredes

5 POSICcedilAtildeO DAS ABERTURAS

3 - 12 X Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do

1 ou 0 - 5 lado exposto ao vento

2 6 - 12 Como acima mas tambeacutem aberturas nas paredes internas

0 2 - 12

6 PROTECcedilAtildeO DAS ABERTURAS

0 - 2 X Proteger da insolaccedilatildeo direta

2 - 12 X Proteger da chuva

7 PAREDES E PISOS

0 - 2 X Construccedilotildees leves baixa ineacutercia teacutermica

3 - 12 Construccedilotildees maciccedilas tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

8 COBERTURA

10 a 0 - 2 Leve (pouca ineacutecia) superfiacutecie refletora uso de cacircmara de ar

12 3 - 12 X Leve e bem isolada

0 a 0 - 5

9 6 - 12 Maciccedila tempo de transmissatildeo teacutermica superior a 8 horas

9 ESPACcedilOS EXTERIORES

1 - 12 Espaccedilo para dormir ao ar livre

1 - 12 X Adequada drenagem para a chuva

3 - 12 X Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

53

Tabela resumo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas

Diagrama de Givoni

Tabelas de Mahoney

NBR 15220 ndash Parte 03

Tamanho e caracteriacutesticas das aberturas

Esquadrias devidamente vedadas para contribuir com a permanecircncia do calor no ambiente

Aberturas que permitam a circulaccedilatildeo de ar permanente

Tamanho meacutedio

Grandes ndash de 40 a 80 das fachadas norte e sul

Possibilitar a entrada do sol durante o inverno

Aberturas nas paredes norte e sul agrave altura do corpo humano do lado exposto ao vento

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees externas

Leves Leves e refletoras

Baixa ineacutercia teacutermica

Proteccedilatildeo contra chuvas violentas

Caracteriacutesticas das vedaccedilotildees internas

Possibilitar o armazenamento do calor absorvido

Vedaccedilotildees internas pesadas que garantam a ineacutercia teacutermica

Caracteriacutesticas da cobertura

Leve e bem isolada Leve e isolada

Condicionamento teacutermico passivo

Ganho teacutermico principalmente durante o inverno

Aberturas protegidas da insolaccedilatildeo direta e protegidas da chuva

Ventilaccedilatildeo cruzada durante o veratildeo aquecimento solar durante o inverno e

Somando-se os diversos meacutetodos de anaacutelise climaacutetica tecircm maior relevacircncia a

seguintes diretrizes

- ventilaccedilatildeo abundante principalmente durante o veratildeo a fim de reduzir a temperatura no

interior da edificaccedilatildeo e os efeitos da umidade que aumenta ainda mais em funccedilatildeo das chuvas

tiacutepicas desse periacuteodo A ventilaccedilatildeo cruzada deve ser fomentada e deve ser observado o sentido

54

predominante do vento que na cidade em questatildeo eacute sudeste a fim de se alcanccedilar melhores

resultados no conforto da edificaccedilatildeo

- aquecimento passivo para os meses de inverno a fim de diminuir o desconforto

causado pelas baixas temperaturas

- paredes leves (com baixa ineacutercia teacutermica ou seja conseguem ganhar ou perder calor

rapidamente a partir da interferecircncia e da temperatura do ar exterior) e protegidas da umidade

proveniente das chuvas fortes

- coberturas leves e bem isoladas (capazes de reter o calor absorvido durante o dia)

- as edificaccedilotildees devem estar protegidas das chuvas e devem contar com sistemas de

drenagem eficientes que possibilitem o raacutepido escoamento ou aproveitamento dessa aacutegua

62 O Coacutedigo de Obras e o conforto ambiental em Ouro Preto ndash estrateacutegias prioritaacuterias

A utilizaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental nos projetos e nas edificaccedilotildees

tem um impacto social positivo baseado em pelo menos trecircs fatores importantes melhoria das

condiccedilotildees de habitabilidade da edificaccedilatildeo e portanto melhor qualidade de vida para o

usuaacuterio melhoria nas condiccedilotildees climaacuteticas do meio externo ampliando o bem estar coletivo

reduccedilatildeo no consumo de energia e utilizaccedilatildeo eficiente do sistema de abastecimento a partir da

correta utilizaccedilatildeo dos sistemas ativos (iluminaccedilatildeo artificial condicionamento e aquecimento

de ar)

Para garantir a aplicaccedilatildeo dos preceitos do conforto ambiental o Coacutedigo de Obras

e Edificaccedilotildees do municiacutepio deve incorporar dois importantes artigos que seratildeo detalhados

abaixo conforme o texto sugerido pelo Guia Teacutecnico ldquoElaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de

obras e edificaccedilotildeesrdquo da ELETROBRAacuteS (BAHIA GUEDES 2012)

O primeiro artigo de destaque deve ser inserido no capiacutetulo que trata das

DISPOSICcedilOtildeES PRELIMINARES e deve enumerar as diretrizes gerais para os projetos e

construccedilotildees buscando elencar tanto as demandas contemporacircneas expressas nas novas

legislaccedilotildees como os anseios para um espaccedilo urbano equilibrado e sustentaacutevel Nesse

contexto a substituiccedilatildeo da expressatildeo ldquopadrotildees miacutenimosrdquo que podem ser exemplificados pelas

diretrizes generalistas frequentemente encontradas nas legislaccedilotildees como a previsatildeo de 16 e

18 de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo para todas as localidades por ldquopadrotildees eficientesrdquo

estabelecidos atraveacutes de estudos teacutecnicos que agreguem a complexidade do clima local e que

permitam ampliar as condiccedilotildees de sustentabilidade das edificaccedilotildees ao tratar da otimizaccedilatildeo de

resultados quanto ao atendimento do conforto teacutermico visual e acuacutestico com baixo consumo

55

de energia A configuraccedilatildeo do texto deve se aproximar ao maacuteximo da proposta apresentada

pelo Guia Teacutecnico paacutegina 62

As obras instalaccedilotildees e edificaccedilotildees sejam puacuteblicas sejam privadas deveratildeo atender

agraves seguintes diretrizes gerais de forma a assegurar padrotildees eficientes de seguranccedila e

solidez salubridade e sauacutede conforto ambiental e desempenho energeacutetico

acessibilidade e livre tracircnsito de pessoas prevenccedilatildeo e uso sustentaacutevel dos recursos

naturais em cada caso e sempre que couber I - Subordinaccedilatildeo do interesse particular

ao interesse coletivo II - Promoccedilatildeo do direito agrave cidade sustentaacutevel e da funccedilatildeo

social da propriedade III - Utilizaccedilatildeo das normas teacutecnicas brasileiras e

regulamentaccedilotildees aplicaacuteveis para orientaccedilatildeo do desenvolvimento de projetos e

execuccedilatildeo de obras IV - Desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas sempre que

necessaacuterio com base nas praacuteticas locais beneacuteficas e na produccedilatildeo cientiacutefica tendo em

vista a manutenccedilatildeo da qualidade do local onde se daacute a intervenccedilatildeo e a correlaccedilatildeo

com valores culturais da populaccedilatildeo V - Garantia das condiccedilotildees de acessibilidade

circulaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo pela populaccedilatildeo em geral das edificaccedilotildees e do espaccedilo e

mobiliaacuterio urbano de uso puacuteblico e coletivo com adoccedilatildeo de soluccedilotildees especiacuteficas

para as pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida conforme previsto nas

normas teacutecnicas e na legislaccedilatildeo aplicaacutevel VI - Adoccedilatildeo de paracircmetros climaacuteticos

para o desenvolvimento de projetos de arquitetura de parcelamentos do solo e de

desenho urbano tendo em vista a correta orientaccedilatildeo solar da edificaccedilatildeo e demais

elementos as melhores condiccedilotildees de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo e pela escolha de

materiais construtivos e soluccedilotildees urbaniacutesticas adequadas em funccedilatildeo das

condicionantes ambientais locais de temperatura pluviosidade dominacircncia de

ventos ruiacutedo e paisagem natural aleacutem dos aspectos culturais que interagem com

essas condiccedilotildees VII - Utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis materiais de

construccedilatildeo certificados e ajudas teacutecnicas disponiacuteveis em complemento agrave promoccedilatildeo

do conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade das edificaccedilotildees e do

meio urbano VIII - Implantaccedilatildeo do objeto arquitetocircnico no lote bem como do

mobiliaacuterio urbano e demais artefatos nos logradouros puacuteblicos garantidas a

acessibilidade a qualidade esteacutetica e tecnoloacutegica de forma a potencializar os

atributos da paisagem urbana e evitar a poluiccedilatildeo visual IX - Adoccedilatildeo preferencial de

espeacutecies nativas na arborizaccedilatildeo puacuteblica demais projetos paisagiacutesticos e no

ajardinamento de lotes particulares X - Simplificaccedilatildeo dos procedimentos

administrativos pelo Poder Puacuteblico e promoccedilatildeo da assistecircncia para habitaccedilatildeo de

interesse social pelos agentes promotores tendo em vista facilitar a regularidade e a

correta execuccedilatildeo de projetos e obras inclusive apoiando as iniciativas de

autoconstruccedilatildeo da clientela de baixa renda (BAHIA GUEDES 2012)

O segundo artigo de grande relevacircncia deve ser inserido no capiacutetulo ldquoDAS

CONDICcedilOtildeES RELATIVAS AgraveS EDIFICACcedilOtildeESrdquo Neste capiacutetulo devem ser tratados os

paracircmetros teacutecnicos e geomeacutetricos capazes de materializar o conforto ambiental dos projetos e

edificaccedilotildees a partir do contexto climaacutetico da cidade As diretrizes apontadas devem buscar o

equiliacutebrio entre as condicionantes internas (relaccedilatildeo do usuaacuterio com a edificaccedilatildeo) e externas

(relaccedilatildeo da edificaccedilatildeo com o entorno) Quanto aos paracircmetros teacutecnicos esses devem ser

baseados nas recomendaccedilotildees do Programa Nacional de Conservaccedilatildeo de Energia Eleacutetrica ndash

PROCEL e devem se aproximar dos padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees

residenciais que satildeo atualmente estabelecidos pelo INMETRO a partir do RTQ-R ndash

Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais O texto do artigo deve seguir a sugestatildeo do Guia Teacutecnico paacutegina 107

56

Os projetos de construccedilatildeo ou reforma aleacutem de atenderem aos paracircmetros de

habitabilidade estabelecidos neste Coacutedigo devem ser orientados para a promoccedilatildeo da

sustentabilidade e eficiecircncia energeacutetica da edificaccedilatildeo com o objetivo de reduzir as

emissotildees de gases de efeito estufa (GEE) e os impactos ambientais gerados pela

construccedilatildeo e pela sua utilizaccedilatildeo ao longo do tempo racionalizando o uso da energia

da aacutegua e dos materiais nela empregados a partir das seguintes diretrizes I -

Racionalidade do projeto e do planejamento do processo de execuccedilatildeo das obras II -

Gestatildeo sustentaacutevel da obras e das praacuteticas de construccedilatildeo de forma a evitar o

desperdiacutecio de materiais III - Uso de materiais de construccedilatildeo e acabamentos

sustentaacuteveis considerando a adoccedilatildeo de materiais originaacuterios da regiatildeo produzidos

de forma sustentaacutevel e legalizada de materiais reaproveitados ou de demoliccedilatildeo e de

materiais certificados ou de comprovada responsabilidade ambiental do fabricante

IV - Ativaccedilatildeo do uso de edificaccedilotildees de valor cultural histoacuterico ou arquitetocircnico

maximizando as condiccedilotildees de preservaccedilatildeo do bem imoacutevel na interaccedilatildeo com as

premissas de conforto ambiental eficiecircncia energeacutetica e acessibilidade V -

Aplicaccedilatildeo das estrateacutegias para projetos de acordo com o Zoneamento Bioclimaacutetico

brasileiro conforme NBR 15220-3 para concepccedilatildeo arquitetocircnica implantaccedilatildeo no

lote orientaccedilatildeo solar dos ambientes localizaccedilatildeo de aberturas e especificaccedilatildeo de

materiais de construccedilatildeo em prol do desempenho teacutermico da edificaccedilatildeo VI -

Aproveitamento das caracteriacutesticas climaacuteticas locais para a promoccedilatildeo do conforto

ambiental da edificaccedilatildeo a partir da consideraccedilatildeo dos seguintes fatores principais a)

Qualidade do ar b) Conforto higroteacutermico c) Conforto luminoso (ou lumiacutenico) d)

Conforto acuacutestico VII - Adoccedilatildeo de especificaccedilotildees de projeto com o objetivo de

potencializar as caracteriacutesticas climaacuteticas locais beneacuteficas eou remediar as de maior

rigor ao longo das diferentes estaccedilotildees do ano em benefiacutecio do desempenho teacutermico

e da ventilaccedilatildeo e iluminaccedilatildeo naturais da edificaccedilatildeo [] VIII - Planejamento

paisagiacutestico como elemento contribuinte para o conforto ambiental da edificaccedilatildeo

[] IX - Adoccedilatildeo de materiais construtivos que melhorem o desempenho teacutermico da

edificaccedilatildeo com base nas orientaccedilotildees e tabelas da NBR 15220-3 e especificaccedilatildeo de

equipamentos mecanismos e instalaccedilotildees que favoreccedilam a economia de energia

eleacutetrica e a reduccedilatildeo do consumo e aacutegua tratada [] (BAHIA GUEDES 2012)

Esses dois artigos apresentados embora configurem o ponto de partida natildeo satildeo

suficientes para a transformaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras em uma ferramenta concreta de

promoccedilatildeo do conforto ambiental da eficiecircncia energeacutetica e da sustentabilidade do meio

ambiente urbano Os desdobramentos desse texto devem resultar em paracircmetros teacutecnicos

como dimensionamentos diretrizes de desenho configuraccedilotildees espaciais miacutenimas dentre

inuacutemeros outros elementos de aplicaccedilatildeo obrigatoacuteria ou optativa Sendo assim o Coacutedigo de

Obras deve regulamentar por exemplo o dimensionamento de compartimentos a disposiccedilatildeo

e o dimensionamento de mobiliaacuterio fixo como louccedilas sanitaacuterias o peacute-direito as proporccedilotildees

das aberturas de iluminaccedilatildeo e ventilaccedilatildeo assim como as taxas de renovaccedilatildeo do ar os niacuteveis de

ruiacutedo para o conforto acuacutestico as condiccedilotildees favoraacuteveis de transmitacircncia e a absortacircncia das

paredes e coberturas para o conforto teacutermico o dimensionamento e as condiccedilotildees das

circulaccedilotildees horizontais e verticais as instalaccedilotildees prediais dentre inuacutemeros outros itens Os

teacutecnicos devem se debruccedilar sobre tais requisitos teacutecnicos a fim de otimizar os resultados

quanto agrave construccedilatildeo da sustentabilidade no municiacutepio Deve-se utilizar as normas ABNT em

auxiacutelio agrave formulaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos a exemplo da NBR 10151 sobre Avaliaccedilatildeo do

57

Ruiacutedo em Aacutereas Habitadas NBR 5382 sobre Iluminacircncia de Interiores NBR 15215 sobre

Iluminaccedilatildeo Natural NBR 9284 sobre Equipamentos Urbanos dentre outras

Por fim deve-se prezar pela total interaccedilatildeo do Coacutedigo de Obras com o conjunto

da legislaccedilatildeo urbaniacutestica local a fim de estabelecer uma relaccedilatildeo sequencial entre as etapas de e

concepccedilatildeo planejamento e construccedilatildeo das edificaccedilotildees passando das diretrizes gerais agraves

exigecircncias especiacuteficas O texto do coacutedigo de obras deve ser objetivo e didaacutetico sem incorrer

em simplificaccedilotildees O conteuacutedo deve ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e

teacutecnicos da aacuterea como pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees A dedicaccedilatildeo dos

teacutecnicos e profissionais na elaboraccedilatildeo das diretrizes transformadoras a busca pela

conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo sobre o conforto no ambiente urbano assim como a luta contra a

supremacia dos interesses privados sobre a coletividade satildeo itens importantes quanto agrave

concretizaccedilatildeo desse importante instrumento que foi apresentado e defendido ao longo do

presente trabalho

58

7 CONCLUSAtildeO

Diante das anaacutelises apresentadas ao longo deste trabalho principalmente quanto

ao ordenamento juriacutedico brasileiro para a regulaccedilatildeo urbana e o desenvolvimento sustentaacutevel

ficou comprovada a existecircncia de um conjunto significativo de legislaccedilotildees capazes de

embasar uma transformaccedilatildeo das cidades brasileiras em territoacuterios democraacuteticos igualitaacuterios e

sustentaacuteveis Poreacutem a previsatildeo legal eacute apenas o iniacutecio de um longo caminho ateacute a

transformaccedilatildeo concreta da realidade Para se avanccedilar nesse caminho uma mudanccedila poliacutetica eacute

imprescindiacutevel uma vez que as decisotildees sobre o espaccedilo urbano e sua regulamentaccedilatildeo

dependem necessariamente do interesse do gestor urbano materializado na figura dos

prefeitos e governantes das diversas esferas administrativas

Em relaccedilatildeo ao municiacutepio de Ouro Preto foi identificado que embora haja um

conjunto significativo de diretrizes urbaniacutesticas contidas no Plano Diretor e na Lei de Uso e

Ocupaccedilatildeo do Solo estas ainda satildeo insuficientes para subsidiar um desenvolvimento local

pautado na responsabilidade ambiental e na qualidade do meio ambiente urbano Isso se deve

principalmente ao fato de natildeo haver um coacutedigo de obras e edificaccedilotildees e tambeacutem ao fato de

que as iniciativas de proteccedilatildeo ambiental tal como a Agenda 21 Local natildeo foram colocadas

em praacutetica Neste sentido em relaccedilatildeo ao processo legislativo conclui-se que haacute uma

defasagem na aplicaccedilatildeo dos instrumentos de planejamento municipal previstos no Estatuto da

Cidade principalmente o Plano Diretor Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo Agenda 21 Local e Coacutedigo

de Obras e Edificaccedilotildees Aleacutem disso faltam elementos de combate agrave especulaccedilatildeo imobiliaacuteria e

instrumentos de regulaccedilatildeo do solo urbano como o IPTU progressivo regularizaccedilatildeo onerosa a

assistecircncia teacutecnica gratuita dentre outros instrumentos tributaacuterios e financeiros juriacutedicos e

poliacuteticos que infelizmente ainda natildeo satildeo aplicados no municiacutepio Nesse contexto os outros

instrumentos de planejamento tais como o plano plurianual orccedilamento participativo

programas setoriais e planos de desenvolvimento econocircmico e social embora natildeo configurem

instrumentos urbaniacutesticos se colocam como ferramentas aliadas da gestatildeo democraacutetica da

cidade e da reduccedilatildeo das disparidades soacutecio-espaciais visto que o processo de mudanccedila eacute

essencialmente poliacutetico Nesse sentido eacute extremamente importante que esses instrumentos

sejam pautados na real participaccedilatildeo popular na inclusatildeo e na justiccedila social

Quanto agrave sustentabilidade no ambiente urbano identificou-se que a preservaccedilatildeo e

proteccedilatildeo patrimonial pautadas no conforto do usuaacuterio a reabilitaccedilatildeo de preacutedios abandonados

a melhoria da infraestrutura urbana a concretizaccedilatildeo de projetos de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria

59

assim como a construccedilatildeo de habitaccedilatildeo social de qualidade satildeo questotildees fundamentais para a

transformaccedilatildeo das cidades em territoacuterios democraacuteticos e sustentaacuteveis Essas demandas estatildeo

diretamente ligadas agrave mudanccedila no paradigma do conforto ambiental e da eficiecircncia energeacutetica

pois uma vez colocadas em praacutetica alteram significativamente a configuraccedilatildeo das cidades

influenciando no clima urbano e na qualidade ambiental

Em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de uma base de dados climaacuteticos relativos ao municiacutepio

a partir das Normais Climatoloacutegicas obtidas no periacuteodo entre 1976 e 1990 foi possiacutevel

caracterizar o clima de Ouro Preto como um clima de baixas temperaturas muito uacutemido

(umidade relativa praticamente sempre acima de 80) com alta nebulosidade (o que significa

que o ceacuteu estaacute predominantemente encoberto ou nublado) e com abundacircncia de chuvas

principalmente no veratildeo Foi tambeacutem identificada uma grande interferecircncia do efeito da

barreira orograacutefica provavelmente formada a partir da incidecircncia do vento sudeste na encosta

que conforma o Morro Satildeo Sebastiatildeo o que aprofunda ainda mais as condiccedilotildees de umidade

temperatura e nebulosidade

Para a elaboraccedilatildeo das recomendaccedilotildees arquitetocircnicas iniciais foram utilizados os

resultados do diagrama de Givoni das Tabelas de Mahoney e da NBR 15220 Assim para a

cidade de Ouro Preto concluiu-se que a arquitetura deve priorizar o ganho teacutermico

principalmente durante o inverno pois nessa estaccedilatildeo tem-se uma queda significativa das

temperaturas o que afeta consideravelmente o conforto do usuaacuterio Esse ganho teacutermico deve

ser pensado a partir da utilizaccedilatildeo de esquadrias de vidro voltadas para as aacutereas de maior

insolaccedilatildeo o que possibilita um melhor aproveitamento dessa radiaccedilatildeo solar que deve servir

para manter o ambiente aquecido durante a noite Quanto aos materiais internos estes devem

possibilitar o armazenamento do calor absorvido e as esquadrias devem ser devidamente

isoladas para contribuir com a permanecircncia desse calor no ambiente Em relaccedilatildeo ao veratildeo foi

identificada a necessidade de ventilaccedilatildeo cruzada para reduzir os efeitos das temperaturas

elevadas e da alta umidade aleacutem de envoltoacuterias bem protegidas das chuvas

Por fim quanto agrave elaboraccedilatildeo do coacutedigo de obras foi possiacutevel apontar a

necessidade de se estabelecer as diretrizes para os projetos e construccedilotildees a partir dos

paracircmetros das normas teacutecnicas brasileiras do desenvolvimento de soluccedilotildees alternativas com

base nas praacuteticas locais da garantia da acessibilidade das edificaccedilotildees agrave populaccedilatildeo em geral

da consideraccedilatildeo dos paracircmetros climaacuteticos e da utilizaccedilatildeo de tecnologias sustentaacuteveis Foi

abordada a necessidade de aproximaccedilatildeo dos paracircmetros teacutecnicos do coacutedigo de obras aos

padrotildees utilizados para a etiquetagem das edificaccedilotildees residenciais previstos no RTQ-R

60

(Regulamento Teacutecnico da Qualidade para o Niacutevel de Eficiecircncia Energeacutetica de Edificaccedilotildees

Residenciais INMETRO) aleacutem da necessidade de se construir um texto objetivo e didaacutetico

que possa ser facilmente compreendido tanto pelos profissionais e teacutecnicos da aacuterea quanto

pelos proprietaacuterios e usuaacuterios das edificaccedilotildees

61

REFEREcircNCIAS

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 15220 Desempenho

teacutermico de edificaccedilotildees Rio de Janeiro ABNT 2005

BAHIA S R GUEDES P de A Elaboraccedilatildeo e atualizaccedilatildeo do coacutedigo de obras e

edificaccedilotildees 2ordfed Rio de janeiro IBAMDUMA ELETROBRAS PROCEL 2012

BARANDIER H ALMEIDA M C T MORAIS R Planejamento e Controle Ambiental

Urbano e a Eficiecircncia Energeacutetica Rio de Janeiro IBAMDUMA ELETROBRASPROCEL

2013

BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988

BRASIL Decreto 429702 de 10 de julho de 2002

BRASIL Lei nordm 10257 Estatuto da Cidade de 10 de julho 2001

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente AGENDA 21 da Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Capiacutetulo 7 Promoccedilatildeo do Desenvolvimento

Sustentaacutevel dos Assentamentos Humanos 1992

BRASIL Ministeacuterio do Meio Ambiente Pesquisa nacional para identificar os resultados de

implementaccedilatildeo de processos de agendas 21 locais Brasiacutelia 2009

CALIFORNIA CODE OF REGULATIONS Tiacutetulo 24 Parte 8 California Historical

Building Code 1ordm Ed Washington 2007

CSABA D SUELI R S (org) O Processo de Urbanizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo Editora da

Universidade de Satildeo Paulo 1999

FERREIRA C SOUZA H A de ASSIS E S de Estudo do clima brasileiro reflexotildees e

recomendaccedilotildees sobre a adequaccedilatildeo climaacutetica de habitaccedilotildees In XV Encontro Nacional de

Tecnologia do Ambiente Construiacutedo Maceioacute 2014

FROTA A B SCHIFFER S R Manual de Conforto Teacutermico Satildeo Paulo Nobel 1995

IBGE Perfil dos municiacutepios brasileiros 2013 Brasiacutelia 2014

LAMBERTS R DUTRA L PEREIRA FO R Eficiecircncia Energeacutetica na Arquitetura 3ordfed

ELETROBRASPROCEL 2014

MENICONI R O A Construccedilatildeo de uma Cidade-Monumento o caso de Ouro Preto Belo

Horizonte Escola de Arquitetura e Urbanismo UFMG 1999 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OLIVEIRA L B Agenda 21 Local consolidando as bases para o desenvolvimento

sustentaacutevel da mineraccedilatildeo em pequena escala UFOP 2010

62

OLIVEIRA M A Os valores culturais da paisagem urbana em Ouro Preto Um Estudo de

Caso das Aacutereas Verdes na Ladeira Santa Efigecircnia e Entorno Proacuteximo Salvador Mestrado em

Arquitetura e Urbanismo da UFBA 1997

OLIVEIRA M R S Gestatildeo Patrimonial em Ouro Preto Alcances e Limites das Poliacuteticas

Puacuteblicas Preservacionistas Campinas Poacutes ndash Graduaccedilatildeo em Geografia Anaacutelise Ambiental e

Dinacircmica Territorial da UNICAMP 2005 Dissertaccedilatildeo de Mestrado

OURO PRETO Lei complementar nordm 011996 Institui o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro

Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 022005 Estabelece a Estrutura Baacutesica e a

organizaccedilatildeo administrativa da Prefeitura Municipal de Ouro Preto e da outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 152006 Altera a Lei Complementar ndeg 021005

modifica a denominaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Turismo Induacutestria e Comeacutercio e da

Secretaria Municipal de Cultura e Patrimocircnio suas respectivas competecircncias e daacute outras

providecircncias de 27 de Abril de 2006

OURO PRETO Lei Complementar nordm 302006 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 28 de

Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei complementar nordm 912010 Altera a Lei Complementar nordm292006 que

estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Lei Complementar nordm 932011 Estabelece Normas e Condiccedilotildees para o

parcelamento a ocupaccedilatildeo e o uso do solo urbano no municiacutepio de Ouro Preto de 20 de

Janeiro de 2011

OURO PRETO Lei Complementar nordm0196 Plano Diretor 1996

OURO PRETO Lei complementar nordm292006 Estabelece o Plano Diretor do Municiacutepio de

Ouro Preto de 28 de Dezembro de 2006

OURO PRETO Lei nordm 333 Dispotildee sobre o Programa da Agenda 21 Local de 11 de maio de

2007

OURO PRETO Lei nordm 5790 Dispotildee sobre as diretrizes baacutesicas do Plano Diretor do

Municiacutepio de Ouro Preto e daacute outras providencias

OURO PRETO Portaria 0292 Nomeia Comissatildeo Especial

OURO PRETO Portaria 1707 Nomeia Comissatildeo Especial de Meio Ambiente Recursos

Naturais e Agenda 21 Local

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