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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Thalita Giovanna Büll Trajetória do Serviço Social Escolar de Limeira: Construção de uma “Educação para além do capital” MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL SÃO PAULO 2010

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … · Educação para além do capital. Em especial, à equipe de assistentes sociais do Serviço Social Escolar de Limeira,

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Thalita Giovanna Büll

Trajetória do Serviço Social Escolar de Limeira:

Construção de uma “Educação para além do capital”

MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

SÃO PAULO

2010

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Thalita Giovanna Büll

Trajetória do Serviço Social Escolar de Limeira:

Construção de uma “Educação para além do capital”

Dissertação de Mestrado apresentada à banca

examinadora da Pontifícia Universidade Católica de

São Paulo como exigência parcial para a obtenção

do título de Mestre em Serviço Social, sob a

orientação da Professora Doutora Maria Lúcia

Martinelli.

SÃO PAULO

2010

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Banca Examinadora

__________________________________________

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Foto 01 - Escola em acampamento do MST

Fonte: Sebastião Salgado.

A grande questão é: o que é que aprendemos de uma forma ou de outra? Será que a aprendizagem conduz

à autorrealização dos indivíduos como ‘indivíduos socialmente ricos’ humanamente (nas palavras de

Marx) ou está ela a serviço da perpetuação, consciente ou não, da ordem social alienante e

definitivamente incontrolável do capital?

Mészáros, 2005

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Dedicatória:

A todos aqueles que acreditam e lutam por uma

Educação para além do capital. Em especial, à

equipe de assistentes sociais do Serviço Social

Escolar de Limeira, sem a qual esta dissertação

jamais existiria.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram com a realização

desta dissertação.

Aos meus pais, Sônia e Fernando, pelo dom da vida, por estarem ao meu

lado em todos os momentos, me fazendo acreditar em meus sonhos. “Ela acreditava

em anjo e, porque acreditava, eles existiam.” Pelo apoio incondicional, em todos os

aspectos, me proporcionando condições emocionais e financeiras para cursar o

mestrado. Obrigada por existirem!

Aos meus familiares, avós, tios e tias, primos e primas. Dizem que família é

quem você escolhe para viver, se eu tivesse que escolher, escolheria vocês!

Ao Almir (Juruna), simplesmente pela sua presença nos momentos de alegria

e por me oferecer seu abraço nos momentos difíceis, me ajudando a ver a vida com

outros olhos. Só me resta lhe agradecer!

Um agradecimento especial à minha amiga Marina, pela sua amizade pura e

sincera, que há mais de 10 anos me acompanha, às vezes perto, às vezes longe,

mas assim vamos levando.

À Paula Furlan, querida amiga, que agora vem construindo sua trajetória na

luta em defesa da Política de Saúde.

Ao Patrick, pelo incentivo e apoio de sempre, compartilhando minhas

conquistas, inclusive antes do início do mestrado, em outros caminhos que

percorremos. Por estar sempre presente, mesmo na distância, obrigada!

A todos os companheiros do Serviço Social Escolar, com os quais venho

construindo minha identidade profissional, em especial aos assistentes sociais,

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sujeitos políticos singulares, que a cada dia enfrentam novos desafios na busca pela

legitimação do Serviço Social na área da Educação.

Um agradecimento especial à Paula Bortolan Bocaiúva Forster, coordenadora

do setor de Serviço Social Escolar, grande amiga que me conquistou, me mostrando

como transformar as pedras em degraus. “Tu te tornas eternamente responsável por

aquilo que cativas”.

À Maria Helvira (Lila) pelo apoio fundamental, desde o momento da decisão

em participar do processo seletivo para o mestrado até a impressão dos volumes.

Pelas reflexões que construímos, fundamentais à elaboração desta dissertação.

À Secretaria Municipal da Educação de Limeira, pela liberação de horário

especial para estudo e posteriormente pela liberação integral das atividades para

dedicação exclusiva à pesquisa.

Ao corpo docente do ISCA Faculdades e aos queridos alunos do curso de

Serviço Social, meu estímulo diário para seguir acreditando no potencial

emancipatório da Educação.

À Rosemeire Scatena (Rose) e Virgínia Camilo (China) pelo estímulo à

realização do mestrado, desde o período da graduação.

Ao Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo, por me acolher quando ingressei no mestrado.

À Maria Lúcia Martinelli, querida professora e orientadora, meu rumo

intelectual, por compartilhar comigo todas as etapas percorridas durante o mestrado

e por confiar em meu potencial. Agradeço pela compreensão e pelo conforto nos

momentos de angústia. Fonte inesgotável de sabedoria, espero sempre poder

retornar a ti.

À Professora Maria Carmelita Yazbek, pela acolhida no Programa e em sua

disciplina, de grande importância para meu amadurecimento crítico. Agradeço pelas

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valiosas contribuições na ocasião do Exame Geral de Qualificação e, sobretudo,

pelo seu carinho e doçura.

A todos os professores do Programa, inclusive aqueles com os quais não tive

a oportunidade de estabelecer um contato mais próximo.

À Professora Eliana Bolorino Canteiro Martins pelo incentivo e apoio tanto na

realização do mestrado quanto na militância pelo Serviço Social, especificamente no

campo da Educação. Pela partilha de saberes e pelas fecundas contribuições

durante o Exame Geral da Qualificação.

Aos amigos que fiz durante esse período: Sandra Martine, Carla Agda, Leniter

Sertório, Priscila Almeida, Cláudio Lopes, Sonimara Perin, Elisete Rangel, Fábio

Alexandre com os quais partilhei saberes e construí vivências. À Flávia Bortoletto,

Cláudia Marqueze e Letícia Chrispi por compartilhar o trajeto de Limeira/Piracicaba

até São Paulo, contribuindo para a redução das despesas com a viagem e com a

emissão de substâncias nocivas ao meio ambiente. Ao grupo de orientandos da

Profª Maria Lúcia Martinelli: Kleber Navas, Sandra Vaz, Selma Assis, Liliana

Espinosa, Bruno Simões.

À Kátia e Vânia pela disponibilidade e atenção com que sempre me

atenderam e orientaram.

À CAPES e ao CNPq, que proporcionaram, através o apoio financeiro,

condições materiais para a realização do mestrado.

A Deus.

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RESUMO

Autora: Thalita Giovanna Büll

Esta dissertação busca evidenciar o processo de trabalho dos assistentes sociais do

setor de Serviço Social Escolar, compreendendo a trajetória histórica pela qual

esses profissionais chegaram à Secretaria Municipal da Educação e ali passaram a

construir uma experiência que vem conquistando reconhecimento e visibilidade. A

partir da realização de entrevista com a coordenadora do setor, que acompanhou

esse processo desde o início, buscamos reconstruir tal trajetória, identificando a

forma pela qual as determinações conjunturais nele repercutiram. Por meio da

aplicação de um questionário, buscamos traçar um perfil acerca das principais

características pessoais e profissionais dos assistentes sociais que compõem a

equipe. São apresentadas as atribuições dos assistentes sociais do setor, bem como

os principais projetos realizados durante os 13 anos em que essa experiência vem

sendo construída. Com base no referencial teórico sustentado por autores do campo

da tradição marxista e, particularmente, no âmbito específico do Serviço Social, bem

como na experiência profissional construída no setor de Serviço Social Escolar, esta

pesquisadora considera a educação um importante campo de disputas em torno da

hegemonia, onde os assistentes sociais podem e devem contribuir com a construção

de uma cultura própria da classe trabalhadora, que possibilite a ruptura com as

formas de dominação e exploração presentes na sociedade capitalista, no sentido

de construção de uma “educação para além do capital”. (MÉSZÁROS, 2005).

PALAVRAS-CHAVE:

Serviço Social - Educação - Processo de Trabalho - Processo Histórico.

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ABSTRACT

Autor: Thalita Giovanna Büll

This essay seeks to show the working process of social workers in the sector of

School Social Work, including the historical path by which these professionals

achieved the Municipal Department of Education and have started to build an

experience that has gained recognition and visibility. Based in an interview with the

coordinator of the department, which followed this process from the beginning, we

reconstruct this path by identifying the way in which the determinations have affected

it. Through the application of a questionnaire we draw a profile on the main personal

and professional characteristics of social workers in the team. We have presented

the tasks of social workers in this sector as well as the major projects conducted

during the 13 years in which this experience has been built. Based on the theoretical

framework supported by authors from the Marxist tradition field, particularly in the

specific context of Social Work, as well as professional experience in the industry

built School of Social Work, this researcher considers education an important field of

disputes on hegemony, where social workers can and should contribute to build a

working class culture, which allows a break with the forms of domination and

exploitation present in the capitalist society, to build an "education beyond the

capital". (MÉSZÁROS, 2005).

KEYWORDS:

Social Work - Education - Work Process - Historical Process.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ADE - Agente de Desenvolvimento Educacional

APEOESP - Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

APM - Associação de Pais e Mestres

CadDem – Cadastro de Demanda e Matrícula

CBAS - Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais

CEIEF - Centro de Educação Infantil e Ensino Fundamental

CEMEP - Centro Municipal de Estudos Pedagógicos

CEPROSOM - Centro de Promoção Social Municipal

CESET - Centro Superior de Educação Tecnológica

CF - Constituição Federal

CI - Centro Infantil

CMAS - Conselho Municipal de Assistência Social

CMDCA - Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente

CMDPD - Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência

CME - Conselho Municipal de Educação

CNAS - Conselho Nacional de Assistência Social

CNE – Conselho Nacional de Educação

COMEN – Conselho Municipal de Entorpecentes

CRESS - Conselho Regional de Serviço Social

ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente

EJA - Educação de Jovens e Adultos

EMEI - Escola Municipal de Educação Infantil

EMEIEF - Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental

EMES - Escola Municipal de Ensino Supletivo

FAAL - Faculdade de Administração e Artes de Limeira

FACINTER - Faculdade Internacional de Curitiba

FAMERP - Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto

HTPC – Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo

IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

INPG - Instituto Nacional de Pós-Graduação

ISCA - Instituto Superior de Ciências Aplicadas

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LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação

LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social

MDS - Movimento do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

MTST - Movimento dos Trabalhadores Sem Teto

PAC - Processo de Aprendizagem Contínua

PDRE - Plano Diretor de Reforma do Estado

PEC - Processo de Estudos Coletivos

PNAS - Política Nacional de Assistência Social

PGQE - Programa de Gestão da Qualidade na Educação

PQTE - Programa de Qualidade Total na Educação

PROJOVEM - Programa Nacional de Inclusão de Jovens

PUC - Pontifícia Universidade Católica

SME - Secretaria Municipal da Educação

SSE - Serviço Social Escolar

UCB – Universidade Castelo Branco

UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro

UFAL – Universidade Federal de Alagoas

UNAERP - Universidade de Ribeirão Preto

UNESP - Universidade Estadual de São Paulo

UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas

USP - Universidade de São Paulo

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LISTA DE FIGURAS, FOTOS, GRÁFICOS E TABELAS

Figura 01 - Logotipo do setor de Serviço Social Escolar.

Figura 02 - Localização da Região Administrativa de Campinas no Estado de São Paulo.

Figura 03 - Estado de São Paulo, com destaque para o município de Limeira.

Figura 04 - Tela inicial do Programa CadDem.

Figura 05 - Relatório gerado pelo programa CadDem.

Figura 06 - Organograma da Secretaria Municipal da Educação de Limeira.

Foto 01 - Escola em acampamento do MST.

Foto 02 - Equipe do SSE no 12º CBAS.

Foto 03 - Equipe do SSE na 19ª Conferência Mundial de Serviço Social.

Foto 04 - Apresentação de pôster na 19ª Conferência Mundial de Serviço Social.

Foto 05 - Apresentação de trabalho na 19ª Conferência Mundial de Serviço Social.

Foto 06 - Apresentação de trabalho no 13º CBAS.

Foto 07 - Visita da equipe do SSE ao Assentamento Elizabeth Teixeira.

Foto 08 - Cadastramento das crianças na demanda dos Centros Infantis.

Foto 09 - 1º Seminário Municipal para Erradicação do Trabalho Infantil em Limeira.

Foto 10 - Entrega do Selo Prata à coordenadora do setor de Serviço Social Escolar - 2003.

Foto 11 - Passeio ao Parque Aquático Wet´n Wild - 2008.

Foto 12 - Participantes do Projeto durante o lanche.

Foto 13 - Grupo Reflexivo.

Foto 14 - Solenidade de formatura - 2006.

Foto 15 - Participante do projeto durante formatura - 2006.

Foto 16 - Entrega de certificado à participante - 2007.

Foto 17 - Madrinha de 2008 entre as participantes do Projeto.

Foto 18 - Assistente social e participante do Projeto durante a formatura - 2008.

Foto 19 - Capacitação em primeiros socorros.

Foto 20 - Equipe do Projeto e monitores da saúde.

Foto 21 - Assistente social e médico do Projeto Promoção da Saúde nas Escolas durante capacitação

- Teste do Pezinho.

Foto 22 - Simulação de primeiros socorros - Formatura 2007.

Foto 23 - Entrega de certificado ao participante do Projeto - 2007.

Foto 24 - Educadores em dia de PAC.

Foto 25 - Atividade realizada pelo assistente social durante o PAC.

Foto 26 - Atividade pedagógica realizada com os educadores durante o PAC.

Foto 27 - Recepção do SSE - entrega dos formulários aos requerentes.

Foto 28 - Atendimento aos requerentes em espaços individuais.

Foto 29 - Atendimento aos requerentes pelos assistentes sociais.

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Gráfico 01 - Distribuição da população segundo grupos do IPVS, em comparação com Estado de SP.

Gráfico 02 - Solicitações de atendimento feitas ao Serviço Social Escolar.

Gráfico 03 - Distribuição das assistentes sociais por quantidade de escolas atendidas.

Gráfico 04 - Idade.

Gráfico 05 - Estado civil.

Gráfico 06 - Município de residência.

Gráfico 07 - Ano de conclusão da graduação.

Gráfico 08 - Cursos de Pós-Graduação.

Gráfico 09 - Experiência profissional antes do SSE.

Gráfico 10 - Áreas de experiência profissional.

Gráfico 11 - Há quanto tempo trabalham no SSE.

Gráfico 12 - Sindicalização.

Gráfico 13 - Participação em conselhos.

Gráfico 14 - Participação em instâncias de poder decisório.

Tabela 01 - Unidades Escolares atendidas pelo SSE.

Tabela 02 - Cursos de Pós-Graduação.

Tabela 03 - Participação em instâncias de poder decisório.

Tabela 04 - Aplicação dos recursos do convênio “Familiando”.

Tabela 05 - Aplicação dos recursos da contrapartida municipal.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 14

1 RECONSTRUINDO UMA TRAJETÓRIA.............................................................................. 24

1.1 Configuração do município de Limeira e o setor de Serviço Social Escolar......................... 36

2 POLÍTICA DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA: MARCOS LEGAIS............................................. 50

2.1 Cultura brasileira e Política de Educação............................................................................. 59

2.2 Serviço Social Escolar de Limeira: do cuidar ao educar....................................................... 72

2.3 A entrada dos assistentes sociais no âmbito do Ensino Fundamental................................. 85

2.4 Metodologia da Qualidade Total: uma estratégia de gestão................................................. 92

3 SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÃO: A EXPERIÊNCIA DE LIMEIRA.................................. 102

3.1 Perfil dos assistentes sociais do Serviço Social Escolar....................................................... 110

3.2 Processo de trabalho dos assistentes sociais na Secretaria Municipal da Educação.......... 125

3.2.1 Processo de revisão das atribuições dos AS do SSE....................................................... 128

3.2.2 Programa Bolsa Creche.................................................................................................... 137

3.2.3 Projeto Familiando............................................................................................................. 139

3.2.4 Promoção da Saúde nas Escolas Municipais.................................................................... 148

3.2.5 Projeto EducAção.............................................................................................................. 153

3.2.6 Processo de Bolsa de Estudos municipal......................................................................... 157

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................. 161

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................... 166

APÊNDICES.......................................................................................................................... 175

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INTRODUÇÃO

A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria. Paulo Freire

O objeto de estudo dessa dissertação é o setor de Serviço Social Escolar, da

Secretaria Municipal da Educação de Limeira - SP, no marco da relação entre o

Serviço Social e a Política Pública de Educação, buscando, a partir do ponto de vista

sócio-histórico, dar evidência ao relato de um processo de trabalho que há mais de

dez anos vem sendo construído coletivamente pelos assistentes sociais que

integram o setor.

Figura 01 - Logotipo do setor de Serviço Social Escolar

Fonte: Acervo do Serviço Social Escolar

Cabe aqui um esclarecimento inicial acerca da denominação utilizada pelo

setor, pois entende-se que o termo mais adequado seria “Serviço Social na área da

Educação”1.

Entretanto, após inúmeros debates e discussões, inclusive com o órgão

representativo da categoria - Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo -

CRESS/SP - optou-se pela utilização do termo “Serviço Social Escolar”, o qual

caracteriza este determinado setor no município, tornando-se um referencial para a

construção da identidade do mesmo.

1 Seguindo as recomendações da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), esclarecemos que em determinados momentos faremos uso de aspas para referir-nos a expressões de destaque da pesquisadora.

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O interesse pela escolha da área da Educação enquanto campo temático de

pesquisa decorre de minha experiência profissional como assistente social do

referido setor, do qual sou funcionária efetiva desde março de 2006.

Durante o período em que ali fui construindo meu exercício profissional,

construí também minhas primeiras interlocuções com o campo da Educação e da

escola enquanto instigantes espaços de trabalho para o assistente social.

Interlocuções essas estabelecidas a partir de diversos lugares por mim ocupados,

pois tive a possibilidade de trabalhar em várias Unidades Escolares.

Inicialmente atuava no Centro Infantil (CI) Prefeito Ary Levy Pereira, que

presta atendimento a crianças de 0 a 5 anos de idade e, simultaneamente, auxiliava

a coordenação do SSE conforme as possibilidades, substituía colegas durante

períodos de afastamento ou pedidos de exoneração, adquirindo assim, uma

considerável experiência em diversas realidades, passando também pela Escola

Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental (EMEIEF) Maria Aparecida

Machado Julianelli, Centro Infantil Murilo Lemos Mendes Pereira e Centro Infantil

Dinah Bertoline de Moraes.

Com o aumento do número de assistentes sociais que compõem o quadro do

Serviço Social Escolar e a quantidade de escolas atendidas, emerge a necessidade

de se repensar a estrutura da coordenação do setor, ampliando a supervisão ao

trabalho técnico desenvolvido nas Unidades Escolares, ao mesmo tempo em que o

trabalho gerencial e administrativo realizado pela coordenadora se expandia.

Foram criadas então mais duas funções na sede do SSE, conforme as

particularidades das áreas de atuação: Centros Infantis (CIs) e Escolas Municipais

de Educação Infantil e Ensino Fundamental (EMEIEFs), com o objetivo de

assessorar a coordenadora geral, Paula Bortolan Bocaiúva Forster.

A partir daí, fui convidada a realizar meu trabalho diariamente na sede do

SSE, assessorando a coordenação em assuntos pertinentes ao Serviço Social na

Educação Infantil, sendo a outra função destinada à outra colega com experiência

na área, Carla Regina de Souza Penteado, a qual posteriormente retornou à escola

de origem, possibilitando que outra assistente social, Andréa Cristina Zoca,

ocupasse este espaço junto ao setor.

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O exercício da referida função me possibilitou uma rica e ampla experiência

na área, pois o trabalho desenvolvido exige contatos muito próximos aos diversos

setores da Secretaria Municipal da Educação e a todas as Unidades Escolares,

principalmente aquelas responsáveis pela Educação Infantil, e um acompanhamento

direto do trabalho dos assistentes sociais que atuam nestes espaços.

A partir do desenvolvimento das atividades na área educacional, comecei a

trilhar o caminho pelo qual seguiria até alcançar o mestrado - objetivo profissional e

pessoal desde o período da graduação, mas o primeiro passo foi, sem dúvidas, o

mais difícil: estabelecer um tema e desenvolver um projeto de pesquisa.

Com o passar do tempo, após efetivamente identificar-me com este campo de

atuação e aí vislumbrar inúmeras possibilidades, é que fui me aproximando do

mesmo não somente enquanto espaço de exercício profissional, mas também como

um campo privilegiado para a construção do conhecimento e para o enfrentamento

das desigualdades sociais presentes na sociedade brasileira.

Consideramos que a experiência do Serviço Social Escolar do município de

Limeira tem condições de ser tomada como temática e objeto de dissertação

acadêmica, uma vez que a mesma tem diferenciais muito importantes, sob o ponto

de vista do conjunto das experiências que se desenvolvem no Brasil.

O setor sempre buscou consolidar-se como referência na área, por entender

que desenvolve um trabalho pioneiro2 e que, mesmo com os obstáculos com que

frequentemente se depara, tem alcançado conquistas importantes.

Aspectos quantitativos têm chamado atenção, como no que diz respeito à

quantidade de assistentes sociais integrantes do quadro de funcionários da

Secretaria da Educação - 28 assistentes sociais - e a quantidade de escolas

atendidas - 17 Centros Infantis, 6 CEIEFs, 9 EMEIEFs, 2 EMEIs e 15 escolas

particulares conveniadas ao Programa Bolsa Creche.

2 Falar em pioneirismo não significa defender que o município de Limeira foi o primeiro a contar com Assistentes Sociais na área da Educação, visto que em diversas localidades estes profissionais já atuam há certo tempo junto à Educação Infantil. Em sua tese de doutorado, a pesquisadora Eliana Bolorino Canteiro Martins identificou 37 municípios no estado de São Paulo que possuem assistentes sociais atuando na área da Educação, a saber: Altair, Assis, Barão de Antonina, Batatais, Borebi, Botucatu, Corumbataí, Cosmópolis, Dracena, Embu, Franca, Graça, Hortolândia, Ipiguá, Itatiba, Itu, Jacareí, Laranjal Paulista, Leme, Limeira, Lorena, Matão, Mauá, Osasco, Paraibuna, Presidente Prudente, Ribeira, Salto, Santa Bárbara do Oeste, Santa Rita do Passa Quatro, Santo André, São Bernardo do campo, São Carlos, São José dos Campos, Serrana, Tupã, Vargem Grande Paulista. O pioneirismo de que falamos está relacionado ao avanço na conquista dos espaços e à natureza do trabalho realizado, considerando principalmente que a partir de 2000 o setor SSE passa a atender diretamente Escolas de Ensino Fundamental.

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Entretanto, os aspectos qualitativos também têm obtido destaque,

principalmente ao considerarmos as particularidades do trabalho realizado. Limeira

possui um expressivo número de assistentes sociais atuando diretamente junto à

Educação Infantil e Ensino Fundamental, sendo este um importante diferencial, já

que estes profissionais estão diariamente nas UEs, apesar das dificuldades em

decorrência da quantidade de escolas atendidas.

Este fato está intimamente relacionado a outro, ou seja, contribui para o

estreitamento dos vínculos com os alunos, suas famílias, a comunidade e demais

funcionários da escola, possibilitando o desenvolvimento de práticas educativas,

assim caracterizadas por Abreu e Cardoso:

A função pedagógica desempenhada pelo assistente social inscreve a prática profissional no campo das atividades educativas formadoras da cultura, ou seja, atividades formadoras de um modo de pensar, sentir e agir, também entendido como sociabilidade. A formação da cultura, no pensamento gramsciano adequa-se às necessidades do padrão produtivo e do trabalho, sob a hegemonia de uma classe. (ABREU e CARDOSO, 2009:594)

Consideramos ser este o principal diferencial do setor de Serviço Social de

Limeira, uma vez que este trabalho está efetivamente inserido em um referencial

ampliado de educação, seus objetivos encontram-se para além da concessão de

benefícios assistenciais, embora diversas vezes o assistente social depare-se com

situações específicas que demandem por atendimento no âmbito assistencial.

Entretanto, o enfoque prioritário está no sentido educativo.

A palavra ‘educativo’ denota o sentido de socialização de informações, conhecimentos com a finalidade de propiciar um processo reflexivo que envolve uma percepção mais objetiva da sua própria vida e das condições sócio-históricas que a determinam, considerando os indivíduos como sujeitos de direito, protagonistas da sua própria história, cidadãos. (MARTINS, 2007:169)

Outro aspecto a chamar atenção diz respeito ao fato de que a equipe de

assistentes sociais está diretamente ligada à Secretaria Municipal da Educação, ou

seja, todos os profissionais são efetivos da Secretaria Municipal da Educação,

contratados por meio de concurso público específico, o que contribui para o

fortalecimento da identidade desta equipe, enquanto assistentes sociais que atuam

diretamente na Política Municipal de Educação.

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Sendo assim, o setor de Serviço Social Escolar do município de Limeira vem

sendo considerado referência nacional, principalmente quando esta experiência é

apresentada durante os principais eventos da categoria, e aqui destacamos:

� XII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), realizado em

outubro de 2007 na cidade de Foz do Iguaçu - PR;

� 19ª Conferência Mundial de Serviço Social, realizada em agosto de

2008 na cidade de Salvador - BA;

� XIII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, realizado em agosto

de 2010 na cidade de Brasília - DF.

Tais participações foram muito importantes, uma vez que significaram a

possibilidade de dar visibilidade ao trabalho realizado pela equipe do SSE,

ampliando a produção de conhecimentos acerca desta temática, além de favorecer a

interlocução com importantes sujeitos, possibilitar a troca de experiências e o

fortalecimento ético-político da categoria.

Foto 02 - Equipe do SSE no 12º CBAS

Fonte: Arquivo da pesquisadora - 2007

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Foto 03 - Equipe do SSE na

19ª Conferência Mundial de Serviço Social

Fonte: Arquivo da pesquisadora - 2008

Foto 04 - Apresentação de pôster na

19ª Conferência Mundial de Serviço Social

Fonte: Arquivo da pesquisadora - 2008

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Foto 05 - Apresentação de trabalho na

19ª Conferência Mundial de Serviço Social

Fonte: Arquivo da pesquisadora - 2008

Merece destaque a participação de quatro assistentes sociais do setor no XIII

CBAS, subsidiadas pela Secretaria Municipal da Educação, onde mais uma vez o

Serviço Social Escolar foi apresentado em uma das sessões temáticas.

Nesse evento, as assistentes sociais encaminharam uma moção de apoio ao

Projeto de Lei3 que institui a obrigatoriedade de contratação de assistentes sociais e

psicólogos em todas as escolas públicas do país e participaram do ato público em

defesa da aprovação do Projeto de Lei4 que institui a carga horária máxima de 30

horas semanais para os assistentes sociais.

3 PLC 60/2007. 4 PLC 152/2008.

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Foto 06 - Apresentação de trabalho no 13º CBAS

Fonte: Arquivo da pesquisadora - 2010

Assim, a vivência na área da Educação me aproximou também à ideia de que

não somente os professores, mas, no limite, todos os profissionais das escolas,

podem ser considerados educadores, pois são referência no processo educativo que

se dá na vida dos sujeitos participantes de modo muito mais amplo do que a relação

pedagógica de ensino-aprendizagem em seu sentido restrito.

Assumimos, desta forma, a Educação como uma forma de enfrentamento das

expressões da questão social; enfrentamento, este, que deve ser entendido não

apenas como aquisição de conhecimentos para inserção no mercado produtivo, na

ótica da empregabilidade, mas sim, como um mecanismo de ruptura com a lógica de

produção e reprodução da sociedade capitalista, no sentido de construção de

sociabilidades “para além do capital” (MÉSZÁROS,2005).

É importante ressaltar que, para qualquer tipo de compreensão acerca da

área da Educação, esta não pode ser deslocada da centralidade que ocupa

enquanto “instância da vida social”, ocupando uma arena de disputas fortemente

polarizadas por diferentes projetos em disputa. (ALMEIDA, 2007:1).

Entendemos, então, que o trabalho do assistente social na área da Educação

deve pautar-se pelo seu conceito ampliado, ultrapassando sua dimensão

escolarizada, porém sem desconsiderá-la.

A educação que se quer emancipadora não se restringe à educação escolarizada, organizada sob a forma de política pública, mas não se constrói a despeito dela, visto que sob as condições de vida da sociedade capitalista é ela que encerra a dimensão pública que mediatiza, de forma institucional e

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contraditória, o direito ao acesso aos bens e equipamentos culturais de nosso tempo. Por essa razão, a educação escolarizada, ao passo que se constitui em expressão da dominação e controle do capital, é, ao mesmo tempo, objeto das lutas das classes subalternas pela sua emancipação política. (ALMEIDA, 2007:4)

Deste modo, considerando tal referencial de Educação e partindo do

pressuposto de que o assistente social pode - e deve - oferecer sua contribuição

com todo o processo educativo que se expressa no ambiente escolar no sentido de

construção de sociabilidades que superem as formas de exploração e dominação

exercidas pelo capital é que construímos a presente dissertação, que se encontra

organizada em três capítulos.

No primeiro, buscamos situar o leitor quanto ao tema e os procedimentos

metodológicos que orientaram a realização dessa dissertação, apresentando

também uma caracterização do município de Limeira, o que permite uma leitura mais

apurada acerca do cenário da realização da pesquisa.

No segundo capítulo, apresentamos as características que particularizam o

processo de desenvolvimento sócio-histórico do Brasil e seus rebatimentos na atual

configuração da Política Pública de Educação.

Atentamo-nos ao fato de que as transformações que ocorreram no cenário

brasileiro, principalmente a partir dos anos 1980, em especial no campo da

legislação, têm, por um lado, sucumbido a um projeto societário cujos objetivos

estão centrados no ajuste da educação escolarizada às necessidades sociais,

técnicas e político-ideológicas da atual fase de expansão do capitalismo.

Contraditoriamente, essa mesma legislação tem criado condições favoráveis

à entrada dos assistentes sociais no campo da Educação, e na escola

particularmente, qualificando-os enquanto profissionais capazes de contribuir com o

processo educativo realizado. Assim, evidenciamos as formas pelas quais tais

transformações repercutiram na entrada dos assistentes sociais na Secretaria

Municipal da Educação de Limeira.

Já no terceiro capítulo, adentramos no universo do processo de trabalho dos

assistentes sociais do setor de Serviço Social Escolar de Limeira, enfatizando quem

são esses profissionais e caracterizando o trabalho que realizam.

As considerações finais indicam que ainda há um longo caminho a percorrer

quando nos referimos à presença dos assistentes sociais no âmbito da Educação,

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especialmente em sua dimensão escolarizada, mas que apesar de todas as

adversidades, o Serviço Social tem buscado cotidianamente fortalecer sua luta em

tais espaços pela construção de uma outra Educação, no marco de outra

sociabilidade, “para além do capital” (MÉSZÁROS, 2005).

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1 - RECONSTRUINDO UMA TRAJETÓRIA

Partindo do objetivo inicialmente proposto para a realização desta

dissertação, buscaremos, a partir do ponto de vista sócio-histórico, dar evidência ao

relato de um processo de trabalho que há mais de dez anos vem sendo construído

coletivamente pelos assistentes sociais que atuam no setor de Serviço Social

Escolar da Secretaria Municipal da Educação de Limeira - SP.

A opção metodológica desta dissertação tem por objeto de estudo as relações em

que se insere o setor de SSE, uma vez que este tem obtido importante reconhecimento e

visibilidade nesta área, em virtude do trabalho que vem sendo realizado.

A atuação dos assistentes sociais em instituições educacionais no município

iniciou-se com a implantação das primeiras creches, na década de 60, trabalho este

vinculado ao órgão gestor da Política de Assistência Social, o Centro de Promoção

Social Municipal - CEPROSOM5.

Com o avanço na atuação destes assistentes sociais, foi possível realizar

estudos mais aprofundados sobre o comportamento infantil, caracterizando um

modelo diferenciado de creche com relação aos cuidados da criança em todas as

dimensões: biológica, cognitiva, emocional e social.

A partir desta nova perspectiva, em 1994, aboliu-se a nomenclatura Creche,

considerando que o termo não contemplava a Educação Infantil, passando então

para a denominação de Centro Infantil - C.I.

Outro diferencial na atuação do assistente social foi a criação de condições que

oportunizassem encontro entre a comunidade e a escola, estreitando laços e

contribuindo para a participação da família nos assuntos educacionais de suas crianças.

Em função da promulgação da Lei nº 9.394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da

Educação (LDB) em 1997, os Centros Infantis, em cumprimento ao artigo 89,

passam à competência da Secretaria Municipal da Educação e, com eles, a equipe

de assistentes sociais, caracterizando-se desta forma, a inserção dos assistentes

sociais na Política Municipal de Educação. 5 Vale ressaltar que, somente em 1988, a Assistência Social fora concebida enquanto Política Pública. Desta forma, o trabalho até então desenvolvido era permeado por ações caritativas e assistencialistas, sendo as creches um serviço prestado às famílias carentes, desprovidas de local ou pessoa adequada que promovesse o cuidado de suas crianças durante o horário de trabalho.

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Artigo 89 - As creches e pré-escolas existentes ou que venham a ser criadas deverão, no prazo de até três anos, a contar da publicação desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema de ensino. (BRASIL, 1998)

Com a transição da Assistência Social para a Educação, o atendimento

prestado às crianças assume uma dimensão educativa e não somente assistencial,

atribuindo-se um caráter pedagógico a este atendimento.

A partir de 1999, inicia-se ainda de forma frágil a atuação de assistentes

sociais em Escolas de Educação Infantil (4 a 6 anos) e Ensino Fundamental (1ª a 4ª

séries). As mesmas profissionais que atuavam nos Centros Infantis passaram a

realizar atendimentos semanais nas escolas, intervindo em problemáticas sociais

emergenciais que interferiam no processo de ensino-aprendizagem dos alunos.

Em 2000, diante de uma proposta diferenciada partindo de uma Escola

Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental - a EMEIEF “Aracy Nogueira

Guimarães”, situada em uma das regiões com maior índice de vulnerabilidade social

do município6, surge a iniciativa de uma assistente social em direcionar sua prática

profissional diretamente nesta Unidade Escolar, demarcando o início do trabalho dos

assistentes sociais nas Escolas de Ensino Fundamental.

Com o desenvolvimento das ações nesta unidade, outras escolas passaram a

solicitar o atendimento do Serviço Social, contribuindo para a realização de três

Concursos Públicos, nos anos de 2000, 2004 e 2010, exclusivamente para as

Secretarias da Educação e Saúde, proporcionando a ampliação do atendimento nas

Unidades Escolares e o fortalecimento deste espaço sócio-ocupacional.

O quadro técnico de profissionais do setor de SSE é composto por 28

assistentes sociais, as quais estão inseridas diariamente em 18 Centros Infantis

(atendimento à creche e educação infantil - de 0 a 5 anos de idade), 10 EMEIEFs

(atendimento à educação infantil e ensino fundamental - de 4 a 10 anos de idade) e

3 Centros de Educação Infantil e Ensino Fundamental - CEIEFs (atendimento à

creche, educação infantil e ensino fundamental - de 0 a 10 anos de idade), 2 EMEIs

6 Segundo o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social - Fundação SEADE. Trata-se de um sistema de indicadores que oferece informações detalhadas acerca das condições de vida dos munícipes e possibilita a identificação e localização geográfica das áreas que concentram um maior ou menor contingente populacional em situação de vulnerabilidade social, sendo esta classificada desde a ausência de vulnerabilidade até o nível de vulnerabilidade muito alta. As informações utilizadas são provenientes do Censo Demográfico 2000, não havendo atualizações posteriores disponíveis para consulta.

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(atendimento à educação infantil – de 4 a 6 anos de idade) e 15 escolas de

educação infantil vinculadas ao Programa Bolsa Creche.

A sede do setor localiza-se próximo à região central da cidade, no prédio do

Centro de Formação do Professor, e conta com duas assistentes sociais, sendo uma

coordenadora geral do setor e a outra responsável pelo Programa Bolsa Creche.

Considerando nossa experiência profissional, construída no âmbito do setor

de Serviço Social Escolar, afirmamos que a escolha por uma temática não é neutra,

tão pouco eventual, ela é marcada por significados, por intencionalidades, por

vontades e até mesmo por necessidades, contendo assim uma dimensão

teleológica.

Mas entendemos também que esta escolha não é feita somente pelo sujeito

que escreve, na medida em que o tema também nos escolhe, nos convoca à

reflexão, constituindo o que Martinelli (2005:65) chamou de dialética da escolha,

questionando “...se efetivamente nós escolhemos nossas temáticas de trabalho ou

se, no limite, elas também nos escolhem”.

Minayo (2008) referenda esta ideia, na medida em que situa a existência de

uma identidade que aproxima pesquisador e pesquisado.

É preciso ressaltar que nas Ciências Sociais existe uma identidade entre sujeito e objeto. A pesquisa nessa área lida com seres humanos que, por razões culturais de classe, de faixa etária, ou por qualquer outro motivo, têm um substrato comum de identidade com o investigador, tornando-os solidariamente imbricados e comprometidos. (MINAYO, 2008:13)

Assim, a recusa à neutralidade científica passa a ser um dos pontos de partida

deste projeto, entendendo a necessidade de darmos vida ao trabalho, uma vez que

nele expressamos também nosso posicionamento político em defesa dos interesses

da classe trabalhadora e que se expressa no Projeto Ético-Político Profissional7 cujos

debates fundamentais à sua construção foram iniciados nos anos 70/80.

Segundo Martinelli (1994ª:16) “Não podemos pensar que para mantermos a

objetividade, devamos ocultar a emoção. Não existe vida sem emoção. O sujeito não

7 Segundo Netto, (1999:95) “Os projetos profissionais apresentam a autoimagem de uma profissão, elegem os valores que a legitima socialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, práticos e institucionais) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as bases das suas relações com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais privadas e públicas (inclusive o Estado, a quem cabe o reconhecimento jurídico dos estatutos profissionais)”.

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pode ser oculto, nem o pesquisador, nem o pesquisado, ambos são saturados de

história, são plenos de possibilidades!”

Deste modo, a opção metodológica pelo objeto de estudo deu-se a partir da

relação que estabelecemos com o mesmo durante o período em que construímos

nossa experiência profissional no setor de Serviço Social Escolar de Limeira, relação

esta marcada por muitas dúvidas, incertezas e inquietações, mas também pela

convicção quanto à importância desta área de atuação do assistente social,

frequentemente questionada por alguns grupos e apoiada por outros.

Sendo constantemente convocada à reflexão sobre a Educação,

particularmente em sua dimensão de política pública, enquanto palco de lutas pela

conquista da hegemonia de diferentes projetos societários e o significado do

exercício profissional do assistente social inserido neste cenário é que consideramos

nossa relação com o objeto de estudo construída a partir da “dialética da escolha”

(MARTINELLI, 2005).

Durante esse período de atuação no SSE, fomos constantemente

interpeladas pelas questões que se colocaram diante de nós, exigindo permanentes

reflexões e leituras críticas que ultrapassassem o olhar estritamente técnico, e

avançassem na perspectiva do “olhar político” (SARLO, 2005).

Um olhar que “não é regido pela perspectiva do senso comum estético

coletivo”, mas que “aguça a percepção das diferenças como qualidades alternativas

frente às linhas respaldadas pela tradição estética ou pela inércia (ligada ao sucesso

e à facilidade) do mercado” (SARLO, 2005:60-61).

Um “olhar político” que não suprime o “olhar teórico” ou o “olhar histórico”, ao

contrário, que se alimenta de ambos, uma vez que estes podem fornecer materiais e

perspectivas para o primeiro, convivendo, segundo Sarlo (2005:59), num mesmo

indivíduo.

Foi, então, a partir deste olhar de ruptura, que nos possibilita aguçar a

sensibilidade e perceber as diferenças, que visualizamos a riqueza da experiência

construída pelos assistentes sociais do setor de Serviço Social Escolar e a

possibilidade de trazer este trabalho para o centro da discussão de nossa dissertação.

Assim como a escolha por uma temática não é neutra ou eventual, mas

determinada social e historicamente pela relação construída entre a mesma e o

pesquisador, compreendemos que a utilização de um método - e consequentemente

de técnicas e instrumentos de pesquisa -, também não é feita de maneira aleatória,

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a partir de uma escolha meramente individual, mas representa uma opção teórica

que, por sua vez, também é determinada por uma orientação ético-política.

Trata-se de uma postura teórico-metodológica stricto sensu: o método não é um componente alienável da teoria. Ele não se forja, também, independentemente do objeto que se pesquisa – é uma relação necessária pela qual o sujeito que investiga pode reproduzir intelectualmente o processo do objeto investigado, para apanhar o movimento constitutivo do ser social – e a reprodução intelectual deste configura a base da teoria mesma. (NETTO, 2010:75 - grifos do autor).

Desta forma, partindo de uma abordagem sustentada pela teoria social

crítica8, apoiada em autores do campo da tradição marxista e dos próprios textos

marxianos, inclusive partilhamos de uma concepção de profissão a partir de sua

inscrição na divisão social e técnica do trabalho, uma especialização do trabalho

coletivo situada no processo de reprodução das relações sociais, cujo processo de

trabalho tem como matéria-prima a questão social9 em suas inúmeras expressões.

A partir de uma perspectiva dialética que é passível de ser entendida e

desvendada somente no movimento da própria história e situando-a sob determinada

formação social onde se insere. Estabelecermos então, como matriz de reflexão e

análise sobre o significado social da profissão, sua inserção nos processos de

produção e reprodução das relações sociais, processos estes que ultrapassam a mera

reprodução da força viva de trabalho e dos meios de produção. Trata-se da...

...reprodução das forças produtivas e das relações de produção na sua globalidade, envolvendo, também, a reprodução da produção espiritual, isto é, das formas de consciência social: jurídicas, religiosas, artísticas ou filosóficas, através das quais se toma consciência das mudanças ocorridas nas condições materiais de produção. (...) é a reprodução da totalidade do processo social, a reprodução de determinado modo de vida. (Iamamoto e Carvalho, 2008:72, grifos dos autores)

Em outras palavras, o Serviço Social está inserido no cotidiano da vida em

sociedade, nas relações que se estabelecem entre as classes sociais e suas

contradições, envolvendo, além das formas objetivas de vida e trabalho, as

8 Por teoria social crítica entendemos o conjunto de autores que compõem o campo da tradição marxista, cujas obras tiveram por inspiração os textos escritos por Marx. 9 Entendemos por questão social “o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade.” (Iamamoto, 2008b:27)

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ideologias que sustentam tal modo de vida e de organização desta sociedade.

É a organização desta mesma sociedade que, sob determinada formação

sócio-histórica, determina também a atividade profissional do assistente social. A

relação contraditória que se estabelece a partir dos interesses das classes

fundamentais é que oferece a base de sustentação sob a qual se ergue a profissão

enquanto partícipe das formas de organização societária.

Para a realização deste estudo optamos, a priori, pelo uso de procedimentos

de pesquisa que acreditamos mais apreender a realidade que buscamos investigar.

Entretanto, para definição da metodologia a ser utilizada nesta pesquisa, é

preciso considerar a dinâmica, os movimentos e as particularidades que constituem

a realidade social e particularmente, o setor de Serviço Social Escolar.

Minayo (2008) afirma que o objeto das Ciências Sociais é eminentemente

qualitativo, visto a riqueza de significados que dele transborda, enfatizando, contudo,

que os códigos das ciências são incapazes de expressar a totalidade da vida social,

uma vez que a realidade é muito mais rica do que qualquer teoria, pensamento ou

discurso possa elaborar sobre ela.

As Ciências Sociais, no entanto, possuem instrumentos e teorias capazes de fazer uma aproximação da suntuosidade da existência dos seres humanos em sociedade, ainda que de forma incompleta, imperfeita e insatisfatória. Para isso, elas abordam o conjunto de expressões humanas constantes nas estruturas, nos processos, nas representações sociais, nas expressões da subjetividade, nos símbolos e significados da realidade social. (MINAYO, 2008:14)

Reconhecendo as limitações a que estão submetidas todas as pesquisas e,

longe de tentar esgotar as possibilidades de reflexão sobre o tema, elegemos,

intencionalmente, o sujeito com o qual construímos nosso diálogo. Essa composição

intencional nos permitiu a escolha, dentre o universo a ser pesquisado, daquele

sujeito capaz de explicitar, de uma forma geral, os significados atribuídos pelo grupo

ao nosso objeto de estudo.

Partindo do primeiro objetivo proposto - reconhecer no processo de formação

social e histórica do setor de Serviço Social Escolar de Limeira construções e

atribuições de identidades - entendemos ser a técnica da entrevista aquela que mais

oferece elementos para tal reconstrução, a partir da escolha intencional do sujeito a

ser ouvido - a atual coordenadora do setor, que compunha a equipe desde o início.

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Para esta etapa da pesquisa, o resgate de documentos históricos foi

fundamental, entretanto, destacamos a valiosa contribuição da coordenadora do

setor de Serviço Social Escolar, Paula Bortolan Bocaiúva Forster10, que vivenciou

boa parte do período em que as creches ainda eram de competência da Assistência

Social, bem como o período de transição destas para a Secretaria da Educação, em

1997, e ainda guarda, em sua memória, lembranças de todo este processo, o que

acabou por contribuir, sem dúvidas, para a construção de sua identidade profissional e,

numa relação dialética, esta também contribuiu com a construção da identidade do SSE.

Paula é assistente social, graduada pelo Instituto Superior de Ciências

Aplicadas - ISCA Faculdades e especialista em Gestão de Recursos Humanos pelo

Instituto Nacional de Pós-Graduação - INPG/ISCA Faculdades. É coordenadora do

setor de Serviço Social Escolar desde 1999, foi coordenadora do curso de Serviço

Social do ISCA Faculdades, onde atualmente exerce a função docente.

A escolha deste sujeito foi fundamental, uma vez que a pesquisa qualitativa

não requer a participação de um grande número de sujeitos, mas sim, a densidade

de suas experiências. Assim, foi possível optar por um recurso metodológico

baseado na concepção de sujeito coletivo, onde aquela pessoa escolhida possui

uma referência no grupo ao qual pertence, sendo capaz de expressar a opinião e as

vivências deste grupo.

Martinelli (1994a:15) aponta que, neste caso, o importante “não é o número

de pessoas que vai prestar a informação, mas o significado que esses sujeitos têm,

em função do que estamos buscando como pesquisa”.

As fontes orais oferecem o suporte metodológico para o registro das narrativas

dos sujeitos, através das quais foi possível reconstruir o processo de formação do

SSE, processo este reconhecido como algo em permanente movimento.

A entrevista com a coordenadora do setor foi agendada conforme a

disponibilidade da mesma, sendo realizada em sua própria sala, no setor de Serviço

Social Escolar. Sua receptividade e prontidão em participar da entrevista revelou-nos

que a escuta dos sujeitos da pesquisa acaba, de certa forma, contribuindo para a

valorização destes profissionais, uma vez que seus relatos passam a ser “objeto de

desejo” do pesquisador.

Para a coleta do depoimento, construímos um roteiro semiestruturado que

10 Ressaltamos aqui a explícita e tácita concordância da entrevistada em manter sua identificação pessoal nesta dissertação, conforme Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice 03).

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nos orientasse na condução da entrevista, composto pelas seguintes questões:

1 - Como se deu o processo de adequação do município à LDB?

2 - Como se deu o processo histórico de formação do setor de SSE?

3 - Como os Assistentes Sociais passaram a desenvolver seu trabalho nas

EMEIEFs?

4 - Quais as facilidades e dificuldades deste processo?

5 - Como desenvolve seu trabalho enquanto coordenadora do setor?

6 - Como o setor está organizado administrativamente?

7 - Como estão organizados os processos de trabalho do setor?

8 - Como você avalia o processo de trabalho dos Assistentes Sociais na UEs?

9 - De que forma se justifica legalmente a presença e o pagamento de

assistentes sociais na Secretaria da Educação em Limeira?

Apesar do roteiro, a entrevista foi realizada de maneira bastante descontraída,

quase informal, pois nossa proximidade com a entrevistada nos permitiu sua

condução desta forma. As questões foram apresentadas, não conforme a ordem

numérica do roteiro, mas seguindo o relato, em articulação com a narrativa da

entrevistada.

Foram aproximadamente duas horas de um “turbilhão de lembranças”,

marcado por muitas emoções, uma vez que quando o sujeito narra sua história, está

também vivenciando-a novamente, ao mesmo tempo em que a reconstrói.

Martinelli (1994a) aponta para a necessidade de entendermos os fatos a partir

da interpretação do sujeito em sua vivência cotidiana, não desconectando-o de sua

própria estrutura. Por isso a importância de conhecer os sujeitos da pesquisa a partir

de suas vivências diárias, do espaço onde cotidianamente desenvolvem seu

trabalho e constroem sua identidade enquanto assistentes sociais. A autora aponta

como pressuposto o reconhecimento da singularidade do sujeito, reconhecendo que:

Cada pesquisa é única, pois se o sujeito é singular, conhecê-lo significa ouvi-lo, escutá-lo, permitir-lhe que se revele. E onde o sujeito se revela? No discurso e na ação. Assim, se a pesquisa pretende ser qualitativa e pretende conhecer o sujeito, precisa ir exatamente ao sujeito, ao contexto em que vive sua vida. (MARTINELLI, 1994a:14)

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Considerando o fato de estarmos em regime de dedicação exclusiva à

pesquisa, em virtude do recebimento de Bolsa de Estudos pelo Conselho Nacional

de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), consideramos de valiosa

contribuição a participação nas reuniões técnicas do setor, na qualidade de ouvintes,

de modo a não rompermos os vínculos já estabelecidos durante os últimos três anos

em que trabalhamos neste setor.

As referidas reuniões acontecem semanalmente, às sextas-feiras, e contam

com a participação de toda equipe técnica do setor - assistentes sociais e

estagiários. Têm como objetivo, além da integração, socialização de informações e

deliberações relativas ao setor, principalmente o fortalecimento do trabalho realizado

diretamente nas unidades escolares. Desta forma, este espaço expressa claramente

o posicionamento dos participantes diante de seu cotidiano de trabalho sendo,

portanto, um importante locus de reflexão sobre seu processo de trabalho.

Assim, sempre que possível, participamos das reuniões técnicas do Serviço

Social Escolar, bem como permanecemos incluídas na lista de e-mails do setor,

recebendo todos os documentos e informes relativos ao mesmo, buscando sempre

manter a proximidade com a equipe.

Deste modo, se fez importante identificar quem são os assistentes sociais que

compõem a equipe do Serviço Social Escolar, construindo um perfil destes

profissionais que nos auxiliasse na compreensão e reflexão crítica sobre o setor e o

trabalho que realizam.

Para tanto, utilizamos o questionário (Apêndice 02), composto por perguntas

que, ao serem respondidas, nos trouxeram elementos fundamentais para a

caracterização desta equipe.

Para a construção deste perfil optamos pela utilização de um questionário,

composto por dezessete questões, sendo que algumas ofereciam alternativas

fechadas e outras, por conta da natureza da questão, ofereciam espaço para que o

entrevistado pudesse expor sua resposta de maneira aberta.

A aplicação do questionário foi realizada no dia dezoito de junho de 2010, na

sede do setor de SSE, durante a realização de uma reunião técnica da equipe, onde

estavam presentes e participaram desta etapa da pesquisa 23 das 28 assistentes

sociais, incluindo a coordenadora do setor.

Inicialmente realizamos o contato com a coordenação do SSE, solicitando

autorização para aplicação deste questionário, sensibilizando-a quanto à importância

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desta etapa da pesquisa, sendo prontamente autorizada.

Na referida data, estivemos presente durante todo o decorrer da reunião,

participando inclusive das atividades direcionadas à equipe. Importante ressaltar que

nossa presença despertou em todos um sentimento positivo, de acolhida e

expectativa de nosso retorno, uma vez que nos encontramos em condição de

afastamento para dedicação exclusiva às atividades acadêmicas do mestrado.

Iniciamos com uma apresentação geral acerca de nosso ingresso no

Programa de Estudos Pós-Graduados da Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo - PUC-SP, abordando inclusive o processo de seleção para ingresso no

Programa, sua organização e os créditos necessários à integralização do curso.

Expusemos também sobre o processo de construção de nossa dissertação,

deixando claro a justificativa pela escolha do tema, bem como os objetivos e

metodologia para realização da mesma.

Todo o processo inicial de apresentação teve como objetivo inserir os sujeitos

no universo da pesquisadora, deixando claros os motivos pelos quais estávamos ali

e necessitávamos da participação de todos. Esta fase foi fundamental, pois a equipe

foi sensibilizada e orientada sobre todo o processo da pesquisa e não somente

convidada a responder um questionário.

Assim, após o esclarecimento das dúvidas que emergiram durante a

apresentação, entregamos os questionários e solicitamos a gentileza de que todos

respondessem com muita atenção, ficando claro também, que não haveria

necessidade de identificar-se. Porém, muitas das assistentes sociais, ao final do

questionário nos deixaram mensagens de estímulo e felicitação, o que consideramos

um resultado positivo desta fase.

Observamos também que houve uma boa aceitação da equipe em participar

da pesquisa, pois todas demonstravam estar ansiosas em contribuir.

Outro aspecto positivo que consideramos importante destacar refere-se ao

fato de que a pesquisa proporciona um momento ímpar de reflexão do profissional

sobre ele mesmo e sobre seu trabalho. Ao final da aplicação do questionário muitas

das entrevistadas relataram a importância deste momento para que as mesmas

pudessem se autoavaliar, com relação ao tempo de graduação e à continuidade nos

estudos (ou não), sua inserção em instâncias importantes no interior das Unidades

Escolares, como os Conselhos de Escola e Associação de Pais e Mestres - APM.

Diante disso, retomamos aquilo que consideramos ser o horizonte deste

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trabalho, para além da construção de uma produção científica. A finalidade última

desta produção é retornar ao seu início, ao exercício profissional cotidiano dos

assistentes sociais, trazendo-os para o centro da reflexão.

Vale ressaltar que a opção pelo uso de metodologias qualitativas não

descarta a possibilidade de recorrermos, quando necessário, a dados quantitativos

que de alguma forma possam agregar sentido à pesquisa.

Martinelli (1994a:15) aponta que “Como as metodologias qualitativas não são

herméticas, não são excludentes, selecioná-las como recurso instrumental de

trabalho abre-nos um campo fecundo de possibilidades”, isto é, optar pela pesquisa

qualitativa não significa descartar o uso complementar de abordagens e técnicas

quantitativas, assim como fizemos, ao apontar para a necessidade de utilização do

questionário para a construção do perfil dos assistentes sociais do Serviço Social

Escolar e ao destacar dados quantitativos que revelam importantes informações

sobre o setor.

Não podemos deixar de registrar a importância da pesquisa bibliográfica, uma

vez que ela é sempre realizada para fundamentar teoricamente o objeto de estudo,

contribuindo com elementos que subsidiam a análise futura dos dados obtidos.

Assim, surge o desafio de partirmos não do vazio, mas de reconhecer o que

já foi produzido neste campo temático e então avançar. Por isso, como forma de nos

aproximarmos à temática, recorremos às produções sobre o Serviço Social na

Educação, destacando a tese de doutorado de Eliana Bolorino Canteiro Martins

(2007), intitulada “Serviço Social e Educação: um elo para a construção da

cidadania” que buscou elucidar a prática profissional dos assistentes sociais no

âmbito da política pública de Educação nos municípios paulistas e a tese de

doutorado de Ilda Lopes Witiuk (2004), intitulada “A trajetória sócio-histórica do

Serviço Social no espaço da escola” que apresenta importante compilação da

produção científica na área.

Outro autor que nos forneceu valiosa contribuição para a discussão sobre o

exercício profissional do assistente social na área da Educação foi o Prof. Ney Luiz

Teixeira de Almeida, o qual vem desenvolvendo significativos estudos com ampla

circulação e visibilidade no interior da categoria, sobretudo nos anos 1990 a 2000,

sobre as particularidades deste espaço sócio-ocupacional, enfatizando a relação

entre a Educação com o mundo do trabalho e a esfera da cultura.

Construímos uma fecunda relação com a obra de István Mészáros (2005), no

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sentido de defender uma educação que não se limite ao interior dos muros da

escola, mas que seja reconhecida como um importante processo constitutivo da vida

humana e, como tal, não pode ser organizada, pela via institucional, como forma de

atendimento aos padrões do modo de produção capitalista, mas que se construa

“para além do capital” (MÉSZÁROS, 2005).

No âmbito dos fundamentos do Serviço Social, nos debruçamos sobre a

leitura de importantes autores brasileiros como forma de aprofundar a reflexão sobre

a profissão, seu surgimento na sociedade brasileira, as formas pelas quais ela

aparece socialmente a partir da relação com o Projeto Ético-Político, sua dimensão

educativa e estabelecendo como matriz de análise, sua inserção nos processos de

produção e reprodução das relações sociais.

Desta forma, nos apropriamos das significativas construções teóricas,

sobretudo nos últimos anos, de Marilda Iamamoto (2008, 2008a, 2008b, 2008c,

2008d, 2009), José Paulo Netto (1996, 1999, 2009, 2010), Maria Lúcia Martinelli

(1994a, 1994b, 1997, 2005, 2009), Maria Carmelita Yazbek (2009) e Marina Maciel

Abreu (2008, 2009).

Uma das fontes clássicas à qual recorremos foi especialmente o Capítulo V

de O Capital, buscando mais uma vez entender, a partir de Marx (1996), a estrutura

dos processos de trabalho e seus elementos constitutivos, compreendendo o

Serviço Social a partir de sua inserção em processos de trabalho no marco da

relação contraditória entre as classes sociais.

Não poderíamos deixar de mencionar também as significativas contribuições

encontradas nos textos de Marilena Chauí (1993, 2006, 2007) e Octavio Ianni (1991,

1992), fontes de suporte para a reconstrução do processo histórico de formação

social do Brasil.

Considerando os objetivos propostos e a natureza do campo de estudo,

recorremos também a fontes documentais, utilizando documentos oficiais - Relatório

de Gestão do setor de Serviço Social Escolar de 2006, Lei de criação do cargo de

assistente social na Secretaria Municipal da Educação, Plano Diretor do Município,

entre outros - e a fotografias como fontes de dados, o que nos auxiliou tanto na

reconstrução do processo de formação do setor, como na apresentação de dados

quantitativos referentes ao trabalho dos assistentes sociais.

A seguir, serão apresentados alguns aspectos iniciais relativos à

caracterização do município de Limeira, compreendendo-o enquanto chão sobre o

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qual iremos pisar, apontando aspectos demográficos, econômicos, políticos e sociais

e, ao mesmo tempo, buscando situar as determinações históricas, o que nos

permitirá uma melhor compreensão acerca do contexto onde se insere o setor de

Serviço Social Escolar.

Sendo a leitura crítica da realidade um elemento fundamental ao exercício

profissional do assistente social, o reconhecimento do espaço geográfico onde se

inserem as práticas profissionais são elementos constitutivos desta leitura.

Neste caso, destacamos a importância da relação entre esta leitura e a

construção da identidade profissional do setor de Serviço Social Escolar, pois não há

identidade onde não há pertencimento e sem referencial no espaço geográfico, não

criamos territorialidade. (MARTINELLI, 2005)

Ou seja, somente será possível falarmos em identidade do setor uma vez que

este seja reconhecido a partir de sua inserção geográfica, da relação que estabelece

com o território onde se insere e que se apreenda as características deste território.

1.1 - Configuração do município de Limeira e o setor de Serviço

Social Escolar

Falar sobre a história do município de Limeira implica, necessariamente,

recorrer à lenda que explica as origens do nome e do surgimento da cidade,

segundo a qual, em 1781, uma caravana parou para pouso na atual região da

cidade onde hoje se encontra o Mercado Modelo.

Desta caravana, fazia parte o frei João das Mercês, que carregava consigo

uma sacola cheia de limas pois acreditava que seriam capazes de curar febres. O

frei, que havia degustado algumas limas naquele dia, sentiu-se mal durante a noite,

falecendo no dia seguinte, sendo creditado às limas o falecimento do frei,

enterrando-as junto com o mesmo.

Passado algum tempo, nasceu naquele lugar uma frondosa limeira, surgindo

assim o nome da cidade. Porém, como toda lenda, não há registros científicos que

comprovem sua veracidade.

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Do ponto de vista histórico, suas origens datam de período Brasil Colônia11,

em que os bandeirantes desbravavam terras no interior do país em busca de

ampliação do território brasileiro. Na abertura das estradas que os levassem à

Goiás, os tropeiros foram fixando pouso em locais próximos ao Ribeirão Tatu, sendo

o principal deles o “Rancho do Morro Azul”, uma vez que estava localizado em uma

região fértil e com abundância de água, além de servir de excelente ponto de

referência, pois devido a sua altitude, poderia ser avistado a grandes distâncias.

Mas esses não foram os primeiros a ocupar essa região.

Essas terras já eram conhecidas de tribos indígenas e de grupos caboclos que a exploravam cultivando pequenas roças, não permanecendo no mesmo local por um período maior que 6 ou 7 anos. Essa população cabocla era fruto da mistura de homens que haviam adentrado o sertão e acabaram vivendo junto aos indígenas, tendo filhos e formando pequenos grupos. Alguns deles haviam partido para o interior em busca de riquezas e escravos indígenas sem a permissão da Coroa e acabaram ficando; outros, como em casos registrados em Itu, haviam sido condenados por crimes e sua pena era “serem soltos na cabeceira do Rio Piracicaba e entrarem na mata”. Provavelmente os juízes acreditavam que esses homens não iriam sobreviver, porém muitos o fizeram. (Plano Diretor do Município de Limeira, 2009:54)

Os registros históricos apontam para o dia 15 de setembro de 1826 como

sendo a fundação de Limeira, uma vez que nesta data foi inaugurada a capela de

Nossa Senhora das Dores. A mesma fora construída para servir ao povoado que ali

se instalara, em decorrência da constituição das grandes fazendas de cana-de-

açúcar, advindas com a concessão das sesmarias, principalmente na região

denominada “Morro Azul”, em decorrência da fertilidade do solo.

Neste mesmo período, foi construída também, por intermédio do Senador

Vergueiro, uma estrada para escoamento e comercialização da produção.

Importante destacar que a região já foi grande produtora de café e laranja.

O desenvolvimento do povoado e sua ascensão ao patamar de cidade foi

ocasionado em parte pela boa qualidade do solo e sua adaptabilidade a diversas

culturas, como a cana-de-açúcar, o café, a laranja, mas também pela infraestrutura

da região, principalmente com a rede férrea, que possuía trajetos bem localizados,

possibilitando a comunicação e a circulação de produtos e pessoas pela região.

11 O período colonial se estendeu no Brasil desde a chegada dos portugueses, em 1500, até a proclamação da Independência, em 1822.

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Do ponto de vista geográfico, Limeira encontra-se situada a 22º33’54’’

(Latitude Sul) e 47º24’09’’ (Longitude Oeste) no globo terrestre, na região leste do

estado de São Paulo, a aproximadamente 145 quilômetros da capital do estado.

Pertencendo à Região Administrativa de Campinas, constitui sede da Região de

Governo que tem o seu nome, sendo esta integrada por oito municípios do entorno:

Araras, Leme, Limeira, Pirassununga, Cordeirópolis, Conchal, Santa Cruz da

Conceição e Iracemápolis.

Figura 02 - Localização da Região Administrativa de Campinas no Estado de

São Paulo

Fonte: Plano Diretor do Município de Limeira - 2009

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Figura 03 - Estado de São Paulo, com destaque para o município de Limeira.

Fonte: www.wikipedia.com.br

Localizada em uma região de grande importância econômica, a cidade é

servida por importantes rodovias, com destaque para a Rodovia Anhanguera e

Rodovia dos Bandeirantes, sendo atendida também pela Rodovia Washington Luiz,

estando desta forma estrategicamente interligada à capital, ao interior paulista e

demais estados.

O município também é cortado pela ferrovia, importante meio de transporte de

produtos e passageiros no século XIX, por onde atualmente circulam apenas trens

de carga.

Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE,

o município possuía em 2009 cerca de 281.000 habitantes, distribuídos em uma

área de 581 km2, com taxa de urbanização de 95,7%, acompanhando a tendência

brasileira de migração do campo para as cidades.

Sendo banhada pelo Ribeirão Tatu, Limeira situa-se na Unidade de

Gerenciamento de Recursos Hídricos da Bacia dos Rios Piracicaba, Capivari e

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Jundiaí, sendo o Rio Capivari sua principal fonte de abastecimento de água potável.

O serviço de tratamento e distribuição de água em Limeira sempre foi

realizado por uma autarquia municipal, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto de

Limeira - SAAE, mas em meados dos anos 90, seguindo a tendência mundial

imposta pelo modelo neoliberal de privatização dos serviços públicos, a empresa

Águas de Limeira (atualmente Foz do Brasil), através de um contrato de concessão,

assume a função de captação, produção, tratamento, distribuição e fornecimento de

água tratada, além de coleta, afastamento e tratamento de esgoto.

Segundo a própria empresa:

A situação do Serviço de Água e Esgoto do Município de Limeira (SAAE) no início da década de 90 era sintomática para o setor no país. Havia insuficiência de oferta de água, quase nenhum tratamento de esgoto, deficiência no atendimento ao público, atraso tecnológico, além de total incapacidade de manutenção do patrimônio público, com reservatórios abandonados, obras inacabadas e abandonadas. Enfim, a escassez de recursos, a obsolência dos equipamentos e um modelo gerencial desatualizado impossibilitavam, na prática, a modernização do sistema, independentemente do esforço e da dedicação de inúmeros servidores. (www.aguasdelimeira.com.br)

Ainda segundo a empresa, atualmente 100% da população têm acesso à

água potável e à coleta e afastamento de esgoto, enquanto o tratamento de esgoto

já alcança os 75%. Entretanto, a partir de nossa experiência profissional e do debate

construído junto aos demais assistentes sociais do município, é possível perceber

que ainda há uma quantidade significativa de famílias privadas do acesso a esse

direito fundamental, ou seja, por inúmeros fatores não possuem acesso à água

encanada em suas residências.

Esta privação contribui ainda mais com a exclusão social de diversas

camadas populares, em decorrência da crescente desigualdade social que atinge

não só o município, mas todo o país.

Nos últimos anos, a cidade tem se expandido exponencialmente, através de

criação de loteamentos urbanizados, condomínios fechados, chácaras de recreio e

da ocupação de áreas inabitadas por grupos desprovidos de acesso à habitação.

Neste sentido, consideramos importante mencionar que em 2007 cerca de

250 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, ocuparam

uma área improdutiva no município, próximo à Rodovia Anhanguera, na região do

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Horto Florestal, onde reivindicam a criação de um assentamento de Reforma

Agrária. Segundo o Jornal Semeando, um boletim informativo da regional Campinas

do MST:

Em 29 de novembro de 2007 as famílias sofreram um despejo extremamente violento por parte da prefeitura, que sequer tinha a propriedade da área. Mas as famílias voltaram e conquistaram, por meio da luta, a posse provisória do local. Foi destinada à construção de um assentamento que hoje é chamado de Elizabeth Teixeira. Desde então, a prefeitura de Limeira mantém uma campanha contrária à implantação de um assentamento de Reforma Agrária na região. (Semeando, 2009:1)

O impasse pela posse da terra permanece, mas o poder público se viu

pressionado a adotar algumas medidas, ainda que de forma paliativa, com relação à

proteção destas famílias. No caso das crianças, por exemplo, a presença de

organizações de defesa de direitos denunciou a quantidade de crianças naquele

local sem oportunidade de acesso à escola, principalmente à Educação Infantil.

Assim, o Serviço Social Escolar realizou uma ação de grande importância

junto a esta população, através da coordenação do setor, juntamente com

estagiárias de Serviço Social, as quais estiveram presentes no local para realizar um

levantamento das crianças em idade escolar sem acesso à escola, assim como para

o cadastramento das crianças de até 6 anos nos Centros Infantis municipais.

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Foto 07 - Visita da equipe do SSE ao Assentamento Elizabeth Teixeira12

Fonte: Acervo do Serviço Social Escolar

Foto 08 - Cadastramento das crianças na demanda dos Centros Infantis

Fonte: Acervo do Serviço Social Escolar

12 Os nomes atribuídos aos assentamentos referem-se, em geral, a militantes do movimento. Em visita recente ao assentamento Elisabeth Teixeira, tivemos a oportunidade de consultar os moradores quanto aos motivos pela escolha desse nome, os quais não souberam nos informar.

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Conforme dados apontados pelo Índice Paulista de Vulnerabilidade Social -

IPVS13, Limeira possuía em 2000, 103.732 pessoas em condições de média, alta ou

muito alta vulnerabilidade social, o que pode ser considerado um número elevado, já

que representa 41,6% da população total do município nesta data, enquanto os

outros 58,4% estavam em situação de baixa, muito baixa ou nenhuma

vulnerabilidade, conforme o gráfico abaixo.

Gráfico 01 - Distribuição da população segundo grupos do IPVS, em

comparação com o Estado de São Paulo.

Fonte: Índice Paulista de Vulnerabilidade Social - SEADE

Uma análise detalhada do IPVS mostra que, dentre os domicílios

pesquisados, os responsáveis relatavam renda de, em média, R$ 858,00, sendo que

45,1% apresentavam rendimentos de no máximo 3 salários mínimos. Esses

responsáveis tinham, em média, 6,5 anos de estudo sendo que 42,8% completaram

apenas o ensino fundamental e 7% eram analfabetos.

Quanto aos indicadores demográficos, a idade média dos chefes dos

domicílios era de 45 anos e aqueles com idade inferior a 30 anos correspondiam a

13,7% do total. Os domicílios cujo chefe de família eram mulheres representavam

19,6% e as crianças com menos de 5 anos de idade equivaliam a 8,2% da

população total.

13 Trata-se de um sistema de indicadores que oferece informações detalhadas acerca das condições de vida dos munícipes e possibilita a identificação e localização geográfica das áreas que concentram um maior ou menor contingente populacional em situação de vulnerabilidade social, sendo esta classificada desde a ausência de vulnerabilidade até o nível de vulnerabilidade muito alta. As informações utilizadas são provenientes do Censo Demográfico 2000, não havendo atualizações posteriores.

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Em relação aos dados expostos, pode ser observado que há predominância

populacional no Grupo 3 - vulnerabilidade baixa. Este grupo compreende 69.428

pessoas (27,9%), com rendimento nominal médio dos responsáveis de R$ 750,00,

sendo 42,3% com renda de até 3 salários mínimos.

Estes responsáveis apresentavam em média 6,4 anos de estudo e 44 anos de

idade. Contudo, 96,5% da população total apresentam algum nível de

vulnerabilidade social, ainda que baixo. Apenas 3,5% da população não apresentam

nenhuma vulnerabilidade social.

No tocante às Políticas Sociais, merece destaque o fato de que em Limeira, a

gestão da Política de Assistência Social não é realizada por Secretarias ou

Departamentos, assim como em outros municípios, mas por uma autarquia14

municipal, o Centro de Promoção Social Municipal - CEPROSOM.

Desde sua criação, em 1968, o CEPROSOM, que já foi chamado de Serviço

Social Municipal, foi acompanhado por uma tradição política de “primeiro-damismo”,

onde as esposas dos Prefeitos eram presidentes da autarquia. Somente em 2007

esse ciclo se rompe, em virtude de uma ação contra nepotismo, e uma assistente

social é indicada a assumir a presidência.

Entretanto, em novembro de 2008, a mesma foi substituída por um

empresário do ramo de bijuterias, então presidente do Instituto de Desenvolvimento

de Limeira - IDELI, sob a justificativa de que se tratava de um cargo administrativo e

que seria incoerente manter uma assistente social ali, sendo a mesma transferida ao

Núcleo de Atendimento Integral - NAI.

Os serviços, programas e projetos na área da Assistência Social encontram-

se descentralizados através de Centros Comunitários espalhados em vários bairros

do município, Centros de Referência da Assistência Social - CRAS, Projetos

específicos destinados a determinados segmentos e uma sede técnico-

administrativa.

A partir da publicação da Política Nacional de Assistência Social - PNAS de

2004 e da Norma Operacional Básica da Assistência Social - NOB de 2005, a

intersetorialidade das políticas sociais vem sendo ainda mais estimulada.

14 Conforme o Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, considera-se Autarquia “o serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da Administração Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada.”

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Além disso, a Assistência Social, enquanto política pública que compõe o tripé da Seguridade Social, e considerando as características da população atendida por ela, deve fundamentalmente inserir-se na articulação intersetorial com outras políticas sociais, particularmente, as públicas de Saúde, Educação, Cultura, Esporte, Emprego, Habitação, entre outras, para que as ações não sejam fragmentadas e se mantenha o acesso e a qualidade dos serviços para todas as famílias e indivíduos. (PNAS, 2004:36)

Várias tentativas de articulação intersetorial e a criação de uma rede efetiva

que garanta a proteção social aos cidadãos foram realizadas. Um exemplo é o

Programa Limeira Saudável, que foi desenvolvido pelo Instituto de Desenvolvimento

de Limeira no início dos anos 2000.

Teve um período que foi uma época muito legal, o Limeira Saudável, que eu participei da junção de várias Secretarias mais sociedade civil, pra gente elaborar processos de melhorias pra cidade. Foi muito bom, abriu a visão administrativa, abriu também a visão de gestão mesmo, entender, conhecer a Prefeitura mais de perto, saber o que era uma LDO, onde ia, onde entrava o orçamento, como tornar participativo... (Paula - Coordenadora do SSE)

Mais recentemente, por iniciativa da coordenadora do setor de Serviço Social

Escolar algumas reuniões entre assistentes sociais do setor, do CEPROSOM e da

Secretaria da Saúde foram realizadas, buscando criar estratégias para articulação

inicialmente entre as três áreas.

O grupo era composto por profissionais comprometidas com a proposta e

poder de sensibilização dos Secretários municipais, uma vez que o consentimento e

apoio dos mesmos era fundamental para a efetivação da proposta. Entretanto, todo

trabalho e esforço se perderam pelo descompromisso dos referidos Secretários,

ficando clara a concepção que os mesmos possuem acerca da gestão das políticas

públicas, principalmente as de corte social e seu comprometimento com a

população.

Após diversas tentativas frustradas, um fato preocupante no município acabou

por desencadear reuniões periódicas entre profissionais de cada território. Uma

dissertação de mestrado defendida em 2005, no âmbito do Programa de Pós-

Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Metodista de Piracicaba -

UNIMEP, denunciou que “Nem tudo brilha na produção de jóias em Limeira”

(VILELA, FERREIRA, 2008).

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Aproximadamente 27% dos estudantes da Rede Estadual de Ensino de Limeira-SP, ou seja, 8.340 alunos fazem trabalhos de montagem e soldagem de joias e bijuterias em domicílio e 62,1% fazem trabalhos repetitivos. O trabalho infantil é caracterizado pelo grande número de estudantes na faixa etária de 11 a 17 anos, o que chega a aproximadamente 20% desses estudantes, uma quantidade expressiva e preocupante de aproximadamente 6.000 crianças e adolescentes, com uma jornada média diária de 6,9 horas, caracterizando, indiscutivelmente, exploração de mão-de-obra infantil. (VILELA, FERREIRA, 2008:191)

Se até então o ramo da economia que prevalecia no município era a

agricultura (cana-de-açúcar, laranja, café), nos últimos anos Limeira passa a ser

considerada o maior pólo da América Latina na produção e exportação de joias e

folheados, tendo como consumidores de seus produtos países como Coreia, Peru e

Chile. (VILELA, FERREIRA, 2008)

As recentes transformações operadas no mundo do trabalho, em decorrência

da reestruturação produtiva, reconfiguram-no a partir de um novo padrão, centrado

na informalidade, no trabalho desprotegido, precário, flexibilizado, assim como no

desemprego estrutural, este essencial à manutenção da ordem capitalista.

O trabalho terceirizado aparece como um importante componente do

processo produtivo no ramo de bijuterias, uma vez que esse trabalho é realizado em

domicílio, sendo portanto, de difícil fiscalização e mensuração.

Diante de nossa vivência profissional, temos observado uma grande

tendência na realização desta modalidade de trabalho, com prevalência para o ramo

de joias e folheados.

A atuação, principalmente nos plantões sociais dos Centros Infantis, nos dá a

clara imagem da inserção laboral das famílias que desejam matricular seus filhos

nestas Unidades Escolares.

Este assunto será aprofundado adiante, mas apenas para esclarecimento, é

durante a realização do plantão social que a assistente social realiza o cadastro para

ingresso das famílias na lista de espera para vaga no Centro Infantil. Neste cadastro

constam dados que nos dão informações importantes acerca dessas famílias, quem

são? O que fazem? Como vivem?

Assim, de maneira geral o trabalho doméstico terceirizado de montagem,

cravação e solda de bijuterias aparece enquanto atividade produtiva principal de

grande parte dessas famílias. Em decorrência da particularidade desse trabalho,

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assim como da inoperância do Estado, abre-se a possibilidade para o uso de mão-

de-obra infantil, contribuindo com a realização deste trabalho.

Com o crescimento do desemprego e adensamento da pobreza, as famílias

criam estratégias de sobrevivência e, diante da ausência de alternativas às crianças,

principalmente no período oposto à escola, as mesmas são atraídas para o trabalho

com joias, uma vez que este resulta, do ponto de vista das famílias, na melhor (ou

única) alternativa existente: consideram que o trabalho infantil contribui

financeiramente com o sustento da casa, assim como mantém a criança junto à sua

família, como alternativa ao perigo da rua, do tráfico e do consumo de drogas.

O trabalho infantil, além do prejuízo ao pleno desenvolvimento biopsicossocial

da criança e outras implicações, é um dos fatores que interfere decisivamente na

condição de aprendizagem dos alunos, que passam a frequentar a escola cansados

e com sono em decorrência da longa jornada de trabalho que se dá antes ou depois

do horário de aula assim como no período noturno.

Isso quando não sofrem algum acidente em decorrência da realização deste

trabalho, fato que tem sido observado com bastante constância, seja pela utilização

do material ou dos longos períodos em posição corporal inadequada, levando à

diminuição do aproveitamento escolar, quando não à evasão.

Se para os adultos as longas jornadas são motivos de queixas de privação de lazer, de leitura, de vida afetiva, para as crianças e adolescentes o agravante deste quadro são os efeitos oriundos do bloqueio de tempo para o contato com universos distintos e que ofereçam os estímulos ao desenvolvimento de suas potencialidades. (VILELA, FERREIRA, 2008:191)

Assim, o baixo aproveitamento escolar dessas crianças prejudica

sobremaneira o seu futuro profissional, uma vez que o mercado de trabalho tem

exigido cada vez mais profissionais competentes e especializados, acirrando a

competitividade entre os concorrentes a uma possível vaga.

Neste caso, a ausência dos pré-requisitos fundamentais tende a manter essas

pessoas em um patamar menos favorável à ascensão social através do emprego,

permanecendo fadadas a um ciclo de exclusão social, com o qual dificilmente

conseguirão romper.

No ano de 2006 os dados da pesquisa foram publicados na imprensa, não

somente em âmbito local, mas também em um jornal de grande circulação no estado

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de São Paulo, causando uma grande mobilização em torno da erradicação do

trabalho infantil no município, envolvendo poder público e sociedade civil na criação

da Comissão Municipal de Erradicação do Trabalho Infantil de Limeira - COMETIL,

que vem, desde então, desenvolvendo ações que visem contribuir com a

erradicação do trabalho infantil no município.

Foto 09 - 1º Seminário Municipal para Erradicação do Trabalho Infantil em

Limeira

Fonte: Acervo do Serviço Social Escolar

Merece destaque uma das ações da referida Comissão que foi a Capacitação

para os agentes públicos da Prefeitura de Limeira realizada em 2009 e organizada

em núcleos seguindo a proposta de territorialidade, aproximando ainda mais os

profissionais de cada região.

Em decorrência desta capacitação, os participantes sentiram a necessidade

de uma maior proximidade entre eles, motivando a realização de reuniões mensais

em cada território, possibilitando desta forma, a articulação da rede de serviços.

A questão do trabalho infantil em Limeira teve uma repercussão tão intensa

que em 2009 o Ministério Público do Trabalho encaminhou ao executivo municipal

um Termo de Ajustamento de Conduta - TAC onde responsabiliza a Prefeitura

Municipal de Limeira, através de suas Secretarias de Saúde, Educação e

CEPROSOM a realizar um rol de atividades com vistas à erradicação do trabalho

infantil.

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Com relação à atual configuração da Educação no município, entendemos ser

mais adequado tratá-la a partir de sua relação com o setor de Serviço Social

Escolar, uma vez que ambos estão intrinsecamente relacionados, como trataremos

de evidenciar no capítulo que segue.

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2 - POLÍTICA DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA: MARCOS LEGAIS

Acontece que a história brasileira, particularmente a econômica, ‘é antes uma sucessão de episódios muito semelhantes, de ciclos que se repetem monotonamente no tempo e no espaço. E continuam repetindo-se’. Tem-se a impressão de que “o tempo se projetou aqui no espaço”. O passado parece não só múltiplo, diversificado, mas presente. (...) A nossa história ainda é, por isso, em muitos casos, uma atualidade. (IANNI, 1992:60 - grifos do autor)

Importa-nos, neste capítulo. compreender de que forma as transformações

que ocorreram no cenário brasileiro, principalmente a partir dos anos 1980, em

especial no campo da legislação, tem favorecido a entrada dos assistentes sociais

no campo da Educação, e na escola particularmente, qualificando-os enquanto

profissionais capazes de contribuir com o processo educativo realizado.

Desse modo buscaremos estabelecer uma relação entre as recentes

transformações engendradas no processo de formação sócio-histórica do Brasil e a

Educação entendida enquanto política pública, de forma que possamos apreendê-la

como um espaço legítimo de trabalho do assistente social.

Assim, partimos do pressuposto de que as mudanças ocorridas na legislação,

em especial a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional -

LDB em 1996 ocasionaram grandes repercussões na organização dos sistemas de

ensino por parte dos municípios, o que no caso de Limeira resultou na transferência

de vários profissionais que anteriormente estavam vinculados à Política de

Assistência Social para a Secretaria da Educação, entre eles, os assistentes sociais.

Para além desta transferência, que caracteriza o início do trabalho dos

assistentes sociais na Secretaria da Educação, a legislação também abriu um leque

de possibilidades para o exercício profissional do assistente social nesta área,

ultrapassando não somente a Educação Infantil, mas incluindo também o Ensino

Fundamental.

Dentro da perspectiva adotada nesta dissertação, entendemos que todas

essas transformações não ocorreram de maneira ocasional ou por mera vontade de

um ou outro grupo da sociedade, mas que são frutos de uma determinada relação

estabelecida entre os interesses de diferentes sujeitos inseridos em uma

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determinada conjuntura social e histórica, ou nas palavras de Couto, são “expressão

de um patamar de sociabilidade, estão situados em um campo essencialmente

político, porque são resultantes do embate de interesses e ações dos sujeitos

sociais.” (2004:20).

Assim, torna-se incoerente refletir sobre a atual configuração da Política de

Educação no Brasil sem estabelecer uma relação com o particular processo de

desenvolvimento sócio-histórico do país.

Para entender o Brasil que temos hoje se torna indispensável entender de

que forma ele se constituiu enquanto “Brasil” e quais os processos históricos

determinantes do seu atual estágio de desenvolvimento.

Ianni (1992), apoiado no pensamento de Caio Prado Júnior, destaca três

processos de envergadura histórica fundamentais para a caracterização do Brasil

contemporâneo: o sentido da colonização, o peso do regime de trabalho escravo e a

peculiaridade do desenvolvimento desigual e combinado; os quais são passíveis de

análise somente a partir de sua determinação recíproca, um não se faz sem o outro.

Estes três fatores explicam o processo de formação sócio-histórica do Brasil,

em suas diversas etapas, a partir da singularidade de cada período e ainda hoje se

expressam na constituição do Estado brasileiro.

Durante a Colônia inscrevem-se no modo pelo qual eclodem movimentos nativistas, revoltas de escravos, formação de quilombos, lutas contra invasões, anseios de independência, inconfidências. No Império influenciam a forma da Independência, a abertura e o fechamento da Constituinte, a estruturação do poder monárquico, a abolição lenta, gradual e segura, o indianismo, os arranjos que cercam a Lei Áurea e a Proclamação da República. Ao longo das várias repúblicas inauguradas em 1889, as lutas sociais também expressam muito daqueles processos. (IANNI, 1992:61)

Nosso desenvolvimento como nação sempre fora marcado por interesses

externos à nossa vontade, tudo o que produzíamos e ainda produzimos teve e ainda

tem como objetivo os interesses do consumidor externo, o que favorece o

estabelecimento de uma economia subsidiária e dependente.

As respostas oferecidas pelo Estado diante das requisições populares ainda

se colocam no plano do atendimento aos interesses externos, de legitimação e

perpetuação de um sistema econômico desigual e excludente.

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Se vamos à essência de nossa formação, veremos que na realidade nos constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde ouro e diamante; depois, algodão, e em seguida café, para o comércio europeu. Nada mais que isto. É com tal objetivo, objetivo exterior, voltado para fora do país e sem atenção a considerações que não fossem o interesse daquele comércio, que se organizarão a sociedade e a economia brasileiras. Tudo se disporá naquele sentido: a estrutura bem como as atividades do país. (IANNI, 1992:55)

A cultura brasileira foi sendo construída ao longo do tempo como uma

sucessão de eventos cíclicos, onde passado e presente parecem misturar-se e

confundir nossos olhos. O sentido da colonização permeou não somente o período

do Brasil Colônia, mas permanece até hoje, sendo possível afirmar, inclusive, que o

Brasil permanece sendo colonizado, apenas o que mudou foi o nome de seu

colonizador. “Um século depois da Abolição subsistem heranças das formas

culturais e de sociabilidade produzidas com o escravismo. E tudo isso está

atravessado por um desenvolvimento desigual e combinado caleidoscópico, no qual

a geografia e a história se mostram enlouquecidas.” (IANNI, 1992:62) Nosso

presente está fortemente marcado por vários aspectos do passado, é um Brasil que

se mescla entre o velho e o novo, entre o moderno e o antigo.

O Brasil Moderno, ao mesmo tempo em que se desenvolve e diversifica, preserva e recria traços e marcas do passado recente e remoto, nesta e naquela região. O país parece um mapa simultaneamente geográfico e histórico, contemporâneo e escravista, republicano, monárquico e colonial, moderno e arqueológico. Toda a sua história está contida no seu presente, como se fosse um país que não abandona nem esquece o pretérito memorioso. (IANNI, 1992:63)

Toda a história brasileira foi escrita a partir da inter-relação entre dois lados,

um que manda e outro que obedece, um que coloniza e outro que é colonizado,

senhores e escravos.

Para Marilena Chauí (2007), esta é uma sociedade que preserva traços de

uma “cultura senhorial” fortemente marcada por sua estrutura hierárquica

verticalizada, a partir de relações de “mando-obediência”, do não reconhecimento do

outro enquanto sujeito de direitos, o que se desdobra entre relações de parentesco e

cumplicidade entre os que se julgam iguais e de clientelismo e tutela, entre aqueles

julgados como desiguais.

Segundo a autora, “a divisão das classes é naturalizada por um conjunto de

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práticas que ocultam a determinação histórica ou material da exploração, da

discriminação e da dominação” e desta forma “imaginariamente, estruturam a

sociedade sob o signo da nação una e indivisa, sobreposta como um manto protetor

que recobre as divisões reais que a constituem”. (CHAUÍ, 2007:89-90)

Assim, o autoritarismo que ainda determina as formas pelas quais se organiza

o Estado brasileiro tem suas raízes não somente no período colonial escravocrata,

mas principalmente a partir de seu fortalecimento durante a formação histórica do

Brasil.

Ainda segundo Chauí (1993:48), “os traços do autoritarismo foram, sem

dúvida, reforçados com o golpe de Estado de 1964, paradoxalmente batizado como

nome de ‘revolução’”.

O Brasil foi e continua sendo uma sociedade autoritária, característica esta

que se desdobra em tantas outras dela derivadas e que se apoiam na ideia do “mito

fundador” (CHAUÍ, 2007) do país.

A sobreposição da cultura portuguesa sobre os índios e a utilização quase

escravizada de sua mão-de-obra, assim como a exploração das riquezas naturais,

demarcam a data do descobrimento, como se ali existisse um território ainda

inabitado, desconhecido, desocupado.

Território este útil a Portugal e designado como sua colônia somente

enquanto lhe era oportuno, enquanto lhe trouxesse riquezas, benefícios, lhe

acolhesse durante a fuga das tropas napoleônicas. Uma representação social que

oculta boa parte da verdadeira história brasileira, desde sua construção cultural até

sua atual configuração.

Assim, o “mito fundador” explica boa parte da sociedade que temos hoje, o

modo pelo qual Estado e sociedade se organizam e se relacionam, de forma a

perpetuar a existência do mito.

Uma representação social que atende, como sempre atendeu, aos interesses

dominantes, daqueles que detém o poder, não só dentro, como fora do país e que

busca se fortalecer através de um “culto à autocracia burguesa”. (FERNANDES,

1975)

Desta forma, como podemos pensar sobre a Educação que temos hoje, sem

fazer qualquer referência ao “mito fundador” do Brasil? De que forma esta estrutura

organizacional estaria contribuindo ou não para a reprodução deste mito? Como os

currículos escolares são planejados de forma a possibilitar uma real compreensão

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acerca da realidade onde os sujeitos sociais se inserem?

Estas são questões que carecem ser refletidas e aprofundadas, ainda que

longe de serem esgotadas.

Assim, é no sentido de contribuir para este debate que podemos afirmar que

esta análise não pode ser realizada desconsiderando a existência de um nexo, algo

que articula aspectos do processo de formação social e histórica do Brasil e a forma

como ele se apresenta hoje, com destaque para a forma como se organiza a Política

de Educação.

Para Nunes (2009), este nexo se expressa através da relação fortemente

estabelecida entre a educação infantil pública e o mundo político, relação esta

fundamentada em um determinado padrão de proteção social adotado pelo Estado

em cada etapa do desenvolvimento sócio-histórico do país.

Ainda que não tenhamos por objetivo resgatar cronologicamente a história da

Educação brasileira, consideramos importante nos reportar a um dos aspectos

cruciais desta história, que reflete a relação direta entre a mesma e o processo de

desenvolvimento capitalista no país.

Com o adensamento da contradição entre a classe trabalhadora e a

burguesia industrial, no início do século XX, a questão social passa a requisitar

intervenções estatais mais posicionadas, as quais contam com o apoio de

segmentos da burguesia e da Igreja Católica para responder, à sua maneira, às

necessidades emanadas da população.

Assim, as primeiras creches são criadas como um dos mecanismos de

contenção da classe trabalhadora, no atendimento às suas reivindicações, e

utilizadas, ao mesmo tempo, como instrumento de controle ideológico e cultural, com

raízes que se encontram em um terreno marcado por relações autoritárias.

As demandas por atendimento em creches e pré-escolas são entendidas,

pelos setores dominantes, expressões de necessidades individuais, de mulheres

cuja adaptação ao novo padrão de produção não se deu de maneira satisfatória,

desconsiderando sua essencial vinculação à relação contraditória que se estabelece

entre as classes sociais no modo de produção capitalista.

O viés ideológico e moralizante ocultou as raízes sociopolíticas das necessidades sociais e, no caso particular das creches e pré-escolas, fixou o lugar social da mãe operária como o lugar desenraizado da moral e

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responsável pela formação de crianças propensas a serem problemáticas. As creches seriam, então, um ‘mal necessário’ um lugar de formação compensatória dos deslizes higienistas e moralistas da então nascente classe operária. (NUNES, 2009:87-88)

As respostas oferecidas pelos grupos dominantes às reivindicações

populares, sempre tiveram como diretriz principal a tutela e o paternalismo, como

expressões de uma cultura autoritária gestada e legitimada na própria história da

sociedade brasileira, como um passado que novamente se faz presente.

Ianni (1991:5) aponta como os setores dominantes da sociedade revelam

uma certa dificuldade ao posicionar-se diante das reivindicações populares

emanadas das desigualdades sociais que afetam as classes subalternas, reagindo

muitas vezes de maneira extremamente intolerante “tanto em termos de repressão

como de explicação”. Para o autor, “essa inclinação é muito forte no presente, mas

já se manifestava nítida no passado”.

Entretanto, é preciso considerar a Educação como um campo de lutas, de

disputa pela hegemonia, onde interesses diversos entram em confronto na luta pela

manutenção da ordem estabelecida ou pela sua reversão, expressando os conflitos

de classe inerentes à sociedade capitalista, conflitos estes claramente expressos no

processo que culminou com a promulgação da Constituição Federal de 1988, mas

que não se encerrou aí.

Estamos nos referindo a um período histórico recente, que se inicia no final

dos anos 1980, marcado pela promulgação da Constituição Federal de 1988 - CF-

88, e que se arrasta até os dias atuais, carregando consigo a regulamentação dos

direitos sociais inscritos na Carta Constitucional.

Podemos citar a Lei Orgânica da Saúde - LOS, de 1990, a Lei Orgânica da

Assistência Social - LOAS, de 1993, a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional - LDB, de 1996, isso sem mencionar o Estatuto da Criança e do

Adolescente - ECA, de 1990, na nova Política Nacional de Assistência Social -

PNAS, de 2004, na Norma Operacional Básica da Assistência Social - NOB-SUAS,

de 2005, entre outros.

Trata-se de um tempo fecundo para o avanço no campo da proteção social no

país, mas que ao mesmo tempo e contraditoriamente põe em risco as conquistas

advindas das lutas travadas pela classe trabalhadora no cenário brasileiro.

Intensifica-se a exploração do trabalho humano na busca incessante pela

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maximização do lucro, com reflexos diretos nas condições de vida e trabalho de

grande parte da população, assim como as relações entre Estado, sociedade civil e

mercado passam a ser redefinidas, tendo em vista uma mínima intervenção estatal,

de forma a abrir espaço ao livre mercado.

No contexto de crise e de mundialização do capital, o Brasil, a partir da década de 1990, passa a implementar programas de ajuste estrutural e de estabilização econômica para adequar o país à nova ordem econômica. Seguindo as recomendações do Consenso de Washington, os sucessivos governos brasileiros colocaram em curso políticas macroeconômicas de estabilização e reformas estruturais liberalizantes (Fiori, 1996) centradas na abertura comercial, financeira, produtiva e tecnológica. Além disso, promoveram a estabilização monetária ancorada no dólar, a política de privatização, a reforma do Estado e a desregulamentação do mercado de trabalho. (ALENCAR, 2008:65)

Verifica-se aí, uma tensa contradição que se estabelece nesse período. De um

lado o Brasil experimenta, após longos anos de regime ditatorial, um processo

democrático de reabertura política, com eleições diretas e a aprovação da chamada

Constituição Cidadã, que ampliava e garantia os direitos civis, políticos e sociais ao povo.

De outro lado avança a hegemonia do receituário neoliberal, incentivando aos

países não desenvolvidos à adesão às normas propagadas pelo Consenso de

Washington, enquanto estratégia de desenvolvimento e crescimento econômico dos

mesmos, e que no caso brasileiro, contrapunham-se aos princípios orientadores da

referida Constituição.

Embora tal contradição tenha um peso importante para a (re)construção da

democracia no país, é importante destacar o avanço nas conquistas populares,

principalmente do ponto de vista da participação no processo, o que aponta para “a

compreensão de que novos tempos foram inaugurados no Brasil”, com a abertura de

ao menos “duas forças centrais no Congresso Nacional, uma representada por

partidos de esquerda, comprometidos com a viabilidade das reformas sociais, e

outra representada pelos partidos conservadores, à qual foi dado o nome de

‘Centrão’.” (COUTO, 2004:155)

Tais forças “de esquerda” foram, em grande parte, responsáveis pelas

inúmeras conquistas que favoreciam as camadas populares, e se constituíam

através de associações e entidades de classe profissionais, partidos políticos com

orientações progressistas, movimentos sociais, sindicatos, entre outros grupos cujos

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interesses mais amplos coadunavam entre si.

Como resultado das lutas travadas por estes grupos, muitas das

reivindicações foram contempladas no texto constitucional, com destaque para o

campo dos direitos sociais. Para Couto (2004:158) é no campo dos direitos sociais

que estão contidos os maiores avanços da Constituição de 1988.

Sobretudo, interessa-nos pensar de que forma a Educação aparece enquanto

política pública no texto constitucional, assim como nas legislações posteriores, uma

vez que “a Constituição de 1988 exigia que houvesse regulações complementares, ou

seja, leis ordinárias para que a população pudesse ter acesso aos direitos garantidos

no texto constitucional” (COUTO, 2004:158) e de que forma isto favoreceu ou não a

entrada dos assistentes sociais no campo da educação escolarizada.

De acordo com a Carta Constitucional, já em seu artigo 6º, a educação

aparece inscrita enquanto um dos direitos sociais, juntamente com a saúde, a

alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a

proteção à maternidade e à infância, e a assistência aos desamparados.

Tal inserção constitui um importante aspecto ao se pensar sobre o trabalho do

assistente social na área da Educação, uma vez que se configura enquanto

conquista das camadas populares no sentido de responsabilização do Estado

perante o aprofundamento das desigualdades sociais no país.

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988)

Os avanços trazidos pela Constituição de 88 foram extremamente

significativos, como já afirmamos, para o campo dos direitos sociais.

Na Educação, a garantia da universalidade, com iguais condições de acesso

e permanência, a obrigatoriedade do ensino fundamental para todos, inclusive aos

que não tiveram acesso na idade própria, o atendimento especializado às pessoas

com deficiência sendo realizado preferencialmente na rede regular de ensino, os

programas suplementares de atendimento ao aluno através de material didático,

transporte, alimentação e assistência à saúde, a garantia dos padrões de qualidade

e gestão democrática das escolas tiveram um papel fundamental na organização do

atual modelo de ensino do país.

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Entretanto, se a Constituição Federal de 88 incorporou em seu texto grande

parte das reivindicações e lutas populares no que diz respeito à Educação,

principalmente a universalidade, ela também expressa em um movimento

contraditório, assim como a LDB, a lógica dos interesses burgueses, expressos

através de um véu neoliberal que a recobre.

Dito de outra forma, o texto constitucional pode ser entendido como

expressão das lutas da classe trabalhadora e dos movimentos sociais em presença

naquele momento, assim como das resistências dominantes, tratando-se da mais

pura expressão da correlação de forças presentes na década de 1980.

Assim, reafirmamos que o processo de desenvolvimento histórico do Brasil

encontra-se impregnado por um presente que insiste em não romper com a

dominação do capital sobre todas as esferas da vida cotidiana, é uma história de

avanços e retrocessos, marcada fundamentalmente pela exploração de uma classe

sobre a outra, através da expropriação do trabalho alheio, cujas bases começam a

ser construídas há mais de 500 anos, com a utilização da força de trabalho indígena

como forma de enriquecimento da Coroa Portuguesa, e posteriormente com a

utilização do tráfico de escravos africanos.

Trata-se de uma sociedade essencialmente patriarcal, estruturada conforme a

predominância do poder e do autoritarismo dos homens sobre as mulheres, do

Estado sobre o povo, do superior sobre o inferior.

As repercussões destas características se expressam claramente na Política

Social e, particularmente, na forma pela qual a Política de Educação se organiza

atualmente, no aparato institucional e na legislação que a orienta, na disposição

arquitetônica das instituições onde a mesma se materializa, nos conteúdos

curriculares transmitidos aos educandos, na formação dos profissionais que atuam

neste âmbito, nos processos de avaliação, etc.

Será, então, sobre as formas pelas quais a Política de Educação se expressa

para atender a um modelo de dominação vigente, que iremos construir as próximas

reflexões.

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2.1 - Cultura brasileira e Política de Educação

É inegável a posição estratégica que a Política de Educação tem ocupado na

sociedade brasileira, principalmente no que diz respeito à intervenção do Estado na

condução das políticas públicas, com destaque apara aquelas de corte social.

É inegável, também, que esta centralidade tem expressado, em seu limite, um

determinado patamar de sociabilidade, onde as permanentes transformações na

esfera produtiva vêm requerendo, ao mesmo passo, transformações na formação

dos trabalhadores, enquanto forma de atendimento às novas exigências do

mercado, assim como a formulação de estratégias que garantam a hegemonia de

um padrão cultural, no sentido de conferir adesão e legitimidade a este novo modo

de produção.

Assim, reconhecendo a contradição fundamental que caracteriza este

importante campo da política social, a educação tem sido utilizada como uma das

alternativas importantes no sentido de oferecer respostas a estas requisições,

qualificando o quadro de pessoal conforme as necessidades impostas pelo capital e

garantindo as condições necessárias para sustentação e consolidação das

constantes alterações realizadas na base econômica da sociedade, relacionando

diretamente Educação e Cultura.

A educação é requisitada, então, como um dos instrumentos de difusão da

cultura dominante, com o objetivo de reproduzi-la e conservá-la.

Ressaltamos, entre outros aspectos, o fato da Política Educacional ser a responsável pela administração e disseminação, em última instância, do acúmulo científico e tecnológico, dos conhecimentos, ideias e valores de uma dada sociedade. Embora não se restrinja ao campo educacional, nem tampouco à formação escolar, é nesta dinâmica, principalmente nas sociedades modernas, que a cultura, com seus mecanismos de elaboração e difusão, se processa de forma a estabelecer diferenças significativas entre os grupos sociais que a ela tem acesso. (ALMEIDA, 2000:65)

As expressões da cultura brasileira permanecem manifestando-se de todas as

formas na vida em sociedade, exprimindo formas de pensamento, ideias, doutrinas

ou explicações (IANNI, 1992), mostrando que o modo capitalista de produzir é

também o modo capitalista de pensar, e dele não se separa. (MARTINS, 1978)

Deste modo, inicialmente consideramos importante realizar breves

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apontamentos sobre como a cultura tem expressado diversos significados ao longo

do tempo.

Do latim, colere, seu significado estava relacionado aos cuidados, ao cultivo,

expressando o cuidado dos homens com a natureza, com os deuses, com a alma e

o corpo das crianças, daí derivando as palavras agricultura, culto, puericultura.

(Chauí, 2006:105)

Em outras palavras, a cultura nada mais era do que a ação humana,

deliberada e voluntária, que os homens exerciam sobre alguma natureza, de forma

que pudesse adequá-la aos seus padrões, aos valores de sua sociedade.

Dessa perspectiva, a cultura era a moral (o sistema de mores ou de costumes de uma sociedade), a ética (a forma correta de conduta de alguém graças à modelagem de seu ethos natural pela educação) e a política (o conjunto de instituições humanas relativas ao poder e à arbitragem de conflitos pela lei). (CHAUÍ, 2006:105)

Aqui a cultura aparece como uma “segunda natureza”, que teria como

objetivo moldar o ser humano segundo ideais de uma determinada sociedade,

aperfeiçoando-o, melhorando-o, favorecendo sua passagem do seu nível natural

- que, segundo os defensores desta vertente, tende a ser agressivo,

animalesco, destrutivo -, ao nível de sociabilidade imposto por essa cultura

(CHAUÍ, 1996:107).

Mas a ideia de cultura foi adquirindo outros contornos com o passar dos anos.

Se até então natureza e cultura não se distanciavam, a partir do século XVIII, ambas

passam a se separar e se opor; a distinção fundamental entre elas se encontra na

relação entre necessidade e intencionalidade, instinto e liberdade. Nesta visão, a

cultura passa a significar:

os resultados daquela formação ou educação dos seres humanos, de seu trabalho e de sua sociabilidade, resultados expressos em obras, feitos, ações e instituições: as artes, as ciências, a filosofia, os ofícios, a religião e o Estado. Na medida em que o pensamento da Ilustração conserva a ideia antiga de que cultura é advento do estado social e da vida política, isto é, da vita civile, cultura torna-se sinônimo de civilização, como expressão dos costumes e das instituições enquanto efeitos da formação e da educação dos indivíduos, do trabalho e da sociabilidade. (CHAUÍ, 2006:105)

Nesta passagem a autora evidencia, mais um significado atual do conceito de

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cultura, afirmando que ao passo em que esta segunda ideia vai prevalecendo sobre

a outra, a cultura passou a expressar as obras humanas de uma dada civilização e

também a relação estabelecida entre os humanos, socialmente organizados, com o

tempo e o espaço, com a natureza e com os outros seres humanos, sendo estas

relações variadas, determinadas social e historicamente. “Agora, cultura torna-se

sinônimo de história.” (CHAUÍ, 2006:107).

Chauí (2006:108) afirma que Marx avança nesta ideia de história-cultura, ao

defini-la como “o modo como, em condições determinadas e não escolhidas por

eles, os homens produzem materialmente (pela divisão social do trabalho e pela

organização econômica) sua existência e dão sentido a essa produção material”.

Desse modo, a história-cultura narra:

as lutas reais de seres humanos reais que produzem e reproduzem as relações sociais, pelas quais se distinguem da natureza e diferenciam-se uns dos outros em classes sociais antagônicas. Por esse prisma, o movimento da história-cultura é realizado pela luta das classes sociais para vencer formas de exploração econômica, opressão social e dominação política.” (CHAUÍ, 2006:108)

Assim, seguindo esta linha de pensamento, a oposição entre cultura e

natureza perde sentido na perspectiva de Marx, uma vez que, no modo de produção

capitalista, tudo o que existe, sejam “coisas” ou seres humanos, é reduzido à mera

condição de mercadoria. A natureza torna-se então, fonte supostamente inesgotável

de matérias-primas para a ação econômica, e desta forma, uma mercadoria como

outra qualquer.

É possível entender, então, que até mesmo a forma pela qual o trabalho é

dividido em determinadas sociedades, caracteriza-se como uma expressão cultural

daquela sociedade, seja em uma comunidade indígena, feudal ou primitiva.

Cultura é, pois, a maneira pela qual os humanos se humanizam e, pelo trabalho, desnaturalizam a natureza por meio de práticas que criam a existência social, econômica, política, religiosa, intelectual e artística. O trabalho, a religião, a culinária, o vestuário, o mobiliário, as formas de habitação, os hábitos à mesa, as cerimônias, o modo de relacionar-se com os mais velhos e os mais jovens, com os animais e com a terra, os utensílios, as técnicas, as instituições sociais (como a família) e políticas (como o Estado), os costumes diante da morte, a guerra, as ciências, a filosofia, as artes, os jogos, as festas, os tribunais, as relações amorosas, as diferenças sexuais e étnicas, tudo isso constitui a cultura como invenção

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da relação com o Outro - a natureza, os deuses, os estrangeiros, as etnias, as classes sociais, os antepassados, os inimigos e os amigos. (CHAUÍ, 2006:113-114)

Severino (1998) ainda traz uma importante contribuição na construção do

conceito de cultura. Para ele, a existência humana só pode ser entendida a partir da

relação entre a prática produtiva - o fazer -, a prática política - o poder -,

atravessadas por uma prática simbolizadora que reflete a construção histórica e

coletiva dos objetos pelos sujeitos, ou seja, a cultura enquanto universo do saber.

Em outras palavras, “a existência humana, histórica, real, concreta, se

delineia como um efetivo exercício de práticas produtivas, de práticas políticas e de

práticas culturais. E é esta prática real que constitui o homem, efetivamente

construindo sua ‘essência’, histórica e socialmente construída” (SEVERINO,

1998:51).

O saber - ou a cultura - se propõe, então, a desvendar ao mesmo tempo “os

nexos lógicos do real”, enquanto instrumento do fazer, e “os nexos políticos do

social”, enquanto instrumento do poder (SEVERINO, 1998:53).

Neste caso, enfatizamos a relação entre cultura e educação no marco dos

processos culturais que acompanham as transformações na esfera da produção,

enquanto partes constitutivas e necessárias das mudanças em curso. (ALMEIDA,

2000a)

Os aspectos característicos da cultura brasileira que foi sendo desenhada

durante a história do “desenvolvimento desigual e combinado” (IANNI, 1992) do

país, passando pelo período colonial, imperial e republicano, conforme já

mencionado, ainda se revela, articulada a peculiaridades do atual estágio de

desenvolvimento do capitalismo no Brasil.

O próprio processo pelo qual a Lei de Diretrizes e Bases da Educação de

1996 foi aprovada é clara expressão da cultura autoritária que, apesar do fim do

regime militar ditatorial, ainda persiste nos meandros da sociedade brasileira.

Prova recente desta feição autoritária foi o processo de aprovação da Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação - Lei nº 9.394, de dezembro de 1996 - que, após anos de discussão (1989 - 1994) resultou numa proposta aprovada na Câmara que, em 1995, foi engavetada e substituída por outra no Senado, a partir da relatoria do então Senador Darcy Ribeiro. O projeto final desconsiderou todo o esforço empreendido pela sociedade civil e pelo Fórum Nacional de Educação, evidenciando de modo inquestionável esta marca

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excludente e elitizada de nossa cultura política. (ALMEIDA, 2000a:63)

Porém, estas alterações pelas quais vem passando a política educacional

precisam ser entendidas a partir de sua inserção em uma dinâmica mais ampla, que

responde não somente pela reorganização da produção, mas pelo próprio

desenvolvimento do capitalismo no contexto de sua reprodução em nível mundial,

possibilitando que organismos internacionais passem a ditar regras para aqueles

países considerados em desenvolvimento, organizando novas bases para a relação

entre sociedade e Estado, a quem fica reservado um papel subsidiário na condução

político-econômica do país.

Situada num contexto de emergência do projeto neoliberal, a Política de

Educação sucumbe à ordem do capital e à necessidade de manutenção deste

sistema.

O Consenso de Washington15 (1989) provocou uma alteração nas formas de

organização do Estado e criou uma espécie de manual para os países em

desenvolvimento, orientando ações de privatização, terceirização, redução de gastos

públicos, entre outras ações que visam alargar a atuação do mercado e reduzir cada

vez mais a intervenção estatal. Perry Anderson faz uma análise bastante adequada

acerca da atualidade do neoliberalismo.

Economicamente, o neoliberalismo fracassou não conseguindo nenhuma revitalização básica do capitalismo avançado. Socialmente, ao contrário, o neoliberalismo conseguiu muitos dos seus objetivos, criando sociedades marcadamente mais desiguais, embora não tão desestatizadas como queria. Política e ideologicamente, todavia, o neoliberalismo alcançou êxito num grau com o qual seus fundadores provavelmente jamais sonharam, disseminando a simples ideia de que não há alternativas para os seus princípios, que todos, seja confessando ou negando, têm que adaptar-se a suas normas. (ANDERSON, 2007, p.8)

Estas tendências de reordenamento em virtude do ajuste neoliberal,

15 “A noção de consenso de Washington se refere, em última instância, a um conjunto de instituições financeiras como o FMI, o Banco Mundial, o BID, o Export-Import Bank, etc., todas elas localizadas em Washington (às vezes poucos quarteirões de distância entre si como o Banco Mundial e o BID) e que seguem a mesma lógica e economia política neoliberal, propugnando o modelo de ajuste estrutural e de estabilização.” (TORRES, 2007:109). Trata-se de um receituário elaborado em 1989, composto por dez regras básicas que seguem a lógica do neoliberalismo e recomendado aos países em desenvolvimento, como estratégias para aceleração de seu crescimento econômico e superação das constantes crises estruturais do capital.

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proliferadas principalmente a partir dos anos 1990 e que tiveram impactos

significativos em várias áreas, colocaram a política educacional brasileira em um

novo ciclo de adequação aos interesses do capital. As reformas introduzidas neste

campo deixam clara a posição do governo brasileiro quanto às propostas

apresentadas pelo Consenso de Washington, contendo seus gastos na área pública

e passando a defender a ideia de livre mercado, inclusive no que diz respeito às

políticas sociais, com destaque para a Educação.

Segundo Almeida (2000c:157) a ação do Banco Mundial tem como pano de

fundo a garantia, por meio de financiamentos diretos e da reorientação dos recursos

públicos internos, da inserção dos países periféricos, como é o caso do Brasil, em

uma nova ordem mundial, orientada por novos padrões de consumo, sobretudo os

de bens culturais, ao mesmo tempo em que estes se tornam produtores de mão-de-

obra minimamente qualificada, que atenda aos deslocamentos contínuos das

unidades produtivas, em busca de melhores condições de acumulação de capital.

Ainda de acordo com Almeida (2000b, 2000c) a aprovação da Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em 1996 representou um marco nas

mudanças ocorridas no âmbito da política pública de Educação, estabelecendo um

novo projeto educacional para o país, adequado a um projeto societário cujos

objetivos estão centrados no ajuste da educação escolarizada às necessidades

sociais, técnicas e político-ideológicas da atual fase de expansão do capitalismo.

Logo em seu artigo 1º, a referida Lei apresenta uma concepção ampliada de

Educação, entendendo que a mesma “abrange os processos formativos que se

desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições

de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e

nas manifestações culturais”.

Entretanto, já define que seu conteúdo está restrito somente ao campo da

educação escolarizada, apontando que a mesma deve estar vinculada ao “mundo do

trabalho e à prática social”. (BRASIL, 1996)

Artigo 2º - A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1996 - grifos nossos)

Dentro desta concepção, a Constituição Federal de 1988 também já

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determinava em seu artigo 5º que a Educação é direito de todos e dever do Estado e

da família, devendo ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,

de modo que vise o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício

da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

É possível perceber, tanto no texto constitucional quanto na LDB-96, a

concepção e finalidade da política pública de Educação, no sentido de qualificar as

pessoas para o exercício da cidadania e para o mundo do trabalho, reforçando a

ideia de que, os ajustes aos quais vem sendo submetida respondem pela

necessidade de adaptação ao novo modelo de acumulação capitalista.

Em seu artigo 7º, a LDB expressa outro exemplo de sua vinculação ao ideário

neoliberal, deixando claro seu posicionamento com relação ao livre mercado quando

afirma que o “ensino é livre à iniciativa privada”, desde que sejam cumpridas as

normas gerais aplicadas a todas as instituições de ensino, e haja autorização do

Poder Público para seu funcionamento e capacidade para seu autofinanciamento,

com exceção daquelas comunitárias, confessionais ou filantrópicas.

Com a promulgação de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em

1996, o ensino fundamental, a educação infantil e o ensino médio passam a

constituir a Educação Básica16.

Neste sentido, são integrados aos sistemas municipais de ensino, sendo que

ao primeiro foi atribuído caráter de obrigatoriedade e gratuidade, garantido através

do dever do Estado, inclusive aos que a ele não tiveram acesso na idade própria,

conforme o inciso I do artigo 4º da referida Lei, deixando clara a intenção em cumprir

com os preceitos neoliberais de efetivar uma política focalizada na área mais

significativa para a manutenção da ordem instituída: o ensino fundamental.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento17 (PNUD) tem sido

um bom exemplo da forma adotada pelos organismos internacionais para ditar

16 “Artigo 22 - A educação básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.” (LDB, 1996) 17 Segundo o site do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o PNUD “é a rede global de desenvolvimento da Organização das Nações Unidas, presente em 166 países. Seu mandato central é o combate à pobreza. Trabalhando ao lado de governos, iniciativa privada e sociedade civil, o PNUD conecta países a conhecimentos, experiências e recursos, ajudando pessoas a construir uma vida digna e trabalhando conjuntamente nas soluções traçadas pelos países-membros para fortalecer capacidades locais e proporcionar acesso a seus recursos humanos, técnicos e financeiros, à cooperação externa e à sua ampla rede de parceiros. Em 2000, líderes mundiais assumiram o compromisso de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, que incluem reduzir a pobreza extrema pela metade até 2015.” (Fonte: www.pnud.org.br)

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prioridades para a política interna principalmente dos países de economia

dependente. Estabelece como um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

(ODM) “atingir o ensino básico universal”, tendo como meta brasileira “garantir que,

até 2015, as crianças de todas as regiões do país, independentemente de cor/raça e

sexo, concluam o ensino fundamental”.

Referenciando tais propostas, o Estado brasileiro vem construindo políticas

educacionais que buscam alinhar suas metas com os objetivos daquelas

instituições, insistindo nas parcerias, com forte apelo ao voluntariado, destituindo-se

de suas próprias responsabilidades, incorporando terminologias próprias do ideário

neoliberal.

Assim, em seu artigo 9º, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação determina a

incumbência de elaborar o Plano Nacional de Educação à União, com a colaboração

dos Estados, Distrito Federal e Municípios, apontando em seu artigo 87 que o

referido Plano deverá estar em consonância com a Declaração Mundial sobre

Educação para Todos (1990), resultando em prioridades que se referem à garantia

do ensino fundamental obrigatório somente para crianças entre 7 e 14 anos,

inclusive àquelas pessoas que não tiveram oportunidade de acesso na idade

própria, cabendo aos demais níveis de ensino um caráter suplementar, cuja

ampliação do atendimento seria realizada de maneira progressiva, porém, sem

garantias ou obrigatoriedades.

Outras medidas vêm sendo adotadas nesse sentido. Podemos citar também o

Programa Nacional de Inclusão de Jovens - ProJovem Urbano, vinculado à

Secretaria Geral da Presidência da República, através da Secretaria Nacional de

Juventude.

O ProJovem Urbano, destinado a jovens entre 18 e 29 anos que não

concluíram o ensino fundamental, busca elevar os índices de escolaridade dessa

população através de um ciclo de formação com duração de 18 meses, sendo que

ao final do período, o jovem recebe a certificação de conclusão do ensino

fundamental e qualificação profissional conforme a área escolhida, dentre as opções

oferecidas pelo Programa.

Esta priorização do ensino fundamental como área estratégica de

investimentos tem expressado um esforço do governo brasileiro em seguir as

recomendações dos organismos internacionais, inclusive ampliando o tempo

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destinado a esta etapa, conforme a Lei nº 11.274/0618 e a resolução do Conselho

Nacional de Educação (CNE) nº 03/0519.

Deste modo, é sob a influência dos ajustes neoliberais que a política de

educação brasileira, assim como outras políticas, vem adquirindo novos contornos.

Os anseios da população e dos movimentos sociais envolvidos nesta área

vão sendo substituídos pela lógica do mercado, sob o discurso da incompetência

administrativa do Estado; pela instalação de um clima de competição entre as

instituições educacionais as quais passam a integrar rankings que as classificam

entre as melhores e as piores; pela mercantilização do ensino, que passa a ser

negociado entre consumidores e prestadores de serviço, e pela consequente

inversão da lógica do acesso, onde a classe trabalhadora, historicamente explorada

pelo anseio de acumulação capitalista não consegue ingressar na universidade

pública, pois o ensino público que lhe foi oferecido até então, encontra-se

precarizado e sem condições de preparar-lhe adequadamente para os concorridos

vestibulares.

Instala-se um sistema de avaliação onde a responsabilidade pela qualidade

da formação, tanto superior quanto fundamental e médio, recai sobre o próprio

aluno, sujeito deste processo, incorrendo em um caráter contraditório, que não

qualifica o ensino daquelas instituições com baixo desempenho, ao contrário, as

mesmas passam a ser punidas e estigmatizadas.

A lógica empresarial adotada pelo governo implanta programas de Qualidade

Total nas instituições educacionais e associa o ensino aos princípios mercadológicos

de produtividade e rentabilidade.

Emerge, deste modo, o paradigma da empregabilidade que se refere:

às condições individuais de competência e aptidão para: chegar ao mercado de trabalho, manter-se no emprego e reingressar no mercado de trabalho. (...) A educação permanente seria a estratégia possível de salvaguardar a capacidade de transitar em um mercado de trabalho hipercompetitivo e em constante mutação. (KOIKE, 1999:105)

18 A Lei nº 11.274/06 estabelece a ampliação da duração do ensino fundamental para 9 anos, com matrícula obrigatória, iniciando-se aos 6 anos de idade, sendo estipulado o prazo de até 2010 para a efetivação desta alteração. 19 A Resolução 03/05 do CNAS estabelece as normas para a ampliação do tempo de duração do Ensino Fundamental, indicando inclusive a nova nomenclatura a ser adotada para esta etapa (anos iniciais e anos finais).

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Desta forma, os processos educativos em curso também sofrem profundas

transformações e passam a organizar-se sob a ótica deste novo paradigma, “em

substituição à formação direcionada para o pleno emprego que marcou o período de

hegemonia dos modelos keynesianista-fordista de regulação e produção no

capitalismo” (ALMEIDA, 2000:156).

Contrapõem-se também à perspectiva apontada em Mészáros (2005:55),

segundo o qual “temos que reivindicar uma educação plena para toda a vida”.

Este é o quadro da Política de Educação brasileira que, sob a forte influência

de uma cultura neoliberal, assentada na lógica da privatização dos serviços públicos

e do caráter subsidiário conferido ao Estado, contribui, sem dúvidas, para agravar a

situação de desigualdade social existente no país e que, no campo educacional,

tende a se refletir em desigualdades no acesso e na permanência nas instituições

educacionais, além da impossibilidade de que a classe trabalhadora possa se

apropriar deste espaço enquanto locus para construção de sua própria cultura, de

seu viver histórico e de seu reconhecimento enquanto sujeitos políticos que são.

Para Almeida (2000a:65) “A luta pelo acesso à escola é, portanto, também a

luta pelo acesso a certas condições de elaboração de uma cultura própria dos

diversos segmentos sociais”.

Paulo Freire (1997:64) desenvolve a relação entre educação e cultura tendo

como horizonte o potencial emancipatório contido na primeira. Para ele, a educação

é também uma expressão cultural, é uma prática política cujos sujeitos dessa ação,

educadores e educandos, também são sujeitos políticos. Lima e Caroloto (2009:130)

apontam a concepção de cultura adotada por Paulo Freire:

A cultura - por oposição à natureza, que não é criação do homem - é a contribuição que o homem faz ao dado, à natureza. Desse modo, cultura é todo resultado da atividade humana, do esforço criador e recriador do homem, de seu trabalho por transformar e estabelecer relações de diálogo com outros homens. [...] A cultura é também aquisição sistemática da experiência humana, mas aquisição crítica e criadora, e não uma justaposição de informações armazenadas na inteligência ou na memória.

Aqui a cultura é apresentada a partir de dois pontos básicos. No primeiro, ela

se dá a partir da relação entre homem e natureza, no marco da atividade produtiva,

o trabalho. Já no segundo, a cultura passa a englobar, ainda que de forma implícita,

a ideia de educação, esta entendida não como mera acumulação de informações

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transmitida entre um ser possuidor de tais informações para outro ser vazio, mas

como prática humana que permite avançar na leitura crítica acerca da realidade.

O filósofo marxista István Mészáros, em seu livro “A educação para além do

capital” (2005), tece duras críticas à forma como a educação vem se organizando,

defendendo uma ruptura no modo como ela atende ao modo de produção

capitalista, que prepara as pessoas para o mercado e não para a vida.

Inicia deixando claro que uma “educação para além do capital” não é possível

sem pensarmos em uma transformação profunda, estrutural, na perspectiva de uma

outra ordem societária, ou seja, “uma mudança que nos leve para além do capital,

no sentido genuíno e educacionalmente viável do termo” (MÉSZÁROS, 2005:25).

Assim, se pretendemos alcançar uma alternativa educacional

significativamente diferente, as mudanças não podem ocorrer apenas no nível das

formalidades, buscando apenas ajustes ou remendos, uma vez que a própria

natureza do capital é irreformável, mas devemos buscar a transformação na

essência, na ruptura com a lógica do capital. Para ele:

A educação institucionalizada, especialmente nos últimos 150 anos, serviu - no seu todo - ao propósito de não só fornecer os conhecimentos e o pessoal necessário à máquina produtiva em expansão do sistema do capital, como também gerar e transmitir um quadro de valores que legitima os interesses dominantes, como se não pudesse haver nenhuma alternativa à gestão da sociedade, seja na forma ‘internalizada’ (isto é, pelos indivíduos devidamente ‘educados’ e aceitos) ou através de uma dominação estrutural e uma subordinação hierárquica e implacavelmente impostas. (MÉSZÁROS, 2005:35)

A educação teria, então, a função de operar na reprodução da força de

trabalho e ao mesmo tempo interferir no processo de reprodução do “modo

capitalista de pensar” (MARTINS, 1978), inculcando valores e ideias nos indivíduos

desde cedo, ou seja, quando passam a frequentar a escola, as crianças já começam

a ser preparadas para seu inevitável destino: a inserção no mundo do trabalho.

Resgatando a “incorrigível lógica do capital e seu impacto sobre a educação”,

Mészáros (2005) cita o liberal britânico John Locke, para quem as leis dirigidas aos

pobres ingleses deveriam ser cada vez mais brutais, pregando práticas hediondas e

punições mutiladoras aos réus primários.

Além disso, louvou a ideia de que os pobres ganhassem aproximadamente

mil vezes menos que apenas um de seus cargos governamentais lhe rendia por

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mês, o que lhe proporcionou acumular durante sua vida, uma riqueza comparável a

de um próspero comerciante londrino. “Um grande feito para uma pessoa cuja

principal fonte de renda era explorar - confessadamente de bom grado - o Estado!”

(MÉSZÁROS, 2005:40).

Ainda citando o britânico, Mészáros (2005:41-42) retrata como Locke propôs

a criação de oficinas20 para os filhos dos pobres, justificando que:

Os filhos das pessoas trabalhadoras são um corriqueiro fardo para a paróquia, e normalmente são mantidas na ociosidade, de forma que geralmente também se perde o que produziriam para a população até eles completarem doze ou catorze anos de idade. Para esse problema, a solução mais eficaz que somos capazes de conceber, e que, portanto, humildemente propomos, é a de que, na acima mencionada lei a ser decretada, seja determinado, além disso, que se criem escolas profissionalizantes em todas as paróquias, as quais os filhos de todos, na medida das necessidades da paróquia, entre quatro e treze anos de idade ... devam ser obrigados a frequentar.

Sua preocupação era em aliar a obrigatoriedade do trabalho à obediência

doutrinária imposta pela religião, como forma de “educar” crianças oriundas da

classe trabalhadora, impedindo que as mesmas ficassem expostas ao ócio e à

ausência de limites. Ao mesmo tempo, seria uma forma de obrigar as crianças a

produzirem algo à sociedade através do trabalho forçado de crianças a partir de

apenas quatro anos de idade!

Mészáros (2005) indica, então, como a “internalização” de valores e ideias na

perspectiva da dominação foram substituindo a utilização da brutalidade e da

violência para assegurar a reprodução do sistema do capital.

Aqui a questão central, sob o domínio do capital, é assegurar que cada indivíduo adote como suas próprias as metas de reprodução objetivamente possíveis do sistema. Em outras palavras, no sentido verdadeiramente amplo do termo educação, trata-se de uma questão de ‘internalização’ pelos indivíduos (...) da legitimidade da posição que lhes foi atribuída na hierarquia social, juntamente com suas expectativas ‘adequadas’ e as formas de conduta ‘certas’, mais ou menos explicitamente estipuladas nesse terreno. (MÉSZÁROS, 2005:44)

20 “’Workhouses’, no original. A tradução mais próxima de workhouse, considerando o inglês britânico, é ‘oficina’. No entanto, no inglês americano é ‘instituição correcional’. Certamente, Locke recomendava um trabalho compulsório para os meninos pobres, num presídio especial a que seriam recolhidos.” - Nota do tradutor. (MÉSZÁROS, 2005:41)

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Entretanto, afirma que “as instituições formais de educação certamente são

uma parte importante do sistema global de internalização. Mas apenas uma parte.”

(MÉSZÁROS, 2005:44).

Independente de participarem das instituições formais de educação, os

indivíduos são induzidos a aceitarem os princípios orientadores dominantes e a

sobreporem a perspectiva mercantilizada da sociedade acima de suas próprias

aspirações pessoais. E afirma que “apenas a mais consciente das ações coletivas

poderá livrá-los dessa grave e paralisante situação” (MÉSZÁROS, 2005:45).

Deste modo, já que a educação formal não é a única responsável pela

consolidação do “modo capitalista de produzir e de pensar” ela também não pode

ser a única responsável pela ruptura com essa lógica.

É preciso reconhecer os limites institucionais que a colocam nessa situação e

entendê-la enquanto instituição contraditoriamente inserida nas relações capitalistas,

de onde emerge a dificuldade estrutural em romper com a lógica do capital, na

perspectiva da sobrevivência humana.

E por isso, Mészáros (2005:45) afirma que “no âmbito educacional, as

soluções ‘não podem ser formais; elas devem ser essenciais’. Em outras palavras,

eles devem abarcar a totalidade das práticas educacionais da sociedade

estabelecida”.

É necessário desmascarar a ideologia de um certo discurso neo-liberal, chamado às vezes de modernizante que, falando do tempo histórico atual, tenta convencer-nos de que a vida é assim mesmo. Os mais capazes organizam o mundo, produzem; os menos, sobrevivem. E que “essa conversa de sonho, de utopia, de mudança radical” só faz atrapalhar a labuta incansável dos que realmente produzem. Deixemo-los trabalhar em paz sem os transtornos que nossos discursos sonhadores lhes causam e um dia se terá uma grande sobra a ser distribuída. Esse inaceitável discurso contra a esperança, a utopia e o sonho é o que defende a preservação de uma sociedade como a nossa, que funciona para um terço de sua população, como se fosse possível aguentar por muito tempo tamanho descompasso. (FREIRE, 1997:54)

No debate que aqui construímos, interessa-nos pensar a relação que se

estabelece entre a particularidade da política educacional e o exercício profissional

dos assistentes sociais neste campo contraditório da política social, no sentido de

contribuir com a criação de formas estratégicas de resistência a estas expressões da

dominação e do autoritarismo burguês que incidiram e ainda incidem nesta área,

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reconhecendo sua possibilidade em se constituir um espaço de lutas pela

construção de uma nova cultura. Assim, será sobre este eixo que iremos tecer as

reflexões seguintes.

2.2 - Serviço Social Escolar de Limeira: do cuidar ao educar

Um primeiro aspecto que necessita ser problematizado quando nos referimos

ao exercício profissional dos assistentes sociais no campo da Educação, com

destaque para sua dimensão escolarizada, é o processo pelo qual se dá a “entrada”

destes profissionais neste campo de atuação.

Assim, tendo como eixo central a análise do setor de Serviço Social Escolar

de Limeira, entendemos que esta entrada encontra-se intrinsecamente relacionada

ao processo de desenvolvimento sócio-histórico do país, considerando

principalmente a legislação aprovada após a Constituição Federal de 1988.

Destacamos que a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional - LDB, regulamentando o disposto na CF-88, fora o ponto determinante

para que os assistentes sociais pudessem se inserir na estrutura da Secretaria

Municipal da Educação. Importante mencionar que a LDB fora decisiva para a

implantação do Serviço Social no âmbito da política de Educação em diversos

municípios paulistas, conforme nos mostra a pesquisa de Martins (2007).

Em sua tese de doutorado, a autora evidencia que o principal motivo que

responde pela implantação do Serviço Social nas Secretarias Municipais de

Educação foi o atendimento à determinação imposta por Lei, em decorrência da

promulgação da nova LDB em 1996.

Dentre o total de municípios que apontaram a presença de assistentes sociais

neste campo, 28,6% relatam que, a partir da inserção da educação infantil -

composta pelas creches e pré-escolas - no âmbito da política municipal de

Educação, há também a transferência daqueles profissionais que atuavam nas

creches, estas historicamente vinculadas à Assistência Social.

Dentre estes profissionais estava o assistente social, que passa a fazer parte

do quadro de funcionários das Secretarias de Educação.

Assim, apesar de revestida por um ideário neoliberal que perpassa seu

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conteúdo, a LDB trouxe uma contribuição significativa no que tange a possibilidade

do exercício profissional do assistente social no âmbito da Educação. Neste caso,

particularmente, destacamos o processo de municipalização do ensino fundamental

e a integração das creches e pré-escolas ao sistema municipal como fatores

determinantes para a entrada dos assistentes sociais na Secretaria da Educação no

município de Limeira, inicialmente junto à educação infantil, sendo posteriormente

ampliada a possibilidade de atuação no ensino fundamental.

Recuperaremos, então, a trajetória histórica percorrida pelo setor de SSE de

Limeira, desde seus antecedentes, ou seja, no período em que as creches ainda

eram vinculadas ao órgão responsável pela política de Assistência Social, a

transição destes equipamentos públicos para a Secretaria Municipal da Educação,

em atendimento ao dispositivo legal instalado com a promulgação da LDB, e a

ampliação dos campos de atuação no interior da política educacional, com a entrada

dos assistentes sociais nas Escolas Municipais de Educação Infantil e Ensino

Fundamental - EMEIEFs.

Para esta construção, o resgate de documentos históricos foi fundamental.

Entretanto, destacamos a valiosa contribuição da coordenadora do setor de Serviço

Social Escolar, Paula Bortolan Bocaiúva Forster, que vivenciou boa parte do período

em que as creches ainda eram de competência da Assistência Social, bem como o

momento de transição destas para a Secretaria da Educação, em 1997, e ainda

guarda em sua memória lembranças de todo este processo, o que acabou por

contribuir, sem dúvidas, para a construção de sua identidade profissional e, numa

relação dialética, esta também contribuiu com a construção da identidade do SSE.

Como se trata de uma reconstrução histórica, em muitos momentos a

entrevista faz referência a personagens centrais desta história e que foram

significativos naquele momento.

Refere-se a Zezé (Maria José Bonin), Diretora Técnica do setor de creches do

CEPROSOM21 no período em que estas ainda eram da competência da Política de

Assistência Social.

Dona Ana (Ana Terezinha Carneiro Naleto) foi Secretária Municipal da

Educação durante duas gestões municipais, sendo a primeira de 1997 a 2000 e a

segunda de 2001 a 2004.

21 Autarquia municipal responsável pela gestão da Política de Assistência Social.

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Cláudia, Assistente Social efetiva do CEPROSOM, porém está cedida para a

Secretaria da Educação desde 2000. Tem grande influência na história do setor,

pois foi a primeira profissional a atuar diariamente em uma Escola Municipal de

Educação Infantil e Ensino Fundamental (EMEIEF), contribuindo significativamente

para a ampliação deste espaço sócio-ocupacional, porém encontra-se em situação

de licença sem vencimentos.

Neusinha (Neusa Sanches) foi coordenadora do setor de creches no período

em que as mesmas eram vinculadas ao CEPROSOM, permanecendo nesta função

durante os primeiros momentos após a transição para a Secretaria Municipal da

Educação.

Seu Francisco (Francisco Olbrik) era o Diretor de Vida Escolar no período em

que a entrevistada assumiu a coordenação do setor de Serviço Social22.

Paula nos conta que foi chamada para trabalhar em uma creche no dia em

que apresentou seu Trabalho de Conclusão de Curso, pela então Diretora Técnica

do CEPROSOM, a qual era também professora do curso de Serviço Social do ISCA

Faculdades.

Eu tinha 21 anos, me formei e a Zezé me convidou, eu estudei no ISCA. Na hora em que eu estava terminando, e eu era professora lá na ARIL e no CEMA, então eu trabalhava de manhã e à tarde, fazia faculdade à noite e o que eu queria era ser assistente social na ARIL, no CEMA, que é uma coisa meio óbvia, onde você faz seu estágio, aí ela chega e me fala: Ah Paula, eu estou precisando de mais gente, assistente social para trabalhar comigo, e eu queria você em uma das creches. Na verdade ela já tinha até em mente qual seria a minha creche, que era o CI “José Eduardo”, e ela falou: Vocês podem escolher. Aí cada uma falou uma e eu falei: “Neusa Francisco”. Ela falou: Não Paula, você vai para o “José Eduardo”. Ah, você falou que podia escolher (risos). Não, você vai para o “José Eduardo”. Realmente foi um presente para mim o “José Eduardo”, um pessoal muito bom, (...) como recém-formada (...) me deu muita prática, fui pegando muita experiência. (Paula - Coordenadora do SSE)

Com relação ao seu vínculo empregatício, Paula era contratada como

professora, pelo regime da Consolidação das Leis Trabalhistas - CLT, pela Empresa

de Desenvolvimento de Limeira - EMDEL, autarquia municipal instituída em 1973, e

que encontra-se em processo de extinção. Atuava no Centro de Especialização

22 Neste período não havia um setor chamado Serviço Social Escolar, apenas um setor de Serviço Social, uma vez que as assistentes sociais realizavam seu trabalho apenas nos Centros Infantis, não contemplando as EMEIEFs.

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Municipal do Autista - CEMA e ao ser convidada para trabalhar como assistente

social do CEPROSOM, seu vínculo empregatício permanece o mesmo, sendo

realizada apenas a alteração no cargo e salário. Deste modo, sua contratação fora

mais ágil que outras profissionais contratadas no mesmo período, uma vez que se

tratava apenas de uma retificação em sua documentação.

Posteriormente, o CEPROSOM realizou um concurso público, através do qual

muitas assistentes sociais se efetivaram na autarquia. Com a transição das creches

para a Secretaria da Educação, não somente os assistentes sociais, mas todos os

funcionários das creches são cedidos para esta Secretaria, situação que só viria a

regularizar-se através da realização do concurso público realizado em 2000.

Os assistentes sociais que ainda encontravam-se contratados pela EMDEL e

não efetivaram-se através dos concursos do CEPROSOM e da Secretaria da

Educação foram demitidos, fato narrado pela entrevistada Paula, segundo a qual “a

gente teve vários momentos de mudança da equipe”, porém, “a partir desse

concurso começamos a ter uma equipe mais estável e efetiva. Hoje todas são, o que

é muito legal, mas houve tudo isso daí, e a gente se sentiu um peixe fora da água”.

No que diz respeito à organização das creches, a entrevistada relata o

período em que ainda eram vinculados à Assistência Social.

...já existia antes de 97, todo um projeto, todo um trabalho com creche (...) dentro do CEPROSOM, (...) a gente tinha um setor inteiro que funcionava para as creches, eram 15 creches, quando eu entrei eram 14. (...) Havia um assistente social para cada Centro Infantil, isso em 95 quando eu entrei. Então entrou eu, Mazé e Cláudia, todas juntas pra tampar as creches que estavam descobertas. Antes disso, cada assistente social atendia duas creches, às vezes até três. E um ficava com dificuldade no vínculo com a comunidade, ficava com dificuldade em tocar os projetos que a comunidade mesmo participava. Então a Zezé, pensando em uma coisa de qualidade, chamou a gente, que na época tinha vínculo pela Emdel, e nós viemos e começamos a trabalhar. (Paula - Coordenadora do SSE)

Um aspecto interessante a ser considerado se refere ao fato de que mesmo

antes da transição das creches para a Educação, havia uma preocupação em

disponibilizar um assistente social para cada creche, possibilitando o fortalecimento

dos vínculos com a comunidade. Entretanto, o que vemos hoje é que, em

decorrência da diminuição do efetivo de profissionais do setor e do aumento da

demanda, cada assistente social está atendendo mais de uma Unidade Escolar,

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assunto este a ser tratado adiante.

A atuação dos assistentes sociais nas creches em Limeira iniciou-se com a

implantação das primeiras unidades, ao final da década de 60, trabalho este

vinculado ao então Serviço Social de Limeira - SSL, sendo posteriormente

denominado Centro de Promoção Social Municipal - CEPROSOM, órgão gestor da

Política Municipal de Assistência Social.

Vale ressaltar que somente em 1988 a Assistência Social fora concebida

enquanto Política Pública. Desta forma, o trabalho até então desenvolvido era

permeado por ações caritativas e assistencialistas, sendo as creches consideradas,

pelos setores conservadores da cidade, um “depósito de crianças”, ou seja, um

serviço prestado às famílias “carentes”, desprovidas de local ou pessoa adequada

que promovesse o cuidado de suas crianças durante o horário de trabalho.

Neste sentido, consideramos importante apresentar integralmente a matéria

jornalística que relata, a partir de entrevista com as primeiras responsáveis pelas

creches municipais, o processo de implantação deste serviço no município, uma vez

que esta nos relata importantes elementos para que possamos analisar a atual

configuração da Educação Infantil em Limeira.

Serviço Social de Limeira inaugura 1ª creche municipal

O Serviço Social de Limeira foi o responsável pela implantação da primeira creche municipal da cidade. A diretora técnica, Marilene Pinto Ramalho inaugurou a Casa Maternal da Vila Queiroz, que ficou sob responsabilidade das assistentes sociais. Na época existiam apenas duas creches particulares, a Clélia Prada e a Vicente de Paula. Com a implantação do Serviço Social de Limeira, em 4 de abril de 1968, a Prefeitura concedeu ao órgão, a administração da creche da Vila Queiroz. “A Marilene veio para observar as necessidades da cidade e apresentá-las ao poder público. A creche foi ideia dela, assim como tantos outros projetos pioneiros”, contou a assistente social, Margarida Maria Chizzotti Boni, que trabalhou durante 25 anos com Marilene no Serviço Social. Em 1972, o Serviço Social inaugurou mais uma creche municipal no Jardim Piratininga. O Centro Educacional Branca de Neve ficou sob a administração das voluntárias do Serviço Social, entre elas, a atual presidente da Associação Limeirense de Combate ao Câncer (Alicc), Emília Varga. “Nós fundamos esta creche. O grupo de voluntárias confeccionou os uniformes das crianças e contribuiu com as obras. Foi um trabalho muito bonito, que nós temos orgulho de recordar”, ressaltou. Emília guarda um xerox da matéria do jornalista Pretestato Rodrigues Alves, publicada na Gazeta em maio de 1972. O jornalista relata sua visita à creche, que atendia 75 crianças de 0 a 7 anos. “Ele ficou encantado com o nosso trabalho, pois naquela época apenas a Creche do Prada atendia um número grande de crianças.

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Fiquei na diretoria da creche até 1974, quando me desliguei do Serviço Social e iniciei meu trabalho de combate ao câncer”, contou. VOLUNTARIADO Emília iniciou as atividades como voluntária na Casa da Criança no ano de 1960. Na época, não existiam cursos voltados ao voluntariado, mas com a implantação do Serviço Social, Marilene começou a dar aulas para as voluntárias. “Eu logo me engajei no trabalho que ela estava começando a fazer na cidade e formou-se um grupo de 20 voluntárias. Nós fazíamos visitas domiciliares às famílias carentes, com a entrega de cestas básicas, orientação de higiene e educação. Eu fiquei responsável por um grupo de idosos e com as famílias da Vila Labak, que na época era um bairro que estava começando a se estruturar, por isso existiam muitos problemas”, recordou. DESFAVELAMENTO O trabalho desenvolvido pelas voluntárias nos bairros foi um dos projetos criados por Marilene, com o objetivo de estruturar o aspecto habitacional da cidade, erradicando as favelas. “A Marilene trabalhou para dar melhores condições de vida para estas famílias e principalmente, prepará-las para viver em uma residência estruturada e dentro da sociedade limeirense. A favela em Limeira não ficava centralizada, ela seguia o curso do córrego, por isso o trabalho de desfavelamento foi difícil”, declarou Margarida. Segundo Margarida, o primeiro contato com a Companhia de Desenvolvimento de Habitação Urbana (CDHU) foi feito por Marilene, que também iniciou o primeiro programa habitacional de Limeira, o Profilurb. “A Marilene fazia muitas parcerias com secretarias e empresas. O Profilurb construiu 1.250 casas para os favelados e com ele, outros projetos nasceram e as famílias começaram a ganhar um lar”, contou. (Gazeta de Limeira, 05/04/2008)

A matéria apresentada relata a inauguração das primeiras creches públicas

municipais em Limeira, as quais datam do final dos anos 60, vinculadas ao órgão

denominado Serviço Social de Limeira, em um período histórico em que este tipo de

atendimento não era prestado à população a partir de uma concepção de direito,

acompanhada do dever estatal.

Isto fica muito claro quando uma das entrevistadas relata que um grupo de

voluntárias confeccionou os uniformes das crianças e contribuiu com a obra da

creche. A concepção do trabalho também aparece no relato de que as responsáveis

pela gestão do equipamento era um grupo de voluntárias.

Interessante ressaltar que o voluntariado permeava não somente o trabalho

nas creches, mas outros espaços também, como na área da habitação. Conforme

relata uma das entrevistadas, na época não havia cursos para formação de

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voluntárias, mas a partir da inauguração do Serviço Social de Limeira, a diretora

técnica do órgão passa a oferecer esse curso, o que aponta para a importância do

mesmo na prestação dos serviços à população naquele período.

O Serviço Social em Limeira tem em seu início um viés voluntarista muito

forte, acompanhando o movimento histórico da profissão, que passava por um

momento de questionamento aos referenciais conservadores que até então a

orientavam, quando a mesma “assume as inquietações e insatisfações deste

momento histórico e direciona seus questionamentos ao Serviço Social tradicional

através de um amplo movimento, de um processo de revisão global, em diferentes

níveis: teórico, metodológico, operativo e político.” (YAZBEK, 2009:148).

Apesar das três vertentes de análise que emergiram a partir do Movimento de

Reconceituação (NETTO, 1996) - a vertente modernizadora, a vertente inspirada na

fenomenologia e a vertente marxista -, as particularidades da conjuntura brasileira,

que se expressam principalmente através da ditadura militar, levaram o Serviço

Social a priorizar, nos primeiros momentos desse movimento, uma proposta

“tecnocrática/modernizadora” (YAZBEK, 2009:148-149), a qual caracteriza-se:

pela incorporação de abordagens funcionalistas, estruturalistas e mais sistêmicas (matriz positivista), voltadas a uma modernização conservadora e à melhoria do sistema pela mediação do desenvolvimento social e do enfrentamento da marginalidade e da pobreza na perspectiva de integração da sociedade. Os recursos para alcançar estes objetivos são buscados na modernização tecnológica e em processos e relacionamentos interpessoais. Estas opções configuram um projeto renovador tecnocrático fundado na busca da eficiência e da eficácia que devem nortear a produção do conhecimento. (YAZBEK, 2009:149)

Para Nunes (2009:90) a internalização de uma dada concepção de educação

infantil, determinada por uma cultura fortemente marcada pelo populismo, pelo

clientelismo e pelo autoritarismo, caracterizou o trabalho do educador infantil a partir

de um viés voluntarista “pouco afeto à relação de compra e venda da força de

trabalho do educador enquanto mercadoria inserida nas relações capitalistas de

produção”, o que sem dúvida influencia decisivamente em sua consciência de

classe. E ainda continua: “Ou, quando esta relação existia, não necessariamente

passava - e podemos afirmar que isto ocorre até os dias atuais - por uma regulação

contratual de compra e venda de uma dada força de trabalho”.

Para a autora, esta confusão de papéis existente entre o educador e o

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voluntário foi reforçada por uma visão distorcida acerca da finalidade social do

trabalho desenvolvido nas creches. O enfoque nos cuidados higienistas

descaracterizavam a necessidade de qualquer outro saber especializado, além da

confusão de signos utilizados para referir-se aos profissionais da educação infantil:

pajem, monitor, recreador, “todos envolvidos na teia ideológica do cuidado

voluntarista”. (NUNES, 2009:90)

De fato, esta tendência ao voluntarismo permeou o trabalho dos profissionais

envolvidos não somente com as creches municipais, mas com muitos outros

serviços, conforme apontado acima. Atualmente, prevalece no município a tendência

decorrente do avanço neoliberal de privatização dos serviços públicos e

terceirização de funcionários. Como exemplo, podemos citar a terceirização do

serviço de merenda nas escolas públicas, que reduziu significativamente os postos

de trabalho nesta área dentro do quadro de funcionários efetivos da administração

pública.

Entretanto, há que se considerar que as configurações assumidas pelos

profissionais que atuam junto às Unidades Escolares expressam, de certa forma a

história da própria sociedade, em sua capacidade de responder às inúmeras

expressões da questão social.

No campo da educação infantil, a história nos mostra que as respostas sempre foram dadas em forma de ações da área assistencial, em geral desenvolvidas por instituições filantrópicas ou entidades comunitárias, de modo absolutamente desarticulado às políticas educacionais. Neste contexto, a compreensão do papel desenvolvido pelo profissional de educação infantil (...) deve ser traduzida na compreensão da maneira como o Estado, no Brasil, enfrenta os renovados desafios impostos pelo enfrentamento da pobreza. (NUNES, 2009:90)

O atendimento a crianças em creches foi historicamente permeado por um

enfoque assistencialista e de tutela, vinculado a instituições assistenciais e primando

principalmente (se não exclusivamente) pelos cuidados físicos com a criança privada

dos cuidados maternos, em função da entrada da mulher ao mundo do trabalho.

Na fala da entrevistada Paula é possível perceber o caráter assistencial que

prevalecia nas creches:

...até então, a gente tinha uma visão de desenvolvimento global da criança, mas não tinha a visão do cuidar e educar. A gente

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já cuidava e educava, porque a Zezé tinha uma visão muito boa (...) ela primava pelas reuniões de equipe interdisciplinar, uma visão muito legal, a gente já via o desenvolvimento biopsicossocial da criança, mas como algo muito pobre na parte pedagógica, muito pobre... (Paula - Coordenadora do SSE)

Progressivamente, esses equipamentos públicos passaram a desenvolver um

trabalho de grande importância no desenvolvimento das crianças atendidas,

entendendo que a creche não poderia mais caracterizar-se enquanto um “depósito

de crianças”, mas sim proporcionar seu desenvolvimento integral, considerando as

dimensões biológica, cognitiva, emocional e social. O termo “creche” passa, então, a

ser substituído por “Centro Infantil”.

...o problema de desnutrição foi erradicado (...) porque numa época antes, quase uma década antes, vamos colocar, em 87 mais ou menos, havia muitos casos de criança na creche que tinham que ser mandadas pra ARIL23, pra APAE24, pro CREN25, porque elas desnutriam ali (...) mas depois, quando a Zezé entrou, ela deu um olhar todo especial, entraram também ARIL e APAE e fizeram um trabalho in loco com todas as monitoras. Então as crianças, a partir desse problema que era o desenvolvimento integral, começam a ter um desenvolvimento maciço, foram abolidos os bercinhos, os quadrados, porque antes elas ficavam nos quadradinhos tipo chiqueiro, bem terrível, ficavam todas com a cabecinha careca por ficarem deitadas e quando a Zezé entra, acaba com tudo isso. (Paula - coordenadora do SSE)

Paula relata o quanto foi importante avançar nesta concepção de

desenvolvimento integral da criança, porém, uma mudança deste nível implicou em

uma dificuldade de aceitação dos outros profissionais, “as diretoras ficavam

chorando, onde já se viu, que não iam pôr bebê no chão (...), a criança vai ficar

doente, vai morrer, pegar doença”. Para ela não havia esse olhar para o

desenvolvimento da criança, sua necessidade de rolar nos colchonetes, engatinhar,

“eram muito mais mães, era muito mais maternal mesmo, do que um lugar, uma

23 ARIL - Associação de Reabilitação Infantil Limeirense é uma entidade assistencial fundada na década de 1960, cuja missão é “promover a qualidade de vida das pessoas com necessidades especiais, desenvolvendo suas potencialidades”. (fonte: www.aril.com.br) 24 APAE - Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Limeira é uma entidade assistencial, fundada no município da década de 1960, cuja missão é “promover e articular ações de defesa de direitos, prevenção, orientação, prestação de serviços, apoio à família, direcionadas à melhoria da qualidade de vida da Pessoa Portadora de Deficiência e à construção de uma sociedade justa e solidária”. (fonte: www.limeira.apaebrasil.org.br) 25 CREN - Centro de Recuperação e Educação Nutricional João Ometto é uma entidade assistencial que atua junto a crianças em situação de desnutrição.

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escola, vamos chamar assim”.

Entretanto, apesar desse avanço, os Centros Infantis permanecem tendo

como objetivo central oferecer um espaço adequado ao desenvolvimento das

crianças enquanto suas famílias trabalham.

Esta concepção será modificada somente a partir da transição dos Centros

Infantis para a Secretaria Municipal da Educação, em virtude da promulgação da Lei

nº 9.394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), onde as creches passam

a ser consideradas constitutivas do processo educativo, no âmbito da Política de

Educação.

Artigo 29 - A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físicos, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. (BRASIL, 1998)

Esta transição se fez acompanhada da transferência de todos os funcionários

dos Centros Infantis, inclusive a equipe de assistentes sociais, caracterizando-se

desta forma a inserção dos assistentes sociais na Política Municipal de Educação.

Importante destacar que não foi somente em Limeira que a LDB teve um

caráter fundamental para a entrada dos assistentes sociais nas Secretarias de

Educação.

Conforme já mencionado, em sua tese de doutorado, a pesquisadora Eliana

Bolorino Canteiro Martins (2007) destaca que o atendimento à determinação imposta

por lei foi o principal motivo que levou à implantação do Serviço Social na área da

Educação nos municípios pesquisados.

Atendendo a este preceito jurídico, houve nos municípios a transferência das creches, que historicamente sempre estiveram vinculadas à assistência social, para a educação. Neste processo de transição, os assistentes sociais e quando havia outros profissionais que faziam parte da equipe técnica (psicólogos, auxiliar de enfermagem, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional) que atuavam nas creches foram transferidos para a educação. Muitos profissionais tinham cargo de coordenadores de creche e, ao passar para a educação, assumiram a função de assistentes sociais e a coordenação das creches ficou sob a responsabilidade de educadores (pedagogos). (MARTINS, 2007:105)

Com a transição da Assistência Social para a Educação, o atendimento

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prestado às crianças, passa a ter uma dimensão educativa e não somente

assistencial, atribuindo assim um caráter pedagógico a este atendimento.

Paula nos conta que apesar de a LDB estipular um prazo de até três anos

para a integração das creches aos respectivos sistemas de ensino, em Limeira este

foi um processo iniciado imediatamente após a promulgação da referida Lei, quando

a então Secretária da Educação, Ana Terezinha Carneiro Naleto vê a necessidade

de realizar todas as adequações.

Eu lembro que Limeira foi uma das cidades que mais cedo aderiu à Educação, fez essa transição, então nós dávamos muita palestra pras cidades de fora, inclusive eu, a Leda, a gente foi pra São Paulo pra falar da inclusão, e sempre foi um carro chefe pra cidade, tanto que a gente tem duas creches aí que já datam há mais de quarenta anos. (Paula - coordenadora do SSE)

Em virtude destas alterações, a Prefeitura Municipal de Limeira cria a Lei

Complementar Municipal nº 189, de 17/12/1997 (Apêndice 05), a qual dispõe sobre a

criação de cargos na Administração Pública Direta, em especial nas Secretarias de

Saúde, Fazenda e Administração e Educação, instituindo legalmente o cargo de

Assistente Social junto à Secretaria Municipal da Educação.

A partir da nova concepção de Educação Infantil enquanto direito de

cidadania e responsabilidade do Estado, esse processo se dá em uma conjuntura

bastante paradoxal, onde o Estado se vê forçado a assumir este nível de ensino no

contexto em que o avanço do neoliberalismo convoca a sociedade civil a assumir

todas as responsabilidades estatais.

Assim, a incorporação da Educação Infantil à Política de Educação é

permeada por muitas ambiguidades e contradições, que se expressam não só no

processo de trabalho dos educadores, mas também em seu vínculo empregatício,

repercutindo diretamente em suas formas organizativas de luta (NUNES, 2009:89).

Para Paula, “nas creches, as assistentes sociais que fizeram essa passagem

se sentiram todas perdidas, inclusive eu que tava lá (...) nós tivemos que ler toda a

LDB, nós estudamos a LDB, tivemos que modificar nossa visão”. Também nos relata

detalhadamente o que faziam os assistentes sociais nas creches, antes dessa

transição.

...a gente fazia tudo dentro da creche, (...) via se tinha

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funcionário ou não, fazia escala, assinava abonada, assinava férias, assinava falta, atestado, corria atrás, redistribuía funcionário, tudo, qualquer probleminha que tinha no Centro Infantil eles vinham, procuravam o assistente social e assim ia. Aí quando muda, fica claro que essas atribuições são do diretor, mesmo porque começa a ter uma pessoa responsável administrativamente pela creche, que antes não tinha, era tanto o assistente social quanto o coordenador, eles dividiam essa função, sem ter nada no papel. Mas vem o diretor com as atribuições que constam na LDB, eles começam a assumir o papel de dirigente, de gestores e nisso a gente perde um pouco o rebolado porque a gente fazia muita coisa que não era nossa, mas era tido como nossa. (Paula - Coordenadora do SSE)

Ela nos conta que “ali, por ser muito tempo da Assistência, sempre houve

uma inversão de papéis”, pois “as diretoras não tinham autonomia, elas eram

coordenadoras daquele Centro Infantil e muitas vezes só sendo professora, sem ter

uma pedagogia, nada” (Paula – Coordenadora do SSE).

E ainda relembra que no momento da transição para a Educação, a diretora

do Centro Infantil onde atuava se aposentou, sendo que a outra diretora designada

para substituí-la já havia tido problemas com outra assistente social, “então ela não

estava aceitando o que estava acontecendo e a primeira coisa que ela falou para

mim, quando ela chegou, foi: não precisa, não precisa de uma assistente social oito

horas aqui por dia” (Paula – Coordenadora do SSE).

A fala desta diretora representa um problema que ainda hoje vem sendo

vivenciado pelos assistentes sociais da Secretaria da Educação, ainda que de forma

menos intensa, quando outros profissionais desta área não conseguem

compreender o real significado do exercício profissional do assistente social nas

escolas públicas.

Esta não compreensão muitas vezes encontra-se acompanhada de um olhar

conservador em relação às famílias e à Educação e se expressa através de falas

preconceituosas e do desejo de que o assistente social cumpra um papel

policialesco, fiscalizador e punitivo sobre essas famílias.

Portanto, as alterações no ordenamento jurídico que se referem à educação infantil propiciaram a inserção do Serviço Social na política de educação e alteram o enfoque do atendimento a crianças de zero a seis anos, de assistencial para educativo, trazendo implicações para o assistente social inserido nesta nova estrutura político-administrativa e técnica pertencente à política de educação. (MARTINS, 2007:106)

Após a transição dos Centros Infantis para a Secretaria da Educação, a

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equipe de assistentes sociais fica sob a coordenação de uma assistente social, que

já coordenava o setor de creches no CEPROSOM. Entretanto, a partir de 1999 esta

assistente social retorna ao CEPROSOM, possibilitando o convite feito pela então

Secretária da Educação para que Paula assumisse esse cargo.

A Neusinha fica de 97 até 99 na Secretaria Municipal da Educação. Ela atendia, fazia encaminhamento, essas coisas. Em 99 ela quis voltar para a autarquia, porque queria seguir carreira lá, e deixou em aberto um espaço e eu fui convidada, indicada pela equipe e convidada pela Dona Ana a assumir e a coordenar essa equipe técnica. Então em 1999 eu assumo. (Paula - Coordenadora do SSE)

A partir do convite realizado pela Secretária da Educação, Paula passa a

realizar atendimentos às famílias dentro da Secretaria da Educação, porém, seu

cotidiano compreendia também atividades burocráticas e administrativas. Embora

dividindo sua sala com um Diretor de Vida Escolar e uma Diretora Pedagógica,

conta que foi possível contribuir com todo o processo de trabalho, “deixando uma

cara também do Serviço Social” (Paula – Coordenadora do SSE).

Sua proximidade com essas duas áreas também lhe rendeu uma considerável

experiência e aprendizado.

[com o] Seu Francisco eu comecei a entender mais a área dele que era uma área bem administrativa, bem regimental, então a gente fez parte do lançamento da APM - Associação de Pais e Mestres, que antes não tinha isso, só tinha uma associação de pais mesmo, pra gente poder tocar as creches, então a gente fazia isso e cada creche tinha a sua associação de pais constituída legalmente, mas como a LDB pedia um regulamento, pedia uma coisa com outra cara, formal, então as associações de pais foram mudadas para APM, aí começamos a estudar, entender e então ele já inseriu assistente social na APM. A importância disso, cada regulamento e regimento, ele começou a ler e explicou, me ensinou, onde entra o quê, com o que podia gastar, com o que não podia, então eu tive muita bagagem com o Seu Francisco, foi ótimo ter trabalhado com ele. (Paula - Coordenadora do SSE)

Outra questão apontada pela entrevistada refere-se ao fato de que, quando

esta assume o mencionado cargo, A Secretaria Municipal da Educação havia

instituído o Processo de Aprendizagem Contínua - PAC, que visa oferecer formação

continuada a todos os educadores dos Centros Infantis, contribuindo

significativamente com a qualidade dos serviços oferecidos à população. Para o

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desenvolvimento deste processo, seria necessário o fechamento dos CIs um dia ao

mês, ocasionando certa indignação na população atendida.

Neste sentido, o trabalho realizado pela Coordenadora Paula foi fundamental

para garantir legitimidade ao processo, mostrando às famílias das crianças

atendidas pelos CIs a importância do PAC para a formação profissional dos

educadores das Unidades Escolares.

Um demanda significativa de trabalho neste período também se referia aos

atendimentos relativos a vagas para crianças nos Centros Infantis, em decorrência

da baixa oferta de vagas pelo setor público, um problema que ainda hoje permanece

no município.

2.3 - A entrada dos assistentes sociais no âmbito do Ensino

Fundamental

A partir da frequente solicitação da então Secretária da Educação, Sra. Ana

Terezinha Carneiro Naleto, em 1999 inicia-se ainda de forma frágil a atuação de

assistentes sociais da Secretaria Municipal da Educação de Limeira em Escolas de

Educação Infantil (4 a 6 anos) e Ensino Fundamental (1ª a 4ª séries), as EMEIEFs.

A Dona Ana já começou, Paula atenda EMEIEF, tira elas de creche e atenda EMEIEF também, ela já achava que era muito a gente ficar com creche só, enquanto EMEIEF tinha outros casos maiores e gritantes e ficava a pé. (Paula - Coordenadora do SSE)

Assim, as mesmas profissionais que atuavam nos Centros Infantis, passaram

a realizar atendimentos semanais nas escolas intervindo em problemáticas sociais

emergenciais que interferiam no processo de ensino-aprendizagem. Apesar de

caracterizar-se por um atendimento pontual, a presença do assistente social em

algumas Unidades Escolares abriu muitas portas para que, posteriormente, o

Serviço Social pudesse ampliar seus espaços e se consolidar efetivamente no

âmbito das EMEIEFs.

Em 2000, diante de uma proposta diferenciada partindo de uma Escola

Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental - a EMEIEF “Aracy Nogueira

Guimarães”, situada em uma das regiões com maior índice de vulnerabilidade social

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do município26, a qual trabalhava com um projeto pedagógico diferenciado, que

enfatizava, sobretudo, a conquista da cidadania do aluno e da família para um

desempenho satisfatório e coerente diante do processo educativo, surge a iniciativa

de uma assistente social em direcionar seu trabalho diretamente nesta Unidade

Escolar, demarcando o início do trabalho dos assistentes sociais nas Escolas de

Ensino Fundamental e do setor de Serviço Social Escolar.

(...) ela ficava lá, seis horas por dia nessa EMEIEF no Jd. Odécio Degan. Lá ela viu a necessidade de começar a trabalhar os funcionários, que tinham todo um histórico daquela escola, as pessoas que escolhiam lá eram as que não conseguiam escolher antes. Você ser mandado para aquela escola era um sinônimo de castigo, porque você não foi bem [no concurso], ao mesmo tempo era uma escola mega problemática, com todo esse perfil e ainda com um grau alto de baixa auto-estima. (Paula - Coordenadora do SSE)

Com o trabalho realizado nesta Unidade Escolar, foi possível perceber as

particularidades das EMEIEFs em relação aos Centros Infantis, onde, apesar de

alguns equívocos, historicamente o espaço do assistente social já estava delimitado.

Se o início do trabalho dos assistentes sociais nas EMEIEFs causou uma certa

resistência por parte dos mesmos, assim como dos demais profissionais da

Educação, nos Centros Infantis este problema já foi superado (ou ainda prevalece

com uma incidência pouco significativa).

Se nos CIs a própria estrutura física já prevê a disponibilização de uma sala

ao assistente social, por exemplo, nas EMEIEFs, apesar da resolução 493/06 do

CFESS que dispõe sobre as condições éticas e técnicas do exercício profissional, a

ausência de um local apropriado destinado ao assistente social tem sido uma

situação frequentemente observada e solucionada através de improvisos.

Entretanto, é necessário reconhecer que situações como estas são fruto de

uma cultura educacional onde a presença do Serviço Social em escolas de ensino

fundamental ainda não foi completamente interiorizada da forma como ocorreu nos

Centros Infantis.

Do ponto de vista cronológico, este é um trabalho recente, que conforme já

apontamos, inicia-se efetivamente a partir dos anos 2000, sem mencionar o fato de

que experiências deste tipo ainda são escassas, o que contribui com este

26 Segundo o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social - Fundação SEADE.

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“estranhamento”.

Historicamente, a escola vem sendo concebida como o local onde se

processa a relação ensino-aprendizagem, “lugar onde se ensina” e naturalmente,

quem ensina é o professor. Em função deste ideário tão presente na sociedade

contemporânea, a presença do assistente social na área da Educação tem

causando estranheza e, em alguns casos extremos, até questionamentos por parte

dos demais profissionais deste campo.

Tal concepção encontra-se apoiada em vertentes conservadoras27, que ainda

permanecem com forte presença na sociedade brasileira e explicitam uma cultura

paternalista de controle e dominação sobre as classes subalternas, nos remetendo à

própria formação social e histórica do Brasil, ou como diria Chauí (2007), ao mito

fundador. A escola vem sendo concebida em um terreno marcado por relações

autoritárias e de tutela, um espaço funcional à manutenção da ordem vigente, onde

a concepção de Educação restringe-se ao seu aspecto estritamente pedagógico.

Defendemos que a presença do assistente social no interior da escola não

substitui ou diminui a importância de outros profissionais; logo entendemos que o

processo pedagógico de ensino-aprendizagem é de responsabilidade do professor,

mas este processo não está desvinculado de outros, mais amplos, que também o

determinam.

É necessário que a escola seja reconhecida como um espaço de construção

e fortalecimento de sujeitos políticos, na direção de um projeto cultural de ruptura

com os interesses do capital e que passe a considerar a Educação a partir de seu

sentido amplo.

Deste modo, a questão central para esta análise não se refere à

particularidade de cada profissão no intuito de diferenciá-las, mas sim na tentativa

de buscar pontos em comum que as articulem na busca por um outro modelo de

Educação.

Para Martinelli (1994b:12) “a especificidade de uma prática não pode ser

pensada como exclusividade, mas sim como forma singular de mediações”, como

forma particular de aproximação aos sujeitos e às questões que emergem no

27 Para um aprofundamento acerca do pensamento conservador, ver NISBET, Robert A. Conservadorismo e sociologia. In: MARTINS, José de Souza. Introdução crítica à sociologia rural. São Paulo: Hucitec, 1981; MANHEIN, Karl. O pensamento conservador. In: MARTINS, José de Souza. Introdução crítica à sociologia rural. São Paulo: Hucitec, 1981. Já acerca do conservadorismo no âmbito do Serviço Social, ver IAMAMOTO, Marilda. Renovação e conservadorismo no Serviço Social - ensaios críticos. São Paulo: Cortez, 2008.

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cotidiano escolar, cabendo ao assistente social uma significativa contribuição no

sentido de oportunizar à equipe escolar uma leitura crítica acerca da realidade onde

a escola e os sujeitos do processo educativo se inserem.

De fato, a gente tem uma competência que a parte pedagógica não tem, (...) um entendimento, um olhar diferente, a forma de lidar, a forma de trabalhar as relações de conflito internamente, então tudo isso fazia muita falta para a EMEIEF. (Paula - Coordenadora do SSE)

Neste sentido, Paula nos conta que sempre houve, por parte das assistentes

sociais das EMEIEFs, um questionamento sobre as diretrizes de trabalho diante da

particularidade destas Unidades de Ensino, porém reforça que “Não existe uma

diretriz, (...) não tem que engessar nada porque cada realidade vai demandar um

certo esforço, certa energia em relação a isso, (...) não tem resposta pronta!” (Paula

- Coordenadora do SSE).

As orientações a essas profissionais sempre foram no sentido de iniciar seus

trabalhos a partir da elaboração de um diagnóstico da realidade, de uma leitura

crítica do cenário, das relações que se estabelecem dentro e fora da escola

envolvendo todos os sujeitos.

Observe tudo e todos, porque ali você está fazendo um diagnóstico. Elas [assistentes sociais] falavam: Nossa, estou me sentindo uma samambaia lá dentro! (...) O trabalho delas se dava em projetos voltados à família, à comunidade, mais ou menos como na creche, mas na verdade, era montado em cima do diagnóstico que elas faziam. (Paula - Coordenadora do SSE)

E foi a partir desse diagnóstico elaborado pelos próprios assistentes sociais

que cada uma foi desenvolvendo seu trabalho nas EMEIEFs. Se na primeira

experiência dessa natureza a assistente social Cláudia realizou um trabalho mais

voltado à equipe escolar, contemplando a direção, professores e demais

funcionários, sensibilizando-os quanto às necessidades dos alunos e suas famílias,

em um bairro vizinho a assistente social Mazé percebe, através da leitura que fez,

que as necessidades daquela realidade escolar eram outras.

Na EMEIEF “Maria Aparecida de Luca Moore”, a assistente social direcionou

seu trabalho diretamente às famílias, uma vez que a população atendida pela escola

era proveniente de uma região ocupada por integrantes do Movimento dos

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Trabalhadores Sem-Teto, historicamente culpabilizados e marginalizados por grande

parte da sociedade.

(...) a Mazé entra na EMEIEF Maria Aparecida de Luca Moore e vê que lá não havia problemas com os funcionários, pelo contrário, era uma escola recém-formada, recém-entregue, toda bonita, em ordem. Lá quem tinha que ser trabalhado eram as famílias, os pais dos alunos que não passavam do portão, não tinham o hábito de acompanhar a vida dos filhos mais profundamente. (Paula - Coordenadora do SSE)

No ano de 2000 foi realizado um concurso público exclusivamente para as

Secretarias da Educação e Saúde, motivado, em parte, pelo desenvolvimento das

atividades do setor de Serviço Social Escolar nas EMEIEFs, que culminou em um

aumento nas solicitações, por parte da direção das demais escolas, de atendimento

do Serviço Social.

Progressivamente, a quantidade de assistentes sociais que faziam parte da

equipe do Serviço Social Escolar foi sendo ampliada, contribuindo para que, no ano

de 2003, a coordenação do setor elaborasse um plano de ação buscando expandir a

intervenção do SSE em Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEIs) e em

Escolas Municipais de Educação Infantil e Ensino Fundamental (EMEIEFs). Assim,

conforme as solicitações de atendimento realizadas por estas escolas no ano

anterior, foi possível disponibilizar assistentes sociais para realizar um plantão social

semanal em oito Unidades Escolares.

Embora estes atendimentos fossem realizados apenas de forma pontual e

emergencial, oportunizou a ampliação dos espaços onde o Serviço Social estava

inserido, contribuindo inclusive com o permanente aumento das solicitações de

atendimento na área de Serviço Social pela direção das escolas.

Apresentamos abaixo o gráfico elaborado a partir das informações contidas

no Relatório de Gestão de 200628, o qual destaca a quantidade de EMEIEFs que

solicitaram atendimento do setor de Serviço Social Escolar nos anos de 2003, 2004

e 2005.

28 O Relatório de Gestão é uma das ferramentas que compõem a metodologia da Qualidade Total na Educação (ou Gestão da Qualidade na Educação), elaborado com o objetivo de oferecer subsídio para uma avaliação da implantação desta metodologia na instituição.

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Gráfico 2 - Solicitações de atendimento feitas ao Serviço Social Escolar

19

32

46

05

101520253035404550

1

2003

2004

2005

Fonte: Serviço Social Escolar

Considerando que o período de validade deste concurso era de dois anos,

sendo prorrogado por mais dois, a Secretaria Municipal da Educação identifica a

existência de seis assistentes sociais aprovadas que ainda não haviam sido

chamadas. Nomeia, então, as mesmas, pois o prazo estava se encerrando.

Foram chamadas essas seis. Como todas as creches já estavam tampadas, essas meninas entraram em EMEIEFs. Ficaram lotadas no setor de Serviço Social Escolar, dentro da Secretaria Municipal da Educação e cada uma prestava conta para duas EMEIEFs. Aí começou mesmo o trabalho em EMEIEF. (Paula - Coordenadora do SSE)

Em 2004 foi realizado novo Concurso para a contratação de assistentes

sociais, nas mesmas Secretarias Municipais - Saúde e Educação -, oportunizando a

ampliação do atendimento nas Unidades Escolares e o fortalecimento deste espaço

sócio-ocupacional29. No primeiro semestre de 2010 foi realizado outro concurso

público que previa, inclusive, três vagas para assistentes sociais, sendo que ainda

não foram iniciadas as nomeações.

Apesar de todos os avanços conquistados a partir do início do

desenvolvimento do trabalho dos assistentes sociais em EMEIEFs, muitos desafios

ainda permanecem nesta área.

29 A partir da realização desse concurso, em alguns períodos o Serviço Social Escolar possuía 39 assistentes sociais em seu quadro de funcionários efetivos.

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Embora consideremos que a equipe do Serviço Social Escolar deva construir

sua identidade profissional de uma forma coletiva, levando em consideração

aspectos em comum e não de forma segmentada, é notável a discrepância existente

entre a quantidade de assistentes sociais em Centros Infantis e em EMEIEFs,

conforme será evidenciado no próximo capítulo, fato este passível de mudança a

partir do momento em que seja aprovado o Projeto de Lei nº 60/2007 que institui a

obrigatoriedade de contratação de assistentes sociais e psicólogos nas escolas

públicas municipais.

Paula nos conta que as primeiras EMEIEFs a receber um assistente social

foram selecionadas a partir da demanda que as mesmas apresentavam, no que diz

respeito à necessidade de atendimento do Serviço Social, considerando inclusive as

frequentes solicitações por parte da direção destas escolas de um assistente social

presente diariamente, demonstrando que a equipe escolar estava disposta a

incorporar o trabalho deste profissional.

Em muitos casos, principalmente no início destas experiências, houve,

inclusive, a necessidade de retirar o assistente social de determinadas Unidades

Escolares uma vez que não havia interesse por parte da direção em manter esse

profissional, em parte pelo desconhecimento quanto às reais atribuições da

profissão, atribuindo a ele uma identidade não condizente com aquela que queremos

construir, em consonância com nosso Projeto Ético-Político, e que apoiados por

concepções conservadoras de Educação, a restringem à sua dimensão

escolarizada, daí derivando a ideia de que não é necessária a contribuição trazida

pelo processo de trabalho do assistente social.

A entrada dos assistentes sociais em EMEIEFs não se deu - e ainda não se

dá - de forma tranquila, sem problemas. Além das situações em que foi

estrategicamente necessário recuar, retirando a profissional de algumas unidades,

em outros casos - e isto também está presente em alguns Centros Infantis - essa

concepção equivocada acerca do trabalho do assistente social causou sérios

transtornos. Seguindo a mesma vertente indicada acima - a noção restrita de

Educação aliada a uma identidade atribuída ao assistente social - o posicionamento

de alguns grupos resultou em manifestações favoráveis à permanência da

assistente social na escola.

Entretanto, sua presença deveria expressar uma forma de repressão e

punição aos alunos e suas famílias quando estes não se adequavam às

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expectativas e normas da instituição, mostrando que um dos grandes problemas

encontrados é:

o pouco entendimento das pessoas com a nossa profissão, que acabam esperando certas atitudes, certas ações que não condizem com a nossa profissão e aí eles se frustram (...) e infelizmente a Educação ainda trabalha muito mais com o aspecto punitivo do que educativo. (Paula - Coordenadora do SSE).

A entrevistada Paula segue nos dizendo que seu trabalho é fundamental

neste aspecto.

Aí está o nosso trabalho, fazer esse trabalho com as assistentes sociais das bases para que tenham uma fala diferenciada e que eduquem essas diretoras para a realidade da família de hoje, para a realidade do cenário, da conjuntura. O que ela [a família] ganhou? Ela é assim? Mas ela só está retribuindo tudo o que ela teve. Então como é que nós podemos trabalhar com ela de uma forma que não seja punitiva? É difícil, porque ninguém imagina que está punindo. (Paula - Coordenadora do SSE)

Assim, a ampliação dos espaços ocupados pelos assistentes sociais no

âmbito da política pública de Educação, ao passo em que oportunizaram uma

ampliação qualitativa dos postos de trabalho - fato este que não pode ser

desconsiderado, dada a condição de trabalhador assalariado do assistente social -,

também ampliaram as possibilidades de intervenção profissional no sentido de forjar

formas de enfrentamento às expressões da questão social, na direção de um projeto

societário que supere a ordem do capital. “É uma oportunidade enorme para o

assistente social mostrar para quê veio.” (Paula - Coordenadora do Serviço Social

Escolar).

2.4 - Metodologia da Qualidade Total: uma estratégia de gestão

O Programa da Qualidade Total na Educação (PQTE) foi implantado em

Limeira a partir do ano de 1992, fruto de uma parceria estabelecida entre a

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Fundação Limeira30 e a então Delegacia de Ensino, representada inicialmente pelo

Sr. Cyríaco Antonio Hespanhol, posteriormente substituído pela Sra. Ana Terezinha

Carneiro Naleto, a qual foi delegada de ensino de 1995 a 1996 e assumiu, de 1997 a

2004, durante a gestão do Prefeito Pedro Theodoro Kühl, que foi substituído pelo

vice José Carlos Pejon em 2002, a Secretaria Municipal da Educação de Limeira,

que foi incorporada também enquanto parceira do Programa, cujo principal objetivo

está vinculado à melhoria do processo de ensino e aprendizagem através da

implantação da metodologia da qualidade na rede pública de ensino de Limeira,

sendo esta aplicada tanto nos aspectos pedagógicos, como administrativos.

O cenário político dos anos 90 criou condições favoráveis à implantação de

um programa como este, no contexto das amplas reformas propostas e

implementadas no período e que se expressaram, principalmente através do Plano

Diretor de Reforma do Estado (PDRE), no bojo da difusão do ideário neoliberal no

país.

As escolas passaram a ser concebidas e geridas a partir das mesmas

ferramentas e filosofias que orientam o mundo empresarial. Eiras (2009) relata que a

preocupação com a qualidade era intensa no início dos anos 90 e que se

expressava através da promoção de cursos no Centro Superior de Educação

Tecnológica31 (CESET), financiados por grupos de empresários da cidade, sob a

justificativa de que se as escolas já preparassem os alunos para as necessidades da

esfera produtiva, as empresas não precisariam investir nesta etapa de formação dos

trabalhadores.

Através das parcerias firmadas entre a Fundação Limeira, Diretoria de Ensino,

Secretaria Municipal da Educação e CESET foi possível implantar o Programa da

Qualidade Total na Educação - posteriormente denominado Programa de Gestão da

Qualidade na Educação (PGQE) - no município de Limeira.

30 A Fundação Limeira foi instituída em 1990, tendo como fundadoras 12 empresas e 42 pessoas físicas, representadas por empresários, técnicos e especialistas da área da Qualidade que, sentindo a emergente necessidade de desenvolvimento tecnológico que o mundo nos exigia e exige, decidiram unir esforços para criar uma entidade que se prestasse à promoção da excelência no seu mais amplo sentido. A partir deste momento, a Fundação Limeira passava a exercer importante papel no setor de desenvolvimento da Qualidade, principalmente sob o enfoque Educação. Fonte: www.fundacaolimeira.org.br 31 O Centro Superior de Educação Tecnológica (CESET) foi formalmente criado em 19/11/1988, com a finalidade de incorporar os Cursos de Tecnologia até então vinculados à Faculdade de Engenharia Civil de Limeira. A partir de 2009 passou a chamar-se Faculdade de Tecnologia. A Faculdade de Tecnologia (FT) é uma unidade de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

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À frente da Secretaria Municipal da Educação, Ana Terezinha proporcionou

em 1997 a todos os diretores da rede municipal a capacitação em Gestão da

Qualidade Total na Educação promovida pelo Comitê Executivo do programa, a

exemplo do que já havia feito enquanto ocupava o cargo de delegada de ensino do

Estado. Progressivamente, os professores da rede também receberam a

capacitação.

No segundo semestre do mesmo ano, o curso também foi oferecido às

assistentes sociais do então setor de Serviço Social, buscando alinhar a atuação da

direção escolar no processo da qualidade total (Relatório de Gestão do SSE, 2006).

Além das capacitações no âmbito do gerenciamento da qualidade, também foi

criado o curso para aprofundamento em Gestão da Qualidade, curso para Formação

de Avaliadores, os Seminários Internacionais da Qualidade na Educação e o Prêmio

Fundação Limeira “Em busca da excelência na Educação”.

Em decorrência da aproximação que o setor de Serviço Social, assim como

toda a rede municipal de ensino, estabeleceu com o Programa de Gestão da

Qualidade na Educação, e buscando contribuir para a melhoria na qualidade do

ensino nas escolas municipais, passa a adotar esta metodologia como orientadora

do trabalho do assistente social na Secretaria Municipal da Educação.

Em 1998 o setor constrói, a partir das ferramentas que compõem a

metodologia da qualidade, seu primeiro planejamento estratégico, contando com a

participação de toda a equipe de assistentes sociais e estipulando o negócio, visão,

missão e valores do mesmo.

É importante destacar que, até então, a coordenação do setor era ocupada

pela assistente social Neusa Sanches, sendo substituída em 1999 pela atual

coordenadora, Paula Forster, que deu continuidade à implantação da metodologia

da qualidade no então setor de Serviço Social.

Sempre contando com a participação de toda a equipe de assistentes sociais,

foi construída a Matriz de Forças e Fraquezas, indicando aspectos prioritários “para

que se pudessem realizar “serviços eficientes, efetivos e eficazes para os

fornecedores, parceiros e principalmente para seus destinatários (clientes externos e

internos)” (Relatório de Gestão do SSE, 2006: 5 - grifos nossos)

Fica claro a forma como a metodologia da qualidade - que aqui

consideramos ser não somente um conjunto de ferramentas a favor de melhorias

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na Educação, mas uma forma de apontar e fortalecer um novo conceito de

Educação, pautado em diretrizes empresariais, que a transformam em mercadoria

e institui a lógica da concorrência entre as instituições educacionais - passou a

permear inclusive a linguagem utilizada no meio educacional no município de

Limeira, incluindo o setor de Serviço Social, conforme destacamos no parágrafo

anterior, na contramão das diretrizes e princípios que orientam o Projeto Ético-

Político profissional hegemônico.

É por isso também que é importante compreender que quando um discurso desse tipo se torna hegemônico, ele não apenas coloca ‘novas’ questões, introduz novos conceitos e categorias; ele, sobretudo, desloca e reprime outras categorias, obscurece a memória popular, ocupa o lugar de categorias que moveram nossas lutas no passado, redefinidas agora como anacrônicas e ultrapassadas. (...) O discurso da qualidade total, das excelências da livre iniciativa, da ‘modernização’, dos males da administração pública reprime e desloca o discurso da igualdade/desigualdade, da justiça/injustiça, da participação política numa esfera pública de discussão e decisão, tornando quase impossível pensar numa sociedade e numa comunidade que transcendam os imperativos do mercado e do capital. (SILVA, 1997:21-22)

Longe de penalizar os profissionais do setor de Serviço Social Escolar,

consideramos que, sem a clareza necessária quanto aos horizontes que

norteiam a profissão o setor, estabeleceu-se uma relação com o Programa de

Gestão da Qualidade na Educação bastante contraditória, sucumbindo à lógica

do mercado.

Usuários ou sujeitos da ação profissional são transformados em clientes, a

equipe passa a ser dividida em liderança e força de trabalho, o processo de trabalho

passa a ser guiado por metas, as instituições que compõem a rede de atendimento

são denominadas fornecedores e o Projeto Ético-Político se desdobra em missão,

visão e valores.

Nesta lógica, o setor elaborou pela primeira vez, em 2003, o Relatório de

Gestão, o qual foi submetido à Banca Examinadora do Prêmio Fundação Limeira

“Em busca da excelência na Educação”, sendo premiado com o Selo Prata em

Gestão da Qualidade.

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Foto 10 - Entrega do Selo Prata à Coordenadora do

Setor de Serviço Social Escolar - 2003

Fonte: Acervo do Serviço Social Escolar

Os relatórios são elaborados pelas instituições educacionais que desejam

concorrer ao prêmio, seguindo modelo e critérios estabelecidos pelo Programa de

Gestão da Qualidade na Educação de Limeira, com base nas ações realizadas no

ano anterior e estruturado da seguinte maneira:

1. Liderança

2. Planejamento estratégico

3. Foco nos alunos e demais clientes

4. Informação e análise

5. Gestão e desenvolvimento de pessoas

6. Gestão de processos

7. Resultado do desempenho educacional

A avaliação é realizada pelo Comitê Executivo do Programa, através da

análise dos relatórios e de visita à instituição candidata ao prêmio, contemplando os

seguintes aspectos:

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� Qualidade centrada no cliente;

� Liderança;

� Melhoria contínua e aprendizado;

� Participação e desenvolvimento dos docentes e funcionários;

� Enfoque pró-ativo;

� Enfoque preventivo e qualidade nos projetos;

� Visão de futuro de longo alcance;

� Gestão baseada em fatos;

� Desenvolvimento de parcerias;

� Responsabilidade pública e cidadania;

� Foco nos resultados;

� Inovação e criatividade;

� Comportamento transparente.

Após a fase de avaliação realizada por integrantes do Comitê Executivo e por

avaliadores convidados, as instituições concorrentes ao prêmio são classificadas

conforme o nível de implantação do Programa de Gerenciamento da Qualidade, ou

seja, aquelas consideradas mais próximas ou mais distantes da excelência da

Educação. Este processo, conforme mostra Eiras (2009:104), está centrado em uma

avaliação meritocrática, que classifica as instituições participantes conforme os

seguintes critérios:

� Categoria Troféu: destinado às escolas que atingiram uma pontuação

entre 75% a 100% dentre o total de 600 pontos que compõem o

processo de avaliação;

� Selo Ouro: destinado às escolas que atingiram uma pontuação entre

66% a 75% dentre o total de 600 pontos que compõem o processo de

avaliação;

� Selo Prata: destinado às escolas que atingiram uma pontuação entre

56% a 65% dentre o total de 600 pontos que compõem o processo de

avaliação;

� Selo Bronze: destinado às escolas que atingiram uma pontuação entre

46% a 55% dentre o total de 600 pontos que compõem o processo de

avaliação;

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No ano de 2004, o setor de Serviço Social Escolar atualiza seu planejamento

estratégico contando com a participação de vários sujeitos envolvidos com o

processo educativo das Unidades Escolares, como familiares dos alunos,

professores coordenadores, técnicas em nutrição, diretores e representantes de

funcionários, culminando no estabelecimento de novas diretrizes:

Negócio:

“SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA EDUCAÇÃO”

Valores:

RESPEITO, EMPATIA E ÉTICA

Missão:

“DESENVOLVER PRÁTICAS SOCIOEDUCATIVAS E ASSISTENCIAIS

DESTINADAS À COMUNIDADE ESCOLAR E OUTROS SEGMENTOS”

Visão:

“CONSOLIDAR-SE COMO REFERENCIAL NACIONAL TÉCNICO, CIENTÍFICO E

POLÍTICO EM SERVIÇO SOCIAL ESCOLAR ATÉ O ANO DE 2010”

No ano de 2006, o setor de Serviço Social Escolar elabora, mais uma vez, o

Relatório de Gestão e o submete à avaliação da Banca Avaliadora do Prêmio

Fundação Limeira “Em busca da excelência na Educação”, sendo novamente

contemplado com o Selo Prata.

A implantação do Programa de Gestão da Qualidade na Educação em

Limeira é mais um dos reflexos da cultura autoritária que permeou toda a formação

histórica do Brasil e permanece, ainda hoje, orientando boa parte da forma como se

organiza a política educacional.

O fato de uma das primeiras integrantes do Comitê Executivo do Programa ter

ocupado o cargo de Secretária Municipal de Educação contribuiu sobremaneira para

a implantação do mesmo, difundindo a proposta em todas as escolas, buscando

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legitimá-la junto à rede de ensino e criando condições facilitadoras para que as

metas do programa pudessem ser alcançadas32.

Para isso, o oferecimento dos cursos de capacitação em Gestão da

Qualidade na Educação foi fundamental, sendo uma das formas de difusão do

ideário que orienta o PGQE.

No ano de 2006, em decorrência do grande número de contratações de

assistentes sociais para a Secretaria da Educação, foi realizada uma edição do

curso, especificamente para esses assistentes sociais, contando com a participação

de apenas uma diretora de escola, sendo oferecidas também algumas vagas aos

assistentes sociais do Centro de Promoção Social Municipal - CEPROSOM. O curso

foi integralmente custeado pela Secretaria Municipal da Educação e teve a duração

de aproximadamente dois meses, sendo expedido certificado de Extensão

Universitária pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

Nossa participação nesta edição do curso nos proporcionou os primeiros

contatos com o PGQE e, pelo fato de o grupo ser constituído quase exclusivamente

por assistentes sociais, muitos questionamentos foram realizados junto ao corpo

docente.

O aspecto autoritário que predominou este processo ficou evidente, por

exemplo, nas respostas oferecidas quando as assistentes sociais questionaram

sobre a existência de produção científica de posicionamento contrário aos

Programas de Qualidade Total na Educação e quanto à incoerência entre as

propostas apresentadas e o Projeto Ético-Político que orienta a profissão.

A forma autoritária com que o curso avalia a assimilação do conteúdo ficou

clara no último dia do curso: foi solicitado aos participantes que, a partir do resultado

da avaliação realizada pelo Comitê Executivo do PGQE sobre o Relatório de Gestão

do setor de Serviço Social Escolar, se dividissem em grupos para reescrever o

Relatório a partir dos conhecimentos adquiridos, porém uma das assistentes sociais

se manifestou relatando a intenção em construir uma monografia contendo reflexões

acerca do Programa, o que lhe foi negado.

Sob a justificativa de que a forma de avaliação do curso já havia sido

previamente determinada, todos os participantes foram orientados a realizar o

32 Conforme documento elaborado pelo Comitê Executivo, a meta do Programa para longo prazo (até 2010) é a implantação do PQTE em 80% das organizações educacionais públicas do município de Limeira.

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trabalho final de uma certa maneira, não sendo permitido refletir sobre a viabilidade

ou não do Programa, inclusive no decorrer do curso.

Silva (1997:21) faz uma importante crítica sobre o discurso da participação do

“cliente” e da definição de objetivos e métodos educacionais a partir das

necessidades dos mesmos. Para ele, “a estratégia da qualidade total enquadra o

processo escolar e educacional numa estrutura de pensamento e concepção que

impede que se pense a educação de outra forma”.

Sob a aparência de escolha e participação, a GQT impõe uma visão de educação e gerência educacional que fecha a possibilidade de se pensar de outra forma. A verdadeira escolha consistiria em poder rejeitar a própria ideia de qualidade total, o que equivaleria a rejeitar toda a noção neoliberal de educação. (SILVA, 1997:21)

Recentemente, o Programa de Gestão da Qualidade na Educação vem

encontrando dificuldades para manter-se perante a rede municipal de ensino. As

convergências que culminaram em facilitadores para a implantação e manutenção

do Programa no município, desde meados dos anos 1990, se transformaram em

divergências.

Com a posse do atual Prefeito, Sílvio Félix da Silva, em 2005, a então

Secretária Ana Terezinha Carneiro Naleto é substituída por Antônio Montesano

Neto, que vem ocupando o cargo de Secretário Municipal da Educação desde então.

Conforme estudo realizado por Eiras (2009) o PGQE está encontrando sérias

dificuldades a partir desta transição. Em sua dissertação de mestrado, a autora

demonstra através de relatos de integrantes do Comitê Executivo que a Secretaria

da Educação vem limitando a quantidade de inscrições subsidiadas para

funcionários da rede municipal nos Seminários Internacionais da Qualidade na

Educação, o que interfere diretamente no orçamento do Programa.

Em razão desta dificuldade para estabelecer uma relação mais próxima com

as escolas - e com a própria Secretaria Municipal da Educação - o curso sobre

Gestão da Qualidade na Educação também não foi oferecido no ano de 2008,

rompendo um ciclo de disseminação do ideário da qualidade.

Quanto ao setor de Serviço Social Escolar, a influência anteriormente

exercida de maneira mais intensa pelo PGQE vem, pouco a pouco, sendo

desconstruída. Desde 2006 o setor não elabora o Relatório de Gestão para

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submeter-se à avaliação do Comitê Executivo, tampouco oportuniza aos assistentes

sociais a participação nos cursos de Gestão da Qualidade na Educação. Por outro

lado, as capacitações têm sido oferecidas dentro de outra perspectiva, a exemplo da

contratação do professor Ney Luiz Teixeira de Almeida, mestre e doutor em Serviço

Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e professor assistente da

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Castelo Branco

(UCB), para ministrar o curso de extensão “O trabalho do assistente social na área

da Educação” aos assistentes sociais da Secretaria Municipal da Educação.

O curso foi uma importante contribuição para que a equipe pudesse refletir

sobre vários aspectos da política educacional e seu processo de trabalho neste

espaço contraditório, a partir de uma perspectiva crítica, refletindo inclusive na

linguagem utilizada pela equipe e nas demais capacitações realizadas.

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3 - SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÃO: A EXPERIÊNCIA DE LIMEIRA

Uma vez que nesta dissertação estamos tratando do relato de uma

experiência do Serviço Social Escolar, um setor da Secretaria Municipal da

Educação de Limeira, consideramos importante apresentar alguns aspectos que

caracterizam a questão da Educação no município, principalmente no que se refere

à Política Pública.

A rede pública de ensino é composta por:

� 36 Escolas Municipais de Educação Infantil e Ensino Fundamental - EMEIEFs,

� 17 Escolas Municipais de Educação Infantil - EMEIEs,

� 07 Centros de Educação Infantil e Ensino Fundamental - CEIEFs,

� 18 Centros Infantis - CIs,

� 01 unidade de Educação de Jovens e Adultos - EMES,

� 30 Escolas Estaduais.

No ensino superior, são sete Instituições instaladas em Limeira, sendo

apenas uma pública (Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP), esta com

dois campus no município. Uma das instituições oferece apenas cursos na

modalidade de Ensino à Distância.

Conforme dados do Censo Escolar da Educação Básica33 de 2009, Limeira

possuía, à época, cerca de 52.000 alunos matriculados na rede pública de ensino,

sendo que destes, aproximadamente 23.000 eram alunos da rede municipal.

Um dos grandes problemas historicamente vivenciado pelo município, no 33 “O Censo Escolar é um levantamento de dados estatístico-educacionais de âmbito nacional realizado todos os anos e coordenado pelo Inep. Ele é feito com a colaboração das secretarias estaduais e municipais de Educação e com a participação de todas as escolas públicas e privadas do país. Trata-se do principal instrumento de coleta de informações da educação básica, que abrange as suas diferentes etapas e modalidades: ensino regular (educação Infantil e ensinos fundamental e médio), educação especial e educação de jovens e adultos (EJA). O Censo Escolar coleta dados sobre estabelecimentos, matrículas, funções docentes, movimento e rendimento escolar. Essas informações são utilizadas para traçar um panorama nacional da educação básica e servem de referência para a formulação de políticas públicas e execução de programas na área da educação, incluindo os de transferência de recursos públicos como merenda e transporte escolar, distribuição de livros e uniformes, implantação de bibliotecas, instalação de energia elétrica, Dinheiro Direto na Escola e Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).” Fonte: www.inep.gov.br

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tocante à educação pública, diz respeito à crescente demanda por vagas na

Educação Infantil, o que vem mobilizando parte da imprensa local, profissionais da

educação, Ministério Público e principalmente a população afetada pelo déficit no

atendimento.

O registro da demanda reprimida por creches é de responsabilidade do

Serviço Social Escolar, conforme consta em suas atribuições relacionadas no item

3.2.1.

Para tanto, o setor dispõe de um sistema informatizado, denominado

Cadastro de Demanda e Matrícula (CadDem), desenvolvido especificamente para

esse fim, atrelando o uso de tecnologias como a informática ao mapeamento das

demandas sociais.

Figura 04 - Tela inicial do Programa CadDem

A partir da entrada dos assistentes sociais no cotidiano escolar, surgiu a

necessidade de criar um sistema informatizado que, além de organizar a demanda

por vagas nas creches através de relatórios obtidos por meio dos cadastros, também

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104

oferecesse dados concretos acerca da realidade atendida em cada região do

município.

Esta necessidade culminou em uma parceria com uma empresa, a qual

elaborou o programa CadDem, que expõe através de gráficos uma leitura do

contexto social das famílias atendidas e que procuram o Serviço Social nos Centros

Infantis.

Figura 05 - Relatório gerado pelo programa CadDem

O programa permite acesso de todos os assistentes sociais do Serviço Social

Escolar que, através de senhas individuais, acessam o sistema de qualquer

computador conectado à Internet para consultas ou digitação de cadastros.

Salvo situações esporádicas, todos os Centros Infantis e CEIEFs

disponibilizam um computador para cada assistente social, uma vez que o cadastro

de demanda é efetuado diretamente no sistema, durante o atendimento social, o que

possibilita ao CadDem a emissão de relatórios fidedignos, atualizados diariamente.

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105

O sistema é uma ferramenta de grande importância, pois as informações e

relatórios emitidos de forma sistematizada se constituem em subsídios aos

assistentes sociais, particularmente, e à Secretaria Municipal da Educação de modo

amplo, no que diz respeito à garantia e ampliação das políticas educacionais no

município.

Assim, o plantão social - momento onde são realizados os cadastros para

inclusão na demanda dos Centros Infantis e CEIEFs -, normalmente caracterizado

como o espaço da rotina, do atendimento emergencial e imediato, da mesmice, da

frustração tanto para o profissional quanto para o usuário do serviço, do desgaste e

propício à alienação, pode se constituir também em um espaço favorável à

construção de rupturas com a heterogeneidade, a imediaticidade e a

superficialidade extensiva que determinam a vida cotidiana (NETTO, 2010:67),

considerando a proximidade que este espaço favorece entre sujeito e profissional,

a possibilidade de conhecer histórias de vida e modos de enfrentamento das

condições adversas.

O plantão social pode - e deve - ser utilizado como um momento ímpar para

se estabelecer um vínculo com o sujeito atendido e obter informações que

possibilitem qualificar o exercício profissional do assistente social a partir da leitura

que faz acerca do cotidiano.

Do ponto de vista administrativo, o Serviço Social Escolar se insere

administrativamente no âmbito da Secretaria Municipal da Educação, a qual se

estrutura através dos seguintes departamentos: Diretoria de Educação, Centro

Municipal de Estudos Pedagógicos - CEMEP, Diretoria de Vida Escolar, Diretoria

Técnico-Administrativa, Diretoria de Planejamento, Diretoria de Merenda Escolar,

Diretoria de Gestão de Recursos Financeiros e Patrimoniais, Diretoria de Pesquisas

e Resultados, Setor de Protocolos, Setor dos Agentes de Desenvolvimento

Educacional, Setor de Educação Física e o próprio setor de Serviço Social Escolar,

conforme o organograma a seguir.

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106

Figura 06 - Organograma da Secretaria Municipal da Educação de Limeira

Fonte: Serviço Social Escolar

Secretário

Municipal da

Educação

Conselho

Municipal da

Educação

Diretoria

Técnica de

Planejamento

Diretoria de Gestão de

Recursos

Financeiros e Patrimoniais

Conselho

Municipal de

Alimentação

Escolar

Diretoria

Técnico-

administrativa

Secretaria Municipal da

Educação

Conselho Municipal

de Controle e

Acompanhamento

do FUNDEB

Diretoria de

Merenda

Escolar

Almoxarifado Padaria

Diretoria da

Educação

Diretoria de

Pesquisas e

Resultados

Diretoria de

Vida Escolar

Educação

Física SSE CEMEP

Agentes de

Desenvolvimento

Educacional

CIs CEIEFs EMES EMEIEFs

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107

A sede do setor está localizada próximo à região central da cidade, no prédio

do Centro de Formação do Professor, onde funcionam vários setores da Secretaria

Municipal da Educação, e conta com duas assistentes sociais, sendo uma

coordenadora geral do setor e a outra responsável pelo Programa Bolsa Creche.

Neste espaço o setor também dispõe de:

� 2 Estagiárias de Serviço Social;

� 1 Secretária da Coordenação;

� 4 Assistentes Administrativos;

� 1 Recepcionista;

� 2 Auxiliares Gerais;

O quadro técnico de profissionais do setor de SSE totaliza 28 profissionais do

Serviço Social em efetivo exercício, estando inserido de forma descentralizada 17

Centros Infantis (atendimento à Educação Infantil - de 0 a 6 anos de idade), 9

EMEIEFs (atendimento à Educação Infantil e Ensino Fundamental - de 4 a 10 anos

de idade) e 6 Centros de Educação Infantil e Ensino Fundamental - CEIEFs

(atendimento à Educação Infantil e Ensino Fundamental - de 0 a 10 anos de idade).

Entretanto, as assistentes sociais também atendem 15 escolas particulares

conveniadas com o Programa Bolsa Creche e 02 Escolas Municipais de Educação

Infantil (EMEIs) vinculadas, totalizando 49 Unidades Escolares atendidas pelo setor

de Serviço Social Escolar, conforme o quadro abaixo.

Tabela 01 - Unidades Escolares atendidas pelo SSE

Quantidade de

UEs atendidas Descrição da UE

Assistentes sociais

nesta situação

1 UE 1 Centro Infantil 8

1 UE 1 EMEIEF 2

1 UE 1 CEIEF 2

2 UEs 1 EMEIEF + 1 CEIEF 2

2 UEs 1 CI + 1 CEIEF 1

2 UEs 1 CI + 1 Bolsa Creche 4

3 UEs 1 CI + 2 Bolsa Creche 1

3 UEs 1 CI + 1 EMEIEF + 1 Bolsa Creche 1

3 UEs 1 CI + 1 EMEI + 1 Bolsa Creche 2

3 UEs 2 EMEIEFs 2

6 UEs 1 CEIEF + 5 Bolsa Creche 1

49 UEs 26 assistentes sociais Fonte: Serviço Social Escolar

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Representamos, graficamente, este panorama acerca das Unidades

Escolares atendidas pelas assistentes sociais do setor de Serviço Social Escolar.

Gráfico 03 - Distribuição das assistentes sociais

por quantidade de escolas atendidas

12

9

4

1

0

2

4

6

8

10

12

Assistentes Sociais

1 Unidade

2 Unidades

3 Unidades

6 Unidades

Fonte: Serviço Social Escolar.

Fica evidente, a partir do quadro e do gráfico expostos, que a quantidade de

Unidades Escolares atendidas deveria ser realizada de maneira mais equitativa

entre as assistentes sociais do setor, onde o grande dificultador são as escolas

particulares conveniadas com o Programa Bolsa Creche, a respeito do qual faremos

um detalhamento adiante.

No período que antecedeu a implantação do Programa, as assistentes sociais

estavam distribuídas da seguinte maneira: uma assistente social para cada Centro

Infantil - compreendendo o percurso histórico do setor, onde os assistentes sociais

sempre ocuparam um espaço nos CIs, sendo destinada, inclusive, uma sala

exclusivamente para este profissional em todas as unidades -, uma assistente social

para cada CEIEF - compreendendo a particularidade desta modalidade de

atendimento, que abrange desde a Educação Infantil até o primeiro ciclo do Ensino

Fundamental - e uma assistente social para duas EMEIEFs - esporadicamente para

três EMEIEFs.

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Com o passar do tempo, as escolas de educação infantil da rede privada

foram sendo incorporadas ao Programa Bolsa Creche, gerando assim uma

crescente demanda de trabalho aos assistentes sociais do setor de Serviço Social

Escolar. Ao mesmo tempo, não foram contratadas outras profissionais para suprir

esta necessidade, ao contrário, a equipe foi constantemente remanejada para que

fosse possível garantir, ainda que de forma superficial, a presença do Serviço Social

nestas Unidades.

Ao passo em que foi garantida a presença do setor de Serviço Social Escolar

acompanhando as escolas conveniadas com o Programa, a demanda cotidiana de

trabalho dos assistentes sociais cresceu. Se anteriormente cada uma atendia no

máximo duas Unidades Escolares, com o progresso do Bolsa Creche há assistentes

sociais responsáveis por até cinco escolas conveniadas, além da CEIEF onde já

atuava, dificultando o estabelecimento de vínculos, tanto com os educadores, quanto

com as famílias atendidas, remetendo-nos à fala da coordenadora Paula, quando

relata o período anterior ao seu ingresso no CEPROSOM para trabalhar em uma

creche.

Havia um assistente social para cada Centro Infantil, isso em 95 quando eu entrei, então entramos eu, Mazé e Cláudia, todas juntas para tampar as creches que estavam descobertas. Antes disso, cada uma assistente social atendia duas creches, às vezes até três. E ficava com dificuldade no vínculo com a comunidade, ficava com dificuldade em tocar os projetos (...) Então a Zezé quis um assistente social para cada creche, eu acho que foi um ganho quando ela conseguiu colocar uma assistente social em cada creche. (Paula - Coordenadora do SSE)

Entretanto, um remanejamento das assistentes sociais que garantisse uma

distribuição das Unidades Escolares de maneira mais equitativa não seria viável, do

ponto de vista das atividades realizadas pelos assistentes sociais no Programa

Bolsa Creche. Tomemos como exemplo a situação desta profissional que, além da

CEIEF onde já atuava, também é responsável por cinco escolas particulares

conveniadas com o Programa.

Estas escolas recebem os alunos que estão cadastrados na lista de espera

dos Centros Infantis e CEIEFs mediante a triagem realizada pela assistente social,

conforme os critérios previamente estabelecidos. Assim, a escola fica vinculada ao

CI ou CEIEF mais próximo, uma vez que as famílias ali cadastradas residem ou

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trabalham nas proximidades, sendo fácil o acesso também, à escola conveniada.

Assim, a maioria das escolas conveniadas ao Programa está localizada na

região central da cidade, onde se localiza também a CEIEF atendida por esta

assistente social, ocasionando este acúmulo.

Deste modo, conforme apontaremos ao tratar especificamente do Programa

Bolsa Creche, esta estratégia adotada pelo governo municipal para atender a

crescente demanda por vagas em creche tem repercutido negativamente também no

trabalho das assistentes sociais do setor de Serviço Social Escolar.

3.1 - Perfil dos assistentes sociais do Serviço Social Escolar

Para além da simples referência à equipe de assistentes sociais do setor de

Serviço Social Escolar, importa aprofundar a análise sobre quem é essa equipe,

quem são os sujeitos que dão vida e movimento ao setor, que o fazem acontecer e

se constituir enquanto tal, sendo reconhecido inclusive como referência na área.

Assim, falar sobre o Serviço Social Escolar de Limeira é falar sobre a equipe de

assistentes sociais que constituem a sua identidade.

Importante considerar que a equipe é composta por 28 assistentes sociais

efetivas34 do quadro da Secretaria Municipal da Educação, porém, na data da

aplicação dos questionários, cinco assistentes sociais não puderam comparecer à

reunião. Desta forma, trabalhamos com um universo composto por 23 sujeitos,

incluindo a coordenadora do setor.

Um primeiro aspecto a merecer destaque diz respeito ao fato de que 100% da

equipe técnica é composta por mulheres, ou seja, as 28 assistentes sociais que

compõem o setor são mulheres. A vivência da pesquisadora enquanto assistente

social do setor possibilitou a constatação de que, desde a criação do setor de SSE,

somente um assistente social do sexo masculino fez parte da equipe, porém

havendo desligado-se do setor no ano de 2010 em virtude de aprovação em outro

concurso público. Ressaltamos também que apenas um estagiário de Serviço Social

34 É necessário registrar que algumas assistentes sociais encontram-se em situação de afastamento por diversos motivos, todas amparadas pelo Estatuto do Servidor Municipal, como a licença para tratar de pessoa da família que se encontra doente, licença-saúde, licença sem vencimentos para tratar de assuntos particulares e a licença sem vencimentos por motivo de estudo, onde se enquadra nossa situação.

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111

do sexo masculino fez parte da equipe, no período de julho de 2007 a julho de 2009.

Estes dados apontam para o perfil predominante na profissão, que é

composto majoritariamente por mulheres.

De acordo com o estudo realizado pela Universidade Federal de Alagoas

(UFAL) e pelos Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS), apenas 3% dos

assistentes sociais brasileiros são homens, com maior predominância na região

sudeste, ou seja, 7%.

Tal fato nos remete à própria emergência da profissão no cenário brasileiro,

ou seja, uma profissão que nasce no seio da Igreja Católica, composta por

mulheres, e que tinha como objetivo se instituir como uma alternativa para conter e

atenuar os conflitos decorrentes da expansão da questão social que aflorava

naquela sociedade e se intensificava com o passar do tempo.

A orientação doutrinária que permeou por muito tempo as ações realizadas

pelos assistentes sociais no Brasil marcou de maneira decisiva a construção de um

perfil profissional caritativo, assistencialista e de tutela à população atendida.

O fato de constituir-se essencialmente por mulheres denota à profissão um

caráter de inferioridade e subalternidade, na medida em que se insere em uma

“sociedade fortemente verticalizada em todos os seus aspectos: nela, as relações

sociais e intersubjetivas são sempre realizadas como relação entre um superior, que

manda, e um inferior, que obedece”.

Uma sociedade onde “as diferenças e assimetrias são sempre transformadas

em desigualdades que reforçam a relação mando-obediência” (Chauí, 2007:89), de

modo que às mulheres sempre são conferidas atividades de menor importância, do

ponto de vista de quem exerce a “relação de mando”.

Efetivamente, não se pode pensar o desenvolvimento de uma profissão eminentemente feminina se não se relevar a inserção da mulher no mercado de trabalho, e esta inserção não pode ser explicada senão a partir de uma tensa e contraditória luta feminista por ampliar seus espaços na sociedade. Tensa e contraditória porque, se esta luta conduziu a verdadeiras conquistas das mulheres na vida social, paralelamente significou para o capital contar com mão-de-obra mais barata e com menores custos para a reprodução da força-de-trabalho. O papel das lutas feministas, ampliando os direitos e inserção das mulheres na sociedade ocidental, torna-se peça fundamental para compreender o surgimento de uma profissão como a de Serviço Social. (MONTAÑO, 2007:100)

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Com relação à idade, percebe-se que a maior incidência está na faixa etária

compreendida entre 40 e 49 anos, abrangendo 35% das assistentes sociais, seguida

pelas faixas etárias de 30 a 39 anos, contendo 26% das assistentes sociais e de 20

a 29 anos, contendo 22% destas profissionais. Segue-se o grupo compreendido

entre 50 a 59, com 13% e com menor incidência, as assistentes sociais com mais de

60 anos, somando 4%, conforme o Gráfico 04.

Gráfico 4 - Idade

22%

26%35%

13%4%

20 a 29

30 a 39

40 a 49

50 a 59

mais de 60

Em relação ao estado civil, é interessante observar que mais da metade das

entrevistadas é casada, ou seja, 53%, e que se somadas aos 9% que vivem uma união

estável, representam um total de 62% das entrevistadas que desempenham, no

mínimo, uma dupla jornada de trabalho, pois também precisam se ocupar com os

afazeres domésticos e, em muitos casos, com o cuidado com os filhos, o que nos

implica voltar a pensar sobre as relações de gênero e a contribuição das mulheres com

a manutenção financeira das famílias, através de sua inserção no mundo do trabalho.

Gráfico 5 - Estado civil

53%

30%

9%

4%

4%

casada

solteira

União Estável

divorciada

viúva

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113

Com relação ao município de residência, a grande maioria reside em Limeira,

entretanto, três assistentes sociais residem em cidades vizinhas, sendo uma em

Piracicaba e duas em Iracemápolis, o que de certa forma influencia não somente

nas condições de trabalho das mesmas, mas também na condição de vida, uma vez

que diariamente realizam um percurso relativamente grande, desde suas casas até

o local de trabalho.

Gráfico 6 - Município de residência

87%

4%

9%

Limeira

Piracicaba

Iracemápolis

Já no que diz respeito às características profissionais, perguntamos através

do questionário há quanto tempo as assistentes sociais estavam formadas, sendo

possível observar que a maioria concluiu a graduação na década de 1990, e que

apenas duas se formaram antes de 1989 e nove após 2000.

Neste sentido, importa ressaltar que apenas uma assistente social se formou

em 1972, ou seja, em um período histórico peculiar do desenvolvimento brasileiro,

que se expressava através de forte repressão imposta pela Ditadura Militar, mas ao

mesmo tempo, de grande resistência de vários grupos que se contrapunham ao

regime. Consideramos um período em que predominou o binômio repressão-

resistência, sendo que em cada momento, um lado prevalecia em relação ao outro.

O Serviço Social brasileiro também acompanhou esta tensão. Se por um lado,

desde os anos 60, começaram a ser gestadas as primeiras formas de questionamento

aos referenciais conservadores que até então orientavam a formação e o exercício

profissional dos assistentes sociais brasileiros, este movimento também tem seus

limites impostos pela conjuntura nacional e vai se expressar tanto na busca pela

ruptura, como pela reatualização do conservadorismo.

As demais profissionais do setor de Serviço Social Escolar já tiveram seu

curso de graduação orientado por uma nova matriz (currículo mínimo de 1982 e

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atuais Diretrizes Curriculares), tanto do ponto de vista do cenário brasileiro, quanto

da interlocução entre o Serviço Social e as matrizes do pensamento social. Para

Iamamoto (2008b:51), “tanto a formação profissional, quanto o trabalho de Serviço

Social nos anos 1980, se solidificaram, tornando possível hoje dar um salto

qualitativo na análise sobre a profissão.”

É sobretudo a partir dos anos 1980 e 1990 que o Serviço Social vai avançando

no sentido de imprimir uma direção política à profissão, consubstanciando no

processo de construção de um Projeto Ético-Político.

A partir da interlocução com a teoria social de Marx e da adoção do marxismo

enquanto matriz analítica, aprofunda-se a compreensão de que o Serviço Social é

uma especialização do trabalho coletivo, partícipe do processo de produção e

reprodução das relações sociais, cujo processo de trabalho tem como matéria-prima

a questão social em suas inúmeras expressões (IAMAMOTO e CARVALHO, 2008).

Este avanço que orientou a formação dos assistentes sociais no referido

período contribuiu sobremaneira para o atual desenho da equipe do SSE, resultando

em profissionais que, no limite, são capazes de efetuar uma leitura crítica da

realidade onde intervêm, oferecendo respostas qualificadas às demandas que lhes

são colocadas e construindo mediações fundamentais para avançar na consolidação

do Projeto Ético-Político do Serviço Social.

Gráfico 7 - Ano de conclusão da graduação

9%

52%

39% até 1989

90 a 99

2000 a 2010

Consideramos ainda importante ressaltar que os anos 90, período em que a

maioria das assistentes sociais do SSE concluiu a graduação, também foram

marcados por uma relação bastante contraditória.

Por um lado, muitas conquistas se efetivaram no cenário social,

principalmente no que diz respeito ao avanço no campo da proteção social, em

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115

decorrência da aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente e da Lei

Orgânica da Saúde em 1990, da Lei Orgânica da Assistência Social em 1993, da Lei

de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1996.

Por outro lado, foi um período de grandes mudanças na conjuntura brasileira,

quando o Brasil passou a seguir o receituário neoliberal, promovendo a inserção da

economia numa ordem globalizada, a privatização do Estado, a redução dos gastos

sociais, desenvolvendo, em suma, políticas econômicas com impactos negativos sobre

as condições estruturais da produção e do mercado de trabalho (Alencar, 2008:67).

Tais transformações passam a requerer do assistente social um olhar crítico e

apurado, que considere o contexto onde a profissão se insere, bem como a

presença de forças sociais que possam contribuir com as lutas profissionais e sua

articulação com demais grupos que compartilham dos mesmos interesses.

Neste sentido, a busca constante pelo aprimoramento profissional impõe-se ao

assistente social, no sentido de oferecer subsídio para que o mesmo possa responder

de maneira qualificada às demandas que se colocam em seu cotidiano profissional.

Particularmente no SSE isto tem ocorrido com um índice elevado de profissionais que

realizaram curso de pós-graduação, conforme indicado no gráfico a seguir.

Gráfico 8 - Curso de Pós-Graduação

35%

65%

Não

Sim

Através do questionário aplicado, 15 assistentes sociais relataram possuir

curso de pós-graduação, em diversas áreas, sendo que uma das profissionais possui

titulação de Mestre em Serviço Social, concluída no ano de 1999, e após a aplicação

do questionário, soubemos que outra profissional ingressou no Programa de Estudos

Pós-Graduados da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP, ou seja,

contabilizando também a nossa participação na equipe, totalizam três assistentes

sociais cursando ou já havendo concluído curso de Mestrado em Serviço Social.

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116

Outro ponto importante a destacar refere-se à influência que exerce sobre a

equipe o fato de haver profissionais realizando cursos de aprimoramento

profissional, particularmente, o Mestrado. Na data em que aplicamos o questionário,

várias colegas nos procuraram após a apresentação que fizemos, buscando maiores

informações sobre o referido curso, manifestando assim seu desejo e intenção

também realizá-lo.

A natureza dos cursos, área, instituição e ano de conclusão encontram-se

dispostos na tabela abaixo, sendo importante mencionar que duas assistentes

sociais relataram possuir dois cursos de Pós-Graduação.

TABELA 02 - Cursos de Pós-Graduação Modalidade Área Instituição35 Ano conclusão

01 Especial. Educação Facinter 2010 02 Especial. Educação especial e inclusão Facinter 2010 03 Especial. Educação Faculdade São Luís 2010 04 Especial. Educação FAAL 2009 05 Especial. Educação FAAL 2009 06 Especial. Educação especial e inclusão Facinter 2009 07 Especial. Direito educacional Faculdade São Luís 2008 08 Especial. Direito educacional Faculdade São Luís 2008 09 Especial. Projetos sociais Instituto Aleixo 2007

10* Especial. Violência doméstica contra crianças e adolescentes

USP 2005

10* Especial. Gestão pública e gerência de cidades

Unesp 2004

11* Especial. Criança e adolescente USP 2001 11* Aprimor. Saúde FAMERP 2001 12 Aprimor. Saúde PUC Campinas 2001 13 Especial. Saúde Pública UNAERP 1999 14 Mestrado Serviço Social e Sociedade UNESP - Franca 1999 15 Especial. Recursos Humanos INPG - ISCA 1997

Fonte: Elaboração própria com base nos questionários. *Nota: Os números que aparecem duplicados referem-se à mesma profissional, que realizou dois cursos de Pós-Graduação.

35 Facinter: Faculdade Internacional de Curitiba. Instituição de ensino do Grupo UNINTER, oferece cursos presenciais e à distância, com polo em Limeira. Faculdade São Luís: Localizada em Jaboticabal - SP, oferece cursos de pós-graduação na modalidade à distância. FAAL: Faculdade de Administração e Artes de Limeira. Instituto Aleixo: Com sede em Contagem-BH, oferece cursos de pós-graduação na modalidade de ensino à distância. USP: Universidade de São Paulo. FAMERP: Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto. PUC: Pontifícia Universidade Católica de Campinas. UNAERP: Universidade de Ribeirão Preto. UNESP: Universidade Estadual de São Paulo. INPG: Instituto Nacional de Pós-graduação. ISCA: Instituto Superior de Ciências Aplicadas.

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117

O período de realização destes cursos está concentrado predominantemente

nesta primeira década dos anos 2000, demonstrando que foram realizados

recentemente e que há uma preocupação por parte da equipe em aprimorar-se

continuamente.

O adensamento das contradições emanadas da relação capital e trabalho,

expressando-se de forma explícita no âmbito escolar através da violência doméstica,

da intensificação do uso de drogas, da necessidade de criação de estratégias de

sobrevivência por parte das famílias, entre outras, as quais vêm requisitando ao

assistente social cada vez maior capacidade de realizar leituras críticas para que

possa oferecer respostas condizentes com as necessidades da população.

É possível também que a concentração neste período seja reflexo da

aprovação do Plano de Cargos, Carreiras e Salários, instituído pela Lei

Complementar 403 de 11 de dezembro de 2007, que prevê progressão salarial

conforme acumulação de pontos atribuídos conforme assiduidade, evolução dos

conhecimentos teóricos e práticos e formação escolar.

Entretanto, também é possível - e acreditamos ser esta a justificativa mais

plausível - que se trate de um processo de amadurecimento profissional da equipe,

que passa a reconhecer a necessidade e a importância da educação continuada,

como forma de qualificar seu exercício profissional.

Mas ao mesmo tempo em que a equipe vem amadurecendo, tanto do ponto

de vista intelectual, quanto do efetivo exercício de seu trabalho, isto não se reflete na

produção científica, que permanece inexpressiva, conforme será demonstrado

adiante.

A área em que os cursos foram realizados também demonstra uma

preocupação do assistente social que trabalha no campo da Educação em ampliar

seus conhecimentos em relação ao aparato documental e à legislação educacional,

assim como em alguns aspectos mais particulares, como é o caso da violência

doméstica contra crianças e adolescentes, gestão pública e gerência de cidades,

projetos sociais, sendo que inclusive as outras áreas em que os cursos foram

realizados também podem contribuir com o trabalho realizado no setor de Serviço

Social Escolar.

Os cursos na área da Saúde podem ser aproveitados através do Projeto

“Promoção da Saúde”, desenvolvido pela equipe do SSE e que será aprofundado

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118

adiante, assim como o de Recursos Humanos possui elementos importantes para a

condução e gestão do setor por parte da coordenadora. Identificamos inclusive que

uma das assistentes sociais também possui graduação em Filosofia, além de

Serviço Social.

Gráfico 9 - Experiência profissional antes do SSE

48%52%

Não

Sim

Acerca da experiência profissional, o SSE é o primeiro emprego como

assistente social de 48% da equipe e dentre as demais, as áreas em que já

trabalharam são as mais diversas, porém, com predominância para o campo da

Assistência Social, com destaque para o fato de que uma delas já foi gestora da

referida Política em seu município de origem, e das Organizações Não-

Governamentais, seguido pela Saúde, Empresas, Sistema Penitenciário e Fundação

CASA.

Gráfico 10 - Áreas de experiência profissional

32%

11%28%

17%

6%6% Assistência Social

Empresa

Organização nãoGovernamentalSaúde

Sistema Penitenciário

Fundação CASA

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119

Ainda tratando da inserção profissional destas assistentes sociais no mundo

do trabalho, aparece o dado que nos revela há quanto tempo essas profissionais

trabalham no setor.

Desde a transferência dos Centros Infantis para a Secretaria da Educação,

foram realizados nesta Secretaria três concursos públicos para contratação de

assistentes sociais, sendo o primeiro em 2000, o segundo em 2004 e o terceiro em

2010, sendo que deste último ainda não houve contratações.

Assim, considerando as assistentes sociais que se encontram em efetivo

exercício na equipe do setor de Serviço Social Escolar - 28 assistentes sociais -,

realizamos um levantamento entre toda a equipe e observamos que 15 assistentes

sociais foram admitidas através do concurso realizado no ano de 2000 e 13 pelo

concurso realizado no ano de 2004.

Gráfico 11 - Há quanto tempo trabalham no SSE

54%46% Concurso de 2000

Concurso de 2004

Outro aspecto importante que o questionário revelou refere-se à existência de

seis assistentes sociais que relatam possuir outro emprego, o que significa 26% das

participantes desta etapa da pesquisa.

Uma delas relata trabalhar na microempresa do esposo, outra é proprietária

de uma loja, duas desenvolvem atividades docentes no curso de Serviço Social do

ISCA Faculdades e duas são Orientadoras de Participação Cidadã do Programa

ProJovem Urbano36.

36 Segundo o portal do Programa na internet, o ProJovem Urbano tem a finalidade primeira de proporcionar formação integral aos jovens por meio de uma efetiva associação entre: Formação Básica, para elevação da escolaridade, tendo em vista a conclusão do ensino fundamental; qualificação profissional, com certificação de formação inicial e participação cidadã, com a promoção de experiência de atuação social na comunidade. Fonte: www.projovemurbano.gov.br

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Este dado aponta para a necessidade de aprofundamento das lutas travadas

pela categoria, no sentido de garantir um piso salarial adequado ao trabalho do

assistente social, de maneira que não seja necessário o cumprimento de uma dupla

jornada de trabalho.

Assim, o assistente social em sua condição de trabalhador assalariado

inserido na divisão do trabalho também é afetado pela precarização das relações de

trabalho, fruto das constantes transformações ocorridas no âmbito da cadeia

produtiva e que tem no constante tensionamento salarial uma significativa

expressão.

Se analisarmos também a situação das assistentes sociais que residem em

outra cidade, apesar de serem poucas, a situação se agrava, uma vez que o

município não oferece vale-transporte intermunicipal e as mesmas acabam

utilizando boa parte de seu ordenado mensal nas despesas com transporte.

Quanto à produção científica da equipe, esta ainda é baixa, uma vez que

somente quatro assistentes sociais relataram possuir algum tipo de produção, o que

confirma a tendência histórica na profissão apontada por Almeida (2006), de que os

assistentes sociais têm avançado no sentido de discutir suas práticas, sua inserção

na divisão social e técnica do trabalho, suas possibilidades de atuação no âmbito

das políticas sociais, o significado social da profissão, seus aspectos teórico-

metodológicos e até mesmo seu posicionamento ético-político perante a realidade.

Entretanto, ao mesmo tempo em que avança nestas dimensões, não

desenvolveu uma cultura profissional que atingisse com tamanha intensidade a

dimensão investigativa da profissão, principalmente no que diz respeito à

sistematização do seu trabalho.

Os registros produzidos no âmbito de sua atividade profissional, muitas vezes

se tornam uma peça a mais dentro da estrutura burocrática que compreende a

instituição empregadora.

Desta forma, o Serviço Social, ao passo que foi capaz de forjar certas rotinas e procedimentos de registro de suas atividades prático-interventivas, não conseguiu, porém, imprimir aos mesmos a marca de um esforço de sistematização, quer da realidade social, como das respostas profissionais formuladas que determinam a sua atividade profissional, o seu trabalho em sentido amplo. (ALMEIDA, 2006, p.2)

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Com relação à participação política das assistentes sociais, é expressiva a

quantidade de sindicalizados, ou seja, 14 dentre as 23 participantes desta etapa da

pesquisa afirmaram ser sindicalizadas ao Sindicato dos Funcionários e Servidores

Públicos Municipais de Limeira - SINDSEL, o que demonstra a existência de um

direcionamento político das assistentes sociais, que enxergam nos sindicatos não

somente um espaço de luta pela melhoria de seus próprios interesses “corporativos”,

mas também uma mediação importante na conquista pela garantia de condições de

trabalho de todo o funcionalismo, o que rebate diretamente na qualidade dos

serviços prestados à população.

A articulação política da categoria nestes espaços, assim como em outros,

reflete uma importante dimensão do Projeto Ético-Político profissional.

Gráfico 12 - Sindicalização

39%

61%

Não

Sim

Por outro lado, aparecem as informações relativas à participação das

assistentes sociais em conselhos de direitos e de políticas públicas, revelando que

há um baixo índice de participação nestas instâncias, ou seja, apenas duas

profissionais relatam participar do Conselho Municipal de Assistência Social - CMAS

e uma relata participar do Conselho Municipal de Educação - CME e do Conselho

Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência - CMDPD.

Os conselhos são importantes mecanismos de participação e controle social

sobre o poder do Estado, conquistados em um momento de intensa mobilização da

sociedade civil após um longo período de regime ditatorial.

A promulgação da Constituição Federal de 1988 prevê um novo pacto

federativo, estabelecendo uma nova relação entre os entes federados, de forma que

os municípios passam a ter importantes funções no sentido de fortalecer tanto o

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controle social como também a participação da sociedade civil nas decisões

políticas. (BRAVO, 2009:395)

A partir da aprovação da legislação regulamentadora das diversas políticas

sociais, nos anos 90, os conselhos são criados como espaço de discussão,

elaboração, deliberação e fiscalização das políticas sociais nas diversas áreas. Para

Bravo (2009:396) “os conselhos devem ser visualizados como locus do fazer

político, como espaços contraditórios, orientados pela democracia participativa,

tendo no horizonte, a construção da democracia de massas”.

Assim, consideramos ser esse um importante locus do “fazer profissional”, de

fortalecimento de um projeto societário comprometido com a classe trabalhadora,

demandante por tais políticas públicas, no sentido de consolidação da responsabilidade

estatal perante as reais necessidades da população, de fortalecimento dos direitos

sociais historicamente conquistados e de instrumentalização dos usuários das referidas

políticas para uma participação qualificada e crítica.

Embora em um passado não muito remoto a participação das assistentes

sociais do setor de Serviço Social Escolar tenha ocorrido de maneira mais efetiva37,

através da aplicação do questionário é possível verificar que este espaço necessita

de maior atenção por parte destas profissionais, considerando a baixa participação

nos mesmos, conforme demonstra o gráfico a seguir.

Gráfico 13 - Participação em Conselhos

87%

13%

Não

Sim

37 A partir de nossa experiência profissional no setor de Serviço Social Escolar, observamos que os assistentes sociais já tiveram, no passado, uma participação efetiva em diversos conselhos, como no Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente - CMDCA, no Conselho Municipal de Entorpecentes - COMEN, onde durante muito tempo exerceram a função de presidentes, além daqueles já citados: Conselho Municipal de Assistência Social - CMAS e o Conselho Municipal da Educação - CME.

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Ainda tratando da inserção das assistentes sociais em instâncias de poder

decisório, há um expressivo índice de participação nos Conselhos de Escola e

Associação de Pais e Mestres - APM, havendo também o relato de uma assistente

social sobre sua articulação junto à Associação de Moradores do Bairro e uma que

aponta para sua participação nas reuniões técnicas de planejamento da Secretaria

Municipal da Educação, conforme o quadro abaixo.

TABELA 03 - Participação em instâncias de poder decisório

Instância Quantidade de assistentes sociais

Conselho de Escola 4 Conselho de Escola e APM 5 APM 3 Associação de Moradores de Bairro 1 Reuniões técnicas de planejamento da Secretaria Municipal da Educação

1

TOTAL 14

Fonte: Elaboração própria, com base nos questionários.

Assim, apesar da baixa participação das assistentes sociais do SSE nos

conselhos de direitos e de políticas públicas, verifica-se que as mesmas estão

ocupando os espaços engendrados em instâncias de poder decisório, como nos

Conselhos de Escola e nas APMs, contribuindo desta forma, com a consolidação do

processo de gestão democrática das escolas públicas, o que, segundo Martins

(2007:196) pode acontecer em vários sentidos:

(...) ou seja, desde a luta pela ampliação do acesso da população à escola pública; à participação de toda a comunidade escolar nas instâncias de poder decisório existentes no âmbito da escola e até na relação da escola com a família, a comunidade e a sociedade.

Gráfico 14 - Participação em instâncias de poder decisório

39%

61%

Não

Sim

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Assim, apresentadas as informações relativas à equipe de assistentes sociais

do Serviço Social Escolar, é possível construir uma análise, de forma ampla, sobre

esse importante sujeito coletivo.

Inicialmente é importante considerar que todas as assistentes sociais do

Serviço Social Escolar fazem parte do quadro efetivo de funcionários da Secretaria

Municipal da Educação, sendo que 54% foram admitidas pelo concurso realizado em

2000 e 46% pelo realizado em 2004.

Assim, trata-se de uma equipe composta, atualmente, por mulheres, de várias

idades, porém com predominância na faixa etária de 40 a 49 anos, sendo que 53%

são casadas e 9% possuem uma união estável, ou seja, 62% convivem com marido

ou companheiro.

Dentre o total de participantes desta etapa da pesquisa, 87% residem no

município de Limeira, embora 13% residam em municípios vizinhos e tenham que

deslocar-se diariamente em grandes distâncias até seu local de trabalho.

É uma equipe cujo período de conclusão da graduação concentra-se na

década de 1990 (52% das assistentes sociais) e na primeira década dos anos 2000

(39%), em uma conjuntura marcadamente contraditória.

Por um lado se observavam recentes conquistas no campo da proteção

social, advindas com a Constituição Federal de 1988 e posteriormente com a

aprovação de uma série de leis regulamentadoras das diversas políticas sociais,

mas ao mesmo tempo há uma ameaça a tais conquistas, em virtude da

intensificação de medidas neoliberais que sucumbem o Estado à lógica do mercado,

principalmente através das privatizações e da redução do investimento público na

área social.

Acompanhando as constantes transformações que vêm impactando

decisivamente nas condições de vida da população atendida e nas condições de

trabalho do assistente social, a equipe tem demonstrado uma preocupação em

adensar suas reflexões, voltando-se para a realização de cursos de pós-graduação

em diferentes áreas e modalidades.

Conforme apontado, 65% das assistentes sociais realizaram algum curso de

pós-graduação, com ênfase nas áreas voltadas para a Educação,

predominantemente na primeira década dos anos 2.000, fruto de um processo de

amadurecimento da equipe, que passa a reconhecer a importância de qualificar seu

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exercício profissional continuamente. Entretanto, esse mesmo processo ainda não

atingiu a equipe para a importância da sistematização do conhecimento produzido

nesta área, visto a escassez de produção relatada através do questionário.

O setor de Serviço Social Escolar é o primeiro espaço de trabalho de 48% da

equipe, sendo que as demais possuem experiência em diversas outras áreas, como

a Política de Assistência Social - com destaque para o fato de que uma delas já foi

gestora em seu município de origem - as Organizações Não-Governamentais, a

Saúde, as Empresas, o Sistema Penitenciário e a Fundação CASA.

Importante mencionar outro aspecto contraditório no perfil da equipe, uma vez

que esta, apesar da necessidade de permanecer avançando nestes espaços, tem

participado ativamente de instâncias fundamentais para a garantia da gestão

democrática das escolas onde está inserida, que são os Conselhos de Escola e

APMs, assim como apresenta também um expressivo índice de sindicalização.

Entretanto, necessita se apropriar de maneira mais efetiva dos espaços

instituídos nos conselhos de direitos e de políticas públicas, uma vez que se trata de

um campo significativo para o fortalecimento do exercício profissional, através do

acompanhamento, discussão e deliberação acerca das políticas públicas.

3.2 - Processo de trabalho dos assistentes sociais na Secretaria

Municipal da Educação

A Educação em sua dimensão de política pública, de caráter universal, campo

contraditório de intervenção estatal na vida social, constitui um espaço privilegiado

de atuação para o assistente social. As instituições escolares, em todos os níveis,

encontram-se atravessadas por uma série de fenômenos que, embora não sejam

novos ou estranhos a esse universo, vêm se manifestando de forma cada vez mais

intensa e complexa, requisitando formas de intervenção que extrapolam a prática

pedagógica stricto sensu.

É comum presenciar depoimentos de professores, diretores e outros trabalhadores

da área sobre as dificuldades encontradas no exercício de suas atribuições, muitas

delas resultantes das inúmeras problemáticas sociais que atingem a vida de seus

alunos, com interferência direta na condução do processo de ensino-aprendizagem.

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126

O trabalho profissional realizado pelo assistente social em instituições

escolares está situado no marco de um processo educativo que extrapola os limites

da relação ensino-aprendizagem e que reconhece a educação enquanto instância

da vida em sociedade (ALMEIDA, 2007), sendo este processo de ensino, apenas

uma parte daquele processo mais amplo.

O assistente social realiza uma prática educativa à medida em que contribui,

não somente com questões relativas à aprendizagem dos alunos, mas também

demarca seu trabalho no processo cultural de formação dos cidadãos, de formação

de sujeitos políticos.

Deste modo, Almeida (2007) defende que o simples reconhecimento da

presença da questão social e suas múltiplas expressões no interior das escolas não

justifica, por si só, a presença dos assistentes sociais nesta área.

Sua inserção deve expressar uma das estratégias de enfrentamento desta realidade na medida em que represente uma lógica mais ampla de organização do trabalho coletivo na esfera da política educacional, seja no interior das suas unidades educacionais, das suas unidades gerenciais ou em articulação com outras políticas setorais. (ALMEIDA, 2007: 7)

Para o autor, incorrer nesta defesa acerca da inserção dos assistentes sociais

no campo educacional implica em assumir tais questões como exclusivas da

atuação destes profissionais, não reconhecendo a complexidade da questão social e

a multiplicidade de fatores que nela interferem, sendo necessária uma abordagem

muito mais ampla do que a intervenção única de um profissional.

As instituições educacionais devem ser compreendidas como locus

privilegiado de intervenção profissional a partir da posição estratégica que estas vêm

ocupando na dinâmica societária vigente e da possibilidade que se caracterizem

num espaço de fortalecimento das classes trabalhadoras por meio da concretização

do Projeto Ético-Político do Serviço Social que defende princípios como autonomia,

igualdade, liberdade e a emancipação dos sujeitos sociais.

Martins (2007) aponta para o papel estratégico ocupado pela Política de

Educação e para algumas particularidades das instituições educacionais como um

espaço a ser ocupado pelos assistentes sociais, tais como a possibilidade de

contato mais próximo com as classes subalternas; o território ocupado pelas

instituições educacionais, ou seja, a disponibilidade e permanência deste

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equipamento público em determinada localidade; a possibilidade de uma intervenção

mais consistente junto aos alunos e seus familiares, visto o tempo que estes alunos

permanecem na escola; a centralidade ocupada pela escola diante da construção da

rede de serviços e sua relação com as demais políticas sociais; e a peculiaridade do

financiamento da Política educacional, tendo a garantia constitucional de 25% dos

orçamentos dos município e dos estados e 18% da União.

Desta forma, afirmamos que as possibilidades de atuação do assistente social

nesta área são legítimas, já que sua prática educativa lhe permite ampliar a

discussão acerca da democratização do ensino e desenvolver reflexões mais

abrangentes que contemplem a dimensão social em que a instituição, os sujeitos e

os profissionais se inserem.

O que há que se considerar é que o cotidiano do assistente social é um

espaço amplamente contraditório, em que é possível consolidar sua atuação

profissional ética, pautada pelo projeto hegemônico profissional, onde sua condição

de profissional liberal lhe confere certa autonomia, mas ao mesmo tempo, essa

autonomia se encontra cerceada pela sua condição de trabalhador assalariado, pela

relação de compra e venda de sua força de trabalho.

O projeto de educação burguesa que assistimos hoje não está descolado de um

projeto de sociedade mais amplo, construído em favor de uma classe dominante e que

visa a manutenção do status quo e a continuidade na formação de uma massa

trabalhadora que se reproduza como tal, atendendo aos interesses do capitalismo, não

vislumbrando alternativas a esta condição e nem se reconhecendo enquanto classe.

Assim sendo, a luta por um outro projeto educacional também não pode estar

desarticulada da luta por um outro projeto societário, que se coloque “para além do

capital” (MÉSZÁROS, 2005).

E é exatamente no espaço escolar, apesar de todas as adversidades, que os

assistentes sociais podem - e devem - enfrentar através de seu exercício

profissional, contribuir para a construção de uma outra forma de sociabilidade, mais

justa e igualitária, através de processos educativos amplos, de desocultamento da

realidade e de lutas pela construção de uma outra hegemonia, em consonância com

o Projeto Ético-Político do Serviço Social. Sua presença neste campo se justifica a

partir da possibilidade de se contrapor à ordem do capital, como forma de superação

dos obstáculos da realidade e enfrentamento das expressões da questão social,

contribuindo para a construção de uma educação plena para a vida.

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128

Paulo Freire apontava em seus escritos a crença no potencial que a educação

teria como um dos instrumentos revolucionários da sociedade. Apesar de

reconhecer que esta não seria a alavanca que causaria a transformação, também

não retira dela a importância neste processo. Sem cair em fatalismos ou idealismos

defende que “se a educação não pode tudo, alguma coisa fundamental a educação

pode.” (FREIRE, 2009:112).

Assim, sendo o campo educacional um espaço privilegiado onde o assistente

social realiza seu exercício profissional, também é campo reconhecidamente importante

para a luta contra a situação de dominação a que são submetidos os oprimidos.

Na proposta freireana, esta ruptura só será possível a partir de um processo

de conscientização das massas, de forma permanente, acerca do mundo onde se

inserem, ou seja, a transformação ocorrerá quando os próprios oprimidos tiverem

claro que a opressão não se trata de algo natural ou divino, mas sim de uma

construção humana, surgindo aí a possibilidade de superação desta condição pelo

próprio ser humano, os oprimidos.

Seguindo esta linha de pensamento, situamos o assistente social como um

profissional cuja formação teórico-metodológica e ético-política lhe permite contribuir

com este processo de desocultamento da realidade. Seu projeto de profissão

vislumbra uma sociedade em que os sujeitos tenham clara consciência das relações

que permeiam a sociedade onde estão inseridos, em que possam exercer sua

condição de cidadãos, sem que sua individualidade seja cerceada, concebendo a

liberdade como ‘valor central’.

“Consequentemente, este projeto profissional se vincula a um projeto

societário que propõe a construção de uma nova ordem social, sem

exploração/dominação de classe, etnia e gênero.” (NETTO, 20001:5), ou seja, uma

sociedade “para além do capital” (MÉSZÁROS, 2005).

3.2.1 - Processo de revisão das atribuições dos AS do SSE

Dentre o conjunto de documentos e leis em vigência no âmbito da rede

municipal de ensino de Limeira, é no Regimento Escolar que se encontram

registradas as atribuições dos assistentes sociais do setor de Serviço Social Escolar.

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129

O Regimento Escolar é um instrumento legal que tem o objetivo de normatizar

o funcionamento das Unidades Escolares e estabelecer as atribuições de cada

sujeito envolvido no processo educativo. É um documento de grande importância

para a organização técnica e administrativa das escolas, pois nele estão expressos

os princípios ético-políticos e pedagógicos que orientam o processo de trabalho,

assim como a concepção de educação que prevalece na rede de ensino e nas

Unidades Escolares, particularmente.

Sua elaboração e revisão devem ser realizadas levando em consideração os

princípios democráticos, garantindo a ampla participação de todos os envolvidos,

como familiares dos alunos, comunidade local, professores e demais funcionários

das escolas, para que esta construção coletiva traduza as particularidades e anseios

de cada um destes sujeitos perante a instituição escolar e garanta uma educação de

qualidade para além da ótica mercantil e produtividade e rentabilidade38.

No município de Limeira, cada Unidade de Ensino, seja Centro Infantil, EMEI,

EMEIEF, CEIEF, EJA, possuía seu próprio Regimento Escolar. Em 21 de abril de

2008, através da Portaria nº 10, o atual Secretário Municipal da Educação, Sr.

Antônio Montesano Neto, nomeou uma comissão para apresentação de uma

proposta de alteração do documento, em substituição aos atuais Regimentos

Escolares das unidades da Rede Municipal de Ensino, considerando que o mesmo

não contemplava a atual realidade, incluindo as novas orientações legais e

pedagógicas.

Esta comissão, composta por dois Agentes de Desenvolvimento Educacional

(ADE), uma assistente social, uma diretora de CI, uma diretora de EMEIEF, uma

diretora de EMEI, uma diretora de CEIEF e uma representante do Centro Municipal

de Estudos Pedagógicos (CEMEP), se reuniu por diversas vezes, chegando a uma

versão inicial da proposta de alteração do referido documento, a qual foi

encaminhada para análise e sugestões de todas as escolas da Rede Municipal de

Ensino e setores/departamentos da Secretaria Municipal da Educação.

Buscando contemplar os anseios e expectativas de cada setor/departamento,

bem como atender a legislação vigente e possibilitar que o Regimento Escolar

pudesse se tornar um documento que contivesse a especificidade de cada escola,

uma vez que seria elaborada uma única versão do documento abrangendo todas as

38 Uma reflexão específica sobre este assunto foi realizada no Capítulo 2, especificamente no item 2.4 - A aproximação à metodologia da Qualidade Total.

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Unidades de Ensino, a comissão buscou incorporar as sugestões encaminhadas,

respeitando sempre os limites institucionais e legais.

No caso do Serviço Social Escolar especificamente, as atribuições foram

estudadas pelos próprios assistentes sociais da equipe, os quais buscaram elaborar

uma proposta em coerência com o Projeto Ético-Político, com base na legislação

que orienta a profissão, tendo destaque para o Código de Ética e para a Lei de

Regulamentação da Profissão - Lei nº 8662/93, resultando na seguinte redação:

Seção IV

Do Serviço Social

Art. 35 - O setor de Serviço Social se constitui no âmbito da Unidade Escolar

com o objetivo de contribuir para uma educação emancipatória, atuando junto aos

sujeitos envolvidos no processo educativo, oferecendo respostas profissionais

condizentes com a realidade social, econômica, cultural e política onde se insere.

Art. 36 - São competências do Assistente Social, além das já previstas na

legislação vigente, com destaque para o Código de Ética:

I - Zelar pela garantia do direito ao acesso, à permanência, à qualidade e à

gestão democrática da Unidade Escolar;

II - Contribuir com os processos de formação continuada da equipe escolar,

planejando, elaborando e executando atividades que visem à ampliação do

conhecimento acerca dos assuntos pertinentes à realidade escolar, possibilitando o

aprimoramento das habilidades profissionais e o crescimento pessoal;

III - Promover a integração entre família, Unidade Escolar e comunidade,

visando a contribuir em todo processo educativo do aluno;

IV - Integrar comissões interdisciplinares, intersetoriais, Conselhos,

Associações de Pais e Mestres e Conselhos de Escola, favorecendo a

interdisciplinaridade na Unidade Escolar, incentivando a reflexão sobre o pensar, agir,

executar e discutir diferentes concepções para uma gestão escolar participativa;

V - Incentivar a formação de agremiações, quando for o caso, como forma de

participação do aluno e exercício da cidadania;

VI - Atuar de forma ética junto aos sujeitos que participam do processo

educativo do aluno;

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131

VII - Propor estudos aos profissionais envolvidos no processo educativo que

viabilizem amplo conhecimento da realidade concreta da família dos alunos, a partir

da percepção contraditória das relações sociais;

VIII - Favorecer a valorização da Unidade Escolar, por meio do planejamento de

ações que fortaleçam os vínculos sociais e o comprometimento da comunidade local.

Art. 46 - Constituem atribuições privativas do Assistente Social, além das já

previstas na legislação vigente, com destaque para o Código de Ética:

I - Conhecer e participar da elaboração, da implementação e avaliação do

Plano de Gestão Escolar, no que tange ao Serviço Social;

II - Acompanhar, juntamente com a Direção, os procedimentos e funcionários

que atuam na promoção da saúde na Unidade Escolar, promovendo ações para a

garantia do direito à vida e à saúde dos alunos, em sua área de competência;

III - Manter atualizado o registro da demanda e matrículas da Educação Infantil,

particularmente em CI e EMEIEF, através de sistema informatizado, bem como

demais documentos referentes aos alunos e suas famílias, em seu âmbito de atuação;

IV - Participar de reuniões técnicas, multidisciplinares, interdisciplinares e

intersetoriais sempre que necessário, com seus pares ou demais áreas, conforme a

necessidade;

V - Colaborar para uma gestão democrática e participativa das famílias e da

comunidade, elaborando, coordenando, executando e avaliando estudos, pesquisas,

planos, programas e projetos na área de Serviço Social, viabilizando a participação

dos envolvidos na Unidade Escolar;

VI - Participar, acompanhar e subsidiar a Direção da Unidade Escolar na tomada

de decisões que envolvam sua área de competência, no tocante à gestão escolar;

VII - Produzir material técnico de sua área de competência, planejando,

organizando e elaborando pesquisas que possibilitem obter informações sobre a

população atendida, bem como elaborar análises da realidade social e do contexto

em que se insere a Unidade Escolar, oferecendo subsídios à construção do Plano

de Gestão Escolar e outros instrumentos de planejamento;

VIII - Assessorar a Direção da Unidade Escolar em casos de matrículas,

quando for o caso, ou de famílias e alunos acompanhados por autoridades

judiciárias, realizando acompanhamento social, produzindo relatórios e emitindo

pareceres técnicos sobre o assunto, garantindo a inviolabilidade dos direitos sociais;

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IX - Promover ações integradas aos recursos existentes na comunidade local,

criando um canal facilitador para o atendimento aos alunos e familiares;

X - Desenvolver e participar de demais atividades relacionadas à sua área de

atuação, dentro e fora do ambiente escolar, sempre que necessário ou solicitado

pelos órgãos competentes.

Embora reconhecendo a necessidade de pequenos acertos na redação da

proposta, a explicitação dos objetivos, competências e atribuições do setor de

Serviço Social Escolar em um documento de tamanha importância como o

Regimento Escolar, contribui sobremaneira para a desmistificação sobre o trabalho

do assistente social, particularmente na área da Educação.

No decorrer da entrevista realizada com a coordenadora do setor, Paula

Forster, fica clara a concepção distorcida acerca do trabalho do assistente social que

ainda prevalece em alguns segmentos dentro da Rede Municipal de Ensino. A

entrevistada relata que muitos diretores solicitam um assistente social para trabalhar

na escola com vistas à elevação do resultado de avaliação como do Índice de

Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB)39, deixando clara a concepção de

educação com a qual a escola trabalha.

Então uma grande parte dos diretores, principalmente dos concursados, não têm ideia do que o assistente social faz na escola, e a gente recebe também assistente social para trabalhar na Educação que não tem ideia do que seja a Educação. (...) mas eu acho que sempre vai ter esse diretor desavisado quanto a nós, diretor, professor, ideias e concepções errôneas, eu já ouvi a assistente social trabalhar de uma forma a guardar todos os direitos da criança e ser mal entendida, ser mal interpretada por professores. (Paula - Coordenadora do SSE)

39 “O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) foi criado em 2007 para medir a qualidade de cada escola e de cada rede de ensino. O indicador é calculado com base no desempenho do estudante em avaliações do Inep e em taxas de aprovação. Assim, para que o Ideb de uma escola ou rede cresça é preciso que o aluno aprenda, não repita o ano e frequente a sala de aula. Para que pais e responsáveis acompanhem o desempenho da escola de seus filhos, basta verificar o Ideb da instituição, que é apresentado numa escala de zero a dez. Da mesma forma, gestores acompanham o trabalho das secretarias municipais e estaduais pela melhoria da educação. O índice é medido a cada dois anos e o objetivo é que o país, a partir do alcance das metas municipais e estaduais, tenha nota 6 em 2022 - correspondente à qualidade do ensino em países desenvolvidos.” Fonte: www.potal.mec.gov.br A partir do exposto, é possível reafirmar que a Política de Educação no Brasil vem sendo organizada a partir de patamares estabelecidos internacionalmente, centradas em avaliações meritocráticas e classificatórias, que impõem a concorrência entre as instituições educacionais, a partir de critérios de produtividade e rentabilidade.

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Por esta razão, consideramos importante o desenvolvimento de ações que

busquem trazer a público e esclarecer sobre a real contribuição que o Serviço Social

pode oferecer no âmbito das instituições educacionais, de que forma pode contribuir

com o processo educativo que se dá nestas instituições, ou seja, quais as

características que particularizam esta profissão em sua relação com os demais

profissionais da área da Educação.

Paula, durante a entrevista, aponta para esta necessidade, inclusive

menciona a existência de um planejamento no sentido de mostrar a toda Rede

Municipal de Ensino quais são as atribuições dos assistentes sociais na área da

Educação.

A gente está pensando em fazer agora, nos próximos trabalhos, a apresentação do Serviço Social para os diretores, para os professores, então esse ano nós vamos montar uma palestra sobre o que é o Serviço Social, como ele atua, quais são os casos, um material didático, de uma ou duas horas, com uma apresentaçãozinha de filme, essas coisas, uma coisa para ninguém dormir, mas bem didática mesmo. Qual é a função, quando chamam, o porquê da visita, a visita é uma ferramenta, não é nenhum processo, mas a gente desempenha isso quando acha necessário porque, então mostrar esse mundo para elas terem mais entendimento e querer participar desta construção socioeducativa junto com a gente. (Paula - Coordenadora do SSE)

Ações como estas relatadas pela entrevistada são fundamentais para que se

possam construir identidades profissionais em sintonia com os anseios e

expectativas da própria categoria de assistentes sociais, orientadas por um projeto

profissional crítico, que reconhece a área da Educação não apenas um campo a

mais para o exercício profissional, mas um espaço singular onde se forjam lutas em

torno da disputa pela hegemonia, e que o assistente social, assim como outros

profissionais podem - e devem - se posicionar na perspectiva de grupos com os

quais assumiu seu compromisso político, com a classe trabalhadora.

Nesta perspectiva, é preciso reconhecer que os embates surgidos em torno

da elaboração e aprovação da proposta de Regimento Escolar não são poucos.

O confronto de ideias, iniciado já nas primeiras discussões entre a própria

comissão, se intensificou quando este foi encaminhado às escolas para estudo e

sugestões.

Muitas das alterações propostas que buscavam romper com o aspecto

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repressor e autoritário que historicamente vem permeando a Política Pública de

Educação foram amplamente contestadas, inclusive algumas das atribuições do

setor de Serviço Social Escolar.

Algumas sugestões, advindas das Unidades Escolares alteravam a redação

dos artigos, enfatizando a relação hierárquica entre a direção escolar e o assistente

social, reforçando relações autoritárias entre os mesmos e tensionando a relativa

autonomia profissional do assistente social.

Para Iamamoto (2008b, 2008d) a relativa autonomia de que é dotado o

assistente social se refere às tensas relações entre a condição de trabalhador

assalariado e a intencionalidade expressa em seu Projeto Ético-Político

Profissional.

Para a autora, esta tensa relação consubstancia-se em uma relativização da

autonomia profissional na condução de seu trabalho, autonomia esta conferida por

meio de seu estatuto de profissão liberal e que é condicionada pelas lutas em busca

da hegemonia na sociedade, as quais alargam ou retraem as bases de sustentação

que direcionam o exercício profissional do assistente social.

Em outras palavras, são as intensas disputas em torno da hegemonia,

permeadas por interesses de diversos grupos e classes sociais que fortalecem ou

enfraquecem a possibilidade de o assistente social imprimir uma direção social à sua

ação profissional, no sentido de consolidação do Projeto Ético-Político (IAMAMOTO,

2008d:415).

Verifica-se uma tensão entre projeto profissional, que afirma o assistente social como um ser prático-social dotado de liberdade e teleologia, capaz de realizar projeções e buscar implementá-las na vida social; e a condição de trabalhador assalariado, cujas ações são submetidas ao poder dos empregadores e determinadas por condições externas aos indivíduos singulares, às quais são socialmente forjados a subordinar-se, ainda que coletivamente possam rebelar-se. (IAMAMOTO, 2008d: 416)

Trata-se de uma profissão que requer uma mediação institucional para que se

efetive, uma vez que não detém todos os meios necessários para a concretização

de seu trabalho; estes se encontram sob o controle do empregador, o qual

determina, conforme seus interesses, o objeto sobre o qual o profissional irá

trabalhar, as condições sobre as quais esse trabalho será realizado, ou seja:

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o assistente social depende, na organização da atividade, do Estado, da empresa, entidades não-governamentais que viabilizam aos usuários o acesso aos seus serviços, fornecem meios e recursos para sua realização, estabelecem prioridades a serem cumpridas, interferem na definição de papéis e funções que compõem o cotidiano do trabalho institucional. (IAMAMOTO, 2008b:63 - grifos do autor)

Sendo assim, “a instituição não é um condicionante a mais do trabalho do

assistente social”, mas sim quem “organiza o processo de trabalho do qual ele

participa”. (IAMAMOTO, 2008b:63 - grifos do autor)

Mas isto não significa negar a existência de uma certa autonomia, ainda que

relativa, uma vez que o profissional também é capaz de negociar, junto ao

empregador, tais condições de trabalho, e imprimir “sentido e direcionalidade” à

ação profissional (MARTINELLI, 2009).

Deste modo, há que se considerar a profissão a partir de duas dimensões,

que não se justapõem, pelo contrário, expressam ao mesmo tempo duas facetas de

um mesmo fenômeno. Por um lado, enquanto atividade profissional movida

historicamente pela consciência de seus agentes, e por outro lado, enquanto

profissão determinada pelos processos sociais e históricos nos quais se inscreve e

que direcionam sua prática profissional, para além da vontade de seus agentes.

(IAMAMOTO e CARVALHO, 2008:73)

A unidade entre essas duas ‘dimensões’ é contraditória, podendo haver uma defasagem entre as condições e efeitos sociais objetivos da profissão e as representações que legitimam esse fazer. Em outros termos: uma defasagem entre intenções expressas no discurso que ratifica esse fazer e o próprio exercício desse fazer. O esforço está direcionado, pois, para apreender o Serviço Social inserido no processo social. (IAMAMOTO e CARVALHO, 2008:73 - grifos dos autores)

Martinelli (2009:149-150) também aponta que, sendo o assistente social um

trabalhador assalariado, “a definição do sentido e direcionalidade para a ação

profissional se faz em meio a uma relação complexa e contraditória, em que estão

em jogo múltiplas determinações, de natureza macrossocial, que não só a

influenciam como, na verdade, a constituem”. Assim, aponta para o caráter não

homogêneo, porém hegemônico do projeto ético-político do Serviço Social, daí

derivando a possibilidade de surgimento de distintos projetos em disputa, sendo por

isso importante destacar que “a hegemonia é conquista e não outorga” (2009:151).

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Importante ressaltar, também, que os projetos profissionais se relacionam ao projeto

societário mais amplo, embora nem sempre tenham a mesma direção, emanando a

necessidade de ultrapassar os limites profissionais e articular alianças junto a outras

categorias e grupos que compartilhem dos mesmos princípios.

Para a autora, é extremamente importante que os profissionais do Serviço

Social estejam aptos a realizar leituras críticas da realidade, estando atentos à

estrutura, à conjuntura e ao cotidiano, para que possam construir formas mais

efetivas de consolidação do Projeto Ético-Político. Afirma ser “no cotidiano que as

determinações conjunturais se expressam e que se coloca o desafio de garantir o

sentido e a direcionalidade da ação profissional” (2009:152).

Entretanto, há que se considerar o cotidiano como um espaço amplamente

contraditório, onde a história se oculta e se revela, espaço de enigmas e revelações.

Para Carvalho (2010:24) “o cotidiano é a vida de todos os dias e de todos os

homens em qualquer época histórica que possamos analisar”. É o espaço em que

mais se presta à repetição, à mesmice, à rotina, à alienação40.

Mas é também espaço de lutas e rupturas, de possibilidades de ascensão à

condição de ser humano-genérico41. Para o assistente social, é no cotidiano que se

gesta a possibilidade de consolidar sua atuação profissional ética, pautada pelo

projeto hegemônico profissional.

Retratamos a importância da reflexão sobre o cotidiano, pois é aí que se

constroem as práticas profissionais e que se gesta a possibilidade de consolidar sua

atuação profissional ética, pautada pelo projeto hegemônico profissional, na

interlocução direta com os sujeitos demandatários de seu trabalho, na relação entre

estrutura e conjuntura.

E é no cotidiano da realidade escolar, onde a vida de crianças, adolescentes

e suas famílias se constrói, onde a questão social repercute diretamente e se

40 “A relação alienada entre os homens se transforma em relação entre estranhos e o próprio homem em estranho para si próprio. A sociedade deixa de ser um constitutivo de cidadãos e de vinculações coletivo-comunitárias, livres e solidárias, para se transformar em massa alimentada pela fetichização” (Carvalho, 2010:41). 41 “o acesso à consciência humano-genérica (...) só se dá quando o indivíduo pode superar a singularidade, quando ascende ao comportamento no qual joga não todas as suas forças, mas toda sua força numa objetivação duradoura (menos instrumental, menos imediata), trata-se, então, de uma mobilização anímica que suspende a heterogeneidade da vida cotidiana - que homogeneíza todas as faculdades do indivíduo e as direciona num projeto em que ele transcende a sua singularidade numa objetivação na qual se reconhece como portador da consciência humano-genérica. Nesta suspensão (da heterogeneidade) da cotidianidade, o indivíduo se instaura como particularidade, espaço de mediação entre o singular e o universal, e comporta-se como inteiramente homem.” (Netto, 2010:69 grifos do autor).

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manifesta, que vislumbramos um espaço a ser ocupado profissionalmente pelos

assistentes sociais, na perspectiva de contribuir com as estratégias de

enfrentamento das expressões da questão social, pois à medida em que os embates

emergem, aí também surgem possibilidades de enfrentamentos e rupturas, no

sentido de construção de novas sociabilidades.

3.2.2 - Programa Bolsa Creche

O Programa Bolsa Creche foi instituído pela Lei Municipal nº 3649/2003,

regulamentada pelos Decretos 236/2007 e 06/2008 e visa a oferecer vagas nas

escolas particulares de Educação Infantil do município, subsidiadas pelo município,

para crianças que estejam aguardando vaga na rede pública, seguindo uma

tendência clara de terceirização dos serviços públicos.

Em seu início foram previstas 500 vagas, as quais foram posteriormente

ampliadas para 900. Entretanto, devido à dificuldade por parte das escolas

particulares no cumprimento aos pré-requisitos estipulados pelo programa, as vagas

ainda não foram preenchidas, ao passo em que a demanda por vagas nos Centro

Infantis no município permanece elevada.

Apesar de a Lei que dispõe sobre o Programa haver sido sancionada em

2003, o Bolsa Creche iniciou suas atividades somente em novembro de 2007,

quando a Prefeitura Municipal de Limeira assinou o primeiro Termo de Concessão

com a Escola de Educação Infantil Rapunzel, prevendo a disponibilização de 70

vagas.

É possível que a recente operacionalização do Programa se explique pela

constante pressão exercida por diversos grupos da cidade como Conselho Tutelar,

Ministério Público, imprensa local, Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do

Estado de São Paulo (APEOESP) e a própria população que se encontra

prejudicada diante da ausência estatal no que tange ao atendimento a crianças em

idade pré-escolar.

Progressivamente, outras escolas particulares foram sendo incorporadas ao

Programa, totalizando 15 escolas cadastradas, com capacidade total para

atendimento a 766 crianças pelo Programa Bolsa Creche, que estabelece, em sua

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Lei de criação os pré-requisitos para que as famílias possam ter acesso ao serviço:

� Manter residência no município de Limeira;

� Estar empregado;

� Não possuir renda superior a 4 salários mínimos.

O Programa estabelece, também, que serão priorizadas as crianças cujos

pais ou responsáveis comprovem:

� Residir em imóvel alugado ou em casas populares financiadas, cujos

alugueres ou prestações por eles pagas sejam iguais ou superiores a

um salário mínimo;

� Despender no mínimo 1 salário mínimo com doença crônica no grupo

familiar;

� Aqueles que tiverem mais filhos em idade escolar.

O processo de trabalho do assistente social no Programa Bolsa Creche

perpassa todas as atividades vinculadas à concretização do mesmo, desde as

visitas iniciais realizadas às instituições requerentes ao cadastramento no programa,

passando pelas orientações técnicas aos responsáveis por essas instituições -

capacidade, adequações necessárias, relacionamento com as crianças e suas

famílias, entre outras -, acompanhamento da documentação para inscrição, seleção

das famílias beneficiárias, procedimentos de matrícula, acolhimento e atendimento

às famílias atendidas pelo Programa, realização de atividades relativas ao Processo

de Aprendizagem Contínua (PAC), bem como outras atividades conforme a

necessidade, ou seja, o assistente social está presente durante o acompanhamento

de todas as etapas do Programa. É preciso destacar que, em algumas fases,

existem também outros profissionais da Secretaria Municipal da Educação e da

própria Prefeitura Municipal envolvidos.

Esta estratégia amplamente utilizada pelos governos municipais42 na

tentativa de sanar o problema existente com relação ao déficit de vagas em creches

42 O trabalho de Adrião et all. (2009) aponta para a prevalência das parcerias público-privado enquanto estratégias utilizadas pelos municípios na oferta da educação básica, com destaque para os subsídios públicos para a oferta de vagas em instituições privadas onde analisa os casos de Altinópolis, Itirapina, Pirassununga, Hortolândia, Piracicaba, Ribeirão Preto e São Paulo.

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revela claramente o lugar destinado à Educação Infantil dentro da estrutura

organizacional do município. Para Nunes (2009:91) esse lugar organiza a maneira

pela qual são concebidos tanto o trabalho do educador infantil quanto os usuários

deste serviço. E ainda completa:

É neste contexto que se coloca o lugar ocupado pelas relações sociais estabelecidas com a criança e sua família; lugar que pode ser de desenvolvimento de um sentido de pertencimento social ou de exclusão; lugar afirmativo de diferenças e singularidades ou de consolidação de subjetividades marcadas pelo apagamento destas singularidades. (NUNES, 2009: 92)

Deste modo, o lugar ocupado pela Educação Infantil e pelas políticas sociais

em geral, é o mesmo lugar ocupado pela questão social, que, segundo Ivo (2006:69)

vem sendo despolitizada, reconvertida,

transformando direitos sociais universais, em programas e medidas técnicas ou estratégicas de distinguir, contar e atribuir benefícios a um conjunto de indivíduos selecionados segundo focos específicos das inúmeras e diferentes políticas sociais, e não se constituem em direitos. Esse novo modelo mantém inalterado o padrão redistributivo desigual, determinante da reprodução estrutural da pobreza. (IVO, 2006:69)

Os critérios estabelecidos pelo Programa Bolsa Creche - ressaltamos, pela

Lei de criação do Programa - reforçam os princípios de seletividade e focalização

que permeiam as políticas sociais, que elegem, dentre os demandatários pelo

serviço, aqueles considerados com menores condições de acessá-lo pela via do

mercado, restringindo o acesso a um direito universal constitucionalmente garantido.

Dadas as condições de ampliação de demanda por educação infantil num cenário de redução crescente de investimentos públicos na área social, o acesso a uma vaga acaba sendo extremamente seletivo, o que não significa que seja democraticamente instituído. (NUNES, 2009:92)

3.2.3 - Projeto Familiando

Um dos projetos de grande destaque desenvolvido pela equipe técnica do

setor de Serviço Social Escolar é o FAMILIANDO - de mãos dadas com a família,

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que apresenta como objetivo geral oportunizar vivências e reflexões que contribuam

para o estreitamento dos laços familiares, a superação das condições materiais e

emocionais, favorecendo a emancipação dessas famílias e o autossustento, como o

fortalecimento da sua identidade, resgate da autoestima e a integração da família na

unidade escolar. Aponta como objetivos específicos:

� Favorecer a reflexão sobre os diferentes “papéis” familiares,

oportunizando um olhar sobre a condição e história de vida, os

princípios e os vínculos sociais/familiares;

� Possibilitar o desenvolvimento do senso crítico a fim de reconhecer

sua condição como sujeito de direitos;

� Oportunizar atividades para formação pessoal que visem ao

fortalecimento da identidade e ao resgate da autoestima;

� Desenvolver ações profissionalizantes que favoreçam a autossusten-

tabilidade e inserção produtiva da família;

� Viabilizar a integração da família/escola/comunidade.

Destinado às famílias dos alunos da Rede Municipal de Ensino, o Projeto teve

início no ano de 2001, sob o nome de Projeto Arco-Íris, sendo substituído por

Familiando no ano de 2005, durante a transição de governo no âmbito municipal.

Financiado, em grande parte, pelo Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome (MDS), através de um convênio, o projeto teve sua última edição

no ano de 2008, por conta da aprovação da Resolução 191/05 do Conselho

Nacional de Assistência Social (CNAS), que através da regulamentação do art. 3º da

LOAS, caracteriza as entidades e organizações de assistência social.

Até então, o Projeto recebia mensalmente R$ 960,00 do Fundo Nacional de

Assistência Social e R$ 192,00 pagos pelo município como contrapartida, resultando

em um valor de R$ 1.152,00 mensais e R$ 13.824,00 anuais, aplicados em

alimentação para as participantes - em todos os encontros é servido um lanche -,

vale-transporte para que as participantes pudessem se locomover até o local onde

as ações eram realizadas, uniforme para todas as participantes, capacitação para as

assistentes sociais e atividades de lazer para as participantes - uma vez ao ano era

proporcionado um passeio, como Parque Aquático Wet´n Wild, Parque de Diversões

Hopi Hari, Cidade Turística de Pedreira, entre outros.

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Foto 11 - Passeio ao Parque Aquático Wet´n Wild - 2008

Fonte: Arquivo do Serviço Social Escolar.

Tabela 04 - Aplicação dos recursos do convênio “Familiando”

Fonte de recursos e despesas Recurso Federal Valores em reais

Alimentação 15% R$ 1.728,00

Vale-transporte 40% R$ 4.608,00

Vestuário 13% R$ 1.497,60

Capacitação/Lazer 32% R$ 3.686,40

Total 100% R$ 11.520,00

Fonte: Plano de Aplicação Financeira do convênio “Familiando” - exercício 2008.

Tabela 05 - Aplicação dos recursos da contrapartida municipal

Fonte de recursos e

despesas

Repasse contrapartida

municipal

Valores em reais

Alimentação 15% R$ 345,60

Vale-transporte 40% R$ 921,60

Vestuário 13% R$ 299,52

Capacitação/Lazer 32% R$ 737,28

Total 100% R$ 2.304,00

Fonte: Plano de Aplicação Financeira do convênio “Familiando” - exercício 2008.

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Foto 12 - Participantes do Projeto durante o lanche

Fonte: Arquivo do Serviço Social Escolar.

O convênio firmado previa, inicialmente, capacidade de atendimento a 96

mães de alunos dos Centros Infantis municipais, porém, tendo em vista o

aprofundamento dos estudos acerca do trabalho do assistente social na área da

Educação e sobre as novas configurações familiares, o público alvo foi ampliado.

O projeto foi oferecido às famílias dos alunos da Rede Municipal de Ensino,

compreendendo também aqueles matriculados em EMEIEFs e CEIEFs, não

restringindo-se somente às mães, conforme previa a primeira edição do convênio -

trabalhando com mães de creche -, mas compreendendo a noção ampliada de

família, contando com a participação de tias, avós, primas, entre outros.

Quantitativamente o Projeto também foi ampliado, passando a atender cerca de 150

participantes.

Inicialmente as atividades eram desenvolvidas a partir de três eixos, conforme

observado no artigo apresentado na 19ª Conferência Mundial de Serviço Social,

realizada em agosto de 2008, em Salvador - Bahia, que relata as atividades

realizadas no início do Projeto.

Os três eixos principais que norteiam o Projeto FAMILIANDO foram pensados e embasados nos modelos que a Coordenadora do Setor de Serviço Social Escolar, a Assistente Social Paula Bortolan Bocaiúva Forster e sua assessora, Assistente Social Cláudia Barreto Salviatto construíram a partir das metas do convênio que vinham ao encontro da atuação

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com famílias de bairros diferentes, mas com as mesmas condições e graus de vulnerabilidade social. Pensou-se então que, através de palestras socioeducativas ministradas por profissionais de áreas diversas como saúde, educação, meio-ambiente, somado às oficinas semi e profissionalizantes, seriam suficientes para elevar a autoestima da família em sua situação de transição a partir dos conhecimentos adquiridos, e constatou-se grande auxílio e movimentação destas ações na primeira turma que se formou em 2001. (FORSTER, 2008:2)

O artigo ainda relata que em 2002 a equipe do Serviço Social Escolar teve

seus primeiros contatos com a Teoria dos Grupos Operativos, de Henrique Pichon

Rivière, através do Seminário “Família, Redes, Laços e Políticas Públicas”,

apresentado pela Professora Rosa Amélia Guimarães, que desenvolvia uma

atividade semelhante ao Projeto Familiando, porém destinado aos participantes de

um programa de transferência de renda, onde a mesma dirigia os Grupos

Operativos. Assim, o Serviço Social Escolar passa a incorporar ao Projeto os

chamados Grupos Reflexivos, uma adaptação da teoria proposta por Pichon.

Foto 13 - Grupo Reflexivo

Fonte: Arquivo do Serviço Social Escolar.

Sentindo necessidade de aprofundar os conhecimentos relativos a este

trabalho, o setor promoveu, no ano de 2006, o curso de extensão “Aprofundamento

do Pensamento Sistêmico”, o qual contou com a participação de toda a equipe.

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Esta relação estabelecida com a Teoria Sistêmica permanece orientando as

atividades do Serviço Social Escolar durante todas as edições do Projeto

Familiando, não somente nos Grupos Reflexivos, como nas outras ações realizadas,

e acreditamos também estar presente na relação que alguns assistentes sociais

estabelecem com as famílias atendidas pelas Unidades Escolares, evidenciando o

descompasso com o Projeto Ético-Político hegemônico, que nasce da recusa ao

conservadorismo profissional e afirma ser a profissão orientada por uma matriz

teórica crítica, com destaque para a fecunda interlocução estabelecida com o campo

da tradição marxista.

Na acumulação teórica operada pelo Serviço Social é notável o fato de, naquilo que ela teve e tem de maior relevância, incorporar matrizes teóricas e metodológicas compatíveis com a ruptura com o conservadorismo profissional - nela se empregaram abertamente vertentes críticas, destacadamente as inspiradas na tradição marxista. (NETTO, 2009:12)

Em março de 2010, o Conselho Federal de Serviço Social, após inúmeros e

intensos debates estabelecidos com a categoria de assistentes sociais, publicou a

resolução nº 569/2010 que veda a realização de terapias associadas ao título ou ao

exercício profissional do assistente social, contribuindo sobremaneira para o

fortalecimento do Projeto Ético-Político e com a qualificação do exercício profissional.

No que diz respeito ao Projeto Familiando, recentemente sua estrutura foi

reorganizada, passando a ser construído a partir de três eixos condutores, conforme

apresentado pela própria coordenadora do setor de Serviço Social Escolar:

a) Atividades Profissionalizantes e de Inserção Produtiva, cujo objetivo é identificar habilidades e competências dos participantes que não as conheciam anteriormente e nem possuíam grandes expectativas dentro deste campo, entre as ações mais importantes podemos citar as oficinas de: culinária (pratos simples, pratos elaborados, bolos decorados, pães), artesanato (biscuit, patchwork, pintura em tela e tecido, customização de peças de vestuário, confecção de camisetas, bolsas, bijuterias) entre tantos já ofertados e solicitados pelas participantes, tendo uma preocupação técnica de não só oferecer a capacitação, pois todos os cursos e oficinas são realizados dentro de processos que não só explicam o como fazer, mas como conservar, embrulhar, organizar, vender, fazer capital de giro entre outros que envolvam a operacionalização do saber fazer até o saber vender, demonstrando as habilidades desconhecidas entre eles até então, desenvolvendo ações profissionalizantes que favoreçam a autossustentabilidade e a inserção produtiva da família.

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b) Atividades socioeducativas solicitadas pelos participantes a partir de suas expectativas colhidas previamente, no ato da inscrição ao Projeto, levando-se em conta os assuntos que gostariam de ter conhecimento, a partir de suas próprias problemáticas em relação aos direitos, acessos, envolvendo temas cotidianos relacionados à família, trabalho e sociedade em geral. Após a decisão dos temas indicados pelos participantes, as assistentes sociais programam as palestras intercaladas com as atividades de Inserção Produtiva, que serão utilizadas como “disparadores” (termo utilizado por Pichon) para a operacionalização da ação dos Grupos Reflexivos. Em geral são solicitadas palestras como: planejamento familiar e saúde da mulher, limites e afetividade na educação dos filhos, etiqueta no dia-a-dia (como se comportar em público, se vestir para procurar emprego, maquiagem prática, organização de documentos, economia doméstica, entre outros). Para fins de “disparadores” e inclusão social, utilizam-se viagens culturais e de lazer para que as participantes tenham acesso e não fiquem à margem de ações culturais, como cinema, teatro, museus, parques temáticos (Hopi Hari, Wet’n Wild e Parque Ecológico de Paulínia) e cidades históricas.

c) Grupos Reflexivos, pautados basicamente pela proposta da teoria de Henrique Pichon Rivière e sua técnica de Grupos Operativos e pelos conceitos adotados pela Teoria Sistêmica. Os Grupos Reflexivos são versões adaptadas dos Grupos Operativos, seguindo a intenção da metodologia, porém, adequados às reais oportunidades de sistematização dos profissionais do Setor de Serviço Social Escolar que acompanham, utilizando estes espaços como um grupo de “terapia”, onde o terapeuta não é uma pessoa e sim o grupo. É um momento de autoconhecimento, troca de experiências, reflexões temáticas alavancadas nas ações já citadas e pautadas neste material, os participantes dialogam entre si auxiliados por uma assistente social do grupo que intervém minimamente como mediadora na comunicação: em ocasiões de monopólio de conversa, conflitos aparentes entre pessoas do grupo e como facilitadora das reflexões, de forma a possibilitar que todos participem e assimilem o conteúdo de forma positiva. Cada reunião é elaborada e pensada tendo em vista o bem estar da família e o que a angustia, através de metodologias que permitem a troca de experiências, a reflexão crítica sobre os diferentes papéis familiares, oportunizando um olhar sobre a condição e história de vida, os princípios e os vínculos sociais/familiares e o desenvolvimento do senso crítico a fim de reconhecer sua condição como sujeito de direitos. Oportuniza atividades para a formação pessoal que visam ao fortalecimento da identidade e o resgate da autoestima. (FORSTER, 2008:2)

Em todos os anos é realizada uma cerimônia de encerramento das atividades

do Projeto e formatura das participantes, que elegem uma madrinha para o grupo,

conforme as imagens a seguir, que se referem à formatura do grupo de 2006, 2007

e 2008.

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Foto 14 - Solenidade de formatura - 2006

Fonte: Acervo do Serviço Social Escolar

Foto 15 - Participante do projeto durante formatura - 2006

Fonte: Acervo do Serviço Social Escolar

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Foto 16 - Entrega de certificado à participante - 2007

Fonte: Acervo do Serviço Social Escolar

Foto 17 - Madrinha de 2008 entre as participantes do Projeto

Fonte: Acervo do Serviço Social Escolar

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Foto 18 - Assistente social e participante do Projeto durante a formatura - 2008

Fonte: Acervo do Serviço Social Escolar

3.2.4 - Promoção da Saúde nas Escolas Municipais

Um dos outros Projetos realizados pelo setor de Serviço Social Escolar em

parceria com a Secretaria Municipal da Saúde e que vem ganhando maior visibilidade

é o Projeto de Promoção à Saúde nas Escolas. Partindo de uma concepção educativa

mais ampla, entende-se que a escola também é responsável pela promoção de uma

melhor qualidade de vida da população, principalmente no que diz respeito ao

desenvolvimento biopsicossocial das crianças e adolescentes atendidos.

O Projeto vem sendo desenvolvido nos Centros Infantis, CEIEFs e EMEIEFs

municipais, oferecendo formação continuada aos monitores da saúde43 e inspetores de

alunos em diversas áreas. O trabalho educativo realizado pelo Projeto tem obtido êxito

em suas ações, recebendo inclusive grande apoio por parte da Secretaria Municipal da

Educação, da direção das Unidades Escolares, dos familiares e dos próprios

educadores participantes do projeto, conforme texto de autoria de uma das assistentes 43 Os monitores da saúde são funcionários dos Centros Infantis designados pela direção para ocupar esta função, tendo em vista maior afinidade com a área ou o aproveitamento de conhecimentos e experiências anteriores no campo da saúde. Têm a função de acompanhar as carteiras de vacinação das crianças, pesar, medir a altura, registrando sempre em formulários específicos, assim como acompanhar o médico em suas visitas ao Centro Infantil.

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sociais responsáveis pelo Projeto, publicado no site do setor de Serviço Social Escolar:

Para elas [monitoras da saúde] estes encontros contribuem para a melhoria da qualidade das atividades desenvolvidas no dia-a-dia dentro das unidades escolares e as mantém motivadas a continuar trabalhando com a questão da saúde, um dos fatores primordiais para uma aprendizagem de qualidade. (...) Ana Maria Garcia de Freitas, 46 anos, monitora de um centro infantil municipal há quinze anos é monitora da saúde há treze e se mostra satisfeita e orgulhosa do trabalho que desempenha dentro da unidade escolar: “Acredito na importância do meu trabalho, mantenho um contato muito próximo com as crianças e seus familiares, na medida em que acompanho a entrada e saída dos alunos e estou sempre informada sobre todas as questões relacionadas à sua saúde, como alimentação, vacinação, desenvolvimento físico motor e controle das doenças. Percebo a confiança dos pais no meu trabalho, que muitas vezes chegam até mim para pedir orientações sobre qual a melhor forma de cuidar da saúde dos filhos e sei que posso contar com o apoio da diretora da escola e da assistente social no acompanhamento dos casos, o que faz com que obtenhamos resultados positivos.” (BORDUCHI, 2010 - Fonte: www.servicosocialescolar.com.br)

O trabalho do Serviço Social Escolar neste projeto está centrado

fundamentalmente na promoção destas atividades de capacitação junto à equipe

escolar, uma vez que os participantes das atividades de formação tornam-se

multiplicadores dentro da Unidade Escolar, contribuindo assim para que a escola se

torne um ambiente saudável e favorável à aprendizagem dos alunos.

Foto 19 - Capacitação em primeiros socorros

Fonte: Arquivo do Serviço Social Escolar

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Foto 20 - Equipe do Projeto e monitores da saúde

Fonte: Arquivo do Serviço Social Escolar

Considerando o fato de que historicamente as creches foram constituídas

com ênfase no cuidado, sendo incorporado o aspecto educativo somente após a

promulgação da LDB-96, o cuidado com as crianças sempre fez parte das atividades

dos Centros Infantis. Entretanto, a partir desta dimensão educativa que lhe foi

incorporada, os cuidados com a saúde passam a ser reflexo de um conceito sobre

educação que o compreende para além das relações estritamente pedagógicas.

Ainda em se tratando da Educação Infantil, o banho, por exemplo, é uma

atividade realizada diariamente com as crianças, ao final da tarde. Entretanto, seu

enfoque é educativo, pois contribui com o desenvolvimento da criança quanto à sua

percepção corporal, as sensações despertadas com a água, isso sem mencionar o

estímulo à economia da água durante o banho, ou seja, uma atividade que estaria

aparentemente relacionada somente à questão dos cuidados, responde também a

um objetivo maior, o aspecto educativo.

As capacitações têm enfocado variados temas, como Primeiros Socorros,

Vacinação, Doenças Infectocontagiosas, Diabetes e Hipertensão, Doenças

Sexualmente Transmissíveis, Anemia Falciforme, Teste do Pezinho, Gripe H1N1,

entre outras, considerando sempre as demandas apresentadas no cotidiano das

Unidades Escolares.

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Foto 21 - Assistente social e médico do Projeto Promoção da Saúde nas

Escolas durante a capacitação - Teste do Pezinho

Fonte: Arquivo do Serviço Social Escolar

As parcerias estabelecidas para a implementação do Projeto foram

fundamentais, com destaque para a Secretaria Municipal da Saúde, que

disponibiliza um médico pediatra que realiza visitas mensais a todos os Centros

Infantis, acompanhando e orientando, principalmente o trabalho realizado pelas

monitoras da saúde junto aos alunos.

Em 2007 foi estabelecida uma parceria com uma cooperativa de

trabalhadores da área da saúde, a qual proporcionou todas as capacitações no

decorrer do ano para um total de 108 funcionários, totalizando 60 horas.

Ao final do período, foi promovida uma cerimônia de encerramento do curso,

com a formatura dos participantes, conforme as fotos a seguir.

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Foto 22 - Simulação de primeiros socorros - Formatura 2007

Fonte: Arquivo do Serviço Social Escolar

Foto 23 - Entrega de certificado ao participante do Projeto - 2007

Fonte: Arquivo do Serviço Social Escolar

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3.2.5 - Projeto EducAção

Partindo do reconhecimento que os educadores possuem um papel de

grande importância na formação dos educandos, o Projeto EducAção favorece

espaços para a construção do conhecimento acerca do processo educativo.

Desdobra-se em dois eixos: o Processo de Aprendizagem Contínua (PAC),

realizado nos Centros Infantis e o Processo de Estudos Coletivos (PEC), realizado

nas EMEIEFs, sendo que ambos ocorrem nas CEIEFs, respeitando as

particularidades do público atendido pelos educadores.

O PAC compreende um encontro mensal entre todos os educadores de cada

Centro Infantil, previsto no calendário escolar, onde são realizadas atividades de

formação profissional e pessoal fundamentais ao desenvolvimento das funções

destes profissionais. O PAC é planejado e elaborado pelo setor de Serviço Social

Escolar e pelo Centro Municipal de Estudos Pedagógicos (CEMEP), que é o setor

responsável pela formação continuada de diretores, vice-diretores, professores e

monitores da Rede Municipal de Ensino.

O planejamento mensal dos PACs envolve sempre uma ação realizada pelo

assistente social da Unidade Escolar, pela direção e pela professora coordenadora,

sendo que neste dia os alunos não frequentam o CI.

Foto 24 - Educadores em dia de PAC

Fonte: Acervo do Serviço Social Escolar

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Foto 25 - Atividade realizada pelo assistente social durante o PAC

Fonte: Acervo do Serviço Social Escolar

Foto 26 - Atividade pedagógica realizada com os educadores durante o PAC

Fonte: Acervo do Serviço Social Escolar

Uma comissão de assistentes sociais do Serviço Social Escolar elabora

mensalmente o material que será utilizado pela equipe em todos os Centros Infantis

e CEIEFs a partir de temas que buscam contribuir com o convívio social entre os

educadores, mas principalmente oportunizar aos educadores reflexões acerca das

crianças e famílias atendidas pela Unidade Escolar, reconhecendo que são sujeitos

sociais, portadores de direitos, e inseridos em uma complexa estrutura social em

que são forçados a forjar formas de vida condizentes com as situações a que são

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expostos, como o desemprego, o trabalho precário, informal, a inoperância do

Estado no provimento dos direitos sociais, o preconceito, a utilização e o tráfico de

entorpecentes, a violência e a criminalidade, a gravidez infanto-juvenil, a mortalidade

infantil, entre tantas outras expressões da questão social que permeiam o cotidiano

de famílias oriundas da classe trabalhadora.

No caso particular das EMEIEFs, por conta do próprio processo histórico do

setor, a equipe de assistentes sociais vem progressivamente ampliando e

fortalecendo o Projeto EducAção, utilizando-se da Hora de Trabalho Pedagógico

Coletivo44 (HTPC), uma vez que estas não preveem paradas mensais como é o caso

dos Centros Infantis.

É importante mencionar que, em diversas situações, o próprio educador é

também usuário destes serviços, pois enquanto classe trabalhadora necessita dos

equipamentos públicos para que seus filhos possam ter acesso à Educação formal.

Daí a importância em considerar o processo de formação dos educadores

para além da simples transmissão de conhecimentos por aqueles que se supõem

detentores de tal saber específico, mas considerar a importância das experiências

acumuladas pela história de vida desse educador, articulando-as a novos

conhecimentos.

Freire já chamava atenção para a importância que educadores conheçam o

modo de vida de seus alunos, a realidade em que estão inseridos, pois cada sujeito

posiciona-se e exprime seu pensamento a partir do lugar social que ocupa, ou seja,

traz consigo experiências a partir daquilo que vivenciou, a partir de suas histórias de

vida, as quais não devem ser descartadas, mas aproveitadas durante o processo

educativo.

Creio que a questão fundamental diante de que devemos estar, educadoras e educadores, bastante lúcidos e cada vez mais competentes, é que nossas relações com os educandos são um dos caminhos de que dispomos para exercer nossa intervenção na realidade a curto e a longo prazo. Neste sentido, e não só neste, mas em outros também, nossas relações com os educandos, exigindo nosso respeito a eles, demandam igualmente o nosso conhecimento das condições concretas de seu contexto, o qual os condiciona. Procurar conhecer a realidade em que vivem nossos alunos é um dever

44 O HTPC é desenvolvido nas Unidades Escolares e conta com a participação dos professores e coordenação pedagógica. Durante essas reuniões são empreendidos esforços na busca pelo aperfeiçoamento do processo ensino-aprendizagem, sempre orientados pelo projeto pedagógico da escola.

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que a prática educativa nos impõe: sem isso não temos acesso à maneira como pensam, dificilmente então podemos perceber o que sabem e como sabem. (FREIRE, 1997:53)

Avançamos nessa ideia defendendo a importância de que os educadores

também precisam ser reconhecidos a partir de seu referencial amplo de cultura, sua

concepção de mundo, de homem, e da relação homem-mundo, a partir do qual

constroem as práticas sociais que desempenham.

Marx já apontava nas Teses sobre Feuerbach que todo educador precisa

também ser educado; ao mesmo tempo, este também possui uma referência cultural

que de certa forma acaba por determinar o processo educativo no qual se insere.

A doutrina materialista sobre a alteração das circunstâncias e da educação esquece que as circunstâncias são alteradas pelos homens e que o próprio educador deve ser educado. Ela deve, por isso, separar a sociedade em duas partes - uma das quais é colocada acima da sociedade. A coincidência da modificação das circunstâncias com a atividade humana ou alteração de si próprio só pode ser apreendida e compreendida racionalmente como práxis revolucionária. (MARX e ENGELS, 1989)

A formação dos educadores dos Centros Infantis, em particular, se faz

atravessada por uma série de fenômenos que podem ou não contribuir para a

garantia de uma educação de qualidade, em sintonia com os anseios e

necessidades da própria classe trabalhadora.

A ruptura com a centralização nos cuidados, em detrimento do aspecto

educativo que passou a orientar o atendimento em creches, a partir da aprovação da

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1996, é um grande desafio que

se coloca, evidenciando a necessidade de articular os dois aspectos.

A concepção restrita de creche somente para pais que trabalhem

formalmente, contrapondo-se à noção de direito universal, somente é outra questão

que vem ecoando entre muitos educadores, refletindo diretamente no trabalho que

desenvolvem junto às crianças. Esta questão normalmente encontra-se atrelada a

outra de natureza semelhante e refere-se ao que pensam os educadores sobre as

famílias atendidas, prevalecendo ideias conservadoras e preconceituosas, apesar de

serem eles mesmos em muitas vezes os usuários desse serviço.

Deste modo, o trabalho educativo realizado pelos assistentes sociais durante

os PACs tem sido central ao contribuir para que os próprios educadores se

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reconheçam enquanto membros da mesma classe à que pertencem as famílias das

crianças atendidas, entendendo também como as transformações estruturais têm

impactado e determinado significativamente o cotidiano de vida dessas famílias,

incorrendo muitas vezes em situações de novas configurações familiares.

Sanches (2003:31) ressalta que as funções da creche devem estar centradas

em:

um ambiente educacional que possibilite a construção do conhecimento, contrapondo-se às concepções e práticas assistencialistas: higiene e ‘bons comportamentos’. A concepção assistencialista não requer qualificação nem mesmo de ensino fundamental; as experiências com crianças são restritas, muitas vezes, aos próprios filhos: ter paciência, capacidade de expressar afeto, firmeza e responsabilidade. Não se qualifica o profissional como educador por ignorar a riqueza do desenvolvimento infantil, encaram-se as crianças pequenas como alguém a ser apenas cuidado, vigiado e entretido. (SANCHES, 2003:31).

Acreditamos, assim, na ideia apontada por Freire acerca do trabalho dos

educadores e educadoras brasileiros(as), quando diz que esses têm muito a ensinar.

Para ele, a linguagem e a forma, assim como o conteúdo do que falam os

educadores está imbricada pelas condições sociais, culturais e históricas do

contexto de onde falam. “Têm muito o que ensinar pelo exemplo de combate em

favor das mudanças fundamentais de que precisamos, de combate contra o

autoritarismo e em favor da democracia”. (FREIRE, 1997:53).

3.2.6 - Processo de Bolsa de Estudos municipal

O Processo de Bolsa de Estudos garante aos universitários residentes no

município de Limeira desconto de 10% no valor das mensalidades no primeiro ano

de requerimento do benefício e 30% quando o aluno já foi contemplado no ano

anterior, desde que atendam aos critérios estipulados: não ultrapassar o valor

máximo da renda familiar - em 2010 o valor máximo permitido para candidatos novos

foi de R$ 1.315,00 e para candidatos já contemplados no ano anterior R$ 2.610,00 -

e não ser beneficiário do Programa Escola da Família e ProUni. Para tanto, os

alunos requerentes devem apresentar toda a documentação estabelecida pelo

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Decreto, o qual é publicado anualmente.

O setor de Serviço Social Escolar é o responsável pela avaliação

socioeconômica dos requerentes ao benefício, verificação dos documentos

apresentados e parecer quanto à concessão ou não da Bolsa de Estudos, sempre

em conformidade com as exigências estabelecidas pelo Decreto.

Posteriormente encaminha todos os processos e a relação de requerentes

com parecer favorável à concessão do benefício à Secretaria Municipal da

Educação, para dar encaminhamento ao pagamento das Bolsas.

Reconhecendo os limites e determinações institucionais que tensionam a

autonomia relativa do assistente social, a equipe do Serviço Social Escolar tem

empreendido esforços no sentido de garantir que o atendimento prestado aos

candidatos à Bolsa de Estudos seja realizado da melhor maneira possível.

A entrega dos formulários e agendamento de entrevista com o assistente

social são realizados por funcionários do setor treinados para esse fim, garantindo

que o candidato seja atendido no horário previsto, evitando filas e munido de todos

os documentos necessários, uma vez que esse público é composto em grande parte

por trabalhadores, impossibilitados de permanecer longos períodos fora de seu local

de trabalho.

Foto 27 - Recepção do SSE - entrega dos formulários aos requerentes

Fonte: Acervo do Serviço Social Escolar

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O atendimento realizado pelos assistentes sociais também vem sendo

organizado de maneira a garantir a privacidade dos candidatos, uma vez que, neste

período, são instaladas divisórias no salão utilizado para esse fim, conforme

mostram as fotos 28 e 29.

Foto 28 - Atendimento aos requerentes em espaços individuais

Fonte: Acervo do Serviço Social Escolar

Foto 29 - Atendimento aos requerentes pelos assistentes sociais

Fonte: Acervo do Serviço Social Escolar

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As influências externas na condução das ações governamentais em diversos

âmbitos, sobretudo na Política de Educação, têm se mantido hegemônicas no país,

principalmente a partir dos anos 1990, e permanecem mobilizando este campo da

política social como elemento fundamental para a manutenção da hegemonia do

capital internacional.

A ênfase apresentada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

no sentido de valorização da educação básica, principalmente no ensino

fundamental, é reduzida à simples formação de recursos humanos para atendimento

das necessidades de reprodução do capital em nível mundial e contrapõe-se às

lutas históricas travadas, no sentido de conquistar um ensino superior público, laico,

gratuito e de qualidade.

Em seu artigo 5º, a referida Lei enfatiza a priorização do acesso ao ensino

obrigatório, ou seja, o ensino fundamental, para que apenas posteriormente sejam

contemplados os demais níveis e modalidades de ensino.

Os programas de oferta de bolsas de estudos fazem parte da estratégia

governamental de privatização do ensino em detrimento da oferta pela via pública.

Nesta lógica, a partir da expansão das universidades privadas, a Educação passa a ser

considerada uma mercadoria, comercializada inclusive através de propagandas nos

meios de comunicação de massa, como forma de atrair cada vez mais consumidores.

A Universidade pública se esvazia de sentidos e a flexibilização passa a ser

incorporada como princípio, constatado através dos regimes de contratação do

corpo docente e administrativo, da organização dos conteúdos curriculares, da

indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

Seguindo a tônica neoliberal, o Estado brasileiro, cada vez menor em todos

os âmbitos, vem abrindo possibilidades para que os interesses do mercado

prevaleçam no cenário político, econômico e social.

No que diz respeito ao ensino superior, seu papel tem sido no sentido de criar

condições favoráveis à disseminação dessa ideologia, fortalecendo as iniciativas

privadas e enxugando as Universidades Públicas. Assim, restringe-se à criação de

instrumentos contraditórios que garantem o acesso ao ensino superior público

àquelas camadas mais abastadas da sociedade e à classe trabalhadora restam

benefícios compensatórios que subsidiam apenas parte dos custos com

mensalidades em instituições na maioria das vezes precárias e de baixa qualidade,

reafirmando a tendência de elitização do ensino superior público no Brasil.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Hoje eu olho para trás e vejo que a gente construiu bastante... (Paula – Coordenadora do Serviço Social Escolar)

A tarefa de narrar uma história que fora coletivamente construída é

extremamente delicada, pois apesar de contar com a participação dos sujeitos e do

acesso aos documentos, os quais foram fundamentais para a construção desta

dissertação, estamos narrando uma história a partir do nosso ponto de vista, da

nossa percepção e da nossa experiência.

Experiência esta que fora não somente experimentada, mas vivenciada,

durante o período de efetivo exercício no setor de Serviço Social Escolar, desde

março de 2006, através de diversas perspectivas de quem acompanhava

diariamente o cotidiano de um Centro Infantil e sua rotina de funcionamento, o que

proporcionava uma proximidade muito grande não somente com as famílias

atendidas e a comunidade, mas também com os demais educadores daquela

Unidade de Ensino; de quem participou efetivamente da gestão do setor de Serviço

Social Escolar, a partir do assessoramento à coordenação do setor, daí emanando a

possibilidade de visualizar a dinâmica de funcionamento de toda a rede municipal de

ensino, seja no contato direto com as escolas, seja a partir do contato com outros

setores da Secretaria Municipal da Educação.

Portanto, reconhecemos que também fazemos parte desta equipe, sendo

também sujeitos da pesquisa e parte deste sujeito coletivo composto pelos

assistentes sociais do setor.

Uma consideração importante nesse sentido é que a pesquisa qualitativa é, de modo geral, participante, nós também somos sujeitos da pesquisa. Não podemos pensar que chegamos a uma pesquisa como um ‘saco vazio’. Não! Temos vida, temos história, temos emoção! (...) Quanto mais emoção colocarmos nas nossas pesquisas, mais vida elas terão. Não podemos pensar que para mantermos a objetividade, devamos ocultar a emoção. Não existe vida sem emoção. O sujeito não pode ser oculto, nem o pesquisador, nem o pesquisado, ambos são saturados de história, são plenos de possibilidades! (MARTINELLI, 1994b:16)

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Assim, partindo do objetivo inicialmente proposto, buscamos dar evidência ao

processo de trabalho dos assistentes sociais do setor de Serviço Social Escolar da

Secretaria Municipal da Educação de Limeira, estabelecendo uma relação entre as

recentes transformações engendradas no processo de formação sócio-histórica do

Brasil e a Política de Educação, apreendida como um espaço legítimo de exercício

profissional para os assistentes sociais e de fortalecimento de um projeto societário

a favor de uma “educação para além do capital” (MÉSZÁROS, 2005).

Não buscamos, desta forma, encerrar o debate que ora se coloca, não

obstante, reconhecemos que toda pesquisa, ao ser finalizada, deve apresentar

novos questionamentos e novos pontos a serem investigados. Assim, o que

buscamos neste estudo é evidenciar uma das facetas desse campo temático,

estimulando o engendramento de novas questões que incitem a realização de novas

pesquisas, que por sua vez também apresentem novos questionamentos, em um

círculo contínuo de produção do conhecimento.

O ponto de partida e a linha de chegada deste trabalho se expressam num

esforço de sistematização das práticas realizadas pelos Assistentes Sociais do setor

de Serviço Social Escolar do município de Limeira, trazendo o trabalho destes

profissionais para o centro do debate e da reflexão, com vistas a evidenciar a

dimensão educativa que o constitui.

Afirmamos que a finalidade última desta dissertação é retornar ao seu início, à

prática cotidiana, contribuindo para o reconhecimento da Educação como campo

legítimo de atuação dos assistentes sociais.

Assim, vimos que o processo histórico de formação social do Brasil sempre

esteve acompanhado por uma cultura política autoritária, construída desde a

chegada dos portugueses ao país, quando esses impuseram sua cultura, seu modo

de vida, suas crenças e até mesmo sua linguagem aos povos que aqui habitavam.

Esse aspecto autoritário esteve presente em todas as etapas do

desenvolvimento histórico do país, em uma sucessão de eventos cíclicos, onde

passado e presente se misturam, determinando as formas pelas quais se organiza o

Estado brasileiro, como uma forma de garantir a reprodução das relações

hierárquicas e de naturalização da divisão da sociedade em classes.

Assim, o “mito fundador” explica boa parte da sociedade que temos hoje, o

modo pelo qual Estado e sociedade se organizam e se relacionam, de forma a

perpetuar a existência do mito.

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Uma representação social que atende, como sempre atendeu, aos interesses

dominantes, daqueles que detém o poder, não só dentro, como fora do país e que

busca se fortalecer através de um “culto à autocracia burguesa”. (FERNANDES,

1975)

Salientamos então as formas pelas quais essas características vêm sendo

evidenciadas, neste caso em particular, no âmbito da Educação, através da

implantação de programas de ajustes estruturais, orientados pelo Consenso de

Washington como forma de adequar o país à nova lógica mundial, culminando na

formulação de um novo projeto educacional no país, em consonância com os

interesses de manutenção da hegemonia do capital internacional, cuja expressão

máxima foi a promulgação da LDB em 1996, porém nela não se encerra.

Deste modo foi possível compreender que, contraditoriamente, as mudanças

ocorridas na legislação, em especial a promulgação da LDB em 1996, ocasionaram

grandes repercussões na organização dos sistemas de ensino por parte dos

municípios, o que no caso de Limeira resultou na transferência de vários

profissionais que anteriormente estavam vinculados à Política de Assistência Social

para a Secretaria da Educação, entre eles, os assistentes sociais, caracterizando o

início do Serviço Social na Secretaria da Educação e abrindo um leque de

possibilidades para o exercício profissional do assistente social nesta área,

ultrapassando somente a Educação Infantil, mas incluindo também o Ensino

Fundamental.

Assim, a entrada dos assistentes sociais no campo da Educação pública, foi

fortemente influenciada pelos processos sociais em curso no país naquele

determinado momento histórico, os quais permanecem repercutindo nas condições e

no exercício profissional neste campo.

A compreensão acerca do processo de trabalho dos assistentes sociais do

setor de Serviço Social Escolar de Limeira mostra que estes são frequentemente

requisitados para atuar em programas ou projetos dentro de uma perspectiva

seletiva e focalizadora dos direitos sociais, como é o caso do Programa Bolsa

Creche e o Programa de Bolsa de Estudos municipal.

Entretanto, com esta dissertação deixamos claro que, apesar das intensas

disputas entre os distintos projetos societários em torno da hegemonia, os

assistentes sociais do setor vêm buscando construir formas de resistência através

de um trabalho educativo, de formação de sujeitos políticos críticos e capazes de

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decifrar a realidade social onde estão inseridos e de forjar formas de construção de

uma cultura própria, que corresponda aos seus anseios e necessidades.

É no marco da articulação entre o projeto profissional hegemônico do Serviço

Social e os projetos societários das classes subalternas que situamos a importância

do trabalho realizado pelos assistentes sociais no contexto escolar. Sua contribuição

incide no campo do processo educativo, ainda que não exclusivamente.

É a particularidade da Educação, inscrita como política pública, que amplia

horizontes à atuação do assistente social. Particularidade esta que coloca a vida

cotidiana dos sujeitos do processo educativo muito próximo dos educadores. Em

outras palavras, diferentemente das demais políticas sociais, que são acionadas

episodicamente, ou quando a situação vivida pelos sujeitos assim os fazem recorrer

a estas, os ‘usuários’ da Política pública de Educação são atendidos diariamente

pela instituição ‘escola’, estabelecendo um contato muito próximo entre suas vidas e

os educadores.

Esta proximidade a que nos referimos pode e deve ser utilizada pelos

profissionais da área da Educação no exercício de ações que favoreçam processos

emancipatórios e libertadores45, posicionando-se de maneira crítica e fortalecendo o

“olhar político” (SARLO, 2005), o olhar de ruptura de todos os envolvidos no

processo educativo: famílias, alunos, educadores, comunidade, entre outros.

Conforme Mészáros (2005:48) “Apenas a mais ampla das concepções de

educação nos pode ajudar a perseguir o objetivo de uma mudança verdadeiramente

radical, proporcionando instrumentos de pressão que rompam a lógica mistificadora

do capital”.

Portanto, a Educação aqui retratada é considerada para além de sua

dimensão escolarizada, mas em seu significado ampliado. Enquanto parte

constitutiva do campo cultural, torna-se um processo em torno do qual emergem

intensas disputas pela hegemonia onde cada sujeito pode contribuir para a mudança

ou para a manutenção da ordem vigente.

O projeto de educação burguesa que assistimos hoje não está descolado de

um projeto de sociedade mais amplo, construído em favor de uma classe dominante

e que visa a manutenção do status quo e a continuidade na formação de uma massa

45 Mészáros (2005, p.58), ao citar José Martí, esclarece que “a busca da cultura, no verdadeiro sentido do termo, envolve o mais alto risco, por ser inseparável do objetivo fundamental da libertação” e que “ser cultos es el único modo de ser libres”.

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trabalhadora que se reproduza como tal, atendendo aos interesses do capitalismo,

não vislumbrando alternativas a esta condição e nem se reconhecendo enquanto

classe.

Assim sendo, a luta por um outro projeto educacional também não pode estar

desarticulada da luta por um outro projeto societário, que se coloque “para além do

capital” (MÉSZÁROS: 2005). E é exatamente no espaço escolar, apesar de todas as

adversidades, que os assistentes sociais podem - e devem -, através de seu

exercício profissional, contribuir para a construção de uma outra forma de

sociabilidade, mais justa e igualitária, através de processos educativos amplos, de

desocultamento da realidade e de lutas pela construção de uma outra hegemonia,

em consonância com o Projeto Ético-Político do Serviço Social.

Reconhecendo o caráter inconclusivo desta temática, encerramos

provisoriamente o presente debate, referendando a expressiva fala de Octávio Ianni,

acreditando que a transformação também depende de cada um de nós.

O processo da revolução é teórico-prático, ou prático-crítico. Quando as forças sociais subalternas se apropriam da interpretação dialética da ‘desagregação’ social brasileira, a revolução social entra em seu andamento. E começa a formar-se uma nação com os traços, as cores e os movimentos que lhe incutem as práticas e as fantasias do povo. (IANNI, 1996, p.76)

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www.seade.gov.br/produtos/ipvs/ Índice Paulista de Vulnerabilidade Social www.servicosocialescolar.com.br Serviço Social Escolar da Secretaria Municipal da Educação de Limeira www.unesco.org.br Representação da Unesco no Brasil Declaração Mundial sobre Educação para todos

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APÊNDICE 01

SOLICITAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO PARA APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO

Limeira, 01 de junho de 2010. À Coordenadora do setor de Serviço Social Escolar Da Secretaria Municipal de Educação de Limeira-SP Sra. Paula Bortolan Bocaiúva Forster

Eu, Thalita Giovanna Büll, assistente social deste setor, em condição de licença sem vencimentos por motivo de estudo, estou realizando uma pesquisa de mestrado no âmbito do Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da PUC-SP.

Esta pesquisa tem como objetivo realizar um estudo sobre o setor de Serviço

Social Escolar de Limeira, caracterizando o trabalho do assistente social e evidenciando sua dimensão educativa.

Visando à efetivação desta pesquisa, solicito de V.S.ª a autorização para

aplicação de um questionário aos assistentes sociais do setor, tendo em vista a construção do perfil da equipe. Para tanto, será necessário realizar uma breve apresentação sobre a pesquisa, seus objetivos e metodologia, para então aplicar o referido questionário, se possível durante reunião técnica já prevista no calendário do setor.

Ressalto a importância da participação de todos os assistentes sociais, com o

objetivo de obter maior fidedignidade nos dados coletados. Assim, a finalidade última desta pesquisa é retornar ao seu início, à prática profissional cotidiana, contribuindo para o reconhecimento da dimensão educativa no trabalho dos assistentes sociais, e da escola, como campo legítimo de sua atuação.

Na certeza de poder contar com vosso apoio, mais uma vez agradeço e

coloco-me à disposição para maiores esclarecimentos, caso seja necessário.

_________________________

Thalita Giovanna Büll

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APÊNDICE 02

QUESTIONÁRIO PARA CONSTRUÇÃO DO PERFIL DOS ASSISTENTES

SOCIAIS DO SERVIÇO SOCIAL ESCOLAR

Idade: _________ Sexo: ( ) masculino ( ) feminino Estado civil: ____________ Município de residência: _____________ Ano de conclusão da graduação?_______ Instituição: ( ) pública ( ) privada Qual? ________________________________ Possui curso de pós-graduação? ( ) não ( ) sim Em caso positivo, favor responder o quadro abaixo:

Área Instituição Ano de conclusão Aprimoramento Especialização Mestrado Doutorado

Possui graduação em outra área? ( ) não ( ) sim Qual? ____________________ Experiência profissional antes do SSE (como assistente social):

Área Período 1º 2º 3º

Desde quando você trabalha no setor de SSE? ____________________________ Em quantas Unidades de Ensino trabalha atualmente? ( ) CI ( ) CEIEF ( ) EMEIEF ( ) Convênio - Bolsa creche ( ) Outras: ________ Possui outro emprego? ( ) não ( ) sim Qual? _____________________________ Teve alguma produção científica nos últimos 5 anos? ( ) não ( ) sim Artigos/resumos publicados em anais de congressos: ( ) Artigos/resumos publicados em revistas da área: ( ) Outros: ( )___________________________________________________________ É sindicalizado? ( ) não ( ) sim Qual sindicato? ____________________________ Participa de algum Conselho de Direito ou de Políticas Públicas? ( ) não ( ) sim Qual? ______________________ Participa de alguma Comissão de Trabalho na UE ou representa a UE/SME/SSE em alguma Comissão? Qual? ______________________________________________ Tem atuado junto às instâncias de poder decisório? ( ) não ( ) sim Quais? ( ) Conselho escolar ( ) Grêmio estudantil ( ) Associação de Pais e Mestres ( ) Outras____

MUITO OBRIGADA POR SUA PARTICIPAÇÃO!!!! THALITA BÜLL

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APÊNDICE 03

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, Paula Bortolan Bocaiúva Forster, RG ______________________,

coordenadora do setor de Serviço Social Escolar da Secretaria Municipal da

Educação de Limeira - SP, autorizo a pesquisadora Thalita Giovanna Büll, aluna do

Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo, a utilizar integralmente ou em partes meu depoimento

concedido através da entrevista realizada no dia 21/06/2010, com finalidade

científica, sem restrição de prazo, assim como a divulgar meu nome, uma vez que a

natureza da pesquisa e da entrevista inviabilizam o sigilo de identidade.

Por estar de acordo, assino o presente termo.

Limeira, 12 de agosto de 2010.

__________________________

Paula Bortolan Bocaiúva Forster

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APÊNDICE 04

SOLICITAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO PARA ACESSO E USO DOS DOCUMENTOS

E FOTOGRAFIAS DO SETOR

Limeira, 12 de agosto de 2010. À Coordenadora do setor de Serviço Social Escolar Da Secretaria Municipal de Educação de Limeira-SP Sra. Paula Bortolan Bocaiúva Forster

Eu, Thalita Giovanna Büll, assistente social deste setor, em condição de licença sem vencimentos por motivo de estudo, estou realizando uma pesquisa de mestrado no âmbito do Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da PUC-SP. Esta pesquisa tem como objetivo realizar um estudo sobre o setor de Serviço Social Escolar de Limeira, caracterizando o trabalho do assistente social e evidenciando sua dimensão educativa.

Visando à efetivação desta pesquisa, solicito de V.S.ª a autorização para

acesso e uso dos documentos oficiais produzidos pelo setor (Relatório de gestão, relatórios estatísticos, atas de reuniões, atribuições dos assistentes sociais constantes nos regimentos das escolas, regulamento dos Centros Infantis, relatórios das comissões, dados obtidos pelo sistema CadDem, entre outros) assim como das fotografias constantes no banco de arquivos do mesmo.

Ressalto que a finalidade desta etapa da pesquisa é primordial, uma vez que

trata do relato de uma experiência pioneira no Brasil e que vem sendo construída coletivamente pelos assistentes sociais que fazem parte deste setor. Assim, os documentos e imagens exprimem um “discurso escrito”, um registro de grande relevância dessa experiência.

Na certeza de poder contar com vosso apoio, mais uma vez agradeço e

coloco-me à disposição para maiores esclarecimentos, caso seja necessário.

_________________________ Thalita Giovanna Büll

Pesquisadora

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APÊNDICE 05

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