115
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Rogério de Paiva Savegnago Operações de hedge com instrumentos derivativos e sua associação à redução da volatilidade dos resultados e à criação de valor: um estudo aplicado às empresas brasileiras não-financeiras MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ATUARIAIS São Paulo 2017

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

  • Upload
    voquynh

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE

SÃO PAULO

PUC-SP

Rogério de Paiva Savegnago

Operações de hedge com instrumentos derivativos e sua associação à redução da

volatilidade dos resultados e à criação de valor:

um estudo aplicado às empresas brasileiras não-financeiras

MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ATUARIAIS

São Paulo

2017

Page 2: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Rogério de Paiva Savegnago

Operações de hedge com instrumentos derivativos e sua associação à redução da

volatilidade dos resultados e à criação de valor:

um estudo aplicado às empresas brasileiras não-financeiras

MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ATUARIAIS

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

como exigência parcial para obtenção do título de

MESTRE em Ciências Contábeis e Atuariais, sob

a orientação do Prof. Dr. José Roberto Securato.

São Paulo

2017

Page 3: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

BANCA EXAMINADORA:

_________________________________________________________

_________________________________________________________

_________________________________________________________

Page 4: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

Dedico este trabalho em primeiro lugar a Deus,

meu fiel e amado pai celestial (razão de viver); à

minha esposa Angela e à minha filha Winnie (tudo

o que faço, faço por amor a vocês); aos meus pais

José (in memoriam) e Marta Maria (que me

ensinaram a trabalhar duro e a ser grato por tudo);

e aos meus irmãos Robson, João Paulo, Erick e

Diego José (meus grandes companheiros).

Page 5: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

AGRADECIMENTOS

A Deus, agradeço por mais um sonho realizado. Certamente tudo o que tenho e sou devo

a ele. Ele é a minha luz e a minha salvação, razão de viver!

À minha querida esposa Angela, pelo amor, carinho e paciência comigo nesses dois

anos de trabalho árduo, e à minha querida filha Winnie, pelo amor e carinho recebidos desde o

seu nascimento. O papai te ama muito!

Aos meus pais José (in memoriam) e Marta Maria, por todo o amor, carinho e dedicação

para comigo. Aos meus irmãos Robson, João Paulo, Erick e Diego José, pelo amor, pela

amizade e por me cobrirem em muitos finais de semana no cuidado à minha mãe que pouco

antes do início do mestrado sofreu um AVC e ficou acamada por muitos meses. Não me

esquecerei nunca do seu favor para comigo!

Ao meu orientador, professor doutor José Roberto Securato, por sua valiosa

contribuição e direção no desenvolvimento deste trabalho. Sua experiência, paciência e

entusiasmo foram vitais para que este objetivo fosse alcançado. Para mim, tem sido um

privilégio ser orientado por alguém tão reconhecido pela ampla contribuição acadêmica e

profissional no mercado financeiro e ao mesmo tempo tão generoso!

Aos professores da minha banca, professores doutores José Odálio dos Santos (PUC-

SP) e Daniel Reed Bergmann (FEA-USP), os quais igualmente contribuíram para o

aprimoramento deste trabalho através de indicações sobre a melhor forma de demonstrar os

resultados alcançados, entre outras dicas valiosas!

À Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e aos demais professores da casa,

professor doutor Roberto Fernandes dos Santos (in memoriam), professora doutora Neusa

Maria Bastos Fernandes dos Santos, professor doutor Sérgio de Iudícibus, professor doutor José

Carlos Marion e professor doutor Antonio Benedito Silva Oliveira, por me guiarem com tanto

amor e entusiasmo pelo caminho do pensamento acadêmico.

Ao Banco J.P. Morgan, pelo apoio financeiro e pela oportunidade de crescer

profissionalmente fazendo o que amo. Aos amigos e colegas que trabalham comigo, os quais

me ajudaram em várias situações e pacientemente me ouviram falar inúmeras vezes a respeito

do mestrado e da minha dissertação. Igualmente agradeço aos meus chefes novos e antigos,

especialmente ao meu diretor Décio Ramos Porchat de Assis, mestre em Direito pela casa, pelo

tremendo apoio em todo o percurso do mestrado e por me permitir trabalhar em horários

flexíveis durante os vários dias de aula e de reuniões de orientação.

Page 6: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

Aos meus pastores e líderes da Comunidade da Graça em Vila Mariana, os quais com

suas vidas têm me ensinado a amar ao meu próximo e a ser um discípulo de Jesus Cristo, o meu

salvador e melhor amigo. Agradeço igualmente aos amigos e irmãos dessa comunidade com os

quais tenho comunhão em amor.

Ao meu amigo e colega de mestrado Israel Efrain Guimarães, que generosamente

despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte

estatística.

Aos amigos e colegas que fiz neste mestrado, pelos bons momentos que passamos juntos

em sala de aula e fora dela. Espero que a nossa amizade e coleguismo durem por muitos anos.

A todos, muito obrigado!

Page 7: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

Se alguém julga saber alguma coisa, com efeito

não aprendeu ainda como convém saber

Paulo de Tarso (1 Coríntios 8.2)

Page 8: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

RESUMO

Este trabalho teve como motivação principal averiguar se a utilização de operações com

derivativos para fins de hedge estaria associada à redução da volatilidade dos resultados e à

criação de valor nas companhias não-financeiras brasileiras. Para isso, foram pesquisadas 223

empresas não-financeiras listadas na BM&FBovespa, representando 96,5% do valor total de

mercado das não-financeiras e 85,8% da quantidade dessas empresas listadas na bolsa,

relativamente ao ano de 2015, no qual uma profunda crise econômica se instalou no País. Por

se tratar de um estudo de caráter quantitativo, a partir de uma base documental, executado a

partir dos dados contábeis e de mercado disponibilizados pela Economatica e pela

BM&FBovespa, foram realizados os testes empíricos de homogeneidade de variâncias de

Levene para testar a volatilidade dos resultados das empresas, representada pelo desvio-padrão

do retorno anual sobre o patrimônio líquido (ROE) em 2015; e o cálculo de regressão linear

múltipla, para testar a associação da utilização de instrumentos derivativos em operações de

hedge na criação de valor das companhias pesquisadas. Os resultados apresentados

demonstraram que as empresas que utilizaram hedge ao longo do ano de 2015 tiveram

volatilidade do ROE de 91,39% contra uma volatilidade de 158,02% apresentada pelas

empresas que não fizeram hedge no período pesquisado. No entanto tais resultados não se

mostraram significativos pelo teste de Levene ao nível significância de 5%. A regressão linear

múltipla foi realizada considerando como a variável dependente quantitativa de valor (Q de

Tobin simplificado) se comportou em relação à variável independente de utilização de hedge

em 2015 e em relação às variáveis de controle Governança, Tamanho, Rentabilidade e

Alavancagem. Nesse cálculo foram também incluídas variáveis com o efeito multiplicativo do

hedge em conjunto com as variáveis de controle de Tamanho, Rentabilidade e Alavancagem.

Os resultados da regressão demonstraram que a utilização das operações de hedge pelas

empresas-objeto deste estudo ao longo de 2015 esteve negativamente associada com a criação

de valor, contudo esses resultados não se mostraram estatisticamente significativos. Por fim, os

resultados apresentados neste trabalho não permitiram inferir que as operações de hedge

realizadas ao longo de 2015 (um ano de grave crise econômica) contribuíram significativamente

para a redução da volatilidade dos retornos nem que tais operações estariam associadas à

criação de valor nas companhias pesquisadas.

Palavras-chave: Derivativo; Hedge; Volatilidade; Resultado; Valor.

Page 9: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

ABSTRACT

This work had the main motivation to verify whether the use of derivative transactions for

hedging purposes would be associated with the reduction of earnings volatility and value

creation in non-financial Brazilian companies. For that matter, 223 non-financial firms listed

on the Brazilian BM&FBovespa stock exchange were surveyed, representing 96.5% of the total

market and 85.8% of the quantity of these companies traded in the exchange for the year of

2015, when a profound economic crisis has taken place in this country. As this is a quantitative

study based on documental sources, they were carried out based on financial and market data

provided by Economativa and BM&FBovespa, through Levene’s test of variance homogeneity,

to first test the volatility of earnings represented by the standard deviation of the annual return

on equity (ROE) for 2015; and also through a linear multiple regression, being this one used to

test the association of hedging transactions through derivatives with value creation of the

surveyed companies. The results presented herein demonstrated that companies who hedged

their risks in 2015 had volatility in its ROE of 91.39% while the companies who did not hedge

in this period had volatility in its returns of 158.02%. Nevertheless, such results were not

statistically significant at the level of significance of 5%. The multiple linear regression was

performed considering how the quantitative dependent variable value (simplified Tobin's Q)

behaved in relation to the independent variable (hedging in 2015) and in relation to control

variables as Governance, Size, Profitability and Leverage. In this calculation were also included

variables with the multiplicative effect of hedging in conjunction with the control variables size,

profitability and leverage. The results from this regression demonstrated that the hedging

transactions made in 2015 by the companies herein were negatively associated with value,

however such results were not statistically significant. Finally, the results presented herein did

not allow the author to infer that non-financial Brazilian companies who used derivative

instruments for hedging purposes in its activities in 2015 (a year of a serious economic crisis)

significantly incurred in lower volatility in their return on equity nor that such transactions were

associated with value creation in the surveyed companies.

Keywords: Derivative; Hedging; Volatility; Results; Value.

Page 10: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Gráficos de correlações positiva e negativa ........................................................... 47

Figura 2 – Utilização ou não de hedge em 2015 ..................................................................... 78

Figura 3 – Utilização ou não de hedge em 2015 pelos principais setores pesquisados .......... 80

Figura 4 – Comportamento da cotação de venda do USD no segundo semestre de 2015 ...... 81

Figura 5 – Comportamento do Ibovespa em 2015 .................................................................. 89

Page 11: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Direitos e obrigações dos titulares e lançadores de opções .................................. 33

Quadro 2 – Regras empíricas para a interpretação do coeficiente de variação ....................... 45

Quadro 3 – Efeitos patrimonial e de resultado em uma empresa sem hedge .......................... 52

Quadro 4 – Efeitos patrimonial e de resultado em uma empresa com hedge ......................... 52

Quadro 5 – Exemplos de ativos e passivos financeiros .......................................................... 57

Quadro 6 – Resumo do tratamento contábil de hedges qualificados ...................................... 59

Quadro 7 – Variável dependente qualitativa para o estudo da volatilidade dos resultados .... 66

Quadro 8 – Variável independente quantitativa para o estudo da volatilidade dos resultados

................................................................................................................................................. .67

Quadro 9 – Variável dependente quantitativa para o estudo da criação de valor ................... 68

Quadro 10 – Variável independente qualitativa para o estudo da criação de valor ................ 69

Quadro 11 – Variáveis de controle para o estudo da criação de valor .................................... 69

Page 12: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Exemplo dos efeitos financeiros decorrentes de contratos a termo ....................... 29

Tabela 2 – Exemplo dos efeitos financeiros decorrentes de um contrato de swap ................. 32

Tabela 3 – Exemplos dos efeitos financeiros decorrentes do exercício de opções ................. 34

Tabela 4 – Demonstrativo da relevância da amostra ............................................................... 64

Tabela 5 – Utilização de derivativos para fins de hedge pelos principais setores pesquisados

.................................................................................................................................................. 79

Tabela 6 – Utilização de derivativos para fins de hedge considerando o nível de governança

corporativa ................................................................................................................................ 83

Tabela 7 – Volatilidade dos retornos (sem hedge e com hedge) ............................................. 84

Tabela 8 – Teste Kolmogorov-Smirnov para os cálculos do ROE anual ................................. 85

Tabela 9 – Teste de Levene para os cálculos do ROE anual ................................................... 86

Tabela 10 – Regressão linear múltipla de QTobin em relação à variável Hedge e às demais

variáveis de controle ................................................................................................................. 91

Page 13: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

LISTA DE TERMOS E ABREVIATURAS

ADR: American Depositary Receipts

Anova: Analysis of Variance

Bacen: Banco Central do Brasil

BM&FBovespa: Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo

BRL: Reais brasileiros (moeda)

CAPM: Capital Asset Pricing Model

CDI: Taxa de juros praticada no mercado interbancário brasileiro que tem como

referência a Taxa Selic

Cetip: Companhia de capital aberto que oferece serviços de registro, central

depositária, negociação e liquidação de ativos e títulos

CPC: Comitê de Pronunciamentos Contábeis

CVM: Comissão de Valores Mobiliários

FASB: Financial Accounting Standards Board

IASB: International Accounting Standards Board

Ibovespa: Principal índice indicador do desempenho médio das cotações das ações

negociadas na BM&FBovespa com maior volume nos últimos meses

IBrX-100: Índice indicador do desempenho médio das cotações dos cem ativos mais

negociados e de maior representatividade do mercado acionário brasileiro

IFRS: International Financial Reporting Standard

MP: Medida Provisória

NAICS: The North American Industry Classification System, lista de classificação da

atividade econômica utilizada pelos países da América do Norte (EUA,

México e Canadá)

NDF: Non-Deliverable Forward

SBF250: Société des Bourses Françaises 250 Index, índice das 250 maiores empresas

francesas que representam todos os setores da economia daquele país

Selic: Taxa básica da economia brasileira

SPSS: IBM SPSS Statistics

USD: Dólares norte-americanos (moeda)

VaR: Value at Risk

Page 14: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 16

Situação-problema .............................................................................................................. 16

Objetivo ............................................................................................................................... 19

Hipóteses .............................................................................................................................. 19

Estrutura do trabalho ........................................................................................................ 20

1. REVISÃO DA TEORIA ................................................................................................ 21

1.1. Estudos anteriores sobre as operações de hedge .................................................. 21

1.2. Conceito de instrumentos derivativos e suas principais características ............ 26

1.3. Principais contratos de derivativos ....................................................................... 27

1.3.1. Contratos a termo ............................................................................................. 28 1.3.2. Contratos futuros .............................................................................................. 30

1.3.3. Contratos de swap ............................................................................................. 31 1.3.4. Contratos de opções .......................................................................................... 32

1.4. Gestão de riscos financeiros ................................................................................... 34

1.4.1. Principais riscos financeiros ............................................................................. 36

1.4.2. Motivação para a mitigação de riscos............................................................... 37 1.4.3. Cálculo da exposição ........................................................................................ 38

1.4.4. Medidas de risco ............................................................................................... 40

1.5. Operações de hedge ................................................................................................ 49

1.5.1. Princípios básicos ............................................................................................. 49 1.5.2. Escolha do tamanho ideal e do instrumento de hedge ...................................... 52

1.6. Reconhecimento contábil dos instrumentos derivativos ..................................... 53

1.6.1. Normas contábeis aplicáveis aos instrumentos financeiros .............................. 54 1.6.2. Reconhecimento contábil dos instrumentos financeiros derivativos ................ 56 1.6.3. Reconhecimento através da metodologia de hedge accounting ....................... 58

2. METODOLOGIA ........................................................................................................... 63

2.1. Natureza da pesquisa e escolha das bases de dados ............................................ 63

2.2. Escolha da amostra ................................................................................................. 64

2.3. Variáveis .................................................................................................................. 65

2.3.1. Volatilidade dos resultados das empresas ........................................................ 66 2.3.2. Criação de valor nas empresas.......................................................................... 68

2.4. Tratamento dos outliers ......................................................................................... 70

2.5. Ferramentas estatísticas utilizadas para a modelagem dos dados ..................... 71

2.5.1. Teste de homogeneidade de variâncias ............................................................ 72 2.5.2. Regressão linear múltipla ................................................................................. 74

3. RESULTADOS DA PESQUISA ................................................................................... 78

Page 15: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

3.1. Análise inicial sobre a utilização de instrumentos derivativos em operações de

hedge... ................................................................................................................................. 78

3.2. Análise da volatilidade dos resultados das empresas .......................................... 84

3.3. Análise da criação de valor nas empresas ............................................................ 88

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 96

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 100

Page 16: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

16

INTRODUÇÃO

Situação-problema

Pode-se afirmar, com uma certa segurança, que a busca por proteção, qualquer que seja,

advém do instinto de sobrevivência, uma das principais características dos seres vivos em geral

e dos seres humanos em particular. Esse esforço por proteção permeia toda a vida do homem

desde os seus primórdios até os dias atuais, buscando proteção para si, sua família, seu trabalho

e seus bens, dentre outros. O mesmo senso de proteção pode ser aplicável a uma empresa, esta

um ente que possui vida própria, totalmente distinta das pessoas dos seus sócios e que tem como

meta continuar viva e ativa por muitos anos semelhantemente aos seres humanos.

Por conta de suas atividades operacionais, uma empresa pode ficar exposta a

determinados tipos de riscos, os quais, dependendo das forças de mercado, podem consumir

grande parte de seu patrimônio líquido caso ela não busque a proteção apropriada. Segundo

Knight (1921, p. 20), o risco é algo que pode ser mensurado. E nesse sentido, Oliveira (2014,

p. 251) denota que a gestão de risco consiste na obtenção de informações adequadas para

determinada situação que envolve risco e intervir diretamente nela, resultando em uma melhora

da eficácia das decisões nessa condição. Dessa maneira, uma iniciativa que objetiva a proteção

contra certos tipos de riscos, como taxas de juros, câmbio ou mesmo preços de commodities,

pode ser conduzida por uma companhia através do uso de instrumentos financeiros derivativos.

Segundo Hull (2005, p. 576), um derivativo é um “instrumento cujo preço depende ou

é derivado do preço de ativo subjacente”. Dessa forma, o preço de um instrumento derivativo,

sob o aspecto econômico, é impactado pela variação do preço à vista do seu ativo subjacente.

Assim, se o preço de negociação da moeda norte-americana, em comparação à moeda brasileira,

sofre uma apreciação em uma data presente, a variação do preço futuro daquela moeda em um

instrumento derivativo também terá um impacto na mesma proporção, gerando um valor a

receber ou a pagar em uma data futura resultante de tal apreciação.

Os detentores desses instrumentos podem ser classificados dependendo de sua intenção

ao entrar em determinadas posições. Os arbitradores são aqueles investidores que procuram

tirar vantagens da distorção ou volatilidade dos preços em dois ou mais mercados. Já os

especuladores buscam ganhos financeiros, assumindo o risco de variação nos preços de

determinados ativos adjacentes (apostando em determinada direção), ao adquirirem o risco

Page 17: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

17

daqueles que utilizam esses instrumentos para proteção de determinadas posições, estes

classificados como hedgers (ASSAF NETO, 2014a, p. 317).

A respeito da utilização de instrumentos financeiros derivativos com finalidade de

especulação ou de proteção (hedge econômico), ensina Chiqueto (2014, p. 20-21):

Tomadas de decisão que diminuem o risco de volatilidade dos retornos de uma

entidade são denominadas pela literatura como atividades de hedge, enquanto

que especulação é o termo atribuído para aquelas que aumentam o risco de

volatilidade dos retornos. Uma entidade que utiliza hedge com instrumentos

derivativos os utiliza para eliminar ou mitigar riscos de mercado inerentes à

entidade, enquanto que o uso de derivativos com a finalidade de especulação

implica no aumento da exposição da entidade a esses riscos. (Grifo do autor)

Assaf Neto (2014a, p. 363) conceitua hedge como uma “operação realizada com

derivativos que tem por objetivo minimizar (proteger) posições de carteiras ou aplicações

existentes contra risco de perda de valor causado por variações nos preços, nas taxas de juros

etc.”.

Tais premissas e conceituação podem auxiliar na compreensão dos efeitos que a

utilização dos instrumentos derivativos podem trazer para uma empresa, no sentido de que se

por um lado o seu uso com finalidade de hedge pode eliminar ou mitigar os riscos de

volatilidade nos resultados atrelados à sua atividade, a utilização desses instrumentos com

finalidade especulativa pode gerar resultados indesejados para as empresas, como os que

ocorreram no mercado brasileiro em 2008, durante o auge da última crise financeira

internacional.

Segundo reportagem realizada pela revista Época Negócios na edição de outubro de

2010, diversas empresas brasileiras incorreram em prejuízos nas suas demonstrações

financeiras em 2008 decorrentes de perdas em operações com derivativos, sendo os casos mais

notórios o da produtora de alimentos Sadia, que auferiu perdas de aproximadamente R$ 2,5

bilhões, e o da Aracruz Papel e Celulose, a qual reconheceu prejuízos na ordem de US$ 2

bilhões, ao assumirem determinadas posições de natureza especulativa (OLIVEIRA, 2010, p.

79).

Apesar do ocorrido em 2008 no Brasil, estudos recentes demonstram que as companhias

localizadas no exterior, de uma forma geral, são mais propensas a utilizar os contratos de

derivativos como instrumentos de hedge para a proteção de seus ativos e passivos contra riscos

que podem causar alta volatilidade em sua situação patrimonial e eventualmente trazer

prejuízos em suas atividades operacionais. Já para o mercado brasileiro, esse comportamento

Page 18: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

18

de proteção com a utilização de derivativos pode ser verificado a partir de 2009. Esses estudos

serão abordados com mais detalhes no início do primeiro capítulo.

Uma vez que os derivativos podem ser utilizados como instrumentos de proteção a

determinados riscos que poderiam prejudicar a situação patrimonial de uma empresa, espera-se

que esse fato contribua para a criação de valor para a companhia.

Sob esse aspecto, estudos realizados no exterior e no Brasil demonstram, em termos

gerais, que a gestão de risco através de instrumentos derivativos resultam em maior valor para

a empresa. Estes serão igualmente abordados com mais detalhes no início do primeiro capítulo.

Tendo em vista o contexto apresentado, parte-se agora para a formulação do problema

de pesquisa. De acordo com Martins e Theóphilo (2009, p. 22), um “problema de pesquisa

origina-se da inquietação, da dúvida, da hesitação, da perplexidade, da curiosidade sobre uma

questão não-resolvida”, o qual deve ser “delimitado a uma dimensão viável”. Isso posto, este

trabalho pretende responder a duas questões que se complementam, quais sejam:

a) A utilização de contratos derivativos como instrumentos de hedge está associada com a

redução da volatilidade dos resultados da companhia?

b) A utilização de contratos derivativos como instrumentos de hedge está associada com a

criação de valor para a companhia?

A primeira questão visa responder se as empresas que utilizam os derivativos para fins

de proteção, relacionados às suas atividades operacionais, têm uma redução significativa na

volatilidade dos seus resultados em relação às companhias que não fazem hedge. Já a segunda

questão procura verificar se a adoção de políticas de gestão de risco através de operações de

hedge com derivativos contribui significativamente para a criação de valor das companhias em

comparação com aquelas que não fazem hedge.

Ao analisar os estudos anteriores a respeito do tema, observou-se que muitos deles estão

concentrados nas décadas de 1990 e 2000. Apesar desse fato, observa-se uma certa carência em

relação à continuidade de estudos a partir da década de 2010, bem como da realização de

trabalhos acadêmicos que demonstrem a relação entre a utilização dos derivativos como

instrumentos de proteção e a redução na volatilidade dos resultados das companhias, com

exceção do trabalho realizado por Chiqueto (2014), que entre outras observações, comparou a

volatilidade nos resultados das empresas pesquisadas considerando ou não a adoção do hedge

accounting. Estas seriam as principais justificativas para a realização do presente estudo.

Conforme discutido no Capítulo 2 – Metodologia, este trabalho abrange apenas o ano

de 2015. A escolha de estudar os efeitos do hedge sobre a volatilidade dos resultados e a criação

de valor para este período se deu pelo fato de este ter sido um ano de grave crise econômica

Page 19: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

19

para o País. Muitos foram os fatos que contribuíram para essa crise, tais como a alta volatilidade

na cotação do dólar norte-americano (que bateu pela primeira vez a casa dos R$ 4,00); os ajustes

nos preços dos combustíveis e energia elétrica após um período de controle do governo sobre

os valores dessas commodities; a inflação anual que passou dos 10% (a meta para o ano era de

6,5%); o encolhimento da economia entre 3,5% e 4%; o aumento da taxa de desemprego; e a

perda do grau de investimento pelas principais agências de rating (CARVALHO FILHO,

2015).

A principal contribuição esperada, tanto para o meio acadêmico quanto para o meio

empresarial, residiria na análise das operações de hedge realizadas com instrumentos

financeiros derivativos em um ano de crise econômica, se tais seriam capazes de contribuir com

a redução da volatilidade dos resultados e na criação de valor das empresas não-financeiras,

mesmo em um cenário como o que ocorreu nesse ano, com alta inflação e elevada volatilidade

na cotação do dólar norte-americano e em algumas commodities. De maneira acessória, mas

não menos importante, outros fatores poderiam trazer igual contribuição, tais como a

representatividade da amostra, composta por 223 empresas não-financeiras, indo além do

estudo de empresas que compõem os índices Ibovespa e IBrX-100 e na utilidade da informação

constante neste trabalho como um todo, tanto para a academia quanto para as companhias que

utilizam ou pretendem utilizar derivativos em operações de hedge.

Objetivo

O objetivo deste trabalho consiste em verificar a relação entre a utilização de

instrumentos derivativos para fins de hedge com a redução da volatilidade dos resultados e a

criação de valor das empresas não-financeiras aqui pesquisadas.

Hipóteses

Tendo em vista que uma hipótese consiste na apresentação de uma suposição ou

explicação provisória para um determinado problema, a qual deve ser submetida a teste (GIL,

2010, p. 17), duas são as hipóteses apresentadas neste trabalho:

a) A utilização de contratos derivativos como instrumentos de hedge pelas empresas está

associada à redução da volatilidade de seus resultados; e

Page 20: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

20

b) A utilização de contratos derivativos como instrumentos de hedge está associada à criação

de valor para as companhias.

Estrutura do trabalho

Este trabalho foi estruturado em três capítulos, além da Introdução, que apresenta a

situação-problema, as hipóteses e o objetivo deste estudo. No primeiro capítulo realizou-se uma

breve revisão da teoria, especificamente no que se refere aos estudos anteriores a respeito do

hedge, aos conceitos essenciais e principais características dos instrumentos derivativos, aos

principais tipos de instrumentos financeiros derivativos, à gestão de riscos financeiros, às

operações de hedge e ao reconhecimento contábil dos instrumentos financeiros.

O segundo capítulo descreve a metodologia e os testes estatísticos utilizados para

estudar como as operações de derivativos com finalidade de hedge estariam associadas à

redução da volatilidade dos resultados e à criação de valor nas companhias aqui estudadas.

Já o terceiro capítulo serviu para demonstrar e analisar os resultados alcançados

relativamente à utilização do hedge, à análise da volatilidade dos resultados à criação de valor

nas empresas para o ano de 2015. Por fim, apresenta-se as considerações finais deste trabalho.

Page 21: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

21

1. REVISÃO DA TEORIA

Este capítulo apresenta a revisão da teoria, trazendo inicialmente um breve resumo de

estudos recentes a respeito da utilização de hedge com derivativos, e logo em seguida os

principais conceitos aplicáveis aos instrumentos derivativos, à gestão dos riscos financeiros, às

operações de hedge e ao reconhecimento contábil dos instrumentos derivativos. Escolheu-se

aqui por apresentar os aspectos essenciais e indispensáveis ao entendimento desses assuntos,

emanados da literatura nacional e internacional relacionadas aos temas propostos, além da

normatização contábil atual concernente à parte do reconhecimento contábil dos referidos

instrumentos financeiros.

Assim, este capítulo está ordenado em seis tópicos, quais sejam: Estudos anteriores

sobre as operações de hedge; Conceito de instrumentos derivativos e suas principais

características; Principais contratos de derivativos; Gestão de riscos financeiros; Operações de

hedge; e Reconhecimento contábil dos instrumentos derivativos.

1.1. Estudos anteriores sobre as operações de hedge

Este tópico apresenta um breve relato de trabalhos recentes que estudaram os efeitos da

utilização dos instrumentos derivativos nas empresas para fins de hedge e da associação do uso

desses contratos à geração de valor para as companhias.

Com o objetivo de entender como a governança influenciava a atividade de hedge em

diferentes países, Lel (2012, p. 221-236) utilizou em seu estudo uma amostra composta por um

total de 253 empresas estrangeiras com American Depositary Receipts (ADR) negociados em

uma bolsa norte-americana, localizadas em trinta países, relativamente ao período de 1990 a

1999. A sua hipótese se baseava na premissa de que empresas com baixo nível de governança

utilizavam derivativos para fins de gerenciamento de resultados, enquanto que empresas com

alto nível de governança os utilizava para fins de proteção das atividades empresariais. Os

resultados desta pesquisa demonstraram que o nível de monitoramento das atividades da

administração tem um importante impacto no uso de derivativos pelas companhias.

Dessa forma, tais resultados permitiram ao autor inferir que empresas com um alto nível

de governança corporativa tendem a utilizar derivativos na redução do risco cambial,

comportamento este não demonstrado por empresas com um baixo nível de governança, as

quais de uma certa maneira utilizam derivativos para outras finalidades que não de hedge.

Page 22: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

22

No mesmo sentido, Allayannis, Lel e Miller (2012, p. 65-76) realizaram um estudo para

verificar o impacto do uso de derivativos cambiais sobre o valor da firma sob a ótica da

governança corporativa. A hipótese era de que a utilização desses instrumentos estaria

positivamente associada com valor para companhias com um alto nível de governança. Para

isso utilizaram em seu estudo uma amostra composta por 372 empresas estrangeiras localizadas

em 39 países, com American Depositary Receipts (ADR) negociados em uma grande bolsa

norte-americana, as quais possuíam em seus balanços significativa exposição cambial,

relativamente ao período entre 1990 a 1999. Como variável dependente de valor, utilizaram o

Q de Tobin em sua análise.

Primeiramente, verificaram se o nível interno de governança (considerando a empresa

individualmente) influenciava o efeito do uso de derivativos de moeda sobre o valor da firma.

Em segundo lugar, examinaram os potenciais efeitos do ambiente externo de governança (no

nível do país) no relacionamento entre o uso dos derivativos de moeda e o valor da firma. Em

terceiro lugar, como a interação entre os níveis interno e externo de governança influenciava o

efeito do uso dos derivativos sobre o valor da empresa.

Com a finalidade de comparar os resultados de estudos anteriores, tais autores decidiram

iniciar a sua análise a partir da utilização de derivativos cambiais sem considerar qualquer efeito

de governança, encontrando associação positiva e significativa da utilização de derivativos de

moeda com valor para as empresas da amostra que possuíam exposição cambial em seus

balanços, sugerindo que, na média, a utilização de derivativos de moeda por empresas

estrangeiras com exposição cambial está associada à criação de valor.

Em seguida, partiram para a análise da utilização desses derivativos considerando os

efeitos do nível interno e externo de governança. Segundo os autores, os dados dessa pesquisa

demonstraram que o uso de derivativos de moeda por empresas com exposição cambial está

associado com um valor de prêmio significativo apenas para empresas com um alto nível

interno ou externo de governança corporativa, enquanto que as empresas com baixo nível de

governança não apresentaram valor de prêmio. Assim depreenderam que a associação entre o

uso de derivativos de moeda e a criação de valor para a companhia é maior quando esta possui

altos níveis de governança corporativa.

Outros trabalhos procuraram testar se, de uma forma geral, as empresas utilizavam (ou

não) instrumentos derivativos para fins de hedge, como o realizado por Lopes (2010, p. 21-67).

Tendo como pano de fundo a veiculação na imprensa a respeito dos prejuízos da Sadia e da

Aracruz em operações com derivativos em 2008, esse autor procurou em seu estudo verificar

se havia indícios de comportamento especulativo nas operações de derivativos comuns,

Page 23: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

23

realizadas por companhias não-financeiras no mercado brasileiro junto aos bancos Santander,

Banespa e Meridional, ocorridas entre o período de 2003 a 2008, contendo ao todo 16.510

observações, utilizando para isso uma base de dados fornecida pelo grupo Santander.

O autor partiu da premissa de que as operações levadas a vencimento deveriam refletir

as condições pactuadas no momento inicial da transação, o que não ocorreria com uma operação

liquidada antecipadamente (reversão), pois essa implicaria em uma nova decisão da empresa.

Os resultados da pesquisa mostraram que dentre as operações liquidadas no período, 79%

ocorreram no vencimento e 21% ocorreram de forma antecipada, sendo que a distribuição do

primeiro grupo (liquidação no vencimento) se mostrou dentro da normalidade, considerando os

resultados negativos e positivos, o que não ocorreu com o segundo grupo (reversões), que teve

79,8% de suas operações liquidadas com lucro, indicando que estas últimas seriam

influenciadas por uma visão especulativa. Com base nesses resultados, em suas considerações

finais, o autor infere que a tomada de posições com viés especulativo pode estar ligada às

decisões do cotidiano do gestor financeiro que, ao perceber uma oportunidade para a realização

de lucro, liquida a operação de hedge.

Na mesma linha de pensamento e premissa adotadas por Lopes (2010), mas com uma

ampliação do período pesquisado, o estudo realizado por Lopes, Schiozer e Sheng (2013, p.

439-455) teve por objeto a investigação da dinâmica do uso de contratos de derivativos de

moeda em mercado de balcão, realizados por empresas não-financeiras brasileiras, a partir de

um único banco de dados contendo 29 mil operações contratadas junto ao um grande banco

internacional, entre os anos de 2003 a 2011. Os resultados indicaram fortes evidências de

comportamento especulativo para o período entre 2003 a 2008 por conta de as empresas terem

realizado lucros com derivativos liquidados antecipadamente, ao passo que houve uma

proporção substancialmente menor de operações liquidadas antecipadamente com prejuízo. Já

os resultados relativos ao período entre 2009 e 2011 mostraram direção oposta, ou seja, sem

comportamento especulativo por parte das empresas. Assim esses autores inferiram que tais

resultados reforçam a evidência de que as perdas de 2008 serviram como um alerta para que

gestores financeiros, conselheiros, investidores, reguladores e as instituições financeiras

passassem a monitorar com maior atenção as operações com instrumentos derivativos.

Com uma abordagem distinta, porém buscando o mesmo objetivo dos demais autores já

citados, Lorenzen (2011, p. 10-119) procurou, em seu estudo, verificar a eficácia das operações

com derivativos cambiais para fins de hedge de acordo com a metodologia do FASB (Financial

Accounting Standards Board), dentro do intervalo entre 0,8 e 1,25, a partir de uma amostra

composta pelas nove empresas com maior valor de mercado da BM&FBovespa (Bolsa de

Page 24: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

24

Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo) de diferentes setores, relativamente ao período

entre 2005 e 2009.

Para verificar a eficácia das operações, ele utilizou três modelos distintos: i) cálculos da

razão entre os resultados dos derivativos e dos itens protegidos; ii) estimativa dos efeitos dos

derivativos na redução da variância dos fluxos de caixa dos itens protegidos; e iii) modelo de

regressão através do cálculo do R2, sendo o resultado com derivativo considerado como variável

independente e o resultado do item protegido com variável dependente. Os resultados

demonstraram através do primeiro modelo que até 2008 a maioria das empresas ficou acima do

intervalo de eficácia e que em 2009 todas as empresas ficaram dentro ou abaixo do intervalo de

eficácia do hedge. Já o método da regressão demonstrou que os índices apresentados se

encontraram mais próximos da fronteira de 0,8, considerando valores de 0 a 1, com menor

dispersão dos resultados.

Outros trabalhos realizados no exterior e no Brasil trataram da associação entre a

utilização de derivativos em operações de hedge e o seu impacto no valor das empresas, sendo

Allayannis e Weston os pioneiros nesse tipo de pesquisa, como bem destacam os próprios

autores (2001, p. 243-273).

Nesse trabalho, os autores examinaram o uso de derivativos cambiais em uma amostra

composta por 720 grandes empresas não-financeiras localizadas nos EUA, no período entre

1990 e 1995, utilizando o Q de Tobin para medir o valor da firma. Em sua amostra, segregaram

empresas exportadoras daquelas com outros riscos cambiais e constataram que as companhias

exportadoras tinham médias e medianas de Q de Tobin superiores se comparadas àquelas que

não utilizavam derivativos de moeda. As companhias com outros riscos cambiais igualmente

apresentaram um prêmio de hedge positivo nesse estudo.

Em suas considerações finais, tais autores afirmaram ter encontrado evidências

significativas de que o uso de derivativos cambiais estaria positivamente associado com o valor

da firma. Especificamente as empresas com riscos cambais que utilizam derivativos de moeda

possuíam em média um valor de mercado 4,87% maior do que as empresas que não os

utilizavam, sendo tais resultados robustos, considerando as variáveis de controles utilizadas em

seu estudo.

Semelhantemente, Belghitar, Clark e Mefteh (2013, p. 283-292) investigaram o efeito

da utilização de contratos derivativos cambiais com valor para o acionista, porém tendo em

vista o mercado francês. A amostra foi composta por 211 companhias não-financeiras francesas

que compunham o índice SBF250, para o período de 2002 a 2005. Para medir valor, tais autores

utilizaram o Q de Tobin. O objetivo inicial era segregar as exposições compradas e vendidas

Page 25: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

25

em diferentes moedas e verificar se tais exposições foram protegidas indiscriminadamente, pois

a administração poderia, por exemplo, proteger apenas exposições que poderiam diminuir os

resultados da empresa e deixar de proteger exposições que pudessem gerar resultados positivos

para a entidade. Segundo os autores, os resultados da pesquisa proveram fortes evidências que

os derivativos cambiais foram eficazes de reduzir a exposição das firmas tanto em posições

compradas como vendidas em moedas estrangeiras. No entanto, ao medirem os efeitos da

utilização desses derivativos sobre o valor das empresas, concluíram com base nos dados que

os efeitos foram positivos, mas não significativos.

Machado (2007, p. 2-26), em seu estudo, teve como objetivo “testar a relação direta

entre o hedge corporativo e o valor de mercado das empresas”, este último através da utilização

do Q de Tobin. A sua amostra era composta por 33 companhias listadas na BM&FBovespa,

pertencentes ao setor de materiais básicos, relativamente ao período entre 2001 e 2006. A

primeira análise do autor teve por objetivo comparar a média do valor das empresas que faziam

hedge daquelas que não o faziam, a qual apresentou resultados significativos, sugerindo que as

primeiras demonstraram um prêmio de hedge em média de aproximadamente 16%. Na

sequência, o autor investigou se tal prêmio poderia ser explicado por outras variáveis de

controle, como lucratividade, tamanho das empresas, nível de endividamento, acesso ao

mercado financeiro, governança e nível de internacionalização.

Os resultados indicaram uma relação forte e positiva do hedge com o valor de mercado

das empresas pesquisadas, sugerindo que as companhias que adotaram uma política ativa de

hedge cambial foram recompensadas por um aumento de aproximadamente 7% em seu valor

de mercado. Apesar dos resultados, o autor destaca sobre o cuidado com a magnitude dos efeitos

por conta do número restrito de empresas e observações da amostra estudada.

Ribeiro, Machado e Rossi Júnior (2013, p. 127-139) realizaram um estudo que teve

como objetivo analisar o impacto da utilização de instrumentos derivativos, bem como a direção

e magnitude do prêmio de cobertura (hedging premium) para cada tipo de derivativo no valor

das companhias pesquisadas. A amostra estudada contava com um total de 267 entidades não-

financeiras brasileiras de capital aberto relativamente ao período de 2004 a 2007. Para medir

valor, esses autores utilizaram o Q de Tobin. Segundo os autores, os resultados da pesquisa

confirmaram a hipótese inicial de que o uso desses instrumentos exerce impacto positivo e

estatisticamente significativo sobre o valor da empresa.

Com base no estudo de Allayannis e Weston (2001), Serafini (2009, p. 11-33) procurou,

em seu trabalho, verificar se o uso de derivativos de moeda influenciava o valor das ações das

companhias não-financeiras negociadas na BM&FBovespa, para o período de julho de 1999 a

Page 26: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

26

dezembro de 2007. A amostra foi composta por 48 empresas constantes do IBrX-100, as quais

tiveram suas ações negociadas durante todo o período estudado. Para garantir a robustez dos

resultados, além de utilizar algumas das variáveis de controle propostas por Allayannis e

Weston (2001), usou três diferentes medidas para o Q de Tobin e três diferentes medidas

econométricas de regressão. Diferentemente dos resultados encontrados por Allayannis e

Weston (2001); Belghitar, Clark e Mefteh (2013); Machado (2007); e Ribeiro, Machado e Rossi

Júnior (2013), a hipótese inicial foi rejeitada nas três metodologias. Dessa forma, segundo o

autor, não foi encontrada clara evidência de que a utilização de derivativos cambiais estaria

associada ao acréscimo do valor de mercado das empresas pesquisadas.

1.2. Conceito de instrumentos derivativos e suas principais características

De acordo com Securato, Securato e Olivo (2007, p. 192), os derivativos são contratos

privados, realizado entre duas ou mais partes, cujo valor é quase que totalmente derivado de

algum ativo, taxa de referência ou índice-objeto, como moeda, título, ação ou commodity. Lopes

e Lima (2001, p. 30) complementam que tal derivação de preço decorre de um ativo-base (ou

ativo-adjacente) que não o contrato em si. No mercado de derivativos, em vez de negociarem

os ativos no mercado (à vista), os investidores apostam em preços futuros dos mesmos ativos

e, através desses contratos, assumem compromissos de pagamento, bem como de entregas

físicas futuras (ASSAF NETO, 2014a, p. 316).

Além das características acima citadas, segundo Lopes, Galdi e Lima (2011, p. 16), um

derivativo possui obrigatoriamente mais duas características, quais sejam: a) liquidação em data

futura; e b) “não requer investimento inicial líquido ou requer um investimento inicial líquido

que é menor do que seria necessário no caso de outros contratos com respostas similares às

mudanças nos fatores de mercado”. Dessa maneira, diferentemente do que ocorre com os

produtos financeiros comuns, como as aplicações em títulos, fundos ou mesmo ações, os quais

exigem desembolso financeiro no valor do ativo no momento da sua negociação, em termos

gerais, o investimento em instrumentos derivativos não requer investimento inicial, exceto nos

casos de pagamento de prêmio (de opções, swaps ou termo).

O surgimento dos mercados de instrumentos financeiros derivativos está

intrinsecamente relacionado com as dificuldades advindas da sazonalidade das commodities

agrícolas e dos riscos financeiros advindos desse mercado, pois as colheitas concentravam-se

em determinadas épocas do ano, enquanto que as indústrias e consumidores necessitavam dos

Page 27: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

27

produtos agrícolas durante todo o ano. Desde a sua disseminação, a partir da década de 1970 e

consolidação nas duas décadas seguintes, os derivativos passaram a ser amplamente utilizados

tanto como instrumentos de hedge quanto de especulação (LOPES; GALDI; LIMA, 2011, p.

39). Sobre as razões para a utilização de derivativos, Jorion (2007, p. 10) destaca que esses

instrumentos devem ser designados para um eficiente gerenciamento de riscos.

Nesse mercado, os investidores podem assumir duas posições distintas: a) comprada

(long), na qual o investidor obtém ganho no caso de valorização do ativo-objeto ou perda no

caso de desvalorização desse ativo; ou b) vendida (short), na qual o investidor incorre em perda

em caso de valorização do ativo-adjacente ou em ganho em caso de desvalorização do mesmo

ativo.

Segundo Assaf Neto (2014a, p. 321), os preços no mercado a vista diferem daqueles

praticados no mercado futuro, sendo estes geralmente superiores àqueles por conta dos custos

de carregamento (carrying charges), os quais incluem despesas com armazenamento, logística,

seguros, entre outros no caso específico das commodities; mais o prêmio pela incerteza

relacionado ao comportamento dos preços de mercado, os quais podem ser influenciados por

diversos fatores. Hull (2005, p. 23) complementa que, por outro lado, à medida que a data de

vencimento do contrato se aproxima, o preço futuro do derivativo converge para o preço à vista

do ativo-objeto, sendo que tais preços ficam muito próximos ou mesmo se igualam na data do

vencimento do contrato.

No Brasil todos os derivativos devem ser registrados em bolsa ou em ambiente de balcão

organizado. Essa obrigatoriedade foi trazida pelo art. 1o da lei nº 12.543/2011, ao incluir no

parágrafo 4o do artigo 2o da lei nº 6.385/1976, como condição de validade dos contratos

derivativos, que fossem registrados “em câmaras ou prestadores de serviço de compensação,

de liquidação e de registro autorizados pelo Banco Central do Brasil ou pela Comissão de

Valores Mobiliários” (BRASIL, 2011).

1.3. Principais contratos de derivativos

Lopes, Galdi e Lima (2011, p. 42), ao classificar os principais tipos de derivativos, os

separaram em duas gerações. Como parte da primeira geração estão os derivativos mais comuns

e amplamente utilizados pelos participantes desse mercado: contratos futuros, contratos a

termo, swap e opções de compra e de venda, os quais serão vistos com mais detalhes a seguir.

Como parte da segunda geração estão classificados, além dos derivativos exóticos e embutidos

em outros instrumentos financeiros, algumas estratégias de combinações de derivativos. Por

Page 28: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

28

conta de sua complexidade os instrumentos da segunda geração não farão parte dessa revisão

da teoria.

1.3.1. Contratos a termo

Um contrato a termo é um compromisso para vender ou comprar um determinado ativo,

por um certo preço e em certa data futura, sendo essa transação realizada no mercado de balcão

(HULL, 2005, p. 4), com exceção das operações com termos de ações listadas na

BM&FBovespa, as quais seguem as mesmas exigências de uma operação no mercado a vista

(ASSAF NETO, 2014a, p. 342).

De acordo com Lopes, Galdi e Lima (2011, p. 45), as duas partes envolvidas nesses

contratos são o comprador (assumindo a posição comprada) e o vendedor (assumindo a posição

vendida), os quais têm a obrigação de cumprir o estabelecido no contrato, ficando o primeiro

obrigado a comprar no futuro e o segundo com o dever de vender no futuro.

As características desses contratos variam de acordo com o desejo das partes, não

havendo nenhuma padronização, como ocorre no mercado de futuros. Assim, semelhantemente

ao que acontece em um contrato comum, são estabelecidas as condições e as características da

entrega futura da mercadoria negociada (MARTINS et al., 2013, p. 138). Apesar de serem

negociadas a compra ou a venda de ativos nesses contratos, pode-se ou não ocorrer a entrega

física dos ativos transacionados. A esse respeito denotam Lopes, Galdi e Lima (2011, p. 46-

47):

Interessante ressaltar que embora alguns contratos tenham cláusula de entrega

do ativo, a entrega efetiva do ativo é desestimulada e não é usual. Na prática,

apenas cerca de 2% das operações terminam com a entrega efetiva do bem

negociado. A maioria dos contratos é liquidada mediante pagamento ou

recebimento de moeda, pela diferença entre o valor de compra e de venda,

sem a entrega física do ativo.

Segundo os autores, os contratos a termo dificilmente são liquidados antes do seu

vencimento. Assim, a liquidação financeira ocorre via de regra no vencimento da operação

(ibid., p. 47).

Interessante notar que o preço a termo de um ativo é obtido, de acordo com Assaf Neto

(2014a, p. 341), “pela sua cotação no mercado a vista acrescida de uma parcela de juros [...]

fixados livremente pelo mercado e determinados pelo prazo de vigência do contrato a termo”.

Um produto amplamente negociado no mercado brasileiro pertencente a essa categoria

é o termo de moedas, igualmente conhecido como NDF (Non-Deliverable Forward), o qual

Page 29: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

29

consiste em uma operação de compra ou venda de moeda estrangeira, sem que ocorra a entrega

física, a um preço e data de liquidação previamente definidos. Dentre as vantagens desse tipo

de contrato estão a liberdade das partes para a definição de tamanho do valor nocional, de taxas

e de prazo para a sua liquidação, além de não implicar em caixa inicial (LOPES; GALDI;

LIMA, 2011, p. 93).

A liquidação financeira de um contrato a termo, na data do seu vencimento, segundo

Hull (2005, p. 42), ocorre da seguinte forma: a) em uma posição comprada será igual ao valor

à vista menos o valor da compra a termo e; b) em uma posição vendida será igual ao valor da

venda a termo menos o valor à vista do ativo-objeto.

Economicamente falando, no caso de uma posição comprada é como se o investidor

pudesse realizar a compra do bem pelo valor acordado no contrato e vendê-lo no mercado a

vista. Nesse cenário, se o preço à vista for superior ao valor a termo, o investidor aufere um

ganho. Caso contrário, uma perda. Com uma posição vendida ocorre o contrário, pois a parte

tem a obrigação de vender a um preço inferior ao valor à vista, auferindo uma perda na

operação. Exemplos dos efeitos e resultados financeiros decorrentes do vencimento de uma

compra e uma venda a termo em um determinado mês podem ser vistos na Tabela 1 a seguir:

Tabela 1 – Exemplo dos efeitos financeiros decorrentes de contratos a termo

Data de

Vencimento Operação

Ativo

Objeto Quantidade

Valor

a

Termo

Preço

à vista

Resultado

no

Vencimento

Custos de

Corretagem e

Emolumentos

Resultado

Líquido no

Mês

15/07/16 Compra Euro 1.000.000 3,65 3,55 (100.000) - (100.000)

26/07/16 Venda USD 3.000.000 3,30 3,22 240.000 - 240.000

Ganho/Perda no Mês 140.000 - 140.000

Fonte: Elaborado pelo autor.

A primeira linha da Tabela 1 demonstra um contrato de compra a termo de 1 milhão de

euros com vencimento em 15 de julho de 2016. Economicamente falando, é como se esse

investidor tivesse comprado o euro a R$ 3,65 e vendido a R$ 3,55, resultando em uma perda de

R$ 0,10 por unidade de moeda, que, multiplicado por 1.000.000 unidades, totaliza uma perda

de R$ 100.000 nessa operação. Por ser uma operação típica de balcão, não há custos de

corretagem e emolumentos (taxas cobradas pela bolsa), motivo da ausência de valores na

referida coluna. A linha seguinte segue o mesmo raciocínio.

Page 30: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

30

1.3.2. Contratos futuros

Um contrato futuro, segundo Hull (2005, p. 19), é um acordo para vender ou comprar

um ativo em uma data futura por um determinado preço, o qual é negociado em uma bolsa

organizada. Nos primórdios do mercado de futuros, as operações envolviam exclusivamente

produtos agrícolas, mas com o desenvolvimento do mercado de capitais e da economia essas

operações passaram a incorporar uma gama maior de ativos-adjacentes, como ações, produtos

pecuários, moedas, metais, índices de preços e muitos outros itens (ASSAF NETO, 2014a, p.

318).

Os resultados financeiros decorrentes desses contratos se assemelham aos dos contratos

a termo, já demonstrados na Tabela 1, com exceção dos custos de corretagem devidos à entidade

corretora que intermedeia essas operações mais os custos com emolumentos cobrados pela

bolsa.

Dentre as principais características dos contratos futuros estão a padronização, que

contribui para a sua liquidez e transferências de riscos entre os operadores desse mercado e a

redução do risco de crédito das contrapartes da operação, se comparados aos contratos a termo,

como ensinam Martins et al. (2013, p. 138):

Os contratos futuros surgiram de uma limitação dos contratos a termo que é a

excessiva variabilidade das características dos contratos elaborados, já que

não há nenhuma padronização nestes tipos de contrato. Os contratos futuros

introduzem uma padronização do preço, qualidade do produto, local e data de

entrega, tamanho e volumes negociados, aumentando consideravelmente a

liquidez dos contratos, por permitir, cada vez mais, a transferência de riscos

com a maior presença dos especuladores. Os contratos a termo também

possuem risco de crédito elevado. Esse problema é amenizado com os

contratos futuros, que possuem ajustes diários, reduzindo o risco de liquidação

final do contrato.

Os ajustes financeiros diários mencionados decorrem da variação diária do valor justo

do contrato futuro. Estes devem ser pagos à bolsa por aqueles que incorrerem em redução no

valor justo de sua posição e recebidos da bolsa por aqueles que obtiverem aumento no valor

justo dos seus contratos futuros.

Além desse mecanismo, há um outro componente que igualmente contribui para a

redução do risco de crédito, denominado margem. Segundo Hull (2005, p. 24-25), as margens

entram nesse mercado para evitar inadimplências por parte dos seus participantes, que podem

eventualmente não ter capacidade financeira para honrar os pagamentos à bolsa. Segundo o

autor, esses valores devem ser depositados junto à bolsa no momento da negociação do contrato

(margem inicial) e o seu saldo não poderá ficar negativo. Em caso de necessidade de depósito

Page 31: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

31

de garantia adicional, ocorre a chamada de margem, na qual o investidor é obrigado a depositar

margem adicional e, caso não o faça, terá a sua posição liquidada pela corretora. Segundo

Securato, Securato e Olivo (2007, p. 204), no caso da BM&FBovespa, podem ser depositados

como garantias em custódia instrumentos financeiros como dinheiro, títulos públicos, ações,

CDB bancário, fiança, ouro, entre outros. Wilmott (2007, p. 23) relata que esse assunto tem

sido negligenciado na literatura acadêmica e o seu entendimento superficial resultou em alguns

desastres financeiros no exterior.

Diferentemente do contrato a termo, o qual se realiza naturalmente no momento do seu

vencimento, para encerrar uma posição no mercado futuro, o investidor precisa realizar uma

operação de natureza oposta àquela que detinha originalmente (HULL, 2005, p. 19).

1.3.3. Contratos de swap

Securato, Securato e Olivo (2007, p. 196-197) ensinam que os contratos de swap “são

operações de ‘troca’, nas quais duas entidades – que podem ser duas empresas ou mais,

usualmente um banco e uma empresa – trocam posições em índices financeiros, econômicos,

preços de commodities, entre outros”. Segundo os autores, nesse contrato são estabelecidos: a)

quais valores ou índices serão trocados entre os contratantes; b) o valor nocional (ou de base)

do contrato, que é o valor sobre o qual incidirá o cálculo dos valores ou índices que deverão ser

trocados entre as partes; e c) o prazo no qual serão apurados e contabilizados tais índices.

Segundo Lopes, Galdi e Lima (2011, p. 86), “o swap é tipicamente uma operação de

mercado balcão, pois se adequa às necessidades específicas de cada agente”, o qual pode ser

registrado na Cetip, sem a exigência de garantias, ou na BM&FBovespa, com a exigência de

depósitos de margem como garantia da operação.

Em um exemplo simplificado de como ocorre a troca dos indexadores nesse tipo de

operação, realizada entre duas empresas (A) e (B), a empresa (A) pagará 100% da taxa Selic à

empresa (B) e esta última pagará a variação do dólar norte-americano à empresa (A). Dessa

forma, esse swap possui uma “ponta” de taxa de juros e outra de dólar e, nesse exemplo, pode-

se afirmar que (A) está comprada em dólar e vendida em juros e (B) está comprada em juros e

vendida na referida moeda estrangeira. Apesar de cada empresa possuir sempre uma posição

comprada e outra vendida, a realização financeira ocorre pela diferença entre os valores a

receber ou a pagar oriundos da troca dos indexadores (ibid., p. 86).

Essa operação é conhecida na literatura como swap cambial. No entanto, alguns

contratos de swap podem prever, em uma de suas pontas, além do pagamento da variação

cambial um pagamento adicional de taxa de juros na mesma moeda estrangeira (cupom

Page 32: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

32

cambial). Esse tipo de contrato é denominado de swap cambial reverso (ASSAF NETO, 2014a,

p. 345).

Um contrato de swap pode igualmente ser utilizado para transformar taxas fixas em

flutuantes e vice-versa (HULL, 2005, p. 175). Uma empresa que toma um empréstimo de

R$ 50.000.000 a uma taxa prefixada de 20% a.a. pode entender que possui uma vantagem maior

se tal empréstimo tivesse sido tomado a uma taxa flutuante de 120% do CDI. Em vez de encerrar

a operação de empréstimo atual e iniciar uma nova operação com as taxas desejadas, tal empresa

pode contratar uma operação de swap junto a um banco de tal forma que receba uma taxa

prefixada de 20% a.a. e pague a taxa desejada de 120% do CDI. Assim, economicamente, a

partir desse momento, tem uma operação de empréstimo à taxa flutuante como desejado. Esse

é um exemplo conceitual porque na prática o banco cobraria um spread pela operação,

reduzindo, por exemplo, a ponta prefixada para uma taxa abaixo dos 20% desejados pelo

cliente. Considerando esse exemplo em uma operação de swap para um ano e uma taxa do CDI

no vencimento da operação a 15% a.a., os resultados dessa operação ocorrem conforme a

Tabela 2 a seguir:

Tabela 2 – Exemplo dos efeitos financeiros decorrentes de um contrato de swap

Informações Gerais

Data do contrato 15/06/2015

Data do vencimento 14/06/2016

Quantidade de dias úteis no contrato 252

Valor do nocional 50.000.000

Descrição das Pontas do Swap Taxas Nocional

Capitalizado

Valor do

Ajuste

Paga (-) 120% do CDI (de 15% a.a.) 18,00% 59.000.000 (9.000.000)

Recebe (+) taxa prefixada 20,00% 60.000.000 10.000.000

Diferencial a Receber 1.000.000 Fonte: Elaborado pelo autor.

A Tabela 2 demonstra de forma clara como cada ponta do swap se comportou

financeiramente, sendo que a ponta a pagar da operação (120% do CDI) teve variação inferior

à da ponta a receber (taxa prefixada de 20% a.a.), resultando em um diferencial líquido a receber

pela empresa que detinha a operação de empréstimo de R$ 1.000.000.

1.3.4. Contratos de opções

Segundo Assaf Neto (2014a, p. 332), os contratos de opções representam uma

sofisticação dos mercados de derivativos, especialmente das operações a futuro, e, através

Page 33: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

33

deles, o investidor assume um direito, qual seja, o de adquirir ou alienar determinado ativo,

pagando por isso um prêmio à contraparte da operação. A sua liquidação é exclusivamente

financeira, sem qualquer entrega física (SECURATO; SECURATO; OLIVO, 2007, p. 205).

Diferentemente do que ocorre nos mercados futuros, onde as partes têm a obrigação de

comprar ou vender determinado ativo, em um contrato de opção o comprador (ou titular da

opção) é detentor do direito de comprar ou vender um ativo, não sendo obrigado a exercê-lo.

Assim esse direito poderá ser exercido apenas no vencimento do contrato (opção do tipo

europeia) ou em qualquer dia até aquela data (opção do tipo americana). Caso queira, o

investidor poderá inclusive revender uma opção no mercado (LOPES; GALDI; LIMA, 2011,

p. 74).

Basicamente há dois tipos de opções: as de compra (call) e as de venda (put). Uma

opção de compra dá ao seu titular o direito de comprar um ativo por determinado preço em uma

certa data futura. Já uma opção de venda dá o direito ao mesmo titular de vender um ativo por

um certo preço em uma determinada data futura. O preço contratado entre as partes é conhecido

como preço de exercício (strike price) e a data na qual o titular da opção exercerá o seu direito

é denominada data de vencimento, de maturidade ou de exercício (HULL, 2005, p. 5). Já o

vendedor das opções (lançador) terá a obrigação de vender ou comprar determinado ativo,

dependendo do tipo da opção, sempre no caso em que o titular tenha exercido o seu direito. O

Quadro 1 a seguir apresenta de forma resumida os direitos e obrigações de cada uma das partes

nesse tipo de contrato.

Quadro 1 – Direitos e obrigações dos titulares e lançadores de opções

Call Put

Titular Direito de comprar o ativo-

objeto pelo strike

Direito de vender o ativo-

objeto pelo strike

Lançador Obrigação de vender o ativo-

objeto pelo strike, se exercido

Obrigação de comprar o ativo-

objeto pelo strike, se exercido

Fonte: Lopes, Galdi e Lima (2011, p. 75).

Segundo Lopes, Galdi e Lima (2011, p. 75), uma opção poderá ser exercida se no

vencimento houver uma valorização no valor de mercado do prêmio, a qual ocorrerá, no caso

de uma opção de compra (call), quando o preço à vista do ativo-objeto for superior ao preço de

exercício (strike) e no caso de uma opção de venda (put) quando o preço à vista do ativo-objeto

Opção Posição

Page 34: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

34

for inferior ao strike. Exemplos dos efeitos e resultados financeiros decorrentes do exercício de

opções de compra e venda em um determinado mês poderão ser vistos na Tabela 3 a seguir:

Tabela 3 – Exemplos dos efeitos financeiros decorrentes do exercício de opções

Data de

Exercício Operação Ativo Objeto Quantidade Strike

Preço

a Vista

Resultado

no

Exercício

Prêmio

Pago /

Recebido

Resultado

Líquido no

Mês

02/07/16 Compra Call Ação - BRA 100.000 50,00 52,00 200.000 (40.000) 160.000

10/07/16 Venda Call USD 10.000.000 3,40 3,43 (300.000) 100.000 (200.000)

20/07/16 Compra Put Ação - BRU 500.000 28,00 24,00 2.000.000 (300.000) 1.700.000

25/07/16 Venda Put Euro 15.000.000 3,60 3,80 - 200.000 200.000

Ganho/Perda no Mês 1.900.000 (40.000) 1.860.000

Fonte: Elaborado pelo autor.

A explicação da Tabela 3 parte de três pressupostos: i) uma opção de compra deve ser

exercida quando o preço do ativo-objeto no mercado a vista for superior ao strike e uma opção

de venda deve ser exercida quando o preço do ativo no mercado a vista for inferior ao strike;

ii) quando do exercício de uma opção, o titular aufere um ganho enquanto o lançador incorre

em uma perda; iii) no contrato de opção enquanto o titular paga prêmio o lançador recebe

prêmio. Entendidas as premissas, a primeira linha da Tabela 3 demonstra um contrato de

compra de uma opção de compra de 100 mil ações da empresa BRA a um preço de exercício

de R$ 50,00, com vencimento em 2 de julho de 2016. Como na data de exercício o preço à vista

do ativo estava em R$ 52,00, o titular exerce o seu direito de comprar do lançador a R$ 50,00

e auferir um lucro de R$ 2,00 por ação, que multiplicado por 100 mil unidades de ação resulta

em um ganho bruto de R$ 200.000. Considerando o prêmio pago de R$ 40.000 como custo da

operação, o resultado líquido da operação foi de R$ 160.000. As demais linhas seguem o mesmo

racional.

1.4. Gestão de riscos financeiros

Antes que se possa tratar da gestão de riscos propriamente dita, faz-se necessário

primeiramente conceituar o termo risco. Com uma abordagem que vai à origem da palavra no

italiano antigo, Bernstein (1997, p. 8) assim conceitua risco:

A palavra “risco” deriva do italiano antigo risicare, [...] que significa “ousar”.

Neste sentido, o risco é uma opção, e não um destino. É uma das ações que

ousamos tomar, que dependem de nosso grau de liberdade de opção.

Page 35: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

35

Knight (1921, p. 233) ao tratar a respeito do tema, entendeu por bem esclarecer sobre a

distinção entre risco e incerteza, no sentido de que, no primeiro, os valores podem ser

mensurados através de cálculos estatísticos a partir da distribuição de um grupo de casos

conhecidos. Já no segundo não seria possível a sua mensuração porque a situação que pode ser

enfrentada é única (e desconhecida) em um alto grau.

A ideia aqui é que o risco de qualquer operação ou transação pode ser mensurado através

de cálculos (econométricos, estatísticos, etc.), o que não ocorre com a incerteza por esta não ser

conhecida (como saber se no futuro haverá alguma catástrofe natural, ataque terrorista ou outro

evento inesperado?), motivo pelo qual não pode ser mensurada.

Semelhantemente, Jorion (2007, p. 3) define risco como a volatilidade de resultados

inesperados, os quais podem representar os valores do lucro, do patrimônio líquido ou dos

ativos de uma empresa.

Assaf Neto (2014a, p. 148), ao ampliar e simplificar o conceito estudado, afirma:

De uma maneira mais ampla, o risco no mercado financeiro pode ser

entendido como a probabilidade de perda em razão de uma exposição ao

mercado. As perdas no mercado financeiro podem decorrer de diversos

eventos, principalmente aqueles relacionados às variações nas taxas de juros

e nos preços de mercado.

Combinando os conceitos vistos até então, pode-se afirmar que, uma vez que um certo

investidor espera um retorno sobre determinado investimento, este pode, com base nas

informações disponíveis (exemplo: dados estatísticos, dados atuais da economia, etc.), estimar

a perda em relação à tal aplicação, qual a probabilidade de ocorrer tal perda e como gerir sua

exposição com o fim de diminuir as chances de prejuízo na operação.

Segundo Damodaran (1997, p. 776), as empresas estão expostas a uma gama de riscos,

alguns deles aplicáveis ao mercado como um todo e outros específicos à empresa, sendo que

alguns desses riscos podem ser protegidos a um custo relativamente baixo. Já outros riscos

teriam um alto custo de proteção, de acordo com o autor.

Os riscos citados igualmente podem ser classificados em: a) risco sistêmico ou não-

diversificável, o qual se relaciona com a conjuntura econômica e que pode afetar todos os

investimentos de uma economia e; b) risco não-sistêmico ou diversificável, sendo o risco

próprio do negócio das empresas, passível de diversificação por parte da administração (WU,

2006, p. 15).

Page 36: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

36

O trabalho de gestão de risco das empresas, segundo Damodaran (1997, p. 795-796),

passa por quatro etapas, quais sejam: i) identificar e classificar as origens de risco; ii) medir

(calcular ou estimar) esses riscos; iii) avaliar a necessidade de gerenciar ou proteger tais riscos;

e iv) escolher entre produtos de gestão de riscos disponíveis através dos vários tipos de

derivativos existentes.

1.4.1. Principais riscos financeiros

Apesar de este estudo estar focado na questão do hedge aplicado às entidades não-

financeiras, nesse tópico se apresentam os principais riscos financeiros sob a ótica das entidades

financeiras (por assumirem riscos de seus clientes em suas operações). No entanto, o leitor

poderá perceber que todos os riscos financeiros aqui tratados podem se aplicar às empresas não-

financeiras, principalmente aquelas com grandes operações tanto no mercado doméstico quanto

no mercado internacional.

Assaf Neto (2014a, p. 151-158) apresenta os principais riscos financeiros atualmente

enfrentados pelas instituições financeiras decorrentes de suas atividades de intermediação

financeira, os quais, mesmo não sendo possível eliminá-los totalmente, devem ser

administrados de forma a permitir que tais instituições avaliem o potencial de possível perda

associada a determinado evento, bem como sua probabilidade de ocorrência. Tais riscos

financeiros estão descritos a seguir:

a) Risco de mercado: Esse risco está relacionado com os preços estipulados pelo mercado

para os ativos negociados pelos intermediários financeiros (i.e. como tais preços se

comportam no dia a dia), exprimindo o quanto uma companhia pode ganhar ou perder em

uma aplicação diante de uma mudança nos preços dos ativos. Refere-se às chances de

perda que uma instituição financeira pode incorrer diante de comportamentos adversos

nas taxas de juros, índices de inflação, preços de commodities, bolsas de valores, entre

outros.

b) Risco de crédito: É o risco que uma instituição financeira tem de não receber os valores

de principal, juros e outros rendimentos pelos títulos que possui em sua carteira (como as

operações de empréstimos com clientes por exemplo), o qual existe por conta da

possibilidade dos devedores não cumprirem com suas obrigações financeiras junto ao

banco. Tal risco é afetado pela política de concessão de crédito e gestão de risco dessas

instituições e os juros cobrados pelos bancos deveriam cobrir, além de outras despesas,

aquelas relativas ao risco de crédito decorrente da inadimplência esperada por eles.

Page 37: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

37

c) Risco de liquidez: É o risco de uma instituição financeira ficar sem disponibilidade

imediata de caixa diante de demandas de depositantes e tomadores de recursos dessa

instituição. Esse risco aumenta quando os recursos de caixa disponíveis em uma

instituição são minimizados por não produzirem retornos na forma de juros, razão pela

qual deveria ter a flexibilidade para captar no mercado os recursos necessários para cobrir

o seu caixa.

d) Risco de câmbio: Em termos gerais, esse risco ocorre em duas situações: i) quando a

instituição possui recursos aplicados no exterior e verifica a tendência da moeda daquele

país se desvalorizar em relação à moeda de seu país de origem, o que pode gerar um

retorno inferior na operação; e ii) quando possui descasamento de posições em moedas

estrangeiras de seus ativos e passivos. Nesta última, quando possui mais ativos do que

passivos em uma moeda, ela tem uma posição ativa líquida e na situação contrária possui

uma posição passiva líquida. Esse tipo de descasamento pode ser rentável em caso de

apreciação de uma moeda em uma situação de posição ativa líquida, por exemplo, mas

que pode ser prejudicial no caso de perda do valor de tal moeda.

e) Risco de variação nas taxas de juros: Esse risco ocorre quando uma instituição financeira

possui descasamento nos prazos de recebimento dos seus ativos (aplicações) e de

pagamentos de seus passivos (captações). Tomando-se por base um exemplo em que uma

instituição possui um ativo de empréstimo com prazo para recebimento em dois anos e

para isso captou recursos com prazo para pagar daqui a um ano, saberá qual será a margem

financeira no primeiro ano, mas não saberá como as taxas de juros se comportarão no

segundo ano. Essa situação apresenta um risco no qual um aumento nas taxas de juros

reduziria a margem financeira e uma redução nestas taxas aumentaria a margem desta

instituição.

f) Risco operacional: Esse é o risco de perdas resultantes de erros humanos, falhas em

sistemas e processos internos, fraudes, entre outros; “é a perda estimada caso a gestão de

riscos não atinja seu objetivo de evitar perdas [...] o risco operacional pode se originar de

três segmentos: pessoas, processos e tecnologia” (ASSAF NETO, 2014a, p. 155).

1.4.2. Motivação para a mitigação de riscos

Damodaran (2009, p. 25) ensina que não é surpresa o fato de as decisões a respeito da

intensidade e os tipos de riscos que uma empresa deve correr serem cruciais ao seu sucesso,

pois, em seu entendimento, se uma empresa decide se proteger contra todo o tipo de risco

provavelmente não gerará lucros aos seus acionistas, mas, se a mesma empresa se expõe a tipos

Page 38: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

38

errados de riscos, pode se sair pior ainda, uma vez que tem maior probabilidade de sofrer perdas

do que ter lucro decorrente dessa exposição. O autor sumariza que “a essência de uma boa

gestão está em tomar as decisões certas ao lidar com diferentes tipos de riscos”.

Acompanhando o mesmo raciocínio, Securato (2015, p. 477) afirma que o sucesso de

uma empresa no longo prazo diz respeito à sua capacidade de oferecer produtos demandados

por seus clientes, com o nível de qualidade desejado por eles, a um custo que permita que o

negócio (a empresa) seja rentável aos seus acionistas, que devem ser remunerados

adequadamente pelos riscos associados ao seu investimento. Esse mesmo autor destaca que o

resultado de uma empresa decorre da sua disposição em assumir riscos e que a qualidade na

gestão de tais riscos determinará sua habilidade por exemplo de conseguir crédito. Assim, a

gestão eficaz dos riscos mostra à empresa em que direção ela poderá diversificar ou eliminar

riscos desnecessários, os quais não geram nenhuma recompensa ao seu negócio.

Seguindo essa linha, ao gerir adequadamente os riscos financeiros aos quais está sujeita,

através de ferramentas adequadas para mitigar ou reduzir cada risco identificado, uma

companhia poderia concentrar esforços naquilo que é o seu negócio, a sua atividade principal.

Dessa forma teria segurança de que riscos de aumento nas taxas de juros locais ou

internacionais, da desvalorização da moeda de seu país ou do aumento do preço de determinada

commodity que utiliza como insumo na produção, só para citar alguns exemplos, estariam

controlados. Ao proceder assim, poderia assumir outros riscos concernentes à sua atividade e

não aqueles tipos errados de risco, os quais, como já visto, poderiam trazer-lhe prejuízos.

1.4.3. Cálculo da exposição

Segundo Damodaran (1997, p. 777-778), a exposição ao risco diz respeito a quanto do

fluxo de caixa e do valor de uma empresa podem ser afetados por uma fonte de risco específica,

a qual pode ser apurada de duas formas: i) em um primeiro nível, relacionada aos fluxos de

caixa por mudanças em variáveis específicas (como, por exemplo, taxas de juros e preços de

moedas), tanto no nível interno da empresa (não-sistêmico) quanto no mercado; e ii) em um

segundo nível, relacionada ao valor da firma ou de seu patrimônio líquido que podem ser

afetados por mudanças nas mesmas variáveis.

De acordo com Securato (2015, p. 484-485), para efeito de gestão de risco, é necessário

que todas as operações de uma empresa sejam convertidas a preços de mercado, através da

apuração do valor presente dos fluxos futuros, uma vez que o importante quando se analisa

risco é quanto do resultado de uma companhia está em jogo, considerando o montante que já

Page 39: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

39

tenha auferido até o momento, caso os preços de mercado oscilem. Esse mesmo autor

demonstra um exemplo a respeito do assunto:

Dessa forma, quando se avalia o risco de uma posição de ações, não interessa

identificar quanto o banco pode perder ou ganhar em relação ao valor de

aquisição delas, mas sim em comparação com o que obteria, caso se desfizesse

da carteira nesse momento, ou se fosse realizado o hedge da posição. O

resultado de toda a avaliação de risco é exatamente uma decisão entre desfazer

ou manter uma determinada posição assumida pela instituição.

Damodaran (2009, p. 112) demonstra o método para calcular os fluxos de caixa

esperados por um investimento ao longo de sua vida, descontados por uma taxa ajustada para

o risco:

Valor do ativo =𝐸(𝐹𝐶1)

(1+𝑟)+

𝐸(𝐹𝐶2)

(1+𝑟)2 +𝐸(𝐹𝐶3)

(1+𝑟)3 … +𝐸(𝐹𝐶𝑛)

(1+𝑟)𝑛 (1)

Onde:

E(FCt) = fluxo de caixa esperado no período;

r = taxa de desconto que reflete o risco dos fluxos de caixa; e

n = vida do ativo (em anos).

Segundo o autor, as taxas de desconto a serem utilizadas nesse cálculo são aquelas

obtidas através de modelos de risco e retorno disponíveis na economia e nas finanças (como,

por exemplo, o CAPM – Capital Asset Pricing Model), os quais apresentam dois componentes

em comum: i) a taxa livre de risco, que é aquela que certamente se pode esperar de um

investimento, como, por exemplo, um título do tesouro norte-americano, sendo que essa taxa

pode variar para diferentes moedas, por conta da expectativa de inflação ser diferente para cada

uma delas; e ii) prêmio do risco de mercado do investimento,1 que pode ser estimado tanto pelo

histórico do risco obtido através do exame dos retornos que o investidor teria sobre determinado

ativo, em comparação com um investimento livre de risco, quanto através do cálculo de um

prêmio implícito ou projetado, por meio da análise dos preços de mercado do mesmo ativo, em

comparação com os fluxos de caixa esperados pelo investimento nesses ativos (ibid., p. 113).

1 Nesse caso Damodaran (2009, p. 113) trata do prêmio do risco do mercado de ações, entretanto o conceito

apresentado pelo autor poder ser utilizado para qualquer investimento.

Page 40: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

40

1.4.4. Medidas de risco

Segundo Assaf Neto (2014a, p. 116), a utilização da estatística permite aos seus usuários

tomar as melhores decisões em condições de incerteza, razão pela qual as áreas do mercado

financeiro e de capitais, por conta de sua forte característica previsional e por estarem rodeadas

por ambientes de incertezas, não podem se furtar à utilização de métodos estatísticos na

avaliação dos seus instrumentos financeiros. Tal autor ainda destaca que uma parte relevante

da evolução conceitual e prática apresentada pelos mecanismos deste mercado, no que diz

respeito ao processo de avaliação e do risco das decisões, é atribuída à utilização das técnicas

estatísticas.

Tendo como base o exposto, inicialmente serão vistas de forma sucinta neste tópico

algumas medidas estatísticas descritivas utilizadas para o cálculo de risco, como as de tendência

central (média, mediana e moda) e as de dispersão (variância, desvio-padrão, volatilidade e

coeficiente de variação), além de outras medidas estatísticas que buscam relacionar duas

variáveis (covariância, correlação e coeficiente de correlação). Ao final, serão descritas também

de forma resumida outras medidas utilizadas para o cálculo do risco como o beta () e o VaR

(Value at Risk).

a) Medidas de tendência central (média, mediana e moda)

Segundo Martins e Domingues (2014, p. 30), as medidas de posição ou de tendência

central são “utilizadas para representar fenômenos coletivos através de um único valor,

fornecendo uma ideia geral a respeito do fato ou fenômeno analisado”, a qual deve ser

representada pelo símbolo (µ) quando referir-se à média populacional e pelo símbolo (��)

quando tratar-se de uma média amostral.

Os autores ainda destacam que, dentre tais medidas, a média aritmética é a mais intuitiva

e comum dentre as medidas de posição. No entanto, deve ser utilizada com cautela por sofrer

influência de todos os valores constantes de uma série de dados.

A fórmula a seguir refere-se a uma média amostral a partir de uma série simples:

�� =𝑥1+𝑥2+…+𝑥𝑛

𝑛=

∑ 𝑥𝑖

𝑛 (2)

Onde:

�� = média de uma amostra;

x = evento de uma amostra; e

n = quantidade de observações em uma amostra.

Page 41: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

41

Deve-se observar que, quando se trata de uma população, a quantidade de observações

deve ser representada pelo símbolo (N).

Quando se deseja atribuir diferentes pesos ou graus de importância a cada elemento

constante do conjunto de observações, utiliza-se a média aritmética ponderada. De acordo com

Assaf Neto (2014a, p. 117), é apurada pela somatória dos eventos de uma amostra multiplicada

pelos respectivos pesos e depois dividida pela somatória dos pesos, como na fórmula a seguir:

Xp =∑ (xi × fi)n

i=1

∑ (fi)ni=1

(3)

Onde:

��p = média ponderada de uma amostra;

x = evento de uma amostra; e

f = frequência ou peso relacionado a cada evento.

No que diz respeito à mediana, representada pelo símbolo (��), Martins e Theóphilo

(2009, p. 113) ensinam que, ao colocar os dados em ordem crescente, essa medida

corresponderá ao valor que divide o conjunto de dados (população ou amostra) em duas partes

iguais.

Martins e Domingues (2014, p. 36) destacam a importância da mediana por ela deixar

50% dos elementos de uma série de dados à esquerda e 50% à direita, ficando localizada

exatamente no centro da amostra e por essa razão não pode ser influenciada por valores

extremos, como ocorre com a média.

Em uma série simples, quando o número de elementos for ímpar e desde que os dados

tenham sido arranjados em ordem crescente, a mediana será o valor do termo central da referida

série. Já quando o número total de elementos de uma série for par, a mediana será calculada

pela média simples dos valores dos dois termos centrais em um conjunto de dados.

No caso de uma série agrupada em tabelas, duas fórmulas deverão ser utilizadas, a seguir

(MARTINS; DOMINGUES, 2014, p. 37):

Sendo (n) ímpar, a mediana é o elemento central:

(𝑑𝑒 𝑜𝑟𝑑𝑒𝑚 𝑛+1

2) (4)

Sendo (n) par, a mediana é o elemento central:

Page 42: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

42

[de ordem n

2 e (

n

2) + 1] (5)

A moda representa o valor que ocorre com maior frequência em um conjunto de dados

e desta maneira ela não deve ser calculada, mas sim indicada, como ensina Stevenson (2001, p.

23). O autor ainda destaca que, se comparada com a média e a mediana, a moda seria a menos

útil dentre as medidas utilizadas para a resolução de problemas estatísticos. No entanto, a

utilidade dessa medida se acentua quando um, dois ou mesmo um grupo de valores ocorrem

com uma frequência muito maior que os demais.

b) Medidas de dispersão (variância, desvio-padrão, volatilidade e coeficiente de variação)

Segundo Securato (2015, p. 456), as medidas de dispersão podem dar um parâmetro

para se analisar o risco que uma pessoa corre em uma decisão com base em valores médios e

elas podem dizer “o quanto uma média é representativa de sua amostra ou da população

original”.

Essas medidas indicam de que maneira os valores de um conjunto estão distribuídos em

relação à média e, quanto mais distantes da média estiverem os valores da extremidade de um

conjunto de dados, menor é a sua representatividade estatística por conta do distanciamento dos

valores da observação em relação à medida central (ASSAF NETO, 2014a, p. 119).

Markowitz (1952, p. 77), ao apresentar à academia o princípio da diversificação em seu

trabalho intitulado Portfolio Selection, estabeleceu a regra de que o retorno esperado por um

investidor deveria ser considerado com algo esperado, mas a variância dos retornos como algo

indesejável.

Bernstein (1997, p. 252) afirma que, a partir da publicação desse trabalho, o “risco e

variância tornaram-se sinônimos”. A respeito da variância, igualmente ensina:

A variância é uma medida estatística da oscilação do rendimento de um ativo

ao redor da média. O conceito está matematicamente ligado ao desvio padrão;

na verdade, ambos são intercambiáveis. Quando maior a variância ou o desvio

padrão ao redor da média, menos o retorno médio indicará qual deverá ser o

resultado. (Ibid.)

A variância de uma população é representada pelo símbolo (𝜎2) e no caso de uma

amostra deve ser representada por (S2) e, segundo Stevenson (2001, p. 28), é igual à somatória

Page 43: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

43

dos quadrados dos desvios dividida por (n) quando se tratar de uma população e (n – 1) quando

se tratar de uma amostra, como demonstra a fórmula a seguir:

Sx2 =

∑(𝑥𝑖−��)2

𝑛−1 (6)

Onde:

Sx2 = variância dos resultados;

xi = determinado elemento da amostra;

�� = média dos elementos da amostra; e

n = número total de retornos anuais de uma amostra.

Martins e Domingues (2014, p. 45) salientam que, para “melhor interpretar a dispersão

de uma variável, calcula-se a raiz quadrada da variância, obtendo-se o desvio-padrão que será

expresso na unidade de medida original”. Essa é a mais importante das medidas de dispersão,

pois “reflete a variação média absoluta dos dados em torno de uma média aritmética” (ibid.).

A importância da utilização do desvio-padrão como medida de cálculo de risco

financeiro é tratada por Securato (2015, p. 468):

Vimos que é fundamental, sempre que trabalharmos com modelos

matemáticos e estatísticos, conhecer as premissas dos modelos e seus pontos

fortes e fracos. Se alguém pudesse prever o futuro, não existiria risco, pois ele

está associado à probabilidade de fracasso de um dado evento. Para cada

expectativa em relação ao futuro existe uma medida numérica capaz de

quantificar este risco. No mercado financeiro essa medida é o desvio-padrão.

O desvio-padrão é representado pela raiz quadrada da variância e, quando representativo

de uma população, deve ser representado pelo símbolo (𝜎). Já no caso de uma amostra deve ser

representado por (S). A fórmula para indicar o desvio-padrão amostral pode ser vista a seguir

(ASSAF NETO, 2014a, p. 119):

𝑆 = √∑ (𝑋𝑖−��)2𝑛

𝑖=1

𝑛−1 (7)

Na utilização dessa fórmula, para o desvio-padrão populacional, o (n – 1) deve ser

trocado por (n).

Uma versão simplificada dessa fórmula é dada por Martins e Theóphilo (2009, p. 115):

Page 44: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

44

𝑆 = √𝑆2

(8)

A última das medidas de dispersão aqui apresentadas é a da volatilidade.

No que diz respeito ao seu cálculo, Assaf Neto (2014a, p. 119) afirma:

A volatilidade, outra medida estatística de dispersão, expressa a incerteza dos

retornos de um ativo ou, em outras palavras, a intensidade e a frequência das

variações observadas em seus preços. Um mercado volátil é entendido quando

os preços dos ativos oscilam rapidamente, sofrendo aumentos e reduções de

preços. O desvio-padrão e a variância são indicadores bastante utilizados da

volatilidade de um ativo. (Grifo do autor)

Esse autor destaca que há vários métodos para se calcular a volatilidade. No entanto,

dentre as métricas disponíveis, escolheu o cálculo do desvio-padrão dos retornos logarítmicos

de um ativo em relação ao seu retorno médio, considerando uma série de retornos contínuos, a

qual foi considerada para esse item (ASSAF NETO, 2014a, p. 119-120):

Volatilidade (σ) = [1

𝑛× ∑ (𝑅𝑡 − ��𝑡)2𝑛

𝑡=1 ]1/2

(9)

Onde:

n = quantidade de elementos da série histórica da população; e

Rt = retorno logarítmico dos preços de um mesmo ativo em duas datas consecutivas.

O cálculo dos retornos (Rt) pode ser obtido a partir da fórmula a seguir:

𝑅t = ln𝑃𝑡

𝑃𝑡−1 (10)

Onde:

ln = logaritmo natural; e

P = preço de um ativo em um momento t;

A última das medidas de dispersão apresentadas neste item será o coeficiente de

variação de Pearson. Segundo Martins e Theóphilo (2009, p. 115), diferentemente da variância

e do desvio-padrão, que são consideradas como medidas de dispersão absolutas, o coeficiente

de variação (C.V.) mede a dispersão relativa (em termos percentuais) de uma série de dados,

obtido através da relação entre o desvio-padrão e a média, multiplicado por 100 para se obter o

valor percentual desse coeficiente, como demonstrado pela fórmula a seguir:

Page 45: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

45

𝐶. 𝑉 =𝑆

��×100 (11)

Onde:

S = desvio-padrão amostral; e

�� = média amostral.

Assaf Neto (2014a, p. 120) destaca que a grande utilidade dessa medida reside no fato

de ela permitir que se faça comparações mais precisas entre dois ou mais conjuntos de valores.

Em uma situação em que se compara duas bases com desvios-padrão iguais ou

semelhantes, pode-se obter, através dessa métrica, a informação de quais amostras possui menor

variação relativa, ou seja, menor nível de dispersão ou de risco, se comparadas duas ou mais

opções de investimentos.

A interpretação dos valores calculados através do coeficiente de variação pode ser

realizada conforme o Quadro 2 a seguir:

Quadro 2 – Regras empíricas para a interpretação do coeficiente de variação

Se: CV < 15% há baixa dispersão => boa representatividade para a

média aritmética como medida de posição

Se: 15% ≤ CV < 30% há média dispersão => a representatividade da média

aritmética como medida de posição é apenas regular

Se: CV ≥ 30% há elevada dispersão => a representatividade da

média aritmética como medida de posição é ruim.

Fonte: Martins e Domingues (2014, p. 47).

c) Medidas que buscam relacionar duas variáveis (covariância, correlação e coeficiente de

correlação)

A busca da existência de associação entre variáveis de um conjunto de dados é

frequentemente um dos objetivos de uma pesquisa empírica e a possibilidade de existência de

relação entre variáveis orienta análises, evidenciação e conclusões de achados em uma

investigação (MARTINS; DOMINGUES, 2014, p. 289).

Assaf Neto (2014a, p. 125-126), ao tratar sobre a covariância (uma dessas medidas),

afirma que ela tem como objetivo identificar como determinados valores se inter-relacionam,

ou seja, como se movimentam ao mesmo tempo relativamente aos seus valores médios,

indicando haver ou não simetria entre duas variáveis. Ao apresentarem covariância positiva

Page 46: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

46

(COV>0), os retornos positivos de duas opções de investimento teriam a mesma tendência de

comportamento, demonstrando haver relacionamento direto entre essas variáveis, o que não

ocorre quando duas variáveis apresentam covariância negativa (COV<0). Nesse último os

resultados de duas opções de investimento apresentariam relações inversas, sendo que o retorno

de uma dessas opções teria a tendência de assumir um comportamento distinto na outra opção

analisada. Esse autor apresenta o cálculo dessa métrica, que é representada pela somatória dos

retornos de um investimento (A) menos a sua média, multiplicados pelos retornos de um

investimento (B) menos a sua média, todos divididos pelo número de observações do conjunto,

conforme fórmula a seguir:

𝐶𝑂𝑉𝐴,𝐵 =∑ (𝑅𝐴−��𝐴)×(𝑅𝐵−��𝐵)𝑁

𝐾=1

𝑛 (12)

Já a correlação, segundo Stevenson (2001, p. 367-368), objetiva “a determinação da

força do relacionamento entre duas variáveis emparelhadas [...] ‘correlação’ significa

literalmente ‘correlacionamento’, pois indica até que ponto os valores de uma variável estão

relacionados com os de outra”. Esse autor destaca que a forma mais usual dessa análise envolve

dados contínuos e que o grau de relacionamento entre duas variáveis é sintetizado através de

um coeficiente de correlação conhecido como “r de Pearson”, sendo que essa técnica somente

pode ser utilizada quando (X) e (Y) forem variáveis aleatórias contínuas e a distribuição

analisada for normal.

De acordo com Martins e Domingues (2014, p. 289), o resultado de (r) varia entre (–1)

e (+1), ou entre –100% e +100% em termos percentuais e, quanto maior a associação linear

entre as variáveis, mais próximo de (–1) e (+1) estará o valor desse coeficiente. Isso ocorre

porque os dados correlacionados tendem a apresentar uma linha reta quando dispostos em um

gráfico para cima, quando possuem correlação positiva (direta) ou para baixo quando possuem

correlação negativa (inversa), como pode ser observado na Figura 1 a seguir:

Page 47: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

47

Figura 1 – Gráficos de correlações positiva e negativa

Fonte: Assaf Neto (2014a, p. 127).

Segundo Assaf Neto (2014a, p. 128), uma expressão geral do cálculo desse coeficiente

é representada pela fórmula a seguir:

𝐶𝑂𝑅𝑅𝑥,𝑦 =∑ 𝑋×𝑌−

(∑ 𝑥)2×(∑ 𝑦)

𝑛

[(∑ 𝑋2−(∑ 𝑥)2

𝑛)×(∑ 𝑌2−

(∑ 𝑦)2

𝑛)]

1/2 (13)

Segundo o autor, para o estudo do risco e da teoria do portfólio seria dada uma maior

preferência à expressão alternativa do cálculo desse coeficiente, a seguir:

𝐶𝑂𝑅𝑅𝑥,𝑦 =𝐶𝑂𝑉𝑥,𝑦

𝜎𝑥×𝜎𝑦 (14)

d) Beta ()

O beta é uma outra maneira de medir o risco de um ativo. Damodaran (1997, p. 125),

ao tratar sobre o tema, explica que ele pode ser utilizado para mensurar o risco não-

diversificável no cálculo de um retorno esperado. Segundo Wilmott (2007, p. 451), o beta de

um ativo relativo ao seu portfólio é igual à covariância entre o retorno de um título e o retorno

da carteira de mercado dividida pela variância do retorno da mesma carteira de mercado, o qual

é representado pela fórmula a seguir:

βi =Cov[RiRm]

σ2[Rm]

(15)

Correlação Positiva (direta) Correlação Negativa (inversa)

X

Y

X

Y

Page 48: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

48

Onde:

i = beta de um ativo;

COV[RiRm] = covariância entre os retornos do ativo (i) e da carteira de mercado (m); e

2[Rm] = variância da carteira de mercado (m).

O beta faz parte do modelo CAPM, que, segundo Santos (2011, p. 87), oferece aos

acionistas de uma empresa a oportunidade de conhecer a taxa de retorno requerida por eles, que

é o seu custo de capital próprio.

Santos (ibid.) relata de forma exemplificativa que o retorno de uma ação com beta

positivo se move na mesma direção do mercado. Já o caso de beta negativo resulta em um

retorno em direção oposta ao da carteira de mercado. Um beta igual a 1, por exemplo, significa

que um ativo não tem volatilidade se comparado com o retorno da carteira de mercado, pois

nessa situação uma ação tem mudança positiva de 1% em seu retorno para cada variação

positiva de 1% no retorno da carteira de mercado. Já betas diferentes de 1 demonstram que um

ativo possui volatilidade maior se comparado ao retorno da carteira de mercado. Outro

exemplo: um ativo com beta igual a 0,5 representaria um retorno positivo de 0,5% do ativo para

um retorno positivo de 1% da carteira de mercado. Em um caso de beta igual a 2 um ativo teria

um retorno positivo de 2% para uma mudança positiva de 1% no retorno da carteira de mercado.

Quando o beta é negativo, ocorre exatamente o oposto, pois se uma ação tiver uma mudança

negativa de retorno o mercado teria um retorno positivo na mesma proporção mencionada nos

exemplos citados (SANTOS, 2011, p. 90).

e) Valor em risco (VaR – Value at Risk)

Wilmott (2006, p. 331-332) relata que o conceito de Value at Risk (VaR) tem crescido

como uma maneira de medir possíveis perdas advindas de um investimento ou portfólio como

resultado da busca por mais transparência nos investimentos. Segundo o autor, o conceito de

VaR pode ser entendido como um valor estimado, com um certo grau de confiança, de quanto

alguém pode perder em um portfólio em um certo período, estabelecendo um grau de confiança

normalmente em 95%, 97,5%, 99%, etc. Já o período pode ser de um dia (para atividades de

trading, por exemplo) ou meses (nos casos de gestão de portfólio), mas deve ser estipulado em

associação com o prazo de liquidação da carteira.

Hull (2005, p. 411) exemplifica esse conceito: “ao utilizar a medida value at risk, o

administrador responsável por um portfólio de instrumentos financeiros está interessado em

Page 49: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

49

afirmar o seguinte: existe X% de certeza de que não haverá perdas maiores que V dólares nos

próximos N dias”.

Tendo em vista o exposto, a seguir será visto um exemplo apresentado por Assaf Neto

(2014a, p. 155), de duas maneiras distintas de interpretar o mesmo risco de perda em uma

carteira a partir dessa metodologia, considerando um VaR (valor máximo de perda) já calculado

de $ 3 milhões, com um nível de confiança de 98%, em um prazo de cinco dias:

A primeira interpretação é: há 2% de probabilidade de a empresa incorrer em perdas

superiores a $ 3 milhões em determinada carteira.

Já a segunda interpretação é: há 98% de probabilidade de a empresa incorrer em uma

perda máxima de $ 3 milhões na mesma carteira.

É importante observar que o VaR deve ser calculado a partir de uma condição normal

de mercado, ou seja, sem choques ou mudanças bruscas em seu comportamento. Todavia, em

caso de necessidade de avaliação de impacto significativo que pode ocorrer em uma situação

de crise com baixíssima probabilidade de ocorrência, uma análise de situação extrema (stress

analysis) deveria ser realizada pela instituição (SECURATO, 2015, p. 509). Nesse sentido, um

nível normal de confiança típico é de 99% e um aumento além desse patamar pode mascarar

perdas progressivamente altas e menos prováveis de ocorrer (JORION, 2007, p. 357).

Por conta da complexidade envolvida no pleno entendimento dessa medida e tendo em

vista o objetivo proposto aqui de tratar das medidas de risco de uma maneira sucinta, esse item

não tratou dos vários desdobramentos oriundos do cálculo do VaR, mas apenas dos conceitos

preliminares relacionados a essa medida de risco.

1.5. Operações de hedge

Neste tópico se destacam os aspectos essenciais relacionados às operações de hedge,

especificamente em relação aos princípios básicos relacionados a essas operações, à escolha do

tamanho ideal dos valores de nocional e do instrumento a ser escolhido.

1.5.1. Princípios básicos

De uma maneira simplificada, Wilmott (2006, p. 21-22) ensina, através de um exemplo,

que ao acreditar que o mercado para determinado ativo subirá, uma pessoa entende que pode

se beneficiar dessa situação e decide por entrar em uma posição comprada a termo ou no

mercado futuro. Caso nesse exemplo a visão de mercado da pessoa esteja correta, no

vencimento ela ganhará uma grande quantidade de dinheiro. O que ocorreu nesse exemplo foi

Page 50: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

50

uma especulação por parte do investidor, o que é muito arriscado (ibid.). A atitude oposta à

especulação seria a busca por proteção através de uma operação de hedge.

Quando uma empresa se expõe a determinado risco fica à mercê da sorte, pois nesse

caso apresentado, se o preço do ativo depreciasse, aquela mesma pessoa pode perder muito

dinheiro. Dessa forma, especular é como apostar na direção (para cima ou para baixo) do preço

de determinado ativo, uma assunção de risco e não gerenciamento de risco. Uma operação de

proteção busca exatamente o contrário, pois tem por objetivo mitigar ao máximo o risco ao qual

determinada pessoa está exposta.

Nessa mesma direção, como já visto parcialmente na introdução deste estudo, Assaf

Neto (2014a, p. 363) conceitua assim esse tipo de operação:

Hedge – Operação realizada com derivativos que tem por objetivo minimizar

(proteger) posições de carteiras ou aplicações existentes contra risco de perda

de valor causado por variações nos preços, nas taxas de juros etc. O hedge é

geralmente formado assumindo-se no mercado de derivativos posição inversa

à assumida no mercado a vista. (Grifo do autor)

Desse modo, uma operação de hedge objetiva a proteção de posições minimizando o

risco de perda de oscilações nos preços dessas posições. Diz-se minimizar o risco porque na

prática eliminar completamente o risco é algo muito raro (HULL, 2005, p. 91). Caso fosse

possível se chegar a tal perfeição, considerar-se-ia um hedge perfeito.

A posição que determinada empresa deseja proteger de determinados riscos é

denominada como objeto de hedge (LOPES; GALDI; LIMA, 2011, p. 145). Vários são os

exemplos de itens que podem ser protegidos: recebíveis e contratos de exportação (risco: queda

no preço da moeda estrangeira), empréstimos tomados no exterior (risco: alta no preço da

moeda estrangeira), importações de matéria-prima na produção ou de insumos intrinsecamente

ligados ao processo produtivo (risco: alta do preço de determinada commodity), vendas de

commodities em geral (risco: queda no preço das commodities), dentre outros.

Por outro lado, a operação designada para a proteção dos itens a que se deseja proteger

é denominada como instrumento de hedge (LOPES; GALDI; LIMA, 2011, p. 147). Como já

citado, este deve ser realizado através de uma posição inversa ao item a ser protegido. Dessa

maneira, se o objeto de hedge é um recebível de exportação (posição comprada ou ativa em

moeda estrangeira), o instrumento de hedge é uma operação (normalmente um derivativo) de

venda da mesma quantidade de moeda estrangeira de tais recebíveis, em determinada data

futura (posição vendida ou passiva em moeda estrangeira). Assim, no caso de queda na cotação

de tal moeda, há uma variação negativa no item objeto de hedge através da redução do valor

Page 51: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

51

em reais dos recebíveis em moeda estrangeira, a qual é compensada por uma variação positiva

no valor justo do derivativo, neste último caso, gerando um valor a receber para a entidade.

Segundo Hull (2005, p. 92-95), uma entidade pode fazer um hedge de venda ou um

hedge de compra. O hedge de venda é exatamente o tipo de hedge citado no parágrafo anterior,

no qual a empresa assume uma posição vendida através de um derivativo. Essa posição visa

proteger exposições ativas em determinado índice, moeda ou commodity, contra o risco de

queda. Já com o hedge de compra ocorre o oposto, pois este implica na tomada de uma posição

comprada através de um derivativo. Desse modo, o objetivo do derivativo é proteger uma

empresa contra o risco de alta no preço de uma posição passiva que possui (exemplo:

empréstimo em moeda estrangeira ou importações de insumos de produção).

A seguir um exemplo dos impactos patrimoniais e de resultado em uma companhia com

dívida em dólar norte-americano (USD) em um cenário de alta da cotação da moeda estrangeira,

considerando duas situações: a primeira com exposição cambial desprotegida e a segunda com

tal exposição protegida através de um hedge com derivativo. Para fins didáticos, considera-se

uma situação hipotética com hedge perfeito. Os dados desse exemplo são (dívida e hedge

expressos em milhares):

Dívida em USD: 1.000

Vencimento: 1 ano

USD em dez/X0: BRL 3,00

Dívida em dez/X0: BRL (moeda: real brasileiro) 3.000

USD em dez/X1: BRL 3,50 (variação de 17% no período)

Dívida em dez/X1: BRL 3.500

A primeira situação a ser analisada é a da assunção do risco cambial, na qual a empresa

incorre em uma perda do seu valor patrimonial e de resultado em R$ 500, decorrente da

apreciação do dólar norte-americano diante do real sem qualquer proteção do seu passivo em

moeda estrangeira, como demonstra o Quadro 3, a seguir:

Page 52: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

52

Quadro 3 – Efeitos patrimonial e de resultado em uma empresa sem hedge

Balanço Patrimonial dez/X0

Balanço Patrimonial dez/X1

Ativo Passivo (+) PL Ativo Passivo (+) PL

Caixa 1.000 Dívida em USD 3.000 Caixa 1.000 Dívida em USD 3.000

Var.Cambial 500

Total Dívida 3.500

Imobilizado 3.000 Capital 1.000 Imobilizado 3.000 Capital 1.000

Result. c/

Var.Cambial

Result. c/

Var.Cambial (500)

Res. Líquido Res. Líquido (500)

Total Ativo 4.000 Total Passivo+PL 4.000 Total Ativo 4.000 Total Passivo+PL 4.000

Fonte: Elaborado pelo autor.

Já o Quadro 4 demonstra os efeitos patrimonial e de resultado considerando uma

operação de hedge, nesse caso sem reconhecimento de perda para a empresa, pois a variação

cambial negativa do empréstimo foi anulada pelo resultado positivo obtido no instrumento de

hedge. Aqui ocorre inclusive um aumento no valor do ativo total decorrente do reconhecimento

do valor justo a receber de BRL 500 do hedge como pode ser visto a seguir:

Quadro 4 – Efeitos patrimonial e de resultado em uma empresa com hedge

Balanço Patrimonial dez/X0

Balanço Patrimonial dez/X1

Ativo Passivo (+) PL Ativo Passivo (+) PL

Caixa 1.000 Dívida em USD 3.000 Caixa 1.000 Dívida em USD 3.000

Instr.Hedge 500 Var.Cambial 500

Total Dívida 3.500

Imobilizado 3.000 Capital 1.000 Imobilizado 3.000 Capital 1.000

Result. c/

Var.Cambial

Result. c/

Var.Cambial (500)

Res. Hedge

Res. Hedge 500

Res. Líquido Res. Líquido 0

Total Ativo 4.000 Total Passivo+PL 4.000 Total Ativo 4.500 Total Passivo+PL 4.500

Fonte: Elaborado pelo autor.

1.5.2. Escolha do tamanho ideal e do instrumento de hedge

Ao decidir sobre uma necessidade de hedge, uma empresa deve levar em consideração

questões como o tamanho do hedge e o tipo de derivativo a ser utilizado na operação.

O tamanho do hedge diz respeito ao montante que se queira proteger, seja ele medido

em quantidades de sacas de café, toneladas de minério de ferro, valor total em moeda

estrangeira em um contrato de exportação ou em um empréstimo obtido junto a uma instituição

financeira no exterior, etc. Dessa forma, em uma operação de hedge, o valor nocional do

derivativo deve ser equivalente ao montante da exposição a ser protegida.

Page 53: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

53

Um exemplo de cálculo de tamanho de hedge é o de um produtor brasileiro que assinou

em t0 um contrato de venda de 900 mil sacas de milho em grão a granel para uma empresa

alimentícia brasileira, sendo a saca de milho negociada no mercado a vista (spot) local a BRL

50. Aqui o risco identificado pelo produtor é o da queda do preço em BRL dessa commodity.

Considerando que a intenção desse produtor é de evitar tal risco, ele decide então por contratar

uma operação de derivativo para fins de hedge junto a uma instituição financeira. Considerando

esse cenário, o nocional desse contrato é de 900 mil sacas de milho, representando em t0 um

total de BRL 45 milhões.

Damodaran (2009, p. 336), ao tratar das operações de proteção, menciona que uma

empresa, ao fazer uma escolha entre a gama de instrumentos disponíveis, deve recapitular sobre

os benefícios e custos destes produtos, os quais são descritos a seguir:

i) Contratos a termo: como podem ser projetados de acordo com as necessidades de uma

empresa, oferecem uma proteção mais completa contra o risco a ser protegido, mas isso

é possível apenas no caso de a empresa conhecer bem suas necessidades de fluxo de caixa

futuro. Apesar desse fato, um contrato feito sob medida pode trazer maiores custos de

transação para a companhia (por exemplo, o spread cobrado pelo banco), além de resultar

em um maior risco de crédito para ambas as partes.

ii) Contratos futuros: oferecem uma alternativa mais barata em relação aos contratos a termo

por conta de serem transacionados em bolsa. Por conta dos ajustes diários eliminam o

risco de crédito, porém exigem pagamentos de ajustes e depósitos de margem. Apesar

desses benefícios, por se tratarem de contratos padronizados, podem não oferecer total

proteção contra o risco, uma vez que os prazos, quantidade de nocional e tipo de ativo

negociado podem ser diferentes do objeto de hedge.

iii) Contratos de opções: de forma distinta aos termos e aos futuros, os quais contribuem para

mitigar riscos de perdas, mas ao mesmo tempo eliminam oportunidades de ganho, as

opções podem ser utilizadas para proteção contra perdas, preservando as oportunidades

de ganho potenciais. No entanto, tal vantagem necessita ser ponderada com o custo do

prêmio da opção de compra, que varia conforme o nível de proteção desejado.

1.6. Reconhecimento contábil dos instrumentos derivativos

Esse tópico não tem a presunção de tratar de maneira aprofundada a forma pela qual a

contabilidade reconhece os efeitos patrimoniais e de resultado dos instrumentos financeiros

Page 54: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

54

derivativos. Em vez disso, aqui se pretende demonstrar, de maneira simplificada, como tais

itens devem ser tratados sob um aspecto geral e sob certas condições ou situações específicas.

Tendo como ponto de partida o ensino de Iudícibus (2010, p. 7), no qual o objetivo

básico da contabilidade consiste, de maneira resumida, “no fornecimento de informações

econômicas para os vários usuários, de forma que propiciem decisões racionais” e que “os

relatórios contábeis tradicionais deveriam ter poder preditivo [...] demonstrando informações

históricas e preditivas sobre indicadores de interesse para os vários usuários”, é natural esperar,

no que diz respeito aos instrumentos derivativos, que a contabilidade cumpra o seu papel de

maneira eficaz, tanto no que diz respeito ao reconhecimento desses instrumentos quanto à sua

evidenciação.

1.6.1. Normas contábeis aplicáveis aos instrumentos financeiros

Segundo Lopes, Galdi e Lima (2011, p. 96), “o processo de reconhecimento,

mensuração e evidenciação de instrumentos financeiros e derivativos sofreu profundas

alterações no ambiente brasileiro nos últimos anos”.

Essas alterações ocorreram a partir da publicação da lei nº 11.638/2007, a qual foi

alterada pela medida provisória (MP) nº 449/2008 e posteriormente pela lei nº 11.941/2009.

Esses textos legislativos modificaram vários artigos da lei nº 6.404/1976 (Lei das Sociedades

por Ações) com o objetivo de possibilitar uma convergência das normas contábeis brasileiras

às internacionais, o que ocorreu a partir de janeiro de 2008.

Desse modo, o próprio Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) esclareceu que

dentre os objetivos do CPC 14, aprovado em dezembro de 2008, estavam i) “estabelecer os

principais conceitos relativos ao reconhecimento e mensuração dos ativos e passivos

financeiros” e; ii) “esclarecer o tratamento contábil preconizado pela Lei no 11.638/07 e Medida

Provisória no 449/08 (transformada na Lei 11.941/09) para instrumentos financeiros,

considerando o seu objetivo de convergência às normas internacionais” (LOPES; GALDI;

LIMA, 2011, p. 96-97).

A decisão desse comitê em aprovar um pronunciamento incipiente se pautava no seu

entendimento que a implementação das normas contábeis internacionais relacionadas aos

instrumentos financeiros devia ocorrer em duas etapas (CPC 14, 2008, p. 2): uma primeira a

partir da aprovação do CPC 14 e uma segunda a partir da convergência completa com as normas

internacionais, incluindo os tratamentos em detalhes de itens não considerados nesse primeiro

pronunciamento, o que ocorreu em outubro de 2009, com a aprovação dos pronunciamentos

técnicos CPC 38, 39 e 40.

Page 55: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

55

Nesse contexto, a vigência das regras contidas no CPC 14 ocorreu para as

demonstrações financeiras relativas aos anos-calendários de 2008 e 2009. Já os CPCs 38, 39 e

40 vigoraram a partir do ano-calendário 2010. Com a eficácia desses três últimos

pronunciamentos, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis transformou o então CPC 14 na

Orientação Técnica OCPC 03, com a inclusão, em seu texto, de algumas atualizações, porém

mantendo em seu corpo os principais institutos dos demais pronunciamentos, pois se tratava de

um resumo das normas internacionais aplicáveis aos instrumentos financeiros. Na prática, essa

orientação contém informações úteis para empresas que não possuem, em seus balanços,

instrumentos financeiros sofisticados (MARTINS et al., 2013, p. 118).

No que diz respeito ao conteúdo dos três CPCs em vigor, o de nº 38 trata do

reconhecimento e mensuração dos instrumentos financeiros (CPC 38, 2009, p. 4). O CPC 39

por sua vez trata da apresentação dos instrumentos financeiros como passivo ou patrimônio

líquido, da compensação de ativos e passivos financeiros e da sua classificação em ativos

financeiros, passivos financeiros e títulos patrimoniais, além de complementar os princípios

para reconhecimento e mensuração contidos no CPC 38 (CPC 39, 2009, p. 2). Já o CPC 40 tem

como objetivo a exigência que as entidades divulguem (evidenciem), em suas demonstrações

contábeis, informações que permitam aos usuários avaliarem a significância do instrumento

financeiro, além da natureza e extensão da exposição dos riscos financeiros de uma entidade e

como ela administra esses riscos (CPC 40, 2012, p. 3).

Em 9 de junho de 2016, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis publicou em seu

website um comunicado para audiência pública intitulado “Audiência Pública no 03/2016 –

Pronunciamento Técnico CPC 48 – Instrumentos Financeiros”2, contendo uma minuta do CPC

48 (Instrumentos Financeiros), correspondente ao IFRS 9 Financial Instruments, comunicando

a todos os interessados que tal pronunciamento substituirá a norma então vigente sobre

reconhecimento e mensuração desses instrumentos, o CPC 38. O prazo estabelecido pelo

comitê para envio de sugestões e comentários a respeito dessa norma foi de 9 de junho de 2016

a 8 de setembro de 2016. Considerando o objetivo do CPC de emitir normas contábeis

convergentes com as normas internacionais de contabilidade, sugere aos órgãos reguladores

que o novo CPC 48 tenha a sua vigência iniciada para os exercícios sociais a partir de 1o de

janeiro de 2018, da mesma maneira como o IASB o fez em relação ao IFRS 9.

2 Disponível em: <http://www.cpc.org.br/CPC/Audiencias-e-Consultas/CPC/Audiencia?Id=135>.

Page 56: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

56

De acordo com o divulgado em uma nota à imprensa (press release) datada de 24 de

julho de 2014,3 o IASB comunicou ao mercado internacional que o novo IFRS 9 contemplaria

alterações relativas à classificação e mensuração de instrumentos financeiros, às regras de

impairment para ativos financeiros (por conta da crise financeira de 2008), ao hedge accounting

e aos registros de provisões para risco de crédito da própria entidade que deixarão de existir.

Por conta do escopo deste estudo, esta revisão da teoria não contempla os detalhes

relacionados ao CPC 48 ou ao IFRS 9.

1.6.2. Reconhecimento contábil dos instrumentos financeiros derivativos

Antes de entrar nos principais aspectos acerca do reconhecimento contábil dos

instrumentos financeiros derivativos, importa entender primeiro o que vem a ser um

instrumento financeiro.

O CPC 39 (2009, p. 5), em seu item 11, o define como “qualquer contrato que de origem

a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para

outra entidade”. Lopes, Galdi e Lima (2011, p. 14; grifo dos autores) esclarecem que “um

instrumento financeiro decorre de um contrato entre duas ou mais partes interessadas em

realizar determinada transação de transferências de recursos”. Nesse sentido, depreende-se que

ele nasce a partir de um contrato que, em última instância, gera uma transferência de recursos

financeiros de uma primeira entidade (a qual reconhece um passivo financeiro), para outra (que

reconhece em contrapartida um ativo financeiro).

A partir disso, resta definir os termos ativo e passivo financeiros. Gobetti et al. (2010,

p. 293) definem ativo financeiro:

Um ativo financeiro é definido como:

(a) caixa;

(b) instrumento patrimonial de outra entidade;

(c) direito contratual para recebimento de caixa ou outro ativo financeiro de

outra entidade; ou

(d) direito contratual para trocar instrumentos financeiros com outra entidade

sob condições que sejam potencialmente favoráveis. (Grifo dos autores)

E definem passivo financeiro:

Um passivo financeiro é definido como qualquer obrigação contratual para:

a) entregar caixa ou outro ativo financeiro a outra entidade; ou

3 Disponível em: <http://www.ifrs.org/Alerts/PressRelease/Pages/IASB-completes-reform-of-financial-

instruments-accounting-July-2014.aspx>.

Page 57: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

57

b) trocar instrumentos financeiros com outra entidade sob condições que

sejam potencialmente desfavoráveis. (Ibid.; grifo dos autores)

Alguns exemplos de ativos financeiros para uma entidade e passivos financeiros para

outra podem ser vistos no Quadro 5 a seguir (o termo “IF” utilizado nesse quadro diz respeito

à posição patrimonial de uma instituição financeira):

Quadro 5 – Exemplos de ativos e passivos financeiros

Ativos Financeiro Passivos Financeiro

Caixa/Bancos (BRL/demais moedas) Saldos em c/c de clientes (IF)

Aplicações financeiras em bancos Aplicações financeiras de clientes (IF)

Duplicatas a receber Fornecedores

Empréstimos concedidos (IF) Empréstimos a pagar

Investimentos em títulos de dívidas Títulos de dívida emitidos pela Cia

Ajustes de derivativos a receber Ajustes de derivativos a pagar

Fonte: Elaborado pelo autor.

Uma vez esclarecidos esses conceitos, resta tratar da regra geral de reconhecimento

contábil dos instrumentos financeiros derivativos, que requer que sejam reconhecidos no

resultado de uma companhia pelo seu valor justo (fair value).

A previsão legislativa para a atribuição do reconhecimento contábil dos instrumentos

financeiros, inclusive derivativos, pelo seu valor justo, se deu pelo texto atual do artigo 183 da

lei nº 6.404/1976 (BRASIL, 1976):

Art. 183. No balanço, os elementos do ativo serão avaliados segundo os

seguintes critérios:

I - as aplicações em instrumentos financeiros, inclusive derivativos, e em

direitos e títulos de créditos, classificados no ativo circulante ou no realizável

a longo prazo:

a) pelo seu valor justo, quando se tratar de aplicações destinadas à negociação

ou disponíveis para venda. (Grifo nosso)

Sobre o conceito de valor justo ou fair value, Marion (2015, p. 145-146) ensina que está

relacionado à avaliação do ativo ou passivo em determinadas circunstâncias pelo seu valor de

mercado, ou “o valor pelo qual um ativo ou passivo pode ser comprado ou vendido em uma

transação corrente”. Lopes, Galdi e Lima (2011, p. 101) complementam o conceito afirmando

que tal transação se refere àquela realizada entre partes independentes que conhecem o negócio

Page 58: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

58

e possuem interesse na sua realização, não devendo haver nessa transação qualquer

favorecimento de uma das partes.

O reconhecimento inicial de um instrumento financeiro, segundo o item 43 do CPC 38

(2009, p. 21), deve ocorrer pelo seu valor justo mais os custos de transação quando diretamente

atribuíveis à emissão ou aquisição do referido ativo financeiro. O mesmo pronunciamento

(ibid.) classifica os ativos financeiros em quatro categorias a seguir:

Para a finalidade de medir um ativo financeiro após o reconhecimento inicial,

este Pronunciamento classifica os ativos financeiros nas quatro categorias

definidas no item 9:

(a) ativos financeiros mensurados pelo valor justo por meio do resultado;

(b) investimentos mantidos ate o vencimento;

(c) empréstimos e contas a receber; e

(d) ativos financeiros disponíveis para venda. (Grifo nosso)

No item 9 desse pronunciamento, a definição dos ativos financeiros enquadrados na

classificação (a) citada inclui os instrumentos financeiros derivativos, “exceto no caso de

derivativo que seja contrato de garantia financeira ou um instrumento de hedge designado e

eficaz” (CPC 38, 2009, p. 8). Dessa maneira, pode-se entender com segurança que de uma

maneira geral os instrumentos financeiros derivativos devem ser reconhecidos contabilmente

pelo seu valor justo por meio do resultado exceto em um caso de hedge accounting, como se

verá a seguir.

1.6.3. Reconhecimento através da metodologia de hedge accounting

Segundo Souza (2015, p. 78), os ativos e passivos mensurados a valor justo deverão ter

os seus efeitos reconhecidos no resultado corrente ou no resultado abrangente quando em uma

situação de contabilização de hedge (hedge accounting).

Lopes, Galdi e Lima (2011, p. 144) afirmam que o hedge accounting é uma metodologia

especial adotada para que as demonstrações contábeis reflitam adequadamente o regime de

competência quando da realização de operações de hedge por uma companhia. Tal afirmação

está em linha com o ensino de Iudícibus e Martins (2007, p. 16), os quais relatam que, a partir

do crescimento dos elementos patrimoniais reconhecidos a valor justo, havia o problema de,

em diversas situações, o aumento no valor justo de determinado ativo por exemplo não ter a

sua contrapartida reconhecida no resultado porque as condições para o reconhecimento das

receitas não estavam completas. Dessa forma, para resolver essa situação, seria preciso o

reconhecimento do valor justo de tais instrumentos financeiros em um conjunto de contas

Page 59: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

59

dentro do patrimônio líquido, sendo que tais valores transitariam por resultado apenas

posteriormente, quando as condições para o reconhecimento da receita estivessem satisfeitas.

O CPC 38 (2009, p. 33-34) lista três tipos de relações ou qualificações de hedge:

(a) hedge de valor justo: hedge de exposição às alterações no valor justo de

ativo ou passivo reconhecido ou de compromisso firme não reconhecido, ou

de parte identificada de tal ativo, passivo ou compromisso firme, que seja

atribuível a um risco particular e possa afetar o resultado;

(b) hedge de fluxo de caixa: hedge de exposição à variabilidade nos fluxos de

caixa que (i) seja atribuível a um risco particular associado a um ativo ou

passivo reconhecido (tal como todos ou alguns dos futuros pagamentos de

juros sobre uma dívida de taxa variável) ou a uma transação prevista altamente

provável e que (ii) possa afetar o resultado;

(c) hedge de investimento líquido em operação no exterior como definido na

Pronunciamento Técnico CPC 02. (Grifo nosso)

Dependendo do tipo ou relação de hedge aplicável a cada situação, há um tratamento

contábil distinto tanto para o item objeto quanto para o item instrumento de hedge. O Quadro 6

demonstra resumidamente como ocorre tais tratamentos contábeis.

Quadro 6 – Resumo do tratamento contábil de hedges qualificados

Assunto Hedges de valor justo Hedges de fluxo de caixa e investimento

líquido

1. Ganho ou perda

sobre instrumento de

hedge

Reconhecido imediatamente no resultado Reconhecido enquanto o hedge estiver em

vigor, no patrimônio líquido

2. Ajuste do item

objeto de hedge

Variação no valor justo do objeto de hedge

deve ser reconhecida imediatamente no

resultado

Não aplicável

3. Ganho ou perda

registrado no

patrimônio líquido é

transferido ao

resultado

Não aplicável

Fluxo de caixa: ao mesmo tempo em que a

variação no fluxo de caixa objeto de hedge

ou ativo ou passivo não financeiro é

reconhecida no resultado

Investimento líquido: a variação no valor

justo deverá permanecer no patrimônio

líquido. A variação deve ser baixada

somente no momento da venda,

descontinuidade ou perda de valor

recuperável do investimento

4. Parcela não efetiva

do hedge é

reconhecida no

resultado

Pelo inadimplemento do item objeto de

hedge ou do instrumento derivativo

Calculado de acordo com os limites da

norma (80% a 125%)

Fonte: Gobetti et al. (2010, p. 302).

Page 60: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

60

É importante salientar que a utilização de tal metodologia é um direito para a companhia

e não uma obrigação (MARTINS et al., 2013, p. 148) e, em uma situação na qual esta opte por

sua implementação, os seguintes critérios devem ser atendidos (LOPES; GALDI; LIMA, 2011,

p. 144):

1. Avaliar de maneira prospectiva a eficácia da operação (a operação de fato

é de proteção?;

2. identificar qual o risco objeto de hedge e o respectivo período;

3. identificar o(s) item(s) ou transação(ções) objeto de hedge;

4. identificar o instrumento de hedge;

5. demonstrar que o hedge será altamente eficaz;

6. monitorar de maneira retrospectiva a eficiência do hedge.

Os critérios mencionados demonstram que ao adotar o hedge accounting, tanto o objeto

quanto o instrumento de hedge da companhia devem ser cuidadosamente identificados e

mensurados. Adicionalmente, além da entidade ter a obrigação de demonstrar a eficácia do

hedge de maneira prospectiva, logo no início da operação, deve igualmente monitorar a eficácia

do hedge de maneira retrospectiva, no final da operação. Esses critérios dizem respeito à ideia

de microhedge, no qual cada instrumento de hedge é individualmente alocado ao risco ou ativo

que se queira proteger, levando em consideração o seu tamanho, prazo e ativo-objeto.

Já em uma situação de macrohedge um único instrumento de hedge pode ser utilizado

para proteção de diversos itens objeto de hedge de mesma natureza de risco (ex. risco de

variação do USD), mas com prazos e tamanhos distintos. Em uma situação como essa, o gestor

de riscos deve levantar, no final do dia, o quanto que uma entidade está exposta em termos de

nocional por tipo de risco (taxa de juros, moeda ou commodity) e buscar a proteção entrando

em uma única operação inversa no mercado futuro tendo em vista o prazo médio de realização

dos itens objeto de hedge.

Martins et al. (2013, p. 149) destacam que a aplicação do macrohedge deve ser

considerada com cautela (para fins de hedge accounting), por conta de diversas restrições

quanto à sua aplicação, como, por exemplo, a alta complexidade (ou mesmo impossibilidade,

algumas vezes) de se calcular a efetividade de uma operação de hedge com diversos

instrumentos, prazos e riscos sendo protegidos. Essa afirmação está em linha com o disposto

no item 76 do CPC 38 (2009, p. 30), a seguir:

Um único instrumento de hedge pode ser designado como hedge para mais de

um tipo de risco desde que (a) os riscos sob hedge possam ser claramente

identificados; (b) a eficácia do hedge possa ser demonstrada; e (c) seja

Page 61: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

61

possível assegurar que existe uma designação específica do instrumento de

hedge e diferentes posições de risco.

Caso uma operação de macrohedge não atenda a tais exigências, a empresa está

impedida de adotar o mecanismo de hedge accounting, devendo reconhecer o instrumento de

hedge pelo valor justo no resultado.

Além dos critérios que devem ser atendidos por uma empresa para adotar essa

metodologia, já mencionados anteriormente, Martins et al. (2013, p. 149-150) listam um total

de cinco requerimentos obrigatórios para que uma operação de hedge possa ser qualificada para

fins de hedge accounting, descritos a seguir:

i) No início da operação, a entidade deve preparar uma documentação formalizando a

relação da proteção com o objetivo do gerenciamento de risco da entidade e tal

documentação deve descrever, detalhadamente, a identificação do risco ou transação

protegida, a natureza do risco e a maneira pela qual a entidade calcula a efetividade do

hedge na compensação da exposição a variações nos fluxos de caixa atribuíveis aos itens

objeto de hedge ou nos resultados oriundos desses itens;

ii) Espera-se que o hedge seja altamente efetivo na compensação dos fluxos de caixa

atribuíveis às variações no valor justo dos itens protegidos, de forma consistente com a

estratégia de risco estabelecida pela administração documentada no início da operação;

iii) Quando se tratar de hedge de fluxo de caixa determinada transação projetada necessita

ser altamente provável e apresentar uma exposição que gere fluxos de caixa que possam

impactar o resultado;

iv) A efetividade do hedge pode ser calculada de forma confiável; e

v) O hedge deve ser avaliado continuamente e ser altamente provável nos períodos de

publicação das demonstrações contábeis em que tal operação foi designada.

No que diz respeito à avaliação da eficácia do hedge para fins de hedge accounting, a

companhia que o adotou deve obrigatoriamente observar as duas condições impostas pelo CPC

38 (2009, p. 83) no item AG105, a seguir:

AG105. Um hedge só é considerado altamente eficaz se ambas as condições

seguintes forem satisfeitas:

(a) No início do hedge e em períodos posteriores, espera-se que o hedge seja

altamente eficaz em alcançar alterações de compensação no valor justo ou nos

fluxos de caixa atribuíveis ao risco coberto durante o período para o qual o

hedge foi designado. Essa expectativa poder ser demonstrada de várias

formas, incluindo uma comparação das alterações passadas no valor justo ou

nos fluxos de caixa da posição coberta que sejam atribuíveis ao risco coberto

com as alterações passadas no valor justo ou nos fluxos de caixa do

Page 62: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

62

instrumento de hedge, ou pela demonstração de elevada correlação estatística

entre o valor justo ou os fluxos de caixa da posição coberta e os do instrumento

de hedge. A entidade pode escolher uma taxa de hedge diferente de um para

um a fim de melhorar a eficácia do hedge, como descrito no item AG100.

(b) Os resultados reais do hedge estão dento do intervalo de 80 a 125%. Por

exemplo, se os resultados reais forem tais que a perda no instrumento de hedge

corresponder a $ 120 e o ganho nos instrumentos de caixa corresponder a

$ 100, a compensação pode ser medida por 120/100, que é 120%, ou por

100/120, que é 83%. Nesse exemplo, supondo que o hedge satisfaz a condição

da alínea (a), a entidade concluiria que o hedge tem sido altamente eficaz.

Page 63: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

63

2. METODOLOGIA

Este capítulo aborda a metodologia de pesquisa utilizada para a análise dos dados

empíricos relacionados à utilização, pelas empresas não-financeiras, de instrumentos

derivativos para a finalidade de proteção, assim como as justificativas para a escolha dos

métodos utilizados neste trabalho.

Dessa maneira, este capítulo foi organizado em cinco tópicos onde serão apresentados

dados referentes à amostra estudada e aos métodos estatísticos utilizados para inferir a respeito

da associação da utilização dos instrumentos derivativos para fins de hedge à redução da

volatilidade dos resultados das empresas e à criação de valor. Esses tópicos são: Natureza da

pesquisa e escolha das bases de dados; Escolha da amostra; Variáveis; Tratamento dos outliers;

e Ferramentas estatísticas utilizadas para a modelagem dos dados.

2.1. Natureza da pesquisa e escolha das bases de dados

O presente trabalho consiste em um estudo de caráter quantitativo a partir de uma base

documental. Como o próprio nome sugere, uma pesquisa documental é realizada através da

análise de documentos emitidos por uma organização, os quais devem ser capazes de

comprovar determinado acontecimento ou fato (GIL, 2010, p. 31). Essa base documental

consiste principalmente em informações financeiras e contábeis produzidas pelas empresas,

disponibilizadas ao público nas duas bases de dados secundárias utilizadas nesta pesquisa: a da

Economatica e a da BM&FBovespa.

Da base da Economatica foram extraídos, em 1 de setembro de 2016, os dados

cadastrais, contábeis e de mercado de todas as empresas registradas na CVM (Comissão de

Valores Mobiliários), listados no Apêndice A, compreendendo os períodos trimestrais e o

exercício de 2015. Já da base de dados da BM&FBovespa foram extraídas as notas explicativas

às demonstrações contábeis consolidadas das empresas que fazem parte do escopo deste

trabalho, relativas ao mesmo período.4

4 Disponíveis em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/produtos/listados-a-vista-e-derivativos/renda-

variavel/empresas-listadas.htm>. Uma vez selecionada a companhia, foram escolhidas as opções “Relatórios

Financeiros”, “Ano” = 2015, “Informações Trimestrais – ITR” ou “Demonstrações Financeiras Padronizadas –

DFP” e por último “Notas Explicativas”.

Page 64: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

64

A escolha por estudar os efeitos do hedge sobre a volatilidade dos resultados e valor

para o ano de 2015 se deu pelo fato de esse ter sido um ano de grave crise econômica para o

País, como já destacado na parte introdutória deste trabalho.

Os cálculos das variáveis descritas a seguir foram realizados através do Microsoft Excel.

Já os cálculos estatísticos foram realizados através do software IBM SPSS Statistics (SPSS).

2.2. Escolha da amostra

A amostra deste estudo é composta por 223 empresas não-financeiras com ações

negociadas na BM&FBovespa, com valor total de mercado de R$ 1,34 trilhão em 31 de

dezembro de 2015. A representatividade dessa amostra pode ser constatada por representar

72,5% do valor de mercado total e 77,2% em relação à quantidade do total das empresas listadas

na bolsa, se forem consideradas apenas as empresas com valor de mercado superior a zero em

31 de dezembro de 2015. Se forem observadas apenas as companhias não-financeiras nesse

cálculo, a representatividade seria ainda maior, com 96,5% do valor de mercado e 85,8% da

quantidade de empresas não-financeiras listadas na BM&FBovespa na referida data. Tais

cálculos podem ser vistos na Tabela 4 a seguir.

Tabela 4 – Demonstrativo da relevância da amostra

Descrição

População

da Bolsa

com Valor

de

Mercado >

0 em

31/12/2015

(-)

Entidades

Financeiras

e

Seguradoras

População

da Bolsa

com Valor

de

Mercado >

0 (exceto

Fin/Seg)

(-)

Empresas

com

Dados

Zerados

(-)

Outliers

(z=6)

Valor de

Mercado

das

Empresas

Constantes

da

Amostra

Total do Valor de Mercado

em 31/12/2015 (em BRL

bilhões)

1.848,1 (459,2) 1.388,9 (45,6) (3,3) 1.340

Quantidade de empresas 289 (29) 260 (19) (18) 223

Percentual em relação ao

valor de mercado da

população

100,0% -24,8% 75,2% -2,5% -0,2% 72,5%

Percentual em relação à

quantidade de empresas da

população

100,0% -10,0% 90,0% -6,6% -6,2% 77,2%

Percentual em relação ao valor total de mercado (-) entidades financeiras e

seguradoras 96,5%

Percentual em relação à quantidade total de empresas do mercado (-) entidades

financeiras e seguradoras 85,8%

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados fornecidos pela Economatica referentes a dezembro/2015.

Page 65: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

65

A determinação das empresas constantes da amostra se deu pela segregação, a partir da

base da Economatica, de todas as empresas listadas na BM&FBovespa com valor de mercado

superior a zero em 31 de dezembro de 2015, exceto pelas entidades financeiras e seguradoras,

totalizando 260 empresas com valor total de mercado de R$ 1,39 trilhão. Desse montante,

decidiu-se excluir todas as empresas que, por qualquer razão, tivessem dados zerados em

qualquer um dos trimestres do ano de 2015, representando 19 companhias com um valor de

mercado de R$ 45,6 bilhões. Adicionalmente, foram excluídas da amostra 18 empresas

consideradas como outliers, como destacado mais adiante, com um valor total de mercado de

R$ 3,3 bilhões. Após a exclusão de tais empresas restaram na amostra 223 companhias com um

valor de mercado total de R$ 1,34 trilhão. A lista com as empresas constantes da amostra pode

ser vista no Apêndice B.

2.3. Variáveis

A partir da lista das informações contidas no Apêndice A, foram tabuladas as

informações, variáveis e proxies, tanto qualitativas como quantitativas, referentes à amostra

proposta, necessárias à análise a ser realizada neste trabalho.

Em primeiro lugar foram segregadas da base de dados da Economatica as informações

básicas das companhias da amostra, quais sejam:

a) Nome da companhia;

b) CNPJ;

c) Setor Economatica;

d) Setor NAICS (The North American Industry Classification System)5.

As variáveis dependentes, independentes e de controle serão tratadas separadamente

adiante para que se possa testar as hipóteses a seguir descritas:

a) A utilização de contratos derivativos como instrumentos de hedge pelas empresas está

associada à redução da volatilidade de seus resultados; e

b) A utilização de contratos derivativos como instrumentos de hedge está associada à criação

de valor para as companhias.

5 O NAICS é uma classificação setorial utilizada pelos países da América do Norte (EUA, México e Canadá).

Page 66: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

66

2.3.1. Volatilidade dos resultados das empresas

A variável dependente qualitativa dessa primeira parte da pesquisa, a saber, hedge, tem

como proxies, por conta de sua característica binária, os números “0” para uma resposta

negativa e “1” para uma resposta positiva à utilização de derivativos para fins de hedge ao longo

do ano de 2015, conforme o Quadro 7 a seguir:

Quadro 7 – Variável dependente qualitativa para o estudo da volatilidade dos resultados

Variável Proxy

Hedge Utilização de derivativos para fins de hedge ao longo

do ano de 2015 – não (0) e sim (1)

Fonte: Elaborado pelo autor.

Os dados relativos a essa variável foram coletados a partir das Notas Explicativas às

Demonstrações Contábeis das empresas que compõem a amostra deste trabalho para os quatro

trimestres de 2015, a partir da base de dados da BM&FBovespa.

Aqui foi considerada uma resposta afirmativa (proxy = 1) sempre que uma companhia

teve em seus balanços posição de derivativos utilizados com finalidade de proteção ou que

tenha liquidado tais operações em ao menos um trimestre do ano de 2015. Caso a companhia

pesquisada não tenha utilizado derivativos para fins de proteção em nenhum dos trimestres de

2015 ou tenha utilizado tais instrumentos para outra finalidade, considera-se uma resposta

negativa (proxy = 0).

Há várias empresas que utilizaram hedge com derivativos ao longo dos quatro trimestres

do ano e para estas a resposta certamente é positiva. Há também diversas empresas que não

fizeram tais operações 2015 e para estas a resposta à utilização de hedge é negativa.

No entanto, há outras companhias que tiveram necessidade de fazer hedge em apenas

alguns trimestres, mas não em todos os trimestres do ano. Podem por exemplo ter iniciado o

ano de 2015 com essas operações em seus balanços, as quais foram liquidadas em algum

trimestre posterior, mas não precisaram fazer nenhuma outra operação de hedge com

derivativos até o final do ano. Outro exemplo é o daquelas empresas que iniciaram o ano de

2015 sem operações de hedge, mas que nos demais trimestres teve tal necessidade. Como de

fato tais empresas fizeram hedge com derivativos ao longo do ano de 2015, para elas, considera-

se uma resposta positiva. Esse tipo de situação ocorre porque muitas empresas trabalham com

produtos que são negociados em períodos cíclicos, em virtude de um momento específico no

qual concentram sua produção ou venda de produtos ou mesmo períodos de colheita, entre

outras razões. Dessa forma, tendo em vista que os seus fluxos de caixa de importação ou

Page 67: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

67

exportação podem ser realizados em determinadas épocas do ano, espera-se dessas empresas

que entrem em operações de hedge apenas nesses momentos e não durante todo o ano.

Importa igualmente destacar sobre a dificuldade de encontrar essa informação em

algumas das notas explicativas das empresas da amostra. Assim foi considerada uma resposta

negativa para os casos em que não havia clareza sobre essa informação nas Notas Explicativas.

Já a variável independente, de natureza quantitativa, está demonstrada no Quadro 8 a

seguir. Logo após o Quadro 8 serão descritos os principais argumentos e justificativas da

inclusão dessa informação na análise da volatilidade dos resultados das empresas.

Quadro 8 – Variável independente quantitativa para o estudo da volatilidade dos resultados

Variável Proxy

Volatilidade do

Resultado

Desvio-padrão dos retornos sobre o patrimônio líquido (ROE) para o ano

de 2015

Fonte: Elaborado pelo autor.

Tendo em vista que a primeira parte desta pesquisa consiste em estudar a volatilidade

dos resultados das empresas, o cálculo dessa variável é fundamental para que sejam realizadas

as comparações entre os retornos das empresas que utilizaram derivativos como instrumentos

de proteção e aquelas que não fizeram uso desses contratos para essa finalidade no período aqui

estudado.

Como proposto por Securato (2015, p. 468), o desvio-padrão será a medida de risco

utilizada para calcular a volatilidade dos retornos deste estudo.

Já o retorno aqui utilizado será um dos mais comumente encontrados na literatura e

utilizados pelas companhias: o ROE (return on equity) ou retorno sobre o patrimônio líquido.

Segundo Marion (2015, p. 119), o ROE é calculado pela razão lucro líquido pelo patrimônio

líquido e representa a rentabilidade do empresário (ou quanto o acionista obteve de retorno

sobre o valor investido no patrimônio da empresa).

Algumas das companhias aqui estudadas tinham o seu exercício social composto por

período distinto do padrão “janeiro a dezembro”, implicando assim em resultados

disponibilizados pela Economatica diferentes do período anual de 2015. Por essa razão, com o

objetivo de uniformizar os resultados para todas as empresas para o mesmo período, decidiu-se

considerar o resultado anual de 2015 através da somatória dos resultados dos quatro trimestres

desse ano na planilha de dados, de forma manual.

Page 68: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

68

2.3.2. Criação de valor nas empresas

Como na segunda parte desta pesquisa pretende-se verificar se a utilização de

derivativos para fins de hedge está associada com a criação de valor nas empresas que utilizam

esses instrumentos para essa finalidade, entendeu-se que, diferentemente do que ocorreu na

primeira parte da pesquisa, aqui a variável dependente seria a criação de valor propriamente

dita, representada pelo logaritmo natural do Q de Tobin, por esta ser a informação principal

nesse segundo momento.

Assim, tanto a variável dependente quantitativa quanto a sua proxy estão demonstradas

no Quadro 9 a seguir:

Quadro 9 – Variável dependente quantitativa para o estudo da criação de valor

Variável Proxy

QTobin Criação de valor = logaritmo natural do Q de Tobin em 31/12/2015

Fonte: Elaborado pelo autor.

O Q de Tobin pode ser definido como “a relação entre o valor de mercado de uma

empresa e o valor de reposição de seus ativos físicos” (FAMÁ; BARROS, 2000, p. 27),

calculado de forma simplificada como proposto por Tsuji (2011, p. 16), a seguir:

Q de Tobin =VCA (–) VCE (+) VME

VCA (16)

Onde:

VCA = valor contábil dos ativos;

VCE = valor contábil do equity (patrimônio líquido); e

VME = valor de mercado do equity da empresa.

Importa esclarecer que os valores contábeis e de mercado utilizados nessa fórmula

foram extraídos como informados na base de dados da Economatica.

A escolha dessa medida de valor se deu pela facilidade em calculá-la, tendo em vista

que, para a sua mensuração, são utilizadas algumas informações contábeis e de valor de

mercado das empresas. Adicionalmente, tendo como objetivo a redução de eventuais efeitos de

outliers considerou-se neste estudo calcular o logaritmo natural do Q de Tobin. Tanto a escolha

dessa medida como a utilização do logaritmo natural para ela estão em linha com os estudos

realizados por Allayannis e Weston (2001, p. 249); Machado (2007, p. 2); Rountree, Weston e

Allayannis (2008, p. 238); Serafini (2009, p. 19); Tsuji (2011, p. 16); Allayannis, Lel e Miller

Page 69: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

69

(2012, p. 66); Belghitar, Clark e Mefteh (2013, p. 287); e Ribeiro, Machado e Rossi Júnior

(2013, p. 132).

A variável independente qualitativa (dummy), a saber, hedge, tem como proxies, por

conta de sua característica binária, os números “0” para uma resposta negativa e “1” para uma

resposta positiva à utilização de derivativos para fins de hedge ao longo do ano de 2015,

conforme o Quadro 10 a seguir:

Quadro 10 – Variável independente qualitativa para o estudo da criação de valor

Variável Proxy

Hedge Utilização de derivativos para fins de hedge ao longo

do ano de 2015 - não (0) e sim (1)

Fonte: Elaborado pelo autor.

Essa informação é vital para este estudo, uma vez que parte do objetivo deste trabalho

é verificar a associação das operações de derivativos para fins de proteção com a criação de

valor para as companhias pesquisadas. A coleta dessa informação foi realizada da mesma

maneira como já mencionado no tópico anterior.

Para verificar se o aumento de valor da companhia está associado à utilização de

instrumentos derivativos em operações de hedge, faz-se necessário igualmente entender os

impactos que outras variáveis podem trazer ao valor das empresas. Para isso foram consideradas

as variáveis de controle destacadas no Quadro 11 a seguir, sendo a primeira delas (Governança)

empregada por Lel (2012, p. 225) e Allayannis, Lel e Miller (2012, p. 68) e duas outras

(Tamanho e Alavancagem) utilizadas nos estudos conduzidos por Rountree, Weston e

Allayannis (2008, p. 239) e Tsuji (2011, p. 18). Logo após o Quadro 11, serão descritos os

principais argumentos e justificativas para a sua inclusão à análise-objeto deste estudo.

Quadro 11 – Variáveis de controle para o estudo da criação de valor

Variável Proxy

Governança

(1) para empresas listadas no segmento “Novo Mercado” da

BM&FBovespa e (0) para empresas listadas nos demais segmentos em

2015

Tamanho Logaritmo natural do total do ativo em 31 de dezembro de 2015

Rentabilidade Retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) para o ano de 2015

Alavancagem Razão da dívida de longo prazo pelo valor contábil dos ativos em 31 de

dezembro de 2015 Fonte: Elaborado pelo autor.

Page 70: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

70

a) Governança: empresas comprometidas com padrões mais elevados de governança

corporativa podem gerar mais valor do que empresas que adotam apenas o padrão mínimo

de governança exigido pela regulamentação local, como indicado no estudo conduzido

pelo International Finance Corporation (2009, p. 15-16). Para essa variável binária

dummy foram utilizadas como proxies os números “1” para as companhias listadas no

segmento “Novo Mercado” da BM&FBovespa (sujeitas aos mais altos padrões de

governança desta bolsa)6 e “0” para aquelas empresas incluídas nos demais segmentos de

listagem da bolsa. Tais informações foram extraídas diretamente do website da

BM&FBovespa7 ou, quando indisponível, do relatório anual denominado “Formulário de

Referência” a partir do website das empresas pesquisadas para os quatro trimestres de

2015. Como foi verificado que nenhuma companhia pesquisada teve mudança de

segmento de listagem entre os trimestres do período pesquisado, foi utilizada uma única

informação de governança para esse ano.

b) Tamanho: espera-se que essa variável afete o valor de uma companhia, pois empresas

maiores podem ter mais acesso aos recursos no mercado financeiro e de capitais, de forma

a diminuir o seu custo médio ponderado de capital, o que pode contribuir para o seu

aumento de valor. Para reduzir efeito de outliers, decidiu-se utilizar como proxy o

logaritmo natural do total do ativo em 31 de dezembro de 2015.

c) Rentabilidade: empresas mais rentáveis podem, em tese, ser negociadas com prêmio se

comparadas com companhias menos rentáveis. Para essa variável, utilizou-se como proxy

a razão retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) anual em 2015.

d) Alavancagem: o valor de uma companhia pode estar relacionado com a sua estrutura de

capital. Para essa variável foi utilizada como proxy a razão dívida de longo prazo sobre o

ativo total em 31 de dezembro de 2015.

2.4. Tratamento dos outliers

Segundo Wooldridge (2012, p. 854), outliers são “observações em um conjunto de

dados que são substancialmente diferentes da massa de dados”. O autor destaca que a sua

6 Maiores detalhes sobre os segmentos especiais de listagem podem ser encontrados em

<http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/listagem/acoes/segmentos-de-listagem/sobre-segmentos-de-listagem/>. 7 Disponíveis em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/produtos/listados-a-vista-e-derivativos/renda-

variavel/empresas-listadas.htm>. Uma vez selecionada a companhia, foram escolhidas as opções “Relatórios

Financeiros”, “Ano” = 2015, “Informações Trimestrais – ITR” ou “Demonstrações Financeiras Padronizadas –

DFP” e por último “Dados Cadastrais (FCA)” juntamente com “Valores Mobiliários”.

Page 71: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

71

identificação requer a observação da variável analisada com aquelas constantes do restante da

amostra e que alguns preferem buscar em sua base observações não-usuais porque os outliers

podem afetar significativamente as estimativas das regressões (ibid., p. 327).

Para detectar os outliers, decidiu-se aqui utilizar o método de score padronizado (Zi)

como recomendado por Martins e Theóphilo (2009, p. 116), através do cálculo a seguir:

𝑍𝑦 =𝑥𝑖− ��

𝑆 (17)

Ao calcular os outliers de valores superiores a Z=3, como sugerido por esses autores,

foram identificados 18 outliers, os quais foram retirados da amostra como demonstrado na

Tabela 4.

2.5. Ferramentas estatísticas utilizadas para a modelagem dos dados

Com base nas variáveis dependentes, independentes e de controle observadas até então,

foram realizados os cálculos estatísticos necessários para testar as duas hipóteses descritas a

seguir, sendo que ambas, no momento oportuno, foram reproduzidas na forma de hipóteses

nulas e alternativas.

a) A utilização de contratos derivativos como instrumentos de hedge pelas empresas está

associada à redução da volatilidade de seus resultados; e

b) A utilização de contratos derivativos como instrumentos de hedge está associada à criação

de valor para as companhias.

Martins e Domingues (2014, p. 179) ensinam que um teste de hipótese é uma “regra de

decisão para aceitar, ou rejeitar, uma hipótese estatística com base nos elementos amostrais” e

que a H0, denominada hipótese nula, é a hipótese estatística que deve ser testada, a qual expressa

uma igualdade. Já a H1, ou hipótese alternativa, é dada através de uma desigualdade. A rejeição

da hipótese nula é constatada através da análise dos valores de p-value calculados em cada teste

estatístico, através do software SPSS.

O p-value, igualmente conhecido como valor-P ou nível de significância (FÁVERO,

2015, p. 23), refere-se à “probabilidade de uma hipótese nula ser rejeitada, quando verdadeira”

conforme Stevenson (2001, p. 225).

Page 72: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

72

Fávero (2015, p. 23) ensina que um nível de significância de 5% representa um nível de

confiança de 95% e este é o valor-base de p-value adotado neste trabalho por ser comumente

utilizado conforme Gastwirth, Gel e Miao (2009, p. 346).

2.5.1. Teste de homogeneidade de variâncias

Tendo em vista que parte do objetivo deste trabalho consiste em verificar se a utilização

de contratos derivativos como instrumentos de hedge está associada com a redução da

volatilidade de seus resultados, foi realizado um teste de homogeneidade de variâncias.

Considerando o desvio-padrão igual à raiz quadrada da variância, mesmo havendo igualdade

entre as médias dos dois grupos estudados, é possível afirmar que, em uma situação na qual as

variâncias entre eles não sejam homogêneas, um grupo tem mais volatilidade em seus

resultados do que o outro grupo estudado.

Para este estudo foi escolhido o teste de Levene para homogeneidade das variâncias.

Fávero et al. (2009, p. 116) denotam que, para esse teste, “A hipótese nula afirma que as

variâncias populacionais, estimadas a partir de k amostras representativas, são homogêneas ou

iguais [...] A hipótese alternativa afirma que pelo menos uma variância populacional é diferente

das demais”. Martins e Domingues (2014, p. 224) complementam que, caso o valor de Sig (p-

value) seja superior a determinado nível de significância (5% para este estudo), é possível

concluir sobre a existência da homogeneidade das variâncias.

Gastwirth, Gel e Miao (2009, p. 343) afirmam que essa abordagem é poderosa e robusta

para dados não-paramétricos. Por conta disso, entendeu-se necessário verificar a ausência de

normalidade na amostra a ser utilizada para o estudo da volatilidade dos retornos.

Conforme Fávero et al. (2009, p. 112), os testes mais utilizados para avaliar a

normalidade univariada dos dados são o de Kolmogorov-Smirnov (K-S) e o de Shapiro-Wilk.

No entanto, Martins e Domingues (2014, p. 255-261) salientam que a utilização do teste de

Shapiro-Wilk é mais apropriada para pequenas amostras, para as quais n ≤ 30. Dessa maneira

foi utilizado neste estudo apenas o teste de Kolmogorov-Smirnov. Os autores ainda destacam o

roteiro para a sua utilização, bem como a estatística desse teste, a seguir:

i) Descrever as hipóteses (H0 e H1);

ii) Fixar o nível de significância do teste de K-S;

iii) Determinar a região crítica através da consulta à tabela do teste de K-S;

iv) Calcular a estatística K-S a partir dos dados da amostra a ser estudada; e

v) Conclusão a partir dos resultados.

A estatística desse teste é dada pela fórmula a seguir:

Page 73: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

73

𝐾 − 𝑆𝑐𝑎𝑙𝑐 = 𝑚𝑎 𝑥[|𝐹𝑅𝐸𝑖− 𝐹𝑅𝑂𝑖

|; |𝐹𝑅𝐸𝑖− 𝐹𝑅𝑂𝑖−1

|] (18)

para i = 1, 2, ..., n

Onde:

FREi = frequência relativa acumulada esperada até a categoria/classe i;

FROi = frequência relativa acumulada observada até a categoria/classe i; e

FROi-1 = frequência relativa acumulada observada até a categoria/classe i – 1.

Como será verificado no próximo capítulo os dados então sujeitos ao teste de Levene

não apresentaram normalidade.

Gastwirth, Gel e Miao (2009, p. 346) ensinam que a versão final proposta por Levene

em seu teste, na forma clássica do método ANOVA (Analysis of Variances), aplicado às

diferenças absolutas entre cada observação e a média do grupo, pode ser calculada através da

seguinte expressão:

𝐹 = 𝑁−𝑘

𝑘−1.

∑ (��𝑖.−��..)2𝑘

𝑖=1

∑ ∑ 𝑛𝑖(𝑑𝑖𝑗−��𝑖.)2𝑛𝑖

𝑗=1𝑘𝑖=1

(19)

Onde:

N = dimensão relativa à amostra global (n1+n2+...+nk);

ni = dimensão de cada uma das k amostras;

dij = |xij - ��ij|, i = 1,...,k, e j=1,...,k;

xij = observação j da amostra i;

��ij = média da amostra i;

��𝑖. = média de dij na amostra i; e

��.. = média de di relativamente à amostra global.

Tanto as descrições do cálculo de Levene acima citadas quanto o procedimento para a

aplicação deste teste são dados por Fávero et al (2009, p. 117):

1. Fixar a hipótese nula H0 e a hipótese alternativa H1. A hipótese nula

afirma que as variâncias populacionais são homogêneas, isto é, H0: 21 =

22 = ... = 2

k. Já a hipótese alternativa afirma que pelo menos uma das

variâncias populacionais é diferente das demais, ou seja, H1: ij: 2i ≠ 2

j

(i,j=1,...,k). 2. Fixar o nível de significância do teste. 3. A estatística escolhida é o teste W de Levene.

Page 74: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

74

4. Fixar a região crítica com o auxílio da tabela de distribuição F [...], isto

é, Fc = Fk-1,N-k,. 5. Calcular o valor real da estatística Wcalc, conforme mostra a Equação [...].

6. Conclusão: se o valor da estatística pertencer à região crítica, isto é, se

Wcalc > Fc, rejeita-se H0. Se Wcalc ≤ Fc não se rejeita H0.

Tendo em vista o exposto, as hipóteses nula e alternativa para o teste de Levene são:

H0: não há diferenças significativas entre as variâncias dos retornos das empresas que

utilizam instrumentos derivativos para fins de hedge e as variâncias dos retornos das

empresas que não utilizam esses instrumentos para fins de hedge; e

H1: há diferenças significativas entre as variâncias dos retornos das empresas que utilizam

instrumentos derivativos para fins de hedge e as variâncias dos retornos das empresas que

não utilizam esses instrumentos para fins de hedge.

Mais uma vez foram observados os valores de p-value desse teste calculados pelo SPSS

e, nos casos em que esse valor resulte em um nível de até 0,05 (5%), rejeitou-se a hipótese nula.

2.5.2. Regressão linear múltipla

A segunda parte desta pesquisa refere-se ao estudo da associação da utilização de

instrumentos derivativos em operações de hedge à criação de valor e para isso foi utilizado um

modelo de regressão linear múltipla. Tal análise propõe-se a testar as hipóteses nula e

alternativa a seguir reproduzidas como parte do objetivo deste estudo:

H0: a utilização de contratos derivativos como instrumentos de hedge não está

positivamente e de forma significativa associada com a criação de valor para as

companhias; e

H1: a utilização de contratos derivativos como instrumentos de hedge está positivamente

e de forma significativa associada com a criação de valor para as companhias.

Fávero et al. (2009, p. 346) ensinam que, seguramente, a análise de regressão é uma das

ferramentas mais utilizadas nas organizações e na academia por pesquisadores de várias áreas

do conhecimento, pois “buscam verificar a relação entre um conjunto de variáveis explicativas

métricas ou dummies e uma variável dependente métrica (fenômeno em estudo), ou seja,

procura avaliar o impacto de cada variável explicativa”. Dessa maneira os autores apresentam

um modelo de regressão linear múltipla, o qual permite a inserção de diversas variáveis para

explicar um dado fenômeno, representado pela expressão a seguir:

𝑌 = α + 𝛽1. 𝑋1 + 𝛽2. 𝑋2 + ⋯ + 𝛽𝑛. 𝑋𝑛 + 𝑢 (20)

Page 75: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

75

Onde:

Y = fenômeno a ser estudado (variável dependente quantitativa);

𝛼 = intercepto (constante);

ßk (k = 1, 2, ..., n) = coeficientes (angulares) de cada variável;

Xk = variáveis independentes explicativas (dummies ou quantitativas);

u = termos de erro (resíduos que representam possíveis variáveis X não incluídas no modelo e

que poderiam explicar a variável Y);

Para essa regressão foi utilizado o método de entrada forçada, através da opção

denominada pelo SPSS como “Enter”. Segundo Field (2009, p. 227), nesse método “todas as

covariáveis são colocadas no mesmo modelo de regressão em um único bloco e as estimativas

dos parâmetros são calculadas para cada bloco”.

Neste trabalho foi utilizada uma única regressão, a qual considerou em seu cálculo: i) o

efeito da variável independente (Hedge) e das demais variáveis de controle (Governança,

Tamanho, Rentabilidade e Alavancagem) sobre a variável dependente (QTobin); e ii) o efeito

multiplicativo que a variável independente e as variáveis de controle Tamanho, Rentabilidade

e Alavancagem, teriam sobre a variável dependente.

Como já mencionado anteriormente, Hedge e Governança são variáveis qualitativas

dummies, as quais foram representadas por (0) para uma resposta negativa e (1) para uma

resposta afirmativa no caso da variável Hedge; e (1) para o segmento “Novo Mercado” e (0)

para os demais segmentos de listagem da BM&FBovespa no caso da variável Governança.

Wooldridge (2012, p. 228) denota que em um modelo de regressão podem ser incorporadas

esses tipos de variáveis através da sua simples inclusão na equação.

O efeito multiplicativo de variáveis neste trabalho tem como propósito verificar se as

operações de hedge, combinadas com o tamanho, a rentabilidade e a alavancagem de uma

empresa, estão associadas à criação de valor. Tal efeito foi realizado através da multiplicação

do valor constante na coluna da variável Hedge com os valores listados nas colunas das

variáveis Tamanho, Rentabilidade e Alavancagem, sendo que o resultado de cada multiplicação

(Hedge x Tamanho, Hedge x Rentabilidade e Hedge x Alavancagem) ficou em uma coluna

separada. A nova variável Hedge x Tamanho tem como pretensão demonstrar se o tamanho das

empresas que utilizaram hedge com derivativos em 2015 está associado à criação de valor. Já

a linha Hedge x Rentabilidade tem como propósito verificar se o nível de rentabilidade das

empresas que fazem hedge está associado à criação de valor. A última variável, a saber, Hedge

x Alavancagem, pretende apontar se o grau de alavancagem de uma companhia que utiliza

Page 76: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

76

hedge está associado à criação de valor. Importa ressaltar que o efeito multiplicativo de

variáveis dummy com outras variáveis independentes explicativas está em linha com os estudos

realizados por Mano (2013, p. 21).

Uma vez esclarecidas essas questões, parte-se para a elaboração da regressão que será

utilizada neste trabalho, a seguir:

𝑄𝑇𝑜𝑏𝑖𝑛 = α + 𝛽1. 𝐻𝑒𝑑𝑔𝑒 + 𝛽2. 𝐺𝑜𝑣𝑒𝑟𝑛𝑎𝑛ç𝑎 + 𝛽3. 𝑇𝑎𝑚𝑎𝑛ℎ𝑜 + 𝛽4. 𝑅𝑒𝑛𝑡𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 +

𝛽5. 𝐴𝑙𝑎𝑣𝑎𝑛𝑐𝑎𝑔𝑒𝑚 + 𝛽6. (𝐻𝑒𝑑𝑔𝑒. 𝑇𝑎𝑚𝑎𝑛ℎ𝑜) + 𝛽7. (𝐻𝑒𝑑𝑔𝑒. 𝑅𝑒𝑛𝑡𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒) +

𝛽8. (𝐻𝑒𝑑𝑔𝑒. 𝐴𝑙𝑎𝑣𝑎𝑛𝑐𝑎𝑔𝑒𝑚) + 𝑢 (21)

Onde:

QTobin = variável dependente quantitativa de valor representada pelo logaritmo natural do Q

de Tobin em 31 de dezembro de 2015;

𝛼 = intercepto (constante);

ßk (k = 1, 2, ..., n) = coeficientes (angulares) das variáveis independente e de controle;

Hedge = variável independente qualitativa referente à existência de operações de derivativos

para fins de hedge ao longo do ano de 2015 (dummy: “0” para não e “1” para sim);

Governança = variável de controle qualitativa que demonstra se a companhia estava listada ou

não no segmento “Novo Mercado” no ano de 2015 (dummy: “1” para as companhias listadas

neste segmento “0” para aquelas listadas nos demais segmentos);

Tamanho = variável de controle quantitativa referente ao tamanho da empresa, representada

pelo logaritmo natural do ativo total em 31 de dezembro de 2015;

Rentabilidade = variável de controle quantitativa referente ao ROE anual em 2015;

Alavancagem = variável de controle quantitativa referente à razão da dívida de longo prazo

pelo valor contábil dos ativos em 31 de dezembro de 2015; e

u = termos de erro (resíduos – representa possíveis variáveis X não incluídas no modelo e que

poderiam explicar a variável QTobin).

As hipóteses nula e alternativa dessa regressão estão descritas a seguir com base em

Martins e Domingues (2014, p. 347):

H0: não existe regressão entre Q de Tobin e a variável explicativa em estudo; e

H1: existe regressão entre Q de Tobin e a variável explicativa em estudo.

Em uma regressão multivariada como esta pode haver casos em que a variável regredida

não possua significância estatística por conta do seu valor de p-value ser superior a 5%, não

Page 77: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

77

rejeitando H0. Em situações como esta, a variável que não se mostra significativa para o referido

modelo de regressão pode ser descartada, segundo Martins e Domingues (2014, p. 352). Apesar

dessa sugestão, para este trabalho tal variável somente será considerada como não tendo

associação estatisticamente significativa, mas não será retirada da regressão.

Page 78: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

78

3. RESULTADOS DA PESQUISA

Este capítulo tem como objetivo a análise dos dados da pesquisa e a apresentação e

análise dos resultados dos testes estatísticos descritos no segundo capítulo.

Dessa forma, por conta do objetivo deste trabalho, este capítulo será dividido em três

tópicos principais: Análise inicial sobre a utilização de instrumentos derivativos em operações

de hedge; Análise da volatilidade dos resultados das empresas e Análise da criação de valor nas

empresas.

3.1. Análise inicial sobre a utilização de instrumentos derivativos em

operações de hedge

Neste tópico será realizada uma análise prévia sobre a utilização de instrumentos

financeiros derivativos para fins de hedge pelas empresas pesquisadas ao longo do ano de 2015.

Inicialmente foi constatado que das 223 empresas coletadas, aproximadamente 55%

delas utilizaram derivativos para fins de hedge ao longo do ano de 2015 e 45% não utilizaram

instrumentos derivativos para fins de proteção ou simplesmente não utilizaram derivativos

neste período, como pode ser verificado pela Figura 2 a seguir:

Figura 2 – Utilização ou não de hedge em 2015 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da Economatica.

Apesar de a maioria das empresas pesquisadas terem realizado operações de hedge ao

longo de 2015, o gráfico da Figura 2 demonstra haver um certo equilíbrio, em termos

percentuais, entre as empresas que utilizaram derivativos para fins de hedge e aquelas que não

realizaram tais operações em 2015. No entanto, para uma análise complementar, fez-se

necessário igualmente apresentar tal quebra por setor, demonstrada de forma completa no

Apêndice C e resumidamente (com os principais setores) na Tabela 5 a seguir:

Não10045%

Sim12355%

Page 79: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

79

Tabela 5 – Utilização de derivativos para fins de hedge pelos principais setores pesquisados

Setor

Total Hedge = não Hedge = sim

Quant. Perc.

(Total) Quant.

Perc.

(Setor) Quant.

Perc.

(Setor)

Energia Elétrica 32 14,3% 14 43,8% 18 56,3%

Construção 17 7,6% 13 76,5% 4 23,5%

Comércio 14 6,3% 3 21,4% 11 78,6%

Textil 14 6,3% 7 50,0% 7 50,0%

Siderur & Metalur 13 5,8% 5 38,5% 8 61,5%

Veículos e peças 13 5,8% 5 38,5% 8 61,5%

Alimentos e Beb 12 5,4% 2 16,7% 10 83,3%

Transporte Serviç 11 4,9% 2 18,2% 9 81,8%

Outros - Administração de empresas e empreendimentos 10 4,5% 6 60,0% 4 40,0%

Outros - Locadora de imóveis 9 4,0% 3 33,3% 6 66,7%

Química 7 3,1% 3 42,9% 4 57,1%

Eletroeletrônicos 5 2,2% 2 40,0% 3 60,0%

Petróleo e Gás 5 2,2% 2 40,0% 3 60,0%

Demais 61 27,4% 33 54,1% 28 45,9%

Total de Companhias 223 100,0% 100 44,8% 123 55,2%

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da Economatica.

Na Tabela 5 foram listados os setores da Economatica, por ordem decrescente,

considerando o total de repostas por setor, descritos na coluna “Total”, seguido pelo percentual

de repostas de cada setor em relação ao total de companhias pesquisadas. Nas colunas “Hedge

= não” e “Hedge = sim” estão listadas as respostas negativas e positivas ao uso de hedge ao

longo do ano de 2015 seguidas do percentual de utilização dessas operações considerando o

total de empresas por setor. A última linha de dados (Demais) consolida todos os setores que

tiveram um percentual de resposta na coluna “Total” inferior a 2%.

Ao iniciar a montagem da Tabela 5, foi constatado que o setor “Outros” da Economatica

possuía uma quantidade elevada de empresas constantes da amostra, o que poderia prejudicar

essa análise, uma vez que não seria possível conhecer de forma analítica que tipo de negócio

tais companhias poderiam ter por conta da classificação dada por esta base de dados. Assim,

para que essa informação se tornasse conhecida, decidiu-se por incluir a descrição do setor

NAICS à frente do setor denominado “Outros”, constante da mesma base de dados. Dessa

forma se tornou possível por exemplo visualizar na Tabela 5 os setores “Outros - Administração

de empresas e empreendimentos” e “Outros - Locadora de imóveis”.

Uma análise visual dos dados da Tabela 5 pode ser realizada a partir do gráfico

demonstrado na Figura 3 a seguir:

Page 80: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

80

Figura 3 – Utilização ou não de hedge em 2015 pelos principais setores pesquisados Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da Tabela 5.

O gráfico da Figura 3 demonstra o comportamento dos setores com maior relevância de

dados relativamente ao indicador de utilização de hedge durante o ano de 2015. As informações

contidas na Tabela 5 e na Figura 3 permitem a realização de algumas inferências com os

destaques para os casos descritos a seguir.

Considerando as empresas constantes da amostra, verificou-se que dentre todos os

setores pesquisados, o setor de energia elétrica foi o mais representativo, totalizando 32

companhias. Esse dado demonstra o alto nível de listagem desse setor, o qual tem demandado

investimentos por conta do aumento da demanda de energia elétrica no País ao longo dos

últimos anos.

Tal setor se mostrou relativamente equilibrado quanto à utilização de hedge em 2015

com 14 empresas com respostas negativas e 18 com repostas positivas, representando

respectivamente 43,8% e 56,3% do total para esse setor. O setor têxtil demonstrou igual

equilíbrio, contendo sete empresas que utilizaram hedge e sete que não realizaram tais

operações no período. Ao observar as informações contidas nas Notas Explicativas das

empresas pertencentes ao setor de energia elétrica, foi verificado que muitas delas havia

contraído empréstimos externos, os quais geram riscos de variação cambial e de taxas de juros.

Como se pode ver através dos dados da Tabela 5, a maioria delas decidiu pela proteção de riscos

como esses.

0

5

10

15

20

25

30

35

14 13

3

75 5

2 2

63 3 2 2

33

18

4

11

7 8 810 9

46

4 3 3

28

Não Sim

Page 81: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

81

Entretanto, foi observado que algumas das companhias que possuíam tais riscos em seus

balanços e decidiram por não se proteger, mencionaram que eram constantemente monitorados

por conta de sua política de gestão de riscos. O mesmo ocorreu com as empresas do setor têxtil,

porém esse setor também possuía operações de importação de matéria-prima utilizada na

produção. Essa falta de busca por proteção pode ter ocorrido possivelmente por conta dos

elevados custos de transação envolvidos nessas operações, através da análise do custo

comparado ao benefício que podem trazer para essas sociedades.

A única questão que fica para elas é que ao assumirem tais riscos ficam sujeitas a

grandes oscilações como a que ocorreu no segundo semestre de 2015, com a alta valorização

da moeda norte-americana diante do Real em aproximadamente 25% nesse período, segundo

dados do Bacen (Banco Central do Brasil). A cotação de venda dessa moeda saltou de

R$ 3,1191 em 1o de julho para R$ 3,9048 em 31 de dezembro daquele ano8.

A Figura 4 a seguir demonstra a alta volatilidade da cotação de venda dessa moeda bem

como a linha de tendência (reta), demonstrando a referida alta no segundo semestre de 2015.

Figura 4 – Comportamento da cotação de venda do USD no segundo semestre de 2015

Fonte: Elaborado pelo autor a partir da base de dados do Bacen.9

Voltando à análise da Tabela 5 e da Figura 3, na sequência, destacam-se os setores

“Comércio”, “Alimentos e bebidas” e “Transportes e serviços”, com uma maior quantidade

8 Disponível em: <http://www4.bcb.gov.br/pec/taxas/port/ptaxnpesq.asp?id=txcotacao>. “Data inicial”: 1 de julho

de 2015, “Data final”: 31 de dezembro de 2015, “Moeda”: Dólar dos EUA. 9 Idem à nota anterior.

3,0000

3,1000

3,2000

3,3000

3,4000

3,5000

3,6000

3,7000

3,8000

3,9000

4,0000

4,1000

4,2000

4,3000

Page 82: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

82

absoluta de empresas com operações de hedge no período estudado (com aproximadamente

80% de empresas que fizeram hedge em 2015). A busca por proteção pela maior parte das

empresas desses setores pode ser explicada por conta do seu perfil, pois há algumas companhias

com forte presença internacional (exportadoras) e muitas que buscaram empréstimos externos

para financiar as suas atividades ou que importavam matéria-prima para a sua produção ou

prestação de serviços, protegendo-se dos riscos de moedas, taxas de juros ou commodities, todas

relacionadas às suas atividades operacionais.

Diferentemente dos setores citados, o setor de construção foi aquele com menor

quantidade absoluta de empresas que utilizaram hedge em 2015 (quatro empresas representando

23,5% das empresas desse setor) em comparação com as empresas que não utilizaram tais

operações no período (13 empresas correspondendo a 76,5% do total de companhias desse

setor).

Outro setor com menos empresas com operações de hedge em relação às empresas que

não fizeram essas operações durante esse ano foi o “Outros - Administração de empresas e

empreendimentos”, com uma taxa de 40% de utilização de hedge no mesmo período. Tal

situação pode ser explicada por conta de a maioria dessas empresas concentrarem os seus

negócios relacionados a operações de empréstimos, aquisição de matéria-prima e vendas de

produtos e serviços no mercado doméstico, não existindo motivação para que a maioria dessas

empresas entre neste tipo de operação.

Pode-se igualmente verificar que os demais setores destacados na Tabela 5 tiveram mais

empresas que realizaram hedge no período, em comparação com as que não realizaram tais

operações, porém em quantidade relativa inferior aos demais setores vistos até aqui.

Por conta da regressão apresentada no tópico Análise da criação de valor nas empresas

incluir uma variável de controle de governança, a qual considerou (ou não) que determinada

companhia esteve listada no segmento “Novo Mercado” em 2015, entendeu-se por bem aqui

comparar a utilização de derivativos para fins de hedge nas empresas listadas nesse segmento

em relação às corporações listadas nos demais segmentos, a qual pode ser vista na Tabela 6 a

seguir.

Page 83: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

83

Tabela 6 – Utilização de derivativos para fins de hedge considerando o nível de governança

corporativa

Governança

Total Hedge = não Hedge = sim

Quant. Perc.

(Total) Quant.

Perc.

(Gov.) Quant.

Perc.

(Gov.)

Novo Mercado 109 48,9% 39 35,8% 70 64,2%

Demais 114 51,1% 61 53,5% 53 46,5%

Total de Companhias 223 100,0% 100 44,8% 123 55,2%

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da Economatica.

Na Tabela 6 foram consideradas duas linhas, uma contendo todas as empresas listadas

no segmento Novo Mercado e outra com as companhias listadas nos demais segmentos. Da

mesma forma como descrito na explicação da Tabela 5, a Tabela 6 mostra uma primeira coluna

com valores denominada “Total”, a qual considera a totalidade das empresas em cada linha,

juntamente com o seu percentual em relação às 223 companhias da amostra. Nas colunas

“Hedge = não” e “Hedge = sim” estão listadas as respostas negativas e positivas ao uso de

hedge ao longo do ano de 2015 respectivamente, seguidas do percentual de utilização dessas

operações, considerando o total de empresas em cada linha, de acordo com o seu nível de

governança corporativa.

Aqui pode ser observado um equilíbrio das empresas listadas no Novo Mercado em

comparação com as demais empresas para esse ano (48,9% e 51,1% respectivamente), sendo

que das empresas listadas no segmento com o maior nível de governança da BM&FBovespa,

64,2% delas fizeram operações de hedge em 2015, contra 35,8% das empresas que não fizeram

hedge nesse ano. Já a linha com os demais segmentos indica que havia menos empresas com

operações de hedge em 2015 (46,5%) se comparadas com as empresas que não fizeram tais

operações nesse período (53,5% das empresas listadas nos demais segmentos).

A partir desses dados, torna-se possível inferir que durante o ano-calendário de 2015 as

empresas não-financeiras brasileiras com um maior nível de governança corporativa tiveram

uma tendência maior em realizar operações de proteção do que as empresas com um menor

nível de governança. Esse resultado está em linha com aqueles apresentados nos estudos

conduzidos por Lel (2012) e pode ser explicado pelo fato de empresas com maior nível de

governança possuírem conselhos de administração e fiscais mais ativos, os quais exigem da

administração um maior nível de accountability e de prestação de contas e, tendo em vista que

as operações de hedge servem para a proteção dos itens do balanço sujeitos a riscos que podem

diminuir o valor patrimonial de uma companhia, a administração tende a utilizar esses

instrumentos para fins específicos de hedge e não para outros fins.

Page 84: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

84

3.2. Análise da volatilidade dos resultados das empresas

Nesta parte da pesquisa, pretende-se verificar se as empresas que fizeram hedge ao

longo do ano de 2015 tiveram menos volatilidade em seus retornos do que aquelas que não

fizeram tais operações nesse período.

Antes mesmo de tratar dos resultados constantes neste tópico, importa aqui destacar que

as empresas que fazem parte da amostra aqui estudada possuem diferentes realidades, como

estruturas de capital, tamanhos e situação financeira (tanto em termos de lucratividade quanto

de fluxo de caixa) distintos umas das outras. Essas questões podem impactar significativamente

os seus resultados e consequentemente os seus retornos, principalmente tendo em vista um ano

de crise como o de 2015. Outro fator que pode ter impactado os retornos das empresas diz

respeito aos setores aos quais fazem parte. Alguns setores podem sofrer mais em momentos de

crise, como o de bens de consumo ou o de bens de capital por exemplo, uma vez que, em

momentos como esse, as pessoas e as empresas consumiriam menos esses itens.

Já empresas produtoras de bens não-duráveis ou de itens de primeira necessidade, por

exemplo, podem não sofrer tanto em momentos de crise, pois produzem e comercializam itens

de consumo imediato. De qualquer maneira, tendo em vista que o Relatório de Inflação do

Bacen para dezembro de 2015 apontou uma revisão do PIB negativo para o ano em 3,6%

(BACEN, 2015, p. 20), não há como deixar de inferir que, em um cenário como esse, nenhuma

empresa estaria imune a ter um ano ruim para o seu negócio. Uma vez esclarecidos esses pontos,

serão apresentados os resultados da pesquisa relacionados à volatilidade dos resultados das

empresas da amostra.

Como já destacado no capítulo anterior, o desvio-padrão do ROE (retorno sobre o

patrimônio líquido) anual em 2015 foi a medida escolhida neste trabalho para calcular a

volatilidade dos resultados das empresas. A Tabela 7 a seguir demonstra os resultados dos

cálculos da média e do desvio-padrão (volatilidade) dos retornos em termos percentuais para o

ano em estudo.

Tabela 7 – Volatilidade dos retornos (sem hedge e com hedge)

Período Hedge = não Hedge = sim

n Média Vol.(S) n Média Vol.(S)

2015 100 -15,02% 158,02% 123 10,72% 91,39%

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados exportados pelo SPSS.

Page 85: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

85

A Tabela 7 possui dois grupos, a saber, empresas que não fizeram operações de hedge

com derivativos durante o ano de 2015 (“Hedge = não”) e empresas que utilizaram tais

operações nesse período (“Hedge = sim”). Nesses dois grupos, “n” corresponde ao número total

de observações, seguido pelos percentuais da média (“Média”) e do desvio-padrão (“Vol.(S)”)

do ROE anual nesse período, considerando todas as empresas em cada grupo.

Dessa forma, como visto na Tabela 7, a média dos retornos das cem empresas que não

utilizaram hedge com derivativos ao longo de 2015 ficou negativa em 15,02% e a volatilidade

dos seus retornos ficou em 158,02%. Já as 123 empresas que fizeram hedge nesse período

tiveram média dos retornos de 10,72% e volatilidade do ROE de 91,39%.

Apesar de não fazer parte do escopo principal desse tópico, não há como deixar de

mencionar a magnitude das diferenças das médias dos retornos comparando os dois grupos de

empresas, uma vez que a Tabela 7 demonstra que as empresas que fizeram operações de hedge

ao longo de 2015 tiveram um maior retorno sobre o patrimônio líquido do que o outro grupo

que não realizou tais operações durante o mesmo período.

Quanto à volatilidade dos retornos, os resultados apresentados na Tabela 7 indicam que,

mesmo em um ano de grave crise financeira no País, as empresas que realizaram operações de

hedge com instrumentos financeiros derivativos tiveram menor volatilidade em seus resultados

(91,39%), se comparadas com as que não fizeram operações de proteção no mesmo período

(158,02%).

Uma vez comparadas as volatilidades dos retornos desses dois grupos de empresas resta

saber se os resultados apresentados são estatisticamente significativos.

Assim, primeiramente será necessário verificar a normalidade da amostra, a qual foi

verificada através do teste de Kolmogorov-Smirnov. As hipóteses a seguir foram testadas e os

seus resultados podem ser vistos na Tabela 8:

H0: a amostra é oriunda de uma distribuição normal; e

H1: a amostra não é oriunda de uma distribuição normal.

Tabela 8 – Teste Kolmogorov-Smirnov para os cálculos do ROE anual

Período Hedge = não Hedge = sim

P-value Decisão P-value Decisão

2015 0,000 Rejeitar H0 0,000 Rejeitar H0

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados exportados pelo SPSS.

A Tabela 8 mostra os resultados do teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov,

segregando as companhias que não fizeram hedge em 2015 daquelas que detinham tais

Page 86: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

86

operações nesse período, através da demonstração do p-value calculado pelo SPSS e da rejeição

ou não da hipótese nula com base no nível de significância de 5% para cada grupo de empresas.

Como pode ser verificado na Tabela 8, uma vez que os valores de p-value ficaram em

níveis inferiores a 5%, rejeita-se a hipótese nula para os dois grupos. Assim entende-se, a partir

desses resultados, que não há normalidade para essa base de dados.

Uma vez constatada que não há normalidade para essa amostra e, tendo em vista que o

objetivo da primeira parte deste trabalho é comparar a volatilidade dos resultados das empresas

que fizeram operações de hedge com aquelas não detinham tais operações no período em

estudo, foi realizado o teste de Levene para verificar se as diferenças de volatilidade dos retornos

entre os dois grupos de empresa são estatisticamente significativas. A seguir podem ser vistas

as hipóteses nula e alternativa desse teste e, na sequência, os seus resultados demonstrados na

Tabela 9:

H0: não há diferenças significativas entre as variâncias dos retornos das empresas que

utilizaram instrumentos derivativos para fins de hedge e as variâncias dos retornos das

empresas que não utilizaram esses instrumentos para fins de hedge; e

H1: há diferenças significativas entre as variâncias dos retornos das empresas que

utilizaram instrumentos derivativos para fins de hedge e as variâncias dos retornos das

empresas que não utilizaram esses instrumentos para fins de hedge.

Tabela 9 – Teste de Levene para os cálculos do ROE anual

Período Teste de Levene

P-value Decisão

2015 0,284 Não rejeitar H0 Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados exportados pelo SPSS.

A Tabela 9 mostra os resultados do teste de homogeneidade de variâncias de Levene, o

qual serviu para comparar as variâncias das empresas que fizeram hedge em 2015 com as

variâncias das companhias que não detinham tais operações nesse ano, através da demonstração

do p-value calculado pelo SPSS e da rejeição ou não da hipótese nula com base no nível de

significância de 5%.

Como pode ser observado na Tabela 9, o valor de p-value do teste de Levene ficou acima

do nível de significância estabelecido, não rejeitando a hipótese nula de que as variâncias dos

retornos entre os dois grupos de empresas fossem semelhantes.

Page 87: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

87

Apesar dos resultados da Tabela 7 indicarem que as empresas que fizeram hedge em

2015 tiveram menos volatilidade em seus resultados (91,39%) do que aquelas sem hedge

(158,02%), tais resultados não se mostraram significativos através do teste de Levene.

A seguir são transcritas algumas observações que podem explicar a falta de significância

estatística destes resultados.

No ano de 2015 houve uma forte retração na economia brasileira, com redução da

atividade econômica e consequente queda do PIB, como já mencionado anteriormente. Em

termos gerais, uma situação como essa faz com que as receitas nas vendas dos produtos e

serviços (preferencialmente não-essenciais) caiam consideravelmente, não ocorrendo o mesmo

com as despesas, que podem ficar no mesmo nível em que estavam antes do momento de crise.

Essa situação pode acarretar em prejuízos para qualquer tipo de empresa e, no escopo deste

trabalho, isso pode ter ocorrido tanto para aquelas companhias que fizeram hedge com

derivativos quanto para aquelas que não o fizeram, indiscriminadamente.

A perda do grau de investimento do País pelas maiores agências de rating do mundo fez

com que os investimentos no Brasil fossem considerados na categoria de especulação, com alto

risco. Essa situação fez com que o investidor no exterior exigisse um prêmio para investir os

seus recursos em uma empresa brasileira, seja na forma de empréstimos externos ou na forma

de emissão de títulos de dívida, resultando em um aumento do custo dessas fontes de crédito e

consequentemente das despesas de juros nas empresas brasileiras que tomam créditos externos.

Tal situação pode impactar os resultados de uma empresa negativamente mesmo que ela faça

hedge por conta do custo adicional na operação de empréstimo por exemplo.

Ao analisar as notas explicativas das empresas da amostra, foi constatado que a maior

parte delas não utilizava a metodologia de hedge accounting, a qual, como foi visto no primeiro

capítulo, faz com que o princípio da competência seja refletido adequadamente tanto para os

efeitos do instrumento quanto do objeto de hedge.

Dessa forma, considerando o exemplo do hedge de fluxo de caixa, comum para

empresas exportadoras que adotam o hedge accounting, os efeitos do instrumento de hedge são

reconhecidos no patrimônio líquido até que se possa reconhecer os efeitos no resultado do

objeto de hedge (neste caso as receitas de exportação). Assim, nesse momento ambos os efeitos

do objeto e do instrumento de hedge são reconhecidos de uma única vez no resultado do

período. Quando a empresa não utiliza esse recurso, todo o resultado do derivativo é

reconhecido a valor justo no resultado independentemente do reconhecimento contábil do

objeto de hedge.

Page 88: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

88

Assim, uma vez que houve forte valorização da moeda norte-americana no segundo

semestre de 2015, é possível que muitas empresas tenham tido uma alta volatilidade na

marcação a mercado dos derivativos em seus resultados. O contrário pode ter acontecido da

mesma maneira, como por exemplo em uma importação altamente provável, mas dessa vez

com o efeito inverso, qual seja, do derivativo gerando volatilidade com resultado de marcação

a mercado positiva. Essa situação pode ter contribuído para que mesmo as empresas que fizeram

hedge tivessem uma considerável volatilidade em seus resultados.

Tendo em vista o exposto, a hipótese de que a utilização de derivativos para fins de

hedge contribui para a redução da volatilidade dos resultados das companhias foi confirmada,

mesmo considerando um período de crise econômica. No entanto os resultados apresentados

não se mostraram estatisticamente significativos.

3.3. Análise da criação de valor nas empresas

Nesta segunda parte da pesquisa, pretende-se verificar se a utilização de derivativos para

fins de proteção está associada com a criação de valor nas empresas que fizeram essas operações

no decorrer do ano de 2015.

Semelhantemente ao esclarecimento dado no início do tópico anterior, entendeu-se

igualmente necessário aqui destacar como as diferentes realidades das empresas pesquisadas,

aliadas à conjuntura econômica e o seu impacto no valor de mercado das ações negociadas na

BM&FBovespa em 2015, podem ter influenciado o seu valor de mercado no período em estudo.

No que diz respeito à realidade de cada companhia, vale denotar que as empresas da

amostra possuem diferentes condições financeiras, estruturas de capital, políticas de pagamento

de dividendos, market share, lucratividade, etc. Um aumento ou redução em um desses itens

pode mudar a expectativa que um investidor tem sobre os fluxos de caixa futuros de

determinada empresa, trazendo impacto ao seu valor econômico e consequentemente ao valor

de mercado da sua ação.

Adicionalmente, tendo em vista que o real valor econômico de uma companhia

incorpora as expectativas de geração de benefícios econômicos futuros (ASSAF NETO, 2014b,

p. 140), em um cenário de retração da economia com redução de PIB, aumentos no custo de

capital e na taxa de desemprego e de incertezas sobre os fluxos de dividendos oriundos da

expectativa de redução nos lucros das companhias, é natural que, em um mercado considerado

eficiente, esses eventos sejam precificados pelos agentes que participam desse mercado, através

da redução no valor das ações das empresas sujeitas a tais eventos. Nesse sentido, a Figura 5 a

Page 89: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

89

seguir demonstra o comportamento do Ibovespa durante o ano de 2015, evidenciando o

comportamento dos preços das ações mais negociadas na BM&FBovespa.

Figura 5 – Comportamento do Ibovespa em 2015 Fonte: Elaborado pelo autor a partir da base de dados do Uol Economia.10

O gráfico da Figura 5 demonstra que em 2015 houve alta volatilidade no mercado

acionário da BM&FBovespa, com aumento do Ibovespa em aproximadamente 9,8 mil pontos

do início do ano até meados de maio (indo de 47,5 mil para 57,3 mil pontos) e queda de

aproximadamente 14 mil pontos desse período até dezembro, fechando o ano em 43,3 mil

pontos. A linha de tendência (reta) demonstrada nesse gráfico indica a queda do Ibovespa no

ano, mostrando perda de valor de mercado para as principais ações negociadas na bolsa, fato

este que pode ter trazido impactos no cálculo da regressão a ser realizada neste tópico.

Uma vez esclarecidas essas questões, seguem os resultados da pesquisa relacionados à

associação das operações de hedge com derivativos na criação de valor nas empresas

pesquisadas. Para isso foi realizado um cálculo de regressão linear múltipla, o qual se propôs a

testar as hipóteses nula e alternativa a seguir:

H0: a utilização de contratos derivativos como instrumentos de hedge não está

positivamente e de forma significativa associada com a criação de valor para as

companhias; e

10 Disponível em: http://economia.uol.com.br/cotacoes/bolsas/?historico, Opção “Histórico de cotações”.

40.000,00

42.000,00

44.000,00

46.000,00

48.000,00

50.000,00

52.000,00

54.000,00

56.000,00

58.000,00

60.000,00

Page 90: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

90

H1: a utilização de contratos derivativos como instrumentos de hedge está positivamente

e de forma significativa associada com a criação de valor para as companhias.

Assim, a intenção aqui pretendida é de verificar como a variável dependente quantitativa

QTobin, representada pelo logaritmo natural do Q de Tobin em 31 de dezembro de 2015,

comportou-se em relação à variável independente qualitativa Hedge, indicada através da proxy

binária (dummy) “0” para uma resposta negativa e “1” para uma resposta positiva quanto à

utilização de operações de hedge ao longo do ano de 2015. Adicionalmente foram incluídas na

regressão quatro variáveis que podem impactar valor, quais sejam: i) Governança, representada

pelas proxies binárias (dummies) “1” para o segmento “Novo Mercado” e “0” para os demais

segmentos de listagem da bolsa brasileira durante o ano de 2015; ii) Tamanho, demonstrada

através do logaritmo natural do ativo total em 31 de dezembro de 2015; iii) Rentabilidade,

representada pelo retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) anual em 2015; e iv) Alavancagem,

através da razão dívida de longo prazo pelo valor contábil dos ativos em 31 de dezembro de

2015.

Como destacado no capítulo anterior, também foi incluído nessa regressão o efeito

multiplicativo que a variável independente Hedge, juntamente com as variáveis de controle

Tamanho, Rentabilidade e Alavancagem, teriam sobre a variável dependente QTobin.

O cálculo dessa regressão se deu através da Fórmula (21), já citada no capítulo anterior,

indicada a seguir:

𝑄𝑇𝑜𝑏𝑖𝑛 = α + 𝛽1. 𝐻𝑒𝑑𝑔𝑒 + 𝛽2. 𝐺𝑜𝑣𝑒𝑟𝑛𝑎𝑛ç𝑎 + 𝛽3. 𝑇𝑎𝑚𝑎𝑛ℎ𝑜 + 𝛽4. 𝑅𝑒𝑛𝑡𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 +

𝛽5. 𝐴𝑙𝑎𝑣𝑎𝑛𝑐𝑎𝑔𝑒𝑚 + 𝛽6. (𝐻𝑒𝑑𝑔𝑒. 𝑇𝑎𝑚𝑎𝑛ℎ𝑜) + 𝛽7. (𝐻𝑒𝑑𝑔𝑒. 𝑅𝑒𝑛𝑡𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒) +

𝛽8. (𝐻𝑒𝑑𝑔𝑒. 𝐴𝑙𝑎𝑣𝑎𝑛𝑐𝑎𝑔𝑒𝑚) + 𝑢 (21)

Importa salientar que a análise dessa regressão se deu através da demonstração de

associação positiva ou negativa da variável independente e das demais variáveis de controle,

em relação à variável dependente, a um nível de significância de 5%. As hipóteses nula e

alternativa a serem testadas nessa regressão estão descritas a seguir:

H0: não existe regressão entre Q de Tobin e a variável explicativa em estudo; e

H1: existe regressão entre Q de Tobin e a variável explicativa em estudo.

Como já informado no segundo capítulo, os casos em que a variável regredida não

possuir significância estatística (por conta do seu valor de p-value ser superior a 5%) não serão

excluídos da regressão, mas tão somente considerados como não tendo associação

Page 91: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

91

estatisticamente significativa na citada regressão. Os resultados desse cálculo, considerando as

premissas citadas, podem ser vistos na Tabela 10 a seguir:

Tabela 10 – Regressão linear múltipla de QTobin em relação à variável Hedge e às demais

variáveis de controle

Variável Dependente = QTobin

Variável Independente e Variáveis de Controle Coeficientes

Estimados P-value

Intercepto 0,571 0,127

Hedge -0,792 0,146

Governança 0,097 0,099

Tamanho -0,055 0,037

Rentabilidade 0,004 0,887

Alavancagem 0,510 0,000

Hedge x Tamanho 0,064 0,081

Hedge x Rentabilidade 0,062 0,217

Hedge x Alavancagem -0,272 0,244

Resultado Geral Valores

R2 0,197

R2 ajustado 0,167

Teste F (p-value) 0,000

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados exportados pelo SPSS.

A Tabela 10 demonstra a regressão linear múltipla da variável dependente QTobin em

relação à variável independente Hedge e às variáveis de controle Governança, Tamanho,

Rentabilidade e Alavancagem, juntamente com as demais variáveis multiplicativas Hedge x

Tamanho, Hedge x Rentabilidade e Hedge x Alavancagem. O sinal positivo no campo

“Coeficientes Estimados” demonstra que a variável independente e demais variáveis

explicativas estão positivamente associadas à variável QTobin. Já o sinal negativo no mesmo

campo demonstra que tais variáveis estão negativamente associadas à variável dependente. Na

sequência estão indicados os valores de p-value para cada variável, com rejeição da hipótese

nula quando esse valor for inferior a 5%.

Tendo como base os valores constantes da Tabela 10, a citada Fórmula (21) da regressão

em tela poderia ser reescrita a partir da expressão a seguir:

𝑄𝑇𝑜𝑏𝑖𝑛 = 0,571 − 0,792. 𝐻𝑒𝑑𝑔𝑒 + 0,097. 𝐺𝑜𝑣𝑒𝑟𝑛𝑎𝑛ç𝑎 − 0,055. 𝑇𝑎𝑚𝑎𝑛ℎ𝑜 +

0,004. 𝑅𝑒𝑛𝑡𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 + 0,510. 𝐴𝑙𝑎𝑣𝑎𝑛𝑐𝑎𝑔𝑒𝑚 + 0,064. (𝐻𝑒𝑑𝑔𝑒. 𝑇𝑎𝑚𝑎𝑛ℎ𝑜) +

0,062. (𝐻𝑒𝑑𝑔𝑒. 𝑅𝑒𝑛𝑡𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒) − 0,272. (𝐻𝑒𝑑𝑔𝑒. 𝐴𝑙𝑎𝑣𝑎𝑛𝑐𝑎𝑔𝑒𝑚) (22)

Page 92: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

92

Essa expressão auxilia na compreensão dos efeitos que os valores do intercepto e dos

coeficientes de angulação de cada variável explicativa constantes na Tabela 10 causariam em

uma projeção realizada com base nessa regressão. Por exemplo, o valor do intercepto 0,571

representa o valor do logaritmo natural do Q de Tobin em uma situação na qual todos os valores

das variáveis explicativas são iguais a zero, sendo esse o ponto de partida para esse cálculo.

Adicionalmente o coeficiente de angulação de cada variável representa o quanto ela aumenta

ou diminui o logaritmo natural do Q de Tobin para cada unidade de valor em cada variável

explicativa. Uma vez explanados os efeitos das variáveis dessa regressão, parte-se para a análise

dos resultados da Tabela 10, a qual será realizada de forma individual para cada variável em

relação à QTobin.

Diferentemente do esperado, a variável independente, objeto dessa segunda parte da

pesquisa (Hedge), apresentou associação negativa em relação a QTobin, porém de forma não

significativa, por conta do seu p-value ter ficado em 14,6%, acima do nível de significância

estabelecido para esse estudo. Esse resultado pode ser explicado por conta de 2015 ter sido um

ano de alta volatilidade na cotação da moeda norte-americana, nas taxas de juros e nos preços

de algumas commodities, os quais resultaram em maior volatilidade no valor justo das posições

de derivativos não designados para hedge accounting, gerando assim resultados inesperados,

impactado negativamente em valor.

Semelhantemente aos resultados encontrados por Serafini (2009), a hipótese de que a

utilização de derivativos com finalidade de hedge impacta positivamente o valor das empresas

não foi confirmada neste estudo. No entanto tal associação negativa não pode ser considerada

como estatisticamente significativa.

Uma vez analisado como as operações de hedge estiveram associadas a valor em 2015,

a seguir serão analisados os efeitos que as variáveis de controle Governança, Tamanho,

Rentabilidade e Alavancagem tiveram na criação de valor das empresas pesquisadas.

Diferentemente do que ocorreu com o caso do Hedge, a variável Governança

demonstrou associação positiva em relação a QTobin, como esperado, porém de forma não

significativa, por conta do seu p-value ter ficado a 9,9%. Tal associação positiva pode ser

explicada pela assunção de que uma empresa com um alto nível de governança como o exigido

para as companhias listadas no segmento Novo Mercado possui uma administração

normalmente profissional, com um alto nível de accountability e de prestação de contas ao

conselho de administração, resultando em uma melhor gestão de seus recursos e na possível

criação de valor para o acionista.

Page 93: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

93

Já a variável Tamanho apresentou associação negativa com QTobin, o que não era

esperado de início para neste estudo. Entretanto os resultados se mostraram significativamente

estatísticos, com p-value de 3,7%, abaixo do nível de significância estabelecido para este

trabalho. Como já visto na Figura 5, o Ibovespa sofreu alta volatilidade e perda líquida de valor

em 2015. Uma vez que esse índice contempla as ações das empresas mais negociadas da

BM&FBovespa, e que as maiores empresas brasileiras fazem parte de sua composição, faz

sentido que alguém considere que, para um ano como esse, o tamanho das empresas possa ter

associação negativa com valor. Importa aqui ressaltar que não foi analisada a qualidade dos

ativos nesse cálculo, mas apenas a inclusão dos ativos totais na regressão.

A próxima variável, a Rentabilidade, apresentou associação positiva, mas não

significativa em relação a QTobin. Um dado que chama a atenção aqui é o valor do seu p-value

de 88,7%, muito superior ao nível de significância definido para este estudo. Tal associação

positiva era esperada, porém o alto valor do seu p-value não permitiria inferir sobre tal

associação, por causa da baixa probabilidade de rejeição da hipótese nula para esse caso.

Em uma situação normal na economia de um país, espera-se que uma empresa rentável

gere mais valor do que uma companhia com baixa rentabilidade. Entretanto, em um período de

crise, alguns fatores macroeconômicos como os já mencionados podem contribuir na perda de

valor econômico em uma companhia mesmo ela sendo rentável, por conta da expectativa que

os investidores têm sobre os seus resultados futuros, os quais se converteriam em menores

fluxos de caixa na forma de dividendos. Possivelmente este tenha sido um dos fatores

responsáveis pela falta de significância estatística dessa variável.

A última variável independente dessa regressão, a Alavancagem, apresentou associação

positiva, o que era esperado, mas ao mesmo tempo significativa à variável dependente QTobin,

com p-value de 0%, rejeitando dessa maneira a hipótese nula. Esse resultado confirma a

proposição de que a estrutura de capital de uma empresa pode impactar o seu valor,

principalmente no que diz respeito à alavancagem, uma vez que companhias altamente

alavancadas utilizam capital de terceiros para financiar a sua produção, podendo com isso

aumentar o seu faturamento e ao mesmo tempo gerar benefício fiscal pela dedutibilidade da

despesa de juros nas suas bases de tributos sobre o lucro, o que pode resultar na criação de valor

para o acionista pela combinação desses dois fatores.

A partir desse momento serão analisadas as variáveis adicionais com efeito

multiplicativo de Hedge com as variáveis Tamanho, Rentabilidade e Alavancagem.

A linha com a variável Hedge x Tamanho tem como pretensão demonstrar se o tamanho

das empresas que utilizaram hedge com derivativos em 2015 está associado à criação de valor.

Page 94: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

94

Observa-se que tal variável possui associação positiva com QTobin, porém não significativa

por conta do seu p-value de 8,1%. As Notas Explicativas de algumas grandes empresas que

utilizam operações de hedge demonstram que elas possuem um alto nível de proteção dos riscos

contidos em seus balanços como moedas, taxas de juros e commodities. Tal situação pode ter

contribuído para a criação de valor, uma vez que esse tipo de comportamento demonstra ao

acionista que ele pode esperar que uma empresa como esta continue com um alto faturamento

por conta do seu tamanho e ao mesmo tempo uma menor volatilidade dos seus retornos.

Já a linha Hedge x Rentabilidade tem como propósito verificar se o nível de

rentabilidade das empresas que fazem hedge está associado à criação de valor. Da mesma

maneira como observado na linha anterior, o resultado da regressão demonstra que tal variável

está positivamente associada a QTobin, porém de forma não significativa em razão do seu p-

value de 21,7%. Esse resultado pode ser justificado pela premissa de que empresas altamente

rentáveis que utilizam derivativos em operações de hedge têm menor volatilidade em seus

retornos, o que contribui para um aumento de seu valor por conta da percepção, por parte do

acionista, de que os fluxos de caixa esperados de dividendos não sofram alterações

significativas em virtude das operações de proteção.

A última variável, a saber, Hedge x Alavancagem, pretende apontar se o grau de

alavancagem de uma companhia que utiliza hedge está associado à criação de valor.

Diferentemente do que ocorreu com as últimas duas linhas, essa variável apresentou associação

negativa à QTobin, porém de forma não significativa, em razão do seu p-value de 24,4%. Isso

não era esperado, porém uma possível explicação para esse resultado reside na presunção de

que ao entrarem em operações com derivativos, o spread cobrado pelos bancos aumenta ainda

mais as despesas de juros nessas empresas, o que pode comprometer os fluxos de caixa

esperados na forma de dividendos para o futuro.

Sumarizando os resultados mais relevantes da Tabela 10, é possível depreender, a partir

de tais resultados, que a utilização de instrumentos derivativos em operações de hedge não está

positivamente associada à criação de valor nas companhias pesquisadas em um ano de crise

como o de 2015. Entretanto, como já colocado antes, esses resultados não foram significativos.

Tais resultados divergem daqueles apresentados nos estudos realizados por Allayannis e

Weston (2001); Belghitar, Clark e Mefteh (2013); Machado (2007); e Ribeiro, Machado e Rossi

Júnior (2013), os quais inferiram com base nos resultados de suas pesquisas que a utilização de

hedge com derivativos está positivamente associada à criação de valor nas empresas

pesquisadas.

Page 95: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

95

Na mesma direção, porém, com um resultado estatisticamente significativo, é possível

inferir que nesse mesmo período o tamanho das companhias pesquisadas está negativamente

associado à criação de valor. Já o mesmo não se pode afirmar em relação à alavancagem das

empresas, a qual demonstrou associação positiva e significativa com valor. As demais variáveis

não mostraram significância estatística.

Ao final dessa análise, foi possível observar com muita clareza nos resultados da

regressão, demonstrados na Tabela 10, que seis das oito variáveis estudadas apresentam valores

de p-value acima do nível de significância de 5% estabelecido para este trabalho. Tal

comportamento não era esperado no início desta pesquisa. No entanto, ao analisar as razões que

fizeram de 2015 um ano tão danoso para a economia do País, como já colocado no decorrer

deste capítulo, compreende-se que, em um cenário como esse, os resultados apresentados não

sejam conclusivos em termos estatísticos, por conta principalmente da alta volatilidade dos

principais itens protegidos pelas empresas e das ações negociadas na BM&FBovespa no mesmo

período, como se viu no transcorrer deste capítulo.

Page 96: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

96

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo verificar a relação entre a utilização de instrumentos

derivativos para fins de hedge com a redução da volatilidade dos resultados e a criação de valor

das companhias brasileiras. Para isso foram pesquisadas 223 empresas não-financeiras listadas

na BM&FBovespa, representando 96,5% do valor total de mercado e 85,8% da quantidade de

empresas não-financeiras negociadas na bolsa brasileira. O período pesquisado foi o ano de

2015, no qual uma profunda crise econômica se instalou no País. Os referidos dados foram

coletados a partir das bases de dados da Economatica e da BM&FBovespa e o software

utilizado para os cálculos e modelagens estatísticos foi o SPSS.

Primeiramente foi analisada a volatilidade dos resultados das companhias pesquisadas,

medida pelo desvio-padrão do retorno anual sobre o patrimônio líquido (ROE) em 2015.

É oportuno aqui destacar que as empresas que fizeram parte da amostra possuem

realidades distintas, como tamanhos, estruturas de capital, além de terem situação financeira

diferente uma das outras, questões estas que podem impactar significativamente os seus

resultados e consequentemente os seus retornos, principalmente tendo em vista um ano de crise

como ocorreu em 2015. Os setores aos quais as empresas fazem parte podem igualmente trazer

impactos distintos em momentos como esse, sendo que alguns sofreriam mais neste momento,

como os setores de bens de consumo e de capital, e outros nem tanto, como os de bens não-

duráveis ou de itens de primeira necessidade. Independentemente dessas questões, uma vez que

houve queda no PIB de 3,6% em 2015, é incerto afirmar que alguma empresa ou setor estão

imunes a ter um ano ruim para os seus negócios.

Uma vez elucidadas as questões acima, pode-se partir para os resultados apresentados,

os quais demonstram que as empresas usuárias de instrumentos derivativos com finalidade de

hedge ao longo do ano de 2015 tiveram volatilidade do ROE de 91,39% contra uma volatilidade

de 158,02% para as empresas que não fizeram uso de tais operações no mesmo período. No

entanto, tais resultados não se mostraram significativos através do teste de Levene ao nível de

significância de 5%.

Alguns fatores podem explicar a falta de significância estatística de tais resultados. Em

2015 houve uma forte retração na economia, diminuindo, por exemplo, o nível de receitas de

uma companhia e consequentemente o seu ROE, sendo que esse tipo de situação pode ocorrido

Page 97: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

97

tanto com empresas que utilizaram hedge como para as que não possuíam tais operações no ano

de 2015.

Outra situação que pode ter contribuído para os tais resultados se refere à perda do grau

de investimento do País pelas maiores agências de rating do mundo. Esse fato acabou por

contribuir para que os investimentos realizados no País fossem considerados na categoria de

especulação, com alto risco, resultando em uma elevação no custo dos juros pelas empresas

brasileiras que tomam créditos externos, impactando negativamente os seus resultados,

independentemente se fizeram hedge ou não.

Por último, empresas exportadoras ou que possuíam importações altamente prováveis

que não adotaram a sistemática de hedge accounting podem ter sofrido alta volatilidade em

seus resultados por conta de aumentos consideráveis no valor justo dos derivativos (resultado

da forte valorização da moeda norte-americana no segundo semestre de 2015), em momento

que antecede ao reconhecimento dos efeitos dos itens protegidos em seus resultados. Essa

situação pode ter contribuído para que mesmo as empresas que fizeram hedge tivessem uma

considerável volatilidade em seus resultados.

Dessa forma, a hipótese de que a utilização de hedge com derivativos contribui para a

redução da volatilidade dos resultados das companhias foi confirmada, mesmo considerando

um período de crise econômica. Entretanto tais resultados não se mostraram estatisticamente

significativos.

Em um segundo momento, foi verificada se a utilização de derivativos para fins de

hedge está positivamente associada à criação de valor nas companhias pesquisadas para o

mesmo período. Para isso foi realizado um cálculo de regressão linear múltipla e assim apurado

como a variável dependente quantitativa de valor se comportou em relação à variável

independente de utilização de hedge e em relação às variáveis de controle de Governança,

Tamanho, Rentabilidade e Alavancagem. Adicionalmente foram incluídas nessa regressão o

efeito multiplicativo que a variável independente, em conjunto com as variáveis de controle de

Tamanho, Rentabilidade e Alavancagem, tem sobre a variável dependente de valor.

Semelhantemente ao que foi mencionado em relação ao estudo da volatilidade, as

distintas realidades de cada empresa (saúde financeira, estrutura de capital, política de

pagamentos de dividendos, market share, lucratividade, etc.) podem gerar impactos que, em

última instância, resultem na mudança da expectativa que um dado investidor tem sobre os

fluxos de caixa futuros de uma empresa, podendo assim impactar diretamente o seu valor

econômico e consequentemente o valor de sua ação negociada na bolsa. Adicionalmente, em

um cenário de redução de PIB, de aumentos no custo de capital e na taxa de desemprego e de

Page 98: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

98

incerteza quanto aos retornos de uma companhia, é natural de se esperar que tais eventos sejam

precificados pelos agentes participantes do mercado. Questões macroeconômicas como essas

podem gerar impactos negativos reais nos preços das ações listadas em bolsa, como o ocorrido

em 2015, com alta volatilidade no Ibovespa e perda de valor desse índice ao longo de todo o

período.

Uma vez esclarecidos esses pontos, pode-se descrever os principais resultados

apresentados no cálculo da regressão linear múltipla realizada neste trabalho.

Diferentemente do que se esperava de início, a variável independente de interesse, a

saber, hedge, apresentou associação negativa em relação a valor, contudo tais resultados não se

mostraram estatisticamente significativos. Uma possível explicação para esse resultado é a alta

volatilidade na cotação da moeda norte-americana, nas taxas de juros e nos preços de algumas

commodities, os quais geram uma maior volatilidade no valor justo das posições de derivativos

não designados para hedge accounting, produzindo dessa maneira resultados inesperados,

impactado negativamente em valor.

Semelhantemente aos resultados encontrados por Serafini (2009) e diferentemente

daqueles identificados por Allayannis e Weston (2001); Belghitar, Clark e Mefteh (2013);

Machado (2007); e Ribeiro, Machado e Rossi Júnior (2013), a hipótese inicial de que a

utilização de derivativos com finalidade de hedge impacta positivamente o valor das empresas

não foi confirmada neste estudo. Levando-se em consideração a análise qualitativa

contemplada, os resultados mencionados levam ao entendimento de que as operações de hedge

com derivativos não contribuem para a criação de valor em uma companhia em um momento

de crise econômica.

Na mesma direção, porém, com um resultado estatisticamente significativo, é possível

inferir que, no ano de 2015, o tamanho das companhias pesquisadas está negativamente

associado à criação de valor. No entanto não é possível afirmar o mesmo em relação à

alavancagem das empresas, a qual demonstrou associação positiva e significativa com valor.

Os resultados das demais variáveis não se mostraram significativos.

Ao final desta análise, algo que pode ser claramente observado na regressão realizada é

o fato de seis das oito variáveis estudadas apresentarem valores de p-value acima do nível de

significância de 5% estabelecido para este trabalho. Tal comportamento pode ser explicado por

conta principalmente da alta volatilidade dos principais itens protegidos pelas empresas e das

ações negociadas na BM&FBovespa no mesmo período, como se viu no decorrer do capítulo

anterior.

Page 99: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

99

Por fim, os resultados apresentados neste trabalho não permitiram inferir que as

operações de hedge realizadas ao longo de 2015 contribuíram significativamente para a redução

da volatilidade dos retornos nem que tais operações estão associadas à criação de valor nas

companhias pesquisadas.

Page 100: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

100

REFERÊNCIAS

ALLAYANNIS, George; LEL, Ugur; MILLER, Darius P. The use of foreign currency

derivatives, corporate governance, and firm value around the world. Journal of International

Economics, 87, p. 65-79, 2012.

ALLAYANNIS, George; WESTON, James P. The use of foreign currency derivatives and firm

market value. The Review of Financial Studies, Spring, v. 14, n. 1, p. 243-276, 2001.

ASSAF NETO, Alexandre. Mercado financeiro. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2014a.

______. Valuation: métricas de valor & avaliação de empresas. São Paulo: Atlas, 2014b.

BACEN. Relatório de Inflação. v. 17, n. 4, p. 1-109, dez./ 2015. Disponível em:

<http://www.bcb.gov.br/htms/relinf/port/2015/12/ri201512P.pdf>. Acesso em: 6 dez. 2016.

BELGHITAR, Yacine; CLARK, Ephraim; MEFTEH, Salma. Foreign currency derivative use

and shareholder value. International Review of Financial Analysis, 29, p. 283–293, 2013.

BERNSTEIN, Peter L. Desafio aos deuses: a fascinante história do risco. Rio de Janeiro:

Campus, 1997.

BRASIL. Lei 6.404 de 15 de dezembro de 1976. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6404compilada.htm>. Acesso em: 23 ago. 2016.

______. Lei 12.543 de 8 de dezembro de 2011. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12543.htm>. Acesso em:

28 ago. 2016.

CARVALHO FILHO, Irineu. Retrospectiva: por que 2015 foi inesquecível na economia?

Exame.com, 26 dez/ 2015. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/economia/

retrospectiva-por-que-2015-foi-inesquecivel/>. Acesso em: 26 nov. 2016.

CHIQUETO, Fernando. Hedge Accounting no Brasil. 2014. 151 f. Tese (Doutorado em

Ciências Contábeis) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade

de São Paulo, São Paulo.

Page 101: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

101

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS – ORIENTAÇÃO TÉCNICA OCPC 03.

Instrumentos financeiros: reconhecimento, mensuração e evidenciação. Disponível em

<http://static.cpc.mediagroup.com.br/Documentos/135_OCPC_03.pdf>. Acesso em 24 ago.

2016.

______ – PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 14. Instrumentos financeiros:

reconhecimento, mensuração e evidenciação: correlação às normas internacionais de

contabilidade – IAS 39 e IAS 32 (IASB) (partes). Disponível em

<http://static.cpc.mediagroup.com.br/Documentos/227_CPC_14.pdf>. Acesso em 24 ago.

2016.

______ – PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 38. Instrumentos financeiros:

reconhecimento e mensuração: correlação às normas internacionais de contabilidade – IAS 39.

Disponível em <http://static.cpc.mediagroup.com.br/Documentos/406_CPC_38_rev%

2004%20e%2005.pdf>. Acesso em 24 ago. 2016.

______ – PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 39. Instrumentos financeiros:

apresentação: correlação às normas internacionais de contabilidade – IAS 32. Disponível em

<http://static.cpc.mediagroup.com.br/Documentos/410_CPC_39_rev%2004.pdf>. Acesso em

24 ago. 2016.

______ – PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 40 (R1). Instrumentos financeiros:

evidenciação: correlação às normas internacionais de contabilidade – IFRS 7. Disponível em:

<http://static.cpc.mediagroup.com.br/Documentos/418_CPC_40_R1_rev%2004.pdf>. Acesso

em 24 ago. 2016.

INTERNATIONAL FINANCE CORPORATION. Practical guide to corporate governance:

experiences from the Latin American companies circle. Washington: International Finance

Corporation FC, 2009. Disponível em:

<https://www.oecd.org/daf/ca/corporategovernanceprinciples/43653645.pdf>. Acesso em 26

nov. 2016.

DAMODARAN, Aswath. Corporate finance: theory and practice. New York: John Wiley &

Sons, 1997.

______. Gestao estrategica do risco: uma referencia para a tomada de riscos empresariais.

Porto Alegre: Bookman, 2009.

FAMÁ, Rubens; BARROS, Lucas Ayres B.C. Q de Tobin e seu uso em finanças: aspectos

metodológicos e conceituais. Caderno de Pesquisas em Administração, v. 07, n. 4, p. 27-43,

out/dez 2000.

Page 102: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

102

FÁVERO, Luis Paulo. Análise de dados. 1a. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.

______; BELFIORE, Patrícia; SILVA, LOPES, Fabiana; CHAN, Betty Lilian. Análise de

dados: modelagem multivariada para tomada de decisões. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

FIELD, Andy. Descobrindo a estatística usando o SPSS [recurso eletrônico]. 2a. ed. Dados

eletrônicos. Porto Alegre: Artmed, 2009.

GASTWIRTH, Joseph L.; GEL, Yulia R.; MIAO, Weiwen. The impact of Levene's test of

equality of variances on statistical theory and practice. Statistical Science, 24(3), p. 343-360,

2009.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5a. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

GOBETTI, Gregory; PERDIGÃO, Eduardo Braga; BREHMER, Thiago Kurt de Almeida

Costa; LOPES, Alexsandro Broedel. Instrumentos Financeiros. In ERNST & YOUNG;

FIPECAFI. Manual de normas internacionais de contabilidade: IFRS versus normas

brasileiras. 2a. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

HULL, John C. Fundamentos dos mercados futuros e de opções. 4a. ed. São Paulo: Bolsa de

Mercadorias & Futuros, 2005.

IUDÍCIBUS, Sérgio. Teoria da Contabilidade. 10a. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

______; MARTINS, Eliseu. Uma investigação e uma proposição sobre o conceito e o uso do

valor justo. Revista Contabilidade & Finanças USP, São Paulo, edição 30 anos de doutorado,

p. 9 - 18, junho 2007.

KNIGHT, Frank H. Risk, uncertainty and profits. Boston: Houghton Mifflin, 1921.

JORION, Philippe. Value at risk: the new benchmark for managing financial risk. 3a. ed.

New York: McGraw-Hill, 2007.

LEL, Ugur. Currency hedging and corporate governance: a cross-country analysis. Journal of

Corporate Finance, 18, p. 221–237, 2012.

Page 103: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

103

LOPES, Alexsandro Broedel; GALDI, Fernando Caio; LIMA, Iran Siqueira. Manual de

contabilidade e tributação de instrumentos financeiros e derivativos: (CPC 38, CPC 39,

CPC 40, OCPC 3, IAS 39, IAS 32, IFRS 7, normas da Comissão de Valores Mobiliários, do

Banco Central do Brasil e da Receita Federal do Brasil). 2a. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

______; LIMA, Iran Siqueira. Perspectivas para a pesquisa em contabilidade: o impacto dos

derivativos. Revista Contabilidade & Finanças FIPECAFI – FEA – USP, São Paulo,

Fipecafi, v. 15, n. 26, p. 25-41, maio/ago. 2001.

LOPES, João Luiz Guillaumon. Gestão de risco e especulação com derivativos cambiais.

2010. 73f. Dissertação (Mestrado Profissional em Finanças e Economia) – Escola de Economia

de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, São Paulo.

______; SCHIOZER, Rafael Felipe; SHENG, Hsia Hua. Hedge e especulação com derivativos

cambiais: evidências de operações cotidianas. RAC – Revista de Administração

Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 17, n. 4, p. 438-458, jul./ago. 2013.

LORENZEN, Felipe. Análise da eficácia das operações de hedge cambial de companhias

abertas brasileiras. 2011. 125f. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis) – Faculdade

de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.

MACHADO, Gustavo C. Hedge cambial aumenta o valor de mercado das firmas?:

evidências do caso brasileiro. 2007. 35f. Dissertação (Mestrado Profissionalizante em Finanças

e Economia Empresarial) – Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio

Vargas, Rio de Janeiro.

MANO, Erifili. The impact of the derivative’s use, as a hedging instrument, in the

European banking sector. 2013. 53f. Master Thesis (Master’s degree, Finance) – Tilburg

University - Faculty of Economics and Business Administration, Tilburg.

MARION, José Carlos. Contabilidade Empresarial. 17a. ed. São Paulo: Atlas, 2015.

MARKOWITZ, Harry. Portfolio Selection. The Journal of Finance, v. 7, n. 1, p. 77-91,

mar./1952.

MARTINS, Eliseu; GELBCKE, Ernesto Rubens; SANTOS, Ariovaldo; IUDÍCIBUS, Sérgio.

Manual de Contabilidade Societária. 2a. ed. São Paulo: Atlas, 2013.

MARTINS, Gilberto de Andrade; DOMINGUES, Osmar. Estatística geral e aplicada. 5a. ed.

rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2014.

Page 104: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

104

MARTINS, Gilberto de Andrade; THEÓPHILO, Carlos Renato. Metodologia da investigação

científica para ciências sociais aplicadas. 2a. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

OLIVEIRA, Antonio Benedito Silva. Controladoria: fundamentos do controle empresarial.

2a. ed. São Paulo: Saraiva. 2014.

OLIVEIRA, Darcio. Profissão de risco. Época Negócios, p. 76-85, out./2010.

RIBEIRO, Philippe Lemes; MACHADO, Sérgio Jurandyr; ROSSI JÚNIOR, José Luiz. Swap,

futuro e opções: impacto do uso de instrumentos derivativos sobre o valor das firmas brasileiras.

RAM, Rev. Adm. Mackenzie, v. 14, n. 1, p. 126-142, 2013.

ROUNTREE, Brian; WESTON, James P.; ALLAYANNIS, George. Do investors value smooth

performance?. Journal of Financial Economics, 90, p. 237-251, 2008.

SANTOS, José Odálio. Valuation: um guia prático: metodologias e técnicas para análise de

investimentos e determinação do valor financeiro de empresas. São Paulo: Saraiva, 2011.

SECURATO, José Roberto (Org.). Cálculo financeiro da tesourarias: bancos e empresas. São

Paulo: Saint Paul, 2015.

______; SECURATO, José Cláudio; OLIVO, Rodolfo Leandro de Faria. Mercado de

Derivativos. In SECURATO, José Roberto; SECURATO, José Cláudio (coords.). Mercado

Financeiro: conceitos, cálculo e análise de investimento. São Paulo: Saint Paul Editora, 2007.

SERAFINI, Danilo Guedine. O uso de derivativos da taxa de câmbio e o valor de mercado

das empresas: um estudo sobre o pass-through no mercado de ações brasileiros. 2009. 43f.

Dissertação (Mestrado Profissional em Finanças e Economia Empresarial) – Escola de

Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, São Paulo.

SOUZA, Ênio Bonafé Mendonça. Mensuração e evidenciação contábil do risco financeiro

de derivativos. 2015. 255f. Tese (Doutorado em Ciências Contábeis) – Faculdade de

Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.

STEVENSON, William J. Estatística aplicada à administração. São Paulo: Editora Harbra,

2001.

Page 105: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

105

TSUJI, Bruno. Gerenciamento de risco e valor no Brasil: um estudo empírico. 2011. 33f.

Dissertação (Mestrado em Finanças e Economia Empresarial) – Escola de Economia de São

Paulo da Fundação Getúlio Vargas, São Paulo.

WILMOTT, Paul. Paul Wilmott on quantitative finance. 2a. ed. West Sussex: John Wiley &

Sons, 2006.

______. Paul Wilmott introduces quantitative finance. 2a. ed. West Sussex: John Wiley &

Sons, 2007.

WOOLDRIDGE, Jeffrey M. Introductory econometrics: a modern approach. 5a. ed. South-

Western Cengage Learning, 2012.

WU, Márcio Jolhben. A política de hedge para o controle de risco nas instituições não-

financeiras utilizando opções de compra. 2006. 120f. Dissertação (Mestrado em

Administração) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de

São Paulo, São Paulo.

Page 106: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

APÊNDICES

APÊNDICE A – Dados coletados da base da Economatica em 1 de setembro de 2016 as

21h21

Dados Características dos Dados

Nome -

CNPJ -

Setor

Economatica -

Setor NAICS

ult disponiv -

Bolsa -

Lucro Liq em moeda orig; em milhares; de 3 meses; consolid:sim*

Ativo Tot em moeda orig; em milhares; consolid:sim*

Patrim Liq em moeda orig; em milhares; consolid:sim*

Valor

Mercado da

empresa

em moeda orig; em milhares

PasNoCir em moeda orig; em milhares; consolid:sim* Fonte: Elaborado pelo autor.

Page 107: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

APÊNDICE B – Demonstrativo das empresas constantes da amostra

Núm. Nome CNPJ Setor

Economatica

Setor NAICS

ult disponiv

1 Aco Altona 82643537000134 Siderur & Metalur Transformação de aço em produtos de aço

2 AES Elpa 01917705000130 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

3 Alfa Holding 17167396000169 Outros Administração de empresas e empreendimentos

4 Aliansce 06082980000103 Outros Locadora de imóveis

5 Alpargatas 61079117000105 Textil Indústria de calçados

6 Alupar 08364948000138 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

7 Ambev S/A 07526557000100 Alimentos e Beb Indústria de bebidas

8 Ampla Energ 33050071000158 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

9 Anima 09288252000132 Outros Educacão

10 Arezzo Co 16590234000176 Textil Indústria de calçados

11 Arteris 02919555000167 Transporte Serviç Atividades auxiliares ao transporte rodoviário

12 Azevedo 61351532000168 Construção Outras construções pesadas

13 B2W Digital 00776574000156 Comércio Vendas por correio ou meio eletrônico

14 Bahema 45987245000192 Outros Administração de empresas e empreendimentos

15 Bardella 60851615000153 Máquinas Indust Industria de máquinas agrícolas, de construção e mineração

16 Baumer 61374161000130 Outros Indústria de equipamentos e materiais para uso médico

17 Bic Monark 56992423000190 Veiculos e peças Indústria de outros equipamentos de transporte

18 Biomm 04752991000110 Outros Pesquisa científica

19 Biosev 15527906000136 Agro e Pesca Agricultura

20 Bombril 50564053000103 Química Indústria de artigos de limpeza

21 BR Brokers 08613550000198 Outros Atividades relacionadas a imóveis

22 BR Malls Par 06977745000191 Outros Locadora de imóveis

23 BR Pharma 11395624000171 Comércio Loja de artigos para saúde e cuidados pessoais

24 BR Propert 06977751000149 Outros Locadora de imóveis

25 Bradespar 03847461000192 Outros Administração de empresas e empreendimentos

26 Brasilagro 07628528000159 Agro e Pesca Agricultura

27 Braskem 42150391000170 Química Indústria química

28 Brasmotor 61084984000120 Eletroeletrônicos Indústria de eletrodomésticos

29 BRF SA 01838723000127 Alimentos e Beb Abatedouros

30 CCR SA 02846056000197 Transporte Serviç Atividades auxiliares ao transporte rodoviário

31 Ceb 00070698000111 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

32 Ceee-Gt 92715812000131 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

33 Celesc 83878892000155 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

34 Celpa 04895728000180 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

35 Celul Irani 92791243000103 Papel e Celulose Indústria de papel, celulose e papelão

36 Cemar 06272793000184 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

37 Cemig 17155730000164 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

38 Cesp 60933603000178 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

39 Cia Hering 78876950000171 Textil Indústria de roupas de malha

40 Cielo 01027058000191 Software e Dados Serviços de processamento de dados

41 Coelba 15139629000194 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

42 Coelce 07047251000170 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

43 Comgas 61856571000117 Petróleo e Gas Distribuição de gas natural

44 Contax 04032433000180 Outros Serviços de apoio a empresas

45 Copasa 17281106000103 Outros Agua, esgoto e outros sistemas

46 Copel 76483817000120 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

47 Cosan 50746577000115 Alimentos e Beb Indústria de açúcar e produtos de confeitaria

48 Cosan Log 17346997000139 Transporte Serviç Transporte ferroviário

49 Cosern 08324196000181 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

Page 108: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

50 Coteminas 22677520000176 Textil Indústria de roupas de tecido

51 CPFL Energia 02429144000193 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

52 CPFL Renovav 08439659000150 Energia Elétrica Empresa de eletricidade, gas e agua

53 Cr2 07820907000146 Construção Construção de edifícios residenciais

54 Cremer 82641325000118 Outros Indústria de equipamentos e materiais para uso médico

55 Cristal 15115504000124 Química Indústria química

56 Csu Cardsyst 01896779000138 Outros Serviços de apoio a empresas

57 Cvc Brasil 10760260000119 Transporte Serviç Transporte turístico

58 Cyre Com-Ccp 08801621000186 Outros Locadora de imóveis

59 Cyrela Realt 73178600000118 Construção Construção de edifícios residenciais

60 Dasa 61486650000183 Outros Laboratório de exames médicos

61 Dimed 92665611000177 Comércio Loja de artigos para saúde e cuidados pessoais

62 Direcional 16614075000100 Construção Construção de edifícios residenciais

63 Dohler 84683408000103 Textil Indústria de roupas de tecido

64 Dtcom Direct 03303999000136 Outros Outros tipos de escolas

65 Duratex 97837181000147 Outros Indústria de móveis e afins

66 Ecorodovias 04149454000180 Transporte Serviç Atividades auxiliares ao transporte rodoviário

67 Elektro 02328280000197 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

68 Eletrobras 00001180000126 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

69 Eletropaulo 61695227000193 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

70 Emae 02302101000142 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

71 Embraer 07689002000189 Veiculos e peças Indústria de equipamentos aeroespacias

72 Energias BR 03983431000103 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

73 Energisa 00864214000106 Energia Elétrica Empresa de eletricidade, gas e agua

74 Energisa Mt 03467321000199 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

75 Eneva 04423567000121 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

76 Engie Brasil 02474103000119 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

77 Equatorial 03220438000173 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

78 Estacio Part 08807432000110 Outros Escola de ensino superior

79 Estrela 61082004000150 Outros Outras indústrias

80 Eternit 61092037000181 Minerais não Met Indústria de outros produtos de minerais não metálicos

81 Eucatex 56643018000166 Outros Indústria de produtos de madeira compensada e afins

82 Even 43470988000165 Construção Construção de edifícios residenciais

83 Excelsior 95426862000197 Alimentos e Beb Outras indústrias de alimentos

84 Eztec 08312229000173 Construção Construção de edifícios residenciais

85 Fer Heringer 22266175000188 Química Indústria de fertilizantes e pesticidas

86 Ferbasa 15141799000103 Siderur & Metalur Fundição

87 Fibria 60643228000121 Papel e Celulose Indústria de papel, celulose e papelão

88 Fleury 60840055000131 Outros Laboratório de exames médicos

89 Fras-Le 88610126000129 Veiculos e peças Indústria de autopeças

90 Gafisa 01545826000107 Construção Construção de edifícios residenciais

91 Generalshopp 08764621000153 Outros Locadora de imóveis

92 Ger Paranap 02998301000181 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

93 Gerdau 33611500000119 Siderur & Metalur Transformação de aço em produtos de aço

94 Gerdau Met 92690783000109 Siderur & Metalur Transformação de aço em produtos de aço

95 Gol 06164253000187 Transporte Serviç Transporte aéreo regular

96 GPC Part 02193750000152 Outros Administração de empresas e empreendimentos

97 Grazziotin 92012467000170 Comércio Loja de roupas

98 Grendene 89850341000160 Textil Indústria de calçados

99 Guararapes 08402943000152 Textil Indústria de roupas de tecido

100 Habitasul 87762563000103 Outros Administração de empresas e empreendimentos

101 Haga S/A 30540991000166 Siderur & Metalur Indústria de ferragens

Page 109: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

102 Helbor 49263189000102 Construção Construção de edifícios residenciais

103 Hoteis Othon 33200049000147 Outros Hotel, motel ou similar

104 Ideiasnet 02365069000144 Outros Administração de empresas e empreendimentos

105 IGB S/A 43185362000107 Eletroeletrônicos Indústria de equipamentos de audio e video

106 Iguatemi 51218147000193 Outros Locadora de imóveis

107 Imc S/A 17314329000120 Comércio Loja de comida e bebida

108 Inds Romi 56720428000163 Máquinas Indust Indústria de máquinas indústriais

109 Inepar 76627504000106 Outros Outras indústrias

110 Iochp-Maxion 61156113000175 Veiculos e peças Indústria de autopeças

111 Itausa 61532644000115 Outros Administração de empresas e empreendimentos

112 JBS 02916265000160 Alimentos e Beb Abatedouros

113 Jereissati 60543816000193 Outros Administração de empresas e empreendimentos

114 JHSF Part 08294224000165 Construção Construção e empreendimentos imobiliarios

115 Josapar 87456562000122 Alimentos e Beb Moinho de grãos

116 JSL 52548435000179 Transporte Serviç Transporte rodoviário

117 Karsten 82640558000104 Textil Indústria de roupas de tecido

118 Kepler Weber 91983056000169 Siderur & Metalur Indústria de estruturas metálicas

119 Klabin S/A 89637490000145 Papel e Celulose Indústria de papel, celulose e papelão

120 Kroton 02800026000140 Outros Educacão

121 Le Lis Blanc 49669856000143 Textil Tecelagens

122 Light S/A 03378521000175 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

123 Linx 06948969000175 Software e Dados Editoras de software

124 Lix da Cunha 46014635000149 Construção Outras construções pesadas

125 Localiza 16670085000155 Outros Locadora de automóveis

126 Locamerica 10215988000160 Outros Locadora de automóveis

127 Log-In 42278291000124 Transporte Serviç Atividades auxiliares ao transporte

128 Lojas Americ 33014556000196 Comércio Loja de departamentos

129 Lojas Marisa 61189288000189 Comércio Loja de roupas

130 Lojas Renner 92754738000162 Comércio Loja de roupas

131 Lopes Brasil 08078847000109 Outros Atividades relacionadas a imóveis

132 M.Diasbranco 07206816000115 Alimentos e Beb Outras indústrias de alimentos

133 Magaz Luiza 47960950000121 Comércio Loja de departamentos

134 Magnesita SA 08684547000165 Mineração Extração de minerais não metálicos

135 Mangels Indl 61065298000102 Siderur & Metalur Forjarias e estamparias

136 Marcopolo 88611835000129 Veiculos e peças Indústria de carrocerias e trailers

137 Marfrig 03853896000140 Alimentos e Beb Abatedouros

138 Metal Iguacu 80227184000166 Siderur & Metalur Outras indústrias de produtos de metal

139 Metal Leve 60476884000187 Veiculos e peças Indústria de autopeças

140 Metisa 86375425000109 Siderur & Metalur Outras indústrias de produtos de metal

141 Mills 27093558000115 Outros Serviços de engenharia e arquitetura

142 Minupar 90076886000140 Alimentos e Beb Abatedouros

143 MRV 08343492000120 Construção Construção de edifícios residenciais

144 Multiplan 07816890000153 Outros Locadora de imóveis

145 Natura 71673990000177 Comércio Comércio atacadista de bens não duráveis variados

146 Nova Oleo 08926302000105 Petróleo e Gas Extração de petróleo e gas

147 Odontoprev 58119199000151 Outros Consultório odontológico

148 Oi 76535764000143 Telecomunicações Telecomunicações

149 OSX Brasil 09112685000132 Veiculos e peças Estaleiros

150 Ourofino S/A 20258278000170 Química Indústria de remédios

151 P.Acucar-Cbd 47508411000156 Comércio Loja de departamentos

152 Panatlantica 92693019000189 Siderur & Metalur Transformação de aço em produtos de aço

153 Par Al Bahia 01938783000111 Outros Administração de empresas e empreendimentos

154 Paranapanema 60398369000126 Siderur & Metalur Outras indústrias de produtos de metal

Page 110: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

155 PDG Realt 02950811000189 Construção Construção de edifícios residenciais

156 Petrobras 33000167000101 Petróleo e Gas Extração de petróleo e gas

157 Petrorio 10629105000168 Petróleo e Gas Extração de petróleo e gas

158 Pettenati 88613658000110 Textil Tecelagens

159 Plascar Part 51928174000150 Veiculos e peças Indústria de autopeças

160 Pomifrutas 86550951000150 Agro e Pesca Cultivo de frutas e nozes

161 Portobello 83475913000191 Minerais não Met Indústria de produtos de cerâmica e refratários

162 Positivo Inf 81243735000148 Eletroeletrônicos Indústria de computadores e periféricos

163 Profarma 45453214000151 Comércio Comércio atacadista de remédios

164 Prumo 08741499000108 Outros Administração de empresas e empreendimentos

165 Qgep Part 11669021000110 Petróleo e Gas Extração de petróleo e gas

166 Qualicorp 11992680000193 Outros Outros serviços ambulatoriais de saúde

167 Randon Part 89086144000116 Veiculos e peças Indústria de carrocerias e trailers

168 Recrusul 91333666000117 Veiculos e peças Indústria de carrocerias e trailers

169 Rede Energia 61584140000149 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

170 Renova 08534605000174 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

171 Rodobensimob 67010660000124 Construção Construção de edifícios residenciais

172 Rossi Resid 61065751000180 Construção Construção de edifícios residenciais

173 Sabesp 43776517000180 Outros Agua, esgoto e outros sistemas

174 Sanepar 76484013000145 Outros Agua, esgoto e outros sistemas

175 Sansuy 14807945000124 Outros Indústria de produtos de plástico

176 Santanense 21255567000189 Textil Tecelagens

177 Santos Brp 02762121000104 Transporte Serviç Atividades auxiliares ao transporte aquático

178 Sao Carlos 29780061000109 Outros Locadora de imóveis

179 Sao Martinho 51466860000156 Alimentos e Beb Indústria de açúcar e produtos de confeitaria

180 Saraiva Livr 60500139000126 Outros Editoras de jornais, livros e base de dados

181 Schulz 84693183000168 Veiculos e peças Indústria de autopeças

182 Senior Sol 04065791000199 Software e Dados Editoras de software

183 Ser Educa 04986320000113 Outros Educacão

184 Sid Nacional 33042730000104 Siderur & Metalur Transformação de aço em produtos de aço

185 Sierrabrasil 05878397000132 Outros Locadora de imóveis

186 SLC Agricola 89096457000155 Agro e Pesca Agricultura

187 Smiles 15912764000120 Outros Outros serviços de apoio

188 Somos Educa 02541982000154 Outros Outros tipos de escolas

189 Sondotecnica 33386210000119 Outros Consultoria administrativa, científica e técnica

190 Springer 92929520000100 Eletroeletrônicos Indústria de eletrodomésticos

191 Springs 07718269000157 Textil Indústria de roupas de tecido

192 Sultepa 89723993000133 Construção Construção de estradas, ruas, pontes e tuneis

193 Suzano Papel 16404287000155 Papel e Celulose Indústria de papel, celulose e papelão

194 Taesa 07859971000130 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

195 Technos 09295063000197 Outros Outras indústrias

196 Tecnisa 08065557000112 Construção Construção de edifícios residenciais

197 Tecnosolo 33111246000190 Outros Consultoria administrativa, científica e técnica

198 Tegma 02351144000118 Transporte Serviç Atividades auxiliares ao transporte

199 Teka 82636986000155 Textil Indústria de roupas de tecido

200 Telebras 00336701000104 Telecomunicações Telecomunicações

201 Telef Brasil 02558157000162 Telecomunicações Telecomunicações

202 Tempo Part 06977739000134 Outros Serviços ambulatoriais de saúde

203 Tereos 11566501000156 Alimentos e Beb Indústria de açúcar e produtos de confeitaria

204 Tim Part S/A 02558115000121 Telecomunicações Telecomunicações

205 Time For Fun 02860694000162 Outros Apresentações artísticas

206 Totvs 53113791000122 Software e Dados Editoras de software

207 Tran Paulist 02998611000104 Energia Elétrica Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica

Page 111: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

208 Trisul 08811643000127 Construção Construção de edifícios residenciais

209 Triunfo Part 03014553000191 Transporte Serviç Atividades auxiliares ao transporte rodoviário

210 Tupy 84683374000149 Veiculos e peças Indústria de autopeças

211 Ultrapar 33256439000139 Química Indústria química

212 Unicasa 90441460000148 Outros Indústria de móveis e afins

213 Unipar 33958695000178 Química Indústria química

214 Usiminas 60894730000105 Siderur & Metalur Transformação de aço em produtos de aço

215 V-Agro 05799312000120 Outros Outras indústrias

216 Vale 33592510000154 Mineração Mineração de metais

217 Viavarejo 33041260065290 Comércio Loja de departamentos

218 Vigor Food 13324184000197 Alimentos e Beb Indústria de laticínios

219 Vulcabras 50926955000142 Textil Indústria de calçados

220 Weg 84429695000111 Máquinas Indust Indústria de motores, turbinas e transmissores de energia

221 Wetzel S/A 84683671000194 Veiculos e peças Indústria de autopeças

222 Whirlpool 59105999000186 Eletroeletrônicos Indústria de eletrodomésticos

223 Wlm Ind Com 33228024000151 Comércio Concessionárias de outros veículos motorizados

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da Economatica.

Page 112: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

APÊNDICE C – Utilização de derivativos para fins de hedge por setor

Setor

Total Hedge = não Hedge = sim

Quant. Perc.

(Total) Quant.

Perc.

(Setor) Quant.

Perc.

(Setor)

Energia Elétrica 32 14,3% 14 43,8% 18 56,3%

Construção 17 7,6% 13 76,5% 4 23,5%

Comércio 14 6,3% 3 21,4% 11 78,6%

Têxtil 14 6,3% 7 50,0% 7 50,0%

Siderur & Metalur 13 5,8% 5 38,5% 8 61,5%

Veículos e peças 13 5,8% 5 38,5% 8 61,5%

Alimentos e Beb 12 5,4% 2 16,7% 10 83,3%

Transporte Serviç 11 4,9% 2 18,2% 9 81,8%

Outros - Administração de empresas e empreendimentos 10 4,5% 6 60,0% 4 40,0%

Outros - Locadora de imóveis 9 4,0% 3 33,3% 6 66,7%

Química 7 3,1% 3 42,9% 4 57,1%

Eletroeletrônicos 5 2,2% 2 40,0% 3 60,0%

Petróleo e Gás 5 2,2% 2 40,0% 3 60,0%

Agro e Pesca 4 1,8% 1 25,0% 3 75,0%

Papel e Celulose 4 1,8% 1 25,0% 3 75,0%

Software e Dados 4 1,8% 3 75,0% 1 25,0%

Telecomunicações 4 1,8% 1 25,0% 3 75,0%

Máquinas Indust 3 1,3% 2 66,7% 1 33,3%

Outros - Agua, esgoto e outros sistemas 3 1,3% 3 100,0% 0 0,0%

Outros - Educação 3 1,3% 2 66,7% 1 33,3%

Outros - Outras indústrias 3 1,3% 2 66,7% 1 33,3%

Mineração 2 0,9% 0 0,0% 2 100,0%

Minerais não Met 2 0,9% 1 50,0% 1 50,0%

Outros - Atividades relacionadas a imóveis 2 0,9% 1 50,0% 1 50,0%

Outros - Consultoria administrativa, científica e técnica 2 0,9% 2 100,0% 0 0,0%

Outros - Indústria de equipamentos e materiais para uso médico 2 0,9% 1 50,0% 1 50,0%

Outros - Indústria de móveis e afins 2 0,9% 1 50,0% 1 50,0%

Outros - Laboratório de exames médicos 2 0,9% 2 100,0% 0 0,0%

Outros - Locadora de automóveis 2 0,9% 0 0,0% 2 100,0%

Outros - Outros tipos de escolas 2 0,9% 2 100,0% 0 0,0%

Outros - Serviços de apoio a empresas 2 0,9% 2 100,0% 0 0,0%

Outros - Apresentações artísticas 1 0,4% 0 0,0% 1 100,0%

Outros - Consultório odontológico 1 0,4% 1 100,0% 0 0,0%

Outros - Editoras de jornais, livros e base de dados 1 0,4% 0 0,0% 1 100,0%

Outros - Escola de ensino superior 1 0,4% 0 0,0% 1 100,0%

Outros - Hotel, motel ou similar 1 0,4% 1 100,0% 0 0,0%

Outros - Indústria de produtos de madeira compensada e afins 1 0,4% 0 0,0% 1 100,0%

Outros - Indústria de produtos de plástico 1 0,4% 1 100,0% 0 0,0%

Outros - Outras indústrias 1 0,4% 0 0,0% 1 100,0%

Outros - Outros serviços ambulatoriais de saúde 1 0,4% 1 100,0% 0 0,0%

Outros - Outros serviços de apoio 1 0,4% 1 100,0% 0 0,0%

Outros - Pesquisa científica 1 0,4% 0 0,0% 1 100,0%

Outros - Serviços ambulatoriais de saúde 1 0,4% 1 100,0% 0 0,0%

Outros - Serviços de engenharia e arquitetura 1 0,4% 0 0,0% 1 100,0%

Total de Companhias 223 100% 100 44,8% 123 55,2%

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da Economatica.

Page 113: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

APÊNDICE D – Relatórios com a estatística descritiva do teste Kolmogorov-Smirnov emitido

pelo SPSS considerando ou não o uso de hedge ao longo de 2015

Descriptives

Statistic Std. Error

Retorno sobre

o PL (ROE)

Anual 2015

(Hedge = não)

Mean -0,150161 0,1580157

95% Confidence Interval for Mean Lower Bound -0,463698

Upper Bound 0,163376

5% Trimmed Mean 0,035641

Median 0,06295

Variance 2,497

Std. Deviation 1,5801572

Minimum -14,999

Maximum 1,5274

Range 16,5264

Interquartile Range 0,124

Skewness -8,613 0,241

Kurtosis 80,747 0,478

Descriptives

Statistic

Std.

Error

Retorno sobre

o PL (ROE)

Anual 2015

(Hedge = sim)

Mean 0,107183 0,082407

95% Confidence Interval for Mean Lower Bound -0,05595

Upper Bound 0,270316

5% Trimmed Mean 0,069763

Median 0,0727

Variance 0,835

Std. Deviation 0,9139377

Minimum -3,8841

Maximum 8,3024

Range 12,1865

Interquartile Range 0,2031

Skewness 5,31 0,218

Kurtosis 56,073 0,433

Page 114: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

APÊNDICE E – Relatório completo emitido pelo SPSS com a regressão linear múltipla de

QTobin em relação a Hedge, às variáveis de controle e às demais variáveis com efeito

multiplicativo

Variables Entered/Removed (a)

Model Variables Entered Variables

Removed Method

1

Hedge x Alavancagem, Governança (0=demais

segmentos; 1 = novo mercado), Rentabilidade = Retorno

sobre o PL (ROE), Alavancagem = Pas.Não-Circulante /

Ativo total, Tamanho = LN do Ativo Total, Hedge x

Rentabilidade, Hedge (0=não;1=sim), Hedge x Tamanho

(b)

. Enter

(a) Dependent Variable: LN do Q de Tobin

(b) All requested variables entered.

Model Summary

Model R R

Square

Adjusted R

Square

Std. Error of the

Estimate

1 ,444 (a) 0,197 0,167 0,4153556

(a) Predictors: (Constant), Hedge x Alavancagem, Governança

(0=demais segmentos; 1 = novo mercado), Rentabilidade = Retorno

sobre o PL (ROE), Alavancagem = Pas.Não-Circulante / Ativo total,

Tamanho = LN do Ativo Total, Hedge x Rentabilidade, Hedge

(0=não;1=sim), Hedge x Tamanho

ANOVA (a)

Model

Sum of

Squares df

Mean

Square F Sig.

1 Regression 9,049 8 1,131 6,557 ,000(b)

Residual 36,919 214 0,173

Total 45,969 222

(a) Dependent Variable: LN do Q de Tobin (b) Predictors: (Constant), Hedge x Alavancagem, Governança (0=demais

segmentos; 1 = novo mercado), Rentabilidade = Retorno sobre o PL (ROE),

Alavancagem = Pas.Não-Circulante / Ativo total, Tamanho = LN do Ativo Total,

Hedge x Rentabilidade, Hedge (0=não;1=sim), Hedge x Tamanho

Page 115: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC …©rio de Paiva... · despendeu um tempo precioso do seu momento de descanso para me ajudar com a parte estatística. Aos amigos

Coefficients (a)

Model Unstandardized

Coefficients

Standardized

Coefficients t Sig.

B Std.

Error Beta

1 (Constant) 0,571 0,373 1,532 0,127

Hedge (0=não;1=sim) -0,792 0,543 -0,868 -1,46 0,146

Governança (0=demais segmentos; 1

= novo mercado) 0,097 0,059 0,107 1,657 0,099

Tamanho = LN do Ativo Total -0,055 0,026 -0,215 -2,1 0,037

Rentabilidade = Retorno sobre o PL

(ROE) 0,004 0,027 0,011 0,142 0,887

Alavancagem = Pas.Não-Circulante /

Ativo total 0,51 0,082 0,418 6,192 0

Hedge x Tamanho 0,064 0,037 1,11 1,752 0,081

Hedge x Rentabilidade 0,062 0,05 0,093 1,239 0,217

Hedge x Alavancagem -0,272 0,233 -0,131 -1,169 0,244

(a) Dependent Variable: LN do Q de Tobin