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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLIDA DE SÃO PAULO
PUC/SP
ANTONIO SÉRGIO DOS SANTOS OLIVEIRA
UMA ENGENHARIA DIDÁTICA PARA O ENSINO DAS
OPERAÇÕES COM NÚMEROS RACIONAIS POR MEIO DE
CALCULADORA PARA O QUINTO ANO DO ENSINO
FUNDAMENTAL
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
SÃO PAULO 2015
ANTONIO SÉRGIO DOS SANTOS OLIVEIRA
UMA ENGENHARIA DIDÁTICA PARA O ENSINO DAS
OPERAÇÕES COM NÚMEROS RACIONAIS POR MEIO DE
CALCULADORA PARA O QUINTO ANO DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência para obtenção do título de DOUTOR EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, sob a orientação da Professora Doutora Maria José Ferreira da Silva.
PUC-SP 2015
Banca Examinadora
________________________________________
________________________________________
________________________________________
________________________________________
________________________________________
Autorizo,exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou
parcial desta tese por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos
Assinatura: ________________________________Local e Data: _______________
À minha família: motivação para continuar sempre
A todos que de forma direta ou indireta me ajudaram a chegar até aqui
AGRADECIMENTOS
A Deus, por tudo o que Ele significa na minha vida.
A minha orientadora, professora doutora Maria José Ferreira da Silva.
Aos professores da PUC.
Aos professores doutores Gilson Bispo de Jesus e Marco Aurélio Kalinke que gentilmente
aceitaram participar da Banca, e que muito contribuíram com seus valiosos
conhecimentos, para o enriquecimento desse trabalho. Sem as suas contribuições,
certamente este trabalho não teria sido concretizado.
Ao Dr. Saddo Ag Almouloud, coordenador do programa, que a todo o momento criou
condições para que eu pudesse concluir este grande desafio.
À minha família, que sempre me incentivou e me apoiou nesta árdua caminhada.
Aos colegas da UEPA, pelo incentivo e amizade verdadeira.
A todas as pessoas que fizeram parte da minha trajetória acadêmica e que de algum modo
contribuíram para a realização deste trabalho.
RESUMO
O presente trabalho teve por objetivo levar um grupo de estudantes do quinto
ano do ensino fundamental a construir significado para as regras operatórias
fundamentais com números fracionários a partir da utilização de calculadoras
científicas com representação fracionária. Com esse intuito, desenvolvemos uma
sequência de ensino com quatro alunos de uma escola pública situada na
periferia de Belém/PA e como aporte teórico utilizamos a Teoria das Situações
Didáticas (TSD) e a Teoria de Registros de Representação Semiótica, e a
Engenharia Didática como metodologia. A TSD nos auxiliou na elaboração,
experimentação e análise dos resultados da sequência, enquanto a Teoria de
Registros de Representação Semiótica na articulação entre registros numéricos
e figurais. Na análise das atividades verificamos que os alunos conseguiram,
após a utilização da calculadora, verbalizar e escrever regras para a adição e
subtração de números fracionários com mesmo denominador, para a
multiplicação de quaisquer números fracionários e para a divisão de números
fracionários que apresentavam tanto os numeradores, quanto os denominadores
múltiplos. No entanto, não conseguiram, apenas utilizando a calculadora
perceber as regras para a adição e divisão de números fracionários quaisquer.
Entendemos que a calculadora permitiu que os alunos buscassem relações e
não tratassem os números fracionários apenas como dois números naturais,
mas faltou, provavelmente, relacioná-la a outros recursos didáticos para que
percebessem as relações entre numeradores e denominadores para as
operações de adição e subtração.
Palavras-chave: Números fracionários. Operações com números fracionários.
Calculadora científica com representação fracionária.
ABSTRACT
This paper had the objective of making a group of students from the fifth grade to
build meaning to the fundamental operatorial rules with fractional numbers by
using scientific calculators with fractional representation. With this in mind, we
developed a sequence of teaching with four students of a public school located
in the suburb of Belém-PA. We based our theories on the Theory of Didactic
Situations (TDS) (Teoria das Situações Didáticas-TSD) and the Theory of Record
of Semiotic Representation and the Didactic Engineering as methodology. The
TDS helped us to elaborate, experiment and analyze the results of the sequence,
while the Theory of Record of Semiotic Representation helped us to articulate
among the figure and numeric records. In the analysis of the activities, we verified
that the students after using the scientific calculator, they managed to verbalize
and write rules to the addition and subtraction of fractional numbers with the same
denominator to a multiplication of any fractional numbers and to the division of
fractional numbers that presented not only the numerators but also the multiple
denominators. However, the students managed not only by using the calculator
to perceive the rules for the addition and division of any fractional numbers. We
understand that the calculator allowed the students to search for relations and
dot not treat the fractional numbers only as two natural numbers. We also should
probably have related to other didactic resources so that they could have
perceived the relations between numerators and denominators for the addition
and subtraction operations.
Keywords:Fractional numbers. Operations with fractional numbers. Scientific
calculator with fractional representation.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – REPRESENTAÇÃO FIGURAL PARA NÚMERO FRACIONÁRIO .......................................................................... 41
FIGURA 2 – REPRESENTAÇÃO FIGURAL E NUMÉRICA PARA SITUAÇÕES NA CONCEPÇÃO PARTE TODO .................................. 51
FIGURA 3 – CONCEPÇÃO DE MEDIDA ................................................................................................................... 53
FIGURA 4 – CONCEPÇÃO QUOCIENTE, GRANDEZA CONTÍNUA .................................................................................... 54
FIGURA 5 – CONCEPÇÃO QUOCIENTE - GRANDEZA CONTÍNUA ................................................................................... 54
FIGURA 6 – EXEMPLO DE RAZÃO ENTRE GRANDEZA DE MESMA NATUREZA ................................................................... 56
FIGURA 7 – CONCEPÇÃO DE OPERADOR, GRANDEZA CONTÍNUA, REDUÇÃO DE UM QUADRADO ........................................ 56
FIGURA 8 – ESTADOS DA CONCEPÇÃO DE OPERADOR - CASO CONTÍNUO ..................................................................... 57
FIGURA 9 – COMPOSIÇÃO DE OPERADORES - GRANDEZA CONTÍNUA ........................................................................... 57
FIGURA 10 – ADIÇÃO E SUBTRAÇÃO DE FRAÇÕES – MESMO DENOMINADOR – L1 ......................................................... 69
FIGURA 11 – SUBTRAÇÃO DE FRAÇÕES – MESMO DENOMINADOR – L1 ...................................................................... 69
FIGURA 12 – SÍNTESE DAS OPERAÇÕES DE ADIÇÃO E SUBTRAÇÃO - MESMO DENOMINADOR - L1 ..................................... 70
FIGURA 13 – ADIÇÃO DE NÚMEROS FRACIONÁRIOS - DENOMINADORES DIFERENTES - L1 ............................................... 71
FIGURA 14 – TRATAMENTO PARA OBTENÇÃO DE NÚMEROS FRACIONÁRIOS EQUIVALENTES – L1...................................... 71
FIGURA 15 – FORMALIZAÇÃO DA REGRA PARA ADIÇÃO E SUBTRAÇÃO – DENOMINADORES DIFERENTES – L1 ...................... 72
FIGURA 16 – MULTIPLICAÇÃO DE NÚMERO NATURAL POR NÚMERO FRACIONÁRIO – L1 ................................................. 72
FIGURA 17 – MULTIPLICAÇÃO DE NÚMEROS FRACIONÁRIOS – L1 .............................................................................. 73
FIGURA 18 – SÍNTESE DA MULTIPLICAÇÃO DE NÚMEROS FRACIONÁRIOS – L1 .............................................................. 73
FIGURA 19 – NÚMEROS INVERSOS – L1 ............................................................................................................... 74
FIGURA 20 – DIVISÃO DE NÚMERO FRACIONÁRIO POR NÚMERO NATURAL – L1 ........................................................... 74
FIGURA 21 – DIVISÃO DE NÚMEROS FRACIONÁRIOS – L1 ......................................................................................... 75
FIGURA 22 – UMA REGRA PRÁTICA PARA DIVISÃO DE NÚMEROS FRACIONÁRIOS – L1 .................................................... 76
FIGURA 23 – REGRA PARA DIVISÃO DE NÚMEROS FRACIONÁRIOS – L1 ....................................................................... 76
FIGURA 24 – ADIÇÃO COM NÚMEROS FRACIONÁRIOS DE MESMO DENOMINADOR – L2 ................................................. 77
FIGURA 25 – SUBTRAÇÃO DE NÚMEROS FRACIONÁRIOS COM MESMO DENOMINADOR – L2 ........................................... 78
FIGURA 26 – ADIÇÃO DE NÚMEROS FRACIONÁRIOS COM DENOMINADORES DIFERENTES – L2 ......................................... 78
FIGURA 27 – MULTIPLICAÇÃO DE NÚMEROS FRACIONÁRIOS – L2 .............................................................................. 79
FIGURA 28 – MULTIPLICAÇÃO DE NÚMEROS FRACIONÁRIOS – L2 .............................................................................. 79
FIGURA 29 – FRAÇÃO DE FRAÇÃO – L2 ................................................................................................................ 80
FIGURA 30 – FRAÇÃO DE UM NÚMERO – L2 ......................................................................................................... 81
FIGURA 31 – DIVISÃO DE FRAÇÕES – L2 ............................................................................................................... 82
FIGURA 32 – RESPOSTA DO GRUPO 2 PARA O ITEM 1.1 DA ATIVIDADE 1 ..................................................................... 89
FIGURA 33 – RESPOSTA DO GRUPO 2 PARA OS ITENS 1.2 E 1.3 DA ATIVIDADE 1 .......................................................... 89
FIGURA 34 – RESPOSTA DO GRUPO 1 PARA O ITEM 1.4 DA ATIVIDADE 1 ..................................................................... 91
FIGURA 35 – RESPOSTA DO GRUPO 2 PARA O ITEM 1.4 DA ATIVIDADE 1 ..................................................................... 92
FIGURA 36 – RESPOSTA DO GRUPO 1 PARA O ITEM 2.1 DA ATIVIDADE 2 ..................................................................... 95
FIGURA 37 – RESPOSTA DO GRUPO 1 PARA O ITEM 2.2 DA ATIVIDADE 2 ..................................................................... 95
FIGURA 38 – RESPOSTA DO GRUPO 1 PARA O ITEM 3.1 DA ATIVIDADE 3 ..................................................................... 97
FIGURA 39 – RESPOSTA DO GRUPO 2 PARA O ITEM 3.1 DA ATIVIDADE 3 ..................................................................... 97
FIGURA 40 – RESPOSTA DO GRUPO 1 PARA O ITEM 3.2 DA ATIVIDADE 3 ..................................................................... 98
FIGURA 41 – RESPOSTA DO GRUPO 2 PARA O ITEM 3.2 DA ATIVIDADE 3 ..................................................................... 98
FIGURA 42 – RESPOSTA DO GRUPO 1 PARA O ITEM 5.1 DA ATIVIDADE 5 ................................................................... 100
FIGURA 43 – RESPOSTA DO GRUPO 2 PARA O ITEM 5.1 DA ATIVIDADE 5 ................................................................... 100
FIGURA 44 – RESPOSTA DO GRUPO 1 PARA O ITEM 5.2 DA ATIVIDADE 5 ................................................................... 100
FIGURA 45 – RESPOSTA DO GRUPO 2 PARA O ITEM 5.2 DA ATIVIDADE 5 ................................................................... 100
FIGURA 46 – RESPOSTA DO GRUPO 1 PARA O ITEM (A) DA ATIVIDADE 7 ................................................................... 102
FIGURA 47 – RESPOSTA DO GRUPO 2 PARA O ITEM (A) DA ATIVIDADE 7 ................................................................... 102
FIGURA 48 – RESPOSTA DO GRUPO 1 PARA O ITEM 1.1 DA ATIVIDADE 1 ................................................................... 105
FIGURA 49 – RESPOSTA DO GRUPO 2 PARA O ITEM 1.1 DA ATIVIDADE 1 ................................................................... 105
FIGURA 50 – RESPOSTA DO GRUPO 1 PARA O ITEM 1.2 DA ATIVIDADE 1 ................................................................... 105
FIGURA 51 – RESPOSTA DO GRUPO 2 PARA O ITEM 1.2 DA ATIVIDADE 1 ................................................................... 105
FIGURA 52 – RESPOSTA DO GRUPO 1 PARA O ITEM 1.3 DA ATIVIDADE 1 ................................................................... 106
FIGURA 53 – RESPOSTA DO GRUPO 2 PARA O ITEM 1.3 DA ATIVIDADE 1 ................................................................... 106
FIGURA 54 – RESPOSTA DO GRUPO 1 PARA O ITEM 2.1 DA ATIVIDADE 2 ................................................................... 109
FIGURA 55 – RESPOSTA DO GRUPO 2 PARA O ITEM 2.1 DA ATIVIDADE 2 ................................................................... 110
FIGURA 56 – RESPOSTA DO GRUPO 1 PARA O ITEM 3.1 DA ATIVIDADE 3 ................................................................... 112
FIGURA 57 – RESPOSTA DO GRUPO 2 PARA O ITEM 31 DA ATIVIDADE 3 .................................................................... 112
FIGURA 58 – RESPOSTA DO GRUPO 1 PARA O ITEM 3.2 DA ATIVIDADE 3 ................................................................... 112
FIGURA 59 – RESPOSTA DO GRUPO 2 PARA O ITEM 3.2 DA ATIVIDADE 3 ................................................................... 112
FIGURA 60 - RESPOSTA DO GRUPO 1 PARA O ITEM 3.3 DA ATIVIDADE 3 ................................................................... 113
FIGURA 61 – RESPOSTA DO GRUPO 2 PARA O ITEM 3.3 DA ATIVIDADE 3 ................................................................... 113
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 15
1 PROBLEMÁTICA ................................................................................................................ 19
1.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................................. 19
1.2 JUSTIFICATIVA ................................................................................................................. 23
1.3 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA ......................................................................................... 26
1.4 METODOLOGIA DE PESQUISA E PROCEDIMENTOS ......................................................... 29
1.5 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................................... 34
1.5.1 Teoria das Situações Didáticas – TSD ...................................................................... 34
1.5.2 A Noção de Registro de Representação Semiótica .................................................. 38
2 ANÁLISES PRELIMINARES .................................................................................................. 45
2.1 O USO DE NOVAS TECNOLOGIAS NA ESCOLA .................................................................. 45
2.2 OS DIFERENTES SIGNIFICADOS DE NÚMERO FRACIONÁRIO............................................ 49
2.2 AS OPERAÇÕES COM OS NÚMEROS FRACIONÁRIOS ....................................................... 57
2.3 O USO DE CALCULADORAS NA ESCOLA ........................................................................... 63
2.4 AS OPERAÇÕES COM NÚMEROS FRACIONÁRIOS EM LIVROS DIDÁTICOS ....................... 68
3 A PESQUISA ...................................................................................................................... 85
3.1 A ESCOLA E OS SUJEITOS DA PESQUISA ........................................................................... 85
3.2 DESCRIÇÃO DA APLICAÇÃO ............................................................................................. 85
3.3 ANÁLISES DA SEQUÊNCIA DE ENSINO .................................................................................... 87
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................... 115
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 119
APÊNDICE A – A SEQUÊNCIA DE ENSINO ............................................................................ 123
15
INTRODUÇÃO
Trabalhando como professor de matemática a mais de trinta anos desde os
tempos de estudante de graduação, quando após concluir o nível básico do curso,
a universidade nos fornecia uma autorização provisória para lecionar, acabei
trabalhando em todos os níveis de ensino da rede pública em Belém. Tal
experiência me fez perceber que a própria palavra matemática, simplesmente, já
consegue provocar em alunos do nível fundamental e médio, as mais diversas
reações e sentimentos, que podem ser de aversão, antipatia ou até mesmo
empolgação que, de um modo geral, estão ligados ou relacionados à influência
escolar ou familiar no aluno.
Segundo Silva (1997), muitos fatores são apontados e considerados como
causas do fracasso do processo de ensino, entretanto a dificuldade relacionada
com as estratégias de ensino e conhecimentos específicos dos docentes tem uma
relação direta com a formação profissional docente que, de certa forma, se encontra
em uma situação estática e de total conformismo com o modelo de educação
vigente. O autor acrescenta que, para muitos pesquisadores em educação, esse
fator apontado e outros mais, faz com que a educação se encontre em uma situação
preocupante com relação a qualidade do ensino que é oferecido em nossas
escolas.
Como professor de ensino fundamental durante vários anos e, também,
como professor em cursos de formação de professores de matemática, considero
de grande importância, a realização de estudos e pesquisas que tratem dos fatores
que acarretam dificuldades no ensino, com o objetivo de provocar uma reflexão
profunda a respeito do modelo de educação de nossas escolas hoje. Além disso,
esses estudos podem contribuir para a construção de outros paradigmas para os
processos de ensino e de aprendizagem e, ainda para os processos formativos do
profissional docente.
Para se ter efetivamente um novo perfil de educador, Mercado (1999, p.15)
afirmam que: “repensar a educação não é somente acatar propostas de
modernização, mas repensar a dinâmica do conhecimento de forma ampla e, como
consequência, o papel do educador como mediador desse processo”. Para os
Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (BRASIL, 1997b, p. 15) a Matemática
16
tem papel fundamental na solução de problemas da vida cotidiana, “tem muitas
aplicações no mundo do trabalho e funciona como instrumento essencial para a
construção de conhecimentos em outras áreas curriculares” além de interferir
“fortemente na formação de capacidades intelectuais, na estruturação do
pensamento e na agilização do raciocínio dedutivo do aluno.
Com relação ao uso de novos recursos que possam contribuir com o ensino
de matemática ao nível fundamental, os Parâmetros Curriculares Nacionais
(BRASIL 1997b, p. 19) salientam que:
A calculadora é um dos recursos didático que tem um papel importante no processo de ensino e aprendizagem da matemática, no ensino fundamental, e que precisa estar integrada a situações que levem ao exercício da análise e reflexão.
Nesse sentido, o uso de calculadora como recurso didático, poderá ser de
grande valia para facilitar cálculos, explorar e construir conhecimentos, além de
contribuir para desenvolver o raciocínio e explorar conteúdos. Segundo Karrer
(1999) os estudos feitos a respeito do uso da calculadora, têm mostrado que sua
utilização em sala de aula traz benefícios para o aluno como agilidade nos cálculos,
verificação de resultados, precisão nos cálculos, e a integração do aluno com a
tecnologia.
Por outro lado, Vieira (2005) afirma que os professores sentem dificuldade
em estabelecer relação entre número fracionário e número decimal e da falta de
materiais didáticos que auxiliem o desenvolvimento de suas atividades. Dessa
forma, entendemos que a calculadora poderia ser um desses materiais ou recursos,
pois no mercado já encontramos calculadoras, que podem ser adquiridas pela rede
pública estadual, tais como as calculadoras científicas Casio fx-82ES, fx-82ESplus,
e ainda um modelo da Texas, que apresentam as duas representações
simultaneamente, decimal e fracionária.
Muitos pesquisadores têm se manifestado com relação à utilização de
calculadoras em sala de aula, dentre eles podemos destacar o professor Ubiratan
D’Ambrósio que em 2003, afirmava que em todas as escolas já se deveria utilizar
a calculadora pelos alunos como mais uma ferramenta de grande importância para
contribuir nos processos de ensino e de aprendizagem.
De acordo com Mocrosky (1997)
17
O ensino da disciplina Matemática está caracterizado pelo peso demasiado no cálculo e memorização de regras e fórmulas pré-fabricadas, sendo que estes dois aspectos, de certa forma, acabam distorcendo a arte do raciocínio e da criatividade, tão esquecida nos programas dessa disciplina em benefício do currículo a ser cumprido. (MOCROSKY, 1997, p. 20).
Mocrosky (1997) destaca que a introdução da calculadora como recurso
didático poderá propiciar condições para que possamos ter atividades
investigativas e interessantes. Ela pode de alguma forma dar uma contribuição para
a melhoria da qualidade do ensino da matemática, conduzindo os alunos para um
aprendizado desprendido de memorização de fórmulas e facilitando a realização
de cálculos longos e complicados que só fazem tomar o tempo precioso do aluno.
O que nos leva a tentar mostrar a possível viabilidade de se trabalhar as
operações com números fracionários com alunos do quarto ano, quinta série do
ensino fundamental, utilizando uma calculadora científica que realiza os cálculos
diretamente com as frações, é por acreditar que os alunos dessa série, já iniciaram
os estudos sobre os números fracionários, e com isso, acreditamos que os mesmos
tenham condições suficientes para trabalharem esses conhecimentos.
A faixa etária dos alunos na quarta série, é de mais ou menos, dez a treze
anos, idades em que esses alunos deveriam ter bastante habilidades no manuseio
de vários recursos tecnológicos, inclusive da calculadora, pois a mesma se
encontra presente em todos os aparelhos celulares, que de certo modo, quase
todos sabem utilizar corretamente, por fazer parte de seu mundo. Trabalhar as
operações com frações utilizando uma calculadora pode ser considerado como
uma extensão das operações numéricas, mas uma extensão carregada de rupturas
em relação ao significado das estruturas aditivas e multiplicativas para os números
naturais.
De acordo com Silva (1997) um dos obstáculos epistemológicos a respeito
das frações é aceita-las como números e outro é o conhecimento dos números
naturais que as crianças procuram aplicar quando trabalham com as frações.
Assim, nossa proposta é construir uma sequência didática envolvendo operações
com frações, utilizando uma calculadora científica que trabalha com números
fracionários. O intuito é possibilitar que alunos do quinto ano do ensino fundamental
descubram as regras das operações com frações, e consequentemente sua
sistematização. Levantamos a hipótese de que a utilização de uma calculadora
18
científica com representação fracionária pode ajudar os alunos a superar o
obstáculo epistemológico que os naturais impõem à aprendizagem dos números
fracionários, em particular, dos números racionais. Esperamos com essa escolha
contribuir significativamente para o ensino das operações com números
fracionários.
A partir desse proposito, definimos nossa questão de pesquisa: Qual seria
a contribuição de uma sequência didática que envolve uma calculadora
científica com representação fracionária para os processos de ensino e de
aprendizagem das operações com números fracionários para alunos do 5º
ano do ensino fundamental?
Para responder nossa questão de pesquisa, elaboramos uma sequência
didática apoiando-se nos princípios da Engenharia Didática (ARTIGUE, 1996), na
Teoria das Situações Didáticas (BROUSSEAU, 1996) e na Teoria dos Registros de
Representação Semiótica, (DUVAL, 2009).
Vale destacar que, neste trabalho, apoiando-se em Silva (2005), optamos
por distinguir fração e número fracionário. Uma fração é a forma de representar um
número racional na forma 𝑎
𝑏, a e b sendo números inteiros não nulos. Chamamos
número fracionário, neste trabalho, o número racional representado por uma fração.
Em nossa revisão bibliográfica, referirmo-nos a número fracionário quando os
autores revisitados falam de fração.
No que segue apresentamos a estrutura de nosso trabalho. No capítulo 1
são apresentadas a justificativa, a revisão bibliográfica, a delimitação do problema,
o referencial teórico, e a metodologia adotada para o desenvolvimento da
investigação que nos propomos desenvolver. No capítulo 2 abordaremos os
diferentes significados de número fracionário, o uso de tecnologias em sala de aula,
e também uma breve análise de livros didáticos, focando o ensino de números
fracionários. Finalmente, no capítulo 3, apresentamos nossa sequência didática, os
sujeitos da pesquisa e a análise a priori e a posteriori de cada uma das situações
de ensino.
19
1 PROBLEMÁTICA
Neste capítulo apresentamos nosso problema de pesquisa, nossa revisão
bibliográfica, a justificativa, a delimitação do problema, o referencial teórico, a
metodologia adotada e seus procedimentos.
1.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Para o desenvolvimento do trabalho de pesquisa, foi escolhido como ponto
de referência o trabalho da pesquisadora Moreira (2010) que realizou sua pesquisa
utilizando uma calculadora virtual para mostrar se os alunos da 5ª série
conseguiriam elaborar as regras das operações com números fracionários. A razão
de termos escolhido este único trabalho como revisão bibliográfica foi pelo fato de
não termos encontrado nenhum outro que tenha trabalhado com alunos do ensino
fundamental associando operações sobre números fracionários e calculadora.
Nossa busca voltada para pesquisas que se interessam pelo uso de
calculadora em sala de aula, nos levou às seguintes pesquisas: Jucá (2008) que
trabalhou com calculadora e as operações com números decimais, Melo (2008a)
que trabalhou o ensino de potência e raízes com auxílio da calculadora e Guinther
(2009) que analisou o desempenho de alunos do ensino fundamental em jogos com
uso da calculadora nas aulas de matemática.
O trabalho desenvolvido por Moreira (2010) teve como principal objetivo
investigar a viabilidade do ensino das operações com números fracionários por
meio de atividades desenvolvidas a partir de situações-problema mediadas por uma
calculadora virtual e jogos com alunos do 6º ano (5ª série) do ensino fundamental.
A pesquisadora iniciou seu trabalho com uma análise prévia acerca dos
conhecimentos dos alunos sobre operações com números fracionários a partir de
um teste diagnóstico constituído de vinte situações-problema envolvendo essas
operações.
A proposta da referida pesquisadora é verificar se os alunos conseguem
descobrir as regras das operações com números fracionários com o auxílio da
calculadora virtual. Para conseguir atingir os objetivos da pesquisa, a pesquisadora
realizou um estudo a respeito dos processos de ensino e de aprendizagem de
20
operações com números fracionários, focando o uso da calculadora nesses
processos, observando vantagens e desvantagens de sua utilização para a
formação do aluno. O mesmo foi feito a respeito de resolução de problemas e o uso
de jogo.
Com relação a fundamentação teórica Moreira (2010) trabalhou com a
Teoria das Situações Didáticas de Brousseau e como metodologia utilizou a
Engenharia Didática e a Técnica da Redescoberta, pois segundo ela, possibilita
aos alunos o desenvolvimento de certas habilidades tais como: observar, analisar,
pesquisar, avaliar, inferir, testar, planejar medir e concluir.
A pesquisadora apresentou ainda uma revisão de investigações a respeito
de número fracionário focando os diferentes significados de número fracionário, as
propostas de estratégias de ensino e práticas docentes para o ensino de números
fracionários, o ensino das operações com números fracionários, além do uso de
recursos tecnológicos no ensino de frações.
A sequência didática foi constituída por uma atividade contendo nove
conjuntos de situações-problema para que o aluno utilizasse uma calculadora
virtual para a construção das regras das operações com números fracionários que
foram trabalhadas em treze encontros. Utilizou ainda três jogos para fixação desses
conteúdos. A sequência foi aplicada a 45 alunos de uma turma do 6° ano do Ensino
Fundamental de uma escola da rede estadual, situada na cidade de Ananindeua
estado do Pará.
A pesquisadora realizou também uma consulta, por meio de um
questionário, a 100 professores do município de Belém do Pará, com o objetivo de
caracterizar suas concepções a respeito do ensino de números fracionários e
conhecer o saber docente do professor a partir de suas crenças, valores,
suposições a respeito da disciplina e seu ensino, conteúdo curricular, alunos,
aprendizagem etc.
De acordo com Moreira (2010), após a análise dos erros e acertos do pré
e pós-teste, houve uma melhoria considerável nas resoluções dos alunos e,
consequentemente, na construção dos algoritmos.
No final do trabalho a pesquisadora afirma que teve a oportunidade de
reconstruir seus conhecimentos e práticas como resultado da interação
21
professor/aluno e considera que os resultados foram favoráveis à utilização da
calculadora virtual, pois os alunos descobriram as regras das operações com
frações sem grandes dificuldades. Da mesma forma considerou as atividades com
jogos muito proveitosas, pois levaram os alunos a outro tipo de postura; como:
discutir os resultados, trabalhar juntos e ajuda mútua, pois procuravam auxiliar os
colegas, quando apresentavam alguma dificuldade. Para a autora esse tipo de
atividade é importante por propiciar aos alunos participação, socialização,
discussão e reflexão de cada questão trabalhada, o que favorece seu
desenvolvimento intelectual e social.
O trabalho de Melo (2008a) teve como finalidade mostrar que o uso da
calculadora poderia proporcionar um ensino dinâmico e investigativo por meio de
situações de aprendizagem significativas para o cálculo exato e aproximado de
potências e raízes para alunos do ensino médio da rede pública do estado de São
Paulo. O ator fez uma análise que seguiu quatro eixos norteadores: manuseio da
calculadora, erros cometidos, atitude investigativa e dinâmica da sala de aula. A
respeito do manuseio da calculadora o pesquisador observou dificuldades de
manuseio das funções básicas da calculadora, falta de interação com a máquina e
fragilidades nos conhecimentos mobilizados de potências e raízes. O autor
observou também que os alunos não tinham uma prática reflexiva e investigativa
ao longo do trabalho, bem como falta de autonomia.
Jucá (2008) procurou investigar, se uma sequência didática desenvolvida
por um conjunto de atividades com a calculadora e jogos apresenta resultado
satisfatório no processo de ensino e aprendizagem das operações com números
decimais na quinta série do ensino fundamental. Para atingir seus objetivos
elaborou uma sequência didática para o ensino de operações com números
decimais que foi aplicada a alunos da quinta série (atual sexto ano) ensino
fundamental para ser resolvida com o auxílio da calculadora no intuito de
enunciarem os algoritmos das operações com números decimais. A sequência foi
elaborada e aplicada à luz da Teoria das Situações Didáticas de Brousseau. Após
a aplicação da sequência o autor trabalhou ainda com um jogo para que os alunos
fixassem os conteúdos aprendidos.
22
De acordo com a pesquisadora o uso da calculadora pelos alunos na
resolução das atividades, constituiu um elemento motivador para o processo de
aprendizagem das operações com números decimais e também contribuiu para que
os alunos descobrissem as regras para essas operações. A atividade com o jogo
também contribuiu para o aprendizado dos alunos, pois permitiu que eles
discutissem os resultados ajudando uns aos outros.
De acordo com a pesquisadora os alunos tiveram bom desempenho nas
operações de adição e subtração com números decimais, entretanto na realização
das operações de multiplicação e divisão com os números decimais, os resultados
não foram tão satisfatórios como o esperado, pois apresentaram dificuldades tanto
na forma de expressar essas regras, como também na sua aplicação. Na operação
de multiplicação a maior dificuldade foi em armar o algoritmo da operação. Destaca
ainda que nem todos os alunos conseguiram formular as regras das operações,
mas que esse problema foi amenizado com a mediação dos colegas e do professor.
A pesquisa realizada por Guinther (2009) teve como objetivo investigar
quais estratégias pedagógicas, considerando o uso da calculadora em sala de aula,
pode tornar mais eficiente a percepção dos erros cometidos na manipulação de
estruturas aditivas e multiplicativas com números decimais, entre alunos do sétimo
ano do ensino fundamental.
O autor utilizou primeiro os jogos matemáticos MAZE e HEX DA
MULTIPLICAÇÃO, para que os alunos registrassem suas jogadas utilizando as
estruturas aditivas e multiplicativas. No segundo momento utilizou a calculadora
para que os alunos verificassem se as operações registradas estavam corretas ou
não.
Após ter analisado as estratégias que foram utilizadas, o pesquisador
concluiu que a calculadora permitiu maior eficiência na percepção dos erros
cometidos pelos alunos, pois permitiu que verificassem os resultados incorretos,
que sem a calculadora acreditavam estar corretos. Além disso, afirma que, de
maneira geral, as maiores dificuldades ocorreram com as operações de
multiplicação de divisão de números decimais e ainda que alguns alunos tinham
mais facilidade em verbalizar o que fizeram do que escrever.
23
Para o pesquisador seria importante a implementação de projetos que
privilegiassem o contato entre professores de diversos níveis de ensino para a
valorização das experiências de cada um e para ampliar a exploração da
calculadora em sala de aula.
1.2 JUSTIFICATIVA
A nossa ideia de querer trabalhar com recurso tecnológico como ferramenta
de aprendizagem, se deve ao fato de buscar associar o uso da calculadora ás
operações com números fracionários. Podemos dizer que essa ideia remonta
desde os anos oitenta ao iniciar o trabalho como professor da rede pública estadual,
do ensino fundamental em Belém do Pará. Um dos conteúdos que são ensinados
nas séries iniciais, que os alunos sentem mais dificuldades de aprendizagem, é o
conteúdo referente ás operações com os números fracionários. Este fato justifica
nosso interesse em desenvolver uma proposta de ensino dessas operações
utilizando uma calculadora como recurso didático. Nosso intuito é contribuir para a
aprendizagem dessas operações de forma significativa.
Na tentativa de procurarmos trabalhos que tratam sobre o uso da
calculadora, encontramos um número bastante reduzido desses trabalhos, e
menos ainda sobre as operações com os números fracionários e calculadora. Desta
forma, de acordo com Melo (2008b), o uso da calculadora tem sido mostrado em
vários trabalhos de pesquisa que relatam que a calculadora, bem usada, pode
favorecer o entendimento de conteúdos por parte dos alunos. Podemos citar dentre
os trabalhos que abordam sobre calculadoras, o de Jucá (2008) que trabalha as
operações com os números decimais com o uso da calculadora. Porém, como
destacamos anteriormente, o trabalho que serviu de referência para o
desenvolvimento de nossa pesquisa, foi o de Moreira (2010) que procurou trabalhar
as operações com os números fracionários com o uso de uma calculadora que foi
programada em computador denominada de “calculadora virtual”. Para o
desenvolvimento de nossa pesquisa, tomamos com referência o trabalho de
Moreira pelo fato da similaridade do que pretendemos pesquisar, no entanto
existem diferenças entre o que foi desenvolvido pela pesquisadora e que
pretendemos pesquisar, pois o trabalho da mesma foi realizado com alunos do
24
sexto ano do ensino fundamental e o nosso, com alunos do quinto ano do ensino
fundamental. Com relação ás atividades desenvolvidas, Moreira trabalhou com o
método da descoberta, a resolução de problemas e situações-problema elaboradas
em sequências de atividades, já em nossa pesquisa, trabalhamos com uma
sequência de atividades cujo propósito é proporcionar aos alunos, sujeitos da
pesquisa, condições favoráveis à apropriação das operações com números
fracionários usando uma calculadora científica não virtual com representação
fracionária.
Sobre a metodologia adotada, os dois trabalhos utilizaram a metodologia
da Engenharia Didática e como referencial teórico, os dois trabalhos utilizaram a
Teoria das Situações Didáticas de Brousseau, porém o nosso trabalho ainda
utilizou a Teoria dos Registros de Representação Semiótica de Duval. A escolha
dessa teoria deve-se à importância das diferentes formas de representar um
número fracionário e dos tratamentos que lhes são associados.
Sobre a calculadora, podemos considerar que não há diferenças
significativas que possamos considerar pois a calculadora utilizada por Moreira é
uma calculadora virtual de um programa de computador, e do nosso trabalho é uma
calculadora científica, mas que na sua forma de operar não há diferença alguma. A
vantagem que vemos no tipo de calculadora que escolhemos é sua portabilidade
em qualquer lugar que o aluno quiser e o fato de os alunos, trabalhando em grupo,
puderam pegar na mão e testar.
As tecnologias no mundo atual globalizado estão sendo inseridas
diretamente ou indiretamente no dia-a-dia da maioria das pessoas. Na educação
não pode ser diferente, visto que a mesma é colocada como elemento integrante
nos currículos de Matemática para todos os níveis de ensino. Entretanto. Essa
tecnologia ainda não foi assimilada adequadamente pela maioria dos professores
que atuam no ensino fundamental.
De acordo com Altoé (2005), diante das transformações constantes da
sociedade, é prudente que a educação promova mudanças em seu paradigma, pois
passou a exigir uso de equipamentos que incorporaram os avanços tecnológicos. Nesse momento, não se pode ignorar que a educação necessita promover alteração em seu paradigma. E mudança de paradigma na sociedade significam mudanças de paradigma também na
25
educação e, por conseguinte, na escola. O tipo de homem necessário para a sociedade de hoje é diferente daquele aceito em décadas passadas (ALTOÉ, 2005, p.39).
Por outro lado, com relação à matemática, os PCN (BRASIL, 1997a) deve-
se buscar a capacitação dos estudantes para a aquisição e o desenvolvimento de
novas competências determinadas por um novo tipo de profissional que deve
utilizar novas tecnologias e linguagens, além de capacidade para a iniciativa e a
inovação. “A educação básica tem assim a função de garantir condições para que
o aluno construa instrumentos que o capacitem para um processo de educação
permanente” (Ibid, p. 28).
Acrescentam que:
Estudiosos do tema mostram que escrita, leitura, visão, audição, criação e aprendizagem são capturados por uma informática cada vez mais avançada. Nesse cenário, insere-se mais um desafio para a escola, ou seja, o de como incorporar ao seu trabalho, apoiado na oralidade e na escrita, novas formas de comunicar e conhecer. Por outro lado, também é fato que o acesso a calculadoras, computadores e outros elementos tecnológicos já é uma realidade para parte significativa da população. (BRASIL, 1997b, p. 34)
Perrenoud (2000) chama a atenção da influência da utilização das
Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), mostrando que as mesmas
provocam grandes mudanças em boa parte do mundo, e ressalta que a escola não
pode ignorar essas transformações, não apenas na comunicação, mas também na
forma de trabalhar, de pensar, decidir e agir.
Os recursos tecnológicos, de um modo geral, são hoje utilizados como
recurso didático para auxiliar nos processos de ensino e de aprendizagem de quase
todas as disciplinas, dentre elas a matemática.
Para Riccetti (2001, p.18) “desde cedo as crianças participam de uma série
de situações envolvendo números, relações entre quantidades e noções sobre
espaço, utilizando recursos próprios e recorrem a contagem e operações para
resolver problemas cotidianos”. Para a autora, fazer matemática é:
Expor ideias próprias, escutar as dos outros, formular e comunicar procedimentos de solução de problemas, confrontar, argumentar e procurar validar o seu ponto de vista, antecipar resultados e experiências não realizadas, aceitar erros, buscar dados que faltam para resolver problemas, entre outras coisas. (RICCETTI, 2001, p.19).
26
Ainda a respeito do ensino de matemática, Giancaterino (2009) destaca
dois aspectos básicos que consistem em relacionar observações do mundo real
com representações (esquemas, tabelas, figuras) e relacionar essas
representações com princípios e conceitos matemáticos.
1.3 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA
Quando se fala do processo de aprendizagem das operações básicas
envolvendo números fracionários nas séries iniciais do ensino fundamental, de um
modo geral, ponta-se as dificuldades que os alunos encontram na apropriação das
propriedades dessas operações. Entretanto, muitos trabalhos de pesquisa, como
os de Moreira (2010), de Jucá (2008), sobre este assunto têm mostrado o contrário,
ou seja, o que está faltando, são propostas metodológicas e recursos mais
adequados para minimizar essas dificuldades.
A nossa proposta está baseada na pesquisa desenvolvida por Moreira
(2010), realizada com o auxílio de uma máquina de calcular virtual, com alunos da
5ª série (6º ano) do ensino fundamental, para que os mesmos elaborassem as
regras das operações com números fracionários.
Analisando os resultados obtidos por Moreira (2010), podemos concluir que
a proposta de intervenção construída e experimentada parece ter surtido efeitos
positivos no que tange a apropriação das operações com números fracionários
pelos alunos sujeitos da pesquisa. Ela mostra que a dificuldade de aprendizagem
apontada não reside unicamente no aluno, mas também nos processos e
estratégias utilizadas em sala de aula.
Nossa proposta é, portanto, construir, analisar e experimentar atividades
com base nas ideias da pesquisadora para alunos do 5º ano do ensino fundamental.
Usaremos em nossa proposta uma calculadora cientifica que opera diretamente
com números fracionários, para verificar se os alunos, sujeitos da pesquisa,
conseguem compreender os processos que regem as regras dessas operações.
Nosso público alvo é composto de alunos do 5º ano. Escolhemos esses
alunos por ainda não terem estudado as operações com os números fracionários.
27
As regras e princípios de conhecimento matemático são muito importantes
para o processo de compreensão dos diversos conteúdos matemáticos que são
ensinados na escola para as crianças do ensino fundamental. Neste sentido,
podemos dizer que as regras das operações fundamentais envolvendo números
fracionários, também são de grande importância para o aprendizado dessas
operações pelos alunos, aja visto que o domínio e a compreensão dessas
operações contribuem muito para a resolução de muitas situações-problema do dia-
a-dia do aluno e também em outras áreas do conhecimento que seja necessário
utilizar os conhecimentos das operações com números fracionários.
Devido às dificuldades que se apresentam ao se trabalhar com números
racionais, e a grande importância que o mesmo representa como conhecimento
matemático, Romanato (1997) chama a atenção ressaltando que:
o número racional, para a sua efetiva compreensão, deveria ser visto como uma teia de relações nele incidente ou dele emergente, onde se compreende que dos mais variados contextos em que o número racional está presente deve emergir uma teia de relações que possibilitará a sua plena compreensão. (ROMANATO, 1997, p. 101).
Ainda, de acordo com este pesquisador, sobre o processo de ensino e
aprendizagem, a grande importância será a forma de como se conduzirá o trabalho
com essa teia para se obter a almejada compreensão desse conteúdo matemático,
pois quando o mesmo é trabalhado em um determinado contexto, implicará
algumas relações ou nenhuma.
No caso do ensino dos números racionais, o ideal seria que fossem
trabalhadas competências em certo contexto para que o aluno tivesse um bom
desempenho com assuntos da própria matemática, ou com assuntos de outras
disciplinas ou em outros contextos do dia-a-dia.
Para alguns pesquisadores e professores de matemática que atuam no
ensino fundamental, uma das principais dificuldades que os alunos apresentam no
aprendizado dos números racionais, é apontada por Romanatto (1997) que afirma
que essa dificuldade pode estar relacionada à não compreensão das diversas
relações que estão implícitas na notação a/b e as operações que podem ser feitas
com esse número, desde que obedecidas tais relações.
28
Dentre algumas pesquisas realizadas para identificar as dificuldades
apresentados pelos alunos no processo de aprendizagem de números racionais,
apontamos a de Silva (1997), que afirma que esse fato está ligado diretamente à
formação profissional docente, que de certa maneira se encontra de forma estática
e sendo conduzida nos moldes tradicionais. De acordo com Magina e Campos
(2008), os alunos apresentam baixo desempenho em muitos problemas
apresentados que não há evolução com respeito à apropriação do conceito, de uma
série para outra. Com relação aos professores que atuam no ensino fundamental,
as mesmas autoras sinalizam uma possível causa para essa questão, que pode ser
em função da grande maioria dos professores não terem clareza suficiente sobre
os diferentes significados que os números fracionários podem assumir diante de
diversas situações em um determinado contexto, fazendo com que esses
professores apresentem estratégias de ensino aos alunos com a utilização de
materiais concreto e os comuns desenhos que aparecem em qualquer livro de
matemática, somente para facilitar comparações que de um modo geral, não
trazem muita contribuição acerca das concepções referentes à esse conceito.
Considerando-se os resultados das diversas pesquisas realizadas que
apontam e retratam a atual situação em que se encontra os processos de ensino e
de aprendizagem de números fracionários, faz com que esses pesquisadores se
sintam bastante preocupados e talvez até impotentes diante do quadro mostrado,
pois parece que os problemas cada vez mais se arrastam e sem perspectiva de se
chegar a uma solução satisfatória para minimizar os problemas apontados pelos
pesquisadores.
Os estudos e as pesquisas que foram realizadas por pesquisadores, como
Silva (1997), Magina e Campos (2008) e Silva (2009), e outros mais, chamam a
atenção para os fatores que acarretam dificuldades no ensino de números
racionais, como nos processos formativos dos professores que atuam no ensino
fundamental.
Por tudo que foi exposto e comentado anteriormente e tomando como
referência o contexto atual, almejamos responder a seguinte questão de pesquisa:
Qual a contribuição de uma sequência didática que envolve uma calculadora
científica com representação fracionária para os processos de ensino e de
29
aprendizagem das operações com números fracionários para alunos do 5º
ano do ensino fundamental?
Foram elaboradas as seguintes hipóteses, que poderão ser ou não
verificadas, a primeira é que o uso de calculadora científica com representação
fracionária pode se constituir em recurso pedagógico para o ensino de operações
com números fracionários para alunos do quinto ano do ensino fundamental e a
segunda é que a calculadora pode ser uma ferramenta que contribui para a
construção das regras operatórias para números fracionários para nosso público
alvo.
Assim temos como objetivo levar um grupo de alunos do quinto ano do
ensino fundamental a elaborar e construir significado para as regras operatórias
fundamentais com números fracionários a partir da utilização de uma calculadora
científica.
1.4 METODOLOGIA DE PESQUISA E PROCEDIMENTOS
Na realização de uma pesquisa em Educação Matemática o pesquisador
pode utilizar metodologias diversas, de acordo com o que pretende pesquisar,
considerando um caráter qualitativo ou quantitativo em sua abordagem. Em se
tratando de pesquisa qualitativa, tem-se observado um grande esforço para
elaboração de Engenharia Didáticas.
A metodologia de engenharia didática é considerada como uma abordagem
oriunda e com enfoque da didática francesa e que tem como característica básica
e peculiar de organizar os procedimentos metodológicos de pesquisas que vem
sendo desenvolvidas em ambiente escolar em sala de aula.
Propomos desenvolver nossa pesquisa no campo da educação
matemática, utilizando alguns princípios da engenharia didática, que segundo
Artigue (1996, p. 198) “se por ser um esquema experimental baseado em
‘realizações didáticas’ na sala de aula, isto é, na concepção, na realização e na
análise de sequência didáticas”.
Para a autora, durante o processo da Engenharia Didática, deve-se
considerar um conteúdo do sistema de ensino, cujo funcionamento parece, por
30
algum motivo, pouco satisfatório, e faz-se uma análise deste com a intenção de
propor mudanças para um possível funcionamento mais satisfatório.
A denominação de Engenharia Didática atribuída à essa metodologia,
deve-se ao fato de que a mesma tem a característica de desenvolver um trabalho
didático que se assemelha com as ações que são desenvolvidas por um engenheiro
frente a execução e planejamento de um projeto, porém para que o mesmo tenha
sucesso na sua execução e chegue ao final com os resultados satisfatórios
esperados, o mesmo busca se apoiar em conhecimentos científicos para solucionar
problemas de grande complexidade.
A metodologia da Engenharia Didática tem a característica de estabelecer
um elo entre a construção do saber matemático com uma prática reflexiva
investigativa diante de uma sequência didática experimental.
As atividades didáticas utilizando os princípios da engenharia didática são
consideradas como práticas de investigação. Nessa prática, à medida que o
professor vai trabalhando os saberes escolares, estes devem ser colocados em
dúvida e discutidos. É com base nessa abordagem metodológica que ocorre a
concretização da aprendizagem. Na utilização da Engenharia Didática como
metodologia, a atuação pedagógica do professor é transformada em objeto de
investigação.
A engenharia didática caracteriza-se como uma forma viável de proposta
metodológica por considerar as peculiaridades dessa modalidade de pesquisa, pelo
fato de buscar os conhecimentos prévios dos alunos e parte deles para a
construção de um saber autêntico consciente e verdadeiro.
O saber matemático é construído a partir de questionamentos levantados
sobre o próprio objeto matemático que está sendo investigado, assim sendo, há a
necessidade do professor estar preparado para conduzir a sua ação educativa
nessa direção o que exige uma ampla capacidade reflexiva sobre a área de
atuação.
A engenharia didática é composta de quatro fases que elencar a seguir:
análises preliminares ou prévias, elaboração da sequência e análise a priori,
experimentação e aplicação da sequência didática, e por último, é feita uma análise
a posteriori da sequência aplicada, seguida de uma possível validação.
31
De acordo com Artigue (1996) é nas análises preliminares ou prévias
que o pesquisador, ao desenvolver o seu trabalho, deverá reunir informações
preliminares importantes que vão dar subsídios para a elaboração da sequência
didática.
Para a construção da sequência didática, é importante considerarmos
alguns procedimentos que deverão contribuir para que a mesma atinja a sua
eficiência desejada, são eles:
A revisão da literatura com a finalidade de conhecer as dificuldades nos
processos de ensino e de aprendizagem de um determinado tema, e as
propostas de ensino já existentes sobre o mesmo.
Tomar conhecimento da fundamentação teórica que irá dar suporte aos
estudos
Realizar consulta aos profissionais que estão envolvidos na área de
conhecimento que se pretende estudar, com a finalidade de trazer dados
sobre à formação, à metodologia, a concepções dos profissionais
envolvidos, e outros mais.
A aplicação de instrumentos que esclareçam e evidenciem como se
encontra a real situação daquela área de conhecimento que se pretende
estudar.
Em nosso trabalho, realizamos alguns estudos com o intuito de subsidiar a
concepção de nossa Engenharia Didática. Fizemos uma busca nos principais
bancos de teses e dissertações de universidades brasileiras e do exterior, anais de
congressos de Educação Matemática e revistas para constituir nossa revisão
bibliográfica e assim justificar nossa pesquisa. Estudamos as orientações dos PCN,
bem como os livros didáticos a respeito do ensino de operações com números
fracionários. Além disso, buscamos trabalhos que tratassem da utilização de
calculadoras para o ensino de números fracionários.
Quanto à elaboração da sequência e análise a priori, estão presentes duas
fases: a descrição do objeto, problemática referente ao objeto de estudo, e as
hipóteses que deverão ser verificadas no decorrer da prática investigativa da
proposta didática a ser elaborada. A elaboração das hipóteses do trabalho é
32
considerada como um ponto muito importante no trabalho com a engenharia
didática, pois é por intermédio delas que serão traçados os parâmetros de
comparação com os resultados finais da sequência para verificar a validação ou
não da mesma, também é nessa fase que são delineadas as variáveis de controle,
o que faz com que se permita conhecer o que se pretende experimentar. Segundo
Artigue (1996), essas variáveis são classificadas como:
Variáveis globais referem-se ao planejamento geral da engenharia.
Essas variáveis se encontram envolvidas desde a elaboração do pré-
teste, das atividades até a institucionalização dos conteúdos da
sequência.
Variáveis locais são aquelas que dizem respeito ao planejamento
específico de uma sessão da sequência didática, portanto é restrita a
uma fase da pesquisa.
Variáveis de situação se referem à escolha das atividades, à forma de
trabalho e o tempo necessário para trabalhá-las
A elaboração da sequência didática constitui-se de atividades voltadas para
a área de conhecimento escolhida, visando proporcionar aos sujeitos pesquisados
condições para uma melhor compreensão e construção de seu próprio
aprendizado. Para a construção da sequência didática leva-se em conta o campo
de conhecimento sobre o tema determinado e os resultados obtidos nos
instrumentos de pesquisa utilizados para recolhimento de informações.
Nesta fase da pesquisa foi elaborada uma sequência para o ensino das
operações com números fracionários que será aplicada em um período de onze
encontros, com duração de aproximadamente duas horas cada, no turno da tarde,
pois os alunos sujeitos desta pesquisa estudam no turno da manhã. A concepção
e posterior análise desta sequência será feita à luz da Teoria das Situações
Didáticas a fim de observar os efeitos no processo de ensino e aprendizagem desse
conteúdo. Assim, durante a concepção da sequência realizamos a análise a priori
de cada situação elaborada, como exigência da metodologia.
A experimentação é a fase em que o pesquisador parte para a
experimentação ou aplicação da sequência didática. A aplicação da sequência
33
didática é a etapa da realização experimental da engenharia didática desenvolvida
com a amostra escolhida. Ela se inicia no momento em que se dá o contato do
pesquisador/observador com o professor e os alunos que fazem parte da
investigação. Segundo Almouloud (2007), a experimentação é considerada como a
fase clássica, pois:
é o momento de se colocar em funcionamento todo o dispositivo construído, corrigindo-o quando as análises locais do desenvolvimento experimental identificam essa necessidade, o que implica em retorno à análise a priori, um processo de complementação. Ela é seguida de uma fase de análise a posteriori que se apoia no conjunto de dados recolhidos durante a experimentação. (ALMOULOUD, 2007, p. 177)
A sequência será formada, obedecendo a certas condições que de acordo
com Pais (2002) são:
Explicitação dos objetivos e condição de realização da pesquisa;
Estabelecimento do contrato didático;
Aplicação dos instrumentos de pesquisa (questionários, testes
individuais ou em pequenos grupos), realizados em diversos momentos
do ensino ou no final;
Registros das observações feitas durante a experimentação.
Portanto, cabe aos pesquisadores, diante do posicionamento assumido
frente ao objeto de ensino, elaborar estratégias que sigam os princípios acima
evidenciados.
Na análise a posteriori e validação ocorre o tratamento dos dados que
foram obtidos durante a fase experimental da sequência. Segundo Artigue (1996),
essa fase se apoia no conjunto dos dados recolhidos na experimentação,
observações realizadas nas sessões de ensino, nas produções dos alunos dentro
e fora da sala de aula. Esses dados são completados por dados obtidos de
metodologias externas, tais como: questionários, testes individuais ou em grupos,
realizados em diversos momentos do ensino ou no final.
A fase de validação é feita durante todo o processo de desenvolvimento da
proposta, observando-se uma constante confrontação entre os dados obtidos na
análise a priori e na análise a posteriori. Nessa análise, verifica-se se as hipóteses
feitas no início da pesquisa foram confirmadas, se o aprendizado foi consolidado e
34
se a autonomia intelectual foi alcançada determinando assim a validação, ou não
da sequência didática empregada.
A engenharia didática oferece a oportunidade de pesquisa, reflexão e
correção das sequências trabalhadas sobre os dados coletados, com chance de
nova intervenção, caso o estudo necessite, sempre respaldados pelos confrontos
das diversas etapas que compõem esta metodologia.
Os dados serão coletados por observação, vídeo gravação e material
produzido pelos alunos.
1.5 REFERENCIAL TEÓRICO
Neste tópico apresentaremos as duas teorias que utilizaremos, tanto para
a elaboração da sequência didática bem como para análise dos dados.
1.5.1 Teoria das Situações Didáticas – TSD
A Teoria das Situações didáticas tem como objetivo caracterizar uma
situação em um processo de aprendizagem que ocorre em sala de aula envolvendo
o aluno, o professor e o saber.
A proposta defendida por Brousseau (1996) é de que o trabalho intelectual
do aluno deve ser de caráter investigativo científico, considerando que o aluno deva
ser capaz de formular, provar, construir modelos, linguagem e de trocar essas
informações com outros alunos.
Deve-se ressaltar que o importante não é a memorização de regras,
teoremas e simplesmente fazer a sua aplicação quando for necessário. O mais
importante é propor-se situações problema que valorizem o raciocínio, a
criatividade e dê condições de desenvolver estratégias pessoais de pesquisa,
contribuindo para que o aluno possa produzir conhecimento.
As relações envolvendo o saber, o professor e o aluno em sala de aula,
devem propiciar condições para a consolidação da aprendizagem através das
situações problema que ocorrem no momento em que são desenvolvidas atividades
de sala de aula.
35
De acordo com Brousseau (1996), a Teoria das Situações Didáticas
permite a intervenção, tanto do aluno como do professor.
Segundo Almouloud (2007) a teoria das situações apoia-se em três
hipóteses:
O aluno aprende adaptando-se a um milieu que é fator de dificuldades, de contradição e de desequilíbrio, um pouco como acontece na sociedade humana. Esse saber, fruto da adaptação do aluno, manifesta-se pelas respostas novas, que são a prova da aprendizagem (BROUSSEAU, 1986, p. 49). Esta hipótese é uma referência à epistemologia construtivista de Piaget. O milieu não munido de intenções didáticas é insuficiente para permitir a aquisição de conhecimentos matemáticos pelo aprendiz. Para que aja uma intencionalidade didática, o professor deve criar e organizar um milieu no qual serão desenvolvidas as situações suscetíveis de provocar essas aprendizagens. A terceira hipótese postula que esse milieu e essas situações devem engajar fortemente os saberes matemáticos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. (BROUSSEAU, 1986 apud ALMOULOUD, 2007, p. 32).
Na TSD, a aprendizagem matemática acontece, efetivamente, sempre que
o conhecimento que se aprende tem sentido e significado para o estudante, e
aquele conhecimento aprendido é aplicado em outros contextos. Desta forma
então, a maneira com que os conteúdos matemáticos são apresentados aos
estudantes são de grande importância na significação do saber escolar.
A TSD distingue duas fases importantes no tratamento das situações de
aprendizagem em sala de aula: situação didática que deve ser conduzida pelo
professor e a situação adidática que diz respeito à ação do aluno sob a mediação
do professor.
A situação didática surge, no momento em que o professor tem a intenção
de ensinar um saber com a finalidade de o aluno aprender de forma significativa. É
As situações adidáticas têm como característica colocar o aluno diante de uma
situação para que ele possa produzir o seu próprio conhecimento, o professor tendo
o papel de mediador e orientador. Com isto, é importante que o professor, na
condução da atividade, crie previamente um ambiente favorável para a
aprendizagem do aluno. De acordo com Brousseau (1996), uma situação didática
é:
Um conjunto de relações estabelecidas explicitamente e ou implicitamente entre um aluno ou um grupo de alunos, num certo meio, compreendendo
36
eventualmente instrumentos e objetos, e um sistema educativo (o professor) com a finalidade de possibilitar a estes alunos um saber constituído ou em vias de constituição. (BROUSSEAU, 1996, p.8).
Na teoria das situações didáticas, segundo Almouloud (2007), o elemento
principal é a situação didática que tem como parte essencial a situação adidática
que tem como característica de ser uma situação na qual a intenção de ensinar não
ser revelada ao aprendiz, porém como essa situação tem uma intencionalidade de
atingir os propósitos do professor, então a mesma deve ser pensada, planejada e
construída pelo próprio professor visando proporcionar ao aluno condições
favoráveis para a apropriação do novo saber que visa ensinar.
Com a finalidade de facilitar a análise do processo de aprendizagem, a
teoria das situações didáticas observa e decompõe esse processo em quatro fases
distintas, porém interligadas observando-se fases de tempos dominantes de ação,
de validação, de formulação e de institucionalização. Segundo Almouloud (2007),
em sua primeira versão, a teoria das situações apresentava apenas as três
primeiras etapas, no entanto com o avanço nas discussões e utilização dessa
teoria, foi necessário se acrescentar mais elementos, como as noções de contrato
didático e a etapa da institucionalização.
A Dialética da ação, de acordo com Almouloud (2007, p. 37), consiste em
colocar o aprendiz numa situação, chamada de situação de ação que:
- Coloca um problema para o aluno cuja melhor solução, nas condições propostas, é o conhecimento a ensinar; - o aluno passa agir sobre essa situação e que ela lhe retorne informações sobre sua ação.
Uma boa situação de ação não é somente uma situação de manipulação
livre ou que exija uma lista de instruções para o seu desenvolvimento. Podemos
dizer que nesta etapa, o aluno está comprometido e empenhado para solucionar
um problema, pois o mesmo aprende agindo. Desta forma o aluno tem a
possibilidade de aperfeiçoar ou deixar de lado o modelo na perspectiva de criar
outro, o que faz com que a situação provoque uma aprendizagem por adaptação.
A dialética da formulação, de acordo com Almouloud (2007), consiste em
colocar o aluno diante de uma situação em que ele possa trocar informações com
uma ou várias pessoas, que serão consideradas como emissoras e receptoras,
trocando mensagens escritas, orais ou de outra forma qualquer dependendo da
37
exigência da situação, explicitando as ferramentas que foram utilizadas e as
soluções encontradas. “Como resultado, essa dialética permite criar um modelo
explicito que pode ser formulado com sinais e regras comuns, já conhecidas ou
novas. Segundo Almouloud (2007, p. 38):
O objetivo da dialética da formulação é a troca de informações. Por exemplo, se o aluno deve agir e não dispõe de toda a informação e seu parceiro no jogo dispõe das informações que lhe faltam, pode haver, nessas trocas, julgamentos, debates de validade, sem que isto constitua necessariamente uma situação de formulação.
Finalmente, podemos dizer que a mesma permite verificar se os alunos
conseguem formalizar os conhecimentos, regras e conceitos, por mais que seja de
forma bem simples, sobre coisas que pensam e que registram no papel.
A dialética da validação, de acordo com Almouloud (2007), o aluno deve
mostrar a validade das possíveis soluções dos diversos modelos criados por eles
em linguagem matemática (modelo da situação) submetendo à apreciação e ao
julgamento de seus colegas de grupo ou de sala, onde ele deve mostrar de forma
clara e precisa a pertinência do desenvolvimento do seu modelo, e caso possível,
fazer a sua validação. Com isto, dependendo do caso, os alunos podem pedir mais
explicações e esclarecimentos sobre o que não entenderam, ou simplesmente
rejeitar as mensagens que ficaram com dúvidas ou discorda, justificando assim a
sua rejeição.
Como conclusão final sobre essa dialética, podemos dizer que ela se
desenvolve nos debates e discussões com os alunos, e na certeza dos resultados
apresentados por eles, como milieu de estabelecer provas ou de refutá-las.
A dialética da institucionalização, de acordo com Almouloud (2007), o
professor, no seu papel de educador, deve fazer uma conclusão sobre tudo que foi
apresentado e discutido, realizando então um confronto entre os conhecimentos
apresentados, institucionalizando o saber ensinado. Após ter sido construído e
validado pela sala de aula, este novo conhecimento passa fazer parte do patrimônio
matemático da classe, e deve ser dominado por todos. De acordo com Almouloud
(2007) depois da institucionalização, feita pelo professor, o saber torna-se oficial e
os alunos devem incorporá-lo aos seus esquemas mentais tornando assim
disponíveis para utilização na resolução de problemas matemáticos.
38
Desse modo, nossa proposta deverá proporcionar para o aluno a
oportunidade de vivenciar todas as etapas que compõem uma situação adidática,
ou seja, a dialética da ação, a dialética da formulação, a dialética da validação e a
dialética da institucionalização.
1.5.2 A Noção de Registro de Representação Semiótica
Neste tópico faremos uma breve análise sobre os fundamentos teóricos dos
registros de representação semiótica na visão do psicólogo Raymond Duval, pelo
fato da nossa proposta de trabalhar as operações com os números fracionários
utilizar mais de uma forma de registros, sendo assim a teoria de registros de
representação semiótica servirá para fazer uma análise mais apurada sobre o que
foi trabalhado com os alunos no decorrer do desenvolvimento das atividades.
Sempre que o aluno está estudando algum conteúdo matemático e faz a
sua representação por meio de tabelas, gráficos, desenhos, etc., ele está
caracterizando esse objeto matemático por uma representação com a finalidade de
obter uma melhor compreensão desse objeto. Segundo Duval (2009). Para este
autor,
Basta olhar para a história do desenvolvimento da matemática para ver que o desenvolvimento de representações semióticas foi um elemento essencial que deu grande contribuição para o desenvolvimento da matemática. (DUVAL, 2009, p. 106).
De acordo com Duval (2009)
[...] há uma diferença básica entre a matemática e os outros domínios do conhecimento científico. Objetos matemáticos, em contraste com os fenômenos da astronomia, física, química, biologia, etc. não são acessíveis pela percepção ou por instrumentos (microscópios, telescópios, aparelhos de medição). A única maneira de ter acesso a eles e lidar com eles é usar sinais e representações semióticas. (DUVAL, 2009, p. 107, tradução nossa
Para o autor, não se pode estudar tudo que é referente ao conhecimento
sem recorrer à representação pelo fato da inexistência de conhecimento algum que
possa ser mobilizado por uma pessoa sem uma atividade de representação.
Duval afirma que “[...] basta olhar para a história do desenvolvimento da
matemática para perceber que o desenvolvimento de representações semióticas
era uma condição essencial para o desenvolvimento do pensamento matemático”
(Ibid, p. 106).
39
Os diversos tipos de registros de representação de um objeto matemático
são de grande importância para que o educando consiga realizar a sua apreensão,
pois de acordo com Damm (2008) quanto maior for a mobilidade com registros de
representações diferentes do mesmo objeto matemático, maior será a possibilidade
de apreensão desse objeto.
A utilização de diferentes tipos de registros de representação no processo
de aprendizagem de matemática faz com que o educando tenha a possibilidade de
optar pela forma mais adequada possível de representar uma situação estudada,
contribuindo assim para o seu pleno desenvolvimento intelectual.
Existem vários tipos de representações semióticas a considerar, tais como,
as representações gráficas, as figuras geométricas, a escrita algébrica ou as
línguas. Para Duval (2009) a parte visível representada obedece a leis de
organização que lhe são peculiares e próprias, e que podem permitir outra forma
de representação. As representações semióticas têm dois aspectos: a forma (ou o
representante) e o conteúdo (ou o representado). Duval (2009) denomina de
registro uma maneira típica de representar um objeto matemático, um problema ou
uma técnica. Para um mesmo objeto matemático dispõe-se de diversas formas para
fazer a sua representação. Podemos ver como exemplo, o caso dos números
fracionários: o registro de representação na língua natural: três quintos; o registro
de representação fracionária: 3/5: o registro de representação decimal: 0,6 e
registro de representação figural (um desenho).
No ensino da matemática, de acordo com Duval (2009), não se dá a devida
atenção à dualidade forma/ conteúdo das representações semióticas e à variedade
de registros de representação que se utiliza, pois ainda segundo ele “um objeto
matemático não deve ser confundido com a representação que se faz dele, é o
conteúdo representado que é importante e não a forma sob a qual é representado.
Porém, não podemos nos esquecer de que as representações semióticas, que
consideramos como representações ‘materiais’, são suporte para as
representações mentais”.
Desta forma então se pode perceber que é essencial e fundamental para a
compreensão do conceito de número racional, a mobilização de vários registros de
40
representação: fracionária, decimal, figural, e da língua natural, pois cada uma
destas formas de representação tem suas características próprias.
De acordo com que Duval (2009) vem chamando atenção, é que
pretendemos mostrar que os números racionais e as operações fundamentais com
os mesmos podem ser representados pelas diversas formas de registros que foram
citadas anteriormente, também é importante ressaltar que o conhecimento de um
deles não implica necessariamente, no conhecimento e necessidade de utilização
de outros registros.
Duval (2009) observa que para a compreensão da matemática é importante
que fique bem claro a distinção entre um objeto matemático e seus registros de
representação semiótica: “os objetos matemáticos não devem ser confundidos com
as representações semióticas utilizadas, embora não haja acesso a eles sem as
representações semióticas” (Ibid, p. 126).
Ele considera que os objetos matemáticos não são acessíveis diretamente
pela percepção ou por outra experiência intuitiva, como são os objetos do mundo
real. Os objetos matemáticos necessitam de representações, sendo assim
percebe-se que as representações semióticas merecem uma grande atenção pelo
fato de exercerem um papel fundamental na atividade matemática. Segundo Freitas
(2008), com relação às atividades cognitivas ligadas e vinculadas as
representações semióticas, Duval chama atenção para que um sistema semiótico
seja um registro de representação é necessário que ele permita três atividades
cognitivas fundamentais: a formação de uma representação identificável, o
tratamento e a conversão.
a formação de uma representação identificável como a representação de um registro dado (enunciado de uma frase compreensível em uma linguagem natural, composição de um texto, desenho de uma figura geométrica, elaboração de um esquema ou resumo, escrita de uma fórmula, elaboração de um diagrama ), cuja formação implica na seleção de traçados e dados do conteúdo a representar. Para fazer tal seleção são necessárias regras de formação que são próprias ao registro semiótico. Assim pode-se dar o entendimento de que o registro é comparável com uma tarefa de descrição. As regras de formação garantem as condições de identificação e de reconhecimento da representação e possibilitam a sua utilização para os devidos tratamentos. Tratamento de uma representação é a transformação internamente ao registro na qual ela é formada. Cada registro tem as formas de tratamento que lhe são próprias. Por exemplo, a paráfrase e a inferência são formas de tratamento de registro em língua natural; o cálculo (numérico, algébrico etc.) é uma forma de tratamento da linguagem semiótica. As regras de
41
tratamento, também são próprias de cada registro, por exemplo, as regras de derivação, as regras de coerência temática, etc. A conversão de uma representação é a transformação de uma representação em outra representação de outro registro que conserva a totalidade ou parte do conteúdo da representação inicia. Por exemplo, a ilustração é a conversão de uma representação linguística em outra representação; a descrição é a conversão de uma representação não verbal em uma representação linguística. (FREITAS, 2008, p.178)
O tratamento de uma representação está ligado ao objeto matemático e
consiste da transformação interna a um registro.
Podemos considerar que o número “um meio” pode ter diversas
representações: representação figural, representação na língua natural (verbal ou
escrita), representação fracionária e representação decimal. Para a maioria delas
podemos definir regras operatórias que possibilitarão o tratamento no registro
escolhido. Podemos também fazer a conversão, por exemplo, o registro fracionário
para o registro decimal. A adição representada por 1
5+
1
5=
2
5 pode ser representada
também por 0,2 + 0,2 = 0,4 no registro decimal.
A representação figural é muito utilizada para a introdução da noção de
números fracionários com a ideia de parte todo, isto é, um inteiro que foi dividido
em partes de mesma área das quais algumas são consideradas. Geralmente, estas
são pintadas ou hachuradas para diferenciá-las das outras, como podemos ver na
figura 1, onde o inteiro foi dividido em cinco partes de mesma área e duas foram
consideradas.
Figura 1 – representação figural para número fracionário
Fonte: produção do autor
A importância de se trabalhar com diversos registros conduz a buscar a
representação que permitirá economia de tempo para os cálculos, uma melhor
interpretação da situação que está sendo trabalhada.
De acordo com Duval (2009), as representações mentais recorrem a um
conjunto de imagens, e mais globalmente, às concepções que um indivíduo pode
ter sobre um objeto ou sobre uma situação que está associada a este. Considerar
42
as representações semióticas como um meio de exteriorização de representações
mentais, com o objetivo de comunicação é um raciocínio falho, pois “as
representações não são necessárias apenas para fins de comunicação, são
essenciais para a atividade cognitiva do pensamento. ” (DUVAL, 2009, p. 39).
Para o autor as representações semióticas possuem um papel primordial
em alguns aspectos tais como:
- desenvolvimento de representações mentais: o que depende de uma
interiorização das representações semióticas, do mesmo modo que as imagens
mentais são uma interiorização das percepções;
- na realização de diferentes funções cognitivas: a função de
objetivação (expressão particular), que é independente da de comunicação
(expressão para o outro), e a função de tratamento que não pode ser completada
pelas representações mentais (certas atividades de tratamento são diretamente
ligadas à utilização de sistemas semióticos, por exemplo, o cálculo);
- na produção de conhecimento: as representações semióticas permitem
representações radicalmente diferentes de um mesmo objeto na medida em que
elas podem depender de sistemas semióticos totalmente diferentes. Assim, o
desenvolvimento da ciência está ligado a um desenvolvimento de sistemas
semióticos muito específicos e independentes da linguagem natural.
De acordo com Duval (2009), a coordenação de diversos registros é uma
condição de grande importância e necessária para que o esquema didático da
representação comumente admitida corresponda a um funcionamento eficaz por
parte do aluno. Numerosas observações, em diferentes níveis de escolaridade,
mostram que essa coordenação não se realiza espontaneamente pela maioria dos
sujeitos. Em nossas escolas, o sistema de ensino de matemática normalmente é
organizado como se a coordenação dos diferentes registros de representação
utilizados ocorresse de forma imediata e espontaneamente.
A resolução de problemas depende primeiramente da compreensão do
enunciado e da conversão das informações pertinentes que estão presentes. Há
necessidade então, de se passar de uma descrição discursiva dos objetos
relevantes para uma escrita simbólica para que os tratamentos possam ser
aplicados. Para Duval (2009) não se pode negligenciar ou descartar a linguagem
43
natural no quadro do ensino da matemática, pois ela é um tipo de registro de grande
importância e tão fundamental quanto os outros tipos de registros.
Alguns trabalhos realizados por pesquisadores abordando números
fracionários apontaram dificuldades apresentadas pelos alunos, como podemos
destacar o de Bianchini (2001) que trabalhou explorando a representação figural,
fracionária e decimal e apontou erros cometidos pelos alunos referentes à
representação figural e a leitura reforçando a necessidade de se explorar vários
tipos de registros de representação.
A razão de se querer trabalhar com a teoria dos registros de representação
semióticas, é pelo fato de que iremos trabalhar com as operações com números
fracionários, e para que o aluno possa ter um uma melhor compreensão dessas
operações, é necessário que se trabalhe as mesmas utilizando mais de uma forma
de registro com a finalidade de propiciar uma melhor compreensão para esse aluno,
pois de acordo com (DAMM, 2008, p. 177) “quanto maior for a mobilidade com os
registros de representações diferentes do mesmo objeto matemático, maior será a
apreensão desse objeto”.
45
2 ANÁLISES PRELIMINARES
Neste capítulo que constitui a primeira fase da Engenharia Didática,
trataremos sobre o uso das tecnologias na escola, apresentaremos os diferentes
significados de número fracionário na visão de pesquisadores que realizaram
trabalhos de grande importância nesse assunto, as operações com os números
fracionários, o uso da calculadora e as operações em livros didáticos
2.1 O USO DE NOVAS TECNOLOGIAS NA ESCOLA
No mundo de hoje as tecnologias fazem parte da grande maioria das
atividades humanas e são construídas ao longo dos tempos pelo homem que
incessantemente vive em busca de conhecimentos que podem ser transformados
em instrumentos, equipamentos, processos, artefatos e ferramentas que são
denominados de tecnologias. Atualmente vivemos cercados e influenciados pelas
tecnologias, o que faz com que as pessoas da sociedade cada vez mais devam ser
capacitadas para o uso da mesma.
É comum as pessoas fazerem confusão sobre o que é a tecnologia e os
produtos que são produzidos a partir dessa tecnologia. Dessa forma então, Bueno
(1999, apud FEDALTO, 2006, p. 17) chama a atenção sobre as formas incorretas
dos usos de interpretação utilizadas pelas pessoas sobre a palavra tecnologia.
É verdade que há uma tecnologia embutida em qualquer instrumento e implícita em sua fabricação; mas isto não é a razão para se considerar o saber embutido num objeto ou implícito na sua produção, com o próprio objeto da indústria. Um derivado desse mau uso é o emprego da palavra tecnologia para significar a organização, o gerenciamento, e, mesmo, o comércio desses aparelhos. Por uma razão ou outra essa confusão essa confusão apareceu na área da computação e da informática, onde a máquina é tão importante quanto o saber de onde se originou. Há, então, o perigo de se confundir toda a tecnologia, isto é, o conhecimento científico aplicado as técnicas e aos seus materiais e processos com uma particular indústria e comércio.
A compreensão correta sobre tecnologia seria o meio utilizado para se
chegar a um produto final, pois é por intermédio da mesma que se constrói um
produto final. De um modo geral, quase tudo que utilizamos em nosso cotidiano, e
que serve para facilitar nossas vidas, é considerado como produtos produzidos a
partir de conhecimentos tecnológicos. Podemos citar como exemplo, o computador,
46
o telefone celular, a calculadora, e outros mais, entretanto todo o conhecimento que
foi produzido pelo homem, é considerado como fruto de uma tecnologia, porém não
é a própria.
Quando os meios de comunicação anunciam a venda de um objeto de
última tecnologia, ao comprarmos esse objeto estamos comprando simplesmente
um fruto da mesma, e não ela própria. Entretanto ela não se restringe simplesmente
a equipamentos e a invenções, porém ainda não se tem uma definição clara com
relação ao que é tecnologia1.
Pela definição de tecnologia, dá para se perceber que é o conhecimento, e
não o objeto que resulta dela, pode-se dizer então que é algo imaterial, e não algo
material que as pessoas possam tocar, manipular e usar.
Podemos dizer que ela deve produzir serviços melhorando a qualidade de
vida das pessoas, com a finalidade de levar o progresso para a sociedade, desta
forma, ela é fruto resultante da interação entre o conhecimento e o ser humano.
De acordo com Melo a tecnologia
não pode ser separada do homem e das questões sociais, de como ele pode aplicar seus conhecimentos, produzindo novas tecnologias, mais conforto e bem-estar. É quase impossível pensar que o advento da tecnologia e de seu progresso não traria bem-estar a todos, mas em alguns casos isso acontece. (MELO, 2008b, p. 22)
Ao criar máquinas e equipamentos oriundos de altas tecnologias, como
computadores, máquina de calcular em empresas, bancos, máquinas agrícolas,
etc. proporcionou mais qualidade e agilidade na execução dos serviços, mas
eliminando a figura de vários outros tipos de profissionais, como datilógrafos,
gráficos, etc., fazendo com que muitas pessoas perdessem seus empregos. De
acordo com Melo (2008b) este fato ocorreu em várias áreas, como a agricultura, a
indústria de produção, e outras tantas. Com isto surge um grande desafio que é de
descobrir um meio de combinar desenvolvimento com emprego, mas como o
mercado de trabalho está exigindo muita mão de obra qualificada, talvez a solução
do problema possa ser o investimento em educação.
1 Ao consultar o dicionário (FERREIRA, 2004, p. 192), sobre o que é tecnologia, o mesmo nos informa que: “é o conjunto de conhecimentos, especialmente princípios científicos, que se aplicam a um determinado ramo de atividade”
47
Os avanços e as conquistas da tecnologia possibilitam ao homem uma
melhor compreensão do mundo em sua volta, dando-lhe melhor capacidade para
manipular a natureza, o mundo em sua volta e os fatos, contribuindo com o aumento
da capacidade de produzir mais e melhor. É importante se destacar sobre a
formação com o uso da Tecnologia para o ensino da matemática pois essa
tecnologia contribuirá com o processo de aprendizagem da matemática.
Alguns pesquisadores que desenvolveram trabalhos com o uso da
tecnologia, chamam atenção sobre a importância da utilização de computadores
através de programas de software que propiciam ao aluno pensar
matematicamente, pois o mesmo tem a possibilidade de realizar experimentos,
testar hipóteses, constrói conceitos diversos, possibilita a criação de estratégias
para resolver problemas.
Podemos dizer que o computador já é considerado como um recurso de
grande importância para a educação, pela sua ampla utilização em sala de aula
como uma ferramenta que promove a aprendizagem. De acordo com Bilac (2008,
p. 23) o computador
não é mais o instrumento que ensina o aprendiz, mas a ferramenta com a qual o aluno desenvolve algo, e, portanto o aprendizado ocorre pelo fato de estar executando uma tarefa por intermédio do computador.
Da mesma forma que foi desencadeado o processo evolutivo da tecnologia,
consequentemente, a calculadora também acompanhou esse processo evolutivo,
e as calculadoras que antes possuíam apenas recursos para atender as operações
básicas, ampliaram a sua capacidade operacional contando com uma série de
recursos e capacidade de realização de muitas funções de grande importância para
facilitar a vida das pessoas, tanto em atividades acadêmicas como em atividades
do cotidiano.
Para que o professor possa realizar um bom trabalho em sala de aula com
o auxílio de qualquer recurso tecnológico, é necessário primeiramente que este
professor tenha sido preparado para isso, para trabalhar com a calculadora também
não é diferente, ou seja, é necessário que o professor faça um bom planejamento,
elabore estratégias e faça um estudo e preparação prévia de atividades, exercícios,
experimentos, etc.; visando o sucesso do trabalho. De acordo com Giancaterino
48
(2009) uma grande causa de equívoco da educação atual é o baixo índice de
aceitação e incorporação da tecnologia no processo educacional.
Desenvolver atividades em sala de aula com o uso da tecnologia exigirá do
professor uma nova postura diante do processo educacional, pois o professor:
deixará de ser o detentor do conhecimento e o aluno um ser passivo que recebe uma gama de conhecimentos que lhe são significados. Quem irá construir o conhecimento será o próprio aluno a partir da relação social mediada pela tecnologia. (VASCONCELOS,1994, p. 83).
É importante que se tenha alguns cuidados quando inserimos em sala de
aula a utilização de um novo instrumento que pode ser às TIC ou outro qualquer,
ou seja, deve-se pensar e planejar como será feita esta aplicação por estratégias e
objetivos muito bem elaborados.
Na maioria de nossas escolas, de um modo geral o único recurso que o
professor tem a seu dispor para desenvolver o seu trabalhar em sala de aula, é o
livro didático, porém esse livro não agrega o uso da calculadora em suas atividades.
De acordo com PCN (BRASIL, 1997a, p.67) “a utilização de materiais diversificados
como jornais, revistas, folhetos, propagandas, computadores, calculadoras, filmes,
faz o aluno sentir-se inserido no mundo à sua volta”. Afirmam ainda que:
Recursos didáticos como jogos, livros, vídeos, calculadoras, computadores e outros materiais têm um papel importante no processo de ensino e aprendizagem. Contudo, eles precisam estar integrados a situações que levem ao exercício da análise e da reflexão, em última instância, a base da atividade matemática. (BRASIL, 1997b, p. 19).
O uso de tecnologias (calculadora) nas aulas de matemática pode se
constituir como um recurso de grande importância para que o aluno trabalhe
conceitos, propriedades, definições e outras atividades.
O ideal seria que o livro didático trouxesse a calculadora atrelada a uma
proposta pedagógica, para que a utilização dessa máquina já tivesse ocorrido a
mais tempo. Alguns livros didáticos já estão trazendo de uma forma bem modesta,
algumas atividades com calculadoras, mostrando que a mesma não serve somente
para realizar cálculos.
49
2.2 OS DIFERENTES SIGNIFICADOS DE NÚMERO FRACIONÁRIO
Kieren faz parte do grupo “Rational Number Project (RNP), que foi fundado
em 1979 e que se dedica a estudar problemas relativos ao processo de
aprendizagem dos números racionais, a sua colaboração para o RNP foi com
relação a estrutura conceitual, afirmando que o domínio matemático dos números
racionais é construído segundo uma visão integrada das concepções: de medida,
de quociente, de operador e de razão, e também das relações existentes entre elas.
De acordo com Martinez (1996, apud RODRIGUES, 2005) Kieren é
considerado como o primeiro pesquisador que chamou a atenção sobre a
complexidade de compreensão do conceito de número fracionário pelos alunos das
séries iniciais e até de séries mais adiantadas, desta forma ele publicou em 1976
um artigo, propondo que a compreensão desse conceito deve considerar sete
interpretações que estão relacionadas entre si e que devem ser consideradas,
segundo as estruturas; matemáticas, cognitivas e as estruturas instrucionais
envolvidas. Para o autor, Kieren propõe substituir o termo interpretações por
“subconstrutos”, onde entendeu a noção de número racional como um construto
teórico que pode se constituir a partir de noções mais simples, chamadas
subconstrutos. Assim, frente a um problema é possível isolar com mais facilidade
as noções essenciais para a construção do conceito. Para Kieren (1993) o conceito
de número racional pode ser construído a partir de quatro subconstrutos:
quociente, operador, medida e razão.
Para o autor as ideias que estão contidas no subconstruto parte-todo, já se
encontram presentes nos construtos quociente, operador e medida, o que faz que
o mesmo não seja considerado como um subconstruto como outros pesquisadores
o consideram.
Kieren (1993) propõe então um modelo teórico para mostrar as possíveis
interconexões existentes entre as ideias que formam o conceito de número racional,
desde as situações contidas no conhecimento intuitivo do aluno, até o estágio de
formalização do conceito, que é apresentado pelos quatro níveis que deve passar
a construção do conceito de número racional:
- o nível dos conhecimentos intuitivos dos subconstrutos.
50
- um terceiro nível, obtido a partir dos subconstrutos em direção a um pensamento multiplicativo mais formal - o conhecimento estruturado dos números racionais, dentro de um conjunto quociente. (KIEREN, 1993, p. 64-65).
Em sua tentativa de fornecer explicações concisas sobre essa evolução do
processo de construção do conceito, o autor considera que a partição e a obtenção
de números fracionários com numerador unitário, da forma 1
𝑏, (com 𝑏 ≠ 0) tem, para
a criança, o mesmo papel de um axioma na construção do número racional como
elemento de um conjunto quociente. Considera ainda que o número racional deve
ser visto primeiramente como um conhecimento humano para depois ser visto
como uma construção lógico formal. Aponta ainda que o número racional assume
simultaneamente um caráter de quociente e de razão. Quando apresenta o caráter
de quociente responde a questão “quanto?” e como razão estabelece uma
propriedade relacional entre a parte e o todo.
Para Behr et al (1992) é importante diferenciar números racionais de
frações e considera os números racionais como elementos de um conjunto infinito
de quocientes formados por infinitas classes de equivalências cujos elementos são
as frações.
Romanatto (1997, p. 72 afirma que Gimenez (1998) analisa as frações
como:
quantidade, medida, razão e taxa. O autor associa essas interpretações a problemas ora estáticos, ora dinâmicos. Na interpretação de quantidade temos um problema associado à ideia de
parte/todo no aspecto estático (3
4 de uma pizza) e à ideia de partição no
aspecto dinâmico (Repartir 3 pizzas entre 4 pessoas. Quanto caberá a cada uma?). Na interpretação de medida temos no aspecto estático um problema que pode ser expresso da seguinte forma: “comprei ¾ de um produto”, e, no aspecto dinâmico, um problema poderia ser: “quantos ¾ têm em dois inteiros?”. Na interpretação envolvendo razão podemos associar problemas no aspecto estático com a ideia de comparação (João tem ¾ de dinheiro mais que José) e no aspecto dinâmico com a ideia de proporção (compro 4, porém pago 3). Por fim, na interpretação relacionada à taxa, no aspecto estático temos problemas do tipo: percorro 3 km a cada 40 minutos, ligado à ideia de um fator, enquanto no aspecto dinâmico, a noção pode ser associada a problemas do tipo: “o preço de 5 lápis equivale ao preço de 3 canetas.”
Silva (2009) baseada na noção de concepção de Artigue (1990) que tem a
função de mostrar diferentes pontos de vista para um objeto matemático, de
51
diferenciar representações e tratamentos associados, entre outros, define as
seguintes concepções de números fracionários: parte-todo, medida, quociente,
razão e operador.
De acordo com Silva (2009, p. 104)
A concepção parte-todo emerge da ação de dividir uma grandeza contínua (comprimento, área, volume,...) em partes equivalentes ou uma grandeza discreta (coleção de objetos) em partes iguais em quantidades de objetos. Usualmente, são manipulados dois tipos de objetos ostensivos: o registro da escrita simbólica a/b, associado ao registro figural em que regiões ou conjunto de figuras, representando elementos discretos, aparecem divididos em partes “iguais”.
Para a autora a mobilização da concepção parte todo sugere (figura 2) que
o aluno deve relacionar um, ou mais registros escritos; uma, ou mais, figuras
divididas de diversas maneiras distintas, e criar relações que possam facilitar a
compreensão dessa concepção.
Figura 2 – representação figural e numérica para situações na concepção parte todo
Fonte: Silva (2009, p. 105)
Para facilitar o entendimento dessa concepção a autora destaca que é
importante o professor trabalhar uma grande diversidade de tarefas e técnicas para
que o aluno construa uma compreensão significativa da mesma.
Nessa concepção a representação 𝑎
𝑏 indica uma partição (divisão em partes
iguais), onde o número b indica o número de partes iguais em que o inteiro foi
dividido, daí a denominação de denominador, ou seja, é quem irá nomear cada uma
dessas partes como meios, terços, quartos, quintos, etc., já o número a indica
quantas dessas partes estão sendo consideradas e por isso que é chamada de
numerador. Acrescenta que a quantidade de partes representada por a, não pode
ser maior que b, ou seja, o número fracionário 𝑎
𝑏 não pode ser maior que um, pois
2
1
3
1
concepção: metade do retângulo foi pintada, porque ele foi dividido em duas partes de mesma área e uma foi considerada
concepção: um terço das bolinhas estão pintadas, porque o total de bolinhas foi dividido em três partes de mesma quantidade e uma foi considerada.
52
para o aluno é difícil compreender que um inteiro tenha sido dividido em, por
exemplo, cinco partes depois sejam consideradas sete.
De acordo com Silva (2009) tarefas que podem mobilizar a concepção
parte-todo e que solicitam a quantificação ou identificação de partes de um inteiro,
em representação figural de grandezas contínuas ou discretas, solicitam apenas a
técnica da dupla contagem das partes, que segundo a pesquisadora tem as suas
limitações. Para essas tarefas a autora afirma que dois conhecimentos são
indispensáveis: a natureza do inteiro e como ele pode ser dividido, e o que será
considerado como parte desse inteiro, pois segundo ela, é disso que dependerá a
construção ou escolha da técnica adequada para a percepção, inclusive, dos limites
da dupla contagem das partes.
Para a autora a atividade de medir é bastante antiga. Desde muito tempo o
homem já buscava estabelecer padrões de medidas, principalmente de
comprimento, além disso afirma que
As tarefas envolvendo medições de comprimentos são apropriadas para a percepção da limitação dos números naturais, como resultado de medições, e da necessidade de novos números para a quantificação adequada de comprimentos. (SILVA, 2009, p.116).
Ainda de acordo com a pesquisadora, as tarefas de medição associam a
concepção de medida exigindo a manipulação de um padrão, chamado de unidade
de medição que depende diretamente da grandeza em jogo. Em seu trabalho a
pesquisadora procurou tratar apenas de tarefas que abordam medidas de
comprimento, por entender que a construção de técnicas apropriadas para tais
tarefas garantirá o desenvolvimento de técnicas para o tratamento de outros tipos
de grandezas. As tarefas associadas à concepção de medida de comprimento,
geralmente podem solicitar a manipulação de três tipos de objetos ostensivos:
A figura de uma reta numérica, ou algum esquema de medida, o número fracionário 1/b que representa uma subunidade, isto é a unidade escolhida foi dividida em b partes para permitir a mediação e o número fracionário a/b que representará o resultado da mediação realizada. (SILVA, 2009, p. 116).
Na tarefa em que a unidade de medida foi escolhida e dividida, será
possível fazer a relação da concepção de medida com a concepção parte-todo. Nas
tarefas em que as atividades utilizam retas numéricas ou retas que foram divididas
53
em segmentos de partes congruente, é necessário que se estabeleça a origem, e
o sentido em que a medição será realizada, como mostra a figura 3, e que
dependendo do problema poderá ser a partir da origem ou de outro ponto qualquer.
Figura 3 – concepção de medida
Fonte: Silva (2009, p. 119)
Uma das dificuldades que o professor enfrenta no ensino dos números
fracionários, é mostrar a representação de frações maiores que o inteiro que na
concepção de medida pode ser facilmente trabalhado.
Quanto à concepção de quociente a autora a firma que tem o seu princípio
associado a ideia de distribuição de grandezas e de divisão. Sobre as tarefas que
mobilizam essa concepção, Silva (2009, p. 120) nos esclarece que:
O ostensivo a/b que representa o resultado de uma distribuição significa que a foi distribuído em b partes, ou seja, a foi dividido em um número b de partes iguais. Diferentes dos tipos de tarefas que associam as concepções tratadas anteriormente, nesta o a pode ser menor, maior ou igual a b e podem representar objetos diferentes como, por exemplo, “crianças e chocolates”.
Essa concepção tem a característica de distribuir ou dividir, a em b partes
iguais, associando ao fracionário𝑎
𝑏 a operação de divisão𝑎 ÷ 𝑏. Acrescenta que em
contextos discretos, a técnica é a divisão de naturais, e no caso de contextos
contínuos, a técnica pede um plano de ação que pode tornar a divisão mais
complexa. Nos dois casos, pode-se considerar que a complexidade da técnica está
relacionada ao aspecto da divisão, que segundo a autora pode ser da seguinte
maneira:
Partitiva, quando são dados a quantidades de inteiros e o número de partes em que se quer dividir essa quantidade e pede-se o valor de cada parte. Por cotas, quando são dados a quantidade de inteiros e o valor de cada parte e pede-se a quantidade de partes possíveis (SILVA, 2009, p.120)
x y
0
1 2 3
54
Por exemplo, na figura 4 podemos ver duas maneiras para representar a
distribuição de cinco pizzas para quatro crianças. Na primeira distribuição cada
pizza é dividida em quatro partes iguais e se distribui cinco dessas partes para cada
criança, concluindo-se que cada uma recebe5
4 do total de pizza, que pode conduzir
o aluno a fazer a divisão 20 ÷ 4 descaracterizando a grandeza contínua e
permitindo a operação de divisão em N. Na segunda distribuição é distribuída uma
pizza inteira para cada criança e apenas a última dividida em quatro partes iguais
o que mostra que cada um recebeu 11
4 de pizza.
Figura 4 – concepção quociente, grandeza contínua
Fonte: Silva (2009, p. 121)
Em um outro exemplo envolvendo grandeza contínua a autora apresenta
uma situação em que se distribui três chocolates de tal forma que cada criança
receba3
5 de um chocolate, como mostra a figura 5. Numericamente a situação pode
ser representada numericamente pela divisão de um número inteiro por um número
fracionário:3 ÷3
5= 5.
Figura 5 – concepção quociente - grandeza contínua
Fonte: Silva (2009, p. 122)
Silva (2009) apresenta ainda um exemplo com grandeza discreta em que
solicita a distribuição de 105 bolinhas de tal forma que cada criança receba 15
bolinhas, que trata da divisão por cotas e que é resolvido por uma divisão com
números naturais, mas que permite perceber que 1
15× 105 = 7 = 105 ÷ 15.
4
15
4
545
4
11
4
1145
1 2 3 4 5
55
Dentre as concepções estudadas a razão tem características diferentes,
pois as tarefas associadas à essa concepção, segundo Silva (2009), não permite
associar a ideia de partição como nas anteriores, mas sim a ideia de comparação
entre medidas de duas grandezas. A representação 𝑎
𝑏 nessa concepção, segundo
a autora, nem sempre pode ser associada à concepção de quociente, mas sim
entendida como um índice comparativo, sem necessariamente transmitir a ideia de
número fracionário. Desta forma ela esclarece que uma representação fracionária
do tipo 2
3, associada à concepção de razão, não permitiria a leitura “dois terços” e,
sim, “dois para três” que nos remete à equivalência de razões e à ideia de
proporcionalidade representada por 𝑎
𝑎=
𝑐
𝑑, ou seja a proporcionalidade nada mais
é que uma igualdade entre números fracionários ou entre razões, importante
técnica para a resolução de problemas.
A respeito de tarefas que associam a concepção de razão, Silva (2009, p.
124) esclarece que:
Podem comparar grandezas de mesma natureza ou não, em contextos contínuos e ou discretos podendo ainda estar associadas a situações do tipo: todo-todo-quando compara as quantidades de dois inteiros; parte-parte – quando compara as quantidades de duas partes de um inteiro ou partes de dois inteiros, ou ainda, parte-todo.
A autora apresenta um exemplo em que a razão é determinada a partir da
grandeza comprimento, como mostra a figura 6. A tarefa proposta pela autora
refere-se a grandezas contínuas de mesma natureza em uma situação do tipo todo-
todo. Sendo a medida da altura da placa A de 5 unidades e a B de 8 unidades que
permite dizer que a razão de A para B é de “5 para 8”, o que caracteriza uma
ampliação. Já a razão de B para A é de “8 para 5”, o que caracteriza uma redução
e que podem ser representadas por 5
8 ou 5:8 e
8
5 ou 8:5.
56
Figura 6 – exemplo de razão entre grandeza de mesma natureza
Tarefa 1:Determinar a razão de ampliação e de redução entre as figuras A e B.
A B
Fonte: Silva (2009, p. 124)
A autora apresenta outros exemplos, que não apresentaremos aqui porque
como nosso objetivo é tratar das operações com números fracionários a ideia de
razão não poderá ser apresentada, por que as representações desta concepção
nem sempre são números, em grande parte representam apenas uma comparação.
Para Silva (2009) os números fracionários que representam a concepção
de operador é:
manipulado como “algo que atua sobre uma quantidade” e a modifica produzindo uma nova quantidade. Essa ação pode ser entendida pela ação de operador fracionário que modifica um estado inicial e produz um estado final. Nessas tarefas, O
fracionário 𝑎
𝑏são manipulados efetivamente como números e
facilitam a compreensão da operação de multiplicação entre fracionários. (SILVA, 2009, p. 134).
Apresenta como um exemplo a transformação de grandezas pela ação de
um operador fracionário que consiste na construção de um quadrado que tenha seu
lado com 2
3 da medida do lado de um quadrado dado, como mostra a figura 7.
Figura 7 – concepção de operador, grandeza contínua, redução de um quadrado
Fonte: Silva (2009, p. 134)
A tarefa apresentada na figura 7 apresenta o operador fracionário agindo
sobre um “quadrado de lado medindo 9” que deve ser transformado pelo operador
2
3 em um “novo quadrado de lado medindo
2
3 de 9, que pode ser representado pelo
0
5
0
8
6 9 3 para 2
57
esquema da figura 8. No entanto, essa mesma transformação pode ser
representada também pela razão 3
2.
Figura 8 – estados da concepção de operador - caso contínuo
Estado Inicial Operador Estado final
Fonte: Silva (2009, p. 135)
A autora apresenta ainda a composição de dois operadores em uma
situação em que solicita a pintura de 1
6 da seção pintada de um disco que apresenta
3
4 de sua região já pintada, como mostra a figura 9.
Figura 9 – composição de operadores - grandeza contínua
Pinte 1/6 da seção pintada do disco, que fração do disco você pintou?
Fonte: Silva (2009, p. 136)
A tarefa apresentada na figura 9 associa a concepção parte todo para a
divisão da parte do disco que já está pintada em seis partes e na percepção de que
a parte que foi pintada representa 1
8 do disco e que o resultado pode ser
representado por 1
6×
3
4=
1
8.
Apresentada as concepções que utilizaremos em nosso trabalho
passamos, no que segue, a estudar as operações com números fracionários.
2.2 AS OPERAÇÕES COM OS NÚMEROS FRACIONÁRIOS
Para falarmos nesta pesquisa sobre as operações fundamentais de adição,
subtração, multiplicação e divisão de números fracionários, fomos buscar
embasamento em alguns trabalhos que desenvolveram pesquisas sobre o referido
assunto. Esperamos que com esses conhecimentos, poderemos ter mais apoio em
3
29
6
58
nossas reflexões para o ensino dessas operações que são de grande importância
na formação de nossos alunos no ensino fundamental.
O trabalho de Nunes et al. (2005), apresenta discussões a respeito da
diferença entre as estruturas aditivas e multiplicativas. Para esses autores o
raciocínio aditivo baseia-se na coordenação de três esquemas de ação: juntar,
separar e colocar em correspondência um a um. Com isso o raciocínio aditivo
refere-se a situações que podem ser analisadas a partir de um axioma básico: “o
todo é igual a soma das partes”. Todas as relações que poderemos ter para obter
o todo ou as partes serão obtidas obedecendo ao axioma citado. Por essa razão,
diz-se que o invariante conceitual do raciocínio aditivo é a relação parte todo.
Os autores destacam que o conceito primitivo de multiplicação se baseia
na ideia de adição repetida de parcelas iguais, porém do ponto de vista conceitual,
existe uma grande diferença entre adição e multiplicação. O invariante conceitual
do raciocínio multiplicativo é a existência de uma relação fixa entre duas variáveis
(ou duas grandezas ou quantidades).
Pela grande complexidade que é trabalhar as operações com os números
fracionários e mais ainda pela dificuldade que os alunos apresentam para sua
compreensão, embasaremos essa questão tomando como referência o artigo dos
pesquisadores Silva e Almouloud (2008) em que fazem uma reflexão a respeito das
operações com números fracionários focalizando a concepção parte-todo. O
trabalho foi conduzido no sentido de dar significado às operações fundamentais
com números fracionários a partir de representações de figuras planas, mobilizando
a concepção parte todo, pois como justificam os autores o ensino privilegia a
representação figural em grandezas contínuas e por isso as operações poderiam
se relacionar a elas.
Os pesquisadores alertam para não utilizar representações para
quantidades maiores que o inteiro, pois não daria para explicar para uma criança
uma representação do tipo, por exemplo, 5
3, na concepção parte todo. Como se
pode obter cinco partes se o inteiro foi dividido num número máximo de três partes
iguais.
Para trabalhar as operações de adição e subtração com números
fracionários os pesquisadores utilizaram vários modelos de figuras e técnicas
59
diversas para tratar de maneira mais prática possível as operações, com a
finalidade de mostrar que quando os números possuem denominadores diferentes,
as partes consideradas também têm denominações diferentes e para a realização
dos cálculos normalmente precisamos transformar esses números fracionários em
equivalentes com mesmo denominador.
Os pesquisadores apresentam em sua proposta algumas sugestões para o
ensino das operações para serem trabalhadas em sala de aula, o que faz com que
se analise o tipo de atividade mais adequado para ser trabalhado com cada grupo
de aluno, dependendo de vários fatores tais como: idade, maturidade, experiências
vividas com matemática, etc.
Dentre as atividades propostas pelos pesquisadores, destacamos umas
que apresentam as figuras divididas em partes, tanto iguais como não iguais, porém
as figuras que não estão divididas em partes iguais, os alunos precisam descobrir
a partir da parte pintada, em quantas partes o todo foi dividido, ou seja, achar a
parte múltipla daquela pintada, e assim encontrar em quantas partes iguais a figura
foi dividida, e com isso fazer a representação das partes e realizar os cálculos de
adição e subtração, isto com denominadores iguais.
Para trabalhar com números fracionários com denominadores diferentes os
pesquisadores citam que é comum utilizar o mínimo múltiplo comum (m.m.c.) para
transformar os números fracionários em outros equivalentes e de mesmo
denominador, e ainda ressaltam que tal procedimento acaba prejudicando a
compreensão da definição de adição e subtração de números fracionários com
denominadores diferentes. Sendo assim, o objetivo das atividades desenvolvidas
por eles, é de conduzir o aluno para que ele perceba que o produto dos
denominadores é uma boa opção para a transformação em frações equivalentes e
para a compreensão das regras para essa operação.
As atividades apresentadas pelos pesquisadores mostram figuras
retangulares divididas e pintadas em quantidades e formas diferentes, mas se
prestarmos bem atenção na forma como foram divididas, dá para se perceber o
retângulo dividido com o número de partes múltipla das iniciais que o mesmo estava
dividido, com isso cada parte passa ter uma nova representação fracionária, mas
com o mesmo denominador, ou seja são representações equivalentes. Desta forma
60
então houve a transformação em frações equivalentes permitindo assim que se
realize a adição ou subtração como na situação anterior com frações de mesmo
denominador.
Para efetuarmos adições que o resultado, dá maior que a unidade, os
pesquisadores recomendam que uma possibilidade, é associar a concepção parte
todo à concepção de medida utilizando retas e segmentos numerados.
Na visão dos pesquisadores, as atividades que foram apresentadas
contribuem para a compreensão da regra operatória da adição e subtração de
números fracionários, embora outras atividades podem ser necessárias e que com
certeza irão contribuir com o aprendizado do aluno, também o importante é que o
aluno compreenda que para adicionar números fracionários com denominadores
diferentes, o produto entre seus denominadores é uma boa opção para se obter as
frações equivalentes e consequentemente chegar expressar uma regra geral
dessas operações.
Segundo Silva e Almouloud (2008)
Dependendo da faixa etária, essa atividade poderia ser respondida por uma descrição dos passos utilizados pelo aluno, ou ser generalizada 𝑎
𝑏+
𝑐
𝑑=
𝑎𝑑+𝑏𝑐
𝑏𝑑, sem que o mínimo múltiplo comum (mmc) entre os
denominadores seja citado. Entendemos que esse procedimento auxilia o aluno a construir um significado para a operação adição com números fracionários, além da compreensão do algoritmo que se utiliza para realizá-la, pois já sabemos que, geralmente o aluno não tem uma compreensão clara do papel do mínimo múltiplo comum nesse tipo de cálculo. (SILVA e ALMOULOUD, 2008, p. 65).
Para trabalhar a operação de multiplicação com números fracionários os
autores recomendam que devemos associar a concepção parte todo ás
concepções de operador e de medida, fazendo analogias com as operações com
os números naturais, já conhecidas pelos alunos.
Sobre a maneira de como se deve iniciar o trabalho com a operação de
multiplicação com números fracionários (Behr et al. apud, SILVA e ALMOULOUD,
2008) acreditam que a mesma pode ser introduzida como uma extensão da
multiplicação de números inteiros, a partir de situações que pedem para seja
encontrada a parte de uma parte, como por exemplo, a metade de um quinto.
61
Inicialmente os alunos deverão fazer uma analogia com a representação
da multiplicação com os números naturais, assim como representa o dobro de cinco
por 2x5, o dobro de um quinto por 2 ×1
5, de acordo com os pesquisadores essa
representação fica mais fácil de ser compreendida através da representação figural
e pela representação com a reta graduada numericamente.
Em situações em que é solicitado pintar uma parte de outra parte de um
segmento, os pesquisadores comentam que a ação de um operador fracionário
sobre um inteiro ou unidade, confunde-se, muitas vezes com a concepção parte
todo de fracionários. Para resolver essa atividade é necessário associar a
concepção parte todo á de medida, já em situações em que é solicitado que se
pinte partes de uma outra parte, de uma figura retangular, essa atividade solicita a
mobilização da concepção de medida, e consequentemente, da utilização de uma
régua para proceder a divisão do lado do retângulo que permitirá identificar as
partes da região pintada e posteriormente identificando o número fracionário que
soluciona a situação.
De acordo com a proposta em questão, em situações em que é solicitado
que se pinte tantas partes de outras partes, os pesquisadores recomendam, por
exemplo, que o aluno deva medir e dividir os dois lados do retângulo em número
das partes envolvidas e pintá-las, com isso mobilizando a concepção parte todo e
a dupla contagem das partes, e o resultado da multiplicação é a área delimitada
pelo produto das duas partes envolvidas (números fracionários envolvidos).
De um modo geral quando trabalhamos com situações que envolvam
formas geométricas retangulares, estamos na realidade trabalhando com a ideia de
área, mas que para o aluno do início do ensino fundamental ainda não tem muito
sentido, e a área do resultado do produto é obtida pela multiplicação das partes
envolvidas no sentido do comprimento e da largura da figura geométrica, com isso
mobilizando a dupla contagem e a concepção parte todo, como já havia sido citado.
Para os pesquisadores, o interesse após terem realizado várias atividades,
é de que o aluno possa elaborar a regra geral para a operação com números
fracionários como sendo o produto dos numeradores sobre o produto dos
denominadores, e dependendo da faixa etária do aluno o mesmo poderá até
mesmo formalizar e generalizar a mesma da seguinte maneira:𝑎
𝑏×
𝑐
𝑑=
𝑎𝑐
𝑏𝑑.
62
Dentre as operações trabalhadas, a operação divisão com números
fracionários é a que os alunos mais apresentam dificuldades, igualmente como na
divisão com os números naturais. Para os pesquisadores sobre essa operação é
necessário dar condições ao aluno para perceber que a regra operatória da divisão
é semelhante à da multiplicação, ou seja, em alguns casos podemos dividir o
numerador de um número fracionário pelo numerador do outro, sobre o
denominador de um sobre o denominador do outro número fracionário, esse tipo
de situação proporciona mais agilidade para o aluno e livrar o mesmo de ter que
decorar mais uma regra.
As atividades propostas a seguir têm a finalidade de contribuir na aplicação
e esclarecimento das ideias comentadas anteriormente. Dentre os diversos tipos
de atividades que podem ser trabalhadas, uma das mais eficiente para essa
operação, é aquela que pede para descobrir quantas partes cabem dentro de um
inteiro ou dentro de outra parte.
Nos exemplos a seguir que perguntam: a) Quantos meios cabem em um
inteiro? e b) Quantos terços cabem em um inteiro? Como o aluno já possui
conhecimentos anteriores, ele consegue perceber que na situação (a) reposta
aponta que cabem dois meios, e na (b) a resposta aponta que cabem três terços.
Concordamos com os pesquisadores que afirmam que de um modo geral os alunos
não sentem dificuldade para compreender as situações apresentadas e que podem
também ser mostradas através de uma figura.
Nos exemplos a seguir em que é dada a representação figural e as
respectivas sentenças matemáticas: a) 1
3÷ 2 e b)
1
4÷ 3 , de acordo com os
pesquisadores, com a ajuda das figuras e da dupla contagem das partes, pode-se
perceber que 1
3÷ 2 =
1
6 , além disso, na realidade na ação sobre a figura (a),
buscamos a metade de um terço, cuja representação, vista anteriormente, é 1
2×
1
3=
1
6. De maneira análoga, na figura (b) obtém-se,
1
4÷ 3=
1
12 e a busca de um terço de
um quarto cuja representação é 1
3×
1
4=
1
12.
Outro tipo de exemplo apresentado pelos pesquisadores muito interessante
é a divisão envolvendo dois números fracionários: Se um quinto de dois terços é
63
representado por 1
5×
2
3e representando por uma figura e utilizando a dupla
contagem, fica fácil de se perceber o resultado, no entanto utilizando
conhecimentos anteriores, de que a divisão é a operação inversa da multiplicação,
como se define com os números naturais, desta forma então podemos sugerir que
os alunos a apliquem no caso dos fracionários, ou seja, se 1
5×
2
3=
2
15 , então
2
15÷
1
5=
2
3 , e
2
15÷
2
3=
1
5.
Na visão dos pesquisadores alguns alunos podem perceber que o produto
em cruz pode nos dar a solução e que esta é equivalente ao produto do primeiro
fracionário pelo inverso do segundo. Também é importante que o educador tome
as devidas precauções para que ele não confunda este procedimento com o
utilizado com o tratamento de proporções.
2.3 O USO DE CALCULADORAS NA ESCOLA
Da mesma forma que foi desencadeado o processo evolutivo da tecnologia,
consequentemente, a calculadora também acompanhou esse processo evolutivo,
e as calculadoras que antes possuíam apenas recursos para atender as operações
básicas, ampliaram sua capacidade operacional contando com uma série de
recursos e capacidade de realização de muitas funções de grande importância para
facilitar a vida das pessoas, tanto em atividades acadêmicas como em atividades
do cotidiano.
Nos anos 70, ao ingressar no ensino técnico médio na Escola técnica
federal do Pará (ETFPA), os alunos iniciavam o curso matriculando-se em um curso
de seis meses para aprender a manusear um instrumento chamado de “régua de
cálculo” para facilitar a realização de cálculos complexos e longos que apareciam
ao longo do desenvolvimento de diversas disciplinas desse curso técnico, aja visto
que até então, a calculadora ainda não estava disponível para o aluno. As
calculadoras científicas disponíveis no mercado hoje operam com números na
forma de notação científica, na forma fracionária, operam em bases binárias, com
representações gráficas, com funções trigonométricas. Em nosso trabalho a
calculadora que iremos usar é da Casio modelos fx-82ES e fx-82ES PLUSbk, que
é um recurso de fácil aquisição pela escola.
64
Para que o professor possa realizar um bom trabalho em sala de aula com
o auxílio de qualquer recurso tecnológico, é necessário primeiramente que este
professor tenha sido preparado para isso. Com a calculadora não é diferente, pois
é necessário que o professor faça um bom planejamento, elabore estratégias e faça
um estudo para a preparação prévia de atividades, exercícios, experimentos, etc.;
visando o sucesso do trabalho.
É importante que se tenha alguns cuidados quando inserimos em sala de
aula a utilização de um novo instrumento que pode ser às TIC ou outro qualquer,
ou seja, deve-se pensar e planejar como será feita esta aplicação por intermédio
de estratégias e objetivos muito bem elaborados.
Na maioria de nossas escolas, de um modo geral, o único recurso que o
professor tem para desenvolver o seu trabalho em sala de aula, é o livro didático,
porém, nem sempre, o livro agrega a utilização da calculadora, apesar da
recomendação feita pelos Parâmetros Curriculares Nacionais em relação ao uso
das tecnologias nas aulas de matemática.
De acordo com os PCN (BRASIL, 1997a, p. 67) “é indiscutível a
necessidade crescente do uso de computadores pelos alunos como instrumento de
aprendizagem escolar, para que possam estar atualizados em relação às novas
tecnologias da informação e se instrumentalizarem para as demandas sociais
presentes e futuras.”
Sobre o uso da calculadora em sala de aula, Melo (2008) afirma que “as
ideias sobre o que é tecnologia nos permite situar e destacar a calculadora no
quadro geral das inovações de tecnologias na sociedade”.
Os PCN (BRASIL, 1997b, p. 19) afirmam que os recursos didáticos devem
“estar integrados a situações que levem ao exercício da análise e da reflexão, em
última instância, a base da atividade matemática”.
Acrescentam que estudos evidenciam a calculadora como um instrumento
que pode contribuir para a melhoria do ensino de Matemática, pelo fato de:
Que ela pode ser usada como um instrumento motivador na realização de tarefas exploratórias e de investigação. Além disso, ela abre novas possibilidades educativas, como a de levar o aluno a perceber a importância do uso dos meios tecnológicos disponíveis na sociedade contemporânea. A calculadora é também um recurso de verificação de
65
resultados, correção de erros, podendo ser um valioso instrumento de auto-avaliação. (BRASIL, 1997b, p. 34).
Um grande número de educadores do ensino fundamental, e até mesmo
de outros níveis de ensino, acham que o uso da calculadora em sala de aula pelos
alunos, afeta negativamente o desenvolvimento do raciocínio, fazendo com que os
alunos não tenham interesse em aprender algoritmos para as operações básicas.
No entanto, muitos pesquisadores como Borba (1999), Rubio (2003), Scchiffl
(2006), Guinther e Bianchini (2009), Borba, Malheiros e Zulatto (2008), D’Ambrósio
(2003) apoiem o uso dessa ferramenta em sala de aula; ainda contamos com
diversas formas de resistência por parte de professores e pais de alunos.
Percebemos que alguns não utilizam por acharem que esse recurso constitui uma
ameaça para o seu trabalho. Para Ponte (1991), como qualquer outro instrumento,
a calculadora pode, simplesmente, ser bem ou mal utilizada.
Ainda com relação ao uso desse recurso, Mocrosky (1997) defende que o
professor deve se inserir nesse mundo tecnológico em vez de se sentir ameaçado
por ele.
Não importa a forma como a calculadora vem sendo utilizada em sala de
aula, o fato que se pode constatar, é que, sempre aparecerão pessoas contrárias
ao seu manuseio. O importante com relação ao uso desse recurso tecnológico, e o
fato de se ter consciência de que, ele pode contribuir no processo de construção
do conhecimento de nossos alunos. A utilização da máquina de calcular em sala
de aula para auxiliar os alunos nas aulas de matemática também é uma maneira
de introduzir e incorporar uma ferramenta de cálculo nas atividades, é importante
lembrar que essa ferramenta tecnológica de cálculo, pode ser um poderoso recurso
no processo de aprendizagem da matemática
Em seu trabalho de pesquisa, a respeito da calculadora em sala de aula,
Oliveira (1999) aponta alguns fatores que levam a não utilização desse recurso em
nossas escolas por parte dos alunos, são eles: A falta de recursos financeiros por
parte dos alunos para adquiri-la; dificuldades em fazer os cálculos a utilizando;
impossibilidade de utilizá-la em certos momentos de sua vida, como no vestibular
ou em concursos públicos; desvantagem de quem não têm, em relação àqueles
que à possuem; necessidade de treinar a tabuada; importância de trabalhar com
materiais concretos no ensino fundamental.
66
Quanto ao raciocínio dos alunos, o autor aponta argumentos como os de
que a calculadora não contribui para seu desenvolvimento e ainda afeta o ensino
de algoritmos, mas apresenta autores que apontam no sentido contrário, que
mostram inclusive que quando os alunos são poupados de realizar cálculos longos
e mecânicos, ganham tempo para desenvolver outras habilidades mais
importantes, ficando mais atentos aos aspectos que são exigidos na solução de
atividades aritméticas.
O autor levanta também os motivos pelos quais os professores não usam
a calculadora e apresenta os seguintes: não sabem como trabalhar com a
calculadora, não tiveram a oportunidade de aprender como trabalhar com a
calculadora, como nunca utilizaram quando eram alunos, acreditam que não devem
usar a calculadora com seus alunos, não veem avanço no seu uso. De acordo com
Giancaterino (2009, p. 70) “o uso adequado das ferramentas tecnológicas pode
subsidiar o professor nos processos de ensino e de aprendizagem, e ainda assim
estará mais próximo da realidade do educando, usuário assíduo dessas
tecnologias.”
O autor aponta ainda que quanto a escola e os pais, a direção da escola
não permite o uso de calculadora e não tem recursos financeiros para adquiri-las,
e os pais simplesmente não concordam com o uso.
Ao trabalhar com a calculadora em atividades de sala de aula, o professor
passa ter outra postura em sala de aula, que ao invés de ser um mero transmissor
de conhecimento, passa a ter um papel de mediador, incentivador da
aprendizagem, elaborador de estratégias e preparador de ambientes de
aprendizagem que conduzem o aluno ainda à aprendizagem coletiva.
Na realização de atividades dessa natureza, Levy (1999, p. 171) afirma que
os professores:
aprendem ao mesmo tempo em que os estudantes atualizam continuamente tanto os seus saberes disciplinares como suas competências pedagógicas... A principal função do professor não ser mais a difusão dos conhecimentos que agora é feita mais eficaz por outros meios. Sua competência deve deslocar-se no sentido de incentivar a aprendizagem e o pensamento.
67
Para D`Ambrósio (1996), a utilização da calculadora em sala como recurso
didático, já deveria ter sido consolidada e fazer parte do currículo de nossas
escolas, pois é um recurso tecnológico simples, e de fácil acesso por quase todos
os estudantes.
Nos trabalhos de alguns pesquisadores que já foram mencionados
anteriormente a respeito da utilização da calculadora como recurso didático em sala
de aula, foram apontadas diversas vantagens e diferentes funções no processo de
ensino e aprendizagem da matemática em nossas escolas, segundo afirma Rubio
(2003, p. 32):
- Recurso de auxílio na resolução de problema, buscando, por tentativas e erros, a solução da situação. - Instrumento de investigação e exploração de conteúdos descobrindo relações nos conteúdos estudados, propiciando um estudo mais aprofundado dos conteúdos. - Verificação de resultados, correção de erros e auto avaliação. - Análise de conteúdos, verificando as relações entre as situações abordadas, podendo apreciar os conceitos matemáticos e partir da construção do conhecimento pelo aluno, e não mais de definições indiscutíveis. - Agente motivador da aprendizagem, uma vez que a tecnologia exerce certo fascínio em nossos alunos. - Os recursos de operações aritméticas, livrando os alunos de contas desnecessárias ao processo de aprendizagem e deixando assim, mais tempo para desenvolver o raciocínio.
Segundo Giancaterino (2009, p. 70), “o professor de Matemática em aula
ministrada com NTIC [Novas Tecnologias da Informação e Comunicação] deve
considerar a tecnologia como meio, a partir do qual o aluno como sujeito constrói
seu conhecimento pela ação e reflexão sobre o próprio processo”.
O importante sobre o que foi mencionado anteriormente sobre a utilização
da calculadora em sala de aula como recurso didático, é no sentido de avançar no
estudo e no entendimento de como seria mais viável possível a integração da
calculadora na organização de uma situação de ensino e aprendizagem objetivando
uma forma mais adequada possível e que seja de grande eficiência.
Em nosso trabalho com as atividades realizadas com o auxílio da
calculadora científica, esperamos que a mesma possa se constituir como um
recurso de grande importância para atingirmos os objetivos desejados.
68
2.4 AS OPERAÇÕES COM NÚMEROS FRACIONÁRIOS EM LIVROS DIDÁTICOS
Com a finalidade de verificar como vem sendo abordado o ensino das
operações com números fracionários em livros didáticos, será feita uma breve
análise de alguns livros didáticos do quinto ano do ensino fundamental entre 1987
e 2011. Buscaremos verificar como é sugerido tal ensino antes e depois da
instituição dos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997, a,b).
Tal escolha se deve ao fato de os PCN (BRASIL, 1997, b) sugerirem que o
trabalho com representações fracionárias, por serem menos frequentes na vida
cotidiana, se limite a “metades, terços, quartos e mais pela via da linguagem oral
do que das representações” (p.68). Sugerem ainda que as frações sejam tratadas,
no segundo ciclo do ensino fundamental 1, a partir de alguns significados: parte-
todo, quociente, razão e operador. Quanto às operações sugerem, para o segundo
ciclo, o cálculo com números racionais, mas apenas na representação decimal.
Assim, no quadro 1 apresentamos o primeiro grupo de livros, publicados antes dos
PCN, que serão analisados e que foram escolhidos aleatoriamente porque os
possuíamos em nossa biblioteca.
Em 1996 é iniciado pelo MEC a primeira avaliação pedagógica de livros
didáticos que culminou com o primeiro Guia de Livros Didáticos de 1ª a 4ª série.
Assim, buscaremos nesses guias se as operações com números fracionários
continuam sendo apresentadas ou se, como orienta os PCN, foram excluídas.
Quadro 1 – Lista de livros analisados
LIVRO NOME AUTOR ANO SÉRIE EDITORA
L1 A conquista da matemática
José Ruy Giovanni 1989 Quarta FTD
L2 Matemática D’Olim Marote 1992 Quarta Editora Ática
Fonte: construção própria
O livro L1 inicia a seção que trata da operação de adição de números
fracionários, com denominadores iguais, a partir de uma situação de compra de
lotes de um terreno (figura10) que são representados por um retângulo dividido em
12 partes congruentes e é apresentada a adição 5
12+
2
12=
7
12. Como podemos ver a
situação refere-se à concepção parte-todo, a partir de uma representação figural
de grandeza contínua. O aluno deve ler o problema e preencher lacunas em frases
69
com números fracionários fazendo uma conversão de representação figural para
representação numérica. Na página seguinte, apresenta a subtração de números
fracionários com mesmo denominador a partir de uma situação que envolve o
comprimento de uma avenida (figura 11), por meio da representação de um
segmento dividido em 10 segmentos de mesma medida. A concepção mobilizada
na situação é a de medida e a situação representa a subtração 8
10−
5
10=
3
10. Da
mesma forma, que para a adição o aluno deve preencher lacunas a partir da
conversão de representação figural para representação numérica.
Figura 10 – adição e subtração de frações – mesmo denominador – L1
Fonte: Giovanni, 1989, p. 144
Figura 11 – subtração de frações – mesmo denominador – L1
Fonte: Giovanni, 1989, p. 145
70
A seguir formaliza as duas situações, como mostra a figura 12,
apresentando a regra em língua natural e quatro exemplos de adição e subtração
resolvidas. Na página seguinte apresenta quatro situações e dois exercícios para
aplicação da regra formalizada das situações anteriores.
Figura 12 – síntese das operações de adição e subtração - mesmo denominador - L1
Fonte: Giovanni, 1989, p. 145
Para as operações de adição e subtração de números fracionários com
denominadores diferentes, o autor apresenta três situações. Na primeira (figura 13),
apresenta um retângulo dividido em 10 partes congruentes e solicita ao aluno que
pinte 1
2 de verde e
1
5 de azul. A seguir, solicita ao aluno que complete lacunas
mostrando o total da figura que foi pintada e a representando por uma adição em
que os números fracionários são transformados em equivalentes de mesmo
denominador. Nessa situação a concepção mobilizada é parte-todo, em grandeza
contínua e apresenta a conversão de representação figural para representação
numérica.
Na segunda situação o autor ilustra a subtração 1
2−
1
5 a partir da mesma
representação da situação anterior, solicitando também o preenchimento de
lacunas. Na terceira situação ilustra a adição 1
3+
1
4 a partir da representação de um
segmento dividido em doze segmentos de mesma medida, mobilizando a
concepção de medida para números fracionários.
71
Figura 13 – adição de números fracionários - denominadores diferentes - L1
Fonte: Giovanni, 1989, p. 147
A partir das três atividades, como mostra a figura 14, o autor explicita o
tratamento dos números fracionários dados para a obtenção de equivalentes com
mesmo denominador.
Figura 14 – tratamento para obtenção de números fracionários equivalentes – L1
Fonte: Giovanni, 1989, p. 148
Na sequência o autor formaliza a regra operatória para adição e subtração
de números fracionários com denominadores diferentes (figura 15) em linguagem
natural focando a redução a números fracionários de mesmo denominador.
72
Figura 15 – formalização da regra para adição e subtração – denominadores diferentes – L1
Fonte: Giovanni, 1989, p. 148
O autor inicia a seção de multiplicação de números fracionários a partir da
multiplicação de um número natural por um número fracionário (figura 16), em que
a multiplicação é tomada como soma de parcelas iguais. Apresenta a
representação de um segmento dividido em cinco segmentos de mesmo
comprimento, concepção de medida para número fracionário, e a conversão dessa
representação figural para a representação de números fracionários: 1
5+
1
5+
1
5= 3 ×
1
5=
3
5. A seguir apresenta exercícios.
Figura 16 – multiplicação de número natural por número fracionário – L1
Fonte: Giovanni, 1989, p. 156
Na sequência, o autor apresenta a multiplicação de dois números
fracionários (figura 17) a partir da figura de um quadrado, que representa uma
73
unidade e outras figuras que mostram esse quadrado com partes pintadas para
serem observadas e servirem de referência para o preenchimento de frases com
lacunas por números fracionários. Vemos que a concepção mobilizada, mais uma
vez, é parte-todo e é solicitado a conversão de representações figurais para
representações no registro dos números fracionários.
Figura 17 – multiplicação de números fracionários – L1
Fonte: Giovanni, 1989, p. 159
Encerra a discussão de multiplicação apresentando uma síntese (figura 18)
em que explicita a regra a partir do produto 3
5×
1
2=
3
10. O autor não formaliza a
multiplicação de números fracionários como sendo o “o produto dos numeradores
sobre o produto dos denominadores”, atem-se apenas a exemplos. Na continuação
apresenta exercícios e discute “fração de uma quantidade”, mobilizando assim o
número fracionário enquanto operador.
Figura 18 – síntese da multiplicação de números fracionários – L1
Fonte: Giovanni, 1989, p. 159
74
Para iniciar o tópico de divisão de números fracionários o autor define o que
são números inversos, como mostra a figura 19, a partir de exemplos de produtos
iguais a 1.
Figura 19 – números Inversos – L1
Fonte: Giovanni, 1989, p. 159
A seguir, apresenta a divisão de um número fracionário por um número
natural (figura 20) a partir da representação de um retângulo dividido em quatro
partes congruentes e, a partir da observação do aluno, solicita que preencham
lacunas em frases que diferenciam a parte pintada da parte listada, para a
percepção de que metade da figura foi dividia em duas partes congruentes. Encerra
apresentando a sentença matemática para a divisão representada. Solicita a
repetição do procedimento para um outro retângulo para a percepção de que a
metade da figura foi dividida em três partes, encerrando com a sentença
matemática.
Figura 20 – divisão de número fracionário por número natural – L1
Fonte: Giovanni, 1989, p. 169
75
Seguindo a mesma ideia, o autor apresenta a divisão de números
fracionários (figura 21) fazendo uma analogia à divisão de números naturais como
sendo a busca de “quantos cabem em determinada quantidade”. Utiliza a
representação de dois retângulos divididos em partes congruentes, frases para
serem preenchidas e as sentenças matemáticas que representam as duas
situações: 4
5:
1
5= 4 e
4
6:
2
6= 2.
Podemos notar que o autor substituiu a notação de divisão utilizada para
os naturais, por dois pontos e que escolheu números fracionários que tivessem
tanto os numeradores, quanto os denominadores como múltiplos.
Figura 21 – divisão de números fracionários – L1
Fonte: Giovanni, 1989, p. 170
A seguir apresenta dois exercícios de aprendizagem e uma regra prática
como mostra a figura 22. Para que a regra seja percebida, o autor apresenta a
divisão de 1 por ½ e duas divisões de números fracionários por números naturais,
enfatizando o inverso e a multiplicação. Na sequência (figura 23) o autor explicita a
regra de divisão de números fracionários como sendo a “multiplicação do primeiro
número fracionário pelo inverso do segundo número fracionário” e apresenta quatro
exemplos para ilustrar tal regra.
76
Figura 22 – uma regra prática para divisão de números fracionários – L1
Fonte: Giovanni, 1989, p. 171
Figura 23 – regra para divisão de números fracionários – L1
Fonte: Giovanni, 1989, p. 172
O autor buscou dar sentido às operações com números fracionários
focando a conversão de representações figurais para representações de números
fracionários e para a língua natural. No entanto, deixou de aproveitar os
conhecimentos adquiridos para a adição, quando foca a equivalência de números
77
fracionários não o mínimo múltiplo comum, e a divisão de número fracionário por
número natural, quando utiliza tanto numeradores, quanto denominadores como
múltiplos, para buscar uma regra para a divisão de números fracionários que fosse
mais significativa para os alunos, ou seja, “o quociente dos numeradores sobre o
quociente dos denominadores”, como apresenta Silva e Almouloud (2008).
O autor do livro L2 inicia a seção que trata das operações de adição e
subtração de números fracionários apresentando a regra geral para a adição de
números fracionários com mesmo denominador (figura 24) e dois exemplos
ilustrativos. O primeiro com representação figural, concepção parte todo, e a
sentença matemática a partir da conversão da representação figural para a
representação numérica. O segundo apresenta apenas a sentença matemática e
uma observação para a simplificação do resultado.
Figura 24 – adição com números fracionários de mesmo denominador – L2
Fonte: Marote, 1992, p. 82
O mesmo acontece para introduzir a operação de subtração de números
fracionários com mesmo denominador, como podemos ver na figura 25.
78
Figura 25 – subtração de números fracionários com mesmo denominador – L2
Fonte: Marote, 1992, p. 84
Para trabalhar a operação de adição de números fracionários com
denominadores diferentes, inicia com a regra operatória (figura 26) em que enfatiza
a redução desses números para equivalentes de mesmo denominador. No entanto,
no exemplo mostra que para essa redução é necessário encontrar o mínimo
múltiplo comum (M.M.C.) a partir do conjunto dos múltiplos de cada um dos
denominadores. Como podemos ver na figura 26, o autor faz um lembrete para o
professor “efetuar subtrações de frações com denominadores diferentes”.
Figura 26 – adição de números fracionários com denominadores diferentes – L2
Fonte: Marote, 1992, p. 84
No que segue o autor apresenta quatro atividades e sete problemas
envolvendo adição e subtração de números fracionários.
79
Para trabalhar a operação de multiplicação de números fraccionários o
autor solicita a observação de três desenhos (figura 27) para ilustrar a multiplicação
de um número natural por um número fracionário, a partir da ideia de multiplicação
como adição de parcelas iguais. Logo a seguir, apresenta a regra geral para
multiplicar um número natural por um número fracionário.
Figura 27 – multiplicação de números fracionários – L2
Fonte: Marote, 1992, p. 87
Na sequência apresenta a regra para multiplicar dois números fracionários
(figura 28) seguidos de dois exemplos numéricos com flechas que ilustram a
operação de multiplicação que deve ser realizada, tanto com os numeradores,
quanto com os denominadores. Na sequência propõe uma lista de exercícios de
fixação do que foi trabalhado, que identifica por atividades.
Figura 28 – multiplicação de números fracionários – L2
Fonte: Marote, 1992, p. 87
80
Em continuidade ao assunto o autor apresenta o tópico “fração de fração”
(figura 29|) a partir da ilustração de um chocolate que foi dividido em duas partes
e, depois, uma delas foi também dividida em duas partes. Com isso pretende
discutir a ideia de “metade da metade” e introduzir a noção de um número
fracionário como operador. Após a ilustração, apresenta a definição de “fração de
fração” que nada acrescenta à compreensão do que está sendo tratado e, mais que
isso, conduz o aluno a utilizar o termo “fração” tanto para número quanto para uma
figura.
Figura 29 – fração de fração – L2
Fonte: Marote, 1992, p. 89
Seguindo o mesmo princípio apresenta como calcular “fração de um
número” (figura 30) e frações inversas.
81
Figura 30 – fração de um número – L2
Fonte: Marote, 1992, p. 90
Para trabalhar com a operação divisão (figura 31), o autor apresenta duas
representações figurais em que uma representa 1/3 do retângulo e a outra 2/6 do
retângulo para ilustrar a divisão de 1/3 por 2. O autor apresenta a representação
em números fracionários para ilustrar o inverso do número 2 e apresentar a regra
operatória para divisão de dois números fracionários. No que segue apresenta
algumas atividades em que a partir de um modelo o aluno deve efetuar várias
divisões. Apresenta ainda um problema resolvido como modelo e outros problemas
para que o aluno resolva.
Pudemos perceber que, neste livro, o autor enfatiza as regras operatórias
e faz apresentações com o único intuito que o aluno leia. Ler é a única ação do
aluno para construir conhecimento. As representações figurais que apresenta tem
apenas um caráter ilustrativo, em que as conversões para representações
numéricas são explicitadas pelo autor.
Após essa visão do ensino de operações antes dos PCN buscamos, o
ensino ou não das operações com números fracionários, nas avaliações de livros
didáticos feitas pelo PNLD nos últimos guias2, disponíveis no site do FNDE – Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação. Fizemos então uma análise dos guias
de livros didáticos de matemática, para as séries iniciais, de 2007, 2010 e 2013.
2 Disponíveis em http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/guias-do-pnld
82
Figura 31 – divisão de frações – L2
Fonte: Marote, 1992, p. 92
Em 2007 foram aprovados pelo PNLD (BRASIL, 2006) 35 livros ainda
distribuídos como de Matemática da primeira à quarta série do Ensino
Fundamental. A partir da descrição e análise de cada livro apresentada no guia,
procuramos os conteúdos tratados apenas na quarta série. Dos aprovados apenas
4 não tratavam das operações com números fracionários, 17 apresentavam a
adição e subtração embora alguns deles as tratassem apenas com números
fracionários de mesmo denominador e 14 apresentavam as quatro operações
fundamentais com números fracionários de denominadores iguais ou diferentes.
Afirmam que as coleções avaliadas partem de noções intuitivas e tornam-se mais
complexas a partir de vários significados – relação parte-todo, operador, quociente
de naturais, relação parte-parte. Embora todas tratem de números fracionários
muitas optam por não tratar a adição com denominadores diferentes e da
multiplicação e divisão. A respeito da calculadora afirmam que ela “é apresentada
em quase todas as coleções” (Ibid, p. 27).
O PNLD (BRASIL, 2009) avaliou os livros do Ensino Fundamental
categorizando-os de primeiro e segundo anos como Alfabetização Infantil e os de
terceiro, quarto e quinto ano como de Matemática. Buscamos na descrição e
análise de cada livro os conteúdos tratados no quinto ano. Dos 19 livros que foram
83
aprovados, 3 não tratavam das operações com números fracionários, 5 tratavam
das quatro operações com números fracionários de denominadores iguais ou
diferentes, 7 apenas da adição e subtração e deles dois apenas com números de
mesmo denominador, 4 tratavam das quatro operações, mas a divisão apenas de
número fracionário por número natural. Dos livros aprovados 11 apresentavam
atividades com calculadora para diversas atividades. Podemos notar que há uma
diminuição de 40% para 26% dos livros que tratam das quatro operações com
fracionários da avaliação de 2007 para a de 2010.
No último guia do PNLD (BRASIL, 2012), os livros apresentam outra
classificação sendo considerados os de 1º ao 3º anos como de alfabetização
matemática e os de 4º e 5º anos de Matemática. Buscamos as informações na
descrição e análise apresentada no guia apenas para os livros do quinto ano. Nessa
avaliação foram aprovados 23 livros dos quais 5 apresentam as quatro operações
com fracionários de denominadores iguais ou diferentes, 13 apresentam apenas a
adição e subtração e 5 as quatro operações com apenas a divisão de número
fracionário por número natural.
Podemos notar então que, mesmo após dezessete anos dos PCN a maioria
dos autores de livros didáticos continuam a tratar as operações fundamentais com
números fracionários, provavelmente, por não terem clareza do que seguir. Os PCN
ou o PNLD? No último guia do PNLD notamos uma falta de consenso a esse
respeito, pois na avaliação de um determinado livro é dito: “já as operações que
envolvem frações limitam-se, acertadamente, à adição e subtração, no final do
quinto ano” (IBID, p. 204, negrito nosso) e em análise de outro livro: “o trabalho com
frações aprofunda-se até as operações de multiplicação e divisão, o que é
indispensável nesse nível de escolaridade." Ao mesmo tempo que é acertado
ensinar apenas a adição e subtração no final do quinto ano é indispensável
aprofundar esse ensino para as operações de multiplicação e divisão.
A esse respeito, já em 2004 Bertoni (2004, p. 1) afirma que as orientações
dos PCN:
Vão no sentido de eliminar das séries iniciais as operações com números racionais na representação fracionária [...]. Por outro lado, não se nota, de modo geral, nos livros e nas propostas curriculares de 5ª a 8ª série, mudanças no sentido de uma introdução mais cuidadosa às frações e às
84
operações entre elas, visando suprir essa lacuna deixada nas séries iniciais.
Entendemos que as crianças têm sim capacidade de aprender as quatro
operações com números fracionários, ainda no primeiro ciclo, do ensino
fundamental desde que se busquem formas que as conduzam a construir
significado para tais operações e não a memorização e repetição apenas de regras.
85
3 A PESQUISA
Neste capítulo apresentaremos os procedimentos metodológicos que
foram adotados para o desenvolvimento desta investigação que tem como meta
principal, investigar a utilização da calculadora na realização das operações com
frações pelos alunos do 4° ano do ensino fundamental.
3.1 A ESCOLA E OS SUJEITOS DA PESQUISA
Os sujeitos de nossa pesquisa são alunos de uma escola estadual de
ensino fundamental situada no município de Belém localizada na mesma quadra
da Universidade do Estado do Pará e foi escolhida por possuir turmas do 5º ano do
Ensino Fundamental. Essa escola tem 850 alunos divididos em dois turnos;
matutino e vespertino, distribuídos do primeiro ao sexto ano do Ensino
Fundamental.
A escola possui 12 salas de aula, sala de recursos didáticos, sala de vídeo,
biblioteca, uma sala com técnicos para atendimento de alunos com necessidades
especiais, área de laser, quadra de esportes, copa e cozinha. É uma escola bem
arejada e agradável.
Foram sujeitos de nossa pesquisa, a princípio, seis alunos do quinto ano
na faixa etária de 10 a 12 anos, como voluntários e com autorização dos pais. No
decorrer dos encontros dois alunos faltaram e decidimos então analisar a produção
dos quatro que participaram de todos os encontros. Esses alunos já haviam sido
apresentados aos números fracionários no decorrer de 2014, pois a professora
informou que já havia trabalhado a identificação de números fracionários em
figuras, a identificação dos termos numerador e denominador, na representação
numérica, e a leitura. Assim, esses alunos não haviam ainda estudado equivalência
e nem operações.
3.2 DESCRIÇÃO DA APLICAÇÃO
A sequência de ensino foi aplicada pelo próprio pesquisador, auxiliado por
uma aluna do curso de graduação de matemática da UEPA que colaborou com as
86
observações durante a aplicação e filmou cada encontro. Utilizamos uma sala de
aula e contamos com duas calculadoras, distribuídas para cada grupo de três
alunos. No decorrer do desenvolvimento das atividades pudemos contar com os
registros escritos pelos alunos que eram gravados em fotos e vídeos com a
finalidade de se ter o melhor controle possível do que estavam realizando, também
foi permitida a troca de ideias entre os grupos próprios.
As atividades que faziam parte da sequência foram aplicadas em encontros
semanais (Quadro 2) com duração de duas horas e meia ao longo dos meses de
setembro, outubro e novembro de 2014. Durante a aplicação os alunos puderam
utilizar folha de papel, lápis ou caneta, borracha, as fichas com as atividades e a
calculadora.
Quadro 2 - Encontros da experimentação
Encontros Atividades Data Conteúdo Horário
1 Atividade 0 17/09 Familiarização com a calculadora
2 Situação 1 – Atividade 1 24/09 Adição de frações com denominadores iguais com calculadora
15h às 17h30
3 Situação 1 – Atividade 2 01/10 Adição de frações com denominadores iguais sem calculadora
15h às 17h30
4 Situação 1 – Atividade 3 03/11 Adição de frações com denominadores diferentes com calculadora
15h às 17h30
5 Situação 1 – Atividade 5 06/11 Subtração de frações com denominadores iguais com calculadora
15h às 17h30
6 Situação 1 – Atividade 7 07/11 Representação figural das operações: adição e subtração
15h às 17h30
7 Situação 2 – Atividade 1 13/11 Multiplicação de frações com uso da calculadora
9h às11h
8 Situação 2 – Atividade 2 14/11 Multiplicação de frações por representação figural
15h às 17h30
9 Situação 2 – Atividade 3 15/11 Divisão de frações com uso da calculadora
15h às17h30
10 Situação 2 – Atividade 4 16/11 Divisão de frações sem uso da calculadora
15h às17h30
Fonte : Produção do autor
A aplicação da sequência ocorreu em dez encontros, por causa de alguns
problemas que a escola enfrentou, como greve de ônibus e de professores,
reformas no prédio e ainda, com a copa do mundo e as eleições de 2014.
87
3.3 ANÁLISES DA SEQUÊNCIA DE ENSINO
Apresentaremos a análise de cada situação descrevendo cada encontro e
fazendo a análise a priori e a posteriori de cada uma das atividades. Identificamos,
para isso, os alunos do grupo 1 (G1) pela letra A e os alunos do grupo 2 (G2) pela
letra B, acrescentados os índices numéricos 1 ou 2 para cada um dos membros do
grupo. O professor é identificado pela letra P.
Foram trabalhadas doze atividades envolvendo as quatro operações de
adição, subtração, multiplicação e divisão envolvendo números fracionários, sendo
que as atividades de 01 a 07 tratam da adição e da subtração de números
fracionários com denominadores iguais e diferentes, e as atividades de 08 a 12
tratam das operações de multiplicação e divisão de números fracionários.
1º Encontro
Ocorreu no dia 17/09/2014 quando foi apresentada ao grupo de alunos a
máquina de calcular que iriam trabalhar durante as atividades. Este primeiro contato
com a máquina foi um momento de exploração livre para que os alunos realizassem
operações já conhecidas por eles, a princípio, com números naturais. Depois foram
instruídos, pelo professor, como inserir números fracionários.
2º Encontro
No dia 24/09/2014 realizamos o segundo encontro e o iniciamos com a
primeira atividade da situação 1 que tratava de adição e subtração de números
fracionários com. Participaram dessa atividade quatro alunos distribuídos em dois
grupos.
ANÁLISE A PRIORI
Os alunos receberam uma ficha contendo as atividades desta situação que
estão disponíveis na íntegra no anexo A. Essa atividade tem como objetivo verificar
se a utilização da calculadora pode contribuir para a elaboração da regra para a
adição de números fracionários com mesmo denominador pelos alunos.
88
SITUAÇÃO 1: ADIÇÃO E SUBTRAÇÃO DE NÚMEROS FRACIONÁRIOS
Atividade 01
1.1 Utilizando a calculadora resolva cada uma das operações abaixo:
a) 3
5+
1
5= b)
1
6+
4
6=
c) 1
4+
2
4= d)
2
7+
1
7=
e) 5
8+
4
8=
1.2 Escreva uma regra para ensinar seu colega de classe a fazer essas operações.
1.3 A regra que você escreveu, serve para a soma de que tipos de frações?
1.4 Faça uma representação através de um desenho de cada operação que foi feita
anteriormente.
O item 1.1 solicita que os alunos resolvam com a calculadora cinco adições
de números fracionários com mesmo denominador. Se não houver qualquer erro
de digitação na calculadora esperamos que completem a ficha com os seguintes
números fracionários: 4
5,
5
6,
3
4,
3
7 e
9
8. A adição do item (e) por um erro de digitação tem
como resultado um número fracionário maior que a unidade, que não
intencionávamos trabalhar, tendo em vista o que será solicitado no item 1.4. No
entanto, deixamos que permanecesse no trabalho e analisaremos o que os dois
grupos fará nesse item.
Para o item 1.2 esperamos que os alunos percebam que os números
fracionários de cada adição solicitada têm mesmo denominador e que escrevam
que para esses a regra será manter o denominador e somar os numeradores.
No item 1.3 queremos reforçar que perceberam que os números
fracionários, para a regra que elaboraram, devem ter mesmo denominador.
Já para o item 1.4 tem como objetivo que os estudantes representem as
adições realizadas no item 1.1 por meio de representações figurais. Acreditamos
que os alunos representem figuras geométricas divididas em partes iguais,
mobilizando a concepção parte-todo, visto que aprenderam números fracionários
dessa forma. Não acreditamos que outras concepções sejam mobilizadas ou que
outros esquemas sejam desenhados.
89
Durante a realização desta tarefa esperamos que os alunos vivenciem as
fases de ação, formulação e validação, conseguindo respostas para as atividades
que sejam consenso no grupo de trabalho.
ANÁLISE A POSTERIORI
No item 1.1 os alunos não apresentaram dificuldades e responderam
corretamente a partir da utilização da máquina de calcular, como se verifica na
resposta do grupo 2 apresentado na figura 32.
Figura 32 – resposta do grupo 2 para o item 1.1 da atividade 1
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
Como esperávamos, nos itens 1.2 e 1.3 os alunos verbalizaram e
escreveram corretamente (salvo erros de Português) a regra, como mostra a figura
33. Os dois grupos responderam da mesma forma.
Figura 33 – resposta do grupo 2 para os itens 1.2 e 1.3 da atividade 1
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
90
Para o item 1.4, como esperávamos, os dois grupos produziram
representações figurais para as adições solicitadas. Esse tipo de representação
eles já haviam utilizado com sua professora. No entanto, ficaram com dúvida a
respeito de qual figura representar, se seria uma pizza, ou uma barra de chocolate
etc., como podemos ver no diálogo que segue.
A1: pode ser pizza?
A2: pode ser barra de chocolate?
A3: pode ser roda?
B1: pode ser triângulo?
P: se você souber dividir em partes iguais, tudo bem!
B3: qualquer um pode?
P: depende do seu desenho, desde que seja dividido em partes iguais!
B2: então pode qualquer desenho
P: sim
A2: podemos pintar?
P: sim, fica melhor para ver as partes que irão ser somadas
A1: eu fiz sem pintar, está certo?
B2:fiz sem pintar, está certo?
P: sim está!
Percebe-se que o formador, em dois momentos, frisa a questão da
necessidade das “partes terem que ser iguais”, o que talvez não tivesse sido
lembrado pelos alunos. Os alunos, por sua vez, querem saber se podem pintar,
provavelmente, porque sempre que números fracionários são citados, fala-se de
“partes” e “partes pintadas”.
A figura 34, mostra as figuras realizadas pelo grupo 1. Podemos perceber,
que mesmo tendo perguntado e discutido a questão das partes iguais, os alunos
desenharam retângulos a mão livre e fizeram as divisões aleatoriamente. Não
utilizaram e nem solicitaram régua para tentar dividir em partes de mesma área.
Outro ponto que pode ser destacado é que eles identificaram por um número
fracionário cada parte da figura que estavam considerando e, ao lado, repetiram a
adição realizada no item 1.1. Primeiro os representaram em caneta amarela, mas
como ficou difícil de ler, refizeram com caneta esferográfica preta.
É importante notar que para o item (e), cuja soma é um número fracionário
maior que a unidade, que os alunos desse grupo, identificaram na figura as partes
91
correspondentes a 5
8 e a
4
8, sem se preocuparem que uma das partes estava
sobreposta e responderam 9
8, mesmo tendo dividido o inteiro em oito partes. Talvez
para eles não seja natural desenhar mais um inteiro para considerar uma parte.
Para Silva (2005) em situações que solicitam a mobilização da relação parte-todo
não podem ser considerados números fracionários maiores que a unidade.
Figura 34 – resposta do grupo 1 para o item 1.4 da atividade 1
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
Na figura 35 estão apresentadas as figuras realizadas pelos alunos do
grupo 2. Diferente do grupo 1, representaram círculos além de retângulos e fizeram
o mesmo procedimento do grupo anterior ao identificar por números fracionários
cada parte da figura considerada e ao não utilizarem régua para tentar garantir a
igualdade das partes. Todas as figuras, inclusive os círculos, foram desenhadas a
mão livre e as divisões foram aleatórias. No entanto, diferente do grupo 1, os alunos
para o item (e) consideraram dois círculos como inteiros e identificaram, no
primeiro, utilizando as cores verde e azul, as frações 4
8 e no segundo pintaram, de
92
azul 1
8, ou seja, identificaram de verde a parte que correspondia a
4
8 e de azul as
partes que correspondiam a 5
8.
Figura 35 – resposta do grupo 2 para o item 1.4 da atividade 1
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
A diferença na representação das figuras para o item (e) podem ser
percebidas no diálogo que segue, entre os alunos e o professor.
P: como irão fazer os desenhos?
A1: a letra “e” só dá pra somar quatro partes de cada, como vou fazer?
P: o que vocês acham que podem fazer?
A2: pode aumentar a divisão das partes?
P: tentem fazer e me digam sim ou não
A1: não!
P: e aí
B2: só se fizer outro desenho
P: muito bem, é isso mesmo. e pinta mais quanto
A1: só um
93
P: certo
P: porque deve pintar somente uma?
A1: pra fazer as cinco partes
Notamos que enquanto os alunos do grupo 1, se preocupam em aumentar
a divisão das partes, o aluno B2 arrisca que poderia fazer outro desenho e o
professor prontamente confirma e pergunta quantas partes pintará no novo
desenho. Mas o aluno A1 do grupo 1, acha que deveriam fazer cinco partes, mas
o professor não responde e solicita que construam as figuras.
No final da realização dessa atividade houve uma discussão geral das
soluções, da qual apresentamos o diálogo que segue.
P: conseguiram realizar todos os cálculos das operações?
G1 e G2: sim!
P: o que acharam?
G1e G2: muito fácil?
P: houve alguma dificuldade
G1 E G2: com a calculadora é muito fácil
P: o que vocês observaram na parte de baixo (denominadores) de cada operação?
G1 e G2: todos foram unânimes respondendo que eram iguais.
P: escreveram a regra para essas somas?
A1: soma e repete
A2: o mesmo em baixo e soma em cima
A3: o mesmo da colega
B1: soma de cima repete de baixo
B2: é como falaram
B3: é soma e repete
P: e a regra vocês acham que serve para que tipo de fração?
G1 e G2: quando as partes de baixo são iguais
Percebe-se no diálogo que os alunos atribuem ao uso da calculadora o
sucesso na realização das atividades.
Durante a atividade 1, os dois grupos percorreram as fases de ação,
formulação e validação e fizemos, na discussão mostrada acima, uma
institucionalização local para essa regra. Podemos inferir que a calculadora
científica com representação fracionária facilitou a percepção da regra pelos
alunos. Por outro lado, não tiveram dificuldades na conversão de uma
94
representação numérica para uma representação figural de adições de números
fracionários com mesmo denominador.
3º Encontro
Foi realizado no dia 01/10/2014 com a atividade de adição de números
fracionários com mesmo denominador sem o auxílio da calculadora. As duas duplas
de alunos trabalharam separadamente. E foram orientados a resolver a atividade
utilizando a regra que haviam encontrado na atividade anterior.
ATIVIDADE 02
2.1 Resolva cada uma das operações abaixo sem o auxílio da calculadora.
a) 3
5+
2
5= b)
2
6+
1
6=
c) 1
4+
3
4= d)
2
7+
3
7=
2.2 O que você observou no resultado dessas operações?
2.3 A regra que você encontrou na situação 1 também serve para estes cálculos?
ANÁLISE A PRIORI
Essa atividade tem como objetivo verificar se os alunos aplicam a regra
para adição de números fracionários com mesmo denominador desenvolvida na
atividade anterior para realizar operações sem a utilização da calculadora.
Esperamos que no item 2.1 os alunos apliquem adequadamente a regra e
concluam que os resultados são: 5
5,
3
6,
4
4 e
5
7 e ainda que percebam que podem utilizar
a regra sem o auxílio da calculadora.
ANÁLISE A POSTERIORI
Os alunos fizeram a atividade sem problemas e solicitaram, no final, para
utilizar a calculadora para verificar se os resultados estavam corretos. O grupo 01
constatou que os seus cálculos estavam corretos como mostra a figura 36 e o grupo
(02) constatou que os seus estavam todos incorretos. Imediatamente, perceberam
que não haviam somado os numeradores, mas repetido o denominador das frações
nos numeradores. Sem interferência do professor apagaram o que haviam feito e
95
escreveram as respostas corretas afirmando que haviam entendido o erro
cometido.
Figura 36 – resposta do grupo 1 para o item 2.1 da atividade 2
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
No item 2.2 os alunos perceberam que os números fracionários dados
tinham mesmo denominador, mas escreveram que “o número de baixo se repetiu”,
como mostra a figura 37.
Figura 37 – resposta do grupo 1 para o item 2.2 da atividade 2
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
No item 2.3 um grupo respondeu que sim, e que ficava mais fácil, enquanto
o outro respondeu que sim, e que estava igual ao da máquina. Após a resolução
dos alunos deu-se a seguinte discussão.
P: todos já acabaram?
G1 e G2: já!
P: vamos ver o que cada grupo fez!
P: o grupo (01) fez tudo certo, mas o (02) não, o que foi que vocês fizeram?
B3:repetiu o primeiro e repetiu o de baixo
P: mas é assim a regra?
B1:não!
P: como é então, vamos lembrar a atividade e a regra passada!
B1:soma de cima e repete de baixo
P: então é isto que deverão fazer
B2: é só somar em cima
P: isto mesmo
96
P: vou dar mais um tempo para poderem refazer os exercícios
B1, B2 e B3: já acabamos!
P: ótimo, agora está tudo certo, acho que foi falta de atenção de vocês.
Após a discussão os alunos do grupo 2 perceberam, efetivamente, o que
tinham errado e afirmaram que realmente tinham compreendido como fazer os
cálculos de maneira correta. Podemos perceber que os alunos percorreram as
fases de ação, formulação e validação propostas por Brousseau (1986). No final da
atividade, o professor institucionalizou a regra operatória para adição de números
fracionários com mesmo denominador em discussão coletiva com os alunos.
4º Encontro
Foi realizado no dia 03/11/2014, com a atividade de adição de números
fracionários com denominadores diferentes. As duas duplas trabalharam
separadamente.
ATIVIDADE 3
3.1 Utilizando a calculadora resolva cada uma das operações abaixo:
a) 1
2+
1
3= b)
3
4+
2
6=
c) 3
5+
1
2= d)
2
3+
4
9=
e) 1
3+
1
5= f)
3
4+
2
5=
g) 5
6+
2
4=
3.2 O que você observou sobre os denominadores de cada exemplo anterior?
3.3 Escreva uma regra para ensinar o seu colega de classe a fazer essas
operações.
ANÁLISE A PRIORI
Essa atividade tem como objetivo conduzir os alunos para a elaboração da
regra para a adição de números fracionários com denominadores diferentes
mediada pela máquina de calcular científica com representação fracionária. Para
realizar essas operações, esperamos que os alunos mobilizem conhecimentos já
estudados anteriormente. Os alunos deverão realizar uma discussão entre eles, e
ou entre os grupos visando esclarecer ou tirar alguma dúvida sobre as questões,
97
para facilitar a compreensão das operações e para a percepção da regra geral para
essas operações que deverá ser apresentada ao final.
Para a realização do item 3.1 esperamos que os alunos utilizem a
calculadora e anotem os resultados das operações realizadas, escrevendo, 5
6,
13
12,
11
10,
10
9,
8
15,
23
20 e
4
3. Acreditamos que no item 3.2 os alunos respondam que os números
têm denominadores diferentes, e busquem justificar os resultados encontrados por
uma regra no item 3.3.
ANÁLISE A POSTERIORI
No item 3.1 os alunos utilizaram adequadamente a calculadora e
responderam corretamente as operações solicitadas, como mostram as figuras 38
e 39.
Figura 38 – resposta do grupo 1 para o item 3.1 da atividade 3
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
Figura 39 – resposta do grupo 2 para o item 3.1 da atividade 3
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
98
Para o item 3.2, como previmos, os alunos não tiveram dificuldade em
responder que em todos os casos, os denominadores dos números que estavam
nas operações eram diferentes, como mostram as respostas dos grupos
apresentadas pelas figuras 40 e 41.
Figura 40 – resposta do grupo 1 para o item 3.2 da atividade 3
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
Figura 41 – resposta do grupo 2 para o item 3.2 da atividade 3
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
No item 3.3 os alunos tiveram bastante dificuldade e nem, com a mediação
do professor conseguiram verbalizar uma regra para as operações.
Entendemos que um dos motivos do insucesso nessa atividade foi o
professor não poder, em sua discussão, solicitar que os alunos mobilizassem a
equivalência de números fracionários, pois os alunos ainda não tinham estudado
tal conteúdo. Além disso, percebemos que não tivemos o cuidado necessário na
elaboração da atividade, pois em várias operações escolhemos números cujos
resultados poderiam ser simplificados e, nesses casos, a calculadora simplifica o
que dificultou os alunos a relacionarem os denominadores dos números
apresentados para operação com o denominador apresentado na resposta. Por
outro lado, poderíamos ter utilizado outros recursos, como figuras por exemplo, que
poderiam, juntamente com a calculadora, ter auxiliado o aluno na percepção da
regra. Não podemos assim, analisar o papel da calculadora nessa atividade.
O professor depois de algumas tentativas informou aos alunos que
aprenderiam tal operação com a professora da sala e passou para a atividade que
envolvia a subtração de números fracionários com mesmo denominador, pois pelo
resultado da atividade 3 eles não teriam condições de resolver a atividade 4.
99
5º Encontro
Essa atividade foi realizada no dia 06/11/2014, com a participação de
quatro alunos distribuídos em dois grupos. O objetivo da atividade foi o de levar os
alunos á elaborarem a regra da subtração de frações com mesmo denominador.
Atividade 05
5.1 Resolva cada uma das operações abaixo com o auxílio da calculadora.
a) 2
3−
1
3= b)
7
8−
4
8=
c) 9
10−
5
10= d)
4
7−
2
7=
e) 7
9−
3
9= f)
5
6−
3
6=
5.2 Escreva uma regra para ensinar os seus colegas de classe a fazer essas
operações.
ANALISE A PRIORI
Essa atividade tem como objetivo verificar se os elaboram uma regra para
a subtração de números fracionários com denominadores iguais a partir da
calculadora. Esperamos que utilizem adequadamente a calculadora e que
escrevam na ficha os resultados corretos para as subtrações solicitadas, ou seja,
3
8,
2
5,
2
7,
4
9 e
1
3. No item 5.2 esperamos que os alunos percebam que os números dados
nas operações têm mesmo denominador e associem a regra já obtida na atividade
1 e respondam que basta manter o denominador e subtrair os numeradores.
ANALISE A POSTERIORI
No item 5.1 os alunos resolveram todos os itens, como mostram as
respostas dos grupos apresentadas nas figuras 42 e 43. No entanto, embora
tenham achado fáceis as operações, os dois grupos erraram o item (b)
respondendo 2
5 em vez de
4
5. Durante a discussão da atividade perceberam o erro e
o corrigiram. Depois da resolução desse item deu-se o seguinte diálogo.
P: vocês têm alguma dificuldade para resolver os cálculos das operações?
G1 e G2: todos responderam que não
P: será que alguém ainda vai errar?
G1 e G2: não
100
A1 e A2: é muito fácil
P: então vamos escrever a regra
B1: pode ser em palavras
P: pode ser
Figura 42 – resposta do grupo 1 para o item 5.1 da atividade 5
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
Figura 43 – resposta do grupo 2 para o item 5.1 da atividade 5
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
No item 5.2 os alunos dos dois grupos não tiveram dificuldade para
verbalizar a regra geral da operação, como mostram as respostas dos alunos nas
figuras 44 e 45.
Figura 44 – resposta do grupo 1 para o item 5.2 da atividade 5
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
Figura 45 – resposta do grupo 2 para o item 5.2 da atividade 5
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
101
Podemos perceber que os alunos percorreram as fases de ação,
formulação e validação propostas por Brousseau (1986) durante a realização da
atividade e, no final, o professor institucionalizou a regra operatória para a
subtração de números fracionários com mesmo denominador em discussão
coletiva com os alunos.
6º Encontro
No sexto encontro havíamos programado realizar a atividade 6 que tratava
de subtração de números fracionários com denominadores diferentes, mas depois
do ocorrido com a atividade de adição resolvemos não aplicar a atividade 6 e partir
para a seguinte. Esse encontro ocorreu no dia 07/11/2014, e contou com a
participação de quatro alunos distribuídos em dois grupos.
ATIVIDADE 07
a) Pinte três partes da figura de uma cor e duas outras partes de outra cor.
b) Que partes da figura foram pintadas?
c) Que sentença matemática representa a soma dessas partes?
d) Que sentença matemática representa a diferença entre a maior parte e a menor
parte
ANÁLISE A PRIORI
Está atividade teve como objetivo a conversão de uma representação
figural para a representação numérica, pois de acordo com Duval (1993) a
conversão de representações para registros diferentes pode contribuir
significativamente para o aprendizado do aluno.
Esperamos que os alunos, para a realização dessa atividade, mobilizem a
concepção parte todo e associem para a primeira parte pintada o número
fracionário 3
8 e para a segunda o número
2
8. Para o item (c) esperamos que os alunos
escrevam que a soma será representada por 3
8+
2
8=
5
8 e para o item (d) que
escrevam 3
8−
2
8=
1
8.
102
ANÁLISE A POSTERIORI
Para a realização desta atividade, os alunos não apresentaram
dificuldades, pois já haviam realizado várias atividades envolvendo representações
figurais de números fracionários. Após pintarem as partes solicitadas no item (a)
um grupo respondeu para o item (b) “duas partes e três partes”, mas identificou na
figura o número fracionário para cada cor pintada. O outro grupo não respondeu a
questão, mas também identificou na figura o número fracionário correspondente a
cada parte pintada, como mostram as figuras 46 e 47.
Figura 46 – resposta do grupo 1 para o item (a) da atividade 7
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
Figura 47 – resposta do grupo 2 para o item (a) da atividade 7
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
103
Para os itens (c) e (d) os alunos apresentaram corretamente as duas
sentenças matemáticas solicitadas.
Durante a realização da atividade surgiram algumas dúvidas como mostra
o diálogo que segue.
A1: pode pintar de qualquer cor?
P: pode sim
B2: o que é a sentença?
P: quem pode dizer
B1: é a continha que vamos fazer
P: todos concordam?
G1 e G2: sim
A2: é uma de mais e outra de menos, não é professor?
P: todos concordam?
G1 e G2: sim
A2: pode fazer um desenho separado para cada conta?
P: se quiser, pode
B1; fica melhor
P: então façam como acharem melhor pra vocês
A1: a diferença é menos, não é professor?
P: sim
Os dois grupos fizeram o que foi solicitado, muito bem e praticamente sem
necessidade de mediação do professor e gostaram da atividade porque envolvia
desenho e pintura.
Podemos perceber que os alunos percorreram as fases de ação,
formulação e validação propostas por Brousseau (1986) e, no final o professor
reforçou as regras operatórias para a adição e subtração de números fracionários
em discussão coletiva com os alunos.
SITUAÇÃO 02: MULTIPLICAÇÃO E DIVISÃO DE NÚMEROS FRACIONÁRIOS
7º Encontro
Esse encontro foi realizado no dia 13/11/2014 e deu início às atividades
que tratavam das operações de multiplicação e divisão de números fracionários.
A atividade 01, que trata apenas da multiplicação de números fracionários,
está dividida em três partes. Na primeira eles farão as operações utilizando a
104
calculadora, na segunda tentarão elaborar uma regra para a multiplicação de
números fracionários e na última eles deverão resolver as operações, sem a
calculadora, apenas utilizando a regra que elaboraram. O objetivo dessa atividade
é então a elaboração e aplicação de uma regra para obtenção do produto de
números fracionários.
ATIVIDADE 1
1.1 Resolva cada uma das operações abaixo com o auxílio da calculadora.
a) 1
2×
1
2= b)
2
3×
1
2=
c) 3
5×
2
4= d)
2
3×
1
4=
e) 4
6×
2
5= f)
5
7×
2
3=
1.2 Escreva uma regra para ensinar os seus colegas de classe a fazer essas
operações.
1.3 Resolva as operações abaixo sem o uso da calculadora utilizando a regra que
você descobriu.
a) 1
3×
1
2= b)
4
5×
3
2=
c) 3
6×
2
5= d)
2
7×
4
3=
e) 3
10×
5
4= f) 8 ×
3
4=
ANÀLISE A PRIORI
No item 1.1 os alunos deverão utilizar a calculadora para realizar as
operações e escrever os resultados obtidos na ficha que receberam. Esperamos
que sem problemas deem as seguintes respostas: 1
4,
2
6,
6
20,
2
12,
8
30 e
10
21.
Para o item 1.2 esperamos que os alunos percebam, a partir dos resultados
obtidos na calculadora, que a regra consiste em “multiplicar os numeradores e
multiplicar os denominadores” e que a escrevam.
Já para o item 1.3 esperamos que apliquem corretamente a regra
elaborada no item anterior e resolvam as operações solicitadas.
105
ANÁLISE A POSTERIORI
As figuras 48 e 49 mostram as respostas dos dois grupos para o item 1.1
da atividade. Os alunos não apresentaram dificuldade alguma para sua resolução.
Figura 48 – resposta do grupo 1 para o item 1.1 da atividade 1
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
Figura 49 – resposta do grupo 2 para o item 1.1 da atividade 1
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
Embora a calculadora tenha apresentado respostas com os números
fracionários simplificados os alunos, para o item 1.2, verbalizaram, de forma por
nós considerada correta, a regra para a multiplicação de números fracionários,
como mostram as figuras 50 e 51 que mostram as respostas dos dois grupos.
Figura 50 – resposta do grupo 1 para o item 1.2 da atividade 1
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
Figura 51 – resposta do grupo 2 para o item 1.2 da atividade 1
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
106
Ao realizarem os cálculos do item 1.3 pudemos observar que os alunos não
apresentaram dificuldades e resolveram as operações aplicando apenas a regra
que haviam formulado no item anterior, como podemos ver nas respostas
apresentadas nas figuras 52 e 53. Podemos observar que, mesmo a calculadora
apresentando os resultados simplificados, os alunos aplicaram a regra e não se
preocuparam em simplifica-las e nem solicitaram para conferir se as respostas
estavam corretas com a calculadora.
Podemos perceber que os alunos percorreram as fases de ação,
formulação e validação propostas por Brousseau (1996). No final da atividade, o
professor institucionalizou a regra operatória para multiplicação de números
fracionários em discussão coletiva com os alunos.
Figura 52 – resposta do grupo 1 para o item 1.3 da atividade 1
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
Figura 53 – resposta do grupo 2 para o item 1.3 da atividade 1
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
107
8º Encontro
Esse encontro foi realizado no dia 14/11/2014 com a participação de quatro
alunos distribuídos em dois grupos. Nele foi aplicada a atividade 2 da situação 2
que tratava de multiplicação de números fracionários e da conversão de
representações numéricas para representações figurais.
ATIVIDADE 2
2.1 Represente por uma figura, e escreva a sentença matemática que representa
os seus respectivos resultados.
a) 3 ×1
4= b) o dobro de
2
5 .
c) o triplo de 2
4 d) o quádruplo de
1
2
ANÁLISE A PRIORI
Para a realização dessa atividade, os alunos terão que representar cada
item por um desenho, elaborar a sentença matemática e realizar o cálculo da
operação multiplicação para obter os resultados. Como o aluno já realizou os
exercícios anteriores de multiplicação envolvendo frações, é de se esperar que
realizem esses cálculos sem grandes dificuldades e respondam, nas fichas:
3 ×1
4=
3
4, 2 ×
2
5=
4
5, 3 ×
2
4=
6
4 e 4 ×
1
2= 2.
Acreditamos também que representarão figuras, mobilizando a concepção
parte-todo para cada um dos resultados obtidos, pois apresentam um bom domínio
de representações desse tipo.
ANÁLISE A POSTERIORI
Os alunos foram orientados a não usar a calculadora na realização dessa
atividade, porém na hora de fazer os cálculos, ficaram com dúvida sobre qual seria
o denominador dos números inteiros e o professor esclareceu que os números
inteiros podem ser representados na forma fracionária, colocando o número 1 no
denominador. Outras dúvidas ocorreram a respeito das figuras que poderiam fazer,
como mostra o diálogo que segue.
108
A2: pode ser uma pizza?
P: o que vocês acham?
A1: acho que sim
P: se tiver dúvida, peça ajuda ao colega
B1: é pra dividir em quantas partes?
P: veja qual a fração de cada exemplo que será multiplicada
A1: é 1
4e
2
5
P: então como será a divisão das partes de cada figura?
B1 e A2: quatro partes
A1: cinco partes
P: das cinco partes, quantas irão representar de início?
A2: duas
P: então vamos fazer
A1: professor já dividimos!
P: certo então o que farão para achar as multiplicações?
B1: pintar o resultado que achamos
A1: pintar a resposta
A2: não entendi muito
P: observe, 3
4 não é o mesmo que:
1
4+
1
4+
1
4
A2: agora sim professor
A1:repetição de 1
4ou multiplicação.
P: todos concordam?
G1 e G2: sim
P: e o outro exemplo?
B2: é o mesmo
P: o mesmo como?
A1: os dois quintos repetidos
P: quantas vezes?
A1: duas
P: muito bem
P: porque o G2 dividiu o seu inteiro em oito partes?
P: porque é o mesmo
P: o mesmo como?
B2: duas partes é um quarto
Observando as figuras 54 e 55, que apresentam as respostas dos alunos
para esta atividade, podemos notar que os dois grupos representaram a
multiplicação, colocando denominador 1 para os números inteiros e, como
esperávamos, mobilizaram a concepção parte todo em figuras de círculos e
retângulos. No entanto não conseguiram responder os itens (c) e (d)
espontaneamente. Na discussão coletiva ficou claro que não associaram ao termo
“triplo” a multiplicação por 3 e ao termo “quadruplo” a multiplicação por 4, embora
não tenham apresentado dificuldade alguma para os termos “dobro” e “triplo”.
109
Durante a discussão o professor foi anotando as sentenças matemáticas e,
a partir de sugestões dos alunos as representações figurais correspondentes, que
os alunos não anotaram em suas fichas (por problemas técnicos, não conseguimos
apresentar aqui as fotos do quadro negro resultante desta atividade).
Figura 54 – resposta do grupo 1 para o item 2.1 da atividade 2
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
Além disso, a escolha das variáveis do item (c) foi inadequada porque o
aluno, por entender, neste caso, que a multiplicação é a adição de parcelas iguais,
teria dificuldade em representar figuralmente três vezes, 2/4. Já no item (d) seria
mais fácil visualizar “quatro vezes 1/2”, no entanto eles não perceberam que seria
“quatro metades” e que poderiam representar dois inteiros. Neste caso, não temos
como analisar a influência da calculadora como instrumento mediador de
aprendizagem, pois a falta de análise prévia mais detalhada prejudicou a boa
realização da atividade pelos alunos.
110
Figura 55 – resposta do grupo 2 para o item 2.1 da atividade 2
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
Os dois grupos realizaram a atividade depois de terem levantado vários
questionamentos sobre os procedimentos que teriam que fazer para concluir com
sucesso a questão,
9º Encontro
Essa atividade foi realizada no 15/11/2014, com a participação de quatro
alunos distribuídos em dois grupos.
ATIVIDADE 3
3.1. Resolva cada uma das operações abaixo com o auxílio da calculadora
a) 6
4÷
3
2= b)
10
9÷
5
3= c)
8
6÷
4
3=
d) 6
7÷
2
7= e)
5
8÷
5
2= f)
3
4÷
3
4=
3.2 Escreva uma regra para ensinar os seus colegas de classe a fazer essas
operações.
3.3 Resolva cada uma das operações abaixo com o auxílio da calculadora
111
a) 3
5÷
4
6= b)
1
2÷
5
4= c)
7
4÷
2
3=
d) 1
3÷
2
5= e)
6
8÷
3
5= f) 9 ÷
1
3=
3.4 Escreva uma regra para ensinar os seus colegas de classe a fazer essas
operações
ANÁLISE A PRIORI
Essa atividade tem como objetivo verificar se a calculadora auxilia os
alunos na elaboração de uma regra para a divisão de números fracionários.
Esperamos que manuseando adequadamente a calculadora eles escrevam os
seguintes números como respostas do item 3.1, de (a) até (f): 1, 2
3, 1, 3,
1
4 e 1.
Escolhemos números que tivessem tanto nos numeradores, quanto nos
denominadores naturais que fossem múltiplos, para facilitar a percepção da regra
que queremos que desenvolvam no item seguinte. Para o item 3.2 esperamos que
os alunos percebam uma regra para a divisão de números fracionários e escrevam
algo do tipo: dividir os numeradores e dividir os denominadores. Para o item 3.3
esperamos que os alunos utilizando adequadamente a calculadora escrevam as
seguintes respostas de (a) até (f): 9
10,
2
5,
21
8,
5
6,
5
4 e
27
5. Para o item 3.4 esperamos que
mobilizem conhecimentos de equivalência de números fracionários e mantenham
a regra operatória desenvolvida no item 3.2.
ANÁLISE A POSTERIORI
Como podemos observar, na figura 56, o primeiro grupo não utilizou a
calculadora para realizar as operações e as responderam espontaneamente.
Questionados a respeito de como resolveram as operações, justificaram que
dividiram os numeradores e dividiram os denominadores. Dessa forma, onde
deveria constar 1, que seria a resposta da calculadora, eles escreveram: 2
2 e
1
1.
Entretanto, como pudemos ver na situação 1, nenhum dos dois grupos
responderam a adição espontaneamente e por isso, não mobilizaram a adição de
numeradores e adição de denominadores.
Já o grupo 2, utilizou a calculadora para realizar as operações e como
podemos ver na figura 57, responderam como previmos com exceção do item (d)
112
que deveria ter como resposta 3 e eles escreveram 3
7. Embora na discussão coletiva
tenha ficado claro que a resposta deste item seria 3, o grupo não corrigiu a resposta
na ficha.
Figura 56 – resposta do grupo 1 para o item 3.1 da atividade 3
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
Figura 57 – resposta do grupo 2 para o item 31 da atividade 3
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
No item 3.2 os alunos verbalizaram e escreveram corretamente uma regra
para resolver esse tipo de divisão de números fracionários, como mostram as
figuras 58 e 59.
Figura 58 – resposta do grupo 1 para o item 3.2 da atividade 3
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
Figura 59 – resposta do grupo 2 para o item 3.2 da atividade 3
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
No item 3.3 os alunos não apresentaram dificuldades e com o auxílio da
calculadora escreveram corretamente os resultados de quase todas as operações
realizadas, como podemos ver nas figuras 60 e 61. No entanto, o grupo 1
113
respondeu para o item (d) 8
4 em vez de
5
4 e o grupo 2, escreveu 2 para o item b em
vez de 2
5, provavelmente aproveitaram, sem perceber o número 5, denominador do
item (b) como numerador da resposta do item (d) que estava logo abaixo.
Figura 60 - resposta do grupo 1 para o item 3.3 da atividade 3
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
Figura 61 – resposta do grupo 2 para o item 3.3 da atividade 3
Fonte: Atividade realizada pelos alunos
No item 3.4 os alunos não conseguiram verbalizar regra alguma que
pudesse justificar os resultados encontrados na calculadora. Embora tivessem
verbalizado e escrito a regra de divisão de números fracionários, no caso em que
o numerador do primeiro número é múltiplo do numerador do segundo número, e o
denominador do primeiro número é múltiplo do denominador do segundo número,
não conseguiram mobilizar conhecimentos suficientes para elaborar uma divisão
qualquer de números fracionários. O primeiro motivo pode ser a falta de
aprendizagem da equivalência de números fracionários que poderia vir para
garantir, a divisão dos denominadores e com isso a percepção de que a divisão dos
numeradores seria o resultado da divisão. Outro motivo, foi a não utilização de
outros recursos, como as figuras por exemplo, que poderiam, juntamente com a
calculadora, auxiliar o aluno na percepção da regra.
114
A partir dos resultados obtidos na atividade 3, o professor desistiu de aplicar
a atividade 4, pois os alunos não conseguiram verbalizar uma regra para a divisão
de números fracionários quaisquer. Dessa forma, o professor encerrou as
atividades e avisou os alunos que eles aprenderiam, de forma adequada, a realizar
essas operações sem a calculadora, com a professora da sala deles.
115
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa que realizamos teve como objetivo a elaboração e aplicação de
uma sequência de ensino para que um grupo de alunos do quinto ano do ensino
fundamental elaborasse e construísse significado para as regras operatórias
fundamentais com números fracionários a partir da utilização de uma calculadora
científica com representação fracionária.
Procuramos verificar se se esse tipo de calculadora poderia ser um recurso
tecnológico que pudesse contribuir com a aprendizagem das operações com
números fracionários, pois sabemos que a simples utilização do recurso tecnológico
não garanta uma aprendizagem eficaz. Além disso, embora os Parâmetros
Curriculares Nacionais, para as séries iniciais, não recomendem o ensino dessas
operações os livros didáticos continuam a apresenta-las em sua totalidade ou
parcialmente.
As atividades que compõem a sequência de ensino foram elaboradas de
acordo com a Teoria das Situações Didáticas, no sentido de proporcionar aos
alunos a vivência das fases de ação, formulação e validação. Nesse sentido
durante a execução das atividades pelos alunos o pesquisador procurou intervir o
mínimo possível na resolução dos alunos, que aceitaram facilmente a mudança no
contrato didático proposta pelo pesquisador quando passou para os alunos a
responsabilidade da realização das atividades.
A maioria das atividades partiu da representação de números fracionários
e solicitava um tratamento para a resolução de operações. No entanto, em algumas
atividades foi solicitada a conversão de uma representação numérica para uma
representação figural, atendendo às orientações de Duval (1993) a respeito da
importância de os alunos perceberem que um mesmo objeto matemático pode ser
representado de formas distintas.
Durante a aplicação das atividades pudemos perceber que os alunos
ficaram entusiasmados por poderem usar uma calculadora na aula e rapidamente
conseguiram dominar as funções necessárias da calculadora, mostrando que esse
recurso poderia se juntar a outros recursos pedagógicos, como orienta Oliveira
116
(2009) para a integração de tecnologias tradicionais com as novas no sentido de
uma complementar a outra.
Durante a aplicação da sequência pudemos perceber a evolução do aluno
em relação a sua independência de ajuda do professor para resolver as atividades.
Eles perguntaram, questionaram fizeram e refizeram algumas atividades até
chegarem a uma resposta satisfatória para a dupla. Percebemos que passaram a
ter iniciativa própria realizando diversas atividades sem esperar qualquer ordem do
professor, mostrando liberdade para agir, formular e validar ou não suas soluções.
Retomando nossa questão de pesquisa: qual a contribuição de uma
sequência didática que envolve uma calculadora científica com representação
fracionária para os processos de ensino e de aprendizagem das operações com
números fracionários para alunos do 5º ano do ensino fundamental?
Podemos concluir que no que se refere ao ensino a calculadora pode sim
ser um recurso pedagógico para o ensino das operações com fracionários, no
entanto acreditamos que em nossa sequência poderíamos ter agregado outros
recursos, como a utilização de representações figurais, para que os alunos
pudessem perceber algumas relações que a calculadora não permitiu. Além disso,
algumas escolhas numéricas, como números representados por frações impróprias
ou aparentes precisam ser alteradas, pois elas também influenciaram na percepção
das relações necessárias para que chegassem a algumas das regras operatórias,
objeto deste estudo.
Quanto a aprendizagem podemos dizer que os alunos conseguiram
verbalizar e escrever, a partir das operações realizadas com a calculadora, as
regras para a adição e subtração de números fracionários de mesmo denominador,
para a multiplicação de números fracionários quaisquer e para a divisão de
números fracionários em que, tanto os numeradores, quanto os denominadores
fossem múltiplos. Nesses casos, entendemos que a calculadora contribuiu no
sentido de os alunos tratarem as frações como números e não como dois números
naturais independentes. É sabido, que um dos obstáculos epistemológicos para a
aprendizagem dos números fracionários é o conhecimento pelos alunos dos
números naturais, como afirma Silva (1997) e que, muitos trabalhos apontam que
117
os alunos na adição costumam somar numeradores e denominadores, o que não
aconteceu em momento algum quando utilizavam a calculadora.
Por outro lado, não houve sucesso na elaboração de uma regra operatória
para a adição e para a divisão de quaisquer números fracionários, pois os alunos
não conseguiram fazer relações entre os numeradores e denominadores dos
números dados para serem operados com os numeradores e denominadores
obtidos nas respostas. Parte disto se deve à elaboração das atividades que não
previu que a calculadora simplificava os números fracionários das respostas, o que
impedia a percepção do aluno. Acreditamos que devem ser escolhidos números
fracionários em que o produto dos denominadores fique evidente na adição de
números fracionários, por exemplo. Além disso, que seja utilizado também outro
recurso, como representações figurais para a elaboração da regra operatória e,
ainda, que os alunos já tenham domínio de equivalência de números fracionários.
No caso da divisão de dois números fracionários quaisquer também seria
necessário fazer escolhas mais adequadas e a utilização de outros recursos para
que percebessem que a regra que obtiveram na situação em que os numeradores
eram múltiplos e os denominadores também, poderia continuar sendo usada a
partir da obtenção de números equivalentes aos dados na operação.
Dessa forma, acreditamos que a calculadora científica com representação
fracionária pode se constituir em recurso pedagógico para o ensino de operações
com números fracionários para alunos do quinto ano do ensino fundamental e para
a elaboração das regras operatórias para os próprios alunos, desde que os alunos
possuam alguns conhecimentos prévios e que as situações agreguem outros
recursos, além da calculadora.
Assim, ficam esses resultados como contribuição para a área e como
pesquisa futura a elaboração de uma sequência com outros recursos e escolhas
para verificar que alunos do quinto ano podem elaborar e utilizar as regras
operatórias para números fracionários. O retardo desse ensino para as séries
seguintes está provocando uma lacuna, como aponta Bertoni (2004) e além disso
permite que os alunos fiquem mais tempo trabalhando com os números naturais e
fazendo com que estes se tornem um obstáculo mais resistente à aprendizagem
de números fracionários como aponta Silva (1997).
119
REFERÊNCIAS
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123
APÊNDICE A – A SEQUÊNCIA DE ENSINO
SITUAÇÃO 1: ADIÇÃO E SUBTRAÇÃO DE NÚMEROS FRACIONÁRIOS
Atividade 01
1.1 Utilizando a calculadora resolva cada uma das operações abaixo:
a) 3
5+
1
5= b)
1
6+
4
6=
c) 1
4+
2
4= d)
2
7+
1
7=
e) 5
8+
4
8=
1.2 Escreva uma regra para ensinar seu colega de classe a fazer essas operações.
1.3 A regra que você escreveu, serve para a soma de que tipos de frações?
1.4 Faça a representação através de um desenho de cada operação que foi feita
anteriormente.
Atividade 02
2.1 Resolva cada uma das operações abaixo sem o auxílio da calculadora.
a) 3
5+
2
5= b)
2
6+
1
6=
c) 1
4+
3
4= d)
2
7+
3
7=
2.2 O que você observou no resultado dessas operações?
2.3 A regra que você encontrou na situação 1 também serve para estes cálculos?
Atividade 3
3.1 Utilizando a calculadora resolva cada uma das operações abaixo:
a) 1
2+
1
3= b)
3
4+
2
6=
c) 3
5+
1
2= d)
2
3+
4
9=
e) 1
3+
1
5= f)
3
4+
2
5=
g) 5
6+
2
4=
3.2 O que você observou sobre os denominadores de cada exemplo anterior?
3.3 Escreva uma regra para ensinar o seu colega de classe a fazer essas
operações.
124
Atividade 04
4.1 Resolva cada uma das operações abaixo sem o auxílio da calculadora.
a) 2
3+
1
2= b)
2
4+
1
3=
c) 3
5+
1
2= d)
1
3+
1
2=
e) 3
4+
2
5= f)
4
7+
1
2=
4.2 Resolva as operações abaixo através da regra encontrada por vocês.
a) 1
2+
1
3= b)
5
6+
1
2=
c) 3
8+
2
4= d)
2
5+
4
6=
4.3 Faça a representação de cada operação abaixo através de uma figura:
a) 1
3+
1
2= b)
2
3+
1
4=
Atividade 05
5.1Resolva cada uma das operações abaixo com o auxílio da calculadora.
a) 2
3−
1
3= b)
7
8−
4
8=
c) 9
10−
5
10= d)
4
7−
2
7=
e) 7
9−
3
9= f)
5
6−
3
6=
5.2 Escreva uma regra para ensinar os seus colegas de classe a fazer essas
operações.
Atividade 06
6.1 Resolva cada uma das operações abaixo com o auxílio da calculadora.
a) 1
2−
1
3= b)
3
4−
2
5=
c) 5
6−
3
4= d)
2
3−
3
9=
e) 3
5−
1
2= f)
2
3−
3
5=
g) 3
4−
1
3=
125
6.2 Escreva uma regra para ensinar os seus colegas de classe a fazer essas
operações.
6.3 Resolva cada uma das operações abaixo sem o auxílio da calculadora,
utilizando a regra que você descobriu.
a) 1
2−
2
5= b)
2
3−
1
4=
c) 2
3−
2
6= d)
3
5−
2
4=
e) 2
3−
1
2=
Atividade 07
1a) Pinte três partes da figura de uma cor e duas outras partes de outra cor.
b) Que partes da figura foram pintadas?
c) Que sentença matemática representa a soma dessas partes?
d) Que sentença matemática representa a diferença entre a maior parte e a menor
parte
126
SITUAÇÃO 02: MULTIPLICAÇÃO E DIVISÃO DE NÚMEROS FRACIONÁRIOS
Atividade 01
1.1 Resolva cada uma das operações abaixo com o auxílio da calculadora.
a) 1
2×
1
2= b)
2
3×
1
2=
c) 3
5×
2
4= d)
2
3×
1
4=
e) 4
6×
2
5= f)
5
7×
2
3=
1.2 Escreva uma regra para ensinar os seus colegas de classe a fazer essas
operações.
1.3 Resolva as operações abaixo sem o uso da calculadora utilizando a regra que
você descobriu.
a) 1
3×
1
2= b)
4
5×
3
2=
c) 3
6×
2
5= d)
2
7×
4
3=
e) 3
10×
5
4= f) 8 ×
3
4=
Atividade02
3.1 Represente por uma figura, e escreva a sentença matemática que representa
os seus respectivos resultados.
a) 3 ×1
4= b) O dobro de
2
5 .
c) o triplo de 2
4 d) O quádrulo de
1
2
Atividade 03
3.1. Resolva cada uma das operações abaixo com o auxílio da calculadora
a) 6
4÷
3
2= b)
10
9÷
5
3= c)
8
6÷
4
3=
d) 6
7÷
2
7= e)
5
8÷
5
2= f)
3
4÷
3
4=
3.1 Escreva uma regra para ensinar os seus colegas de classe a fazer essas
operações.
3.2 Resolva cada uma das operações abaixo com o auxílio da calculadora
a) 3
5÷
4
6= b)
1
2÷
5
4= c)
7
4÷
2
3=
127
d) 1
3÷
2
5= e)
6
8÷
3
5= f) 9 ÷
1
3=
3.3 Escreva uma regra para ensinar os seus colegas de classe a fazer essas
operações
Atividade 04
4.1 Resolva cada uma das operações abaixo sem o uso da calculadora, utilizando
a regra que você descobriu.
a) 1
2÷
1
3= b)
1
3÷
2=
c) 4 ÷1
2= d)
3
5÷
2
4=
e) 2
8÷
1
4= f)
3
5÷
3
5=