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6763 POR QUE OPTEI POR CURSAR LICENCIATURA EM QUÍMICA? ANÁLISE DAS MOTIVAÇÕES DOS ESTUDANTES DA UNESP DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO Amadeu Moura BEGO Gabriela AGOSTINI Évelin Carolina SGARBOSA Larissa Vendramini da SILVA Juliana Aparecida Chudo MARQUES Instituto de Química, Unesp, Araraquara Eixo 01 - Formação inicial de professores de educação básica [email protected] 1. Introdução Nas últimas décadas, o país incrementou expressivamente o número de estabelecimentos de ensino e o número de matrículas na Educação Básica (EB), fazendo com que a demanda por professores com formação em nível superior, particularmente na segunda etapa do Ensino Fundamental (EF) e no Ensino Médio (EB), também se elevasse significativamente. Dados do Resumo Técnico do Censo Escolar da EB de 2012 (BRASIL, 2013a) mostram que nos estabelecimentos de EB do país estavam matriculados 50.545.050 alunos, sendo 42.222.831 (85,53%) estavam em unidades escolares da rede pública e 8.322.219 (16,46%) em unidades escolares da rede privada. No EF o número de matrículas em 2012 nos anos iniciais foi de 16.016.030 e nos anos finais foram registradas 13.686.468 matrículas. No EM o número de matrículas cai para 8.376.852, o que demonstra uma evasão ainda considerável, porém mostra o alto contingente de alunos que supera os 8 milhões. O mesmo relatório mostra que o número de professores atuando em 2012 na EB foi de 2.095.013 e que, desse número, 78,1% apresentavam formação em nível superior, 21,5% possuíam formação no EM e 0,3% tinham formação completa em nível fundamental (BRASIL, 2013a). Segundo dados da Sinopse Estatística da Educação Básica de 2012 (BRASIL, 2013b), 497.797 professores atuavam no EM, destes 486.523 tinham formação superior e 406.521 possuíam o curso de licenciatura. Dentre os docentes com Ensino Superior que atuavam no EM, apenas 17.273 tinham ciências, matemática ou computação como área geral de formação. No Estado de São Paulo, dos 118.039 professores com formação superior, 93.087 possuíam curso de licenciatura e apenas 4.890 eram formados na área geral de ciências, matemática ou computação. Em relatório produzido pela Comissão Especial instituída no âmbito da Câmara de Educação Básica (CEB) do Conselho Nacional de Educação (CNE) para estudar medidas que visassem superar o déficit docente no EM, os conselheiros concluíram que, caso medidas emergenciais e estruturais não fossem tomadas, o Brasil estaria ameaçado a sofrer um “apagão docente no EM”, sobretudo nas áreas de ciências exatas e da natureza (BRASIL, 2007). De acordo com o relatório, em 2007, a demanda de professores de Química, Física, Biologia e

POR QUE OPTEI POR CURSAR LICENCIATURA EM …200.145.6.217/proceedings_arquivos/ArtigosCongressoEducadores/5613.pdf · diretamente, à atratividade da carreira docente, sendo que a

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6763

POR QUE OPTEI POR CURSAR LICENCIATURA EM QUÍMICA? ANÁLISE DAS

MOTIVAÇÕES DOS ESTUDANTES DA UNESP DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

Amadeu Moura BEGOGabriela AGOSTINI

Évelin Carolina SGARBOSALarissa Vendramini da SILVA

Juliana Aparecida Chudo MARQUESInstituto de Química, Unesp, Araraquara

Eixo 01 - Formação inicial de professores de educação bá[email protected]

1. Introdução

Nas últimas décadas, o país incrementou expressivamente o número de estabelecimentos

de ensino e o número de matrículas na Educação Básica (EB), fazendo com que a demanda por

professores com formação em nível superior, particularmente na segunda etapa do Ensino

Fundamental (EF) e no Ensino Médio (EB), também se elevasse significativamente. Dados do

Resumo Técnico do Censo Escolar da EB de 2012 (BRASIL, 2013a) mostram que nos

estabelecimentos de EB do país estavam matriculados 50.545.050 alunos, sendo 42.222.831

(85,53%) estavam em unidades escolares da rede pública e 8.322.219 (16,46%) em unidades

escolares da rede privada. No EF o número de matrículas em 2012 nos anos iniciais foi de

16.016.030 e nos anos finais foram registradas 13.686.468 matrículas. No EM o número de

matrículas cai para 8.376.852, o que demonstra uma evasão ainda considerável, porém mostra o

alto contingente de alunos que supera os 8 milhões. O mesmo relatório mostra que o número de

professores atuando em 2012 na EB foi de 2.095.013 e que, desse número, 78,1% apresentavam

formação em nível superior, 21,5% possuíam formação no EM e 0,3% tinham formação completa

em nível fundamental (BRASIL, 2013a).

Segundo dados da Sinopse Estatística da Educação Básica de 2012 (BRASIL, 2013b),

497.797 professores atuavam no EM, destes 486.523 tinham formação superior e 406.521

possuíam o curso de licenciatura. Dentre os docentes com Ensino Superior que atuavam no EM,

apenas 17.273 tinham ciências, matemática ou computação como área geral de formação. No

Estado de São Paulo, dos 118.039 professores com formação superior, 93.087 possuíam curso de

licenciatura e apenas 4.890 eram formados na área geral de ciências, matemática ou computação.

Em relatório produzido pela Comissão Especial instituída no âmbito da Câmara de

Educação Básica (CEB) do Conselho Nacional de Educação (CNE) para estudar medidas que

visassem superar o déficit docente no EM, os conselheiros concluíram que, caso medidas

emergenciais e estruturais não fossem tomadas, o Brasil estaria ameaçado a sofrer um “apagão

docente no EM”, sobretudo nas áreas de ciências exatas e da natureza (BRASIL, 2007). De

acordo com o relatório, em 2007, a demanda de professores de Química, Física, Biologia e

6764

Matemática estimada para o EM era, respectivamente de 23.514, 23.514, 23.514 e 35.270; contra

13.559, 7.216, 53.294, 55.334 licenciados formados, entre 1990 e 2001, nas áreas de Química,

Física, Biologia e Matemática, respectivamente. De modo especial, para as disciplinas Química e

Física os números são alarmantes, uma vez que não somam valores minimamente suficientes,

além disso, se a essa demanda forem adicionados os professores de Química e Física

necessários para atuarem nos anos finais do EF, o número atinge o valor de 55.231. Além disso,

como decorrência do baixo número de licenciados formados, o relatório aponta que o percentual

de docentes com formação específica que ministram as disciplinas Química, Física, Biologia e

Matemática são, respectivamente, 13%, 9%, 57% e 27%, o que torna clara a inadequação da

formação de muitos professores que atuam nestas disciplinas no EM.

Corroborando esses dados, Gatti e colaboradores (2009) apresentam os resultados dos

relatórios de 2005 e 2006 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

(OCDE) que indicam a escassez de docentes nos países integrantes de organização como um

fato preocupante em função da falta de candidatos. No Brasil, são apresentadas evidências de

que o número de aposentadorias tende a superar o número de formandos nos próximos anos,

haja vista que cerca de 40% estão mais próximos da aposentadoria que do início de carreira.

Para os autores, a procura pelos cursos de licenciatura está atrelada, mesmo que não

diretamente, à atratividade da carreira docente, sendo que a atratividade de determinada carreira

social é influenciada pelas transformações sócio históricas no mundo do trabalho e é composta

por aspectos objetivos e subjetivos. Os primeiros incluem as condições históricas, sociais e

materiais, envolvendo questões relativas à estabilidade, à remuneração, à projeção do plano de

carreira etc. e os segundos estão relacionados com o modo como os indivíduos percebem as

carreiras e a si próprios, envolvendo questões referentes ao status sociocultural da posição

ocupada.

Além disso, sabe-se que o projeto profissional é influenciado por diversos fatores

extrínsecos e intrínsecos que articulados formam uma teia de relações e valorações inter-

relacionadas, alguns desses fatores podem ser elencados: os aspectos situacionais e de

formações; a perspectiva de empregabilidade, renda e taxa de retorno; o status relacionado à

carreira; além de identificação, autoconceito, interesses, habilidades, maturidade, valores, traços

de personalidade e expectativas com relação ao futuro (GATTI et al., 2009).

No tocante as motivações para o ingresso na carreira docente, diversos estudos indicam

que estas, em geral, situam-se no campo dos valores altruístas e da realização pessoal,

abarcando motivos como: dom e vocação, amor pelas crianças e pelo próximo, amor pela

profissão, amor pelo saber e possibilidade de atuar como agente de transformação social.

Entretanto, nas últimas décadas, em decorrência de transformações sociais ocorridas

globalmente, tem ocorrido uma aguda precarização e flexibilização do trabalho do professor que

conduziram à massificação do magistério, materializada em inadequadas condições de trabalho,

desprestígio social e baixos salários. Somando-se a isso a violência nas escolas, à falta de

6765

interesse dos alunos e as novas exigências em relação à atividade docente, tais fatores têm

conduzido a uma profunda crise de identidade da profissão e a sua baixa atratividade (GATTI et

al., 2009, SÁ; SANTOS, 2011, SALES; LOPES, 2004).

Em particular, no caso das Licenciaturas em Química, percebe-se que a escolha por esse

curso se relaciona, muitas vezes, a outros fatores, além daqueles apontados por Gatti e

colaboradores (2009), e não necessariamente ao interesse em seguir a docência, visto que o

profissional formado nesse curso dispõe de diversas opções de emprego certas vezes mais

atraentes financeiramente ou com melhores condições de trabalho que a profissão de professor

(SGARBOSA et al.,2014).

De forma complementar, Gatti e colaboradores (2009) afirmam que, no Brasil, a questão da

atratividade da carreira docente não tem sido alvo de sistemáticas pesquisas acadêmico-

científicas, apesar da relevância do tema e o seu quadro emergencial.

Dentro desse contexto, o presente trabalho integra um projeto maior que objetiva analisar

as motivações que têm conduzido estudantes a ingressarem nos cursos de licenciatura em

Química da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Particularmente,

neste texto, são apresentados os resultados referentes ao campus de São José do Rio Preto.

2. QUESTÃO DE PESQUISA E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Considerando o contexto e o objetivo desse trabalho, propomos o seguinte problema de

pesquisa: que motivações conduziram estudantes a ingressarem no curso de licenciatura em

química da Unesp? Como desdobramento da questão central e de forma a operacionalizar melhor

o processo de coleta e tratamento de informações, propomos as seguintes questões: que fatores

foram responsáveis pela escolha da Universidade? que fatores foram responsáveis pela escolha

do Curso? quais as expectativas dos licenciandos acerca de suas carreiras profissionais? qual a

percepção dos licenciandos acerca da profissão docente?

Para consecução dos objetivos realizamos uma pesquisa com abordagem qualitativa do

tipo Estudo de Caso (ANDRÉ, 2008) no segundo semestre do ano de 2013 com todos os

estudantes do 2º Ano do curso de Química, que já haviam optado pela Licenciatura. Além disso,

para uma comparação em relação ao nível socioeconômico (NSE), foram analisados os

questionários do grupo de ingressantes que ainda não havia optado pela modalidade que

cursariam, e do grupo que já havia optado pelo bacharelado em Química Ambiental. No total,

participaram 47 alunos da pesquisa.

Utilizou-se como instrumento de coleta de informações um questionário baseado nos

trabalhos de Gatti e colaboradores (2009) e de Sá e Santos (2011). O questionário apresenta 36

itens divididos em 3 grandes blocos.

Com as informações coletadas no primeiro bloco, Caracterização, construímos um

indicador de (NSE) com base nos critérios de pontuação definidos por Gatti e colaboradores

6766

(2009). A classificação do NSE ocorreu em função da pontuação total atingida por cada sujeito de

acordo com os seguintes intervalos: i) até 10 pontos: NSE baixo; ii) entre 11 e 20 pontos: NSE

intermediário; iii) acima de 20 pontos: NSE alto.

O segundo bloco do questionário, Motivações para a Carreira Acadêmica, visou levantar

informações acerca dos principais fatores que influenciaram os estudantes a ingressarem no

curso de Química na Unesp.

Por fim, o terceiro bloco, Expectativas Profissionais, objetivava coletar informações sobre

as expectativas que os licenciandos possuem para atuar na carreira docente e também suas

percepções sobre o trabalho do professor no tocante à sua importância social e à sua valorização

profissional.

Para chegar aos resultados que apresentamos aqui, procedemos a uma análise, que se

constituiu em dois momentos. Primeiro, utilizando conceitos e métodos da Estatística Descritiva

(BUSSAB; MORETTIN, 2009), procedemos a uma análise quantitativa sendo que os dados

obtidos foram tratados e organizados em tabelas. Em um segundo momento, procedemos a uma

análise qualitativa dos dados, utilizando os procedimentos da Análise de Conteúdo (BARDIN,

2011).

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

O curso de Química da UNESP de São José do Rio Preto foi implementado em 2003,

sendo oferecidas 40 vagas anuais no período diurno com duração de 4 anos. O referido curso

oferece as modalidades Licenciatura e Bacharelado em Química Ambiental, sendo que a entrada

pelo vestibular é única e os alunos cursam disciplinas comuns às duas modalidades até o

segundo semestre do segundo ano, e então optam por uma das duas modalidades oferecidas.

I. Caracterização dos estudantes

Para esta pesquisa foram considerados os questionários de 47 graduandos em química,

dos quais: 18 ainda não haviam optado pela modalidade que cursariam, 9 optaram pela

licenciatura e 20 escolheram o bacharelado em Química Ambiental.

Com o objetivo de verificar se há diferença no perfil socioeconômico dos alunos que já

optaram por bacharelado e pela licenciatura, e dos ingressantes que ainda não realizaram a

opção pelo curso, apenas para fins comparativos, foram construídas três tabelas de

caracterização dos graduandos.

Uma primeira importante observação a ser feita é que a quantidade de ingressantes que

optou pelo bacharelado em Química Ambiental é muito superior aos alunos que optaram pela

Licenciatura. Dessa forma, a comparação entre os perfis será baseada em diferenças que se

sobressaem, sem, no entanto, alta precisão estatística.

Tabela 1. Caracterização dos Licenciandos.

6767

Característica Perfil do aluno Contagem Percentual

Sexo Feminino 8 88,9Masculino 1 11,1

Idade Entre 17 e 19 anos 2 22,2Mais de 20 anos 7 77,8

Cor declarada Branco 6 66,7Pardo ou mulato 3 33,3

Você estudou onde? Sempre em escola pública 3 33,3Sempre em escola particular 1 11,1

Iniciou em escola pública e mudou para particular 4 44,4Iniciou em escola particular e mudou para pública 1 11,1

Você trabalha? Sim 1 11,1Não 8 88,9

Porque você trabalha? Melhor formação profissional 1 100

Sua jornada de trabalho é de: 30 horas semanais ou menos 1 100

Escolaridade dos pais Pai MãeEnsino fundamental incompleto 2 22,2 1 11,1Ensino fundamental completo 1 11,1 1 11,1

Ensino médio completo 2 22,2 3 33,3Ensino superior incompleto 2 22,2 0 0Ensino superior completo 2 22,2 4 44,4

Profissão dos pais Pai MãeNão respondeu 1 11,1 3 33,3

Prestação de serviços 6 66,7 5 55,6Aposentado (a) 2 22,2 1 11,1

Renda familiar De um a três salários mínimos 2 22,2De três a seis salários mínimos 4 44,4Mais de seis salários mínimos 3 33,3

Sua casa é: Própria 8 88,9Alugada 1 11,1

Sua família é formada porquantas pessoas:

Menos de quatro 4 44,4Quatro 4 44,4

Mais de quatro 1 11,1

NSE Baixo 1 11,1Intermediário 5 55,6

Alto 3 33,3

No tocante ao perfil dos licenciandos, podemos observar na Tabela 1 que há

predominância do gênero feminino (88,9%), enquanto que o gênero masculino representa apenas

11,1%. O mesmo pode ser observado na análise do grupo que ainda não optou pela modalidade

(Tabela 3), mas não para os que cursam bacharelado em Química Ambiental (Tabela 2), em que

há quase uma equiparação entre o percentual de estudantes do gênero feminino (55%) e do

masculino (45%). Quanto à idade, entre os que optaram pela licenciatura, a maioria dos alunos

possui mais de 20 anos, representando 77,8% do total. No bacharelado, esse percentual cai para

55%. Já entre os ingressantes, que ainda não optaram por uma modalidade, esse quadro se

inverte, ou seja, a maioria (66,7%) tem entre 17 e 19 anos. Em relação a cor autodeclarada, nos

três grupos a maioria se autodeclara branca.

Do total de participantes da pesquisa, apenas 3 afirmaram estar trabalhando, todos com

carga inferior a 30 horas semanais, sendo um ingressante, um licenciando e um graduando em

Química Ambiental. Cada um indicou um motivo, sendo eles: ajudar a família, melhorar a

formação profissional e ser mais independente financeiramente, respectivamente.

Tabela 2. Caracterização dos Graduandos em Química Ambiental.

Característica Perfil do aluno Contagem Percentual

6768

Sexo Feminino 11 55Masculino 9 45

Idade Entre 17 e 19 anos 9 45Mais de 20 anos 11 55

Cor declarada Branco 13 65Amarelo 3 15

Pardo ou mulato 4 20

Você estudou onde? Sempre em escola pública 4 20Sempre em escola particular 1 5

Iniciou em escola pública e mudou para particular 6 30Iniciou em escola particular e mudou para pública 9 45

Você trabalha? Sim 1 5Não 19 95

Porque você trabalha? Para ser mais independente 1 100

Sua jornada de trabalho é de: 30 horas semanais ou menos 1 100

Escolaridade dos pais Pai MãeEnsino fundamental incompleto 2 10 1 5Ensino fundamental completo 3 15 0 0

Ensino médio incompleto 2 10 3 15Ensino médio completo 6 30 6 30

Ensino superior incompleto 1 5 1 5Ensino superior completo 6 30 9 45

Profissão dos pais Pai MãeNão respondeu 0 0 1 5

Prestação de serviços 14 70 15 75Comércio 4 20 2 10Indústria 1 5 0 0

Aposentado (a) 1 5 0 0Outros (do lar, não trabalha) 0 0 2 0

Renda familiar De um a três salários mínimos 6 30De três a seis salários mínimos 7 35Mais de seis salários mínimos 7 35

Sua casa é: Própria 16 80Alugada 4 20

Sua família é formada por quantas pessoas: Menos de quatro 5 25Quatro 14 70

Mais de quatro 1 5

NSE Baixo 0 0Intermediário 8 40

Alto 12 60

No que diz respeito à família dos estudantes, notamos que uma parcela considerável dos

pais possui formação em nível superior, com destaque ao grupo que optou pelo bacharelado, no

qual 30% dos pais e 45% das mães possuem nível superior completo. Esses percentuais são um

pouco menores nos outros dois grupos analisados. Em relação à profissão dos pais, dos três

grupos que responderam ao questionário, a maioria deles trabalha no setor de prestação de

serviços.

As casas de todos os estudantes são em zona urbana, sendo que a maioria das casas são

próprias. As famílias são formadas, predominantemente, por quatro pessoas, e a renda familiar é

composta por duas pessoas, em média. Analisando esses dados, notamos que a renda familiar é

composta, na grande maioria, por três a seis salários mínimos.

Em relação ao NSE, podemos observar que a maioria dos alunos, nos três grupos,

encaixa-se no NSE intermediário. Entretanto, é possível ressaltar algumas observações

relevantes, que acabam por diferenciá-los: o único aluno classificado como NSE baixo optou pela

licenciatura; no bacharelado em Química Ambiental, a grande maioria dos estudantes encaixou-se

6769

no NSE alto; entre os que ainda não optaram por uma das modalidades, a maioria foi classificado

como NSE intermediário.

Tabela 3. Caracterização dos Ingressantes no Curso de Química (ainda não optaram a modalidade).

Característica Perfil do aluno Contagem Percentual

Sexo Feminino 14 77,8Masculino 4 22,2

Idade Entre 17 e 19 anos 12 66,7Mais de 20 anos 6 33,3

Cor declarada Branco 17 94,4Pardo ou mulato 1 5,6

Você estudou onde? Sempre em escola pública 10 55,6Sempre em escola particular 3 16,7

Iniciou em escola pública e mudou para particular 4 22,2Iniciou em escola particular e mudou para pública 1 5,6

Você trabalha? Sim 1 5,6Não 17 94,4

Porque você trabalha? Por necessidade de ajudar a família 1 100

Sua jornada de trabalho é de: 30 horas semanais ou menos 1 100

Escolaridade dos pais Pai MãeNão sei 1 5,6 0 0

Ensino fundamental incompleto 3 4Ensino fundamental completo 2 2

Ensino médio incompleto 4 0 0Ensino médio completo 3 6 33,3

Ensino superior incompleto 1 5,6 0 0Ensino superior completo 4 22,2 6 33,3

Profissão dos pais Pai MãeNão respondeu 4 2

Prestação de serviços 8 44,4 10 55,6Comércio 2 2Indústria 1 5,6 0 0

Aposentado (a) 1 5,6 1 5,6Outros (do lar, não trabalha) 0 0 3

Desempregado 2 0 0

Renda familiar De um a três salários mínimos 7De três a seis salários mínimos 9Mais de seis salários mínimos 2

Sua casa é: Própria 17 94,4Cedida 1 5,6

Sua família é formada porquantas pessoas:

Menos de quatro 5Quatro 10

Mais de quatro 2

NSE Baixo 0Intermediário 13

Alto 5

II. Motivações dos estudantes para a escolha acadêmica

Na análise deste bloco de questões, apenas as respostas do grupo de alunos que optaram

por cursar licenciatura serão apresentadas, em função de a elaboração do questionário estar

relacionada às motivações para a escolha da Química e da docência.

A partir dos dados colimados na Tabela 4, é possível perceber que, dos 9 licenciandos, 6

tentaram outros vestibulares antes de ingressar no curso atual, sendo que 5 relataram que o curso

de Química não havia sido sua primeira opção. Como cursos desejados foram citados: Farmácia,

Engenharia Química, Biomedicina, Ciências Contábeis, Gestão Ambiental e Turismo. Apesar de a

grande maioria ter se submetido a exames vestibulares de outras Instituições de Ensino Superior

(IES), os fatores relacionados à escolha do curso foram a identificação com a grande área do

6770

conhecimento e a reputação da Unesp, conforme indicado por 7 estudantes. Apenas 1 estudante

afirmou que a escolha do curso foi motivada pela universidade ser pública e na cidade onde mora,

e 1 aluno escolheu o curso atual por não ter conseguido passar em outro curso de uma

universidade pública.

Tabela 4. Escolha do curso e da Universidade.

Questão Resposta Contagem Percentual

Tentou outro vestibular?Sim 3 33,3Não 6 66,7

Vestibulares realizados

FATEC 1 11,1ENEM 1 11,1UEM 2 22,2USP 6 66,7

Unicamp 1 11,1

O curso atual foi a primeira opção?Sim 4 44,4Não 5 55,6

Principal motivo para a escolha do curso nestaUniversidade

Gostar do Curso e Reputação da Universidade 7 77,8A Universidade ser pública e na cidade onde moro 1 11,1

Foi o único curso que conseguiu passar emuniversidade pública

1 11,1

Em relação às influências para a escolha do curso, analisando os dados reunidos na

Tabela 5 notamos que apenas 44,4% dos alunos afirmaram ter escolhido o curso de Licenciatura

em função de realmente pretenderem ser professores. Entretanto, todos os licenciandos afirmam

já terem pensado algum dia em seguir a carreira docente, em sua maioria no nível técnico

associado à outra modalidade de ensino (55,6%). Entre outros motivos para a escolha da

licenciatura, 2 estudantes destacam a possibilidade de dupla habilitação, e outros 3 indicam outros

motivos, como o desejo de conhecer melhor a modalidade ou a pretensão de seguir carreira

acadêmica.

Tabela 5. Influências para a escolha do curso.

Questão Resposta Contagem PercentualVocê sabe a diferença profissional entre

bacharel e licenciado?Sim 2 22,2Não 7 77,8

Análise das respostas Sabe a diferença 4 44,4Sabe parcialmente a diferença 4 44,4

Não Justificou 1 11,1Porque você decidiu fazer licenciatura? Quero ser professor 4 44,4

Dupla Habilitação (Bacharel e Licenciado) 2 22,2Outros motivos (conhecer melhor a modalidade, querer

seguir carreira acadêmica etc.)3 33,3

O que influenciou sua escolha paramatricular-se no curso?

Próprias opiniões e pretensões profissionais 6 66,7Opiniões de familiares e amigos 2 22,2

Outros motivos - Receios quanto à inserção no mercado detrabalho

1 11,1

Além disso, a maioria dos alunos indicou saber a diferença profissional entre um bacharel

e um licenciado, e, em que pese algumas visões simplistas e distorcidas acerca dessa diferença,

88,9% dos estudantes responderam adequadamente sobre a diferença questionada.

Os dados apresentados nesta seção somados à constatação de a maior parte dos

licenciandos se encontrar na faixa de NSE intermediária parecem concordar com a afirmação

encontrada em Gatti e colaboradores (2009) de que os cursos relacionados à carreira docente

6771

atraem principalmente alunos oriundos de classes socioeconômicas menos favorecidas. Segundo

a autora, essa constatação está relacionada ao fato de o magistério ainda significar, de certo

modo, a possibilidade de ascensão social. A partir dos dados da Tabela 5, percebe-se que, no

processo da escolha do curso de Licenciatura em Química, o que mais influenciou os jovens

foram suas próprias pretensões profissionais (66,7%). Destaca-se ainda que, um dos licenciandos

optou por essa modalidade devido à insegurança em relação ao mercado de trabalho caso

optasse pelo bacharelado. Porém, ao contrário do observado por Gatti e colaboradores (2009), a

possibilidade de ascensão social prevista pelos licenciandos de nossa amostra está relacionada à

atuação no nível Técnico e não necessariamente na Educação Básica.

A partir das respostas dos estudantes acerca das razões para a escolha da carreira ao

prestar vestibular foram identificadas 3 categorias temáticas apresentadas no Quadro 1.

Quadro 1. Categorias de respostas referentes à razão pela escolha da carreira.

Categoria Extratos de texto representativo ContagemI Interesse e/ou afinidade com a grande área “A facilidade com tal matéria na escola.” (A3)

“Gosto pela área.” (A5)7

II Influências de terceiros e reputação do curso “(...) influência familiar” (A4) 1III Expectativas profissionais “Oportunidade de emprego.” (A6) 3

A categoria que apresentou frequência mais expressiva (identificada em 7 respostas) foi a

de “Interesse e/ou afinidade com a grande área”, a qual compreendem as respostas que

relacionam a escolha da carreira com o interesse em adquirir ou aprimorar os conhecimentos na

área de química, ou, ainda, por gostar dos conteúdos da área aos quais foram familiarizados no

Ensino Médio ou em cursos técnicos. De fato, a afinidade com a grande área é esperada para a

escolha da carreira para prestar vestibular. Um aluno afirmou que foi motivado a escolher a

carreira devido à influência familiar, e outros 3 vislumbram sucesso profissional, motivados por

fatores como a empregabilidade ou o retorno financeiro. Diferentemente do que foi observado em

trabalhos anteriores (SGARBOSA et al., 2013), os alunos não apresentaram motivações

relacionadas a valores altruístas, vocação ou realização pessoal/profissional.

III. Percepções sobre o trabalho docente

Em função das respostas para as questões que exploravam as percepções dos

licenciandos sobre o trabalho docente, foram identificadas quatro categorias apresentadas no

Quadro 2. Algumas respostas contêm diferentes ideias sobre o trabalho docente e acabam se

encaixando em mais de uma categoria, por isso a somatória das contagens excede no número

total de sujeitos.

Quadro 2. Categorias de respostas para a percepção sobre o trabalho docente.

Categoria Extratos representativos do texto ContagemI Papel importante na sociedade “Acho que o trabalho do professor é crucial na vida de um aluno” (A6) 5II Visão romantizada do trabalho que traz

recompensa pessoal“O professor não somente é o responsável por ensinar o conteúdo, é

também um exemplo para o aluno” (A2)4

6772

III Trabalho muito exigente e em condiçõesprecárias

“É um trabalho complicado. Você tem que aprender além de ensinar.Aprender a dar aula, aprender a conviver com diferentes tipos de

pessoas, adaptar-se a maneiras de ensinar”(A3)

5

IV Trabalho pouco valorizado e desmotivador “[profissional que] tem pouco reconhecimento”(A5) 2

Na primeira categoria se encaixam as respostas de 5 licenciandos que ressaltaram a

importância do trabalho do professor para a sociedade. Para eles, essa profissão é a base para a

formação acadêmica, profissional e cidadã dos indivíduos.

Para 4 estudantes a profissão está relacionada a alguma satisfação pessoal, com o

sentimento de prazer resultante do ato de ensinar que acaba, de certa forma, por compensar as

adversidades encontradas no exercício do magistério, o que revela certo grau de altruísmo para a

profissão. Ainda nessa perspectiva notamos que alguns licenciandos têm grande admiração pelos

professores e, de certa forma, enobrecem a docência, colocando-a em uma posição grandiosa,

como observado na fala do Aluno 8: “Ser professor hoje é ser um guerreiro”. Essa visão

romantizada da profissão, além da concepção da docência como sacerdócio, na qual o prazer

pessoal é mais importante que as desvantagens, também foi identificada por Gatti e

colaboradores (2009). De acordo com os pesquisadores, para essa concepção “pode-se lançar a

hipótese de que os alunos enxergam a docência não como profissão, mas como sacerdócio, uma

missão em resposta a uma vocação” (GATTI, 2009, p. 41).

As respostas relativas aos aspectos negativos das condições para se exercer o trabalho

docente, dadas por 5 licenciandos, foram agrupadas na terceira categoria. Eles acreditam que o

trabalho é muito exigente e desgastante, e para ser professor é preciso ter certas predisposições,

tais como: saber lidar com diferentes situações e problemas do cotidiano escolar, capacidade de

inovação e responsabilidade.

A quarta categoria compreende as respostas dos 2 licenciandos que consideram o trabalho

docente desvalorizado social e financeiramente, e que o professor não é respeitado pela

sociedade e governantes, sendo uma profissão difícil, que desmotiva quem exerce e não atrai

novos profissionais.

Em contraposição à percepção pessoal, investigamos as concepções dos licenciandos

quanto à visão da sociedade sobre o trabalho docente.

Todos os 9 licenciandos acreditam que o trabalho do professor não é valorizado e que não

há o devido reconhecimento social e profissional, sendo que essa profissão é desrespeitada por

pais, alunos, governantes e a sociedade em geral. Essa desvalorização profissional associada à

baixa remuneração e as precárias condições de trabalho contribuem para uma visão negativa do

magistério.

Na perspectiva dos licenciandos a sociedade considera a docência como uma carreira

desestimulante e pouco atrativa. Em alguns casos tem-se até uma visão depreciativa da profissão:

“[a sociedade] vê o professor como uma pessoa que não teve uma oportunidade melhor” (A6).

Diferentemente do que foi observado nas análises das respostas dos ingressantes em trabalhos

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anteriores (SGARBOSA et. al, 2014), nenhum dos estudantes afirmou que a sociedade reconhece

a importância do professor, embora ele ainda assim não seja valorizado.

Ao final do questionário, uma das questões informava o piso salarial nacional definido em

lei para os professores da Educação Básica na rede pública. No grupo analisado, 6 licenciandos

consideram o valor tão baixo que desestimula o ingresso na carreira docente. Os outros 3 indicam

que o valor não é tão baixo, mas que a carga horária é alta, e o professor provavelmente terá que

pegar muitas aulas e se sobrecarregará para poder ganhar mais e viver mais confortavelmente.

4. Conclusões

No ano de 2013 o grupo de estudantes que optaram pela licenciatura, já no 2º ano do

curso de Química da Unesp de São José do Rio Preto, apresentou equivalência de gênero,

formado majoritariamente por jovens com mais de 20 anos oriundos em grande parte de escolas

públicas e que não trabalhavam em emprego formal. A maioria dos estudantes provém de famílias

cujos pais não possuem Ensino Superior e possuem nível socioeconômico intermediário. No

tocante à diversidade étnica e racial, a maior parte dos ingressantes se autodeclara branca, com

percentual pequeno de pardos e negros. Quadro este que se repete em vários outros cursos e em

várias outras universidades. Vale sublinhar que a Unesp vem implantando gradativamente

políticas de reservas de vagas e, por isso, seria interessante acompanhar o comportamento desse

cenário nos próximos anos.

Para a grande maioria dos estudantes o curso na Unesp não foi a primeira opção, embora

relatem que o que influenciou na decisão de se matricular no curso foi o interesse na grande área

do conhecimento e a reputação e prestígio dessa universidade. A opção pela licenciatura em

Química se deu, no geral, pela identificação com a grande área e por expectativas profissionais,

como empregabilidade.

Interessante notar que os motivos para a opção pela licenciatura são diversos, desde a

pretensão de realmente seguir a docência até outros fatores, como a possibilidade de dupla

habilitação oferecida pelo curso. Essa escolha foi feita conscientemente em relação à diferença do

curso de Bacharelado. Porém, os estudantes pretendem majoritariamente atuar na docência do

Ensino Técnico associado à outra modalidade, com um percentual pequeno afirmando querer

atuar no Ensino Básico. Esse fato se relaciona com a percepção negativa dos alunos acerca do

trabalho do professor da EB, pois o consideram como essencial para a sociedade e que traz

grande recompensa pessoal, porém com pouca valorização social e realizado em condições

penosas e precárias.

Portanto, as motivações dos estudantes do curso de Licenciatura em Química se

relacionam, por um lado, a fatores ligados ao interesse pela grande área do saber, ao prestígio e

reconhecimento da Unesp de São José do Rio Preto e às expectativas profissional-financeiras

resultantes da diplomação; por outro lado, a fatores ligados à admiração pela atuação docente e à

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importância social da profissão. Contudo, apesar de possuir a pretensão de exercer a profissão

docente, a maioria absoluta não vislumbra a atuação na EB em função de seu baixo status

sociocultural e da projeção de condições difíceis de desenvolvimento do trabalho, e inclusive

considera que o baixo valor do piso salarial nacional definido em lei é um fator desestimulante

para uma possível atuação.

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