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POR UMA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL SOBRE A CULTURA MATERIAL DAS PRÁTICAS MORTUÁRIAS Paola Duarte Luiz * Luciano Pereira da Silva ** Introdução O projeto de extensão universitária “Educação Patrimonial: Gestão participativa e Sustentabilidade no Município de Cáceres, MT” (2011-2013), coordenado por um professor do curso de História da UNEMAT que é arqueólogo e historiador, tem por propósito atuar nas redes de ensino do Município de Cáceres. A preocupação é aplicar o conhecimento científico produzido em pesquisas e ações de Educação Patrimonial, discutir metas do Plano de Ação para as Cidades Históricas do Governo Federal sob os seguintes aspectos: utilização do Patrimônio Histórico e Cultural como estratégia para o desenvolvimento e seu uso sustentável; desenvolver pesquisas e sua divulgação para a garantia do conhecimento e preservação do patrimônio histórico e cultural local. Essa questão é bastante necessária em função de Cáceres ser uma cidade histórica, com potencial turístico, o centro histórico tombado a nível federal em 2010 por seus valores históricos, urbanísticos e paisagísticos, dessa maneira inclusa no PAC- Cidades Históricas. O cemitério São João Batista foi um objeto de pesquisa que transformou-se em ações de Educação Patrimonial, sobre a qual realizaram-se palestras e visitas guiadas com alunos de três turmas do Técnico em Meio Ambiente da Escola Estadual Onze de Março. Na palestra expuseram-se as questões teóricas e metodológicas que sustentam as pesquisas sobre cemitérios brasileiros diversos e também no Exterior, ressaltando a relevância de visitas organizadas, inclusão em roteiros turísticos e aulas a campo. Sobretudo discutiu-se o cemitério como Patrimônio Histórico e Cultural, sua valorização e preservação. Na segunda etapa a visita guiada ao Cemitério São João Batista possibilitou direcionar os alunos a observarem o estado de conservação do cemitério para abrir um diálogo sobre a responsabilidade e a importância da preservação do local. Ação semelhante foi realizada com * Universidade do Estado de Mato Grosso- UNEMAT, graduação em andamento em História ** Universidade do Estado de Mato Grosso- UNEMAT, Prof. MS em História e Arqueólogo. Orientador do trabalho.

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POR UMA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL SOBRE A CULTURA MATERIAL DAS

PRÁTICAS MORTUÁRIAS

Paola Duarte Luiz* Luciano Pereira da Silva**

Introdução

O projeto de extensão universitária “Educação Patrimonial: Gestão participativa e

Sustentabilidade no Município de Cáceres, MT” (2011-2013), coordenado por um professor

do curso de História da UNEMAT que é arqueólogo e historiador, tem por propósito atuar nas

redes de ensino do Município de Cáceres. A preocupação é aplicar o conhecimento científico

produzido em pesquisas e ações de Educação Patrimonial, discutir metas do Plano de Ação

para as Cidades Históricas do Governo Federal sob os seguintes aspectos: utilização do

Patrimônio Histórico e Cultural como estratégia para o desenvolvimento e seu uso

sustentável; desenvolver pesquisas e sua divulgação para a garantia do conhecimento e

preservação do patrimônio histórico e cultural local. Essa questão é bastante necessária em

função de Cáceres ser uma cidade histórica, com potencial turístico, o centro histórico

tombado a nível federal em 2010 por seus valores históricos, urbanísticos e paisagísticos,

dessa maneira inclusa no PAC- Cidades Históricas.

O cemitério São João Batista foi um objeto de pesquisa que transformou-se em ações

de Educação Patrimonial, sobre a qual realizaram-se palestras e visitas guiadas com alunos de

três turmas do Técnico em Meio Ambiente da Escola Estadual Onze de Março. Na palestra

expuseram-se as questões teóricas e metodológicas que sustentam as pesquisas sobre

cemitérios brasileiros diversos e também no Exterior, ressaltando a relevância de visitas

organizadas, inclusão em roteiros turísticos e aulas a campo. Sobretudo discutiu-se o

cemitério como Patrimônio Histórico e Cultural, sua valorização e preservação.

Na segunda etapa a visita guiada ao Cemitério São João Batista possibilitou direcionar

os alunos a observarem o estado de conservação do cemitério para abrir um diálogo sobre a

responsabilidade e a importância da preservação do local. Ação semelhante foi realizada com

* Universidade do Estado de Mato Grosso- UNEMAT, graduação em andamento em História ** Universidade do Estado de Mato Grosso- UNEMAT, Prof. MS em História e Arqueólogo. Orientador do trabalho.

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alunos da disciplina de “Introdução a arqueologia” do primeiro semestre do curso de

licenciatura plena em História da UNEMAT.

1. Pesquisa documental

As informações sobre o Cemitério São João Batista eram praticamente inexistentes no

início da pesquisa, portanto as guias bibliográficas pautaram-se em diversas leituras sobre

trabalhos realizados sobre vários cemitérios e temas diversos, como a criação de cemitérios e

sua secularização, as transformações nas formas de enterramentos, a arte funerária entre

outros. Contribuíram nesta fase do projeto os trabalhos de Tania Andrade Lima (1994), Maria

Elizia Borges (2002), Fabiana N. de Carvalho (2005), Cláudia Rodrigues (1997), João José

Reis (1991), Maria A. B. da Rocha (2005).

Os primeiros dados sobre o cemitério São João Batista foram encontrados no livro

“Efemérides Cacerenses”, de autoria do historiador memorialista Natalino Ferreira Mendes.

Nessa obra constam referencias sobre a petição inicial para construção do Cemitério, o

parecer favorável da Câmara Municipal sobre a obra, a doação do cemitério para referida

Câmara e sua averbação. Algumas dessas informações foram confirmadas na Atas da Câmara

de Vila Maria do Paraguai de 1860-1868.

O cemitério São João Batista foi construído a pedido do Major João Carlos Pereira

Leite1, cuja petição inicial data de 1860, dois anos depois a Câmara Municipal de São Luiz de

Vila Maria do Paraguai’2 emite parecer favorável sobre o cemitério, já edificado, sendo o

responsável pela construção o Sr. José da Boamorte.

O cemitério foi construído com objetivo de ali serem sepultados os membros da

família Pereira Leite, a qual posteriormente “alcançou do governo eclesiástico privilégio para

1 Foi membro de família influente da oligarquia agrária mato-grossense, grande proprietário de terras como a Fazenda Jacobina, político e membro do Partido Conservador (Souza, 1998). 2 Fundada em 06 de outubro de 1778 pelo governador e capitão-general Luis de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres, a povoação Vila Maria do Paraguai segundo Maria de Lourdes Fanaia Castrillon , “a referida localidade quando elevada à categoria de freguesia no ano de 1780, foi denominada de: ‘São Luiz de Vila Maria do Paraguai’” (CASTRILLON, 2006: 26-27). Passou a categoria de vila, com a criação da Câmara Municipal em 1859 com o mesmo nome, e “no ano de 1874, o referido local adquiriu a categoria de cidade, passando a ser denominada São Luiz de Cáceres” (CASTRILLON, 2006: 27). Só em 1938, o município passou a se chamar Cáceres.

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fazer no referido cemitério um repartimento para nele serem sepultados os restos mortais que

pertenceram à estirpe Jacobinana” (MENDES, 1992: 57). A parte que demarcou a área dessa

família está atualmente no fundo do cemitério. O Major João Carlos faleceu no dia 03 de

outubro de 1880, deixando em testamento a doação do cemitério para a Câmara Municipal de

São Luiz de Cáceres, com exceção do repartimento reservado a sua família. Em 1881 foi

aceita a doação pela Câmara Municipal, e neste mesmo ano é nomeada uma comissão de

vereadores para elaborar o regulamento provisório para o cemitério, infelizmente não

localizamos este regulamento.

Foi analisado também o Código de Posturas da Câmara Municipal de São Luiz de

Cáceres do ano de 1888, distribuído em 91 artigos e em dezessete capítulos, que estipula as

medidas para garantir a ordem nas ruas, praças e travessas contem também importantes

informações sobre o cemitério.

Os códigos de posturas municipais foram criados como aparato legal para gerir as

normas e as regras de uma cidade. Tal documento era elaborado pela Câmara Municipal e

aprovado por seus vereadores. O objetivo era criar condições que transformassem e

reestruturassem as diretrizes da urbe, visando sua adequação às noções de higienização,

progresso e modernização do Brasil no século XIX. Segundo Patrícia Aguiar (2011) no século

XIX criou-se mecanismos para controlar a vida nas cidades, que procuraram moldar o interior

da América portuguesa aos padrões de cidade “civilizada”, um desses mecanismos eram os

Códigos de Posturas.

Nessa perspectiva burguesa ocorre também a organização e o controle dos mortos,

assim como uma grande preocupação em separá-los do mundo dos vivos. O Código de

Posturas da Câmara Municipal no seu capítulo 16 “Dos enterramentos e Cemitérios”, disposto

em sete artigos que estabelecem as proibições de enterramentos nas igrejas, a forma dos

sepultamentos e as multas pelo não cumprimento, segundo o “Art. 73. É expressamente

prohibido enterrar corpos dentro de Igrejas, capelas, sacristias ou casas públicas e particulares

neste município. O infrator será punido com a multa de trinta mil reis ou oito dias de prisão.”

(Código de Posturas Municipais, 1888).

A eliminação de diversas práticas era necessária aos novos padrões de assepsia,

principalmente de enterrar cadáveres dentro de igrejas, posta em discussões no inicio do

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século XIX no Brasil, principalmente por estarem relacionadas à transmissão de doenças. Isso

devido ao fato de que em muitas cidades do Império os surtos de epidemias como a febre

amarela e a cólera superlotam as igrejas e contribuíram para a implantação de cemitérios

extramuros.

As medidas de salubridade e prevenção de doenças eram notadas também em relação à

profundidade das covas, sobre as quais os enterramentos antes feitos em covas rasas deveriam

ser normatizados, assim como, estipula o número de pessoas por cova. Essa questão está

disposta no artigo 75 “Todo o cadáver deve ser enterrado de modo que fique no mínimo um

metro e meio abaixo da superfície da terra, não devendo haver mais de um cadáver em cada

cova.”. Dessa forma conclui-se a intrínseca relação entre a profundidade das covas e a

transmissão de doenças como problema a ser sanado com medidas de higienização e

preservação da saúde pública.

O artigo 74 do Código de Posturas trata sobre o transporte do cadáver ao cemitério e

prescreve que “Nenhum cadáver de adulto ou parvulo de qualquer condição côr ou estado,

será conduzido ao cemitério publico, sem ser caixão fechado, salvo sendo de pobre que

poderá sel-o em rede.”. Os caixões comumente eram conduzidos abertos nos cortejos

funerários, estes eram geralmente alugados para o transporte do morto a sepultura e seu

tamanho variava entre aqueles para adultos e crianças. Alguns médicos do Rio de Janeiro,

segundo Cláudia Rodrigues (1999), na primeira metade do século XIX discursavam sobre a

importância de conduzir o cadáver em caixão feito de madeira e devidamente fechado, para

evitar a respiração de miasmas que comprometeriam a saúde. Em pesquisa sobre práticas de

enterramento em Cuiabá a historiadora Maria Rocha (2005) afirma que era proibida a

exposição de doentes portadores de moléstias contagiosas, os quais quando morriam deveriam

ser conduzidos ao cemitério em caixão fechado.

O transporte do morto em rede era uma das formas mais simples de conduzir o corpo

ao cemitério, usada freqüentemente por escravos e pobres. Contudo existiam também outras

maneiras mais luxuosas de transportar o cadáver, podendo ser em carros fúnebres puxados por

cavalos, dos mais simples aos mais adornados. Cláudia Rodrigues descreve os cortejos

fúnebres no Rio de Janeiro no século XIX

Esta estrutura poderia variar de acordo com as posses do morto e as de seus

familiares; variação que se dava pela pompa do cerimonial, que poderia conter

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desde uma elaborada armação da casa e da igreja até um cortejo fúnebre de

carruagens, com a presença de pobres, sacerdotes, irmandades e até músicos

(RODRIGUES, 1999: s/ p.).

No artigo 76 consta que “nenhum enterramento se fará n’esta cidade e povoações sem

que seja exhibida a certidão do assentamento d´obito extrahida pelo Escrivão da Paz do

distrito em que tiver dado o fallecimento”. Por sua vez, ocorrendo a morte em lugares

distantes poderá ser sepultado, desde que haja a autorização do Inspetor de Quarteirão, “e a

comunicação e o assento d’obito n’estas circunstancias, se farão nos termos dos dias precisos,

gastando se um dia por 26 kilometros de caminho”. Era importante assegurar que todas as

pessoas falecidas fossem inclusas no registro de óbito, assim controlando os dados também

sobre a mortalidade e não apenas dos nascimentos. Existia a preocupação de recensear a

população do Império do Brasil, o primeiro censo realizado foi publicado em 1872, assim o

registro de óbitos também contribuiria para consulta e controle sobre as mortes.

A transferência dos enterramentos para locais reservados exclusivamente aos mortos

garantia a separação entre vivos e mortos, preservava a saúde pública, e gradualmente mudava

as atitudes e a maneira de lidar com a morte.

2. Pesquisa de Campo, registro fotográfico e classificação das estatuárias

Esta etapa do projeto foi orientada por trabalhos que enfocam a cultura material nos

cemitérios dentro dos estudos da arte e da arqueologia (CARVALHO, 2005; LIMA, 1994;

BORGES, 2002).

Realizou-se o registro fotográfico parcial dos jazigos do cemitério São João Batista,

assim como, foi selecionado aleatoriamente as estatuárias e anjos localizados na alameda

principal, ou dela avistada. A análise pautou-se na simbologia, posições, gestos e elementos

que compõem a materialidade observada, dessa forma classificadas como alegorias. Dessa

forma foi possível traçar um roteiro de visitação que dura em média uma hora e meia.

Em relação às alegorias classificamos da seguinte forma:

Alegoria da dor extremada: Figura feminina caracterizada por mulher em genuflexão sobre

o túmulo, sentimento de dor extrema manifestado em choro devido à perda do ente querido,

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também conhecidas como pranteadoras pelo sentimentalismo, as mãos levadas à cabeça ou ao

rosto nos remete desolação com a morte.

Alegoria do Pesar: Figura feminina

transmite a idéia de saudade

Alegoria da oração. Figuras femininas aladas

oração velando e intercedendo pelo falecido. Podem tomar forma de anjos conhecidos como

anjo espreme-limão.

também conhecidas como pranteadoras pelo sentimentalismo, as mãos levadas à cabeça ou ao

rosto nos remete desolação com a morte.

Figura: 1

Figura feminina em estado de reflexão, nas mãos uma coroa de flores

de saudade.

Figura: 2

Figuras femininas aladas ou não, as mãos unidas

oração velando e intercedendo pelo falecido. Podem tomar forma de anjos conhecidos como

6

também conhecidas como pranteadoras pelo sentimentalismo, as mãos levadas à cabeça ou ao

nas mãos uma coroa de flores

as mãos unidas assumem postura de

oração velando e intercedendo pelo falecido. Podem tomar forma de anjos conhecidos como

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Alegoria da saudade amparada pela fé.

símbolo cristão, na Figura

atitude expressa desolação.

Alegoria do juízo final: A mão

trombeta que no dia do Juízo F

Figuras: 3, 4 e 5.

audade amparada pela fé. Figuras femininas se amparam

, na Figura 6 a cruz está fixa entre pedras e nas mãos as flores da saudade, a

.

Figuras: 6 e 7

A mão direita remete ao desejo de subida aos céus, na

trombeta que no dia do Juízo Final soará acordando os mortos para o julgamento.

7

Figuras femininas se amparam na cruz. A cruz é

fixa entre pedras e nas mãos as flores da saudade, a

aos céus, na outra mão a

acordando os mortos para o julgamento.

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Alegoria da Saudade: Figura

depositar no túmulo. Na cabeça a estrela símbolo de

o alto expressam o desejo pela

Variação de Anjos: Anjos com flores da saudade

pergaminho (Figura 13), a trombeta possui o poder de evocação, o pergaminho pode

relacionar-se às escrituras sagradas. Anjo espreme

cima com a cabeça ligeiramente inclinada,

desolação.

Figura: 8

Figura feminina com característica angelical,

depositar no túmulo. Na cabeça a estrela símbolo de esperança, as asas abertas e o olhar para

m o desejo pela ressurreição.

Figura: 9

njos com flores da saudade (Figuras 10,11 e 12). C

(Figura 13), a trombeta possui o poder de evocação, o pergaminho pode

se às escrituras sagradas. Anjo espreme-limão (Figura 14) em oração olhando para

cima com a cabeça ligeiramente inclinada, as mãos unidas e o joelho genuflexo expressa

8

, nas mãos flores para

esperança, as asas abertas e o olhar para

10,11 e 12). Com trombeta e

(Figura 13), a trombeta possui o poder de evocação, o pergaminho pode

(Figura 14) em oração olhando para

s e o joelho genuflexo expressa

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Símbolos: Símbolo escatológico, a tocha com o fogo significa a purificação da alma após a

morte, a foice significa a vida ceifada e interrompida, a ampulheta alada representa a

passagem do tempo que voa

sobre o pecado e a morte (Figura 16).

Figuras: 10, 11 e 12

Figuras: 13 e 14

Símbolo escatológico, a tocha com o fogo significa a purificação da alma após a

morte, a foice significa a vida ceifada e interrompida, a ampulheta alada representa a

passagem do tempo que voa (Figura 15). O ramo de palma sobre a cruz simboliza o triunfo

sobre o pecado e a morte (Figura 16).

Figuras: 15 e 16

9

Símbolo escatológico, a tocha com o fogo significa a purificação da alma após a

morte, a foice significa a vida ceifada e interrompida, a ampulheta alada representa a

(Figura 15). O ramo de palma sobre a cruz simboliza o triunfo

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3. Reflexões Conclusivas

Foram realizadas visitas à campo com os alunos da Escola Onze de Março e com uma

turma do primeiro semestre do curso de História da UNEMAT, no cemitério São João Batista.

Nesta oportunidade não se tratou apenas de conhecer o cemitério, mas percebê-lo com outro

olhar e (re)significá-lo, no sentido de tornar um lugar não só de “descanso” dos mortos, mas

também de conhecimento, aprendizado e de apreciação da arte funerária.

Para os alunos da Escola Onze de Março foi aplicado um questionário onde apontaram

o que mais chamou-lhes a atenção. Os dados foram tabelados e quantificados em sete

elementos que mais foram observados. A percepção dos alunos remete-se a sete pontos, são

eles: 1) Técnica: trata-se da observação sobre a precisão técnica na produção das estatuárias,

estilos arquitetônicos, materiais utilizados na confecção, formas artísticas e características, o

profissional que produziu as estatuárias e a origem desses túmulos; 2) Significados e

simbolismo: os ornamentos que compõem o jazigo, significados e representações; estatuárias,

anjos e simbolismos, como expressões de fé, religiosidade e tipos de velórios, como a prática

de pagar mulheres para chorar; 3) Distinção econômica: arquitetura nobre; 4) Depredação:

estatuárias danificadas; 5) Novos olhares: conhecer o passado em diferentes temporalidades,

desconhecimento sobre a história e significados das estatuárias, cemitério como museu e

atrativo turístico, e nova maneira de analisar o cemitério; 6) Histórico e origem: cemitério

antigo, peças importadas da Europa, arquitetura antiga, enterramento em igrejas, história do

cemitério e do seu construtor Major João Carlos Pereira Leite, e cultura familiar; 7) Política:

cemitério não tombado, descaso do poder público, monumento e tradição, abandono e

resistência ao tempo.

Essas informações fazem parte de um exercício de reflexão e avaliações das ações, que

num primeiro momento fez parte da pesquisa e divulgação. Contudo esses resultados

contribuirão para perceber os problemas e formar estratégias que colaborem para soluções.

O cemitério histórico para Educação Patrimonial demonstra ser uma maneira

diferenciada de estudo, um locos do saber ainda pouco explorado e que ocupa um setor bem

tímido em relação a outros temas e patrimônios. As atividades contribuíram para eliminar

idéias equivocadas e preconceituosas sobre os cemitérios, como lugar aterrorizado, mórbido e

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somente de tristeza. Por falta de conhecimento, ou até mesmo, por relacioná-los aos filmes de

terror divulgados na mídia ou pelo imaginário popular (OSMAN, RIBEIRO, 2007).

A importância de preservação do patrimônio histórico e cultural, no caso o cemitério

São João Batista busca a manutenção para gestão da materialidade, a qual concebe a sua

história e suas práticas que reinventam sentidos para sua apropriação. Atualmente as

discussões voltadas para preservação vão além da não destruição, mas enfatiza a necessidade

de entender a forma como a sociedade enxerga o patrimônio histórico e cultural, dessa

maneira conciliando a manutenção dos centros históricos com a especulação imobiliária. É

importante que a universidade promova o conhecimento sobre tais bens culturais para atender

as demandas locais por uma gestão sustentável que congregue os diversos setores políticos da

sociedade.

A pesquisa histórica sobre Cemitério São João Batista reporta-se não só para a

Educação Patrimonial, mas contribui de forma diacrônica para promoção, discussão e

estímulo para o turismo sustentável e cultural.

Fontes Ata da Câmara de Vila Maria do Paraguai (1860-1868). Acervo da Câmara Municipal de Cáceres. Código de Posturas da Câmara Municipal da Cidade de São Luiz de Cáceres- 1888 n° 788. Arquivo Público Municipal de Cáceres. Referências Bibliográficas CARRASCO, Gessonia Leite de Andrade; NAPPI, Sérgio Castello Branco. Cemitério como fonte de pesquisa, de Educação Patrimonial e de turismo. In. Museologia e Patrimônio- v.2, n.2- jul/dez. de 2009. CARVALHO, Luiza Fabiana Neitzke de. O cemitério da Santa casa: contribuições para História da Arte em Pelotas. Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Artes como requisito parcial para a obtenção do titulo de Especialista em Patrimônio Cultural: Conservação de Artefatos. 2005. CASTRILLON, Maria de Lourdes Fanaia. O Governo Local na Fronteira Oeste do Brasil: A Câmara Municipal de Vila Maria do Paraguai (1859-1889). Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Mato Grosso, para obtenção de título de Mestre em História. 2006.

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BORGES, Maria Elizia. Arte Funerária no Brasil (1890-1930). Ofício de marmoristas italianos em Ribeirão Preto. Belo Horizonte: C/Arte, 2002. LIMA, Tania Andrade. De morcegos e caveiras a cruzes e livros: a representação da morte nos cemitérios cariocas do século XIX (estudo de identidade e mobilidade sociais). In. Anais do Museu Paulista. N. Ser, V. 2, p. 87-150. Jan/dez, 1994. MENDES, Natalino Ferreira. Efemérides Cacerenses. Vol. I e II. Brasília: Gráfica do Senado, 1992. REIS, João José. A morte é uma festa: ritos fúnebres e revolta popular no Brasil do século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. ROCHA, Maria Aparecida Borges de Barros. Transformações nas práticas de enterramento – Cuiabá, 1850-1889. Cuiabá: Central de Texto, 2005. RODRIGUES, Cláudia. Lugar dos mortos na cidade dos vivos: tradições e transformações fúnebres no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura, Divisão de Editoração. Coleção Biblioteca Carioca. 1997. ______. A cidade e a morte: a febre amarela e seu impacto sobre os costumes fúnebres no Rio de Janeiro (1849-50). In. História, Ciências, Saúde- Manguinhos. VI (1): 53- 80. mar.- jun.1999 SOUZA, Lécio Gomes de. Jacobina: história de uma fazenda de Mato Grosso. Cuiabá: IHGMT, 1998. (Publicações Avulsas, 9).