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Nº 3 - Edição Especial - Indústria Extractiva - Julho 2011

Portugal mineral Nº 3

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Revista da Indústria Extractiva Portuguesa.

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Sede: Rua Júlio Dinis, 931 / 1.º Esquerdo / 4050-327 PortoTelf.: 22 609 66 99 / Fax: 22 606 52 06

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SumárioEditorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3Victor AlbuquerqueGasificação subterrânea de carvão e outras inovações na mineração do século XXI . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6C. Dinis da GamaResumo do trabalho desenvolvido para a UE sobre o desenvolvimento sustentável na industria extractiva . . . 12Carlos Caxaria e Alfredo FrancoResgate dos 33 mineiros no acidente do Chile . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21Vidal Navarro TorresIndústria extractiva não energética: o actual contexto na Europa e em Portugal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27Luís Martins e Helena ViegasIndústria Extractiva e Rede Natura 2000 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39Isabel Azevedo e SilvaA importância do aguço no desempenho superior da perfuração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48Hugo DiasProspecção geológica: sondagens convencionais ou Wireline? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51Vitor CorreiaO acompanhamento técnico como contributo para a melhoria do desempenho da indústria extractiva . . . . . . 55Humberto GuerreiroAs fontes de Lítio em Portugal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60A. M. C. Lima, R. C. Vieira, T. Martins & F. NoronhaAnálise de intensidades de vibração, medidas numa capela situada nas imediações de uma pedreira da MOTA-ENGIL, em Vila Franca de Xira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67Pedro Bernardo, Alberto Mendes, António Vieira, Fernando SilveiraProblemática da Modelação do Jazigo da Mina do Tuela . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77Ana Carina VeríssimoProjecto integrado do núcleo de pedreiras da mata de Sesimbra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86Patrícia Falé, João Meira, Diogo CaupersProspecção de Rochas Ornamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97Jorge M. F. CarvalhoA Prospecção Mineira e a Actividade do Geólogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104Paulo J. V. FerrazNotícias e Eventos

Jubilação Prof .Dinis da Gama . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110Novos desenvolvimentos associados às Explorações a Céu Aberto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111Visa Consultores publica Guia do Investidor em Portugal 2011 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112Entrevista a Mário Bastos sobre Guia do Investidor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113Convenção PDAC, Toronto de 4 a 9 de Março de 2011 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116Workshop APAI e APA: Pós-Avaliação em «Avaliação de Impactes Ambientais» . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117Dia Europeu dos Recursos Minerais (DERM) 2011 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118Feiras 2011 e 2012 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120Eventos 2011 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121Plano de Formação da ANIET - 2011 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122Fiscalização do mercado Relativo ao Comércio de Produtos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124Associados ANIET- Vantagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124Despacho n .º 5697/2011 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125Regulamento (UE) N .º 305/2011,  do Parlamento Europeu e do Conselho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125Sessão pública de apresentação do Manual do Operador de Produtos Explosivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126ANIET contesta aumento exorbitante das taxas de explosivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127Êxitos Jurídicos da ANIET . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127Entrepreneurs’ Forum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128

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Indústria Extractiva

Ficha Técnica:Propriedade: ANIET - Associação Nacional da Indústria Extractiva e TransformadoraSede: R. Júlio Dinis 931, 1º - E . 4050-327 Porto / Portugal | Tel.: +351 226096699 | Fax: +351 226065206 | E-mail: [email protected] | Site: www.aniet.pt | NIPC: 501 419 411

Director: Victor Albuquerque - Presidente da Direcção da ANIETDirector Adjunto: Francelina Pinto - Directora Executiva da ANIET

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Edição e Coordenação de Produção: Nuno Esteves Henriques | C.I.P. nº 2414 | E-mail: [email protected]

Concepção Gráfica e Paginação: Álvaro Carrilho | Redação: Manuela Martins ([email protected]) Publicidade e Marketing: Francelina Pinto ([email protected]) | Impressão: Vigaprintes Distribuição: COMEDIL

Depósito Legal: 331384/11 | Registo na ERC: Isento | Tiragem: 1.000 exemplares | Periodicidade: Trimestral

Os textos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores, pelo que as opiniões expressas podem não coincidir com as da ANIET.

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Nº 3Edição Especial de Julho 2011

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Indústria Extractiva

Victor AlbuquerquePresidente da Direcção da ANIET

A revista PORTUGAL MINERAL, neste seu novo número, confirma um dos objectivos para o qual este projecto editorial foi desenvolvido:

- dar espaço aos nossos parceiros e associados para divulgarem conteúdos da sua responsabi-lidade, que tragam valor e conhecimento aos sectores representados pela ANIET.

Com este propósito convidamos a VISA Consultores, SA, para promoverem os conteúdos desta edição da Portugal Mineral. A VISA é uma empresa com 20 anos de existência, que trabalha na área da consultoria e projecto, ligada aos sectores da indústria extractiva.

Os Artigos incorporados na revista pretendem dar uma visão da indústria e da sua sustenta-bilidade e são quase na sua totalidade da responsabilidade da VISA que os recolheu junto de várias entidades por eles escolhidas, de acordo com a sua experiencia profissional, consolida-da pelos vários anos de trabalho ligados à actividade extractiva.

Também uma nota sobre a Assembleia de Delegados da UEPG - União Europeia de Produto-res de Agregados, que se realizará em Maio, em Portugal e cuja organização é da responsabili-dade da ANIET na sua qualidade de membro representante de Portugal [Consultar programa na última pagina].

Esperam-se representantes de 27 países europeus, associados da UEPG, que reunirão du-rante dois dias sendo um deles dedicado a um Fórum Internacional com oradores nacionais e internacionais e onde haverá lugar a um debate alargado sobre perspectivas futuras desta indústria.

Traremos no próximo número da nossa revista um detalhe maior sobre os temas que vão ser tratados neste Fórum.

Lá nos encontraremos.

Editorial

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«Frente de Exploração de Calcário»Fotografia: João Meira, 2011

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Indústria Extractiva

Gasificação subterrânea de carvão e outras

inovações na mineração do século XXI

C. Dinis da GamaInstituto Superior Técnico

ResumoO efeito composto das pressões ambientalistas, da apli-cação de novas tecnologias e da crescente procura de matérias primas minerais estão a marcar a trajectória da indústria extractiva no início do século XXI, prometendo avanços consideráveis.

Praticamente insensível à crise mundial de 2008 e anos seguintes, a mineração tem proporcionado excelentes oportunidades de investimento, designadamente através de numerosos projectos bem concebidos e melhor exe-cutados.

Já é observável o arrependimento verificado em certos países desenvolvidos que menosprezaram a importância desta indústria, alguns dos quais tornaram até inviável a exploração racional dos seus próprios recursos minerais, em contraste com uma considerável expansão nos países em desenvolvimento acelerado, por vezes através de inves-timentos oriundos dos primeiros.

Por outro lado, as inovações na engenharia de minas têm sido cada vez mais frequentes, conduzindo a ganhos de efi-ciência, aumentos de segurança e lucratividade crescente.

Um dos sectores relevantes é o de gasificação subterrânea de carvão que, por meio de uma técnica não intrusiva, pro-mete modificar as práticas tradicionais, ao mesmo tempo que viabiliza o aproveitamento de jazidas carboníferas si-tuadas a grandes profundidades.

Assim sendo, o novo século XXI afigura-se, assim, muito promissor para esta antiga indústria.

1 - Introdução A indústria extractiva vive um período optimista, face à crescente procura dos seus produtos, sob a influência de novos países consumidores, em simultâneo com um acrés-cimo generalizado das respectivas cotações.

Trata-se de uma fase caracterizada por novos empreendi-mentos centrados nos países em desenvolvimento, entre os quais se destacam os chamados BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), além das ampliações e modernizações que têm ocorrido em muitas minas já instaladas há décadas. Cada vez mais, às nações desenvolvidas e integradas no “pri-meiro mundo” restam as funções de consumidoras des-sas matérias primas, uma vez que a sua própria indústria extractiva terá passado de moda, não obstante manterem importantes investimentos no sector, através de apoios a projectos em países terceiros.

Merece destaque especial a participação da China neste contexto, pois as mais recentes estatísticas internacionais de produtos minerais colocam-na quase sempre no pri-meiro lugar mundial, seja na produção ou no consumo e, muitas vezes, em ambos.

2 - Gasificação Subterrânea de Carvão

2.1 - Conjuntura

A grande dependência de fontes de energia estrangeiras tem para Portugal repercussões muito desfavoráveis para a sua macro e microeconomia, sendo apontada como uma das principais limitações ao desenvolvimento sustentável do País.

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Indústria Extractiva

Na raiz dessa situação considera-se geralmente que a es-cassez de recursos energéticos nacionais se deve à inexis-tência de combustíveis sólidos, líquidos e gasosos no ter-ritório continental português. À excepção do urânio, não são conhecidas jazidas exploráveis dessas matérias primas minerais, pelo que não se vislumbra outra saída senão a importação das mesmas, a ritmos crescentes.

Avanços tecnológicos recentes têm revelado que certas fontes de energia poderão proporcionar oportunidades interessantes para inverter esse fatalismo, caso sejam apli-cados novos métodos de exploração dos recursos energéti-cos já detectados e erradamente considerados como exau-ridos. Estão nesta situação os carvões portugueses, que há mais de uma década não são extraídos das minas, por se revelarem antieconómicos e de baixa qualidade, quer para fins metalúrgicos, quer energéticos.

Todavia, nem todas as opções para o aproveitamento dos carvões portugueses foram estudadas, assim como poucos estudos são conhecidos a respeito da sua eventual utiliza-ção como combustíveis gasosos, após serem submetidos a processos de gasificação, de acordo com as mais recentes técnicas da chamada “clean coal technology”.

A aplicabilidade do processo de gasificação subterrânea do carvão, que hoje é competitivo com outras fontes energé-

ticas em diversos países, aumenta quando associados aos recentes progressos no domínio do Ciclo Combinado de Gasificação Integrada (“IGCC”), que utiliza carvão e vapor de água para produzir hidrogénio e monóxido de carbono destinados à combustão em turbinas a gás, seguidos por turbinas a vapor (de ciclo combinado) para produzir elec-tricidade.

Os impactes ambientais resultantes deste processo são hoje minimizados, em primeiro lugar porque a gasificação sub-terrânea provoca muitos menores efeitos que a exploração mineira convencional, além de não conduzir à formação do CO2 lançado para a atmosfera, o qual pode ser seques-trado geologicamente, ou produzido para venda com fins industriais.

Nestas condições, justifica-se o desenvolvimento de uma análise de viabilidade sobre o eventual aproveitamento dos carvões portugueses de acordo com as técnicas do estado da arte do sector, tendo em vista a sua contribuição para a reforçar a componente nacional na matriz energética.

Para Portugal, do elenco de actividades a abordar no de-senvolvimento deste estudo constam os seguintes tópicos:

a) Reconhecimento das reservas portuguesas de carvão gasificável, com ênfase nas jazidas ainda não explo-radas da Bacia Carbonífera do Douro e da região de Rio Maior.

Fig. 1 – “Lay-out” resumido do processo de gasificação subterrânea de carvão

Poço de Injecção

Poço de Produção

Maciço de cobertura

Camada de carvão

Área de gasificação

O2 H2O

Injecção de CO2

H2 / CH4

CO2 / CO

Produção eléctrica

Separação de CO2 e processamento

do gaz

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Indústria Extractiva

b) Estudo geológico-geotécnico dos terrenos envolvi-dos, designadamente das propriedades que apresen-tam as camadas de carvão e das rochas encaixantes.

c) Domínio das tecnologias de gasificação subterrânea para a produção de gás combustível e estimativas da composição do gás produto.

d) Domínio das tecnologias de geração de electricida-de, em especial do Ciclo Combinado de Gasificação Integrada.

e) Selecção de locais para futuros ensaios “in situ”.f) Análise económica preliminar do empreendimento.g) Elaboração dos “deliverables” do projecto.h) Proposta de fases subsequentes do estudo.

2.2 – Tecnologia da G.S.C.

A disposição típica dos trabalhos necessários à implanta-ção deste processo consta da Fig.1, onde se representam

Fig. 2 – Métodos alternativos para sequestração do anidrido carbónico

Legenda

1. Sequestração terrestre2. CO2 atmosférico3. Carvão e biomassa4. Fábrica de etanol5. Cimento, aço refinarias, etc6. Instalação de captura de CO2

7. Produção eléctrica8. Usos industriais e produtos alimentares9. Tubagem EOR (liquefeito)10. Sequestração geológica11. CO2 extrai o metano do carvão12. CO2 armazenado em reservatórios esgotados de

petróleo/gaz13. CO2 extrai petróleo retido (EOR)14. CO2 armazenado em formações salinas

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Indústria Extractiva

os seus principais componentes. Uma vez seleccionada a camada produtora, são executados furos direccionais para a injecção e para a produção, instalando-se à superfície as unidades de processamento do gás combustível (“sin--gás”), de separação do anidrido carbónico e a central ge-radora de electricidade.

2.3 – Combinação da G.S.C. com a Sequestração de CO2

Face à necessidade de reduzir as emissões de gases de efei-to estufa para a atmosfera, são cada vez mais comuns os sistemas de captura e de armazenamento do anidrido car-bónico (Fig. 2).

Uma das opções consiste no armazenamento subterrâneo em formações geológicas apropriadas, entre as quais figu-ram as camadas de carvão onde se extrai o gás metano. Tal procedimento poderá ser estendido para as camadas previamente submetidas à gasificação subterrânea, cons-tituindo um “circuito fechado” muito atractivo. Presente-mente decorre um programa de investigação europeu que visa tal objectivo (RFCS, 2010).

3 - Inovações Recentes

3.1 – Tendências contemporâneas

A tendência geral para as minas a céu aberto é de envol-verem escavações cada vez mais profundas, com teores de minério mais baixos, aproveitando a fase actual em que os metais passam por um dos mais longos ciclos de alta de preços da história.

No entanto, diversas minas activas que se encontram a produzir há muitos anos procuram novas maneiras de explorar os recursos, seja prospectando os leitos dos ocea-nos ou escavar a profundidades ainda maiores sob regiões de selva, a fim de aproveitar o boom nos preços das com-modities minerais.

Muitas das novas minas subterrâneas que estão em fase de planeamento são muito profundas, possuem grandes di-mensões e, em alguns casos, envolvem rochas desfavorá-veis, levando a que os investimentos necessários e os p.p.p. (períodos de pré-produção) sejam muito dilatados. Não é raro que os custos das campanhas de prospecção e reco-nhecimento atinjam valores da ordem de 50 a 100 milhões de dólares e a abertura de uma nova exploração pode hoje custar mais de 1 bilhão de dólares.

Estes custos e prazos intimidam as empresas a abrir novas unidades, pelo que muitas preferem manter minas que ainda tenham reservas para mais uma década, apresentan-do resultados positivos na sua lucratividade.

O sector concorda que há necessidade de tecnologias no-vas e mais rápidas. A Codelco, por exemplo, já usa grandes caminhões dirigidos por controle remoto na sua mina de cobre de Gaby, no norte do Chile.

Outro exemplo resulta de observações feitas no fundo do Oceano Pacífico, onde cientistas encontraram vermes gi-gantes capazes de suportar temperaturas e níveis de enxo-fre muito elevados, que transportam bactérias capazes de transformar moléculas e nutrientes em matéria orgânica. A ideia seria trazê-los à superfície para trabalharem nas lavarias de processamento de minérios.

A automatização dos trabalhos subterrâneos é cada vez mais procurada, tendo em vista a extracção de minérios em minas profundas que são perigosas para o trabalho hu-mano.

3.2 – Minas subterrâneas

Lipinski (2000) destaca que as principais inovações da la-vra subterrânea, em particular as ligadas à produção de ouro, incidem nos seguintes aspectos:

► Melhor caracterização dos factores geotécnicos e am-bientais que possuem as jazidas em exploração, tendo em vista a obtenção de práticas operacionais mais se-guras e eficientes.

► Aplicação e integração de novas técnicas e sistemas nos ambientes mineiros, como o sequencial grid mining que evita interferências com falhas geológicas e reduz os desequilíbrios sísmicos. Consequentemente, advoga--se o menor recurso a métodos de frentes longas (long--wall) face às complexidades geológicas verificadas a grandes profundidades.

► Em termos das operações unitárias de produção, as tendências viram-se para a automação dos métodos de perfuração e de suporte dos tectos, ao mesmo tempo que se pretende substituir os explosivos por equipa-mentos de escavação mecânica, tais como impactores, martelos balísticos, jactos de água de alta pressão, ser-ras diamantadas, descargas eléctricas de alta tensão, etc.

► Sendo consensual que o desenvolvimento mais signifi-cativo em termos de saúde e segurança dos trabalhado-res consiste no seu afastamento dos desmontes subter-râneos, as actuais tendências dirigem-se para o uso crescente de métodos de desmonte mecanizado, com recurso ao controle remoto e à automatização das ope-rações.

3.3 – As minas inteligentes

Este conceito envolve a operação de equipamentos minei-ros que autonomamente conduzem as suas tarefas sem a presença directa de um operador, através do uso de um programa de desempenho pré-definido. Tal sistema inclui-rá a capacidade desse equipamento monitorizar e aprender as tarefas a serem executadas, bem como efectuar o registo dos seus avanços e desempenhos, além da capacidade de se adaptar aos parâmetros operacionais e às especificações do projecto mineiro.

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Indústria Extractiva

È lógico que este desenvolvimento terá de ser acompanha-do pela redução de custos de produção, em consequência da maior eficiência operacional, da eliminação de traba-lhos não essenciais e com acréscimo da recuperação do minério e redução da sua diluição.

Golosinski (2000) descreve a sucessão de componentes que deverá possuir uma mina inteligente, com destaque para o controle e despacho da frota de equipamentos, a monitorização destes, a sua operação automática, os mo-delos digitais das jazidas minerais e o seu projecto de en-genharia recorrendo à computerização total. Neste âmbito, cita-se a animação de imagens como método destinado à previsão da produção e seus ajustamentos para se igualar à produção real. A figura seguinte mostra um exemplo desta metodologia de optimização.

4 – As Terras RarasFormam uma série de 17 metais quimicamente similares, em que todos menos um ocorrem na crosta terrestre. Nem todos são raros em termos de abundância, mas muitos passam despercebidos a prospectores, geólogos e enge-nheiros de minas.

Os 17 elementos de terras raras e respectivo símbolo quí-mico são: praseomídio (Pr), európio (Eu), lantânio (La), cério (Ce), neodímio (Nd), scândio (Sc), ítrio (Y), promé-tio (Pm), samário (Sm), gadolíneo (Gd), térbio (Tb), dis-prósio (Dy), hólio (Ho), érbio (Er), túlio (Tm), itérbio (Yb) e lutécio (Lu).

No estado puro, quase todos são brilhantes e de cor pra-teada, sendo as suas propriedades altamente dependentes da presença de impurezas. À escala mundial, o mais abun-dante é o cério (46 ppm) e o mais raro é o túlio (0.2 ppm).

Há mais de 40 anos começaram a ser produzidos indus-trialmente, em particular o ítrio e o európio, que se utili-zam para os circuitos electrónicos dos aparelhos de televi-são a cores. Actualmente a sua aplicabilidade e diversidade são francamente crescentes, como componentes das fibras ópticas, automóveis híbridos, aerogeradores, painéis sola-res, baterias, computadores portáteis, lâmpadas de baixo consumo, indústria espacial, etc.

Segundo Walsh (2011), o mercado mundial destas maté-rias primas atravessa presentemente um período confuso e preocupante, uma vez que a China produz 97 % do total consumido. Os E.U.A. foram os maiores produtores até à

Fig. 3 Exemplo de simulação computacional em lavra subterrânea

Configuração 1 Configuração 2Tempos Operacionais

Tempo de Carga em %78.45 67.45

Tempo de Espera em %16.14 23.13

Tempo Total Explorado (min)

18.41 19.27Torneladas Exploradas130.00 117.00Produtividade Média

(t/min)7.06 6.07

Tempos no Alimentador (Tempo de Trabalho em %)

72.25 61.33Tempo de Espera %27.75 38.67

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Indústria Extractiva

década de 80, mas por razões de ordem ambiental e pelas consequentes pressões económicas deixaram de os produ-zir. A Austrália contribui com diminutas quantidades.

A posição chinesa, inicialmente favorecida pelos baixos custos de produção face aos seus reduzidos custos de mão de obra e à ausência de políticas ecológicas, foi sendo su-cessivamente incrementada, até assumir uma clara posi-ção dominante. Recentemente, a China resolveu diminuir drasticamente as suas exportações e aumentar bruscamen-te os preços de venda. Por exemplo, as cotações do dispró-sio passaram de 14.33 $/kg em 2003 para 287.00 $/kg em 2011.

Em contrapartida, as áreas mais exploradas na China chegaram a níveis altíssimos de contaminação ambiental, como seja na cidade de Baotou (Mongolia), onde a pai-sagem foi totalmente degradada, formando-se numerosos lagos contaminados de resíduos radioactivos.

Esta evolução desencadeou reacções em outros países: nos E.U.A. irá reabrir a antiga mina de Mountain Pass e na Austrália a de Mount Weld. Pretende-se assim liberalizar o mercado das terras raras e ao mesmo tempo evitar riscos para a segurança dessas nações.

Trata-se de um caso de estudo a acompanhar, em que se anunciam novas metodologias para a produção destas substâncias, ao mesmo tempo que se protegerá o ambiente em torno das áreas produtoras com recurso a inovações relevantes.

5 – ConclusõesO crescimento populacional e as necessidades do progres-so da sociedade humana requerem consumos crescentes de matérias primas minerais, que terão de ser encontradas, extraídas e processadas de modo cada vez mais limpo, a custos competitivos e envolvendo novas tecnologias. Este é um sector que progride à margem das crises económicas e que até contribui para as minimizar, desde que se adop-tem éticas conservadoras a nível dos países e da comuni-dade internacional.■

ReferênciasBell, D.A.; Towler, B.F. and Fan, M. (2011) – Coal Gasification and its Applications. Elsevier, Oxford.

Golosinski, T.S. (2000) – Advances in automatization and robotization of open pit mining. Mining in the new millennium – Challenges and opportunities. Pp.145-156. A. Balkema, Roterdam.

Lipinski, W.K.R. (2000) – Challenges of mining at great depth. Mining in the new millennium – Challenges and opportunities. Pp.11-22. A. Balkema, Roterdam.

RFCS (Research Fund for Coal and Steel), European Union (2010) – Underground Coal Gasification and CO2 Storage. Research Project No. RFCS-CT-2010-0003 (Alemanha, Bulgaria, Grécia, Portugal e Reino Unido).

Walsh, B. (2011) – Got Yttrium? Time Magazine, March 28, 2011.

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Indústria Extractiva

Resumo do trabalho desenvolvido para a UE

sobre o desenvolvimento sustentável na indústria

extractivaCarlos Caxaria e Alfredo Franco

Direcção Geral de Energia e Geologia

HistóriaA conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e De-senvolvimento que teve lugar no Rio de Janeiro em 1992, proporcionou os princípios fundamentais e um programa de acção para se atingir o desenvolvimento sustentável. Os chefes de Estado e outros representantes de mais de 100 Países presentes nessa conferência adoptaram um docu-mento de 300 páginas designado Agenda 21, contendo os objectivos e um plano para se atingir o Desenvolvimento Sustentado no século 21.

Ainda em 1992, depois dessa conferência, formou-se no seio da Nações Unidas a Comissão do Desenvolvimento Sustentado (UNCSD ou, abreviadamente CSD), cujo ob-jectivo é o de assegurar o acompanhamento efectivo dos compromissos assumidos pelos Países signatários, através da monitorização e do seguimento dos progressos realiza-dos a nível nacional, regional e internacional. Em 2002, a CSD foi também encarregue de fornecer linhas de orienta-ção para se atingirem esses objectivos nos prazos contidos no Plano de Implementação de Joanesburg [Johannesburg Plan of Implementation (JPoI)]

O Processo das Nações Unidas A CSD reúne anualmente. O ano de 2002 (10º aniversá-rio), foi um ano dedicado a um balanço feito pelo World Summit on Sustainable Development (WSSD), registan-

do o que tinha sido atingido até aquele momento. Após amplas discussões sobre o papel da CSD foi decidido, no ano de 2003, que essa comissão iria, a partir daquele mo-mento, funcionar na base de ciclos de dois anos dedicados a Temas específicos. O primeiro ano de cada ciclo seria dedicado ao balanço do que tinha sido atingido, avalian-do o progresso feito na implementação dos objectivos do desenvolvimento sustentável e identificando os obstáculos e os constrangimentos. O segundo ano seria dedicado a decisões políticas sobre esses Temas, adoptando medidas que facilitem e acelerem a implementação e que permitam ultrapassar os obstáculos e constrangimentos assinalados.

Assim sendo, desde essa altura, a primeira reunião anual da CSD, em cada período de dois anos, faz o balanço da Agenda 21 e do JPoI, sobre certos Temas previamente es-colhidos. Na segunda reunião anual toma decisões políti-cas sobre esses Temas, adoptando medidas que facilitem e acelerem a implementação e que permitam ultrapassar os obstáculos e constrangimentos identificados.

O Tema: Desenvolvimento Sustentável e a Indústria

Extractiva – “Minas”Para o ciclo do biénio 2010 – 2011, o sector das indús-trias extractivas (como actividade que deve e pode con-tribuir para o Desenvolvimento Sustentável), foi um dos Temas escolhido (a par de outros 4: Produtos Químicos;

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Indústria Extractiva

Produção e Consumo Sustentáveis; Transportes e Gestão de Resíduos.) para ser revisto pela CSD. A CSD 18, que se realizou entre 3 e 14 de Maio de 2010 em Nova York, foi a sessão dedicada ao balanço.

Antes desse balanço, houve uma série de reuniões regio-nais preparatórias [a nível mundial são 5 regiões, cada uma com a sua “Regional Implementation Meeting” (RIM)], onde foi reunida toda a informação que se apresentou em Maio de 2010 em Nova York. A RIM da Europa teve lugar em Genebra a 1 e 2 de Dezembro de 2009.

Estas Áreas Temáticas foram analisadas holisticamente, tendo em conta as dimensões económica, social e ambien-tal do desenvolvimento sustentável.

O Processo ao nível da UE As Presidências rotativas da UE prepararam em 2009 e 2010 propostas e prioridades para a reunião regional e para as sessões da CSD 18.

As duas Presidências anteriores à actual (a Hungria) de-cidiram continuar a usar a metodologia já testada por ou-tras Presidências, que consiste em designar um país líder (lead country) para preparar os documentos necessários a serem discutidos por um subgrupo de representantes dos Estados Membros interessados em cada Tema, antes de os abordar e aprovar em reuniões gerais em Bruxelas.

A Portugal foi proposto (e foi aceite) ser ”Co-lead country” para o Tema ”Minas” a par da Polónia. Posteriormente a Polónia desistiu sendo, neste momento, só Portugal o ”país líder”.

Para desempenhar essa função competiu ao ”país líder”:

► Preparar um resumo sobre cada um dos tópicos do Tema “Minas”, contendo uma análise concisa do pro-gresso da UE na implementação da Agenda 21 e do JpoI incluindo, as prioridades para a UE, as melhores práticas no sector, os obstáculos e os constrangimentos que têm impedido uma maior celeridade na imple-mentação do desenvolvimento sustentável e uma com-pilação de argumentos para as discussões políticas que se seguiriam .

► Preparar um documento com as prioridades principais da EU que foi apresentado na RIM da Europa em Ge-nebra a 1 e 2 de Dezembro de 2009 e nas reuniões da CSD 18 em Nova York que se realizaram entre 3 e 14 de Maio de 2010.

No segundo semestre de 2010 e no primeiro trimestre de 2011, competiu a Portugal como “país líder”, preparar o documento estratégico de intervenção política sobre o

Tema, propondo os tópicos prioritários e as medidas que, na opinião da EU, podem facilitar e acelerar a implemen-tação do desenvolvimento sustentável no sector e que per-mitam ultrapassar os obstáculos e os constrangimentos reconhecidos anteriormente.

É o resumo desse documento que se apresenta a seguir numa tradução livre do documento original em Inglês, apresentado na reunião preparatória intergovernamental da CSD 19 realizada na primeira semana de Março de 2011 em Nova York.

Nas duas primeiras semanas de Maio de 2011 decorrerão as rondas finais de negociações com todos os Países inte-ressados e será emitido posteriormente o documento final do Secretário-geral das Nações Unidas contendo as deci-sões políticas possíveis de adoptar a nível mundial.

Documento Estratégico preparado para a Reunião Preparatória

Intergovernamental (IPM) da 19.ª CSD

Tema “Minas”

Introdução

Os minerais e os metais são essenciais para a vida mo-derna. O acesso e a disponibilidade a preços acessíveis de matérias-primas minerais são cruciais para o bom e sus-tentável funcionamento da economia mundial e das socie-dades modernas. As operações mineiras têm também um enorme potencial para criar, contribuir e apoiar o desen-volvimento sustentável das comunidades onde se inserem, uma vez que podem criar oportunidades de crescimento e desenvolvimento através de: uma maior receita (prove-niente de impostos, royalties, etc.) da criação de emprego; da transferência de conhecimentos, competências e de tec-nologia, da criação de infra-estruturas e serviços sociais (incluindo saúde, abastecimento de água e educação). As operações mineiras podem fomentar a criação de aglome-rados industriais a montante e a jusante e o desenvolvi-mento de PME locais para fornecer bens e serviços.

No entanto:

► Verificam-se impactos negativos sobre o meio ambien-te, no tecido social e na economia local. A exploração de minerais e metais cria, muitas vezes, economias de enclave que têm poucas ou nenhumas ligações com a restante economia nacional.

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Indústria Extractiva

► Alguns países em desenvolvimento carecem de legisla-ção e de adequadas e eficientes políticas para o sector, de capacidades institucionais, técnicas e tecnológicas, para lidar efectivamente com a indústria extractiva. Os países em desenvolvimento carecem frequentemente de regulamentos e normas ambientais relacionadas, quer com a operação da indústria extractiva, quer com a gestão dos resíduos que produz;

► Existe um problema crescente de escassez de compe-tências e uma necessidade crescente de mais investiga-ção em tecnologias inovadoras de prospecção e pesqui-sa, de exploração mineira, de gestão de resíduos, de reciclagem, em materiais de substituição e na eficiência de utilização dos recursos, que é essencial para o futuro da indústria extractiva.

Os recursos minerais possuem atributos que os tornam difíceis de gerir e que colocam desafios de política públi-ca. Os recursos minerais não são renováveis, são finitos e geograficamente mal distribuídos. Estão situados em lo-cais específicos e devem ser explorados onde ocorrem e no momento correcto, quando a sua exploração é economica-mente viável. Assim sendo, há necessidade de uma solução internacional coordenada e imediata, que tenha impacto a longo prazo no desenvolvimento global e nos desafios da indústria mineira,.

Ao mesmo tempo, na sociedade actual, é de vital impor-tância encontrar soluções para fazer mais com menos, au-mentar a riqueza e o bem-estar das pessoas e exercer uma menor pressão sobre os ecossistemas. O acesso a deter-minadas matérias-primas raras ou que consomem muita energia para serem produzidas ou utilizadas, será cada vez mais limitado no futuro. Portanto, e assim sendo, temos de utilizar as matérias-primas minerais com muito cuidado, minimizar os resíduos gerados na sua produção e utiliza-ção, aumentar a sua reciclagem e reutilização, desenhan-do e projectando produtos que utilizem menos recursos e com um tempo de vida mais prolongado.

Um dos principais desafios do desenvolvimento sustentá-vel da indústria extractiva é o de criar uma indústria viá-vel, diversificada e sustentável com a qual - muito tempo para lá dos minerais terem sido explorados e se terem es-gotado, sem se terem comprometido as condições ambien-tais, sociais e culturais locais e sem gerar consequências e impactos negativos de longa duração - a riqueza gerada tenha sido utilizada eficaz e eficientemente na criação e desenvolvimento de condições de vida alternativas e sus-tentáveis. Caso contrário, o legado da mineração pode e deve ser questionável.

No século 21, a indústria extractiva pode e continuará a ser um sector fundamental para o desenvolvimento sus-tentável e para a erradicação da pobreza. Portanto, é neces-sária uma abordagem integrada e holística do sector, para enfrentar os desafios acima mencionados.

Prioridades da União Europeia - Resultados desejados

Tendo em conta os objectivos da Agenda 21, as metas e o calendário do Plano de Implementação de Joanesburgo (JPoI); a iniciativa das matérias-primas da UE (RMI); a Es-tratégia da União Europeia para o crescimento e o empre-go inteligente, sustentável e inclusivo (também conhecida como a Estratégia 2020 para a Europa) incluindo o objec-tivo global da utilização sustentável dos recursos naturais; os trabalhos em curso sobre as matérias-primas, a com-petitividade, as questões de desenvolvimento, a eficiência dos recursos; as Partes I e II do Sumário do Presidente (texto não editado) das reuniões da CDS-18 e o Relató-rio da Secretário-Geral da CSD-19 - As opções políticas e acções para acelerar o progresso na implementação, no Tema “Minas”;

Tendo em conta que muitas delegações afirmaram na ses-são de revisão (CDS-18) que as decisões políticas da CSD 19 deveriam incluir uma série de acções para promover o desenvolvimento sustentável e a gestão das actividades mineiras, que deveriam beneficiar da cooperação interna-cional;

Tendo em conta que tais medidas devem ter por objecti-vo: o fortalecimento da governança, a transparência e a responsabilização pública; a criação e estruturação de ca-pacidades técnicas e de gestão; o desenvolvimento de no-vas tecnologias mineiras; a promoção do investimento e a transferência de tecnologias, garantindo a reabilitação e repartição de benefícios.

A UE define as seguintes prioridades para a CDS 19, que acreditamos serem essenciais para uma boa governança ambiental, social e económica do sector mineiro e per-mitirão a criação de mecanismos de partilha equitativa dos benefícios gerados, contribuindo para o desenvol-vimento sustentável, quando progressivamente imple-mentadas.

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Indústria Extractiva

Primeira prioridade da UE do Tema “Minas”

Desenvolvimento da Boa

Governança no Sector MineiroA Boa Governança pode ser definida como sendo o con-junto dos processos que determinam como as decisões são tomadas, como os cidadãos participam e como o poder é exercido. Na indústria extractiva exige o desenvolvimento de capacidades para criar, implementar e acompanhar po-líticas e estratégias para gerir os aspectos administrativos e todos os custos e benefícios económicos, sociais e am-bientais. Um sector mineiro sustentável e bem governado é aquele que recolhe, distribui e aplica eficaz e efectivamente as rendas provenientes da exploração dos recursos mine-rais e que é seguro, saudável, inclusivo em termos de géne-ro e de etnias, amigo do ambiente, socialmente responsá-vel e apreciado pelas comunidades vizinhas.

1. Ambiente Legal, Político e Institucional

“Os governos necessitam de ter um amplo conjunto de leis, políticas, normas, regulamentos e directrizes para gerir os riscos e os impactos sociais e ambientais, para maximizar os benefícios sociais e económicos das actividades mineiras e, assim, aumentar as oportunidades de desenvolvimento relacionadas com o investimento no sector. Além disso, é necessário que exista capacidade institucional para pode-rem ser tomadas decisões informadas e oportunas sobre os planos empresariais relacionados com a exploração, com o ambiente e com os aspectos socioeconómicos, e para o seu efectivo acompanhamento na execução.

Um regime legislativo moderno e maduro é aquele que pro-porciona linhas claras de responsabilidade e de responsabi-lização. Este regime é a base da boa governança e contribui para o desenvolvimento sustentável em todos os aspectos da vida social e económica. Uma indústria mineira que tem o melhor contributo para os objectivos nacionais, tem que operar num um ambiente como este. Os principais elemen-tos do ambiente político e jurídico e os elementos específicos para o sector mineiro são: um claro sistema de licenciamen-to; códigos, normas e regulamentos actualizados; processos de tomada de decisões que sejam informadas, transparentes e oportunas; capacidade de recolha de informação geológica e garantia de fácil acesso à mesma; um sistema de cadastro e regras e regulamentos sobre a posse da terra; direito/juris-dição dos contratos, incluindo a arbitragem; códigos finan-ceiros e regimes de tributação; o regime de envolvimento das

comunidades e políticas que favoreçam / apoiem o empreen-dedorismo local” - Minas e Sustentabilidade 2010.

Levando isso em conta, a UE deseja que a ONU, trabalhan-do em conjunto com os governos que procuram promover o desenvolvimento económico, ambiental e social através de investimentos na indústria extractiva, desenvolva e pro-duza orientações e publique boas práticas que abranjam:

► Ambientes jurídicos e políticos modernos [política mi-neira e normas de resíduos, direito dos contratos (in-cluindo a arbitragem), códigos financeiros e regimes de tributação, políticas que favoreçam / apoiem o empre-endedorismo local, etc].

► Mecanismos para promover o desenvolvimento das ca-pacidades administrativas locais a fim de apoiar o de-senvolvimento e ultrapassar a debilidade das institui-ções nacionais com deficientes competências legais, técnicas e financeiras.

► Mecanismos para promover a responsabilização inter-na.

► Mecanismos que permitam promover a criação e ma-nutenção de bases de recursos minerais, recorrendo a organizações nacionais com conhecimentos adequa-dos para proceder aos levantamentos geológicos neces-sários (organizações governamentais de serviços geo-lógicos e/ou universidades, etc.), bases essas que per-mitam, respeitando a soberania nacional dos países, realizar reflexões estratégicas sobre políticas de desen-volvimento inovadoras.

Ao fazer isso, a ONU deve ter em conta os bons exemplos já existentes, tais como, o trabalho a realizar, proposto pela Comissão Europeia e pela Comissão da União Africana, que declararam conjuntamente numa reunião recente que iriam “desenvolver uma cooperação bilateral no domínio das matérias-primas e trabalhar em conjunto, tendo ple-namente em conta o documento África Mining Vision de Fevereiro de 2009 e a Iniciativa das Matérias-primas de Dezembro de 2008, para a elaboração de novos progressos e iniciativas, nomeadamente em questões como o investi-mento em infra-estruturas e no conhecimento geológico e na criação de competências”

e, promover a melhoria da governaça através de fortes re-comendações aos governos para que:

► Incentivem as empresas do sector extractivo e a socie-dade civil a participarem na Iniciativa sobre a Transpa-rência das Indústrias Extractivas (ITIE) ou em outras iniciativas de certificação ou outros mecanismos de

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Indústria Extractiva

auto-regulação que possam contribuir para o desen-volvimento sustentável do sector e a erradicação da pobreza.

► Adiram ou ratifiquem tratados relevantes e convenções internacionais. Embora existam códigos e iniciativas relevantes para a indústria mineira (Princípios do Equador, Pacto Global, etc) os Governos devem dar o exemplo e apoiar a sustentabilidade através da imple-mentação de instrumentos internacionais tais como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Decla-ração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas, as Convenções de Ramsar e Aarhus, etc., bem como, através da adesão ou ratificação de instrumentos espe-cíficos para a indústria extractiva (Convenção da OIT n. º 176 sobre Segurança e Saúde em Minas para me-lhorar o desempenho na saúde e na segurança mineira em geral).

2. Maximização de benefícios dos Países Produtores1

“Em resposta às pressões recentes sobre a indústria extrac-tiva para uma repartição equitativa dos benefícios e para a maximização dos impactos positivos a nível local, tendo em vista o desenvolvimento sustentável, a indústria mineira iniciou a procura de um novo contrato social para o sec-tor, do qual poderá resultar um desenvolvimento integrado, com diversas ligações económicas e um maior bem-estar e segurança social, e uma redução da vulnerabilidade das co-munidades locais pobres, tendo sempre em conta a natureza localizada dos minerais que exige um equilíbrio na distri-buição local de benefícios, com as estratégias sustentáveis a nível nacional, para a redução da pobreza”.- África Mining Vision 2009

2.1 Maximização dos benefícios financeiros

Para que o desenvolvimento sustentável do sector minei-ro seja bem sucedido é necessário que a indústria minei-ra contribua significativamente, exista uma distribuição equitativa das receitas e se criem oportunidades para a participação local, em especial na prestação de bens e ser-viços1.

De facto, a actividade mineira só contribui para o desen-volvimento sustentável se gerar receitas adequadas e se as mesmas forem repartidas equitativamente entre as Em-presas e os países produtores. Para que isso aconteça são necessários regimes fiscais saudáveis e balanceados, bem como uma boa governança financeira a fim de garantir be-nefícios a longo prazo.

A UE gostaria que a ONU, trabalhando em conjunto com os governos, empresas, e todos os interessados, desenvol-vesse e produzisse directrizes e melhores práticas abran-gendo:

Mecanismos para promover o desenvolvimento de ca-pacidades financeiras e de aplicação efectiva e eficaz dos rendimentos dos recursos.

É essencial que a indústria mineira contribua material-mente através de pagamento de rendas, de royalties (calcu-ladas através de uma escala variável, estabelecida com base nas cotações das substâncias vendidas) e de outras formas transparentes de pagamentos, evitando preços de transfe-rência e evasões fiscais, para uma distribuição equitativa das receitas entre as Empresas e os Estados. A questão das “rendas económicas” deve ser tida em conta. As substân-cias e metais que devem contribuir mais no futuro (note que dizemos contribuir mais e não atrair novos impostos) são os que geram lucros inesperados designados “windfall profits”.

No entanto, é também essencial que os países tirem van-tagem de outros benefícios gerados pelos projectos mi-neiros, de modo que as economias nacionais, regionais e locais beneficiem dos fluxos de receitas, das ligações eco-nómicas estabelecidas e de outros “spin-offs” da indús-tria extractiva, como é o caso de utilização colateral das infra-estruturas criadas, do valor acrescentado gerado a montante e a jusante, da tecnologia importada e do de-senvolvimento de novos produtos (migração lateral). Os mecanismos para atingir esses objectivos podem incluir o apoio à integração das questões do sector extrativo nos planos de desenvolvimento nacional, incluindo os Planos Estratégicos da Redução da Pobreza e o suporte ao desen-volvimento de parcerias de desenvolvimento entre todos os “stakeholders” que incentivem a participação efectiva

1 Essas oportunidades podem ser entendidas se o sector mineiro for desagregado para se poderem identificar os pontos de entrada para (i) aumentar o apoio local às indústrias dos sectores a montante (fornecedores / indústrias de entrada), (ii) reforçar as indústrias a jusante com base no aumento da transformação local das substâncias produzidas e na adição de valor às mercadorias; (iii) facilitar a migração lateral de tecnologias mineiras para outras indústrias locais, (iv) o aumento do capital social, humano e institucional (que pode ser usado noutros sectores), (v) promover o desenvolvimento de meios de subsistência sustentáveis nas comunidades mineiras, e (vi) a criação de pequenas e médias empresas e uma economia mais equilibrada e diversificada, com maior efeito multiplicador e potencial para criar emprego - África Mining Vision 2009

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Indústria Extractiva

dos governos de acolhimento, das comunidades afetadas, da sociedade civil e da indústria, nos processos e progra-mas de desenvolvimento local, regional e nacional.

Devem, ainda, existir e estar em vigor, regulamentos que enquadrem e facilitem a participação equitativa das em-presas locais, dos trabalhadores, das mulheres e de outras partes interessadas na atividade mineira.

No que diz respeito à repartição dos benefícios do sector mineiro, é fundamental garantir que uma parte razoável vai para as comunidades locais das próximidades e que são desproporcionadamente afectadas pelas operações mi-neiras. Isto, para lá do foco da atenção tradicional sobre a repartição de resultados entre os patrocinadores do pro-jeto, por um lado, e o Estado representado pelo governo central, por outro.

A formação sobre gestão de receitas pode ser uma parte da assistência prestada a essas comunidades. A presença de comunidades locais (e, em particular comunidades vul-neráveis, incluindo as comunidades indígenas) nos locais de exploração, impõe obrigatoriamente a contribuição das empresas para o desenvolvimento sustentável a longo prazo, que permita a construção de capital social local. O desenvolvimento sustentável dessas comunidades requer a identificação atempada dos motores reais de desenvolvi-mento, de modo que existam sistemas sociais e ambientais viáveis e uma economia próspera após o encerramento da actividade mineira.

Tendo isto em conta, a ONU, trabalhando em conjunto com governos, empresas e a sociedade civil deverá produ-zir, desenvolver e publicar diretrizes e melhores práticas sobre mecanismos para promover a utilização efectiva e eficaz das rendas provenientes da exploração de recursos minerais, que sirvam de apoio ao desenvolvimento de ca-pacidade financeira da administração nacional e local.

2.2 Maximização dos benefícios económicos

Uma mina moderna, eficiente e eficaz, capaz de maximizar os benefícios económicos gerados pela exploração de um jazigo mineral, em benefício de todos os intervenientes, deve adotar os conhecimentos e a tecnologia mais adequa-dos, deve utilizar as melhores práticas e ser administrada com técnicas modernas.

É importante promover o intercâmbio e troca de experi-ências no seio e fora da indústria; incentivar a adoção de novas técnicas de gestão; promover capacidades de base ampla, especialmente em ciência e tecnologia; e adaptar tecnologias novas e emergentes, para aproveitar melhor a riqueza de recursos naturais, para manter o crescimento e promover o desenvolvimento sustentável. É importante ainda procurar aumentar a disponibilidade através do de-senvolvimento de infra-estruturas, de competências locais, do conhecimento e da informação, uma vez que estes são aspectos vitais para melhorar a produção sustentável das indústrias extractivas.

2.3 Maximização dos benefícios sociais2

As empresas mineiras estão progressivamente a adotar de-clarações de compromissos com a responsabilidade social e de abordagens de desenvolvimento que têm um maior potencial para elevar significativamente e capacitar as co-munidades locais.

As decisões políticas devem:

► Ter em mente a necessidade de respeitar e promover a protecção dos direitos humanos.

► Suportar as acções de Responsabilidade Social Empre-sas (RSE). O Grupo do Banco Mundial e os bancos re-gionais de desenvolvimento, nas suas actividades rela-cionadas com o crédito e o apoio a clientes do sector privado, devem apoiar as empresas relativamente aos seus compromissos com a RSE.

► Incluir políticas e instrumentos de orientação para me-lhorar a distribuição de benefícios, equilíbrando a ges-tão de conflitos entre interesses locais e a nível nacio-nal, assegurando que uma parcela razoável da receita mineira vai para as comunidades próximas e despro-porcionadamente afectadas pelas operações mineiras.

► Conter regulamentos para facilitar e apoiar a participa-ção equitativa de empresas locais, comunidades, mu-lheres e outras partes interessadas nas atividades mi-neiras. São necessárias mudanças significativas na for-ma como a RSE é adoptada, implementada e, no futuro, eventualmente, regulamentada pelas legislações nacionais.

2 Externalidades - As ameaças indirectas à natureza são universais, muitas vezes involuntárias e geralmente evitáveis. Na análise económica, esses impactos são chamados de “externalidades”, isto é, uma vez que um poluente é descarregado gratuitamente no meio ambiente, onde se diluí e o seu impacto é de difícil rastreamento, é considerado “externo” à economia de mercado. Da mesma forma, não são levadas a sério as intenções de criar um direito ambiental garantindo um ambiente livre de poluentes. “Para corrigir esses pontos, onde a sociedade julga conveniente ignorar os danos ambientais que provoca, o Direito Ambiental Internacional deve, cada vez mais, adoptar regras para superar ou compensar tais omissões humanas.” (Agenda 21 / Robinson xxix). Este trabalho explora esta dimensão. - As regras internacionais destinadas ao controle das Empresas mineiras, a fim de promover o novo paradigma da sustentabilidade - explora vias pelas quais os países com economias baseadas na exploração de recursos minerais, podem usar a autoridade jurídica internacional para promover e proteger o seu próprio desenvolvimento sustentável.

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Indústria Extractiva

Segunda prioridade da UE do Tema “Minas”

Gestão do Ambiente

e dos Recursos MineraisSão necessários mais esforços para aumentar a eficiência e a eficácia da produção e reduzir o desperdício de recursos minerais, nomeadamente, através do aumento da recicla-gem / reutilização e melhorando o design dos produtos.

É fundamental que:

► Relativamente à dimensão dos ecossistemas2 e da biodiversidade

Construir a dimensão dos ecossistemas, integrando a promoção e a integração dos objectivos de conser-vação da biodiversidade nos planos de extração dos recursos minerais dos países. Foi publicado recente-mente pela UE um documento de orientação sobre a compatibilidade da indústria extractiva e a preservação da biodiversidade.

As economias e as actividades das empresas depen-dem, directa ou indirectamente, dos serviços dos ecos-sistemas. Assim, a sua actividade económica depende do estado do ambiente natural onde elas operam. Con-tudo, os serviços do ecossistema continuam subvalori-zados ou mesmo não valorizados de todo.

A indústria mineira tem um impacto directo sobre os ecossistemas e a biodiversidade. Esses impactos devem ser avaliados e tidos em conta no planeamento das ac-tividades mineiras. Os Governos devem assegurar que os efeitos significativos dos projectos mineiros sobre os valores naturais são eliminados. Devem certificar--se que, o plano de encerramento referido mais adiante deve, tanto quanto possível, repor / reforçar os valores da biodiversidade afectados.

► Relativamente aos resíduos, à protecção das águas de superfície e subterrâneas e à minimização do consu-mo de energia

A UE considera que é fundamental:

• Minimizarosresíduosgerados,atravésdepadrõesmodificados de produção e de consumo que contri-

buam para a prevenção da produção de resíduos, da reutilização, da reciclagem e a conversão de resídu-os em produtos.

• Aumentar a reciclagem e reutilização de água eoutros recursos naturais, proteger as águas de su-perfície e subterrâneas contra a contaminação e mi-nimizar a energia utilizada para produzir matérias--primas e produtos derivados.

• Desenvolverumamploconjuntodenormaseregu-lamentos, a ser aplicado em todo o mundo, relativo ao projecto das instalações de armazenamento de rejeitados, à gestão dos resíduos produzidos, ao en-cerramento e pós-encerramento das operações e à reabilitaçãodas minas abandonadas, de modo a que todas estas situações apresentem riscos insignifi-cantes para a saúde pública, para a segurança e para o ambiente e baixos impactos ambientais e sociais durante a operação e no pós-encerramento. A UE elaborou um enquadramento legal deste tipo com a participação de todas partes interessadas, incluindo o sector mineiro. Ele contém disposições que ser-vem como referência para a emissão de licenças na UE e abrange todas as indústrias extractivas.

Nas últimas décadas, tem aumentado a percepção genera-lizada de um problema ambiental na indústria extractiva conhecido como a drenagem de águas ácidas,”›ARD”. A ARD está associada com depósitos de sulfuretos explora-dos para a produção de Pb, Zn, Cu, Au, e, ainda, outros minerais, incluindo carvão e o urânio. A UE deve continu-ar a dar o seu apoio a iniciativas para o desenvolvimento de linhas de orientação da UNECE relativas à gestão de instalações de resíduos mineiros e do Guia “Global Acid Rock Drainage (GARD)” patrocinado pela Rede Interna-cional para Prevenção da Acidez (INAP - uma organização de empresas mineiras), com o apoio da Aliança Global.

No que diz respeito aos resíduos das minas, foram prepa-rados pela UE alguns documentos de orientação. O pri-meiro diz respeito as melhores técnicas disponíveis para a gestão dos resíduos de exploração mineira; o segundo é um documento de orientação para a inventariação das ins-talações abandonadas de resíduos da indústria extractiva. Um terceiro documento que está em fase de preparação para ser emitido em 2012, é um documento sobre técnicas de inspecção de instalações de resíduos de minas activas.

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Indústria Extractiva

Terceira prioridade da UE do Tema “Minas”

Período de transição da operação

para o encerramentoAs operações mineiras, para serem coerentes com o con-ceito de desenvolvimento sustentável, têm que desenvol-ver, desde o início das operações e actualizar permanente e regularmente, planos detalhados para o seu encerramento, no final da sua vida útil. A produção desses planos deve abranger avaliações de risco da gestão ambiental praticada ao longo do tempo, a consulta à comunidade e o planea-mento da execução. Posteriormente deve incluir ainda o acompanhamento da sua aplicação e as eventuais correc-ções que forem necessárias. Nesse sentido:

► Há necessidade que os governos: i) forneçam quadros legais e regulamentares para o encerramento; ii) te-nham a capacidade institucional para fiscalizar e fazer cumprir essas disposições; iii) exijam que todos os in-teressados sejam consultados no desenvolvimento dos objectivos e dos planos de encerramento, iv) exijam que seja produzido um plano de encerramento global e que seja criada uma garantia financeira adequada, an-tes do desenvolvimento dos trabalhos e de aprovada a concessão mineira.

► Há necessidade do desenvolvimento de abordagens efi-cazes e eficientes para o financiamento do encerramen-to. A ONU poderia e deveria formular recomendações sobre esta questão.

Com efeito, ainda não foi alcançado um acordo sobre uma abordagem eficaz e eficiente para o financiamento do encerramento, que permita a reabilitação dos ter-renos no final e que permita atingir outros objectivos ambientais, Com excepção das grandes Empresas, as médias e pequenas Empresas (a maioria) não con-cordam com a introdução de leis que imponham essa obrigação. Nas áreas remotas e economicamente sub-desenvolvidas, as autoridades nacionais não estão inte-ressadas ou não têm o poder para introduzir mudanças significativas na maneira como os custos de encerra-mento são tradicionalmente tratados e implementados (normalmente nenhum).

► É necessário concentrar também a nossa atenção sobre a nossa herança de locais abandonados e órfãos, rela-cionados com a atividade mineira. Apesar do progres-so nas técnicas de reabilitação realizado nos últimos anos, são ainda necessárias melhorias. A introdução e disseminação de tecnologias de reabilitação deverão ser um factor fundamental para melhorar o desempe-nho. Factores como os custos potenciais de recupera-ção em larga escala e a ausência de critérios e normas para a reabilitação, têm atrasado as acções que a indús-tria e as autoridades públicas podem e devem realizar neste aspecto.

Quarta prioridade da UE do Tema “Minas”

A Exploração Artesanal

e de Pequena Escala, Formal e Informal

É importante que o sector mineiro artesanal e de peque-na escala informal, passe a operar de acordo com normas ambientais e sociais mínimas. Em última análise, são ne-cessárias políticas e programas de desenvolvimento que permitam a profissionalização e a formalização dessas ac-tividades. Merecem atenção especial a saúde e as necessi-dades educativas das crianças nessas situações

É igualmente importante que os governos apoiem o sector mineiro artesanal e de pequena escala, formal. Devem ser redigidas políticas e regulamentos que garantam que os mineiros artesanais e de pequena escala são considerados e tratados os como membros oficiais das indústrias minei-ras nacionais.

É necessário ainda que os países expressem o seu suporte, nomeadamente, à Associação da Actividade Mineira Res-ponsável e à Iniciativa Internacional de apoio às Comu-nidades Mineiras a pequena escala (CASM). Isto aplica--se também ao projecto-piloto do G8 “Certified Trading Chains (CTC)” na Produção Mineral, bem como, à fase de implementação das orientações da OCDE que cobre a realização de “due diligences” às cadeias de abastecimen-to responsável de minerais, a partir de áreas afectadas por conflitos e de alto risco.

Quinta prioridade da UE do Tema “Minas”.

O Acesso Livre e a Transparência

dos Mercados das Matérias-primas Neste aspecto, a UE considera necessário:

Melhorar o conhecimento sobre as mudanças fundamen-tais dos mercados globais, que ameaçam os princípios da competitividade.

Promover a transparência dos mercados para evitar dis-posições ou comportamentos que distorcem o comércio internacional de matérias-primas.

Garantir o acesso de todos os concorrentes a essas maté-rias-primas nos mercados internacionais, nas melhores condições possíveis, através de um diálogo reforçado en-tre produtores e consumidores. Os interesses específicos dos países menos desenvolvidos devem ser tidos em conta neste diálogo.

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Indústria Extractiva

1

“É importante identificar atempadamente todas as possíveis ligações críticas da exploração dos recursos minerais com o desenvolvimento, desde o início do processo (preferencial-mente antes da assinatura do contrato de prospecção e pes-quisa e / ou arrendamento de propriedades / concessão de licenças), mesmo quando a economia local ainda não está numa posição de poder tirar proveito dessas oportunidades. Os aspectos mais importantes a ter em conta neste domínio incluem:

► Repartição equitativa dos rendimentos dos recursos;

► Regime fiscal flexível, sensível aos movimentos das cota-ções e que estimule o desenvolvimento nacional;

► Garantir o acesso de terceiros à infra-estrutura criada para a exploração dos recursos (especialmente transpor-tes, energia e água) com tarifas não discriminatórias;

► Desenvolver o aparecimento de fornecedores locais sem-pre que possível (especialmente serviços e consumíveis);

► Promover o estabelecimento de indústrias de transfor-mação com acesso aos recursos produzidos a preços com-petitivos que, através da utilização de mão-de-obra lo-cal, serão capazes de produzir valor acrescentado duran-te toda a vida do projecto.

► O desenvolvimento dos recursos humanos locais necessá-rios e da sua capacitação tecnológica através de investi-mentos pré-acordados em formação e I & D, preferen-cialmente em parceria com o Estado (financiamento conjunto), e

► Disposições que salvaguardem a transparência e a boa governança, bem como, a obrigação da adopção de nor-mas de segurança, saúde, gestão ambiental e material internacionalmente aceitáveis e de programas de respon-sabilidade social corporativa e de recrutamento prefe-rencial dos agentes locais “. - África Mining Vision 2009

2

“A progressiva adopção de novas disposições contratuais e de novos instrumentos legais que facilitam o aumento da par-ticipação das comunidades locais e de outros intervenientes interessados, bem como os novos mecanismos de distribui-ção de receitas, incluindo a sua partilha a nível nacional e local, podem ser consideradas respostas aos desafios coloca-dos por este novo paradigma do desenvolvimento.

Algumas empresas mineiras estão a abandonar as anterio-res abordagens paradigmáticas relativamente ao desenvol-vimento e às relações com as comunidades, que oscilavam entre o “estritamente necessário para os negócios”, e as “par-cerias práticas” e estão a adoptar comportamentos e posições de Responsabilidade Social “menos instrumentistas e mais holísticas” e, ainda, abordagens de desenvolvimento que têm um maior potencial para elevar e capacitar significativa-mente as comunidades locais.

Assim, começa a ser entendido pelo mundo empresarial que o sucesso das empresas mineiras e das indústrias em geral são, cada vez mais, avaliadas de acordo com os resultados obtidos nas três frentes do desenvolvimento sustentável, ou seja, o sucesso financeiro, a contribuição para o desenvolvi-mento social e económico e a gestão ambiental.

Foram estes princípios que orientaram a “Global Reporting Initiative” (GRI) na emissão das linhas de orientação com-plementares para a elaboração dos relatórios anuais das em-presas do sector mineiro e dos metais. Essas linhas de orien-tação da GRI para a indústria extractiva ficaram concluídas em 2004 e incluem indicadores sociais, ambientais e eco-nómicos que abrangem vários aspectos, incluindo a gestão das receitas (captação e distribuição); o valor acrescentado desagregado a nível nacional; as indemnizações compensa-tórias para as comunidades locais; os benefícios dos empre-gados além dos previstos por lei; e, a descrição das políticas de igualdade de oportunidades ou programas, para só citar alguns dos itens.” - África Mining Vision 2009 ■

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Indústria Extractiva

Resgate dos 33 mineiros no acidente do ChileVidal Navarro TorresInstituto Superior Técnico

ResumoFoi inegável o papel desempenhado da engenharia, nas duas etapas de salvamento dos 33 mineiros no Chile. Na primeira etapa, compreendida entre o momento que co-meçou o drama do acidente e o momento de localizar os mineiros com vida, foi determinante a contribuição da topografia, a prospecção, a geologia, os métodos de ex-ploração subterrânea, o planeamento e controle das ope-rações. Na segunda etapa, que correspondeu à escavação da chaminé e o resgate propriamente dito, foi imprescin-dível utilizar a alta engenharia geológica e mineira, apoia-da pela topografia, pela engenharia mecânica, hidráuli-ca, informática, o planeamento estratégico e da política.

Na hipótese de acontecer um caos similar em Portugal, pode-se afirmar que existem condições técnicas para resolvê-la.

1. Caracterização do local de acidente

A mina San José é um local de exploração de cobre e ouro, propriedade da Empresa Mineira San Esteban. Está loca-lizada a 33 quilómetros a noroeste de Copiapó, na região norte do Chile, e produzia entre 1000 a 1200 t/dia de mi-nério, com um total de 140 a 150 trabalhadores por turno. A jazida da mina de San José é de origem vulcânica; está relacionada com a falha de Atacama e é de tipo filão, que ocorre em rochas intrusivas do Jurássico–Terciário, com-posto principalmente por diorito (Fig. 1), que é o equiva-lente plutónico ou intrusivo do andesito1

Fig 1 Mapa geológico da zona da mina de San José, região de Atacama 1,3

Mapa geológico simplificado

de la III. Region

Modificado según: Mapa geológico de Chile

(1:1.000.000) Servicio Nacional

de Geologia y Minería (1982)

Mioceno Cuaternario volcanicoTerciaria continentalTerciaria volcanica (paleoceno)Cretazico marinoCretazico continental- volcanicoJurasico magmaticoJurasico marino- volcanicoTriasicoRocas paleozoicas

Intrusivas: Jurasico-terciaria

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Indústria Extractiva

Os filões magmáticos da mina de San José são de forma ta-bular, resultantes do preenchimento de fracturas pré-exis-tentes nas rochas dioríticas. A sua atitude e dimensões são variáveis, com algumas ramificações e possança de alguns metros, com variações texturais e mineralógicas.

As debilidades estruturais circundantes na zona minerali-zada, quando realizadas as aberturas subterrâneas, se tra-duzem na instabilidade do maciço rochoso no teto e nos hasteais, podendo atingir a rotura e deslizamento e causar consequentemente acidentes.

2. Antecedentes e caracterização do acidente

Entre vários acidentes ocorridos antes do 5 de Agosto de 2010, o acidente fatal acontecido na intersecção da rampa principal ao Nível 120 e o Acesso ao Nível 135 (Fig. 2) no dia 5 de Janeiro de 2007 é um claro exemplo, pois as principais causas estiveram relacionadas com as altas ten-sões, com os esforços de compressão e tracção no maciço rochoso, com o inadequado dimensionamento dos pilares e com o efeito desestabilizador da falha activa2.

O acesso às frentes de exploração, localizadas entre 0 e 100 metros de altitude e a uns 700 metros de profundi-dade, é pela rampa principal com comprimento de cerca de 9 km, comunicada por distintas chaminés de ventilação (Fig. 3a). O método de exploração usado foi o denomi-nado “Sub Level Stoping”, com furos radiais ascendentes6 (Fig. 3b).

Precisamente, quando os 33 mineiros estiveram abaixo do nível 400, no dia 5 de Agosto de 2010 ocorreu o desliza-mento de rochas e bloqueio da rampa principal de acesso entre os níveis 300 e 400 e consequentemente o encurrala-mento destes mineiros. Obviamente, a principal causa des-te acidente tem relação com o comportamento do maciço rochoso, quando realizada a abertura subterrânea, e muito provavelmente tenha a ver com o inadequado dimensiona-mento e controle geotécnico.

Quando ocorrido o acidente, foi implementada uma ten-tativa de resgate com recursos a meios humanos através das chaminés de ventilação; mas em 7 de Agosto, a equipa de salvamento não conseguiu avançar por ter verificado o deslizamento de rochas, também na zona das chaminés. Frente a esta tentativa falhada com recurso a meios huma-nos, foi necessário, como alternativa, utilizar tecnologia de ponta para a localização dos mineiros no subsolo e para o posterior processo de resgate.

Fig 2 Acidente fatal ocorrido na mina de San José no dia 5 de Janeiro de 2007, pela rotura do maciço nos hasteias do pilar de reduzida área tributária2

M. ArceCamioneta Geologica

Personal Medson

Casilleros

Bordoli Segovia

Vilches

Naranjo

Avila

Acces

o

nivel 1

35

Rampa a nivel 120Direcc

ion

e ven

to

Estocada de carguio

Manuel Villagran

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Portugal Mineral | 23

Indústria Extractiva

3. Condições da sobrevivência dos 33 mineiros encurralados

Segundo o Artigo 138 do Regulamento de Segurança Mi-neira do Chile “Decreto Supremo No. 132, del Ministério de Minería” o caudal mínimo do ar nas frentes de trabalho deve ser de um mínimo de 0,05 m3/s, quantidade compa-tível com os padrões internacionais, pelo que para a so-brevivência dos 33 mineiros encurralados terá existido, na zona do refugio subterrâneo, um caudal de ar ligeiramen-te maior do que 1,65 m3/s que circulava fazendo circuito através da rampa principal, rampas de acesso e chaminés existentes.

Considerando a secção das aberturas existentes na mina, a velocidade do ar terá estado próximo a 0,1 m/s, inferior ao mínimo considerado pelo referido Regulamento, que é de 0,25 m/s. Nestas condições, na atmosfera subterrânea onde estiveram os 33 mineiros, a temperatura seca ronda-va 36ºC e a humidade relativa de 85 a 94%, influenciado principalmente pelo grau geotérmico do maciço rocho-so que, como se sabe, pode contribuir com 3ºC por cada 100m de profundidade4.

A temperatura no refúgio de emergência teria variado durante os 69 dias, com valores médios de 29.4ºC no mês de Agosto, 30.2ºC em Setembro e de 27.5ºC em Outubro, com uma humidade relativa média de 85% a 94%. Para a estimativa da temperatura foi tida em conta a variação da

temperatura exterior e a influência do grau geotérmico do maciço rochoso (Fig. 4a). Estas grandezas permitem de-duzir que os mineiros permaneceram num meio de des-conforto térmico (Fig. 4b).

4. A engenharia na localização e resgate

Para resgatar os 33 mineiros do subsolo, foi preciso ter dois tipos de conhecimentos técnico-científicos:a) Os desenvolvidos antes e durante a exploração da jazi-

da mineral, que são os seguintes:

► Topografia em 3D da superfície exterior, para relacio-nar com precisão um ponto à superfície com outro lo-calizado no subsolo;

► Topografia em 3D dos trabalhos subterrâneos, para lo-calizar e caracterizar com precisão as aberturas subter-râneas (rampas, acessos, chaminés, oficinas, câmaras de refúgio, desmontes, etc.);

► Geologia local, litologia, geologia estrutural, geologia da jazida e rochas encaixantes, para definir a direcção dos furos de sondagens, da chaminé de resgate, e final-mente, para seleccionar o equipamento apropriado;

► Ventilação da atmosfera subterrânea em termos do cir-cuito de ar, caudal, velocidade, temperatura seca e hú-mida, e a humidade relativa do ar;

Fig 3 Rampa principal de acesso e método de exploração subterrânea2,3

Fig 3a Fig 3b

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Indústria Extractiva

Fig 4 Temperatura no refúgio de emergência (a) e conforto ambiental térmico (b)5

► O conhecimento individual, familiar e social dos 33 mineiros.

Os aportes técnico-científicos acima referidos, existiam e foram desenvolvidos pela empresa mineira, antes e duran-te o tempo do processo de exploração da mina.b) Os conhecimentos técnico-científicos inerentes à tec-

nologia utilizada para a perfuração de sondagens e construção da chaminé de resgate, com profundidades cerca de 700 metros em maciço rochoso de alta resis-tência, são os seguintes:

► Perfuração do maciço rochoso durante a construção das sondagens, furos piloto e alargamento da chaminé, sistemas de expulsão reversa de detritos na etapa de sondagens e perfuração do furo piloto, controle da ro-tação e torque, pressão e direcção dos furos de sonda-gem, do furo piloto e no alargamento da chaminé com sistema Raise Borer Strta 950 (Fig. 5), T130XD e RIG 422 (Tabela 1)7,8 cuja inovadora tecnologia permitiu una impressionante eficiência e consequente redução do tempo de resgate (Fig. 6);

► Potência dos motores, sistema mecânico-hidráulico dos equipamentos, energia necessária e sistemas de su-porte no local de instalação;

► Técnicas de dimensionamento do sistema de extracção dos mineiros, consistindoente numa cápsula (Fénix) e no sistema de extracção composto por um guincho (sistema motor, tambor e roldanas) com cabo de aço cujo factor de segurança é maior a 8, segundo as nor-mas em vigor, munidos de sistemas de controlo auto-matizados (Fig. 7);

► Tecnologia de ponta para o equipamento da cápsula (Fénix), com depósito de oxigénio na base e com rodas de amortecimento. Equipamentos de segurança indivi-dual dos mineiros, composto por capacete com fonte de microfone, cinto de segurança, tubos de oxigénio, óculos de protecção, sistema de motorização cardíaca, suporte elástico do cinto, etc. (Fig. 7);

► As normas nacionais e internacionais (ISO 18738:2003, ISO 7730, etc.), a medicina, a psicologia, a ciência ali-mentar, as novas tecnologias da informação e comuni-cação.

Fig 4a Fig 4b

Tabela 1. Informação técnica dos três planos de resgate

Plano A Plano B Plano C

EquipamentoTecnologiaObjectivoProfundidade prevista (m)Inclinação das chaminés (º)Data de início de perfuraçãoData final de perfuraçãoProfundidade atingida (m)Tempo médio (dias)Velocidade média (m/dia)Aplicação normal

Strata 950AustráliaRefúg. emergência702-9030/08/201009/10/20105354013.4Mina

Schramm T130USOficina638-8205/09/201009/10/20106383319.3Agua, petróleo

RIG 422CanadáRamp nível 150597-8520/09/201009/10/20103501918.4Petróleo, etc.

(baseado em http://www.minmineria.gob.cl/)

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Indústria Extractiva

Fig 5 Tecnologia de Raise Borer e sistema de controle automatizados4

Fig 6 Avanços na eficiência de perfuração de chaminés com o sistema Raise Borer 3

5. Situação da segurança nas minas Portuguesas

Situações de acidentes de mineiros com encurralamento no interior das minas, não têm referências em Portugal, mas na hipótese de acontecer um acidente semelhante ao sucedido na mina de San José de Chile, sem dúvida que se procederia ao uso de tecnologia de ponta. As três princi-pais minas portuguesas subterrâneas (Mina da Panasquei-ra, Mina de Neves Corvo e Mina de Aljustrel) operam com aplicação de boa tecnologia e uso habitual de técnicas de sondagens, construção de poços de grande profundidade com “raise borer” (Fig. 8) e sistemas de extracção de mi-neral e pessoal automatizados.

6. Conclusões

Para o bem-sucedido resgate dos 33 mineiros chilenos que ficaram presos a 700 metros de profundidade, diversos es-pecialistas contribuíram com a aplicação da alta engenha-ria para o salvamento.

A lição de humanidade que o inédito acidente chileno deu, teria sido inimaginável sem a contribuição dos avanços da topografia, prospecção, geologia, métodos de exploração, equipamentos mineiros, etc., tudo isto aliado com a deci-são administrativa e política.

Num suposto acidente similar em Portugal, esta experien-cia conjugada com o conhecimento e experiência no do-mínio de algumas tecnologias utilizadas, nomeadamente o sistema de “raise boring” poderiam ser importantes para o sucesso de salvamento.

65060055050045040035030025020015010050000.00

5.00

10.00

15.00

20.00

25.00

30.00

35.00

40.00

45.00

Rendimento (Dias)

Prof

undi

dade

(Met

ros)

Schraamm T130

RIG 422

Strata 950

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Indústria Extractiva

Fig 8 Poço CPV-01 [4] e rampa de Castro da mina de Neves Corvo.

Referências1 W. Griem, 2000, Mapa geológico simplificado da região de Atacama, Museo Virtual,

http://www.geovirtual2.cl/Museovirtual/mvgeo001.htm

2 Sociedad Nacional de Geología y minería de Chile, 2007, “Informe de investigaciones del accidente fatal en la mina de San José”

3 Vidal Navarro Torres, 2010, Contribuição da Ciência e Tecnologia para o sucesso no resgate dos 33 mineiros no Chile, Revista Ciência Hoje, 22-10-2010, Portugal, pp. 3

4 V.F. Navarro Torres, 2003, Engenharia Ambiental Subterrânea e Aplicações em minas Portuguesas e Peruanas, Tese de Doutoramento, Instituto Superior Técnico, pp. 550

5 ASHRAE, 2008, Standard 55-2004, Thermal Environmental Conditions for Human Occupancy, Atlanta, pp. 54

6 V.F. Navarro Torres, 1999, “Explotación Subterránea: Métodos y Casos Prácticos”, Instituto de Ingenieros de Minas del Perú, Lima, pp.253

7 Ruc Cementation Mining Contractors, 2010, Model 950 Strata Raise Bore Machine Specifications, Australia, pp. 1

8 SCHRAMM, 2010, Rotadrill T130XD Specifications, Australia, pp. 2

9 A higiene e segurança começa hoje, http://ahigieneesegurancacomecahoje.blogspot.com/, Trabalhos de risco elevado – os mineiros Portugueses

10 Direcção Geral de Geologia e Energia, 2007. Estatística das Minas, Pessoal ao Serviço e Estabelecimentos 2004 a 2007.

Fig 7 Sistemas de controle dos parâmetros de transporte vertical, cápsula (Fénix) e equipamento individual dos 33 mineiros3,6

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Indústria Extractiva

Indústria extractiva não energética: o actual contexto na Europa e em Portugal Luís Martins1 e Helena Viegas21Direcção Geral de Energia e Geologia; 2Laboratótio Nacional de Energia e Geologia

IntroduçãoA história da indústria extractiva é quase tão antiga como a história do próprio homem. A utilização dos recursos minerais foi de tal modo marcante e determinante para a evolução da humanidade que os grandes períodos da pré--história têm designações baseadas em recursos minerais.

Todas as actividades humanas dependeram desde os pri-mórdios, directa ou indirectamente, dos recursos mi-nerais. E, neste aspecto, nos dias de hoje dominados por um desenvolvimento tecnológico com um ritmo sem pre-cedentes, nada mudou: o nosso estilo de vida e todas as comodidades do nosso dia-a-dia continuam a depender, mais do que nunca, dos recursos minerais.

Mesmo quando a actividade extractiva, actividade respon-sável pela disponibilização dos recursos minerais à socie-dade, passou a ter uma fraca aceitação social, devido aos impactes ambientais que gerava, a Europa continuou a uti-lizar de uma forma crescente este tipo de recursos, apenas deslocalizando a origem do seu fornecimento e dos seus impactes.

Efectivamente, assistiu-se nas últimas décadas a uma pre-ocupação crescente com o ambiente, a conservação de re-cursos e a protecção da biodiversidade. Esta situação con-duziu a que a Europa, contrariamente ao que aconteceu noutros países desenvolvidos como o Canadá ou a Aus-trália, adoptasse uma política “NIMBY” (Not In My Back Yard) no que diz respeito aos recursos minerais. A Fig. 1, que mostra as tendências globais da extracção minei-ra desde 1850, e a Fig. 2, que ilustra a extracção mineira global actual de metais, são bem elucidativas desta opção, sendo o reflexo das política adoptadas e não de um fraco potencial mineiro na Europa.

Fig. 2 Produção global de metais em 2008. Fonte: Raw Materials Group (Sweden)

Fig. 1 Tendências do sector mineiro metálico global desde 1850. SEC(2007) 771 – Fonte: Analysis of the competitiveness of the non-energy extractive industry in the EU – Commission Staff Working Document

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Indústria Extractiva

Apesar de existirem dados que comprovam a existência de outras actividades mais poluentes e geradoras de maiores impactes ambientais do que a actividade extractiva, como o caso da agricultura, talvez devido aos impactes visuais a que está associada serem mais significativos e aos aci-dentes mais impressionantes, apesar de pontuais, e ainda à dissociação entre o conhecimento dos benefícios e ser-viços que os produtos da actividade extractiva geram e a actividade em si, as explorações mineiras passaram, há algumas décadas atrás e de um modo geral, a ter uma fraca aceitação social na Europa.

A ocorrência de acidentes graves e de grande impacto ambiental ocorridos em minas na Europa, como o de Az-nalcóllar (Espanha) em 1998 e o de Baia Mare (Roménia) em 2000, vieram contribuir significativamente para um incremento da tendência de baixa aceitação deste sector e intensificar a desconfiança e rejeição política e social face à indústria mineira.

Contudo, a globalização e as economias emergentes, do-minadas essencialmente pelo crescimento da China, Brasil e Índia, bem evidenciado por indicadores como o consu-mo de aço, representado na Fig. 3, vieram colocar em cau-sa o fornecimento seguro de recursos minerais à indústria

europeia fortemente dependente do exterior, forçando à mudança de paradigma para com os recursos minerais e para com a indústria extractiva, a que se assiste actualmen-te na Europa.

E se é verdade que a indústria extractiva deixou um legado ambiental pesado na Europa, com um passivo acumulado durante séculos é, igualmente, um facto que, nos últimos anos, já implementou práticas ambientais, de segurança e sociais que em nada se comparam com as responsáveis por esse passivo ambiental. Existem múltiplos exemplos europeus desta última situação, como o caso de Neves Corvo, em Portugal.

Contudo, não foi apenas a intensificação da implementa-ção de políticas ambientais centralizadas e lançadas pela CE que conduziu a uma crescente dissociação entre a necessidade de matérias-primas minerais e as necessidades crescentes das indústrias consumidoras destas matérias e produtoras de bens de consumo, dos quais os padrões de vida e conforto do dia-a-dia dos europeus dependem. A Europa habituou-se a obter os recursos minerais no exte-rior, muitas vezes provenientes de países sem quaisquer re-gras ambientais, a preços de produção inferiores mas com custos ambientais e sociais elevados no local de extracção e deu por adquirida a garantia, quase eterna, do forneci-mento destas matérias-primas.

Desenvolvimentos na última década

A política descrita anteriormente veio colocar a Europa numa dependência perigosa, face ao exterior, do forneci-mento de recursos minerais, sobretudo de certos minerais industriais e de metais. As Fig. 4 e 5 são ilustrativas deste facto.

Fig. 5 Importações anuais de recursos minerais para a UE, 1999-2004 em milhões de €. Fonte: SEC(2007) 771

Fig. 4 Importações anuais de recursos minerais para a UE, 1999-2004 em milhões de toneladas. Fonte: SEC(2007) 771 – Analysis of the competitiveness of the non-energy extractive industry in the EU – Commission Staff Working Document

Fig. 3 Evolução no consumo global de aço. Fonte: Elias Ekdahl - Mineral resources in Europe in International Symposium on the Planet Earth 2008

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Indústria Extractiva

Esta dependência, associada à intensificação da globaliza-ção e ao boom no crescimento registado por certas econo-mias emergentes, que levou a que países com um estatuto habitual de produtores passassem para um estatuto mani-festamente de consumidores, como referido anteriormen-te, particularmente do grupo BRIC mas, sobretudo, da China (como o comprovam os dados da Fig. 6) colocou em risco todo o tecido industrial na UE, afectando direc-tamente não só o sector extractivo (ver Fig. 7) como tam-bém todos os sectores industriais a jusante. Esta debilida-de foi acentuada pela recente crise financeira e económica global.

Pese embora o contexto desfavorável, o Raw Materials Su-pply Group (RMSG) da DG Empresas e Indústria da CE esteve sempre ciente da debilidade atingida pelo sector extractivo europeu e das consequências resultantes des-sa realidade, pelo que manteve um trabalho constante de suporte ao sector, e no qual a associação europeia de

Serviços Geológicos - EuroGeoSurveys, assumiu um papel de relevo, traduzido no desenvolvimento de várias acções e na publicação de documentos dirigidos à sua sustentabili-dade, de entre as quais se destacam a COM(2000) 265 final - Promoting sustainable development in the EU non-energy extractive industry, o relatório EU Non-Energy Extractive Industry: Sustainable Development Indicators - 2001-2003, o relatório Minerals Planning Policies and Supply Practi-ces in Europe – 2004, a Avaliação da ‘Communication on Promoting Sustainable Development in the EU on-Extrac-tive Industry” – 2006 e o SEC(2007) 771 - Analysis of the competitiveness of the non-energy extractive industry in the EU. Este trabalho viria a intensificar-se a partir de 2007 e conduziu, logo que o contexto o permitiu, ao lançamento de uma estratégia europeia para os recursos minerais não energéticos.

Considera-se ainda importante referir, no conjunto de ini-ciativas da CE relacionadas com os recursos minerais e o sector extractivo, devido à sua relevância, a publicação da Directiva para a gestão dos resíduos das indústrias extrac-tivas – Directiva 2006/21/EC e a COM(2005) 670 - Estra-tégia Temática sobre a Utilização Sustentável dos Recursos Naturais, estas da responsabilidade da DG Ambiente.

Paralelamente assistiu-se a um conjunto de iniciativas, quer transversais quer sub-sectoriais, de iniciativa da in-dústria extractiva, entre as quais se refere o lançamento da European Technology Platform on Sustainable Mineral Resources (ETP-SMR), lançada oficialmente no início de 2006 e reconhecida oficialmente mais tarde pela CE, que inclui empresas de todos os sub-sectores dos recursos mi-nerais energéticos e não energéticos, Universidades, asso-ciações sectoriais europeias, instituições europeias do tipo “Geological Survey” e a EuroGeoSurveys.

São ainda de destaque, e particularmente reveladores da conjuntura do sector extractivo não energético na Europa, a entrega na DG Empresas e Indústria da CE, de parece-res de opinião, solicitando uma estratégia clara de apoio ao sector, por parte da ETP SMR e de importantes asso-ciações europeias como a Euromines, a IMA, a UEPG, a EuroGeoSurveys e a então UNECE.

Outras entidades e estruturas de relevo manifestaram, sobretudo no decurso de 2007, preocupação sobre o esta-do do sector extractivo na Europa e sobre a debilidade do fornecimento seguro à indústria europeia consumidora destes recursos, apelando à CE para o desenvolvimento e implementação de uma estratégia para o sector, entre os quais se incluem o então Vice-Presidente da CE - Günter Verheugen, o Grupo G8 e o próprio Conselho Competi-tividade.

Fig. 6 Evolução do consumo de metais na China face ao consumo global

Fig. 7 Número de empregos directos gerados pela indústria extractiva não energética de 1999 a 2004. Fonte: SEC(2007) 771

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30 | Portugal Mineral

Indústria Extractiva

O European Economic and Social Committee (EESC) tor-nou público em 2008 um parecer de iniciativa, CCMI/056 - Indústria extractiva não energética na Europa, publicado posteriormente no Jornal Oficial da EU com a referência (2009/C 27/19), que viria a influenciar significativamente a Iniciativa Matérias Primas, lançada ainda nesse ano pela CE.

O contexto actual na Europa

O lançamento da COM(2008) 699 - Iniciativa Matérias Primas: Atender às necessidades críticas para assegurar o crescimento e o emprego na Europa (IMP), a 4 de Novem-bro de 2008, constituiu um marco de grande magnitude e determinante para a mudança de paradigma, com impacto positivo no sector extractivo, tendo impulsionado todos os desenvolvimentos que se têm seguido.

A IMP veio reconhecer a imprescindibilidade dos recursos minerais para a sociedade, para a competitividade, para o crescimento e para a geração de emprego na Europa. Re-conheceu ainda que a dependência que a Europa detém do exterior no fornecimento destas matérias-primas coloca em risco a indústria europeia que delas depende, com to-das as consequências resultantes, bem como a necessidade de implementar medidas capazes de assegurar um forneci-mento seguro e sustentável, assentes em três pilares:

► Primeiro pilar: Acesso às matérias-primas nos merca-dos mundiais isento de distorções. Identifica a necessi-dade de desenvolver estratégias de cooperação a três níveis: com os países em vias de desenvolvimento ricos em matérias-primas, particularmente África; com os países das economias emergentes ricas em recursos e que têm implementado medidas susceptíveis de distor-cer o mercado, como a China e a Rússia; com outros países também dependentes de recursos, como os EUA e o Japão;

► Segundo pilar: Promover o aprovisionamento susten-tável em matérias-primas de fontes europeias Este é o denominado pilar doméstico, onde são identi-ficadas medidas importantes que visam facilitar o aprovisionamento sustentável em matérias-primas provenientes de depósitos minerais europeus.

► Terceiro pilar: Reduzir o consumo da UE em maté-rias-primas primárias. Trata-se do pilar dedicado às medidas que visam a utilização eficiente dos recursos, a necessidade de in-crementar a utilização de matérias-primas secundá-rias e o recurso à reciclagem.

Após o lançamento da IMP multiplicaram-se as acções de sensibilização, de apoio e de divulgação sobre esta temáti-ca, sobretudo no que se refere ao 2º Pilar. Nunca o sector extractivo e a temática do fornecimento seguro e susten-tável de matérias-primas à Europa foi tão amplamente de-

batido em fora, workshops, conferências e outros eventos, muitos dos quais organizados e apoiados pelos vários Es-tados Membros que detiveram a Presidência da UE desde então. Notícias relacionadas com a evolução dos preços das matérias-primas nos mercados globais, com medidas restritivas às exportações praticadas essencialmente por países de economias emergentes e a fragilidade evidencia-da pela Europa face à dependência sobretudo de metais de alta tecnologia, passaram a ser comuns nos meios de comunicação social.

O primeiro dos eventos anteriormente referidos foi orga-nizado pela Presidência da República Checa da UE, em Abril de 2009, onde foi anunciada publicamente a criação de dois grupos de trabalho ad-hoc e foi manifestado um forte apoio às acções preconizadas pela IMP, por parte dos Estados Membros representados, entre os quais Portugal. Ambos os grupos de trabalho seriam coordenados pela DG Empresas e Indústria da CE, um dedicado ao inter-câmbio de boas práticas nos domínios da integração dos recursos minerais no ordenamento do território, do licen-ciamento e da partilha do conhecimento geológico, com o objectivo de melhorar as condições de acessibilidade e extracção dos recursos minerais no seio da UE e um ou-tro dedicado à identificação dos recursos minerais críticos para a Europa.

As conclusões dos trabalhos desenvolvidos por estes gru-pos viriam a ser integradas em dois relatórios publicados em Junho de 2010 e tornados públicos durante um im-portante evento organizado em Madrid, pela Presidência de Espanha da UE, de apoio ao desenvolvimento de uma estratégia e política para os recursos minerais não ener-géticos na Europa. Foram, posteriormente, sujeitos a um processo de consulta pública.

Entre os principais resultados obtidos pelos grupos de trabalho ad-hoc, incluídos nos relatórios, destacam-se se-guidamente alguns aspectos considerados relevantes, em termos de metodologia, de resultados, de conclusões e de orientações.

No grupo de trabalho “Intercâmbio de boas práticas nos domínios da integração dos recursos minerais no orde-namento do território, do licenciamento e da partilha do conhecimento geológico” destacam-se as conclusões e orientações:

► Licenciamento

- Incentivo à implementação pelos Estados Mem-bros de uma política/estratégia para os recursos minerais, harmonizada com as demais políticas nacionais, por forma a garantir que estes recursos sejam disponibilizados à sociedade através de so-luções baseadas nos princípios de sustentabilidade, assegurando a inclusão das componentes económi-ca, ambiental e social.

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Portugal Mineral | 31

Indústria Extractiva

- Esta política deve incluir um enquadramento jurí-dico e informativo claro, compreensível e explíci-to no que respeita aos processos de licenciamento para prospecção e extracção.

- Os processos de licenciamento devem ser céleres, com todos os requisitos dependentes de uma única entidade.

► Ordenamento do Território

- Deve ser assegurada a paridade entre todos os po-tenciais usos do solo, incluindo a actividade extrac-tiva, nas políticas e instrumentos de ordenamento do território.

- Desenvolvimento de uma estratégia nacional que assegure a devida inclusão dos recursos minerais nos instrumentos de ordenamento do território e que deve promover também uma base de conheci-mento geológico robusta e digital, na qual se deve suportar.

► Conhecimento Geológico

- O conhecimento geológico de base necessita ser estruturado, planeado segundo uma estratégia a longo prazo e disponibilizado de uma forma har-monizada e interoperável a nível europeu e inter-nacional.

- O trabalho em rede a nível europeu, entre as várias instituições com competências de aquisição de da-dos e conhecimento (tipo “Geological Survey”) dos recursos minerais e geologia, deve ser claramente fomentado, estruturado e orientado numa perspec-tiva de longo prazo.

No grupo de trabalho “Definir minerais críticos”, que teve por base a análise de 41minerais industriais e metálicos, seleccionados em função da sua importância económica e risco associado ao seu fornecimento, foi aplicada uma metodologia de análise pragmática, transparente, que teve em consideração a possibilidade de substituição tecnoló-gica de cada um deles e a sua ocorrência na UE como ori-gem primária ou secundária, segundo uma forma lógica de agregar indicadores amplamente reconhecidos. Assim, a designação de crítico foi definida com base em dois tipos de riscos: risco de fornecimento, tendo em conta a estabi-lidade político-económica dos países produtores e o grau de concentração da produção, e risco ambiental, que avalia as medidas que possam ser tomadas em prol do ambiente nos países produtores com fraca performance ambiental. Assim, os indicadores utilizados foram a importância eco-nómica, o risco de fornecimento e o risco ambiental. Por sua vez, para a importância económica foi levado em con-sideração o seu peso na cadeia de valor económico e a sua aplicação nas tecnologias emergentes (energias renováveis,

Fig. 8 Gráfico de “criticalidade” dos 41 minerais/metais seleccionados para análise. Fonte: Report of the Ad-hoc Working Group on defining critical raw materials. DG Enterprise and Industry, EU.

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Indústria Extractiva

eficiência energética, electrónica e indústria aeroespacial) e para os riscos no fornecimento, a concentração elevada da produção em países de elevado risco, a baixa possibili-dade de substituição e as baixas taxas de reciclagem. Ob-teve-se, deste modo, um grupo de 14 recursos minerais de maior “criticalidade” que se projectam no cluster de maior área no gráfico da Fig. 8. Essas matérias-primas são: Anti-mónio, Berílio, Cobalto, Fluorite, Gálio, Germânio, Grafi-te, Índio, Magnésio, Nióbio, Elementos do Grupo da Plati-na, Elementos das Terras Raras, Tântalo e Tungsténio. Na Fig. 9 mostra-se os principais produtores mundiais destas substâncias.

As matérias-primas críticas assim definidas estarão sujei-tas a uma actualização periódica, com uma frequência não superior a 3 anos.

Entretanto, durante a Presidência sueca da UE, foi reali-zado um evento, em Outubro de 2009, também dedicado a esta temática, mas alertando especificamente para a ne-cessidade de promover e dinamizar o ensino superior nas áreas da Geologia Económica, Metalogenia e Engenharia de Minas, fortemente enfraquecido pela conjuntura des-favorável e prolongada do sector extractivo europeu, já atrás descrita, com o objectivo de criar massa crítica com capacidade de resposta aos novos desafios que o sector e a Europa agora enfrentam.

Outras importantes estruturas internacionais, como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Eco-nómico evidenciaram uma preocupação crescente com a existência de distorções no mercado global das matérias--primas, tendo vindo a desenvolver estudos de análise a esta situação, em que a aplicação de medidas restritivas aplicadas à exportação de matérias-primas minerais por países como a China, Índia e Rússia, foram identificadas como causas das referidas distorções.

O RMSG desenvolveu esforços significativos de coopera-ção com outras DGs da CE, nomeadamente a DG Am-biente, a DG Comércio e a DG Investigação. Deste tra-balho conjunto resultaram importantes acções, como a publicação de um Guia de orientações sobre a aplicação do processo decisório da rede Natura 2000, que permita uma melhor gestão e compatibilização de interesses por vezes aparentemente conflituosos entre a protecção ambiental e o desenvolvimento de actividades extractivas nestas áreas, por parte da DG Ambiente e o DG Trade 2009 activity re-port on the implementation of the raw material strategy, por parte da DG Comércio.

A DG Investigação também tem demonstrado crescen-te vontade em apoiar projectos de investigação na temá-tica dos recursos minerais, tendo já financiado alguns projectos neste domínio no corrente quadro de apoio

Fig. 9 Mapa dos principais produtores mundiais das 14 matérias-primas críticas resultantes da metodologia aplicada. Fonte: DG Enterprise and Industry, EU.

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Indústria Extractiva

comunitário à investigação, de que são exemplo o ProMi-ne, o EuroGeoSource e o EO-MINERS.

A COM(2010) 614 - An Integrated Industrial Policy for the Globalisation Era Putting Competitiveness and Sustaina-bility at Centre Stage, lançada em Outubro de 2010 pela CE, no âmbito da Estratégia 2020, integra explicitamente as preocupações com o acesso aos recursos minerais por parte da indústria europeia.

É neste contexto e na sequência de todas estas acções que a CE lança em Fevereiro de 2011 uma nova Comunicação, a COM(2011) 25 – Fazer face aos desafios nos mercados dos produtos de base das matérias-primas, esta integrando uma análise mais generalista das matérias-primas mas centrali-zada em acções e soluções dirigidas aos recursos minerais não energéticos. Em Março o Conselho Competitividade viria a manifestar o seu apoio claro a esta Comunicação.

No final do mês de Fevereiro do ano corrente, o RMSG organizou um workshop para promover o debate à volta da criação de uma Parceria Inovadora para as Matérias-pri-mas, baseada em 5 componentes, agregadas em três áreas:

► Áreas políticas centradas na tecnologia

- Prospecção, extracção, processamento, reciclagem.

- Substituição.

► Áreas políticas não tecnológicas.

- Melhoria no quadro de regulamentação Europeu de conhecimento e infra-estrutura de base e acesso ao território.

- Promoção da excelência e eficiência na extracção, processamento, utilização e reciclagem de recursos.

► Cooperação internacional.

- Promover adequada cooperação internacional. Esta componente deverá integrar diferentes áreas como o conhecimento geológico, a investigação, o comércio e as condições de investimento.

Esta Parceria Inovadora para os Recursos Minerais, cuja estrutura está a ser preparada pelo RMSG após uma am-pla consulta aos participantes do workshop, está agora a ser reestruturada. A sua implementação, que só será possível com um apoio claro por parte dos Estados Membros, virá a constituir um verdadeiro desafio e a abrir novos nichos de oportunidade para a indústria extractiva e poderá vir a desempenhar um papel fundamental por forma a garan-tir apoios financeiros a projectos de I&DT no próximo Quadro Comunitário de financiamento. O actual Vice--presidente da CE e Comissário da DGEI, Antonio Tajani, expressou recentemente o seu apoio a esta Parceria Inova-dora, apelando aos Estados Membros para que também o façam e se envolvam na implementação da mesma.

A CE tem ainda trabalhado em cooperação com outras importantes organizações internacionais que têm vindo

a atribuir crescente importância aos recursos minerais, nomeadamente a OCDE e as Nações Unidas. Neste con-texto, Portugal tem vindo a coordenar, como lead country e em representação da CE, o tema Mining na Comissão de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Os trabalhos estão praticamente terminados, sendo previsível que as respectivas conclusões sejam divulgadas muito em breve.

Considera-se ainda relevante, no quadro do actual contex-to, referir o trabalho em curso do EESC que prepara um parecer de opinião, o CCMI 087 – The processing and ex-ploitation, for economic and environmental purposes of the industrial and mining waste deposits from EU – dedicado ao incentivo à valorização dos resíduos mineiros existentes na Europa.

De facto, os séculos de intensa actividade mineira que fi-caram para trás deixaram à Europa um passivo ambiental significativo (ver estimativas da European Environment In-formation and Observation Network, no gráfico da Fig. 10, elaboradas para 2002), o qual é necessário gerir e mitigar, nomeadamente numa perspectiva da valorização dos resí-duos existentes, encarando-os como recursos.

A falta de eficiência no processamento dos minérios de-vido a constrangimentos tecnológicos, as limitações de meios analíticos, o desconhecimento e/ou falta de interes-se por certos elementos não valorizados à época e os teores de corte praticados ao longo do tempo, conduziram a que fossem acumuladas, ao longo dos séculos, toneladas de re-síduos mineiros e metalúrgicos que urgem ser localizados, cartografados, caracterizados do ponto de vista mineraló-gico, geoquímico e granulométrico, calculados os seus vo-lumes e tonelagens e valorizados economicamente. Estes resíduos, tal como o comprovam alguns estudos já efec-tuados no âmbito de projectos de investigação nacionais e europeus, são susceptíveis de conter um potencial mui-to significativo, inclusivamente em metais preciosos e de alta tecnologia. Este tipo “resíduos-recursos” detém várias vantagens: já foi extraído, já foi fragmentado e/ou moído e possui um certo grau de concentração relativamente ao minério à boca da mina. A integração de uma componente de valorização destes resíduos no actual quadro estratégi-co europeu que visa contribuir para o fornecimento segu-ro de matérias-primas à UE tem vindo a ser assegurada, encontrando-se explicitamente integrada no documento de conclusões adoptado no Conselho Competitividade de 10 de Março de 2011.

Deste modo, também aqui começa a emergir um para-digma distinto na recuperação ambiental de antigas áreas mineiras degradadas em que, contrariamente ao que tem vindo a ser praticado, a abordagem não deve cingir-se à componente ambiental mas integrar também a compo-nente económica e de valorização, evitando as interven-ções que selem o acesso a estes potenciais recursos.

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Indústria Extractiva

O actual contexto em Portugal

Portugal, inevitavelmente, não constitui excepção ao resto da Europa e viu o seu sector extractivo definhar. A imple-mentação das rigorosas regras ambientais, maioritaria-mente provenientes da transposição de Directivas euro-peias, por vezes indevidamente interpretadas, associadas à fraca aceitação social desta actividade, frequentemente fruto de manipulação por parte de activismos ambienta-listas gratuitos e sem conhecimento fundamentado sobre a temática, dificultou ou impossibilitou o acesso aos recur-sos minerais por parte das empresas do sector. As políticas e instrumentos de ordenamento do território ignoraram muitas vezes a especificidade dos recursos minerais, não os tratando e integrando em paridade com outros recur-sos naturais nessas mesmas políticas e instrumentos. Não foi levado em consideração que os recursos minerais são recursos não renováveis, cuja formação e distribuição foi controlada por processos naturais, de natureza geológica e que, como tal, não susceptíveis de serem condicionados ou controlados pelo homem, motivo pelo qual se torna fun-damental garantir a acessibilidade aos mesmos ou, pelo menos, não inviabilizar o acesso futuro, através de uma atribuição ao uso do solo que coloque em causa o seu ac-tual ou futuro aproveitamento.

Passado este período e fruto dos reflexos da mudança no contexto global e Europeu, o sector vive hoje dias franca-mente mais promissores, não sendo de ignorar que, do ponto de vista geológico, Portugal é um país bastante di-versificado e complexo, o que lhe confere um importante potencial em diversos recursos minerais. A esse potencial natural, associa-se a legislação mineira em vigor, a exce-lente infra-estrutura de transportes e o apoio governa-mental, através sobretudo das entidades nacionais com competências no sector, a DGEG e o LNEG/LGM. Estas entidades têm contribuído para que um relevante número de projectos promissores estejam actualmente em desen-volvimento e a sua actuação conjunta tem tido reflexos no

número crescente de planos e políticas de ordenamento do território que têm vindo a incluir os recursos minerais, numa perspectiva da sua salvaguarda, valorização e apro-veitamento. A disponibilização de informação geomineira através da Web que tem sido feita constitui uma mais-valia de apoio às empresas mineiras e entidades públicas res-ponsáveis pelo ordenamento do território. Neste domínio, é de salientar o novo Plano de Ordenamento do Parque Nacional de Serra d’Aire e Candeeiros, que constitui um exemplo paradigmático, onde foi assegurada a compatibi-lização da exploração de importantes recursos em rochas ornamentais e industriais do Maciço Calcário Estreme-nho, de fundamental importância económica e social re-gional, com a salvaguarda de outros valores naturais e da biodiversidade.

Os resultados desta conjuntura, associados a outros facto-res já referidos, tiveram um importante impacto na activi-dade mineira, bem reflectido no número dos pedidos de áreas para prospecção e pesquisa, que aumentaram muito significativamente, sobretudo no ano de 2010 (Fig. 11).

O maior interesse tem incidido sobre os metais base, os metais preciosos, o volfrâmio, o estanho, o ferro, o cauli-no, o quartzo, o feldspato, o lítio e as rochas ornamentais. Refira-se que relativamente às matérias-primas críticas de-finidas pela CE, em Portugal estão evidenciados recursos abundantes e de classe mundial de tungsténio (com relevo para a mina da Panasqueira e vários outros depósitos co-nhecidos no norte e centro do País). São ainda de salientar os recursos em antimónio (faixa Valongo-Gondomar), be-rilo (Beiras) e em nióbio e tântalo (Serra d’Arga).

Existe ainda, função das características geológico-minei-ras do País, um relevante potencial em índio e germânio (metais estes associados aos depósitos de sulfuretos po-limetálicos do sul do País), Elementos das Terras Raras (Alto Alentejo, Beira Baixa, Monchique) e Elementos do Grupo da Platina (Trás-os-Montes), não sendo ainda de excluir a possibilidade de existir cobalto (Alentejo e Trás--os-Montes).

Fig. 10 – Quantidade de resíduos mineiros de minas e pedreiras em alguns países Europeus. Dados de 2002

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Indústria Extractiva

Relativamente, aos metais base, os recursos mais impor-tantes do país, em particular os depósitos de sulfuretos maciços polimetálicos da Faixa Piritosa Ibérica, é de des-tacar, obviamente, Neves Corvo. Atente-se aos recursos definidos para este extraordinário depósito no final do 1º semestre de 2010: 23,2 Mt @ 3,6% Cu, 1,0% Zn, 0,3% Pb, 43 g/t Ag de minério rico em cobre e 42,6Mt @ 6,9% Zn, 0,4% Cu, 1,7% Pb, 62 g/t Ag de minério rico em zinco.

Em 2010 foi produzido um total de 306 300 toneladas de concentrados de cobre, com um teor médio de 24,16 % de cobre, correspondendo a 74 000 toneladas de cobre metal.

No âmbito da actividade de prospecção e pesquisa desen-volvida pela Somincor/Lundin Mining merece destaque a descoberta de um novo depósito, no final do ano 2010, de-nominado por Semblana pelo concessionário, localizado 1,3 km a nordeste de Zambujal. Este depósito estende-se por uma área superior a 800x300 m e está ainda em aberto, pelo menos para norte e para sul. Apresenta-se horizonta-lizado e tem uma possança de pelo menos 68m. As sonda-gens até agora efectuadas intersectaram mineralização do tipo sulfuretos maciços e stockwork, sendo de salientar os resultados de 21 m com 4,16 % de cobre e 38,5 m com 2,59 %, incluindo 11 m com 7,02 %. Esta descoberta demonstra que Portugal (e a Europa) não tem falta de potencial mi-neiro, mas sim que a produção mineira é menos relevante devido a problemas de acessibilidade ao território e aos recursos minerais. Evidencia ainda que se forem utiliza-das metodologias e tecnologias adequadas, sobretudo di-reccionadas para eventuais depósitos minerais profundos, continua a ser possível fazer novas descobertas, mesmo em áreas relativamente bem conhecidas e com algum his-torial de prospecção.

Merecem ainda referência as minas de Aljustrel, actual-mente concedidas à empresa portuguesa Almina, que re-centemente iniciou a produção de concentrados de cobre.

Na Faixa Piritosa será aberto brevemente um concurso pú-blico internacional para a atribuição de direitos de pros-pecção e pesquisa em 3 áreas, Albernoa, Mértola e Alcou-tim, recentemente libertadas pela empresa Lundin Mining.

Fora do contexto mineiro tradicional, mas com elevado potencial para metais base, não podem ser deixados de re-ferir os Campos Hidrotermais localizados junto ao Rifte Médio Atlântico, ao largo dos Açores e em águas territo-riais nacionais, nos quais se estão a formar continuamen-te sulfuretos polimetálicos. O potencial mineiro destes campos hidrotermais torna-se bem evidente pelo interesse demonstrado pela empresa Nautilus que requereu áreas para prospecção e pesquisa naquela Região Autónoma, aguardando-se uma definição por parte do Governo na sua atribuição. Esta mesma empresa viu-lhe ser atribuída recentemente a primeira concessão mineira off-shore a ní-vel mundial, na Papua – Nova Guiné.

Relativamente aos metais preciosos, são de salientar os projectos, de Jales/Gralheira e de Montemor-o-Novo, que foram alvo recentemente de pedidos de concessão mineira.

Para o depósito mineral de Jales /Gralheira a empresa americana Kernow Resources definiu recursos medidos e indicados de 363 000 toneladas, com teor de 6,47 g/t de ouro (2346,7 kg) e teor de 27,12 g/t de prata (9482 kg) para um teor de corte de 4 g/t.

Em Montemor-o-Novo os últimos estudos, levados a cabo pela empresa australiana Iberian Resources, defi-niram recursos auríferos  (indicados) para os jazigos de

Fig. 11 Evolução dos pedidos de prospecção e pesquisa, de 2004 a 2010. Fonte: DGEG

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Indústria Extractiva

Casas Novas, Chaminé e Braços de 1,23 Mt, com um teor de 4,45 g/t e teor de corte de 1,5 gt/ Au. Os outros depósi-tos minerais auríferos satélites presentes na área (Banhos, Ligeiro, Caras, Covas, Braços Sul e Tabuleiros) e a área envolvente de Monfurado podem, potencialmente, pro-porcionar incrementos adicionais de minério aurífero, a partir do momento em que a exploração mineira  tenha sido iniciada. Esta empresa constituiu recentemente um acordo do tipo “joint venture” com a companhia canadia-na Colt Resources.

Quanto ao volfrâmio e estanho merece, naturalmente, des-taque a mina da Panasqueira, concedida à empresa Sojitz Beralt, que no início de 2009 definiu um total de reservas de 9 355 750 toneladas, com 2 159 526 MTU WO3 e com um teor de corte de 14 kg/m2.

Em relação aos skarns com scheelite, deve ser referido o potencial da chamada Faixa Scheelítica do Douro. Esta está situada ao norte e ao sul do rio Douro, entre os me-ridianos de Freixo de Espada à Cinta e Régua. Além de inúmeras ocorrências, vários depósitos têm sido alvo de estudos recentes, com destaque para Santa Leocádia (Ar-mamar) e S. Pedro da Águias (Tabuaço). No primeiro deles, a Iberian Resources, que recentemente assinou um acordo para opção de venda com a empresa EMED Mi-ning, tem vindo a desenvolver um projecto de prospecção e pesquisa. Até à data foram definidos 1,26 Mt com 0,39 % de WO3 de recursos indicados e 2,16 Mt com 0,36 % de WO3 de recursos inferidos.

Em São Pedro das Águias, a Colt Resources tem como ob-jectivo confirmar e aumentar um recurso estimado pelo consórcio SPE/BRGM em 1 Mt com 0,87 % de WO3. Son-dagens recentes intersectaram 0,89 % de WO3 em 15 m, incluindo 1,64 % de WO3 em 7m. Apontam ainda para a existência de recursos geológicos potenciais superiores a 10 milhões de toneladas com um teor médio da ordem dos 0,5 % de WO3 ou superior, na globalidade da faixa schee-lítica de São Pedro das Águias – Távora.

No que respeita ao estanho, a empresa canadiana Casmi-nex desenvolveu um programa de prospecção entre Agos-to de 1980 e Fevereiro de 1982 na área de Tuela/ Ervedosa, estimando 4, 4 milhões de toneladas de recurso subterrâ-neo. Em 1958 a Tuela Min Ltd tinha estimado e indicado para recursos a céu aberto 2 milhões de toneladas para um teor de 1,2 kg de cassiterite por tonelada. Estas estimativas ainda não foram completamente confirmadas pelo actual detentor de direitos MTI – Mineira de Vinhais que tem estado a proceder à avaliação geológica da área da Mina de Ervedosa, tendo calculado no “Céu Aberto W”, que faz parte dos recursos estimados pela Tuela Min Ltd, recursos medidos e indicados de 464 057 toneladas de minério sus-ceptíveis de lavra a céu aberto, contendo 974,86 toneladas de estanho e com o teor de 2,10 kg/ton de Sn metal. Esta empresa está ainda a desenvolver trabalhos para avaliação dos recursos subterrâneos referidos pela Casminex.

De salientar ainda o depósito de Argemela, onde a Sojitz Beralt desenvolveu um projecto de prospecção e pesquisa, definindo 9,3 Mt de recursos inferidos com 0,19 % Sn e 0,24 % Li (17.800 ton de Sn metal e 22.200 ton de Li metal) e, adicionalmente, 10,8 Mt de recursos potenciais com 0,07 % Sn e 0,2 % Li (7.300 ton de Sn metal e 21.200 ton de Li metal). Dado o interesse de várias empresas nesta área, a DGEG abrirá em breve concurso para atribuição de direi-tos de prospecção e pesquisa.

Embora numerosos depósitos de ferro tenham sido outro-ra explorados no sul do País, com especial destaque para o Cercal, hoje em dia merece referência uma área de elevado potencial mineiro situada no concelho de Torre de Mon-corvo, no Nordeste de Portugal, prospectada pela antiga FERROMINAS, empresa estatal portuguesa, há 30 anos. Os resultados de ensaios laboratoriais efectuados pela FERROMINAS permitiram concluir que é tecnicamente viável beneficiar o minério de ferro de Moncorvo, de for-ma a obter concentrados com teores entre 64% e 68% em Fe e 0,15% e 0,25% de P. A actual detentora de direitos de prospecção e pesquisa MTI, empresa luso-canadiana, con-cluiu que é possível diminuir significativamente o teor em P. As reservas certas e prováveis de Moncorvo, no total de 550 Mt de minério, são suficientes para produzir 250 Mt de aglomerados de finos, sinterizados com 60% a 65% Fe.

Relativamente aos minerais industriais, são de inquestio-navelmente de salientar os recursos em quartzo, feldspato, lítio e caulino.

O quartzo e o feldspato estão essencialmente associados a pegmatitos, como acontece nos distritos de Braga, Vila Real, Viseu e Guarda, podendo ainda constituir fonte des-tes recursos alguns granitos moscovíticos, alterados. O va-lor total de produção de feldspatos e areias feldspáticas é cerca de 210 000 toneladas. O enorme potencial para este tipo de matérias-primas, utilizadas sobretudo como pastas cerâmicas, podem colocar Portugal como um grande ex-portador destes produtos.

Portugal tem ocupado uma posição importante em termos de produção de lítio, explorado como sub-produto em ex-plorações de quartzo e feldspato de filões aplito – pegmatí-ticos, ricos em lepidolite, na região de Gonçalo (Guarda), tendo este recurso vindo a ser utilizado como fundente na indústria cerâmica. Importa referir também a região entre o Barroso e a serra de Alvão, onde o ex-IGM evi-denciou um importante potencial em minérios litiníferos (fundamentalmente espodumena). Este recurso merece uma atenção especial, já que devido ao grande incremen-to da procura de Li nos mercados, devido essencialmente às necessidades do mercado do automóvel eléctrico, em franca expansão, para produção de baterias, se espera que o interesse por estes recursos minerais venha a aumentar, encarando-os numa perspectiva de extracção para produ-ção de Li metálico.

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Indústria Extractiva

Portugal possui ainda reservas muito significativas de caulino, também utilizado na indústria cerâmica e em produção de papel. A sua origem é geologicamente diver-sificada, incluindo depósitos sedimentares e depósitos pri-mários formados por processos hidrotermais de alteração de granitos, gneisses e pórfiros ácidos. Este é um sector extremamente dinâmico em Portugal, tendo também au-mentado recentemente as suas exportações. A produção está estimada em cerca de 925 000 toneladas, em especial nas regiões de Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Coimbra e Santarém e as reservas conhecidas superiores a 50 000 000 toneladas.

Finalmente e no que diz respeito ao sector das rochas or-namentais, a produção é dominada pelos mármores, cal-cários e granitos, constituindo cerca de 96% do total da produção, que ultrapassa as 2 900 000 toneladas, das quais 45 % é exportado. Embora Portugal tenha perdido alguns lugares nos últimos anos no ranking de países produtores, ainda ocupa o 9º lugar a nível mundial. O Maciço Calcário Estremenho é, actualmente a principal região produtora de rochas ornamentais do país, com uma forte exportação para a China.

No que diz respeito aos processos de concessão mineira e de licenciamento de pedreiras, importa referir que têm sofrido recentemente alterações significativas, sobretudo no que diz respeito a regras que visam a mitigação dos impactes ambientais decorrentes da actividade extractiva, nas suas várias fases. Os planos de lavra actuais (planos de mina ou planos de pedreira), contrariamente ao que acontecia no passado, em que só eram contemplados os aspectos económicos, têm que incluir de forma relevante os aspectos ambientais, incluindo um plano de recupera-ção paisagística e da gestão das instalações de resíduos, por forma a dar cumprimento ao estabelecido no Decreto-Lei 10/2010 (resultante da transposição da directiva europeia sobre os resíduos mineiros 2006/21/EC, atrás referida). Deste modo, a operação mineira é encarada e abordada de uma forma integrada e global, desde o seu início ao fecho, podendo no final da exploração a respectiva área ser dis-ponibilizada para outros usos.

Considerações finais

O sector mineiro atravessa a nível mundial um período extremamente positivo e em que as cotações das matérias--primas minerais atingem repetidamente valores recorde, conduzindo a que proliferem os projectos de prospecção e novas minas sejam abertas (ou reabertas).

Toda esta conjuntura se, por um lado, vem trazer uma oportunidade única à indústria extractiva, por outro, co-loca-lhe desafios significativos, em termos de inovação nas várias fases dos seus projectos, obrigando-a a integrar no-vas metodologias de prospecção, tecnologias eficientes de optimização da extracção e aproveitamento dos recursos e redução dos resíduos.

A UE, como vimos atrás, não se alheou desta conjuntura e em muitos dos seus países assistimos a uma situação si-milar. A própria Comissão Europeia (CE) tem realçado, através de várias iniciativas e documentos, a importância da indústria extractiva, numa perspectiva global e integra-da e abarcando todo o ciclo de vida dos recursos minerais.

O lançamento da Raw Materials Innovation Partnership, referida anteriormente, prevê, entre outras acções, a im-plantação de 10 “pilot plants”, distribuídas pela Europa, onde se desenvolverão actividades de prospecção, pesqui-sa, exploração, processamento e beneficiação, reutilização e reciclagem. Esta “Parceria de Inovação” poderá constituir um factor determinante para fomentar a adopção de polí-ticas, pelos diferentes Estados Membros, mais favoráveis ao sector extractivo e o incremento do financiamento de projectos de I&D, a nível nacional e europeu, praticamente inexistentes desde o III Programa-Quadro de Investigação (Brite – Euram, 1994-1998). Na verdade, é hora da Europa voltar a olhar para os seus recursos e potencial mineiro, que nunca deixaram de existir, abandonando políticas in-sustentáveis de consumo de países terceiros, para onde se exportaram simultaneamente demasiados problemas am-bientais e sociais.

Portugal deverá capitalizar ainda mais o seu potencial mi-neiro, sendo muito importante que uma das pilot plants atrás referidas, se venha a localizar na Faixa Piritosa, a nossa principal província metalogenética. Paralelamente, entre as acções que carecem ser desenvolvidas pelas prin-cipais entidades relacionadas com o sector mineiro em Portugal (DGEG, LNEG, EDM), com o apoio do Governo Central e em articulação com instituições governamentais regionais (CCDRs, DREs) e Câmaras Municipais, estão:

► melhorias da legislação nacional, a nível de simplifica-ção e celeridade de processos, implementação de in-centivos fiscais para a actividade de prospecção e pes-quisa (investimento de alto risco, lembramos);

► continuação de uma política de apoio à mitigação dos impactes ambientais relacionados com a prospecção e exploração de recursos minerais;

► clarificação da estratégia respeitante aos minerais ra-dioactivos, particularmente o urânio. Na verdade, Por-tugal tem importantes recursos uraníferos, tendo sido alvo do interesse de inúmeras empresas internacionais nos últimos anos. No entanto, os projectos de prospec-ção, pesquisa e exploração não têm avançado devido a indefinição política;

► promoção de uma maior articulação entre as entidades governamentais com competências na gestão dos re-cursos minerais e as empresas do sector;

► orientações claras para a inclusão sistemática das acti-vidades relacionadas com a salvaguarda, valorização e exploração de recursos minerais nas políticas e

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Indústria Extractiva

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Mineral Resources of Portugal, DGEG, Luís Martins (ed.). Lisboa, 2010

instrumentos de ordenamento do território, a nível na-cional, regional e municipal;

► definição de uma estratégia de recuperação de antigas áreas mineiras que integre as componentes de recupe-ração ambiental, valorização económica dos resíduos, intervenções a nível de segurança e valorização do pa-trimónio mineiro existente;

► incentivo ao desenvolvimento de projectos de reabili-tação de áreas mineiras abandonadas segundo meto-dologias que tenham em consideração os aspectos re-feridos no ponto anterior;

► apoio a projectos de cartografia temática de recursos minerais, incluindo a sua inventariação, prospecção e valorização, por forma a incrementar o potencial mi-neiro do país;

► disponibilização contínua e crescente da informação geomineira, seguindo as orientações da Directiva Eu-ropeia INSPIRE;

► apoio à formação de geólogos e engenheiros de minas pelas universidades nacionais;

► desenvolvimento de acções pedagógicas de divulgação da importância dos recursos minerais e dos seus bene-fícios para a sociedade, facilitando assim a obtenção da “licença social” em novos projectos mineiros;

Estas orientações poderão ser agregadas numa Estratégia Nacional para os Recursos Minerais (à semelhança do que foi feito recentemente noutros países da UE, como o exem-plo digno de referência da Finlândia), adequada à dimen-são do País e às suas características geomineiras.■

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Indústria Extractiva

Indústria Extractiva e Rede Natura 2000Isabel Azevedo e SilvaVISA - Consultores de Geologia Aplicada e Engenharia do Ambiente, S.A.

1. IntroduçãoOs recursos minerais representam um papel fundamen-tal nas nossas vidas, cerca de 70% da produção industrial da União Europeia (UE) depende deste tipo de recursos, como o demonstram alguns exemplos relevantes: as tin-tas e o papel incluem na sua composição mais de 50% de matérias-primas minerais como o caulino, a calcite (car-bonato de cálcio), a sílica, as argilas plásticas, o talco, a bentonite e micas; a cerâmica e o vidro são integralmente constituídas por matérias-primas minerais (feldspato, vo-lastonite, argila, caulino, talco, sílica, borato e dolomite); uma casa comum contém cerca de 150 toneladas de recur-sos minerais e um carro cerca de 1500 kg.

A garantia de um acesso fiável e sem distorções às maté-rias-primas é um factor que tem cada vez mais peso na competitividade da União Europeia (UE) sendo, por con-seguinte, essencial para assegurar o crescimento e o em-prego na Europa. Com o objectivo de garantir e melho-rar o acesso de matérias-primas fornecidas pela indústria extractiva, em Novembro de 2008, a Comissão Europeia aprovou a iniciativa “matérias-primas”.

Complementarmente, em Julho de 2010 a Comissão Eu-ropeia editou um documento com o titulo “Orientações da UE sobre: A realização de actividades extractivas não energéticas em conformidade com os requisitos da Rede Natura 2000”1. Com este documento pretendeu-se esta-belecer orientações para a implementação das actividades associadas à indústria extractiva em áreas integradas na Rede Natura 2000.

Com o presente artigo pretende-se fornecer o enquadra-mento geral destes documentos e, ao mesmo tempo, for-necer algumas pistas para a sua aplicação em Portugal. Adicionalmente, procede-se à análise do caso particular

1 Comissão Europeia, 2010.

do sítio da Rede Natura 2000 “Serras de Aire e Candeei-ros”, que abrange a totalidade do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC), onde a exploração de ro-cha ornamental apresenta uma forte expressão, em termos económicos e territoriais.

2. A indústria extractiva não energética

2.1 Enquadramento da União Europeia

A indústria extractiva não energética (adiante referida uni-camente como indústria extractiva) fornece uma elevada percentagem das matérias-primas aos sectores europeus da indústria transformadora e da construção. Em 2009, na UE existiam 18 300 empresas ligadas ao sector o que gerou um volume de negócios de cerca de 50 mil milhões de euros e empregou cerca de 288 500 pessoas2. Contudo, a sua importância económica é ainda maior se se tiver em conta o valor acrescentado que esta indústria implica para sectores a jusante ainda mais vastos cujas actividades de-pendem do aprovisionamento regular de matérias-primas minerais3.

Considera-se que a indústria extractiva se divide em três grandes subsectores em função das características físicas e químicas dos minerais produzidos e, em especial, das suas aplicações e das indústrias que fornecem: constru-ção (onde se incluem os agregados e outros inertes para a construção civil e a rocha ornamental), industriais (maté-rias-primas para a industria), e metálicos.

Com o objectivo de garantir e melhorar o acesso de maté-rias-primas fornecidas pela indústria extractiva,

2 Comissão Europeia/Eurostat, 2009.3 Comissão Europeia, 2010.

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Indústria Extractiva

em Novembro de 2008, a Comissão Europeia aprovou a iniciativa “matérias-primas”, que pretende estabelecer o seu enquadramento e assegurar a competitividade da UE a nível mundial.

A iniciativa “matérias-primas” assenta em três pilares:

► Assegurar um acesso às matérias-primas nos mercados internacionais, nas mesmas condições que outros con-correntes industriais;

► Estabelecer, na UE, as condições-quadro adequadas para promover o aprovisionamento sustentável de ma-térias-primas de fontes europeias;

► Fomentar a eficiência global dos recursos e promover a reciclagem, de forma a reduzir o consumo de matérias--primas primárias na UE e diminuir a dependência relativa das importações.

No âmbito da realização desta iniciativa foram identifica-dos diversos factores susceptíveis de influenciar a compe-titividade da indústria extractiva, que passam pela diver-sidade e complexidade dos procedimentos de autorização nos diversos Estados-Membros ou pela existência de con-flitos com outras utilizações do solo.

A indústria extractiva está fortemente condicionada pela presença e disponibilidade do recurso geológico, pelo que a sua exploração apresenta, frequentemente, conflitos com outros usos do solo ou interesses de carácter conservacio-nista ou estéticos. Embora a UE disponha de um grande número de jazigos minerais, a sua distribuição desigual pelo território e a sua qualidade variável condiciona forte-mente a sua viabilidade comercial.

Adicionalmente, a decisão final de explorar um determi-nado local/recurso mineral depende da procura do mer-cado, dos valores do investimento inicial e dos custos de transporte até ao utilizador final. Os custos de transporte, em especial, aumentam significativamente em função da distância a percorrer até ao local de entrega dos produtos e limitam efectivamente a disponibilidade geográfica desses minerais.

Esta necessidade de acesso a fontes de matéria-prima também significa que, embora a superfície necessária para actividades extractivas seja relativamente reduzida (inferior a 1% do território da UE), os projectos indivi-duais podem levantar conflitos com outros usos do solo ou com interesses sociais mais generalizados, ou criar impactes ambientais inaceitavelmente elevados. Estes as-pectos devem ser analisados numa base casuística, já que dependem muito do local exacto onde se pretenda desen-volver o projecto e da forma como é realizada a extracção. No entanto, a preocupação mais recorrente da indústria extractiva é a dificuldade na obtenção de novas autoriza-ções para substituir as explorações já esgotadas ou proce-der à prospecção e exploração de novas fontes.

A necessidade de garantir o desenvolvimento sustentável da actividade obriga a encontrar um ponto de equilíbrio entre as pretensões da indústria extractiva e os interesses económicos, sociais, culturais ou ambientais vigentes so-bre o local, o que deverá ser efectuado através da concerta-ção dos interesses de todos os intervenientes.

2.2 Portugal

A importância da indústria extractiva na economia nacio-nal teve um acentuado crescimento nas últimas décadas, fruto dos investimentos efectuados em Portugal e do in-cremento da procura de matérias-primas para os merca-dos estrangeiros, com especial destaque para a rocha or-namental.

Portugal Continental possui uma grande riqueza e diver-sidade de recursos geológicos, que abrangem os três sub-sectores mencionados anteriormente – construção (agre-gados, areias, argilas, rochas ornamentais, etc.), industriais (feldspato, quartzo, caulino, lítio, etc.) e metais (volfrâmio, ouro, cobre, estanho, etc.).

Com base nos dados consultados no Sistema de Informa-ção Geográfica do LNEG (e-Geo), existem em Portugal 5426 pedreiras registadas, das quais 3567 possuem licença em vigor (66% do total)4.

A produção global das pedreiras em 2008 cifrou-se em torno das 85 431 mil toneladas, equivalendo a 433 526 mil euros, representando nesse mesmo ano cerca de 39,1% da produção mineira nacional. Todavia, a evolução regista-da nos últimos anos tem sido marcada por uma tendência decrescente nos volumes extraídos e nos valores de pro-dução.

Nesse mesmo ano as 966 pedreiras em actividade no país eram responsáveis por 6392 postos de trabalho directos e por um volume global de 114 367 mil euros de remunera-ções ilíquidas. A evolução nos últimos anos relativamente a estes dois itens foi igualmente decrescente.

As perspectivas da indústria extractiva nacional não são optimistas, o que foi acentuado pela recente crise econó-mica. A indústria extractiva enfrenta novos desafios, rela-cionados não só com a pressão sobre a oferta, decorrente do incremento da concorrência internacional e da sofisti-cação crescente dos compradores, mas também com limi-tações relativamente à acessibilidade ao recurso mineral, muitas vezes em conflito directo com o estabelecido no quadro legal do ordenamento do território, do ambiente e da conservação da natureza, questões a que esta indús-tria tem tido, manifestamente, dificuldade em responder. Assim, o mercado das matérias-primas minerais nacionais apresenta desequilíbrios estruturais que poderão condi-cionar a sua evolução a curto prazo.

4 http://e-geo.ineti.pt/bds/pedreiras/default.aspx

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Indústria Extractiva

À semelhança do que acontece na UE, a indústria extrac-tiva nacional enfrenta problemas de fundo, ligados ao li-cenciamento de novas áreas extractivas. Perante as restri-ções relacionadas com o uso do solo, alguns empresários, porque consideram que o aproveitamento das oportuni-dades de mercado não se compadece com as demoras da Administração, não estão dispostos a esperar, e pervertem as regras, optando por se instalar no terreno sem qual-quer licença ou autorização, assumindo por vezes atitu-des predatórias. Esta ocupação, segundo a lógica do facto consumado, beneficiou da passividade das entidades com competência fiscalizadora, introduzindo graves distorções no mercado. Em regra, estes empresários não investem no valor acrescentado dos recursos minerais que exploram, porque consideram que estão em situação precária.

Salienta-se, no entanto, a existência de um esforço da Ad-ministração em diminuir as disparidades existentes, desig-nadamente pela coexistência de explorações licenciadas (com todo acréscimo de esforço económico que isso im-plica) com uma elevada percentagem de ilegais, através do enquadramento legal da actividade, nomeadamente atra-vés do Decreto-Lei n.º 270/2001, de 6 de Outubro, alterado pelo Decreto-Lei n.º 340/2007, de 12 de Outubro. Este es-forço, ainda que tenha dado alguns frutos, continua muito aquém do que seria desejável e justo para os empresários e explorações que se encontram em situação legal.

3. A Rede Natura 2000

3.1 Enquadramento no âmbito da UE

A Rede Natura 2000 constitui o cerne das políticas da UE em matéria de conservação da natureza e da biodiversida-de. Constitui uma rede europeia de áreas de conservação da natureza estabelecida sob a alçada das Directivas “Aves” (Directiva 79/409/CEE do Conselho, de 2 de Abril) e “Ha-bitats” (Directiva 92/42/CEE do Conselho, de 21 de Maio de 1992).

O objectivo desta rede é assegurar a sobrevivência, a lon-go prazo, das espécies e habitats mais valiosos da Euro-pa. É composta por Zonas Especiais de Protecção (ZEP), demarcadas no âmbito da Directiva “Aves”, e incorpora os Sítios de Interesse Comunitário (SIC), designados pelos Estados Membros da União Europeia, sob a égide da Di-rectiva “Habitats”, sendo que tanto abarca áreas continen-tais como meios marinhos. O estabelecimento desta rede de áreas protegidas também preenche uma obrigação co-munitária assumida perante a Convenção da ONU sobre a preservação da Biodiversidade.

A Rede Natura 2000 compreende, até agora, cerca de 26 000 sítios que cobrem quase 18% da superfície terres-tre da UE. Os Estados-Membros devem tomar as medidas de conservação adequadas para manter e restabelecer os

habitats e as espécies para os quais o sítio foi designado num estado de conservação favorável e evitar actividades prejudiciais ao ambiente susceptíveis de causar perturba-ções que atinjam essas espécies, bem como a deterioração dos tipos de habitats naturais ou dos habitats das espécies protegidas (nos 1 e 2 do Artigo 6.º da Directiva “Habitats”), sendo de destacar que os projectos no âmbito da indús-tria extractiva não estão necessariamente excluídos nestas áreas.

Caso os planos, programas, ou projectos planeados sejam susceptíveis de afectar significativamente o sítio em ques-tão, estes devem ser objecto de uma avaliação adequada e, em função do resultado desta avaliação cujo objectivo é garantir que não é afectada a integridade do sítio em questão, são decididas as condições da sua aprovação. De acordo com a legislação comunitária em vigor, os planos e projectos no âmbito da indústria extractiva podem, ainda, estar sujeitos ao disposto na Directiva “Avaliação Ambien-tal Estratégica” (AAE), para o caso de planos e programas, e na Directiva “Avaliação de Impactes Ambientais”(AIA), aplicável a projectos.

Em função das conclusões da avaliação adequada, a auto-ridade competente pode aprovar o plano ou projecto sem alterações, depois de ter concluído que o mesmo não afec-tará a integridade do sítio em causa, ou, tendo em conta o grau de incidência, pode impor que sejam introduzidas determinadas medidas para eliminar as incidências nega-tivas, obrigar à implementação de determinadas condições nas fases de construção, exploração ou encerramento do plano ou projecto em causa, ou a procura de soluções al-ternativas.

Em circunstâncias excepcionais, um plano ou projecto pode ser autorizado em determinadas condições, apesar de se ter concluído que produzirá efeitos negativos sobre o sítio, desde que se respeitem as garantias de protecção pre-vistas na Directiva “Habitats”. Tal pode ser possível na falta de soluções alternativas ou se o plano ou projecto for con-siderado de reconhecido interesse público. Nesses casos, serão implementadas medidas de compensação conside-radas necessárias para assegurar a protecção da coerência global da Rede Natura 2000.

Finalmente, salienta-se a necessidade de implementar pla-nos de monitorização dos planos, programas e projectos, a fim de avaliar a eficácia das medidas de prevenção, mi-nimização e compensação preconizadas. Neste contexto, é necessário definir critérios e indicadores de referência a fim de estabelecer parâmetros de avaliação da situação da área afectada pela implementação da actividade da indús-tria extractiva em causa.

Neste âmbito é fundamental garantir a cooperação entre as diversas entidades com competências sobre o sítio da Rede Natura 2000 em causa, a regulação da exploração dos recursos minerais, os responsáveis pelos projectos e os

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Indústria Extractiva

próprios empresários a fim de, em conjunto, se obterem as soluções mais viáveis do ponto de vista económico, social e ambiental, que possam contribuir para o desenvolvimento sustentável da área em que se integra garantindo, aos mes-mo tempo, a preservação dos valores naturais presentes.

3.2 Em Portugal

A transposição para o direito interno das Directivas”Aves” e “Habitats” foi efectuada através do Decreto-Lei nº 140/99, de 24 de Abril, alterado pelo Decreto-Lei nº 49/2005, de 24 de Fevereiro, uma vez que se considerou que “a regulamentação num único diploma das disposições emergentes das Directivas Aves e Habitats permitirá alcan-çar os objectivos enunciados, de um modo simples, eficaz e administrativamente racional.”

Em Portugal foram criadas 59 Zonas de Protecção Espe-ciais (ZPE) e 96 Sitos de Importância Comunitária (SIC). Salienta-se que, das 9 Regiões Biogeográficas presentes na UE, 3 dessas regiões estão representadas no território na-cional – Atlantica e Mediterrânea, e Portugal continental, e Macaronésica, nos Açores e Madeira (Figura 1), o que é elucidativo da elevada diversidade biológica que o país apresenta.

A realização de actividades que possam implicar impac-tes significativos sobre os habitats e espécies integradas em áreas da Rede Natura 2000, necessitam de aprovação por parte das entidades da tutela (ICNB, no caso das Áreas Protegidas, ou Comissão de Coordenação e Desenvolvi-mento Regional, nas restantes). As acções, planos ou pro-jectos não directamente relacionados com a gestão de um sítio e não necessários para essa gestão, mas susceptíveis de afectar essa zona significativamente, individualmente ou em conjugação com outras acções, planos ou projectos,

devem ser objecto de Avaliação de Incidências Ambientais no que se refere aos objectivos de conservação da referida zona, ou de procedimento de Avaliação de Impacte Am-biental, caso o licenciamento/aprovação da acção prevista seja abrangido pela legislação específica.

Se com a realização da avaliação de incidências (ou im-pactes) ambientais se concluir que o projecto terá impac-tes negativos muito significativos sobre o sítio em que se insere este só poderá ser autorizado quando se verifique a ausência de solução alternativa e ocorram razões impera-tivas de interesse público, como tal reconhecidas mediante despacho conjunto do Ministro do Ambiente e do minis-tro competente em razão da matéria.

Caso os impactes negativos detectados incidam sobre um habitat ou uma espécie prioritária, o reconhecimento de interesse público, e respectiva aprovação do projecto, só poderá ocorrer quando:

a) Estejam em causa razões de saúde ou de segurança públicas;

b) A realização da acção ou projecto implique conse-quências benéficas para o ambiente;

c) Ocorram outras razões de interesse público, reco-nhecidas pelas instâncias competentes nacionais e da União Europeia.

Destaca-se que, para que haja lugar à execução do projec-to em causa, será necessário garantir a implementação de medidas compensatórias.

Caso a avaliação do projecto verifique que os impactes ex-pectáveis não serão muito significativos e não colocarão em causa a viabilidade das espécies e habitats do sítio, o

Fig 1 Regiões Biogeográficas de Portugal

Regiões Biogeográficas Terrestres

Macaronésia

Mediterrânica

AtlânticaMadeira

Açores

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Indústria Extractiva

plano ou projecto poderá ser viabilizado mediante a im-plementação das medidas minimizadoras consideradas necessárias e de um plano de monitorização com incidên-cia nos factores ambientais considerados críticos.

4. O Sítio “Serras de Aire e Candeeiros”

O Sítio “Serras de Aire e Candeeiros”, com uma área de 44  226  ha foi aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros nº 76/2000, de 5 de Julho, com o código PTCON0015, e abrange a totalidade da área do Parque Na-tural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC). Este sítio inclui 19 habitats naturais, dos quais 6 são prioritários, 6 espécies da flora e 12 espécies da fauna. Este Sítio é repre-sentativo da flora calcícola do centro-oeste de Portugal, no qual se encontram representados numerosos endemismos lusitânicos.

O Sítio possui um elevado valor para a conservação da ve-getação e da flora, já que as características peculiares da morfologia cársica conduziram ao desenvolvimento de uma vegetação muito específica com espécies raras e endé-micas. Também de realçar são as grutas e algares, que pro-porcionam o refúgio de um interessante elenco florístico, e que apresentam grande importância para a preservação de diversas espécies de morcegos de levado valor conser-vacionista.

No que respeita à indústria extractiva, e no caso concreto do PNSAC, é de destacar a importância da actividade ex-tractiva sendo que, em 20105, o numero total de pedreiras com licença era 436.

A indústria extractiva, tradicional na área do PNSAC, so-freu um incremento significativo a partir de meados dos anos 80 pela conjugação de diversos factores favoráveis6:

► um período de expansão económica com fortes efeitos no dinamismo do sector da construção civil;

► alterações tecnológicas que permitem a extracção de pedra com menor recurso aos explosivos o que se adapta às características da fracturação dos maciços existentes;

► uma alteração das opções estéticas dos clientes que permitiu aos calcários sedimentares competir com os mármores;

► a flexibilização dos mecanismos de financiamento, no-meadamente da locação finaceira (leasing), ajustados à actividade.

5 ICNB, 2010.6 PNSAC/ICNB, 2007.

Esta situação contribuiu para fixação da população na área do Parque mas teve alguns efeitos nefastos sobre os seus valores naturais e património geológico e geomorfológico.

A importância atribuída a esta actividade económica, especialmente a crescente importância que o sector das rochas ornamentais representa para o país e, muito par-ticularmente, para a região, levou a que, no âmbito da re-visão do Plano de Ordenamento (PO) do PNSAC, a in-dustria extractiva fosse objecto de especial atenção o que teve como resultado a regulamentação da actividade com normas muito específicas para o sector. O POPNSAC foi aprovado através da Resolução do Conselho de Ministros nº 57/2010, de 12 de Agosto.

No âmbito do POPNSAC foram demarcadas “Áreas de in-tervenção específica” que requerem a adopção de medidas ou acções específicas. Dentro destas áreas, para as “Áreas sujeitas a exploração extractiva” é estabelecido como ob-jectivo prioritário a gestão racional da extracção de massas minerais e a recuperação de áreas degradadas.

Foram identificadas 6 “Áreas sujeitas a exploração extrac-tiva” – Codaçal, Portela das Salgueiras, Cabeça Veada, Pé da Pedreira, Moleanos e Alqueidão da Serra. Para estas áreas é estabelecido no POPNSAC que deverão ser elabo-rados Planos Municipais de Ordenamento do Território (PMOT) que estabeleçam a compatibilização entre a ges-tão racional actividade extractiva, a recuperação das áreas degradadas e a conservação do património natural exis-tente, sendo que estas áreas podem, também, ser abrangi-das por projectos integrados.

A definição destas “Áreas sujeitas a exploração extractiva” permitirá, a prazo, o estabelecimento mais rigoroso das áreas a explorar, a recuperar e a preservar, uma vez que a elaboração do PMOT ou do Plano Integrado em causa será efectuada a uma escala de maior pormenor do que a do POPNSAC. A elaboração destes planos irá, ainda, permi-tir uma maior compatibilização de todos os interesses em causa, uma vez que, na sua concepção, poderão (e deverão) estar integradas todas as partes interessadas – entidades da tutela (ICNB, DREs, CCDRs e Câmaras Municipais), asso-ciações do sector e promotores/empresários.

Adicionalmente, o POPNSAC estabelece uma série de re-gras específicas para o licenciamento de novas explorações ou a ampliação de pedreiras existentes, relativamente à sua forma de exploração e recuperação, limitando o avanço em área à efectiva implementação do Plano Ambiental e de Recuperação Paisagística de forma faseada ou à recupe-ração de uma área equivalente que já tenha sido interven-cionada e que ainda se encontre degrada.

Com a integração destas medidas no POPNSAC obteve--se um compromisso cauteloso para as partes interessadas, que não sendo a ideal, é bastante satisfatório face aos in-teresses contraditórios que se impõem na área do PNSAC, designadamente a conservação da natureza e do patrimó-nio geológico e cultural e a indústria extractiva.

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Indústria Extractiva

5. ConclusõesA importância que o acesso ao recursos minerais, im-portante fonte de matérias-primas para diversos sectores económicos, levou a que a Comissão europeia aprovasse a iniciativa “matérias-primas” a fim de analisar as alter-nativas para a sua obtenção, no interior da UE e, mesmo, externamente, ao mesmo tempo que se estabelece o en-quadramento para a promoção do seu aprovisionamento sustentável e o fomento da sua reciclagem.

De entre as conclusões desta iniciativa, ressalta-se o facto de que se verifica uma forte concorrência entre as necessi-dades da indústria extractiva e as outras actividades e usos do solo presentes ou planeadas para uma determinada área. Este conflito obriga a que se deva procurar um equi-líbrio entre os diversos interesses, a fim de garantir o de-senvolvimento sustentável no interior da União Europeia.

Em Portugal esta concorrência pelo uso do solo por par-te dos diversos interesses económicos, sociais, culturais e ambientais levanta, também, conflitos cuja resolução por vezes é de difícil obtenção, sendo que os diversos instru-mentos legais em vigor têm vindo a permitir que se en-contrem soluções que conciliam as várias expectativas em causa.

A Rede Natura 2000 foi criada com o intuito de assegu-rar a sobrevivência das espécies e habitats mais valiosos da Europa. Nas áreas incluídas na Rede Natura 2000, ainda que se pretenda evitar a presença de actividades que pos-sam causar perturbações sérias a estas espécies e habitats, os projectos no âmbito da indústria extractiva não estão completamente excluídos, ainda que tenham que obedecer a regras bem definidas e que passam pela avaliação do im-pacte da actividade na integridade do sítio em causa.

No território nacional, nas áreas integradas na Rede Natu-ra 2000 é necessário proceder a uma avaliação dos impac-tes decorrentes da implementação da actividade extracti-va. Em função das conclusões desta avaliação o projecto poderá ser viabilizado através da implementação de medi-das de minimização e de um plano de monitorização.

Caso paradigmático da convivência, por vezes pouco pací-fica, entre a indústria extractiva e a gestão de áreas vocacio-nadas para a Conservação da Natureza é o Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC) cujo território se encontra totalmente integrado na Rede Natura 2000.

Neste Parque Natural existe um grande número de pe-dreiras, sendo de destacar as de rocha ornamental, pela especificidade do material e importância económica que representam para a região. A abertura de novas pedreiras e a ampliação das existentes levantam, por vezes, conflitos com os valores naturais presentes nesta área. Com a recen-te aprovação do novo Plano de Ordenamento do PNSAC procurou-se atenuar esses conflitos através da imposição de uma série de regras claras para todos os intervenientes,

designadamente quanto à forma como o licenciamento de novas explorações ou de ampliações pode ser efectuado, obrigando à recuperação paisagística de áreas degradadas no interior destas pedreiras ou, eventualmente, fora destas mas com uma área equivalente à área a ser intervencio-nada.

Este plano identifica, ainda, a necessidade de efectuar pla-nos de maior pormenor em zonas onde a industria extrac-tiva apresenta uma forte expressão (núcleos de pedreiras) com o objectivo de garantir que a exploração se efectua de forma integrada, ao mesmo tempo que se preservam todos os valores naturais, culturais e geológicos presentes nestes núcleos, o que só pode ser efectuado através de planos que estabeleçam as regras de como, quando e onde se pode ex-plorar e recuperar.

Desta forma, pode-se afirmar que a indústria extractiva pode ser compatibilizada com áreas em que o objectivo principal é a Conservação da Natureza, sendo de desta-car que para que tal seja possível é necessário que exista a efectiva vontade de todos os intervenientes no processo (ICNB, CCDRs, DREs, promotores e, mesmo, associações ambientalistas) de garantir que esta compatibilização tem continuidade no tempo e no espaço. Para tal, é necessário que estes intervenientes estejam conscientes dos seus actos e das consequências que estes têm sobre as áreas e os valo-res naturais a preservar, complementarmente aos resulta-dos económicos que daí advêm, o que só pode ser obtido através de acções concertadas de divulgação das diferentes necessidades e expectativas em causa, divulgação esta que irá permitir o estabelecimento da comunicação e diálogo entre as partes. Só desta forma se pode almejar um desen-volvimento sustentável de áreas particularmente sensíveis, no que diz respeito aos valores naturais presentes, que, ao mesmo tempo, abrangem locais de especial interesse para a indústria extractiva. ■

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Indústria Extractiva

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«Frente de Exploração de Areia»Fotografia: João Meira, 2011

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Indústria Extractiva

A importância do aguço no desempenho superior

da perfuração Hugo Dias

Atlas Copco

Controlo de custos, aumento de produtividade

e qualidade do trabalho realizadoO aguço ou afiação dos bites de perfuração é uma opera-ção que em Portugal ainda é algo negligenciada. Um gran-de número de utilizadores de equipamentos de furação ainda considera esta uma operação desnecessária e com vantagens muito limitadas ou inexistentes numa grande variedade de aplicações, especialmente quando o volume de furação é pequeno. Uma das eventuais razões para esta visão é que normalmente o foco vai apenas para a longevi-dade do bite de perfuração.

Mas o aumento do tempo de vida deste componente da co-luna de perfuração é apenas a ponta do icebergue. Apesar de este ser um dos principais e mais evidentes benefícios da operação de aguço, que por si só já justifica na maior parte dos casos o investimento nesta operação, existem outras áreas onde o impacto se faz sentir ainda com maior intensidade e que fazem desta uma operação imprescindí-vel, principalmente quando se furam maciços rochosos de abrasividade média a elevada.

Velocidade de Penetração:De forma a se obterem os melhores resultados, isto é, má-xima velocidade de penetração e longevidade, é funda-

mental a escolha do bite com a configuração certa (quan-tidade, forma e disposição dos botões, canais de limpeza, etc.) para determinado maciço rochoso. No entanto, é normal que por exemplo num granito de abrasividade mé-dia e com uma resistência à compressão de 1.800 bar, os botões do bite apresentem um achatamento por desgaste logo após 10 – 20 metros de furação, acompanhados por uma ligeira quebra da velocidade de penetração. Quando esse achatamento por desgaste atinge 1/3 do diâmetro do botão, a penetração terá baixado cerca de 5%. Se o bite continuar a ser utilizado até que o desgaste do botão atinja 2/3 do diâmetro do bite, o rendimento terá baixado cerca de 30% (Fig. 2).

A redução da velocidade de penetração provoca uma me-nor produtividade horária, aumentando o custo por metro de furação, já que os custos fixos são dividos por menos metros furados. Os custos por hora de trabalho do carro de perfuração, da sua manutenção, combustível, operador,

Fig. 1 – Desgaste dos botões de um bite de furação

Fig. 2 Variação da velocidade de penetração consoante o desgaste dos botões do bite.

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entre outros, são muito significativos e são independentes da velocidade de penetração. Uma redução da velocidade de penetração na ordem dos 20% a 30% significa um au-mento muito considerável nos custos por metro com toda a operação de furação.

Alinhamento da Furação:Quando o botão de um bite perde a sua protuberância, o espaço entre o corpo do bite e a rocha é demasiado pe-queno, dificultando a passagem dos detritos da furação e originando um re-esmagamento que prejudica não só a velocidade de penetração como também contribui para o desvio da furação, por vezes de forma muito significativa.

Estes desvios implicam um aumento da necessidade de ex-plosivos, assim como fragmentação grosseira que obriga a bastante desmonte secundário, vulgo taqueio, com os con-sequentes custos adicionais.

Na escavação subterrânea estes desvios contribuem para um menor avanço por pega, podendo atrasar significativa-mente o andamento dos trabalhos. Não menos importante é o problema da sobre escavação, para o qual o desalinha-mento dos furos contribui decisivamente.

Um bite bem afiado corta sempre melhor, limitando os desvios durante a furação. Isto é ainda mais importante em formações rochosas com várias camadas e fracturas, normalmente caracterizadas por forte desvio na furação, induzindo consideráveis tensões em toda a coluna de per-furação, reduzindo o seu tempo de vida.

Para além disso, furos direitos contribuem para rendimen-tos superiores, uma vez que originam menos prisões do material e previnem eventuais perdas.

Longevidade do aço de perfuraçãoNaturalmente que a longevidade de toda a coluna de per-furação, com especial destaque para o bite, aumenta com um serviço de aguço realizado de forma atempada.

A diferença entre o tempo de vida de um bite não afiado e outro afiado sempre na altura correcta pode superar os 400%.

Em média um bite pode ser afiado cerca de 10 vezes, sendo que para bites de pequeno diâmetro este número pode ser inferior e em bites de maior diâmetro poderá até ultrapas-sar este valor. De qualquer modo, o intervalo entre afiações tem que ser correctamente estabelecido e cumprido, de forma a que os botões do bite sejam sempre afiados quan-do o desgaste seja igual ou inferior a um terço do diâmetro do botão.

Uma razão adicional para que os botões seja aguçados na devida altura prende-se com o facto de que, quanto menos desgaste o botão apresentar, menor será o volume de ma-terial a retirar para o repôr na sua forma original (Fig. 4), poupando assim o botão e as mós de afiação.

ConclusõesEm todas as operações de desmonte, o custo é geralmente expresso em custo por metro de furação, custo por metro cúbico ou custo por tonelada. O custo para realizar um furo depende da rapidez com que o mesmo será executa-do, assim como dos consumíveis gastos durante a sua rea-lização. O custo para produzir um metro cúbico de rocha está dependente do custo do furo acrescido do custo da

Fig. 3 Exemplo da longevidade de um bite consoante diversos níveis de serviço de aguço

Fig 4 Volume de material que tem de ser removido de um botão esférico de 11 mm em diferentes fases de desgaste do botão

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utilização de explosivos, que aumentará caso a furação não esteja feita de forma exacta e bem alinhada.

O aguço interefere em todos estes custos, de forma directa ou indirecta. Apesar de normalmente representar menos de 2% dos custos totais da operação total de furação, a sua não incorporação nestas operações pode fazer uma gran-de diferença na economia total, sempre que se consideram todas as perdas de produtividade e respectivos custos as-sociados.

Por descrever ficam os efeitos negativos que um bite com desgaste excessivo tem nos custos de manutenção do equi-pamento de perfuração. Isso ficará para uma próxima oportunidade. ■

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Indústria Extractiva

Prospecção geológica: sondagens convencionais ou Wireline?Vitor CorreiaGeoplano – Consultores, S.A.

A furação à rotação com amostragem integral tem como objectivo primordial a obtenção de uma amostra (teste-munho) integral da rocha que está a ser perfurada, para que se possa efectuar a análise das formações geológicas existentes em profundidade.

Existem fundamentalmente dois métodos de furação que permitem a recolha integral de testemunhos de rocha: o método “convencional” e o método “wireline”.

No método de furação convencional a furação faz-se com recurso a um sistema de tubos roscados (designados va-ras) ligados entre si, estando acoplado ao segmento ter-minal uma cabeça de corte (coroa). À medida que a fura-ção avança o sondador adiciona varas às já introduzidas prolongando, deste modo, a furação. Neste método podem utilizar-se sondas mais pequenas, o que permite a realiza-ção de trabalhos em locais confinados ou de difícil acesso (Fig. 1).

Existem diferentes tipos de coroas, variando os elemen-tos de corte que empregam, bem como a matriz que os aglutina (que será progressivamente desgastada, expon-do os elementos de corte). Quando a rocha a perfurar é dura utilizam-se normalmente coroas diamantadas (Fig. 2) com matriz macia, para que durante o processo de fu-ração um maior número de diamantes vá sendo exposto, aumentando assim a eficiência de corte. Quando a rocha a perfurar é branda, utilizam-se coroas diamantadas com matriz dura, o que prolonga a duração dos elementos de corte. As rochas mais brandas podem também ser perfu-radas com recurso a coroas de tungsténio, normalmente mais económicas, embora menos resistentes. A escolha da coroa correcta é uma decisão crítica, que condiciona di-rectamente a produtividade da furação e a qualidade da amostragem obtida.

Fig. 1 Furação à rotação num local de difícil acesso, só possível com uma sonda de pequenas dimensões.

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Indústria Extractiva

Fig. 2 Aspecto de uma coroa diamantada, sendo visível no seu interior o testemunho de rocha obtido.

Fig. 3 Coroa diamantada e tubo amostrador convencional, sendo visíveis em segundo plano as varas roscadas que são acopladas à medida que a furação progride.

Fig. 4 Coroa diamantada e tubo amostrador wireline, sendo visível à direita das varas o dispositivo utilizado para efectuar o engate e a retirada do tubo amostrador interior.

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Indústria Extractiva

O avanço da furação faz-se à custa do aumento da pressão e da abrasão na frente de corte, o que gera uma intensa fricção e consequente aquecimento das coroas. É por isso imprescindível o recurso a fluidos para arrefecimento da frente de corte. Estes fluidos permitem também a lubrifi-cação da coroa, removem os resíduos resultantes do corte e contribuem para a estabilização do furo efectuado. O flui-do mais comummente utilizado é a água, sendo também frequente o recurso a caldas de lubrificação e soluções ole-osas.

À medida que a coroa realiza o corte e o avanço se faz, a rocha recortada (testemunho) entra no interior das varas, sendo recolhida num tubo amostrador, instalado imedia-tamente após a coroa de corte, concebido para preservar o testemunho obtido (Fig. 3).

Os tubos amostradores utilizados na furação convencional têm normalmente 3m de comprimento, o que implica a re-colha do testemunho a cada 3m de avanço da perfuração. A recolha do testemunho exige a retirada de todo o siste-ma de varas de dentro do furo, uma de cada vez, desenros-cando-se e enroscando-se varas de modo sucessivo, o que consome uma porção muito significativa de tempo. De-pois de retirado o testemunho do interior do amostrador, repete-se o processo de acoplamento de todas as varas, à medida que são novamente introduzidas no furo. O tempo exigido para a retirada do amostrador e para a recolocação de todo o sistema de varas e reinício da furação cresce com

o aumento da profundidade do furo (porque o número de varas a retirar e a introduzir de novo é cada vez maior).

É por isso que quando é necessário efectuar sondagens profundas se recorre normalmente ao sistema de furação wireline. O sistema de furação wireline foi desenvolvido nos anos 60 para a prospecção mineira, e diferencia-se do sistema convencional pelo modo como se recupera o tes-temunho.

No sistema wireline o amostrador possui dois tubos, um interno e outro externo. O testemunho é acondicionado no tubo amostrador interno, que pode ser destacado do tubo amostrador externo, o que permite a retirada do testemunho do fundo do furo sem ter de remover todo o sistema de varas. A remoção do testemunho processa-se fazendo descer pelo interior das varas um cabo com um dispositivo concebido para desengatar o tubo interno do amostrador (Fig. 4). O tubo e o testemunho contido no seu interior são puxados para a superfície pelo cabo lança-do no interior das varas de furação.

Após a recuperação do testemunho o tubo amostrador in-terior é novamente introduzido pelo interior das varas e descido até ao fundo do furo, sendo de novo engatado no tubo amostrador exterior, e retomando-se a furação.

Dada a concepção particular do amostrador wireline, para o mesmo diâmetro de furação o diâmetro do testemunho

CONVENCIONAL WIRELINE

Espaço necessário para sonda Reduzido Amplo

Tempo de posicionamento e set up da sonda Rápido Demorado

Produtividade Produtividade diminui com a profun-didade (média 8m-12m/turno 8h)

Produtividade depende pouco da pro-fundidade (média 20m-30m/turno 8h)

Características do maciço rochosoQuaisquer, incluindo horizontes de alteração e materiais pouco compe-tentes

Maciços competentes

Diâmetros comuns do furo 76mm 86mm 101mm 75,3mm 95,6mm 122,3mm

Diâmetros comuns do testemunho 62mm 72mm 84mm 47,6mm 63,5mm 84,8mm

Aplicações comuns

Sondagens verticais e inclinadas a céu aberto e no interior de galerias, em qualquer tipo de maciços rochosos (mesmo com intercalações de mate-riais pouco competentes), com menos de 50m de profundidade.

Sondagens verticais e inclinadas a céu aberto, em maciços rochosos compe-tentes, com mais de 50m de profundi-dade.

Predomina na prospecção de rochas industriais e ornamentais

Predomina na prospecção de minérios metálicos

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obtido com o sistema wireline é inferior ao obtido com o sistema convencional.

O sistema wireline permite, tal como o método conven-cional, vários diâmetros de furação. Nos casos em que é necessário efectuar furos profundos conjugam-se normal-mente, de modo telescópico, dois ou mais diâmetros.

O sistema wireline só deve ser utilizado quando os ma-ciços a investigar são constituídos por materiais compe-tentes, preferencialmente a partir dos horizontes mais su-perficiais. Nos casos em que isso não ocorre, é necessário, para que não se produzam desvios, realizar um emboqui-lhamento mais largo do furo, até que sejam alcançados materiais competentes.

No na tabela da página anterior sintetizam-se as diferenças entre o método de furação convencional e o método wire-line, bem como as suas principais aplicações.

Nem sempre a escolha de um dos métodos de furação é linear. Quando um plano de prospecção exige a realiza-ção de sondagens em locais de difícil acesso e combina sondagens curtas e longas (o que acontece por vezes no reconhecimento de jazidas minerais com forte controlo es-trutural), a opção por apenas um dos métodos de furação pode implicar um agravamento global dos custos (Fig. 5) e dos prazos de execução.

Nestas condições, a melhor solução é o recurso a sondas compactas de potência elevada, com mobilização autó-noma, aptas para executar a furação tanto com o método convencional como com o método wireline (Fig. 6).

Em síntese, a perfuração convencional justifica-se quan-do as sondagens a executar não são profundas, e quan-do é provável que o maciço rochoso inclua níveis menos competentes (como por exemplo bolsadas de argila em maciços calcários). Quando o maciço rochoso é compe-tente desde os níveis superficiais e as sondagens a realizar profundas, o método wireline permite ganhos significati-vos de produtividade face ao método convencional, com a consequente diminuição de custos e prazos de execução. ■

Fig. 5 Representação gráfica simplificada da dependência entre o custo e o comprimento das sondagens, para os sistemas convencional e wireline.

Fig. 6 Sonda compacta, mobilizada sobre lagartas, a executar uma campanha de prospecção mineira que combinou furação à rotação convencional e wireline.

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Indústria Extractiva

O acompanhamento técnico como contributo para a melhoria do desempenho da indústria extractivaHumberto GuerreiroVISA - Consultores de Geologia Aplicada e Engenharia do Ambiente, S.A.

1. IntroduçãoNa exploração de minas e pedreiras há necessidade de gerir um conjunto vasto de aspectos, relacionados com a produção, a segurança, o ambiente e a qualidade, todos dependentes da disponibilidade financeira, dos recursos humanos, das características do local e da envolvente onde está implantada a unidade extractiva, bem como da políti-ca seguida pelas empresas.

O acompanhamento técnico das unidades extractivas contribui para melhorias na gestão dos processos e, con-sequentemente, no desempenho económico, operacional, ambiental e social.

As actividades técnicas são desenvolvidas, em primeiro lu-gar, pelos Responsáveis Técnicos, nas pedreiras, ou pelos Directores Técnicos, nas minas, de acordo com as respon-sabilidades que a lei lhes confere. De facto, na maior parte das explorações mineiras são os Responsáveis/Directores Técnicos os principais e únicos agentes técnicos envolvi-dos na sua gestão. Este aspecto poderá constituir um pro-blema quando a vertente técnica se acumula com funções de gestão produtiva. Neste caso, os resultados financeiros são o principal objectivo e os requisitos técnicos podem ser relegados para segundo plano, com todos os prejuízos que daí decorrem, muitas vezes revelando danos económi-cos gravosos a curto-médio prazo.

A existência de um acompanhamento técnico planeado e estruturado, realizado pelos Responsáveis/Directores Téc-nicos, mas apoiado em técnicos internos ou externos es-pecializados nas diversas áreas, constitui uma mais-valia.

A VISA Consultores, empresa especializada no sector ex-tractivo possui um serviço de acompanhamento técnico dedicado às empresas da indústria extractiva, com cerca de 15 anos de experiência, realizado através de uma equipa multidisciplinar de técnicos (engenharia de minas, geolo-gia, arquitectura paisagística, ambiente, segurança e saúde, economia, qualidade, entre outras) que tem actuado junto das explorações mineiras, com resultados muito positivos.

2. Competências legais do responsável e do

director técnicoÀ luz da legislação vigente existem exigências e competên-cias para o Responsável Técnico das pedreiras e para o Di-rector Técnico das minas que se apresentam nos Quadros 1 e 2.

Das competências legais atribuídas ao Responsável Téc-nico e ao Director Técnico destaca-se a responsabilidade de gerir tecnicamente as pedreiras e as minas, respec-

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Indústria Extractiva

tivamente, de dar cumprimento ao Plano de Pedreira e ao Plano de Mina1, respondendo solidariamente com o explorador ou concessionário pela execução dos trabalhos constantes daquele documento. Atendendo ao conteúdo do Plano de Pedreira e do Plano de Mina exigido pela le-gislação e pelas entidades da tutela, as competências técni-cas estendem-se a questões de segurança, de ambiente e de responsabilidade social.

Neste contexto, a necessidade dos Responsáveis/Directo-res Técnicos se apoiarem em técnicos especializados nas diversas áreas de actuação é essencial para que os traba-lhos de exploração possam ser realizados no cumprimento dos projectos aprovados e da legislação vigente, respeitan-do os valores ambientais e sociais.

Para o desempenho adequado das suas competências, tan-to o Responsável Técnico, como o Director Técnico, de-vem efectuar actividades de acompanhamento técnico a vários níveis, desde o cumprimento das exigências legais, às actividades de exploração e beneficiação do minério, à segurança e ao ambiente, no respeito pelos quatro princí-pios da Engenharia de Minas:

1 Nome vulgarmente utilizado para designar o processo da mina constituido pelo plano de lavra, pelo plano de recuperação, entre outros

► Segurança

► Economia

► Bom aproveitamento do recurso mineral

► Respeito pelo ambiente

No âmbito das acções de acompanhamento técnico, rea-lizadas pelo Responsável/Director Técnico devem existir registos e evidências do cumprimento das competências legais e outras que lhes estão atribuídas. A elaboração de relatórios técnicos, na sequência de auditorias internas ou de inspecções, é fundamental para dar a conhecer à gestão das empresas as falhas ou lacunas existentes, de modo a que possam ser tomadas medidas com vista à sua resolu-ção. Estes registos e evidências são também importantes como prova de que os técnicos estão a cumprir as suas fun-ções e a fazer cumprir os projectos aprovados.

3. Actividades de Acompanhamento Técnico

O acompanhamento técnico de uma pedreira ou mina, a céu aberto ou em subterrâneo, possui especificidades de acordo com a unidade extractiva em causa. As principais actividades de acompanhamento técnico podem ser divi-didas nos seguintes grupos:

Quadro 1 – Principais exigências e competências legais do Responsável Técnico de pedreiras.

Instrumentos Principais Exigências e Competências

Decreto-Lei n.º 270/2001(de 6 de Setembro)

alterado e republicado pelo Decreto-Lei n.º 340/2007

(de 12 de Setembro)

► Possuir diploma de curso do ensino superior em especialidade adequada reconhecida pela Direcção Geral de Geologia e Energia (DGEG);

► Termo de Responsabilidade Técnica para a unidade extractiva; ► Responde solidariamente com o explorador pela execução do Plano de Pedreira

aprovado; ► Formação específica em explosivos no caso da unidade extractiva utilizar explosivos

nos desmontes; ► Responsabilidade técnica limitada a três pedreiras de classe 11 ou nove da classe 22

(uma pedreira de classe 1 equivale a três de classe 2); ► Elaboração do Relatório Técnico Anual da exploração.

Decreto-Lei n.º 162/90(de 22 de Maio)

► Autorizar as pessoas que procedem ao transporte, armazenagem, distribuição e devolução dos produtos explosivos não utilizados;

► Autorizar a utilização no mesmo furo de mais do que um cartucho escorvado; ► Integrar e presidir às Comissões de Higiene e Segurança em pedreiras com mais de 50

trabalhadores.

1 Pedreira de classe 1 – área igual ou superior a 25 ha.2 Pedreira de classe 2 – pedreiras subterrâneas ou mistas e as que, sendo a céu aberto, tenham uma área inferior a 25 ha, excedam os 5 ha, ou

os 10 m de profundidade, ou as 150 000 t/ano de produção, ou os 15 trabalhadores, ou recorram à utilização, por ano, de mais de 2000 kg de explosivos no método de desmonte.

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Indústria Extractiva

Acompanhamento Administrativo

Tem como objectivo garantir a existência das licenças e de-mais documentação exigidas por Lei nas várias áreas, das quais se destacam:

a) Actividade mineirab) Uso de explosivosc) Estabelecimentos industriaisd) Construçõese) Domínio hídricof) Depósitos de combustívelg) Equipamento de trabalhoh) Segurança i) Ambiente e gestão de resíduosj) Qualidade e Marcação CE

Acompanhamento da Exploração

Ao nível do acompanhamento da exploração devem ser verificados e controlados os seguintes aspectos principais:

a) Áreas de escavação e faseamentos de lavrab) Dimensões das frentes de desmontec) Localização e dimensão das escombreiras e barra-

gens de rejeitados (aterros / instalações de resíduos)d) Acessos e vias de circulaçãoe) Sistemas de drenagem e esgotof) Dimensionamento e operacionalidade dos equipa-

mentos móveisg) Dimensionamento e operacionalidade dos equipa-

mentos de beneficiaçãoh) Condições das instalações de apoio (escritório, ofici-

na, armazéns, paiol, etc.)i) Localização e dimensão dos parques de produto

Quadro 2 - Principais exigências e competências legais do Director Técnico de minas.

Instrumentos Principais Exigências e Competências

Decreto-Lei n.º 88/90(de 16 de Março)

► Possuir diploma de curso do ensino de especialidade adequada, podendo ser exigida a formação universitária no ramo de Engenharia de Minas;

► Ter idoneidade técnica e disponibilidade, reconhecidas pela DGEG, para o desempenho do cargo;

► Ter obrigatoriamente residência na área da mina quando a sua exploração empregue mais de 50 trabalhadores ou sempre que a DGEG o entenda por razões técnico-económicas;

► Dar assistência efectiva aos trabalhos; ► Termo de Responsabilidade Técnica para a unidade extractiva; ► Dirigir os trabalhos de exploração em cumprimento do Plano de Mina aprovado.

Decreto-Lei n.º 162/90(de 22 de Maio)

► Nomear as pessoas a afectar à vigilância dos poços de extracção; ► Visar o livro de registos dos exames realizados nos poços de extracção; ► Autorizar a circulação simultânea de pessoal e materiais nas vias de circulação, no caso

dos trabalhos subterrâneos; ► Dimensionar a suspensão e ancoragem das plataformas de trabalho na abertura ou

aprofundamento de poços; ► Autorizar modificações no sistema geral de ventilação sempre que necessário, nos

trabalhos subterrâneos; ► Autorizar as pessoas que procedem ao transporte, armazenagem, distribuição e

devolução dos produtos explosivos não utilizados; ► Autorizar a utilização no mesmo furo de mais do que um cartucho escorvado; ► Integrar e presidir às Comissões de Higiene e Segurança em minas com mais de 50

trabalhadores.

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Indústria Extractiva

Acompanhamento Geomecânico

Existe necessidade do acompanhamento geomecânico dos trabalhos que deve incidir sobretudo sobre os seguintes aspectos:

a) Estabilidade dos trabalhos (frentes de desmonte, ga-lerias, poços, taludes, acessos, etc.)

b) Estabilidade das escombreiras e das barragens de re-jeitados (aterros / instalações de resíduos)

c) Estabilidade das pilhas de produtos

Acompanhamento da Segurança

No que respeita à segurança e saúde no trabalho devem ser vigiados e controlados os seguintes aspectos principais:

a) Procedimentos de segurançab) Sinalização de segurançac) Equipamentos de protecção colectivad) Equipamentos de protecção individuale) Vedaçõesf) Condições de trabalhog) Primeiros socorrosh) Sistemas de emergência e de combate a incêndiosi) Instalações sociais e de higiene (sala de refeições, sa-

nitários, vestiários, etc.)j) Controlo do ruído e concentração de poeiras e das

vibrações nos locais de trabalho

Acompanhamento Ambiental

No que concerne ao acompanhamento ambiental os prin-cipais aspectos a analisar e a controlar são os seguintes:

a) Qualidade do ar com monitorização junto dos re-ceptores sensíveis mais próximos

b) Ambiente sonoro com monitorização junto dos re-ceptores sensíveis mais próximos

c) Vibrações com monitorização junto dos receptores sensíveis mais próximos

d) Contaminação dos solos e das águase) Gestão de resíduosf) Paisagemg) Auscultar a população vizinha e gerir reclamações

4. Experiência da VISA ConsultoresA experiência dos serviços de acompanhamento técnico da VISA Consultores no apoio aos Responsáveis Técnicos das pedreiras ou aos Directores Técnicos das Minas é vasta e tem sido realizada há mais de 15 anos, com recurso a equipa multidisciplinar, quer de uma forma integrada, no apoio nas várias áreas de actuação mencionadas, quer ao nível do diagnóstico, optimização ou melhoria de aspectos específicos.

As acções desenvolvidas no âmbito do acompanhamento técnico abrangem todas as actividades apresentadas no ca-pítulo anterior, sendo realizadas com recurso a visitas téc-nicas periódicas às explorações, cuja periodicidade é fun-ção das características da unidade extractiva (dimensão, tipologia, período de laboração, etc.). Das visitas resultam relatórios de acompanhamento técnico que são remetidos ao Responsável/Director Técnico, ou à empresa, dos quais consta um conjunto de recomendações devidamente clas-sificadas em função da prioridade de actuação.

No âmbito dos trabalhos de acompanhamento técnico são também remetidas comunicações sobre legislação, normas, eventos e artigos técnicos relativos a temas rela-cionados com a indústria extractiva. É ainda dado apoio no âmbito do preenchimento dos Programas de Trabalho, Relatórios Técnicos e Boletins Estatísticos, bem como de outros formulários exigidos por Lei.

No início de cada ano é elaborado um cronograma anual das actividades para cada unidade extractiva, contemplan-do aspectos administrativos, de exploração, de seguran-ça e de ambiente, incluindo os trabalhos de recuperação paisagística previstos. Neste documento são listadas as principais acções a realizar durante o ano com base nas exigências legais, nos projectos aprovados, nos relatórios de acompanhamento técnico, nas políticas das empresas, etc. A todas as acções elencadas é atribuído um responsá-vel pela sua implementação. O cronograma anual de ac-tividades é realizado em conjunto com a empresa e com o Responsável/Director Técnico, sendo revisto durante o ano, sempre que se julgue necessário.

De modo a poder avaliar-se o desempenho das explorações é efectuado, anualmente, um diagnóstico de enquadra-mento legal que permite avaliar o cumprimento de cada unidade extractiva ao nível administrativo, de exploração, de segurança e de ambiente, daí resultando uma classifica-ção global para cada um dos temas. A comparação da clas-sificação de dois anos seguidos permite avalizar a evolução da unidade extractiva. Esta ferramenta tem-se revelado de grande utilidade para caracterizar o desempenho das uni-dades extractivas e planear as acções de melhoria.

Os resultados obtidos com o acompanhamento técnico realizado pela VISA Consultores em empresas do sector extractivo são bastante positivos. As principais acções realizadas e os principias benefícios obtidos para as em-presas, nas várias áreas de actuação, são apresentados no Quadro 3.

5. Considerações finaisO acompanhamento técnico das unidades extractivas é fundamental, devendo ser realizado pelos Responsáveis/Directores Técnicos e sempre que necessário com apoio de especialistas internos ou externos nas várias áreas (admi-nistrativa, exploração, segurança e ambiente).

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Indústria Extractiva

Para apoio às empresas e aos Responsáveis/Directores Téc-nicos a VISA Consultores possui uma equipa multidisci-plinar com mais de 15 anos de experiência na assessoria técnica ao sector extractivo. Os serviços de acompanha-mento técnico da VISA Consultores têm vindo a contri-buir para a melhoria do desempenho das unidades extrac-tivas assessoradas. O desempenho é avaliado anualmente

através da elaboração de um diagnóstico, no qual são atri-buídas classificações nas áreas administrativa, exploração, segurança e ambiente. A evolução das classificações ao longo dos anos permite monitorizar o desempenho, que se tem revelado muito positivo.■

Quadro 3 - Principais acções e melhorias registadas no âmbito dos trabalhos de acompanhamento técnico realizados pela VISA Consultores.

Área Principais Acções Principais Benefícios

AdministrativaCumprimento da legislação e organização da do-cumentação para fácil consulta e apresentação às entidades fiscalizadoras.

Evitar coimas decorrentes de acções de fiscalização.

Exploração

Optimização dos desmontes, dos trajectos inter-nos, dos processos de beneficiação do minério, gestão e optimização da deposição dos escombros ou rejeitados, e do parque de produtos, e cumpri-mento do Plano de Pedreira e do Plano de Mina.

Redução de custos nos desmontes, no transporte, na beneficiação, entre outros.

Segurança

Acções ao nível da estabilidade dos desmontes, deposição dos escombros ou rejeitados, melhoria da sinalização, das medidas de protecção colectiva, das instalações sociais e de higiene, sensibilização para o uso dos equipamentos de protecção indivi-dual, definição e implementação de planos de pre-venção, incluindo o de emergência, e realização de acções de sensibilização.

Evitar a ocorrência de acidentes de tra-balho e o aparecimento de doenças pro-fissionais.

Ambiente

Controlo ambiental das explorações, especialmen-te, ao nível da qualidade das águas, da qualidade do ar, do ambiente sonoro e das vibrações, entre outros.

Evitar danos Ambientais, actuação em tempo útil e ausência de reclamações.

Legislação

Decreto-lei n.º 88/90, de 16 de Março (1990) “Aprova o regime de aproveitamento de depósitos minerais naturais”. Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa.

Decreto-lei n.º 162/90, de 22 de Maio (1990) “Aprova o regulamento geral de higiene e segurança no trabalho nas minas e pedreiras”. Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa.

Decreto-lei n.º 270/2001, de 6 de Outubro (2001) “Aprova o regime jurídico da pesquisa e exploração de massas minerais – pedreiras”. Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa.

Decreto-lei n.º 340/2007, de 12 de Outubro (2007) “Altera o Decreto-Lei n.º 270/2001, de 6 de Outubro, que aprova o regime jurídico da pesquisa e exploração de massas minerais – pedreiras”. Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa.

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Indústria Extractiva

As fontes de Lítio em Portugal

A. M. C. Lima, R. C. Vieira, T. Martins & F. NoronhaCentro de Geologia, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto

IntroduçãoO Lítio é um metal estratégico para o século XXI. A sua aplicação na actualidade vai desde a utilização em pastas cerâmicas e vidreiras até à tecnologia mais avançada em termos de geração ou armazenagem de energia, passando pela fabricação de lubrificantes, produção farmacêutica, ar condicionado, e ainda na produção de ligas leves para utilização na indústria aeroespacial. Existe uma aplicação que vai aumentar de modo especial, num futuro próximo, pois a substituição do parque automóvel actual por auto-móveis híbridos e eléctricos (não esquecendo o mercado crescente de bicicletas/motos eléctricas), juntamente com o crescente armazenamento de energia em baterias gi-gantes para resolver vários problemas de continuidade de

fornecimento de energia, irá provocar uma procura ex-trema de Lítio (Fig. 1). Por último, será ainda estratégico num futuro a médio/longo prazo, pois o Lítio será um dos combustíveis da energia Nuclear do futuro.

Na actualidade cerca de um quarto das reservas de Lítio mundiais têm origem em pegmatitos litiníferos. Os mi-nerais de lítio mais comuns nesse pegmatitos são silicatos como a espodumena, a petalite e a lepidolite. Um quarto da produção de espodumena tem como finalidade a trans-formação em Carbonato de Lítio, composto essencial para a produção de Li metal. Estes números são demonstrativos do valor dos pegmatitos com Lítio, mas principalmente daqueles em que o minério é a espodumena.

Fig. 1 Evolução do consumo de Lítio, separado por tipo de indústria, nos tempos mais próximos (adaptado de Anderson, 2009).

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Indústria Extractiva

O Lítio em PortugalEm Portugal, considerado um dos 10 maiores produtores a nível mundial de Lítio, este ocorre em pegmatitos que possuem um ou mais das seguintes fases minerais: espo-dumena, petalite, lepidolite e montebrasite-ambligonite (Lima et al. 2010). A ambligonite foi o primeiro minério a ser explorado em Portugal, num período curto dos anos 20 e 30 do século passado. Posteriormente desde os anos 70 entrou em grande produção a lepidolite, que no futuro poderão vir a ser suplantados em volume extraído pelos pegmatitos com petalite e/ou espodumena. A não ser no primeiro caso relatado, a principal aplicação do Lítio tem sido as Indústrias Cerâmica e Vidreira, onde são há muitos anos reconhecidos os seus benefícios, principalmente pelo facto da presença do Li implicar abaixamento do ponto de fusão das pastas utilizadas nestas Indústrias.

A espodumena é uma piroxena de Lítio descrito pela pri-meira vez em Portugal em Gelfa (Esposende) por Assun-ção (1954). Esta, que por vezes é abundante quer com ori-gem primária quer secundária, pode ocorrer em cristais centimétricos ou milimétricos. Foi entretanto descrita nos campos aplitopegmatíticos Seixoso-Vieiros (Maijer, 1965), do Barroso-Alvão (Noronha & Charoy, 1991; Charoy et al. 1992; Lima, 2000; Martins 2009), da Serra de Arga (Gomes 1994), Almendra-Barca d’Alva (Vieira 2010), Gonçalo (Fa-rinha Ramos, 1998) e Pega (Sabugal) (Silva et al., 2007), e ainda Arcozelo da Serra, Gouveia (Neiva et al. 2007).

A petalite será dos minerais de Lítio mais abundantes. A ocorrência de petalite como fase litinífera dominante dos filões aplitopegmatíticos pode ser muito expressiva. Geral-mente podemos observar dois tipos de petalite: uma pri-mária de dimensões centimétricas, característica dos filões dominantemente petalíticos; e uma mais tardia micros-cópica, como fase acessória dos filões com espodumena dominante. Ocorre ainda tipicamente em cristais de di-mensões razoáveis (até métricas) nas partes mais internas dos pegmatitos zonados, em associação com o quartzo e a microclina. As ocorrências de petalite em Portugal estão descritas em locais como os campos aplitopegmatíticos da Serra de Arga (Gomes 1994), do Barroso-Alvão (Lima, 2000; Martins, 2009), Gonçalo (Ramos, 1998), Almendra--Barca d’Alva (Vieira 2010), Queiriga (Puga et al., 2003) e Seixoso-Vieiros (Lima et al. 2009).

A lepidolite encontra-se geralmente associada a granitos evoluídos, a corpos aplitícos e pegmatíticos. É habitual-mente considerada de origem metassomática, quer através da substituição de biotite ou moscovite ou reacção entre feldspato potássico ou aluminossilicatos de Lítio e fluidos ricos em Li e Al. Mas também pode ser um produto de cristalização directa de um magma residual, embora esta situação seja menos frequente. Em Portugal a lepidolite foi descrita em diferentes campos aplitopegmatíticos. O mais conhecido, de maiores dimensões e com mais importân-cia em termos económicos localiza-se em Gonçalo-Seixo

Amarelo, Guarda (Farinha Ramos, 1998). Também está descrita lepidolite em Serra de Arga (Gomes, 1994), no campo aplitopegmatítico do Barroso-Alvão (Charoy et al. 1992; Martins 2009), na Argemela (Charoy & Noronha 1996), no campo Almendra-Barca d’Alva (Charoy & Noro-nha, 1999; Vieira 2010) e ainda em Segura (Antunes et al. 2007) bem como em Arcozelo da Serra (Gouveia) (Neiva et al. 2007) e ainda Pega (Sabugal) (Silva et al., 2007).

A solução sólida ambligonite–montebrasite é habitual em pegmatitos ricos em Lítio, quer como fases primárias tardias, quer como fases secundárias. Ocorre em cris-tais pequenos e bem formados, prismáticos a colunares, mas também pode aparecer em massas nodulares. A sua grande densidade é também um factor distintivo de ou-tras fases minerais. Em Portugal são conhecidas diversas ocorrências na sua maioria montebrasite, como são exem-plos Seixo Amarelo-Gonçalo (Farinha Ramos, 1998) e Pega (Silva et al., 2007), na Argemela (Charoy & Noronha 1996), de Seixoso-Vieiros (Maijer 1965; Lima et al. 2009), de Serra de Arga (Gomes, 1994), de Barroso-Alvão (Lima 2000; Martins, 2009), de Segura (Antunes et al., 2007), e de Almendra-Barca d’Alva (Vieira 2010). No caso de Mas-sueime, as massas de ambligonite, segundo Garção (1927) chegavam a ter meia tonelada nos filões pegmatíticos des-tas minas de exploração subterrânea.

O exemplo do campo aplitopegmatítico Barroso-Alvão

Este campo apresenta todos os minerais de Lítio descritos para Portugal. Apesar do seu potencial estar longe de estar totalmente esgotado, são já conhecidas grandes reservas, as maiores de Portugal em filões de petalite e espodumena. Só em dois dos filões sondados pelo então IGM (Instituto Geológico e Mineiro) estão definidos mais de meio milhão de toneladas com teores largamente superiores a 1% de Li2O (Farinha & Lima 2000).

Os valores de Lítio encontrados nas muitas concessões mineiras entretanto já atribuídas na região devem ser pensados em algumas situações como possíveis fontes de Carbonato de Lítio para a Indústria Química e não mera-mente como matéria-prima para a Indústria Cerâmica e Vidreira. Essa situação é mais evidente para os filões mine-ralizados em espodumena, onde a sua separação já se pro-vou ser tecnicamente viável pelos trabalhos de Amarante et al. (2004). No que diz respeito aos filões com petalite, eles deverão ser considerados como os mais apropriados (baixo teor em ferro e outros contaminantes) para a Indús-tria Cerâmica e Vidreira, desde a telha comum até ao vidro plano, devido às reservas extensas em filões deste mineral.

O aumento de reservas nesta região passará por uma cam-panha de sondagens que avalie muitos dos filões minerali-zados, ainda não testados em profundidade. Infelizmente o projecto METALI - Valorização de recursos minerais

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Indústria Extractiva

críticos na Ibéria como contributo para a competitividade e desenvolvimento regional: Lítio metálico, submetido o ano passado ao Programa POCTEP, que previa prospec-ção nesta região não foi aprovado. Resta o eventual in-vestimento privado das Empresas para salvaguardar este Recurso Mineiro de Portugal, também ameaçado pelo re-centemente aprovado conjunto de Barragens a construir na bacia do Alto Tâmega.

Conclusões Actualmente em Portugal já existem explorações de apli-topegmatitos com Lítio para a Indústria Cerâmica e Vi-dreira, em filões onde a lepidolite, a espodumena e a pe-talite são dominantes. Contudo a utilização das reservas certas de teor superior a 1% de Li2O nos filões ricos em espodumena na região do Barroso-Alvão, deverá ser já encarada como sendo de minérios de Lítio possivelmen-te convertível em Carbonato de Lítio. Apesar de haver já reservas significativas dentro das concessões mineiras já atribuídas, é necessário realizar trabalhos de prospecção em áreas de todas as regiões referidas, como actualmente está a acontecer na vizinha Espanha por empresas priva-das, com campanhas de sondagens extensas já a decorrer.

De facto na actualidade do mercado Mundial, apesar das principais fontes de Lítio serem salmouras litiníferas, a espodumena é ainda um minério de Lítio nomeadamen-te na China, Austrália e Brasil e voltará a ser muito pro-ximamente nos EUA, Canadá e Rússia. Na Europa (cuja Comunidade Europeia em Julho de 2010 preocupada com a dependência externa das suas Indústrias em termos de matérias-primas publicou o estudo “Critical raw materials for the EU” onde o Lítio está largamente referido), está prevista entrar proximamente em laboração na Finlândia a primeira mina de Lítio para a obtenção do metal a partir da espodumena. Refira-se que os teores de Lítio e as re-servas são equivalentes às já identificadas em Portugal na região do Barroso-Alvão, pelo que no nosso país se deve também estudar e fomentar a utilização das suas melhores reservas na obtenção de Carbonato de Lítio.

Esta Indústria Mineira a céu aberto, para além de ser pra-ticamente não poluente quando comparada com a antiga Indústria Mineira do passado em Portugal, terá a caracte-rística de ser limitada no espaço físico e temporal e sendo associada a uma Indústria transformadora do Lítio a de-senvolver nas mesmas regiões do interior (das mais pobres do País e da Europa) poderá até ser considerada como uma das soluções para ajudar à paragem da desertificação po-pulacional e industrial nestas regiões.■

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Indústria Extractiva

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«Frente de Exploração de Areia»Fotografia: João Meira, 2011

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Indústria Extractiva

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Indústria Extractiva

Análise de intensidades de vibração, medidas numa capela situada nas imediações de uma pedreira da MOTA-ENGIL, em Vila Franca de XiraPedro BernadoSEC/ISTAlberto MendesMota EngilAntonio VieiraMota EngilFernando SilveiraMota Engil

ResumoPretende-se analisar um conjunto de valores de amplitudes de vibração, medidas numa capela, situada em Trancoso, nas imediações de uma pedreira da Mota-Engil (em Vila Franca de Xira), as quais foram obtidas ininterruptamente, durante um período superior a um mês.

Esta campanha de monitorização insere-se, em termos do parâmetro analisado (vibrações propagadas nas imedia-ções de desmontes de rocha com explosivo), no âmbito de anteriores trabalhos (sistemáticos) de caracterização dinâ-mica, levados a cabo na mesma região.

Assim, com base nos valores medidos, por sismógrafo de Engenharia, devidamente calibrado, o qual cumpre as especificações da Normalização em vigor (NP2074), são estabelecidas as correlações possíveis entre os valores me-didos e os que terão origem nas actividades de desmontes de rocha com explosivo na referida pedreira. Por subtrac-ção (em complemento), identificam-se os eventos que terão tido origem em outras fontes vibratórias, causando o registo de eventos dinâmicos, pelo mesmo sismógrafo. Por último, são analisados alguns aspectos particulares de degradação, verificados na estrutura monitorizada, procu-rando as suas correlações com as vibrações medidas neste período.

Para o efeito, serão:

► analisadas, comparativamente, a localização geográfica da pedreira, face à da capela, concluindo acerca da gama de distância verificada,

► fornecidos, de forma resumida, todos os dados recolhi-dos pelo sismógrafo, instalado no período e no local assinalado e fornecido um exemplo concreto e repre-sentativo de relatório do aparelho,

► identificados e caracterizados todos os desmontes efec-tuados na pedreira, durante o período em que decorre esta campanha de monitorização e fornecido um exemplo concreto e representativo de uma guia de re-messa de todos os materiais explosivos entregues na pedreira,

► analisadas as situações de sobreposição entre as ante-riores e comentados os resultados de acordo com a le-gislação em vigor e as sobreposições detectadas

► apresentados alguns aspectos de degradação (visíveis) na estrutura monitorizada (capela)

► comentados estes resultados em conjugação com as an-teriores sobreposições analisadas.

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Indústria Extractiva

Localização geográficaA capela monitorizada situa-se na localidade de Trancoso de Baixo, na freguesia de São João dos Montes (pertencen-do ao Concelho de Vila Franca de Xira). A sua localização, relativamente às localidades mais próximas (em que se inclui a vila de Arruda dos Vinhos) e à localização da pe-dreira, está ilustrada nas fotos aéreas (Fig 1), a partir das quais é possível estimar a distância aos limites da pedreira em análise.

Dados recolhidos pelo sismógrafo de Engenharia instalado na capela

A determinação das propriedades dinâmicas dos maciços onde detonam explosivos, recorrendo aos registos de vi-brações e posterior tratamento dos respectivos dados, pos-sui uma dupla finalidade: a caracterização propriamente dita dos tipos e rocha presentes e a utilização desses dados na previsão dos mecanismos de propagação das vibrações pelo terreno. Assim, é fundamental obter, a partir de regis-tos de vibrações, os parâmetros que permitem a análise das vibrações, a velocidade vibratória e a frequência.

A obtenção desses dados experimentais (trabalhos de cam-po) é feita através de sismógrafos de Engenharia dotados de geofones com múltiplos sensores (triaxiais), apropria-damente localizados no terreno em relação à geometria do desmonte. Após cada detonação, os diversos geofones recebem os impulsos sísmicos em diferentes instantes, registando-os.

Os movimentos induzidos pelas detonações ao terreno podem ser descritos por três componentes ortogonais, habitualmente designados por: “L” (longitudinal, isto é, na direcção definida pela recta horizontal que passa pelos pontos de detonação e de registo), “T” (transversal, per-

pendicular à anterior) e “V” (vertical, perpendicular aos anteriores).

Neste caso, conforme foi anteriormente referido, instalou--se um sismógrafo de Engenharia, devidamente calibrado, cumprindo as especificações da Normalização em vigor (NP2074). Tal aparelho permite obter relatórios do tipo do que é ilustrado em seguida (Fig 2), nos quais, de acordo com a legislação em vigor (NP 2074), interessa fundamen-talmente consultar o valor do PVS (Peak Vector Sum, ou seja, a soma vectorial máxima, dos valores obtidos nas três componentes antes identificadas, que ocorre no evento, medida em mm/s).

Assim, durante o período em que decorreu a campanha de monitorização, foram registados todos os eventos, que constam da tabela seguinte, os quais tiveram origem em fontes vibratórias diversas, nem sempre identificáveis ou perceptíveis, mas sistematicamente registados pelo apare-lho.

É possível (e conveniente) verificar, na tabela anterior, que o conjunto dos valores registados, apresenta os seguintes parâmetros estatísticos básicos, relativamente ao parâme-tro de interesse (o PVS):

► registos obtidos = 84 (eventos vibratórios)

► valor médio (PVS) = 1,12 mm/s

► valor máximo (PVS) = 29,9 mm/s

► valor mínimo (PVS) = 0,25 mm/s

► valores acima da percepção humana (que é de aproxi-madamente 0,3 mm/s) = 62 (73,8% do total)

► valores acima de 10mm/s (que é o limite legal - Tabela 2 - a que podem ser submetidas estruturas correntes, fundadas em terrenos de competência média) = 2 (2,3% do total)

Fig 1 – Localização da capela (3ª imagem – ponto A, de coordenadas 38.953573, -9.072202)

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Identificação e caracterização dos desmontes na pedreira, no período

em estudo:Durante o período em que decorre este estudo (10 de Maio a 15 de Junho de 2010) verificaram-se 7 desmontes na pe-dreira, situação que se comprova pela análise da imagem seguinte, fornecida pela empresa fornecedora de explo-sivos à pedreira, situação que é acompanhada pelas enti-dades policiais, quer à saída da fábrica dessas substâncias, quer no transporte e entrega das mesmas na pedreira.

É de salientar que esta pedreira é fornecida no regime do consumo diário, ou seja, só pode efectuar desmontes nos dias que recebe explosivo, não sendo possível o armazena-mento destes materiais, para disparo em dias posteriores. As situações em que a coluna do PESO TOTAL (que cor-responde à quantidade de explosivo entregue na pedreira) não está preenchida, como acontece no dia 26/05/2010, não se efectivaram as entregas, pelo facto de as respectivas encomendas terem sido anuladas.

Nessa lista, podem ser verificados os dias em que ocor-reram desmontes na pedreira. A Tabela 3 permite o cruzamento de informação com a Figura 2 (pela hora

aproximada a que ocorre) e ainda caracterizar cada des-monte, em termos dos seus parâmetros essenciais, em que se inclui a carga máxima por retardo, que é a que mais afecta o valor da vibração medido.

Por análise da tabela anterior, confirmam-se os valores das cargas explosivas (máxima por retardo e total, por desmonte) já apresentados no relatório anterior (do signa-tário, em 17/12/2009 e 03/02/2010), os quais são relativa-mente baixos, quando comparados com as demais pedrei-ras existentes no nosso País.

Análise das situações de sobreposição (temporal) dos

desmontes e dos registos:Cruzando as tabelas 1 e 3 (anteriormente apresentadas), poderemos construir uma outra (Tabela 4), que permite obter o valor das amplitudes correspondentes aos disparos.

Da análise da Tabela 4 pode concluir-se o seguinte:

► todos os desmontes efectuados na pedreira, durante o período de tempo em análise, deram origem a um re-gisto de vibrações na capela, embora as corresponden-

Figura 2 – Exemplo de registo obtido com o Sismógrafo de Engenharia (event report)

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Data (2010)

Hora (h:m:s)

Long (mm/s)

Tran (mm/s)

Vert (mm/s)

PVS (mm/s)

10/05 11:58:58 0,127 0,317 0,254 0,429

10/05 11:59:13 0,127 0,254 0,635 0,635

10/05 12:00:25 0,0635 0,191 0,508 0,508

11/05 12:03:44 0,381 0,826 0,317 0,857

13/05 12:11:12 0,572 0,889 0,572 0,921

14/05 12:14:41 0,127 0,254 0,127 0,286

14/05 12:18:03 0,699 0,953 0,508 1,27

15/05 10:02:19 0,0635 0,191 0,381 0,381

15/05 10:02:31 0,0635 0,191 0,254 0,286

15/05 10:02:57 0,0635 0,127 0,317 0,318

15/05 11:10:23 0,0635 0,317 0,445 0,476

15/05 11:10:39 0,0635 0,191 0,254 0,286

15/05 11:13:16 0,0635 0,191 0,445 0,445

15/05 11:23:56 0,127 0,381 0,699 0,699

15/05 11:24:09 0,191 0,254 0,381 0,413

16/05 8:31:58 0,0635 0,254 0,445 0,476

16/05 8:45:09 0,127 0,254 0,445 0,492

16/05 8:52:21 0,0635 0,127 0,254 0,270

16/05 9:37:59 0,0635 0,254 0,445 0,476

16/05 10:02:24 0,0635 0,191 0,254 0,286

16/05 10:03:59 0,0635 0,191 0,317 0,318

19/05 6:58:29 0,127 0,254 0,317 0,349

19/05 12:14:53 0,317 0,508 0,191 0,524

19/05 12:16:41 0,0 0,127 0,254 0,270

19/05 12:16:58 0,0635 0,127 0,508 0,524

19/05 18:26:19 0,0635 0,191 0,317 0,318

21/05 7:01:49 0,254 0,762 0,508 0,953

21/05 7:02:00 4,06 29,5 5,46 29,9

21/05 12:14:18 0,127 0,635 0,317 0,714

21/05 12:14:52 0,0635 0,127 0,508 0,524

21/05 12:18:36 0,254 0,191 0,191 0,318

21/05 18:15:52 4,32 14,2 22,6 22,7

22/05 18:37:04 0,0635 0,191 0,508 0,524

23/05 8:49:23 0,0635 0,127 0,254 0,270

23/05 10:04:59 0,0635 0,191 0,254 0,254

23/05 17:50:08 0,0635 0,254 0,317 0,318

24/05 21:04:51 0,0635 0,191 0,381 0,397

24/05 21:05:11 0,127 0,191 0,572 0,587

24/05 21:08:30 0,0635 0,127 0,254 0,270

24/05 21:15:35 0,191 0,381 0,889 0,905

24/05 21:15:48 0,0635 0,191 0,381 0,381

24/05 21:17:40 0,0635 0,127 0,254 0,270

24/05 21:20:49 0,0635 0,127 0,254 0,270

24/05 21:25:42 0,0635 0,191 0,254 0,270

24/05 21:28:48 0,0635 0,127 0,254 0,270

24/05 21:31:12 0,0635 0,191 0,254 0,286

24/05 21:32:37 0,0635 0,191 0,317 0,365

24/05 21:34:53 0,0635 0,127 0,317 0,318

24/05 21:42:30 0,0635 0,127 0,381 0,381

25/05 17:49:15 0,0635 0,191 0,254 0,270

26/05 0:49:44 0,191 0,572 0,317 0,619

27/05 13:18:34 0,572 1,08 0,317 1,16

27/05 17:36:21 0,0635 0,317 0,699 0,730

28/05 10:01:11 0,0635 0,254 0,317 0,333

28/05 10:02:19 0,0635 0,191 0,254 0,270

28/05 17:53:57 0,0635 0,254 0,445 0,445

28/05 18:30:56 0,0635 0,254 0,254 0,318

29/05 10:23:32 0,127 0,317 0,635 0,651

29/05 10:23:44 0,0635 0,191 0,381 0,381

01/06 12:52:30 0,191 0,254 0,826 0,857

01/06 12:52:57 1,14 1,02 0,508 1,22

01/06 12:55:49 0,254 0,317 0,254 0,381

01/06 12:56:24 0,0635 0,127 0,254 0,270

01/06 12:56:34 0,635 1,84 0,191 1,94

02/06 18:09:23 0,0635 0,254 0,508 0,540

02/06 18:35:35 0,0635 0,381 0,445 0,540

03/06 8:23:44 0,0635 0,254 0,445 0,460

03/06 8:31:24 0,0635 0,191 0,254 0,270

03/06 8:44:40 0,254 0,445 0,889 0,889

03/06 8:45:26 0,0635 0,191 0,254 0,286

03/06 8:46:44 0,191 0,635 1,02 1,05

03/06 8:48:14 0,0 0,127 0,254 0,254

03/06 9:39:49 0,0635 0,191 0,317 0,318

06/06 6:14:06 0,254 0,572 0,317 0,699

06/06 8:45:41 0,0635 0,254 0,317 0,365

06/06 9:43:17 0,0 0,191 0,254 0,270

12/06 10:55:50 0,0635 0,317 0,445 0,445

12/06 10:57:08 0,0635 0,445 0,572 0,572

13/06 8:31:34 0,0 0,191 0,254 0,270

13/06 8:41:08 0,0635 0,317 0,445 0,445

13/06 8:43:17 0,0635 0,508 0,699 0,714

13/06 9:37:57 0,0635 0,254 0,317 0,381

15/06 10:03:04 0,0 0,508 0,508 0,714

15/06 10:03:33 0,0635 0,445 0,254 0,524

Tabela 1 – Registos obtidos pelo sismógrafo durante o período de monitorização

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Indústria Extractiva

Tabela 2 - Limites estabelecidos na NP 2074, para a velocidade da vibração de pico (mm/s)

Tipos de

construção

Características do terreno

Solos incoerentes; areias e misturas areia-seixo bem

graduadas; areias uniformes; solos coerentes moles e muito moles

Solos coerentes muito duros, duros e de consistência média; solos

incoerentes compactos; areias e misturas areia-seixo graduadas; areias

uniformes

Rocha e solos coerentes rijos

cp < 1.000 m/s 1.000  m/s < cp < 2.000 m/s cp > 2.000 m/s

g = 1,0 g = 0,7 g = 1,0 g = 0,7 g = 1,0 g = 0,7Construções sensíveis 2,50 1,75 5,00 3,50 10,00 7,00Construções correntes 5,00 3,50 10,00 7,00 20,00 14,00Construções reforçadas 15,00 10,5 30,00 21,00 60,00 42,00

Legenda: cp - Velocidade de propagação das ondas sísmicas longitudinais no terreno (rocha ou solo)Nota: se se efectuarem mais de três detonações diárias, em cada situação, a constante g é aplicada no sentido de

reduzir em 30% os valores da velocidade vibratória

Nota relativa ao limite legal

Em Portugal, vigora a Portaria nº 457/83, de 19 de Abril, que ins-tituiu a Norma Portuguesa (NP) nº 2074, intitulada “Avaliação da in-fluência em construções de vibrações provocadas por explosões ou solici-tações similares”, que visa limitar os efeitos nocivos que as vibrações po-dem motivar em estruturas vizinhas aos trabalhos de escavação com ex-plosivos, de cravação de estacas, ou de outros da mesma índole.

Toda a comunidade técnica concor-da em classificar esta norma como muito conservadora, orientada para a protecção de todos e quaisquer

danos nas estruturas, incluindo os cosméticos (como fissuração capilar de estuques), para além dos estru-turais, que raramente ocorrem, já que se previnem sequer os anterio-res. Assim, esta norma (NP2074) estabelece o valor limite para a ve-locidade da vibração de pico, con-forme indicado na tabela seguinte. Aplicando esta norma ao caso em apreço, em que encontramos nas imediações da pedreira estruturas fundadas em maciço rochoso cal-cário, típico da região em análise e que justifica a utilização de substân-cias explosivas na pedreira (para a escavação desse maciço rochoso), de construções correntes e de uma

periodicidade mínima (no máximo, um disparo por dia, típico de tra-balhos de pedreira, mas geralmente inferior), pode ser obtido, da tabela anterior, o valor limite de 20 mm/s, como limite para a velocidade vibra-tória que seria admissível verificar nas fundações desses edifícios próximos. Contudo, admitindo que, nas ime-diações da pedreira, à superfície (onde as estruturas se encontram fundadas), o maciço se apresenta alterado, pode ser considerado, de forma muitíssimo conservadora, o valor limite de 10 mm/s (igualmente assinalado na tabela).

Fig. 3 Lista de fornecimentos à pedreira em apreço (MOTA ENGIL em Vila Franca de Xira)

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Indústria Extractiva

tes amplitudes medidas se encontrem dentro dos inter-valos expectáveis, tendo em conta a análise já elabora-da em relatórios anteriores e o binómio das distâncias e cargas máximas por retardo verificadas, para esta li-tologia (calcário),

► o valor médio da amplitude medida (0,64 mm/s) nesta estrutura (capela) é muito inferior ao que a lei impõe (NP2074 – Tabela 2, PVS =10 mm/s), mais concreta-mente 6% deste, isto é, 16 vezes inferior ao valor limite legal,

► o indicador que relaciona os parâmetros em análise (última coluna da tabela anterior) apresenta-se robusto e tem lógica ser utilizado, na medida em que não varia significativamente a Distância entre os vários registos, nesta campanha. Tal indicador, que tem lógica face ao tipo de litologia presente (calcário), permite atribuir cerca de 0,02 mm/s a cada unidade de massa (kg) de explosivo detonado, o que preconiza a necessidade de disparar 500 kg de explosivo para se obter o valor pre-visto na Lei (ou seja, 10/0,02). Tal situação é impossível de se verificar, nesta pedreira, dadas as reduzidas altu-ras de bancada e diâmetros de perfuração praticados,

conjugados com o sistema de iniciação usado (não eléctrico), o qual obriga a disparar os furos em sequên-cia, não permitindo repetições das temporizações, logo não agravando o parâmetro do desmonte mais impor-tante, aqui analisado (a carga máxima por retardo) e

► finalmente, é possível verificar que a Tabela 1 se re-duz ligeiramente, pela subtracção dos 9 registos (obti-dos em 7 dias) correspondentes aos desmontes ocorri-dos na pedreira (já identificados na tabela anterior), mas ainda assim não se alteram significativamente os parâmetros estatísticos básicos já apresentados a pro-pósito da análise da Tabela 1, ou seja:

Aspectos de degradação da Capela onde foram feitos os registos:

Verificam-se, na estrutura monitorizada (capela) alguns danos que se ilustram nas imagens seguintes.

As fotografias anteriores ilustram danos essencialmen-te cosméticos, ou seja, verificados em revestimentos interiores (argamassas) do edifício e não ocorrendo

Tabela 3 – Parâmetros essenciais dos desmontes levados a cabo no período em análise

Data (2010) Hora* (h:m) Carga máxima por retardo (kg) Carga Total (kg) N.º de furos Altura da bancada (m)

11-05 12:10 39,7 675 17 1213-05 12:20 41,0 575 14 12

14-0512:15 32,1 450 14 1012:20 25,0 350 14 9

2 desmontes - Total = 800 - -19-05 12:15 19,6 275 14 721-05 12:20 31,3 250 8 1027-05 13:20 38,0 950 25 12

01-0612:55 30,2 725 24 1013:00 18,8 450 24 7

2 desmontes - Total = 1175 - -Valores médios 30,6 522 17 10

*Nota: a hora do desmonte indicada é aproximada, pelo que é válida num intervalo de tempo de +/- 5 minutos relativamente à hora real.

Tabela 4 – Resultado do cruzamento (por intermédio da hora) dos valores das Tabelas 1 e 3

Data (2010)Hora do desmonte fornecida pelo

operador de substâncias explosivas* (h:m)

Hora do registo fornecida pelo

sismógrafo (h:m:s)

Q, carga máxima por retardo (kg) PVS (mm/s)

Indicador (quociente: PVS/Q,

em mm/s/kg)11-05 12:05 12:03:44 39,7 0,857 0,02213-05 12:20 12:11:12 41,0 0,921 0,02214-05 12:15 12:18:03 32,1 1,270 0,040

12:20 12:14:41 25,0 0,286 0,01119-05 12:15 12:16:41 19,6 0,270 0,01421-05 12:20 12:18:36 31,3 0,318 0,01027-05 13:20 13:18:34 38,0 1,160 0,03101-06 12:55 12:55:49 30,2 0,381 0,013

13:00 12:56:24 18,8 0,270 0,014 Valores médios 30,6 0,64 0,020

*Nota: a hora do desmonte indicada é aproximada, pelo que é válida num intervalo de tempo de +/- 5 minutos relativamente à hora real.

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Indústria Extractiva

Tabela 5 – Parâmetros estatísticos básicos dos registos (com e sem os desmontes)

Parâmetros estatísticosRegistos

Todos Com desmonte na pedreira Sem desmonte na pedreiraNúmero de registos obtidos 84 9 75Valor médio do PVS (mm/s) 1,12 0,64 1,17Valor mínimo do PVS (mm/s) 0,25 0,27 0,25Valor máximo do PVS (mm/s) 29,9 1,27 29,9Registos acima da percepção humana 62 (73,8%) 6 (66,7% de 9) 56 (74,7% de 75)Registos acima do limite legal 2 (2,3%) 0 (0% de 9) 2 (2,7% de 75)

Fig. 4 – Aspectos da degradação verificados na capela de Trancoso (Vila Franca de Xira)

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Indústria Extractiva

(ou pelo menos não visíveis) em elementos estruturais da estrutura. Por essa razão, não são considerados danos gra-ves (que possam levar a perda da integridade da estrutura), mas antes danos ligeiros, embora exista de facto um custo associado à sua remediação, que passará pela correcção das fissuras verificadas nos materiais de revestimento e posterior pintura.

Os mesmos (danos) sugerem movimentos lentos e pro-gressivos, os quais geralmente se devem a situações de assentamento diferencial, neste caso eventualmente justi-ficados pela existência de um pavimento (neste caso, de calçada) na parte frontal da capela, que não está presente nas traseiras da mesma (situação que aliás se observa na 3ª imagem da Figura 1).

Assim, estas condições diferenciadas de impermeabiliza-ção, podem, por si só, justificar (sazonalmente) a diferen-tes variações do nível freático dos terrenos (a frente e a tardoz do edifico), conduzindo a diferentes capacidades de carga dos mesmos, que conduzem a assentamentos dife-renciais, que são os que mais afectam, deste ponto de vista (cosmético), os edifícios. De facto, tendo sido o ano em curso (nos primeiros meses) muito chuvoso (a um nível que não era verificado nos últimos 30 anos) e muito quen-te nos meses de Verão subsequentes, pode-se ter dado este ano uma amplificação deste fenómeno e feito manifestar (agora) tais efeitos, de forma mais visível.

Comentários finais:Já os estudos anteriores, apresentados sobre as vibrações propagadas a partir da pedreira em análise, antecipavam causas do tipo das anteriormente referidas, geralmente as-sociadas a este tipo de manifestações (fissuras), que aqui se recordam:

a) Expansões diferenciais térmicas (dada a diversidade dos materiais de construção hoje aplicados);

b) Alterações de ordem química nos materiais de cons-trução;

c) Sobrecargas estruturais, devidas à utilização específi-ca de cada fracção da estutura;

d) Variações sazonais de volume (ciclos de expansão/contracção) dos materiais de construção (especial-mente da madeira, quando presente);

e) Fadiga e envelhecimento dos materiais de revesti-mento, aplicados nos pisos e paredes, respectiva-mente;

f) Assentamentos diferenciais da fundação, particular-mente quando varia a capacidade de carga dos ter-renos que a suportam (devido a heterogeneidades litológicas).

De facto, diversos especialistas concordam que os motivos anteriores, individual ou cumulativamente, podem con-duzir à existência de fissuras nas estruturas e/ou nos seus revestimentos.

Salientam-se ainda a propósito da anterior lista, desig-nadamente do 4º tópico (variações sazonais de volume nos diferentes materiais de construção aplicados), alguns pormenores das imagens anteriores (Figura 4), em que são visíveis fissuras a partir de interfaces de materiais de construção diferentes, neste caso pedra (dos nichos) e argamassa de revestimento interior apensa. A idade da estrutura em análise (tal como refere o penúltimo tópico da lista anterior), também não deve ser alheia ao tipo de danos agora analisados, os quais não estão devidamen-te identificados no tempo, sugerindo alguns ser bastante antigos, pela alteração das superfícies opostas das fissuras observadas, cumulativamente, aquando da visita ao local.

Já os efeitos dinâmicos, das vibrações propagadas a partir de desmontes com explosivo, geram tipos de danos distin-tos, cujo mais frequente é o da ocorrência de fendas em forma de “x” (Figura 5), em geral, nas paredes constru-ídas em tijolos cerâmicos, rebocadas e estucadas. Essas fendas são devidas ao facto de o movimento relativo das bases de uma estrutura, originar tensões de tracção, nas diagonais dos paralelogramos, que, ao vencerem a resis-tência dos materiais, causam esses danos.

Ademais, os valores registados nos eventos vibratórios com origem nas actividades da pedreira são muito redu-zidos (em média inferiores a 1 mm/s), para esta distância (cerca de 1.000 m) e não causam preocupação, pois como foi referido estão muitas vezes abaixo do que propõe a nos-sa (conservadora) Lei (em média, 16 vezes abaixo do valor de 10 mm/s). Com efeito, um limite superior de 50 mm/s parece garantir a segurança dos edifícios construídos com uma resistência normal. Certos estudos estatísticos reve-lam até que, mais de 97 % dos casos de dano real estão associados a velocidades vibratórias superiores a 71 mm/s. Segundo esses estudos, 50 % das ocorrências de danos são verificados em construções submetidas a velocidades vi-bratórias da ordem de 137 mm/s.

Assim, presume-se que será o limiar da percepção humana (embora sujeito à susceptibilidade de cada indivíduo, sem-pre muito inferior ao que a Lei propõe para a protecção das

Fig. 5 – Fendas típicas devidas a movimentos sísmicos

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Portugal Mineral | 75

Indústria Extractiva

estruturas) que está na base destas reclamações. De facto, facilmente se pode comprovar que a MOTA-ENGIL:

► leva a cabo acções de monitorização sistemática, das suas operações de desmonte, em termos deste efeito: “vibrações nos terrenos”, quer no dia-a-dia da pedreira (através de Sismógrafos de Engenharia devidamente calibrados por entidade acreditada para o efeito e apro-priadamente localizados nas suas imediações), quer através de estudos técnico-científicos, estabelecendo permanentemente as comparações oportunas com a legislação aplicável (a saber: Norma Portuguesa nº 2074, instituída pela Portaria nº 457/83);

► promove e actualiza constantemente (através das refe-ridas acções de monitorização) uma adequada caracte-rização dinâmica aplicável aos terrenos nas imediações da pedreira, permitindo estabelecer correlações, bas-tante robustas e inquestionáveis do ponto de vista téc-nico, entre as cargas explosivas usadas (máximas por retardo), as distâncias verificadas (entre os pontos de monitorização e desmonte) e a velocidade vibratória previsível (indicador das tensões dinâmicas, transmiti-das pelos terrenos, capazes de causar danos, se (e só se) atingida a gama de valores limite previstos na NP 2074);

► trabalha, nos seus desmontes de rocha, com planos de fogo bem definidos e convenientemente dimensiona-dos (em termos da qualidade, quantidade e distribui-ção – no espaço e no tempo – das substâncias explosi-vas aplicadas), os quais são parte integrante do plano de lavra da pedreira, devidamente licenciada e aprova-da pela tutela (Ministérios da Economia e da Inovação e da Administração Interna);

► usa, nos seus desmontes, as substâncias explosivas e os sistemas de iniciação tecnologicamente mais avança-dos (e que mais recentemente foram desenvolvidos), para mitigar quaisquer efeitos colaterais, em detrimen-to da optimização económica que poderia ser conse-guida, caso esta não fosse a sua principal preocupação; 

► aplica sistematicamente cargas explosivas, que estão intimamente relacionadas com as quantidades de ro-cha a desmontar e que se traduzem em quantidades, geralmente, inferiores a 25 kg por retardo;

► nunca obteve, com as referidas cargas aplicadas por furo e na gama de distâncias a que se situam as proprie-dades vizinhas (mais de 600 metros), amplitudes vibra-tórias capazes de ocasionar danos em quaisquer tipo de estruturas, situação que é comprovada por diversos valores registados, cujas ordens de grandeza estão, ha-bitualmente muito aquém do que a Lei (NP 2074) pro-põe para a protecção de construções.

Para além destas alegações, é ainda oportuno referir, como foi anteriormente assinalado, que a comunidade técnica (da especialidade) reconhece que a legislação em vigor (NP 2074), estabelece, de um modo muito conservador, os valores limite para velocidade da vibração de pico, incor-porando assim um elevado factor de segurança, justificável para a prevenção de danos (sequer) cosméticos nas cons-truções (por exemplo, fissuração dos estuques de revesti-mento interior).■

Page 78: Portugal mineral Nº 3

76 | Portugal Mineral

Indústria Extractiva

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Portugal Mineral | 77

Indústria Extractiva

Problemática da Modelação do Jazigo da Mina do TuelaAna Carina VeríssimoInstituto Superior Técnico

ResumoO presente texto pretende ser uma abordagem geral à pro-blemática da modelação do jazigo da mina do Tuela (Er-vedosa). Este tipo de depósito, associado a granitos espe-cializados em estanho, atravessados por estruturas do tipo stockwork, é de grande heterogeneidade, tornando sensível a sua modelação.

O objectivo da modelação numérica do jazigo é a quanti-ficação do recurso mineral existente para posterior cálculo de reservas minerais (ou técnico-económicamente explo-ráveis).

Abordam-se conceitos gerais sobre a modelação numérica de jazigos e sugere-se a aplicação do método geoestatístico por krigagem para a estimação por blocos a partir de dados de amostragem para o caso de estudo.

IntroduçãoPara viabilizar um projecto de exploração mineira, é ne-cessária a avaliação da quantidade e qualidade de minério que pode ser extraído de maneira a ser economicamente viável.

Assim, torna-se necessária a elaboração de um modelo que reflicta a jazida de forma válida, relativamente às suas características litológicas, estruturais, geométricas, mine-ralógicas, físicas, químicas e ainda o modo como se distri-buem as mineralizações e a sua relação espacial dentro da própria jazida.

O desenvolvimento das ferramentas informáticas per-mite que modelos deste tipo possam ser representados

tridimensionalmente, de uma maneira rápida e rigorosa se existirem dados com quantidade e qualidade suficientes.

O processo de avaliação para a construção de um modelo tridimensional de um depósito tem por base várias pre-missas fundamentais, que incluem o enquadramento ge-ográfico e geológico da área em estudo, a geometria tridi-mensional do depósito mineral, o teor médio do depósito e a distribuição espacial dos teores no seio do depósito. Para além destes factores, existem também possíveis cons-trangimentos políticos, ambientais, técnicos, etc.

Este processo, normalmente termina com uma fase de es-tudo de viabilidade económico-financeira, no qual se pro-cura responder a questões que dizem respeito aos aspectos económico-financeiros da eventual abertura de uma mina. Portanto, o estudo de viabilidade é fundamental para ava-liar se um depósito mineral pode vir ou não a ser conside-rado um jazigo mineral, do qual se pode extrair minério de um modo rentável, ou seja, obtendo-se lucro (CATA-RINO, 2009).

As etapas fundamentais para levar a cabo os procedimen-tos de avaliação e estudo de viabilidade técnico-económica de um depósito mineral estão descritas na Fig. 1

Como se pode verificar na Fig. 1, as primeiras etapas a cumprir em qualquer programa de prospecção mineira consistem no mapeamento e amostragem do depósito mi-neral.

A amostragem pode ser feita directamente através de furos de sondagem ou outros métodos (abertura de trincheiras, poços, canais, galerias, etc.), consoante as especificidades

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Indústria Extractiva

do local ou do objectivo de uma eventual futura explora-ção. Através da amostragem obtêm-se informações sobre os tipos litológicos atravessados e os valores (teores) cor-respondentes à mineralização interceptada ao longo do furo, galeria, etc. O seu objectivo é determinar o tamanho, a forma, a posição e a orientação do corpo mineralizado, e, consequentemente, a distribuição espacial dos seus teores. Esta informação é fundamental para todas as etapas sub-sequentes do processo de avaliação do depósito mineral.

Os valores de mineralização assim obtidos são trabalhados mediante um processo denominado composição, através do qual os valores das amostras são ponderados em con-junto, numa sequência lógica, de modo a representarem uma espessura específica do corpo mineralizado.

A transferência de valores resultantes da amostragem, com um determinado espaçamento entre si, para uma malha geometricamente regular, composta por blocos tridimen-sionais, que representam todo o volume do depósito, é a etapa mais complicada e sensível de todo o processo de avaliação, na medida em que se pretende obter estimativas realísticas para cada um dos blocos, em função do limita-do número de amostras.

Obtemos assim uma representação tridimensional dos blocos mineralizados, definidos por uma função de ex-tensão (ou técnica de extensão), determinando o recurso mineral disponível. Os blocos estimados poderão, ou não, vir a ser sujeitos a uma exploração mineira. A conversão de recurso mineral para reserva mineral (ou de recurso geológico para reserva técnico-economicamente explorá-vel) irá incidir sobre o benefício económico que se poderá obter com a sua exploração. Conhecendo quais os blocos mineralizados que podem ser extraídos de um modo ren-tável, torna-se possível fazer a optimização do processo produtivo, com o objectivo de garantir a recuperação de minério com teores elevados.

Modelo de blocos de uma jazida mineral

Um modelo discretizado em blocos (Fig. 2) é uma re-presentação tridimensional Do depósito mineral onde se procura quantificar os seus aspectos geológicos e técnico--económicos, facilitando desse modo o futuro planeamen-to mineiro (GAMA, 1974).

Fig. 1 - Etapas para avaliação e estudo de viabilidade técnico-económica de um depósito mineral. (adaptado de Barnes, 1980 in Catarino, 2009)

1 - Amostragem

Extenção das amostras aos blocos (criação do inventário mineral)

Funções de extensão / interpolação:1- método dos poligonos;2 - método do inverso da distância;3 - método da krigagem

Composição ponderada das amostras:a) Composição das bancadasb) espessuras ponderadas

Análise económicaa) Estimativa de variáveis e parâmetros:

1 - Custos2 - Preços

b) Cálculo do cash flow inicial:1 - Planeamento de optimização

c)VAL, PB, e TIR de empreendimentod) Análise de sensibilidade da TIRe) Análise probabilística da TIR

Análise estatística:1 - Histogramas2 - Estatística comum3 - Intervalos de confiança

Análise geoestatística:1 - Semi-variogramas2 - Estimativa de erro

Determinação das reservas de minério:a) Projecto do método de exploraçãob) Distribuição de teoresc) Planeamento da produção

Atribuição de coordenadas espaciais (X, Y, Z)

Valores da amostragem

2 - Mapeamento

3 - Composição

4 - Extensão

5 - Reservas

6 - Viabilidade

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Indústria Extractiva

O objectivo primordial que conduz à construção de um modelo de blocos prende-se com a sua posterior utiliza-ção no âmbito do planeamento da futura exploração a céu aberto. Esse planeamento consiste basicamente no estabe-lecimento dos limites da escavação no final da exploração, limites esses relacionados com a máxima rentabilização do jazigo a explorar. Pretende-se então determinar qual a pro-fundidade final, área total e a topografia da superfície da escavação, com base em critérios económicos.

Existem vários tipos de modelos de blocos, porém, o mais utilizado é baseado numa rede de malha tridimensional regular. A cada bloco podem ser atríbuidos dados de índo-le variada. Essa atribuição pode ser feita por meio de várias técnicas interpolativas, das quais se destacam, pelo seu uso generalizado, métodos geoestatísticos (krigagem), Inverso do Quadrado da Distância (IQD) e método dos polígonos.

Os blocos podem ter dimensões uniformes ou variáveis, dependendo de vários factores como por exemplo, o espa-çamento entre as sondagens geológicas efectuadas. Segun-do GAMA (1986b), o tamanho óptimo dos blocos deve estar compreendido entre ½ e ¼ do espaçamento médio entre sondagens. A altura dos blocos corresponde normal-mente à altura das futuras bancadas da exploração.

Um modelo deste tipo pode ser continuamente refinado e aperfeiçoado, à medida que se vão obtendo mais dados, resultantes dos trabalhos que se vão efectuando no local.

Caso de Estudo: Mina do Tuela

Enquadramento Geográfico e Geológico

A mina do Tuela, ou mina de Ervedosa, está localizada na faixa estano-tungstífera de Rebordelo- Murçós, inserida nos Municípios de Vinhais, Macedo de Cavaleiros, Miran-dela e Valpaços, no NE de Portugal, aproximadamente a 400 km de Lisboa.

A área em causa, rectangular e alongada na direcção NW--SE, tem um comprimento de 20 km, por 5,3 km de lar-gura, aproximadamente, resultando numa área total de 109,622 km2.

Para além da mina do Tuela, situam-se nesta faixa as an-tigas minas de estanho e tungsténio de Rebordelo (Tri-gueiriça), de Vale de Pala, de Valvelos e Burras, de Monte Agrochão e de Murçós e ainda de várias ocorrências destes

Fig. 2 Modelo tridimensional de um depósito hipotético discretizado em blocos. (adaptado de Wright, 1990 in Catarino, 2009)

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metais. Refira-se ainda que parte desta faixa já esteve co-berta por 20 concessões mineiras.

A faixa estanho-tungstífera de Rebordelo-Murçós enqua-dra-se na Zona Galiza-Trás os Montes dentro da zona de cisalhamento de Laza-Rebordelo-Agrochão que corta o antiforma de Chaves-Miranda do Douro e nela existem várias mineralizações de Sn-W ligadas a granitos e grani-tóides hercínicos.

O potencial mineiro desta faixa é elevado, sustentado por um ambiente geológico favorável onde se conhecem várias ocorrências de Sn-W, das quais se destaca, pela sua dimen-são, o depósito de estanho de Ervedosa. A propósito, sa-lienta-se que a antiga mina da Tuela produziu, entre 1909 e 1969, cerca de 10.000 toneladas de cassiterite (McCOMBE & COOK, 2009).

A mina da Ervedosa esteve em exploração (estanho) de 1920 a 1969, tendo fechado devido à queda do preço do estanho.

Do ponto de vista petrográfico, na área da mina do Tuela conhecem-se: metassedimentos silúricos (425 Ma); o exo-granito de Ervedosa (357 Ma); endogranito da mina (327 Ma), sendo estes atravessados por estruturas do tipo sto-ckwork e filões de quartzo, do carbónico (Fig. 3).

As unidades económicas da antiga mina subterrânea de Ervedosa, conhecidas por filão Main, filão Cowper e fi-lão Ourth (Fig. 3), mais não são que estruturas tabulares constituídas por zonas de stockwork, localmente verdadei-ras brechas, e folhas de filões de quartzo enriquecidos em cassiterite que ocupam caixas de falha inversas e ao con-junto de falhas, microfalhas e fracturas adjacentes. A falha Main tem comprimento quilométrico, as falhas Cowper e Ourth pluri-hectométrico e a largura das caixas de falha é decamétrica.

A antiga exploração a céu aberto desenvolveu-se nas áreas adjacentes às falhas Main, Cowper e Ourth onde se pro-duziram stockworks e filões quartzosos, falhas e fracturas secundárias endograníticas. Contudo, sobre o Granito de Ervedosa e no alvo Stockwork SW houve a exploração se-lectiva a céu aberto de stockworks de quartzo dentro de metassedimentos.

Segundo McCOMBE & COOK (2009) o Filão Principal (Main Vein) parece ser o melhor potencial em mineraliza-ção de Sn da Mina de Tuela – Ervedosa, em profundidade, podendo ser requeridas sondagens para testar essa premis-sa e, assim, quantificar os respectivos recursos minerais disponíveis. É, pois, no exogranito de Ervedosa que ocorre o seu maior interesse, devido a encontrar-se cisalhado e mineralizado.

Prospecções antigas reconheceram sete tipos de filões ou veios: o Filão Principal (Main Vein), os filões Cowper Branch e Ourth Branch e mais cinco outros grupos de fi-lões, referidos como grupos III a VII.

Modelação Numérica da Mina do Tuela

Dada a elevada heterogeneidade do jazigo em estudo, re-sultante da natureza da mineralização, conforme descrita anteriormente, de veios e filonetes disseminados nos gra-nitos especializados em estanho, torna-se problemática a sua modelação.

A amostragem deverá ser realizada considerando as orien-tações preferenciais dos filões e veios mineralizados, de modo contínuo e com um curto intervalo em profundi-dade em cada amostra, dada a heterogeneidade do jazigo.

Os resultados da amostragem serão, provavelmente, er-ráticos, de elevada variância e com um grande intervalo entre o máximo e o mínimo.

Os compósitos elaborados deverão ter em conta a conti-nuidade espacial em profundidade das amostras, sendo aconselhável a análise variográfica vertical.

O método de estimação numérica por Inverso ao Qua-drado da Distância (IQD) não será o mais adequado a um jazigo deste tipo, uma vez que este método usa uma técni-ca de suavização que pressupõe uma certa continuidade espacial, não sendo aconselhável em casos de transições rápidas entre zonas ricas e pobres de substância útil.

Fig. 3 Geologia da Mina do Tuela (Ervedosa) (adaptado de McCOMBE & COOK, 2009)

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Indústria Extractiva

O método IQD usado nestes depósitos tem a tendência para estimar valores de tonelagem de minério altos e te-ores baixos.

De modo a preservar os máximos e os mínimos da amos-tragem, o método de estimação mais adequado para um depósito deste tipo será, possivelmente o método geoesta-tístico por krigagem.

Este método é especialmente útil na presença de jazigos minerais de alto valor económico e comportamento mui-tas vezes errático (REVUELTA & JIMENO, 1997). Na Fig. 4 ilustra-se a ideia básica da aplicação dos métodos geoes-tatísticos para avaliação de um jazigo mineral.

As técnicas geoestatísticas possuem uma base teórica des-tinada a conferir maior fiabilidade às interpolações, atra-vés da definição do melhor estimador linear não-enviesa-do, que atribui teores aos blocos não amostrados de uma jazida mineral.

Através da krigagem, o estimador pode calcular valores que, em média, são iguais ao valor real da jazida, basean-do-se na hipótese de que o teor é uma variável regionaliza-da, ou seja, que pode apresentar correlação espacial entre os pontos amostrados. Este método permite estimar não só os valores mais prováveis dos blocos intermédios de mi-

nério, mas também, os erros cometidos em tais avaliações (variância da distribuição), podendo desse modo assinalar os locais onde se deve incidir uma possível campanha de prospecção para obter maior fiabilidade (GAMA, 1986a).

Partindo dos dados obtidos nas análises das sondagens, e mediante um estudo acerca do tipo de distribuição que apresentam, a técnica é implementada pela determinação inicial do grau de similaridade dos teores para distâncias crescentes, através do cálculo da função de auto-correla-ção, designada de variograma.

Obtido o variograma são ajustados modelos teóricos, em que é possível estabelecer a distância de influência para além do qual deixa de haver correlação entre os teores ad-jacentes, estabelecendo-se assim uma medida da continui-dade da mineralização, que serve para definir a dimensão óptima dos blocos. Segue-se a fase de krigagem, na qual se processa a estimação pontual (krigagem pontual) ou por blocos (krigagem de blocos), determinando os erros de es-timação dos teores, de modo a quantificar o erro associado à reserva mineral calculada (GAMA, 1986a).

Conhecidas as direcções preferenciais de ocorrência de filões e veios mineralizados, com maior probabilidade de ocorrência de estanho, poder-se-á “impor” essas direcções ao variograma.

Fig. 4 Principais aplicações da geoestatística para a avaliação de um jazigo mineral (adaptado de REVUELTA & JIMENO, 1997).

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Indústria Extractiva

A utilização deste método para a modelação numérica da mina do Tuela poderá ser útil nos seguintes aspectos (RE-VUELTA & JIMENO, 1997):

► Na determinação do tamanho e densidade óptima de amostragem; da área de influência de cada amostra (que pode ser circular, elíptica, esferoidal ou elipsoidal) e na execução do planeamento óptimo de amostragem;

► No conhecimento da natureza da mineralização, isto é, a sua caracterização. A informação que se retira do va-riograma pode indicar a uniformidade, ou não, da mi-neralização;

► Para a aplicação de um estimador imparcial no cálculo do teor de um depósito. O melhor estimador é aquele que origina os resultados mais precisos (menor variân-cia).

ConclusõesPara a elaboração de um modelo numérico de blocos, com vista ao cálculo do recurso mineral disponível da mina do Tuela, e posteriormente à avaliação da reserva mineral existente no local, deverão usar-se de metodologias geos-tatísticas (krigagem), uma vez que se trata de um depósito do tipo stockwork, caracterizado por uma grande variabi-lidade de teores.

É recomendável cartografia geológica em pormenor, de modo a avaliar as direcções preferenciais dos filões e veios mineralizados e ricos em estanho, e sua continuidade es-pacial. A não introdução de informações geológicas preci-sas sobre a compartimentação da jazida, pode conduzir a uma homogeneização errónea da mesma, tornando inváli-da a aplicação desta técnica (GAMA, 1986a).■

Referências BibliográficasCATARINO, B. (2009) – Modelação tridimensional de uma jazida mineral prospectada por sondagens e objectivando a sua

exploração a céu aberto, Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Geológica e de Minas, Instituto Superior Técnico, Lisboa – 82 pp.;

GAMA, C.A.J.V.D. (1986,a) – Evolução dos métodos de cálculo de reservas minerais. Brasil Mineral, nº 28, 36-42 pp.;

GAMA, C.A.J.V.D., et al (1986,b) – Programas para microcomputadores utilizáveis em pequenas e médias empresas do sector mineral. Programa de Desenvolvimento de Recursos Minerais – Pró Minério. Secretaria da Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo – Sicct. São Paulo. 73-77 pp.;

GAMA, C.A.J.V.D (1974) – Modelo computacional de uma exploração mineira. IV Simpósio

Brasileiro de Mineração, Revista “Geologia e Metalurgia”, nº 35, São Paulo. 289 – 324 pp.;

McCOMBE, D.A., COOK, R.B. (2009) - Technical Report on the Rebordelo-Murçós Tin-Tungsten Project, Northern Portugal, Relatório para Mining Technology Investments, LTD., Scott Wilson Mining, 24 pp.;

REVUELTA, M.B. & JIMENO, C.L. (1997) – Manual de Evaluación y Diseño de Explotaciones Mineras; Entorno Gráfico, S.L., Madrid, 705 pp.

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Projecto integrado do núcleo de pedreiras da mata de Sesimbra:

A visão do Promotor, Projectista e Proprietário

Patrícia FaléDirecção-Geral de Energia e Geologia

João MeiraVISA - Consultores de Geologia Aplicada e Engenharia do Ambiente, S.A.

Diogo CaupersCasa da Mesquita - Sociedade Agro-Industrial, S. A.

1. Introdução e enquadramentoNa década de 90 do século passado o Instituto Geológico e Mineiro (actual Laboratório Nacional de Energia e Geo-logia, I.P.) promoveu a elaboração de diversos Estudos In-tegrados de Impacte Ambiental e Recuperação Paisagística (EIARP) para diversos núcleos de pedreiras, em território nacional.

Com esses EIARP’s pretendia-se promover a exploração racional do recurso mineral, garantir a viabilidade técni-co-económica das empresas envolvidas e assegurar a in-corporação de sistemas de protecção ambiental nas activi-dades extractivas.

Os estudos foram acompanhados com Comissões de Acompanhamento, criadas caso a caso, compostas por vá-rias entidades da tutela.

Contudo, a inexistência de enquadramento jurídico para os Estudos Integrados, no âmbito da legislação em vigor em Avaliação de Impacte Ambiental, no então Decreto--Lei n.º 186/90 de 6 de Junho, revisto pelo Decreto-Lei n.º 278/97, de 8 de Outubro, e Decreto-Regulamentar n.º 42/97, de 10 de Outubro, determinou a suspensão de todos os Estudos Integrados realizados.

A entrada em vigor de legislação em matéria de Avaliação do Impacte Ambiental (Decreto-Lei n.º 69/2000, de 3 de Maio), manteve o impasse por não enquadrar juridica-mente os Estudos Integrados.

Entretanto, as alterações introduzidas ao Decreto-Lei n.º 270/2001, de 6 de Outubro, pelo Decreto-Lei n.º 340/2007, de 12 de Outubro, vieram criar a figura do Projecto Inte-grado, que tem como objectivo o racional aproveitamento de massas minerais em exploração e a boa recuperação das áreas exploradas. A elaboração de Projectos Integrados en-contra-se consignada nos termos do Artigo 35.º do diplo-ma mencionado, estando, assim, criado o enquadramento legal para a sua elaboração.

Neste contexto, foi promovido pela Direcção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) o primeiro Projecto Integra-do devidamente enquadrado na legislação vigente. Esse Projecto foi desenvolvido para o núcleo de pedreiras de areia e argila existentes na Mata de Sesimbra.

Este núcleo de pedreiras, composto por quatro pedreiras de areia e três de argila, é um dos mais importantes núcle-os de pedreiras da Área Metropolitana de Lisboa (AML). As explorações de areia são responsáveis por cerca de 40 % do abastecimento da AML e por cerca de 10 a 15 % da produção nacional em agregados arenosos e as explora-ções de argila abastecem as duas fábricas de cerâmica da Península de Setúbal, onde se produzem tijolos para for-necimento do sector da Construção Civil e Obras Públicas da AML e do Sul do País.

As explorações de areia e de argila que actualmente labo-ram na Mata de Sesimbra têm licenças de estabelecimento, anteriores à publicação do Plano Director Municipal de

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Indústria Extractiva

Sesimbra (PDMS)1, ultrapassando as áreas inicialmente licenciadas. Como o regulamento do PDMS não permite ampliações de pedreiras, verificaram-se inúmeras dificul-dades para compatibilizar a actividade extractiva com os instrumentos de gestão de ordenamento do território em vigor.

A exploração de recursos minerais e, acima de tudo, a am-pliação das pedreiras existentes na área, é incompatível com as disposições constantes no regulamento do PDMS, embora já estivessem em laboração e licenciadas à altura da sua publicação.

Com a publicação do Plano Regional de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de Lisboa (PROT-AML)2, foi relevada a importância das jazidas da Mata de Sesimbra ao nível da AML, sendo estabelecida a necessidade de criar uma zona de reserva para a exploração de Areia e de Ar-gila na zona. Contudo, a delimitação dessa área de reserva acabou por não ser concretizada, pelo que a actividade de exploração de areias e argilas na Mata de Sesimbra atraves-sou, nos últimos anos, grandes dificuldades.

Deste modo, em Janeiro de 2000, as empresas explorado-ras, em conjunto com os proprietários dos terrenos, acor-daram com as entidades da tutela a elaboração dos estudos de suporte de um Plano de Pormenor, a promover pela Câmara Municipal de Sesimbra, tendo em vista o ordena-mento dos espaços de exploração, a definição de metodo-logias e regras de exploração, assim como a recuperação paisagística integradas.

A elaboração desse Plano de Pormenor acabou por não ocorrer. No entanto, os trabalhos desenvolvidos foram in-tegrados no Plano de Pormenor da Zona Sul Mata de Se-simbra (PPZSMS), promovido pela Câmara Municipal de Sesimbra onde, para além da possibilidade de implantação de empreendimentos turísticos, foi incluída a gestão das explorações que se inserem na Mata de Sesimbra, com o objectivo de solucionar os problemas de licenciamento e gestão da própria actividade.

O PPZSMS foi aprovado em reunião de Câmara, em 28 de Dezembro de 2007, e em Assembleia Municipal, em 15 de Fevereiro de 2007. A sua publicação veio a ocorrer através da Deliberação n.º 1012/2008, de 7 de Abril, publicada em Diário da República.

A área de implantação do PPZSMS abrange cerca de 5030 ha e no seu interior foram contempladas as áreas de

1 Resolução do Conselho de Ministros n.º 15/98, de 2 de Fevereiro.

2 Ratificado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 68/2002, de 8 de Abril.

exploração de areia e argila existentes, as quais são objec-to de regulamentação e normas próprias para integração e convergência com as restantes propostas do PPZSMS.

Neste âmbito, o Projecto Integrado do Núcleo de Pedreiras da Mata de Sesimbra (PINPMS) foi concebido de forma a dar resposta aos condicionamentos impostos à exploração de massas minerais na área do PPZSMS, ao mesmo tempo que garante a plena integração e concretização dos usos futuros preconizados para este território, nomeadamente, empreendimento turístico, complementado com equipa-mentos desportivos, culturais, religiosos, de saúde, de co-mércio e recreio.

Com a publicação do PPZSMS, passou a ser possível proceder ao licenciamento das explorações existentes na Mata de Sesimbra através da instrução do processo de li-cenciamento nos termos do artigo 27.º do Decreto-Lei n.º 270/2001, de 6 de Outubro, alterado e republicado pelo Decreto-Lei n.º 340/2007, de 12 de Outubro.

O PINPMS foi elaborado pela Visa Consultores e promo-vido pela DGEG e teve os contributos dos proprietários dos terrenos e das entidades da tutela.

2. A visão do PromotorA DGEG como promotor do projecto convidou os titulares de pedreiras confinantes ou vizinhas a celebrar um acordo escrito, cujos termos resultou na elaboração PINPMS. Este acordo prevê de que modo a actividade extractiva irá ser efectivada e quais os passos a seguir para a adaptação dos respectivos Planos de Pedreira com vista a assegurar o de-senvolvimento coordenado das operações individualiza-das de cada pedreira.

Foram realizadas diversas reuniões, que antecederam a assinatura do acordo escrito, de forma a consultar as enti-dades responsáveis pela aprovação dos Planos de Pedreira, a câmara municipal e os exploradores das pedreiras, re-sultando dessas reuniões as condições de coordenação da realização do Projecto Integrado, das operações e das me-didas a adoptar com vista à sua implementação.

Finalizado o Projecto Integrado, foi assinado pelas enti-dades públicas que colaboraram na sua elaboração e pela totalidade das entidades exploradoras envolvidas.

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Indústria Extractiva

3. A visão do Projectista

3.1 Enquadramento

O Projecto Integrado é um documento técnico que visa definir as regras de exploração e recuperação paisagística para um núcleo de pedreiras vizinhas ou confinantes. No caso concreto do PINPMS, teve, ainda, como objectivo a integração das “Normas Técnicas de Exploração de Massas Minerais” e possibilitar a exploração das áreas definidas na “Planta de Recursos Geológicos”, constantes no PPZSMS.

A actividade extractiva neste núcleo de pedreiras envolve um conjunto de acções sequenciais consoante esteja em causa a exploração de areias, de argilas ou a exploração si-multânea de ambos os recursos minerais.

A metodologia de exploração adoptada aproximou-se da que tem vindo a ser praticada, com as necessárias correc-ções e ajustamentos resultantes das evoluções técnicas, permitindo a optimização das variáveis operacionais e ambientais, nomeadamente:

► Menor distância de transporte e, consequentemente, minimização dos impactes relacionados com a emis-são de poeiras e circulação de veículos;

► Menor tempo de operação e redução do período de uso do solo para exploração, logo, redução do período de instalação de impactes;

► Separação eficaz dos materiais envolvidos, evitando-se misturas entre os vários produtos (redução da dilui-ção);

► Garantia de que no final da exploração e recuperação paisagística a área se encontrará reabilitada para outros usos, em particular, os definidos no PPZSMS.

A área do PINPMS localiza-se na Península de Setúbal, concelho de Sesimbra. A sua localização na Mata de Se-simbra e a sua proximidade à Lagoa de Albufeira e ao Parque Natural da Arrábida justificam, só por si, a imple-mentação de medidas de salvaguarda do ecossistema onde se insere. Esse facto foi tido em consideração nas diversas componentes do Projecto Integrado ao nível da Lavra, da Modelação Topográfica e da Recuperação Paisagística.

3.2 Lavra

Para efeitos de zonamento, a área do PINPMS foi dividida em três núcleos:

► Núcleo Norte: constituído por três pedreiras, sendo duas de argila (Da Ribeira e Mesquita n.º 2) e uma de areia (Mesquita n.º 6);

► Núcleo Este: constituído por uma pedreira de argila (Herdade da Mesquita);

► Núcleo Sul: constituído por três pedreiras de areia (Mesquita, Mesquita n.º 7 e Pateira).

Fig. 1 Configuração da escavação para cada núcleo.

Núcleo Norte Núcleo este

Núcleo sul

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Indústria Extractiva

Com excepção da pedreira do Núcleo Este, todas as pe-dreiras são confinantes, o que levou a que fossem definidas regras de exploração integrada. Para além disso, foram su-primidas as zonas de defesa entre as duas propriedades, no sentido de permitir um melhor aproveitamento do recurso mineral disponível, no caso a areia.

Atendendo à especificidade dos recursos minerais a explo-rar e ao zonamento definido, foram definidos vários pres-supostos para a definição da metodologia de lavra.

Assim, no Núcleo Norte, onde existe exploração conjunta de areia e argila, foi definida uma configuração para a esca-vação com os seguintes pressupostos (Fig. 1):

► Bancadas de desmonte com 5 metros de altura e um ângulo de 60º;

► Patamares com uma largura de 5 metros;

► Exploração abaixo do nível freático no caso das areias, com uma bancada de desmonte com uma altura de 12 metros e uma inclinação de 20º.

No Núcleo Este, onde existe apenas uma pedreira de argi-la, foi definida uma configuração para a escavação com os seguintes pressupostos (Fig. 1):

► Bancadas de desmonte com 5 metros de altura e um ângulo de 60º;

► Patamares com uma largura de 5 metros.

No Núcleo Sul, onde existe apenas exploração de areia, predominantemente abaixo do nível freático, foi definida uma configuração para a escavação com os seguintes pres-supostos (Fig. 1):

► Bancadas de desmonte com altura variável, em função da topografia, e ângulo de 45º ou 15º, consoante este-jam em causa modelação topográfica posterior ou ma-nutenção da configuração da escavação, respectiva-mente;

► Exploração abaixo do nível freático com uma bancada de desmonte com uma altura de 12 metros e uma incli-nação de 20º.

3.3 Modelação Topográfica

Para o estabelecimento da modelação topográfica na área do PINPMS foram definidos os seguintes pressupostos:

► Enquadramento morfológico com a envolvente;

► Modelação dos taludes de escavação;

► Manutenção da configuração da primeira bancada de exploração nos núcleos Norte e Este para permitir a criação de condições para a nidificação da avifauna;

► Criação de ilhas nos lagos resultantes da exploração abaixo do nível freático;

► Criação de muretes para individualização de lagos, de forma a que a sua dimensão seja inferior a 15 ha;

► Reposição da drenagem superficial para a Ribeira da Pateira;

► Utilização de estéreis e materiais exógenos (solos e ro-chas não contendo substâncias perigosas, resultantes de obras de escavação).

3.4 Recuperação Paisagística

A recuperação paisagística foi definida para ser implemen-tada no decorrer da exploração, de forma a minimizar os impactes decorrentes da actividade extractiva.

As acções a implementar tiveram em consideração as orientações constantes no PPZSMS, os tipos de pedreiras em causa e os usos futuros pretendidos para cada zona. Convém salientar que a planta de ordenamento do PPZS-MS define para o extremo Sul da área do PINPMS a im-plantação de um campo de golfe, pelo que a recuperação paisagística definida levou em linha de conta esse aspecto, estando assegurada na fase pós-exploração o seu desen-volvimento.

A recuperação proposta para a área do PINPMS recorre à modelação topográfica com os estéreis das pedreiras e os solos e rochas provenientes de obras de escavação. Pos-teriormente, serão aplicadas as plantações e sementeiras, essenciais ao desenvolvimento de áreas de diversos usos, nomeadamente, agro-florestal, recreio e lazer de apoio ao empreendimento turístico e de compatibilidade com a ins-talação do campo de golfe.

A aplicação das sementeiras e plantações será feita em três zonas definidas para a área do PINPMS:

► Zona de encosta - corresponde a taludes de escavação, adequados ao desenvolvimento de espécies caracterís-ticas de Carvalhal de Zona Húmida Quente;

► Zonas periféricas dos planos de água - corresponde às áreas marginais dos lagos;

► Zonas inundadas - corresponde a áreas alagadas du-rante grande parte do ano (margens interiores dos la-gos e ilhas).

As espécies vegetais foram seleccionadas consoante o zo-namento, tendo sido agrupadas nas categorias de Cercal--Sobreiral, Piorral-Carrascal, Galerias com Salgueiral, Ca-niçais e Prado de Gramíneas.

Considerando que no futuro a área do PINPMS terá uma forte componente turística para apoio ao empreendimento turístico, foram definidas áreas com esse fim e que se apre-sentam na Fig. 2.

Na Fig. 3 apresenta-se a recuperação paisagística para cada um dos núcleos de exploração.

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4. A visão do ProprietárioA Casa da Mesquita - Sociedade Agro-Industrial, S. A., é uma empresa que é proprietária da Herdade da Mesquita (com 863 hectares), uma das propriedades abrangidas pelo PINPMS. Trata-se de uma propriedade cujo uso predomi-nante é o florestal, à semelhança da Mata de Sesimbra, que é uma ampla zona de floresta com mais de 7 000 hectares localizada na Área Metropolitana de Lisboa (AML).

O coberto vegetal é dominado por povoamentos de pi-nheiro bravo e por povoamentos mistos de pinheiro bravo, pinheiro manso e sobreiro. No entanto, nem sempre este coberto vegetal existiu na AML, dado que as sucessivas

desarborizações realizadas desde o neolítico levaram a que toda esta área praticamente não fosse florestada no início do século XX (Fig. 4).

Com a expansão das vias de comunicação realizadas nos anos 20 e 30 do último século, estes solos de baixa produti-vidade agrícola foram sendo abandonados e reconvertidos em floresta, dominada sobretudo pelo pinheiro bravo. As-sim a dominância desta espécie é recente sob o ponto de vista histórico.

As propriedades desta zona foram assim direccionadas para a gestão de povoamentos florestais, obtendo daí re-

Fig 2 Formas da recuperação paisagística.

Fig. 3 Recuperação paisagística para cada núcleo.

Núcleo Norte Núcleo sul Núcleo este

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ceitas que permitam a sua sustentabilidade. No entanto, verificou-se nos últimos 20 a 30 anos que os produtos flo-restais têm desvalorizado acentuadamente dado que, por exemplo, a madeira de pinho que era utilizada para inú-meras aplicações (caixas de fruta, paletes, cofragens, etc.) foi substituída pelos plásticos. Esta substituição agravada por problemas fitosanitários (nemátodo do pinheiro bra-vo), leva a que, actualmente, um povoamento de pinheiro bravo gere 100 Euros de receita líquida por hectare por ano, valor manifestamente insuficiente para garantir uma correcta manutenção da floresta.

Esta falta de rendibilidade dos povoamentos florestais torna-se a principal causa do abandono da floresta e con-sequentes vagas de incêndios que a atingem. Como for-ma de contornar esta difícil situação, a Casa da Mesquita, ao possuir na sua propriedade diversas massas minerais (areia e argila), tem permitido a sua exploração como for-ma de obter receitas que permitam garantir a manutenção dos povoamentos florestais.

A exploração destas massas minerais teve início nos anos sessenta relativamente à argila e nos anos setenta relativa-mente à areia.

Sob o ponto de vista geológico, estas explorações encon-tram-se na bacia sedimentar do Tejo, constituída por ca-madas alternadas de areia e de argila. A alta permeabili-dade da areia e a impermeabilidade da argila, origina um aquífero superficial de recarga directa, como demonstra o esquema da Fig. 10 realizado com base nas inúmeras sondagens realizadas. Esta constituição geológica faz com que os solos à superfície não tenham praticamente água disponível durante o período de Verão (devido à elevada permeabilidade da areia), existindo porém a alguns me-tros de profundidade grandes quantidades de água, devi-do à camada de argila impermeável. Historicamente, nas pedreiras de areia localizadas na Herdade da Mesquita, a exploração terminava ao se atingir o nível freático superfi-cial, sendo a escavação parcialmente cheia. A recuperação dos terrenos era realizada tendo por objectivo a produção

florestal, semeando pinheiro bravo nas zonas mais areno-sas e plantando eucalipto nas zonas mais argilosas.

A argila, devido às suas características, era explorada nas zonas onde o seu posicionamento permitia uma drenagem da água, para a Ribeira da Pateira.

Em 2003, a Câmara Municipal de Sesimbra decide reali-zar o PPZSMS, onde se define e concretiza os direitos de construção turísticos previstos no PDMS, mediante uma concentração destes direitos, evitando assim a sua dis-persão com a consequente destruição da totalidade des-ta mancha florestal. Paralelamente, as pedreiras de areia e de argila são ordenadas, sendo fixados limites espaciais e temporais à sua actividade, cumprindo assim o definido no PROT-AML. Um Plano de Gestão Ambiental para a to-talidade da Mata de Sesimbra é desenvolvido e aprovado pela Câmara Municipal de Sesimbra em 2004, definindo as áreas turísticas, a reconversão florestal a realizar nas zonas agro-florestais e as normas tecnológicas de exploração e recuperação das pedreiras de forma a que o terreno pos-sa ser utilizado para os fins previstos no PROT-AML e no PDMS, isto é, uma zona agro-florestal com possibilidade de uso no domínio do recreio e lazer e turismo de natu-reza.

Esta possibilidade de utilização das zonas agro-florestais, vem criar uma oportunidade de desenvolver um negócio, que permita gerar receitas que complementem a activida-de agro-florestal que, como já foi referido, por si, não é rentável, e assim garantir no futuro a sustentabilidade des-ta grande mancha florestal no futuro.

Após a aprovação do Plano de Gestão Ambiental e das normas tecnológicas de exploração das pedreiras de areia e de argila da Mata de Sesimbra, a Câmara Municipal de Se-simbra, as empresas exploradoras, e as empresas proprie-tárias realizaram um protocolo onde se comprometeram a respeitar os limites definidos e a cumprir as normas apro-vadas. A Casa da Mesquita, como proprietária, chegou a acordo com as empresas exploradoras de forma a iniciar

Fig. 4 Vistas da Mata de Sesimbra e da zona da Arrábida no início de século XX.

Serra da Arrábida Serra do Risco Castelo de Sesimbra Cabo Espichel

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Fig. 5 Esquema mostrando a formação do aquífero superficial de recarga directa.

Fig. 6 Sequência de exploração, modelação e recuperação paisagística.

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a implementação das novas metodologias de exploração e recuperação, mediante uma partilha de responsabilidades:

► As empresas exploradoras realizam a exploração e re-cuperação de acordo com as normas definidas e de acordo com o Plano de Lavra, Modelação e Recupera-ção desenvolvido internamente pela Casa da Mesquita, e que permitiu existir um projecto entre a aprovação do Plano de Gestão Ambiental (2004) e a emissão da DIA favorável condicionada do PINPMS (Agosto de 2010). As normas técnicas aprovadas permitem a ex-ploração com draga abaixo do nível freático, originan-do assim o desmonte da areia a criação de um plano de água.

► A exploração é realizada por talhões: um talhão ainda com floresta, um talhão a ser realizada a descapagem, um talhão em exploração, um talhão em modelação e um talhão já recuperado. Não é dado um novo talhão para exploração sem a entrega de um talhão já recupe-rado, minimizando-se assim as zonas não recuperadas.

► A Casa da Mesquita procede à compra das plantas, realiza a sua plantação e respectiva manutenção.

As espécies a colocar são as referenciadas no Plano de Gestão Ambiental da Mata de Sesimbra.

► O Plano de Lavra, Modelação e Recuperação Paisagís-tica realizado prevêem a futura utilização do espaço no âmbito do recreio e lazer e turismo de natureza, crian-do um conjunto de planos de água, onde a modelação das margens, a criação de ilhas e de zonas de baixa pro-fundidade propícias ao desenvolvimento de caniço permitem a criação de espaços de nidificação e a diver-sificação da flora e da fauna.

O objectivo é a utilização futura destes planos de água sob o ponto de vista do recreio e lazer, realizando um conjunto de actividades diversas, como os desportos náuticos não poluentes, a observação de fauna e avifauna, os passeios pedestres e de bicicleta, etc. Estas actividades, em parale-lo com outras a serem realizadas na restante propriedade, podem permitir gerar um conjunto de receitas que permi-tam garantir a sustentabilidade do espaço agro-florestal no futuro após o encerramento das explorações.

Na Fig. 6 pode observar-se uma secção esquemática que estabelece a sequência de exploração, modelação e

Fig. 7 Fotografias mostrando a sequência de exploração, modelação e recuperação de uma área desde Janeiro de 2004 a Março de 2009.

Sarminas (Sul) – Janeiro de 2004

Sarminas (Sul) – Março de 2005

Sarminas (Sul) – Setembro de 2004

Sarminas (Sul) – Março de 2009

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Fig. 8 Vista geral do núcleo Sul em Dezembro de 2005 e Agosto de 2010.

Fig. 9 Modelação e recuperação de uma zona de exploração de argila e areia do núcleo Norte.

Neto Marques & Marques / Sarminas (Sul) – Ponto 13 Dezembro de 2005

Neto Marques & Marques / Sarminas (Sul) – Ponto 13 Agosto de 2010

A . Silva & Silva / Sarminas (Norte) – Ponto 34 Março de 2003

A . Silva & Silva / Sarminas (Norte) – Ponto 34 Março de 2011

ilha

Zona de Encosta Galeria Rípícola Zona de Encosta

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recuperação paisagística conforme o definido nas normas técnicas.

Este conjunto de procedimentos, implementado desde 2004, tem vindo a permitir obter uma qualidade de recu-peração assinalável, e que pode ser comprovada nas Fig. 7, 8, 9, 10 e 11.

A qualidade da recuperação realizada é comprovada pela presença de inúmeras espécies de fauna e avifauna que neste momento utilizam as pedreiras como zona de ali-mentação, nidificação e residência.

Podemos assim concluir que a implementação de um con-junto de normas técnicas nestas pedreiras permitiu não só uma recuperação assinalável e rápida dos terrenos afecta-dos, como ainda criar um conjunto de habitats que permi-tem que esta zona da Mata de Sesimbra tenha uma fauna e uma flora extremamente diversificada, potenciando assim o seu uso futuro para actividades ligadas ao turismo de na-tureza e ao recreio e lazer.

Assim, é garantido um desenvolvimento sustentável, onde a exploração de um recurso natural é realizada de forma ambientalmente equilibrada, para que possa ser economi-camente utilizado pelas gerações futuras.

5. ConclusãoComo é sabido os recursos minerais estão dependentes da sua ocorrência espacial, obrigando a que a sua extracção e aproveitamento se localizem onde a natureza ditou e não por opção de localização.

Considera-se que as incompatibilidades geradas entre as explorações existentes e os instrumentos de gestão do ter-ritório serão resolúveis, através da correcta gestão do or-denamento do território com o é exemplo o PPZSMS. Este Plano de Pormenor permitiu a elaboração do PINPMS, tendo sido conseguidas as seguintes vantagens para as pe-dreiras:

► Correcto ordenamento da lavra e das suas áreas de am-pliação;

► Definição de regras e directrizes fundamentais para a requalificação paisagística de toda a área;

► Definição de uma metodologia de controlo e ordena-mento do uso do solo que maximize os benefícios da sua utilização e minimize os impactes negativos gera-dos.

Em suma, para o melhor aproveitamento do recurso mi-neral deverá ser tida em conta a política ambiental e de

Fig. 10 Anfíbios, Répteis e Garças.

CÁGADO RÃ VERDE SARDÃO

GARÇA VERMELHAGARÇA REAL

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Indústria Extractiva

Fig. 11 Caimão, Pato Real e Pato Colhereiro

ordenamento do território no âmbito de uma abordagem integrada, conforme definido no PINPMS. Garante-se, assim:

► A compatibilização dos instrumentos de gestão do ter-ritório com a indústria extractiva;

► A compatibilidade da extracção com a protecção am-biental, preconizando o princípio do desenvolvimento sustentável;

► Um racional aproveitamento do recurso mineral e a li-bertação de áreas para recuperação paisagística;

► Avaliar e controlar a eficácia das medidas implementa-das através da implementação de actividades de moni-torização ambiental;

► E compatibilizar o espaço com os usos definidos no PPZSMS.

Atendendo à importância que este tipo de explorações as-sume no quadro regional, a implementação do PINPMS contribuiu ainda para o desenvolvimento da região com todos os benefícios económicos e sociais que daí podem advir. Estes benefícios são reforçados pelo facto das ex-plorações, tal como estão projectadas, serem compatíveis com os interesses regionais e nacionais, respeitando os va-lores ambientais e contribuindo para o desenvolvimento sustentável.■

Caimão

Fémea e cria de Pato Real

Pato Colheireiro

Pato Real

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Prospecção de Rochas OrnamentaisJorge M. F. CarvalhoUnidade de Recursos Geológicos e Geofísica, LNEG

Palavras-chave: Prospecção, Rochas Ornamentais.

ResumoAs rochas ornamentais podem ser entendidas como a matéria-prima mineral utilizada como material de cons-trução com funções essencialmente decorativas. São um recurso geológico que ano após ano tem vindo a ganhar importância económica mas cuja exploração tem sido fei-ta, na maior parte dos casos, com base em conhecimentos empíricos. Mesmo perante os crescentes constrangimen-tos de acessibilidade territorial aos recursos, pouco se tem investido na inovação das metodologias de prospecção e avaliação de jazidas de rochas ornamentais.

Estando a ocorrência e localização desses depósitos depen-dente unicamente de factores geológicos, as metodologias para a sua revelação e avaliação deverão basear-se em cri-térios também eles de índole geológica. Enfatiza-se neste trabalho a cartografia geológica e o estudo da fracturação dos maciços rochosos como ferramentas fundamentais à avaliação dos critérios de carácter decisivo na prospecção de rochas ornamentais. Estes relacionam-se unicamente com o dimensionamento e homogeneidade das unidades geológicas e seu estado de fracturação.

IntroduçãoAo longo do tempo o desenvolvimento de metodologias e técnicas de prospecção geológica tem vindo a acompa-nhar a evolução do conhecimento técnico-científico, em particular nas áreas respeitantes aos recursos minerais me-tálicos e hidrocarbonetos. São as mais-valias económicas inerentes à descoberta deste tipo de recursos que justifi-cam os avultados investimentos na prospecção, despole-tando, concomitantemente, o desenvolvimento e evolução dessas metodologias que hoje se mostram indispensáveis

e altamente sofisticadas, fazendo uso de técnicas geológi-cas, geofísicas e geoquímicas, entre outras.

Num campo oposto podemos situar o que se passa rela-tivamente aos chamados recursos em rochas e minerais industriais e de forma mais particular, o que se passa re-lativamente aos recursos utilizados como materiais de construção. Com efeito, sendo matérias-primas em ge-ral comuns na natureza e perto da superfície, a sua dis-ponibilidade é muito grande. Não carecem, portanto, de avultados investimentos ao nível da prospecção, nem o permitem dado o seu baixo valor económico. Como con-sequência, não têm sido desenvolvidas metodologias de pesquisa adequadas a este tipo de recursos, adoptando-se, genericamente, as aplicadas ao sector dos recursos mine-rais metálicos, em particular aos de tipo filoneano e cujas raízes se perdem no tempo. Assim se compreendem mui-tas das imprecisões ainda hoje comuns no sector extracti-vo das rochas e minerais industriais, como referências ao “filão de argila” ou ao “filão de mármore” e, muitas vezes, a planos mineiros desajustados.

Dos materiais de construção, o sector das rochas orna-mentais é, porventura, aquele que maior semelhança de-nota com o sector dos minérios metálicos. Essa semelhan-ça decorre das suas especificidades geológicas em termos de tipo e modo de ocorrência das jazidas e do maior valor económico da matéria-prima quando comparado com o dos restantes materiais de construção. Contudo, embora a ocorrência e localização dessas jazidas não resulte do acaso, estando dependente de factores estritamente geoló-gicos, pouco se tem evoluído na investigação e desenvolvi-mento das metodologias e ferramentas de prospecção ge-ológica particularmente dirigidas aos recursos em rochas ornamentais, sendo escassa a literatura sobre o assunto.

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Indústria Extractiva

Apresentam-se neste trabalho, de modo muito sucinto, as metodologias e técnicas de investigação que se consideram mais relevantes no processo de decisão acerca da viabili-dade dos maciços rochosos para a produção de rochas or-namentais.

Definições e âmbito de utilização das rochas ornamentais

As rochas ornamentais, também vulgarmente designadas por Pedras Dimensionais (Bowles, 1939; Currier, 1960 e Barton, 1968), ou Pedras Naturais, podem ser definidas como a matéria-prima de origem mineral utilizada como material de construção com funções essencialmente de-corativas. Cabem neste âmbito todos os tipos rochosos extraídos e processados segundo as mais variadas dimen-sões e formas, desde os pequenos cubos utilizados no cal-cetamento de ruas, até às finas placas de rochas xistentas usadas em revestimentos, passando, como é óbvio, pelos grandes blocos destinados à obtenção de chapas para re-vestimentos diversos, estatuária, pedras tumulares, etc.

Tradicionalmente distinguem-se dois grandes grupos de rochas ornamentais, nomeadamente, os mármores e os granitos ou, mais recentemente, mármores, granitos e outras, em que neste último grupo é comum enquadrar os “xistos”, os quartzitos e arenitos. De acordo com estas classificações, os calcários são englobados no grupo dos mármores e sob a designação de granitos é englobada uma grande variedade de rochas ígneas, desde os granitos pro-priamente ditos, aos sienitos, gabros, dioritos e gnaisses.

Se em termos de características físico-mecânicas e portan-to, em termos de campo de aplicação, é admissível a inclu-são num só grupo duma grande variedade de rochas como a que é reportada ao grupo dos granitos, já no que respeita ao grupo dos mármores não nos parece adequado a inclu-são dos calcários. Com efeito, é bem marcada a diferença entre mármores e calcários, não só em termos das suas ca-racterísticas físico-mecânicas, com consequências ao nível da sua aplicabilidade (Carvalho et al., 2000a), como tam-bém em termos das suas características estéticas. Parece--nos mais adequado, mesmo do ponto de vista comercial, a distinção apresentada por Langer (2001) para as Rochas Ornamentais dos seguintes grupos: o grupo dos granitos, dos calcários, dos mármores, das ardósias (ou “xistos”) e o dos quartzitos e arenitos.

Do mesmo modo que para os restantes materiais de cons-trução, o modo e âmbito da aplicação das rochas orna-mentais depende das suas características tecnológicas. As-sim, em função dessas características, decorrem restrições à utilização das rochas ornamentais, em particular no que respeita a aplicações em interiores versus aplicações em ex-teriores e em edifícios públicos versus habitações privadas.

Ainda no âmbito da utilização das rochas ornamentais há a considerar o seu aspecto estético, não fosse esse o factor intrínseco ao fundamento da sua utilização como mate-rial de construção com funções decorativas. Deste modo, a estética ou beleza dum determinado tipo litológico é condicionadora da sua utilização como rocha ornamental. Daqui decorre que essa beleza ornamental é um factor im-portante a ter em conta na fase de prospecção geológica, mesmo sendo um factor com uma forte carga subjectiva. No entanto, essa subjectividade resulta da percepção con-junta dum conjunto de critérios objectivos dos quais se destacam a cor, a textura e a existência ou não de descon-tinuidades. São critérios cuja avaliação deve unicamente basear-se numa observação a “olho-nú” e que no seu con-junto dão o grau de homogeneidade da rocha.

A homogeneidade é, assim, um dos critérios fundamen-tais a ter em conta na prospecção de rochas ornamentais, tanto mais que dele depende, pelo menos parcialmente, o dimensionamento da jazida: um determinado volume de rocha em que se verifica uma homogeneidade de carac-terísticas.

Prospecção De Rochas OrnamentaisÉ escassa a literatura respeitante às metodologias de investigação das rochas ornamentais, em particular no que respeita à sistematização das metodologias de prospecção. Na tabela 1 apresenta-se uma compilação dos critérios a ter em consideração nas diferentes etapas de avaliação de um jazigo de rochas ornamentais, desde a compilação ini-cial da informação disponível até ao projecto de explora-ção, com base numa adaptação das propostas de Muñoz de la Nava et al. (1989), Harben e Purdy. (1991), Casal Moura et al. (1995), García (1996) e Selonen et al. (2000).

Conforme demonstrado por Carvalho et al., 2008, os fac-tores de carácter decisivo para a viabilidade dum maciço rochoso para a produção de rochas ornamentais estão relacionados unicamente com a homogeneidade das uni-dades geológicas, com o seu dimensionamento e com o seu estado de fracturação (Tabela 2). Todos os aspectos de índole geológica que constam da Tabela 1, assumem um papel secundário quando abordados a nível individual porque não são factores de exclusão.

A cartografia geológica e o levantamento do estado de fracturação dos depósitos são as duas ferramentas bási-cas para a avaliação destes critérios de decisão. A carto-grafia geológica permite dar resposta às questões acerca do dimensionamento e homogeneidade dos depósitos. O levantamento “in-situ” dos dados de fracturas permite dar resposta quanto ao estado de fracturação desse depósito.

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A cartografia geológicaA cartografia geológica aplicada à prospecção de rochas ornamentais deve estar vocacionada para a identificação, delimitação e caracterização de áreas com aptidão para ro-cha ornamental. A essas áreas deverá corresponder a exis-tência de uma ou mais unidades geológicas em que se ve-rifique uma homogeneidade de características litológicas e cuja espessura e volume total permitam a obtenção de

blocos com dimensões comercializáveis por um determi-nado período de tempo. Esta cartografia deverá, portanto, fazer uso de alguns conceitos e terminologia pouco usuais numa cartografia geológica clássica, mas que se revelam fundamentais ao fim em vista. Há que ter em apreço os seguintes aspectos: escala, litologia, estrutura geológica e convenções e terminologia a utilizar.

Tabela 1- Principais aspectos a considerar na prospecção de Rochas Ornamentais

Morfologia

► Limites ► Espessura e variações de espessura ► Variações de fácies ► Carsificação

Estrutura ► Estratificação, clivagens, xistosidades, lineamentos, etc. ► Falhas e fracturas ► dobramentos

Fracturação ► Famílias direccionais ► Espaçamento entre famílias ► Densidade de fracturação

Metamorfismo ► Tipo ► Zonação ► Mineralogia

Características litológicas

► Composição mineralógica e química ► Cor ► Granulometria ► Textura ► Recristalizações, Schlieren, encraves, fósseis, etc. ► Homogeneidade (cor, textura, fósseis,e outras descontinuidades) ► Oxidações e outras alterações ► Propriedades físico-mecânicas (absorção de água, peso específico, resistência

à compressão e à flexão, etc.)

Explorabilidade

► Reservas ► Acessibilidade (topografia, acessos, distância aos centros consumidores,

zonas de defesa e protecção ambiental) ► Espessura de camada de alteração e dos depósitos de cobertura ► Impacto ambiental ► Infraestruturas industriais ► Actividade extractiva instalada ► Aceitação no mercado

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Dependendo da etapa de trabalho, do tipo de litologias presentes e da complexidade estrutural da região em cau-sa, diferente será a escala de execução da cartografia ge-ológica. Assim, na fase de reconhecimento geral deverá fazer-se uso de escalas regionais que poderão variar de 1/100 000 a 1/25 000, consoante o grau de conhecimento existente sobre a região. Na fase intermédia de prospec-ção, ou seja, aquela que se destina ao reconhecimento e avaliação dos grandes alvos seleccionados na etapa ante-rior, a cartografia a executar deverá ser à escala 1/10 000 ou 1/5 000, como é o caso ilustrado pelo mapa geológico da Fig. 2. Tal depende, fundamentalmente, das litologias presentes e deverá contar com o apoio de sondagens de re-conhecimento. Desta fase resultará a delimitação de áreas-

-alvo mais restritas para eventual localização de unidades de exploração, ou expansão das existentes. A sua avaliação deverá ser feita com base numa cartografia à escala 1/2000 a 1/500 e fortemente apoiada em dados de sondagens.

A litologia é o aspecto principal a considerar na carto-grafia geológica de temática vocacionada para as rochas ornamentais. Em primeiro lugar há que ter em conta a natureza sedimentar, ígnea ou metamórfica das rochas no que respeita a um adequado conhecimento das condições geológicas que presidem à eventual ocorrência de jazidas de rochas ornamentais. Por outro lado e com base nesse conhecimento será possível uma selecção e atribuição de importância aos critérios constantes das Tabelas 1 e 2.

Tabela 2- Critérios de decisão na prospecção de Rochas Ornamentais

Dimensionamento Homogeneidade Estado de Fracturação

► Espessura das unidades produtivas (bancada sedimentar, fácies metamórfica, etc.).

► Volume total do depósito. ► Disposição espacial.

► Cor ► Textura ► Descontinuidades

► Direcções preferenciais ► Frequência ► Densidade ► Intensidade ► Tipo e morfologia das fracturas

Fig. 1 Extracto de mapa geológico à escala 1/5000 de área de exploração de calcários ornamentais (área de Pé da Pedreira, Maciço Calcário Estremenho, Portugal). Todas as litologias presentes correspondem a calcários, utilizando-se na legenda as designações locais.

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Com efeito e a título de exemplo, se a presença, dimensão e disposição de fósseis em rochas sedimentares são critérios a ter em apreço, por poderem constituir um elemento de elevada qualidade estética, na cartografia de rochas graní-ticas tais critérios não são aplicáveis.

O conhecimento da estrutura geológica do depósito é fundamental ao seu dimensionamento, pelo que a carto-grafia geológica deve ser, essencialmente, uma cartografia geológico-estrutural. Deverão ser tomados em conside-ração todos os critérios e técnicas de análise estrutural que permitam o estabelecimento dum modelo estrutural do depósito. Em particular e em função da complexidade estrutural da região em causa, é importante ter em aten-ção os dados relativos à orientação dos planos de estrati-ficação, clivagens, xistosidades, lineações e os relativos à orientação e tipo de falhas, fracturas e dobramentos even-tualmente presentes. A estrutura geológica tanto pode ser um factor condicionador como promotor da ocorrência de jazidas de rochas ornamentais.

No que respeita às convenções e terminologia, a cartogra-fia deverá fazer uso de simbologia apropriada de modo a que seja fácil a identificação e caracterização das áreas com maior interesse, bem como das variedades ornamentais existentes (em detrimento duma terminologia puramente científica).

Avaliação do estado de fracturação

Para a avaliação do estado de fracturação dos maciços ro-chosos deve-se fazer uso, numa etapa inicial, de métodos indirectos de avaliação. Entre eles contam-se as técnicas de detecção remota, nomeadamente as imagens de saté-lite LandSat Tm e as fotografias aéreas, os quais consti-tuem preciosos auxiliares nas etapas de reconhecimento inicial. Para além de fornecerem uma visão global da área sob investigação, a conjugação de ambas as técnicas têm permitido uma cada vez mais detalhada delimitação de áreas mais ou menos fracturadas e a definição de padrões de fracturação a nível regional. Neste capítulo surgiu mui-to recentemente uma nova ferramenta com capacidades de desenvolvimento e utilização muito grandes. Trata-se da aplicação informática Google Earth™ mapping service a qual, em muitos casos se revela uma ferramenta de de-tecção remota muito eficaz na selecção de áreas alvo em função do estado de fracturação dos maciços.

No âmbito das etapas iniciais de reconhecimento de des-continuidades maiores assumem também importância os métodos geofísicos. No entanto, o maior relevo da apli-cação destes métodos verifica-se ao nível das fases de in-vestigação mais detalhada, como complemento aos méto-dos directos de avaliação da fracturação. Entre elas há a considerar os métodos sísmicos em geral (Carvalho et al, 2000b), o geo-radar, o VLF-EM/RF-EM (Radio Frequency

– Electromagnetics) (Carvalho et al, 1999) e as tomografias eléctricas e sísmicas. Todos eles têm vantagens e desvanta-gens ao nível do tipo e detalhe da informação que forne-cem, rapidez de execução e custo.

Os métodos indirectos não substituem os directos na apre-ciação do estado de fracturação dos maciços rochosos, sendo que estes constituem uma ferramenta indispensável na prospecção de rochas ornamentais. Baseiam-se na ca-racterização e medição da atitude das fracturas “in situ” pelo que o seu modo de execução depende da dimensão da área a prospectar e das suas características em termos das litologias presentes e da forma, tamanho e disposição dos afloramentos. Destes condicionalismos depende o método a adoptar, sendo que os diferentes métodos diferem entre si, basicamente, no modo de inventariação e no posterior tratamento e análise dos dados.

Os modos de inventariação mais comuns baseiam-se no inventário de todas as fracturas englobadas numa dada área (circular ou quadrangular) ou intersectadas por uma determinada linha de amostragem (scan line). As dimen-sões a adoptar para a área ou para a scan line dependem muito duma avaliação preliminar do espaçamento entre fracturas duma mesma família e da área disponível.

O método de inventário em área adequa-se melhor a me-dições em afloramentos, ao passo que o método da scan line está mais adequado à medição em frentes de desmon-te já existentes ou em taludes naturais. O caso particular do inventário de fracturas nos testemunhos de sondagens reporta-se ao método da scan line que neste caso acaba por ser o próprio testemunho.

Devem ser seguidas as recomendações constantes da ex-tensa bibliografia publicada a respeito dos métodos de levantamento de fracturas em maciços rochosos, em par-ticular as apontadas pela International Society for Rock Me-chanics (ISRM, 1978), Priest e Hudson, 1981; Barton et al., 1993; Hudson e Priest, 1983; Mauldon et al, 2001.

Tendo como objectivo as rochas ornamentais, as caracte-rísticas a que mais importa prestar atenção para a análise descritiva das fracturas são: a orientação (direcção e incli-nação), o comprimento, a abertura e tipo de preenchimen-to, o espaçamento entre famílias, a terminação (continui-dade) das fracturas e o tipo litológico onde ocorrem. Para cada um dos parâmetros são admissíveis diversas formas de tratamento e apresentação de resultados, sendo comum a conjugação das ferramentas da estatística descritiva com os métodos sugeridos pela International Society for Rock Mechanics (ISRM, 1978). Particularmente no que respeita ao processamento e análise estatística dos dados de orien-tação das fracturas, importa não esquecer que são dados de natureza circular, pelo que esse processamento é geral-mente abordado, em termos probabilísticos, em função da Distribuição de Von Mises (Baas, 2000; Mardia, 1972) que é análoga à Distribuição Normal, mas adaptada a dados circulares.

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Indústria Extractiva

Mais recentemente têm vindo a ganhar apreço os méto-dos geoestatísticos para a determinação da intensidade de fracturação dos maciços rochosos, particularmente a partir dos dados de espaçamento das famílias de fracturas presentes (Fig. 3). São disso exemplo os trabalhos publi-cados por La Pointe e Hudson, 1985; Luís, 1995; Bastante et al., 2008; Taboada et al., 2008. Baseiam-se na teoria das variáveis regionalizadas (Matheron, 1970), ou seja, aleató-rias mas cujo valor depende da localização espacial e rela-cionamento com os valores de amostragem vizinhos.

Considerações Finais e ConclusõesA ocorrência e localização dos recursos geológicos, nome-adamente de rochas ornamentais, é governada unicamen-te por factores geológicos. A revelação de novas jazidas carece de conhecimentos e metodologias geológicas para tal vocacionadas, não podendo ficar ao acaso em função de actividades empíricas que acabam por se traduzir num deficiente planeamento da actividade mineira com conse-quência ao nível do ordenamento do território e da degra-dação ambiental. A este respeito importa realçar que nos últimos anos muito se tem investido nos aspectos tecnoló-gicos associados à exploração e transformação de rochas ornamentais, tendo em vista a optimização económica das

explorações e a diminuição da quantidade de resíduos. No entanto, os resíduos na indústria extractiva das rochas ornamentais constituem cerca de 70% do total de matéria primas extraída. Julgamos que tal se deve fundamental-mente a deficientes planeamentos de lavra por falta de um conhecimento adequado das características dos depósitos de rochas ornamentais em causa.

Esse conhecimento obtém-se numa etapa anterior à da exploração, ou seja, obtém-se durante a prospecção geo-lógica e avaliação dos depósitos. Urge, portanto, investir nestas etapas de modo a inovar metodologias e técnicas.

O trabalho aqui apresentado vem ao encontro destas questões, realçando os critérios decisivos nas etapas de prospecção que têm um peso efectivo na definição e di-mensionamento dos depósitos de rochas ornamentais, no-meadamente os critérios tendentes à avaliação da dimen-são, disposição, homogeneidade e estado de fracturação desses depósitos. Os factores extrínsecos à definição da jazida, como sejam as características tecnológicas das ro-chas, a sua beleza, a espessura de depósitos de cobertura, o enquadramento ambiental e paisagístico, as condições de acessibilidade, etc., são factores que apenas condicionam a aplicabilidade dos diferentes tipos de rochas e a viabilidade económica da sua exploração.■

3 %

4 %

5 %

6 %

Geral

Hemisfério Inferior

N= 709

1 2

3456

302100.00 302300.00 302500.00130200.00

130300.00

130400.00

130500.00

130600.00

0.00

1.00

2.00

3.00

4.00

nº de fracturaspor metro

Densidade linear de fracturaçãoà cota 285

Fig. 3- Estudos de fracturação aplicados a uma pedreira de xistos ornamentais em Barrancos (Alentejo – Portugal)

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Indústria Extractiva

BibliografiaBaas, J.H., 2000. EZ-Rose: a computer program for equal-area circular histograms and statistical analysis of two-dimensional vectorial data. Computers & Geosciences, 26: 153-166.

Barton, W.R., 1968. Dimension stone. U.S. Bureau of Mines Information Circular 8391, 147 pp.

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Casal Moura, A., Grade, J.; Ramos, F. e Ferreira, N., 1995. Aspectos metodológicos do futuro e caracterização de maciços graníticos tendo em vista a sua exploração para a produção de rochas ornamentais e industriais. Boletim de Minas, 32(1), Lisboa.

Currier, L.W., 1960. Geologic appraisal of dimension-stone deposits. U.S. Geological Survey Bulletin 1109, 78 pp.

García, E.O. (1996) – Investigación de Yacimientos. In: Jimeno, C.L. (ed.), Manual de Rocas Ornamentales – Prospección, explotation, elaboratión y colocación. Entorno Grafico, S. L., Madrid, 139-174.

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La Pointe, P.R. e Hudson, J.A., 1985. Characterization and Interpretation of Rock Mass Properties. Geological Society of America, Denver, Colorado, 37 pp.

Luís, A.G., 1995. Caracterização, avaliação e simulação da blocometria de um jazigo de mármores. Tese de Mestrado em Mineralurgia e Planeamento Mineiro. Universidade Técnica de Lisboa, Instituto Superior Técnico, Lisboa, 75 pp.

Mardia, K.V., 1972. Statistics of Directional Data. Academic Press, London pp.

Mauldon, M., Dunne, W.M. e Rohrbaugh, M.B., 2001. Circular scanlines and circular windows: new tools for characterizing the geometry of fracture traces. Journal of Structural Geology, 23, 247-258.

Matheron, G., 1970. La théorie des variables regionalisées et ses applications. Les Cahiers du CGMM. Fontainebleau. Paris. 212 pp.

Muñoz de la Nava, P. M.; Escudero, J. R.; Suarez, I. R.; Romero, E.G.; Rosa, A. C.; Moles, F. C. & Martinez, M. G., 1989. Metodologia de investigación de rocas ornamentales: granitos. Boletín Geológico y Minero, 100(3), 129-149.

Priest, S.D. e Hudson, J.A., 1981. Estimation of Discontinuity Spacing and Trace Length Using Scanline Surveys. International Journal of Rock Mechanics, Mining Sciences & Geomechanical Abstracts, 18, 183-197.

Selonen, O.; Luodes, H. & Ehlers, C., 2000. Exploration for dimensional stone – implications and examples from the Precambrian of southern Finland. Engineering Geology, 56, 275-291.

Taboada, J., Rivas, T., Saavedra, A. and Bastante, F., 2008. Evaluation of the reserve of a granite deposit by fuzzy kriging. Engineering Geology, 99, 23-30.

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Indústria Extractiva

A Prospecção Mineira e a Actividade do Geólogo

Paulo J. V. FerrazConsultor

Se pensarmos um pouco no que temos ou consumimos chegamos à conclusão de que tudo é proveniente dos re-cursos naturais. E sempre foi assim. Já nos primórdios da humanidade o ser humano obtinha da Natureza tudo o que necessitava para sobreviver. Ontem como hoje, o Ho-mem continua a consumir aquilo que cultiva ou extrai.

Á semelhança de outros recursos, os recursos mi-nerais são indispensáveis às sociedades modernas - desde os metálicos (ouro, prata, cobre, alumínio, zinco, ferro, tungsténio, estanho, etc.) até aos não metálicos (argilas, areias siliciosas, feldspato, quartzo, barite, fluorite, dia-mante, calcário, rochas ornamentais, entre muitos outros). A indústria química, a metalurgia, a agricultura, a cons-trução civil, a electrónica e as telecomunicações, são algu-mas das inúmeras aplicações dos minerais.

Assim, à medida que aumenta a população mundial (a or-ganização americana Population Reference Bureau – PRB – estima 7 bilhões de pessoas em 2011) aumenta também a sua procura. No entanto, estes recursos minerais não são ilimitados, são não renováveis. Ao ritmo acelerado a que se consomem actualmente recursos minerais, os que são escassos vão-se esgotar rapidamente e os que não o são irão de certeza diminuir a sua disponibilidade. Esta situ-ação acabará por agravar-se devido à restrição de explora-ção em muitos locais devido a políticas ambientais e a uma crescente urbanização.

De tudo o que foi referido fica claro que se torna impres-cindível a procura e a definição de novos jazigos minerais, passíveis de serem economicamente exploráveis. É neste âmbito que actua a prospecção mineira, procurando-os e tentando determinar as suas características qualitativas e quantitativas embora com uma finalidade lucrativa.

Antiga exploração mineira

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Indústria Extractiva

O trabalho em Prospecção Mineira é composto por uma sucessão de etapas, algumas delas extremamente comple-xas e demoradas, que envolvem geralmente a utilização de diversos métodos e/ou instrumentos e meios humanos especializados. Estas etapas implicam muitas vezes a reali-zação de investimentos extremamente avultados. Sendo a prospecção uma actividade de grande risco, torna-se assim necessária uma avaliação cuidadosa da situação no final de cada etapa, antes de avançar para a seguinte.

A procura de um jazigo mineral começa com a sinalização de áreas com potencial. Esta fase consiste no reconheci-mento geral de vastas áreas, através de cartografia geoló-gica (elaboração de cartas 1:50 000) ou outro tipo de es-tudos, que alertem para o potencial de uma área ou região para determinado mineral/elemento químico. Por vezes a existência de antigas explorações mineiras pode ser, por si só, um indício de potencial mineiro.

Na sequência desta fase de selecção de áreas favoráveis de-ver-se-á formalizar o pedido de concessão da mesma para Prospecção e Pesquisa. Para isso é necessária a planificação dos trabalhos a realizar, tendo em conta a disponibilidade financeira. É fundamental aqui o papel do Geólogo pois trata-se de optimizar investimentos, bem como, definir os meios e as técnicas a utilizar.

Após obter a Concessão de Prospecção e Pesquisa, dá-se início à fase de prospecção estratégica, tendo como alvo as grandes áreas que possuem características geológicas com potencial para albergar mineralizações económicas. Em Portugal, esta fase foi em tempos desenvolvida pelo Estado, através do SFM (Serviço de Fomento Mineiro). Actualmente este trabalho é conduzido por Empresas Pri-vadas assim como por projectos, normalmente científicos, e essencialmente efectuados pelas Universidades (exem-plo: teses de mestrado e doutoramento) e pelo LNEG (La-boratório Nacional de Energia e Geologia).

Estes trabalhos conduzem à determinação das áreas de maior potencial que serão então alvo de uma prospecção táctica. Estas áreas onde se poderá vir a desenvolver uma exploração mineira, caso a quantificação e a relação valor/custo sejam positivas, são mais pequenas e os trabalhos de prospecção passam a ter maior detalhe. São assim desen-volvidos diversos trabalhos de geologia mais detalhados, como sejam: cartografia geológica; estudos de sedimentos de corrente; geoquímica de solos; amostragem litogeoquí-mica, trabalhos de geofísica - gravimetria, eléctrica, sísmi-ca, VLF, magnética, electro-magnética; radiometria; rea-lização de trincheiras, sondagens destrutivas, sondagens carotadas e galerias. As análises químicas, quer de rochas, de solos e de sedimentos de linhas de água, acompanham muitas vezes a maioria dos trabalhos referidos, até porque, no final, são estas que evidenciam as concentrações anó-malas do elemento procurado e que determinam o teor global do jazigo.

Para além dos trabalhos já referidos, torna-se necessário que o Geólogo desempenhe outras tarefas que em nada se relacionam com a sua formação académica. A este nível passa a ser importante a sua flexibilidade e disponibilida-de para aprender a trabalhar em muitas e variadas outras áreas, quando se inicia um projecto de prospecção, princi-palmente quando não existe uma estrutura mineira para apoio. Um dos trabalhos que o Geólogo deverá estar apto a realizar é a gestão e o secretariado, já que, normalmen-te, um projecto de prospecção não possui no seu início dimensão para ter pessoal que assuma essas funções. É também necessário efectuar a contratação e formação de trabalhadores locais. Esta formação deverá ser realizada pelo Geólogo, quer no campo quer no laboratório de for-ma se constituírem equipas de pessoal treinado e capaz de realizar trabalhos como a marcação de perfis no terreno, a colheita e tratamento de diversos tipos de amostras, acom-panhamento de campanhas de sondagens e organização da caroteca, entre muitos outros. Para além da formação dos trabalhadores também o geólogo deverá orientar e supervisionar o correcto desenvolvimento do decorrer da actividade destas equipas de pessoal. Também os tra-

Antigo desmonte para exploração de ouro

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Indústria Extractiva

balhos de topografia, apesar de estarem hoje facilitados pelo GPS, implicam que o Geólogo possua formação nessa área. Mesmo em caso de trabalhos subterrâneos há muitas vezes necessidade de utilizar instrumentos no sentido de executar levantamentos expeditos mas rigorosos.

Os trabalhos de prospecção anteriormente referidos de-correm muitas vezes de forma faseada. Após a cartografia geológica passa-se em seguida para o estudo geoquímico de solos e/ou de sedimentos de corrente e para os traba-lhos de geofísica. Os resultados obtidos permitem normal-mente definir alvos que posteriormente serão investigados por uma campanha de sondagens. Posteriormente poderá mesmo ser necessário investigar em profundidade partin-do para a realização de uma galeria.

Cada uma destas etapas implica sempre uma avaliação da situação, fazendo-se sempre um balanço entre os valores a investir e o risco envolvido. Face aos montantes elevados que muitas vezes estão em jogo, o geólogo tem que assumir a responsabilidade das suas decisões, pautando-se sempre por princípios de rigor, honestidade e franqueza. Face aos resultados obtidos, torna-se muitas vezes necessário saber dar as boas e as más notícias – sendo esta uma questão de ética profissional não devemos deixar de informar logo que se verifiquem maus resultados.

Durante o tratamento dos dados torna-se necessário pos-suir conhecimentos de geoestatística e cálculo de recursos

Realização de amostragem em canal

Sondagem no interior de mina

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Indústria Extractiva

para, pelo menos, se poderem identificar erros grosseiros e conseguir ter uma percepção numérica global dos valores calculados. Só assim um Geólogo poderá, ao observar uma sondagem, ter uma ideia sobre o que pode ser uma boa ou má intersecção de minério. Assim vai-se sempre ponde-rando as decisões a tomar, avaliando de forma contínua a necessidade de abandonar o projecto ou de continuar os trabalhos, à medida que se possui mais informação.

A descoberta de um corpo mineralizado não é uma garan-tia da sua exploração de forma rentável, estando depen-dente de inúmeros factores que são variáveis no tempo, como as cotações do mercado. Assim, a descoberta de um jazigo mineral é um caso muito raro pois implica desde logo a sua exploração de forma economicamente rentável, possibilitando o retorno do capital investido na prospec-ção realizada.

Verificado e definido o valor do jazigo mineral, poder-se-á então avançar para elaboração de processo de pedido de exploração, a apresentar ao Estado.

A prospecção mineira não poderá ser esquecida mesmo após o início da exploração mineira pois só assim se pode-rá conseguir aumentar o volume de recursos, somando-se novos aos já revelados. A continuação da Prospecção Mi-neira na fase de exploração é essencial para que se consiga valorizar os bens já existentes.

Para além do já referido convém ainda tecer algumas considerações sobre a actividade do geólogo que trabalha em prospecção mineira. Ao abraçar a sua profissão, este deverá estar consciente de que terá de trabalhar em con-dições muito variáveis, e certamente também muito dife-rentes das da maioria das profissões. Se pensarmos que as jazidas minerais ocorrem por todo o globo terrestre, este profissional estará sujeito a viver durante períodos mais ou menos longos em locais distantes das zonas urbanas e, por isso, pobres em comodidades e longe da família. Os trabalhos de prospecção implicam sempre o trabalho de campo, muitas vezes com vegetação densa, terrenos pedre-gosos com irregularidade e até com fortes inclinações, a exposição a condições atmosféricas adversas, o contacto com fauna/flora que pode ser perigosa – especialmente em zonas tropicais remotas. O dia do Geólogo raramen-te é marcado pelo relógio, sendo antes comandado pelas necessidades de levar a bom porto os trabalhos que decor-rem no momento. Convém não esquecer que, por outro lado, existe o contacto com a Natureza, a descoberta de outras regiões e dos costumes aí existentes, o gosto pelo desconhecido e o querer saber mais. Havendo fases mais difíceis/morosas e outras mais agradáveis torna-se impres-cindível encarar estas duas faces da moeda num tom de optimismo – valorizando os aspectos positivos e minimi-zando as situações mais difíceis.■

Sondagens carotadas de superfície

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«Explosão em Mina a Céu Aberto»Fotografia: Dmitri Melnik, 2011

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Indústria Extractiva

Jubilação Prof.Dinis da Gama

No passado dia 14 de Abril de 2011, decorreu a cerimónia de jubilação do Prof. Carlos Dinis da Gama, no anfite-atro do Complexo Interdisciplinar do Instituto Superior Técnico, em Lisboa. A cerimónia foi presidida pelo presi-dente do IST, Prof. António Cruz Ser-ra, tendo sido aberta pela Vice Reitora da Universidade Técnica de Lisboa, Prof.ª Maria da Conceição da Cunha e Vasconcelos Peleteiro, em represen-tação do Reitor.

O Prof. Catedrático Dinis da Gama nasceu em 1941, formou-se no IST em 1963, tendo obtido o grau de mestre na Universidade de Massachusetts (EUA) e de doutoramento na Universidade de Luanda (Angola).

O Prof. Carlos Dinis da Gama desen-volveu inúmeros projectos nos quatro cantos do mundo, mas foi em Portu-gal, Angola e Brasil que viveu e sediou a sua actividade de engenheiro, inves-tigador e professor. Foi Presidente da Sociedade Portuguesa de Geotecnia, Presidente da Faculdade de engenha-ria de Luanda, Presidente do Depar-tamento de Engenharia de Minas do IST, Vice Presidente da Sociedade In-ternacional de Mecânica das Rochas, Presidente da Sociedade Brasileira de Mecânica dos Solos, tendo recebido diversos prémios nacionais e interna-cionais. A sua actividade profissional centrou-se na engenharia de minas, mecânica das rochas e geotecnia, sempre com a presença da economia, sem nunca perder de vista o superior desígnio da engenharia ao serviço do Bem e do Homem.

Na presença da sua família, amigos, colegas e alunos, que lotaram o anfite-atro, o Prof. Dinis da Gama leccionou

a sua última aula subordinada ao tema “Geoengenharia, Mudanças Globais e Futuro do Planeta” Esta notável lição, dividida em três partes levantou diver-sas questões e desafios, alguns deles para serem respondidos pelas gerações vindouras.

Após a aula, falaram o Prof. Melo Men-des, Prof. Simões Cortês, Prof. Lopez--Jimeno, Eng. António Coimbra, Eng. Mascarenhas de Almeida e Prof. Antó-nio Cruz Serra. Estes colegas e amigos descreveram o percurso do jubilado, destacando as suas notórias qualida-des pessoais e profissionais.

O Prof. Dinis da Gama contribuiu, apoiou e lançou diversas carreiras de engenheiros de minas e de seus alunos.

Tendo terminado a sua actividade lectiva, o Prof. Carlos Dinis da Gama continuará a participar e liderar di-versos projectos de investigação, bem como a orientar teses de doutoramen-to. Estamos certos que a porta do seu gabinete permanecerá aberta e que manterá a sua infindável disponibili-dade para ajudar e encorajar quem o procura.

Em nome dos seus alunos, colegas, co-laboradores e amigos, Parabéns e Mui-to Obrigado.■

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Indústria Extractiva

Novos desenvolvimentos associados às Explorações a Céu AbertoRealizou-se no passado dia 23 de Mar-ço no Grande Auditório da Ordem dos Engenheiros em Lisboa, o Seminário “Explorações a Céu Aberto: Novos Desenvolvimentos”, organizado pelo Conselho Regional Sul do Colégio de Engenharia Geológica e de Minas.

O evento contou com diversos orado-res, em quatro sessões organizadas de forma temática.

A primeira sessão foi dedicada a no-vas tecnologias, métodos e soluções para a melhoria da eficiência energé-tica, tendo sido apresentadas algumas aplicações, destacando-se: os Sistemas de Controlo Avançado e o software de controlo visual Visiorock, apresenta-dos pelo Eng. Mário Amaral da Met-so; a utilização do martelo hidráulico HB 10000 como opção ao desmonte com explosivos, apresentada pelo Eng. José Torres Marques da Atlas Copco; a importância da adequação dos moto-res ao trabalho a realizar para melhor eficiência energética, apresentada pelo Eng. Carlos Costa da Weg; e, final-mente, a Eng.ª Sofia Tavares da EDP Serviços dissertou sobre o Plano de Promoção de Eficiência no Consumo.

A segunda sessão centrou-se na carac-terização dos maciços rochosos e no efeito das vibrações geradas pelos des-montes com explosivos nos maciços residuais. Foram oradores o Eng. Raúl Pistone da COBA, a Eng.ª Paula Re-bola do Cevalor, e o Eng. Pedro Ber-nardo da SEC, tendo-se destacado a necessidade da introdução, na Norma Portuguesa, do parâmetro frequência na avaliação das vibrações sobre as construções.

Na terceira e na quarta sessão abor-dou-se a inovação tecnológica as-sociada à separação e concentração de minerais industriais por via óp-tica, cuja apresentação esteve a car-go do Dr. Rui Vide da Felmica, e da qual se destacou a eficiência desta metodologia na exploração dos fel-dspatos para a indústria cerâmica, e projectos concretos de recuperação paisagística associada à indústria ex-tractiva tendo tido como oradores o Eng. José Oliveira da Secil, o Eng. Luís Morais da DGEG, o Dr. João Meira da Visa Consultores e o Eng. Diogo Caupers da Casa da Mesqui-ta - Sociedade Agro-Industrial, S.A. Neste painel destaca-se pela positiva os excelentes exemplos de recupe-ração e reconversão paisagística de pedreiras e pela negativa as politicas de gestão do território (ou a ausência delas) que levam à interdição do apro-veitamento de importantes reservas de recursos minerais irrepetíveis e a demissão das entidades com respon-sabilidade na matéria.

Na última sessão refere-se, ainda, a intervenção do Dr. Silva Pereira da DGEG relativa ao enquadramento jurídico dos resíduos da indústria ex-tractiva.

Os períodos de debate das sessões fo-ram bastante participados, reflexo do número de participantes, que ultra-passou a centena, e do interesse dos temas, permitindo a franca troca de opiniões.■

Dr. João Meira na apresentação do Projecto integrado do núcelo de pedreiras da mata de Sesimbra na visão do projectista.

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112 | Portugal Mineral

Indústria Extractiva

Enquadramento

A exploração de depósitos minerais, realizada em minas, está enquadrada no regime jurídico português pelo Decreto-Lei n.º 90/90, de 16 de Março, que disciplina a revelação e aproveitamento de bens naturais existentes na crosta terrestre, genericamente designados por recursos geológicos e, mais especificamente, no Decreto-Lei n.º 88/90, de 16 de Março, que regula o aproveitamento dos depósitos minerais naturais.

Recursos Minerais Abrangidos

Os depósitos minerais são definidos como todas as ocorrências minerais de elevado interesse económico devido à sua raridade, alto valor específico ou importância na aplicação em processos industriais, existentes em território nacional e nos fundos marinhos da zona económica exclusiva. Inserem-se nesta categoria substâncias minerais utilizáveis na obtenção de metais (ouro, prata, cobre, etc.), substâncias radioactivas, carvões, pirites, fosfatos, talco, caulino, diatomite e quartzo, bem como pedras preciosas e semipreciosas.

Da mesma forma, as areias, os cascalhos e outros agregados marinhos do leito e subsolo do mar territorial e plataforma continental são qualificados como depósitos minerais.

Entidade Licenciadora

A entidade responsável pelo licenciamento das actividades de prospecção, pesquisa e exploração de depósitos minerais é a Direcção-Geral de Energia e Geologia (DGEG).

Prospecção e Pesquisa

As actividades de prospecção e pesquisa de depósitos minerais ocorrem sempre no âmbito de um contrato celebrado entre o requerente e o Estado Português, onde se encontram definidos os seguintes aspectos:

03.1

03.2

03.3

03.4

03

Legal Framework

Portugal’s mineral deposit exploitation is governed by Decree-Law nr. 90/90, of March 16th, which applies to the discovery and exploitation of natural resources existent in the Earths crust. These are generically designated as geological resources and are governed in greater in detail, by the Decree-Law Nr. 88/90 of March 16th, on the use of the natural mineral deposits.

Mineral Deposits covered by the legal Framework

Mineral deposits are all mineral occurrences with high economic interest due to their scarcity, high specific value or importance for the application in industrial processes. This refers to those deposits existent within national territory and offshore within the exclusive economic Zone.

In this category are included mineral substances used to obtain metals that contain (gold, silver, copper, etc.), radioactive substances, coal, talc, kaoline, diatomite, quartz, precious and semiprecious stones.

In a similar way, the sands, gravel, and other aggregates that occur on the seabed and or subsoil of the territorial sea and continental platform are classified as mineral deposits.

Licensing Authorities

The licensing authority for research, exploration and exploitation of mineral deposits is the Directorate General of Energy and Geology (DGEG).

Exploration

The exploration for and development of Mineral deposits requires that an applicant enter into a contract with the Portuguese State. In the contract some items are established such as, area intended to be prospected; definition of the target

licenciamento de minasMINE LICENSING (MINERAL DEPOSITS)

19

Visa Consultores publica Guia do

Investidor em Portugal 2011

A Visa Consultores acaba de editar “Indústria Extractiva - Guia do In-vestidor em Portugal”, um roteiro extremamente útil para as empresas e investidores, nacionais e estrangeiros, interessados na pesquisa e exploração dos recursos minerais em Portugal Continental e nas regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.

Numa publicação sucinta mas exaus-tiva, sistematizada e de leitura aces-sível, facilmente manuseável, pode consultar-se a referência à legislação e aos procedimentos a percorrer para o licenciamento industrial de pedreiras e de minas no Continente e nas Regi-ões Autónomas.

O guia tem ainda um capítulo sobre Avaliação de Impacte Ambiental, um requisito prévio obrigatório para todos os projectos que ultrapassem

determinadas dimensões ou que se encontrem em áreas consideradas sensíveis.

Destaque também para o capítulo Exigências Complementares que elucida sobre os normativos ao nível da certificação e da implementação de sistemas de gestão de qualidade, da utilização do domínio hídrico, do licenciamento de infra-estruturas de apoio e o regime jurídico da respon-sabilidade por danos ambientais.

O capítulo Contactos Úteis enumera os endereços e outros dados de orga-nismos e entidades incontornáveis ao desenvolvimento da actividade. Entrevista

a Mário Bastos

sobre Guia do

Investidor

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Portugal Mineral | 113

Indústria Extractiva

Portugal Mineral: Quais os motivos da publicação deste guia?

Pelo nosso conhecimento do sector extractivo em Portugal, considerá-mos, já há alguns anos, que fazia falta um documento agregador e orienta-dor sobre a legislação e procedimen-tos administrativos para as pedreiras e minas. Além disso, tínhamos dificul-dade em explicar com detalhe esses requisitos aos nossos clientes estran-geiros a actuar em Portugal. Foi as-sim, com o intuito de apoiar os nossos clientes portugueses e estrangeiros, que publicámos este guia.

Portugal Mineral: Tiveram qualquer tipo de apoio para esta publicação?

Em termos financeiros não tivemos quaisquer apoios. Contudo, tivemos um conjunto de incentivos de várias pessoas e entidades que nos motiva-ram a levar por diante esta tarefa, que dentro da nossa empresa mobilizou todos os elementos.

Portugal Mineral: A VISA Consulto-res é hoje a empresa líder na sua área de negócio. Como líder sente a res-ponsabilidade de apoiar e fomentar o sector extractivo, para além das suas responsabilidades profissionais?

Há muito que a nossa empresa deixou de ser um mero prestador de serviços para ser um parceiro dos clientes e das instituições. É assim que somos enten-didos no mercado e é também assim que todos os colaboradores se sentem. Temos um histórico de quase 20 anos de produção de documentos técnicos e orientadores para os nossos clientes. Na medida das nossas possibilidades e das nossas competências continua-remos a contribuir para o fomento do Sector.

Portugal Mineral: É o sector extracti-vo, essencial para Portugal?

O sector extractivo terá de ser enca-rado de uma forma abrangente. Tanto em termos de matérias-primas produ-zidas, como de conhecimento empre-sarial e técnico existente.

Portugal manterá uma actividade de construção civil, como qualquer outro país tendo, para isso, de possuir uma indústria extractiva moderna e com-petitiva. Contudo, será difícil que em Portugal as obras públicas e privadas voltem a ter a dinâmica e dimensão das décadas passadas. Já não há muito para construir nem muito espaço para o fazer. Existirão algumas grandes obras públicas, a médio longo prazo, mas o essencial será reconstruir, me-lhorar, beneficiar.

Assim sendo, não é previsível que a indústria extractiva de cimentos, agregados e ornamental, no mercado nacional, volte a ter a dinâmica do passado. A opção poderá ser a expor-tação, a especialização e a internacio-nalização.

A exportação de cimentos e rochas ornamentais é já uma forte realidade. Contudo, para os agregados, a expor-tação só poderá verificar-se em produ-tos muito específicos e para mercados especiais e geograficamente próximos.

Em termos de especialização, teremos de produzir produtos específicos para aplicação em reconstruções, em reabi-litação de monumentos, etc. Analoga-mente, existem produtos derivados da pedra que importamos, e que temos a possibilidade de produzir interna-mente.

No que se refere à internacionalização, por vezes temos tendência para subes-timar o nosso conhecimento. Acredi-tamos que em todo o mundo existem pessoas que sabem fazer o mesmo que nós. E que o sabem fazer tão bem ou melhor que nós. Não é verdade. Exis-tem países que têm a necessidade e não têm o conhecimento. Noutros, a oferta não é suficiente face à dinâ-

mica de desenvolvimento em que se encontram. De facto, existem países que estão em franco desenvolvimen-to com muitas necessidade ao nível das obras públicas e infra-estruturas, com muita mão-de-obra mas pouco especializada e com necessidade de grandes quantidades de matérias-pri-mas básicas. Terá de ser aí a aposta, valendo-nos do nosso conhecimento e da nossa propalada capacidade de adaptação.

Uma referência importante para a área mineira dos metálicos que conhece, actualmente, uma enorme dinâmica. Em Portugal existem muitos recursos metálicos que estão insuficientemente reconhecidos ou aproveitados. Exis-te uma proliferação de projectos de prospecção e pesquisa desses recur-sos, tanto de promotores nacionais como estrangeiros.

Portugal Mineral: Qual o papel do in-vestimento estrangeiro nesta estraté-gia?

A atracção de investimento estrangei-ro afigura-se difícil, na actual conjun-tura económica, mas tem de constituir um desígnio nacional.

A este nível, no sector mineiro dos metálicos, a DGEG tem feito um es-forço meritório com bons resultados. Contudo, a actual situação económica de Portugal e da Europa não constitui um atractivo para esses investimentos. Acresce que existem países, nomeada-mente em África e na América do Sul, com enorme potencial de atracção, tanto pelas características da econo-mia como pelo interesse e importân-cia dos seus recursos minerais.

Em todo o caso, o investimento es-trangeiro, também com um envolvi-mento de empresas nacionais, deverá ser uma aposta sob duas vertentes principais, o investimento em empre-endimentos nacionais e a internacio-nalização para mercados de grande potencial.

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«Pedreira de Mármore»Fotografia: Knud Nielsen, 2011

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116 | Portugal Mineral

Indústria Extractiva

Convenção PDAC, Toronto de 4 a 9 de Março de 2011

Decorreu em Toronto, no Canadá, en-tre 4 e 9 de Março, a edição de 2011 da Convenção PDAC (Prospectors and Developers Association of Canada).

Este evento anual reúne os maiores actores mundiais da área da prospec-ção e desenvolvimento mineiro, con-tando com a participação das princi-pais empresas do sector, bem como de entidades governamentais de diversos países.

Estiveram presentes nesta convenção mais de 60 entidades governamentais de vários países e cerca de 1000 em-presas com stand.

Esta edição, que se estima ter conta-do com mais de 30 000 inscritos, pro-venientes de mais de 120 países, teve uma forte participação portuguesa, com representantes de entidades e várias empresas do sector mineiro a actuar em Portugal.

A participação portuguesa teve a co-ordenação da Direcção Geral de Ener-gia e Geologia (DGEG), que organi-zou uma sessão subordinada ao tema «Mineral Potential of Portugal», no dia 7 de Março.

A sessão teve o apoio do AICEP de Toronto e a presença do Cônsul de Portugal em Toronto que endereçou um incentivo à participação das em-presas e entidades neste importante evento internacional.

Foram oradores: Carlos Caxaria, DGEG; Raul Travado, AICEP Toron-to; Luís Martins, DGEG; João Matos, LNEG; Paul Kuhn, Avrupa Minerals; Nikolas Perrault, COLT/EUROCOLT; Harry Anagnostaras-Adams, Emed Mining; Peter Sullivan, Greenhills TI; Robert Carmichael, Lundin Mining; Joan McCorquodale, Northern Lion; Peter Chodos, Strategic Resource Ac-quisition; Paulo Ferraz, Sojitz Beralt Tin and Wolfram; Mário Bastos, VISA Consultores.

Nas diferentes apresentações ficou pa-tente o potencial mineiro português, a informação e apoios disponíveis para os investidores e algumas das activi-dades de prospecção e mineração em curso em Portugal.

Foram ainda apresentadas áreas de prospecção e pesquisa para o territó-rio nacional, que serão postas a con-curso brevemente.

A Convenção PDAC disponibilizou numerosos cursos, palestras e apre-sentações temáticas acerca da activi-dade de prospecção e mineração de vários países.

Ficou bem patente a enorme dinâmi-ca do sector mineiro no mundo, clara-mente numa fase de alta de mercado e com tendência de crescimento. Para Portugal, foi uma montra do potencial existente e da atractividade do nosso país para investimentos externos.■

PDAC2011International Convention, Trade show& Investors exchanche - Mining Investment Show

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Portugal Mineral | 117

Indústria Extractiva

Workshop APAI e APA: Pós-Avaliação em «Avaliação de Impactes Ambientais»Decorreu no passado dia 24 de Fevereiro, no Auditório da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) um Workshop su-bordinado à problemática da Pós-Avaliação em «Avaliação de Impactes Ambientais». Esta sessão de trabalho foi orga-nizada pela APAI - Associação Portuguesa de Avaliação de Impactes e pela APA e contou com a participação de várias entidades públicas envolvidas na Avaliação de Impactes Ambientais, de consultores e projectistas e de proponentes.

A sessão teve como objectivo criar um fórum de discussão sobre a Pós-Avaliação em AIA nomeadamente no que se refere à operacionalidade das Declarações de Impacte Am-biental e dos Programas de Monitorização.

Os trabalhos iniciaram-se com a apresentação dos objecti-vos do dia de trabalho, tendo-se dividido os participantes em três grupos de reflexão, os quais deveriam produzir um documento que reproduzisse as opiniões dos participan-tes. No final da sessão a APAI ficou responsável pela ela-boração de um documento que constituirá um conjunto de Critérios de Boas Práticas na Selecção de Medidas de Mitigação e Programas de Monitorização.

Este documento encontra-se ainda em fase de elabora-ção, no entanto, existe já uma versão provisória onde se refere a necessidade de simplificação dos procedimentos administrativos que impliquem a duplicação de exigências relativas a medidas de mitigação e monitorização. Desta-ca-se neste âmbito, a implementação do Relatório Único, que tem em vista a compatibilização e integração das exi-gências a que estão sujeitos os projectos abrangidos pelos regimes de AIA e da Prevenção e Controlo Integrados da Poluição (PCIP).

Concluiu-se ainda que as Declarações de Impacte Am-biental deveriam ser reduzidas no seu conteúdo através da eliminação de recomendações (sendo um documento vinculativo deverá conter apenas as medidas obrigatórias). As medidas propostas deverão ser relevantes, exequíveis, eficazes e proporcionais aos impactes previstos. Estas me-didas deverão ser associadas à fase de projecto a que se aplicam e deverá ser assegurada a articulação entre me-didas, evitando-se redundâncias. As DIA’s deverão sempre ponderar os efeitos secundários das próprias medidas.

No que se refere aos Programas de Monitorização estes devem ser devidamente fundamentados definindo-se o

objectivo que está na base da sua formulação. Como crité-rios base para a proposta de Programas de Monitorização referem-se a existência de lacunas de informação relevan-tes e impactes incertos, a relevância para a gestão ambien-tal do projecto nomeadamente com inputs na mitigação de efeitos significativos que estejam a ocorrer e a avaliação da eficácia de medidas de mitigação.

Os programas de monitorização devem ainda ser exequí-veis e custo-eficazes e a sua definição deve ter em atenção o articulado por outros instrumentos, nomeadamente no que se refere ao autocontrolo das emissões gasosas e de efluentes líquidos.

O documento final que resultará das contribuições dos participantes no Workshop, fará parte das recomendações do Conselho Consultivo de AIA, devendo ser adopta-do por todos os intervenientes no procedimento de AIA nomeadamente as entidades públicas, os promotores e os consultores.■

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118 | Portugal Mineral

Indústria Extractiva

Dia Europeu dos Recursos Minerais (DERM) 2011

Este ano, a ANIET foi convidada para ser o coordenador a nível nacional do Dia Europeu dos Recursos Minerais.

O que é o Dia Europeu dos Recursos Minerais?

O DERM é um evento voluntário que se comemora por toda a Europa, com várias actividades promovidas em mi-nas e pedreiras, com o principal ob-jectivo de aumentar a visibilidade do Sector dando a conhecer a importân-cia da indústria extractiva ao público em geral.

Tem como Objectivos:

► Consciencializar a população so-bre a necessidade e importância da extracção de minerais na vida quotidiana;

► Divulgar a importância do sector na economia do país e da UE;

► Demonstrar o comportamento responsável e um compromisso com o ambiente, a biodiversidade, as questões de segurança, entre outras.

Tema:

Este ano, o evento irá decorrer sob o tema:

“Minerais Europeus: Uma Extracção Sustentável para uma Europa Próspe-ra”

Usando este tema, pretende-se que as empresas demonstrem a importância desta indústria, nomeadamente:

1. No desenvolvimento da economia local, como oportunidade de gera-ção de riqueza, criação de Empre-go e oportunidades de criação de carreira;

2. Saúde e Segurança. Exemplo disso é o acordo europeu que Portugal subscreveu sobre sílica cristalina respirável;

3. Boas práticas ambientais e biodi-versidade (este ano com especial ênfase), eficiência dos recursos.

Tipos de Actividades:

Durante o DERM as pedreiras, em toda a Europa, abrem as suas portas a escolas e ao público em geral como oportunidade para dar a conhecer a exploração dos minerais e a sua im-portância.

São actividades típicas deste Dia: “Pedreira de portas abertas”, visitas guiadas a minas, visitas geológicas, workshops, conferências, escultura, plantação de árvores, apresentação de projecto de protecção da natureza, etc

Organização: das próprias empresas com o apoio da ANIET

Datas: De 13 a 15 Maio de 2011

O DERM oferece uma grande flexibilidade para as empresas participantes:

► Livre escolha da data (13, 14 ou 15 de Maio);

► Liberdade de escolha do tipo de evento (cada empresa saberá a me-lhor forma de atingir o seu públi-co-alvo); A dimensão do evento não tem importância - actividades eficazes podem ser organizadas com pe-

quenos orçamentos;

O Dia Europeu dos Recursos Minerais é coordenado, a nível europeu, pela IMA-Europe - Associação Europeia dos Minerais Industriais, UEPG - As-sociação Europeia dos Produtores de Agregados, CEMBUREAU - Associa-ção Europeia do Cimento e pela Eu-roGeoSurveys - Associação Europeia dos Serviços Geológicos.

Mais informações em: www.mineralsday.eu

Na próxima edição da revista daremos conta de como decorreram os eventos

“Uma Extracção Sustentável para uma

Europa Próspera”

Principais Factos e Números

► Na Europa existem activas cerca de 30.000 pedreiras e minas

► Produz-se mais de 3 biliões de to-neladas de produtos essenciais à sociedade

► O Sector dos minerais dá emprego a cerca de 350.000 empregados e até 500.000 quando inclui subcon-tratados

► 14% dos postos de trabalho na UE, são em empresas que necessitam dos minerais como matérias pri-mas

► O volume de negócios anual do Sector de minerais é de cerca de 50 biliões de euros

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Portugal Mineral | 119

Indústria Extractiva

► Aproximadamente 70% da indús-tria transformadora da UE depen-de das substâncias minerais

► Uma casa familiar contém até 400 toneladas de minerais e agregados

► Um carro contém até 100-150 Kg de minerais e mais de uma tonela-da de metais

► 50% das tintas é feita de minerais

► O papel utiliza até 50% de mine-rais

► A cerâmica é feita 100% de mine-rais

► Um telemóvel e um computador contêm até 40 high-tech minerais e metais

► O vidro contém até 100% minerais

► Os minerais são cada vez mais uti-lizados, para o desenvolvimento de produtos tecnologicamente so-fisticados, como os chips de com-putador

► Para muitas matérias-primas es-senciais, a extracção está concen-trada em um número limitado de países

► Antes de ser concedida uma licen-ça, a empresa de indústria extrac-tiva deve apresentar um plano de recuperação, para toda a área a ser explorada

► Em toda a Europa, um número enorme de flora e fauna, existentes na lista oficial vermelhas de espé-cies ameaçadas de extinção, en-contra abrigo em unidades extrac-tivas de minerais activas ou encerradas.

► Mais de 700 locais do reino Unido, de especial interesse científico es-tão situados em antigas pedreiras. Uma recente pesquisa mostrou, que pedreiras francesas proporcio-naram casas, para mais de metade das espécies animais conhecidas na França.

http://www.unicem.fr/userfiles/dos-sier-de-presse-Unicem-biodiversi-te-281008.pdf

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120 | Portugal Mineral

Indústria Extractiva

Feiras 2011 JunhoInterBuild 23 a 27 de Junho de 2011Egypt, Cairo

Stone+Tec 201122 a 25 de Junho de 2011Nuremberga, Alemanha

JulhoQingdao International Stone exhibition14 a 17 de Julho de 2011China

AgostoCachoeiro Stone Fair23-26 AgostoCachoeiro de Itapemirim – Brasil

SetembroBaltic Build Exhibition12 a 14 de Setembro de 2011St. Petersburg, Russia

Marmomacc 201121 a 24 de Setembro de 2011Verona, Itália

Building & Construction Indonesia, 21 a 24 de Setembro de 2011Jacarta, Indonésia

OutubroConcreta, Exponor,18 a 22 de Outubro de 2011Porto, Portugal (NACIONAL)

Saudi Stone e Saudi Build 16 a 19 de Outubro de 2011Riyadh - Saudi Arabia

Natural Stone 201127 a 30 de Out. de 2011Istambul, Turquia

NovembroBatimat7 a 12 de Novembro de 2011Paris, França

Kamien - Stone,9 a 12 de Novembro de 2011Stone Industry Fair 2011, Poznan, Polónia

Stone Gate Egypt 14 a 17 de Novembro de 2011Egypt

Funéraire17 a 19 de Novembro de 2011Paris, França

Big 5 International Building & Construction Show, 21 a 24 de Novembro de 2011Dubai

Feiras 2012JaneiroStone Expo21 a 23 de Janeiro de 2012Gent, Bélgica

FevereiroVitoria Stone Fair7 a 10 de Fevereiro de 2012Brasil

MaioPiedra - Natural Stone Fair9 a 12 de Maio de 2012Madrid, Espanha

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Portugal Mineral | 121

Indústria Extractiva

Eventos 2011

6ª Conferência Mundial da EFEE sobre Explosivos e Técnicas de Desmonte com Explosivos

A 6ª Conferência Mundial da EFEE sobre Explosivos e Técnicas de Desmonte com Explosivos  terá lugar em  Lis-boa, entre os dias 18 e 20 de Setembro de 2011.  Esta Conferência será um fórum privilegiado para a apre-sentação e discussão de trabalhos desenvolvidos na área da Engenharia dos Explosivos, quer de domínio académico, quer do domínio profissional.Para mais informações: www.efee.eu ou www.ap3e.pt/

2nd International Conference on Explosive Education and Certification of Skills A AP3E - Associação Portuguesa de Estudos e Engenharia de Explosivos convida, quem estiver interessado, a subme-ter um Resumo de um tema a apresentar no  2nd Interna-tional Conference on Explosive Education and Certifi-cation of Skills, que se realiza em Lisboa, no Hotel Açores Lisboa, no dia 21 de Setembro de 2011.Esta conferência tem por objectivo discutir a formação e a certificação de competências nas várias actividades que se relacionam com produtos explosivos, e que incluem no-meadamente o fabrico, controlo de qualidade, transporte, uso, fiscalização, detecção, eliminação, análise forense.Para além da participação  dos parceiros no projecto EU-ExCert e EUExNet (www.euexcert.org) , contam reunir também alguns dos participantes na 6th EFEE Conference on Explosives and Blasting (www.efee.eu) , que se realiza também em Lisboa de 18 a 20 de Setembro.A data limite para apresentação dos Resumos é 3 de Junho de 2011. Para quaisquer esclarecimentos ou informações comple-mentares, contacte através do seguinte endereço de e-mail: [email protected]

Green Week - Green Week Conference, Resources Efficiency - Using less, living better24 a 27 de Maio de 2011Brussels

GeoReq, Forum de La Fédération Française des Géosciences23-27 October 2011Villeneuve d’Ascq

2nd Annual Global Mining Technology Forum25-26 de Maio de 2011Stockholm, Sweden

11th International Multidisciplinary Scientif Geo-Conference& Expo - SGEM 201119 a 25 de Junho de 2011Albena, Bulgaria

IUGG 2011 - XXU IUGG General Assembly: Earth on the Edge: Science for a Sustainable Planet27 de Junho a 8 de Julho de 2011

7th International Conference “Geology at school and university: GEOLOGY AND CIVILIZATION”30 DE Junho a 5 de Julho de 2011Saint-Petersburg, Russia

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122 | Portugal Mineral

Indústria Extractiva

Plano de Formação da ANIET - 2011

Consciente da necessidade de valorização dos recursos hu-manos no Sector Extractivo e Transformador, quer através da constante actualização de conhecimentos, quer no âm-bito da actual legislação laboral, a ANIET apresenta o seu Plano de Formação para 2011.

Serão realizadas tantas acções quantas necessárias, desde que se verifique um número mínimo de 12 inscrições.

O local de realização das acções será definido em função do maior número de inscrições.  

Denominação Destinatários Objectivos

(No final da acção os formandos deverão ser capazes de)

Local e

nº de acções

Duração Datas Preço por formando

(inclui certificado de participação)

Utilização de Explosivos na Indústria Extractiva

Colaboradores que desempenhem actividades na área da extracção

► Conhecer os diferentes ti-pos de explosivos, sua aplicação e métodos de cálculo de pegas de fogo;

► Conhecimentos de ruptu-ra da rocha por acção dos explosivos e problemas ambientais associados;

► Noções Segurança e consi-derações práticas na Utili-zação de Explosivos

A definir de acordo

com o número de inscrições recebidas

35 horas Maio 

10 dias18h00-21h30

ou5 dias (7h/dia)

 200 €

Operador de Produtos Explosivos

(obtenção célula operador)

Engenheiros/Directores Técnicos/Operadores de Explosivos

► Obtenção da cédula de operador de explosivos;

► Conhecimentos na área dos produtos explosivos

A definir de acordo

com o número de inscrições recebidas

30 horas

+ 1h30 Exame

A definir de acordo

com as inscrições

A definir

Saúde, Higiene e Segurança na Indústria Extractiva e Transformadora

Todos os colaboradores

► Noções de Saúde, Higiene e Segurança no Trabalho;

► Conhecer a legislação as-sociada

► Equipamentos de protec-ção individual e colectiva;

► Segurança na utilização de máquinas e equipamentos

A definir de acordo

com o número de inscrições recebidas

35 horas Junho 

10 dias18h00-21h30

ou5 dias (7h/dia)

 175 €

Técnicas de Desmonte

Colaboradores que desempenhem actividades na área da extracção

► Conhecer os principais métodos e técnicas de Ex-tracção de Rochas e sua aplicabilidade;

► Noções básicas de desenho geológico e topográfico;

► Noções básicas de Saúde, Higiene e Segurança no Trabalho

A definir de acordo

com o número de inscrições recebidas

35 horas Setembro 

10 dias18h00-21h30

ou5 dias (7h/dia)

175 €

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Portugal Mineral | 123

Indústria Extractiva

Marcação CE – Regulamento n.º 305/2011 Produtos de Construção

Colaboradores envolvidos no processo de controlo de produção

► Conhecer o regulamento n.º 305/2011 dos produtos da construção;

► Enquadramento legal

A definir de acordo

com o número de inscrições recebidas

8 horas Setembro 

1 dia9h00-13h e das 14h00-18h00

 80 €

Técnicas e Práticas de Transformação de Rochas

Colaboradores que desempenhem actividades na área da transformação

► Entender a indústria de transformação e o mercado

► Perceber o funcionamento dos equipamentos;

► Conhecer os métodos de controlo, medição e registo;

► Noções básicas de Saúde, Higiene e Segurança na In-dústria da transformação

A definir de acordo

com o número de inscrições recebidas

20 horas Outubro 

6 dias18h00 - 21h30

Ou 3 dias (7h/dia)

 125€

Marcação CE - Agregados

Colaboradores envolvidos no processo de controlo de produção

► Marcação CE em agrega-dos - Regulamento n.º 305/2011;

A definir de acordo

com o número de inscrições recebidas

8 horas Outubro 

1 dia9h00-13h e das 14h00-18h00

 80 €

Marcação CE - Rochas Ornamentais

Colaborado-res envolvidos no processo de controlo de produção

► Marcação CE em rochas ornamentais - Regulamen-to n.º 305/2011;

A definir de acordo

com o número de inscrições recebidas

8 horas Novembro 

1 dia9h00-13h e das 14h00-

18h00

80 €

Curso Europeu de Primeiros Socorros

 

Todos os cola-boradores

► Habilitar os formandos com os conhecimentos te-óricos e práticos que lhes permitam prestar a primei-ra assistência a sinistrados

A definir de acordo

com o número de inscrições recebidas

12 horas

A definir de acordo

com as inscrições

170€   

 

Recuperação Ambiental e Paisagística de Pedreiras

Gerentes e Técnicos

► Interpretar as alterações ambientais produzidas pe-las explorações a céu aberto;

► Conhecer os critérios para a recuperação de pedreiras e para a elaboração de pro-jectos de recuperação;

► Avaliar o impacte econó-mico da recuperação 

A definir de acordo

com o número de inscrições recebidas

20 horas

A definir de acordo

com as inscrições

A definir

Nota: aos valores

indicados acresce IVA à taxa legal em

vigor

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124 | Portugal Mineral

Indústria Extractiva

Fiscalização do mercado Relativo ao Comércio

de ProdutosO Decreto-Lei 23/2011, de 11 de Fevereiro, em vigor desde o dia seguinte, aprovou as normas necessárias para a apli-cação no direito português do Regulamento 765/2008, de 9 de Julho, que estabelece os requisitos de acreditação e fis-calização do mercado relativos à comercialização de pro-dutos, designadamente dos produtos com marcação CE.

Este Regulamento visa garantir que os produtos vendidos no mercado europeu respeita as normas europeias e que não colocam em causa a saúde ou a segurança de consumi-dores e utilizadores, fixando regras para a fiscalização do mercado, controlo de fronteiras e funcionamento do orga-nismo de cada Estado membro que reconhece as entidades que avaliam tais produtos.

AcreditaçãoÉ ao IPAC, Instituto Português de Acreditação, IP, (www.ipac.pt) que compete, a nível nacional, reconhecer as enti-dades ou empresas com competência técnica para avaliar se um produto cumpre as normas europeias.

Fiscalização do mercadoÉ à ASAE, Autoridade de Segurança Alimentar e Econó-mica, IP, (www.asae.pt), que compete fiscalizar os produ-tos, podendo proibir a venda, restringir a disponibilização,

retirar ou recolher do mercado e dos agentes económicos aqueles que apresentem riscos graves para o consumidor ou utilizador, sem prejuízo de tais medidas poderem igual-mente ser adoptadas por outras entidades com competên-cia de fiscalização específica no produto em causa.

Relativamente ao controlo dos produtos nas fronteiras ex-ternas da União Europeia, é dada competência à DGAIEC, Direcção-Geral das Alfândegas e dos Impostos Especiais sobre o Consumo, no que respeita a Portugal, para impedir a entrada de produtos que apresentem riscos para o am-biente ou consumidores.

Marcação CEÉ do conhecimento geral que muitos produtos só podem ser colocados no mercado europeu se apresentarem a marcação CE, sinal comprovativo pelo qual o fabricante comprova que cumprem as normas europeias  e não cons-tituem perigo para a saúde ou segurança do consumidor ou utilizador, constituindo a violação desta regra contra--ordenação, punível com coima, sem prejuízo da eventual responsabilidade civil ou criminal.

Associados ANIET- vantagem

É vantajoso ser associado da ANIET, pois em acréscimo às mais-valias conhecidas, as quotizações a favor de associações empresariais são dedutíveis em 150% do seu

valor até 2% do volume de negócios da empresa, para efeitos de IRC, tal como mencionado no art. 44.º do CIRC.

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Portugal Mineral | 125

Indústria Extractiva

Regulamento (UE) N.º 305/2011, do Parlamento Europeu e do Conselho de 9 de Março

Revogação da Directiva 89/106/CEE do Conselho

Foi publicado no Jornal Oficial da União Europeia  de 4 de Abril, o Regulamento (UE) n.º 305/2011 do Par-lamento Europeu e do Conselho de 9 de Março de 2011,   que estabelece condições harmonizadas para a

comercialização dos produtos de construção e que revo-ga a Directiva 89/106/CEE do Conselho.

Informação disponível em: http://eur-lex.europa.eu/JO-Html.do?uri=OJ:L:2011:088:SOM:PT:HTML.

Despacho n.º 5697/2011, de 1/04 Clarificação do Regime de Regularização das Explorações de Massas Minerais, no Âmbito do artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 340/2007, de 12 de Outubro 

Foi publicado no dia 1 de Abril e en-contra-se em vigor o Despacho que vem clarificar e agilizar o processo de regularização das pedreiras ainda não tituladas por licença.

Este diploma surge também no âmbi-to de um pedido efectuado, oportuna-mente, pela ANIET ao Ministério do Ambiente facto pelo qual esta associa-ção se congratula com a publicação do referido Despacho n.º 5697/2011, de 1 de Abril, que vem compatibilizar a exploração de massas minerais com os planos de ordenamento do território

vigentes, incluindo aqueles que con-têm restrições de utilidade pública ou de rede natura 2000.

A um tempo, e desde logo, porque vem permitir a harmonização das de-cisões dos vários Grupos de Trabalho perante todos os instrumentos de or-denamento do território, tanto os de 1.ª geração, como os subsequentes.

Doutro modo, na medida em que es-tabelece os mecanismos para reapre-ciação dos pedidos que colheram en-tretanto uma decisão desfavorável por

razões relacionadas precisamente com o ordenamento do território.

Por fim, importa ainda referir que a publicação do Despacho em apreço vem chamar a atenção para a neces-sidade de revisão urgente dos PDM’s ainda desactualizados como forma de regularização definitiva dos processos de licenciamento em curso.

A abertura do procedimento de rea-preciação da decisão deve ser tomada no prazo de 150 dias após publicação deste diploma.■

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126 | Portugal Mineral

Indústria Extractiva

Sessão pública de apresentação

do Manual do Operador de Produtos Explosivos

Teve lugar no LNEC-Laboratório Na-cional de Engenharia Civil, em Lisboa, no dia 10 de Março de 2011, pelas 17h a sessão de apresentação do Manual do Operador de Produtos Explosivos, que foi desenvolvido no âmbito do Protocolo de Colaboração entre a PSP e as associações ANIET e AP3E para a formação dos profissionais na área do emprego de explosivos, com vista em particular à obtenção da cédula de operador de fogo.

A sessão contou com a presença do Director do Departamento de Armas e Explosivos da Polícia de Segurança Pública, Superintendente Francisco Bagina, o Presidente da Direcção da AP3E, Prof. Doutor José Carlos Góis e o Vogal da Direcção da ANIET, Eng.º Carlos Galiza.

A apresentação do manual esteve a cargo do Eng.º António Vieira, repre-sentante da Mota-Engil, associada das duas associações. A mesa foi presidida pelo Eng.º Nuno Grossmann, em re-presentação do LNEC, associado da AP3E.

O manual está em fase de revisão grá-fica, estando prevista a sua publicação para breve. O manual com cerca de 180 páginas, está organizado em 12 capítulos, cobrindo os seguintes te-mas:

► Âmbito e objectivo do manual

► Deveres e responsabilidades do operador

► Geologia aplicada aos maciços ro-chosos

► Perfuração

► Explosivos

► Sistemas de iniciação

► Rebentamento com explosivos

► Carregamento das pegas

► Impactes ambientais inerentes ao uso de explosivos na escavação de maciços rochosos

► Segurança na utilização de explo-sivos

► Legislação aplicável à utilização de explosivos

► Terminologia dos explosivos para uso civil

O Manual do Operador de Produ-tos Explosivos poderá ser ainda uma mais-valia para estudantes do ensino superior universitário e politécnico, técnicos de pirotecnia e profissionais de engenharia de minas, de engenha-ria geotécnica, de engenharia geoló-gica, de engenharia mecânica, de en-genharia de explosivos, de engenharia militar e engenharias afins, bem como para profissionais de geociências apli-cadas ligados ao sector extractivo.

Fig 1 Superintendente Francisco Bagina, Eng.º Carlos Galiza, Eng.º Nuno Grossmann

Fig 2 Mesa da Sessão de Apresentação do Manual do Operador de Produtos Explosivos.

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Portugal Mineral | 127

Indústria Extractiva

ANIET contesta aumento exorbitante das taxas de explosivosFoi publicada, em 9 de Dezembro, a Portaria n.º 1231/2010, que fixa as ta-xas devidas à administração pela prá-tica de actos relacionados com a orga-nização e andamento dos processos de licenciamento dos estabelecimentos de fabrico e armazenagem de produ-tos explosivos.

Os exorbitantes aumentos do valor das taxas do Fundo de Fiscalização de Ex-plosivos e Armamento estabelecidos pela Portaria n.º 1037/2010, de 23/12, motivaram uma exposição da ANIET ao Ministro da Administração Interna manifestando o seu desagrado.

Com efeito, e não obstante a necessi-dade de actualização do valor das ta-

xas sobreditas, esta Associação enten-de que os aumentos ali contemplados, são exorbitantes e desproporcionados, agravados ainda pelo momento parti-cularmente difícil e penoso que as em-presas associadas do Sector Extractivo atravessam e, registando ainda, o facto de não ter sido consultada aquando da elaboração da Portaria em causa.

Deste modo, considerando inconcebí-veis os aumentos constantes da Porta-ria n.º 1037/2010, a ANIET solicitou, a suspensão da aplicação das taxas ali contempladas até que sejam definidos novos valores que cumpram com os critérios legais da proporcionalidade e da adequação à finalidade a que se destinam.

Na qualidade de sócia fundadora da CPCI – Confederação Portugue-sa da Construção e do Imobiliário, a ANIET pediu a colaboração desta confederação através do reforço deste seu pedido.

Êxitos Jurídicos da ANIETTaxa pela Exploração de Inertes – Município

de Castro VerdeA ANIET tem apoiado os seus asso-ciados na oposição à Taxa Autárqui-ca sobre a Exploração de Inertes, que alguns Municípios pretendem aplicar através de Regulamentos Municipais aprovados pelas respectivas Assem-bleias Municipais.

Nesse sentido, no âmbito da impug-nação do Regulamento Municipal de Liquidação e Cobrança de Taxa pela Exploração de Inertes no concelho de Castro Verde, promovida pela ANIET, o Tribunal Administrativo e Fiscal de Beja proferiu despacho que declarou a extinção da instância por inutilida-de superveniente da lide depois da Assembleia Municipal ter aprovado a revogação do referido Regulamento.

 

Taxa pela Exploração de Inertes – Município Vila Pouca de Aguiar

No âmbito da impugnação do Regu-lamento Municipal de Liquidação e Cobrança de Taxa pela Exploração de Inertes no concelho de Vila Pouca de Aguiar informa-se que o Tribunal Administrativo e Fiscal de Mirandela havia decidido que as associações não poderiam interpor recursos judiciais em defesa dos seus associados, por não disporem de legitimidade para tal, não se chegando a pronunciar so-bre a legalidade do regulamento.

Apresentado recurso, pela ANIET, o Tribunal Central Administrativo do Norte decidiu em sentido oposto, facto que demonstra, uma vez mais, a importância fundamental da ANIET na defesa dos interesses dos seus

Associados, em geral, e na luta que tem desenvolvido contra a implemen-tação de taxas municipais sobre a ex-tracção de inertes, em particular.

Posteriormente, o Tribunal Adminis-trativo e Fiscal de Mirandela irá pro-nunciar-se sobre a legalidade da refe-rida taxa, da qual será dado oportuno conhecimento a todos os associados.

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Entrepreneurs’ Forum Raw Materials Strategy and Resource Efficiency

Meeting the Challenges

SANA Lisboa Hotel – Thursday 26 May 2011Meeting room “Castelo IX”

Programme

08.30 Welcoming Reception

09.00 Introduction by Victor Albuquerque, President of ANIET Current challenges of the Portuguese Aggregates Industry

09.20 Abraão Carvalho, Head of Unit, DG Enterprise and Industry, European Commission European Perspectives on Raw Materials and Resource Efficiency

09.50 Carlos Caxaria, Vice General Director of Energy and Geology, Ministry of Economy Resource Efficiency – Prospects for Portugal

10.10 Reis Campos, President of CPCI, Portuguese Confederation of Construction and Real Estate Strategy for the Promotion of Construction and Real Estate

10.30 Coffee break

11.00 Maria de Lurdes Antunes, Member of the Board of Directors, National Laboratory of Civil Engineering (LNEC) Resource Efficiency in Construction: the Role of Research, Innovation and Standardization

11.20 Shulamit Alony, Regional Business and Biodiversity Officer, International Union for Conservation of Nature (IUCN)

Business, Biodiversity and the Aggregates Industry

11.40 Jim O’Brien on behalf of Slavko Šolar, SARMa Project Coordinator, Geological Survey of Slovenia

Progress Update on the SARMA Project

12.00 Open Discussion

12.30 Conclusions by Jim O’Brien, President of UEPG Closure by Victor Albuquerque, President of ANIET

12.45 Buffet Lunch

Union Européenne des Producteurs de GranulatsEuropäischer GesteinsverbandEuropean Aggregates Association

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