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N.º 206 Junho 2015 Mensal Portugal € 3,50 (Continente) Saúde I Natureza I História I Sociedade I Ciência I Tecnologia I Ambiente I Comportamento 5 601753 002096 00206 www.superinteressante.pt facebook.com/RevistaSuperInteressante HUMANOS DO FUTURO Como vamos evoluir Vulcões Erupções que alteraram a história Epigenética A nova arma da medicina Tecnologia Os 10 maiores fracassos

Super interessante portugal nº 206

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  • N. 206

    Junho 2015

    Mensal Portugal 3,50 (Continente)

    Sade I Natureza I Histria I Sociedade I Cincia I Tecnologia I Ambiente I Comportamento

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    www.superinteressante.pt facebook.com/RevistaSuperInteressante

    HUMANOS DO FUTURO

    Como vamos evoluir

    VulcesErupes

    que alteraram a histria

    EpigenticaA nova arma da medicina

    TecnologiaOs 10 maiores

    fracassos

  • 2 SUPER

  • 3Interessante

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    O TEMPOS MUDA QUANDO O DESAFIAS!ACERTO FCIL VIA SMARTPHONE - ENERGIA SOLAR.

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  • Observatrio 4O Lado Escuro do Universo 5Motor 8 Super Portugueses 10Histrias do Tejo 14Caadores de Estrelas 18Flash 62Marcas & Produtos 97Foto do Ms 98

    N o sabemos o que nos reserva o futuro, em termos de evoluo da humanida-de, mas uma coisa parece certa: a bacoquice est a aumentar. Eu explico: no final do sculo XIX, Ea de Queirs insurgia-se contra os pedantes da altura, que no conseguiam dizer uma frase sem meterem pelo meio uma palavra em francs ou ingls. Considerava isso um sinal do provincianismo irremedivel do povo por-tugus e das suas elites. Hoje, a prtica generalizou-se. J no preciso ter o azar de tropear num pedante, basta andar por a. A parolice geral. Vai-se a uma reunio e temos estratgias top-down, ou all-around, ou whatever. Vai-se a um restaurante e da mesa ao lado sobram budgets, reports, targets, deadlines e delays. Vai-se a uma esplanada e brindam-nos com pendes a dizer: Faz share das tuas rodadas. Liga--se o rdio e o anncio Festa do Cinema Italiano termina com um sonoro Italians do it better (ideia genial, no ?). Infelizmente, a doena alastrou em todas as direes: no h projeto universitrio que no seja um health-qualquer-coisa ou um blue-blablabla. Uma iniciativa social criada em Portugal por portugueses e para ajudar portugueses chama-se (como que havia de chamar-se?) Lets Help. Aqui na SUPER, por princpio, tento evitar assuntos com estes nomes ridculos, mas cada vez mais difcil, para alm de ser praticamente incontornvel o uso de termos como smartphone, tablet, fuel cell e outros. Continuaremos a resistir: se querem empurrar--nos, vo ter de fazer muita fora. Entretanto, gostaria de fazer uma pergunta aos tolinhos: para que se do ao trabalho de intercalar palavras em portugus no meio das outras? Se a lngua de Cames assim to incapaz para falar de prazos, partilhas ou solidariedade, deem-lhe um tiro na testa e no se pensa mais nisso! C.M.

    Ver a ria A ria de Aveiro uma das quatro principais reas hmidas portuguesas. Para conhec-la melhor, podemos entrar pelo Baixo Vouga Lagunar. Pg. 70

    Tons preocupantesEstudando atravs de satlites a cor dos oceanos, os cientistas so hoje capazes de deduzir o que se passa com o plncton, base de todo o ecossistema marinho, um dos mais importantes do mundo. Pg. 50

    N. 206

    Junho 2015

    Mensal Portugal

    3,50 (Continente)

    Sade I Natureza I Histria I Soc

    iedade I Cincia I Tecnologia I A

    mbiente I Comportamento

    56

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    www.superinteressante.pt fa

    cebook.com/RevistaSuperInter

    essante

    HUMANOS DO FUTURO

    Como vamos evoluir

    VulcesErupes

    que alteraram

    a histria

    Epigentica

    A nova arma

    da medicina

    Tecnologia

    Os 10 maiores

    fracassos

    O triunfo da bacoquiceJunho 2015206

    SECES

    www.superinteressante.pt

    Um, d, li, tNem tudo o que somos depende da lotaria gentica: os gmeos mostram como o ambiente pode modular a expresso do ADN. Pg. 42

    SADE

    A nova arma da medicina38

    A arte do reflexoFOTOGRAFIA 22

    www.assinerevistas.com

    Catstrofe Ao longo da histria, as erupes vulcnicas (alguma previsveis) destruram cidades, aniquilaram culturas e alteraram a geograia do planeta. Pg. 64

    Assie c u cique!

    GEOLOGIA

    Erupes, os espirros da Terra64

    EDUCAO

    No cho das escolas44

    Os humanos do futuroEVOLUO 32

    PSICOLOGIA

    O poder da iluso26

    GENTICA

    As lies dos gmeos42

    DOCUMENTO

    A cor dos oceanos50

    TECNOLOGIA

    Pnico nas ondas92

    AG

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    EDICEEQBEUPT

    #HRISTIAN(ORNER$IRETORDAEQUIPA)NNITI2ED"ULL2ACING

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    AMBIENTE

    A porta da ria70

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    ANIMAIS

    O primata de juba84

    TECNOLOGIA

    Proteja o seu telemvel88

    TECNOLOGIA

    Os maiores flops78

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  • SUPER4

    Observatrio

    O encontro est marcado para 5 e 6 de junho, em Pomona, nos arre-dores de Los Angeles. Ser nessas datas que 25 robs provenientes da Alemanha, de Itlia, do Japo, da China, da Coreia do Sul e dos Estados Unidos testaro as suas capacidades, na final do Robotics Chal-lenge. Promovida pela DARPA, a Agncia de Projetos de Investigao Avanada de Defesa, dos Estados Unidos, a competio repartir 3,5 milhes de dlares em prmios s trs equipas cujos engenhos consigam, da melhor forma e sem interveno exterior humana, conduzir um veculo e sair dele, abrir uma porta, subir escadas, fazer um furo numa parede, mani-pular uma torneira/vlvula de segurana e mover-se entre escombros. A ideia que, no futuro, estas mquinas possam colaborar com os bombeiros ou as polcias, e que substituam os humanos em situaes arriscadas.

    Duelo de robs

    O CHIMP representa a equipa Tartan Rescue, da Universidade Carnegie Mellon (Estados Unidos). Destaca-se pelos seus impressionantes braos articulados, com trs metros de comprimento, e desloca-se sobre lagartas, como os tanques de guerra.

    O RoboSimian, tambm conhecido como Clyde, um quadrpede que pode adotar

    a postura bpede. Os seus criadores, engenheiros do Jet Propulsion Laboratory,

    do Instituto de Tecnologia da Califrnia, inspiraram-se nos movimentos dos smios.

    JPL

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    ALT

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    MU

  • Interessante 5

    Q uando um carro est prximo de ns, conseguimos ver distintamente os seus dois faris, mas, medida que se vai afastando, a tarefa torna-se mais difcil, at que apenas vemos uma nica fonte de luz. A capacidade de resoluo angular do olho hu-mano de cerca de um minuto de arco, isto , 1/60 de um grau. Para se ter uma ideia do que significam estes nmeros, a Lua tem um dimetro angular de cerca de 30 minutos de arco, ou meio grau por outras palavras, podamos encher o cu, de horizonte a horizonte, com 360 luas coladas em linha, umas atrs das outras. Assim, apesar das suas limitaes, o olho humano ainda consegue distinguir 1/30 do dimetro angular da Lua, mas fatias mais pequenas comeam a confundir-se, tal como os faris de um carro distante.Obviamente, os telescpios ticos conse-guem melhor, com uma resoluo angular tpica na casa dos 0,5 a 1 segundos de arco (1/3600 de um grau), ou seja, 60 a 120 vezes melhor do que o olho humano. A qua-lidade do cu e a turbulncia na atmosfera levam a que o Telescpio Espacial Hubble seja praticamente imbatvel, atingindo reso-lues da ordem dos 0,04 a 0,05 segundos de arco, ou seja, cerca de 1500 vezes melhor do que o olho humano.A questo que hoje abordamos tem a ver com a capacidade de distinguir a fronteira de um buraco negro, para o que necessita-mos de resolues angulares mais de mil vezes melhores do que as do Hubble. O Telescpio do Horizonte de Acontecimentos (EHT, na sigla inglesa) conta atingir reso-lues angulares melhores do que cerca de 40 a 50 microssegundos de arco (cerca de 1,5 milhes de vezes melhor do que o olho humano)! Uma resoluo angular impres-sionante, que poder, inalmente, permitir testar a Relatividade de Einstein to prxi-mo do horizonte de acontecimentos quanto alguma vez conseguiremos.O raio de Schwarszchild de um buraco negro obtm-se equacionando a energia cintica de um objeto de determinada massa e a energia potencial gravtica do buraco negro. Quanto a velocidade de escape igual velocidade da luz, deine-se o raio de Sch-warszchild ou horizonte de acontecimentos: uma vez ultrapassada essa linha divisria, um observador externo no tem acesso a mais eventos, a mais informao que escape do buraco negro. Quanto mais macio o buraco negro, maior o raio de Schwarszchild. Quan-to mais prximo estiver o buraco negro de ns, menor ser a resoluo angular necess-

    ria para efetivamente conirmar a existncia do horizonte de acontecimentos.Assim, o buraco negro supermacio exis-tente no centro da Via Lctea apresenta-se como o candidato ideal para o EHT. Com cerca de quatro milhes de massas solares concentradas numa regio que cabe dentro da rbita de Mercrio, sabemos que deve existir um buraco negro na regio chamada Sagitrio A*. Isto porque vemos mltiplas estrelas orbitando um objeto invisvel mis-terioso nessa zona da galxia, como aprendi com Reinhard Genzel, nas minhas aulas de astronomia de infravermelhos, no Instituto Max Planck de Fsica Extraterrestre.A equipa do prof. Genzel levou dcadas a conirmar os resultados, sendo possvel ob-servar tambm gases em queda espiral na re-gio de Sagitrio A*, embora no formando um disco de acreo to bvio como os de galxias com ncleos ativos, medida que enormes quantidades de massa caem para o buraco negro. Nunca foi, porm, observado diretamente o horizonte de acontecimentos de um buraco negro, com toda a relevncia que isso tem para entender campos gravti-cos em condies to extremas e, em ltima analise, para vislumbrar tambm a natureza da massa escura.Para conseguir tal feito, o EHT conta usar interferometria de base muito longa (VLBI, na sigla inglesa), recorrendo a radioteles-cpios localizados por toda a Terra: do deserto do Atacama (com o telescpio APEX, por exemplo) at Antrtida (com o Telescpio do Plo Sul). Trata-se do maior telescpio virtual alguma vez utilizado na Terra, detetando radiao milimtrica e submilimtrica: as ondas rdio de 1,3 mm escapam do centro galctico mais facilmen-te do que as emisses de maiores compri-mentos de onda.Os desaios tecnolgicos so tremendos, para registar com a preciso do tempo at-mico a chegada de fotes a uma antena no Hawai, outra no Novo Mxico, outra ainda em Frana ou mesmo na base Amundsen--Scot. As imagens precisam depois de ser correlacionadas entre si atravs de soistica-dos computadores. Ao longo desta dcada, o EHT conta juntar progressivamente mais antenas sua rede interferomtrica, at inalmente se atingir o grande objetivo.

    O Lado Escuro do Universo

    O telescpio do horizonte de acontecimentos

    PAULO AFONSO

    Astrofsico

    N.R. Paulo Afonso escreve segundo o novo acordo ortogrico, embora sob protesto.

    DA

    RP

    A

    Os concorrentes ao Robotics Challenge, da DARPA, tero de pr prova as suas habilidades como condutores. Em cima, o THOR (Tactical Hazardous Operations Robot), de uma equipa de engenheiros das universidades da Pensilvnia e da Califrnia em Los Angeles.

    DA

    RP

    A

    A ltima verso do Atlas, um androide de 1,9 metros de altura concebido pela Boston Dynamics (depois comprada pela Google) pode deslocar-se em terreno irregular e resiste sem se desequilibrar ao impacto de objetos com at 9 quilos de peso.

  • SUPER6

    Observatrio

    U ma investigao coordenada por Douglas J. McCauley, eclogo da Universidade da Califrnia em Santa Brbara, publicada na revista Science, revela um diagnstico trgico sobre o futuro a mdio prazo da biodiversidade mari-nha: o que se avizinha, segundo as concluses do estudo, uma extino em massa. Os reci-fes de coral, verdadeiras florestas tropicais submarinas que se encontram entre os mais ricos ecossistemas da Terra, esto a desapare-cer a um ritmo vertiginoso. Os oceanos esto a ficar mais cidos, a uma velocidade sem pre-cedentes. Muitas espcies tm de percorrer longas distncias para encontrar guas onde consigam sobreviver. A sobre-explorao e o aquecimento global formam uma combinao letal para a sade ocenica, que se traduz numa ameaa muito concreta para a humanidade. Por outro lado, segundo um estudo divulgado na revista Nature, a subida do nvel do mar, devido ao derretimento dos gelos polares, 25 por cento mais elevada do que se pensava.

    Azul sombrio

    As redes de pesca capturam sem discriminao, como

    veriicou este tuburo-raposo, Alopias vulpinus, em guas

    do golfo da Califrnia.

    Aumento das

    temperaturas

    Declnio dos corais

    Destruio dos habitats

    Uso de redes

    de arrasto

    Migraes das espcies

    Prospeo e minerao dos fundos

    Segundo a Organizao

    Meteorolgica Mundial, 2014 foi

    o ano mais quente de sempre. A

    temperatura mdia global ultrapassou em 0,57 graus os 14 C da mdia

    19611990. A da superfcie marinha

    subiu 0,4 C.

    A combinao de calor

    e acidiicao fatal para os corais,

    que, em zonas como o Caribe, esto reduzidos a metade do que eram em 1970. A lentido com

    que se reproduzem e crescem agrava

    o problema.

    Tal como j izemos em terra,

    estamos a destruir todos os habitats da fauna marinha.

    Vastas regies ocenicas

    correm o risco de se tornarem

    desertos carentes de vida.

    As redes de arrasto varrem o fundo do mar, capturando tudo o que encontram, sejam espcies comerciais ou

    no. Calcula-se que j tenham causado danos em 52 milhes de quilmetros

    quadrados.

    Os peixes so como as pessoas:

    quando no h condies no stio onde

    vivem, emigram. Sardinhas, anchovas e cavalas

    esto a rumar a norte, devido ao aquecimento

    das guas.

    A explorao dos recursos

    minerais junta-se agressiva busca

    de petrleo. A Autoridade

    Internacional dos Fundos Marinhos j deu autorizao

    para prospetar 1,2 milhes

    de quilmetros quadrados.

    JEF

    FR

    EY

    RO

    TM

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    - C

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    S:

    SC

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    AR

    EZ

    Problemas profundos

  • O que entende por Siri?um assistente pessoal da Apple

    um caranguejo brasileiro

    uma fonte tipogrfica sueca

    Brevemente nas bancas!ancascaan

  • A Mini apresentou o prottipo de um sistema de realidade aumentada que fornece ao condutor informa-o sobre conduo, navegao, conectividade e entretenimento. Vrios cons-trutores j oferecem sistemas de head-up display (HUD) capazes de projetar no para--brisas, ou num pequeno ecr transparente, toda esta informao. A ideia da Mini fazer isso atravs de uns culos para o condutor. Ligados ao carro por Bluetooth, os culos tm na sua parte superior um processador, senso-res de inrcia e cmaras de vdeo, utilizados para localizar rigorosamente a sua posio no carro. Nas lentes, esto inseridos dois ecrs HD estreo em 3D, e os culos podem ainda ligar-se internet via um smartphone, a que se ligam por Bluetooth ou Wi-Fi, tudo isto com-patvel com eventuais necessidades ticas de cada utilizador, como lentes graduadas ou lentes de contacto. O estilo dos culos foi feito pela Designworks, uma empresa do grupo BMW, de que a Mini faz parte. As vantagens dos culos face aos HUD conhecidos que abrangem a totalidade do campo de viso do condu-tor, garantindo que nenhuma informao se sobrepe visibilidade do trnsito. H apps que correm nos culos, dentro e fora do carro, para vrias funes, que o utilizador comanda

    Realidade aumentada

    Motor

    8 SUPER

    atravs de trs botes e de um touchpad incorporados na haste do lado direito. O movimento da cabea, em algumas situaes, pode ativar funes apropriadas, sendo a mais interessante a viso raio X: atravs de cmaras colocadas na parte exterior do carro, quando o condutor roda a cabea durante uma manobra de estacionamento, v nos culos a zona cir-cundante, incluindo outros carros e passeios. Olhando para a frente, pode ter a informao de conduo, como a velocidade, e indicaes de navegao, atravs de setas sobrepostas na estrada, para melhor compreenso. Pode tam-bm receber avisos de entrada de SMS, que depois o sistema l em voz alta. Fora do carro, os culos continuam a funcionar. Por exemplo, ao olhar para o poster de um evento, o sistema pode detetar a sua localizao e descarreg-la na navegao do automvel. Outro exemplo a navegao a p, para aquelas alturas em que preciso estacionar longe do destino. A Mini no anunciou data de comercializao.

    Raio X

    1

    2

    E m setembro, a Toyota colocar venda na Europa o Mirai (futuro, em japons), um familiar de 4,9 metros de comprimento e quatro lugares, movido a pilha de combustvel (fuel cell). A produo estimada para o primeiro ano de 400 a 700 unidades, com o objetivo de atingir as 3000 unidades anuais em 2017. 1 O estilo da frente apresenta duas enormes entradas de ar triangulares, que tm a funo de alimentar de ar a pilha de combustvel. 2 A central de comando eletrnico do sistema est localizada no topo do comparti-mento dianteiro. 3 O motor eltrico sncrono de corrente alternada est em posio dianteira trans-versal e transmite os seus 154 cavalos e 335 Newtons-metro de binrio mximo s rodas da frente, atravs de uma caixa de velocida-des automtica. A velocidade mxima de 180 quilmetros por hora. 4 A pilha de combustvel de 155 cv est sob os bancos da frente, num posiciona-mento que permite baixar o centro de gravidade, e tem uma densidade de energia

    Kia Sorento 2.2 CRDI

    N unca o segmento dos SUV esteve to efervescente como agora, razo pela qual nenhum construtor se pode dar ao luxo de deixar envelhecer as suas propostas. A Kia est presente desde 2002 e acaba de lanar a terceira gerao do Sorento, um SUV de 4,8 metros. Integrando a grelha boca de tigre, que se tornou a imagem da marca sul-coreana, o Sorento no espanta pela esttica, que clara-mente conservadora. As dimenses exteriores do-lhe um ar imponente e fazem adivinhar o que est por dentro. O habitculo tem imenso espao em largura e comprimento, sobretudo na fila central deslizante. Na mala, existem mais dois lugares desdobrveis, aumentando assim

    a lotao mxima para sete, mas exigindo aos ocupantes da terceira fila uma certa ginstica. A Kia tem vindo a fazer um trabalho no sentido de aproximar o estilo exterior e interior dos padres dos modelos europeus, e este Sorento mais um passo. Os materiais utilizados tm boa qualidade apercebida e h pormenores de desenho no tablier que lhe do um ar sofisti-cado, alm de a lista de equipamento de srie ser muito completa. A motorizao disponvel em Portugal um quatro cilindros Diesel 2.2 de 200 cavalos, uma potncia acima da mdia que d acesso a prestaes convincentes mas com uma resposta ao acelerador um pouco brusca. Isto leva a que o eixo dianteiro, o nico

    3

    CARRO DO MS

    Toyota Mirai

  • O s automveis movidos por uma fuel cell (ou pilha de combustvel, que os engenheiros portugueses escolheram como a melhor traduo para portugus) tm sido apresentados pelas marcas que neles tm investido como os carros do futuro. Porm, isso j dura h quase vinte anos e a tecnologia ainda no foi alm do que a realizao de alguns programas--piloto locais. Mais do que o desenvolvi-mento das solues tcnicas necessrias a bordo, o que tem atrasado esta soluo tem sido a produo e a distribuio de hidrognio, o gs transportador de energia essencial para fazer funcionar uma pilha de combustvel. Num mundo ideal, o hidrognio seria extrado da gua atravs de uma eletrlise alimentada por energia eltrica obtida exclusivamente de fontes renovveis, mas no isso que se passa. Hoje, o hidrognio usado para fins indus-triais provm sobretudo do gs natural, uma fonte fssil. O ciclo virtuoso de um automvel que abastece de hidrognio limpo e expele pelo tubo de escape apenas vapor de gua ainda uma utopia, e no se espera que isso mude de um dia para o outro. H at quem ponha em causa toda a ideia, como o caso da Tesla, que aposta forte nos automveis eltricos com bateria e afirma no fazer sentido usar energia eltrica para obter hidrognio, que depois, na pilha de combustvel, reage com o oxignio atmosfrico para liber-tar energia eltrica, usada para mover o motor eltrico do automvel. Porque no usar a energia eltrica diretamente para alimentar um motor eltrico?, pergunta o lder da Tesla, Elon Musk. A verdade que o reabastecimento de um tanque de hidrognio demora apenas trs minutos, enquanto as baterias dos automveis eltricos continuam a precisar de sete a oito horas, numa tomada domstica, e a autonomia dos fuel cell pode chegar perto dos 500 km. por isso que os grandes fabricantes continuam a investir nesta tec-nologia, como faz agora a Toyota com o Mirai, o primeiro modelo fuel cell a chegar ao mercado.

    Opinio

    Ser desta?

    superior das melhores baterias para autom-veis eltricos, sendo 50 por cento mais leve do que a pilha de combustvel concebida pela Toyota em 2008. Logo sua frente, est o boos-ter que converte a energia eltrica produzida a bordo para 650 volts. 5 O primeiro tanque de hidrognio est localizado sob os bancos traseiros. feito em trs camadas de ibra de carbono e tem uma capacidade de 60 litros,

    a uma presso mxima de 700 bar. 6 A bateria de hidreto metlico de nquel est posicionada sobre o segundo tanque de hidrognio, de modo a no prejudicar a capacidade do porta-bagagens. 7 O segundo tanque de hidrognio est atrs dos bancos traseiros. Leva 62,4 litros e, em conjunto com o outro tanque, demora trs minutos a encher, permitindo depois uma autonomia de 480 km.

    Interessante 9

    4 5

    6

    7

    FRANCISCO MOTA

    Diretor tcnico do Auto Hoje

    motriz neste verso, tenha alguma dificuldade em colocar toda a fora do motor no asfalto sem algumas perdas de trao, sobretudo em pisos mais escorregadios, obrigando o ESP a entrar em ao mais do que o esperado. H uma verso 4x4, mas custa mais 13 300 euros. Com uma suspenso confortvel em ruas esburacadas, direo leve e caixa manual fcil de manusear, o Sorento mostra bem a sua vocao familiar, at pela enorme capacidade da mala, que chega aos 605 litros. A Kia tem uma postura comercial muito agressiva, para compensar a falta de notoriedade da marca no nosso mercado, oferecendo uma garantia geral de sete anos e um preo final de 38 988 euros, alm de ser classe 1 nas portagens, o que sem-pre importante.

  • SUPER10

    Ferno Mendes Pinto no foi heri nem santo,

    mas o retrato vivo do povo, nas suas grandezas

    e misrias. O seu livro, Peregrinao,

    uma verdadeira confisso nacional.

    SUPER Portugueses

    V inte e um anos no Orien te. Treze vezes aprisio na do e dezassete vezes ven dido como escravo; via jante nas partes da ndia, Eti pia, Arbia Feliz, China, Tar tria, Ma car, Samatra e ou tras muitas provncias daquele orien tal ar qui-plago, para no falar do Ja po, onde deixou uma recorda o que ainda se man tm, j que

    po der ter sido tes temunha da in tro duo da es pingarda naquele pas, feita talvez pelo seu compa nhei ro Dio go Zeimoto. Alm disso: mer cador, espio, diplomata, la dro e pirata; guerreiro e no vi o je suta. Que mais lhe faltou? Numa s vida, condensou a aventura dos por-tugueses no seu imprio orien tal. No se po de, em curto es pa o, fazer-lhe o retrato completo

    O grande peregrino

    e aqui fi cam j declaradas as mui tas la cunas em que vamos in cor rer , mas podemos, pelo menos, re cor d-lo.

    Antes de mais: impossvel no estabelecer uma compara o entre Ferno Mendes Pinto e Lus de Cames, naquilo que os apro xima e naquilo que os dis tin gue. So contempo r neos, am bos aven tureiros, am bos an da ram pelo Oriente e ambos can taram o im prio, mas de mo do bem dis tin to, na for ma e no con tedo. H, po rm, um trao de continuida de: em Os Lusadas, Cames can ta os heris, evo ca a glria e a ele va o espiri tual da constru o do im prio, ao mesmo tem po que apon ta a apa gada e vil tris teza que era j a sua po ca; na Peregrinao, Fer no Men des Pin to aplica uma lu pa tal apa-ga da e vil tristeza e d-nos, em por menor, um qua dro es pantoso des se imprio onde os ideais j s sobreviviam no es prito de uns pou cos, como D. Joo de Castro, S. Fran cisco Xavier e, de certo modo, a pr pria coroa, enquanto o gran de corpo nacional estava cor ro do pela ruim sede do ou ro. Pas sara o tempo do Gama, dos Al mei das e de Albuquerque.

    S isto no chega para clas si ficar essa obra magnfica que Peregrinao, sobre a qual, de res to, se multiplicaram teses e en saios eruditos, atri buin do-lhe qua li dades diferentes, por vezes con tra ditrias, tal como so di ver sas as teses so bre a prpria per so nalidade do seu autor.

  • Interessante 11

    bal, mas durante a via gem o navio atacado por cor s rios franceses. Abreviando: Fer no Mendes e mais uns quan tos desgraados aca-bam por ser aban donados, depois de sofrerem v rios maus tratos, na praia de Me li des. So socor ri dos em San tia go do Cacm e Ferno Mendes (o pobre de mim, como ele se cha ma amide) consegue chegar a Setbal. Aca bar, quatro anos mais tarde, a servir o mestre de San tiago, que era D. Jorge, duque de Coim bra, filho bastardo de D. Joo II, mas, j com vinte e tal anos, ele decide que quer mais, quer outra vida, mais prs pera. As sim, embarca para a ndia, em mar o de 1537, na mira de fazer for-tuna, como tan tos outros.

    A partir desta data, comea a sua grande aventura por terras do Oriente, narrada na famosa Pe re grinao, que ele s viria a es cre-ver muito mais tarde, no prin c pio da velhice.

    Antes de mais, falemos do des lum bramento da escrita: o ho mem era, de facto, um grande es cri tor, um maravilhoso con tador de histrias, com um es tilo vivo e fresco, com sen ti do de humor e pe netrao psi colgica, uma apu ra da capa ci da de crtica (incluindo a auto cr tica) e a noo exata do sus pense.

    Como se referiu atrs, o que ele nos traa , antes de mais, o per fil do portugus do imp-rio no o he ri e grande senhor, mas o povo (pe queno fidalgo, mer cador, plebeu) que veio

    FERNO MENDES PINTO (1510?1583)

    Digam o que disserem as te ses: pa ra ns, hoje, Ferno Men des Pinto indissocivel da Pe re gri na o, que se apresenta co mo uma auto-biografia. O livro, jun ta mente com trs cartas es critas por Ferno Mendes, ain da a prin cipal fonte que te mos sobre a sua vida, e pelo li vro sabemos que nasceu em Mon temor-o-Ve lho, na misria e estreiteza da po bre casa de seu pai, e que um tio, querendo en ca minh-lo para me lhor for tu na, o levou para Lisboa, teria ele dez ou doze anos, e o ps ao servio de uma dama as saz nobre. Ano e meio depois, fu giu, por um caso que lhe ps a vi da em risco. O autor no explica mais; segundo parece veja--se, por exemplo, o comentrio de Fer nando Antnio Almeida na edi o de Fernando Ribeiro de Mello (Afrodite, 1989) , a dama as-saz nobre em ques to era D. Joa na da Silva e Castro, casada com Francisco de Faria, alcaide de Palmela; a re ferida dama teria um amante; o marido soube e tu do aca bou em sangue, incluindo o da adltera, mas seguir-se-ia o in qurito sobre o pessoal da ca sa, para apurar cumplicidades; da a fuga precipitada do jovem Fer no Mendes.

    A GRANDE AVENTURAEste o preldio da grande aven tura. Deso-

    rientado, o mido, na sua fuga, embarca numa ca ra vela que vai largar de Lisboa para Set-

    Antnio de FariaN a Peregrinao, avulta a figura de um certo Antnio de Faria de Sousa, sob cujas ordens Ferno Men des Pinto ter andado durante al gum tempo. Embora s esteja pre sente numa parte do livro re la ti-vamente curta (em relao extenso da obra), quem ler a Pe re grinao no esque-cer este aven tureiro, misto de mercador, en via do oficial, corsrio, capito de sal-teadores, to expressivo o re tra to que o autor faz desta per so na gem. Era um bom comandante de homens, velava pelo seu bem-es tar; era naturalmente curioso e no lhe faltava tambm cobia; era astuto, capaz de mentir e dis si mular, mas capaz tambm de a tos cavalheirescos de generosida de e piedade. Ferno Mendes Pinto t-lo- en con trado em Patane, cidade da pe nnsula de Malaca (hoje em ter ri trio tailands), e, por infortnios v rios, ele, o pobre de mim, viu-se levado a integrar-se na compa-nhia (ou no bando) daquele che fe, que desaparece do livro aps ter roubado os tmulos que jul ga va serem de vrios impe-radores chi ne ses, mas que eram antes as se pulturas de santos, talvez bu dis tas. Aps

    esse ato, os portu gue ses, que navegam em vrias em barcaes, sofrem os efeitos des-truidores de uma tempestade; Men des Pinto e os companheiros veem o barco de Antnio de Faria a afundar-se e, no dia seguinte, no h sinais dele. Este desapare ci mento leva-nos, a ns leitores, a de duzir a morte de Faria, de quem no se fala mais. Talvez por isso, al guns estudiosos concluram que Antnio de Faria no mais do que uma inveno, uma mscara de Ferno Mendes Pinto, mas, em 1971, Eugnio da Cu nha e Freitas publicou, nos Anais da Academia Portuguesa de Hist ria, o testamento de Antnio de Fa ria, informando que aquele docu men to est trasladado numa escri tu ra de doao feita pela Misericr dia de Goa Misericrdia do Por to. O testamento foi feito em Goa a 2 de junho de 1548 e est as si nado por diversas teste mu nhas entre as quais S. Francisco Xavier. Ora, Ferno Men des Pinto data de agos to de 1542 o nau-frgio em que Faria de sa pareceu portanto, no mor reu nele, certamente. Em todo o caso, estranho que Pin to no mais volte a mencion-lo; o mistrio permanece.

    nas mes mas naus dos heris: povo fer vo ro-sa mente cris to, pois cla ro, mas ansioso de riquezas: sair eu [] muito ri co em pou co tempo, que era o que eu ento mais pretendia que tu do, con fessa o prprio Ferno, com desarmante sinceridade. Pa ra isto, valia tudo, ou quase, mas sempre dando graas a Deus. c lebre a cena em que, es tando o au tor a servir o ca pi to aventu rei ro Antnio de Fa ria, o grupo de portugueses se prepara para ata car e roubar uma embarcao de pacficos chi neses, e Faria d as suas or dens: atacaro logo que ele dis ser trs vezes Jesus, nome de Je sus

    Alis, um dos traos mais fas ci nantes da Peregrinao a sua (apa rente?) falta de coe-rn cia: Fer no Mendes Pinto invoca sem pre Deus e a Virgem, ful mi na contra os cultos idol tricos dos brutais gentios e sobretudo con tra os mouros, como os por tu gue ses de ento chamavam aos mu ulmanos; ao mesmo tempo, no oculta a sa be do ria contida em muitas fra ses que ouve a esses gen tios nem a ad mirao que sente pelas suas leis e orga-nizao; e quan to aos ps simos mouros, no deixa de aparecer, de vez em quan do, na sua narrativa, um ou ou tro seja corsrio, se ja mercador que revela ser de bom siso e mos-trar grande bon da de.

    Tambm sobressai no livro a cruel dade de costumes, as atro ci da des que naquelas partes

    S. Francisco Xavier foi testemunha do testamento de Antnio de Faria.

  • 12 SUPER

    Mentiu ou no?

    conhecida a piada: Ferno, mentes? Minto!, que o autor da Peregrinao te ve de ouvir dos seus con tem porneos. Alis, essa fa ma de mentiroso que lhe de ram te r talvez pre-judicado ain da a sorte que o livro teve em Portugal. Porm, tal co mo sucedeu com Marco Po lo, pro vou-se que, afinal, Fer no Men des Pin to no te r mentido por a alm. evidente que nem todas as infor ma es que d so exatas. No se sa be, alis, se ele tomou notas en quan to andava pelo Oriente ou se es cre veu inteiramente de mem ria. cer to que ba ra lhou datas e que no po de ter visto pessoalmente tu do aqui lo que descreve ele mesmo, por vezes, no cor rer do

    livro, men ciona que lhe contaram isto ou aquilo, mas muito do que ele con ta re ve lou-se exato, tan to no que se re fe re a acon te ci mentos como a per so na gens. Ter, por vezes, exa ge ra do em cer tas des cri es, mas poss vel que o te nha feito por deforma o da me m ria e no de li be ra da mente. sin to mtica a sua modstia em re la o sua prpria pes-soa e o re ceio, v rias vezes ex pres so, de que os lei to res no acre di tem no que ele es cre ve. Se ja co mo for, o que im por ta, hoje, o va lor literrio do tex to e o seu retrato dos por tu gue ses de Qui nhen tos no Orien te, que, es se, fiel. Ain da ho je, mesmo que o lei tor sal te umas pginas, a Pe re gri na o um livro a no perder.

    SUPER Portugueses

    faziam reis e prncipes, corsrios e ge ne rais e os portugueses no es ca pam regra, vemo-los a fazer co mo os outros. Neste as peto, o li vro uma sucesso de horrores, mas tambm de atos generosos, de atos de piedade, por vezes de feitos he roicos, tudo isto aplicado, uma vez mais, a portugueses e a gentios. De notar, a propsito, que Ferno Mendes Pinto ja mais se gaba de atos de co ra gem, ape sar de ter entrado em combate in meras vezes. H nele orgu lho na cional, lou va muitas vezes a va len tia dos por tugueses, mas nun ca a sua, in dividual. E, se h or gulho, h tam bm crtica. Por exem-plo, em dois episdios, pelo me nos, o grupo de portugueses em que ele estava ento inte-grado di vi diu-se em discrdias e lu tas da pri-meira vez, porque um tal Fonseca se travou de razes com um tal Madureira sobre qual das respetivas famlias ti nha mais valimento em Portugal; da a pouco, estavam todos bu lha por to importante mo ti vo, o que lhes trouxe graves pre juzos, en tre os quais serem mui tas vezes aoitados pelas au to ridades chi ne sas. Ferno Men des Pinto atri bui episdios como este ao (mau) gnio nacio nal, e sempre, om ni-presente, a co bia, a sede de ri que za rpida, que levou tantos com panhei ros seus a perde-rem a vi da.

    JOO AGUIAR

    Este artigo foi publicado originalmente na SUPER 116. Joo Aguiar faleceu em 2010.

    Enfim, o nosso homem fez for tu na e prepa-rou-se para re gres sar ao reino. Foi nessa al tu ra que lhe sobreveio a crise es piritual. Co nhe ceu S. Francis co Xavier e cola bo rou com ele. De pois da morte do santo, deu a sua fortuna aos po bres e Com panhia de Jesus e fez-se no vi o. Como novio, visi tou Ma cau, mas a vocao no du ra ria mui to tempo.

    BEST-SELLER TARDIONo se sabe por que razo aban do nou a

    Companhia de Je sus. Tal vez porque a disciplina no lhe caa bem. No h pistas so bre um con-flito com os jesutas, embora ho je se ponha essa hi ptese. O que certo que Fer no Mendes Pin to voltou vi da secular em 1557 e que no ano seguinte em bar cou para o rei no, aps vinte e um anos de au sncia. Trazia car tas atestando bons servios, car tas que, jul gava ele, lhe vale-riam uma recompensa da coroa; a regente, D. Catarina, no lha ne gou, mas (ento como hoje) a bu ro cra cia sabotou-o. Desconsola do, cansado de esperar, Ferno Men des desistiu. Ainda tinha al go de seu, pois comprou uma quin ta no Pragal, perto de Al ma da. Casou, teve filhas e foi fi gura im portante e respeitada na terra a que se acolheu: por duas vezes o ele-geram juiz e de sem penhou fun es adminis-

    tra ti vas (remune ra das) em hospi tais ligados Mi se ricrdia. Veio a falecer em 1583, poucos me ses depois de lhe ser atribu da, finalmente, uma ten a de dois moios de trigo.

    A sua Peregrinao, que ele co me ou a escre-ver em 1569 e que ter minou em 1578, s foi pu bli ca da em 1614, possivelmen te com al gu-mas alteraes ou do editor, ou da censura, ou dos je su tas. Em Portugal, o pblico no se mostrou propriamente entusias ta, embora houvesse edi es pos te riores, bastante es pa-adas, mas, no estrangeiro, as edies multi pli-caram-se: o livro foi traduzido pa ra caste lha no, francs, holands, ingls e alemo: um verda-dei ro xito in ter nacional.

    Para o leitor contemporneo, no tero grande interesse as des cri es fantsticas das ter ras orien tais, hoje conhecidas, nem a his t ria poltico-militar de reinos e principados, que nem sempre cor responde ao que outras fontes re gistam, mas interessa, e muito, a viva ci da de do estilo e, mais do que tu do, o retrato do por-tu gus-do-im prio, que um pouco, ainda, o nos so re trato, apesar do tempo decorrido e das vicissitudes his t ri cas.

    Frontispcios de edies alem, inglesa, holandesa e francesa da Peregrinao.

    Evocao de Ferno Mendes Pinto no Festival da Espingarda, em Tanegashima.

  • 13Interessante

  • SUPER14

    A cano infantil refere-se a um dos mais tpicos

    barcos do Tejo e ao imposto devido a quem

    entrava nos portos de Lisboa, para vender

    verduras, peixe e tudo o mais. No entanto,

    a falua estava longe de ser o nico barco do Tejo.

    Histrias do Tejo

    Q ue linda falua/ que l vem, l vem/ uma falua/ que vem de Belm/ Eu peo ao senhor barqueiro/ que me deixe passar/ tenho filhos peque-ninos/ no os posso sustentar/ Passar, no passar/ mas algum ficar/ se no for a me frente/ o filho l de trs.

    Ouvida com ateno, esta famosa e apa-rentemente inocente cano infantil , na ver-dade, crudelssima. Tem origem num antigo costume do Tejo, ainda de contornos bem menos perversos o tragamalho. Assim se chamava a taxa municipal determinada em 1802, obrigatria para cada barco que arribava a Lisboa, vindo de fora (incluindo freguesias que se encontravam para l dos limites cita-dinos e que foram, entretanto, abocanhadas pela capital, como Belm). Claro que o paga-mento era feito em dinheiro ou, em alguns casos, em peixe, e no era preciso oferecer um filho.

    A gnese de tragamalho, a estranha pala-vra que definia o imposto, perdeu-se no tempo, mas chegaram a ns algumas tabelas de paga-mento do sculo XIX: segundo uma resoluo rgia de 1852, os barcos que vinham da zona de Abrantes, Chamusca, Santarm e Benavente desembolsavam 150 reis cada vez que apor-tavam em Lisboa; os de Vila Franca de Xira, Alhandra, Alverca e Sacavm pagavam 100 reis; as embarcaes de localidades mais pr-ximas da capital (Alcochete, Barreiro, Almada, Pao de Arcos e Cascais) ficavam-se por uma avena anual entre os 800 e os quatro mil reis, dependendo do seu tamanho.

    At ao fim do sculo XIX, o Tejo era a grande autoestrada portuguesa, que ligava a metr-pole mais recndita provncia, e os barcos

    eram os camies de antigamente. Em 1877, por exemplo, saram do cais de Vila Velha de Rdo, junto fronteira, 632 barcos rumo a Lisboa, carregados de madeira, azeite, trigo, vinho e cereais. No regresso, voltavam com sal, bacalhau e mquinas para as indstrias locais. Havia barcos bem granditos os que faziam a carreira da Beira Baixa atingiam as 40 toneladas (pouco menos do que as caravelas dos Descobrimentos). Tudo isto, claro, antes da construo das barragens, que espetaram um ponto final na navegabilidade do rio.

    DESTRONADAS PELOS VAPORESVoltando estrela da cano infantil, a falua

    era provavelmente o mais tpico de todos os barcos do Tejo. Com 15 metros de compri-mento e as suas duas velas latinas, ajudadas aqui e ali por dois pares de remos, pertencia estirpe das fragatas e servia para transportar gente e mercadoria entre as duas margens. Esguias e muito rpidas, chegaram a ter o monoplio da travessia do Cais das Colunas para Cacilhas, at sofrerem a concorrncia dos cacilheiros da Companhia dos Vapores, fun-dada em 1847. A sua utilidade desvaneceu-se com o passar dos anos e viram-se obsoletas no sculo XX.

    Este era apenas um dos inmeros tipos de embarcao que abarrotavam o Tejo na sua poca urea. Ele era catraios, varinos e botes cacilheiros, fragatas, barcos de gua acima e galees a vapor, muletas, bergantins e savei-ros, chatas, buques e canoas, bateiras, carave-les e batis. Isto aps o sculo XVI, porque at a a tudo se dava o nome de barca.

    Apesar do trfego pesado do rio moderno, no se vislumbra atualmente mais do que uma

    centelha da vida atarefada que borbulhava nes-tas guas, a toda a hora repletas de barcos e barquinhos. Por volta de 1550, os registos reais contavam 1500 barcos a laborar em Lisboa. A estes somavam-se ainda outras tantas caravelas e naus que atracavam no porto da cidade.

    Entre tantas embarcaes trabalhadoras, os catraios destacavam-se, pode dizer-se, pela sua rebeldia. Mais pequenos do que as faluas, com apenas uma vela, surgiram por alturas do terramoto de 1755 e faziam servio

    Que lindafalua

    Fragatas do Tejo, nas dcadas de 1950 ou 1960 (foto de Artur Pastor).

  • Interessante 15

    Descalar a bota

    O Tejo tambm teve uma embarca-o imaginria: a bota flutuante. Conta-se que, h muitos, muitos anos, uma parquia ribatejana emprestou a esttua de um santo a uma igreja de Lis-boa, para ser usada nas festas da cidade. No final, no entanto, para desespero do padre da provncia, os lisboetas no de-volveram a imagem, e no havia maneira de resgatar a pea, porque havia sempre algum de guarda. Ento, algum teve um plano brilhante: anunciar pela capital fora a inveno de umas botas em corti-a, que supostamente flutuavam e permi-tiam que qualquer pessoa atravessasse o rio de uma margem outra, caminhando sobre as guas, tal qual como Jesus Cristo havia feito. Para que os mais cticos dis-sipassem as suas dvidas, ia ser feita uma demonstrao da a uns dias. Chegada a data, toda a cidade acorreu ao Tejo, para ver a maravilhosa e estranhamente cred-vel criao afinal, a ideia era to simples que at custava a crer que o calado flutuante s ento tivesse sido inventado. Claro est que a igreja do santo alheio ficou vazia de gente, circunstncia muito bem aproveitada pelos legtimos donos da imagem. chegada, o padre lisboeta encontrou, no lugar da esttua, um singe-lo bilhete: Descalcem agora esta bota. E a nasceu a expresso.

    Este artigo uma adaptao de um dos captulos do livro Histrias do Tejo, de Lus Ribeiro(A Esfera dos Livros, 2013)http://bit.ly/1hrY8Zc

    entre a margem sul e Lisboa, sem regras nem respeito pelos limites de passageiros que o bom senso ditava. Havia sempre lugar para mais um. A cobia dos catraieiros deu mau resultado demasiadas vezes botes que no suportavam mais de meia dzia de pessoas atravessavam o Tejo com o dobro ou o triplo dos passageiros, acabando em vrias ocasies no fundo do rio.

    A selva que grassava no Tejo obrigou o marqus de Pombal a tentar impor alguma

    ordem. Em 1765, o primeiro-ministro do reino preparou um alvar para regulamentar a ativi-dade dos catraios, assinado por D. Jos. Eu, El-Rei, fao saber aos que este alvar virem que, sendo-me presentes em consulta do Senado da Cmara os graves inconvenientes que resultam do uso das pequenas embar-caes chamadas botes, ou catraios, que de tempos a esta parte se tm introduzido para os transportes que se fazem no Tejo; tendo causado por uma parte frequentes perigos s

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    vidas das pessoas que nelas se transportam, no s pela segurana das mesmas embar-caes mas tambm pela ignorncia das pessoas que as governam; e pela outra parte destinando-se como mais prprias para as clandestinas condues, e descaminhos das fazendas de contrabandos. Para cessarem de uma vez os referidos inconvenientes, sou ser-vido proibir, da publicao deste em diante, o uso das referidas embarcaes pequenas, per-mitindo somente o daquelas que so neces-

  • 16 SUPER

    srias para o servio dos navios. E mando que todas as que ficam excetuadas, em transgresso do disposto neste alvar, sejam logo apreendidas e queimadas por ordem do Senado da Cmara da cidade de Lisboa nas praias a ela adjacentes; e que os proprietrios das mesmas embarcaes incorram, alm da pena do perdimento delas, na de seis mil reis aplicados nas despesas do mesmo Senado, e na de priso por espao de vinte dias pela primeira vez, agravando-se-lhes em dobro, tresdobro e mais as referidas penas nos casos de reincidncia. [] Que as embarcaes que se ocuparem nos transportes que se fazem de Lisboa para Belm, e mais portos da sua vizi-nhana, sejam construdas na conformidade das formas e medidas que vo declaradas no papel que baixa com este, assinado por Fran-cisco Xavier de Mendona Furtado, ministro e secretrio de Estado dos Negcios da Marinha e Domnios Ultramarinos.

    FRANCESES ENGANADOSO documento em apenso fornecia as dimen-

    ses mnimas para um catraio poder operar legalmente no rio: Devem as mais pequenas embarcaes destes transportes ter de boca [largura] ao menos sete ps [um pouco mais de dois metros]. De comprimento de roda a roda, ao menos 28 ps [8,5 metros]. A popa ser larga como a da falua. O rodo da forma ser bem redondo proporo da boca, para poder aguentar. Depois disto, o Senado ordenou que todos os catraios que no cum-prissem estes requisitos fossem ter praia de Santos, e a se mandou queimar todos quantos tiveram a ingenuidade de aparecer.

    A ameaa de apreenso e queima do bote e de uma pena de priso automtica no acabou com os maus hbitos s aumentou a habi-lidade dos catraieiros a fintar as autoridades. Mesmo assim, aos poucos, comearam a surgir catraios maiores, com capacidade para 12 a 15 pessoas, rebatizados de botes cacilheiros, e os acidentes l diminuram. Os catraieiros no tinham grande fama e, justia lhes seja feita, esforavam-se por mant-la rasteira. Um dos momentos que definiram o carter destes taxistas fluviais foi a retirada do exrcito fran-cs de Junot, em setembro de 1808, depois de assinada a Conveno de Sintra com os bri-tnicos. A sada de Lisboa fez-se pelo rio, em navios emprestados pelos prprios ingleses, e as tropas napolenicas estavam autorizadas a abandonar Portugal com as suas armas e bagagens (da a expresso), mas nem todos se ficaram a rir. Muitos gauleses, incluindo vrios oficiais, tiveram o azar de recorrer aos prstimos dos catraios, para poderem embarcar nas fragatas ancoradas no meio do Tejo. O destino destes soldados estrangeiros dependia da obesidade das suas malas: se os

    catraieiros suspeitassem que alguma coisa de valor engordava as bagagens, desviavam-se da rota, desculpando-se com uma qualquer corrente teimosa, matavam os passageiros traio, atavam os corpos a pesos que hou-vesse a bordo e atiravam-nos ao rio. Depois, continuavam a viagem rumo outra margem, escondendo-se durante algum tempo nas flo-restas a sul de Almada, um pouco mais ricos do que quando haviam zarpado de Lisboa.De certa forma, descontando a barbaridade, estes incidentes no deixavam de exalar uma ligeira fragrncia a ironia que as malas dos franceses iam, invariavelmente, recheadas de riquezas saqueadas em Portugal. Em certa medida, os marujos do Tejo no faziam mais do que reaver para o pas o que ao pas pertencia. Embora no conste que acabassem por entre-gar o produto das pilhagens ao estado, ou mesmo que o distribussem pela comunidade

    VARINOS E AVIEIROSTodavia, o Tejo era povoado sobretudo por

    gente honesta, e atraa muita gente de outras zonas de Portugal. Como os pescadores de Aveiro e de Ovar, que deram origem ao nas-cimento de outro tipo de embarcao que se tornou um cone do rio: os varinos. O nome do barco explica-se da mesma forma que o nome popular das vendedoras de peixe ovarina era uma mulher natural de Ovar; a primeira letra

    perdeu-se pelo caminho, talvez na aglutinao de ovarina!, que passou a varina!; len-tamente, os termos varina e varino passa-ram a designar todas as mulheres e todos os homens ligadas ao mar no litoral norte e, mais tarde, no pas.

    Muitos destes marinheiros da costa migra-ram para o grande esturio. No incio, apenas durante uma temporada por ano, para apa-nhar svel, aproveitando para fugir ao duro e perigoso inverno no mar. Mais tarde, em prin-cpios do sculo XX, as famlias comearam a viver definitivamente nas margens do rio. Entre eles, encontrava-se gente de Vieira de Leiria (os clebres avieiros) e de Ovar. Estes ltimos popularizaram o tal varino, uma bela fragata originria do Tejo, com cerca de 20 metros de comprimento, de fundo chato (para poder navegar nas guas pantanosas das lezrias) e com a sua caracterstica proa alta e curva.

    Nos anos 50, construram-se os ltimos vari-nos e as derradeiras faluas e fragatas. As vis-tosas embarcaes de madeira, vela, deram lugar aos modernos e bem mais feios bar-cos de fibra, com motor. Os emblemticos barcos do Tejo foram definhando e apodre-cendo, ingloriamente, nas suas margens. A evoluo da tecnologia tem destes efeitos secundrios.

    A.R./L.R.

    Histrias do Tejo

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    Varinos do Tejo (foto de Helena Corra de Barros).

  • 17Interessante

    | DEZ PERSONAGENS LETAIS |

    Adolf Hitler [1899-1945] Joseph Goebbels [1897-1945]

    Heinrich Himmler [1900-1945] Hermann Gring [1893-1946]

    Reinhard Heydrich [1904-1942] Martin Bormann [1900-1945]

    Albert Speer [1905-1981] Alfred Rosenberg [1893-1946]

    Baldur von Schirach [1907-1974] Fritz Todt [1891-1942]

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    (se quiser receb-la pelo correio, fale com a Sara Toms:

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  • SUPER18

    D as relaes que mais frequente-mente se estabelecem entre a terra e o cu como, por exemplo, as coordenadas que utilizamos para marcar posies de pontos na superfcie terres-tre ou na esfera celeste , talvez a mais subtil seja a que nos leva a relacionar uma hora com 15 graus, sem nos lembrarmos porqu. at muito provvel que, se acaso pensarmos no assunto, logo se decida desistir por se achar que deve ser qualquer coisa complexa e, logo, sem interesse para o cidado comum. Na ver-dade, o conhecimento de um facto ocorrido em determinado momento referido a certa hora que no igual para todos os lugares da terra, sendo mais tarde do que no local em que nos encontramos se tal lugar se situar para este e, pelo contrrio, mais cedo se se tratar de um ponto mais para oeste. Poderamos pensar simplesmente que os mtodos de contar as horas esto de algum modo relacionados com o Sol e que, se ao meio-dia, por exemplo, o Sol est mesmo em frente a ns (avista-se na direo de Sul), ento j ter passado em frente de quem est mais para este, e s pas-sar a sul de quem se encontre mais para oeste uma, duas ou mais horas depois.

    Com efeito, o que est estabelecido e que, em geral, todos sabemos mas raramente lem-bramos que, se medssemos o tempo que decorre entre o momento em que o Sol passa a sul do lugar em que nos encontramos, at voltar a passar, encontraramos o tempo a que chamamos dia, ou seja, cerca de 24 horas. Como no difcil imaginar uma circunferncia a toda a volta da Terra, paralela ao equador, em frente da qual o Sol vai passando, dir--se- que evidente a relao entre as 24 horas do dia e os 360 graus correspondentes cir-

    cunferncia. Partindo cada um desses valo-res em 24 partes, tornar-se- bvio que a uma hora correspondem 15 graus e que este valor a diferena de longitude entre dois lugares que tm em determinado momento uma hora de diferena! Assim, num lugar da Terra com 30 graus de longitude inferior do local onde nos encontramos, so duas horas mais tarde, ao passo que, num outro situado 45 graus a oeste, sero trs horas mais cedo.

    Tal relao (1 h = 15) , em alguns casos, utilizada de modo que uma hora no significa tempo mas 15 graus! o caso de uma coordenada utilizada em astronomia (corres-pondente longitude terrestre) a que se d o nome de ascenso reta e numa outra circuns-tncia, talvez menos clara, em que os graus se relacionam com tempo de visibilidade.

    No seu movimento em volta do Sol, os pla-netas descrevem uma trajetria que, embora seja elptica em todos os casos, ao ser reduzida para o tamanho de um desenho, no pode ser outra coisa se no uma circunferncia extraor-dinariamente perfeita. Tomando os dois pla-netas com rbitas interiores da Terra (Merc-rio e Vnus) e conhecidas que so as distncias entre eles e o Sol, fcil deduzir que, vistos da Terra, eles no se podero deslocar para a direita e para a esquerda da linha segundo a qual avistamos o Sol mais do que um certo valor: 28 graus para Mercrio e 48 graus para Vnus.

    Significa isso que, se em certa data, a seguir ao pr do Sol, virmos que Vnus est a, apro-ximadamente, 45 graus para a esquerda, dire-mos que est o mais afastado possvel cha-mamos a isso a elongao mxima e espe-raremos que, passada uma hora, o planeta se encontre a apenas 30 graus do horizonte,

    Caadores de Estrelas

    Elongaes e visibilidades

    MXIMO FERREIRA

    Diretor do Centro Cincia Viva de Constncia

    outra hora passada se veja a apenas 15 graus e, outra hora depois, tenha o seu ocaso. Feitas as contas, os 48 graus de elongao correspon-deram a um tempo de visibilidade de trs horas e mais uns poucos minutos.

    De igual modo, se o planeta se avistar direita do Sol (elongao oeste), ele no ser avistado noite mas sim de manh, antes do nascer do Sol, durante um tempo que estar relacio-nado com o valor da elongao: trs horas antes do nascer do Sol se a elongao for de 45 graus, duas horas se for de 30 graus, uma hora para 15 graus e tempos intermdios se os valo-res das elongaes se situarem entre estes.

    Ora, neste dia 6 de junho, Vnus alcanar a sua elongao mxima este, o que signifi-car que o ngulo entre a direo em que avis-tamos o Sol e aquela em que vemos o planeta de 45 graus, do que resulta um perodo de visibilidade de trs horas aps o ocaso do Sol. sabido que nunca poder ser mais e que, daqui a uns meses, quando a elongao for oeste, Vnus estar direita do Sol, ver-se- de manh, e nunca mais do que trs horas antes de nascer o dia.

    No dia 24, ser a vez de Mercrio alcanar a elongao mxima oeste, da resultando a sua visibilidade de madrugada, e durante um tempo que nunca chegar a duas horas. Desta vez, o mais pequeno planeta que podemos observar vista desarmada avistar-se- ao lado da estrela Aldebar, do Touro, ligeira-mente abaixo do enxame das Pliades, uma bela parte do cu que se vai tornando pro-gressivamente mais visvel nas madrugadas de vero.

    esquerda, diagrama do que poderemos ver no dia 6 de junho, quando Vnus alcanar a mxima elongao este. As mximas elongaes so os ngulos mximos que possvel estabelecer entre o Sol e as rbitas de Mercrio e Vnus, vistos da Terra. Mercrio ter uma mxima elongao oeste no prximo 24 de junho.

    mxima elongao

    SOL

    Oestehorizonte

    elongao este

    elongao oeste

    28o48o

    SOL

    Terra

    Mercrio

    Vnus

  • O cu de junho

    P raticamente a entrar no vero, so as constelaes dessa estao do ano que constituem o pano de fundo sobre o qual se projetam os astros errantes, que embora com posies bem diferentes de ano para ano vo proporcionando circuns-tncias interessantes que podem chamar a ateno de quem se habituar a, de vez em quando, olhar a esfera celeste e perceber que um ou outro ponto luminoso se coloca ao lado de alguma estrela que, noutra ocasio, no tinha tal companhia. Jpiter quase esttico continua na direo da constelao do Caranguejo e, muito lentamente, prepara-se para passar os limites desta constelao e entrar na do Leo. Muito mais veloz no seu passeio, Vnus deixar, em poucos dias, a regio dos Gmeos para fazer companhia a Jpiter e ultrapass-lo mesmo, no inal do ms. Ento, o astro mais brilhante de todo o cu exceo feita ao Sol e Lua colocar-se- esquerda de Jpiter, at que, passado pouco mais de um ms, parecer arrepender--se e inverter o sentido do seu deslocamento. No dia 20 de junho deste ano , Vnus, Jpiter e a Lua constituiro (no princpio da que ser a ltima noite de primavera), uma espcie de tringulo, de tamanho aparente to pequeno que os trs cabero no campo de um binculo vulgar. Signiica isso que, apontando um binculo na sua direo, ser possvel ver os trs simultaneamente. verdade que dos planetas no se ver mais do que os pontos de brilho intenso, ao contrrio do que sucede com a Lua, que mostrar detalhes interessantes, quer das zonas claras e escuras, quer de montanhas e crateras.Saturno agora j visvel acima do horizonte mal o Sol se esconde vai receber a visita da Lua quando esta se apresen-tar com o aspeto de primeira giba, o que sempre acontece em data intermdia entre o Quarto Crescente (24/6) e a Lua Cheia (2/7). Naturalmente, o decorrer da noite far todo o cu parecer rodar de este para oeste, razo por que os Gmeos e o Caranguejo mergulharo no horizonte, levando consigo os planetas (e a Lua, quando ela se projetar naquela regio da esfera celeste), enquanto no lado oposto Saturno se eleva, trazendo consigo o Escorpio, constelao que os observa-dores podero ver, nos prximos meses, durante toda a noite, primeiro mais perto do horizonte, e depois com alturas que sero progressivamente maiores.No lado norte, agora difcil ver a Cassiopeia, constelao que, ao princpio das noites, se encontra a rasar o horizonte, cir-cunstncia que os astrnomos designam culminao inferior, em oposio culminao superior, que, sensivelmente no mesmo momento, est a acontecer com a Ursa Maior.

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    Saturno j agora visvel, logo que o Sol se esconde. Aqui, o planeta dos anis fotografado pela sonda Cassini, com o seu maior satlite, Tit, em primeiro plano.

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    12 JUNHOCASA DA MSICA

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  • SUPER20

    Mapa do Cu

    Vire-se para sul e coloque a revista sobre a cabea, de modo que a seta ique apon ta da para norte. Se se voltar em qual quer das outras direes (norte, este, oeste), pode ro dar a revista, de modo a facilitar a leitura, desde que mantenha a seta apontada para norte. Os planetas e a Lua estaro sempre perto da eclptica. O cu representado no mapa (no que se refere s estrelas) corresponde s 21.30 horas do dia 5. A alterao que se veriica ao longo do ms, mesma hora, no muito importante. No entanto, com o decorrer da noite, as estrelas mais a oeste iro mergulhando no horizonte, enquanto do lado este vo surgindo outras, inicialmente no visveis.

    Como usar

    As fases da LuaLua Cheia Dia 2 s 17h19Quarto Minguante Dia 09 s 16h42Lua Nova Dia 16 s 15h05Quarto Crescente Dia 24 s 12h13

  • Interessante 21

    NORTE

  • SUPER22

    Fotografia

    Imagens surpreendentes do eco visual

    A arte do REFLEXO

    Usar a gua ou outras superfcies refletoras para conseguir composies e

    efeitos curiosos ou inesperados um clssico entre os fotgrafos. Reunimos

    uma pequena galeria de algumas das melhores fotografias base de reflexos.

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    Almas gmeasDois ursos-pardos (Ursus arctos) comem relva e bebem placidamente junto a um lago da Finlndia. Estes grandes mamferos vivem nas lorestas setentrionais da Europa, da sia e da Amrica do Norte.

    Espanto. R-verde-de-olhos-vermelhos (Agalychnis callidryas), em Santa Rita (Costa Rica). O habitat deste anfbio abarca toda a Amrica Central, do sul do Mxico at Colmbia.

    De tiritarO monte Grinnell (2699 metros de altura) relete-se nas guas

    do lago Swiftcurrent, um dos 130 existentes no Parque

    Nacional dos Glaciares (Montana). Este vasto ecossistema situado

    no noroeste dos Estados Unidos, na fronteira com o Canad, foi moldado pelos glaciares

    da ltima idade do gelo.

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    A simetria fulcral numa boa composio

    Escala humana. As guas de um rio da Baviera espelham esta casa-moinho com o caracterstico entramado de madeira das casas tpicas alems.

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    Felino nadadorUm jaguar (Panthera onca) no Belize. Embora semelhante ao leopardo, pela sua aparncia fsica, os hbitos deste felino so mais parecidos com os do tigre, pelo seu carter solitrio e por gostar de gua.

  • Interessante 87

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  • SUPER26

    Psicologia

    Somos o que pensamos ser?

    O poder da ILUSOSomos marionetas do nosso crebro, que filtra

    a realidade para nos podermos ver no como

    somos, mas como desejaramos ser. Essa velha

    caracterstica humana vive a sua poca dourada

    na era das selfies e das redes sociais.

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    O vrus da selfie, o autorretrato digital muito associado s redes sociales, j fez as primeiras vti-mas, como o casal polaco que morreu diante dos filhos quando se preparava para se fotografar beira de uma ravina de 80 metros, no cabo da Roca, em Sintra. Mesmo sem chegar a tais extremos, a febre do fen-meno infetou tamanha quantidade de pessoas que at j foram criadas regras para as selfies. Num artigo recente publicado na revista Popu-lar Science, o jornalista Mark McKenzie ofere-cia conselhos sobre se era ou no conveniente introduzir determinada foto em certos sites da internet.

    Qual o segredo do xito desta moda? Ter a ver com uma maior necessidade de nos conhe-cermos fsica e psicologicamente? De modo algum. Trata-se, sobretudo, de uma demons-trao do poder de nos acharmos mais boni-tos do que somos. o mesmo fenmeno que explica que adotemos determinada pose (que sabemos favorecer-nos mais) quando nos olhamos ao espelho. No procuramos ver-nos tal como somos, mas como gostaramos de ser. A introduo de novos elementos tecnolgicos (agora, todos os telemveis oferecem a opo autorretrato) s serve para nos ajudar nessa maquilhagem mental.

    Vivemos numa sociedade cada vez mais indi-

  • Interessante 27

  • SUPER28

    A maior parte das pessoaspensa ser melhor do

    que as outras

    T-shirt do cantor Barry Manilow (em voga, na altura) antes de entrarem numa sala onde estavam presentes colegas.

    A perceo do Efeito Foco foi ntida: mais de metade dos que vestiam a T-shirt pensaram que todos tinham reparado na pea de roupa, embora, na realidade, apenas 23% a tivessem notado. Em todas as experincias de Gilovich, observa-se o mesmo exagero da presso social. A realidade que as pessoas do muito menos ateno do que pensamos ao nosso aspeto fsico, aos nossos erros, s nossas mudanas e nossa forma de fazer as coisas.

    Contudo, o sentimento subjetivo de pres-so suficiente para influenciar a imagem que temos de ns prprios. Numa experincia recente, foi colocada esta pergunta a 50 pes-soas: Se pudesse mudar uma parte do seu corpo, qual seria? As respostas dos adultos revelaram a presso que acreditam sentir: Apenas uma?; Os meus olhos rasgados, porque toda a gente gosta de raparigas de olhos grandes; As estrias com que fiquei depois de ter dado luz; As minhas orelhas grandes, que fazem os outros troarem de mim e chamarem-me Dumbo...

    Todavia, as crianas respondem com base em parmetros completamente pessoais, no ditados pelas opinies alheias: Queria ter uma cauda de sereia; Queria uma boca de tuba-ro, para poder comer muitas coisas; Queria

    vidualista. Neste tipo de culturas, que o psic-logo Geert Hofstede descreveu como ideocn-tricas, v-se com bons olhos a autopromoo e fazer de cada momento da nossa vida algo muito importante para os outros. Autorretra-tar-se da forma mais atraente possvel e na situao mais favorvel, e introduzir depois a foto nas redes sociais, muito adaptativo para o indivduo. Contudo, para os que observam, no geralmente assim, como assinalou o estudo Envy on Facebook A Hidden Threat to Users Life Satisfaction (A inveja no Facebook: uma ameaa oculta satisfao dos utiliza-dores com a sua vida). Esta investigao de duas universidades alems concluiu que uma em cada trs pessoas se sente mais insatisfeita com a sua existncia depois de visitar este site na internet, pois v a inveja aumentar.

    CORRIDA AO EGOAlgo de semelhante acontece com a selfie:

    torna-nos competitivos. Se me achar mais bonito, considero-me mais atraente do que sou, o que tem como consequncia fazer-me sen-tir melhor. Esta corrida infinita rumo ao ego fomenta uma sociedade em que cada vez nos fotografamos mais e nos conhecemos menos.

    Desde que Scrates cr iou a mxima Conhece-te a ti mesmo, muitos defenderam a hiptese de que, se conseguirmos ver-nos com objetividade, seremos mais felizes. No entanto, outros afirmam que a vida a arte de se saber enganar, como escreveu, com cruel ironia, o ensasta ingls William Hazlitt, no final do sculo XVIII. Estudos modernos parecem dar-lhe razo: Hazel Rose Markus, psicloga da Universidade de Stanford (Esta-dos Unidos), afirma que existem na nossa mente dois eus que nos proporcionam ener-gia e nos guiam para os nossos objetivos.

    O primeiro o Eu Desejado, aquele que ansiamos ser (cada um tem o seu, com as suas caractersticas: bonito, rico, bem-sucedido, boa pessoa, popular...). O segundo seria o Eu Indesejado, composto pelos traos que que-remos evitar a todo o custo (derrotado, feio, mau, marginalizado...). Numa das suas expe-rincias, Markus comprovou o poder dessas imagens para nos guiar: os estudantes de medicina que tinham uma imagem clara de si prprios como grandes profissionais de sade (o seu Eu Desejado) obtinham melhores notas.

    Para conseguir que a sua autoimagem ideali-zada lhe sirva de guia, o homem do sculo XXI

    necessita de criar um duplo imaginrio quase perfeito. Os cientistas Nicholas Epley, da Uni-versidade de Chicago, e David Dunning, da Uni-versidade de Cornell (ambas dos Estados Uni-dos), reuniram estatsticas que refletem essa inflao do ego. Os dados revelam que quase todos os executivos acreditam ser mais ticos do que a generalidade dos colegas, que 90 por cento dos professores universitrios qualifi-cam o seu desempenho como superior ao dos outros, e que 96% dos condutores se sentem mais capazes na estrada do que os restantes. Emily Pronin, professora da Universidade de Princeton (Estados Unidos), incidiu nessa caracterstica humana ao descobrir que a imensa maioria das pessoas pensa que mais imune do que os outros relativamente ten-dncia para sobrevalorizar as suas qualidades. Nem nesse ponto conseguimos ver-nos com objetividade!

    NO CENTRO DO MUNDOPor que ser que se produzem estes desvios

    na perceo de si prprio? Para comear, achamos que os outros esto dependentes do que fazemos. O psiclogoThomas Gilovich, da Universidade de Cornell, um estudioso do que poderamos denominar Efeito Foco, a inclinao para crer que quem nos rodeia nos avalia incessantemente. A fim de analis-lo, props a estudantes voluntrios vestirem uma

    Vigorxicos desesperadosAo chegarmos adolescncia, comea a importar-nos o aspeto fsico como caminho para sermos aceites e admirados. Essa necessidade pode chegar ao ponto de desenvolvermos uma obsesso com o fsico que nos acompanhar toda a vida.

  • Interessante 29

    orelhas pontiagudas; Gostaria de ter asas para poder voar Algumas chegaram a res-ponder que nada queriam mudar. Esta dife-rena confirma que, com o passar dos anos, a tirania da opinio alheia quebra a harmonia e altera a nossa viso. Nas consultas de psicolo-gia clnica, no se registam problemas com o corpo quando se criana. At chegar a adoles-cncia (a idade complicada em que os outros comeam a exercer maior influncia sobre ns), aceitamos os nossos traos fsicos sem problemas; cuidamo-nos sem ficarmos obce-cados e sem maltratar o corpo.

    durante a juventude que surgem os proble-mas. A maior parte dos fenmenos negativos produzidos por uma autoimagem negativa afeta essa etapa vital. Aparecem distrbios graves, como a anorexia, a bulimia, a vigorexia ou a obsesso pela esttica. Os culos de aumentar que nos obrigam a usar distorcem a forma como nos olhamos. Alm disso, a ado-lescncia a etapa em que a opinio do resto das pessoas sobre o nosso fsico comea a preocupar-nos, e f-lo de modo intimidante.

    Esta fase caracteriza-se por ser gregria. Dependemos, em quase todas as questes, da opinio dos amigos, do grupo, da tribo urbana ou do coletivo com o qual nos identificamos. Num estudo recente, chegou-se concluso de que a reputao social do jovem explica, em grande parte, o seu maior ou menor senti-

    Conhece-se a si mesmo?

    A capacidade de nos enganarmos a ns prprios pode levar-nos a forjar uma imagem distorcida mas que fomenta a nossa autoestima. A sua ausncia conduz-nos ao realismo, conscincia dos nossos defei-tos e capacidade de transformao, mas tambm insegurana. Propomos-lhe este teste para que possa averiguar o seu grau de autoconhecimento.Responda com a maior sinceridade s 20 perguntas e escolha uma opo entre 0 e 5. 0 signiica que a frase no se aplica em absoluto neste momento da sua vida; 1, que se identiica em raras ocasies; 2, que a pode aplicar a si prprio em determinadas circunstncias mais ou menos habituais; 3, que deine a sua forma de ser em muitas ocasies; 4, que se identiica quase sempre com a frase; 5, que est totalmente de acor-do com a airmao.

    1. Quando ico a saber o que os outros dizem de mim em segredo, entendo geral-mente a razo das suas airmaes.2. Quando necessrio, exagero proposita-damente as minhas virtudes para alcanar certos objetivos. 3. Tenho conscincia de uma grande quan-tidade de coisas que no me agradam em mim prprio. 4. Aprendo coisas sobre mim que me surpreendem. 5. Sei melhor o que quero ser do que o que no quero ser. 6. Gosto de ouvir opinies sobre mim e con-selhos dos outros. 7. As pessoas prximas dizem coisas de mim que no me agradam. 8. Aceito partes do meu modo de ser que no me agradam porque esto associadas a algumas das minhas virtudes.

    9. Creio que h poucas coisas em que o meu desempenho superior mdia. 10. Dou-me bem com pessoas que me fazem crticas. 11. Estou longe de me assemelhar ao meu Eu ideal, isto , a como gostaria de ser. 12. No gosto de perder o controlo, pois sei que h partes de mim prprio que sei no agradarem aos outros. 13. No costumo comparar-me com as pessoas: entendo que cada um evolui dentro da sua prpria forma de ser. 14. Poderia citar dez aspetos de mim pr-prio de que no gosto. 15. Sei que partes da minha forma de ser me levaram a afastar-me de relacionamentos e amigos. 16. Sinto-me responsvel por uma grande quantidade de erros.17. Por vezes, tenho reaes de tristeza ou ansiedade. 18. No acho geralmente estimulantes as pessoas que me admiram. 19. Penso que os outros no me costumam julgar, que tm coisas mais importantes em que pensar. 20. H coisas de mim prprio que me fazem sentir inseguro.

    RESULTADOSSome as pontuaes. O resultado reletir a sua percentagem de autoconhecimento. Por exemplo, se somar 20 pontos, isso signiica que apenas conhece 20 por cento de si mesmo. Se a soma for de 80, conhece com objetividade 80% dos seus problemas, defeitos e virtudes. O segredo reside em saber utilizar esse cocktail para melhorar o que pretende mudar e tirar partido daquilo de que gosta em si prprio, sem se castigar nem icar deprimido pelo que faz mal.

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    mento de solido, a sua autoestima e o grau de satisfao com a vida. Essa reputao depende em grande medida, como vimos, da forma como ele se v a si prprio. Sentir-se melhor do que se verdadeiramente ajuda a satisfa-zer as expectativas do grupo de referncia, o que transforma a autoiluso num fator posi-tivo para determinados indivduos. Porm, tambm pode promover muitos dos seus con-flitos com o corpo. As anorxicas, para no irmos mais longe, colocam em perigo a pr-pria sade e mesmo a vida pelo seu excessivo perfecionismo, por sentirem que a sua beleza depende de estarem cada vez mais magras.

    SUPERIOR POR DESVALORIZAOOutro dos problemas da autoimagem nar-

    cisista que os seres humanos funcionam por comparao. Nesse sentido, h uma forma simples de nos acharmos superiores: desva-lorizar os outros. Essa viso deturpada est subjacente em mltiplos conflitos, desde a violncia conjugal ao racismo e ao sexismo.

    Por ltimo, o grande risco da falta de obje-tividade a dificuldade em aceitar as opinies alheias. As pessoas com uma elevada opinio de si prprias reagem muito mal s crticas. Para demonstr-lo, os psiclogos sociais Brad Bushman, da Universidade do Michigan, e Roy

    Baumeister, da Universidade da Flrida, pedi-ram aos voluntrios da experincia que res-pondessem a pessoas que elogiavam um texto escrito por eles, e tambm a outras que o criti-cavam. Antes disso, um dos grupos de volunt-rios vencera um jogo, o que lhes permitia sen-tirem-se superiores ao adversrio, enquanto o outro tinha perdido. Os primeiros, aqueles que tinham visto sair reforada a imagem de si prprios por terem ganho, responderam com grande agressividade s crticas, com o triplo da violncia dos vencidos.

    Algo de semelhante ocorre com muitas per-sonalidades famosas, desde polticos a ban-queiros, que passam pelos tribunais acusados de corrupo. A ausncia de sentido de culpa pode parecer surpreendente, como se conti-nuassem a manter uma imagem positiva de si prprios. A sua incapacidade para se verem como mais um elemento da sociedade e para aceitar as crticas levou-os a considerarem-se uma espcie de super-homens invulnerveis e acima das leis, algo tambm promovido pelos seus bajuladores. Assim, embora acharmo-nos melhores do que somos possa parece uma boa ttica vital, trata-se, no fundo, de um suicdio social. O peso do ego pode derrubar-nos para sempre.

    L.M.

    A soberba do lder

    J ohn Fitzgerald Kennedy foi, talvez, o poltico mais carismtico na histria do mundo moderno. Como personagem de fico, o governante que mais filmes e sries de televiso motivou. quase inevitvel uma referncia ao presidente em qualquer argumento que decorra no incio da dcada de 60. Como objeto de culto, poderia gabar-se de haver dezenas de museus que lhe so dedicados, mes-mo num local to distante dos Estados Unidos como Berlim, e de ser o nico governante que tambm conhecemos pelas suas iniciais, como se fosse um rapper de xito. Deve ter sido uma dessas pessoas a quem a presso social acabou por dar uma viso distorcida e superior de si prpria. esta a razo esgrimida por um dos seus assessores, o historiador Arthur M. Schlesinger, no livro Os Mil Dias de Kennedy, para explicar o fracasso da invaso da baa dos Porcos, em Cuba, em abril de 1961. Nas reunies prvias dos seus conselheiros, todos os dados apontavam para o fracasso da operao. Porm, Kennedy estava rodeado de amigos lisonjeiros, pois tinha afastado os mais crticos dos seus colaboradores, e no extraiu as concluses adequadas dessas informaes. Como recorda Schlesinger, os que rodeavam o pre-sidente acreditavam que ele era uma espcie de rei Midas que transformava em ouro tudo aquilo em que tocava. Allen Dulles e Richard Bissell, altos fun-cionrios da CIA que tinham prosperado adulando polticos, disseram a Kennedy que haveria uma insurreio armada contra Fidel Castro aps o desembarque na baa dos Porcos, pois todo o povo cubano estava rendido ao encanto da sua igura presidencial. Ningum se atreveu a negar essas airmaes, pois venceu a tendncia para bajular o mito. A iluso de unanimidade conduziu a uma deciso descabida que no era, na realidade, partilhada pela maioria dos assessores quando interrogados individualmente, como fez Schlesinger.

    A autoiluso funciona comoforma de adaptao ao grupo

    Anti-selfie. Rembrandt van Rijn (16061669) deixou mais de 80 autorretratos, entre leos, gravuras e desenhos. O seu objetivo era muito diferente do das selies de hoje: o pintor holands deixou um testemunho em carne viva da sua personalidade e reletiu os seus defeitos fsicos e a deteriorao da idade naquelas obras, que lhe serviam como meio de conhecimento.

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    Evoluo

    Como vamos mudar nos prximos sculos

    Os humanos do FUTURO

    No somos alheios evoluo. Vamos

    continuar a sofrer alteraes que nos permitam

    adaptarmo-nos ao meio? A nossa espcie

    a nica que potencia o processo

    com implantes e correes genticas.

    N os ltimos 150 anos, desde que o naturalista ingls Charles Darwin desbravou os caminhos da evolu-o com as suas extraordinrias intuies, os cientistas conseguiram compreen-der cada vez melhor a nossa prpria espcie. O processo, como com qualquer outro ser vivo, desenrolou-se ao longo de milhes de anos e remonta a um misterioso e longnquo antepas-sado que partilhamos com outros primatas.

    Foi apenas nas ltimas dcadas que os bilogos evolutivos desvendaram alguns dos complexos mecanismos que nos configuraram tal como somos atualmente. No entanto, ainda mais complicado tentar adivinhar como ser o nosso futuro. Continuaremos a evoluir? Teremos alguma interveno no processo? Como sero os seres humanos depois de pas-sarem umas quantas geraes de mutaes naturais, ajustamentos genticos e alteraes biotecnolgicas? Haver algum consenso cien-tfico para alm da especulao?

    MUNDO GLOBALIZADO?Durante sculos, persistiu uma acentuada

    corrente antropocentrista tanto no mundo reli-gioso como no cientfico. Conduzia conclu-so de que a humanidade representava o apo-geu da evoluo. Esse facto significava, essen-cialmente, que no podia suceder qualquer novo progresso; o homem, concebido como mquina e criatura perfeitas, alcanara o seu estdio ideal. Como afirmou o naturalista brit-nico Alfred Russel Wallace (18231913), a evo-

    luo trabalhou durante milhes de anos no desenvolvimento de numerosas formas de vida e de beleza, para culminar finalmente em ns.

    Embora, nos nossos dias, este tipo de pen-samento baseado em preconceitos tenha sido totalmente desconstrudo, numerosos estudio-sos partilham a ideia de que os seres humanos de amanh no sero assim to diferentes dos de hoje, embora partam de raciocnios muito diferentes dos do passado. O antroplogo bri-tnico Ian Tattersall, conservador emrito do Museu de Histria Natural dos Estados Unidos, assegura que a evoluo apenas se desenrola quando as espcies vivem em pequenos gru-pos, precisamente o oposto do que acontece num mundo cada vez mais globalizado como o da humanidade atual.

    Em suma, atualmente, j no se verificariam as condies fundamentais para a natureza humana continuar a modificar-se. Steve Jones, especialista em gentica e meio ambiente do University College London, vai ainda mais longe: na sua opinio, a medicina avanada de que dispomos no nosso tempo permite que sobre-vivam e se reproduzam mesmo os indivduos mais fracos, de modo que a seleo natural, elemento fundamental para se produzirem os processos evolutivos tal como os entendemos, teria perdido toda a sua fora.

    Alm disso, Jones recorda que as mutaes ocorrem habitualmente quando os homens concebem filhos numa idade muito avanada, o que acontece com cada vez menos frequncia atualmente. Pelo menos no Ocidente, os

    homens tm geralmente filhos por volta dos 30 anos, o que implica que transmitem trs vezes menos mutaes sua descendncia relativamente a um pai de cinquenta anos.

    Antigamente, era muito mais fcil encontrar homens j idosos com muitos filhos, assinala Jones. A agricultura tambm interveio nega-tivamente no processo, afirma o especialista em gentica, que sublinha: graas a ela que os seres humanos so cerca de dez mil vezes mais numerosos do que deveriam ser, segundo as regras do reino animal. As populaes esto a crescer enormemente e a ficar interligadas, o que reduz a diversidade gentica.

    ESTAMOS EM INVOLUO?No entanto, h propostas ainda mais radicais

    no mesmo sentido. Nas palavras do geneticista Giorgio Morpurgo, da Universidade de Peru-gia (Itlia), na espcie humana, a evoluo no s se deteve como se iniciou um processo de rpida involuo; a maior parte das muta-es que encontramos atualmente so nocivas e conduzem a uma diminuio das capacidades fsicas e cerebrais.

    Uma investigao promovida pelo patolo-gista e bilogo Gerald Crabtree, da Universi-dade de Stanford (Estados Unidos), parece con-firmar que, efetivamente, estamos a perder, gerao aps gerao, boa parte das aptides intelectuais e emocionais das quais sentimos tanto orgulho.

    Para alguns investigadores, a nossa espcie no tem futuro. O virologista australiano Frank Fenner, cujo trabalho foi decisivo no processo de erradicao da varola, no tinha grandes esperanas: O Homo sapiens poder extinguir-se nos prximos cem anos, devido a um processo, j irreversvel, provocado pela exploso demogrfica e pelo consumo descontrolado, chegou a afirmar. Na obra A Sexta Extino, o paleoantroplogo queniano Richard Leakey tambm vaticina um destino sombrio para os nossos descendentes. Na sua opinio, o nosso fim como espcie j comeou, IGO

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    Amanh hipottico. Talvez continuemos a habitar a Terra dentro de milhares de anos, mas a nossa aparncia, alterada por sculos de evoluo, fuso com a tecnologia e alteraes no ADN, ser muito diferente.

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    Perderemos estruturas inteis,como as amgdalas e o apndice

    Contudo, um facto que poder ter influncia no nosso destino e que at recentemente foi praticamente ignorado pelos especialistas o enorme reforo de outro tipo de seleo, a que se cimenta no livre arbtrio.

    Como afirma o psiclogo evolutivo Geof frey F. Miller, professor da Universidade do Novo Mxico, a capacidade para escolher uma par-ceira e ser bem-sucedido na conquista reve-lou-se fundamental para o nosso desenvolvi-mento. A tal ponto que poderia mesmo deter-minar a evoluo da arte ou da criatividade. Por isso, Miller defende que esse fenmeno, que hoje inclui homens e mulheres, faz os indivduos mais inteligentes terem muito mais possibilidades de se reproduzirem e transmiti-rem os seus genes s novas geraes.

    Em suma, o futuro acolheria uma realidade em que os seres humanos seriam cada vez mais perspicazes, caracterstica que tambm teria consequncias no nosso aspeto fsico.

    ESPERTOS E CABEUDOSNo seu trabalho O Homem Mutante, o divul-

    gador cientfico Robert Clarke assegura que, no futuro, todos seremos macrocfalos. O

    embora no tenhamos conscincia disso: A humanidade no mais do que um breve momento, e no o ponto de chegada, no cons-tante fluxo da vida, assegura.

    ALTERAES CADA VEZ MAIS RPIDASAt aqui, s falmos das ms notcias, por

    assim dizer. Muitos outros investigadores esto convencidos de que os seres humanos continuaro a habitar este planeta dentro de milhares de anos, se bem que devero ser muito diferentes do que so atualmente. Em maio de 2014, na conferncia The Future Is Here, organizada pela revista do Museu Nacional de Histria do Instituto Smithsoniano (Esta-dos Unidos), a antroploga Briana Pobiner recordou que as mutaes genticas tambm se multiplicam com o aumento da populao humana; da que seja provvel, num mundo que passou de mil para 7000 milhes de habi-tantes nos ltimos dois sculos, que se pro-duza uma evoluo acelerada.

    A seleo natural parece constituir um fenmeno quase irrelevante entre os seres humanos, devido sobretudo aos espetaculares progressos ocorridos no mundo da medicina.

    Uma sociedade exclusivamente feminina

    E mbora, durante sculos, as diferen-as de gnero se tenham acentuado, os avanos tecnolgicos e as mudanas sociais que se produziram nas ltimas dcadas contribuiram para modificar os papis de homens e mulheres. De facto, provvel que esse processo prossiga e ve-nha a cristalizar noutro tipo de transfor-maes. O oncologista italiano Umberto Veronesi, especialista em prospetiva bio-tecnolgica, assegura que, no futuro, os homens sero menos viris e as mulheres mais masculinas, algo com considerveis implicaes no s culturais como, tam-bm, biolgicas. Segundo Veronesi, a humanidade dirige-se para um modelo nico, pois o homem produz cada vez menos andrognios (hormonas sexuais masculinas) e a mulher menos estrog-nios (principalmente femininas). Tudo isso ir afetar as nossas preferncias se-xuais: dentro de poucas geraes, a gran-de maioria das pessoas ser bissexual, e s se far sexo por prazer, pois a repro-duo ser sobretudo efetuada atravs de meios artificiais. De qualquer modo, a longo prazo, o homem no sobreviver. O geneticista Bryan Sykes, do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Oxford (Reino Unido), adverte que o cromossoma Y, que determina o sexo masculino, est em declnio e desapare-cer dentro de alguns milhes de anos.

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    tamanho da cabea ser maior porque, afirma, teremos um crebro maior, com uma parte frontal e camadas do crtex mais amplas. A questo que o desenvolvimento do nosso encfalo tem sido fortemente condicionado pelas dimenses limitadas do canal do parto. Da que alguns especialistas, incluindo Briana Pobiner, se tenham interrogado sobre as con-sequncias no futuro da evoluo do recurso cada vez maior, escala mundial, da prtica de cesarianas.

    Seja como for, os especialistas em prospe-tiva esto divididos quanto ao tamanho mdio que os seres humanos tero dentro de algumas centenas de anos. Alguns indicam que a nossa estatura continuar a aumentar moderada-mente, como tem vindo a acontecer nas ltimas dcadas. Num exerccio especulativo sobre o assunto, Oliver Curry, do Instituto de Antropo-logia Evolutiva e Cognitiva da Universidade de Oxford (Reino Unido), afirmou h alguns anos que, dentro de dez sculos, a altura mdia da nossa espcie poder rondar os dois metros. Curry no baseou a sua previso num ensaio cientfico e, de facto, h trabalhos que indicam o contrrio.

    Depois de estudar o historial clnico e diver-sos parmetros de mais de 2000 voluntrias norte-americanas, uma equipa de investi-gadores coordenada por Stephen Stearns, professor de ecologia e biologia evolutiva da

    Universidade de Yale (Estados Unidos), con-cluiu que as mulheres mais baixas e mais chei-nhas costumam ter mais filhos. Isso tambm se verificava com as suas filhas, pelo que, na opinio de Stearns, em apenas dez geraes (por volta do ano 2400), as mulheres tero menos dois centmetros e pesaro mais um quilo: Descobrimos que, regra geral, as que possuem menos gordura e so mais altas ovu-lam menos, explica o cientista. Isso significa que tm menos probabilidades de transmitir os seus genes s prximas geraes.

    NOVAS TENDNCIAS ALIMENTARESNo ser a nica alterao anatmica que se

    poder observar em, pelo menos, uma parte dos nossos descendentes. Muitos investiga-dores consideram que os seres humanos do futuro no tero, provavelmente, determina-das estruturas do corpo que tenham perdido a sua funo, ou que causem, atua