Pós-graduação Na Educação Física Brasileira

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    389Educao e Pesquisa, So Paulo, v.37, n.2, p. 389-406, mai./ago. 2011.

    Ps-graduao na educao fsica brasileira: a atrao(fatal) para a biodinmica

    Edison de Jesus ManoelYara Maria de CarvalhoUniversidade de So Paulo

    Resumo

    O objetivo do trabalho foi caracterizar academicamente a educaofsica no Brasil. Primeiro, fez-se um paralelo entre os eventos desseprocesso ocorridos nos Estados Unidos e no Brasil. A seguir, osprogramas de ps-graduao brasileiros foram analisados do ponto devista de suas reas de concentrao e de sua vinculao com o corpo

    docente, as linhas e os projetos de pesquisa. Educao fsica o termopredominante na denominao da maioria dos programas brasileiros,diferentemente dos Estados Unidos, onde se privilegia cinesiologia. Aanlise das reas de concentrao dos programas de ps-graduaopermitiu-nos identificar trs subreas: biodinmica, socioculturale pedaggica. A biodinmica sobressai-se pela dimenso do corpodocente e pela quantidade de linhas e projetos de pesquisa, sempremais numerosos em comparao com as subreas socioculturale pedaggica. Tal hegemonia expressa a valorizao atribuda spesquisas orientadas pelas cincias naturais em detrimento daquelas

    fundamentadas pelas cincias humanas e sociais, alm da dificuldadeem problematizar a interveno, particularmente no mbito daescola. Esse quadro guarda semelhana com a realidade norte-americana, haja vista que acadmicos norte-americanos das subreassociocultural e pedaggica apontam os obstculos para compatibilizarsuas concepes tericas e metodolgicas com os modos hegemnicosde pensamento, investigao e ao no campo da cinesiologia. Tantoos acontecimentos nos Estados Unidos quanto a caracterizaoacadmica predominante nos programas de ps-graduao no Brasilindicam a forte presena da biodinmica em prejuzo da educao

    fsica, no que ela compreende e agrega, sobretudo, como prticasocial e pedaggica de longa data.

    Palavras-chave

    Educao fsica Cinesiologia Biodinmica Poltica cientfica Ps-graduao

    Correspondncia:

    Edison de Jesus Manoel

    Rua Paraguai, 300 - Recanto Inpla

    06350-170 - Carapicuba/SPE-mail: [email protected]

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    390 Educao e Pesquisa, So Paulo, v. 37, n.2, p. 389-406, mai./ago. 2011.

    Graduate studies in Brazilian physical education: the (fa-

    tal) attraction to biodynamics

    Edison de Jesus Manoel

    Yara Maria de CarvalhoUniversidade de So Paulo

    Abstract

    The present work aimed at the academic characterization

    of physical education in Brazil. First, a parallel was

    made between the history of academic characterization of

    physical education in North America and in Brazil. Next,the analysis of the areas comprehended by graduate study

    programs was carried out in the field around Brazil. A

    survey was done considering the field of concentration and

    its interface and links with the size of faculty, with research

    lines and with research projects. Physical educationis themost preferred term to name the majority of the Brazilian

    graduate programs in contrast with the United States

    where Kinesiology is preferred. The analysis of the fieldof concentration yields three main subfields: biodynamics,

    sociocultural and pedagogical. Biodynamics takesprecedence as one considers the size of the faculty and the

    number of research lines and projects always greater than

    the same variables in comparison with sociocultural and

    pedagogical subfields. This hegemony reflects a trend in

    which natural sciencesoriented research is privileged over

    human and social sciencesoriented research and difficulty

    in valuing the intervention, especially in schooling. This

    portrait resembles what happens in the US as some North

    American scholars from the sociocultural and pedagogical

    subfields have also identified difficulties in making theirtheoretical and methodological conceptions compatible

    with the hegemonic modes of thinking and investigation

    in kinesiology.

    Keywords

    Physical education Kinesiology Biodynamics Scientific

    policy - Graduate studiesContact:Edison de Jesus Manoel

    Rua Paraguai, 300

    06350-170 Carapicuba /SP

    E-mail: [email protected]

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    391Educao e Pesquisa, So Paulo, v.37, n.2, p. 389-406, mai./ago. 2011.

    A educao fsica tem diversas fi-nalidades e associaes (com a educao, asade, o esporte, o lazer); ainda assim ela pensada como sendo pedaggica em essncia(BRACHT, 2003, 2007). Como campo de co-nhecimento, a educao fsica relativamen-te jovem e as dificuldades para sua afirmaopassam pela discusso relativa a seu objetode estudo, suas afinidades com as cinciasnaturais e com as humanas e sociais, sua le-gitimidade no mbito acadmico-cientfico,seu reconhecimento como cincia ou comoprtica social e seu papel no ensino superior.O objetivo do presente artigo caracterizaracademicamente a educao fsica a partir daorientao dos programas de ps-graduaoda rea. A tese a de que a educao fsica negligenciada como prtica social e campode conhecimento que instiga o dilogo en-tre saberes e prticas diversas, sejam eles daeducao, das cincias da sade, das cinciasbiolgicas ou das cincias sociais e humanas.

    A caracterizao acadmica da

    educao fsica brasileira

    A constituio acadmica da educa-o fsica brasileira seguiu um caminho di-ferente em comparao ao que ocorreu naAmrica do Norte. No incio dos anos 1960,as universidades norte-americanas estavamsob escrutnio avaliativo e o status acad-mico de muitos departamentos entre eles,os de educao fsica estava sendo ques-tionado. Na poca, Franklin Henry, chefe doDepartamento de Educao Fsica da Univer-sidade da Califrnia, fez o famoso discursoem defesa da educao fsica como uma dis-ciplina acadmica legtima, argumentandoque os conhecimentos ensinados nos cursosde graduao da rea eram produzidos porela (HENRY, 1964). Henry falou sobre comoa educao fsica era ento conduzida naUniversidade da Califrnia (PARK, 1994) eargumentou que ela deveria ser vista como

    uma cincia com objeto de estudo prprio o movimento humano e com mtodos depesquisa adaptados de campos tradicionaiscomo a biologia, a psicologia, a educao ea sociologia. Lawrence Rarick (1967) avanouao caracterizar as subdisciplinas da discipli-na acadmica: fisiologia do exerccio; cresci-mento e desenvolvimento motor; controle eaprendizagem motora; psicologia do esporte;sociologia do esporte; histria do esporte; en-tre outras. Assim foi desencadeado o chama-do movimento disciplinar: a gradual transfor-mao dos departamentos de educao fsicaem departamentos de cinesiologia e cinciado exerccio (NEWELL, 1990).

    No Brasil, a caracterizao acadmi-ca da educao fsica foi, de certa forma, in-fluenciada pelo que ocorreu na Amrica doNorte1. O incio desse processo se deu pelacriao de programas de ps-graduao narea2 entre o final dos anos 1970 e o inciodos anos 1980. Todavia, s a Universida-de Federal de Santa Maria mostrava-se sobinfluncia norte-americana ao nomear seuprograma de Cincia do Movimento Huma-no, organizado com base em um conjuntode subdisciplinas (biomecnica, fisiologia doexerccio, aprendizagem motora, crescimen-to e desenvolvimento, etc.). Nos outros pro-gramas, adotou-se o termo educao fsica, eseus cursos eram extenses de disciplinas tra-dicionais de reas como educao e biologia.

    Desde 1990, o sistema de recomen-dao estabelecido pela CAPES3 comeou avalorizar o grau de caracterizao acadmi-ca dos programas, considerando a clareza e

    1-Entre os anos 1970 e 1980, um grupo de profissionais de educaofsica trabalhando em universidades pblicas estaduais e federais recebeubolsas de estudo do governo brasileiro para realizar programas de ps--graduao em nvel de mestrado e doutorado em universidades norte--americanas.2- As universidades que ofereceram programas em nvel de mestradoforam: Universidade de So Paulo, Universidade Federal do Rio de Janeiro eUniversidade Federal de Santa Maria.3-CAPES a sigla que denomina a Coordenao de Aperfeioamento dePessoal de Ensino Superior, uma diviso do Ministrio da Educao com a

    misso de estabelecer polticas e orientaes para o sistema brasileiro deeducao superior em nvel de ps-graduao.

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    a consistncia na definio da rea bsica, daslinhas de pesquisa, dos projetos de pesquisa edas atividades discentes (seminrios, cursos,disciplinas). As diferenas a esse respeito eramgrandes entre os programas e frequentementeeram interpretadas como falta de identidadeda rea. Iniciou-se, ento, uma discusso sobrea caracterizao acadmica da rea, o que foiexpresso em algumas publicaes. O peridicoMotus Corporis4, por exemplo, convidou trs aca-dmicos para escreverem sobre suas vises acercada educao fsica. Para Hugo Lovisolo (1996), aeducao fsica no era uma disciplina acad-mica; ao contrrio, ela deveria ser vista comouma arte de ensinar que se beneficia de v-rios tipos de conhecimento, cientficos e nocientficos. Contrapondo-se a essa viso, GoTani (1996) defendeu que a educao fsicaera uma disciplina acadmica que investigavao movimento humano, devendo ser renomea-da para cinesiologia, como proposto por KarlNewell (1990). Mauro Betti (1996) colocou-seem uma posio intermediria ao defender aeducao fsica como um campo de interven-o pedaggica, mas que deveria, ao mesmotempo, desenvolver uma teoria de sua prticacom slidas bases cientficas.

    Outras publicaes expandiram o de-bate, ainda que na maioria dos casos houvesseuma controvrsia considervel sobre transfor-mar a educao fsica em cincia do movimen-to. Por exemplo, o peridico Movimento5 lan-ou a questo O que educao fsica? paraque vrios docentes expressassem suas visesnem sempre consensuais sobre as bases episte-molgicas da rea (entre outros, GAYA, 1994;TAFFAREL; ESCOBAR, 1994; BRACHT, 1995;LOVISOLO, 1995; SANTIN, 1995).

    4-Motus Corporisfoi um peridico dedicado a publicar trabalhos produ-zidos dentro programa de ps-graduao da Universidade Gama Filho, doRio de Janeiro.5- Movimento um dos peridicos mais importantes da educao fsicabrasileira, porque sua poltica editorial privilegia artigos e ensaios que sefundamentam nas cincias humanas e sociais, possibilitando aos pesqui-sadores das subreas sociocultural e pedaggica veicularem resultados de

    pesquisas e reflexes. Para conhecer seu percurso, recomendamos o site.

    Valter Bracht (2003) destacou o fasc-nio que a viso cientfica da educao fsicaexercia sobre a comunidade como respons-vel pelo distanciamento do campo em relao interveno pedaggica. Bracht argumen-tou que, ao assumir a retrica da cincia, aeducao fsica converteu-se a um modo he-gemnico de fazer cincia (estritamente fa-lando, o da cincia natural), distanciando-seda pesquisa e da prtica pedaggica.

    Ao longo dos anos 1990, ocorreu umamudana gradual na estruturao dos progra-mas de ps-graduao. O termo educao f-sicafoi mantido, mas houve a proposio dediferentes reas de concentrao com inspi-rao no movimento disciplinar. Cada rea deconcentrao correspondeu a uma subrea,sendo identificadas trs: biodinmica, socio-cultural e pedaggica. A biodinmica com-preende as atividades de pesquisa dentro desubdisciplinas como bioqumica do exerccio,biomecnica, fisiologia do exerccio, controlemotor, aprendizagem e desenvolvimento mo-tor, alm de alguns campos aplicados, comonutrio esportiva e treinamento fsico e des-portivo. As linhas de pesquisa na biodinmicaso orientadas pelas cincias naturais (ABER-NETHY, 1996; AMADIO; BARBANTI, 2000). Asubrea sociocultural trata de temas como es-porte, prticas corporais e atividade fsica nasperspectivas da sociologia, da antropologia,da histria e da filosofia. A subrea pedaggi-ca investiga questes relativas formao deprofessores, ao desenvolvimento curricular, aosmtodos de ensino e pedagogia do esporte,alm de tratar de aspectos metodolgicos, so-ciais, polticos e filosficos da educao. As su-breas sociocultural e pedaggica definem suaslinhas de investigao orientadas pelas cinciassociais e humanas. Nesse sentido, a educaofsica investiga em estreita proximidade com area da educao (BAIN, 1995; BRACHT, 2006),com a sociologia (BETTI, 2009), com a filoso-fia (FENSTERSEIFER, 1996; KRETCHEMAR,1994) e com a histria (SOARES, 1998).

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    393Educao e Pesquisa, So Paulo, v.37, n.2, p. 389-406, mai./ago. 2011.

    Em 1998, a avaliao da ps-graduaopassou a ter como referncia a internacionali-zao. O propsito era identificar o estgio doprograma nesse processo. Passou-se a quanti-ficar o nmero de artigos em peridicos comalto fator de impacto publicados por docentese discentes dos programas (FERREIRA; MO-REIRA, 2002). Artigos cientficos tornaram-seos itens mais valorizados na avaliao, sen-do classificados de acordo com os peridicosem que foram publicados, os quais, por suavez, eram julgados com base em indicadoreselaborados pelo Institute of Scientific Infor-mation (ISI). Esse instituto gera, para cadaperidico, um fator de impacto composto devrios elementos: da quantidade de vezes queuma revista citada por outras, ao nmero eidade das referncias bibliogrficas contidasnos artigos de um dado peridico (GARFIELD,1994). Tambm foram consideradas outras ba-ses, como MEDLINE, ERIC, Psychinfo, SciELOe LILACS. Entretanto, a falta de um fator deimpacto aceito amplamente fez com que peri-dicos indexados nessas bases fossem menosvalorizados em comparao queles que apa-reciam noJournal of Citation Reports, publi-cado pelo ISI. Assim, a produo dos docentesdo programa era qualificada indiretamente, jque o critrio adotado referia-se indexaode um dado peridico e no qualidade deartigos produzidos.

    O uso desse critrio para avaliar aqualidade da produo cientfica recebeumuitas crticas. Eugene Garfield (1983), men-tor dos indicadores bibliomtricos, argumen-tou que os fatores de impacto dos peridicos ea razo de citaes so nmeros que tm sig-nificado para cientistas da informao e quesua simples aplicao para outros propsitos,como avaliao acadmica de um docente ouavaliao da qualidade da produo intelec-tual de um programa, pode gerar julgamen-tos equivocados. H diferenas expressivasnos fatores de impacto de peridicos de reasdiferentes que no implicam diferenas de

    qualidade entre eles. Algumas citaes devemser contextualizadas, tais como autocitaes(um autor que cita seu prprio trabalho, oucitaes feitas por pesquisadores que colabo-ram entre si) e citaes feitas sem que hajaqualquer apreciao do contedo do artigocitado. O uso indiscriminado desses fatoresde impacto pode gerar distores na avalia-o de muitas reas, geralmente naquelas re-lacionadas s cincias sociais e humanas; naeducao fsica, no diferente (CARVALHO;MANOEL, 2006; RODRIGUES, 2007).

    Amanda Machado, Orlando Loureno eFrancisco Silva (2000) citam a psicologia parachamar a ateno para o perigo da busca de-senfreada por produtividade. Segundo eles, oaumento significativo no nmero de artigos pu-blicados a cada ano (aproximadamente 10.000)no corresponde a avanos tericos importantesno campo. A maioria dos artigos originais relatadados empricos que apenas replicam resultadosj conhecidos, utilizando diferentes amostras einstrumentos. Os laboratrios de pesquisa asse-melham-se a linhas de montagem, expondo afragmentao da rea. Investigaes de naturezaterico-conceitual tm pouco espao para vei-culao, sobretudo devido s polticas editoriaisdos peridicos, as quais estimulam a produode pesquisas originais que, no final, resultam emum nmero muito maior de artigos.

    A poltica de avaliao instalou umprocesso de induo no qual a caracterizaoacadmica da educao fsica governada portemas de pesquisa que apresentam maior pro-babilidade de serem publicados em peridicoscom alto fator de impacto, independentementede esses temas serem significativos ou pertinen-tes ao campo. Em decorrncia, o crescimento darea ou de algumas subreas v-se restringidoao nmero de peridicos indexados no ISI, n-mero este que maior para as reas de cinciasnaturais do que para as de cincias humanas esociais (GARFIELD, 1994). Uma relao similar encontrada entre peridicos associados edu-cao fsica no ISI. A maioria dos peridicos

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    indexados no ISI de orientao biolgica,em detrimento daqueles de orientao socio-cultural (HOPKINS, 2001). O maior nmerode peridicos nas cincias naturais faz comque seus fatores de impacto sejam maiores emrelao aos das cincias sociais e humanas(WATERS, 2006); na educao fsica, tambmno diferente (CARVALHO; MANOEL, 2006;RODRIGUES, 2007).

    A avaliao fundamental no pro-cesso de construo de um campo, alm deestabelecer um terreno comum entre diferen-tes reas. Entretanto, dependendo da formacomo ela administrada, pode exercer, e defato exerce, um poder normativo e coerci-tivo. No caso da educao fsica brasileira,a avaliao tem privilegiado a produobiologicamente orientada em detrimento daproduo de outras reas, humanas e sociais.Pesquisas de orientao biolgica tm maischance de serem publicadas em peridicoscom alto fator de impacto, melhorando ascondies das subreas fundamentadas nascincias naturais.

    A maioria dos programas de ps-gra-duao em educao fsica oferece apenastitulao em nvel de mestrado. Programasque oferecem ttulos de doutor so recentese poucos. O primeiro programa em nvel dedoutorado no Brasil comeou em 1989, e, ato momento, apenas nove instituies de ensi-no superior tm a recomendao para outor-garem esse ttulo, o que insuficiente dado onmero de mestres formados e a necessidadepor recursos humanos mais qualificados paraconduzir pesquisas e o ensino nas universi-dades (KOKUBUN, 2003; LOVISOLO, 2005).Com poucas mudanas em vista, aqueles quealmejam o doutorado em educao fsica de-vem escolher entre dois caminhos: buscar ottulo de doutor em programas orientadospor cincias biolgicas e mdicas no Brasilou no exterior, ou procurar programas deps-graduao em educao, filosofia, antro-pologia e histria. A falta de equilbrio entre

    o nmero de programas de ps-graduaoque oferecem ttulos de doutor e o nmero deprofissionais que desejam tais ttulos tem umefeito duplo para uma rea acadmica aindajovem como a educao fsica. Os membrosdo corpo docente que obtm seus doutoradosem outras reas adquiriram, em tese, umafundamentao slida em campos de tradi-o acadmica, o que pode contribuir paraa consolidao da educao fsica. Todavia,a experincia com pesquisa em outras reastem feito com que muitos docentes acabem seengajando com uma agenda de pesquisa quenem sempre relevante para a rea. Aquelesque retornam ao Brasil depois de anos fazen-do doutorado no exterior comeam a condu-zir pesquisas sem levar em considerao asnecessrias adaptaes realidade brasileira(DANTAS, 2004).

    No geral, h uma distoro nas formasdiversas de valorizar as diferentes atividadesde pesquisa, isto , privilegiando algumas emdetrimento de outras. O impacto desse pro-cesso pode ser apreciado pelo levantamentodos programas de ps-graduao no Brasil.

    Os programas de ps-graduao

    em educao fsica no Brasil:

    uma anlise demogrfica

    Vinte e um programas analisados fo-ram recomendados6 pela CAPES at outubrode 2009 (tabela 1). A maioria deles situa-senas regies Sul (seis programas) e Sudeste (10programas) do Brasil; as excees so doisprogramas no Centro-Oeste e um no Nordestedo pas7. Para cada programa disponibiliza-do um conjunto de documentos concernentes sua misso, sua proposta geral, suas linhas eprojetos de pesquisa, seu corpo docente, bem

    6-Desde que escrevemos este artigo, a CAPES recomendou mais umprograma (Universidade So Judas Tadeu) para oferecer ttulo de doutorem educao fsica. Essa adio no afetou o quadro geral do campo quedescrevemos aqui.

    7-Dados disponveis no stio da CAPES (), em relao grande rea da sade.

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    como um sumrio de sua formao, suas ati-vidades de pesquisa, seu ensino e orientaoe o currculo de disciplinas. Esses documen-tos so apresentados para cada ano de umdado perodo. As informaes levantadas sode 2006 pelo fato de serem as informaesmais fidedignas, uma vez que esse foi o anodo ltimo levantamento nacional (perodo2004/2006) realizado pela CAPES8. Houvequatro excees, com programas recomen-dados recentemente e que ainda no tinhamseus dados disponibilizados no stio da CA-PES. Nesses casos, as informaes foram ob-tidas diretamente de seus stios virtuais emoutubro de 2009.

    A avaliao dos programas de ps--graduao em educao fsica fortementeorientada pelo nmero de artigos publicadosem peridicos com fator de impacto (indexa-dos em uma das bases ISI) dividido pelo n-mero de docentes do programa. A produopublicada em peridicos brasileiros desva-lorizada independentemente de seu impactocientfico e de sua importncia social, consi-derando as necessidades nacionais, regionaise locais. Livros so tambm desvalorizados;entretanto, desde 2005, h uma comissotrabalhando com a tarefa de estabelecer osparmetros para avaliao da produo emlivro junto aos programas de ps-graduao(CARVALHO; MANOEL, 2007; CARVALHOet al., 2008). Em que pesem os avanos naavaliao da produo intelectual em livros,a produo de artigos ainda o item maisvalorizado na avaliao dos programas. Esseprocedimento causa grandes distores paraa avaliao da produo intelectual, consi-derando que os conceitos de 1 a 7 so atri-budos com base nele. Tal escala reflete a

    8- A CAPES finalizou recentemente o levantamento correspondente aosanos 2007-2009, mas os dados e documentos no estaro disponveis paralivre acesso at o final do ano 2010.

    poltica cientfica referente ps-graduaono Brasil, que privilegia e instiga instituiesuniversitrias a almejarem os conceitos 6 e 7.Isso seria lgico se os critrios aplicados nosprocedimentos de avaliao no tivessem umvis no qual artigos em peridicos indexadosno ISI recebem mais pontos. Assim, pesqui-sas nas cincias fsicas e biolgicas so maisvalorizadas.

    As instituies com programas narea so possudas por uma real obsesso emse tornarem internacionais, isto , em obte-rem os conceitos 6 e 7, s custas de darem ascostas pesquisa nas subreas socioculturale pedaggica. Em geral, essas atividades depesquisa tm impacto local, regional e na-cional e, por isso, podem no ser do interessede peridicos internacionais. A preocupaodos pesquisadores envolvidos nesse tipo deestudo fornecer respostas aos dilemas quese colocam perante a educao e a sade bra-sileira; dessa forma, estabelecem um dilogocom colegas que vivem as mesmas realida-des cultural, social, poltica e econmica.Internacionalizao um fenmeno socialque afeta a educao de vrias formas, masenvolve bem mais do que publicar artigosem peridicos internacionais (NOGUEIRA;AGUIAR; RAMOS, 2008). O impacto da pol-tica de internacionalizao torna-se evidentena maneira como os programas de ps-gra-duao so distribudos no Brasil (tabela 1).Dos 21 programas recomendados, 71,4% tmo termo educao fsica em sua denomina-o; a expresso cincias do movimento hu-mano utilizada por 14,3% dos programas.Trs instituies utilizam termos distintos enicos: cincias de atividade fsica, cinciasda motricidade e cincias do esporte.A ob-teno de mestrado e doutorado possvelem 47,6% dos programas; nos demais, s possvel obter o grau de mestre.

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    M= Conceito do mestrado; D= Conceito do doutorado. Sobre siglas, ver o apndice A.

    Os programas de ps-graduao emeducao fsica concentram-se nas regiesSul e Sudeste (grfico1). A obteno dettulos de doutorado s possvel nessasinstituies; assim, a maioria dos acad-micos com doutorado est concentrada emtais regies. Um dos desafios para o siste-ma nacional de ps-graduao aumentara oportunidade de programas de qualida-de fora do eixo Sul/Sudeste. Atualmente,a regio Norte no tem um programa deps-graduao em educao fsica, e a re-gio Nordeste tem apenas um, sendo esteem nvel de mestrado.

    Denominao dos programas de ps-graduao Universidade Estado M D

    Cincias da Atividade Fsica UNIVERSO RJ 3 -

    Cincias da Motricidade UNESP/RC SP 5 5

    Cincias do Esporte UFMG MG 4 4

    Cincias do Movimento Humano UFRGS RS 5 5

    Cincias do Movimento Humano UDESC SC 4 4

    Cincias do Movimento Humano UNICSUL SP 3 -

    Educao Fsica UnB DF 3 -

    Educao Fsica UCB DF 4 4

    Educao Fsica UFES ES 3 -

    Educao Fsica UFV/UFJF MG 3 -

    Educao Fsica UFPR PR 4 4

    Educao Fsica UFRJ RJ 3 -

    Educao Fsica UGF RJ 5 5

    Educao Fsica UFPEL RS 3 -

    Educao Fsica UFSC SC 5 5

    Educao Fsica USP SP 6 6

    Educao Fsica UNICAMP SP 4 4

    Educao Fsica UNIMEP SP 3 -

    Educao Fsica USJT SP 4 -

    Educao Fsica FESP/UPE PE 3 -Educao Fsica UEL/UEM PR 3 -

    Tabela 1Lista dos programas de ps-graduao recomendados pela CAPES com seus respectivos conceitos para os nveis demestrado e doutorado.

    Grfico 1 Distribuio dos programas por nvel (mestradoou mestrado e doutorado) e regio do Brasil.

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

    2,5

    3

    3,5

    4

    4,5

    5

    NmerodeProgamas

    RegiesMestrado

    Mestrado/doutorado

    (Fonte: . Acesso em: out. 2009).

    (Fonte: . Acesso em: out. 2009).

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    397Educao e Pesquisa, So Paulo, v.37, n.2, p. 389-406, mai./ago. 2011.

    H uma concentrao de programas(47,6%) com conceito 3 (grfico 2). O nmerode programas cai drasticamente medida que oconceito aumenta, havendo um nico programacom conceito 6 (4,7%). A distribuio enviesadasugere que mais de um tero da rea ainda noest consolidada. Essa distribuio pode ser en-tendida mais como resultado da poltica cien-tfica no pas particularmente em relao grande rea da sade na CAPES do que comoum quadro da qualidade das atividades de ensi-no e pesquisa atualmente praticadas na maioriados programas. Tal poltica tem induzido todasas instituies de ensino superior a seguiremum caminho para se tornarem internacionais.Aqueles que advogam a favor dessa poltica,fazem-no com base no rigor acadmico. En-tretanto, a distribuio dos conceitos reflete aaplicao de critrios com pouca consideraopela diversidade do campo. A consequncia o favorecimento de determinadas subreas, emsua maioria fundamentadas nas cincias biol-gicas, em detrimento de outras, tais como aque-las orientadas para investigaes de naturezaeducacional e sociocultural.

    A distribuio dos conceitos por re-gio do pas oferece novas evidncias deuma poltica cientfica centralizadora para area (grfico 3). Os programas com concei-to 3 predominam em todas as regies, en-quanto os programas com conceitos 4, 5 e 6concentram-se nas regies Sul e Sudeste. Onico programa de ps-graduao na regioNordeste tem conceito 3.

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

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    50

    7 6 5 4 3

    Programas(%)

    Conceitos

    Grfico 2 Distribuio de programas por conceitos.

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    6

    3 4 5 6 7

    NmerodeProgram

    as

    Conceitos

    Norte

    Nordeste

    Centro-oeste

    Sudeste

    Sul

    Grfico 3 Distribuio dos programas por conceito porregio do Brasil

    (Fonte: . Acesso em: out. 2009).

    (Fonte: . Acesso em: out. 2009).

    A orientao acadmica dos

    programas de ps-graduao em

    educao fsica

    A orientao acadmica dos programas foiidentificada pelo levantamento da dimenso docorpo docente e pelo nmero de linhas e pro-jetos de pesquisa relativos a cada subrea: bio-dinmica, sociocultural e pedaggica. O corpodocente corresponde aos professores permanen-tes (os envolvidos com atividades de pesquisa,de ensino graduao e ps-graduao e deorientao vinculadas a uma ou mais reas deconcentrao) indicados pela instituio em seurelatrio CAPES. Na definio da orientaoacadmica do docente, considerou-se a rea em

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    398398 Edison de Jesus MANOEL e Yara Maria de CARVALHO. Ps-graduao na Educao Fsica brasileira: a atrao...

    que seu doutorado foi obtido, juntamente comas linhas e projetos de pesquisa pelos quais responsvel (Grfico 4).

    Havia 293 docentes permanentes traba-lhando em programas de ps-graduao no campoda educao fsica, de acordo com o levantamentode 2006. A maioria deles atua na subrea biodin-mica (60,7% do total de docentes). Os demais do-centes distribuem-se entre as subreas sociocultu-ral (22,52%) e pedaggica (ao redor de 17%). Parafazer parte do programa, o docente deve atenderaos critrios estabelecidos pela comisso do pr-prio programa, a qual, em geral, segue os critriospraticados pela CAPES para recomendar progra-mas. Assim, a distribuio das subreas sociocul-tural e pedaggica resulta de uma combinao defatores: refere-se predominncia da orientaobiodinmica dos programas e corresponde aos cri-trios de recomendao praticados pelos progra-mas.

    As linhas de pesquisa so consideradastimos indicadores para a orientao acadmicados programas. Elas caracterizam no s os temase problemas especficos em que o pesquisador seenvolve, como tambm as bases tericas e meto-dolgicas que ele elege como centrais sua ativi-dade. Assim, possvel a identificao da orienta-o acadmica em termos das cincias naturais ouhumanas e sociais. Cada linha de pesquisa tem, emgeral, dois ou mais docentes envolvidos, e com-preende um conjunto de projetos de pesquisa quecomungam a base terica, o nvel de anlise, os

    mtodos e as tcnicas. Novamente, a hegemoniada biodinmica marcante. De um total de 135linhas de pesquisa identificadas em todos os pro-gramas, 50% delas esto vinculadas biodinmica(grfico 5). A subrea sociocultural tem 33% dototal de linhas de pesquisa, enquanto a subrea pe-daggica tem 17%.

    Os projetos de pesquisa so mais especfi-cos que as linhas de pesquisa, j que eles se referema problemas, questes e hipteses particulares. Emgeral, cada membro do corpo docente pode ter doisou mais projetos de pesquisa sob sua responsabili-dade. nesse nvel que a maioria dos ps-graduan-dos esto engajados na conduo de pesquisas soba superviso de seus orientadores. Dos 860 projetosde pesquisa cadastrados em todos os programas darea, 67,4% so da subrea biodinmica.

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    B iod in mi ca Soc ioc ul tur al P edag g ic a

    DimensodoCorpoDocente(%)

    Subreas

    Grfico 4 Distribuio de docentes nas reas de biodinmica,sociocultural e pedaggica.

    Fonte: . Acesso em: out. 2009).

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    Biodinmica Sociocultural Pedaggica

    Linhasde

    Pesquisa(%)

    Subreas

    Figura 5 Distribuio de linhas de pesquisa pelas subreasbiodinmica, sociocultural e pedaggica.

    (Fonte: . Acesso em: out. 2009).

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    Biodinmica Sociocultural Pedaggica

    ProjetosdePesquisa(%)

    Subreas

    Figura 6- Distribuio de projetos de pesquisa pelas subreasbiodinmica, sociocultural e pedaggica

    (Fonte: . Acesso em: out. 2009).

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    399Educao e Pesquisa, So Paulo, v.37, n.2, p. 389-406, mai./ago. 2011.

    Juntas, as subreas sociocultural epedaggica tm pouco mais de 30% do totalde projetos de pesquisa. Apesar de algumasdiferenas na forma como os projetos foramconcebidos em cada subrea, esses dadosconfirmam a tendncia de que a biodinmica hegemnica na ps-graduao. Embora aeducao fsica seja diretamente relacionada interveno que pedaggica, em essn-cia , ironicamente, projetos de pesquisa nasubrea pedaggica correspondem a cerca de10% do total do nmero de projetos.

    Doze programas tm a biodinmicacomo subrea predominante, o que corres-ponde a 57% do total de programas da rea

    (tabela 2). O conceito de um programa de-monstra estar associado sua orientao. Porexemplo, com uma exceo, a biodinmicapredomina em programas com conceitos 5e 6 (80% do total). Entre os programas comconceito 4, 66,7% apresentam a biodinmicaem suas subreas. Nos programas com con-ceito 3, as subreas sociocultural e pedag-gica so predominantes (mais de 60%). Emgeral, os programas com os melhores con-ceitos so aqueles em que a biodinmica predominante. Ao mesmo tempo, medidaque o conceito diminui, h uma diminuiocorrespondente da presena da biodinmicanos programas.

    UNIVERSIDADE BIODINMICA(%) CONCEITO

    USP 72,7 6

    UFSC 62,5 5

    UGF 25 5

    UFRGS 66,67 5

    UNESP/RC 55,56 5

    UDESC 66,67 4

    UCB 66,67 4

    UFPR 75 4

    UNICAMP 50 4

    UFMG 75 4

    USJT 25 4

    UNIVERSO 42,8 3

    UNICSUL 100 3

    UnB 66,67 3

    UFES 0 3

    UFV/UFJF 50 3

    UFRJ 100 3

    UFPel 50 3

    UNIMEP 40 3

    FESP/UPE 50 3

    UEL/UEM 66,67 3

    Tabela 2 Relao entre a presena da biodinmica no programa e seu conceito.

    (Fonte: . Acesso em: out. 2009).

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    400400 Edison de Jesus MANOEL e Yara Maria de CARVALHO. Ps-graduao na Educao Fsica brasileira: a atrao...

    No conjunto, os dados destacam ahegemonia da biodinmica nos programas deps-graduao em educao fsica. Essa ten-dncia tambm observada para os novos pro-gramas recomendados nos ltimos trs anos.A maioria deles confirma a ampla presena dabiodinmica, o que muitos entendem ser con-dio para que um programa seja recomenda-do (tabela 3). Desses programas, 50% tm pelomenos s essa subrea; a outra metade tempredominncia dessa subrea, com apenas umaexceo.

    bm resultam de lutas internas e externas pelahegemonia acadmica. Programas brasileiros deps-graduao em educao fsica esto cons-titudos orientados pela concepo anglo-sax.Assim, h algumas aproximaes entre a edu-cao fsica brasileira e a norte-americana.

    Nos Estados Unidos, a matriz epistemo-lgica da cinesiologia disciplinar. No Brasil, asituao ambgua, uma vez que educao fsi-ca o termo preferido por instituies de ensinosuperior e est presente amplamente na deno-minao dos programas de ps-graduao. To-davia, as reas de concentrao desses progra-mas revelam uma matriz disciplinar com trssubreas biodinmica, sociocultural e peda-ggica , havendo uma hegemonia da primeira.

    Alguns acadmicos norte-americanostm apontado as dificuldades em integrar emesmo incluir as subreas com orientao so-ciocultural e pedaggica dentro do arcabouoepistemolgico no qual a cinesiologia funda-da (VERTINSKY, 2009). No Brasil, um processosimilar ocorre em relo coexistncia proble-mtica das subreas sociocultural e pedaggicacom a biodinmica. Essa dificuldade expe ofato de que muitos acadmicos brasileiros tmuma viso limitada dos interesses e necessida-des da sociedade e do papel da educao fsicaem atend-los.

    Jane Clark (2008) argumenta que a cine-siologia nos Estados Unidos vive um momentoauspicioso, haja vista a rea ter sido finalmenteaceita para avaliao pelo Conselho Nacional dePesquisa dos Estados Unidos (THOMAS et al.,2007). H algumas similaridades preocupantesentre a cinesiologia dos Estados Unidos e a su-brea biodinmica na educao fsica brasilei-ra. Por exemplo, Jerry Thomas e Thomas Re-eve (2006) relatam que alguns departamentosnorte-americanos esto engajados em substi-tuir a cinesiologiapor algo como biologia oufisiologia integrativa. Investigaes que privi-legiam questes socioculturais e pedaggicastm perdido espao no campo acadmico, sejaele denominado de cinesiologiaou de educao

    fsica. Patricia Vertinsky (2009) relatou que, no

    UNIVERSIDADE BIODINMICA(%) CONCEITO

    UNICSUL 100 3

    UnB 66,67 3

    UFES 0 3

    UFV/UFJF 50 3

    UFRJ 100 3

    UFPel 50 3FESP/UPE 50 3

    UEL 66,67 3

    Tabela 3 Relao entre a presena da biodinmica nosprogramas novos e seu conceito.

    (Fonte: . Acesso em: out. 2009).

    Consideraes finais

    O impacto que os recursos humanosna educao superior, na cincia e na tecno-logia tm na sociedade tornou os programasde ps-graduao um lugar cobiado para seestar na universidade. No surpreendenteque universidades pblicas e privadas tenhamdevotado ateno especial a seus programasde ps-graduao e esperem ansiosas pela di-vulgao dos resultados da avaliao trienalconduzida pela CAPES. Assim, as propostasdos programas de ps-graduao podem servistas como uma resposta que as instituiesdo s polticas de Estado. As propostas tam-

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    Canad, muitos acadmicos da subrea pedag-gica esto migrando para outras reas, como aeducao, em busca de ter seu trabalho mais re-conhecido e valorizado. David Andrews (2008)tambm argumenta que, embora muitos depar-tamentos ainda mantenham disciplinas socio-culturais em sua estrutura acadmica, o corpodocente dominado por aqueles que trabalhamnas disciplinas de orientao biolgica.

    Vertinsky (2009) assinala que a cres-cente presena da cinesiologia cria um movi-mento para privilegiar a pesquisa quantitativacom nfase em fenmenos naturais e na iden-tificao dos mecanismos subjacentes a eles.Em contraposio, as preocupaes com fen-menos sociais, pesquisas qualitativas e estudosinterpretativos tm sido postas de lado. O queest sendo apontado por Vertinsky no novo.H 15 anos, Linda Bain (1995) j clamava pelanecessidade de o campo considerar outras for-mas de conhecimento e de produo de conhe-cimento.

    No Brasil, os docentes afetos aos temasdas subreas socioculturais e pedaggicas per-dem espao nos programas de ps-graduao.Suas produes cientficas so desqualificadase, no cotidiano do trabalho na universidade,enfrentam as presses das gestes e de rgosde fomento que privilegiam e investem em pes-quisa baseada em um modelo de cincia queno considera a diversidade e a singularidadeda natureza dos objetos de investigao. H umabismo crescente entre as prioridades das uni-versidades e os dilemas da sociedade que carac-terizam a necessidade de informao, conheci-mento e interveno responsveis e adequados.A conduo desse processo de excluso graduala que os docentes das subreas pedaggicase socioculturais tm sido submetidos tem, nosistema de avaliao da ps-graduao, um deseus grandes viles (BETTI et al., 2004).

    Um processo similar ocorre na Amricado Norte. Por exemplo, os critrios de avalia-o desenvolvidos pelo comit apontado pelaAliana Americana de Cinesiologia e EducaoFsica (AAKPE) estabeleceram que um artigo

    em peridico vale de 15% a 20% mais do queum livro (THOMAS; REEVE, 2006; THOMASet al., 2007). Isso mostra como os livros aindaso desvalorizados pelos comits de avaliao,apesar de serem um dos principais veculos dedivulgao cientfica da produo das subreassociocultural e pedaggica. Vertinsky (2009) re-lata sua prpria experincia no Canad com suaproduo no formato de livro: livro e captulode livro valiam 20%, 30% e at 40% menos doque uma produo em artigo. A desvalorizaodos livros fez com que ela mudasse o tipo depesquisa e de metodologia que usualmente uti-lizava, levando-a a buscar resultados quantita-tivos que teriam mais chances de serem publi-cados em artigos. Para atender a um critrio deavaliao, ela viu-se obrigada a sacrificar suacompetncia intelectual.

    Richard Tinning (2008) destaca que aeducao fsica tem suas origens na pedagogiacomo campo de investigao; entretanto, ape-nas recentemente sua presena como rea no-tada nos departamentos americanos, mas, mes-mo assim, com problemas de ordem conceituale de identidade. No Brasil, a subrea pedaggi-ca a menor nos programas de ps-graduao,o que contribui para o aumento da distnciaentre o que se pesquisa nas universidades e osinteresses e necessidades da sociedade.

    Os conhecimentos produzidos pela ci-nesiologia em geral e pela biodinmica em par-ticular tm grande potencial de generalizao,mas as aplicaes na resoluo de problemas eno desenvolvimento de bens e servios reque-rem um investimento na pesquisa orientada aosdilemas que as populaes enfrentam. Os estu-dos pedaggicos so delineados para respondera tal demanda. Restringir essa produo combase em uma poltica cientfica que se justificapor meio de critrios que valorizam a produtivi-dade quantitativa, em detrimento do impacto eda relevncia social da produo cientfica, im-plica tambm abdicar das pesquisas que legiti-mam, acadmica e profissionalmente, a educa-o fsica. Judith Rink (2007) destaca que essapoltica refletida na preparao profissional,

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    402402 Edison de Jesus MANOEL e Yara Maria de CARVALHO. Ps-graduao na Educao Fsica brasileira: a atrao...

    em que h um desequilbrio entre as disciplinaspedaggicas e aquelas dedicadas compreen-so dos mecanismos do movimento humano.Estudantes de graduao no Brasil e nos Esta-dos Unidos sabem cada vez mais sobre as basesmoleculares da contrao muscular e menos so-bre como planejar um currculo e conduzir umaaula. Esse desequilbrio reflete o investimentoque se faz nas pesquisas em biodinmica, emdetrimento das pesquisas pedaggicas.

    Qual o caminho a seguir? Andrews(2008) e Vertinsky (2009) concordam que a ci-nesiologia s teria a ganhar acolhendo a reasociocultural. Andrews props a constituiode uma rea de estudos da cultura fsica comoaglutinadora de vrios docentes, cujas pesqui-sas seriam orientadas pelas cincias sociais ehumanas. Essa rea consistiria em uma sntesede influncias empricas, tericas e metodol-gicas de vrias subdisciplinas isoladas (entreas quais estariam a sociologia e a histria doesporte e da atividade fsica). Vertinsky (2009)considera que a rea sociocultural poderia trazeros elementos necessrios para a constituio deum campo verdadeiramente interdisciplinar. Acinesiologia, apesar de apresentar-se como in-terdisciplinar, consiste, de fato, no conjunto dedisciplinas isoladas.

    Na perspectiva de Rink (2007), deveriahaver um esforo para transformar a atual gra-duao, orientado-a para aqueles que escolhe-ram atuar profissionalmente com educao fsicadentro e fora das escolas. Rink fala sobre a ne-cessidade de aproximar os estudos pedaggicosda cinesiologia a partir de um compromisso entreos acadmicos das duas subreas; os da cinesio-logia fariam um esforo para realizar pesquisasa partir de questes que emanam da prtica. Issopoderia resultar em um conhecimento bsico queteria maior interesse para o futuro profissional.Ao mesmo tempo, os pesquisadores da subreapedaggica estariam envolvidos em identificarqual conhecimento bsico sobre o movimentohumano seria mais relevante para enfrentar osproblemas da prtica.

    Os artigos de Andrews (2008) e Ver-tinsky (2009), assim como os dados apresenta-dos aqui sobre a realidade brasileira, mostramque a hegemonia da biodinmica no um fatoisolado. Ela guarda relao com uma tendnciamundial na qual as universidades se voltam paraas chamadas tecnocincias (ARAJO, 1998),cincias a servio de interesses econmicos epolticos que passam ao largo do compromissocom valores universais como justia, igualdade,liberdade de expresso e verdade (SAID, 2005).Como lembra Vertinsky (2009), no embate entreas subreas encontramos os ecos da polarizaoentre cincias naturais e humanidades, descritapor Charles Snow (1995) h mais de 50 anos.Vertinsky (2009) sugere que h terreno parauma aproximao, recorrendo proposio deStephen Gould sobre o tema. Gould (2003) falasobre uma conciliao, considerando que as di-ferenas entre as cincias naturais e as humani-dades so benficas para ambas e no devem sereliminadas. O autor argumenta que no impor-ta o que faamos, a cincia segue um caminhodiferente das humanidades e vice-versa, e soessas diferenas que tornam importante a apro-ximao entre elas. Apesar das esperanas deVertinsky (2009), somos pessimistas a respeitoda conciliao nos termos de Gould. A lgica dacinesiologia mais suscetvel a outra propostade aproximao: a de consilincia, de EdwardWilson (1998). Seu argumento em favor deuma unidade da cincia e do conhecimento; en-tretanto, tal unidade seria operada a partir doparadigma das cincias naturais, implicando areduo das humanidades cincia.

    Tinning (2008) prope rever todas assubdisciplinas da cinesiologia sob a tica deuma pedagogia crtica, como forma de refletire questionar os modos de (re)produo do co-nhecimento em cada uma delas. Esse seria ummodo de reestruturar as subdisciplinas e criarum territrio comum entre elas. A proposta deinning ousada e sua implementao implicariauma crtica do prprio modelo de cincia quesustenta a cinesiologia.

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    403Educao e Pesquisa, So Paulo, v.37, n.2, p. 389-406, mai./ago. 2011.

    Universidades brasileiras com programas de ps-graduao em edu-cao fsica e seus respectivos estados

    UNIVERSO: Universidade Salgado Filho; RJ: Rio de JaneiroUNESP/RC: Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho, Campus Rio Claro; SP: So PauloUFMG: Universidade Federal de Minas Gerais; MG: Minas GeraisUFRGS: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; RS: Rio Grande do SulUFRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro; RJ: Rio de JaneiroUDESC: Universidade Estadual do Estado de Santa Catarina; SC: Santa Catarina

    UNICSUL: Universidade Cruzeiro do Sul; SP: So PauloUnB: Universidade de Braslia; DF: Distrito FederalUCB: Universidade Catlica de Braslia; DF: Distrito FederalUFES: Universidade Federal do Esprito Santo; ES: Esprito SantoUFV/UFJF: Universidade Federal de Viosa; MG: Minas GeraisUFPR: Universidade Federal do Paran; PR: ParanUGF: Universidade Gama Filho; RJ: Rio de JaneiroUFPEL: Universidade Federal de Pelotas; RS: Rio Grande do SulUFSC: Universidade Federal de Santa Catarina; SC: Santa CatarinaUSP: Universidade de So Paulo; SP: So Paulo

    UNICAMP: Universidade Estadual de Campinas; SP: So PauloUNIMEP: Universidade Metodista de Piracicaba; SP: So PauloUSJT: Universidade So Judas Tadeu; SP: So PauloFESP/UPE: Fundao do Estado de Pernambuco / Universidade de Pernambuco; PE: PernambucoUEL/UEM: Universidade Estadual de Londrina; PR: Paran

    Em que pese a necessidade de aproxima-o entre saberes e prticas apontada por Snowe Gould (2003), a problemtica atual vai alm deuma possvel conciliao entre subreas ou sub-disciplinas. O esforo de aproximao e promo-o de uma coexistncia pacfica entre elas tocadiferentes questes, sobretudo a luta pelo poderque se trava entre os muros da universidade. Ahegemonia de determinados grupos significa: (a)controle sobre os critrios de concesso de au-xlios e recursos financeiros para a pesquisa; (b)obteno das maiores fatias desse bolo de recur-sos; e, (c) controle na admisso de pessoal para

    integrar o corpo acadmico dos departamentos.Tudo isso serve para manter o status quo dosque esto no poder nas instituies universit-rias. O que estamos vivendo na universidade areproduo de um processo que transcende seusmuros. A universidade, a cada dia e com maiorvelocidade, transforma-se em uma instituiocomprometida e redefinida de acordo com a l-gica e as leis do mercado, com a organizaoeficaz e o tecnicismo produtivo (SILVA, 2006).Tudo isso ocorre custa de recursos pblicos ena contramo do movimento em defesa de umensino universitrio decente e responsvel.

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  • 7/25/2019 Ps-graduao Na Educao Fsica Brasileira

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    Recebido em 21.04.10

    Aprovado em 12.09.10

    Edison de Jesus Manoel professor titular da Universidade de So Paulo (2003); livre-docente em Pedagogia do MovimentoHumano (USP, 1998); doutor em Psicologia (University of Sheffield, Gr Bretanha, 1993); mestre em Educao Fsica (USP,1989); licenciado em Educao Fsica (USP, 1980).

    Yara Maria de Carvalho professora associada da Universidade de So Paulo; livre-docente em promoo da Sade pela

    Faculdade de Sade Pblica da Universidade de So Paulo (2010); doutora em Sade Coletiva pela Faculdade de Cin-cias Mdicas da Universidade Estadual de Campinas (1999); ps-doutora pela Universidade La Sapienza de Roma, Itlia(2003/2004); diretora cientfica do Colgio Brasileiro de Cincias do Esporte. E-mail: [email protected].