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POSSIBILIDADES DE USO DA MEMÓRIA INSTITUCIONAL NA REGIÃO A PARTIR DE PROJETO DE PESQUISA DESENVOLVIDO NA UNISC Ana Maria Strohschoen 1 Universidade Santa Cruz do Sul – UNISC Resumo: Partindo da reflexão do projeto anterior (“Um estudo sobre como algumas empresas da região trabalham seu histórico: o que pode ser memória institucional no contexto destas práticas”) sobre quem estuda memória institucional no Brasil ou em outros países, passamos a desenvolver este projeto (“Possibilidades de uso da memória institucional na região a partir de projeto de pesquisa desenvolvido na UNISC”) como parte de pesquisa em comunicação social articulando com questões de relações públicas mas com caráter multidisciplinar. A parte já realizada da pesquisa apontou situações diversas, em que cada situação onde estudamos os históricos das empresas pôde apontar um ângulo a ser explorado. A partir de trabalhos realizados por alunos da graduação na disciplina Metodologia da Pesquisa em Comunicação temos acesso a relatos pessoais de funcionários e proprietários de empresas da região, que se confundem com a própria história da empresa. Chamou atenção nos relatos a variedade de detalhes sobre a história de vida, que permite perceber o contexto de cada depoente, tendo a fala como parte da memória institucional. Neste aspecto focamos o biográfico em nosso estudo, relacionando história oral e memória institucional. Pode a história de uma empresa começar pela visão de uma história individual e não por um produto de memória? Podemos estudar a memória institucional sem levar em conta os relatos de seus protagonistas? Como e onde são encontrados esses relatos na região? A partir desses questionamentos buscamos conhecer aprofundar uma reflexão sobre relatos, biografia a partir do ângulo da Memória Institucional. Para isso é preciso conhecer que estudos já foram realizados quanto ao conceito do que é uma biografia ou autobiografia, verificando como a história de empresa aparece nestas publicações, com um levantamento bibliográfico sobre as publicações deste mercado editorial para descrever a realidade em termos de dados quantitativos. A partir daí, atentar para o espaço dos relatos biográficos na questão da memória contemporânea, contemplando todos os protagonistas da memória institucional, com o uso da metodologia da história oral. Tomar os trabalhos de históricos da região desenvolvidos a partir de experiências metodológicas como parte deste ângulo da pesquisa de memória institucional, compondo um Banco de Dados de Pessoas e oportunizando acessibilidade a esses incipientes materiais, será o grande desafio. Palavras-chave: Memória Institucional; Biografias; Multidisciplinaridade; Particularidade; Acervo. 1 Professora Doutora e Coordenadora do projeto sobre Memória Institucional na Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.

Possibilidades de Uso da Memória Institucional na Região a Partir de projeto de Pesquisa

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Este é o projeto de pesquisa aprovado para 2008, que discute a relação de Memória Institucional com Biografias, bem como a disponibilização na Internet das histórias de vida que temos acesso. Artigo que será apresentado no XIV Seminário de Iniciação Científica e XIII Jornada de Ensino, Pesquisa e Extensão da UNISC, no dia 02/09/2008.

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POSSIBILIDADES DE USO DA MEMÓRIA INSTITUCIONAL NA REGIÃO A

PARTIR DE PROJETO DE PESQUISA DESENVOLVIDO NA UNISC

Ana Maria Strohschoen1

Universidade Santa Cruz do Sul – UNISC

Resumo: Partindo da reflexão do projeto anterior (“Um estudo sobre como algumas empresasda região trabalham seu histórico: o que pode ser memória institucional no contexto destaspráticas”) sobre quem estuda memória institucional no Brasil ou em outros países, passamos adesenvolver este projeto (“Possibilidades de uso da memória institucional na região a partir deprojeto de pesquisa desenvolvido na UNISC”) como parte de pesquisa em comunicação socialarticulando com questões de relações públicas mas com caráter multidisciplinar. A parte járealizada da pesquisa apontou situações diversas, em que cada situação onde estudamos oshistóricos das empresas pôde apontar um ângulo a ser explorado. A partir de trabalhosrealizados por alunos da graduação na disciplina Metodologia da Pesquisa em Comunicaçãotemos acesso a relatos pessoais de funcionários e proprietários de empresas da região, que seconfundem com a própria história da empresa. Chamou atenção nos relatos a variedade dedetalhes sobre a história de vida, que permite perceber o contexto de cada depoente, tendo afala como parte da memória institucional. Neste aspecto focamos o biográfico em nossoestudo, relacionando história oral e memória institucional. Pode a história de uma empresacomeçar pela visão de uma história individual e não por um produto de memória? Podemosestudar a memória institucional sem levar em conta os relatos de seus protagonistas? Como eonde são encontrados esses relatos na região? A partir desses questionamentos buscamosconhecer aprofundar uma reflexão sobre relatos, biografia a partir do ângulo da MemóriaInstitucional. Para isso é preciso conhecer que estudos já foram realizados quanto ao conceitodo que é uma biografia ou autobiografia, verificando como a história de empresa aparecenestas publicações, com um levantamento bibliográfico sobre as publicações deste mercadoeditorial para descrever a realidade em termos de dados quantitativos. A partir daí, atentarpara o espaço dos relatos biográficos na questão da memória contemporânea, contemplandotodos os protagonistas da memória institucional, com o uso da metodologia da história oral.Tomar os trabalhos de históricos da região desenvolvidos a partir de experiênciasmetodológicas como parte deste ângulo da pesquisa de memória institucional, compondo umBanco de Dados de Pessoas e oportunizando acessibilidade a esses incipientes materiais, seráo grande desafio.Palavras-chave: Memória Institucional; Biografias; Multidisciplinaridade; Particularidade;Acervo.

1Professora Doutora e Coordenadora do projeto sobre Memória Institucional na Universidade de Santa Cruz doSul - UNISC

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2 INTRODUÇÃO

Começar um novo projeto de pesquisa é sempre um momento ímpar: ou por que nos

deparamos com nossas limitações ou por que nos espantamos com nossa vontade de aprender

o que não sabemos. Também não é um começo neste caso tão prematuro. É preciso perceber

que do projeto anterior temos uma reflexão sobre quem estuda a memória de empresa ou

memória institucional no Brasil e em outros países. Avançamos para situar a reflexão para

dentro da área de comunicação social e em especial desenvolver o projeto como parte da

pesquisa em relações públicas. A pesquisa foi apontando para prestar atenção em situações

diversas e que não podemos estudar este tema como um todo. Assim, cada diversidade

observada pode gerar um ângulo a ser pesquisado. Temos acesso a relatos de funcionários e

donos de empresas da região que se confundem com a própria história da empresa. Estes

relatos já constam obtidos por trabalho desenvolvido por alunos da graduação na disciplina de

Metodologia da Pesquisa. São relatos individuais que são ao mesmo tempo a própria história

da empresa. Seria interessante explorar melhor este ângulo para a memória institucional.

Dentre todos os ângulos anteriores assinalados este nos parece o ângulo escolhido para este

novo projeto. Neste foco é que se coloca uma inquietude para estudar estes relatos biográficos

do ponto de vista conceitual e também da busca deste tipo de relato que mais se parece com a

história da empresa e também a possibilidade do aluno da graduação ter contato com estas

histórias individuais que normalmente não teria. Pode a história de uma empresa começar não

pelo produto de memória, mas pela visão de uma história individual? Como e onde se

encontra estes relatos? Em empresas? Em livros? Como e onde encontrar estes relatos na

região? Buscamos então estudar a memória institucional a partir de biografias já publicadas

sobre este tema, bem como estudar as biografias de empresas na região.

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3 JUSTIFICATIVA

Desde 2004 começamos a trabalhar numa disciplina do curso de Comunicação o uso de

relatos dos funcionários para montar um histórico de empresa. Percebemos a dificuldade dos

alunos em montar o histórico das empresas e que a maioria das empresas ficava muito

satisfeita em começar este trabalho, mas não tinha pessoal adequado para fazê-lo. A

dificuldade também era das empresas, principalmente as pequenas. Ao longo dos trabalhos

(até dezembro de 2007), a maioria das empresas utilizadas pelos alunos não tinha o histórico

com depoimentos orais (nem documentais) e se mostraram abertas para a realização do

trabalho. Paralelo a isto o projeto de pesquisa começava a estudar o assunto. Em final de 2007

um grupo de alunos sugeriu utilizar os relatos e histórias já elaborados na disciplina e tê-los

como arquivo de memória institucional para futuramente colocar num site de memória de

empresas da região. Sabemos pela constatação que as empresas menores não teriam como

elaborar este material. Nem sempre para pesquisar sobre o histórico contamos com pessoas ou

documentos. É o caso do cinema de Venâncio Aires que não contava com nenhuma foto da

época, nenhum documento e com o trabalho dos alunos da graduação em 2007 obteve o único

relato da última pessoa viva da família dona do cinema na época. É o caso de relatos de

pessoas já falecidas e que sem este registro oral não teríamos a menor chance de ter acesso ao

histórico. Ou outras empresas que foram vendidas e sem estes relatos não saberíamos da sua

origem. Com a falta de registros nem fotos nem documentos a única saída que temos é

“correr” atrás dos relatos orais. E não temos outra saída se quisermos ainda construir parte da

memória de lugares, empresas que nem sempre tiveram o cuidado de guardar o seu passado.

Ainda pensando nesta proposta chamou nossa atenção que nestes relatos identificamos a

região da pessoa, o sotaque, enfim, abrindo possibilidades de colocar histórias individuais

ricas em detalhes de uma época, de um tipo de fazer, das técnicas, do uso, um tipo de

conhecimento que nem sempre encontramos a nossa disposição. E este material já foi obtido.

Pensando na comunicação, este material teria uma grande importância como registros

de fala que serviriam também de consulta para saber de fato como as pessoas daquele lugar

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falam sem cair nos estereótipos. A fala como parte da memória institucional. E sobre esta área

que a memória institucional pode ser visualizada. Buscamos trabalhar agora uma perspectiva

de memória institucional, pensando não no histórico de documentos, mas com o uso dos

relatos de funcionários. Buscamos encontrar alguma referência sobre esta perspectiva de

espaços ainda não percebidos como “oficiais” da instituição, mas que ao serem visualizados e

processados podem ajudar a construir a memória institucional também oficial e legitimada.

De acordo com levantamento feito por Nassar (2007) o público que apresenta maior

desconhecimento sobre memória institucional são os estudantes. Quando iniciamos esta

proposta de coleta de dados na graduação verificamos que desconheciam a realidade das

empresas de sua região. Talvez por não conhecer mais a fundo e ver nisso uma possibilidade

de estudo na área da comunicação. No entanto, obtendo os relatos, elaborando o material,

selecionando e ouvindo as pessoas, esta visão começa a mudar. Interessante perceber que o

interesse vai aumentando e ampliando o que se tinha no início como a realidade regional.

Saber da história de empresas de outros lugares através de relatos que nunca ouviram em

outro espaço, nem em livros nem na mídia. Como estudantes de comunicação, é necessário e

importante desenvolver uma “escuta” para o outro que nem é o conhecido e o “famoso”. É

diferente escutar histórias de pessoas anônimas e pensar em como a vida deles tem a ver com

o seu trabalho. Possibilita também com este trabalho não excluir nenhuma das habilitações do

curso. Trabalhar com a memória de empresa hoje envolve equipes multidisciplinares,

possibilita unir a pesquisa com a graduação, nem sempre articulações possíveis. Pensando nas

histórias de vida de alguns funcionários e donos de empresas pequenas e médias construir a

partir daí a memória das empresas na região hoje.

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4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Fizemos três revisões conceituais: a primeira revisão de memória institucional foi dada

pela ABERJE (para elaboração do projeto). No entanto, na implantação do projeto (em 2006/1

e 2006/2) percebemos a falta de uma reflexão teórica mais consistente. Estes dados fornecidos

pelo projeto não traziam o enfoque acadêmico. Em 1/2006 e 2/2006 conseguimos dados

acadêmicos, com o trabalho de Campello (2005). Ainda assim faltava o conteúdo específico

de memória de empresa e relações públicas. Assim, em 2007/1 encontramos um referencial

mais próximo do que buscamos. Foi um estudo de Nassar (2007). Detalharemos então a

seguir a última etapa e outra que fizemos sobre memória para a montagem deste projeto.

4.1 Sobre comunicação organizacional, memória institucional e relações públicas

Entre os vários autores que focaram seus estudos em história de empresas encontramos

Margarida Kunsch (2003) (apud Nassar (2007)), membro integrante do Conselho Consultivo

da ABERJE, que faz uma abordagem sobre memória de empresa. A autora afirma que é

preciso mais do que disposição e determinação para reconstruir os pilares históricos de uma

empresa ou instituição, surgindo inúmeros obstáculos ao longo do caminho e que estas

particularidades poderão identificar estratégias para o futuro. Kunsch nos coloca diante do

crescente desenvolvimento tecnológico e a padronização dos produtos e serviços, mostra um

novo quadro social onde as empresas buscam profissionais mais qualificados com capacidade

para reproduzir a identidade da organização. Para tanto este profissional terá organizar a

história e fazer conhecer sua memória com objetivos concretos para o futuro e agregando

valores para o fortalecimento de seus vínculos sociais.

Ela ainda propõe voltar ao tempo onde os registros de nossa memória seriam o resultado

da nossa história e que nas organizações é o mesmo procedimento. Onde são preservadas as

narrativas históricas de seus funcionários, clientes e fornecedores para consolidar seus

valores. Nessa linha estes depoimentos garantem a permanência da empresa no meio social,

suas narrativas mantêm envolvidas as pessoas e as redes de relações sociais que levam a sua

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construção e expansão territorial. Para que possamos resgatar essa história teremos que

conhecer o seu conteúdo e quem a conta. Naturalmente isso deverá ser passado de uma pessoa

para outra evitando que se perca a identidade histórica ou a sua memória. Esta definição de

Kunsch é importante para nosso projeto, pois destaca a importância de que não acontece por

acaso chegar um relato de um funcionário (contando sua história) e por si mesmo seria assim

utilizado como parte da memória institucional. No site Museu da Pessoa

(www.museudapessoa.net) encontramos relatos de funcionários que contam a partir da sua

história de vida a memória da empresa. São os produtos comunicacionais gerados a partir das

fontes históricas que vão refletir o tipo de acervo a ser criado pela organização e sua

importância (classificações dadas pela ABERJE). Se considerarmos a inexistência de

documentos ou monumentos históricos capazes de retratar uma empresa, a memória oral

preserva o conhecimento que está na cabeça e na experiência das pessoas. De acordo com

Kunsch (apud Nassar), diante dessa relação com as organizações, podemos dizer que o

relações públicas é a comunicação entre e a empresa e as pessoas, responsável pela

organização dessas fontes de memória. Portanto, diante a uma nova perspectiva, é o

profissional de relações públicas que precisa mostrar que assimilou esta transformação, para

que a organização atinja seus objetivos, cumpra sua missão, desenvolva visão crítica e

agreguem valores fundamentais à empresa. Kunsch (apud Nassar) afirma que a utilização da

história e da memória já é de fato uma prática dentro do planejamento de relações públicas e

de comunicação organizacional dentro do contexto das empresas e instituições. Observando a

realidade das empresas na região não percebemos que pode ser um campo de atuação do

profissional de relações públicas para ser desenvolvido. Os relatos aparecem como uma boa

alternativa diante da insistência de outras fontes como ausência de documentos (fonte

pesquisa 2005-2007). Fazendo frente a uma nova linha de pesquisa, Paulo Nassar em sua tese

de doutorado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo fez um

estudo teórico e metodológico, pesquisando nas maiores empresas do território nacional. Em

comum acordo, os esforços utilizados pelas organizações e o profissional de relações públicas

na abordagem histórica e aprendizagem mútua fazem com que “assim uma unidade de

produção e serviços se transforme em uma unidade de significados socioculturais” (Gageti e

Totini, 2004 apud Nassar 2007). Esta nova visão do autor colaborou de maneira sensível na

construção e consolidação da cultura, da identidade e retórica organizacional, peças

fundamentais no fortalecimento das relações públicas, de seu pertencimento aos públicos e da

sociedade em relação às organizações. O uso da retórica como elemento de criação e

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implantação de políticas de relacionamentos públicos esta descrito por Tereza Halliday

(1998). Ela ainda complementa que a elaboração de uma retórica adequada aos interesses das

organizações dá uma oportunidade de ligação entre a comunicação e seus relacionamentos.

Como as relações públicas e carregam uma bagagem de atributos necessários, entre os quais a

dimensão histórica (Simões, 2001), esta dimensão está ligada à construção da cultura e a

identidade das organizações. Esses atributos legados a este profissional juntamente com um

conjunto de símbolos, comportamentos e processos comunicacionais darão base para construir

a personalidade e a imagem de uma empresa. Worcman (2004), ao se referir a os símbolos,

comportamentos e personalidade de uma organização ressalta que:

...a história de uma empresa não deve ser pensada apenas como resgate do passado,mas como um marco referencial a partir do qual as pessoas redescobrem valores eexperiências... A sistematização da memória de uma empresa é dos melhoresinstrumentos à disposição da comunidade empresarial corporativa. Isto porque ashistórias não são narrativas que acumulam, sem sentido, tudo o que vivemos. Ogrande desafio está em saber utilizá-las. Se a memória na empresa for entendidacomo ferramenta de comunicação, como agente catalisador no apoio aos negócios,como fator essencial de coesão de grupo e como elemento de responsabilidade sociale histórica, então poderemos afirmar que esta empresa, de fato, é capaz detransformar em conhecimento útil a história e a experiência acumulada em suatrajetória.

Nassar (2007) ressalta ainda que o conhecimento da história seja uma forma de dar

pistas, serve de inspiração e aponta caminhos, mostrando qual é a percepção que o

consumidor e seus funcionários têm de suas marcas, produtos e serviços. O consumidor e os

funcionários por sua vez constroem a imagem histórica, viva, dinâmica, mutável, ajustável

que é somada a sua reputação no momento em que se relacionarem com a empresa. E, ainda

enfatiza que, dar a conhecer a memória de uma empresa é fator determinante do futuro da

organização e objetivos presentes. É imprescindível restabelecer a substância dos pilares

históricos da empresa ou instituição, resgatarem sua história, encontrar as soluções adequadas

diante dos obstáculos que surgem ao longo do caminho, desenhar um mapa do DNA e

identificar as características particulares do organismo em uma preparação consciente para o

futuro. Trata-se de um dos maiores patrimônios dentro de estratégias e ações que envolvam o

pensamento de relações públicas e comunicação organizacional. Ao aprofundar o seu estudo

dentro da sociedade, Kunsch apud Nassar propõe que a empresa para se tornar parte

integrante da sociedade deve estar conectada com seus clientes, fornecedores, parceiros e,

sobretudo, com a história do país. Dando conta disso, a empresa adquire responsabilidade

social. Então com esse enfoque, podemos supor que as Relações Públicas têm como objeto de

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estudo as relações focadas nos públicos e no relacionamento corporativo de uma empresa.

Num compromisso ainda maior, agregar atributos sociais e fortalecer a promoção da

responsabilidade social no contexto em que a empresa esta inserida. Para a autora, se este

profissional desenvolver estas habilidades, poderá atuar em qualquer área da empresa e

cumprir as exigências propostas, onde com certeza prevalece o caráter, idoneidade,

conhecimento teórico e científico da instituição.

Percebemos que a história linear de uma empresa só tem interesse se comparada às

grandes evoluções da sociedade e do corpo social em geral. A história de uma empresa tem

uma vantagem principal: a da credibilidade do discurso, na medida em que este não é mais um

discurso de complacência (as sagas, as biografias de diretores, etc.). No âmbito interno, esse

novo discurso permite trabalhar sobre o consenso, necessário à mobilização dos atores em

proveito das estratégias e das evoluções. No âmbito externo, a natureza das relações muda

com a imprensa: pesquisas e artigos são mais ricos, sua análise é mais fina, e abre

perspectivas mais amplas. De modo mais geral, assiste-se a um fortalecimento da política de

imagem em proveito da comunicação institucional ou corporativo na linguagem institucional.

Isso pode ter implicações concretas no que se refere ao marketing. Um produto pode ser

vangloriado também por sua história. De um modo geral, as agências ou consultorias

agregaram outros tipos de profissionais, fornecendo a seus clientes importantes ferramentas

de gestão de setores estratégicos como comunicação, marketing e relações institucionais, por

meio de estudos e projetos multidisciplinares. Observamos certo avanço dos profissionais

da história em usar esta metodologia para as empresas. E a percepção de um avanço para que

o profissional de relações públicas também esteja redescobrindo uma nova forma de entender

e trabalhar melhor os dados históricos nas empresas. Pensamos que isto deva passar por uma

interessante reflexão que a comunicação organizacional faz sobre o conhecimento nas

empresas. Parece que o relações públicas pode e deve tomar para si este trabalho da memória

institucional. Percebemos ao longo das revisões bibliográficas a ênfase na área da história da

administração. No entanto, também percebemos nas abordagens da comunicação

organizacional um lugar muito específico para o profissional de relações públicas desenvolver

este enfoque. Percebemos que há um trabalho agora que não é apenas teórico, mas um

trabalho a ser feito que nos parece muito próximo das atribuições do profissional da área de

comunicação social, percebendo a memória como parte de estratégia de um processo de

comunicação.

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4.2 Perspectivas Contemporâneas sobre Memória

Diante destas novas possibilidades antes colocadas sobre o papel do relações públicas

parece importante atentar conhecer o que é memória hoje. Que memória estamos falando e de

onde parte uma definição contemporânea sobre a idéia de uma memória não pronta e acabada.

Encontramos então algumas destas referências em torno do papel da mídia na construção de

memória (Strohschoen, 2003). Neste estudo, percebemos que a mídia tem papel importante

hoje na reflexão sobre memória.

O que se entende por memória já passou por muitas mudanças. Há uma evolução do

conceito assim como da própria memória. Não vou me deter na evolução da memória, mas só

assinalar que a memória precisa do grupo social para existir. Sua dinâmica social é

inquestionável. O que se coloca como questão é o aparecimento da mídia como lugar de

memória, como um lugar também ocupado pelos grupos sociais na transmissão da memória

coletiva. As formas de transmissão orais foram se perdendo na sociedade urbana, nas

mudanças de ordem familiares e com isso, os suportes da memória e das identidades. A

primeira grande transformação aconteceu por conta da invenção da escrita, e hoje se dá a

partir da mídia. Le Goff (1984) diz: “Nas diversas épocas e nas diversas culturas há

solidariedade entre as técnicas de rememoração praticadas, a organização interna da junção, o

seu lugar no sistema do eu e a imagem que os homens fazem da memória” (Le Goff, 1984:

20). A linguagem pré-existe em nossa memória, trazemos no inconsciente coletivo uma

espécie de linguagem coletiva, antes mesmo da fala e da escrita. Aproximam-se, portanto,

linguagens e memória. Com a fala e a escrita, a memória “pode sair dos limites físicos do

corpo para estar entreposta que nos outros, quer nas bibliotecas” (Le Goff, 1984: 12). Aquilo

que trazemos conosco, desde o instante que nos comunicamos, seja da forma que for, estamos

conectados (a nossa linguagem da memória) com a linguagem que já existe. Nas sociedades

sem escrita, ao contrário do que se pensa, em sua maioria dão à memória mais liberdades e

mais possibilidades criativas, onde a palavra dá lugar e importância à dimensão narrativa e

outras estruturas da história cronológica dos acontecimentos. Esta memória se ordena em

cima de mitos de origem (identidade coletiva do grupo) e de famílias dominantes através de

suas genealogias. Com o aparecimento da escrita desenvolvem-se as duas formas de memória:

a de comemoração através de monumentos (que deram origem à epigrafia) e a de documentos

escritos como suporte. Le Goff (1984) diz que “todo documento tem em si um caráter de

monumento” (Le Goff, 1984: 17). Com o aparecimento da imprensa pode-se então distinguir

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a transmissão de conhecimentos orais dos conhecimentos escritos. O texto leva o leitor a

explorar uma memória coletiva cada vez maior, é a exteriorização progressiva das memórias

individuais, porém é do exterior que se faz o trabalho de orientação do que está escrito no

escrito” (Le Goff, 1984: 34). Neste aspecto da linguagem, a memória jornalística é a entrada

em cena da opinião pública, nacional e internacional que constrói ela também a sua memória”

(Le Goff, 1984: 39).

A história tem se confundido com a memória e se desenvolvido a partir da

rememoração, da amnésia e da memorização. A mídia exerce pressão sobre a história e a

torna inédita, revoluciona a memória e impõe uma renúncia à temporalidade linear e faz

cumprir uma “rotação em torno de alguns eixos fundamentais, a renúncia e uma

temporalidade linear em proveito dos tempos vividos múltiplos nos níveis em que o indivíduo

se enraiza no social e no coletivo” (Le Goff, 1984: 44). Na medida em que a sociologia,

psicologia, antropologia e demais ciências exploram o estudo da memória, surge um novo

conceito de tempo, novas inter-relações entre os indivíduos e uma nova história. É buscado

mais nos gestos, nos rituais, nas festas do que nas palavras e textos a memória coletiva.

Atualmente verifica-se que há uma intensificação e uma busca pelas novas visões e

interpretações do passado onde são trazidos através das memórias, este algo a mais que a

história não ofereceu. Seria uma exaltação e um salvamento, uma conversão do olhar

histórico.

Conversão partilhada pelo grande público, obcecado pelo medo de uma perda dememória, de uma amnésia coletiva que se exprime desajeitadamente na moda retro,explorada sem vergonha pelos mercadores de memória desde que a memória setornou um dos objetos da sociedade de consumo, que se vendem bem (Le Goff,1984: 44).

Nesta “evolução” da memória coletiva aparece a mídia como lugar de memória.

Umberto Eco (1984) tem um entendimento mais crítico sobre a relação mídia e memória. É

preciso visualizar o contexto da época onde não se tinha estudos sobre recepção televisiva e a

mídia era considerada como fim único: acabar com as memórias individuais e daí o fim das

identidades. Sobre isso diz Eco (1984):

Os mass-media são genealógicos e não tem memória, mesmo que as duascaracterísticas pareçam incompatíveis uma com a outra. São genealógicos porqueneles toda invenção nova produz imitações em cadeia, produz uma espécie delinguagem comum. Não tem memória porque depois de se produzir a cadeia deimitações, ninguém mais pode lembrar quem a iniciou e se confunde facilmente oiniciador... Além do mais, são mais complexas e verossímeis do que o próprioiniciador, que se parece com o seu imitador (Eco, 1984: 177).

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O interesse que desperta atualmente a questão da memória pode ser exemplificado pelos

inúmeros trabalhos acadêmicos que vem se desenvolvendo recentemente em torno da relação

com a antropologia, a história, a literatura e também com a comunicação. Abordar o

fenômeno da memória hoje é aproximar-se bastante de um aspecto central dos seres humanos:

o processo de comunicação, o desenvolvimento da linguagem enquanto esfera simbólica.

Ferreira e Amado (1998) trazem exemplos de alguns estudos que analisavam o impacto da

mídia em relação ao processo de rememoração, principalmente na área do cinema, séries em

países europeus. Nestes estudos, os autores colocam sua preocupação com o efeito

colonizador da memória pelos meios de comunicação. Estes estudos temem a possibilidade

das pessoas relatarem as experiências que usam na televisão como suas. E continuam: teme-se

que a cultura de massa empobreça “nossas memórias originais” e que uma versão

homogeneizada tome seu lugar. Ulbrich Neisser, citado por Ferreira e Amado (1998) chama

este processo de “memórias de flash” ou imagens refletidas, reforçam o impacto da

representação visual. Este tema vem gerando uma concepção tanto da história como de outras

áreas nas quais o processo de dar sentido ao passado é entendido como uma capacidade mais

geral expressa de várias formas e modos, como vetores em diferentes espectros. Para Ferreira

e Amado (1998) não se trata apenas de entender as dimensões da memória coletiva no

contexto da história mas sobretudo de entender como a historização formal e autoconsciente

vem se transformando cada vez mais na importância do como lembramos o passado e

entendemos sua relação com a vida e a cultura contemporânea. No que diz respeito a grupos,

as memórias são consideradas individuais. Nos grupos, porém, é onde ocorrem os maiores

conflitos: quando as pessoas insistem em que as lembranças dos outros sejam iguais as suas.

Ferreira e Amado (1998) acrescentam: “Reuniões e aniversários são freqüentemente fóruns de

ásperos debates entre os participantes sobre a memória de um evento, mesmo quando todos

testemunhavam. Eles discutem o que se passou e que interpretação dar à experiência, o que

costuma ser negociado pelo processo coletivo de rememoração. Ferreira e Amado (1998),

citando David Thelen, dizem que “as memórias das pessoas conferem segurança, autoridade,

legitimidade e por fim identidade ao presente , não é de surpreender que os conflitos acerca da

posse e da interpretação das memórias sejam profundos, freqüentes e ásperos” (Ferreira e

Amado, 1998: 85).

Ferreira e Amado (1998) dizem que as representações do passado observadas em

determinada época e em determinado lugar – de forma que apresentem um caráter recorrente

e repetitivo, que digam respeito a um grupo significativo e que tenham aceitação nesse grupo

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ou fora dele – constituem a manifestação mais clara de uma “memória coletiva”. Para

desenvolver o conceito de memória coletiva é preciso um estudo destas representações de

fatos passados e de como chegam no tempo presente. Ferreira e Amado acrescentam: “O

significado não é fixo, precisa ser estudado na prática”. (Ferreira e Amado, 1998: 155). Os

relatos orais sobre o passado englobam explicitamente a experiência subjetiva. De acordo com

Ferreira e Amado (1998) fatos “pinçados” “aqui e ali” nas histórias de vida dão formas a

percepções de como um modo de entender o passado é construído, processado e integrado à

vida de uma pessoa.

Marc Augé (1999) em seu artigo A Vida como Relato, parte do conceito de mediação

simbólica de Geertz relacionando o relato e a ficção. Neste artigo o autor diz “que a vida

individual e coletiva se constrói como uma ficção, mas não como uma ficção antônima da

verdade do relato pretendidamente verdadeiro dos historiados, mas sim como cenário, uma

narração obedecendo a um certo número de regras formais” (Augé, 1999:177). Neste sentido,

ele afirma que o simbolismo é imanente ao campo da prática. Se a ação pode ser contada é

porque está articulada nos signos, regras e normas. O autor “trabalhou” o conceito de

mediação simbólica através do estudo dos relatos. Um dos pontos centrais deste estudo é a

elaboração das formas que encontrou nos relatos. A característica comum dos relatos que

acompanham as vidas individuais e coletivas diz Augé (1999) é o ponto de identificarem-se

com elas, jogam sempre com a memória e o esquecimento. O autor encontrou assim três

formas de relatos:

1) Como atividade ritual

2) Existência individual

3) Como ficção literária

Estas pesquisas trazem-nos contribuições específicas na perspectiva de mídia e

memória. Estas buscas vão continuando no decorrer da pesquisa. O que se pode visualizar, no

entanto, é uma revolução sem dúvida que se dá com a expansão da memória. Parece que o

homem contemporâneo aprimora suas capacidades cognitivas e consegue melhor interagir

com dimensões antes consideradas inacessíveis de serem incorporadas no seu repertório

consciente, no caso a memória. A nova dimensão de tempo propiciada pela mídia está

também permitindo que o sujeito se relacione melhor com a sua memória e reveja a história

de sua história. Memória já faz parte dos processos de construção de identidade do sujeito

contemporâneo. E mídia como lugar de memória “amplia” este acesso à identidade.

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Poderíamos pensar não na empresa tomando para si contar a história, mas em interagir com a

memória dos funcionários de outras formas. Há maneiras possíveis que só hoje isto podda ser

viável.

Aqui se coloca a importância não apenas de pensar sobre a especificidade da mídia, mas

de como as empresas estão tomando para si este lugar de ponto de partida na questão de

produtos de memória também. Pensar nas mesmas questões que movem os sujeitos, memória

e identidade agora para o cenário das empresas. Seria possível falar em identidades

corporativas sem a memória estar presente?

4.3 Sobre relatos biográficos: levantamentos iniciais para pensar este conceito

Encontramos em Ribeiro e Lerner (2003) o material para iniciar nossa reflexão. Uma

das primeiras preocupações em levantar mais informações sobre o que queremos dizer com

relatos biográficos. Um fato marcante dentro da indústria cultural é que nos últimos anos há

um crescimento exarcebado na produção e consumo de literatura às narrativas biográficas.

Ana Maria Filizolla e Elizabeth Rondelli (1997) falam sobre este fenômeno no Brasil.

Segundo as autoras, esse mercado, nos anos 90 teria crescido 50%, como atesta o surgimento

de algumas coleções, como Perfis do Rio e Projeto Biografia2. Esse crescimento, entretanto,

não ocorre apenas no Brasil e nem se limita à produção editorial. Encontra-se em outras áreas

da indústria da cultura como Internet e Tvs por assinatura. As autoras buscam uma definição

para o que são biografias e autobiografias? Utilizamos as definições dadas por elas. Para este

momento preliminar aceitaremos o que elas colocam como definição.

Biografias e Autobiografias: são relatos escritos, totais ou parciais, da vida de um

indivíduo, narrado por ele mesmo ou por outra pessoa. Peter Burke cita entre os principais

biografados Dante, Petrarca, Aristóteles, Cícero, Platão, Sêneca e outros. No entanto, o autor

assinala que esses relatos não eram exatamente biografias ou autobiografias tais como as

entendemos, pois eles não discutiam o desenvolvimento da personalidade, ignoravam a

cronologia e, em geral, introduziam materiais aparentemente "irrelevantes", dando a

impressão de "ausência de forma".

2 A coleção Perfis do Rio foi criada pela editora Relume-Dumará em co-edição com a RioArte (SecretariaMunicipal do Rio de Janeiro) e o Projeto Biografia foi idealizado pela Companhia de Letras. Filizolla e Rondelli(1997: 211) citam ainda um artigo da revista Veja, segundo o qual, no ano de 1996, o setor de biografias noBrasil cresceu mais do que o mercado editorial como um todo. Em apenas um ano, foram lançadas 181biografias (uma a cada dois dias, quase quatro por semana).

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Apesar de existirem relatos biográfico e autobiográficos no mundo ocidental desde a

antigüidade, foi somente com a emergência da modernidade que esses dois tipos de discursos

se constituíram como gêneros acabados e reconhecidos como tais. O termo "biografia", por

exemplo, já tinha sido cunhado na Grécia no final do período antigo, mas aparece nas línguas

inglesa e francesa apenas no final do século XVII e na língua alemã, no final do XVIII

(Burke: 90-91).

O desenvolvimento das sociedades urbano-industriais implicou em uma série de

transformações, como a dissolução dos laços estreitos que uniam os indivíduos às suas

coletividades, característicos das sociedades tradicionais. Isso levou à emergência de uma

outra forma de organização social, que trouxe consigo uma nova concepção de self, ancorada

na idéia de individuo autônomo.

o escrito autobiográfico implica uma cultura na qual, por exemplo, o indivíduo (sejaqual for sua relevância social) situe sua vida ou seu destino acima da comunidade aque ele pertence, na qual ele conceba sua vida não como uma confirmação dasregras e dos legados da tradição, mas como uma aventura para ser inventada. Ouainda uma cultura na qual importe ao indivíduo durar, sobreviver pessoalmente namemória dos outros - o que acontece quando ele começa a viver sua morte comouma tragédia, pois a comunidade pára de ser a grande depositária da vida, garantiade toda a continuidade. (Calligaris: 46).

O enfraquecimento do modelo tradicional de sociedade permitiu, assim, o

desenvolvimento do sentimento da história como aventura autônoma, individual, o que

permitiu a afirmação da biografia e da autobiografia como gêneros discursivos. Afinal, como

afirmou Calligaris, "se certamente sempre se escreveram histórias de vida, por outro lado, a

idéia de que a vida é uma história é moderna".

Nas sociedades onde predominam as ideologias individualistas, a noção debiografia, por conseguinte, é fundamental. A trajetória do indivíduo passa a ter umsignificado crucial não mais contido mas constituidor da sociedade. É a progressivaascensão do indivíduo psicológico, que passa a ser medida de todas as coisas. (...)Carreira, biografia e trajetória constituem noções que fazem sentido a partir daeleição lenta e progressiva que transforma o indivíduo biológico em valor básico dasociedade ocidental moderna. (Velho, 1994:100).

Essa questão nos permite compreender a proliferação de escritas biográficas de pessoas

que tradicionalmente não eram consideradas "dignas" desse tipo de relato. Quem,

normalmente, merecia ser objeto de biografia ou de autobiografia? No mundo antigo e

medieval, eram governantes e filósofos e, em menor escala, generais e literatos. No

Renascimento, as possibilidades se ampliam; além de governantes, escritores e os condottieri,

mulheres e artistas de destaque passam a ser biografados, bem como indivíduos importantes

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de outras culturas, como líderes "bárbaros" e muçulmanos. Esse padrão de biografar figuras

de destaque se mantém na modernidade. Com a emergência da sociedade de massa, um

conjunto de indivíduos, que Edgard Morin chamou de olimpianos, passa a ser incluído:

cantores, atores, desportistas, jornalistas, apresentadores de TV etc.

Nas últimas décadas, observa-se um crescimento significativo de relatos autobiográficos

referentes a pessoas que não ocupam posição de destaque no conjunto da sociedade. Trata-se

das pessoas "comuns", que apresentam, entretanto, algum elemento distintivo: seja o fato de

terem compartilhado da intimidade de figuras famosas (como o mordomo do cantor Roberto

Carlos, por exemplo, que escreveu o polêmico livro O Rei e eu) ou por terem sido

testemunhas de algum tema de impacto da atualidade (como os sobreviventes do Holocausto

nazista e outras situações históricas dramáticas). Mas há também os totais "anônimos" que se

lançam a escrever (ou contratam profissionais para fazê-lo) suas próprias histórias.

Este fenômeno tem dois aspectos complementares: por um lado, existe o impulso da

escrita (ou seja, uma enorme quantidade de pessoas reconhece que sua vida é uma história e

busca externalizá-la sob a forma de um texto literário, para que ela se perpetue) e, por outro,

há um reconhecimento social da importância desse tipo de narrativa. Isto se expressa desde

um interesse puramente mercadológico (das editoras em publicar este tipo de material, diante

da enorme procura que eles apresentam), até a legitimidade acadêmica e institucional.

Na França, por exemplo, existe desde 1992 a Association pour l'Autobiografie et le

Patrimoine Autobiographique em Ambérieu-en-Bugey, que reúne um acervo de textos

autobiográficos deste tipo. Entre os anos de 1992 e 1996, foram encaminhados a esta

instituição 234 textos (121 escritos por mulheres e 113 por homens, estando os autores, na

maioria, entre 55 a 85 anos). Os relatos apresentam em geral uma enorme variedade de

tamanho, de tom e de conteúdo, comportam crônicas familiares e narrativas corriqueiras.

Falam sobre amores, infância, fracassos, êxitos etc. Outra associação francesa, chamada

"Vivre et l'écrire", de Orléans, faz um trabalho similar, coletando diários íntimos de

adolescentes (Lejeune, 1997).

Há também, no Brasil, instituições que visam registrar e arquivar a história de vida de

pessoas "anônimas". Este é o caso do Museu da Pessoa, que recebe e disponibiliza pela

Internet relatos autobiográficos e biográficos, além de realizar projetos de pesquisa para

indivíduos, famílias, empresas, comunidades e instituições. O seu acervo reúne, atualmente,

cerca de 500 depoimentos e mais de mil fotografias e documentos digitalizados. Como o

próprio Museu se define:

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o Museu da Pessoa, fundado em 1992, tem por objetivo democratizar o registro damemória, permitindo que todo e qualquer indivíduo da sociedade tenha sua históriade vida registrada e preservada. (...) Este é um museu virtual do qual você pode fazerparte, escrevendo e incluindo em nosso acervo a sua história de vida.

A crescente demanda por biografias no Brasil e no mundo pode ser vista sob vários

ângulos. Primeiramente, o interesse do leitor demonstra que o indivíduo tem importância, o

que significa restaurar, nesta complexa era digital, o ser humano preso na vasta rede de forças

impessoais que estão além de seu controle. As pessoas lêem e continuam lendo biografias,

acredita Stephen B. Oates, pelo prazer de se projetarem em outras vidas, diferentes tempos,

outros destinos e de retornarem ao presente após a viagem. As biografias sugerem o universal

embutido na particularidade de um indivíduo. É como se o leitor se deliciasse com o fato "de

não estar sozinho no mundo", de poder compartilhar sua própria história com outra pessoa,

não importando a época.

Muitas vicissitudes humanas são atemporais. O biógrafo lida com "humanidades"

enfrentadas por qualquer geração: os processos da adolescência, a puberdade, o início da fase

adulta, a maturidade e o declínio. Sentimos os fracassos e triunfos do "herói" narrado, e o

quanto poderia haver de nós mesmos em situações idênticas: "O fato de a biografia tratar de

uma vida real torna-a ainda mais reasseguradora. Ela é humana porque o processo de

biografar é um ato iluminador e muitas vezes espiritual, em que um ser humano faz

ressuscitar outro da poeira do passado".

Oates suspeita que uma biografia bem-escrita possa substituir a ficção como preferência

de gênero por parte do leitor. Romances de gerações passadas propiciavam aos leitores largas

fatias de vida nas quais questões de caráter, motivação, moralidade, pressão social e conflitos

pessoais podiam ser exploradas em profundidade. O romance moderno, em geral mais volátil,

fugidio e febril, deixou de ocupar esse lugar, acredita esse autor.

Vale considerar também a hipótese de que os leitores estão mais interessados na vida de

Machado de Assis, por exemplo, do que propriamente em ler seus romances. Nesse sentido, é

provável que leitores que jamais votaram no político baiano Antônio Carlos Magalhães para

um cargo público se interessariam em um livro sobre sua vida.

A verdade e a ficção tecem o realismo da biografia, e as formas de subjetividade

contemporânea entrelaçadas na vida do biografado compõem um jogo de intervenções entre

vários campos do saber: História, Semiótica, Filosofia, Literatura, Jornalismo e Psicologia.

A psicanalista Fani Hisgail, organizadora de uma rara coletânea sobre a "cultura da

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biografia", com textos de ensaístas brasileiros, assinala que o leitor precisa "perceber o salto

qualitativo da vida do biografado, e por isso as pessoas estão apaixonadas pela biografia, para

ver em que vão mudar suas próprias vidas".

Tem sido bastante difundida e aceita a idéia de que as biografias influenciam o modo

como os leitores enxergam a natureza humana em geral, certos indivíduos em particular ou a

si mesmos. Contudo, ela parece pressupor que a narrativa biográfica é um modelo imutável,

do que discorda a também psicanalista Regina Fabbrini:

Que os leitores de biografias busquem na sua leitura traços identificatórios, pedaçosde si mesmos "deslocados, reativação de amores e ódios, descoberta de coisasveladas, fatos vergonhosos e mesquinhos, at6s heróicos, para supor uma maiorintimidade com o biografado, não importa tanto: é sempre outra coisa queencontram.

A base permanente do mercado de biografias, segundo o sociólogo Miguel Chaia, é a

"vampirização" do indivíduo e de sua vida, constituindo-o em "documento que atende às

necessidades de informação (parcial, completa, verdadeira ou não) do público".

o leitor processa, dessa forma, uma segunda reescrita da vida do biografado,usurpando a experiência alheia (seja como enriquecimento individual ou até comoavanço de pesquisas sociais) e facilitando o processo de compreensão do mundo: avida do outro como possibilidade de conhecimento do real, já que ela se constituicomo exemplo objetivado de vivências valorizadas e dignificadas pela sociedade ouentão por determinados grupos sociais. São biografias que devem ser consumidasenquanto referências de ações e de idéias.

A idéia de um "leitor em busca de si mesmo" confronta outra noção, a de que as

biografias se destinam a um mercado consumidor alienado, fútil e curioso em relação a

detalhes sórdidos, pouco edificantes da vida de pessoas famosas, celebridades do mundo das

artes, da política e da indústria do entretenimento.

As pessoas extraordinárias excitam, orientam, alertam, ajudam a vivenciar o que acontece

como se acontecesse conosco, dando dimensão imaginária à vida. "É isso o que procuramos

quando compramos uma biografia e lemos sobre as intimidades secretas das pessoas famosas,

sua sorte, seus erros, suas fofocas. Não para trazê-las para o nosso nível, mas sim elevar o

nosso, tornando o nosso mundo menos impossível graças à familiaridade com o delas."

O modo de pensar a biografia como produto da cultura de massa, fruto da desvalia das

virtudes humanas não-monetárias, simuladas por interesses de certa forma ilícitos, já soa

datado. André Maurois, biógrafo de Marcel Proust e de Victor Rugo, expôs a ferida já em

1928, perguntando que outro tipo de panegírico substituiria as biografias íntimas em um

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mundo cada vez menos orientado pela religião. Maurois previu um período de desespero e

dúvida em que as biografias seriam fonte para a "restauração de valores humanos". Na região

temos algum registro de biografias de empresários em forma de livros? Numa região

fortemente marcada pelas indústrias é curioso perceber este descompasso. Na região

percebemos uma preocupação importante com a preservação de prédios e da cultura alemã. E

quanto à história pessoal de donos e funcionários pouco ou nada se encontra. Como podemos

estudar a memória da empresas locais sem levar em conta os relatos de seus protagonistas?

Precisamos estudar e pensar nesta dimensão do biógrafo como peça fundamental para a

memória institucional aqui.

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5 PROBLEMATIZAÇÃO DO TEMA DE PESQUISA

5.1 Possibilidades de pensar a memória institucional: a partir da escuta de relatos os

alunos constroem o histórico

Depois destas primeiras reflexões do projeto sobre Memória Institucional desenvolvido

de maio 2006/2007, pensamos ser necessário avançar para outras possibilidades sobre o tema.

Não mais como um início do assunto, onde foi estudado mais especificamente seu conceito.

Este início nos levou a tomar o tema agora não mais como objeto de estudo de outros autores,

mas já inseri-lo como parte de nossa construção acadêmica de pesquisa. Foi inicialmente um

tema que nos chamou bastante atenção para a área de Relações Públicas, mas que ao estudá-lo

fomos abrindo nosso horizonte para aplicá-lo mais perto de nossa realidade. Observamos que

a memória institucional é desenvolvida em grandes empresas por projetos que contam com

investimentos e equipes multidisciplinares de profissionais. Trazendo para o contexto da

região, percebemos que o trabalho de resgate com memória institucional baseado nestes

projetos de memória fica muito longe do que acontece lá naquelas empresas. No entanto

algumas empresas já manifestaram um tipo de preocupação com a sua memória e produziram

algum tipo de material onde consta seu histórico.

Analisamos alguns destes materiais no projeto anterior (2005-2007) e percebemos que

estes dados sobre as referências históricas não necessariamente podem ser chamados de

produtos de memória institucional. Foram elaborados para a data comemorativa e ficaram

restritos àquele momento. Apesar da preocupação em obter dados do início da fundação da

empresa, estes dados continuam como dados escondidos, não estão, por exemplo, na internet,

na página da empresa. Por que não estão disponíveis na internet?

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5.2 Observações feitas durante a pesquisa 2005-2007: Internet e Histórico (sem relatos)

Pelos levantamentos empíricos já feitos no estudo desta questão percebemos que a

internet já conta com referências de histórico de empresas. Aparece um texto em um

parágrafo em forma de cronologia. As falas que aparecem no CD dos 100 anos do SICREDI

de funcionários contando sua história de vida seriam de grande importância se pudessem ser

ouvidas, apreciadas dentro de um espaço aberto e acessado por outras pessoas como a

internet. No livro contando os 45 anos da rádio, também não aparece este material na internet,

bem como os dados do histórico da Tramontini. São produtos de memória que nem sempre

estão à disposição da comunidade ou dos próprios funcionários. Estão dentro de um formato,

de uma mídia que não pode ser acessada sem ter o livro nas mãos, o CD num aparelho ou a

revista nas mãos. Por outro lado, numa situação paralela a esta colocada (curioso isto)

anteriormente, desde 2006 (já durante a primeira fase do projeto) percebemos aqui na região

um aumento significativo de sites de empresas colocando seu histórico. Separamos 11

empresas que teriam históricos mais completos, que fazem mais referência ao conteúdo, que

estão relacionadas no quadro abaixo:

Quadro 01

01 Colégio São Luis http://www.maristas.org.br/portal/externo.asp?urlEx=/cole

gios/site.asp

02 Colégio Mauá http://www.maua.g12.br/novo/home_comunidade.php

03 Faccin Bicicletas http://www.faccinbicicletas.com.br/

04 Gazeta do Sul http://www.gazetadosul.com.br/default.php?arquivo=&intI

dConteudo=&intIdSecao=

05 AFUBRA http://www.afubra.com.br/principal.php

06 Cam. de Vereadores http://www.camarasantacruz.rs.gov.br/

07 Pref. de SCS http://www.pmscs.rs.gov.br/

08 MERCUR http://www.mercur.com.br/site/content/home/default.asp

09 STIFA http://www.stifa.com.br/

10 UNISC http://www.unisc.br/

11 Hospital Santa Cruz http://www.hospitalstacruz.com.br/

Fonte: pesquisa 2006

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Selecionamos a seguir quatro exemplos de históricos de empresa, que consideramos

com referências mais claras quanto ao entendimento do que venha a ser histórico. As

empresas são as seguintes: MERCUR, Colégio Mauá, Gazeta e Afubra. O conceito escolhido

para estes sites foi em função do conteúdo estar melhor adequado ao que estamos pensando e

lendo que seria trabalhar o histórico (ainda não refletido na discussão sobre a comunicação

organizacional e a memória na internet).

Colégio Mauá

(http://www.maua.g12.br/novo/home_comunidade.php) Não colocaremos todo o

conteúdo que consta no site, mas a cronologia brevemente comentada.

Os primeiros alemães que vieram ao Brasil trouxeram, além da vontade de conquistar

novos mundos, o valor da educação. Desde logo criaram escolas para seus filhos, apesar das

dificuldades e da ausência do Estado. Desta forma, em 27 de julho de 1870, um grupo de

imigrantes alemães fundou em Santa Cruz do Sul a Sociedade Escolar (Schulgemaide) para

auxiliar o pastor Hermann Jacob Bergfried na manutenção da sua escola particular, criada em

1868.. Logo em 1871, a então chamada Deutsche Schule encontrou dificuldades de

funcionamento devido à partida do pastor Bergfried. Dois anos depois, porém, chegou o

professor Roberto Jaeger, que assumiu a escola.

1949 - É inaugurado o auditório com a presença do embaixador Osvaldo Aranha, na

época secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU). No mesmo ano, novamente

muda a denominação, desta vez para o atual Colégio Mauá.

1966 - É criado o Museu do Colégio Mauá.

2001 - É inaugurado o moderno Teatro do Mauá.

Gazeta do Sul

(http://www.gazetadosul.com.br/default.php?arquivo=&intIdConteudo=&intIdSecao=)

Mais importante jornal do Vale do Rio Pardo. O tradicional Kolonie, editado em língua

alemã, havia sido extinto em 1941 por causa da Segunda Guerra Mundial. Num contexto de

florescimento socioeconômico que um grupo de santa-cruzenses se mobilizou e começou a

estruturar, em junho de 1943, a Editora Santa Cruz, com a finalidade explícita de dotar o

município novamente de um jornal. Sob a liderança de Francisco José Frantz e mais um grupo

de empresários, surgia assim a Gazeta de Santa Cruz, cuja primeira edição circulou em 26 de

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Page 22: Possibilidades de Uso da Memória Institucional na Região a Partir de projeto de Pesquisa

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janeiro de 1945. Em novembro de 1953 a Gazeta mudou a periodicidade, passando a circular

três vezes por semana. Com a aquisição de mais uma máquina linotipo e de uma nova

impressora marca Goss Cox-O-Type, que deixava o jornal devidamente dobrado e encartado.

Para suportar os custos de implantação do equipamento adquirido, foi aberta subscrição de

capital, transformando-se a empresa em sociedade anônima, numa assembléia realizada em

julho, com a participação de 163 acionistas. A sociedade passou a chamar-se GAZETA DO

SUL S.A. Na esteira das transformações, em 1957 o jornal mudou de nome, passando de

Gazeta de Santa Cruz para Gazeta do Sul, formato tablóide – até então o jornal era impresso

em formato Standard – seguindo uma tendência dos mais importantes jornais do Estado.

MERCUR

(http://www.mercur.com.br/site/content/home/default.asp)

Teve início graças às estradas sem asfalto, cheias de pedras, que arrancavam lascas de

borracha dos pneus maciços dos carros que circulavam pelas encostas da Serra Geral, nos

longínquos anos 20 do século passado, é que o Rio Grande do Sul deve sua primeira fábrica

de artefatos de borracha, início de uma indústria que hoje é uma das mais importantes do país.

Em 11 de junho de 1924, nasceu por intermédio dos irmãos Carlos Gustavo Hoelzel e Jorge

Emílio Hoelzel, a Hoelzel Irmãos, depois transformada em Mercur.

Em 1930, Jorge Emílio Hoelzel, um dos fundadores da Mercur, foi a Europa para

conhecer o que se estava fazendo no campo da borracha, comprou uma fábrica desativada,

trazendo-a para Santa Cruz do Sul. A partir de 1938, a Hoelzel é a primeira empresa da

América do Sul a produzir bolas de tênis, exclusividade que manteve por longos anos, até

deixar de produzi-las, em 1996, em conseqüência da concorrência de grandes empresas

internacionais. A bola de tênis foi o principal produto da empresa entre 1942 e 1945. Depois

de 1945, a empresa começou a fazer a matéria-prima própria para produzir a borracha de

apagar, o "facties".

Afubra

(http://www.afubra.com.br/principal.php)

Fundada em 21 de março de 1955, na cidade de Santa Cruz do Sul/RS, a Associação dos

Fumicultores do Brasil (AFUBRA) atua nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e

Paraná. Além dos benefícios do Sistema Mutualista - reparação de danos causados pelo

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Page 23: Possibilidades de Uso da Memória Institucional na Região a Partir de projeto de Pesquisa

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granizo e/ou tufão e auxílios queima de estufa e funeral -, a entidade representa os interesses

da classe dos fumicultores, pequenos agricultores que têm no cultivo do tabaco a principal

fonte de renda para manutenção e viabilidade da propriedade rural. Na propriedade agrícola,

no distrito de Rincão del Rey, município de Rio Pardo/RS, a AFUBRA realiza trabalhos

experimentais ligados à atividade agroflorestal, a maioria em parceria com Universidades,

órgãos governamentais e entidades co-irmãs.

Por outro lado, temos outra situação estudada a partir do estudo de como três empresas

usaram três tipos de produtos de memória (um CD, um livro, uma revista) para contar a

história da empresa. Esta comemoração trouxe a tona o cenário da empresa na época com

documentos (CD do SICREDI com arquivo de fotografias considerável), ou outros que não

tinham estes materiais como o caso da Rádio Venâncio Aires fizeram um livro a partir dos

relatos e outra empresa optou por uma revista. Pensar a empresa nestas datas comemorativas

não teve uma única maneira de ser lembrada. Por outro lado, é comum a todas o uso de uma

mídia para contar a história. Há algo a mais que foi feito e não existiu neste formato antes

desta data.

Poderíamos continuar buscando com outras empresas para saber como comemoraram

suas datas de aniversário. Chama a atenção quase sempre o quanto não sabíamos nada desta

história a não ser agora quando se chama a atenção para a sua data comemorativa. Não

podemos entender como este ângulo passou despercebido pelas empresas, funcionários e

público em geral. No entanto, algumas iniciativas já são percebidas. Algumas começam a se

interessar em contar sua história, em trazer a tona o que nem era percebido como parte de sua

realidade. Parece que estas ações não estão acontecendo ao acaso. Isto está acima descrito nas

observações feitas durante a pesquisa anterior.

Por outro lado, antes de iniciar a pesquisa (em 2004) começamos a utilizar a história

oral para construir o histórico das empresas na região. O curioso foi perceber que a partir

destes dados surgiram histórias de vida que tornaram muito mais interessantes a partir daí

montar o histórico da empresa. Curioso também foi perceber que diferente da perspectiva e

dos objetivos partindo das empresas em contar o seu ângulo da história pode-se pensar como

são interessantes aqui na região relatos de funcionários e donos de empresas. São pessoas

geralmente de origem rural. Chegamos a estes relatos através de uma coleta de dados

advindos da graduação dentro da disciplina de Metodologia da Pesquisa em Comunicação

desenvolvida no Curso de Comunicação. Esta situação nos colocou em contato com relatos

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Page 24: Possibilidades de Uso da Memória Institucional na Região a Partir de projeto de Pesquisa

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individuais que em muitos aspectos supera a idéia da história da empresa contada sem os

relatos (conforme consta nos sites das empresas). Carece a história de vida como relato ser

vista com maior atenção. Abre um espaço agora para desenvolver esta pesquisa em memória

institucional.

Isto possibilitou entender que não necessariamente a empresa por si só chame a atenção

para sua história. Pelo contrário, foram as histórias de vida de seus donos e funcionários que

tornaram esta história de empresa atraente e curiosa para os alunos. Esta experiência me

parece mais instigante e deve ser colocada mais a serviço da pesquisa sobre memória

institucional. Abre possibilidades para pensar sobre a importância de saber que temos tantas

histórias advindas de pessoas que precisam ser contadas e quem sabe publicadas futuramente.

Optamos então por desenvolver uma proposta de pesquisa sobre memória de empresa que não

estivesse sendo trabalhada já pelas próprias empresas. Pensar numa perspectiva de memória

institucional que quase se confunde com a própria história pessoal. Este tipo de relato

biográfico que buscamos. Como são estes relatos biográficos de empresa na região? Como

podemos estudá-los a partir da coleta já feita pelos alunos da graduação?

Este ângulo pode ser melhor estudado para o que se coloca hoje como memória de

empresa. De que memória de empresa estamos falando? O importante aqui é pensar que

podemos desenvolver a memória de empresas da região que não estão ainda trabalhadas. E

que não há muito tempo para esperar neste caso que a iniciativa só parta das empresas. Pensar

em como as biografias poderiam “repor” uma idéia mais universal de ser uma história do

todos também. E futuramente com base neste material já obtido pensar em maneiras para

publicá-lo na internet ou outras formas serão estudadas para esta finalidade.

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6 OBJETIVOS

6.1 Objetivo Geral

Estudar a Memória Institucional a partir de biografias de empresa.

6.2 Objetivos Específicos

• Articular a pesquisa já desenvolvida na graduação (em sala de aula como disciplina)

com o enfoque da pesquisa desenvolvida no Departamento de Comunicação.

• Estudar o mercado de biografias.

• Fazer uma seleção e arquivo dos relatos já obtidos.

• Fazer destes históricos já elaborados pelos alunos da graduação uma referência de

memória institucional na região.

• Estudar uma forma de divulgar este histórico já construído.

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Page 26: Possibilidades de Uso da Memória Institucional na Região a Partir de projeto de Pesquisa

7 METODOLOGIA

Buscamos conhecer, aprofundar uma reflexão sobre relatos, biografia a partir do ângulo

da Memória Institucional. Para isso é preciso conhecer que estudos já foram realizados sobre

o assunto, principalmente quanto ao conceito do que é uma biografia ou autobiografia. Como

a empresa aparece nestas publicações? Neste sentido, um levantamento bibliográfico sobre as

publicações deste mercado editorial é importante para descrever uma realidade em termos de

dados quantitativos. Neste sentido, elaborar a partir daí uma reflexão, atenta para este lugar

dos relatos biográficos na questão da memória contemporânea, uma especificidade importante

para pensar a memória. E aqui o espaço não apenas de biografia dos donos, mas do ângulo

dos funcionários.

Por outro lado já contamos com trabalhos com histórico na região a partir de

experiências metodológicas na graduação. Até então estes dados não foram tomados como

parte deste ângulo da pesquisa de memória institucional. Buscaremos com isso compor um

arquivo. Um estudo exploratório sobre memória institucional a partir desta articulação entre o

histórico feito pelos alunos e disto um início de histórico. Selecionar, identificar estes

históricos já feitos e coletados. Organizar este material para compor um Banco de Dados de

Pessoas. Para isto precisamos entrar em contato com os alunos e solicitar o envio deste

material. É uma tarefa que não será muito fácil, pois alguns alunos talvez não tenham mais os

dados coletados guardados.

É importante avançar na realização desta metodologia para trabalhar com dados

coletados. O desafio é como arquivar, o que e onde colocar estes relatos. Não sabemos as

dificuldades e o que envolve a implantação de um Banco de Dados a partir de um projeto de

pesquisa dentro de um Departamento. Sabemos de grandes equipes envolvidas nesta

implantação. Buscamos então iniciar com o que temos, que são os relatos. Isto não deve se

perder.

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8 CRONOGRAMA

ANO 2008 1º SEMESTRE 2º SEMESTRE

Ajustes do projeto / Reelaboração X

Levantamento atualizado sobre o mercado de Biografias (sobre as

publicações)X

Aprofundar a definição sobre o que é Biografia e autobiografias X

Apresentação da pesquisa em congresso da área X

Análise sobre o conceito de biografia e dos dados sobre o

mercado.X

Seleção do material com as histórias. X

Contato com alunos para obter o trabalho. X

ANO 2009 1º SEMESTRE 2º SEMESTRE

Obtenção e seleção do material. X

Montagem arquivo com os relatos. X X

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9 ORÇAMENTO

Descrição Preço

Um pacote de folhas A4 (500 folhas) R$ 15,00

Um cartucho para impressora R$ 65,00

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Page 29: Possibilidades de Uso da Memória Institucional na Região a Partir de projeto de Pesquisa

29

10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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identidade institucional. Intercom, 2005.

CAMPELLO, Carlos. O estudo sobre empresários e empresas: conceito, relevância e

panorama historiográfico. Disponível em:

<http://www.revistatemalivre.com/empresas10.html>.

CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura. Vol.3. São Paulo:

Paz e Terra, 1999.

ECO, Humberto. Viagem à irrealidade cotidiana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

FERREIRA, Marieta; AMADO, Janaina. Usos & abusos da história oral. Rio de Janeiro:

Fundação Getúlio Vargas, 1998.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 3. ed. Rio de Janeiro: DP&A,

1999.

HERSCHMANN, Micael; PEREIRA, Carlos Alberto Messeder (Orgs.) Mídia, memória &

celebridades. Rio de Janeiro: E-Papers Serviços Editoriais, 2003.

LE GOFF, Jacques. Memória, História. Imp. Oficial. Portugal: Casa da Moeda, 1984

LUCENA, Célia Toledo. Artes de lembrar e de inventar: (re)lembranças de migrantes. São

Paulo: Arte & Ciência, 1999.

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Page 30: Possibilidades de Uso da Memória Institucional na Região a Partir de projeto de Pesquisa

30

MARCHIORI, Marlene (Org.). Faces da cultura e da comunicação organizacional. São

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NASSAR, Paulo (Org.). Memória de Empresa: história e comunicação de mãos dadas, a

construir o futuro das organizações. São Paulo: Aberje, 2004. (p. 113-126)

STROHSCHOEN, Ana Maria. Mídia e Memórias Coletivas. Porto Alegre, RS: UNISINOS,

2003. Tese de Doutorado.

THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

VILAS BOAS, Sergio. Biografias & Biógrafos: jornalismo sobre personagens. São Paulo:

Summus, 2002.

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