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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA, BIODIVERSIDADE E CONSERVAÇÃO ESTOQUE DE DIVERSIDADE GENÉTICA, PATERNIDADE E MATERNIDADE DOS MACHOS EM Melipona mondury (HYMENOPTERA: MELIPONINI) Marcus Vinicius Canário Viana Jequié-BA 2013 PPGGBC

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA, BIODIVERSIDADE E

CONSERVAÇÃO

ESTOQUE DE DIVERSIDADE GENÉTICA, PATERNIDADE E MATERNIDADE

DOS MACHOS EM Melipona mondury (HYMENOPTERA: MELIPONINI)

Marcus Vinicius Canário Viana

Jequié-BA

2013

PPGGBC

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MARCUS VINICIUS CANÁRIO VIANA

ESTOQUE DE DIVERSIDADE GENÉTICA, PATERNIDADE E MATERNIDADE

DOS MACHOS EM Melipona mondury (HYMENOPTERA: MELIPONINI)

Dissertação de mestrado apresentada ao programa

de Pós-Graduação em Genética, Biodiversidade e

Conservação da Universidade Estadual do

Sudoeste da Bahia para a obtenção do título de

Mestre em Genética, Biodiversidade e

Conservação.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ana Maria Waldschmidt.

Co-orientador: Prof. Dr. Carlos Alfredo Lopes de

Carvalho

Co-orientadora: Prof.ª Dr.ª Ana Karina de

Francisco

Jequié-BA

2013

PPGGBC

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MARCUS VINICIUS CANÁRIO VIANA

ESTOQUE DE DIVERSIDADE GENÉTICA, PATERNIDADE E MATERNIDADE

DOS MACHOS EM Melipona mondury (HYMENOPTERA: MELIPONINI)

Aprovada em ____/_____/____

Comissão Examinadora:

Prof.ª Dr.ª Ana Maria Waldschmidt

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB/Campus de Jequié-BA

(Orientadora)

Prof. Dr. Juvenal Cordeiro Silva Jr.

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB/Campus de Jequié-BA

Prof. Dr. Carlos Alfredo Lopes de Carvalho

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB / Campus de Cruz das Almas-BA

(Co-orientador)

PPGGBC

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AGRADECIMENTO

Agradeço à minha mãe, Sonia Maria Canário Viana, pelo amor, cuidado e apoio às

minhas escolhas. Ao meu pai, Adauto da Silva Viana, já falecido, que foi um exemplo de

profissional a ser seguido. A este casal eu devo a minha vida.

Ao meu padrasto, Itamar Cerqueira, por ter me aceitado como filho e ter influenciado

minha escolha profissional e meus hobbies, mesmo se dar conta.

À Profª Drª Ana Maria Waldschmidt por contribuir diretamente com a minha

formação como pesquisador, aos Co-orientatores Profª Drª Ana Karina de Francisco e Prof.

Dr. Carlos Alfredo Lopes de Carvalho pelo apoio acadêmico e por acreditarem no meu

potencial.

Aos meus colegas Bruno Santos Almeida e Elder Assis Miranda pelo auxílio e bom

humor, durante estes quatro anos de laboratótio.

E, finalmente, agradeço à Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia pela estrutura

oferecida e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia pela bolsa de mestrado.

PPGGBC

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BIOGRAFIA

Marcus Vinicius Canário Viana, filho de Adauto da Silva Viana e Sônia Maria

Canário Viana, nasceu em Vitória da Conquista-BA em 1987. Concluiu o Ensino Médio no

Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia (CEFET-BA) em 2004. Interessado em

estudar o funcionamento dos sitemas biológicos, ingressou em 2006 no curso Ciências

Biológicas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e obteve o título de

Bacharel em 2010, aos 24 anos de idade. Durante a graduação foi bolsista de iniciação

científica em projetos de genética molecular de abelhas sem ferrão, orientado pela Profª Drª

Ana Maria Waldschmidt. Dando continuidade a estes trabalhos, ingressou no Programa de

Pós-Graduação em Genética, Biodiversidade e Conservação em 2011.

PPGGBC

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RESUMO

As abelhas sem ferrão são distribuídas pela região neotropical e sua maior importância

está na polinização de plantas nativas e cultivadas. Apesar de sua importância suas

populações naturais vêm sendo reduzidas por ações antrópicas, como o desmatamento e uso

excessivo de agrotóxicos. O monitoramento das populações naturais pode ser realizador por

meio de marcadores moleculares. Este estudo avaliou a transferabilidade de 49 marcadores

microssatélites em quatro espécies de abelha sem ferrão, a diversidade genética de Melipona

mondury mantida em um meliponário na sua área de ocorrência, a ocorrência de

acasalamentos múltiplos, a diversidade genética intracolonial e a maternidade dos machos

desta espécie. Como resultado pode-se colocar que: A maioria dos locos foi amplificada nas

quatro espécies, aumentando o número de locos que podem ser utilizados em estudos

genéticos; A baixa estruturação encontrada entre amostras do meliponário e amostras naturais

indica que a diversidade genética local está sendo mantida no meliponário, justificando a

criação de outros meliponários e discutir aspectos importantes de meliponário para estoque

genético natural; Em M. mondury, o número de acasalamentos variou entre um e sete, e a

maior diversidade genética está presente em colônias poliândricas. O parentesco médio entre

operárias variou entre 0,53 e 0,98, indicando que os acasalamentos múltiplos foram

endogâmicos. A proporção média de filhos de operárias foi de 50%, valor similar ao

encontrado para outras espécies do gênero. O parentesco médio nas colônias poliândricas

(0,53 a 0,90) não foi suficiente para gerar conflitos entre as operárias pela postura dos ovos,

resultado de acordo com a teoria do fitness inclusivo.

Palavras-chave: Microssatélite, conservação, meliponário, poliandria.

PPGGBC

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ABSTRACT

The stingless bees are distributed throughout the Neotropics and its greatest

importance lies in the pollination of native and cultivated plants. Despite its importance they

are an understudied group in the ecological and genetic and natural populations have suffered

due to reduced anthropogenic actions such as deforestation and overuse of pesticides. This

study evaluated the transferability of 49 microsatellite markers in four species of stingless

bee, the genetic diversity maintained in a Melipona mondury meliponary in their area of

occurrence, the occurrence of multiple matings, intracolonial genetic diversity and maternity

of males of this species. As a result, most loci were amplified in all species, increasing the

number of loci that can be used in genetic studies. The low structuring found between

meliponary and samples of the State of Bahia indicates that the local genetic diversity is

maintained in meliponary, justified the creation of other meliponaries and suggested a model

of meliponary for natural genetic stock. In M. mondury, the number of matings was between

one and seven and greater genetic diversity is present in polyandrous colonies. The average

relatedness between workers ranged from 0.53 to 0.98, indicating that multiple matings were

inbred. Approximately 50% of all males are sons of workers, the expected value for stingless

bees. The average relatedness in polyandrous colonies (0.53 to 0.90) was not sufficient to

generate conflicts between workers by laying eggs, a result in accordance with the theory of

inclusive fitness.

Keywords: Microsatellite, conservation, meliponary, polyandry.

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LISTA DE FIGURAS

REVISÃO DE LITERATURA

Figura 1. Operárias de M. mondury na entrada de uma caixa racional (Fonte: ASF -

UESB)................................................................................................................................... 20

CAPÍTULO 2

Figura 1. Meliponário e localidades amostradas no Estado da Bahia. 1 – Meliponário, 2

– Itiúba, 3 – Jaguaquara, 4 – Piraí do Norte, 5 – Jequié, 6 – Apuarema, 7 – Itacaré, 8 –

Itabuna, 9 - Caatiba, 10 - Teixeira de Freitas....................................................................... 49

Figura 2. Colônias de Melipona mondury no meliponário da fazenda Outro Fino,

município de Jaguaquara, Bahia, Brasil, instaladas sobre cavaletes individuais (A) ou em

dupla (B), dentro da mata, no município de Jaguaquara-BA (Fonte: ASF -

UESB)................................................................................................................................... 49

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LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 1

Tabela 1. Resultados obtidos com o teste dos 49 locos microssatélites heterólogos........ 34

Tabela 2. Porcentagem de sucesso na amplificação dos locos.......................................... 35

CAPÍTULO 2.

Tabela 1. Temperatura de anelamento dos primers, número de alelos encontrados,

número de alelos exclusivos e heterozigosidades observada e esperada totais da

população de Melipona mondury no meliponário e nas colônias naturais......................... 50

Tabela 2. Heterozigosidades médias observada (Ho) e esperada não enviesada (He) para

as populações de Melipona mondury do meliponário e do Estado da

Bahia................................................................................................................................... 50

Tabela 3 Análise de variância molecular (AMOVA) para seis locos microssatélites no

meliponário e nas colônias naturais.................................................................................... 51

CAPÍTULO 3

Tabela 1. Data da coleta, peso da rainha (wq), número de operárias (nw) e zangões (nm)

amostrados e número de locos analisados nas dez colônias de Melipona mondury...................... 62

Tabela 2. Número de patrilíneas, acasalamento efetivo (me), coeficiente de parentesco (R),

heterozigosidade oservada (Ho), diversidade alélica (A) e percentual de locos polimórficos em

colônias de Melipona mondury.............................................................................................. 63

Tabela 3. Número de machos amostrados (n), número de locos informativos (Iloc), número de

machos cuja maternidade pode ser atribuída (Na), número estimado de filhos de operárias

detectados (nwm), proporção estimada de filhos de operária (Pwm) em colônias de Melipona

mondury................................................................................................................................ 63

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LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

csd – Loco complementar de determinação do sexo

PCR – Reação em cadeia da polimerase

μL – Microlitro

mM – Milimolar

ng – Nanograma

U – Unidade

ºC – Grau ceusius

Ta - Temperatura original de anelamento do par de primers

A – Número de alelos ou diversidade alélica

t.d. – Touchdown

n.a. – Não amplificado

in. – Bandas inespecíficas

[ ] – Temperatura testada

n – Número de locos

Amp (%) – porcentagem do sucesso de amplificações para os pares de primers desenhados

para a respectiva espécie

Ho – Heterozigosidade média observada

He – Heterozigosidade média esperada

AMOVA – Análise de variância molecular

Fst – Índice de estruturação genética populacional

Fis – Índide de endogamia a nível de indivíduo

Φst - Índice de estruturação genética populacional baseado em análise de variância molecular

ASF – Grupo de pesquisa Abelhas Sem Ferrão

T – Temperatura de anelamento do par de primers

AM – Alelos exclusivos ao meliponário

AN – Alelos exclusivos às colônias naturais

Melip. – Meliponário

GL – Graus de liberdade

me – número de acasalamentos efetivos

dp - Probabilidade a nível populacional de não detecção de dois pais com o mesmo genótipo

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Na – Número de machos cuja maternidade pode ser atribuída Nj – Número de machos amostrados

wq – Peso da rainha

g – Grama

nw – número de operárias amostradas

nm – número de zangões amostrados

Patril. – Patrilínea

R – Coeficiente de parentesco

SD – Desvio padrão

Polim. – Polimorfismo

Iloc – Número de locos informativos

nwm – N número estimado de filhos de operárias detectados

Pwm – Proporção estimada de filhos de operária

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO....................................................................................................... 13

2. REVISÃO DE LITERATURA.............................................................................. 14

2.1. ASPECTOS GERAIS SOBRE ABELHAS........................................................ 14

2.1.1. Origem das abelhas e classificação das abelhas sem ferrão.......................... 14

2.1.2. Importância....................................................................................................... 15

2.1.3. Reprodução........................................................................................................ 15

2.1.4. Declínio populacional........................................................................................ 17

2.2. Meliponicultura.................................................................................................... 18

2.3. Microssatélites e estudos de estrutura genética intracolonial.......................... 18

2.4. Melipona mondury................................................................................................ 19

3. OBJETIVOS............................................................................................................ 20

3.1. OBJETIVO GERAL............................................................................................ 20

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................................. 21

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 21

5. CAPÍTULO 1 - Transferabilidade de primers microssatélites desenvolvidos

para abelhas sem ferrão em quatro outras espécies do gênero Melipona............. 28

6. CAPÍTULO 2 – Meliponário como estoque de diversidade genética................. 36

7. CAPÍTULO 3 – Frequência de acasalamento, maternidade dos machos e

diversidade genética intracolonial em M. mondury (HYMENOPTERA:

MELIPONINI) Smith 1863........................................................................................ 52

8. CONCLUSÕES GERAIS...................................................................................... 64

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1. INTRODUÇÃO

As abelhas sem ferrão são insetos de grande importância pelo seu papel ecológico de

polinizadoras da flora brasileira, além da polinização de culturas agrícolas, produção de mel,

pólen e geoprópolis. No entanto, suas populações sofrem declínio pela perda de habitat e

destruição de ninhos.

A redução de suas populações aumenta a probabilidade de acasalamentos endogâmicos

e a ocorrência de machos diplóides, indivíduos improdutivos homozigotos no loco de

determinação do sexo, levando a perda de fitness e posterior morte da colônia.

Algumas espécies de meliponíneos são criadas em cortiços ou em caixas racionais,

atividade chamada meliponicultura, que representa uma importante fonte de renda para

agricultura familiar. A criação racional de uma espécie de abelha dentro da sua área de

ocorrência também pode servir como estoque de diversidade genética desde que o seu manejo

seja realizado corretamente, principalmente, diminuindo o nível de endogamia e a

probabilidade da ocorrência de machos diplóides.

Os estudos realizados com espécies eussociais de abelhas sem ferrão demonstram um

conflito reprodutivo entre rainha e operárias pela maternidade dos machos. O acasalamento da

rainha com apenas um macho, predominante no grupo, torna mais vantajoso para uma

operária cuidar de seus filhos e seus sobrinhos do que seus irmãos. Assim, estudar reprodução

das operárias contribui para o entendimento da evolução do comportamento eussocial em

abelhas sem ferrão.

O conhecimento sobre o sistema de acasalamento e parentesco é importante do ponto de

vista ambiental e econômico, pois embasa estudos de genética populacional, e pode ser

aplicado em programas de conservação e melhoramento genético.

Diante deste quadro, este estudo visou avaliar o quanto da diversidade genética da

espécie de abelha sem ferrão Melipona mondury está sendo mantida em um meliponário

dentro da sua área de ocorrência natural, a ocorrência de acasalamento múltiplos da rainha e

reprodução pelas operárias nessa espécie e a transferabilidade de marcadores moleculares

microssatélite em quatro espécies do gênero Melipona. Para isso, foram utilizados marcadores

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moleculares microssatélites, apropriados para a análise diversidade genética, paternidade e

parentesco por serem marcadores codominantes, de alto polimorfismo e reprodutibilidade.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Aspectos gerais sobre abelhas

2.1.1 Origem das abelhas e classificação das abelhas sem ferrão

As abelhas são insetos da Ordem Hymenoptera, Superfamília Apoidea, em que a

maioria das espécies tem como principal fonte de energia e proteínas o néctar e o pólen,

respectivamente (Nogueira-Neto, 1997). As abelhas pertencem a um grupo monofilético

descendente de vespas apóideas. Entre suas sinapomorfias estão a alimentação das larvas por

pólen misturado com néctar ou óleos florais, pêlos plumosos ou ao menos ramificados, garras

fendadas e basitarso posterior mais largo que os tarsômeros seguintes, relacionado à coleta de

pólen (Michener, 2007). Abelhas assemelham-se às vespas apóideas pelo comportamento de

construção de um ninho em que vão aprovisionar, ovipositar e suas larvas vão se desenvolver

(Silveira et al., 2002).

A Família Apidae possui os hábitos sociais mais avançados e constrói células de cria e

de alimento com cerume, uma mistura de cera secretada pelas abelhas com própolis retirado

das plantas (Nogueira-Neto, 1997). As tribos Apini e Meliponini contêm as espécies

eusociais, isto é, que vivem em uma colônia onde existem operárias que forrageiam, cuidam

da cria e fazem guarda, não podendo fundar colônias, e uma rainha morfológica e

geneticamente diferente responsável pela reprodução e incapaz de sobreviver sem a ajuda das

operárias (Michener, 2007).

A tribo Meliponini reúne abelhas de ferrão atrofiado ou “abelhas indígenas sem ferrão”,

representadas por 391 espécies, em de 33 gêneros (Moure et al., 2007), com distribuição nas

regiões tropicais do mundo e subtropicais das Américas do Sul, Central, África, Índia,

Malásia e Austrália (Camargo e Pedro, 1992). O gênero Melipona possui 65 espécies descritas

(Moure et al., 2007).

PPGGBC

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A tribo Meliponini é composta de dois grupos compostos pelo gênero Melipona e os

trigoníneos. As melíponas não constroem células reais e a entrada da colônia localiza-se em

geral no centro de uma estrutura crateriforme e raiada feita de terra ou geoprópolis. Os

trigoníneos são um grupo diversificado, com dezenas de gêneros, que constroem células reais,

maiores que as outras, de onde emergem as rainhas (Nogueira-Neto, 1997).

2.1.2. Importância

As abelhas são os principais polinizadores. A polinização determina a formação de

frutos e sementes férteis, além da manutenção da diversidade genética da flora (Kerr et al.,

2001). As flores de jardim, a maioria das frutas e vegetais utilizados na alimentação animal e

humana, e as produtoras de fibras como linho e algodão são polinizadas por abelhas

(Michener, 2007). Sem as abelhas a capacidade reprodutiva das plantas floríferas seria

reduzida (Kerr et al., 2001).

O equivalente a 70% das culturas experimentariam perdas de produção por limitação da

polinização, entretanto, o serviço da polinização foi negligenciado até recentemente (Klein et

al., 2007). O valor da polinização para a produção de culturas para a alimentação humana foi

estimado em 153 bilhões de euros em 2005, representando 9,5% do valor total da produção

(Gallai et al., 2009). Em um estudo de 41 sistemas de cultura mundiais foi demonstrado que

uma maior riqueza de polinizadores selvagens, entre eles as abelhas sem ferrão, têm grande

potencial para aumentar o rendimento na produção agrícola mundial e devem ser

considerados insumos agrícolas (Garibaldi et al., 2013).

2.1.3. Reprodução e conflitos

Em abelhas a determinação do sexo envolve haplodiploidia e o loco de determinação do

sexo complementar (csd). Ovos não fecundados dão origem a machos e ovos fecundados dão

origem a fêmeas quando heterozigotas no loco csd ou a machos estéreis quando homozigotos

(Beye et al., 2003).

Durante o processo de enxameamento ou de substituição da rainha, a rainha virgem sai

da colônia para o vôo nupcial, que dura aproximadamente de dois minutos e meio a oito

(Sommeijer et al., 2003), onde o macho realiza a monta, insere seu endofalo e ejacula no

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oviduto seu sêmen, que posteriormente será armazenado na espermateca durante a vida da

rainha. Durante a ejaculação o macho se desprende da rainha e seu endofalo é arrancado

(Winston, 1991), sendo a inseminação da rainha virgem o principal papel dos machos. Após o

início da postura dos ovos, a rainha de abelhas sem ferrão não mais sairá da sua colônia e as

rainhas virgens excedentes são mortas ou expulsas (Sommeijer et al., 2003). As operárias

transpotam cerume, mel e geoprópolis da colônia mãe para a nova colônia filha por dias, até

mesmo meses (Nogueira-Neto, 1997).

A presença de mais de uma rainha fisogástrica na mesma colônia, poliginia, é

temporária para a maioria das espécies de Melipona, porém é facultativa para Melipona

bicolor, com a coabitação de duas rainhas ou mais não só por situações transitórias, mas por

um período de tempo considerável (Velthuis et al., 2006). O primeiro caso de poliginia em M.

scutellaris foi descrito por Carvalho et al. (2011), onde cinco rainhas fisogástricas faziam

postura e não houve conflitos após 90 dias em observação.

A monoandria, acasalamento com apenas um macho, contribuiu para a evolução e

manutenção da eussociabilidade em insetos haplodiplóides devido ao alto parentesco médio

entre irmãs (r=0,75) em comparação com o da própia prole (r=0,5), tornando vantajosa a

reprodução indireta por meio do investimento em irmãs (Hamilton, 1964a). No entanto, se

uma rainha acasala com um macho portador de um mesmo alelo no loco de determinação do

sexo, metade da prole será de machos diplóides e inviáveis, diminuindo o crescimento da

colônia (Tarpy & Page, 2001).

A poliandria, acasalamento da rainha com mais de um macho, evolui em espécies

sociais após as operárias alcançarem a esterilidade e o comportamento social se tornar

irreversível (Hammilton, 1964b; Huges et al., 2008). A poliandria aumenta a diversidade

genética intracolonial, aumentando a probabilidade de combinações favoráveis nos genótipos

das operárias (Palmer & Oldroyd, 2000), como a resistência a parasitas (Baer & Schmid-

Hempel, 1999) e a redução da probabilidade da ocorrência de machos haplóides (Tarpy &

Page, 2001). A poliandria é comum para o gênero Apis (Palmer & Oldroyd, 2000).

Rainhas de abelhas sem ferrão pertencentes à tribo Meliponini, em geral acasalam-se

com apenas um macho (Alves et al., 2011a, Alves et al., 2009; Palmer et al., 2002; Peters et

al., 1999). Geralmente resultados que indicam poliandria (Palmer et al., 2002; Paxton et al.,

1999) são explicados como efeito de alelos nulos, inclusão acidental de machos na

amostragem, substituição recente da rainha, abelhas de outra colônia, ou conexão entre os

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ninhos mãe e filho (Paxton et al., 2001; Peters et al., 1999). Alelos nulos são causados por

mutações no genoma que impedem a detecção de alelos e podem causar a interpretação errada

da paternidade (Callen et al., 1993).

A teoria da seleção por parentesco prevê conflitos reprodutivos entre indivíduos,

causados por diferenças nos valores de parentesco (Hamilton, 1964b). Em geral, as operárias

podem pôr ovos que servem de alimento para a rainha ou contribuir com machos para a

próxima geração com seus ovos não fertilizados (Bourke, 1988). O parentesco entre uma

operária e um filho da rainha é de 0,25. Em colônias em que a rainha se acasala com um único

macho as operárias preferem seus próprios filhos (0,5) e de suas irmãs (0,375) do que os da

rainha e disputam com esta a postura dos ovos não fertilizados. Quando a rainha se acasala

com mais de um macho o parentesco de uma operária com o filho de sua meia-irmã é de

0,125. Nesta situação, as operárias policiam as outras destruindo seus ovos ou sendo

agressivas com as que põem ovos, preferindo os machos produzidos pela rainha (Ratnieks,

1988).

Obter apenas o valor de parentesco não é suficiente para explicar a variação encontrada

na proporção de filhos de operárias em caso de monandria (Toth et al., 2004). Fatores como o

custo para a criação de um macho no lugar de uma operária (Palmer et al., 2002), o

policiamento da rainha (Ratnieks et al., 2006), dominância entre operárias (Heinze et al.,

1997) e a filogenia (Hammond & Keller, 2004) devem ser analisados.

Operárias podem ovopositar antes da rainha e fechar a célula de cria, depois da rainha

ou através de um pequeno orifício, após o fechamento da célula de cria. Os diferentes

métodos que as operárias usam para se reproduzir são consistentes com uma corrida

armamentista entre rainha e operárias (Toth et al., 2004). A ocorrência de reprodução das

operárias em diferentes espécies indica que não devemos considerar este comportamento uma

aberração, mas uma das opções reprodutivas disponíveis (Beekman & Oldroyd, 2008).

2.1.4. Declínio populacional

Os meliponíneos nidificam em ocos de árvores vivas, de árvores secas, em cipós, em

raízes secas de aráceas, em ninhos aéreos, em buracos, em canos plásticos subterrâneos, semi-

aéreos, em tomadas de luz, em alturas diversas das árvores e até em ocos que, por pouco

tempo, ficam submersos (Kerr et al., 2001).

PPGGBC

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No Brasil, os meliponíneos vêm sofrendo declínio populacional por causa de ações

antrópicas como destruição e fragmentação de seus habitats, uso inadequado de inseticidas e

extrativismo provocado meleiros que matam as colônias para retirar mel (Kerr et al., 1996).

Em populações reduzidas ou isoladas a endogamia e deriva genética torna as abelhas

altamente susceptíveis à extinção pelo aumento da ocorrência de machos diplóides, indivíduos

inviáveis, homozigotos no loco complementar de determinação do sexo (csd). Como

consequência, as populações diminuem em uma taxa maior e se recuperam mais lentamente

do que o esperado apenas por efeito da diminuição populacional e depressão endogâmica

(Zayed, 2009).

2.2. Meliponicultura

A meliponicultura é a criação de abelhas sem ferrão em caixas racionais ou em cortiços

(Nogueira-Neto, 1997). Esta prática pode fornecer de maneira sustentável mel, pólen,

geoprópolis, enxames para comercialização, serviço de polinização racional e material

biológico para estudos científicos. Entre outras aplicações estão o paisagismo, lazer,

ecoturismo e educação ambiental (Carvalho et al., 2003).

Deve-se escolher uma espécie de manejo conhecido (Carvalho-Zilse et al., 2011) e que

ocorra naturalmente no local em que será montado o meliponário, pois os meliponíneos são

estreitamente adaptados as condições ecológicas locais (Nogueira-Neto, 1997). Para evitar a

redução das populações naturais os criadores devem adquirir suas colônias de outros

meliponicultores ou retirar da natureza em árvores mortas, áreas em risco de desmatamento

ou queimadas (Carvalho-Zilse et al., 2011) ou ninhos armadilha (Oliveira et al., 2009).

No Brasil, a maioria dos meliponicultores tem pouco nível técnico e equipamentos.

Atualmente vêm sendo instruídos por programas sociais e governamentais, na internet por

blogs e sites, e participam de cooperativas e associações (Cortopassi-Laurino et al., 2006).

2.3. Microssatélites e estudos de estrutura genética intracolonial

Técnicas moleculares são poderosas na análise de paternidade por terem maior poder de

resolução em revelar diferenças genéticas entre indivíduos relacionados e estimar suas

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relações de parentesco. Utilizando-se estas técnicas, o número de acasalamentos da rainha

pode ser determinado a partir dos genótipos da progênie (Palmer et al., 2002).

Entre os marcadores moleculares estão os microssatélites, constituídos de sequências de

um a quatro nucleotídeos repetidas em tandem, altamente polimórficos pela variação no

número de repetições, dispersos no genoma de eucariotos e codominantes. Estas sequências

podem ser amplificadas individualmente pela técnica de PCR por um par de primers que as

flanqueiam (Ferreira & Grattapaglia, 1998).

Dentre as espécies de abelhas para as quais foram desenvolvidos primers estão: Apis

mellifera (Rowe et al., 1997), Melipona bicolor (Peters et al., 1998), M. mondury (Lopes et

al., 2010), M. seminigra merrillae (Francini et al., 2009a), M. interrupta manaosensis

(Francini et al., 2009b), M. quadrifasciata (Tavares et al., 2012), Trigona carbonaria (Green

et al., 2001) e Eulaema meriana (Lopez-Uribe et al., 2010).

Em abelhas, esses marcadores são utilizados em estudos de diversidade genética (Alves

et al., 2011b), bem como de estrutura intracolonial (Alves et al., 2011a), incluindo

paternidade, diferenciando operárias filhas de pais diferentes (patrilineas) dentro de colônias

(Palmer et a.l, 2002).

Entre as espécies do gênero Apis o número de acasalamentos detectados foram 10 a 28

para Apis mellifera (Kraus et al., 2005), 21 a 23 para A. laboriosa (Takahashi & Nakamura,

2003) e 42 a 69 para A. nigrocincta (Palmer et al., 2001).

Por meio de marcadores microssatélites foi verificada monoandria para as espécies de

abelhas sem ferrão Scaptotrigona mexicana, S. pectoralis, Austroplebeia symei, Trigona

clypearis, T. hockingsi, T. mellipes and T. sapiens (Palmer et al, 2002), Melipona

quadrifasciata (Alves et al.,2011a). Acasalamentos múltiplos foram encontrados nas espécies

Melipona beecheii (1 a 3) Scaptotrigona postica (1 a 7) (Paxton et al., 1999), Melipona

scutellaris (1 a 2) (Carvalho, 2001), o que sugere que o mesmo pode ocorrer também em

outros meliponíneos (Paxton et al., 1999).

2.4. Melipona mondury

A abelha sem ferrão Melipona mondury (Figura 1) pertence ao complexo rufiventris

ocorre no domínio morfoclimático Mata Atlântica nos Estados da Bahia a Santa Catarina

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(Melo, 2003), em florestas de umidade elevada e principalmente abaixo de 400m de altitude

(Sousa et al., 2012). Por ter sido elevada a espécie por Melo (2003), pesquisas sobre a sua

bionomia são escassas (Souza et al., dados não publicados).

Seu habitat vem sendo reduzido e fragmentado (INPE e Fundação SOS Mata Atlântica,

2011) e populações naturais estão diminuindo (Tavares et al., 2007). Além disso, é uma

espécie pouco conhecida e criada por meliponicultores, principalmente na Bahia, o que

dificulta a obtenção de amostras para estudos populacionais e justifica a criação de

meliponários para a conservação da espécie.

Figura 1. Operárias de M. mondury na entrada de uma caixa racional (Fonte: ASF -

UESB).

3. OBJETIVOS

3.1. Objetivo geral

O objetivo deste trabalho foi avaliar o quanto de diversidade genética de populações

naturais de Melipona mondury está sendo mantida em um meliponário dentro da área de

ocorrência da espécie, a ocorrência de acasalamentos múltiplos de rainhas e a reprodução das

operárias.

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3.2. Objetivos específicos

1- Padronizar a técnica de microssatélites e testar a transferabilidade de 49 locos;

2- Avaliar e comparar as diversidades genéticas intercoloniais das colônias do

meliponário e as de ocorrência natural;

3- Avaliar a frequência de acasalamentos das rainhas e diversidade genética

intracolonial e, por consequência, melhor entende sua estrutura populacional;

4- Avaliar o nível de reprodução das operárias, contribuindo para o entendimento

da evolução do comportamento eussocial; e

5- Aumentar o conhecimento sobre a reprodução da espécie, subsidiando projetos

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5. CAPÍTULO 1

Transferabilidade de primers microssatélites desenvolvidos para abelhas sem ferrão em

quatro outras espécies do gênero Melipona.*

Palavras-chave: Microssatélites; Transferabilidade; Abelha; Melipona; Conservação.

*Artigo publicado de acordo com as normas da Revista Genetics and Molecular

Research.

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Transferabilidade de primers microssatélites desenvolvidos para abelhas sem ferrão em

quatro outras espécies do gênero Melipona

M. V. C. Viana1; E. A. Miranda

1; A. K. de Francisco

1; C. A. L. Carvalho

2; A. M.

Waldschmidt1

1 Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Jequié,

BA, Brasil 2 Núcleo de Estudo dos Insetos, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das

Almas, BA, Brasil

Autor correspondente: A. K. de Francisco

E-mail: [email protected]

Transferabilidade de primers de microssatélite em Melipona

Marcadores microssatélites são úteis para monitoramento ecológico de populações naturais e

manejadas. A limitação da técnica está no custo para o desenvolvimento de novos

marcadores, o que torna os marcadores heterólogos uma alternativa. Em abelhas, estes

marcadores têm sido usados em estudos genéticos populacionais e intracoloniais. O gênero

Melipona possui o maior número de espécies, cerca de 70, e ocorre na região Neotropical. No

entanto, somente cinco espécies do gênero possuem marcadores microssatélites específicos,

um número não representativo. A transferabilidade de 49 locos microssatélites foi avaliada

para quatro espécies do gênero Melipona (M. scutellaris, M. mondury, M. mandacaia e M.

quadrifasciata). Marcadores desenvolvidos para cinco espécies de Melipona e Trigona

carbonaria foram testados em quatro indivíduos de cada espécie, de diferentes localidades.

Entre os 49 locos, 22 amplificaram com sucesso nas quatro espécies, três tiveram bandas

inespecíficas e cinco não foram amplificados. O padrão de amplificação dos demais locos

variou entre as espécies. O número de alelos variou entre um e seis. Os resultados

demonstram a possibilidade de uso destes marcadores em outras espécies de Melipona,

aumentando o número de locos que podem ser analisados e contribuindo para estudos

posteriores de genética populacional e intracolonial, necessários para programas de

conservação, melhoramento genético e resolução de incertezas taxonômicas.

Palavras-chave: Microssatélites; Transferabilidade; Abelhas; Melipona; Conservação

Introdução

Microssatélites são marcadores moleculares codominantes baseados em sequências repetidas

simples e frequentes nos genomas eucariotos. Cada loco microssatélite é altamente variável,

multialélico e de alto conteúdo informativo (Ferreira e Grattapaglia, 1998). Estes marcadores

são uma ferramenta útil para monitoramento ecológico de populações naturais, populações de

estoque e melhoramento genético (Bech et al., 2010). A limitação da técnica está no

investimento necessário para o desenvolvimento dos primers. A utilização de primers já

desenvolvidos em espécies relacionadas denominada transferabilidade, pode prover uma

alternativa para o desenvolvimento de novos marcadores (Patel et al., 2010). Diversos

trabalhos demonstraram a possibilidade de uso dos marcadores heterólogos em plantas

(Guidugli et al., 2009; Chu et al., 2010), vertebrados (Bech et al., 2010; Mantellato et al.,

2010) e invertebrados (Daly et al., 2002). Em abelhas, estes marcadores já foram utilizados

em análises populacionais (Carvalho-Zilse et al., 2009) e de estrutura genética intracolonial

(Alves et al., 2009, Alves et al., 2010).

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As abelhas são insetos da ordem Hymenoptera, cujo papel ecológico mais importante é a

polinização, necessária para a reprodução em plantas e/ou diminuição da depressão por

endogamia, estando associada com o aumento da produção e conservação de habitats

(Michener, 2007). O gênero Melipona abrange o maior número de espécies, cerca de 70

(Moure et al., 2007), ocorrendo em toda região neotropical, distribuindo-se desde o México

até Missiones, na Argentina, sendo mais diversificado na bacia amazônica (Camargo e Pedro,

1992; Silveira et al., 2002). Até o momento, foram descritos primers microssatélites para

apenas cinco espécies deste gênero, sendo elas: Melipona bicolor (Peters et al., 1998),

Melipona rufiventris (Lopes et al., 2009), Melipona seminigra merrillae (Francini et al.,

2009a), Melipona interrupta manaosensis (Francini et al., 2009b) e Melipona mondury

(Lopes et al., 2010).

Com o intuito de aumentar o número de espécies de Melipona a ser estudado com essa

metodologia, este estudo teve como objetivo a análise da transferabilidade de 49 locos

microssatélites em quatro espécies do gênero Melipona.

Material e métodos

As espécies estudadas foram Melipona (Michmelia) scutellaris, M. (Michmelia) mondury, M.

(Melipona) mandacaia, e M. (Melipona) quadrifasciata. Quatro indivíduos de cada espécie,

de diferentes localidades, foram usados para os testes de amplificação. O DNA genômico foi

isolado de acordo com o protocolo descrito por Waldschmidt et al. (1997).

Foi testado um total de 49 pares de primers descritos na literatura para as espécies Melipona

(Eomelipona) bicolor (Peters et al., 1998), Melipona (Michmelia) rufiventris (Lopes et al.,

2009), Melipona (Michmelia) mondury (Lopes et al., 2010), Melipona (Melikerria) interrupta

manaosensis (Francini et al., 2009b), Melipona (Michmelia) seminigra merrillae (Francini et

al., 2009a) e Trigona carbonaria (Green et al., 2001) (Tabela 1).

A mistura padronizada da reação de 10μL consistiu em: 0,1mM de cada

desoxirribonucleosídeo trifosfatado (dATP, dNTP, dGTP, dTTP); 0,4μM de cada primer;

1,5mM de MgCl2, 0,5 unidade de Taq polimerase em tampão 1X e 20ng de DNA genômico

total. A mistura foi incubada em termociclador modelo ATC201 (Nyx Technik). O programa

de amplificação teve uma etapa de 94ºC por 3 minutos, 40 ciclos com uma primeira etapa a

92°C (desnaturação) por 30 segundos, uma segunda etapa de temperatura de anelamento

específica do primer por 1 minuto, uma terceira etapa de 72ºC (extensão) por 30 segundos, e

ao final uma etapa de 72°C por 5 minutos.

Os produtos das amplificações foram submetidos à eletroforese em gel de poliacrilamida não

desnaturante a 8%, e visualizados através de coloração com nitrato de prata a 0,2%.

Os resultados das amplificações foram avaliados como amplificados quando bandas do

tamanho esperado foram detectadas, não amplificados quando não houve produto de PCR, ou

inespecífico quando ocorreram bandas fora do tamanho esperado (Gao et al., 2005).

Resultados

A Tabela 1 mostra os resultados obtidos, incluindo número de alelos e temperaturas de

anelamento originais e padronizadas.

Os locos Mbi28, Mbi32, Mbi33, Mbi215, Mbi218, Mbi232, Mbi233, Mbi254, Mbi259,

Mbi305, Mbi522, Mru14, Mmo15, Mim05, Msm03, Msm04, Msm05, Tc1-20, Tc3-155, Tc3-

302, Tc4-214, Tc4-287 foram amplificados para todas as espécies testadas (45% do total dos

locos). O loco Mim11 foi amplificado com bandas inespecíficas, enquanto que os locos

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Mbi221, Mim01, Msm12, Msm13 e Tc3-349 não apresentaram produto de amplificação (10%

do total). Os demais locos variaram no padrão de amplificação de acordo com a espécie

analisada. O número de alelos encontrados variou de um a seis.

As porcentagens de sucesso e polimorfismo, respectivamente, nas amplificações para cada

espécie foram: Melipona scutellaris 71 e 33%; Melipona mondury 59 e 24%; Melipona

mandacaia 65 e 37%; Melipona quadrifasciata 69 e 37%.

Discussão

Devido ao baixo número de primers específicos desenvolvidos para meliponíneos até o

momento, primers heterólogos vêm sendo utilizados em estudos populacionais, de

acasalamentos e de estrutura genética colonial em abelhas sem ferrão. Carvalho-Zilse & Kerr

(2006) testaram dez primers microssatélites heterólogos, desenhados para Melipona bicolor e

Apis mellifera, para estudos populacionais em Melipona scutellaris. Apenas os primers

desenhados para M. bicolor foram tranferidos com sucesso. Para estudar a variação genética

de colônias de M. scutellaris em um meliponário fundado por apenas duas colônias e

multiplicadas por um período de dez anos, fora da área de ocorrência da espécie, Alves et al.

(2010) utilizaram três marcadores microssatélites desenhados para Melipona bicolor e

Scaptotrigona postica. No estado de Minas Gerais, Tavares et al. (2007) diferenciaram

populações de Melipona rufiventris: Melipona mondury, que ocorre na Mata Atlântica, e M.

rufiventris, que ocorre no Cerrado, por meio de marcadores microssatélites desenvolvidos

para Melipona bicolor, isoenzimas e RAPD; propondo que duas populações estudadas do

Cerrado, Brasilândia de Minas e Dom Bosco, pertencem a uma nova espécie. Para análise de

acasalamentos múltiplos e parentesco de operárias Takahashi e Nakamura (2003) utilizaram

primers desenhados para Apis mellifera para amplificar quatro locos microssatélites em

operárias de duas colônias de Apis laboriosa. Palmer et al. (2002) utilizaram marcadores

microssatélites desenhados para A. mellifera, Scaptotrigona postica, Melipona bicolor,

Trigona carbonaria em sete espécies dos gêneros Scaptotrigona, Trigona e Austrophlebeia

oriundas do México e da Austrália para a avaliação de acasalamentos múltiplos e maternidade

dos machos das abelhas australianas. Alves et al., (2009) avaliaram a maternidade de machos

produzidos em colônias de M. scutellaris por meio de três primers microssatélites desenhados

para M. bicolor e S. postica.

Como demonstrado por Carvalho-Zilse & Kerr (2006) que utilizaram marcadores para A.

mellifera em M. scutellaris e Lopes et al. (2009) que utilizaram marcadores de M. rufiventris

em Partamona helleri, o sucesso no uso de primers heterólogos é menor em espécies

filogeneticamente mais distantes. Neste estudo, os resultados obtidos para as quatro espécies

do gênero Melipona (sugêneros Michmelia e Melipona) com o uso de marcadores

desenvolvidos para outras espécies do mesmo gênero (subgêneros Eomelipona, Michmelia e

Melikerria) e para T. carbonaria evidenciam que a distância evolutiva nem sempre impede a

transferência de marcadores microssatélites (Tabela 2), pelo menos para espécies da mesma

tribo (Meliponini).

Segundo Lopes et al. (2010) apesar do uso de marcadores heterólogos ser possível, o

resultado obtido deve ser analisado com cuidado devido a alelos nulos oriundos de mutações

em sítios de anelamento. Porém, até o momento, apenas cinco espécies do gênero Melipona

possuem marcadores microssatelites específicos. Este é um número pouco representativo

considerando as cerca de 70 espécies descritas para o gênero (Moure et al., 2007). É

necessário mais informação sobre suas estruturas genéticas populacionais para estudos de

conservação.

PPGGBC

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Devido ao grande número de espécies de abelhas e ao alto custo necessário para o

desenvolvimento de marcadores microssatélites, o uso de primers heterólogos torna-se uma

alternativa viável. Os resultados obtidos demonstram a possibilidade de utilização destes

marcadores heterólogos nas espécies estudadas, aumentando o número de locos que podem

ser analisados e contribuindo para futuras análises genéticas de diversidade, estrutura intra e

intercolonial necessárias para projetos de conservação, melhoramento e resolução de

incertezas taxonômicas.

Agradecimentos

Os autores agradecem o apoio financeiro do Programa Nacional de Pós-Doutorado /

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (PNPD/CAPES), da

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), da Universidade Estadual do

Sudoeste da Bahia (UESB) e da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

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Tabela 1 – Resultados obtidos com o teste dos 49 locos microssatélites heterólogos.

Locos Ta (°C) M. scutellaris

(A)

M. mondury

(A)

M. mandacaia

(A)

M. quadrifasciata

(A)

Mbi11 55 1 n.a. 2 2

Mbi28 57.5 2 3 1 1

Mbi32 57.5 1 [60°C*] 1 2 3

Mbi33 60 1 [57,5°C] 1 [57,5°C] 1 [57,5°C] 1

Mbi 88 57.5 1 n.a. 2 3

Mbi 103 50 n.a. n.a. 1 1

Mbi 215 57.5 2 [60°C] 1 2 [62,5°C] 2

Mbi218 60 2 4 [63°C**] 3 2

Mbi 219 57.5 n.a. [60°C] n.a. [60°C] 2 [60°C] 1

Mbi221 60 n.a. n.a. n.a. n.a.

Mbi232 50 5 [53°C] 2 2 4

Mbi233 57.5 5 [53°C] 3 5 4

Mbi254 55 4 [53°C] 6 [64°C**] 3 3

Mbi256 57.5 5 [53°C] in. 2 2

Mbi259 57.5 1 [53°C] 1 1 1

Mbi278 60 1 2 1 [65ºC***] n.a.

Mbi305 60 1 1 2 1

Mbi522 60 1 1 2 1

MRU 03 63 2 [53°C] 1 [53°C] in. [53°C] 3

MRU 14 62.5 2 [60°C] 2 [60°C] 3 [60°C] 3

MMO 08 59 1 [58°C] - n.a. n.a.

MMO 15 54 2 - 1 1

MMO 21 57 1 [56°C] - in. [56°C] in.

MMO 22 61,5 4 [59°C] - in. [59°C] in.

MMO 24 52 1 - n.a. n.a.

MIM 01 t.d. [62-52] n.a. [54°C] n.a. [54°C] n.a. [54°C] n.a. [54°C]

MIM 05 t.d. [62-52] 1 [54°C] 1 [54°C] 2 [54°C] 2 [54°C]

MIM 07 t.d. [62-52] n.a. [54°C] n.a. [54°C] n.a. [54°C] in. [54°C]

MIM 08 t.d. [62-52] 2 [54°C] 1 [54°C] n.a. [54°C] n.a. [54°C]

MIM 09 t.d. [62-52] n.a. [54°C] n.a. [54°C] n.a. [54°C] 1 [54°C]

MIM 11 t.d. [62-52] in. [54°C] in. [54°C] in. [54°C] in. [54°C]

MIM 12 t.d. [62-52] in. [55°C] in. [55°C] in. [55°C] 4 [55°C]

MSM02 t.d. [62-52] n.a. [60°C] n.a. [60°C] n.a. [60°C] n.a. [60°C]

MSM03 t.d. [62-52] 1 [60°C] 1 [60°C] 1 [60°C] 1 [60°C]

MSM04 t.d. [62-52] 2 [60°C] 2 [60°C] 2 [60°C] 1 [60°C]

MSM05 t.d. [62-52] 1 [60°C] 1 [60°C] 1 [60°C] 1 [60°C]

MSM07 t.d. [62-52] 2 [60°C] n.a. [60°C] 1 [60°C] n.a. [60°C]

MSM08 t.d. [62-52] in. [60°C] in. [60°C] in. [60°C] 2 [62°C]

MSM 09 t.d. [62-52] 1 [55°C] 1 [55°C] 4 [55°C] in. [55°C]

MSM12 t.d. [62-52] n.a. [59°C] n.a. [59°C] n.a. [59°C] n.a. [59°C]

MSM13 t.d. [62-52] n.a. [59°C] n.a. [59°C] n.a. [59°C] n.a. [59°C]

Tc1-20 55 1 1 1 2

Tc3-155 58 1 1 1 2

PPGGBC

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Tc3-302 56 2 2 2 3

Tc4-63 58 1 n.a. 1 1

Tc4-214 55 1 2 1 1

Tc4-287 58 2 1 2 4

Tc4-349 55 n.a. n.a. n.a. n.a.

Tc7-13 58 n.a. n.a. 1 n.a.

Ta - temperatura original de anelamento do par de primers; A – número de alelos; t.d. –

touchdown; n.a.- não aplificado; in. – bandas inespecíficas; [] temperatura testada; *Carvalho-

Zilse e Kerr 2006; **Lopes, 2004; ***Werneck, 2008.

Tabela 2 – Porcentagem de sucesso na amplificação dos locos.

Locos n

Amp

(%)

M.

(Michmelia)

scutellaris

M.

(Michmelia)

mondury

M.

(Melipona)

mandacaia

M.

(Melipona)

quadrifasciata

M. (Eomelipona)

bicolor 18 83,3 83,3 66,6 94,4 88,8

M. (Michmelia)

rufiventris 2 87,5 100 100 50 100

M. (Michmelia)

mondury

5 46,6 100 - 20 20

M. (Melikerria)

interrupta

manaoensis

7 28,5 28,5 28,5 14,28 42,85

M. (Michmelia)

seminigra

merrilae

9 50 55,5 44,4 55,5 44,4

Trigona

carbonaria 8 75 75,5 62,5 87,5 75,5

n – número de locos, Amp (%) – porcentagem do sucesso de amplificações para os pares de

primers desenhados para a respectiva espécie.

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6. CAPÍTULO 2

Importância do meliponário como estoque de diversidade genética para a

conservação*

Palavras-chave: Abelhas; Melipona; Microssatélites; Conservação.

*Artigo escrito de acordo com as normas da Revista Animal Conservation.

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Importância do meliponário como estoque de diversidade genética para a conservação

Estoque genético de abelhas sem ferrão

M. V. C. Viana1; C. A. L. Carvalho

2; H. A. C. Sousa

1; A. K. de Francisco

1& A. M.

Waldschmidt1

1 Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Jequié,

BA, Brasil

2 Núcleo de Estudo dos Insetos - INSECTA, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,

Cruz das Almas, BA, Brasil

Correspondente

Marcus. V. C. Viana

Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Av. José

Moreira Sobrinho s/n, Jequiezinho, CEP 45206 -190, Jequié, BA, Brasil.

E-mail: [email protected]

Resumo

A meliponicultura, criação de abelhas sem ferrão, possui importância econômica, científica e

cultural, porém o manejo inadequado pode causar efeitos genéticos negativos como gargalo,

depressão endogâmica e exogâmica. Este estudo avaliou o potencial do meliponário, como

unidade de criação das abelhas sem ferrão, para estoque de diversidade genética, com o

intuito de discutir os aspectos necessários para a conservação de espécies de meliponíneos e

matrizes para melhoramento genético. Foram avaliadas e comparadas 37 colônias instaladas

em um meliponário e 33 colônias em condições naturais. O DNA genômico foi amplificado

nos locos microssatélites Mmo15, Mmo21, Mmo24, Mru14, Mbi233 e Mbi254, obtendo-se

respectivamente 2, 2, 1, 3, 11 e 11 alelos, nove destes exclusivos. Não foram detectados

desvios do equilíbrio de Hardy-Weinberg, tanto nas colônias do meliponário, como nas

colônias em condiçõesnaturais. Os dois grupos (meliponário e colônias naturais) encontram-se

em baixa estruturação e apenas 3% da variação genética foram encontradas entre o

meliponário e as colônias naturais. Os resultados obtidos demonstram a importância do

meliponário como estoque da diversidade genética de meliponíneos.

Palavras-chave: abelhas, Melipona, microssatélites, conservação

PPGGBC

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Introdução

Abelhas sem ferrão pertencem à subfamília Apinae, tribo Meliponini, estão presentes

em regiões tropicais e subtropicais do mundo. São as mais comuns em muitas áreas tropicais

da América e presume-se que são as principais polinizadoras da vegetação nativa (Michener,

2007). A polinização é o seu papel ecológico mais importante e fundamental para a produção

de frutos e sementes e manutenção da variabilidade genética de plantas nativas e cultivadas

(Silveira et al., 2002).

O meliponário é uma unidade formada por um conjunto de colônias de abelhas sem

ferrão criadas em caixas racionais ou em cortiços, normalmente próximo às residências. A

meliponicultura tem como função a produção de mel, pólen, geoprópolis, comercialização de

enxames, polinização racional, uso em paisagismo, lazer, ecoturismo, educação ambiental e,

também, na conservação das espécies e fornecimento de material biológico para estudos

científicos (Carvalho et al., 2003). O meliponicultor deve escolher espécies cujo manejo é

conhecido (Carvalho-Zilse et al., 2011) e que são nativas da região onde o meliponário está

situado, pois os meliponíneos são estreitamente adaptados às condições ecológicas locais

(Nogueira-Neto, 1997). Deste modo, é possível beneficiar espécies vegetais nativas e nortear

programas de reflorestamento por meio da polinização por espécies de abelhas escolhidas por

análises palinológicas (Kerr et al., 1996). No Brasil, a maior parte dos meliponicultores ainda

possui um baixo nível técnico, embora vêm se aprimorando por meio de cursos oferecidos por

universidades e órgãos governamentais (Souza et al., 2009). Muitos criadores são membros

de associações e cooperativas e frequentam blogs de discussões, facilitando a divulgação das

técnicas de criação. As produções de mel e de novas colônias são os principais objetivos da

meliponicultura brasileira (Cortopassi-Laurino et al., 2006).

Os habitats das abelhas sem ferrão vêm sendo destruídos por desmatamento, ações de

meleiros e uso indiscriminado de inseticidas (Silveira et al., 2002; Kerr et al., 1996), tornando

a criação de meliponários um meio de conservação, oferecendo abrigo principalmente para as

espécies que necessitam de ocos em troncos de árvores para nidificar. Recomenda-se que os

ninhos para criação devem ser adquiridos de outros criadores ou em áreas de risco,

preferencialmente em árvores mortas (Carvalho-Zilse et al., 2011) e por ninhos armadilha

(Oliveira et al., 2009).

O monitoramento de populações naturais e de estoque pode ser realizado por meio de

marcadores moleculares (Bech et al., 2010). Microssatélites são sequências neutras de

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repetição simples de nucleotídeos, codominantes e com alto grau de polimorfismo (Ferreira e

Grattapaglia, 1998). Marcadores microssatélites são utilizados em abelhas para estudos de

estrutura genética de populações (Alves et al., 2011; Borges et al., 2010), maternidade e

paternidade (Palmer et al., 2002) e resoluções taxonômicas (May-Itzá et al., 2010; Tavares et

al., 2007).

A espécie de abelha sem ferrão Melipona mondury, conhecida popularmente como

uruçu amarela, ocorre na Mata Altântica brasileira nos Estados da Bahia a Santa Catarina

(Melo, 2003). Pesquisas sobre a sua biologia ainda são escassas (Souza et al., in press). No

Estado da Bahia a espécie ocorre principalmente em altitudes abaixo de 400m (Sousa et al.,

2012). Seu hábitat vem sofrendo redução e fragmentação (INPE e Fundação SOS Mata

Atlântica, 2011) e suas populações encontram-se reduzidas e com baixa diversidade genética,

como demonstrado por Tavares et al. (2007) em Minas Gerais. Estes fatores dificultam a

obtenção de colônias e, consequentemente, de amostras para estudos populacionais.

Assim, este estudo tem como objetivo avaliar o potencial de meliponários para estoque

de diversidade genética natural e discutir aspectos necessários para tal função, visando

estudos de conservação e melhoramento genético.

Material e Métodos

O meliponário analisado neste estudo está localizado no domínio morfoclimático Mata

Atlântica, na fazenda Outro Fino (13°43'29.82"S, 39°47'24.72"W, 292m), município de

Jaguaquara, Estado da Bahia, dentro da área de ocorrência natural da espécie M. mondury. A

área no entorno é um pasto com predominância de gramíneas, reflorestado a partir de 1994.

As colônias do meliponário M. mondury foram retiradas de árvores mortas ou derrubadas por

madeireiros e de áreas de risco de queimadas, em um raio de cerca de 15Km que inclui os

municípios de Jequié, Apuarema e Jaguaquara. As colônias são mantidas em caixas racionais,

espalhadas ao redor da residência num raio de 100m, em cavaletes individuais ou em duplas

(Fig. 2). As colônias são mantidas há mais de 20 anos sem manejo ou divisões artificiais

como seleção para produção.

Para avaliar a diversidade genética foram coletadas operárias de 37 colônias do

meliponário que foram comparadas com operárias de outras 33 colônias naturais, amostradas

nas localidades de Teixeira de Freitas (6 colônias), Jequié (5), Apuarema (4), Jaguaquara (4),

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Itacaré (4), Itabuna (3), Caatiba (3), Piraí do Norte (2), e Itiúba (2) (Fig. 1). O DNA total de

uma operária por colônia foi extraído segundo o protocolo de Waldschmidt et al. (1997).

Após teste de polimorfismo com 49 locos, os locos específicos Mmo15, Mmo21, Mmo24

(Lopes et al., 2010) e os locos heterólogos Mru14 (Lopes et al., 2009) e Mbi232 (Peters et al.,

1998) foram amplificados segundo o protocolo de Schuelke (2000). A reação de amplificação

de 10µL consistiu em 0,4µM de primer F, 0,1µM de primer F com cauda M13, 0,4µM de

primer R, 1,5mM de MgCl2, 0,1mM de cada desoxirribonucleosídeo trifosfatado (dATP,

dNTP, dGTP, dTTP), 1X de tampão, 0,5U de Taq DNA polimerase e 20ng de DNA total. O

programa de amplificação teve uma etapa inicial de desnaturação a 94ºC por 3 minutos; 30

ciclos de 92ºC por 30 segundos, temperatura padronizada para cada loco por 1 minuto (Tabela

1), 72º por 30 segundos; 8 ciclos de 92ºC por 30 segundos, 53ºC por 45 segundos, 72º por 45

segundos; e uma extensão final a 72ºC por 10 minutos. Os amplificados foram genotipados

em sequenciador modelo ABI 3500 (Applied Biosystems) e analisados pelo programa Gene

Mapper v.5.0.

A correção de alelos nulos foi feita utilizando o programa FreeNA (Chapuis e Estoup,

2007) com o algoritmo de Maximização de Expectativa de Dempster et al (1977). A

diversidade alélica (A), porcentagem de locos polimórficos, heterozigosidades médias

observada (Ho) e esperada (He), desvios do equilíbrio de Hardy-Weinberg com correção

sequencial de Bonferroni, a distância genética de Nei (1972), estatística F e a análise de

variância molecular (AMOVA) com dois níveis hierárquicos (entre grupos e dentro dos

grupos) foram calculados pelo programa GeneAlEx 6.5 (Peakall e Simouse, 2012). Os

resultados foram comparados entre o meliponário e colônias naturais de M. mondury.

Resultados

Os locos Mmo15, Mmo21, Mmo24, Mru14, Mbi233 e Mbi254 apresentaram 2, 2, 1, 3,

11 e 11 alelos, respectivamente. Alelos nulos foram detectados no meliponário nos locos

Mmo15, Mbi233 e Mbi254 e na colônias naturais nos locos Mmo21 e Mbi233. Quatro alelos

foram exclusivos ao meliponário e cinco às colônias naturais (Tabela 1). A diversidade alélica

foi de 4,17 para o meliponário e 4,33 para as colônias naturais. As heterozigosidades médias

observada (Ho) e esperada não enviesada (He) foram 0,49 e 0,49 para o meliponário e 0,46 e

0,46 para amostras do Estado (Tabela 2). O percentual de locos polimórficos foi de 83,33%

para o meliponário e para as colônias naturais. Em conjunto, as amostras apresentaram valores

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de heterozigosidade média observada e esperada de 0,48 e 0,47, diversidade alélica (A) de

5,00 e percentual de locos polimórficos de 83,33%. Desvios no equilíbrio de Hardy-Weinberg

não foram detectados (p>0,05). A distância genética de Nei (1972) entre os dois grupos

(meliponário e colônias naturais) foi de 0,035. O valor de Fst foi de 0,015 e o valor de Fis foi

de 0,00 para todas as amostras, sendo os dois valores não significantes (p>0,05). Para a

AMOVA 97% de toda a variação estão dentro dos grupos e 3% entre os grupos. O valor de

Φst foi de 0,032 (p<0,05) (Tabela 3).

Discussão

O número médio de alelos nos marcadores específicos (1,66) foi menor do que o dos

heterólogos (8,33), indicando que, uma vez que o loco é amplificado, a origem do marcador

não foi fator determinante de polimorfismo e, assim, marcadores heterólogos podem ser

utilizados em conjunto com os específicos.

Os valores de diversidade alélica (A) e a heterozigosidade média esperada (He)

analisando os dois grupos (meliponário e colônias naturais) em conjunto ou separadas foram

maiores do que as encontradas no Estado de Minas Gerais por Tavares et al. (2007) utilizando

cinco marcadores microssatélites heterólogos (A=2,56 e He=0,12) e Lopes et al. (2010b) por

nove marcadores microssatélites específicos (A=3,3 e He=0,22). Esta diferença

provavelmente se deve à menor amostragem e/ou genotipagem dos locos microssatélites em

gel de acrilamida dos estudos em Minas Gerais e diferenças no padrão da degradação da mata

entre os dois Estados. Minas Gerais possuía maior área de mata original (27.235.854 ha) em

comparação com o Estado da Bahia (18.875.009 ha), atualmente reduzidas a 9,64 e 8,38%,

respectivamente (INPE e Fundação SOS Mata Atlântica, 2011). Embora este estudo não tenha

objetivo de estimar a estrutura genética da espécie no Estado da Bahia, pode-se sugerir que a

qualidade e a distância entre os fragmentos florestais remanescentes no Estado da Bahia

podem suportar populações maiores e oferecer menor impedimento ao fluxo gênico para M.

mondury em comparação ao Estado de Minas Gerais.

A presença de alelos exclusivos e 3% da variação entre os grupos (meliponário e

colônias naturais) são consistentes com a baixa estruturação encontrada (Fst=0,015 e

Φst=0,032) e indica que existe fluxo gênico entre o meliponário e populações naturais, e que a

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diversidade genética local está sendo mantida. Este resultado pode ser explicado pela origem,

localização, número e manejo das colônias do meliponário.

Parte da diversidade encontrada no meliponário pode ser explicada pela origem natural

das colônias, transportadas num raio 15Km do meliponário. O transporte de colônias pode

aumentar ou diminuir frequências alélicas (Carvalho-Zilse et al., 2009) e não deve mudar a

estrutura genética natural de uma população, para evitar a perda de adaptações locais (Kraus

et al., 2011). A introgressão, o cruzamento de populações geneticamente diferentes, pode

originar híbridos não adaptados aos ambientes das populações parentais, processo conhecido

como depressão exogâmica (Frankhan et al., 2008).

Um número mínimo de 44 colônias é necessário para se manter viável uma população

de meliponíneo com seis diferentes alelos sexuais e consequente diminuição da ocorrência de

machos diplóides, indivíduos homozigotos no loco de determinação do sexo, que não

contribuem para a manutenção da colônia (Kerr, 1985). Apesar da degradação ambiental, é

provável que as distâncias entre as áreas de mata remanescentes não sejam uma barreira

efetiva para a espécie e permita o fluxo gênico com as colônias naturais. Deste modo, o

número necessário para se manter o meliponário geneticamente viável é reduzindo. Estudos

sobre a capacidade de dispersão dos machos e enxameamento entre fragmentos de mata são

necessários para dar suporte a esta hipótese.

Após evidenciar a diferenciação e a baixa diversidade alélica das populações de uruçu

amarela no Estado de Minas Gerais, Tavares et al. (2007) afirmaram que é necessário se

preservar o maior número de colônias possível, de preferência na sua área de ocorrência.

Carvalho-Zilse et al. (2009) estudaram a diversidade genética de M. scutellaris em

meliponários dos Estados da Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas e observaram que nos

Estados da Bahia e Pernambuco as heterozigosidades médias observadas foram maiores

comparadas aos Estados de Alagoas e Sergipe, porém as diversidades alélicas foram menores.

Esta diferença se deve à intensa atividade de criação da espécie associada ao transporte e

seleção de colônias nos estados da Bahia e Pernambuco. Os valores baixos ou não

significativos de estruturação populacional encontrados foram explicados como transporte

artificial de material biológico, devido às grandes distâncias entre os meliponários. Este

resultado demonstra que as técnicas de manejo e seleção artificial são capazes de modificar

frequências alélicas.

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Na Europa os produtores apícolas translocam subespécies de Apis mellifera mais dóceis

e produtivas para fora de sua área de ocorrência histórica, causando introgressão e extinções

regionais de outras subespécies nativas, levando a perda de polinizadores generalistas

adaptados aos seus ambientes. O sucesso de futuros programas de proteção dependerá de

políticas de criação de larga escala orientadas a conservação de subespécies nativas, além da

valorização e subsídios de seus produtos. As duas principais medidas são a restrição da

introdução de subespécies “superiores” em regiões ocupadas por outras nativas e a

manutenção da diversidade destas (De La Rúa et al., 2009).

Um número maior de colônias pode aumentar o tamanho efetivo e comportar maior

diversidade genética (Alves et al., 2011). Atualmente a maioria dos meliponários possui entre

10 e 15 colônias (Carvalho-Zilse e Kerr, 2006), podem sofrer melhoramento pela eliminação

de rainhas menos produtivas (Silva-Barros, 2006) ou até são fundados fora da área de

ocorrência da espécie criada (Nogueira-Neto, 2002). Em populações reduzidas ou isoladas as

abelhas são altamente susceptíveis à extinção, pois o aumento da endogamia e a deriva

genética favorecem a ocorrência de machos diplóides, homozigotos no loco de determinação

do sexo, e reduz o fitness das colônias (Zayed, 2009).

Alves et al. (2011) monitoraram um meliponário de M. scutellaris localizado fora da

área de ocorrência e fundado a partir de duas colônias. O gargalo genético artificial reduziu

severamente o número de alelos sexuais e em locos microssatélites bem como aumentou em

cerca de dez vezes a proporção de colônias com ocorrência de machos diplóides quando

comparada com a população de origem. O meliponário foi mantido com sucesso com uma

taxa de cinco divisões de colônias por ano devido ao manejo com fornecimento de recursos

florais abundantes, alimentação artificial, transferência de favos de cria para colônias fracas e

a reposição natural de rainhas que produzem machos diplóides.

Os resultados obtidos por Alves et al. (2011) concordam com Nogueira-Neto (2002) por

demonstrar a possibilidade de se manter pequenas populações de meliponíneos viáveis por

meio de intenso manejo. Esta estratégia será útil para manejo de espécies criticamente

ameaçadas de extinção. No entanto, esforços de conservação devem manter populações

geneticamente viáveis ao longo do tempo (Frankhan et al., 2008), como no meliponário

proposto por Kerr (1985), que necessitem do mínimo possível de intervenção humana dentro

das colônias. A aplicação de uma das duas estratégias depende do nível de risco da espécie

que se vai conservar.

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Os meliponíneos são estritamente adaptados aos seus ambientes (Nogueira-Neto, 1997)

e sua baixa diversidade em comparação a Apis tem uma provável relação com genes de

adaptação aos ecossistemas ocupados que tendem a fixação de alelos pelo comportamento de

enxameagem a curtas distâncias e baixo nível de poliandria (Carvalho-Zilse & Kerr, 2006). A

genética da conservação tem o objetivo de preservar as espécies nativas como entidades

capazes de responder a mudanças ambientais e evoluir. Para tanto, é necessário o

reconhecimento de declínio populacional por ação antrópica, resolução de incertezas

taxonômicas, conhecimento da estrutura genética e adaptações locais, fluxo gênico histórico e

manejo visando populações geneticamente viáveis (Frankhan et al., 2008).

Além de fatores populacionais e genéticos, a conservação da espécie envolve a

conservação de seu hábitat (Silveira et al., 2008). Várias espécies do gênero Melipona são

dependentes de ambientes florestais e não sobrevivem em ambientes abertos nativos ou

antropogênicos (Silveira et al., 2002).

A M. mondury foi descrita recentemente (Melo, 2003), é pouco conhecida e criada e o

estudo sobre sua bionomia foi realizado por Sousa et al. (in press). A espécie deve ter seu

manejo conhecido e divulgado através de cursos e publicações para a qualificação do

meliponicultor. É fundamental que o meliponicultor conheça a maneira correta de se obter

colônias, tornando-se um aliado na conservação. A baixa estruturação e presença de alelos

exclusivos justificam a criação de novos meliponários com função de estoque genético em

outras localidades, além de um estudo populacional mais abrangente no Estado da Bahia.

Assim, pode-se concluir que os meliponários, como unidade de criação das abelhas sem

ferrão, têm potencial para conservação como estoque de diversidade genética e que este pode

ser criado em paralelo aos meliponários de produção, inclusive fornecendo material para o

melhoramento. Para tanto, é necessário que a criação racional seja dentro da área de

ocorrência da espécie, permitindo o fluxo gênico com as colônias naturais, e que a origem das

colônias deve ser de localidades próximas, para manter a estrutura genética local. É

importante que o esforço do manejo seja realizado por criadores qualificados e esteja

acompanhado da conservação do seu hábitat.

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Agradecimentos

Os autores agradecem o apoio financeiro do Programa Nacional de Pós-Doutorado /

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (PNPD/CAPES), Fundação

de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/Proc. 303237/2010-4), Universidade

Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

(UFRB).

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Figura 1 Meliponário e localidades amostradas no Estado da Bahia. 1 – Meliponário, 2 –

Itiúba, 3 – Jaguaquara, 4 – Piraí do Norte, 5 – Jequié, 6 – Apuarema, 7 – Itacaré, 8 –

Itabuna, 9 - Caatiba, 10 - Teixeira de Freitas.

Figura 2 Colônias de Melipona mondury no meliponário da fazenda Outro Fino,

município de Jaguaquara, Bahia, Brasil, instaladas sobre cavaletes individuais (A) ou em

dupla (B), dentro da mata, no município de Jaguaquara-BA (Fonte: ASF - UESB).

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Tabela 1 Temperatura de anelamento dos primers, número de alelos encontrados, número

de alelos exclusivos e heterozigosidades observada e esperada totais da população de

Melipona mondury no meliponário e nas colônias naturais.

Loco T (°C) Alelos AM AN Ho He

Mmo15 54 2

0,47 0,46

Mmo21 52 2

0,29 0,28

Mmo24 52 1

0,00 0,00

Mru14 60 3

1 0,51 0,51

Mbi233 57 11

2 2 0,73 0,78

Mbi254 60 11 1 3 0,86 0,82

T – temperatura de anelamento, AM – alelos exclusivos ao meliponário, AN – alelos

exclusivos às colônias naturais, Ho – heterozigosidade observada, He – heterozigosidade

esperada.

Tabela 2 Heterozigosidades médias observada (Ho) e esperada não enviesada (He) para as

populações de Melipona mondury no meliponário e nas colônias naturais.

Ho He

Melip. Naturais Melip. Naturais

Mmo15 0,55 0,55 0,49 0,43

Mmo21 0,24 0,16 0,29 0,28

Mmo24 0,00 0,00 0,00 0,00

Mru14 0,53 0,53 0,51 0,50

Mbi233 0,67 0,62 0,83 0,73

Mbi254 0,79 0,79 0,82 0,81

Média 0,49 0,46 0,49 0,46

Melip. – Meliponário.

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Tabela 3 Análise de variância molecular (AMOVA) para seis locos microssatélites das

populações de Melipona mondury no meliponário e nas colônias naturais.

Fonte de variação

GL % Estatística F

Entre grupos 1 3% Φst 0,032*

Dentro dos grupos 138 97%

Total 139 100%

*valor significativo (p<0,05)

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7. CAPÍTULO 3

Frequência de acasalamentos, maternidade dos machos e diversidade genética

intracolonial em Melipona mondury (Hymenoptera: Apidae) Smith 1863.*

Palavras-chave: Abelha sem ferrão; Melipona; Microssatélites; Poliandria.

*Artigo escrito de acordo com as normas da Revista PLOS ONE.

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Frequência de acasalamento, maternidade dos machos e diversidade genética

intracolonial em Melipona mondury (Hymenoptera: Apidae) Smith 1863

Marcus V. C. Viana1, Carlos A. L. de Carvalho

2, Henrique de A. C. Sousa1

, Ana Karina de Francisco1,

Ana M. Waldschmidt1

1 Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Jequié, Bahia,

Brasil, 2 Núcleo de Estudo dos Insetos (Insecta), Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz

das Almas, Bahia, Brasil

[email protected]

Resumo

A paternidade, a diversidade genética e a maternidade de machos em Melipona mondury foram

avaliadas em dez colônias por meio de seis locos microssatélites. As rainhas se acasalaram de uma a

sete vezes e a diversidade genética foi maior em colônias poliândricas. As colônias poliândrias tiveram

maior valor de heterozigosidade e diversidade alélica. O parentesco entre irmãs variou entre 0,53 e

0,90 nas colônias poliândricas, o que indica que os diferentes pais eram aparentados e vieram de uma

ou poucas colônias, provavelmente por diferenças entre colônias na produção de machos. A produção

de machos pelas operárias variou entre 0 e 100%,com média de 50%, resultado que corrobora com a

literatura para abelhas sem ferrão, principalmente para o gênero Melipona. Os valores de parentesco

em colônias poliândricas não foram suficientes para causar redução na reprodução pelas operárias. Os

resultados dão suporte a estudos de genética populacional e a teoria do fitness inclusivo.

Introdução

Segundo a teoria do fitness inclusivo, o alto valor de parentesco médio entre irmãs resultante

da monandria em insetos haplodiplóides aumentou o custo-benefíco da reprodução indireta por meio

de irmãs (r=0,75) em comparação à própria prole (r=0,5) e contribuiu para a evolução do

comportamento social, segundo a teoria do fitness inclusivo [1]. A monoandria é ancestral em oito

linhagens de Hymenoptera em que o comportamento eussocial evoluiu independentemente [2].

O comportamento eussocial reduz a variabilidade genética por meio da redução do tamanho

efetivo [3](Graur, 1985). Já o acasalamento múltiplo pode aumentar o tamanho efetivo [4], diminuindo

a probabilidade da ocorrência de machos haplóides [5] e aumentando o valor adaptativo da colônia [6],

[7].

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Informações sobre frequência de acasalamento da rainha e parentesco intracolonial auxiliam

os estudos de genética de populações a avaliar o impacto do declínio populacional em uma espécie. As

abelhas são altamente suscetíveis a extinção quando em pequenas populações isoladas, devido à

ocorrência de machos diplóides [8]. Rainhas de abelhas sem ferrão e do gênero Bombus normalmente

se acasalam uma única vez [9] dos Reis et al, 2011; [10], [11], [12] ou poucas vezes [13], enquanto a

poliandria é comum para o gênero Apis [14], [6].

Em muitas espécies de himenópteros as operárias podem fazer a postura de ovos por

paternogênese que podem alimentar a rainha ou darem origem a machos. A reprodução de uma

operária desvia parte dos recursos da colônia para a criação de seus filhos, caracterizando um

parasitismo social [15], [16] que ocorre na própria colônia [16], entre gerações ([17], entre colônias da

mesma espécie [18] e entre subespécies [19]. Em uma análise comparativa entre 109 espécies de

himenópteros eusociais foi demonstrado que o parentesco intracolonial, apesar de não ser o único

aspecto a ser considerado, tem um papel importante na determinação da maternidade dos machos [20].

Em caso de monoginia e poliandria as operárias são em média mais aparentadas com irmãos

(r=0,25) do que seus sobrinhos (r=0,125), gerando um conflito social entre operárias, resolvido

coletivamente através do policiamento, que consiste em ações capazes de suprimir a postura de uma

operária pelas demais, como de agressão ou destruição de seus ovos, aumentando assim a proporção

do número de filhos da rainha [21], [22]. Em caso de monoandria e monoginia, o parentesco entre uma

operária e seu irmão (r=0,25) é menor comparado com seu sobrinho (r=0,375) e a postura das

operárias se torna vantajosa coletivamente [21]. Em uma análise de 75 espécies em que o parentesco

favorece a produção de machos pelas operárias estas produziram uma média de 14% dos machos em

comparação com 0,14% na situação inversa, em 15 espécies [20].

Fatores além do parentesco contribuem para a variação na ocorrência de reprodução das

operárias [20]. Alguns estão ligados à produtividade da colônia, como o custo da substituição de uma

nova operária por um macho [11], [21], produtividade menor de operárias que se reproduzem [15] e

diminuição da produção de machos para aumentar a proporção de fêmeas [23]. Entre outros fatores

estão o policiamento da rainha [21], a dominância da reprodução entre operárias reprodutivas [24], a

reprodução somente após matricídio [25] e filogenia [26]. Em insetos sociais comportamentos

altruístas como se reproduzir apenas indiretamente sofrem influência de outros indivíduos, ou

“coerção”, [27], sendo o policiamento um meio de coerção.

A abelha sem ferrão Melipona mondury ocorre na Mata Atlântica dos Estados brasileiros

Bahia até Santa Catarina [28]. No Estado da Bahia a espécie é encontrada em florestas de umidade

elevada e baixas altitudes [29] e é uma espécie pouco conhecida pelos meliponicultores e pouco

estudada biológica e geneticamente. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a frequência de

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acasalamento das rainhas, a diversidade genética intracolonial e a maternidade dos machos em M.

mondury.

Material e métodos

Para estimar a frequência de acasalamento das rainhas e maternidade dos machos em dez

colônias foram amostradas a rainha, pupas de dez operárias e cerca de dez machos em cada (Tabela 1).

As colônias foram oriundas do meliponário da Fazenda Ouro Fino, no município de Jaguaquara

(13°43'29.82"S, 39°47'24.72"W, 292m), Estado da Bahia, área de ocorrência da espécie.

As freqüências alélicas polulacionais foram estimadas em 38 colônias do meliponário. O DNA

total foi extraído pelo protocolo de Waldschmidt et al [30]. Após testes de polimorfismos com 49

locos microssatélites, seis foram amplificados segundo o protocolo de Schuelke [31] por meio dos dois

pares de primers específicos Mmo15 e Mmo21 e dos quatro heterótogos Mru14, Mbi232, Mbi233 e

Mbi254 descritos por Lopes et al [32], Lopes et al [33] e Peters et al [34]. As temperaturas de

anelamento dos pares de primers foram 54°C, 52°C, 60°C, 50°C, 57°C e 60°C, respectivamente. Os

produtos das amplificações foram genotipados em seqüenciador modelo ABI 3500 (Applied

Biosystems) e analisados pelo software GeneMapper v.5.0.

Os genótipos paternos foram deduzidos por subtração, a partir do genótipo materno e das

operárias. A frequência de acasalamento efetivo, dependente da proporção da prole de cada pai, foi

calculada como me = 1/(Σyi2), onde yi é a proporção da patrilínea i em uma colônia [35]. O coeficiente

de parentesco entre as operárias foi calculado pelo software KINGROUP 2.09 [36] com o algorítimo

de Queller and Goodnight [37]. A probabilidade de não detecção de dois pais com o mesmo genótipo

foi calculada a nível populacional como dp = Π(Σqi2), onde qi é a freqüência do alelo i em um loco. A

soma para cada loco é multiplicada entre os locos [38]. A diversidade alélica, a heterozigosidade

observada e o percentual de locos polimórficos foram calculados pelo software GenAlex 6.5 [39].

Filhos de operárias foram detectados por herdarem um alelo do macho que acasalou com a

rainha, em um loco informativo [40]. A probabilidade de um macho herdar este alelo é 0,5, logo a

proporção de machos que podem ser detectados é Pj = (1 - 0,5i), onde i é o número de locos

informativos [11].

A proporção de machos filhos de operária que podem ser detectados com determinado número

amostral (Na) foi calculada como Na = (Pj.Nj) onde Nj é o número de machos amostrados em uma

colônia. O percentual de machos filhos de operária é estimado dividindo-se o número detectado por

Na e multiplicando por 100 [23].

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Resultados e discussão

Paternidade

O número de alelos detectados para os locos Mmo15, Mmo21, Mru14, Mbi232, Mbi233 e

Mbi254 foi 2, 2, 3, 4, 9 e 10, respectivamente. Pupas que não compartilharam alelos com a rainha

foram detectadas na colônia c11 (loco Mbi233), c24-F2 e c25 (loco Mru14). Este resultado pode ser

explicado na colônia c11 como sobreposição de gerações pela idade jovem da rainha, indicada pelo

seu tamanho reduzido e coloração clara do abdômen e compartilhamento de alelos nos outros cinco

locos. Nas colônias c24-F2 e c25 a rainha e as operárias que não herdaram seus alelos no loco Mru14

são homozigotas. Na colônia c26 as operárias são homozigotas para um dos alelos maternos. Nos

demais locos os alelos são herdados como esperado. Isto sugere a presença de alelos nulos, causados

por mutações no sítio de anelamento dos primers, neste loco [41]. Assumindo a presença de alelos

nulos, as rainhas das colônias c24-F2 e c25 se acasalaram com dois machos cada, e as operárias

tiveram somente o alelo materno ou paterno detectados. Com exceção da colônia em que houve

sobreposição de gerações (c11), não foram encontrados mais de três alelos em um loco.

As rainhas das nove colônias analisadas acasalaram entre uma e sete vezes, com o

acasalamento efetivo variando entre 1 e 6,25, considerando a hipótese de alelo nulo nas colônias c24-

F2, c25 e c26. A colônia c33 não teve locos informativos e foi assumida como monândrica. A

probabilidade de não detecção de dois pais de mesmo genótipo a nível populacional foi dp<0,002. A

diversidade alélica, a heterozigosidade observada e o percentual de locos polimórficos foram maiores

em colônias poliândricas (Tabela 2).

Sete de nove colônias exibiram poliandria, um resultado incomum para abelhas sem ferrão

[10], [11]. A amostragem de pupas para a dedução de freqüência de acasalamentos garantiu a análise

de indivíduos que nasceram na colônia amostrada [11]. Erro humano por mistura de amostras foi

descartado, pois os genótipos consistentes com mais de um pai são incompatíveis com outras colônias.

Obter o genótipo da rainha [17], [40] foi fundamental na dedução dos genótipos parentais, pois, na

ausência desta esta informação, o número de acasalamentos estimado teria sido apenas um, com

exceção das colônias c24-F2 e c25, com dois acasalamentos. Também não seria possível identificar a

sobreposição de gerações na colônia c11 e o valor de parentesco médio entre as colônias de 0,74 ±0,16

poderia ter sido interpretado como uma confirmação de suposta monandria. É provável que este

método aumente o nível de poliandria encontrado para abelhas sem ferrão em novos estudos.

O valor de parentesco para colônias com mais de um acasalamento variou de 0,53 a 0,89.

Provavelmente, os pais vieram de uma mesma colônia, se não a mesma colônia que a rainha,

mantendo o alto valor de parentesco. A contribuição na produção de machos entre diferentes colônias

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pode variar de acordo com condições internas e externas das colônias, principalmente em nas regiões

tropicais, onde fatores sazonais possuem impacto sobre o período de reprodução [42].

Rainhas de Apis apresentam maior freqüência de acasalamento, o que diminui a probabilidade

de ocorrência de machos diplóides na colônia e têm o fitness aumentado pela maior viabilidade da

prole, com maior população e melhor sobrevivência [5].

Rainhas de Bombus terrestris com acasalamento efetivo manipulado para um valor próximo a

quatro tiveram colônias com menor quantidade de parasitas e maior produção de machos e rainhas

virgens em comparação com as de acasalamento efetivo próximo a um. Sugere-se que a poliandria não

tenha se tornado comum na espécie pelas estratégias que os machos usam para monopolizar a

paternidade da prole do que pelo tempo, energia e risco de predação exigidos para a rainha durante o

vôo nupcial [7].

O sistema de enxameamento a curta distância e acasalamento efetivo abaixo de um favorece a

endogamia, restringe a diversidade genética e a adaptação a ambientes diversificados [4], justificando

a estreita adaptação às condições ecológicas locais [43]. A poliandria pode evoluir em espécies

eussociais após as operárias perderem a capacidade de se reproduzirem sexualmente e o

comportamento eussocial for irreversível [2], [1]. O acasalamento múltiplo em abelhas sem ferrão

pode ter o papel de manter da diversidade genética, que é reduzida por características da biologia do

grupo, como baixo número de acasalamentos e reduzida capacidade de dispersão do grupo.

Maternidade dos machos

Não foram encontrados machos na colônia c11 e nenhum dos locos analisados foi informativo

para a colônia c33. As operárias desta espécie são capazes de se reproduzir, com variação na

proporção de sua prole entre 0 e 100% entre colônias. A reprodução das operárias ocorreu em colônias

poliândricas e monândricas (Tabela 3). Não foram encontrados machos diplóides e a maternidade de

todos pôde ser atribuída às operárias ou à rainha fisogástrica.

O nível de reprodução de operárias em colônias poliândricas pode ser explicado pelos valores

de parentesco entre operárias [21]. Mesmo com o menor valor encontrado (0,53) o parentesco médio

de uma operária com seu sobrinho (0,265) é maior do que o esperado com seu irmão (0,25), e criação

de sobrinhos continua vantajosa para as operárias e não causa pressão para policiamento.

A variação na produção de machos por operárias entre colônias da mesma espécie pode ser

causada por efeito de amostragem [26] e período de coleta [17]. A ausência de machos na colônia c11

se deveu, provavelmente, por escassez de alimento no período da coleta, indicado pelo menor número

de operárias adultas e de discos de cria que as demais colônias [42]. Estudos mostram que adição

artificial de pólen na colônia estimula operárias e a rainha de Melipona subnitida a produzir machos

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[44]. É provável que coletas com maior número amostral ou em diferentes épocas e mais locos

informativos revelassem filhos de operárias nas colônias em que estes não foram encontrados.

Em uma análise de 31 espécies de abelhas sem ferrão foi demonstrado que existe uma corrida

armamentista evolucionária pela maternidade dos machos entre operárias e rainha. Tal hipótese é

sugerida por agressões da rainha a operárias poedeiras, diferentes estratégias de postura e variação no

desenvolvimento dos ovários das operárias e na postura na presença da rainha entre colônias e entre

espécies. A resolução do conflito depende da dinâmica do custo benefício da reprodução das operárias,

resultando entre 0 e 100% de machos produzidos por operárias. Existe um fator filogenético associado,

pois operárias de Melipona se reproduzem frequentemente enquanto as de Plebeia e espécies

australianas se reproduzem raramente ou nunca. Além disso, não foram encontradas correlações com o

tamanho da população da colônia, processo de aprovisionamento das células de cria e diferença entre o

tamanho da rainha e as operárias [26].

Em Melipona a reprodução de operárias é maior provavelmente pela substituição das rainhas

virgens produzidas em excesso por um macho [45]. A proporção de machos filhos de operária para M.

mondudry neste estudo (0 a 100%, Tabela 3) foi significante, similar a encontrada para as espécies M.

scutellaris (0 a 100%), M. quadrifasciata (55 a 70%), M. marginata (15 a 85%) [26], M.subnitida (0 a

61%) [44], M. bicolor (27 a 82%) [46], M. favosa (94,5%) [47].

A ocorrência de reprodução das operárias deve ser considerada não uma aberração, mas uma

das opções reprodutivas disponíveis [48]. Estudos de comportamento devem ser realizados para

esclarecer a estratégia de postura utilizada por operárias desta espécie.

Conclusão

O nosso estudo sugere que a poliandria encontrada em colônias de M. mondury aumentou a

diversidade genética, porém os acasalamentos múltiplos foram endogâmicos e mantiveram valores de

parentesco intracolonial próximos aos alcançados com monoandria. As operárias da espécie são

capazes de reproduzir e sua postura é promovida pelos valores de parentesco.

Agradecimentos

Os autores agradecem o apoio financeiro do Programa Nacional de Pós Doutorado /

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (PNPD/CAPES), Fundação de

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Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

(UESB) e Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

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Tabela 1. Data da coleta, peso da rainha (wq), número de operárias (nw) e zangões (nm) amostrados e

número de locos analisados nas dez colônias de Melipona mondury

Colônia Data wq (g) nw nm locos

c09 17/04/2012 0,251 10 10 6

c11 07/05/2012 0,160 10 0 6

c13 17/04/2012 0,265 10 10 6

c16 17/04/2012 0,275 10 10 6

c24 18/10/2012 0,332 10 10 6

c24f2 21/12/2012 - 10 6 6

c25 18/10/2012 0,237 10 4 6

c26 08/08/2012 0,317 10 10 6

c29 17/04/2012 0,262 10 10 6

c33 08/08/2012 0,258 10 10 6

Média 0,262 10 8,88

Total 100 80

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Tabela 2. Número de patrilíneas, acasalamento efetivo (me), coeficiente de parentesco (R),

heterozigosidade oservada (Ho), diversidade alélica (A) e percentual de locos polimórficos em colônias

de Melipona mondury.

Colônia Patril. me R R (SD) Ho A Polim.

%

c09 7 6,25 0,53 0,22 0,82 15 100,00

c11 - - 0,63 0,21 0,82 14 100,00

c13 4 3,57 0,89 0,07 0,33 9 50,00

c16 1 1,00 0,75 0,16 0,62 12 66,67

c24 2 1,72 0,90 0,07 0,28 9 33,33

c24f2 2 1,72 0,81 0,18 0,20 9 50,00

c25 2 1,92 0,57 0,31 0,60 12 83,33

c26 2 1,92 0,55 0,30 0,60 12 83,33

c29 5 3,85 0,75 0,13 0,48 11 66,67

c33 1 1,00 0,98 0,03 0,15 7 16,67

média 2,89 2,55 0,74 0,49 11,00 65,00

SD 2,03 1,71 0,16 0,24 2,49 27,72

monoand. 1,00 1,00 0,87 0,38 9,50 41,67

SD 0,00 0,00 0,16 0,33 3,54 35,36

poliand. 3,43 2,99 0,71 0,47 11,00 66,67

SD 1,99 1,69 0,16 0,22 2,24 23,57

Tabela 3. Número de machos amostrados (Nj), número de locos informativos (Iloc), número de machos

cuja maternidade pode ser atribuída (Na), número estimado de filhos de operárias detectados (nwm),

proporção estimada de filhos de operária (Pwm) em colônias de Melipona mondury.

Colônia Nj Iloc Na nwm Pwm (%)

c09 10 4 9,38 10 100,00

c13 10 2 7,50 8 100,00

c16 10 3 8,75 0 0,00

c29 10 3 8,75 9 100,00

c26 10 2 7,50 0 0,00

c33 10 0 0,00 0 0,00

c24 10 2 7,50 4 53,33

c25 4 4 3,75 2 53,33

c24-F2 6 2 4,50 2 44,44

Total 80 57,63 35 50,17

Média 8,88 2,4 6,40 3,89 50,12

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8 . CONCLUSÕES GERAIS

Os resultados apresentados no presente estudo sugerem que:

Entre 69 e 73% dos 49 marcadores microssatélites foi transferida para as espécies

Melipona scutellaris, M. mondury, M. mandacaia e M. quadrifasciata. Estes marcadores

podem ser utilizados em conjunto com marcadores específicos e aumenta o número de locos

disponíveis para estudo.

O sucesso obtido com marcadores desenvolvidos para Trigona carbonaria indicam

que a distância filogenética nem sempre é um fator determinante para a transferência de

marcadores, pelo menos na tribo Meliponini.

As colônias de Melipona mondury do meliponário estão mantendo a diversidade

genética local e o fluxo gênico com as populações naturais, demonstrando potencial da

meliponicultura para estoque genético e conservação.

Rainhas de Melipona mondury acasalaram de uma a sete vezes, porém os

acasalamentos foram endogâmicos.

Foi demonstrado que a reconstrução dos genótipos parentais apenas por meio do

genótipo das filhas pode subestimar a frequência de acasalamento da rainha. Sugere-se a

utilização do genótipo da rainha em conjunto com o das operárias filhas como o método mais

adequado.

A proporção detectada de filhos de operárias variou entre 0 e 100%, resultado de

acordo com alto valor de parentesco entre operárias e variações nas condições internas das

colônias.

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