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59 Texto 1 Cultura machista está impregnada na so- ciedade brasileira, diz socióloga Ana Cristina Campos - Repórter da Agência Brasil A revelação de que a maioria dos brasi- leiros concorda que o comportamento da mulher pode motivar o estupro, comprova que a cultura machista está impregnada nos homens e nas mulheres da sociedade brasileira, segundo a socióloga Nina Mad- sen, integrante do Colegiado de Gestão do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea). A pesquisa do Instituto de Pes- quisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que 58,5% dos entrevistados concordaram totalmente ou parcialmente com a frase “Se as mulheres soubessem como se com- portar, haveria menos estupros”. Os pesquisadores também avaliaram a se- guinte frase: “Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser ataca- das”. O levantamento mostrou que 42,7% concordaram totalmente com a afirma- ção e 22,4% parcialmente; 24% discorda- ram totalmente e 8,4% parcialmente. Das 3.810 pessoas entrevistadas, 66,5% eram mulheres. “Nossa sociedade é violenta contra as populações marginalizadas e as mulhe- res compõem essa população. A culpa da violência sexual nunca é das mulheres. Temos que educar os meninos a não estu- prar. Hoje eles aprendem que uma menina que se veste de uma determinada forma está provocando e que eles têm uma pre- tensa autorização para fazer uso daquele corpo que está sendo exposto. Temos que interferir nesse processo”, disse Nina. Para a socióloga, os parâmetros educacio- nais e culturais precisam ser modificados. “É preciso atuar com muita força e conti- nuidade na mudança cultural e a educação formal tem que incorporar os conteúdos que dizem respeito aos direitos das mulhe- res e à igualdade de gênero”, acrescentou. Nina ressalta que o novo Plano Nacional de Educação (PNE), que está tramitando no Congresso, prevê uma educação vol- tada para a promoção da igualdade de gênero. No entanto, diz a socióloga, esse princípio está sendo questionado por grupos conservadores, sobretudo pela bancada evangélica, que querem retirá- -lo do texto. “Os grupos conservadores estão numa campanha ferrenha para que isso seja eliminado do texto do plano. Eles estão combatendo o que chamam de uma ideo- logia de gênero. Isso é um retrocesso gra- víssimo. Se o governo permitir que isso aconteça estará sendo conivente com essa cultura do estupro revelada nesses dados que o Ipea apresentou”, disse Nina. Tema 6 Consequências do machismo na sociedade In: Práticas de escrita: produção de textos para provas, ENEM, vestibulares e concursos: ensino médio, 3º ano/ Augusto Silva...[et al.]. – 1.ed. – São Paulo: Eureka, 2016.

Prat Escrita Ensino Medio 3ANO 216 PAGES FINAL DUAS CORES · coisa de mulherzinha” dão o tom na forma-ção de meninos em muitas famílias. Para refletir sobre o que representa

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Texto 1

Cultura machista está impregnada na so-ciedade brasileira, diz socióloga

Ana Cristina Campos - Repórter da Agência Brasil

A revelação de que a maioria dos brasi-leiros concorda que o comportamento da mulher pode motivar o estupro, comprova que a cultura machista está impregnada nos homens e nas mulheres da sociedade brasileira, segundo a socióloga Nina Mad-sen, integrante do Colegiado de Gestão do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea). A pesquisa do Instituto de Pes-quisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que 58,5% dos entrevistados concordaram totalmente ou parcialmente com a frase “Se as mulheres soubessem como se com-portar, haveria menos estupros”.

Os pesquisadores também avaliaram a se-guinte frase: “Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser ataca-das”. O levantamento mostrou que 42,7% concordaram totalmente com a afirma-ção e 22,4% parcialmente; 24% discorda-ram totalmente e 8,4% parcialmente. Das 3.810 pessoas entrevistadas, 66,5% eram mulheres.

“Nossa sociedade é violenta contra as populações marginalizadas e as mulhe-res compõem essa população. A culpa da violência sexual nunca é das mulheres.

Temos que educar os meninos a não estu-prar. Hoje eles aprendem que uma menina que se veste de uma determinada forma está provocando e que eles têm uma pre-tensa autorização para fazer uso daquele corpo que está sendo exposto. Temos que interferir nesse processo”, disse Nina.

Para a socióloga, os parâmetros educacio-nais e culturais precisam ser modificados. “É preciso atuar com muita força e conti-nuidade na mudança cultural e a educação formal tem que incorporar os conteúdos que dizem respeito aos direitos das mulhe-res e à igualdade de gênero”, acrescentou.

Nina ressalta que o novo Plano Nacional de Educação (PNE), que está tramitando no Congresso, prevê uma educação vol-tada para a promoção da igualdade de gênero. No entanto, diz a socióloga, esse princípio está sendo questionado por grupos conservadores, sobretudo pela bancada evangélica, que querem retirá--lo do texto.

“Os grupos conservadores estão numa campanha ferrenha para que isso seja eliminado do texto do plano. Eles estão combatendo o que chamam de uma ideo-logia de gênero. Isso é um retrocesso gra-víssimo. Se o governo permitir que isso aconteça estará sendo conivente com essa cultura do estupro revelada nesses dados que o Ipea apresentou”, disse Nina.

Tema 6Consequências do machismo na sociedade

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In: Práticas de escrita: produção de textos para provas,ENEM, vestibulares e concursos: ensino médio, 3º ano/Augusto Silva...[et al.]. – 1.ed. – São Paulo: Eureka, 2016.

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Outra pesquisa do Ipea revela que a maio-ria das vítimas de estupro é mulher, sendo 70% crianças e adolescentes. “A escola é es-paço estratégico porque tem centralidade na vida dos jovens. É um espaço de prote-ção e que aciona o Estado. Por isso, precisa ser um lugar que se estruture em torno dos princípios da igualdade de gênero, dos direitos das mulheres e das crianças e ado-lescentes”, destacou a integrante do Cfe-mea. [...]

Fonte: http://www.ebc.com.br/noticias/brasil/2014/03/cultura-machista-esta-impregnada-na-sociedade-brasileira-diz-sociologa. Acesso em: 20 dez. 2017.

Texto 2

As consequências do machismo para… os homens!

“Não se nasce mulher, torna-se mulher”. Uma das citações mais lembradas da filósofa Simone de Beauvoir, uma das maiores pen-sadoras do século XX e um dos principais nomes do feminismo até hoje, diz respeito à construção do que chamamos “feminilidade”. Da mesma maneira, também é no meio so-cial que a masculinidade é forjada. Expres-sões como “homens não choram” ou “isso é coisa de mulherzinha” dão o tom na forma-ção de meninos em muitas famílias.

Para refletir sobre o que representa o “ser” homem, o coletivo mo[vi]mento-MG/RJ uniu-se ao lendário grupo de teatro alter-nativo “The Living Theatre”, de Nova York, para criar a campanha “Homens libertem--se”. Longe de querer impor novas regras de comportamento ao sexo masculino, o manifesto do grupo chama atenção, justa-mente, por propor maior respeito pelas di-ferenças e um debate sobre como, no final das contas, o machismo prejudica e oprime também os homens.

– O universo masculino é muito restrito. A mulher já está questionando esses papeis restritivos há mais tempo. O homem não

se organiza para discutir sua masculini-dade, para tematizar suas questões. Temos todos esses grupos chamados de ‘minorias’ que já estão se organizando e esse homem continua se pautando nessa sociedade. São eles que sofrem mais com a violência, são os que mais são assassinados, os que mais cometem suicídios, os que trabalham mais. Por que ainda chamamos isso de po-der? – questiona Maíra Lana, atriz, dire-tora e idealizadora do projeto.

A ideia da “Homens Libertem-se” brotou quando Maíra estava em Ouro Preto, Minas Gerais, e viu a reação das pessoas quando um rapaz apareceu na Praça Tiradentes com uma saia florida. Foi o desconforto das pes-soas com a impossibilidade de enquadrá-lo em alguma classificação (gay? drag queen? travesti?) que fez com que a diretora voltasse o olhar para os sentimentos masculinos.

– Ele foi passando e os homens não sabiam o que fazer. Todos ficaram desconsertados com aquela presença. Foi quase como se ele esti-vesse ferindo uma entidade. Nitidamente, era um clima muito opressor, embora ele não tenha sido agredido. Mais que para o rapaz de saia, era uma opressão que os próprios ho-mens se impunham – conta Maíra.

Fonte: https://oglobo.globo.com/brasil/artistas-se-unem-em-campanha-para-alertar-sobre-as-consequencias-do-machismo-para-os-homens-12958335. Acesso em: 20 dez. 2017.

Texto 3

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Conteúdo extra!Filme: Audrie & Daisy (EUA, 2016)

Em duas cidades de locais diferentes dos Estados Unidos, duas ado-lescentes são vítimas de estupro em uma festa em que são dopadas por garotos que consideravam seus amigos. Após a violência, elas são assediadas virtualmente, e a depressão e a vergonha as enca-minham para o suicídio, e tragicamente, uma delas morre. Audrie & Daisy explora a perspectiva dos adolescentes e suas famílias, in-cluindo os meninos envolvidos e as garotas dispostas a falar publi-camente pela primeira vez.

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Proposta de produção textualÉ inegável os malefícios sociais causados pelo machismo. Atualmente esse as-sunto está em voga, até mesmo um pouco banalizado, pois muitas pessoas sim-plesmente emitem uma opinião sem nem mesmo entenderem os conceitos de machismo e feminismo. O primeiro grande engano é pensar que o feminismo é o contrário do machismo, como se o feminismo fosse apenas uma inversão em que a mulher passaria a dominar e humilhar os homens, isso não é verdade. O femi-nismo é, sim, contrário ao machismo, é contrário às práticas discriminatórias, à violência física e emocional, ao abuso, entre outras atitudes que transformam as mulheres em vítimas.

A partir da leitura do texto de apoio e, se possível, da exibição do filme indicado, elenque as consequências que o machismo gera para a sociedade. Siga as seguin-tes instruções:

1. Comece explicando seu ponto de vista.

2. Sustente sua opinião apresentando fatos reais e dados comprovados.

3. Ofereça uma alternativa para reverter este processo.

Orientações adicionais• O texto deve se ater à proposta.

• Deve-se respeitar a norma culta da Língua Portuguesa.

• O texto deverá conter de 30 a 40 linhas.

• Não esqueça de criar o título.

VIDEOAULACaso você tenha alguma dúvida sobre como de-verá estruturar o seu texto, assista à videoaula A dissertação no Enem.

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