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UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO
SUZETE DE SOUZA BORELLI
PRÁTICAS E ROTINAS DE PROFESSORAS DO 3º ANO DO
ENSINO FUNDAMENTAL E O DESEMPENHO EM MATEMÁTICA NA
PROVA SÃO PAULO: UM ESTUDO DE CASO
Dissertação a ser apresentada como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em Educação Matemática na
Universidade Bandeirante de São Paulo sob a orientação do
Professor Doutor Ruy César Pietropaolo.
São Paulo
2011
SUZETE DE SOUZA BORELLI
PRÁTICAS E ROTINAS DE PROFESSORAS DO 3º ANO DO ENSINO
FUNDAMENTAL E O DESEMPENHO EM MATEMÁTICA NA PROVA SÃO
PAULO: UM ESTUDO DE CASO
Banca Examinadora
Dissertação a ser apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de
Mestre em Educação Matemática na Universidade Bandeirante de São Paulo à
seguinte banca examinadora:
_______________________________________________________________________________
Prof. Dr. Ruy César Pietropaolo (orientador)
Doutor em Educação Matemática pela Pontifícia Unive rsidade Católica de São Paulo,
PUC/SP, Brasil, 2005.
______________________________________________________________________________
Prof. Dr. Vinicio de Macedo Santos (membro externo)
Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo, USP, Brasil, 1995.
Prof. Dra. Maria Elisabette Brisola Brito Prado (me mbro interno)
Doutor em Educação Matemática pela Universidade de Campinas, Brasil, 2003.
Agradecimentos
A Deus, fonte de fortaleza, esperança e sabedoria, que me iluminou nos
momentos difíceis em que pensei não conseguir vencer os obstáculos que se
apresentavam.
Ao meu Orientador Professor Dr. Ruy César Pietropaolo, pelo apoio, respeito e
paciência nessa trajetória. Sem a sua ajuda não seria possível concluir esse percurso.
Aos professores Vinicio de Macedo Santos e Maria Elisabette Brisola Brito Prado
que gentilmente aceitaram participar da banca examinadora, trazendo sugestões, críticas
e orientações que foram fundamentais para o desenvolvimento desse trabalho.
A professora Maria Helena Palma de Oliveira pelas suas sugestões e
contribuições na banca de qualificação.
Ao meu marido Dorando, pela cumplicidade, companheirismo, carinho, apoio e
compreensão durante todos esses anos. Sem a sua paciência e sem o seu incentivo na
busca deste sonho, eu jamais teria conseguido.
Ao meu filho Rafael, pelo incentivo, carinho e pelos momentos que não pude estar
com ele.
Aos meus pais que sempre acreditaram em mim, mesmo não compreendendo o
que este estudo representa na minha trajetória profissional.
À minha cunhada Smara, pelos momentos que dedicou para a leitura desse meu
trabalho.
Aos meus tios, primos e amigos pelo incentivo e compreensão de minhas
ausências nas festas e nas reuniões de família que são tão importantes na minha vida
pessoal.
Aos meus amigos de trabalho, que são muitos e não seria possível listar todos,
pois com certeza acabaria deixando alguém de fora. Eles sempre me incentivaram,
chamando minha atenção para a importância dessa trajetória acadêmica.
Aos professores da Universidade Bandeirante, principalmente os da linha de
formação de professores, por me ajudarem nessa construção intelectual, partilhando seus
conhecimentos durante essa trajetória.
RESUMO
O presente trabalho insere-se na linha de pesquisa “Formação de Professores que
Ensinam Matemática” do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da Universidade Bandeirante de São Paulo. Seu propósito é o de investigar práticas e
rotinas de professoras de uma escola, cujos alunos do 3º ano do Ensino Fundamental
obtiveram bons desempenhos na prova de Matemática em uma avaliação externa – Prova São Paulo. Para identificar essa escola, realizamos uma pesquisa inicial com todas as
escolas municipais da cidade de São Paulo, não apenas para identificar a de melhor
resultado na série escolhida no ano de 2009, mas, sobretudo, para encontrar aquela que
apresentasse um progressivo avanço nesse tipo de avaliação, considerando também os resultados dos anos de 2007 e 2008. Trata-se, portanto, de uma pesquisa cuja
abordagem é qualitativa e no que se refere aos métodos pode ser classificada como Estudo de Caso. Para a obtenção dos dados a pesquisadora inseriu-se no cotidiano da
escola de modo a compreender sua organização e as relações entre a equipe gestora e
os professores. Depois, foram entrevistadas a Diretora, a Coordenadora Pedagógica e, evidentemente, as professoras do 3º ano do EF. Foram também analisados documentos
sobre as rotinas de planejamento dessas professoras e os instrumentos de avaliação
processual (avaliação interna) a respeito do ensino e aprendizagem de Números e dos
significados das Operações do Campo Aditivo. A análise das entrevistas está fundamentalmente referenciada em Imbernón (2009) e Schön (1992). Para a análise dos
documentos foram utilizados os resultados das pesquisas de Lerner e Sadovsky (1996) e Vergnaud (1990 e 1998), tendo em vista que as ideias desses autores serviram de
referência para a elaboração dos documentos curriculares da Secretaria Municipal da
Educação (SME) no tocante ao ensino e aprendizagem de números e operações. Cabe também ressaltar que, neste estudo, apresentam-se não apenas considerações a respeito
das eventuais potencialidades das avaliações externas, mas, sobretudo as restrições e os
condicionantes de seu uso como a necessária articulação com as avaliações processuais
realizadas no âmbito da escola. Esta pesquisa indicou que as professoras em questão, planejaram efetivamente o seu trabalho após a identificação dos conhecimentos prévios
dos alunos e levando em conta as expectativas de aprendizagem indicadas nos documentos. As rotinas que as professoras apresentavam semanalmente para a
Coordenação indicavam a descrição e análise do trabalho efetivamente executado. Além
disso, com os dados deste estudo-pesquisa pôde-se conjecturar a respeito das razões que pudessem ter influenciado para um progresso nos resultados em Matemática dos
alunos do 3º ano do EF da escola em análise.
Palavras-chave: Educação Matemática; Práticas de Professores; Currículo; Números e Operações; Avaliação.
ABSTRACT
This study belongs to the research line “Formation of math teaching teachers” of
the Post-Graduate Program of Universidade Bandeirante de São Paulo. Its
purpose is to investigate the routines and practices of one school, in which third
year Elementary School students had excellent performances in one outside
evaluation – Prova São Paulo. To identify this school we researched all the
municipal schools of São Paulo, not only to identify the best results on year 2009,
but also to identify one school that had shown progress from previous years
evaluation (2007, 2008). In this light, the methods of inquiries used were qualitative
research and case study. In order to get access to the data, this researcher
became familiar with the everyday life of the examined school, trying to
comprehend the school’s organization, and the relationship between the school’s
managing staff and its teachers. Afterwards, we interviewed the School’s Director,
the pedagogical coordinator and the third year teachers. Subsequently, we
analyzed documents about the planning routines of these teachers, and also the
means by which they evaluated their teaching and student learning in respect to
‘Numbers’ and the meaning of ‘Operations in the Addition Field’, The conducted
interviews analysis was fundamentally based in Imbernón (2009) and Schön
(1992). In order to analyze the documents we utilized the theories of Lerner and
Sadovsky (1996) and Vergnaud (1990 and 1998), knowing that theses theories
were the base of the curricular documents of the Secretaria Municipal da
Educação de São Paulo (São Paulo Department of Education) in regards to
teaching and learning of numbers and operations. It is important to say that the
present study also presents considerations in regards to external evaluations, and,
especially the restrictions and the terms of its use as a necessary articulation with
the procedural evaluations realized in the school circuit. This research has
indicated that the examined teachers effectively planned their classes after
identifying the students previous knowledge of the subject, taking into account the
learning expectations presented in the Department of Education documents. In
addition to that, with the data collected in this study we theorized about the
possible reasons that could have influenced the excellent results in math of the
third year students of the aforementioned school.
Keywords: Mathematics Education; Teacher Routines; Mathematics curriculum;
Numbers and Operations; Evaluation
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ............................................................................................................ 09
CAPÍTULO 1 - Do percurso de trabalho à definição do Projeto de Pesquisa
1.1. Trajetória profissional ................................................................................ 12
1.2. Contexto e objetivos da Pesquisa............................................................. 26
CAPÍTULO 2 – Compreendendo o contexto: Política edu cacional do Município de São Paulo ( 2005 – 2009)
2.1. A organização da Secretaria Municipal de Educação ............................... 30
2.2. Histórico 2005 a 2009 ................................................................................ 31
2.3. A política de formação continuada ............................................................ 35
2.4. A política de acompanhamento e monitoramento das aprendizagens dos
alunos ............................................................................................................... 42
CAPÍTULO 3 – Definição da escola e as definições t eóricas e metodológicas
3.1. A escolha metodológica ............................................................................ 51
3.2. Em busca de fundamentos teóricos – leituras e escolhas ....................... 53
3.3. A escolha da escola .................................................................................. 57
CAPÍTULO 4 – Orientações Curriculares da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo
4.1. Orientações Gerais para o Ensino de Língua Portuguesa e Matemática. 66
4.2. Orientações Curriculares e proposição de expectativas de
aprendizagem da Matemática para o Ensino Fundamental............................
68
4.3. Guia de Planejamento e Orientação Didática para o professor do 3º ano
do Ensino Fundamental ..................................................................................
77
4.4. Matrizes de Referência da avaliação externa – Prova São Paulo 83
4.5.Possibilidades e restrições da avaliação externa ...................................... 85
CAPÍTULO 5 – A pesquisa na escola: os instrumentos de planejamen to
e avaliação para a organização do trabalho docente
5.1. Procedimentos Metodológicos .................................................................. 93
5.2. As entrevistas ........................................................................................... 95
5.2.1. Entrevistas com a Diretora Márcia ........................................................ 96
5.2.2. Entrevistas com a Coordenadora Anália ............................................... 96
5.2.3. Entrevistas com a Professora Lívia ........................................................ 99
5.2.4. Entrevista com a professora Rosa ......................................................... 103
5.3. Análises de Documentos ........................................................................... 106
5.3.1. As rotinas semanais ............................................................................... 107
5.3.2. Análises das sondagens – Números ...................................................... 119
5.3.3 Análises das sondagens – Significados das Operações no Campo
Aditivo ..............................................................................................................
122
CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 128
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 134
ANEXO 1. Expectativas de Aprendizagem do 3º ano e quadro de
distribuição bimestral das expectativas.............................................................
141
ANEXO 2. Organização das entrevistas semiestruturadas............................... 143
ANEXO 3. Entrevistas ...................................................................................... 146
ANEXO 4. Análise das rotinas ....................................................................... 187
ANEXO 5. Análise das Sondagens ................................................................. 192
ANEXO 6. Rotina s de Planejamentos ............................................................ 195
ANEXO 7. Planilhas de Sondagens de Números............................................ 198
ANEXO 8. Planilhas de Sondagens dos significados das operações no
Campo Aditivo .................................................................................................
205
9
APRESENTAÇÃO
O presente estudo insere-se na linha de pesquisa “Formação de
Professores que Ensinam Matemática” do Programa de Pós-Graduação em
Educação Matemática da Universidade Bandeirante de São Paulo.
Seu propósito é o de identificar e analisar práticas e rotinas de professoras
do 3º ano do Ensino Fundamental de uma escola municipal da cidade de São
Paulo no tocante ao ensino da Matemática. Essa escola constituiu-se em um caso
a ser estudado, tendo em vista não apenas os desempenhos de seus alunos do 3º
ano em 2009 nas avaliações institucionais – Provas São Paulo – mas, sobretudo,
pelo grande avanço obtido em Matemática em relação aos resultados das provas
aplicadas nos anos anteriores – 2007 e 2008.
No primeiro capítulo, comentamos as circunstâncias que nos levaram a este
estudo. Procuramos buscar no tempo fatos fundamentais para compor uma
argumentação que justifique nosso interesse e os esforços empreendidos para
sua concretização. Assim, apresentamos a formulação do problema de pesquisa e
a respectiva delimitação e justificamos a escolha dos procedimentos
metodológicos utilizados. Procuramos analisar nossa prática como professora da
rede pública e como gestora de uma Divisão da SME e compreender a tensão
existente nesse duplo papel, que é defender a necessidade da autonomia do
professor para transformar sua prática com a necessidade, mas também a da
SME em implementar princípios e ações comuns a toda rede.
Assim, para atingirmos nossos objetivos, partimos das seguintes questões
geradoras:
• Quais são as práticas e rotinas das professoras do 3º ano do
Ensino Fundamental de uma escola cujos alunos obtiveram
10
desempenho satisfatório nos resultados em Matemática na
Prova São Paulo?
• Nessas práticas, as professoras consideraram as orientações
curriculares da Secretaria Municipal de Ensino de São Paulo?
No segundo capítulo discutimos as políticas públicas da Secretaria
Municipal de Educação de São Paulo (SME) como a implementação das
Orientações Curriculares a partir de 2005 e as justificativas dessa Secretaria para
desenvolver essa ação. Além disso, refletimos sobre a política de formação
continuada dos professores e coordenadores pedagógicos da SME e o
acompanhamento dessas ações no dia a dia da escola.
No terceiro capítulo discutimos nossas escolhas metodológicas e teóricas.
Como nossa finalidade era a de identificar e analisar as práticas de professores
que passaram por diversas formações e orientações técnicas para implementação
de inovações curriculares, optamos por escolher uma escola cujos alunos
tivessem um desempenho considerado satisfatório na Prova São Paulo. Para
encontrar essa escola foi preciso fazer uma pesquisa entre todas as escolas
municipais da cidade de São Paulo. Nessa pesquisa inicial levamos em conta não
apenas os resultados de 2009 em Matemática, mas também aquela escola que
mostrou um avanço bastante considerável em relação às avaliações anteriores.
Em relação aos teóricos optamos por Schön (1992) e Imbernón (2009) por
possibilitar a análise do nível de reflexão das professoras a respeito das suas
práticas e da aprendizagem de seus alunos.
No quarto capítulo apresentamos essas Orientações Curriculares,
discutindo seus pressupostos teóricos, sobretudo os relativos aos temas números
e operações – significados das operações do campo aditivo. Discutimos também
as matrizes de referência de avaliação e suas relações com o currículo da
Secretaria Municipal de São Paulo. Para essa análise utilizamos Bishop, Lerner e
Sadovsky (1996) e Vergnaud (1990).
11
No quinto capítulo apresentamos nossas análises das entrevistas com a
Diretora, a Coordenadora Pedagógica e as professoras do 3º ano do Ensino
Fundamental. Foram também analisados documentos sobre as rotinas de
planejamento dessas professoras e os instrumentos de avaliação processual
(avaliação interna) a respeito do ensino e aprendizagem de Números e dos
significados das Operações do Campo Aditivo. A análise das entrevistas está
fundamentalmente referenciada em Imbérnon (2009) e Schön (1992). Para a
análise dos documentos foram utilizados Lerner e Sadovsky (1996) e Vergnaud
(1990 e 1998), tendo em vista que essas teorias serviram de base para a
elaboração dos documentos curriculares da Secretaria Municipal da Educação
(SME) no tocante ao ensino e aprendizagem de números e operações.
Nas considerações finais apresentamos uma síntese de nossas reflexões
sobre as respostas às questões deste estudo, já expostas e analisadas no capítulo
anterior. Além disso, produzimos conjecturas a respeito das razões que poderiam
ter influenciado os resultados de Matemática dos alunos do 3º ano do Ensino
Fundamental da escola em análise.
12
CAPÍTULO 1
DO PERCURSO DE TRABALHO
À DEFINIÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA
1.1 Trajetória Profissional
A proposta desse trabalho foi se consolidando ao longo de minha
trajetória profissional, visto que sempre tive a preocupação em tentar compreender
quais são as condições que podem contribuir para uma melhor aprendizagem dos
alunos na área de Matemática.
Iniciei minha carreira na Rede Municipal, em 1982, como professora de
Matemática e Desenho Geométrico. Desde o início, como professora de
Matemática do Ensino Fundamental II, tive a preocupação em verificar se os
alunos estavam ou não aprendendo o que estava sendo ensinado, mas nem
sempre isso era fácil de ser percebido. Lembro-me de que observava meus alunos
e foi pela forma de olhar deles, indicando insegurança em certos momentos, que
fui compreendendo que, do que era ensinado e o que eles realmente aprendiam.
No entanto, não havia na escola uma interlocução que permitisse melhorar meu
trabalho, mesmo dispondo de um Coordenador Pedagógico e professores mais
experientes no grupo, uma vez que não discutíamos o nosso trabalho de sala de
aula, nem o currículo proposto, nem como esse currículo era praticado em sala de
aula.
Como todo professor, acredito que fui aprendendo pela experimentação
e fazendo análises muitas vezes sem referências teóricas que permitissem
justificar as escolhas metodológicas, uma busca baseada na epistemologia da
prática (Schön , 1992). Muitos foram os fatores que possibilitaram a melhoria de
minha competência docente: o olhar dos alunos, diferentes leituras sobre
encaminhamentos e proposição de atividades, observação das práticas de outros
colegas, análise dos resultados de provas e observações do desempenho dos
13
meus alunos nas atividades propostas. Para esse trabalho, muitas vezes, não
havia registros que permitissem analisar posteriormente o que foi possível realizar
com sucesso ou quais foram as dificuldades enfrentadas no decorrer da realização
das mesmas, tornando a análise muitas vezes empírica.
Este percurso solitário durou vários anos e as questões foram surgindo
cada vez com mais força: o que leva um aluno a aprender? Qual é o currículo que
se deve desenvolver em sala de aula de modo que faça sentido aos alunos? O
que se pode fazer para que os alunos queiram continuar aprendendo cada vez
mais?
Em 1986, assisti a uma apresentação da Profª Drª Maria Salett
Biembengut1, na antiga DRE 32 – Mooca, sobre um trabalho de modelagem
matemática com alunos do Ensino Médio da Escola Comunitária de Campinas. A
partir dessa apresentação, compreendi que poderia haver outros caminhos para
que os alunos se interessassem pelas aulas de Matemática e aprendessem mais.
Apesar de não saber fazer um trabalho diferente, começava a perceber que
haveria outras possibilidades de desenvolver minhas aulas.
Comecei a experimentar pequenas inovações em meu trabalho, fazer
pequenos registros desse processo, permitindo uma melhor observação das
respostas dos alunos, a refletir sobre a proposta de ensino que organizava, a ter
coragem de compartilhar minhas preocupações e observações com outros
colegas da escola, mais experientes que eu.
Estas minhas preocupações com as aprendizagens dos alunos, como
ensinar de modo a trazer um sentido para a Matemática, fizeram com que meu
trabalho fosse percebido de forma positiva pela escola.
Em 1989, fui convidada a fazer parte do grupo de formadores do NAE
083 para implantação do Projeto de Interdisciplinaridade que tinha como objetivo
1 Professora na Universidade Regional de Blumenau (FURB), desde 1990, no Departamento de Matemática e nos Programas de Pós-graduação em Educação e em Ensino de Ciências e Matemática. 2 DRE – Diretoria Regional de Educação 3 – Mooca. 3 Núcleo de Ação Educativa – 08: região de Vila Prudente, Sapopemba
14
levantar uma rede de problemas na comunidade local e a partir deles, a escola
faria a seleção das temáticas mais relevantes e transformaria essas inquietações
em questões geradoras. As questões geradoras deveriam ser suficientemente
abrangentes de modo que os professores das diferentes áreas de conhecimentos
pudessem selecionar, organizar e articular conteúdos e métodos que
favorecessem a formulação de conjecturas e de possíveis respostas para elas.
Tudo isso sem perder de vista a ampliação dos conhecimentos da própria área,
sempre tendo como referência o tema e a questão geradora.
Os desafios foram muitos, entre eles podemos destacar a organização
de redes de relações capazes de refletir as aspirações da comunidade e que
pudessem ser transformadas em questões geradoras. (Freire, 1988, p. 86).
Portanto, a questão geradora deveria proporcionar a seleção de conteúdos
programáticos, as sequências de atividades que culminassem com informações
relevantes sobre a temática proposta e os conhecimentos conceituais da área.
No tocante à Matemática, essas mudanças deveriam contemplar a
exploração de situações cotidianas de modo que as crianças, de alguma forma,
pudessem compreender a realidade e nela intervir, fazendo uso dos conteúdos
matemáticos, ou seja, pretendia-se que os alunos enfrentassem os problemas do
cotidiano, encaminhando ações propositivas para além dos muros da escola. Essa
proposição trouxe uma reflexão para as crianças, pois o que se aprende na escola
deve servir para também resolver problemas do dia a dia e vice-versa, e o que se
tem de conhecimento sobre a realidade deve ser organizado e sistematizado na
escola.
Essa tarefa se constituiu em um desafio para as professoras: como
implementar essas inovações se os espaços de interlocução eram relativamente
pequenos e se não havia tempo suficiente para estudo e planejamento?
Por outro lado, a tarefa dos integrantes do NAE também se revelava
problemática: como gerenciar um currículo dentro da região, se cada escola
organizava o seu, segundo os temas geradores locais?
Isso significaria um acompanhamento muito grande do trabalho que o
professor estava desenvolvendo em sala de aula, através de encontros semanais
15
para as primeiras escolas que aderiram ao Projeto Interdisciplinar e
posteriormente para as demais escolas – dezoito - com encontros de formação e
acompanhamentos quinzenais. Nesses encontros eram discutidas a eficiência das
sequências didáticas propostas, as dificuldades encontradas pelos alunos na
realização das atividades e as dificuldades de ensino dos professores, sempre
trazendo para a reflexão se o que foi organizado estava ajudando a responder a
temática proposta, ao mesmo tempo proporcionando aprendizagem significativa
para os alunos.
Nesse Projeto foi dado todo apoio à primeira escola participante, que
recebeu acompanhamento na escolha do currículo e dos conteúdos, na
organização das atividades e nas metodologias empregadas pelos professores.
Nas demais escolas o apoio não aconteceu da mesma forma, uma vez que não
havia formadores em número suficiente para realização do mesmo trabalho que
sustentasse as necessidades enfrentadas pelos professores e pelos alunos no
contexto escolhido.
Esta experiência proporcionou-me uma visão diferenciada sobre as
possibilidades de construção de um currículo, como também compreender como
organizar sequências de atividades que contribuiriam para responder as questões
geradoras formuladas. Baseados nessa experiência escrevemos o documento de
“Visão de Área de Matemática” (SÃO PAULO (Município), 1992)4 que se tornou
referência para a construção do currículo das escolas da Rede Municipal até 2007.
Este trabalho com a equipe multidisciplinar do NAE 08 encerrou-se no
final de 1992, já que o Projeto Interdisciplinar foi extinto pela Secretaria. Retornei à
sala de aula, onde passei a desenvolver práticas apoiadas nesses conhecimentos
adquiridos sobre a organização de currículo, teorias de aprendizagem e de gestão
do tempo em sala de aula. Esse conhecimento serviu de base para a organização
do currículo e o planejamento de atividades, levando em conta problemas
propostos pelos alunos.
4 Visão de área de Matemática. Documento 5 (1992), discute as orientações curriculares organizadas entre o período de 1989 a 1992, a partir da referência construída pelo Projeto Interdisciplinar.
16
Esse retorno à sala de aula foi bastante produtivo, pois me permitiu
colocar em prática muitas das discussões realizadas com os professores na
formação e no acompanhamento nos moldes do Projeto Interdisciplinar, a partir
das questões levantadas pelos alunos e que pudessem ser respondidas pelos
conteúdos selecionados na área de Matemática.
A minha visão sobre o ensino e a aprendizagem dos alunos era
bastante diferente dos meus colegas e gestores da escola. O conflito vivenciado
no cotidiano escolar tornava impraticável a principal função da Escola - ensinar os
alunos. Os gestores responsáveis pela condução do processo, muitas vezes
deixando-se envolver por conflitos não relacionados às práticas educacionais,
inviabilizavam as discussões sobre as dificuldades vivenciadas nas salas de aulas.
Nesse sentido, percebi a importância do papel do Diretor e do Coordenador
Pedagógico na escola para desenvolvimento de projeto e no apoio que o professor
precisa para a realização do seu trabalho.
Todo esse percurso contribuiu para tornar-me uma professora ainda
mais atenta às questões trazidas pelos alunos na sala de aula, sobretudo em
relação aos contextos vivenciados por eles, possibilitando momentos de
aproximação entre a temática trazida pelos alunos e os conteúdos tratados nas
sequências didáticas que eram organizadas para o desenvolvimento das
atividades em sala de aula. Tudo isso fazia com que os alunos estabelecessem
uma relação maior entre o que estavam aprendendo na escola e o que estavam
observando no seu cotidiano.
Iniciei em 1997 o curso de Pedagogia, tendo em vista a necessidade
da melhoria do meu conhecimento sobre os processos de aprendizagem dos
alunos, do planejamento das aulas, da avaliação e da gestão da escola.
Ao terminar o curso de Pedagogia em 1999, tornei-me Coordenadora
Pedagógica de uma escola com diferentes modalidades de ensino: Ciclo I, Ciclo II,
Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos - EJA. Este trabalho também
trouxe desafios, tendo em vista a minha pouca experiência com o Ensino Médio e
com a Educação de Jovens e Adultos. Mas foi ali que encontrei espaço para
17
discutir as práticas pedagógicas com os professores, as dificuldades de
aprendizagem dos alunos e construir coletivamente pequenos projetos didáticos
para auxiliar nas dificuldades de ensino levantadas pelos professores em suas
práticas cotidianas. No trabalho proposto, as discussões giravam em torno da
Alfabetização e da Matemática para os professores do Ciclo I e para as demais
modalidades de ensino as discussões estavam direcionadas à gestão da sala de
aula. Outro aspecto importante do trabalho desenvolvido era a apresentação dos
Projetos que estavam sendo realizados pelos professores em suas turmas,
possibilitando uma reflexão coletiva, de modo que o grupo de professores
contribuísse na melhoria do trabalho dos colegas.
Nessa época busquei outras referências teóricas e outros espaços de
formação para responder às demandas trazidas pelos professores da escola.
Comecei a participar do Grupo de Pesquisa em Etnomatemática da Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP), o que contribuiu para a
ampliação da minha visão sobre as questões curriculares, uma vez que as
discussões do grupo me possibilitaram compreender que a forma de organização
de diferentes grupos (cultural, social e econômico), também organiza a forma de
pensar e de agir, o que permitindo ou não a legitimação dos conhecimentos
produzidos por eles em uma dada sociedade (D’Ambrósio, 1986).
Entre 2000 e 2001, voltei a trabalhar na Coordenadoria de Educação de
Vila Prudente/Sapopemba5 para desenvolver um trabalho de formação em
Matemática, com os Coordenadores Pedagógicos da região que atuavam junto
aos professores do Ciclo I e do Ciclo II nesta disciplina.
Esse trabalho com os Coordenadores Pedagógicos teve o propósito de
discutir os conceitos e possibilidades didáticas e metodológicas da área de
Matemática com os professores de suas unidades educacionais. Encontramos
dificuldades na implantação do projeto de formação, uma vez que os
Coordenadores Pedagógicos admitiram não gostar de Matemática. Foi possível
5 Coordenadoria de Educação de Vila Prudente/ Sapopemba, o que corresponderia hoje a DRE - Diretoria Regional de Educação, ou seja, uma representação regional da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.
18
diagnosticar que não havia discussão sobre Matemática nas escolas. A tudo o que
era proposto nas discussões para os Coordenadores Pedagógicos ouvíamos: “por
que na escola eu não aprendi desta forma?”; Desse modo eu percebo uma lógica,
um significado”.
Essa formação que pretendia alcançar a sala de aula e
consequentemente trazer um maior significado para o aprender Matemática, não
teve o desdobramento pretendido. Os Coordenadores Pedagógicos não se
sentiam competentes em levar as discussões que propúnhamos na formação, pois
tinham medo de não conseguir responder as perguntas dos professores durante a
formação. De fato, segundo Freire (2004), ensinar exige segurança, competência
profissional e generosidade e isto não estava muito claro naquele momento para
os Coordenadores, nem tampouco para mim. Creio que isso talvez justifique a não
existência de uma relação direta entre o aprender e o ensinar do Coordenador
Pedagógico.
Em 2002, no trabalho de formação da Coordenadoria de Educação de
Vila Prudente/ Sapopemba, passei a trabalhar também com os professores das
Salas de Apoio Pedagógico – SAP, porém, a formação desenvolvida estava
voltada para a área de alfabetização e a ampliação da competência leitora e
escritora, uma vez que o contato com os Coordenadores Pedagógicos e as visitas
a essas salas revelaram que a preocupação desses professores estava muito
mais relacionada a um espaço de “socialização” e de inclusão dos alunos que
vinham apresentando dificuldades de aprendizagem do que na organização de
ações de intervenção que possibilitassem uma melhoria em suas aprendizagens.
Nesse caso específico, a Coordenadoria optou por fazer primeiro a formação, para
que esses professores compreendessem o sistema de escrita alfabético para
depois organizar o trabalho com a Matemática.
O foco estava na leitura e na escrita, em todas as áreas de
conhecimento e para tanto a Coordenadoria organizou cursos de leitura e escrita
onde os professores das diferentes áreas discutiram a competência leitora e
escritora. Na área de Matemática do Ciclo II a discussão girou em torno do que
19
era ler e escrever nessa área, o que possibilitou a algumas escolas organizarem
projetos de leitura e escrita, levando em conta os conceitos da área de
Matemática. A ideia do Projeto era ajudar os professores a compreenderem que
os conceitos da área são imprescindíveis para a leitura de alguns textos, mas que
o inverso também é fundamental, ou seja, a leitura de um texto, também favorece
a compreensão de conceitos matemáticos.
A preocupação com a formação continuada de professores ainda
persistia e foi por esse motivo que entre 2003 a 2004, assumi a função de Diretora
da Diretoria de Orientação Técnica Pedagógica da região de Vila Prudente/
Sapopemba, coordenando o grupo de supervisores e formadores de todas as
áreas de conhecimento que atuavam na formação diretamente nas escolas. Era
um grupo de 60 pessoas. Essa minha função contribuiu para verificar mais de
perto quais eram os problemas das unidades escolares, uma vez que o Projeto
proposto era organizado em duplas de trabalho (Supervisor Escolar e uma pessoa
da equipe pedagógica da Diretoria) para que acompanhassem as escolas.
As dificuldades que surgiram durante o projeto estavam assim
relacionadas: com a aprendizagem dos alunos, com as condições de
funcionamento da escola, com a gestão da própria equipe que divergia em termos
conceituais ou na formas de encaminhamento dos problemas surgidos, com
questões relacionais conflituosas onde, em muitos momentos, houve a
necessidade de uma intervenção da Diretoria in lócus.
Para que este trabalho pudesse ser realizado nas unidades escolares
da região, eu me reunia com as duplas de formadores quinzenalmente para
discutirmos as ações de formação e acompanhamento que estavam sendo
realizadas nas escolas. Como cada escola apresentava uma demanda
diferenciada, pensávamos em qual seria o roteiro de discussão que deveríamos
levar para as unidades educacionais que permitissem que elas se debruçassem
sobre as dificuldades que estavam percebendo e de alguma forma, coletivamente,
transformassem essas dificuldades em possibilidades de ações que revertessem
as demandas levantadas. Nesse sentido foram desenvolvidas ações integradas:
20
formação para os professores do Fundamental II de todas as áreas de
conhecimento, formação para a equipe gestora em pólos de supervisão de modo
que discutissem suas práticas enquanto gestores de suas unidades e a formação
para professores dentro dos horários coletivos das escolas.
O trabalho das duplas de formação (supervisor e formador) e o
acompanhamento das escolas visavam oferecer apoio técnico necessário para o
desenvolvimento do projeto pedagógico e ajudar na análise dos resultados da
avaliação escolar, no planejamento das ações de formação dos professores pela
equipe escolar, levando em conta o contexto na qual ela estava inserida, não
havendo uma diretriz única para o trabalho realizado.
Este trabalho focava as necessidades emergentes do contexto em que
a escola estava, mas não alinhavava uma diretriz comum entre as unidades
escolares da rede. Como responsável pela gestão do Projeto Regional, identifiquei
as demandas vindas das unidades educacionais da região, conforme explicitado
anteriormente. Ainda que organizássemos os diferentes registros sobre as
demandas que possibilitavam o acompanhamento das unidades educacionais, o
fato era que esses problemas determinavam o meu distanciamento, mesmo que
involuntário, do processo de ensino e aprendizagem da Matemática.
Retornei em 2005, como Coordenadora Pedagógica, para uma escola
na região da Vila Prudente/Sapopemba. Iniciamos o planejamento do Projeto
Pedagógico levantando quais eram as dificuldades percebidas pelos professores
da escola em relação ao ensino e aprendizagem dos alunos. Uma das dificuldades
apontadas foi a número de crianças não alfabetizadas da escola. Construímos um
diagnóstico que foi realizado em fevereiro e constatou-se que 30% das crianças
que estavam no 4º ano do Ciclo I ainda não sabiam ler e escrever. Diante deste
fato, toda equipe escolar, juntamente com os pais, traçou um plano de metas para
que até dezembro, 50% das crianças consideradas como não alfabetizadas, se
tornassem alfabéticas. Para cumprir esta meta iniciamos um programa de
formação que discutia a construção de escrita pelas crianças, dando ênfase à
21
melhoria da leitura e da escrita, compromisso que foi assumido também por todas
as áreas de conhecimento.
Este esforço coletivo possibilitou que as metas propostas fossem
alcançadas antes do previsto, já no final do 1º semestre. O que conseguimos
realizar com esse trabalho de formação e com o empenho de toda equipe de
professores foi que no final do ano, todos os alunos do 4º ano estavam
alfabetizados.
Como a meta já havia sido alcançada na metade do ano, começarmos
a investir na área de Matemática. Propusemos uma avaliação dos conhecimentos
dos alunos sobre a resolução de problemas do significado das operações tanto do
Campo Aditivo6, quanto do Multiplicativo7. Analisamos as soluções dos alunos e os
erros cometidos nos diagnósticos realizados.
Esse levantamento permitiu-nos identificar o que os alunos sabiam
sobre as diferentes ideias dos Campos Aditivo e Multiplicativo e juntamente com
eles fizemos a análise dos cadernos dos alunos, verificando quais eram as
situações-problema trabalhadas pelas professoras. As discussões permitiram
discutir os erros apresentados pelos alunos e a relação com o tipo de problema
trabalhado em sala de aula.
Para que essa análise pudesse ser realizada pelos professores,
começamos a discutir as ideias presentes nos diferentes Campos Conceituais.
Muitos professores afirmavam que as crianças não sabiam ler os problemas, pois
segundo eles, as dificuldades das crianças estavam na não-compreensão desse
gênero textual. No decorrer da formação, essa concepção foi se modificando, uma
vez que os erros dos alunos também estariam relacionados ao tipo de situação
apresentada e não apenas na dificuldade de leitura das palavras.
6 Campo Aditivo é o campo conceitual das estruturas aditivas e refere-se a um conjunto de situações que demandam uma adição, uma subtração ou a combinação de ambos para se resolver um problema. 7 Campo Multiplicativo é o campo conceitual das estruturas multiplicativas e refere-se a um conjunto de situações que demandam uma multiplicação, uma divisão ou a combinação de ambas para se resolver um problema.
22
Essa formação permitiu aos professores um olhar mais amplo para a
utilização das diferentes operações a fim de resolver um mesmo problema.
A experiência como Coordenadora Pedagógica me permitiu presenciar
uma mudança de pensamento dos professores sobre os significados das
operações no Campo Aditivo e Multiplicativo, e à medida que se estabeleceu uma
rotina de discussão e de aprofundamento desses conceitos, verificou-se uma
mudança em suas práticas. Foi também nesse percurso que pude observar que o
desenvolvimento profissional do professor precisa ser construído dentro de um
grupo, onde as dúvidas, dificuldades e acertos possam ser analisados por todos
os participantes, aumentando a qualidade docente de pesquisa e de gestão na
sala de aula (Imbérnon, 2009).
Em 2006, aceitei o convite para compor a equipe de formadores
centrais da Diretoria de Orientação Técnico (DOT) da Secretaria Municipal de São
Paulo. Um dos meus trabalhos foi a produção do PIC – 4º ano8 “Projeto Intensivo
do Ciclo I” Vol. I, II e III para alunos e professores, na área de Matemática. O outro
foi como formadora do Programa Ler e Escrever da Secretaria, que visava discutir
a construção do sistema de escrita alfabética.
Iniciamos nesse mesmo ano a discussão da organização do currículo
de Matemática do Ensino Fundamental I9, depois o do Fundamental II e o
Programa de Formação de Matemática para os professores e Coordenadores
Pedagógicos da Rede Municipal.
Nos anos de 2007 e 2008, colaborei com a produção dos Guias de
Planejamento e Orientação Didática na área de Matemática para os professores
do 2º, 3º e 4º ano do Ensino Fundamental I e do material do PIC 3º ano10 - Projeto
Intensivo do Ciclo I para alunos e professores. Organizei, juntamente com outros
8 Projeto Intensivo no Ciclo I para correção do fluxo de aprendizagem de alunos do 4º ano do Ciclo I. 9 Ensino Fundamental I – compreende os cinco primeiros anos do Ensino Fundamental de 9 anos e o Fundamental II , os últimos quatro anos. 10 Projeto Intensivo no Ciclo I para correção do fluxo de aprendizagem de alunos do 3º ano do Ciclo I.
23
colegas da SME, o Programa de Formação de Matemática para Coordenadores
Pedagógicos e professores da Rede que atuavam no Fundamental I, com o
objetivo de discutir as concepções que se apresentavam nos documentos
produzidos pela SME.
O Programa de formação atendeu 100% dos Coordenadores
Pedagógicos, nesses dois anos com atendimento mensal. Na formação dos
professores só conseguiu atender 200 (2,5%) professores do Fundamental I, no
primeiro ano e 600 no segundo, uma vez que a SME contava com apenas quatro
formadores.
Em 2008, foi dada continuidade à formação dos Coordenadores
Pedagógicos e um dos objetivos dessa formação era discutir a aplicação e análise
das sondagens feitas para identificar os conhecimentos dos alunos, a respeito da
escrita de números e da resolução de problemas no Campo Aditivo e
Multiplicativo. O objetivo era subsidiar esse Coordenador no trabalho com os
professores, com vistas à superação das dificuldades apresentadas pelos alunos a
partir dos diagnósticos. Desse modo, os professores poderiam escolher e
selecionar estratégias mais adequadas que permitissem um avanço na escrita de
números e na resolução de problemas, envolvendo os dois Campos Conceituais.
O movimento para formação do professor propiciou uma aproximação
com as inovações curriculares propostas pelos materiais produzidos pela SME, de
modo que pudessem refletir sobre suas próprias práticas de ensino e abrir espaço
para novas indagações.
Em 2009, passei a ser Diretora de Divisão do Ensino Fundamental e
Médio da Rede Municipal de São Paulo. Com o trabalho de formação
desenvolvido nos anos anteriores, essa função me permitiu ampliar as ações de
formação e de acompanhamento dos professores aumentando em 50% o
atendimento.
Além da formação dos professores do Ensino Fundamental I, também
ampliamos a formação dos professores do Ensino Fundamental II, cujo objetivo
24
era discutir as Orientações Curriculares que haviam sido implantadas na Rede
2007, mas que não haviam ainda sido implementadas.
Outro instrumento implantado na Rede em 2007 foi a Prova São Paulo,
que, num primeiro momento, não dialogava com os demais materiais produzidos
pela SME. Isso gerou certo descomprometimento da equipe da Diretoria de
Orientação Técnica – DOT/ Ensino Fundamental e Médio em utilizar esses
resultados como parâmetro de avaliação do conhecimento dos alunos, mostrando
também um reflexo da cultura da não avaliação.
Outro aspecto importante que dificultou a discussão inicial com o Núcleo de
Avaliação11 foi que a Prova São Paulo era considerada como o instrumento que
legitimaria a aprendizagens dos alunos pelo Sistema. Isso gerou uma dualidade,
pois por um lado este tipo de avaliação não poderia ser a única possibilidade de
acompanhar as aprendizagens dos alunos, por outro, porque sabemos que
avaliações padronizadas não levam em conta as necessidades de aprendizagens
dos alunos, nem os contextos onde as escolas estão inseridas (LIBÂNEO, 2008).
A avaliação traz elementos de análise de aprendizagem dos alunos para o
Sistema, porém essa análise precisa necessariamente considerar os elementos
destacados anteriormente, ou seja, a avaliação das aprendizagens dos alunos não
pode levar em conta apenas os resultados das avaliações externas, pois esses
dados são insuficientes, sobretudo se pensarmos que elas não indicam todas as
necessidades de mudanças no processo de ensino (Libâneo, 2008).
À medida que o tempo foi passando e o processo de avaliação foi
implantado com periodicidade anual, sem nenhuma possibilidade de reversão na
aplicação das provas, era preciso encontrar um mecanismo de diálogo entre o
NAE e SME/DOT - Ensino Fundamental e Médio, de modo a qualificar melhor a
elaboração das questões padronizadas, levando em conta as concepções que
estavam sendo discutidas nas formações propostas pela SME, tanto com os
11 Núcleo de Avaliação Escolar ( NAE) – Setor responsável pela elaboração da Avaliação da Rede Municipal de São Paulo.
25
Coordenadores Pedagógicos, e também com os professores, explicitadas nos
materiais produzidos.
Os resultados da avaliação tiveram que fazer parte das análises
conjuntas desses dois segmentos – Núcleo de Avaliação e Diretoria de Orientação
Ensino Fundamental, de modo a levantar elementos para avaliação dos
programas desenvolvidos pela SME, apontando para as escolas e professores o
que os alunos já haviam aprendido e o que precisariam aprender, tendo como
referência as expectativas de aprendizagem para cada ano de escolaridade.
Como Diretora do Ensino Fundamental e Médio foi possível perceber
que, apesar de não concordar com as avaliações de sistemas ou externas12, elas
poderiam favorecer a proposição de novas políticas públicas e identificar avanços
nas aprendizagens dos alunos.
A identificação de avanços nas aprendizagens dos alunos levou-me a
formular algumas questões tais como: será que a melhoria na aprendizagem dos
alunos poderia ser um reflexo do investimento feito na formação dos professores
do Ensino Fundamental I e dos Coordenadores Pedagógicos nessa área de
conhecimento? Ou será que os acompanhamentos sistematizados dos
diagnósticos solicitados pela SME sobre a escrita de números e sobre o
significado das operações no Campo Aditivo foram responsáveis pela necessidade
de formação continuada para os professores? Será que a indicação feita por parte
da SME de ser efetuado um planejamento semanal do trabalho na área de
Matemática possibilitaria aos professores organizarem atividades mais adequadas
às necessidades de aprendizagens indicadas nos diagnósticos realizados?
Foram estas perguntas que revelaram uma necessidade de investigar
este avanço conseguido pelas escolas da Rede Municipal e que me trouxeram
para este curso de mestrado em Educação Matemática.
Nessa trajetória profissional, foram ficando cada vez mais presentes
duas preocupações: como levar em conta as necessidades que o professor tem 12 A avaliação de sistema entendida na Rede Municipal como uma prova que possui um conjunto de questões padronizadas, cujo objetivo é diagnosticar o sistema escolar, visando reorientar a política educacional.
26
de formação em função das dificuldades que enfrenta no seu cotidiano da sala de
aula e as necessidades que se apresentam a um gestor de Sistema para que as
políticas desenvolvidas tragam uma melhor qualidade nas aprendizagens dos
alunos.
Porém, acredito que eram essas preocupações que estavam ligadas a
epistemologia da prática (Schön, 1992), que possibilitaram meu desenvolvimento
profissional. A construção de conhecimentos através da reflexão, análise e
problematização das situações vivenciadas, possibilitaram enfrentar essa
dualidade, sempre tentando compreender o que é importante considerar nas
necessidades que emergem das práticas dos professores e quais são as
necessidades que se apresentam na sociedade e nas relações políticas nos
grandes Sistemas, como é o caso da Rede Municipal, e assim, tentar organizar as
políticas educacionais que levem em consideração essa duas questões.
1.2 Contexto e objetivo da Pesquisa
Na Rede Municipal de Educação da Cidade de São Paulo, assim como
em outros Sistemas de Ensino, tem havido uma preocupação muito grande com a
qualidade das aprendizagens dos alunos e com o ensino, sobretudo na área de
Matemática. Desde 2005, vem sendo organizado um conjunto de ações para
melhorar a aprendizagem dos alunos e também o ensino nessa área.
Descreveremos as escolhas e as estratégias feitas pela SME de forma
mais detalhada no capítulo 2, mas para se compreender os objetivos dessa
pesquisa, será necessário fazer uma pequena contextualização das políticas
educacionais da SME entre 2005 e 2009.
Na segunda metade de 2004, a SME participou de uma pesquisa para
levantar o grau de letramento dos alunos da Rede, após três anos de escolaridade
no Ensino Fundamental. O que se percebeu é que 30% dos alunos ainda não
sabiam ler e escrever
27
Para atender a esta demanda a SME organizou suas ações em três
dimensões: a da formação continuada, a do acompanhamento e da produção de
materiais.
Para a formação continuada houve um investimento no trabalho com os
Coordenadores Pedagógicos e com os professores, principalmente aqueles que
estiveram em regência das turmas do 1º ano do Ensino Fundamental. O objetivo
dessa formação era apoiar e discutir as atividades organizadas pelos professores
e propor adequações para melhorar o processo de ensino e aprendizagem.
Os materiais produzidos nesse período tinham como objetivo discutir as
concepções de ensino e aprendizagem e indicar algumas possibilidades de
trabalho para os professores. O objetivo seria que os materiais aliados à formação
permitissem maior circulação de ideias e promovessem mudanças nas práticas
dos professores.
As ações de acompanhamento visavam monitorar as aprendizagens
dos alunos em períodos bimestrais, para que a escola pudesse redirecionar seu
planejamento e fazer intervenções mais contextualizadas às dificuldades
identificadas. Além da avaliação interna e processual, a SME também investiu na
avaliação de sistema, de modo a verificar a evolução das aprendizagens dos
alunos. Analisando os resultados das avaliações institucionais das escolas,
surgiram algumas questões: se a maioria das escolas não obteve um rendimento
esperado para os anos de escolaridade de seus alunos, o que fez com que outras
escolas pudessem, em prazo de três anos, ter evoluído tanto? Existiria algum
diferencial nessas escolas? Se existisse, qual seria ele?
Inicialmente motivados por essa preocupação, sobretudo em relação
aos resultados obtidos pelas classes dos 3º anos do Ensino Fundamental em
Matemática, resolvemos investigar as causas que permitiram tal sucesso.
Outras questões para além daquelas, ainda nos inquietaram: será que
foi a estabilidade do grupo de gestores (Diretor, Coordenadores Pedagógicos) que
permitiu tal avanço? Ou será que foi a estabilidade do corpo docente que atuou no
3º ano do Ciclo I que permitiu este desempenho? Em que medida a formação
28
oferecida, tanto no horário coletivo, quanto nas formações externas, possibilitou
este avanço? A escola organizou avaliações processuais ao longo do ano, que
possibilitaram aos professores fazerem um melhor diagnóstico dos seus alunos,
levantando o que eles já sabiam e o que ainda precisavam aprender? Será que os
resultados das avaliações externas possibilitaram aos professores tomarem
decisões didáticas e metodológicas que respondessem melhor às necessidades
de aprendizagem dos alunos? Em que medida os materiais de Matemática
produzidos pela Secretaria Municipal de Educação para o 3º ano favoreceu esse
desempenho? Como eram as rotina s e práticas das professoras dessas escolas?
Para responder a essas questões seriam necessários diversos estudos
de natureza quantitativa e qualitativa. Tendo em vista as limitações de tempo e da
natureza de uma dissertação de mestrado, optamos por identificar as práticas e as
rotina s de professoras de uma escola cujos resultados tiveram uma evolução nos
últimos três anos de aplicação da Prova São Paulo e indicar possíveis
procedimentos da U.E. que possam ter favorecido esses resultados.
Os procedimentos utilizados para a escolha da escola que se constituiu
no objeto desse estudo são apresentados e discutidos no Capítulo 3.
Assim, o objetivo desta pesquisa é o de investigar rotina s e práticas de
duas professoras de uma escola que, em 2009, lecionavam no 3º ano do Ensino
Fundamental I, cujos alunos tiveram desempenho satisfatório na Prova São Paulo.
Para atender a esse objetivo procuramos desenvolver nosso trabalho
na perspectiva de responder às seguintes questões de pesquisa:
� Quais são as práticas e rotina s das professoras do 3º ano do
Ensino Fundamental de uma escola cujos alunos obtiveram
desempenho satisfatório nos resultados em Matemática na
Prova São Paulo?
� Nessas práticas, as professoras levaram em conta as
orientações curriculares da Secretaria Municipal de Ensino de
São Paulo?
29
Cabe ressaltar que, para identificar essas práticas e ter uma maior
densidade na análise, precisaremos direcionar nosso foco para o tema Números e
Operações, tendo em vista sua grande importância, sobretudo nas séries iniciais.
Além disso, esse tema sofreu, ao longo dos últimos vinte anos, uma mudança nos
currículos prescritos como a não-ênfase na seriação, classificação e inclusão do
trabalho envolvendo a função social do número e com as hipóteses das crianças
sobre a escrita dos números (LERNER E SADOVSKY, 1996).
No capítulo seguinte, discutiremos as políticas educacionais da
Secretaria Municipal de Educação de São Paulo no período de 2005 a 2009, tendo
em vista que procuramos identificar quais dessas ações podem ter influenciado as
práticas das professoras do 3º ano do Ensino Fundamental I que se constituiu o
nosso objeto de estudo.
30
CAPÍTULO 2
COMPREENDENDO O CONTEXTO:
POLÍTICA EDUCACIONAL DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
(2005 – 2009)
Para compreendermos o contexto de realização dessa pesquisa,
descrevemos nesse capitulo e analisamos detalhadamente nesse capítulo, as
políticas educacionais organizadas pela Secretaria Municipal de Educação de São
Paulo entre os anos de 2005 a 2009. Esse trabalho é necessário para
compreendermos as práticas, as rotina s de trabalho das professoras e os
resultados de aprendizagens dos alunos no 3º ano do Ensino Fundamental I, no
ano de 2009. Apresentamos os números referentes à organização e composição
da Secretaria Municipal de Educação. Depois, um breve histórico da implantação
das políticas de educação desse período, e, em seguida, as políticas de formação
continuada e acompanhamento das aprendizagens dos alunos. Outro aspecto
decorrente dessas políticas será a produção de material de apoio à ação docente.
2.1 A organização da Secretaria Municipal de Educa ção
A Cidade de São Paulo é a mais populosa do Brasil, possuindo,
segundo dados do censo 2010 do IBGE, 10.886.518 habitantes. Sua importância é
reconhecida em todo o país por ser o maior centro financeiro e mercantil da
América Latina. Por ser uma cidade muito grande, a Secretaria Municipal de
Educação foi dividida em 13 sub-regiões: Capela do Socorro – CS, Campo Limpo
– CL, Butantã – BT, Pirituba/Jaguaré- PJ, Freguesia do Ó – FO,
Jaçanã/Tremembé – JT, Santo Amaro – SA, Ipiranga – IP, Penha – PE, Itaquera –
IT, São Miguel Paulista – MP, Guaianases – GU e São Mateus – MT, de modo a
dar maior agilidade às suas ações conforme o mapa abaixo:
31
Essa organização foi feita de modo a facilitar a administração de 545
escolas de Ensino Fundamental, 8 de Ensino Médio, 6 de Educação Especial, 460
de Educação Infantil e 312 Centros de Educação Infantil (antigas creches),
totalizando 1331 Unidades Educacionais13.
O número de alunos supera a casa de um milhão, sendo que cerca de 525
mil alunos estão no Ensino Fundamental e são atendidos por um total de 27.164
professores, sendo 10.428 no Ciclo I e 16.736 no Ciclo II, dentre os quais, 2.809
são professores de Matemática14.
2.2 Histórico de 2005 a 2009
Em 2004, a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, em parceria
com a UNICAMP e coordenada pela professora Angela Kleiman15, realizou uma
13 Fonte: CI: Centro de Informática da Rede Municipal de São Paulo: ago/2009. 14 Fonte: CI: Centro de Informática da Rede Municipal de São Paulo: ago/2010. 15 Kleiman, Angela B. Diretora dos Programas de Educação Bilingue na Secretaria da Educação da cidade de Detroit (Detroit Public Schools System). No Brasil, foi Professora de Semântica e Linguística Aplicada na PUCCAMP. Atualmente é Professora Titular no Departamento de Línguística Aplicada da UNICAMP. Suas áreas de pesquisa principais são a leitura e o letramento, com foco no letramento do professor. É autora de numerosos trabalhos sobre leitura e alfabetização de adultos.
32
pesquisa sobre “Alfabetização e Letramento”. A pesquisa foi desenvolvida por
amostragem em 10 escolas da Rede, com alunos de 9 anos, do 4º ano do Ensino
Fundamental I e indicou que 30% desses alunos não estavam alfabetizados.
Esses dados da pesquisa sobre Alfabetização e Letramento foram
tomados como base para definir as diretrizes da Política Educacional. Foi
organizado, a partir daí, um conjunto de ações para a melhoria da qualidade de
ensino. A primeira delas foi o Comunicado 816 de 04 de agosto de 2005 que traz
as "Orientações gerais para o trabalho com Língua Portuguesa no Ciclo I". Esse
documento indica o que é esperado que as crianças aprendam ao longo do Ensino
Fundamental I. Outra iniciativa foi a instituição do Programa Ler e Escrever, por
meio da Portaria nº 6.328, de 26 de setembro de 2005.
Essa preocupação está explicitada no seguinte trecho da referida portaria:
“...a reverter o quadro de fracasso escolar ocasionado pelo analfabetismo e pela alfabetização precária dos alunos do Ensino Fundamental e Médio da Rede Municipal de Ensino”. (SÃO PAULO (Município). Portaria 6328, de 26 de setembro de 2005).
A SME organizou ações para atender as seguintes necessidades dentro do “Programa Ler e Escrever”:
“- implementação do processo de ensino e aprendizagem em Ciclos;
- a imprescindibilidade de se investir na efetiva melhoria da qualidade de ensino;
- os altos índices de defasagem idade/ano dos ciclos a serem superados;
- a urgência em solucionar as dificuldades apresentadas pelos alunos, com relação às competências de ler e escrever ”. (São Paulo (Município).Portaria 6328 de 26 de setembro de 2005).
Essa Portaria instituiu assim, três Projetos: Toda Força ao 1º ano do
Ciclo I, o Projeto Intensivo no Ciclo (para a correção do fluxo de aprendizagem
das crianças do 5º ano do Ensino Fundamental I) e o Ler e Escrever em todas as
áreas do Ciclo II (Ensino Fundamental II) que discutiu a competência leitora e
escritora necessária para que os alunos avançassem nos conhecimentos
específicos, dentro de cada área de conhecimento.
33
A outra ação prevista na Portaria visava o acompanhamento e o
monitoramento das aprendizagens dos alunos da Rede Municipal de Educação e
foi implementada pela Lei nº 14.063/2005 que instituiu o Sistema de Avaliação de
Aproveitamento Escolar – Prova São Paulo - regulamentado posteriormente pelo
Decreto 47.683/2006.
O objetivo da criação do Sistema de Avaliação de Aproveitamento Escolar
era trazer elementos para que o Sistema pudesse tomar decisões mais assertivas
sobre:
“a política de formação continuada dos recursos humanos do magistério; a reorientação da proposta pedagógica desses níveis de ensino, de modo a aprimorá-la; a viabilização da articulação dos resultados da avaliação com o planejamento escolar, a formação dos professores e o estabelecimento de metas para o projeto pedagógico de cada escola; a orientação para os trabalhos desenvolvidos nas Salas de Apoio Pedagógico - SAP das unidades escolares com os alunos que necessitam de reforço na aprendizagem.” (SÃO PAULO (Município). Lei 14 063 de 14 de outubro de 2005)
A SME publica todas as suas decisões em forma de decretos ou mesmo
de portarias, de modo a normatizar as decisões sobre as políticas educacionais,
possibilitando que escolas compreendam quais foram as necessidades detectadas
pela Rede através da Pesquisa e assim, possam fazer de forma mais tranquila o
acompanhamento das aprendizagens, melhorando a médio e longo prazo as
competências leitora e escritora de seus alunos.
Em 2005, o foco do trabalho concentrava-se na implementação do
Programa Ler e Escrever, com ações na formação do trio gestor – Diretor de
Escola, Coordenador Pedagógico, Supervisor Escolar - equipe que seria
responsável para formar os professores que aderissem aos Projetos “Toda Força
ao 1º ano”, ao “Projeto Intensivo do Ciclo I” e ao “Projeto Ler e Escrever em todas
as áreas de conhecimento”.
Em 2006, para iniciar a concretização dos Programas da SME, os
Coordenadores Pedagógicos e professores que atuam no Fundamental I,
passaram a ter formação quinzenal, sobre as questões ligadas à construção do
sistema de escrita alfabética e sobre as concepções que estavam propostas nos
34
documentos: Orientações Gerais para o Ensino de Língua Portuguesa e de
Matemática no Ensino Fundamental I.
Para os Coordenadores Pedagógicos que atuavam no Fundamental II,
foram propostas formações mensais, com o objetivo de discutir as necessidades
específicas de aprendizagens dos alunos em cada área de conhecimento,
considerando a Língua Portuguesa como instrumento de comunicação capaz de
contribuir para a ampliação da competência leitora e escritora a partir dos
conceitos das áreas. Para apoiar o Coordenador Pedagógico em suas unidades,
foi criado também o Grupo de Referência de Professores do Ensino Fundamental
II, com o mesmo objetivo.
Toda esta experiência de formação dos Coordenadores Pedagógicos e
professores que atuam no Ensino Fundamental indicaram à SME a necessidade
de definir um currículo, evidenciando o que se esperava que os alunos
aprendessem em cada um dos anos de escolaridade dentro da Rede. A SME, a
partir dessa necessidade, organizou um documento preliminar das Orientações
Curriculares, que foi enviado às escolas para que os professores pudessem opinar
sobre as propostas feitas, fazendo sugestões de acréscimos ou de supressão de
expectativas de aprendizagem, de modo que a maioria dos envolvidos se
reconhecesse nesse processo.
A preocupação da SME foi trazer a idéia de pertencimento, de modo a
favorecer a utilização pelos professores das Orientações Curriculares, tendo em
vista a sua participação na elaboração desse documento, que possibilitou a
reflexão do professor na definição das expectativas, que implicava,
necessariamente, em reorganizar as atividades de ensino de acordo com o que
era esperado que os alunos aprendessem em cada ano do Ensino Fundamental
de 9 anos.
Nesse mesmo ano surgiu a necessidade de dar maiores subsídios
didáticos e metodológicos aos professores que atuaram no Ciclo I na área de
Matemática. Assim, para responder a esta demanda, foram produzidos os Guias
de Planejamento e Orientações Didáticas para os professores que atuaram no 3º
35
ano do Ensino Fundamental I, que visavam dar continuidade ao trabalho de
alfabetização e iniciar as discussões sobre o ensino de Matemática.
Em 2007, aconteceu a reorganização da Portaria do Ler e Escrever, que
passou a incluir o 2º, 3º e 4º ano do Fundamental I e propôs uma ação específica
de correção de fluxo para atender a estes alunos que ainda não haviam sido
alfabetizados após três anos de escolaridade, criando assim, o 3º ano no Projeto
Intensivo no Ciclo – PIC 3º ano.
Também em 2007, a SME iniciou o acompanhamento e o monitoramento
das aprendizagens dos alunos da Rede Municipal por meio da realização da
Prova São Paulo em duas áreas do conhecimento: Língua Portuguesa e
Matemática, organizando-se para isso as “Matrizes de Referência para a
avaliação do rendimento escolar” (SÃO PAULO (Município), 2007a).
Com a continuidade da administração, em 2009, a ênfase do trabalho
recaiu na formação, uma vez que o Sistema de Avaliação apontou que, apesar
dos alunos terem apresentado uma melhora nos resultados de Língua
Portuguesa, o avanço na área de Matemática deu-se muito mais no Ensino
Fundamental I do que no II. Nesse sentido, era necessário um esforço maior para
discutir com os professores as concepções da área de Matemática que estavam
presentes nos Programas e nos materiais na Rede, desde 2007.
2.3 A política de formação continuada
Na Portaria 6.328/05 que institui o Programa Ler e Escrever em 2005,
estava prevista a formação continuada:
a) Da equipe gestora – Diretor de Escola, Coordenador Pedagógico e
Supervisor Escolar com o objetivo de:
“... envolver os gestores na criação de condições institucionais favoráveis à aprendizagem, na elaboração de planejamentos mais eficientes, fortalecendo as equipes pedagógicas das UEs enquanto formadoras e produtoras de conhecimento;”(SÃO PAULO (Município). Portaria 6328 de 26 de setembro de 2005).
36
O Programa tinha como princípio que a equipe gestora da escola: Diretor,
Coordenador Pedagógico e Supervisor Escolar pudessem pensar junto quais
seriam as condições que a unidade deveria garantir para que os Projetos Toda
Força ao 1º ano e o Projeto Intensivo no Ciclo – PIC 4º ano, de modo que os
gestores se corresponsabilizassem pela formação dos professores e pelo
acompanhamento das aprendizagens dos alunos. Parece uma questão bastante
óbvia dizer que os Coordenadores deveriam ser formadores do seu grupo de
professores e que a equipe, como um todo, deveria acompanhar o aprendizado
dos seus alunos, para o alcance de metas estabelecidas no coletivo da escola.
Entretanto, as equipes estavam muito mais preocupadas com as questões
administrativas e burocráticas do sistema, do que com as questões pedagógicas,
não estando claro que a parte administrativa deveria funcionar para que a parte
pedagógica pudesse atender às necessidades de formação do seu grupo de
professores e às necessidades de aprendizagens de seus alunos. Os Diretores e
Coordenadores têm como funções:
“típicas dos profissionais que respondem por uma área ou setor da escola, tanto no âmbito administrativo quanto no pedagógico... A direção, deve por em ação, de forma integrada e articulada, todos os elementos do processo organizacional (planejamento, organização, motivação, comunicação, coordenação). A coordenação é um aspecto da direção, significando a articulação e a convergência do esforço de cada integrante de um grupo visando atingir os objetivos” (LIBÂNEO, 2008, p.215).
b) Coordenadores Pedagógicos: A formação do Coordenador Pedagógico
visava garantir a preparação desse profissional para ser formador dos professores
alfabetizadores. O trabalho envolvia o planejamento da rotina semanal do
professor, o acompanhamento e a avaliação das aprendizagens dos alunos,
conforme calendário estabelecido e publicado em Diário Oficial. Embora a
formação estivesse voltada para a alfabetização, a proposta pretendia ir além:
“... deverá contribuir para a consolidação de um trabalho de qualidade, para toda a equipe escolar, já que as concepções de aprendizagem, as reflexões e análises sobre a didática são conhecimentos fundamentais para todos os professores, de todas as etapas da escolaridade.”(SÃO PAULO (Município). Portaria 6328 de 26 de setembro de 2005).
37
Embora a proposta da portaria fosse a de indicar que o trabalho pudesse
transcender as questões ligadas à construção do sistema alfabético de escrita,
como o ensino da Matemática, isso não aconteceu no primeiro ano da
implantação do Programa Ler e Escrever. Toda a formação foi organizada para
que os Coordenadores pudessem discutir com seus professores as concepções
de alfabetização e as intervenções necessárias para que os alunos, em sua
grande maioria, se tornassem alfabéticos ao final do 1º ano de escolaridade.
c) Professores alfabetizadores: os professores alfabetizadores seriam
aqueles responsáveis pela alfabetização dos alunos no âmbito dos Projetos: TOF
- 1º ano do Ensino Fundamental I, e PIC - 4º ano do Ciclo I. Todos esses
professores deveriam, obrigatoriamente, participar da formação que aconteceria
na Unidade Educacional, nos horários coletivos, sob a responsabilidade do
Coordenador Pedagógico e em momentos especificados pela Secretaria
Municipal, coordenada pela Diretoria de Orientação Técnica em parceria com as
Diretorias Regionais de Educação. Cabe observar que toda formação dos
Coordenadores Pedagógicos e dos professores alfabetizadores foi pautada nos
próprios materiais que foram produzidos pela SME: Livro do TOF, e Livro do PIC e
nos textos complementares destinados à formação do horário coletivo.
Os demais projetos desenvolvidos pela SME como Ler e Escrever em
todas as áreas de conhecimento conservou o mesmo modelo de formação. O foco
dessa formação foi a construção de procedimentos necessários ao
desenvolvimento de habilidades relativas à leitura e escrita, de modo que os
professores pudessem atuar como mediadores de leitura e assim, melhorassem a
proficiência leitora e escritora dos alunos, nos gêneros das três esferas de
circulação social: divulgação científica, jornalística e literária.
Em 2006, esta política de formação continuada permaneceu, porém, com
algumas alterações, uma vez que bimestralmente a SME solicitava às unidades
educacionais, avaliações processuais na área de Língua Portuguesa e
Matemática. Essas avaliações processuais davam à SME indicações dos avanços
conseguidos pelos alunos durante o bimestre e forneciam indicações para a
38
discussão dos formadores nas possíveis intervenções na sala de aula para o
avanço dos alunos.
Nas formações propostas os temas discutidos foram a construção do
número e a resolução de problemas. Além disso, foram analisados os resultados
das sondagens de números, de modo que os professores pudessem compreender
quais eram as hipóteses que as crianças tinham ao produzir uma escrita
numérica. Essas discussões visavam contribuir para a melhoria do planejamento
do professor e das intervenções necessárias para ampliação desse conhecimento
numérico. Juntamente com essas discussões sobre a construção de números
pelas crianças, foi proposta ainda, a discussão sobre a resolução de problemas no
Campo Aditivo e no Campo Multiplicativo.
A maioria dos Coordenadores e professores que participaram da formação
acreditava que os alunos não conseguiriam resolver as situações-problema
propostas porque tinham dificuldade na interpretação dos enunciados dos
problemas. Nesse sentido, Gómez – Granel (2007) traz uma preocupação com a
sintaxe da Matemática, não em relação à interpretação propriamente dita, mas
com uma diferenciação entre a linguagem natural e a Matemática:
“... O conhecimento matemático é profundamente dependente de uma linguagem específica, de caráter formal, que difere muito das linguagens naturais. A característica dessa linguagem é tentar abstrair o essencial das relações matemáticas, eliminando qualquer referência ao contexto ou à situação.” (GÓMEZ- GRANEL, 2007, p. 260).
Isso significa que muitas crianças podem ter o domínio da Língua
Portuguesa, mas não conseguem resolver um problema, menos ainda transcrever
da linguagem natural para a Matemática.
Se por outro lado as indicações dos Coordenadores e professores
aguçaram a discussão em torno da dificuldade da linguagem matemática, não se
levou em conta que:
“O importante é que os alunos entendam ou construam o significado dos conceitos matemáticos. Isto é, trata-se de entender o significado das operações básicas (soma, subtração, multiplicação e divisão), do número fracionário ou decimal, da
39
proporcionalidade, das relações geométricas, das transformações algébricas etc. Tanto nos trabalhos realizados com a aquisição de conceitos como na resolução de problemas admite-se que as crianças manifestem, desde idades muito precoces, procedimentos e formas próprias de raciocínio, de caráter não formal – portanto, diferentes daqueles que a matemática propõe e ensina na escola -, que lhes permite ir construindo progressivamente os significados matemáticos. Partindo desse ponto de vista, o ensino da Matemática deveria potencializar o uso de procedimentos dos próprios alunos, mesmo que não sejam de caráter formal e sim intuitivo” (GÓMEZ- GRANEL, 2007, p.267).
As propostas de formação continuada tentavam levar em conta a sintaxe
e a semântica do conhecimento matemático, ou seja, não bastava conhecer a
linguagem formal se ela não fizesse sentido, se ela não trouxesse a compreensão
do que se queria comunicar, se expressar. Isso implicaria em haver uma interação
entre a semântica e a sintaxe, visto que não faz sentido escrever ou representar
em linguagem formal algo que não se tenha compreensão.
Nesse ano, na formação continuada na área de Matemática, foi possível
atender apenas um universo muito pequeno de professores, cerca de 200, num
total de mais de 10 mil professores do Ensino Fundamental I. A ideia era que a
formação do Coordenador Pedagógico pudesse fazer esse papel, mas isso
efetivamente não aconteceu.
Em 2008, houve a continuidade do trabalho de formação dos
Coordenadores Pedagógicos, tanto na área de Língua Portuguesa, quanto na de
Matemática.
Na área de Matemática, o objetivo do trabalho de formação dos
Coordenadores Pedagógicos era continuar a subsidiá-los na formação dos
professores durante os horários coletivos. As dificuldades que os Coordenadores
apresentaram durante a formação os deixavam inseguros para realizar a
discussão com os professores sobre a construção do número e procedimentos de
cálculos e sobre a falta de conhecimento teórico necessário para problematizar os
trabalhos que os professores estavam desenvolvendo em sala de aula.
40
O que se percebeu claramente pela formação oferecida aos
Coordenadores Pedagógicos, foi que ela colaborou para que eles
compreendessem melhor os processos de aprendizagem pelos quais haviam
passado em sua escolaridade, no entanto, isso não os impulsionou a tratarem
desses mesmos assuntos no horário coletivo.
Isso significou não somente a necessidade de continuar investindo na
formação dos Coordenadores Pedagógicos, mas também que essa formação não
seria suficiente para que os assuntos/conteúdos tratados chegassem aos
professores no horário coletivo, o que implicou num maior investimento de
formação nesse seguimento, de modo que essas discussões, que já vinham
acontecendo com os Coordenadores também pudessem chegar aos professores.
Em relação ao conteúdo da formação, foi priorizado um aprofundamento
da discussão em relação à resolução de problemas, tanto no Campo Aditivo,
quanto no Campo Multiplicativo. Além disso, investiu-se em questões como a
diferença entre problema e exercício, nas estratégias metodológicas para a busca
de soluções para um problema, como a compreensão da tarefa, a elaboração de
plano para a busca do objeto proposto; a execução do plano e a análise ou
verificação da resposta encontrada.
Nas discussões das pautas de formação também apareceu a importância
de organizar situações-problema que permitiam aos alunos discutir o número de
soluções possíveis dos problemas.
O mesmo aconteceu em relação à importância da organização de
situações que propiciaram a reflexão sobre o enunciado e a oferta de dados, ou
seja, problemas. As situações propostas tinham o objetivo de problematizar
situações em que os alunos tivessem que analisar os dados disponíveis nos
problemas.
Foram também discutidos na formação, os diferentes procedimentos para
o desenvolvimento de habilidades relativas ao cálculo escrito e mental, exato e
aproximado, a exploração da calculadora como um dos recursos didáticos que
deveriam aparecer no trabalho de sala de aula, a verificação de resultados, a
41
elaboração de estratégias de resolução de problemas, a realização dos cálculos
necessários para obter a solução procurada.
O número de professores que passaram pela formação no ano de 2008 foi
ampliado, passando de 200 para 600 professores.
Em 2009, houve a continuidade do trabalho de formação com os
professores do Ciclo I, porém o foco da formação do Coordenador Pedagógico
passaria a ser na gestão, de modo a articular os projetos da própria escola com as
metas e programas da SME, sempre considerando as aprendizagens dos alunos.
A procura pela formação na área de Matemática foi aumentando nesse
período, principalmente no que se refere à necessidade do professor
compreender, mais especificamente, o que venha ser a Resolução de Problemas
e o trabalho com Espaço e Forma. Essa demanda de formação dos professores
não pôde ser atendida, uma vez que o número de formadores que a SME
dispunha ainda era insuficiente para o atendimento da demanda de formação.
Porém, houve uma aumento significativo no número de professores atendidos,
chegando nesse ano em 1100, correspondendo a um pouco mais de 10% do total
dos professores do Ensino Fundamental I da Rede.
Fazendo um balanço do processo de formação nesse período transcorrido
entre 2005 a 2009, podemos verificar que em todos os anos foi priorizado o
trabalho com o Coordenador Pedagógico, uma vez que ele foi o responsável por
viabilizar, integrar e articular o trabalho pedagógico-didático com os professores.
Apesar disso, durante a construção desse trabalho, verificou-se que o papel do
Coordenador na execução das tarefas era muito frágil e que talvez a inclusão dos
professores na formação colaborasse com este Coordenador Pedagógico nas
discussões, tanto na área de Língua Portuguesa, quanto na de Matemática.
2.4 A política de acompanhamento e monitoramento das ap rendizagens
dos alunos
42
Como pudemos acompanhar nesse percurso de constituição da política de
educação da SME, as linhas de referência foram sendo estabelecidas para a
Rede Municipal, através de portarias e decretos, já que existia a preocupação de
publicar tudo o que estava sendo proposto, com o intuito de sedimentar as
políticas desenvolvidas.
Outro aspecto importante foi que todos os Programas e Projetos que foram
constituídos, sempre vieram acompanhados de formação, já que todos foram
monitorados sistematicamente.
Desde 2005, a Secretaria Municipal de Educação a partir da implantação
do Programa Ler e Escrever, já sinalizava uma preocupação com o
acompanhamento das aprendizagens dos alunos. Para isso foram instituídas as
sondagens bimestrais do Sistema Alfabético de Escrita, com o objetivo de
monitorar quantos e quais alunos estavam avançando na compreensão desse
conhecimento. Desse modo haveria maior agilidade da SME em compreender as
causa desses resultados, indicando novas ações para que os alunos alcançassem
a expectativa de aprendizagem proposta para aquele período.
Ficamos surpreendidos pela dificuldade na obtenção desses dados, uma
vez que as escolas não tinham a cultura de fazer esse tipo de acompanhamento.
Tivemos que trabalhar na conscientização da importância do diagnóstico
para o planejamento de atividade e ações em curto prazo, para que os alunos
alcançassem o que era esperado em termos do Sistema Alfabético de escrita para
aquele bimestre.
A Secretaria Municipal de Educação passou a produzir sínteses dos
dados, fazendo devolutiva dos resultados aos Diretores de Orientação Técnica
das Diretorias Regionais de Educação e também aos Diretores Regionais de
Educação, com o objetivo de discutir a meta esperada em cada bimestre e fazer
um levantamento de quantos alunos não haviam conseguido alcançar a meta
proposta.
43
Isto foi criando, na Rede, uma cultura de acompanhamento das
aprendizagens e dando a ideia de que toda a estrutura organizacional da
Secretaria Municipal de Educação estava a serviço das aprendizagens dos
alunos.
Esse processo de acompanhamento das aprendizagens dos alunos, que
já acontecia para Língua Portuguesa desde 2005, acabou também sendo indicado
para Matemática em 2007. As sondagens, que eram solicitadas às escolas para a
área de Matemática, tinham como objetivo mapear o conhecimento do Sistema de
Numeração Decimal e acompanhar a evolução na resolução de problemas no
Campo Aditivo.
Para o levantamento do conhecimento sobre a escrita de números naturais foi
criada uma planilha com as seguintes categorias:
Quadro 1: Pauta de observação – escrita de números
Nome do
aluno
Conhece a escrita
convencional de
números exatos:
10, 20, 40..., 100,
200,.., 1000,
2000,...
Usa o nome dos
dígitos para grafar
números
Apoia-se na
fala para
escrever
números
Escreve números
convencionalmente
até ____
Este trabalho de monitoramento das aprendizagens causou um grande
movimento na Rede, pois os professores nunca haviam observado como os seus
alunos escreviam números. A grande maioria dos professores pensava que se
eles haviam apresentado a sequência numérica e solicitado que os alunos
escrevessem várias vezes o intervalo estudado, significava que os alunos
deveriam ter aprendido. Aconteceu aí a grande surpresa para os professores: não
era simplesmente o fato dos alunos copiarem uma sequência, que indicaria que
eles haviam compreendido o funcionamento do Sistema de Numeração Decimal.
Era preciso muito mais que isso, já que seria importante saber qual o nível de
conhecimento numérico que os alunos possuíam e a partir dele, o professor
organizaria as suas atividades.
44
Porém, todos os conceitos inseridos na planilha estavam bastante
distantes dos conhecimentos matemáticos dos professores, o que dificultou o seu
preenchimento. Depois de vários estudos e discussões com os formadores das
Diretorias Regionais de Educação foi proposta uma nova planilha, agora muito
mais próxima das representações que os professores utilizavam no seu cotidiano
de sala de aula, o que de certa forma facilitou o diálogo com a Rede. A seguir
apresento essa planilha que ainda está sendo utilizada em 2011 para o
mapeamento dos conhecimentos numéricos dos alunos do Ciclo I.
Quadro 2: Pauta de observação 2 – escrita de número s
Escreve números Nome do aluno Menores que 100 De 100 a 1000 Maiores que 1000 Obs.
Legenda : 1- usa algarismos sem relação com o número ditado; 2- faz uso de “coringas” 16; 3-
apoia-se na fala; 4- convencionalmente.
Além do mapeamento da escrita dos números, no SND, foi organizado
também um mapeamento sobre a Resolução de Problemas nos Campos Aditivo e
Multiplicativo, que tinha por objetivo verificar a evolução do conhecimento dos
alunos em relação aos três significados do Campo Aditivo de Vergnaud:
Composição, Transformação e Comparação. A seguir apresentamos a primeira
planilha utilizada pelas unidades escolares para esse mapeamento:
Quadro 3: Pauta de observação 2a – Resolução de pro blemas – Adição e subtração:
diferentes significados
16 Alunos que não compreenderam ainda como funciona o Sistema de Numeração Decimal, ou não conheceram todos os algarismos, usaram geralmente o zero ou 1 para preencher as ordens que não conheciam.
45
Aluno Resolveu o problema 1.
Transformação
Resolveu o problema 2. Composição
Resolveu o problema 3.
Transformação Composta
Resolveu o problema 4. Comparação
OBS.
A seguir, a planilha refeita a partir da discussão feita com os formadores
das Diretorias Regionais de Educação, cujo objetivo era de aproximar os
conhecimentos que os professores tinha sobre a resolução de problemas, de
modo a facilitar o seu preenchimento e a coleta de informações sobre as
aprendizagens dos alunos a respeito do Campo Aditivo:
Quadro 4: Pauta de Observação 2a – Resolução de pro blemas – Adição e
Subtração: diferentes significados.
Transformação Composta
Problema Transformação Composição
1ª Tr. 2ª tr.
Comparação
Nome do Aluno Ideia Resp Ideia Resp Ideia Resp Ideia Resp Ideia Resp
A planilha do Campo Multiplicativo era similar a do Campo Aditivo e
envolvia as seguintes categorias de problemas, segundo Vergnaud: combinatória,
configuração retangular, proporcionalidade e comparação.
Todas estas planilhas foram trabalhadas na formação e ajudaram os
professores a identificar em que aspectos os alunos avançaram e quais alunos
precisavam de ajuda. No entanto, para o acompanhamento da Secretaria, foram
solicitadas às escolas apenas as planilhas de números e da Resolução de
Problemas do Campo Aditivo.
Todos estes mapeamentos continuaram a ser realizados até 2011, o que
permitiu à Diretoria de Orientação Técnica, um melhor acompanhamento da
aprendizagem dos alunos na área de Matemática.
Cabe ressaltar que, no primeiro momento, os professores e as unidades
escolares sentiram que havia uma imposição da SME em solicitar essas
avaliações bimestrais. Com o trabalho de formação dos professores, as escolas
46
começaram a ver a importância de um instrumento que pudesse, ao mesmo
tempo, fazer uma síntese do que sabem os alunos e também do que ainda
precisam aprender. Isso deu maior clareza aos professores para poderem pensar
em estratégias didáticas e metodológicas que respondessem às necessidades de
aprendizagem dos alunos.
Esse mapeamento permitiu às escolas fazerem indicações mais precisas
sobre os aspectos dos processos de ensino e aprendizagem que onde deveria
haver maiores investimentos, de modo a permitir a escolha de temáticas de
formação para os horários coletivos.
Em 2007, foi realizada a primeira avaliação de sistema na Rede, apesar
de a legislação ter sido editada em 2005. Assim, além das avaliações bimestrais,
o Sistema de Avaliação de Aproveitamento Escolar, por meio da Prova São
Paulo, foi mais um instrumento de avaliação disponibilizado para Rede.
A respeito das Avaliações Externas, Libâneo (2008) considera:
“Na avaliação dos sistemas de ensino, embora também sejam avaliados os resultados obtidos pelos alunos (geralmente mediante a testes padronizados), a avaliação tem como objetivo fazer um diagnóstico mais amplo do sistema escolar e do conjunto de escolas, em âmbito nacional ou regional, visando a reorientar a política educacional, a gestão do sistema e das escolas e a pesquisa. Essa avaliação..., visa à obtenção de dados quantitativos e qualitativos sobre os alunos, os professores, a estrutura organizacional, os recursos físicos e materiais, as práticas de gestão, a produtividade dos cursos e dos professores etc, como objetivo de emitir juízos valorativos e tomar decisões em relação ao desenvolvimento da instituição.” (LIBÂNEO, 2008, p. 239)
Nesse sentido, a avaliação institucional – Prova São Paulo - teve como
objetivo levantar, a partir dos resultados dos alunos, o que os professores
estavam trabalhando, bem como se os materiais produzidos estavam chegando à
sala de aula, para que o sistema pudesse tomar decisões sobre a manutenção de
suas propostas de ação ou revê-las, quer seja na própria formação, quer na
produção de novos materiais de apoio à ação docente para a superação das
dificuldades de aprendizagem dos alunos. A Prova São Paulo não teve em sua
criação o objetivo de classificar ou mesmo de fazer um “ranking” das escolas mas,
47
a partir dos resultados, compreender qual é a distância ou a proximidade entre “o
que o ensino é” ou “o que deveria ser” e permitir ao Sistema, planejar intervenções
para o alcance das metas previstas.
No entanto, é necessário considerar que as Avaliações Externas não são os
únicos instrumentos para a composição de um diagnóstico da Rede.
Compreendemos também, que a avaliação feita pelo professor de modo
processual, tem objetivo bem diferente daquele esperado nas avaliações de
sistema. Essa avaliação visa identificar outros aspectos, pois leva em
consideração, os sujeitos que participam das atividades desenvolvidas, verificando
o que cada aluno já avançou, captando as dificuldades enfrentadas por cada um
dos alunos no transcorrer das atividades de ensino. A avaliação processual feita
pelo professor, deveria levar em conta as diferenças de aprendizagem que
existem na sala de aula. Nesse sentido, deveriam avaliar de maneiras diferentes,
porque avaliam sujeitos que são diferentes. A esse respeito Libâneo (2008), faz
as seguintes observações:
“A avaliação do aluno pelo professor precisa ter um caráter diagnóstico. A avaliação da aprendizagem precisa ajudar a identificar as disciplinas ou outros aspectos em que o aluno apresenta maiores dificuldades, como aparecem essas defasagens e, especialmente, por que elas aparecem.. Por exemplo, pais com baixa escolaridade, dificuldade econômica em casa, falta de apoio afetivo em casa ou na escola, podem provocar essas dificuldades nos alunos para vencerem as tarefas exigidas pela escola” (LIBÂNEO, 2008, p.253).
A SME vem elaborando, desde 2007, mapas das aprendizagens dos
alunos da Rede, como o quadro síntese a seguir, com os resultados das
proficiências em Português e Matemática, a partir das edições da Prova São Paulo
2007, 2008 e 2009. Nessa tabela, o desempenho dos alunos está descrito
utilizando-se a escala de Matemática do SAEB, cujas notas são padronizadas
em uma escala de 0 a 500 e indicadas através de competências e habilidades:
48
A SME adotou para a palavra competência, na Matriz de referência, o
mesmo significado dado pelo INEP (2002)17:
“...conjunto de ações e operações mentais que o sujeito utiliza para estabelecer relações com e entre os objetos , situações, fenômenos e pessoas que se deseja conhecer.” (SÃO PAULO (Município), 2007a).
As competências para a área de Matemática foram organizadas em três
grandes Grupos e estão descritas na Matriz de referência:
a) Grupo I: diz respeito ao reconhecimento, à manipulação e a utilização da representação numérica ou da linguagem simbólica. b) Grupo II: referem-se à manipulação de conceitos e algoritmos matemáticos que envolvem a leitura, análise e interpretação de informações de caráter quantitativo ou de relações qualitativas. c) Grupo III: estão relacionadas à tradução da situação apresentada para a linguagem matemática, seguida da escolha de uma estratégia para a solução do problema matemático e a interpretação das soluções obtidas. (SÃO PAULO (Município), 2007a).
Quadro 5: Resultados das avaliações da Prova São Pa ulo de Língua Portuguesa e
Matemática entre 2007 a 2009
Ano/Ciclo 18 200719
2008 2009
Profic. Média Profic. Profic. Profic. Profic. Profic.
LP Média Média Média Média Média
Mat. LP Mat. LP Mat.
3º Ano CI 127,7 133,9 130,8 140,3 144,9 140,8
4º Ano CI - 154,3 168,3 171,9 172
5º Ano CI 167 173,4 168,8 183,1 174,4 181.1
6º Ano CII - 181 191,3 188,6 191,3
7º Ano CII 209,8 210,3 198,5 206 199,1 200,6
8º Ano CII - 207,3 212,6 209,3 210,5
9º Ano CII 241 247,9 222,8 238,9 229 237,3
3ºPIC/ CI - 116,3 127 128,5 129,5
4ºPIC/ CI - 116,7 133,3 136 147,6
17 Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (INEP/MEC), Documento Básico do Enem – Exame Nacional do Ensino Médio,( Brasília, 2002, p.11). 18 Fonte: Núcleo de Avaliação da Secretaria Municipal de Educação, 2007-2009. 19 Em 2007 houve Prova São Paulo apenas no 2º e 4º anos do Ciclo I e 2º e 4º ano do Ciclo II.
49
O Quadro 5 mostra o nível de proficiência nas áreas de Língua
Portuguesa e Matemática entre os anos de 2007 a 2009, tendo como referência a
Matriz de Avaliação da Prova São Paulo editada em 2007. Os resultados de
Língua Portuguesa e Matemática apresentaram uma evolução gradativa de 2007 a
2009 no 3º ano do Ensino Fundamental I, passando de 127,7 em Língua
Portuguesa em 2007 para a 144,9 e em Matemática tivemos um aumento de
133,9 em 2007 para 140,8 em 2009. De 2008 a 2009, podemos dizer que não
houve mudanças em Matemática.
Outro aspecto que vale destacar na análise desses dados é que, apesar
de não termos a aplicação da Prova São Paulo em 2008 nos 4º anos, nos outros
anos de sua realização percebemos que houve avanços nas proficiências dos
alunos.
O mesmo aconteceu em relação às turmas do 5º ano e às turmas de PIC
3º e 4º anos. Porém, no Ensino Fundamental II, há uma oscilação nos resultados,
entre 2008 e 2009, principalmente no Ensino Fundamental II.
Outra forma de análise que merece ser observada nos três anos da
aplicação da Prova São Paulo, diz respeito ao avanço das aprendizagens ao longo
da escolaridade. Em 2007, as proficiências das turmas do 3º ano de Matemática,
era de 133,9, ao passo que essas turmas em 2008, agora no 4º ano,
apresentaram proficiência de 168,3 e em 2009, 5º ano, o índice passou a ser de
181,1. Assim, quando se olha para uma mesma turma longitudinalmente,
conseguimos observar que de um ano para outro, as turmas vão tendo um
aumento de proficiência.
Assim, observamos que a SME propôs duas grandes ações de
acompanhamento das aprendizagens: as avaliações diagnósticas bimestrais e a
Avaliação Institucional de Sistema.
Gostaríamos de encerrar este capítulo, mostrando o quadro 7 que
sintetiza as ações que a Secretaria Municipal da Educação veio desenvolvendo
ao longo desse período 2005 – 2009:
50
Quadro 6: Ações desenvolvidas por SME entre os anos de 2005 -2009
Ações da SME
Formação continuada de
CP e professores
Planejamento, acompanhamento
e avaliação na escola
Avaliaçõesinstitucionais
Programa Orientações Curriculares
Programa Ler e Escrever
Este quadro permite observar as interrelações entre os Programas e
Projetos da SME e a articulação entre eles, de modo que planejar, avaliar e
acompanhar, não poderiam deixar de se relacionar com a formação continuada
dos professores e Coordenadores Pedagógicos.
Porém, vale ressaltar que o Diretor, personagem fundamental para a
articulação dos programas e projetos que estão no interior da escola, participou da
formação, do acompanhamento e avaliação dos mesmos apenas em 2005. O que
não deixa de ser uma contradição, porque quando se tem uma Secretaria desse
tamanho, não inserir esse Diretor pode trazer um dificultador para a implantação
desses programas, visto que ele, não compreendendo o que está sendo proposto
e não participando das decisões, provavelmente não se empenhará para que os
projetos se instalem e possam também gerar novos frutos.
51
CAPÍTULO 3
DEFINIÇÃO DA ESCOLA E AS ESCOLHAS TEÓRICAS E
METODOLÓGICAS
Neste trabalho, apresentamos inicialmente as nossas inquietações
percebidas durante a trajetória profissional e como a partir delas surgiram as
questões dessa pesquisa. Em seguida, descrevemos as políticas de educação da
Secretaria Municipal de Educação de São Paulo entre o período de 2005 a 2009.
Depois descrevemos e analisamos os materiais elaborados com o objetivo de
definir uma proposta curricular para a cidade de São Paulo e diferentes materiais
de apoio à ação docente.
Neste terceiro capítulo, descrevemos o porquê da escolha da metodologia
do estudo de caso, até chegar à definição de uma escola dentre as 453
analisadas, ou seja, realizamos uma pesquisa para definir a escola em que seria
efetuada esta pesquisa.
3.1. A escolha da metodologia
Para desenvolver nossa pesquisa optamos pelo estudo de caso, tendo em
vista a singularidade da escola selecionada em relação à maioria das escolas da
Rede Municipal de São Paulo, quando considerados não apenas o desempenho
em 2009, mas, sobretudo, a evolução dos seus resultados na avaliação
institucional da SME entre os anos de 2007 a 2009.
O estudo de caso visa “compreender em profundidade o “como” e os “porquês” dessa entidade, evidenciando a sua identidade e características próprias, nomeadamente nos aspectos que interessam ao pesquisador. É uma investigação que se assume como particularística, que se debruça deliberadamente sobre
52
uma situação específica que se supõe ser única ou especial, pelo menos em certos aspectos, procurando descobrir o que há nele de mais essencial e característico e, desse modo, contribuir para a compreensão global de certo fenômeno de interesse.” (PONTE, 2011)
Muitos pesquisadores têm desenvolvido estudos sobre as dinâmicas
das escolas e de um grupo de professores sob a ótica do trabalho metodológico
do estudo de caso. Ponte (1994), por exemplo, considera que essa metodologia
deve descrever e analisar situações, proporcionando conhecimento acerca do
fenômeno estudado. O estudo de caso não tem apenas o objetivo de descrever e
analisar o caso, mas também, de certa forma, assume uma postura de avaliação
(Merriam,1998). Para sistematizar estes vários objetivos, Gomez, Flores &
Jimenez (1996), consideram que um estudo de caso deveria explorar, descrever,
explicar e avaliar.
Nesse sentido, nossa finalidade com este estudo, é a exploração,
descrição, análise e compreensão das práticas e rotinas das professoras do 3º
ano da escola selecionada e elaborar conjecturas a respeito do desempenho dos
alunos. Essas ações parecem estar de acordo com os objetivos descritos para o
estudo de caso. No entanto, para essa tarefa, apenas compreender não foi
suficiente. Foi necessário avaliar o trabalho das docentes do 3º ano à luz de
alguns referenciais a respeito do ensino e aprendizagem de Matemática, da
avaliação externa além das orientações curriculares e expectativas de
aprendizagem da SME.
No caso desta pesquisa, a idéia era identificar as condições de
planejamento, acompanhamento e formação dos profissionais envolvidos e que
poderiam ter contribuído para que essa escola alcançasse esses resultados
significativos no 3º ano do Ensino Fundamental I na avaliação institucional da rede
– Prova São Paulo.
Para que isso ocorresse, utilizamos a pesquisa documental que
coletava dados por meio de diferentes fontes: legislações que foram organizadas
para imprimir o tom dos programas e projetos desenvolvidos em um dado tempo
histórico, diferentes materiais escolares, que no nosso caso foram as rotinas
53
semanais de planejamento organizadas pelas professoras desses anos,
resultados de avaliações institucionais e processuais da escola pesquisada, de
modo a permitir a recuperação das práticas desenvolvidas pelas professoras e
perceber, se possível, o reflexo da formação no desenvolvimento profissional das
educadoras (CORSETTI, 2006).
Portanto, não se trata de olhar a história oficial, ou seja, aquela em que
os Programas e Projetos foram instituídos, mas fazer uma análise sobre como a
unidade escolar, e, nesse caso em particular, como as professoras
compreenderam e traduziram em ações as políticas da Secretaria de Educação
para o âmbito da sala de aula. Para tanto será feito a análise documental dos
materiais cedidos pela escola e pelas professoras e verificar a partir deles, como
se deu o trabalho dessas professoras em sala de aula.
Desse modo, esperamos que as conjecturas formuladas pudessem
indicar novas políticas públicas de desenvolvimento profissional (professores,
Coordenadores Pedagógicos, Diretores de Escola e Supervisores Escolares) e
novas formas de acompanhamento das aprendizagens dos alunos, para além das
avaliações institucionais.
3.2 Em busca de fundamentos teóricos – leituras e e scolhas
Quanto aos fundamentos teóricos, algumas das nossas escolhas
surgiram das discussões ocorridas no Grupo de Pesquisa “Formação de
professores que ensinam Matemática”, coordenado pelo professor Dr. Ruy C.
Pietropaolo que também orienta a presente pesquisa, no âmbito do Programa de
Pós-Graduação em Educação Matemática da Universidade Bandeirante de São
Paulo.
Relativamente aos conhecimentos de professores, nos referenciamos
em Shulman (1987). Esse pesquisador tem como princípio que, o processo de
formação de um professor que vai ensinar uma determinada disciplina, deverá
levar em conta a especificidade própria dessa área, ou seja, ele indicará a
54
necessidade de sondar o conhecimento desse professor na área em que vai atuar.
Para isso, ele identificará três vertentes do conhecimento do professor: o
conhecimento do conteúdo da disciplina, o conhecimento didático do conteúdo da
disciplina e o conhecimento do currículo.
Outro pesquisador, considerado em nossa análise, foi Imbernón (2009).
Ele considera que o professor não deve ser um mero técnico que desenvolve ou
implanta inovações prescritas pelo currículo, mas ele precisa se converter em um
profissional que participa ativa e criticamente no verdadeiro processo de inovação
e mudança, a partir do contexto em que ele vive, dentro de um processo dinâmico
e flexível. O autor ainda indica que a capacitação profissional reside também na
atitude desse professor ao planejar sua tarefa docente, se vendo como um
facilitador das aprendizagens, com a capacidade de incitar a cooperação e a
participação dos alunos.
Destacamos Zeichner (1997), outro pesquisador, que nos ajudou
durante o percurso da pesquisa, a partir da reflexão sobre a necessidade de se
compreender a natureza do processo de aprender a ensinar em diferentes
situações, ou seja, compreender as concepções e experiências que os
professores trouxeram e, ao mesmo tempo, compreender a influência que o local
de trabalho teve na organização das práticas docentes.
Além desses educadores que falam sobre o desenvolvimento
profissional dos professores, gostaríamos de incluir as ideias de Santaella (1998)
que discute a necessidade dos programas de formação levar em conta o campo
profissional, pessoal e social desse professor. Esses três elos devem estar
articulados, caso contrário se não houver essa articulação, um impedirá que os
outros avancem. O desenvolvimento profissional, o pessoal e social são as chaves
para que os professores possam experimentar um sentimento de poder, dentro do
trabalho docente.
Para a análise da Orientação Curricular e proposição de expectativas
de aprendizagem (SÃO PAULO (Município), 2007), buscamos compreender em
seus pressupostos por meio das categorias de Bishop (1991), ou seja,
55
procuramos identificar se os princípios do enfoque cultural de Bishop como
representatividade, formalismo, acessibilidade, poder explicativo e concepção
ampla e elementar, estariam presentes nesse documento de Orientação
Curricular.
Nossa opção por Bishop é que seu enfoque cultural permite uma
análise mais abrangente do currículo, pois abarca questões tanto da seleção e
organização dos conteúdos, como as relativas à aprendizagem.
A representatividade, no enfoque cultural de Bishop, é vista tanto na
perspectiva de seus valores, como na perspectiva de sua simbologia (Pires, 2004).
O formalismo traz a preocupação com o estabelecimento de relações entre o nível
informal e a introdução de um nível técnico, portanto mais formal. Acessibilidade,
no enfoque cultural, indica que é preciso levar em conta as capacidades
intelectuais dos educandos (Pires, 2004). O poder explicativo nessa perspectiva
traz a preocupação que a Matemática é um fenômeno cultural e que deve ser uma
rica fonte de explicações. E por último, que a concepção desse currículo segundo
Bishop, deve ser ampla e elementar e assim, ampliar os conhecimentos dos
alunos.
Além de Bishop, levamos em consideração alguns teóricos que nos
ajudaram na análise das atividades e das situações propostas aos alunos pelas
professoras, nos apoiamos, sobretudo, nos trabalhos de Lerner e Sadovsky (1996)
que trazem uma reflexão sobre a aquisição do pensamento numérico pelas
crianças, mostrando que elas têm hipóteses sobre a escrita dos números e que
não será seguida a ordem da série de um em um, mas sim no estabelecimento de
relações entre esses números, onde as crianças vão compreendendo o
funcionamento do Sistema de Numeração Decimal. Seus estudos indicam que as
crianças constroem diferentes critérios para comparar número, mesmo não
conhecendo a sua denominação, conhecem primeiro a escrita convencional das
potências de dez e utilizam esses conhecimentos, juntamente com a numeração
falada, para ir progressivamente se aproximando da escrita convencional dos
números.
56
Gostaríamos de considerar também as discussões de Gómez- Granel
(2007) que mostra em um de seus trabalhos, que o objetivo e finalidade do ensino
da Matemática é possibilitar uma reflexão sobre a necessidade dos alunos
dominarem e usarem significativamente a linguagem matemática, estabelecendo
uma relação de interação entre sintaxe e semântica. Entendemos a sintaxe como
toda expressão matemática que possui um significado formal intrínseco, no qual
estão inseridos os símbolos e os códigos específicos da área. A semântica está
ligada à construção dos significados dos conceitos que se deseja ensinar e a partir
desses significados, os alunos poderão traduzir esses conhecimentos em
linguagem simbólica.
Utilizamos também os estudos de Vergnaud (1990) sobre a teoria dos
Campos Conceituais para a discussão da resolução de problemas no Campo
Aditivo para discutirmos não só o Currículo prescrito pela SME, mas também as
atividades propostas pelos professores em suas rotinas de trabalho e nas
sondagens de problemas do Campo Aditivo.
Outra contribuição relevante para as nossas análises foi o trabalho de
Yackel, Cobb, Wood, Wheathey e Merkel (1991) que traz a importância da
interação social na construção do conhecimento matemático das crianças. Esse
artigo discute como as crianças constroem a sua própria matemática e mostra a
aprendizagem como uma atividade de resolução de problemas. Trata ainda da
interação professor-aluno e da interação aluno-aluno, indicando, por exemplo, que
a comunicação exige a negociação de intenções e depende da participação de
todos os envolvidos na classe, do respeito e do apoio das ideias que cada um
tenha e dessas negociações de sentido por todos. Do mesmo modo que Yackel,
Cobb, Wood, Wheathey e Merkel (1991), Quaranta e Wolman (2011) ainda
acrescentam que a interação grupal, o respeito ao próprio trabalho e ao trabalho
dos outros, a escuta do colega, a revisão de suas próprias ideias, devem ser um
propósito mais geral da escola e devem fazer parte do planejamento do professor,
ajudando-o a fazer escolhas dos fragmentos apresentados pelos alunos para
ampliar os seus conhecimentos.
57
Quanto à avaliação externa ou institucional, levaremos em conta o
trabalho de Nóvoa (1995) e de Libâneo (2008). Para esses autores a avaliação
externa pode ter um importante papel no processo de ensino - aprendizagem e na
formação dos professores, desde que seus resultados estejam suficientemente
articulados com os obtidos no interior da escola, de modo que façam sentido os
resultados obtidos com aqueles em que o professor propõe para acompanhar a
aprendizagem de seus alunos e avaliar o seu trabalho de ensino.
Levamos em conta também, na avaliação do desempenho dos alunos
em Matemática, a perspectiva de Buriasco e Soares (2008) que discutem a
importância de registrar, comparar e analisar a produção dos alunos e valorizar o
diálogo investigativo que os professores e alunos produzem durante a realização
das atividades propostas em sala de aula. Essas informações fornecem rico
material para o professor organizar o seu planejamento de aulas, fazer as
escolhas didáticas e ajudam na conversa sobre a própria matemática com o aluno.
3.3 A escolha da escola
Para selecionarmos a escola, ou seja, o caso a ser estudado foi
necessário analisar os indicadores de desempenho de 453 unidades escolares
que participaram da Prova São Paulo entre os anos de 2007 a 2009. A escolha foi
baseada em uma análise dos dados de proficiência dos alunos do 3º ano na Prova
São Paulo entre esses anos. Nosso objetivo ao analisarmos esses dados, com
uma variação de três anos, não era apenas levantar quais escolas tiveram os
melhores resultados, mas, sobretudo, observar a variação e verificar o ritmo de
crescimento dessas proficiências entre 2007 a 2009.
Quadro 7: Proficiências Médias de Matemática de 2007 a 2009
Síntese dos dados coletados
Ciclo 3º ano CI 5 ºano CI 7º ano CII 9º ano CII
SME 2007 133,94 174,2 210,29 247,88
SME 2008 140,3 183,1 206,0 238,9
SME 2009 140,8 181,1 200,6 237,3
20 Fonte: Boletim do Resultado da Prova São Paulo 2007, 2008 e 2009.
58
A primeira investigação que precisou ser realizada foi solicitar acesso aos
dados de proficiência dos alunos do 3ª ano do Ensino Fundamental I na área de
Matemática, da Prova São Paulo entre os anos de 2007 a 2009.
O quadro 8 mostra o nome da Diretoria Regional e o respectivo número de
escolas da região verificando, assim qual seria o universo pesquisado. As análises
foram feitas em escolas de 12 Diretorias Regionais de Educação: Butantã, Capela
do Socorro, Freguesia do Ó, Guainases, Ipiranga, Itaquera, Jaçanã/ Tremembé,
Penha, Pirituba, Santo Amaro, São Mateus, São Miguel Paulista.
Quadro 8: Número de escolas que seriam analisadas e m cada uma das DRE
Diretoria Regional de Educação Nº de escolas analisadas
Butantã 30
Capela do Socorro 34
Freguesia do Ó 33
Guainases 32
Ipiranga 34
Itaquera 32
Jaçanã/ Tremembé 38
Penha 37
Pirituba 54
Santo Amaro 32
São Mateus 50
São Miguel 47
Total 453
Em seguida, organizamos várias tabelas contendo o nome da escola e a
nota de proficiência de Matemática do 3º ano do Ensino Fundamental I dos três
anos: 2007, 2008 e 2009 e uma planilha para cada Diretoria Regional de
Educação - DRE.
Apesar da pesquisa basear-se no ano de 2009, a indicação da escola
deveria mostrar uma evolução nos resultados de proficiência de seus alunos,
nesses diferentes anos de aplicação da Prova São Paulo.
Após a análise dos dados, fizemos uma indicação de proficiência, de
modo a colocar um ponto de corte e proceder a uma segunda análise dos dados
59
de proficiência das escolas. O ponto de corte escolhido para as proficiências em
Matemática em 2009 foi 162 na escala SAEB. As escolas que obtiveram esse
índice na escala estariam próximas à proficiência média do 4º ano na área de
Matemática, conforme mostra o quadro abaixo:
Quadro 9: Proficiências Médias na área de Matemátic a - 2008
Ano de escolaridade21 Proficiência média
3º ano 140,3
4º ano 168,3
5º ano 183,1
6º ano 191,3
7º ano 206,0
8º ano 212,6
9º ano 238,9
As escolas com igual índice ou índice superior a este, estariam se
candidatando a serem objeto dessa pesquisa. Para esta segunda seleção, tivemos
as seguintes escolas em cada uma das Diretorias Regionais de Educação - DRE:
Capela do Socorro :
Quadro 10: Escola com 162 ou mais de proficiência n a DRE CS em 2009, na Prova São Paulo - Matemática.
Escola Ano da Prova São Paulo
Proficiência do 3º ano do Ciclo I em Matemática
Avanço da proficiência da U.E entre 2007 e 2009
U.E. 2007 130,7
U.E. 2008 148,7 Três Lagos
U.E.2009 164,1
33,4
Butantã :
21 Fonte: Relatório de análises Pedagógicas – Prova São Paulo 2008.
60
Quadro 11: Escolas com 162 ou mais de proficiência na DRE BT em 2009, na Prova São Paulo - Matemática .
Escola Ano da Prova São Paulo
Proficiência do 2º ano do Ciclo I em Matemática
Avanço da proficiência da U.E entre 2007 e 2009
U.E. 2007 115,9
U.E. 2008 164,8 Prof.Alipio Correa Neto
U.E.2009 166,2
40,4
U.E. 2007 129,2
U.E. 2008 147,2 Tarsila do Amaral
U.E.2009 164,8
45,6
São Miguel Paulista :
Quadro 12: Escola com 162 ou mais de proficiência n a DRE MP em 2009, na Prova São Paulo - Matemática
Escola Ano da Prova São Paulo
Proficiência do 3º ano do Ciclo I em Matemática
Avanço da proficiência da U.E entre 2007 e 2009
U.E. 2007 128,8
U.E. 2008 141,7 Euzébio da Rocha Filho
U.E.2009 170,0
41,2
Itaquera :
Quadro 13: Escola com 162 ou mais de proficiência n a DRE IT em 2009, na Prova São Paulo - Matemática
Escola Ano da Prova São Paulo
Proficiência do 3º ano do Ciclo I em Matemática
Avanço da proficiência da U.E entre 2007 e 2009
U.E. 2007
145,1
U.E. 2008 161,1 Bartolomeu de Gusmão
U.E.2009 166,9
21,2
Jaçanã/ Tremembé
Quadro 14: Escola com 162 ou mais de proficiência n a DRE JT em 2009, na Prova São Paulo - Matemática
Escola Ano da Prova São Paulo
Proficiência do 3º ano do Ciclo I em Matemática
Avanço da proficiência da U.E entre 2007 e 2009 U.E. 2007 148,4
U.E. 2008 157,8 Máximo de Moura Santos
U.E.2009 165,7
27,3
Ipiranga :
61
Quadro 15: Escolas com 162 ou mais de proficiência na DRE IT em 2009, na Prova São Paulo - Matemática
Escola Ano da Prova São Paulo
Proficiência do 3º ano do Ciclo I em Matemática
Avanço da proficiência da U.E entre 2007 e 2009
U.E. 2007 154,7
U.E. 2008 158,2 Cleómenes Campos
U.E.2009 175,4
20,7
U.E. 2007 115,5
U.E. 2008 141,7 General Osório
U.E.2009 174,6
59,1
U.E. 2007 127,5
U.E. 2008 160,0 Péricles E. da Silva Ramos
U.E.2009 173,6
48,1
Penha :
Quadro 16: Escolas com 162 ou mais de proficiência na DRE PE em 2009, na Prova São Paulo - Matemática
Escola Ano da Prova São Paulo
Proficiência do 3º ano do Ciclo I em Matemática
Avanço da proficiência da U.E entre 2007 e 2009 U.E. 2007 107,9
U.E. 2008 140,5 Edgard Cavalheiro
U.E.2009 166,6
58,7
U.E. 2007 126,1
U.E. 2008 132,8 Leonor Mendes de Barros
U.E.2009 174,3
48,2
U.E. 2007 146,0
U.E. 2008 158,9 Silvio Fleming
U.E.2009 168,0
22,0
62
São Mateus :
Quadro 17: Escolas com 162 ou mais de proficiência na DRE SM em 2009, na Prova São Paulo - Matemática
Escola Ano da Prova São Paulo
Proficiência do 3º ano do Ciclo I em Matemática
Avanço da proficiência da U.E entre 2007 e 2009
U.E. 2007 135,7
U.E. 2008 149,6 Imperatriz Dona Amélia
U.E.2009 170,6
34,9
U.E. 2007 0,0
U.E. 2008 0,0 Vila Prudente III
U.E.2009 163,3
Escola nova
U.E. 2007 135,1
U.E. 2008 138,4 Wlademir de Toledo Piza
U.E.2009 171,2
36,1
As regiões Freguesia do Ó, Guainases, Pirituba e Santo Amaro não tiveram
escolas com proficiência igual ou superior a 162 pontos.
A partir dessa referência de 162 pontos de proficiência na avaliação de
Matemática da Prova São Paulo de 2009, foram selecionadas 15 escolas na
cidade. Poderíamos simplesmente termos estagnado nesse ponto e realizado a
escolha da unidade educacional que obteve a maior proficiência em 2009 (EMEF
Cleómenes Campos). Porém, preferimos outro tipo de análise. Interessava
observar a evolução das aprendizagens dos alunos nos mesmos anos de
escolaridade ao longo das três edições da Prova São Paulo – 2007, 2008 e 2009 -
uma vez que isso poderia trazer mais elementos sobre o fazer pedagógico dos
professores para a melhoria das aprendizagens dos alunos.
A partir desses indicadores, a escola que possuía o melhor perfil para a
pesquisa era a EMEF General Osório, que fica na Diretoria Regional do Ipiranga,
possui, como vimos no quadro 9, 34 escolas sob sua jurisdição. A referida escola
está situada na Vila Califórnia, bairro que faz divisa com São Caetano do Sul. Este
bairro está entre os que surgiram em função da instalação da ferrovia Santos –
Jundiaí e de inúmeras indústrias que se instalaram principalmente na cidade de
São Caetano do Sul. Esta região cujas características lembravam um bairro
63
operário tinha como objetivo, atender as indústrias que se instalaram ao longo da
ferrovia. Atualmente, grande parte das indústrias fecharam ou se mudaram para
outras regiões, causando a alteração do perfil de seus moradores, ao invés de
operários, uma população ligada ao setor de serviços.
Apesar de não ser a escola com melhor desempenho na Prova São Paulo
em 2009, dentre as 15 escolas selecionadas, ela saiu do segundo menor índice
de proficiência em 2007 e chegou com o segundo melhor índice em 2009,
apresentando ao longo de três anos de trabalho, a melhor evolução nas
proficiências na área de Matemática, avançando 59,1 pontos.
Vejamos seus números em destaque:
Quadro 18: Proficiência de Matemática da Prova São Paulo e índice de avanço entre 2007 - 2009 .
Escola Ano da Prova
São Paulo
Proficiência do 3º ano do Ciclo I em Matemática
Avanço da proficiência da
U.E entre 2007 e 2009
U.E. 2007 115,5
U.E. 2008 141,7 General Osório
U.E.2009 174,6
59,1
Essa escola, segundo todo esse levantamento, parecia ter o perfil indicado
para este estudo de caso, de modo que pudéssemos fazer conjecturas a respeito
dos fatores que permitiram a ela alcançar este patamar de proficiência em
Matemática.
Faremos a seguir uma caracterização da escola para compreendermos o
seu perfil estrutural e levantarmos algumas características de sua clientela.
A escola possuía, na época da pesquisa, 46 educadores, sendo 16
professores do Ciclo I, 30 do Ciclo II, uma Diretora eleita pelo Conselho de Escola.
Apesar de haver dois cargos de Coordenador Pedagógico, apenas um deles
estava ocupado. A escola contava com 517 alunos, sendo 211 no Ensino
Fundamental I e 306 no Ensino Fundamental II, destes, 52 eram alunos do 3º ano
64
do EF. A escola ainda contava com 6 pessoas no quadro de apoio operacional, 5
no quadro de apoio administrativo e 2 Assistentes de Direção.
É uma escola pequena e funciona em apenas dois turnos diurnos: no
período da manhã, funciona o Ensino Fundamental I e à tarde o Ensino
Fundamenta II. Como há um espaço de tempo entre o horário de funcionamento
do Ensino Fundamental I e II, a escola organizou o horário de formação dos seus
professores, justamente nesse horário (11h30 às 13h), o que de certa forma é
bastante produtivo, pois é possível haver uma troca de informações sobre
desempenho de alunos e discutir as práticas desenvolvidas em sala de aula.
Os alunos estão dentro da faixa etária indicada para cada ano de
escolaridade. O IDH22 do distrito Vila Prudente como um todo, incluindo aqui a Vila
Califórnia que é de 0,867, considerado de nível elevado.
22 IDH – Índice de Desenvolvimento Humano: Índice chave dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas. Ele parte do pressuposto de que para aferir o avanço de uma população não se deve considerar apenas a dimensão econômica, mas também outras características sociais, culturais e políticas que influenciam a qualidade da vida humana.
65
CAPÍTULO 4
ORIENTAÇÕES CURRICULARES DA SECRETARIA MUNICIPAL
DE EDUCAÇÃO DE SÃO PAULO
A política educacional que a Secretaria Municipal veio desenvolvendo ao
longo de 2005 a 2009 foi baseada em quatro grandes eixos: as publicações legais,
a formação continuada, o acompanhamento e por último a produção de materiais.
Nas publicações legais destacamos a organização de leis, de decretos e
de portarias que permitiram que os Programas e Projetos se concretizassem.
Para a formação continuada levou-se em conta que o conhecimento
pedagógico não é absoluto e estrutura-se em uma graduação que vai desde o
conhecimento comum ao conhecimento especializado (IMBERNÓN, 2009). O
conhecimento especializado é aquele que une a ação de sala de aula com outros
conhecimentos que o professor acredita serem imprescindíveis aos seus alunos,
indo, portanto, para além do conhecimento das disciplinas. Reúne características
como a complexidade, a acessibilidade, a observabilidade e a utilidade social do
que se está ensinando. A formação continuada foi pensada para acontecer
inicialmente in lócus, com o objetivo de potencializar os conhecimentos da prática
desses professores e trazer para o coletivo da escola, as dificuldades e os acertos
do fazer pedagógico de cada professor, de modo a constituir um grupo
colaborativo, onde fosse possível refletir sobre as práticas que se desenvolvem na
escola (Imbernón, 2009).
Outro aspecto que diz respeito ao acompanhamento das aprendizagens
dos alunos foram as avaliações periódicas – bimestrais das aprendizagens,
também chamadas de sondagens, e avaliação externa por meio da Prova São
Paulo.
Para apoiar essas ações, além das descritas anteriormente, a SME
também produziu diferentes materiais. Faremos a seguir uma descrição e uma
análise desses materiais dentro da política desenvolvida.
66
4.1 Orientações Gerais para o Ensino de Língua Port uguesa e Matemática no
Ciclo I
O primeiro material produzido foi “Orientações Gerais para o Ensino de
Língua Portuguesa e Matemática no Ciclo I” em 2006. No tocante à Matemática
foram considerados fundamentais os seguintes objetivos:
• Identificar os conhecimentos matemáticos como meio para compreender a realidade, para estimular a curiosidade, a investigação e a capacidade de resolver problemas;
• Observar aspectos quantitativos e qualitativos presentes em diferentes situações e estabelecer relações entre eles, utilizando conhecimentos relacionados aos números, às operações, às medidas, ao espaço, às formas, ao tratamento das informações;
• Resolver situações-problema, a partir da interpretação de enunciados orais e escritos, desenvolvendo procedimentos para planejar, executar e checar soluções (formular hipóteses, fazer tentativas ou simulações), para comunicar resultados e compará-los com outros, validando ou não os procedimentos e as soluções encontradas;
• Comunicar-se matematicamente apresentando resultados precisos, argumentar sobre suas hipóteses, fazendo uso da linguagem oral e de representações matemáticas e estabelecendo relações entre elas;
• Sentir-se seguro para construir conhecimentos matemáticos, incentivando sempre os alunos na busca de soluções;
• Interagir com seus pares de forma cooperativa na busca de soluções para situações-problema, respeitando seus modos de pensar e aprendendo com eles. (SÃO PAULO (Município), 2006, p.42 e 43).
Quando analisamos mais profundamente as Orientações Gerais para o
Ensino de Matemática no Ensino Fundamental I, é possível perceber certa
identidade com os Parâmetros Curriculares Nacionais da área de Matemática para
as primeiras séries do Ensino Fundamental, principalmente em relação aos
objetivos gerais. Apenas um dos objetivos dos Parâmetros não foi contemplado
explicitamente no documento da Prefeitura que é o que trata da questão da
interdisciplinaridade: ”estabelecer conexões entre temas matemáticos de
67
diferentes campos e entre esses temas e conhecimentos de outras áreas
curriculares” (BRASÍLIA, MEC/SEF, 1997, p.33).
Este documento foi a primeira tentativa da Rede em organizar ano a ano
os conteúdos a serem trabalhados no Ensino Fundamental I, diferentemente dos
PCN de Matemática que fornecem indicações gerais para o 1º Ciclo (anos iniciais
do Ensino Fundamental I), mas não detalham o que se espera que seja ensinado
ano a ano.
Em relação aos conteúdos que foram indicados para serem ensinados no
Ensino Fundamental I, nota-se que eles estão em consonância com o que se
considera adequado para essa faixa da escolaridade segundo outros currículos
prescritos, como os PCN. Parece não haver discordância entre os educadores
matemáticos que números, procedimentos de cálculos envolvendo as quatro
operações, noções de geometria, medidas e o tratamento de informação, devem
estar presentes no ensino, como também a Resolução de Problemas, como eixo
metodológico.
A seguir, destacamos algumas expectativas de aprendizagem previstas
nesse documento para o 3º ano do EF, relativas ao tema Números e Operações,
uma vez que ele será objeto de análise neste trabalho.
� Desenvolver um sentido numérico compreendendo o significado de números pela análise de sua ordem de grandeza.
� Identificar, ler e escrever números naturais evidenciando a compreensão de algumas regras da escrita posicional como a formação de agrupamentos e o principio aditivo, que permite escrever o número 574 como 500 + 70 + 4.
� Identificar sequências numéricas e localizar números naturais escritos com três e quatro dígitos.
� Resolver problemas, expressos oralmente ou por enunciados escritos, envolvendo a adição e a subtração, em situações relacionadas aos seus diversos significados.
� Resolver problemas, expressos oralmente ou por enunciados escritos, envolvendo a multiplicação e a divisão, especialmente em situações relacionadas à comparação entre razões e à configuração retangular.
� Expressar verbalmente e por meio de registros os procedimentos de soluções de um problema, estabelecendo comparação com outros procedimentos, reconhecendo que uma mesma situação-problema pode ser resolvida por diferentes estratégias.
68
� Compreender os conceitos da divisão - repartir quantidades iguais e determinar quanto cabe - (SÃO PAULO, (Município), 2006, p.49 e 50).
Todas estas expectativas/objetivos causaram, num primeiro momento, um
grande impacto na Rede, pois as políticas educacionais anteriores deixavam a
cargo da escola a definição de seu currículo. Não havia um currículo na Rede que
indicasse o que era esperado para as aprendizagens dos alunos em cada ano do
Ensino Fundamental.
As discussões realizadas no âmbito da formação continuada dos
professores e dos Coordenadores, permitiram verificar que esses profissionais
foram gradativamente percebendo a importância de haver eixos curriculares
comuns, sobretudo para garantir uma identidade entre as turmas que estavam no
mesmo ano de escolaridade, permitindo uma identidade entre as escolas da Rede.
4.2 Orientações Curriculares e proposição de expect ativas de aprendizagem
de Matemática para o Ensino Fundamental
Em 2006 a SME propôs reorganizar das Orientações Curriculares e para
isso fez uma consulta à Rede. Organizamos uma versão preliminar do documento
que foi enviado a todas as escolas e submetida à análise de todos os professores,
que por sua vez enviaram suas observações para as Diretorias Regionais de
Educação, que produziram uma síntese de suas regiões. A SME elaborou uma
nova versão do documento incorporando as indicações dos professores, o que
causou uma maior identidade com as metas de aprendizagem para cada ano do
Ensino Fundamental para os diferentes blocos de conteúdos, pois permitiu uma
aproximação com o trabalho dos professores desenvolvidos em sala de aula.
Isso permitiu também uma discussão de significados para cada uma das
expectativas de aprendizagem que estavam propostas para cada ano,
estabelecendo um contrato de médio e longo prazo para o alcance das metas
propostas, muitas dessas, apesar de inseridas no plano dos professores, não
faziam parte do trabalho de sala de aula.
69
Para a discussão sobre os critérios que levaram a organizar o novo
currículo, podemos destacar os princípios do enfoque cultural de Bishop (1991): a
representatividade, o poder explicativo, a acessibilidade, o estabelecimento de
relações interdisciplinares e o formalismo.
O princípio da Representatividade para Bishop diz que os conhecimentos
do currículo devem contemplar uma diversidade de conteúdos, métodos de
investigação, de aplicação, de relações com outras áreas para que os alunos
possam percebê-los como ciência construída pela humanidade. Nesse sentido, o
currículo organizado explicita a necessidade de se levar em conta a relevância
social e cultural dos conteúdos:
“...uma das finalidades da escola é proporcionar às novas gerações, o acesso aos conhecimentos acumulados socialmente e culturalmente. Isso implica considerar que na definição das expectativas de aprendizagem que conceitos, procedimentos e atitudes são fundamentais para compreensão de problemas, fenômenos e fatos da realidade social e cultural dos estudantes do Ensino Fundamental”. (SÃO PAULO (Município), 2007b, p. 24).
Outro princípio adotado na organização curricular da SME foi o do poder
explicativo de Bishop: o currículo deve enfatizar a matemática como fenômeno
cultural, mas não como exclusivamente conceitual, formal e simbólico. O currículo
de Matemática como fenômeno cultural deve ser uma rica fonte de explicações
sobre os contextos em que ela se dá, sejam eles externos ou internos a essa área
de conhecimento.
Nesse currículo, adota-se também o princípio do formalismo em que
Bishop considera que o currículo precisa garantir aos alunos o levantamento de
hipóteses, de socialização de descobertas e conhecimentos, ou seja, o
estabelecimento de relações entre seus conhecimentos informais e os formais da
Matemática.
Pode-se perceber que Bishop se preocupou com a formação intelectual
dos alunos e com a potencialização da construção de habilidades comuns, para
além do caráter utilitário e prático dos conteúdos organizados, princípio esse que
também foi incorporado às Orientações Curriculares da SME. Nesse sentido, esse
70
currículo leva em conta a necessidade de desenvolvimento de habilidades como
as de investigar, estabelecer relações, argumentar, justificar, entre outras, uma
vez que estas habilidades são imprescindíveis para a comunicação Matemática.
Esses princípios, expressos no currículo, são fundamentais para que os
alunos possam perceber que se aprende matemática comunicando,
argumentando e justificando sobre os procedimentos de resolução das situações
propostas: muitas vezes os alunos ao explicitar o seu processo, acabam por
descobrir seus próprios erros. Por exemplo, alunos do 3º ano do Ensino
Fundamental I, ao compararem números com 3 e 4 algarismos, conseguem fazer
pequenas generalizações dizendo que números escritos com 4 algarismos são
maiores do que os com 3 algarismos, ou seja, conseguem perceber a magnitude
dos números representados.
Outro princípio de Bishop é o da Acessibilidade, também adotado pelas
Orientações Curriculares, pois levam em conta as capacidades intelectuais dos
estudantes sem, no entanto, reduzir o currículo a um mero exercício para simples
memorização. Ou seja, é preciso propor situações não conhecidas pelos alunos
para que possam resolvê-las, por meio um caminho a partir do repertório que ele
já possui.
Esse princípio está explicitado nas Orientações Curriculares da seguinte
forma:
“... uma expectativa só faz sentido se ela tiver condições, de fato, de ser construída, compreendida, colocada em uso e despertar a atenção dos alunos. No entanto, não se pode subestimar a capacidade dos estudantes, mediante conclusões precitadas de que um dado assunto é muito difícil ou não será de interesse deles” (SÃO PAULO, (Município), 2007b, p.24 e 25).
Convém destacar que nessas Orientações Curriculares há ênfase na
necessidade de se estabelecer conexões interdisciplinares. Para que haja
possibilidade de estabelecer conexões interdisciplinares, não se pode prescindir
dos conhecimentos disciplinares e da organização de sequências didáticas que
ajudem na construção de significados.
71
As Orientações Curriculares trazem também uma discussão sobre a
organização do trabalho do professor, de modo que ele possa planejar a
distribuição dos conteúdos da área de Matemática de forma equilibrada ao longo
de todo ano. Nela encontra-se uma sugestão de como o professor pode organizar
a distribuição dos blocos de conteúdo, servindo de referência para que ele possa
construir o seu próprio quadro, levando em conta o que ele já conhece de sua
turma e de suas necessidades de aprendizagens, de modo a permitir-lhe uma
melhor visualização do se pode trabalhar no decorrer dos bimestres.
No exemplo proposto (Anexo 1), procurou-se garantir a indicação de
expectativas de todos os blocos de conteúdos em cada bimestre .
Em relação às questões de natureza metodológica e didática, o
documento leva em conta as pesquisas na área de Educação Matemática que
podem contribuir para compreender melhor como os alunos pensam e como lidam
com o saber matemático construídos.
Além dos princípios de Bishop, esse currículo adota também outros
pressupostos que discutiremos a seguir. Um deles diz respeito às hipóteses de
como as crianças pensam sobre a construção do número. Sabemos que muitos
trabalhos têm discutido esse assunto, muitos deles trazem uma pergunta muito
relevante: “para que servem os números?”
Para responder a essa pergunta, sabemos hoje que muitas atividades que
são propostas podem contribuir para que os alunos encontrem a resposta a essa
pergunta. As atividades devem ajudar os alunos a fazer aproximações sucessivas
para a construção da idéia de número. Entre elas, temos as que utilizam o número
como memória de quantidade, permitindo que se diga o número de objetos,
compreendendo que o número falado representa exatamente a quantidade de
objetos de uma dada coleção. Outras atividades ajudam na aproximação da
memória de posição, o que contribui para que as crianças saibam evocar a ordem
com que um objeto aparece em uma lista ordenada. Outras atividades ainda
permitem às crianças perceberem que os números também podem ser utilizados
como códigos, como é o caso dos números de telefone, entre outros.
72
Outro aspecto importante diz respeito também à organização de
atividades que permitam aos alunos terem contato com números que são
familiares e frequentes. Os números familiares são aqueles em que aos alunos se
identificam, como por exemplo: o número que representa a sua idade, o número
de sua casa, o número do seu calçado etc, ao passo que os números frequentes
são aqueles bastante usuais na vida da criança, por exemplo, os dos canais de
televisão.
Além dessas questões relacionadas “para que servem os números?”, esse
currículo leva em conta as hipóteses que as crianças possuem sobre a escrita de
números. Esse currículo tem como princípio também que o professor deve ouvir o
que as crianças pensam sobre a construção dos números, sem dizer como é que
funciona o Sistema de Numeração Decimal, mas ajudá-los a perceber de que
forma ele é organizado.
Nesse sentido, é importante observar a coexistência de diferentes
conceitualizações pelas crianças do Sistema de Numeração Decimal:
“ O trabalho em sala de aula está assim envolvido pela provisoriedade: não só são provisórias as conceitualizações das crianças como também o são os aspectos do “objeto” que é colocado em primeiro plano, os acordos grupais que são fomentados, as conclusões que vão sendo formuladas, os conhecimentos que se consideram exigíveis” (LERNER, 1996, p.117).
As crianças também fazem observações sobre a escrita dos números e
utilizam estas observações para ir ajustando essas escritas às convenções do
nosso Sistema de Numeração Decimal. Sabemos hoje que as crianças vão
percebendo que, quanto mais algarismos um número tiver, maior ele será (Lerner,
1996). Quando comparam números de mesma grandeza, as crianças acabam
descobrindo nessa comparação, que números que tenham a mesma ordem de
grandeza, o maior número será aquele cujo algarismo da ordem maior for o maior
e assim ocorrerá sempre com a participação de cada um dos números nas ordens
subsequentes.
73
Outro aspecto importante para ressaltar é que muitos alunos nessa fase,
vão observando os números e a partir daí, passam a identificar e construir a ideia
de números. Utilizam a numeração falada para produzir suas escritas, ou seja, se
a criança é solicitada a escrever 432, ela se apóia na fala e produz 400302 ou
40032 ou mesmo 4032. Serão, portanto, as situações de comparação e discussão
sobre as escritas produzidas com outros colegas, que permitirão às crianças se
aproximarem da escrita convencional do nosso Sistema de Numeração Decimal.
Como afirma Moreno em seu trabalho sobre o ensino do número e do Sistema de
Numeração Decimal:
“Para escrever números dos quais ainda não conhecem a representação convencional, fazem uso desses saberes justapondo os símbolos que conhecem segundo a ordem que a numeração falada lhes indica” (MORENO, 2011, p.58).
Esses mesmos princípios também foram seguidos na Rede Municipal de
São Paulo, tanto nesse período, como nos períodos subsequentes.
Outro aspecto importante para ressaltar é que muitos alunos nessa fase,
vão observando os números e a partir daí, passam a identificar e construir a ideia
de números. Utilizam a numeração falada para produzir suas escritas, ou seja, se
a criança é solicitada a escrever 432, ela se apóia na fala e produz 400302 ou
40032 ou mesmo 4032. Serão, portanto, as situações de comparação e discussão
sobre as escritas produzidas com outros colegas, que permitirão às crianças se
aproximarem da escrita convencional do nosso Sistema de Numeração Decimal.
O segundo destaque diz respeito à compreensão dos significados das
operações. As Orientações Curriculares do Ensino Fundamental I foram
construídas levando em conta as contribuições de pesquisadores como Vérgnaud
(1990), que discute as dificuldades relacionadas a uma situação-problema. Os
alunos, ao resolverem as situações proposta, utilizam os conhecimentos
desenvolvidos em suas experiências anteriores e tentam adaptá-los às novas
situações propostas.
Os estudos de Vérgnaud sugerem que é importante trabalhar com um
conjunto de situações-problema envolvendo adição e subtração e outro conjunto
74
envolvendo multiplicação e divisão. Estas ideias foram organizadas em dois
grandes campos conceituais: o Campo Aditivo e o Campo Multiplicativo. No
Campo Aditivo está um conjunto de situações que podem ser resolvidas através
da adição ou da subtração. No Campo Multiplicativo está um conjunto de
problemas que podem ser resolvidos pela multiplicação ou pela divisão. A ideia do
trabalho com os Campos Conceituais é permitir que os alunos explorem um
conjunto de problemas que propiciem a construção de significados sobre as
operações, levando-os a verificar que uma mesma situação pode ser resolvida por
diferentes operações, dentro desse mesmo campo conceitual.
A Proposta Curricular traz, portanto, a ideia de organizar, na rotina de
trabalho da sala de aula, um conjunto de situações que permitam aos alunos
utilizar os conhecimentos que tem para resolver as novas situações propostas.
Para que isso possa acontecer, é preciso saber quais são as ideias
contidas nos diferentes Campos Conceituais. No Campo Aditivo temos:
• Problemas de combinação: estão associados à composição das
partes para se obter o todo, ou então, tendo o todo e uma das
partes, pode-se obter a outra parte.
• Problemas de transformação: estão associados a uma mudança
do estado inicial, podendo ser ela positiva ou negativa.
• Problemas de comparação: estão associados à ideia de
comparar quantidades ou medidas.
• Problemas de composição de transformação: são aqueles que
envolvem vários tipos de situações simultaneamente.
Para o Campo Multiplicativo temos os seguintes significados:
• Problemas de comparação: associados à ideia de dobro, triplo,
metade, terça parte, etc.
• Problemas de configuração retangular: associados à ideia de
produto de medidas.
• Problemas de proporcionalidade: associados à ideia de
comparação de razões.
75
• Problemas de combinatória: associados a essa ideia de
combinação (SÃO PAULO (Município), 2007b, p.140).
O terceiro aspecto abordado nas orientações metodológicas e didáticas da
Orientação Curricular, diz respeito aos procedimentos de cálculo utilizados na
resolução de problemas, de modo a trazer uma maior compreensão dos
significados para as operações.
A resolução de problemas demanda um domínio crescente dos recursos
de cálculos (Parra, 1996), de modo que os alunos possam escolher os
procedimentos apropriados àquela situação, encontrem resultados e validem suas
respostas.
O quarto aspecto abordado nas orientações metodológicas, diz respeito
ao conteúdo de espaço e forma, da mesma maneira que ela traz indicações claras
a respeito da construção do número pelas crianças, para este bloco de conteúdo,
acredita-se que as crianças também construam suas hipóteses a respeito do
espaço e das formas que circulam no seu cotidiano. Como diria Pires (2009):
“estruturação espacial pela criança se inicia, desde muito cedo, pela constituição de um sistema de coordenadas relativo ao seu próprio corpo. .... aos poucos ela toma consciência de movimentos de seu corpo, de seu deslocamento.” (PIRES, 2009, p.15)
O espaço, portanto, vai sendo percebido pela criança através do contato
que ela tem com os objetos, compreendendo aos poucos que ela é capaz de falar
sobre eles, mesmo não estando em contato com eles. Ela sai, portanto, de um
espaço perceptivo para um representativo. Além do trabalho com o espaço –
localização e movimentação de pessoas e objetos no espaço – há também a
preocupação com a representação dos objetos.
A preocupação com as forma dar-se-á pela visualização, ou seja, as
crianças, muito antes de entrarem na escola, reconhecem as figuras geométricas
76
como um todo, pelo que elas representam, não por suas propriedades. Como diria
Nasser (2000)23:
“O pensamento geométrico se desenvolve inicialmente pela visualização: as crianças conhecem o espaço como algo que existe ao redor delas. Os objetos são reconhecidos por suas formas, por sua aparência física e em sua totalidade, e não por suas partes ou propriedades. Por meio da observação e experimentação, os alunos começam a discernir as características de uma forma e a usar as propriedades que permitirão conceituar classes de formas”. (NASSER, 2000, p.20).
Depois desse processo de visualização ou de reconhecimento, os alunos
passam a analisar as características das formas e perceber algumas de suas
propriedades, somente depois disso é que passam a estabelecer interrelações
entre propriedades de uma forma com as de outra classe de formas.
O quinto destaque metodológico e didático vai para o tratamento de
informação. Esse conteúdo é de interesse dos alunos, uma vez que a mídia faz
uso constante desse tipo de apresentação de dados, principalmente em épocas de
eleição. O uso de tabelas e gráficos, principalmente para leitura, passa a fazer
parte do universo de conhecimentos dos alunos, muito antes deles virem para a
escola.
O que ocorre é que muitas vezes os alunos não sabem como organizar os
dados coletados em tabelas ou gráficos, mas pela observação de sua utilização na
mídia, eles sabem a que se destinam, o que de certa forma é um ganho, uma vez
que eles sabem a finalidade de seu uso, pois já construíram um significado sobre
a sua utilização, diferente de muitos conteúdos que são ensinados para as
crianças somente na escola, como é o caso dos algoritmos convencionais das
operações, cujo sentido está distante do seu cotidiano.
23 Nasser, Lílian, et al. Geometria segundo a teoria de Van Hiele. 3ªed. Instituto de Matemática/ UFRJ – Projeto Fundão, 2000.
77
4.3 Guias de Planejamento e Orientações Didáticas p ara o professor do 3º
ano do Ensino Fundamental
Outros materiais também foram produzidos, como os Guias de
Planejamento e Orientações Didáticas para os Professores do 3º ano – Vol. I e II,
4º ano e 5º ano do Ensino Fundamental I. Esses documentos guardam em si
todos os pressupostos teóricos descritos nas Orientações Curriculares e
Proposições de Expectativas de Aprendizagem.
Esses materiais foram organizados por blocos de conteúdos, ou seja,
números e operações, grandezas e medidas, espaço e forma e tratamento de
informação. Sua elaboração foi organizada em sequências didáticas buscando
dentro de cada ano de escolaridade, uma complexidade de tratamento para cada
conteúdo. Isto também acontece ao analisarmos os conteúdos organizados
verticalmente, que também guardam em si, uma complexidade entre um ano e
outro de escolaridade.
Como este trabalho tem como objetivo a análise das rotinas e práticas de
professoras do 3º ano do Ensino Fundamental do 9º ano e a sua relação com o
desempenho dos alunos na Prova São Paulo, focalizaremos a nossa análise dos
materiais produzidos pela SME neste ano de escolaridade. Nesse sentido a nossa
análise irá se concentrar nos Guias de Planejamento e Orientações Didáticas para
os Professores da 3º série do Ensino Fundamental de 9 anos – Vol. I e II (SÃO
PAULO (Município), 2007c).
Há nesse material uma grande preocupação com o trabalho de leitura, de
produção, interpretação e análise de escritas numéricas, uma vez que não é tão
simples para os alunos compreenderem que o nosso sistema de numeração é
posicional e aditivo. Nos materiais são propostas situações didáticas como:
� Análise da posição que os números ocupam dentro do
quadro numérico;
� Ditado de números que tem como objetivo fazer com
que os alunos possam pensar na escrita deles.
78
Exemplos para mostrar esse percurso de construção encontram-se no Vol. I do 3º
ano (2007, p. 152 e 153). Nesses exemplos, os alunos devem assinalar no quadro
os números que serão ditados pela professora.
Essa atividade proposta guarda em si o princípio de fazer com que os
alunos compreendam e busquem as regularidades dentro do Sistema de
Numeração Decimal, de modo que possam estabelecer relações entre as linhas e
as colunas. O propósito é fazer com que os alunos percebam que nas linhas a
sequência dos números caminha de um em um e que na coluna, a sequência
caminha de 10 em 10.
No volume do 3º ano – Vol. II (SÃO PAULO (Município), 2007c, p. 209)
pode-se identificar situações que visam dar continuidade ao trabalho iniciado no
Vol. I, porém trazendo um desafio maior aos alunos: além dos números serem de
maior grandeza, eles precisam do conhecimento das regularidades do quadro de
números para buscar conhecimentos que possibilitem o preenchimento das
lacunas. Será através da observação de regularidades que eles poderão
conseguir isso. Vejamos:
79
Nessa atividade, é preciso que as crianças retomem a ideia de que nas
linhas, a sequência é de um em um, ou seja, precisam saber que depois do 105,
temos o 106, depois o 107, que já estava escrito e em seguida o 108. Além disso,
é preciso lembrar que havia uma lacuna para ser preenchida antes do 105,
portanto, pode recorrer à sequência falada para essa tarefa. Para o preenchimento
da coluna onde se encontra o 107, os números que precisam ser completados são
aqueles que guardam uma diferença de 10 em 10, ou seja, se tínhamos registrado
107 mais 10 será 117 e mais 10 será 127. Os mesmos procedimentos serão
utilizados para o preenchimento das demais lacunas.
Aparentemente é uma atividade bastante simples, mas que ao explorar as
possibilidades de pensamento utilizada pelos alunos para encontrar as lacunas
deixadas, eles poderão ir buscar as regularidades que construíram ao observar o
quadro numérico dos números entre 1 e 100.
“As regularidades aparecem ou como justificativa das respostas e dos procedimentos utilizados pelas crianças – ao menos para algumas delas – ou como descobertas que é necessário propiciar para tornar possível a generalização de determinados procedimentos ou a elaboração de outros mais econômicos. A análise de regularidades da numeração escrita é – como todos sabemos – uma fonte insubstituível de progresso na compreensão das leis do sistema por parte das crianças” (LERNER, SADOVSKY, 1996, p 117).
80
No Guia de Orientações Didáticas para Professores do o 3º ano há ainda
situações propostas onde a calculadora é utilizada para a produção de números,
uma vez que ela pode proporcionar uma reflexão sobre o valor posicional dos
algarismos .
Há ainda situações, nesse documento, onde o uso do dinheiro aparece
como recurso para que os alunos estudem os números, estabelecendo, por
exemplo, a relação de proporcionalidade existente entre as cédulas ou resolvendo
situações de composição e decomposição dos valores do dinheiro, fazendo uso
dos princípios aditivos e multiplicativos.
“Trabalhar com números inseridos no uso que socialmente se faz deles – quer dizer, com os números representando preços, idades, datas, medidas,... – é fundamental, não só porque lhes outorgamos sentido, mas também porque torna possível entender como funciona em diferentes contextos. Trabalhar com os números fora de contexto também é significativo, porque os problemas cognitivos que se formulam são os mesmos que aparecem nas situações contextualizadas e porque a interação com os números sem qualquer relação contextual coloca em primeiro plano que se está trabalhando sobre o sistema de numeração, quer dizer, sobre um dos objetos que a escola tem a missão de ensinar e as crianças a missão de aprender” (LERNER, SADOVSKY, 1996, p.124).
Outro aspecto que também é tratado nesse material é o trabalho com a
resolução de problemas, discutindo de forma sistemática com o professor a
necessidade de colocar os alunos para falarem sobre suas estratégias de solução,
de modo a possibilitar a ampliação da capacidade e do repertório de cálculo dos
alunos.
Para isso, precisamos ajudar os alunos a ampliarem a capacidade de
pensar nos diferentes significados ou na natureza desses problemas. Segundo
Gerard Vergnaud (1990), para que os alunos dominem as diferentes estruturas
aditivas, eles precisam saber resolver diversos tipos de situações-problema, tanto
situações que envolvam problemas de adição ou de subtração, como situações
que envolvam as operações de multiplicação e divisão.
As situações que podem ser resolvidas utilizando as operações de adição
ou de subtração são organizadas dentro do Campo Aditivo, vejamos um exemplo:
81
“Seu Gaspar está levando uma caixa com 39 livros doados à biblioteca da escola: são 14 livros de aventura e os demais de poesia. Quantos livros de poesia estão dentro da caixa?” (ideia de composição); Paulo e Gisela estão colecionando figurinhas. Paulo tem 26 e Gisela 15. Quantas figurinhas Gisela deve conseguir para ter o mesmo número de Paulo? (ideia de comparação); Mariana colou 20 novos adesivos em sua coleção e ficou com 32 no álbum. Quantos adesivos tinha antes de colar os novos? (ideia de transformação). (SÃO PAULO (Município), 2007c, p. 186 e 187).
A importância do trabalho com os Campos Conceituais, nesse caso particular o Campo Aditivo, acontece principalmente porque:
“... Por mais simples que seja um conceito trabalhado, ele não emerge apenas de um tipo de situação, assim como uma simples situação sempre envolve mais que um único conceito” (MAGINA, CAMPOS, NUNESE GITIRANA, 2008, p. 7)
Cabe também ressaltar que esses problemas devem ser apresentados ao
longo de todo o Ensino Fundamental, uma vez que há diferentes competências
cognitivas que estão em jogo nessas situações:
“Fica claro que a competência para resolver problemas aditivos é desenvolvida num longo período de tempo, o que implica dizer que problemas que envolvem as operações de adição e subtração devem ser trabalhados durante todo o Ensino Fundamental. ... é preciso que o professor esteja atento para as dificuldades que são inerentes aos tipos de situações, de maneira a não ficar apenas repetindo, ao longo da formação inicial do estudante, problemas que requeiram dele um único raciocínio. (MAGINA, CAMPOS, NUNES, GITIRANA, 2008, p. 21).
No Vol. II (2007), aparecem outras situações onde os alunos precisam
decidir qual ou quais números poderiam ser colocados nas lacunas para que os
problemas possam ser resolvidos. Essas proposições ainda não possuem
perguntas, mas a ideia é que possam compreender que problemas precisam de
dados e perguntas para que possam gerar uma situação que deva ser resolvida.
Vejamos um deles:
“Da caixa que tinha _________ bombons, Juliana deu __________ para Fernanda e ____________ para Laura. Juliana ficou com 56 bombons.” (SÃO PAULO, (Município), 2007 d, p. 235)
82
Nesse Vol. II (2007) também há uma forte preocupação com a linguagem e
a interpretação dos problemas, de forma que as situações didáticas apresentadas
possam favorecer a compreensão e a resolução dos problemas apresentados aos
alunos:
“- a discussão, a interpretação e o entendimento dos enunciados;
- a identificação dos dados necessários e os que podem ser descartados;
- a percepção de diferenças entre dados e incógnita;
- a elaboração de problemas que façam sentido;
- a discussão dos procedimentos utilizados para resolver o problema;
- a confrontação de diferentes soluções, verificando a mais eficiente.”
O conceito que está presente é da investigação matemática, ou seja, é
necessário que o aluno possa investigar as situações propostas, tendo um papel
ativo nessa mobilização, como diria PONTE, BROCARDO E OLIVEIRA (2003): o
aluno aprende quando mobiliza recursos cognitivos e afetivos para poder alcançar
o objetivo, portanto ao ser chamado para discutir, identificar, perceber diferenças
entre dados e incógnitas, apresentar e falar sobre as soluções encontradas, ou
argumentar com colegas e professores sobre a sua solução, defendendo seus
pontos de vista, ele estará fazendo uma investigação matemática.
No Guia de Planejamento e Orientações Didáticas para o 3º ano, Vol. II,
podemos identificar situações-problema que envolve também os significados do
Campo Multiplicativo, organizados em quatro agrupamentos diferentes:
proporcionalidade, configuração retangular, comparação e combinatória.
Destacamos a seguir diferentes exemplos das ideias do Campo
Multiplicativo:
“Preciso fazer 8 pacotes de balas para levar a uma festinha de aniversário. Se vou colocar 10 balas em cada pacote, quantas balas terei de comprar? (Ideia de proporcionalidade)”; Numa sala de aula as carteiras estão organizadas em 5 fileiras iguais. Em cada fileira há 7 carteiras. Quantas carteiras há na sala? (ideia da configuração retangular); Julia ganhou 3 reais. Marta ganhou o dobro dessa quantia e Joana o triplo do que ganhou
83
Marta. Qual a quantia que Joana ganhou? (ideia de comparação); Jaqueline vende em sua sorveteria 8 sabores diferentes de sorvete e 4 tipos de caldas. Quantas combinações de sabores de sorvete ela poderá fazer, usando para cada sabor uma única calda? (“ideia da combinatória)” (SÃO PAULO (Município), 2007d, p. 262, 263, 265 e 268)
Se tomarmos como referência os PCN Matemática (1997) podemos
perceber que a organização desse material levou em conta a necessidade das
crianças em compreenderem os significados das operações, a entenderem que
um mesmo problema pode ser resolvido por diferentes operações, assim como
uma mesma operação poder estar associada a diferentes significados dos
problemas.
Na organização desse material, também foram levados em conta o
tratamento da informação e o trabalho com espaço e forma. O trabalho com
grandezas e medidas aparece basicamente com o sistema monetário. Como a
nossa análise incidirá nos instrumentos de acompanhamento das aprendizagens
dos alunos (sondagens de números e de resolução de problemas do Campo
Aditivo), estes outros conteúdos não farão parte dessa análise.
4.4 Matrizes de referência da avaliação – Prova São Paulo
O último material de análise deste capítulo diz respeito às matrizes de
referência para a avaliação do Rendimento Escolar. Como já explicitado, as
primeiras Matrizes de Referência foram elaboradas em 2007, na Secretaria
Municipal de São Paulo. Essas matrizes tinham como objetivo contribuir com a
gestão do Sistema de Ensino, pois a avaliação da aprendizagem dos alunos é um
indicador fundamental para as ações de intervenção em curto, médio e longo
prazo nos processos de ensino e aprendizagem e da formação contínua de
professores.
Para a construção da matriz de referência, era preciso que a Rede já
tivesse elaborado uma base curricular (Orientações Curriculares e Expectativas de
Aprendizagem) comum para todas as escolas da Rede. Depois dessa etapa,
84
passou-se, então, à definição das habilidades e competências que seriam
avaliadas pela Prova São Paulo, avaliação externa do Sistema de Ensino da
Rede.
Entende-se por competências cognitivas:
“ as modalidades estruturais da inteligência, ou seja, o conjunto de ações e operações mentais que o sujeito utiliza para estabelecer relações com e entre os objetos, situações, fenômenos e pessoas que deseja conhecer” (SÃO PAULO (Município), 2007a, p. 9).
Entende-se por habilidades:
“as associações entre conteúdos e competências. Funcionam como indicadores ou descritores do que os alunos devem demonstrar como desempenho e permite concluir se houve de fato aprendizagem e em que nível ela ocorreu” (SÃO PAULO (Município), 2007a, p. 9).
A partir dessa definição podemos concluir que as habilidades devem ser
objetivas e permitir uma medição.
Outro aspecto importante a ser destacado é que as Matrizes de Avaliação
são partes das Expectativas de Aprendizagens, uma vez que são elas que
definem as bases curriculares do ensino (SÃO PAULO, (Município), 2009).
Cabe também levantar uma preocupação já que muitos Sistemas de
Ensino que adotam essas avaliações externas para “medir” o avanço das
aprendizagens dos alunos, acabam por adotar as Matrizes de Avaliação como a
base curricular do seu sistema. Isto traz um empobrecimento para o currículo,
visto que muitas situações de ensino são possíveis de serem avaliadas em uma
prova objetiva e com questões de múltipla escolha. Podemos ilustrar que nas
situações organizadas em sala de aula para desenvolver o cálculo mental,
obviamente são impossíveis de serem avaliadas nesse tipo de prova, mas nem
por isso devem ser excluídas da base curricular.
A grande parte dos documentos produzidos pela SME tinha como objetivo
subsidiar o desenvolvimento do trabalho do professor na organização de suas
atividades de ensino. Nesse sentido, a Matriz de Avaliação como já explicitado
anteriormente, pode possibilitar a avaliação de apenas um recorte das
85
Expectativas de Aprendizagens e poderá olhar também alguns aspectos
abordados nos demais documentos. O foco da maioria dos documentos
produzidos para o apoio das ações do professor está no ensino e a Matriz da
Avaliação tem como seu foco principal a avaliação do Sistema, portanto com
objetivos muito diferentes.
4.5 Possibilidades e restrições da avaliação extern a
A avaliação do Ensino Fundamental no Brasil, por meio do desempenho
dos alunos em provas elaboradas por instituições externas à escola, tem
provocado muita polêmica no meio educacional, seja pela suposta inadequação
dos testes, seja pela forma como serão utilizados seus resultados ou até mesmo
pelo ceticismo de muitos educadores quanto às mudanças efetivas frente a mais
um diagnóstico – sempre muito ruim – da escola pública.
Entretanto, ainda que se conclua ser desnecessário esse tipo de
avaliação, não se pode deixar de considerar que o péssimo desempenho de
nossos alunos nestas provas tem colaborado para mudanças, pelo menos no
discurso dos governantes, nos programas de alguns partidos políticos e nas
prioridades das agências financiadoras de pesquisa.
Apresentamos algumas considerações sobre indicadores quantitativos
do Ensino Fundamental no Brasil, uma análise de uma das experiências sobre
Avaliação Externa, procurando configurá-la à luz de novos referenciais teóricos
que tomam as escolas e seu funcionamento como referência e objeto de pesquisa,
nos quais se enquadram os estudos recentes de Nóvoa (Nóvoa, 1995).
Não há dúvida que nas últimas duas décadas houve no Brasil uma
efetiva expansão das oportunidades de acesso ao Ensino Fundamental, pois,
ainda que tardiamente, mais de 90% das crianças de 7 a 14 anos conseguem,
86
pelo menos, iniciar a 1ª série, embora pouco mais de 35% concluam o Ensino
Fundamental24.
É fato também conhecido, que esta expansão quantitativa – aquém da
ideal, pois aproximadamente dois milhões de crianças em idade escolar estão
ainda fora da escola – não foi acompanhada por mudanças de forma a assegurar
um padrão de qualidade pelo menos razoável e responder às exigências de um
desenvolvimento eficiente, socialmente democrático e justo. O próprio Ministério
da Educação indica na introdução de seu documento sobre o Sistema Nacional de
Avaliação da Educação Básica que:
"... houve esgotamento da política educacional, dominante nos anos setenta e oitenta, que enfatizava a expansão da infra-estrutura escolar, a incorporação acelerada dos recursos humanos muitas vezes precariamente qualificados e a provisão de assistência ao educando mais pobre". (BRASÍLIA. INEP/SAEB, 1995)
No entanto, ainda que o acesso ao ensino fundamental esteja garantido
à maioria da população, não se pode dizer que houve ações para garantir a
permanência, sobretudo no Ensino Médio.
"Os efeitos acumulados da baixa produtividade do sistema se refletem na reduzida escolaridade média da população maior de 15 anos e no grande contingente de adolescentes e adultos subescolarizados que encontram dificuldades de incorporação social e econômica". (BRASÍLIA. INEP/SAEB, 1995)
As elevadas taxas de evasão e repetência são inaceitáveis tanto do
ponto de vista pedagógico como do social e, evidentemente, improdutivo do ponto
de vista econômico. Só no estado de São Paulo existem 700.000 alunos no
Ensino Fundamental que se encontram na faixa etária de 15 a 18 anos ou mais.
São jovens que, ao contrário do que se apregoa, valorizam a passagem pela
escola e poderiam ter maiores oportunidades de melhoria profissional se
estivessem frequentando o Ensino Médio.
No entanto, a falta de habilitação formal dos professores brasileiros no
Ensino Fundamental, está sendo aos poucos minimizada. Embora venha
24 Estes indicadores fornecidos pelo SEEC/MEC foram obtidos pelas Secretarias Estaduais de Educação e/ou IBGE.
87
crescendo o número de professores habilitados para o ensino, persiste um
desempenho muito fraco em decorrência do esgotamento dos modelos de
formação inicial e da inadequação da formação continuada.
As estratégias pensadas e divulgadas por alguns estados para diminuir
sensivelmente as altas taxas de evasão e repetência, como a progressão
continuada, organização das séries em ciclos, composição das classes
basicamente por faixas etárias, instrumentalização do professor e da escola para
trabalhar grupos heterogêneos, não são absolutamente suficientes apesar de
necessárias. Parece ser consensual que para se conseguir melhorar os índices e
a qualidade que se deseja, é fundamental a valorização da carreira dos
profissionais de educação ao lado de maior autonomia financeira, pedagógica e
administrativa da Escola, de forma a consolidar o projeto pedagógico de cada
uma.
Alguns educadores também consideram que, para ocorrerem as
mudanças desejadas no padrão de gestão das escolas, é fundamental que estas
adquiram autonomia e, neste sentido, o papel da avaliação externa poderia ganhar
força como uma das possíveis contrapartidas dessa aquisição.
Muitos desses educadores que defendem a existência de avaliações
externas como o SARESP, Prova São Paulo e SAEB, consideram que essas
avaliações, além de fornecer indicadores para discussões pela sociedade sobre a
qualidade do ensino, indicando pontos frágeis à administração, podem trazer
importantes informações para o professor e para a escola (Pietropaolo, 1999).
Neste aspecto, Nóvoa (1995) destaca que a devolução dos resultados
da avaliação externa, se bem conduzida, poderá contribuir para uma interação
entre todos os envolvidos no processo educativo através do diálogo e da reflexão
sobre a produção individual e coletiva. Assim, a avaliação terá uma dimensão
formativa.
Para Nóvoa (1995) é preciso separar as modalidades de avaliação –
externa e interna – apesar das necessárias articulações. Considera,
fundamentalmente, que a avaliação externa ao ser geralmente decidida por razões
88
de ordem institucional, visando o controle organizacional ao nível do ensino, deve
ser associada à dinâmica de desenvolvimento, sobretudo com o objetivo de:
� produzir conhecimento novo a partir de um olhar externo; � identificar as práticas institucionais e as eventuais mudanças
que podem ser introduzidas; � promover a articulação com a avaliação interna visando o
acompanhamento e a regulação da construção de um projeto coletivo de escola. (NÓVOA, 1995).
De modo geral, reiteramos o que esses educadores, e em especial
Nóvoa (1995), colocam a respeito da avaliação externa. Entretanto, há de se
considerar que ela não poderá por si só provocar as mudanças na qualidade do
ensino e muito menos diminuir os elevados índices de evasão; alguém já disse,
muito apropriadamente, que um doente não melhora apenas com as sucessivas
medições de sua temperatura. É preciso muito mais que isso.
Desse modo, é preciso levar em conta alguns condicionantes a respeito
das avaliações padronizadas do rendimento do aluno, sem os quais os resultados
destas dificilmente provocarão impacto necessário para ocorrerem mudanças. É
fundamental considerar a participação dos docentes neste processo, assim como
o envolvimento da comunidade, uma vez que as inovações educacionais em redes
escolares regulamentadas por regimes altamente burocratizados e centralizadores
têm provocado poucas alterações no cotidiano da escola, pois os docentes, que
são os principais agentes das mudanças, sentem-se descompromissados com as
propostas para as quais não colaboraram (BARRETTO, 1994).
Outro aspecto que precisa ser considerado na avaliação externa é que
ela não poderá se constituir no principal parâmetro para o trabalho docente pois,
desse modo, corre-se o risco de se ter o Ensino Fundamental voltado para ela,
como o Ensino Médio em função do vestibular – a organização curricular se
tornaria menos flexível e provavelmente não atenderia a ampla especificidade dos
estudantes. Sabemos também que para os sistemas de ensino é mais econômico
– e não menos eficiente – realizar a avaliação externa em uma amostra
representativa, porém as escolas podem não se sentirem representadas nesta
amostra e, desse modo, as provas e resultados poderão não ter uma dimensão
89
formativa, o que implicaria promover uma ampla discussão entre os envolvidos
sobre a forma de utilizá-los nas escolas não avaliadas (PIETROPAOLO, 1999)
Acreditamos que apesar de ser benéfico o estabelecimento de uma
cultura avaliativa, não poderá favorecer e/ou estimular competitividade entre as
escolas, pois em vez de assegurar melhores condições para que as escolas
promovam um projeto educacional consistente, podem dar margem a que as
escolas possam intensificar os mecanismos de seleção que já ocorrem em seu
interior, adotando veladamente aquelas formas de triagem empregadas pelas
escolas particulares (BARRETTO, 1994).
Discutimos que a avaliação externa deve ter uma função orientada para
a ação e para a tomada de decisões e reveste-se hoje de uma importância
estratégica na organização do currículo e aperfeiçoamento das escolas.
Assim, a avaliação externa tanto pode fornecer indicadores necessários
para a formulação, reformulação e monitorização de políticas públicas como ter
uma dimensão formativa no âmbito da unidade escolar, principalmente para que
os educadores, pais e comunidade, se engajem em um projeto coletivo de
construção da identidade de sua escola (NÓVOA, 1995).
Nesse sentido, a avaliação dos sistemas de ensino colabora para o
levantamento de dados sobre a gestão da educação, a fim de subsidiar a melhoria
dos projetos pedagógicos das escolas e indicar informações mais precisas sobre a
melhoria da avaliação que é desenvolvida pela própria escola.
Cabe também lembrar que muitas vezes pode-se perceber que os
sistemas se estruturam a partir de textos legais e fazem indicações do que as
escolas devem fazer a partir dos resultados levantados. Porém, há sistemas em
que as escolas, após terem seus resultados indicados pelas avaliações externas,
têm a possibilidade de reinterpretação das decisões indicadas pelos órgãos
centrais e construírem seus projetos com maior autonomia. (MOREIRA E SORDI,
2011).
Esta proposta também poderia ser utilizada pela própria Rede
Municipal, ou seja, a Prova São Paulo foi criada também com o objetivo de
90
fornecer ao sistema informações sobre o desempenho dos alunos, de modo que
os envolvidos no processo educacional reflitam sobre os problemas de ensino e
aprendizagem e tomem decisões sobre a melhoria da qualidade da educação
(LIBÂNEO, 2008, p. 252).
Porém, os resultados da Prova São Paulo, são pouco utilizados pelas
escolas da Rede, pois eles infelizmente ainda não fazem sentido para os
professores. Para eles, esses resultados consideram que as dificuldades de
aprendizagem dos alunos, de um modo geral, decorrem de fatores externos à
escola, como desestrutura familiar, pobreza e condições de sobrevivência das
famílias e à indisciplina.
Não queremos dizer que não haja fatores externos que influenciem o
desempenho dos alunos nas avaliações institucionais, mas precisamos também
olhar na dimensão do fazer pedagógico das unidades educacionais que pode ser
transformado no âmbito das próprias escolas. Recorreremos a Libâneo para nos
ajudar nessa reflexão, quando ele indica que seriam tomadas algumas medidas
pelas escolas para enfrentar os problemas da avaliação:
“Provocar reflexões conjuntas dos professores sobre suas preocupações na sala de aula, dificuldades que estão enfrentado, fatores que prejudicam o andamento das aulas; Ligar a “teoria” sobre a avaliação com o saber-fazer a avaliação; Definir com clareza as competências do professor e saberes para diagnosticar, compreender e atacar as causas dos insucessos escolares; compreender que a avaliação é instrumento, ela apenas dá indícios de onde estão os problemas de aprendizagem, par melhorar o ensino” (LIBÂNEO, 2008, p. 253).
Para que isso ocorra, seria necessário que esses resultados fossem
discutidos pelos professores e pela equipe escolar. Um dos motivos pelo qual as
discussões podem não ter sido realizadas é o fato dos professores não terem
participado do processo de reflexão sobre a necessidade e pertinência da
realização dessas avaliações. A não compreensão do que sejam habilidades e
competências e nem a sua relação com as expectativas de aprendizagem, podem
também ter contribuído para isso. Por sua vez, a SME não ofereceu uma formação
91
específica para que as escolas e suas equipes compreendessem a finalidade da
avaliação externa e seus pressupostos.
Pensar nesse processo deve ser um compromisso de todos da SME em
dar as condições necessárias para que as escolas possam desenvolver seus
projetos pedagógicos ao identificar as necessidades e demandas de
aprendizagens de seus alunos, e em articular esses projetos com as diretrizes
educacionais propostas.
92
CAPÍTULO 5
A PESQUISA NA ESCOLA: OS INSTRUMENTOS DE
PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO PARA A ORGANIZAÇÃO DO
TRABALHO DOCENTE
Nesse capítulo, descrevemos inicialmente os procedimentos utilizados
para a obtenção dos dados desta pesquisa: na observação sobre a organização e
gestão da escola, nas entrevistas com a equipe gestora, nas entrevistas com as
professoras do 3º ano do EF, nas leituras dos documentos sobre as rotinas de
planejamento das professoras e dos instrumentos de avaliação processual a
respeito do ensino e aprendizagem de Números e dos significados das Operações
envolvendo o Campo Aditivo.
Após essa descrição e as justificativas dessas escolhas, passamos à
análise dos dados visando a compreensão dos pontos de vista dos gestores e das
professoras a respeito de suas práticas e das aprendizagens dos alunos,
interpretando os documentos analisados à luz dos teóricos escolhidos e de nossas
vivências.
Em síntese, procuramos analisar de modo sistemático todos os elementos
que pudessem responder satisfatoriamente às questões desta pesquisa:
� Quais são as práticas e rotinas das professoras do 3º ano do Ensino
Fundamental de uma escola cujos alunos obtiveram desempenhos
considerados satisfatórios nos resultados em Matemática na Prova
São Paulo?
� Nessas práticas, as professoras levaram em conta as orientações
curriculares da Secretaria Municipal de Ensino de São Paulo?
93
5.1 Procedimentos metodológicos
Reiteramos que após identificar a escola que seria objeto de nossa análise,
levantamos todos seus dados disponíveis na SME, como número de alunos,
classes e professores, turnos de funcionamento e organização do Ensino
Fundamental. Nesse levantamento, verificamos que apenas duas professoras
trabalhavam no 3º ano do Ensino Fundamental, série essa que é objeto de nossa
investigação. Além disso, levantamos as características do entorno da escola tais
como IDH, transformações do bairro sofridas nos últimos anos e a identificação
das características da população (de operários para prestadores de serviços do
setor terciário) – dados já apresentados no capítulo 3.
Depois desse levantamento, solicitamos um encontro com a direção da
escola para explicitar os objetivos de nossa pesquisa e solicitar a permissão para
a sua realização.
Após anuência da direção, procuramos nos inserir no cotidiano da escola,
de modo que fosse possível observar as relações entre professores, direção,
coordenação e alunos. Além disso, fizemos uma leitura do projeto pedagógico da
escola e dos planos de ensino dos professores.
Nessas primeiras observações pudemos perceber que havia uma relação
bastante amigável entre os professores, direção, coordenação e demais
funcionários. Foi possível também perceber a boa organização dessa escola,
permitindo, por exemplo, que fossem atendidas as solicitações dos professores a
respeito do uso de sala de vídeo e de outros espaços para atividades externas à
sala de aula.
Durante esse primeiro momento de inserção na escola, refletimos sobre
quem deveria ser entrevistado, além, evidentemente, das duas professoras do 3º
ano do Ensino Fundamental. Porém, a partir da observação do funcionamento e
das relações entre os diferentes funcionários, optamos também por direcionar
94
nossas entrevistas à equipe gestora da escola: Diretora e Coordenadora
Pedagógica, por serem elas responsáveis pelo suporte das ações pedagógicas e
implementações das inovações curriculares. Além disso, pesquisas realizadas
como a apresentada pelo Relatório SAEB 1995, indicaram que a atuação do
Diretor é um fator determinante nos desempenhos dos alunos nas avaliações
externas.
Tendo definido os nossos entrevistados, passamos a organizar os roteiros
das entrevistas para as professoras do 3º ano do Ensino Fundamental I, para a
Diretora da Escola e para a Coordenadora Pedagógica. A ideia do roteiro era
permitir o levantamento de informações que pudessem contribuir para a busca de
respostas às questões levantadas. A entrevista foi preparada de modo que os
entrevistados se colocassem de forma mais aberta, permitindo, nessa
interlocução, novos questionamentos de acordo com o que fossem relatando. Os
roteiros das entrevistas encontram-se no final desse trabalho, no Anexo 2.
O roteiro para as entrevistas das professoras continha doze questões, de
forma a compreender qual o tipo de planejamento que faziam para suas aulas,
como organizavam o acompanhamento das aprendizagens de seus alunos e
como levantavam conjecturas sobre o porquê dos alunos terem alcançado um
desempenho satisfatório na Prova São Paulo de 2009. Além disso, procurou-se
identificar quais eram seus pressupostos para o trabalho com os Números e os
significados das operações do Campo Aditivo. As entrevistas tinham ainda como
finalidade levantar outros dados como o tempo que as professoras estavam na
escola e experiências como docentes do 3º ano etc.
Para a entrevista com a Coordenadora Pedagógica foram elaboradas nove
questões como o tempo de trabalho na unidade e experiência como
coordenadora; o planejamento do trabalho como formadora de professores; a
organização do tempo de estudos para o trabalho de formação; o
acompanhamento das aprendizagens dos alunos; a articulação entre o trabalho de
formação oferecido aos Coordenadores pelos órgãos centrais e a formação
95
oferecida na área de Matemática na escola aos professores, dentro dos horários
coletivos de formação na escola.
A finalidade da entrevista com a Diretora era a de analisar sua atuação não
apenas como a gestora “burocrática” da escola, mas, sobretudo, em relação ao
seu “fazer” pedagógico como os acompanhamentos periódicos das aprendizagens
dos alunos e da formação dos professores. Ademais, procurávamos identificar as
condições que a escola oferecia, proporcionadas pela sua atuação, para que as
atividades propostas que incluíssem outros materiais, além de giz e lousa,
pudessem ser realizadas.
Além das entrevistas, levantamos junto à coordenação pedagógica quais
eram os instrumentos que a escola utilizava para o planejamento do trabalho
semanal das professoras e quais eram os instrumentos de acompanhamento que
permitiam verificar os avanços de aprendizagens dos alunos. Dentre os
instrumentos apresentados pela Coordenadora Pedagógica estavam os
planejamentos das aulas, chamados de rotina s de Planejamento, segundo o
material denominado Guia de Orientação Didática para o Professor do 3º ano,
publicado pela SME (2007). Outro instrumento apresentado foi o referente às
planilhas de acompanhamento das aprendizagens dos alunos. Essas planilhas,
denominadas de Planilhas de Sondagens, estão também apresentadas no mesmo
Guia de Planejamento e Orientação Didática. O conteúdo dessas planilhas
permitia verificar quais eram os conhecimentos que os alunos possuíam sobre
Números e os significados das operações no Campo Aditivo.
A análise desses documentos foi fundamental para responder às questões
da pesquisa, uma vez que as entrevistas, isoladamente, não nos forneceram
elementos suficientes para essa tarefa.
5.2 As entrevistas
Apresentamos a seguir uma síntese das entrevistas. Convém assinalar que
os nomes dados às entrevistadas são fictícios, como uma possível maneira de não
identificá-las. As entrevistas estão transcritas integralmente no anexo 3.
96
5.2.1 Entrevista com a diretora Márcia
Já explicamos que a entrevista com a Diretora tinha por objetivo levantar as
estratégias e as condições dadas às professoras para organizar e desenvolver seu
trabalho pedagógico e que podem ter favorecido os avanços dos alunos nos
resultados de proficiências na área de Matemática da Prova São Paulo.
A conversa iniciada com a narrativa da Márcia esclarecendo sobre como
desenvolvia o seu trabalho na escola. Uma das atividades que fazia todo ano na
atribuição de aula era levantar o perfil dos professores, de modo que a escolha de
classe pudesse ser a mais adequada para cada um. Nessa discussão levava em
conta as preferências dos professores, a experiência que tinham em cada série e
o trabalho que era previsto para cada um dos anos de escolaridade.
Essa discussão também ocorreu com as duas professoras do 3º ano,
participantes de nossa pesquisa. Como uma delas veio removida de outra unidade
escolar, a Diretora teve o mesmo procedimento para a atribuição dessas turmas,
levantando um perfil ainda mais detalhado das professoras.
A Diretora afirmou que em 2009 também participava do horário coletivo de
formação, permitindo-lhe um melhor acompanhamento do trabalho docente nas
aprendizagens dos alunos. Essa participação permitia viabilizar o trabalho docente
na implementação das inovações curriculares.
Embora a Márcia não tenha, em sua entrevista, indicado as razões do
aparente sucesso da escola na Prova São Paulo e tampouco tenha discutido mais
especificamente questões pedagógicas, queremos destacar que suas ações –
levantamento do perfil dos professores para atribuição de turmas e participação no
horário coletivo – podem ter favorecido o trabalho das professoras em questão e,
consequentemente, ter contribuído para o bom desempenho dos alunos.
5.2.2 Entrevista com a Coordenadora Pedagógica Anál ia
A coordenadora pedagógica contou que seu trabalho naquela escola estava
completando três anos e que nunca havia assumido anteriormente a coordenação
97
– sua primeira experiência nessa função foi justamente na escola em que
desenvolvemos nossa pesquisa. Narrou que aprendeu muito e não imaginava que
nesse cargo pudesse ter uma visão tão ampla sobre o que acontece no ambiente
escolar.
Relatou as dificuldades enfrentadas na função, pois ao mesmo tempo em
que estava aprendendo com as inovações curriculares que vinham sendo
indicadas, ela precisava atuar e verificar como as professoras estavam realizando
o trabalho em sala de aula.
A Coordenadora atribuiu o êxito dos alunos do 3º ano na Prova São Paulo a
vários fatores, pois as professoras:
• assumiram os 3º anos e continuaram com o mesmo espírito
investigativo e desafiador das professoras dos dois anos anteriores,
mantendo o “ritmo de aprendizagem” que as crianças já vinham
desenvolvendo, desde o primeiro ano;
• estavam bem familiarizadas Programa Ler e Escrever, pois participavam
da formação oferecida pela Secretaria Municipal de São Paulo;
• conheciam muito bem os alunos e suas dificuldades, o que possibilitava
um melhor planejamento das situações de aprendizagens.
Outro aspecto interessante da entrevista foi a explicitação dos
acompanhamentos que a Coordenadora fazia na escola: no primeiro momento, o
foco estava diretamente relacionado às visitas em sala de aula, que ela fazia muito
mais com o intuito de ver materializado na sala de aula o que ela estava
aprendendo na formação, do que para levantar elementos para a discussão e
reflexão do fazer pedagógico para o horário coletivo de formação, ou mesmo para
discussão com o professor, cuja sala foi visitada pelo Coordenador. Depois dessa
primeira reflexão ela trouxe os outros instrumentos de planejamento utilizados pela
escola: um deles foi a rotina . A Coordenadora Pedagógica afirmou que no curso
de formação que participava na SME, foi explicitado a importância da organização
de um planejamento semanal pelas professoras para contribuir com a melhoria
das aprendizagens dos alunos.
98
“Acredito que o trabalho de fazer a rotina, deixa o professor mais tranquilo, ele já sabe o que vai fazer, há menos improvisação... Eu dizia para elas: vocês não planejaram essa atividade, ela não estava marcada naquele quadradinho da semana, passem um risco, nós sabemos que imprevistos acontecem, mas é importante que se registre o real. .... Acredito que a rotina foi importante, ajudou o professor a se organizar. “ (Anexo 3)
Outro aspecto interessante do trabalho com a rotina foi que as professoras
a utilizavam como instrumento de planejamento, não com o intuito meramente
burocrático de entregar para Coordenadora.
“... Na maioria das vezes elas entregavam no final da semana, elas faziam a lápis, aí iam apagando e registrando essas pequenas mudanças e entregavam depois que a semana havia passado, mostrando o que realmente havia acontecido. Elas queriam entregar do jeitinho que tinha acontecido na semana. Eu julgava que isto também era interessante. Elas diziam: nós vamos entregar só depois, mas não porque iam registrar depois, é que elas queriam entregar o que realmente aconteceu. Elas projetavam, programavam, e registravam conforme tinha acontecido realmente.” ( Anexo 3)
Da mesma forma que era solicitado às professoras a organização de uma
rotina semanal, a Coordenadora organizava a sua de formação, alternando
semana sim, semana não, um trabalho com a área de Matemática a partir da
formação que participava na SME. A reorganização que preparava, considerava
principalmente o tempo que tinha semanalmente com o grupo: apenas uma hora e
trinta minutos, bem diferente das quatro horas que tinha de formação na SME.
Nesse sentido, muitas vezes as discussões eram feitas a partir de sínteses
produzidas por ela.
Outro aspecto importante na rotina preparada pelas professoras é que
estavam apoiadas nas Orientações Curriculares e nos Guias de Orientações
Didáticas para o Professor do 3º ano, uma vez que esses materiais constavam de
marcadores, indicando, assim, o quanto eles eram usados/ manuseados pelas
professoras.
As professoras também utilizavam outros acompanhamentos tais como a
organização dos portfólios com as sondagens dos alunos e as observações feitas
pelas próprias professoras sobre o que os alunos aprenderam e sobre as
99
dificuldades percebidas. Estas observações foram feitas nos diários de classe ou
mesmo no caderno do professor, permitindo com isso levantarem, nas discussões
das sondagens, as suas necessidades relativas à compreensão do porquê o aluno
não ter escrito determinado número ou mesmo não ter resolvido algum problema
na avaliação, já que nas atividades realizadas em sala de aula, ele não
apresentava dificuldade.
5.2.3 Entrevista com a professora Lívia
A entrevista realizada com a professora Lívia está registrada na íntegra, no
anexo 3. Ela relatou estar na escola há apenas dois anos. No seu primeiro ano na
escola trabalhou com uma classe de 2º ano. No ano seguinte, com a turma do 3º
ano, formada por grande parte dos alunos do ano anterior, e outra parte pelos
alunos de outra turma.
Esse depoimento foi marcado por uma profunda reflexão sobre sua prática,
no sentido dado por Schön (1992) - reflexão sobre a ação. Na medida em que a
professora fazia seu relato, percebia-se em sua fala uma reinterpretação dessa
prática e a preocupação em reorganizar suas ações docentes.
Percebi que uma das preocupações da Lívia era com o planejamento de
suas atividades. Afirmou não trabalhar com o livro didático e que organizou o seu
planejamento anual baseando-se nas Orientações Curriculares e Expectativas de
Aprendizagem da Rede Municipal. No planejamento da rotina semanal, utilizava
o Guia de Planejamento e Orientações Didáticas para o professor do 3º ano – Vol.
I e II.
Ela disse ter também considerado a distribuição dos conteúdos da área de
Matemática: números, operações, grandezas, medidas, espaço e forma, mas não
citou em sua entrevista o bloco de tratamento da informação.
“a primeira coisa em que eu penso na hora de planejar é dividir os conteúdos de matemática na rotina semanal. Eu faço isso, pois muitas vezes a gente acaba sendo tendenciosa e privilegia um determinado conteúdo em detrimento de outros.” (Anexo 3)
Privilegiou o trabalho com números, operações e grandezas e medidas no
primeiro semestre e, além desses conteúdos, incluiu o bloco espaço e forma no
100
segundo semestre. Todo o trabalho realizado com números, com as operações ou
mesmo com espaço e forma, foi desenvolvido tendo como referência metodológica
a resolução de problemas.
Outro aspecto de destaque no planejamento da professora Lívia está
relacionado ao trabalho com jogos, organizando situações de aprendizagens que
permitiram aos alunos compreenderem as noções já estudadas ou para introduzir
novos conceitos. Essas problematizações organizadas possibilitaram que os
alunos discutissem, registrassem e socializassem suas descobertas de cálculos e
dos procedimentos utilizados durante essa trajetória.
Quanto ao acompanhamento das aprendizagens dos alunos, a professora
relatou que organizava a turma semanalmente em duplas de alunos, permitindo
sempre uma troca de idéias e discussões das decisões tomadas nas situações
propostas. Em cada atividade fazia a observação mais sistemática de duas ou três
duplas, ao passo que os demais alunos desenvolviam essas atividades de forma
mais autônoma.
Em decorrência desse acompanhamento a professora organizou o registro
sistemático das dificuldades dos alunos, que lhe permitiu replanejar o trabalho na
sala de aula, a partir das observações feitas.
“a criança estava com dificuldade na escrita de números de 100 a 200, eu organizava uma parceria que tivesse um conhecimento um pouco maior para se sentar com essa criança e preparava uma atividade nesse intervalo numérico que contemplasse essa necessidade” (Anexo 3).
Para a professora, a comunicação matemática entre as crianças fazia parte
da rotina de sala de aula, incluindo a resolução de problemas pelas duplas. A
respeito da importância da interação social na construção do conhecimento
matemático das crianças Yackel, Cobb, Wood, e Wheathey e Merkel (1991) consideram
que “a comunicação com sucesso exige a negociação de intenções e depende de todos
os elementos da classe expressarem respeito e apoio pelas ideias dos outros”.
Segundo a professora, seu acompanhamento das atividades propostas
tinha como objetivo apoiar as discussões das duplas e ao mesmo tempo intervir
quando percebia alguma dificuldade na busca de respostas aos problemas
propostos. Ela ainda apontava que a socialização das respostas com discussões
101
coletivas permitia aos alunos explicitarem oralmente ou através de diferentes
registros, os caminhos de resolução.
Como Yackel, Cobb, Wheatley e Merkel (1991) falam da importância do
trabalho cooperativo entre os estudantes:
“Durante o trabalho em pequenos grupos, espera-se que cooperativamente, as crianças, trabalhando em pares, desenvolvam soluções para as atividades. ... o professor circula entre os grupos observando e intervindo nos seus esforços de resolução.” (Yackel, Cobb, Wheatley e Merkel, 1991).
A professora Lívia afirmou que esse trabalho de socialização era feito
constantemente, o que lhe permitiu ter um retrato muito detalhado das
necessidades de sua turma.
Consideramos que esses registros, além de possibilitarem à professora
saber o que os alunos ainda precisavam aprender, contribuiu também para que os
alunos vissem diferentes formas de se resolver um mesmo problema. A esse
respeito a professora Lívia afirma que:
Existe uma questão assim, depois do término de cada socialização, a “gente” vê quantas coisas eles aprenderam. Fica fácil perceber o que eles aprenderam, pelas perguntas que fazem. Porém é um trabalho que demanda do professor ter uma disposição. Os alunos não vão se socializar por conta própria. Na dupla até pode acontecer, mas para a classe, para o grupo, não. Geralmente, a solução, o caminho morre no caderno deles e ponto. Se o professor não os estimular para que eles mostrem como chegaram àquela solução e para que eles possam comparar com uma outra solução, eles não vão avançar. Por exemplo, tenho crianças que para resolver um problema, só conseguem se fizerem o caminho utilizando desenhos. Eu devo enquanto professora, mostrar que outros colegas fizeram de outro jeito, que é também uma forma “legal” de resolver esse problema, é assim que acredito que eles vão avançando. Se não for possível que eles possam comparar, provavelmente eles continuarão a resolver utilizando desenhos. (Anexo 3)
Vejamos como Yackel, Cobb, Wheatley e Merkel nos ajudam a pensar nas
situações que a professora Lívia propõe aos seus alunos:
“As interações que têm lugar quando os problemas de cooperação social são temporariamente resolvidos dão origem a oportunidade de aprendizagem que não ocorrem em situações de sala de aula tradicional, incluindo oportunidades para os alunos verbalizarem os seus pensamentos, explicarem ou justificarem as suas soluções e tirarem ou justificarem as suas
102
soluções e tirarem suas dúvidas. Tentativas para resolver conflitos dão origem a oportunidades para as crianças reconceituarem um problema e alargarem a sua estrutura conceitual incorporando métodos de soluções alternativos” (YACKEL, COBB, WHEATLEY e MERKEL,1991).
Lívia acredita que é na interação, na troca entre diferentes pensamentos, na
negociação de sentidos entre os alunos é que será possível um avanço conceitual
no conhecimento Matemático e um avanço também nos procedimentos de
resolução que os estudantes apresentaram. Essa afirmação vai de encontro com
Quaranta e Wolman (2011):
“Aprendizagem Matemática baseia-se na resolução de problemas e na reflexão do que foi feito: os procedimentos empregados e os conhecimentos envolvidos devem-se converter em objeto de reflexão Os intercâmbios com os colegas e professor são aqui cruciais, isto é: as explicitações, as confrontações e as justificativas entre os alunos são o fator de progresso para todos” ( QUARANTA E WOLMAN, 2011, p.113).
Observamos também na entrevista, a forma de acompanhamento das
aprendizagens dos alunos realizada pela professora Lívia, utilizando as
sondagens solicitadas pela SME bimestralmente, dos números e da resolução de
problemas do Campo Aditivo. Com isso, pode verificar o que os alunos já sabiam
em relação a esses dois conteúdos. Este instrumento de acompanhamento para a
realização das sondagens encontra-se nos Guias de Planejamento e Orientação
Didática para Professor do 3º ano.
Em relação à preparação dos alunos para a Prova São Paulo, a professora
disse que não tinha o hábito de fazer provas, mas organizava durante o ano,
atividades com questões de múltipla escolha para que os alunos pudessem ir
familiarizando-se com este tipo de avaliação. Essa ação tinha a finalidade de não
apenas familiarizar os alunos com esse tipo de questão e com sua forma de
apresentação, mas de proporcionar aos alunos momentos de autorregulação de
suas aprendizagens. Na entrevista ela também afirmou que discutia com os
alunos a importância e a seriedade com que eles deveriam responder às questões
103
propostas, uma vez que no dia da Prova São Paulo a professora não estaria na
sala com eles.
Na entrevista Lívia indicou que os alunos tem dificuldade na resolução de
problemas, mais no Campo Multiplicativo do que no Aditivo.
5.2.4 Entrevista com a professora Rosa
A entrevista realizada com a professora Rosa também está registrada na
íntegra, no Anexo 3. Ela relatou que estava nessa unidade educacional há três
anos. No ano anterior ela também trabalhou com o 2º ano, junto com a professora
Lívia.
A Rosa também foi trazendo uma reflexão, sobre o trabalho desenvolvido
em sala de aula, sobre sua prática, na mesma perspectiva dada por Schön (1992)
- reflexão sobre a ação, lembrando muito o depoimento dado pela Lívia.
Perguntamos à professora como ela planejava o seu trabalho e ela relatou
que procurava dar um equilíbrio entre as áreas de Língua Portuguesa e
Matemática, de modo a não privilegiar apenas Língua Portuguesa. Utilizava
também os Guias de Planejamento e Orientação Didática para os Professores do
3º ano do Ciclo I, uma vez que eles contribuíam para o planejamento das
atividades que as duas professoras estavam organizando. Para o planejamento
inicial do ano utilizou sempre as Orientações Curriculares e as Expectativas de
Aprendizagem propostas.
Em relação à distribuição dos conteúdos, a professora Rosa afirmou na
entrevista que não privilegiou um só conteúdo, mas que procurou distribuir durante
a semana os diferentes conteúdos, números, operações, trabalho com medidas,
outro com as formas, outro com os cálculos.
Ao contrário da professora Lívia, Rosa utilizava o livro didático, juntamente
com os Guias de Planejamento e Orientação Didática para o 3º ano. Organizava
toda semana com as crianças, algum tipo de jogo relacionado ao trabalho que
estava desenvolvendo. Da mesma forma que Lívia, as situações propostas
104
durante o jogo eram problematizadas para que os alunos discutissem os
diferentes procedimentos de resolução encontrados.
Para o acompanhamento das aprendizagens dos alunos a professora Rosa
também organizava seu trabalho com duplas de alunos e fazia avaliações para ver
o que eles tinham conseguido aprender. Antes dessas avaliações, fazia o seguinte
caminho: “Primeiro a “gente” trabalha com jogos, com o livro didático, exploro as
atividades e depois um diagnóstico” (Anexo 3)
Outro aspecto importante na entrevista com a Rosa diz respeito às
dificuldades dos alunos. Ela disse que os alunos têm dificuldades em resolver
algumas situações:
Eu percebo que eles têm muita dificuldade na subtração. Qual é a diferença? Eles ficam um pouco “pensativos”, percebo um pouco de dificuldade na subtração e também na divisão no concreto. ... No entanto na adição e na multiplicação, eles têm bem mais facilidade. A multiplicação porque eles podem resolver por “somas” de várias parcelas iguais, a dificuldade é mesmo na subtração e na divisão. E até porque a divisão vai precisar lá na frente da subtração. ... Eu trago canudinho, palitinho de sorvete, na subtração para eles fazerem no concreto. Uso também o material dourado, para eles irem percebendo as unidades, as dezenas para eles compreenderem que o menor “não tira do maior” (Anexo 3).
A professora também afirmou trabalhar com a resolução de problemas tanto
com significado do Campo Aditivo, quanto Multiplicativo e disse que os alunos
apresentaram dificuldades na interpretação desses problemas. Exemplificou dessa
maneira:
• em um aquário há tantos peixes, alguns são azuis, quantos são os amarelos?
• O fulano tem tantos anos, o amigo tem “ outros” tantos. Qual a diferença de idade entre eles? (Anexo 3)
As dificuldades apresentadas pelos alunos na resolução de problemas
precisam ser encaradas como dificuldades que são inerentes aos tipos de
situações que se apresentam nas estruturas aditivas, ou seja, é preciso que as
situações apresentadas permitam aos estudantes compreenderem os significados
105
das diferentes representações simbólicas da adição e da subtração (MAGINA,
CAMPOS, NUNES e GITIRANA, 2008).
Para o acompanhamento das aprendizagens de seus alunos, a professora
Rosa utilizava as fichas de comissão de classe semestrais, as sondagens de
números e de resolução de problemas solicitados pela SME e as observações do
Diário de Classe, feitas mês a mês, de modo a subsidiar os registros dos avanços
dos alunos e a dar elementos para a comissão de classe.
Rosa ainda trouxe um depoimento importante em relação à solicitação das
Sondagens pela Secretaria de Educação. Disse:
“ ... para poder preencher a planilha, ... faz com que o professor busque, nem que for naquele momento, compreender o porquê dele estar fazendo aquilo. Ela faz com que o professor vá em busca de respostas daquilo que ele precisa preencher. Pelo menos, para aquele momento, o professor precisa se informar. É uma forma do professor se mobilizar e até ele estar revendo os seus conceitos, não ficar olhando de forma tão tradicional. Sabemos que a Matemática hoje tem outro significado, isto faz com que ele precise se mobilizar para saber do que estão falando.” ( Anexo 3)
A professora Rosa trouxe aqui uma reflexão referente a necessidade de
aprendizagem desse profissional:
“A formação permanente do professor na análise da complexidade dessas situações problemáticas requer necessariamente dar a palavra aos protagonistas da ação, responsabilizá-los por sua própria formação e desenvolvimento na instituição educativa” (IMBERNÓN, 2009).
Para que esse instrumento de coleta de dados – planilha de sondagem –
pudesse ser preenchido pela professora, ela necessitou compreender não só o
que estava sendo solicitado nas planilhas, mas também entender quais eram os
conceitos que permitiriam a interpretação da escrita de números feita pelos alunos
e os conceitos referentes ao Campo Aditivo. Essa foi uma situação problemática
que levou a professora Rosa a buscar formação.
Em relação à preparação dos alunos para a Prova São Paulo, Rosa afirmou
que organizava atividades envolvendo questões de múltipla escolha. Ela
considerava importante que o aluno pudesse compreender que há apenas uma
106
alternativa ou resposta correta, de modo a familiarizar-se com o preenchimento do
gabarito.
Esse trabalho que a professora Rosa desenvolveu com seus alunos foi
interessante se pensarmos que as crianças tinham apenas 8 anos de idade e
deveriam lidar com inúmeras situações novas:
• O que eram questões de múltipla escolha?
• O que significava o preenchimento de um gabarito de questões?
• Ausência do professor nesse novo ambiente de avaliação.
Essas situações precisavam ser ensinadas para os alunos ao longo do ano
de modo que os alunos pudessem se familializarem com as novas “situações de
aprendizagem que não se repetem, apesar de corresponderem ao mesmo
conteúdo” (SÃO PAULO (Município), p. 215, 2007c).
Por último cabe ressaltarmos que a Rosa retornou à escola em maio, uma
vez que estava em licença gestante, portanto a turma B, teve nesse ano duas
professoras.
5.3 Análises de documentos
Cabe ressaltar que as duas professoras demonstraram em suas entrevistas
que conheciam as necessidades de aprendizagem de seus alunos, sabiam o que
eles haviam aprendido e organizavam situações em que eles seriam desafiados a
construírem novos conhecimentos. Elas demonstraram em suas entrevistas que
respeitavam os esforços dos alunos e que confiavam neles, o que permitia dizer
que a autoridade matemática não estava apenas no professor, mas no professor e
nos alunos, criando nova uma comunidade intelectual (Yackel, Cobb, Wheatley e
Merkel,1991). Apesar dos relatos trazerem muitos dados interessantes e ricos para
análise, eles não foram suficientes para responder às questões de nossa
pesquisa. Assim, houve a necessidade de buscarmos outros elementos que
pudessem contribuir com respostas mais consistentes às nossas indagações.
Então incluímos no trabalho os seguintes documentos: rotinas semanais das
107
professoras, as Planilhas de Sondagens de Números e dos Significados das
Operações do Campo Aditivo.
5.3.1 As rotinas semanais das professoras
No primeiro encontro com a Diretora e com a Coordenadora Pedagógica
para explicar quais os objetivos da Pesquisa, perguntamos se a escola dispunha
de algum tipo de registro que pudesse trazer um complemento às investigações
que estávamos realizando.
Elas nos disponibilizaram rotinas das duas turmas e as sondagens de
números e dos significados das operações do Campo Aditivo.
A primeira análise que organizamos diz respeito ao número de aulas
destinadas à área de Matemática. Havia mesmo um equilíbrio entre o número de
aulas de Língua Portuguesa e Matemática? Essa distribuição poderia ser um fator
importante para o bom desempenho dos alunos na Prova São Paulo? O quadro
curricular previa cinco aulas semanais para a Língua Portuguesa e cinco para
Matemática.
Nosso próximo passo foi analisar as rotinas de cada uma das turmas.
Foram disponibilizadas todas as rotinas da turma A, da professora Lívia, ao passo
que às da turma B tivemos acesso apenas ao período de fevereiro e março e de
junho a dezembro, pois no período de março a junho, a professora Rosa
encontrava-se em licença e sua substituta não havia organizado suas rotinas.
Vejamos primeiramente a distribuição das aulas de Língua Portuguesa e
Matemática da professora Lívia:
108
Quadro 19: Síntese da rotina anual da Professora Lívia/ 2009
Mês Nº de aulas por semana
1ª semana 2ª semana 3ª semana 4ª semana 5ª semana Total de aulas
Mat LP Mat LP Mat LP Mat LP Mat LP Mat LP
Fev 0 0 2 9 4 11 3 5 0 0 9 25
Mar 8 13 6 13 5 13 4 12 0 0 23 25
Abr 9 9 5 7 6 11 6 8 5 10 31 45
Mai 5 11 4 16 8 14 6 16 0 0 23 45
Jun 4 7 3 9 7 12 5 14 3 8 22 45
Jul 3 7 0 0 0 0 0 0 0 0 3 7
Ago 0 0 0 0 6 9 4 11 0 0 10 20
Set 7 13 6 10 5 14 5 12 0 0 23 46
Out 7 13 0 0 5 14 6 10 4 13 22 50
Nov 6 7 6 11 2 6 5 15 0 0 19 39
Dez 7 13 6 4 3 0 0 0 0 0 17 26
Total 202 377
Ao analisarmos a distribuição do número de aulas da professora Lívia
destinada a Língua Portuguesa e a Matemática, verificamos que 35,7% foram
destinadas para Matemática e 64,3% à Língua Portuguesa.
No caso da professora Rosa verificou-se a seguinte distribuição:
Quadro 20: Síntese da rotina anual da Professora Rosa/ 2009
Mês Nº de aulas por semana
1ª semana 2ª semana 3ª semana 4ª semana 5ª semana Total de aulas
Mat LP Mat LP Mat LP Mat LP Mat LP Mat LP
Fev 0 0 3 4 4 13 2 3 0 0 9 20
Mar 5 9 9 12 0 0 0 0 0 0 14 21
Abr 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Mai 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Jun 0 0 0 0 0 0 5 8 4 7 9 15
Jul 3 7 5 12 2 4 0 0 0 0 10 23
Ago 0 0 0 0 7 10 6 11 0 0 13 21
Set 7 12 6 10 6 11 7 11 0 0 26 44
Out 7 11 6 11 2 5 5 13 5 11 25 51
Nov 4 9 7 11 4 10 6 11 0 0 21 41
Dez 7 10 5 11 5 12 0 0 0 0 17 33
Total 144 269
109
Após a análise do quadro de distribuição das aulas de Língua Portuguesa e
Matemática da professora Rosa, verificamos uma distribuição muito semelhante a
da professora Lívia, ou seja, o número de aulas que foram destinadas a
Matemática foi de 35,1% e de 64,9% para Língua Portuguesa.
Esse percentual está longe de significar uma equivalência do número de
aulas, como está previsto na legislação municipal, mas representou um avanço
significativo para esta escola no ano de 2009, segundo os registros que
analisamos.
Inicialmente fizemos a leitura das rotinas das professoras Lívia e Rosa. As
rotinas apresentadas pelas duas eram as que aconteceram efetivamente em sala
de aula e não apenas as previstas inicialmente, conforme destacamos na análise
da entrevista da Coordenadora Pedagógica. Cabe esclarecer que as professoras
esboçavam inicialmente o que pretendiam trabalhar com os alunos durante a
semana e em decorrência dos imprevistos, seja pelo tempo de execução de uma
atividade, ou para atender às necessidades dos alunos, essa rotina era
modificada durante a semana. As modificações precisavam ser registradas; desse
modo as professoras apresentavam suas propostas na segunda-feira para a
Coordenadora Pedagógica e devolviam na sexta-feira, registrando exatamente o
ocorrido na sala de aula, durante a semana.
Para facilitar o leitor, organizamos os dados coletados nas rotinas das
professoras em quadros, de modo que possamos perceber a quantidade de
atividades que elas organizaram para cada bloco de conteúdo.
Primeiramente analisamos a organização dos conteúdos distribuídos ao
longo do ano pela professora Lívia. Em relação ao trabalho com números25, ela
desenvolveu 89 atividades enfatizando, sobretudo, a escrita de números utilizando
algarismos e sequências e ordenação de números naturais. No anexo 4 é
apresentado uma tabela indicando os conteúdos relativos a cada uma das
25 A professora Lívia indica em suas rotina s que todos os dias desenvolveu atividades de comparação entre o número de meninos e meninas que frequentaram a aula; estimativa envolvendo o número de alunos presentes na sala de aula; leitura e registro dos números no calendário.
110
atividades. O número de atividades destinadas à construção do Sistema de
Numeração Decimal pelos alunos pode atestar a importância que a professora
confere a esse assunto. Além disso, foi possível verificar que a professora Lívia
leva em consideração o conhecimento prévio dos alunos e nos referenciamos em
Weisz que diz:
“É preciso considerar o conhecimento prévio do aprendiz e as contradições que ele enfrenta no processo. Cada concepção de aprendizagem produz sua própria linha de investigação. É ela que determina as pesquisas que se fazem e o ponto de vista do cientista que vai se preocupar com as questões estudadas. Na concepção que se tem chamado de construtivista – na qual o conhecimento é visto como produto da ação e reflexão do aprendiz – esse aprendiz é compreendido como alguém que sabe algumas coisas e que, diante de novas informações que para ele fazem algum sentido, realiza um esforço para assimilá-las. Ao deparar com questões que a ele se colocam como problemas, depara-se também com a necessidade de superação. E o conhecimento novo aparece como resultado de um processo de ampliação, diversificação e aprofundamento do conhecimento anterior que ele já detém. Assim sendo, é inerente à própria concepção de aprendizagem que se vá buscar o conhecimento prévio que o aprendiz tem sobre qualquer conteúdo” (Weisz, p 24, 2002).
Outro ponto interessante na organização da rotina da professora Lívia foi o
trabalho que ela desenvolveu com a calculadora. Ela destinou dez atividades para
esse trabalho: seu objetivo não era discutir os resultados das operações ou
simplesmente verificar se os resultados encontrados pelos alunos na resolução de
problemas estavam corretos. Lívia utilizava a calculadora como um recurso para a
discussão das regularidades do Sistema de Numeração Decimal.
Em relação aos cálculos26 a professora desenvolveu trinta e nove
atividades, sendo que oito delas para o cálculo mental envolvendo a adição e a
subtração. Essa preocupação com o cálculo mental revela que a professora
reconhece a importância do desenvolvimento dessa habilidade, que é uma
26 A professora Lívia indica em suas rotinas que em todos os dias trabalhou também com atividades de contagem.
111
demanda da sociedade. Nesse sentido, Parra (1996) indica a necessidade do
ensino do cálculo por diferentes motivos:
• “As aprendizagens no terreno do cálculo mental influem na capacidade de resolver problemas;
• O enriquecimento das relações numéricas através do cálculo mental facilita para os alunos, serem capazes de moldá-los, por antecipação, por reflexão;
• O cálculo mental aumenta o conhecimento no campo numérico;
• O trabalho de cálculo mental habilita para a maneira de construção do conhecimento que, a nosso entender, favorece uma melhor relação do aluno com a Matemática;
• O trabalho de cálculo pensado deve ser acompanhado de um aumento progressivo do cálculo automático” (PARRA, 1996).
A professora Lívia, além de estimular o desenvolvimento de cálculos não
convencionais, também discutia com os alunos os algoritmos convencionais da
adição da subtração e da multiplicação. Cabe destacar que a professora
apresentou as atividades que solicitava aos alunos, a identificação de erros e
respectivas justificativas em cálculos que lhes foram apresentados. Apesar dessas
atividades não aparecem em grande quantidade, a professora demonstrou uma
preocupação com a compreensão dos alunos a respeito das técnicas operatórias
desenvolvidas. No anexo 4, foi possível verificar a distribuição das atividades
relativas ao cálculo.
Observamos também nas rotinas da professora Lívia, um número
significativo de atividades que tinham por objetivo discutir com os alunos os
significados das operações, tanto no Campo Aditivo, quanto no Campo
Multiplicativo. Do total de quarenta atividades, quinze foram destinadas à
compreensão do significado das operações no Campo Aditivo. Baseados nisso,
poderíamos inferir que a professora pareceu compreendeu a importância de
apresentar um conjunto de situações-problema, de modo que os alunos pudessem
refletir sobre elas e fazer escolhas sobre os cálculos que possibilitariam a sua
resolução (MAGINA, CAMPOS, NUNES E GITIRANA, 2008). Foi possível
também perceber que a Lívia acreditava que não bastava saber operar um
cálculo, era necessário que os alunos tivessem o domínio dos vários conceitos
112
que estavam envolvidos na natureza das situações apresentadas (MAGINA,
CAMPOS, NUNES E GITIRANA, 2008).
Valeria destacar a estratégia da professora na organização de diferentes
situações para que os seus alunos se apropriassem da estrutura dos problemas.
Ela propôs atividades onde os alunos elaboravam problemas a partir do resultado,
outras onde eles conhecessem as operações e também havia aquelas que davam
importância à parte textual:
“Muitas vezes os alunos não conseguem resolver os problemas por não saberem interpretar os seus enunciados. Aprender os enunciados dos problemas é um dos objetivos que precisam ser alcançados na sala de aula” (SÃO PAULO (Município), 2007c, p. 192).
A professora Lívia desenvolveu dezessete atividades relacionadas ao
Tratamento da Informação: cinco com a organização de tabelas e cinco com a
construção de gráficos. Foram destinadas sete atividades de leitura, quer seja, de
tabela e ou de gráfico. Ao analisarmos a quantidade de atividades destinadas a
esse tema, percebemos que a maior ênfase se deu na organização das atividades
com números e os significados das operações no Campo Aditivo e algumas
situações envolvendo a Multiplicação (Vide anexo 4).
Nas atividades destinadas ao tema Espaço e Forma, a professora Lívia
desenvolveu apenas sete e foram direcionadas ao trabalho com “espaço e não à
forma”. No Guia de Planejamento e Orientações Didáticas para o 3º ano do Ensino
Fundamental também aparecem poucas atividades destinadas a este bloco de
conteúdos: seis atividades para o trabalho com localização e deslocamento no
espaço e apenas três com as formas, em uma relação similar, que comprovaria
que a professora Lívia, como afirmou em sua entrevista, planejava suas aulas
tendo como referência o Guia de Planejamento e Orientações Didáticas do 3º ano,
já que o número de aulas que ela organizou para esse tema, foi praticamente o
mesmo que constou nesse material.
Em seguida passaremos a analisar as rotinas da professora Rosa. Em
relação ao trabalho com números, Rosa destinou sessenta atividades. Desse total,
vinte e cinco tiveram como foco a ordenação e sequenciação de números naturais.
113
A professora Rosa, tal qual a professora Lívia, destinou grande parte da
organização da rotina anual para o trabalho com números, isso nos permitiu
afirmar que ela conferiu grande importância a esse conteúdo. Ambas destinaram
uma parte dessas atividades para o trabalho com a escrita de números, pois
sabiam da importância de levantar quais eram as hipóteses que as crianças
tinham sobre esse tema. Isso permitiu a organização de outras atividades que
fossem mais adequadas às necessidades levantadas a partir dessas escritas.
Em relação aos cálculos27 a professora Rosa desenvolveu trinta e seis
atividades, destacando que ela destinou três delas para o cálculo mental
envolvendo a adição e a subtração. Além disso, percebe-se que grande parte
daquelas relacionadas ao cálculo, foi destinada à discussão dos algoritmos
convencionais da adição, subtração e multiplicação, revelando uma preocupação
da professora em sistematizar esses conhecimentos prévios dos alunos e ensinar
essas técnicas convencionais. Para Zunino (1995), a representação convencional
é importante, mas que “uma coisa é incluir a representação convencional como
objeto de confrontação e discussão, e outra é impô-la como única possível”
(ZUNINO, p.54,1995).
Observamos em um trecho de sua entrevista a sua preocupação com a
construção dos significados das operações:
“Quando há problemas que falam em diferença, eu também percebo uma dificuldade. Por exemplo, a diferença de idade: O fulano tem tantos anos, o amigo tem tantos. Qual a diferença de idade entre eles? Percebo que eles têm dificuldade, porque muitos querem “somar”. Percebo que essas nomenclaturas são meio complicadas (Anexo 3).
No trabalho com o conteúdo Grandezas e Medidas, a professora Rosa
destinou apenas sete atividades durante o ano, sendo que uma delas foi o uso da
régua pelos alunos.
27 A professora Lívia indicou em suas rotina s que todos os dias trabalharam com atividades de contagem.
114
Para o trabalho com o tema Espaço e Forma, Rosa organizou dezesseis
atividades, sendo três para a discussão de espaço, onze para formas, uma para o
trabalho com linhas e curvas e outra com simetria. As duas últimas não constavam
nas Orientações Curriculares (SÃO PAULO (Município), 2007), nem estão
recomendadas nos PCNs (BRASIL, 1996) para os três primeiros anos do Ensino
Fundamental, sendo inadequados para essa faixa etária, devido a sua
complexidade envolvendo raciocínio espacial.
Para facilitar a análise das rotinas das duas professoras estabelecemos
relações de semelhanças e diferenças entre elas, organizamos os quadros
comparativos em relação a cada um dos blocos de conteúdos: números,
operações, resolução de problemas, grandezas e medidas, tratamento da
informação que se encontram no Anexo 5.
Descreveremos a seguir as semelhanças em relação às atividades
propostas pelas duas professoras. Com relação ao Sistema de Numeração
Decimal as duas professoras propuseram muitas atividades que tinham por
objetivo o trabalho com a sequenciação ou a ordenação de números, a
observação de regulares, incluindo a utilização do quadro numérico. Ambas
também organizaram atividades de avaliação envolvendo a escrita de números.
Percebe-se um direcionamento no desenvolvimento de atividades onde os alunos
pensaram sobre a escrita de números, compararam, sequenciaram, ordenaram e
observaram as regularidades, de modo que pudessem ir construindo a
conceitualização das regras que regem o sistema, como indicam Lerner e
Sadovisky (1996) nas situações didáticas vinculadas à relação de ordem:
• Comparar números;
• Produzir ou interpretar, tendo a ordem como recurso;
• A busca de regularidades.
Comparando as rotinas propostas na construção dos significados das
operações, tanto do Campo Aditivo quanto no Multiplicativo, foi possível perceber
que as duas professoras dedicaram parte do trabalho organizado para essa
115
temática. Isso porque estavam atentas para as dificuldades que os alunos
apresentaram nas resoluções de problemas propostos, parecendo, em princípio,
compreender que essas dificuldades faziam parte dos tipos de situações às quais
os alunos são expostos (MAGINA, CAMPOS, NUNES E GITIRANA, 2008),
mostrando que a competência para resolver problemas deve ser desenvolvida ao
longo do Ensino Fundamental.
Também percebemos algumas semelhanças no trabalho envolvendo as
operações da adição, da subtração e da multiplicação. Em relação ao cálculo
mental, trabalharam com a adição e subtração, apesar de que no quadro
comparativo dessa temática estar indicado que a professora Rosa fez um número
menor de atividades de cálculo mental indicando que diariamente organizava esse
tipo de atividade com sua turma. Essas semelhanças podem ser decorrentes de
indicações feitas no próprio Guia de Planejamento e Orientação Didática para o
Professor do 3º ano Vol.II, quando recomenda aos professores a necessidade de
observar se o aluno:
• “Realiza os cálculos utilizando a técnica operatória, sem cometer erros que revelem a incompreensão do Sistema de Numeração Decimal;
• Consegue justificar os seus próprios erros nos resultados das operações realizadas (SÃO PAULO (Município), 2007 c, p. 22).”
Essas indicações trazem ao professor uma necessidade de se preocupar
com a sistematização dos algoritmos convencionais, principalmente o da adição,
subtração e multiplicação, nesse ano de escolaridade. Apesar do material não
propor nenhuma atividade de organização dos algoritmos convencionais e indicar
o tempo todo, a preocupação com a construção de registros pelos alunos, ele faz
em suas propostas de atividades, referência aos algoritmos convencionais. Isso se
torna contraditório, já que na organização das atividades propostas no material,
não há nenhum procedimento de ensino dos algoritmos convencionais - uma
exigência social, que precisa ser sistematizada pela escola e deveria estar
indicada também nos documentos produzidos pela SME.
116
Em relação ao cálculo mental, as duas professoras organizaram suas
rotinas sugerindo atividades envolvendo esse tema. Tais atividades nos
permitiram inferir que a Rosa e a Lívia sabiam que:
“Os procedimentos de cálculo mental, se apóiam nas propriedades do SND e nas propriedades das operações, e colocam em ação diferentes tipos de escrita numérica, assim como diferentes relações entre números (PARRA, 1996)”.
Ao analisarmos o bloco de conteúdos, espaço e forma, a única semelhança
percebida na rotina das duas professoras foi que ambas trataram de localização e
deslocamento, mas destinaram para esse trabalho um número pequeno de
atividades.
Com relação às diferenças entre as atividades selecionadas pelas duas
professoras, podemos destacar que a professora Lívia teve uma preocupação
muito grande em organizar situações em que os alunos pudessem escrever os
Números Naturais, não apenas por meio de algarismos, mas também por extenso.
Rosa propôs atividades de contagem de diferentes quantidades, que não
apareceram na rotina da professora Lívia. No trabalho da Lívia aparece a
contagem da frequência de alunos da turma todos os dias, o que não foi
explicitado nos registros da Rosa. O aspecto que vale a pena destacar diz
respeito ao ditado de números presente na rotina da Lívia, mas não foi registrado
no planejamento da Rosa. Apesar disso, Rosa apresentou esse diagnóstico à
SME, nas duas vezes em que foi solicitado.
Observamos que em relação aos significados das operações do Campo
Aditivo ou Multiplicativo, percebemos que a professora Lívia descreveu de forma
mais clara os conceitos que pretendia desenvolver. As atividades descritas no
planejamento da professora Lívia se aproximaram das que estão propostas nos
Guias de Planejamento e Orientação Didática do 3º ano do Ensino Fundamental.
No caso da professora Rosa, as atividades propostas se afinaram mais ao livro
didático adotado pela escola.
A professora Lívia propôs atividades as quais os alunos avaliavam ou
identificavam erros nas operações; isso não estava explicitado no planejamento da
117
professora Rosa. Quarenta, Tarasow e Wolman (2011), trazem a importância de
se incluir a análise de erros nas aulas de Matemática, como o fez a professora
Lívia. A esse respeito, os documentos da Secretaria consideram importantes a
proposição desse tipo de atividade. Compartilhamos das seguintes ideias de
Quarenta, Tarasow e Wolman:
“...podemos nos perguntar por que é importante incluirmos nas aulas a análise dos erros. É muito comum o professor validar rapidamente a resposta correta e reprovar as respostas que considera incorretas. Seguramente esse tipo de intervenção está guiado pela ideia de que os erros são indicadores de ausência de conhecimento e que é necessário corrigi-los imediatamente para que o aluno não os repita. Verifica-se aqui, em relação à apropriação do Sistema de Numeração, o olhar sobre os erros construtivos que Piaget nos transmitiu: estes são fruto de abordagens sucessivas que as crianças fazem sobre o objeto do conhecimento. ...quando se promove a análise desse erro e a discussão por parte das crianças, propicia-se o estabelecimento de relações numéricas que servem não somente para o aluno que cometeu o erro, como também aos outros (QUARENTA, TARASOW E WOLMAN, 2011 p. 107).
Ao compararmos as atividades propostas pelas duas professoras em
relação ao tema espaço e forma, pode-se notar que a professora Lívia propôs
apenas atividades com localização e deslocamento. Já a Rosa, além dessas
atividades, propôs outras envolvendo linhas curvas e simetria - conteúdos que não
estão indicados nem nas Orientações Curriculares para o 3º ano do Ensino
Fundamental de 9 anos, nem tampouco no Guia de Planejamento e Orientação
Didática para os Professores do 3º ano, publicados pela SME em 2007.
Outra diferença que cabe destacar é que a professora Lívia não propôs
nenhuma atividade com o bloco de conteúdos Grandezas e Medidas, a não ser o
uso do calendário, ao passo que a professora Rosa o apresentou. Além disso, ela
enfatizou a utilização da régua, não destacado no planejamento da Lívia.
Observando as semelhanças e as diferenças foi possível perceber que as
duas professoras reconheceram a importância de um trabalho bem desenvolvido
com o Sistema de Numeração Decimal, de modo que os alunos pudessem
compreender os princípios desse sistema; além disso consideraram que essa
compreensão se deu de forma lenta e gradual:
118
• “O Sistema de numeração e as operações aritméticas são dois conteúdos básicos que fazem parte da escolaridade primária....quando as crianças enfrentam situações-problema, geram – além de estratégias próprias para resolvê-las – procedimentos originais para encontrar os resultados das operações envolvidas, procedimentos que estão vinculados à organização do Sistema de Numeração Decimal”
• ...é imprescindível ter presente uma questão que é essencial: trata-se de ensinar – e aprender - um sistema de representação. Será necessário criar, então, situações que permitam mostrar a própria organização o sistema, como descobrir de que maneira este sistema “encarna” as propriedades das estruturas numéricas que ele representa. (LERNER E SADOVSKY, 1996)”.
Nesse sentido podemos afirmar que o trabalho com números ajuda na
compreensão dos problemas de cálculo e vice-versa e cada vez que os
estudantes utilizarem o sistema de numeração e fizeram escolhas sobre os
diferentes procedimentos de cálculos para resolverem operações, ampliarão seus
conhecimentos sobre suas propriedades. Por outro lado, ao colocarem em jogo as
propriedades das operações, eles melhorariam seus conhecimentos sobre o
sistema de numeração.
Cabe também lembrar que as duas professoras sabiam que o planejamento
deveria levar em conta as necessidades de aprendizagens de suas turmas, sendo
plausíveis as nuances organizadas por cada uma delas em suas rotinas. Nesse
sentido, concordamos com Buriasco e Soares (2008), quando afirmam:
“Os registros que os alunos fazem ao resolver as situações propostas dão valiosas informações sobre o modo como compreendem e registram suas ideias a respeito da situação apresentada. Tais informações fornecem rico material para o professor incorporar ao seu repertório no planejamento das aulas e para orientar suas escolhas didáticas, servindo como referência para conversar sobre Matemática com o aluno (BURIASCO e SOARES , 2008, p114)”.
Na nossa análise a respeito do trabalho organizado e do realizado pelas
duas professoras constantes em suas rotinas semanais, identificamos a
necessidade do conhecimento que os professores devem ter de sua turma. A
esse respeito, Quarenta, Tarasow e Wolman (2011) consideram que:
“...Estes contrastes entre o que a professora havia previsto e os procedimentos que de fato apareceram nos mostra como o
119
planejamento são esboços de classe, que depois se adaptam ao que aparece no caminho” (QUARENTA, TARASOW E WOLMAN, 2011, P.119).
O planejamento da rotina de número organizado pelas professoras nos
permitiu dizer que elas estavam atentas às necessidades de aprendizagens dos
alunos sobre as escritas numéricas produzidas por eles.
No item seguinte, verificamos como as professoras fizeram o
acompanhamento das aprendizagens dos alunos, tanto em relação à escrita de
números, quanto à construção dos significados das operações do Campo Aditivo.
5.3.2. Análise das sondagens: Números
Analisaremos a seguir o outro material disponibilizado pela escola, que foi o
resultado das duas sondagens de números enviadas nos meses de abril e
setembro para a DRE e que mostraram a evolução da aprendizagem dos alunos,
permitindo às professoras e à escola observarem a construção do conhecimento
numérico pelos alunos.
As professoras utilizaram os números que estão no Guia de Planejamento e
Orientação Didática para o Professor do 3º ano, página 33 (mês de abril) e página
26 (mês de novembro) respectivamente dos Vol. I e Vol. II. Os números propostos
para o ditado vão até a ordem das unidades de milhar; além desses foram
propostos mais dois números: 10100 na primeira sondagem e 16857 na segunda,
ampliando assim, a observação das hipóteses da escrita numérica.
Apresentaremos agora uma análise dos diagnósticos realizados em 2009
pela professora Lívia: diagnóstico 1 – realizado no primeiro semestre e diagnóstico
2 – realizado no segundo semestre. Depois, expomos a análise dos diagnósticos
da professora Rosa. Esse quadro síntese das sondagens das duas turmas
encontra-se e no Anexo 5 para consulta.
O diagnóstico proposto pela SME tinha por objetivo acompanhar a evolução
das escritas dos alunos ao longo do ano. A sondagem consistia na aplicação de
um ditado de números, de modo a observar a produção numérica em diferentes
intervalos. O primeiro intervalo de observação foi o de 1 a 99, o segundo de 100 a
120
999, o terceiro de 1 000 a 9 999 e o quarto intervalo era a observação da escrita
de um número maior que 10 000. Para o preenchimento da planilha o professor
ainda precisaria observar a forma de registro desses alunos, verificando se eles
escreviam convencionalmente ou se utilizavam o apoio da fala para escrever o
número, ou ainda se faziam uso de coringas28 ou se o número escrito tinha
relação com o número ditado.
Para melhor visualização dos resultados da produção escrita dos alunos,
organizamos um quadro síntese que apresenta os resultados dos diagnósticos 1 e
2, indicando as porcentagens de como os alunos produziram suas escritas
numéricas nos seguintes intervalos: de 1 a 99, de 100 a 999, de 1000 a 9999 e
números acima de 10000.
Quadro 21: Sondagem de números – Diagnóstico 1 e 2
Lívia Rosa Escrita de números
Diag.1 Diag. 2 Diag.1 Diag. 2
Sem relação 7 0 3 0 Uso coringa 9 3 0 0 Apoio na fala 0 0 0 0
1 a 99
Convencional 89 97 97 100 Sem relação 13 3 20 7 Uso coringa 13 10 3 0 Apoio na fala 57 17 7 7
100 a 999
Convencional 17 71 70 86 Sem relação 13 3 23 10 Uso coringa 13 3 7 0 Apoio na fala 71 60 43 37
1000 a
9999 Convencional 3 34 27 53
Sem relação 17 3 20 10 Uso coringa 9 17 17 0 Apoio na fala 71 53 47 53
maior que
10000 Convencional 3 27 17 37
28 Coringas são números que as crianças utilizam para a produção de outros, muitas vezes sem ter referência com o número ditado, mas aqueles que a crianças conhecem a sua representação gráfica.
121
Na turma 1 foi possível observar uma evolução na escrita de Números
Naturais nos alunos da professora Lívia. No intervalo de 0 a 99 percebe-se que no
primeiro diagnóstico havia:
• 7% dos alunos que escreviam algarismos sem relação com o número
ditado, ao passo que no segundo diagnóstico não havia nenhum aluno
nessa situação;
• 9% dos alunos utilizavam coringa para representar o número ditado, ao
passo que no segundo esse número diminuiu para 3% dos alunos;
• 89% dos alunos escreviam convencionalmente no primeiro diagnóstico e no
segundo o índice passou para 97%, representando um avanço de 8%.
Observando os dados referentes à professora Rosa pôde-se observar nesse
mesmo intervalo que:
• 3% dos alunos no primeiro diagnóstico escreviam algarismos sem relação
com o número ditado, enquanto que no segundo diagnóstico não havia
nenhum aluno nessa situação;
• não havia alunos que utilizavam coringas ou que se apoiavam
exclusivamente na fala.
• em relação à escrita convencional houve um avanço de 3%, pois passaram
de 97% para 100%.
A mesma análise pôde ser feita em relação aos demais intervalos de 100 a
999, de 1000 a 9999 e para a escrita de números maiores que 10000. Nessa
análise podemos observar que as duas turmas avançaram significativamente na
produção das escritas numéricas do primeiro para o segundo diagnóstico.
Se fizermos a análise comparativa apenas em relação à escrita convencional,
poderemos verificar que para o intervalo de 1 a 99 os alunos da Lívia tiveram um
avanço de 8% na escrita convencional de números, enquanto que os alunos da
Rosa tiveram 3%.
Para o intervalo de 100 a 999, os alunos da Lívia apresentaram um avanço
de 54%, enquanto que os da Rosa, um avanço de 16% na escrita convencional de
números.
122
No intervalo entre 1 000 e 9 999, a turma 2 apresentou um avanço de 26%
para a escrita convencional de números; dado mais significativo que o da turma 1
que foi de 21%
Para o intervalo de números maiores que 10 000, a turma 1, apresentou um
avanço de 24% para a escrita convencional de números, ao passo que na turma 2
o avanço foi de 20%.
O que podemos concluir é que as duas turmas, em cada um dos intervalos
observados, apresentaram avanços significativos, demonstrando que as
atividades organizadas pelas professoras em relação à escrita, comparação,
ordenação, sequenciação e para o trabalho com a observação das regularidades,
favoreceram de forma satisfatória as aprendizagens dos alunos ao longo do ano.
Podemos também concluir que o avanço conseguido pelos alunos na
escrita de números, ainda que cometessem erros, pode ser atribuído às reflexões
feitas por eles ao longo das situações que foram sendo propostas. Assim,
Quarenta, Tarasow e Wolman (2011, p.105) indicam na análise que fazem sobre a
complexidade do sistema de numeração que:
“Compreender a natureza desses erros, quais são os
conhecimentos parciais que os alunos estão sustentando e em
que medida participam da abordagem progressiva ao sistema
de numeração tornará possível talvez permitir aos “erros” que
vivam provisoriamente nas aulas e intervir, aos poucos, na
direção da superação” (QUARENTA, TARASOW E WOLMAN,
2011, p.105).
5.3.3. Análise das sondagens: significados das oper ações no Campo Aditivo
Para completar a análise da nossa investigação, utilizaremos o último
instrumento que a escola nos disponibilizou: as sondagens sobre o significado das
operações no Campo Aditivo.
As professoras utilizaram os enunciados das situações que estão no Guia
de Planejamento e Orientação Didática para o Professor do 3º ano, página 35
(mês de julho) e página 27 (mês de novembro) respectivamente dos Vol. I e Vol. II,
123
propostos a partir das idéias de Vergnaud, contendo problemas de transformação,
composição, composição de transformação e comparação.
Descreveremos a seguir, quais foram as observações que se apresentaram
na planilha organizada pela SME, tanto para o primeiro semestre, quanto para o
segundo semestre.
A planilha proposta tinha como objetivo avaliar a compreensão dos
significados das operações do Campo Aditivo, visto que a investigação pretendia
levantar os conhecimentos que os alunos possuíam sobre as ideias que
compunham esse Campo Conceitual Aditivo – as ideias de transformação,
comparação, composição /combinação e a composição de transformação.
O problema 1 da sondagem estava relacionado à ideia de transformação, o
problema 2 estava relacionado à ideia de composição/ combinação, o problema 3
à ideia de composição de transformação e o problema 4 à ideia de comparação.
Além da análise dos significados das operações do Campo Aditivo, a planilha
pretendia observar se o aluno acertou, se ele errou ou se não respondeu. Os
quadros dos resultados das sondagens dos significados das operações no Campo
Aditivo de cada uma das professoras encontram-se no Anexo 5 para consulta.
O quadro síntese seguinte apresenta o diagnóstico 1 e 2 indicando as
porcentagens de alunos que resolveram os diferentes tipos de problemas no
Campo Aditivo.
124
Quadro 22: Diagnósticos 1 e 2 dos significados das operações do Campo Aditivo
Lívia Rosa Tipos de problemas
Diagnóstico 1 Diagnóstico 2 Diagnóstico 1 Diagnóstico 2
Acertou 70 65 82 72
Errou 23 29 18 24 Problema 1
Transformação
Não respondeu 7 6 0 3
Acertou 67 61 79 79
Errou 19 29 18 14
Não respondeu 15 10 4 7
Acertou 48 55 82 17
Errou 15 19 7 62
Problema 2 Composição/ combinação
Não respondeu 37 26 11 21
Acertou 70 55 71 59
Errou 15 29 25 34 Problema 4
Comparação
Não respondeu 15 16 4 7
Ao analisarmos as sondagens dos significados das operações do Campo
Aditivo, pudemos perceber que não houve avanço do diagnóstico 1 para o 2.
A partir disso, começamos a levantar algumas conjecturas a respeito de
qual seria o conhecimento necessário para as professoras poderem planejar as
situações didáticas relacionadas à compreensão dos significados das operações
do Campo Aditivo. Sabemos que as ideias que abrangem o Campo Aditivo são
bastante complexas e envolvem:
• Entender como a criança representa um conceito a partir de uma ou várias
situações propostas.
• Interpretar os procedimentos utilizados pelos alunos na resolução das
situações propostas - orais, escritas, desenhos, esquemas ou diagramas.
• Compreender que os diferentes conceitos que compõem as estruturas
aditivas possuem complexidades diferentes, principalmente se observarmos
em que “lugar nas sentenças” se encontra a incógnita.
O professor precisa pensar na maneira mais adequada de trabalhar com as
situações-problema propostas, sendo assim:
125
“... o professor, ao elaborar/escolher um problema se questione sobre como desenvolverá a atividade, quais conceitos e raciocínios pretendem trabalhar” (MAGINA, CAMPOS, NUNES e GITIRANA, 2008).
Por exemplo, os problemas de composição como este: “Em um aquário há
7 peixes amarelos e 8 vermelhos. Quantos peixes há no aquário?” e que envolvem
a relação parte-todo são os que os alunos mais acertaram, mas se modificarmos o
lugar da incógnita os alunos terão mais dificuldade para resolvê-lo. Vejamos um
exemplo: “Um aquário tem 15 peixes. Desses, 7 são amarelos, quantos são os
vermelhos?” No primeiro caso foram oferecidas as partes para encontramos o
todo, ou seja um relação direta, já no segundo caso apresentado tínhamos o todo
e uma das partes e há a necessidade de encontrar a outra parte.
Da mesma forma que acontece com os problemas de composição, também
irão acontecer com as demais ideias que envolvem os significados das estruturas
aditivas – transformação, comparação e composição de transformação – ou seja,
a mudança do lugar da incógnita das situações-problema, traz dificuldades aos
alunos na representação de seu pensamento e na definição de um percurso para
a resolução.
Essas considerações nos permitem dizer que o conhecimento sobre os
significados das operações do Campo Aditivo não estavam tão claros para as
professoras como estavam os conhecimentos sobre o Sistema de Numeração
Decimal. O conhecimento que elas possuíam a respeito do Sistema de
Numeração Decimal permitiu-lhes desenvolver um trabalho mais consistente,
elaborando e propondo situações mais adequadas às necessidades de
aprendizagens diagnósticas ao longo de todo o ano.
Retomando um trecho da entrevista da professora Rosa, podemos observar
que quando perguntei quais seriam os problemas que os alunos apresentavam
mais dificuldades e suas razões, a professora respondeu:
“Eu percebo que eles têm muita dificuldade na interpretação. Por exemplo, um aquário tem tantos peixes, sendo que tantos são azuis. Quantos são os amarelos? Eles têm muita dificuldade de compreender que não é necessário só fazer uma subtração. Eles também podem resolver fazendo uma adição. Eu percebo que eles têm essa dificuldade” (Anexo 3).
126
Isso mostra que a preocupação da professora Rosa está na interpretação
das situações propostas e não no fato de que os significados das operações
possuem complexidades distintas. A mudança sugerida do lugar da incógnita no
problema de composição, relacionado ao conhecimento de uma das partes e do
todo para se encontrar a outra parte, indica que são estas situações que os alunos
apresentam mais dificuldade para o encaminhamento da solução (MAGINA,
CAMPOS, NUNES E GITIRANA, 2008).
O mesmo ocorreu quando perguntamos à professora Lívia, em qual
conteúdo os alunos tinham mais facilidade? Ela respondeu que “Não era na
resolução de problemas” (Anexo 3).
Essa indicação de que havia algo que as sondagens não puderam captar
também está explicitada na entrevista da Coordenadora Pedagógica:
“Acredito que a observação diária e pontual de sala de aula é um parâmetro melhor do que as sondagens. Porque olhando na “carinha” da criança, o professor vai sentindo se ele está ou não entendendo. Muitas vezes na hora da sondagem, só do aluno ter que fazer o registro em outro papel e o professor acompanhar individualmente, ele se sente um pouco deslocado. Isto para as crianças que não estão acostumadas, podem se sentir até travadas. As sondagens eram feitas especificamente em períodos pré determinados pela Diretoria Regional de Educação, só que muitas vezes eu percebia que elas falavam assim: não sei como esta criança não conseguiu fazer esta questão. Então, a sondagem é parâmetro, é um parâmetro palpável, mas só o que elas sentem da criança no dia a dia, pode ser diferente. Aquele papel que foi preenchido naquele dia, pode não refletir o conhecimento dos alunos. As professoras percebem que na troca de sala de aula, a criança avançou mais do que o registro permitia olhar. As sondagens, de qualquer forma, foram muito boas, mas podem não revelar o conhecimento dos alunos, como esta observação feita regularmente pela professora” (Anexo 3).
As duas professoras têm consciência que existe uma dificuldade na
compreensão dos significados das operações do Campo Aditivo, mas não sabem
ainda que a compreensão desses significados envolvem a representação de um
conceito e a interpretação dos procedimentos utilizados pelas crianças. Não basta
saber operar com os números por meio de diferentes algoritmos, é preciso
compreender como essas duas dimensões são colocadas na escolha das
127
atividades. Para que isso possa acontecer, as indicações sugeridas por Magina,
Campos, Nunes e Gitirana são fundamentais:
“é preciso considerar que para o desenvolvimento do campo conceitual aditivo passa, necessariamente, pelo processo de aprendizagem, ... fazendo-se relevante que o professor trabalhe uma grande quantidade de problemas que os alunos consolidem cada tipo de raciocínio. ... devemos estar atentos para propor problemas que requeiram diversos raciocínios, permitindo dessa forma, que haja uma expansão do raciocínio aditivo estendendo o campo conceitual em questão. A maioria dos raciocínios apresentados não acontecem espontaneamente, dependerá da atuação competente do professor construí-los com seus alunos” (MAGINA, CAMPOS, NUNES E GITIRANA, 2008, P.61).
A pesquisa mostrou que as professoras e a Coordenadora Pedagógica
detectaram as dificuldades dos alunos na construção dos significados das
operações do Campo Aditivo. No entanto, as sondagens (avaliações processuais)
realizadas a respeito das situações-problema envolvendo estas estruturas e a
avaliação institucional - Prova da São Paulo, não provocaram reflexões conjuntas
das professoras e da equipe escolar para o levantamento de quais seriam os
fatores que não permitiram o avanço dos alunos. A investigação também poderia
mostrar que talvez o instrumento elaborado e disponibilizado pela SME, fosse
inadequado, indicando que ele não permitiu captar os conhecimentos sobre os
significados das operações no Campo Aditivo.
O que vale destacar é que o conhecimento sobre o funcionamento das
estruturas conceituais do Campo Aditivo é muito importante, tanto para o
planejamento do trabalho das professoras, como também para indicar à própria
SME se o instrumento proposto foi ou não adequado.
128
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na trajetória desse trabalho de pesquisa, o relato das professoras, da
Diretora e da Coordenadora Pedagógica foi muito significativo para a busca de
respostas às questões formuladas. Além, é claro, dos instrumentos coletados –
rotinas das professoras, instrumentos de sondagens de números e do significado
das operações do Campo Aditivo. Da mesma forma, os teóricos selecionados nos
ajudaram a fundamentar nosso trabalho.
Quando iniciamos este estudo tínhamos como pretensão desvendar quais
eram as práticas e rotinas das professoras do 3º ano do Ensino Fundamental de
uma escola cujos alunos alcançaram desempenho satisfatório nos resultados em
Matemática na Prova São Paulo de 2009. Além disso, gostaríamos de investigar
se nas práticas desenvolvidas pelas professoras foram levadas em conta as
Orientações Curriculares da Rede Municipal de São Paulo.
Para iniciarmos a nossa pesquisa tínhamos algumas hipóteses que num
primeiro momento pareciam ser importantes, como a de uma equipe gestora bem
estruturada – Diretor e Coordenadores Pedagógicos, trabalhando juntos ao longo
do tempo. Uma equipe que tivesse horário semanal de reunião, onde se
discutissem as práticas dos professores da escola e pudessem coletivamente
pensar nas propostas de formação e de encaminhamentos, de modo a atender as
necessidades de ensino dos professores e de aprendizagens dos alunos.
Da mesma forma que a equipe gestora, pensamos que as professoras
também deveriam estar há pelo menos quatro ou cinco anos na escola e que
ambas participassem do horário coletivo da escola e discutissem nesse horário as
dificuldades enfrentadas no cotidiano de sala de aula, de modo que os aspectos
pedagógicos e os de conhecimento científico fossem os elementos constitutivos
desse saber profissional (Pinto, 2000).
Quando chegamos à escola e começamos a levantar os dados sobre a
composição da equipe gestora e seu tempo de permanência na escola,
129
verificamos que, com exceção da Diretora que estava no cargo há sete anos, a
Coordenadora estava em sua primeira experiência na função de Coordenadora
Pedagógica, o que considero uma condição surpreendente. O que havia de
diferencial nela, era o seu trabalho já praticado em diversas funções nesta escola
(Auxiliar de Direção e Assistente de Direção), o que lhe permitiu estabelecer uma
rotina de trabalho um pouco mais sistematizada, embasada na experiência
administrativa adquirida. Verificou-se a mesma situação quanto às professoras, já
que a que contava mais tempo na própria unidade, estava na escola há apenas
dois anos.
Outro aspecto que fazia parte das minhas hipóteses iniciais era que as
professoras participassem do horário coletivo. Verificou-se que na realidade
apenas a Rosa participava desta atividade e ainda assim, parcialmente, o que não
lhe permitia acompanhar e aprofundar as discussões que eram realizadas nessa
formação.
Fui percebendo, à medida que transcorriam as análises deste estudo, que
as hipóteses levantadas inicialmente não se concretizaram. Pelo contrário. Muitas
situações encontradas caminhavam no sentido antagônico às minhas próprias
linhas de análise. A partir disso, foi necessário buscar outros aportes para
responder as questões levantadas.
O nosso estudo demonstra que as rotinas semanais organizadas pelas
professoras foram fundamentais nas escolhas das atividades que pudessem
favorecer a aprendizagem dos alunos, principalmente no que diz respeito à
construção do Sistema de Numeração. Esta organização proporcionou analisar as
práticas de ensino dessas professoras. O planejamento era feito no primeiro dia
útil da semana e devolvido para a CP na sexta-feira, baseados no dia a dia da sala
de aula, mostrando situações reais implementadas. À medida que o registro das
rotinas semanais indicavam exatamente o que havia sido trabalhado, verificamos
quais conteúdos haviam sido implementados e qual sua intensidade.
A observação e análise desses planejamentos permitiu-nos verificar que
uma grande parte do tempo didático foi destinado aos conteúdos de números e
operações, resolução de problemas e ao ensino de cálculo, o que parece bastante
130
pertinente para essa faixa etária. Outro aspecto importante que pode ser
observado nas rotinas, é que as professoras Lívia e Rosa se orientavam pelos
documentos produzidos pela SME para a organização de seus planejamentos.
Porém, não foi possível notar nenhum trabalho de análise desses planos
pela Coordenadora Pedagógica. Para que houvesse uma reflexão sobre o
trabalho proposto, seria importante uma ação devolutiva da Coordenadora para as
professoras, mas percebi que isso não ocorreu, provavelmente pelo fato dela ser
nova na função. Sabemos da importância da devolutiva (Weisz, 2002), já que o
professor está tão envolvido no desenvolvimento das atividades, que não
consegue observar que muitos conteúdos foram apenas elencados, mas não
ensinados. Seria fundamental a Coordenação questionar esse planejamento no
momento em que os alunos não apresentaram avanços na construção dos
significados das operações do Campo Aditivo.
Percebe-se pelo depoimento da Coordenadora Pedagógica que a formação
não lhe possibilitou fazer observações ou mesmo intervenções didáticas e
metodológicas no trabalho do professor. A observação das atividades em sala
aula tinha o intuito de verificar se o que estava sendo discutido na formação era
factível de acontecer em classe, o que lhe permitiria discutir no horário coletivo da
formação, uma situação real que pudesse ser problematizada e servisse de
reflexão às práticas desenvolvidas.
Essas seriam as condições ideais para o desenvolvimento profissional dos
professores. À medida que compreendemos que às transformações estão
inseridas em uma dinâmica cultural, social e curricular e atrelamos isso à sala de
aula, elas se tornarão mais significativas. Nesse sentido, o horário coletivo deveria
ter sido usado para refletir sobre as dificuldades de ensino enfrentadas pelos
professores nas práticas desenvolvidas (IMBÉRNON, 2009).
Outro aspecto importante a destacar é a análise das avaliações externas.
As professoras ficaram surpresas ao saber que a escola havia sido indicada para
essa pesquisa, baseada na evolução dos resultados obtidos na Prova São Paulo.
Não foi constatado nem nas entrevistas nem mesmo na observação das
rotinas, que os resultados da Prova São Paulo faziam parte da reflexão das
131
professoras, apesar dos resultados da avaliação de externa – Prova São Paulo -
serem um dos instrumentos que permitiriam um olhar longitudinal sobre as
aprendizagens. A escola perdeu uma grande oportunidade de reolhar para o seu
planejamento deste período, no caso especial dessa escola, entre anos de 2007 a
2009 e questionar sobre o quê a escola fez de “diferente” para ocorrer a melhoria
das aprendizagens verificadas.
Podemos destacar que as avaliações permitiram um diagnóstico razoável
para a SME da situação temporal a respeito do conhecimento dos alunos
adquiridos sobre alguns conteúdos matemáticos, já que é impossível abranger
toda a área de conhecimento de uma só vez, em uma única avaliação. Porém, ao
mesmo tempo em que elas serviram à Secretaria para adequar as suas propostas
de formação e acompanhamento, esses relatórios não fizeram sentido para os
professores, nem tampouco para os gestores das escolas e infelizmente, os
relatórios não se transformaram em instrumentos que permitissem aos
professores tirarem proveito sobre suas informações.
Sem dúvida, será necessário rever de modo realista o “pós-avaliação”, de
modo a conscientizar a Escola deste instrumento de análise da aprendizagem,
para que todo este esforço material e institucional seja melhor aproveitado.
Felizmente há de se considerar o lado positivo do trabalho de avaliação
processual feito pelas professoras, que apesar de alguns dos instrumentos terem
sido solicitados pela SME, demonstraram que elas utilizavam seus resultados para
a organização das rotinas semanais, principalmente para a construção do Sistema
de Numeração Decimal e para o trabalho com as operações.
As sondagens de números e dos significados dos números no Campo
Aditivo também mobilizaram a formação na escola, a partir do simples
entendimento do preenchimento das planilhas, que fazia com que elas se
familiarizassem com alguns parâmetros, às vezes até desconhecidos para as
professoras, até no despertar para a compreensão daquele instrumento com mais
profundidade, como também na circulação de novas informações na escola,
permitindo de forma simultânea, a autonomia e a colegialidade como mecanismos
para a busca de conhecimentos conceituais (IMBÉRNON, 2009). Os professorem
132
começariam a compreender o ponto inicial da aprendizagem do aluno, que
possibilitou organizar situações didáticas mais condizentes com as suas
necessidades. Observamos que a partir de um problema real simples –
“preenchimento de uma planilha de sondagem de números e dos significados das
operações no Campo Aditivo”, promoveu-se a circulação de informações de
conceitos, provocando um ambiente de respeito e solidariedade. Trouxe também,
a exposição de argumentações, de um esforço de se comunicar e de fazer
avançar na compreensão dos conceitos presentes no instrumento, o que é
altamente produtivo para a aprendizagem.
A pesquisa também revelou que as professoras já possuíam um
conhecimento sobre as Orientações Curriculares e sobre os materiais que a SME
produziu. A maioria das atividades propostas estava organizada a partir do Guia
de Planejamento e Orientação Didática para o Professor do 3º ano – Vol. I e II.
Este material permitiu ao professor fazer escolhas mais adequadas das atividades
para suas turmas, principalmente no que se refere ao trabalho com números e
operações, dando uma flexibilidade no planejamento.
Esses resultados podem contribuir com a organização de políticas públicas,
principalmente em grandes sistemas, como é o caso da Rede Municipal de
Educação de São Paulo, uma vez que acredito ser imprescindível para qualquer
sistema público de educação, que suas ações sejam conhecidas e divulgadas
amplamente, quer sejam por comunicados, quer sejam por decretos e/ou
portarias. Além disso, é preciso deixar bem claro a sua forma de implantação e a
sua política de formação continuada.
Esta formação para ser efetiva, deverá provocar uma reflexão sobre a
prática do professor, possibilitando a construção de situações-problema, como foi
o caso da busca de significados dos conceitos implícitos nas planilhas de
sondagens. Isso será um mobilizador para a busca de novos conhecimentos e
para a circulação de novas informações necessárias para a construção de
significados entre o grupo de professores e Coordenadores Pedagógicos.
Neste trabalho destaco a questão do valor do “acompanhamento” na
organização de uma política pública de educação. Não estou apenas me referindo
133
às avaliações externas, mas gostaria de destacar a importância das avaliações
processuais, pois elas permitem ao professor não só diagnosticar o que os alunos
aprenderam, mas também verificar se as condições de ensino foram favoráveis,
se as intervenções foram adequadas e se o planejamento é condizente com as
necessidades de aprendizagens dos alunos de cada turma. E foi exatamente isso
que pudemos perceber nas duas professoras.
Finalmente, gostaria de realçar que a pesquisa dialogou o tempo todo com
meu trabalho de formadora e de gestora pública. Enquanto formadora interessava-
me saber quais eram as representações que as professoras possuíam sobre um
determinado conceito ou objeto trabalhado na formação. No papel de gestora,
meu objetivo foi observar as práticas e as rotinas dessas duas professoras para
compreender melhor seu desenvolvimento e assim verificar a possibilidade de
generalização desses procedimentos para outras escolas da Rede.
Acredito também que devemos estabelecer um diálogo intencional entre o
que é oferecido na formação, quer seja na formação da própria escola ou fora
dela, nas práticas dos professores. Compreender que todo educador está imerso
em um mundo carregado de valores e crenças, com intercâmbios simbólicos
distintos, com interesses sociais diferentes e em um cenário político que muitas
vezes não leva em conta toda essa complexidade.
A compreensão disso deverá considerar o contexto organizacional onde
esse professor está inserido e propiciar o diálogo constante entre a prática em
sala de aula e as formações oferecidas. Isto parece simples ao primeiro olhar
considerando apenas a situação de uma escola hipotética ou real (como é o caso
deste estudo). Quando este contexto se apresenta para todo o conjunto de um
Sistema de Ensino, envolvendo toda a sua complexidade, esta tarefa formadora e
transformadora naturalmente se apresentará com uma magnitude gigantesca, se
comparada à forma de administração singular de apenas uma escola, mas que de
alguma maneira também necessita sentir-se inserida na Rede, não apenas em
sua nomenclatura, mas também com diretrizes, com princípios e procedimentos
comuns que possam organizá-la.
134
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__________. Lei nº 14063 de 14 de outubro de 2005. Institui o Sistema de Avaliação de aproveitamento escolar dos alunos da rede municipal de ensino de São Paulo, sob a responsabilidade da Secretaria Municipal de Educação.
__________. Portaria 4.507 de 30 de agosto de 2007. Institui na Rede Municipal de Ensino, o Programa "Orientações Curriculares: Expectativas de Aprendizagens e Orientações Didáticas" para a Educação Infantil e Ensino Fundamental e dá outras providências.
__________. Portaria 6.328, de 26 de setembro de 2005. Institui, para o ano de 2006, o Programa "Ler e escrever - prioridade na Escola Municipal", nas Escolas Municipais de Ensino Fundamental - EMEFs e Escolas Municipais de Ensino Fundamental e Médio - EMEFMs.
__________. Portaria 5403 de 30 maio de 2007. Reorganiza o Programa "Ler e Escrever- Prioridade na Escola Municipal" nas Escolas Municipais de Ensino Fundamental- EMEFs, Escolas Municipais de Ensino Fundamental e Médio- EMEFMs e Escolas Municipais de Educação Especial- EMEEs.
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140
ANEXOS
141
Anexo 1
Expectativas de aprendizagem para o 3º ano do Ens. Fundamental I e Sugestão de distribuição dos conteúdos por bimestre
Quadro 23: Expectativas de aprendizagem para o 3º ano Expectativas do 3º ano do Ensino Fundamental I Explorando contextos do cotidiano, de outras áreas de conhecimento e da própria Matemática, por meio de práticas que podem articular-se em projetos, seqüências didáticas, atividades rotineiras e atividades ocasionais, para cada um dos blocos temáticos, espera-se que o estudante possa: Números
M01 Ler e escrever números pela compreensão das características do sistema de numeração decimal. M02 Comparar e ordenar números (em ordem crescente e decrescente). M03 Resolver situações-problema que envolvam relações entre números, tais como: ser maior que, ser menor que, estar entre, ter mais um, ter mais dois, ser o dobro, ser a metade. M04 Contar em escalas ascendente e descendente a partir de qualquer número dado. M05 Utilizar a calculadora para produzir e comparar escritas numéricas.
Operações M06 Analisar, interpretar e resolver situações-problema, envolvendo a adição. M07 Utilizar a decomposição das escritas numéricas para a realização do cálculo de adições. M08 Utilizar uma técnica convencional para calcular o resultado de adições. M09 Utilizar estimativas para avaliar a adequação do resultado de uma adição. M10 Analisar e validar (ou não) resultados obtidos por estratégias pessoais de cálculo de adição, utilizando a calculadora. M11 Analisar, interpretar e resolver situações-problema, envolvendo a subtração. M12 Utilizar a decomposição das escritas numéricas para a realização do cálculo de subtrações. M13 Utilizar uma técnica convencional para calcular o resultado de subtrações, sem recurso à unidade de ordem superior (sem “empréstimos”). M14 Utilizar estimativas para avaliar a adequação do resultado de uma subtração. M15 Analisar e validar (ou não) resultados obtidos por estratégias pessoais de cálculo de subtração, utilizando a calculadora. M16 Analisar, interpretar e resolver situações-problema, compreendendo alguns dos significados da multiplicação. M17 Calcular resultados de multiplicação, por meio de estratégias pessoais. M18 Determinar o resultado da multiplicação de números de 0 a 9, por 2, 3, 4, 5, em situações-problema e identificar regularidades que permitam sua memorização. M19 Utilizar sinais convencionais (+, –, X, : e =) na escrita de operações multiplicação e divisão. M20 Analisar, interpretar, resolver e formular situações-problema, compreendendo alguns dos significados da divisão, utilizando estratégias pessoais.
Espaço e forma
M21 Interpretar a localização de um objeto ou pessoa no espaço pela análise de maquetes, esboços, croquis. M22 Interpretar a movimentação de um objeto ou pessoa no espaço pela análise de maquetes, esboços, croquis. M23 Relacionar figuras tridimensionais (como cubos, paralelepípedos, esferas, cones, cilindros e pirâmides) com elementos naturais e objetos do mundo que o cerca. M24 Perceber semelhanças e diferenças entre figuras tridimensionais e bidimensionais, comparando cubos e quadrados, paralelepípedos e retângulos. M25 Perceber semelhanças e diferenças entre figuras tridimensionais e bidimensionais, comparando pirâmides e triângulos,esferas e círculos. M26 Identificar semelhanças e diferenças entre pirâmides, cubos e paralelepípedos, observando seus elementos. M27 Identificar semelhanças e diferenças entre cones, cilindros e esferas, observando seus elementos.
Grandezas e medidas
M28 Resolver situações-problema que envolvam a identificação do valor de cédulas e moedas do sistema monetário brasileiro. M29 Realizar possíveis trocas entre cédulas e moedas em razão de seus valores. M30 Estabelecer relação entre unidades de tempo — dia, semana, mês, bimestre, semestre, ano, consultando calendários e fazer leitura de horas relacionando minutos e segundos, em relógios analógicos e digitais M31 Produzir desenhos ou escritas para comunicar o resultado de uma medição, não necessariamente com uso de unidades convencionais. M32 Utilizar procedimentos para comparar, entre si, grandezas como comprimento, massa e capacidade, utilizando estratégias pessoais.
Tratamento da informação
M33 Interpretar dados apresentados por meio de tabelas simples M34 Interpretar dados apresentados por meio de gráficos de colunas e de barras. M35 Criar registros pessoais (como desenhos, códigos) para comunicação de informações coletadas. M36 Descrever, oralmente, situações apresentadas por meio de tabelas e gráficos.
142
Quadro 24: Sugestão de distribuição das expectativa s de aprendizagem por bimestre Bimestre Números Operações Espaço e Forma Grandezas e
Medidas Tratamento da Informação
1º M1 M2
M6 M7 M8
M21 M22
M28 M29
M33
2º M3 M4 M5
M9 M10 M11 M12
M23 M30 M34
3º M13 M14 M15 M16
M24 M25
M31 M35
4º M17 M18 M19 M20
M26 M27
M32 M36
143
ANEXO 2 – Organização das Entrevistas Semiestrutur adas
Mestrado em Educação Matemática da UNIBAN
Questões para entrevista semi estruturada com o diretor
Nome: ______________________________________________________
1. A que o Sr(a) atribui o bom desempenho de sua escola na Prova São
Paulo entre os anos de 2007 a 2009?
2. Há encontros periódicos entre o Sr(a) e os Coordenadores
Pedagógicos para acompanhamento das aprendizagens dos alunos? Em
caso afirmativo cite alguns dos encaminhamentos propostos.
3. Qual é a composição do quadro de professores da escola? Ele está
completo?
4. Qual o número de alunos da escola? Solicitar quadro com a
distribuição de alunos por ano do Ciclo. Há defasagem idade/ série em sua
escola?
5. Há quanto tempo o Sr(a) é diretor nesta escola?
6. A equipe gestora estava completa em 2009?
7. O corpo docente e a equipe gestora são estáveis?
8. Como você faz o acompanhamento das aprendizagens dos alunos
de sua escola?
9. Você tem acompanhado os horários coletivos? Com que
periodicidade?
10. Qual a porcentagem de professores do ciclo I que fazem horário
coletivo?
144
Questões para o Coordenador Pedagógico
Nome : ______________________________________
1. Há quanto tempo você está nesta escola?
2. A que você atribui o bom desempenho de sua escola na Prova São Paulo no
3º ano do Ciclo I área de Matemática?
3. Como você acompanha a aprendizagem dos alunos? Você tem em sua
rotina semanal o hábito de acompanhar o trabalho dos professores nas salas de
aula? Se sim como você faz esta escolha? Se não justificar o porquê.
4. Como você planeja a trabalho nos horários coletivos?
5. Há no horário coletivo horas destinadas à discussão e planejamento das
atividades de Matemática que serão trabalhadas em sala de aula?
6. Os professores do Ciclo I possuem uma rotina de trabalho com
matemática? Como você acompanha a distribuição dos conteúdos matemáticos
organizados pelos professores do 3º ano do Ciclo I? Você faz alguma sugestão
de mudança em função dos conhecimentos matemáticos apresentados pelos
alunos?
7. Os planos de ensino de Matemática dos professores do 3º ano do ciclo I
estão organizados seguindo as Orientações Curriculares: expectativas de
aprendizagem do Ciclo I proposta pela SME?
8. Qual o número de professores do ciclo I que participaram da formação de
matemática oferecida pela DRE? Esta formação era socializada no horário
coletivo?
9. Nesta escola vocês fazem Provão?
145
Questões para os professores
1. Nome do professor: ______________________________________
2. Quanto tempo está nesta escola? ________
3. Como você faz o planejamento do seu trabalho em matemática?
4. Como você organiza os conteúdos de Matemática na rotina semanal?
5. Como você acompanha a aprendizagem dos seus alunos? Você faz prova?
Com que periodicidade? Você possui algum registro deste acompanhamento?
6. A que você atribui o bom desempenho dos alunos em matemática no 3º
ano da Prova São Paulo 2009?
7. Que conteúdos matemáticos os seus alunos tem mais facilidade? Esta
facilidade também é sua?
8. Qual o conteúdo matemático que seus alunos apresentam maior dificuldade
A que você atribui isto? Como você trabalha esta dificuldade?
9. Você prepara seus alunos para a Prova São Paulo? Como?
10. Você participa do horário coletivo de sua escola? O que vocês discutem de
matemática no horário coletivo? As discussões ajudam no planejamento das
atividades e na organização da rotina semanal de matemática?
11. Que dificuldades você têm para ensinar matemática?
12. Você participou da formação de matemática oferecida pela DRE? Em que
ela ajudou no trabalho que você desenvolve em sua sala de aula?
146
ANEXO 3 – Entrevistas
1. Entrevista com a Diretora de escola – 29/10/201 0
Pesquisa do Mestrado da UNIBAN que visa identificar práticas e rotina s das
professoras do 3º ano do ensino fundamental cujos alunos tiveram bom
desempenho em matemática na Prova São Paulo.
A diretora entrevistada é da escola General Osório escola situada na Vila
Califórnia, região da cidade de São Paulo que faz divisa com o município de São
Caetano do Sul.
Entrevistadora: A entrevista que vou fazer com você é para tentar descobrir qual
é o “segredo” dessa escola, uma vez que ela obteve o segundo melhor resultado
da Prova São Paulo em 2009.
Diretora : Acho que não tem segredo, não e ri.
Entrevistadora : Acho que tem alguma coisa que vocês estão fazendo a mais e
que seria importante compartilhar com outras escolas. Olhando para o
desempenho das escolas da Rede Municipal de São Paulo, entre os anos de 2007
para 2008 e de 2008 para 2009, observou-se que parte dos resultados não tão
bom mas foi avançando, até verificarmos nos dados comparativos que
conseguiram o maior avanço no 3º ano entre as escolas na área de Matemática.
Vocês ainda não têm o melhor resultado dos 3ºs anos do Ciclo I, mas se
analisarmos o crescimento, é a escola que mais avançou. A escola teve um
crescimento de cerca de 26% entre 2007 para 2008 e de quase 33% de 2008 para
2009: é um avanço enorme. Nesse sentido deve ter algumas coisas que você,
enquanto diretora, deve ter propiciado e nessa conversa é que tentaremos
descobrir. A primeira coisa que gostaríamos de pensar com você é: a que você
atribui este desempenho tão bom da escola? O que você acha que pode ter
ajudado esta escola ter melhorando tanto o seu resultado?
Diretora : Acredito que olhar o perfil do professor na ora de atribuição de aula
ajuda muito. Quando a professora Lívia chegou à escola, ela já falou que ela era
alfabetizadora. Ela se apresentou e foi dizendo o que estava fazendo na escola,
147
que trabalhava e que estava entrando em outra rede de ensino. Conversando,
percebe-se o perfil do professor para se colocar, por exemplo, nas salas de
alfabetização. A conversa é fundamental para a atribuição. Nada é imposto, mas é
preciso conversar para ver se eles aceitam aquele ano que estamos indicando. É
preciso conhecer o perfil do professor para poder atribuir melhor a classe para ele.
Ter esta conversa para “julgar” qual classe atribuir, contribui para que o professor
se sinta melhor com a turma com a qual vai desenvolver o seu trabalho durante
todo o próximo ano. No ano retrasado, algumas professoras que estavam
trabalhando com 3º e 4º ano pensaram em pegar as turmas dos anos iniciais, mas
na conversa, elas mesmas perceberam que não iria dar certo. A professora Lívia é
uma pessoa que se prepara muito para entrar em sala de aula. Ela vai atrás de
curso de formação, utiliza parte do seu horário individual para fazer a formação,
conforme a legislação permite. São algumas coisas que ajudam. E o material que
elas precisam, elas fazem a listinha, quando chegam as verbas a escola vai
comprando, oferecendo o que é possível dentro da legislação vigente.
Entrevistadora : Você quer dizer que há um olhar legal, mas que existe também
um olhar pedagógico da diretora da escola?
Diretora : É isto mesmo, uma questão não pode andar sem a outra. A professora
Lívia, por exemplo, não participa do horário coletivo, porque ela tem acúmulo de
cargo, mas ela estava sempre conversando e trocando informações com as
colegas. Acho o horário coletivo importantíssimo, mas não dá, é preciso haver
outras possibilidades de troca.
Entrevistadora : A Coordenadora Pedagógica do ano passado agora é sua
assistente de direção. Vocês no ano passado tinham momentos para discutir o
acompanhamento das aprendizagens dos alunos?
Diretora : Não, a gente conversava, não como gostaríamos, mas as conversas se
davam na mesa dela e aqui na minha. E esses casos mais difíceis estavam
sempre presentes. Os alunos com dificuldade, o que vamos fazer? vamos
conversar com a professora, vamos encaminhar para algum tipo de atendimento?
Isto sempre acontecia. Até porque ela ficou um bom tempo sozinha como
148
Coordenadora Pedagógica e era comigo que ela trocava as impressões, as
dificuldades que estava sentindo, as necessidades de encaminhamentos.
Entrevistadora : Como é o quadro de professores na escola, está completo? Ele
estava completo no ano passado? Havia licenças médicas?
Diretora : Sempre havia licenças, mas com o módulo de professores (substitutos)
sempre ficava mais tranquilo. Tem algum dia, que ficava mais apertado, mas de
qualquer forma, nada tão preocupante assim. Sempre que alguém iria faltar,
avisava. Os professores agendavam as faltas para que a escola pudesse
organizar-se, deixavam atividades para serem feitas com os alunos, elas já
sabiam como funcionava e por isso se organizavam.
Entrevistadora : Os professores que fazem parte do módulo têm algum projeto de
modo que possam acompanhar algum professor, quando não falta ninguém?
Diretora : Para o 1º ano como há os Alunos Pesquisadores que fazem parte do
Projeto Ler e Escrever, nós não temos. O projeto da escola nos dias em que não
há falta de professor, as professoras do módulo acompanham as turmas dos 4ºs
anos.
Entrevistadora : O número médio de alunos em cada sala é de 35 alunos?
Diretora : Não tem 35, as salas aqui têm menos. Os primeiros anos têm por volta
de 25 alunos. As demais salas tinham em média de 28 a 30 alunos. Isto também
ajuda muito o trabalho do professor.
Entrevistadora : Tem defasagem entre idade e série?
Diretora : Muito pouco, diria, quase nada. Onde tem mais é no 4º ano do Ciclo I.
Na grande maioria alunos que vieram de outras regiões do Brasil. Alunos que
estudaram, pararam e agora retornaram.
Entrevistadora : Quanto tempo você está aqui na escola e quanto tempo você
está como diretora?
Diretora : Em vim para cá em 2002. Eu estava lá no Campo Limpo. Fiquei 17 anos
em M Boi Mirim, pois eu morava naquela região. Em 2001, eu fui para uma outra
149
escola da região o “Domingos Rubino”, estava mais perto da minha mãe e em
2002 eu vim para cá como Coordenadora Pedagógica. Em 2002 eu fiquei como
Coordenadora Pedagógica que é o meu cargo efetivo aqui e em 2003 a diretora
que estava aqui saiu para trabalhar na Diretora Regional de Educação e a partir
daí fiquei como Diretora da escola pelo Conselho de Escola e estou aqui até hoje
no cargo.
Entrevistadora : Desde 2003 você está como diretora da escola, isto a ajuda a
desenvolver este trabalho?
Diretora : Ajuda, a “gente” acaba conhecendo todo mundo, as mães, a
comunidade, ainda acho pouco tempo. Na outra escola, eu fiquei dezessete anos,
você conhece bem tudo e todo mundo. Lá era uma escola muito grande. Aqui é
uma escola pequena, tem uma comunidade boa, tem alguns problemas, mas são
poucos, em vista do que já enfrentei, estes são moleza.
Entrevistadora : Em 2009 você tinha a equipe gestora completa?
Diretora : Não. Havia apenas uma coordenadora, no início do ano não tinha
ninguém na Coordenação. Eu tinha apenas 2 assistentes e nenhuma CP. Uma
das CP começou em maio e ficou até o final do ano com apenas uma CP, apesar
de termos 2 cargos aqui na escola. Nós três (diretora e as 2 assistentes) nos
revezávamos para fazer o atendimento pedagógico.
Entrevistadora : Você costumava fazer o acompanhamento das aprendizagens
dos alunos?
Diretora : O acompanhamento que fazia era através dos registros que os
professores faziam. Ano passado eu participava de um dos horários coletivos.
Estava no grupo com os professores, isto também ajudava acompanhar as
aprendizagens dos alunos. Este ano eu não estou fazendo, sinto falta disso, pois
ajuda a acompanhar as aprendizagens dos alunos, uma vez que os professores
sempre trazem a fala de um ou outro aluno e as dificuldades que estão sentindo
no seu trabalho. Ali você está sempre sabendo de tudo, eles trazem as
defasagens dos alunos, proporcionando um melhor acompanhamento.
150
Entrevistadora : Você então acompanhava o horário coletivo e o outro grupo
quem acompanhava?
Diretora : Eu acompanhava um grupo e a outra assistente acompanhava o outro.
Entrevistadora : Quantos professores fazem horário coletivo?
Diretora : Temos dez salas no Ciclo I temos 50% dos professores que fazem
horário coletivo.
Entrevistadora : Você e a Coordenadora Pedagógica participaram de algum tipo
de formação na DRE no ano de 2009?
Diretora : Sim. Para o diretor teve encontros uma vez por mês, mas com pouco
olhar pedagógico, o foco foi muito mais administrativo. Poucos encontros
pedagógicos. Cada mês tinha um tema, um dos encontros foi para discutir os
resultados da Prova São Paulo.
Outra coisa que gostaria de acrescentar diz respeito ao trabalho da Coordenadora
Pedagógica. Ela era professora do Fundamental II – Língua Inglesa, havia sido
muitos anos secretaria de uma empresa, ela ficou com muito medo de aceitar a
função, pois não conhecia nada de Ciclo I, não tinha nenhuma experiência. No
entanto ela tinha vontade, ela entrou para a função, foi fazer a formação e tentava
aprender junto com as professoras. Ela ia para a formação e trazia o que tinha
aprendido para discussão das professoras e elas foram aprendendo juntas. Ela
sempre estava entusiasmada. Ela voltava para lá na formação com as perguntas
do grupo e dela também, muito empolgada com as descobertas. Ás vezes tem
CPs que fazem muito tempo as coisas “erradas” e é difícil mudar. Ela não, ela
estava junto com o grupo aprendendo e crescendo, acredito que isto também
ajudou muito. Acho que este movimento dela acabou aproximando-a dos
professores e deixando os professores à vontade. Acho que ajudou no avanço das
aprendizagens dos alunos.
151
2. Entrevista com a Coordenadora Pedagógica de esc ola – 29/10/2010
Pesquisa do Mestrado da UNIBAN que visa identificar práticas e rotina s das
professoras do 3º ano do ensino fundamental cujos alunos tiveram bom
desempenho em matemática na Prova São Paulo.
A diretora entrevistada é da escola General Osório escola situada na Vila
Califórnia, região da cidade de São Paulo que faz divisa com o município de São
Caetano do Sul.
A entrevista inicia-se com a leitura do consentimento para a realização da mesma,
em seguida a pesquisadora retoma o objetivo da pesquisa e para compreender
qual ou quais foram as rotina s e as práticas desenvolvidas pelas professoras do
3º ano, se ela e a diretora da escola tinham oferecido algumas condições que
permitiram tal desempenho para esta escola.
Entrevistadora : Esta escola não é a que teve o melhor resultado nos 3º anos do
Ciclo I da REDE, no entanto é a que teve maior crescimento em termos de
percentuais, se comparamos ano a ano. Em primeiro lugar gostaria de parabenizar
a escola e agora queremos descobrir qual é o segredo.
Coordenadora : O segredo é meio difícil. Eu acho assim: primeiro as professoras
que trabalharam com estes alunos foram bastante competentes. Acredito que
muitas vezes as turmas que as professoras pegaram já vieram muito estimuladas,
acho que isto conta bastante. Saber exatamente qual foi o diferencial acho que é
muito difícil.
Entrevistadora : Acho como você que deva ser um único fator. A idéia da
pesquisa é levantar algumas condições que possam contribuir para as políticas
públicas melhorarem a aprendizagem das crianças. Portanto, se conseguirmos
detectar quais são estes fatores, não sei se conseguiremos implantá-las, mas
estaremos dando elementos para as pessoas pensarem sobre elas, explicitando
que aquelas condições são determinantes para a melhoria do ensino. É um pouco
152
desse caminho que gostaria de desvendar com você. Você é uma das pessoas
que puderam apoiar este trabalho aqui na escola. Claro que tem o trabalho do
professor em sala de aula, mas se não forem oferecidas condições para o
desenvolvimento do trabalho, na maioria das vezes, nada irá acontecer na sala de
aula. Muitas vezes se acontece, ela se dá num ambiente tão difícil, que não é
possível medir o avanço do conhecimento dos alunos. Acredito que deve ter
alguns fatores que permitiram tal desempenho. Bom, há quanto tempo você está
na escola?
Coordenadora : Estou há três anos.
Entrevistadora : No cargo de coordenadora há quanto tempo?
Coordenadora : Comecei em maio de 2009 e fiquei até dezembro só. Esta foi a
primeira vez em que fiquei no cargo de coordenadora pedagógica. Já ocupei
outros cargos na escola, mas como coordenadora foi a primeira vez.
Entrevistadora : Já que você está dizendo que foi a primeira vez, conte-me como
foi a experiência.
Coordenadora : Foi muito boa, muito boa mesmo. Porque eu aprendi muito. Eu
não imaginava que o coordenador conseguia ter a visão tão profunda de uma
escola, como ele tem, porque eu sou do tipo de pessoa que me envolvo muito,
então eu fazia o curso para Coordenadores Pedagógicos na Diretoria Regional de
Educação – Ipiranga, tudo aquilo era muito novo para mim, quando chegava na
escola, eu queria saber se os professores estavam fazendo aquilo que havia visto
no curso. Queria saber como eles estavam fazendo, e isto foi muito bom, porque
eu conheci alguma coisa que não conhecia. O que eu conhecia era a área
administrativa na escola. É muito “legal” você descobrir como a criança aprende,
com mais facilidade ou não. Como é possível facilitar isso, para a maioria das
crianças que tem dificuldade, tudo isso foi muito bom mesmo. No meu caso
também foi desgastante, porque como tudo era muito novo para mim, tinha que
aprender e trabalhar com o que estava vendo, mas de qualquer forma foi muito
bom.
153
Entrevistadora : Nós já falamos um pouquinho, só que a pergunta agora é mais
direta, a que você atribui o bom desempenho das turmas de 3º anos do Ciclo I
nessa escola?
Coordenadora : Bom, eu acho que as crianças estavam vindo de um ritmo
também diferente. Os professores do ano anterior , a formação dos professores é
um ponto essencial para o sucesso da criança. Se o professor não estiver se
atualizando, não estiver aprendendo novas técnicas e estratégias, como tem sido
feito, acho que ele vai ficando meio fechado naquilo que ele estava acostumado a
fazer na rotina do dia a dia. Acho que estas crianças já vieram de um primeiro
ano em um ritmo diferente. As professoras do primeiro ano já estavam engajadas
nesse espírito de formação, conheciam o Programa Ler e Escrever, estavam bem
integradas. As crianças foram para o 3º ano com professoras que também tinham
a mesma linha. Acho que o primeiro ponto está aí, se você está na formação e
compreende o que ela traz, você consegue fazer tudo o que a criança precisa para
aprender. As crianças também entraram num esquema muito fácil, um esquema
de continuidade de trabalho. As crianças, portanto, estavam acostumadas com
este tipo de trabalho. Eu como coordenadora por ter começado em maio, peguei a
“coisa” meio que andando, quando eu ia até a sala de aula para ver como as
“coisas” estavam acontecendo, eu via retratado ali da mesma forma que haviam
me dito na minha formação. Tudo isso foi muito bom. Tanto que muitas vezes eu
ia à sala da professora Lívia e perguntava: o que você vai ensinar hoje? ela
respondia: vou trabalhar com este texto, ou vou trabalhar com atividades de
resolução de problemas e eu perguntava para ela: eu posso assistir a sua aula?
Eu ficava assistindo, porque me mostrava como acontecia na realidade em sala de
aula, aquilo que haviam me ensinado no curso de formação. Principalmente que o
seu trabalho é em cima da Matemática, eu sou uma pessoa que tem muita
dificuldade em Matemática e quando eu fiz o curso, nos primeiros dias, nos
primeiros encontros, a formadora falava, falava da Matemática e eu não entendia
nada do que ela estava falando. Acho que foi no 2º encontro, que eu me senti
exatamente como uma criança que tem dificuldade deve se sentir na sala de aula.
Eu olhava aquilo e pensava: a criança deve sentir justamente isso que estou
154
sentindo, o professor fica falando, falando e a “gente” não está entendo, porque eu
não tinha nenhuma referência para compreender aquilo que ela estava dizendo. É
exatamente isso que acontece com a criança, se ela vem com algum
conhecimento que permita a ela transitar e chegar naquele ponto que é a nossa
discussão. Em Matemática é isso: se ela não tiver um pouco de base, fica muito
mais difícil de entender, fica difícil dar continuidade no caminho. Um dia a
formadora falou, falou, falou, quando ela parou eu levantei a mão e disse: dá
licença, eu estou detestando isso daqui, eu estou odiando você, ela parou e ficou
me olhando e disse: “porque?” Eu não estou entendo nada, eu não sei do que
você está falando, eu estou desesperada, eu vou desistir do curso e da função de
coordenadora. A formadora disse: não faça isso, pare, vamos ver o que você não
está entendendo. Ela estava trabalhando com a construção dos princípios da
divisão para se chegar à técnica convencional. Eu não sei dividir nem pelo jeito
velho como eu vou ensinar isto para o professor? Como eu posso tentar
transformar isso em uma coisa prazerosa para o professor, para que ele possa
trabalhar com os alunos? Ela disse: então vamos parar: Ela voltou, me fez pensar
na Matemática e recuperar a Matemática da forma que eu a concebia antes, me
fez compreender como é muito mais fácil uma outra maneira. Quando eu retornei
e comecei a falar com os professores, porque aí eu fiquei deslumbrada com as
minhas descobertas, quase que vou fazer uma faculdade nova, agora de
Matemática. Foi a partir daquilo que fui entendendo e percebi que tudo é muito
diferente quando a “gente” entende o que está fazendo, o porquê do que se está
fazendo. Depois de alguns encontros a formadora veio e me perguntou: Você não
está mais detestando curso? Não, eu disse para ela. Agora já somos amigas. E é
isso o que eu acho que falta nas escolas, o professor pega o aluno no começo do
ano e ele não sabe qual é a maneira melhor daquele aluno aprender, porque eu
acredito que cada aluno tem o seu ritmo e cada um tem uma maneira diferente de
entender. O professor pode falar a mesma coisa, mas ele tem 30 alunos, e um,
dois, cinco, não sei, vão precisar de uma explicação diferente daquela que ele
acha que é padrão, achando que a partir daquela todos os alunos vão aprender.
Aconteceu comigo no curso, exatamente o que eu acho que acontece na sala de
155
aula. Quando os professores estão preparados para entender o porquê que os
alunos não estão entendendo, pois nem sempre as crianças sabem se expressar,
eles estão ali e não entendem. Ou se professor conseguir saber onde o aluno
está parado, onde é o nó, porque ele não entendeu, onde o raciocínio dele enrolou
e o professor conseguir desenrolar aquilo e puxar para onde ele quer, acho que é
fundamental. Mas se ele não estiver preparado para fazer isto, ele não vai
conseguir.
Entrevistadora : Então você está dizendo que para fazer isso é preciso ter
conhecimento da própria área, das teorias de aprendizagem e também dos alunos
que o professor tem, pois muitas vezes os alunos não sabem se expressar e o
professor precisa captar a fisionomia dos alunos?
Coordenadora : Principalmente por elas serem crianças, muitas vezes elas nem
sabem porque estão aqui. A única coisa que sabem é que estão em uma escola
para aprender, isto é o que nós sabemos que as famílias dizem para elas. As
famílias hoje em dia nem sabem orientar muita coisa, as crianças vem com pouco
conhecimento sobre a importância da aprendizagem, do estudo. Elas já estão aqui
sem saber o porquê, elas sabem que precisam cumprir uma tabela, que são oito
ou nove anos de estudo, só que para além de cumprir isto elas também precisam
compreender o que está sendo desenvolvido aqui. Elas muitas vezes vão ficando
cada vez mais perdidas. Nessa faixa etária é onde elas tem mais ânsia de
aprender, e elas dizem: hoje aprendi isto e aquilo. Quando se consegue despertar
isso, quando começam a aparecer os nós que não são desatados, fica aquele
desconforto e muitas vezes essas crianças menores não sabem expressar isso. À
medida que elas não conseguem entender, elas vão se achando “burras” e dizem:
eu não sei fazer, mas também não foram levadas a pensar de outro jeito e muitas
vezes do outro jeito elas sabem. Eu acredito que à medida que elas não
conseguem entender algumas coisas, isso destrói os avanços que elas já
conseguiram realizar. O professor precisa ir desmanchando os nós nessa fase
para que não cheguem ao 3º ou 4º ano sem conseguir entender o que já
aprenderam. Acho que tudo o se tem de desvendar precisa acontecer no 1º e no
3º ano. O professor precisa deixar o caminho claro aberto, depois as crianças vão
156
sozinhas, com um pequeno apoio do professor. Se isto não acontecer nos anos
iniciais, isso tende a se agravar depois no decorrer dos demais anos de
escolaridade.
Entrevistadora : Você disse que ia às salas de aula, mas me diga como você fazia
o acompanhamento das aprendizagens dos alunos? Havia muitos instrumentos
que vocês utilizavam: rotina semanal de trabalho dos professores, portfólio dos
alunos, planejamento anual, entre outros, mas como você acompanhava isto?
Coordenadora : Na verdade, com a minha falta de experiência, acho que ia até
pouco em sala de aula. Eu acabava me envolvendo muito com os papéis, com os
estudos, com o preparo dos horários de estudo coletivo, que eu gostava de
preparar, pois queria passar para os professores tudo que eu estava aprendendo.
Eu queria que os professores sentissem tudo aquilo que seu estava sentindo na
formação. Eu acho que eu ia pouco à sala de aula, mas quando eu via alguma
coisa muito interessante e que considerava importante no curso, eu ia à sala para
ver como isto acontecia, como as professoras estavam fazendo. Muitas vezes falta
ao professor, elementos para ele compreender o que está acontecendo. Se o
professor fica 4 ou 5 anos sem participar de formação, não estou aqui
desmerecendo o valor do horário coletivo de formação da escola, mas eu
enquanto coordenadora, não consigo discutir com os meus professores, com a
mesma profundidade que a minha formadora da área de Matemática discutiu
comigo na formação. Ela era uma profissional especializada e qualificada para
fazer isto. Eu não sou uma especialista em Matemática para discutir esses
conceitos com tanta propriedade como ela fazia. Mas acredito que o que eu queria
observar era se o que eu estava discutindo na minha formação estava
acontecendo na sala de aula. Eu muitas vezes via, principalmente nos 3º anos,
que as professoras estavam no ritmo, sabiam o que estavam fazendo. A
professora Lívia estava num ritmo muito bom, ela tinha muita experiência, ela
compreendia o programa, ela fazia tudo com muita facilidade, muitas vezes eu ia à
sala dela muito mais por prazer de aprender, do que para ajudar. Eu prestei pouca
ajuda. Eu pude ajudar quando ela e a outra professora me solicitavam material.
Elas diziam: preciso disso, daquilo, daquilo outro, acho que fui dando o suporte
157
que elas precisavam. A professora Lívia é muito dinâmica. Já a professora Rosa
esteve em licença gestante no 1º semestre, vindo de outro professor que não tinha
tanta experiência, talvez a sala dela, eu não sei os dados específicos, não sei se o
rendimento dos alunos foi o mesmo da professora Lívia. Mas a sala dela passou
por essa mudança de professor, e acho que essa mudança é difícil para criança
pequena.
Entrevistadora : Outra coisa que eu vi que vocês têm aqui é um grande número
de registros para o acompanhamento das aprendizagens dos alunos. Eu não
acredito que todas as escolas tenham isto. O planejamento inicial é uma coisa que
todas as escolas fazem, mas o planejamento da rotina semanal que vocês
fazem, achei bem interessante. Como foi isto?
Coordenadora : No curso eu aprendi que isto era uma exigência, se era uma
exigência, para que você tenha documentado tudo o que se está fazendo e servir
de projeto (idéia de projetar para o futuro). Não dá para projetar a semana
seguinte. Se não houver uma organização não será possível projetar a semana
seguinte. Acho que este é outro ponto de grande importância. Quando o professor
se organiza e sabe que na semana seguinte ele vai precisar de 8 cartolinas, na
véspera ele já deixa indicado para o coordenador as suas necessidades e não vai
chegar aqui na escola e dizer “ hoje eu vou fazer tal atividade. Fulano “ corre para
buscar 8 cartolinas, acho também vou precisar de ...”. Ele acaba perdendo um
tempo e a criança também acaba percebendo a falta de organização do professor.
Não tem coisa melhor que chegar no dia da atividade com tudo já programado.
Dessa forma também você ensina para a criança a organização. Você ensina à
criança através do seu modelo. Acredito que o trabalho de fazer a rotina , deixa o
professor mais tranquilo, ele já sabe o que vai fazer, há menos improvisação.
Claro que há interferências, há atividades ocasionais e que muitas vezes não
estavam previstas quando da elaboração da rotina , por exemplo: o professor
pode chegar com as 8 cartolinas e a atividade estar planejada para acontecer
naquele dia, naquela aula, mas um aluno pode chegar na sala e dizer: “ professora
ontem eu vi na televisão que morreu um monte criança na enchente”, o professor
perde a atividade que foi planejada para aquela aula, pois naquele momento é
158
preciso discutir o que aquela criança trouxe para a aula. É necessário falar disso,
é preciso discutir aquela questão que é emergente para aquele momento. Eu dizia
para elas: vocês não planejaram essa atividade, ela estava marcada naquele
quadradinho da semana, passe um risco, nós sabemos que essas interferências
acontecem, mas é importante que se registre o real. É preciso que o professor
esteja preparado para estes momentos em sala de aula. Acredito que a rotina foi
importante e se o professor se organiza para aquela rotina , não apenas escreve,
utilizando isto como um instrumento burocrático, mas se você passar na sala vai
verificar que na rotina dele está sempre apontando outra atividade que ele
deveria estar fazendo, vai acontecer que ele não se organiza para realizar as
atividade, não prepara atividades com antecedência, há sempre um improviso
para solicitar material.
Entrevistadora : Então você está dizendo que a rotina é um organizador do
trabalho do professor?
Coordenadora : Eu acho que sim. Eu sinto como importante e pelo
acompanhamento que tive, percebi que as duas professoras do 3º ano faziam uso
disso. Eu percebi que as professoras utilizavam esse objeto para o planejamento
de seu trabalho, não como instrumento burocrático, não era apenas para entregar
para a coordenadora. Na maioria das vezes elas entregavam no final da semana,
pois na maioria das vezes elas faziam a lápis, aí iam apagando e registrando
essas pequenas mudanças e entregavam depois que a semana havia passado,
mostrando o que realmente havia acontecido. Elas queriam entregar do jeitinho
que tinha acontecido na semana. Eu julgava que isto também era interessante.
Elas diziam: nós vamos entregar só depois, mas não porque iriam registrar depois,
é que elas queriam entregar o que realmente tinha acontecido. Elas projetavam,
programavam e registravam conforme tinha acontecido realmente.
Entrevistadora : Há também o material de registro da escola, os portfólio dos
alunos e as sondagens realizadas para o acompanhamento das aprendizagens
dos alunos. A professora Lívia disse que mais do que os registros das sondagens,
ela fazia observações durante a realização das atividades dos alunos e que isto
159
servia inclusive de parâmetro para este planejamento da rotina semanal. Você
acha que isto acontecia nas duas salas?
Coordenadora : Acredito que a observação diária e pontual de sala de aula é um
parâmetro melhor do as sondagens. Porque olhando na “carinha” da criança, o
professor vai sentindo se ela está ou não entendendo. Muitas vezes na hora da
sondagem, só do aluno ter que fazer o registro em outro papel e o professor
acompanhar individualmente, sente-se um pouco deslocado. Isto para as crianças
que não estão acostumadas, podem se sentir até travadas. As sondagens eram
feitas especificamente nos períodos determinados pela DRE ( Diretoria Regional
de Educação), só que muitas vezes eu percebia que elas falavam assim: não sei
como esta criança não conseguiu fazer esta questão. Então a sondagem é
parâmetro, é um parâmetro palpável, mas só o que elas sentem da criança no dia
a dia, pode ser diferente. Aquele papel que foi preenchido naquele dia pode não
refletir o conhecimento dos alunos. Nas observações de sala de aula e nas
discussões das comissões de classe, elas diziam: “esta criança avançou na
escrita de números”, por exemplo, mas muitas vezes ela não consegue
demonstrar com regularidade este conhecimento sobre números. As professoras
percebem que na troca das duplas de alunos em sala de aula, a criança avançou
mais do que o registro permitia olhar. As sondagens, de qualquer forma, foram
muito boas, mas podem não revelar o conhecimento dos alunos, como esta
observação feita regularmente pela professora.
Entrevistadora : Como você fazia a escolha das turmas para acompanhar a sala
de aula? Era pela discussão que estava acontecendo na formação, ou havia
algum outro critério?
Coordenadora : Era pelo conteúdo que estava vendo na minha formação. O que
me chamava atenção, eu escolhia uma classe e ia até lá. A sala da professora
Rosa eu fui menos do que a da professora Lívia. O ritmo da professora Lívia, a
forma como organiza as atividades, parecia que eu ia entrar lá e conseguir ver
aquilo que havia visto na formação. A professora Rosa, por ter dois cargos talvez
não se permitiria ter o envolvimento com a turma, como a professora Lívia tinha.
Eu não ia para ajudar, eu ia para ver, ver o que ia acontecer e o que estava
160
acontecendo. Se fosse verificar o conhecimento da professora Lívia, acho que ela
tinha até mais conhecimento do que eu. Eu não ia conseguir dar orientações, mas
queria ver como estava acontecendo até para falar para os outros professores que
dava certo. Isto dava para ser feito. Tem professor que você sabe que diz: ” na
sala não dá para fazer isto”, aí eu tinha argumentos para dizer que dava sim. É
preciso tentar, é preciso que as crianças entrem no seu ritmo. Eu enquanto
coordenadora, fui acreditando nisso.
Entrevistadora : Você falou um pouquinho do seu planejamento do horário
coletivo de formação. Como era feito isto?
Coordenadora : A partir dos encontros de formação que eu tinha lá na DRE, eu
vinha com o material, mas solicitávamos para DOT – P (Diretoria de Orientação
Técnica – Pedagógica) enviar o material por e-mail: slides, os textos trabalhados.
Eu preparava o meu horário como as professoras faziam, em uma planilha de
planejamento de rotina semanal, semelhante a dos professores. Elas estão em
pastas, posso mostrar. Com base no que eu tinha aprendido lá, eu preparava o
que eu teria que discutir com as professoras para a semana seguinte. Só que
precisava ser de uma maneira muito mais simples, porque lá eu ficava 4 horas ,
aqui eu tinha 2 dias com 1 hora e trinta minutos para cada dia, o que totalizavam 3
horas mensais. Nós outros períodos, eu utilizava estas referências trabalhadas
para confrontar com que estava sendo trabalhado em sala de aula. Como eu já
disse, eu não conseguia discutir tudo o que havia aprendido lá, nem mesmo com a
mesma propriedade da minha formadora. Eu reorganizava pauta, para que ela
ficasse menor, fazia uma coisa bem simples, até porque uma grande maioria dos
professores tem uma certa resistência ao que você vai “ensinar”. Muitos acham
que eles já sabem, então quando você chega, eles dizem: isto daqui a “gente” já
viu, nós já fazemos horário coletivo faz dez anos. O meu papel era fazê-los refletir
sobre um detalhe. Às vezes eu mostrava de uma maneira tão mais simples para
eles, também porque estavam acostumados a ler textos de muitas páginas,
sempre trouxe sínteses muito pequenas, de no máximo uma página, na maioria
das vezes escritos por tópicos e discutia por exemplo 4 aspectos hoje e deixava
os demais para o dia seguinte. Os professores se cansavam, muitas vezes eles
161
eram piores do que as crianças, pois as crianças ficam 4 horas, eles ficam muito
menos, mas acabam se cansando e começam a dispersar. Eu achava que tinha
que ter um foco bastante específico, fui percebendo isto no decorrer do trabalho
do grupo. Eu tinha que ter um trabalho pontual com esse grupo e tentar discutir
com eles aquilo que tinha aprendido na semana anterior. Nem sempre eu
conseguia, quando havia um feriado, quando a escola tinha algum tipo de
apresentação ou projeto, que era emergente a mudança na pauta, os conteúdos a
serem discutidos alguns momentos acabavam se acumulando. Todo dia o início
da reunião era com a leitura de um texto, porque isto é o que precisa ser feito, a
“gente” sabe, e eu sabia que muitas professoras não liam para as crianças. Isso
acabou se tornado um hábito entre os participantes do grupo, tinha até uma
professora que dizia: silêncio, silêncio, vai começar a nutrição literária. Um dia eu
trazia uma fábula, uma crônica, uma piadinha que havia recebido na Internet. Já
cheguei inclusive a trazer receita. Eu sempre tentei mostrar que uma leitura
estimula o início do trabalho para qualquer coisa. Sei que muitas professoras
começaram a ler para seus alunos, a partir desse trabalho feito no horário coletivo
de estudo. Tanto que este ano eu não estou na coordenação, eles reclamaram,
não tem nenhuma leiturinha nesse horário. Alguns professores me pediram: não
dá para você fazer uma leitura para nós e depois você sair? Eles se acostumaram
e viram o quanto é bom. Se é bom para eles, também será bom para as crianças.
Isto eu achei bem gratificante, ter conseguido fazer com que os professores
lessem para as crianças todos os dias.
Entrevistadora : A professora Lívia, não fazia horário coletivo, a professora Rosa
fazia este horário coletivo?
Coordenadora : A professora Rosa ficava um tempo muito pequeno nesse horário,
porque ela tinha licença amamentação, que é de um ano. Ela ia para o grupo e
depois de alguns minutos ela saia. O grupo era de uma hora e trinta minutos e ela
tinha uma hora pela legislação para sair e amamentar o seu bebê, portanto só
ficava conosco cerca de 20 a 30 minutos.
162
Entrevistadora : Na rotina de planejamento que você fazia de sua formação
também entrava Matemática, não é?
Coordenadora : Entrava o trabalho com a Matemática, porque a formação aqui é
uma semana Matemática e outra de Língua Portuguesa, uma semana Matemática,
uma semana Língua Portuguesa. Na semana da Matemática, era muito difícil
discutir com os professores o que eu havia visto na formação, por conta da minha
dificuldade, mas conforme eu ia fazendo a discussão, eles diziam: é mesmo assim
que acontece, eles tinham a vivência, mais facilidade do que eu, e na vivência
com as crianças era possível discutir os assuntos com mais tranquilidade. Elas
diziam: isso acontece mesmo com as crianças e eu ia sempre achando muito
interessante. Havia uma troca entre nós muito boa.
Entrevistadora : Ao observar as rotina s você observava a distribuição dos
conteúdos?
Coordenadora : Sim, se você observar na planilha da rotina , no início do ano ela
é discutida para que não fique nenhum componente em desvantagem sobre o
outro. Conforme é previsto já vem escrito no cantinho do quadrinho, que dia elas
tem que trabalhar matemática, que dias elas tem que trabalhar L.P: a escrita, a
leitura, o mesmo acontece com Matemática, aí o professor distribui o conteúdo do
ano. A gente discute esta planilha no início do ano, tendo como referência a
legislação nos Guias de Planejamento e Orientação Didática e nas Orientações
Curriculares da Rede, para que na hora de preencher fique mais fácil. Por
exemplo, para que o professor ponha a mão na cabeça e diga: me esqueci de
trabalhar tal conteúdo. Outro aspecto importante também é que esta forma de
planejamento também cria uma rotina para as crianças. Quando isto é bem
trabalhado no Ciclo I, ajuda os alunos também a se organizarem no Ciclo II, uma
vez que é bastante complicada esta transição da criança do Ciclo I para o II.
Entrevistadora : Dentro dessa rotina que elas estavam organizando
semanalmente, você percebia, por exemplo, que elas estavam, privilegiando só
números, estavam trabalhando com as operações, havia também grandezas e
medidas, o que foi possível perceber?
163
Coordenadora : Você quer saber o geral ou mais especificamente os 3º anos?
Entrevistadora : Mais os 3º anos.
Coordenadora : Eu acho que elas tentavam seguir o Guia de Planejamento e
Orientações Didáticas do 3º ano do Ciclo I, elas tentavam distribuir os conteúdos a
partir do Guia ao longo da rotina , isso eu percebia lendo o planejamento das
rotina s, de modo que não ficasse nenhum conteúdo de fora. Também pelo próprio
material que elas solicitavam para a coordenação, pelas cópias que eram pedidas
para o trabalho com os alunos, por essas pistas você sabia como os professores
estavam distribuindo os conteúdos durante a semana.
Entrevistadora : Você está dizendo que o Guia de planejamento era sempre uma
referência para o trabalho delas?
Coordenadora : A gente percebia que o Guia de Planejamento e Orientações
Didáticas estava sempre cheios de papeizinhos, marcando as páginas, era a partir
daí que a se percebia claramente o uso desse material.
Entrevistadora : Quantos professores participavam da formação no Ciclo I?
Coordenadora : Eram seis professores, um grupo pequeno. Eu tinha uma de
primeiro ano, apesar de haver 3 salas. Dos 3º anos, uma, que não ficava o tempo
todo, do 3º ano só tinha uma, e de 4º ano tinham três.Quando nós vamos analisar,
se percebe que fiquei em desvantagem com o número de professores do 3º ano
que participavam do horário coletivo. Talvez até essa minha dificuldade em
“passar “ mais coisas para as professoras do 3º ano. A minha atuação foi mais no
sentido de observar, do que de orientar. Mas acho que dei sorte, pois eram
professores que não precisavam tanto de orientação.
Entrevistadora : Você está dizendo que esta sua forma de acompanhar
principalmente a professora Lívia, a ajudou a desenvolver o horário coletivo?
Coordenadora : A minha ida na sala não só me ajudou no trabalho coletivo, mas
também a “checar” o que estava sendo dado pelas professoras. Se o plano estava
sendo executado, entre outras coisas. Havia, portanto, um conjunto de situações
que me permitia verificar o andamento do trabalho das professoras.
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Entrevistadora : Apesar de você dizer que a sua frequência foi maior na sala da
professora Rosa, a sua ida na sala da professora Lívia, a ajudou em quê?
Coordenadora : Ela me alimentava para o meu trabalho no horário coletivo.
Quando elas estavam em hora de atividade individual e desciam para conversar
comigo, ou quando elas desciam para entregar a rotina semanal e mesmo as
sondagens, eu aproveitava para sentar e conversar com elas para discutir uma
sondagem ou outra. Por exemplo, de um aluno que tinha uma discrepância entre a
sondagem e a observação feita pela professora durante o transcorrer das aulas.
Eu percebia que estávamos falando da rotina, do plano de trabalho, da
aprendizagem das crianças. Nesses momentos também afloravam o entusiasmo
das professoras que diziam: olha só o que tal aluno fez. Muitas vezes ao olhar eu
não compreendia o que o aluno tinha feito, aí eu pedia para elas me explicarem.
Tanto por aqueles alunos que haviam resolvido de forma que nem elas mesmas
imaginavam, também apareciam os alunos que estavam tendo pouco progresso.
Porém elas diziam: mas acho que ele não pensou nisso, nisso e naquilo. Por tudo
isso, era possível perceber que as professoras estavam trabalhando dentro do que
era previsto nas Orientações Curriculares e também pelos Guias de Planejamento
do 3º ano.
Entrevistadora : E a última pergunta: a escola tinha um Provão?
Coordenadora : Não. No Ciclo I, não. Não é costume da escola. No Ciclo II, os
professores fazem uma semana de provas. No Ciclo I, quando eu cheguei já não
tinha essa cultura de fazer prova. Não sei se eles já tinham tentado alguma vez e
não tinha dado certo. Acredito que o professor do Ciclo I tem mais resistência em
fazer uma prova unificada. Os professores dizem: nesse conteúdo eu não me
aprofundei muito, então não vamos colocar questões sobre este assunto. Entrar
em um consenso é muito difícil, por isso é que não há.
Entrevistadora : Vocês fizeram Prova da Cidade no ano passado?
Coordenadora : Fizemos. Os professores acharam importante entrar nos projetos
propostos pela Secretaria Municipal. Principalmente para que os alunos tivessem
a experiência e realização de uma avaliação externa.
165
Entrevistadora : Eu queria agradecer a sua atenção e disponibilidade de tempo
para o meu trabalho de dissertação.
Coordenadora : Eu gostaria de dizer que eu estava com muito medo de dar esta
entrevista, pela minha experiência ser muito pouca e o que eu vi foi num período
muito pequeno. Não tem como eu dizer: olha eu vi no ano passado, no outro e
assim... Eu acho que tive uma visão muito pequena nesse papel de coordenadora,
apesar de ser do Ciclo II, da área de Inglês, eu não conhecia nada do Ciclo I. Para
mim, realmente, foi muita novidade, mas como eu gosto muito de aprender, posso
dizer que fiquei deslumbrada com o trabalho do Ciclo I. Eu falo que no fim da
minha carreira eu começo me arrepender de não ter trabalhado com o Ciclo I. No
Ciclo I é bem mais fácil perceber o desabrochar do conhecimento dos alunos, o
que não é tão fácil perceber nos adolescentes.
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3. Entrevista Professora Lívia realizada em 09/10/2 010
Pesquisa do Mestrado da UNIBAN que visa identificar práticas e rotina s das
professoras do 3º ano do ensino fundamental cujos alunos tiveram bom
desempenho em matemática na Prova São Paulo.
A professora entrevistada é da escola General Osório escola situada na Vila
Califórnia, região da cidade de São Paulo que faz divisa com o município de São
Caetano do Sul.
A entrevista foi a com a professora Lívia que no ano de 2009 lecionou para a
turma A do 3º ano da referida escola.
Entrevistadora inicia a conversa perguntando à professora Lívia há quantos anos
ela está nessa escola.
Professora Lívia : responde: Há 2 (dois) anos.
Entrevistadora : Como você faz o planejamento de Matemática?
Professora Lívia : A primeira coisa que eu penso na hora de planejar é dividir os
conteúdos de matemática na rotina semanal. Eu faço isso, pois muitas vezes a
gente acaba sendo tendenciosa e privilegia um determinado conteúdo em
detrimento de outros.
Entrevistadora : Quando você faz o planejamento que materiais você utiliza o livro
didático, os materiais da Secretaria Municipal de Educação - Guias de
Planejamento e Orientações Didáticas para o 3º ano do Ensino Fundamental I,
enfim, que recursos você dispunha para a organização da rotina semanal?
Professora Lívia : Eu não trabalhei com o livro didático, usei o livro rosinha que
são das Orientações Curriculares e Proposição de Expectativas de Aprendizagem
do Ciclo I e foi a partir dele que fizemos o planejamento do início do ano e
procuramos dividir os conteúdos que seriam trabalhados ao longo do ano. Usava
para a organização da rotina semanal os Guias de Planejamento e Orientação
Didática do 3º ano - o marrom e o roxinho que fazem parte dos materiais do
167
Programa Ler e Escrever. Porém os dois eram sempre o meu parâmetro, mas
dentro de cada conteúdo que ia desenvolver ia buscar em outros livros didáticos
ou mesmo na revista Nova Escola, atividades complementares aos Guias.
Entrevistadora : Que conteúdos você trabalhava na rotina semanal?
Professora Lívia : Números e operações, grandezas e medidas e espaço e forma.
Entrevistadora : Você privilegiou algum conteúdo em um dos dois semestres?
Professora Lívia : É isto que eu queria dizer: No primeiro semestre privilegiei o
trabalho com números e operações e grandezas e medidas, no outro continuei o
trabalho com números e operações e inclui o trabalho com espaço e forma.
Entrevistadora : Na rotina que vocês enviaram para compor o trabalho verifiquei
que a resolução de problemas aparece toda a semana.
Professora Lívia : Eu percebo que a resolução de problemas contribuiu muito,
porque por de trás deles estão todos os conteúdos. Outra coisa que eu faço
sempre após a resolução de problemas é abrir espaço para a socialização, ou
seja, o que um pensou, o que outro aluno pensou. Fazia o registro na lousa das
resoluções dos alunos e ia discutindo os procedimentos, este pensou dessa
maneira etc, pensou dessa outra forma e assim ia discutindo com eles. Será que
está errado ou certo? Este aluno pensou desse jeito, será que tem outra maneira
de resolvermos esse problema? Para mim, a resolução de problemas contribuiu
muito para que os alunos desenvolvessem as habilidades relacionadas à
matemática.
Entrevistadora : Como você acompanhava as aprendizagens dos seus alunos?
Você fazia provas?
Professora Lívia : Para falar a verdade, provas, provas, faço muito poucas. O meu
acompanhamento se dava no dia a dia. Eu costumava dividi-los em duplas, num
dia eu dava atenção a três duplas, enquanto a sala também dividida em duplas
fazia as atividades propostas. Em outro dia mais três duplas e assim
sucessivamente. Em outros momentos quando queria chamar a atenção para
algumas observações feitas durante o acompanhamento das duplas, a
168
organização da sala era coletiva, para que pudesse discutir/ sistematizar com a
turma as observações feitas. A questão para mim, não está em fazer provas, a
questão mesmo é de observação, por exemplo: vou trabalhar a sequência
numérica, pois sei que uma criança tem dificuldade na sequência e quero observá-
la, quero estar mais próxima dela, para acompanhar e fazer algumas intervenções.
Dando atenção mais individualizada para aqueles que durante as observações
precisam mais de minha ajuda.
Entrevistadora : Dentre os materiais organizados pela escola e que me foram
disponibilizados, havia várias sondagens: de números e de operações. Com que
periodicidade você fazia isto?
Professora Lívia : Eu fazia a sondagem a cada dois meses de forma institucional
– colocava no portfólio dos alunos, mas o trabalho de acompanhamento na
maioria das vezes acontecia de maneira informal, ou seja, durante as atividades
que os alunos iam desenvolvendo, ia fazendo observações e anotações que me
davam suporte para verificar o que mais os alunos precisavam aprender .
Entrevistadora : Aí você inclui isso na sua rotina ?
Professora Lívia : Sim, o que você está falando é a questão da sondagem?
Entrevistadora : Essas observações que você fazia, como você controlava isso no
seu trabalho? Como você incluiu isso na rotina ? Por exemplo, tem um aluno com
dificuldade na escrita de números, como você organizava o seu trabalho para
poder apoiar esse aluno? Para poder pensar em uma atividade que ajudasse este
aluno?
Professora Lívia : Tudo era pensado no trabalho com as duplas. Nos momentos
em que eu acompanhava as duplas é que eu poderia auxiliar essa criança que
tinha a dificuldade “mapeada”. Por exemplo, a criança estava com dificuldade na
escrita de número de 100 a 200, eu organizava uma parceria que tivesse um
conhecimento um pouco maior para sentar com essa criança e preparava uma
atividade nesse intervalo numérico que contemplasse essa necessidade. Outra
questão que esqueci de falar diz respeito ao trabalho com jogos. Semanalmente
eu organizava na rotina um trabalho com jogos. Escolhia um determinado jogo
169
para trabalhar com eles, e sentia primeiramente que eles gostavam bastante e
segundo facilitava muito o trabalho.
Entrevistadora : Você diz que não costuma fazer provas, mas como é que você
faz o registro, você anota em um caderno, anota no diário de classe, você tem
uma folha por aluno que vai anotando a dificuldade observada, por exemplo a
escrita entre 100 e 200? Estas anotações são revistas daqui a um mês ou daqui a
quinze dias?
Professora Lívia : Eu tenho algumas pautas de observação, mas acho que não
estavam no portfólio da coordenação. E as minhas anotações ao verificar, por
exemplo, como está o aluno Pedro agora. Aí a “gente” vai lembrando e
acompanhando.
Entrevistadora : O que você acha que ajudou os alunos do 3º ano a ter um bom
desempenho?
Professora Lívia : Eu não sei, ...
Entrevistadora : A que você atribuiu isto? Será que à rotina semanal?
Professora Lívia : Acredito que o planejamento da rotina contribuiu sim. Pois
ajuda você a não deixar de fora nenhum conteúdo, precisa contemplar todos.
Então eu tenho que me organizar para isto acontecer. Organizar-me, planejar
antes e repensar este planejamento de acordo com aquilo que acontece durante
as aulas. Isso permite pensar que este conteúdo – números de 100 a 200, por
exemplo, já está “legal”, eles já conseguiram entender, eles melhoraram ou não.
Eu acredito que foi isto que fez com que eles tivessem um bom desempenho.
Entrevistadora : Você acha que os agrupamentos também ajudaram?
Professora Lívia : Não sei, mas eu gosto muito de trabalhar dessa forma. O
conteúdo que um aluno sabe e outro não sabe, e vice-versa, pode ajudar aquele
que não sabe. Essa troca favorece muito. Esses conhecimentos que muitas vezes
a “gente” pensa que são banais, mas não são, um acaba contribuindo com o
conhecimento do outro e muito. Eu acredito que favoreçam a construção de
conhecimentos.
170
Entrevistadora : Uma outra coisa que você foi falando na conversa foi a
socialização das observações, dos resultados e dos procedimentos feitas pelos
alunos, fale um pouco mais.
Professora Lívia : Existe uma questão assim, depois do término de cada
socialização, a “gente” vê quantas coisas eles aprenderam. Fica fácil perceber o
que eles aprenderam, pelas perguntas que fazem. Porém é um trabalho que
demanda ao professor ter uma disposição. Os alunos não vão socializar por conta
própria. Na dupla até pode acontecer, mas para a classe, para o grupo , não.
Geralmente a solução, o caminho morre no caderno deles e ponto. Se o professor
não estimular para eles mostrem como chegaram àquela solução e eles possam
comparar com uma outra solução, eles não vão avançar. Por exemplo, tenho
crianças que para resolver um problema, só conseguem se fizerem o caminho
utilizando desenhos, se eu enquanto professor não mostrar que outros colegas
fizeram de outro jeito, que é também uma forma “legal” de resolver esse problema,
é assim que acredito que eles vão avançando. Se não for possível que eles
possam comparar, provavelmente eles continuarão a resolver utilizando desenhos.
Entrevistadora : Você está dizendo, então, que se o professor não ajudar o aluno
não vai conseguir explicitar aquilo que ele fez?
Professora Lívia : Porque muitas vezes é importante que esta forma de explicitar
precisa se tornar uma questão de “hábito”. Alguns querem se expor demais, não
tem a questão da timidez, outros tem uma insegurança de achar que tudo que faz
pode estar errado, então eu vou ficar bem quietinho. Cabe ao professor olhar para
o que fizeram e perguntar para eles: posso por a maneira que vocês pensaram na
lousa para que possamos conversar com a classe? Muitas vezes aquela criança
ou dupla nunca iria se expor. Muitas vezes a idéia dela, o percurso que ela fez não
apareceu em nenhuma outra dupla. Se o professor não mediar isso, não observar
talvez ele/eles nunca iriam se expor.
Entrevistadora : Que conteúdo eles tinham mais facilidade?
Professora Lívia : Não era na resolução de problemas. Acredito que eram nos
números, pois é o conteúdo mais trabalhado.
171
Entrevistadora : Você acha que saber números ajuda na resolução de problemas?
Professora Lívia : Acredito que sim.
Entrevistadora : Resolver problemas, você acha que ajuda na compreensão do
sistema de numeração decimal? Ou você acha que é o contrario?
Professora Lívia : Se a “gente “ parar para pensar que aquilo que ele vai
estruturar no problema, ele necessita do sistema de numeração. Então acho que
uma coisa acaba favorecendo a outra, elas parecem que andam juntas. Hoje um
aluno está resolvendo um problema através de desenhos, à medida que ele vai
percebendo através da socialização que ele pode se valer da escrita do número
para organizar a resolução daquele problema, isto pode contribuir para ajustar
também a escrita dos números.
Entrevistadora : Esta forma de trabalhar é que facilita essa troca?
Professora Lívia : Ri e completa: esta forma de trabalhar já vem de muitos anos.
Quanto mais a “gente” trabalha, quanto mais tempo vai passando, mais facilidade
vai adquirindo. São conhecimentos mesmos. Eles não vão evoluindo, nós
também, a “gente” também evolui. Muitas coisas que eu converso com as outras
professoras e que faço na minha sala, elas dizem: na minha sala de forma
nenhuma eu posso fazer isto. Enquanto que na minha sala acontece
naturalmente. É também uma questão de aprendizagem nossa. Acredito que
ambos aprendam, eles e nós enquanto professores.
Entrevistadora : Retomando a questão de conteúdo que eles apresentaram mais
dificuldade foi na resolução de problemas, em qual campo: aditivo ou
multiplicativo?
Professora Lívia : Acho que no campo multiplicativo acabam apresentando maior
dificuldade que no aditivo.
Entrevistadora : Como você trabalha isso?
Professora Lívia : Da mesma forma que trabalho com os demais conteúdos:
através da observação, da socialização, utilizando os jogos.
172
Entrevistadora: Na rotina semanal você disse que utiliza jogos, as situações
vivenciadas nos jogos, para organizar as atividades da semana seguinte?
Professora Lívia : Sim, por exemplo, no jogo de pega varetas há uma série de
habilidades que eles precisam desenvolver: a questão de relacionar a cor à
pontuação, a questão que precisam perceber que não é contar a quantidade de
varetas e sim contar que o vermelho vale tantos pontos, então desses pontos,
quantas varetas são vermelhas. Na semana seguinte, eu organizava situações-
problema com as situações que haviam acontecido nos grupos. Então Pedro
estava jogando, pegou algumas varetas vermelhas, algumas azuis e algumas
amarelas. Como ele vai saber qual foi o seu número de pontos?
Entrevistadora : Como você fez o registro da multiplicação.
Professora Lívia : Primeiramente os registros eram feitos através de desenhos.
Fazia juntamente com eles o desenho das cores das varetas que haviam sido
propostas nos problemas. Depois fui organizando com eles um registro através de
números, até chegar na escrita multiplicativa, fazendo com que percebessem que
era uma outra forma de registrar a multiplicação.
Entrevistadora : O que você percebeu ao trabalhar com estes conteúdos?
Professora Lívia : Fui percebendo que durante muitos anos alguns conteúdos não
poderiam ser trabalhados com os alunos dos 1º e 3º anos, que são as classes que
tenho trabalhado ultimamente. Se isto não faz parte do trabalho que é
desenvolvido pelo professor, acaba que sobrecarregando nos anos posteriores o
trabalho com estes conteúdos, como seria o caso do campo multiplicativo. E com
certeza os alunos não vão conseguir resolver algumas atividades, porque não
vivenciaram.
Entrevistadora : Você esta querendo dizer o professor precisa propor desafios
para os seus alunos?
Professora Lívia : Sim, o professor muitas vezes por insegurança ou mesmo por
falta de conhecimento, não acredita que os alunos são capazes de fazer uma
atividade, por exemplo, eu não posso trabalhar com o campo multiplicativo no 1º
173
ano porque os alunos não têm condições de resolver este tipo de problema,
porque muitas vezes se acreditava que eles precisavam conhecer a tabuada ou a
multiplicação (conta), mas sim compreender que recursos os alunos são capazes
de utilizar para resolver este problema São estes desafios, que precisam ser
observados. Às vezes a “gente” subestima o conhecimento deles. Pode ser que
até alguns alunos já o tenham, mas se eu não colocá-los para resolver como irei
descobrir? Temos que colocá-los para experimentar, às vezes nós limitamos este
conhecimento.
Entrevistadora : Você trabalhou em um momento específico a preparação dos
alunos para fazer a Prova São Paulo?
Professora Lívia : Não. Eu não acredito que se parar uma semana antes da Prova
São Paulo, os alunos irão bem. É no decorrer do ano que eu trabalho com os
conhecimentos matemáticos. O que eu faço durante o ano são algumas atividades
para mostrar para eles como é. Dou algumas atividades que tenham respostas de
múltipla escolha e que para encontrar a resposta eles precisam resolver o
problema como já faziam anteriormente, só que eles precisam assinalar a
resposta correta. Isto também eles precisam experimentar. Mas não são dez dias
antes da Prova São Paulo que eu devo acabar com eles, isto não é um treino. O
que faço é exemplificar, mostrar como ela se dará. Os alunos adquirem
conhecimento no decorrer do ano. O que eu tento mostrar é que a prova tem uma
seriedade, possui uma estrutura diferente. A professora não vai estar lá e eles
precisam responder sozinhos com os conhecimentos que já possuem. O que eu
faço no decorrer do ano em alguns momentos é dizer: hoje vocês responderão as
questões/ problemas sozinhos, como se a professora não estivesse na sala. A
professora quer ver como vocês pensam. A idéia é que eles possam ir sabendo o
que já conhecem sem que eu esteja presente.
Entrevistadora : Você participa do horário coletivo?
Professora Lívia : Não.
174
Entrevistadora : Se você não participava do horário coletivo, como você
organizava a sua rotina , o seu planejamento? Era com a coordenadora
pedagógica? Com quem você planejava/ trocava?
Professora Lívia : Eu trocava com a outra professora do 3º ano. Era nas minhas
horas individuais ou de nas dela e trocávamos o que estávamos fazendo, o que
poderíamos encaminhar juntas, o que não era possível propor juntas. Era só
assim mesmo que fazíamos durante todo o ano.
Entrevistadora : Vocês socializavam com a coordenadora pedagógica?
Professora Lívia : Não, a troca acontecia mesmo com a outra professora do 3º
ano, que no 1º semestre foi a Sonia, que estava substituindo a Rosana que estava
de licença gestante. Nós trocávamos atividades que haviam dado certo em cada
uma das turmas, se uma havia aplicado, dizia como havia feito e a outra
organizava a mesma situação na sua turma e depois trocávamos as impressões.
Com a professora Rosana, já foi um pouco diferente, pois ela não trabalhava da
mesma forma que eu e a Sonia.
Entrevistadora : As dificuldades que os alunos possuem você acha que são
também suas:
Professora Lívia : Primeiro a “gente” precisa saber quais são elas, e ri. Acho que
não. Acho que não tenho dificuldade, não que eu tenha conhecimento. Acredito
que com o estudo, com os cursos, com as coisas que fui fazendo, a “gente” vai
adquirindo conhecimento e vão sumindo as dificuldades. Acho que a Matemática
por muito tempo foi tida como um “Monstro”, muitos de nós foi fazer o magistério
para fugir dela. Hoje tenho que tomar cuidado, pois se duvidar acabo trabalhando
mais matemática do que há algum tempo atrás que ia só para o lado de Língua
Portuguesa. Acho que por um bom tempo a tendência foi trabalhar com a
alfabetização, hoje penso que tenho que tentar equilibrar, porque se deixar acabo
privilegiando a Matemática.
Entrevistadora : Você participou de algum curso de Matemática oferecido pela
Secretaria?
175
Professora Lívia : Participei durante todo ano de 2009 dos cursos oferecidos pela
SME. O curso ajudou a esclarecer dúvidas que eu tinha, por exemplo, sobre
recitar números. Durante algum tempo circula que recitar números é uma forma
muito tradicional de trabalhar com números e que, portanto, eu tenho que retirar
de minha prática isto. A formação me fez ver que é uma atividade que precisa ser
trabalhada com os alunos, juntamente com outras tantas atividades.
Entrevistadora : Como você vê os Cadernos de apoio e aprendizagem?
Professora Lívia : Acho que os conteúdos estarem distribuídos ao longo do ano
ajudam bastante. A organização do material contribui para que o aluno possa ir
pensando, sempre tem uma resolução de problema.
176
4. Entrevista Professora Rosa realizada em 30/10/20 10
Pesquisa do Mestrado da UNIBAN que visa identificar práticas e rotina s das
professoras do 3º ano do ensino fundamental cujos alunos tiveram bom
desempenho em matemática na Prova São Paulo.
A professora entrevistada é da escola General Osório escola situada na Vila
Califórnia, região da cidade de São Paulo que faz divisa com o município de São
Caetano do Sul.
Para tanto a entrevistadora solicita à professora a leitura e a assinatura do termo
de consentimento da realização da entrevista.
Entrevistadora : Gostaria de iniciar a nossa conversa dizendo que não sou uma
pessoa formal, a “gente” vai aprendendo que é necessário ter o pé na escola e
para tentar captar o que está sendo desenvolvido e ao mesmo tempo utilizar
essas descobertas para apoiar o trabalho de tantas outras pessoas. E como você
pode ver este é o objetivo dessa pesquisa.
Entrevistadora : Há quanto tempo você é professora nessa escola?
Professora Rosa : Estou há três anos nessa escola.
Entrevistadora : Você foi professora durante o ano passado nessa escola?
Professora Rosa : Não, só retornei em junho, pois fiquei de licença gestante.
Entrevistadora : A primeira coisa que gostaria de retomar com você é: como você
fazia o seu planejamento?
Professora Rosa : No meu planejamento eu procuro distribuir igualmente os
conteúdos pela rotina semanal, apesar de nós, enquanto professores, termos
mania de trabalhar muito mais Língua Portuguesa, principalmente no 1º e no 2º
ano. Nesse sentido tento tomar cuidado, caso contrário, acaba ficando só na
Língua Portuguesa. Eu olhava mais ou menos como estava e pensava o quanto
eu tinha que trabalhar LP e Matemática. Olhava para os Guias que a Prefeitura
enviou para a escola, eles já indicavam mais ou menos o caminho que a “gente”
177
deveria seguir. Por aquilo eu via, o número de aulas que eu tinha que dar,
distribuía para Língua e para Matemática. Porque a Matemática é importante,
porque em Matemática a “gente“ trabalha Língua também. Eu procurava dividir
igualmente meu planejamento da rotina semanal para não só trabalhar Língua, ou
muito mais a Matemática.
Entrevistadora : Como você disse que não estava na escola no início do ano,
sabe como a professora que estava aqui, substituindo-a fez este planejamento
inicial? O que ela usou como referência: foram estes Guias? Foram as
Orientações Curriculares? Foi o livro didático?
Professora Rosa : A “gente” aqui na escola sempre no início do ano para fazer o
planejamento inicial recebe as Orientações Curriculares, e é em cima delas que se
faz o planejamento anual.
Entrevistadora : Para você pensar na elaboração das rotinas você levava em
conta esse planejamento inicial? Ou não?
Professora Rosa : Foi assim: em 2007 eu trabalhei com o 2º, 2008 eu trabalhei
com o 1º e em 2009 com o 2º. Muitos desses alunos de 2009 foram meus alunos
no 1º ano, então mais ou menos você já sabe onde você parou o que precisa dar
continuidade. Na verdade eu não peguei este planejamento inicial, mas como eu
já estava na escola a “gente” sabia como funcionava.
Entrevistadora : Está bom, então você falou um pouco da organização da rotina
semanal ser feita em cima dos Guias de Planejamento e Orientação Didática do 2º
ano, você lembra se fez a distribuição dos conteúdos, por exemplo, de números e
operações no primeiro semestre? Se no 2º semestre você continuou trabalhando
com números e operações ou trabalhou com espaço e forma ou grandezas e
medidas? Ou esta distribuição foi feita de outra forma? Ou esta distribuição dos
conteúdos foi feita durante todo o ano? Teve algum conteúdo que você tenha
dado mais ênfase?
Professora Rosa : Eu trabalho com eles durante todo o ano. Trabalho números,
as formas, medidas, um pouco por semana. Eu distribuo durante a semana. Tem
178
um dia da semana que eu trabalho formas, outro dia em trabalho medida, outro
trabalho com números, outro os cálculos, um pouquinho de cada.
Entrevistadora : Que materiais você utiliza para fazer o planejamento? Você
utiliza o Guia de Planejamento, o que mais? Você usa o livro didático?
Professora Rosa : Eu também usava o livro didático, trabalho paralelamente. Às
vezes eu dou como tarefa de casa as atividades do livro didático. Trabalho com
jogos, material dourado, jogo de trilha, jogos de cartas, depende de qual é o meu
foco de trabalho, eu introduzo um joguinho.
Entrevistadora : Este jogo que você escolhe é repetido durante o ano ou para
cada situação nova você utiliza um novo?
Professora Rosa : Eu procuro trabalhar pelo menos a cada quinzena com um
joguinho e a cada semana um jogo diferente. Por exemplo, se eu estou
trabalhando com a multiplicação eu distribuo um dado e eles vão trabalhar em
cima do número sorteado do dado. Sempre dependerá do conteúdo que estou
trabalhando. Sempre trazendo o “concreto”, no jogo.
Entrevistadora : Isto você incorpora na rotina semanal?
Professora Rosa : Incorporo.
Entrevistadora : Olhando um pouco nas rotinas que a escola me enviou, o
trabalho com jogos aparecia toda semana na sexta feira, é isto mesmo?
Professora Rosa : Eu trabalhava com jogos e formas na sexta feira. Nos 2º anos
é sempre na sexta feira que entram os jogos. Portanto toda sexta feira havia um
trabalho com jogos.
Entrevistadora : Isto era para as duas turmas?
Professora Rosa : Era sim.
Entrevistadora : Como você acompanhava a aprendizagem da sua turma?
Professora Rosa : Nos trabalhos realizados, no concreto, trabalho com as duplas
produtivas e tem a avaliação para ver se eles estão pegando ou não, fazendo a
avaliação, o diagnóstico. Ver no que eu preciso interferir. Ver até onde eles
179
conseguiram evoluir, até onde conseguiram chegar. Primeiro a “gente” trabalha
com jogos, com o livro didático, exploro as atividades, faço resolução de
problemas e depois faço um diagnóstico.
Entrevistadora : Por exemplo, ao pensar na resolução de problemas, o que você
percebeu que os alunos tiveram mais dificuldade, ou mais facilidade?
Professora Rosa : Eu percebo que eles tinham muita dificuldade na subtração.
Qual é a diferença? Eles ficam um pouco “pensativos”, percebo um pouco de
dificuldade na subtração e também na divisão no concreto. Percebo que eles têm
mais dificuldade na subtração e na divisão. No entanto na adição e na
multiplicação, eles têm bem mais facilidade. A multiplicação porque eles podem
resolver por “somas” de várias parcelas iguais, a dificuldade é mesmo na
subtração e na divisão. E até porque a divisão vai precisar lá na frente da
subtração. Alguns alunos eu preciso trabalhar no concreto. Então eu trago
canudinho, palitinho de sorvete, na subtração para eles fazerem no concreto. Uso
também o material dourado, para eles irem percebendo as unidades, as dezenas
para eles compreenderem que o menor “não tira do maior”, essas questões
mesmo.
Entrevistadora : Você desenvolve o seu trabalho pensando na resolução de
problemas, pensando nos diferentes Campos: o aditivo e o multiplicativo?
Professora Rosa : Sim.
Entrevistadora : Dentro da resolução de problemas, quais são os problemas que
mais os alunos têm dificuldade e se você detectou o porquê dessa dificuldade?
Professora Rosa : Eu percebo que eles têm muita dificuldade na interpretação.
Por exemplo: um aquário tem tantos peixes, sendo que tantos são azuis. Quantos
são os amarelos? Eles têm muita dificuldade de compreender que não é
necessário só fazer uma subtração. Eles também podem resolver fazendo um
adição. Eu percebo que eles têm essa dificuldade. Quando tem problemas que
falam em diferença, eu também percebo uma dificuldade. Por exemplo a diferença
de idade: o fulano tem tantos anos, o amigo tem tantos. Qual a diferença de idade
180
entre eles? Percebo que eles têm dificuldade, porque muitos querem “somar”.
Percebo que essas nomenclaturas são meio complicadas.
Entrevistadora : Você está dizendo que uma das dificuldades está relacionada à
linguagem?
Professora Rosa : É, muitas vezes é com a linguagem.
Entrevistadora : No caso desse primeiro problema, o do aquário, tem ali um
problema relacionado com a incógnita, ou seja, daquilo que eu quero saber. Na
maioria dos problemas desse tipo, o que se tem são as partes e se deseja saber o
todo ou total. Mas nesse tipo de problema, por exemplo: tenho 4 peixes amarelos,
e 12 no total. Quantos são os verdes? São nesses que eles tiveram mais
dificuldades?
Professora Rosa : Eles tiveram mesmo dificuldade para compreender no começo,
mas à medida que fui trabalhando, a dificuldade foi diminuindo.
Entrevistadora : E em relação ao campo multiplicativo?
Professora Rosa : Eu percebi que a maioria se apropriou, eles passaram a
compreender que a multiplicação é a “soma”, é a adição de parcelas iguais. Eu
percebi que eles pegaram com facilidade. Por exemplo, tem muito aquele cálculo:
uma mão tem 5 dedos então em duas tem...., em três ..., agora isto tem bastante
no Caderno de apoio e aprendizagem. Logo eles identificam como a tabuada. Esta
é a tabuada do 5. Em outra situação eles identificaram como a tabuada do 2, 3 e
assim por diante.
Entrevistadora : Como você faz o registro do acompanhamento dos alunos?
Professora Rosa : Tem as fichas das comissões de classe, que são semestrais,
tem o diário de classe e as sondagens.
Entrevistadora : A sondagem é bimestral?
Professora Rosa : A que a secretaria pede é bimestral, mas eu faço as minhas
observações mês a mês, para que possa acompanhar os alunos, que são aquelas
que marco no diário de classe, e que vão para a ficha semestral dos alunos.
181
Entrevistadora : A que você atribui o bom desempenho dos alunos do 2º ano na
Prova São Paulo?
Professora Rosa : Então, eu fiquei pensando, muitos dos alunos que estavam
comigo no 2º ano foram meus alunos em 2008. Acredito que isto também tenha
ajudado. Eu trabalhei com eles praticamente o ano inteiro, eu saí de licença
maternidade em novembro, os alunos já sabiam como eu era, como eu costumo
trabalhar. Acredito também que seja a questão do vínculo e como são apenas
duas salas os outros também me conheciam e eu também acabei conhecendo os
alunos da outra turma. Eu acredito que isto, a continuidade quando o professor de
primeiro ano passa para o 2º ano, permite saber onde o aluno está, do que ele
precisa, torna-se muito mais fácil, por exemplo, se eu tivesse voltado na metade
do ano com alunos que eu não conhecia, acho que seria mais difícil, mas não,
quando eu voltei os alunos já me conheciam, eu sabia até onde eles tinha ido
comigo, o que eles sabiam. No retorno percebi que muitos alunos tinham
avançado, então eu acredito que um dos fatores é o conhecimento que o
professor tem da turma. Outro aspecto que considero importante foi o trabalho
com jogos, os alunos se interessam. Sabe aquele aluno que não gosta de
registrar, sabe aquele aluno que você tem certeza que ele sabe, mas que não faz
nenhum registro, quando você trabalha com jogos isso não acontece, ele coloca
ali no jogo o pensamento dele. Acredito nesse vínculo que tinha com os alunos, o
que eu sabia que eles tinham de conhecimento e nesse trabalho com jogos.
Entrevistadora : Você acha então que a sua própria organização do trabalho é
que ajudou? Você disse que:
- o vínculo que tinha com os alunos é um facilitador;
- o conhecimento que tinha sobre os saberes matemáticos dos alunos foi um
facilitador, o que mais você acredita que posa ter contribuído?
Professora Rosa : Acho que a organização que fazia do meu trabalho também
ajudou, pois uma vez que eu planejo a rotina semanal, quando eu preparo a
semana de trabalho, o que eu preciso para desenvolver aquele conhecimento
com os alunos, ou seja, é muito diferente você vir preparada, do que fazer lá na
182
hora, de surpresa. Esse planejamento, essa rotina, o que eu vou trabalhar, o que
eu pretendo atingir, o que eu preciso propor para isso, é importante para isso.
Entrevistadora : A troca entre as professoras acontecia no planejamento da rotina
das atividades?
Professora Rosa : Acontecia. Meu horário de jornada não, pois a outra professora
não fazia horário coletivo. Mas durante os intervalos da semana, nas horas das
atividades individuais, a “gente” estava sempre trocando. Até porque havia alunos
meus que estavam com ela e outros que eram dela e estavam comigo. Nós
falávamos do planejamento, mas também das dificuldades e avanços desses
alunos que estavam hoje em salas trocadas. Trocávamos as atividades que
haviam dado certo na minha turma e as que ela fazia na turma dela que haviam
dado certo.
Entrevistadora : Como nós estamos falando mais especificamente de Matemática,
como era o horário coletivo, ou seja, como se dava a discussão de Matemática no
horário coletivo?
Professora Rosa : A professora ri. No horário coletivo, não era um espaço que se
discutia muito isso. A Matemática é muito específica. Recordo-me mais de
discussões de textos que abrangiam questões mais gerais. Lembro-me de
algumas entrevistas e de discussões sobre a sondagem. Mas discutir
especificamente um ano específico eu não me lembro.
Entrevistadora : O que você esta dizendo é que o acompanhamento específico de
Matemática, no horário coletivo se dava mais em função dos instrumentos que a
própria Secretaria solicitava das escolas?
Professora Rosa : É isto.
Entrevistadora : Esses instrumentos acabaram mobilizando a circulação de
informações e de conhecimentos Matemáticos na escola?
Professora Rosa : Acredito que sim, porque você vai ter que informar-se para
poder preencher a planilha, então faz com que o professor busque, nem que for
naquele momento compreender o porquê dele estar fazendo aquilo. Ele faz com
183
que o professor vá em busca de respostas daquilo que ele precisa preencher. Pelo
menos para aquele momento o professor precisa se informar. É uma forma do
professor se mobilizar e até dele estar revendo os seus conceitos, não ficar
olhando de forma tão tradicional. Sabemos que a Matemática hoje tem outro
significado, isto faz com que ele precise se mobilizar para saber do que estão
falando.
Entrevistadora : Que conteúdos você acha que seus alunos tinham mais
facilidade?
Professora Rosa : De Matemática?
Entrevistadora : É.
Professora Rosa : Eles têm facilidade no reconhecimento das formas,
principalmente as relacionadas com o meio onde eles vivem. Eles gostam de
resolver as “continhas”. Eles perguntavam: hoje não tem continhas? À medida que
a gente vai trabalhando com eles, eles dizem: “não é tão difícil assim”. Tem muita
agente que fala que a “Matemática é um bicho de 7 cabeças”, isto já vem
culturalmente incutido na cabeça das crianças. Quando você pega 2 alunos e diz
que há 4 balas para dividir igualmente entre eles, de uma forma justa, porque
também poderíamos dividir em forma injusta, e ela ri... Os alunos dizem
igualmente, não é professora, e ninguém pode ganhar mais que ninguém, eles
devem ganhar igual. Quando se trabalha assim, eles começam a entender. Os
alunos dizem: mas falaram que era tão difícil, minha mãe falava, mas é tão fácil,
não é professora? Eu digo: ”é lógico que é fácil”. Então você percebe que eles
gostam da divisão, da resolução de problemas, do trabalho com tabelas na
resolução de problemas. Quando eu organizava uma tabela com brinquedos por
exemplo, dizia: vamos determinar quanto custa? Eles mesmos iam dando o valor
próximo do custo real, a partir daí eu organizava questões pra que eles pudessem
responder e associá-las à tabela construída. Trabalhar com os jogos, eles adoram.
Entrevistadora : Se de alguma forma você está trabalhando com a Matemática e
mostrando que ela não é um bicho de 7 cabeças, você acha que as facilidades
deles também são suas? Para você a Matemática era um bicho de 7 cabeças?
184
Professora Rosa : Não. Eu sempre gostei de Matemática. Aliás, eu preciso me
policiar para não trabalhar só com a Matemática. Como eu gosto, é o contrário.
Acho que isto também acaba facilitando essa aproximação. Se o professor gosta
da matemática, ele também acaba passando isso para os alunos. Acho que isto
também é um facilitador.
Entrevistadora : Você acha que tem algum conteúdo eles tem mais dificuldade em
trabalhar?
Professora Rosa : No trabalho com grandezas e medidas. Um exemplo disso é o
trabalho com a régua. Saber onde começa, no zero ou no 1?
Entrevistadora : Você preparou os alunos para Prova São Paulo?
Professora Rosa : Eu preparei assim: organizei situações onde apareceram
questões de múltipla escolha. Eles precisavam saber que apenas uma questão é a
certa e como passar as respostas assinaladas para o gabarito, ou seja, eu
elaborei atividades para isto, para que eles pudessem se familiarizarem.
Entrevistadora : Isto é quando? Na semana da Prova São Paulo?
Professora Rosa : Não, ao longo do ano. Eu trabalhava com os conteúdos e a
medida que ia trabalhando apresentava questões de múltipla escola relacionadas
àquele assunto. Não se pode deixar para a última hora, pois eles não vão
conseguir. É confuso para eles, é novo, principalmente o gabarito.
Entrevistadora : Vocês fazem um Provão?
Professora Rosa : Não. Eu faço algumas atividades que eles precisam passar
para o gabarito. Depois eles colam no caderno, mas não é um provão.Tudo para
que eles possam se apropriar dessa questão, ou seja, cada questão tem apenas
uma resposta e que depois eles precisam passar para o gabarito que está em
outra folha e que será esta folha que irá para eles olharem e verificarem o que
acertaram. Não adianta você acertar aqui e na hora de passar para o gabarito,
você se “embananar”. E revisar verificando se marcou a alternativa “a” e se foi ela
mesma que foi marcada no gabarito. Muitas vezes eles se confundem. Para que
isto não aconteça, eu vou trabalhando ao longo do ano.
185
Entrevistadora : Que dificuldade você tem para ensinar Matemática? Tem algum
conteúdo que você sente mais dificuldade?
Professora Rosa : Por trabalhar dessa forma que trabalho, com os jogos, com o
“concreto”, eu percebo que eles acabam se apropriando do que eu quero que
aprendam.
Entrevistadora : Você sempre trabalhou dessa forma?
Professora Rosa : Acho que por eu ter sido professora de SAP (Professora da
Sala de Apoio Pedagógico), e lá eu também ter trabalhado com Matemática. Não
trabalhava só com Língua Portuguesa. Eu trabalhava em uma escola pequena -
EMEF Domingos Rubino, acho que isto me ajudou no trabalho com a Matemática,
pois trabalhava sempre em pequenos grupos, fazendo o acompanhamento das
aprendizagens.
Entrevistador a: Você participou das formações em Matemática oferecidas pela
Secretaria?
Professora Rosa : Não. Tinha dois cargos, filhos pequenos, não pude participar.
Entrevistadora : Você falou bastante da rotina, mas gostaria que você explicitasse
como é que vocês fazem isto, é no coletivo? A rotina que vocês entregam é a
real?
Professora Rosa : Ela é feita no coletivo. A que é entregue é a que de fato
aconteceu. A Coordenadora entrega a folha na segunda feira, eu registro a lápis o
que planejo fazer durante a semana, em termos dos conteúdos a serem
desenvolvidos, ela fica comigo e devolvo para ela na sexta feira, porque se eu
mudei alguma coisa, eu apago e registro o que aconteceu de fato, entendeu? Tem
semana que não dá tempo de passar a caneta, eu entrego a lápis mesmo, mas
com as mudanças que foram realizadas durante a semana. Portanto, o que foi
entregue, registra exatamente o que aconteceu durante a semana.
Entrevistadora : Na segunda feira além do planejamento da rotina, há espaço
entre vocês para o planejamento das atividades da semana?
186
Professora Rosa : Sim, às vezes “a gente” pede algum espaço na terça feira isto
também acontecia.
187
Anexo 4 - Análise das rotinas
A. Professora Lívia
A.1. Em relação a números
Tabela 1 : Organização da rotina de atividade de números
Atividades Desenvolvidas Quantidade Diagnóstico de Números 03 Escrita de números a partir da contagem um a um 01 Escrita de números por extenso 07 Escrita de números utilizando algarismos 19 Sequência ou ordenação de números 22 Comparação 07 Leitura de números 08 Quadro numérico 07 Ditado de números 05 Observação das regularidades do SND 05 Utilizam o sistema monetário para compor e decompor de números
05
Total de atividades envolvendo números 89
A.2. Em relação ao cálculo
Tabela 2: Organização da rotina de atividade envo lvendo as operações Atividades Desenvolvidas Quantidade Cálculo mental envolvendo adição e subtração 08 Cálculos de adição 12 Cálculos de subtração 09 Cálculos de multiplicação 07 Descoberta de erros 03 Total de atividades envolvendo as operações 39
A.3. Em relação à Resolução de problemas
Tabela 3: Organização da rotina de atividade de r esolução de problemas
Atividades Desenvolvidas Quantidade Diagnóstico da resolução de problemas 03 Resolução de problemas Campo Aditivo 15 Resolução de problemas Campo Multiplicativo 07 Elaboração de problemas para conhecer a operação 04 Elaboração de problemas para contagem nº de alunos 03 Elaboração de problemas a partir do conhecimento do resultado
03
Elaboração de problemas embolados (SME, 2007 – p.192) 05 Total de atividades envolvendo a resolução de problemas 40
188
A.4. Em relação ao Tratamento da Informação
Tabela 4: Organização da rotina de atividade envo lvendo o tratamento de informação Atividades Desenvolvidas Quantidade Organização de tabelas 05 Leitura de tabelas 03 Construção de gráficos 05 Leitura de gráficos 04 Total de atividades envolvendo o tratamento de informação 17
A.5. Em relação a Espaço e Forma
Tabela 5: Organização da rotina de atividade env olvendo espaço e forma
Atividades Desenvolvidas Quantidade Localização e deslocamento 07 Total de atividades envolvendo espaço e forma 07 A.6. Em relação ao uso da Calculadora 29:
Tabela 6: Organização da rotina de atividade envo lvendo o uso da calculadora
Atividades Desenvolvidas Quantidade Uso da calculadora 10 Total de atividades envolvendo uso da calculadora 10
29 As atividades com a calculadora não foram computadas na tabela geral de comparação entre as duas professoras, uma vez que não foi possível saber se elas estavam relacionadas à construção do número, busca de regularidade, ou relacionadas a verificação de resultados na resolução de problemas
189
B. Professora Rosa
B.1. Em relação ao trabalho com números 30
Tabela 7: Organização da rotina de atividade de n úmeros
Atividades Desenvolvidas Quantidade Diagnóstico de Números 02
Escrita de números 04
Sequência ou ordenação de números 25
Contagem envolvendo diferentes quantidades 07
Leitura de números 04
Quadro numérico 08
Observação das regularidades do SND 06
Utilizam o sistema monetário para compor e decompor de números
04
Total de atividades envolvendo números 60
B.2. Em relação às operações:
Tabela 8: Organização da rotina de atividade envo lvendo as operações
Atividades Desenvolvidas Quantidade Cálculo mental envolvendo adição e subtração 03 Cálculos de adição 11 Cálculos de subtração 04 Cálculos de multiplicação 07 Total de atividades envolvendo as operações 25
B.3. Em relação à Resolução de problemas
Tabela 9: Organização da rotina de atividade de r esolução de problemas
Atividades Desenvolvidas Quantidade Diagnóstico da resolução de problemas 02 Resolução de problemas 34 Total de atividades envolvendo a resolução de problemas 36
30 A professora Rosa indica em suas rotina s que todos os dias desenvolveu atividades de contagem envolvendo o nº de alunos da turma.
190
B.4. Em relação a Grandezas e Medidas
Tabela 10: Organização da rotina de atividade env olvendo medidas
Atividades Desenvolvidas Quantidade Uso da régua 02 Medindo comprimentos 02 Medindo tempo 03 Total de atividades envolvendo as medidas 07
B.5. Em relação a Espaço e Forma
Tabela 11: Organização da rotina de atividade env olvendo o espaço e forma
Atividades Desenvolvidas Quantidade
Localização e deslocamento 03
Formas 11
Linhas curvas 01
Simetria 01
Total de atividades envolvendo espaço e forma 16
C. Tabela comparativa do planejamento das duas prof essoras
C.1. Quanto ao trabalho com números
Tabela 12: Organização da rotina de atividade de números
Lívia Rosa Atividades Desenvolvidas
Quantidade Quantidade Diagnóstico de Números 03 02 Escrita de números 27 04 Sequência ou ordenação de números 22 25 Comparação 07 0 Contagem envolvendo diferentes quantidades 0 07 Leitura de números 08 04 Quadro numérico 07 08 Ditado de números 05 031 Observação das regularidades do SND 05 06 Sistema monetário para compor e decompor de números 05 04 Total de atividades envolvendo números 89 60
C.2. Em relação a Resolução de Problemas
31 Apesar de não constar nenhuma atividade com ditado de números a professora enviou duas sondagens de números a SME que é realizada a partir do ditado de números.
191
Tabela 13: Organização da rotina de atividade de resolução de problemas
Lívia Rosa Atividades Desenvolvidas
Quantidade Quantidade
Diagnóstico da resolução de problemas 03 02
Resolução de problemas 22 34
Elaboração de problemas 04 0
Elaboração de problemas 11 0
Total de atividades envolvendo a resolução de problemas 40 36
C.3. Em relação as operações
Tabela 14: Organização da rotina de atividade env olvendo as operações
Lívia Rosa Atividades Desenvolvidas Quantidade Quantidade
Cálculo mental envolvendo adição e subtração 08 03 Cálculos de adição 12 11 Cálculos de subtração 09 04 Cálculos de multiplicação 07 07 Descoberta de erros 03 0 Total de atividades envolvendo as operações 39 25
C.4. Em relação a Espaço e Forma
Tabela 15: Organização da rotina de atividade env olvendo o espaço e forma
Lívia Rosa Atividades Desenvolvidas Quantidade Quantidade
Localização e deslocamento 07 03 Formas 0 11 Linhas curvas 0 01 Simetria 0 01 Total de atividades envolvendo espaço e forma 07 16
Tabela síntese com os percentuais das atividades de senvolvidas pelas duas
professoras em relação a todos os blocos de conteúd os
Tabela 16: Totalização das atividades propostas nas rotinas
Lívia Rosa Atividades Desenvolvidas Quantidade % Quantidade %
Números 89 46 60 42 Resolução de problemas 40 21 36 25 Operações 39 20 25 17 Grandezas e Medidas 0 0 07 5 Espaço e Forma 07 4 16 11 Trat. da Informação 17 9 0 0 Total de atividades 192 100% 144 100%
192
Anexo 5 - Analise das sondagens
A. Números
A.1. Professora Lívia
Tabela 17: Sondagem de números da turma A – Diagnós tico 1 e 2 Escrita de números
Diagnóstico 1
% Diagnóstico 2 % Avanços do 1º para
o 2º diagnóstico
1 2 7 0 0 7 2 3 9 1 3 6 3 0 0 0 0 0
1 a 99
4 25 89 29 97 8 1 4 13 1 3 10 2 4 13 3 10 3 3 17 57 5 17 40
100 a 999
4 5 17 21 71 54 1 4 13 1 3 10 2 4 13 1 3 10 3 21 71 18 60 11
1000 a 9999
4 1 3 10 34 31 1 5 17 1 3 14 2 3 9 5 17 8 3 21 71 16 53 18
maior que 10000
4 1 3 8 27 24 Legenda :1: Escrita de algarismos sem relação com o número ditado; 2: Uso de coringas; 3. Apoio da fala para escrever números; 4. Escrevem convencionalmente.
193
B. Professora Rosa
Tabela 18: Sondagem de números da turma B – Diagnós tico 1 e 2
Escrita de números Diagnóstico 1 % Diagnóstico 2 % avanço do 1º para o
2º diagnóstico
1 1 3 0 0 3
2 0 0 0 0 0
3 0 0 0 0 0 1 a 99
4 29 97 30 100 3
1 6 20 2 7 13
2 1 3 0 0 3 3 2 7 2 7 0
100 a 999
4 21 70 26 86 16 1 7 23 3 10 13 2 2 7 0 0 7 3 13 43 11 37 5
1000 a 9999
4 8 27 16 53 26 1 6 20 3 10 10 2 5 17 0 0 17 3 14 47 16 53 6
maior que 10000
4 5 17 11 37 20 Legenda :1: Escrita de algarismos sem relação com o número ditado; 2: Uso de coringas; 3. Apoio da fala para escrever números; 4. Escrevem convencionalmente.
194
C. Tabela comparativo sondagens de números entre as duas turmas
Tabela 19: Síntese dos percentuais de avanços dos a lunos em relação à escrita de números. Escrita de números Turma 1 Turma 2
% de avanço
do 1º para o 2º diagnóstico % de avanço
do 1º para o 2º diagnóstico 1 7 3
2 6 0
3 0 0 1 a 99
4 8 3
1 10 13
2 3 3 3 40 0
100 a 999
4 54 16 1 10 13 2 10 7 3 11 5
1000 a 9999
4 21 26 1 14 10 2 8 17 3 18 6
maior que 10000
4 24 20 Legenda :1: Escrita de algarismos sem relação com o número ditado; 2: Uso de
coringas; 3. Apoio da fala para escrever números; 4. Escrevem convencionalmente.
195
Anexo 6 – Rotinas de Planejamento
196
197
198
199
ANEXO 7 – Planilhas de Sondagens: Números
200
201
202
203
204
205
206
Anexo 8 - Planilhas das Sondagem: Significado das operações Campo Aditivo
207
208