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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA EDGAR LESSA CRUSOÉ OSWALDO PEZZATO JUNIOR SIDNEY SOUTO DE ALMEIDA PRÁTICAS GERENCIAIS EM SERVIÇOS DE VIGILÂNCIA À SAÚDE Salvador 2006

PRÁTICAS GERENCIAIS EM SERVIÇOS DE VIGILÂNCIA À … · implementação de um modelo de Vigilância da Saúde na cidade do Salvador, reduzindo assim as irregularidades no acesso

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA

EDGAR LESSA CRUSOÉ OSWALDO PEZZATO JUNIOR SIDNEY SOUTO DE ALMEIDA

PRÁTICAS GERENCIAIS EM SERVIÇOS DE VIGILÂNCIA À SAÚDE

Salvador 2006

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EDGAR LESSA CRUSOÉ OSWALDO PEZZATO JUNIOR SIDNEY SOUTO DE ALMEIDA

PRÁTICAS GERENCIAIS EM SERVIÇOS DE VIGILÂNCIA À SAÚDE

Trabalho monográfico solicitado pela Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia, como requisito para obtenção do título de Especialista em Gestão Pública. Orientador: Prof. Uaçaí Lopes

Salvador 2006

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Crusoé, Edgar Lessa Práticas gerenciais em serviços de vigilância à saúde/ Edgar Lessa Crusoé, Oswaldo Pezzato Junior, Sidney Souto de Almeida. – Salvador: [s.n.], 2006. 67f. Orientador: Uaçaí Lopes. Monografia (Especialização) – Universidade Federal da Bahia. Escola de Administração, 2006. 1. Gestor Público. 2. Vigilância à Saúde. 3. Práticas Gerenciais. I. Pezzato Junior, Oswaldo. II. Almeida, Sidney Souto de III - Universidade Federal da Bahia. Escola de Administração.

CDD : 350

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TERMO DE APROVAÇÃO

EDGAR LESSA CRUSOÉ OSWALDO PEZZATO JUNIOR SIDNEY SOUTO DE ALMEIDA

PRÁTICAS GERENCIAIS EM SERVIÇOS DE VIGILÂNCIA À SAÚDE

Monografia aprovada como requisito parcial para a conclusão do curso de especialização em Gestão Pública, Escola de Administração, da Universidade

Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:

________________________________________________ Prof. Uaçaí Lopes ________________________________________________ ________________________________________________

Salvador, março de 2006

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por nos ter dado fé e coragem para começarmos o nosso trabalho

monográfico, tendo a certeza de que Ele é a força suprema e com Ele todos os

obstáculos serão superados.

A todos aqueles que contribuíram para a realização dessa experiência

enriquecedora e gratificante, da maior importância para nosso crescimento pessoal e

profissional.

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A transparência na Administração Pública envolve dois princípios básicos: ética e civilidade.

Edivalda Pacheco, 2005

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RESUMO

A cultura organizacional do setor público brasileiro, em geral, não estimula a iniciativa e a criatividade de seus trabalhadores. Entretanto, deve-se lembrar que todo processo de mudança implica a necessidade de profissionais não apenas com boa capacitação técnica, mas com liberdade de criação e autonomia de ação. Ainda que não seja possível produzir uma “receita” aplicável a todo e qualquer município, pode-se indicar diretrizes, instrumentos, métodos e normatizações que possam ser úteis aos gestores. É de suma importância que os argumentos em defesa da relevância da gestão do serviço de vigilância à saúde pública sejam apresentados e reforçados em razão da demanda social decorrente de diversas epidemias, e nos esforços envidados contra estas e seus determinantes. Assim, esse trabalho de pesquisa pretendeu sugerir mudanças nas práticas gerenciais dos atuais gestores públicos, de forma a possibilitar a implantação de um modelo que viabilize um funcionamento eficiente e eficaz do Sistema de Vigilância da Saúde da cidade do Salvador. Para isso foi feita uma análise das práticas gerenciais desenvolvidas atualmente pelos gestores do Sistema de Vigilância da Saúde; identificaram-se as dificuldades e os entraves para o seu bom funcionamento; e, obteve-se informações que permitiram a sugestão de práticas gerenciais mais efetivas. O estudo foi feito com base no método da pesquisa exploratória, descritiva. Foram feitas consultas a livros e documentos, pesquisas na Internet e entrevistas com os coordenadores dos principais Distritos Sanitários, para posterior análise qualitativa, interpretação e demonstração dos resultados obtidos. Palavras-chave: mudança, gestores, vigilância à saúde pública, Distritos Sanitários.

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ABSTRACT

The organizacional culture of the Brazilian public sector, in general, does not stimulate the initiative and the creativity of its workers. However, it must be remembered that all process of change not only implies the necessity of professionals with good qualification technique, but with freedom of creation and autonomy of action. Still that it is not possible to produce a "prescription" applicable to all and any city, can be indicated lines of direction, instruments, methods and normatizations that can be useful to the managers. It is of utmost importance that the arguments in defense of the relevance of the management of the service of monitoring to the public health are presented and strengthened in reason of the decurrent social demand of diverse epidemics, and in the efforts endeavoured against these and its determinative ones. Thus, this work of research intended to suggest practical changes in the managemental ones of the current public managers, of form to make possible the implantation of a model that makes possible an efficient and effective functioning of the System of Monitoring of the Health of the city of Salvador. For this an analysis of practical the managemental ones developed currently for the managers of the System of Monitoring of the Health was made; had been identified the difficulties and the impediments for its good functioning; and, got information that had allowed the suggestion of more effective managemental practical. The study was made on the basis of the method of the exploratory, descriptive research. Had been made consultations in books and documents, research in the InterNet and interviews with the coordinators of the main Sanitary Districts, for hinder qualitative analysis, interpretation and demonstration of the gotten results. Key-words: change, managers, monitoring to the public health, Sanitary Districts.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................08

2 METODOLOGIA ...................................................................................................12

3 REFERENCIAIS TEÓRICOS ................................................................................14

3.1 BREVE HISTÓRICO DO SERVIÇO DE VIGILÂNCIA À SAÚDE ........................14

3.2 CONCEITOS DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA E EPIDEMIOLÓGICA.....................18

3.3 OBJETIVOS ........................................................................................................22

4 COMPETÊNCIAS GERENCIAIS ...........................................................................26

4.1 DEFINIÇÕES ......................................................................................................26

4.2 INDICADORES POSITIVOS E NEGATIVOS......................................................27

5 GESTÃO E MODELOS ASSISTENCIAIS DE VIGILÂNCIA À SA ÚDE.................30

5.1 MODELOS VIGENTES DA VIGILÂNCIA DA SAÚDE ....................................... 31

5.2 PROCESSO DE INCLUSÃO DE NOVAS TÉCNICAS DE PLANEJAMENTO E

EXECUÇÃO NA ÁREA DA VIGILÂNCIA DA SAÚDE ...............................................36

6 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA ..............................................38

6.1 ENTREVISTAS ..................................................................................................38

7 CONCLUSÃO .......................................................................................................64

REFERÊNCIAS .....................................................................................................66

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1 INTRODUÇÃO

Esta monografia apresenta o trabalho, o método utilizado, os motivos que

levaram a escolha do tema, suas especificidades e as áreas do conhecimento em

que foi baseado. Durante a exposição são descritos: a relevância do estudo, sua

delimitação, variáveis, o problema de pesquisa, a justificativa, os objetivos, o

referencial teórico, as hipóteses e um resumo dos capítulos seguintes.

A cidade do Salvador foi locus experimental da implantação de um

Sistema Único e Descentralizado da Saúde – SUDS – que antecedeu ao Sistema

Único de Saúde (SUS) e cujos princípios se baseavam na descentralização das

ações, com a criação dos Distritos Sanitários, com área territorial definida,

baseando-se na autonomia administrativa para a mesma.

O tema escolhido “Práticas gerenciais em serviços de vigilância à saúde”

decorreu do fato de os autores terem constatado que existe insatisfação por parte

dos usuários e funcionários com relação ao desempenho do Gestor Público que,

apesar de o mesmo vir se profissionalizando, tem deixado a desejar.

O objeto do trabalho está centrado nas seguintes áreas do conhecimento:

Administração, Saúde e Políticas Públicas.

O que delimita este estudo é a análise de práticas, competências,

dificuldades, facilidades, bem como o funcionamento do Sistema de Vigilância da

Saúde.

As variáveis deste estudo são: a desigualdade de acesso aos serviços;

inadequação dos serviços às necessidades da população; baixa qualidade dos

serviços; e, ausência da integralização das ações.

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É de suma importância que os argumentos em defesa da relevância da

gestão do serviço de vigilância à saúde sejam apresentados e reforçados em razão

da demanda social decorrente de diversas epidemias, e nos esforços envidados

contra estas e seus determinantes.

Assim, assinala Giddens (1991):

A Vigilância da Saúde integra os arranjos do Estado-Nação no capitalismo industrial, em seus entrelaçamentos e desenvolvimento mútuo, expressando-se quer na vigilância direta das atividades da população – a exemplo do exercício do poder sanitário no interior das unidades produtivas – quer na vigilância indireta, baseada no controle da informação. (GIDDENS, 1991, p. 82).

Este estudo se justificou porque visou fornecer subsídios para a

implementação de um modelo de Vigilância da Saúde na cidade do Salvador,

reduzindo assim as irregularidades no acesso e contribuindo para a concretização

dos princípios do Sistema Único de Saúde.

Os autores deste trabalho de pesquisa vêm desenvolvendo atividades de

assessoria e de direção na Superintendência de Vigilância e Proteção da Saúde

(SUVISA/SESAB) e têm verificado as dificuldades de se implantar um modelo de

Vigilância à Saúde em Salvador.

Diante do exposto questionaram: que mudanças nas práticas gerenciais

desenvolvidas nos Distritos Sanitários, possibilitariam a implantação de um modelo

que aperfeiçoasse o funcionamento do Sistema de Vigilância da Saúde, em

Salvador?

Os modelos assistenciais ou de atenção seriam a combinação ideológica

usada em espaço/população, incluindo ações sobre ambiente, grupos populacionais,

equipamentos comunitários e usuários. Assim, um modelo de gerenciamento que

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combine técnica e tecnologia, poderia melhor atender às necessidades atuais do

serviço prestado atualmente à comunidade.

Este trabalho monográfico pretendeu sugerir mudanças nas práticas

gerenciais dos atuais gestores públicos dos Distritos Sanitários, de forma a

possibilitar a implantação de um modelo que viabilize um funcionamento eficiente e

eficaz do Sistema de Vigilância da Saúde da cidade do Salvador. Para atingir seu

objetivo principal foi feita uma análise das práticas gerenciais desenvolvidas

atualmente pelos gestores do Sistema de Vigilância da Saúde; identificadas as

dificuldades e os entraves para o seu bom funcionamento; e, obteve-se informações

que permitem a sugestão de práticas gerenciais mais efetivas.

Durante a exposição do estudo são apresentados os seguintes capítulos:

Capítulo 1 – Introdução.

No capítulo 2 é descrita a metodologia do trabalho, contendo as diversas

etapas do processo da pesquisa realizada.

No capítulo 3 são apresentados referenciais teóricos; breve histórico do

serviço de vigilância à saúde; conceitos de Vigilância Sanitária e Epidemiológica e

seus objetivos.

No capítulo 4 fala-se das competências gerenciais básicas das quais

necessita toda organização, como: liderança, persuasão, trabalho em equipe,

criatividade, tomada de decisão, planejamento e organização e determinação.

Discorre-se sobre cada uma delas, apontando-se seus indicadores positivos e

negativos.

No capítulo 5 discorre-se sobre a gestão e modelos de Vigilância à

Saúde, modelo vigente da vigilância da saúde na Bahia e aborda o processo de

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inclusão das novas técnicas de planejamento e execução nessa área

especificamente.

No capítulo 6 são mostrados os resultados das entrevistas realizadas com

gestores dos distritos sanitários da cidade do Salvador.

No capítulo 7, Conclusão são emitidas opiniões e impressões sobre o

trabalho, visando identificar suas contribuições.

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2 METODOLOGIA

Os fundamentos teóricos metodológicos utilizados para a construção

desse trabalho de pesquisa, bem como o método aplicado em suas várias etapas,

são aqui apresentados.

Para o desenvolvimento dessa pesquisa tomou-se como referencial

alguns princípios buscados na Gestão Pública e na Vigilância da Saúde.

O trabalho está apresentado em forma de uma descrição critico - analítica

que permitiu a análise dos referenciais teórico-práticos para a sugestão de

mudanças nas práticas gerenciais desenvolvidas nos Distritos Sanitários, que

possibilitem a implantação de um modelo que aperfeiçoasse o funcionamento do

Sistema de Vigilância da Saúde em Salvador. Para isso, desenvolveu pesquisa

bibliográfica, documental e descritiva, bem como foram realizadas entrevistas com

os coordenadores dos principais Distritos Sanitários da cidade do Salvador.

A elaboração do presente estudo constou de cinco etapas distintas:

1a ETAPA – PESQUISA BIBLIOGRÁFICA: aqui foi feito o levantamento

das obras (livros, textos e leis) relativas a Gestão Pública, Administração e Políticas

Públicas; e, foram selecionadas as obras pertinentes ao objeto de estudo.

2a ETAPA – REDAÇÃO DO CAPÍTULO INTRODUTÓRIO: nessa etapa foi

elaborado o objeto de estudo, objetivos, relevância do estudo, os motivos que

levaram a escolha do tema e as áreas do conhecimento em que foi baseado o

trabalho; também foram descritos os argumentos teórico-práticos por meio de uma

justificativa; foram expostos os capítulos a serem desenvolvidos.

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3a ETAPA – REVISÃO DA LITERATURA: Nesse ponto foi elaborada a

argumentação teórica no campo da Gestão Pública e na Vigilância à Saúde;

competências gerenciais; gestão e modelos assistenciais de Vigilância à Saúde com

ênfase para o modelo vigente no Estado da Bahia.

4ª ETAPA – ANÁLISE DAS ENTREVISTAS: Análise da situação dos

principais Distritos Sanitários da cidade do Salvador por meio da transcrição das

entrevistas realizadas com seus coordenadores.

5ª ETAPA – CONCLUSÕES: Deduções lógicas com base nas

declarações observadas nas entrevistas; comentários resultantes da pesquisa.

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3 REFERENCIAIS TEÓRICOS

O desenvolvimento dos conceitos e das práticas de Vigilância da Saúde

acompanharam as transformações econômico-sociais, sobretudo a partir da

Revolução Industrial, no processo de diversificação e ampliação da produção, dando

suporte nas avaliações de ambientes e aspectos epidemiológicos que envolvem

riscos a saúde da população.

Em uma época em que as organizações se voltam para a diferenciação de

seus produtos, procuram colocar seu foco no usuário e em que a produção em massa

entra em declínio, é necessário que se conheça as necessidades dos usuários para

poder planejar os serviços públicos de saúde no ambiente em que se atua. Assim, é

correto se afirmar que:

Planejar e programar o desenvolvimento da Vigilância da Saúde em um território especifico, exige um conhecimento detalhado das condições de vida e trabalho das pessoas que residem no território, bem como das formas de organização e de atuação dos diversos órgãos governamentais e não-governamentais, para que se possa ter visão estratégica, isto é, clareza sobre o que é necessário, e possível, fazer. Exige também uma disponibilidade e um interesse em desenvolver uma ação comunicativa, isto é, em particular de um diálogo permanente com os representantes dos grupos sociais, e com as pessoas, de um modo geral, buscando, envolvê-las em um trabalho coletivo. (Teixeira; Paim; Vilasboas apud ROZENFELD, 2000, p.59).

3.1 BREVE HISTÓRICO DO SERVIÇO DE VIGILÂNCIA À SAÚDE

A busca da saúde acompanha a história das civilizações. Conforme

Costa e Rozenfeld apud Rozenfeld (2000, p.19), ações de controle sobre o exercício

da medicina, o meio ambiente, os medicamentos e os alimentos existiram desde

longínquas eras. Povos antigos como os babilônios e os hindus, estabeleceram

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preceitos morais e religiosos – fixados nos códigos de Hamurabi e de Ur-Namu,

respectivamente – e regras sobre a conduta dos profissionais que tratavam das

doenças. A saúde era considerada essencial à dignidade humana.

Desde a antiguidade, a solução dos problemas da saúde cabia à

administração das cidades, sinal de ser a proteção da saúde da coletividade uma

função do poder público. Leis e normas disciplinavam a vida em sociedade, a

despeito do desconhecimento do modo como os agentes causadores das doenças

se relacionavam com as mesmas.

A vigilância da saúde é uma área da saúde pública, e um campo de ação

do Estado no intuito de promover e proteger a qualidade de vida. Entre outras áreas

ela engloba a vigilância sanitária e a vigilância epidemiológica. Não há como se falar

em construção da vigilância da saúde no Brasil sem falar no histórico da saúde

pública. É nisso que essa área se explica, baseada no sistema de idéias de saúde

que surge das influências e pressões das políticas públicas.

Com base em Machado et al. (1978, p. 2), quando se referem ao controle

sanitário no Brasil-Colônia, ele se baseava no modelo existente em Portugal, com

ênfase na necessidade de se legitimar os ofícios de físico, cirurgião e boticário e de

se arrecadar emolumentos. Às Câmaras Municipais cabiam as medidas de higiene

pública: limpeza das cidades, controle da água e do esgoto, comércio de alimentos,

abate de animais e controle das regiões portuárias. Embora de eficácia reduzida,

desde o século XVI houve ações de fiscalização e de punição no Brasil.

A chegada da família real portuguesa, em 1808, desencadeou profundas

mudanças em vários campos e também transformações no que se refere aos

cuidados com a saúde da população e para isso foram criadas várias instituições,

como as Escolas de Cirurgias. A abertura dos portos às nações amigas intensificou

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o fluxo de embarcações e a circulação de passageiros e de mercadorias. Com isso,

aumentou a necessidade de controle sanitário, para se evitarem as doenças

epidêmicas e para se criarem condições de aceitação dos produtos brasileiros no

mercado internacional.

As atividades sanitárias mantinham seu caráter fiscalizador, julgador e

punitivo, e as autoridades detinham o poder de tributar, e de arrecadar as taxas

sobre os respectivos serviços.

Com base em Costa e Rozenfeld apud Rozenfeld (2000, p.25), a

instauração da República marcou o início da organização das administrações

sanitárias estaduais e a constituição de órgãos de Vigilância Sanitária nas Unidades

da Federação. A ação de combate às doenças infectocontagiosas passou a

fundamentar-se na pesquisa bacteriológica e nas intervenções da polícia sanitária,

intensificando-se a produção de normas e o esquadrinhamento do espaço urbano,

valorizando-se mais o saber médico.

Na época de Oswaldo Cruz, a implantação de novo Regulamento dos

Serviços Sanitários da União, aprovado pelo Decreto no 5.156 de 1904, previu, pela

primeira vez, a elaboração de um Código Sanitário pela União e a instituição, no

Distrito Federal, do Juízo dos Feitos de Saúde Pública.

Segundo Nunes (2000) apud Borges e Japur (2002, p. 96), a saúde

pública no Brasil vai se configurando como uma política nacional de saúde a partir

do início do século XX com a sistematização das práticas sanitárias, emergindo no

contexto sócio-político do País, na configuração do capitalismo brasileiro.

Para evitar a proliferação de doenças nos aglomerados urbanos que

estavam surgindo, foram estruturados os trabalhos relacionados à vigilância da

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saúde, nos séculos XVIII e XIX. A efetivação desse trabalho exclusivo do Estado, por

meio da polícia sanitária, objetivava a observação do exercício de certas atividades

profissionais, coibir o charlatanismo, fiscalizar embarcações, cemitérios e áreas de

comércio de alimentos. (EDUARDO e MIRANDA, 1998, p. 3).

Ainda com base em Eduardo e Miranda (1998, p. 3), houve uma

reestruturação da vigilância da saúde no final do século XIX, devido aos impulsos

dados pelas descobertas nas áreas da bacteriologia e terapêutica, entre as I e II

Grandes Guerras. Com o crescimento econômico que veio depois da II Guerra

Mundial, as atribuições da vigilância da saúde foram ampliadas pelos movimentos de

reorientação administrativa, em paralelo com a construção da base produtiva do

País, ao tempo em que o planejamento centralizado e a participação intensiva da

administração pública no esforço desenvolvimentista ganharam destaque.

Estes mesmos autores relatam que:

A partir da década de oitenta, a crescente participação popular e de entidades representativas de diversos segmentos da sociedade no processo político moldaram a concepção vigente de vigilância sanitária, integrando, conforme preceito constitucional, o complexo de atividades concebidas para que o Estado cumpra o papel de guardião dos direitos do consumidor e provedor das condições de saúde da população. (EDUARDO e MIRANDA, 1998, p. 3).

Segundo Bueno (2005, p. 23), a história da Vigilância Sanitária brasileira

é a história do país, a história do medo da doença e da morte, um relato de tragédias

e heroísmos, de conquistas, desafios e perdas, uma espécie de certificado de

resistência às atrocidades do poder, à ignorância dos governantes, ao descaso das

autoridades sanitárias que no passado isolavam os doentes como método de cura.

A população era tratada com uma certa crueldade pela administração da saúde

pública com o emprego sucessivo, nas comunidades revoltadas, da violência e da

brutalidade.

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Veja-se então o que são e como funcionam a vigilância sanitária e a

vigilância epidemiológica, no Brasil.

3.2 CONCEITOS DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA E EPIDEMIOLÓGICA

A Vigilância Sanitária é uma das formas mais complexa de existência da

Saúde Pública, pois suas ações, de natureza eminentemente preventiva, perpassam

todas as práticas médico-sanitárias de promoção e proteção da saúde. Ela atua

sobre fatores de risco associados a produtos, insumos e serviços relacionados com

a saúde, com o meio ambiente e o ambiente de trabalho, com a circulação

internacional de transportes, cargas e pessoas.

Saber e praticar a Vigilância Sanitária pressupõe situar-se no campo de

convergência de várias disciplinas e áreas do conhecimento humano, se

beneficiando delas no sentido de ganhar mais eficácia. Sejam elas: química,

farmacologia, epidemiologia, engenharia civil, sociologia política, direito, economia

política, administração pública, planejamento e gerência, biossegurança, bioética e

outras.

Com base em Costa e Rozenfeld apud Rozenfeld (2000, p. 15), no

Brasil, até 1988, o Ministério da Saúde definia a Vigilância Sanitária como:

Um conjunto de medidas que visam elaborar, controlar a aplicação e fiscalizar o cumprimento de normas e padrões de interesse sanitário relativo a portos, aeroportos e fronteiras, medicamentos, cosméticos, alimentos, saneantes e bens, respeitada a legislação pertinente, bem como o exercício profissional relacionado com a saúde.

A Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990 (Lei Orgânica da Saúde),

organiza o Sistema Único de Saúde e definiu a Vigilância Sanitária como “um

conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir

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nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação

de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde”. (BRASIL, 1990).

Ao contrário da anterior, esta definição introduz o conceito de risco e

confere um caráter mais completo ao conjunto das ações, situando-as na esfera da

produção, harmonizando-se melhor com o papel do Estado atual, em sua função

reguladora da produção econômica, do mercado e do consumo, em benefício da

saúde humana.

Segundo Costa (1999, p. 51), a vigilância sanitária abrange um campo

especial de articulações complexas entre o domínio econômico, o jurídico e o

médico sanitário, responsável pelo controle de riscos e prevenção de danos à saúde

relacionados com o consumo de produtos, tecnologias e serviços de interesse

sanitário, que podem ser decorrentes de defeitos ou falhas de fabricação, falhas de

diagnostico, inadequação da prescrição, dentre outras, e de atitudes ilícitas de

fabricantes, comerciantes ou prestadores de serviços.

Conforme Escoda (2005, p. 1), vigilância sanitária (VISA) é tudo que

engloba as ações que podem suprimir, reduzir ou evitar os riscos à saúde, por meio

de estratégias e ações de educação e fiscalização, e que podem ainda imiscuir-se

nas questões originadas do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da

prestação de serviços de interesse da saúde.

Devem-se observar que para que essas ações se efetivem, devem

basear-se em leis de responsabilidade e zoneamento sanitários. Porém, a sociedade

enfrenta dificuldades em termos de qualidade de vida, quando se fala em segurança

sanitária de alimentos, de medicamentos, entre outras, haja vista o atraso temporal

na regulação desses instrumentos legais.

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Sobre a ausência do rigor necessário às ações da vigilância sanitária, Escoda

(2005, p. 1) relata que vários danos à ética na política econômica de exportação já foram

causados ao Brasil, e cita como exemplo um caso ocorrido nos anos 1960, quando a

Inglaterra recusou uma carga de amendoim por estar contaminada por aflotoxinas.

Após esse exemplo, o Brasil assinou, em Roma, na I Conferência Mundial

de Alimentos (1974), o protocolo contratual que estabeleceu um sistema de

segurança alimentar e nutricional de acordo com as normas de segurança em

vigilância sanitária de alimentos e com as metas nutricionais da época. Segundo

informações colhidas no site da Diretoria da Vigilância da Saúde (DVS, 2005), a

Vigilância Sanitária atua nos seguintes locais:

• Locais de produção e comercialização de alimentos - bares,

restaurantes, indústrias, produtores de laticínios, mercados, frutarias, açougues,

peixarias, frigorífico etc;

• Saneamento básico - redes de esgoto, fornecimento de água etc;

• Lojas e áreas de lazer - shoppings, cinemas, clubes, ginásios de

esportes, óticas, postos de gasolina, estádios, piscinas etc;

• Locais públicos - escolas, cemitérios, presídios, hospitais, clínicas,

farmácias, salões de beleza, asilos, rodoviárias, portos, aeroportos, área de fronteira etc;

• Fábricas – de medicamentos, de produtos químicos, de agrotóxicos, de

cosméticos, de perfumes etc;

• Medicamentos – investigação de reações adversas a medicamentos,

sangue e produtos de uso hospitalar, além de intoxicação por produtos químicos e

venenos naturais (de plantas e animais).

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Com relação à Vigilância Epidemiológica que está voltada ao controle das

doenças e epidemias, observa-se que são práticas muito antigas. A partir da

segunda metade do século XIX, com o desenvolvimento da microbiologia, e de

investigações de campo voltadas para a identificação dos elos da cadeia de

transmissão das doenças infecciosas, surgiu a idéia de vigilância, no sentido da

observação sistemática dos contatos de doentes.

Segundo Palmeira apud Rozenfeld (2000, p. 177), com as campanhas de

erradicação de diversas doenças infecciosas, iniciadas após a Segunda Grande

Guerra, a vigilância deixou de se fazer sobre as pessoas e passou a ter como objeto

a doença. Consolidou-se, assim, a idéia de Vigilância Epidemiológica como:

“Observação ativa e sistemática da distribuição da ocorrência de agravos, a

avaliação da situação epidemiológica com base na análise das informações obtidas,

e a definição das medidas de prevenção e controle pertinentes”.

Alguns países que obtiveram êxito em seu sistema de saúde, têm com

características: a simplicidade, a especificidade, a sensibilidade e, a rapidez entre o

registro das ocorrências epidemiológicas e a solução desses problemas. São essas

características que permitem se visibilizar e conferir os princípios da universalidade,

integralidade e equidade no acesso à saúde.

Portanto, pode-se afirmar que um sistema de vigilância da saúde deve se

nortear pelos princípios do sistema de saúde no qual está inserido.

Com base em Molesini (1999, 27), a noção de sistema de saúde provém

da literatura sobre organização de serviços de saúde, desenvolvida a partir dos anos

60, na qual se destaca a contribuição de autores como M. Chaves (1980), que

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propõe o entendimento de um sistema de saúde como o conjunto de agências e

agentes com a finalidade de prestar serviços de saúde (pessoais e/ou coletivos,

preventivos e/ou curativos). A proposta de Chaves (1980) partiu da concepção de

sistema como:

Um conjunto de partes ou elementos de uma realidade que, no desenvolvimento de suas ações, guardam em si, relações diretas de interdependências com mecanismos recíprocos de comunicação e bloqueios, de tal modo que as ações desenvolvidas resultam na obtenção de objetivos comuns. (CHAVES, 1980, p. 5).

3.3 OBJETIVOS

Resumidamente, o objetivo principal da vigilância da saúde é promover e

proteger a saúde, prevenindo doenças.

O processo de municipalização das ações da Vigilância à Saúde

assegura, de acordo com as leis federais e estaduais, aos municípios, a execução

de ações de Vigilância Sanitária e Epidemiológica. A atuação do Estado e da União

pode ocorrer complementarmente, no caso de risco epidemiológico, necessidade

profissional e tecnológica.

As ações desenvolvidas pela Vigilância Sanitária são de caráter educativo

(preventivo), normativo (regulamentador), fiscalizador e em última instância, punitivo.

Elas são desenvolvidas nas áreas federal, estadual e municipal, e ocorrem de forma

hierarquizada de acordo com o estabelecido na Portaria Ministerial 1565/94 -

GM/MS, que instituiu o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, e na Lei Federal

9.782, de 26 de Janeiro de 1999, que define o Sistema Nacional de Vigilância

Sanitária, e dá outras providências. (DIVISA, 2006).

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O Sistema de Vigilância à Saúde brasileiro está ligado ao Sistema Único

de Saúde (SUS), criado pela Lei 8.080 (Brasil, 1990), conforme demonstra o artigo 6

dessa lei.

Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS): I - a execução de ações: a) de vigilância sanitária; b) de vigilância epidemiológica; c) de saúde do trabalhador; e d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica. (BRASIL, 1990, p. 2).

Seus princípios e diretrizes, os mesmos que regem as atividades da

Vigilância à Saúde, estão estabelecidos no artigo 7 dessa lei, da seguinte forma:

Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios: I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie; V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde; VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário; VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática; VIII - participação da comunidade; IX - descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo: a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios; b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde; X - integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico; XI - conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de assistência à saúde da população; XII - capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; e XIII - organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idênticos. (BRASIL, 1990, p. 2).

No que tange à Vigilância Epidemiológica, seu conjunto de atividades

configura um sistema, em geral voltado para agravos específicos, cujo objetivo final

é a prevenção, e constitui um instrumento indispensável à elaboração, ao

acompanhamento e à avaliação de programas de saúde. O sistema de vigilância

deve assegurar um fluxo contínuo, regular e suficientemente ágil de informação

completa e precisa entre seus vários níveis.

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24

O SUS (Lei 8080/90) defende a Vigilância Epidemiológica como “um

conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de

qualquer mudança com fatores determinantes e condicionantes de saúde individual

ou coletivo, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e

controle de doenças e agravos”.

São funções da Vigilância Epidemiológica:

1 – Coleta de dados;

2 – Processamento de dados coletados;

3 – Análise e interpretação de dados coletados;

4 – Recomendação das medidas de controle apropriado;

5 – Promoção das ações de controle indicado;

6 – Avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas;

7 – Divulgação de informações pertinentes.

Entre os objetivos específicos da Vigilância Epidemiológica estão:

monitorar as tendências da morbidade e da mortalidade; determinar os níveis

endêmicos, detectar surtos epidêmicos e identificar os fatores envolvidos na

ocorrência dos mesmos; identificar os grupos populacionais mais vulneráveis;

elaborar informes e normas técnicas que possam orientar as ações de controle;

avaliar o impacto e a adequação das medidas de prevenção e controle; identificar

novos problemas de Saúde Pública e os elementos envolvidos no seu aparecimento;

fornecer subsídios para o planejamento.

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25

O conjunto de informações de interesse para a Vigilância Epidemiológica

inclui dados sobre a estrutura demográfica da população, sobre o ambiente, sobre

os agravos (data e local de ocorrência, características clínicas, gravidade) e sobre as

características dos casos.

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4 COMPETÊNCIAS GERENCIAIS

A atuação das organizações está, mais do que nunca, em destaque. São

necessárias freqüentes revisões em todos os setores organizacionais para que se

fortaleça a capacidade de posicionar-se corretamente perante os desafios de um

ambiente em contínua transformação.

Assim, fica cada vez mais evidente que o sucesso de planos e estratégias

depende de indivíduos comprometidos com os objetivos das organizações, bem

como da apresentação de algumas competências que possibilitam que as pessoas

estejam habilitadas a enfrentar desafios.

Desse modo, as competências gerenciais se unem ao objetivo maior que

é transformar as organizações de forma que elas fiquem mais bem preparadas para

encarar quaisquer desafios. Pode-se dizer que, em termos gerais, toda organização

precisa de elementos que apresentem como competências gerenciais básicas: a

liderança; a capacidade de desenvolver trabalho em equipe; a criatividade; a tomada

de decisão; planejamento e organização; e determinação. Essas competências

gerenciais devem expressar a essência da organização ajudando-a no alcance de

maiores e melhores resultados.

4.1 DEFINIÇÕES

Antes de se falar em gestão, necessário se faz definir, em poucas linhas,

a natureza do trabalho do gestor (ou gerencial). Um gestor é aquele que planeja,

exerce a liderança, organiza e controla as operações, atividades essas chamadas de

funções gerenciais.

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27

Como acontece com qualquer esforço envolvendo pessoas, uma

organização precisa de uma atmosfera de cooperação e trabalho em equipe entre

todos os participantes. Nesse ponto, ressalta-se a importância da liderança, que

maximiza as contribuições do pessoal em uma organização. Criando um ambiente

que inspire entusiasmo, o líder pode obter o melhor de seu pessoal e também

oferecer uma forte persuasão aos empregados prospectivos.

Segundo Karlof (1999, p.124) o termo liderança passou por uma mudança

de significado de acordo com a nova filosofia de gerenciamento por força do

consentimento, não da autoridade. Hoje ela é caracterizada em: dar diretrizes sobre

o que deve ser feito; fazer com que as pessoas cooperem; e, fornecer a energia

necessária para que se atinjam as metas estabelecidas.

Considerando-se que as atividades de vigilância à saúde são realizadas

por meio do trabalho em equipe, supõe-se este serviço deve ser gerido por alguém

que tenha a capacidade de ter uma visão ampla e de longo alcance e, a partir dessa

perspectiva, de otimizar as atividades de sua área de responsabilidade.

4.2 INDICADORES POSITIVOS E NEGATIVOS

Para mostrar os vários ângulos das competências gerenciais, com base

em Reis (2005, p. 1) construiu-se o quadro 1, a seguir, resumindo-as e descrevendo

seus indicadores positivos e negativos.

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Quadro 1 Competências gerenciais: indicadores positivos e negativos.

Competência Ind. Positivos Ind. Negativos LIDERANÇA • Inspira e cria condições para que os

subordinados tenham atuação exemplar; • oferece orientação para o crescimento da

organização; • busca o envolvimento da equipe para,

em conjunto, aumentar os resultados da unidade ou da organização;

• tem visão do potencial e desafia a equipe a realizá-lo;

• é capaz de reconhecer e exigir de cada um o que tem de melhor;

• transmite bem a missão e objetivos da organização a seus subordinados;

• faz as coisas acontecerem.

• É paternalista e protetor com os subordinados;

• não motiva nem reconhece os esforços dos subordinados;

• contribui pouco na elaboração da direção da organização;

• não cria ambiente de participação e de equipe;

• tem dificuldade em manter objetividade profissional e em direcionar e motivar pessoas;

• não enfoca desenvolvimento como um objetivo-chave.

PERSUASÃO • Exerce influência na apresentação de

argumentos; • é eficaz nas negociações; • consegue apoio a suas idéias, através do

envolvimento de outras pessoas; • é capaz de defender suas idéias, sem

humilhar aqueles que se opõem a elas; • representa bem a organização junto a

parceiros e outros públicos da organização.

• Comunica-se formalmente e sem naturalidade;

• não é claro e preciso na apresentação das idéias;

• sua comunicação não enfatiza prioridades críticas;

• não defende bem seu ponto de vista (torna-se agressivo e não muda de posição ou se rende ao enfrentar desacordo).

TRABALHO EM EQUIPE

• É bem aceito pelo grupo; • trabalha bem com o grupo, coopera na

divisão de idéias e recursos; • direciona as atividades da equipe; • estimula a participação.

• É isolado da equipe; • prefere trabalhar sozinho; • não se envolve com as

atividades do grupo.

CRIATIVIDADE

• Produz idéias não convencionais; • está disposto a tentar novas soluções; • encontra soluções novas para problemas

comuns; • age como pioneiro (novos sistemas,

serviços), na busca de resultados para a organização;

• pensa lateralmente quando enfrenta problemas.

• Fixa-se em caminhos convencionais;

• reage negativamente a novas idéias;

• tem a mente fechada para abordagens radicais;

• desencoraja os outros a explorarem caminhos não convencionais;

• reluta em abandonar "velhas" abordagens.

TOMADA DE DECISÃO

• Toma decisões baseado em bom conhecimento da área/função;

• capaz de tomar decisões sob pressão (pouco tempo, variáveis desconhecidas, risco);

• aproveita oportunidades no momento certo para tomar decisões;

• utiliza a intuição, além do julgamento racional.

• Prefere passar a responsabilidade para outros tomarem as decisões (colegas, superiores);

• é avesso ao risco; • tende a se basear no trabalha a

partir dos sintomas, ao invés de focalizar a causa dos problemas;

• vê as coisas somente em "preto e branco".

Continua

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29

Competência Ind. Positivos Ind. Negativos PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO

• Possui larga visão sobre a organização e seu ambiente;

• aprecia os fatores em escala abrangente;

• compreende o impacto de suas atividades sobre outras áreas da organização;

• projeta futuras exigências e tendências; • possui visão estratégica, podendo

implementar e controlar para atingir os objetivos;

• traça estratégia para atingir resultados a longo prazo;

• percebe oportunidades e adapta seu planejamento para aproveitá-las;

• programa e concentra-se nas prioridades para cumprir prazos e objetivos.

• Focaliza apenas uma área (por exemplo, sua própria função/papel);

• pensa e age no curto prazo; • enfoque desorganizado,

desperdiçando recursos (tempo, pessoas, dinheiro) ou falta de controle;

• desvia-se facilmente dos objetivos traçados;

• não elabora cronogramas claros para a execução de planos.

DETERMINAÇÃO • Trabalha para melhorar o próprio desempenho;

• é independente ao traçar suas metas, padrões e direções próprias;

• tem senso de urgência; • não é rígido, sendo perseverante diante

de obstáculos; • mantém o otimismo, procura tentar

novamente quando as coisas não dão certo;

• procura constantemente aumentar seu próprio conhecimento profissional;

• possui um alto grau de dinamismo e motivação pessoal.

• Precisa que as metas sejam traçadas para ele;

• fica contente em alcançar apenas o esperado, sem buscar novos desafios;

• tende a desistir quando enfrenta obstáculos ou barreiras;

• perde a motivação e o rendimento quando as coisas não dão certo

Fonte : Reis (2005).

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5 GESTÃO E MODELOS ASSISTENCIAIS DE VIGILÂNCIA À SA ÚDE

Pode-se definir modelo assistencial como “a forma de produção e

distribuição dos bens e serviços de saúde numa dada área e num determinado

tempo para uma dada população”. (ALMEIDA et al., 1998, p. 15).

As principais peculiaridades do modelo assistencial são as práticas

sanitárias que se desenvolvem nos serviços de saúde e nas atividades de cada

profissional.

Com base em Almeida et al. (1998, p. 15), nesse conjunto de atividades

estão inclusas as ações de caráter e finalidade de promoção de saúde, de

prevenção da doença, de diagnóstico e tratamento e de reabilitação, ou seja, há

uma hierarquização entre essas atividades:

• das mais simples às mais complexas;

• das menos custosas às mais dispendiosas;

• da promoção e prevenção ao diagnóstico e tratamento precoce e à

reabilitação;

• da indicação e pertinência de uma cobertura mais ampla a uma

pertinência/necessidade mais restrita.

A questão dos modelos assistenciais, isto é, das formas de organização

tecnológica do processo de prestação de serviços de saúde, tem sido negligenciada.

O sistema de saúde brasileiro é palco de disputa entre modelos assistenciais

diversos, com tendência à reprodução, conflitiva, dos modelos médico-assistencial

privatista e sanitarista (campanhas, programas especiais e ações de Vigilância

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Epidemiológica e Sanitária), ao lado de alguns esforços de construção de modelos

alternativos. (MENDES, 1993, PAIM, 1994).

A incorporação da noção de risco e, especialmente, a busca de

identificação dos fatores de risco envolvidos na determinação das doenças, não só

as infectocontagiosas mas principalmente as crônico-degenerativas, que passam a

ocupar um lugar predominante no perfil epidemiológico das populações em

sociedades industriais, vêm provocando a modernização das estratégias de ação no

campo da Saúde Pública. Essa modernização se dá tanto pela ampliação e

diversificação do seu objeto quanto pela incorporação de novas técnicas e

instrumentos de geração de informações e organização das intervenções sobre

“danos”, “indícios de danos”, “riscos” e “condicionantes e determinantes” dos

problemas de saúde. (PAIM, 1994, p. 14).

Com base em Teixeira; Paim; Vilasboas apud Rozenfeld (2000, p. 51), a

institucionalização dos programas de erradicação e controle e a implantação da

Vigilância, no Brasil, ao longo dos últimos noventa anos, pressupõe a organização

centralizada (federal) de órgãos e departamentos responsáveis pelas campanhas e

programas. Ao mesmo tempo, concretizava-se uma distinção entre a Vigilância

Epidemiológica, voltada para o controle de “casos” e “contatos”, e a Vigilância

Sanitária, voltada para o controle de “ambientes, produtos e serviços”.

5.1 MODELO VIGENTE DA VIGILÂNCIA DA SAÚDE NO ESTADO DA BAHIA

No Estado da Bahia, o Sistema de Vigilância à Saúde é desenvolvido

através da Superintendência de Vigilância e Proteção da Saúde (SUVISA).

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As ações de Vigilância da Saúde na SUVISA são realizadas pelas:

- Diretoria de Vigilância Epidemiológica – DIVEP

- Diretoria de Vigilância Sanitária e Ambiental – DIVISA

- Diretoria de Promoção e Proteção à Saúde do Trabalhador – CESAT

- Diretoria da Assistência Farmacêutica – DASF

- Laboratório Central de Saúde Pública – LACEN

A Superintendência de Vigilância e Proteção da Saúde - SUVISA tem por

finalidade planejar, elaborar estudos, propor e implementar políticas relativas à

vigilância da saúde

Dentre as várias competências da SUVISA, destaca-se:

- Acompanhar a política nacional de desenvolvimento das ações de

vigilância a saúde;

- Normatizar as ações de vigilância da saúde, que deverão ser

executadas por todas as unidades públicas e privadas que exerçam atividades afins

no Estado;

- Coordenar a implantação e desenvolvimento do Sistema de Vigilância da

Saúde no Estado;

- Propor mecanismos de fiscalização, avaliação e controle dos serviços

para contínuo aperfeiçoamento e integração do Sistema de Vigilância e Proteção da

Saúde.

A Diretoria de Vigilância Epidemiológica - DIVEP compete coordenar a

política estadual do Sistema de Vigilância Epidemiológica, desenvolvendo ações

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específicas de vigilância para o controle de agravos, objetivando a promoção e

proteção da saúde.

Através de suas coordenações a DIVEP:

- Promove articulação e integração intra e interinstitucional

- Realiza análise de tendência da situação de saúde no Estado, a partir

dos sistemas de informação e ações de vigilância epidemiológica para fins de

definição de políticas e de habilitação de municípios, de acordo com os requisitos

legais;

- Assessora, junto às instâncias regionais, a elaboração dos planos

municipais de vigilância e controle de agravos e monitora sua implementação;

- Propõe normas estaduais para vigilância e controle de agravos e acata

as normas ministeriais, adequando-as ao Estado;

- Coordena o Programa Estadual de Imunizações;

- Participa da investigação de eventos adversos pós-vacinais e decorretes

do uso de imunobiológicos e da definição de condutas, em articulação com a

farmacovigilancia; etc.

A Diretoria de Vigilância Sanitária e Ambiental – DIVISA tem por finalidade

coordenar a política estadual do Sistema de Vigilância Sanitária e Ambiental,

desenvolvendo ações de vigilância, objetivando a promoção e proteção da saúde.

Compete à DIVISA:

- Executar as ações de inspeção de tecnologia de produtos dos serviços

relacionados direta e indiretamente com a identificação, eliminação ou controle de

riscos e perigos potenciais, visando garantir a qualidade de serviços e produtos

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colocados à disposição da comunidade e subsidiar processos na área de defesa do

consumidos e/ou outras instituições afins;

- Coordenar as atividades de vigilância de contaminantes ambientais na

água, no ar e no solo, de importância e repercussão na saúde pública, bem como

dos riscos decorretes dos desastres naturais e acidentes com produtos perigosos no

Estado;

- Supervisionar e assessorar os núcleos de Vigilância Sanitária e

Ambiental dos órgãos regionais da Secretaria de Saúde e municipalidades;

- Avaliar os dados gerados pelas Comissões de Controle das Infecções

Hospitalares das Unidades de Saúde no Estado para o processo de licenciamento

sanitário; etc.

A Diretoria de Promoção e Proteção à Saúde do Trabalhador – CESAT

tem a finalidade de coordenar a política estadual de saúde do trabalhador,

desenvolvendo ações de vigilância e atenção à saúde, objetivando a promoção e

proteção da saúde do trabalhador.

Compete à CESAT:

- Acompanhar, avaliar e fiscalizar as condições de ambientes e processos

de trabalho, em articulação com as instâncias regionais e municipais;

- Investigar as doenças ocupacionais e os acidentes de trabalho graves e

com óbito em articulação com os municípios;

- Identificar e avaliar os fatores de riscos à saúde nos ambientes de

trabalho; etc.

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O Laboratório Central de Saúde Pública – LACEN tem a finalidade de

coordenar a política estadual da rede de laboratórios de saúde pública, objetivando

suporte às ações de Vigilância da Saúde.

A Diretoria da Assistência Farmacêutica – DASF tem a finalidade de

coordenar a Política Estadual de Assistência Farmacêutica, desenvolvendo ações

voltadas a promoção, a proteção e a recuperação da saúde.

As ações de epidemiologia e controle de doenças e agravos , bem como

ações de baixa e média complexidade em vigilância sanitária , foram repassadas

aos municípios. Estas ações eram de responsabilidades das Diretorias Regionais de

Saúde – DIRES, unidades técnico-administrativas da SESAB no interior do Estado,

que hoje desempenham o papel de supervisão, acompanhamento e coordenação

junto aos municípios.

O trabalho desenvolvido pela Vigilância à Saúde é único na sua área de

atuação e não há duplicidade de esforços ou superposição de ações. Conforme a

complexidade das ações a serem desenvolvidas e o grau de abrangência das

atividades produtivas ou a conseqüências dos eventos, as atividades de Vigilância à

Saúde poderão ser desenvolvidas pelos diversos níveis hierárquicos, tendo-se em

conta também o caráter complementar ou suplementar da ação.

No entanto, pelas próprias características de atuação da Vigilância à

Saúde, o trabalho desenvolvido apresenta muitas interfaces com outros órgãos

governamentais, tanto da esfera federal quanto das esferas estadual e municipal;

isso faz com que, em muitos momentos e com diferentes objetivos do

desenvolvimento das suas ações, seja sentida a necessidade destes contatos, que

se fazem em forma de articulações, parcerias, atividades conjuntas ou

interdependentes.

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5.2 PROCESSO DE INCLUSÃO DE NOVAS TÉCNICAS DE PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO NA ÁREA DA VIGILÂNCIA DA SAÚDE

Para se refletir, propor ou projetar mudanças no setor público, é

apropriado que se compartilhe algumas preocupações de ordem prática, que estão

sempre aparecendo em discussões e estudos feitos sobre o tema e que podem ser

resumidas nas questões a seguir: a administração desse tipo de serviço público está

deixando alguém insatisfeito? Os resultados alcançados nas administrações deixam

satisfeitos os seus gestores? Existe satisfação por parte dos servidores pelo trabalho

que realizam e pelas condições em que o executam? Os serviços pelos quais os

usuários pagam para receber estão, de fato, sendo bem executados de forma a

prestar-lhes atendimento efetivo em todas as suas demandas?

Com raríssimas exceções, os vários segmentos envolvidos na

administração dos serviços públicos brasileiros têm como regra geral a insatisfação.

Nesse caso, havendo consenso na resposta negativa a todas essas questões, existe

probabilidade de mudança.

Considerando-se que as questões relativas aos setores das necessidades

essenciais se antepõem a outras e que os custos destes sistemas são altos, as

pessoas que os financia os defenderá, notavelmente, por questão de eficácia.

Determina-se, então o que, exatamente, se quer mudar e o que fazer para estimular

essas mudanças.

Não pode existir dissociação entre os objetivos e os alvos a serem

alcançados pela Administração Pública e os interesses maiores da população. Logo,

a fixação do completo atendimento às necessidades da sociedade, como objetivo

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maior, deve ser feita antes de se tomar qualquer medida que implique em mudança.

Segundo afirma Braga (1998):

O objetivo-fim da Administração Pública deve ser a prestação eficiente de serviços essenciais que atenda aos interesses da população. A consecução desses objetivos passa, necessariamente, pela melhoria das condições de trabalho (inclusive salariais), mas também pela fixação de novos instrumentos de administração de conflitos que elevem o grau de resolutividade e o nível de qualidade da prestação de serviços. (BRAGA, 1998, p. 40).

Para se decidir quanto às novas técnicas de planejamento a serem

adotadas há que se fazer uma prévia avaliação do que se pratica atualmente. É

necessário que se apliquem conhecimentos e tecnologias adequadamente e que os

recursos materiais necessários estejam disponíveis. Assim, assinale-se que:

O planejamento estratégico-situacional é um cálculo que precede e preside a ação. Planejar é governar, é conduzir conscientemente os acontecimentos no rumo desejado. É transformar variáveis que não controlamos em variáveis que controlamos. (ROZENFELD, 2000, p. 200).

Considerando-se que a realidade social é bastante complexa e difícil de

ser conduzida, pode-se dizer que mudanças no planejamento estão condicionadas

ao aumento considerável da governabilidade (grau de controle sobre as variáveis

intervenientes) do poder público sobre os processos sociais, políticos e econômicos

que compõem o objeto de trabalho da Vigilância à Saúde.

Numa tentativa de se aferir quais as mudanças que se fazem mais

urgentes e necessárias, foram realizadas entrevistas com os coordenadores dos

principais Distritos Sanitários da cidade do Salvador. Essas entrevistas serão

relatadas no capítulo posterior.

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6 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA

A distritalização é um processo ininterrupto, sucessivo e ativo, que

pressupõe entendimento e pactuação entre os vários administradores e gerentes de

serviços do SUS, em que a população participa e controla, e deve ter subentendida

a probabilidade de construção ou oferta de serviços com considerável suficiência

para a satisfação absoluta das exigências e necessidades de saúde da população

do distrito sanitário. (ALMEIDA et al., 1998, p. 18).

Buscando subsídios que ajudem a sugerir as mudanças nas práticas

gerenciais desenvolvidas nos Distritos Sanitários, que possibilitariam a implantação

de um modelo que otimizasse o funcionamento do Sistema de Vigilância da Saúde,

em Salvador, realizaram-se entrevistas com os coordenadores dos principais

distritos sanitários, conforme são relatadas a seguir.

6.1 ENTREVISTAS

a) Distrito Sanitário da Barra / Rio Vermelho (Sub-coordenadora da Vigilância à Saúde).

A entrevistada entende que a Vigilância à Saúde é a base de toda a

saúde do distrito, de toda a saúde da população; pois, se baseia no significado da

palavra vigilância – vigiar a saúde, entendendo a saúde não como um processo de

doença, mas um processo assim de toda a questão de saúde, de qualidade de vida,

de atenção à saúde, de assistência.

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Sobre as práticas da vigilância à saúde desenvolvidas em sua unidade,

relatou que na vigilância da saúde tem a vigilância ambiental, a vigilância sanitária e

a vigilância epidemiológica. Hoje, nesse Distrito tem-se já implantada, em

funcionamento com os técnicos do distrito, a vigilância epidemiológica e a Secretaria

Municipal de Saúde, junto com o Distrito, está num processo de descentralização da

vigilância sanitária que viabilizará essa integração dentro da vigilância à saúde.

Informou que lá ainda não foi implantada a vigilância sanitária, mas que

existe a probabilidade de que no prazo de um mês isso já tenha se concretizado

viabilizando a integração do Distrito à questão dos agravos e a vigilância da saúde

como um todo.

Abordando as competências gerenciais do gestor no desenvolvimento de

um modelo assistencial de vigilância à saúde, afirmou que a primeira coisa é a

capacidade de compreender o que é esse modelo assistencial, todo esse processo

de mudança desde a reforma para, a partir daí, construir propostas de intervenção e

ação diretamente na saúde da população. Além disso, precisa ter conhecimento

técnico e disponibilidade (o que julga ser muito importante) para integrar ações de

vigilância epidemiológica, vigilância sanitária e vigilância da saúde do trabalhador,

utilizando como parâmetros os dados coletados e estudados.

Sobre as principais dificuldades e facilidades encontradas pelo gerente na

sua prática, declarou que em primeiro lugar é a questão de entender a epidemiologia

como uma fonte, um recurso, toda uma estrutura para que se possa estar

desenvolvendo ações, estudar, compreender, o que acontece dentro da

epidemiologia e a partir daí planificar e avaliar as ações. Existe dificuldade da

sistematização no controle, porque isso implica num processo, não em uma pessoa,

não em uma só equipe mas em todo o processo. Sendo uma unidade volumosa, é

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de lá que também tem que estar prestando atenção, cada um no seu nível. A

unidade no seu nível de vigilância, o distrito no seu nível de vigilância e a secretaria

também. A sua dificuldade é justamente poder planificar todo esse conhecimento,

toda essa atenção e a importância que tem que dar à questão da epidemiologia.

Em termos de facilidades apontou a boa vontade das pessoas e o

reconhecimento de alguns profissionais que estão nessa área.

Ao nível de logística, recursos materiais e financeiros, comentou que a

nível físico se tem uma estrutura relativamente boa, não necessariamente o que

comportaria para um distrito sanitário desse porte. Comentou ainda que a população

de Salvador é grande e que, apesar de terem veículos que servem ao Distrito, eles

não estão disponíveis em todo o momento em que se precisa, salientando a

necessidade dessa disponibilidade nos casos de emergência onde não se pode

aguardar. Afirmou que, na medida do possível a coordenação do Distrito e a própria

chefia de vigilância epidemiológica tem procurado otimizar os recursos de que

dispõem.

Declarou que o Distrito adequa o número de profissionais que tem às

atividades que precisa fazer. Que se tivesse um quadro maior poderia estar

ampliando as ações de vigilância, com mais atividades educativas, mais ações de

controle realmente à saúde, salientando essa insuficiência e a confiança plena numa

ampliação, pois aumentar o campo das responsabilidades implica num maior

número de recursos humanos. Que o Distrito Barra é até rico em recursos humanos

mas que precisa estar treinando esses profissionais dando-lhes noções de vigilância,

e estar motivando-os para a questão deles estarem disponíveis pra esse trabalho.

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Relatou que o material necessário para o desenvolvimento do trabalho

(formulários, por exemplo) é fornecido pela Secretaria Municipal, bem como recursos

tecnológicos, na medida do possível.

Sobre as ações do Distrito afirmou que a vigilância sanitária ainda não

está descentralizada, que faz ações em conjunto quando precisa, e precisa fazer

junto com a vigilância epidemiológica. Na vigilância epidemiológica tem os agravos

nos hospitais, que são da responsabilidade do distrito investigar, aquelas que não

são da área de abrangência das unidades de saúde. Investiga-se no Distrito, mas

conta-se também com a auxiliar de enfermagem. Levam também o serviço de

imunização, que faz parte da vigilância epidemiológica, às escolas públicas. Que

sobre a saúde dos trabalhadores não existe um trabalho direcionado.

Indicou a Resolução no 27 e a no 28 como normalizadoras para

implantação da vigilância à saúde no Estado, substituída pela no 40, em 2004 para a

Vigilância Sanitária . Confirmou saber da existência de parâmetros que, na medida

do possível, são seguidos.

Finalizando a entrevista, comentou que trabalhar com vigilância à saúde é

algo fundamental, é uma responsabilidade muito grande porque se está lidando não

só com a questão da assistência, está lidando com toda questão de atenção mesmo

à saúde, e se tem a saúde como um processo, no sentido positivo da palavra, é o

carro chefe de qualquer serviço, não se pode pensar no serviço de saúde sem

pensar na vigilância à saúde.

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b) Distrito da Liberdade (Coordenador da Vigilância à Saúde)

O entrevistado respondeu, inicialmente, que a vigilância à saúde engloba

as ações de vigilância epidemiológica, vigilância ambiental, saúde dos trabalhadores

e vigilância sanitária, é a inter-relação entre essas vigilâncias, é uma maneira

holística de observar a vigilância à saúde como um todo. Não é o somatório da

vigilância epidemiológica, vigilância sanitária, vigilância ambiental, saúde dos

trabalhadores, mas uma visão global da vigilância à saúde. É o ato de vigiar, é o ato

de compreender as ações de serviço de saúde direcionadas à população.

Quanto às práticas da vigilância à saúde desenvolvidas na unidade,

afirmando que o sistema está sendo ampliado, citou a centralização de ações de

baixa complexidade no Distrito, como: notificação de doenças, análises dessas

notificações, regulamentação do serviço de informações, o feedback que tem que

dar os profissionais sobre essas notificações e as ações básicas de saúde. Também

realizam ações de média complexidade, como a odontologia, entre outras, todas

elas inseridas dentro da vigilância à saúde.

Questionado sobre as competências gerenciais que deve ter o gerente

para desenvolver o modelo assistencial de vigilância à saúde, observou que o

gerente é um elemento fundamental, porque ele, dentro da unidade de saúde, além

de ser a pessoa que vai (incrementar) os programas (pactuados), seja lá no plano

municipal de saúde, seja na programação (do hospital integrado) ou seja no modelo

de atenção no qual o município esteja inserido, é ele o responsável pelo modo de

vigiar as atividades executadas, pelo modo de executar as ações dessa unidade.

Hoje o gerente não pode estar voltado só pra ações dentro da unidade, ele tem que

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estar voltado para as ações extradistritais, aquelas ações em que a unidade pode

desenvolver fora de seu ponto base.

No que tange às principais dificuldades e facilidades encontradas pelo

gerente na sua prática, ele declarou que a maioria dos gerentes não vem com uma

visão de serviço público, muitos deles trabalham na assistência, são médicos, a

maioria deles trabalha na assistência então não tem a visão da vigilância da saúde

em si, então tem uma visão assistencial e não a visão do que é um serviço público.

Portanto, não enxerga os programas de interesse dentro das unidades de saúde.

São programas que o Ministério da Saúde adota para que o gestor visualize as

ações que estão sendo desenvolvidas dentro do município. Os programas são,

justamente, para que o gestor enxergue quais são as ações que estão sendo

desenvolvidas em cada área estratégica. Então o gerente tem dificuldade de não

enxergar esses programas e não ter a visão pública. Tem gerentes que não são da

área de saúde. Os que não são da área de saúde não tem essa vivência, não tem

essa visão de enxergar que esses programas mostram para o gestor as ações do

serviço de saúde que estão sendo desenvolvidas dentro da coletividade.

Também apontou dificuldades em nível de recursos humanos,

observando que é um profissional que é inserido dentro de uma unidade de saúde

sem vínculo com a instituição e ele encontra essas barreiras com recursos humanos.

São profissionais vinculados à instituição que muitas vezes não querem seguir

determinações do gerente. Ele anda inserido na prática de uma rotina de baixa

produtividade, muitas vezes de baixo salário. Então o gerente, a função dele, além

de vivenciar essas questões de recursos humanos, porque ele vivencia isso, é um

choque, o gerente muitas vezes não é de nenhuma instituição, não tem vínculo,

chegando para gerenciar um grupo de pessoas que tem vínculo.

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Disse que tem dificuldade também de recursos humanos dentro do

distrito, poucos técnicos. Que conta com a inexperiência do gerente e ainda com o

número limitado dos técnicos dentro do distrito para auxiliar os gerentes até nas

suas funções.

Sobre logística declarou que o Distrito tem deficiência, tem falta de

material. A secretaria ela tenta solucionar o problema mas essa falta de material,

persiste há tempo. Essa falta de material é crônica dentro da Secretaria Municipal de

Saúde e isso impede também de desenvolver o trabalho, mas não quer dizer que é

uma impossibilidade. Existe também falta de recursos humanos além da falta de

material.

Acerca de ser ou não uma unidade gestora, salientou que não são uma

unidade gestora porque não têm dotação orçamentária, só administrativa. Isto está

sendo implementado agora.

Com relação às dificuldades ou facilidades para gerenciar, comentou que

não tem recursos, não interfere pra que as coisas não aconteçam. Acha que até

porque se tivesse recurso e se fosse unidade orçamentária, teria que ter pessoas,

um número maior de técnicos e o gerente ser mais capacitado para gerir esses

recursos, porque só entregar o recurso não seria solução, tem que ter capacidade

para utilizar. Tanto na ponta quanto centralizado traria impacto positivo às ações de

saúde. Como ponto facilitador de algumas ações está a capacitação dos recursos

humanos, a desenvolver suas ações. Outro ponto facilitador, não são todos, mas

alguns gerentes, a minoria deles, têm um pouco de base em relação à saúde

pública. São poucos, mas o que têm esse ponto facilitador viabiliza uma maior

interação. São poucos os que têm vínculo com a instituição. Ele já não tendo

vínculo, como é o serviço público que dá essa condição, essa capacidade de

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enxergar o público, não quer dizer que a pessoa que esteja fora não tenha, mas

quem está vivenciando, tem uma maior facilidade de intervir com essas práticas e

tentar modificar o que está errado. Como ele vem de fora, e não tem vínculo,

primeiro que o servidor enxerga ele como um passageiro, como uma pessoa que vai

passar e também o que ele vai modificar ali. Para o servidor não vai ter impacto

nenhum porque aquela pessoa está passando e já tem aquela questão de ser

rotulado de que não tem resultado, o serviço público não tem o resultado esperado.

Então o gerente encontra isso. Mas o gerente que já é da rede, isso é um ponto

facilitador, consegue muitas vezes reverter essa situação.

Quanto à questão dos serviços de vigilância à saúde que funcionam no

Distrito, respondeu que a vigilância sanitária ele já tem, que é um serviço já

descentralizado, esteve centralizado no mês de agosto de 2004, tem sete técnicos

trabalhando com uma população de 175.000 habitantes. Tem a chefia de vigilância

sanitária que trabalha juntamente com os técnicos, ela não só fica na parte de chefia

mas ela também trabalha na inspeção porque há também uma dificuldade na

quantidade desses técnicos, são insuficientes para desenvolver as ações dentro do

distrito da Liberdade. Porém apenas sete técnicos não são suficientes para atender

às demandas do município provenientes de farmácias, açougues, padarias, todos

esses serviços praticamente e tem ainda um grande problema que é a inserção

desse grande número de estabelecimentos em áreas perigosas nas quais o fiscal

muitas vezes tem que tomar muito cuidado, pois existem essas áreas em Salvador,

não só no Distrito da Liberdade.

Quanto à vigilância epidemiológica, hoje em dia não tem chefia de

vigilância epidemiológica. O entrevistado era o chefe da vigilância epidemiológica e

era o sanitarista, ainda continua no Distrito, sendo agora sub-coordenador da

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vigilância à saúde. Não tendo sanitarista, ele mesmo desenvolve as ações de

sanitarista, mas o município avançou porque foram contratados estagiários, técnico

de enfermagem que estão dando um grande apoio à vigilância epidemiológica. Se

não fossem esses estagiários o serviço seria mais ainda emperrado porque hoje não

tem sanitarista, mas tem esses estudantes que estão fazendo um grande trabalho

dentro da vigilância epidemiológica, tendo que conseguir dar contas das ações

dentro da vigilância. Saúde do Trabalhador não tem. Mais ainda, não tem um

pessoal para desenvolver ações dentro da saúde do trabalhador e nem essa

questão está inserida dentro do organograma do Distrito Sanitário.

Relatou que o Distrito alimenta alguns sistemas da vigilância

epidemiológica. Esses sistemas estão alguns deles descentralizados nas unidades

de saúde. O Sistema Nacional de Agravos Notificáveis (SINAN), está

descentralizado só no distrito sanitário, ainda não descentralizaram para as

unidades. O Programa Nacional de Imunização está descentralizado tanto no distrito

como em todas as suas unidades. O SIS2000, que é o sistema que registra a

produtividade, está descentralizado também nas unidades de saúde além do distrito

sanitário. O programa que acompanha as ações relativas aos diabéticos está

descentralizado também, além do distrito, nas unidades de saúde e o Sistema de

Informação para Gerenciamento de Serviços de Planejamento Familiar (SISPF) está

centralizado no distrito central da Liberdade.

Sobre a existência de regimento ou norma para a implantação da

vigilância à saúde no distrito respondeu que não existe. Pau da Lima é um distrito

modelo, começou aí a formação, mas não existe assim uma norma, um regimento

para a implantação de um distrito sanitário, para a implantação da vigilância da

saúde no distrito. Seguem-se as normas preconizadas pelo Ministério da Saúde

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quanto às ações de vigilância da saúde. São as normas, as portarias, etc. O termo

vigilância à saúde tem que ser visto como a vigilância das ações de serviço de

saúde. Então se dentro dessas ações de serviço de saúde está incorporada a

vigilância sanitária, a vigilância epidemiológica, a vigilância ambiental, a saúde do

trabalhador, todas elas tem um assunto pra se seguir. Então não existe de uma

maneira geral uma normalização para a vigilância à saúde.

Finalizou a entrevista observando que o Distrito Sanitário da Liberdade

consegue, com todos os esforços dos seus técnicos, alimentar o sistema de

informação e promover ações de serviços de saúde dentro das cinco unidades que

possui. Eles promovem essas ações e também realimentam os sistemas de

informações e analisam essas informações. Porque existe uma programação dentro

da Secretaria Municipal de Saúde e se trabalha justamente para alcançar os

indicadores dessa programação.

c) Distrito de Itapagipe (Coordenadora da Vigilância à Saúde)

A entrevistada entende que vigilância da saúde abrange não somente a

parte dos agravos do controle epidemiológico obrigatório como todos os outros

agravos que venham a interferir na saúde da comunidade. A vigilância sanitária tem

a função preventiva.

Quanto às práticas da vigilância da saúde desenvolvidas na unidade, a

mesma respondeu que tem alguns setores de vigilância epidemiológica, que

acompanham todos os agravos de cunho obrigatórios, fazendo também vigilância de

óbito materno, a parte educativa, pois várias escolas solicitam isso. No que diz

respeito à vigilância sanitária, tem um setor no distrito que trabalha na parte de

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comércio de alimentos, farmácia, equipamento de saúde de pequeno porte que é

responsabilidade do município, policlínicas, etc. Essas são as atividades básicas que

a se fazem nesse Distrito.

Indicou como competências gerenciais que deve ter o gerente para

desenvolver o modelo assistencial de vigilância da saúde, duas formações mínimas,

de preferência ele ser um profissional da área de saúde, com especialização na área

de saúde pública . Mesmo sendo uma pessoa muito técnica é um trabalho muito

pesado, tem que ter algumas habilidades para poder atender às necessidades do

trabalho.

No tocante às principais dificuldades e facilidades encontradas pelo

gerente na sua prática declarou que a principal facilidade que precisa ter em termos

da vigilância no dia a dia é o investimento no conhecimento para poder estar

trabalhando cada caso que já está normatizado. A principal dificuldade que vê é em

termos de pessoal e numérico, por exemplo, não tem um técnico, sendo que a

mesma era a técnica, antes de ser promovida à coordenadora geral, e quando isso

aconteceu ficou sem técnico. A capacitação também que é disponibilizada pela

Secretaria, pelo Ministério, por todas as secretarias do Município e do Estado é

muito fechada, é muito longe da realidade, isso também é uma dificuldade, não

repassa o serviço. Outra, a vigilância também tem muito trabalho. Existem vários

(bancos) paralelos vários relatórios, que tem que fazer paralelos, aí se faz e refaz o

mesmo serviço com uma quantidade muito pequena de mão de obra. Termina tendo

pouco tempo para estar trabalhando os dados para que fiquem de uma forma mais

gerenciável. Então, ela vê assim: essa escassez de mão de obra e a formação

inadequada para o trabalho, pois estão trabalhando com pessoas que não são

especialistas no assunto e mesmo as especialistas muitas vezes a formação da

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universidade mesmo em nível de especialização não reflete a necessidade do

trabalho. Ela percebe que precisa de uma coisa mais direcionada.

Comentou que a Secretaria Municipal de Saúde oferece alguns materiais

educativos, oferece também alguma assessoria técnica, mas como a secretaria

mudou toda há alguns meses, ainda se tem dificuldade de informação. Existe

também dificuldade quanto à disponibilidade de veículos para as atividades de rua,

que são a base da vigilância sanitária.

A respeito do funcionamento do serviço de vigilância à saúde, Vigilância

Sanitária, Vigilância Epidemiológica e Saúde do Trabalhador no distrito informou que

no serviço de vigilância sanitária tem cinco técnicos trabalhando nas atividades, que

tem a ver com a demanda espontânea nessa prática burocrática de liberação de

alvará que é solicitado, a parte jurídica também, a parte toda protocolar da Vigilância

Sanitária é centralizada na Vitória, o indivíduo vai a Vitória, faz a solicitação, o

processo vem para o Distrito, o técnico localiza o estabelecimento, faz a vistoria,

também pode ter uma demanda de denúncias que o técnico também vai constatar, o

que pode ser feito diretamente na unidade de saúde pra não ter que consultar a

ouvidoria ou feito diretamente no Distrito como o técnico para conferir se a denúncia

é verdadeira ou não.

d) Distrito Sanitário de Brotas (Coordenadora da Vigilância à Saúde)

A entrevistada compreende que vigilância da saúde é uma nova

concepção na forma de organizar o sistema de saúde, não na concepção só da

assistência à saúde, mas também em se trabalhar, além da assistência da saúde,

nas relações de promoção, prevenção e recuperação da saúde, que entra também

na questão do meio ambiente, entra na questão das outras duas vigilâncias,

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vigilância sanitária, vigilância epidemiológica. Porque a vigilância é uma questão

assim, com as ações intersetoriais, porque a saúde não é um fenômeno por si só da

doença, mas a doença envolve também outros processos. Às vezes para se

enfrentar um problema de saúde tem que trazer outras instituições fora do setor

saúde que venha também a melhorar e a sanar aquele dano. Acha então que a

vigilância à saúde também tem que trabalhar com certa estabilidade junto com

outras frentes de trabalho.

Declarou que a unidade trabalha de forma muito fragmentada na

vigilância. A unidade trabalha com serviços assistenciais na área de saúde, trabalha

com a vigilância epidemiológica, ela é descentralizada, fazem o monitoramento dos

agravos, os mais importantes do Distrito. Trabalha também com a vigilância

sanitária, que também é descentralizada. Já é descentralizada também no distrito

sanitário, e trabalha com alguns serviços de interesse da saúde. Bem que tem as

ações intersetoriais mas se trabalha assim basicamente com a secretaria de

educação porque tem algumas ações desenvolvidas na saúde do escolar, ainda tem

uma ligação com a Secretaria de Educação dentro dessa perspectiva. Trabalha com

algumas ações na questão da violência. A gente tem trabalhado com uma Instituição

da Secretaria de Segurança Pública do Estado, que é a Delegacia das Mulheres.

Reafirmou, então que só nessas duas vigilâncias é que se tem trabalhado, com

agravos que dizem respeito às duas vigilâncias para que se tenha uma ação efetiva

sobre a questão e que a vigilância sanitária é muito recente. Ela era centralizada na

Secretaria de Saúde do Município.

Sobre as competências gerenciais que deve ter o gerente para

desenvolver o modelo assistencial de vigilância da saúde no distrito, afirmou que

além de desenvolver competências, do ponto de vista de habilidades gerenciais, que

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é importante, tem que ter um conhecimento pelo menos básico de saúde pública, até

entender, e compreender o sistema como um todo. Tem gerentes que até

desconhecem o sistema único de saúde, a concepção do sistema único de saúde

dentro dessa proposta da vigilância de saúde. Acho que tem que ter algumas

habilidades além de gerenciar, pelo menos um curso básico em saúde pública em

vigilância epidemiológica, em vigilância de saúde, em alguma área para que possa

compreender a questão da concepção do modelo. Tem também que mudar a

prática, porque senão as unidades são meramente unidades assistenciais deixando

de desenvolver o trabalho que se chama de prevenção e promoção à saúde, onde

tem que prevenir danos à população. A idéia da vigilância é se anteceder, se

trabalhar com a noção de riscos para tomar as medidas de prevenção para que não

venham ocorrer danos à saúde da população. Não é anteceder o problema, é claro

que o problema é identificado naquela área, mas é anteceder para que danos mais

graves não venham a prejudicar a saúde da população.

Questionada sobre as principais dificuldades e facilidades encontrada

pelo gerente na sua prática, falou que acha que cada instituição trabalha ali no seu

espaço bem privado, bem particular. Julga difícil,uma integração entre setores.

Declarou que trabalhar com a questão da violência era o problema que ela gostaria

de estar trabalhando no distrito, mas às vezes é difícil se trabalhar com outros

setores, mesmo sendo um distrito sanitário, mesmo setores que trabalham com a lei,

como no caso que se tem na delegacia.

Considerou que a facilidade é que estando trabalhando com distrito

sanitário se trabalha num nível menor do sistema, tendo a facilidade de dominar o

território, de conhecer o território, tendo essa proximidade direta com o usuário, com

a comunidade, com as representações locais. Foca-se mais no menor espaço,

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compreendendo, assim, a complexidade que tem o município de Salvador, que é

grande e se trabalhar com a idéia de distrito sanitário, é uma idéia espetacular.

Agora pra que esse distrito na realidade ocorra, tem que trabalhar com a visão

burocrática de distrito, que é um espaço físico, uma área de ação limitada com

equipamento de saúde, mas também têm que ter autoridade pra que se possam ter

condições de administrar os problemas de saúde daquele território. Então tem essas

dificuldades, às vezes não se tem a capacidade técnica no distrito, podia melhorar a

equipe técnica do distrito, a retenção na organização do espaço, a retenção na

organização das unidades de saúde, considerando os problemas de saúde naquele

território, no caso de assistência sanitária. Ela acha que tem essa limitação. Tem a

limitação porque ainda se está numa estrutura, que é uma grande estrutura da

Secretaria Municipal da Saúde, o distrito aí não tem autonomia suficiente. Acha que

essa administração está muito preocupada com isso, inclusive o próprio Secretário

de Saúde, há em uma proposta dele que ele fala assim: “vamos radicalizar o distrito

sanitário”, ele sempre fala isso. Essa administração quer fortalecer os distritos, eles

consideram assim um espaço importante, onde as coisas de fato acontecem. Não se

podem definir políticas porque, o distrito, cada distrito por exemplo tem suas

particularidades, o que ocorre em Brotas não é a mesma coisa que ocorre com os

ferroviários, então a política não tem que ser a política do município, a política tem

que ser a política do distrito. Como definir o termo de ações de saúde? Não poderia

definir porque esse território é muito singular, tem seus problemas, suas

dificuldades, então a idéia do distrito, a facilidade é essa de se trabalhar dentro

dessa concepção, que é a concepção de distrito sanitário. Ela tem as dificuldades

técnicas, as dificuldades financeiras, não é gestor, não é gestora.

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Observou que dentro da estrutura organizacional o distrito sanitário tem a

coordenação, a coordenação tem uma sub-coordenação que se chama de sub-

coordenação de vigilância de saúde que acompanha a questão assistencial e da

vigilância epidemiológica e sanitária. Dentro da vigilância sanitária se tem a chefia de

vigilância sanitária e uma chefia de epidemiologia e informação. Na vigilância

sanitária trabalham nove técnicos e um chefe de setor. Esses técnicos trabalham

com as demandas na vigilância sanitária, emite os alvarás, apura denúncias e

pretende-se trabalhar na lógica, com programas. Então agora se quer trabalhar no

distrito sanitário, com os salões de beleza. Aí dentro dessa proposta de trabalhar

com o salão, a vigilância sanitária vai fazer uma ação também educacional. Não se

vai com a função policial nos salões de beleza, vai mostrar que ele é um serviço, que

ele pode trazer benefícios ou algum dano à saúde da população. Então vai se

trabalhar assim com uma ação bem educativa, com as duas vigilâncias,

aproveitando para trabalhar com a questão da hepatite, da transmissão do HIV,

então as duas vigilâncias vão trabalhar com essa questão dos salões de beleza.

Outra coisa também que está trabalhando ultimamente, é a questão da vigilância

sanitária nos açougues. Hoje se tem em Brotas um comércio de carne, um motel, em

Cosme de Farias, uma feira, e essa feira faz o comércio de carne bovina.

Afirmou que o que se tem feito é só investigação, mas medidas de

intervenção mesmo, a gente não tem nunca. A vigilância epidemiológica tem um

núcleo, tem uma sanitarista, duas visitadoras sanitaristas, que são auxiliares de

enfermagem e duas estagiárias trabalhando. Aí se recebem as notificações e a partir

das notificações os agravos da investigação, aí se faz a investigação, ela é

centralizada no distrito sanitário, onde cada unidade de saúde deve conhecer seu

território, saber o que é que acontece, quem morre, quem adoece e tentar lá a

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equipe mesmo fazer, mas por enquanto está centralizado. Declara que a sua idéia é

essa, agora, por enquanto está centralizada por falta de recursos humanos, que não

tem recursos humanos suficiente pra isso, então está centralizada no distrito

sanitário, a vigilância epidemiológica. So monitora toda situação epidemiológica.

Tem uma publicação que faz o nosso boletim epidemiológico, e a publicação do

boletim a gente publica quadrimestral, cada ano tem três boletins que divulgam toda

a situação de saúde. Trabalha-se também com alguns bancos que a gente monitora,

alguns bancos de informação que a gente trabalha com os agravos crônicos, no

caso, tuberculose, hanseníase, HIV também. Tem ações também assistenciais de

vigilância epidemiológica. Fazem-se a investigação e as medidas de intervenção, no

caso necessário, as medidas de controle a depender do agravo. Para os

trabalhadores, ainda não se tem nada.

A uma última questão, sobre a existência de regimento ou norma para a

implantação da vigilância à saúde no distrito, respondeu que estão num processo de

início de gestão, e tem se discutido muito a conversão do modelo assistencial como

uma coisa que o Secretário está trazendo como uma questão importante, a questão

da discussão do modelo assistencial, que ele valoriza bastante. Então essa é uma

discussão que está se iniciando na secretaria e em todo o distrito sanitário.

Possivelmente esse será o modelo da vigilância à saúde. Vai se fazer uma opção,

agora não tem nada escrito, nenhum documento elaborado, mas a perspectiva é de

se trabalhar nessa lógica da vigilância de saúde, mas ainda não se tem, está se

construindo esse documento.

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e) Distrito Sanitário de Pau da Lima (Coordenadora da Vigilância à Saúde)

Segundo a entrevistada, Vigilância à Saúde é um modelo de organização

de serviço de saúde, onde tem como foco a vigilância dos riscos e dos agravos da

população como forma de se organizar o serviço configurando essa lógica, onde se

trabalha com o coletivo e não com o individual. Trabalhar a comunidade dentro do

seu espaço territorial vislumbrando os riscos e as possibilidades no que se refere à

questão da saúde.

Quanto às práticas da vigilância de saúde que são desenvolvidas nesta

unidade, informou que o Distrito ainda está numa forma muito incipiente no que se

refere às práticas da vigilância à saúde, até porque está se tentando, de fato,

implementar esse modelo no Distrito. Então, hoje se desenvolve dentro da vigilância

da saúde, as ações de vigilância epidemiológica, notificação, investigação, bloqueio

e ações de vigilância sanitária, ações de fiscalização do serviço de interesse à

saúde, atividades educativas e algumas ações conjuntas. Já consegue se

desenvolver em vigilância sanitária e vigilância epidemiológica, mas ainda de forma

muito incipiente e fica muito centrada no Distrito. Não se conseguiu avançar para as

unidades de saúde, de fato, fazerem ações de vigilância à saúde.

No que tange às competências gerenciais que deve ter o gerente para

desenvolver o modelo assistencial de vigilância da saúde, declarou que o primeiro

deles é conhecer o modelo de fato, como é que funciona, quais são seus princípios,

quais são as diretrizes do modelo assistencial de vigilância à saúde, depois disso

conhecer a região em que ela vai estar trabalhando, que essa unidade vai estar

inserida para saber quais são os riscos aos quais a população está exposta, quais

são as instituições que podem ser parceiras pra atividades intersetoriais como forma

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de melhorar as condições de vida da população, ver quais são as potencialidades

das unidades, como forma de otimizar e usar melhor esses recursos, fazer um

trabalho em parceria com a comunidade através do controle social e também estar

agregando dentro da unidade instituições que tenham, direta ou indiretamente,

questões ligadas a área da saúde.

Sobre as principais dificuldades e facilidades encontradas pelo gerente,

na sua prática, em um distrito sanitário, informou que como dificuldades vê a

questão do desconhecimento por parte dos profissionais, no que se refere à própria

reforma sanitária, ao próprio conhecimento dos modelos alternativos ao modelo do

sistema único de saúde. A outra dificuldade é a própria formação desses recursos

humanos que ainda não conseguiram alcançar todos os avanços que se vem

conquistando ao longo dos últimos 15 anos desde a constituição de 88 no que se

refere ao sistema de saúde, e a própria forma como o serviço está organizado que

dificulta muito essa mudança de lógica. A organização do serviço, está dentro da

lógica por ativista mesmo, queixa, conduta, não há relação com a comunidade, você

desconhece seu contexto, seu território, então tudo isso são situações que dificultam

muito que se consiga implementar as práticas de vigilância à saúde, não só no

distrito sanitário, mas nas unidades que compõe esse distrito sanitário.

Observou que já existem algumas instituições, acadêmicas, que já estão

revendo seu curso, revendo seu currículo, enfocando esse novo conceito da saúde

pública, e isso também vem facilitando que esses pontos que vão sendo informados,

sejam informados dentro de uma outra lógica, e não a lógica que já vem durante

muito tempo sendo enraizada na academia.

Disse que hoje vê com facilidade, a gestão municipal ter como foco o

modelo de vigilância à saúde para a organização do seu serviço, então acha isso um

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facilitador importantíssimo, porque se é uma prioridade da gestão, todas as outras

ações elas conseguem avançar com mais facilidade; porque se é algo da gestão não

é algo isolado de um ou outro indivíduo, mas é algo político, quer dizer, uma política

de governo da secretaria municipal. Então, para ela, hoje as grandes facilidades são

essas. Ela vê assim como uma possibilidade de realmente se mudar essa

organização pra um sistema de fato que faça a vigilância da saúde.

Acerca da existência de alguma espécie de regimento de modelo pra ser

implantado esse sistema de vigilância da saúde dentro da secretaria municipal que o

distrito tem que seguir, comentou que, na verdade, a secretaria, ao longo desse

primeiro ano de governo vem tentando com os coordenadores, com os sub-

coordenadores de vigilância à saúde, com os gerentes das unidades e com o próprio

corpo técnico da secretaria da saúde, discutir que modelo se quer e como

implementá-lo. É vontade do secretário e da própria gestão municipal que de fato

faça com que o serviço, a rede de serviço, esteja organizado dentro da lógica da

vigilância à saúde. Tanto é que hoje quando se pensa em ampliar a rede de serviço,

a lógica que se estabelece é a própria lógica da estratégica da saúde da família,

como forma de, de fato, implementar o modelo de vigilância e saúde nos territórios,

ou seja, nos distritos.

Informou ainda que, através de discussão, tem um grupo de trabalho que

está trabalhando na implementação dessa política, porque a gestão entende: ou ele

modifica a forma com que o serviço foi organizado ou vai continuar o tempo todo

apagando incêndio, porque não há um planejamento, não há uma programação, não

se sabe qual é seu território, do que as pessoas morrem, do que elas adoecem. Mas

está sendo elaborado um regimento. A secretaria está trabalhando nesse sentido de

padronizar e determinar como é que vai ser a lógica de organização dentro do

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modelo de vigilância e saúde. Mas ainda não está nada institucionalizado porque

precisa passar pelo fórum deliberativo que é o próprio conselho municipal de saúde

que tem que ter uma política municipal, mas já existem grupos de discussão na

secretaria pra implementar de fato a questão da implementação do modelo de

vigilância à saúde.

A respeito de como funcionam os serviços de vigilância e saúde, a

vigilância sanitária, a vigilância epidemiológica e saúde do trabalhador nessa

unidade, relata que pouco se executam as ações de vigilância à saúde do

trabalhador e vigilância epidemiológica, porque a própria vigilância epidemiológica, a

própria vigilância sanitária ainda funciona muito na lógica centrada no distrito, ou

seja, só quem executa as ações de vigilância à saúde são os distritos sanitários, ou

seja, as unidades elas são meramente notificantes, elas não investigam, elas não

planejam, elas não analisam os dados como instrumentos pra gestão. Então hoje

essas ações ficam restringidas às coordenações do distrito sanitário, que funciona

no Distrito. Há uma equipe de vigilância sanitária com sete técnicos, mais uma chefia

e tem a vigilância epidemiológica, com uma sanitarista, duas enfermeiras e uma

técnica de enfermagem além do pessoal de apoio. Todas as ações são

desenvolvidas por essa equipe que fica lotada nesse distrito sanitário. As unidades

muito pouco fazem, as unidades de saúde. As unidades que se tem no distrito,

ratificam as doenças. As ratificações vêm para o distrito e ai a sua equipe vai

investigar, vai alimentar o sistema, vai analisar, então ficam muito centralizadas

essas ações. E a vigilância sanitária também.

Com relação à saúde dos trabalhadores, declarou que não tem nada

ainda porque os técnicos da vigilância sanitária ainda não estão capacitados para

estarem implementando as ações para os trabalhadores. O que se faz é que quando

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se está fazendo inspeção nos estabelecimentos, se verifica as funções de trabalho,

as funções de salubridade, as funções de equipamentos de proteção individual,

atestado de saúde ocupacional, monitoramento da saúde desses trabalhadores, mas

é algo muito incipiente em que as pessoas fazem por estarem buscando essas

informações, essas orientações, mas a secretaria precisa organizar de fato um

serviço junto aos trabalhadores, pra que se possa implementar muito mais, inclusive

foi uma das demandas da própria conferência de saúde dos trabalhadores: que a

secretaria resgate o centro de referência municipal em parceria com o CESAT.

Sugeriu que as gestões se preocupem na reorganização dos seus

sistemas de saúde dentro de uma outra lógica, seja da vigilância à saúde, seja o

modelo de defesa da vida que o pessoal de Campinas é que usa, mas o importante

é que se reveja como os serviços são organizados.

f) Distrito Sanitário do Cabula/Beiru (Coordenadora do Distrito)

A entrevistada entende que Vigilância à saúde abrange tudo que diz

respeito à saúde, desde a questão do saneamento básico até a carteira de saúde e

muito mais.

Reclamou sobre a parte da vigilância à saúde onde possui carências

citando que as ações deveriam ser mais integradas.

Sobre as práticas da vigilância à saúde que são desenvolvidas nessa

unidade informou que a vigilância à saúde, está relacionada às ações básicas de

saúde, à vigilância epidemiológica, sanitária, ambiental e saúde do trabalhador. A

respeito saúde do trabalhador, tem-se uma preocupação em estar buscando a

questão da sua saúde.

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Como competências gerenciais que devem ter o gerente para desenvolver

o modelo assistencial de vigilância da saúde afirmou que a competência é

justamente estar supervisionando, estar buscando, acompanhando em todos os

sentidos as ações da vigilância e saúde nas unidades, por exemplo: a questão da

vacinação, pra saber se estão vacinando as pessoas no distrito sanitário, tanto

crianças como idosos, adultos. São várias as ações que são destinadas à atividade

de saúde, o acompanhamento do planejamento familiar, como é que está a saúde

da mulher, etc. Essas são as funções que se tem que estar acompanhando, a parte

da vigilância epidemiológica que é muito importante, conhecer realmente essa área

de trabalho, sobre os agravos, como combatê-los, quais as ações que devem ser

feitas, estar erradicando, pelo menos controlando certas doenças, a questão da

diabete nas unidades dos programas, a questão também da saúde da mulher, os

remédios que estão na validade, a vacinação como um todo e a questão mesmo do

saneamento básico, dessas doenças que são transmitidas, a questão do lixo, etc. É

importante que se esteja acompanhando todas essas questões que venham a dar

melhor qualidade de vida à população. Então, tem que se estar atento a essas

questões todas ligadas ao meio ambiente.

A respeito das principais dificuldades e facilidades encontradas pelo

gerente na sua prática, observou que tem a questão do salário dos funcionários.

Dentro da questão do salário, da estrutura física, da qualidade, das condições do

trabalho que se tem, que são precárias, tem uma salinha de trabalho com 10

pessoas, sem uma mesa para poder trabalhar direito. Outro problema é a equipe de

trabalho reduzida. Agora tem um outro lado, o lado bom é que é uma equipe

comprometida que se quer realmente levar a sério o trabalho, não vê muito a

questão do salário, às vezes muitos, os gerentes e até os servidores, muitos

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reclamam dos salários, mas tem muitos que, apesar do salário baixo, são

comprometidos, são responsáveis e tem toda uma boa vontade, fazendo um

trabalho de qualidade. Problema também existe em relação à freqüência, pois gente

faltando dificulta muito o trabalho e reflete sempre na qualidade de serviço que vão

ser oferecidos.

Observou que o Distrito ainda não é uma unidade gestora e que existe

hoje um adiantamento.

A respeito do funcionamento do serviço de vigilância à saúde, Vigilância

Sanitária, Vigilância Epidemiológica e Saúde do Trabalhador, nessa unidade,

informou que para a questão da vigilância à saúde só tem o sanitarista e que

recebem notificações. Está com poucos recursos humanos, sendo uma população

de 17 unidades de saúde, 15 conveniadas e que pra esse número de unidades de

saúde se tem apenas um sanitarista, o que é muito pouco, considerando-se uma

demanda muito grande. Tem um sanitarista, uma auxiliar de enfermagem, contam

com as unidades de saúde que tem laboratórios, no caso da coleta de material para

ser levado ao laboratório que já fica de sobreaviso, existe a dificuldade pra fazer a

coleta. Cita também a questão do carro que dificulta, pois estão no momento com

três carros para estar atendendo à todas essas entidades de saúde, todas as

demandas que se tem, embora pareça até, para algumas pessoas, esse número é

suficiente. Existem muitas demandas e também essa dificuldade.

A vigilância à saúde está sempre voltada às questões do óbito materno, de

programações básicas e da vigilância epidemiológica. Tem a parte de formação,

também, dada pelo (CRA), com programas direcionados para essa atividade, que

são digitados e encaminhados para a secretaria. Trabalham junto com o Hospital

Roberto Santos apesar de certa dificuldade, pois esse hospital está mais próximo do

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Distrito. Também trabalham junto com a Secretaria da Saúde, como agora mesmo

que estão fazendo a vacinação. Essa equipe que está aí hoje tem dado um retorno

para as pessoas no distrito.

Declarou que a parte da vigilância sanitária está muito voltada para a

liberação de alvarás, mas está buscando outras ações junto à Secretaria da Saúde

na parte da vigilância, geralmente na parte de salão de beleza, na parte educativa,

na esterilização de material. Estão fazendo um trabalho na área técnica da vigilância

sanitária e estão fazendo um trabalho de doenças com todas as ordens de serviço

sanitário.

Acerca da existência de algum regimento ou alguma norma para fazer o

funcionamento da vigilância da saúde no distrito, afirmou que tem sim, através dos

seus programas (SIAB, SINAN). Que exista uma coisa escrita, ela nega o

conhecimento. Pode ser até que tenha e ela não esteja lembrada no momento, mas

desde que está nesse Distrito como coordenadora, o que encontrou vai conduzindo.

.De tudo o que foi dito nas entrevistas resume-se que:

• Todos os gestores dos Distritos têm a consciência de que a Vigilância

da Saúde abrange serviços que devem ser voltados à comunidade assegurando-lhe

boa qualidade de vida;

• Não são desenvolvidas todas as práticas de Vigilância à Saúde em

todas as unidades, sendo que a saúde do trabalhador só é considerada no Distrito

do Cabula e a Vigilância Ambiental, só nos Distritos da Barra e Cabula;

• Existe consenso entre os gestores quando eles apontam a capacitação

técnica como principal requisito para um gestor público;

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• Existe consenso também na definição das dificuldades encontradas

pelos Distritos em termos de recursos humanos e insuficiência de veículos para o

desenvolvimento das atividades externas. Alguns gestores reclamaram ainda da

falta de material de expediente e infra-estrutura para o trabalho, baixos salários e

alto índice de faltas de funcionários;

• Todos negaram a existência de um regimento interno a ser seguido,

sendo que apenas dois dos entrevistados declararam que existe essa preocupação

por parte do Secretário da Saúde e que existe um documento em construção;

• A maioria das ações desses Distritos é centralizada nas unidades.

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7 CONCLUSÃO

Ao analisarmos os depoimentos dos Gestores em exercício e/ou

responsáveis pela Vigilância da Saúde nos Distritos Sanitários, observamos que os

referidos técnicos têm bom entendimento conceitual sobre o assunto, porém a

concepção do Distrito Sanitário, idealizado e implantado durante a experiência do

Sistema Unificado e Descentralizado da Saúde – SUDS - , não cumpriu os seus

objetivos, em especial a descentralização das ações, a estratégia da territorialização,

a participação social, não evoluindo para a concretização das diretrizes do Sistema

Único de Saúde – SUS -, a universalidade e equidade, com um Sistema Hierárquico

e Regionalizado.

Os Distritos Sanitários vêm atuando como meras instâncias burocráticas,

captadoras de informação a serem repassadas às instâncias superiores, não

cumprindo o seu papel de Gestor, ao não contemplar o planejamento, coordenação,

articulação, negociação, acompanhamento, controle, avaliação e auditoria. Carecem

de recursos humanos em quantidade e qualidade, as Unidades de Saúde

jurisdicionadas não estão integradas ao sistema, desconhecendo-se inclusive o

modelo vigente, atribuindo-se o despreparo das equipes devido à alta rotatividade

dos servidores, que na sua grande maioria não pertencem ao quadro efetivo da

Secretaria Municipal de Saúde (terceirizados).

As Unidades de Saúde funcionam essencialmente no modelo médico-

assistencialista, com muito pouco envolvimento com a proposta da Vigilância da

Saúde.

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No âmbito do Distrito Sanitário infere-se que ainda não ocorreu a

completa descentralização da Vigilância Sanitária, praticamente inexiste a Vigilância

da Saúde do Trabalhador, não se identificando uma organização laboratorial voltada

para Saúde Pública. Por não serem dotadas de gestão financeira, existem

dificuldades com a manutenção da infra-estrutura, havendo carência de material de

consumo, instalação física inadequada, transporte, etc. Observa-se ainda a falta de

uniformidade no desenvolvimento das ações por parte dos Distritos, em virtude da

inexistência de Normas Técnicas e/ou Regimento a serem seguidos.

No entanto existe uma grande expectativa na gestão atual da SMS em se

resgatar o Distrito Sanitário na sua concepção prevista no modelo da Vigilância da

Saúde, reorganizando-se as diversas instâncias de atenção básica, conforme

depoimentos dos entrevistados.

Frente a estas considerações, sugerimos algumas medidas básicas que

poderão ser adotadas a curto, médio e longo prazo, a exemplo de um plano de

carreira, cargo e salários, da implantação efetiva da Vigilância Sanitária, da

Vigilância do Trabalhador, elaboração de Normas Técnicas, programa de

capacitação para gestores e técnicos, melhoria da infra-estrutura, ações

intersetoriais, entendendo-se como de fundamental importância a efetiva

descentralização da Vigilância da Saúde para execução pelas Unidades de Saúde,

com território definido e assessoria da área técnica distrital.

Infere-se que ao adotar e efetivar as medidas propostas, os Distritos Sanitários estarão aptos a exercerem a gestão devidamente habilitados , a enfrentarem os desafios da administração pública, contribuindo para o fortalecimento do Sistema de Saúde Municipal.

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