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Práticas Sociais e Diversidade Telma Martins Peralta

Práticas Sociais e Diversidade

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E-book da disciplina Práticas Sociais e Diversidade

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Instituições de Ensino Rede Laureate Brasil

Business School São Paulo (BSP)CEDEPE Business School (CBS)Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter)Centro Universitário do Norte (UNINORTE)Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (FADERGS)Faculdade dos Guararapes (FG)Faculdade Unida da Paraíba (UNPB)Centro Universitário IBMRUniversidade Anhembi Morumbi (UAM)Universidade Potiguar (UnP) Universidade Salvador (UNIFACS)

Telma M

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Telma Martins Peralta

Fundação Biblioteca NacionalISBN 978-85-87325-45-7

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Telma Martins Peralta

Práticas Sociais e Diversidade

EDITORA UNIFACS – LaureateSalvador

2013

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©Copyright 2013 da Laureate. É permitida a reprodução total ou parcial, desde que sejam respeitados os direitos do Autor, conforme determinam a Lei n.º 9.610/98 (Lei do Direito Autoral) e a Constituição Federal, art. 5º, inc. XXVII e XXVIII, “a” e “b”.

P426p

Peralta, Telma Martins

Práticas sociais e diversidade / Telma Martins Peralta. – Salvador : UNIFACS, 2013.

94 p. : il. ; 18,3x23,5. ISBN 978-85-87325-40-2

1. Educação – aspectos sociais. I. Título.

CDD: 371.19

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Sistema de Bibliotecas da UNIFACS Universidade Salvador - Laureate International Universities)

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SumárioA importância do processo de socialização e a formação dos grupos sociais........................................................................5

O processo de construção da identidade ....................................................17

A organização da sociedade: compreendendo a violência existente .............................................................................................27

Discutindo a questão da inclusão social .......................................................39

Educação, diversidade, inclusão e seus desafios na educação .............51

Diversidade sociocultural ...................................................................................65

A criatividade no trabalho pedagógico diante das diversidades ........73

A escola, o indivíduo e a sociedade ...............................................................85

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A importância do processo de socialização e a formação dos grupos sociais

IntroduçãoTodos os dias, a partir do momento em que acordamos, convivemos com pessoas,

sejam elas da família, do trabalho, da escola, da igreja, ou mesmo em uma roda de amigos, nos momentos de lazer, tornando-nos, assim, seres sociais.

Podemos dizer que o ser humano se socializa quando participa da vida em socieda-de, assimilando suas normas, valores e costumes.

A socialização é o processo pelo qual o mundo social, com seus múltiplos valores, passa a fazer parte de seu mundo interior.

O processo de socialização ocorre dentro de uma sociedade, por meio das rela-ções entre os indivíduos, grupos sociais e instituições.

Dentro dessa perspectiva, nesta unidade serão abordados os seguintes assuntos:

o processo de construção da socialização;

a percepção social do indivíduo, assim como suas atitudes e mudanças;

a formação dos grupos sociais.

Durante o seu aprendizado haverá reflexões, uma seção intitulada “Saiba mais”, além de dicas de filmes e livros para que você possa ampliar cada vez mais os conheci-mentos adquiridos nesta unidade.

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ObjetivosAo final da unidade, espera-se que você seja capaz de:

compreender a abordagem sobre o processo de construção da socialização;

estimular o confronto entre a teoria e a prática relacionadas ao processo de socialização;

refletir e observar com um olhar atento a nossa realidade social;

compreender as manifestações comportamentais por meio da interação pessoal;

ampliar seus conhecimentos a respeito da formação e da importância de per-tencer a um grupo social.

O processo de construção da socializaçãoÉ comum ouvirmos que o indivíduo, nos dias atuais, deve se socializar. Esse discurso

prevalece em nosso meio social. Contudo, o que é, de fato, o tão falado processo de socialização? O que esse discurso vem a ser na prática?

Podemos dizer que, desde seu nascimento, o indivíduo encontra-se inserido em um contexto social de trocas e constantes aprendizagens. Portanto, tal indivíduo está exposto a crenças e valores de um grupo social no qual está inserido. À assimilação das crenças, valores e costumes dá-se o nome de socialização. Vale ressaltar que tal deno-minação procede da área da Psicologia Social. É no processo de socialização que nos apropriamos das formas institucionais do nosso contexto social (BOCK et al., 1999).

A socialização pode então ser definida como algo que internalizamos ao longo de nossa existência, nas inúmeras interações com o mundo exterior.

Bock et al. (1999, p.131) postulam (alegam, requerem) que a “[...] cada encontro social, cada momento de comunicação e interação entre as pessoas são sempre mo-mentos de nosso processo de socialização, que é ininterrupto no decorrer de nossas vidas”. Logo, infere-se que estamos em constante processo de socialização com os nossos parceiros em todos os contextos de nossas vidas: no seio familiar, escolar e em todos os outros em que nos encontramos atrelados (unidos por vínculos fortes). Bock et al. (1998) salientam ainda que o perpassar (seguir certa direção; percorrer um cami-nho sem se deter) por diversos núcleos sociais agrega valores que compõem a realida-de objetiva.

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A Dra. Ana Mercês Bahia Bock possui um vasto currículo de pesquisa dedicada à Psicologia Social.

A autora é Doutora e Mestre na área de Psicologia Social, além de ser professora titular do departamento de Psicologia Social da PUC-SP.

Publicou o livro Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia, no qual re-trata temas da atualidade sob a óptica da Psicologia.

Para mais informações, visite o site: <http://psicolatina.org/Academicos/ana_merces_bahia.html>. Acesso em: 29 out. 2011.

Saiba mais

É necessário que o esperado bebê venha ao mundo para que ele inicie o processo de socialização?

A percepção social dos indivíduosÉ por meio da percepção que formamos nossas impressões sobre outros

indivíduos.

Essa percepção é de suma importância, pois permite darmos um sentido ao mundo social que nos rodeia e que também nos influencia diretamente.

Nesse processo de percepção notamos as características de cada ser humano. Sendo assim, é possível concluirmos que todos os indivíduos são objetos de percep-ção. Infere-se então que ocorre, nesse sentido, uma “dinâmica” mútua: percebemos e somos objetos da percepção do outro.

Dessa maneira, podemos analisar que a percepção social abrange os processos de cognição que têm como objetivo adquirir novos conhecimentos e abranger a percepção, a memória, a imaginação e o raciocínio, cujos conceitos abordaremos a seguir.

Percepção – corresponde aos estímulos que são transformados em imagens mentais.

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Memória – local onde armazenamos nossas informações, podendo ser ativa ou a longo prazo. A memória ativa fica em estado de alerta ou atenção, e a memó-ria a longo prazo é composta por registros vividos com enfoque emocional.

Imaginação – reflexão das ações no qual busca-se solucionar problemas com-plexos por meio de operações mentais.

Raciocínio – formado por números, figuras, gestos e palavras. A manipulação desses símbolos é uma atividade complexa realizada pelo indivíduo.

Como dito anteriormente, o ser humano estabelece relações de significações, atribuindo sentidos à realidade em que se encontra. Dessa maneira, constrói seus pontos básicos de ancoragem, que dão origem a outras formas de pensar. A partir do momento em que entramos em contato com a realidade atribuímos significados aos novos fatos.

Afinal, como ocorre o processo de percepção social?

Podemos dizer que esse processo ocorre por meio do contato com o mundo, em que o indivíduo organiza as informações adquiridas na convivência com o outro.

Agora vamos identificar algumas impressões que obtemos a partir de nossa per-cepção, construída nas relações sociais.

Vejamos os exemplos a seguir:

Executivo, estudante, médico, guarda de trânsito e piloto.

Ao processo de interiorização das informações pode se dar o nome de percepção. Assim, torna-se necessário salientar que a percepção está ligada à cultura em que o indivíduo se encontra inserido.

As atitudesÉ fato que o indivíduo possui informações e as organiza de forma a fazê-lo agir

favoravelmente ou desfavoravelmente em relação às outras pessoas e aos objetos presentes no meio social (BOCK et al., 1999).

É importante destacar que as atitudes dependem de nossa percepção sobre o mundo social e que as relações podem ocorrer amistosamente ou até mesmo em forma de conflito.

As atitudes estão relacionadas ao que as pessoas sentem e pensam. Nesse aspecto, o comportamento está ligado também às normas sociais, à forma de como agir.A

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As mudanças de atitudesO indivíduo está sempre em evolução, ou seja, adquirindo constantemente novas

informações. Assim, é normal que este adquira novas percepções, culminando em novas atitudes, fazendo com que reavalie pensamentos pré-formados.

Como as atitudes são integradas por componentes cognitivos, afetivos e compor-tamentais é comum que o indivíduo assuma inúmeras mudanças de atitudes, seja por meio de uma nova experiência ou mesmo por uma nova informação.

E quanto a você? Quão aberto (a) você está em relação à mudança de atitudes no seu universo vivencial? Nas amizades, nas relações de trabalho e nas relações afetivas?

A formação dos grupos sociaisNós, seres humanos, somos, por excelência, seres sociais. Estamos em constante

construção e pertencemos a diferentes universos sociais. Pode-se definir grupos sociais como pequenas organizações de indivíduos que, possuindo objetivos comuns, desenvolvem ações na direção desses objetivos (BOCK et al., 1999). Nos grupos sociais estão presentes o coletivismo, as normas, os ideais comuns e a união do grupo do qual se participa.

As pessoas pertencentes a um grupo social interagem de forma a aceitar as pres-crições ditadas por esse mesmo grupo. Assim sendo, aceitam direitos, obrigações e normas de procedimentos condizentes à realidade do grupo ao qual pertencem.

Pode-se dizer que nós construímos uma história ao longo de nossa existência. Portanto, essa história de vida está atrelada ao fato de pertencermos a inúmeros grupos sociais como: família, escola igreja e trabalho. Evidentemente, perpassamos por diversos outros núcleos sociais que nos auxiliam na construção de nossa identidade, mas abordaremos, aqui, as descritas anteriormente.

FamíliaA família é o primeiro grupo social com o qual nos deparamos após o nascimento.

Podemos dizer que ela é a responsável por nossa preparação para o mundo externo. Ela contribui no que diz respeito à construção de nossa essência.

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Lev Semenovitch Vygotsky (1896-1934) formou-se em Direito, História e Filo-sofia nas Universidades de Moscou e A. L. Shanyavskii, respectivamente. Começou sua carreira aos 21, em Gomel, no período de 1917 a 1923. Lecionou Literatura, Ciências e Psicologia. Preocupava-se com as questões ligadas à Pedagogia.

Vygotsky enfatiza o processo histórico-social e a linguagem no desenvolvimento do indivíduo. No decorrer do seu trabalho foi um psicólogo experimental, uma característica marcante em suas construções teóricas.

A teoria de Vygotsky chega ao ocidente por meio dos livros: Pensamento e Linguagem (1993) e A Formação Social da Mente (1991).

Segundo Papalia (2006, p. 726) “[...] a família é a fonte primordial de apoio emocional” e “quando esse apoio não está presente ou os relacionamentos com a família são pobres ou ausentes, os efeitos negativos podem ser profundos”.

A necessidade de um grupo de referência no qual ocorram relações diretas de ajuda mútua, amparo e trocas afetivas, cognitivas e valorativas é fundamental para a vida da pessoa e para a relação com o outro, ou seja, para o relacionamento inter-pessoal. Vygotsky (1998) atribui grande importância ao papel da interação social ao desenvolvimento humano. Rego (1995), referindo-se às premissas vygotskianas, ma-nifesta-se dizendo: “O desenvolvimento está intimamente relacionado ao contexto sociocultural em que a pessoa se insere e se processa de forma dinâmica (e dialética) através de rupturas e desequilíbrios provocadores de contínuas reorganizações por parte do indivíduo.”

Assim sendo, o indivíduo se desenvolve em constantes trocas com seus parceiros. Para Rego (1995, p. 93) “[...] a premissa é de que o homem constitui-se como tal através de suas interações sociais, portanto, é visto como alguém que transforma e é transformado nas relações produtivas em uma determinada cultura”.

Pode-se dizer que as normas de comportamento diferem de família para família. Em cada grupo familiar, seus integrantes se reconhecem biologica e culturalmente, pois cada grupo possui uma determinada cultura.

Percebe-se, então, a importância do papel da família como primeiro núcleo das relações sociais.

Saiba mais

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Vygotsky contribuiu nas reflexões sobre o desenvolvimento e relação com a aprendizagem no meio social e também sobre o desenvolvimento do pensamento e da linguagem.

Para saber mais a respeito da vida e obra de Vygotsky, acesse:

<http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/lev-vygotsky-teorico-423354.shtml>. Acesso em: 29 out. 2011.

<http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/lev-vygotsky-teorico-423354.shtml?page=3> . Acesso em: 29 out.2011.

EscolaA escola é outro núcleo de grande importância nas relações sociais que o indiví-

duo estabelece com o mundo.

Quando a criança inicia o seu processo escolar, leva o que aprendeu durante a convivência com seus familiares. O ambiente escolar, assim como o familiar, será fun-damental em seu processo de desenvolvimento cognitivo e social.

A instituição escolar exerce o papel de formação dos valores sociais. É na escola que o indivíduo tem a apreensão do conhecimento formal, isto é, a escola exerce um espaço de formação contínua.

IgrejaA igreja constitui um grupo social de grande importância para muitos. As pessoas

pertencentes a esse grupo, além de comungarem com os preceitos ditados por ele, estão em consonância com as suas normas e seus valores.

O conhecimento religioso faz parte do patrimônio da humanidade, promovendo oportunidades para que o indivíduo seja também capaz de adquirir formação de ati-tudes e valores.

A crença em algum tipo de divindade e o sentimento religioso são fenômenos comuns a todas as épocas e lugares do planeta.

Cada pessoa tem, em sua respectiva crença religiosa, um fator de estabilidade, de aceitação e obediência às normas para que enfim alcance equilíbrio. Dessa forma, ao longo do tempo, o indivíduo vai internalizando valores e crenças e, consequente-mente, permitindo construir padrões de comportamento.

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TrabalhoA pessoa, no segmento profissional, interage em um ambiente de trabalho no

qual existem “regras” básicas para sua integração dentro de um determinado grupo. Nesse universo estarão em jogo habilidades, conhecimentos adquiridos ao longo de sua existência, valores, comportamentos e atitudes agregados.

A socialização dentro desse grupo social profissional contribui significativamente para que haja um bom relacionamento entre o indivíduo e a organização no qual está inserido.

Podemos então concluir que o ser humano é um ser social e se organiza em grupos. No grupo profissional tendemos a mediar, negociar, criar, participar, liderar e decidir. Todos esses atributos estão presentes nesse grupo social.

“A construção do ser social, feita em boa parte pela educação, é a assimilação pelo indivíduo de uma série de normas e princípios – sejam morais, religiosos, éticos ou de comportamento – que balizam a conduta do indivíduo num grupo. O homem, mais do que formador da sociedade, é produto dela.”

Sabia mais sobre Émile Durkheim em: <http://revistaescola.abril.com.br/histo-ria/pratica-pedagogica/criador-sociologia-educacao-423124.shtml>. Acesso em: 29 out. 2011.

Dicas de filmes

A Guerra do Fogo, de Hugh Hudson, 1981. Filme que aborda, nos primórdios da humanidade, grupos de hominídeos que disputam a posse do fogo.

O Filho da Noiva, de Juan José Campanella, 2001. O filme conta a história de Rafael, um quarentão estressado que, depois de sofrer um enfarte, resolve colocar sua vida em ordem. É nesse momento que recebe a visita de um amigo de infância engraçado e tenta reconquistar sua filha e sua namorada.

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O Garoto Selvagem, de François Truffaut, 1970. O filme conta a his-tória de Victor de Aveyron, menino até então sem nenhum contato com humanos, capturado numa floresta francesa.

O Pescador de Ilusões, de Terry Gilliam, 1991. Esse filme exibe como os valores e atitudes mudam o comportamento das pessoas.

Dicas de livros

FREEDMAN; CARLSMITH; SEARS. Psicologia Social. São Paulo: Cultrix,1970.

LANE, Silvia T. M. O que É Psicologia Social. São Paulo: Brasiliense, 1986.

MARTINS, Carlos B. O que É Sociologia. São Paulo: Nova Cultural/Brasiliense, 1986.

Dicas de vídeos

DEL PRETTE, Zilda A. P. Habilidades Sociais São Vitais para se Relacionar com o Mundo. Disponível em: <http://gnt.globo.com/saiajusta/videos/_1621629.shtml>. Acesso em: 29 out. 2011.

GILBERT, Dan. As Emoções Humanas. Disponível em: <http://gnt.globo.com/gntdoc/videos/_1594772.shtml>. Acesso em: 29 out. 2011.

Síntese

A socialização é um processo que ocorre na interação com outras pessoas, sendo que é necessária ao desenvolvimento do ser humano. Precisamos interagir com o outro para assimilarmos normas, valores e costumes de diferentes grupos sociais.

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Podemos dizer que passamos a perceber o outro e, no instante em que o perce-bemos, também passamos a ser objeto de percepção.

As atitudes que temos acerca das relações que nos envolvem estão intimamente relacionadas à nossa percepção social enquanto indivíduos. No entanto, elas podem ser modificadas ao longo do tempo, de acordo com as nossas experiências e a vivência no nosso meio social. As atitudes do indivíduo geralmente estão atreladas ao meio social no qual ele está inserido.

O comportamento humano é complexo. Todos nós recebemos influências do meio social em que vivemos e agimos de acordo com o que aprendemos ao longo de nossa existência. É importante frisar que o indivíduo aprende com os seus afins, mas as regras podem ser mudadas ao longo do processo da existência.

É importante salientar também que, ao longo da vida, as pessoas participam de vários grupos sociais. O primeiro contato do indivíduo é com a família, depois ele vai para a escola, ambiente em que irá aprender com outras pessoas de universos familiares distintos. Podemos citar também a igreja como outro grupo social, além do profissional, em que o indivíduo irá interagir com pessoas diferentes, mas que possuem objetivos comuns.

Podemos concluir que o contato social, ou seja, a interação entre os indivíduos é indispensável ao crescimento do ser humano, uma vez que é nesse contexto que há a troca de todos os aspectos e o respeito em relação a diferença entre os indivíduos, tornando possível a vida em sociedade.

Referências

BOCK, Ana Mercês Bahia et al. Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. Disponível em: <www.livrosgratis.net/download/363/psi-cologias-uma-introducao-ao-estudo-de-psicologia--odair-furtado.html>. Acesso em: 29 out. 2011.

BOCK, Ana Mercês Bahia. Psicología para América Latina. Disponível em: <http://psi-colatina.org/Academicos/ana_merces_bahia.html>. Acesso em: 29 out. 2011.

DEL PRETTE, Zilda A. P. Habilidades Sociais Vitais para se Relacionar com o Mundo. In: Saia Justa (GNT), 2011. Disponível em: <http://gnt.globo.com/saiajusta/videos/_1621629.shtml>. Acesso em: 29 out. 2011.

FERRARI, Márcio. Lev Vygotsky, o Teórico do Ensino como Processo Social. Dispo-nível em: <http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/lev-vygotsky-teorico-423354.shtml>. Acesso em: 29 out. 2011.

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______. Émile Durkheim, o Criador da Sociologia da Educação. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/criador-sociologia-educacao-423124.shtml>. Acesso em: 29 out. 2011.

GILBERT, Dan. As Emoções Humanas. In: Saia Justa (GNT). Disponível em: <http://gnt.globo.com/gntdoc/videos/_1594772.shtml>. Acesso em: 29 out. 2011.

PAPALIA, Diane E. et al. Desenvolvimento Humano. Tradução de: BUENO, Daniel. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.

REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

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O processo de construção da identidade

IntroduçãoNós, seres humanos, transformamo-nos a cada momento por meio da relação

com o meio social. Ao longo do tempo adquirimos características de representação a respeito de nós mesmos. Assim, vamos construindo a nossa identidade.

Podemos dizer que tentamos, como seres humanos nos identificar e construir, reconstruir e integrar uma sociedade.

Diante disso, os assuntos a serem abordados nesta unidade serão:

o processo de construção de identidade;

a concepção de identidade.

Para aprimorar seus conhecimentos você contará com uma leitura complementar, vídeo, reflexões, uma seção intitulada “Saiba mais”, dicas de filmes e livros para que você atinja os objetivos esperados neste curso.

ObjetivosAo final desta unidade, espera-se que você seja capaz de:

compreender os pressupostos teóricos sobre o processo de construção de identidade;

refletir sobre a questão da identidade sob vários aspectos da realidade social;

compreender a importância da interação social na construção da identidade.

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O processo de construção da identidadeO homem primeiramente existe, se descobre, surge

no mundo; e só depois se define.

Jean-Paul Sartre

Iniciaremos esta unidade com a seguinte questão: Quem somos nós? A identi-dade nos caracteriza como seres únicos?

No decorrer desta unidade, esperamos que você aproveite para aprender e am-pliar os seus conhecimentos sobre a questão.

Bock et al. (1999, p. 145) definem identidade como uma “[...] denominação dada às representações e sentimentos que o indivíduo desenvolve a respeito de si próprio, a partir do conjunto de suas vivências”. Para os autores, a identidade é a síntese pessoal sobre si mesmo, incluindo dados pessoais (cor, sexo, idade etc.), biografia (trajetória pessoal), atributos que os outros lhe conferem, permitindo, dessa forma, uma repre-sentação a respeito de si.

Os indivíduos, ao se depararem com a pergunta “quem somos nós?”, podem levar em consideração inúmeros aspectos para defini-la, como: aspectos psicológicos, traje-tória pessoal e de sentimentos e preferências que afloram a partir do convívio com o outro.

O ser humano é dotado de racionalidade, o que lhe permite conhecer, ter vontade própria e fazer escolhas que sofrem inúmeras mudanças ao longo do tempo.

A capacidade do ser humano em agir com autonomia diante das situações im-plica responsabilizar-se pelas escolhas feitas, ou seja, o ser humano é dotado do livre- -arbítrio. Portanto, caberá ao indivíduo a decisão sobre qual caminho será percorrido.

As concepções de identidade Hall (2001, p. 10) apresenta três concepções de identidade, a saber:

sujeito do Iluminismo;

sujeito sociológico;

sujeito pós-moderno.

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O processo de construção da identidade

A concepção do indivíduo no Iluminismo baseava-se numa “[...] concepção de pessoa humana como um indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das capa-cidades de razão, de consciência e de ação” (HALL, 2011, p. 10).

Assim sendo, a identidade de uma pessoa era o centro essencial do “eu”, sendo, portanto, uma concepção individualista.

A ideia de sujeito sociológico refletia “[...] a crescente complexidade do mundo moderno e a consciência de que esse núcleo interior do sujeito não era autônomo e autossuficiente” (HALL, 2001, p. 11), mas formava-se na relação com outros sujeitos que mediavam para ele “valores, sentidos e símbolos – a cultura – dos mundos que ele/ela habitava” (HALL, 2001, p. 11).

Dentro da concepção sociológica, a identidade é formada na interação entre o “eu” e a sociedade.

Na concepção pós-moderna, o sujeito não possui identidade fixa, essencial ou permanente. Assim, “[...] a identidade torna-se uma “celebração móvel”: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam” (HALL, 1987, p. 12-13). Rajagopalan (2003, p. 71) corrobora com a mesma ideia dizendo:

Entre os pesquisadores que se interessam pela questão da identidade, já não há mais quem, em sã consciência, acredite que as identidades se apresentam como prontas e acabadas. Pelo contrário, acredita-se, em larga escala, que as identidades estão, todas elas, em permanente estado de transformação, de ebulição. Elas estão sendo constantemente reconstruídas. Em qualquer momento dado, as identidades estão sendo adaptadas e adequadas às novas circunstâncias que vão surgindo. A única forma de definir uma identidade é em oposição a outras identidades em jogo. Ou seja, as identidades são definidas estruturalmente. Não se pode falar em identidade fora das relações estruturais que imperam em um momento dado.

Portanto, o indivíduo assume “[...] identidades diferentes em diferentes momen-tos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente” (HALL, 2011, p. 13). Infere-se, então, que a identidade “plenamente unificada, completa, segura e coe-rente é uma fantasia” (HALL, 2011, p. 13).

Podemos considerar, então, que a relação com o outro, constitutivamente dife-rente, é de suma importância à formação do indivíduo.

Bock et al. (1999) afirmam que o primeiro contato do indivíduo com o mundo ex-terior se dá por meio da família, conforme estudado na unidade 1. Portanto, é comum que nos identifiquemos com diferentes indivíduos, de diferentes núcleos sociais ao longo de nossa existência. Passamos, muitas vezes, a interiorizar o que para nós são características importantes de tais indivíduos. Tais referências, ao longo da vida, contri-buem para a formação da nossa identidade. Hall (2001, p. 39), em relação a essa ques-tão, diz: “A identidade surge não tanto da plenitude da identidade que já está dentro

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de nós como indivíduos, mas de uma falta de inteireza que é ‘preenchida’ a partir de nosso exterior, pelas formas através das quais nós imaginamos ser vistos por outros”. Para o autor (HALL, 2001, p. 11), “[...] o sujeito ainda tem um núcleo ou essência inte-rior que é o ‘eu real’, mas este é formado e modificado num diálogo contínuo com os mundos culturais ‘exteriores’ e as identidades que os mundos oferecem”.

É possível afirmar que a identidade é algo formado por meio de processos inconscientes, e não algo inato, ou seja, existente na consciência no momento do nascimento?

Leia parte do poema de João Cabral de Melo Neto que retrata a temática social da miséria do sertão nordestino.

Leitura complementar

– O meu nome é Severino,

como não tenho outro de pia.

Como há muitos Severinos,

que é santo de romaria,

deram então de me chamar

Severino de Maria

como há muitos Severinos

com mães chamadas Maria,

fiquei sendo o da Maria

do finado Zacarias.

Mais isso ainda diz pouco:

há muitos na freguesia,

por causa de um coronel

que se chamou Zacarias

e que foi o mais antigo

senhor desta sesmaria.

Como então dizer quem falo

ora a Vossas Senhorias?

Vejamos: é o Severino

da Maria do Zacarias,

lá da serra da Costela,

limites da Paraíba.

Mas isso ainda diz pouco:

se ao menos mais cinco havia

com nome de Severino

filhos de tantas Marias

Morte e vida severinaJoão Cabral de Melo Neto

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O processo de construção da identidade

Disponível em: <www.culturabrasil.org/joaocabraldemelonetoo.htm>.

mulheres de outros tantos,

já finados, Zacarias,

vivendo na mesma serra

magra e ossuda em que eu vivia.

Somos muitos Severinos

iguais em tudo na vida:

na mesma cabeça grande

que a custo é que se equilibra,

no mesmo ventre crescido

sobre as mesmas pernas finas

e iguais também porque o sangue,

que usamos tem pouca tinta.

E se somos Severinos

iguais em tudo na vida,

morremos de morte igual,

mesma morte severina:

que é a morte de que se morre

de velhice antes dos trinta,

de emboscada antes dos vinte

de fome um pouco por dia

(de fraqueza e de doença

é que a morte severina

ataca em qualquer idade,

e até gente não nascida).

Somos muitos Severinos

iguais em tudo e na sina:

a de abrandar estas pedras

suando-se muito em cima,

a de tentar despertar

terra sempre mais extinta,

a de querer arrancar

alguns roçado da cinza.

Mas, para que me conheçam

melhor Vossas Senhorias

e melhor possam seguir

a história de minha vida,

passo a ser o Severino

que em vossa presença emigra.

Nesse poema o retirante Severino tenta definir quem ele realmente é, mas por conta disso, traz também a sua realidade social.

Assista à versão do poema feita em forma de desenho, disponível em: <http://tves-cola.mec.gov.br/index.php?item_id=5944&option=com_zoo&view=item>.

Para saber mais sobre o pernambucano João Cabral de Melo Neto, acesse: <www.releituras.com/joaocabral_bio.asp>.

Page 24: Práticas Sociais e Diversidade

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Dicas de filmes

Escritores da Liberdade, Richard LaGravenese, 2007. O filme narra a história da professora G e seus alunos. No meio de tanta violência, desi-gualdade e desprestígio, a professora lança o olhar para as experiências daqueles jovens, motivando-os a ler e escrever sobre suas vidas, resul-tando em valores um tanto quanto esquecidos pela direção da escola.

Sem Identidade, de Jaume-Collet Serra, 2011. A história desenrola- -se com a volta do Dr. Martin Harris, o qual acorda depois de um acidente de carro em Berlim e descobre que a sua mulher subitamente já não o reconhece e outro homem assumiu a sua identidade.

Sociedade dos Poetas Mortos, de Peter Weir, 1989. Um ex-aluno se torna professor de Literatura em uma tradicional escola preparatória. Os seus métodos de incentivar os alunos a pensarem por si mesmo cria um choque com a ortodoxa direção do colégio.

O Sorriso de Monalisa, de Mike Newell, 2003. Julia Roberts atua como uma professora recém-graduada que consegue emprego em um conceituado colégio. Incomodada com o conservadorismo da sociedade e do próprio colégio, decide lutar contra as normas e acaba inspirando suas alunas a enfrentarem os desafios.

Dicas de livros

ACKERMAN, Larry. Código da Identidade. São Paulo: Rocco, 2006.

CIAMPA, Antônio da Costa. A Estória do Severino e a História da Severina. São Paulo: Brasiliense, 1987.

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O processo de construção da identidade

Síntese

A identidade acontece na interação entre o eu e a sociedade em que vivemos. O sujeito possui um núcleo que é o “eu real”, mas sofre modificações contínuas em relação ao mundo “exterior”. Somos formados e modificados num diálogo contínuo com diferentes mundos exteriores e com as identidades que tais mundos oferecem.

Assim, a identidade é algo que vai se formando ao longo do tempo. Ela está sempre em transformação e em movimento. Podemos dizer que assumimos múltiplas identidades em diferentes momentos. Então, dentro de nós há identidades contraditó-rias que nos conduzem para diferentes direções.

É interessante perceber que, ao longo da nossa existência, vamos nos construin-do e participando da construção do coletivo. A comunicação, nesse aspecto, é impres-cindível. É por meio dela que vamos construindo relacionamentos, construindo afetos e desafetos e vamos, além disso, aprendendo nesse processo interativo. Essa é uma condição do processo de construção da identidade.

Então, dizer que a identidade, como afirma Stuart Hall, “[...] plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia” de fato é uma fantasia, um devaneio. Se sentimos que somos plenos do nascimento à morte é porque construímos uma história, no mínimo cômoda, acerca de nós mesmos. E é bastante confortável pensar dessa forma, mas totalmente ilusória.

Referências

BOCK, Ana Mercês Bahia et al. Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 1999. Disponível em: <www.livrosgratis.net/download/363/psi-cologias-uma-introducao-ao-estudo-de-psicologia--odair-furtado.html>. Acesso em: 31 out. 2011.

HALL. Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade.Tradução de: SILVA, Tomaz Tadeu da; LOURO, Guaracira Lopes. 5. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

NETO, João Cabral de Melo. Morte e Vida Severina. Cultura Brasileira. Disponível em: <www.culturabrasil.org/joaocabraldemelonetoo.htm>. Acesso em: 31 out. 2011.

MEC. TV Escola. Morte e Vida Severina: audiovisual da obra-prima de João Cabral de Melo Neto. Disponível em: <http://tvescola.mec.gov.br/index.php?item_id=5944&option=com_zoo&view=item>. Acesso em: 31 out. 2011.

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RAJAGOPALAN, Kanavillil. Por uma Linguística Crítica: linguagem, identidade e a questão ética. São Paulo: Parábola editorial, 2003.

RELEITURAS. Resumo Biográfico e Bibliográfico de João Cabral de Melo Neto. Dis-ponível em: <www.releituras.com/joaocabral_bio.asp>. Acesso em: 31 out. 2011.

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A organização da sociedade: compreendendo a violência existente

IntroduçãoA sociedade contemporânea vivencia momentos preocupantes e inquietantes

sobre a questão da violência. Grande parte das pessoas sente-se insegura e define lugares que podem frequentar e outros que são considerados perigosos, sendo aconselhável não frequentar. Podemos ressaltar que a violência está onipresente no cotidiano contemporâneo.

A violência não é uma preocupação exclusivamente de nossa sociedade, mas um tema que circula na vida cotidiana de diversas outras sociedades, tanto nos países pobres como nos desenvolvidos.

Em relação a isso, abordaremos nesta unidade os seguintes assuntos:

a agressividade e a violência;

a violência na família;

a violência na escola;

a violência nas ruas.

Haverá também: reflexões, vídeo, sessões intituladas “Saiba mais”, dicas de filmes e livros para que você amplie seus conhecimentos e, assim, a questão em foco possa ser ampliada.

ObjetivosAo final desta unidade, espera-se que você seja capaz de:

entender o conceito de agressividade e violência abordados neste contexto;

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refletir sobre a violência do ponto de vista da realidade social;

compreender diferentes fatores relacionados à violência;

destacar os fatores e a importância da família na questão da violência;

analisar a violência no ambiente escolar;

refletir sobre a violência nas ruas e a insegurança que permeia a sociedade.

A agressividade e a violênciaA não violência é a mais alta qualidade de oração. A riqueza não pode consegui-la,

a cólera foge dela, o orgulho devora-a, a gula e a luxúria ofuscam-na, a mentira a esvazia,

toda a pressão não justificada a compromete.

Mahatma Gandhi

A psicanálise explica: o ser humano é agressivo por excelência e podemos avaliá- -lo pela forma como ele se manifesta diante das mais diversas situações (BOCK et al., 1999). A agressividade é constituída por impulso que pode voltar-se para fora: a heteroagressão – consumação de atos destrutivos dirigidos ao mundo exterior; ou para dentro do indivíduo: a autoagressão – agressão que tem por objeto o próprio agressor (BOCK et al., p. 330).

Esses mesmos autores ampliam as colocações acerca da agressividade dizendo:

A agressividade sempre está relacionada com as atividades de pensamento, imaginação ou de ação verbal e não verbal. Portanto, alguém muito “bonzinho” pode ter fantasias altamente destrutivas, ou sua agressividade pode manifestar-se pela ironia, pela omissão de ajuda, ou seja, a agressividade não se caracteriza exclusivamente pela humilhação, constrangimento ou destruição do outro, isto é, pela ação verbal ou física sobre o mundo (BOCK et al. 1999, p. 330).

É fato que o indivíduo aprende a não expressá-la de forma descontrolada no seio da família e, também, na escola. Vale ressaltar a importância do processo de sociali-zação na internalização de controle do indivíduo, conforme salientado na Unidade 1. Como já visto, em todos os grupos sociais existem mecanismos de controle ou punição dos comportamentos agressivos não valorizados pelo grupo.

Assim sendo, faz-se necessário que a sociedade crie condições favoráveis para ca-nalizar os impulsos destrutivos para a não manifestação da violência nas mais diversas esferas. É importante lembrar que a violência pode ocorrer nas mais diversas esferas do contexto social, como: no incentivo à competição escolar e no mercado de trabalho, no culto a beleza voltada ao público feminino. Pode-se dizer também que:“A manutenção da violência ocorre quando se conserva milhões de cidadãos em condições subuma-

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nas de existência, o que acaba por desencadear ou determinar a prática de delitos associados à sobrevivência (roubar para comer, a prostituição precoce de crianças e jovens)” (BOCK et al.,1999, p. 331).

Vale ressaltar que a temática da violência não se relaciona exclusivamente à prática de delitos e criminalidade. Pode-se enfatizar também as condições de vida pouco propícias que inúmeras vezes levam as pessoas à autodestruição (drogas, álcool e suicídio). Há de se considerar, também, a violência no interior da família, escola, trabalho, polícia, ruas etc.

Portanto, a palavra “violência” remete a uma ação do ser humano. No momento em que age, exerce-se a violência ou não. Não há uma posição intermediária. Entender a violência que vigora no seio de nossa sociedade é uma tarefa que nos coloca diante da própria essência do ser humano.

E você? Você já vivenciou alguma situação que poderia estar enquadrada como uma prática de violência?

A violência na famíliaA família exerce um papel fundamental na vida do indivíduo. Os pais são os

primeiros modelos de padrões de conduta em nossa cultura, fazendo com que as pessoas internalizem a forma de procedimento desse grupo social.

Bock et al. (1999, p. 334), referindo-se à violência no interior da família, fazem a seguinte colocação:

No interior da família, lugar mitificado em sua função de cuidado e proteção, existem muitas outras formas de violência além da física e sexual; ou seja, há o abandono, a negligência, a violência psicológica, isto é, condições que comprometem o desenvolvimento saudável da criança e do jovem.

A negação do afeto exerce um fator importante na questão da violência. A violência crescente dentro do ambiente familiar é algo que chama a atenção de autoridades e de pesquisadores. Tal fenômeno não está apenas circunscrito à pobreza, embora se destaque em termos estatísticos.

Dentro desse contexto, Carvalho et al. (2010, p. 31-32) ressaltam que existem outras formas de violência. São elas:

Violência física – ocorre quando alguém causa ou tenta causar dano por meio de força física, de algum tipo de arma ou instrumento que possa causar lesões internas, externas ou ambas.

Violência psicológica – inclui toda ação ou omissão que causa ou visa causar dano à autoestima, à identidade ou ao desenvolvimento da pessoa.

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Negligência – é a omissão de responsabilidade de um ou mais membros da família em relação a outro, sobretudo àqueles que precisam de ajuda por questões de idade ou alguma condição física, permanente ou temporária.

Violência sexual – é toda ação na qual uma pessoa, em situação de poder, obriga outra à realização de práticas sexuais, utilizando força física, influência psicológica ou uso de armas ou drogas.

A família é considerada um lugar de amparo e cuidados, mas, infelizmente existem muitos casos em que não é o que acontece na realidade. (BOCK, 1999, p. 334). É no ambiente familiar que muitas crianças e adolescentes sofrem experiências de violência: a negligência, os maus-tratos, a falta de atenção, a violência psicológica, a agressão física, o abuso sexual são apenas alguns exemplos. Vale ressaltar que a violência não é um fenômeno apenas dos dias atuais e que atinge todas as classes sociais.

É possível afirmar que o modelo de família vigente em nossa sociedade carac-teriza-se pela ausência de afeto, fundamental para o desenvolvimento saudável da criança e do jovem?

É possível inferir que a primeira violência para com a criança seria a negação do afeto, ingrediente essencial para sua sobrevivência psíquica?

Saiba mais

Declaração dos direitos da criançaNo dia 20 de novembro de 1959, representantes de centenas de países aprova-

ram a Declaração dos Direitos da Criança.

Nesta unidade, destacamos o artigo 6.º da declaração, no qual consta o direito a ter uma família e a importância dela para a criança:

Artigo 6.ºPara o desenvolvimento completo e harmonioso de sua personalidade, a criança

precisa de amor e compreensão. Criar-se-à, sempre que possível, aos cuidados e sob a responsabilidade dos pais e, em qualquer hipótese, num ambiente de afeto e de segu-rança moral e material, salvo circunstâncias excepcionais, a criança da tenra idade não será apartada da mãe. À sociedade e às autoridades públicas caberá a obrigação de A

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propiciar cuidados especiais às crianças sem família e àquelas que carecem de meios adequados de subsistência. É desejável a prestação de ajuda oficial e de outra natureza em prol da manutenção dos filhos de famílias numerosas.

Para ler a Declaração do Direito da Criança na íntegra, acesse o site: <www.redeandibrasil.org.br/eca/biblioteca/legislacao/declaracao-universal-dos-direitos-da-crianca/>.

Lei 8.069/90A Presidência da República dispõe a Lei 8.069 de 13 de Julho de 1990:

Capítulo III

Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária

Seção I

Disposições GeraisArt. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio

da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.

§1.º Toda criança ou adolescente que estiver inserido em programa de acolhi-mento familiar ou institucional terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada 6 (seis) meses, devendo a autoridade judiciária competente, com base em relatório elaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma funda-mentada pela possibilidade de reintegração familiar ou colocação em família substi-tuta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei. (Incluído pela Lei 12.010, de 2009) Vigência.

§2.º A permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento institucional não se prolongará por mais de 2 (dois) anos, salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamentada pela autoridade judiciária. (Incluído pela Lei 12.010, de 2009) Vigência.

§3.º A manutenção ou reintegração de criança ou adolescente à sua família terá preferência em relação a qualquer outra providência, caso em que será esta incluída em programas de orientação e auxílio, nos termos do parágrafo único do art. 23, dos incisos I e IV do caput do art. 101 e dos incisos I a IV do caput do art. 129 desta Lei. (Incluído pela Lei 12.010, de 2009) Vigência.

Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>.

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A violência na escolaA instituição escolar é um espaço para a socialização e a construção dos saberes.

Existe uma tensão entre o sistema escolar que vigora em nossa sociedade e as expecta-tivas dos discentes. Estes, muitas vezes, deparam-se, na escola, com regras de conduta adversas à realidade em que vivem.

Segundo Abramovay (2005, p. 29), há dois fatores fundamentais que contribuem para a singularidade da violência na escola.

Primeiramente, há que se observar como é determinado o papel do aluno na dinâmica escolar. A escola estabelece normas que visam organizar o seu funcionamento, mas que, na maioria das vezes, não conseguem responder aos seus objetivos e, além disso, são formuladas e implementadas de forma unilateral, sem se considerar a palavra do aluno, o mesmo pode-se dizer em relação às punições.

Um segundo ponto de conflito é a falta de diálogo dos adultos da escola, representados por professores, diretores e outros membros do corpo técnico pedagógico, com os jovens. Demonstra-se um desinteresse pela cultura, condições e vida dos jovens, o que vai além da sua identidade como aluno. É comum a escola rotulá-los como sujeitos-problema, ou seja, indivíduos com atitudes e comportamento estranhos à instituição, como se a escola não fosse corresponsável da forma de ser desses. A escola tende a considerar a juventude como um grupo homogêneo, socialmente vulnerável, desprotegido, sem oportunidades, desinteressado e apático. Desconsidera-se o que é ‘ser jovem’, inviabilizando a noção do sujeito, perdendo a dimensão do que é a identidade juvenil, a sua diversidade e as diversas desigualdades sociais.

Logo, é possível notarmos que a as atitudes de estudantes, docentes e membros da direção devem estar vinculadas ao diálogo que todas as situações demandam. Isso poderá ser atingido a partir de normas e dinâmicas que considerem todos os integrantes do ambiente escolar.

Reflexão

E você? Já parou para pensar no modelo de educação que vigora em nossa so-ciedade atual? Tal sistema prioriza as necessidades dos jovens de forma geral?

A instituição escolar tem como base dar continuidade ao processo de socialização, iniciado na família. Nesse sentido, Bock (1999, p. 335) assevera que:

[...] a violência manifesta-se de modo mais sutil na relação das crianças e dos jovens com os conteúdos a serem aprendidos, que podem não ter significado para sua vida; na relação com professores, que se caracteriza por práticas autoritárias e sem espaço para o diálogo, para a crítica; na relação com práticas disciplinares que buscam a sujeição do educando, a submissão, a docilidade, a obediência, o conformismo.

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Assim, pode-se dizer que a escola, muitas vezes, não se encontra em consonância com os valores reais da vida dos indivíduos. Para Abramovay (2005, p. 30) “[...] a convivência na escola pode ser marcada por agressividade e violências, muitas vezes, naturalizadas e banalizadas, comprometendo a qualidade do ensino-aprendizagem”.

Reflexão

É possível suscitar a questão de que a maior violência exercida pela escola atual é impedir que os alunos pensem e, portanto, se expressem, levando-os a verbalizarem apenas conteúdos ministrados durante as aulas? A “decoreba” prevalece no seio da escola atual?

Vale ressaltar a questão de crianças e jovens menos favorecidos que, muitas vezes, não conseguem atingir o repertório ministrado pela escola. Pode-se citar, como exemplo, os inúmeros jovens que trabalham nas ruas buscando meios para sobreviver e para levar o sustento para suas próprias casas. O saber desses jovens é negligenciado pela escola.

Bock et al. (1999, p. 335), em relação às crianças e jovens que não conseguem o desempenho escolar esperado, pronunciam-se dizendo:

Essas crianças e jovens, que acabam não conseguindo um desempenho escolar esperado, são percebidos como incapazes, são transferidos para “classes especiais” e, na quase totalidade dos casos, levados a “se expulsarem” da escola. Essa experiência de fracasso escolar é muito importante na construção de sua identidade. A “incapacidade” que lhes é atribuída passa a ser internalizada e eles se sentirem incapazes.

Bock et al. (1999, p. 335) destacam ainda estudos sobre livros didáticos que “[...] demonstram que os conteúdos veiculados estão impregnados de preconceitos ou de uma visão de mulher, de negro, que fomenta a formação de preconceitos”.

Há de se considerar, então, que o preconceito traz consequências infrutíferas à inte-ração entre os diversos integrantes que compõem um dado grupo social.

Saiba mais

Acesse o site a seguir para ler o artigo Menos violência, notas melhores, publi-cado na revista Nova escola. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/ges-tao-escolar/diretor/menos-violencia-notas-melhores-gestao-conflitos-articulacao-comunidade-508877.shtml>. Acesso em: 5 nov. 2011.

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A violência nas ruasA violência nas ruas é um problema de nosso contexto social. Ela apresenta-se

diante de nossos olhos a todo o momento e não há mais como negá-la. Todos, de uma forma generalizada, tememos a violência que nos afeta diretamente. A violência nas ruas é tema de livros, filmes e de notícias diárias dos jornais impressos, virtuais e tele-visivos. Muitos episódios da vida diária nos induzem a temermos uns aos outros e há, consequentemente, um afastamento entre os próprios indivíduos. Segundo Bock et al. (1999, p. 336), “[...] começamos a ter a cara do medo e a pôr para fora a nossa própria agressividade, de modo destrutivo, no intuito de nos proteger”. O outro é, então, “per-cebido como um agressor em potencial, um agente de violência”, o que nos leva “a um clima de insegurança que perpassa por toda a população.”

Saiba mais

Acesse o site do Ibope para saber mais a respeito da insegurança em relação à violência no país. Disponível em: <www.ibope.com.br/calandraWeb/servlet/CalandraRedirect?temp=5&proj=PortalIBOPE&pub=T&db=caldb&comp=Notícias&docid=173F3DBAD95294AA832573400072B8EB> . Acesso em: 5 nov. 2011.

A única revolução possível é dentro de nós(GANDHI, 2004.)

Não é possível libertar um povo, sem antes, livrar-se da escravidão de si mesmo.

Sem ela, qualquer outra será insignificante, efêmera e ilusória, quando não um retrocesso.

Cada pessoa tem sua caminhada própria.

Faça o melhor que puder.

Seja o melhor que puder.

O resultado virá na mesma proporção de seu esforço.

Compreenda que, se não veio, cumpre a você (a mim e a todos) modificar suas (nossas) técnicas, visões, verdades etc.

Nossa caminhada somente termina no túmulo ou até mesmo além.

Segue a essência de quem teve sucesso em vencer um império...

Reflexão

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Dicas de filmes

Crianças Invisíveis, de Mehdi Charef, Kátia Lund, John Woo, Emir Kusturica, Spike Lee, Jordan Scott, Ridley Scott, Stefano Veneruso e Jaume-Collet Serra, 2005. O filme retrata a visão de cada diretor sobre as crianças de seu país. São histórias que vão chocar, fazer sorrir e emocionar.

Carandiru, de Hector Babenco, 2003. O filme, que conta uma história baseada em fatos reais, retrata a violência, superlotação, instalações precárias, falta de assistência médica e jurídica na Casa de Detenção de São Paulo.

Dicas de livros

MORAIS, Regis de. O que É Violência Urbana. São Paulo: Brasiliense, 1981.

SILVA, Helena Oliveira da; SILVA, Jailson de Souza. Análise da Violência Contra a Criança e o Adolescente Segundo o Ciclo de Vida no Brasil – conceitos. São Paulo: Global, 2005.

Dicas de vídeos

PROGRAMA EDUCAR PARA PAZ. Violência. Redução da agressividade entre os alunos. Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=C6yvFGtBO60 >. Acesso em: 5 nov. 2011.

GLOBO. Violência na Escola. Disponível em: <http://video.globo.com/Videos/Player/Entretenimento/0,,GIM917637-7822-VIOLENCIA+NAS+ESCOLAS,00.html>. Acesso em: 5. nov. 2011.

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Síntese

O tema “violência” vem sendo pensado no contexto mundial. Esse é um assunto sempre visto com preocupação e que permeia todas as esferas da sociedade, não importando o sexo, nível socioeconômico, religioso ou mesmo cultural. A criminalidade e a insegurança têm atingido, de forma desordenada, os pequenos e grandes centros urbanos.

Tivemos a oportunidade de compreender a distinção da agressividade e da violên-cia, destacando-a dentro do ambiente familiar, nas ruas e na escola. A violência está, de tal forma, integrada no cotidiano social, que o homem não pode deixar de considerá- -la. Ela se faz presente das mais diferentes formas de manifestações humanas. Vale res-saltar que a violência não se restringe apenas à parte física, ou seja, ela pode manifes-tar-se por outras vias: por meio de gestos, pela verbalização, pela pressão psicológica e também pela negligência.

Estudos e pesquisas indicam que a crescente violência presente na nossa socie-dade vem sendo palco de grandes discussões por parte dos órgãos como a Unesco (Organização para a Educação, a Ciência e a Cultura das Nações Unidas e a ONU (Orga-nização das Nações Unidas), entre outros.

Dentro desse contexto, o crescimento no índice de violência ainda indica que os métodos utilizados para afastá-la das práticas sociais são ineficientes. Essa é, sem dúvida, uma questão de alto nível de complexidade que precisa ser discutida com a participação de todos os segmentos sociais.

Referências

ABRAMOVAY, Miriam (Coord.). Cotidiano das Escolas: entre violências. Brasília: Unesco, 2005. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0014/001452/145265por.pdf>. Acesso em: 5 nov. 2011.

BOCK, Ana Mercês Bahia et al. Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 1999. Disponível em: <www.livrosgratis.net/download/363/psicologias-uma-introducao-ao-estudo-de-psicologia--odair-furtado.html>. Acesso em: 5 nov. 2011.

CARVALHO, Cláudia Maciel. Violência infantojuvenil, uma triste herança. In: ALMEIDA, Maria da Graça Blaya (Org.). A Violência na Sociedade Contemporânea. Dados ele-trônicos. Porto Alegre: Edipucrs, 2010. Disponível em: <http://ebooks.pucrs.br/edipu-crs/violencia.pdf>. Acesso em: 5 nov. 2011.

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A organização da sociedade: com

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ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990 – Presidência da República. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>. Acesso em: 5 nov. 2011.

HAKIME, Raphael; AVANZI, Silvia. Menos Violência, Notas Melhores. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/diretor/menos-violencia-notas-melho-res-gestao-conflitos-articulacao-comunidade-508877.shtml>. Acesso em: 05 nov. 2011.

IBOPE – Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística. Inteligência Realiza Pesquisa sobre a Sensação de Insegurança em Relação à Violência no País. Disponível em: <www.ibope.com.br/calandraWeb/servlet/CalandraRedirect?temp=5&proj=PortalIBOPE&pub=T&db=caldb&comp=Notícias&docid=173F3DBAD95294AA832573400072B8EB>. Acesso em: 5 nov. 2011.

REDE ANDI BRASIL. Declaração Universal dos Direitos das Crianças. Disponível em: <www.redeandibrasil.org.br/eca/biblioteca/legislacao/declaracao-universal-dos-di-reitos-da-crianca/>. Acesso em: 5 nov. 2011.

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Discutindo a questão da inclusão social

IntroduçãoNesta unidade abordaremos uma temática de destaque mundial: a inclusão social.

Esperamos que o conteúdo possa lhe auxiliar a refletir sobre o tema.

O assunto destacará a importância e a necessidade de assegurar a todos o pleno acesso aos seus direitos. A igualdade social, partindo desse princípio, será fundamental para que todas as pessoas portadoras de necessidades especiais possam exercer seus respectivos papéis no contexto social.

O processo de inclusão acontece de forma gradual, por meio de avanços e regres-sos, uma vez que os seres humanos possuem natureza complexa e herdam formas de agir de seus antecessores. Ademais, eles têm preconceitos e diferentes maneiras de compreender o mundo.

Assim, os assuntos a serem abordados nesta unidade serão os seguintes:

conceito de inclusão;

inclusão e sociedade;

mudanças a partir do século XX – direitos;

o termo “deficiência”;

tipologias da deficiência.

Desejamos a todos vocês um ótimo aproveitamento.

ObjetivosAo final da unidade, espera-se que você seja capaz de:

compreender a definição de inclusão social;

refletir sobre a questão da concepção histórica e a sociedade atual;

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conhecer os direitos das pessoas portadoras de alguma deficiência;

identificar e compreender as categorias de deficiência existentes;

entender as tipologias de deficiência.

ConceitoVocê sabe qual é a definição de inclusão social?

A inclusão social tornou-se foco de discussões na sociedade vigente. O processo da construção de uma sociedade inclusiva implica em promover igualdade de oportu-nidades no contexto social a todos os cidadãos. Contudo, para termos uma visão sobre essa questão apresentaremos a definição do conceito de “inclusão”, segundo alguns autores:

Bartalotti (2006, p. 23) descreve que a inclusão é “[...] uma proposta de construção de cidadania; a sociedade inclusiva envolve todos os segmentos sociais, ao transformar um modo de ser, pensar e agir”, sendo“[...] um processo de mão dupla, tanto a pessoa com deficiência como a sociedade precisam se modificar”.

Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, inclusão significa “o estado daquilo ou de quem está incluso, inserido, compreendido dentro de algo, ou envol-vido, implicado em um grupo”. Já para Schwarz e Haber (2009, p. 181), “[...] a inclusão requer um movimento, uma ação e imprescinde que se saia do lugar-comum para rumar a um outro lugar, mais justo e democrático”.

Concluímos que todos os cidadãos têm os mesmos direitos e, dentro desses, possuem o direito à liberdade sem discriminação.

Inclusão e SociedadeA capacidade de ver coisas de um ponto de vista novo é fundamental para o processo criativo, e

essa capacidade repousa na vontade de questionar toda e qualquer premissa.

Marcel Proust

O processo de inclusão de pessoas em qualquer contexto é muito recente. A trajetória de exclusão mundial deixou marcas em diferentes sociedades. Tais marcas persistem de forma, muitas vezes, velada no contexto atual. Conforme pesquisa de Schwarz e Haber (2009, p. 19-20):

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[...] no auge da civilização grega, os bebês que nasciam com uma deficiência eram sacrificados. Platão, em A República, e Aristóteles, em A Política, recomendavam a eliminação das pessoas nascidas “disformes” nas lições de planejamento das cidades gregas. No entanto, Homero, o mais famoso poeta grego, autor de Ilíada e Odisseia, era cego, o que atesta o grande paradoxo que é julgar uma pessoa que tem uma deficiência como incapaz para o trabalho ou para a vida social e afetiva. Mesmo sem a eliminação pura e simples, a visão de exclusão e incapacidade persistiu ao longo do tempo. As pessoas com deficiência tinham direito à vida, porém ficavam à margem da sociedade, internadas em asilos ou outras instituições, encaradas principalmente como “objetos” de intervenções médicas ou caridade, em vez de serem tratadas como detentoras de direitos e deveres.

Esses fatos descritos anteriormente nos permitem compreender que, na Antigui-dade, as pessoas consideradas “diferentes” eram descartadas. Percebe-se, por meio de tais atos, uma sociedade preconceituosa.

Bartalotti (2006, p. 41-42), ao retratar a questão das pessoas com necessidades especiais, também menciona a trajetória de tal concepção no passado:

Nas concepções pré-científicas, predominantes na Antiguidade e na Idade Média, a compreensão sobre a deficiência está muito ligada ao sobrenatural. Vista como possessão demoníaca ou como castigo divino, essas pessoas eram sistematicamente eliminadas, pelo sacrifício de sua vida ou pelo abandono, que acabava também consistindo em uma sentença de morte. A deficiência, então, era algo que não pertencia ao âmbito do humano.

Para a autora (2006, p. 42), “[...] no final da Idade Média, com o fortalecimento do cristianismo, é difundida a ideia de que todos são filhos de Deus; essa concepção impede a eliminação pura e simples das pessoas com deficiência”. A mesma autora prossegue em suas colocações, dizendo:

É no Renascimento, com o florescimento das artes e da busca pelo conhecimento, que surge a preocupação com o indivíduo e com as explicações científicas para os males que o afligem – tem-se o início do período das chamadas concepções científicas sobre a deficiência; não era mais nos deuses que estava sua explicação, mas sim no corpo da pessoa... São elaborados os primeiros tratados que tentam localizar no corpo do homem a razão dos seus males – de possessão à doença, observa-se a mudança do lugar da deficiência.

A partir do século XVIII, e com maior ênfase no século XIX, assiste-se à evolução da medicina, dos conhecimentos específicos sobre o desenvolvimento do ser humano e sobre os males que podem provocar alterações nesse desenvolvimento. As pessoas com deficiência, vistas como doentes, passam a ter direito a tratamento, levando ao crescimento das técnicas, das intervenções e ao surgimento de instituições especializadas no tratamento dessa parcela da população.

Pode-se salientar que a partir do século XX houve um avanço significativo rela-cionado aos estudos de diversas áreas de conhecimento. A Psicologia, a Educação e a Sociologia contribuíram para tal avanço. Assim, a sociedade, por meio de pesquisas sobre as causas da deficiência, começa a discutir e avaliar tal conceito.

Contudo, Bartalotti (2006, p. 44) descreve que “[...] quando se fala em inclusão, no entanto, observamos que o maior entrave é, ainda, a força que tem a concepção de deficiência como doença, o que leva à busca da justificativa de atitudes de segregação,

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muitas vezes defendidas pela ideia de contágio”. Justificando o termo contágio, a autora remete a não como “um contágio físico, como se a deficiência “pegasse”, mas um contágio social”.

Mostraremos, a seguir, os direitos que cabem às pessoas com deficiência.

Mudanças a partir do século XX – DireitosA partir do século XX, surgiram as mudanças, por meio da Declaração Universal

dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela resolução 217 da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, no qual estabelece:

Art. 1.º Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.

Art. 2.º Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

Art. 3.º Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Art. 4.º Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.

Art. 5.º Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

Art. 6.º Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei.

Art. 7.º Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>. Acesso em: 6 nov. 2011.

Vale ressaltar a importância da legislação, mas é necessário também que todos sejam participativos na busca pela igualdade social de uma maneira responsável e consciente.

Schwarz e Haber (2009, p. 35) dizem que a Constituição brasileira é inclusiva. Para os autores,

[...] a Constituição Federal de 1988 tem como princípio fundamental a igualdade e, para garantir o cumprimento da norma, o texto de nossa Lei Maior reforçou esse princípio de igualdade com di-versas repetições ao longo de seu teor. A Constituição ainda assegurou como objetivo fundamen-tal da República Federativa do Brasil construir uma sociedade livre, justa e solidária e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. O que significa que todos os brasileiros são iguais em direitos e obrigações.

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Partindo deste princípio, em 7 de junho de 1999 houve a elaboração da Convenção Interamericana para a eliminação de todas as formas de discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência, considerado o primeiro documento internacional de direitos humanos do século XXI, onde declara que:

[...] as pessoas portadoras de deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que outras pessoas e que estes direitos, inclusive o direito de não ser submetidas à discriminação com base na deficiência, emanam da dignidade e da igualdade que são inerentes a todo ser humano.(CONVENÇÃO INTERAMERICANA, 1999)

Saiba mais

Saiba mais sobre a Convenção Interamericana para a eliminação de todas as formas de discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência acessando o site: <www.cidh.oas.org/Basicos/Portugues/o.Convencao.Personas.Portadoras.de.Deficiencia.htm>. Acesso em: 7. nov. 2011.

A Constituição Federal Brasileira e a Convenção Interamericana possuem iguais princípios conceituais. Ambas postulam que “[...] a deficiência em si não limita a pessoa, não é algo a ser curado, mas sim parte da diversidade humana” (SCHWARZ; HABER, 2009). O que diferencia os indivíduos é a influência do meio em que vivem.

Com base no exposto, diversas medidas garantem os direitos que têm por objetivo atenuar os problemas advindos de inúmeras deficiências, como os que se seguem: saúde, educação, transporte, isenções fiscais, financiamentos e acessibilidade.

Saiba mais

Saiba mais sobre a Lei Federal 10.098/2000 que garante a acessibilidade aos portadores de necessidades especiais acessando o site: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L10098.htm>. Acesso em: 7 nov. 2011.

Bartalotti (2006, p. 7), acerca da questão da inclusão, diz:

Para entendermos melhor esses mecanismos de organização social e, principalmente, trabalharmos pela real superação da desigualdade, faz-se necessária uma compreensão mais profunda sobre os processos que engendram as relações inclusão-exclusão.

A questão da inclusão envolve “[...] uma possibilidade de abertura de espaços so-ciais, uma garantia do direito de cada cidadão ter acesso aos recursos de sua comuni-dade” (BARTALOTTI, 2006, p. 12).

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Historicamente, os deficientes buscam a garantia do direito à participação na sociedade, por meio de mecanismos institucionalizados como: programas de reabilitação, instituições especializadas, classes especiais e locais de trabalho (BARTALOTTI, 2006).

Segundo a autora (2006, p. 16), “[...] a democratização nos espaços sociais, em crença, na diversidade como valor na sociedade para todos” contribui de forma favorá-vel. Bartalotti (2006, p. 16) diz ainda que “[...] incluir não é apenas colocar junto e, prin-cipalmente, não é negar a diferença, mas respeitá-la como constitutiva do humano”.

Assim, consolida-se a ideia de que incluir é algo que requer uma postura ética individual e coletiva.

O termo deficiênciaAs políticas públicas sociais estabelecem alguns métodos para a construção da

cidadania das pessoas com algum tipo de deficiência no intuito de tornarem-se sujeitos ativos em uma sociedade.

Falaremos, a seguir, sobre as diferentes categorias de deficiências.

Deficiência – é toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psi-cológica, fisiológica ou anatômica que gera incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano.

Deficiência permanente – diz respeito àquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos.

Incapacidade – é uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa com deficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, Decreto 3.298, de 1999).

Saiba mais

Saiba mais sobre o Decreto 3.298, de 20 de dezembro de 1999, que regulamen-ta a Lei 7.853, de 24 de outubro de 1989, e dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, acessando o site: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3298.htm>. Acesso em: 7 nov. 2011.

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Discutindo a questão da inclusão social

Tipologias de deficiênciaInúmeras pessoas diariamente lutam pela cidadania e, portanto, buscam condi-

ções de igualdade. A cidadania implica direitos e deveres.

Barchifontaine (apud BARTALOTTI, 2006, p. 33) apresenta os “[...] direitos do cida-dão como direitos sociais – a serem assegurados pelo Estado, tais como moradia, saúde, educação, lazer, trabalho etc.”. Assim sendo, um dos fatores fundamentais dentro dessa questão é a “liberdade de expressão, de pensamento, de escolha, de locomoção”.

Nós, seres humanos, construímos, ao longo do nosso processo de desenvolvi- mento, critérios morais e éticos de acordo com os padrões da nossa sociedade e, portanto, estamos em constante interação com o meio. Construímos padrões de comportamento próprios. Devemos reavaliar constantemente questões ligadas às diferenças com o intuito de construirmos uma sociedade inclusiva.

A seguir, para entendermos melhor os tipos de deficiências e nos inteirarmos de como cada uma delas é definida em seu grau de desenvolvimento e denominações específicas, destacamos:

Deficiência física – alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções.

Deficiência auditiva – perda parcial ou total das possibilidades auditivas sonoras, variando de graus e níveis na forma seguinte:

(a) de 25 a 40 decibéis (db) - surdez leve; (b) de 41 a 55 db - surdez moderada; (c) de 56 a 70 db - surdez acentuada; (d) de 71 a 90 db - surdez severa; (e) acima de 91 db - surdez profunda; e (f ) anacusia.

Deficiência visual – acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor olho, após a melhor correção, ou campo visual inferior a 20º (tabela de Snellen), ou ocorrência simultânea de ambas as situações.

Deficiência mental – funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: (a) comunicação; (b) cuidado pessoal; (c) habilidades sociais; (d) utilização da comunidade; (e) saúde e segurança; (f ) habilidades acadêmicas; g) lazer; e h) trabalho.

Deficiência múltipla – associação de duas ou mais deficiências (PLANALTO DO GOVERNO Lei 7.853 – Decreto 3.298, de 1999).

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Dentro desse contexto, faz-se importante a conscientização sobre o nosso papel dentro da sociedade inclusiva, onde o respeito à diversidade deve prevalecer.

Para que você amplie os seus conhecimentos é importante saber que o Censo realizou uma pesquisa no ano de 2000, onde revelou que 24,6 milhões de pessoas se declararam portadoras de alguma deficiência. Esse número corresponde a 14,5% da população brasileira. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é importante destacar que a proporção de pessoas portadoras de deficiência aumenta com a idade, sendo 4,3% nas crianças até 14 anos, para 54% do total das pessoas com idade superior a 65 anos.

Veja a tabela:

Tabela 1 – Proporção de pessoas de 10 anos ou mais de idade, portaddoras ou não de deficiência, ocupada na semana de referência, por sexo, segundo os grupos de idade – Brasil

Um dado interessante do IBGE (2000) é que, à medida em que a população está mais envelhecida, a proporção de deficientes aumenta, surgindo, daí, novas demandas e necessidades que atendam a determinados grupos.

Finalizaremos esta unidade com o seguinte pensamento:

“O universalismo que queremos hoje é aquele que tenha como ponto em comum a dignidade humana. A partir daí, surgem muitas diferenças que devem ser respeitadas. Temos direito de ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza”

Boaventura de Sousa Santos

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Discutindo a questão da inclusão social

Dicas de filmes

Nascido em 4 de Julho, de Oliver Stone, 2010. Ron Kovic (Tom Cruise) é um rapaz idealista e cheio de sonhos que deixa a namorada e a família para ir lutar no Vietnã. Na guerra, ele é ferido e fica paraplégico. Ao voltar para o seu país é confrontado com a realidade do preconceito aos defi-cientes físicos.

Janela da Alma, de João Jardim e Walter Carvalho, 2002. Dezenove pessoas com diferentes graus de deficiência visual narram como veem os outros e como percebem o mundo.

Meu Pé Esquerdo, de Jim Sheridan, 1989. Baseado em fatos reais, o filme narra a história do escritor e pintor irlandês Christy Brown, que guarda uma sequela da paralisia cerebral desde bebê e que, apesar das dificul-dades, conseguiu pintar e escrever usando, para isso, apenas o seu pé esquerdo.

O Escafandro e a Borboleta, de Julian Schnabel, 2004. Baseado em fatos reais, o filme conta a história de Jean-Dominique Bauby, 43 anos, editor da revista Elle e apaixonado pela vida. Subitamente ele sofre um derrame cerebral. Quando acorda, vinte dias depois do incidente, está lúcido mas descobre que está com um tipo raro de paralisia: a única parte do corpo que movimenta é o olho esquerdo. Bauby se recusa a aceitar seu destino. Com o tempo aprende a se comunicar: piscando as letras do alfabeto, forma palavras, frases e até parágrafos. Ele cria um mundo próprio no qual utiliza outra parte de seu corpo que não se paralisou: a mente.

Dica de entrevista

WERNECK, Cláudia. Inclusão Social – todos somos responsáveis. Disponível em: <http://portaldovoluntario.v2v.net/blogs/54354/posts/1411>. Acesso em: 7 nov. 2011.

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Síntese

Retratamos, nesta unidade, a oportunidade de aprender a partir do conceito de inclusão social, sob a óptica de dois autores.

A inclusão é palco de grandes discussões na busca pela igualdade de oportu- nidades e de uma vida digna. Portanto, temos que fazer da inclusão social uma realida-de, embora saibamos que há um longo caminho a ser percorrido.

O processo histórico nos mostra uma sociedade preconceituosa, no qual diferen- ciava claramente aqueles que eram considerados “diferentes” no meio social. A partir do século XX houve uma reformulação dentro dos estudos de diversas áreas do conhecimento e, consequentemente, iniciaram-se algumas mudanças que favorecem os excluídos da sociedade.

A legislação estabelece direitos às pessoas com deficiência proporcionando a igualdade entre todos os cidadãos.

Podemos dizer que a deficiência pode ser categorizada de três formas distintas. São elas: deficiência, deficiência permanente e incapacidade. Além de suas tipologias, destacam-se as deficiências físicas, auditivas, visuais, mentais e também as múltiplas, conforme o Decreto 3.298 de 1999.

Devemos observar o assunto não apenas sob o aspecto legal, mas principalmente como uma oportunidade de crescimento para todos nós. É oportuno salientar que para incluir precisamos aceitar as pessoas como elas, de fato, são. Acredito que esse seja o maior mandamento desta unidade.

Referências

ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Huma-nos. Resolução 217 A(III). Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>. Acesso em: 7 nov. 2011.

BARTALOTTI, Celina Camargo. Inclusão Social das Pessoas com Deficiência: utopia ou possibilidade. São Paulo: Paulus, 2006.

CONVENÇÃO INTERAMERICANA. Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. Disponível em: <www.cidh.oas.org/Basicos/Portugues/o.Convencao.Personas.Porta-doras.de.Deficiencia.htm>. Acesso em: 7 nov. 2011.

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Discutindo a questão da inclusão social

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRÁFICA E ESTATÍSTICA. Censo Demográfico 2000 – Pessoas Portadoras de Deficiência. Disponível em: <www.ibge.gov.br/home/presi-dencia/noticias/20122002censo.shtm>. Acesso em: 7 nov. 2011.

MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃO E CULTURA. Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - Decreto 3.298 de 1999. Disponível em: <portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/dec3298.pdf>. Acesso em: 7 nov. 2011.

NASCIMENTO, Angélica. Inclusão Social – Todos Somos Responsáveis. Disponível em: <http://portaldovoluntario.v2v.net/blogs/54354/posts/1411>. Acesso em: 07 nov. 2011.

PLANALTO DO GOVERNO. Normas Gerais e Critérios Básicos para a Promoção da Acessibilidade das Pessoas Portadoras de Deficiência - Lei 10.098 de 2000. Disponí-vel em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L10098.htm>. Acesso em: 7 nov. 2011.

______. Política Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência – Lei 7.853 – Decreto 3.298 de 1999. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/decre-to/d3298.htm>. Acesso em: 7 nov. 2011.

SCHWARZ, Andréa e HABER, Jacques. Cotas: como vencer os desafios da contratação de pessoas com deficiência. São Paulo: i.Social, 2009.

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Educação, diversidade, inclusão e seus desafios na educação

IntroduçãoNa unidade anterior estudamos a questão da inclusão em suas múltiplas vertentes.

Nesta unidade especificaremos a questão da inclusão voltada à educação. Essa questão está, indiscutivelmente, associada à ideia da construção de uma sociedade democrática na qual a diversidade deve ser respeitada.

No decorrer da unidade destacaremos pontos que merecem um olhar mais deta-lhado. Assim sendo, os assuntos abordados serão os seguintes:

a concepção de educação inclusiva.

a formação de educadores.

a instituição escolar.

as mudanças no ambiente escolar.

Esperamos que vocês tenham, nesta unidade, um excelente aproveitamento sobre a questão da educação inclusiva, tema relevante na nossa atualidade.

ObjetivosAo final desta unidade, espera-se que você seja capaz de:

entender os pressupostos que envolvem a educação especial;

compreender a importância da formação continuada dos educadores na atua- lidade;

identificar o papel da instituição escolar em relação à educação especial;

compreender como operar as transformações dentro do ambiente escolar.

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Concepção de educação especialA perspectiva de educação para todos constitui um grande desafio para o sistema

educacional. A questão da diversidade na educação é um desafio, tanto no que diz respeito à dificuldade de aceitação de crianças com deficiências quanto à dificuldade de aprendizagem apresentada por muitos alunos.

A Educação Especial no nosso país segue a Lei de Diretrizes e Bases da Educacional Nacional (LDBEN), de 1996 - Capítulo V - da Educação Especial - artigo 58 e parágrafos 1º, 2º e 3º que descrevem:

Entende-se por Educação Especial, para os efeitos desta lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais.

§1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender as peculiaridades da clientela de educação especial.

§2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns do ensino regular.

§3º A oferta da educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil. (PLANALTO, Lei 9.394/96)

Segundo Paulon (2005, p. 19), “[...] a educação especial é definida, a partir da LDBEN, como uma modalidade de educação escolar que permeia todas as etapas e níveis de ensino”. Infere-se a partir de suas palavras que todos, em “condições espe-ciais”, teriam acesso à educação. A autora (PAULON, 2005, p. 19) prossegue dizendo que “[...] se faz necessário propor alternativas inclusivas para a educação e não apenas para a escola”. Paulon conclui que a “[...] escola integra o sistema educacional (conselhos, serviços de apoio e outros), que se efetiva promotora de relações de ensino e apren-dizagem, através de diferentes metodologias, todas elas alicerçadas nas diretrizes de ensino nacionais.” (2005, p. 19)

Assim, para o atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais, faz-se necessário uma reestruturação do formato do ensino, no sentindo de otimizar novas metodologias que atendam à comunidade escolar.

Podemos observar dentro desse contexto o artigo 59 da LDBEN, que diz:

Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais:

I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades;

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Educação, diversidade, inclusão e seus desafios na educação

II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do Ensino Fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados;

III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns;

IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora;

V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular. (PLANALTO, Lei 9.394/96)

A Educação Especial, no contexto atual, é vista como uma modalidade de educação escolar a serviço da formação dos alunos que possuem algum tipo de deficiência. A educação pode ser vista como um universo regido por múltiplas diferenças. Tal diversidade é uma condição de desafio às expectativas de democratização da educação. A escola, com o desígnio de contemplar as demandas oriundas da sociedade, não deve desconsiderar tais necessidades.

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Formação de educadoresO educador exerce um papel fundamental na construção do conhecimento dos

alunos, portanto, deve permanecer em constante aprendizado para que adquira co-nhecimentos específicos no intuito de buscar soluções para os desafios no ambiente escolar.

Baseando-se nesse princípio segue o gráfico com informações do MEC/SEEP (2006):

Distribuições dos professores com curso, de no mínimo 40h, para atender alunos com necessidades educacionais especiais em 2006.

Prieto (2006, p. 57), ao referir-se sobre a importância da formação continuada do professor, diz:

A formação continuada do professor deve ser um compromisso dos sistemas de ensino comprome-tidos com a qualidade do ensino que, nessa perspectiva, devem assegurar que sejam aptos a ela-borar e a implantar novas propostas e práticas de ensino para responder às características de seus alunos, incluindo aquelas evidenciadas pelos alunos com necessidades educacionais especiais.

Dessa maneira, os educadores devem ser capazes de “[...] analisar os conhecimen-tos atuais dos alunos, as diferentes necessidades demandadas nos seus processos de aprendizagem”, assim como “[...] elaborar atividades, criar ou adaptar matérias, além de prever formas de avaliar os alunos para que as informações sirvam para retroalimentar seu planejamento e aprimorar o atendimento dos alunos” (PRIETO, 2006).

A autora salienta ainda que “[...] há muitos professores dos sistemas de ensino com pouca familiaridade teórica e prática sobre o assunto”. Percebe-se que muitos

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Educação, diversidade, inclusão e seus desafios na educação

docentes, ao completarem seus estudos, “[...] não tiveram acesso a esses conhecimen-tos. A autora informa ainda que “[...] o conhecimento dos domínios teóricos e práticos dos professores é essencial para subsidiar a formulação de políticas para sua continua-da formação pelos sistemas de ensino” (2006, p. 58).

Nessa mesma linha de raciocínio, Paulon (2005, p. 21) relata a importância da formação do professor:

A formação do professor deve ser um processo contínuo, que perpassa sua prática com os alunos, a partir do trabalho transdisciplinar com uma equipe permanente de apoio. É fundamental considerar e valorizar o saber de todos os profissionais da educação no processo de inclusão. Não se trata apenas de incluir um aluno, mas de repensar os contornos da escola e a que tipo de educação esses profissionais têm se dedicado. Trata-se de desencadear um processo coletivo que busque compreender os motivos pelos quais muitas crianças e adolescentes também não conseguem encontrar um “lugar” na escola.

Podemos destacar que o educador deve buscar meios de aprendizagem que possibilitem a esses alunos conhecimento e aprendizagem que atendam às suas necessidades e expectativas.

Sobre a questão da concretização das práticas utilizadas pelos educadores, Pietro (2006, p. 59) ressalta que “[...] não há como mudar práticas de professores sem que os mesmos tenham consciência de suas razões e benefícios, tanto para os alunos, para a escola e para o sistema de ensino quanto para seu desenvolvimento profissional”.

É indiscutível a importância do educador no que diz respeito à atuação, coopera-ção e conhecimento que dispõem, para poder corresponder às necessidades educa- cionais de todos os alunos, garantindo, assim, a sua permanência no sistema de ensino.

As competências previstas para os educadores atuarem em suas salas partem, segundo Pietro (2006, p. 60), do seguinte princípio:

[...] considerar as diferenças individuais dos alunos e suas implicações pedagógicas como condição indispensável a elaboração do planejamento e para a implantação de propostas de ensino e de avaliação da aprendizagem, condizentes e responsivas às suas características.

Salienta-se, novamente, a importância da formação do educador para atuar de forma competente no ambiente escolar. Assim, “[...] o seu conhecimento deve ultrapas-sar a aceitação de que a classe comum é, para os alunos com necessidades educacio-nais especiais, um mero espaço de socialização” (PIETRO, 2006).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de acordo com a resolução CNE/CEB n.º 2 de 11 de setembro de 2001, informa as qualificações do educador no espaço escolar ao referir-se à Educação Especial:

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Art. 18. Cabe aos sistemas de ensino estabelecer normas para o funcionamento de suas escolas, a fim de que essas tenham as suficientes condições para elaborar seu projeto pedagógico e possam contar com professores capacitados e especializados, conforme previsto no artigo 59 da LDBEN e com base nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Docentes da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, em nível médio, na modalidade Normal, e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura de graduação plena;

§1º São considerados professores capacitados para atuar em classes comuns com alunos que apresentam necessidades educacionais especiais aqueles que comprovem que, em sua formação, de nível médio ou superior, foram incluídos conteúdos sobre Educação Especial adequados ao desenvolvimento de competências e valores para:

I - perceber as necessidades educacionais especiais dos alunos e valorizar a educação inclusiva;

II - flexibilizar a ação pedagógica nas diferentes áreas de conhecimento de modo adequado às necessidades especiais de aprendizagem;

III - avaliar continuamente a eficácia do processo educativo para o atendimento de necessidades educacionais especiais;

IV - atuar em equipe, inclusive com professores especializados em educação especial. (RAMA, 2004)

Com base nas legislações, no que se refere ao sistema de ensino e capacitação de educadores, faz-se necessário que os projetos pedagógicos realmente se efetivem dentro desses parâmetros e que os educadores compreendam a importância da sua intervenção pedagógica dentro do ambiente educacional.

Saiba mais

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Educação, diversidade, inclusão e seus desafios na educação

A instituição escolarUma escola inclusiva deve envolver a todos no que diz respeito ao acolhimento

dos alunos e na elaboração de formas diferentes de ensinar, na qual não haja seleção ou discriminação de conteúdos para a construção do conhecimento.

Por meio da educação as pessoas vão aprendendo a lidar com as diferenças. Os alunos com deficiência vêm mostrando, ao longo do tempo, de forma competente, o seu valor, e a sociedade, da mesma forma, vem percebendo a importância do diferente para a sua formação. A educação exerce papel fundamental no que tange à garantia de direitos iguais, seja para alunos ditos “normais”, seja para alunos com deficiências diversas, como: física, auditiva, visual, mental e múltipla, conforme vimos na unidade anterior. Logo, as oportunidades devem ser para todos.

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De acordo com Censo Escolar realizado em 2006, podemos observar por meio do gráfico a seguir as matrículas por tipo de necessidades educacionais especiais em escolas regulares e especiais.

A legislação contribui significativamente para amparar as pessoas com deficiên-cias exercendo os direitos legais, por meio de constituições, convenções e tratados internacionais, conforme estudamos na unidade anterior.

Paulon (2005, p. 25-26), ao referir-se às instituições escolares, ressalta:

As escolas, de modo geral, têm conhecimento da existência das leis acerca da inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais no ambiente escolar e da obrigatoriedade da garantia de vaga para estas. As equipes diretivas respeitam e garantem a entrada desses alunos, mostrando-se favoráveis à política de inclusão, mas apontam alguns entraves pelo fato de não haver a sustentação necessária, como por exemplo, a ausência de definições mais estruturais acerca da educação especial e dos suportes necessários a sua implementação.

É comum ouvirmos nas escolas que alunos com necessidades educacionais es-peciais são chamados como “os alunos da inclusão”, o que nos faz pensar e questionar a maneira como esses alunos são vistos pelos demais. Outro fator a considerar são os critérios utilizados para o encaminhamento deles.

É senso comum nas escolas que todo “aluno com condições de aprendizagem formal” deve ser encaminhado para escola de ensino regular. No caso, os educadores consideram as escolas cicladas como as mais preparadas para receber esses alunos, já que o sistema por ciclos de formação possibilita o convívio com as diferenças e com colegas de sua idade. No entanto, ressaltam que algumas crianças e adolescentes não possuem condições de frequentar a escola regular comum e, em alguns casos, nem a escola especial. (PAULON, 2005, p. 26)

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Educação, diversidade, inclusão e seus desafios na educação

Paulon (2005) ressalta que ainda existe resistência por parte de alguns docentes e, também, de alunos no que diz respeito à inclusão. Este pensamento, muitas vezes, é escondido. Sabemos, no entanto, que embora haja uma legislação ditando regras de conduta, a mudança é gradual.

As mudanças no ambiente escolarSabemos, conforme já discutido, que a transformação é um processo lento,

gradual e demanda esforço. Mantoan (2007, p. 45), em relação a essa questão, diz:

A transformação da escola não é, portanto, uma mera exigência da inclusão escolar de pessoas com deficiência e/ou dificuldades de aprendizado. Assim sendo, ela deve ser encarada como um compromisso inadiável das escolas, que terá a inclusão como consequência.

A maioria das escolas ainda está longe de se tornar inclusiva. O que existe, em geral, são escolas que desenvolvem projetos de inclusão parcial, os quais não estão associados a mudanças de base nestas instituições e continuam a atender aos alunos com deficiência em espaços escolares semi ou totalmente segregados (classes especiais, escolas especiais).

Assim, pode-se dizer que a transformação dentro do ambiente escolar torna-se um trabalho mútuo, onde a participação de todos, principalmente de educadores, coordenadores, supervisores, gestores, inspetores, secretários, faz toda a diferença.

Mantoan (2007, p. 46) elenca alguns aspectos necessários para que a transforma-ção se efetive. São eles:

colocar a aprendizagem como eixo das escolas, porque escola foi feita para fazer com que todos aprendam;

assegurar tempo e condições para que todos possam aprender de acordo com o perfil de cada um e reprovar a repetência;

garantir o Atendimento Educacional Especializado, preferencialmente na própria escola comum da rede regular de ensino;

abrir espaço para que a cooperação, o diálogo, a solidariedade e o espírito crítico sejam exercitados nas escolas por professores, administradores, funcionários e alunos, pois são habilidades mínimas para o exercício da verdadeira cidadania;

estimular, formando continuamente e valorizando o professor, que é o responsável pela tarefa fundamental da escola – a aprendizagem dos alunos.”

Os educadores devem, na medida de suas possibilidades, oferecer o melhor que podem. No entanto, sabemos que muitas escolas não possuem condições físicas para minimizar as dificuldades dos alunos deficientes. Muitas escolas não possuem sequer ferramentas, tecnologias avançadas para atender a determinado público e banir barreiras no processo de aprendizagem.

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Reflexão

“A educação é sempre uma aventura coletiva de partilha: de afetos e sensibi-lidades, de conhecimentos e saberes, de expectativas e experiências, de atitudes e valores, de sentidos de vida.”

Rubem Alves

Dicas de filmes

Filhos do Silêncio, de Randa Haines, 1986. A comovente história narra a relação entre um professor e sua aluna surda, que cada vez mais se retrai em seu mundo particular, o que ele tenta impedir ajudando-a a se apro-ximar daqueles que a cercam. O professor então apaixona-se por ela. Sarah tem o sonho de tornar-se independente e, mesmo sendo surda, acredita no seu potencial e busca o seu espaço no mundo.

Uma Mente Brilhante, de Ron Howard, 2001. John Nash é um matemático prolífico e de pensamento não convencional, que consegue sucesso em várias áreas da matemática e uma carreira acadêmica respeitável. Após resolver, na década de 1950, um problema relacionado à teoria dos jogos, Nash se casa com Alícia. Diagnosticado como esquizofrênico, e após várias internações, ele precisa usar de toda a sua racionalidade para distinguir o real do imaginário e voltar a ter uma vida normal.

Vermelho como o Céu, de Cristiano Bortone, 2006. Saga de um garoto deficiente visual durante os anos 70. Ele luta contra tudo e todos para alcançar seus sonhos e sua liberdade. Mirco é um jovem de dez anos apaixonado por cinema, que perde a visão após um acidente. Uma vez que a escola pública não o aceitou como uma criança normal, é enviado para um instituto de deficientes visuais em Gênova. Baseado na história real de Mirco Mencacci, um renomado editor de som da indústria cine-matográfica italiana.

Dicas de vídeos

Nesta unidade, cada um de vocês assistirá ao vídeo que melhor lhe interessar. Há diversos episódios. Assistam a todos, se desejarem. Tenho certeza que eles contribuirão para com a sua formação profissional. Ed

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Educação, diversidade, inclusão e seus desafios na educação

MEC – Ministério da Educação. TV Escola. Disponível em: <http://tvescola.mec.gov.br/index.php?Itemid=98&option=com_zoo&view=category&category_id=0&alpha_char=t&page=6>.

Síntese

A Educação Especial tem sido foco de constantes discussões. As medidas legais sobre a inclusão garantem uma proteção às pessoas com ou sem deficiências. A legis-lação é para todos.

É importante destacarmos que todas as iniciativas direcionadas ao acesso das pessoas com deficiências às escolas regulares de ensino serão sempre muito impor-tantes por proporcionarem condições de igualdade de oportunidades.

Durante nossos estudos, notamos a importância de uma formação continuada para os educadores no intuito de que possam atender às necessidades de todos os alunos, independente do tipo de deficiência e garantindo, assim, a permanência no sistema de ensino regular. A evasão deve ser banida das estatísticas.

As instituições, por sua vez, devem estar voltadas para uma nova ética escolar, ou seja, aquela que valoriza as diferenças individuais dos alunos. O ensino necessita de uma reestruturação para que haja promoção efetiva do direito de todos os alunos à educação. É importante salientar que esse processo exige a participação e o compromisso de todos aqueles que compõem o sistema de ensino. Portanto, esperamos que vocês reflitam sobre as questões aqui tratadas no intuito de contribuir para com a construção de uma sociedade menos seletiva e mais inclusiva, rompendo mitos e preconceitos que estão arraigados em nós.

Referêncas

MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Educação Inclusiva – orientações pedagógicas. In: FAVERO, Eugênia Augusta Gonzaga (Org.). Aspectos Legais e Orientação Pedagógica. São Paulo: MEC/SEESP, 2007. Disponível em: <http://www.slideshare.net/guest5fedaea/deficiencia-aee>. Acesso em 12 nov. 2011.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Evolução da Educação Especial no Brasil – 1998 a 2006. MEC/INEP – Censo Escolar. Disponível em: <portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/brasil.pdf>. Acesso em 12 nov. 2011.

______. Toda Criança É Única. Episódios 1,2,3,4,5 e 6. Disponível em: <http://tvesco-la.mec.gov.br/index.php?Itemid=98&option=com_zoo&view=category&category_id=0&alpha_char=t&page=6>. Acesso em 12 nov. 2011.

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PAULON, S. M.; FREITAS, L. B. de L.; PINHO, G. S. Documento Subsidiário à Política de Inclusão. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2005. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/docsubsidiariopolitica-deinclusao.pdf>. Acesso em 12 nov. 2011.

PIETRO, Rosângela Gavioli. Atendimento escolar de alunos com necessidades edu-cacionais especiais: um olhar sobre as políticas públicas de educação no Brasil. In: ARANTES, Valéria Amorim (Org.). Inclusão Escolar: pontos e contrapontos. São Paulo: Summus, 2006.

PLANALTO. Lei nº 9.394/96. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em 12 nov. 2011.

RAMA, Leslie Maria José da Silva (compilação e organização). Secretaria da Educação. Coordenaria de Estudos e Normas Pedagógicas. Diretrizes e Bases da Educação Nacional: legislação e normas básicas para sua implementação. 3 ed. São Paulo: SE/CENP, 2004. Disponível em: <www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ldb_parte01.pdf>. Acesso em 12 nov. 2011.

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Diversidade sociocultural

IntroduçãoNesta unidade serão abordados alguns assuntos que circulam em nossa sociedade.

Tais assuntos dizem respeito a aspectos relacionados com a cultura e que contribuirão para que possamos ampliar a nossa visão diante da diversidade existente.

Destacaremos alguns pontos importantes que serão abordados a seguir:

cultura.

diversidade.

o “diferente” sob a óptica dos Parâmetros Curriculares Nacionais.

Esperamos que ao final desta unidade vocês tenham aproveitado para aprimorar os seus conhecimentos e refletir sobre as questões apresentadas.

ObjetivosAo final desta unidade, espera-se que você seja capaz de:

compreender o conceito de “cultura”;

entender a definição de “diversidade cultural” existente;

compreender a importância da “diferença” segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN).

Cultura“O homem enche de cultura os espaços geográficos e históricos. Cultura é tudo

o que é criado pelo homem. [...] A cultura consiste em recriar e não repetir. O homem pode fazê-lo porque tem uma consciência capaz de captar o mundo e transformá-lo...” (FREIRE).

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A cultura é inerente a todas as sociedades. Ela se faz presente de forma abrangente no que diz respeito a cada grupo de diferentes origens. Pode-se dizer que a cultura é transmitida de uma geração a outra em múltiplas formas como na forma como sentimos, agimos e pensamos o mundo. (SANTOS, 2006)

Ainda para o autor (2006, p. 45), cultura “[...] é uma construção histórica, seja como concepção, seja como dimensão do processo social. Ou seja, a cultura não é “algo na-tural”, não é uma decorrência de leis físicas ou biológicas. Ao contrário, a cultura é um produto coletivo da vida humana.”

É fato que os indivíduos, com o desenvolvimento e transformações contemporâ-neas, vão se adequando às mudanças do mundo.

Saiba mais

Você já ouvir falar no Plano Nacional de Cultura?

“O Plano Nacional de Cultura (PNC) – Lei 12.343, de 2 de dezembro de 2010, tem como objetivo o planejamento e a implementação de políticas públicas de longo prazo voltadas à proteção e promoção da diversidade cultural brasileira, por meio de práticas, serviços e bens artísticos e culturais determinantes para o exercício da cidadania.

Para ampliar os seus conhecimentos sobre o tema apresentado é importante que acesse o site a seguir para obter informações na íntegra sobre essa política pública.”

(Disponível em: <www.cultura.gov.br/site/wp-content/

uploads/2011/05/Lei12.343-PNC-Publica1.pdf>.

DiversidadeSabemos que o tema “diversidade” sociocultural é importante, sobretudo em um

país territorialmente extenso como o Brasil. A diversidade, neste texto, será vista como algo que contribua para a ampliação do nosso olhar sobre o outro.

Dentro dessa temática, Gomes (2003, p. 70-71) ressalta que:

[...] o reconhecimento dos diversos recortes dentro da ampla temática da diversidade cultural (negros, índios, mulheres, portadores de necessidades especiais, homossexuais, entre outros) coloca-nos frente a frente com a luta desses e outros grupos em prol do respeito à diferença. Coloca-nos, também, diante do desafio de implementar políticas públicas em que a história e a diferença de cada grupo social e cultural sejam respeitadas dentro das suas especificidades sem perder o rumo do diálogo, da troca de experiências e da garantia dos direitos sociais. A luta pelo direito e pelo reconhecimento das diferenças não pode se dar de forma separada e isolada e nem resultar em práticas culturais, políticas e pedagógicas solitárias e excludentes.D

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Diversidade sociocultural

Entende-se que a participação de todos é fator primordial na conquista pela acei-tação da diversidade. Há uma multiplicidade de identidades construídas ao longo do tempo e é notório que muitos grupos estejam, inúmeras vezes, reivindicando direitos que os igualem socialmente.

A diversidade cultural está intimamente ligada às características de cada grupo social. É de suma importância que haja a construção do diálogo no que diz respeito à garantia do direito aos cidadãos de uma sociedade. Dessa forma, “[...] não podemos esquecer de uma instituição muito importante em nossa sociedade: a escola” (GOMES, 2003, p. 71).

A instituição escolar é um ambiente adequado para preparar seus alunos para exercerem a cidadania. É, portanto, desejável que todas as escolas elaborem ou reformulem suas propostas pedagógicas para que haja harmonia diante da diversidade existente nesse contexto. Desse modo, a escola deverá trabalhar a superação de preconceitos sedimentados e buscar a reflexão sobre novas formas de agir. Diante de uma proposta educativa é que será possível observar resultados satisfatórios diante da percepção da realidade.

Mas, afinal o que vem a ser a diversidade?

Tendo como base a Convenção sobre a proteção e promoção da Diversidade das Expressões Culturais define:

Diversidade cultural refere-se à multiplicidade de formas pelas quais as culturas dos grupos e so-ciedades encontram sua expressão. Tais expressões são transmitidas entre e dentro dos grupos e sociedades. A diversidade cultural se manifesta não apenas nas variadas formas pelas quais se ex-pressa, se enriquece e se transmite o patrimônio cultural da humanidade mediante a variedade das expressões culturais, mas também através dos diversos modos de criação, produção, difusão, distribuição e fruição das expressões culturais, quaisquer que sejam os meios e tecnologias empre-gados. (UNESCO, 2007)

A partir do momento em que ampliamos o nosso olhar sobre a questão das dife-renças é que poderemos compreendê-la. Segundo Gomes (2003, p. 71-72), podemos compreender as diferenças de duas formas:

1. as diferenças são construídas culturalmente, tornando-se então empiricamente observáveis;

2. as diferenças também são construídas ao longo do processo histórico, nas relações sociais e nas relações de poder. Muitas vezes, os grupos humanos tornam o outro diferente para fazê-lo inimigo, para dominá-lo.

O fator primordial dentro desse contexto é “[...] pensar a relação entre o eu e o outro”, onde no momento em que “consideramos o outro, o diferente, não deixamos de focar a atenção sobre o nosso grupo, a nossa história, o nosso povo” (GOMES, 2003).

Vale ressaltar que os seres humanos fazem comparações e consideram um indivíduo diferente ou não segundo a sua própria percepção do mundo. Logo, o simples fato de pertencermos a determinado grupo social já faz com que selecionemos e julguemos algo como sendo certo ou errado, bom ou ruim.

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Saiba mais

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), diante da diversidade cultural existente em nosso país, por meio da De-claração Universal sobre a Diversidade Cultural, reafirma o compromisso diante da liberdade e direito dos seres humanos. Para uma análise mais detalhada, acesse: <http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001271/127160por.pdf>.

O “diferente” sob a óptica dos Parâmetros Curriculares Nacionais

O Ministério da Educação e Cultura (MEC) tem como objetivo, por meio dos Parâmetros Curriculares Nacionais, ditar princípios que contribuam com os alunos, de forma que consigam enfrentar os problemas do mundo em que vivem. Sendo assim, eles serão sujeitos participativos e não passivos do contexto em que vivem.

Diante desse propósito, a educação escolar deve trabalhar a diversidade cultural existente no ambiente escolar como algo que propicie a melhoria da qualidade de ensino e, como consequência, do aprendizado.

O professor, de acordo com os PCN, exerce um papel fundamental. É da incum-bência do professor analisar a forma adequada para que ocorra a aprendizagem. É, também, de sua incumbência proceder à avaliação, considerando os múltiplos fatores sociais e culturais que envolvem uma sala de aula.

Nessa mesma linha de raciocínio, Horikawa (2004, p. 123) ressalta que:

[...] o professor, na sua ação pedagógica, ativa seus recursos intelectuais para, diante de uma situação problemática, diagnosticá-la, escolher estratégias de intervenção e prever o curso futuro dos acontecimentos. A questão que se coloca é que o professor constrói e reconstrói esse saber num processo empírico, para atender às necessidades práticas imediatas, sem uma investigação mais metódica e uma consequente sistematização desse saber.

É fato que a reflexão e análise realizada pelo educador contribuirá de forma significativa para que a sua prática pedagógica se efetive. Sendo assim, conquista-se duplamente o desenvolvimento da aprendizagem e como consequência atende aos objetivos estabelecidos pelos PCN.

Os PCN (1997, p. 15) destacam a multiplicidade cultural: “[...] enfatizando as diver-sas heranças culturais que convivem na população brasileira, oferecendo informações

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que contribuam para a formação de novas mentalidades, voltadas para a superação de todas as formas de discriminação e exclusão.”

Assim, colocamos na íntegra os preceitos fundadores contidos nos PCN (1997, p. 43). São eles:

conhecer a diversidade do patrimônio etnocultural brasileiro, tendo atitude de respeito para com pessoas e grupos que a compõem, reconhecendo a diversidade cultural como um direito dos povos e dos indivíduos e elemento de fortalecimento da democracia;

valorizar as diversas culturas presentes na constituição do Brasil como nação, reconhecendo sua contribuição no processo de constituição da identidade brasileira;

reconhecer as qualidades da própria cultura, valorando-as criticamente, enri-quecendo a vivência de cidadania;

desenvolver uma atitude de empatia e solidariedade para com aqueles que sofrem discriminação;

repudiar toda discriminação baseada em diferenças de raça/etnia, classe social, crença religiosa, sexo e outras características individuais ou sociais;

exigir respeito para si, denunciando qualquer atitude de discriminação que sofra, ou qualquer violação dos direitos de criança e cidadão;

valorizar o convívio pacífico e criativo dos diferentes componentes da diversi-dade cultural;

compreender a desigualdade social como um problema de todos e como uma realidade passível de mudanças.

Sabemos que ao vivermos estamos ensinando e aprendendo concomitantemente com as situações do cotidiano. No entanto, as mudanças serão processadas ao longo da existência. O combate às diferenças é algo contínuo e gradativo. Porém, temos que nos engajar para que a conquista se efetive.

Reflexão

[...] a cultura deve ser considerada como o conjunto dos traços distintivos espirituais e materiais, intelectuais e afetivos que caracterizam uma sociedade ou um grupo social e que abrange, além das artes e das letras, os modos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas de valores, as tradições e as crenças. (UNESCO, 2002)

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Dica de filme

Entre os Muros da Escola, de Laurent Cantet, 2008. O filme nos convida a refletir sobre como se dá o encontro cultural dentro da escola. O professor tenta estimular seus alunos em sala de aula, mas enfrenta problemas com a falta de educação e o descaso deles em aprender algo.

Dica de vídeo

Maré capoeira, 2005 – Trabalha com conceitos tais como memória, tradição, cultura popular e religiosidade estimulando o respeito à diversidade e à diferença. Disponível em: <http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/handle/mec/7836>.

Síntese

Podemos dizer que todas as sociedades possuem a sua própria cultura. A cultura é transmitida de uma geração a outra em múltiplas formas, como na maneira de sen-tirmos, agirmos e pensarmos o mundo.

Por outro lado, temos a diversidade cultural que está intimamente ligada às características de cada grupo social. Acreditamos que seja de relevância a construção do diálogo no que diz respeito à garantia do direito aos cidadãos de uma sociedade. Não podemos negligenciar o papel da escola nessa questão.

O papel da educação tem sido a base para a construção de uma sociedade democrática. A escola, embora seja também um grupo social, diferencia-se do grupo social “família”, por exemplo, por trabalhar com ações intencionais e planejadas, proporcionando o desenvolvimento de capacidades e favorecendo a compreensão dos fenômenos que envolvem a nossa sociedade.

É fundamental a atuação do educador no que diz respeito à retomada das teorias de ensino-aprendizagem no intuito de envolver as necessidades dos alunos. Agindo dessa forma o educador terá um olhar mais aguçado diante às transformações do momento atual.

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Diversidade sociocultural

Referências

GOMES, Nilma Lino. “Educação e Diversidade Etnicocultural. In: RAMOS, Marise Nogueira; ADÃO, Jorge Manoel; BARROS, Graciete Maria Nascimento (Coord.). Diversidade na Educação: reflexões e experiências. Brasília: Secretaria de Educação Média e Tecnológica, 2003. Disponível em: <www.cereja.org.br/site/noticia.asp?id=689>. Acesso em: 3 dez. 2011.

HIROKAWA, Alice Yoko. Interação pesquisador-professor: por uma relação colaborativa. In: MAGALHÃES, Maria Cecília C. (Org.). A Formação do Professor como um Profissio-nal Crítico: linguagem e reflexão. Campinas: Mercado de Letras, 2004.

MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais: pluralidade cultural. 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro101.pdf>. Acesso em: 3 dez. 2011.

MINISTÉRIO DA CULTURA. Plano Nacional de Cultura - Lei 12.343, de 2 de dezem-bro de 2010. Disponível em: <www.cultura.gov.br/site/wpcontent/uploads/2011/05/Lei12.343-PNC-Publica1.pdf>. Acesso em: 3 dez. 2011.

SANTOS, José Luiz dos. O que É Cultura. São Paulo: Brasiliense, 2006.

UNESCO. Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural. 2002. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001271/127160por.pdf>. Acesso em: 3 dez. 2011.

______. Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais. 2007. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0015/001502/ 150224por.pdf>. Acesso em: 3 dez. 2011.

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A criatividade no trabalho pedagógico diante das diversidades

IntroduçãoNesta unidade trataremos alguns assuntos relacionados à criatividade no traba-

lho pedagógico diante das diversidades existentes em nossa sociedade.

Ressaltaremos a importância da formação continuada do educador, que é alguém que, por transmitir o conhecimento no momento em que atua, faz uso de sua baga-gem vivencial como educador e propõe práticas pedagógicas que emergem de seu contexto de sala de aula.

As estratégias a serem utilizadas pelos educadores em sala de aula e a criatividade com que os temas deverão ser abordados fazem com que a aprendizagem realmente se efetive.

Dessa forma, abordaremos nesta unidade os seguintes assuntos:

a importância da formação do educador;

as estratégias pedagógicas;

a criatividade no trabalho pedagógico;

a diversidade na Educação Infantil – Referencial Curricular Nacional;

a diversidade no Ensino Fundamental – Parâmetros Curriculares Nacionais.

Esperamos que vocês tenham um excelente aproveitamento nesta unidade, e que possam refletir sobre o papel do educador nos dias atuais.

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ObjetivosAo final da unidade, espera-se que você seja capaz de:

compreender a importância do processo de formação continuada dos edu- cadores;

entender o que são estratégias educacionais;

compreender a importância da criatividade pedagógica na sala de aula diante da diversidade;

analisar e refletir a diversidade na Educação Infantil mediante o Referencial Curricular Nacional;

analisar e refletir a diversidade no Ensino Fundamental mediante os Parâme-tros Curriculares Nacionais.

A importância da formação do educadorVivemos um momento em que se processam mudanças contínuas e junto a

elas surge a necessidade da adequação do ser humano diante de novas condutas de procedimento.

Silva e Monteiro (2000, p. 77), em relação à questão da importância dos educa- dores na escola, posicionam-se dizendo:

[...] o nosso papel de educadores, desempenhado na escola, queiramos ou não, vai muitíssimo além da transmissão de conteúdos, da formação do cidadão idealizado nos regimentos escolares, toca o núcleo da constituição do ser humano, o seu modo próprio de ser, que, embora vivido individualmente, constitui-se e expressa-se socialmente.

Caberá, então, ao profissional da educação ter uma visão global dessas questões para que tenha habilidade expressiva para enfrentar os inúmeros desafios da atualidade. Portanto, atualização e aperfeiçoamento devem fazer parte das buscas incessantes que demanda a esfera educacional.

Piletti (2007, p. 177), sob a questão da formação do professor, salienta que:

Aperfeiçoar-se constantemente é de fundamental importância, já que novas ideias, novos métodos de ensino, novas experiências educativas sempre surgem com possibilidades de melhorar o trabalho educativo. Em qualquer atividade humana não existe a estagnação, o ponto de chegada: ou evoluímos constantemente, através de sucessivos pontos de partida, ou regredimos irremediavelmente.

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A criatividade no trabalho pedagógico diante das diversidades

O autor (Piletti, 2007), ao falar na questão de atualização do educador, ressalta:

A atualização é outro requisito essencial para o educador não alienado, que exerce suas funções num mundo real, em permanente transformação. A atividade escolar será tanto mais produtiva quanto mais estiver integrada no mundo dos educandos. Escola e vida devem formar uma só e mesma realidade. Para tanto, é necessário que o educador não somente esteja a par do que se passa a sua volta, mas também participe dos acontecimentos.

Portanto, a formação e a atualização devem fazer parte das prioridades dos pro-fissionais da área da educação.

O professor que conhece a realidade em que atua, e que considera o sujeito com o qual trabalha no cotidiano escolar obterá melhores resultados.

Dentro desse contexto, a ideia de valorização das diferenças e do aprimoramento da reflexão sobre diferentes questões do contexto da sociedade, sejam elas individuais ou coletivas, encontram respaldo na Constituição da República Federativa do Brasil, título II – artigo 5.º, que diz:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;

VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independen-temente de censura ou licença.

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Para ter acesso ao artigo na íntegra, acesse <www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>:

Constituição Federal da República Federativa do Brasil

TÍTULO II

Dos Direitos e Garantias Fundamentais

CAPÍTULO I

DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Artigo 5.º

As estratégias pedagógicasÉ comum associarmos estratégias à métodos utilizados pelos educadores, não é

verdade? Mas afinal, o que realmente significa estratégias na área educacional?

Abreu e Mazzetto (apud TACCA, 2006, p. 47) apresentam a seguinte conceituação de estratégias pedagógicas: “Meios que o professor utiliza na sala de aula para facilitar a aprendizagem dos alunos, ou seja, para conduzi-los em direção aos objetivos daque-la aula, daquele conjunto de aulas ou daquele curso.”

Seguindo esse princípio, o educador deve estar sempre inovando as suas práticas em sala de aula.

Tacca (2006, p. 48) ressalta a importância das relações sociais no processo educa-cional dizendo:

[...] seriam recursos relacionais que orientam o professor na criação de canais dialógicos, tendo em vista adentrar o pensamento do aluno, suas emoções, conhecendo as interligações pela unidade cognição-afeto. Nesse sentido, seriam recursos, principalmente pessoais, que implicam captar o outro, dispor-se a pensar com o outro para fazer gerar as significações da aprendizagem. O comportamento do pensar implicando o alcance de novos entrelaçamentos e conclusões do objeto do conhecimento, tanto por parte do professor, como do aluno, exige uma disponibilidade constante de um e do outro.

Infere-se, então, que o diálogo entre professor e aluno é extremamente importante, pois possibilita a compreensão do que está sendo ensinado pelo educador, cria-se oportunidades de esclarecimento de dúvidas por parte dos alunos e permite ao educador operar a reflexão no aluno.

É importante destacar que:

[...] não é possível pensar no processo de aprendizagem fora de uma relação entre pessoas, cujo eixo não seja o processo dialógico. Entende-se que a participação ativa na sala não está na sequência das ações empreendidas, mas na possibilidade de as pessoas que compartilham esse espaço expressarem seus pensamentos e ouvirem a comunicação do outro, tendo em vista uma construção conjunta de conhecimento. (TACCA, 2006 p. 49)

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A criatividade no trabalho pedagógico diante das diversidades

Dessa maneira, podemos dizer que ensinar, tendo o diálogo como pressuposto de trocas, é atuar na construção do desenvolvimento do aluno, e contribuir para uma conduta mais reflexiva.

A criatividade pedagógicaO cotidiano da sala de aula é, para o professor, um desafio constante. O educador

deve estar preparado para trabalhar a partir de situações diferenciadas. Assim, ele deve direcionar o saber tendo como meta a aprendizagem.

A criatividade pedagógica diante da diversidade em sala de aula é algo que deve ser buscada por meio de estratégias motivadoras.

Martínez (2006 p. 70), a respeito da criatividade, ressalta que:

[...] é um processo complexo da subjetividade humana na sua simultânea condição de subjetividade individual e subjetividade social que se expressa na produção de “algo” que é considerado ao mesmo tempo “novo” e “valioso” em um determinado campo da ação humana.

Nessa linha de raciocínio, a criatividade deve fazer parte do cotidiano do profes-sor, que deve aplicar estratégias inovadoras de ensino com resultados satisfatórios para o desenvolvimento e aprendizagem dos discentes.

Martínez (2006, p. 72), reforçando a ideia de criatividade do educador, estabelece aspectos que devem ser considerados na elaboração de uma aula.

a forma de trabalhar com os estudantes a formulação e seleção dos objetivos de aprendizagem;

a seleção e organização dos conteúdos de ensino e das habilidades e compe-tências a serem desenvolvidas;

as estratégias e métodos de ensino;

a organização do processo docente;

a natureza das tarefas a serem realizadas em classe ou extraclasse e as orienta-ções para sua realização;

a natureza da bibliografia e do material didático e as orientações para sua leitura;

o sistema de avaliação e autoavaliação da aprendizagem;

as relações professor-aluno e o clima comunicativo-emocional que caracteriza a sala de aula e a instituição escolar no seu conjunto.

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Portanto, diante desse contexto, faz-se necessário que a atuação do educador esteja em consonância com as necessidades dos alunos. Sendo assim, frisamos que:

A criatividade no trabalho pedagógico tem também outro significado: ela não é apenas importante para o objetivo central da aprendizagem e desenvolvimento dos alunos, mas também para o próprio professor, para seu bem-estar emocional e seu desenvolvimento. (MARTÍNEZ, 2006 p. 74)

Na verdade, sabe-se que essa não é uma tarefa de fácil execução para o professor, pois ele deve pautar-se na variedade de atividades e no desenvolvimento que cada atividade desperte em cada aluno.

Reflexão

[...] a criatividade está intimamente ligada à tensão, ao conflito e à perspectivas em constante mudança. A atividade criativa exige que se façam novos mapas para substituir os antigos e não que sigam os que se aperfeiçoem os mapas já existentes. O problema de se utilizarem mapas antigos para se determinar a rota é que eles, apesar de darem segurança, servem apenas para identificar caminhos já percorridos por outros, e, portanto, servirão apenas para explicar aquilo que já é conhecido.

Ralph D. Stacey

Você, como futuro educador, deverá saber lidar com a diversidade encontrada na sala de aula para atuar na Educação Infantil ou no Ensino Fundamental.

A diversidade existe e temos que nos estruturar para enfrentá-la da melhor ma-neira possível, mas vamos conhecer a seguir o que dizem o Referencial Curricular Na-cional e os Parâmetros Curriculares Nacionais a respeito dessa questão.

Diversidade na Educação Infantil – Referencial Curricular Nacional

Na Educação Infantil, o professor trabalha com diversos conteúdos, abrangendo desde cuidados básicos até conhecimentos específicos das áreas. Para isso, conforme estudamos no início desta unidade, a sua formação é imprescindível.

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A criatividade no trabalho pedagógico diante das diversidades

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, ao referir-se sobre o respeito à diversidade, diz:

Para que seja incorporada pelas crianças, a atitude de aceitação do outro em suas diferenças e particularidades precisa estar presente nos atos dos adultos com quem convivem na instituição. Começando pelas diferenças de temperamento, de habilidades e de conhecimentos, até as diferenças de gênero, de etnia e de credo religioso, o respeito a essa diversidade deve permear as relações cotidianas. Uma atenção particular deve ser voltada para as crianças com necessidades especiais que, devido às suas características peculiares, estão mais sujeitas à discriminação. Ao lado dessa atitude geral, podem-se criar situações de aprendizagem em que a questão da diversidade seja tema de conversa ou de trabalho. (MEC, 1998)

O professor da Educação Infantil desenvolve atividades, as acompanha com as crianças pequenas e administra as brincadeiras, para que elas desenvolvam e se tornem capazes de compreender o outro com quem interage.

Diversidade no Ensino Fundamental – Parâmetros Curriculares Nacionais

Nesta modalidade de ensino, as práticas pedagógicas também merecem destaque. O saber ensinar, agir e interpretar situações cotidianas em sala de aula torna--se imperativo.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), ao referirem-se à diversidade no ambiente escolar, salienta:

As adaptações curriculares previstas nos níveis de concretização apontam a necessidade de adequar objetivos, conteúdos e critérios de avaliação, de forma a atender a diversidade existente no país. Essas adaptações, porém, não dão conta da diversidade no plano dos indivíduos em uma sala de aula.

Para corresponder aos propósitos explicitados nesses parâmetros, a educação escolar deve considerar a diversidade dos alunos como elemento essencial a ser tratado para a melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem.

Atender necessidades singulares de determinados alunos é estar atento à diversidade: é atribuição do professor considerar a especificidade do indivíduo, analisar suas possibilidades de aprendizagem e avaliar a eficácia das medidas adotadas.

A atenção à diversidade deve se concretizar em medidas que levem em conta não só as capacidades intelectuais e os conhecimentos de que o aluno dispõe, mas também seus interesses e motivações. Esse conjunto constitui a capacidade geral do aluno para aprendizagem em um determinado momento.

(MEC, 1997)

Dentro desse contexto, os PCN devem ser utilizados como base, ou seja, para a preparação do planejamento docente, objetivando melhorar a qualidade de ensino e aprendizagem perante as diferenças.

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Para frisar a questão da criatividade do professor, acessem o link a seguir e assistam ao vídeo, em que uma professora formadora relata a atuação marcante de sua antiga professora, do terceiro ano, e como isso contribuiu em sua vida.

Muitas vezes o que nos parece ser uma simples atuação torna-se marcante durante a vida.

Site: <http://www.cenpec.org.br>.

Link: Formadora do Cenpec relembra professores que marcaram seu tempo de escola.

Reflexão

A educação autêntica não se faz de “A” para “B” ou de “A” sobre “B”, mas de “A” com “B” mediatizados pelo mundo. Mundo que impressiona e desafia a uns e a outros, originando visões ou pontos de vista sobre ele. Visões impregnadas de anseios, de dúvidas, de esperanças ou desesperanças que implicam temas significativos, à base dos quais se constituirá o conteúdo programático da educação.

Paulo Freire

Dica de filme

Escola da Vida, de William Dear, 2005. Há um novo professor na cidade e ele está fazendo um verdadeiro furacão na Fallbrook Middle School. Ele é atraente, legal e informal. Ele não apenas ensina a Guerra Civil, a reen-cena. Os alunos amam o Sr. D (Ryan Reynolds), os professores o admi-ram, exceto Matt Warner (David Paymer), o ansioso professor de Biologia que sonha em ganhar o prêmio de Professor do Ano. O pai de Warner, Stormin Normam (John Astin), foi o Professor do Ano durante 43 anos e

agora Matt está determinado a fazer deste o seu ano. Mas com Sr. D em cena, Warner vê sua chance escapar. Ele simplesmente não pode competir com alguém que até o seu próprio filho admira. Mas existe um segredo que pode mudar o jogo e ensinar a todos uma lição da qual nunca esquecerão.

A escola além da aula [Escola em discussão]. Disponível em: <http://objetoseducacio-nais2.mec.gov.br/handle/mec/8765>.

Saiba mais

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A criatividade no trabalho pedagógico diante das diversidades

Dica de livro

BARRETO, Vera. Paulo Freire para Educadores. São Paulo: Arte & Ciência, 1998.

Síntese

A criatividade no trabalho pedagógico diante das diversidades inicia-se a partir da formação e da busca pela constante atualização por parte do educador. Pensar nesse educador é pensar em alguém que anseia por novos conhecimentos e por trocas de experiências profissionais. Ele revê suas concepções, práticas pedagógicas e suas ati-tudes ininterruptamente.

As estratégias pedagógicas são as formas utilizadas pelo professor em sala de aula para facilitar a aprendizagem dos alunos, ou seja, para conduzi-los em direção aos objetivos que almejam atingir.

Temos que considerar também as relações sociais. O diálogo entre professor e aluno cria oportunidades para que o educador conheça o aluno e o auxilie na construção do conhecimento. Podemos dizer que a criatividade pedagógica é algo que deve fazer parte do cotidiano do professor. Para o educador, trata-se de um grande desafio.

Caberá, então, a esse profissional, ter uma visão global das questões que permeiam a sua esfera de atuação. Portanto, o que competirá a esse profissional? Ele deverá buscar incessantemente a atualização, o aperfeiçoamento que demanda todas as áreas e, portanto, a da educação.

Referências

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

MARTÍNEZ, Albertina Mitjánz. Criatividade no trabalho pedagógico e criatividade na aprendizagem: uma relação necessária? In: TAACA, Maria Carmem Villela Rosa (Org.). Aprendizagem e Trabalho Pedagógico. Campinas: Alínea, 2006.

MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/ar-quivos/pdf/livro01.pdf>. Acesso em: 3 dez. 2011.

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______. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil – Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume2.pdf>. Acesso em: 3 dez. 2011.

PILETTI, Nelson. Estrutura e Funcionalismo do Ensino Fundamental. São Paulo: Ática, 2007.

SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves; MONTEIRO, Hilda Maria. Combate ao racismo e construção de identidades. In: ABRAMOWICZ, Anete; MELO, Roseli Rodrigues (Orgs.). Educação: pesquisas e práticas. Campinas: Papirus, 2000.

TAACA, Maria Carmen V. R. (Org.). Estratégias pedagógicas: conceituação e desdobra-mentos com o foco nas relações professor-aluno. In: TAACA, Maria Carmem Villela Rosa (Org.). Aprendizagem e Trabalho Pedagógico. Campinas: Alínea, 2006.

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A escola, o indivíduo e a sociedade

IntroduçãoSabemos que a escola exerce importância capital na formação dos indivíduos.

Portanto, a escola contribui para a ampliação do processo de socialização iniciado no seio da família. Os indivíduos vão se formando a partir de novas relações estabelecidas com o outro.

A família, como já dito e estudado no início deste curso, é o primeiro grupo social ao qual pertencemos. A escola, por sua vez, estabelece a mediação entre o indivíduo e a sociedade.

Dada a sua importância, abordaremos, nesta unidade, os seguintes assuntos:

a concepção de escola;

a escola, o indivíduo e a sociedade;

o sistema escolar e a Lei de Diretrizes e Bases (LDB);

a educação para a vida social.

Esperamos que ao término desta última unidade vocês tenham ampliado os seus conhecimentos sobre a importância da escola na vida do indivíduo.

ObjetivosAo final da unidade, espera-se que você seja capaz de:

compreender a concepção de escola;

refletir sobre a importância da escola, do indivíduo e da sociedade;

compreender as contribuições advindas do sistema escolar;

entender o sistema escolar e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB);

refletir sobre a educação para a vida social.

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Concepção de escolaIniciaremos esta unidade lançando para reflexão as seguintes questões: a escola

sempre existiu? De que forma a escola contribui para a vida do ser humano e da sociedade?

É importante tecermos um breve comentário de como se iniciou o desenvolvi-mento da escola em nossa sociedade.

No princípio da história alguns elementos foram decisivos para o desenvolvimento da escola em nosso meio social, pois ela “[...] não existiu sempre: ela é uma criação social do homem” (BOCK et al., 1999, p. 261).

Dentro desse contexto, a autora ressalta que:

Educar já significou, e talvez signifique ainda, em algumas regiões do Terceiro Mundo, apenas viver a vida cotidiana do grupo social ao qual se pertence. Assim, acompanhava-se os adultos em suas atividades e, com o passar do tempo, aprendia-se a “fazer igual”. Plantar, caçar, localizar água, entender os sinais do tempo, escutar histórias e participar de rituais eram atividades do grupo adulto, as quais iam sendo acompanhadas pelas crianças que, aos poucos, adquiriam instrumentos de trabalho e interiorizavam valores morais e comportamentos socialmente desejados. Não havia uma instituição especializada nessas tarefas. O meio social, em seu conjunto, era o contexto educativo. Todos os adultos ensinavam a partir da experiência pessoal. Aprendia-se fazendo. (BOCK et al. 1999, p. 261)

O conhecimento era transmitido de uma geração a outra, pois não havia institui-ções escolares. A vida era um laboratório educativo.

Contudo, sabemos que ao longo da história inúmeras mudanças ocorreram em nossa sociedade, principalmente com o desenvolvimento da industrialização ocorrido nos séculos XIX e XX. Logo, “[...] as classes trabalhadoras, conforme foram se fortalecen-do e se organizando, passaram a exigir o direito de ter seus filhos na escola”, ou seja, “o direito de acesso a cultura e ao conhecimento dominantes. A escola universalizava-se” (BOCK et al. 1999, p. 263).

As enormes transformações ocorridas ao longo do tempo culminaram com o modelo de escola que temos no momento atual. Para Bock et al. (1999, p. 263):

A escola cumpre, portanto, o papel de preparar as crianças para viverem no mundo adulto. Elas aprendem a trabalhar, a assimilar as regras sociais, os conhecimentos básicos, os valores morais coletivos, os modelos de comportamento considerados adequados pela sociedade. A escola estabelece, assim, uma mediação entre a criança (ou jovem) e a sociedade que é técnica (enquanto aprendizado das técnicas de base, como a leitura, a escrita, o cálculo, as técnicas corporais e musicais etc.) e social (enquanto aprendizado de valores, de ideais e modelos de comportamento). Aprender esses elementos sempre foi necessário. A escola é a forma moderna de operar essa transmissão.

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A escola, o indivíduo e a sociedade

Assim, essa é a proposta da escola, que se constitui como um espaço de constru-ção de conhecimento e de socialização.

A escola, o indivíduo e a sociedadeAo iniciar no ambiente escolar, o aluno trás consigo conhecimentos prévios,

adquiridos no decorrer de sua história de vida, e a escola é o local que propicia o conhecimento de forma planejada.

A escola, considerada na atualidade uma das mais importantes instituições, pos-sibilita a mediação entre os membros do contexto social. Para Bock et al. (1999, p. 260) “[...] a escola permite que a criança ‘humanize-se’, ‘cultive-se’, e ‘socializa-se’”, fazendo com que a criança, via interação com os adultos, deixe de imitar comportamentos e passe a construir sua própria identidade.

Bock et al. (1999, p. 266-267) aprofundam a ideia dizendo:

[...] a escola pressupõe que há um indivíduo a ser desenvolvido dentro de cada um de nós que, por natureza, é bom. Ou seja, trazemos uma sementinha dentro de nós que desabrochará no contato com a cultura e nos tornará bons cidadãos. Por isso as escolas para a infância se chamavam “jardim de infância”. Prepara-se o indivíduo no que ele tem de bom para, após um certo tempo, entregá-lo à sociedade a fim de transformá-la na direção do que é naturalmente bom nos homens.

A escola em seu âmbito contribui para o desenvolvimento da sociedade e, diante dessa questão, Bock et al. (1999 p. 267) nos dizem que “[...] é tarefa da escola zelar pelo desenvolvimento da sociedade e, para isso, precisa criar indivíduos capazes de pro-duzir riquezas, de criar, inventar, inovar, transformar” preparando o indivíduo em suas conquistas futuras.

Diante desse contexto, o ambiente escolar deve proporcionar instrumentos que sejam motivadores e significativos, ou seja, instrumentos condizentes à realidade dos alunos e também à realidade com a qual esse aluno se deparará.

Bock et al. (1999, p. 270), ao comentarem sobre a importância da instituição esco-lar, dizem:

A escola constitui um importante local de troca, de obtenção de informação e de aprendizado da investigação. É na escola que formulamos grande parte das respostas e das perguntas necessárias à compreensão de nossas vidas, de nossa sociedade e de nosso cotidiano; é o espaço no qual podemos adquirir a ideia do tempo histórico e da transformação que a humanidade produziu. Na escola podemos aprender que nem todas as pessoas pensam e agem da mesma forma e que essa diferença no modo de pensar e agir deve ser valorizada por todos nós. Muito do aprendizado para o trabalho acontece no ambiente escolar.

O trabalho da escola implica estimular a participação do alunos em todos as suas potencialidades.

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As contribuições do sistema escolarO sistema escolar contribui para a constituição do indivíduo, ou seja, ela o prepara

para a sociedade. A escola, então, aprimora o desenvolvimento do ser humano de forma integral.

Segundo Piletti (2007, p. 14), entre as contribuições do sistema escolar, destacam-se:

Melhoria do nível cultural da população. Com o aumento dos anos de esco-laridade de um maior número de indivíduos, a população pode ir modificando o seu estilo de vida. Aparecem novos valores, novos interesses, novas aspira-ções. O desenvolvimento social pode tornar-se cada vez mais uma realidade, na medida em que mais pessoas exigirem melhores condições de vida.

Aperfeiçoamento individual. O sistema escolar deve contribuir para a reali-zação pessoal. Na escola, o indivíduo pode encontrar condições de desenvol-ver-se de forma global, nos aspectos físicos (educação física, esportes), emo-cional (sentimentos e expressões interindividuais), intelectual (conhecimento das matérias escolares), social (convivência com os outros) etc.

Formação de recursos humanos. Quanto mais desenvolvido um país tanto mais ele necessita de recursos humanos com maior grau de escolarização. Cabe ao sistema escolar, principalmente, fornecer uma sólida formação geral aos alunos, para que estes possam encarar o ser humano, sempre, como prin-cípio e fim de qualquer atividade que exerçam.

Resultados de pesquisas. Muitas das contribuições importantes para o desenvolvimento da sociedade originam-se do trabalho dos professores e alunos e, principalmente, de pesquisas feitas em universidades.

É importante que a instituição escolar seja um ambiente em que haja o respeito mútuo, abra espaço para o diálogo, seja organizada e compromissada com os seus objetivos em prol dos alunos e também da sociedade. Vale ressaltar a importância da participação efetiva do educador como profissional responsável, cooperativo, organi-zado, atuante, e ético na busca por resultados satisfatórios.

O sistema escolar e a Lei de Diretrizes e BasesO sistema escolar brasileiro é regido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional – LDB 9394 de 20 de dezembro de 1996, no qual estabelece os segmentos da educação nacional quanto à educação.

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A escola, o indivíduo e a sociedade

De acordo com o Titulo II – Dos Princípios e Fins da Educação Nacional destaca-se:

Art. 2.º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (PLANALTO)

Piletti (2007, p. 67), em reflexões sobre as finalidades da educação, ressalta:

Pleno desenvolvimento do educando. Para que o aluno se desenvolva plenamente é necessário que a escola lhe ofereça condições. É preciso que a escola e o professor deem ao aluno a possibilidade de se manifestar livremente, expor seus interesses, suas preocupações, seus desejos, seus sentimentos. É preciso que tudo aquilo que brota espontaneamente de cada aluno seja respeitado e valorizado. Somente a partir do momento em que a pessoa pode se desenvolver plenamente é que tem condições de se sentir realizada. Realizar--se significa executar os planos que cada um estabeleceu para sua vida. [...]

Preparo para o exercício da cidadania. O que caracteriza o cidadão é sua participação na vida social, nas decisões que dizem respeito ao desenvolvi-mento da comunidade e do país. Todo cidadão tem direitos e deveres. Cabe--lhe, em primeiro lugar, conhecer esses direitos e deveres. É preciso que todo cidadão tenha seus direitos respeitados e seja cumpridos de seus deveres. [...]

Qualificação para o trabalho. Pelo trabalho a pessoa se realiza individual-mente ao mesmo tempo em que contribui para o desenvolvimento da socie-dade. A qualificação para o trabalho, como uma das finalidades da educação, diz respeito ao Ensino Superior, já que este oferece aos alunos uma habilitação profissional. [...]

É fato que o contato inicial da criança é com a família. No entanto, é na escola que a criança irá se desenvolver, sobretudo na aprendizagem com o outro.

Tendo como base o artigo 3.º da LDB, o ensino deverá ser ministrado com base nos seguintes princípios:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;

III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;

IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;

V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;

VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

VII - valorização do profissional da educação escolar;

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VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino;

IX - garantia de padrão de qualidade;

X - valorização da experiência extraescolar;

XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.

(PLANALTO)

Entende-se a importância da LDB no que diz respeito à educação como direito de todos e que os alunos “[...] encontrem na escola as condições adequadas para o seu pleno desenvolvimento, em consonância com o mundo em que vivem, compreenden-do-o e participando ativamente de sua transformação, no sentido de torná-lo mais habitável a todos” (PILETTI, 2007, p. 64).

Seguindo essa mesma linha de raciocínio, Meirieu (2005 p. 54) salienta que a escola “[...] permite que os indivíduos adquiram conhecimentos, competências e capa-cidades, o gosto pelo saber, o sentido da análise e o espírito crítico”.

Assim, pretende-se que o aluno torne-se um cidadão crítico, participativo, cons-ciente e autônomo, reconhecendo os seus deveres e direitos para a construção de um mundo melhor.

Como seria o mundo sem a escola nos dias atuais?

A educação para a vida socialSabemos que a educação deve oferecer condições de aprendizagem que respeitem

as necessidades de cada indivíduo. Ao referirmos a questão de aprendizagem, Teixeira (2010, p. 51) salienta que:

[...] a capacidade humana de aprender, isto é, o poder de reter de uma experiência alguma coisa com que se poderá transformar a experiência futura – é de sua natureza indefinida. O homem não aprende por necessidade que, satisfeita, faça desaparecer aquela capacidade. Aprender é, muito pelo contrário, uma função permanente do seu organismo, é a atividade pela qual o homem cresce, mesmo quando o seu desenvolvimento biológico há muito se completou. A capacidade de aprender permite uma educação indefinida, um indefinido crescimento. Tal crescimento é naturalmente mais visível na infância, quando tem o seu máximo de intensidade, mas nem por isso deixa de perdurar por toda a vida.

A aprendizagem, quando significativa, permitirá ao aluno estabelecer relações entre novos conceitos e conhecimentos que já possuem.

Segundo Teixeira (2010, p. 53) a “[...] educação é vida, e viver é desenvolver-se, é crescer. Vida e crescimento não estão subordinados a nenhuma outra finalidade, salvo a mais vida e mais crescimento”.A

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A escola, o indivíduo e a sociedade

A perspectiva da educação deve estar pautada em uma postura democrática: oportunidades diversificadas e planejadas em todas as áreas do conhecimento.

Reflexão

[...] a escola, em uma democracia, deve permitir a cada cidadão compreender o mundo à sua volta e assumir seu lugar nas discussões que decidirão seu futuro. Isso começa, evidentemente, pelo domínio das linguagens fundamentais, sem o qual nenhuma comunicação é possível, mas com o qual todos podem tentar chegar a inteligibilidade do mundo. Busca-se desafios de nossas histórias individuais e de nossa história coletiva, para antecipar as consequências possíveis de nossos atos e fazer escolhas pensadas. Isso se articula necessariamente com a formação para um pensamento crítico capaz de discernir o “saber” do “crer”, os fatos objetivos dos julgamentos que possa fazer sobre eles, os problemas concretos que emergem das sugestões para resolvê-los, as quais devem, por sua vez, ser objeto de debates democráticos.

Dicas de filmes

Mentes Perigosas, de John Smith, 1995. O filme retrata a vida de uma ofi-cial da marinha (Michelle Pfeiffer) que abandona a carreira militar para realizar o antigo sonho de ser professora de Inglês. Mas o grupo de alunos rebeldes que tem pela frente, logo na primeira escola em que leciona, será capaz de colocar à prova todo seu treinamento e experiência.

Pro Dia Nascer Feliz, de João Jardim, 2006. Definido pelo próprio diretor como “um diário de observação da vida do adolescente no Brasil em seis escolas”, o filme flagra o dia a dia e adentra a subjetividade de alunas e professores de Pernambuco, São Paulo e Rio de Janeiro. As entrevis-tas são intercaladas com sequências de observação do ambiente das escolas-meio, por sinal, bem pouco frequentado pelo documentário. Sem exercer interferência direta, a câmera flagra salas de aula, esquadri-nha, corredores, pátios e banheiros, além de testemunhar uma reunião de conselho de classe (onde os professores decidem o destino curricu-lar dos alunos “difíceis”) e momentos de relativa intimidade pessoal.

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Dica de livro

LOPEZ, Márcia do Valle; MERCADANTE, Stella Galli . Escolas em Diálogo: uma experiência de formação de equipes. São Paulo: Vera Cruz, 2007.

Síntese

No início da civilização não existiam escolas e o conhecimento era transmitido de uma geração a outra. Muitas mudanças ocorreram ao longo do tempo e tais mudanças contribuíram para que a escola se tornasse uma instituição de ensino nos moldes da escola atual.

A escola exerce um papel fundamental na vida dos seres humanos, possibilitando mediação entre o indivíduo e a sociedade. Assim, a instituição escolar garante o direito do ser humano exercer a cidadania.

O sistema escolar contribui para a constituição do indivíduo, ou seja, ela o prepara para a sociedade. A escola, então, aprimora o desenvolvimento do ser humano de forma integral.

O sistema escolar brasileiro é regido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), no qual ressalta as finalidades da educação como pleno desenvolvi-mento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

A instituição escolar deve assumir uma postura democrática, oferecendo aos alunos oportunidades em todas as áreas do conhecimento, na busca pelo desenvol-vimento. Esse indivíduo atuará como cidadão crítico, autônomo, participativo e cons-ciente diante da sua própria realidade social.

Referências

BOCK, Ana Mercês Bahia et al. Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. Disponível em: <www.livrosgratis.net/download /363/psicologias-uma-introducao-ao-estudo-de-psicologia-odair-furtado.html>. Acesso em: 3 dez. 2011.

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A escola, o indivíduo e a sociedade

MEIRIEU, Philippe. O Cotidiano da Escola e da Sala de Aula: o fazer e o compreender. Rio Grande do Sul/Porto Alegre: Editora Artmed, 2004.

PILETTI, Nelson. Estrutura e Funcionalismo do Ensino Fundamental. São Paulo: Edi-tora Ática, 2007.

PLANALTO. Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9.394 de 1996. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 3 dez. 2011.

TEIXEIRA, Anísio. A pedagogia de Dewey (Esboço da teoria de educação de John Dewey). In: WESTBROOK, Robert B.; ROMÃO, José Eustáquio; RODRIGUES, Verone Lane (Org.). John Dewey. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Massangana, 2010.

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Práticas Sociais e Diversidade

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