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1 Temáticas transdisciplinares Sessões especiais de orientação acadêmica ARTES Este texto de trabalho foi elaborado pelo Grupo SOA com vistas exclusivamente ao debate no âmbito do Pré-Vestibular Social Foto: Zsuzsanna Kilian. Disponível em: http://www.sxc.hu/photo/980459 Pré-Vestibular Social Grupo SOA • Suporte à Orientação Acadêmica

Pré-Vestibular Socialcederj.edu.br/prevestibular/wp-content/uploads/2015/04/02-ARTES... · Site: Diretora Celina M. S. Costa Coordenadores do Grupo SOA Bruno A. França Lenise L

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Temáticas transdisciplinaresSessões especiais de orientação acadêmica

ArtesEste texto de trabalho foi elaborado pelo Grupo SOA

com vistas exclusivamente ao debate no âmbito do Pré-Vestibular Social

Foto: Zsuzsanna Kilian. Disponível em: http://www.sxc.hu/photo/980459

Pré-Vestibular SocialGrupo SOA • Suporte à Orientação Acadêmica

Governo do Estado do Rio de Janeiro

GovernadorLuiz Fernando Pezão

Secretário de Estado de Ciência e TecnologiaGustavo Tutuca

Fundação Cecierj

PresidenteCarlos Eduardo Bielschowsky

Vice-Presidente de Educação Superior a DistânciaMasako Oya Masuda

Vice-Presidente CientíficaMônica Damouche

Pré-Vestibular Social

Rua da Ajuda 5 - 16º andar - Centro - Rio de Janeiro - RJ - 20040-000Site: www.pvs.cederj.edu.br

DiretoraCelina M. S. Costa

Coordenadores do Grupo SOABruno A. França

Lenise L. FernandesMaria F. C. M. Gomes

Material Didático

Elaboração de ConteúdoAlbert J. S. Stirling

Aparecida B. M. Pedro Bruno A. França

Carlos F. S. Cunha Cayo O. Franco

Daniel C. A. Lima Edson D. M. Menezes

Eliza S. Vianna Juan J. Page

Juliana M. SousaLaryssa A. N. P. DiasLeandra M. C. MelimLenise L. Fernandes

Leysa B. Lucas Luciana P. Chamarelli Maria F. C. M. Gomes

Mariana S.Dias Munique F. Gomes Simone M. SilvaVictor H. Vassallo

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Prólogo

As manifestações artísticas acompanham a humanidade desde o seu surgimento. O ser humano, ao modificar o mundo através do processo de trabalho, transforma a si próprio, construindo a sociedade, a história e o universo simbólico, ou seja, o mundo da cultura.Assim, por meio do ato criador do trabalho, nos tornamos capazes de abstrair, simbolizar e criar arte. Ao mesmo tempo, as artes são fontes de humanização: por meio delas, o homem se torna consciente da sua existência individual e social, percebe-se e se interroga, interpre-tando o mundo e a si mesmo.

As diferentes formas de fazer e de pensar/representar as artes são constituídas a partir de relações socioculturais, econômicas e políticas, através de distintos contextos histórico--geográficos. Desse modo, as transformações da sociedade implicam em condições para novas percepções artísticas, explicando a relatividade do valor estético e dando visibilidade às relações de poder que perpassam estes processos 1.

É nesse sentido que se pode caracterizar o fazer artístico em função do tempo (pré-histó-rico, idade média, moderno, contemporâneo, etc.) e do espaço (oriental, ocidental, escultura grega, romantismo francês, modernismo brasileiro, etc.), de suas formas de expressão (escul-tura, pintura, literatura, música, dança, cinema, fotografia, etc.), mas, também, de sua função social (poder servir à ética, à política, à religião, à ideologia).

É complexo definir, portanto, o que é arte e para que ela serve, já que são diversos os fatores envolvidos nesse processo, como veremos ao longo deste texto. Vale destacar que foi preciso fazer alguns recortes temporais e temáticos, posto que é impossível abordar toda a produção artística acumulada ao longo da história humana.

1 Para aprofundar a questão do movimento histórico de produção de valores sociais, leia o texto “Ética e Política”.

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1. Arte e Cultura

A arte e a cultura dialogam entre si e dão vazão à criatividade. Nesse processo, absorvem influências da época e do espaço, manifestando-se através de variadas formas de expressões artísticas. Trata-se de todo um patrimônio cultural construído por meio de bens materiais e imateriais que fazem história.

É possível encontrar manifestações artísticas desde as primeiras formas de organização humana, em desenhos, esculturas e artefatos do dia a dia. Em certa medida, podemos dizer que o homem conseguiu modificar sua realidade através da arte. No entanto, a definição do que é arte é muito ampla e está relacionada diretamente ao conceito de cultura e à própria sociedade em que determinada manifestação artística ou “objeto de arte” está inserido.

Para o antropólogo Roberto DaMatta (1981), cultura é a maneira de viver total de um grupo, sociedade, país ou pessoa. Como um conjunto de regras, costumes, crenças, objetos materiais e comportamentos aprendidos e transmitidos socialmente, a cultura representa um mapa, um receituário, um código através do qual as pessoas de um dado grupo pensam, classificam, estudam e modificam o mundo e a si mesmas. É justamente por compartilhar grande parte desses códigos que um conjunto de indivíduos distintos (com vontades e capaci-dades particulares) transforma-se em um grupo. A cultura indica maneiras e exemplos gerais de como as pessoas desempenharam seus papeis, definindo, mas não totalmente, como de-vemos nos comportar. Por isso, a cultura está em constante processo de mudança.

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AculturaçãoO termo aculturação refere-se ao fenômeno em que culturas distintas são absorvidas ou

submetidas uma pela outra. Destacam-se duas formas de aculturação: a primeira quando um grupo sujeita outro ou o adapta tecnologicamente a um padrão tido como superior, uma prática etnocêntrica, em que há o controle direto, geralmente com o uso da força, sobre a sociedade dominada. E, a segunda, quando determinada sociedade adota elementos cultu-rais de outros povos voluntária e espontaneamente, preservando as suas estruturas originais.

A não compreensão da cultura do outro ou mesmo a sua negação, levaram em muitos casos, ao etnocídio, em que diversas culturas foram total ou parcialmente destruídas no processo de aculturação, como foram os casos dos indígenas e africanos escravizados. Não podemos perder de vista a enorme violência com que os dominadores impuseram sua cultura nesse processo de dominação, e, ao mesmo tempo, a força da resistência dos grupos subjulgados.

O quadro “Primeira missa no Brasil”, de Victor Meirelles (1860), representa o encontro de dois mun-dos culturais antagônicos. Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Meirelles-primei-ramissa2.jpg>Acesso em: 27/07/2014

1.1. Arte e História

Ao longo da História, o ser humano teve visões diferentes do sentido da arte: desde a visão naturalista e utilitarista, da reprodução da natureza ou de modelos pré-estabelecidos, à visão de arte como capacidade reflexiva e filosófica do homem, com um caráter livre e autônomo.

No universo capitalista, essa liberdade é limitada no momento em que a arte passa a ser tratada como uma mercadoria: o fazer artístico adapta-se a padrões decorativos e comer-ciais. Contudo, a fusão entre economia, cultura e arte não está livre de tensões e contradi-ções: a cultura e a arte continuam a desempenhar um papel primordial em nossa sociedade na busca de uma saída em direção à liberdade, à emancipação humana.

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Evoca-se, ainda, a ideia de arte como exercício da exterioridade sensível do espírito, visto que ela lida diretamente com a sensibilidade e a habilidade de criar, denunciar, suscitar re-flexões e instigar os sentidos, provocando sensações de admiração, raiva, compaixão, temor, repulsa, encantamento, entre outras. Além disso, a arte, não raramente, foge dos padrões dominantes e do caráter utilitário atribuído a maioria dos produtos no capitalismo.

Vale ressaltar que o artista não é um ser que paira sobre a sociedade, sem interesses, valores, desejos e medos próprios. As artes, como expressões concretas de visões de mundo daqueles que as criam, são determinadas e, ao mesmo tempo, influenciam o contexto histó-rico, social, econômico e político. A arte, neste contexto, pode representar não só uma das formas de interiorização e exteriorização da opressão, mas também de resistência a ela.

Em diversos momentos da história, vimos a arte ser utilizada em benefício de determinados grupos para manutenção e justificação de poder, sendo emblemática, nesse sentido, a figura do mecenas2.

Expedições ArtísticasA chegada do imperador Dom João VI e sua corte no Brasil impulsionou o desenvolvimen-

to científico e artístico no nosso país. Diversos pintores e cientistas estrangeiros vieram estu-dar e pesquisar a nossa fauna, flora e a sociedade brasileira. A Missão Artística Francesa, chefiada por Joaquim Lebreton e composta por pintores como Jean-Baptiste Debret e Nicolas Antoine Taunay, veio a convite da Corte Portuguesa. Em 1816, esses artistas organizaram a Escola Real das Ciências, Artes e Ofícios (hoje Escola de Belas Artes da UFRJ).

As obras pintadas por Debret são consideradas de grande contribuição para a história, pois representavam o cotidiano da sociedade da cidade do Rio de Janeiro no século XIX.

Autor: Jean-Baptiste DebretDisponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:024debret.jpg> Acesso em 27/07/2014

2 Os mecenas eram ricos e poderosos comerciantes, príncipes, condes, bispos e banqueiros que financiavam e investiam na produção de arte como maneira de obter reconhecimento e prestígio na sociedade. Eles foram de extrema importância para o desenvolvimento das artes plásticas (escultura e pintura), literatura e arquitetura durante o período do Renascimento Cultural (séculos XV e XVI). A burguesia, classe social que enriqueceu muito com o renascimento comercial, viu na prática do mecenato uma forma rápida de alcançar o status de nobreza.

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Quando veio para o Brasil se casar com D. Pedro I, a Princesa Leopoldina, filha do imperador da Áustria, trouxe em sua comitiva a Missão Artística Austro-Alemã, que viajou pelo interior do Brasil retratando a grande biodiversidade do país, os costumes e as paisagens, como o sertão baiano e a região amazônica.

Fonte: MultiRio. Disponível em: <http://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo02/imagens/f2027.jpg>. Acesso em 29/07/2014.

Essas e outras expedições deixaram de legado um grande acervo de pinturas e esculturas que são utilizados hoje pelos pesquisadores para reconstruir a história do nosso país.

Além disso, não podemos deixar de citar as formas autoritárias de governo que se aproxi-maram da arte, utilizando-a para justificar seu poder. É o caso de Luís XIV, o “Rei Sol”, e de Napoleão Bonaparte, ambos chefes políticos franceses; ou Mussolini e Adolf Hitler, líderes do fascismo italiano e do nazismo alemão, respectivamente.

As formas de controle e dominação das massas que se utilizam das artes nem sempre são tão evidentes: podem se manifestar através do uso de objetos do cotidiano, como a televisão, o teatro, as músicas, a dança ou a própria história comum de um povo, cujos recortes são selecionados de modo a ressaltar interesses pré-estabelecidos.

Por outro lado, em várias épocas, artistas têm se engajado na luta pela emancipação dos povos. Poetas criaram cânticos e trovas, escritores, fábulas e romances. Pintores e escultores retrataram suas realidades. Na recente história do Brasil, não faltam exemplos de artistas engajados que expressavam, através da arte, o desejo acalentado pela maioria do povo brasileiro. No contexto da ditadura militar, Chico Buarque, Henfil e outros deram forma ao desejo coletivo de democratização da sociedade e, obviamente, foram perseguidos e catalo-gados como “subversivos” pelos que queriam manter o “status quo”.

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1.2. As múltiplas formas de expressões artísticas

Uma obra de arte deve levar um homem a reagir, sentir sua força, começar a criar também, mesmo que só na imaginação. Ele tem de ser agarrado pelo pescoço e sacudido; é preciso torná-lo consciente do mundo em que vive, e, para isso, primeiro ele precisa ser arrancado deste mundo.

Pablo Picasso

O fazer artístico, valendo-se de palavras, sons, cores, corpos, vozes, massas, tintas, cria imagens que permitem o diálogo do artista com o mundo. Ao mesmo tempo em que são cria-das pelo homem, a poesia, a pintura, o teatro, a música, a escultura, o cinema, a fotografia e a dança também o transformam significativamente.

A pintura, com suas cores, linhas e formas, evoca emoções e sensações. Através de cores frias ou quentes, linhas retas ou curvas, formas realistas ou geométricas, o pintor tem infinitas pos-sibilidades de composição. Artistas renascentistas, por exemplo, utilizavam uma técnica denomi-nada “luz e sombra”, um dos legados de Leonardo da Vinci, que, por meio das cores, permite dar realismo à obra ao simular tridimensionalidade e até mesmo dar maior dramaticidade à pintura.

Proporção ÁureaComo um segmento de reta deve ser dividido de modo que as duas partes resultantes es-

tejam em grande harmonia entre si? A fórmula procurada está registrada, por exemplo, no tratado Os Elementos, do geômetra grego do século III a.C., Euclides de Alexandria.

De modo simplista, a resposta é encontrada ao subdividir um segmento de reta de comprimento S em duas partes desiguais da forma que seus comprimentos M e m obedeçam à proporção

de modo que o comprimento total (S) esteja para o comprimento da maior parte (M) na mesma proporção em que o comprimento da maior parte (M) esteja para o comprimento da menor parte (m).

Feito assim, um só será o resultado da divisão tanto S por M quanto de M por m: o número irracional 1,61803..., que ficou conhecido ao longo dos séculos por muitos nomes, tais como proporção áurea, secção áurea, proporção divina, número de ouro, entre outros.

A proporção áurea foi utilizada na construção de esculturas e monumentos famosos da Antiguidade Clássica, sempre associada à noção de beleza e harmonia. O exemplo mais famoso certamente é a fachada do Partenon, na Grécia, onde é possível encontrar diversas medidas baseadas nessa proporção.

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O Partenonde Atena e a proporção áurea.Fonte: adaptado do originalde Harrieta171, disponível em: <http://it.wikipedia.org/wiki/File:2006_01_21_Ath%C3%A8nes_Parth%C3%A9non.JPG>. Acesso em: 30/07/2014.

Na época renascentista em especial, com a retomada dos valores clássicos, diversos ar-tistas tiveram o cuidado de aplicar a proporção áurea em suas obras na tentativa de re-presentar a perfeição e a beleza ideais. Destaca-se: O Nascimento de Vênus, de Botticelli, e A Monalisa, de Da Vinci. Mas, talvez, o mais impressionante e misterioso na proporção divina é que ela está presente na própria natureza. Por exemplo, para a maioria das pesso-as, a razão entre a distância do umbigo até o chão e a distância do umbigo até a cabeça é aproximadamente igual à proporção áurea. O mesmo ocorre com a proporção entre os tamanhos dos ossos do braço e ainda no rosto humano, a quantidades de abelhas macho e fêmea em uma colmeia e em algumas formas espirais, como as do miolo do girassol ou no corte transversal da concha do caramujo náutilo.

Adaptado do original disponível em: <http://pixabay.com/pt/corpo-huma-no-masculino-boxer-shorts-154300/>. Acesso em: 30/07/2014.

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Durante muito tempo, as pinturas tinham o objetivo de retratar fielmente a realidade. Com o advento de outras possibilidades, como a fotografia, a pintura em alguma medida pôde se libertar dessa preocupação, buscando outros modos de expressão. Os quadros impressionis-tas de Claude Monet, os simbolistas de Gustav Klimt, os expressionistas de Edvard Munch, os cubistas de Pablo Picasso, os surrealistas de Juan Miró e Salvador Dali são alguns exemplos de pinturas que se afastam da necessidade de retratar a realidade fielmente.

Guernica

Guernica, de Pablo Picasso. Por: Andy Roberts. Disponível em <https://www.flickr.com/photos/aroberts/347598578/>. Acesso em 28/07/2014.

Uma das mais conhecidas pinturas do século XX é o quadro Guernica, do pintor espanhol Pablo Picasso. A obra leva o nome de sua cidade natal, uma antiga aldeia da região basca pouco conhecida até o ocorrido no dia 26 de abril de 1937. A inspiração para o quadro veio do contexto histórico da Guerra Civil Espanhola. Por permissão do ditador Francisco Franco, a pequena aldeia foi atacada por toneladas de bombas incendiárias para testar o armamento alemão. O ataque foi considerado um dos piores da História, um símbolo da barbárie.

O quadro exala todo o sofrimento e o desespero daquele povo em tons fúnebres, porém reais. Pode-se dizer que ele retrata não um acontecimento específico, mas o reflexo dos hor-rores da guerra. Atualmente, a obra se encontra exposta no Museo Reina Sofía, em Madrid.

Assim como o modo de fazer pintura foi se modificando ao longo do tempo, na literatura também encontramos diversas possibilidades artísticas. Em muitos momentos, as transfor-mações literárias influenciaram os artistas plásticos, como no caso do Romantismo Alemão. O oposto também ocorreu, como as pinturas surrealistas e dadaístas que incentivaram uma literatura formada por frases aleatórias e desconexas.

De modo amplo, portanto, a literatura pode ser entendida como a arte de compor ou escrever trabalhos artísticos em prosa ou verso. Dependendo do tempo, algumas temáticas e alguns aspectos formais são mais valorizados do que outros. Até o século XIX, predominava na poesia um apreço por formas rígidas, como os sonetos, enquanto nos séculos XX e XXI os poe-tas encontram outras possibilidades de composição com os versos livres, sem unidade métrica.

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A união entre poesia e música é algo comum desde a época medieval. O Trovadorismo, por exemplo, nos permite perceber essa estreita relação. Contudo, é possível que um poema não receba o acompanhamento de instrumentos e há muitas músicas que dispensam a letra. Vale notar que a música pode ser considerada como a arte onde se combinam os diferentes sons e ritmos em uma sequência ao longo do tempo.

Diversas culturas fizeram uso da música e dos diversos instrumentos musicais, seja em fes-tividades ou em expressões religiosas. Atualmente, os instrumentos podem ser classificados como: de cordas (o violão e o violoncelo), de sopro (o saxofone, o fagote) ou de percussão (a bateria e o xilofone). Os artistas que se dedicam a essa manifestação podem usar, também, a voz e mesmo sons sintetizados por computador. Qualquer que seja o gênero musical (jazz, samba, rock’n’roll, etc.), ela pode ser pensada como composta de três elementos organiza-dores: a melodia, a harmonia e o ritmo.

O ritmo também está associado aos movimentos corporais da dança. Além do movimento do corpo, para haver dança é preciso espaço e tempo, ao longo do qual os gestos se desen-volvem. É interessante notar que nem sempre a música é necessária para haver dança, uma vez que ela pode estar associada a rituais e celebrações, como para pedir chuva ou proteção divina. Assim, como os demais fazeres artísticos se transformaram historicamente, a dança também passou por esse processo. O balé clássico, por exemplo, do período da renascença, apresenta movimentos bastante formais e rígidos. Já a partir do século XX, surge, na dança moderna, uma busca de maneiras mais livres e pessoais de expressar ideias.

Associado aos movimentos corporais e também à expressão por meio da palavra, o teatro é a arte da representação por meio da encenação. A arte acontece quando temos uma ou mais pessoas que assumem o papel de algo ou alguém (personagens), uma história ou fato repre-sentado (ação), um lugar onde ocorra a ação (espaço) e quem assista à ação (espectadores, plateia). As primeiras encenações teatrais públicas surgiram em meio às festas e manifestações religiosas na Grécia antiga, especialmente nas comemorações relacionadas ao deus do vi-nho, Dionísio. Dois gêneros teatrais passaram, então, a tomar forma: a tragédia e a comédia. Séculos mais tarde, com o advento da Revolução Industrial, ocorre a expansão acelerada do capitalismo e, a reboque, surgem diversas questões como a exploração de mão de obra e o desemprego. Nesse contexto, o sociólogo e dramaturgo alemão Bertolt Brecht potencializa, por exemplo, o Teatro Épico, modalidade que inclui temáticas de cunho social com o objetivo de promover o debate de ideias e o pensamento crítico sobre a sociedade e a política.

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HQ, charges, cartuns e tirinhasAs charges, histórias em quadrinhos, cartuns e tirinhas são gêneros textuais que trazem

elementos que extrapolam a linguagem verbal. Nesses textos, a disposição dos elementos gráficos, os balões de fala, os lapsos de tempo e as metáforas visuais são fundamentais para a compreensão do conjunto. Em geral, o contexto é muito importante para esses textos que tendem a dialogar com eventos históricos ou cotidianos.

“Eleições de cabresto” por StorniDisponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Elei%C3%A7%-C3%B5es_de_cabresto.jpg#mediaviewer/Ficheiro:Elei%C3%A7%-C3%B5es_de_cabresto.jpg> Acesso em: 28/07/2014

A charge é uma ilustração caricatural com objetivo de satirizar acontecimentos em de-terminado contexto espacial e temporal, sendo, portanto, um importante registro histórico. A palavra é originalmente francesa e está associada ao exagero dos traçados com o objetivo de tornar o que está sendo retratado mais engraçado. No tocante ao formato, a charge é habitualmente uma imagem, mas também pode compor uma sequencia e estar dentro de quadros ou aberta com legendas e balões.

Por: NanquimDisponível em: <http://bit.ly/1rZNLAP> Acesso em: 29/07/2014

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O cartum também é um desenho humorístico de caráter crítico e tende a retratar o dia a dia de uma sociedade por meio de temas que são universais. A obra pode ser composta por uma imagem, duas ou três dentro de quadrinhos ou aberto, bem como pode conter ba-lões, legendas e temas fixos.

Autor: Eliseu NetoDisponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Eliseu_Tirinha.jpg> Acesso em: 29/07/2014.

Os quadrinhos possuem uma narrativa sequencial composta por quadros em ordem cronológica. O elenco e personagens são fixos e os fatos são desenrolados por meio de legendas e balões com texto. No Brasil, é comum a comercialização das revistas em quadri-nhos que retratam histórias de super-heróis, entre outras. A tira ou tirinha é uma pequena sequência de quadrinhos e está mais disseminada em jornais. As mais famosas são Calvin e Haroldo, Mafalda, Garfield, Asterix e Obelix, Recruta Zero, Turma da Mônica, etc. Há ainda os mangás, histórias em quadrinhos japonesas, que possuem padrão de leitura inverso ao ocidental, ou seja, inicia-se pelo que seria a contracapa de uma revista brasileira.

1.3. Patrimônio cultural: memória e cidadania

A ideia contida no termo patrimônio sugere algo que é deixado de uma geração para outra, um conjunto de bens, uma herança. Apesar de originalmente o termo estar associado à passagem dos bens do pai para seus herdeiros, foi na Revolução Francesa que ele recebeu uma nova concepção. É a partir desse momento que se desenvolve uma nova relação com símbolos do passado e se elaboram as primeiras ações políticas, bem como os primeiros instrumentos legais e técnicos para a conservação dos bens. O objetivo dessas ações foi o de preservar os feitos do passado ao mesmo tempo em que se buscava mostrar a grandeza da nação e uma preocupação constante com o progresso.

Aos poucos esse valor avançou por outras partes do mundo, auxiliando na construção e consolidação dos Estados-Nações, principalmente os ocidentais. Nessa época, os bens eram preservados com o argumento de que representavam um testemunho fidedigno da história, pautados por uma visão centrada nos grandes eventos, personalidades e valores estéticos, o que levou a construção e preservação de inúmeras esculturas, monumentos e estátuas. Por outro lado, as manifestações artísticas e culturais das classes populares, tais como a tradição oral e as festividades, não eram consideradas patrimônios históricos ou culturais.

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Durante o século XX, muitas mudanças impactaram diretamente na percepção do que seria um patrimônio. As guerras mundiais e a criação dos órgãos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), trouxeram a preocupação com os direitos da hu-manidade, o que originou uma série de leis e acordos que teriam como foco a preservação do patrimônio cultural em escala global através da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

Nos dias de hoje, o patrimônio cultural se apresenta de diferentes maneiras. Os bens ma-teriais têm grande presença nas políticas públicas e estão divididos em bens móveis e bens imóveis. Os bens móveis consistem na produção pictórica, escultórica, mobiliário, material ritual, bem como coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos. Os bens imóveis, por sua vez, constituem o patrimônio de uma sociedade e de um lugar. Nesse conjunto estão incluídos núcleos históricos, conjuntos urbanos e complexos paisagísticos, assim como, as áreas adja-centes dos bens materiais. Os bens imateriais ou intangíveis configuram a produção cultural de um povo. São compostos pelas práticas, conhecimentos e domínios que se manifestam em maneiras de fazer, saberes, ofícios, manifestações culturais, etc.

De maneira equivalente, surge a preocupação com o patrimônio natural, composto pelas feições, sítios e paisagens de características particulares, naturais ou transformados pelo ho-mem. De acordo com Carlos Fernando Delphim (2004), a preservação dos bens naturais se fundamenta em questões culturais, pois é em parte uma preocupação com o entendimento de que o homem é o único ser capaz de compreender os fenômenos e seres com os quais com-partilha o espaço e o tempo. Dessa forma, é possível compreender a sinergia entre esses seres e a relação cultural de cada grupo com a natureza, evidenciando os diversos significados, sejam afetivos, artísticos, históricos, legendários, míticos, religiosos, simbólicos etc.

No Brasil, a legislação referente à preservação do patrimônio cultural tem início no Gover-no Vargas com a criação do que hoje é o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), responsável pelo tombamento3 e preservação de edifícios, paisagens e conjuntos históricos. Mas é apenas a partir da Constituição Federal de 1988, a “Constituição Cidadã”4, que o patrimônio foi contemplado de maneira mais ampla e os instrumentos de preservação foram mais bem detalhados. Nesse sentido, o Estado passa a reconhecer a existência de bens culturais de natureza material e imaterial. Ainda hoje, as leis de patrimônio são discutidas e revistas buscando contemplar novas manifestações e criar novas ferramentas de preservação. A Unesco exerce um papel importante na conservação do patrimônio ao listar ou classificar um patrimônio, reconhecendo-o com valor excepcional, nos termos da chamada Convenção do Patrimônio Mundial.

3 A palavra tombamento, originalmente portuguesa (ligada à Torre do Tombo, o mais importante arquivo de Portugal), está relacionada ao registro do patrimônio de uma pessoa em livros específicos do Estado. A palavra é utilizada no sentido de guardar algo valioso para um povo, protegendo-o por meio de leis específicas.

4 Para saber mais a Constituição Federal de 1988, leia o texto “Direitos Humanos e Cidadania”.

◄ 15 ►

ArquiteturaArte é arquitetura e a arquitetura é arte. A história da arquitetura está diretamente relacio-

nada à evolução humana. Relembrando todas as linguagens arquitetônicas, desde os primór-dios da humanidade, é impossível dissociar a relação entre elas: os ideais gregos de estética construtiva, os entalhes, detalhes, o rebuscado desenho de um capitel coríntio, por exemplo.

Dos tijolos de barro seco ao concreto armado, das casas mais primitivas aos arranha--céus, das primeiras tumbas sagradas às grandiosas catedrais europeias, de pequenos vila-rejos pré-históricos às ilhas artificiais, o arquiteto continua (re)contando a história com linhas, formas, texturas e cores. Como não considerar a arte de Antoni Gaudí e de Oscar Niemeyer?

Fachada da Casa Batlló, de Gaudí, em Barcelona. Dis-ponível em: Por: Sebastian Niedlich. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/42311564@N00/3570381761> Acesso em 30/07/2014.

Fachada do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. Disponível em: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c9/Museu_Oscar_Niemeyer_7_Curiti-ba_Brasil.jpg> Acesso em: 30/07/2014

O arquiteto é um profissional de formação superior, reconhecido pelo Ministério do Trabalho e regulamentada pela Lei Federal 12.378 de 31/12/2010. Sua formação se dá através dos cursos de arquitetura e urbanismo que tem duração de cinco anos, onde são abordados temas como história da arte, representação gráfica, informática, resistência dos materiais, planejamento urbano, conforto ambiental, paisagismo, arquitetura de inte-riores, entre outros. A formação do arquiteto possibilita atuação em várias áreas.

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A preservação do patrimônio é uma preocupação constante das sociedades com sua his-tória – principalmente com o movimento de globalização homogeneizante – e isso justifica o crescimento dos investimentos de governos e organizações internacionais, que buscam por meio de políticas públicas garantir o acesso às memórias e saberes de seus povos. A amplia-ção do conjunto de elementos que podem ser considerados um patrimônio foi fundamental para perceber a diversidade das sociedades e permitir o registro e o passado de todo um conjunto social. Dessa forma, o patrimônio cultural serve como um forte subsídio à democra-cia, à cidadania e, sobretudo, ao respeito à diversidade.

2. Manifestações artísticas e culturais no Brasil

O Brasil é um país com grande diversidade cultural. As diferenças culturais presentes no Brasil estão diretamente relacionadas ao modelo de colonização, forma de ocupação e ativi-dades econômicas desenvolvidas nas distintas regiões, bem como as relações sociais, o pro-cesso de miscigenação e de apropriação cultural entre os povos nativos e os colonizadores e estrangeiros (portugueses, holandeses, franceses, africanos de diversas origens, espanhóis, italianos, japoneses, alemães, poloneses, árabes). Por essa razão, temeu-se, durante muito tempo, que essa multiplicidade cultural, bem como as divergências políticas, a especificidade econômica e climática, etc., levasse à fragmentação do território brasileiro, como ocorreu com a América espanhola. Contudo, é essa “colcha de retalho”, formada pelas variadas formas de expressões culturais e artísticas, que representa o povo brasileiro.

No entanto, as diferenças regionais fizeram surgir ideias de cultura “superior” e “inferior” entre os Estados, geralmente baseadas em preconceitos. Até o século XIX, entendia-se que cultura era algo que alguns povos possuíam e outros não. O termo era grafado em letra maiúscula e estava conectado à ideia que hoje é definida como cultura erudita. Com o de-senvolvimento dos estudos antropológicos e etnográficos, a hierarquização entre as diferentes culturas foi sendo problematizada e minada. Dessa forma, a cultura popular passa a ser percebida e valorizada em suas diversas expressões.

Cada cultura traz consigo traços artísticos únicos que marcam sua época e deixam influências significativas para as gerações futuras. É uma leitura que não exclui a cultura tradicional, mas amplia a oportunidade de outras expressões culturais também serem valorizadas e fomentadas.

2.1. Semana de arte moderna: em busca de um paradigma nacional do fazer artístico

Escritores e artistas brasileiros já não se contentavam em seguir somente as tendências do Realismo-Naturalismo, do Parnasianismo, do Simbolismo. Particularmente em São Paulo, a industrialização e os recursos financeiros provenientes da cafeicultura criavam um clima propício à difusão do gosto pela renovação estética. De modo que o contato com as Vanguar-das europeias (Futurismo, Cubismo, Expressionismo, Dadaísmo e Surrealismo) começou a produzir efeitos que coincidiam com esses ideais. Assim, um punhado de jovens intelectuais, poetas, jornalistas e artistas de São Paulo e do Rio de Janeiro desencadearam manifestações de renovação destrutiva entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo. Inicialmente com forte influência importada de Paris, depois com uma raiz auten-ticamente brasileira, essas ações inspiraram e inspiram gerações.

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Apesar de suas intenções, o movimento gerou muita desaprovação e insatisfação no público, sendo pouco compreendido pela elite paulista. Os artistas, no entanto, não desanimaram e, ao contrário, ganharam mais força para se manifestar. Artistas de diversos ramos participaram do movimento: os pintores Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral; os escritores Oswald de Andrade, Mario de Andrade, Guilherme de Almeida, Manuel Bandeira, Menotti del Picchia, Antônio Alcântara Machado; o escultor Victor Brechret; os compositores Ernâni Braga, Villa-Lo-bos, entre outros. O movimento persistiu e se propagou tanto através da Revista Antropofágica e da Revista Klaxon, como através dos manifestos Antropofágico e Pau-Brasil.

Fonte: AMARAL, Aracy. Artes Plásticas da Semana de 22. 5ªed. São Paulo: Editora 34, 1998, p.238.

O objetivo do movimento era claro: promover o nascimento de “uma arte genuinamente brasilei-ra”5. A inspiração até pode ter tido sua influência nas Vanguardas europeias, mas seu conteúdo e sua forma de expressão assumiram características brasileiras. Eram conteúdos modernos que defen-diam a liberdade de criação; desaprovavam a supervalorização de formas rígidas na escrita; valo-rizavam a língua falada e suas formas coloquiais e populares como um patrimônio cultural do país.

É importante frisar, no entanto, que a primeira tentativa consciente de criar uma arte ver-dadeiramente brasileira foi durante o Romantismo. A Semana de Arte Moderna ressuscita essa valorização sob uma perspectiva crítica das realidades nacionais. Os artistas queriam não só inovar o ambiente artístico e cultural, divulgando novas ideias e conceitos, como tam-bém buscavam conhecer essa realidade nacional a fundo e descobrir as causas dos proble-mas sociais do país, expondo-os em forma de arte.

5 Bosi, 1994.

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Abaporu, deTarsila do Amaral.Disponível em: <http://bit.ly/1nPeqkA> Aces-so em 28/07/2014.

Alguns movimentos artísticos que surgiram depois, na segunda metade do século XX, podem ser considerados desdobramentos de algumas ideias estéticas apresentadas original-mente na Semana de 22. Destacam-se, por exemplo, no cinema, os filmes do diretor Glauber Rocha; na música, o movimento do Tropicalismo; e no teatro, a chamada geração do Teatro Lira Paulistana, entre outros.

2.2. Arte contemporânea no Brasil: da década de 60 aos dias atuais

Como vimos, o Modernismo marca a consolidação de uma arte genuinamente brasileira, a qual manteve diálogos constantes com outras culturas, devido à miscigenação e à globa-lização do século XXI. Desse modo, podemos dizer que a produção artística brasileira con-temporânea sofre influências globais sem deixar de valorizar aspectos culturais nacionais.Esse processo, já defendido por figuras como Oswald de Andrade, em seu Manifesto Antro-pofágico, se intensifica na década de 60. Nessa época, os famosos festivais de MPB deram voz a jovens artistas que apresentavam linguagem verbal e musical extremamente diferente daquilo que o país vinha produzindo. Surgia aí, das mãos de Tom Zé, Os Mutantes, Gilberto Gil e Caetano Veloso, o movimento do Tropicalismo. Eles partiam das inovações musicais da Bossa Nova, de Tom Jobim, Vinicius de Moraes e João Gilberto, e, inspirados pelas ideias de Oswald, buscavam “engolir” ao mesmo tempo o Rock dos Beatles e a música nordestina de Luís Gonzaga, por exemplo.

A música Tropicália, de Caetano Veloso, é considerada uma espécie de manifesto do tro-picalismo e apresenta aspectos formais próximos àqueles propostos pelos modernistas, como a técnica cinematográfica, a fragmentação e a valorização crítica da cultura nacional. É interessante notar que esse diálogo entre o nacional e o global proposto pelos modernistas e intensificado pelos tropicalistas, se mantém como uma realidade na prática de muitos artistas contemporâneos, como é o caso de Zeca Baleiro, Lenine e Carlinhos Brown.

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Manifestações da cultura popular brasileira: o FunkAriano Suassuna, um dos principais escritores brasileiros do século XX, define cultura

popular a partir da concepção de dominação de um grupo ou povo sobre outro. Ele exemplifica: “a cultura portuguesa dominou a princípio a cultura indígena e a negra. E, então, a cultura portuguesa ficou sendo considerada a erudita; a outra era a popular. Depois, com o processo de fusão das diversas etnias você começou a ter o princípio do povo brasileiro, formado pelos descendentes mestiços de negros, índios e portugueses pobres. (...) E é a isso que eu chamo ‘arte popular’”6 .

Em consonância com o que acredita o escritor, são múltiplas as manifestações da cultura popular no Brasil. De norte a sul, de leste a oeste, o povo brasileiro expressa a sua arte através de festas regionais, estilos musicais, danças, artes plásticas, entre ou-tros. Como exemplo, temos o surgimento do funk carioca, que reflete a vida dos jovens pobres, moradores das favelas da cidade, seu dia a dia e sua identidade cultural.

Muitas pessoas, estranhando uma cultura diferente da sua, se posicionaram contra o funk. Alguns segmentos da sociedade reproduzem um estigma social que relaciona os funkeiros a bandidos ou “coisa de gente sem cultura”. Por outro lado, desde 22 de setembro de 2009, o funk tornou-se patrimônio cultural do Estado do Rio de Janeiro segundo a lei nº 5543.

Com o advento da televisão, em 1950, o Brasil passou a adaptar e produzir um produto que logo se tornaria uma mania nacional. Esse gênero dramatúrgico lançou moda, provocou polêmicas, despertou admiração e ódio do público. Ao longo do tempo, as tramas passaram a retratar, em alguma medida, espaços sociais pouco explorados no horário nobre.

As décadas de 60 e 70 também foram muito profícuas para a consolidação de um fazer teatral brasileiro. Nesse período, muitas companhias brasileiras começam a dar seus pri-meiros passos. Vale destacar o papel fundamental de Augusto Boal, do Teatro de Arena, de José Celso Martinez, do Teatro Oficina e de Oduvaldo Viana Filho, do Grupo Opinião, que apresentavam uma linguagem teatral inovadora e singular com o objetivo maior de contestar a realidade brasileira e também de valorizar as produções dramatúrgicas nacionais.

Além do Tropicalismo e do teatro Oficina outros movimentos artísticos funcionaram como focos de resistência ao governo militar. Movimentos de renovação, baseados no engajamento político e social, transformaram também o cinema, as artes plásticas e a literatura. A Poesia Marginal foi um importante movimento do período, pois criou propostas inovadoras de ex-pressão artística, fortemente voltadas para a realidade nacional, que redefiniram os rumos da cultura brasileira. Com uma linguagem coloquial, construções irreverentes e com publi-cações artesanais, autores como Ana Cristina Cesar e Paulo Leminski tornaram-se expoentes da literatura brasileira influenciando o fazer poético até os dias de hoje.

Do ponto de vista do romance, seguiram-se as direções daquilo que aconteceu nas déca-das de 30 e 40, ou seja, continuamos vendo, em algum sentido, uma valorização da ficção regionalista e da ficção psicológica. Por outro lado, novos temas como a “violência urbana” são explorados. Assim, o romance policial, cujo representante principal no Brasil é Rubem Fonseca, inspira e alimenta a temática, que ganha destaque até hoje na obra de jovens au-tores, como Patrícia Melo, Ana Paula Maia e Daniel Galera.

6 Suassuna, 2009.

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A temática do cotidiano, expressa não só na questão da violência, é recorrente entre os artistas plásticos brasileiros, como Adriana Varejão e Cildo Meireles. Por fim, é interessante destacar que esses artistas hoje expõem parte de seus trabalhos no maior museu a céu aberto da América Latina, o Instituto Inhotim, que fica em Minas Gerais, na cidade de Brumadinho.

A arte contemporânea está cada vez mais presente em nosso cotidiano, transpassando a realidade e ligando eventos corriqueiros e o nosso contexto ao fazer arte. Ao mesmo tempo em que dialoga com a intimidade dos artistas, busca expressar questões universais o que impossibilita que a ela sejam impostas regras e modelos. A natureza desse momento é de profunda contestação dos materiais, meios e espaços, o que gera conflitos e abre possibilida-des para a expressão e vivência da arte.

As tecnologias têm tido papel fundamental para o atual momento da arte, pois permitem uma maior difusão, vivência e criação artística. Além de novos materiais e temas que muitas vezes possuem uma abrangência global. Esse momento permite que o fazer arte seja mais democrático e participativo. Nos centros urbanos, por exemplo, tem grande destaque o gra-fite que utiliza os muros e paredes formando verdadeiros mosaicos urbanos. Nesse sentido, a arte leva o sujeito a se perceber dentro do tempo e do espaço de maneira crítica, participati-va e combativa, pois o fazer artístico não está alheio a ele, mas presentes em sua realidade.

Arte e ProfissãoUma pesquisa nos sites das principais Universidades públicas do Rio de Janeiro

permite encontrar uma vasta lista de cursos de graduação ligados às Artes. Composi-ção de Interior, Composição Paisagística, Comunicação Visual - Design, Conservação e Restauração, Artes Visuais com ênfase em Escultura, Desenho Industrial - Projeto de Produto, Gravura, História da Arte, Artes Cênicas, Cenografia e Indumentária, Direção Teatral, Estética e Teoria do Teatro, Cinema e Audiovisual, Licenciatura em Educação Artística e Pintura. Além disso, nas carreiras oferecidas ligadas à música existem gra-duações nas modalidades bacharelado e licenciatura em várias terminalidades (Canto, Composição, Regência, Percussão, Piano, Saxofone, entre outros).

Mais recentemente, a PUC-Rio, por meio do Departamento de Letras, criou a ha-bilitação em Formação de Escritor, que visa à capacitação de alunos interessados em produção textual para roteiros de televisão, cinema, ficção, poesia, teatro, etc.

Pouca gente sabe, mas a profissionalização artística também pode ser feita em ou-tras instituições públicas de ensino, como a Escola de Música Villa-Lobos (Secretaria de Estado de Cultura/FUNARJ), a Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Pena (FAE-TEC) e a Escola Nacionalde Circo (FUNARTE).

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Considerações Finais

As artes e as manifestações artísticas acompanham o desenvolvimento da humanidade, ajudando a (re)construção e a compreensão da nossa história ao longo dos séculos. As di-versas formas de expressões das artes, produtos de determinados contextos históricos, con-tinuarão retratando e influenciando o cotidiano e as relações humanas, na manutenção do “status quo” ou como forma de resistência. Ao mesmo tempo, as demandas da dinâmica do espaço-tempo atual, as inovações tecnológicas e as interações globais, são fatores que afe-tam o modo de criação e a forma de percepção da arte: a apropriação da obra pelo públi-co, os meios de difusão do conteúdo artístico e o intercâmbio entre diferentes manifestações integram os novos caminhos que hoje englobam esse significativo campo de conhecimento.

Por estabelecer vínculos muito estreitos com o cotidiano e com todas as outras formas de saber, a Arte é um excelente caminho para entendermos nossa cultura, tanto local quanto global, e, partindo da nossa experiência pessoal, manifestar um ponto de vista, colocando--nos como coprodutores da obra artística. A arte nos cerca. Viva-a!

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