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Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00 L’O S S E RVATORE ROMANO EDIÇÃO SEMANAL Unicuique suum EM PORTUGUÊS Non praevalebunt Ano XLVIII, número 21 (2.466) Cidade do Vaticano quinta-feira 25 de maio de 2017 y(7HB5G3*QLTKKS( +/!z!,!?!#! O Papa Francisco visitou a periferia romana Com a linguagem da docilidade Num condomínio de Ostia e na paróquia de São Pedro Damião Muitas vezes Francisco confiden- ciou: o serviço do pároco que vai ter com as pessoas é o seu «sonho» de sacerdote e também a expressão mais direta da Igreja «em saída». Assim, na tarde de sexta-feira, 19 de maio, o bispo de Roma vestiu a es- tola de pároco para abençoar as fa- mílias de dois edifícios num condo- mínio de casas populares em Ostia, periferia da periferia. Praticamente, o Papa deu uma ajuda ao padre Plinio Poncina, páro- co de Santa Maria Stella Maris, que desde antes da Páscoa está a visitar as casas, para a tradicional bênção. Deste modo, com outra iniciativa de surpresa, também no mês de maio Francisco prosseguiu, com as chama- das «sextas-feiras da misericórdia», os sinais inspirados nas obras de mi- sericórdia corporais e espirituais que o bispo de Roma realizou durante o jubileu. E continua a realizar. Desta vez o Pontífice testemunhou um «si- nal de proximidade às famílias resi- dentes na periferia de Roma», expli- cou uma nota difundida pela Sala de imprensa da Santa Sé. «Admirei-me que o Papa me te- nha agradecido porque lhe permiti “ser pároco”: foi o máximo — disse o padre Plinio — mas sobretudo um encorajamento para todos os páro- cos, foi como se nos tivesse dito “o teu trabalho é aquele com o qual também eu sonho”». O Papa dedicou a tarde de do- mingo, 21 de maio, a outra periferia romana, onde foi em visita pastoral. A escolha foi a paróquia romana de São Pedro Damião em Casal Ber- nocchi, zona de Acilia, onde parecia que tivesse chegado alguém de casa, um da família. De facto, alegria e entusiasmo animaram este cantinho da extrema periferia meridional da cidade. Já desde as primeiras horas da tarde as pessoas do bairro tinham ocupado os lugares atrás das barrei- ras na praça adjacente à igreja e ao longo da estrada que leva ao campo desportivo onde estava prevista a chegada do Papa. Aqui espera- vam-no os jovens atletas da associa- ção desportiva «Vita Nuova Casal Bernocchi», as crianças e os adoles- centes de São Pedro Damião junta- mente com os da paróquia vizinha de São Pio de Pietrelcina. Depois de ter respondido às suas perguntas, o Pontífice visitou a estrutura paro- quial onde, em vários locais, saudou cerca de setenta doentes, onze mães com crianças batizadas ao longo do ano e a comunidade Caminho neo- catecumenal. Em seguida, confessou quatro fiéis e celebrou a missa pro- nunciando a homilia, durante a qual sublinhou que a dos cristãos deve ser uma «linguagem de docilidade e respeito». PÁGINAS 8 E 9 Após a oração do Regina caeli o Pontífice anunciou a criação de cinco cardeais De quatro continentes Renovado apelo a favor da paz na República Centro-Africana Testemunhos da América Latina Lágrimas de mulher no deserto MARIA CLARA L. BINGEMER NA PÁGINA 12 Condenação do fundamentalismo Não se honra o nome de Deus matando PÁGINA 3 O drama da doença de Huntington Nunca mais escondidos PÁGINA 7 Às Pias discípulas do divino Mestre Profecia da alegria PÁGINA 4 D. Jean Zerbo, arcebispo de Bamako, no Mali; D. Juan José Omella, arcebispo de Barcelona, na Espanha; D. Anders Arborelius, bispo de Estocolmo, na Suécia; D. Luis Marie-Ling Mangkhanekhoun, bispo titular de Aquae Novae in Proconsulari, vigário apostólico de Paksé, no Laos; e D. Gregorio Rosa Chávez, bispo ti- tular de Mulli, auxiliar da arquidiocese de San Salva- dor, em El Savador. São os cinco novos cardeais que o Papa criará no consistório de 28 de junho. Ele deu o anúncio no final do Regina caeli de domingo 21 de maio, comunicando também que no dia seguinte, quin- ta-feira 29 de junho, solenidade dos santos apóstolos Pedro e Paulo, concelebrará «a santa missa com os no- vos cardeais, o colégio cardinalício, os novos bispos, os arcebispos metropolitanos, os prelados e alguns presbí- teros». Confiando os novos purpurados aos dois pa- droeiros de Roma, Francisco convidou os fiéis presen- tes na praça de São Pedro a rezar a fim de, que com a intercessão do primeiro «sejam autênticos servidores da comunhão eclesial» e com a do segundo «sejam anun- ciadores jubilosos do Evangelho no mundo inteiro, e com o seu testemunho e conselho me ajudem mais in- tensamente no meu serviço de bispo de Roma, pastor universal da Igreja». De resto, frisou, «a sua prove- niência de diferentes partes do mundo manifesta a ca- tolicidade da Igreja difundida em toda a Terra e a atri- buição de um título ou de uma diaconia na urbe expri- me a pertença dos cardeais à diocese de Roma que, se- gundo a conhecida expressão de Santo Inácio de An- tioquia, preside na caridade a todas as Igrejas». Como de costume, a oração mariana dominical ofe- receu ao Papa também a ocasião para recordar mulhe- res e homens que vivem situações de particular dificul- dade. Como os habitantes da República Centro-Africa- na, de onde «infelizmente chegam notícias dolorosas». Depois, Francisco referiu-se à festa da bem-aventurada Virgem Maria «auxílio dos cristãos», venerada no san- tuário chinês de Sheshan em Xangai. PÁGINA 5

Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00 OL’ S S E RVATOR E … · nocchi, zona de Acilia, onde parecia que tivesse chegado alguém de casa, ... ção desportiva «Vita Nuova

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Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00

L’O S S E RVATOR E ROMANOEDIÇÃO SEMANAL

Unicuique suum

EM PORTUGUÊSNon praevalebunt

Ano XLVIII, número 21 (2.466) Cidade do Vaticano quinta-feira 25 de maio de 2017

y(7HB5G3*QLTKKS( +/!z!,!?!#!

O Papa Francisco visitou a periferia romana

Com a linguagem da docilidadeNum condomínio de Ostia e na paróquia de São Pedro Damião

Muitas vezes Francisco confiden-ciou: o serviço do pároco que vai tercom as pessoas é o seu «sonho» desacerdote e também a expressãomais direta da Igreja «em saída».Assim, na tarde de sexta-feira, 19 demaio, o bispo de Roma vestiu a es-tola de pároco para abençoar as fa-mílias de dois edifícios num condo-mínio de casas populares em Ostia,periferia da periferia.

Praticamente, o Papa deu umaajuda ao padre Plinio Poncina, páro-co de Santa Maria Stella Maris, quedesde antes da Páscoa está a visitaras casas, para a tradicional bênção.Deste modo, com outra iniciativa desurpresa, também no mês de maioFrancisco prosseguiu, com as chama-das «sextas-feiras da misericórdia»,os sinais inspirados nas obras de mi-sericórdia corporais e espirituais queo bispo de Roma realizou durante ojubileu. E continua a realizar. Destavez o Pontífice testemunhou um «si-nal de proximidade às famílias resi-dentes na periferia de Roma», expli-cou uma nota difundida pela Salade imprensa da Santa Sé.

«Admirei-me que o Papa me te-nha agradecido porque lhe permiti

“ser pároco”: foi o máximo — disse opadre Plinio — mas sobretudo umencorajamento para todos os páro-cos, foi como se nos tivesse dito “oteu trabalho é aquele com o qualtambém eu sonho”».

O Papa dedicou a tarde de do-mingo, 21 de maio, a outra periferiaromana, onde foi em visita pastoral.A escolha foi a paróquia romana deSão Pedro Damião em Casal Ber-nocchi, zona de Acilia, onde pareciaque tivesse chegado alguém de casa,um da família. De facto, alegria eentusiasmo animaram este cantinhoda extrema periferia meridional dacidade. Já desde as primeiras horasda tarde as pessoas do bairro tinhamocupado os lugares atrás das barrei-ras na praça adjacente à igreja e aolongo da estrada que leva ao campodesportivo onde estava prevista achegada do Papa. Aqui espera-vam-no os jovens atletas da associa-ção desportiva «Vita Nuova CasalBernocchi», as crianças e os adoles-centes de São Pedro Damião junta-mente com os da paróquia vizinhade São Pio de Pietrelcina. Depois deter respondido às suas perguntas, oPontífice visitou a estrutura paro-quial onde, em vários locais, saudoucerca de setenta doentes, onze mãescom crianças batizadas ao longo doano e a comunidade Caminho neo-catecumenal. Em seguida, confessouquatro fiéis e celebrou a missa pro-

nunciando a homilia, durante a qualsublinhou que a dos cristãos deveser uma «linguagem de docilidade eresp eito».

PÁGINAS 8 E 9

Após a oração do Regina caeli o Pontífice anunciou a criação de cinco cardeais

De quatro continentesRenovado apelo a favor da paz na República Centro-Africana

Testemunhos da América Latina

Lágrimas de mulherno deserto

MARIA CLARA L. BINGEMER NA PÁGINA 12

Condenação do fundamentalismo

Não se honrao nome de Deus matando

PÁGINA 3

O drama da doença de Huntington

Nunca maisescondidos

PÁGINA 7

Às Pias discípulas do divino Mestre

Profecia da alegria

PÁGINA 4

D. Jean Zerbo, arcebispo de Bamako, no Mali; D. JuanJosé Omella, arcebispo de Barcelona, na Espanha; D.Anders Arborelius, bispo de Estocolmo, na Suécia; D.Luis Marie-Ling Mangkhanekhoun, bispo titular deAquae Novae in Proconsulari, vigário apostólico dePaksé, no Laos; e D. Gregorio Rosa Chávez, bispo ti-tular de Mulli, auxiliar da arquidiocese de San Salva-dor, em El Savador. São os cinco novos cardeais que oPapa criará no consistório de 28 de junho. Ele deu oanúncio no final do Regina caeli de domingo 21 demaio, comunicando também que no dia seguinte, quin-ta-feira 29 de junho, solenidade dos santos apóstolos

Pedro e Paulo, concelebrará «a santa missa com os no-vos cardeais, o colégio cardinalício, os novos bispos, osarcebispos metropolitanos, os prelados e alguns presbí-teros». Confiando os novos purpurados aos dois pa-droeiros de Roma, Francisco convidou os fiéis presen-tes na praça de São Pedro a rezar a fim de, que com aintercessão do primeiro «sejam autênticos servidores dacomunhão eclesial» e com a do segundo «sejam anun-ciadores jubilosos do Evangelho no mundo inteiro, ecom o seu testemunho e conselho me ajudem mais in-tensamente no meu serviço de bispo de Roma, pastoruniversal da Igreja». De resto, frisou, «a sua prove-niência de diferentes partes do mundo manifesta a ca-tolicidade da Igreja difundida em toda a Terra e a atri-buição de um título ou de uma diaconia na urbe expri-me a pertença dos cardeais à diocese de Roma que, se-gundo a conhecida expressão de Santo Inácio de An-tioquia, preside na caridade a todas as Igrejas».

Como de costume, a oração mariana dominical ofe-receu ao Papa também a ocasião para recordar mulhe-res e homens que vivem situações de particular dificul-dade. Como os habitantes da República Centro-Africa-na, de onde «infelizmente chegam notícias dolorosas».Depois, Francisco referiu-se à festa da bem-aventuradaVirgem Maria «auxílio dos cristãos», venerada no san-tuário chinês de Sheshan em Xangai.

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página 2 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 25 de maio de 2017, número 21

L’OSSERVATORE ROMANOEDIÇÃO SEMANAL

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w w w. o s s e r v a t o re ro m a n o .v a

GI O VA N N I MARIA VIANd i re t o r

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Seis novos embaixadores

presidência da República, encarrega-da dos assuntos culturais e sociais(2005); assistente comissária para asegurança alimentar (2009-2014); ecomissária para os direitos do ho-mem na ação humanitária (fevereirode 2014); atualmente é embaixadorada Mauritânia na França.

NE PA L

Sua Excelência o senhor RameshPrasad Khanal, novo embaixador daRepública Federal do Nepal juntoda Santa Sé, nasceu a 16 de novem-bro de 1961. É casado e tem dois fi-lhos. Diplomado em jornalismo noNepal Press Institute (Npi) e em lín-gua japonesa no Japanese LanguageInstitute (Japan Foundation) de Tó-quio, realizou estudos especiais so-bre a segurança no Asia Pacific Cen-tre for Security Studies (Apcss), Ha-vaí, Estados Unidos da América.Formou-se em direito e obteve um

master em letras de ciências políticasna Trubhuwan University de Kath-mandu. Desempenhou os seguintescargos: subsecretário dos departa-mentos para Europa-América, Sul,Sudeste e Norte da Ásia no ministé-rio dos negócios estrangeiros (Mne)de 1988 a 1994; segundo secretário edepois primeiro-secretário de embai-xada na China (1994-1998); subsecre-tário dos departamentos do Protoco-lo e das Organizações internacionaise das Nações Unidas no Mne (1998-2001); primeiro-secretário de embai-xada na Arábia Saudita (2001-2004);conselheiro e em seguida ministroconselheiro de embaixada em Ban-gladesh (2005-2009); subsecretáriodos departamentos dos Negócioseconómicos multilaterais e dos pas-saportes no Mne (2009-2010); minis-tro conselheiro de embaixada em Is-rael (2010-2013); diretor-geral do de-partamento dos passaportes no Mne(2013-2014); e chefe do Protocolo noMne (2015-2016).

TRINDADE E TOBAGO

Sua Excelência o senhor ColinMichael Connelly, novo embaixadorde Trindade e Tobago junto da San-ta Sé nasceu em Trindade e Tobagoa 21 de dezembro de 1961. É casadoe tem um filho. Formou-se em le-

tras, história, língua e literatura naUniversity of the West Indies (SaintAugustine Campus) em 1986 e de-pois conseguiu um diploma em rela-ções internacionais em 1988 e emeducação na mesma universidade em1993. Obteve um certificado em ne-gociação de conflito e resolução de-controvérsias no United NationsInstitute for Training and Research(Unitar) em 2008 e um master emestudos de segurança internacionalna University of Leicester, na Ingla-terra em 2012. Desempenhou os se-guintes cargos: desk officer, departa-mento do protocolo e consular noministério dos negócios estrangeiros(Mne), 1999-2000; desk officer, de-partamento para a África, Ásia, Mé-dio Oriente e Pacífico no Mne,2000-2004; diretor adjunto, departa-mento África, Ásia, Médio oriente ePacífico no Mne, 2003-2004; primei-ro-secretário no Alto comissariadoem Londres, 2004-2007; conselheirode embaixada na Nigéria, 2007-2012;desk officer, departamento para aÁfrica, Ásia, Médio Oriente e Pacífi-co no Mne, 2012-2014; conselheirode embaixada e encarregado de ne-gócios ad interim em WashingtonD.C., desde 2014.

SUDÃO

Sua Excelência o senhor Daffa-Al-la Elhag Ali Osman, novo embaixa-dor do Sudão junto da Santa Sé,nasceu em Sinja a 3 de março de1955. É casado e tem duas filhas.Formado em letras pela universidadede Khartoum em 1978, sucessiva-mente frequentou um master em re-lações internacionais na universidadede Preston, no Paquistão, em 2008.Desempenhou os seguintes cargos:tradutor na agência postal central,Taif City, Arábia Saudita (novembrode 1978 — novembro de 1979); tercei-ro secretário e depois segundo secre-tário junto do ministério dos negó-cios estrangeiros (Mne) de 1980 a1983; segundo secretário de embaixa-da em Bangui (1983-1986); primeiro-secretário da missão permanentejunto das Nações Unidas em Gene-bra (1986-1989); primeiro-secretáriono Mne (1989-1991); conselheiro deembaixada em Seul (1990-1992); con-selheiro de embaixada no Cairo(1992-1994) e cônsul-geral em Ale-xandria, Egito (1993-1994); conse-lheiro e ministro no Mne (1994-1996); ministro da representação per-manente junto das Nações Unidas,Nova Iorque (1996-2000); relator docomité nacional preparatório para aCimeira mundial sobre a sociedadeda informação (Wsis), 2001-2004;chefe da Autoridade nacional para aaplicação das disposições previstaspela Convenção sobre proibição dasarmas químicas (2001-2004); diretorde departamento das organizaçõesinternacionais no Mne (2001-2004);embaixador em Islamabad (2004-2008); diretor-geral da sociedade pe-

trolífera Zaver, Sudão; representantepermanente junto das Nações Uni-das, Nova Iorque (2010-2013); dire-tor-geral no Mne (2014-2016). Desde2016, é embaixador do Sudão naFrança, Portugal e Principado deMónaco.

CAZAQUISTÃO

Sua Excelência a senhora ZhanarAitzhan, nova embaixadora do Ca-zaquistão junto da Santa Sé, nasceuem Almaty no dia 9 de maio de1965. É casada e tem dois filhos.

Mauritânia, Nepal, Trindade e Tobago, Sudão, Cazaquistão e Níger são os seispaíses de proveniência dos novos embaixadores que a 18 de maio apresentaram aoPapa Francisco as cartas com as quais foram acreditados junto da Santa Sé.Trata-se de duas mulheres e quatro homens: Aichetou Mint M’Haiham, RameshPrasad Khanal, Colin Michael Connelly, Daffa-Alla Elhag Ali Osman, ZhanarAitzhan, Boubacar Boureima.

CO N T I N UA NA PÁGINA 3

MAU R I T Â N I A

Sua Excelência a senhora Aiche-tou Mint M’Haiham é a primeiraembaixadora da Mauritânia junto daSanta Sé, após o estabelecimentodas relações diplomáticas em 9 dedezembro de 2016. Nascida a 12 dejunho de 1963 em Maghta Lahjar(Wilaya do Brakna), é casada e temuma filha. Formou-se para o ensinonas escolas secundárias na ÉcoleNormale Supérieure (Ens) deNouakchott em 1989 e em agrono-mia ambiental na universidade deBarcelona, na Espanha, em 1995.Desempenhou os seguintes cargos:professora bilíngue de ciências natu-rais no liceu Tevragh-Zeina (1990-1991); funcionária no ministério daeducação nacional (1991-1996); fun-cionária na Ens (1996-1997); secretá-ria de Estado para a condição femi-nina (1997-1998); presidente e coor-denadora das Ongs nacionais femi-ninas (1998-2003); conselheira na

Formada em história e em língua in-glesa na Kazakh State University,(1982-1988), sucessivamente frequen-tou um programa de pesquisa depós-graduação na Moscow StateUniversity (1989-1990). Completouos estudos de pós-graduação naCharles University e na Central Eu-ropean University em Praga (1991-1992) e seguiu um executive pro-gram em economia e finanças públi-cas no Joint Vienna Institute (Áus-tria, 1996-1997) e um master em ad-ministração pública na John F. Ken-nedy School of Government, Har-vard University, Estados Unidos daAmérica (2002-2003). Desempenhouos seguintes cargos: programme offi-cer, chefe do setor para a administra-ção e a transição económica no de-partamento das Nações Unidas /United Nations Development Pro-gramme (Undp) de 1993 al 1996; as-

número 21, quinta-feira 25 de maio de 2017 L’OSSERVATORE ROMANO página 3

Uma nova condenação do fundamentalismo e do recurso à força

Não se honrao nome de Deus matando

«A quem deturpa a imagem de Deusoponha-se um compromisso comumpara mostrar que se honra o seu Nomesalvando vidas e não matando»,recomendou o Papa Franciscoaos seis novos embaixadores que namanhã de 18 de maio apresentaram ascartas com as quais foram acreditadosjunto da Santa Sé.

Senhores Embaixadores!É-me grato receber-vos por ocasiãoda apresentação das Cartas median-tes as quais sois acreditados comoEmbaixadores extraordinários e ple-nipotenciários dos vossos respetivosEstados junto da Santa Sé: Caza-quistão, Mauritânia, Nepal, Níger,Sudão, Trindade e Tobago. Dou es-peciais boas-vindas à SenhoraM’Haiham, primeira Embaixadorada Mauritânia junto da Santa Sé.Agradecer-vos-ia se desejásseis trans-mitir aos Chefes de Estado dos vos-sos países os meus sentimentos degratidão e de respeito, acompanha-dos pela certeza das minhas precespelas suas pessoas e pelos povos queeles representam.

O cenário internacional carateriza-se por uma complexidade notável eé atravessado por nuvens densas, eportanto requer maior consciênciados comportamentos e das ações ne-cessárias para empreender um itine-

de Deus oponha-se um compromissocomum para mostrar que se honra oseu Nome salvando vidas e não ma-tando, fomentando a reconciliação ea paz, não a divisão nem a guerra,com a misericórdia e a compaixão,não com a indiferença e a brutalida-de. Se empreendermos com determi-nação este caminho, a causa da paze da justiça — condições de um de-senvolvimento equilibrado para to-dos — dará passos concretos emf re n t e .

Senhores Embaixadores, atravésde vós gostaria de transmitir a mi-nha saudação inclusive aos Pastorese aos fiéis das comunidades católicaspresentes nos vossos países. Encora-jo-os a dar continuidade ao seu tes-temunho de fé e a oferecer a suacontribuição generosa para o bemcomum.

No momento em que vós inaugu-rais a vossa missão, formulo-vos osmeus melhores votos, assegurando acolaboração constante da Cúria Ro-mana para o cumprimento das vos-sas funções. Com esta finalidade, éde bom grado que invoco sobre vóse sobre os vossos familiares, mastambém sobre os vossos concida-dãos, a abundância das Bênçãos di-vinas.

rário de paz que diminua as tensões.Entre os fatores que agravam os pro-blemas há uma economia e um siste-ma financeiro que, em vez de serviro ser humano concreto, se organi-zam principalmente para se servir asi mesmos e para se subtrair ao con-trole dos poderes públicos que têm aresponsabilidade do bem comum,mas carecem dos instrumentos ne-cessários para moderar os apetitesexagerados de poucos.

Além disso, sente-se o aumento dapropensão a considerar o recurso àforça não como ultima ratio masquase como um meio entre outros,disponível para ser usado sem umaprofunda avaliação das suas conse-quências.

Outro fator que agrava os confli-tos é o fundamentalismo, o abuso dareligião para justificar a sede de po-der, a instrumentalização do santoNome de Deus para fazer promovercom todos os meios o próprio desíg-nio de hegemonia.

A tais degradações e aos riscosque elas levam a paz no mundo acorrer, responde-se construindo umaeconomia e um sistema financeiroresponsáveis perante o destino doser humano e das comunidades emque se encontram inseridos. O ho-mem, e não o dinheiro, volte a ser afinalidade da economia! Além disso,é preciso enfrentar as divergênciascom a corajosa paciência do diálogoe da diplomacia, com iniciativas deencontro e de paz, e não com a exi-bição da força nem com o seu usoprecipitado e imprudente. Depois, éindispensável isolar quem quer queprocure transformar uma pertença euma identidade religiosa em motivode ódio por todos os outros. Aquem deturpa deste modo a imagem

CO N T I N UA Ç Ã O DA PÁGINA 2

Novos embaixadores

sistente resident representative doUndp na Mongólia (1998-1999);coordenadora de programa, secçãoregional do Undp para a Europa ea Cis, Nova Iorque (1999-2002); vi-ce-ministra da indústria e do co-mércio (2003-2010); representanteespecial do Cazaquistão nas nego-ciações de adesão à World TradeOrganization (Wto) de 2005 a2016; ministra para o desenvolvi-mento económico e o comércio(2010-2011); ministra para a integra-ção económica (2011-2016). Desde2016 é embaixadora em Berna e re-presentante permanente no depar-tamento das Nações Unidas e ou-tras Organizações internacionaisem Genebra.

NÍGER

Sua Excelência o senhor Bouba-car Boureima, novo embaixador doNíger junto da Santa Sé, nasceuem Dargol a 1 de janeiro de 1958. Écasado e tem cinco filhos. Obteveum master em diplomacia e direitodas organizações internacionais nauniversidade Paris XI e outro emdireito, com especialização em es-tudos internacionais na universida-de do Benim (sede de Lomé, To-go). Desempenhou os seguintescargos: diretor administrativo dodepartamento para a África e oMédio Oriente junto do ministériodos negócios estrangeiros (Mne) de1990 a 1992; conselheiro para os ne-

gócios estrangeiros, e sucessiva-mente, diretor dos assuntos legais econsulares no Mne (1992-1994); vi-ce-secretário-geral e diretor ad inte-rim do protocolo no Mne (1994-1995); diretor dos assuntos legais econsulares no Mne (1996-1999); di-retor dos assuntos legais no secre-tariado do Acordo sobre a não-agressão e defesa (Anad) na Costado Marfim (1999-2001); chefe dadivisão para a cooperação na des-centralização na secção para a des-centralização e as organizaçõesnão-governamentais do Mne (2001-2004); conselheiro junto das Na-ções Unidas em Nova Iorque(2004-2010); secretário-geral doMne (2010-2012); representantepermanente junto das Nações Uni-das em Nova Iorque (2012-2015);embaixador na Alemanha (desde2016).

Duas produçõesdo Centro televisivo do Vaticano

«É um retrato do pensamento do Papa Francisco enriquecido pelos gestosque documentamos ao longo dos anos»: assim Stefano D’Agostini, diretordo Centro Televisivo do Vaticano (Ctv) resumiu à Radio Vaticano o filme,anunciado no festival de Cannes por monsenhor Dario Edoardo Viganò,prefeito da Secretaria para a comunicação, Papa Francesco. Un uomo di paro-la, realizado por Wim Wenders e co-produzido pela Ctv. E acrescentou: aimpressão é de que o Pontífice «não considera a câmara; é como se ela fosseos olhos do interlocutor. Digamos que ele fixa a câmara e alcança direta-mente o espectador. A impressão que se tem é precisamente esta. O meiotecnológico não é um obstáculo, nem sequer, digamos, o objetivo para oqual se dirige o Papa. Ele vai diretamente aos olhos, aos ouvidos de quemescuta». Outra produção do Ctv apresentada recentemente são dois dvds Al -la Scoperta dei Musei Vaticani e Alla scoperta del Vaticano e dei Musei Vaticani.«É uma grande viagem em oito línguas» e a sua mensagem é que «o belo, overdadeiro e o bom coincidem», explicou monsenhor Viganò noutra entre-vista concedida à Rádio Vaticano.

página 4 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 25 de maio de 2017, número 21

O Pontífice recebeu as Pias discípulas do divino Mestre

Profecia da alegriaO convite a viver «a profecia daalegria» foi dirigido pelo Papa àsparticipantes no capítulo geral dacongregação das Pias discípulas dodivino Mestre, recebidas em audiênciana manhã de segunda-feira 22 demaio, na Sala do Consistório. Àsreligiosas, apresentadas pela novasuperiora-geral Micaela Monetti, oPontífice dirigiu o seguinte discurso.

Queridas Irmãs!Dou as minhas boas-vindas a todasvós e saúdo cordialmente a nova Su-periora-Geral e as novas Conselhei-ras. Faço votos para que este tempoforte que é o Capítulo Geral tragaabundantes frutos evangélicos à vidado vosso Instituto.

Antes de tudo, frutos de comu-nhão. Abertas ao Espírito Santo,Mestre da diversidade, da unidadenas diferenças, caminhareis numacomunhão entre vós que respeite apluralidade, que vos impulsione atecer incansavelmente a unidade naslegítimas diferenças, considerandotambém o facto de que estais pre-sentes em diversos países e culturas.«Como consentir a cada um de seexprimir, ser acolhido com os seusdons específicos, tornar-se plena-mente corresponsável?» (Carta ap.Às pessoas consagradas, 21 de novem-bro de 2014, II, 3). Cultivando aatenção e o acolhimento recíproco;praticando a correção fraterna e orespeito pelas irmãs mais débeis;crescendo no espírito do viver jun-tas; banindo das comunidades as di-visões, as invejas, os mexericos; di-zendo tudo com franqueza e carida-de. Sim, pode-se viver assim. Tudoisto que acabei de mencionar destróia Congregação.

Frutos de comunhão com os ir-mãos e as irmãs da Família Paulina.Tendes em comum o sacerdote efundador, padre Giacomo Alberione,e também a missão: anunciar oEvangelho aos homens e às mulhe-res do nosso tempo, particularmenteno vosso caso, mediante o serviço li-túrgico e o cuidado dos sacerdotes.Isto é bonito.

Frutos de comunhão com os ou-tros carismas. É o momento da si-nergia de todos os consagrados paraacolher as riquezas dos demais caris-mas e pô-las todas ao serviço daevangelização, permanecendo fiéis àprópria identidade. «Ninguém cons-trói o futuro isolando-se, nem con-tando apenas com as próprias for-ças« (ibidem). Por conseguinte, con-vido-vos a cultivar o diálogo e a co-munhão com os outros carismas, e acombater de todos os modos a au-torreferencialidade. Não é bomquando um consagrado ou consagra-da é autorreferencial, sempre diantedo espelho a olhar para si mesmo. Éterrível.

Por fim, frutos de comunhão comos homens e as mulheres do nossotempo. O nosso Deus é o Deus dahistória e a nossa é uma fé que agena história. Nas dúvidas e nas expe-tativas dos homens e das mulheresde hoje encontramos indicações im-portantes para o nosso seguimentode Cristo.

O Capítulo é tempo de escuta doSenhor que nos fala através dos si-nais dos tempos; tempo de escuta re-cíproca e portanto de abertura aquanto o Senhor nos comunica me-diante os irmãos; tempo de confron-to sereno e sem preconceitos entreos próprios projetos e os dos outros.Tudo isto exige abertura da mente edo coração. Neste sentido o Capítu-lo é um tempo propício para prati-car o espírito do êxodo e da hospitali-dade: sair de si mesmo para acolhercom alegria a parte de verdade queo outro me comunica e juntos cami-nhar para a verdade plena, a únicaque nos torna livres (cf. Jo 8, 32).

Ouvir as irmãs. Penso que um dosapostolados mais importantes hoje éo do ouvido: escutar. Ouvir as ir-mãs, assim como os homens e asmulheres de hoje, e partilhar comeles: estas atitudes são necessáriaspara um bom Capítulo e para umasanta vida fraterna em comunidade,em cujo crescimento todos se sentemparticipantes, todos oferecem e to-dos recebem. Não vos canseis de vosexercitar continuamente na arte daescuta e da partilha. Neste tempo degrandes desafios, que exigem dosconsagrados fidelidade criativa ebusca apaixonada, a escuta e a parti-lha são mais necessárias do que nun-ca, se quisermos que a nossa vida se-ja plenamente significativa para nósmesmos e para as pessoas que en-contramos.

Para tal finalidade é necessáriomanter um clima de discernimento,para reconhecer o que pertence aoEspírito e o que lhe é contrário.Diante de nós abre-se um mundo depossibilidades. A cultura na qual es-tamos imersos apresenta-se-nos to-das como válidas, boas, mas se nãoquisermos ser vítimas da cultura dozapping e, às vezes, de uma culturade morte, devemos incrementar ohabitus do discernimento, formar-nose formar para o discernimento. Nãovos canseis de perguntar pessoal ecomunitariamente: «Senhor, o quequeres que eu faça?», «o que queresque façamos?».

O Capítulo é também tempo pararenovar a docilidade ao Espírito queanima a p ro f e c i a . Ela é um valor irre-nunciável para a vida consagrada,porque é uma forma especial de par-ticipação na missão profética deCristo. Isto inclui o ser audaz e aomesmo tempo humilde, apaixonadopor Deus e pela humanidade, para

se tornar porta-voz de Deus contra omal e contra todo o pecado (cf. Vitac o n s e c ra t a , 84).

Como consagradas vivei, em pri-meiro lugar, a profecia da alegria. Elaestá em primeiro lugar. Em primeirolugar está a profecia da alegria: aalegria do Evangelho. É uma profe-cia. Hoje o mundo precisa disto: aalegria que nasce do encontro comCristo numa vida de oração pessoale comunitária, na escuta diária daPalavra, no encontro com os irmãose as irmãs, numa feliz vida fraternaem comunidade, inclusiva da fragili-dade e no abraço à carne de Cristonos pobres. Profetas de uma alegriaque nasce do nos sentirmos amadose, porque somos amados, perdoa-dos.

A alegria é uma linda realidade navida de muitos consagrados, mas étambém um grande desafio para to-dos nós. Um seguimento triste é umtriste seguimento! E a alegria autên-tica, não autorreferencial nem arro-gante, é o testemunho mais credívelde uma vida plena (cf. Jo 10, 10),porque nele «transparecem a alegriae a beleza de viver o Evangelho e deseguir Cristo» (Carta ap. Às pessoasc o n s a g ra d a s , 21 de novembro de 2014,II, 1).

Ao mesmo tempo, esta alegria queenche os vossos corações e se mani-festa nos vossos rostos levar-vos-á asair rumo às periferias participandoda alegria da Igreja que é a evange-lização. Mas para fazer isto a alegriadeve ser verdadeira, não uma alegriafalsificada! Não falsifiqueis a alegria.A evangelização, quando estamosconvictos de que Jesus é a Boa No-va, é alegria e felicidade para todos.Esta alegria afasta de nós o cancroda resignação, fruto da preguiça quetorna a alma árida. Por favor, irmãs

resignadas, não! Alegria. Mas o dia-bo dirá: «Somos poucas, não temosvocações...». Deste modo, fecha-se acara, faz-se carranca... e perde-se aalegria, acabando na resignação.Não, não se pode viver assim: a es-perança de Jesus Cristo é alegria.

Encorajo-vos também a ser p ro f e -tas de esperança, com os olhos dirigi-dos para o futuro, lá onde o Espíritoimpele, para continuar a fazer con-vosco grandes coisas (cf. Vita conse-c ra t a , 110). Santo Hilário de Poitiers,no seu Comentário aos salmos (118, 15,7), fazia-se eco de uma pergunta quemuitos formulavam e ainda hoje for-mulam aos cristãos: «Onde está, ócristãos, a vossa esperança?». Comoconsagrados sabemos que não pode-mos ser surdos a esta questão. Comotodos os discípulos de Jesus sabe-mos que a esperança é para nós umaresponsabilidade, porque fomos cha-mados a responder a todos que nosperguntarem a sua razão (cf. 1 Pd 3,15). A esperança que não desiludenão se baseia em números nem emobras, mas n’Aquele para o qual na-da é impossível (cf. Lc 1, 37).

Santo Agostinho diz que «só a es-perança nos torna propriamente cris-tãos» (A Cidade de Deus, 6, 9, 5). Enoutra obra afirma: «A nossa vida,agora, é esperança, depois será eter-nidade» (Comentário aos salmos 103,4, 17). Só a esperança permite quecaminhemos na estrada da vida, sóela nos torna capazes de futuro. Je-sus Cristo é a nossa esperança (cf. 1Tm 1, 1): n’Ele depositemos a nossaconfiança (cf. 2 Tm 1, 12), e com aforça do Espírito Santo podemos serprofetas de esperança.

Com esta confiança e força repito-vos: não vos unais aos profetas dedesventura, que fazem muitos danosà Igreja e à vida consagrada; não ce-dais à tentação da sonolência — co-mo os apóstolos no Getsémani — edo desespero. Fortalecei a vossa vo-cação de «sentinelas da manhã» (cf.Is 21, 11-12) para poder anunciar aosoutros a chegada da aurora. Desper-tai o mundo, iluminai o futuro! Sem-pre com o sorriso, a alegria, a espe-rança.

Obrigado pelo que sois, pelo quefazeis e como o fazeis, também aquina Cidade do Vaticano. Muito obri-gado! Maria nossa Mãe vos protejacom o seu olhar e o Senhor vosabençoe, vos mostre o seu Rosto,vos conceda paz e misericórdia.

Por favor, rezai por mim.

Nomeação do cardeal Bassetti como presidente da Conferência episcopal italiana

Trabalhar juntosO Papa Francisco nomeou o cardeal arcebispo de Pe-rugia-Città della Pieve, Gualtiero Bassetti, presidenteda Conferência episcopal italiana (Cei). O anúncio foidado no dia 24 de maio pelo cardeal Angelo Bagnasco,no final da missa celebrada na basílica vaticana no âm-bito dos trabalhos da assembleia plenária do episcopa-do italiano. Bassetti recordou que é bispo há 23 anos eque não tem «programas pré-confecionados a ofere-cer», porque «na minha vida sempre fui muito impro-visador». Neste sentido, garantiu que pretende «traba-lhar em conjunto com todos, grato pela confiança que

me concederam». De facto, frisou, «o Papa recomen-dou que partilhemos tempo, escuta, criatividade e con-solação. É o que procurarei fazer com todos. “Vivei acolegialidade”, disse-nos, “caminhai juntos”: este é oindício que nos permite interpretar a realidade com osolhos e o coração de Deus». O Santo Padre — confi-denciou — convidou-nos a permanecer próximos donosso povo e, ao mesmo tempo, a empreender a mis-são e anunciar que Jesus é o Senhor».

No próximo número publicaremos o discurso do Papaaos bispos.

número 21, quinta-feira 25 de maio de 2017 L’OSSERVATORE ROMANO página 5

Os novos cardeais «sejam autênticosservidores da comunhão eclesial»:foram estes os bons votos formuladospelo Papa Francisco, anunciandodurante o Regina caeli de 21 de maio,o consistório que terá lugar no dia 28de junho, para a criação de cincopurpurados. Precedentemente,comentando como de costume oEvangelho dominical para os fiéispresentes na praça de São Pedro, oPontífice falou sobre a importância doEspírito Santo na vida da Igreja. Eisa meditação do Santo Padre nessaocasião.

Bom dia, prezados irmãos e irmãs!O Evangelho de hoje (cf. Jo 14, 15-21), continuação daquele do domin-go passado, leva-nos ao momentocomovedor e dramático que é a últi-ma ceia de Jesus com os seus discí-pulos. O evangelista João recolhedos lábios e do coração do Senhoros seus últimos ensinamentos, antesda paixão e da morte. Jesus prometeaos seus amigos, naquele momentotriste e obscuro, que depois dele re-ceberão «outro Paráclito» (v. 16). Es-ta palavra significa outro «Advoga-do», outro Defensor, outro Consola-dor: «O Espírito da verdade» (v. 17);e acrescenta: «Não vos deixarei ór-fãos: voltarei a vós» (v. 18). Estaspalavras transmitem a alegria deuma nova vinda de Cristo: Ele, res-suscitado e glorificado, reside no Paie, ao mesmo tempo, vem a nós noEspírito Santo. É nesta sua novavinda que se revela a nossa uniãocom Ele e com o Pai: «Conhecereisque estou em meu Pai, e vós emmim e Eu em vós» (v. 20).

Meditando estas palavras de Je-sus, hoje nós compreendemos comsentido de fé que somos o povo deDeus em comunhão com o Pai ecom Jesus, mediante o Espírito San-to. Neste mistério de comunhão, aIgreja encontra a fonte inesgotávelda sua missão, que se realiza atravésdo amor. No Evangelho de hoje, Je-sus diz: «Aquele que recebe os meusmandamentos e os guarda, é alguémque me ama. E aquele que me amaserá amado pelo meu Pai, e Eu amá-lo-ei e manifestar-me-ei a ele» (v.21). É o amor que nos introduz noconhecimento de Jesus, graças àação deste «Advogado» que Jesusnos enviou, ou seja, o Espírito San-to. O amor a Deus e ao próximo é omaior mandamento do Evangelho.Hoje o Senhor chama-nos a corres-ponder generosamente à vocaçãoevangélica do amor, pondo Deus nocentro da nossa vida e dedicando-nos ao serviço dos irmãos, de manei-ra especial dos mais necessitados deajuda e de consolação.

Se existe uma atitude que nunca éfácil nem óbvia, nem sequer parauma comunidade cristã, é precisa-mente a de saber amar-se e desejar obem uns dos outros, a exemplo do

Senhor e com a sua graça. Às vezesos contrastes, o orgulho, as invejas eas divisões deixam o sinal até norosto da Igreja. Uma comunidade decristãos deveria viver na caridade deCristo, e no entanto é exatamente alique o maligno «mete a pata» e àsvezes deixamo-nos enganar. E quemarca com as consequências são aspessoas espiritualmente mais frágeis.Quantas delas — e vós conheceis al-gumas — se afastaram porque não sesentiram acolhidas, não se sentiramentendidas, não se sentiram amadas.Quantas pessoas se afastaram, porexemplo de alguma paróquia ou co-munidade, devido ao ambiente debisbilhotices, de ciúmes e de invejasque aí encontraram. Até para o cris-tão, saber amar nunca é um dadoadquirido uma vez por todas; cadadia há que recomeçar, é preciso exer-citar-se a fim de que o nosso amorpelos irmãos e pelas irmãs que nósencontramos amadureça e seja puri-ficado daqueles limites ou pecadosque o tornam parcial, egoísta, estérile infiel. Cada dia devemos aprendera arte de amar. Escutai isto: cada diadevemos aprender a arte de amar,cada dia devemos seguir com pa-ciência a escola de Cristo, cada diadevemos perdoar e olhar para Jesus,e isto com o auxílio deste «Advoga-do», deste Consolador que Jesus nosenviou, que é o Espírito Santo.

A Virgem Maria, discípula perfei-ta do seu Filho e Senhor, nos ajudea ser cada vez mais dóceis ao Pará-clito, o Espírito de verdade, paraaprendermos cada dia a amar comoJesus nos amou.

No final da prece mariana o SumoPontífice lançou um apelo em prol dapaz na República Centro-Africana,convidou a unir-se aos fiéis católicosna China na celebração da festa daBem-Aventurada Virgem MariaAuxiliadora no dia 24 de maio,saudou os peregrinos presentes e

anunciou a realização do próximoconsistório.

Infelizmente chegam notícias dolo-rosas da República Centro-Africana,que trago no coração, especialmenteapós a minha visita em novembro de2015. Conflitos armados provocaramnumerosas vítimas e deslocados,ameaçando o processo de paz. Estoupróximo da população, dos bispos ede todos aqueles que se prodigali-zam pelo bem do povo e pela convi-vência pacífica. Rezo pelos defuntose feridos, e renovo o meu apelo: queas armas se calem e prevaleça a boavontade de dialogar para dar paz edesenvolvimento ao país.

No próximo dia 24 de maio esta-remos todos espiritualmente unidosaos fiéis católicos na China, na cele-bração da Bem-Aventurada VirgemMaria «Auxílio dos Cristãos», vene-rada no santuário de Sheshan emXangai. Aos católicos chineses digo:elevemos o olhar a Maria, nossaMãe, para que nos ajude a discernira vontade de Deus a respeito do ca-minho concreto da Igreja na China enos ajude a aceitar com generosida-de o seu desígnio de amor. Mariaencoraja-nos a oferecer a nossa con-tribuição pessoal para a comunhãoentre os fiéis e para a harmonia dasociedade inteira. Não nos esqueça-mos de dar testemunho da fé com aoração e com o amor, mantendo-nossempre abertos ao encontro e ao diá-logo.

Dirijo a minha cordial saudação avós, fiéis de Roma e peregrinos. Emparticular à Capilla de Musica de la

Catedral, de Pamplona; ao grupo doColégio S. Tomás, de Lisboa; aosfiéis da Chapelle Saint-Charles de laCroix Saint-Simon, de Paris; aosfiéis de Torrent (Valência, Espanha),do Canadá e dos Estados Unidos daAmérica, entre os quais alguns dailha de Guam.

Uma saudação especial aos jovenscrismados e crismandos da diocesede Génova: se Deus quiser, no pró-ximo sábado irei visitar a vossa cida-de. Assim como às «Joaninhas» deFrosinone e aos fiéis da Paróquia deSanta Maria Goretti, em Roma.

Estimados irmãos e irmãs!Desejo anunciar que na quarta-feira28 de junho realizarei um consistóriopara a criação de cinco novos car-deais. A sua proveniência de diferen-tes partes do mundo manifesta a ca-tolicidade da Igreja difundida emtoda a Terra e a atribuição de um tí-tulo ou de uma diaconia na urbe ex-prime a pertença dos cardeais à dio-cese de Roma que, segundo a co-nhecida expressão de Santo Inácio[de Antioquia], preside à caridadede todas as Igrejas. E na quinta-feira29 de junho, Solenidade dos SantosApóstolos Pedro e Paulo, concele-brarei a Santa Missa com os novoscardeais, com o Colégio cardinalício,com os novos bispos, os arcebisposmetropolitanos, os prelados e algunsp re s b í t e ro s .

Eis os nomes dos novos cardeais:D. Jean Zerbo, Arcebispo de Bama-ko, no Mali; D. Juan José Omella,Arcebispo de Barcelona, na Espa-nha; D. Anders Arborelius, Bispo deEstocolmo, na Suécia; D. Luis Ma-rie-Ling Mangkhanekhoun, BispoTitular de Aquae Novae in Procon-sulari, Vigário Apostólico de Paksé,no Laos; e D. Gregorio Rosa Chá-vez, Bispo Titular de Mulli, Auxiliarda Arquidiocese de San Salvador,em El Savador.

Confiemos os novos cardeais àproteção dos Santos Pedro e Paulo afim de que, por intercessão do Prín-cipe dos Apóstolos, sejam autênticosservidores da comunhão eclesial e,por intercessão do Apóstolo das na-ções, sejam jubilosos anunciadoresdo Evangelho no mundo inteiro e,com o seu testemunho e o seu con-selho, me ajudem mais intensamenteno meu serviço de Bispo de Roma,Pastor universal da Igreja.

Desejo bom domingo a todos.Por favor, não vos esqueçais de rezarpor mim. Bom almoço e até à vista!

A 28 de junho o Papa criará cinco cardeais

Escolhidosde quatro continentes

Visita «ad limina»do episcopado da Guatemala

Na manhãde segunda-feira22 de maioo Papa recebeuos bisposda Guatemalaem visita«ad liminaAp o s t o l o r u m »

André Derain, «A última Ceia» (1911)

página 6 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 25 de maio de 2017, número 21

À fundação Centesimus annus pro pontifice

Em prol de uma economiacentrada na dignidade

Óbolo de São Pedro no Facebook

Social solidárioDepois da abertura dos perfis Twit-ter e Instagram, o óbolo de SãoPedro chegou também ao Facebo-ok, inicialmente com uma páginaem língua italiana e, sucessivamen-te, com as versões em espanhol einglês, que estarão online a partirdos meses de setembro e outubro.O objetivo — explicou um comuni-cado da Secretaria de Estado — écriar um espaço virtual aberto a to-dos para compartilhar e dar a co-nhecer as obras de caridade apoia-das por esta iniciativa secular.

A escolha de utilizar o socialnetwork mais difundido no mundotem um duplo objetivo. Por um la-do, criar uma comunidade aberta atodos onde o uso do Facebook é

amplamente divulgado a começarpela Itália; por outro, compartilhare narrar a atividade deste secularserviço de solidariedade.

O óbolo de São Pedro, no Face-book, tenciona favorecer o diálogocom todas as pessoas que têm umobjetivo comum, ajudar os necessi-tados e apoiar concretamente asobras de caridade. Com efeito, des-de há séculos, o óbolo suporta pe-quenos e grandes projetos no mun-do inteiro, como por exemplo aampliação do instituto FilippoSmaldone para crianças pobres ecom problemas auditivos e de visãoem Kigali no Ruanda; a atribuiçãode dez bolsas de estudo para aju-dar os estudantes universitáriosdeslocados do Curdistão iraquiano;ou a abertura de uma escola primá-ria para crianças dalits na Índia.Sobre estas e outras obras de cari-dade, assim como sobre as iniciati-vas que serão levadas a cabo peloóbolo de São Pedro, falar-se-áconstantemente com aprofunda-mentos e notícias atualizadas napágina Facebook «Óbolo de SãoPedro», recordando que, tradicio-nalmente, a coleta tem lugar em to-do o mundo católico, conforme asdioceses, no dia 29 de junho, sole-nidade dos Santos Pedro e Paulo,ou no domingo mais próximo des-ta recorrência.

Assim como no caso do site edos perfis já ativos noutras plata-formas sociais, também esta inicia-tiva nasceu por desejo da Santa Sée como fruto de um estreita cola-boração entre a Secretaria de Esta-do, a Secretaria para a comunica-ção e o Governatorato do Estadoda Cidade do Vaticano. Para maisinformações sobre as atividades doóbolo de São Pedro, visite o sitewww.ob olo disanpietro.va.

Na manhã de segunda-feira 15 de maio o Papa Francisco recebeu em audiência os m e m b ro sda Conferência episcopal do Peru em visita «ad limina Apostolorum»

Bispos do Peruem visita «ad limina Apostolorum»

«Desenvolver modelos de crescimentoeconómico centrados na dignidade,liberdade e criatividade, que sãocaraterísticas peculiares da pessoahumana»: eis quanto pediu o PapaFrancisco aos membros da fundaçãoCentesimus Annus Pro Pontificerecebidos em audiência na manhã desábado 20 de maio, na SalaClementina.

Queridos amigos!Dou-vos as minhas cordiais boas-vindas por ocasião da ConferênciaInternacional da Fundação Centesi-mus Annus Pro Pontifice. Agradeço aoPresidente, Senhor Domingo Sugra-nyes Bickel, as gentis palavras desaudação que me dirigiu em vossonome. Expresso o meu apreço pelosvossos esforços em procurar modosalternativos de compreensão da eco-nomia, do desenvolvimento e do co-mércio, para enfrentar os desafioséticos colocados pelo impor-se denovos paradigmas e formas de poderque derivam da tecnologia, da cultu-ra do desperdício e de estilos de vi-da que ignoram os pobres e despre-zam os débeis (cf. Encíclica Laudatosi’, 16).

Muitas pessoas se empenham paraunir a família humana na busca co-mum de um desenvolvimento sus-tentável e integral, pois sabemos queas situações podem mudar (cf. ibid.,13). A vossa fundação oferece tam-bém uma preciosa contribuição pre-cisamente ao considerar as ativida-des comerciais e financeiras à luz darica tradição da doutrina social daIgreja e de uma busca inteligente dealternativas construtivas. Com basena vossa competência e experiência,e em cooperação com outras pessoasde boa vontade, empenhastes-vosem desenvolver modelos de cresci-mento económico centrados na dig-nidade, na liberdade e na criativida-de, que são caraterísticas peculiaresda pessoa humana.

A vossa Declaração deste ano su-blinha justamente que a luta contraa pobreza exige uma melhor com-preensão da mesma como fenómenohumano e não meramente económi-co. Promover o desenvolvimento hu-mano integral exige diálogo e parti-cipação nas necessidades e aspira-ções das pessoas, requer que se escu-tem os pobres e a sua experiênciaquotidiana de múltiplas e sobrepos-tas privações, elaborando respostasespecíficas para situações concretas.Isto exige que se criem, no seio dacomunidade e entre as comunidadese o mundo dos negócios, estruturasde mediação capazes de reunir pes-soas e recursos, iniciando processosnos quais os pobres sejam protago-nistas principais e beneficiários. Talabordagem à atividade económica,baseada na pessoa humana, encora-jará a iniciativa e a criatividade, o

espírito empresarial e as comunida-des de trabalho e de empresa, e des-te modo favorecerá a inclusão sociale o crescimento de uma cultura desolidariedade eficaz.

Nestes dias dedicastes atenção es-pecial à questão crucial da criaçãode trabalho no contexto da nova re-volução tecnológica em curso. Comopodemos deixar de nos preocuparpelo grave problema do desempregodos jovens e dos adultos que nãodispõem de meios para se “p ro m o v e -re m ” a si mesmos? E isto chegou aum nível muito grave, muito grave.É um problema que atingiu propor-ções realmente dramáticas tanto nospaíses desenvolvidos quanto nos emvias de desenvolvimento e que preci-sa de ser enfrentado com sentido dejustiça entre as gerações e de respon-sabilidade pelo futuro. De formaanáloga, os esforços para enfrentar oconjunto destas questões relaciona-das com o crescimento das novastecnologias, com a transformaçãodos mercados e com as legítimas as-pirações dos trabalhadores devem le-var em consideração não só os indi-víduos, mas também as famílias. Es-ta, como sabeis, foi uma preocupa-ção expressa pelas recentes Assem-bleias sobre a família, que relevaramcomo a incerteza nas condições detrabalho muitas vezes acaba por au-mentar a pressão e os problemas dafamília e tem efeito sobre a capaci-dade da família de participar de ma-neira frutuosa na vida da sociedade(cf. Exort. ap. pós-sin. Amoris laeti-tia, 44).

Queridos amigos, animo-vos, en-corajo os vossos esforços em levarluz do Evangelho e a riqueza dadoutrina social da Igreja a essas pre-mentes questões contribuindo para

um debate informado, o diálogo e abusca, mas também comprometen-do-vos naquela mudança de atitude,de opinião e de estilo de vida que éessencial para construir um mundomais justo, livre e em harmonia.

Ao expressar o meu auspício e osmeus votos pela fecundidade do vos-so trabalho, invoco a bênção deDeus sobre vós, sobre as vossas fa-mílias e sobre os membros da vossaFu n d a ç ã o .

número 21, quinta-feira 25 de maio de 2017 L’OSSERVATORE ROMANO página 7

Renovado apelo para que seja reconhecido e enfrentado o drama da doença de Huntington

Nunca mais escondidosE recordou que nenhuma finalidade científica justifica a destruição de embriões humanos

O Pontífice aos jogadores de Juventus e Lazio

Lealdade e honestidade

Queridos amigos!Sinto-me feliz por me encontrarconvosco na véspera do jogo finaldo campeonato da Itália. Agradeçoao Presidente da Federação Italiana«Giuoco Calcio» as suas gentis pa-lavras; e congratulo-me com asduas equipes, Juventus e Lazio, quealém de obter ótimos resultados,são muito amadas pelos desporti-vos. Isto compromete-vos aindamais a testemunhar os valores au-tênticos do desporto.

Portanto, desejo retomar breve-mente convosco a importância dodesporto no nosso tempo. Conside-rando o fascínio e os reflexos que ofutebol profissional exerce sobre aspessoas, especialmente sobre os jo-vens, tendes uma responsabilidadenotável. Quem é considerado«campeão» facilmente torna-se fi-gura de referência. Por conseguintecada disputa é uma prova de equilí-brio, de domínio de si, de obser-vância das regras. Quem, com opróprio comportamento, sabe dar

prova disto tudo, torna-se umexemplo para os seus admiradores.Desejo isto a cada um de vós: sertestemunha de lealdade, honestida-de, concórdia e humanidade.

Infelizmente, às vezes nos está-dios verificam-se episódios de vio-lência que turvam o desenvolvimen-to sereno dos jogos e a diversão sa-dia das pessoas. Faço votos porque, por quanto estiver ao vosso al-cance, possais sempre ajudar a ati-vidade desportiva a permanecer tale, graças ao compromisso pessoalde todos, a ser motivo de coesãoentre os desportivos e na sociedadeinteira.

Agradeço-vos de coração a vossavisita e desejo-vos que se realize de-veras um lindo jogo! Invoco sobrevós, as vossas famílias e entes queri-dos a bênção do Senhor. E peço-vos por favor que rezeis por mim.

«Ser testemunha de lealdade, honestidade, concórdia e humanidade»,recomendou o Papa aos jogadores das equipes que disputariam a final docampeonato italiano na noite de 17 de maio, no estádio Olímpico de Roma. Aorecebê-los na manhã do dia 16 de maio na sala Clementina o Pontíficedeplorou também os episódios de violência que turvam o desenvolvimento serenodos jogos. No início do encontro o presidente da Federação italiana «giuococalcio», Carlo Tavecchio, saudou Francisco em nome de todos, recordando que«a amizade e o desejo de se confrontar no respeito pelas regras são a base deum crescimento humano antes que desportivo».

Um apelo a fim de que sejareconhecido e enfrentado o drama daspessoas que sofrem da doença deHuntington foi lançado pelo PapaFrancisco na manhã de 18 de maio, nasala Paulo VI, durante a audiênciaconcedida a um grupo de enfermos,acompanhados pelos respetivosfamiliares. Em seguida, as palavras doSanto Padre.

Caros irmãos e irmãs!É com alegria que vos recebo e saú-do cada um de vós, presentes nestemomento de encontro e de reflexãodedicado à doença de Huntington.Agradeço de coração a todos aquelesque se prodigalizaram a fim de quese pudesse realizar este encontro. Es-tou grato à Senhora Cattaneo e aoSenhor Sabine pelas suas palavrasde introdução. Gostaria de estendera minha saudação a todas as pessoasque trazem os sinais desta enfermi-dade no seu corpo e na sua vida, as-sim como a quantos padecem de ou-tras patologias chamadas raras.

Sei que alguns de vós tiveram queenfrentar uma viagem muito longa enão fácil para estar aqui hoje. Agra-deço-vos e alegro-me com a vossapresença. Ouvi as vossas histórias eas dificuldades às quais deveis fazerface todos os dias; compreendi comquanta tenacidade e dedicação asvossas famílias, os médicos, os agen-tes no campo da saúde e os voluntá-rios permanecem ao vosso lado numcaminho que apresenta muitos obs-táculos, alguns deveras árduos.

Durante demasiado tempo os re-ceios e as dificuldades que carateri-zaram a vida das pessoas que sofremda doença de Huntington criaramao seu redor mal-entendidos, barrei-ras e verdadeiras marginalizações.Em muitos casos os doentes e assuas famílias viveram o drama davergonha, do isolamento e do aban-dono. No entanto, estamos aquiporque queremos dizer, a nós mes-mos e ao mundo inteiro: «HIDDENNO MORE», «O CULTA NUNCA MAS»,«NUNCA MAIS ESCONDIDA»! Não setrata simplesmente de um slogan,mas de um compromisso que nosdeve ver todos protagonistas. A for-ça e a convicção com que pronuncia-mos estas palavras derivam exata-mente daquilo que o próprio Jesusnos ensinou. Durante o seu ministé-rio, Ele encontrou numerosos doen-tes e assumiu os sofrimentos deles,derrubou os muros do estigma e damarginalização que impediam mui-tos deles de se sentir respeitados eamados. Para Jesus, a doença nuncaé um obstáculo para encontrar o ho-mem, pelo contrário. Ele ensinou-nos que a pessoa humana é semprepreciosa, sempre dotada de uma dig-nidade que nada nem ninguém podecancelar, nem sequer a enfermidade.A fragilidade não é um mal. E adoença, que da fragilidade é expres-são, não pode nem deve levar-nos aesquecer que aos olhos de Deus onosso valor permanece sempre ines-timável.

Até a doença pode ser ocasião deencontro, de partilha e de solidarie-dade. Os enfermos que encontravamJesus eram regenerados sobretudopor esta consciência. Sentiam-se ou-vidos, respeitados e amados. Ne-nhum de vós nunca se sinta sozinho,ninguém se sinta um peso, nenhumtenha necessidade de fugir. Vós soisinestimáveis aos olhos de Deus, soispreciosos aos olhos da Igreja!

Agora dirijo-me às famílias. Quemvive a doença de Huntington sabeque ninguém consegue realmente su-perar a solidão e o desespero, se nãotiver ao seu lado pessoas que, comabnegação e constância, se tornamsuas «companheiras de viagem». Vóssois tudo isto: pais, mães, maridos,esposas, filhos, filhas, irmãos e irmãsque, quotidianamente e de modo si-lencioso mas eficaz, acompanham osseus familiares ao longo deste cami-nho tão difícil. Às vezes até para vóso caminho é íngreme. Por isso, en-corajo-vos também a vós a não vossentirdes sozinhos; a não cederdes à

tentação do sentido de vergonha ede culpa. A família é um lugar privi-legiado de vida e de dignidade, evós podeis cooperar e construiraquela rede de solidariedade e deajuda que somente a família é capazde garantir e que ela é a primeira aser chamada a viver.

E dirijo-me a vós, médicos, agen-tes no campo da saúde e voluntáriosdas associações que se ocupam dadoença de Huntington e de quantossofrem deste mal. Entre vós encon-tram-se também aqueles que traba-lham no Hospital «Casa Alívio doSofrimento» que, quer com a assis-tência quer com a pesquisa, ofere-cem a contribuição de uma obra daSanta Sé neste âmbito tão importan-te. O serviço de todos vós é inesti-mável, porque é certamente a partirdo vosso compromisso e da vossainiciativa que adquirem forma demodo concreto a esperança e o im-pulso das famílias que confiam emvós. Os desafios diagnósticos, tera-pêuticos e assistenciais que estadoença apresenta são múltiplos. Queo Senhor abençoe a vossa atividade:possais ser um ponto de referênciapara os pacientes e para os seus fa-miliares, que em várias circunstân-cias devem enfrentar as provações jáduras que esta enfermidade exige,num contexto social e de saúde quemuitas vezes não é a medida da dig-nidade da pessoa humana. Mas as-sim as dificuldades multiplicam-se.À doença acrescentam-se com fre-quência a pobreza, as separações for-çadas e um sentimento geral de con-fusão e de desconfiança. Por isso, asassociações e as agências nacionais einternacionais são vitais. Sois comobraços que Deus usa para semear aesperança. Sois voz que estas pes-soas têm para reivindicar os seus di-re i t o s !

Finalmente, estão aqui presentesgeneticistas e cientistas que desde há

tempos, sem poupar energias, se de-dicam ao estudo e à pesquisa deuma terapia para a doença de Hun-tington. É evidente que no vossotrabalho há um olhar cheio de expe-tativa: dos vossos esforços depende aesperança de poder encontrar o ca-minho para a cura definitiva destaenfermidade, mas também para amelhoria das condições de vida des-tes irmãos e para o seu acompanha-mento, principalmente nas fases deli-cadas do diagnóstico, face ao apare-cimento dos primeiros sintomas.Que o Senhor abençoe o vosso com-promisso! Encorajo-vos a cumpri-losempre com meios que não contri-buam para alimentar aquela «culturado descartável», que por vezes se in-sinua inclusive no mundo da investi-gação científica. Com efeito, algunsfilões de pesquisa utilizam embriõeshumanos, causando inevitavelmentea sua destruição. No entanto, sabe-mos que nenhuma finalidade, nãoobstante seja nobre em si mesma,como a previsão de uma utilidadepara a ciência, para outros seres hu-manos ou para a sociedade, podejustificar a destruição de embriõeshumanos.

Irmãos e irmãs, como vedes, soisuma comunidade numerosa e moti-vada. A vida de cada um de vós,tanto de quem foi diretamente atin-gido pela doença de Huntington co-mo daqueles que se comprometemdiariamente no acompanhamento dador e do cansaço dos enfermos, pos-sa ser testemunho vivo da esperançaque Cristo nos concedeu. Até atravésdo sofrimento passa um fecundo ca-minho de bem que podemos percor-rer juntos.

Obrigado a todos! O Senhor vosabençoe e, por favor, não vos esque-çais de orar por mim, assim como eurezarei por vós. Obrigado!

número 21, quinta-feira 25 de maio de 2017 L’OSSERVATORE ROMANO página 8/9

Na paróquia romana de São Pedro Damião

Linguagem da docilidade

É a linguagem da suavidade e do respei-to. E isto pode ajudar-nos a pensar emcomo é a nossa atitude de cristãos. Éuma atitude de suavidade ou de ira?Ou é amarga? É muito feio ver pessoasque se dizem cristãs, mas vivem cheiasde amargura... Com docilidade. A lin-guagem do Espírito Santo é dócil, e aIgreja chama-lhe o «doce hóspede daalma», porque Ele é doce e nos infun-de docilidade. E respeito. Respeitasempre os outros. Ensina-nos a respei-tar o próximo. E o diabo, que sabe de-bilitar-nos no serviço a Deus, e enfra-quecer-nos também nesta conservaçãodo Espírito Santo que está dentro denós, fará tudo para que a nossa lingua-gem não seja de docilidade, e nem se-quer de respeito. Inclusive no seio dascomunidades cristãs.

No Regina caeli de hoje eu disse egostaria de o repetir: quantas pessoasse aproximam de uma paróquia, porexemplo, procurando esta paz, este res-peito, esta docilidade, e encontra lutasinternas entre os fiéis. Em vez de suavi-dade e respeito, encontra mexericos,maledicências, competições, concorrên-cias, uns contra os outros...; encontraaquele ar não de incenso, mas de bisbi-

Visita a um condomíniode Ostia

Como um pároco para as bênçãos pascais

realidade o primeiro a receber o Papaem Ostia foi um menino, Francesco,que estava a tomar um sorvete com asua mãe no bar ao lado do portão docondomínio. Imediatamente chegaramtambém algumas religiosas que acom-panhavam num passeio as crianças cui-dadas por elas: ao Papa apresentaram amenor delas, que tinha acabado de che-gar do Egito.

Com simplicidade o Pontífice bateuàs portas e entreteve-se com as famílias,deixando-lhes em dom um rosário.Com um sorriso, desculpava-se pelo in-cómodo, garantindo contudo que tinharespeitado o horário do silêncio, noqual os condóminos repousam depoisdo almoço, como recita um letreiro noi n g re s s o .

Com o gesto da bênção de porta emporta, Francisco quis abraçar a vidadiária dos romanos que lhe foi apresen-

corajando todos. Viu nos olhos daspessoas lágrimas de alegria. Foi umverdadeiro diálogo em comunhão: istoé, pôs em prática o que nos diz habi-tualmente e assumiu todas as situaçõesencontradas». Embora pertença ao ter-ritório da cidade de Roma, Ostia comos seus cem mil habitantes constitui umnúcleo em si, «acolhendo no seu con-texto urbano uma vivaz comunidade defiéis, que vive e partilha inclusive algu-mas realidades difíceis, ligadas à vidada periferia», explicou-se na Sala deimprensa. E desta forma «com frequên-cia a igreja, a paróquia e o pequenocampo de futebol adjacente tornam-seum ponto de referência para a comuni-dade e constituem uma meta de chega-da para aquelas realidades sociais eexistenciais que muitas vezes sofremformas de exclusão e permanecem mar-ginalizadas».

Ouvimos como Jesus se despede dosseus na última Ceia, pedindo-lhes paraobservar os mandamentos, e prometen-do que lhes enviará o Espírito Santo:«Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará ou-tro Paráclito» — «paráclito» significa«advogado» — «outro advogado, paraque permaneça eternamente convosco:o Espírito da Verdade» (Jo 14, 16-17). Eo Espírito Santo está em nós — em ca-da um de nós — e nós recebemo-lo como Batismo: recebemo-lo de Jesus e doPai. Noutra parte [do Novo Testamen-to], o Apóstolo pede-nos para conservaro Espírito Santo, e diz-nos mais: «Nãocontristeis o Espírito Santo» (cf. Ef 4,30), come [se dissesse]: «Estai cons-cientes de que tendes dentro de vós opróprio Deus, o Deus que te acompa-nha, que te diz aquilo que deves fazer ecomo o deves fazer; Aquele que te aju-da a não errar, que te ajuda a não cairna tentação; o Advogado: Aquele quete defende do maligno». E este Espíritoé aquele que Pedro, na segunda Leitu-ra, diz que nos ajudará «a adorar Cris-to no nosso coração» (cf. 1 Pd 3, 15). Ecomo? Mediante a prece de adoração edeixando sobressair precisamente a ins-piração do Espírito Santo. É Ele que

A dos cristãos deve ser uma «linguagem de docilidade e respeito», recordou o PapaFrancisco celebrando a santa missa na paróquia romana dedicada a São PedroDamião nos Montes de São Paulo, onde foi em visita pastoral na tarde de domingo 21de maio. A seguir, publicamos o conteúdo da homilia do Sumo Pontífice.

Um da família

Muitas vezes Francisco confidenciou: oserviço do pároco que vai ter com aspessoas é o seu «sonho» de sacerdote etambém a expressão mais direta daIgreja «em saída». Assim, na tarde desexta-feira, 19 de maio, o bispo de Ro-ma vestiu a estola de pároco para aben-çoar as famílias de dois edifícios numcondomínio de casas populares em Os-tia, situados no número 11 da praçaFrancesco Conteduca. Periferia da peri-feria.

Praticamente, o Papa deu uma ajudaao padre Plinio Poncina, pároco deSanta Maria Stella Maris, que desdeantes da Páscoa está a visitar as casas,para a tradicional bênção. Deste modo,com outra iniciativa de surpresa, tam-bém no mês de maio Francisco prosse-guiu com as chamadas «sextas-feiras damisericórdia», os sinais inspirados nasobras de misericórdia corporais e espiri-tuais que o bispo de Roma realizou du-rante o jubileu. E continua a realizar.Desta vez o Pontífice testemunhou um«sinal de proximidade às famílias resi-dentes na periferia de Roma», explicouuma nota difundida pela Sala de im-prensa da Santa Sé.

«Admirei-me que o Papa me tenhaagradecido porque lhe permiti “ser pá-

tada em todos os seus aspetos: os ido-sos sozinhos, com as fotos dos netinhosnas mãos para que fossem benzidas;mães e pais com as crianças, com osquais Francisco logo se pôs a conversar.Em particular com um jovem até mar-cou um encontro para um jogo de xa-drez. Um senhor abriu a porta descul-pando-se por estar vestido com umroupão mas estava convalescente apósuma operação. Uma família de rome-nos ortodoxos num instante improvisouuma verdadeira festa de boas-vindas.

Abriram a porta de casa ao Papa nototal quatorze famílias. Outras encon-traram-se com Francisco no pátio docondomínio: de facto, alguns adverti-dos telefonicamente, voltaram para casaquase a correr para o poder saudar.

Por fim, antes de voltar para o Vati-cano, às 17h40 o Papa saudou as pes-soas que estavam diante do portão. Ascrianças do catecismo da paróquia Stel-la Maris prepararam uma série de le-treiros para agradecer a visita de Fran-cisco e garantir o seu compromisso cris-tão. «O Papa viu a situação particularde cada pessoa — disse o padre Plinio— e proferiu a palavra mais adequada,como sabe fazer o pároco com os seusparoquianos; consolou cada família, en-

MAU R I Z I O FO N TA N A

«Meu irmão está doente e não pôdevir: pediu-me para te saudar», «Minhafilha acabou de fazer a primeira comu-nhão, Papa Francisco posso oferecer-lhe uma lembrancinha?», «Santo Pa-dre, posso abraçar-te?». Passou assimrapidamente a tarde de domingo, 21 demaio, na paróquia romana de São Pe-dro Damião em Casal Bernocchi, co-mo se tivesse chegado alguém de casa,um da família. Maria Grazia, uma se-nhora originária da província de Ales-sandria, contou em dialeto piemontêsque a sua mãe idosa, enferma, vive nu-ma pequena aldeia a cerca de vintequilómetros daquela dos bisavós doPontífice. E ele, com extrema naturali-dade, sempre em dialeto, pediu-lhenotícias mais exatas.

Alegria e entusiasmo animaram estecantinho da extrema periferia meridio-nal de Roma, perto do litoral, vencen-do até as dificuldades de um calormais de verão do que de primavera. Jádesde as primeiras horas da tarde aspessoas do bairro tinham ocupado oslugares atrás das barreiras na praça ad-jacente à igreja e ao longo da estradaque leva ao campo desportivo onde es-tava prevista a chegada do Papa. Aliesperavam-no os jovens atletas da as-sociação desportiva «Vita Nuova CasalBernocchi», as crianças e os adolescen-tes de São Pedro Damião juntamentecom os da paróquia vizinha de SãoPio de Pietrelcina.

Cantos a plenos pulmões e grandesagitações de lenços por parte dos esco-teiros quando, às 15h35, apareceu ocarro com o Pontífice. Francisco foi re-cebido pelo cardeal vigário AgostinoVallini, o bispo Paolo Lojudice, auxi-liar para o setor sul, o pároco padreLucio Coppa e um dos sacerdotes co-laboradores da paróquia, padre Filip-po Celona. Presente também monse-nhor Leonardo Sapienza, regente daPrefeitura da Casa Pontifícia.

Depois do primeiro abraço aos fiéis,com o costumeiro ritual de selfies,abraços, beijos e carícias aos pequeni-nos, o Papa chegou ao palco onde ovice-pároco, padre Eduardo AndrésContreras Valladares, o esperava.

Algumas crianças diante do Pontífi-ce iniciaram uma vivaz série de per-guntas: «O que podemos fazer parasalvar o mundo?», «De que modo en-tendeste a tua vocação sacerdotal?»,«Como podemos seguir melhor Je-sus?», «Que desporto praticavas quan-do tinhas a minha idade e, se jogavasfutebol, em qual posição?».

Tal curiosidade dos pequenos ofere-ceu a ocasião para um divertido «per-gunta e resposta», solicitado pelo pró-prio Pontífice que até incentivou osmais tímidos: «O que acontece? Estaisa dormir?». Para salvar o mundo, para«ajudar Jesus a salvar o mundo», disseo Papa aproveitando a sugestão dascrianças, muito pode ser feito: rezar,

respeitar as pessoas, até aquelas dasquais não gostamos («Repitamos jun-tos: todas as pessoas devem ser respei-tadas!»), e semear alegria, «porque aalegria ajuda a salvar o mundo».

Em relação ao jogo, Francisco confi-denciou que não era bom de futebol:«Era um pata dura (perna dura) e porisso geralmente era o goleiro...». Faloumais tempo sobre o tema da vocação,explicando sobretudo, que a da famíliaé uma «linda vocação». Depois de terrecordado os anos da infância — «emfamília éramos cinco irmãos, éramosfelizes» — contou o momento decisivoda sua história pessoal. Todas as crian-ças, sentadas no chão, ouviram de na-riz arrebitado: «Um dia senti — masrepentinamente — tinha 16 anos e sentique o Senhor queria que me tornassesacerdote. Eis-me! Estou presente! Es-ta é a resposta. Sente-se no coração».

Para terminar o encontro, o Papapediu que as crianças dessem as mãos,recitou com elas uma ave-maria eabençoou-as. Depois saudou as que otinham interpelado no início e recebeuum livro no qual todas deixaram dese-nhos e perguntas: «Assim quando tive-res um pouco de tempo poderás recor-dar-te de nós».

Em seguida, de carro, o Pontíficedirigiu-se lentamente para a igreja, sor-rindo aos muitos fiéis ao longo do ca-minho. Antes de tudo, cumprimentoucerca de setenta doentes, entretendo-seprincipalmente com as crianças, dan-do-lhes atenção e carícia. «Não é fácilcarregar a cruz da doença» disse; mas«sois companheiros de Jesus e elecompreende-vos». Recomendou que osdoentes se dirijam a Maria como auma mãe, pedindo-lhe: «Acaricia-me!».

E logo depois o Papa encontrou-seprecisamente com onze mães, reunidascom as suas famílias numa salinha queacolhia as crianças batizadas durante oano. Verdadeiras «joias», definiu-as,rezando por elas a Nossa Senhora an-tes de lhes conceder a bênção.

Em seguida no pequeno teatro paro-quial Francisco saudou a comunidadedo Caminho neocatecumenal. O páro-co fez uma breve apresentação da his-tória e das atividades, grato pela ajudarecebida na evangelização e tambémnos momentos pessoais de dificuldade.E o Pontífice falou de evangelização etestemunho, evidenciando a importân-cia do compromisso dos leigos e doisaspetos fundamentais do anúncio: aescuta («As pessoas têm necessidadede ser ouvidas») e o serviço («Sois ser-vidores de todos, assim tudo é bom»).

O tema do serviço aos últimos foi odestaque do último encontro antes daliturgia eucarística: cerca de quarentapobres que usufruem do refeitório dogrupo da Cáritas que funciona comquinze voluntários comprometidos naassistência. Depois de ter saudado asfamílias do clero paroquial e os sacer-dotes do território, que em seguida ce-lebraram com ele, o Papa ouviu a con-fissão de quatro fiéis: uma menina, umjovem e dois adultos.

Grande participação também namissa — dirigida pelo mestre das cele-brações litúrgicas do Sumo Pontífice,monsenhor Guido Marini, coadjuvadopelo mestre-de-cerimónias Ján Dubina— durante a qual o pároco ofereceu aoPontífice uma pequena imagem doBom Pastor.

No final, do adro da igreja, o Papasaudou novamente todos os fiéis reuni-dos na praça e concedeu-lhes a bên-ção.

aberta e a língua de fora. Far-vos-ábem considerar como é uma comunida-de cristã que não conserva o EspíritoSanto com suavidade e respeito: é co-mo aquela serpente, com uma línguacomprida assim... Certa vez, falandosobre este tema, um pároco disse-me:«Na minha paróquia há alguns que po-dem fazer a comunhão da porta: com alíngua que têm, chegam até ao altar!».Alguns de vós poderão dizer: «Mas Pa-dre, o senhor fala sempre sobre o mes-mo tema!...». Mas é verdade! Isto des-trói-nos! E nós devemos conservar oEspírito Santo..., e não aquilo que aserpente — o diabo — nos ensina.

Perdoai-me se volto a falar sempresobre isto, mas acho que este é o inimi-go que destrói as nossas comunidades:a bisbilhotice. Talvez vos faça bem, nãohoje — alguns hoje, outros noutro dia —quando fordes saudar Nossa Senhora,

olhar um pouco para baixo e ver aque-la língua [da serpente] e dizer a NossaSenhora: «Nossa Senhora, salva-me: eunão quero ser assim. Quero conservar oEspírito Santo como Tu o conservaste».Ela conservou o Espírito, que depoisdesceu e fez dela a Mãe do Filho deD eus.

Irmãos e irmãs, verdadeiramente: istofaz mal ao meu coração; é como se en-tre nós lançássemos pedras, uns contraos outros. E o diabo diverte-se: isto éum carnaval para o diabo! Peçamos es-ta graça: conservar o Espírito Santoque está em nós. Não o podemos con-tristar, como diz o Apóstolo Paulo.Não o contristemos! E que a nossa ati-tude diante de todos — tanto dos cris-tãos como dos não-cristãos — seja dedocilidade e de respeito, pois é assimque o Espírito Santo age em relação anós: com docilidade e respeito.

ro co”: foi o máximo —disse o padre Plinio —mas sobretudo um en-corajamento para to-dos os párocos, foi co-mo se nos tivesse dito“o teu trabalho éaquele que também eusonho”». Na quarta-feira passada o párocopôs um cartaz na en-trada do condomíniode cinco andares paraavisar as famílias queteria passado a fim deas visitar para a bên-ção pascal. Mas natarde de sexta-feira, às16h20, quem tocou ascampainhas foi Fran-cisco. Acompanhou-o,juntamente com o pa-dre Plinio, o arcebispoRino Fisichella. Na

nos diz: «Isto é bom, isso não é bom,este é o caminho errado, esse é o cami-nho certo...»: Ele leva-nos em frente. Equando as pessoas nos pedem explica-ções, sobre o porquê nós cristãos somosassim, Pedro diz: «Estai sempre pron-tos a responder a todo aquele que vosperguntar por que razão sois assim»(cf. 1 Pd 3, 15). E como é que isto deveser feito? Continua Pedro: «Todavia, fa-zei-o com suavidade e respeito» (v. 15).E quero parar por aqui.

A linguagem dos cristãos que conser-vam o Espírito Santo que nos é conce-dido como um dom, daqueles que sa-bem que possuem o Espírito que lhesexplica [a verdade], esta linguagem éespecial. Não devem falar em latim:não, não! Trata-se de outra linguagem.

lhotice... E depois, o que dizem? «Seeles são cristãos, prefiro permanecer pa-gão». E vão-se embora, desiludidas.Porque eles não sabem conservar o Es-pírito, e com esta «linguagem» de semostrar por ambição, por inveja, porciúmes, tantas coisas que nos dividemuns dos outros, afastamos as pessoas.Somos nós que as afastamos. E não im-pedimos que continue a obra do Espíri-to, de atrair as pessoas. Gosto de falarsempre sobre esta temática, porque vosdigo — digo-vos com toda a franqueza!— que este é o pecado mais comum nasnossas comunidades cristãs.

Enquanto eu incensava Nossa Se-nhora, abaixei um pouco o olhar e vi aserpente, a serpente esmagada por Nos-sa Senhora, a serpente com a boca

página 10 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 25 de maio de 2017, número 21

Missas matutinas em Santa MartaQuinta-feira18 de maio

Para dar alegriaàs pessoas

«Obedece e dá alegria às pessoas»:eis a síntese eficaz da «missão cris-tã» proposta pelo Papa, que fez suaa dupla recomendação de um pai aofilho sacerdote nomeado bispo. Ele,explicou Francisco, «foi ter com oseu idoso pai para lhe dar a notí-cia». E «aquele homem, já aposenta-do, homem humilde» que fora«operário a vida inteira» e «não ti-nha frequentado a universidade maspossuía a sabedoria da vida», «acon-selhou-lhe só duas coisas: “O b edecee dá alegria às pessoas”». Porque«aquele homem tinha entendido»bem o ensinamento das leituras daliturgia do dia: «Obedece ao amordo Pai, sem outros amores, obedecea este dom e depois dá alegria àspessoas». Portanto também «nóscristãos, leigos, sacerdotes, consagra-dos e bispos, devemos dar alegria àsp essoas».

Para a sua reflexão o Papa inspi-rou-se em especial no trecho doEvangelho de João (15, 9-11). Descre-vendo a cena, observou que «Jesussugere mais uma vez o mandamentodo amor». Em particular «neste tre-cho diz algo muito forte: “Assim co-mo o Pai me amou, também Eu vosamei”». Por isso, «o amor com queJesus nos ama é o mesmo com oqual o Pai o ama. Somos amadoscom este grande amor. É o grandedom do amor!». É por isso que,acrescentou, Jesus «nos admoesta:“Por favor, permanecei no meu amorporque é o amor do Pai”. É o gran-de amor». E dado que está conscien-te da objeção: “Mas Senhor, comopodemos permanecer no teu amor?”,oferece também uma resposta con-creta: “Se observardes os meus man-damentos, permanecereis no meuamor, como eu observei os manda-mentos do meu Pai e permaneço noseu amor”. Em síntese, esclareceu,«Jesus permanece no amor do Pai epede-nos que permaneçamos noamor que Ele tem por nós».

Mas «como se permanece» nesteamor? «Observai os mandamentos»é a resposta: «os dez», o decálogoque «é a base, o fundamento». Sãoos preceitos, esclarece Jesus «quevos ensinei», ou seja «os manda-mentos da vida diária, os pequenosmandamentos» que, «mais que man-damentos são um modo de vivercristão». Então, o Pontífice exortoua permanecer «neste modo de vivercristão, que são tais mandamentos».Como? «Por exemplo nas obras demisericórdia ou nas bem-aventuran-ças». Com efeito, embora seja«grande, muitíssimo longo o elencodos mandamentos de Jesus», na rea-lidade «o núcleo é um só: o amordo Pai por Ele e o amor dele pornós».

Por isso, continuou o Papa, o Se-nhor «pede-nos que permaneçamosno amor». Inclusive porque na vida«há outros amores. Também o mun-do nos propõe outros amores: por

exemplo, o amor pelo dinheiro, pelavaidade, pavonear-se, o amor peloorgulho, pelo poder, até fazendomuitas coisas certas para ter maispoder». Mas em tal caso «há outrosamores»; e «eles não são de Jesus,não são do Pai. Ele pede-nos quepermaneçamos no seu amor, que é oamor do Pai».

A propósito, o Papa convidou apensar «também nestes amores quenos afastam do amor de Jesus», as-sim como na existência de «outrasmedidas de amar»: como o «amarpela metade», que contudo «não éamar. Uma coisa é gostar, e outra éamar. Amar é mais que gostar». Aponto de nos perguntarmos qual é amedida do amor. E paradoxalmentea resposta é que «a medida do amoré amar sem medida». Só assim, com«estes mandamentos que Jesus nosdeu, permaneceremos no amor deJesus que é o amor do Pai. Sem me-dida». Não como qualquer outro ti-po de amor que pode ser «tíbio oui n t e re s s e i ro » .

Prosseguindo a releitura da pági-na evangélica, o Papa perguntou porque o Senhor recorda isto aos ho-mens. «Para que a minha alegria es-teja em vós e seja plena», é a respos-ta que vem diretamente do texto sa-grado. Com efeito, «se o amor doPai vem a Jesus, Jesus ensina-nos avia do amor: o coração aberto, amarsem medida, deixando de lado ou-tros amores. O grande amor por Eleé permanecer neste amor; e há agrande alegria, que é um dom».Aliás, ambos, «o amor e a alegriasão um dom». Há uma referêncianeste sentido também «na primeiraoração da missa, quando pedimos:“Senhor, preservai este dom que nosdestes”, o dom do amor, da alegria».E a tal propósito, o Papa citou oepisódio do pai do sacerdote nomea-do bispo. Eis, pois, por que os cris-tãos devem “dar alegria às pessoas”:por isso, por causa do amor, semqualquer interesse, só por causa doamor. A nossa missão cristã é daralegria às pessoas». O Papa concluiucom a invocação para que «o Se-nhor preserve este dom de permane-cer no amor de Jesus para poder daralegria às pessoas».

Sexta-feira19 de maio

Doutrina e ideologia«Aprouve ao Espírito Santo e anós...»; não perdeu a sua atualidadeo incipit da carta que os apóstolosescrevem aos cristãos «de Antioquia,da Síria e da Pisídia», depois de terdiscutido entre eles naquele que foio primeiro verdadeiro concílio dahistória da Igreja. Precisamenteaquelas palavras, citadas nos Atosdos Apóstolos, Francisco quis relan-çar pedindo «a graça da obediênciamadura para o magistério da Igre-ja», para ser fiéis «a Pedro, aos bis-pos» e «ao Espírito Santo que guiae ampara este processo». O Papanão deixou de advertir contra a«transformação da doutrina emideologia», criando dificuldades edivisões.

«Na Igreja do início houve difi-culdades» reconheceu imediatamenteFrancisco. A ponto que até «na pri-meira comunidade cristã, por exem-plo, havia ciúmes, lutas de poder:alguns espertalhões que queriam ga-nhar e comprar o poder, como Si-mão ou aquele casal de hipócritasAnanias e Safira que pretendiammostrar-se como verdadeiros cristãosmas pelas costas faziam os seus ne-gócios». Em síntese, «sempre houveproblemas; somos humanos, somospecadores e existem dificuldades, aténa Igreja, entre nós, sempre». E«num certo sentido — esclareceu —ser pecadores leva-nos à humildadee a aproximar-nos do Senhor, quenos salva dos nossos pecados». Poreste motivo «é uma graça sentir-sepecadores, é uma graça».

«Mas há outros problemas maio-res, não estes de todos os dias»prosseguiu o Pontífice, referindo-seao trecho dos Atos dos Apóstolos(15, 22-31) proposto pela liturgia co-mo primeira leitura: «Este trechoapresenta o fim do problema que co-meçou com Pedro: quando este vaiter com Cornélio, um pagão, e o ba-tiza». E «aqui a história verte sobreesta questão: Paulo e Barnabé emAntioquia sofreram tanto porque Je-

sus dissera: “outros povos virão”; éverdade, mas não disse como estespovos deveriam entrar na Igreja».Por isso, «alguns diziam: “não, pri-meiro têm que se tornar judeus e de-pois podem entrar”. Este é o nó daquestão».

Simplificando o raciocínio, Fran-cisco explicou que «por um lado»havia «os que queriam que primeirose tornassem judeus e depois se bati-zassem». E «por outro», havia osque «pensavam: “não, é o Senhorquem os chama? Que venham”». Eisentão que «quando Pedro explica is-to, a visão que teve, e depois quan-do vê o Espírito Santo descer sobreCornélio e a sua família, profereaquela frase: “quem sou eu para fe-char a porta ao Espírito Santo?”».Tudo isto — recordou Francisco —«acontece também em Antioquia:depois Paulo é apedrejado, é aban-donado quase morto». São «perse-guidos».

Há de facto «este grupinho» que«vai de um lado para outro com ca-lúnias, com mexericos maldosos,graves». E «também diz, um poucomais adiante — mas é a mesma histó-ria de Antioquia — que foi ter comas mulheres piedosas, que tinham in-fluência sobre as autoridades, paraque afastassem os apóstolos». Por-tanto, «os apóstolos querem tratar aquestão na presença de Deus: muitoprovavelmente, nesta reunião, houvediscussões fortes mas com espíritobom». Também «Paulo, diz noutraparte do livro dos Atos coisas gravescontra Pedro, mas sempre diante deDeus, com bom espírito». Mas «háoutro grupinho que fazia confusão eos apóstolos dizem assim: “Soub e-mos que alguns de nós, aos quaisnão demos cargo algum — sob eranos— vieram perturbar-vos com discur-sos que transtornaram os vossos âni-mos”».

«E encontramo-nos assim diantede dois grupos de pessoas»: «O gru-po dos apóstolos que querem deba-ter o problema e os outros que cau-sam problemas, dividem, dividem aIgreja, dizem que o que os apóstolospregam não é o que Jesus disse, quenão é a verdade». Por sua vez, «osapóstolos discutem a questão até aofim, ouvimos como se põem de acor-do». Mas «não é um acordo políti-co, é a inspiração do Espírito Santoque os leva a dizer: nada, nenhumaexigência», exceto a obrigação «denão comer carne naquele tempo, acarne sacrificada aos ídolos porquesignificava fazer comunhão com osídolos, abster-se do sangue, dos ani-mais sufocados — porque era um es-cândalo comer sangue, a carne sufo-cada, mesmo se é uma coisa que ho-je parece ser secundária — e dasuniões ilegítimas». E «por outro, aliberdade do Espírito: assim os pa-gãos podem entrar na Igreja sempassar pela circuncisão, diretamen-te».

O Papa observou também que «ébonito o início desta carta» dosapóstolos: «“Aprouve ao EspíritoSanto e a nós”: o Espírito e os seuspõem-se de acordo». E «este é o pri-meiro concílio da Igreja, para escla-recer a doutrina». Depois «houvetantos, até ao Vaticano II, que escla-receram a doutrina». Com efeito,afirmou o Pontífice, «é um dever daIgreja esclarecer a doutrina para que

Calendário das celebraçõespresididas pelo Papa Francisco

Junho

4 DOMINGO DE PENTECOSTES

Praça de São Pedro, 10h30, Capela Papal, Santa Missa

18 DOMINGOSOLENIDADE D O SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO

Praça de São João de Latrão, 19h00, Capela Papal, Santa Missa, Pro-cissão até Santa Maria Maior e Bênção Eucarística

29 QU I N TA -FEIRASOLENIDADE D OS SANTOS PEDRO E PAU L O

Basílica Vaticana, 9h30, Capela Papal, Santa Missa e bênção dos Pá-lios para os novos Arcebispos Metropolitanos

Cidade do Vaticano, 18 de maio de 2017Mons. GUID O MARINI

Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias

número 21, quinta-feira 25 de maio de 2017 L’OSSERVATORE ROMANO página 11

se compreenda bem aquilo que Jesusdisse nos Evangelhos, qual é o espí-rito dos Evangelhos». E os Atos nar-ram, precisamente: «o primeiro:diante de um problema esclarece-ram, as coisas estão assim». Também«em Éfeso, por exemplo, quando sediscutia se Maria era a mãe de Deus,fizeram o concílio para esclareceraquele problema, porque o EspíritoSanto e eles, o Papa com os bispos,todos juntos vão em frente».

«Mas houve sempre quem — ad-vertiu Francisco — sem encargo al-gum, vai perturbar a comunidadecristã com discursos que desorientamas almas: “Eh, não, o que aquele dis-se é herege, não o pode dizer, istonão, a doutrina da Igreja é esta”».Na realidade «são fanáticos do quenão é claro, como estes fanáticos queiam semeando joio para dividir a co-munidade cristã». É precisamente«este o problema: quando a doutri-na da Igreja, a que vem do Evange-lho, a que o Espírito Santo inspira —porque Jesus disse: “Ele nos ensina-rá e vos fará recordar o que eu ensi-nei” — torna-se ideologia». Eis «o

grande erro destas pessoas: não eramcrentes, seguiam uma ideologia quefechava o coração à obra do EspíritoSanto». Ao contrário, «certamenteos apóstolos tiveram fortes discus-sões, mas não eram ideologizados:tinham o coração aberto ao que oEspírito dizia». Eis por que, «depoisda discussão», começam a sua cartaescrevendo: «Aprouve ao Espírito ea nós».

«Não nos devemos assustar, quan-do ouvimos estas opiniões dos ideó-logos da doutrina. A Igreja tem oseu próprio magistério, o magistériodo Papa, dos bispos, dos concílios, edevemos ir por este caminho quevem da pregação de Jesus e do ensi-namento e da assistência do EspíritoSanto: está sempre aberta, sempre li-vre». E «esta é a liberdade do Espí-rito, mas na doutrina». Ao contrário,aqueles «que foram a Antioquiacriar alvoroço e dividir a comunida-de, são ideólogos». Porque «a dou-trina une, os concílios unem semprea comunidade cristã». É a ideologiaque «divide» mas «para eles é maisimportante a ideologia do que adoutrina: põem de lado o EspíritoSanto».

«Hoje vem-me espontâneo pedir agraça da obediência madura ao ma-gistério da Igreja — confidenciouFrancisco, concluindo — aquela obe-diência ao que a Igreja nos ensinousempre e nos continua a ensinar». Edeste modo «desenvolve o Evange-lho, explica-o cada vez melhor, emfidelidade a Pedro, aos bispos e, emdefinitiva, ao Espírito Santo queguia e ampara este processo». Nestaperspetiva o Papa convidou «tam-bém a rezar pelos que transformama doutrina em ideologia, para que oSenhor lhes conceda a graça da con-versão à unidade da Igreja, ao Espí-rito Santo e à verdadeira doutrina».

Harold Copping, «Lídia ouveo anúncio do Evangelho» (pormenor, 1927)

Declaração dos bispos brasileiros

Contra a corrupção«Ética na política» é o título e, ao mesmo tempo, oobjetivo da declaração da Conferência nacional dosbispos do Brasil (Cnbb) reunida recentemente na capi-tal Brasília para debater sobre a situação económica dopaís e, em particular, «sobre as denúncias de corrupçãopolítica recebidas pelo Supremo tribunal federal», ava-liadas pela Cnbb, «juntamente com os bispos de todoo país, com espanto e indignação».

Os bispos referem-se à decisão do tribunal brasileiro,que suspendeu do seu cargo parlamentar o senador eex-candidato presidencial, Aécio Neves, ao passo que aprocuradoria geral pediu ao Supremo tribunal federalpara ordenar a sua prisão, no âmbito de um inquéritosobre a corrupção. Neves, economista, é presidente doPartido da social democracia, aliado principal do parti-do do presidente Michel Temer.

Mas o Brasil está chocado sobretudo pelos resulta-dos de um inquérito no âmbito do qual são investiga-dos oito ministros e 73 parlamentares e que abrangeriatambém a própria presidência da República. Contudo,o chefe de Estado rejeitou qualquer acusação e excluiucategoricamente a hipótese da sua demissão. Com baseno artigo 37 da Constituição, lê-se no comunicado dosbispos brasileiros, «é dever de todo servidor público,principalmente os que detêm elevadas funções, manterconduta íntegra, sob pena de não poder exercer o car-go que ocupa».

Tais denúncias, segundo os prelados, «exigem rigo-rosa apuração, obedecendo-se sempre às garantias

constitucionais». Apurados os factos, os autores dosatos ilícitos devem ser responsabilizados. «A vigilânciae a participação política das nossas comunidades, dosmovimentos sociais e da sociedade, como um todo,muito podem contribuir para elucidação dos fatos edefesa da ética, da justiça e do bem comum». Comefeito, «a superação da grave crise vivida no Brasil exi-ge o resgate da ética na política que desempenha papelfundamental na sociedade democrática». Os preladosexortam: «Urge um novo modo de fazer política, ali-cerçado nos valores da honestidade e da justiça social».E recordam um trecho do comunicado final da recenteassembleia geral da Cnbb: «O desprezo da ética leva auma relação promíscua entre os interesses públicos eprivados, razão primeira dos escândalos da corrupção.O estado democrático de direito, reconquistado comintensa participação popular depois da ditadura, correo risco de ver crescer o descrédito e o desencanto emrelação à política e às instituições da República, cujaação demonstrou uma distância enorme das aspiraçõesde grande parte da população. Devemos construir umademocracia deveras participativa».

Por fim, na nota oficial os prelados pedem às diver-sas comunidades do país «que participem responsávele pacificamente da vida política, contribuam para arealização da justiça e da paz e rezem pelo Brasil. Nos-sa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, nos ajude acaminhar com esperança construindo uma nova socie-dade».

Segunda-feira22 de maio

Dois advogados«Senhor, abre o meu coração paraque eu possa compreender o quenos ensinaste. Para que eu possa re-cordar as tuas palavras. Para que eupossa seguir as tuas palavras. Paraque eu possa chegar à verdade ple-na». Eis a “oração”, a «fazer nestesdias», e Francisco pronunciou-a co-mentando como de costume a litur-gia da palavra, que — explicou —«nestes dias nos faz escutar o longodiscurso de Jesus durante a ÚltimaCeia» em que anuncia «aos seus» oenvio do Espírito Santo.

Trata-se de «um discurso no qualJesus admoesta, ensina, consola» osdiscípulos e «lhes dá esperança» ga-rantindo: «“Estai tranquilos, não vosdeixarei órfãos”. Ainda um pouco detempo e o mundo já não me verá,mas vós não permanecereis órfãos,porque enviarei outro “advogado”para vos defender diante do Pai». Aeste propósito, o Pontífice realçouque se «o primeiro advogado eraele», o próprio Cristo, «o grandeadvogado que perdoou todos osnossos pecados, que nos defende»,na Última Ceia fala de um segundo“advogado”. Com efeito, diz: «en-viar-vos-ei outro que nos acompa-nhará», explicando que «quandovier o Paráclito — ou seja, o advoga-do, que é o Espírito Santo — quevos enviarei do Pai, o Espírito daverdade que procede do Pai, ele da-rá testemunho de mim».

Na opinião de Francisco isto «sig-nifica que somente o Espírito Santonos dá a segurança de ser salvos porJesus»; que «só o Espírito Santo nosensina a dizer: “Jesus é o Senhor”».Ao passo que «sem o Espírito, ne-

nhum de nós é capaz de o dizer,sentir, viver». Aliás, acrescentou oPapa, «Jesus, noutros trechos destelongo discurso, disse» que o Espírito«“vos conduzirá à verdade plena”,nos acompanhará rumo à verdadeplena. “Far-vos-á recordar tudo oque eu disse; ensinar-vos-á tudo”».Por esta razão, garantiu o Pontífice,«o Espírito Santo é o companheirode caminho de cada cristão» e «tam-bém o companheiro de caminho daIgreja. E este é o dom que Jesus noso f e re c e » .

Haurindo da própria experiênciade bispo, Francisco recordou que«quando celebramos a Confirmaçãoe ungimos na fronte dos crismandos,dizemos: “recebe por este sinal o Es-pírito Santo, dom de Deus”». Comefeito, o Paráclito «é um dom: ogrande dom de Jesus, é o Espírito.Aquele que não nos faz errar».

Portanto, é natural questionar-se:«Onde habita o Espírito?». O Papaencontrou uma resposta plausível naprimeira leitura litúrgica, tirada dosAtos dos Apóstolos (16, 11-15), quenarra uma «aventura dos apóstolosrumo à Macedónia, onde tinham si-do chamados». Parafraseando a nar-ração bíblica o Pontífice acrescentouque «quando chegaram à cidade deFilipos, ao sábado foram caminharao longo do rio onde se rezava; e aliestava um grupo de mulheres queoravam». Assim os apóstolos «come-çaram a pregar às mulheres, sobreJesus». E está escrito no livro dosAtos que «havia também uma co-merciante de púrpura, de nome Lí-dia, que escutava». Ela, comentouFrancisco, «não era parva: mas umacomerciante, sabia fazer as coisas».Originária «da cidade de Tiatira»ela «acreditava em Deus. E o Se-nhor abriu-lhe o coração para queaderisse à palavra de Deus». Ou se-ja, insistiu o Papa, «abriu-lhe o cora-ção para que pudesse entrar o Espí-rito Santo» e torná-la «uma discípu-la». Com efeito, «é precisamente nocoração» que «trazemos o EspíritoSanto». A ponto que «a Igreja lhechama “o hóspede afável do cora-ção”». Contudo, advertiu o Pontífi-ce, «num coração fechado não podeentrar» nem é possível comprar «aschaves para abrir o coração», porque«também este é um dom. É um domde Deus». Daqui a invocação deFrancisco: «Senhor, abre o meu co-ração para que entre o Espírito e mefaça compreender que Jesus é o Se-nhor». Praticamente, exortou o San-to Padre, manter o «coração abertopara que o Espírito entre, e possa-mos ouvir o Espírito».

Por fim, o Papa Francisco convi-dou a fazer surgir desta dupla obser-vação «somente duas perguntas quese podem tirar destas leituras», so-bre as quais «será bom» refletir. Aprimeira é: «peço ao Senhor a graçade que o meu coração se abra?». E asegunda: «procuro ouvir o EspíritoSanto, as suas inspirações, o que elediz ao meu coração para que sigaem frente na vida de cristão, e possatestemunhar, também eu, que Jesusé o Senhor?». Eis então o conselhoconclusivo de Francisco: «Pensainestas duas questões, hoje: o meucoração está aberto, faço o esforçopara ouvir o Espírito Santo, o queme diz. E assim iremos em frente navida cristã e daremos também nóstestemunho de Jesus Cristo».

página 12 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 25 de maio de 2017, número 21

Lágrimas de mulher no desertoTestemunhos da América Latina

MARIA CLARALUCCHETTI BINGEMER

Odeserto de Atacama localiza-se na região setentrional doChile. É o deserto mais alto

e seco do mundo. A sua aridez é ex-plicável: as correntes marinhas doOceano Pacífico, que banha o litoraldo Chile, não conseguem chegar lápor causa da altitude. As nuvens,cheias de humidade, derramam a suacarga de chuvas antes de chegar aodeserto. Por conseguinte, este deser-to recebe pouquíssima chuva e é olugar mais seco de todo o planeta. Apaisagem é diversa da que observa-mos noutras regiões desérticas. NoAtacama coexistem vulcões, monta-nhas nevadas, gêiseres, dunas, pe-nhascos, vales, lagos e formações ro-chosas antiquíssimas.

As temperaturas variam de zerograu centígrado durante a noite aos40 graus diurnos. Contrariamente aoestereótipo, o Atacama, deserto maisárido do mundo, está bem distantede ter só areia. As formações rocho-sas do Vale da Lua, o fenómeno na-tural dos gêiseres de Tatio, a vario-pinta beleza das lagunas do planaltoe a elevada temperatura das termasde Puritama são só alguns exemplos«de paisagens fascinantes (...) que seunem ao grande silêncio que per-meia o Atacama» (Luciana Cristo).Além disso, não obstante a seca, odeserto oferece flores de rara beleza.Luis Sepúlveda, no livro As rosas deAt a c a m a (Porto, Porto Editora, 2011)diz: «Ei-las diante de ti. São as rosasdo deserto, as rosas do Atacama. Asplantas estão sempre ali, sob a terrasalgada. Viram-nas os antigos índiosatacamas, e depois os incas, os con-quistadores espanhóis, os soldadosda guerra do Pacífico, os que traba-lham com o nitrato de potássio. Es-tão sempre lá e florescem uma vezpor ano».

E no entanto, quem pisa no seuchão olha também para o céu. Ogrande interesse deste deserto nãoconsiste só em saber para onde secaminha. Nos anos cinquenta cien-tistas e astrónomos iniciaram a inte-ressar-se pela região. Por que moti-vo? Porque o céu chileno, precisa-mente acima do Atacama, é conside-rado o mais luminoso e adequadopara a observação de corpos celestes.Foi instalado um observatório comum telescópio de última geração,equipado com um dispositivo quepermite que aparelhos digitais aco-plados façam astrofotografias espeta-culares. É o melhor telescópio domundo.

O céu do Atacama não tem só umpotencial turístico. Pelo contrário,despertou a atenção de astrónomosde todo o mundo, que hoje partici-pam no projeto Alma (Atacama Lar-ge Millimeter Array), observatórioastronómico situado a cinco mil me-tros de altura, na zona do Chajnan-tor, perto de São Pedro.

Por que um lugar que no fundointeressa sobretudo a turistas, astró-nomos e arqueólogos, que estudam aestratigrafia do solo e os grafites tra-çados nas paredes rochosas e nas ca-vernas, deixados pelos povos antigosexpulsos pelo homem branco, deve-

ria atrair a atenção da teologia? Cer-tamente, a beleza natural, do paraísoou da terra, refere-se ao que hoje éuma prioridade teológica: a ecolo-gia.

Como justamente diz o PapaFrancisco na Laudato si’, o universoé a nossa casa comum. Além disso, onosso comportamento para nosaproximarmos da natureza e domeio ambiente deve ser de «admira-ção e maravilha», assim como sãochamados a falar «a linguagem dafraternidade e da beleza na nossa re-lação com o mundo». O Papa pros-segue comentando Francisco de As-sis: a natureza é um livro esplêndidono qual Deus nos fala e nos transmi-te algo da sua beleza e da sua divin-dade. «Da magnificência e da belezadas coisas criadas, podemos intuir,por analogia, o seu autor» (ibid., 11,12).

Como afirma a Laudato si’, omundo é algo mais do que um pro-blema para resolver: é um mistérioglorioso que contemplamos na ale-gria e no louvor (ibid., 12). Contem-plar a beleza das formações rochosasdo Atacama, buscar as origens dasnossas espécies e de muitas outrasdesaparecidas, observar o céu e asestrelas, tudo isto permite-nos apren-

restitui e comunica através dos ele-mentos mais surpreendentes, escon-didos no seu ventre.

Há outro fator simbólico impor-tante no deserto de Atacama, quepode levar-nos a uma reflexão acercado o sofrimento divino e humano esobre as lágrimas: é aquele que mos-tra o deserto como lugar de morte ede violência, que esconde o segredode milhares de vítimas silenciadaspara sempre por uma das repressõesmais violentas jamais vista no conti-nente latino-americano. Além de serum lugar de desaparecimento e dizi-mação de povos e civilizações anti-gas, o deserto de Atacama é, e conti-nua a ser, o túmulo de pessoas tor-turadas e desaparecidas, vítimas daditadura militar chilena que gover-nou o país de 1973 a 1989. Depois deter mantido este segredo por muitosanos, lentamente o deserto começoua revelá-lo. Precisamente por causada sua grande aridez, o contexto cli-mático do Atacama impede que oscorpos se decomponham tão rapida-mente quanto nos ambientes maishúmidos. Assim, do terreno do de-serto brotam não só as rosas celebra-das pelo poeta Luis Sepúlveda, ouas pinturas primitivas que os arqueó-logos descobrem nas paredes das ca-

monstruosidade e da crueldade daviolência, da tortura e da injustiça.Fala através do olhar inspirado docineasta que apresenta esta realidadetrágica no meio de imagens de rarabeleza. Fala através dos funcionáriosdo museu, que cuidam com grandezelo e impressionante devoção dosrestos humanos que aos poucos sãodescobertos no deserto, cartas maca-bras de um passado atroz. Mas falasobretudo através da fidelidade ina-balável do grupo de mulheres —Mujeres de Calama — que há déca-das, depois de quase vinte anos des-de o fim da era Pinochet, continuama procurar os restos dos seus entesqueridos e não darão trégua enquan-to não os conseguirem encontrar.

Nostalgia da Luz é uma meditaçãosobre a memória, a história e a eter-nidade. Através de fotogramas de al-tíssima qualidade estética exploranão só a beleza da terra e do céu,mas também o lado escondido dodeserto, que conserva os segredos deum passado muito mais árido doque o seu solo. Enquanto os astró-nomos podem perscrutar o céu embusca de novas galáxias e estrelas eos arqueólogos procuram civilizaçõesantigas, as mulheres, viúvas, mães,irmãs, filhas, esposas, procuram in-cansavelmente o que poderia terpermanecido dos seus entes queri-dos, aos quais desejam dar pelo me-nos uma sepultura digna.

O deserto não calou para sempresobre a violência e a tortura, masconspirou contra o mal e o aparentesilêncio de Deus diante da injustiça.O Deus de Jesus não permitiu que amorte tivesse a última palavra, assimcomo não a permitiu em relação aoseu Filho. Ao contrário, continua afalar através do seu Espírito. A me-mória viva das vítimas da violênciamostra a identidade deste Deus. É oDeus da vida, não um ídolo de mor-te.

Este pensamento e estas palavrasnão apagam a dor, mas podem con-solar quantos choram as ausências esentem sede de justiça e verdadepresente em cada realidade que vemdo Espírito de Deus. Assim como osepulcro não se fechou para sempresobre o corpo de Jesus, também odeserto de Atacama não permitiuque a recordação das vítimas da vio-lência desaparecesse. A verdade, co-mo diz o Evangelho, tornar-nos-á li-vres (cf. Jo 8, 32), dando cada vezmais paz a quantos têm fome e sedede justiça. Por isso podem ser comorios de água viva dos quais outrospodem beber.

O grupo Mujeres de Calama conti-nua a existir. Estas mulheres procu-ram, recolhem, choram, festejam; re-forçam a esperança umas das outras.Uma delas — Victoria — conseguiuencontrar e fazer com que lhe entre-gassem o pé do seu irmão. E comeste fragmento do seu corpo pôdemanter um diálogo, um novo encon-tro, chamando-lhe pelo nome. Sóentão aceitou que ele tinha morrido.Outra procura incansavelmente oseu filho. Tentaram dar-lhe umamandíbula dizendo-lhe que perten-cia a ele. Não a aceitou porque oqueria inteiro. Violeta Barrios, seten-ta anos, diz que não terá paz en-

Patricio Guzman «Saudades da luz» (2010)

der o modo como o nosso corpo foicriado e encontrar uma comunhãoagradecida e maravilhosa com oCriador que nos criou do pó das es-trelas e da argila do solo (cf. Gn 1 e2). O Papa Francisco recorda-nosainda que neste universo, formadopor sistemas abertos que entram emcomunicação uns com os outros, po-demos descobrir inúmeras formas derelação e participação. Isto leva-nosa pensar também no conjunto comoalgo aberto à transcendência deDeus, dentro da qual se desenvolve.A fé faz com que interpretemos osignificado e a beleza misteriosa doque acontece (Laudato si’, 79). Sen-do misteriosa, a beleza da naturezaoculta segredos. Alguns deles sãomaravilhas que a ciência continua arevelar, de descoberta em descober-ta. Outros são segredos que revelamhorrores e tragédias vividos pela hu-manidade, que muitos desejariam fa-zer para que desaparecessem e fos-sem esquecidos, mas que a natureza

vernas, mas também restos huma-nos: ossos, mandíbulas, carne mumi-ficada.

Patricio Guzmán Lozanes, cineas-ta chileno, exprime esta fome e sedede justiça focalizando o Atacama co-mo fonte de inspiração num belíssi-mo filme, Nostalgia da Luz (2009),no qual mostra o deserto como ocentro de dois dinamismos comple-tamente diferentes: por um lado é olugar de importantes estudos astro-nómicos e arqueológicos; por outroé a área na qual os parentes — emais concretamente as mulheres —dos prisioneiros políticos, desapare-cidos desde os tempos da ditadurade Pinochet, realizam buscas a fimde encontrar os restos dos seus entesqueridos.

Se o deserto é o lugar onde expe-rimentar a sede biológica e real, tal-vez a sede de justiça que emerge nacontemplação do Atacama seja amais expressiva relativa a Deus apar-tir do avesso da beleza, através da

número 21, quinta-feira 25 de maio de 2017 L’OSSERVATORE ROMANO página 13

quanto não encontrar Mario. Ela eas outras acham a força na esperan-ça. Depois de terem encontrado oque procuram, ela e as outras pode-rão morrer em paz.

Como a esperança das mulheresque no terceiro dia foram levar per-fume e óleo para ungir o corpo deJesus, a delas também é indestrutí-vel. E o deserto estabelece com elasuma aliança para toda a vida.

Embora outros países da AméricaLatina não possuam no seu territórioum lugar semelhante a Atacama, asimbologia do deserto como lugarno qual se esconde a violência e serevela, repete-se em diversas naçõesdo cone sul da América, como oBrasil, a Argentina e o Uruguai.

A configuração da luta e da re-pressão é muito semelhante. Mostramembros da classe média e letrada —estudantes, universitários, intelec-tuais, artistas — aliados com pessoasdas classes mais baixas na luta pelademocracia, pela liberdade e pelajustiça. Devem enfrentar um Estadoautoritário, que reprime as suas ini-ciativas com diversos meios, inclusi-ve com a tortura, e diferentes formasde intimidação, que com frequência,se concluem com a morte das víti-mas e com a necessidade de fazerdesaparecer os seus corpos, de ma-neira que nenhum traço da sua pre-sença e da sua existência permaneça.

Aqui podemos encontrar uma «li-turgia» a pôr em analogia perversacom as liturgias religiosas. A torturainicia com o ser corolário do «imagi-nário estatal», usando os corpos, demodo que possam desempenhar umpapel na visão de um Estado-nação.É uma «liturgia» que se baseia nomedo, o qual juntamente com o si-lêncio e o desaparecimento das pes-soas, cria um ambiente favorável aodesmoronamento de um corpo socialque poderia competir com o poderdo Estado totalitário. Cria-se um de-serto simbólico, onde a ausênciainexplicável e incompreensível dasvítimas pretende produzir um silên-cio íntimo e ininterrupto.

Como no Chile, também nessesoutros países surgiram uma expe-riência e um pensamento que de-nunciam a violência e criam novaslinguagens e símbolos imaginativospara dar voz às vítimas. Na Argenti-na, que conta trinta e seis mil pes-soas oficialmente desaparecidas,mais uma vez são as mulheres as

nifestar diante das janelas da CasaRosada a própria dor, as suas lágri-mas e a falta dos seus filhos perdi-dos.

No início chamavam-nas las locas,as loucas. Mas com o passar dosanos, enquanto «a lógica e a urgên-cia da sua mensagem se tornavamcada vez mais evidentes, a alcunhaperdeu-se e todos começaram a cha-má-las simplesmente las madres»(Mary Hunt).

As mães da Plaza de Mayo vivemna e da recordação dos seus filhos epercorrem a sua ausência no espaço

cos, para simbolizar as fraldas usa-das por aqueles que outrora eram osseus filhos e dos quais se ocupavamcom dedicação materna. Este é osímbolo do seu sofrimento e da sualuta, daquela dor que atormenta oseu seio materno e o seu desejo dejustiça e de paz. O pai de um dosdesaparecidos disse: «A agonia destatragédia sem fim é a falta de umcorpo sobre o qual chorar». O lençoserve para acariciar, confortar e en-xugar as lágrimas.

Em relação ao círculo, «não esco-lheram uma marcha em linha reta,um confronto direto com o poder.Contudo falaram em voz alta nassuas voltas silenciosas, previsíveis,incidindo na calçada a verdade dosseus pedidos» (Mary Hunt). Umalógica como esta fez nascer pinturasem toda a cidade: perfis nos pas-seios, pequenas mãos cortadas uni-das como as cadeias de homenzi-nhos de papel das crianças, queunem todos os que desapareceramcom quantos lutaram para que vol-tassem ou para saber a verdade acer-ca deles.

Quem animou aquelas mulheres efez com que mostrassem o sofrimen-to e as lágrimas e se confrontassemsem medo com o terror da repressãofoi a recordação viva dos seus filhos,feita de imagens, fotografias, passose vozes. Ter isto no seu íntimo tor-nou-as indomáveis e deu-lhes a força

Procuram os seus netos, os filhosdos seus filhos. As mulheres com olenço branco falam a partir da suafragilidade. Além disso, não permiti-rão que a recordação daqueles aosquais outrora deram vida seja disper-sa na noite dos tempos.

Organizaram laboratórios de es-crita, desenhos, arte, porque as suasexperiências precisam de encontraruma forma que as expresse. Estãopróximas de artistas, poetas, canto-res e músicos porque traduzem empoesia a sua missão numa forma es-pontânea e diária. «Reinventam osseus filhos como militantes e com-preendem que não se trata apenasde contar o horror como um teste-munho do passado. Atualizam esubdividem factos concretos, semnunca se renderem nem retrocede-rem, como se cada dia vivido purifi-casse a sua vida. Este risco aproxi-ma-as dos desejos íntimos semprepresentes na sua imaginação ativa.Há uma margem de criatividade queas envolve. Em cada passo que dão,a sua presença nunca é solidão. Pes-soas amadas não deixam de asacompanhar. Isto fá-las sentir inven-cíveis» (Jorge Quiroga).

Ao lado delas estiveram outrasmulheres, não mães biológicas, masque contudo viveram uma experiên-cia de maternidade. Trata-se das reli-giosas, irmãs, mulheres de Igreja,mulheres consagradas, que lutarampelos pobres e pela justiça e que du-rante a ditadura fizeram sua a causadas mulheres privadas dos seus fi-lhos. Juntamente com elas caminha-ram todas as semanas com o mesmolenço branco na cabeça. Entre elas,indicamos as religiosas francesasYvone Pierron, Leonie Duquet e Ali-ce Domon, que se uniram às mães elutaram com o seu grupo.

Leonie e Alice foram presas, tortu-radas barbaramente e assassinadas.Yvone conseguiu fugir de avião noúltimo minuto, e da Europa conti-nuou a combater para divulgar asatrocidades e as injustiças suporta-das pelos presos políticos na Argen-tina.

Os despojos de Leonie Duquetforam achados nas margens doAtlântico e o seu corpo foi sepulta-do em dezembro de 1977 como indi-gente (e classificado como “có digoNN: provavelmente de sexo masculi-no”) no cemitério municipal GeneralLavalle, na província de Buenos Ai-res. Graças a sucessivos exames ge-néticos foi possível identificar osdespojos e a sua identidade foianunciada pelo jornal La Nación a30 de agosto de 2005.

Leonie, como muitas outras víti-mas da ditadura, não foi sepultadano deserto. Não foram a seca nem aaridez do Atacama que a restituíramà memória, que fizeram com quejustiça fosse feita por outros. Cúm-plice foram as águas do Rio de LaPlata e do Oceano Atlântico, querestituíram o seu corpo, juntamentecom o de tantos «desaparecidos» econsiderados perdidos. As lágrimas eo pranto das mulheres na Argentinacontribuíram para que justiça fossefeita no meio do horror da ditadura.

protagonistas. Com ummovimento ainda maiorem relação ao do Chileforam fundamentais nadesestabilização da san-guinária ditadura militar.O seu sofrimento e lá-grimas, transformadosnuma ação pacífica e si-lenciosa, impregnada deum simbolismo profun-do, denunciaram o quese procurava manter in-visível sob o cruel mantodo totalitarismo.

Foi o movimento dasMadres de la Plaza deMa y o , que desde 1977 sereúne e adota a estraté-gia de caminhar em cír-culos todas as quintas-feiras às 15h30, para ma-

Anne-Marie Zilberman«As lágrimas de Freyja» (2013)

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Aquilo que será ouvidoPublicamos um excerto da conferência de Maria Clara LucchettiBingemer «Il Dio che piange. Il dolore la sofferenza il lamento delledonne e l’amorosa solidarietà di Dio», pronunciada na abertura doseminário internacional realizado em Roma de 28 a 30 de abril, nasede da Pontifícia universidade Urbaniana, dedicado ao tema daslágrimas. «Existe algo mais poderoso — disse Maria Clara LucchettiBingemer, presidente de Alalite (associação latino-americana deliteratura e teologia) e de Soter (sociedade de teologia e ciência dareligião no Brasil) no início da sua intervenção, citando Dow Egerton— do que os argumentos, os sinais ou até a oração. São as lágrimas, eas lágrimas serão ouvidas como nenhuma outra coisa». Além de MariaClara Lucchetti Bingemer, intervieram Lucetta Scaraffia, Hanna-Barbara Gerl-Falkovitz, Judette Gallares, Florence Gillet, Mervat Kelli,Mary Madeline Todd, Emily Van Berkum, Catherine Aubin,Philomena Njeri Mwaura, Giulia Galeotti, Lucinda M. Vardey eAnne-Marie Pelletier. Depois do encontro do ano passado («Cuore»)a iniciativa prevê outro em 2018, no dia 29 de abril, festa de SantaCatarina de Sena.

público. Por isso criaram símbolosmuito eloquentes, que entraram noimaginário coletivo e fizeram comque o seu grupo se tornasse um dosmais importantes do país. MaryHunt classifica e interpreta estessímbolos numa perspetiva teológica.Antes de mais, o seu género e statusde mães é um símbolo contraditório.Num país patriarcal como a Argenti-na, o conceito particular e domésticode uma mãe que se torna visível noespaço público é em si provocatórioe complexo. «Honraram esta reali-dade e ao mesmo tempo mudaram-na». Transformaram a maternidadenuma força e num poder sem deixarde ser fragilidade e vulnerabilidade.Cobrem a cabeça com lenços bran-

para fazer face a todos os perigos,levando para a praça pública umaluta absolutamente particular, comoa maternidade, criaram uma luta po-lítica de dimensões inimagináveis.Com efeito, «o que são a coragem ea audácia, senão saber que aquiloque é frágil não se quebra, que é im-possível enganar, que tudo é possí-vel?» (Jorge Quiroga).

Como o grupo de mulheres deAtacama, estabeleceram uma aliançaprofunda com a vida, e por isso cre-em firmemente na fonte da água vi-va que escorre das suas vísceras eque foi o lugar do grande evento davida dos seus filhos. A violência var-reu os frutos do seu seio, mas nãopermitem que eles sejam esquecidos.

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Lágrimas de mulher no deserto

Os filhos daquelas mulheres, as-sim como os parentes das mulhereschilenas, foram encarcerados e assas-sinados por não concordarem com ofacto de que a Deus não importavao sofrimento e as lágrimas dos po-bres. Abertamente cristãos ou não,arriscaram tudo pelo ideal de ummundo melhor e por uma sociedademais justa. Arriscaram a sua integri-dade e a sua vida porque acredita-vam que quantos choram são aben-çoados e serão consolados. Queriamintensamente que esta consolaçãochegasse e por isto deram a própriavida.

O nordeste do Brasil é uma dasregiões mais pobres do país e tam-bém de todo o continente sul-ameri-cano. A região é continuamente atin-gida pela seca terrível, o que signifi-ca que o povo não consegue terágua para beber nem para cultivargéneros alimentícios; o gado morrepor todo o lado; as crianças nascemjá condenadas a uma morte prema-tura por causa da grave pobreza queos priva dos bens essenciais da vida.Muitos autores brasileiros, cientistase poetas denunciaram esta situaçãonos seus trabalhos. Além disso, aIgreja no Brasil, depois da Confe-rência de Medellín de 1968, prestouespecial atenção a esta situação, con-denando-a como incompatível com oEvangelho. Muitos bispos das dioce-ses do nordeste do Brasil adotarammedidas radicais em termos de soli-dariedade com os pobres, renuncian-do à própria comodidade e aos pri-vilégios para partilhar a vida de

quantos tinham pouca esperança delevar uma existência verdadeira eplena. Publicaram também docu-mentos corajosos, nos quais deramvoz à sua indignação e expressaramsolidariedade com o seu povo e comas suas condições de vida.

Entre estes pobres, as mulheressão as mais pobres. Abandonadaspelos maridos ou companheiros, sãomuitas vezes deixadas sozinhas acrescer os filhos. Privadas de recur-sos de qualquer tipo, lutam até à úl-tima gota de vida, com um mínimode saúde e dignidade, para manteros seus filhos vivos. Muitas delas ve-em-se obrigadas a emigrar, deixandoo lugar onde nasceram e crescerampara ir procurar uma vida melhorpara os seus filhos no sul do país.Nas áreas rurais e nos distritos maispobres nas margens da cidade hámilhões de mulheres que concebem,dão à luz e amamentam os recém-nascidos das pessoas comuns. Porvezes fazem-no com dificuldade, dore sofrimento; outras, com a últimagota de vida que a existência lhesdeixa.

A história que se segue nasce des-te contexto. O protagonista não éum bispo nem um teólogo ou ummembro qualquer da hierarquia, masuma pobre mulher anónima, umamãe de muitos filhos. Como aconte-ce a todas as suas companheiras degénero e de pobreza, o seu corpo éalargado. Uma criança no ventre,outra a amamentar, outra às costas emuitas outras em sua volta. E todasou lhe pegam na mão ou se agarramà sua saia.

Um bispo atravessa as ruas vaziasde uma minúscula cidade na áridaregião de Garanhuns, uma das maisatingidas do mundo pela carestia.Diante da catedral vê uma mulhercom três criancinhas e um bebé aocolo. Observa que estão a desmaiarde fome. O bebé parece estar mortoe o bispo não compreende porque amulher não amamenta a criança.Aproximando-se, fica surpreendidocom o seu rosto triste, com as suasolheiras, com os trapos que veste,assim como os seus filhos. Diz-lhe:«Dá-lhe o leite». A mulher fixa-o eresponde em voz muito baixa: «Nãoposso, senhor». Insiste para que ofaça e ela continua a repetir que nãopode. Depois com um gesto bruscoa mulher abre a blusa e mostra o seuseio: magro, delgado, seco. Está asangrar. O bebé chupa com avidez eviolência; chupa o seu sangue. Maisnão resta.

A mãe, que tinha dado a vida àcriança, nutria-o, como um pelicano,com o próprio sangue, a própria vi-da. É um ícone com as suas lágrimase o seu sofrimento, e pode ser postaem referência ao Deus vivo. Comoela, Jesus na Última Ceia alimentouo seu povo, simbolizando através doágape celebrado com os seus amigoso dom do seu corpo e do seu sanguepara que o mundo tenha vida. O seusacrifício, que se teria consumadopouco depois, já estava presente eteria acompanhado os discípulos pa-ra sempre, até ao fim dos tempos.Todo o drama da salvação, presentenas palavras e nos gestos de Jesus:«Tomai e comei; isto é o meu corpo(...), isto é o meu sangue (...), derra-

mado por muitos» (Mt 26, 26) estápresente e ativo no corpo das mu-lheres. O corpo das mulheres, que sealarga e se multiplica noutras vidas,que se doa a si mesmo como alimen-to e nutre com a própria carne ecom o próprio sangue as vidas queconcebeu, é o mesmo corpo que de-finha e morre arando a terra, traba-lhando nas fábricas e nas casas, la-vando panelas e varrendo o chão, te-cendo e lavando roupa, organizandoencontros, conduzindo lutas e guian-do cânticos e liturgias.

E o corpo feminino, doado euca-risticamente pela vida de outros, dis-tribuído, comido e bebido de manei-ra real e física por quantos — comohomens e mulheres de amanhã —continuarão a mesma luta de paciên-cia e resistência, dor e coragem, ale-gria e prazer, vida e morte.

Partir o pão e distribuí-lo, mantera comunhão no corpo e no sanguedo Senhor até à sua vinda, significaque hoje as mulheres, também e so-bretudo as que vivem nas situaçõesmais pobres e negativas, reproduzi-rão e representarão simbolicamenteno meio da sociedade e da comuni-dade dos crentes o ato divino deabandono e de amor, para que aspessoas possam crescer e alcançar aplenitude da vida, celebrada na festada redenção verdadeira e última,quando todo aquele que chora forconsolado; quando Ele «enxugar to-das as lágrimas dos seus olhos;quando não houver mais morte, nemluto, nem lamento, nem afã, porqueas coisas de antes passaram» (Ap 21,4).

Já não é garantida a proteção ao doutor Mukwege

Traído pela OnuGIUSEPPE FIORENTINO

Denunciou os estupros de guerra que se prolon-gam há vários anos no Sul do Kivu, na RepúblicaDemocrática do Congo. A região é rica de maté-rias-primas que suscitam a cupidez de muitos gru-pos de interesse e por isso é teatro de crimes debandos armados que recorrem à violência sexualcomo arma para fazer chantagem e intimidar apopulação. Foram milhares as mulheres violadas emarcadas por toda a vida, ele curou-as e comba-teu a fim de que recebessem assistência legal.Chama-se Denis Mukwege, mas é conhecido co-mo “o homem que resgata as mulheres”.

O mundo deu-se conta dele mais de uma vez,candidatando-o ao Nobel da paz e atribuindo-lheem 2014 o prémio europeu Sacharov pela liberda-de de pensamento. Mas agora parece que as Na-ções Unidas se esqueceram do compromisso dodoutor Mukwege e, como foi denunciado pelodiário «la Croix» de 9 de maio, os capacetes azuisjá não garantirão a proteção total ao médico e aosseus colaboradores que, desde 1999, trabalham nohospital Panzi, em Bukavu.

A decisão de não garantir a proteção ao médi-co, além de ter caído no silêncio dos meios de co-municação tem algo de inexplicável. Porque, de-vido à sua atividade a favor das mulheres estupra-das, o doutor Mukwege já sofreu violências e gra-ves ameaças. Em outubro de 2012, quatro homensarmados atacaram a sua casa, raptaram as suas fi-lhas e esperaram que voltasse para casa. Foi salvograças a um funcionário da segurança, que contu-do perdeu a própria vida.

Depois deste homicídio, Mukwege esteve emexílio na Europa: o hospital por ele fundado e

pelo qual trabalhou definiu «devastadora» a suapartida. Ao regressar à pátria, em 2013, Mukwegefoi acolhido como um herói. Ele voltou a traba-lhar no hospital Panzi de Bukavu, onde ainda ho-je ajuda as mulheres: estima-se que curou pessoal-mente cerca de vinte mil, todas vítimas de estu-pros de grupo.

A tragédia delas foi revelada pelo doutorMukwege num discurso à Onu pronunciado pou-cas semanas antes do ataque contra a sua habita-ção. E os tempos fazem suspeitar que a ação con-tra o médico e a sua família foi uma represália di-reta depois da denúncia feita perante as NaçõesUnidas. «As mulheres vítimas de violência sexualna República Democrática do Congo — disse omédico no discurso no Palácio de vidro — são de-sonradas. Vejo constantemente com os meus olhosidosas, jovens, mães, e até crianças desonradas.Ainda hoje, muitas são escravas sexuais. Outrassão usadas como armas de guerra. Os seus órgãossofrem os tratamentos mais aberrantes. É a des-truição das mulheres, o único recurso vital doCongo».

Depois desta denúncia e após o atentado sofri-do, ao doutor Mukwege chegou a solidariedadepessoal do ex-secretário-geral das Nações Unidas,Ban Ki-moon, que se comprometeu diretamente afim de que ao médico e à sua equipe de trabalhofosse garantida uma proteção adequada. E assimaconteceu até há pouco tempo, ou seja, até quan-do Martin Kobler, representante pessoal do secre-tário-geral da Onu, deixou a República Democrá-tica do Congo. Desde então a única proteção ga-rantida ao médico foi durante os deslocamentos.«Não me foi dada explicação alguma», declarouo doutor Mukwege ao jornal «la Croix», subli-

nhando que as vítimas de estupro que foram as-sistidas por ele denunciam muitas vezes os seuscarnífices. E isto põe em perigo a vida de quemrecebe as denúncias, em primeiro lugar os agentesno campo da saúde. «Estamos fortemente em pe-rigo — frisou Mukwege — porque no Kivu, nãoexiste o Estado, não há justiça e nem sequer a po-lícia para nos proteger. Inclusive os capacetesazuis já não nos protegem».

Os efeitos devastadores desta decisão tornaram-se imediatamente evidentes. Em abril a proteçãoconcedida pela Onu ao doutor Gildo Byamungu,um jovem colega de Mukwege, foi suspensa semque fosse oferecida motivação alguma. A 14 deabril o doutor Byamungu foi assassinado na suahabitação em Bakavu. Denis Mukwege não temdúvida: o seu colega não foi assassinado com aintenção de roubo, mas por razões políticas. Oseu assassínio é uma mensagem a quantos estor-vam o caminho aos grupos de interesse que dis-putam e dividem os recursos minerais da região.

número 21, quinta-feira 25 de maio de 2017 L’OSSERVATORE ROMANO página 15

INFORMAÇÕES

Foi beatificado em Dublim o jesuíta John Sullivan

Bendito exagero

Audiência ao presidenteda República da Irlanda

Jesuíta de «vida simples e retira-da», o padre irlandês John Sulli-van nunca realizou «gestos clamo-rosos» mas o seu «exercício cons-tante e diário das pequenas virtu-des, como a paciência, o reconheci-mento, a gentileza» e a sua incan-sável dedicação «para socorrer ospobres, os doentes e os sofredo-res», levaram-no às honras dos al-tares, evidenciou o cardeal AngeloAmato, prefeito da Congregaçãopara as causas dos santos, na homi-lia da missa de beatificação do reli-gioso irlandês no dia 13 de maio.

O purpurado presidiu ao rito emrepresentação do Pontífice em Du-blim, na igreja de São FranciscoXavier. Concelebraram representan-tes do episcopado local, entre osquais os arcebispos Diarmuid Mar-tin e Eamon Martin. Também par-ticipou uma representação da Igre-ja anglicana da Irlanda pois Sulli-van, que foi batizado na Igrejaprotestante, se converteu ao catoli-cismo com 35 anos.

«Pobre entre os pobres», disse opurpurado recordando alguns tes-temunhos do processo de beatifica-ção, fez da caridade, com a atençãoamorosa aos mais necessitados edescartados pela sociedade, o fiocondutor da sua vida sacerdotal. Oprefeito da Congregação para ascausas dos santos tratou o tema daconversão como «parte essencial davida cristã». De facto, depois dapassagem para o catolicismo a vida

de Sullivan foi marcada por doismomentos decisivos: a escolha deentrar no noviciado dos jesuítas (7de setembro de 1900) e o compro-misso a «alcançar a perfeição evan-gélica no exercício heroico das vir-tudes cristãs», fazendo próprias asvirtudes da pobreza e da obediên-cia. Com efeito, mesmo pertencen-do a uma família rica «não davaimportância às comodidades e con-tentava-se com o mero necessário»,vestindo roupas «remendadas epuídas». Quando morreu, lê-se nostestemunhos processuais, uma jo-vem disse: «Hoje os pobres perde-ram um grande amigo».

A sua dedicação aos outros en-contrava alimento na meditação ena penitência: «Muitas vezes reza-va estendido no chão, gemendo co-mo Cristo na cruz» e «eram fre-quentes as visitas ao Santíssimo Sa-cramento, e passava muito tempoajoelhado diante do tabernáculo».

A sua «humildade», que o levouinclusive ao exercício de uma«obediência perfeita» e a «bonda-de infinita do seu coração» com-pletam o quadro de um beato que,concluiu o cardeal Amato, se tornamodelo para uma Igreja que «pre-cisa de sacerdotes e de leigos san-tos». Porque, disse, «nunca se po-de exagerar na caridade. De facto,a santidade — concluiu — é sempreum bendito exagero de bondade,de misericórdia e de amor».

O Papa recebeu em audiência namanhã de 22 de maio o presidenteda Irlanda, Michael D. Higgins, oqual se encontrou depois com o car-deal Pietro Parolin, secretário de Es-tado, acompanhado do arcebispoPaul Richard Gallagher, secretáriopara as Relações com os Estados.

Os colóquios cordiais evocaram asrelações construtivas que unem aSanta Sé e a Irlanda, e a sua colabo-ração. Depois foram tratadas algu-mas temáticas de interesse comum,como a salvaguarda dos direitos dohomem e da sua dignidade em cadafase e condição de vida, a questãomigratória e o acolhimento dos refu-giados, a tutela do meio ambiente eo desenvolvimento sustentável. Uma

atenção especial foi dirigida aos jo-vens e às famílias. Relevaram a im-portância dos critérios éticos ao en-frentar os desafios que a globaliza-ção inclui, sobretudo a nível econó-mico. Por fim, houve um intercâm-bio de opiniões acerca das perspeti-vas futuras do projeto europeu.

Audiências

O Papa Francisco recebeu em audiên-cias particulares:

A 18 de maioOs Senhores Cardeais ReinhardMarx, Arcebispo de München undFreising (Alemanha), Coordenadordo Conselho para a Economia; eAngelo Bagnasco, Arcebispo de Gé-nova (Itália), Presidente do Conse-lho das Conferências Episcopais daEuropa (C .C.E.E.), com os Vice-Pre-sidentes, Senhor Cardeal VincentGerard Nichols, Arcebispo de West-minster (Grã-Bretanha), e D. Sta-nisław Gądecki, Arcebispo de Poz-nań (Polónia); o Rev.mo Mons. Nu-no Queiroz de Barros Duarte daCunha, Secretário-Geral, e o Rev.do

Pe. Michel Remery, Vice-Secretário-Geral.

A 19 de maioO Senhor Cardeal Ricardo BlázquezPérez, Arcebispo de Valladolid (Es-panha), Presidente da ConferênciaEpiscopal Espanhola, com o SenhorCardeal Antonio Cañizares Llovera,Arcebispo de Valência, Vice-Presi-dente, e o Rev.do Pe. José Maria GilTamayo, Secretário-Geral; o SenhorCardeal George Pell, Prefeito da Se-cretaria para a Economia; D. Pier-giorgio Bertoldi, Núncio Apostólicono Burquina Faso e Níger; o Rev.mo

Mons. Fernando Chica Arellano,Observador Permanente junto das

Organizações e dos Organismos dasNações Unidas para a Alimentação ea Agricultura (F.A.O., I.F.A.D., P.A.M.);e o Rev.do Pe. Ángel Fernández Arti-me, Reitor-Mor da Sociedade Sale-siana de São João Bosco (Salesia-nos).

A 20 de maioOs Senhores Cardeais Marc Ouellet,Prefeito da Congregação para osBispos; e Gerhard Ludwig Müller,Prefeito da Congregação para aDoutrina da Fé; e D. DomenicoD’Ambrosio, Arcebispo de Lecce(Itália).

A 22 de maioOs seguintes Prelados da Conferên-cia Episcopal da Guatemala, em visi-ta «ad limina Apostolorum»: D. Os-car Julio Vian Morales, Arcebispo deSantiago de Guatemala, com os Au-xiliares D. Raúl Antonio MartínezParedes e D. José Cayetano ParraNovo, e com o ex-Auxiliar D. Gus-tavo Rodolfo Mendoza Hernández;D. Víctor Hugo Palma Paúl, Bispode Escuintla; D. Julio Edgar CabreraOvalle, Bispo de Jalapa; D. AntonioCalderón Cruz, Bispo de San Fran-cisco de Asís de Jutiapa; D. Bernabéde Jesús Sagastume Lemus, Bispode Santa Rosa de Lima; D. RodolfoValenzuela Núñez, Bispo de VeraPaz-Cobán; D. Ángel Antonio Reci-nos Lemus, Bispo de Zacapa y San-to Cristo de Esquipulas; D. MarioAlberto Molina Palma, Arcebispo de

Los Altos, Quetzaltenango-Totonica-pán; D. Álvaro Leonel RamazziniImeri, Bispo de Huehuetenango; D.Rosolino Bianchetti Boffelli, Bispode Quiché; D. Carlos Enrique Trini-dad Gómez, Bispo de San Marcos;D. Gonzalo de Villa y Vásquez, Bis-po de Sololá-Chimaltenango; D. Pa-blo Vizcaíno Prado, Bispo de Suchi-tepéquez-Retalhuleu; D. MarioFiandri, Vigário Apostólico de ElPetén; e D. Domingo Buezo Leiva,Vigário Apostólico de Izabal; e oSenhor Cardeal Angelo Sodano, De-cano do Colégio Cardinalício.

Renúncias

O Santo Padre aceitou a renúncia:

No dia 20 de maioDe D. Giovanni Tonucci, ao cargode Arcebispo Prelado de Loreto(Itália) e Delegado Pontifício para oSantuário Lauretano, e DelegadoPontifício para a Basílica de SantoAntónio em Pádua.De D. Peter Remigius, ao governopastoral da Diocese de Kottar (Ín-dia).De D. Camilo D. Gregorio, ao go-verno pastoral da Prelazia territorialde Batanes (Filipinas).

Nomeações

O Sumo Pontífice nomeou:

A 18 de maioAuxiliar da Arquidiocese de Merce-des-Luján (Argentina), o Rev.do Pe .Jorge Eduardo Scheinig, até hojePároco de San Gabriel de la Doloro-sa em Vicente López, simultanea-mente eleito Bispo Titular de Ita.

D. Jorge Eduardo Scheinig nasceu a5 de junho de 1959, em Carapachay(Argentina). Foi ordenado Sacerdote nodia 9 de dezembro de 1983.

A 20 de maioEnviado especial à celebração do bi-centenário de ereção da Diocese deCuneo (Itália), que terá lugar na Ca-

tedral de Santa Maria da Assunção,a 16 de julho, o Senhor CardealGiuseppe Bertello, Presidente doGovernatorado do Estado da Cidadedo Vaticano.Arcebispo Prelado de Loreto (Itália)e Delegado Pontifício para o San-tuário Lauretano, e Delegado Ponti-fício para a Basílica de Santo Antó-nio em Pádua, o Rev.mo Mons. Fa-bio Dal Cin, da Diocese de VittorioVeneto, até esta data Oficial daCongregação para os Bispos.

D. Fabio Dal Cin nasceu em Vitto-rio Veneto (Itália), no dia 23 de janei-ro de 1965. Foi ordenado Sacerdote a 7de dezembro de 1990.

Bispo de Kottar (Índia), o Rev.do Pe .Nazarene Soosai, Pároco do Santuá-rio Our Lady of Ransom de Kanya-kumari, em Kottar.

D. Nazarene Soosai nasceu em Ra-jakkalamngalamthurai (Índia), a 13de abril de 1963. Foi ordenado Sacer-dota no dia 2 de abril de 1989.

Bispo Prelado de Batanes (Filipi-nas), o Rev.do Pe. Danilo B. Ulep,do clero da Arquidiocese de Tugue-garao, até hoje Pároco do Santuárioarquidiocesano do Santo Niño.

D. Danilo B. Ulep nasceu em Tu-guegarao, Cagayan (Filipinas), no dia24 de junho de 1962. Recebeu a Or-denação sacerdotal a 10 de abril de1 9 8 7.

Auxiliar da Arquidiocese de Często-chowa (Polónia), o Rev.mo Mons.Andrzej Przybylski, até à presentedata Pároco da paróquia dos SantosPedro e Paulo em Zawiercie, simul-taneamente eleito Bispo Titular deO rte.

D. Andrzej Przybylski nasceu emŁowicz (Polónia), no dia 26 de no-vembro de 1964. Foi ordenado Sacer-dote a 30 de maio de 1993.

A 24 de maioPresidente da Conferência EpiscopalItaliana, o Senhor Cardeal GualtieroBassetti, Arcebispo de Perugia-Cittàdella Pieve (Itália), de acordo com anorma do artigo 26 § 1 do Estatutoda mesma Conferência Episcopal.

página 16 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 25 de maio de 2017, número 21

Na audiência geral o Pontífice indicou a missão da Igreja no encontro de Emaús

O caminhocenário evangélico

No encontro de Jesus com os discípulos de Emaús «está todo o destino daIgreja», que «não se fechar numa cidadela fortificada, mas caminha no seuambiente mais vital, ou seja, a estrada», recordou o Papa Francisco comentandoo episódio evangélico na audiência geral de quarta-feira 24 de maio na praça deSão Pedro.

Em primeiro lugar pergunta e es-cuta: o nosso Deus não é um Deusintrometido. Embora já conheça omotivo da deceção dos dois, deixa-lhes o tempo para poder sondar pro-fundamente a amargura que se apo-derou deles. Daqui surge uma con-fissão que é um refrão da existênciahumana: «Nós esperávamos, mas...Nós esperávamos, mas...» (v. 21).Quantas tristezas, quantas derrotas,quantas falências há na vida de cadapessoa! No fundo somos todos umpouco como esses dois discípulos.Quantas vezes na vida esperamos,quantas vezes nos sentimos a umpasso da felicidade e, no fim, fica-mos desiludidos. Mas Jesus caminhacom todas as pessoas desanimadasque procedem cabisbaixas. E cami-nhando com elas, de forma discreta,consegue restituir-lhes a esperança.

Jesus fala com eles sobretudo atra-vés das E s c r i t u ra s . Quem pega o li-vro de Deus nas mãos não se cruzacom histórias de fácil heroísmo,campanhas de conquista impetuosas.A verdadeira esperança nunca épouco dispendiosa: passa sempreatravés das derrotas. A esperança dequem não sofre, talvez nem sequerseja tal. Deus não gosta de ser ama-do como poderíamos amar um gene-

fulcral de cada Eucaristia: pegou nopão, abençoou-o e, depois de o par-tir, ofereceu-o. Nesta sequência degestos, não há porventura toda ahistória de Jesus? E não há, em cadaEucaristia, também o sinal do quedeve ser a Igreja? Jesus pega emnós, abençoa-nos, “parte” a nossa vi-da — porque não há amor sem sacri-fício — e oferece-a aos outros, ofere-ce-a a todos.

O encontro de Jesus com os doisdiscípulos de Emaús é rápido. Toda-via, nele está todo o destino da Igre-ja. Narra-nos que a comunidadecristã não está fechada numa cidade-la fortificada, mas caminha no seuambiente mais vital, ou seja, a estra-da. E ali encontra as pessoas com assuas esperanças e as suas desilusões,por vezes pesadas. A Igreja escuta as

histórias de todos, assim como so-bressaem do íntimo da consciênciapessoal; para depois oferecer a Pala-vra de vida, o testemunho de amor,amor fiel até ao fim. E então o cora-ção das pessoas volta a arder de es-p erança.

Todos nós, na nossa vida, tivemosmomentos difíceis, obscuros; mo-mentos nos quais caminhávamostristes, pensativos, sem horizontes,somente com um muro à nossa fren-te. E Jesus sempre está ao nosso la-do para nos dar esperança, para nosaquecer o coração e dizer: “Vai emfrente, estou contigo. Vai em frente”.O segredo da estrada que conduz aEmaús resume-se inteiramente nisto:mesmo através das aparências con-trárias, continuamos a ser amados, eDeus nunca deixará de nos quererbem. Deus caminhará sempre con-nosco, sempre, até nos momentosmais dolorosos, nos períodos maisdifíceis, também nos momentos dederrota: ali está o Senhor. E esta é anossa esperança. Vamos em frentecom esta esperança! Porque Ele estáao nosso lado e caminha connosco,s e m p re !

No final da audiência geral, o SantoPadre saudou ainda os vários gruposde fiéis presentes.

Saúdo os peregrinos de língua por-tuguesa, invocando para todos asconsolações e luzes do Espírito deDeus, a fim de que, vencidos pessi-mismos e desilusões da vida, possamcruzar, juntamente com os seres que-ridos, o limiar da esperança que te-mos em Cristo ressuscitado. Contocom as vossas orações. Obrigado!

Dirijo uma saudação especial aosjovens, aos doentes e aos recém-ca-sados. Hoje celebramos a memóriade Maria Auxiliadora, ajuda doscristãos. Amados jovens, aprendei aamar na escola da Mãe de Jesus;queridos doentes, no sofrimento pe-di a intercessão celeste da VirgemSanta com a recitação do Rosário; evós, queridos recém-casados, sabeisempre, como Nossa Senhora, escu-tar a vontade de Deus sobre a vossafamília.

ral que leva o seu po-vo à vitória, aniqui-lando no sangue osseus adversários. Onosso Deus é umachama esmorecidaque arde num dia defrio e de vento, e nãoobstante a sua pre-sença neste mundopossa parecer frágil,Ele escolheu o lugarque todos nós desde-nhamos.

Em seguida Jesusrepete também aosdois discípulos o gesto

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!Hoje gostaria de analisar a experiên-cia dos dois discípulos de Emaús,sobre a qual fala o Evangelho deLucas (cf. 24, 13-35). Imaginemos acena: dois homens caminham desilu-didos, tristes, decididos a deixar pa-ra trás a amargura de um vicissitudemal sucedida. Antes daquela Páscoaestavam cheios de entusiasmo: con-vencidos de que aqueles dias teriamsido determinantes para as suas ex-petativas e para a esperança do povointeiro. Jesus, ao qual tinham confia-do a própria vida, parecia ter final-mente chegado à batalha decisiva:agora manifestaria o seu poder, de-pois de uma longa fase de prepara-ção e de escondimento. Era isso oque eles esperavam. Mas não foi as-sim.

Os dois peregrinos cultivavamuma esperança somente humana,que agora desabava. Aquela cruz er-guida no Calvário era o sinal maiseloquente de uma derrota que nãotinham previsto. Se deveras aqueleJesus era segundo o coração deDeus, deviam chegar à conclusãoque Deus estava inerme, indefesonas mãos dos violentos, incapaz deopor resistência ao mal.

Assim, naquela manhã de domin-go, os dois fogem de Jerusalém.Ainda tinham nos olhos os momen-tos da paixão, a morte de Jesus; e naalma o pensamento atormentado pe-los acontecimentos, durante o repou-so forçado do sábado. Aquela festade Páscoa, que devia entoar o cantoda libertação, transformou-se pelocontrário no dia mais doloroso dasua vida. Deixam Jerusalém para iralhures, a uma aldeia tranquila. Têmtoda a aparência de pessoas empe-nhadas em apagar uma recordaçãoque magoa. Portanto, encontram-senuma estrada, andam, tristes. Estecenário — a estrada — já tinha sidoimportante nas narrações dos evan-gelhos; agora tornar-se-á cada vezmais relevante, no momento em quese começa a narrar a história daI g re j a .

O encontro de Jesus com aquelesdois discípulos parece ser totalmentecasual: assemelha-se a uma das nu-merosas encruzilhadas que se encon-tram na vida. Os dois discípulosprosseguem pensativos e um desco-nhecido caminha ao lado deles. ÉJesus; mas os seus olhos não são ca-pazes de o reconhecer. E então Jesuscomeça a sua “terapia da esperança”.O que acontece nesta estrada é umaterapia da esperança. Quem a faz?Jesus.

Georges Rouault«A caminho de Emaús»

Audiência do Papaao presidente

dos Estados Unidos da América

expressaram satisfação pelas boasrelações bilaterais existentes entrea Santa Sé e os Estados Unidosda América, e pelo compromissocomum a favor da vida e da liber-dade religiosa e de consciência.Formularam-se votos por uma se-rena colaboração entre o Estado ea Igreja católica nos Estados Uni-dos, comprometida ao serviço daspopulações nos âmbitos da saúde,

da educação e da assistência aosimigrantes.

Depois, houve um intercâmbiode opiniões sobre alguns temasrelativos à atualidade internacio-nal e à promoção da paz no mun-do através da negociação políticae do diálogo inter-religioso, comparticular referência à situação noMédio Oriente e à tutela das co-munidades cristãs.

Na manhã de quarta-feira 24 de maio, o pre-sidente dos EstadosUnidos da América,Donald Trump, foi re-cebido em audiênciapelo Papa e, sucessiva-mente, encontrou-secom o cardeal PietroParolin, secretário deEstado, acompanhadopelo arcebispo Paul Ri-chard Gallagher, secre-tário para as Relaçõescom os Estados. Duran-te os colóquios cordiais