76
PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

PRECONCEITOS

DIFERENÇA

DIVERSIDADE

DESIGUALDADE

Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Page 2: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

DEFICIÊNCIA

Aspectos históricos:

- Marginalização: marca da antiguidade e início da Idade Média

- Assistencialismo: final da Idade Média, Idade

Moderna

- Educação e Reabilitação: Final da Idade Moderna; Idade contemporânea

- Inclusão Social: atualidade

Page 3: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

DEFICIÊNCIA

DEFINIÇÃO:

Segundo a Classificação Internacional de Incapacidade, Funcionalidade e saúde

(CIF – OMS 2001)

Deficiências são problemas na função ou estrutura do corpo como um desvio significativo ou perda.

http://www.fsp.usp.br/~cbcd/cifWeb.htm

Page 4: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

TERMINOLOGIA

Pessoa Deficiente:

Pessoa Portadora de Deficiência:

Pessoa com Deficiência

Page 5: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

- As deficiências representam um desvio de determinados padrões

populacionais.

- As deficiências podem ser temporárias ou permanentes, progressivas, regressivas ou estáticas, intermitentes ou

contínuas.

Page 6: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

-As deficiências não têm uma relação causal com a etiologia ou com a forma como são

desenvolvidas. A presença de uma deficiência implica

necessariamente uma causa, no entanto, a causa pode não ser suficiente para explicar a

deficiência resultante.

- As deficiências podem ser parte ou uma expressão de um estado de saúde, mas não

necessariamente indicam a presença de uma doença ou que o indivíduo deva ser

considerado doente.

- As deficiências podem originar outras deficiências.

Page 7: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Deficiência Primária e Secundária

-Primária: refere-se aos aspectos de base,

orgânicos, que determinam a inclusão do sujeito na

categoria de pessoa com deficiência.

-Secundária: refere-se aos aspectos relacionados

ao desenvolvimento da pessoa com deficiência no

meio social – às oportunidades (ou falta delas), o

acesso, o preconceito.... podem ser geradores de

deficiências secundárias.

Page 8: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Portanto, a deficiência secundária não é inerente à deficiência em si, mas à leitura social

que dela é feita; às significações afetivas, emocionais, intelectuais, sociais que se atribui

à diferença.

O que impede, mais efetivamente, o desenvolvimento de uma vida plena é a

deficiência secundária, por aprisionar o sujeito em uma rede de barreiras físicas, ligadas à falta

de acessibilidade e atitudinais ligadas a preconceitos, estereótipos e estigmas.

Page 9: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

BARREIRAS ATITUDINAIS

Segundo Amaral (1992; 1995):

A deficiência provoca estranheza, desorganiza, mobilizafoge do esperado provoca a hegemonia do emocional sobre o racional.

O diferente se apresenta a nós como uma ameaça, pois contraria aquilo que definimos como padrão de perfeito, belo, harmônico.

*****************************************************

AMARAL, Ligia Assumpção. Conhecendo a deficiência (em companhia de Hércules). São Paulo: Robe, 1995.

Page 10: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Para que possamos suportar as ameaças é preciso que tenhamos mecanismos de defesa:

estratégias psíquicas que utilizamos para manter nosso equilíbrio, eliminado ou minimizando fontes

de ansiedade, insegurança, tensão.

NO ENTANTO:

às vezes esses mecanismos de defesa se tornam tão rígidos e constantes que podem limitar ou alterar a dinâmica das relações interpessoais –

são esses os que nos interessam aqui.

Page 11: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Frente à ameaça da DIFERENÇA observam-se duas formas de

reação:Ataque:

enfrenta-se o inimigo atacando-o e, se possível, destruindo -o

Page 12: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Fuga: rejeição

1.Abandono

- Explícito

- Implícito: falta de investimento (amor, dedicação, oportunidade) – com o qual no

deparamos muitas vezes na vida profissional

2. Super-proteção

- transforma o afeto em seu contrário – o protagonista da situação é sempre o

protetor, destituindo o protegido do papel de sujeito.

Page 13: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

3. Negação:

destitui o sujeito do direito de ser o que é, pois o que é, é visto como negativo. Pode aparecer de três formas:

* atenuação: nega-se a questão com a frase do tipo: poderia ser pior... não é tão grave...

A deficiência é muito ruim, mas como não quero olhá-la de frente, atenuo a condição

* compensação: “mas” – é uma pessoas com deficiência física, mas tão inteligente...

A deficiência é muito ruim, por isso preciso atribuir ao sujeito uma característica desejável

compensatória.

* simulação: como se: é cega mas é como se não fosse...

A deficiência é muito ruim, por isso preciso “fazer de conta” que ela não existe.

Page 14: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Os sentimentos são a força orientadora de inúmeras

situações, e são essencialmente a força propulsora das ações

relacionadas ao estranho, ao diferente

Page 15: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Atitude:

postura frente a um determinado fenômeno; exprime um

sentimento e prepara a ação; a atitude é, portanto, uma

disposição psíquica

Page 16: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Preconceito:

trata-se de uma atitude anterior ao conhecimento – o preconceito nos afasta do fenômeno em si, nos impede de olhar o sujeito a partir do que ele é e nos faz olhá-lo

a partir de suposições pré-concebidas.

CROCHIK, José Leon. Preconceito, indivíduo e cultura. 2ª edição. São Paulo: Robe, 1997.

“O preconceito diz respeito a um mecanismo desenvolvido pelo indivíduo para poder se defender de ameaças imaginárias, e assim é um falseamento

da realidade, a qual o indivíduo foi impedido de enxergar...”

Page 17: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Estereótipo:

julgamento qualitativo, baseado no preconceito; generalização indevida; tira o sujeito de seu lugar e o inclui em uma categoria. Quando negativo, é a base do

estigma.

Page 18: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Estigma:

Atributo avaliado como negativo por um grande número de pessoas.

“VALOR”O estigma se estabelece nas relações interpessoais, por isso é um atributo,

sempre desvalorizador, sempre depreciativo.

GOFFMAN, Erving. Estigma: Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio

de Janeiro: Guanabara Koogan, 1988.

Page 19: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Condições de estigmatização

Desacreditável – aquele que traz em si a potencialidade do estigma

Desacreditado – aquele que traz o estigma “estampado na face”

A pessoa com deficiência é o desacreditado, ou seja, aquele que traz exposta a marca que o coloca na

categoria de estigmatizado; por isso é socialmente olhado como alguém com menos valor – incapaz,

coitado, dependente...

Page 20: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

podemos pensar no impacto da tecnologia assistiva e no cuidado necessário ao indicá-la.

concretização da incapacidade?

Page 21: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Aqui pode-se entender a ambigüidade que observamos em

nossa sociedade:

políticas de inclusão e ações de transformação movem-se no terreno

do racional (direito, valorização), enquanto as atitudes e

comportamentos movem-se no âmbito do emocional...

Page 22: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

IMPLICAÇÕES

DISCURSOS E POLÍTICAS DESENCONTRADAS

DIREITO X ASSISTENCIALISMO

Page 23: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Inclusão/ Exclusão social

Segundo Martins (1997): não existe exclusão em si –

o que existem são inclusões precárias e instáveis, marginais. Todos estão incluídos em algum lugar, embora nem sempre esta

inclusão seja avaliada como socialmente desejável.

Page 24: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

O discurso da exclusão é um discurso de fetichização –

a exclusão vista como uma palavra mágica que explicaria tudo – todos lutam pelos

excluídos, mas quem seriam eles de verdade? O que é estar excluído?

MARTINS, José de Souza. Exclusão Social e a Nova Desigualdade. São Paulo: Paulus, 1997.

Page 25: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Castel (2000):

Deve-se desconfiar do termo exclusão pela heterogeneidade de usos que o conceito

permite – designa um número imenso de situações

diferentes, encobrindo a especificidade de cada de cada uma.

Falar simplesmente em exclusão é rotular com uma qualificação negativa que indica falta,

sem explicitar falta do quê!

Page 26: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

“De tanto repetir a ladainha da ausência, oculta-se a necessidade de

analisar positivamente no que consiste a ausência. Isto por uma

razão de fundo:

os traços constitutivos essenciais das situações de exclusão não se

encontram nas situações em si mesmas” CASTEL, Robert. As armadilhas da exclusão. In:

CASTEL, R., WANDERLEY, L. E. W. e BELFIORE-WANDERLEY, M. Desigualdade e a questão

social. São Paulo: EDUSC, 2000.

Page 27: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

A exclusão se dá efetivamente pelo estado de todos que se encontram fora dos

circuitos regulares das trocas sociais.

O excluído é, na verdade aquele cuja cuja trajetória é feita de uma série de rupturas

em relação a estados anteriores ou condições esperadas

(por exemplo, uma criança com deficiência, cujo desenvolvimento vai rompendo as

expectativas do que é esperado).

Page 28: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

O que está em questão é

reconstruir o continuum de

posições que ligam os in e os

out,

e compreender a lógica a partir

da qual os in produzem os out

(Preconceito, Estereótipos,

Estigma...)

Page 29: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

As ações em relação aos out podem ter caráter:

- Compensatório

- Transformador

Page 30: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Compensatório (OU DE REPARAÇÃO):

Luta contra a exclusão como um “pronto-socorro social”, intervenções pontuais

para tentar reparar as rupturas do tecido social.

Nas ações compensatórias delimitam-se as zonas de intervenção,

caracterizando populações-alvo a partir de um déficit preciso.

Page 31: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Assim, criam-se cuidados focados, que

não consideram a estrutura social – tratando o déficit como pessoal,

algo que torna o sujeito inapto para seguir o regime comum.

São os que Castel chama de “incapazes pela conjuntura”

-esse olhar gera ações de busca de reparação da incapacidade

pessoal ao invés de ações de transformação

social.

Page 32: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Parece mais fácil intervir sobre os efeitos de um

disfuncionamento social do que controlar os processos que o

acionam

agir de um modo técnico e não político

deslocar o problema do centro para a periferia.

Page 33: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Quando falamos de deficiência, no

âmbito do pensamento sobre

exclusão social, falamos de uma

categoria da população que se vê

obrigada a um status especial que

lhe permita coexistir na

comunidade, mas com privação de

certos direitos e da participação em

certas atividades sociais –

subcidadãos.

Page 34: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Às pessoas com deficiência, historicamente, tem se buscado a garantia do direito à participação social, a partir de certos

mecanismos institucionalizados de acesso, quais sejam, os programas de reabilitação, as

instituições especializadas, as classes especiais.

Com base nessa idéia, consolidada por uma prática socialmente instituída e por um

conhecimento científico academicamente aceito, legitima-se os

“lugares especiais para pessoas especiais”

Page 35: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

A exclusão não é arbitrária ou

acidental, mas fruto de uma ordem social que a

justifica – no caso da deficiência, a valorização do perfeito, do belo, do “inteligente”, do rápido

etc.

Page 36: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Falar em Inclusão Social implica falar em democratização dos espaços sociais,

em crença na diversidade como valor,

na sociedade para todos.

Incluir não é apenas colocar junto, e, principalmente, não é negar a diferença, mas

respeitá-la como constitutiva do humano.

O valor – positivo ou negativo – que se atribui à diferença é algo construído nas relações

humanas.

O vetor da exclusão/inclusão não está, portanto, na diferença em si, mas no valor a ela atribuído.

Page 37: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

INCLUSÃO SOCIAL

“As ações estão deixando de dar ênfase em reabilitar pessoas

para se ‘enquadrarem’ na sociedade e adotando uma

filosofia mundial de modificação da sociedade a fim de incluir e acomodar as necessidades de

todas as pessoas, inclusive das pessoas com deficiência.

As pessoas com deficiência estão exigindo oportunidades iguais e acesso a todos os recursos da sociedade, ou seja, educação

inclusiva, novas tecnologias, serviços sociais e de saúde, atividades esportivas e de lazer, bens

e serviços ao consumidor.”

(Declaração de Madri, aprovada em 2002, no Congresso Europeu de Pessoas com Deficiência.)

Page 38: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

O movimento pela inclusão

social tem suas raízes nas

reivindicações das próprias

pessoas com deficiências, que

rejeitam, enfaticamente,

tutelas desnecessárias e

desvalorizadoras.

Page 39: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Conceitos pré-inclusivistas

“O modelo médico (tradicional) considera a deficiência como um problema da pessoa

diretamente causado por uma doença, trauma ou condição de saúde, que requer cuidados de

saúde prestados na forma de tratamento individual por profissionais.

O tratamento da deficiência tem como meta conseguir a cura, ou uma melhor adaptação da

pessoa e mudanças em sua conduta.”

(OMS/CIF, 2001)

Page 40: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Encarando-se a

deficiência como doença,

ou como defeito, as diferenças que este indivíduo apresenta, em relação a um

padrão considerado normal, são avaliadas como sintomas que precisam ser tratados para que a diferença seja

superada

Page 41: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Deste modelo deriva a maioria dos conhecidos trabalhos de reabilitação que, fundamentalmente, investem na tentativa de “minimizar” a diferença para que estas pessoas possam ser aceitas na sociedade.

Este processo se dá, geralmente, de maneira segregada, nas instituições

especializadas.

Page 42: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Há uma nítida centralização na pessoa com deficiência, que se prepara para a

inserção social. Espera-se então que, após a reabilitação, o indivíduo (reabilitado)

esteja pronto para assumir seu lugar na sociedade.

“preparar para integrar”

Integração Social

Page 43: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

O que a prática mostra é que raramente esta integração se efetiva, até porque as pessoas não deixam de ser pessoas com deficiência,

ou seja, não “saram”; a diferença permanece, embora muitas vezes mascarada

por desempenhos mais próximos ao considerado normal.

Assim, as pessoas com deficiência nunca estariam prontas para se adaptar totalmente

à sociedade (ou às exigências que esta apresenta) ou para nela competir em pé de

igualdade.

Page 44: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

O princípio, então, é o de que, se não é possível integrar as pessoas à sociedade, “sociedades” parecidas,

o mais possível, com a sociedade real precisam ser criadas para que, nelas, as pessoas com deficiência

tenham experiências de vida o mais possível próxima das “normais” – temos aí as oficinas abrigadas, as

colônias-residência etc.

Page 45: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Estas propostas têm como base dois princípios fundamentais:

1.o de que as situações protegidas são, em termos de desenvolvimento, mais

adequadas para estas pessoas, na medida em que podem receber as intervenções

específicas necessárias.

2.o de que a situação segregada seria protetora para a própria pessoa com

deficiência, pois esta se sentiria infeliz em uma sociedade na qual não pode

competir em pé de igualdade.

Page 46: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Ou seja, esta postura trata a

deficiência não só como doença, mas

como algo que diminui o indivíduo e

de que ele deve se envergonhar.

Entre pares, todos iguais na

desigualdade, não haveria razão

para sofrimento: ninguém se

sentiria diminuído.

Page 47: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

A tentativa de avançar no processo de construção de uma

sociedade que respeite a diversidade firma o movimento

de

Inclusão Social,

que busca suas bases no chamado

“modelo social de deficiência”

Page 48: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

“O modelo social de deficiência considera o fenômeno fundamentalmente como um

problema de origem social e principalmente como um assunto

centrado na completa integração das pessoas na sociedade.

A deficiência não é um atributo da pessoa, mas um complexo conjunto de condições, muitas das quais são criadas

pelo contexto/entorno social.”

(OMS/CIF, 2001)

Page 49: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

A inclusão é uma proposta de construção de cidadania.

A inclusão social é um processo de mão dupla, ou seja, tanto a pessoa com

deficiência como a sociedade precisam se modificar.

Page 50: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Cidadania das Pessoas com Deficiência

Page 51: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Cidadania:

Esse é um conceito associado à vida em

sociedade e pressupõe uma condição de igualdade política. Falar em cidadania é

falar em direitos e deveres.

Direito a ter direitos

Page 52: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Direitos sociais – aqueles assegurados pelo Estado (moradia, trabalho, saúde,

lazer, educação etc.

Direitos Civis – Dizem respeito à pessoa (liberdade de pensamento, expressão,

escolha, locomoção etc.)

Direitos Políticos – participação em associações políticas, religiosas, direito

a votar e ser votado etc.

BARCHIFONTAINE, C. P. Bioética, cidadania e controle social. O Mundo da Saúde. Ano 28, v.28, n. 3. Jul/set 2004.

Page 53: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

“...ela inclui a invenção/criação de novos direitos,

que surgem de lutas específicas e de suas práticas concretas (...).

Essa redefinição inclui não somente o direito à igualdade, como também o

direito à diferença, que especifica, aprofunda e amplia o

direito à igualdade.”

DAGNINO, Evelina. ¿Sociedade civil, participação e cidadania: de que estamos falando? In: MATO, Daniel (org.) Políticas de

ciudadanía y sociedad civil em tiempos de globalización. Caracas: Faces/Universidad Central de Venezuela, 2004. pp 95-

110.

Page 54: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Cidadania, então, envolve e define o

direito de ser diferente,

por mais marcante que essa diferença possa ser

Page 55: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

A construção da verdadeira cidadania passa também, e

fortemente, pelas relações que se estabelecem no interior da

sociedade, nas relações sociais que dentro dela se

desenvolvem.

Page 56: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

São as transformações das relações sociais, mais do

que os decretos legais, que permitirão a real inclusão

das pessoas com deficiência.

Page 57: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

As leis derrubam as barreiras

concretas,

as atitudes derrubam ou

fortalecem as invisíveis, essas

muitas vezes mais fortemente

lacradas.

Page 58: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

o cidadão é mais do

que aquele que tem

direitos e deveres,

mas que tem

consciência destes.

Page 59: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

A consciência é uma característica

eminentemente humana, construída através da

ação do homem sobre o mundo (humano ou material) e pela sua

reflexão sobre essa ação.

Page 60: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

É esse processo contínuo de

agir refletir agir

leva à evolução da consciência, permitindo que nos tornemos cada vez mais donos de nossas ações, ou

seja,

autônomos.

Page 61: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Ter autonomia, portanto, é ser capaz de agir de maneira consciente e responsável

(respeitando direitos e deveres), ter capacidade de

tomar decisões apropriadas,

baseadas em nossos desejos, necessidades e na compreensão de

que a vida se dá em sociedade

Page 62: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Cidadania pressupõe autonomia e esta pressupõe

consciência.

Essas são questões fundamentais para a

discussão sobre inclusão social, uma vez que estar

incluído implica participação plena e cidadã.

Page 63: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Não é possível falar em cidadania

para as pessoas com deficiência como algo dado,

uma concessão da sociedade aos “desvalidos”.

Page 64: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Cidadania não é apenas uma concessão dos poderes instituídos –

que têm por obrigação garanti-la através de legislação que defina

direitos e de políticas públicas que os garantam.

É, também, uma conquista de cada membro da sociedade, que se faz

cidadão exercendo de maneira consciente e responsável seu papel

social.

Page 65: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Falar em cidadania das pessoas com deficiência

vai além, então, da garantia de direitos

civis, pois implica em ocupação, por essas pessoas, dos espaços

sociais

Page 66: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

É fundamental que possamos compreender que

promover a inclusão é promover o desenvolvimento

de autonomia, a possibilidade e a capacidade

de fazer escolhas apropriadas.

A conquista da cidadania é um processo ativo, assim como o é a construção da

sociedade inclusiva.

Page 67: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

ACESSO À INFORMAÇÃO

CONHECIMENTO SOBRE OS DIREITOS

(saber é poder...)

Page 68: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

(RE)CONSTRUÇÃO DO

SENSO DE COMPETÊNCIA

Page 69: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

qualidade de vida

Santos e colaboradores (2002)

Qualidade de vida não é um conceito simples de ser definido, pois implica muitos

elementos subjetivos.

SANTOS, Sérgio Ribeiro dos, SANTOS, Iolanda Beserra da Costa, FERNANDES, Maria das Graças M. et al. Calidad de vida del anciano en la comunidad: aplicación de la Escala de Flanagan. Rev. Latino-Am. Enfermagem. [online]. nov./dic. 2002, vol.10, no.6 [citado 21 Abril 2006], p.757-764. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692002000600002&lng=es&nrm=iso>. ISSN 0104-1169

Page 70: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

a definição de qualidade de vida se baseia em três

princípios fundamentais:

1.a capacidade funcional, que é a capacidade da pessoa de

realizar suas atividades cotidianas,

2. o nível sócio econômico e

3. a satisfação pessoal.

Page 71: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

O conceito de qualidade de vida proposto pela Organização Mundial

de Saúde (OMS), a define como

“a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da

cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e

preocupações"

(WHOQOL GROUP, 1994).

Page 72: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Se pensarmos nos aspectos já discutidos – exclusão social,

preconceito, cidadania – podemos entender que a

construção de uma vida de qualidade passa por aspectos muito mais amplos do que o oferecimento de serviços de

qualidade, sem desconsiderar que essa oferta é uma

necessidade premente e inquestionável em nossa

sociedade

Page 73: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Ter qualidade de vida, portanto, é

ser cidadão, membro da

sociedade, ser autônomo,

consciente.

Page 74: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Uma sociedade que não provê aos seus membros a possibilidade de acesso a condições dignas de vida

e, fundamentalmente, à oportunidade de construir conhecimento, de receber

informações que lhes permitam refletir sobre a realidade, é uma sociedade geradora de situações

de exclusão social.

Page 75: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Essa será uma sociedade que, provavelmente, calcará suas ações

em políticas de reparação, cuja perpetuação é alimentada pela falta

de consciência que é, em última instância, a vitória da ideologia sobre

o conhecimento (lembrando que já definimos ideologia como um

mecanismo de ocultamento da realidade e de dominação).

Page 76: PRECONCEITOS DIFERENÇA DIVERSIDADE DESIGUALDADE Profa. Dra. Celina Camargo Bartalotti

Acesso à tecnologia? Quando indicar? Quanta tecnologia indicar? Que significado tem para a pessoa? Diminui ou aumenta a

vulnerabilidade social? É instrumento de inclusão?