Preservação Do Patrimonio Historico de Gyn

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  • 5/19/2018 Preserva o Do Patrimonio Historico de Gyn

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    UNIVERSIDADE CATLICA DE GOIS

    PR-REITORIA DE PS-GRADUAO E PESQUISA

    INSTITUTO GOIANO DE PR-HISTRIA E ANTROPOLOGIA

    MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTO DO PATRIMNIO CULTURAL

    REVITALIZAO E PRESERVAO DO PATRIMNIO

    ARQUITETNICO E URBANSTICO DO CENTRO DE GOINIA

    Ciro Augusto de Oliveira e Silva

    Orientador: Prof. Dr. Manuel Ferreira Lima Filho

    Goinia, dezembro de 2006

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    UNIVERSIDADE CATLICA DE GOIS

    PR-REITORIA DE PS-GRADUAO E PESQUISA

    INSTITUTO GOIANO DE PR-HISTRIA E ANTROPOLOGIA

    MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTO DO PATRIMNIO CULTURAL

    Ciro Augusto de Oliveira e Silva

    REVITALIZAO E PRESERVAO DO PATRIMNIO

    ARQUITETNICO E URBANSTICO DO CENTRO DE GOINIA

    Dissertao apresentada ao MestradoProfissional em Gesto do Patrimnio Culturalda Universidade Catlica de Gois paraobteno do ttulo de Mestre, sob orientao doProf. Dr. Manuel Ferreira Lima Filho.

    Goinia, dezembro de 2006

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    Catalogao na Fonte: Biblioteca Central da UCG.

    S586r Silva, Ciro Augusto de Oliveira e.Revitalizao e preservao do patrimnio arquitetnico eurbanstico do centro de Goinia [manuscrito] / CiroAugusto de Oliveira e Silva. 2006.211 f. : il.

    Datilografado.Dissertao (mestrado) Universidade Catlica de

    Gois,Instituto Goiano de Pr-Histria e Antropologia, 2006.

    Orientador: Prof. Dr. Manuel Ferreira Lima Filho.

    1. Goinia (GO) patrimnio arquitetnico e urbanstico revitalizao preservao. 2. Patrimnio histrico e cultural

    Goinia (GO). 3. Plano urbanstico centro de Goinia(GO). I. Lima Filho, Manuel Ferreira (Orient.). II. Ttulo.

    CDU: 719(817.3)(043.3)72.025.3911.375.631

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    Ciro Augusto de Oliveira e Silva

    REVITALIZAO E PRESERVAO DO PATRIMNIO

    ARQUITETNICO E URBANSTICO DO CENTRO DE GOINIA

    Dissertao defendida em dezembro de 2006, tendo sido na mesma data aprovada

    pela Banca Examinadora constituda pelos professores:

    ________________________________________

    Prof. Dr. Manuel Ferreira Lima Filho

    Orientador

    ________________________________________

    Prof. Dr. Elane Ribeiro Peixoto

    ________________________________________

    Prof. Dr. Rogrio Proena Leite

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    Este trabalho, que foi ao mesmo tempoengrandecedor e gratificante, dedico aosmeus pais, Carlos de Oliveira e Silva (inmemoriam) e Zita de Castro e Silva, quesempre estiveram presentes em minha

    vida. Quero aqui agradec-los e dizer-lhes obrigado por tudo.

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    Agradeo a Deus, o criador de tudo e detodos, pela capacidade que nos deu de

    estar sempre apreendendo, crescendo enos renovando na vida.Agradeo aos meus familiares, amigos, ea todas as pessoas que de algumamaneira contriburam para a realizaodeste trabalho, vencendo assim mais umaetapa de minha vida.Agradeo, tambm, ao Prof. Dr. ManuelFerreira Lima Filho pelas muitas horas deorientao, sempre pronto a apontar osmelhores caminhos a seguir, visando arealizao satisfatria deste trabalho.

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    RESUMO

    As reas centrais das cidades, os seus ncleos pioneiros ou histricos,tm sofrido ao longo de dcadas severas transformaes, devido ao seu grandecrescimento territorial e populacional. Muitas cidades se transformaram emmetrpoles ao longo do sculo XX, fazendo com que acontecesse a degradao deseus espaos urbanos centrais. As polticas intervencionistas urbanas inseridas napreservao do patrimnio arquitetnico e urbanstico e, tambm, a revitalizao dosespaos centrais das cidades patrimoniais so o objeto de estudo do presentetrabalho. Ele foca de que maneira o espao urbano e o Centro da cidade de Goiniae as intervenes urbanas realizadas e propostas para esta cidade, que, mesmojovem, j sofre o processo de degradao, perdendo espao sociocultural e

    econmico para outras regies da cidade, assim como tendo boa parte de seupatrimnio arquitetnico-urbanstico e histrico j destrudo. Utilizou-se como fonte abibliografia, projetos terico-urbansticos, reportagens, fotografias e trabalho decampo como constataes locais. Com os dados obtidos foi possvel constatar que oCentro de Goinia est atravessando um rpido processo de degradao. Apesar deainda ativo e vivo, o Centro est se deteriorando, e se no houver inseres querevertam esse processo, ele perder muito de sua identidade, de sua memriahistrico-cultural e de seu patrimnio. Mas, estudos, projetos e propostasintervencionistas e aes executoras podem ainda reverter parte dessa situao ebuscar solues para a situao atual do Centro de Goinia. Algumas propostas jexistem, podem ser implantadas e at mesmo aglutinadas s novas propostas,

    tendo como referncia o bem-estar da cidade e da populao.

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    ABSTRACT

    The central area of the cities, understood as its pioneers or historicalnucleus, has sufered through the decades severe transformations due to itsrelevante territorial and populational growing. Many cities became metropolises overthe 20thcentury, making occur the degradation of their urban central spaces, as aconsequence of that process. The urban interventionist policies related to thearchitectural and urbanistic patrimony and also the central spaces revitalization of thepatrimonial cities, are the study objects of this paper. This research focus on theurban interventions held and proposed for Goinia, wich, even though considered ayoung city, is already suffering the degradation process. Besides that, the presentstudy also mentions how the central part of the city has lost sociocultural and

    economical spaces for other regions of Goinia. As source of data, it was used forthis research, the avaible bibliography, theoretical urbanistic projects, reports,photographies and local visits. Through the obtained data it is possible to say that,besides the activities and life observed on the central area of Goinia, it is sufferinga fast degradation process and it urges interventionist policies in order to preserve itsidentity and memories. Some proposals already exists, but many other can be doneand added to the first ones, specially for the wellness and benefit of the the city' andits population.

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    SUMRIO

    LISTA DE ILUSTRAES ........................................................................................9

    INTRODUO ..........................................................................................................12

    1. GOINIA NA PERSPECTIVA HISTRICA...........................................................15

    2. PATRIMNIO EM QUESTO: PROBLEMAS, REVITALIZAO

    E PRESERVAO................................................................................................33

    2.1 Revisitando o Patrimnio Histrico e Cultural .................................................33

    2.2 Patrimnio Arquitetnico e Urbanstico ...........................................................41

    2.2.1 Conjuntos Arquitetnicos..............................................................................43

    2.2.2 Conjuntos Ambientais...................................................................................44

    2.2.3 Edifcios Isolados .........................................................................................45

    2.3 Revitalizao ..................................................................................................46

    2.3.1 Revitalizao: Prs e Contras ......................................................................58

    2.3.2 Revitalizando e Preservando a Memria de Goinia....................................64

    2.4 Prticas de Preservao .................................................................................71

    2.4.1 Polticas Patrimoniais ...................................................................................77

    2.4.2 Preservando o Centro de Goinia ................................................................85

    2.5 Consideraes finais sobre a revitalizao e preservao do Centro

    de Goinia .......................................................................................................87

    3. OS PLANOS URBANSTICOS DE GOINIA E A EVOLUO DO CENTRO....102

    3.1 Aspectos do Primeiro Plano Urbanstico de Goinia ................................... 102

    3.2 Aspectos dos Planos Diretores de Goinia ................................................. 127

    3.3 Aspectos Socioculturais de Goinia e a Evoluo do Centro ...................... 137

    4. OS PLANOS DE REVITALIZAO E PRESERVAO PARA GOINIA ..........154

    4.1 Projeto Goinia 21: Operao Centro, Etapa 2 .............................................1544.1.1 Compreenso do problema........................................................................156

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    4.1.2 Cenrio alternativo para o Centro ..............................................................165

    4.1.3 Plano de Ao ............................................................................................167

    4.2 Projeto Cara Limpa, Goinia-GO...................................................................174

    4.3 Anlise das intervenes urbanas e arquitetnicas em Goinia....................179

    CONCLUSO..........................................................................................................189

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS........................................................................196

    ANEXO....................................................................................................................201

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    LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1: Foto do Largo do Chafariz, na Cidade de Gois, no incio do sculoXX, (1994) .............................................................................................................16

    Figura 2: Foto da Praa do Coreto, na Cidade de Gois, no incio do sculoXX, (1994) .............................................................................................................18

    Figura 3: Foto da rvore Moreira, na Rua 24, Centro, Goinia, (2006) ............22

    Figura 4: Foto de desfile comemorativo na Rua 20, Centro, na dcada de

    1930, (2002) ..........................................................................................................23

    Figura 5: Mapa da localizao da nova capital, Goinia e sua baciahidrogrfica, (2001) ...............................................................................................25

    Figura 6: Mapa do Brasil, Centro-Oeste e Estado de Gois, (2006) .....................28

    Figura 7: Foto da Praa Cvica e do Palcio das Esmeraldas, na dcada de1940, (2006) ..........................................................................................................67

    Figura 8: Foto da primeira residncia de Pedro Ludovico na Rua 20, dcadade 1930, (2006) .....................................................................................................81

    Figura 9: Foto da antiga residncia de Colemar Natal e Silva na Rua 20, esq.com Rua 15, Centro, (2006)..................................................................................81

    Figura 10: Foto do Museu Zoroastro Artiaga, em estiloArt Dco, na PraaCvica, Centro, (2006) ...........................................................................................83

    Figura 11: Foto da antiga Estao Ferroviria, em estiloArt Dco, na Praa

    do Trabalhador, Centro, (2006).............................................................................83

    Figura 12: Foto de casas na Rua 15, esq. com Rua 19, Centro, na dcada e1940, (2002) ..........................................................................................................86

    Figura 13: Foto do canteiro central da Avenida Universitria, revitalizada, (2006)91

    Figura 14: Foto do canteiro central da Avenida Gois, revitalizada, (2006) ..........91

    Figura 15: Foto do edifcio do antigo Grande Hotel, na Avenida Gois, (2006) ....92

    Figura 16: Foto da Torre do Relgio, no canteiro central da AvenidaGois, revitalizado, (2006).....................................................................................98

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    Figura 17: Foto de casa em estilo Ecltico, na Rua 20, Centro, (2006) ................99

    Figura 18: Mapa do Plano Urbanstico de Goinia, de Attlio Corra Lima em1933, (1985) ........................................................................................................103

    Figura 19: Mapa da regio central de Goinia, de Attlio Corra Lima em1933, (1985) ........................................................................................................105

    Figura 20: Foto da perspectiva da Praa Cvica, na dcada de 1930, do planode Attlio, (2001) ..................................................................................................108

    Figura 21: Mapa do Plano Urbanstico de Goinia, de Attlio Corra Lima em1933, como nome dos setores, (1985) e (2006)..................................................110

    Figura 22: Mapa do Plano Urbanstico de Goinia, de Armando de Godoy em

    1936, como nome dos setores, (1985) e (2006)..................................................112

    Figura 23: Foto da perspectiva da Praa Cvica e prdios pblicos, do planode Godoy, (2001) ................................................................................................113

    Figura 24: Mapa do Plano Urbanstico de Goinia, de Godoy em 1936,com descontinuidade de ruas entre setores, (1985) e (2006) .............................116

    Figura 25: Mapa do Plano Urbanstico de Goinia, de Attlio em 1936,com continuidade de ruas entre setores, (1985) e (2006)...................................116

    Figura 26: Mapa do Plano Urbanstico de Goinia, em 1936, aprovado, (2001).120

    Figura 27: Foto de cartaz de propaganda de Goinia em 1934, (2001)..............123

    Figura 28: Mapa parcial de Goinia, (2006) ........................................................125

    Figura 29: Foto da vista area do Centro de Goinia, com destaque para oedifcio do Grande Hotel, na dcada de 1930, (2001).........................................137

    Figura 30: Foto da Rua 20, no Centro, no incio da dcada de 1940, (2002)......138

    Figura 31: Foto area do Centro de Goinia, na dcada de 1950, mostrandoos fundos do Palcio das Esmeraldas, (2004) ....................................................139

    Figura 32: Foto do edifcio do Cine-Teatro Goinia, no Centro, na dcada de1940, (2004) ........................................................................................................140

    Figura 33: Foto do edifcio do antigo Grande Hotel, no Centro, na dcada de1950, (2002) ........................................................................................................141

    Figura 34: Foto dos pequenos nibus denominados Tarecas, na dcada de

    1940, (2006) ........................................................................................................143

    Figura 35: Foto da Rua 20, no Centro, no incio da dcada de 1940, (1980)......144

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    Figura 36: Foto da area do Centro de Goinia, na dcada de 1960, (2004) .....145

    Figura 37: Foto area do Centro de Goinia, na dcada de 1970, (1980)..........147

    Figura 38: Foto do Centro de Goinia, Avenida Gois, na dcada de 1980, (2006)148

    Figura 39: Foto da regio central de Goinia em 2004, (2004)...........................149

    Figura 40: Foto do Coreto da Praa Cvica, Centro em 2006, (2006) .................151

    Figura 41: Mapa do Projeto Goinia 21: Operao Centro, Etapa 2- Uso doSolo, (1998).........................................................................................................157

    Figura 42: Mapa do Projeto Goinia 21: Operao Centro, Etapa 2, (1998).......166

    Figura 43: Foto da perspectiva do Projeto Cara Limpa, de edifcios naAvenida Gois, (2004).........................................................................................172

    Figura 44: Foto da perspectiva do Projeto Cara Limpa, de edifcios naAvenida Gois, (2004).........................................................................................175

    Figura 45: Foto do Teatro Goinia, no Centro, em 1998, Projeto Cine-TeatroGoinia, (1998)....................................................................................................179

    Figura 46: Estacionamento particular na Rua 20, Centro, onde antes existiauma edificao na dcada de 1940, (2006) ........................................................181

    Figura 47: Foto do edifcio da antiga RFFSA, da dcada de 1940, demolido noano de 2006, (2004)............................................................................................181

    Figura 48: Foto de edifcios do primeiro Correio e da primeira Prefeitura Municipalde Goinia na dcada de 1930. O prdio da prefeitura j foi demolido, (1938) ..182

    Figura 49: Foto do edifcio do antigo Correio em 2006, com letreiros encobrindoa fachada, (2006) ................................................................................................182

    Figura 50: Foto da Avenida Tocantins na dcada de 1930, Centro, com casasem estiloArt Dcoe Normando, j demolidas, (1938) ........................................183

    Figura 51: Foto de casa Avenida Tocantins esq. com Rua 1, na dcada de1930, Centro, em estilo Normando, j demolida, (1990).....................................183

    Figura 52: Casa moderna em Goinia, na Avenida Universitria esquina com aRua 91, no ano de 1990, atualmente est descaracterizada, (1990)..................183

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    INTRODUO

    O objeto de pesquisa deste trabalho faz parte de um tema controverso e

    j foi estudado por diversos profissionais das mais variadas reas, que possuem

    diversas opinies a respeito da Revitalizao e da Preservao das reas centrais

    das cidades. Neste caso especfico, o Centro ou Ncleo Pioneiro de Goinia o alvo

    das investigaes. Existem opinies e teorias a favor e contra esse tipo de

    interveno urbana. Alguns estudiosos consideram que tais procedimentos so

    benficos tanto para a cidade quanto para sua populao. Mas, outros a rejeitam por

    ach-la prejudicial.

    Tendo em vista que o presente estudo no tem como referncia

    desqualificar qualquer teoria, a pesquisa, os estudos e as reflexes dissertaram a

    respeito dessas prticas intervencionistas urbanas, analisando os processos de

    interveno para a cidade de Goinia.

    Goinia j est inserida nesse processo de revitalizao e preservao do

    seu patrimnio, inclusive com algumas poucas implantaes de projetos feitos para

    a cidade, como o Projeto Goinia 21: Operao Centro, etapas 1 e 2, e o Projeto

    Cara Limpa, alm do recente tombamento pelo IPHAN de vrios edifcios pblicos

    no estilo Art Dco, e do traado do ncleo pioneiro de Goinia e do bairro de

    Campinas.

    Esse processo de interveno urbana vem ocorrendo no mundo inteiro

    desde o final do sculo XIX, incio dos XX, sendo o Baro de Haussmann, em Paris,

    um dos precursores das intervenes, que no sculo XX ganharam vrias

    denominaes, passando por diversas modificaes, modelos de evolues, at

    chegar aos dias atuais no incio do sculo XXI, onde essas prticas ainda so

    comuns e utilizadas.

    A preservao do patrimnio, principalmente no Brasil, comeou a estar

    em uso na primeira metade do sculo XX, com o movimento modernista nos anos 20

    e com a criao do SPHAN (atual IPHAN), tendo um logo caminho percorrido,

    preservando desde os patrimnios materiais, de pedra e cal, chegando tambm

    preservao do patrimnio imaterial, mais recentemente.

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    A revitalizao uma prtica surgida na segunda metade do sculo XX,

    aps a Segunda Grande Guerra Mundial, sendo que inmeras cidades no Brasil e

    no mundo j se utilizaram dessa ao intervencionista como prtica para tentar

    otimizar seus centros urbanos, principalmente reas centrais, ncleos pioneiros e

    centros histricos.

    Goinia uma cidade fruto de polticas nacionalistas da Revoluo de

    1930 e do Estado Novo. Filha do movimento pela modernidade e progresso, foi

    implantada no Serto, propagandeando ares de modernidade para um dos mais

    desprovidos estados da nao na poca. Muitos a consideram moderna. Mas, ela

    conseqncia de teorias urbansticas e arquitetnicas bastante presentes no final do

    sculo XIX e incio do sculo XX, de influncia das escolas francesas e inglesas que

    ditavam as teorias e conceitos sobre o urbanismo e a arquitetura de ento. Seus

    projetistas foram, o arquiteto e urbanista Attlio Corra Lima, com influncias da

    escola francesa, e o engenheiro Armando Augusto de Godoy, com fortes influncias

    da escola inglesa, no incio dos anos 1930, e o seu idealizador foi o ento interventor

    federal no estado, Dr. Pedro Ludovico Teixeira, representante legal do Governo de

    Getlio Vargas.

    A cidade de Goinia teve o lanamento de sua pedra fundamental em1933. A transferncia da capital da cidade de Gois para Goinia ocorreu no ano de

    1937, e o batismo cultural da cidade aconteceu em 1942. A cidade foi projetada para

    possuir em seu ncleo pioneiro 15.000 habitantes, com uma previso futura de

    50.000 habitantes, mas cresceu rapidamente ultrapassando esses nmeros nos

    anos 1950. Conforme o IBGE, Goinia possua em 1950 uma populao de 53.389

    habitantes, em 1960 de 153.505 habitantes, com um grande aumento populacional,

    o que muitos atribuem construo de Braslia, distante apenas 200 quilmetros.Em 1980, a cidade constava com 717.948 habitantes e no ano 2000 com 1.090.737

    habitantes. Com todo o crescimento territorial e populacional da cidade, a partir dos

    anos 1980, principalmente nos anos 1990, o seu Centro comea a sentir os efeitos

    da decadncia e deteriorao com o aparecimento de novos subcentros. Registrou-

    se a sada de boa parte de populao, comrcio, prestao de servios,

    profissionais liberais e parte da administrao pblica do Centro da Cidade.

    No final dos anos 1990, a cidade, atravs de seus governantes e

    profissionais da rea, passa a preocupar-se com essa degradao do Centro e

    alguns estudos so implementados para tentar resolver esse problema, os quais j

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    foram citados nesta introduo. Apesar dos projetos terem sido concludos, poucas

    aes foram executadas e esses projetos foram apenas parcialmente implantados,

    podendo-se dizer que foi executada uma porcentagem bem pequena em relao ao

    que foi proposto.

    No primeiro captulo apresentamos aspectos da histria de Goinia, a sua

    criao como cidade, os fatores que influenciaram a mudana da capital inclusive

    os sociais, econmicos e polticos at a confeco de seu projeto urbanstico-

    arquitetnico e a sua implantao.

    No segundo captulo oferecemos ao leitor uma idia geral das teorias de

    revitalizao, preservao e patrimnio. Apontamos teorias favorveis a

    intervenes assim como as contrrias, utilizando vrios autores que abordaram tais

    assuntos.

    A anlise do primeiro plano urbanstico da cidade, e os seus quatro

    planos diretores, o tema do terceiro captulo. Foram, ento, cinco os Planos

    Diretores para a cidade de Goinia, desde a sua fundao at o ano de 2006, sendo

    que o quinto plano est ainda tramitando na Cmara Municipal. Estudou-se,

    tambm, a evoluo sociocultural da cidade desde a sua construo, assim como a

    evoluo de seu Centro at os dias atuais.Finalmente, no quarto captulo fez-se uma anlise sobre os projetos feitos

    para Goinia no final dos anos 1990 e incio dos anos 2000, sendo eles o Projeto

    Goinia 21: Operao Centro, Etapa 2 e o Projeto Cara Limpa. Na concluso foram

    feitas algumas consideraes sobre aes revitalizadoras e preservacionistas para o

    Centro de Goinia, para o bem-estar da populao e de todas as atividades que o

    mantenham vivo, ativo e contemporneo, atendendo de maneira satisfatria aos

    diversos usos que se fazem presentes a um centro urbano regional e atuante comoo a cidade de Goinia.

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    1. GOINIA NA PERSPECTIVA HISTRICA

    Goinia, antes mesmo de possuir esse nome ou mesmo de existir e ser

    construda como cidade, j era um sonho, ou um ideal, de muitos, que desde o

    sculo XVIII almejavam a mudana da capital do Estado de Gois. Pedro Ludovico

    Teixeira, no incio dos anos 30 do sculo XX, conseguiu realizar a mudana da

    capital da Cidade de Gois para a cidade de Goinia, construda para tal fim,

    colocando em prtica no Estado de Gois as diretrizes modernizadoras do Governo

    Vargas.

    Luiz Palacin1escreveu que a cidade de Gois, ou Vila Boa de Gois, foi

    fundada no ano de 1727, na poca da ocupao colonial do territrio goiano, com a

    chegada da Bandeira povoadora de Bartolomeu Bueno da Silva, que veio com o

    intuito de povoar o lugar e explorar as minas de ouro. Cerca de duzentos anos

    depois da sua fundao, a cidade j no mais satisfazia como capital devido a uma

    srie de fatores, dentre eles o clima quente, a sua topografia acidentada que

    dificultava o seu crescimento; o deficitrio abastecimento de gua; a sua situao

    geogrfica desfavorvel que contribua para o seu isolamento; a falta de infra-

    estrutura urbana; a insalubridade local e, finalmente, por fatores poltico-sociais do

    incio dos anos 30, do sculo XX, com a Revoluo de 30. Todos esses problemas

    foram elencados como justificativas para que ocorresse a mudana da capital.

    (Palacin, 1976, p. 11 e 30).

    Por todas estas razes, bem se pode dizer que a idia da mudana dacapital era muito mais do que uma possibilidade sempre presente. Era umdesafio estagnao poltico-econmica de Gois. Bastaria uma fortesacudida nascida de dentro ou vinda de fora, que quebrasse o crculo dapassividade, para que esta possibilidade realizao. Este impulso foi arevoluo de 30. (Palacin, 1976, pg.15).

    1Alguns importantes autores estudaram com profundidade o assunto da transferncia da capital,assim podemos citar: Luiz Palacin e Nars Fayad Chaul.

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    Fig. 1 - Largo do Chafariz na cidade de Gois no incio do sculo XX.Fonte: Curado; Craveiro e poetas (1994).

    A Revoluo de 30 marcou o cenrio poltico em Gois. O mdico Pedro

    Ludovico Teixeira2, nascido no ano de 1891 na cidade de Gois, foi nomeado

    Interventor federal por Getlio Vargas, ento Presidente da Repblica.

    O prprio Pedro Ludovico relata em seu livro intitulado Memrias oseguinte:

    Deixando o Rio, nos idos de maro de 1916, viajei para Gois, formado emMedicina. [...] Nesse intervalo, depois de um ano morando em Rio Verde, ealguns meses em Jata, chega aquela cidade uma filha do senador MartinsBorges, de quem me enamorei, cujo noivado foi curto, casando-me logo. [...]Acompanhado de minha esposa, transferi-me de novo para Jata, ondeestivemos cerca de seis meses. Em maio de 1919, retornei a Rio Verde,onde s pensei no meu trabalho durante cinco ou seis anos. (Teixeira,

    1973, p. 21e 26).

    Segundo Gomide, ele cursou a Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro

    e, retornando ao Estado de Gois, casou-se com Gercina Borges, de famlia

    tradicional do sudoeste do estado. Seu pai, Antonio Martins Borges, era senador na

    poca e aliado com a situao poltica favorvel, mas mudou de posio na dcada

    de 1920, apoiando Pedro Ludovico contra o grupo dos Caiado. Pedro Ludovico

    2Ver livro Memrias, da autoria de Pedro Ludovico (1973).

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    tornou-se representante poltico do sudoeste do estado, diminuindo dessa forma o

    poder dos Caiado no estado, que tiveram hegemonia desde o incio do sculo XX.

    Em seu livro, Pedro Ludovico relata que com a Revoluo de 1930acontecendo, ele passa a fazer parte da Junta Governativa do Estado e depois

    empossado como interventor, relatando em seu livro, da seguinte forma:

    Decidiu o alto escalo revolucionrio que deveria ser nomeada uma JuntaGovernativa, composta de trs membros para cada unidade federativa. Eu, odesembargador Emlio Povoa e o Juiz de Direito da capital, Dr. Mrio deAlencastro Caiado, fomos escolhidos. [...] A junta durou poucos dias, tendo sidoeu nomeado Interventor Federal do Estado. (Teixeira, 1973, p. 40 e 41).

    Dr. Pedro Ludovico Teixeira procurou imprimir uma marca de governo

    prpria, diferenciando-se de um passado caiadista. Assim, o progresso, o futuro e a

    modernidade passaram a ser o seu slogan poltico. E a construo de uma nova

    capital materializaria seus ideais e aes polticas. Propondo a mudana da capital

    para um local que fosse mais propenso ao progresso, ele traria a modernidade para

    o estado. Com isso, ele desejava se tornar mais forte politicamente, e mudar a

    capital era construir um espao novo, que ele poderia administrar sem tantas

    influncias polticas de um passado recente. (Gomide, 2003, p. 28).

    Segundo Gustavo Neiva Coelho, a cidade de Gois representava o poder

    das antigas oligarquias, os homens da Repblica Velha, significando na mente dos

    revolucionrios, a inrcia, o atraso secular, confrontando com o mpeto criador da

    Revoluo. Representava tambm uma estrutura urbana e arquitetnica ligada ao

    antigo modelo portugus setecentista, que nada tinha a ver com os ideais

    modernistas e progressistas pregados pela Revoluo de 30 e o Estado Novo.

    (Coelho, 2005, p. 13).

    A anttese a tal situao seria, na viso dos revolucionrios, nada mais quea modernidade de uma nova cidade, com amplas avenidas, edifciosmodernos, espaos que permitissem a viso de distncia, de largoshorizontes, o que em hiptese alguma combinava com a situao geogrficaem que se encontrava a cidade de Gois. (Coelho, 2005, p. 13).

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    Fig. 2 - Praa do Coreto na cidade de Gois, no incio do sculo XX.Fonte: Curado; Craveiro e poetas (1994).

    Outro aspecto que tambm ajudou a fortalecer a idia da mudana da

    capital foi a recente mudana da capital do Estado de Minas Gerais, de Ouro Preto

    para a ento construda cidade de Belo Horizonte, no ano de 1897,

    aproximadamente 30 anos antes. Se h trinta anos em Minas foi possvel, por que

    no o seria para Gois? Tambm no sculo XIX, mais precisamente em 1855, outro

    estado, Sergipe, havia mudado a sua capital, construindo a cidade de Aracaju.

    Dessa maneira, dois estados, ainda no sculo XIX, haviam obtido sucesso e

    progresso mudando suas capitais, reforando assim os ideais mudancistas em

    Gois.

    Segundo Ribeiro, vrios fatores polticos e econmicos, tanto regionais

    como nacionais, ajudaram nesse ideal mudancista. As regies sul e sudeste do

    estado, inconformadas em serem o centro econmico mais dinmico do estado,

    smbolos do progresso e desenvolvimento, e mesmo assim estavam sendomarginalizadas politicamente pelo grupo caiadista, detentor do poder. Esse grupo

    era incapaz de promover o desenvolvimento econmico do estado, inclusive criando

    entraves exportao de produtos agrcolas e de pecuria a outros estados da

    federao, causando revolta no grupo oligrquico do sul e sudeste do estado.

    (Ribeiro, 2004, p. 22).

    Manuel Ferreira Lima Filho, em seu artigo da Revista Habitus, relata que o

    sul e o sudeste do estado tornam-se economicamente fortes desde o incio dosculo XX devido lavoura e pecuria. Mas, o poder ainda estava concentrado na

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    oligarquia dos Caiado, na cidade de Gois, marcado pelo coronelismo, cuja

    caracterstica era o controle violento e latifundirio de terras, resultando numa forte

    oposio dos polticos do sul e sudoeste do estado. E foi devido a todo esse

    contexto que o Estado Novo se inseriu no Estado de Gois, alterando o controle

    poltico local e em nome da modernidade se faz construir Goinia, para combater o

    velho e destituir os Caiado do poder. (Lima Filho, 2003, p. 450).

    A entrada do Estado de Gois no contexto econmico nacional se deve

    economia cafeeira e chegada da estrada de ferro. O primeiro traado previsto para

    a estrada de ferro no estado se dava a partir do Tringulo Mineiro, passando por

    Catalo e pela ento capital, cidade de Gois, at a cidade de Leopoldina, atual

    cidade de Aruan, s margens do Rio Araguaia, ligando-a ento planejada hidrovia

    Araguaia-Tocantins, fato que nunca chegou a acontecer, nem mesmo a antiga

    capital a estrada de ferro alcanou, quanto mais ao Rio Araguaia. Alguns autores,

    como Alexandre Ribeiro Gonalves e Hilma Aparecida Brando, dizem que a estrada

    de ferro, denominada Mogiana, chegou ao estado, ou seja na cidade de Catalo,

    no ano de 1913; em 1914 ela chega extinta Estao de Roncador, a qual ficou ali

    paralisada at 1922. Aos poucos, houve o seu prosseguimento at a cidade de

    Leopoldo de Bulhes, prxima de Goinia, e finalizando a sua linha na cidade de

    Anpolis. Entretanto, os trilhos da estrada de ferro s chegaram a Goinia em 1951.

    Outro tronco da estrada de ferro tambm adentrou o Estado de Gois, via Catalo:

    trata-se da Estrada de Ferro Oeste de Minas, que partia da cidade de Formiga, em

    Minas Gerais, e fazia a ligao do Rio de Janeiro com o Estado de Gois. Mas, isso

    s veio a acontecer definitivamente na dcada de 1940. (Brando, 2005, p. 8 e 11 e

    41; Gonalves, 2002, p. 23).

    Borges3, em seu livro, relata sobre a construo da Estrada de Ferro,

    dizendo o seguinte:

    A construo da Estrada de Ferro Gois resultou do empenho poltico deuma frao da classe dominante ligada a novos grupos oligrquicos, osquais se interessavam pela modernizao do estado e pela integraoeconmica regional nos quadros da economia de mercado. (Borges,1990, p. 120).

    3Borges (1990) fez um importante estudo sobre a Estrada de Ferro Gois.

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    Segundo Brando, o Estado de Gois liga-se a So Paulo pela estrada de

    ferro Mogiana e ao Rio de Janeiro pela estrada de ferro Oeste de Minas. (Brando,

    2005, p. 11). E assim, ela relata em sua dissertao:

    Entretanto, os trilhos da Estrada de Ferro Gois s chegaram a Goinia,capital do Estado de Gois nos anos 50. Assim, a empresa faz o trajetoAraguari-Goinia, tendo como ponto de entroncamento com a Mogiana acidade de Araguari. Apresenta, ainda, outros pontos de entroncamento: nacidade de Goiandira com a Estrada de Ferro Oeste de Minas na regioconhecida como Roncador, localizada no municpio de Ipameri, ligando-se cidade de Braslia. Apenas na dcada de 1950 a Estrada de Ferro Goisatingiu seu ponto terminal. (Brando, 2005, p. 11).

    A construo da estrada de ferro no territrio goiano fortificou a economiado estado, principalmente com a exportao de gado e de produtos agrcolas, como

    o arroz. Os municpios localizados ao longo da estrada tambm sofreram uma

    intensa urbanizao de suas cidades. A modernidade adentrava o estado atravs

    dos trilhos. Cidades como Catalo, Pires do Rio, Ipameri, Silvnia, Orizona e outras

    sofreram um impacto positivo tanto nos aspectos econmicos como socioculturais,

    aproximando-as como nunca tido acontecido anteriormente aos grandes centros

    urbanos, como So Paulo e Rio de Janeiro.

    Barsanulfo Gomides Borges relata ainda o seguinte sobre a construo

    da Estrada de Ferro:

    Incrementaram-se as relaes comerciais e regionais. O comrcio de Goiscom Minas e So Paulo intensificou-se, ganhando dimenses significativas.As cidades goianas servidas pela via frrea transformavam-se em grandescentros comerciais do Estado, quebrando inclusive o controle comercial doTringulo Mineiro, sobre Gois. [...] Desenvolve-se o processo deurbanizao no sul do estado, cidades como Catalo, Ipameri, CaldasNovas, Morrinhos e Corumbaba receberam melhorias ou foram

    reurbanizadas e logo passam a contar com os benefcios das modernasinvenes do mundo capitalista, como a energia eltrica, o cinema, otelefone e o telgrafo. E ainda outros ncleos urbanos foram criados eestimulados pela Estrada de Ferro, os quais, dentro de pouco tempo, setransformaram em cidades. (Borges, 1990, p. 120).

    Em meio a todo o cenrio de transformaes pelas quais passava o

    Estado de Gois, tornava-se ento mais forte o anseio pela mudana da capital.

    Pedro Ludovico, em julho de 1932, escreveu um artigo no Correio Oficial em que

    buscava a adeso popular proposta da mudana da capital. Ele alegava que apopulao da cidade de Gois continuava a mesma havia pelo menos 50 anos; os

    prdios permaneciam os mesmos; a taxa de crescimento era mnima; o terreno era

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    rochoso e acidentado e o clima quente. Com esse artigo acirraram-se as discrdias

    polticas entre o grupo caiadista e o grupo ludoviquista, que buscava a mudana, ou

    seja, construir uma nova capital era mostrar que de fato estava se fazendo algo novo

    e moderno por Gois.

    Construir uma nova capital para Gois representaria a retirada do estado

    da condio em que se encontrava, possibilitando sair do estgio de um dos estados

    mais atrasados e pobres do pas, levando-o a uma condio de avano,

    equiparando-o aos outros mais desenvolvidos da federao.

    Chaul4relata em seu livro que no ano de 1932, quando Pedro Ludovico se

    encontrava na cidade de Bonfim para um congresso que ali se realizava, notava-seo anseio da populao das cidades do sul e sudoeste em deslocar o centro do poder

    poltico, e assim ele relata:

    Foi no dia 4 de julho, na cidade de Bonfim (atual Silvnia), que PedroLudovico fez a primeira declarao sobre a mudana da capital. O CorreioOficial assim se referiu ao fato: Fala ento em nome do Prefeito umasenhorita (Zilda Nascimento) da alta sociedade bonfinense. Refere-se mudana da capital goiana se faz vibrar todo o auditrio. Laudelino Gomes,sobre o assunto, em resposta ao Dr. Interventor disse que o grande

    problema est em estudos e promete resolv-lo brevemente de acordo comos interesses do Estado. (Chaul, 1999, p.68).

    Ento, no ano de 1932, a nova capital foi idealizada e o Interventor federal

    Pedro Ludovico nomeou uma comisso para escolher o local da nova cidade. Em

    1933 o terreno da nova capital comeou a ser preparado, e no dia 27 de maio do

    mesmo ano foi celebrada a primeira missa na nova capital, com a participao de

    cerca de 600 pessoas. Conforme Sabino Junior (1980), no dia 24 de outubro de

    1933, foi lanada a pedra fundamental da cidade, onde hoje se encontra o Palciodas Esmeraldas, na atual Praa Cvica. Inclusive, conforme relatos do Jornal O

    Popular, do dia 24 de outubro de 1993, em seu Suplemento Especial sobre os 60

    anos de Goinia, na pagina 02, relatado o seguinte:

    Conta histria que no ano de 1933, Pedro Ludovico, ainda sem prdiopara despachos, utilizou-se como Palcio de uma vistosa Moreira, quase smargens do Crrego Botafogo. Ali, Pedro Ludovico deu suas primeirasordens do Governo em Goinia. Hoje o local referido a Rua 24, quase

    esquina com a Avenida Anhanguera. A rvore continua ali centenria. Elafoi tombada pelo patrimnio histrico de Goinia em 1985, graas

    4Chaul (1999). Consultar o livro de Chaul: A Construo de Goinia e a transferncia da capital.

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    conscincia do proprietrio do lote, o mdico Domingos Viggiano. Umaplaca ao lado da rvore diz: O fundador de Goinia acampou com seusauxiliares sombra desta rvore, aqui exarando os primeiros despachos. Econtinua, memria de Pedro Ludovico a homenagem do povo goiano aomdico Domingos Viggiano o reconhecimento por haver conservado e

    cuidado da Moreira. Ela, quase centenria, neste ano de 1985, monumento histrico de Goinia. A rvore perdeu um pouco danotoriedade, ofuscada por um pit-dogque se instalou ao seu lado. Ela ficapor detrs das grades dopit-dog. (Jornal o Popular, 1993, p.2).

    E essa rvore ainda continua viva, agraciando com sua sombra o jardim

    ou a parte frontal do lote de uma casa na Rua 24, quadra 62, lotes 84/86, n. 664, no

    Centro, entre a Rua 03 e a Avenida Anhanguera. Espero que assim permanea por

    ainda umas dezenas de anos.

    Fig. 3 - rvore Moreira onde Pedro Ludovico

    despachava na Rua 24, no Centro de Goinia-GO.Fonte: Ciro Augusto de Oliveira e Silva (2006).

    Em 1935, ainda com a cidade em obras, foram provisoriamente instaladas

    edificaes na Rua 20, o Palcio do Governo, a Secretaria-Geral do Governo, o

    Escritrio Geral de Obras e a Diretoria Geral da Fazenda assim aconteceu a

    transferncia provisria da capital. A casa utilizada como Palcio do Governo na Rua

    20 infelizmente foi demolida, e em seu lugar encontra-se o Edifcio Leo Lynce. NaRua 20, alm de se instalar o Palcio do Governo provisrio, Dr. Pedro Ludovico

    fixou residncia por um certo perodo, na casa onde posteriormente funcionou a

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    Faculdade de Direito e atualmente funciona a Justia Federal. Conforme Oflia

    Scrates do Nascimento Monteiro relatou em seu livro:

    A Companhia da Polcia Militar se instalou mesmo em Goinia, em umadas casas provisrias, de tbuas, feitas para o primitivo acampamento dosempregados das obras. Logo aps sua instalao, formou a Companhia,sob o comando do Cap. Melo Cunha, indo prestar continncia aoGovernador. Esta formatura de tropa foi a primeira que se realizou emGoinia, desfilando os soldados do quartel at a residncia do Dr. PedroLudovico na Rua 20. (Monteiro, 1938, p. 338).

    Fig. 4 - Desfile comemorativo de 15 de novembro de 1937, na Rua 20, Centro.Fonte: MIS Museu da Imagem e do Som (2002).

    Em 23 de maro de 1937 foi assinado o Decreto n. 1.816, que transferia

    definitivamente a capital do Estado de Gois para Goinia. Em 05 de julho de 1942

    aconteceu o batismo cultural da cidade, sinalizando o momento de apresentao da

    cidade ao pas. A abertura das festividades se deu com uma missa campal na Praa

    Cvica, celebrada por Dom Emanuel Gomes de Oliveira e com o lanamento da

    pedra fundamental do Palcio Municipal e de um desfile militar-estudantil. No

    perodo da tarde aconteceu no Cine-Teatro Goinia a cerimnia oficial. Na

    oportunidade, Pedro Ludovico fez um emocionado discurso e entregou as chaves da

    cidade ao prefeito Venerando de Freitas Borges.

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    Finalmente, a 23 de maro de 1937, era assinado o Decreto n. 1816,transferindo definitivamente a capital estadual da Cidade de Gois paraGoinia. Porm o batismo cultural s ocorreu a 5 de julho de 1942, emsolenidade oficial no recinto do Cine-Teatro Goinia, com a presena derepresentantes do Presidente da Repblica, dos Estados e dos Ministros,

    alm de outras autoridades e caravanas de todos os municpios goianos. Naocasio realizaram-se o 8 Congresso Brasileiro de Educao e aAssemblia Geral dos Conselhos do Instituto Brasileiro de Geografia eEstatstica ( IBGE ). (Sabino Junior, 1980, p. 37).

    Retomando o ano de 1932, Pedro Ludovico assinou o Decreto n. 2.737,

    de 20 de dezembro, nomeando uma comisso, sob a presidncia de Dom Emanuel

    Gomes de Oliveira, bispo de Gois, para a escolha do local onde se localizaria a

    nova capital de Gois. Os trabalhos foram iniciados em 3 de janeiro de 1933. O

    coronel Antnio Pirineus de Souza, um de seus membros sugeriu a escolha de trs

    tcnicos, Sr. Joo Argenta, Sr. Jernimo Fleury Curado e Sr. Laudelino Gomes de

    Almeida, para realizarem os estudos das condies climticas, topogrficas e

    hidrolgicas das cidades de Bonfim (Silvnia), Ubatam (Egerineu Teixeira),

    Campinas e Pires do Rio.

    Segundo Nars Fayad Chaul, a construo de uma nova capital

    revitalizaria o estado nos mais diversos sentidos, e assim ele relata em seu livro:

    Uma nova capital seria o smbolo que levaria o Estado a sair do marasmopoltico-econmico, alm de representar o novo tempo que se estruturavanos horizontes nacionais. Era parte do novo Brasil, do tempo novo, doEstado Novo. Uma nova capital, sobretudo, a imagem do progresso.(Chaul, 1999, p. 81).

    Em 4 de maro de 1933 foi apresentado pela subcomisso um relatrio

    comisso de escolha, que conclua por Campinas; cidade que situa-se nas

    proximidades da Serrinha, seria o local ideal para se construir a nova capital.

    Apresentava uma topografia bastante favorvel por ser plana, por estar numa regio

    central da poro mais povoada do estado, por apresentar uma rede hidrogrfica

    muito satisfatria, sendo banhada pelo Rio Meia-Ponte e pelos ribeires Joo Leite,

    Anicuns, Botafogo, Macambira e outros. E, tambm, pela proximidade com a Estrada

    de Ferro Gois e por ter um vasto permetro de terras com boa cobertura vegetal em

    matas, o que facilitaria a construo da nova cidade.

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    Fig. 5 - Mapa da Localizao da nova capital, Goinia e sua bacia hidrogrfica.Fonte: Celina Fernandes Almeida Manso (2001)

    Segundo Oscar Sabino Junior5, em 18 de maio de 1933 Pedro Ludovico

    instituiu o Decreto n. 3.359, determinando que na regio s margens do crrego

    Botafogo, compreendida pelas fazendas denominadas Crimia, Vaca Brava e

    Botafogo, fosse construda a nova capital do estado. Nesse decreto tambm se

    enumerava o ato que a transferncia deveria acontecer no prazo mximo de dois

    anos. (Sabino Junior, 1980, p. 34).

    Adotadas tais medidas, designou-se o dia 27 de maio de 1933 para inciodos trabalhos de preparo do terreno. Ficaram concludos a 24 de outubro domesmo ano, quando se deu o lanamento da pedra fundamental no localonde est o Palcio do Governo. Alm de sua remarcada significao notificou o Correio Oficial de 27-10-1933 como data nacional, assumiu elana histria de nosso Estado, grande vulto. Eis que nesse dia foi dado incio

    maior conquista que contamos no sculo atual a construo da novacapital do estado. (Sabino Junior, 1980, p. 37).

    Apesar da mudana da capital j ser um fato, havia um descontentamento

    por parte de muitos, principalmente entre os moradores da cidade de Gois e

    tambm de outras partes do estado. Segundo Cristina Helou Gomide, essas

    pessoas, que faziam parte do grupo antimudancista, demonstravam a sua

    indignao escrevendo artigos nos jornais A Coligao e O Democrata, atacando

    5Ver Sabino Junior (1980), conforme seu livro Goinia Global.

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    a figura de Pedro Ludovico pela mudana da capital e apontando problemas acerca

    da deciso tomada, alardeando que a cidade de Gois era um patrimnio do povo

    goiano, bero da cultura do estado e que com esse ato estavam deixando a velha

    capital entregue ao abandono. Realmente, a cidade sofreu um impacto negativo nos

    primeiros anos que se seguiram aps a mudana da capital. Muitas famlias inteiras

    se mudaram para Goinia, e algumas levando consigo seus estabelecimentos

    comerciais, fazendo com que o comrcio local ficasse mais precrio, e por outro lado

    a cidade estava, tambm, perdendo a categoria de centro poltico e administrativo do

    estado, que j perdurava por dois sculos. (Gomide, 2003, p.40).

    Em oposio aos antimudancistas, existia o grupo mudancista. Os grupos

    sempre se rivalizavam, cada um tentando mostrar as vantagens e desvantagens

    conforme a sua convico sobre a mudana da capital para Goinia. Os

    mudancistas diziam que a antiga capital no possua infra-estrutura adequada, o seu

    crescimento populacional era pequeno ou quase inexistente ao longo de algumas

    dcadas e a transferncia se fazia necessria devido ao momento em que o

    progresso e a modernidade eram as metas do Governo, no s em Gois, mas em

    todo o pas. Alm disso, a construo de uma nova cidade estreitava o lao com

    outras regies do pas, como So Paulo e Minas Gerais, devido aquisio de

    materiais de construo, utilidades e outras mercadorias necessrias para a

    execuo da nova cidade e o grupo de polticos mudancistas e progressistas

    conseguia o apoio local e de toda a poltica brasileira que defendia a explorao das

    riquezas nacionais, proporcionando novos investimentos e impulsionando economia

    regional e nacional. E, assim, se cumpria tambm mais uma etapa da Marcha para o

    Oeste, dinamizando a economia e a demografia de Gois, uma das metas desse

    empreendimento do Governo Federal de ento.

    A Marcha para o Oeste era um programa governamental que buscava oavano capitalista para o interior do pas, consolidando os planos poltico-econmicos de Vargas e Pedro Ludovico. Como movimento civilizador,deixou uma herana agrria e urbana que permeia todo o processosociocultural da capital e fundamenta a criao de smbolos capazes detraduzir sua heterogeneidade e de construir, com a nova capital, arepresentao de sua fase mais dinmica, de sua existncia maisjustificada: a modernidade.(Manso, 2001, p. 34).

    A cidade de Goinia, ento nova capital, foi construda no municpio de

    Campinas, ou Campininha das Flores, como era chamada essa cidade na poca. O

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    arraial de Campinas surgiu em torno de uma capela, como a maioria dos povoados

    do Estado de Gois de ento. Essa capela foi edificada pelo Sr. Joaquim Gomes da

    Silva Gerais no ano de 1810, surgindo assim um povoado de vida pacata e que

    possua uma populao envolvida em atividades rurais. No ano de 1895 chegaram a

    Campinas os padres redentoristas, que vieram da Alemanha para tomar conta da

    romaria do Divino Pai Eterno: construram na cidade o Convento e a Casa dos

    Padres, e no ano de 1900 construram a Igreja Matriz, uma das primeiras do estado

    a possuir um relgio em sua torre, assim como foram os responsveis pela

    construo da primeira usina hidroeltrica em 1921. No ano de 1922 chegam

    cidade as Irms Franciscanas, que ali constroem o tradicional Colgio Santa Clara,

    responsvel pela educao de vrias geraes de meninas no Estado de Gois.

    A partir de 1933, quando teve incio o processo de construo de Goinia,Campinas comeou a sentir as vantagens e desvantagens de tornar-separte da nova capital. Com os prs e os contras, a vida de Campinas mudoucompletamente com o surgimento de Goinia. Ao longo da dcada de 30,sua populao urbana duplicou e, durante algum tempo, foi maior que apopulao da cidade nova, de todo lugar vinha gente, olhava para Goinia eia morar em Campinas. ( Silva, 2002, p. 26).

    Em 1933, com a escolha do municpio de Campinas para sediar a novacapital do estado e com a efetivao da construo de Goinia, Campinas passa por

    diversas mudanas: constroem-se novas casas comerciais, hotel, posto de gasolina,

    abre-se a Avenida 24 de Outubro, acontece a remodelao da Praa Joaquim Lcio,

    patrocinada pela Prefeitura de Goinia, assim como a remodelao das fachadas de

    diversas edificaes, que a partir de ento queriam se adequar aos novos e

    modernos padres de arquitetura j utilizados no ncleo central da nova capital.

    Campinas deixa tambm a categoria de cidade e passa a ser um bairro de Goinia,

    trazendo vantagens e desvantagens ao novo bairro. A populao de Campinas ficou

    bastante empolgada com a construo da nova capital, sendo que muitos

    fazendeiros doaram terras para a nova cidade. Porm, algumas rivalidades surgiram

    entre os moradores de Campinas e os de Goinia, principalmente relacionadas aos

    eventos esportivos, como o futebol e as atividades de lazer e de eventos sociais,

    rivalidades estas que perduraram at os anos de 1960 e que aos poucos foi se

    extinguindo com o crescimento da cidade como um todo, at desaparecer por

    completo. Uma curiosidade acerca dos primeiros anos da cidade de Goinia que

    existia uma Jardineira, ou seja, um pequeno nibus que fazia o trajeto entre a

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    praa Joaquim Lcio e a Avenida Anhanguera no Centro da cidade, ou ncleo

    original, que transportava a populao de uma parte a outra da cidade.

    A importncia de Campinas muitas vezes relegada a segundo plano no

    contexto da histria urbana de Goinia. A antiga cidade representou ummarco inicial na construo da nova capital, servindo como bero fsico paraseu surgimento. ao mesmo tempo histria e memria dos primeirosacontecimentos. Simboliza o registro vivo do tempo em que serviu desuporte para o crescimento da nova capital, foi completamente influenciadapela sua modernidade possvel, inserindo-se em uma nova conjunturatemporal. (Silva, 2002, p. 21).

    As reas destinadas construo da rea inicial da cidade, e sua futura

    expanso, foram adquiridas pelo estado por meio de doaes, dao em

    pagamento, permuta e compra autorizada pelo Decreto n. 3.397, de 26 de outubrode 1933. E um dos principais doadores de terras para o Governo estadual foi o Sr.

    Andrelino Rodrigues de Moraes e sua esposa, Sr. Brbara de Souza, que doaram

    51 alqueires de terra da fazenda Botafogo para a construo da nova capital. O

    municpio de Goinia faz parte do Estado de Gois, na regio CentroOeste do

    Brasil e situa-se na microrregio denominada de Mato Grosso Goiano, com uma

    rea de 724,08 quilmetros quadrados, possui uma altitude mdia de 764 metros,

    possuindo alguns morros como o da Serrinha e do Mendanha, com 891 m e 841 mde altitude respectivamente.

    Fig. 6 Mapa do Brasil destacando-se a Regio Centro-Oeste e o Estado de GoisFonte: Atlas Geogrfico Escolar (2006)

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    Goinia representava para o Estado de Gois, e tambm para o Brasil,

    um grande passo para a modernizao, uma das principais metas do Governo de

    Getlio Vargas, e tambm significava um importante avano para a Marcha para o

    Oeste:

    O presidente Getlio Vargas adotou uma poltica de cunho nacionalista edesenvolvimentista. Nesse sentido, uma de suas orientaes era adenominada Marcha para o Oeste, um projeto de desenvolvimento epenetrao para o interior do pas rumo Amaznia. A nova capital deGois estava no roteiro geogrfico, poltico e ideolgico dessa Marcha. OEstado e a Nao foram unificadas por um smbolo: Goinia. (Mello,1996, p. 34).

    Chaul relata tambm a respeito de Goinia e sua relao com a Marcha

    para o Oeste e o Estado Novo, dizendo:

    Necessitando da interao econmica, o Estado Novo buscava, assim, sefundamentar numa ideologia desenvolvimentista. [...] A proposta do EstadoNovo era de encampar a chamada Marcha para o Oeste. A Marcha para oOeste era a proposta poltica do governo em termos de povoamento. [...]Em suma, Goinia pode ser considerada um fruto do Estado Novo, uma vezque sua realizao dependeu basicamente do regime instalado em 1930 eque culminou na ordem imposta por Vargas em 1937. Para o Estado Novo,

    o inverso tambm verdadeiro. Goinia era a representao maior donacionalismo, do bandeirantismo, da sagacidade do brasileiro, todecantados pelos idelogos do Estado Novo. (Chaul, 1999, p. 155 e156 e 158).

    A Marcha para o Oeste tinha como objetivo desbravar o serto,

    povoando-o, e tambm era uma frente agropastoril, que trouxe melhorias

    economia do Brasil Central de ento. A Fundao Brasil Central, que patrocinava a

    Marcha para o Oeste e tambm a Expedio Roncador-Xingu, tinha por objetivo o

    desbravamento e a colonizao do Brasil Central e Ocidental, na regio do AltoAraguaia e Xingu.

    A Marcha para o Oeste, representada pela Expedio Roncador-Xingu,deslocaria a fronteira para o sudoeste goiano e para os vales dos riosAraguaia, Xingu e Tapajs, construindo estradas, pistas de Aviesfazendas, de gado, cidades, enfim semeando modernidade pelas mos dosexpedicionrios, bandeirantes do sculo XX. (Lima, Filho, 2001, p. 26).

    Pedro Ludovico faz de Goinia um smbolo da Marcha para o Oeste, e

    com isto desarticula as foras polticas dos Caiados, representantes do poder daantiga capital; ele, inclusive, apoiou as expedies em busca da Serra do Roncador,

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    colocando material humano e fsico disposio para auxiliar na construo do

    campo de pouso e acampamento na Ilha do Bananal para a visita do Presidente

    Getlio Vargas no ano de 1940.

    Segundo Lima Filho6, vrios campos de pouso ou pistas de pouso foram

    construdas no interior do Brasil pelas expedies da FBC Fundao Brasil Central

    , como em Caiapnia, Aragaras e Xavantina. A FBC autorizada a implantar

    estaes de rdio em vrias cidades, como em Uberaba, Goinia, Campo Grande,

    Cuiab, Corumb e Santarm. Tais campos so logo integrados estrutura da Fora

    Area Brasileira, at se unirem Base Area de Belm, dando inclusive suporte aos

    vos internacionais que ligavam o Brasil aos Estados Unidos. Nota-se, ento. que os

    avies impulsionam a Marcha para o Oeste, e novas cidades tambm vo surgindo,

    como Ceres e Nova Xavantina, entre outras. (Lima Filho, 2001, p. 131).

    Lima Filho, em artigo na revista Horizontes Antropolgicos, de junho de

    2000, denominado Aragaras: a cidade encantada no serto de Gois, descreve de

    maneira clara e objetiva a marcha para o oeste, assim como aspectos da expedio

    RoncadorXingu e da Fundao Brasil Central:

    A marcha para o oeste tornou-se pblica com o discurso do presidenteGetlio Vargas pronunciado em Goinia em 1938 (Vargas,1942), quandoele declarou que a verdadeira brasilidade era a Marcha para o Oeste. Apartir deste evento, essa torna-se gradativamente um complexo programagovernamental para ocupar aquilo que na poca se chamava hinterlandouespaos vazios do serto do oeste brasileiro e preparar a logstica para aimplantao e desenvolvimento do capital agrobusiness. Este programagovernamental foi operacionalizado pela Expedio Roncador-Xingu (1942-1943) que reuniu um grupo de expedicionrios, na maioria paulistas, quechegavam de trem at Uberlndia (MG), considerada a boca do serto e ,em caminhes, alcanaram as margens do rio Araguaia, no local onde umde seus afluentes, o rio das Garas, desgua, onde mais tarde seriaconstruda a cidade de Aragaras. Deste local, os expedicionrios rumarama p em direo ao rio das Mortes, sendo fundado ai um posto e depois acidade de Xavantina, hoje Nova Xavantina. Ainda em curso, a ExpedioRoncador-Xingu foi incorporada pela Fundao Brasil Central, criada pelodecreto de Getlio Vargas. A Fundao Brasil Central existiu, destamaneira, de 1942 at 1967 e recebeu grande apoio dos presidentes GetulioVargas e Juscelino Kubitschek.

    No perodo de sua existncia, a Fundao Brasil Central construiucidades, estradas, pontes, organizou expedies ao vale do rio Xingu eAmaznia em parceria com o Servio de Proteo aos ndios, depois com aFundao Nacional do ndio e Fora Area Brasileira. A Fundao BrasilCentral construiu tambm hospitais, um hotel de luxo na Ilha do Bananal emterras dos Karajs e patrocinou vrias atividades relacionadas com a frentede expanso pioneira no oeste do Brasil. Das cidades importantes

    6Lima Filho (2001). Maiores informaes consultar seu livro Desencanto do Oeste.

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    construdas pela Fundao Brasil Central destaca-se Aragaras. (LimaFilho, 2000, p. 67).

    Goinia construda e se desenvolve dentro desse contexto, e a sua

    fundao no s para retirar da oligarquia dos Caiado o poder poltico de ento,

    ela faz parte de um smbolo do Governo federal de expanso de fronteiras e

    povoamento do oeste do Brasil.

    Goinia era a primeira capital moderna no serto. Idia materializada poruma esttua do bandeirante Anhanguera mirando para o Oeste, numa praacentral da cidade, por um Monumento das Trs Raas na Praa Cvica e,finalmente, pelo nome Palcio das Esmeraldas, dado ao prdio central doGoverno do Estado. (Lima Filho, 2001, p.147).

    Com a efetivao da idia da mudana da capital, esta necessitava

    possuir um nome. Dentre uma dezena de nomes apresentados, citamos alguns

    como Petrnia, Ptria Nova, Goinia, Goiansia, Americana, Eldorado, Anhanguera,

    Campanha. O nome Goinia foi escolhido por meio de um concurso promovido pelo

    jornal O Social, que era editado na Cidade de Gois, e o vencedor do concurso foi

    o Sr. Alfredo Faria de Castro, que usou o pseudnimo de Caramuru Silva do Brasil,

    sendo ele na poca morador da antiga capital e professor no Lyceu de Gois. Para

    justificar o significado do nome por ele escolhido, o Sr. Alfredo o fez da seguinte

    maneira:

    Goinia. Qual o nome que pela sua significao, sua sonoridade, fcilgrafia e sentido histrico, melhor se adaptaria cidade nova que ser aCapital do estado? Haver, certo, copiosa lista de denominaes para anova urbe. Nenhuma, porm, conservar o sabor histrico, a cor local, osignificado regional desta palavra, curta , sonora que reflete com serenidadea idia dessa nossa origem.A soluo de continuidade histrica que advir da imposio de um apelido,talvez interessante e valioso, sob vrios aspectos, mais importante cidadedo Estado, no deixaria de arranhar, sequer de leve, o entranhado amorque devotamos ao culto sagrado das nossas tradies.GOINIA Nova Gois, prolongamento da histrica Vila Boa, monumentograndioso que simbolizar a glria da origem de todos os goianos. Gois,10- 10- 33. Caramuru Silva do Brasil. (Sabino Junior, 1980, p. 210).

    Em seu livro, Chaul faz uma anlise sobre a construo de Goinia e a

    mudana da capital, enumerando alguns aspectos bsicos para que tal fato se

    efetivasse, relatando que:

    A construo de Goinia e a transferncia da capital podem ser vistas sobalguns aspectos que passamos a enumerar: primeiro, como uma estratgiade poder de Pedro Ludovico representante dos interesses dos grupos

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    oligrquicos do sul e sudoeste, que tinha na mudana da capital uma formade consolidar seu poder poltico, uma vez que de 1930 a 1937, no Brasil,tudo era provisrio; segundo, Goinia mais que uma capital para Gois, erauma capital para o sul e sudoeste, medida que permitia uma maiorinsero de Gois na economia de mercado; em terceiro lugar, uma nova

    capital seria de suma importncia para o progresso de acumulaocapitalista no Estado; Por fim, Goinia representava a consolidao dafrente pioneira na regio, servindo de trampolim para a conquista daAmaznia. Tudo isto foi feito em nome do progresso, ou seja, da visoburguesa do progresso. (Chaul, 1999, p. 163 e 164).

    Aps a escolha por tcnicos da comisso acerca do local para se

    implantar a nova capital, o Interventor Pedro Ludovico procurou a opinio do

    engenheiro e urbanista Armando Augusto de Godoy, para que desse seu parecer

    sobre a escolha do local para a construo de Goinia.

    Armando de Godoy nasceu no ano de 1876, em Volta Grande (MG),

    formado em Engenheira Civil no ano de 1901, na Escola Politcnica da Universidade

    Federal do Rio de Janeiro. Ele estava sintonizado com os debates e realizaes

    resultantes dos movimentos urbansticos do final do sculo XIX e incio do sculo

    XX. Possua bastante conhecimento sobre as questes urbanas e era um dos

    urbanistas brasileiros mais bem informados a respeito dos principais acontecimentos

    na Europa e na Amrica. Em abril de 1933, Armando de Godoy apresentou umdocumento relatando todas as vantagens da mudana da capital e exps os

    principais requisitos e os critrios necessrios para a fundao de uma cidade

    moderna. Manifestou-se a respeito das diretrizes para a estrutura viria, o controle

    da expanso urbana e da venda de lotes. Preocupou-se, tambm, com as despesas

    da construo dos edifcios pblicos e, ainda, com o calamento das vias pblicas.

    Fez consideraes sobre o provimento de energia eltrica e de abastecimento de

    gua para a cidade. Fez referncia velha capital, dizendo que a cidade j no maiscomportava, devido a vrios fatores, ser a sede do centro administrativo do estado e

    a respeito do sitio escolhido no municpio de Campinas, ele se mostrou

    completamente satisfeito com a escolha do local para sediar a nova capital.

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    2. PATRIMNIO EM QUESTO: PROBLEMAS, REVITALIZAO E

    PRESERVAO

    2.1 Revisitando o Patrimnio Histrico e Cultural

    A respeito do patrimnio, faremos aqui uma contextualizao desse tema,

    onde trataremos desde a questo da sua conceituao, do surgimento da

    preocupao da preservao desse, at as diversas formas de patrimnioexistentes.

    Autores como Choay (2001) referem-se ao patrimnio como:

    Patrimnio. Esta bela e antiga palavra estava, na origem, ligada sestruturas familiares, econmicas e jurdicas de uma sociedade estvel,enraizada no espao e no tempo, requalificada por diversos adjetivos(gentico, natural, histrico, etc.) que fizeram dela um conceito nmade,

    ela segue hoje uma trajetria diferente e retumbante. Patrimnio histrico. Aexpresso designa um bem destinado ao usufruto de uma comunidade quese ampliou a dimenses planetrias, constitudo pela acumulao contnuade uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum:obras e obras-primas de belas artes e das antes artes aplicadas, trabalhos eprodutos de todos os sabres e savoir-faire dos seres humanos. (Choay,2001, p. 11).

    Funari e Pelegrini, em seu livro, o descrevem tambm como:

    Patrimnio uma palavra de origem latina, patrimonium, que se referia,entre os antigos romanos, a tudo o que pertencia ao pai, pater ou paterfamiliar, pai de famlia. [...] A famlia compreendida tudo o que estava sob odomnio do Senhor, inclusive a mulher e os filhos, mas tambm os escravos,os bens mveis e imveis, tudo que podia ser legado por testamento, semexecutar, portanto, as prprias pessoas [...] O patrimnio era um valoraristocrtico e privado, referente transmisso de bens no seio da elitepatriarcal romana [...] O patrimnio em patrimonial, individual e privativo daaristocracia. (Funari, Pelegrini, 2006, p. 11).

    Foi na Frana, a partir da revoluo de 1789, que se desenvolveu o

    moderno conceito de patrimnio. Em meio Revoluo Francesa, criava-se uma

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    comisso encarregada da preservao dos movimentos nacionais. Funari e Pelegrini

    relatam em seu livro que:

    O objetivo era proteger os movimentos que representavam a incipientenao francesa e sua cultura. A legislao protetora do patrimnio nacionalfrancs tardia ainda de muitas dcadas, pois a primeira Lei de 1887, tendosido complementada por uma legislao mais ampla em 1906, j em plenosculo XX. (Funari, Pelegrini, 2006, p. 19).

    Assim como no Brasil, na Frana a noo de patrimnio acontece em

    momentos de ruptura: na Frana com a Revoluo Francesa e no Brasil com o

    Estado Novo. E a partir da que se comea no Brasil, atravs de intelectuais

    ligados Semana de Arte Moderna de 1922, e com apoio de polticos e de algumascamadas mais favorecidas da populao, a se tentar preservar o nosso patrimnio,

    primeiramente o edificado, relacionado s construes, principalmente as religiosas

    e posteriormente as edificaes em mbito geral e j ultimamente relacionados ao

    patrimnio imaterial.

    O tema do Patrimnio Histrico esteve historicamente associado

    preservao de nossa memria cultural. J foi dito que um povo sem memria um

    povo sem futuro.

    Patrimnio Histrico tudo aquilo que lembra um fato, ou uma poca denossa histria, e que por isso merece e deve ser preservado. O patrimnioest dividido em trs grandes categorias de elementos. Primeiro, anota-seos elementos pertencentes natureza e ao meio ambiente. O segundogrupo de elementos refere-se ao conhecimento, as tcnicas, ao saber e aofazer. E o terceiro grupo rene os chamados bens culturais que englobamtoda sorte de coisas, objetos, artefatos e construes obtidas a partir domeio ambiente e do saber fazer. (Silva, 1990, p. 25).

    Existem vrias maneiras de se preservar uma rea histrica, ou mesmo

    edificaes e objetos isolados no contexto urbano, sendo que algumas delas so: o

    tombamento, a restaurao, a proteo ambiental, tutela e meio ambiente, e mais

    recentemente a revitalizao urbana.

    Dentro do conceito de patrimnio histrico existem reas de preservao

    histrica, cultural e paisagstica. Essas so de interesse urbanstico especial porque

    foram reconhecidas como de bens imveis, cuja conservao de interesse pblico,

    quer por sua vinculao a fatores memorveis da histria do Brasil, quer por seu

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    excepcional valor arqueolgico, etnogrfico ou artstico-arquitetnico; quer por

    representarem monumentos naturais, stios e paisagens dotados pela natureza ou

    por obra do homem. Tais bens vm recebendo a denominao de bens culturais e

    ambientais, e a rea em que se situam denominada de meio ambiente cultural.

    Os bens culturais ambientais so, como se viu, de natureza imobiliria, oque lhe impe mais restrito do que o patrimnio histrico, arqueolgico,artstico e paisagstico, pois este abrange todos os bens, mveis ou imveis,existentes no pas, cuja conservao e proteo sejam de interesse pblico,que por sua vinculao a fatos, que por seu excepcional valor arquitetnico,arqueolgico, artstico e paisagstico, inseridos num dos livros do Tombo,previsto na lei. (Decreto-Lei n 25, de 30.11.1937, art. 1, apud,Silva 1990, p. 25 e 26).

    Ao Direito Urbanstico s interessa o patrimnio histrico, arquitetnico,

    paisagstico, integrado de bens imveis, considerado com foi visto, como patrimnio

    cultural ambiental, pois s esse pode ser objeto de plano urbanstico, que lhe ordene

    a rea respectiva e que consiste na disciplina jurdico-urbanstica do meio ambiente

    cultural, que est disciplinado pelo Artigo 180, pargrafo nico, da Constituio

    Federal. Ao estabelecer-se na Carta Magna que esses bens culturais ficam sob a

    proteo do poder pblico, impe-se a todas as entidades dotadas de poder pblico,Unio, estados e municpios, no s a competncia mas o dever mesmo de

    organizar-lhes a tutela mediante legislao e planos adequados.

    O patrimnio histrico pode ainda ser tomado individualmente ou em

    conjunto. Individualmente, pode-se citar alguns edifcios isolados nas cidades de

    So Paulo e Rio de Janeiro. Em conjunto, pode-se apontar o caso de certas reas

    nas cidades de Salvador, Ouro Preto, So Luiz do Maranho, Cidade de Gois e

    outras.

    A preservao se faz necessria em todos os campos das atividades

    humanas para que a histria da sociedade seja mantida viva aos olhos das geraes

    futuras. Ao preservar uma rea ou edifcio da cidade, a sociedade ganhar um novo

    espao que poder melhorar muitos aspectos da vida local. A preservao nas

    cidades visa a integridade de seu conjunto urbano-histrico, buscando relacion-lo

    ao seu stio fsico, explicitando assim os fatores culturais incorporados em seuprocesso de formao e desenvolvimento.

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    A questo do patrimnio histrico no Brasil, e a preservao desse

    patrimnio, esteve por muito tempo ligada a tudo o que se relaciona aos trs

    primeiros sculos da ocupao portuguesa em nosso territrio. Muito disso se deve

    ao fato de que a responsabilidade desse assunto era do Museu Nacional, ligado s

    elites governantes.

    Nos anos 1920 e 1930, com a criao do SPHAN Servio do Patrimnio

    Histrico e Artstico Nacional , no governo de Getlio Vargas, os intelectuais

    modernistas dirigem e participam de forma atuante nesse novo rgo, comeando a

    fazer algumas modificaes na maneira de como se preservar e ver tal preservao

    do patrimnio.

    Na semana de 1922, os modernistas, ativistas do SPHAN, se apresentam

    como um grupo antiburgus, que valoriza o primitivo, a regionalizao, e o maior

    nome desse movimento foi Mrio de Andrade, que servia de elo entre vrios

    intelectuais modernistas, entre eles, Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade.

    O patrimnio surge no Brasil assentado em dois pressupostos

    modernistas, enquanto expresso de modernidade. O primeiro o carter ao mesmotempo universal e particular das autnticas expresses artsticas. O segundo a

    autonomia relativa da esfera cultural em relao s outras esferas da vida social. A

    atuao dos modernistas no SPHAN mostra como eles se colocavam num campo

    cultural e poltico, num regime autoritrio.

    Nessa primeira fase do SPHAN, chamada de fase herica, dos anos

    1930 at o final dos anos 1960, ele era um rgo isolado dentro do governo, distante

    da sociedade e no exercendo fascnio nos partidos polticos, era uma instituio

    atpica, restrita aos intelectuais. Em 1967, com a aposentadoria de Rodrigo Melo

    Franco de Andrade, e assumindo o rgo Renato Soeiro, o SPHAN entra numa nova

    fase, a fase moderna da instituio.

    Na primeira fase os primeiros edifcios preservados eram barrocos,

    principalmente igrejas, posteriormente alguns prdios neoclssicos e alguns edifcios

    modernos, como a primeira casa modernista de Warchavisk em So Paulo, a Igreja

    de So Francisco, na Pampulha, em Belo Horizonte e a Catedral de Braslia.

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    Na segunda fase, a partir dos anos 1960 e 1970, o SPHAN comeou a

    trabalhar em conjunto com Seplan, IPHAN, Sudene e Embratur, e funda o PCH, logo

    depois comea a funcionar o CNRC nos anos 1970 para 1980, e uma equipe

    multidisciplinar comea a trabalhar com o patrimnio no Brasil, no s mais

    intelectuais e arquitetos, mas tambm artfices, crticos literrios, bibliotecrios,

    fsicos, matemticos, historiadores e outros. A abrangncia sobre patrimnio

    ampliada, e no s mais o patrimnio edificado sobre pedra e cal valorizado, mas

    tambm o patrimnio cultural material e imaterial. Nos anos 1970 e 1980, e at nos

    anos 1990, houve uma evidente ampliao de conceituao de patrimnio, em

    termos de instrumentos de preservao. E o Sr. Alosio de Magalhes teve um

    importante papel nas modificaes ocorridas na preservao do patrimnio no Brasil,

    criando um produto brasileiro, que no fosse cpia de outros pases: estava

    pensando no futuro e no s em valorizar o passado, ou bens do passado.

    Segundo Lima Filho (2006), no Brasil destacam-se dois perodos nas

    polticas oficiais do patrimnio cultural. Primeiro, com a criao do SPHAN em 1937,

    onde se adotava uma poltica de restaurao e conservao do patrimnio edificado,

    principalmente de cidades histricas e tambm de arquivos, sendo que de 1937 a

    1979 o responsvel pelo SPHAN era o Dr. Rodrigo Melo Franco de Andrade. No

    segundo perodo, o Sr. Alosio de Magalhes, ampliou as polticas pblicas do

    patrimnio cultural, introduzindo a noo de bens culturais, representando a

    diversidade cultural do Brasil, e no s apenas o patrimnio de bens imveis, como

    era praticado at ento.

    Durante o sculo XX foram elaborados inmeros conceitos a fim de se

    interpretar os processos de formao da identidade nacional, dentre eles temos oregistro, o tombamento, a cultura material, a cultura imaterial, o folclore, a cultura

    popular, o patrimnio edificado e vrios outros, subsidiando assim o Inventrio

    Nacional de Bens Culturais, que busca compor na documentao sobre o processo

    histrico e cultural de nosso pas por meio de anlise e conceito do patrimnio.

    Lima Filho relata que com todas essas informaes foram criados no

    Brasil vrios instrumentos jurdicos que resguardam informaes e registros para o

    estudo da cultura e sociedade brasileira, e essas informaes resultam nos

    seguintes instrumentos:

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    A Legislao propriamente dita somente foi definida por meio do Decreto-Lei n 25, de 30 de novembro de 1937, assinado por Getlio Vargas e oministro da educao Gustavo Capanema. Com este instrumento legalinstitui-se o tombamento federal e nacional. Destaca-se ainda a Lei n 3924,de 26 de junho de 1961, que dispe sobre os monumentos arqueolgicos e

    pr-histricos, conhecida como a Lei do Sambaqui. [...] Os instrumentos deproteo do patrimnio cultural brasileiro esto presentes nas Constituiesde 1934, 1932, 1946, 1967, na Emenda Constitucional de 1967 e finalmentena Constituio de 1988, no Ttulo II, Captulo I, Artigos, LXXIII, no Ttulo III,Captulo II, Artigo 20, X e XI, Artigo 23, I, III, IV, V, VI e Artigo 24, VII e VIII;no Captulo IV, Artigo 30, IX, e no Ttulo VIII, Captulo III, Seo II, Artigo216. Finalmente, no sentido de aperfeioar e complementar as Leis deProteo ao Patrimnio Cultural Brasileiro, destaca-se a importncia doDecreto n 3551, de agosto de 2000, que instituiu o Registro dos BensCulturais de Natureza Imaterial. (Lima Filho, 2006, p. 24).

    Atualmente, o reconhecimento da ampliao do conceito de patrimnio

    uma das realizaes mais significativas para a preservao e o futuro das cidades,

    fazendo com que se avalie o que se faz at o presente momento e as necessidades

    de se intervir no espao das cidades. Coelho e Valva fazem referncias em seu livro

    sobre Patrimnio Cultural Edificado, dizendo:

    O conceito de patrimnio cultural, e mesmo de patrimnio arquitetnico,esteve, durante muito tempo associado somente noo limitada do

    excepcional, numa perspectiva bastante tradicional. A nica preocupao eentendimento de patrimnio era o monumento nico, sem considerar asdiversas relaes que os bens culturais apresentam entre si. Portanto,patrimnio histrico ou patrimnio cultural, como tem sido mais comumentedesignado, passa o seu compreendido como algo bem mais amplo, j que ea histria um contnuo que no pra de produzir, de se manifestar pelacriao artstica e cultural das diversas camadas da populao. (Coelho,Valva, 2005, p. 12 e 13).

    Nota-se, ento, que o patrimnio, de modo geral, passa a englobar

    elementos o mais variado possvel, desde as peas artesanais em barro ou madeira,passando pelas festas populares, os documentos escritos, os monumentos em

    pedra e cal, desde as de taipa-de-pilo at os mais modernos em ao e concreto,

    sendo todos considerados como elementos de nosso vasto acervo cultural.

    Coelho e Valva relatam ainda:

    Em mbito internacional, a preservao do patrimnio cultural umapreocupao que comea a tomar forma a partir de 1964, com a divulgao

    da Carta de Veneza, que levanta a necessidade de se considerarem, como mesmo grau de interesse e importncia dos monumentos isolados, tantoos stios urbanos e rurais, quanto obras modestas que, com o tempo,adquiriram um significado cultural. (Coelho, Valva, 2005, p. 15).

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    E, conforme Lemos:

    Patrimnio Cultural est dividido em trs grandes categorias de elementos.Primeiramente, arrola os elementos pertencentes natureza, ao meio

    ambiente. So os recursos naturais, que tornam o stio habitvel. Nestacategoria esto, por exemplo, os rios, a gua, os seus peixes, suascachoeiras e corredeiras transformveis em fora matriz movendo rodas emoendas, acionando monjolos e fazendo girar incrivelmente rpidas asturbinas das usinas de eletricidade. [...] O segundo grupo de elementosrefere-se ao conhecimento as tcnicas, ao saber e ao saber fazer. so oselementos no tangveis do Patrimnio cultural [...]. Vai desde a percia norastreamento de uma caa esquiva na floresta escura at s mais altaselocubraes matemticas apoiadas nos computadores de ltima gerao.[...] O terceiro grupo de elementos de grande importncia, porque reneos chamados bens culturais que englobam toda sorte de coisas, objetos,artefatos e construes obtidas a partir do meio ambiente e do saber.(Lemos, 1987, p. 8, 9 e 10).

    Numa primeira reflexo j podemos verificar que sempre devemos prestar

    ateno s relaes necessrias que existem entre o meio ambiente, o saber e o

    artefato; entre o artefato e o homem; entre o homem e a natureza. Assim, um objeto

    isolado de seu contexto deve ser entendido como um fragmento, ou um segmento,

    de uma ampla urdidura de dependncia e entrelaamentos de necessidades e

    interesses satisfeitos dentro das possibilidades locais da sociedade a que elepertenceu. Da, a inoportunidade de algumas colees ou museus ditos

    pedaggicos, que, isolando objetos diversificados, nada esclarecem e mais

    constrangem com sua inutilidade. Artefatos, no entanto, tm vida demorada e uso

    prolongado, podendo at ter serventias diversificadas ou melhor, ter trocados os

    seus fins utilitrios originais. Objetos j ultrapassados, e fora de uso, podem ser

    usados com outra finalidade e servir tanto quanto antes.

    Existem, tambm importantes e histricos exemplos de construes quetiveram seus usos originais substitudos, embora a funo de abrigar prprio do espao arquitetnico continua-se sendo exerccio. [...] Oprograma e as sucessivas alteraes nos usos e costumes tambm exigemmodificaes nos artefatos de uso prolongado, como nos casos de morada,por exemplo. (Lemos, 1987, p. 13 e 14).

    Exemplos significativos de construes e artefatos esto a, espalhados

    pelas cidades, sofrendo modificaes e alteraes que iro descaracteriz-los.

    Modificando todas as caractersticas originais desses exemplares, estaremosdestruindo parte do patrimnio cultural da nao, portanto se torna importante

    preservao desses poucos exemplares.

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    Se preservarmos as caractersticas de uma poca teremos forosamente

    que manter conservadas as suas condies mnimas de sobrevivncia, todas elas

    implcitas no meio ambiente e no seu saber.

    Devemos, ento, de qualquer maneira, garantir a compreenso de nossa

    memria social preservando o que for significativo dentro de nosso vasto repertrio

    de elementos componentes do Patrimnio Cultural.

    As cidades no Brasil, principalmente as de grande porte, vm se

    alterando, no estando preocupadas em preservar nada do nosso passado histrico,

    ali no corao da cidade, a no ser meia dzia de fotografias.

    Com isso, percebemos que a problemtica da conservao do Patrimnio

    Ambiental Urbano apresenta inmeras facetas que variam conforme a histria do

    desenvolvimento das cidades, que vo desde a metrpole catica at as cidades

    que Monteiro Lobato chamou de mortas porque, esvaziadas de recursos

    econmicos, perderam-se no tempo. Mas, em qualquer uma dessas cidades quase

    impossvel a sua recuperao, ou preservao total.

    Temos que nos lembrar que existem hoje trs hipteses de situaes

    urbanas, onde os bens culturais tangveis comparecem sugerindo providncias

    diversificadas dos preservadores. A primeira aquela que rene um traado urbano

    qualquer acompanhado de construes originais que podemos chamar de primrias.

    o caso de Ouro Preto, de Braslia e de outras.

    Em outros tempos o Patrimnio Cultural j foi denominado Patrimnio

    Histrico e Artstico. Mas, atualmente, o termo tem maior amplitude e engloba tantoos aspectos histricos como os ecolgicos.

    Atades, Machado e Souza, em seu livro, relatam que:

    O Patrimnio cultural constitutivo de bens culturais, que so a produodos homens nos seus aspectos emocionais, intelectual e material e todas ascoisas que existem na natureza. Tudo que permite ao homem conhecer a simesmo e ao mundo que o rodeia pode ser chamado de bem cultural.(Atades, Machado e Souza, 1997, p. 11).

    Atualmente, o Patrimnio Cultural est dividido em quatro categorias: os

    bens naturais; os bens de ordem material; os bens de ordem intelectual e os bens de

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    ordem emocional. Os bens naturais esto relacionados natureza; os de ordem

    material esto relacionados por objetos, imveis; os bens intelectuais aos saberes

    do homem, e os bens emocionais esto relacionados ao sentimento coletivo ou

    individual, atravs de festas, folclore. Portanto, no somente os bens imveis fazem

    parte do Patrimnio Cultural, qualquer manifestao que represente ou comprove a

    histria de uma populao considerado um bem cultural.

    Os autores explicam, ainda, que:

    O Patrimnio constitudo ento de bens imateriais e no materiais, enfim,de tudo que se refere identidade, a ao, memria de uma sociedade.(Atades, Machado e Souza, 1997, pg. 13).

    2.2 Patrimnio Arquitetnico e Urbanstico

    O patrimnio arquitetnico de uma cidade importante para a sua

    memria cultural, por isso deve-se preservar qualquer tipo de edificao que

    apresente algum comprometimento com a histria da cidade, pois por meio desse

    que se torna possvel conhecer a sociedade local em determinada poca,

    identificando os costumes da populao, isto , onde morava e como convivia no

    espao por ela constitudo.

    Mas, a escolha de tais objetos, escolha suscetvel de isolar os que

    pertencem ao patrimnio e os que dele esto excludos bem mais ambgua do que

    a idia que se faz de cada um dos elementos que o compem. E, ao fim da anlise

    dos critrios dessa escolha, poder-se- talvez perguntar se o prprio objeto unitrio,

    atravs de evoluo do conceito global, to claramente delimitvel como acaba de

    ser enunciado.

    Em todo caso, diante da fluidez do domnio considerado em seu conjunto

    inicial, que o estudo prospectivo tem justamente, entre outros sentidos, o de

    apreender a futura evoluo de um conceito que varia segundo a natureza dos

    critrios escolhidos para defini-lo.

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    O patrimnio arquitetnico tenta definir, dentro de critrios j claros, osedifcios que podem ou no serem enquadrados para a preservao. Parase tornar um patrimnio, a edificao passaria por uma srie de anlises eavaliaes sendo estudadas suas caractersticas prprias, o seu entorno,imediato e todo o contexto urbano que ela faz parte. Mas existe uma certa

    ambigidade nesta escolha, para certo local ou certa poca a edificao ouo conjunto pode nada representar, mas enfocando-se de outra maneira, oconjunto urbano pode ser representativo, sendo que difcil delimitar o quepode ou no estar enquadrado dentro do patrimnio arquitetnico. (Silva,1990, p. 27).

    O patrimnio urbanstico, juntamente com o arquitetnico, de grande

    importncia para a cidade, pois esta no formada apenas de edificaes e, sim, de

    ruas, praas, espaos pblicos, rios, reas de preservao ambiental, avenidas,

    praias etc.

    Para definir-se algum espao como patrimnio urbanstico seria

    necessrio proceder a anlises e avaliaes dos locais por parte dos tcnicos e

    profissionais liberais envolvidos, tendo como critrio bsico a escolha de reas

    representativas, isto , que traduzam a sua