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São Luís, segunda-feira, 23 de setembro de 2013 Judiciário, autonomia financeira e cidadania 4 O voto aberto é indispensável à República NUNA NETO Impõe-se lei para moralizar concursos RETRATO DA HISTÓRIA ARQUIVO/OIMP/DA PRESS SEGUNDA/SÁBADO DOMINGO VENDA AVULSA CAPITAL INTERIOR OUTROS ESTADOS R$ 1,00 R$ 2,00 R$ 3,0 0 R$ 2,00 R$ 3,00 R$ 3,00 D.A Press Multimídia Atendimento para venda e pesquisa de conteúdo: Pessoalmente: SIG Quadra 2, nº 340, bloco I, Cobertura – 7061-901 – Brasília – DF, segunda a sexta, das 10h às 17h. Por e-mail ou telefone: de segunda a sexta e feriados, das 9h às 22h/ sábados, das 14h às 21h/ domingos, das 15h às 22h/. E-mail: [email protected] Telefones: (61) 3214.1575 /1582/1568/0800 647 73 77. Fax: (61) 3241.1595. PROIBIDA VENDA POR MENOR CIRCULAÇAO 3212 2020 GERAL 3212 2000 COMERCIAL 3212 2010 REDAÇÃO 3212 2010 ATENDIMENTO AO ASSINANTE 3212 2012 CLASSIFICADOS 3212 2020 Diretor de Administração e Finanças O IMPARCIAL ACOLHE ARTIGOS ANALÍTICOS SOBRE OS TEMAS GERAIS E ESPECÍFICOS PARA A PÁGINA DE OPINIÃO. PORÉM, COMO TRATA-SE DE UM ESPAÇO PARA ESTIMULAR O DEBATE, FORTALECER E DEMOCRATIZAR AS INFORMAÇÕES, OS TEXTOS TERÃO QUE CONTER ENTRE 2.500 E 4.500 CARACTERES. SÃO RECUSADOS ARTIGOS QUE SE PRESTAM A HOMENAGEAR. EXIGE-SE AINDA: A IDENTIFICAÇÃO COMPLETA DO AUTOR, ENDEREÇO E-MAIL E TELEFONE. GERVÁSIO PROTÁSIO DOS SANTOS PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS DO MARANHÃO – AMMA MARCUS VINICIUS FURTADO COÊLHO PRESIDENTE NACIONAL DA OAB Nos últimos dias, o Supremo Tribunal Federal, órgão máximo do Poder Judiciário, figurou no centro do debate nacional em razão do julgamento da Ação Penal nº 470, quando a popula- ção foi apresentada ao recurso de Embargos Infringentes e, em certa medida, aos percalços que um julgamento impõe. Abstraindo o resultado par- cial que desagradou uma parcela considerável da sociedade, tem- se pelo menos a certeza de que os juízes brasileiros estão agindo com independência e autono- mia, aplicando o direito posto de acordo com os fatos e a sua análise interpretativa, ainda que, como na si- tuação mencionada, não agrade a opinião publica. Enfim, o Poder Judiciário tem cumprido o pa- pel que lhe cabe no Estado Democrático ao atuar de forma contramajoritária, restaurando direitos e zelando pelo cumprimento do devido processo legal, mesmo desagradando determinados seto- res econômicos, políticos e sociais. É justamente por essa razão que, paradoxalmen- te, a sociedade brasileira, embora discordando even- tualmente de suas decisões, cada vez mais procura o Judiciário, demonstrando a sua confiança na Insti- tuição. E os números confirmam tal afirmação, pois, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça, so- mente até junho deste ano já ingressaram no sistema mais de nove milhões de novas ações. Mais e mais o Judiciário vem sendo o desagua- douro da insatisfação cidadã, o que, se por um lado é positivo para a democracia, por outro tem um custo financeiro que, infelizmente, no Estado do Maranhão não tem tido a atenção necessária do Executivo, que tem restringido os recursos orçamentários necessá- rios ao custeio da máquina judiciária. Em outras palavras, a autonomia financeira do Judiciário assegurada pela Constituição tem sido, em nosso estado, seguidamente alvo dos burocra- tas, com o beneplácito palaciano. Dois exemplos para pôr os pontos nos is. Na proposta orçamen- tária para 2014 o valor de custeio sofreu um cor- te superior a R$ 70 milhões, o que significa que o Judiciário maranhense terá menos da metade do valor que dispôs em 2013, o que impactará direta- mente no serviço prestado à população. Sim, porque com a metade dos recursos terá que lidar com uma projeção de demanda superior a 10% do que a do corrente ano, considerando que esta é a média de crescimento do número de ações em nos- so estado ano após ano. É claro que, nesse cenário, os juízes não poderão fazer milagre. Um segundo exemplo foi o corte integral pela Se- cretaria de Planejamento dos recursos necessários à continuação da construção do Fórum de Imperatriz, aqui demonstrando uma desconsideração dupla não apenas com o Judiciário, mas, também, com a segun- da cidade do estado, polo de uma região que deve- ria merecer a atenção especial de todos os Poderes. Acresça-se, para desespero dos jurisdiciona- dos, que os cortes impedirão a nomeação de mais trinta juízes, prevista para 2014, com o fim de su- prir as comarcas vagas no interior do estado, bem como não permitirá a instalação de novas varas na Comarca da Capital e de Imperatriz. É fato que, no sistema de autonomia dos Po- deres, a palavra final sobre a peça orçamentária é do Legislativo, mas, sabe-se do peso que o Exe- cutivo possui nessa equação, de sorte que a ma- gistratura maranhense, ombreada com o Tribunal de Justiça, espera que os cortes anunciados não sejam levados a efeito, sob pena de ser decreta- da, na prática, a falência financeira do Judiciário. Tal perspectiva é muito grave do ponto de vista institucional, pois negar os recursos necessários ao funcionamento do Judiciário é negar o exer- cício da própria cidadania a quem dele precisa, e não é isso que se espera de quem foi eleita para dirigir os destinos do nosso estado. S ão inaceitáveis as constantes irregularidades observadas nos con- cursos públicos. Além de bancas amadoras, questões malformu- ladas e falhas na organização, ocorrem manobras para evitar que aprovados ocupem as vagas pelas quais lutaram. Apadrinhados acabam tendo vantagens asseguradas por regras obsoletas que não es- tão em sintonia com as exigências da modernidade. A Constituição Cidadã trouxe avanços significativos para o país. Um dos mais relevantes é a democratização do acesso ao serviço público. As portas antes restritas a privilegiados abriram-se para os brasileiros que se dispõem a disputar emprego nos quadros do Estado. Com a va- lorização da meritocracia, selecionam-se os mais aptos. Não basta ser bom. É importante ser melhor que os concorrentes. Além de justa, a regra de acesso introduzida pela Lei Maior traz benefícios à administração. O país já teve uma das mais azeitadas máquinas públicas das nações emergentes. Ficava atrás só da Índia. Hoje, porém, peca por obe- sidade, lentidão e ineficiência. O brasileiro, que paga uma das mais extorsivas cargas tributárias do mundo, não recebe a contrapartida à altura. A burocra- cia sufoca, incapaz de dar resposta satisfatória às demandas da sociedade. Vai, pois, enorme distância entre a teoria e a prática. Diante da exi- gência constitucional, buscaram-se jeitos de dar um jeito. Um deles são os cargos comissionados. Segundo o Ministério do Planejamento, o Po- der Executivo dispõe de 22 mil. São, na maior parte das vezes, postos- chave que deveriam ser preenchidos por pessoas altamente qualifica- das e conhecedoras do setor pelo qual vão responder. Ocorre, porém, situação oposta. A preferência recai sobre afilhados de políticos indicados para ostentar o crachá de autoridade. Como iro- niza o dito popular, faz-se cumprimento com o chapéu alheio. Ou, em outra versão, dá-se esmola com o dinheiro do contribuinte. Mantém- se, assim, o privilégio que se tentou combater. Abrem-se brechas cujo fim é minar o preceito moralizador. Em vez de buscar medidas para corrigir as muitas falhas existentes no processo de recrutamento, fica-se com os pés plantados no passa- do, sem os necessários e urgentes avanços. Impõe-se estreitar os limites de atuação dos que, em vez de servir, tiram proveito pessoal do Esta- do. Aprovar projeto de lei que tramita no Congresso é passo importan- te para punir os responsáveis pela farra paga com o dinheiro público. O debate público que se tem nos últimos dias sobre o voto secreto é, na verdade, a reedição de antigas discus- sões. Está claro, mais uma vez, que a sociedade brasilei- ra não aceita a prática, uma vez que, na maioria dos ca- sos, o resultado das votações é conflitante com o desejo coletivo da nação. Não há, portanto, justificativa sufi- ciente para a permanência deste método no parlamento. Recentemente, o Pleno do Conselho Federal da OAB Nacional aprovou, por una- nimidade, seu apoio a duas importantes propos- tas legislativas que acabam com o sigilo no Par- lamento. A primeira é a PEC 196/2012, de autoria do Senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que altera o parágrafo segundo do art.55 da Constituição e dis- põe que a perda de mandato será decidida para os deputados federais pela Câmara dos Deputados e para os parlamentares pelo Senado Federal, por maioria absoluta e voto aberto, mediante provo- cação da respectiva mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa. A proposta já foi aprovada no Sena- do e atualmente está na Comissão Especial cria- da pela Comissão de Constituição de Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados. A outra proposta que o Conselho manifesta apoio é a PEC 18/2013. Ela foi apresentada em abril deste ano, pelo senador Jarbas Vasconce- los (PMDB/PE), e dispõe que a Mesa da Casa Legislativa apenas irá declarar a perda auto- mática de mandato de parlamentares nas hi- póteses de improbidade administrativa ou de A Rua de Nazaré, no trecho entre a Praça João Lisboa e a Rua da Palma/Praça Benedito Leite, foi outrora muito mo- vimentada, com próspero comércio. Ali estavam instaladas agências bancárias, como as do Nacional e do Rural, a Livra- ria ABC, a sede do Partidão, apelido carinhoso dado ao Par- tido Comunista Brasileiro. A Legião Brasileira de Assistência (LBA) tinha sua sede estadual naquele espaço. Até um super- mercado tinha um ponto de comercialização ali. Depois, ela foi interditada ao trânsito, e construído no lugar um calçadão. Bancos foram colocados para desfrute dos pedestres. Primei- ro, eles eram de concreto, como mostra a foto do dia 8 de maio de 1991. Em seguida, foram trocados por outros de madeira. Mas, hoje, falta ao local algo de tranquilo que fizesse as pes- soas pararem por ali. Há um triste aspecto de decadência. condenação por crime contra a Administração Pública. Aprovada pelo Senado no dia 11 de se- tembro, a proposta foi remetida para a Câmara dos Deputados, onde aguarda nova votação. A Constituição Federal, em seu art. 5º, garante o sigilo das votações, mas ela se refere tão somen- te ao eleitor. Mais adiante, no art. 14º, assegura a absoluta liberdade de quem vota, conferindo ao cidadão o livre exercício de seus direitos políticos. No entanto, não há argumento capaz de suplan- tar a importância da transparência dos atos daqueles que carregam em seus cargos as aspirações da socie- dade. É, todavia, inerente ao nobre ofício da repre- sentação popular, manter às claras ações e opiniões. O segredo, neste caso, é antirrepublicano, pois cria a dúvida onde deveria haver certeza. A so- ciedade tem o direito, e mais do que isso, dever de saber como se posiciona o seu eleito, e só as- sim poderá cobrá-lo de um ato não condizente às expectativas geradas na época da campanha. Do contrário, não terá, enfim, como julgar se o seu representante é merecedor de um novo voto. A Carta Magna de 1988, afirma, ainda, que todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, portanto, os representantes do povo devem tornar claro aos que representam, quais os seus atos e deliberações. O instituto do voto secreto, adotado original- mente para preservar o parlamentar de pressões externas e possíveis represálias, não mais se justifica no Brasil atual. Hoje, são urgentes medidas que con- tribuam para a moralidade e a ética na vida pública. Dessa forma, fica claro que no regime republicano e no sistema democrático não há mais espaço para o segredo nos atos dos poderes de Estado. Ao longo de sua história, inspirada nos prin- cípios constitucionais, éticos e morais do Estado Democrático de Direito, a OAB mantém como pers- pectiva basilar a defesa do interesse público e da justiça. Dessta forma, não poderia tomar outra po- sição senão a de defender a justa voz da sociedade, que clama por ética e transparência.

PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS DO … · lamento. A primeira é a PEC 196/2012, de autoria do Senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que altera o parágrafo segundo do art.55

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São Luís, segunda-feira,23 de setembro de 2013

Judiciário, autonomia financeira e cidadania

4

O voto aberto é indispensável à República

NUNA NETO

Impõe-se lei para moralizar concursos

RETRATO DA HISTÓRIAAR

QU

IVO

/OIM

P/DA

PRE

SS

SEGUNDA/SÁBADO DOMINGO

VENDA AVULSA

CAPITAL

INTERIOR

OUTROS ESTADOS

R$ 1,00

R$ 2,00

R$ 3,0 0

R$ 2,00

R$ 3,00

R$ 3,00

D.A Press MultimídiaAtendimento para venda e pesquisa de conteúdo: Pessoalmente: SIG Quadra 2, nº 340,

bloco I, Cobertura – 7061-901 – Brasília – DF, segunda a sexta, das 10h às 17h.Por e-mail ou telefone: de segunda a sexta e feriados, das 9h às 22h/ sábados, das 14h às 21h/ domingos, das 15h às 22h/. E-mail: [email protected] Telefones: (61) 3214.1575 /1582/1568/0800 647 73 77. Fax: (61) 3241.1595.

PROIBIDA VENDA POR MENOR

CIRCULAÇAO 3212 2020

GERAL 3212 2000

COMERCIAL 3212 2010

REDAÇÃO 3212 2010

ATENDIMENTO AO ASSINANTE 3212 2012

CLASSIFICADOS 3212 2020

Diretor de Administração e Finanças

O IMPARCIAL ACOLHE ARTIGOS ANALÍTICOS SOBRE OS TEMAS GERAIS E ESPECÍFICOS PARA A PÁGINA DE OPINIÃO. PORÉM, COMO TRATA-SE DE UM ESPAÇO PARA ESTIMULAR O DEBATE, FORTALECER E DEMOCRATIZAR AS INFORMAÇÕES, OS TEXTOS TERÃO QUE CONTER ENTRE 2.500 E 4.500 CARACTERES. SÃO RECUSADOS ARTIGOS QUE SE PRESTAM A HOMENAGEAR. EXIGE-SE AINDA: A IDENTIFICAÇÃO COMPLETA DO AUTOR, ENDEREÇO E-MAIL E TELEFONE.

GERVÁSIO PROTÁSIO DOS SANTOSPRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS DO MARANHÃO – AMMA

MARCUS VINICIUS FURTADO COÊLHOPRESIDENTE NACIONAL DA OAB

Nos últimos dias, o Supremo Tribunal Federal, órgão máximo do Poder Judiciário, figurou no centro do debate nacional em razão do julgamento da Ação Penal nº 470, quando a popula-ção foi apresentada ao recurso de Embargos Infringentes e, em certa medida, aos percalços que um julgamento impõe.

Abstraindo o resultado par-cial que desagradou uma parcela considerável da sociedade, tem-se pelo menos a certeza de que os juízes brasileiros estão agindo com independência e autono-

mia, aplicando o direito posto de acordo com os fatos e a sua análise interpretativa, ainda que, como na si-tuação mencionada, não agrade a opinião publica.

Enfim, o Poder Judiciário tem cumprido o pa-pel que lhe cabe no Estado Democrático ao atuar de forma contramajoritária, restaurando direitos e zelando pelo cumprimento do devido processo legal, mesmo desagradando determinados seto-res econômicos, políticos e sociais.

É justamente por essa razão que, paradoxalmen-te, a sociedade brasileira, embora discordando even-tualmente de suas decisões, cada vez mais procura o Judiciário, demonstrando a sua confiança na Insti-tuição. E os números confirmam tal afirmação, pois, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça, so-mente até junho deste ano já ingressaram no sistema mais de nove milhões de novas ações.

Mais e mais o Judiciário vem sendo o desagua-douro da insatisfação cidadã, o que, se por um lado é positivo para a democracia, por outro tem um custo financeiro que, infelizmente, no Estado do Maranhão não tem tido a atenção necessária do Executivo, que tem restringido os recursos orçamentários necessá-rios ao custeio da máquina judiciária.

Em outras palavras, a autonomia financeira do Judiciário assegurada pela Constituição tem sido, em nosso estado, seguidamente alvo dos burocra-tas, com o beneplácito palaciano. Dois exemplos para pôr os pontos nos is. Na proposta orçamen-tária para 2014 o valor de custeio sofreu um cor-te superior a R$ 70 milhões, o que significa que o Judiciário maranhense terá menos da metade do valor que dispôs em 2013, o que impactará direta-mente no serviço prestado à população.

Sim, porque com a metade dos recursos terá que lidar com uma projeção de demanda superior a 10% do que a do corrente ano, considerando que esta é a média de crescimento do número de ações em nos-so estado ano após ano. É claro que, nesse cenário, os juízes não poderão fazer milagre.

Um segundo exemplo foi o corte integral pela Se-cretaria de Planejamento dos recursos necessários à continuação da construção do Fórum de Imperatriz, aqui demonstrando uma desconsideração dupla não apenas com o Judiciário, mas, também, com a segun-da cidade do estado, polo de uma região que deve-ria merecer a atenção especial de todos os Poderes.

Acresça-se, para desespero dos jurisdiciona-dos, que os cortes impedirão a nomeação de mais trinta juízes, prevista para 2014, com o fim de su-prir as comarcas vagas no interior do estado, bem como não permitirá a instalação de novas varas na Comarca da Capital e de Imperatriz.

É fato que, no sistema de autonomia dos Po-deres, a palavra final sobre a peça orçamentária é do Legislativo, mas, sabe-se do peso que o Exe-cutivo possui nessa equação, de sorte que a ma-gistratura maranhense, ombreada com o Tribunal de Justiça, espera que os cortes anunciados não sejam levados a efeito, sob pena de ser decreta-da, na prática, a falência financeira do Judiciário.

Tal perspectiva é muito grave do ponto de vista institucional, pois negar os recursos necessários ao funcionamento do Judiciário é negar o exer-cício da própria cidadania a quem dele precisa, e não é isso que se espera de quem foi eleita para dirigir os destinos do nosso estado.

São inaceitáveis as constantes irregularidades observadas nos con-cursos públicos. Além de bancas amadoras, questões malformu-ladas e falhas na organização, ocorrem manobras para evitar que aprovados ocupem as vagas pelas quais lutaram. Apadrinhados

acabam tendo vantagens asseguradas por regras obsoletas que não es-tão em sintonia com as exigências da modernidade.

A Constituição Cidadã trouxe avanços significativos para o país. Um dos mais relevantes é a democratização do acesso ao serviço público. As portas antes restritas a privilegiados abriram-se para os brasileiros que se dispõem a disputar emprego nos quadros do Estado. Com a va-lorização da meritocracia, selecionam-se os mais aptos. Não basta ser bom. É importante ser melhor que os concorrentes.

Além de justa, a regra de acesso introduzida pela Lei Maior traz benefícios à administração. O país já teve uma das mais azeitadas máquinas públicas das nações emergentes. Ficava atrás só da Índia. Hoje, porém, peca por obe-sidade, lentidão e ineficiência. O brasileiro, que paga uma das mais extorsivas cargas tributárias do mundo, não recebe a contrapartida à altura. A burocra-cia sufoca, incapaz de dar resposta satisfatória às demandas da sociedade.

Vai, pois, enorme distância entre a teoria e a prática. Diante da exi-gência constitucional, buscaram-se jeitos de dar um jeito. Um deles são os cargos comissionados. Segundo o Ministério do Planejamento, o Po-der Executivo dispõe de 22 mil. São, na maior parte das vezes, postos-chave que deveriam ser preenchidos por pessoas altamente qualifica-das e conhecedoras do setor pelo qual vão responder.

Ocorre, porém, situação oposta. A preferência recai sobre afilhados de políticos indicados para ostentar o crachá de autoridade. Como iro-niza o dito popular, faz-se cumprimento com o chapéu alheio. Ou, em outra versão, dá-se esmola com o dinheiro do contribuinte. Mantém-se, assim, o privilégio que se tentou combater. Abrem-se brechas cujo fim é minar o preceito moralizador.

Em vez de buscar medidas para corrigir as muitas falhas existentes no processo de recrutamento, fica-se com os pés plantados no passa-do, sem os necessários e urgentes avanços. Impõe-se estreitar os limites de atuação dos que, em vez de servir, tiram proveito pessoal do Esta-do. Aprovar projeto de lei que tramita no Congresso é passo importan-te para punir os responsáveis pela farra paga com o dinheiro público.

O debate público que se tem nos últimos dias sobre o voto secreto é, na verdade, a reedição de antigas discus-sões. Está claro, mais uma vez, que a sociedade brasilei-ra não aceita a prática, uma vez que, na maioria dos ca-sos, o resultado das votações é conflitante com o desejo coletivo da nação. Não há, portanto, justificativa sufi-ciente para a permanência deste método no parlamento.

Recentemente, o Pleno do Conselho Federal da OAB Nacional aprovou, por una-

nimidade, seu apoio a duas importantes propos-tas legislativas que acabam com o sigilo no Par-lamento. A primeira é a PEC 196/2012, de autoria do Senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que altera o parágrafo segundo do art.55 da Constituição e dis-põe que a perda de mandato será decidida para os deputados federais pela Câmara dos Deputados e para os parlamentares pelo Senado Federal, por maioria absoluta e voto aberto, mediante provo-cação da respectiva mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa. A proposta já foi aprovada no Sena-do e atualmente está na Comissão Especial cria-da pela Comissão de Constituição de Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados.

A outra proposta que o Conselho manifesta apoio é a PEC 18/2013. Ela foi apresentada em abril deste ano, pelo senador Jarbas Vasconce-los (PMDB/PE), e dispõe que a Mesa da Casa Legislativa apenas irá declarar a perda auto-mática de mandato de parlamentares nas hi-póteses de improbidade administrativa ou de

A Rua de Nazaré, no trecho entre a Praça João Lisboa e a Rua da Palma/Praça Benedito Leite, foi outrora muito mo-vimentada, com próspero comércio. Ali estavam instaladas agências bancárias, como as do Nacional e do Rural, a Livra-ria ABC, a sede do Partidão, apelido carinhoso dado ao Par-tido Comunista Brasileiro. A Legião Brasileira de Assistência (LBA) tinha sua sede estadual naquele espaço. Até um super-mercado tinha um ponto de comercialização ali. Depois, ela foi interditada ao trânsito, e construído no lugar um calçadão. Bancos foram colocados para desfrute dos pedestres. Primei-ro, eles eram de concreto, como mostra a foto do dia 8 de maio de 1991. Em seguida, foram trocados por outros de madeira. Mas, hoje, falta ao local algo de tranquilo que fizesse as pes-soas pararem por ali. Há um triste aspecto de decadência.

condenação por crime contra a Administração Pública. Aprovada pelo Senado no dia 11 de se-tembro, a proposta foi remetida para a Câmara dos Deputados, onde aguarda nova votação.

A Constituição Federal, em seu art. 5º, garante o sigilo das votações, mas ela se refere tão somen-te ao eleitor. Mais adiante, no art. 14º, assegura a absoluta liberdade de quem vota, conferindo ao cidadão o livre exercício de seus direitos políticos.

No entanto, não há argumento capaz de suplan-tar a importância da transparência dos atos daqueles que carregam em seus cargos as aspirações da socie-dade. É, todavia, inerente ao nobre ofício da repre-sentação popular, manter às claras ações e opiniões.

O segredo, neste caso, é antirrepublicano, pois cria a dúvida onde deveria haver certeza. A so-ciedade tem o direito, e mais do que isso, dever de saber como se posiciona o seu eleito, e só as-sim poderá cobrá-lo de um ato não condizente às expectativas geradas na época da campanha. Do contrário, não terá, enfim, como julgar se o

seu representante é merecedor de um novo voto. A Carta Magna de 1988, afirma, ainda, que todo

o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, portanto, os representantes do povo devem tornar claro aos que representam, quais os seus atos e deliberações.

O instituto do voto secreto, adotado original-mente para preservar o parlamentar de pressões externas e possíveis represálias, não mais se justifica no Brasil atual. Hoje, são urgentes medidas que con-tribuam para a moralidade e a ética na vida pública. Dessa forma, fica claro que no regime republicano e no sistema democrático não há mais espaço para o segredo nos atos dos poderes de Estado.

Ao longo de sua história, inspirada nos prin-cípios constitucionais, éticos e morais do Estado Democrático de Direito, a OAB mantém como pers-pectiva basilar a defesa do interesse público e da justiça. Dessta forma, não poderia tomar outra po-sição senão a de defender a justa voz da sociedade, que clama por ética e transparência.