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XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITAS EM CRIANÇAS DE UMA COMUNIDADE CARENTE DO MUNICÍPIO DE GUARATINGUETÁ/SP. Ana Paula Pereira Rosa, Fabiana Conceição Abissi da Silva, Mariana Saraiva Porte Fernandes, Ana Maria Cuglianna. Faculdades Integradas Teresa D’Ávila/Enfermagem, Rua Papa João XXIII, 344, Guaratinguetá, [email protected] Faculdades Integradas Teresa D’Ávila/Enfermagem, Rua Papa João XXIII, 344, Guaratinguetá, [email protected] Faculdades Integradas Teresa D’Ávila/Enfermagem, Rua Papa João XXIII, 344, Guaratinguetá, [email protected] Faculdades Integradas Teresa D’Ávila/Biologia, Rua Papa João XXIII, 344, Guaratinguetá, [email protected] Resumo - As enteroparasitoses constituem um dos principais problemas de saúde pública, apresentando- se de forma endêmica em diversas áreas do Brasil. A maior população de risco são as crianças e, por esta razão, objetivou-se realizar um trabalho junto às crianças assistidas pela Pastoral da Criança de uma comunidade carente do município de Guaratinguetá/SP. De um total de 100 amostras fecais analisadas, 54,0% foram negativas e 46,0% foram positivas para um ou mais parasitas assim distribuídos: 60,9% (28) parasitados por Endolimax nana; 23,9% (11) por Giardia lamblia; 21,7% (10) por Entamoeba coli;6,5% (3) por Iodamoeba butschilii; 21,7% (10) por Trichuris trichiura; 17,4% (8) por Ascaris lumbricoides; 4,4% (2) por Enterobius vermicularis; 4,4% (2) por Strongyloides stercoralis; 2,2% (1) por Ancylostoma duodenale. As crianças com resultados positivos foram examinadas por um pediatra e tratadas. A continuidade desse trabalho epidemiológico pela comunidade cientifica é essencial para que haja conscientização da necessidade de programas de ação de controle de enteroparasitoses e para o desenvolvimento de estratégias que levem a erradicação das mesmas nesta comunidade. Palavras-chave: Parasitoses intestinais – Crianças – Estudo epidemiológico. Área do Conhecimento: Ciências da Saúde. Introdução As parasitoses intestinais acarretam um dos prejuízos à saúde mais comum do globo terrestre, sendo endêmicas em algumas regiões dos países de terceiro mundo, constituindo desta forma um grave problema de saúde pública. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). No Brasil, ressalta-se a redução da prevalência da infecção por enteroparasitas nos últimos trinta anos, mesmo assim, algumas regiões que são consideradas em desenvolvimento ainda mostram taxas de infecção próximas a trinta por cento quando se atende à ocorrência de pelo menos uma classe de enteroparasita. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). Inúmeros trabalhos têm evidenciado o alto grau de contaminação por enteroparasitas em pessoas da mais variadas idades, mas a criança continua sendo a mais atingida por esses patógenos, principalmente pelo fato de ainda não apresentarem noções de higiene formada, aumentando consideravelmente os riscos de infecção. Infelizmente é nessa faixa etária que as influências exercidas pela parasitose tornam-se mais acentuadas, estabelecendo uma causa importante de morbidade e mortalidade em todo o mundo (FERREIRA et al., 2006). Vários estudos têm mostrado que a educação continuada e a participação da população, principalmente as mais carentes, contribuem para a diminuição da prevalência das enteroparasitoses, mas para que isso ocorra, é preciso que se tenha completo conhecimento da realidade em que a população esta vivendo. (BARRETO, 2005). Em função da enorme área que abrange o território brasileiro, observa-se uma boa quantidade de locais não cobertos pelos agentes de saúde em conseqüência das dificuldades de acesso, pois várias partes habitadas localizam-se em regiões remotas, sem vias de acesso por meios fáceis, deixando as pessoas sem as devidas informações de prevenção das mais variadas doenças que estão expostos durante a vida, sendo assim, a enteroparasitose passa a ser dominante tendo em vista a deficiência na falta de informação, ajuda e suporte. (MACEDO, 2008). O objetivo deste estudo foi verificar a freqüência de infecções causadas por parasitas intestinais em lactentes e escolares moradoras de uma comunidade carente do município de Guaratinguetá/SP e assistidas pela Pastoral da Criança local. A escolha desta comunidade foi baseada no fato de apresentar características sócio-político-demográficas (Figura 1) que num aspecto geral dispõem de fatores epidemiológicos que podem contribuir para uma alta prevalência de enteroparasitas, tratando-se de uma região precária em termos de saneamento básico, com ausência de asfalto, rede sanitária de esgoto e

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XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba

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PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITAS EM CRIANÇAS DE UMA C OMUNIDADE

CARENTE DO MUNICÍPIO DE GUARATINGUETÁ/SP. Ana Paula Pereira Rosa, Fabiana Conceição Abissi da Silva, Mariana Saraiva Porte

Fernandes, Ana Maria Cuglianna.

Faculdades Integradas Teresa D’Ávila/Enfermagem, Rua Papa João XXIII, 344, Guaratinguetá, [email protected]

Faculdades Integradas Teresa D’Ávila/Enfermagem, Rua Papa João XXIII, 344, Guaratinguetá, [email protected] Faculdades Integradas Teresa D’Ávila/Enfermagem, Rua Papa João XXIII, 344, Guaratinguetá, [email protected]

Faculdades Integradas Teresa D’Ávila/Biologia, Rua Papa João XXIII, 344, Guaratinguetá, [email protected] Resumo - As enteroparasitoses constituem um dos principais problemas de saúde pública, apresentando-se de forma endêmica em diversas áreas do Brasil. A maior população de risco são as crianças e, por esta razão, objetivou-se realizar um trabalho junto às crianças assistidas pela Pastoral da Criança de uma comunidade carente do município de Guaratinguetá/SP. De um total de 100 amostras fecais analisadas, 54,0% foram negativas e 46,0% foram positivas para um ou mais parasitas assim distribuídos: 60,9% (28) parasitados por Endolimax nana; 23,9% (11) por Giardia lamblia; 21,7% (10) por Entamoeba coli;6,5% (3) por Iodamoeba butschilii; 21,7% (10) por Trichuris trichiura; 17,4% (8) por Ascaris lumbricoides; 4,4% (2) por Enterobius vermicularis; 4,4% (2) por Strongyloides stercoralis; 2,2% (1) por Ancylostoma duodenale. As crianças com resultados positivos foram examinadas por um pediatra e tratadas. A continuidade desse trabalho epidemiológico pela comunidade cientifica é essencial para que haja conscientização da necessidade de programas de ação de controle de enteroparasitoses e para o desenvolvimento de estratégias que levem a erradicação das mesmas nesta comunidade. Palavras-chave: Parasitoses intestinais – Crianças – Estudo epidemiológico. Área do Conhecimento: Ciências da Saúde. Introdução

As parasitoses intestinais acarretam um dos prejuízos à saúde mais comum do globo terrestre, sendo endêmicas em algumas regiões dos países de terceiro mundo, constituindo desta forma um grave problema de saúde pública. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). No Brasil, ressalta-se a redução da prevalência da infecção por enteroparasitas nos últimos trinta anos, mesmo assim, algumas regiões que são consideradas em desenvolvimento ainda mostram taxas de infecção próximas a trinta por cento quando se atende à ocorrência de pelo menos uma classe de enteroparasita. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005).

Inúmeros trabalhos têm evidenciado o alto grau de contaminação por enteroparasitas em pessoas da mais variadas idades, mas a criança continua sendo a mais atingida por esses patógenos, principalmente pelo fato de ainda não apresentarem noções de higiene formada, aumentando consideravelmente os riscos de infecção. Infelizmente é nessa faixa etária que as influências exercidas pela parasitose tornam-se mais acentuadas, estabelecendo uma causa importante de morbidade e mortalidade em todo o mundo (FERREIRA et al., 2006). Vários estudos têm mostrado que a educação continuada e a participação da população, principalmente as mais carentes, contribuem para a diminuição da

prevalência das enteroparasitoses, mas para que isso ocorra, é preciso que se tenha completo conhecimento da realidade em que a população esta vivendo. (BARRETO, 2005).

Em função da enorme área que abrange o território brasileiro, observa-se uma boa quantidade de locais não cobertos pelos agentes de saúde em conseqüência das dificuldades de acesso, pois várias partes habitadas localizam-se em regiões remotas, sem vias de acesso por meios fáceis, deixando as pessoas sem as devidas informações de prevenção das mais variadas doenças que estão expostos durante a vida, sendo assim, a enteroparasitose passa a ser dominante tendo em vista a deficiência na falta de informação, ajuda e suporte. (MACEDO, 2008).

O objetivo deste estudo foi verificar a freqüência de infecções causadas por parasitas intestinais em lactentes e escolares moradoras de uma comunidade carente do município de Guaratinguetá/SP e assistidas pela Pastoral da Criança local. A escolha desta comunidade foi baseada no fato de apresentar características sócio-político-demográficas (Figura 1) que num aspecto geral dispõem de fatores epidemiológicos que podem contribuir para uma alta prevalência de enteroparasitas, tratando-se de uma região precária em termos de saneamento básico, com ausência de asfalto, rede sanitária de esgoto e

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que visivelmente tem como moradores indivíduos de baixa renda.

Figura 1 – Condições de moradia de uma comunidade carente de um município do Vale do Paraíba/SP.

Material e Métodos

Para desenvolver este estudo, tomou-se como amostragem 128 crianças, de ambos os sexos, entre lactentes e escolares, assistidas pela Pastoral da Criança de uma comunidade carente do município de Guaratinguetá – SP. Trata-se de um estudo quantitativo analítico-descritivo analisado estatisticamente por porcentagem simples cujas tabelas e gráficos foram confeccionadas pelo programa Excel. Foram realizadas no total 121 visitas domiciliárias, sendo que destas, 69 foram para a entrega dos potes coletores, recolhimento das assinaturas dos termos de consentimento livre e esclarecido e aplicação do questionário para o estudo epidemiológico e, 52 com o pediatra para tratar os casos positivos para enteroparasitas no período de mai/08 a fev/09.

As amostras fecais, sendo uma única amostra por criança estudada, eram identificadas conforme a ordem de obtenção das mesmas e recolhidas semanalmente, num montante de dez, e encaminhadas ao Laboratório de Médico Vital Brasil (Fundado há 50 anos, possui certificação ISO 9001/2000 e tem matriz em Guaratinguetá/SP) que se propôs a analisar as amostras fecais gratuitamente. Essas amostras foram analisadas utilizando o método de sedimentação espontânea (Hoffmann, Pons e Janer – HPJ) (HOFFMANN et al, 1934), devido à sua boa abrangência a um grande número de helmintos e protozoários.

Os laudos com os respectivos resultados eram recolhidos semanalmente no laboratório e encaminhados ao pediatra Dr. Daniel Portes Fernandes que através de visitas domiciliárias atendeu aos casos positivos, com suas devidas terapêuticas e disponibilização de medicamentos. Resultados

Para a análise deste estudo foram entregues em visitas domiciliárias 128 potes coletores universais e aplicados 69 questionários. O percentual de retorno do material coproparasitológico foi de 78,13%, ou seja, foram analisadas 100 amostras fecais, sendo que 43,0% pertenciam ao sexo masculino e 57,0% ao sexo feminino. Do total de amostras analisadas, 54,0% deram negativas para enteroparasitas e 46,0% foram positivas e destas, 48,9% estavam infectadas por um único parasita e 51,1% por mais de um organismo parasitário. Das 46 amostras positivas, obteve-se um percentual de 60,87% (n=28) e 39,13% (n=18) referentes ao sexo feminino e masculino respectivamente (Gráfico 1).

0

5

10

15

20

MENINAS MENINOS

18

10

8

3

9

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21

01

2

6

0

2

0

2

5

0

E n E c G l i b A d A l E v S s T t

Legenda: En – Endolimax nana; Ec – Entamoeba coli; Gi – Giardia lamblia; Ib – Iodamoeba butschilii; Ad – Ancylostoma duodenale; Al – Ascaris lumbricoides; Ev – Enterobius vermicularis; Ss - Strongyloides stercoralis; Tt - Trichuris trichiura. Gráfico 1 – Distribuição da prevalência de enteroparasitas por espécie observados em função do sexo, ao exame de fezes de 100 crianças de uma comunidade carente do município de Guaratinguetá/SP.

Dentre os parasitas observados, o protozoário mais prevalente foi a Endolimax nana com um percentual de 60,9% (n=28), um parasita intestinal considerado por alguns autores não patogênico, embora haja vista que outros autores acreditam haver necessidade de maiores estudos para comprovarem melhor sua possível patogenicidade. Dos protozoários patogênicos a Giardia lamblia foi a mais observada com 23,9% (n=11), seguida da Entamoeba coli com 21,7% e da Iodamoeba butschilii com 6,5% (n=3).

Dentre os helmintos, Trichuris trichiura foi o mais observado com um percentual de 21,7% (n=10), seguido pelo Ascaris lumbricoides com 17,4% (n=8), Enterobius vermicularis com 4,4%

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(n=2), Strongyloides stercoralis com 4,4% (n=2) e Ancylostoma duodenale com 2,2% (n=1).

O maior número de parasitos diferentes encontrados em uma mesma amostra foi de quatro (Enterobius vermicularis + Entamoeba coli + Endolimax nana + Iodamoeba butschilii) com um percentual de 2,17%, fato este que ocorreu em uma criança do sexo masculino de dez anos. A associação mais comum encontrada foi Ascaris lumbricoides+Trichuris trichiura+Giardia lamblia com 10,86% (n=5) do total de associações, seguida de Entamoeba coli+Endolimax nana com 8,68% (n=4), visualizados na Tabela 1.

Tabela 1 - Distribuição dos enteroparasitas por espécie e suas associações observado em função do sexo, ao exame de fezes de 100 crianças de uma comunidade carente do município de Guaratinguetá/SP.

ASSOCIAÇÕES

MENINAS

(n=28)

MENINOS

(n=18)

%

(n=46)

H + H Ad + Al + Tt Al + Ss

1 1

2,17 2,17

H + P Al + Ss+ En Al + Tt + Gl

Ev + En Ev + Ec + En + Ib

Ss + En Tt + Ec + En

Tt + En Tt + Gl

2 1 1 2

1 3 1 1

1

2,17 10,8

6 2,17 2,17 2,17 2,17 2,17 4,34

P + P Ec + En Ec + En + Ib

En + Gl En + Ib

3 1 1 1

1

1

8,68 2,17 4,34 2,17

Legenda: En – Endolimax nana; Ec – Entamoeba coli; Gi – Giardia lamblia; Ib – Iodamoeba butschilii; Ad – Ancylostoma duodenale; Al – Ascaris lumbricoides; Ev – Enterobius vermicularis; Ss - Strongyloides stercoralis; Tt - Trichuris trichiura.

Discussão

Os percentuais de positividade encontrado neste estudo vão contra aos encontrados no estudo realizado por MACEDO et al. (2008) em pré-escolares de uma escola pública da região centro-sul de Manaus – AM, onde o percentual de amostras positivas foi de 52,12% (n=49), sendo 55,1% (n=27) do sexo masculino e 44,9% (n=22) do sexo feminino, de um total de 94 amostras analisadas e, ao fato de que, esta diferença pode estar associada aos padrões comportamentais dos grupos estudados, já que os meninos têm maior contato com o solo e a água, ficando mais suscetíveis aos meios de transmissão.

O alto percentual de parasitos intestinais observado foi obtido, utilizando uma única amostra fecal e é relevante se comparado com os 17,91%

de positividade obtidos no estudo de KOMAGOME et al. (2007) em creches urbanas do município de Campinas – SP utilizando três amostras fecais e analisados por mais de um método diagnóstico de rastreamento. Estes dados também podem ser indicadores de que além da possibilidade de existir um número muito maior de crianças parasitadas, outros membros da família das crianças pesquisadas também podem estar positivos. Isto é indicativo da necessidade de sensibilizar a população desta comunidade frente à necessidade do diagnóstico e da importância do tratamento e acompanhamento dos casos positivos.

Ao analisarmos a correlação entre as faixas etárias e a distribuição percentual dos principais agentes encontrados, observamos que as crianças com idade entre 9 e 12 anos tiveram uma maior prevalência de enteroparasitas, ou seja, 39,13% (n=18). Isto demonstra que, independente do fato da imunidade relativa ao inoculo mínimo para algumas infecções parasitárias aumentar com a idade, principalmente após cinco anos de idade, nesta população estudada a exposição a fatores de risco externos sobrepõe os fatores de proteção orgânicos e contribuem para a alta prevalência de parasitas intestinais nesta faixa etária. Fato este confirmado pelo estudo de MARQUEZ et al. (2002) em crianças de um bairro de baixa renda de Londrina – PR onde o percentual positivo foi de 72% para esta faixa etária e, pelo estudo de ROCHA et al. (2004) em crianças e adolescentes usuários de Unidades de Saúde de dois bairros da periferia da cidade de Natal – RN, onde o percentual positivo para a faixa etária de 7 a 14 anos foi de 64,9% em um dos bairros analisados e 36,7% no outro bairro.

Ressalta-se que o percentual encontrado dos protozoários, no presente estudo, foi superior ao observado por SILVA et al. (2004) que teve como percentual de prevalência 39,4% para Endolimax nana, 33,8% para Entamoeba coli, 14,1% para Giardia lamblia e 2,8% para Iodamoeba butschilii. Com relação aos helmintos, os achados são contrários aos mencionados por MACEDO et al. (2008) em Manaus – AM onde o percentual encontrado foi de 20,4% para Ascaris lumbricoides e 10,2% para Trichuris trichiura e os resultados de CARVALHO et al. (2002) onde a maior prevalência foi de Ascaris lumbricoides com 10,3% seguida de Trichuris trichiura com 4,7%, Ancylostomídeos com 2,9% e Enterobius vermicularis com 1,2%. Apesar deste fato, constata-se que Ascaris lumbricoides e Trichuris trichiura são os parasitas intestinais mais freqüentes na infância, corroborando com outros estudos. (LUDWIG et al., 1999; TAVARES-DIAS; GRANDINI, 1999; SALES et al., 2004; UCHÔA et al., 2004).

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A maior prevalência de protozoários intestinais com um percentual de 69,33% (n=52) em relação ao de helmintos comum percentual de 30,67 (n=23) se dá provavelmente pelo fato de que 100% das residências dessa comunidade não têm rede de esgoto encanada, têm fossa séptica como única forma de rede de esgoto sendo que, os dejetos são liberados nas proximidades do domicílio. Houve semelhança com os resultados encontrados por GILIO et al. (2006) em índios da reserva indígena Rio das Cobras do município de Nova Laranjeiras – PR, onde o percentual foi de 51,5% para protozoários e 48,5% para helmintos e os resultados encontrados no estudo de MACEDO et al. (2005) em escolas da rede municipal de ensino de Paracatu – MG, onde o percentual foi de 54,2% para protozoários e 45,8% para helmintos.

Dentre os helmintos, a grande maioria das infestações se dá por aqueles organismos cuja contaminação é pela ingestão de ovos (Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiura, Enterobius vermicularis), quando comparado com os parasitos, cuja infectividade ocorre por penetração pela pele como Ancylostoma duodenale e Strongyloides stercoralis. Apesar do percentual de (4,4%) para Enterobius vermicularis ser baixo, torna-se preocupante, devido ao fato de detratar de um resultado falso negativo, pois o melhor método para análise é o da fita adesiva (transparente) ou método de Graham segundo DE CARLI (1994).

O percentual também baixo para Ancylostoma duodenale (4,4%) preocupa, pois o mesmo também aparece em uma criança do sexo masculino associado com Ascaris lumbricoides e Trichuris trichiura. Segundo ROCHA et al (2004), as enteroparasitoses mais comumente associadas com anemia são a ancilostomose, a esquistossomose, a tricuríase, a ascaridíase, dentre outras conjuntamente com uma dieta inadequada ou deficiente de ferro. Pode-se associar a este fato que em 30% das famílias estudadas, um ou mais indivíduos, tiveram diagnóstico médico de anemia. O percentual também baixo para Strongyloides stercoralis (4,4%) é relevante, pois o mesmo, também aparece associado a outros parasitas intestinais (Ascaris lumbricoides e Endolimax nana). Segundo NEVES (2000), a estrongiloidose sob a forma disseminada é uma doença oportunista que pode se tornar fatal em indivíduos com imunodepressão e, com bastante freqüência só é diagnosticada post mortem. Daí a necessidade de se estar alerta ao diagnóstico e terapêutica precoces. Este encontro pode estar relacionado ao fato de que a maioria das famílias estudadas possui casas sem assoalho (Foto 4), as crianças andam descalças e não possuem hábitos corretos de higiene e alimentação (Foto 5). A esses fatores

soma-se o número elevado de indivíduos por família, presença de um único banheiro, uso de dormitório coletivo, elevada quantidade de animais domésticos no domicílio (Foto 6) e coleta de lixo realizada três vezes por semana como observado em outros estudos (COSTA-CRUZ et al., 1991; DE CARLI et al., 1997; ALVES et al., 1998; DIAS; GRANDINI, 1999; GIRALDI et al., 2001; MARQUEZ et al., 2002).

Mais de 50% das famílias estudadas

relataram já ter tido algum tipo destas espécies de parasitas, embora afirmem que não fazem uso de vermífugos e durante a entrevista percebeu-se que desconheciam mecanismos de transmissão, sinais e sintomas e prevenção às enteroparasitoses. Alia-se a este fato que 93% das famílias alegam já terem estado com diagnóstico médico de virose, patologia esta que possui algumas manifestações semelhantes às das infecções causadas por enteroparasitas. Outro fator relevante é o de que esta comunidade não possui nenhuma forma de atenção básica à saúde, sendo que a UBS mais próxima fica a 10 km de distância e de acordo com 78% das famílias não possuem facilidade de acesso a meios de transporte seja pelo déficit de horários de condução, seja pela falta de recursos em pagar pelo mesmo. De certa forma, a população desta comunidade fica isolada de um mínimo necessário à saúde, não podendo participar de programas do Ministério da Saúde como Viva Leite dentre outros contando apenas com o apoio das agentes da Pastoral da Criança.

Conclusão

Em países subdesenvolvidos, a falta de abastecimento e saneamento básico associados à pobreza e nutrição inadequada, têm sido um dos principais fatores responsáveis pelos elevados índices de morbidade e mortalidade infantil. As enteroparasitoses têm maior prevalência nas classes salariais mais baixas e com menor nível escolar. A prevenção dos agravos à saúde depende, portanto, de se avaliar não apenas o perfil epidemiológico, mas também os conhecimentos sobre a vida, cultura, práticas e atitudes da comunidade. Nosso estudo, não apenas corrobora com este fato, mas também mostra que os percentuais de positividade das amostras fecais para enteroparasitas condizem com outros trabalhos publicados na literatura que estudaram populações semelhantes.

A educação é comprovadamente uma medida profilática efetiva e tem sido citada em diversas literaturas (LUDWIG, 1999; PUPULIN et al., 2001; UCHÔA et al., 2001; GUILHERME et al., 2004; RODRIGUES, 2005; PEZZI, 2007).

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Implementação de medidas de saneamento básico e programas assistenciais são fundamentais para a redução da prevalência de enteroparasitas, mas este resultado será eficaz somente se houver também mudanças comportamentais e, estas, se adquirem apenas por meio de educação. A associação destas medidas na comunidade estudada possibilitaria uma melhoria da condição de vida das crianças, bem como da população como um todo, reduzindo o agravamento da desnutrição, melhorando o aprendizado e o desenvolvimento das crianças.

Almejamos que a incidência das enteroparasitoses encontradas na população estudada arrefeça progressivamente com as medidas sugeridas. Este estudo apresenta um viés, na medida em que foi realizado somente em crianças assistidas pela Pastoral da Criança local, no entanto, a continuidade desse trabalho epidemiológico pela comunidade cientifica é essencial para que haja conscientização da necessidade de programas de ação de controle de enteroparasitoses e para o desenvolvimento de estratégias que levem a erradicação das mesmas nesta comunidade.

Agradecimentos

Ao Laboratório Médico Vital Brasil por acreditar em nosso trabalho e pelo patrocínio das análises das amostras coproparasitológicas.

Ao pediatra Dr. Daniel Saraiva Porte Fernandes pelo desprendimento e atendimento às crianças.

Á Pastoral da Criança da Comunidade de Na. Sra. das Graças do município de Guaratinguetá / SP pelo apoio a realização deste trabalho.

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XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba

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