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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DR. HEITOR VIEIRA DOURADO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECIOSAS PREVALÊNCIA DE MICOBACTERIAS NÃO TUBERCULOSAS EM PACIENTES SUSPEITOS DE TUBERCULOSE EM UMA UNIDADE DE REFERÊNCIA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA ANA CAROLINA DE OLIVEIRA DE LIMA MANAUS 2017

PREVALÊNCIA DE MICOBACTERIAS NÃO TUBERCULOSAS EM … · PREVALÊNCIA DE MICOBACTERIAS NÃO TUBERCULOSAS EM PACIENTES SUSPEITOS DE TUBERCULOSE EM UMA UNIDADE DE REFERÊNCIA NA AMAZÔNIA

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    UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS

    FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DR. HEITOR VIEIRA DOURADO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL

    MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECIOSAS

    PREVALÊNCIA DE MICOBACTERIAS NÃO TUBERCULOSAS EM PACIENTES SUSPEITOS DE TUBERCULOSE EM UMA UNIDADE DE

    REFERÊNCIA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

    ANA CAROLINA DE OLIVEIRA DE LIMA

    MANAUS 2017

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    ANA CAROLINA DE OLIVEIRA DE LIMA

    PREVALÊNCIA DE MICOBACTERIAS NÃO TUBERCULOSAS EM PACIENTES

    SUSPEITOS DE TUBERCULOSE EM UMA UNIDADE DE REFERÊNCIA NA

    AMAZÔNIA BRASILEIRA

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em Convênio com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, para obtenção grau de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas.

    Orientador: Profº Drº Marcelo Cordeiro dos Santos

    Co-orientador (a): Profª Dra. Maria Lucia Rosa Rossetti

    MANAUS

    2017

  • Ficha catalográfica

    D278p de Lima, Ana Carolina de Oliveira Prevalência de Micobactérias não tuberculosas em pacientes suspeitos de Tuberculose em uma Unidade de Referência na Amazônia Brasileira: Prevalência de Micobactérias não tuberculosas em pacientes suspeitos de Tuberculose em uma Unidade de Referência na Amazônia Brasileira / Ana Carolina de Oliveira de Lima. Manaus: [s.n], 2017. 114 f.: il.; 297 cm. Dissertação - PGSS - Doenças Tropicais e Infecciosas (Mestrado) - Universidade do Estado do Amazonas, Manaus, 2017. Inclui bibliografia Orientador: Marcelo Cordeiro dos Santos Coorientador: Maria Lúcia Rosa Rossetti 1. Prevalência. 2. Micobacterias não tuberculosas.

    1. 3. Técnicas moleculares. 4. HIV/AIDS. 5. Região Norte. I. Marcelo Cordeiro dos Santos (Orient.). II. Maria Lúcia Rosa Rossetti (Coorient.). III. Universidade do Estado do Amazonas. IV. Prevalência de Micobactérias não tuberculosas em pacientes suspeitos de Tuberculose em uma Unidade de Referência na Amazônia Brasileira

    Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a)

    autor(a). Sistema Integrado de Bibliotecas da Universidade do Estado do Amazonas.

  • ii

    FOLHA DE JULGAMENTO

    PREVALÊNCIA DE MICOBACTERIAS NÃO TUBERCULOSAS EM

    PACIENTES SUSPEITOS DE TUBERCULOSE EM UMA UNIDADE DE

    REFERÊNCIA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

    ANA CAROLINA DE OLIVEIRA DE LIMA

    “Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Doenças

    Tropicais e Infecciosas, aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em

    Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de

    Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado”.

    Banca Julgadora:

    ______________________________________ Presidente

    ______________________________________ Membro

    ______________________________________ Membro

  • DEDICATÓRIA

    Dedico este trabalho aos meus familiares e amigos que me apoiaram nos momentos difíceis, ao meu pai Miquéias Oliveira de Lima e irmãos Marcos e Miquéias Júnior, com todo meu amor e gratidão pela força e incentivo, por tudo que fizeram por mim nessa trajetória. Em memória de Anira de Lima, mãe e amiga, dedico este trabalho fruto de um sonho nosso e com imensa saudade, por todo exemplo de superação e amor que me foi passado.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeço a Deus pela força e sabedoria concedida para que eu pudesse alcançar essa

    conquista.

    À minha família por terem sido alicerce inabalável na trajetória até aqui. À querida Ms. Rossicléia Lins Monte pelo carinho e pelas instruções dadas para o

    desenvolvimento deste trabalho. Ao professor Drº Marcelo Cordeiro dos Santos, meu orientador, pelos ensinamentos e pela

    oportunidade de crescimento profissional. À professora Drª Maria Lúcia Rossetti, minha co-orientadora, que me possibilitou

    aprendizagens únicas, sempre me incentivando. Muito obrigada pela confiança e por acreditar em meu potencial.

    Ao professor Drº Afrânio Kritski, pela contribuição na construção deste trabalho, incentivo

    e ensinamentos incansáveis À equipe do laboratório do Centro de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CDCT da

    Fundação de Produção e Pesquisa em Saúde – FEPPS, pelo apoio e ensinamentos oferecidos.

    À equipe do laboratório da Gerência de Bacteriologia pelos anos que me acolheram me

    disponinilizando conhecimento e maturidade profissional o que me fez chegar até aqui. À equipe do laboratório da Gerência de Tuberculose e Virologia pelo apoio no

    desenvimento das técnicas laboratoriais necessárias nesse trabalho. A todos os professores Universidade do Estado do Amazonas/Programa de Pós-

    graduação em Medicina Tropical, por todo aprendizado e atenção dispensado no repasse dos conhecimentos durante as aulas.

    À Fundação de Amparo à pesquisa do Amazonas (FAPEAM) pelo apoio e bolsa de estudo. Aos membros da secretaria acadêmica da Pós-graduação em Medicina Tropical e a todos

    os funcionários da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, pelo incentivo e cordialidade.

    Aos colegas da turma de Mestrado ano 2015, por todos os momentos maravilhosos juntos,

    pela sincera amizade durante esta jornada e por todo apoio, em especial às colegas Cynthia Pessoa e Maria Francisca Rodrigues. Muito obrigada!

  • DECLARAÇÃO DAS AGÊNCIAS FINANCIADORAS

    O auxílio de passagens aéreas para a participação em treinamentos e capacitações

    necessários para realização das técnicas moleculares foram financiados Universidade

    do Estado do Amazonas (UEA). Os recursos laboratoriais e materiais de consumo

    para execução dos procedimentos foram disponibilizados pelo Centro de

    Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CDCT) da Fundação Estadual de

    Produção e Pesquisa em Saúde (FEEPS) e pela empresa bioMérieux Brasil. O projeto

    foi apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM)

    por meio de bolsa de estudo, durante os 24 meses de execução do projeto.

  • [...] Não importa o quão estreito seja o portão e quão repleta de castigos seja a sentença, eu sou o dono do

    meu destino, eu sou o capitão da minha alma [...]

    Invictus.

  • RESUMO

    Em países industrializados, com a queda da incidência de tuberculose (TB) ocorreu um aumento esporádico dos casos de infecções por micobactérias não tuberculosas (MNT). O uso de métodos de detecção laboratorial de MNT baseado em testes moleculares tem sido valorizado, pois a ausência de diagnóstico adequado em pacientes suspeitos de infecção por micobactérias pode levar ao tratamento inadequado, promover resistência medicamentosa, falência terapêutica e o óbito. Em países de alta carga de TB, são escassos os dados sobre a prevalência dos casos de infecção por MNT em pacientes suspeitos de TB com HIV/AIDS, como na região Norte do Brasil. Estima-se uma subnotificação dos casos por se tratar de uma doença sem notificação obrigatória. O objetivo desse estudo foi descrever os casos de MNT em pacientes suspeitos de TB atendidos na Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), referência para HIV/Aids, no período de 2011 a 2014. Dos pacientes atendidos, 758 tiveram amostras clínicas positivas para micobactérias, destes 153 (20,2%) foram positivas para MNT. A maioria dos pacientes era do sexo masculino (66%), infectados por HIV (77%) em uso de terapia antiretroviral (26,7%), com mediana de CD4 de 244 cels/mm3. Entre essas amostras foi possível recuperar da criogenia 56 (36,6%) isolados para identificação molecular da espécie. A identificação da espécie de MNT foi obtida pelos testes GenoType® Mycobacterium CM/AS, PRA hsp65 (PRA) e sequenciamento respectivamente em 50 (89,3%), 37 (66%) e em 43 (76,8%) das amostras analisadas. A concordância entre a técnica PRA e o GenoType foi de 81%, entre o GenoType e o sequenciamento de 76% e entre o PRA e o sequenciamento de 74%. As espécies identificadas em maior frequência foram: Mycobacterium gordonae em 17 (30,4%), M. fortuitum em 11 (19,6%), M. avium/intracellulare em 10 (17,9%), M. abscessus em 6 (10,7%) M. kansasii em 3 (5,3%). Entre os 56 pacientes com MNT, 13 (23,2%) receberam tratamento inapropriado para TB e foram notificados no SINAN. Óbito foi identificado em 5 (9%) pacientes. Com base nesses achados, observou-se: a) uma elevada prevalência de MNT de importância clínica acometendo em sua maioria pacientes soropositivos; b) que cerca de 25% dos pacientes com MNT foram tratados como TB, e c) o kit comercial Genotype® Mycobacterium CM/AS detectou a espécie de MNT em 89% das amostras. Torna-se urgente a implementação de técnicas moleculares para diagnóstico de MNT em pacientes suspeitos de TB atendidos em referência para HIV. Palavras-Chaves: Prevalência, micobacterias não tuberculosas, tuberculose, técnicas moleculares, Região Norte, HIV/AIDS.

  • ABSTRACT

    In industrialized countries, with the decline in the incidence of tuberculosis (TB), there has been an increase in cases of non-tuberculous mycobacterial (NTM) infections. The use of laboratory-based methods of NTM based on molecular tests has been valued, since the absence of adequate diagnosis in patients suspected of mycobacterial infection can lead to inadequate treatment, promote drug resistance, failure of therapy and death. In countries with high TB burden, data on the prevalence of NTM infection in HIV / AIDS TB patients are scarce, as in the Northern region of Brazil. It is estimated that underreporting of cases is a non-notifiable disease. The objective of this study was to describe cases of NTM in patients suspected of TB treated at the Heitor Vieira Dourado Tropical Medicine Foundation (FMT-HVD), a reference for HIV / AIDS, from 2011 to 2014. Of the patients treated, 758 clinical samples positive for mycobacteria, of these 153 (20.2%) were MNT positive. The majority of patients were male (66%), HIV infected (77%) receiving antiretroviral therapy (26.7%), with a median CD4 count of 244 cells / mm3. Among these samples it was possible to recover from the cryogenic 56 (36.6%) isolates for molecular identification of the species. The identification of MNT species was obtained by GenoType® Mycobacterium CM / AS, PRA hsp65 (PRA) and sequencing, respectively, in 50 (89.3%), 37 (66%) and 43 (76.8%) samples analyzed. Agreement between the PRA technique and the GenoType was 81%, between the GenoType and the 76% sequencing and between the PRA and the 74% sequencing. The species most frequently identified were: Mycobacterium gordonae in 17 (30.4%), M. fortuitum in 11 (19.6%), M. avium / intracellulare in 10 (17.9%), M. abscessus in 6 (10.7%) M. kansasii in 3 (5.3%). Among the 56 patients with NTM, 13 (23.2%) received inappropriate treatment for TB and were notified at SINAN. Death was identified in 5 (9%) patients. Based on these findings, we observed: a) a high prevalence of NTM of clinical importance, most of them being seropositive; b) that about 25% of the NTM patients were treated as TB, and c) the Genotype® Mycobacterium CM / AS commercial kit detected the MNT species in 89% of the samples. It is urgent to implement molecular techniques for the diagnosis of NTM in patients suspected of TB seen in reference to HIV.

    Keywords: Prevalence, non-tuberculous mycobacteria, tuberculosis, molecular techniques, Northern Region, HIV / AIDS

  • RESUMO LEIGO

    Em alguns países muitas pessoas adoeceram por micobactérias não tuberculosas (MNT), aquelas que não causam a tuberculose (TB), mas os sintomas e o exame são parecidos. Para saber mais rápido se a pessoa está realmente doente por elas verifica-se o DNA dessa bactéria, mas a falta desse tipo de exame por ser caro e ainda não disponível a todos pode levar ao tratamento errado (remédio para o tratamento da tuberculose), a pessoa não curar e até mesmo à morte. Nos lugares onde há muita gente doente com tuberculose, são poucas as informações sobre as pessoas doentes por MNT, acredita-se que pela falta de notificação desses casos como na região Norte do Brasil. O objetivo desse estudo foi descrever os casos de MNT em pacientes suspeitos de TB atendidos na Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), referência para HIV/Aids, no período de 2011 a 2014. Foram analisadas 758 amostras positivas para micobactérias, destes 153 (20,2%) foram positivas para MNT. A maioria dos pacientes era do sexo masculino (66%), infectados por HIV (77%), estavam em tratamento para o HIV (26,7%). Desses casos foi possível recuperar do congelamento, 56 (36,6%) amostras para análise. A identificação da espécie de MNT foi através da análise do DNA. As espécies identificadas em maior frequência foram: Mycobacterium gordonae em 17 (30,4%), M. fortuitum em 11 (19,6%), M. avium/intracellulare em 10 (17,9%), M. abscessus em 6 (10,7%) M. kansasii em 3 (5,3%). Entre os 56 pacientes com MNT, 13 (23,2%) receberam tratamento errado e foram notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) como doentes com tuberculose, 5 (9%) desses pacientes morreram. Torna-se urgente a implementação de técnicas moleculares para diagnóstico de MNT em pacientes suspeitos de TB atendidos em referência para HIV. Palavras-Chaves: Prevalência, micobacterias não tuberculosas, tuberculose, técnicas moleculares, Região Norte, HIV/AIDS.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Baciloscopia – Bacilos em esfregaço de amostra de escarro corado por técnica Ziehl-Neelsen ...................................................................................................................16

    Figura 2. Esfregaços de cultura de micobactérias ...........................................................33

    Figura 3. Colônias cepas MNT positivas fotocromógenas, acromógenas e escotocromógenas ...........................................................................................................34

    Fluxograma 1. Informações de positividade em cultura e identificação laboratorial por método convencional (teste fenotípico e bioquímico) no período de 2011 a 2014............58 Fluxograma 2. Etapas do procedimento laboratorial .........................................................59 Gráfico 1 Distribuição dos casos de HIV em pacientes suspeitos de TB com amostra positiva para MNT..............................................................................................................59

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Distribuição de isolados respiratórios de micobactérias não tuberculosas (NTM)..............25

    Tabela 2. Definição de caso de infecção por MNT ...............................................................30

    Tabela 3. Diagnóstico de doença pulmonar por MNT ..........................................................32

    Tabela 4. Classificação das MNT segundo o sistema de Runyon .......................................35

    Tabela 5. Informações sobre os resultados de baciloscopia, Xpert MTB/RIF e testes moleculares de identificação de espécie realizados .............................................................60

    Tabela 6. Análise de Kappa entre as técnicas moleculares .................................................60

    Tabela 7. Distribuição das espécies de MNT identificadas e sorologia para HIV.................61

    Dados complementares

    Tabela 1 Características basais dos indivíduos com isolados positivos para MNT .............62 Tabela 2 Informação sobre tratamento anti-TB e MNT ........................................................62

  • LISTA DE ABREVIATURAS, SÍMBOLOS E UNIDADES DE MEDIDA

    AIDS – Síndrome da imunodeficiência humana adquirida

    ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária

    BCG - Bacillus Calmette-Guérin

    BAAR – Bacilo álcool-ácido resistente CTAB – Brometo de cetrimônio DPOC - Doença pulmonar crônica DNA - Ácido desoxirribonucleico EUA - Estados Unidos

    HIV - Vírus da imunodeficiência humana

    LJ - Lowenstein Jensen LACEN - Laboratório Central de Saúde Pública

    MgCl2 – Cloreto de magnésio

    MNT - Micobactérias não causadoras de tuberculose

    M.tb - Mycobacterium tuberculosis MCR -Micobactérias de crescimento rápido MCL - Micobactérias crescimento lento

    OMS - Organização Mundial de Saúde

    PPD - Prova tuberculínica

    PCR – Reação da cadeia da polimerase PRA-hsp65 – Análise de restrição da reação em cadeia da polimerase do gene hsp65 PCT - Programa de Controle da Tuberculose PNB - Ácidop-nitrobenzóico PAS - Ácido p-aminosalicílico RFLP - Restriction Fragment Length Polymorphism RIF - Rifampicina

    SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação

    SVS - Secretaria de Vigilância em Saúde

    TB – Tuberculose

    TB/HIV – Coinfecção TB/HIV

    TB-XDR - Tuberculose extensivamente resistente

    ZN - Ziehl-Neelsen

    μm - Micrometro

    mol – Molaridade/mole

    mm³ - Milímetro cúbico

    mL - Microlitro

    pmol - Picomol

    u – Unidade de massa atômica

    pb – Pares de base

    mM – Milimol

    μl - Microlitro

  • iii

    SUMÁRIO

    1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 16

    1.1. Classificação do gênero Mycobacterium........................................................... 16 1.2. Relação clínica entre as Micobactérias e o HIV/AIDS.......................................17 1.3. História e evolução das Micobactérias não tuberculosas .................................18 1.4. Doença causada pelas Micobactérias não tuberculosas (MNT) ....................... 19 1.5. Transmissão e formas clínicas da doença por MNT .......................................... 21 1.6. Epidemiologia das micobactérias não tuberculosas ........................................ .23

    1.6.1. Dados mundiais .......................................................................................... 23 1.6.2. Dados da América Latina e Brasil ............................................................... 25 1.6.3. Dados da região Norte do Brasil ................................................................. 27

    1.7. Diagnóstico clínico e epidemiológico das MNT ................................................ 29 1.8. Diagnóstico laboratorial das MNT .................................................................... 30

    1.8.1. Separação das espécies do Complexo M. tuberculosis das micobactérias não causadoras de tuberculose (MNT): .................................................................... 32

    1.8.2. Identificação fenotípica das espécies de MNT: ........................................... 33 1.8.3. Identificação genotípica das MNT: ............................................................ 35

    2. OBJETIVO.............................................................................................................39 2.1. Geral:................................................................................................................ 39 2.2. Específicos: .......................................................................................................39

    3. MATERIAIS E MÉTODOS. ............................................................................... 40

    3.1. Modelo e período de estudo: ............................................................................ 40

    3.2. Amostras clínicas: ............................................................................................ 40 3.3. População de referência: .................................................................................. 40 3.4. Critérios de elegibilidade: ................................................................................. 41 3.5. Definições para confirmação laboratorial dos casos de Micobactéria não tuberculosa: ............................................................................................................. 41 3.6. Critérios de não inclusão: ................................................................................. 41 3.7. Procedimento laboratorial: ................................................................................ 42

    3.7.1 Identificação fenotípica:................................................................................ 42 3.7.2. Identificação genotípica:.............................................................................. 42

    3.8. Coleta e análise de dados ................................................................................. 44 3.9. Considerações éticas: ....................................................................................... 45

    4. RESULTADOS .....................................................................................................45 5. DISCUSSÃO .........................................................................................................62 6. CONCLUSÃO .......................................................................................................63 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................ .................................................. 65

    APÊNDICE.................................................................................................................71 Apêndice A - Equipe...................................................................................................72 Apêndice B - Cronograma..........................................................................................73 Apêndice C - Orçamento............................................................................................74 Apêndice D – Procedimento operacional para extração de DNA de Micobactérianão tuberculosa por CTAB.................................................................................................76

  • 15

    Apêndice E - Procedimento operacional padrão para o congelamento e recuperação de cepa de Micobactéria não tuberculosa ............................................................. ..79 Apêndice F - Procedimento operacional padrão para a identificação fenotípica das Micobactérias não tuberculosas por tempo de crescimento e pigmentação ........... 82 Apêndice G - Procedimento operacional padrão para inativação e extração de DNA por termobloco de Micobactéria não tuberculosa .................................................... 86 Apêndice H - Procedimento operacional padrão para identificação molecular pelo método PRA-hsp65 ..................................................................................................88 Apêndice I - Procedimento operacional para técnica de purificação de DNA para sequenciamento utilizando PED 8000/ 2,5 M NaCl ................................................. 95 Apêndice J – Procedimento operacional padrão para teste de genética molecular para identificação a partir de material de cultura de espécies de Micobactérias (GenoType Mycobacterium CM/AS) .......................................................................................... 97 ANEXO ...................................................................................................................103 Anexo A - Parecer consubstanciado do CEP.........................................................104 Anexo B - Modelo da ficha de notificação da Tuberculose ...................................105 Anexo C - Termo de Dispensa do Consentimento Livre e Esclarecido (TDCLE) .................................................................................................................................106 Anexo D - Termo de Compromisso de Utilização de Dados (TCUD) .....................107 Anexo E - Carta de Anuência .................................................................................108

  • 16

    1. INTRODUÇÃO

    1.1. Classificação do gênero Mycobacterium

    As micobactérias são classificadas no gênero Mycobacterium com base na sua

    característica ácido resistente, na presença de ácidos micólicos e no alto conteúdo de

    guanina e citosina no seu DNA. Sua característica álcool-ácido resistente é

    visualizada por meio da técnica de coloração Ziehl-Neelsen (ZN), onde um esfregaço

    da amostra biológica em lâmina é confeccionado, corado e visualizado em

    microscópio óptico (Figura 1) (1,2).

    Figura 1: Baciloscopia – Bacilos em esfregaço de amostra de escarro corado por técnica Ziehl-

    Neelsen.

    Fonte: Gerencia de Tuberculose – FMT/HVD.

    Taxonomicamente, pertencem à família Mycobacteriaceae, ordem

    Actinomycetales, subordem Corynebacterineae, classe e filo Actinobacteria. É

    composto por 165 espécies divididas em três grupos: Mycobacterium leprae;

    micobactérias do complexo Mycobacterium tuberculosis e outras que não pertencem

    a esse complexo, denominadas micobactérias não causadoras de tuberculose (MNT)

    (1,25). O gênero Mycobacterium também é classificado de acordo com sua

    capacidade de produzir doença no homem ou grupo de risco, como raramente

    patogênicas, potencialmente patogênicas e patogênicas.

  • 17

    1.2. Relação clínica entre as Micobactérias e o HIV/AIDS

    As espécies de micobactérias que apresentam elevada importância clínica por

    causar doença pulmonar, extrapulmonar e disseminada são as pertencentes ao

    complexo Mycobaterium tuberculosis e as MNT (2). Ambas apresentam alta

    relevância clínica, conferem ao hospedeiro infecção potencialmente grave, possuem

    diagnóstico clínico e laboratorial semelhantes e apresentam mecanismos de

    transmissão e tratamento distintos (17).

    Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) cerca de 10,4 milhões

    de pessoas tiveram tuberculose em 2016, cerca de 1,2 milhões de pessoas

    apresentam coinfecção TB/HIV e 1 milhão morreram por conta da doença. No ano de

    2016, foram diagnosticados e registrados 66.796 casos novos de tuberculose no Brasil

    com coeficiente de incidência de 32,4/100.000 habitantes. O Estado do Amazonas

    registrou coeficiente de incidência de 67,2/100.000 hab. e ultrapassando o Amazonas,

    a capital Manaus apresentou coeficiente de incidência de 93,2/100.000 hab. chegando

    a ultrapassar os valores regionais e nacionais para o mesmo período. Os resultados

    de testagem para HIV entre os casos novos de TB no Brasil, apontaram para a

    existência de 9,7% de pessoas com a coinfecção TB-HIV. Cerca de 73,2% dos casos

    novos de tuberculose realizaram testagem para o HIV no Brasil, seguido do Amazonas

    com 68,8% e em Manaus com 71,8% (89).

    O HIV continua sendo um grande problema de saúde pública mundial, em 2016

    foram registrados 2,1 milhões de novas infecções. No Brasil, neste ano, estima-se que

    tenham ocorrido 48.000 [35.000 – 64.000] novas infecções por HIV, com prevalência

    de 0,4% a 0,7% em pessoas de 15 a 49 anos – em 2014 (97).

    De 2007 até junho de 2016, foram notificados no SINAN 6.868 casos de infecção

    por HIV na Região Norte (6,3%). A taxa de detecção de HIV/AIDS na Região Norte

    do Brasil tem apresentado uma tendência linear de crescimento significativo; em 2006

    a taxa registrada foi de 15,0 casos para cada 100 mil habitantes, enquanto que no

    último ano a taxa foi de 24,0 representando um aumento de 61,4% (98).

    Isoladamente, as infecções por TB e HIV são as principais causas de mortes por

  • 18

    doenças infecciosas. A TB é responsável por um terço das mortes relacionadas com

    o HIV/AIDS a cada ano (24).

    Até o surgimento da HIV/AIDS não se atribuia grande importância às infecções

    por MNT, os relatos de doenças pulmonares causadas por esse grupo eram

    esporádicos (28). Em países industrializados, com uma alta carga de TB, onde o foco

    tem sido a realização apenas da baciloscopia, a prevalência de MNT em sujeitos com

    HIV permanece desconhecida, é relatada a baixa realização de cultura para

    micobactéria na rotina e a dificuldade na elucidação devido a coinfecção MNT/TB,

    com isso é frequente o uso do tratamento de probabilidade (empírico, sem

    confirmação), e portanto, uma proporção desconhecida de pacientes podem, de fato,

    estar infectada com MNT. Mesmo com a introdução do Xpert MTB Rif a partir de 2014,

    nos resultados positivos, confirma-se TB, mas nos resultados negativos não se afasta

    a ocorrência de MNT (67).

    O impacto das MNT na morbidade e mortalidade dos doentes com HIV/AIDS,

    estimulou o início de estudos relacionados à epidemiologia, ecologia, genética,

    biologia molecular e fisiologia das MNT. Além, disso a rápida ascensão das doenças

    provocadas pelas MNT estimulou o desenvolvimento de métodos rápidos para o seu

    isolamento e identificação (72).

    1.3. História e evolução das Micobactérias não tuberculosas

    Estudos revelam que a doença por micobactéria acomete a população humana há

    milhares de anos, sendo as primeiras evidências referem-se ao estudo de 44 múmias

    egípcias de faraós jovens, datando de 3.700 a 1.000 A.C. (31). A primeira descrição

    das micobactérias causando doença no homem ocorreu em 1873, quando o físico

    norueguês Gerhard Armauer Hansen descreveu alguns “corpos em forma de hastes”

    a partir de biópsia de paciente com hanseníase (32).

    A maioria das espécies de MNT foi descrita no século passado. A designação de

    micobactérias “atípicas” foi utilizada pela primeira vez por Pinner, em 1935, referindo-

    se às características distintas que apresentavam em relação ao complexo M. tb e a

  • 19

    M. leprae, em particular ao fato de não serem agentes patogênicos obrigatórios e de

    se encontrarem habitualmente no meio ambiente (17).

    No Brasil, a importância clínica das MNT foi reconhecida na década de 1938

    quando Costa Cruz descreveu o primeiro caso de M. fortuitum isolado de um abscesso

    cutâneo (29). Após uma década, MacCallum descreveu uma doença de pele causada

    por uma nova espécie de micobactéria, classificada mais tarde como M. ulcerans. Em

    1949, Cuttino e McCabe descreveram um novo microrganismo causando infecção

    disseminada em uma criança, logo nomearam como ″Nocardia intracellularis”, porém

    mais tarde foi classificada como M. intracellulare por Runyon (30).

    Em 1951, Norden e Linell descreveram “Mycobacterium balnei″ presente em

    granuloma, posteriormente reconhecido como M. marinum (29). O termo

    “micobactérias não tuberculosas” foi utilizado pela primeira vez em 1954 por Timpe e

    Runyon para identificar e diferenciar todas as micobactérias não pertencentes ao

    complexo M. tuberculosis e M. leprae (30). Com o avanço dos métodos e técnicas de

    identificação, muitas outras espécies de micobactérias foram descobertas e

    classificadas.

    1.4. Doença causada pelas Micobactérias não tuberculosas (MNT)

    Os mais importantes complexos de espécies de MNT causadoras de doença no

    homem são: o complexo M. avium (MAC), o complexo M. fortuitum, complexo M.

    celatum, complexo M. abscessus, complexo M. kansasii, complexo M. terrae,

    complexo M. simiae e o complexo M. smegmatis (25,37).

    Complexo MAC: É composto por espécies capazes de causar doenças em animais

    e seres humanos, incluem as espécies M. avium, M. intracellulare, M. colombiense,

    M. chimaera, M. yongonense (101). Nos hospedeiros imunocompetentes, o MAC afeta

    os pulmões em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), podendo

    causar fibrose pulmonar ou doença pulmonar cavitária (DPC). Em hospedeiros

    imunodeprimidos, no caso do HIV/AIDS, pode originar infecção sistêmica, causando

    sobretudo doença disseminada. A espécie M. avium normalmente é isolado de

  • 20

    ambientes como água potável, que se acredita ser uma fonte de infecção para os

    doentes soropositivos para HIV (37,38).

    Complexo M. fortuitum: O complexo M. fortuitum compreende as espécies M.

    fortuitum, M. peregrinum, M. mageritense (101). Essas espécies são de crescimento

    rápido, geralmente habitam o solo, poeira e água. A identificação dessas

    micobactérias é importante para estabelecer a terapêutica adequada, visto que

    possuem diferentes padrões de resistência aos farmacos. As doenças causadas por

    essas espécies incluem raramente as formas pulmonares (56).

    Complexo M. abscessus: O complexo M. abscessus é constituído por três espécies:

    M. chelonae, M. abscessus e M. immunogenum (101). São frequentemente

    resistentes a fluorquinolonas, sulfametoxazol, doxiciclina e sensíveis a claritromicina,

    amicacina, tigeciclina e imipenem. Em 2001, M. immunogenum foi descrita e isolada

    pela primeira vez de fluídos utilizados para a lubrificação e arrefecimento de máquinas

    industriais (41). Causa doença pulmonar em indivíduos com comprometimento

    pulmonar prévio como TB anterior e fibrose cística além de causar infecções pós-

    operatórias e pós-procedimentos causando doenças de pele e tecidos moles,

    infecções do sistema nervoso central, bacteremia e infecções oculares (42).

    Complexo M. terrae: O complexo M. terrae é composto pelas espécies M. terrae,

    M. nonchromogenicum, M. hiberniae, M. sinense, M. senuense, M. engbaekii (101). A

    colonização do epitélio humano por estas micobactérias é rara e geralmente são

    consideradas como não patogênicas, no entanto em casos de imunossupressão, M.

    nonchromogenicum pode ocasionalmente causar doença no homem, tais como

    infecções pulmonares e tendinopatia. Nos últimos anos um número crescente de

    infecções causadas por estes organismos foi associado à coinfecção com HIV/AIDS

    (48).

    Complexo M. kansasii: O complexo M. kansasii inclui as espécies M. gastrii e M.

    kansasii (101). O M. kansasii é uma micobactéria não tuberculosa que pode causar

    colonização ou doença pulmonar (100).

  • 21

    Complexo M. simiae: O complexo M. simiae é composto por várias espécies

    filogeneticamente relacionadas, as quais incluem: M. interjectum, M. florentinum, M.

    sherrisii, M. triplex, M. palustre, M. bohemicum, M. nebraskense, M. europaeum (101).

    Este complexo pode apresentar manifestações clínicas e imagens pulmonar no

    radiograma torácico semelhantes ao da TB e resistência aos fármacos anti-TB

    associada a indivíduos com TB anterior (99).

    1.5. Transmissão e formas clínicas da doença por MNT

    Existem poucos relatos sobre a transmissão direta de pessoa para pessoa, por

    meio de tosse ou espirro. Há relatos de infecção adquirida a partir do meio ambiente,

    pela ingestão ou inalação de água e por meio de inoculação provocada pela

    inadequada desinfecção e manuseio de equipamentos médicos em procedimentos

    cirúrgicos, vacinação e videocirurgias (6). Procedimentos invasivos como acupuntura,

    tatuagens e piercings também são relatados como possíveis focos de transmissão

    (33). Por meio da análise de DNA verificou-se que estripes de várias espécies

    recuperadas a partir de amostras ambientais de água, solo e aerossóis, eram idênticas

    às isoladas de vários doentes (22).

    Indivíduos com doenças cardiovasculares, hepatite C, HIV/AIDS, transplantes,

    diabetes, alterações estruturais pulmonares como a Doença pulmonar obstrutiva

    crônica (DPOC), câncer, imunossupreção genética, artrite reumatóide e doença do

    refluxo gastroesofágico (DRGE) apresentam predisposição a desenvolver infecção

    por MNT. As manifestações clínicas da infecção por MNT compreendem as formas

    pulmonar, extrapulmonar e disseminada, pois acomete pele, órgãos, trato respiratório,

    sangue, medula e ossos (68).

    Forma pulmonar: A partir dos anos 80, começaram a surgir relatos de grandes

    séries de doenças pulmonares causadas por MNT, em sua maioria associada à

    imunossupressão (28). A infecção pulmonar por MNT, foi descrita pela primeira vez

    em fumantes idosos do sexo masculino com alterações estruturais pulmonares

    (doença pulmonar cavitária ou enfisema). A DPOC, a bronquiectasia, o enfisema, a

    pneumoconiose, a tuberculose anterior, a silicose, a proteinose alveolar pulmonar e a

    deficiência de α-1-antitripsina são alguns dos principais determinantes do

  • 22

    desenvolvimento de infecção pulmonar por MNT no início da fase adulta. Embora a

    fibrose cística, causada por mutações no regulador da condutância

    transmembrana na fibrose cística (CFTR) e a discinesia ciliar primária (doença

    autossômica recessiva), geralmente presentes na infância ou adolescência, também

    causem susceptibilidade, nos casos de alguns pacientes com mutações hipomórficas

    as infecções podem ter apresentação tardia ou atípica (8,69). Os casos da doença

    pulmonar por MNT em imunocompetentes estão em sua maioria associados ao

    trabalho em condições de constante exposição a poeira. Nestas situações clínicas, as

    características da doença pulmonar por MNT é muito semelhante as da TB (36).

    Existem casos onde ocorre a repressão habitual da tosse favorecendo o

    desenvolvimento de infecção pulmonar por MNT, esses casos são associados a

    doenças neuromusculares, sequelas de acidente vascular cerebral e a síndrome de

    Lady Windermere. Essa síndrome ocorre principalmente em mulheres, não-fumantes

    e na pós-menopausa, sem qualquer fator predisponentes conhecido, as pacientes,

    tendem a apresentar escoliose, depressão do esterno, costelas na frente do tórax

    (Pectus Excavatum) e prolapso da válvula mitral (9). O lobo médio e língula estão

    predispostos a inflamação crônica por causa de suas estruturas anatômicas

    específicas e incapacidade para limpar as secreções das vias respiratórias devido à

    supressão da tosse, predispondo a bronquiectasia e infecção (8, 70).

    Forma extrapulmonar: Em indivíduos adultos e imunocompetentes, as infecções

    causadas pelas MNT na pele, articulações, tendões e nos ossos estão

    frequentemente associadas com traumatismos e feridas cirúrgica (73, 30). Em

    crianças, os locais de infecção mais frequentes são a pele e os nódulos linfáticos. As

    infecções causadas por M. haemophilum ou M. chelonae são geralmente

    caracterizadas por nódulos subcutâneos ou abcessos.

    Forma disseminada: Em doentes soropositivos para HIV, a doença provocada

    pelas MNT é geralmente disseminada (71). Nos casos de pacientes soronegativos

    para HIV, déficit na resposta celular Th1 associados a defeitos imuno genéticos, como

    mutações autossômicas das interleucinas (IL), interferon (IFN) e seus receptores

    específicos (IL12, IL12RB1, ISG15, IFNGR1, IFNGR2, STAT1 e IRF8), mutações no

    cromossomo X (IKBKG e CYBβ), deficiência GATA2 e auto-anticorpos anti-IFN-γ,

  • 23

    predispõem susceptibilidade, tanto na infância quanto na idade adulta, levando a óbito

    quando não tratada precocemente e/ou de maneira correta (8).

    1.6. Epidemiologia das micobactérias não tuberculosas

    1.6.1. Dados mundiais

    A frequência das descrições dos casos de infecções por MNT vem aumentando

    juntamente com o declínio significativo da taxa de incidência de TB em países

    industrializados. Em contraste com o M. tuberculosis, cuja notificação é obrigatória no

    mundo, as infecções por MNT ainda não geram notificação, fora os casos de MNT pós

    cirúrgia. A ausência de vigilância epidemiológica resulta na escasses de dados sobre

    a sua incidência, prevalência incidência, morbi/mortalidade, e os fatores associados

    (52). Os sintomas gerais causados pelas MNT não podem ser distinguidos de

    sintomas observados em casos de TB, e as aparências das bactérias não podem ser

    diferenciadas quando examinadas por microscopia de luz (78). Portanto, há consenso

    entre os autores de que é fundamental o diagnóstico laboratorial das MNT, pois a

    sintomatologia, imagens no radiograma torácico e resultados da baciloscopia não

    permite dinstingui-las de infecção por TB.

    A não realização de cultura para micobactéria ou a não identificação das espécies

    de micobactéria nos exames de cultura positiva para micobactéria podem levar a

    resultados falso-positivos para diagnóstico de TB e tratamento medicamentoso

    inadequado para o controle micobacteriano (77).

    Na detecção das espécies pertencentes às MNT, um estudo na Ásia, revelou que

    MAC foi a principal causa de infecção pulmonar, correspondendo à 68% dos casos

    (50). Em 2002, avaliando a prevalência de doença pulmonar por MNT no mundo, foi

    observado uma predominância de MAC entre os agentes causadores de doença

    pulmonar também na Ásia (51).

    A infecção pulmonar por MNT pode estar associada à mortalidade em Unidades

    de Terapia Intensiva (UTI), o tratamento anti-MNT é a solução adequada para

    melhores resultados de terapia. Em um estudo retrospectivo na UTI de um centro

  • 24

    médico em Taiwan, de janeiro de 1999 a junho de 2007, foi descrito que as infecções

    pulmonares por MNT estavam relacionadas, em sua maioria, as espécies do

    complexo M. avium e M. abscessus. A proporção de mortalidade em 5 anos foi em

    torno de 34-69% (53).

    Numa revisão sistemática e meta- análise realizada em 2015, foi relatada uma

    prevalência relativamente alta de infecções por MNT (10,2%) entre os casos positivos

    para TB, isso demonstrou a necessidade de uma maior aplicação de estratégias de

    controle da infecção, estabelecimento de critérios de diagnóstico apropriados e

    diretrizes para o manuseio de doenças por MNT além de expandir a qualidade dos

    laboratórios de referência regionais facilitando mais a prevenção e controle dessas

    infecções (3).

    Num estudo mais recente, com a colaboração mundial de 62 laboratórios, realizado

    pelo MNT-Network European TrialsGroup (MNT-NET) junto ao Tuberculosis Network

    European TrialsGroup (TB-NET) avaliou-se em 30 países e em 6 continentes (Europa,

    Ásia, América do Norte, América do Sul, África do Sul e Austrália) 20.182 pacientes

    positivos para MNT, cultivadas em meio de cultura sólido provenientes de amostras

    respiratórias de escarro. Nesse estudo os membros do complexo MAC predominaram

    na maioria das regiões embora M. xenopi na Hungria e M. kansasii na Polônia e na

    Eslováquia. A distribuição relativa dos membros do complexo MAC revelou diferenças

    geográficas, enquanto M. avium predominava nos centros da América do Norte,

    América do Sul e na Europa, M intracellulare foi frequentemente isolada na África do

    Sul e Austrália. Na América do Sul o complexo MAC correspondeu a 31% dos

    isolados, seguido de M. abscessus e M. fortuitum com 16%, M. kansasii foi a segunda

    espécie mais isolada na América do Sul e M. gordonae a terceira mais isolada (Tabela

    1).

  • 25

    Tabela 1. Distribuição de isolados respiratórios de micobactérias não tuberculosas (NTM).

    Distribuição de MNT Distribuição de MAC

    Europa MAC (37%), MCR (16%), M. gordonae

    (17%), M. kansasii (5%), M. xenopi (14%),

    M. malmoense (1%), MCL (10%)

    M. avium (47%), complexo M.

    avium (22%), M. intracellulare

    (8%).

    América

    do Norte

    MAC (52%), MCR (20%), M. xenopi (12%),

    M. gordonae (12%), MCL (3%), M. kansasii

    (1%).

    M. avium (78%), complexo M.

    avium (14%), M. intracellulare

    (8%).

    América

    do Sul

    MAC (31%), MCR (21%), M. kansasii

    (20%), M. gordonae (17%), MCL (11%).

    M. avium (64%), complexo M.

    avium (23%), M. intracellulare

    (13%).

    Autrália MAC (71%), MCR (15%), MCL (8%), M.

    kansasii (4%), M. gordonae (1%).

    M. intracellulare (80%), M.

    avium (20%).

    Ásia MAC (54%), MCR (31%), MCL (6%), M.

    gordonae (6%), M. kansasii (3%).

    M. avium (45%), complexo M.

    avium (39%), M. intracellulare

    (16%).

    África do

    Sul

    MAC (50%), MCL (33%), MCR (7%), M.

    gordonae (5%), M. kansasii (3%), M. xenopi

    (1%).

    M. intracellulare (77%), M.

    avium (21%), complexo M.

    avium (2%).

    Total MAC (47%), MCR (16%), MCL (14%), M.

    gordonae (11%), M. xenopi (8%), M.

    kansasii (3%), M. malmoense (1%).

    M. avium (47%), M.

    intracellulare (38%), complexo

    M. avium (15%).

    *MCR: micobactérias de crescimento rápido; MCL: micobactérias de crescimento lento.

    Fonte: MNT-Network European TrialsGroup (MNT-NET).

    A distribuição das espécies de MNT em um país pode ter profundo impacto sobre

    as frequências e manifestações da doença pulmonar por MNT em cada região sendo

    necessários estudos futuros para abordar os diferentes nichos ambientais específicos

    de cada espécie (96).

    1.6.2. Dados da América Latina e Brasil

    Na prática clínica diária é observado um número crescente de cirurgias cosméticas

    realizadas principalmente na América Latina e Caribe associado com o aumento no

    número de casos de infecções por MNT (55). Houve relatos de focos de infecções por

  • 26

    M. abscessus em feridas cirúrgicas resultantes de procedimentos de abdominoplastia

    na República Dominicana e Colômbia (54). O envolvimento da espécie M. fortuitum

    em infecções de sítio cirúrgico é bem documentado, pode ocorrer em ferida esternal

    após cirurgia cardiotorácica ou após cirurgia de aumento de mama devido a

    contaminação da ferida com água da torneira contaminada, no ato do banho (56,57).

    Recentemente tem sido descrito infecções por MNT em idosos após uso da banheira

    “escalda-pés” em salões de manicure e pedicure (58,59).

    Na América Latina,um estudo realizado em 2014 em um hospital na Colombia,

    descreveu a prevalência dos casos de MNT em 9,1%, onde o principal fator de risco

    foi a infecção pelo HIV sendo a forma clínica pulmonar a mais predominante (56,6%)

    (52).

    No Brasil são escassos os casos publicados de infecções por MNT, as

    publicações em sua maioria referen-se a ceratite por M. chelonae, após cirurgia para

    correção de miopia, infecções cutâneas por M. abscessus e M. fortuitum após

    aplicações em mesoterapia ou cirurgia plástica e publicações sobre o risco crescente

    de infecções por essas espécies de micobactérias em pacientes submetidos a

    procedimentos médicos invasivos. Em razão da não obrigatoriedade da notificação,

    estima-se que no Brasil ocorra subnotificação de MNT associada às cirurgias (33).

    No Estado do Rio de Janeiro, entre 1993 e 2011 as espécies de MNT mais foram

    M. kansassi (33,9%) e complexo MAC (30,4%) destes 9,8% eram soropositivos para

    o HIV (61). Em um estudo no estado de São Paulo, foram estudadas 1.892 cepas de

    MNT entre os anos de 1991 a 1997, desse estudo foi possível estabelecer as

    manifestações clínicas ocorridas naquele período, 48% foram de origem pulmonar,

    29,3% sangue e medula óssea e 15,8% de outras formas extrapulmonares, a

    associação desses casos com o HIV não foi descratada (28).

    Segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), no período

    de 1998 a 2009,foram notificados cerca de 2.520 casos de infecção por micobactérias

    de crescimento rápido (MCR), sendo 1.107 casos relatados no estado do Rio de

    Janeiro, 363 no Espírito Santo, 327 no Pará,193 em São Paulo,149 no Paraná,115 no

    Rio Grande do Sul, 95 em Goiás, 50 no Mato Grosso, 33 no Distrito Federal,31 em

  • 27

    Minas Gerais,11 no Piauí,11 na Bahia, 9 no Ceará,6 em Santa Catarina, 5 em Sergipe,

    5 em Pernambuco, 3 em Alagoas, 2 no Tocantins, 1 em Roraima, 1 no Rio Grande do

    Norte, 1 na Paraíba, 1 no Amazonas e1 no Acre (6,63).

    Entre as micobactérias de crescimento rápido o agente etiológico prevalente na

    maioria das cidades brasileiras foi a M. massiliense, exceto nas infecções secundárias

    a mamoplastias, nas quais a maior prevalência foi de M. fortuitum. Outras espécies

    de MCR foram identificadas: M. abscessus, M. bolletii, M. chelonae, M. smegmatis e

    M. wolinskyi (62,63). Mesmo com o número elevado de casos notificados de infecção

    por MCR, entre as espécies potencialmente patogênicas, as micobactérias de

    crescimento lento (MCL) pertencentes ao complexo MAC e M. kansasii são as mais

    comumente isoladas no Brasil, ambas causam principalmente infecção pulmonar (63).

    1.6.3. Dados da região Norte do Brasil

    Um estudo realizado na Região Norte do Brasil, mais precisamente no estado de

    Roraima, avaliou no período de dois anos, 1.812 casos suspeitos de TB pulmonar.

    Nesse estudo foi possível identificar causando doença pulmonar 369 (20%) casos

    positivos para TB e 75 (4%) casos positivos para MNT. Dentro do último grupo foi

    possível identificar 14 espécies por meio de métodos de diagnóstico molecular: M.

    abscessus, M. avium, M. fortuitum, M. intracellulare, M. gilvum, M. gordonae, M.

    asiaticum, M. tusciae, M. porcinum, M. novocastrense, M. simiae, M. szulgai, M. phlei

    e M. holsaticum. Nesse estudo 13 isolados não puderam ser identificados a nível de

    espécie devido as limitações de reprodutibilidade que o método de cultura sólida

    impõe (65).

    No Estado do Pará, em dados coletados nos anos de 1999 a 2010, observou-se

    que a espécie predominante nas formas clínicas pulmonares foi a M. massiliense. No

    período de janeiro de 2010 a dezembro de 2011, M. massiliense foi novamente a

    espécie mais encontrada, com 44,8% dos casos (66).

    Em 2013, outro estudo, realizado em Belém do Pará, 64,2% dos pacientes que

    manifestaram doença por MNT tinham acesso a um abastecimento de água por meio

    de sistemas de tubulações. Esta informação é importante porque, mesmo em zona

  • 28

    urbana, o abastecimento de água ainda é precário, cerca de 75% dos lares tem acesso

    a um abastecimento de água, sendo menor a cobertura em áreas urbanas periféricas,

    de acordo com o Censo Brasil 2010 (67).

    Na cidade de Manaus, em 2009, num outro estudo investigou-se a presença de

    MNT em águas de torneira, soluções e luvas cirúrgicas, utilizadas nas etapas dos

    procedimentos cirúrgicos executados no centro cirúrgico do Hospital Universitário

    Getúlio Vargas (HUGV). Foram coletadas e analisadas 105 amostras sendo: 24 de

    águas (coletadas das 2 torneiras existentes no centro cirúrgico), 8 de solução de

    povidine e 7 de solução de clorhexidina, que servem para a higienização das mãos

    dos cirurgiões; 39 de luvas cirúrgicas (superfícies internas e externas); e 27 de

    soluções que foram efetivamente utilizadas durante o ato cirúrgico. Obteve-se 41

    isolados micobacterianos apenas de águas das torneiras. O não isolamento de MNT

    nas soluções utilizadas para higienização das mãos e luvas dos cirurgiões bem como

    nos procedimentos cirúrgicos, indica que essas soluções têm sido eficazes na

    eliminação de micobactérias. Entretanto, a presença de M. mucogenicum nas águas

    das torneiras do centro cirúrgico, espécie já associada a surtos pós-cirúrgicos, indica

    que devem ser efetuados procedimentos de limpeza e monitoramento em todos os

    pontos de distribuição de águas, visando à prevenção de surtos de micobacterioses

    nosocomiais (91).

    Na Região Amazônica, a predominância de pessoas da cor parda está

    relacionada a alta heterogenia, essa diversidade genética pode estar associada ao

    aumento da susceptibilidade a desenvolver infecção por MNT, porém são necessários

    mais estudos para comprovação. Sabe-se que pescadores e outras pessoas expostas

    aos peixes estão em risco de desenvolver infecções de pele causadas por M.

    marinum. Em crianças de 18 meses a 5 anos de idade o risco de desenvolver

    linfadenite cervical por M. avium está associado a exposição a viveiros de aves. A

    imunodeficiência, também é um fator de risco para a população dessa região, devido

    à infecção pelo HIV ou imunossupressão nos casos de câncer e quimioterapia (67).

  • 29

    1.7. Diagnóstico clínico e epidemiológico das MNT

    Os sintomas da doença pulmonar por MNT são variáveis e não específicos em

    alguns casos, nos quais o diagnóstico laboratorial não pode ser realizado, o médico

    pode confirmar o caso pelo critério clínico-epidemiológico. No entanto, praticamente

    todos os pacientes tem tosse crônica ou recorrente como na TB. Outros sintomas

    incluem tosse com expectoração, fadiga, mal-estar, dispneia, febre, hemoptise, dor no

    peito e perda de peso. Nesses casos o curso da doença é progressivo, causando

    sintomas persistentes, declínio da função pulmonar e uma piora na qualidade de vida.

    Além disso, pode também seguir um curso fulminante com insuficiência respiratória

    aguda (64).

    O estabelecimento de um diagnóstico de doença por MNT não é simples, o seu

    isolamento em amostras pulmonares e extrapulmonares não é por si só, diagnóstico

    de doença, devido contaminação transitória, exigindo o cumprimento dos critérios

    clínicos e microbiológicos, tais como a presença de sintomas clínicos, evidência

    radiográfica de lesões compatíveis com doença para as definições de caso sejam

    feitas. Na tabela 2 estão descritos os critérios de patogenicidade das MNT de

    crescimento rápido proposto pela ANVISA (63,74).

  • 30

    Tabela 2. Definição de caso de infecção por MNT:

    Suspeito Possível Provável Confirmado

    Paciente

    submetido a

    procedimentos

    invasivos que

    apresente dois

    ou mais sinais

    referidos como

    clínica

    compatívele

    achados

    radiológicos.

    Paciente que preenche os

    critérios de caso suspeito,

    mas sem investigação

    laboratorial, e que

    respondeu ao tratamento

    específico para

    micobactérias.

    Paciente que

    preenche os

    critérios de caso

    suspeito, que

    apresente

    manifestações

    clínicas

    compatíveis com

    baciloscopia

    positiva, mas

    cultura negativa

    para micobactéria.

    Paciente que

    preenche os

    critérios de

    caso suspeito

    e apresenta

    mais de uma

    cultura positiva

    para

    micobactéria e

    baciloscopia.

    Fonte: Brasil, ANVISA 2010. Relatório descrito de investigação de casos de infecções por micobactérias

    não tuberculosas de crescimento rápido (MCR) no Brasil no período de 1998 a 2009.

    Os achados radiológicos auxiliam nas definições de casos de infecção por MNT,

    mas não diferenciam dos casos de TB. Os achados mais comuns nas infecções

    pulmonares por MNT são a bronquiolite, bronquiectasias, nódulos, consolidação, e

    menos frequentemente cavidades (10). Porém, um estudo em Israel, relacionou

    achados radiológicos de duas espécies de MNT, M. kansasii estava associada à

    achados radiológicos com mais cavidades e M. simiae à infiltrados pulmonares. Esses

    achados revelaram que para M. kansasii existe uma predileção para a doença de lobo

    superior ao passo que a infecção por M. simiae maior probabilidade de doença lobo

    médio e inferior. Os derrames pleurais e linfadenopatia foram encontradas apenas na

    presença de infecção por M. simiae (75).

    1.8. Diagnóstico laboratorial das MNT

    O número elevado de espécies circulantes de MNT e de seu isolamento ser

    possível na maioria dos espécimes biológicos e ambientais leva os laboratórios a

    desenvolver e/ou aplicar métodos mais eficientes e rápidos para a detecção e

  • 31

    caracterização das micobactérias, incluindo métodos de cultura mais sensíveis,

    melhoramento das técnicas de identificação e dos testes de susceptibilidade aos

    antibióticos. É importante que os laboratórios recebam as amostras coletadas

    corretamente, evitando falsos diagnósticos resultantes de amostras contaminadas

    (26,36). Os tipos de amostras para diagnóstico de MNT são: escarro, escovado ou

    lavado broncoalveolar (LBA), biópsia pulmonar, peças cirúrgicas (ósseas, linfáticas,

    pele), secreções de feridas, sangue e medula óssea (57).

    A presença de MNT numa amostra clínica pode ter três significados:

    1. A micobactéria é o agente etiológico, e neste caso o diagnóstico microbiológico

    deve ter como base os sinais clínicos e isolamento repetido da micobactéria em uma

    segunda amostra, ou por um único isolamento no caso das amostras colhidas de

    forma asséptica;

    2. A micobactéria colonizou a amostra, mas não tem significado clínico. Isto

    resulta frequentemente da utilização de equipamento contaminado, geralmente

    provenientes de água canalizada. Casos assim não são raros e causam o que é

    designado de ″pseudoinfecção″;

    3. A detecção de micobactéria na amostra clínica teve origem numa contaminação

    do laboratório (soluções de descontaminação contaminadas ou contaminação devido

    a outra amostra positiva), sendo fácil de verificar, caso a mesma micobactérias seja

    isolada a partir de outras amostras analisadas no mesmo dia (19,20);

    4. Micobacteria isolada sem significância clínica – não sendo causa real de

    infecção, significância clínica (3 amostras) isoladas de locais diferentes CUIDADO*

    ligação com a clínica – valorização clínica – mais de uma amostra; dias consecutivos

    e isoldadas de locais diferentes.

    Na tabela 3 estão descritos os critérios clínicos, radiológicos e laboratoriais para

    definir caso de infecção pulmonar por MNT de crescimento rápido ou tardio, segundo

    a ANVISA:

    Tabela 3. Diagnóstico de doença pulmonar por MNT:

  • 32

    Critérios clínicos e radiológicos:

    1. Sintomas respiratórios associados a opacidade nodulares ou cavidades e/ou

    na radiografia e/ou bronquiectasias e múltiplos pequenos nódulos na

    tomografia computadorizada de tórax.

    e

    2. Exclusão de outros diagnósticos, especialmente tuberculose.

    Critérios microbiológicos:

    1. Cultura positiva em duas amostras de escarro.

    ou

    2. Uma cultura positiva por escovado ou lavado broncoalveolar (LBA).

    ou

    3. Biópsia pulmonar: processo inflamatório granulomatoso crônico e/ou BAAR no

    tecido associado à cultura positiva em tecido, escarro ou LBA.

    Fonte: Brasil, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA 2010). Relatório descrito de

    investigação de casos de infecções por micobactérias não tuberculosas de crescimento rápido (MCR)

    no Brasil no período de 1998 a 2009.

    1.8.1. Separação das espécies do Complexo M. tuberculosis

    das micobactérias não causadoras de tuberculose (MNT):

    As características culturais (morfologia das colônias e pigmentação), temperatura,

    taxa de crescimento e testes bioquímicos diferem entres as espécies do complexo M.

    tb e as MNT (21). Os métodos de cultura e os testes bioquímicos são morosos e

    laboriosos, podem levar várias semanas, além disso não são totalmente elucidáveis,

    deixando lacunas de diagnósticos quando ocorre a falta de reprodutibilidade da cepa

    em meio de cultura (25). A variabilidade de estirpes presentes numa mesma espécie,

    pode levar a uma variabilidade nos resultados dos testes bioquímicos, podendo

    também ocorrer espécies diferentes com morfologias e perfis bioquímicos

    indistinguíveis ou muito idênticos (63,64).

    Apesar das dificuldades enfrentadas, os laboratórios que realizam cultura para

    micobactérias devem ser capazes de primeiramente separar espécies do complexo

    M.tb das MNT através de testes fenotípicos, do contrário terão que reportar o resultado

    das culturas positivas, como Mycobacterium sp., ou encaminhar a cultura a um

  • 33

    laboratório de referência para realização da identificação da espécie por método

    molecular (1).

    A separação das espécies do complexo M. tuberculosis das MNT pode ser

    realizada por meio de quatro testes fenotípicos partindo do primo-cultivo: análise

    microscópica da cultura, inibição de crescimento em meio de cultura LJ-PNB

    (Lowenstein Jensen – ácido p-nitrobenzóico) e teste da Niacina.

    A análise microscópica da cultura consiste na confecção de um esfregaço de uma

    alçada da colônia, que é corada com fucsina de ZN. Esse teste avalia a pureza da

    cultura, a presença de BAAR e a formação de corda (Figura 2). A maioria das MNT

    não formam fator corda, exceto M. kansasii, M fortuitum e M. chelonae (1,21).

    a. Complexo M.tb b. MNT

    Figura 2: Esfregaços de cultura de micobactérias.

    Fonte: Gerência de Tuberculose – FMT/HVD

    O teste de inibição de crescimento em meio com ácidop-nitrobenzóico 500 µg/ml

    (PNB) é um teste utilizado na separação das espécies do complexo M.tb das MNT

    através da cultura, todas as espécies do complexo M.tb não crescem nesse meio ao

    contrário da maioria das MNT. As espécies de MNT que eventualmente podem não

    crescer em presença de PNB é o M. kansasii, M. xenopi e M. gastri (79).

    1.8.2. Identificação fenotípica das espécies de MNT:

    Após a separação das MNT do complexo M.tb, é necessário a realização do

  • 34

    teste de identificação fenotípico das espécies de MNT, as diferentes espécies inclusas

    a esse grupo também possuem diferenças terapêuticas (1,21). Os testes de

    identificação fenotípico tem como base as características culturais e bioquímicas, tais

    como: tempo e temperatura de crescimento, pigmentação e testes bioquímicos (1,35).

    Em 1958, Runyon propôs a classificação das MNT em quatro grupos, baseando-

    se na pigmentação e tempo de crescimento das colônias em meio de cultura sólido

    (OK e/ou LJ). As espécies que apresentam crescimento após sete dias são

    classificadas como micobactérias de crescimento lento (MCL) e aquelas que

    apresentam crescimento em menos de sete dias, micobactérias de crescimento rápido

    (MCR). As micobactérias pigmentadas produzem intensamente carotenoides

    amarelos (Figura 3), que podem ser estimulados pela exposição à luz, estes são

    denominados organismos fotocromogênios ou quando produzidos na ausência de luz,

    organismos escotocromogênicos, além das micobactérias não pigmentadas (43).

    Figura 3: Colônias cepas MNT positivas fotocromógenas, acromógenas e escotocromógenas.

    Fonte: Gerência de Tuberculose – FMT/HVD

    Esse esquema de identificação auxilia a elucidar possíveis lacunas de

    diagnóstico, todavia, uma micobactéria pigmentada ou de crescimento rápido não

    deve ser confundida com M. tuberculosis (Tabela 4) (1,4).

    Tabela 4. Classificação das MNT segundo o sistema de Runyon. São apresentadas

    algumas espécies exemplificativas de cada um dos grupos:

  • 35

    Grupo Característica da cultura

    I Fotocromógenas: Crescimento lento das colônias; Culturas desenvolvem

    pigmento amarelo somente quando expostas à luz. Exemplo: M. kansasii,

    M. marinum.

    II Escotocromógenas: Caracteriza-se pelo crescimento lento das colônias;

    Culturas desenvolvem pigmento tanto na luz como no escuro. Exemplo:

    M. gordonae, M. szulgai.

    III Acromógenas: Caracteriza-se pelo crescimento lento das colônias;

    Culturas não produzem pigmento. Exemplo: M. avium, M. terrae.

    IV Crescimento rápido: Caracteriza-se pelo crescimento rápido das colônias;

    Colônias podem ser pigmentadas ou não. Exemplo: M. fortuitum, M.

    chelonae, M. abscessos.

    Fonte: Leão SC, Martin A, Mejia GI, Palomino JC, Robledo J, Telles MA da S, Portaels F. 2005. Practical

    Handbook for the phenotypic and genotypic identification of Mycobacteria.

    1.8.3. Identificação genotípica das MNT:

    Devido a demora no diagnóstico de infecções provocadas pelas MNT, tornou-se

    necessário o desenvolvimento de métodos de identificação molecular, com uma boa

    relação custo-benefício e que acima de tudo sejam mais eficazes quando comparados

    aos métodos convencionais. Estes métodos incluem testes baseados na reação em

    cadeia da polimerase (PCR) em tempo real, RFLP (Restriction Fragment Length

    Polymorphism), sequenciamento de DNA, sondas genéticas, entre outros (1).

    O atraso de diagnóstico tem um impacto importante na escolha do tratamento

    mais adequado do doente, quanto mais precoce o diagnóstico mais eficaz o

    tratamento com uma maior chance de cura. O diagnóstico molecular consiste na

    análise do material genético do microrganismo através de regiões específicas do

    genoma de cada espécie, esta metodologia é específica e tem sido empregada na

    maioria dos laboratórios, estes métodos têm cada vez mais importância, porque são

  • 36

    mais rápidos e precisos que os métodos convencionais e na maioria dos casos,

    produzem resultados mais confiáveis (82).

    Para esse tipo de metodologia é necessário que seja realizado previamente a

    extração do DNA, que pode ser realizado através de vários métodos de digestão de

    membrana como: método enzimático por brometo de cetil trimetilamonio (CTAB),

    extração por choque térmico e banho ultrasônico (1).

    Kit comercial GenoType® Mycobacterium CM-AS:

    Estão disponíveis no mercado o sistema da linha GenoType® (Hain Lifescience,

    Nehren, Alemanha). O kit comercial GenoType® Mycobacterium CM (do inglês

    “Common Mycobacteria”) e o GenoType® Mycobacterium AS (do inglês “Additional

    Species”), juntos são um teste molecular que se baseia em uma técnica de PCR por

    segmentação de uma região do gene 23S rRNA, seguida de hibridização reversa para

    uma fita de nitrocelulose, permitindo a identificação genética molecular simultânea

    de M. complexo de tuberculosis e 24 das espécies de MNT mais comuns a partir das

    culturas positivas. O procedimento completo é dividido em três passos: extração do

    DNA de cepa cultivada em meio de cultura sólido, amplificação através de técnica de

    PCR multiplex com primers biotinilados e hibridização reversa, realizado no prazo

    máximo de 2 dias. A determinação da espécie é realizada com a ajuda de uma tabela

    de interpretação (83).

    O GenoType® Mycobacterium CM permite a identificação do complexo M. avium,

    M. chelonae, M. abscessus, M. fortuitum, M. gordonae, M. intracellulare, M.

    scrofulaceum, M. interjectum, M. kansasii, M. malmoense, M. marinum-M. ulcerans,

    M. peregrinum, M. xenopi e o complexo M. tuberculosis. O GenoType®

    Mycobacterium AS permite a identificação de espécies adicionais de MNT,

    nomeadamente M. simiae, M. mucogenicum, M. goodie, M. cellatum, M. smegmatis,

    M. genavense, M. lentiflavum, M. heckeshornense, M. szulgai, M. phlei, M.

    hemophilum, M. kansasii, M. ulcerans, M. gastri, M. asiaticum e M. shimoidei (85).

    PRA-hsp65 (Análise de restrição da reação em cadeia da polimerase do gene

    hsp65).

  • 37

    O PRA-hsp65 (do inglês Polimerase Chain Reaction Restriction Analysis of the

    gene hsp65) é uma técnica não comercial, “in house” que tem apresentado uma boa

    eficácia na identificação de espécies das MNT, se baseia na amplificação do gene

    hsp65 e posterior análise de seu polimorfismo mediante a digestão com as enzimas

    de restrição BstEII e HaeIII. Foi descrito por Telenti e col. em 1993. Esse método

    diferencia amaioria das espécies MNT, mas não as do complexo M. tuberculosis. As

    variações na sequência do gene hsp65 podem ser exploradas para a identificação ao

    nível da espécie tanto em micobactérias de crescimento lento como em espécies de

    crescimento rápido (1).

    Resumidamente, um fragmento de 441 pares de base (pb) do gene hsp65 é

    amplificado por reação de PCR e digerido por duas enzimas de restrição, BstE II e

    Hae III. O produto dessa reação é submetido a análise através de eletroforese em gel

    de agarose e a determinação das espécies é feita através da leitura desse gel, de

    acordo com o perfil dos pares de base obtidos a partir da digestão de cada enzima

    específica. A determinação dos perfis eletrosféricos são comparados aos padrões de

    restrição de vários algoritmos encontrados no sistema on-line PRASITE através da

    página eletrônica: http://app.chuv.ch/prasite/index.html (84).

    Ambos os testes acima descritos são os mais utilizados e tem mostrado bons

    resultados na identificação das espécies das MNT bem como amostras mistas (MNT

    e TB) (83). Porém é importante lembrar que o método PRA-hsp65, não permite a

    diferenciação entre algumas espécies de micobactérias, devido a superposição de

    perfis de várias espécies distintas, necessitando o sequenciamento para

    complementação do resultado nessas situações (92). Apesar dessas limitações, o

    método PRA-hsp65 pode ser utilizado para a identificação preliminar das espécies de

    MCR mais frequentes (85).

    Sequenciamento de genes:

    As definições de espécies, inicialmente baseadas em testes fenotípicos,

    atualmente estão sendo baseadas no sequenciamento de vários genes essenciais ao

    metabolismo da célula bacteriana (48). O sequenciamento é a técnica molecular mais

    sensível, considerada padrão-ouro dos métodos da biologia molecular e é

    constantemente utilizada em estudos de identificação das espécies de micobactérias

  • 38

    (92). A identificação é feita através da comparação das sequências de nucleotídeos

    obtidas com as sequências de referência presentes em várias bases de dados.

    Geralmente é necessário apenas uma única reação de sequenciamento para uma

    identificação definitiva (93).

    Este método permite também a detecção direta de espécies de micobactérias que

    não cresceram em meios de cultura além de identificar diversas espécies

    possivelmente não conhecidas. Porém o sequenciamento, no entanto é um método

    dispendioso e necessita de técnicos e equipamento especializados, ou na ausência

    dos mesmos, de se recorrer a empresas especializadas (93).

    Essa técnica utiliza fragmentos de regiões específicas do genoma das

    micobacterias: hsp65, rpoB e 16S rRNA. Dentre estas regiões gênicas, o

    sequenciamento do gene hsp65 é o mais utilizado a nível de espécie e subespécie

    (92).

    O sequenciamento do gene rpoB é usado como alternativa não só para identificar,

    mas também diferenciar as MNT entres os grupos de crescimento lento e crescimento

    rápido (93).

    O impacto na magnitude exata das infecções por MNT em países onde a TB é

    endêmica ainda não são conhecidos. A Região Norte do Brasil é endêmica para os

    casos de TB e está em constante processo de expansão devido à industrialização

    gerada pela Zona Franca de Manaus, é detentora da maior bacia hidrográfica e é o

    berço da maior parte da biodiversidade existente do mundo, possivelmente abrigue

    em seu ecossistema a maior parte das micobatérias. Além disso, segundo dados do

    Ministério da Saúde, em 2014, está no ranking das unidades da Federação com as

    maiores taxas de detecção e mortalidade para o HIV/AIDS. Esses fatores apontam

    para a necessidade de estudos mais detalhados na população da Região Norte

    elucidando a relação entre TB/MNT/HIV.

    Devido à escassez de dados de incidência, prevalência e mortalidade nos casos de

    MNT/HIV na Região Amazônica são necessários estudos a fim de estabelecer critérios

    clínicos e bacteriológicos para que se possa notificar e tratar de maneira mais eficaz.

  • 39

    Como as técnicas de identificação de MNT ainda não estão bem estabelecidas,

    aumenta a necessidade do desenvolvimento de métodos de diagnóstico laboratorial,

    bem como a avaliação das técnicas existentes. Dessa forma, é recomendável que a

    identificação em nível de espécie seja realizada por sequenciamento de DNA para a

    confirmação dos resultados obtidos pelo PRA-hsp65 e outros testes moleculares,

    como o kit comercial GenoType® Mycobacterium CM-AS (86).

    Considerando que ainda não foram elucidadas as questões epidemiológicas das

    MNT nessa região e nem sua interação com os pacientes que soropositivos, esse

    estudo cooperará para o andamento da formulação dos critérios de controle,

    diagnóstico e tratamento de MNT na Região Amazônica.

    Visando priorizar a adequação terapêutica e obter dados que possam ser revisados

    a qualquer momento, é recomendável que a identificação em nível de espécie seja

    realizada por sequenciamento de DNA. Portanto, a confirmação dos resultados

    obtidos pelo PRA-hsp65 e outros testes moleculares, como o kit comercial

    GenoType® Mycobacterium CM-AS, é realizada através do sequenciamento genético

    (86).

    Com aumento de casos de infecções por MNT aumenta a necessidade da inovação

    dos métodos de diagnostico laboratorial bem como a criação de técnicas mais

    precisas para a identificação das espécies de MNT, que hoje são laboriosos e

    dispendiosos.

    2. OBJETIVO

    2.1. Geral:

    Descrever e caracterizar as espécies de micobactérias não tuberculosas isoladas de

    amostras clínicas de pacientes com suspeita de TB atendidos em uma unidade de

    referência no Estado do Amazonas.

  • 40

    2.2. Específicos:

    Descrever os achados microbiológicos dos pacientes com suspeita de TB e amostra

    clinica positiva para MNT;

    Identificar as espécies de MNT por meio de testes moleculares;

    Comparar as técnicas moleculares PRA hsp65, GenoType® Mycobacterium CM/AS e

    sequenciamento genômico das regiões hsp65 e rpoB;

    Descrever a frequência de coinfecção MNT/TB/HIV.

    3. MATERIAIS E MÉTODOS.

    3.1. Modelo e período de estudo:

    Trata-se de um estudo de coorte retrospectivo de casos suspeitos de TB no

    período de 2011 a 2014, na Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira

    Dourado (FMT-HVD).

    3.2. Amostras clínicas:

    As amostras foram obtidas através das buscas em livros de registros laboratoriais

    da Gerência de Tuberculose, foi realizado teste molecular das cepas criopreservadas

    positivas para MNT do período de 2011 a 2014. Os achados clínicos foram obtidos

    por meio do sistema de prontuário eletrônico on-line I-Doctor e no Sistema de

    Informação de Agravos de Notificação (SINAM).

    3.3. População de referência:

    Amostras clínicas de pacientes admitidos com suspeita clínica de TB, com

    amostra encaminhada ao laboratório de tuberculose da FMT-HVD e cultura positiva

    para MNT no período de 2011 a 2014.

  • 41

    3.4. Critérios de elegibilidade:

    Análise clínica e epidemiológica: Amostras clínicas de pacientes com suspeita

    clínica e epidemiológica de tuberculose independente de idade, sexo e procedência

    (ambulatório, enfermaria, UTI e/ou pronto atendimento), caracterizados por apresentar

    sintomas respiratórios, achado radiológico ou tomográfico compatível com doença

    pulmonar por micobactéria, solicitação de exame de escarro e resultado da cultura.

    Análise molecular para identificação de espécie de MNT: Amostras clínicas de

    pacientes com achados clínico-epidemiológicos sugestivos de TB e que possuam

    cepa criopreservada em condições viáveis de armazenamento (quantidade, aspecto

    e temperatura -70ºC).

    3.5. Definições para confirmação laboratorial dos casos de Micobactéria não

    tuberculosa:

    Infecção pulmonar por MNT confirmada laboratorialmente: Todo paciente que

    apresentou exame de escarro com resultado de baciloscopia negativa ou positiva

    variando em +/++ ou +++, teste molecular Xpert MTB/RIF® não detectável e cultura

    em meio sólido com crescimento confluente para MNT identificada por meio de teste

    fenotípico (análise de coloração e tempo de crescimento) e bioquímico (PNB, TCH e

    Niacina).

    Infecção pulmonar por MNT não confirmada laboratorialmente: Todo paciente

    que apresentou exame de escarro com resultado de cultura negativo, ou seja, com

    ausência de unidade formadora de colônia (UFC) e/ou cultura contaminada.

    3.6. Critérios de não inclusão:

    Análise clínica e epidemiológica: Não foram incluídos no estudo pacientes que

    não tiverem amostra clínica coletada e encaminhada ao laboratório de tuberculose

    e/ou que não possuam resultado do exame de baciloscopia e/ou Xpert MTB/RIF e/ou

    cultura.

  • 42

    Análise molecular para identificação de espécie de MNT: Amostras clínicas que

    tiveram o material perdido com o tempo, que não apresentaram concentração

    satisfatória para análise (0,5 mL) e que após repique apresentaram contaminantes

    não foram submetidas aos testes moleculares e sequenciamento de DNA.

    3.7. Procedimento laboratorial:

    Foi realizado o levantamento das informações laboratoriais referentes aos

    pacientes do estudo primeiramente através de livros de registro da Gerência de

    tuberculose e posteriormente buscas das cepas criopreservadas em geladeira -70ºC

    situada na Gerência de Bacteriologia da FMT- HVD. Para determinação e identificação

    de espécie as cepas rastreadas foram submetidas aos seguintes procedimentos:

    3.7.1 Identificação fenotípica:

    As culturas criopreservadas foram semeadas em meio de cultura sólido Ogawa

    Kudoh e incubadas em estufa bacteriológica à 37ºC (APÊNDICE E) para análise

    fenotípica através da constatação do tempo de crescimento e a presença de

    pigmentação conforme protocolo (APÊNDICE F).

    Foram submetidas a teste molecular (identificação genotípica) as cepas de

    isolados de espécimes cultivadas de amostras biológicas caracterizadas como

    Micobactéria não tuberculose que apresentaram crescimento em meio de cultura sem

    contaminantes.

    3.7.2. Identificação genotípica:

    a) Etapa 1: extração de DNA

    Foram utilizados dois métodos: um método de extração de DNA enzimático

    através de CTAB (APÊNDICE D) conforme técnica descrita por van Soolingen et al

    (1994) e outro por sonicação (banho ultra-sônico).

  • 43

    Resumidamente a técnica consistia em:

    Inativação de cepa e extração de DNA por termobloco: As cepas crescidas foram

    submetidas à inativação de sua potencialidade contaminante e posterior lise de

    membrana através de choque térmico (APÊNDICE G), foi retirada de 2 a 3 alçadas do

    crescimento micobacteriano da cultura e suspensas em um microtubo contendo água

    ultra-pura (Gibco®), logo após a suspensão foi submetida à banho maria por 20

    minutos a 99ºC.

    b) Etapa 2: As cepas foram submetidas a dois testes moleculares, um através de

    método não comercial “in house” e outro através de kit comercial.

    PCR – Restriction Enzyme Analysis (PRA-hsp65): Foi realizada a amplificação

    deum fragmento de 441 pb do gene hsp65, comum entre as micobactérias e posterior

    análise de seu polimorfismo mediante a digestão com as enzimas de restrição BstEII

    e HaeIII (APÊNDICE H). A determinação da espécie foi realizada através da análise

    do gel de eletroforese, as bandas de DNA encontradas foram comparadas a padrões

    descritos de restrição algoritmas encontrados na página eletrônica PRASITE:

    http://app.chuv.ch/prasite/index.html.

    Kit Comercial GenoType® Mycobacterium CM-AS:

    O DNA extraído submetido à técnica PRA-hsp65 também foi submetido a

    segmentação da região do gene 23S rRNA e hibridização reversa em fita de

    nitronucleose. Nesta fita, sondas específicas imobilizadas (tecnologia Hain

    LifeScience - DNA-STRIP), permitiram a identificação das seguintes espécies de

    micobactérias: Mycobacterium avium spp, M. chelonae, M. abscessus, M. fortuitum,

    M. gordonae, M. intracellulare, M. scrafulaceum, M. interjectum, M. kansasii, M.

    malmoense, M. peregrinum, M. marinum/M. ulcerans, M. xenopi e CMTB (complexo

    M.tb). O procedimento é a partir do material cultivado. A determinação da espécie é

    realizada através de uma tabela de interpretação.

  • 44

    Os resultados obtidos das duas técnicas foram analisados e comparados entre si e

    por fim confirmados através da técnica de sequenciamento.

    c) Etapa 3: Sequenciamento do gene hsp65 e rpoB.

    As técnicas de sequenciamento foram realizadas de acordo com os procedimentos

    descritos por Adekambi et al., 2003 e Selvaraju et al., 2005.

    Foi realizada a PCR utilizando primers específicos para a região do gene hsp65,

    com os oligonucleotídeo hsp667F 5’ GGCCAAGACAATTGCGTACG e hsp667R 5’

    GGAGCTGACCAGCAGGAT e outro para a região do gene rpoB, com os

    oligonucleotídios MycoF 5’ GGCAAGGTCACCCCGAAGGG e MycoR 5’

    AGCGGCTGCTGGGTGATCATC. Os produtos amplificados foram purificados

    utilizando Polietilenoglicol (PEG) 8000/2.5 M NaCl antes do sequenciamento

    (APÊNDICE I). As reações de amplificação foram realizadas através de termociclador

    com etapa de desnaturação inicial de 96ºC por 15 segundos, 50ºC por 15 segundos

    e 60ºC por 4 minutos. Os produtos da PCR foram submetidos a eletroforese em gel

    de 1%.

    A reação de sequenciamento foi realizada através do equipamento ABI 3500

    Genetic Analyzer com capilares de 50 cm e polímero POP7 (Applied Biosystems).

    Depois de marcadas foram novamente purificadas através de precipitação e

    desnaturação através do kit comercial BigDye XTerminator Purification Kit (Applied

    Biosystems) e eletroinjetadas no analisador genético.

    Os produtos da reação de sequenciamento (conting) foram alinhados e analisados

    através do programa DNASTAR – Lasergene7 SeqMan. Essas sequencias depois de

    alinhadas foram submetidas a análise comparativa utilizando o banco de dados

    mundial Basic Local Alignment Search Tool (BLAST), essa ferramenta de

    bioinformática contém uma quantidade gigantesca de informação, retornando

    sequências mais similares e de significância estatística, encontrado no National

    Center for Biotechnology Information (NCBI) http://www.ncbi.nlm.nih.gov/BLAST.

    3.8. Coleta e análise de dados

  • 45

    Coleta de dados: A coleta de dados seguiu de acordo com o instrumento de coleta de

    dados (APÊNDICE C). Foi criado um banco de dados no software Excel, para

    organização de dados clínicos e laboratoriais coletados.

    Análise estatística dos dados: Para os dados demográficos e clínicos foram calculadas

    média, mediana e intervalo interquantil (IQR). A normalidade dos dados será

    verificada por meio do teste Kolmogorov-smirnov. Foi aplicado o teste Kappa para

    análise da concordância entre as técnicas moleculares utilizadas na identificação das

    espécies de MNT através da escala de Landis onde a concordância é classificada

    como: pobre (abaixo de 0), discreta (0-0,2), fraca (0,21-0,4), moderada (de 0,41-0,6),

    substancial (0,61-0,8), quase perfeita (0,81-1) (Landis & Koch, 1977).

    3.9. Considerações éticas:

    Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FMT-HVD,

    preservando os direitos dos sujeitos da pesquisa conforme os requisitos da Resolução

    do Conselho Nacional de Saúde 466/12 e suas complementares.

    4. RESULTADOS

    Artigo a ser submetido BioMed Central Infectious Diseases (BMC Infectious

    Diseases).

    Caracterização de Micobactérias não tuberculosas isoladas de amostras

    biológicas de pacientes suspeitos de tuberculose atendidos em uma Unidade de

    Referência no Estado do Amazonas

    Characterization of non-tuberculous mycobacteria isolated from biological samples of

    patients suspected of tuberculosis treated at a Reference Unit in the State of Amazonas

    Ana Carolina de O. de Lima 1, Karen B. Schmid 2, Hilda F. de Melo 3, Rafaella Christine

    C. Athayde5, Afrânio L. Kritski 4, Maria Lúcia R. Rossetti 2, Marcelo Cordeiros-Santos 1.

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    1. Universidade do Estado do Amazonas (UEA), AM, Brasil; Fundação de Medicina

    Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), AM, Brasil. 2. Fundação Estadual de

    Produção e Pesquisa em Saúde (FEPPS), RS, Brasil; Centro de Desenvolvimento

    Científico e Tecnológico (CDCT), RS, Brasil. 3. Centro Universitário do Norte

    (UNINORTE