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8/3/2019 Princpios estruturantes do Processo Penal Portugus (Parte I)
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Princpios estruturantes do Processo Penal Portugus1
As normas processuais penais so orientadas por um conjunto de
princpios que exprimem as opes fundamentais do processo penal emcausa e que constituem, pois, horizonte de fundo para as mesmas normas,
bem como de integrao em casos lacunosos. Estes princpios podem ser
arrumados de diferentes maneiras, mas, aqui, seguimos o esquema de
orientao constante das Lies do Prof. Doutor Jorge de Figueiredo Dias,
coligidas por Maria Joo Antunes, Assistente da Faculdade de Direito de
Coimbra (1988-89), integrando tais princpios em quatro grandes grupos:
1. Grupo: Princpios relativos iniciativa ou promoo processual (3
princpios)
y Princpio da oficialidadey Princpio da legalidadey Princpio da acusao
2. Grupo: Princpios atinentes prossecuo ou marcha processual (4 princpios)
y Princpio da investigaoy Princpio da suficinciay Princpio da contraditoriedade e audincia prviay Princpio da concentrao
1Os apontamentos apresentados foram recolhidos em aulas tericas de Direito Processual Penal I,
ministradas pelo Exmo. Professor Doutor Antnio Alberto Monteiro Medina de Seia, na Faculdade deDireito da Universidade do Porto (FDUP), no ano lectivo 2011/2012.
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3. Grupo: Princpios relativos prova (3 princpios)
y Princpio da investigaoy Princpio da livre apreciao da provay Princpio in dubio pro reo
4. Grupo: Princpios relativos dimenso formal do processo ou
forma do processo (3 princpios)
y Princpio da publicidadey Princpio da oralidadey Princpio da imediao
Sentido destes princpios
Ns estamos em face de princpios e no de normas, portanto so
mximas orientadoras da estrutura do processo penal. Nem todos eles
encontram base normativa ou fundamento legal especfico. Alguns sim,
como o princpio da investigao (artigo 340. CPP) ou o princpio da livre
apreciao da prova (artigo 127. CPP), mas outros no, como o princpioin dubio pro reo, que decorre da conjugao de normas e princpios
constitucionais.
Meta-princpios regulativos de todo o sistema (2 vectores
estruturantes)
1. Princpio do fair trial ( processo justo, equitativo): nos ltimosanos, por influncia dos instrumentos internacionais de inspirao
anglo-americana, designadamente a Conveno Europeia dos
Direitos do Homem (CEDH, artigo 6.) e o Pacto Internacional dos
Direitos Civis e Polticos (PIDCP, artigo 14.), a doutrina continental
tem salientado a importncia deste princpio que funciona como
pedra-de-toque de todo o processo. Este princpio j ganhou, entre
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ns, dimenso constitucional, a partir da IV Reviso Constitucional
(1997), no artigo 20. CRP, embora numa frmula semanticamente
menos rica ( processo equitativo) e a doutrina v nele um
elemento de unidade valorativa de todos os mecanismos
destinados a garantir uma proteco alargada dos direitosfundamentais dos participantes no processo, sobretudo do arguido.
A sua fundamentao ltima encontra-se, para a doutrina, no
princpio do Estado de Direito e no princpio do Estado Social. um
princpio que tem sido muito trabalhado pela jurisprudncia do
Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEDH), que entende que
a garantia do processo equitativo no vale exclusivamente pelos
resultados a que conduz, mas sobretudo pelos instrumentos e
mtodos de que se socorre para assegurar as prerrogativas do
arguido e demais participantes. Acentua-se, pois, neste princpio, a
dimenso procedimental da justia (justia processual). Na tradio
anglo-americana, o fair trialencontra-se ligado ou decorre do
princpio da igualdade de armas entre a acusao e a defesa. A
doutrina continental no tem acompanhado integralmente esta
tradio. Na verdade, luz do nosso Direito, no sustentvel um
princpio de igualdade de armas, pois bem patente a assimetria
nos estatutos processuais da acusao e da defesa. Por isso, a
doutrina continental entende que o fair trialno impe uma
identidade de armas ou igualdade de meios entre acusao e
defesa, mas sim uma reciprocidade de direitos em ordem
formao de prova, uma igual possibilidade de acesso s fontes
probatrias.
2. Princpio da presuno de inocncia: este princpio, que teve a suaprimeira consagrao normativa moderna em 1789, na Declarao
dos Direitos do Homem e do Cidado (DDHC), foi incorporado emdiversos instrumentos de Direito Internacional, entre os quais a
CEDH (artigo 6., n.2) e o PIDCP (artigo 14., n.2). Tambm a
nossa Constituio o inclui entre as garantias do processo criminal
(artigo 32., n.2 CRP). O contedo e alcance deste princpio no se
mostram fceis de apresentar. Na verdade, tirando o princpio in
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dubio pro reo, que a maior parte da doutrina faz decorrer do
princpio da presuno da inocncia, as restantes dimenses desta
garantia constitucional so menos claras. Este princpio pode ser
visto em duas dimenses essenciais:
a) Presuno de inocncia como regra de juzo: a presuno deinocncia postula que uma declarao de culpabilidade e a
consequente aplicao da pena s podem ocorrer em funo
de um processo (nullum crimen nulla poena sine judicio). A
culpabilidade do arguido deve ser provada para l de toda a
dvida razovel. Quando a mesma subsista no ltimo
momento decisrio, o critrio epistemolgico de resoluo
identifica-se com o princpio do favor rei(princpio in dubio
pro reo). Em caso de dvida sempre a acusao decai e o
juiz tem um critrio de juzo em caso de incerteza o in
dubio pro reo , que decorre da presuno de inocncia. ao
Estado que compete inverter esta presuno.
b) Presuno de inocncia como regra de tratamento: levandoa presuno de inocncia s ltimas consequncias, todas as
restries das liberdades antes da condenao transitada em
julgado seriam ilegtimas. No entanto, este princpio
comporta restries e compresses. A consagrao
constitucional da presuno de inocncia tem refraces em
matria de medidas restritivas da liberdade pessoal,
designadamente em sede dos fins legitimadores dessas
medidas. Por um lado, impede-se que o ordenamento
atribua uma funo aflitiva qualquer priso preventiva e
demais medidas de coaco. No podem ser vistas como
ante pena, no tm uma funo de castigo, mas apenasservem o processo e suas finalidades. Assim, uma restrio
das liberdades antes do julgamento e condenao que
decorre do periculum libertatis s constitucionalmente
legtima quando fundada em exigncias inerentes ao
processo. Da presuno de inocncia, por outro lado, deriva
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que o tratamento dos arguidos, presos preventivamente,
deve ser diferenciado dos condenados a priso e, por norma,
o arguido deve estar livre na sua pessoa em audincia.
1. Grupo: Princpios relativos iniciativa ou promoo processual (3
princpios)
y Princpio da oficialidade: uma das primeiras questes que sepodem colocar acerca do incio de um processo penal a de
saber a quem pertence o impulso processual, a quem cabe a
competncia funcional para pr em marcha a actividade
judiciria. Nos ordenamentos jurdicos mais antigos, tal impulso
processual no competia ao Estado ou comunidade
organizada, mas sim aos particulares e isto podia acontecer
atravs de uma de duas formas:
o Na forma de uma aco privada (sistema de acoprivada), tpico do antigo Direito Germnico, no qual o
processo se iniciava com a acusao do particular
ofendido ou de um membro da sua famlia. Este modelo
encontra-se ligado a uma compreenso do crime como
fenmeno privado das pessoas vitimadas (como um dano
civil);
o Na forma de aco popular, que foi praticado no antigoDireito Romano, segundo o qual qualquer cidado podia
deduzir acusao e iniciar um processo penal (ideia de
responsabilidade solidria).
Porm, a partir de certa poca histrica, comeou a ver-se queos interesses tutelados pelo Direito Penal tinham uma
ressonncia comunitria, mesmo quando atingiam bens
individuais e no meramente uma dimenso privatstica,
decorrente da proteco desse bem/valor jurdico fundamental.
A Histria trouxe, por outro lado, o monoplio do Estado na
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administrao da justia penal. Estes vectores justificam a
mudana na competncia para a iniciativa processual e,
progressivamente, este impulso processual veio a ser confiado a
uma autoridade pblica, dando corpo ao princpio da
oficialidade, segundo o qual a competncia para promover aaco penal, bem como para decidir da submisso ou no dos
factos e do arguido a julgamento pertence a uma autoridade
pblica Ministrio Pblico que a exerce por dever de ofcio
(ex officio), independentemente da vontade ou da posio
assumida pelos particulares atingidos pelo crime.
Como mencionado, o princpio da oficialidade actua em dois
momentos: no momento da abertura do inqurito, em que cabe
ao Ministrio Pblico, enquanto titular da aco penal (artigo
219. CRP), a iniciativa da promoo do processo (artigo 48.
CPP); no momento da deciso sobre a acusao ou o
arquivamento do processo, que ocorre no termo do inqurito
(artigo 53., n.2, alnea c) CPP, artigo 277. CPP e artigo 283.,
n.1 CPP).
O princpio da oficialidade no vale, porm, para todos os
crimes. H crimes em que ele no se aplica inteiramente, isto ,
conhecemos desvios e excepes ao princpio da oficialidade.
Tem isto a ver com a natureza jurdico-criminal dos crimes. Deste
ponto de vista usual classificar-se os crimes em duas grandes
categorias:
o Crimes pblicoso Crimes particulares em sentido amplo, que se subdividem
em:
Crimes semi-pblicos Crimes particulares em sentido estrito
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Nos crimes pblicos, vale integralmente o princpio da
oficialidade, nos dois momentos assinalados. Quer a abertura do
inqurito, quer a deciso sobre acusar ou no esto entregues a
uma entidade pblica, que actua independentemente da
vontade dos particulares afectados. Porqu estes crimes?Prende-se com a natureza dos interessados em causa, no
contendendo apenas com bens supra-individuais, como no
sucede com o homicdio ou o roubo, que so crimes pblicos.
Nem todos os crimes so pblicos, havendo crimes particulares
em sentido amplo:
o Crimes semi-pblicos: so aqueles em que a legitimidadeprocessual do Ministrio Pblico precisa de ser integrada
por uma manifestao de vontade por parte do ofendido
ou de outra pessoa legalmente autorizada (queixa, artigo
49. CPP). Os crimes semi-pblicos constituem apenas um
desvio ou uma limitao do princpio da oficialidade, uma
vez que somente uma das vertentes em que esse princpio
se concretiza se encontra afastada (momento da abertura
do inqurito). A competncia para decidir se h ou no
inqurito pertence ao particular, o Ministrio Pblico no
pode instaurar inqurito sem a queixa do particular. J no
segundo momento a competncia pertence ao MP.
o Crimes particulares em sentido estrito: constituem umaverdadeira excepo ao princpio da oficialidade, que j
no se aplica em qualquer dos momentos, sendo a
competncia para tais decises do particular. Assim, nos
crimes particulares stricto sensu necessrio haver queixado ofendido para se promover o inqurito. Terminado
este, a competncia para decidir da acusao no
pertence ao MP, mas sim ao particular que, entretanto, h
de ter assumido um estatuto processual especfico: o
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estatuto de assistente (artigo 50. CPP; artigo 68., n.2
CPP; artigo 246., n.4 CPP; artigo 285. CPP).
Importa saber, agora, os motivos pelos quais os crimesparticulares lato sensu no so crimes pblicos, dado
ultrapassar-se a dimenso privatstica. H vrias razes para nem
todos os crimes estarem subsumidos ao princpio supra citado:
1) Crimes que revelam pequena gravidade e que no serelacionam de forma to marcante com os bens
comunitrios, incidindo antes numa esfera de interesses
claramente individuais. Por exemplo: crime de dano
simples, crime de injria, crime de furto simples, crime de
ofensas corporais simples.
Nestes casos de crimes de menor gravidade e menor
ressonncia comunitria, o Estado s considera necessrio
reagir contra o eventual infractor caso o ofendido
manifeste a sua vontade inequvoca nesse sentido. H
uma certa medida de disponibilidade do bem jurdico;
2) Tambm h casos de crimes que se inscrevem num mbitode relaes inter-pessoais em que o Estado considera
prefervel no intervir sob pena de agudizar os conflitos.
o caso, por exemplo, do furto entre familiares e foi, at h
algum tempo atrs, dos maus tratos entre familiares
(violncia domstica);
3) H ainda outro tipo de infraces em que, apesar da suarelevncia comunitria e gravidade, no vale o princpio daoficialidade, pois a promoo do inqurito est
dependente de queixa do ofendido. So crimes que esto
intimamente ligados a uma esfera da reserva de
intimidade, como sucede na maior parte dos crimes
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sexuais. Por exemplo: crime de violao, salvo se for
contra menor.
uma tentativa de proteger a vtima, no a sujeitando a
um processo penal, que pode representar uma segunda
vitimizao.
4) H outras razes ainda para justificar porque nem todosos crimes so pblicos. A existncia destes desvios e
excepes ao princpio da oficialidade tambm pretende
aliviar a presso sobre a mquina judiciria.
Como sabemos se um crime pblico ou particular?
A resposta resulta do Cdigo Penal, junto de cada tipo legal de
crime. Assim:
o Quando no tipo legal nada se refere quanto aoprocedimento processual, o crime diz-se pblico;
o Quando no tipo legal se diz que o procedimento dependede queixa um crime semi-pblico;
o Quando no tipo legal se diz que o procedimento dependede acusao particular +e um crime particular em sentido
estrito.
N.B: Esta indicao pode no constar sempre do tipo legal, mas
surgir mais frente numa norma geral, como sucede, por
exemplo, com o crime de difamao (artigo 180. CP), em que
norma posterior diz qual a categoria de crime em que se integra.
Os crimes semi-pblicos e particulares em sentido estrito
apresentam pressupostos de procedibilidade especficos: queixae acusao particular. A disciplina normativa desses institutos
encontra-se consagrada, essencialmente, no Cdigo Penal
(artigos 113. e seguintes CP). A se define quem so os titulares
do direito de queixa. Por regra o ofendido que, para este
efeito, o titular dos interesses que a lei quis especialmente
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proteger com a incriminao. H casos, no entanto, em que o
ofendido em sentido estrito no pode apresentar queixa,
transmitindo-se tal direito aos seus sucessores, indicados no
artigo 113., n.2 CP. Noutros casos, o ofendido incapaz por
razo da idade ou por incapacidade psquica, cabendo a odireito de queixa ao seu representante legal. O direito de queixa
tem um prazo para ser exercido, sob pena de caducidade, e o
seu titular pode renunciar ao exerccio ou desistir da queixa
apresentada.
y Princpio da legalidadeTem a ver com um problema, uma questo por ele respondida:
saber de que modo devem ser exercidas as competncias
funcionais conferidas ao MP, em matria de promoo
processual.
Tais competncias correspondem ao exerccio de um dever ou
de uma simples faculdade?
No nosso pas, segue-se o princpio da legalidade, segundo o qual
a promoo e prossecuo processual constituem um dever para
o MP. Assim, e num primeiro momento, verificadas as condies
objectivas consignadas pela Lei notcia do crime , o MP deve
abrir inqurito; num segundo momento, verificadas as condies
objectivas consignadas na Lei indcios suficientes , o MP deve
deduzir acusao.
Na promoo processual, a actividade do MP desenvolve-se em
vinculao estrita Lei e no segundo consideraes de
oportunidade ou convenincia de qualquer espcie, como, porexemplo, de convenincia financeira, poltica ou burocrtica.
Historicamente, o princpio da legalidade da promoo
processual encontra-se ligado a um modelo inquisitrio do
processo, encontrando a sua principal fundamentao teortica
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nas concepes retribucionistas ou absolutas dos fins das penas.
Nestas concepes, a pena constitui um fim em si mesmo,
punindo-se por um imperativo de justia, e o Estado deve
pautar-se, no plano processual, com o dever de investigar tudo e
perseguir todos os crimes.Contudo, actualmente, as concepes absolutas j no
dominam, adoptando-se, em alternativa, as teorias utilitrias ou
relativas, com fins preventivos (preveno geral positiva ou
negativa e preveno especial), que se tornaram
progressivamente dominantes, com repercusses no processo
penal, designadamente ao nvel deste princpio, seguindo-se
critrios de utilidade.
O progressivo abandono do iderio retribucionista e a sua
substituio gradual por concepes utilitrias de base
preventiva teve reflexos no princpio da legalidade, que tem
vindo a perder muita da sua sustentabilidade terica. Assim,
neste novo horizonte da poltica criminal, o MP j no deve estar
subsumido mecanicamente ao princpio da legalidade, devendo
ter margem de deciso conformada por critrios de
convenincia e oportunidade.
Entre ns, a tradio ainda dominante a continental, que
assenta no princpio da legalidade (artigo 219. CRP). Apesar de
j no justificado pelos ideais retribucionistas, o seu fundamento
mais relevante decorre do princpio da igualdade (artigo 13.
CRP), o que probe um tratamento diferenciado de arguidos e de
crimes. Por outro lado, atravs do princpio da legalidade,
consagra-se a imparcialidade e a independncia da
administrao da justia, resguardando-a de presses externas e,deste modo, reforando e potenciando a confiana da
comunidade no sistema jurdico-penal e, deste modo, ampliando
os efeitos preventivo-gerais.
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Em concluso, pois, o nosso sistema continua a ser orientado
pelo princpio da legalidade, significando que a entidade pblica
para a promoo processual dotada de competncia est
obrigada a:
o Promover o processo penal, abrindo inqurito sempre quetenha recebido a notcia do crime (artigo 262., n.2 CPP);
o Deduzir acusao sempre que do inqurito tenhamresultado indcios suficientes (artigo 283. CPP) e arquivar
caso no haja indcios suficientes (artigo 276. CPP).
Do princpio da legalidade decorre ainda o princpio da
imutabilidade da acusao, segundo o qual, uma vez deduzida a
acusao, a mesma no pode ser retirada por renncia ou
desistncia do MP.
O princpio da legalidade conhece, no entanto, desvios e
excepes, por fora da mutao do horizonte poltico-criminal.
A partir do Cdigo de Processo Penal de 1987, foram
introduzidos mecanismos processuais que constituem um
afastamento do princpio da legalidade entendido na sua forma
rigorosa.
Em primeiro lugar, esse ideal de perseguir todos os crimes uma
impossibilidade, dado no haver sistema processual capaz de dar
resposta a todas as expresses de criminalidade, sendo que
muitas deles nem sequer chegam ao conhecimento das
instncias formais de controlo, dando origem quilo que sechama cifras negras, isto , a percentagem de criminalidade
que no entra nos corredores dos processos penais.
Tambm sabemos que muita da criminalidade que entra no
processamento das instncias de controlo vai sendo
seleccionada, dando origem ao efeito funil, atravs de
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mecanismos de seleco. Ora, esses mecanismos de seleco
no decorrem todos, claro, do princpio da legalidade, antes pelo
contrrio. Mesmo num pas orientado por um princpio de
legalidade rgido no se pode perseguir todos os crimes
(impossibilidade no plano dos factos).
Institutos que as leis prevem e que constituem manifestao de
oportunidade processual (desvios e excepes ao princpio da
legalidade)
o A consagrao de tais mecanismos devedora de muitosfactores, entre eles a necessidade de aliviar o sistema
judicirio, lanando mo de solues menos pesadas para
os intervenientes no conflito. Por outro lado, importa ter
presente que a Criminologia, sobretudo a partir dos anos
50/60 do sculo XX, chamou a ateno para o efeito
crimingeno e estigmatizante que o processo penal
formal pode desencadear, isto , quando algum
(arguido, vtima) intervm num procedimento, assume um
papel que fica agarrado como um estigma a essa pessoa e
com efeitos dessocializadores teoria do labeling
approach, da etiquetagem ou do interaccionismo
simblico. Constitui uma criminalizao secundria gerada
pelo sistema.
o A partir dos anos 60, nos pases que seguem o figurino dalegalidade (Alemanha, ustria, Itlia, Espanha) surge a
defesa, ento, da convenincia de criar mecanismos
alternativos mecanismos de diverso.
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o Mecanismos alternativos resoluo do conflito, fora dosistema processual penal formal
o O Cdigo de Processo Penal consagra duas figuras: Arquivamento em caso de dispensa de pena(artigo 280. CPP): esta figura est pensada
para a pequena criminalidade, isto , para
crimes punveis com pena de priso at 6
meses ou multa at 120 dias. Noutras
palavras, pode-se dizer que esta figura tem
lugar nos crimes susceptveis de aplicao do
instituto da dispensa de pena (artigo 74. CP).
O MP, terminado o inqurito, recolheu
indcios suficientes de que houve crime e de
quem foi o seu agente. Devia deduzir
acusao, ao abrigo do princpio da
legalidade. Porm, o MP verifica que o crime
em causa um delito para o qual a lei prev
este instituto, sendo provvel que, se o
processo seguir para julgamento, o tribunal
venha a aplicar o instituto da dispensa de
pena. Assim, talvez seja prefervel resolver j
o conflito, arquivando o processo. No se
pode, contudo, confundir esta figura com
aquela prevista no artigo 277. CPP, que
uma manifestao do princpio da legalidade.
, assim, mais oportuno e conveniente no
acusar. Os pressupostos de aplicao destemecanismo constam da legislao processual
penal, sendo exigvel a concordncia do juiz
de instruo criminal.
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Querendo potenciar os efeitos positivos desta
soluo, o legislador previu que este
mecanismo pode ter lugar mesmo depois da
acusao. Se, por exemplo, o MP acusou e
requerida a abertura de instruo, permite-seque, nesta fase, o juiz de instruo criminal
proceda ao arquivamento, desde que com a
concordncia do MP e do arguido.
Suspenso provisria do processo (artigo281. e 307., n.1 CPP): constitui uma
soluo mais ampla e ousada, no mbito da
pequena e mdia criminalidade, isto porque
esta figura aplicvel a crimes com pena
mxima de priso at 5 anos.
A Lei permite, aqui, que o MP, apesar de estar
dotado de indcios suficientes de que houve
crime e de quem o cometeu, o possa
suspender durante um tempo, no acusando.
Durante esse tempo, o arguido fica sujeito a
um conjunto largo de injunes e de regras de
conduta, que visam dar consistncia a esta
suspenso e promover a ressocializao do
arguido.
A aplicao deste instituto, da competncia
do MP, depende da concordncia do juiz de
instruo criminal, do arguido e do assistente,
bem como do preenchimento dos demaispressupostos indicados no artigo 281., n.1
CPP.
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A suspenso pode ir at 2 anos, excepto nas
situaes previstas no artigo 281., nmeros
6 e 7 CPP (crimes de violncia domstica e
crimes contra a liberdade sexual de menor),em que a suspenso se pode estender at 5
anos. Se durante o prazo de suspenso o
arguido cumprir as regras de conduta e
injunes, cumprido o mesmo, o processo
arquivado e no mais pode ser reaberto
(deciso insusceptvel de impugnao).
Porm, se o arguido no cumprir as injunes
e regras de conduta, eventualmente
cometendo, durante a suspenso, crime da
mesma natureza, o processo segue para
julgamento.
o Fora do Cdigo, em legislao extravagante, temosde recordar a figura da mediao penal, regulada na
Lei n. 21/87, de 12 de Junho.
H muito tempo se tem vindo a falar da crisedo velho modelo de justia, mencionando-se
muito, hoje, o modelo da justia
restaurativa, como alternativa ao modelo
tradicional, tambm por forte presso da
Unio Europeia;
Foi introduzida em 2007, constituindo umprocesso informal e flexvel de resoluo de
conflitos penais, para os crimes particularesem sentido estrito e crimes semi-pblicos,
desde que a pena mxima abstractamente
prevista no seja superior a 5 anos;
O MP pode remeter para a mediao,visando-se a obteno de consenso entre
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vtima e arguido, a cabo de um tcnico
especializado o mediador. O acordo obtido
pode constituir num pedido de desculpa ou
numa compensao monetria, desde que
no contenda com direitos fundamentais; Tal mecanismo favorece as pessoas com
maiores capacidades econmicas.
Por fora de tais mecanismos, Manuel da Costa
Andrade fala neste sentido, num princpio de
legalidade mitigada ou legalidade aberta.
y Princpio da acusao: constitui um elemento estruturante nadefinio do modelo processual acusatrio.
o A entidade (a pessoa e no a funo) que investiga e acusatem de ser materialmente distinta da entidade que julga.
o Este princpio no vigorava no modelo inquisitrio, spassando a aplicar-se, na Europa, a partir da Revoluo
Francesa;
o Entre 1929 e 1945, vigora um modelo acusatrio formalou inquisitrio mitigado, marcado por uma separao
formal entre a entidade que investiga e acusa e a entidade
que julga;
o Deste princpio decorrem importantes impedimentos. Asua justificao enquanto princpio decorre da importncia
no julgamento;
o Do princpio da acusao decorrem alguns corolrios:1) O princpio da acusao implica que no seja o
tribunal de julgamento a ter a iniciativa de
investigao;
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2) A actividade do tribunal est dependente de prviadeduo de uma acusao por entidade distinta do
tribunal (MP ou particular, consoante o tipo de
crime). A deduo da acusao pressuposto de
toda a actividade judicativa (no h julgamento semacusao).
3) A acusao que define e fixa o objecto doprocesso, aquele quid sobre o qual vai incidir a
actividade do tribunal. A acusao estabelece a
denominada vinculao temtica do tribunal.