Problemas Economicos Socialismo na Urss

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    Para a Histria do Socialismo

    Documentos

    www.hist-socialismo.net

    Traduo do russo e edio por CN, 18.09.121

    _____________________________

    Problemas Econmicos

    do Socialismo na URSSI. V. Stline

    1952

    Aos participantesna discusso sobre economia

    Observaes sobre questes econmicasrelacionadas com a discusso

    de Novembro de 1951

    Recebi todos os documentos relativos discusso sobre economia, realizada apropsito da apreciao do projecto de manual de economia poltica. Recebi,designadamente, as Propostas para melhorar o projecto de manual deeconomia poltica;2 as Propostas para eliminar erros e inexactides noprojecto e a Resenha das questes controversas.

    A respeito de todos estes materiais, como tambm sobre o projecto demanual, considero necessrio fazer as seguintes observaes.

    1 Ttulo original: , I.V. Stline, Obras,t. 16, ed. Pisstel, Moscovo, 1997, pp. 154-223. (http://grachev62.narod.ru/stalin/t16/t16_33.htm).O ndice temtico encontra-se no final do documento. (N. Ed.)

    2 OManual de Economia Poltica, elaborado por K.V. Ostrovtianov, D.T. Cheplov, L.A.Lentiev, I.D. Laptev, I.I. Kuzminov e L.M. Gatovski, foi publicado em finais de 1954, sobchancela do Instituto de Economia da Academia de Cincias da URSS e da Editora Estatal

    de Literatura Poltica, com uma primeira tiragem de trs milhes de exemplares. Logo noano seguinte, foi publicada uma segunda edio, na qual o mesmo colectivo de autoresintroduziu alguns melhoramentos. (N. Ed.)

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    1. A questo do carcter das leis econmicas no socialismo

    Alguns camaradas negam o carcter objectivo das leis da cincia,particularmente das leis da economia poltica no socialismo. Negam que as leisda economia poltica reflectem a regularidade de processos que se produzemindependentemente da vontade das pessoas. Consideram que, dado o papelparticular conferido pela histria ao Estado sovitico, este e seus dirigentespodem abolir as leis existentes da economia poltica e formar novas leis,criar novas leis.

    Estes camaradas esto profundamente errados. Pelos vistos, confundem asleis da cincia, as quais reflectem processos objectivos da natureza ou dasociedade, que ocorrem independentemente da vontade humana, com as leisque os governos publicam, que so criadas pela vontade das pessoas e queapenas tm fora jurdica. No entanto, em caso algum, as podemos misturar.

    O marxismo entende as leis da cincia quer se trate das leis das cinciasnaturais, quer das leis da economia poltica como o reflexo de processosobjectivos que ocorrem independentemente da vontade das pessoas. As pessoaspodem descobrir, conhecer, estudar, ter em conta estas leis nos seus actos,utiliz-las no interesse da sociedade, mas no podem modific-las nem aboli-las. Muito menos podem formar ou criar novas leis da cincia.

    Significar isto, por exemplo, que os resultados da aco das leis da natureza,os resultados da aco das foras da natureza, so em geral inelutveis, que aaco destruidora das foras da natureza se produz sempre e em toda parte comuma espontaneidade inexorvel que escapa influncia humana? No. No

    significa. Se excluirmos os processos astronmicos, geolgicos e alguns outrosanlogos, nos quais as pessoas, mesmo que conheam as leis do seudesenvolvimento, so efectivamente impotentes para os influenciar, em muitosoutros casos esto longe de serem incapazes de agir sobre os processos danatureza. Em todos estes casos, as pessoas, conhecendo as leis da natureza,levando-as em conta e apoiando-se nelas, aplicando-as e utilizando-ashabilmente, podem limitar a sua esfera de aco, imprimir outra direco sforas destruidoras da natureza, dirigi-las em proveito da sociedade.

    Tomemos um entre muitos exemplos. Na antiguidade, quando os grandesrios transbordavam, provocando inundaes e consequentes destruies de

    habitaes e de campos cultivados, considerava-se que se tratava decalamidades inelutveis, contra as quais as pessoas nada podiam fazer. Todavia,com o decorrer dos tempos, com o progresso do conhecimento humano, aspessoas aprenderam a construir barragens e centrais hidroelctricas, econstatou-se que era possvel evitar as inundaes, calamidade que antesparecia inelutvel. Alm disso, as pessoas aprenderam a domar as forasdestruidoras da natureza, aprenderam, digamos, a domin-las, a dirigir a forada gua em proveito da sociedade, a utiliz-la para irrigar os campos e obterenergia.

    Significar isto que as pessoas aboliram deste modo as leis da natureza, as

    leis da cincia, que criaram novas leis da natureza, novas leis da cincia? No.No significa. Na realidade todo o procedimento de preveno da aco

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    destruidora da fora das guas e da sua utilizao no interesse da sociedadedecorre sem a menor violao, modificao ou supresso das leis da cincia esem a criao de novas leis da cincia. Pelo contrrio, todo este procedimento

    baseia-se rigorosamente nas leis da natureza, nas leis da cincia, uma vez quequalquer violao das leis da natureza, mesmo a mais pequena, provocaria

    transtorno obra e o fracasso do procedimento.O mesmo se deve dizer a respeito das leis do desenvolvimento econmico,

    das leis da economia poltica, tanto faz tratar-se do perodo do capitalismo ou doperodo do socialismo. Tal como nas cincias naturais, tambm as leis dodesenvolvimento econmico so objectivas, reflectem os processos dodesenvolvimento econmico que se produzem independentemente da vontadehumana. As pessoas podem descobrir estas leis, conhec-las e, apoiando-senelas, aplic-las no interesse da sociedade, imprimindo outra direco acodestruidora de certas leis, limitando a sua esfera de aco, dando livre curso aoutras leis que abrem o seu caminho, mas no podem elimin-las ou criar novasleis econmicas.

    Uma das particularidades da economia poltica consiste no facto de que assuas leis, diferentemente das leis das cincias naturais, so efmeras, actuam,na sua maioria pelo menos, no decurso de um determinado perodo histrico,aps o qual cedem lugar a novas leis. Porm, estas leis no so eliminadas,apenas perdem validade por fora das novas condies econmicas, e saem decena para dar lugar a novas leis, as quais no so criadas por vontade humana,mas surgem na base das novas condies econmicas.

    invocada a frmula de Engels, no Anti-Dhring, de que, com a liquidao

    do capitalismo e a socializao dos meios de produo, as pessoas adquirempoder sobre os seus meios de produo, libertam-se do jugo das relaeseconmico-sociais e tornam-se senhores da sua vida social. Engels chama aesta liberdade necessidade consciente. Mas que significa necessidadeconsciente? Significa que as pessoas, ao conhecerem as leis objectivas(necessidade), aplic-las-o com plena conscincia no interesse da sociedade. precisamente isso que Engels afirma na mesma obra:

    As leis da sua prpria aco social que, at aqui, lhes eram exteriores,estranhas e o dominavam como leis naturais, so desde ento aplicadas edominadas pelos homens com plena competncia.3

    Como se v, a frmula de Engels no d de modo algum razo queles quepensam que no socialismo possvel abolir as leis econmicas existentes e criarnovas. Pelo contrrio, ela exige no a abolio, mas o conhecimento das leiseconmicas e a sua hbil aplicao.

    Afirma-se que as leis econmicas tm um carcter espontneo, que a suaaco inelutvel e que a sociedade impotente perante elas. Isto falso. Istoequivale a transformar as leis num fetiche e tornar-se escravo delas. Estprovado que a sociedade no impotente perante as leis. Conhecendo as leiseconmicas e apoiando-se nelas, a sociedade pode limitar sua esfera de aco,

    3 Friederich Engels, Anti-Dhring, Fernando Ribeiro de Mello/ Edies Afrodite, Lisboa,1974, 2. edio, p. 347. (N. Ed.)

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    utiliz-las no interesse da sociedade e domin-las, como acontece em relaos foras da natureza e s suas leis, caso do exemplo atrs apresentado sobre otransbordamento dos grandes rios.

    Invoca-se o papel particular que o poder sovitico desempenha na construodo socialismo, o qual, alegadamente, lhe permitiria eliminar as leis existentes dodesenvolvimento econmico e formar novas. Isto igualmente falso.

    O papel particular do poder sovitico explica-se por duas circunstncias: emprimeiro lugar, ao poder sovitico no cabia substituir uma forma de exploraopor outra, como sucedia nas revolues antigas, mas sim liquidar todo o tipo deexplorao; em segundo lugar, dada a ausncia no pas de quaisquer embries jprontos da economia socialista, o poder sovitico teve de criar, digamos, apartir do nada as novas formas socialistas de economia.

    Tarefa sem dvida difcil e complicada que no tinha precedentes. Apesardisso, o poder sovitico cumpriu-a honrosamente. Mas no porque tivesse

    abolido as leis econmicas existentes e formado novas, mas apenas porque seapoiou na lei econmica da obrigatoriedade da correspondncia entre asrelaes de produo e o carcter das foras produtivas. As foras produtivas donosso pas, particularmente na indstria, tinham um carcter social, mas aforma de propriedade era privada, capitalista. Apoiando-se na lei econmica daobrigatoriedade da correspondncia entre as relaes de produo e o carcterdas foras produtivas, o poder sovitico socializou os meios de produo,tornou-os propriedade de todo o povo e assim eliminou o sistema de exploraoe criou as formas socialistas de economia. Sem esta lei e sem se apoiar nela, opoder sovitico no poderia ter cumprido sua tarefa.

    A lei econmica da obrigatoriedade da correspondncia entre as relaes deproduo e o carcter das foras produtivas h muito que abre o seu caminhonos pases capitalistas. Se ainda no conseguiu ganhar livre curso porqueencontra a mais forte resistncia do lado das foras caducas da sociedade. Aquideparamo-nos com outra particularidade das leis econmicas. Diferentementedas leis das cincias naturais, onde a descoberta e a aplicao de uma nova leidecorrem de forma mais ou menos fluida, no campo da economia, a descobertae aplicao de uma nova lei, que choque com os interesses das foras caducas dasociedade, enfrentam a maior resistncia por parte destas. preciso, porconseguinte, uma fora, uma fora social, capaz de vencer essa resistncia. Esta

    fora existia no nosso pas sob a forma da aliana da classe operria e docampesinato, que representavam a maioria esmagadora da sociedade. Tal foraainda no se constituiu noutros pases capitalistas. Reside aqui o segredo decomo o poder sovitico foi capaz de derrotar as foras velhas da sociedade,permitindo que a lei econmica da obrigatoriedade da correspondncia entre asrelaes de produo e o carcter das foras produtivas ganhasse total livrecurso.

    Afirma-se que a necessidade do desenvolvimento harmonioso (proporcional)da economia do nosso pas permite que o poder sovitico elimine as leiseconmicas existentes e crie novas. Isto absolutamente falso. No podemos

    confundir os nossos planos anuais e quinquenais com a lei econmica objectivado desenvolvimento harmonioso, proporcional, da economia nacional. A lei do

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    desenvolvimento harmonioso da economia nacional surgiu como contrapeso lei da concorrncia e da anarquia da produo no capitalismo. Surgiu na base dasocializao dos meios de produo, aps a lei da concorrncia e da anarquia daproduo ter perdido a sua fora. Passou a vigorar porque a economia socialistas pode funcionar na base da lei econmica do desenvolvimento harmonioso da

    economia nacional. Isto significa que a lei do desenvolvimento harmonioso daeconomia nacional oferece aos nossos rgos de planificao apossibilidade deplanificar correctamente a produo social. Mas no se pode confundir

    possibilidade com realidade. So duas coisas diferentes. Para que estapossibilidade se torne realidade, preciso estudar esta lei econmica, precisoassimil-la, preciso aprender a aplic-la com pleno conhecimento de causa, preciso elaborar planos que reflictam plenamente as suas disposies. Nopodemos dizer que os nossos planos anuais e quinquenais reflectem plenamenteas disposies desta lei econmica.

    Afirma-se que algumas leis econmicas, nomeadamente a lei do valor, quecontinua em vigor no nosso pas, sob o socialismo, so leis transformadas oumesmo radicalmente transformadas na base da economia planificada. Istotambm falso. As leis no se podem transformar, quanto maisradicalmente. Se podemos transform-las, ento tambm podemos elimin-las e substitu-las por outras leis. A tese da transformao das leis umresqucio da frmula errnea sobre a eliminao e formao das leis.

    Apesar de, entre ns, h muito ter entrado no uso corrente, esta frmula sobre atransformao das leis econmicas dever ser abandonada em nome do rigor.Pode-se limitar a esfera de aco destas ou daquelas leis econmicas, pode-seprevenir a sua aco destruidora, caso exista naturalmente, mas no podem sertransformadas ou eliminadas.

    Por conseguinte, quando se fala de subjugao das foras da natureza oudas foras econmicas, de domnio sobre elas, etc., isto no quer dizer deforma alguma que as pessoas possam eliminar as leis da cincia ou form-las. Pelo contrrio, com isto pretende-se apenas dizer que as pessoas podemdescobrir, conhecer, assimilar, aprender a aplicar as leis com plenoconhecimento de causa, utiliz-las no interesse da sociedade e dessa maneiraconseguir submet-las, domin-las.

    Assim, as leis da economia poltica no socialismo so objectivas, reflectem a

    regularidade dos processos da vida econmica, que tm lugarindependentemente da nossa vontade. As pessoas que negam esta tese, negamna sua essncia a cincia, e ao negarem a cincia esto a negar a possibilidade dese fazer qualquer previso consequentemente negam a possibilidade de dirigira vida econmica.

    Podem dizer que tudo o que aqui foi dito est correcto e do conhecimentogeral, mas que no h nada de novo e, por isso, no vale a pena perder tempo arepetir verdades universalmente conhecidas. certo que aqui no h realmentenada de novo, mas seria errneo pensar que no vale a pena perder tempo coma repetio de certas verdades que conhecemos. O caso que todos os anos se

    juntam a ns, ao ncleo dirigente, milhares de novos jovens quadros quedesejam ardentemente ajudar-nos, mostrar do que so capazes, mas no

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    possuem uma educao marxista suficiente, no conhecem muitas verdades quens conhecemos bem e vem-se obrigados a errar nas trevas. Estodeslumbrados com as colossais realizaes do poder sovitico, osextraordinrios xitos do regime sovitico causam-lhes vertigem e comeam aimaginar que o poder sovitico pode tudo, que nada o detm, que pode

    eliminar as leis da cincia e formar novas leis. Como proceder com estescamaradas? Como educ-los no esprito do marxismo-leninismo? Penso que arepetio sistemtica das chamadas verdades universalmente conhecidas e asua paciente explicao um dos melhores meios para dar a estes camaradasuma educao marxista.

    2. A questo da produo mercantil no socialismo

    Alguns camaradas afirmam que o partido procedeu erroneamente aoconservar a produo mercantil, aps a tomada do poder e a nacionalizao dosmeios de produo no nosso pas. Consideram que o partido deveria ter logoeliminado a produo mercantil. E invocam Engels, que a este propsito diz:

    Ao apoderar-se socialmente dos meios de produo, cessa a produo demercadorias e, com ela, o domnio do produto sobre o produtor.4

    Estes camaradas esto profundamente errados.Examinemos a frmula de Engels. A frmula de Engels no pode considera-

    se inteiramente clara e precisa, uma vez que no indica se se trata da tomada daposse por parte da sociedade de todos os meios de produo ou de apenas uma

    parte deles, isto , se todos os meios de produo passaram a ser patrimnio dopovo ou apenas uma parte deles. Portanto, esta frmula de Engels pode sercompreendida de uma maneira e doutra.

    Noutra passagem do Anti-Dhring, Engels fala da posse de todos os meiosde produo, da tomada de posse de todosdos meios de produo.5 Querdizer que Engels, na sua frmula, tem em vista a nacionalizao, no de umaparte dos meios de produo, mas de todos os meios de produo, isto , atransferncia dos meios de produo para o patrimnio do povo, no apenas naindstria, mas tambm na agricultura.

    Daqui decorre que Engels tinha em mente pases em que o capitalismo e a

    concentrao da produo estivessem suficientemente desenvolvidos, noapenas na indstria, mas tambm na agricultura, de modo a permitir aexpropriao de todos os meios de produo e transferi-los para propriedade dopovo. Engels considera, por conseguinte, que nesses pases se deveria, a par dasocializao de todos os meios de produo, eliminar a produo mercantil. Eisto, naturalmente, correcto.

    No momento em que o Anti-Dhring foi publicado, no final do sculo XIX, aInglaterra era o nico pas em que o desenvolvimento do capitalismo e a

    4 Friederich Engels,Anti-Dhring, ed. cit., p. 347. (N. Ed.)5 Idem, ibidem, p. 345 (N. Ed.)

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    concentrao da produo, tanto na indstria como na agricultura, tinhamatingido um tal ponto que, em caso de o proletariado tomar o poder, existia apossibilidade de transferir todos os meios de produo do pas para opatrimnio do povo e eliminar a produo mercantil da vida quotidiana.

    Abstraio-me, neste caso, da questo da importncia que o comrcio externotem para a Inglaterra, com seu enorme peso na economia nacional. Penso ques depois de estudar esta questo se poderia decidir definitivamente sobre odestino da produo mercantil na Inglaterra, aps a tomada do poder peloproletariado e a nacionalizao de todos os meios de produo.

    Alis, no s no final do sculo XIX, mas ainda hoje nenhum pas alcanou ograu de desenvolvimento do capitalismo e de concentrao da produo naagricultura que observamos na Inglaterra. No que se refere aos restantes pases,apesar do desenvolvimento do capitalismo no campo, ainda existe uma classe

    bastante numerosa de pequenos e mdios proprietrios produtores agrcolas,cujo destino teria de ser definido em caso de tomada do poder pelo proletariado.

    Eis pois a questo: o que dever fazer o proletariado e o seu partido seexistirem condies favorveis para a tomada do poder pelo proletariado ederrubamento do capitalismo neste ou naquele pas, nomeadamente no nosso,onde o capitalismo j concentrou os meios de produo na indstria a tal pontoque possvel expropri-los e transferi-los para a posse da sociedade, mas ondea agricultura, apesar do crescimento do capitalismo, ainda est to fragmentadaentre inmeros pequenos e mdios proprietrios produtores que no possvelcolocar a questo da expropriao destes produtores?

    A frmula de Engels no d resposta a esta pergunta. De resto, no tem que

    responder a esta pergunta, uma vez que surgiu na base de outra questo, asaber: qual deve ser o destino da produo mercantil depois de estaremsocializados todos os meios de produo?

    Assim, que fazer se nem todos os meios de produo podem ser socializados,mas apenas parte deles, apesar de existirem evidentes condies favorveis paraa tomada do poder pelo proletariado? Dever o proletariado tomar o poder eser preciso eliminar de imediato a produo mercantil?

    No se pode seguramente aceitar como resposta as opinies de algunspseudo-marxistas, que consideram que em semelhantes condies se deveriarenunciar tomada do poder e esperar at que o capitalismo consiga arruinar os

    milhes de pequenos e mdios produtores, transformando-os em assalariadosagrcolas, e concentrar os meios de produo na agricultura; que s depois dissose poder colocar a questo da tomada do poder pelo proletariado e dasocializao de todos os meios de produo. claro que os marxistas no podemaceitar tal soluo, a menos que queiram desacreditar-se completamente.

    No se pode igualmente aceitar como resposta a opinio de outros pseudo-marxistas, que pensam que se deveria, qui, tomar o poder, avanar para aexpropriao dos pequenos e mdios produtores rurais e socializar os seusmeios de produo. Os marxistas no podem seguir esta via absurda ecriminosa, uma vez que eliminaria qualquer possibilidade de vitria da

    revoluo proletria e colocaria por muito tempo o campesinato no campo dosinimigos do proletariado.

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    Nos seus trabalhos Sobre o imposto em espcie e no seu clebre Planodas cooperativas, Lnine respondeu a esta questo.

    A resposta de Lnine resume-se brevemente ao seguinte:a) No deixar escapar condies favorveis para a tomada do poder; o

    proletariado deve tomar o poder sem esperar o momento em que o capitalismoconsiga arruinar os muitos milhes de pequenos e mdios produtoresindividuais;

    b) Expropriar os meios de produo na indstria e transferi-los para opatrimnio do povo;

    c) No que respeita aos pequenos e mdios produtores individuais, promovergradualmente a sua associao em cooperativas de produo, isto , em grandesempresas agrcolas os kolkhozes;

    d) Desenvolver por todos os meios a indstria e criar junto dos kolkhozes abase tcnica moderna da grande produo, no os expropriando mas, pelo

    contrrio, fornecendo-lhes tractores e outras mquinas de primeira qualidade;e) Com vista aliana econmica da cidade e do campo, da indstria e daagricultura, manter por um certo tempo a produo mercantil (a troca atravsda compra e venda), como a nica forma aceitvel para os camponeses derelaes econmicas com a cidade, e desenvolver amplamente o comrciosovitico, estatal e cooperativo-kolkhoziano, banindo todo o tipo de capitalistasda circulao de mercadorias.

    A nossa histria da construo do socialismo mostra que esta via dedesenvolvimento traada por Lnine se revelou inteiramente justa.

    No pode haver dvidas de que, em todos os pases capitalistas onde h uma

    classe mais ou menos numerosa de pequenos e mdios produtores, esta via dedesenvolvimento a nica possvel e adequada vitria do socialismo.

    Diz-se que a produo mercantil tender a conduzir e acabarobrigatoriamente por conduzir ao capitalismo, sejam quais forem ascircunstncias. Isto falso. Nem sempre e no em quaisquer circunstncias!No se pode identificar a produo mercantil com a produo capitalista. Soduas coisas diferentes. A produo capitalista a forma superior da produomercantil. A produo mercantil s conduz ao capitalismo se existir propriedadeprivada dos meios de produo, se a fora de trabalho se apresentar no mercadocomo mercadoria, passvel de ser comprada e explorada pelo capitalista no

    processo da produo, se, por conseguinte, existir no pas o sistema deexplorao dos operrios assalariados pelos capitalistas. A produo capitalistacomea onde os meios de produo esto concentrados em mos de privados eos operrios, despojados dos meios de produo, so obrigados a vender suafora de trabalho como mercadoria. Sem isto no h produo capitalista.

    Mas e se no existirem estas condies que transformam a produomercantil em produo capitalista, se os meios de produo j no constiturempropriedade privada mas sim propriedade socialista, se o sistema de trabalhoassalariado no existir e a fora de trabalho tiver deixado de ser umamercadoria, se o sistema de explorao tiver sido h muito liquidado que

    julgamento fazer? Poderemos considerar que a produo mercantil conduzirainda assim ao capitalismo? No. No podemos considerar tal coisa. Ora bem, a

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    nossa sociedade precisamente essa sociedade em que a propriedade privadados meios de produo, o sistema de trabalho assalariado e o sistema deexplorao h muito que j no existem.

    No se pode considerar a produo mercantil como algo auto-suficiente,independente das condies econmicas que a cercam. A produo mercantil anterior produo capitalista. J existia no regime esclavagista e serviu-o, noentanto, no conduziu ao capitalismo. Existiu no feudalismo e serviu-o, noentanto, no obstante ter preparado algumas condies para a produocapitalista, no conduziu ao capitalismo. Pergunta-se, por que razo no poderigualmente a produo mercantil servir a nossa sociedade socialista durante umdeterminado perodo sem a conduzir ao capitalismo, tendo em conta que aproduo mercantil no tem entre ns a difuso universal e ilimitada que atingenas condies do capitalismo, que, entre ns, a produo mercantil estrigorosamente delimitada, graas a condies econmicas decisivas como apropriedade social dos meios de produo, a liquidao do sistema do trabalhoassalariado, a liquidao do sistema de explorao?

    Diz-se que, aps o estabelecimento no nosso pas do domnio da propriedadesocial dos meios de produo e aps a liquidao do sistema de trabalhoassalariado e da explorao, a existncia da produo mercantil perdeu sentidoe que por isso deveria ser eliminada.

    Isto tambm falso. Actualmente, no nosso pas, existem duas formasfundamentais de produo socialista: a estatal, que de todo o povo, e akolkhoziana, que no se pode chamar de todo o povo. Nas empresas estatais, osmeios de produo e a produo so propriedade de todo o povo. Nas empresas

    kolkhozianas, porm, apesar de os meios de produo (a terra e as mquinas)tambm pertencerem ao Estado, a produo todavia propriedade de cadakolkhoz, uma vez que tanto o trabalho como as sementes lhes pertencem,enquanto a terra, que lhes foi entregue em usufruto perptuo, utilizada peloskolkhozianos, na prtica, como propriedade sua, embora no possam vend-la,compr-la, arrend-la ou hipotec-la.

    Esta circunstncia faz com que o Estado apenas pode dispor da produo dasempresas estatais, dado que os kolkhozes dispem da respectiva produoenquanto propriedade sua. E estes s aceitam escoar os seus produtos sob aforma de mercadorias, em troca das quais querem receber outras mercadorias

    de que necessitam. Hoje, os kolkhozes no aceitam outras relaes econmicascom a cidade seno as mercantis, atravs da compra e venda. Por isso, no nossopas, a produo mercantil e circulao de mercadorias so actualmente tonecessrias como o eram, digamos, h 30 anos, quando Lnine proclamou anecessidade de desenvolver, por todos os meios, a circulao de mercadorias.

    Naturalmente que quando no lugar de dois sectores produtivosfundamentais, estatal e kolkhoziano, surgir um nico sector produtivouniversal, dispondo de toda a produo para consumo, a circulao demercadorias com a sua economia monetria desaparecer, como elementodesnecessrio da economia nacional. Mas enquanto isso no acontecer,

    enquanto se mantiverem os dois sectores produtivos fundamentais, a produomercantil e a circulao de mercadorias continuam a ser elementos muito teis

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    e necessrios no sistema da nossa economia nacional. De que modo ocorrer aformao de um nico sector universal? Por via da simples absoro do sectorkolkhoziano pelo sector estatal, o que pouco provvel (uma vez que tal seria

    visto como uma expropriao dos kolkhozes), ou por via da instituio de umnico rgo econmico de todo o povo (com representantes da indstria estatal

    e dos kolkhozes), inicialmente com o direito de registar toda a produo para oconsumo do pas, podendo mais tarde tambm distribuir a produo, atravs deum regime, digamos, de troca de produtos? Esta uma questo particular, queexige um exame parte.

    Por conseguinte, a nossa produo mercantil distingue-se da habitual, deum tipo especial, uma produo mercantil sem capitalistas, composta nofundamental por mercadorias dos produtores socialistas associados (Estado,kolkhozes e outras organizaes cooperativas). A sua esfera de aco estlimitada aos artigos de consumo pessoal, no podendo, evidentemente, deforma alguma transformar-se numa produo capitalista, estando pelocontrrio destinada a servir, com sua economia monetria, a causa dodesenvolvimento e consolidao da produo socialista.

    Por isso, esto absolutamente errados os camaradas que declaram que, umavez que a sociedade socialista no liquida as formas mercantis de produo,ento todas as categorias econmicas prprias do capitalismo deveriamalegadamente ser restabelecidas no nosso pas: a fora de trabalho comomercadoria, a mais-valia, o capital, o lucro do capital, a taxa mdia de lucro, etc.Estes camaradas confundem produo mercantil com produo capitalista epensam que, se existe produo mercantil, ento tambm dever existir

    produo capitalista. No compreendem que nossa produo mercantil sedistingue radicalmente da produo mercantil capitalista.Alm disso, penso que precisamos igualmente de abandonar alguns outros

    conceitos, retirados de O Capital, no qual Marx procedeu anlise docapitalismo, e que so artificialmente apensos s nossas relaes socialistas.Refiro-me, entre outros, a conceitos como trabalho necessrio esobretrabalho, produto necessrio e sobreproduto, tempo necessrioe suplementar. Marx analisou o capitalismo para descobrir a origem daexplorao da classe operria, a mais-valia, e dar classe operria, despojadados meios de produo, uma arma espiritual para o derrubamento do

    capitalismo. normal que Marx tenha utilizado conceitos (categorias) quecorrespondem plenamente s relaes capitalistas. Todavia mais do queestranho que se utilize agora esses conceitos, numa situao em que a classeoperria no est privada do poder nem dos meios de produo, mas, pelocontrrio, tem o poder nas suas mos e possui os meios de produo. Pareceabsurdo falar-se no nosso regime da fora de trabalho como mercadoria e doassalariamento dos operrios: como se a classe operria, detentora dos meios deproduo, se assalariasse a si prpria e a si prpria vendesse a sua fora detrabalho. No menos estranho falar-se agora de trabalho necessrio esobretrabalho: como se, nas nossas condies, o trabalho dos operrios

    consagrado sociedade para ampliar a produo, desenvolver a educao, asade, organizar a defesa, etc., no fosse to necessrio classe operria, hoje

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    no poder, como o trabalho despendido pelo operrio para satisfazer asnecessidades pessoais e da sua famlia.

    preciso notar que Marx, no seu trabalho Crtica ao Programa de Gotha,onde analisa no o capitalismo, mas, entre outros, a primeira fase da sociedadecomunista, reconhece que o trabalho consagrado sociedade para ampliar aproduo, desenvolver a educao, a sade, cobrir as despesas daadministrao, constituio de reservas, etc., to necessrio quanto o trabalhodespendido para satisfazer as necessidades de consumo da classe operria.

    Penso que os nossos economistas deveriam pr termo discrepncia entreconceitos antigos e o novo estado de coisas no nosso pas socialista, substituindoos velhos conceitos por outros novos que correspondam nova situao.

    Pudemos tolerar esta desconformidade at um certo momento, mas chegou ahora em que devemos, finalmente, elimin-la.

    3. A questo da lei do valor no socialismo

    Pergunta-se por vezes se a lei do valor existe e funciona no nosso pas, nonosso regime socialista?

    Sim, existe e funciona. Onde h mercadorias e produo mercantil, a lei dovalor existe necessariamente.

    No nosso pas, a esfera de aco da lei do valor compreende, antes de mais, acirculao de mercadorias, a troca de mercadorias atravs da compra e venda, eprincipalmente a troca de mercadorias de consumo pessoal. Neste domnio, a lei

    do valor conserva naturalmente, dentro de certos limites, um papel regulador.Mas a aco da lei do valor no se limita esfera da circulao de

    mercadorias. Estende-se tambm produo. verdade que a lei do valor notem um papel regulador na nossa produo socialista, no entanto, ela exerceinfluncia sobre a produo, e isto tem de ser levado em conta na direco daproduo. Efectivamente, no nosso pas, os produtos de consumo necessrios renovao da fora de trabalho dispendida durante o processo da produo soproduzidos e realizados como mercadorias, sujeitos aco da lei do valor. precisamente aqui que se revela a influncia da lei do valor na produo. Razopela qual questes como o clculo econmico e rentabilidade, preo de custo,preo de venda, etc., tm grande actualidade para as nossas empresas. Por isso,as nossas empresas no podem nem devem deixar de ter em conta a lei do valor.

    Ser isto bom? No mau. Nas nossas condies actuais, isto no efectivamente mau, uma vez que esta circunstncia educa os administradores danossa economia no esprito da gesto racional da produo, e disciplina-os. No mau, uma vez que ensina os administradores da nossa economia a calcularemcom exactido as ordens de grandeza da produo e a levarem em conta, com amesma exactido, as realidades concretas da produo, e a no se dedicarem apalavreados sobre dados aproximados sem base real. No mau, porqueensina os nossos administradores a procurar explorar, e no desprezar, asreservas latentes, ocultas nos recnditos da produo. No mau, porque

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    ensina os nossos administradores a melhorar sistematicamente os mtodos deproduo, reduzir os custos da produo, realizar o clculo econmico eprocurar que as empresas sejam rentveis. uma boa escola prtica, que acelerao crescimento dos quadros da nossa economia, transformando-os em

    verdadeiros dirigentes da produo socialista, na sua actual etapa de

    desenvolvimento.O mal no est no facto de a lei do valor influenciar a produo no nosso pas.

    O mal est no facto de os nossos administradores econmicos e planificadores,com poucas excepes, estarem pouco familiarizados com a aco da lei do

    valor, no a estudarem e no saberem lev-la em conta nos seus clculos. precisamente isto que explica a confuso que ainda reina no nosso pas no quetoca poltica dos preos. Eis um dos mltiplos exemplos. H algum tempo,para incentivar o cultivo do algodo, foi decidido rever a relao de preos doalgodo e dos cereais, ajustar o preo dos cereais vendidos aos cultivadores dealgodo e elevar os preos do algodo fornecido ao Estado. Neste sentido, osnossos administradores da economia e planificadores apresentaram umaproposta que deixou estupefactos os membros do Comit Central. Segundo estaproposta, o preo da tonelada de cereais era praticamente o mesmo da toneladade algodo, alm disso, o preo da tonelada de cereais igualava o preo datonelada de po cozido. Quando os membros do Comit Central observaram queo preo da tonelada de po cozido deveria ser superior ao da tonelada de cereais,devido aos custos suplementares da moagem e da cozedura, e que o algodo em geral bastante mais caro que os cereais, como testemunhavam os preos nosmercados internacionais, os autores da proposta no foram capazes deapresentar uma justificao convincente. Ento, o Comit Central teve de tomarem mos o assunto, baixando o preo dos cereais e elevando o preo do algodo.Que aconteceria se a proposta destes camaradas adquirisse fora de lei?Teramos arruinado os produtores de algodo e ficaramos sem algodo.

    Mas significar tudo isto que a aco da lei do valor tem no nosso pas omesmo livre curso que no capitalismo, que no nosso pas a lei do valor oregulador da produo? No. No significa isso. Na realidade, no nosso sistemaeconmico, a esfera de aco da lei do valor est rigorosamente limitada eenquadrada. J dissemos que a esfera de aco da produo mercantil no nossopas est limitada e enquadrada. O mesmo se deve dizer da esfera de aco da lei

    do valor. inquestionvel que a inexistncia da propriedade privada dos meiosde produo e a socializao dos meios de produo, tanto na cidade como nocampo, no podem deixar de limitar a esfera de aco da lei do valor e o grau dasua influncia sobre a produo.

    No mesmo sentido actua a lei do desenvolvimento harmonioso(proporcional) da economia nacional, que substituiu a lei da concorrncia e daanarquia da produo.

    No mesmo sentido actuam nossos planos anuais e quinquenais, e em geraltoda a nossa poltica econmica, que se apoia nas disposies da lei dodesenvolvimento harmonioso da economia nacional.

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    Tudo isto em conjunto faz com que, no nosso pas, a esfera de aco da lei dovalor esteja estritamente limitada e que, no nosso sistema, a lei do valor nopossa desempenhar o papel de regulador da produo.

    precisamente isto que explica o facto surpreendente de que, apesar docrescimento ininterrupto e impetuoso da nossa produo socialista, a lei do

    valor no conduz a crises de sobreproduo no nosso pas, enquanto nos pasescapitalistas essa mesma lei do valor, que tem uma vasta esfera de aco nocapitalismo, conduz periodicamente a crises de superproduo, apesar dos

    baixos ritmos de crescimento da produo.Dizem que a lei do valor uma lei permanente, obrigatria em todos os

    perodos do desenvolvimento histrico, e que mesmo que perca a sua foracomo regulador das relaes de troca no perodo da segunda fase da sociedadecomunista, conservar nesta fase de desenvolvimento a sua fora comoregulador das relaes entre os diversos ramos da produo, como regulador dadistribuio do trabalho entre os ramos da produo.

    Isto completamente errado. O valor, tal como a lei do valor, uma categoriahistrica ligada existncia da produo mercantil. Com o desaparecimento daproduo mercantil, desaparecem tambm o valor com as suas formas e a lei do

    valor.Na segunda fase da sociedade comunista, a quantidade de trabalho

    dispendido na produo ser medida no por via indirecta, nem por intermdiodo valor e respectivas formas, como acontece na produo mercantil, masdirecta e imediatamente pela quantidade de tempo, pelo nmero de horas, gastona produo. No que se refere distribuio do trabalho entre os ramos da

    produo, a sua regulao ser feita no pela lei do valor, que nessa alturaperder a sua fora, mas pelo crescimento das necessidades da sociedade emprodutos. Esta ser uma sociedade em que a produo ser regulada pelasnecessidades sociais, e o clculo das necessidades da sociedade adquirir umaimportncia primordial para os rgos de planificao.

    tambm completamente errada a afirmao de que, no nosso sistemaeconmico, na primeira fase de desenvolvimento da sociedade comunista, a leido valor regula alegadamente as propores da distribuio do trabalho entreos diferentes ramos da produo.

    Se isso fosse verdadeiro, ento no se compreenderia por que razo no nosso

    pas no se desenvolve a fundo a indstria ligeira, aquela que tem maiorrentabilidade, em vez da indstria pesada, que frequentemente a menosrentvel e por vezes totalmente no rentvel?

    Se isso fosse verdadeiro, ento no se compreenderia por que razo no nossopas no se encerra uma srie de empresas da indstria pesada, que porenquanto ainda no so rentveis, onde o trabalho dos operrios noproporciona o efeito pretendido, e no se abre novas empresas na indstrialigeira, cuja rentabilidade inquestionvel e onde o trabalho dos operriospoderia surtir um efeito maior?

    Se isso fosse verdade, ento no se compreenderia por que razo no nosso

    pas no se transferem os operrios das empresas pouco rentveis, apesar deserem muito necessrias economia nacional, para as empresas mais rentveis,

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    de acordo com a lei do valor, que alegadamente regula as propores dadistribuio do trabalho entre os ramos da produo?

    evidente que se segussemos os passos destes camaradas, teramos derenunciar ao primado da produo de meios de produo a favor da produodos meios de consumo. E que significaria renunciar ao primado da produo demeios de produo? Significaria inviabilizar o crescimento ininterrupto da nossaeconomia nacional, dado que impossvel assegurar o crescimento ininterruptoda nossa economia nacional sem ao mesmo tempo assegurar o primado daproduo de meios de produo.

    Esses camaradas esquecem que a lei do valor funciona como regulador daproduo apenas no capitalismo, onde existe a propriedade privada dos meiosde produo, a concorrncia, a anarquia da produo, as crises desobreproduo. Esquecem-se de que, no nosso pas, a esfera de aco da lei do

    valor limitada pela existncia da propriedade social dos meios de produo,pela aco da lei do desenvolvimento harmonioso da economia nacional e, porconseguinte, limitada igualmente pelos nossos planos anuais e quinquenais, queso o reflexo aproximativo das disposies dessa lei.

    Alguns camaradas tiram daqui a concluso de que a lei do desenvolvimentoharmonioso da economia nacional e a planificao econmica eliminam oprincpio da rentabilidade da produo. Isto absolutamente errado. O queocorre precisamente o inverso. Se considerarmos a rentabilidade, no doponto de vista de cada empresa ou ramos isolados da produo durante operodo de um ano, mas do ponto de vista de toda a economia nacional e aolongo de um perodo, digamos, de 10 a 15 anos, que alis seria a nica forma

    correcta de abordar a questo, verificamos que a rentabilidade temporria eprecria de certas empresas ou de certos ramos de produo no resiste aqualquer comparao com a forma superior, estvel e constante derentabilidade, que nos garante a aco da lei do desenvolvimento harmoniosoda economia nacional e a planificao da economia nacional, livrando-nos dascrises econmicas peridicas, que destroem a economia nacional e causam sociedade enormes perdas materiais, e assegurando-nos o crescimentoininterrupto da economia nacional com ritmos elevados.

    Em sntese: no pode haver dvidas de que, nas nossas condies actuais deproduo socialista, a lei do valor no pode ser o regulador das propores

    na distribuio do trabalho entre os vrios ramos da produo.

    4. A questo da eliminao da oposio entre a cidade e o campo,entre o trabalho intelectual e fsico, e tambm a questo daliquidao das diferenas entre eles

    Este subttulo toca numa srie de problemas, substancialmente diferentesuns dos outros, no entanto, junto-os num s captulo, no para os misturar unscom os outros, mas unicamente para abreviar a exposio.

    O problema da eliminao da oposio entre a cidade e o campo, entre aindstria e a agricultura, conhecido e foi levantado h muito por Marx e

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    Engels. A base econmica desta oposio a explorao do campo pela cidade, aexpropriao do campesinato e a runa da maioria da populao rural, nodecurso do desenvolvimento da indstria, do comrcio e do sistema de crditono capitalismo. Por isso, no capitalismo, a oposio entre a cidade e o campodeve ser considerada como uma contradio de interesses. Neste terreno surgiu

    a relao de hostilidade do campo para com a cidade e, em geral, para com aspessoas da cidade.

    Sem dvida que no nosso pas, com a eliminao do capitalismo e do sistemade explorao, com a consolidao do regime socialista, deveria tambmdesaparecer a oposio de interesses entre a cidade e o campo, entre a indstriae a agricultura. E foi isso que aconteceu. A enorme ajuda dada ao nossocampesinato por parte da cidade socialista, por parte da nossa classe operria,para liquidar os latifundirios e os kulaques, consolidou o terreno para a alianada classe operria e do campesinato, enquanto o fornecimento sistemtico detractores e outras mquinas de primeira qualidade ao campesinato e aos seuskolkhozes, transformou esta aliana em amizade entre a classe operria e ocampesinato. claro que os operrios e os camponeses kolkhozianos continuama constituir duas classes que se distinguem uma da outra pela situaorespectiva. Mas esta diferena no enfraquece de modo algum a amizade que osune. Pelo contrrio, os seus interesses assentam numa linha popular comum, alinha da consolidao do regime socialista e da vitria do comunismo. Nosurpreende por isso que no restem quaisquer vestgios da antiga desconfiana,e mesmo do dio do campo para com a cidade.

    Tudo isso significa que o terreno propcio oposio entre a cidade e o

    campo, entre a indstria e a agricultura, j foi liquidado pelo nosso actualregime socialista.Naturalmente, isto no quer dizer que a eliminao da oposio entre a

    cidade e o campo deva levar morte das grandes cidades (verAnti-Dhring,de Engels). As grandes cidades no s no sucumbiro como, pelo contrrio,surgiro novas grandes cidades, como centros de maior crescimento da cultura,como centros no s da grande indstria, mas tambm da transformao dosprodutos agrcolas e de um poderoso desenvolvimento de todos os ramos daindstria alimentar. Esta circunstncia facilitar o florescimento cultural dopas e conduzir a um nivelamento das condies de vida na cidade e no campo.

    Em relao ao problema da eliminao da oposio entre trabalho intelectuale trabalho fsico temos uma situao anloga. Este problema tambmconhecido, h muito levantado por Marx e Engels. A base econmica daoposio entre trabalho intelectual e fsico a explorao das pessoas querealizam trabalho fsico por parte dos representantes do trabalho intelectual. Nocapitalismo todos conhecem o fosso que existe entre aqueles que realizamtrabalho fsico nas empresas e o respectivo pessoal de direco. sabido queesta separao fez surgir uma relao de hostilidade dos operrios para com osdirectores, contramestres, engenheiros e outros representantes do pessoaltcnico, considerados como inimigos pelos operrios. claro que com a

    destruio do capitalismo e do sistema de explorao devia tambm desaparecera oposio de interesses entre trabalho fsico e intelectual. E efectivamente

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    desapareceu no nosso actual regime socialista. Hoje, as pessoas que realizamtrabalho fsico e o pessoal dirigente no so inimigos, mas camaradas, amigos,membros de um colectivo de produo unido, vitalmente interessados noprogresso e no melhoramento da produo. Da antiga hostilidade no restouqualquer vestgio.

    Carcter completamente diferente tem o problema do desaparecimento dasdiferenas entre cidade (indstria) e campo (agricultura), entre trabalho fsico eintelectual. Este problema no foi levantado pelos clssicos do marxismo. umproblema novo, colocado pela prtica da nossa construo do socialismo.

    No se tratar de um problema inventado? Ter para ns algumaimportncia prtica ou terica? No, este problema no pode ser consideradocomo inventado. Pelo contrrio, para ns um problema srio do mais altograu.

    Se examinarmos, por exemplo, a diferena entre a agricultura e a indstria,

    vemos que, entre ns, ela no consiste apenas no facto de existirem condiesde trabalho diferentes na agricultura e na indstria, mas, antes de mais eprincipalmente, no facto de na indstria existir a propriedade de todo o povosobre os meios de produo e os produtos, enquanto na agricultura no temospropriedade de todo o povo, mas de um grupo: a propriedade kolkhoziana. J sereferiu que esta circunstncia leva conservao da circulao de mercadorias,que s com o desaparecimento desta diferena entre a indstria e a agriculturapode desaparecer a produo mercantil, com todas as consequncias dadecorrentes. Por conseguinte, no se pode negar que o desaparecimento destadiferena essencial entre a agricultura e a indstria deve ter para ns uma

    importncia de primeira ordem.O mesmo preciso dizer sobre o problema da eliminao da diferenaessencial entre trabalho intelectual e trabalho fsico. Este problema temigualmente uma importncia primordial para ns. Antes da emulao socialistacomear a adquirir uma escala de massas, o crescimento da indstria decorria amuito custo e muitos camaradas chegaram mesmo a colocar a questo dediminuir os ritmos de desenvolvimento da indstria. Isto explica-seprincipalmente pelo facto de o nvel tcnico-cultural dos operrios ser na alturademasiado baixo e estar muito aqum do nvel do pessoal tcnico. No entanto,as coisas alteraram-se de modo radical quando a emulao socialista adquiriu

    um carcter de massas. Foi precisamente ento que a indstria comeou aprogredir num ritmo acelerado. Por que razo a emulao socialista adquiriuum carcter de massas? Porque se formaram grupos inteiros de camaradasentre os operrios, que no s assimilaram um mnimo de conhecimentostcnicos, como foram mais alm e atingiram o nvel do pessoal tcnico,comeando a corrigir os tcnicos e engenheiros, a superar as normas caducasem vigor e a introduzir novas normas mais modernas, etc. Que teria acontecidose, em vez de grupos isolados, a maioria dos operrios tivesse elevado o seunvel tcnico e cultural ao nvel dos tcnicos e dos engenheiros? A nossaindstria alcanaria um nvel inacessvel indstria dos outros pases. Por

    conseguinte, inegvel que a eliminao da diferena essencial entre trabalhointelectual e fsico, mediante a elevao do nvel tcnico e cultural dos operrios

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    ao nvel do pessoal tcnico, no pode deixar de ter uma importncia de primeiraordem para ns.

    Alguns camaradas afirmam que com o decorrer do tempo desaparecer nos a diferena essencial entre indstria e agricultura, entre trabalho fsico eintelectual, mas tambm desaparecer qualquer diferena entre eles. Isto errado. A eliminao da diferena essencial entre a indstria e a agricultura nopode conduzir eliminao de todas as diferenas existentes. Algumas delas,apesar de no essenciais, permanecero seguramente, dadas as diferenas dascondies de trabalho na indstria e na agricultura. Mesmo na indstria, seconsiderarmos os seus vrios ramos, as condies de trabalho no so idnticasem toda parte: as condies de trabalho dos mineiros do carvo, por exemplo,diferem das condies dos operrios de uma fbrica mecanizada de calado, ascondies de trabalho dos mineiros da minerao diferem das condies dosoperrios das fbricas de construo de mquinas. Se isto verdade, ento commaior razo subsistiro diferenas entre a indstria e a agricultura.

    O mesmo preciso dizer a respeito da diferena entre trabalho intelectual etrabalho fsico. A diferena essencial entre eles, quanto ao nvel tcnico-cultural,indiscutivelmente desaparecer. Mas certas diferenas, apesar de noessenciais, subsistiro mais que no seja porque as condies de trabalho dopessoal dirigente das empresas no so idnticas s condies de trabalho dosoperrios.

    Os camaradas que afirmam o contrrio apoiam-se, provavelmente, numaformulao que utilizei em algumas das minhas intervenes, em que me referi eliminao da diferena entre a indstria e a agricultura, entre o trabalho

    fsico e o intelectual, sem fazer a ressalva de que se tratava da eliminao dadiferena essenciale no de todas as diferenas, como os camaradas supuseram.O que apenas quer dizer que a formulao era inexacta e insatisfatria, e deveser abandonada e substituda por outra que indique a eliminao das diferenasessenciais e da permanncia de diferenas no essenciais entre a indstria e aagricultura, entre o trabalho intelectual e o trabalho fsico.

    5. A questo da desintegrao do mercado internacional nico e oaprofundamento da crise do sistema capitalista mundial

    O resultado econmico mais importante da II Guerra Mundial e das suasconsequncias econmicas foi a desintegrao do mercado internacionalplanetrio nico. Esta circunstncia determinou o aprofundamentosubsequente da crise geral do sistema capitalista mundial.

    A prpria segunda guerra mundial foi gerada por esta crise. Ambas ascoligaes capitalistas que se digladiaram durante a guerra esperavam vencer oadversrio e alcanar a supremacia mundial. Procuravam assim a sada da crise.Os Estados Unidos da Amrica contavam neutralizar os seus mais perigososconcorrentes, a Alemanha e o Japo esperavam conquistar os mercados

    estrangeiros, as fontes mundiais de matrias-primas e alcanar a supremaciamundial.

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    No entanto, a guerra frustrou essas esperanas. certo que a Alemanha e oJapo foram neutralizados como concorrentes dos trs principais pasescapitalistas: Estados Unidos, Inglaterra e Frana. Mas, a par disto, a China eoutras democracias populares da Europa saram do sistema capitalista,formando com a Unio Sovitica um poderoso campo socialista unificado, que

    se ope ao campo capitalista. A existncia de dois campos opostos teve comoresultado econmico a desintegrao do mercado internacional planetrionico, e, em consequncia disso, temos agora dois mercados internacionaisparalelos, que tambm se opem um ao outro.

    Deve-se assinalar que os Estados Unidos, a Inglaterra e a Franacontriburam eles prprios, naturalmente involuntariamente, para a formao econsolidao do novo mercado internacional paralelo. Impuseram o bloqueioeconmico URSS, China e s democracias populares da Europa, excluindo-asdo Plano Marshall, pensando com isso asfixi-las. Na realidade, porm, o queda resultou no foi a asfixia, mas a consolidao de um novo mercado mundial.

    Todavia, o fundamental neste caso no foi obviamente o bloqueio econmico,mas o facto de que, no perodo do ps-guerra, estes pases entrelaaram-seeconomicamente e organizaram a cooperao e a assistncia mtua econmicas.

    A experincia desta cooperao mostra que nenhum pas capitalista poderiaprestar uma assistncia to efectiva e tecnicamente qualificada como a que prestada pela Unio Sovitica aos pases das democracias populares. No setrata apenas do facto de esta ajuda ser a menos onerosa e tecnicamentesuperior. Trata-se antes de mais do facto de esta cooperao assentar no desejosincero de prestar ajuda mtua e alcanar o desenvolvimento econmico

    comum. Como resultado temos elevados ritmos de desenvolvimento industrialnestes pases. Podemos dizer com convico que, em breve, com os actuaisritmos de desenvolvimento industrial, estes pases no s no precisaro deimportar mercadorias dos pases capitalistas, como sentiro necessidade deexportar os excedentes da sua produo.

    Daqui decorre que a esfera de aco dos principais pases capitalistas(Estados Unidos, Inglaterra e Frana) relativamente aos recursos mundiais nose alargar, mas diminuir; que as condies dos mercados de escoamentointernacionais se agravaro para estes pases, fazendo aumentar osubaproveitamento das capacidades instaladas nas suas empresas. nisto que

    consiste propriamente o aprofundamento da crise geral do sistema capitalistamundial, na decorrncia da desintegrao do mercado mundial.Isto perceptvel para os prprios capitalistas, dado que difcil no sentir a

    perda de mercados como os da URSS e da China. Procuram superar estasdificuldades atravs do Plano Marshall, da guerra na Coreia, da corrida aosarmamentos, da militarizao da indstria. Mas isso faz lembrar o afogado quese agarra a qualquer galho.

    Perante esta situao colocam-se duas questes aos economistas:a) Ser que se pode afirmar que a conhecida tese de Stline sobre a

    estabilidade relativa dos mercados, no perodo da crise geral do capitalismo,

    formulada antes da II Guerra Mundial, continua todavia vlida?

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    b) Ser que se pode afirmar que a conhecida tese de Lnine, formulada naprimavera de 1916, de que no obstante a decomposio do capitalismo, no seuconjunto o capitalismo cresce incomensuravelmente mais depressa do queantes continua todavia vlida?

    Penso que no se pode afirmar. Tendo em conta as novas condies surgidascom a II Guerra Mundial, devemos considerar que ambas as teses perderam

    validade.

    6. A questo da inevitabilidade das guerras entre os pasescapitalistas

    Alguns camaradas afirmam que devido ao desenvolvimento das novascondies internacionais, aps a II Guerra Mundial, as guerras entre pases

    capitalistas deixaram de ser inevitveis. Consideram que as contradies entre ocampo socialista e o campo capitalista so mais fortes que as contradies entreos pases capitalistas; que os Estados Unidos controlam suficientemente osoutros pases capitalistas para os impedir de desencadear guerras entre si e seenfraquecerem mutuamente; que as pessoas mais avanadas do capitalismoaprenderam o suficiente com a experincia de duas guerras mundiais, quecausaram srios danos a todo o mundo capitalista, para se permitirem arrastarnovamente pases capitalistas para uma guerra, que, em vista de tudo isto, asguerras entre pases capitalistas deixaram de ser inevitveis.

    Estes camaradas esto errados. Vem fenmenos exteriores que afloram

    superfcie, mas no vem as foras profundas que, apesar de por enquantoagirem de forma imperceptvel, iro todavia determinar o curso dosacontecimentos.

    Na aparncia tudo corre bem: os Estados Unidos da Amrica puseram aEuropa Ocidental, o Japo e outros pases capitalistas em regime de meia rao.

    A Alemanha (ocidental), a Inglaterra, a Frana, a Itlia, o Japo, que caram nasgarras dos Estados Unidos, cumprem obedientemente as imposies dos EUA.Mas seria errneo pensar que este estado de graa pode manter-seeternamente, que estes pases iro suportar para sempre a dominao e o jugodos Estados Unidos da Amrica e que no tentaro escapar ao cativeiro

    americano e seguir a via do desenvolvimento autnomo.Tomemos antes de mais a Inglaterra e a Frana. inquestionvel que so

    pases imperialistas. inquestionvel que as matrias-primas baratas e osmercados de escoamento garantidos tm para eles uma importncia primordial.Poderemos admitir que estes pases iro suportar indefinidamente a situaoactual, em que os americanos com a desculpa da ajuda por via do planoMarshall se instalam furtivamente nas economias da Inglaterra e da Frana,procurando transform-las em apndices da economia norte-americana; em queo capital americano se apodera das matrias-primas e dos mercados coloniais deescoamento anglo-franceses, preparando assim uma catstrofe para os elevados

    lucros dos capitalistas anglo-franceses? No ser mais exacto dizer que aInglaterra capitalista e, logo a seguir, a Frana capitalista acabaro por ser

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    obrigadas a libertar-se do abrao dos EUA e a entrar em conflito, a fim degarantirem uma situao independente e, naturalmente, elevados lucros?

    Passemos aos principais pases vencidos, Alemanha (ocidental) e ao Japo.Hoje, estes pases arrastam uma existncia miservel, sob o taco doimperialismo americano. A sua indstria e agricultura, o seu comrcio, a suapoltica interna e externa, toda a sua existncia, esto tolhidas pelo regimeamericano de ocupao. Porm, ainda ontem, estes pases eram grandespotncias imperialistas que abalavam os alicerces do domnio da Inglaterra, dosEstados Unidos e da Frana na Europa e na sia. Pensar que estes pases notentaro erguer-se novamente, romper com o regime dos EUA e avanar pela

    via do desenvolvimento autnomo, significa acreditar em milagres.Diz-se que as contradies entre o capitalismo e o socialismo so mais fortes

    do que as contradies entre os pases capitalistas. claro que do ponto de vistaterico isso justo. justo no apenas agora, no momento actual, comotambm o era antes da II Guerra Mundial. E os dirigentes dos pases capitalistascompreendiam-no em menor ou maior grau. E no entanto a II Guerra Mundialno comeou contra a URSS, mas entre pases capitalistas. Porqu? Porque, emprimeiro lugar, a guerra contra a URSS, enquanto pas do socialismo, era maisperigosa para o capitalismo do que a guerra entre pases capitalistas, uma vezque, se por um lado a guerra entre pases capitalistas coloca apenas o problemada prevalncia de uns sobre outros, a guerra contra a URSS levantariainevitavelmente a questo da sobrevivncia do prprio capitalismo. Porque, emsegundo lugar, apesar de os capitalistas fazerem alarde, para fins depropaganda, da agressividade da Unio Sovitica, eles prprios no

    acreditam nesta agressividade, uma vez que tm em conta a poltica de paz daUnio Sovitica e sabem que esta, por si mesma, no atacar os pasescapitalistas. Depois da I Guerra Mundial tambm se julgou que a Alemanhahavia sido definitivamente neutralizada, tal como hoje alguns camaradaspensam que o Japo e a Alemanha esto definitivamente arrumados. Na alturatambm se falava e alardeava na imprensa que os Estados Unidos haviam postoa Europa a meia rao, que a Alemanha nunca mais voltaria a erguer-se, que daem diante no haveria mais guerras entre pases capitalistas. No entanto, apesardisso, a Alemanha reergueu-se e tornou-se uma grande potncia no espao de 15a 20 anos aps a sua derrota, tendo-se libertado do cativeiro e tomado a via do

    desenvolvimento autnomo. Entretanto, caracterstico que tenham sidoprecisamente a Inglaterra e os Estados Unidos os pases que ajudaram aAlemanha a reerguer-se economicamente e a restabelecer o seu potencialeconmico e militar. Obviamente que ao ajudarem a recuperao econmica da

    Alemanha os Estados Unidos e a Inglaterra tinham em vista dirigir a Alemanharestabelecida contra a Unio Sovitica, utiliz-la contra o pas do socialismo.Porm, a Alemanha dirigiu primeiro as suas foras contra o bloco anglo-franco-americano. E quando a Alemanha hitleriana declarou guerra Unio Sovitica,o bloco anglo-franco-americano no s no se associou Alemanha hitlerianacomo, pelo contrrio, foi obrigada a coligar-se com a URSS, contra a Alemanha

    hitleriana.

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    Por conseguinte, a disputa dos pases capitalistas pelos mercados e o desejode afundar os seus concorrentes revelaram-se na prtica mais fortes do que ascontradies entre o campo capitalista e o campo socialista.

    Pergunta-se: que garantia pode haver de que a Alemanha e o Japo no sereerguero novamente, que no tentaro escapar ao cativeiro norte-americano einiciar uma vida autnoma? Penso que no existem tais garantias.

    Ora, daqui se infere que a inevitabilidade das guerras entre pases capitalistascontinua vlida.

    Dizem que a tese de Lnine de que o imperialismo gera inevitavelmenteguerras deve ser considerada ultrapassada, porquanto se desenvolveram naactualidade poderosas foras populares que intervm em defesa da paz e contrauma nova guerra mundial. Isto falso.

    O movimento actual pela paz tem como objectivo levantar as massaspopulares para a luta pela preservao da paz e preveno de uma nova guerra

    mundial. Por conseguinte, este movimento no persegue o objectivo doderrubamento do capitalismo e a instaurao do socialismo, mas limita-se aosobjectivos democrticos da luta pela preservao da paz. Neste sentido, omovimento actual pela preservao da paz distingue-se do movimento pelatransformao da guerra imperialista em guerra civil, durante o perodo da IGuerra Mundial, uma vez que este ltimo ia mais longe, perseguindo objectivossocialistas.

    possvel que, numa determinada confluncia de circunstncias, a luta pelapaz se venha a transformar em algumas partes numa luta pelo socialismo, maseste j no ser o movimento actual pela paz, mas um movimento pelo

    derrubamento do capitalismo.O mais provvel que o movimento actual pela paz, como movimento pelapreservao da paz, em caso de xito, consiga levar preveno de uma dadaguerra, ao seu adiamento temporrio, preservao temporria de uma dadapaz, demisso de um governo belicista e sua substituio por outro governo,disposto a preservar temporariamente a paz. claro que isto bom. Mesmomuito bom. Mas ainda assim insuficiente para eliminar a inevitabilidade dasguerras em geral entre pases capitalistas. insuficiente, uma vez que, comtodos os xitos do movimento em defesa da paz, o imperialismo continua aexistir, e, consequentemente, mantm-se igualmente vlida a inevitabilidade

    das guerras.Para eliminar a inevitabilidade das guerras, preciso aniquilar o

    imperialismo.

    7. A questo das leis econmicas fundamentais do capitalismo actuale do socialismo

    Como conhecido, a questo das leis econmicas fundamentais docapitalismo e do socialismo foi levantada vrias vezes durante a discusso.Foram expressas opinies diferentes a este respeito, incluindo as mais incrveis.

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    verdade que a maioria dos participantes na discusso referiu-se pouco a esteassunto, no tendo sido apontada qualquer deciso a este propsito. Contudo,nenhum dos participantes da discusso negou a existncia destas leis.

    Existir uma lei econmica fundamental do capitalismo? Sim, existe. Que lei esta, em que consistem os seus traos caractersticos? A lei econmicafundamental do capitalismo a lei que determina no um qualquer aspectoisolado ou alguns processos isolados do desenvolvimento da produocapitalista, mas todos os aspectos principais e todos os processos principaisdeste desenvolvimento, consequentemente, determina a essncia da produocapitalista, a sua substncia.

    Constituir a lei do valor a lei econmica fundamental do capitalismo? No. Alei do valor , antes de mais, a lei da produo mercantil. Ela existia antes docapitalismo e continuar a existir enquanto existir produo mercantil, mesmodepois do derrubamento do capitalismo, por exemplo, no nosso pas, emboraaqui com uma esfera limitada de aco. Naturalmente que a lei do valor, quetem uma ampla esfera de aco nas condies do capitalismo, desempenha umpapel importante no desenvolvimento da produo capitalista, mas no s nodetermina a essncia da produo capitalista e as bases do lucro capitalista,como nem sequer levanta tais problemas. Por isso, no pode ser a lei econmicafundamental do capitalismo actual.

    Precisamente pelas mesmas razes, nem a lei da concorrncia e da anarquiada produo, nem a lei do desenvolvimento desigual do capitalismo nosdiferentes pases podem ser a lei econmica fundamental do capitalismo.

    Dizem que a lei da taxa mdia do lucro a lei econmica fundamental do

    capitalismo contemporneo. Isto errado. O capitalismo actual, o capitalismomonopolista, no pode contentar-se com o lucro mdio, o qual ainda para maistem tendncia para baixar devido ao aumento da composio orgnica docapital. O capitalismo monopolista actual exige, no o lucro mdio, mas o lucromximo, necessrio para realizar a reproduo ampliada com maior ou menorregularidade.

    Aquela que mais se aproxima do conceito de lei econmica fundamental docapitalismo a lei da mais-valia, a lei da formao e do crescimento do lucrocapitalista. Esta lei, efectivamente, predetermina os traos fundamentais daproduo capitalista. Mas a lei da mais-valia uma lei demasiadamente geral,

    que no se refere aos problemas da taxa mxima de lucro, cuja garantiaconstitui a condio do desenvolvimento do capital monopolista. Parapreencher esta lacuna preciso tornar mais concreta a lei da mais-valia edesenvolv-la continuamente, de acordo com as condies do capitalmonopolista, tendo em conta que este ltimo exige no um lucro qualquer, masprecisamente o lucro mximo. esta a lei econmica fundamental docapitalismo actual.

    As principais caractersticas e disposies da lei econmica fundamental docapitalismo actual poderiam formular-se aproximadamente do seguinte modo:garantia do lucro mximo capitalista por via da explorao, da runa e da

    depauperizao da maioria da populao de um dado pas, por via dasubjugao e espoliao sistemtica dos povos de outros pases, particularmente

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    dos mais atrasados e, finalmente, por via das guerras e da militarizao daeconomia nacional, que so utilizadas para garantir lucros mximos.

    Dizem que, apesar de tudo, se poderia considerar que o lucro mdio inteiramente suficiente para o desenvolvimento do capitalismo nas condiesactuais. Isto falso. O lucro mdio o limite inferior da rentabilidade, abaixo doqual a produo capitalista se torna impossvel. Mas seria ridculo pensar que osmagnatas do capitalismo monopolista actual, apoderando-se de colnias,subjugando os povos e engendrando guerras, no procuram mais do quegarantir o lucro mdio. No. No o lucro mdio, nem o superlucro, o qual,regra geral, representa apenas uma certa majorao do lucro mdio, masprecisamente o lucro mximo que constitui o motor do capitalismomonopolista. justamente a necessidade de obter lucros mximos que impele ocapitalismo monopolista a dar passos arriscados, como a subjugao e aespoliao sistemtica das colnias e de outros pases atrasados, atransformao de muitos pases independentes em pases dependentes, aorganizao de novas guerras, que constituem para os patres do capitalismoactual o melhor business para a extraco de lucros mximos, e, finalmente,as tentativas de conquistar o domnio econmico mundial.

    A importncia da lei econmica fundamental do capitalismo consiste, entreoutros, no facto de que, determinando todos os fenmenos mais importantes nodomnio do desenvolvimento do modo de produo capitalista, os seus perodosde crescimento e as suas crises, as suas vitrias e derrotas, os seus mritos einsuficincias todo o processo do seu desenvolvimento contraditrio permite-nos compreend-los e explic-los.

    Eis aqui um dos mltiplos exemplos surpreendentes.Todos conhecem factos da histria e da prtica do capitalismo quedemonstram o desenvolvimento impetuoso da tcnica sob o capitalismo,quando os capitalistas se apresentam como porta-estandarte da tecnologia deponta, como revolucionrios no domnio do desenvolvimento das tcnicas daproduo. Mas tambm so conhecidos factos de outro gnero, que demonstrama interrupo do desenvolvimento da tcnica sob o capitalismo, quando oscapitalistas se tornam reaccionrios no domnio do desenvolvimento de novastecnologias e se voltam, no raramente, para o trabalho manual.

    Como se explica esta flagrante contradio? S pode explicar-se pela lei

    econmica fundamental do capitalismo actual, isto , pela necessidade deobteno de lucros mximos. O capitalismo a favor de tcnicas novas quandoestas prometem os maiores lucros. O capitalismo contra tcnicas novas e peloregresso ao trabalho manual quando aquelas j no asseguram os maioreslucros.

    Assim so as coisas no que toca lei econmica fundamental do capitalismoactual.

    Existir uma lei econmica fundamental do socialismo? Sim, existe. Em queconsistem os seus traos caractersticos e disposies desta lei? Os traoscaractersticos e as disposies da lei econmica fundamental do socialismo

    podem ser formulados, aproximadamente, do seguinte modo: garantia dasatisfao mxima das necessidades materiais e culturais sempre crescentes de

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    toda a sociedade por meio do crescimento ininterrupto e aperfeioamento daproduo socialista na base de uma tcnica superior.

    Por conseguinte: em lugar da garantia de lucros mximos, a garantia dasatisfao mxima das necessidades materiais e culturais da sociedade; emlugar do desenvolvimento da produo com interrupes, do crescimento crisee da crise ao crescimento o crescimento ininterrupto da produo; em lugardas interrupes peridicas no desenvolvimento da tcnica, acompanhadas peladestruio das foras produtivas da sociedade o aperfeioamento ininterruptoda produo na base de uma tcnica superior.

    Diz-se que a lei econmica fundamental do socialismo a lei dodesenvolvimento harmonioso, proporcional, da economia nacional. Isto errado. O desenvolvimento harmonioso da economia nacional e, porconseguinte, a planificao da economia nacional, que so um reflexo mais oumenos fiel desta lei, por si prprios, nada podem dar se o objectivo em nome doqual se realiza o desenvolvimento planificado da economia nacional forignorado ou no estiver claro. A lei do desenvolvimento harmonioso daeconomia nacional s pode produzir o devido efeito no caso de existir umobjectivo, para cuja concretizao se realiza o desenvolvimento planificado daeconomia nacional. Este objectivo no pode ser estabelecido pela prpria lei dodesenvolvimento harmonioso da economia nacional. Muito menos o pode serpela planificao da economia nacional. Este objectivo est contido nasdisposies da lei econmica fundamental do socialismo atrs referidas. Porisso, a aco da lei do desenvolvimento harmonioso da economia nacional spode ter livre curso quando apoiada na lei econmica fundamental do

    socialismo.No que respeita planificao da economia nacional, esta s pode alcanarresultados positivos se forem observadas duas condies: a) se reflectircorrectamente as disposies da lei do desenvolvimento harmonioso daeconomia nacional; b) se estiverem em plena conformidade com as disposiesda lei econmica fundamental do socialismo.

    8. Outras Questes

    1) A questo da coaco no econmica no feudalismo. certo que a coaco no econmica desempenhou o seu papel na

    consolidao do poder econmico dos latifundirios feudais, no entanto ela nofoi a base do feudalismo, mas sim a propriedade feudal da terra.

    2) A questo da propriedade pessoal das famlias kolkhozianas.No seria correcto afirmar no projecto de manual que cada famlia

    kolkhoziana dispe em usufruto pessoal de uma vaca, aves e gado mido . Narealidade, como sabido, a vaca, o gado mido, as aves, etc., no so apenaspara usufruto pessoal, mas constituem propriedade pessoal da famliakolkhoziana. A expresso emusufruto pessoal foi provavelmente retirada do

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    Modelo de Estatuto do Artel Agrcola. Mas neste aspecto cometeu-se um erro noModelo de Estatuto do Artel Agrcola. A Constituio da URSS, elaborada maiscuidadosamente, diz outra coisa, nomeadamente:

    Cada famlia kolkhoziana (...) possui como propriedade pessoal umaeconomia auxiliar num lote de terra, uma moradia, gado produtivo, aves e

    pequenas alfaias agrcolas.Isto, naturalmente, correcto.Mas alm disso seria conveniente referir mais detalhadamente que cada

    kolkhoziano possui como propriedade pessoal um determinado nmero devacas, dependendo das condies locais, especificar tambm a quantidade deovelhas, cabras e porcos (segundo as condies locais) e uma quantidadeilimitada de aves domsticas (patos, gansos, galinhas, perus).

    Estes detalhes tm grande importncia para nossos camaradas de outrospases, que querem saber exactamente qual a propriedade pessoal que resta

    realmente s famlias kolkhozianas, depois de realizada a colectivizao daagricultura.

    3) A questo do montante das rendas pagas pelos camponeses aoslatifundirios, bem como do montante dispendido com a compra de terras.

    No projecto de manual afirma-se que em consequncia da nacionalizao daterra os camponeses libertaram-se do pagamento de rendas aoslatifundirios, num montante de cerca de 500 milhes de rublos por ano (preciso acrescentar que se trata de rublos-ouro). Conviria precisar este nmero,uma vez que, segundo me parece, no inclui as rendas de toda a Rssia, mas

    apenas da maioria das suas provncias. Deve-se tambm ter presente que numasrie de regies fronteirias da Rssia os arrendamentos eram pagos emgneros, o que, pelos vistos, no foi tido em conta pelos autores do projecto demanual. Alm disso, preciso no esquecer que o campesinato se libertou nos do pagamento da renda, mas tambm das despesas anuais com a compra daterra. Ser que o projecto de manual tem isto em conta? Pareceu-me que no edeveria referi-lo.

    4) A questo da fuso dos monoplios com o aparelho estatal.O termo fuso no apropriado. Este termo exprime de forma superficial e

    descritiva a aproximao dos monoplios e do Estado, mas no revela o sentidoeconmico dessa aproximao. A questo que no processo desta aproximaotem lugar no uma mera fuso, mas uma subordinao do aparelho do Estadoaos monoplios. Por isso, a palavra fuso deveria ser rejeitada e substitudapela expresso subordinao do aparelho do Estado aos monoplios.

    5) A questo do uso das mquinas na URSS.No projecto de manual afirma-se que na URSS as mquinas so usadas em

    todas as situaes em que economizam trabalho sociedade. No nada

    disto que se deveria dizer. Primeiro, as mquinas na URSS sempreeconomizaram trabalho sociedade, pelo menos no se conhece casos em que,

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    nas condies da URSS, tal no tivesse sucedido. Segundo, as mquinas noapenas economizam trabalho, mas ao mesmo tempo facilitam o trabalho daspessoas, razo pela qual, nas nossas condies, ao contrrio do que se verificano capitalismo, os operrios utilizam as mquinas com grande agrado noprocesso do trabalho.

    Por isso, deveria dizer-se que em parte alguma como na URSS as mquinasso utilizadas com tanto agrado, uma vez que elas economizam trabalho sociedade e facilitam o trabalho dos operrios, e, como no h desemprego naURSS, os operrios usam de boa vontade as mquinas na economia nacional.

    6) A questo da situao material da classe operria nos pases capitalistas.Quando se fala da situao material da classe operria, tm-se habitualmente

    em vista os operrios ocupados na produo e no se leva em conta a situaomaterial do chamado exrcito de reserva de desempregados. Ser justo tratar

    desta maneira a questo da situao material da classe operria? Creio que no.Se existe um exrcito de reserva de desempregados, cujos membros no tmoutros meios de subsistncia alm da venda de sua fora de trabalho, ento osdesempregados no podem deixar de ser includos no conjunto da classeoperria, e nesse caso a sua situao miservel no pode deixar de se reflectir nasituao material dos operrios ocupados na produo. Penso, por conseguinte,que na caracterizao da situao material da classe operria nos pasescapitalistas se deveria levar em conta tambm a situao do exrcito de reservados operrios desempregados.

    7) A questo do rendimento nacional.Penso que se deveria incluir inquestionavelmente no projecto de manual um

    novo captulo sobre o rendimento nacional.

    8) A questo sobre o captulo especial do manual dedicado a Lnine e aStline como criadores da economia poltica do socialismo.

    Penso que o captulo intitulado A doutrina marxista do socialismo. Acriao da economia poltica do socialismo por V.I. Lnine e I.V. Stline deveser retirado do manual. um captulo completamente desnecessrio porque noacrescenta nada de novo e mais no faz que repetir palidamente o que est dito

    detalhadamente nos captulos anteriores do manual.Relativamente s restantes questes, no tenho quaisquer observaes a fazer

    s propostas dos camaradas Ostrovtianov,6 Lentiev,7 Cheplov,8 Gatovski9 eoutros.

    6Ostrovtianov, Konstantine Vasslievitch (1892-1969), economista, titular da ctedrade Economia Poltica da Faculdade de Economia da Universidade Estatal de Moscovo(1943-53), director do Instituto de Economia da Academia das Cincias da URSS (1947-53),

    dirigiu publicaes peridicas e integrou o colectivo que redigiu o primeiro Manual deEconomia Poltica do Socialismo, publicado em finais de 1954. Recebeu vriascondecoraes e deixou mais de 300 obras cientficas publicadas. (N. Ed.)

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    9. A importncia internacional de um manual marxista de economiapoltica

    Penso que os camaradas no avaliam toda a importncia de um manualmarxista de economia poltica. O manual necessrio no apenas para a nossa

    juventude sovitica. Ele particularmente necessrio para os comunistas detodos os pases e para aqueles que simpatizam com os comunistas. Os nossoscamaradas estrangeiros querem saber de que modo nos livrmos da escravidodo capitalismo, de que modo transformmos a economia do pas no esprito dosocialismo, como conquistmos a amizade dos camponeses, como conseguimostransformar o nosso pas, ainda recentemente pobre e fraco, num pas rico epoderoso, querem saber o que representam os kolkhozes e por que razo, apesarda socializao dos meios de produo, no eliminamos a produo mercantil, odinheiro, o comrcio, etc. Querem saber tudo isto e muitas outras coisas, nopor mera curiosidade, mas para aprender connosco e utilizar a nossaexperincia nos seus pases. Por isso, a publicao de um bom manual marxistade economia poltica tem no s importncia poltica interna, mas tambm umagrande importncia internacional.

    Precisamos, por conseguinte, de um manual que possa servir de livro decabeceira para a juventude revolucionria, no apenas no nosso pas, mastambm no estrangeiro. No deve ser muito volumoso porque um manualdemasiado volumoso no pode ser um livro de cabeceira e seria difcil deassimilar e penoso de ler. Mas deve conter tudo o que fundamental no que serefere economia do nosso pas, assim como economia do capitalismo e do

    sistema colonial.Durante as discusses, alguns camaradas propuseram incluir no manual todauma srie de novos captulos. Os historiadores propuseram um captulo sobre

    7Lentiev, Lev Abrmovitch (1901-1974), membro do PCUS desde 1919, economista,membro correspondente da Academia das Cincias da URSS desde 1939, repartiu a suaactividade profissional entre a investigao, a docncia e o jornalismo, tendo sido redactordo Pravda especializado em temas internacionais. Integrou o colectivo que preparou oprimeiro Manual de Economia Poltica do Socialismo. (N. Ed.)

    8 Cheplov, Dmtri Trofmovitch (1905-1995), membro do PCUS desde 1926, do CC(1952-57), secretrio do CC (1955-56 e 1957), candidato ao Presidium do CC (1956-57) eministro dos Negcios Estrangeiros (1956-57). No plenrio do CC, de Junho de 1957, foiexpulso da direco do partido por trabalho fraccionrio, aps ter apoiado a demisso deKhruchov do cargo de secretrio-geral. Director e vice-director da Academia das Cinciasda Kirgusia (1957-60), acabou por ser colocado nos arquivos centrais do Conselho deMinistros. Em Fevereiro de 1962 expulso do partido, sendo reintegrado em 1976. Comoeconomista integrou o colectivo que preparou o primeiro Manual de Economia Poltica doSocialismo. (N. Ed.)

    9Gatovski, Lev Markovitch (1903-1997), membro do PCUS desde 1927, exerceu vrioscargos como economista, designadamente na Comisso Estatal de Planificao (Gosplan),no Instituto de Economia da Academia das Cincias da URSS, do qual se tornou directorem 1965. Integrou o colectivo que preparou o primeiro Manual de Economia Poltica do

    Socialismo. (N. Ed.)

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    histria, os polticos, sobre poltica, os filsofos, sobre filosofia, os economistas,sobre economia. Mas isso faria crescer o manual em propores incomportveis,o que naturalmente no se pode permitir. O manual utiliza o mtodo histricopara ilustrar os problemas de economia poltica, mas isto no significa quedevamos transformar o manual de economia poltica numa histria das relaes

    econmicas.Precisamos de um manual com 500 ou 600 pginas no mximo. Ser um

    livro de cabeceira sobre economia poltica marxista, um bom presente para osjovens comunistas de todos os pases.

    Alis, dado o nvel insuficiente de formao marxista da maioria dos partidoscomunistas estrangeiros, este manual pode ter grande utilidade tambm para osquadros comunistas mais velhos desses pases.

    10. Formas de melhorar o projecto de manual de economia poltica

    Durante as discusses, alguns camaradas demoliram com zelo excessivo oprojecto de manual, censuraram os autores pelos erros e omisses, afirmaramque o projecto era um fracasso. Isto injusto. Naturalmente que h erros eomisses no manual, como quase sempre acontece numa grande obra. Dequalquer maneira, a maioria esmagadora dos participantes na discussoreconheceu que o projecto pode servir de base para o futuro manual e precisaapenas de algumas correces e complementos. Efectivamente basta compar-locom os manuais de economia poltica que circulam para se concluir que este

    projecto de manual muito superior aos existentes. Este o grande mrito dosautores do projecto de manual.

    Penso que para melhorar o projecto de manual seria necessrio nomear umacomisso pouco numerosa, que inclusse no apenas os seus autores, e noapenas quem partilha a opinio da maioria dos participantes na discusso, mastambm os adversrios da maioria, os crticos veementes do projecto de manual.

    Seria bom igualmente incluir na comisso um estatstico experiente paraverificar os nmeros e introduzir no projecto novos dados estatsticos, bemcomo um jurista experiente para verificar a exactido das formulaes.

    Os membros da comisso deveriam ser libertados temporariamente de

    qualquer outro trabalho, garantindo-se-lhes todas as condies materiais paraque possam dedicar-se inteiramente elaborao do manual.

    Alm disso, devia-se nomear uma comisso de redaco composta, digamos,por trs pessoas, para a redaco final do manual. Isto tambm necessriopara se conseguir uma uniformizao do estilo, que, infelizmente, no existe noprojecto. O prazo para a apresentao do manual ao Comit Central de umano.

    I. STLINE

    1 de Fevereiro de 1952Pravda, 3 de Outubro de 1952

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    Resposta ao camarada Aleksandr Ilitch Notkine10

    No me apressei a responder-lhe porque no considero urgentes as questesque levanta. Tanto mais que h outras questes de carcter urgente, que,

    naturalmente, desviam a minha ateno da sua carta.Respondo-lhe por pontos.

    Primeiro ponto.Nas minhas Observaes figura a conhecida tese de que a sociedade no

    impotente perante as leis da cincia e que as pessoas podem, conhecendo as leiseconmicas, utiliz-las no interesse da sociedade. Voc afirma que esta tese nose aplica a outras formaes sociais, que s vlida no socialismo e nocomunismo, dado que o carcter espontneo dos processos econmicos, porexemplo, no capitalismo, no permite utilizar as leis econmicas no interesse da

    sociedade.Isto errado. Na poca da revoluo burguesa, por exemplo, na Frana, a

    burguesia usou contra o feudalismo a conhecida lei da obrigatoriedade dacorrespondncia entre as relaes de produo e o carcter das forasprodutivas, derrubou as relaes de produo feudais, criou as novas relaes deproduo burguesas e f-las corresponder com o carcter das foras produtivas,criadas no seio do regime feudal. A burguesia f-lo, no em virtude das suascapacidades particulares, mas porque tinha um profundo interesse nisso. Osfeudais resistiram, no em virtude da sua estupidez, mas porque tinham umprofundo interesse em impedir a realizao desta lei.

    O mesmo se deve dizer sobre a revoluo socialista no nosso pas. A classeoperria utilizou a lei da obrigatoriedade da correspondncia entre as relaesde produo e o carcter das foras produtivas, derrubou as relaes deproduo burguesas, criou as novas relaes de produo socialistas e f-lascorresponder com o carcter das foras produtivas. A classe operria pde faz-lo, no em virtude das suas capacidades particulares, mas porque tinha umprofundo interesse nisso. A burguesia que, de fora de vanguarda nos alvores darevoluo burguesa, j se havia transformado numa fora contra-revolucionria,resistiu por todos os meios materializao desta lei. Resistiu, no em virtudeda sua falta de organizao, no porque o carcter espontneo dos processoseconmicos a impelissem a resistir, mas, principalmente, porque estavaprofundamente interessada em impedir a materializao desta lei.

    Por conseguinte:1. A utilizao dos processos econmicos, das leis econmicas, no interesse

    da sociedade tem lugar, numa ou noutra medida, no apenas no socialismo ouno comunismo, mas tambm noutras formaes sociais.

    10Notkine, Aleksandr Ilitch (1901-1982), economista sovitico, professor universitriodesde 1934, trabalhou no Instituto de Economia da Academia das Cincias da URSS, da

    qual se torna membro correspondente em 1976. (N. Ed.)

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    2. A utilizao das leis econmicas numa sociedade de classes tem sempre eem toda a parte um carcter de classe, sendo que o porta-estandarte dautilizao das leis econmicas no interesse da sociedade sempre e em todaparte a classe de vanguarda, enquanto as classes em declnio tomam umaposio de resistncia.

    Neste caso, a diferena entre o proletariado, por um lado, e, por outro, asoutras classes, que no decorrer da histria realizaram em algum momentorevolues nas relaes de produo, consiste no facto de que os interesses daclasse proletria se fundem com os interesses da maioria esmagadora dasociedade, uma vez que a revoluo do proletariado significa a eliminao, node uma ou outra forma de explorao, mas a eliminao de toda a explorao,enquanto as revolues das outras classes, eliminando apenas esta ou aquelaforma de explorao, permaneceram no quadro dos seus estreitos interesses declasse, que estavam em contradio com os interesses da maioria da sociedade.

    Nas Observaes fala-se das profundas razes de classe do processo deutilizao das leis econmicas no interesse da sociedade. Afirma-se queDiferentemente das leis das cincias naturais, onde a descoberta e aaplicao de uma nova lei decorrem de forma mais ou menos fluida, no campoda economia, a descoberta e aplicao de uma nova lei, que choque com osinteresses das foras caducas da sociedade, enfrentam a maior resistncia por

    parte destas. Ora, voc no prestou ateno a isto.

    Segundo ponto.Voc afirma que a total correspondncia das relaes de produo com o

    carcter das foras produtivas s pode ser alcanada no socialismo e nocomunismo, e que nas outras formaes sociais esta correspondncia s podeser parcial.

    Isto errado. N