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Procedimento Sumaríssimo Trabalhista - Críticas e Incertezas

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    Rev. TST, Braslia, vol. 66, n1, jan/mar 2000 61

    PROCEDIMENTO SUMARSSIMO TRABALHISTA: CRTICAS E INCERTEZAS

    Jos Augusto Rodrigues Pinto*

    Sumrio: 1. Introduo: propsito e articulao da Lei n. 9.957/00. 2. Im-propriedade lgica e terminolgica. 3. Confronto com a Lei n. 5.584/70. 4.Obrigatoriedade ou opcionalidade do procedimento sumarssimo. 5. O odio-so privilgio do Estado. 6. Valor do pedido e sua impugnao. 7. Determi-nao da competncia pelo valor da causa. 8. Unicidade formal da citao. 9.Poder de direo do processo. 10. Excees, incidentes e interlocutrias. 11.Compactao processual: A) No primeiro grau. B) Nos recursos. 12. Emconcluso.

    1. INTRODUO: PROPSITO E ARTICULAO DA LEI N 9.957/00

    A Lei n. 9.957, de 12.01.2000 ainda no entrou em vigor, graas vacnciaestabelecida no seu prprio art. 2.. Mas, a quantidade de crticas (fundadas, infeliz-mente) e incertezas tem sido de tal ordem que justifica uma inquieta pergunta e vale-r a pena que entre?

    A proposta da anlise a seguir nutre-se da inteno de arredondar as agressi-vas asperezas com que, primeira vista, desafiado o intrprete, enquanto o tempocompleta sua misso sedimentar que faa dela um adorno til ou um lixo social.

    Nessa anlise, dois aspectos so percebidos com imediata clareza: seu prop-sito direto e a engrenagem com que se articula.

    O propsito o da celeridade em solver os dissdios do trabalho. Ao que su-gere o texto, celeridade acima de tudo e s isso j desperta uma dvida filosfica: oque rpido , necessariamente, melhor? Na sabedoria secular do povo parece estaruma resposta pouco animadora: a pressa inimiga da perfeio e nas dobras desua intuio bem possvel esconder-se o motivo das tantas crticas e incertezas que,antes mesmo de respaldar-se na vigncia, j estejam desabando sobre ela.

    O outro aspecto, inclusive explicativo do propsito direto, a engrenagem re-visionista de que faz parte.

    Ningum, aqui e l fora, desconhece que o Direito do Trabalho, pressionadopela Revoluo Tecnolgica, est mudando seu figurino para vestir-se pela medida daflexibilizao. Nem pode ter dvida de que, mudando-se as regras do direito material,mudam-se as do processo, que instrumento de sua efetividade.

    * Presidente da Academia Nacional de Direito do Trabalho; Juiz do Trabalho(aposentado) da 5 Regio.

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    Portanto, na era de transferncia da responsabilidade normativa do Estadopara os organismos intermedirios interessados nas relaes de trabalho, rigorosa-mente lgico reduzir-se o papel da jurisdio oficial, sumariando o contraditrio e ojulgamento das lides, a fim de induzir a soluo transacional dos conflitos.

    A Lei n. 9.957/00 uma pea caracterstica desse contexto. Surgida por deri-vao direta da Emenda Constitucional n. 24/99, que descaracterizou a Justia doTrabalho, iniciando sua metamorfose em simples varas especializadas da Justia Or-dinria (obra que estar completa com a extino do Poder Normativo), veio luz depar com uma irm gmea, a Lei n. 9.958, de 12.01.00, que enfatiza a mais no poder asoluo extrajudicial dos conflitos entre o capital e o trabalho, empurrando-os, expli-citamente, para fora da rbita jurisdicional, a ponto de elevar a impropriamente deno-minada conciliao prvia condio de pressuposto obrigatrio da reclamaotrabalhista.

    No se imagine que essas consideraes so premissas para defender-se amanuteno do status quo ante. Ao contrrio, a evoluo um componente da seivasocial e, no particular da Revoluo Tecnolgica, irrefrevel. Importante, porm, saber se as mudanas esto sendo bem feitas. isso que se vai especular na rea parti-cular da Lei n. 9.557/00.

    2. IMPROPRIEDADE LGICA E TERMINOLGICA

    A primeira e merecida crtica vai para a inadvertncia e falta de ateno dolegislador. A Lei n. 9.957/00 cuida de um procedimento sumarssimo sem que tenha-mos um procedimento sumrio do qual ele pudesse ser superlativo. Essa improprieda-de lgica concorre com outra, simplesmente etimolgica, visto que a forma correta dosuperlativo de sumrio sumarissimo.

    Mais lastimvel que as impropriedades decorram de desateno histrica. OCPC, originariamente, exibia esses mesmos erros. Na minirreforma pela qual passou,cuidou-se de elimin-los, com alteraes feitas pela Lei n. 8.952, de 13.12.94, reda-o dos arts. 272 e 275. Disps, portanto, o reformador trabalhista de um espelho emque poderia muito bem se ter mirado.

    3. CONFRONTO COM A LEI N 5.584/70

    A Lei n. 5.584, de 26.07.70 criou, em sua primeira parte, um procedimento dealada para causas de pequeno valor, assim consideradas aquelas cujo pedido noexcedesse o valor de dois salrios mnimos. Pretendeu-se, ento, estabelecer a norecorribilidade das respectivas sentenas, salvo quando versassem matria constituci-onal (art. 2. e ).

    A Lei n. 9.957/00 mira outro alvo, o de sumariar o procedimento. Portanto, emprincpio, no estaramos diante de um choque de normas. Parece-nos, entretanto, quea rota de coliso das duas leis visvel, visto se firmarem em valores diferentes para aspequenas causas, imbricando suas reas de atuao.

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    A imbricao fora aplicar-se a regra de que a lei posterior afasta a vignciada anterior. Se assim no for feito, terminaremos envolvidos num autntico imbrglio,a saber:

    a) Causas de alto valor (acima de dois salrios mnimos), su-jeitas ao procedimento ordinrio da CLT, com sentenas recorrveis.

    b) Causas de pequeno valor (abaixo de dois salrios mnimos),sujeitas ao procedimento ordinrio da CLT, com acentuao da orali-dade na audincia (Lei n. 5.584/70, art. 2., 3.), e sentenas no re-corrveis (idem, art. 2., 4).

    c) Causas de pequeno valor (abaixo de quarenta salrios mni-mos), sujeitas a procedimento sumarssimo (Lei n. 9.957/00) e sentenasrecorrveis.

    Observe-se tambm que, se considerarmos no ter havido derrogao da Lei n.5.584/70, na parte que trata das causas de pequeno valor, submetidos a dois critriosde incoerncia incompreensvel: um pequeno valor menor (sic), que sujeitar a causa aprocedimento ordinrio sem comportar recurso; um pequeno valor maior (sic), quesujeitar a causa a procedimento sumarssimo, comportando recurso.

    A incoerncia aprofunda-se com o veto presidencial oposto pela Mensagem n.75, de 12.01.2000 ao inciso I, 1., da Lei n. 9.957/00, que consideraria no recorrvela sentena proferida nas causas de at quarenta salrios mnimos. O pretexto do vetofoi que

    contm severa limitao do acesso da parte ao duplo grau da ju-risdio, mxime quando j se est restringindo o acesso ao TribunalSuperior do Trabalho.

    Perceba-se a desarticulao processual e lgica a ser provocada pela convi-vncia das duas normas. Haver dois pequenos valores, um para fim de recurso, outropara fim de procedimento; num nvel de valor, impede-se o acesso ao duplo grau,formalmente vetado para o outro nvel; no novo nvel de valor, restringe-se o acesso aoTST, aberto, sem nenhuma restrio, s causas de valor ainda menor. Isso para nofalarmos na prpria disparidade de critrios de fixao e impugnao do conceito depequena causa, a ser especificamente analisado mais adiante (ver n. 5, infra).

    Tudo nos leva, pois, concluso de que, embora as duas leis no disponhamdiretamente sobre a mesma matria, as normas da Lei n. 9.957/00, relativas a causasde pequeno valor entram em conflito disciplinar com as do art. 2., e pargrafos, daLei n. 5.584/70 E, se entram, derrogam-nas

    No admitir isso , ultima ratio, desprezar um dos princpios fundamentais doDireito Processual, a simetria de tratamento das partes pelo processo.

    4. OBRIGATORIEDADE OU OPCIONALIDADE DO PROCEDI-MENTO SUMARSSIMO

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    A respeito da aplicao da Lei n. 9.957/00, uma das incertezas que esto la-vrando com maior intensidade resume-se nesta questo: o rito sumarssimo opcionalou obrigatrio?

    Dois argumentos esto seduzindo adeptos para a tese da opcionalidade.Um deles, de ordem doutrinria, pretende ter abrigo no pensamento de Pontes

    de Miranda. De fato, desde os comentrios feitos ao CPC/39, o notvel jurista j fir-mava as seguintes premissas lgicas:

    a) que os ritos especiais somente podem servir s aes que lhesforem apontadas, no se admitindo interpretao dilatante daqueles pre-ceitos que apresentem os pressupostos subjetivos e objetivos de cadauma das formas de processo que no sejam a ordinria;

    b) que a especialidade, se a ao no de jurisdio voluntriaou adstrita a certa inverso das fases do processo, pode ceder escolhada ordinariedade;

    c) que os preceitos sobre o processo ordinrio so enchedores daslacunas da lei no trato dos outros processos, na medida em que no lhesapaguem a especialidade. 1

    Conforme destacamos na citao, a margem de opo considerada entre oprocedimento ordinrio e os especiais. Nenhuma concesso feita, nesse sentido, aosprocedimentos ordinrio e sumrio, na verdade simples reparties do procedimentocomum, s diferenciadas pela simplificao ritual apta a privilegiar a celeridade doprocesso.

    Ao bifurcar o procedimento comum (isto , adequado a todas as aes) emordinrio e sumrio, a lei processual s deseja abrir um atalho para as lides maissimples, a fim de resolv-las mais rapidamente.

    Deixar escolha da parte a opo de no usar o atalho , virtualmente, abortar arazo para constru-lo. Isso muito diferente da escolha conferida parte entre o pro-cedimento individuado (especial) de determinadas aes e o procedimento comum atodas, como, por exemplo entre a cobrana de ttulo executivo extrajudicial pelo pro-cedimento especial da execuo ou pelo comum da ao ordinria.

    O outro argumento contrrio opcionalidade calca-se na Lei n. 9.099, de23.09.95. Essa Lei autorizou a opo pelo seu procedimento sumrio para causas depequeno valor (at vinte salrios mnimos), nos juizados especiais (art. 3., 3.). Mas,para autoriz-la, imps ao autor a renncia implcita do procedimento ordinrio, atra-vs da renncia explcita de exigir crdito excedente do limite do procedimento sum-rio.

    De mais a mais, a Lei n. 9.099/95 demonstra que, em termos de escolha derito no interior do procedimento comum, quando o legislador quis admiti-la, teve quedar parte autorizao especfica.

    1 Pontes de Miranda, Comentrios ao Cdigo de Processo Civil (39), vol. II, pg.396, Rio, Forense, 1947, destaques nossos.

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    Ora, na Lei n. 9.957/00, a linguagem do art. 852-A, adido CLT (os dissdiosindividuais cujo valor no exceda a quarenta vezes o salrio mnimo vigente na datado ajuizamento da reclamao ficam submetidos ao procedimento sumarssimo), temimperatividade acima de qualquer dvida. Nem poderia deixar de ser, em face dopropsito do legislador de tornar fulminante a rapidez de soluo da contenda, que sedissolveria na faculdade de escolha da parte.

    Acrescentemos, por fim, que a suposta opcionalidade exibiria fortes tons dequebra do princpio da simetria de tratamento processual, porquanto s o autor daao teria o privilgio de exerc-la. Alm disso, o drstico arquivamento (rectius,extino do processo sem julgamento de mrito) resultante do no atendimento dadeclarao de valor (art. 852-B, I) indicativo de que no existe escolha de procedi-mento para a pequena causa trabalhista.

    Secundamos, por isso, com certeza muito tranqila, a primeira opinio externa-da pelo Professor Amauri Mascaro Nascimento, no sentido de que o procedimentosumarssimo imposto pela lei, nos casos que prev, excluindo qualquer idia de op-o pelo reclamante do reclamante. 2

    5. O ODIOSO PRIVILGIO DO ESTADO

    Num pas srio, o pargrafo nico do atual art. 852-A da CLT, que consideraexcludas do procedimento sumarssimo as demandas em que parte a Administra-o Pblica direta, autrquica e fundacional (destaques nossos), equivaleria a umdecreto de falncia da Lei n. 9.557/00.

    Por mais que desejemos respeitar a majestade terica do Poder, fere-nos o bomsenso de obscuro garimpeiro do bom direito que o Estado crie regras destinadas aobviar a soluo dos conflitos dos outros e as declare imprprias para solucionar osseus prprios. Essa postura faz timo par com a assumida, no seu tempo, pela EmendaConstitucional 01/69 (arts. 110 c.c. art. 125, I), que transps da Justia Especializadado Trabalho para a Justia Ordinria Federal as causas trabalhistas em que a Unio,suas autarquias e empresas pblicas tivessem qualquer tipo de interesse.

    Atitudes desse gnero ou atestam que a lei discriminada no oferece seguran-a ou que a oferece demais para o gosto negligente ou impudico do administradorpblico. o que ficamos a matutar em relao Lei n. 9.957/00.

    6. VALOR DO PEDIDO E SUA IMPUGNAO

    Duas outras fontes de incerteza so criadas pela nova Lei, quando declara,pelo atual art. 652-B, I, da CLT, que nas pequenas causas trabalhistas o pedido deve-r ser certo e determinado e indicar o valor correspondente.

    2 Palestra proferida, em 03.02.2000, na Associao dos Magistrados Trabalhistas deSo Paulo (Amatra II), em So Paulo.

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    Na primeira parte, nenhuma novidade, pois se trata de mera repetio do re-pdio do CPC ao pedido genrico (art. 286), ressalvadas as situaes excepcionais queprev. Mas na seqncia do dispositivo, surge a incerteza que vem dividindo opinies:indicar valor quer dizer formular pedido lquido ?

    A nosso ver, no. E isso pode ser explicado, em primeiro plano, com prospeoda sutil, porm firme, diferena entre direito certo e direito lquido.

    Quando Calmon de Passos comenta o art. 286 do CPC, ensina quepedido certo o que deixa claro e fora de dvida o que se pre-

    tende, quer no tocante a sua qualidade, quer no referente a sua exten-so. 3

    De fato, busca-se na prestao jurisdicional a certificao do direito. E nenhumdireito poder ser certificado, quanto sua existncia e titularidade, se o pedido dopretendente no for certo.

    O raciocnio orienta, primeira vista, para a concluso de que o direito (logo,o pedido) certo tambm lquido. Entretanto, Plcido e Silva, perquirindo a noo doque lquido conclui que ele

    o definitivo, determinado por sua exatido. Isso lhe permite alertar em seguida:

    Costuma-se dizer lqido e certo para aludir liquidez de algu-ma coisa. frase redundante porque o lquido j certo. O certo quepode no ser lquido. 4

    A anlise articulada do magistrio desses dois grandes juristas nos permite umainteligncia clarssima da distino: certo o que nos d a identidade precisa do di-reito (e, portanto, do pedido de sua certificao). Lquido o que nos d o valor defi-nitivo do direito (e do pedido de certificao).

    possvel estabelecer, portanto, com absoluta preciso tcnica que, se a leiexigir pedido lquido, est ordenando que ele seja definitivamente certo; mas, se exigirpedido certo, est ordenando apenas que ele seja apenas precisamente identificado.

    Num segundo plano de raciocnio, o prprio iter de criao da Lei n. 9.957/00nos mostra a distino entre o certo e o lquido.

    Efetivamente, em seu projeto, exigia-se do pedido que fosse certo e determina-do, mas da sentena, que fosse lquida. Ao sancion-la, o Presidente da Repblicavetou o 2. do art. 852-I, assim vazado:

    No se admitir sentena condenatria por quantia lquida, argumentando que isso

    3 Jos Joaquim Calmon de Passos, Comentrios ao Cdigo de Processo Civil, 1ed., III vol., pg. 156, Rio, Forense, 1974. 4 De Plcido e Silva, Vocabulrio Jurdico, 15 ed., pg. 496, Rio, Forense, 1999,destaques do Autor.

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    poder, na prtica, atrasar a prolao das sentenas, j que seimpe ao juiz a obrigao de elaborar clculos, o que nem sempre simples de se realizar em audincia. 5

    Quer dizer: a norma exigiu que a sentena seja certa, mas no que seja lquida,precisamente porque certeza e liquidez do direito so noes diferentes. Por que have-ria, ento, de exigir que o pedido fosse lquido, se ele no serve para levar a uma sen-tena tambm lquida?

    Coincidindo com as razes do veto exigncia de a sentena ser liquida, vemoscomo igual exigncia para o pedido criaria grave empecilho ao operrio, na reclama-o pessoal, forando-o elaborao de contas que, geralmente, no tem a mnimacondio de fazer e disso tm tanta conscincia os que interpretam a norma legalcomo exigindo liquidez de pedido que sugerem criao de servio de clculo, na Justi-a do Trabalho, para as reclamaes a termo, ou assistncia sindical ao trabalhador,para esse fim.

    Est-se a ver alm da ausncia de base cientfica para tal tipo de inferncia que seria insensatez do legislador pretender simplificar a ao, criando complexosentraves burocrticas ao seu autor.

    Tudo considerado, s vivel concluir que o valor correspondente certe-za do pedido de mera declarao para firmar o rito. Esse mecanismo , alis, cedioe usado sempre que a lei processual precisa determinar competncia pelo valor dacausa, alada ou procedimento. Seu uso pode ser conferido no CPC/39 (art. 158, VII),no CPC/73 (art. 258) e na Lei n. 5.584/70 (art. 2.), com o mesmssimo fim da Lei n.9.957/00.

    A segunda incerteza mais densa: o valor declarado impugnvel pelo re-clamado ou rejeitvel, de ofcio, pelo juiz?

    A nosso ver, o direito impugnao se insere, firmemente, na prpria garantiaconstitucional da ampla defesa do ru. De outra parte, est no crculo de poder dedireo do processo pelo juiz rejeitar, ex officio, qualquer declarao claramente irrea-lista, incidindo at na ampla censura litigncia de m-f a malcia extrema com quefor feita.

    Uma indagao ainda subsiste nossa postura interpretativa, qual seja a de sa-ber sob que procedimento se resolver o incidente da impugnao. A prpria Lei n.9.957/00 parece responder-nos, dentro de critrio ajustado preocupao com a cele-ridade, bem distinto dos adotados na Lei n. 5.584/70 (art. 2., 2. e 3.) e no CPC(art. 261). O incidente ser decidido de plano, na prpria audincia, sem suspend-la, e a inconformidade, comportando argio de nulidade para julgamento com oeventual recurso da sentena (art. 651-G).

    7. DETERMINAO DA COMPETNCIA PELO VALOR DACAUSA

    5 Mensagem n. 75, de 12.01.2000

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    Toda lei nova gera incertezas em suas primeiras aplicaes. O que acontececom a Lei n. 9.957/00 que ela est gerando tantas que cria uma espcie de sndromeda incerteza geral capaz de lev-la a traduzir um dilogo de surdos, em que cada umdiz o que quer e ningum ouve coisa alguma.

    Exemplo disso a pergunta, freqentemente repetida, sobre se as novas pe-quenas causas trabalhistas devero ser canalizadas para varas prprias ou se deveroter pautas especiais, separadas das causas de rito ordinrio.

    Por obrigao legal, no. Alis, no que diz respeito a varas reservadas s apreciao de causas de pequeno valor, no se pode considerar, sequer, que haja tole-rncia, porque a matria, no caso, de determinao de competncia, sob reservalegal, portanto.

    Com efeito, todos os juzes do trabalho de 1. grau esto nivelados na com-petncia material para julgar todos os dissdios de matria trabalhista. S a lei podercindir-lhes a competncia em razo do valor da causa e a Lei n. 9.957/00 no fezisso nem nas suas entrelinhas.

    No particular, alis, foi bom mesmo que no fizesse, pois novas dificuldadesa medida iria somar s muitas que j surgem, bastando lembrar-se a mais bvia, deredistribuio do processo, sempre que se verificar que o verdadeiro valor da causano correspondente ao do rito a que se quis submet-la (ver item 6, supra).

    J no tocante especializao de pautas, a matria de economia interna dosrgos jurisdicionais, sem influir na determinao da competncia nem, portanto,encerrar matria de reserva legal.

    Note-se, at, que a prpria Lei n. 9.957/00, de referncia aos rgos de 2.grau, autoriza explicitamente a providncia no novo 2. acrescido ao art. 895 daCLT, in verbis:

    Os Tribunais Regionais divididos em Turmas podero designarTurma para o julgamento dos recursos ordinrios interpostos das senten-as prolatadas nas demandas sujeitas ao rito sumarssimo.

    Analogicamente, isso poder aplicar-se s varas trabalhistas, em termos depauta, quer dizer, o prprio rgo de 1. grau, ou o Regional a que estiver subordina-do, poder dividir as pautas de audincia, de acordo com o rito das reclamaes, orga-nizando-as por dias de pequenas causas e de causas ordinrias. Outra alternativa seratribuir a direo de um dos tipos de causa ao juiz titular da vara e outro, ao seu auxi-liar, onde houver.

    Enfim, essas medidas visam ao aspecto operacional dos rgos e s o tempodir se convm experiment-las e se, experimentadas, apresentaro resultados positi-vos de rendimento.

    8. UNICIDADE FORMAL DA CITAO

    Na sua idia fixa de celeridade, o legislador chega a cometer truculncias, ju-ridicamente inaceitveis, com certas inovaes do seu procedimento sumarssimo.

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    Uma delas, sem dvida, a unicidade formal da citao, resultante da taxativa regrade que

    no se far citao por edital, incumbindo ao autor a correta in-dicao do nome e endereo do reclamado (art. 852-B, II).

    Considerando que o prprio procedimento ordinrio (CLT, art. 841, 1.)afasta a citao por mandado, fica-se restrito a uma nica forma de citao nas peque-nas causas trabalhistas, a citao (notificao) postal.

    Se isso drstico, no prtico, pois h inmeras situaes concretas em quea interveno do oficial de justia quebra dificuldades de entrega da comunicao daao ao ru e outras em que no possvel mesmo saber seu paradeiro.

    Ento, proibir a citao por edital insensato (art. 852-B, II) e determinar o ar-quivamento (rectius, a extino do processo sem julgamento de mrito), porque oreclamante no teve condies de indicar endereo para a citao (ar. 852-B, 1.), truculento. Mais do que truculento, desperta fundada dvida sobre sua constitucionali-dade, diante da clara privao da garantia individual de acesso ao Judicirio.

    Esta , portanto, uma providncia censurvel e insustentvel, evidenciando queo legislador no soube encontrar a medida de equilbrio entre a rapidez e a moderaono trato processual dos interesses do cidado.

    9. PODER DE DIREO DO PROCESSO

    O art. 852 - E, criado sob medida para o procedimento sumarssimo da CLT,trata da liberdade do juiz para determinar as provas a serem produzidas. Na verdade,est tratando do poder de direo do processo e do exame que lhe fizermos s aflo-ram duas concluses: inutilidade e instigao ao arbtrio.

    A norma intil porque no h nada em seu contedo que j no esteja solida-mente estabelecido na doutrina e em normas processuais precedentes. Com efeito,conduzir a instruo considerado o nus probatrio de cada litigante uma decor-rncia da regra geral do art. 818 da CLT ou do art. 333 do CPC, que se mostra maissistemtico. Limitar ou excluir as (provas) que considerar excessivas, impertinentesou protelatrias inerente ao poder do juiz no processo e na audincia e j est dito,melhor e h mais tempo, nos arts. 130 e 131 do CPC.

    Entretanto, o modo como foram repetidas na Lei n. 9.957/2000, mormente pelanfase da expresso liberdade, pode induzir ao exagero no exerccio do poder diretivoque todos reconhecem ao juiz no processo, levando-o a esquecer que o autor e o ruso, com ele, atores no teatro processual e isso ser o atalho mais curto para a nuli-dade, cuja declarao leva a um resultado de retrocesso, naturalmente hostil ao pre-tendido pelo processo. 6

    6 Jos Augusto Rodrigues Pinto, Processo Trabalhista de Conhecimento, 4 ed.,pg. 207, So Paulo, LTr., 1998, destaque do Autor.

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    Nossa crtica, enfim, porque o dito no art. 852-E j no precisava ser dito e omodo de dizer sugere fazer da liberdade do juiz uma arma liberticida do direito pro-cessual das partes.

    10. EXCEES, INCIDENTES E INTERLOCUTRIAS

    Este mais um aspecto em que o texto da Lei n. 9.957/00, sob o domnioquase psictico da pressa jamais confundvel com a celeridade desborda do poss-vel. conferir para concluir.

    Diz a primeira parte do art. 852-G: Sero decididos, de plano, todos os incidentes e excees que

    possam interferir no prosseguimento da audincia e do processo.O que, de fato, quis ser dito que as excees e os demais incidentes sero re-

    solvidos de plano, porquanto as excees so incidentes tpicos. Mas exatamenteessa compreenso que demonstra a afoiteza da norma, quando interpretada sistemati-camente.

    Decidir de plano, segundo o melhor conceito jurdico, decidir facilmente, sem debates ou sem discusso. 7

    Os incidentes simples (p. ex., a impugnao de compromisso a testemunha quese declarou pai de quem a arrolou) podem e devem ser decididos de plano. Mas hincidentes complexos (e as excees de incompetncia e suspeio se contam entreeles) que nunca, ou quase nunca, facultam deciso sem discusso, ou seja, contradit-rio e prova. No foi por outro motivo que o art. 799 da CLT as separou das demaisexcees (forma canhestra de denominar os incidentes simples), para o fim de sus-pender o feito, instru-las e decidi-las.

    A norma colocou o juiz do trabalho num dilema, quando se deparar com a ar-gio de incidente complexo, isto , exigente de contraditrio e instruo especficos,como as excees de incompetncia e de suspeio: ou julga de plano, violando dire-tamente o direito de defesa das partes, ou suspende o curso do processo e, provavel-mente, da audincia, afim de instruir e decidir, violando diretamente a lei.

    Poder deparar-se com um trilema (permita-se o neologismo), se considerar aalternativa de, respeitando o direito das partes e cumprindo a lei risca, constituir ocontraditrio e a prova e proferir a interlocuo sem interferir no prosseguimento daaudincia e do processo (destaques nossos).

    A segunda parte do dispositivo deve ser simplesmente desconsiderada por suainutilidade bvia. claro que, separados os incidentes (simples ou complexos), sujei-tos a deciso interlocutria, todas as demais questes, pouco importa que sejamprocessuais ou substanciais, integram a lide e esta s pode ser decidida mesmo nasentena.

    7 De Plcido e Silva, Vocabulrio Jurdico, 15 ed., pg. 612, Rio, Forense, 1999,destaques do Autor.

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    11. COMPACTAO PROCESSUAL

    Num procedimento que se prope ser sumarssimo, compactar os autos omnimo a esperar-se. Quer-se, ento, saber se a imaginao do legislador, nesse senti-do, correspondeu expectativa despertada pela ementa da lei. Vejamos isso, exami-nando setores afetados no 1. grau e nos recursos.

    A) No 1. grau

    Formao da relao jurdica

    As inovaes do art. 852-B (certeza, determinao e valor do pedido) j estocomentadas em itens prprios (ver ns. 6 e 7, supra). A lei sanciona a inobservnciacom o chamado arquivamento da reclamao, que no passa da extino do processosem julgamento de mrito, por indeferimento da inicial, fundado em sua inpcia (CPC,arts. 267, I, e 295, I).

    Prazo para encerramento da instncia

    O inciso III do art. 852-B reafirma um vezo fartamente desmoralizado do le-gislador brasileiro, o de criar prazos rigorosssimos que se sabe, de antemo, que nosero cumpridos, mormente quando desacompanhados de punio do infrator. Comefeito, basta o requerimento fundado de prova pericial para engolfar, com folga, osquinze dias.

    A psicose da pressa, to clara no irrealismo desse prazo, j tem criado incer-tezas na mente dos advogados, que invocaro a lei, e dos magistrados, que deveroaplic-la. E se houver pedido de modificao da postulao (emenda, alterao, adi-tamento)? E se houver pedido de produo de prova testemunhal fora da jurisdio davara trabalhista? E se houver denunciao da lide? E se for necessrio intimar teste-munha pelo motivo do art. 852-H, 3. ? E se ela tiver que comparecer mediante con-duo coercitiva porque, mesmo intimada, no compareceu?

    Todas essas questes levam a concluir que o prazo de quinze dias poucas ve-zes ser de observncia possvel.

    A menos que se convenha em que o imperativo categrico e sem ressalvas danorma (a apreciao da reclamao dever ocorrer no prazo mximo de quinze diasdo seu ajuizamento) bem mais flexvel do que se pensa e para isso basta ver nosdicionrios o significado de apreciao:

    estudo para formao do juzo que precede o julgamento. 8

    8 Cf. em Moderno Dicionrio da Lngua Portuguesa Micahelis (Eletrnico) , SoPaulo, Melhoramentos, 1998, verbete Apreciao.

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    Sendo entendido assim (e assim deve ser) a inovao ter sido a de criar uminterstcio mximo para a realizao da audincia, mantido o mnimo de cinco dias doprocedimento ordinrio (CLT, art. 841).

    Pensar de outro modo, ser admitir que a Lei n. 9.957/00, acorrentando todo otempo de curso da reclamao a quinze dias, nasceu sob poder da pulverizao deprincpios, regras e interpretaes que do essncia ao Direito Processual e o interli-gam com o prprio Direito Constitucional.

    Reduo da conciliabilidade

    Evidenciando a articulao da Lei n. 9.957/00 com sua irm gmea que tratada impropriamente denominada conciliao prvia, de natureza extrajudicial, o pro-cedimento sumarssimo s comporta uma tentativa obrigatria de conciliao, naabertura da audincia, que sempre insistimos em dizer que no o momento maisadequado, pois ainda nem se conhecem as pretenses do reclamado.

    A advertncia de que em qualquer fase da audincia a soluo conciliadora po-der ser tentada o bvio em qualquer situao que coloque frente a frente os conten-dores de um conflito. A nosso entender, a reduo da atividade negociadora do juiz dotrabalho um passo a mais para converso da Justia Especializada do Trabalho emVaras Especializadas da Justia Comum.

    Produo de provas na audincia

    O dispositivo do art. 852-H no traz novidade alguma. Sua declarao devontade legal subscreve o que j feito no procedimento ordinrio da CLT, comosimples resultado da oralidade do ato.

    Sem se lembrar de que a prova tcnica dificilmente pode ser feita em audincia,o novo sentido nsito na norma concentra-se no final da redao (ainda que no re-queridas previamente). Isso pode significar, por exemplo, a inviabilidade de pedidode requisio de documento pblico em poder de autoridade que se recusou a fornec-lo ou no o fez em tempo hbil para a produo na audincia. uma evidncia a maisdo choque entre a fixao pela celeridade e o respeito garantia constitucional deampla defesa e de contraditrio no processo.

    Reduo e intimao das testemunhas numerrias

    Consideramos de nenhum resultado prtico a reduo do limite das testemu-nhas numerrias de trs para duas. Parece-nos materialmente irrelevante a diferenaque trar para a abreviao da audincia.

    J o dever de a parte comprovar o convite feito testemunha para comparecerespontaneamente, como condio de seu direito de requer a intimao judicial, temefeito profiltico sobre a protelao, mas no constitui novidade, pois, ao arrepio danorma, j vem sendo praticado h muito tempo pela maioria dos juzes do trabalho.

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    Restrio prova tcnica

    A regra do 4. do art. 852-H de obviedade comovedora. claro que o juiz,exercendo seu poder de direo do processo, to energizado pelo art. 852-D, podeindeferir as provas que se afigurarem desnecessrias, sem precisar que a lei lhe digaisso, em relao a nenhum tipo especfico. Assim, o dispositivo em causa mais atra-palha do que ajuda, quando retira ao juiz a flexibilidade para dispensar a prova tcnicalegalmente imposta, pois h casos em que ela, mesmo assim, dispensvel, a exem-plo da apurao de periculosidade para pagamento de adicional contratado pelas par-tes.

    Interrupo da audincia

    De acordo com a acepo jurdica das palavras, quando o legislador, no 7.do art. 852-H, define limite de tempo para a interrupo da audincia, est referindo-se sua suspenso. E o dispositivo, ao nosso entender, tem uma notvel utilidadeesclarecedora do que se desejou dispor, quanto aos quinze dias de que trata o art. 852-B, III.

    Realmente, a suspenso da audincia por trinta dias (ou, eventualmente, atmais), antes da soluo do processo claramente indicativa de que aqueles quinzedias do art. 852-B, III, dizem respeito ao limite mximo de tolerncia para o incio daaudincia e no para a soluo do dissdio.

    Mutilao e intimao da sentena

    No art. 852-I, houve por bem dispensar-se o relatrio da sentena. Ou seja,mutilou-se seu organismo lgico, amputando-lhe a parte informativa do contedo dosautos.

    Cremos, firmemente (embora no a justifiquemos) que a providncia se inspi-rou na proposio de irrecorribilidade, conforme o 1. que seria acrescentado ao art.895 o que dispensaria ao juiz da vara relatar para si mesmo o contedo do processo.Mas, o dispositivo em causa foi vetado e a funo do relatrio readquiriu toda suarazo de ser, nos casos de alada com recurso ordinrio.

    Alm disso, o relatrio informa no apenas o rgo de reexame do processo,mas todos quantos tenham interesse em l-lo, dada sua natureza pblica e at mesmopara o eventual recorrente sua utilidade sensvel, quando elaborado no feitio moder-no de ndice dos atos e das peas processuais.

    No aplaudimos a medida porque ter mutilado um ato de organicidade irreto-cvel a troco de nada a no ser da pressa.

    Quanto intimao s partes, o 3. do mesmo art. 851-I dispe que as partes sero intimadas na prpria audincia em que prolata-

    da

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    A regra de contedo absolutamente idntico ao do art. 852, que permanece noprocedimento ordinrio. Mas, como em nenhum escaninho de todo o texto da Lei n.9.957/00 se exigiu das partes ou de seus representantes permanecer na audincia at asentena, nem se pode estabelecer presuno restritiva, ter-se- que admitir a aplica-o supletiva da disposio do art. 848, 2., o qual autoriza as partes a se retiraremaps o interrogatrio, e de todo o restante mecanismo de comunicao, inclusive oEnunciado n. 197 do TST.

    B Nos recursos

    Estreitamento do cabimento da Revista

    O Congresso ambicionava o mais, quando deu redao final ao Projeto da Lein. 9.957/00: negar cabimento ao recurso ordinrio, como acontecera com a Lei n.5.584, trinta anos antes. Com o veto de 12.01.00, o Executivo concedeu o menos:estreitar a base de cabimento da Revista, atravs do 6., acrescido ao art. 896 daCLT.

    Desse modo, enquanto o recurso de revista, nos processos sujeitos ao rito tor-nado ordinrio do dissdio individual, cabe em trs hipteses, a saber:

    a) conflito interpretativo de lei federal entre Regionais e a Seode Dissdios Individuais do TST e com sua Smula de JurisprudnciaUniforme;

    b) conflito interpretativo de lei estadual, conveno coletiva,acordo coletivo, sentena normativa e regulamento da empresa exce-dente da jurisdio territorial do TRT prolator da deciso recorrida;

    c) violao ou afronta direta e literal Constituio da Repbli-ca,

    nos de rito sumarssimo, o mesmo recurso de revista cabe somente em duashipteses:

    a) conflito interpretativo da deciso recorrida com a Smula deJurisprudncia Uniforme do TST;

    b) violao direta Constituio da Repblica. O ganho proporcionado pelo atalho at a coisa julgada foi bastante diminudo.

    E, alm disso, ainda expresso maior ainda nas providncias de abreviao do trmiteprocessual, a examinar-se em seguida.

    Distribuio direta do recurso ordinrio e facultatividade do parecer

    Assim deve ser entendida a regra do 1., I, acrescentado ao art. 895 da CLT,que elimina a remessa do processo a parecer do rgo do Ministrio Pblico paraemisso de parecer, o qual ser emitido por seu representante presente sesso dojulgamento, se entender necessrio ( III ).

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    Traduzindo a regra para a realidade, estamos chegando ao julgamento sem pa-recer, em cuja direo j fora dado grande passo com a farsa do opinativo pelo pros-seguimento. Prossegue-se logo e ponto a favor da pressa.

    Prazo de vista do relator e dispensa de revisor

    Supondo-se que seja isso cumprido, o juiz sorteado para relatar o recurso or-dinrio ter dez (l0) dias para liber-lo (quer dizer dar visto para pauta), ficando dis-pensada a funo de revisor. Esta ltima providncia , efetivamente, aceleradora e jpraticada em outros recursos (e.g., agravo de instrumento, embargos de declarao)sem mossa aparente ao direito das partes. Duvidamos de que os dez dias para inclu-so em pauta, j objeto de exigncia em boa parte dos regimentos internos dos tribu-nais do trabalho, sejam cumpridos de fato, mormente estando despidos de qualquersano especifica para a desobedincia.

    Mutilao do acrdo

    O inciso IV do mesmo 1. acrescentado ao art. 895 da CLT tem uma reda-o de pasmar, para a nossa compreenso.

    Comea considerando que o recurso ordinrio em feitos de procedimento su-marssimo

    ter acrdo consistente unicamente na certido de julgamento(destaques nossos),

    ou seja, mutilado de duas de suas partes orgnicas (relatrio e fundamenta-o). Essa inteligncia reforada pelo complemento

    com indicao suficiente do processo e parte dispositiva edas razes de decidir do voto prevalente (destaques nossos),

    deixando entender que, sendo unnime, dispensam-se as razes de decidir.Isso, para a nossa limitada inteligncia, a consagrao da mutilao formal

    do julgamento. Mutilao que vai mais fundo, quando se acrescenta ao mesmo dispo-sitivo que

    se a sentena for confirmada pelos prprios fundamentos, acertido do julgamento, registrando tal circunstncia, servir de acr-do (destaques nossos).

    Para as geraes de magistrados virtuais, que esto resumindo o dispositivodos seus julgamentos remisso parte dispositiva, como se aqui estivesse transcri-ta, possvel que isso parea prtico e lgico. Mas para as geraes de jurisdiciona-dos que esperam ver o juiz dizer o que pensa e por que est decidindo, a filosofia doinciso a imolao da responsabilidade no altar consagrado ao deus da pressa.

    12. EM CONCLUSO

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    Editorial de publicao especializada manifesta a esperana de que as Leis ns9.957 e 9.958, ambas de 12.01.2000, possam vir, efetivamente, a contribuir para amais clere, barata e satisfatria soluo das lides trabalhistas.9

    No tocante Lei n. 9.957, no partilhamos esse sentimento. Confusa, prepo-tente a ponto de agredir garantia constitucional elementar, privilegiando a precipitaoa ponto de dar-lhe a fora de um novo Moloch brbaro do Direito, atropelando noessecularmente estabelecidas para a segurana do processo, as incertezas que j suscita,antes mesmo de ser aplicada, mostram no ser uma boa lei porque boa s a leique, abrindo-se compreenso de todos, merece o acatamento geral dos seus precei-tos.

    O hoje ordinrio procedimento da velha CLT sempre foi, essencialmente,sumrio, tanto que, hoje, o procedimento sumrio do CPC e serviu de fonte de inspi-rao do procedimento dos juizados especiais de pequenas causas. No seria melhort-lo reformulado com os temperos da modernidade e da moderao do que obriga-loconviver, estropiado por dezenas de remendos, como o da Lei n. 5.584/70, numa pro-miscuidade confusa de competncia dos mesmos juzes, com um procedimento que novo, na promulgao, mas que persegue o mesmo resultado que a CLT alcanou, em1943 ?

    Sumariando o que foi analisado, a Lei n. 9.957 parece ter vindo mais paraconfundir do que para resolver. Pensar assim pode ser rabugice nossa. Mas a rabugice,habitualmente um defeito da velhice, s vezes um clamor da experincia. O tempodar a palavra final, como sempre.

    9 Revista LTr., So Paulo, 64-01/6.

    Jos Augusto Rodrigues Pinto*