66
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS LONDRINA CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL LEONARDO OLIVEIRA CAETANO PRODUÇÃO DE HIDROGÊNIO E DERIVADOS DO GLICEROL PELO PROCESSO DE REFORMA ELETROQUÍMICA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO LONDRINA 2016

PRODUÇÃO DE HIDROGÊNIO E DERIVADOS DO GLICEROL …repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/7292/1/LD_COEAM... · de uma maior atenção às fontes renováveis de energia

  • Upload
    vannhi

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS LONDRINA

CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL

LEONARDO OLIVEIRA CAETANO

PRODUÇÃO DE HIDROGÊNIO E DERIVADOS DO GLICEROL PELO

PROCESSO DE REFORMA ELETROQUÍMICA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

LONDRINA

2016

LEONARDO OLIVEIRA CAETANO

PRODUÇÃO DE HIDROGÊNIO E DERIVADOS DO GLICEROL PELO

PROCESSO DE REFORMA ELETROQUÍMICA

Trabalho de Conclusão de Curso de graduação,

apresentado à disciplina Trabalho de Conclusão de

Curso 2, do Curso Superior de Engenharia

Ambiental da Universidade Tecnológica Federal do

Paraná – UTFPR – Câmpus Londrina como

requisito parcial para obtenção do título de

Engenheiro.

Orientador: Prof. Dr. Alexei Lorenzetti Novaes

Pinheiro

Coorientador: Prof. Dr. Alexandre Sordi

LONDRINA

2016

Ministério da Educação

Universidade Tecnológica Federal do Paraná Campus Londrina

Coordenação de Engenharia Ambiental

TERMO DE APROVAÇÃO

Título da Monografia

Produção de hidrogênio e derivados do glicerol pelo processo de reforma

eletroquímica

por

Leonardo Oliveira Caetano

Monografia apresentada no dia 22 de novembro de 2016 ao Curso Superior de

Engenharia Ambiental da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Câmpus Londrina. O candidato foi arguido pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo assinados. Após deliberação, a Banca Examinadora considerou o trabalho aprovado.

Prof. Dr. Alexandre Sordi

(UTFPR)

Prof. Dr. Felipe de Almeida La Porta (UTFPR)

Prof. Dr. Alexei Lorenzetti Novaes Pinheiro (UTFPR)

Orientador

Profa. Dra. Ligia Flávia Antunes Batista

Responsável pelo TCC do Curso de Eng. Ambiental

A Folha de Aprovação assinada encontra-se na Coordenação do Curso.

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

PR

Em memória de Geraldo Caetano e Inês Roberta de Oliveira.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus que me permitiu superar as dificuldades

pessoais ao longo dos últimos anos e alcançar mais essa conquista.

À minha família pelo apoio incondicional, suporte emocional e companhia nos

momentos difíceis.

Agradeço também ao meu orientador Dr. Alexei Lorenzetti Novaes Pinheiro e ao

coorientador Dr. Alexandre Sordi pela experiência e conhecimento compartilhados, pelo

auxílio durante os experimentos.

Aos demais professores que contribuíram para o êxito deste trabalho, seja como

membros de banca ou me auxiliando em dúvidas pontuais em relação ao trabalho ou aos

procedimentos experimentais empregados, são eles: Dr. Aulus Roberto Romão Bineli,

Dr. Felipe de Almeida La Porta, Dr. Janksyn Bertozzi e Dr. Ricardo Nagamine Costanzi.

Ao Departamento de Engenharia de Materiais e ao Departamento de Tecnologia

em Alimentos da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, câmpus Londrina por

permitir o uso dos laboratórios.

Por fim, agradeço aos amigos que acompanharam os altos e baixos, se fizeram

presentes no laboratório, e que fora deste tornaram mais leve a rotina com momentos de

diversão.

“Tudo acontece na hora certa.

Tudo acontece, exatamente

quando deve acontecer. ”

Albert Einstein

RESUMO

CAETANO, L. O. Produção de hidrogênio e derivados do glicerol pelo processo de reforma eletroquímica. p. 65. 2016. TCC (Graduação em Engenharia Ambiental), Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Londrina, 2016. O aumento da produção de biodiesel resultante de maiores incentivos governamentais e de uma maior atenção às fontes renováveis de energia ocasiona um excedente de glicerol (C3H8O3) no mercado. Para reduzir os custos de produção do biodiesel é necessário o desenvolvimento de aplicações para o glicerol, elevando a demanda deste subproduto do processo. Entre suas aplicações está o processo de reforma, que pode ser térmico ou eletroquímico, buscando a produção de H2 e outros compostos de valor agregado. A reforma eletroquímica do glicerol é um processo que ainda não possui mecanismos bem definidos, tampouco a seletividade dos produtos em relação ao catalisador e as condições de operação. O presente trabalho objetiva avaliar o funcionamento de uma célula com membrana trocadora de prótons (PEM) operando em fluxo contínuo. Para tal, foi preparado o catalizador de 20% Pt/C e as soluções de trabalho utilizadas foram H2SO4 0,5M e Glicerol 1M + H2SO4 0,5M. A caracterização do eletrodo se deu por voltametria cíclica (CV) e microscopia de transmissão eletrônica (TEM). As amostras polarizadas foram posteriormente analisadas em cromatografia líquida de alta performance (HPLC) e espectroscopia de massa (MS). Os resultados sugerem que o glicerol foi consumido na amostra analisada e há uma possível dependência do potencial para a formação de 3 compostos detectados no HPLC, porém a presença de sulfato na amostra prejudicou as análises de MS e estes compostos não foram identificados. O método utilizado para a deposição da platina resultou em um tamanho de partícula adequado para a finalidade. Períodos de oxidação mais longos são indicados para uma melhor detecção dos produtos em futuras análises em HPLC e MS. Palavras-chave: Eletroquímica. Glicerol. Voltametria cíclica. Cromatografia.

ABSTRACT

CAETANO, L. O. Glycerol by-products and hydrogen production through electrochemical reforming. p. 65. 2016. TCC (Graduação em Engenharia Ambiental), Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Londrina, 2016.

The recent increase in biodiesel production due to the tendency to adopt renewable energy sources and government acts has generated a surplus in glycerol. There is a need to develop new applications to glycerol in order to reduce biodiesel production costs by increasing this by-product demand. Among its uses, the reform process, which can be conducted thermally or electrochemically. This process produces H2 and other value-added by-products. However, the reform mechanism is not well understood in terms of reaction pathways, product selectivity by catalyst and operation conditions. The present paper seek to evaluate a PEM cell operation to oxidize glycerol in continuous flux. The chosen catalyst was 20% Pt/C and the experiments were performed in 0.5M H2SO4 and 1M Glycerol + 0.5M H2SO4. Catalyst characterization by cyclic voltammetry and TEM showed a good average particle size, proving the accuracy in selected method to platinum deposition. Polarized samples were analyzed in HPLC and MS. These results suggests glycerol was almost completely oxidized in the sample polarized in 1.1V. It also shows a certain dependency with the applied potential of three by-products detected in chromatograms. The presence of sulfate in the samples made it difficult to conduct the MS experiments, since it was needed to previously extract it to organic fraction. Longer oxidation periods are highly recommended to future works seeking HPLC and MS analysis. Keywords: Electrochemistry. Glycerol. Cyclic voltammetry. Chromatography.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Exemplo de reação para produção de biodiesel. ........................................... 18

Figura 2 – Comportamento do potencial termodinâmico teórico da célula (em vermelho)

e do potencial termoneutro (em preto) em função da temperatura. ............................... 23

Figura 3 - Gráfico do número de artigos que abordam a eletro-oxidação do glicerol

distribuídos de acordo com seu ano de publicação. ....................................................... 25

Figura 4 – Oxidação do glicerol em meio básico. Vias para os catalisadores de Pt e Au.

....................................................................................................................................... 28

Figura 5 – Oxidação do glicerol em meio ácido. ............................................................. 29

Figura 6 - Eletro-oxidação do glicerol em célula PEM. ................................................... 32

Figura 7 – Esquema da célula eletroquímica projetada para este trabalho (a) e fotografia

da célula (b). ................................................................................................................... 33

Figura 8 - Equipamentos utilizados nos experimentos eletroquímicos. Embaixo o

potenciostato e em cima a rampa de potencial. ............................................................. 38

Figura 9 - Gráfico descritivo do método utilizado nas análises de HPCL. ...................... 42

Figura 10 – Voltamogramas em solução de H2SO4 0,5M para (a) 20%Pt/C e (b) Pt (poli).

Velocidade de varredura de 20mV.s-. ............................................................................ 44

Figura 11 - Micrografias de transmissão eletrônica do catalisador de platina dispersa em

carbono, registrando regiões e escalas distintas a), b), c) e d). Histograma da

distribuição de partículas agrupadas por diâmetro em e). Histograma da contribuição

relativa à área do catalisador em f). ............................................................................... 46

Figura 12 - Comparação dos voltamogramas da solução de H2SO4 0,5M entre uma

condição inicial de um dos experimentos de polarização (preto) e a condição após a

última curva. ................................................................................................................... 48

Figura 13 - Comparação dos voltamogramas da solução de trabalho antes (preto) e

após (vermelho) o experimento de polarização. ............................................................. 49

Figura 14 – Modelos de intermediários adsorvidos na eletrooxidação de glicerol sobre a)

Pt(111) e b) Pt(100), de acordo com Garcia et al. (2016). c) Geometria das

nanopartículas de Pt. ..................................................................................................... 50

Figura 15 - Curvas de polarização de 0,4 a 1,1V com 15pontos e 5min/ponto. Primeiro

par em preto e segundo em vermelho. As curvas no sentido crescente de potencial

possuem marcador preenchido, enquanto as decrescentes são marcadas com

triângulos vazios. Densidade de corrente calculada pela área geométrica. ................... 51

Figura 16 - Comparação das curvas de polarização com a polarização por 80min (em

azul). Primeiro par obtido com 5min/ponto (preto) e segundo com 10min/ponto (em

vermelho). As curvas no sentido crescente de potencial possuem marcador preenchido,

enquanto as decrescentes são marcadas com triângulos vazios. Densidade de corrente

calculada pela área geométrica. ..................................................................................... 52

Figura 17 - Cromatograma da amostra 6. ...................................................................... 53

Figura 18 - Picos identificados nos cromatogramas entre 2 e 6,5min. ........................... 55

Figura 19 - Picos identificados nos cromatogramas entre 27 e 35min. .......................... 56

Figura 20 - Comparação entre diferentes tempos de polarização para o potencial de

1,1V. Amostra polarizadas por 80 (verde) e 10min (azul). Compostos separados entre 2

e 7min (a) e entre 27 a 34min (b). .................................................................................. 57

Figura 21 - Relação entre potencial aplicado e área dos picos dos compostos C4

(preto), C7 (azul) e C8 (rosa). E comportamento da densidade de corrente (vermelho)

calculada para a área geométrica em função dos potenciais aplicados. ........................ 58

Figura 22 - Espectros de massa para o branco (a) e a amostra segmentada do frasco 5

(b). .................................................................................................................................. 60

Figura 23 - Comparação dos espectros da análise de extração negativa para o branco

(em vermelho) e a amostra completa 6 (em roxo). ......................................................... 61

Quadro 1 - Produtos da eletrooxidação do Glicerol ........................................................ 28

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Composição média do glicerol bruto. ............................................................ 19

Tabela 2 - Economia energética na produção do hidrogênio por rota por mol de glicerol

consumido. ..................................................................................................................... 30

Tabela 3 - Viabilidade das rotas de oxidação do glicerol. .............................................. 31

Tabela 4 - Condições utilizadas nos diferentes experimentos de polarização ............... 40

Tabela 5 - Amostras utilizadas no HPLC e condições de aquisição destas. .................. 54

Tabela 6 - Relação das amostras enviadas para análise de MS.................................... 59

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

Ag Prata

AgCL Cloreto de Prata

ANP Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biodiesel

Au Ouro

C3H8O3 Glicerol

CH4 Metano

CO2 Dióxido de carbono

CO Monóxido de carbono

COPEL Companhia paranaense de energia

CNT Nanotubos de carbono

Cu Cobre

CV Voltametria cíclica

DFT Teoria do funcional de densidade

DHA Dihidroxicenota

DQO Demanda química de oxigênio

FAM Método do ácido fórmico

FTIR Infra-vermelho com transformada de Fourier

ΔG Variação da energia livre de Gibbs

H2 Hidrogênio

ΔH Variação de entalpia

HA Hidroxiapatita

HAADF Imagem de campo escuro de alto ângulo

HCl Ácido clorídrico

HNO3 Ácido nítrico

H2O2 Peróxido de hidrogênio

HPLC Cromatografia líquida de alta eficiência

H2PtCl6 Ácido hexacloroplatínico

H2SO4 Ácido sulfúrico

KI Iodeto de potássio

MwCNT Nanotubos de carbono de múltiplas paredes

NaOH Hidróxido de sódio

NP Nanopartículas

PANI Polianilina

Pd Paládio

PEM Membrana trocadora de prótons

PGM Metais do grupo da platina

pH Potencial hidrogeniônico

Pt Platina

RHE Eletrodo reversível de hidrogênio

Ru Rutênio

SAM Membrana sólida alcalina

STEM Microscopia Eletrônica de Transmissão e Varredura

TEM Microscopia Eletrônica de Transmissão

Ti Titânio

UA Unidade arbitrária

UPD Deposição em regime de subtensão

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 14

2. OBJETIVOS ............................................................................................................... 16

3. REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................................... 17

3.1 BIODIESEL E GLICEROL ..................................................................................... 17

3.1.1 COMPOSIÇÃO DO GLICEROL RESIDUAL ................................................................... 18

3.2 UTILIZAÇÃO DO GLICEROL ................................................................................ 19

3.2.1 PRODUÇÃO DE HIDROGÊNIO .................................................................................. 20

3.2.2 PRODUÇÃO ELETROQUÍMICA DO HIDROGÊNIO. ......................................................... 22

3.3 ELETRO-OXIDAÇÃO DO GLICEROL ................................................................... 24

3.3.1 ELETROCATALISADORES E SUBPRODUTOS DA ELETRÓLISE DO GLICEROL ................... 25

3.4 ANÁLISE DE VIABILIDADE DA VALORIZAÇÃO DO GLICEROL BRUTO. ........... 29

4. MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................................... 32

4.1 ELETROCATALISADORES .................................................................................. 34

4.1.1 ÁCIDO HEXACLOROPLATÍNICO ................................................................................ 34

4.1.2 PREPARO E CARACTERIZAÇÃO DOS ELETROCATALISADORES ..................................... 35

4.1.3 MICROSCOPIA DE TRANSMISSÃO ELETRÔNICA.......................................................... 36

4.2 CONFECÇÃO DO ELETRODO ............................................................................. 36

4.3 MONTAGEM DO SISTEMA ELETRODO/MEMBRANA ........................................ 37

4.4 SOLUÇÕES .......................................................................................................... 37

4.5 EXPERIMENTOS ELETROQUÍMICOS ................................................................. 38

4.6 DEMANDA QUÍMICA DE OXIGÊNIO (DQO) ......................................................... 40

4.7 ANÁLISE DOS SUBPRODUTOS DE ELETRO-OXIDAÇÃO ................................. 40

5. RESULTADOS ........................................................................................................... 43

5.1 CARACERIZAÇÃO DO CATALISADOR ............................................................... 43

5.2 VOLTAMETRIAS ................................................................................................... 47

5.3 CURVAS DE POLARIZAÇÃO ............................................................................... 50

5.4 DQO ...................................................................................................................... 52

5.5 CROMATOGRAMAS ............................................................................................ 53

6. CONCLUSÃO ............................................................................................................ 62

REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 63

14

1. INTRODUÇÃO

O glicerol é um subproduto do biodiesel, sendo produzido no processo de

transesterificação (BELTRAN-PRIETO, KOLOMAZNIK e PECHA, 2013). Neste processo

ocorre a reação de triglicerídeos (óleos vegetais) com álcoois, como o metanol ou etanol,

em presença de um catalisador básico, convertendo-os após sucessivas reações em

biodiesel e glicerol.

No Brasil, a principal matéria prima utilizada para a obtenção do biodiesel, e

consequentemente do glicerol, é o óleo de soja (AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO,

GÁS NATURAL E BIODIESEL, 2016). Yang, Hanna e Sun (2012) mencionam que a taxa

de produção de glicerol em relação à de biodiesel seja de aproximadamente 10% em

massa.

A produção de biodiesel gera uma elevada oferta de glicerol no mercado que

excede em muito sua demanda atual, levando à queda de preço deste produto. Na

Europa, por exemplo, são inseridas 2,4 milhões de toneladas anualmente de glicerol

enquanto a demanda em 2007 foi de somente 1 milhão, conforme levantado por Simões,

Baranton e Coutanceau (2012).

O restabelecimento deste balanço refletiria no aumento do valor de mercado do

glicerol, e assim, na diminuição dos custos associados à produção do biodiesel (SIMÕES,

BARANTON e COUTANCEAU, 2012). Para restabelecer o balanço oferta-demanda do

glicerol no mercado é necessário desenvolver alternativas de usos para o glicerol

residual. Uma opção viável atualmente estudada é o seu emprego para produção de

hidrogênio (H2), que pode ocorrer via reforma catalítica (VAIDYA e RODRIGUES,2009;

LIN, 2013) ou reforma eletroquímica, (MARSHALL e HAVERKAMP, 2008; SIMÕES,

BARANTON e COUTANCEAU, 2012).

Em particular, a reforma eletroquímica consiste em produzir H2 por eletrólise

utilizando a eletro-oxidação de um composto orgânico como semi-reação, pela aplicação

de uma diferença de potencial elétrico entre dois eletrodos, um dos quais em contato com

o composto orgânico, e separados por uma membrana trocadora de prótons (PEM)

(MARSHALL e HAVERKAMP, 2008). O H2 obtido pela eletro-oxidação do glicerol pode

ser considerado renovável, conforme salientam esses autores, porque o CO2 liberado no

processo foi previamente capturado pelas plantas na produção da biomassa.

15

Para usos energéticos, como em células a combustível, é necessário um H2 de

elevada pureza. O processo de reforma catalítica do glicerol produz H2 em mistura com

CO e/ou CO2 dependendo principalmente das condições aplicadas (VAIDYA e

RODRIGUES,2009). Por outro lado, a reforma eletroquímica permite contornar este

problema, porque a oxidação do glicerol ocorre em uma câmara separada da redução do

H2, liberando um gás de pureza elevada.

Além disso, de acordo com as condições de operação da reforma eletroquímica,

a oxidação do glicerol pode ocorrer apenas parcialmente, por vias que produzem outros

compostos químicos. Embora tais vias levem a uma menor produção de hidrogênio por

molécula de glicerol consumida conforme observado por Kwon e Koper (2010), isso

poderia ser compensador financeiramente caso os produtos de oxidação parcial

possuírem maiores valores de mercado.

Em razão do exposto acima, neste trabalho foi desenvolvida uma célula

eletrolítica de fluxo com uma membrana do tipo PEM para reforma eletroquímica do

glicerol. A produção de H2 e dos subprodutos de possível valor agregado foram

analisadas para distintas condições de operação do processo.

16

2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

O objetivo deste projeto é identificar e quantizar a produção de H2 e dos

subprodutos de possível valor agregado gerados na eletro-oxidação do glicerol de acordo

com as condições de processo em uma célula eletrolítica de fluxo com membrana PEM.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Preparar os catalisadores e caracterizá-los através de técnicas

eletroquímicas.

Construir uma célula unitária de eletrolisador tipo PEM de fluxo para

reforma eletroquímica do glicerol.

Determinar a produção de H2 e quais compostos químicos derivados do

glicerol são produzidos em função dos potenciais trabalhados.

Identificar as rotas predominantes para a oxidação do glicerol através da

análise dos produtos.

17

3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 BIODIESEL E GLICEROL

A produção de biodiesel vem crescendo nos últimos anos em escala mundial,

devido à necessidade cada vez maior de substituição dos combustíveis fósseis. Segundo

Beltran-Prieto, Kolomazník e Pecha (2013), o biodiesel é um substituto renovável e

ambientalmente amigável para o diesel convencional, de origem fóssil, pois tem um

balanço neutro de CO2, é biodegradável e possui um perfil de emissões mais limpo

quando comparado ao diesel do petróleo.

No Brasil, o governo inseriu o biodiesel na matriz energética nacional

estabelecendo um percentual de adição obrigatória ao diesel, através da Lei 11.097, de

13 de janeiro de 2005 (BRASIL, 2005), revogada pela Lei 13.033, de 24 de setembro de

2014 (BRASIL, 2014), que elevou a exigência de 5% para 7% em volume de biodiesel no

diesel comercial. Conforme dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e

Biodiesel (ANP, 2016), o Brasil possui uma produção mensal de 300.065m³ de biodiesel,

sendo o óleo de soja (75,17%) e a gordura bovina (17,73%) as principais matérias-primas

utilizadas.

A taxa de crescimento da produção mundial de biodiesel ainda é menor que se

tinha previsto, principalmente devido aos elevados custos de produção, conforme análise

de Yang, Hanna e Sun, (2012). A transesterificação de triglicerídeos com álcoois, como

o metanol ou etanol, em presença de catalisador básico é o processo mais comum para

produção de biodiesel em escala industrial, segundo Beltran-Prieto, Kolomazník e Pecha

(2013). O catalisador básico proporciona maior velocidade do processo e condições de

reação mais amenas que outros processos catalíticos. O triglicerídeo sofre reações

consecutivas até ser finalmente convertido em um éster e glicerol, conforme a reação

representada na Figura 1.

18

Figura 1 - Exemplo de reação para produção de biodiesel.

Fonte: Oguido (2013, p16).

A produção de biodiesel gera aproximadamente 10% (relação em massa) de

glicerol como subproduto (YANG, HANNA e SUN, 2012) e, portanto, o preço do glicerol

é um fator importante no equacionamento dos custos de produção do biodiesel. Um valor

de mercado maior para este subproduto implica em menor custo de produção do

biodiesel. Entretanto, a demanda atual do glicerol é muito menor que sua oferta. Além

disso, o aumento na produção de biodiesel causa um excedente deste subproduto no

mercado, o que tem um efeito negativo no preço do glicerol. Por exemplo, na Europa

estima-se que a produção de biodiesel insere 2,4 milhões de toneladas de glicerol no

mercado, enquanto a demanda existente em 2007 era de apenas 1 milhão de toneladas

(SIMÕES, BARANTON e COUTANCEAU, 2012).

Portanto, a única forma de agregar valor ao glicerol residual é desenvolver usos

alternativos que elevem sua demanda para, consequentemente, reduzir o custo de

produção do biodiesel.

3.1.1 Composição do Glicerol Residual

O trabalho de Oliveira et al. (2013) avaliou a composição do glicerol residual

proveniente de 16 indústrias de biodiesel no Brasil. A média para as 41 amostras

coletadas pode ser observada na tabela 1.

19

Tabela 1 - Composição média do glicerol bruto.

Parâmetro Média

Glicerol (%) 74,4

Umidade (%) 9,7

Lipídios totais (%) 7,8

Cinzas (%) 5,3

Sódio (g.kg-1) 20,8

Fósforo (mg.kg-1) 541

Cálcio (mg.kg-1) 36,2

pH 7,2

Fonte: Oliveira et al., 2013.

Como outra fonte de informação, Leão et al. (2012) utilizou em seu estudo uma

amostra de glicerol bruto cuja análise resultou num teor de 80,35% de glicerol, com

10,08% de umidade e identificou também a presença de 7,47% de cloretos. A presença

de cloreto interfere no uso do glicerol para aplicações eletroquímicas. Eles são

provenientes apenas da etapa de neutralização do subproduto e, poderiam por exemplo

ser removidos pela substituição do ácido clorídrico por ácido sulfúrico.

Além disso, para finalidades que necessitam de um glicerol de elevada pureza é

necessário realizar a purificação, o que acaba elevando os custos associados. O uso do

glicerol bruto permite uma maior viabilidade econômica, como em processos

eletroquímicos, que não necessitam do glicerol purificado e produzem H2 de elevada

pureza.

3.2 UTILIZAÇÃO DO GLICEROL

Várias alternativas têm sido propostas para utilização direta do glicerol bruto. Por

exemplo seu uso na alimentação animal tem sido investigado devido ao seu elevado teor

energético e não toxicidade, através da inclusão de até 24% de glicerol na dieta bovina

(OLIVEIRA et al., 2013; LEÃO et al., 2012).

Outras formas de utilização indiretas têm sido estudadas atualmente envolvendo

o glicerol como insumo para produção de outros produtos químicos com maior valor

comercial, seja por via biológica ou catalítica convencional. Entre os compostos

produzidos com a presença de microrganismos estão: ácido cítrico, lipídeos, etanol,

20

metano e hidrogênio. Os processos convencionais permitem a produção de aditivos para

o biodiesel, hidrogênio ou syngas (mistura gasosa de H2, CO2, CO, CH4) (YANG, HANNA

e SUN, 2012).

3.2.1 Produção de Hidrogênio

O H2 tem uma vasta aplicação no setor industrial, desde o aprimoramento de

óleos pesados e petróleo em compostos de maior valor agregado, tais como produção

do íon amônio até o uso como combustível para veículos e como vetor energético,

portanto, possui elevada demanda conforme mencionado por Levin e Chahine (2010).

O hidrogênio pode ser produzido através da eletrólise da água, resultando em H2

de elevada pureza, ou pela reforma catalítica de combustíveis orgânicos, um processo

mais econômico que a eletrólise, no entanto, resulta em H2 com presença de

contaminantes como CO e CO2 que limitam suas aplicações. Levin e Chahine (2010)

salientam que a produção de H2 a partir da reforma catalítica do gás natural de origem

fóssil emite grande quantidade de gases causadores do efeito estufa. Neste contexto,

com a recuperação da economia global, a elevação no preço do gás natural causada pelo

seu uso direto como combustível torna os outros precursores para a reforma (como o

glicerol) mais competitivos. O glicerol residual do biodiesel apresenta um potencial

poluidor menor quanto às emissões comparado ao gás natural de origem fóssil, já que as

matérias-primas comumente utilizadas para produção do biodiesel são os óleos vegetais

que possuem um balanço neutro de carbono. Ou seja, o carbono liberado pelo glicerol foi

sequestrado no crescimento da biomassa vegetal.

A produção catalítica de H2 a partir do glicerol ocorre através do processo de

reforma, que pode ser conduzida de maneiras distintas de acordo com a fonte de energia

para o processo, como descrito por Vaidya e Rodrigues (2009) e Lin (2013).

Em particular, Vaidya e Rodrigues (2009) propuseram a seguinte reação para

descrever, de modo geral, a produção de hidrogênio a partir da reforma do glicerol:

𝐶3𝐻8𝑂3 + 𝑥 𝐻2𝑂 + 𝑦 𝑂2 → 𝑎 𝐶𝑂2 + 𝑏 𝐶𝑂 + 𝑐 𝐻2𝑂 + 𝑑 𝐻2 + 𝑒 𝐶𝐻4 (1)

21

Os coeficientes estequiométricos x e y podem ser escolhidos para descrever as

diversas modalidades do processo de reforma, de acordo com a fonte de calor utilizada.

A reforma a vapor ocorre a alta temperatura e baixa pressão, possui x>0 e y=0,

sendo:

𝐶3𝐻8𝑂3(𝑔) + 3 𝐻2𝑂(𝑔) → 3 𝐶𝑂2(𝑔) + 7 𝐻2(𝑔) ∆𝐻298 = 128 𝑘𝐽/𝑚𝑜𝑙 (2)

Este é um processo endotérmico que produz 7 moles de hidrogênio para cada

mol de glicerol. Contudo, pode ocorrer formação de subprodutos indesejados e

desprovidos de valor comercial, alguns deles responsáveis pela desativação do

catalisador, além de possuir uma elevada demanda energética (VAIDYA e RODRIGUES,

2009). Para a oxidação catalítica parcial, a reação possui os coeficientes x=0 e y>0, e é

exotérmica (LIN, 2013).

𝐶3𝐻8𝑂3(𝑔) +3

2𝑂2(𝑔) → 3 𝐶𝑂2 + 4 𝐻2 ∆𝐻298 = −598 𝑘𝐽/𝑚𝑜𝑙 (3)

Finalmente, para o processo de reforma autotérmica, os coeficientes são x>0 e

y>0, assim tanto o vapor quanto o oxigênio reagem com o glicerol na presença de um

catalisador, com a seguinte reação:

𝐶3𝐻8𝑂3(𝑔) +3

2𝐻2𝑂(𝑔) +

3

4𝑂2(𝑔)

𝑐𝑎𝑡𝑎𝑙𝑖𝑠𝑎𝑑𝑜𝑟→ 3 𝐶𝑂2(𝑔) +

11

2𝐻2(𝑔) ∆𝐻298 = −240 𝑘𝐽/𝑚𝑜𝑙 (4)

Os dois últimos mecanismos apresentados, não necessitam de um fornecimento

de energia externa para mantê-los, porém a produção obtida é menor se comparada à

reforma a vapor (VAIDYA e RODRIGUES, 2009). Além desses métodos, o hidrogênio

pode ser produzido eletroquimicamente, como explanado a seguir.

22

3.2.2 Produção eletroquímica do hidrogênio.

Outra forma de produção de hidrogênio a partir do glicerol seria através do

processo de eletrólise, citada por Marshall e Haverkamp (2008) como reforma

eletroquímica. Esse termo é utilizado para distingui-lo da eletrolise convencional da água,

na qual ocorre a oxidação da água para produzir hidrogênio e oxigênio. No caso da

reforma eletroquímica ocorre a oxidação do glicerol em vez da água. A reação de

oxidação produz dióxido de carbono e prótons, conforme ilustrado na reação a seguir:

𝐶3𝐻8𝑂3(𝑙) + 3𝐻2𝑂(𝑙) → 3𝐶𝑂2 + 14 𝐻+ + 14 𝑒− (5)

Os prótons são reduzidos ao receberem os elétrons do circuito externo,

produzindo hidrogênio:

2𝐻+ + 2𝑒− → 𝐻2 (6)

A reação global da eletrólise do glicerol é:

𝐶3𝐻8𝑂3(𝑙) + 3𝐻2𝑂(𝑙) → 3𝐶𝑂2 + 7𝐻2 (7)

Esta é a versão eletroquímica da reforma a vapor. A reação acima possui uma

variação de entalpia de ΔHº=324,8 kJ.mol-1 e um ΔrGº=3,9 kJ.mol-1, sendo necessária

uma fonte externa de energia para ocorrência da reação, no caso a eletricidade. O

potencial padrão teórico da célula é de 0,003 V, enquanto para a eletrólise convencional

da água é 1,23V (SIMÕES, BARANTON e COUTANCEAU, 2012). Esses autores

destacam que o uso de álcoois, e particularmente do glicerol, são energeticamente mais

interessantes que a água para a produção de hidrogênio.

Pode-se analisar o comportamento do potencial padrão da célula em função da

temperatura por meio da variação que esta provoca na entalpia e energia livre de Gibbs.

O potencial padrão, calculado a partir do ΔnG, representa o valor mínimo para que a

reação possa ocorrer termodinamicamente. De maneira análoga, a variação de entalpia

23

permite calcular o potencial termoneutro, acima do qual o processo de eletrólise ocorre

de maneira exotérmica. Essa análise é mostrada no gráfico da Figura 2.

Operar a célula num potencial acima do termo neutro é energeticamente

ineficiente, já que parte da energia elétrica consumida é dissipada na forma de calor. O

processo poderia em princípio ser conduzido pela manutenção de um potencial abaixo

do temoneutro e com a utilização de uma fonte externa de calor (energia de menor

qualidade).

Figura 2 – Comportamento do potencial termodinâmico teórico da célula (em

vermelho) e do potencial termoneutro (em preto) em função da temperatura.

Fonte: Autoria própria.

Um fato interessante obtido na Figura 2 é que para temperaturas acima de 30ºC

o processo seria espontâneo quando todos os reatantes estivessem presentes nas

condições padrão, ou seja, não requerendo uma fonte externa de potencial, apenas o

suprimento de calor. No entanto, na situação prática, o potencial de repouso da célula

seria muito diferente do valor padrão porque não haveria os produtos presentes.

As reações representadas nas equações 5 (semi-reação) e 7 descrevem o

processo global em que o glicerol é oxidado até CO2 (mineralização). A oxidação do

glicerol pode ocorrer por outras vias de forma incompleta, nas quais há formação de um

24

número menor de moléculas de H2 e outros subprodutos orgânicos no lugar do CO2.

Mesmo tendo uma eficiência menor de produção de H2 por molécula de glicerol oxidada,

estas vias de oxidação parcial podem ser economicamente viáveis ou até mesmo mais

interessantes se os subprodutos possuirem valor de mercado maior que o glicerol e que

o próprio hidrogênio. O potencial aplicado na célula é um parâmetro que influencia na

rota da oxidação permitindo um maior controle do processo se comparado à reforma a

vapor (KWON e KOPER, 2010; OKADA, 2013). Assim, pode-se flexibilizar a produção

dos subprodutos controlando-a de acordo com a variação do valor de mercado de cada

composto.

O eletrocatalisador utilizado também tem papel determinante nos mecanismos

de reação e, consequentemente, os subprodutos que podem ser formados a partir do

glicerol. Esses efeitos devem-se ao fato das equações (5) e (7) representarem um

processo global que, microscopicamente, segue um mecanismo bastante complexo com

etapas elementares nas quais ocorre a transferência de um menor número de elétrons,

usualmente 1 ou 2, sucessivamente. Essas etapas se combinam em arranjos tanto

sequenciais como em paralelo, levando a várias rotas possíveis convertendo o glicerol

aos mais variados produtos de oxidação. A rota preferencial é determinada pela

velocidade relativa entre as diversas rotas, o que depende tanto do material do

catalisador quanto do potencial aplicado no ânodo.

3.3 ELETRO-OXIDAÇÃO DO GLICEROL

A eletro-oxidação do glicerol passou a ser investigada intensivamente num

passado recente, como pode ser visto pelo gráfico da figura 3, que exibe o número de

artigos encontrados para os termos glycerol electrooxidation (eletro-oxidação do glicerol)

no sistema de busca Web of Science distribuídos de acordo com os anos de publicação.

25

Figura 3 - Gráfico do número de artigos que abordam a eletro-oxidação do glicerol distribuídos de

acordo com seu ano de publicação.

Fonte: Autoria própria, dados: pesquisa realizada em 09 de Dez. de 2016 (WebofScience, 2016).

Observa-se que as pesquisas realizadas se intensificaram principalmente nos

últimos 5 anos, movidas por objetivos similares ao do presente trabalho.

No entanto, o mecanismo do processo ainda não está bem estabelecido pois o

processo global representado pela equação (5) é bastante complexo, e as pesquisas

ainda se encontram na fase de avaliar a via de eletro-oxidação do glicerol de acordo com

o eletrocatalisador utilizado, seja pela realização de voltametrias cíclicas, pela

identificação dos compostos produzidos ou da taxa de produção de H2.

Apesar da dificuldade mencionada, muitos mecanismos já definidos para

moléculas orgânicas pequenas, como o metanol e etanol, podem ser aplicados à eletro-

oxidação do glicerol.

3.3.1 Eletrocatalisadores e subprodutos da eletrólise do glicerol

A etapa inicial da eletro-oxidação de moléculas orgânicas pequenas é a adsorção

concomitante à desidrogenação da molécula formando intermediários orgânicos

adsorvidos na superfície metálica do eletrocatalisador (DAMASKIN, PETRII, e

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

mer

o d

e ar

tigo

s

Ano

Quantidade de artigos abordando a eletro-oxidação do glicerol

26

BATRAKOV, 1971). Esse processo pode ser exemplificado pela equação genérica

abaixo:

𝐶𝑛𝐻𝑚𝑂𝑝 +𝑀 → 𝑀 − 𝐶𝑛𝐻𝑚−1𝑂𝑝 + 𝐻+ + 𝑒− (8)

Onde M é o metal do eletrocatalisador. Durante o processo, a etapa acima ocorre

sucessivamente para a remoção de um número maior de hidrogênios. O melhor material

conhecido para a desidrogenação de moléculas orgânicas em baixas temperaturas é a

platina, um metal nobre e de elevado custo. Desse modo, a platina é comumente utilizada

na forma de nanopartículas a fim de obter uma maior relação entre área superficial e

massa do metal utilizada. As partículas são dispersas em um substrato poroso condutor

de eletricidade, como o carbono. Tipicamente é utilizado o carbono grafítico em pó,

embora estudos recentes também têm utilizado catalizadores de platina depositada em

nanotubos de carbono de múltiplas paredes (MwCNT) (Siddhardha et al., 2015; Momeni

e Nazari, 2015).

Recentemente, Siddhardha et al. (2015) comparou o desempenho de um

catalisador comercial de platina em carbono (Pt-C) à platina depositada nos nanotubos

de carbono (Pt-CNT) e obteve densidades de corrente mais elevadas para Pt-CNT.

Portanto, para um mesmo potencial, este possui uma maior capacidade para oxidar o

glicerol.

Momeni e Nazari (2015) avaliaram eletrodeposição de nanoparticulas de platina

em um composto de polianilina e nanotubos de carbono de múltiplas paredes em um

substrato de titânio (PtNPs/PANI-MWCNT/Ti). Os autores observaram elevada atividade

para eletro-oxidação do glicerol e boa estabilidade do catalisador, que após a 250ª

varredura fornecia um pico de corrente de aproximadamente 95% do obtido na primeira.

Além dos eletrocalisadores de platina depositada em carbono, outras propostas

avaliam a utilização de outros catalisadores de metais do grupo da platina (PGM) menos

nobres e ouro (Au) (KWON e KOPER, 2010; SIMÕES, BARANTON e COUTANCEAU,

2012). Também foram utilizadas ligas de platina com um ou dois metais menos nobres,

como: rutênio, paládio ou bismuto (SIMÕES, BARANTON e COUTANCEAU, 2012;

OKADA, 2013).

27

Nesses metais em particular, ocorre a formação de espécies oxigenadas

adsorvidas, normalmente OH, em potenciais mais baixos que na platina pura. Estas

espécies são necessárias para a oxidação completa da molécula orgânica

desidrogenada, conforme as equações (9) e (10):

𝑀 +𝐻2𝑂 → 𝑀 − 𝑂𝐻 + 𝐻+ + 𝑒− (9)

𝑃𝑡 − 𝐶𝑛𝐻𝑚−1𝑂𝑝 𝑀 − 𝑂𝐻 − (𝐻++𝑒−)→ 𝑛𝐶𝑂2 (10)

A presença de OH pode ser proveniente do substrato. Safavi, Abbaspour e

Sorouri (2015) empregaram um catalisador de paládio depositado em compósitos de

hidroxiapatita e nanotubos de carbono de múltiplas paredes (Pd/HA/MWCNT) para a

eletro-oxidação de álcoois. Esses autores atribuíram o melhor desempenho observado

na eletro-oxidação do etilenoglicol à superfície rica em hidroxila da hidroxiapatita.

Dependendo do potencial utilizado no processo, do tipo de célula eletrolítica e

dos catalisadores empregados, a eletro-oxidação do glicerol pode ocorrer

preferencialmente por uma das possíveis rotas parciais a qual forma alguns subprodutos

específicos ao custo de menor produção de hidrogênio. Alguns subprodutos identificados

são apresentados no quadro 1 a seguir:

28

Quadro 1 - Produtos da eletrooxidação do Glicerol

Tipo Catalisador no ânodo Meio Produtos Observados

Célula convencional (de 3 eletrodos) [a]

Pt, Au Glicerol (0,1M) + NaOH (0,1M)

Ácido glicérico, ácido glicólico, ácido fórmico, ácido oxálico e ácido tartrônico.

Célula de membrana trocadora de prótons (PEM) [b]

20% Pt/C, 20% Pt-10% Ru/C, Pt

Glicerol (0,1M) Acetol, Gliceraldeído, Ácido Lático, Acido Glicérico, Ácido Glicólico.

Célula de membrana alcalina (SAM) [c]

40% Pd/C Glicerol 0,1M + NaOH (1M)

Gliceraldeído, DHA (dihidroxicetona), oxalato e formato.

Célula de membrana alcalina (SAM) [c]

40% Pt/C Glicerol 0,1M + NaOH (1M)

Gliceraldeído, DHA (dihidroxicetona), glicerato, oxalato e formato.

Célula de membrana alcalina (SAM) [c]

40% Au/C Glicerol 0,1M + NaOH (1M)

Glicerato, DHA (dihidroxicetona), hidroxipiruvato, glicolato, oxalato, tartronato e formato.

Fonte: [a] Kwon e Koper (2010); [b] Okada (2013); [c] Simões, Baranton e Coutanceau (2012).

Kwon e Koper (2010) propuseram, a partir dos produtos observados, o seguinte

mecanismo de oxidação para o glicerol:

Figura 4 – Oxidação do glicerol em meio básico. Vias para os catalisadores de Pt e Au.

Fonte: traduzido de Kwon e Koper (2010)

29

Para meios ácidos foi proposto o processo da figura 5.

Figura 5 – Oxidação do glicerol em meio ácido.

Fonte: traduzido de Roquet et al., 1994 (apud OKADA, 2013)

Pode-se observar que os compostos formados são diferentes para cada método

ou catalisador adotado. Para meios ácidos o mecanismo proposto ocorre para os

potenciais de 0,75V e 1,3V inicia-se com a adsorção de um átomo do oxigênio da

molécula de glicerol e os produtos dependem do potencial.

A compreensão das vias de oxidação do glicerol permite aprimorar a valorização

deste, aliando a redução no custo do hidrogênio com a produção de um composto de

elevado valor agregado.

3.4 ANÁLISE DE VIABILIDADE DA VALORIZAÇÃO DO GLICEROL BRUTO.

Para analisar a viabilidade da reforma eletroquímica do glicerol é necessário

considerar o custo do glicerol bruto e compará-lo com a economia de energia na produção

de hidrogênio e o valor obtido pela comercialização do subproduto formado. Esses dois

fatores dependem da via preferencial para a eletro-oxidação do glicerol e, conforme

discutido previamente, do potencial aplicado na célula e do eletrocatalisador utilizado.

Marshall e Haverkamp (2008) relataram em seu artigo uma economia de 2,1 kWh

por m³ de H2 nas condições normais de temperatura e pressão produzido na reforma

Gliceraldeído

Ác. Glicólico

+ Ác. Fórmico

30

eletroquímica do glicerol em relação a um eletrolisador convencional de água, o que

significa uma economia de R$1,57 por m³ de H2 produzido nas mesmas condições. A

tabela 2, elaborada a partir deste dado, compreende as possíveis rotas de oxidação e a

economia no processo para cada mol de glicerol consumido.

Tabela 2 - Economia energética na produção do hidrogênio por rota por mol de glicerol

consumido.

Rota Moles de H2 produzidos

Kwh (R$) economizados

Subproduto formado

2e- 1 0,047 (0,036) Gliceraldeído

4e- 2 0,094 (0,072) Ác. Glicérico

6e- 3 0,141 (0,108) Ácido Glicólico ou Ácido Fórmico

8e- 4 0,188 (0,144) Ácido Tartrônico

10e- 5 0,235 (0,180) Ácido Oxálico

14e- 7 0,329 (0,252) -

Fonte: Autoria própria.

Uma rota economicamente viável deve ter um balanço positivo entre a economia

de energia, o valor de 1 mol do subproduto e o custo do mol de glicerol (92g). A tabela 3

exibe as rotas e suas viabilidades, considerando a tarifa de energia elétrica local e os

custos de mercado destes subprodutos. Para obter uma comparação realista seria

necessário utilizar o preço dos subprodutos na forma bruta, um dado não disponível,

dessa forma o valor de cada “subproduto bruto” foi estimado com base no seu valor na

forma pura considerando como fator de ajuste a razão entre o preço do glicerol puro

(obtido na mesma fonte dos demais) e do bruto.

Para a confecção da tabela abaixo, os valores comerciais dos compostos puros

foram obtidos do website (endereço eletrônico) da empresa Alfa Aesar (ALFA AESAR,

2016). O valor do glicerol bruto utilizado foi US$ 70 por tonelada (QUISPE, CORONADO

e CARVALHO JUNIOR, 2013). O saldo corresponde à soma da economia energética

com o valor comercial estimada para o subproduto bruto gerado descontando o custo do

glicerol.

31

Tabela 3 - Viabilidade das rotas de oxidação do glicerol.

Rota Economia (R$)

Produto Preço bruto R$.mol-1 Saldo (R$)

2e- 0,036 Gliceraldeído n/d 0,01 Viável*

4e- 0,072 Ácido Glicérico n/d 0,05 Viável*

6e- 0,108 Ácido Glicólico 0,44 0,52 Viável

Ácido Fórmico 0,012 0,10 Viável

8e- 0,144 Ácido Tartrônico 585,65 585,77 Viável

10e- 0,180 Ácido Oxálico 0,28 0,44 Viável

14e- 0,252 - - 0,23 Viável

* Não considerado o valor do produto formado.

Fonte: autoria própria; custo do glicerol: (QUISPE, CORONADO e CARVALHO JUNIOR,

2013); valor do kwh: R$0,77 (COPEL, 2016); valores dos compostos químicos puros: (ALFA

AESAR, 2016).

Como não foram encontrados valores para o gliceraldeído e o ácido glicérico na

referência utilizada, a comercialização de ambos os subprodutos foi desconsiderada e,

ainda assim, a produção de H2 por essas vias resultou em uma opção economicamente

viável. Esse resultado indica que independente da rota de oxidação e da venda dos

subprodutos, a produção de hidrogênio é uma atividade viável. É importante mencionar

que o valor agregado de cada rota pode variar de acordo com a taxa cambial considerada,

pois os valores dos subprodutos foram convertidos de seu valor em US$ conforme

cotação atual (aproximadamente R$3,50), enquanto a economia de energia independe

da taxa de cambio, pois é dada diretamente em R$.

A princípio a rota de formação ácido tartrônico seria a opção mais lucrativa. Entre

seus usos está a formação de ácido mesoxálico, via oxidação, que serve como precursor

em sínteses orgânicas (FORDHAM, BESSON e GALLEZOT, 1997). Contudo, o alto custo

pode ser um reflexo da alta especificidade de sua aplicação e baixa demanda, desse

modo a elevação da oferta pode trazer o preço a patamares comparáveis aos demais

subprodutos apresentados na tabela 3.

As diversas vias da eletro-oxidação do glicerol dependem do potencial aplicado,

portanto a reforma eletroquímica permite uma flexibilidade para priorizar uma das rotas

de acordo com as demandas de cada subproduto, buscando uma opção mais lucrativa.

Tendo isso em vista, este projeto versa sobre a análise dos subprodutos em função do

potencial aplicado em um eletrolisador para a reforma do glicerol.

32

4. MATERIAL E MÉTODOS

A reforma eletroquímica glicerol foi conduzida em uma célula de fluxo do tipo

PEM usinada em teflon ®, que possui uma membrana trocadora de prótons (PEM) que

permite somente a passagem de H+ para o cátodo, onde este é reduzido a H2. O esquema

de funcionamento para a reação de eletro-oxidação do glicerol em célula do tipo PEM é

apresentado na figura 6.

Figura 6 - Eletro-oxidação do glicerol em célula PEM.

Fonte: adaptado de Marshall e Haverkamp, 2008.

A célula utilizada neste trabalho (figura 7) foi desenhada de modo a permitir o

controle do fluxo de eletrólito (seta em vermelho) para o ânodo e a coleta dos produtos

de oxidação do glicerol (linha sólida em azul) para análise via cromatografia, e do fluxo

de H2 saindo do cátodo (tracejado em azul).

33

Figura 7 – Esquema da célula eletroquímica projetada para este trabalho (a) e fotografia da célula

(b).

Fonte: Autoria própria.

a)

b)

34

O sistema eletrodo-membrana posiciona-se na cavidade central e suas

extremidades são isoladas com anéis de vedação para que o transporte entre os

eletrodos ocorra somente através da membrana PEM.

4.1 ELETROCATALISADORES

Foram utilizados catalisadores de platina (Pt) dispersos na forma de

nanopartículas em carbono de alta área superficial (Vulcan XC72). Para a dispersão de

Pt foi preparada uma solução de ácido hexacloroplatínico (H2PtCl6).

4.1.1 Ácido hexacloroplatínico

O H2PtCl6 foi produzido pela dissolução de 0,266g de um fio de Pt 99,9% em

água régia – mistura de HCl e HNO3 concentrados - sob aquecimento. O fio foi submetido

ao seguinte procedimento de limpeza para remoção das gorduras e outras impurezas da

superfície:

Desengraxado em acetona;

Desengraxado em etanol;

Banho em HNO3 concentrado por 10min.

O material limpo foi inserido em um balão ao qual foi adicionado 100mL de HCl

e 15mL de HNO3 concentrados e o conteúdo foi aquecido. A solução adquire uma

coloração avermelhada e começa a liberar gases, após a solução adquirir tonalidade

amarela foi reinserido aproximadamente 15mL de HNO3 para manutenção da reação.

Este procedimento foi repetido até observar a completa dissolução do fio de platina.

Prosseguiu-se com a purificação do H2PtCl6 presente na solução, mantendo o

aquecimento até evaporar o conteúdo de HNO3 observando a coloração da fase líquida

e dos gases liberados. Aproximadamente 20mL de HCl foram adicionadas para remoção

do HNO3 presente, e a adição se repetiu até os gases liberados perderem a coloração.

35

Para remoção do excesso de HCl, o aquecimento foi mantido e houve adição de

água ultrapura, ao final o conteúdo foi diluído e transferido para um balão volumétrico de

100mL, ou seja, a concentração de Pt na solução ficou aproximadamente 2,7mg.mL-1.

Após uma primeira tentativa de deposição da Pt em carbono, o ácido

hexacloroplatínico restante (aproximadamente 62,5mL) foi concentrado e transferido

para um balão volumétrico de 25mL, resultando numa concentração de 6,6mgPt.mL-1.

4.1.2 Preparo e caracterização dos eletrocatalisadores

A obtenção das nanopartículas de platina dispersas em carbono será realizada

utilizando o método do ácido fórmico (FAM) (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 1999),

que consiste na adição de ácido hexacloroplatínico em uma suspensão de carvão ativado

em ácido fórmico. Para o preparo de 20% Pt/C, foi necessário 0,4g de carbono (Vulcan

XC72) e 0,1g de Pt (15mL da solução de H2PtCl6 a 6,6 mg.L-1).

O conteúdo de carbono foi pesado e depositado em um erlenmeyer de 125mL, a

este foi adicionado 75mL de ácido fórmico (3M). O erlenmeyer foi colocado em banho de

ultrassom por 10min e levado a banho térmico a 80ºC. O volume de H2PtCl6 foi inserido

lentamente na solução em uma etapa. O progresso da redução da platina foi observado

por meio do teste com gotejamento de iodeto de potássio (KI) saturado em papel filtro, a

mudança para uma coloração escura indica que o hexacloroplatinato não foi

completamente reduzido. A conclusão desta etapa se deu com o resultado negativo no

teste de KI.

Ao final o conteúdo do erlenmeyer foi filtrado em sistema a vácuo com membrana

de fibra de vidro de porosidade 0,22μm. O material retido na membrana foi transferido

para uma cápsula de porcelana e secado em estufa por 24h a 80ºC. No dia seguinte, o

carbono foi pulverizado com auxílio de um pistilo e transferido para um frasco do tipo

Eppendorf®.

36

4.1.3 Microscopia de transmissão eletrônica

A microscopia de transmissão eletrônica (TEM) foi realizada no Laboratório

Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas-SP, e foi empregada para determinar o

tamanho e estrutura das nanopartículas. A amostra foi dispersa em metanol, colocada

em banho de ultrassom e gotejada numa grade de Cu com filme de carbono amorfo. As

imagens foram obtidas usando o microscópio JEOL 2100F, operando com uma emissão

de campo de 200kV no modo de transmissão com um detector Gatan CCD e no modo

de varredura (STEM) com imagem de campo escuro de alto ângulo (HAADF). Para

melhorar o contraste das imagens STEM foi utilizado um tamanho de ponto de 1 nm com

distancia de focal de aproximadamente 2cm e ângulo de 82,5º a 220mrad. (BRAGA, et

al. 2016).

4.2 CONFECÇÃO DO ELETRODO

Para a caracterização dos catalisadores foi utilizado um eletrodo de camada fina

porosa, confeccionada com a adição de 10mg de 20%Pt/C em 40mL de H2O e 1 gota de

suspensão 60% de teflon em um Becker de 50mL. O conteúdo foi submetido a banho de

ultrassom por 15min e filtrado à vácuo em membrana de fibra de vidro com porosidade

de 0,22μm. O material retido na membrana foi removido com o auxílio de espátula e

depositado sobre o contato de carbono grafite.

Os eletrodos para utilização no sistema PEM foram confeccionados a partir de

uma tinta contendo o catalisador disperso em carbono e suspensão de Nafion® em álcool

isopropílico. Foram preparadas duas misturas com as porcentagens de 10% e 35% de

Nafion®. A frita de aço inox poroso a ser pintada possuía 2,86cm² de área, portanto para

obtenção de 4mgPt/cm² foi necessário utilizar 57,30mg 20%Pt/C no preparo de cada

mistura.

A esta massa foi adicionado o volume de dispersão 5% de Nafion®, sendo:

124,6μL para a relação de 10%(m/m) e 436μL para 35%. Após, acrescentou-se a mistura

aproximadamente 2mL de álcool isopropílico volume suficiente para embeber todo o

material no recipiente e prosseguiu-se com banho de ultrassom por 15min.

37

A tinta foi depositada por gotejamento sobre a frita, aguardando a evaporação do

álcool isopropílico antes de gotejar outro volume. Logo após a confecção, os eletrodos

foram prensados à membrana conforme descrito a seguir.

4.3 MONTAGEM DO SISTEMA ELETRODO/MEMBRANA

A montagem foi realizada pelo processo de prensagem a quente (hot-press) e a

membrana utilizada, de Nafion® 117 CS (Dupont), foi pré-condicionada, conforme

procedimento descrito por Oguido (2013):

Imersão em solução de H2O2 (3%) a 80ºC por 1h;

Enxágue em água pura;

Fervura em água pura por 2h;

Imersão em H2SO4 a 80ºC por 1h;

Enxágue e armazenamento em água ultrapura.

A membrana foi prensada a cada eletrodo individualmente, sendo primeiramente

colocada entre o eletrodo e um apoio de teflon e prensada a aproximadamente 150MPa

(0,5t para a superfície das fritas) em 140ºC, por 2 minutos. Dois cartuchos de

aquecimento foram inseridos em placas de aço que prensaram o sistema para elevar a

temperatura do sistema a 140ºC.

Já prensada ao primeiro disco de aço, o sistema foi colocado em contato ao outro

eletrodo no lado livre da membrana e prensado sob as mesmas condições.

4.4 SOLUÇÕES

A concentração das soluções de trabalho seria determinada, a princípio, pela

relação estequiométrica para a reforma eletroquímica do glicerol, devendo ter uma

proporção água/glicerol de 3:1 que equivale a uma solução de glicerol 7,87M.

Contudo, Takamura (2012) avaliou soluções de diversas concentrações de

glicerol e aquelas que possuem essa concentração apresentam viscosidade

aproximadamente 10 vezes a da água para as mesmas condições, propriedade que

38

dificultaria o funcionamento da célula de fluxo. Portanto, as soluções de glicerol foram

preparadas para a concentração de 1M.

As soluções trabalhadas foram: Glicerol 1M + H2SO4 0,5M; e H2SO4 0,5M para

avaliar o comportamento do sistema na ausência de glicerol. Todas as soluções foram

preparadas com água ultrapura (MilliQ).

4.5 EXPERIMENTOS ELETROQUÍMICOS

Para caracterização dos catalisadores foi realizada a voltametria cíclica e a curva

de polarização utilizando o Potenciostato/Galvanostato EG&G PAR M 173 e a rampa de

potencial EG&G PAR M175, como mostra a figura 8.

Figura 8 - Equipamentos utilizados nos experimentos eletroquímicos. Embaixo o potenciostato e

em cima a rampa de potencial.

Fonte: Autoria própria.

Na voltametria cíclica, é feita uma varredura linear de potencial no tempo a partir

de um potencial negativo o suficiente para que não ocorra oxidação. Ao atingir um valor

de potencial definido, a varredura se inverte. A voltametria acontece de forma cíclica entre

39

os valores definidos de potencial inicial e final, registrando dados de potencial aplicado e

corrente na célula. Este procedimento permite identificar a ocorrência de reações

eletroquímicas e em qual potencial inicia-se a passagem de corrente na célula, ou seja,

a partir de qual potencial deve-se operá-la (BARD e FAULKNER, 2001; SKOOG et al.,

2006).

Para a caracterização do catalisador os experimentos foram conduzidos em uma

célula de vidro, com o eletrodo de camada fina porosa depositado sobre grafite como

eletrodo de trabalho e uma rede de platina policristalina como contra eletrodo. Nesses

experimentos foi utilizado um eletrodo de prata/cloreto de prata/KCl saturado (Ag/AgCl)

como eletrodo de referência, relativos ao qual os potenciais são referidos na discussão

destes experimentos. As varreduras de potencial foram realizadas entre -0,3V e 1,3V com

velocidade de 20 e 50 mV.s-1.

Na célula PEM o intervalo de varredura foi de 1,2V a aproximadamente 0,0V,

mantendo as mesmas taxas de varredura de potencial. Eventuais voltametrias de caráter

exploratório tiveram os limites expandidos. A célula PEM foi operada em arranjo de 2

eletrodos, com o cátodo, mantido em atmosfera de hidrogênio, servindo como contra-

eletrodo e eletrodo de referência. Admitindo-se que os processos de redução de

hidrogênio requerem um sobrepotencial desprezível, o potencial do cátodo estaria

virtualmente no mesmo valor de um eletrodo reversível de hidrogênio (RHE) para os

valores de densidade de corrente obtidas.

Uma vez determinado o intervalo de potencial para que ocorra eletro-oxidação

pôde-se avaliar a corrente em estado estacionário por meio da curva de polarização de

estado estacionário. Nesse procedimento, o potencial foi mantido constante e registrou-

se a corrente após atingir o estado estacionário, de modo que as concentrações dos

reagentes e produtos no interior da célula mantiveram-se aproximadamente constantes.

Esse experimento se aproxima da operação real de uma célula eletroquímica.

Foram realizados quatro experimentos, todos com o potencial variando entre

0,4V e 1,1V, dois no sentido crescente de potencial e os demais no decrescente. Cada

par de curva teve um tempo por ponto, e consequentemente, tempo de coleta das

amostras de 5 e 10min. Em outro experimento a célula foi polarizada no potencial de pico

(0,85V) para coleta de amostras a cada 5min com um fluxo de 1mL.min-1 e 2mL.min-1.

40

Para coleta de amostras para análise dos produtos a célula foi polarizada sem fluxo

(como um reator a batelada) por 80min em potenciais variando de 0,55 a 1,1V para

garantir um maior consumo do glicerol da solução, de modo que os produtos formados

sejam facilmente detectados nas análises posteriores. As condições dos ensaios podem

ser resumidas na tabela 4 a seguir:

Tabela 4 - Condições utilizadas nos diferentes experimentos de polarização

Número de pontos Amostras Potencial (V) Tempo por ponto (min) Vazão (mL.min-1)

15 15 De 0,4 a 1,1 5 1

15 15 De 1,1 a 0,4 5 1

15 15 De 0,4 a 1,1 10 1

15 15 De 1,1 a 0,4 10 1

1 6 0,85 30 (coletado a cada 5) 1

1 6 0,85 30 (coletado a cada 5) 2

6 6 0,55; 0,65; 0,75;

0,85; 0,95; 1,1

80 -

Fonte: Autoria própria.

4.6 DEMANDA QUÍMICA DE OXIGÊNIO (DQO)

Foram separadas 12 amostras para ensaio de DQO a fim de avaliar a relação

entre a corrente da célula, o fluxo de solução no sistema e a variação dos resultados

deste ensaio. As amostras foram obtidas em dois experimentos com a polarização do

sistema no potencial de pico (0,85V) por 30min com uma vazão de aproximadamente

1mL.min-1 e 2mL.min-1, sendo coletadas a cada 5min de experimento.

4.7 ANÁLISE DOS SUBPRODUTOS DE ELETRO-OXIDAÇÃO

A análise dos subprodutos foi feita por cromatografia líquida de alta eficiência

(HPLC) e por cromatografia líquida com espectroscopia de massa (LC-MS). As amostras

foram coletadas do eletrólito em fluxo para diversos potenciais aplicados no eletrolisador

após o estado estacionário ter sido atingido. O volume coletado foi de aproximadamente

41

1mL, sendo armazenado em frasco do tipo Eppendorf® para volumes de até 2mL e

conservado em congelador.

As análises de espectroscopia de massa (MS) foram realizadas na Universidade

Federal do Paraná (UFPR) – Câmpus Jandaia, conduzidas no aparelho Quattro Premier

XE, da Micromass Technologies. Para o HPCL utilizou-se o cromatógrafo Accela (Thermo

Scientific), com um fluxo de 0,4mL.min-1 e o detector configurado para o comprimento de

onda de 220nm. Para a separação dos compostos utilizou-se a coluna Agilent Eclipse

XDB – C18. Inicialmente trabalhou-se com a fase móvel de acetonitrila a 1,6% (v/v),

condição semelhante à adotada por Li et al. (2009), à excessão do pH, para a

determinação de intermediários de oxidação fotocatalítica do glicerol, dado que a

formação de alguns dos compostos também é esperada na eletro-oxidação.

Este método foi adaptado para melhorar a separação dos compostos, definindo

os picos. Foi proposto um gradiente de concentração e a redução do pH. Observou-se

também que ao final do processo, a acetonitrila pura removia ainda alguns compostos,

portanto o método utilizado para as análises, representado graficamente na figura 9,

consiste em: início com solução de H2SO4 com pH 2,1 e gradiente até 1,6%(v/v) de

acetonitrila até 5min, aos 18min retorna a 100% de solução ácida e entre 23 e 24min

ocorre a mudança para acetonitrila pura que permanece até os 29min, entre 29 e 30min

volta a passagem de solução ácida e mantém essas condições para condicionamento da

coluna até o final da corrida em 40min.

42

Figura 9 - Gráfico descritivo do método utilizado nas análises de HPCL.

Fonte: Autoria própria.

As análises de LC-MS foram feitas por injeção direta tanto das amostras

completas como de frações coletadas na saída das corridas de HPLC, após a separação

dos compostos. As amostras passaram por um processo de extração por solvente

(acetato de etila) para eliminação do ânion sulfato. As análises foram feitas com contra-

ions positivo e negativo, via adição de ácido trifluoroacético ou hidróxido de amônio,

respectivamente. A análise de fragmentos foi feita no modo LC-MS-MS foram feitas com

energia variável entre 10 a 20 keV.

43

5. RESULTADOS

5.1 CARACERIZAÇÃO DO CATALISADOR

A dissolução da platina em água régia para obtenção do ácido hexacloroplatínico

foi realizada com sucesso, bem como a dispersão do eletrocatalisador de platina em

carbono Vulcan XC72 feita utilizando o método do ácido fórmico. O eletrocatalisador

disperso obtido foi então caracterizado através da voltametria, empregando o

eletrocatalisador como eletrodo de camada fina porosa sobre substrato de grafite. A

presença da platina é facilmente reconhecida pelos picos de oxidação-redução de

hidrogênio depositado em regime de subtensão (UPD), e também pelos picos associados

com a formação e redução de óxidos superficiais na platina.

Os voltamogramas foram obtidos em meio H2SO4 0,5M para o eletrodo de

20%Pt/C (figura 10.a) e para a Pt policristalina (figura 10.b), previamente aos

experimentos foi borbulhado N2 na solução para desoxigenação.

Os picos associados ao hidrogênio (UPD) são claramente observados nestas

figuras na região abaixo de 0,2 V (Ag/AgCl, ao qual os potenciais mencionados são

referidos). Também é possível identificar os picos relacionados com os processos de

oxidação/redução da superfície de platina pelo perfil voltamétrico na região de potenciais

mais altos (acima de 0,8 V na varredura anódica e próximos a 0,6 V na varredura

catódica). Esses resultados comprovam que a obtenção dos eletrocatalisadores de Pt

dispersa foi realizada com sucesso.

É possível determinar a área eletroativa das partículas de platina dispersa pela

carga integrada na região de UPD de hidrogênio. A densidade de carga para formação

de uma monocamada completa de Pt-Hupd é estimada como 210 Ccm-2 (Bard e

Faulkner, 2001) para Pt policristalina. Após o cálculo da carga no voltamograma da figura

10.a e pesagem da camada porosa, obteve-se uma área específica (razão área/massa)

igual ao de uma partícula esférica de 7 nm de diâmetro, o que serve como estimativa do

diâmetro médio das nanopartículas obtidas.

44

Figura 10 – Voltamogramas em solução de H2SO4 0,5M para (a) 20%Pt/C e (b) Pt (poli).

Velocidade de varredura de 20mV.s-.

Fonte: Autoria própria.

a)

b)

45

A caraterização morfológica precisa das nanoparticulas de platina no catalisador

foi feita por microscopia de transmissão eletrônica. As micrografias de transmissão são

mostradas nas figuras 11.a-d, com diferentes escalas. Pode-se observar nessas figuras

que há uma boa distribuição das partículas de platina, apesar da formação de ocasionais

aglomerados. Deve-se ressaltar que estes podem ser apenas artefatos causados pela

superposição da imagem de partículas nas bordas dos grãos do suporte de carbono. Os

resultados de distribuição e diâmetro das partículas foram obtidos da imagem do TEM da

figura 11.d, por contagem das partículas agrupadas por diâmetro com intervalo de 1nm.

O histograma é mostrado na figura 11.e. O tamanho médio de partículas obtidas foi de

3nm, formando uma distribuição relativamente bem agrupada com a maioria das

partículas (70%) entre 2,0 e 4.0nm, coerente com o esperado para a dispersão por FAM

(USP, 1999). A partir destes dados, é possível determinar a contribuição relativa à área

do catalisador de cada faixa de tamanho de partículas, conforme mostra a figura 11.f.

Essa análise é mais importante para interpretação do comportamento eletroquímica do

catalisador, pois a corrente total observada é a soma das contribuições das densidades

de corrente de cada partícula multiplicada por sua área. Dessa forma, a distribuição de

área mede diretamente a contribuição de cada tamanho de partícula para a resposta

eletroquímica. Nessa figura fica evidente que a maior contribuição em área vem de

partículas com tamanho entre 3 e 4 nm, ligeiramente superior ao valor médio estimado.

Há também uma expressiva contribuição para a área de partículas grandes (> 8nm),

embora em número reduzido. Em termos de área, a contribuição apresenta distribuição

bimodal. Entretanto, a contagem destas partículas maiores deve ser considerada com

cautela, uma vez que a análise feita não permite diferenciar partículas grandes de

superposições espaciais de partículas pequenas, como discutido anteriormente.

46

Figura 11 - Micrografias de transmissão eletrônica do catalisador de platina dispersa em carbono,

registrando regiões e escalas distintas a), b), c) e d). Histograma da distribuição de partículas

agrupadas por diâmetro em e). Histograma da contribuição relativa à área do catalisador em f).

Fonte: Autoria própria.

a) b)

c) d)

e) f)

47

5.2 VOLTAMETRIAS

Após a confecção do sistema eletrodo-membrana foram obtidos novos

voltamogramas em meio H2SO4 0,5M para verificação do comportamento do sistema na

célula de fluxo do tipo PEM.

O voltamograma da figura 12 (em preto) foi obtido no início de uma das curvas

de polarização, enquanto o voltamograma traçado em vermelho representa a condição

após todos os experimentos de polarização. Nota-se que não houve alteração apreciável

no comportamento da corrente, mantendo aproximadamente o mesmo formato e áreas

sobre os picos de oxidação-redução do hidrogênio UPD, e do pico catódico de redução

dos óxidos de platina em torno de 0,8V. Este resultado indica que os gases formados

durante a polarização não ocasionaram descolamento ou alteração severa na estrutura

do sistema eletrodo-membrana. Isso poderia ocorrer no caso de evolução maciça de

produtos gasosos como CO2 que causa desagregação mecânica do eletrodo de difusão

de gás. Ainda assim, podem ser observadas na figura 12 ligeiras alterações no perfil

voltamétrico após os experimentos de eletrooxidação potenciostática do glicerol: um

pequeno aumento na carga capacitiva do substrato, e, mais importante, uma queda

ôhmica mais acentuada. O aumento da queda ôhmica pode estar associado com a

modificação da estrutura da membrana de Nafion® após a eletrooxidação do glicerol

devido à absorção de subprodutos de eletrooxidação. Moléculas orgânicas pequenas

como metanol (Ling e Savadogo 2004) e ácido fórmico (Rhee et al 2003) podem se

solubilizar na membrana de Nafion®, alterando sua estrutura e causando turgidez, o que

interfere nos processos de condução de prótons. A formação de metanol é pouco

provável de ocorrer na eletrooxidação de glicerol, não havendo relato na literatura de tal

subproduto. Ácido fórmico, por outro lado tem sido comumente detectado, conforme o

quadro 1.

48

Figura 12 - Comparação dos voltamogramas da solução de H2SO4 0,5M entre uma

condição inicial de um dos experimentos de polarização (preto) e a condição após a

última curva.

Fonte: Autoria própria.

Os voltamogramas obtidos em meio Glicerol 1M + H2SO4 0,5M (solução de

trabalho) são mostrados na figura 13, que apresenta o perfil voltamétrico antes e após a

realização de uma das curvas de polarização. Nesses voltamogramas pode ser

observado que a região de adsorção e dessorção do hidrogênio fica suprimida pela

presença de intermediários fortemente adsorvidos, conforme discutido por Okada (2013).

Na varredura de potencial crescente (anódica), correntes associadas com a eletro-

oxidação do glicerol começa a ser observada para potenciais acima de 0,7V (RHE),

formando um pico próximo de 0,9V. A partir de 1,1 V, quando a platina deve estar com

sua superfície completamente oxidada, a corrente volta a aumentar. Na varredura

reversa, a corrente decresce até pouco abaixo de 0,9V, onde começa a redução do óxido.

Com isso o glicerol pode re-adsorver na platina exposta, onde sofre desidrogenação e

oxidação pelas espécies oxigenadas residuais, resultando em picos de corrente anódica

em aproximadamente 0,75V e 0,55V. Abaixo destes potenciais, a ausência de espécies

oxigenadas faz com que as espécies desidrogenadas adsorvidas se acumulem na

49

superfície e impedindo a continuação da eletrooxidação do glicerol e a formação do

hidrogênio UPD.

Figura 13 - Comparação dos voltamogramas da solução de trabalho antes (preto) e após (vermelho) o experimento de polarização.

Fonte: Autoria própria.

Garcia et al (2016), através de cálculos quânticos utilizando teoria do funcional

de densidade (DFT), suportados por dados de infra-vermelho com transformada de

Fourier (FTIR), propuseram que sobre Pt(111) a adsorção-desidrogenação do glicerol

produz dois intermediários adsorvidos por 2 átomos de carbono: um ligado pelos

carbonos central e terminal – intermediário ativo, facilmente oxidado a gliceraldeído ou

dihidroxiacetona; e um intermediário ligado pelos 2 carbonos terminais – inativo, que é

oxidado apenas lentamente em altos potenciais para formar CO2., como mostra a figura

14.a. No caso de Pt(100), o intermediário se adsorve apenas por 1 carbono terminal, e

sofre oxidação para formação de gliceraldeido (figura 14.b). Todos estes intermediários

podem estar presentes no sistema investigado, pois as nanopartículas de platina tem

como geometria estável o cubo-octaedro, apresentando com faces 100 e 111

(predominantemente) em proporções variáveis de acordo com o tamanho de da partícula

(figura 14.c).

50

Figura 14 – Modelos de intermediários adsorvidos na eletrooxidação de glicerol sobre a) Pt(111) e

b) Pt(100), de acordo com Garcia et al. (2016). c) Geometria das nanopartículas de Pt.

Fonte: Autoria própria.

5.3 CURVAS DE POLARIZAÇÃO

Inicialmente, as curvas de polarização foram obtidas com o tempo de 5min por

potencial, contudo nota-se pela figura 15 que há grande variação entre os valores de

corrente, para um mesmo potencial. Na figura 15 cada experimento está representado

em uma cor distinta, com os pontos para a curva de potencial crescente marcados com

um quadrado e na decrescente com um triângulo vazio.

51

Figura 15 - Curvas de polarização de 0,4 a 1,1V com 15pontos e 5min/ponto. Primeiro par

em preto e segundo em vermelho. As curvas no sentido crescente de potencial possuem

marcador preenchido, enquanto as decrescentes são marcadas com triângulos vazios.

Densidade de corrente calculada pela área geométrica.

Fonte: Autoria própria.

Nota-se no segundo par de curvas (em vermelho) uma menor variação entre as

correntes registradas, tal efeito pode ser atribuído a um melhor controle de fluxo. A

alteração na vazão de eletrólito tem efeito direto sobre a corrente e devido à vazão ser

baixa o registro hidráulico da saída não a mantinha constante, sendo necessário a

observação e a correção manual da vazão. As variações entre as correntes de cada

experimento e a presença desse mínimo local em 1,0V podem estar associados ao

relaxamento das reações, indicando que o sistema ainda não atingiu o estado

estacionário.

A realização de um experimento mais longo, polarizando por 80 min em cada

potencial e na ausência de fluxo de eletrólito (Figura 16, em azul) permitiu uma avaliação

do comportamento próximo do estado estacionário, confirmando a suposição

mencionada.

52

Figura 16 - Comparação das curvas de polarização com a polarização por 80min (em azul). Primeiro

par obtido com 5min/ponto (preto) e segundo com 10min/ponto (em vermelho). As curvas no

sentido crescente de potencial possuem marcador preenchido, enquanto as decrescentes são

marcadas com triângulos vazios. Densidade de corrente calculada pela área geométrica.

Fonte: Autoria própria.

Na figura acima nota-se uma elevada diminuição dos valores de desidade de

corrente na faixa de 0,6 a 1,0V na qual possivelmente a influência de efeitos transientes

e do fluxo de eletrólito é maior. Neste ultimo experimento foram coletadas amostras para

análise por cromatografia líquida de alta performance que será discutida na seção

seguinte.

5.4 DQO

Esperava-se que os resultados do ensaio de DQO indicassem uma relação entre

o tempo de polarização, a vazão de eletrólito e a DQO consumida, sendo esta última

diretamente relacionada ao processo de oxidação do glicerol.

53

Contudo, devido às baixas correntes a concentração de glicerol na solução varia

aproximadamente 0,1% para a vazão de 1mL.min-1, ou seja, a variação na DQO torna-

se muito baixa de modo que erros durante o ensaio ocasionam uma variação nos

resultados que impossibilitem uma interpretação dos resultados.

5.5 CROMATOGRAMAS

Nos resultados do HPLC os compostos foram separados principalmente em duas

regiões, sendo a primeira do início da corrida até 6,5min e a outra dos 27 aos 35min,

como pode ser observado na figura 17. Os resultados serão discutidos separadamente.

Figura 17 - Cromatograma da amostra 6.

Fonte: Autoria própria.

Os tempos indicados acima são aproximados, dado que entre uma corrida e outra

pode ocorrer um deslocamento devido às condições da coluna. Para facilitar a

compreensão as amostras foram enumeradas conforme relação da tabela 5 a seguir.

54

Tabela 5 - Amostras utilizadas no HPLC e condições de aquisição destas.

Amostra Potencial Aplicado (V) Tempo de polarização (min)

Branco 0 0

Amostra 1 0,55 80

Amostra 2 0,65 80

Amostra 3 0,75 80

Amostra 4 0,85 80

Amostra 5 0,95 80

Amostra 6 1,1 80

Amostra 7 1,1 10

Fonte: Autoria própria.

No primeiro intervalo foi identificado um total de 10 compostos nas diferentes

amostras. Foram medidos baixos valores de absorvância, porém diferentes do branco. A

figura 18 compara os resultados obtidos para duas amostras e o branco.

Os compostos interagem semelhantemente com a coluna, sendo dificil separá-

los completamente, assim alguns picos como do composto 2 e do composto 6 ficam em

sua maior parte encobertos pelos adjacentes, dificultando a integração e uma

determinação precisa da área.

55

Figura 18 - Picos identificados nos cromatogramas entre 2 e 6,5min.

Fonte: Autoria própria.

A diferença de absorvância para o branco é grande nos primeiros 6 picos,

sugerindo que tais compostos sejam formados durante a eletro-oxidação do glicerol.

Destes, os compostos 1, 4 e 5 apresentaram um comportamento dependente da

condição de operação, sendo maior nas amostras polarizadas a um potencial mais

elevado e consequentemente submetidas à maiores correntes. Não foi analisada a área

do pico referente ao composto 6, já que em alguns cromatogramas o sinal aparece muito

próxmo do pico 5, dificultando a análise.

Os compostos 7 e 8 foram os únicos ausentes no branco. Provavelmente eles

são formados durante a eletro-oxidação e também foram encontrados em maior

quantidade nas amostras de maior corrente. Os compostos 9 e 10 mantiveram-se

aproximadamente constantes nas diferentes corridas, tal fato pode ser atribuído à uma

impureza da solução de trabalho que não foi degradada no processo de eletrooxidação.

56

A partir dos 27 minutos de corrida pode-se observar a presença de mais 6 sinais

(Figura 19), entre eles o C11 possui maior intensidade e uma base mais larga – de 27,5

a 29min – o que sugere a presença de mais de um composto nesse intervalo de tempo.

Figura 19 - Picos identificados nos cromatogramas entre 27 e 35min.

Fonte: Autoria própria.

As áreas dos picos 12 e 13 não apresentaram grandes variações entre as

amostras. O composto 14 teve uma variação crescente até a amostra 4 (0,85V) enquanto

o 15 manteve-se praticamente constante exceto por um pico na amostra 5 (0,95V), ambos

os resultados sugerem que estas condições favoreçam a formação destes compostos

específicos. Para potenciais próximos a 0,8V Okada (2013) observou maior seletividade

para gliceraldeído e ácido lático com catalisadores de Pt/C, um comportamento

semelhante ao dos compostos 14 e 15.

Comparando-se as amostras 6 e 7 (Figura 20), obtidas em um mesmo potencial

para os tempos de 80 e 10 minutos respectivamente, observa-se uma maior intensidade

dos picos de 1 a 6 e do pico 8 para a amostra polarizada por mais tempo (Figura 20.a).

Além de submeter a amostra a um tempo 8 vezes maior, outro fator que influencia esse

57

resultado é a presença de fluxo de aproximadamente 1ml.min-1 na amostra 7, que renova

a concentração de glicerol no interior da célula e remove parte dos produtos

intermediários formados da proximidade do catalisador onde estes poderiam sofrer

reações consecutivas.

Figura 20 - Comparação entre diferentes tempos de polarização para o potencial de

1,1V. Amostra polarizadas por 80 (verde) e 10min (azul). Compostos separados entre

2 e 7min (a) e entre 27 a 34min (b).

Fonte: Autoria própria.

a)

b)

58

Na Figura 20.b as linhas de base estão separadas, contudo as áreas estão

semelhantes à exceção do pico 11 em aproximadamente 28,5min que aumentou

consideravelmente para o experimento de 80min.

Como consideração final das análises de HPLC, os compostos separados nos

picos C4, C7 e C8 foram os únicos que apresentaram uma correlação direta entre suas

variações de área e a variação de densidade de corrente em função do potencial de

eletrooxidação, conforme evidenciado na figura 21. Os compostos associados a esses

picos do cromatograma são os mais prováveis subprodutos da eletrooxidação do glicerol.

Figura 21 - Relação entre potencial aplicado e área dos picos dos compostos C4 (preto), C7 (azul)

e C8 (rosa). E comportamento da densidade de corrente (vermelho) calculada para a área

geométrica em função dos potenciais aplicados.

Fonte: Autoria própria.

A identificação dos compostos foi tentada por LC-MS e LC-MS-MS.

Para as análises de espectrometria de massa de infusão direta foi realizada a

separação prévia dos compostos por meio da passagem destes no HPLC, e então

coletados em 11 lotes. Além destes lotes fracionados da amostra, também foi analisada

59

um frasco completo contendo o branco e outro com a amostra 6. Os picos coletados para

cada amostra são especificados na tabela 6.

Tabela 6 - Relação das amostras enviadas para análise de MS.

Lote Picos coletados

1 C1, C2

2 C3, C4

3 C5, C6

4 C7

5 C8

6 C9

7 C10

8 C11

9 C12

10 C14

11 C16

Fonte: Autoria própria.

Para os experimentos de MS, é necessário na solução não haja íons que não

possam ser facilmente oxidados, como é o caso para o sulfato (do H2SO4). Portanto, foi

necessário extrair a fração orgânica de cada amostra com acetato de etila antes da

análise. Isso pode interferir muito no resultado, pois os produtos esperados de eletro-

oxidação de glicerol são bastante solúveis na fase aquosa, o que pode prejudicar a

extração pelo solvente orgânico.

As diferentes frações da tabela 6 foram analisadas e os resultados da

espectrometria de massa para seus extratos positivos foram semelhantes ao branco

(Figura 22). Não é possível determinar se os compostos estavam presentes em

concentração muito baixa na amostra e não foram extraídos, ou se eles não são

removidos na extração orgânica e permanecem na fração aquosa da solução. Isso

impossibilitou a identificação dos compostos dos picos C4, C7 e C8 (frações 2, 4 e 5) do

HPLC.

60

Figura 22 - Espectros de massa para o branco (a) e a amostra segmentada do frasco 5 (b).

Fonte: Autoria própria.

A análise com extrato negativo apresentou sinais diferentes para o branco e a

amostra completa 6 (polarizada a 1,1V por 80min).

a)

b)

61

Figura 23 - Comparação dos espectros da análise de extração negativa para o branco (em

vermelho) e a amostra completa 6 (em roxo).

Fonte: Autoria própria.

Destaca-se a identificação do sinal referente ao glicerol, identificado no branco e

menor na amostra 6 (Figura 23). Este resultado sugere que as condições de polarização

oxidaram o glicerol da solução, contudo não é possível confirmar já que pode haver uma

limitação durante extração. Infelizmente, não foi possível realizar as análises de LC-MS

com extração negativa das amostras em outros potenciais, para verificar alguma

correlação na diminuição dos sinais de glicerol em função do potencial aplicado.

Para pesquisas futuras, sugere-se contornar o problema causado pela presença

de sulfato nas amostras, extraindo-o primeiramente e viabilizando a análise por infusão

direta, que pode apresentar resultados mais conclusivos.

Glicerol

62

6. CONCLUSÃO

Foi construída uma célula eletroquímica tipo PEM de fluxo para reforma

eletroquímica do glicerol, que permitiu a coleta dos produtos de eletrooxidação para

análise de viabilidade de valoração do glicerol por este processo.

O método do ácido fórmico foi empregado com sucesso para obtenção de

eletrocatalisadores de nanopartículas de platina dispersas em carbono, confirmada pelos

picos característicos do hidrogênio UPD presentes nos voltamogramas em meio H2SO4

(0,5M). A qualidade do material obtido foi ainda confirmada por microscopia de

transmissão eletrônica, que mostrou um tamanho médio de partículas de 3 nm, com

distribuição bem centrada em torno do valor médio.

O catalisador 20% Pt/C mostrou atividade catalítica para a eletrooxidação do

glicerol já em potenciais próximos de 0,7V, bem inferior ao potencial necessário na

eletrólise convencional para produção de hidrogênio. Esse catalisador permite operar a

célula unitária com densidades de corrente de até 3,5mAcm-2 a 1,1V. Os valores de

corrente ainda estão abaixo do desejável, considerando-se a carga de platina de

4mgPtcm-2, o que foi atribuído a problemas relacionados com a hidrodinâmica da solução

de trabalho no interior da camada difusora de titânio, que precisa ser redesenhada para

continuidade deste trabalho.

Os picos identificados pela análise de HPLC sugerem a presença de

possivelmente 10 compostos formados na eletrooxidação do glicerol, cujos picos de

HPLC apresentaram variação em função das condições de operação do eletrolisador. Em

particular, 3 destes compostos apresentaram variação em área bastante correlatas com

a variação de corrente.

A quantidade de picos formados sugere também uma predominância de rotas

intermediárias de oxidação do glicerol, formando um outro composto orgânico ao custo

de produzir uma menor quantidade de H2.

Para maior compreensão do mecanismo, pesquisas futuras podem conduzir a

oxidação por mais tempo, de modo que os picos fiquem mais proeminentes nas análises

de HPLC e incluir a técnica de espectrometria de massa para a identificação dos

produtos.

63

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIODIESEL. Boletim mensal do Biodiesel. Mar. 2016. Disponível em: <http://www.anp.gov.br/?dw=80223>. Acesso em: 03 mai.2016. ALFA AESAR. Product Search. 2016. Disponível em: <https://www.alfa.com/pt/go160w.pgm> Acesso em: 03 mai. 2016. BARD, A. J.; FAULKNER, L. R. Electrochemical methods: Fundamentals and applications. 2nd ed. New York, NY: Willey. 2001. p. 226-227. BELTRÁN-PRIETO, J. C.; KOLOMAZNÍK, K.; PECHA, J. A Review of Catalytic Systems for Glycerol Oxidation: Alternatives for Waste Valorization. Australian Journal of Chemistry. v.66, n. 5, p. 511 – 521, mar. 2013. BRAGA, A. H.; SODRÉ, E. R.; SANTOS, J. B. O.; MARQUES, C. M. de P.; BUENO, J. M. C. Steam reforming of acetone ove Ni- and Co-based catalysts: Effect of the composition of reactants and catalysts on reaction pathways. Applied Catalysis B: Environmental. v.195, p. 16 – 28, abr. 2016. BRASIL. Lei N° 11.097, de 13 de janeiro de 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11097.htm>. Acesso em: 03 dez. 2014. BRASIL. Lei N° 13.033, de 24 de setembro de 2014. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13033.htm >. Acesso em: 03 dez. 2014. COMPANHIA PARANAENSE DE ENERGIA. Tarifa Industrial B3. 2015. Disponível em: <http://www.copel.com/hpcopel/root/nivel2.jsp?endereco=%2Fhpcopel%2Froot%2Fpagcopel2.nsf%2F5d546c6fdeabc9a1032571000064b22e%2F8c04fbf11f00cc5703257488005939be> Acesso em: 03 mai. 2016. DAMASKIN, B. B.; PETRII, O. A.; BATRAKOV, V. V. Adsorpion of organic compounds on electrodes. New York, NY: Plenum Press. 1971. FORDHAM, P.; BESSON, M. e GALLEZOT, P. Catalytic oxidation with air of tartronic acid to mesoxalic acid on bismuth-promoted platinum. Catalysis Letters. v. 46, p. 195-199, 1997. GARCIA, A. C.; KOLB, M. J.; NIEROP y SANCHEZ, C.; VOST, J.; BIRDJA, Y. Y.; KWONG, Y.; TREMILIOSI-FILHO, G.; KOPER, M. T. M. Strong impact of platinum surface structure on primary and 2 secondary alcohol oxidation during electro-oxidation of glycerol, ACS Catal., v.6, n.7, p. 4491–4500, 2016.

64

KWON, Y.; KOPER, M. T. M. Combining Voltammetry with HPLC: Application to Electro-Oxidation of Glycerol. Analytical Chmemistry Hydrogen Energy. v. 82, n. 13, p. 5420 – 5424, 2010. LEÃO, J. P; RAMOS, A. T; MARUO, V. M; SOUZA, D. P. M. S; NEIVA, J. N. M; RESTLE, J; MORON, S. E. Anatomopatologia de amostras de bovinos alimentados com glicerol. Ciência Rural. v.42 n.7. Santa Maria, jul. 2012. LEVIN, D. B.; CHAHINE, R. Challenges for renewable hydrogen production from biomass. International Journal of Hydrogen Energy. v. 35, p. 4962 – 4969, 2010. LI, M.; LI, Y.; PENG, S.; LU, G.; LI, S. Photocatalytic hydrogen generation using glycerol wastewater over Pt/TiO2. Frontiers in Chemistry. v. 4, n. 1, p. 32-38. 2009. LIN, Y. Catalytic valorization of glycerol to hydrogen and syngas. International Journal of Hydrogen Energy. v. 38, p. 2678 – 2700, 2013. LING, J.; SAVAGODO, O. Comparison of Methanol Crossover among Four Types of Nafion Membranes, J. Electrochem. Soc., v.151, n.10, p. A1604-A1610, 2004. MARSHALL, A. T.; HAVERKAMP, R. G. Production of hydrogen by the electrochemical reforming ofglycerol–water solutions in a PEM electrolysis cell. International Journal of Hydrogen Energy. v. 33, p. 4649 – 4654, 2008. MOMENI, M. M.; NAZARI, Z. Pt/PANI-MWCNTs nanocomposite coating prepared by electropolymerisation-electrodeposition for glycerol electro-oxidation. Surface Engineering. v. 31, n. 6, p. 472-479, 2015. OGUIDO, V. Utilização do glicerol como fonte de energia alternativa: caracterização eletroquímica. 63p. 2014. TCC (Graduação em Engenharia Ambiental), Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Londrina, 2014. OKADA, K. Electrochemical Oxidation of Glycerol in a Proton-Exchange-Membrane Reactor. University of Michigan, 2013. OLIVEIRA, J. S.; ANTIONIASSI, R.; FREITAS, S. C.; MULLER, M. D. Composição química de glicerina produzidas por usinas de biodiesel no Brasil e potencial de uso na alimentação animal. Revista Ciência Nova. Santa Maria, v.43, n.3, mar. 2013. QUISPE, C. A. G.; CORONADO, C. J. R.; CARVALHO JUNIOR, J. A. Glycerol: Production, consumpton, prices, characterization and new trends in combustion. Renewabe and Sustainable Energy Reviews. v. 27, p. 475-493, 2013. RHEE, Y. W.; HA, S. Y.; MASEL, R. I. Crossover of Formic Acid Through Nafion® Membranes, J. Power Sources, v.117, p. 35–38, 2003.

65

ROQUET, L.; BELGSIR, E.; LEGER, J.; LAMY, C. Kinetics and mechanisms of the electrocatalytic oxidation of glycerol as investigated by chromatographic analysis of the reaction-products - potential and ph effects. Electrochimica Acta, v.39 p. 2387–2394, 1994. (apud OKADA, K. Electrochemical Oxidation of Glycerol in a Proton-Exchange-Membrane Reactor. University of Michigan, 2013.) SAFAVI, A.; ABBASPOUR, A.; SOROURI, M. Hydroxyapatite wrapped miultiwalled carbon nanotubes composite, a highly efficient template for palladium loading for electrooxidation of alcohols. Journal of Power Sources. v. 287, p. 458-464, 2015. SIDDHARDHA, R. S. S.; TEJA, M. S. B.; TEJKIRAN, P. J.; NTIM, S. A.; KUMAR, P. S. S.; LAKSHMINARAYANAN, V.; MITRA, S.; RAMAMURTHY, S. S. Ultra-low casting of Pt based nano-ink for electrooxidation of glycerol and ethylene glycol fuels in alkaline medium. Fuel. v. 158, p. 659-663, 2015. SIMÕES, M.; BARANTON, S.; COUTANCEAU, C. Electrochemical Valorisation of Glycerol. ChemSusChem. v. 5, n. 11, p. 2106-2124, 2012. SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de química analítica. São Paulo, SP: Thomson Learning, 2006. TAKAMURA, K.; FISCHER, H.; MORROW, N. R. Physical properties of aqueous glycerol solutions. Journal of Petroleum Science and Engineering. v. 98 - 99, p. 50 – 60, 2012. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (São Carlos, SP). Joelma Perez, Alexei Lorenzetti Novaes Pinheiro, Ernesto Rafael Gonzales, Edson Antonio Ticianelli. Processo de obtenção de catalisador de platina dispersa ancorada em substrato através da redução por ácido. BR n. PI 9702916-9 A, 02 set. 1997, 13 abr. 1999. VAIDYA, P. D.; RODRIGUES, A. E. Glycerol Reforming for Hydrogen Production: A Review. Chemical Engineering & Technology. v.32, n. 10, p.1463 – 1469, 2009. WEB OF SCIENCE. Search, disponível em: <http://apps.webofknowledge.com/WOS_CitedReferenceSearch_input.do?product=WOS&SID=4AiB%40kmFpG2PlhgheoL>. Acesso em: 23 out. 2015. YANG, F.; HANNA, M. A.; SUN, R. Value-added uses for crude glycerol – a byproduct of biodiesel production. Biotechnology for Biofuels. v.5, n.1, 2012.