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Produção de Materiais Didáticos para a Educação Profissional e Tecnológica
Adriano Larentes da SilvaDoutor em História, IFSC, Campus Chapecó
Tiago Cezar Garbin dos SantosBolsista PIBICIT, IFSC, Campus Chapecó
Resumo- O presente artigo trata da produção de materiais didáticos para uso em sala de aula em cursos de Educação Profissional e Tecnológica. Tem como objetivo estimular a reflexão sobre a utilização de materiais concretos por educandos e educadores e mostrar que esses materiais podem ser o fio condutor de uma abordagem curricular focada na interdisciplinaridade e integração. O ponto de partida para a reflexão proposta são os materiais didáticos produzidos por meio do projeto Produções de Materiais Didáticos sobre a História da Técnica. Os resultados desse projeto mostram o grande potencial didático de materiais concretos em sala de aula, em especial em cursos de PROEJA, Ensino Médio, Ensino Médio Integrado e cursos Subsequentes.
Palavras-Chave: Materiais didáticos, interdisciplinaridade, educação profissional.
Abstract - The present article shows the production of didactic materials which can be used in the classroom in contexts of Professional and Technological Education. It aims at stimulating the reflection on the use of concrete materials by learners and educators as well as showing that concrete materials can lead to an interdisciplinary curricular approach. The starting point for the reflection here proposed are the didactic materials produced in the project “Production of didactic materials about the history of the technique”. The results of this project show the great potential of the use of concrete materials in the classroom, especially in PROEJA, Ensino Médio, Ensino Médio Integrado, and Subsequente educational programs.
Keywords: Didactic materials, interdisciplinary education, professional education.
1 - Introdução
A sala de aula é o espaço da criatividade, da afetividade, da troca de experiências,
da produção e sistematização de conhecimentos e da aprendizagem. Por outro lado, este
também é o espaço da ansiedade, de conflitos, de autoritarismos e de frustrações. A sala
de aula é produto da escola, da cultura e da sociedade nas quais estamos inseridos. É,
portanto, o espaço da contradição que produz o novo e que mantém o velho.
O presente artigo visa refletir sobre o trabalho em sala de aula em instituições de
educação profissional e tecnológica, sugerindo possibilidades de um trabalho
interdisciplinar e integrado1 a partir da produção e uso de materiais concretos por
educandos e educadores.2 O ponto de partida para a reflexão proposta são os materiais
didáticos produzidos por meio do projeto Produções de Materiais Didáticos sobre a
História da Técnica, desenvolvido entre julho de 2009 e julho de 2010, no Campus
Chapecó do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). Dentre os materiais produzidos
estão dois protótipos sobre o uso do fogo na Pré-História, um protótipo sobre o uso das
rodas d’água e um protótipo sobre o uso do vapor na Antiguidade. A estes materiais
somam-se outros que vêm sendo produzidos por educadores e educandos do Curso
Técnico de Nível Médio em Eletromecânica na Modalidade de Educação de Jovens e
Adultos, do Campus Chapecó.
A experiência na produção de diferentes materiais concretos permite ampliar o
debate sobre a importância desse tipo de material didático em sala de aula, inserindo-o
num contexto de expansão da educação profissional, de aumento da oferta do Ensino
Médio Integrado, de estímulo ao Ensino Médio Inovador e de mudanças na perspectiva
tecnicista de ensino e aprendizagem que ainda predomina em muitas salas de aula de
cursos de educação profissional e tecnológica.
Ao tratar das possibilidades e potencialidades de utilização de materiais concretos
em sala de aula, o presente artigo debate sobre o uso destes materiais a partir de uma
perspectiva de Técnica, Tecnologia e Ciência como construções sociais e históricas e
como produto da mediação entre Homem e Natureza. Além disso, leva-se em
consideração que estes materiais não estão desconectados de concepções pedagógicas
adotadas pela escola e pelos educadores. De acordo com Fiorentini e Miorim (1993,
p.02), por trás de cada material se esconde uma visão de educação, de homem e de
mundo; “ou seja, existe, subjacente ao material, uma proposta pedagógica que o
justifica”.
Assim, na produção e uso de materiais concretos é preciso que o educador ou o
grupo de educadores o façam a partir de um trabalho conjunto e planejado, orientado por
uma perspectiva pedagógica clara. No caso específico de escolas que ofertam educação
profissional e tecnológica, esse trabalho poderá ser realizado em cursos de PROEJA –
Programa de Integração da Educação Profissional a Educação Básica na Modalidade de
Educação de Jovens e Adultos, em cursos de Ensino Médio Integrado e Subseqüentes e
em cursos superiores de tecnologia e de graduação.
O presente artigo, portanto, mostra a importância de materiais concretos em sala
de aula, indicando as possibilidades e potencialidades de seu uso especialmente na
educação profissional.
1 - Os conceitos de Interdisciplinaridade e Integração serão usados ao longo do texto tendo como principais referências, respectivamente, as obras de Fazenda (1991 e 2008) e Ramos (2008 e 2010).2 - Por material concreto entende-se um objeto ou um conjunto de objetos que podem ser visualizados e manipulados pelos educandos, tendo a função de materializar conteúdos e conceitos trabalhados ou a serem trabalhados.
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2 - Produção de materiais didáticos num contexto de mudanças na Educação
Profissional Brasileira
Desde 2003 mudanças importantes vêm ocorrendo em escolas que ofertam
educação profissional e tecnológica no Brasil. Dois grandes marcos dessas mudanças
foram o Seminário Nacional Ensino Médio: Construção Política e o Seminário Nacional de
Educação Profissional: Concepções, Experiências, Problemas e Propostas, ambos
realizados em Brasília, em junho de 2003, pela Secretária da Educação Média e
Tecnológica (MEC/SEMTEC).
A partir destes dois seminários toda a política de educação profissional no Brasil foi
repensada e explicitada em novas leis, pareceres e documentos e debatida em
seminários, congressos e conferências. Um dos primeiros documentos que resultou dos
debates realizados em 2003 foi o decreto 5154/2004, que revogou o decreto 2208/1997,
abrindo a possibilidade de oferta do Ensino Médio Integrado pelas escolas de educação
profissional e pelas demais escolas de Ensino Médio. A partir do decreto 5154/2004,
considerado por Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005) como um documento de “travessia”,
nasceram os decretos 5478/2005 e 5840/2006, os quais tratam da oferta da Educação
Profissional Integrada para Jovens e Adultos. Com o decreto 5840/2006 foi instituído o
PROEJA, que passou a ser ofertado compulsoriamente pelos CEFETs - Centros Federais
de Educação Profissional e Tecnológica.
No mesmo ano da publicação do decreto 5840/2006 foram realizadas nos estados
e no Distrito Federal as Conferências Estaduais de Educação Profissional e Tecnológica,
as quais foram preparatórias para a 1ª Conferência Nacional de Educação Profissional e
Tecnológica que ocorreu de 05 a 08 de novembro de 2006, em Brasília, reunindo
milhares de delegados, entre educadores, educandos, gestores, pais e outros segmentos
ligados ao debate sobre a educação profissional. O evento foi organizado pelo MEC em
conjunto com o Fórum Nacional de Gestores Estaduais de Educação Profissional e teve
como tema “Educação Profissional e Tecnológica como Estratégia para o
Desenvolvimento e a Inclusão Social”. A conferência teve como objetivo principal a
definição de diretrizes para uma nova política nacional de Educação Profissional e
Tecnológica, através do diálogo entre os diversos atores envolvidos.
Após a 1ª Conferência Nacional de Educação Profissional de 2006, novas
conferências foram realizadas em 2008 (1ª Conferência Nacional de Educação Básica –
CONEB) e 2010 (Conferência Nacional de Educação – CONAE).
Neste contexto de mudanças, outras duas medidas importantes foram adotadas
pelo MEC. A primeira foi o acordo fechado com o Sistema S (SENAI, SESC, SENAC,
SESI, SENAR, SENAT) visando à ampliação de vagas em cursos técnicos e a gratuidade
dos cursos de educação ofertados por esse sistema. A segunda medida foi a criação, em
dezembro de 2008, dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia,
substituindo grande parte dos antigos CEFETs.
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Todas as mudanças ocorridas na educação profissional e na educação básica nos
últimos anos, resultado de grandes embates políticos e pedagógicos, devolveram a
esperança a todos aqueles que há várias décadas vêm lutando por uma educação
profissional politécnica, integrada, pública, gratuita, de qualidade e voltada ao
aprendizado significativo e à emancipação dos diferentes sujeitos envolvidos nos
processos educativos. Por outro lado, estas mesmas mudanças ampliaram os desafios
dos educadores brasileiros e das escolas que ofertam educação profissional. Dentre os
maiores desafios estão a oferta de Educação Integrada para públicos diferenciados,
inclusive jovens e adultos.
Uma das principais dificuldades até aqui enfrentadas tem sido a materialização em
sala de aula das concepções e princípios preconizadas pelas diretrizes e políticas atuais
do MEC. Neste cenário, as experiências relativas à produção e utilização de materiais
didáticos na educação profissional podem contribuir bastante para a materialização da
perspectiva atual do MEC, que tem como foco o aprendizado significativo e como
princípio uma educação mais interdisciplinar e integrada.
3 - A construção e uso de materiais didáticos em sala de aula
Segundo Antunes (2002) é papel do professor estimular seus alunos a falar por
meio de múltiplas linguagens, sepultando a escola apenas textual e numérica. Neste
sentido, cabe ao professor fazer uso de materiais que ajudem a materializar abordagens,
temas e conteúdos com os quais está trabalhando ou pretende trabalhar. Isso pode ser
feito por meio de materiais didáticos concretos, seja para explorar conteúdos disciplinares
isoladamente ou para trabalhar temas e conteúdos interdisciplinarmente.
Os tópicos a seguir apresentam as possibilidades de trabalho com três protótipos.
O primeiro é um protótipo sobre a descoberta e utilização do fogo a partir da Pré-História,
o segundo é um protótipo sobre o uso do vapor desde a Antiguidade e o terceiro é o
protótipo de uma roda d’água. Um olhar mais aproximado sobre cada um deles mostra
que não é possível concebê-los e entendê-los em profundidade sem levar em conta os
conhecimentos específicos de diferentes áreas, sejam elas técnicas ou gerais.
3.1. O uso e a importância do fogo desde a Pré-História
Durante milhares de anos o homem da Pré-História buscou dominar o fogo. Iniciou
conservando o fogo produzido pelos raios e, em seguida, descobriu a técnica para
produzi-lo.
O fogo, dominado no período Paleolítico, entre 500 mil e 80 mil anos atrás, foi
fundamental para o desenvolvimento de novas técnicas e contribuiu para mudanças
sociais e culturais que são sentidas até nossos dias. Sem o fogo, o desenvolvimento
técnico-científico atual não teria ocorrido.
Visando mostrar a importância do fogo para a humanidade, o projeto “Produções de
Materiais Didáticos sobre a História das Técnicas” teve como um de seus objetivos
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produzir dois protótipos buscando estimular o debate sobre o tema. O primeiro deles
(figuras 1 e 2) mostra como o fogo era produzido no Paleolítico. Já o segundo mostra a
importância do fogo no Neolítico. Destes dois protótipos o escolhido para análise e
apresentação nesse artigo é o que trata do período Paleolítico.
Sobre o uso do fogo no Paleolítico foram escolhidas duas cenas: uma simbolizando
a produção do fogo a partir de raios e outra mostrando a técnica de produzir o fogo por
meio do atrito entre dois pedaços de madeira.
Figura 1: Simulação da produção do fogo por um raioFonte: Acervo de Adriano Larentes da Silva
A reprodução do fogo a partir de um raio (figura 1) mobilizou uma série de
conhecimentos e materiais específicos, além de necessitar de vários ajustes durante o
processo de construção do protótipo. O primeiro passo, a concepção de como seria feito,
envolveu conhecimentos ligados à Geografia e Física (como se formam os raios, trovões
e relâmpagos), às Artes (noção estética e desenho do relâmpago) e à Matemática
(escala, proporção, coordenadas cartesianas). O segundo mobilizou conhecimentos da
Mecânica e Automação (uso do CNC – Controle Numérico Computadorizado), da Física
(noções sobre eletricidade) e da Eletroeletrônica (ligação em paralelo, uso de
temporizador, fonte, cooler, interruptores e LEDs - Diodos Emissores de Luz). O produto
final é um raio que, quando acionado por meio de um interruptor, produz o fogo (simulado
com plástico e LED vermelho).
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Figura 2: Produção do fogo pelo Homem do PaleolíticoFonte: Acervo de Adriano Larentes da Silva
A segunda cena, presente no mesmo protótipo, mostra um boneco (simulando o
Homem do Paleolítico) que se movimenta e produz o fogo a partir do atrito entre dois
pedaços de madeira. A construção dessa cena (figura 2), a exemplo da anterior, também
mobilizou conhecimentos específicos relacionados à História (definição de como eram e
como se vestiam os Homens do Paleolítico), à Química (entendimento de como e a partir
de que materiais ocorre a combustão que produz o fogo), à Mecânica (desenho técnico
de mecanismo para simular a movimentação dos braços do boneco e transposição
posterior do desenho para o programa Solidwork) e Eletroeletrônica (escolha do motor
para acionamento do mecanismo visando movimentar os braços do boneco, ligação em
paralelo, uso de resistores para alcançar a velocidade desejada, acionamento por meio
de um interruptor e uso de diodo).
Ambos, raio e boneco, estão envoltos por um cenário de um tempo em que os
seres humanos ainda habitavam em cavernas, eram essencialmente nômades, cobriam-
se com peles de animais e produziam ferramentas de pedra lascada, ossos e madeira.
Neste momento histórico o fogo surge como elemento que permite aos seres humanos se
diferenciarem e dominarem os outros animais. É o momento em que, segundo Engels
(2009), o seres humanos se constituem como tal a partir do trabalho e da mediação com
a natureza. Com o fogo os homens podiam assar a carne, o que exigiria mandíbulas
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menos poderosas, fabricar novas ferramentas, espantar outros animais, aquecer e
iluminar os locais habitados.
Além disso, o domínio e a produção do fogo durante o Paleolítico exigiam um
conhecimento técnico-científico que conferia poder aqueles que detinham esse
conhecimento. Com o tempo, o fogo tornou-se objeto de disputas e guerras entre os
seres humanos, como mostra o filme “A Guerra do Fogo”, de Jean-Jacques Annaud e
como percebemos pelo mito grego de Prometeu, que roubou o fogo dos deuses para
repassá-lo aos seres humanos, sendo por isso castigado.
Como se pode perceber pelo exposto acima, a produção de um dos protótipos
sobre o fogo mobilizou uma série de conhecimentos específicos e poderia mobilizar
diferentes outros dependendo dos profissionais envolvidos. Se isso ocorreu na produção
do protótipo, o mesmo poderia se dar a partir da apresentação do protótipo pronto e do
trabalho com os educandos em sala de aula. Esta apresentação e trabalho poderiam
mobilizar os professores de todas as áreas visando explorar os conteúdos técnicos e
gerais ligados à descoberta, produção e conseqüências do uso do fogo em nossa
sociedade.
3.2 - A utilização do vapor desde a Antiguidade
Com a descoberta e domínio do fogo na Pré-História o Homem abriu caminho para
inúmeros avanços técnico-científicos. Entre esses avanços está o uso do vapor como
fonte de energia.
O uso do vapor, iniciado na Antiguidade, só iria se difundir a partir do século XVII
com os inventos de Thomas Savery, Denis Papin, Thomas Newcomen, e, principalmente,
de James Watt. Este último aperfeiçoou o motor a vapor de Newcomen aumentando sua
eficácia e estimulando sua utilização na indústria. O uso do vapor em larga escala
ocorreu a partir do século XVIII e marcou o início da Revolução Industrial na Inglaterra.
Na Antiguidade, um dos nomes mais conhecidos quando se fala de uso do vapor é
o do matemático e engenheiro grego Herón de Alexandria, que viveu no século I depois
de Cristo. Herón é o responsável pela primeira máquina a vapor inventada pelo homem: a
Aeolípile. Conforme mostra a imagem a seguir, a Aeolípile é um sistema simples de
geração de energia baseado no aquecimento de água em uma caldeira e de utilização da
pressão gerada pelo vapor para movimentar uma esfera.
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Figura 3: Aeolípile - a primeira máquina a vaporFonte: wikipedia.orgwikiFicheiroAeolipile_illustration.jpg
Reproduzir a Aeolípile e o seu princípio de funcionamento foi um dos objetivos do
projeto Produções de Materiais Didáticos sobre a História da Técnica. O processo de
construção dessa “máquina” da Antiguidade mobilizou conhecimentos de diferentes
áreas.
Um dos primeiros passos para sua construção foi uma investigação histórica sobre
como ela foi concebida e quais os seus usos na Antiguidade. Os dados levantados
mostram que este foi apenas um dentre tantos outros inventos de Herón de Alexandria. O
passo seguinte foi a busca de materiais para fabricar a Aeolípile, mobilizando
conhecimentos de Química e Mecânica (uso de gases, resistência de materiais,
soldagem). Para substituir o fogo na geração de pressão, em função dos riscos na
manipulação do protótipo em ambientes escolares e fechados, optou-se pelo uso de uma
bomba de ar comprimido (nesse caso pode se estabelecer relação com a Pneumática).
Com essa bomba o acionamento da esfera da Aeolípile ocorre a partir do movimento feito
com um dos pés, o qual gera a pressão necessária para movimentar a esfera (o
movimento relaciona-se diretamente à Física). Para simular o fogo foi usado uma
lâmpada e sua instalação exigiu conhecimentos sobre eletricidade e instalação elétrica.
Por fim, no processo de construção foram pesquisados textos em Português e Inglês e o
acabamento do protótipo mobilizou noções de Arte e Estética.
A imagem a seguir mostra em detalhes o protótipo da Aeolípile e o seu
funcionamento.
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Figura 4: Protótipo da Aeolípile e simulação de seu funcionamento
Fonte: Acervo de Adriano Larentes da Silva
Tomando o protótipo pronto como ponto de partida para uma abordagem
interdisciplinar é possível fazer inúmeras relações com conhecimentos específicos das
diferentes áreas do conhecimento. Nesse caso, o fio condutor ou o ponto de encontro das
disciplinas e áreas é a utilização do vapor ao longo da história. Trata-se, portanto, de uma
abordagem a partir de um tema, o Vapor, e da mobilização de conhecimentos
disciplinares para explicar um problema: qual o princípio de funcionamento do protótipo
da Aeolípile? Assim, o tema Vapor e a Aeolípile são o ponto de partida e o ponto de
chegada das diferentes disciplinas e áreas. Será o planejamento constante do grupo de
professores que possibilitará o maior ou menor aproveitamento no desenvolvimento de
diferentes atividades e que possibilitará aos educandos uma visão de totalidade a partir
do tema proposto e do protótipo apresentado.
3.3 - A História das Rodas d’Água
Usadas desde a Antiguidade as rodas d’água difundiram-se no Ocidente
principalmente durante a Idade Média e foram responsáveis pelo desencadeamento de
inúmeras transformações tecnológicas posteriores.
Segundo Philbin (2006), as rodas d’água mais primitivas constituíam-se de uma
série de potes cerâmicos atados a uma grande roda suspensa sobre água corrente. “A
força centrífuga impulsionava os potes cheios à parte mais alta da roda, onde o conteúdo
era despejado sobre uma vala rasa, permitindo que a água pudesse ser desviada para
uma localidade diferente, como, por exemplo, uma plantação” (PHILBIN, 2006, p. 13-14).
As primeiras rodas d’água foram desenvolvidas nos Bálcãs e na Ásia e chegaram à
região do mar Mediterrâneo por volta do século II antes de Cristo. Construídas 9
inicialmente na posição horizontal, as rodas utilizavam a força das correntezas para se
movimentarem. De acordo com Bayerl (2005), o funcionamento na horizontal fazia com
que sua utilização se restringisse às regiões montanhosas. A solução para essa limitação
veio com a construção de rodas d’água com pás na vertical.
A partir do século IX, as rodas d’água já dominavam a paisagem de vários países
europeus, sendo utilizadas em moinhos, na retirada de água de poços, na movimentação
de foles usados na metalurgia e para diversas outras aplicações.
Fazer um protótipo sobre o uso das rodas d’água foi um dos objetivos do projeto
Materiais Didáticos sobre a História das Técnicas. A intenção era construir uma pequena
roda d’água didática, que pudesse ser levada para sala de aula e auxiliasse na
abordagem de temas ligados à formação geral e à educação profissional. Ao final foram
construídas duas pequenas rodas d’água e um moinho colonial. Dessa tarefa se
encarregaram dois grupos de educandos do curso de PROEJA Eletromecânica sob a
orientação do coordenador do projeto acima referido. O objetivo foi experimentar a
produção de materiais concretos na prática da sala de aula. O trabalho foi desenvolvido
durante as aulas da unidade Projeto Integrador I, no segundo semestre de 2009 e no
primeiro semestre de 2010 e aprofundou os temas abordados na unidade Ciências
Humanas I.
O estudo sobre as rodas d’água instigou o senso de investigação científica e a
criatividade dos educandos, além de estimular a leitura e a escrita e permitir o
aprofundamento do conhecimento histórico sobre as rodas d’água e sua aplicação em
moinhos desde a Antiguidade. A construção das rodas d’água e do moinho colonial exigiu
dos educandos conhecimentos de História, Matemática, Física, Artes, Português,
Mecânica, Geografia, entre outras disciplinas. A imagem abaixo mostra a apresentação
dos materiais concretos em sala de aula por educandos do curso de Eletromecânica.
Figura 5: Apresentação da História das Rodas d’água e moinhos – julho 2010Fonte: Acervo de Adriano Larentes da Silva
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4 - Considerações Finais
A construção dos protótipos relacionados ao fogo, ao vapor e às rodas d’água mostrou
a importância desses materiais no cotidiano das escolas de educação profissional. É
interessante notar que a iniciativa que partiu de um grupo de professores logo envolveu
diferentes outros.
Além disso, o projeto permitiu o diálogo entre professores do Instituto Federal com
professores de outras instituições de ensino de Santa Catarina. Em maio e junho de 2010
o trabalho com materiais concretos foi realizado, na unidade curricular Processos
Pedagógicos, com professores de ensino fundamental e médio que freqüentavam a
especialização em PROEJA no Instituto Federal, Campus Continente, em Florianópolis e
Campus Chapecó. Avaliações posteriores ao uso desses materiais em sala de aula
mostram que estes contribuíram para que os professores, educandos da Pós em
PROEJA, refletissem sobre suas práticas e, inclusive, buscassem construir e utilizar
materiais concretos nas escolas onde atuam.
É interessante notar que a produção de materiais concretos é uma maneira de
mobilizar educandos e educadores para o desenvolvimento da pesquisa, do raciocínio
lógico-matemático, histórico-espacial, da leitura e da escrita, bem como é uma
possibilidade concreta de aproximar professores da formação geral e professores da
formação técnica.
Trata-se, portanto, de uma estratégia que pode ser usada no cotidiano das escolas e
das salas de aula e que tende a ser bem sucedida quando sustentada por uma
concepção pedagógica voltada ao aprendizado significativo e à emancipação e quando
planejada e implementada coletivamente com o envolvimento dos diferentes profissionais
que fazem a escola e os sujeitos para os quais a escola existe: os educandos.
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Responsabilidade de autoria As informações contidas neste artigo são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões nele emitidas não representam, necessariamente, pontos de vista da Instituição e/ou do Conselho Editorial do IF-SC.
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