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2011 Otavio Bernardes Dia de Campo - Sítio Paineiras da Ingaí 18/06/2011 Produção intensiva de leite a pasto

Produção intensiva de leite a pasto - ingai.agr.br · desenvolver um projeto de ciclo ... a existência dos seguintes modelos de exploração leiteira: Sistema Extensivo ou

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2011

Otavio Bernardes

Dia de Campo - Sítio Paineiras da Ingaí

18/06/2011

Produção intensiva de leite a pasto

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Paineiras da Ingaí Alambari-SP -2011

Em 18/06/2011 foi realizado um Dia de Campo no Sítio Paineiras da Ingaí em Alambari-SP ocasião que fizemos uma breve apresentação do que, porque, como conduzimos nossa atividade, bem como procuramos resgatar e apresentar os resultados que vimos que obtendo. A fim de que pudessem os visitantes e mesmo aqueles que não puderam estar presentes, registrar os dados e informações apresentados, reunimos os assuntos abordados neste pequeno relatório no sentido de permitir que nossas experiências, erros e eventuais acertos possam ser confrontados e, quem sabe, ser de alguma utilidade. Incluimos no presente um breve texto sobre produção intensiva de leite a pasto, base do manejo no Sírio Paineiras da Ingaí, extraído de uma apresentação que fizemos num curso promovido pelo Sebrae a produtores leiteiros há alguns anos.

Otavio Bernardes

Origens Nosso rebanho tem origem na exploração iniciada por Wanderley Bernardes em 1973 inicialmente no Vale do Ribeira (Sete Barras, Eldorado e Miracatu) que teve por base 117 fêmeas adquiridas em 9 propriedades entre mestiças mediterrâneas e murrahs sobre as quais se promoveram cruzamentos absorventes, tendo sido utilizados 37 touros na produção de 3.335 crias até hoje. Entre 1973 e 1983, houve uma expansão do rebanho com seleção apenas por questões sanitárias face à baixa disponibilidade de fêmeas para aquisição. Em 1983, o rebanho foi transferido para propriedade em Sarapuí-SP, e se iniciou um processo de seleção baseado na caracterização racial, grau de sangue, velocidade de crescimento e produção leiteira. O manejo alimentar passou a ser baseado na administração de forrageiras picadas em regime de semi-estabulação (napier), tendo havido várias experiências de suplementação com resultados inconsitentes. Em 1989 o rebanho passou a ser submetido a uma segunda ordenha diária e a receber regularmente uma maior quantidade de concentrados, focando o processo seletivo na produtividade leiteira então aferida pela Capacidade Provável de Produção. Este manejo permitiu a identificação de animais de elevado nível produtivos, com algumas matrizes ultrapassando picos diários de 20 kg e produções superiores a 4 mil kg por lactação. Em 2000, com o falecimento de Wanderley, foi adquirido o Sítio Paineiras da Ingaí, na vizinha cidade de Alambari, com 38 alqueires (92 ha), sendo 50 ha destinados à exploração de um rebanho inicial de 34 matrizes entre as mais produtivas disponíveis com médias produtivas acima de 3 mil kg de leite e filhas de 13 touros diferentes. Agregados a este contingente haviam ainda mais 42 novilhas entre maiores e menores, 9 bezerras, e 42 machos entre touros 92), garrotes e bezerros. A fim de assegurar maior aproveitamento do material genético disponível, optamos por desenvolver um projeto de ciclo completo com cria, produção de leite e produção de animais para reprodução e, ainda, enviando os melhores exemplares para coleta de sêmen em parceria com a Fazenda Laguna em Paracuru-CE, cujo rebanho tem origem integral do rebanho de Wanderley e com quem mantemos uma parceria operacional desenvolvendo um programa conjunto de avaliação genética. O projeto inicial previa a exploração de um rebanho com 60 matrizes, o que, com os animais de cria e recria representariam 202 animais (165 UA), demandando um suporte médio de 3,3 UA/hectare, muito superior ao suporte médio regional que varia entre 0,8 e 1,0 /hectare , diante do que, a opção de manejo adotada foi a exploração intensificada das pastagens adotando-se critérios e princípios a seguir apontados.

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Produção intensiva de leite a pasto

A despeito de ocupar milhões de pessoas, a atividade leiteira vem, há muitos anos, enfrentando sucessivas “crises” que resultaram em praticamente inviabilizar a forma tradicional de exploração que se praticava no setor, que vem vendo cada vez mais reduzidas suas margens de lucro, e com freqüência, encerrando grandes prejuízos, o que têm levado a muitos produtores a abandonar a atividade. Os fatores estruturais da atividade de certa forma somente contribuem para agravar a situação posto que, com a “globalização” dos mercados e do grande subsídio dado a seus produtores locais, os países ricos produzem grandes excedentes de produção que lançam no mercado externo reduzindo substancialmente a cotação do produto no mercado internacional. No âmbito interno, o leite, gênero de primeira necessidade e portanto, de peso significativo na cesta básica da população, é sistematicamente controlado pelo governo, direta ou indiretamente, no sentido de viabilizar seu consumo pela população e para não pressionar os índices inflacionários, o que o faz através da importação do produto nos momentos de escassez, deprimindo seu preço e o deixa em “queda livre” nos momentos de maior oferta. Existem exemplos bem sucedidos, como o da Nova Zelândia, que buscou caminhos alternativos para reduzir substancialmente os custos de produção e assim, fazer frente à baixa cotação do produto. Ocorre que naquele país, apenas 5% do leite se destina ao mercado interno, sendo o restante após transformação industrial, destinado à exportação. Tal situação lhes permite produzir o leite sazonalmente, buscando fazer coincidir as parições com épocas de abundância de pastagens e secando os animais no período mais desfavorável. Fernando S. Jank nos aponta, de forma esquemática, a existência dos seguintes modelos de exploração leiteira: Sistema Extensivo ou Modelo Caboclo: usualmente utilizando gado mestiço, baseada em

pastejo extensivo, com poucas divisões de pastos, com baixa lotação, utilizando mão de obra pouco treinada, instalações rústicas, ordenha manual e leite não refrigerado.

Pastejo rotacionado com baixa tecnologia: utiliza gado mestiço, mão de obra pouco qualificada, pouco investimento em instalações e equipamentos, baixa utilização de insumos externos;

Pastejo rotacionado com alta tecnologia: utiliza gado puro, mão de obra qualificada, instalações e equipamentos de ordenha sofisticados e refrigeração, concurso de insumos externos (adubação, concentrados, etc.)

Sistema Intensivo ou Modelo Americano: utiliza gado puro, baseada em confinamento total, com alimentação produzida e/ou comprada, produzida em pequenas áreas e distribuída no cocho, utiliza mão de obra altamente qualificada, instalações sofisticadas, ordenha mecânica e refrigeração de leite.

Cada um destes modelos, apresentados em ordem crescente de intensificação da exploração, é adotado em função da realidade de cada criatório e visa, face aos recursos e conhecimento disponíveis dos produtores, buscar a sustentabilidade da atividade, o primeiro por redução de custos e o último, pelo aumento da produção (e redução proporcional de custos fixos).

Propriedade50%

Infra-Estrutura e

Construções divs15%

Construções para Gado

10%

Veículos e Equipament

os12% Pastagens

4%Rebanho

9%

Investimentos

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Nossa discussão será centrada nos modelos baseados na utilização de pastagens como base da exploração e nas estratégias de intensificação de sua utilização visando ampliar a rentabilidade da exploração. Componentes de Custo na Exploração Leiteira Como se observa no gráfico abaixo, que representa os investimentos para implantação de uma

propriedade destinada à exploração leiteira de búfalas e recria (93 ha de área total, sendo 50 ha utilizáveis), na região de Sarapuí-Alambari, sudoeste do estado de São Paulo, a terra é o item de custo relativo mais elevado.

Sendo um elemento limitado, a expectativa é de que o peso relativo da terra se torne cada vez maior, seja pela redução de tamanho que se vem observando ao longo dos anos das propriedades rurais, seja pela pressão da legislação ambiental que vem limitando cada vez mais seu uso, seja pelo alto valor agregado de outras formas de exploração, como algumas

culturas, principalmente de exportação que com seu maior rendimento por área utilizada tem empurrado as fronteiras, principalmente da pecuária, para regiões de terras mais baratas ou de maior dificuldade operacional de exploração destas mesmas culturas. Uma alternativa para a pecuária é, pois, procurar aumentar a produtividade por área utilizada (intensificação do uso da terra).

Na exploração da atividade leiteira, a alimentação do rebanho representa o mais expressivo elemento na composição dos custos gerais de produção de leite, no caso, de 42% (em geral, cerca de 40-50%), sendo a produção dos volumosos o item de maior peso relativo. Enquanto elemento indutor do aumento da produção, uma maior eficiência na produção de volumosos permite ou o maior consumo por animais com maior potencial produtivo, ou uma maior lotação de animais menos produtivos, sendo que em ambos os casos o efeito resultante será uma maior produção por área e, conseqüentemente, um menor custo relativo dos componentes fixos de produção (mão de obra, manutenção, depreciação, manejo,etc.) Se considerarmos apenas os componentes variáveis do custo de produção leiteira, verificamos que os volumosos representam 60% dele e assim, com objetivo de “intensificar” a produção, ele é o elemento essencial a ser abordado. Com relação aos alimentos, a tabela abaixo, apesar de elaborada com informações de 1994, aponta o custo de produção de alguns tipos de volumosos utilizados na alimentação de rebanhos leiteiros. Observa-se que a cana e as pastagens (apesar de adubadas), representam o menor custo relativo por tonelada de matéria seca produzida, sendo as gramíneas as fontes mais econômicas de proteínas (PB) e energia (NDT). Em função disto, sobre o manejo das pastagens repousa a base do processo de intensificação da exploração leiteira e sobre ela iremos tecer algumas considerações.

Volumosos28%

Concentrados

13%Suplementos

1%

Mão de Obra24%

Manutenção12%

Administ.5%

Manejo5%

Depreciação12%

Composição Custos de Produção Leite -2001

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Base:1994

Parâmetros Custo da MS

MS t/ha %PB %NDT R$ t/MV R$ t/MS R$ t/PB R$ t/NDT

SILO MILHO 12 8,25 62 31,72 99,12 1.201,45 159,87

SILO SORGO 15 7,00 60 26,20 81,89 1.169,86 136,48

SILO NAPIER 19 4,00 44 13,36 89,06 2.226,50 202,41

MILHETO 9 11,00 60 11,73 78,18 710,73 130,30

AVEIA 6 14,00 55 16,67 92,60 661,43 168,36

CANA 25 3,80 43 13,50 45,00 1.184,21 104,65

NAPIER ROTAC. 19 12,00 56 8,21 54,73 456,08 97,73

BRACH ROTAC. 15 7,60 51 7,57 50,50 664,47 99,02

O ecossistema da pastagem A gramínea, para seu crescimento, necessita de quatro fatores básicos: a umidade, promovida pelas chuvas e mantida no solo de acordo com suas características físicas e de cobertura; a temperatura; a luminosidade (duração do dia) e dos nutrientes disponíveis no solo. Em seu desenvolvimento, a planta apresenta um ciclo vegetativo, no qual emite perfilhos, as folhas e as hastes se alongam, e a planta acumula reservas em suas raízes (carbohidratos- açucares), quando cortadas, voltam a repetir tal ciclo. Numa certa época do ano, a planta altera seu comportamento, priorizando suas reservas para sua própria reprodução, entrando em inflorescência e emitindo sementes.

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Os animais (e outros consumidores como as “pragas”) consomem parte das plantas, sendo a que a parte não consumida “envelhece” e é depositada no solo. Os mesmos animais, aproveitam apenas parte do alimento ingerido com o qual se desenvolvem e produzem leite, sendo que parte do alimento não utilizado, além dos produtos de seu metabolismo, é excretado através das fezes e urina que retornam ao solo. Tais detritos (dejetos animais e folhas senescentes, além de restos de microorganismos do solo) podem ser perdidos pela erosão ou lixiviação, dependendo das condições do solo, sendo o restante decomposto por ação de microorganismos (matéria orgânica), passando posteriormente por um processo de mineralização, forma que lhes permite serem novamente utilizadas pelas plantas. Parte dos nutrientes mineralizados são “fixados” através de processos químicos no solo e, somente através de outros processos químicos e biológicos, denominadas temperização, voltam a se tornar disponíveis às plantas. O concurso de fertilizantes solúveis são também outra fonte de nutrientes às plantas.

A otimização da atividade de cada um destes elementos e sua melhor integração irão resultar numa maior produtividade das pastagens e, conseqüentemente, maior oferta de alimentos aos animais que, por sua vez, levará a uma maior produção animal, elevando a produtividade do sistema como um todo. O ciclo de produção da pastagem. Esquematicamente, poderia ser representado pela figura abaixo:

O Solo – fertilidade e manutenção O solo é a base na qual se instalam as pastagens e que dele extraem a maior parte dos nutrientes necessários ao seu crescimento. A despeito de suas características naturais de profundidade, capacidade de drenagem, compactação, propriedades físico-químicas (arenosos, argilosos, encharcados, etc.), ele é passível de certo grau de manipulação visando elevar sua fertilidade natural, reduzir suas perdas (erosão) ou a perda de nutrientes (lixiviação, escorrimento), além de medidas visando a manutenção de sua fertilidade, evitando assim sua degradação, permitindo às gramíneas implantadas a otimização e sustentação de sua produtividade. A tabela abaixo nos dá uma idéia da quantidade de nutrientes extraída do solo para um alto nível de produção das gramíneas citadas, obtida através de calagem e adubação, com cortes a cada 60 dias seguidos de fertilização:

Extração de nutrientes do solo cf. produção de matéria seca

Espécies Nome

comum

t MS

ha/ano

N

kg/t

MS

P

kg/t

MS

K

kg/t

MS

Ca

kg/t

MS

Mg

kg/t

MS

P.purpureum Napier 28,2 12,0 2,6 20,0 3,8 2,5

P.maximum Colonião 25,8 12,5 1,9 15,8 6,5 4,3

D.decumbens Pangola 26,5 12,6 2,0 15,1 4,6 2,8

B.mutica Angola 26,9 12,8 1,8 16,0 4,8 3,3

B.ruziziensis Ruziziensis 33,5 10,2 1,6 13,4 4,6 2,3

C.nlemfuensis Estrela 28,3 13,7 2,3 16,8 5,3 1,9

M.minutiflora Gordura 14,8 15,7 2,4 15,7 4,2 3,3 Adaptado de Vicente-Chandler,1974

Podemos observar, por exemplo, que para produção de 26,5 t de MS-matéria seca por ano de Pangola, cerca de 330 kg de N-nitrogênio são extraídos anualmente do solo (equivalente a 725 kg de uréia/ano), 53 kg de P-fósforo, equivalentes a 294 kg de superfosfato simples e 400 kg de K-potássio, equivalentes a 667 kg de cloreto de potássio. Parte destes nutrientes é naturalmente “reposta” através da reciclagem de detritos, folhas velhas decompostas e de dejetos animais (fezes e urina), além da ação dos microorganismos do solo. Caso, porém, a

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“reciclagem” não ocorra na mesma velocidade de sua extração, resultará numa oferta deficiente de um ou mais componentes e isto levará a uma redução no desenvolvimento das gramíneas e ao aparecimento de plantas resistentes a estas deficiências (invasoras), que irão competir com o pasto, levando à sua degradação. A estrutura física do solo também contribui na manutenção de sua fertilidade e conseqüentemente, na produção das gramíneas. Solos compactados, seja pela ação de excessiva carga animal, seja pelo transito elevado de equipamentos, impedem a permeabilidade do solo, sua aeração e levando à uma dificuldade na penetração das raízes, na movimentação dos nutrientes e da proliferação da microflora do solo. Solos mal drenados, encharcados, são limitantes ao crescimento de muitas espécies de gramíneas. Solos muito arenosos, usualmente pobres em matéria orgânica, perdem nutrientes mais facilmente. Destacamos algumas medidas que podem ser aplicadas neste aspecto, visando elevar e manter a fertilidade dos solos. Estrutura física:

Drenagem: solos encharcados são limitantes ao crescimento de muitas espécies e sua drenagem favorece seu crescimento e evita a instalação de pragas. Combate à erosão: Áreas em declive, solos desnudos, ausência de quebra-ventos são fatores que favorecem a “perda” de solo ou a lixiviação (“lavagem”) dos nutrientes. Medidas como cordões de nível e terraceamento em áreas com maior declividade e manutenção de cobertura morta (palhas), por exemplo, colaboram na manutenção da agregação de suas partículas, evitando perdas. Outra forma de erosão é a causada pela ação dos ventos, que pode ser minimizada com adoção de renques ou quebra ventos. Redução da compactação (aeração): solos muito cultivados ou com lotações excessivas tendem a se compactar, o que dificulta a penetração de água e ar no solo, dificultando o crescimento dos microorganismos necessários à reciclagem de nutrientes, bem como reduzem a permeabilidade do solo, dificultando a distribuição dos nutrientes. Medidas mecânicas (como a aração ou sub-solagem) ou mesmo utilização de culturas adequadas (com raízes profundas por exemplo) colaboram para reduzir tal compactação. A manutenção da umidade do solo, seja pela manutenção de cobertura morta, seja pela irrigação, seja pela adoção de quebra-ventos (reduzindo a evaporação).

Composição Química

É comum observarmos indicações de espécies mais ou menos “resistentes” a determinados níveis de deficiência de um ou outro elemento mineral, como, por exemplo, da maior tolerância das braquiárias aos solos ácidos. É importante compreender, porém, que na ausência de um perfeito equilíbrio de nutrientes a planta “sobrevive” (nível crítico de nutrientes), mas não expressa seu potencial máximo de produção (nível ótimo de nutrientes). Para uma produção intensificada, é necessário oferecer à gramínea a quantidade ótima de nutrientes. Os solos brasileiros são reconhecidamente pobres em alguns nutrientes, particularmente em fósforo e em muitas regiões, de alguns micronutrientes específicos, como o zinco, cuja deficiência resulta num menor crescimento das pastagens. A correção destas carências, identificadas em função da análise particular do solo de cada propriedade ou mesmo de cada “talhão”, permite a produção maximizada da gramínea. A tabela abaixo dá uma indicação do potencial produtivo em relação a cada nutriente em particular:

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Classe Produção relativa % pH V %

P

mg/dm3

S

mg/dm3

K mmol/

dm3

Ca

mmol /dm3

Mg

mmol /dm3

B

mmol/ dm3

Cu

mmol/ dm3

Zn mmol/

dm3

Muito baixa <70 <4,3 <25 <5 <0,7

Baixa 70-90 4,4-5,0 26-50 6-12 <4 0,8-1,5 <3 <4 <0,2 <0,2 <0,5

Média 90-100 5,1-5,5 51-70 13-30 5-10 1,6-3,0 4-7 5-8 0,2-0,6 0,3-0,8 0,6-1,2

Alta >100 5,6-6,0 71-90 31-60 >10 3,1-6,0 >7 >8 >0,6 >0,8 >1,2

Muito Alta >100 >6,0 >90 >60 >6,0

Adaptado de Van Raij. Et al. (1997)

Acidez A acidez é limitante para o crescimento de diversas espécies de gramínea que muitas vezes, apesar de tolerantes a solos ácidos, nele não são capazes de expressar sua capacidade máxima de produção. A calagem, além de corrigir a acidez, é fonte de cálcio e magnésio, e neutraliza os efeitos tóxicos do excesso de alumínio dos solos ácidos. A maioria das pastagens não aumenta a produção apenas com a correção da acidez, mas sem ela, também fica limitada a resposta a adubações. Medida através do pH do solo pode, mantém estreita correlação com a denominada “saturação de bases” (V%). A despeito de algumas espécies de gramíneas serem tolerantes a solos com pH em torno de 4,0 (ou V% em torno de 35-40%), a produção somente será otimizada quando o pH atingir níveis próximos de 5 ou 5,5 e a saturação de bases ultrapassar os 70%, o que pode ser obtido através da calagem.

Fósforo Elemento carente na maioria dos solos brasileiros é, portanto um dos maiores limitantes na produção de pastagens em nosso meio. Considera-se necessário, de um modo geral, buscar atingir níveis em tono de 20 a 30 ppm do elemento na camada de 0-20 cm de solo. Como referencia, pode-se considerar que em solos arenosos, são necessários cerca de 50 kg de superfosfato simples por hectare para elevar seus níveis em 1 ppm. Corsi recomenda que para início de trabalhos em pastagens intensivas deveria se buscar atingir pelo menos 10 ppm de fósforo. Para produção considera-se a necessidade de reposição de 2 a 2,5 kg de fósforo por tonelada de MS a ser produzida. Potássio A composição relativa dos elementos químicos do solo com cargas positivas (cátions), é expressa na análise do solo como capacidade de troca catiônica (CTC). Recomenda-se que o teor de potássio no solo se situe entre 3-5% do CTC, sendo necessário cerca de 1.600 kg de cloreto de potássio por hectare para elevação de 1 meq de potássio (ou 4 kg de cloreto de potássio para elevar 1 ppm). Para produção, considera-se a necessidade de 15 kg de potássio por tonelada de MS a ser produzida (20 kg em capineiras).

Nitrogênio Constitui-se em elemento fundamental para produtividade mais elevada das pastagens e, para sua eficiente utilização, além de condições físicas adequadas (umidade, temperatura, etc), necessita do equilíbrio dos demais nutrientes, inclusive micronutrientes. Nestas condições, a produção das pastagens apresenta uma resposta praticamente linear à quantidade de adubação nitrogenada aplicada até pelo menos 400 a 800 kg de nitrogênio (N) por hectare, lembrando que a uréia, por exemplo, possui 46% de nitrogênio em sua composição, e a resposta varia de cerca de 40 a 70 kg de matéria seca produzida por kg de nitrogênio aplicado (50 kg em média). Seu uso permite ainda acelerar a maturação das gramíneas (reduzindo a duração de seu ciclo produtivo). Outros elementos Outros elementos tais como cálcio, magnésio, enxofre e micronutrientes, muitas vezes aplicados de forma conjunta com as adubações principais (cálcio e magnésio, na calagem,

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enxofre, contido no super simples, etc.), também são fatores limitantes e necessitam de reposição.

Matéria Orgânica

A matéria orgânica do solo, usualmente mais baixa nos solos arenosos, é fator fundamental na manutenção do equilíbrio da microvida nele existente que, por sua vez, é essencial na reciclagem e mineralização dos nutrientes, forma pela qual podem ser os mesmos aproveitados pelas plantas. Estima-se que um solo com 1,5% de matéria orgânica, com taxas de mineralização de 1 a 5% ao ano forneceria cerca de 20 a 90 kg de nitrogênio por hectare às plantas. Porém, na ausência de reposição, haverá o consumo de carbono à taxa de 5-10% ao ano, que por sua vez, reduziria a fertilidade em solos não adubados.

Sua origem pode ser dos próprios restos de plantas que envelhecem, dos dejetos animais e mesmo serem obtidos por práticas tais como a adubação verde (leguminosas), aplicação de compostos, etc. A manutenção de restos de folhas, distribuição de compostos ou dejetos (chorume, urina, estercos), por exemplo, contribuem para elevar o teor de material orgânico no solo.

Outra forma de reposição dos nutrientes extraídos com a produção é a utilização de fontes orgânicas de nutrientes tais como compostos, palhas, dejetos, etc que, apesar de não disponibilizarem imediatamente nutrientes para as plantas, através de sua mineralização paulatina, representam importante fonte de nutrientes a médio e longo prazos, além de contribuírem de forma significativa na manutenção da fertilidade do solo. Por vezes, por não possuírem todos os componentes necessários, a ela são adicionados fertilizantes químicos, tanto para evitar a volatização de componentes (como o nitrogênio), quanto para complementar os nutrientes faltantes.

Reciclagem de nutrientes no solo Como vimos anteriormente, para uma maior produção de pastagens, uma quantidade significativa de nutrientes é extraído do solo e que, caso não haja uma reposição adequada, resultará numa deficiência dos mesmos, levando à degradação da pastagem com surgimento de “invasoras” e até o desaparecimento das gramíneas. Alguns destes nutrientes são passíveis de reposição através de diversos processos tais como a ação dos microorganismos do solo sobre as “reservas” intemperizadas ou na mineralização da matéria orgânica; pela decomposição da matéria orgânica disponível, cuja velocidade depende, entre outros fatores, de uma relação otimizada da relação carbono/nitrogênio do material disponível; da presença de plantas que “extraem” e fixam o nitrogênio atmosférico e os disponibiliza às plantas (como as leguminosas); aplicação de insumos externos ao sistema (fertilizantes e corretivos). Uma fonte importante na reciclagem de nutrientes é representada pelas “sobras” de pasto que envelhecem e sobre ele são depositadas sofrendo um processo de decomposição e posterior mineralização. Tais “palhas”, são ricas e carbono e necessitam da presença de nitrogênio para uma maior eficiência e velocidade de decomposição. Os dejetos animais (urina e esterco) por sua vez, são gerados em quantidade significativa já que a eficiência de conversão por exemplo de uma vaca leiteira é relativamente baixa posto que apesar de consumir cerca de 16-18 kg de matéria seca por dia (2,5 a 3,0% do peso vivo), mesmo com uma produção de 20 litros de leite/dia, apenas 2-2,5 kg de matéria seca são “exportados”, sendo o restante eliminado e, potencialmente, poderiam voltar para as pastagens.

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Barrow, em 1987, verificou que 60 a 99% dos nutrientes ingeridos retornam ao pasto sob forma de excreta. Por outro lado, Sagger verificou que em áreas de topografia acidentada, 60% das fezes e 55% da urina foram depositadas em áreas de descanso, cobrindo entre 15 e 31% da área de pastagem e outrao trabalhos mostram que 25% do total de dejeções pode ter efeito inexpressivo na reciclagem, sendo depositados em estábulos, corredores, área para bebedouros e sombras. Verificou-se ainda que, com taxas de lotação de 3 animais/ha a área coberta anualmente pelas dejeções poderia ser de 23% da pastagem num ano. Porém, cerca de 46% da área poderia ser afetada pela excreta pois a área de influência da urina é cerca de 2 vezes a área molhada, e das fezes de 1 a 6 vezes a área por ela coberta Em condições de deficiência de nutrientes, além de uma menor produção, a planta ainda terá uma composição relativa deficiente resultando em carência nos animais.

Elemento Folhas Normais % Folhas deficientes %

N 1,13 - 1,50 0,75 - 0,79

P 0,08 - 0,11 0,05 - 0,08

K 1,43 - 1,84 0,39 - 1,17

Ca 0,40 - 1,02 0,29 - 0,84

Mg 0,12 - 0,22 0,05 - 0,07

S 0,11 - 0,15 0,08 - 0,11

Limitação sazonal da utilização da pastagem

A despeito de sua economicidade, a pastagem apresenta durante o ano período de forte limitação de sua utilização, em função da redução da oferta dos fatores básicos de desenvolvimento (luz, umidade e temperatura, principalmente), além da passagem de um ciclo de crescimento (vegetativo), para um ciclo reprodutivo. O gráfico ao lado mostra a produção relativa de pastagens durante o ano, onde se observa que de maio a outubro a taxa de acumulação de forragem (kg de matéria seca/ ha /dia), decresce significativamente, ao mesmo tempo que as temperaturas mínimas caem de 18-20ºC para cerca de 10-13ºC e, da mesma forma, o volume de chuvas é muito baixo. Desta forma, ao falarmos de produção de leite “a pasto”, ficamos restritos em nosso meio ao período em que as condições do ambiente permitem sua produção. Assim sendo, caso não utilizemos alguma estratégia de suplementação de volumosos no período de baixa produção de forrageiras, e, sendo a atividade leiteira contínua durante o ano, seriamos obrigados a estabelecer a lotação em função da época de menor oferta, e teríamos sobras de pastagens durante o período de maior oferta, resultando em baixa eficiência da exploração.Entre as estratégias utilizadas para o período seco estão: manutenção de capineiras, uso de cana de açúcar, diferimento de pastagens, silagens, fenos, substituição por concentrados, aquisição de volumosos, etc.

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Mesmo durante o período favorável, a produção de pastagens também não é uniforme, como se verifica no gráfico abaixo:

O crescimento das gramíneas durante o ciclo vegetativo, ocorre em três fases distintas: no primeiro terço, há um crescimento muito lento, com surgimento dos perfilhos; no segundo terço, o crescimento de acelera e se observa grande cobertura vegetal e, finalmente, há um grande elongamento das folhas e hastes, o que se denomina “labareda de crescimento”. Linehan, numa experiência clássica em que avaliou a produção de matéria verde de uma pastagem cujo ciclo de crescimento era de 30 dias, verificou o seguinte comportamento:

A utilização da pastagem após seu crescimento máximo, por si só, caso persistam as condições de rebrota normais, asseguram uma oferta máxima de alimentos. Imaginando-se um período total de 60 dias de pastoreio em que os animais tivessem acesso à mesma área de pastagem em intervalos de tempo diferentes (cada 10, 20 ou 30 dias). Neste caso, caso a rebrota tivesse o mesmo comportamento a cada período, conforme apontado no gráfico acima, a oferta de alimentos para o gado em cada situação seria: a) A cada 10 dias: 6 vezes 660 kg = 3.960 kg. b) A cada 20 dias: 3 vezes 2.900 kg = 8.700 kg. c) A cada 30 dias: 2 vezes 6.500 kg = 13.000 kg.

Período Kg/ha/dia

1-10 d 66

11-20 d 224

21-30 d 360

-50

100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800 850

Produção de kg MV/ha/dia rotacionado

primavera verão outono40 dias repouso 32 dias repouso 29 dias repouso 25 dias repouso 28 dias

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Ou seja, respeitando-se o “ciclo” da gramínea, ofertando uma parcela de pasto após a “labareda de crescimento”, ofertamos pelo menos 3,3 vezes mais alimentos do que se o pasto tornar-se disponível logo após a fase inicial de crescimento lento (como ocorre em pastejo contínuo ou com poucas divisões). Variações Qualitativas das Pastagens

Como anteriormente citado, as gramíneas possuem dois ciclos marcantes de desenvolvimento, o vegetativo e o reprodutivo. Na passagem de um ciclo para outro, mudanças significativas na sua composição ocorrem, o que pode ser observado no quadro abaixo: Ou seja, na mudança do ciclo vegetativo para o reprodutivo, as plantas vão perdendo qualidade nutricional, seja por redução da digestibilidade (mais talos, mais fibras, mais lignina), seja por redução dos nutrientes (menos minerais, menos, energia e menos proteína). Assim sendo, em função da idade da planta, a qualidade da pastagem varia, conforme ilustrado na tabela a seguir:

A tabela a seguir, ilustra o potencial nutritivo de uma pastagem em função da quantidade de folhas (em relação aos talos) que a mesma possui e do estágio de desenvolvimento da planta:

Espécie

fase

PB (%)

NDT %

FB %

B.decumbens

Vegetativo

12,2

57,6

23,8

Início floração

11,3

55,3

28,8

Inflorescência

7,6

51,2

33,2

Braquiarão

Vegetativo

13,9

59,3

20,7

Inflorescência

5,0

50,7

30,0

Colonião

Vegetativo

16,6

53,2

25,7

Início floração

9,6

51,6

37,7

Inflorescência

7,6

50,3

39,0

Napier

35 dias

12,0

56,1

28,0

45 dias

8,2

50,1

32,0

66 dias

7,0

48,1

33,7

120 dias

6,5

47,2

36,0

Diminui relação folhas/hastes

Aumento do teor de fibras

Redução no teor de proteína

Redução do teor de energia

Redução da digestibilidade

VEGETATIVO

Crescimento perfilhos

Alongamento folhas/hastes

Aumento IAF (folhas)

Acúmulo reservas

Senescência

REPRODUTIVO

Florescimento

Produção Sementes

Germinação

Composição de gramíneas conforme estágio do ciclo da planta

Fonte: Normas e Padrões de Nutrição e Alimentação Animal - Revisão 85/86 (Nutrição-Editora e Publicitária)

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Porcentagem de folhas, teores de PB, FDN, digestibilidade e

consumo de matéria seca de fenos de B. decumbens (na MS)

Fonte: O'Donovan et. Al (1982)

Observa-se que na medida que aumenta a quantidade relativa de folhas, aumenta o teor de proteínas da planta (PB), reduz-se a quantidade de Fibras (FDN) e a digestibilidade aparente da matéria seca também aumenta (DAMS) assim como o consumo voluntário de matéria seca (CVMS), que ultrapassa os 3% do peso vivo. Potencial de produção leiteira segundo qualidade da pastagem Com base nas recomendações americanas (NRC) para produção de leite de bovino, e italianas para produção de leite de búfalas (Zicarelli e col.), para matrizes com 650 kg de peso vivo, considerando um leite padronizado de bovinos (com 4% de gordura) e com 6,5% de gordura e 4,5 % de proteínas para as búfalas, com consumo diário de 2,5% do peso vivo na base da matéria seca das gramíneas (16 kg/dia), seria teoricamente possível obter-se as seguintes produções diárias de leite, de acordo com o teor protéico (PB) e energético das gramíneas (NDT):

Composição do Capim Bovinos Búfalas

PB NDT PB NDT

7,6% PB – 50 % NDT 8,2 10,6 4,2 7,1

12,0% PB – 59% NDT 16,3 15,0 9,9 9,7

A interação entre animal e pastagem

O pastoreio pode ser definido como a ação de oferecer aos animais determinada parcela de pastagens por determinados períodos de tempo, com objetivo de buscar conciliar os interesses aparentemente antagônicos: de um lado das plantas (presa) que visam se perpetuar e manter seu vigor de crescimento e de outro, dos animais (predadores), buscando oferecer-lhes alimentos que permitam um ótimo desenvolvimento e produção. Os animais retiram do pasto uma parcela da parte aérea das pastagens (principalmente folhas) que, por sua vez, através de reservas que acumularam nas raízes e hastes durante seu crescimento e pela produção de nutrientes através da fotossíntese (na presença de luz, temperatura, umidade e nutrientes no solo), voltam a se desenvolver. Um pastejo excessivo ou corte raso das plantas, reduzem a quantidade de folhas disponíveis e portanto, reduzem o vigor da rebrota que se torna mais lenta e permite que as “invasoras” concorram com a pastagem em seu desenvolvimento. Já um pastejo insuficiente, leva a uma sobra de folhas que tornam-se senescentes (“velhas”), de baixa qualidade nutritiva e concorrem com os perfilhos mais novos que ficam sombreados e retardam seu desenvolvimento. Do exposto, fica claro que existe um “ponto ideal” de pastejo que permitiria uma oferta de pasto mais nutritiva e abundante e ao mesmo tempo que permite uma recuperação otimizada da pastagem. Os animais dão sempre preferência, caso lhes seja permitido, em colher as porções mais nutritivas do pasto (folhas, ou partes mais novas delas). Se o alimento for de melhor qualidade, os animais os consomem também em maior quantidade. Um exemplo disso pode ser

Folhas

(%)

PB (%) FDN

(%)

DAMS

(%)

CVMS kg/100 kg

PV

15,8 4,7 73,7 44,4 1,75

25,9 4,4 74,8 50,6 2,89

33,5 6,9 69,4 55,6 2,44

51,0 7,6 71,5 56,2 3,49

63,8 9,8 66,6 57,1 3,29

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observado no quadro abaixo, em que se verifica que os animais inicialmente consomem um maior volume de pastagens e, as sobras, vão tendo cada vez menor velocidade de consumo:

Quantidade de pasto colhido durante a “rapagem” progressiva da pastagem ( vaca de 600 kg)

Frações de

tempo

Períodos Matéria verde

colhida kg/d

Matéria seca

colhida kg/d

Total MS

colhido / 3 d

Única 58 12,2 36,6

Duas frações 1ª metade 67 13,4

36,6 2ª metade 48 10,6

Três Frações

1º terço 77 15,4

36,6 2º terço 53 11,1

3º terço 43 9,9 Voisin

Além de consumirem em maior quantidade o pasto “sobrando”, os animais o fazem buscando sempre as porções e plantas com melhor qualidade nutricional. Um exemplo disto pode ser observado na tabela abaixo, que mostra a composição média de uma pastagem e a composição da parcela colhida pelos animais (avaliada pela composição do conteúdo ruminal).

Porcentagem de PB e digestibilidade "in vitro" da MO nas

forragens disponíveis e nas dietas selecionadas pelos animais

Forragem B. decumbens B. humidicola

PB (%) DIVMS (%) PB (%) DIVMS (%)

Disponível 4,0 32,0 3,3 34,2

Selecionada 9,8 62,1 8,2 62,0 Fonte: Euclides (1992)

Capacidade de suporte das pastagens

Baseado num consumo médio diário de cerca de 2,5% de matéria seca, uma vaca leiteira com 600 kg consumiria durante o período chuvoso (185 dias), cerca de 2,8-3,0 t de matéria seca e, considerando-se uma perda de cerca de 30% de pastagens, resultaria a necessidade de cerca de 4 t de volumosos para atender cada animal durante o período de chuvas. Observa-se que a produção média observada em pastagens de braquiária em regimes extensivos se situa em torno de 3 t MS/ha no período chuvoso que permite um suporte de cerca de 0,75 UA/ha. No quadro abaixo, citado por Aguiar, destaca-se o “potencial” produtivo de algumas espécies Potencial máximo de produção de forragem (MS/ha/ano) das principais espécies de plantas forrageiras

tropicais utilizadas em pastagens no Brasil

Espécie Produção de MS

(t/ha)

Fonte

P. purpureum (napier) 80,0 Silva;Faria;Corsi (1995)

P. maximum (colonião) 53,0 Corsi (1988); Corsi (1995); Jank (1995)

Andropogon gayanus 50,0 Haag e Dechen (1984)

Brachiaria spp 32,0 Zimmer; Euclides; Macedo (1988); Silva (1993)

Cynodon spp (estrela) 31,0 Silva (1993)

Fonte: Aguiar (1997)

As produções apontadas permitiriam um suporte variando de 7 UA/ha (Brachiaria, Cynodon), até 19 UA/ha (Napier) entre os meses de outubro-março na maioria das regiões do Brasil Central. Apesar de teóricas estas lotações, já se verificam em propriedades comerciais e experimentais valores próximos dos mesmos.

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Características gerais das búfalas leiteiras

A espécie bubalina manifesta uma marcada estacionalidade reprodutiva caracterizada pelo aumento da fertilidade nos períodos em que diminuem as horas de luz do dia (no outono e inverno no Centro-Sul do Brasil). Apesar que em menor intensidade, os búfalos manifestam estacionalidade reprodutiva mesmo quando estão em locais com boa disponibilidade de alimento durante todo o ano, sendo que esta sazonalidade é menos evidente em novilhas, podendo ser cobertas na primavera e verão, desde que apresentem desenvolvimento adequado, estimando-se que um dos fatores que permitem início da puberdade seria o peso entre 330-360 kg para animais mantidos a pasto e, de 400-420 kg para aqueles suplementados. O gráfico abaixo mostra a oferta de pastagens em relação à distribuição de parições observadas no Vale do Ribeira onde se destaca que tais partos usualmente ocorrem ao final do período favorável, favorecendo que a búfala tenha suas crias usualmente com boa condição corporal, contribuindo para um retorno ao cio mais rápido e uma maior taxa de fertilidade.

A maior parte da produção leiteira das búfalas no Centro Sul do Brasil ocorre no período mais desfavorável de oferta qualitativa e quantitativa das pastagens o que, se por um lado favorece aos bezerros que neste período estão sendo aleitados, por outro, compromete a produção leiteira do animal, conforme se observa no gráfico a seguir. Observa-se que em condições normais, a sazonalidade reprodutiva resulta numa produção de leite com distribuição inversa à oferta forrageira, resultando em uma grande irregularidade na oferta de matéria prima para produção de derivados.

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A necessidade de se alterar o calendário natural dos partos das búfalas, seja para satisfazer a demanda relativamente constante durante o ano de derivados, em particular a Mozzarella, seja para propiciar partos em períodos de maior disponibilidade de forragens e, portanto de menor custo de produção leiteira, pode ser efetuada através de programas de desestacionalização reprodutiva, tanto pela monta controlada de novilhas, menos sujeitas à estacionalidade, seja pela adoção, em certo limite de estação de monta em pluríparas, seja por melhora da oferta nutricional que resulta em lactações mais prolongadas ou, ainda, pela utilização de biotécnicas de reprodução adequadas à espécie, com indução de cios e inseminação artificial em épocas desfavoráveis.

Demanda Nutricional

O conhecimento dos requerimentos nutricionais de búfalas mantidas a pasto não é ainda muito bem estabelecido posto que a maior parte dos estudos se refere ou à produção na Itália, onde os animais usualmente são mantidos em estabulação total e consumindo alimentos de elevada qualidade nutricional, ou ainda, por estudos realizados na Ásia, onde a oferta alimentar é muitas vezes composta de sub produtos agrícolas, tais como palhas de arroz e trigo e durante curtos períodos, com uso de trevos. De uma forma geral, os estudos apontam para o fato de que a búfala ingere proporcionalmente menos alimentos que as bovinas, transformam alimentos fibrosos e com baixos teores protéicos de forma mais eficiente que aquelas, mas, em função do elevado teor de sólidos de seu leite, principalmente de gorduras, apresentam uma demanda elevada de energia na dieta. As recomendações apontam que o uso exclusivo de pastagens de média qualidade (7,6% de PB e 50% de NDT) atenderiam a demanda necessária para produção de 4,2 litros diários de leite (proteínas) ou até 7,1 litros (energia) sendo que, no caso de uma maior produção, as búfalas teriam que lançar mão de suas reservas naturais. Já sob uma oferta de um volumoso de alta qualidade (12% de PB e 59% de NDT), os animais teriam capacidade de produzir até 9,7-9,9 litros/dia. A despeito de tabelas detalhadas que relacionam o conteúdo nutricional ao peso do animal, fase da lactação, composição do leite, manejo empregado (pasto/confinado), presença de

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primíparas, entre outros, como recomendação geral, pode-se adotar as seguintes orientações gerais:

A expectativa de resposta produtiva a um manejo nutricional mais ou menos intensivo pode ser verificada num trabalho feito na região de Sarapuí-Pilar do Sul em São Paulo com 5 propriedades, sendo que duas delas efetuavam manejo extensivo, sem suplementação de concentrados e uma ordenha diária. Duas outras propriedades, exploravam o rebanho com concurso de concentrados em determinada quantidade e duas ordenhas diária. Já na Paineiras, o rebanho de bom potencial genético também em duas ordenhas diárias, recebia suplementação compatível com seu nível produtivo. O resultado observado na produção foi:

Confrontando tais produções com as recomendações de nutrientes necessárias , verifica-se que o primeiro grupo demandaria uma ração com 10,7% de PB e 53,5% de NDT , passível de ser atendida em boa parte do ano com gramíneas cuja composição varia de 5-12% de PB e de

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48-58% de NDT. Já o segundo grupo, demandaria 12,4% de PB e 59% de NDT na dieta, o que, particularmente no que se refere à energia, não seria atendido apenas com pastagens, mas que poderia ser suprido com uso concomitante de concentrados cuja composição varia entre 20-22% de PB e 70-75% de NDT. O mesmo se conclui da dieta da Paineiras cuja demanda atingiria 12,8% de PB e 63,6% de NDT, exigindo maior nível no uso de concentrados. Uma questão imediata que se coloca é a economicidade ou não da suplementação de concentrados. Para responder a tal questão, procedemos a um levantamento do custo e consumo dos mesmos em nosso rebanho e verificamos que em 2010, a mistura de concentrados consumida teve o custo de R$ 0,455/kg e em 2011, com o aumento de custos, o preço alcançou R$ 0,532/kg de mistura. Na composição da mesma, nestes últimos dois anos, foram utilizados diversos componentes em composições variáveis, conforme sua disponibilidade, tais como : farelo de soja, farelo de milho, caroço de algodão, polpa cítrica, farelo de trigo, uréia, calcáreo, sal mineral. O consumo aparente (volume adquirido e distribuído aos animais em produção), foi de 787 g de concentrados por litro de leite produzido, ou seja, um custo de R$ 0,36/litro em 2010 que se elevou a R$ 0,42/litro em 2011. Considerando porém o trabalho anteriormente apresentado, verificamos em nossa propriedade uma produção de 1.563 litros de leite/animal em lactação superior ao observado nas explorações extensivas, o que nos permite estimar que para produção de cada litro adicional a uma exploração de baixa intensidade, foram necessários 1,49 kg de concentrados, ou seja, na produção adicional de leite, foram necessários R$ 0,68 por litro em 2010 e R$ 0,71 por litro em 2011 e, assim, caso o preço recebido pelo leite supere estas cifras (o que ocorre na maior parte do país), o uso de concentrados mostra-se econômico. Destacamos que as recomendações de requerimentos nutricionais e estimativas de consumo das búfalas parecem não ser perfeitamente adequadas para as grandes produtoras como por exemplo a búfala Gilete da Ingaí, até hoje a recordista de produção em 305 dias na Paineiras, com 5.142 litros em sua lactação (média diária de 16,86 kg). Nas tabelas preconizadas estima-se que consuma diariamente 2,8% de seu peso vivo de matéria seca (18,4 kg), com uma composição de 15,6% de PB e 77% de NDT. Ocorre que sequer o concentrado utilizado atinge 77% de NDT ou seja, mesmo que consumisse apenas concentrado este não conseguiria ter atendido a demanda nutricional preconizada. Imaginando, porém, que sua capacidade de consumo fosse ampliada a 3,3% do Peso Vivo (como descrito em bovinas), os componentes da dieta poderiam ser mais diluídos, com demanda de 13,3% de PB e 66% de NDT, possível de ser atendido por uma mistura de concentrados e volumosos. Infere-se que, ao menos as maiores produtoras devam ter uma capacidade de consumo maior do que a definida nos trabalhos. De qualquer maneira, a observação das lactações deste animal nos dá interessantes sinais de que há ainda muito a conhecer sobre o manejo nutricional mais adequado aos animais de maior potencial produtivo. Apresentamos a seguir um gráfico com todas as lactações observadas de Gilete, seu peso a cada parto, bem como o período de serviço necessário para cada cobertura até a 13ª lactação controlada do animal. No gráfico, a primeira curva acima,em azul, representa o peso ao parto (eixo da direita),que foi crescente até a 4ª cria, variando pouco nas demais. A segunda curva mostra a variação na produção total de leite de cada lactação onde se verifica que houve um crescimento constante até a 7ª cria, quando atingiu o pico de 5.142 kg e depois passou a apresentar um comportamento alternando quedas de produção com elevação até a 11ª cria quando depois não mais sustentou as grandes produções, apesar de superior a 3 mil kg de leite. A se destacar, ainda, que após uma grande produção, o período de serviço aumenta,alongando o intervalo interparto, e se reduz após uma redução na produção, como

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que a indicar que a demanda exacerbada de uma lactação muito grande necessita de uma certo “repouso” fisiológico na lactação seguinte.

A título de curiosidade e ilustrando o potencial produtivo da espécie, verificamos que Gilete produziu nestas 13 crias o montante de 49.567 litros de leite em 4.002 dias em lactação (308 dias), resultando uma média de 3.820 kg por lactação ou 12,41 kg por dia em lactação, sendo sua melhor produção diária de 22,7 kg na sétima cria. Este ano, após 445 de intervalo interparto, teve sua 14ª cria aos 223 meses (18 anos e 7 meses).

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Uma proposta de intensificação

A fim de exemplificar o que até agora foi comentado, apresentamos a seguir os passos que adotamos na implementação de um projeto de exploração leiteira intensificada, a pasto, de búfalas que, longe de representar um “modelo exemplar”, traduz uma experiência prática que vivenciamos. A propriedade, localizada no sudoeste do Estado de São Paulo, no município de Sarapuí, possui uma área total de 93 ha, sendo destas, 50 ha destinados à exploração agropecuária e o restante, ocupado por açudes, matas preservadas, estradas/corredores e benfeitorias. As pastagens implantadas eram de B. ruziziensis. Abaixo, o levantamento topográfico da mesma:

A análise do solo (abaixo) revelou um solo francamente arenoso, ácido, pobre em macro e micronutrientes. Apesar disso, a pastagem encontrava-se em condições razoáveis, com poucas invasoras e sem sinais de compactação elevada (apenas alguma regiões isoladas com rabo de burro).

Tendo sido adquirida em junho/2000 deveria ser adaptada para introdução do rebanho bubalino ao final de dezembro, o que não permitia uma reforma radical de pastagens (a B. ruziziensis é pouco tolerante à seca e bastante susceptível ao ataque de cigarrinhas), porém, o baixo nível de fertilidade do solo não permitiria de imediato a substituição por gramíneas de alta produtividade, mais exigentes. A finalidade prevista da exploração era efetuar um ciclo completo, com produção leiteira, cria e recria, tanto de machos quanto fêmeas a fim de comercializar o leite e animais para reprodução.

Argila 6-8%

Siltre 1-2%

Areia 90-93%

MO 1,0-1,2 %

pH 4,1 – 4,4

V% 15-30 %

P 5-8 mg/dm3

K 0,5-1,0 mmol/dm3

Ca 4-8 mmol/dm3

Mg 2-4 mmol/dm3

Deficiencia Zn,Cu,B e S

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O suporte usual das pastagens na região situa-se em torno de 0,8-1,5 UA/ha, ou cerca de 1 búfala por hectare no período chuvoso, bem marcado na região, com disponibilidade de pastagens entre novembro-abril e um período seco e frio no outono/inverno.

O projeto forrageiro previu para as matrizes, pastejo rotacionado nas águas e consumo de mistura de silagem de gramíneas+cana+uréia no período seco; para as novilhas, pastejo rotacionado nas águas e, na seca, extensão da área de pastejo com ocupação das áreas de capineiras destinadas à silagem (pasto diferido) ; para garrotes, pastejo rotacionado nas águas e venda de animais com 2 anos (reprodução ou abate) com redução da lotação na seca e para bezerros, aleitamento no período seco (pela estacionalidade dos bubalinos), complementados com pastoreio de corredores, pequenos piquetes de manejo e a mesma alimentação das matrizes. Planejou-se uma área para rotação de culturas sendo plantado milho para consumo no verão e forrageiras de inverno/pousio na seca e a cada 3-4 anos, rotação com a área de cana. A área disponível foi então subdividida em “lotes” menores, respeitando a “geografia” do terreno, procurando manter os piquetes de manejo e forrageiras mais próximas do estábulo e outras, destinadas a ensilagem e diferimento na seca, junto à área de novilhas.

Com base na lotação prevista e estimando um consumo diário de 2,5% do PV em matéria seca, estabelecemos a produtividade necessária das pastagens e forrageiras.

Necessidade de produção forrageira por área de pastagem (águas-185 d)

Lote Animais UA Área UA/ha MS t/ha

Matrizes 61 92 15,5 5,9 17,7

Novilhas 42 32 8,0 4,0 12,0

Garrotes 28 28 7,2 3,9 11,7

Necessidade produção forrageira das capineiras (seca)

Forrageira Área (ha) % mistura Total MS (t) MS t/ha MV t/ha

Cana 3,9 40 % 74 19 76

Capineiras 6,5 60 % 110 17 84

Forrageiras Cana: 3,9 ha Aveia/ Cana: 2,7 ha Napier: 2,7 ha Tanzânia/Mombaça: 3,8 ha

Pastagens: B. Ruziziensis + B.brizantha Matrizes 15,5 ha + 0,5 escape Novilhas 8,0 ha Garrotes 7,2 ha

Ensilagem nas águas Pastagem/Corte na seca

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Para obtenção do suprimento de volumosos nas pastagens, a produtividade regional de 0,8 a 1,5 UA/ha mostrava-se insuficiente, da mesma forma que os valores máximos obtidos pela adoção de um pastoreio rotacionado sem ou com uso mínimo de insumos (fósforo/calagem), que atinge um suporte máximo de 2,5 a 3,0 UA/ha. A alternativa proposta foi então a de intensificação com base em pastejo rotacionado e uso de fertilização visando atender em cada lote a produção necessária. Desta forma, procedemos à aplicação de corretivos e fertilizantes visando instituir níveis de fertilidade do solo que permitissem uma produtividade ampliada. Verifica-se que os níveis almejados de produtividade, conforme anteriormente mencionado, são passíveis de serem alcançados mesmo com a B. ruziziensis. Efetuamos uma roçada em toda a pastagem e sobre a palhada, aplicamos os insumos superficialmente, misturando a eles sementes de B. brizantha, sem incorporação sendo ainda aplicados cerca de 30 kg de nitrogênio por hectare, visando acelerar a decomposição da matéria orgânica depositada. Na área de garrotes, cuja ocupação somente se daria em março e onde o solo se mostrava mais pobre e compactado, procedemos a uma reforma do mesmo, introduzindo B. brizantha. Após a correção (3 anos), a análise do solo mostrou a seguinte evolução:

2000 2003

MO % 1,0-1,2 1,2-1,6

pH 4,1 – 4,4 5,8 – 6,3

V% 15-30 73-86

P mg/dm3 5-8 67-81

K mmol/dm3 0,5-1,0 3,7 -4,0

Ca mmol/dm3 4-8 12-30

Mg mmol/dm3 2-4 11-28

Efetuamos a implantação de curvas de nível conforme a declividade do terreno. Cercamos cada área com cercas convencionais de 5 fios e procedemos a divisões internas em cada área com cercas elétricas, deixando uma distância de cerca de 1 m entre a cerca elétrica e a convencional na periferia, a fim de ali implementar arborização visando sombreamento para melhorar o conforto animal e agir como “quebra-vento”, reduzindo a erosão superficial.

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Procuramos configurar cada piquete ao máximo respeitando as curvas de nível, o que permite aos animais um menor esforço para colheita da pastagem, reduzindo a necessidade de energia alimentar, bem como favorecendo a redução da erosão e distribuindo melhor a deposição de dejetos na pastagem. Em cada piquete, colocamos bebedouros com bóia e saleiros rústicos, o que também contribui para a redução da movimentação dos animais e a conservar melhor os corredores. A divisão, com os corredores e piquetes, tomou o seguinte aspecto:

O princípio adotado na divisão foi o de permitir um repouso de cerca de 30-32 dias de cada piquete (ciclo determinado para as braquiárias, sendo que para napier e colonião, recomenda-se cerca de 40-45 dias) e um período de ocupação máximo de 3 dias (a fim de que o animal não como a rebrota). Para períodos de sobras, que ocorrem no período chuvoso, previmos

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cortá-las e acrescentar ao silo em confecção e para pequenos períodos de escassez (veranicos), reservamos pequena área que denominamos “escape” ou, ainda, prevê-se a suplementação de volumosos (cana, por exemplo).

Desta forma, a área de matrizes foi dividida em 16 piquetes com cerca de 9 a 9,5 mil m2 (2 dias de ocupação por 30 de descanso). As áreas de novilhas e garrotes, foram subdivididas em 12 piquetes cada uma, para ocupação de 3 dias e 33 dias de descanso.

Durante o período chuvoso, mantinhamos os animais em lactação em um grupo e as secas em outro, no piquete imediatamente anterior, de tal forma que às primeiras, que tem maior demanda nutricional, é permitido selecionar a dieta. No período de seca, repetimos anualmente a análise do solo, tomando amostras agrupadas por “talhões” relativamente homogêneos e, com base nelas, efetuamos aplicações de corretivos e fertilizantes visando sempre dispor de uma base adequada de nutrientes para a produção pretendida. De acordo com a lotação existente, calculamos a necessidade de matéria seca a ser produzida e aplicamos a fertilização recomendada para reposição dos nutrientes a serem produzidos, aplicando-as a cada saída dos animais.

Em função da grande deposição de dejetos na área (20-30 t/ano) esperamos a médio ou longo prazo aumentar a reciclagem dos nutrientes e desta forma, reduzir, ao menos em parte, o concurso de insumos externos. No período seco, os animais permanecem nas pastagens apenas durante a 1ª e 2ª ordenhas (4-5 horas/dia), e no resto do tempo, permanecem estabulados. O esterco é recolhido diariamente e colocado em montes que, no período das águas é aplicado sobre as áreas de capineiras e cana. Em 1988-89, num projeto similar, numa propriedade no mesmo município, tivemos oportunidade de avaliar a qualidade do capim no momento da entrada dos animais nos piquetes (fevereiro), bem como da silagem produzida e, comparativamente com dados de literatura, observamos a seguinte composição:

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B.Decumbens (braquiária) P.Purpureum (Napier)

Cana Silagem:

P. maximum Tanzânia

Entrada no piquete

inflorescência Entrada no

piquete 66 dias

MS 24,7 % 18,2 % 22-28 % 27 – 31%

PB 12,7 % 7,6 % 16,3 % 7,0 % 2,4-3,0 % 5,5 – 9,1%

FB 34 % 33 % 31,3 % 34 % 25-27 % 40 – 47 %

EE 3,6 % 3,4 % 1,7-3,3 % 2,2 – 2,9%

MM 9,3 % 18,0 % 7,7 – 9,3%

ENN 40 % 31 % 63-68 % 35 – 40%

NDT 59 % 51 % 53% 48 % 52-61 % 48 – 55%

FDN 80%

FDA 51%

pH 4,1

Para o grupo de novilhas, a proposta de manejo envolveu pastejo rotacionado no período de chuvas e, no período seco, substituição de novilhas maiores que se integram ao rebanho de adultas ou são comercializadas aos 3 anos, por novilhas menores púberes e de sobreano, e inclusão da área de forrageiras de corte (Tanzânia/mombaça) no rotacionado, permitindo uma ampliação do período de repouso da gramínea e conseqüentemente sua maior oferta, conforme se observa na imagem abaixo:

Quanto aos machos, a proposta de manejo forrageiro é de rotacionado nas águas e, na seca, eliminação dos maiores (venda para reprodução ou para abate), se necessário tratando com silagem alguns animais destinados à reprodutores.

Sitio Paineiras da Ingaí – Dia de Campo 2011 página - 26-

A produtividade das forrageiras aferidas no período de 2002/2003 no período de chuvas foi:

Com tal produtividade foi possível o seguinte suporte:

Área (ha) Matrizes /ha UA/ha

Rotacionado 15,5 4,8 6,9

Total 28,2 2,6 3,8

Verifica-se que mesmo os piquetes de braquiária, se ofertados aos animais nas condições apresentadas na tabela acima, apresentam teores de nutrientes suficientes para uma produção elevada. Com relação à produtividade obtida no projeto, lembrando tratar-se de búfalas leiteiras (cuja média produtiva no Estado de São Paulo, situa-se em torno de 1.500 kg/ano, e é remunerado com valores em torno de 50 a 80% superior ao preço e leite bovino), observamos o seguinte:

Produção Leite de búfalas

Sítio Paineiras da Ingaí

2001

(kg leite)

2002

(kg leite)

2003

(kg leite)

2004

(kg leite)

Total de Leite (kg) 123.714 166.405 152.655 160.670

Consumo p/bezerros 21.619 21.417 23.211 27.127

Produtividade/área Área (ha) kg leite / ha kg leite / ha kg leite / ha kg leite / ha

Período chuvas (rotacionado) 15,5 3.753 4.786 4.699 3.364

Período Seco (silo + cana) 13,1 5.003 7.040 6.093 6.217

Total 28,6 4.326 5.818 5.338 5.579

Segundo dados da Embrapa Sudeste, a produtividade do sistema de produção intensificada de leite a pasto permite, utilizando-se de rebanhos especializados, a obtenção de produtividade de cerca de 20 mil kg de leite/hectare enquanto que sistemas tecnificados (estabulação, utilizando-se de mistura total), tem obtido produtividade média de 17 mil kg de leite por hectare. Em 2010, visando um aumento na escala produtiva, adquirimos área contígua à propriedade com o objetivo de ampliar o rebanho a 100 matrizes divididas em 2 grupos de manejo, manter a recria de fêmeas e de alguns machos destinados à reprodução. Assim, a área total da propriedade passou a 50,7 alqueires (122,7 ha), dos quais, apenas 26 alqueires estarão integrados à produção (52%), 8% é ocupado por benfeitorias, estradas e corredores e cerca de 40% de reservas (mata e água).

Sitio Paineiras da Ingaí – Dia de Campo 2011 página - 27-

Princípios Gerais adotados no Manejo Intensificado de Pastagens

Se a quantidade ofertada superar o consumo haverá uma melhor seleção da dieta pelo animal e menor esforço para obtê-la

Nos períodos iniciais de ocupação de uma parcela, a qualidade do alimento colhido é melhor que ao final do período.

A melhor qualidade da forragem permite um maior consumo de MS Ofertar a pastagem após seu pico de crescimento amplia a quantidade de MS

disponível. O planejamento das instalações pode permitir um menor dispêndio de energia para

manutenção do animal; distância da sala de ordenha, topografia-formato dos piquetes, conforto térmico (sombras, banhados, chuveiros), posição de bebedouros/ saleiros,etc

Quanto maior a quantidade relativa de folhas, maior a qualidade nutritiva do pasto. Permitir à planta período adequado de repouso favorece uma produção otimizada de

matéria seca. Variar os períodos de repouso/ocupação conforme as condições de desenvolvimento da planta (ambiente, nutrientes no solo, ..), respeitando as características próprias de cada espécie.

Introduzir os animais no momento em que exista uma adequada oferta de massa (particularmente folhas não senescentes – matéria verde seca)

Oferecer aos animais massa de volumosos superior às suas necessidades a fim de permitir que selecione melhor a sua dieta.

Não estender o período de ocupação a fim de não permitir que o gado coma a rebrota, que a qualidade da gramínea não decline, e que permaneça massa residual suficiente para garantir uma rebrota mais rápida e consistente.

Preferir parcelas retangulares tendendo ao quadrado, respeitando as curvas de nível e o mais próximas das salas de ordenha

Favorecer a distribuição mais uniforme do gado na parcela com colocação estratégica de corredores, saleiros, bebedouros e eventuais áreas de descanso.

Estender ao máximo a estação de pastejo (mesmo com ocupação parcial em cada dia) Pode-se utilizar o nitrogênio (adubações) estrategicamente a fim de procurar acelerar o

ciclo vegetativo. Utilizar a roçadeira ou grupos rapadores para uniformizar áreas rejeitadas,

principalmente no início.

Intensificação da Exploração Leiteira a Pasto

Acreditamos que a adoção dos princípios até agora apontados, agregados ao respeito à fisiologia de plantas e animais sob um sistema de pastagens, em maior ou menor grau, nos tem permitido disponibilizar, numa mesma área, uma maior quantidade de alimentos volumosos e de melhor qualidade aos animais, o que resultou numa maior produtividade No planejamento do nível de intensificação pretendido, procuramos levar em conta entre outros fatores, as características da propriedade (solo, clima, topografia), a disponibilidade de infra-estrutura para exploração, o treinamento da mão de obra, os custos relativos de insumos necessários à otimização do sistema e da terra na região, do valor do mercado do produto animal entendemos não haver uma solução única aplicável a todas as situações.

Sitio Paineiras da Ingaí – Dia de Campo 2011 página - 28-

Seleção e melhoramento Nosso projeto de seleção objetiva obter animais com a maior produção ajustada até 305 dias. Adotamos esta forma de ajuste, diversamente do proposto por autores italianos (270 dias) pelo fato de observarmos que após a intensificação do manejo temos verificado que a duração média das lactações em nosso rebanho tem, como em bovinos, atingido cerca de 300 dias. A se destacar que, a despeito do curto período seco e da gestação mais longa (310 dias), as búfalas tem mostrado elevada capacidade de recuperação. A produção ajustada apresenta ainda maior herdabilidade que a produção total por lactação. Numa primeira fase da exploração, buscamos concomitantemente à maior produtividade obter também animais com boa caracterização racial (Murrah) e eliminando animais com alterações potencialmente genéticas. A elevada consangüinidade do rebanho bubalino brasileiro, em particular na raça Murrah onde praticamente 4 reprodutores originários da ultima importação oficial da Índia em 1962 são a base de todos os animais registrados no país. A fim de buscar manter uma variabilidade elevada, o que favorece uma maior eficiência de seleção e evitar um grau de consangüinidade que pudesse reduzir a produtividade (depressão endogâmica) optamos por buscar expandir o rebanho promovendo cruzamentos absortivos e buscamos manter um coeficiente de endogamia abaixo de 6,5% valor abaixo do qual em trabalhos realizados em nossa propriedade, não se observou o fenômeno da depressão endogâmica. Tal estratégia resultou que atualmente, as 88 matrizes que compõe o rebanho são filhas de 15 touros diferentes e seu coeficiente médio de endogamia é de 6,1%. De uma forma prática, evitar que existam ancestrais comuns até a geração dos avós é uma maneira obter tal resultado. No processo seletivo, procuramos imprimir uma pressão de seleção de cerca de 15-20%, com substituição potencial das matrizes a cada 5-7 anos e, os descartes são efetuados através da aferição do Valor Genético (Breeding Value) que equivale ao dobro do PTA (habilidade de transmissão predita) que avalia o potencial de cada animal em transmitir a habilidade de produção leiteira para suas gerações futuras. Efetuamos as estimativas utilizando o chamado “BLUP-modelo animal”, que calculamos com base nos dados de produção leiteira das Fazendas Laguna (Paracuru-CE), Rio Pardo (Bocaina-SP) e Paineiras da Ingaí (Alambari-SP), avaliando 1.083 fêmeas e 4.500 lactações controladas desde 1983. Este sistema, que se baseia na avaliação do potencial produtivo dos animais com base na sua produção e na produção de todos os parentes com produção conhecida e se propõe a “ajustar” condições tais como local de produção, estação/ano de produção, ordem de cria, idade à cria, entre outros. Esta forma, é possível avaliar o potencial e o grau de certeza deste potencial (acurácia) mesmo de animais que ainda não iniciaram a vida produtiva (bezerros, opor exemplo) ou que não apresentem diretamente a característica selecionada (produção de leite em machos, por exemplo). No gráfico a seguir, apresentamos o valor genético médio das fêmeas do rebanho nascidas desde 1972 até 2009 (linha vermelha) e em cada ano de nascimento, a linha azul mostra um o intervalo de variação (1,96 desvios padrão), aspecto relevante para uma maior velocidade de seleção, sendo ainda que a linha preta mostra a curva de tendência da característica, em crescimento discreto a partir de 1980, atingindo cerca de 100 litros entre 1980/90 e, na década seguinte, 1990/2000 com quase o dobro de crescimento, elevação esta que se mantém positiva ano a ano.

Sitio Paineiras da Ingaí – Dia de Campo 2011 página - 29-

Exemplificando a importância de uma maior variabilidade no processo de seleção, ilustramos abaixo dois rebanhos com produção média de 3.000 litros, porém, o primeiro com variabilidade de 1.000 a 5.000 litros e o segundo, de 2.500 a 3.500

Se selecionarmos apenas os animais com produção maior ou igual à média, o resultado, no exemplo citado seria:

-300

-200

-100

-

100

200

300

400

500

600

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1.000

1972

1973

1974

1975

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

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1996

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2001

2002

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2004

2005

2006

2007

2008

2009

Evolução do valor genético de produção leiteira em 305 dias das femeas bubalinas nascidas entre

1971 e 2009- Paineiras da Ingaí (1,96 dp)

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Desenvolvimento O crescimento dos bezerros até os 12 meses mostrou-se semelhante tanto no período de exploração mais extensiva (1983-1989), não se alterando após introdução da 2ª ordenha em 1989, nem com a implementação do Sítio Paineiras em 2000, conforme se verifica no gráfico abaixo, com peso ao desaleitamento (3 meses), com cerca de 75 kg e, ao final da lactação, com cerca de 160 kg (ganho médio de 407 g/d até 10 meses) , evoluído então, usualmente no período de melhor oferta de pastagens, com maior ritmo de crescimento, alcançando cerca de 220-230 kg aos 14 meses (ganho médio de 560 g/d dos 10 aos 14 meses), normalmente no início do período seco.

Tal ritmo de desenvolvimento é muito inferior ao que se observa em animais cujas mães não são ordenhadas que podem atingir mais de 300 kg aos 10 meses. Em 2009 passamos a oferecer suplemento de concentrados (1 parte de farelo de soja : 4 partes de farelo de milho) na base de 500 g/dia até os 10 meses e verificamos o desenvolvimento abaixo.

pn 3 6 10 12 14

1983-1989 34 69 105 158 195 216

1990-2000 37 75 107 159 194 224

2000-2009 38 76 106 159 194 226

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

275

Evolução do desenvolvimento ponderal bezerros

1983-1989 1990-2000 2000-2009

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Este manejo não alterou de forma significativa o desenvolvimento até os 3 meses de idade, período em que os bezerros se mostram mais vulneráveis mas, a partir desta idade, permitiu um desenvolvimento significativamente maior, atingindo 197 kg aos 10 meses, um ganho de 38 kg superior. Para tanto, os animais consumiram cerca de 180 kg de concentrados no período, a um custo de R$ 2,46 por kg adicional (custo da mistura de R$ 0,52/kg), o equivalente a R$ 77 por arroba, considerando um desconto de 52%. Historicamente, verificamos que o primeiro trimestre de vida tem sido, conforme já mencionado, um período crítico onde o bezerro com o rumen ainda em desenvolvimento, apresenta maior dependência do aleitamento, cujo fornecimento em explorações intensivas como a nossa, costuma depender do fornecimento pelo tratador de leite que garanta um desenvolvimento adequado dos bezerros. Determinações empíricas como deixar um ou dois tetos para consumo do bezerro esbarram na grande heterogeneidade de produção, seja pela idade dos animais, seja pela produção individual, agravando-se ainda pelo fato das búfalas com freqüência permitirem o aleitamento de outros bezerros além dos seus, aproveitando-se disto os maiores que consomem mais leite em prejuízo por vezes do bezerros na própria búfala. Abaixo apresentamos a mortalidade observada em animais até 24 meses, onde se evidencia a maior mortalidade entre 0-3 meses de idade, mortalidade esta que aumentou significativamente nos últimos anos seguramente por práticas inadequadas de manejo a nível individual pois, no que se refere ao manejo geral,, verificamos em gráficos já apresentado, um desenvolvimento similar ao de outras épocas.

A fim de evidenciar a importância do manejo nesta etapa da vida do bezerro, efetuamos um levantamento do peso de novilhas em determinadas idades (10, 18 e 24 meses) em função do peso que apresentavam aos 3 meses de idade.

Peso aos 3 meses

<60 kg

60-70 kg

70-80 kg

80-90 kg

90-100 kg

>100 kg

Peso aos 10 meses

128.0 +-25.4

a 155.8

+-25.1

b 171.3

+-22.7

c 187.2

+-30.9

d 207.1 +-

35.4

e 239.2

+-26.5

f

Peso aos 18 meses

237.0+-45.8

a 258.1

+-46.1

b 281.2

+-41.3

c 306.9

+-41.7

d 330.0 +-

49.3

e 373.4

+-36.4

f

Peso aos 24 meses

327.2+-42.5

a 363.0

+-40.7

b 378.3

+-51.7

b,c 396.3

+-51.4

c,d 418.0 +-

55.7

d,e 457.9

+-48.6

e

Sitio Paineiras da Ingaí – Dia de Campo 2011 página - 32-

Pela tabela acima, verifica-se que não atingindo 60 kg, as bezerras aos 24 meses apresentavam em média 327 kg, não apresentando pois peso suficiente para desenvolver o primeiro cio fértil, que ocorre por volta de 360 kg. No extremo oposto, atingindo mais de 100 kg aos 3 meses, o animal atinge os 360 kg aos 18 meses.

Reprodução Usualmente utilizamos monta natural, mantendo um touro para cobertura de búfalas adultas e outro mais jovem para cobertura de novilhas. As bezerras após o desmame são mantidas permanentemente com um touro jovem (com 2 anos ou mais e mais de 450 kg de peso) o que, segundo consta, estimularia uma maior precocidade de aparecimento do primeiro cio. A idade média à primeira cria tem se situado em torno de 37 meses, com uma leve tendência à redução, mas com ampla variação, provavelmente reflexo do manejo irregular que aplicamos usualmente aos animais em recria, com um intervalo de variação quando não se descartam as menos férteis entre 22 e 60 meses, conforme se observa no gráfico abaixo:

Alguns criadores, temendo que uma cobertura precoce possa resultar em comprometimento do desenvolvimento futuro do animal ou mesmo de um comprometimento da fertilidade na 2ª cria, somente colocam as novilhas com touro após os 350 kg de peso, que é o peso médio que a búfalas criadas a pasto apresenta o primeiro cio fértil (as suplementadas costumam entrar na puberdade após os 400 kg). A fim de avaliar o eventual comprometimento futuro de animais cobertos em idades mais precoces, comparamos o desenvolvimento de animais com partos mais precoces (abaixo de 30 meses), produzidos em duas propriedades; na nossa, onde as bezerras permanecem com o touro e na Fazenda Laguna, em Paracuru-CE, com rebanho com mesma origem que o nosso e onde as fêmeas somente são expostas ao touro após os 350 kg. O resultado pode ser observado na tabela abaixo, onde se verifica que as novilhas foram enxertadas com 299 kg na Paineiras e com 366 kg na Laguna, tendo posteriormente apresentado primeira cria respectivamente com 411 kg e 459 kg e uma produção leiteira média de 1.152 na Paineiras e 1.469 kg na Laguna. Na lactação seguinte, verificou-se um maior intervalo interparto nos animais da Laguna, provavelmente por particularidades no manejo empregado e não necessariamente por comprometimento da parição precoce posto que na Paineiras o interparto foi de 465 dias, usual em primíparas (periodo de serviço um pouco superior às pluríparas, em particular naquelas que tem primeiro parto desestacionalizado (entre

32

33

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1977

1978

1979

1980

1981

1982

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1984

1985

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2001

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Idade à primeira cria - Paineiras da Ingaí

Sitio Paineiras da Ingaí – Dia de Campo 2011 página - 33-

novembro e janeiro). O desenvolvimento posterior dos animais parece não ter sido comprometido com a cobertura mais precoce da Paineiras visto que na 2ª cria, os animais das duas fazendas ambos apresentaram peso semelhante (547 e 549 kg respectivamente).

FEMEAS COM PARIÇÕES ATÉ 30 MESES

idade peso peso prod durac interp. peso prod. durac.

1a. cria enxertia

1a. cria 1a. cria

1a. Lact

2a. Cria

2a. Cria

2a. Cria

2a. Lact

Méd.Lagu 28,9 366 459 1.469 297 538 549 1.596 267

Méd.Pain 26,8 299 411 1.152 281 465 547 1.660 262

Média 27,9 352 444 1.368 292 491 548 1.630 264

quantid. 40 24 28 22 22 28 18 17 17

Máx 30,0 445 565 2.483 374 854 718 3.434 345

Mínimo 22,0 252 310 673 236 347 445 772 212

Procuramos observar ainda o efeito a longo prazo de parições mais precoces no que se refere ao desenvolvimento futuro no animal, o que pode ser observado na tabela seguinte que demonstra que o peso adulto (4ª cria), parece não sofrer influência da idade ao primeiro parto.

peso à parição 1a. 2a. 3a. 4a.

Idade à 1a. Cria cria cria cria cria

Até 30 meses 454 556 568 611

30-36 meses 481 540 588 615

36-42 meses 517 571 606 622

+ 42 meses 541 593 614 637

Tendo em vista a menor produção leiteira de primíparas com partos precoces, procuramos avaliar o efeito da idade ao parto na produção média diária por dia de vida acumulada nas 3 primeiras crias (até o 4º parto), e verificamos o seguinte:

produção leite 1a. 2a. 3a. Total idade dias média

Idade à 1a. Cria cria cria cria 1a a 3a cr na 4a cria p/dia

Até 30 meses 1.532 1.759 1.982 5.273 2.302 2,29

30-36 meses 1.596 1.854 1.917 5.367 2.363 2,27

36-42 meses 1.821 1.858 2.064 5.743 2.467 2,33

+42 meses 1.984 1.985 2.093 6.062 2.820 2,15

Sitio Paineiras da Ingaí – Dia de Campo 2011 página - 34-

A despeito da ausência de tratamento estatístico dos dados apurados, verifica-se que a produção média diária mostra-se similar nos animais com primeiro parto até 42 meses, variando entre 2,27 e 2,33 litros por dia de vida, reduzindo a eficiência quando apresentam a primeira cria após os 42 meses, quando a média diária por dia de vida até a 4ª cria se reduz a 2,15 kg de leite. Mantemos as búfalas após a primeira cria permanentemente com um touro que é mantido com bucal marcador a fim de permitir o acompanhamento do comportamento sexual (coberturas, retornos ao cio, previsão de partos, etc.). Pelo manejo mais intensivo, oferta de suplementação alimentar e em alguns anos, melhor distribuição de partos e conseqüentemente menor concentração de coberturas, temos utilizando uma maior relação búfalas:touro, usualmente entre 1:50 e 1:70. Tal manejo vinha se mostrando eficiente até 2008, com taxas de fertilidade usualmente acima de 90%. A partir de 2007, porém, verificamos uma incidência maior de abortos, numero este que aumentou ainda mais em 2009, ocorrências atribuídas a leptospirose com identificação de elevados títulos sorológicos de diversos sorovares, sendo negativas provas para brucelose e tuberculose. Todo o rebanho foi então tratado com estreptomicina e passou a ser vacinado, tendo reduzido a ocorrência de abortos para numero equivalente à incidência histstórica (0-3 casos anuais). Independentemente do numero de abortos, verificou-se em 2010 expressiva queda de fertilidade com causa não bem definida, mas certamente com influência da elevada relação búfalas:touro e com maior concentração de partos observada no período, o que resultou em muitos animais apresentando cios simultâneamente ou em período muito próximos o que eventualmente explica as alterações de comportamento do reprodutor em uso que passou a agredir algumas fêmeas e a excessivamente “proteger” o rebanho, o que nos obrigou a passa a trabalhar com monta assistida, reunindo o touro com a maior parte das fêmeas (exceto aquelas que usualmente são agredidas) por ocasião das ordenhas e, ao final da estação de monta, programamos efetuar inseminação a tempo fixo dos animais que eventualmente se encontrem “vazios”, a fim de manter parte do rebanho desestacionalizado.

O gráfico a seguir apresenta intervalo interparto médio observado desde 1973, destacando-se um aumento em 1984 e em 2001, anos seguintes respectivamente à mudança do rebanho do vale do Ribeira para Sarapuí e posteriormente da Fazenda Paineiras para a propriedade atual (Sítio Paineiras) em Alambari.

30

40

50

60

70

80

90

70%

75%

80%

85%

90%

95%

100%

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

fala

s:to

uro

taxa

de

fe

rtili

dad

e

fertilidade x relação bufalas:touro

Sitio Paineiras da Ingaí – Dia de Campo 2011 página - 35-

Interessante notar que, após 2000, com intensificação do manejo nota-se que 33% do rebanho vem apresentando intervalo interparto com menos de 365 dias (gráfico em destaque), o que vem alterando a distribuição tradicional dos partos, que a cada ano vem em parte se antecipam e, consequentemente a distribuição da produção leiteira durante o ano se torna mais homogênea, conforme se pode verificar no gráfico abaixo que comprara a distribuição de produção havida na exploração extensiva em que a a diferença entre a menor produção mensal de leite e a maior atingiam cerca de 10 vezes em comparação com a distribuição atual, que apesar de continuar sazonal, reduziu tal diferença para cerca de 2,8 vezes.

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Como comentamos, a sazonalidade reprodutiva da espécie continua existente, porém, a intensificação do manejo, altera um pouco sua intensidade, mostrando que o manejo nutricional pode influenciar em certa monta a distribuição dos partos, conforme se observa no gráfico a seguir:

Nutrição Lamentavelmente, ainda pouco se conhece sobre a nutrição de bubalinos, particularmente para manejo a pasto. Em sua região de origem, a Ásia, a base alimentar é composta por sub produtos agrícolas (como palhas de cereais) e concentrados regionais e, na Europa, usualmente os animais são mantidos em estabulação total, recebendo silagem de milho ou azevém e mesmo alfafa como volumosos além de elevado percentual de concentrados na dieta. Da mesma forma, as recomendações para bovinos leiteiros não tem mostrado perfeita adequação aos búfalos face às particularidades da espécie. Conforme já destacado anteriormente, uma melhor oferta nutricional permite gerar uma resposta mais elevada na produção leiteira, o que também se confirma com observação da produção média em nossas propriedades com o aument da oferta alimentar e avanço do processo seletivo desde 1983 .

Produção média por lactação Fazenda e Sítio Paineiras da Ingaí

período 1a cria 2a cria +2 crias observações

1983-88 1.171 1.247 1.310 uma ordenha

1989-00 1.790 1.994 2.199 duas ordenhas

2000-11 2.453 2.724 3.049 sitio-atual

Segundo as recomendações dos autores italianos, as pastagens tropicais não teriam potencial para assegurar produções superiores a 7 kg/dia, para o que, necessário o concurso de concentrados, leguminosas ou forrageiras de inverno como aveia/azevém. Apontam ainda os estudos sobre a nutrição de bubalinos para a maior importância da oferta de energia e menor necessidade de proteínas na dieta relativamente aos bovinos, bem como uma maior necessidade de cálcio face ao maior conteúdo deste no leite bubalino.

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Distribuição de partos geral - Paineiras da Ingaí

Até 82 De 83-00 De 01-11

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No balanceamento da dieta das búfalas leiteiras, tomamos por base as recomendações de técnicos italianos que, em linhas gerais estabelece:

NECESSIDADES DE MANUTENÇÃO (recomendações do INRA-Paris-1988)

Energia: NDT (kg) = [0, 46875 x (Peso Vivo/100)] + 1,09375

Proteínas: PB (g) = 0,85 x Peso Vivo , ou, PD (g) = 0,60 x Peso Vivo

Cálcio: Ca(g) = 6,5 g x (Peso Vivo/100)

Fósforo: P (g) = 5,0 g x (Peso Vivo/100) Obs. Aumentar em 10% a energia no caso de estabulação livre, para atender a o maior dispêndio energético e, para animais a pasto, aumentar de 20 a 60% conforme a declividade do terreno.

NECESSIDADES DE PRODUÇÃO

Energia para produção: NDT (kg) = Leite / 2

Proteínas para produção: PB (g) = 2,84 x (g) PB em 1 litro de leite

Cálcio para produção: Ca (g) = 6,7 g/kg leite produzido

Fósforo para produção: P (g) = 2,3 g/kg de leite produzido

Magnésio para produção: Mg(g) = 0,9 g/kg de leite produzido

(Os cálculos de necessidade de energia são efetuados com base na produção corrigida para

energia (ECM), calculado conforme a fórmula de Di Palo: Leite ECM = [(gordura (g) - 40) + (proteinas (g) - 31)] x 0,01155 +1 x produção multiplocado por 0,3375. De forma prática, podemos estimar que o leite médio brasileiro corresponda a cerca de 1,47 litros de leite ECM. Dados de Tonhati em São

Paulo, com leite com 6,96% de gorduras e 4,2% de proteínas)

NECESSIDADES PARA CRESCIMENTO

Estimando a necessidade de ganho de 100 kg no ano ( 300 g/dia) para as primíparas

atingirem o peso adulto, recomenda-se acrescentar na ração diária:

NDT (kg) = 0,82

PB (g) = 140

Ca (g) = 9,5

P (g) = 3,8

ESTIMATIVA DE INGESTÃO DIÁRIA DE MATÉRIA SECA (EM LACTAÇÃO)

Estima-se uma ingestão de 275 g por kg de leite ECM (ou 400 g por litro produzido)

acrescido de 91 g por kg de peso metabólico (cerca de 11,5 kg para uma búfala de 650 kg

ou 9,5 kg para uma novilha de 500 kg)

Nos primeiros 100 dias de lactação, as búfalas apresentam uma maior necessidade

alimentar (pela produção crescente de leite) e por outro lado, por questões fisiológicas

apresentam uma menor capacidade de ingestão de alimentos o que sugere a necessidade

de aumentarmos neste período a oferta de alimentos.

Acreditamos, com base em observações empíricas, que as grandes produtoras de leite

possuem uma capacidade de ingestão diária de matéria seca até 20% superior ao estimado

pelas recomendações italianas.

No gráfico a seguir, podemos observar na curva superior o comportamento médio da

produção leiteira das búfalas em 2002 verificando-se um aumento da produção progressivo

até 60-70 dias (pico), um período de certa persistência até os 130-150 dias e depois numa

queda progressiva da produção. Na curva inferior, verifica-se o comportamento do peso

corporal do animal, expresso em porcentagem do peso pós parto (zero), onde se nota que

entre 30-45 dias há uma perda de 2 a 3% do peso do animal (12-20 kg) que, por volta de

100-120 dias volta a aumentar e, em torno de 160-170 dias nota-se a recuperação do peso

ao parto e , paralelamente à redução da produção leiteira, o animal passa a ganhar peso

até o final da lactação.

Sitio Paineiras da Ingaí – Dia de Campo 2011 página - 38-

Dividindo-se o rebanho em dois grupos distintos com base no maior ou menos valor genético dos animais, o comportamento produtivo e ponderal observado foi o seguinte:

Verificamos que as mais produtivas, além da maior produção, apresentaram um pico um pouco mais tardio e uma redução da produção mais lenta que as menos produtivas. Por outro lado, as menos produtivas apresentaram menor percentual de perda de peso e retorno do peso ao parto em cerca de 110 dias, enquanto que as mais produtivas voltaram a ganhar peso mais tardiamente, com cerca de 150 dias e somente retornaram com o peso ao parto por volta de 200 dias. Como se vê, apesar de uma curva produtiva e ponderal semelhante, as demandas nutricionais dos animais mais produtivos são distintos daquelas dos animais menos produtivos e, um excesso de oferta aos menos produtivos resultará possivelmente em ganho de peso ao invés de maior produção leiteira. Por outro lado, nos primeiros 60 dias, onde a ingestão de alimentos é menor, concomitantemente à maior produção leiteira, caso haja um déficit nutricional, os animais consomem suas reservas corporais e, com o avanço da lactação que na nossa região coincide com a piora da qualidade das pastagens, ficarão mais sujeitos a um déficit alimentar,

Sitio Paineiras da Ingaí – Dia de Campo 2011 página - 39-

respondendo usualmente com queda permanente da produção leiteira naquela lactação já que, aparentemente, as búfalas são muito sensíveis a privações de nutrientes quando reduzem a produção e, após uma maior oferta costumam responder não com aumento da produção, mas sim, com uma melhor composição de sólidos (gorduras/proteínas) no leite. Em situações de déficits nutricionais intensos referem alguns autores a possibilidade de ocorrência de elevação de acidez titulável (Dornic) no leite e redução da crioscopia (“aguagem”), que retornariam à normalidade corrigindo-se a dieta. Nosso manejo nutricional inicialmente envolvia o fornecimento de concentrados nas ordenhas (mantínhamos os alimentos em cochos na espera e pós ordenha pela manhã e antes da ordenha da tarde os animais eram recolhidos a um estábulo com sombra e recebiam o concentrado da tarde). A quantidade era baseada na média produtiva do rebanho. Após alguns anos, possamos a dividir o rebanho em 3 lotes: mais produtivas, menos produtivas e final de lactação, e distribuímos o concentrado com base na média produtiva. O volumoso fornecido era o mesmo para todos os lotes. Os animais permaneciam a pasto no período das águas vindo ao estábulo apenas para receber concentrado e serem ordenhados. No período seco, ficavam confinados o tempo todo recebendo como volumosos uma mistura de cana + silagem de gramíneas, indo ao pasto entre as ordenhas enquanto se procedia à limpeza do estábulo. Nos últimos dois anos, reduzimos a área de cana e passamos a produzir silagem de milheto e de gramíneas (tanzânia/mombaça) e, em março/abril (final do período chuvoso) cultivamos aveia. No período seco, portanto, os animais após a ordenha da manhã seguem para piquetes de aveia (cerca de 70-80 animais em piquetes de 2.000 m2 divididos por fita eletrificada em mourões de vergalhão) onde permanecem por cerca e 2-3 horas. No dia seguinte monta-se nova área, de tal sorte que a cada 30 dias os animais retornam à primeira área, seguindo-se este manejo até meados de setembro, final do período seco. Estima-se uma produção de 2-6 t de matéria seca por hectare de aveia, dependendo do regime de chuvas. O plantio ao final do período de águas garante uma germinação razoável o que, garantindo ao menos uma rotação, na nossa avaliação, já seria econômico.

Sitio Paineiras da Ingaí – Dia de Campo 2011 página - 40-

A curva em vermelho acima mostra a produção média diária por búfala de leite comercial em 2010, sendo que a primeira seta indica o momento em que os animais entraram na aveia e a segunda, quando acabou o “ciclo” da mesma. Comparativamente ao comportamento de 2009 (linha preta), ou de 2008 (linha pontilhada azul), verifica-se que o manejo foi suficiente para aumentar a persistência da produção leiteira de forma significativa. Apenas para registro, as linhas representam uma curva de tendência, sendo que a produção diária real é a expressa pelas linhas pontilhadas ponteagudas. A linha verde mostra a produção no “dia do controle”, quando o animal é “esgotado”. Neste ano, buscando avaliar o efeito da redução do déficit nutricional do início da lactação, formamos um grupo de manejo com os animais até 60 dias de lactação e a eles fornecemos concentrados à vontade. Observamos um consumo de 6-8 kg/dia de um concentrado com cerca de 20-22% de PB e 75-80% de NDT e, o comportamento produtivo e ponderal observado até o momento (junho) no grupo de maior produtividade (e marrom), comparativamente ao ano anterior (vermelho) foi o seguinte:

Nota-se pois que o volume diário de leite produzido no grupo foi de cerca de 2-3 litros maior até pelo menos os 180 dias de lactação já observados, o que equivale a pelo menos 350-400 litros a mais com a maior oferta, o que equivale ao custo de cerca de 700-800 kg de concentrados (a relação preço pago pelo leite x custo de concentrado é hoje de 2:1), ou seja, o leite adicional gerou uma receita mais que suficiente para financiar o consumo adicional de concentrados (estimado em 2 kg a mais). Já com relação ao peso corporal, os animais passaram a ganhar peso logo aos 15-30 dias pós parto e se mantém ao adentrarem ao terço final da lactação em excelente estado corporal, restando pois observar o comportamento produtivo e reprodutivo neste período.

Produção Nos últimos 27 anos de exploração, a produção leiteira média por lactação dos animais com mais de 2 crias á a expressa na curva abaixo, destacando alguns períodos de aumento significativo da produção como entre 1988 e 1989, período em que passamos a efetuar a 2a ordenha diária, ou de 1996/1998 quando foi introduzido um manejo em pastoreio rotacionado e

-7,00-6,00-5,00-4,00-3,00-2,00-1,000,001,002,003,004,005,006,007,008,009,0010,0011,0012,0013,0014,0015,0016,0017,00

-7,00-6,00-5,00-4,00-3,00-2,00-1,000,001,002,003,004,005,006,007,008,009,00

10,0011,0012,0013,0014,0015,0016,0017,00

15 30 45 60 75 90 105 120 135 150 165 180 195 210 225 240 255 270 285 300

pesos=curvas de tendência (polinomio 6º grau)

plurípras maior bv(peso x prod) - 2010-11

maior bv-

maior BV-11

maior bv-10

maior BV-11

Sitio Paineiras da Ingaí – Dia de Campo 2011 página - 41-

entre 2000/2001 quando efetuamos um amplo descarte na implantação de nossa atual propriedade. Desde então, não temos logrado obter um aumento expressivo, com a produção média se mantendo entre 2.750 e 3.250 kg/lactação, conforme se pode observar no gráfico abaixo.

No ultimo ano, as produções médias alcançadas foram de (respectivamente, numero de animais, produção na lactação, duração , média diária e média do pico de produção)

Valores estes bem aquém da melhor performance individual de cada animal do rebanho que foi:

500750

1.0001.2501.5001.7502.0002.2502.5002.7503.0003.2503.5003.7504.0004.2504.5004.7505.000

19

83

19

84

19

85

19

86

19

87

19

88

19

89

19

90

19

91

19

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19

93

19

94

19

95

19

96

19

97

19

98

19

99

20

00

20

01

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

20

10

Evolução da produção por lactação pluríparas (+2 crias)

Sitio Paineiras da Ingaí – Dia de Campo 2011 página - 42-

Se compararmos a curva abaixo de evolução do valor genético (em preto) com a evolução de produção por lactação,podemos notar que o crescimento da produção foi superior ao crescimento do valor genético ao final dos anos 80, início dos anos 90 e o inverso ocorreu na última década. Este comportamento nos sugere que no primeiro período o melhor manejo empregado resultou num aumento da produção e que, mais recentemente, apesar da evolução do potencial genético dos animais, nosso conhecimento e aplicação de manejo têm sido insuficientes para permitir que os animais expressem seu real potencial produtivo.

Em função desta constatação e, na ausência de maiores pesquisas sobre nutrição e potencial de consumo dos bubalinos criados em ambientes tropicais é que buscamos adequar nossas instalações e forma de manejo visando aferir se formas alternativas de manejo e arraçoamento seriam capazes de alterar esta situação. Neste sentido, adquirimos contígua à propriedade, ampliando a área de exploração de 50 para 64 ha, onde serão mantidos os animais de produção em dois grupos de manejo e, cada grupo, com 2-3 lotes com suplementação diferente, divididos por nível produtivo, distância ao parto e

-50

50

150

250

350

450

550

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

Evolução da produção por lactação e valor genético das pluríparas (+2crias)

Sitio Paineiras da Ingaí – Dia de Campo 2011 página - 43-

ordem de cria. Estaremos reduzindo um pouco a lotação no período favorável (de 6-7 para 5 UA/ha) visando aumento de oferta e potencialmente melhor dieta selecionada; ensilando uma maior proporção de milheto com tanzânia/mombaça e ofertando no período seco como volumoso (melhor composição nutricional do milheto). Preliminarmente (aguardamos encerrar a observação dos resultados deste ano) propomos reproduzir o manejo atual de maior nível de concentrados nos primeiros 60 dias a fim de minimizar o stress nutricional e consumo de reservas corporais usual nesta fase de lactação. A incorporação da área acima, visa ainda aumentar o rebanho para 100 matrizes e ampliando a escala produtiva e, para tanto estamos ultimando a construção de uma nova sala de ordenha (em fosso, com 6 conjuntos de ordenha em sistema canalizado) bem como de um segundo estábulo, a fim de acomodar o segundo lote. A ocupação da propriedade passará pois a ter a seguinte distribuição:

Mão de Obra Inicialmente, em 2001, a propriedade era conduzida por um staff composto por um gerente administrativo, um encarregado (prático) e mais 2 ou 3 auxiliares. Atualmente, o aumento de escala prevê a utilização de 6 funcionários operacionais, um gerente operacional com nível superior (veterinário) além da gerencia administrativa. Os resultados zootécnicos e econômicos obtidos demonstram grandes variações nos momentos de mudanças de gestão e a importância de uma equipe motivada e qualificada para obtenção de melhores resultados.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

Pastagens Forrageiras Cana Benfeitorias Água Mata

34,7

3,8 5,7

9,5

13,7

25,3

48,6

9,6

6,2

9,6

14,2

34,5

ha Ocupação áreas

2000 2010

Sitio Paineiras da Ingaí – Dia de Campo 2011 página - 44-

Custos e resultados econômicos Na implantação da propriedade, os custos dos investimentos necessários foram assim distribuídos: Conforme já mencionado, dois são os principais itens do negócio, a produção leiteira (que envolve a cria) e a recria, tanto de machos quanto de fêmeas, seja para reprodução, seja para abate. Neste sentido, o gráfico abaixo apresenta a produtividade por área obtida a cada ano nestas atividades:

Verifica-se que a produção leiteira apresentou comportamento bastante irregular, porém com exceção de 2001 e 2005, quando se situaram entre 4.200 e 4.400 kg de leite por hectare,

300

400

500

600

700

800

900

1.000

1.100

1.200

4.200

4.400

4.600

4.800

5.000

5.200

5.400

5.600

5.800

6.000

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 pesoleite

kg leite/ha kg peso/ha

Propriedade50%

Infra-Estrutura e

Construções divs15%

Construções para Gado

10%

Veículos e Equipamento

s12% Pastagens

4% Rebanho9%

Investimentos

Sitio Paineiras da Ingaí – Dia de Campo 2011 página - 45-

permaneceram em torno de 4,8 a 5,4 mil litros por hectare, e em 2010, atingiram quase 6 mil litros/ha. Com relação à produção medida em kg de peso vivo por hectare dos animais de recria, verificam-se resultados variáveis entre 500 e 1.100kg/hectare , destacando-se que, por vezes, os animais são comercializados mais precocemente para reprodução (ou recria), resultando menor produção por área por redução do rebanho. Procuramos acompanhar a evolução dos custos de produção em relação ao preço recebido pelo leite, que segue representado pelo gráfico a seguir:

Partindo-se em 2001 de um índice único de preço e custo (base=100), verifica-se que entre 2002 e 2010, a variação de custos sempre superou o valor pago pelo produto, sendo que em 2009, enquanto os custos subiram 2,7 vezes mais que em 2001, o preço recebido aumentou apenas 1,6 vezes, chegando pois a uma defasagem de quase 70% entre um e outro. Em 2010, calculávamos uma defasagem da ordem de 27% no preço do leite. As medidas adotadas para ampliar a escala de produção já mencionadas e a melhora na gestão dos custos permitiu reduzir a pressão relativa de custos e, pela maior escala, menor sazonalidade produtiva e mudanças na comercialização do leite, pudemos obter um certo reajuste na remuneração do produto de tal forma que até maio/2011, a média dos últimos 12 meses mostra pela primeira vez um aumento de custos levemente inferior ao aumento na remuneração do leite. Do ponto de vista absoluto, porém, acompanhando mês a mês o custo médio de produção de 100 litros (curva azul abaixo) comparativamente ao preço recebido pelos mesmos 100 litros de leite (curva vermelha abaixo), com base na média dos últimos 12 meses (para reduzir o efeito sazonal das despesas e receitas na atividade pecuária), observa-se a estreita margem na obtida até meados de 2007 quando os custos dispararam sem nenhuma contrapartida na evolução dos preços recebidos, o que somente começou a ser revertido no final de 2010.

80

100

120

140

160

180

200

220

240

260

280

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

2001 = 100

Comparação da evolução relativa entreCusto de Produção x Preço Recebido

Leite Búfala

Custos de Produção Preço Recebido

Sitio Paineiras da Ingaí – Dia de Campo 2011 página - 46-

Esta situação somente foi absorvida em função dos demais centros de negócio da propriedade que são a comercialização de animais para reprodução, recria ou abate, responsável por cerca de 30-35% da receita bruta da propriedade. Os itens de custo de manutenção da propriedade estão assim distribuídos:

Destaque-se que alimentação (rações e pastagens), como em propriedades leiteiras de bovinos de maior produção, representam quase 50% do custo operacional.

50

60

70

80

90

100

110

120

130

140

150

160

170

180

190

200

210

dez-0

1

mar-

02

jun-0

2

set-

02

dez-0

2

mar-

03

jun-0

3

set-

03

dez-0

3

mar-

04

jun-0

4

set-

04

dez-0

4

mar-

05

jun-0

5

set-

05

dez-0

5

mar-

06

jun-0

6

set-

06

dez-0

6

mar-

07

jun-0

7

set-

07

dez-0

7

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08

jun-0

8

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08

dez-0

8

mar-

09

jun-0

9

set-

09

dez-0

9

mar-

10

jun-1

0

set-

10

dez-1

0

mar-

11

jun-1

1

R$

Custo x Receita por 100 litros de leite

Custo Recebido

M.Obra28%

Manutenção8%

Consumo/Admin

4%Veíc/Máq./Impl

10%

Pastagens18%

Rações30%

Manejo4% Outras

2%

Elementos do Custo de Prudução -2011

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A monitoração dos itens de custo mostram sua variação irregular no decorrer todo tempo e estão representadas no gráfico abaixo:

Nota-se entre 2008-2010 um aumento no peso do item “consumo/admin”, que reflete o aumento n o custo de manutenção de instalações (prédios, cercar, estradas), bem como entre 2010/11, o aumento do custo com mão de obra já comentado anteriormente e, nos últimos 5 anos, o destacado aumento de “rações”, pressionado pelo aumento no preço das comodities agrícolas e sub-produtos que compõem a dieta.

020406080

100120140160180200220240260280300320340360380400420440460

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Evolução dos custos de produção

M.Obra Consumo/Admin. Veículos/Máq./Implem Pastagens Rações Manejo Outras

-2%

-1%

0%

1%

2%

3%

4%

5%

6%

7%

8%

9%

10%

11%

12%

13%

14%

15%

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

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No gráfico acima, podemos observar a variação da rentabilidade anual sobre o patrimônio investido, aí incluído inclusive o recurso aplicado na aquisição da propriedade. Nota-se que, apesar de variável, a rentabilidade anual se situou na maior parte do tempo entre 2 e 7%, havendo um ano com resultado de 15% em 2007 e, em contra-partida, um resultado negativo em 2010. Nem sempre o aumento da produtividade resulta em melhor resultado econômico,conforme fica evidenciado na observação conjunta da rentabilidade e produtividade leiteira individual.

Nas duas setas em vermelho, assinalamos períodos em que se iniciaram mudanças significativas na gestão e, em que pese numa delas não se ter observado alterações na produtividade, ambas parecem demarcar uma retomada na rentabilidade sobre o patrimônio.

Sítio Paineiras da Ingaí Otavio Bernardes 18/06/2011 [email protected]

-2%

0%

2%

4%

6%

8%

10%

12%

14%

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Rentabilidade Anual sobre o Patrimônio

7,00

7,40

7,80

8,20

8,60

9,00

9,40

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Produção comercial média de leite/búfala/dia

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