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PRODUÇÃO DE ALIMENTOS NA INDÚSTRIA:
PRINCIPAIS FERRAMENTAS DA QUALIDADE
Ana Carolina do Nascimento Gomes (UEZO)
Aylla Roberta da Silva Victer Ferreira (UEZO)
Elga Batista da Silva (UFRRJ)
A indústria de alimentos é um dos grandes pilares da economia brasileira.
Por isso, a preocupação em garantir a segurança do alimento, a qualidade
dos produtos e o cumprimento de normas específicas para essa área de
atuação é primordial numa organização da área de alimentação. Sendo
assim, a utilização de ferramentas é essencial para a gestão da qualidade de
uma indústria produtora de alimentos ou bebidas. Esse trabalho realizou
uma pesquisa bibliográfica com artigos científicos sobre ferramentas da
qualidade utilizadas nas indústrias de alimentos publicados nos últimos dez
anos. Desse modo, foram realizadas buscas nas bases de dados Science
Direct e Google Acadêmico, e nos Anais eletrônicos da Associação Brasileira
de Engenharia de Produção (ABEPRO). Em seguida, os artigos selecionados
foram analisados para identificar quais foram as ferramentas da qualidade
mais utilizadas pelos autores, quais os tipos de organizações foram
estudados e as principais tendências dos estudos sobre gestão da qualidade
no setor da indústria de alimentos. Observou-se que 26% dos trabalhos
analisaram as indústrias produtoras de alimentos de origem vegetal. Além
disso, detectou-se que as três ferramentas mais utilizadas nos trabalhos
foram o diagrama de Ishikawa (39%), fluxograma (35%) e checklist (30%).
Diversas pesquisas (63%) apontaram que a gestão da qualidade em uma
indústria de alimentos pode ser implementada a partir de um conjunto de
ferramentas da qualidade para facilitar, auxiliar e controlar as ações a serem
tomadas, sendo o objetivo principal dessa iniciativa é prezar pelo
cumprimento das legislações e garantir as Boas Práticas de Fabricação.
Palavras-chave: Gestão da qualidade, ISO 22000, diagrama de Ishikawa
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção”
Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
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1. Introdução
A produção de alimentos é um dos pilares de qualquer economia, seja por sua abrangência
e essencialidade, seja pela rede de setores direta e indiretamente relacionados, como o
agrícola, o de serviços e o de insumos como aditivos, fertilizantes, agrotóxicos e embalagens
(GOUVEIA, 2006). O setor de alimentação encerrou o ano de2016 com um faturamento de
R$ 614,3 bilhões, o que representou um crescimento nominal de 9,3% em relação a 2015, de
acordo com dados da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA, 2016).
Diante de tanta competitividade no mercado de alimentos, a preocupação com a qualidade
de um produto, ou de um processo produtivo, aumenta cada vez mais. O sistema de gestão da
qualidade passa a ser mais estratégico e, às vezes, torna-se um destaque para a empresa
(PALADINI e CARVALHO, 2005). De acordo com Chiavenato (2005) qualidade é a
adequação a alguns padrões previamente definidos. Diz-se que um produto é de qualidade
quando ele atende aos padrões estabelecidos e exibe as especificações adotadas conforme
determina a legislação sanitária brasileira (NEGREIROS, 2012).
Assim como a qualidade, o conceito de segurança do alimento tem sido bastante
destacado em muitos países na área de produção de alimentos nos últimos anos, fato que tem
estimulado a realização de estudos acerca das condições higiênicas na fabricação de
alimentos. As práticas dos processos produtivos de alimentos, no que se refere à segurança do
alimento, estão amplamente amparadas em um conjunto de programas e normas que visam
garantir as condições adequadas para evitar que produtos alimentícios veiculem quaisquer
contaminantes (TALAMINI et al., 2005).
Com isso, os procedimentos de avaliação adotados para garantir a segurança do alimento
são hoje um tema de discussão internacional. Uma prova dessa preocupação é a publicação da
Norma ISO 22000 – Food Safety Management Systems – Requirements, que especifica os
requisitos para o sistema de gestão da segurança dos alimentos, onde uma organização na
cadeia produtiva precisa demonstrar sua habilidade em controlar os perigos, a fim de garantir
que o alimento estará seguro até o término de sua vida útil (ABNT, 2006).
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Além da norma ISO supracitada as ferramentas da qualidade assumem um papel
importante na gestão das indústrias de alimentos. Essas ferramentas são utilizadas para
definir, mensurar, analisar e propor soluções aos problemas identificados que interferem no
desempenho dos processos organizacionais e são usadas como suporte ao desenvolvimento da
qualidade (MIGUEL, 2006).
Dentre as ferramentas mais utilizadas para essa finalidade pode-se destacar: plano de ação
5W2H, diagrama de Ishikawa, seis sigmas, ciclo PDCA (Plan, Do, Check e Act), checklist,
Análise de Perigo e Pontos Críticos de Controle (APPCC), fluxograma e coleta de dados,
entre outras.
O presente trabalho teve como objetivo verificar quais são as ferramentas da qualidade
mais utilizadas pelos autores de artigos científicos em pesquisas realizadas na indústria de
alimentos.
2. Metodologia
Para elaboração desse trabalho foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre a utilização
das ferramentas da qualidade no setor industrial do ramo alimentício, semelhante à
metodologia utilizada por Toledo e Mastrantonio (2009). Desse modo, foram pesquisados
artigos publicados entre os anos de 2007 e 2017 nas bases de dados Science Direct e Google
Acadêmico, e também nos Anais Eletrônicos da Associação Brasileira de Engenharia de
Produção (ABEPRO). As buscas foram realizadas através das seguintes palavras chave:
“gestão da qualidade”, “indústria de alimentos”, “ferramentas da qualidade” e “ISO 22000”.
Após essa etapa os materiais selecionados foram analisados com relação a aspectos como
quais são as ferramentas da qualidade mais empregadas, as tendências sobre gestão da
qualidade nas indústrias de alimentos e tipos de indústrias serviram como campos para as
pesquisas científicas estudadas.
3. Resultados e discussão
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Verificou-se, dentre os 22 artigos selecionados, que 23% dos trabalhos são artigos
elaborados a partir de pesquisas realizadas em indústrias produtoras de alimentos de origem
vegetal, seguida das indústrias de bebidas (18%), biscoitarias (14%), produtos cárneos (9%) e,
por último, produtos lácteos, panificação, pastifício e doçaria, todos com 5%.
Além desses trabalhos, 18% dos artigos analisados mencionaram que suas pesquisas
foram realizadas na indústria de alimentos, porém não identificaram o tipo da indústria,
conforme demonstrado no gráfico 1.
Gráfico 1 – Tipos de indústrias alimentícias usadas como campos de pesquisa dos artigos científicos
selecionados.
Após a seleção dos artigos, foi possível identificar quais ferramentas foram utilizadas
nesses estudos. Percebeu-se que63% dos artigos utilizou um conjunto de ferramentas como
uma proposta de incremento da qualidade (Tabela 1), o que pode ser de grande utilidade uma
vez que cada ferramenta apresenta particularidades em termos de aplicação. Além disso, essas
ferramentas podem assumir papéis complementares quando usadas em conjunto, o que pode
facilitar a elaboração e a implementação de soluções eficazes.
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Tabela 1 – Artigos que utilizaram as ferramentas da qualidade em pesquisas realizadas em indústrias de
alimentos.
Tema do artigo Ferramentas
utilizadas Principais resultados Referência
Análise da eficácia das
ferramentas da qualidade
em uma indústria
alimentícia na identificação
de problemas na produção
Brainstorming, lista de
verificação, diagramas
de Pareto, de Ishikawa
e de dispersão,
histograma, gráfico de
controle, plano de
ação e fluxograma
Realizou-se uma análise dos problemas para uma
ação focalizada nos que requerem uma atenção
maior, utilizando ferramentas para a melhoria
contínua dos seus processos visando à redução
dos defeitos e reduzindo custos
Arruda,
Santos e
Melo (2016)
Identificação das etapas dos
processos produtivos,
analisando ações que
agregam valor aos mesmos
Organograma e
fluxograma
Os layouts dos processos eram inadequados.
Foram propostas alternativas de gestão para
otimizar o rendimento e a qualidade
Remus et al.
(2016)
Aplicação do ciclo PDCA1
no setor de PCP2,
precisamente na capacidade
da empresa em atender a
demanda.
Ciclo PDCA,
brainstorming, lista de
verificação, diagrama
de Ishikawa e plano de
ação
O ciclo adequou a empresa à nova demanda do
mercado, melhorando serviços de atendimento,
com um plano estratégico satisfatório para um
novo mercado competitivo
Longo et al.
(2016)
A importância da prontidão
no CEP3 para a sua
implementação em uma
indústria de alimentos
Lista de verificação e
6 sigma
Fatores de prontidão do CEP são o apoio da alta
administração, o senso de urgência, o sistema de
medição e o envolvimento dos funcionários
Lim e
Antony
(2016)
Utilização das quatro
primeiras etapas do MASP4
para analisar o processo de
desperdícios de embalagens
Lista de verificação,
diagramas de Ishikawa
e de Pareto e
fluxograma
Elaboração de um plano de ação para solucionar
os problemas relacionados aos maquinários
poucos vitais (não havia uma uniformidade na
empresa) prejudicando processos produtivos
Gadelha e
Morais
(2015)
Análise do processo
produtivo de uma fábrica de
polpas para identificar e
analisar as causas de um
problema recorrente
Ciclo PDCA,
brainstorming, plano
de ação, diagrama de
Ishikawa, matriz
GUT5e fluxograma
A eficiente utilização das ferramentas da
qualidade, como o plano de ação, possibilitou a
identificação da principal falha do sistema e
propiciou a descoberta da sua respectiva solução
Sousa et al.
(2015)
Análise da situação da
gestão da qualidade em
uma unidade de laticínios e
propor sugestões
5S6 e APPCC7
Necessidade de implantar novas ferramentas e
auxiliar na gestão da qualidade (poucas foram
aplicadas)
Santos et al.
(2013)
Proposta de implantação do
CEP em uma indústria de
castanhas de caju
Diagrama de
Ishikawa,
brainstorming e coleta
de dados
O CEP na empresa incrementou a capabilidade
do processo, com consequentes ganhos de
qualidade e produtividade
Silva et al.
(2012)
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Verificação da necessidade
de elaborar e implantar
gráficos de controle na
análise da granulometria do
produto na indústria de
derivados de milho
Plano de ação, ciclo
PDCA, lista de
verificação e diagrama
de Pareto
Necessidade de gerar gráficos de controle e
estabelecer limites de controle para a
granulometria. Elaborar um plano de ação para
criar gráficos de controle (etapas do processo)
Negreiros
(2012)
Aplicação das ferramentas
da qualidade visando a
padronização do tamanho
da massa da lasanha
Estratificação,
fluxograma,
histograma, carta de
controle, diagrama de
Ishikawa, plano de
ação e ciclo PDCA
A análise dos dados serviu como base para a
construção de um plano de ação para melhoria
do processo produtivo
Gonçalves
et al. (2012)
Investigação da Gestão da
Qualidade do Produto no
processo de produção em
uma Indústria de bebidas
APPCC e Ciclo PDCA
Sistemas contribuíram para desenvolver
competências ligadas ao planejamento, atuação
proativa, capacidade de trabalho em equipe,
melhoria da confiabilidade dos sistemas
produtivos.
Silva,
Kovaleski e
Gaia (2012)
Aplicação da abordagem
estatística na gestão e
controle da qualidade em
indústrias de alimentos
Coleta de dados e
APPCC
A implantação dos programas de segurança do
alimento foi útil para usar a estatística e outras
abordagens quantitativas
Santos e
Antonelli
(2011)
Redução nas perdas de
insumos na fabricação e na
armazenagem de
refrigerantes
Cinco porquês,
diagrama de Ishikawa
e 6 sigma
Redução de 84% no indicador de interesse, com
economia de R$ 441 mil e evolução do sigma do
processo de 1,8 para 2,09.
Ferreira,
Marçal e
Menezes
(2009)
Avaliação sobre como as
ferramentas da qualidade
auxiliam no controle de
perdas de embalagens na
produção de aves resfriadas
Lista de verificação,
histograma, diagramas
de Pareto, de Ishikawa
e de dispersão, carta
de controle e
fluxograma
Reduções de perdas de embalagens em 66%, de
custos com a diminuição da utilização da
seladora, de tempo, de mão de obra e
embalagens, minimização do processo de
retrabalho.
Oliveira et
al. (2009)
Avaliação da gestão da
qualidade em um frigorífico PPHO8 e APPCC
O frigorífico está posicionado na quarta era da
gestão da qualidade (gestão estratégica), em
consonância com as exigências do mercado
consumidor nacional e internacional
Bueno et al.
(2007)
1Plan, do, check, act; 2Planejamento e Controle da Produção; 3Controle Estatístico de Processos; 4Método de Análise e
Solução de Problemas; 55S: Cinco sensos de utilização, ordenação, limpeza, saúde e autodisciplina; 6Gravidade,
Urgência e Tendência; 7Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle; 8Procedimento Padrão de Higiene
Operacional.
Após identificar e destacar os seguimentos industriais envolvidos nos artigos estudados
percebeu-se que a maioria das pesquisas (41%) abordaram a ferramenta de qualidade
diagrama de Ishikawa, conforme apresentado no gráfico 2.
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Gráfico 1 – Ferramentas da qualidade utilizadas nos artigos acerca da aplicação das mesmas nas
indústrias de alimentos.
O diagrama de Ishikawa é uma ferramenta também conhecida como diagrama de causa e
efeito ou espinha de peixe, que permite identificar a possível causa raiz encontrada para a
ocorrência de não conformidades, permitindo assim a solução dessa causa e,
consequentemente, apresentando a melhoria de processo da atividade (FREITAS et al., 2014).
Segundo Corrêa e Corrêa (2008) o problema é colocado no lugar onde ficaria a cabeça do
peixe. A partir daquilo que seria sua espinha dorsal, vão sendo acrescidas ramificações onde
são inseridas as causas possíveis para o problema (uma em cada ramo), partindo das mais
gerais e ramificando para as causas das causas e assim por adiante, até que chegue às
possíveis causas-raízes do problema.
Do total de artigos que abordaram a espinha de peixe, apenas um estudo utilizou
exclusivamente o diagrama para identificar as causas de um problema, conforme pesquisa
5S: Cinco sensos de utilização, ordenação, limpeza, saúde e autodisciplina; PDCA: plan, do, check e
act; Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle; GUT: Gravidade, Urgência e Tendência.
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conduzida por Monteiro, Carneiro e Moreira (2012) que foi realizado em uma biscoitaria.
Apesar deste trabalho não ter conseguido alcançar o objetivo principal de diminuir a
variabilidade dos biscoitos, ele comprovou que uma rede neural pode aprender o padrão do
processo. Os autores utilizaram um diagrama de Ishikawa para apontar quais as possíveis
causas do problema estudado, e identificaram que as constantes trocas no ajuste do
maquinário causavam problemas que acarretavam na variabilidade dos biscoitos, como
presença de outlayers e informações contraditórias na coleta de dados.
Em contrapartida, alguns desses artigos utilizaram o diagrama de Ishikawa juntamente
com outra ferramenta da qualidade, como nas pesquisas conduzidas por Arruda, Santos e
Melo (2016), Longo et al. (2016), Gadelha e Morais (2015), Sousa et al. (2015), Silva et al.
(2012), Gonçalves et al. (2012), Ferreira, Marçal e Menezes (2009) e Oliveira et al. (2009)
(Tabela 1).
A segunda ferramenta da qualidade mais utilizada nos artigos selecionados foi o
fluxograma (36%) (Gráfico 2). Essa ferramenta é uma representação gráfica utilizada para
descrever todas as atividades necessárias à execução de um processo. É essencial que um
fluxograma apresente uma sequência lógica das ações que compõem um processo, facilitando
assim a interpretação desse modelo apresentado (TARDIN et al., 2013).
Para Peinado e Graeml (2007) o fluxograma é de grande utilidade numa organização e
propicia benefícios como, por exemplo, aperfeiçoar o entendimento do processo, evidenciar
atividades desnecessárias, identificar oportunidades de melhorias e indicar claramente como
deverá ser realizada uma determinada atividade.
Dentre os artigos pesquisados, 36% abordaram a utilização de fluxogramas na gestão da
qualidade, e desses verificou-se que apenas o trabalho realizado em uma indústria de biscoitos
Silva et al. (2016) empregou, exclusivamente, essa ferramenta. Essa pesquisa apresentou a
análise do mapeamento da situação atual da empresa, transformando as atividades internas em
externas ou uma simplificação das mesmas, realizando assim o balanceamento dessas
atividades entre setores e padronizando um novo método de trabalho.
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A terceira ferramenta mais utilizada foi a do checklist, presente em 32%dos artigos
selecionados (Gráfico 2). Essa ferramenta geralmente é aplicada para a verificação de
procedimentos repetitivos e/ou padronizados. Também possibilita o controle na execução de
tarefas e nas avaliações preliminares ou posteriores a atividade (LINS, 1993).
Além disso, os estudos mencionados na Tabela 1 utilizaram o checklist como uma
ferramenta de análise e verificação das etapas de um processo para, em seguida, aplicar outras
ferramentas da qualidade. Foram os casos dos artigos de Arruda, Santos e Melo (2016),
Longo et al. (2016), Lim e Antony (2016), Gadelha e Morais (2015), Negreiros (2012) e
Oliveira et al. (2009).
Além dos artigos apresentados na tabela supracitada, o trabalho de Pereira et al. (2015),
realizado em uma doçaria, utilizou apenas o checklist como ferramenta da qualidade para
elaborar o Procedimento Operacional Padronizado (POP) da unidade estudada. A referida
pesquisa apresentou como principais resultados a implementação da inspeção contínua e
sistemática de todas as etapas do processo que interferem na qualidade higiênico-sanitária dos
produtos elaborados e destinados ao consumo humano.
Além das ferramentas já mencionadas, cita-se também o plano de ação 5W2H, presente
em 23% dos artigos estudados. Essa técnica tem por objetivo identificar, segmentar e
estruturar os dados e rotinas mais importantes de um projeto ou de uma unidade de produção.
O método é constituído de sete perguntas, utilizadas para implementaras soluções, que são:
What (o que fazer?), Who (quem vai fazer?), Where (onde será realizada?), When (quando
será feito?), Why (porquê será feito?), How (como realizar?) e, por fim, How much (quanto
custa para executar?) (BEHR, MORO e ESTABEL, 2008).
Nenhum dos artigos encontrados sobre essa ferramenta utilizavam apenas a mesma, pois
os referidos trabalhos empregavam o plano de ação como uma forma de descrever pontos
previamente detectados por outra ferramenta da qualidade. As pesquisas de Negreiros (2012)
em uma indústria de produtos vegetais, e de Gonçalves et al. (2012), em um pastifício, são
exemplos de trabalhos que usaram o plano de ação para descrever processos que já haviam
sido analisados com ferramentas complementares (Tabela1).
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O ciclo PDCA (Plan, Do, Check and Action) é um método para gerenciar processos ou
sistemas que tem por objetivo a melhoria contínua. Essa ferramenta possibilita que uma
empresa gerencie seus processos adequadamente, desempenhando-os com uma quantidade
suficiente de recursos (COSTA, GASPAROTTO; 2016).
Essa ferramenta é composta por quatro fases, sendo que a primeira delas consiste no
planejamento (plan) dos processos que devem ser desempenhados para alcançar um objetivo.
Em seguida, ocorre o desenvolvimento (do), que é quando o projeto desenvolvido na etapa
anterior é executado. A terceira fase, de checagem (check), é a verificação da eficácia do que
foi realizado no desenvolvimento. A quarta e última etapa é a ação ou act, que foca
padronização dos processos, treinamento da equipe e acompanhamento do andamento dos
processos descritos (ANJOS et al., 2012).
O PDCA foi utilizado em 23% dos artigos selecionados para padronizar os processos e
gerenciar melhor o desempenho das atividades. Os artigos que comprovaram essa melhoria
contínua utilizando o PDCA juntamente com outra ferramenta foram os de Silva, Kovaleski e
Gaia (2012), realizado em uma indústria de bebidas, e o de Longo et al. (2016) que foi
desenvolvido em uma indústria de produtos de origem vegetal (Tabela 1).
4. Conclusão
No presente trabalho foi possível perceber que a ferramenta diagrama de Ishikawa, que
busca a solução na causa raiz dos problemas encontrados, foi a mais abordada nos estudos
científicos selecionados. Além disso, evidenciou-se que os autores das pesquisas citadas no
presente trabalho utilizaram um conjunto de ferramentas da qualidade em seus trabalhos, além
do diagrama de Ishikawa, para encontrar soluções voltadas à gestão da qualidade em
indústrias de alimentos.
Sendo assim, a gestão da qualidade de uma organização deve utilizar as ferramentas
citadas ao longo desse artigo para facilitar, auxiliar e controlar as ações a serem tomadas, cujo
objetivo principal é prezar pelo cumprimento das legislações.
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XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
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