Upload
dangnhu
View
220
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
PRODUTOS QUÍMICOS E OS EFEITOS
NA SAÚDE DO TRABALHADOR - UM
ESTUDO DE CASO EM SERVIÇOS DE
LIMPEZA E CONSERVAÇÃO
Maysa Mayara Silva Patriota (UFCG )
Maria Betania Gama Santos (UFCG )
Este trabalho objetivou estudar os efeitos dos produtos químicos de
limpeza na saúde dos trabalhadores de uma empresa prestadora de
serviços de limpeza e conservação na cidade de Campina Grande - PB.
A metodologia utilizada constou de revissão bibliográfica sobre o tema
e a aplicação de questionários mediante a realização de entrevistas
com 49 trabalhadores, na qual se buscou investigar os aspectos de
utilização dos produtos químicos de limpeza, as principais queixas
relatadas pelos funcionários ao utilizar estes produtos no dia-a-dia, a
usabilidade de Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s), bem
como as ações da empresa para preservação da saúde do trabalhador.
Após a análise dos resultados, verificou-se descontinuidade com
relação à frequência do uso de EPI’s, devido à falta de uma
fiscalização e a pouca conscientização dos trabalhadores, e um alto
índice de entrevistados relatou sentir dores de cabeça, irritação nos
olhos e no nariz durante o exercício do trabalho. Apesar do caráter
exploratório, esta pesquisa contribui como um alerta para os riscos
que podem existir na saúde dos trabalhadores que estão submetidos
diariamente ao contato com os agentes químicos presentes na
formulação dos produtos de limpeza. Constatou-se que a convivência
com os produtos de limpeza, podem ocasionar incômodos e
adoecimentos provocados por agentes químicos, que, aparentemente
inofensivos, podem contribuir com aparecimento de doenças
ocupacionais.
Palavras-chave: Higiene Ocupacional, serviços de limpeza e
conservação.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
2
1. Introdução
De acordo com informações publicadas pela Organização Internacional do Trabalho – OIT
(2013) sobre a saúde do trabalhador estima-se a morte anual de 2,02 milhões de pessoas por
doenças associadas ao trabalho. Os números também são altos com relação às doenças não
letais decorrentes do trabalho: 160 milhões de pessoas. Estes dados são interessantes
principalmente devido à enorme massa trabalhadora existente no mercado atual e que corre o
risco de entrar para as estatísticas. Para redução dessa estatística é importante que as empresas
coloquem em prática medidas de prevenção.
Para isso, a Higiene Ocupacional estabelece uma relação entre a exposição aos riscos e seus
possíveis efeitos, levando em consideração as particularidades tanto da atividade e ambiente
de trabalho quanto à individualidade do próprio trabalhador (FUNDACENTRO, 2004).
Padovani (2009) descreve os serviços de limpeza e conservação como sendo um serviço
básico realizado por empresas terceirizadas que utilizam de uma mão de obra precária e
negligente no tocante a segurança e saúde dos trabalhadores.
Sendo assim, embora existam normas regulamentadoras que devem ser obrigatoriamente
colocadas em prática, muitas empresas prestadoras de serviços de limpeza mascaram as reais
condições de trabalho e expõe seus empregados a situações críticas.
Ao observar algumas dessas situações de trabalho, não é difícil encontrar trabalhadores
realizando suas tarefas sem usar nenhum tipo de equipamento de proteção individual e sem
nenhum conhecimento sobre os riscos a que estão expostos. Assim como também não é difícil
encontrar empresas que evitam o debate sobre os riscos por acreditar que a informação
despertará no trabalhador o interesse da busca por melhores condições de trabalho, e, por
consequência, poderá resultar em ações judiciais contra a própria empresa.
Logo, este trabalho justifica-se pela carência da exploração do tema higiene ocupacional com
foco no estudo das condições de trabalho em empresas prestadoras de serviço em limpeza e
conservação e também pelo desejo de conhecer a realidade destes trabalhadores, bem como os
impactos que a exposição com os produtos químicos podem trazer para a saúde.
Diante do exposto, este trabalho objetiva estudar a relação entre os produtos químicos de
limpeza e seus efeitos na saúde dos trabalhadores de uma empresa de serviços gerais,
localizada na cidade de Campina Grande – PB.
2. Higiene ocupacional nos serviços de limpeza e conservação
No que concerne aos serviços de limpeza e conservação, pode-se dizer que os trabalhadores
deste setor estão diariamente realizando tarefas que os sujeitam a riscos físicos, químicos e
biológicos e que, aplicando os conhecimentos sobre a Higiene Ocupacional neste contexto,
consegue-se eliminar ou minimizar a exposição a determinados agentes nocivos à saúde e
integridade do trabalhador. Para isso, como ação prevencionista, é de extrema importância a
implantação de uma política de gerenciamento de riscos e como ação mitigadora, a
fiscalização sobre o uso correto e contínuo dos equipamentos de proteção individual e
coletiva.
As normas estabelecidas pela CLT também devem ser aplicadas às empresas terceirizadas,
cabendo a esta: elaborar e cumprir o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional –
PCMSO, com o intuito de detectar e controlar possíveis efeitos nocivos à saúde do
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
3
trabalhador; o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA, avaliando os riscos
ambientais nos postos de trabalho; o Laudo de Insalubridade, com a verificação dos níveis de
intensidade e tempo de exposição do trabalhador a efeitos danosos; e a Comissão Interna de
Prevenção de Acidentes – CIPA, orientando os trabalhadores sobre as medidas de prevenção,
riscos de acidentes, entre outros (PADOVANI, 2009).
Porém, muitas empresas não aplicam medidas de prevenção no dia a dia, restringindo-as à
teoria e pouca ou nenhuma prática. Acreditando que medidas prevencionistas devem ser
utilizadas apenas em empresas com alto potencial de risco e/ou que o custo de prevenção é
maior, essas empresas chegam a desconsiderar que qualquer dano à saúde do trabalhador
possa estar relacionado à atividade laboral, passando assim, a atuar apenas como remediadora.
3. Os efeitos dos riscos químicos na saúde dos trabalhadores dos serviços de limpeza
Na visão de Peixoto (2012), o controle das substâncias químicas é de grande dificuldade
devido aos inúmeros tipos de produtos químicos existentes atualmente no mercado. Além de
suas características inconstantes de volatilidade, toxidade e das diversas formas de penetração
(vias respiratórias, cutâneas ou ingestão, seja pelo tempo de exposição), outro agravo está no
comportamento de cada organismo, pois algumas pessoas apresentam mais sensibilidade a
certas substâncias do que outros que possuem maior resistência.
As substâncias químicas são classificadas pela Higiene Ocupacional em três tipos:
aerodispersóides ou aerossóis (encontradas na forma sólida ou líquida, que embora suas
partículas menores sejam respiráveis, são as que mais causam problemas à saúde dos
trabalhadores devido a sua retenção nos pulmões); gases (moléculas que se espalham no ar);
ou vapores (substâncias que se condicionam dependendo da temperatura). No caso dos
aerodispersóides, esses podem se apresentar em forma de névoa, neblina, poeira, fumaça,
fumos e fibras (PEIXOTO, 2012). Cada um desses tipos acarreta uma gama de efeitos nocivos
à saúde. Estes efeitos acumulam-se a medida do tempo, deixando os trabalhadores que lidam
com essas substâncias cada vez mais vulneráveis. Além disso, essas sustâncias químicas
potencializam seus efeitos em ambientes fechados e quentes devido à volatilização das
substâncias fazendo com que o trabalhador tenha mais contato com o produto (FREITAS;
ARCURI, 2000). Dentro do ambiente de trabalho, os efeitos dessas substâncias podem ser
anulados ou minimizados se houver a utilização correta e contínua de equipamentos de
proteção individual – EPI e se estes produtos estiverem dentro dos limites de tolerância
aceitáveis.
Segundo Nascimento (2014), a manipulação incorreta de produtos químicos de limpeza pode
desencadear doenças relativas à exposição química, que vão desde problemas como irritação
na pele e olhos, doenças respiratórias, doenças do sistema nervoso, rins, fígado até alguns
tipos de câncer.
Logo, é imprescindível que o trabalhador conheça os produtos que estão lidando diariamente.
Uma forma para que isso aconteça é a leitura dos rótulos dos produtos, que embora omitam
informações importantes, constam informações básicas sobre o uso correto e as precauções
para evitar efeitos indesejáveis.
4. Caracterização da empresa
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
4
A empresa em estudo possui atuação no ramo da prestação de serviços desde 2012 em uma
instituição pública na cidade de Campina Grande – PB. Dentre os serviços oferecidos estão a
carpinagem, varrição, limpeza e serviços de mudança dentro da própria instituição.
A empresa possui 114 (cento e quatorze) funcionários. Sendo 2 (dois) deles responsáveis pela
supervisão e 2 (dois) encarregados, responsáveis pela fiscalização dos serviços.
Segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE, a empresa tem classe
8121-4, que abrange todos os serviços de limpeza não especializada em residências, fábricas,
prédios públicos, entre outros, desenvolvendo atividades sejam elas comerciais e de serviços.
Sendo assim, conforme anexo da NR-4, referente aos Serviços Especializados em Engenharia
de Segurança e Medicina do Trabalho, a empresa possui grau de risco 3. Levando em
consideração os 110 (cento e dez) funcionários dos serviços de limpeza, decorre que segundo
dimensionamento do SESMT, a empresa deverá ter no mínimo 1 (um) técnico de segurança
do trabalho.
A estrutura organizacional da empresa pode ser observada na Figura 1:
Figura 1 – Estrutura organizacional da empresa
Fonte: Elaboração própria
5. Metodologia
A pesquisa possui caráter exploratório, pois é conhecido pouco sobre o tema a ser
investigado. Pode-se dizer também que seu caráter é descritivo, porque “expõe as
características de determinada população ou de determinado fenômeno” (MORESI, 2004) e
utiliza de técnicas padronizadas de coleta de dados, com a aplicação de questionários.
A pesquisa também é considerada como pesquisa de campo, pois as observações foram feitas
sem que houvesse o isolamento ou controle das variáveis em estudo. Ou seja, os fatos foram
estudados como de fato ocorre (RODRIGUES, 2007).
A pesquisa tem características quantitativa e qualitativa. A pesquisa é quantitativa devido o
uso de questionários com perguntas fechadas que podem ser quantificadas e representadas
estatisticamente. A pesquisa é qualitativa por conter perguntas abertas, onde o entrevistado
fica livre para descrever situações e assim, responder as perguntas de acordo com a sua
observância e particularidade. Estas perguntas abertas serão analisadas indutivamente, ou seja,
a partir da observação das informações coletadas infere-se uma verdade geral (RODRIGUES,
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
5
2007). Também foram feitas perguntas que não estavam contidas nos questionários, mas que
foram necessárias para compreender a atividade estudada.
Para os trabalhadores dos serviços de limpeza e conservação foram aplicados 50 (cinquenta)
questionários, buscando atingir um nível de confiabilidade de 90% (noventa por cento) e um
erro amostral de 10% (dez por cento).
Sendo assim, para o desenvolvimento do trabalho foram respeitados alguns aspectos no que
concerne:
A aquisição e ampliação de conhecimento, através do estudo da problemática acerca
dos produtos químicos e as consequências da exposição em pesquisas bibliográficas,
artigos e normas.
Delimitação das variáveis: trabalhador, serviços de limpeza e produtos utilizados, e
sua relação com a saúde do trabalhador e a exposição aos riscos químicos.
Elaboração e aplicação de questionários com os trabalhadores dos serviços de limpeza
e varrição, buscando informações com relação a: perfil, atividades exercidas, proteção
e saúde e postura da empresa acerca da saúde e segurança, bem como informações
sobre o emprego anterior.
Análise dos dados obtidos e a partir daí, contribui com a proposição de melhorias para
o caso estudado que visem propiciar um ambiente laboral adequado e níveis de
conforto e bem estar através da diminuição das doenças ocupacionais.
6. Resultados e discussões
Alguns aspectos devem ser levados em consideração ao estudar as relações de trabalho e os
possíveis impactos dessas atividades na saúde do trabalhador. Características como o perfil
dos trabalhadores, atividades exercidas diariamente, medidas de proteção e prevenção à saúde
utilizada, são indispensáveis para conhecimento da sua situação atual.
6.1. Quanto ao perfil dos trabalhadores
Na Figura 2 são apresentados os dados gerais dos trabalhadores terceirizados dos serviços de
Limpeza e Conservação.
Figura 2 – Informações gerais sobre os trabalhadores terceirizados dos serviços de limpeza e conservação
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
6
Logo, 50% dos trabalhadores tem faixa etária entre 35 (trinta e cinco) e 45 (quarenta e cinco)
anos, o que os caracteriza como em maior quantidade. Em relação ao estado civil, a maioria
dos trabalhadores declaram-se solteiros e, em segundo lugar aparecem os que alegam ser
casados.
Quanto às observações feitas a respeito do grau de escolaridade de todos os entrevistados,
houve um equilíbrio entre os níveis fundamentais (incompleto e completo), ambos com 28%,
muito embora o grau de escolaridade do nível médio tenha sido o mais citado, com 38%.
Durante a quantificação dos dados, percebeu-se que, o nível de escolaridade médio é mais
destacado entre as mulheres, com 59%. Também há uma maior preponderância de
trabalhadores que afirmam possuir 2 (dois) anos de trabalho, sendo estes funcionários da
empresa prestadora de serviços anterior, que, ao término de contrato, foram “reaproveitados”
pela empresa atual em suas funções.
Com relação ao uso de cigarros, observa-se que grande parte dos funcionários alega não
serem fumantes, muito embora alguns destes já tenham possuído o vício. Como as doenças de
pulmão podem ser confundidas com doenças ocupacionais, é necessário que, o médico
conheça o histórico do paciente sobre o uso de cigarros e outras drogas.
6.2. Quanto às atividades exercidas pelos trabalhadores dos serviços de limpeza
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
7
Na Figura 3 pode ser observadas informações com a relação ao contato com produtos
químicos e/ou poeira, os produtos mais utilizados pelos mesmos diariamente, tempo de
contato com os produtos e a limpeza em ambientes fechados e pouco ventilados.
Figura 3 – Informações relacionadas às atividades pelos trabalhadores dos serviços de Limpeza e Conservação
Em geral, a maioria dos entrevistados tem contato com produtos químicos e poeira, embora
tal atividade seja mais exercida por mulheres (cerca de 93% das entrevistadas), pois cabe a
elas varrer e higienizar locais como: salas de aula, banheiros, laboratórios, áreas
administrativas, biblioteca, dentre outros. Os homens se concentram mais nas atividades de
varrição das áreas externas no Campus (cerca de 71% dos entrevistados), tendo maior contato
apenas com poeira.
Com relação aos produtos de limpeza usados diariamente, destacam-se o uso de produtos
comuns como detergentes, água sanitária/cloro e desinfetantes, que, apesar de não serem
substâncias potencialmente perigosas, o seu uso continuado, em grandes concentrações e sem
precaução pode resultar em danos à saúde ao longo do tempo. Na empresa estudada, o tempo
de contato com estes produtos chegam a 8 horas diárias, com uma significante porcentagem
de trabalhadores que o utilizam em ambientes fechados e com pouca ventilação, como
laboratórios e áreas administrativas.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
8
6.3. Quanto à proteção do trabalhador dos serviços de limpeza
Na Figura 4 podem-se observar aspectos relacionados da utilização de EPI, os tipos mais
usados, bem como aspectos de higienização das mãos pelos trabalhadores com a finalidade de
evitar contaminação, após contato com os agentes químicos presentes nos produtos.
Figura 4 – Informações relacionadas à proteção dos trabalhadores terceirizados dos serviços de Limpeza e
Conservação
Apesar do número expressivo de pessoas que dizem utilizar o EPI, quando perguntados sobre
a frequência, muitos afirmaram não usá-los regularmente por esquecimento ou por achar
desnecessário em alguns momentos. Vale ressaltar, que a empresa disponibiliza os EPI’s. Na
Figura 5 e Figura 6 pode ser observada a falta do uso de calçados apropriados para a tarefa
higienização e varrição do Campus.
Figura 5 – Uso de calçados inapropriados nas atividades de higienização
Figura 6 – Ausência de luvas na varrição
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
9
Na Figura 7 pode-se perceber o problema no fardamento não impermeável do responsável
pela limpeza de uma lagoa poluída, assim como o não uso das botas de cano de longo que são
recomendadas para esse tipo de atividade. Durante a aplicação do questionário foi observado
que a calça do fardamento encontrava-se úmida. O trabalhador alegou que, por existir lugares
impossíveis de serem limpos com o uso da canoa, o mesmo é obrigado a entrar em contato
com a água.
Também foi relatado que, apesar da empresa disponibilizar os EPI, após desgastados os
mesmos não são substituídos prontamente, deixando os trabalhadores desprotegidos. A NR 6
– Equipamento de Proteção Individual, no subitem 6.6.1 ressalta que, o empregador deve
substituir imediatamente o EPI quando este for danificado ou extraviado. Outra observação
também foi feita durante aplicação dos questionários. Muitos dos trabalhadores utilizavam
apenas um ou dois tipos de EPI, deixando outras áreas importantes do corpo desprotegidas.
Devido ao grande número de funcionários espalhados em um local de trabalho também de
grandes proporções, a fiscalização sobre o uso contínuo e correto do EPI é deixado a desejar.
Essa fiscalização é feita apenas por 2 (dois) encarregados.
Figura 7 – Fardamento não impermeável do funcionário responsável pela limpeza da lagoa
Observa-se que as máscaras, indispensáveis para evitar que os gases dos produtos químicos
dispersos e o mau cheiro no ambiente sejam inalados, e o protetor de olhos, que protege a
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
10
parte mais sensível do corpo de partículas presentes no ar, assim como os aventais, são os EPI
menos adotados pelos trabalhadores para sua proteção. E que, embora os trabalhadores
afirmem lavar sempre as mãos antes da alimentação, não há local adequado para que o
trabalhador faça suas refeições, cabendo a esses sentarem em calçadas e batentes
6.4. Quanto à saúde do trabalhador dos serviços de limpeza
No que concerne à saúde do trabalhador, a Figura 8 apresenta os sintomas relatados pelos
trabalhadores durante o dia de trabalho:
Figura 8 - Sintomas durante contato com produtos químicos e/ou poeira
As dores de cabeça, irritação nos olhos e irritação no nariz lideram os sintomas mais
frequentes durante atividade laboral. Sabendo que os trabalhadores não fazem o uso frequente
de equipamentos de proteção individual, pode-se relacionar esses sintomas à falta ou a
reduzida utilização de máscaras e óculos de proteção que tem como objetivo impedir que os
vapores dos produtos químicos atinjam as mucosas do nariz e os olhos. A varrição também
tem seus efeitos devido ao pó levantado durante essa atividade que penetra as fossas nasais,
passando pelas vias respiratórias e alojando-se nos pulmões, o que pode causar irritações
devido a sua capacidade tóxica (PADOVANI, 2009).
Para que seja observado se há uma relação dos sintomas com a atividade exercida, a partir da
Figura 9 pode-se inferir sobre a melhora desses sintomas nas férias e finais de semana e a sua
frequência entre os trabalhadores.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
11
Figura 9 – Melhora e frequência dos sintomas mencionados pelos funcionários da Limpeza e Conservação
Pode-se observar que há uma predominância de trabalhadores que afirmam sentir sua saúde
bem melhor durante o tempo de descanso e que estes sintomas costumam “sempre” melhorar
durante as férias e finais de semana. Quanto ao aparecimento em certos dias e horários pode-
se dizer que há um certo equilíbrio entre os trabalhadores que dizem ter os sintomas e os que
negam que tal fato ocorra. Já com relação ao aparecimento após alguma tarefa específica ou
uso de produto específico, 70% afirmam apresentar sintomas. Dentre os produtos com maior
reclamação estão o ácido muriático, cloro, a água sanitária e o thinner.
Com base nos questionamentos feitos, pode-se inferir que esses sintomas dependem também
das condições intrínsecas ao trabalhador e não apenas ao produto ou tarefa. Mas, segundo
Algranti (2009), se estes sintomas melhoram em finais de semana e férias, aparecem em
determinados dias e horários e depois do uso de um produto ou tarefa específica,
provavelmente as causas destes problemas estejam no ar respirado no local de trabalho.
Aspectos como a automedicação, mistura de produtos químicos diferentes e a informação
repassadas pelos trabalhadores aos supervisores também foram questionados conforme mostra
a Figura 10:
Figura 10 – Atitudes dos trabalhadores dos serviços de limpeza e conservação em relação à saúde e bem estar
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
12
Verifica-se que 40% dos entrevistados afirmam “sempre” fazer uso da automedicação, logo,
as doenças não são tratadas corretamente e podem estender-se para problemas mais graves se
não forem orientados por um médico.
Há também um equilíbrio entre os trabalhadores que misturam produtos químicos durante os
procedimentos de limpeza. Algranti (2009) ressalta que, substâncias como a água sanitária
acrescida de ácidos gera produto tóxico, o que impactará negativamente na saúde do
trabalhador.
Com relação à comunicação dos problemas de saúde aos supervisores, os trabalhadores que
afirmaram não informar relataram que tal atitude não resolveria a situação, visto que os
mesmos continuariam exercendo as mesmas atividades e usando os mesmos produtos que
causam-lhes dano.
6.5. Quanto à postura da empresa acerca da saúde e segurança
No que se diz respeito às atitudes da empresa em relação ao bem estar do trabalhador, buscou-
se conhecer a opinião dos trabalhadores em relação aos exames admissionais, planos de saúde
e orientação sobre saúde e segurança (Figura 11):
Figura 11 – Atitudes da empresa em relação à saúde e segurança dos trabalhadores dos serviços de limpeza e
conservação
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
13
Vale ressaltar que além dos exames admissionais a empresa tem como obrigação fazer os
exames periódicos (importante no acompanhamento da saúde do trabalhador), de retorno do
trabalho (para detectar doenças adquiridas fora do ambiente de trabalho), mudança de função
(devido aos problemas de saúde oriundos de algumas atividades específicas) e demissionais
(para verificar se houve ou não alguma alteração da saúde do trabalho no decorrer do seu
tempo de trabalho), como previsto pela NR 7 - Programa de Controle Médico e Saúde
Ocupacional.
Quando questionados sobre o oferecimento de planos de saúde pela empresa, todos os
trabalhadores responderam que isso não ocorre. Ou seja, cabe ao próprio funcionário custear
suas despesas médicas, mesmo que os danos à saúde sejam provocados no exercício do
trabalho.
No que concerne às informações repassadas pela empresa sobre saúde e segurança a seus
funcionários, a maioria dos funcionários alegam não receberem informações pelos
supervisores. As informações repassadas aos trabalhadores são indispensáveis para que os
mesmos sejam conscientes dos riscos a quem estão sendo submetidos e assim, também
previnam-se contra problemas futuros.
6.6. Proposição de melhorias
Diante dos resultados obtidos, pode-se sugerir a adoção de medidas preventivas com o intuito
de reduzir ou minimizar os impactos dos produtos químicos de limpeza na saúde do
trabalhador:
Adotar políticas de conscientização sobre o uso de EPI através da realização de
palestras, distribuição de informativos e etc;
Aumentar o número de agentes de segurança para fiscalização e apoio. Tal atitude
inibirá a prática do não uso de EPI’s, assim como reforçará o uso de todos os
equipamentos de proteção necessários para a atividade;
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
14
Disponibilizar roupa impermeável, bota com cano longo e joelheira para o trabalhador
responsável pela limpeza da lagoa;
Umidificar os locais de varrição para evitar que a poeira fique concentrada no ar;
Substituir produtos como o thinner, o ácido muriático e o ácido clorídrico por outros
menos agressivos;
Colocar os produtos químicos em embalagens adequadas e rotuladas de forma que o
trabalhador possa identificá-lo;
Respeitar as datas de vencimento dos produtos químicos para que os mesmos não
causem reações alérgicas nos trabalhadores que os manipula;
Disponibilizar ao trabalhador condições de higiene adequada para que o trabalhador
possa fazer suas refeições, conforme estabelece a NR -24, referente às condições
sanitárias e de conforto nos locais de trabalho;
Viabilizar o acesso a FISPQ por parte dos supervisores e da empresa contratante.
7. Considerações finais
Pode-se constatar, no decorrer do estudo, que existe uma precarização nas atividades nos
serviços de limpeza e conservação, devido ao grande número de trabalhadores que declaram o
aparecimento de sintomas quando expostos aos produtos químicos de limpeza utilizados
diariamente. Muitos desses sintomas, como irritação nos olhos e no nariz podem estar sendo
causados pelo uso de produtos químicos como ácido muriático, cloro e água sanitária, pois
são os produtos químicos de maior queixa. Devido à quantidade de trabalhadores que
executam suas atividades em locais fechados e pouco ventilados, os sintomas podem vir a
agravar-se.
As relações entre melhora, aparecimento e frequência dos sintomas também reforçam que o
problema está no ar respirado por esses trabalhadores, seja este contaminado pela presença de
substâncias ou pelas partículas de poeira presentes no ambiente.
Conclui-se também que a insuficiência de informações repassadas ao trabalhador aliado à
reduzida fiscalização abrem portas para que estes trabalhadores deixem a prevenção em
segundo lugar e trabalhem sem a utilização dos equipamentos de proteção recomendados.
A não realização do exame admissional torna-se mais difícil para a empresa reconhecer quais
danos podem ter sido provocados por ela e quais são decorrentes de empregos anteriores.
Lembrando que no trabalho anterior houve bastante queixa em relação ao uso do hipoclorito
de sódio, um produto corrosivo e que libera gás tóxico ao reagir com ácido ou amônia. Os
trabalhadores afirmaram que esse produto era distribuído sem diluição e causavam-lhes
grandes transtornos, chegando muitos a passarem mal ao usá-lo.
Sendo assim, diante do que foi exposto, fica evidente a necessidade da colocação em prática
de medidas prevencionistas como forma de não apenas reduzir os riscos à saúde, mas de
garantir aos trabalhadores dos serviços terceirizados de limpeza e conservação o que é de
direito e conquista de todos: um trabalho digno e decente.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
15
REFERÊNCIAS
ALGRANTI, Eduardo. MAÇAIRA, Elayne de Fátima. MENDONÇA, Elizabete Medina Coeli. Você,
trabalhador de limpeza!Vamos conversar? São Paulo: Fundacentro, 2009.
FREITAS, N.B.B.; ARCURI, A.S.A. Riscos devido a substâncias químicas. São Paulo:
Kingraf, 2000.
FUNDACENTRO. Introdução à Higiene Ocupacional. São Paulo: Fundacentro, 2004, 84 p. il.
MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Lista das Normas. Disponível em:
<http://portal.mte.gov.br/legislacao/normas-regulamentadoras-1.htm> Acessado em: 27 de novembro de 2014.
MORESI, Eduardo (Org). Metodologia da Pesquisa. Brasília: Universidade Católica de Brasília, 2004.
NASCIMENTO, Simone Daniel do. Produtos químicos domésticos: ações contextualizadas em educação
ambiental. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Química) – Universidade Estadual da Paraíba,
Centro de Ciências e Tecnologia, 2014.42p.il.
Organização Internacional do Trabalho. Disponível em: <http://www.oit.org.br/content/doencas-
profissionais-sao-principais-causas-de-mortes-no-trabalho.>> Acessado em: 21 de dezembro de 2014.
PADOVANI, Ariosvaldo. SST em Serviços Terceirizados de Limpeza e Conservação: Aspectos Gerais.
Disponível em:<http//areaseg.com>. Acessado em: 29 de dezembro de 2014.
PEIXOTO, Neverton Hofstadler; FERREIRA, Leandro Silveira. Higiene Ocupacional I - Santa Maria: UFSM,
CTISM; Rede e-Tec Brasil, 2012. 92 p.: Il.; 28cm, 2012.
RODRIGUES, William C. Metodologia Científica. FAETEC/ IST. Paracambi, 2007. Disponível em: <
http://unisc.br/portal/upload/com_arquivo/metodologia_cientifica.pdf>. Acessado em: 20 de fevereiro de 2015.