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Deficiência de Ferro e Anemia na Criança Profa Dra Josefina Aparecida Pellegrini Braga Hematologia Pediátrica- EPM/Unifesp

Profa Dra Josefina Aparecida Pellegrini Braga Hematologia ...bcf1.cdn.upx.net.br/ferro/pdf/mod2_josefina.pdf · Prevalência de anemia ferropriva em crianças no Brasil Idade (meses)

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Deficiência de Ferro e

Anemia na Criança

Profa Dra Josefina Aparecida Pellegrini Braga Hematologia Pediátrica- EPM/Unifesp

A anemia ferropriva é a carência nutricional mais freqüente em todo o mundo

Coexiste com fatores biológicos, sociais e econômicos

Estima-se em 4 a 5 bilhões o número de deficientes em ferro e em 2 bilhões o número de anêmicos. Maior prevalência nos países em desenvolvimento

WHO 2001, Ministério da Saúde 2007, SBP 2007

Prevalência : Anemia Ferropriva

Prevalência (%)

pré-escolar 47,4

escolar 25,4

gestantes 41,8

mulheres não gestantes 30,2

homens 12,7

> 60 anos 23,7

WHO,2008

Prevalência Estimada

Regiões

Anêmicos

0 – 4 anos

5 – 12 anos

H grávidas M

15–49a

Desenvolvidas

12% 7% 3% 14% 11%

em desen-volvimento

51%

37%

18%

51%

35%

WHO 2001

worldwide prevalence of anaemia 1993–2005

Prevalência : Anemia Ferropriva

África Europa Américas

pré-escolar 67,6(%)

21,7(%)

29,3(%)

gestantes 57,1(%)

25,1(%)

24,1(%)

não gestantes 47,5(%)

19,0(%)

17,8(%)

Adaptado de : Worldwide Prevalence of Anaemia

1993–2005

worldwide prevalence of anaemia 1993–2005 worldwide prevalence of anaemia 1993–2005

Fisberg, Naufel, Braga. 2001

Prevalência de anemia ferropriva em crianças no Brasil

Idade

(meses)

N Local Prevalência Autor, ano

0-59 1256 SP 46,9% Monteiro et al,2000

6-59 650 PE 40,9% Osório et al, 2004

0-59 865 RJ 47,3% Matta et al, 2005

12-59 184 SP 29,3% Almeida et al, 2007

6-72 754 MG 27% Carvalho et al, 2008

0-59 1242 PE 34,4% Miglioli et al, 2010

12-72 667 SP 25,6% Costa et al 2011

6-59 3455 Brasil 20,9% PNDS,2006

PNDS,2006

Macrorregião Prevalência

de anemia

Classificação do problema

segundo critérios da OMS*

Nordeste 25,5% Moderado

Sudeste 22,6% Moderado

Sul 21,5% Moderado

Norte 10,4% Leve

Centro-Oeste 11,0% Leve

BRASIL 20,9% Moderado

• WHO. Iron Deficiency Anaemia Assessment, Prevention and Control A Guide managers program, 2001.

Fonte: PNDS 2006

Prevalência de anemia em crianças de 6 a 59 meses por

Grandes Regiões, segundo a Pesquisa Nacional de Demografia

e Saúde (PNDS) 2006

Idade Prevalência Autor, ano

12m 42,6% Szarfarc et al, 1996

4 - 7m 64,8% Fisberg et al, 1997

4 - 6 m 64,86% Ferreira et al, 2000

6 – 12 m 60.9% Hadler et al, 2002

24 - 36 m

46,4% Machado et al,2005

6 – 12m 57,6% Silva et al, 2007

Prevalência de anemia ferropriva em lactentes

Maiores prevalências de anemia por

deficiência de ferro entre as crianças de

6 a 24 meses

DESENVOLVIMENTO

processos de mielinização

síntese e função de neurotransmissores (dopamina, serotonina, catecolaminas)

metabolismo de neurônios de memória

Ferro - ações

Larkin et al, 1990;Beard JL, 1993

Consequências da anemia em crianças

Atraso do crescimento

Atraso do desenvolvimento neuro psicomotor

Neurocognitivo : < rendimento escolar e intelectual

Deficiência de ferro está geralmente associada a desvantagens psicossociais e econômicas

WHO 2001, Ministério da Saúde 2007, SBP 2007

Anemia Ferropriva

< Desempenho físico e trabalho

<Neuro cognitivas

profissional e socioeconômico

WHO, 2004

Fatores de Risco

Reservas de ferro ao nascer

- tempo de gestação

- peso nascimento

Velocidade de crescimento

Dieta

- introdução precoce leite de vaca

- dieta de transição

Oliveira , Osorio . J Pediatr 2005;

WHO, 2001

Feto acumula ferro em quantidade

proporcional ao seu aumento de

peso

RN termo: 75mg de ferro /kg peso

Reservas de ferro

crescimento e desenvolvimento

Gestação

Oliveira ,Osorio . J Pediatr 2005; WHO, 2001

Consequências da anemia em gestantes

Aumento da mortalidade materna

Aumento da ocorrência de prematuridade e baixo peso ao nascer

WHO 2001, Ministério da Saúde 2007

Dieta de Transição

A partir de 4 a 6 meses de vida a criança

depende da oferta dietética de ferro

É influenciada

quantidade de ferro heme e não-heme contido

na refeição

interação entre os vários alimentos presentes

na refeição

Velocidade de crescimento no 1º ano é maior

do que em qualquer fase da vida

Necessidade de ferro corporal é

120mcg/kg/dia (adulto:18mcg/kg/dia)

LM - suficiente para manter as necessidades

até 4-6meses

Ferro reciclado

Ferritina/

hemossiderina

Ferro dietético

5%

ADULTO

Ferro reciclado

Ferro dietético

30% ferritina/

hemossiderina

CRIANÇA

Eritrócitos

Eritrócitos

Braga,Barbosa 2006

Condição Impacto

Prematuridade /baixo peso ao

nascimento

Diminuição dos estoques de

ferro hepático e na medula

óssea

Desmame precoce < oferta de ferro biodisponível

Aleitamento prolongado consumo insuficiente de

alimentos fontes de ferro e/ou

com biodisponibilidade

reduzida

Dieta introdução tardia de alimentos

ricos em ferro

Velocidade de crescimento aumento da demanda

orgânica por ferro

WHO 2001, Ministério da Saúde 2007;

Zotlkin, JAMC 2003

Os principais fatores que contribuem para o

declínio da hemoglobina no 1º ano de vida:

Baixa reserva de ferro fetal

Curta duração do aleitamento materno

Introdução precoce de alimentos

WHO,1998

Etiologia da Anemia Ferropriva

Principais

Fatores

Aumento das

necessidades

Perdas

Dieta Absorção

insuficiente

A dieta deficiente em ferro é o principal fator etiológico da anemia ferropriva na infância

Ferro hemínico

Alimentos de origem animal:

• carnes vermelhas, fígado, rim e coração

• carnes de aves, de porco e de peixes.

• biodisponibilidade: elevada

• Não influenciado por fatores inibidores da absorção.

• Favorece absorção do ferro não hemínico

Ferro não-hemínico

Alimentos de origem vegetal:

• cereais, leguminosas e verduras

• ovo, produtos lácteos

• biodisponibilidade: baixa

• Absorção sofre influência de fatores:

– Facilitadores:

• ácido ascórbico, carotenóides

– Inibidores:

• fitatos, fibras, cafeína, oxalatos, cálcio e fósforo

Prevenção

Orientação dieta

Suplementação medicamentosa

Fortificação de alimentos com ferro

Prevenção

Suplementação profilática

• Recém-Nascido : baixo peso e prematuros

• Desmame

Etiologia da Anemia Ferropriva

Principais

Fatores

Aumento das

necessidades

Perdas

Dieta Absorção

insuficiente

Dieta

Perdas: alergia ao leite de vaca,

doeença do refluxo gastro-esofágico

Absorção: doença celíaca, doença

inflamatória intestinal

Etiologia

Criança de 6 meses, gestação a termo.PN:3100g C:49cm .

ALME* 2º mês. Leite de Vaca“in natura”

Regurgitações frequentes desde

os 2 meses. Irritabilidade, eczema,

diarréia

Peso atual:6560g Catual:65cm

descorada , anictérica

Hb: 9,1g/dL Ferritina: 5,0mcg/dL

Pesquisa SOC fezes: positiva

*ALME:aleitamento materno exclusivo

O leite de vaca é rico em determinantes

antigênicos, sendo a beta-lactoglobulina o

mais importante

A maior permeabilidade da mucosa intestinal

a macromoléculas nos primeiros meses de

vida atua como um precipitante em pacientes

com desmame precoce.

A proctocolite alérgica, uma das

manifestações da reação adversa à proteína

do leite de vaca, constitui uma causa comum

de sangramento, especialmente nos primeiros

meses de vida

Inoue et al Clin. Exp. Allergy 2001;

Machado et al, J Ped 2003;

Osorio et al J Ped 2005

a perda de sangue intestinal provocada pela

exposição ao leite de vaca é um fenômeno

característico de crianças mais jovens

Essas perdas podem exceder 3 ml/dia, o que

corresponderia a 0,27 mg de hemoglobina ou

0,9 mg de ferro por dia

A APLV* também pode induzir uma síndrome

caracterizada pela diarréia crônica, lesão da

mucosa jejunal e perda de peso, semelhante à

doença celíaca

*APLV: alergia aproteina do leite de vaca

Inoue et al Clin. Exp. Allergy 2001;

Machado et al, J Ped 2003;

Osorio et al J Ped 2005

Criança de 1 ano e 10m, a termo, PN 3500g, ALME 6ºmês

Irritabilidade e episódios de diarréia há 6 meses

Diversos tratamentos para anemia ferropriva sem melhora

Alimentação: ALME até 6º m, atualmente a da família.

Pão todos os dias, macarrão 2X/sem

Peso atual:10,1 kg E:83cm

Hb 8,5g/dL Ferritina 4,0 mcg/dL

hipocromia/microcitose

BID: atrofia vilositaria

Ac anti: gliadina, reticulina e endomísio: +

HD: Doença Celíaca

Criança de 10 anos, com queixa de desconforto abdominal

Refere : anemia ferropriva sem resposta ao tratamento há 2

anos

Exame Físico: desnutrida e baixa estatura

Hb 8,5g/dL Ferritina: 2 mcg/dL hipocromia/microcitose

BID: atrofia vilositária

Ac antigliadina, antireticulina e antiendomísio:positivo

HD: Doença celíaca

Doença celíaca

Clássica: diarréia crônica, irritabilidade,

anorexia, déficit de crescimento, distensão

abdominal, diminuição do tecido celular

subcutâneo e atrofia da musculatura glútea

Não clássica: quadro morno

paucissintomático, anemia por deficiência de

ferro não responsiva a terapia, baixa estatura,

osteoporose, infertilidade

Assintomática

Sdepanian et al. J Ped 2001

Doença celíaca e idade no momento do diagnóstico

Faixa etária %

< 2 anos 44,1

2 – 5 anos 22,1

6 – 20 anos 8,0

20 – 40 anos 14,5

> 40 anos 7,3

Não sabem 8,0

Sdepanian et al. J Ped 2001

Sintomas Forma clássica Forma não clássica

diarréia 100% 0,0%

perda de peso 92,6% 87,5%

distensão abdominal 89,1% 59,4%

irritabilidade 61,5% 51,3%

vômitos 54,9% 31,2%

déficit de estatura 54,5% 62,5%

anemia 53,7% 37,5%

anorexia 51,4% 46.9%

osteoporose 3,9% 0,0%

Dermatite herpetiforme 0,8% 6,2%

Total (casos) 257 32

Sdepanian et al. J Ped 2001

Sintomas Forma clássica Forma não clássica

diarréia 100% 0,0%

perda de peso 92,6% 87,5%

distensão abdominal 89,1% 59,4%

irritabilidade 61,5% 51,3%

vômitos 54,9% 31,2%

déficit de estatura 54,5% 62,5%

anemia 53,7% 37,5%

anorexia 51,4% 46.9%

osteoporose 3,9% 0,0%

Dermatite herpetiforme 0,8% 6,2%

Total (casos) 257 32

Sdepanian et al. J Ped 2001

Resumo

Anemia Ferropriva História

antecedentes neonatais (prematuridade, baixo peso)

duração do aleitamento materno (desmame precoce e aleitamento prolongado)

fontes de ferro heme e não heme e o fatores inibidores do ferro(chá, fibras)

Anemia Ferropriva

Investigação – Avaliar

Perdas: ALV, DRGE, parasitoses, UGD

Absorção: Doença celíaca, Doença

inflamatória intestinal

Referências • World Health Organization. Iron deficiency anaemia. Assessment,

prevention and control: a guide for programme managers. Geneva:

WHO/UNICEF/UNU, 2001.

• World Health Organization. Worldwide prevalence of anaemia 1993–2005 :

WHO global database on anaemia. Benoist B, McLean E, Egli I, Cogswell

M. Geneva: WHO, 2008.

• .Brasil. Ministério da Saúde. Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da

Criança e da Mulher – PNDS 2006. Ministério da Saúde, Centro Brasileiro

de Análise e Planejamento. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. (Série G.

Estatística e Informação em Saúde)

• Spinelli MGN, Marchioni DML, Souza JMP, Souza SB, Szarfarc SC. Fatores

de risco para anemia em crianças de 6 a 12 meses no Brasil. Rev Panam

Salud Pub 2005; 17(2):84-91.

• Lozoff B, Jimenez Y, Smith JB. Double burden of iron deficiency in infancy

and low socioeconomic status: a longitudinal analysis of cognitive test

scores to age 19 years. Arch Pediatr Adolesc Med 2006; 160(11):1108-13.