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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS COMISSÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO HH172-B TÓPICOS EM TEORIA DA HISTÓRIA PROF. DR. EDGAR SALVADORI DE DECCA 1º SEMESTRE/2015 LIBERDADE PARA A HISTÓRIA Nas últimas duas décadas intensificou-se o debate em torno da teoria da história, sendo a história frequentemente tratada como uma disciplina ou prática intelectual cuja habilidade está voltada para as formas de representação do passado. Apesar desses debates ainda serem predominantes entre os historiadores, a partir das duas últimas décadas do século passado uma nova tendência começou a se delinear no contexto dos debates entre historiadores. Sem abandonar as já consagradas questões da história com relação à representação do passado, seja no campo epistemológico, seja no campo da retórica, surge uma nova postura voltada, agora, para as dimensões públicas da prática da história. Essa nova assertiva traz uma questão que precisamos enfrentar com muito cuidado, ou seja, como as nossas sociedades contemporâneas lidam com o passado. Segundo muitos historiadores atuais, ao invés de perguntarmos “o que aconteceu no passado”, devemos responder a questão de “o que acontece no presente com relação ao passado?” Justamente porque a história se tornou nos últimos tempos um campo de disputa com relação aos eventos traumáticos do passado, o passado se transformou num terreno de discórdia entre a história, a memória, os legisladores e a opinião pública. Nesse sentido, a história que sempre se definiu na busca pelos traços do passado, tende a se redefinir como uma prática cultural que avalia o modo como o passado se projeta no presente e como atua em nossas vidas. Na medida em que, a crescente memorização do passado no espaço público dependem de relações de poder, torna-se evidente que nem todas as memórias são dignas de serem resguardadas, seja porque as vítimas não tem o poder de trazer seus casos no espaço público, ou seja porque as instituições de história acadêmicas são incapazes de controlar esses jogos difusos e complexos de memorização do passado. Diante desses desafios, a prática historiográfica está cada vez mais suscetível à questão de como o passado atua no presente, interpelando e questionando o uso irresponsável do passado ou mesmo a manipulação da história. Esses novos desafios nos abrem o horizonte para a complexidade do contexto em que estamos envolvidos, isto é, a arena de disputa das memórias de inúmeros sujeitos sociais frente aos traumas do passado e a suas expectativas de participação na projeção do futuro de nossas sociedades. ATIVIDADES: O curso de Tópicos de Teoria da História pretende abordar essas questões direcionando as discussões para os embates entre a memória e a história, levando-se em consideração os diversos modos de enunciação da história e da memória. Trataremos de investigar o modo como diversos regimes de historicidade elaboraram as relações entre passado, presente e futuro capazes de instituir modos diferentes de percepção do tempo histórico e preservação ou da destruição da memória.

Programa de curso

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programa do curso de teoria da historia

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    INSTITUTO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS

    COMISSO DE PS-GRADUAO

    HH172-B TPICOS EM TEORIA DA HISTRIA

    PROF. DR. EDGAR SALVADORI DE DECCA

    1 SEMESTRE/2015

    LIBERDADE PARA A HISTRIA

    Nas ltimas duas dcadas intensificou-se o debate em torno da teoria da histria, sendo a

    histria frequentemente tratada como uma disciplina ou prtica intelectual cuja habilidade est

    voltada para as formas de representao do passado. Apesar desses debates ainda serem

    predominantes entre os historiadores, a partir das duas ltimas dcadas do sculo passado uma

    nova tendncia comeou a se delinear no contexto dos debates entre historiadores. Sem

    abandonar as j consagradas questes da histria com relao representao do passado, seja

    no campo epistemolgico, seja no campo da retrica, surge uma nova postura voltada, agora,

    para as dimenses pblicas da prtica da histria. Essa nova assertiva traz uma questo que

    precisamos enfrentar com muito cuidado, ou seja, como as nossas sociedades contemporneas

    lidam com o passado. Segundo muitos historiadores atuais, ao invs de perguntarmos o que aconteceu no passado, devemos responder a questo de o que acontece no presente com relao ao passado?

    Justamente porque a histria se tornou nos ltimos tempos um campo de disputa com relao

    aos eventos traumticos do passado, o passado se transformou num terreno de discrdia entre

    a histria, a memria, os legisladores e a opinio pblica. Nesse sentido, a histria que sempre

    se definiu na busca pelos traos do passado, tende a se redefinir como uma prtica cultural

    que avalia o modo como o passado se projeta no presente e como atua em nossas vidas. Na

    medida em que, a crescente memorizao do passado no espao pblico dependem de

    relaes de poder, torna-se evidente que nem todas as memrias so dignas de serem

    resguardadas, seja porque as vtimas no tem o poder de trazer seus casos no espao pblico,

    ou seja porque as instituies de histria acadmicas so incapazes de controlar esses jogos

    difusos e complexos de memorizao do passado.

    Diante desses desafios, a prtica historiogrfica est cada vez mais suscetvel questo de

    como o passado atua no presente, interpelando e questionando o uso irresponsvel do passado

    ou mesmo a manipulao da histria. Esses novos desafios nos abrem o horizonte para a

    complexidade do contexto em que estamos envolvidos, isto , a arena de disputa das

    memrias de inmeros sujeitos sociais frente aos traumas do passado e a suas expectativas de

    participao na projeo do futuro de nossas sociedades.

    ATIVIDADES:

    O curso de Tpicos de Teoria da Histria pretende abordar essas questes direcionando as

    discusses para os embates entre a memria e a histria, levando-se em considerao os

    diversos modos de enunciao da histria e da memria. Trataremos de investigar o modo

    como diversos regimes de historicidade elaboraram as relaes entre passado, presente e

    futuro capazes de instituir modos diferentes de percepo do tempo histrico e preservao ou

    da destruio da memria.

  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    INSTITUTO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS

    COMISSO DE PS-GRADUAO

    O curso ser desenvolvido atravs de aulas expositivas e seminrios orientados. As indicaes

    bibliogrficas do programa de curso sero objeto de seminrios, mas tambm serviro de

    orientao para acompanhamento e debates nas aulas expositivas.

    As aulas expositivas sero acompanhadas de indicao de textos pertinentes e

    complementares aos temas que sero abordados na exposio.

    OS SEMINRIOS DE ANLISE DE TEXTOS DEVEM SEGUIR A SEGUINTE ORIENTAO:

    1-apresentao e contextualizao do autor e da obra que ser objeto de anlise no seminrio

    2-apresentao objetiva e fiel da obra, dando-se destaque aos pontos principais e aos

    problemas levantados pelo texto.

    3-comentrios crticos da obra apresentada e abertura de debate.

    TRABALHO FINAL DE CURSO

    Elaborao de uma resenha ou comentrio sobre temas abordados durante o curso ou ento,

    uma anlise do projeto de pesquisa luz das questes levantadas durante o curso. O texto no

    deve ultrapassar 8 laudas.

    BIBLIOGRAFIA PRELIMINAR:

    Nora, Pierre Entre a Memria e a Histria, Projeto Histria, n 10, PUC, 1993 Historical Identity in Trouble, Libert pour lhistoire, CNRS Editions, 2008 http://www.lph-

    asso.fr/index.php?option=com_content&view=article&id=152&Itemid=182&l

    ang=en

    LHistoire: au pril de la politique, Pierre Nora lors de la confrence "Rendez-Vous de l'Histoire" du 13 16 octobre 2011 Blois.

    Nora, Pierre Present, nation, mmoire, Gallimard, 2011 Nora, Pierre Historien Public, Gallimard, 2011 Assmann, Aleida - Espaos da Recordao, Editora Unicamp, 2011

    Jeanneney, J.N The Civic Responsabilities of Historians, University of Melbourne, April 29th 2008. http://www.lph-

    asso.fr/index.php?option=com_content&view=article&id=115%3Aj-n-jeanneney-qles-

    responsabilites-civiques-des-historiensq&catid=4%3Atribunes&Itemid=4&lang=en

    Benjamin, Walter - Sobre o Conceito de Histria, in Obras Escolhidas, Brasiliense, 1985

    Chandernagor, Franoise The Historian at mercy of the law, Libert pour lhistoire, CNRS Editions, 2008 http://www.lph-

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    Remond, Ren History and the Law, tudes, No. 4046, June 2006 http://www.lph-asso.fr/index.php?option=com_content&view=article&id=154&Itemid=184&lang=en

    Rusen, Jorn - Using History: The Struggle over Traumatic Experiences of the Past in

    Historical Culture, Historien, Vol 11

    - Didtica da Histria: passado e presente e perspectivas a partir do caso alemo, Prxis Educativa. Ponta Grossa, PR. v. 1, n. 2, p. 07 16, jul.-dez. 2006

    Ginzburg, Carlo Unus Testis: o extermnio dos judeus e o princpio de realidade, in O Fio e os traos, Cia das Letras, 2007

  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    INSTITUTO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS

    COMISSO DE PS-GRADUAO

    De Baets, Antoon - O impacto da Declarao Universal dos Direitos Humanos no estudo da

    Histria, Histria da historiografia Ouro Preto nmero 05 setembro 2010 86-114 Libert pour LHistoire http://www.lph-asso.fr Free Speech Debate University of Oxford http://freespeechdebate.com/pt/discuss_pt_br/freedom-for-history-the-case-against-memory-

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    http://freespeechdebate.com/en/discuss/the-difference-between-genocide-and-crimes-against-

    humanity

    Hartog, Franois Evidncia da Histria, Autntica, 2011 Koselleck, Reinhard Crtica e crise, Contraponto, 1999 Koselleck, Reinhardt Futuro Passado, Contraponto, 2006 Mudrovcic, Maria Ines(org) - Pasados en conflito, Prometeo, 2009

    Mudrovcic, Maria Ins, En busca del pasado perdido, Siglo XXI, 2013

    Gumbrecht, Hans Ulrich Produo da Presena, Contraponto, 2010 Ricoeur, Paul A memria, a histria, o esquecimento, Ed. Unicamp, 2007 Huyssen, Andreas Poltica de memria no nosso tempo, Ed. PUC-Rio, 2014 Huyssen, Andreas Culturas do passado-presente, Ed. PUC-Rio, 2014