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PROJECTO ACADÉMICO DESENVOLVIDO PELOS FINALISTAS DE DESIGN DA FACULDADE DE BELAS ARTES DA UNIVERSIDADE DO PORTO 02/03 ANA GUEDES E SUSANA SIMÕES. JARDIM BOTÂNICO. UPORTO 21_miolo.indd 1 UPORTO 21_miolo.indd 1 20-09-2006 15:40:17 20-09-2006 15:40:17

PROJECTO ACADÉMICO DESENVOLVIDO PELOS FINALISTAS DE … Porto em 1952, doutorado em Ciências do Desporto pela Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da U.Porto,

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A Universidade do Porto, pela qualidade da formação que oferece e da investigação que realiza, é hoje reconhecida no quadro nacional. Pelas mesmas razões atingiu um grau assinalável de reconhecimento internacional, particularmente em áreas em que foi capaz de ascender a um nível elevado, mesmo de excelência em certos casos.Mas, apesar do prestígio e reconhecimento já alcançados é mister assumir que ainda há um longo caminho a percorrer para que seja possível à Universidade do Porto ocupar uma posição junto das melhores universidades da Europa.Consideramos que os ‘antigos alunos’ da U.Porto, como vulgarmente são conhecidos os seus graduados, devem desempenhar um papel importante no desenvolvimento da nossa Universidade. Devem ser agentes activos na sua divulgação e valorização junto das entidades empregadoras e da sociedade em geral, no alargamento da cooperação com as empresas e outras instituições, na participação nas actividades e na utilização dos seus serviços, mas também no apoio fi nanceiro à sua alma mater. Ao dirigirmo-nos pela primeira vez, por esta via, aos antigos alunos da Universidade do Porto, queremos apresentar-lhes as nossas mais vivas saudações e garantir-lhes que queremos uma Universidade do Porto que acarinhe especialmente os seus antigos alunos e que os envolva numa parceria permanente. Propomo-nos assegurar uma ligação mais estreita e produtiva com os antigos alunos, de maneira a que eles se venham a constituir como parceiros privilegiados da U.Porto.Será criado um ‘Gabinete dos Antigos Alunos da U.Porto’ que se dedicará inteiramente à missão de acompanhar os antigos alunos, com o intuito de garantir uma ligação perene e activa, potenciando a acção das Associações de Antigos Alunos existentes.Para tornar mais atractiva esta ligação estabelecer-se-á um conjunto de regalias contemplando condições especiais no acesso às actividades, serviços e recursos disponibilizados pela U.Porto, procurando simultaneamente alargar a participação dos antigos alunos nas diversas actividades da U.Porto, em particular nas actividades de I&D, na educação contínua e nas actividades culturais.Estamos também muito interessados em apoiar os nossos graduados na procura de emprego e em seguir as suas carreiras profi ssionais. Para tal, alargaremos o âmbito da Bolsa de Emprego e criaremos um programa para o seguimento sistemático do percurso profi ssional dos graduados da U.Porto, divulgando os resultados agregados obtidos. Contamos também com o apoio activo e empenhado dos antigos alunos para a concretização de alguns dos nossos projectos, através do seu envolvimento no fi nanciamento complementar da U.Porto, cada vez mais necessário para permitir que a Universidade do Porto possa competir pelos lugares cimeiros dos “rankings” internacionais, como, por certo, é desejo de todos nós.Esta parceria activa entre a Universidade do Porto e os seus antigos alunos trará, com certeza, benefícios mútuos importantes. Para que seja ainda mais efi caz, estamos abertos a receber as vossas sugestões e disponibilidades para a acção. Pedimos a todos que adiram com energia e paixão a esta parceria, tanta quanta prometemos que iremos colocar no seu desenvolvimento.

José Marques dos SantosREITOR DA UNIVERSIDADE DO PORTO

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UPORTO EDITORIAL

Parceria activa com os antigos alunos

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U.PORTO Nº 21 REVISTA DOS ANTIGOS ALUNOS DA UNIVERSIDADE DO PORTO DIRECTORJOSÉ MARQUES DOS SANTOS

EDIÇÃO E PROPRIEDADEUNIVERSIDADE DO PORTO; RUA D. MANUEL II. 4050-345 PORTO. T. 226073565 + F. 226098736. PUBLICAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DA UNIVERSIDADE DO PORTO COMO DEVER ESPECIAL, CONFORME ART. 8º AL. E. DOS ESTATUTOS DA ASSOCIAÇÃO DOS ANTIGOS ALUNOS

SUPERVISÃO EDITORIALISABEL PACHECO, JOÃO CORREIA

REDACÇÃO ANABELA SANTOS

SECRETARIADOPAULA CARVALHO

COLABORAM NESTE NÚMEROANTÓNIO CAMPOS E MATOS, ANTÓNIO PEDROSA, ARTUR SILVA PINTO, GÉMEO LUÍS, INÊS NASCIMENTO, JOÃO CABRAL, JOÃO MACHADO, JOÃO PEDRO MÉSSEDER, JOSÉ FERREIRA LEMOS, JOAQUIM EMÍLIO TORCATO BARROCA, MARIA DA CONCEIÇÃO RANGEL, MARIA DE LURDES CORREIA FERNANDES, MARIANA LEMOS, NUNO FERRAND DE ALMEIDA, PAULO ALEXANDRINO, ROSA MARIA MARTELO, RUI MENDONÇA

FOTOGRAFIA½ FORMATO (EGÍDIO SANTOS, PAULO DUARTE)

DESIGNRUI MENDONÇA DESIGN

EXECUÇÃO GRÁFICADIGIPRESS-EDIÇÃO ELECTRÓNICA DE IMPRESSOS, LDALUGAR DE RAMOS, 4585-053 BALTAR

DEPÓSITO LEGAL149487/00

ICS5691/2000

TIRAGEM40.000 EXEMPLARES

PERIODICIDADE TRIMESTRAL

NA CAPAILUSTRAÇÃO DE RUI MENDONÇA

MEMBRO DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA

UPORTOSUMÁRIO

EDITORIAL – 2

PARCERIA ACTIVA COM OS ANTIGOS ALUNOS

ACTUALIDADES – 4

MOBILIZAR PARA A MUDANÇA, A MENSAGEM DA NOVA EQUIPA REITORAL

U. PORTO LIDERAEM VAGAS PREENCHIDAS

PRIMEIROS PAISAGISTAS FORMADOS NA U.PORTO

SARSFIELD CABRAL À FRENTE DA FUNDAÇÃO MUSEU DO DOURO

VOZES DA U.PORTO – 11

O PROCESSO DE BOLONHA NA UNIVERSIDADE DO PORTONum momento de adequação dos planos de estudos a Bolonha, a vice-reitora Maria de Lurdes Correia Fernandes fala das oportunidades que o processo representa para a U.Porto.

REQUIMTE – LABORATÓRIO ASSOCIADOPARA A QUÍMICA VERDEA rede de investigação em química que envolve o CEQUP, estrutura da U.Porto, e que dedica especial atenção à química verde, apresenta-se neste périplo pelos organismos de investigação da U.Porto.

DOSSIER – 14

DE TODOS OS DESEJOS, A PALAVRAVêm de áreas de formação muito diversas: Medicina, Economia, Biologia, Direito e, claro está, Letras. Ana Luísa Amaral, valter hugo mãe, Jorge Reis-Sá, José Emílio-Nelson, Pedro Eiras, Daniel Jonas e Jorge Sousa Braga são alguns dos escritores que passaram pela U.Porto. Aqui fi ca um pouco de cada um por trás da escrita.

SABER EM MOVIMENTO – 26

CENTRO ARTICULA ESFORÇOS PARA PREVENIR RISCOSO CERUP – Centro de Riscos da Universidade do Porto tenta articular o conhecimento produzido e a produzir na Universidade do Porto, na área dos riscos naturais e tecnológicos, tornando-o útil à sociedade.

UMA REDE PELO HOTSPOT DA BIODIVERSIDADE EUROPEIAO CIBIO, organismo de investigação da U.Porto, entrou numa rede de investigação em biodiversidade e recursos biológicos com mais dois centros criando o InBio. Está na calha a candidatura a laboratório associado…

PERFIL – 34

O DESAFIO DA QUALIDADE E O APELO DA REGIÃOJosé Marques dos Santos assume o cargo de reitor com incentivos à investigação e um plano de qualidade na manga, esperançado na alteração ao modelo de gestão das universidades e na subida da U.Porto ao ranking das 100 melhores da Europa.

IDENTIDADES – 40

BOTÂNICA. GONÇALO SAMPAIO ENCERRA CICLO “AVENTUREIROS, NATURALISTAS E COLECCIONADORES”Na transição da Academia para a Universidade do Porto, coube a Gonçalo Sampaio a organização e desenvolvimento do ensino prático da Botânica. A exposição, aberta até 30 de Setembro, debruça-se sobre as fontes bibliográfi cas, o “laboratório” e a geração de botânicos a que Gonçalo Sampaio pertenceu.

ESTÓRIAS – OLHARES EMBARAÇOSOSTruques das alunas contra olhares embaraçosos no período em que os cursos de Engenharia demoravam seis anos, três na Faculdade de Ciências e outros três na Faculdade de Engenharia.

CRÓNICA – 44

SEIS FRAGMENTOSTexto de João Pedro Mésseder e imagem de João Machado.

A SABER – 46

TOME NOTA – 48

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UPORTO ACTUALIDADES

5 A três de Julho, José Carlos Marques dos

Santos, anterior vice-reitor da equipa de

Novais Barbosa, tomou posse do cargo de

reitor da Universidade do Porto em cerimónia

que decorreu no salão nobre do edifício

da Praça Gomes Teixeira, o qual abriga,

actualmente, as novas instalações da Reitoria.

José Marques dos Santos, 59 anos de

idade, doutorado na Universidade de

Manchester, professor catedrático da

Faculdade de Engenharia, escola em que

adquiriu ao longo de mais de uma década

uma considerável experiência de gestão,

como director e presidente do conselho

científi co e acompanhando o processo

de criação dos novos edifícios no pólo da

Asprela, destacou, no discurso de tomada

de posse, a honra e o desafi o que para si

representam a possibilidade de “liderar a

maior Universidade” do país “numa altura

marcada pela imperiosa necessidade de

transformação e de inovação”.

O novo reitor propõe-se “mobilizar e

conduzir (…) uma dinâmica de progresso

e evolução” para que a U.Porto possa

posicionar-se entre as melhores da

Europa, e faz da celebração do centenário

da sua criação, em 22 de Março de 1911,

o marco simbólico de avaliação dos

resultados obtidos na prossecução destes

e de outros objectivos do seu detalhado

programa. Destaca a necessidade de

reforçar a estrutura desta instituição como

“Universidade de Investigação”, capaz de

criar redes e sinergias que optimizem e

produzam massa crítica para a mudança

e criação de valor. À missão tradicional

da Universidade, associada à criação e

transmissão de conhecimento, acrescenta

a transferência de conhecimento, visando

o desenvolvimento económico e social.

À sua posse, seguiu-se a de todos os

elementos da nova equipa reitoral.

José Marques dos Santoslidera Universidade do Porto

São vice-reitores:

António José de Magalhães Silva Cardoso,

nascido em Moçambique em 1955,

doutorado em engenharia Civil pela FEUP

e professor catedrático na mesma escola,

elemento que transita da anterior equipa e

assume os pelouros do património edifi cado,

higiene, segurança e condições ambientais

das instalações e contratação pública;

António Teixeira Marques, nascido em

Coimbra em 52, doutorado em Ciências

do Desporto pela Universidade do Porto e

professor catedrático na mesma escola, de

que foi presidente dos conselhos directivo

e científi co entre 1988/96 e 2001/06,

que assume os pelouros das Relações

Internacionais, Comunicação,

Imagem e Marketing;

Jorge Manuel Moreira Gonçalves,

nascido no Porto em 61, doutorado em

Farmacodinamia pela Faculdade de

Farmácia da U.Porto, onde é professor

catedrático, director do serviço de

Farmacologia entre 95/06 e presidente

do conselho directivo de 2002/04,

que assume a pasta Investigação,

Desenvolvimento e Inovação;

Maria de Lurdes Correia Fernandes,

nascida em Arouca em 58, doutorada

em Cultura Portuguesa pela Faculdade

de Letras da U.Porto, onde é professora

catedrática, presidente do conselho

directivo entre 2005/06, que toma a seu

cargo as áreas: Formação, Organização

Académica e Alunos.

São pró-reitores:

Ana Teresa Cunha de Pinho

Tavares-Lehmann, nascida em 1972,

doutorada em Economia Internacional

pela University of Reading (Reino

Unido), professora auxiliar na Faculdade

de Economia, que assume as áreas:

Planeamento Estratégico e Relações e

Participações Empresariais;

José António Sarsfi eld Cabral, nascido no

Porto em 1949, doutorado na Faculdade de

Engenharia da U.Porto, onde é professor

catedrático, Vice-Presidente da Associação

Portuguesa para a Qualidade (1997/2000),

Pró-Reitor da anterior equipa e membro da

Comissão Executiva da Fundação Gomes

Teixeira desde 99, que assume o pelouro da

Melhoria Contínua;

Lígia Maria da Silva Ribeiro, nascida no

Porto em 1955, doutorada em Ciências de

Engenharia na Universidade do Minho,

Investigadora Principal da Faculdade de

Engenharia da U.Porto, Vice-Presidente

do IRICUP desde 2003, que assume o

pelouro da Universidade Digital e Manuel

António Araújo Silva Janeira, nascido no

Porto em 1952, doutorado em Ciências do

Desporto pela Faculdade de Ciências do

Desporto e Educação Física da U.Porto,

onde é Professor Associado, Director

do IRICUP desde 2002 e pró-reitor da

anterior equipa desde 2003, que assume o

pelouro Cultura, Lazer e Desporto.

LEGENDADA ESQUERDA PARA A DIREITA, FILA DE CIMA: ANTÓNIO CARDOSO, ANTÓNIO MARQUES, JOSÉ A. SARSFIELD CABRALFILA DO MEIO: JORGE GONÇALVES, ANA TERESA TAVARES, MANUEL JANEIRAFILA DE BAIXO: LÍGIA RIBEIRO, JOSÉ MARQUES DOS SANTOS, MARIA DE LURDES CORREIA FERNANDES.

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Novo site de Consultas Psicológicas de Orientação Vocacional

Disponível desde o início de Setembro, o

www.fpce.up.pt/orientacao_vocacional

permite efectuar inscrições e obter

informações sobre as várias actividades

ligadas à Consulta Psicológica de

Orientação Vocacional (CPOV),

uma das especialidades do Serviço de

Consultas de Psicologia da FPCEUP.

O principal objectivo das consultas é

apoiar adolescentes, jovens e adultos

nas opções com que se deparam ao

longo do percurso escolar e profi ssional

permitindo, em simultâneo, a formação

de psicólogos e a investigação no domínio

do desenvolvimento vocacional. Embora o

maior volume de inscrições seja motivado

pelas difi culdades de escolha que se

colocam aos jovens no fi nal do 9.º e 12.º

anos de escolaridade, são também em

número signifi cativo as que correspondem a

situações de desajustamento ou insatisfação

com escolhas realizadas previamente, em

qualquer um desses graus de ensino. No

ano 2005/2006, na modalidade de grupo,

foram atendidos 57 jovens do 9.º ano de

escolaridade e individualmente foi feito

o atendimento de 10 jovens do 9.º ano,

21 do ensino secundário e 13 jovens com

frequência do ensino superior (incluindo

dois licenciados).

A CPOV também está disponível noutros

formatos para outras populações, como

por exemplo jovens à procura do primeiro

emprego, pessoas desempregadas, no

limiar da reforma ou já aposentadas.

Para além do apoio emocional, podem

obter assistência para a implementação

de planos de futuro que sejam pessoal e

socialmente signifi cativos e viáveis. Neste

último ano realizaram-se dois processos

de intervenção em grupo junto destas

populações.

Ao nível da consultoria destaca-se a oferta

destinada tanto a pais como a profi ssionais

que pretendam tornar-se mais sensíveis

às necessidades vocacionais específi cas

daqueles com quem se relacionam

ou trabalham e mais competentes no

que se refere ao desenvolvimento de

iniciativas e acções que possam promover

a capacidade daqueles de fazer escolhas

(escolares, profi ssionais, de lazer,...).

No ano transacto, foram atendidas 17

famílias, quase sempre no mesmo dia e

hora em que os seus fi lhos adolescentes

participam em intervenções em grupo,

permitindo assim o cruzamento das

duas intervenções em pontos-chave dos

respectivos processos. São momentos de

interacção pais-fi lhos que criam, muitas

vezes, as bases para um envolvimento

mais activo e continuado de ambos, já em

contexto familiar, nas questões relativas à

gestão dos percursos vocacionais tanto de

uns como de outros.

No momento da inscrição, os interessados

podem optar por consultas individuais

(com número variável de consultas, em

geral, não inferior a 8) ou participarem em

grupos de desenvolvimento vocacional

constituídos por 8 a 10 participantes (a

duração destes processos varia entre as 12

e as 15 sessões semanais).

Prémio Excelência E-learning U.Porto 06

Decorrem de 1 de Outubro a 30 de

Novembro as candidaturas ao Prémio

Excelência e-Learning na U.Porto.

Este prémio distingue os docentes

que leccionaram na Universidade do

Porto, durante o ano lectivo anterior,

disponibilizando nas plataformas de

e-Learning e utilizando, segundo uma

estratégia pedagógica, conteúdos on-line

de apoio às disciplinas. No ano lectivo

anterior, esta distinção foi atribuída aos

professores Jaime Villate (FEUP) e Pedro

Moreira (FCNAUP).

Com a atribuição deste prémio, a

Universidade do Porto visa fomentar as

boas práticas na aplicação de processos

de e-Learning ao ensino/ aprendizagem

estimulando e reconhecendo a utilização

das novas tecnologias nas actividades de

formação da Universidade. O Prémio tem

um valor pecuniário de 5.000 Euros.

O regulamento exclui do concurso os

docentes que tiverem recebido um prémio

de excelência e-Learning há mais de três

anos. Todos os candidatos sem excepção,

desde que a sua candidatura esteja em

conformidade com o regulamento, irão

fazer uma apresentação pública do seu

caso de estudo em workshop aberto a toda

a comunidade académica que se realizará

nos dias 18 e 19 de Dezembro de 2006.

Informações sobre a apresentação das

candidaturas e formulários podem

encontrar-se no portal. http://elearning.up.pt.

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UPORTO ACTUALIDADES

Sarsfi eld Cabral preside à Fundação do Museu do Douro

José António Sarsfi eld Cabral, Professor

Catedrático da Faculdade de Engenharia

da Universidade do Porto e pró-reitor

desde 1999, é o novo presidente da

Fundação do Museu do Douro desde o

passado mês de Agosto. Inscrito desde

a primeira hora no grupo de amigos do

Museu, Sarsfi eld Cabral declarou-se “preso

pelo lado sentimental” a este projecto.

É que, para além de toda a atenção que

tem dedicado ao Museu, tendo doado e

cedido algumas peças de sua propriedade

para este organismo e para a exposição

“250 anos depois” – um dos eventos com

o qual se assinala a comemoração dos 250

anos da Região Demarcada do Douro, que

se encontra patente no Museu de Vinho

do Porto –, o professor da Faculdade de

Engenharia é “um homem do Douro”,

sendo um dos proprietários do Paço de

Monsul por legado do avô, Afonso do Vale

Coelho Pereira Cabral aos seus numerosos

netos. Convicto da importância que a

Fundação a que preside poderá assumir

na promoção do desenvolvimento social

do Alto Douro, Sarsfi eld Cabral prepara-

-se agora para acompanhar o processo de

instalação da sede do Museu na Casa da

Companhia, na Régua, o que se espera

venha a acontecer, decorridas as obras

de renovação e adaptação, até meados de

2008.

Com esta nomeação a Universidade do

Porto, presente desde o início no projecto

de criação do Museu, através do Grupo

de Estudos de História de Viticultura

Duriense e do Vinho Porto da Faculdade

de Letras da Universidade do Porto e

através do seu director, Gaspar Martins

Pereira (professor do Departamento de

História da FLUP), reforça a sua presença

e intervenção social na região.

Os primeiros arquitectos paisagistas da U.Porto

“Que os licenciados em Arquitectura

Paisagista que saem agora da Universidade

do Porto, entrando no mercado de

trabalho, possam contribuir para uma

nova visão do território”. Com esta frase

um técnico de uma entidade pública,

presente no seminário de apresentação

dos trabalhos fi nais da licenciatura em

Arquitectura Paisagista, a 20 de Julho,

verbalizava a esperança de todos os

presentes em relação ao futuro destes

primeiros e dos próximos paisagistas

licenciados na Universidade do Porto. O

técnico interveio no período de debate

após a apresentação de três dos relatórios/

trabalhos fi nais de estágio. Dois foram

realizados no Gabinete de Ambiente

da Câmara Municipal do Porto e um

decorreu na Comissão de Coordenação

e Desenvolvimento Regional do Norte e

versou sobre a articulação entre Planos

Directores Municipais e o Plano Sectorial

da Rede Natura 2000. Os restantes

decorreram nas Câmaras Municipais

de Valongo, Gaia, Oeiras e em diversos

gabinetes privados. Entre estes, um

gabinete holandês.

Neste seminário, para além de docentes

e alunos estavam presentes técnicos

de organismos públicos e privados,

nomeadamente os orientadores de estágio e

representantes das entidades de acolhimento.

Vladimiro MirandaFellow da IEEE

Vladimiro Miranda, Professor Catedrático

da Faculdade de Engenharia da

Universidade do Porto e Director do

INESC Porto, foi elevado ao grau de

Fellow pelo IEEE – Institut of Electrical

and Electronics Engineers, Inc, pelo seu

contributo para o desenvolvimento de

ferramentas de inteligência computacional

em sistemas de energia eléctrica. Esta

distinção, o mais elevado reconhecimento

profi ssional na área da engenharia

electrónica a nível mundial, é conferida

pelo Conselho de Directores a um número

muito limitado de cientistas e engenheiros

em todo o mundo para enfatizar, através

da atribuição do grau, uma “distinção

invulgar na profi ssão”.

O IEEE, com sede nos EUA, é uma

organização sem fi ns lucrativos de

referência a nível mundial que lidera as

associações profi ssionais para o avanço

tecnológico na engenharia electrotécnica

e de computadores. A cerimónia de

reconhecimento do grau atribuído

teve lugar no decurso do PES (Power

Engeneering Society) – General Meeting,

que se realizou em Montreal no fi nal do

passado mês de Junho.

Vladimiro Miranda é, no país, o

terceiro engenheiro alvo desta distinção

internacional, ao lado de José Epifânio

da Franca, presidente da Chipidea e de

Teresa Correia de Barros, do IST. Este

instrumento de prestígio internacional

veicula também o reconhecimento da

qualidade da instituição a que o Fellow está

associado e da unidade de investigação e

desenvolvimento em que está inserido.

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UP NOTÍCIA

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UPORTO ACTUALIDADES

Edições U.Portona FNAC e em Coimbra

A Universidade do Porto foi a

universidade portuguesa que maior

percentagem de vagas preencheu na

primeira fase do concurso nacional

de acesso ao ensino superior, segundo

dados do Ministério da Ciência,

Tecnologia e Ensino Superior. A U.Porto

foi a instituição de ensino superior que

disponibilizou maior número de vagas

– 3.938 -, conseguindo, mesmo assim,

preencher 94 por cento do total, fi cando

17 dos 54 cursos da Universidade ainda

com vagas por preencher.

Pertencem também à U.Porto três dos

cinco cursos com maior média de entrada

do país, nomeadamente, Medicina do

Instituto de Ciências Biomédicas Abel

Salazar, Arquitectura da Faculdade de

Arquitectura, e Medicina da Faculdade de

Medicina. A seguir à U.Porto, no número

de vagas preenchidas na primeira fase,

surge o Instituto Superior de Ciências do

Trabalho e da Empresa (ISCTE), com 92

por cento, e em terceiro a Universidade de

Aveiro, com 84 por cento.

Universidade Júnior 06encerra com programa de excepção

De 4 a 8 de Setembro, 88 dos melhores

alunos do 11ª ano de escolaridade do país,

inscritos na Escola de Ciências da Vida e

da Saúde, este ano incluída no programa

de Setembro da Universidade Júnior,

tiveram a oportunidade única de escolher

entre 22 projectos de investigação,

orientados por investigadores de topo de

cinco faculdades (Medicina, Medicina

Dentária, Farmácia, Ciências da Nutrição

e da Alimentação e Instituto de Ciências

Biomédicas Abel Salazar) e três centros

de investigação (IPATIMUP, IBMC e

CIIMAR), para realizar uma espécie

de estágio privilegiado que se espera

possa ajudar na defi nição de interesses

e orientações para opções profi ssionais

futuras. A questão mobilizadora desta

realização era a de demonstrar aos

alunos inscritos que “há vida para além

da Medicina para quem quer estudar

Ciências da Saúde”. A Escola encerrou com

a participação de todos os estudantes num

congresso em que foram apresentados os

trabalhos desenvolvidos.

A “Escola de Física” contou, este ano,

com 60 participantes a quem foi dada a

possibilidade de desenvolver de raiz um

projecto no Departamento de Física da

Faculdade de Ciências do Porto. Divididos

em equipas de seis, sob a orientação de

investigadores da Faculdade de Ciências,

trabalharam sobre novos materiais, novas

tecnologias, telecomunicações, aplicações

à medicina e sobre as origens do universo.

Também estes alunos apresentaram em

sessão pública os resultados do seu trabalho.

U.Porto liderana percentagem de vagas preenchidas

As edições da Universidade do Porto vão

estar em destaque no mês de Outubro

em dois eventos de divulgação. Durante

quinze dias, entre 16 e 31, para além de

sessões de lançamento e apresentação

de algumas obras, a FNAC de Santa

Catarina, no Porto, apresentará uma

montra alusiva e, no interior da loja, as

edições da Universidade do Porto estarão

nos expositores de destaque. Para além

da Editora UP, estarão ainda disponíveis

obras de outras editoras da Universidade

com actividade regular, nomeadamente,

FEUP Edições, FAUP Edições, da

Faculdade de Letras e da Faculdade de

Psicologia e Ciências de Educação. O

encerramento da iniciativa será assinalado

com a actuação da Tuna Universitária do

Orfeão Universitário do Porto.

A FEUP Edições (“Mecânica dos Solos

(Volume I)”, de Manuel Matos Fernandes,

dia 16), a Faculdade de Letras (“Olhares

e Escritas”, de Rui Carvalho Homem,

dia 17) e a Editora UP (“20 Desenhos

de António Cardoso”, dia 23) lançam

novas obras nesta quinzena, em sessões a

decorrer às 18h00. Para mais informações,

consultar: http://www.up.pt.

Entretanto, de 10 a 31 de Outubro, a

Universidade do Porto estará presente

com as suas edições no Ciclo do

Livro Universitário, promovido pela

Universidade de Coimbra e pela Coimbra

Editora, na sede desta. Dia 13 de Outubro,

às 17h30, decorrerá a apresentação

“Histórias do Universo”, por Benedito

Calejo, professor na FCUP.

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Page 9: PROJECTO ACADÉMICO DESENVOLVIDO PELOS FINALISTAS DE … Porto em 1952, doutorado em Ciências do Desporto pela Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da U.Porto,

Universidade Itinerantea bordo do “Creoula”

O antigo bacalhoeiro “Creoula”, agora

transformado em navio-escola da Marinha

Portuguesa, recebeu, entre 17 de Julho e

10 de Agosto, uma tripulação diversa da

usual para cruzar o Atlântico numa ponte

marítima entre Portugal e Espanha: à

tripulação da embarcação acrescentaram-

se 70 estudantes das Universidades do

Porto e de Oviedo, divididos por dois

grupos correspondentes a dois cursos e

dois percursos: do Porto para Oviedo e

de Oviedo para o Porto. Os estudantes

que procuraram este projecto pioneiro

eram recém-licenciados sem experiência

das “coisas do mar”, mas determinados a

aprender o que pudessem sobre a relação

histórica, cultural, económica e científi ca

da “Europa e do Mar” a partir do oceano e

de uma aprendizagem concreta das artes

de navegar.

Este curso de pós-graduação, de contornos

bem diferentes do habitual, foi uma

criação das duas universidades europeias

e da Conferência das Regiões Periféricas

da Europa e será continuado em 2007. O

plano de formação incluiu uma semana de

preparação teórica em terra, em que foram

trabalhados temas como a História Naval,

a Segurança Marítima ou a Cartografi a.

A bordo, cada aluno teve que fazer o

seu diário e participar nos trabalhos da

restante tripulação.

O “Creoula” é uma embarcação à vela de

pequeno porte (um lugre), quatro mastros

e 70 metros de comprimento, que tem

uma tripulação de 40 elementos e dá

apoio à formação de cadetes.

Sebastião Feyo de Azevedopreside a Grupo de Trabalho sobre Educação em Engenharia Química

Sebastião Feyo de Azevedo, professor

catedrático da Faculdade de Engenharia

do Porto, director do Curso e do

Departamento de Engenharia Química,

director do ISR-P (Instituto de Sistemas

e Robótica) da mesma faculdade

e vice-presidente da Ordem dos

Engenheiros, foi eleito a 27 de Agosto

Presidente do Grupo de Trabalho sobre

Educação em Engenharia Química da

Federação Europeia de Engenharia

Química, para o triénio 2007-2010.

A Federação Europeia, fundada em 1953,

enquadra a actividade de cerca de 1000

especialistas nomeados pelas diversas

Sociedades Nacionais, reunindo-os em 22

Grupos de Trabalho temáticos (Working

Parties).

O Grupo de Trabalho sobre Educação

em Engenharia Química, cuja actividade

começou a desenvolver-se em 1981,

existe com o perfi l e a regulamentação

actual desde 1992 e integra 37 membros

de 23 países, tendo por missão refl ectir

e discutir tópicos relacionados com a

formação em Engenharia Química. Da sua

actividade, reconhecida a nível europeu,

resultaram recomendações diversas

e iniciativas de apoio à mobilidade

estudantil e cooperação europeia.

Para o próximo triénio e entre os objectivos

defi nidos pelo Grupo, conta-se a realização

de um workshop sobre educação em

engenharia química, que se realizará

em Copenhaga em Setembro de 2007,

no âmbito da Conferência Europeia em

Engenharia Química ou a monitorização

da aplicação das reformas decorrentes do

Processo de Bolonha nesta área.

Morreu um dos arquitectos do modernismo completo

Um dos nomes mais proeminentes da

arquitectura modernista em Portugal,

licenciado pela Escola de Belas Artes

do Porto em 1948, faleceu a 22 de Julho

passado. Ruy d’Athouguia, nascido em

Macau em 1917, frequentou as Belas Artes

do Porto num período em que o curso de

Arquitectura era dirigido por Carlos Ramos.

Foi um dos pioneiros na aplicação do

espírito da Carta de Atenas (considerada

o manifesto do modernismo na

arquitectura, publicada em 1933) em

Portugal, ao longo de um percurso

profi ssional de onde se destacam o

Bairro das Estacas (em colaboração

com Sebastião Formosinho Sanchez),

em Lisboa, exemplo da harmonia entre

edifício e espaço verde, e várias outras

obras. Com Pedro Cid, Alberto Pessoa e os

paisagistas Viana Barreto e Ribeiro Telles,

foi autor do projecto da sede da Fundação

Calouste Gulbenkian, distinguido com

o Prémio Valmor em 1975 e classifi cado

Monumento Nacional. Trata-se de “um

edifício de uma monumentalidade nova”,

não “arrogante” como a anterior, aliás

“resposta a uma questão mal resolvida na

arquitectura moderna, que não conseguia

ser moderna e monumental”, caracteriza

Ana Tostões, professora, ensaísta na área

da arquitectura e comissária da exposição

“Sede e Museu Gulbenkian, a Arquitectura

dos anos 60”, durante a apresentação desta

iniciativa aos jornalistas. “Um trabalho

em uníssono entre o que é verde e o que é

construído”, inovador em várias aspectos.

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10 | A investigação presentemente desenvolvida no Laboratório

é focada em cinco áreas temáticas: a) concepção e obtenção

de novos compostos provenientes de fontes renováveis; b)

segurança e qualidade alimentares; c) processos químicos limpos;

d) controlo analítico e processos de automação, d) biologia

estrutural e bioengenharia, e muito tem benefi ciado com a

partilha de saberes e metodologias existentes nas duas unidades

de investigação, sendo notória a interacção dos investigadores

por exemplo na apresentação de projectos conjuntos no tema da

Química Verde.

Esta parceria tem também permitido uma mobilidade de

investigadores, em particular alunos de pós-graduação, entre os

dois polos e outros laboratórios internacionais com os quais são

mantidas colaborações, o que se tem traduzido numa mais valia no

que diz respeito à valorização de recursos humanos, disponibilidade

de equipamento e prestação de serviços à comunidade.

Hoje em dia, e em minha opinião, o REQUIMTE pode

descrever-se como um Laboratório de elevada dimensão, com

um pólo na Universidade do Porto e outro na Universidade

Nova de Lisboa. Os investigadores deste Laboratório reúnem-se,

na sua totalidade, num encontro bienal com a duração de 1

dia e meio e onde além de apresentações orais e em painel da

actividade científi ca em curso são também discutidos problemas

relacionados com a temática da Química Verde.

No ano de 2005, o Laboratório para a Química Verde – REQUIMTE,

publicou 277 artigos em revistas internacionais com arbitragem

científi ca, 19 artigos em revistas nacionais, 7 patentes e foram

concluídas 19 Teses de Doutoramento e 17 Teses de Mestrado.

A Rede de Química e Tecnologia, REQUIMTE, resultou da associação

de duas Unidades de Investigação e Desenvolvimento centradas nas

áreas da Química e Engenharia Química, o Centro de Química da

Universidade do Porto – CEQUP e o Centro de Química Fina e

Biotecnologia da Universidade Nova de Lisboa – CQFB.

Desde Novembro de 2001 a REQUIMTE é o “Laboratório

Associado para a Química Verde – Tecnologias e Processos

Limpos” da Fundação para a Ciência e Tecnologia do MCTES,

integrando actualmente 374 investigadores (208 doutorados) que

exploram os príncípios da Química Verde e visam implementar

uma Química Sustentável.

É actualmente aceite, pelos sectores político, industrial e pelo

público em geral que o desenvolvimento sustentável é necessário

para atingir objectivos sociais, económicos e ambientais

desejáveis para a sociedade moderna. Neste contexto, a Química,

que é frequentemente associada com produtos nocivos e não a

produtos químicos absolutamente essenciais ao nosso quotidiano

actual, deve ter um papel fundamental na manutenção e

melhoramento da nossa qualidade de vida, na competitividade da

indústria e no meio ambiente.

Sendo indubitável a necessidade que a sociedade contemporânea

tem de recorrer a processos e produtos químicos, surgiu no fi nal

do século XX um movimento designado por QUÍMICA VERDE

cujos objectivos são a implementação de prácticas e processos

que conduzam à redução do consumo de matérias primas e

energia bem como à redução de custos e de riscos sejam eles de

natureza alimentar, ambiental ou industrial.

Para este efeito, a QUÍMICA VERDE pretende redesenhar

radicalmente os processos laboratoriais e industriais de forma

a que estes sejam mais limpos e economicamente viáveis. Os

investigadores são assim desafi ados a conceber reacções e

processos sustentáveis em que seja efectuada uma economia de

átomos, se utilizem matérias-primas obtidas de fontes renováveis,

solventes não tóxicos e sempre que possível materiais recicláveis.

São objectivos do Laboratório Associado para a Química

Verde – Tecnologias e Processos Limpos:

– Promover a utilização de produtos e tecnologias limpas;

– Apoiar a indústria na concepção e implementação de processos

químicos não agressivos;

– Formar jovens investigadores em áreas interdisciplinares

relacionadas com a química verde;

– Divulgar os príncípios da Química Verde e sensibilizar a

sociedade para a necessidade da sua prática.

REQUIMTE – LaboratórioAssociado para a Química Verde(http://www.requimte.pt)

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MARIA DA CONCEIÇÃO RANGEL

PROFESSORA ASSOCIADA E INVESTIGADORA

UPORTO VOZES DA U.Porto

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UPORTO VOZES DA U.Porto

Foram ainda aprovados e entrarão em funcionamento este ano

lectivo alguns cursos de segundo e terceiro ciclo em outras

Faculdades (por exemplo, os Mestrados em Economia e Gestão

das Cidades, em Economia e Gestão Internacional e em Gestão

Comercial na Faculdade de Economia, os mestrados em Design

de Imagem, Estudos Artísticos, Pintura, Práticas Artísticas

Contemporâneas na Faculdade de Belas Artes, e o Mestrado e

Doutoramento em Estudos Anglo-Americanos na Faculdade de

Letras), mas a adequação de grande parte dos cursos actualmente

em funcionamento, bem como as propostas de criação de novos

ciclos de estudos estão ainda em fase de discussão na maioria das

Faculdades, prevendo-se a sua apreciação pelo Senado durante

o mês de Outubro, para que toda a U.Porto adopte o processo de

Bolonha no ano lectivo de 2007-2008.

A Universidade do Porto, exceptuando os casos das Faculdades

referidas que há vários meses vinham trabalhando nas propostas

apresentadas e aprovadas, considerou preferível, para evitar

precipitações, dilatar um pouco mais no tempo a tarefa de

reformulação generalizada dos seus cursos de modo a adaptá-los

ao novo modelo de ciclos de estudos, estabelecendo como meta a

entrada em funcionamento de todos os cursos, já reformulados,

no ano lectivo de 2007-2008. Desta forma espera-se que

haja condições para um trabalho mais cuidado, com maior

discussão e maior envolvimento de todos na preparação do novo

paradigma de ensino/ aprendizagem que o processo de Bolonha

pressupõe e exige para que se logrem as transformações e as

vantagens de um modelo que pretende contribuir para um salto

qualitativo das condições de aquisição e desenvolvimento das

competências dos estudantes.

De facto, as alterações e a criação de novos planos de estudo

devem ser encaradas como uma oportunidade de reforço da

formação por via de novos ou renovados desenhos curriculares

que tirem partido da transformação dos processos de ensino/

aprendizagem, de modo a que os estudantes, através de um

trabalho regular, orientado e exigente, adquiram não só as

competências fundamentais nas diversas áreas do conhecimento

sobre que incide a sua formação, mas desenvolvam também

nesse processo a autonomia indispensável ao alargamento e

aprofundamento de capacidades de aprendizagem ao longo da

vida, essenciais para que possam acompanhar e adaptar-se com

maior versatilidade às constantes e rápidas mudanças que vive

o mundo contemporâneo. Ao mesmo tempo, este modelo, pelo

princípio da acumulação e transferência de créditos, deverá

A implementação do Processo de Bolonha na Universidade do

Porto terá já uma primeira fase no ano lectivo de 2006-2007,

com a entrada em funcionamento em algumas faculdades

de novos ciclos de estudo, grande parte deles resultante do

processo de adequação de anteriores cursos de licenciatura e

de mestrado, e alguns objecto de criação nova. Estes ciclos de

estudo, respeitando uma organização imposta pela alteração à

Lei de Bases do Sistema Educativo e pela respectiva legislação

regulamentadora subsequente (em especial os Dec-Lei nº

42/2005, de 22 de Fevereiro, e 74/2006, de 24 de Março),

institucionalizam o sistema de acumulação e transferência de

créditos curriculares (ECTS – European Credit Transfer System)

baseados no trabalho do estudante e deverão estimular a adopção

de um novo paradigma de ensino/ aprendizagem que contribua

ainda mais para o desenvolvimento de competências em diversas

áreas científi cas e profi ssionais e também de capacidades de

aprendizagem ao longo da vida.

A Faculdade de Engenharia, que desde 2002 vem investindo

progressivamente nesse novo paradigma e na melhoria das

condições logísticas e técnicas que lhe darão suporte, viu

aprovados pelo Senado e registados pela Direcção Geral do

Ensino Superior nove mestrados integrados, oito dos quais

resultantes da adequação de anteriores cursos de licenciatura.

Estes mestrados integrados terão uma duração normal de

10 semestres e 300 ECTS: Engenharia Civil; Engenharia do

Ambiente, Engenharia Electrotécnica e de Computadores;

Engenharia Industrial e Gestão; Engenharia Informática e

Computação; Engenharia Mecânica; Engenharia Metalúrgica e

de Materiais, Engenharia Química. O novo mestrado integrado

de Bioengenharia resulta de uma parceria entre esta Faculdade e

o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar.

A Faculdade de Belas Artes também iniciará dois primeiros ciclos

correspondentes ao curso de licenciatura em Artes Plásticas – que

terá três ramos distintos: o de Pintura e o de Escultura resultam

da adequação dos cursos anteriores, o de Multimédia é um novo

ramo – e ao curso de Design de Comunicação. Estes cursos terão

a duração média de 8 semestres e 240 ECTS e apresentam um

desenho curricular que introduz algumas inovações importantes.

Por sua vez, a Faculdade de Direito terá em funcionamento o

novo curso de Criminologia, único no país, que terá a duração

normal de oito semestres e um total de 240 ECTS.

O Processo de Bolonha na Universidade do Porto

MARIA DE LURDES CORREIA FERNANDES

VICE-REITORA DA U.PORTO

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fomentar uma maior mobilidade dos estudantes, no quadro

de desenvolvimento de uma área europeia de Ensino Superior

que cada vez mais se alimenta de um ambiente multicultural

complexo e de exigências profi ssionais diversifi cadas. Espera-se

também que os desenhos curriculares contemplem, sempre

que possível, uma razoável margem de escolha de unidades

curriculares diferentes da área de formação de base, permitindo

que o estudante contacte com formas de conhecimento

multidisciplinar e adquira um leque mais amplo de competências

que potenciem uma maior versatilidade profi ssional futura.

A desejável mudança de paradigma vai exigir diferentes

condições de trabalho e ainda um grande investimento em

novos métodos e práticas pedagógicas, tirando mais partido

das novas tecnologias da informação e comunicação de que

já dispõe a Universidade do Porto. Serão necessárias algumas

mudanças gerais, quer de atitudes e comportamentos, quer do

próprio sistema de avaliação dos conhecimentos, tendo em vista

dar resposta, também a esse nível, às necessidades de avaliação

da qualidade e efi cácia da auto-aprendizagem e da autonomia

dos estudantes, à aferição do desenvolvimento e da aquisição de

competências científi cas e técnicas que os habilitem a um melhor

desempenho e capacidade de resposta a desafi os profi ssionais

futuros cada vez mais marcados pela internacionalização.

Neste quadro, além dos cursos enquadrados nos três ciclos de

estudos, a oferta de cursos de educação contínua, que alimentem uma

desejável e necessária formação ao longo da vida, deverá consolidar

e mesmo alargar o forte investimento dos últimos anos. Além da

continuação do esforço de formação permanente dos recursos

humanos da U.Porto, envolvendo-os em novos projectos formativos

ou aprofundando competências profi ssionais ou técnicas, tentar-se-á

estimular uma oferta ao exterior de cursos de formação contínua de

grande qualidade, de interesse social e profi ssional, respondendo a

necessidades de empresas, de antigos alunos ou de profi ssionais de

diferentes áreas e organizações sociais cujo desenvolvimento possa

benefi ciar do conhecimento produzido na U.Porto.

A qualidade da formação, para poder acompanhar as exigências

crescentes da internacionalização, deverá apoiar-se fortemente

na investigação, aproximando esta da docência, sobretudo

nos segundos e terceiros ciclos. Tirando partido da qualidade

científi ca de muitas áreas e estruturas de investigação da U.Porto,

da elevada qualifi cação dos seus recursos humanos, do aumento

de projectos de investigação que envolvam jovens investigadores,

poderão desenvolver-se algumas áreas multidisciplinares também

no domínio da formação. Ao mesmo tempo, deseja-se que

aumente signifi cativamente a internacionalização da U.Porto,

alargando os índices da mobilidade de estudantes, de docentes e

de investigadores, criando parcerias inovadoras para segundos

e, sobretudo, para terceiros ciclos, tirando maior partido do

prestígio que a Universidade do Porto tem vindo a conseguir, mas

que tem de ampliar e aprofundar, a nível nacional e internacional.

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UPORTO DOSSIER

De todos os desejos, a palavra

Jorge Reis-Sá“A memória é a maior fi cção que existe”

A caminho da entrevista fi cou parado no trânsito e assistiu ao corrupio de uma mudança. Parou o carro e começou a escrever:Cemitério do Prado do Repouso“Há sempre quem mude uns móveis de uma casa para outra,dois candeeiros, um aparador, o saco com as coisas mais íntimasno banco da frente. Chamam-se os homens das mudanças e pede-se, clemente, que mude também com os móveis a nossa vida.Por favor, senhor Joaquim, pode-me mudar esta tristeza que meinunda, mude-a para o passado, para aquele que já não lembrode tão infeliz. Mas o senhor Joaquim encolhe os ombros, franzeo sobrolho, ajusta a madeira na carrinha para que não risque ediz, menina, mudar essas coisas só se for num camião tir enós, aqui na Joaquim Ribeiro Unipessoal, não temos essesinstrumentos. Mude-se de tempo. Há ali um cemitério.E se fosse possível cobrir de terra uma vida, esquecermo-nosdela? Já me esquecia – é. De tristeza em tristeza, só a lembrançavale, aquela que criamos quando percebemos que mudar tantosmóveis pode ser sinal que o que queremos mudar é a vida dos outros. E, serenos pela sabedoria, nós tentamos muitas vezes.”

Jorge Reis Sá nasceu em 1977, em Vila Nova de Famalicão. É responsável pela Quasi Edições e pela empresa Do Impensável – Projecto de Atitudes Culturais. Á Memória das Pulgas da Areia, Quase e outros poemas De Querença, Biologia do Homem (Quasi Edições) e A Palavra no Cima das Águas (Campo das Letras) são os seus quatro livros de poesia. Pelas Publicações Dom Quixote fez sair o seu primeiro romance: Todos os Dias. Esteve para ir para Medicina, mas acabou por se inscrever na U.Porto em Astronomia. Após o primeiro ano concluiu que “passar as noites a observar chapas que saem do computador ou a fazer análises matemáticas” não era coisa que lhe apetecesse fazer vida fora. Então decidiu-se por Biologia.

Esta forma de preservar a identidade (mas qual, se, como nos diz Ana Luísa Amaral “há sempre uma dose de máscara, de fi ngimento”), de estimular a consciência de si próprio (“o livro cria a sensação de estarmos numa varanda sobre a nossa vida” – valter hugo mãe) e de contrariar o limite de validade do corpo, permite também, a quem dela faz objecto de encontro, saber de si, ou não fosse o poema “um fi lho emprestado a guerra alheia, outra bomba a estalar revoluções na perigosa ternura de outro olhar” (Ana Luísa Amaral). Falamos da palavra escrita. Aquela que pode ser “o grito do condenado que fere quem o condena” (José Emílio Nelson), “uma esquizofrenia benéfi ca” (Pedro Eiras), ou “uma forma de ordenar o mundo” (João Pedro da Costa). Pode obrigar a um “ping-pong metafísico” (Daniel Jonas), a esgravatar na memória, sem “lamber feridas” (Jorge Reis-Sá), ou ser apenas um “fechar os olhos para ver” (Jorge Sousa Braga). Um escritor existe no seu tempo. Alguém imagina Júlio Dinis a escrever para a MTV Portugal?! Ou Camilo Castelo Branco a tomar notas num aparelho que serve para falar à distância?! Estes novos escritores têm áreas de formação bem diversas: Medicina, Economia, Biologia, Direito, e claro, mal era, Letras. Faltam muitos mais. São apenas alguns. O que têm em comum todos os nomes citados? Todos passaram pela U.Porto.

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É-se feliz à posteriori de se ter tido uma

infância feliz. Toda a gente detesta o liceu,

tem borbulhas na cara e acha que as

raparigas não ligam nenhuma…

As aulas também serviam para escrever poesia…

Eram no Botânico e da sala da direita, no 1º andar do edifício,

via-se o jardim. Foi lá que escrevi “O Sabor das Tuas Lágrimas”:

“É no jardim botânico que me entrego às aves, àquela árvore que

com o tronco despido, a fronde curvada e as folhas pendidas chora

sobre o jardim.

queres que te diga o que vejo?

vejo a infância. as costas voltadas e o tronco soerguido numa

forma tua de verticalidade…”

Foi durante uma aula de Biologia Molecular e Celular, mas tirei

16 valores (risos). Queria ver se terminava o curso e gostava de

tirar um mestrado ou um doutoramento. Talvez em História

da Ciência, ou em Letras. Não tenho nenhuma pretensão de

carreira. Estou nas coisas enquanto me sentir feliz.

Entretanto cria a Quasi Edições, que conta já com mais de

cem livros publicados. Editou alguns dos seus por aqui,

outros não, como é o caso de “Todos os Dias”. São 24 horas

de ausências e afectos, couves e galinhas, tudo à mistura. Que

universo é este?

Durante uma conversa com o Francisco José Viegas chegamos à

conclusão que o livro é sobre uma civilização que está a acabar. Não

a aldeia, nem a vida citadina, mas sobre aquele limbo que existia das

casas com quintal, cadelas, galinhas, coelhos, couves. Com as novas

cidades e os subúrbios é só prédios e estradas alcatroadas. Porque

raio têm de alcatroar tudo?! Tirar o paralelo acaba com a ruralidade.

Se eu fosse Presidente da Junta de Calendário, que é onde o romance

se passa, punha paralelo outra vez!

Todos os Dias da infância constitui o território genuinamente

mais feliz que podemos ter?

Quando olhamos para traz, sim. Na memória que temos dela e

guardamos como fotografi as. É-se feliz à posteriori de se ter tido

uma infância feliz. Toda a gente detesta o liceu, tem borbulhas na

cara e acha que as raparigas não ligam nenhuma…

Escrever implica uma experiência profunda?

Há coisas que só podem ser trabalhadas porque passamos

por elas. Outras são fi cção. O próximo romance não tem um

bocadinho de mim. Passa-se num Centro Comercial em Viana

do Castelo e não é biografi a de nada. Escrevi um poema (fracote)

que se chama Igreja de Nossa Senhora de Matosinhos e nunca lá

fui… Não há-de ser muito diferente da Igreja onde eu vou.

Mas há uma capacidade de mistifi car o objecto de escrita. Algo

que os restantes mortais só têm quando estão apaixonados …

Claro. Porque é que um poema do Eugénio de Andrade, aos 80

anos, é mais interessante do que o de uma rapariga com 15 que

está perdidamente apaixonada pelo namorado?! Depende do

talento. Existe um saber.

Durante o processo criativo recorre muito a vivências de

gavetas antigas. Tem essa consciência?

Do ponto de vista literário gosto de me inventar a partir das

memórias. A memória é a maior fi cção que existe.

Isso não implica, às vezes, lamber a ferida em vez de a deixar

cicatrizar?

Só com a memória das coisas é que se pode escrever. A lamber

feridas não se escreve nada.

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UPORTO DOSSIER

Jorge Sousa Braga Passamos a vida a tentar regressar ao útero da mãe

Tinha dado assistência a um parto nessa noite. Veio ter ao Café Progresso após 24 horas no serviço de urgências. Jorge Sousa Braga nasceu em 1957, perto de Braga, em Cervães. Quando era miúdo o padre da aldeia perguntou-lhe o que queria ser quando fosse grande. Queria ser médico! Mas médico de galinhas? De vacas? Quero ser médico de mulheres! Foi presenteado com 25 tostões. Formou-se na FMUP e trabalha no Serviço de Obstetrícia/ Ginecologia do Hospital de Santo António. A corda das horas há-de esticar até ao Centro de Estudos de Infertilidade e Esterilidade, deixando algum espaço para dedicar à investigação sobre o Diagnóstico Genético Pré-implantatório da Paramiloidose, a chamada doença dos pezinhos. O Poeta Nu, Fogo Sobre Fogo (Fenda Edições), Herbário, A Ferida Aberta, Porto de Abrigo (Assírio & Alvim) e Balas de Pólen (Quasi Edições) são alguns exemplos da sua obra poética. Em grande parte dela, é nas formas femininas que a caneta faz a curva.

Como é que a Medicina se conjuga com o universo emocional

e intimista da escrita?

A Medicina é uma arte humana e a poesia também. O meu

dia-a-dia é passado entre a alegria extrema e a tragédia. A poesia

vive disso. Nunca separei, dentro do hospital sou médico, cá fora

sou poeta. Concilio. A Ferida Aberta tem a ver com a minha

experiência como obstetra e como ginecologista.

Um dos poemas desse livro é o Diário de Bordo de um feto.

Tem fi lhos?

Tenho dois e esse é o Diário de Bordo da Madalena, a mais nova.

É também uma “Ferida Aberta” para o fascínio pelo corpo,

pelo útero, pelo princípio da vida…

É no mistério do nascimento onde há mais poesia. E em todo o

tempo passado no útero da mãe. Acho que passamos toda a vida

a tentar regressar ao útero da mãe. Um dos poemas (Litania) é

sobre uma estrectomia a que a minha mãe foi sujeita (daquelas

coisas que eu estou habituado a fazer). A experiência de ver

passar o útero da minha mãe foi como se tivesse perdido a casa.

Há poemas que parecem viver dentro das coisas… Dentro daquela

montanha (nas Balas de Pólen) que pode desatar aos saltos

quando se apaixona. Como é que se entra no “comércio do pólen”?

Não há receitas para escrever, ou há tantas quantas as pessoas que

escrevem. Eu gosto de poesia simples, sem grandes elaborações.

Rente à realidade. E que transfi gure a realidade. Alguém me

disse que eu conseguia fazer poemas sobre, olhe, beringelas, que

poderão não ser consideradas “coisas poéticas”…

Isso existe?

Ou “coisas poetizáveis”. Acho que tudo no mundo é poesia. Não

tenho uma visão concentrada no Homem. Desde as pedras aos

mosquitos, passando pelo Homem… Somos peregrinos.

E pelas plantas… A propósito do Herbário, como é escrever

para crianças?

Fiz um livro para cada um dos meus fi lhos e suponho que

não volto a repetir a experiência. Tentei não fazer das crianças

estúpidas ou atrasadas mentais. Acaba por se apanhar as crianças

pelo lado lúdico e pela música das palavras (era o que funcionava

quando eu era miúdo). É preciso mingar para fi car à altura delas.

Depois do bisturi, e objectos afi ns, precisa da caneta para

respirar?

Sou muito meditativo. Acho que um dos grandes problemas das

sociedades actuais é não haver tempo para olhar. Um dos escapes

que tenho, depois de um momento de grande tensão, é fi car a

olhar… Uma pedra, por exemplo. Gosto da meditação… Tem

muito a ver com misticismo. Ando a ler poetas místicos árabes

(talvez por causa da questão do terrorismo) e seduz-me muito

essa faceta. É incrível a dimensão de paz que há em grande parte

dos místicos muçulmanos. É uma poesia de amor.

Escrever ajuda-o a conhecer-se melhor?

Acho que cada vez me conheço menos. Passamos a vida toda a

tentar saber onde podemos chegar, a explorar potencialidades,

mas não chegamos a ter a real noção das capacidades que temos.

Há algum momento em que goste particularmente de escrever?

Quando estou quase a adormecer. Não sei o que acontece em

termos científi cos nesse limiar entre o estádio de vigília e o sono,

mas é quando encontro o que me falta para completar um poema.

Como é que se chega ao avesso das coisas?

Há muita coisa que as pessoas não vêem. Ás vezes é preciso

fechar os olhos para ver.

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valter hugo mãeobjecto de captura

Diz que tinha três anos quando “a cabeça nasceu”. Acabado de chegar de Angola, estava num jardim a brincar com um menino “muito branquinho e louro, parecia um anjo”, quando se ouvem uns tiros. A mãe corre com ele para o carro e o pai aparece a gritar que estava aí uma guerra. Era o dia vinte e cinco de Abril de mil novecentos e setenta e quatro. Depois foi viver para a casa “de risca ao meio” (podia ir de bicicleta do quarto para a sala), em Paços de Ferreira. No andar de baixo tinha a senhoria, “muito velha, baixinha e corcunda”, que acordava às cinco da manha e “rezava muito alto”. Licenciado em Direito, descobre durante o estágio que não tinha perfi l para advogado: começava a chorar com os clientes e “vivia atazanado”. Na FLUP, tentou fazer um mestrado (e dedicar-se ao estudo de Saúl Dias), mas em vez disso escreveu ‘o nosso reino’. Culpa de um ícone que tinha no computador que dizia: ‘Era o homem’. Era o homem o quê? valter hugo mãe (assim mesmo, em minúsculas, como escreve sempre) tem vários volumes de poesia, entre os quais o resto da minha alegria seguido de a remoção das almas, Cadernos do Campo Alegre, útero, Quasi Edições, ou estou escondido na cor amarga do fi m de tarde, Campo das Letras. foi um dos rostos da Quasi, mas agora tem a seu próprio ‘objecto cardíaco’. em Vila do Conde, onde vive.

Foi a ausência de tudo o que andava à volta da “casa com risca

ao meio” que o levou para a poesia?

foi. a perda daquele espaço fez com que eu achasse que era altura de

usar as palavras em meu proveito, de construir um mundo que me

protegesse. e as palavras tornaram-se palpáveis. escrever tem a ver

com possuir o que vemos através da frase. ir ao louvre ver a mona lisa

e ser dono dela porque me ocorreu uma frase que me fez capturá-la,

sentir com alguma energia tangente que a mona lisa é minha.

Na FLUP dedicou-se ao estudo de Saúl Dias…

entrei para fazer um mestrado, mas na altura estava ligado à quasi

edições e fui queimando prazos. um dia decidi ir para casa escrever a

tese (já tinha a pesquisa toda feita). numa sexta-feira, ao fi nal da tarde,

montei o “estaminé” e fi quei em frente ao ecrã sem escrever uma linha.

às 6 da tarde de domingo reparei num ícone que tinha no computador

que dizia ‘era o homem’. era o homem o quê? abri e dizia: “era o homem

mais triste do mundo, como numa lenda, diziam dele as pessoas da

terra, impressionadas com a sua expressão e com o modo como partia as

pedras na cabeça e abria bichos com os dentes tão caninos de fome”.

já tinha aquilo há dois ou três anos. comecei a escrever, no dia

seguinte acordei “cheio de bichos” na cabeça e acabei o livro nos

quinze dias que tinha para fazer a tese. liguei ao meu orientador,

o luís adriano carlos, e disse-lhe: aconteceu uma desgraça!

combinamos um jantar e lá tive de lhe dizer: ‘prof. escrevi um

romance. ultrapassou-me’.

Gosta que a leitura dos seus poemas obedeça a uma

determinada ordem.

porque os livros têm uma narrativa contínua e os poemas

posicionam-se quase como estrofes… mas no livro das maldições os

poemas autonomizam-se. o próximo vai ser mais auto-biográfi co,

sinto vontade de fazer alguma coisa que não fi z. os meus primeiros

livros são muito maus. depois tive um certo encanto pela adriana

calcanhoto. o resto da minha alegria (…) é um livro lamechas, um

livro para morrer de amor. gosto de me defraudar, de ser incoerente

e pensar que as minhas convicções mais profundas amanha serão

outras. não gosto de me levar muito a sério.

Tem na calha um projecto com um dos irmãos Praça

(ex-turbojunkie)?

com o paulo praça. conheço-o desde o liceu (ele mais alternativo,

com uma postura mais dignifi cante, eu era muito parolo). o

paulo é compositor e confrontado com a possibilidade de fazer

um trabalho a solo falou comigo. tem feito coisas numa linha

pop, rock, outras mais melódicas. o mário barreiros vai produzir

e deve estar cá fora em fevereiro. fi z-lhe umas fi ntas, com textos

impossíveis de musicar, e ele musicou. antigamente era só com

caneta rotring e com um bloquinho absolutamente branco, tinha

de ter condições clínicas, agora, ando com a mania de escrever

poemas no bloco de notas do telemóvel...

Existe arte, na escrita, sem a transformação para algo

desconhecido?

é um pouco ingénuo pensar que a arte poderá satisfazer o autor

sem técnica, sem destreza. o objecto de arte tem de estar sempre

dotado de uma superioridade. a arte é um passo que nos impede

de voltar ao mesmo lugar.

E como é viver com as estórias que se escreve?

o livro cria a sensação de estarmos numa varanda sobre a nossa

vida. deparamo-nos a refl ectir situações e sentimentos. é uma

intromissão avassaladora. se à partida não é auto-biográfi co, à saída

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UPORTO DOSSIER

Daniel JonasSer corpo de confl ito entre profetas

Da luta entre o desejo do eu profano, carnal, e a castração do “cristão amestrado”, mantém-se a perturbação da crença em Deus: “tive muitas formas de provar a sua inexistência em absoluto. O absurdo disto tudo é que, persistentemente, este senhor continua a teimar que existe”. O Corpo Está Com o Rei, Prémio AEFLUP/ CGD, Moça Formosa, Lençóis de Veludo, Cadernos do Campo Alegre, e Os Fantasmas Inquilinos, Cotovia, foram os três livros de poesia que acompanharam este “ping-pong metafísico”. Daniel Jonas nasceu no Porto em 1973, licenciou-se na FLUP, em Línguas e Literaturas Modernas, Português/ Inglês, e já foi considerado pelo ensaísta Osvaldo M. Silvestre “a maior revelação da poesia portuguesa na década que corre”. O gosto pelo absurdo também lhe mereceu a classifi cação de o mais beckettiano dos nossos poetas recentes. A tradução do Paraíso Perdido de Jonh Milton é o seu último trabalho publicado pelos Livros Cotovia.

Porquê recorrer a um autor do início do século XVII?

Queria lê-lo e achei que a única forma plausível era a partir de

uma tradução, que é uma espécie de super-leitura. Como sou

muito obsessivo comecei a traduzir os primeiros versos em

decassílabo e quando olhei para trás já estava a traduzir aquilo de

uma forma compulsiva.

Que matéria humana há aqui para fazer despertar todo esse

interesse?

Questionava-me porque motivo um escritor daquela envergadura

estava tão esquecido. Tem uma tradição protestante que é a

minha e outras linhas biográfi cas, como alguém ousar ser

republicano correndo o risco de ser decapitado logo a seguir,

professar coisas como o divórcio, ser um feroz antimonárquico.

Fica cego, a mulher sai de casa pouco depois de ter casado com

ele… Realmente era uma fi gura muito interessante.

Cabe à capacidade criativa do leitor transformar um livro num

objecto vivido?

O Paraíso Perdido é, sem dúvida, uma experiência do leitor que

pede uma constante revisitação. Implica uma dose de expiação

por ter uma hermenêutica tão fechada.

Tem de haver um interior inquieto para se escrever?

A poesia nasce nessa inquietude.

já o é. é um passo que me vai impedir de voltar a ser quem eu era. e

para um escritor também é importante colocar-se no lugar absoluto

do outro. para além do fascínio de entender uma vida diferente da

minha, exerço isso por condenação, porque me afl ige. se alguém

torce um dedo e me aparece à frente a chorar, eu choro, antes de ir

buscar o mercúrio. também me afl igem muito os fi lmes, choro, fi co

incomodado. há fi lmes que me podem alterar substancialmente.

São os que valem a pena…

a vida faz sentido assim, de forma intensa. comecei a escrever

pela perda. costumo dizer que os escritores são profundamente

carentes. criar uma obra de arte é perseguir uma insatisfação.

à pessoa perfeitamente abastada não faz falta um texto ou um

quadro. a arte é a angústia perante algo que não temos. em última

análise, ser artista é poder vivenciar coisas.

A poesia ajuda a salvar a vida?

não é possível viver da poesia, mas é possível morrer da poesia.

pode ser um empolamento das coisas más. se não servir para

uma catarse bem feita, colocar o dedo na ferida pode fazer com

que ela abra mais. mas, a determinada altura, também pode

impedir que a vida acabe, que te atires de uma varanda abaixo. a

fronteira é ténue. pode ajudar a não saltar da varanda, mas não te

põe o pão na mesa, não te traz alguém, não te ajuda mais. pode

impedir o fi m da vida, mas não ta oferece.

Porquê a inclusão da palavra ‘mãe’ no nome?

a energia mais intensa que o ser humano consegue emitir é a

energia da mãe. a coisa mais absoluta que a sensibilidade humana

produz é a maternidade. valter hugo mãe porque a aspiração

máxima de um artista será a de energizar um objecto ao nível

da maternidade. será tanto mais avassalador quanto maior foi a

energia. se pudesse, por um rasgo de um segundo, comparar-se

à energia bruta de uma mãe por um fi lho, a essa sensibilidade

incondicional, a obra seria eterna. inultrapassável. no fundo, o

artista procura ser uma mãe.

valter hugo mãe porque a aspiração

máxima de um artista será a de energizar

um objecto ao nível da maternidade

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Um poeta é um “afundador de diques”, a frase é sua…

Essa frase!!! Hoje não consigo captar a verdadeira brutalidade

dessa frase.

E o mote que dá inicio ao processo de escrita, consegue?

Às vezes é uma dor de alma. Grande parte das vezes é aquela

mentira pessoana, do fi ngidor. Simulo uma ausência. Crio fi cções.

Claro que vamos todos à “arca pessoana”, mas questiono-me da

possibilidade de tudo ser fi cção. Não ter acontecido rigorosamente

nada do que se fala. Impressiona-me o quanto é efabulado...

Terá a ver com uma necessidade nossa de viver outras

histórias… De criar personagens?

De criar personagens… É uma espécie de grande teatro do

mundo na nossa cabeça. Se o dia está cinzento seria muito

melhor escrever sobre um dia de sol, ou uma chuva intensíssima.

Não me interessa o que está, mas sim fazer uma terraplanagem

qualquer ou devolver o que está cá dentro. Se bem que há um

certo limite. No meio da fi cção encontramos muitas verdades.

Como nas referências ao quotidiano, a televisão e o controlo

remoto como “a lareira hertziana para o degelo da alma”?

Isso não é fi cção, é uma meditação sobre ruínas. As nossas ruínas,

a nossa Cartago é o que está à nossa volta.

Há aqui uma necessidade de alerta para a apatia?

Eu sou profundamente apático. Tenho muita necessidade de

rotinas. Custa-me pensar em férias. Gostava de ir para uma

aldeia de pescadores no Brasil, mas é muito difícil. É como se

houvesse uma espécie de defesa, de líquido amniótico. O que

segurei, segurei.

Vai no 3º livro de poesia, houve já quem o considerasse “a maior

revelação da poesia portuguesa nesta década”, ou que é o mais

beckettiano dos nossos poetas recentes (no gosto pelo absurdo).

Terá a ver com a forma como mistura a tradição e a vanguarda?

Consumi muita literatura inglesa e norte-americana. Quanto ao

lado beckettiano, se calhar, há ali um absurdo inglês, nem que

seja a nível de sintaxe. Provavelmente será essa a estranheza.

É do desejo que vem o fôlego para escrever?

Isso foi verdade juntamente com uma dúvida moral e

ética. Sempre tive um comportamento parecido com ideais

protestantes, cristãos (tanto é que fui para o seminário), mas

tinha de me libertar, de pôr dúvidas no papel, e sendo crente, ou

cristão, tenho de vigiar este senhor que está aqui a levantar-se e

a querer escrever coisas um bocadinho … pecaminosas. Houve

uma luta essencial desde o início. A poesia seria uma forma de

promover o desejo do eu profano, contra aquela criatura tutelar

do cristão amestrado. Escrever sobre desejo carnal, incluir um

palavrão, o lado mais profano das coisas, era uma dor de alma. A

opção pelo nome (Daniel Jonas) radica do confl ito entre profetas,

um maior e outro menor, um com uma fé inabalável, o outro que

foge para Tarsis, em vez de ir para Nínive. Foi uma luta quase

titânica entre o poeta e o crente.

Como co-habitam hoje?

Depois de muitas mediações têm uma coexistência pacífi ca.

A minha fé continua a ser difícil de entender. Acredito num

Deus, o mesmo Deus Jeová, e tive muitas formas de provar

a sua inexistência em absoluto. O absurdo disto tudo é que,

persistentemente, este senhor continua a teimar que existe. Não

consigo explicar isto. Se pensarmos que tudo o que fazemos tem

de ser em prole dos outros, ou que não pode chocar, quando

escrevo sobre os mais profundos abismos da minha alma tenho a

convicção de que há leitores que vão fi car chocados. Em termos

éticos isto é muito pesado.

É uma boa forma de se explorar internamente…

É um ping-pong metafísico (risos), mas também é um processo

esquizofrénico (risos). Um combate de forças entre o corpo e o

espírito. É um tópico arrumado. Mais-ou-menos…

Claro que vamos todos à “arca pessoana”,

mas questiono-me da possibilidade

de tudo ser fi cção. Não ter acontecido

rigorosamente nada do que se fala.

Impressiona-me o quanto é efabulado...

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UPORTO DOSSIER

João Pedro da Costa Somos a língua que falamos

Tudo começou com um exercício numa aula de francês. Um Martini e o Mar (Campo das Letras) venceu o Prémio Internacional de Francofonia da Universidade de Metz (2001). Na altura, João Pedro da Costa era também funcionário da FLUP. Tem poucos livros publicados, mas já mereceram distinções do Ministério da Cultura, da Câmara Municipal de Ovar, do Clube Artes & Ideias, entre outros. Criou um blog, As Ruínas Circulares, que também resultou em livro, escreve para a MTV Portugal, para um canal infantil de televisão e tem uma peça de teatro na calha. Nasceu em França, em 1974, e veio para cá 11 anos depois. Capital humano sufi ciente para dizer que a linguagem não serve para traduzir. Serve para apreender.

Em que contexto surge Um Martini e o Mar?

Surge com um exercício, durante uma aula com o realizador

Saguenail (estava, na altura, a tirar o curso de Línguas e

Literaturas Modernas). Entretanto foi ganhando contornos cada

vez maiores e como eu era também funcionário da Faculdade

veio parar-me às mãos o anúncio do Prémio Internacional de

Francofonia (da Universidade de Metz). Concorri, ganhei o

prémio, e a Campo das Letras publicou o livro.

Um dos personagens do romance, o Vendedor de Palavras,

garante a sinceridade do que escreve enquanto reforça

a impossibilidade de recordar sem reinventar. Somos

confrontados com diferentes perspectivas da mesma realidade

e com o recurso a línguas diferentes. É um nítido olhar

contorcionista sobre a mesma realidade…

Tendo como língua materna o francês (só comecei a falar português

a partir dos 11 anos de idade) essa experiência deu-me a entender

que a linguagem não é um fi ltro, não é um meio para chegar a…

É o mundo em si. O que vemos e sentimos é condicionado pela

linguagem. Quando comecei a pensar em português percebi que

era outra realidade que estava perante mim. Cada língua tem a sua

sintaxe, a sua semântica, a sua ginástica própria. As regras gramaticais

da língua portuguesa permitem fazer coisas que a francesa não

permite e vice-versa. Um Martini e o Mar foi escrito em duas línguas,

foi um exercício de estilo ver até que ponto as duas línguas me

poderiam levar por caminhos diferenciados. E de facto levaram. O

Budapeste, do Chico Buarque, aborda isso de uma forma magistral.

A temática é a aprendizagem de uma língua não materna, neste caso

o húngaro. Um escritor brasileiro, um personagem chamado José

Costa (até há uma semelhança entre nome dele e o meu) viaja para

a Hungria e vai mudando à medida que se adapta à língua. Regressa

ao Brasil e muda novamente. É um livro que eu gostaria de ter

escrito. Dizem que a língua é um instrumento, nada disso! Teria de

ser separável e a língua não é separável de quem a utiliza. O processo

cognitivo de apreensão da realidade depende da linguagem.

E a parte da verosimilhança ser mais importante do que a verdade?

É um velho princípio. Aristotélico até. A história deve preocupar-

se com o relato do que aconteceu, a verdade não pertence à

obra literária. A verosimilhança é uma adaptação da verdade ao

contexto da obra. É a forma como os factos estão ordenados em

relação ao mundo que está dentro da obra.

O leitor não pode ser também um Vendedor de Palavras...

ao interpretar?

Toda a gente diz que o leitor tem tanto de autor como o próprio autor.

Em parte é verdade, há um processo de reconstrução, mas não me

parece que qualquer obra possa ter esse vasto leque de possibilidades

interpretativas. Interessa a forma como a obra trabalha a linguagem. É

o seu material. Quando olhamos uma escultura, mais importante do

que as interpretações é como a pedra está trabalhada. No prólogo do

Fervor de Buenos Aires, Borges (Jorge Luís), que é um dos escritores

que mais me marcou, diz que é um mero acaso ser ele o autor

daquelas páginas e outros serem os leitores. No Um Martíni e o Mar o

personagem é a realidade e o Vendedor de Palavras é o autor do livro.

Em qualquer processo de escrita temos um Vendedor de Palavras

dentro de nós. Limitei-me a dar-lhe uma dimensão física.

Sobre Jorge Luís Borges escreveu: “Reconheço-me mais nos

seus livros do que no meu refl exo no espelho ou na duvidosa

ramagem da minha arvore genealógica”… É inevitável a

colagem a alguns autores?

Sem duvida. Porque somos preguiçosos. Se encontramos um

autor que é capaz de ordenar o mundo de uma forma na qual

nos reconhecemos, fi camos ligados a ele. É uma nova forma de

articular a linguagem, que me contaminou e que eu importo

para a minha linguagem. A grande diferença entre a literatura

e qualquer outra forma de arte é que lida com o que há de

mais íntimo e específi co no ser humano que é a linguagem.

Reconheço-me na forma como ele ordena o mundo. É um

processo de esvaziamento, passamos a ser uma sombra do autor.

Depois é preciso “matar o pai”.

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há um Olimpo de deuses a cunhar o currículo que devemos dar.

A visão da literatura não existe como cânone. Não há nenhum

valor seguro. Quando há o ‘bem escrito’ é preciso escrever mal.

Pintar com a mão esquerda. Não se trata de procurar o novo a

todo o custo e considerar que porque é novo já é bom. Trata-se

de estar atento dentro das coisas…

Um caminho intimo e, às vezes, transmissível…

Às vezes. Quando acontece é maior do que nós. Na epígrafe de

Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres, Clarice Lispector diz:

“este livro é maior que eu”. Claro. Quando os livros são a sério são

maiores do que nós. Não sei se todos os meus livros são maiores

do que eu do mesmo modo. Espero que sejam e que isto não seja

presunção. Se for, se calhar, precisamos de presunção para escrever.

O que dá o carácter intemporal a uma obra para que possa ser

objecto de encontro para gerações futuras?

Não é a questão do intemporal, mas o de ser muito temporal.

É bom que Proust seja o autor daquele momento e daquele

universo. Só se transforma em universal quando fala daquela

hora em que antes de dormir espera pelo beijo da mãe. Não quis

falar de todas as mães nem de todos os beijos. Falou daquele.

É preciso ser muito local e esperar que as coisas aconteçam.

Fazer um plano e prever onde o leitor vai chegar é uma ditadura

obscena. Perde-o rapidamente. Não é uma demissão, deve

propor jogos, inventar regras, que não sabe onde vão levar. Eu

ofereço um objecto opaco, resistente e quem passar por aqui vai

estranhar a linguagem, vai achar que está “avariada”. A máquina

já não está a dar os produtos esperados nem se sabe quais vai dar.

E o leitor não se pode também reparar através da leitura?

Sem dúvida. Escrevo porque sou leitor e recebi grandes coisas dos

livros. Encontrei achados do domínio do êxtase que, provavelmente,

o autor nunca pensou ter posto lá. É o tal descontrolo.

Como é que se pensa o corpo quando se escreve para Teatro?

Eu sou tantos corpos… E no teatro, entre os meus corpos e os dos

espectadores, ainda se colocam os corpos dos actores. A peça Antes

dos Lagartos pede ao actor que seja circense, até (nos ensaios um deles

chegou a partir um dedo do pé). Publiquei há pouco um livro de

cinco peças, uma delas chama-se Uma carta a Cassandra e são dois

monólogos onde, vamos fazer de conta, o corpo não é necessário. Isto

para tentar pensar os dois extremos. Há muitas possibilidades.

Pedro Eiras Do conhecimento para a ignorância

Pede o irreversível: que um livro, ou uma peça de teatro o alterem para sempre. Ou não terão valido a pena. Pedro Eiras nasceu no Porto em 1975. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas, na FLUP, onde é docente e investigador na área da Literatura Portuguesa Contemporânea. Tem obras publicadas na área do ensaio (Esquecer Fausto; A Moral do Vento – Ensaio sobre o Corpo em Gonçalo M. Tavares), teatro (Antes dos Lagartos; Um Forte Cheiro a Maçã; Passagem; Recitativo dos Livros do Deserto e As Sombras), conto (Estiletes), do romance (Anais de Pena Ventosa) e ainda faz crítica literária. Diz que a escrita está sempre primeiro. “É mental. Não me concebo antes de escrever”.

Surge por impulso ou é um exercício que encaixa num

determinado calendário?

Um pouco de tudo. A faceta académica implica a existência de

regras a cumprir e a subverter, a escrita implica obedecer a regras

da maneira mais livre possível. Inventam-se caminhos. Há uma

esquizofrenia benéfi ca a esse nível e algo de incontrolável…

Demónios que escrevem.

Quem escreve vai-se ‘reparando’?

Sim, assiste-se. Quando corre muito bem, há duas ou três horas

em que não existo. Acordo no fi m. Está ali algo que saiu de mim,

mas não me lembro de o fazer. É válido tanto para o ensaio como

para a peça de teatro.

Uma peça de teatro pode ter momentos do domínio do

mágico, que só se explicam em termos emocionais. Será como

o que acontece na escrita quando, por um laivo de genialidade,

se descobre a palavra ou a frase mais efi caz?

O teatro só interessa para atingir um determinado momento

da ordem do incontrolável, qualquer coisa de mágico, ou de

inteligente. No ensaio também, embora de maneira mais solitária

ou mais dual (entre o escritor e o leitor). Está próximo do que

faço nas aulas. Trata-se de dar a ver de outro modo. Na aula, no

teatro, no ensaio, na fi cção, transformar a visão das coisas.

Como gere o cumprimento de um programa original com

a responsabilidade de incentivar o aluno na procura da sua

própria linguagem em vez de se moldar ao que já existe?

Dentro do que estou a dar invento o meu caminho. É uma

imensa sorte e qualquer coisa de absolutamente necessário. Não

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UPORTO DOSSIER

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UPORTO DOSSIER

Tudo começa mal no ‘conhece-te a

ti mesmo’. Há aí um singular muito

problemático. Nós não somos os mesmos

entre um minuto e o outro, ou entre

o dormir e o acordar. Mas todos nos

querem obrigar à redução…

A que velocidade bate o coração quando a palavra é interpretada?

Bate muito para lá do razoável. Chega a ser sofrimento. É muito

bom quando a dádiva regressa sob essa forma de um certo…

(pausa) irreversível. Qualquer coisa se alterou. Há um universo

que passa a existir a partir dali. No secundário escrevi uma peça,

chamei os meus colegas e não houve ninguém que não se tivesse

transfi gurado de maneira radical. Mais do que certos actores

que têm anos de experiência (a técnica também pode impedir

a transfi guração). Acho que as nossas doenças (do ocidente)

passam por não integrarmos personagens. Tudo começa mal no

‘conhece-te a ti mesmo’. Há aí um singular muito problemático.

Nós não somos os mesmos entre um minuto e o outro, ou entre o

dormir e o acordar. Mas todos nos querem obrigar à redução…

À coerência…

Sim. E nós não somos coerentes. É uma invenção atroz. A escrita

é uma escavação. Nunca sei o que vai acontecer no fi nal. Ando a

escrever uns textos (que não são literários nem ensaísticos) em

que começo com uma determinada tese que no fi nal do parágrafo

já se quebrou. Se eu for um animal cartesiano apenas posso ir

esclarecendo o que era turvo e caminhando da ignorância para

o conhecimento. E não é nada assim. Caminho de muitos sítios

para muitos sítios contrários, da ignorância para o conhecimento,

mas também, e ninguém fala disto, do conhecimento para a

ignorância. Quantas vezes me sinto mais ignorante e com mais

dúvidas no fi m?! A escrita ultrapassa-nos. É preciso que qualquer

peça, qualquer livro transforme o seu receptor para sempre. É o

mínimo que peço. Se não me transformar radicalmente não valeu

a pena. É como uma revelação religiosa. Eu não penso nestes

termos e há um antropomorfi smo que não me interessa nada,

mas quantos cristãos querem mesmo que Deus lhes apareça?

Vamos substituir Deus pelo livro, eu quero que o livro apareça!

Temos de querer tudo enquanto estamos vivos.

José Emílio-Nelson A poesia do desencanto

Nasceu em Espinho em 1948 e é lá que a casa o coloca “mais facilmente na esfera da fi cção”. Da infância lembra a musicalidade das palavras em grego e em latim do pai (o escritor José Marmelo e Silva) antes de adormecer, e as cores de Goya, Velásquez e Bosch, um fascínio que descobriu nas visitas ao Museu do Prado. Formou-se em Economia, na FEP, porque o apetrechava para “a especulação que a poesia acaba por ser”. Agreste, excessiva, barroca, avessa a qualquer ética da virtude e da moral e a práticas de jardinagem linguística, a poesia de José Emílio-Nelson pretende ser o grito do condenado “que fere quem o condena”. Refém de uma aproximação ao divino, A Alegria do Mal, Quasi Edições, que faz a compilação da sua obra poética de 1979 a 2004, tem um cunho maligno e obsceno. Um universo boschiano que não se esgota na denúncia do bolor sacrossanto. O Pickelporno, da mesma editora, acaba por ser também a afi rmação da animalidade do Homem.

A aposta numa linguagem radical e transgressora é um ponto

de partida obrigatório?

Não é um propósito, nem um panfl eto, apenas pretende exercer

comunicação. Existe a preocupação de dar um vínculo à

realidade. A matéria da poesia pode desenvolver-se no sentido

de um adoçamento… Eu escrevo numa perspectiva do confl ito

do gozo. Alguma coisa que não embale, nem adormeça. A

minha família literária é muito antiga e como dizia Aristóteles,

a comédia é uma espécie de feio. Remetia-se para a periferia

das cidades. Existe uma tendência para falsifi car o que é a

naturalidade. Está a perder-se aquilo que nos afi rma como

humanos com a esterilização obsessiva que serve uma perspectiva

multinacional de imposição de produtos (até a água, agora tem

de ter sabor…). Temos um passado de animalidade que gosto de

afi rmar na poesia. A escrita não é uma idealização. O Homem

não serve só de consumidor e não tem de ter vergonha de si

próprio. Encanta-me que se dê o Homem na sua totalidade.

A tal poesia “do feio e do mal”, como diz Adriano Carlos na

Introdução da Alegria do Mal, advém dessa voracidade de

apreender o objecto em todas as dimensões, incluindo o lado

mais escuro e, às vezes, perverso da condição humana?

Há uma euforia acompanhada de momentos de alguma

melancolia. Vozes que se exaltam pela elevação ou descem à carne.

O desenvolvimento do poema é que traz o texto e revela esses

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aspectos. Solto alguns cavalos. Se a minha poesia já foi excremental

agora é mais espermática. Há um confi nar de pontos e a

conjugação da consciência dos sexos anteriores. Fazer uma síntese

para dar o salto em frente. Sem ter medo de falar do impuro.

Porquê o predomínio do grotesco na aproximação ao divino?

Na iconografi a cristã valorizo o Cristo sofredor. Que se

aproxima do humano. Não divinizado. Há uma afi rmação da

masculinidade na fi gura de Cristo que é também uma fi gura de

dor. A religiosidade do que escrevo não se apaga no dogma. É um

conceito aberto.

Se combate o dogma é porque ele o fascina…

Há uma projecção, mas tenho muito de anti-clerical. Nenhuma

regra pode limitar a especulação e a liberdade humana. Não faz

sentido o espartilho em nome de Deus, quando a existência de

Deus está numa liberdade infi nita. Não faz sentido atribuir regras

àquilo que não tem regras. Só se for para cobrar alguma quota...

Matéria-prima para a escrita?

Não há um limite. Até o sentido do riso é uma observação um

pouco desencantada da solidão do Homem. O poema não se

pode catalogar ou ter sentido de um limite de ideia. Não é por

uma boa ideia que o poema se salva é pela forma como a diz. O

que transmite é algo que nos faz voltar a ele, infi nitamente. Como

na vida amorosa, estamos sempre a repetir a mesma pessoa e ela

é diferente de todas as vezes. Quando não conseguimos regressar,

abandonamos. É um exercício que difi culta a recepção do texto.

E leva a diferentes interpretações...

Essa polissemia! A poesia contemporânea é disseminada e a

sua grandeza está nessa disseminação. Podermos ler algo que

completamos. Temos de voltar ao poema na obstinação de o

encontrar. Ser teimosos com ele. Isto defende e acusa toda a poesia.

A crueza levada ao excesso não é, em si, uma efabulação? Uma

teatralização da escrita?

Quem escreve tem essa capacidade de efabular. A preocupação

está em servir o texto até atingir aquele pequeno segundo de

irreverência num mundo que se está a render à economicidade.

A idade média fascina-me, assim como encontrar a palavra que

se gritava segundos antes da pessoa ser queimada ou enforcada,

a ideia do condenado que grita e fere quem o condena, que

Não é por uma boa ideia que o poema

se salva é pela forma como a diz. O que

transmite é algo que nos faz voltar a ele,

infi nitamente. Como na vida amorosa,

estamos sempre a repetir a mesma pessoa

e ela é diferente de todas as vezes.

vitimiza quem o pretende como vítima. É isso que pretendo para

a poesia, encontrar essa frase, essa incomodidade, esse pequeno

grito que é um protesto contra o perfeito e o plástico. A poesia

do desencanto. Um testemunho acusatório do nosso tempo. Não

trato as palavras como se tivesse um jardim de rosas. Depois

paga-se a factura de não escrever a poesia dominante... A maior

parte das pessoas procura coisas que não as acorde, esse tal

adoçamento. Costumo dizer que se fosse leitor não procuraria a

minha poesia. Não é agradável de ler. Pede muito: que discutam

comigo, que acrescentem ao texto. Escrevo poesia sem ser poeta.

E tenho tudo por fazer.

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Page 24: PROJECTO ACADÉMICO DESENVOLVIDO PELOS FINALISTAS DE … Porto em 1952, doutorado em Ciências do Desporto pela Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da U.Porto,

24 | Por motivos alheios à sua vontade deixou para trás a varanda que, pela manhãzinha, lhe oferecia a Serra num círculo de nuvens “como nos contos de fadas”. Tinha 9 anos quando trocou Sintra por Leça da Palmeira, onde vive ainda hoje, mas lembra-se de, nos primeiros meses, acordar “com a almofada molhada de lágrimas”. Diga-se que os colegas da escola também não foram grande ajuda: “faziam-me tropelias, lançavam-me ao ar, foi muito complicado adaptar-me ao Norte”. Coleccionou os números todos da revista do Zorro (“estão no sótão da minha mãe”), lia tudo o que conseguia apanhar, incluindo, aos 11 anos, “O Crime do Padre Amaro” que a deixou “cheia de febre”. Já tinha trabalhado em Elizabeth Jennings, Sylvia Plath e Anne Sexton, mas descobre um poema que a fascina e é sobre Emily Dickinson que acaba por fazer o doutoramento. Isto depois da licenciatura em Germânicas, na FLUP, onde lecciona. Poesia Reunida 1990 – 2005 (Quasi Edições) faz a compilação de 15 anos de trabalho que se vai, como diz Irene Ramalho de Sousa Santos, articulando “entre o banal viver e o sublime poetar – ou talvez devêssemos trocar os epítetos: sublime viver e banal poetar”.

Desde o presunto, o arroz e os detergentes até… à luz do sótão

mental, está tudo presente na sua poesia. Quando é que um

instante tem legitimidade para ser poema?

Tudo pode ser objecto de poeticidade. Há esse lado do presente, mas

tenho poesia de uma dimensão muito abstracizante. Tenho os dois

extremos. O temporal e o não-tempo. Do tempo faz parte o amor,

a paixão, que não é perene, nós é que queremos fazer das coisas

imortais, mas só a morte é que tem esse lado radical. Tanto posso

ver o amor dentro da tradição poética portuguesa, exercitando uma

voz lírica que traça essa tradição subvertendo-a, como posso falar de

leite-creme à minha fi lha, que é um poema de amor.

A leitura não acaba por resultar numa personalização do poema?

No meu primeiro livro escrevi “Que o poema promete e

compromete, é fi lho e como fi lho obriga a tanto: ser um fi lho

emprestado a guerra alheia, outra bomba a estalar revoluções na

perigosa ternura de outro olhar”. Já não é o meu olhar. O fogo de

artifício serve todos. É de um céu de mil céus.

Lembra-se de quando começou a escrever?

Desde sempre. Desde que me lembro que faço rimas. Acho

que a poesia é musica e desde pequena que fui capaz de

saber intuitivamente se uma quadra (a tradicional tem sete

sílabas) estava bem ou não. Mas só depois dos trinta é que

decidi publicar. Tinha receio de quebrar uma relação que eu

considerava ser de inocência com o poema. Mostrava os poemas

aos meus amigos, tinha o meu público. Agora, pô-los cá fora,

à solta, dá-los a quem não conhecia, aos críticos com um olhar

autónomo, isso assustava-me. Demorei muito tempo a organizar

um livro para publicação. Foi a Irene Ramalho, que me orientou

a tese de doutoramento, que me incentivou.

E agora?

No segundo livro ainda me preocupei. Depois, não tinha outro

remédio, conformei-me. Há uma inocência no primeiro livro que

não há nos outros.

A escrita obriga a explorar muitos caminhos, memórias,

confortos e desconfortos. Esse encontro com o eu pode ser

terapêutico?

O poema nunca pode ser um grito de alma. É impossível o nosso

olhar ser inocente a isso. Há sempre uma dose de máscara, de

fi ngimento. Tenho muitos poemas que não foram publicados.

Escrevi porque precisava de os escrever. Naquele momento. Às

vezes a poesia salva o indivíduo, ou pode reparar o indivíduo,

mas não signifi ca que o poema tenha valor do ponto de vista

literário. Acredito que a poesia pode defl ectir para o pior ou para

o melhor. Pode criar mundos paralelos, defl ectir o sofrimento,

a dor, coisas que pensamos ser insuperáveis. E é possível, por

exemplo, que a poesia substitua a própria vida e, nesse sentido,

pode ser terapêutica. Também já aconteceu provocar a escrita…

Duas, três da manha, silêncio, sozinha em casa, ponho a folha à

frente e, devagarinho, é uma espécie de visitação. Gosto muito da

noite para trabalhar.

No dia-a-dia, para além das solicitações da escrita tem muitas

outras, inerentes ao facto de ser mãe, de ser docente… Como

é fazer esta transição entre o mundo interior, as viagens da

poesia, e o mundo exterior?

Às vezes posso entrar num estado completamente absorto. É

como se fosse outra, sendo a mesma. Eu pinto aguarelas, mas

não preciso, preciso de escrever. Escrevo por necessidade e

por paixão. O meu outro lado… Detesto avaliar alunos, mas

não há nada mais extraordinário do que, numa aula, outro

ser humano dizer: “Caramba, nunca tinha pensado nisso!” Tal

Ana Luísa Amaral “O poema nunca pode ser um grito de alma”

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Tanto posso ver o amor dentro da tradição

poética portuguesa, exercitando uma voz

lírica que traça essa tradição subvertendo-a,

como posso falar de leite-creme à minha

fi lha, que é um poema de amor.

como aprender. A partilha. Sentirmo-nos parte dos outros.

Articulo por necessidade. As mulheres são desdobráveis... E a

educação e a cultura têm aqui um peso fortíssimo porque, se

fossem ensinados, os homens também seriam capazes. Eu dou

introdução aos Estudos Feministas como cadeira de opção, dou

cadeiras de Estudos Feministas no mestrado, e costumo dizer que

nunca ouvi de um homem: “A minha mulher é óptima, ajuda-me

imenso lá em casa.” Nunca!!! O contrário já. Várias vezes e como

um elogio. Somos treinadas para desempenhar uma série de

tarefas. Habituei-me a isso.

Ainda assim, parece ter havido, ao longo do tempo, um crivo

que não deixa as mulheres sedimentar na história…

Claro, a sociedade e o sistema são patriarcais. No século XVII

não se considerava que as mulheres tivessem alma. Eu ainda

sou do tempo em que a mulher e a fi lha (solteira) tinham de

pedir autorização ao pai, ou ao marido, para sair do país. A

criatividade não está isenta de condições sociais. Não é por acaso

que Virginia Wolf, em 1928, escreve Um Quarto Que seja Seu e

fala na independência económica que conduzirá à autonomia e

auto-confi ança. Durante muito tempo desenvolveu-se a clivagem

público (que pertencia aos homens e do qual faz parte tudo o

que é criação) privado (que pertencia às mulheres). No caso

da poesia, pior ainda. É mais fácil às mulheres implantarem-se

no romance, que aparece como um género novo. Pense por

exemplo, em Inglaterra, na quantidade de mulheres romancistas

do século XVIII, XIX… Depois passa também por políticas de

divulgação. Pegue numa História da Literatura Portuguesa, vá

ao índice, e procure até ao século XX... Encontra as freiras do

período barroco, uma Maria da Felicidade Brown do século XIX,

ultra-romântica, e começa a falar de uma espécie de tradição de

poesia escrita por mulheres com Florbela Espanca e Irene Lisboa.

Será só a partir dos anos 40, com Sophia de Mello Breyner

Andresen, que as mulheres começam a escrever poesia. Há uma

desigualdade no acesso ao poder e a escrita é uma forma de

poder. Quanto mais não seja, simbólica.

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Page 26: PROJECTO ACADÉMICO DESENVOLVIDO PELOS FINALISTAS DE … Porto em 1952, doutorado em Ciências do Desporto pela Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da U.Porto,

26 | 27 O Centro de Riscos da Universidade do Porto foi criado, recentemente, envolvendo a Universidade e várias entidades com responsabilidades na área dos riscos naturais e tecnológicos. Pretende reforçar a capacidade institucional da região Norte no domínio da relação entre riscos, património e ordenamento do território.

Um conjunto de ocorrências que vão desde os deslizamentos

de terra até à erosão costeira, que ameaça populações do litoral

todos os Invernos e obriga a avultados investimentos anuais da

administração central, é recorrente em Portugal, nomeadamente

nas zonas Norte e Centro. No litoral português, o cenário

agrava-se de ano para ano. Segundo dados recentes: um terço

(28,5 por cento) da orla costeira portuguesa está comprometido,

constata o relatório “Living with Coastal Erosion in Europe:

Sediment and Space for Sustainability” da Comissão Europeia

(que contou com o contributo de Veloso Gomes, professor

da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto), com

recuos já registados de seis metros por ano em certos troços. Este

relatório coloca Portugal em quarto lugar entre os 18 países com

problemas mais graves de erosão costeira.

Serão estes tipos de ocorrências evitáveis, ou pelo menos,

poderão elas ser prevenidas? Um conjunto de investigadores,

que une agora esforços no recém-constituído Centro de Riscos

da Universidade do Porto (CERUP), tem vindo a trabalhar em

riscos naturais ou decorrentes da actividade humana. Esta grande

área de estudo, os riscos naturais ou decorrentes da actividade

humana, (numa outra designação “riscos naturais e tecnológicos”,

dada a difi culdade em estabelecer a fronteira entre os riscos

naturais e os não naturais) tem profundos refl exos na sociedade.

Estima-se que a nível mundial cerca de 90 por cento dos

chamados riscos naturais se relacionem com o tempo, o clima e

a água, mas algumas das maiores catástrofes naturais de sempre,

englobam episódios sísmicos de grande magnitude, como Lisboa

em 1755 ou o que atingiu várias zonas do Oceano Índico em

Dezembro de 2004.

Promover e articular para prevenirPara minimizar as consequências dos acidentes com origem

natural é fundamental, portanto, prevenir tanto quanto possível,

fundamentando as decisões, as estratégias e as actividades

humanas, e ajudando a articular iniciativas de várias entidades

com responsabilidades na prevenção e gestão de áreas de

risco. “A caracterização e a quantifi cação do risco inerente

às actividades produtivas numa dada região é essencial para

desenvolver uma abordagem racional das problemáticas que

lhes estão associadas e permitir melhorar as políticas regionais

e locais, encorajando a cooperação inter-regional para previsão,

prevenção e intervenção, desenvolvendo instrumentos

adequados para responder às necessidades sentidas na região”,

defendem os organizadores de uma conferência internacional

prevista para o início do ano de 2007 sobre a temática “Análise

e Gestão de Riscos nas Actividades Produtivas”, promovida

pelo Centro de Riscos da Universidade do Porto (CERUP).

“O risco refere-se, portanto, à probabilidade de ocorrência

de certos processos no tempo e no espaço, não constantes

e não determinados, constituindo deste modo uma ameaça

física (directa ou indirectamente) para o Homem, para o meio

ambiente e para o património. A ocorrência de fenómenos

violentos, capazes de afectar a actividade humana, raramente

é previsível em tempo sufi ciente, de modo a serem accionados

os devidos e possíveis mecanismos de protecção. Todavia, é

possível procurar uma redução dos danos potenciais recorrendo

a princípios de prevenção, precaução e protecção”, explica-se

no texto de apresentação do CERUP. O Centro, coordenado

actualmente por José Ferreira Lemos, professor e director do

Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia,

foi criado para responder a esta necessidade, sentida por diversas

instituições com responsabilidades nesta área, promovendo,

aplicando e articulando trabalho de investigação que tem

vindo a ser desenvolvido por várias equipas na Universidade

do Porto. Dará especial atenção aos riscos mais evidentes nas

zonas Norte e Centro do país, nomeadamente os riscos sobre

o património/ reabilitação de edifícios; riscos sobre estruturas

associados a fenómenos tectónicos e geológicos em geral

(fenómenos sísmicos e outros acidentes geológicos), riscos

associados à erosão costeira/ dinâmica costeira; risco de cheia;

riscos geomorfológicos associados a vertentes (ravinamento

ou movimentações em massa como desabamentos); riscos

climáticos; riscos de incêndios nas fl orestas; riscos associados aos

Centro articula esforços para prevenir riscos

UPORTO SABER EM MOVIMENTO

AS OBRAS DE CONSOLIDAÇÃO NA ESCARPA DOS GUINDAIS SÃO EXEMPLO DA EXPERIÊNCIA DA U.PORTO

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transportes marítimos. O CERUP envolve para já investigadores

e grupos de investigação da Faculdade de Engenharia (Geotecnia,

Hidráulica, Estruturas e Planeamento do Território), e da

Faculdade de Letras (Geografi a Física do Departamento de

Geografi a). Está também prevista a participação de outras

faculdades e a articulação com áreas complementares,

nomeadamente os riscos associados à saúde pública (Instituto de

Saúde Pública da Universidade do Porto) e ao clima (colaboração

com a Universidade de Barcelona).

Sócios representantes da sociedadeA prevenção, minimização e, em geral, o estudo do risco tem vindo

a desenvolver-se nos últimos anos, impulsionado pela evolução

tecnológica das sociedades que torna cada vez mais abrangente

e complexo o conceito de risco. Por outro lado, “o aparecimento

de comunidades de alta densidade demográfi ca, a pobreza, as

actividades humanas e a degradação ambiental são factores

que fazem aumentar a vulnerabilidade” aos acidentes naturais

e tecnológicos, explica-se num texto sobre “Riscos Naturais e

Tecnológicos” na página web do Serviço Nacional de Bombeiros

e Protecção Civil. E acrescenta-se que, “assim, constantemente,

os efeitos das catástrofes naturais são agravados pelas acções

humanas, pois os comportamentos, muitas vezes inconsequentes

e negligentes, favorecem (…) uma cultura de risco. Os exemplos

são vários: o estabelecimento de uma urbanização num vale que

impermeabiliza o solo, a canalização dos cursos de água ou uma

cultura inadequada que desagrega o terreno são alguns dos factores

que afectam o risco de cheia”, um dos tipos de risco mais evidentes

em todo o território de Portugal Continental. O ordenamento

do território, evitando a edifi cação em áreas de risco, é, portanto,

um dos primeiros passos a percorrer em qualquer estratégia de

prevenção de riscos ditos naturais.

O CERUP que, até agora, conta, entre os seus sócios fundadores, com

o Instituto Nacional da Água (INAG), a Administração do Porto de

Leixões (APDL), o Instituto Português do Património Arquitectónico

(IPPAR), a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional

do Norte (CCDR-N), a Câmara Municipal do Porto (CMP) e

a Associação Florestal de Portugal (FORESTIS), para além da

Universidade do Porto, tem precisamente, por objectivo último,

reforçar a capacidade institucional da região Norte no domínio

da relação entre riscos naturais e tecnológicos, património e

ordenamento do território. Pretende vir a ser o elo de ligação,

promovendo e articulando a investigação entre as equipas de

investigadores e laboratórios, entidades responsáveis, empresas

e a sociedade civil. Fará uso de estudos, trabalhos laboratoriais e

investigação científi ca em áreas como gestão de risco de centros

históricos, preparação de cartas de risco, estudos sobre o litoral e

sobre paisagens atlânticas e mediterrânicas no que lhes está associado

de riscos climáticos e geomorfológicos.

“(...) constantemente, os efeitos das

catástrofes naturais são agravados pelas

acções humanas, pois os comportamentos,

muitas vezes inconsequentes e negligentes,

favorecem uma cultura de risco.”

OFIR: UMA DAS ZONAS MAIS AMEAÇADAS PELA EROSÃO COSTEIRA EM PORTUGAL

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UPORTO SABER EM MOVIMENTO

Experiência acumuladaExiste uma vasta experiência acumulada no seio da Universidade

do Porto em certos domínios. É exemplo disso o Instituto de

Hidráulica de Recursos Hídricos (IHRH) coordenado por

Veloso Gomes, professor da FEUP, em estudos sobre dinâmica

costeira e soluções de defesa da costa e de hidráulica fl uvial.

Um dos projectos, agora em fase inicial no IHRH, é o CoPraNet

(Coastal Practice Network), fi nanciado pelo fundo Europeu

para o Desenvolvimento Regional INTERREG IIIC e liderado

pela EUCC – Th e Coastal Union, sediada na Holanda. O

CoPraNet está a ser desenvolvido como um fórum para troca

de informações sobre boas práticas nas zonas costeiras, que

favorecerá a cooperação entre regiões costeiras e municípios da

União Europeia, no sentido de melhorar a efi cácia das políticas e

instrumentos legislativos aplicáveis à orla costeira.

A experiência acumulada na U.Porto nas áreas da Geomecânica

e da Geotecnia abrangem temas que vão desde a identifi cação e

caracterização dos terrenos, às fundações, às obras de suporte,

aos aterros, às barragens, às obras subterrâneas e a estabilidade de

taludes e outros que têm vindo a ganhar importância crescente,

como o comportamento dos maciços (terrosos ou rochosos)

sob acções sísmicas, o controlo das vibrações provocadas por

explosões, o armazenamento subterrâneo de gases liquefeitos,

o melhoramento e reforço dos solos, a migração e dispersão de

poluentes nos maciços e nos respectivos aquíferos. Refere-se por

exemplo o reforço estrutural da escarpa dos Guindais, um troço

da margem direita do Douro na cidade Porto, onde se registaram

diversos casos de desabamento agravados pela ocupação de

génese ilegal, projecto coordenado por António Campos e Matos

(professor na FEUP). A Carta Geotécnica do Porto elaborada

a pedido da Câmara Municipal do Porto, é um exemplo de

projecto na área da geologia aplicada. Trata-se de um tipo de

registo ainda pouco comum em Portugal, associado a meios

gráfi cos, do subsolo da cidade do Porto, acessível através de meios

informáticos e que pode constituir um meio de informação para

a prevenção e o estudo de riscos geológicos.

Outro exemplo passa pela Faculdade de Letras (FLUP),

mais propriamente pelo Departamento de Geografi a, onde

se lecciona o Curso Integrado de Estudos Pós-Graduados

em Gestão de Riscos Naturais (com acesso aos graus de

mestrado e doutoramento) e se desenvolvem projectos nesta

área, nomeadamente, identifi cação de susceptibilidade do

movimento de vertentes no distrito do Porto, com áreas de

amostra (montanha, colinas, litoral, por exemplo), traduzido

cartografi camente em ambiente de Sistemas de Informação

Geográfi ca. Esta cartografi a está a ser incluída no Sistema

Integrado de Gestão de Emergências do Distrito do Porto,

em preparação, promovido pelo Governo Civil do Porto, e

envolvendo diversas entidades. Vários outros projectos em

curso na Universidade do Porto relacionam-se directa ou

indirectamente com os riscos naturais e tecnológicos. Embora

enquadrado pelos riscos naturais e tecnológicos, o campo de

actuação do CERUP será necessariamente vasto e não fechado,

fazendo uso dos trabalhos de investigação disponíveis e, em

cada momento, mais adequados às necessidades sentidas pela

sociedade, representada nos organismos fundadores.

LABORATÓRIO DE HIDRÁULICA NA FEUP

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UPORTO SABER EM MOVIMENTO

O Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO), sediado no pólo de Vairão da Universidade do Porto, é uma das três unidades constituintes da recém-criada Rede de Investigação em Biodiversidade (InBio), entretanto já candidatada a Laboratório Associado. A InBio, a maior rede de investigação nesta área da Biologia, espera vir a constituir-se um parceiro a ter em conta no contexto da reforma dos organismos de investigação em Portugal – um hotspot da biodiversidade europeia.

Num contexto político favorável a novas iniciativas nacionais

e internacionais na área da diversidade biológica, os 110

investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade

e Recursos Genéticos (CIBIO), organismo de investigação da

Universidade do Porto (pólo de Vairão, Vila do Conde), aliam-se,

em rede, a cerca de 200 do Centro de Biologia Ambiental da

Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e a 30 do

Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” do Instituto

Superior de Agronomia (Universidade Técnica de Lisboa). InBio

– Rede de Investigação em Biodiversidade e Biologia Evolutiva é

o nome da nova estrutura que, porventura, passará a ser a maior

estrutura de investigação nesta área em Portugal, englobando

quase 400 investigadores.

A nível internacional, apesar da aprovação da Convenção para

a Diversidade Biológica, no âmbito da Conferência do Rio em

1992, as medidas adoptadas têm sido pouco efi cazes e os dados

apontam para um agravamento da situação, nomeadamente

para a redução do número de espécies, perda da diversidade

genética, redução de habitats e ecossistemas. Há compromissos

assumidos pelos Estados membros da União Europeia no sentido

da redução para metade da perda de biodiversidade na União

Europeia até 2010.

Só recentemente a comunidade científi ca, entendendo o conceito

de biodiversidade centrado sobretudo no número de espécies,

tem conseguido quantifi car e explicitar algumas implicações

da biodiversidade. Assim, para muitos especialistas é cada vez

mais evidente a necessidade de criação de um organismo nesta

área, composto por investigadores e decisores políticos, com

competências equivalentes ao Painel Intergovernamental para

as Alterações Climáticas (IPCC em inglês) que, periodicamente,

produza relatórios sobre a situação mundial e sirva de base

ao estabelecimento de políticas e estratégias nacionais e

internacionais. Ou seja, um organismo com capacidade de

intervenção política que a International Union for Conservation

of Nature and Natural Resources, que publica periodicamente a

Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas, não tem, apesar de esta

constituir um ponto da situação sobre a biodiversidade mundial

baseado em pressupostos científi cos e por isso reconhecido

internacionalmente.

Em Portugal, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino

Superior prevê criar, no âmbito da reforma dos laboratórios do

Estado (em preparação), um consórcio nesta área, o Laboratório

de Recursos Biológicos Nacionais (L-RBN) que, tal como os

restantes três consórcios de I&D previstos, funcionará como

elo de ligação entre laboratórios do Estado, laboratórios

associados, universidades e empresas, na perspectiva de reforçar

a investigação nesta área, fornecer dados essenciais ao país e criar

massa crítica com relevância internacional. Do L-RBN fará parte

o Laboratório Nacional de Investigação Veterinária, que possui

a delegação Norte em Vairão – edifício que recebeu o prémio do

Instituto Americano de Arquitectos em 2001, onde se destaca um

extenso corredor, já considerado “o maior corredor da ciência em

Portugal” – que alberga alguns dos laboratórios do CIBIO.

Uma rede pelo hotspot da biodiversidade europeia

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Boas condiçõesA região Sul da Europa, onde se insere a Península Ibérica, serviu

de refúgio às espécies do continente europeu durante as extremas

mudanças que ocorreram no clima da Terra ao longo dos últimos

dois a três milhões de anos. A maior amenidade climática levou

a que esta zona – e o Sul da Península em particular – se tornasse

uma espécie de refúgio da biodiversidade durante o avanço dos

gelos e, com a regressão destas glaciações (há cerca de 11.000 anos),

as espécies que ali se refugiavam (nos bosques, por exemplo),

começaram a expandir-se de Sul para Norte. A esta condição

histórica particular, adicionam-se os efeitos de uma localização

periférica na Europa, de um atraso na expansão da indústria – e

da economia em geral – em relação aos países do Norte, e de uma

orografi a complexa, para fazer da Península Ibérica um hotspot

da biodiversidade europeia. A importância ecológica desta região

radica no grande número de espécies endémicas (espécies próprias

e exclusivas de uma determinada região).

Actualmente – está em estudo, pelo Instituto de Conservação

da Natureza, uma eventual redução da área abrangida por

certas Áreas Protegidas – mais de 20 por cento do território

português tem estatuto de protecção, ou seja, de Área Protegida

(Parque Nacional, Parque Natural, Reserva Natural ou Paisagem

Protegida) ou Rede Natura 2000. Possuímos 43 por cento das

espécies de vertebrados terrestres existentes na União Europeia,

Noruega e Suíça, somos o quarto país europeu com maior

número de endemismos vegetais (espécies existentes apenas em

Portugal) e o terceiro em espécies ameaçadas (dados de 2003). Na

Península Ibérica, estão identifi cadas mais de 6.000 espécies de

plantas autóctones, enquanto, por exemplo, na Grã-Bretanha este

número não ultrapassa as 2.000.

Estas características tornam a Península Ibérica um potencial

pólo de atracção para os investigadores nesta área. Sinal disso,

considera Nuno Ferrand, coordenador científi co do CIBIO, é a

presença de investigadores de diversas nacionalidades no centro

que coordena, em instalações com excelentes condições logísticas,

incluindo laboratórios, auditório e espaço para conferências,

quartos e piscina, onde decorrem tanto actividades lectivas

como de investigação. No campus científi co-tecnológico de

Vairão, localizado numa zona paisagisticamente privilegiada, de

forte implantação agrícola e alvo de um plano de ordenamento

em elaboração, coordenado por Teresa Andresen (professora

e coordenadora da licenciatura em Arquitectura Paisagista da

Faculdade de Ciências), funcionam diversas valências. Serviços

da Direcção Regional da Agricultura Entre Douro e Minho,

a delegação Norte do Laboratório Nacional de Investigação

Veterinária e valências da Universidade do Porto – CIBIO,

Secção Autónoma de Ciências Agrárias (Faculdade de Ciências)

e parte das aulas de Medicina Veterinária (Instituto de Ciências

Biomédicas Abel Salazar). Esta multiplicidade de valências em

áreas próximas (biologia animal, ciências biológicas aplicadas,

ciências agrárias) e a articulação entre elas – entre o CIBIO, o

LNIV e as ciências agrárias, por exemplo – levam Nuno Ferrand

a ambicionar ver um dia o campus de Vairão com estatuto de

consórcio de investigação e desenvolvimento, ao abrigo da nova

regulamentação já aprovada em Conselho de Ministros que inclui

também a reforma dos Laboratórios do Estado.

Esta multiplicidade de valências em áreas

próximas (...) e a articulação entre elas

(...) levam Nuno Ferrand a ambicionar

ver um dia o campus de Vairão com

estatuto de consórcio de investigação e

desenvolvimento.

© C

IBIO

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UPORTO SABER EM MOVIMENTO

Investigação trípliceO recém-criado InBio, do qual faz parte o CIBIO, entregou

recentemente ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino

Superior a sua candidatura a Laboratório Associado. Ao

Centro de Biologia Ambiental (CBA) da Faculdade de Ciências

(Universidade de Lisboa), dedicado principalmente à ecologia e

conservação dos ambientes terrestres e dulciaquícolas, ao Centro

de Ecologia Aplicada “Prof. Baeta Neves” (CEABN) do Instituto

Superior de Agronomia (Universidade Técnica de Lisboa),

vocacionado para o estudo e gestão dos recursos naturais

sobretudo no âmbito dos ecossistemas agrícolas e fl orestais,

juntam-se as três áreas fundamentais do CIBIO.

Numa destas três áreas de investigação do CIBIO, a análise

genética de populações naturais, no âmbito da biologia evolutiva,

inserem-se projectos como a determinação do perfi l genético do

lobo ibérico, por exemplo, para apoio a acções de conservação.

Ou outro sobre as duas subespécies silvestres de coelho bravo

– fundamental para a sobrevivência de predadores em risco de

extinção, assim como, um projecto recentemente fi nanciado pela

National Geographic Society sobre a proximidade das populações

da Península Ibérica e Norte de África de lagartixas do género

Acanthodactylus, coordenado por José Carlos Brito.

Uma segunda área do CIBIO envolve o que se designa por

modelação ecológica, numa perspectiva de associação das

populações a várias escalas territoriais, envolvendo o uso de

grandes bases de dados e o trabalho em sistemas de informação

geográfi ca (SIG). A elaboração do Atlas Herpetológico de

Portugal (fi nanciado e coordenado pelo Instituto de Conservação

da Natureza) é um caso típico, tendo decorrido já numa lógica

de articulação entre o CIBIO e o CBA, antes da constituição do

InBio, com uma equipa de cinco investigadores fi xos, a tempo

inteiro e a percorrer o país ao longo de três anos.

Uma terceira área envolve o trabalho em recursos genéticos e

a reconstituição da história evolutiva de espécies domésticas.

Neste âmbito, decorrem a despistagem da scrapie do gado ovino

(detectável através de estudo genético), a determinação do perfi l

genético da raça suína bísara (uma das duas raças características de

Portugal), permitindo a certifi cação de produtos alimentares com

esta origem, assim como um outro envolvendo as raças caninas

portuguesas que depois, ao ser desenvolvido para o Cão de Gado

Transmontano, levou à certifi cação desta espécie. Os estudos

de fi liação biológica de animais que foram iniciados no CIBIO

também se inserem nesta área.

A identifi cação de um canídeo (lobo ou cão) através de vestígios

de sangue num automóvel – um atropelamento ocorrido em área

do Parque Natural da Peneda-Gerês com danos no veículo – que

decorreu recentemente a pedido do Instituto de Conservação

da Natureza, constitui dos serviços típicos que o CIBIO pode

prestar. Apelando à experiência na análise genética, mesmo

a partir dados vestigiais que bastam para os equipamentos

de grande sensibilidade instalados no edifício do LNIV, onde

funciona a maior parte dos laboratórios do CIBIO, conseguiu-se

identifi car que o animal atropelado era um cão e não um lobo,

não havendo portanto lugar a indemnização do Parque Nacional

da Peneda-Gerês.

Este é apenas um exemplo dos serviços que o centro de investigação

da Universidade do Porto pode prestar a organismos públicos e

que, consequentemente, o InBio também poderá vir a prestar. Os

promotores do InBio preconizam-lhe, no entanto, um âmbito de

actuação mais alargado do que é habitual nos centros de investigação

em recursos biológicos, constituindo os centros de investigação

um vértice de um triângulo actuando em articulação com outros

dois: no segundo vértice, os organismos públicos (o Ministério do

Ambiente, Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional

e o Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas)

e empresas e, num terceiro, os museus de história natural, jardins

botânicos e herbários que também podem representar um vasto

campo de colaboração com o InBio.

O LABORATÓRIO NACIONAL DE INVESTIGAÇÃO VETERINÁRIA, EM VAIRÃO, ALBERGA ALGUNS LABORATÓRIOS DO CIBIO (INBIO).

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UPORTO PERFIL

José Carlos Marques dos Santos nasceu em Bolama, Guiné-Bissau. Iniciou a escola primária numa aldeia do concelho de Arganil, onde nasceram os seus pais, e, no dia em que fez sete anos, veio para o Porto. Licenciou-se em Engenharia Electrotécnica – Correntes Fortes, na Faculdade de Engenharia (FEUP), em 1971, e, como corolário do seu doutoramento em Manchester, apresentou uma das primeiras teses em microprocessadores. Mais tarde, como director da FEUP, acompanhou a construção do novo edifício no Pólo II (Asprela) e a mudança de instalações. É visto como o grande impulsionador do salto para o reconhecimento internacional que esta unidade orgânica da U.Porto granjeou. Foi vice-reitor durante o último mandato de Novais Barbosa como reitor e o primeiro presidente do Instituto de Recursos e Iniciativas Comuns da Universidade do Porto (IRICUP).Pragmático, grande defensor da transferência de conhecimento e tecnologia e da ligação à sociedade, cita frequentemente o meio empresarial quando fala de gestão universitária e é um fi rme opositor do actual modelo de gestão. Qualidade, exigência, auto-avaliação e responsabilização, cooperação e multidisciplinaridade são termos comuns no seu discurso.

Regressou ao edifício “dos Leões”, passados muitos anos do

início da sua formação em Engenharia… O que o marcou

nesses primeiros anos da licenciatura?

Quando iniciei os estudos superiores, dediquei atenção a muitas

coisas para além dos estudos, de modo que os resultados foram

um tanto desastrosos.

Mais tarde, voltei a prestar a atenção que os estudos exigiam. No

tempo em que frequentava os Preparatórios era quase norma ir fazer

o terceiro ano a Coimbra, porque aqui na Faculdade de Ciências era

muito difícil. Como os meus pais tinham dois fi lhos a estudar e não

tinham possibilidades de me pagar a estadia em Coimbra, mantive-

-me no Porto. Eu e o meu irmão acabámos por fazer o terceiro

ano com uma boa média, tendo em conta o nível exigido. Essa

preparação foi muito importante para a minha vida profi ssional.

Nos primeiros anos de formação pré-graduada, importa que

se demore tempo sufi ciente com conhecimentos básicos que

perdurem, que formatem a mente, o raciocínio, e incentivem a

aprendizagem ao longo da vida.

Que recorda desse período agitado dos anos 70?

Acabei a licenciatura em 1971 e vivi anos de alguma agitação

relacionada, sobretudo, com a contestação à Guerra Colonial.

Não tinha uma vida muito politizada, embora tenha tido

alguma actividade social juvenil. Fui dirigente nacional de

um movimento social, designado “Serviço Missionário dos

Jovens”, constituído por jovens que se encontravam ao fi m-de-

semana e realizavam serviço social. Através dessa actividade

fui percebendo que se vivia algum mal-estar na sociedade.

Nunca tive militância política activa, também não tinha tradição

familiar nesse campo… mas, do ponto de vista social, era uma

pessoa atenta. Pouco depois, em Setembro de 1973, quando já

era assistente de Máquinas Eléctricas (regida pelo Prof. Paiva

Brandão) e de Tracção e Força Motriz (regida pelo Prof. Carlos

Carvalho), fui estudar para Inglaterra, Manchester, para fazer

estudos pós-graduados, e regressei em Janeiro de 1977 com

mestrado e doutoramento concluídos.

O desafi o da qualidade e o apelo da região

Novo reitor lança as linhas estratégicas do mandato

Temos de ser uma universidade muito

mais coesa, cooperar mais uns com os

outros para podermos demonstrar o

nosso real valor

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Um percurso muito rápido…

Sim… Em três anos e três meses, não obstante ter feito estas

pós-graduações numa área diferente da área a licenciatura. Fiz

o mestrado em Electrónica Digital, uma novidade para mim, na

altura. Apenas tinha tido uma cadeira nessa área…

Defende a possibilidade de dar continuação aos estudos em

áreas diferentes das de origem, isso implica, necessariamente,

maior articulação entre unidades orgânicas e entre estas e os

centros de investigação da Universidade do Porto…

Exactamente… E maior fl exibilidade na formação que é a grande

mensagem de Bolonha… Bolonha tem a vantagem de estabelecer

critérios para permitir esta abertura e evitar obstáculos artifi ciais.

Implementa também o sistema de créditos. Uma das minhas grandes

preocupações é convencer a U.Porto de que a formação contínua

é uma oferta fundamental, com centenas de cursos com créditos

que, por acumulação, poderão, eventualmente, vir a contribuir

para a obtenção de um grau. Por outro lado, os cursos têm de ser

acreditados por uma instituição nacional, por sua vez, acreditada por

uma agência internacional, à semelhança do que deverá acontecer

em todos os outros países do espaço de Bolonha. Reconhecimento da

qualidade será essencial para a aceitação automática da mobilidade.

Como se prepara a U.Porto para essa nova realidade?

Estamos a caminhar nesse sentido… Já começámos com a adequação

de alguns cursos, seguiremos a par e passo os resultados para

introduzir eventuais correcções, incentivando a multidisciplinaridade

que é outra das minhas batalhas. Ou seja, que os cursos leccionados

por cada faculdade possam oferecer disciplinas de outras faculdades.

Alguns créditos deviam ser facultativamente – pelo menos numa

primeira fase e, talvez mais tarde, obrigatoriamente – conseguidos

numa faculdade diferente da que confere o grau.

A cooperação interna e externa como factor de criação

de valor tem sido uma das preocupações que refere

frequentemente no seu discurso…

Temos de ser uma universidade muito mais coesa, cooperar

mais uns com os outros para podermos demonstrar o valor que

realmente temos. Acho que temos um potencial capaz de resultados

muito superiores aos que demonstramos. Esse potencial é apenas

parcialmente traduzido em resultados, porque ainda trabalhamos

muito acantonados em faculdades, departamentos ou unidades de

investigação. Pelo menos, devíamos articular-nos em redes.

Criar redesO Instituto de Recursos e Iniciativas Comuns (IRICUP), a que

presidiu antes de ser eleito reitor, lançou a criação de cinco

unidades de investigação interdisciplinar. Penso que apenas

dois estão concretizados. Que evolução terá agora esse esforço?

Esse trabalho enquadra-se precisamente nesta lógica.

Pretendia-se incentivar os investigadores, que trabalham em

áreas próximas, a organizarem-se em rede, a criar estruturas e

massa crítica que possa ter relevância nacional e internacional.

Estão criados o Instituto de Saúde Pública e o Centro de

Ciências Cognitivas, constituído como rede. O Programa de

Nanotecnologias ainda não levantou vôo porque não tem sido

fácil pôr as pessoas a trabalhar em conjunto. Há ainda outros

três em preparação: Conservação de Arte Contemporânea,

Desenvolvimento Sustentável e Estudos Teatrais. Estou convicto

que o IRICUP , agora presidido pelo Prof. Jorge Gonçalves,

continuará este esforço de fomentar a interdisciplinaridade e a

cooperação nas actividades de I&D na nossa Universidade.

Na sua visão, a Universidade deve, portanto, trabalhar em

projectos transversais...

Primeiro interna e depois externamente… Na investigação e

também na formação, evitando visões estreitas da realidade e o

inbreeding (a limitação aos defeitos e virtudes de uma estreita visão

da realidade), tentando abrir a formação a outras áreas científi cas, a

outras culturas e a métodos diferentes dos habituais em cada área.

Penso que já se deram passos interessantes… Aprovaram-

se regras de funcionamento, há abertura para formação

cruzando faculdades … na investigação desenvolve-se

uma atitude favorável à cooperação e à criação de equipas

multidisciplinares… É um esforço de anos! Em tempos li

um livro sobre o percurso de 10 universidades europeias

que conseguiram tornar-se internacionalmente conhecidas.

Havia um conjunto de factores comuns. Um deles, era uma

liderança forte e prolongada. Explicava-se que uma universidade

precisa de, no mínimo, dez anos para mudar. Referia-se ainda

uma universidade coesa, da qual todos se orgulhavam, e a

diversifi cação das fontes de fi nanciamento.

A facilidade na diversifi cação das fontes de fi nanciamento

depende, contudo, das áreas de investigação…

Não digo o contrário… Mas parece-me que em todas as áreas é

possível conseguir verbas próprias. É preciso é ter uma postura

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UPORTO PERFIL

pró-activa, “calçar as galochas” e sair à procura de fi nanciamentos,

falando com pessoas e entidades e apresentando projectos e

propostas concretas que mereçam o interesse. Não podemos fi car

à espera que as verbas venham ter connosco. “O que me move é o

prazer de ver as coisas acontecerem e de constatar que as pessoas

que trabalham connosco se empenharam de modo inacreditável

para atingir os objectivos e gostaram de o fazer!”

Especial atenção aos antigos alunosNo programa eleitoral refere a criação de uma equipa

vocacionada para procu rar fontes de fi nanciamento,

nomeadamente junto dos antigos alunos…Qual estratégia a

seguir?

Queremos envolver os antigos alunos na vida da Universidade de

modo mais sistemático. Como disse, sou também antigo aluno

de Manchester que constituiu, há muitos anos, um gabinete de

apoio ao antigo aluno que promove encontros internacionais,

em Portugal e muitos outros países. Na revista dirigida aos

alumni publica-se informação sobre os encontros em várias

partes do mundo e sobre os sucessos que os antigos alunos vão

tendo. Aproveita-se a revista para distribuir um impresso para

actualização dos dados pessoais, sempre que ocorra alguma

alteração ao nível da profi ssão ou do local de habitação.

Pode haver benefícios (descontos, por exemplo) em termos de

actividades de formação, acesso a bibliotecas…

Estamos a preparar um pacote de regalias a disponibilizar aos

antigos alunos que, entre outros aspectos, inclui acesso a bibliotecas,

ao e-mail, descontos em formação contínua, a possibilidade de

receber a revista dos antigos alunos, entre outros benefícios.

Depois, tentaremos que os antigos alunos também passem a apoiar

fi nanceiramente a sua Universidade. Já lancei a ideia em alguns

grupos e a reacção foi positiva… Não vamos mendigar com um saco

na mão… Vamos apresentar projectos, os respectivos orçamentos

e as contrapartidas que poderemos oferecer. Por exemplo, associar

o nome do patrocinador ao projecto, inscrever o seu nome numa

placa, propor algo que o imortalize dentro da U.Porto e lhe dê

prestígio… Em cooperação, ambas as partes têm de ganhar!

O programa eleitoral fala também na criação de centros de

aproximação aos antigos alunos. Em que consistem?

Para já, pretendemos criar alguns núcleos em zonas do país onde

o número de antigos alunos residentes o justifi que e promover aí

encontros, porque será mais fácil do que trazê-los até ao Porto.

Esses núcleos devem, sobretudo, promover encontros sem

qualquer intenção de recolha de receitas ou fazer merchandising.

Deverão ser encontros de fortalecimento do espírito da U.Porto,

encontros de pessoas actualmente em situações profi ssionais muito

diversas, mas unidas pela circunstância de terem sido antigos

alunos da Universidade. O resto, vem depois, é consequência disso!

…Outra meta do programa eleitoral é a abertura de novos

mercados e captação de novos “clientes”…

Queremos propor ao Ministério uma alteração da legislação

portuguesa no sentido das universidades poderem ter alunos

estrangeiros de pré-graduação e não apenas de pós-graduação

como acontece actualmente. Vamos também desenvolver a

experiência iniciada este ano relativa à oferta de cursos para

alunos seniores (maiores de 55 anos).

Em relação à internacionalização e à captação de novos

“clientes” (alunos), vamos ter cursos em língua estrangeira?

Teremos de evoluir nesse sentido. Penso que é importante termos

cursos leccionados, pelo menos, em língua inglesa. O mesmo

docente poderá leccionar aulas em português e em inglês.

Temos também de apostar mais fortemente no ensino à distância,

com uma componente presencial. Hoje em dia assiste-se, a nível

internacional, a um incremento do esforço dedicado à formação

– graduada! – à distância. Não tem sentido um certo preconceito

em relação ao ensino à distância. Pensa-se, erroneamente, que existe

divórcio entre professor e aluno! Os professores que estão envolvidos

no e-learning sabem que há uma forte interacção aluno-docente.. O

grande factor a ter em atenção é, como sempre, a qualidade!

O que me move é o prazer de ver as coisas

acontecerem e de constatar que as pessoas

que trabalham connosco se empenharam

de modo inacreditável para atingir os

objectivos e gostaram de o fazer!

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Vai ser difícil mudar uma universidade de quase 27.000

alunos, 14 faculdades e uma escola de gestão!... A

transformação de que falamos não será demasiado ambiciosa

para um mandato?…

Não me preocupa quem vai completar a concretização deste

programa! Posso ser eu ou não. É preciso é começar desde já,

chegando tão longe quanto possível!

A Universidade do Porto tem uma dimensão razoável. O

problema é de racionalização dos meios, há uma excessiva

pulverização de esforços, uma multiplicação de meios, muitas e

demasiado pequenas unidades de investigação, o que torna difícil

atingir um nível de massa crítica necessário para a investigação

ter relevância internacional generalizada. É preciso cooperar! No

ensino, na investigação e em todas as áreas!

Hoje, o divórcio entre investigadores e docentes é menor…

Claro! A Universidade do Porto sem investigação não faz

sentido! Queremos ser uma das melhores da Europa…

Gestão profi ssionalizadaEm que consiste o novo plano de qualidade?

Tem de haver uma estrutura institucional que garanta que os

mecanismos que levam à qualidade são verifi cados e se mantêm. A

certifi cação de qualidade nas empresas obriga a criar um plano e a

verifi cação da concretização desse plano, que prevê a padronização de

princípios e processos, obriga a que as boas práticas se mantenham e

actualizem. Se assim não for, as empresas perdem a certifi cação, o que

signifi ca, para muitas delas, quebra de vendas nos produtos.

Na U.Porto, pretendemos criar uma estrutura que crie uma

cultura de auto-avaliação que seja muito fácil de conseguir, quase

tirada automaticamente do sistema de informação através dos

parâmetros que são calculados periodicamente.

Defendo que cada curso deve ter um director e uma coordenação

científi ca. Qualquer equipa necessita de uma liderança para

poder funcionar com efi cácia, alguém que responda por ela

e a mobilize. Em Portugal, os problemas são sobretudo de

organização! Se nos organizássemos, a efi cácia e a produtividade

duplicavam ou triplicavam.

É a favor de uma gestão profi ssionalizada?…

Sim, mas profi ssionalizada no sentido de que, quem a exerce, deve

fazê-lo como actividade principal e deve ser responsabilizado

pelo que faz no âmbito dessa actividade. Presentemente, ao

pedir-se, aos professores, especialmente aos não catedráticos, que

também exerçam cargos de gestão, está-se com muita frequência

a prejudicar a sua vida académica. Muito frequentemente, os

professores que exerceram cargos de gestão são preteridos em

concursos de progressão na carreira, porque, nesses períodos,

não produziram trabalhos científi cos e tomaram atitudes contra

certos interesses instalados. Considero que a nossa sociedade é

extremamente injusta para com os professores universitários!

Exige-lhes tarefas que, depois, não lhes reconhece, antes utiliza

para os os prejudicar. Para mim, um dos maiores problemas do

ensino superior português é o anacronismo do modelo de gestão.

A U.Porto está a preparar uma proposta legislativa de revisão

do modelo de gestão. Em que consiste?

A preparação do documento começou ainda na vigência da

equipa reitoral anterior. Resta burilar essa proposta, discuti-la,

e entregá-la ao Ministério. Julgo que a tutela está convencida da

necessidade de revisão desse modelo, que, no essencial, está em

vigor deste o fi nal da década de 70.

Qualquer modelo de gestão terá de ser claro na atribuição de

confi ança a quem gere, na avaliação e na responsabilização.

Quem gere tem de ter condições e autonomia para exercer

a sua actividade, devendo ser avaliado por quem de direito,

através da verifi cação do cumprimento dos objectivos traçados

e, na sequência disso, reconhecido ou responsabilizado pelos

resultados alcançados. Se houver responsabilização pelo

cumprimento dos objectivos e se o salário e a manutenção da

função for dependente desse cumprimento, difi cilmente haverá

lugar ao compadrio! Nessas condições, só um tolo contrataria

profi ssionais medíocres que iriam concorrer para o mau

resultado da sua actividade!

A proposta que estamos a preparar mantém o Reitor e a Equipa

Reitoral e prevê um Conselho Geral onde têm assento pessoas

de mérito intelectual ou científi co inquestionáveis, conceituadas

A proposta que estamos a preparar

mantém o reitor e a Equipa Reitoral e

prevê um Conselho Geral

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UPORTO PERFIL

publicamente. Esse Conselho elegeria o Reitor, segundo modelos

ainda a defi nir. É uma proposta ainda a afi nar e a discutir.

Entendo que quem gere não pode ser eleito por quem é gerido,

porque quem gere pode ser obrigado a tomar decisões que

podem contrariar os interesses de quem é gerido. É, portanto,

errado gerir em subordinação aos interesses dos geridos. Por

outro lado, se quem é gerido escolher os gestores, a tendência é

para a escolha de um gestor que agrade sempre. Nas empresas,

aliás, por norma, não se pode ser simultaneamente funcionário

e membro do Conselho de Administração. A este nível, os

princípios de gestão nos dois meios, no ensino superior e nas

empresas, devem ser comuns.

Em Portugal, considero que as falhas maiores estão na

organização, na gestão e na exigência – no bom sentido, porque

a sociedade tem direito a exigir bons resultados do investimento

dos seus impostos. Sei que estas afi rmações são polémicas, mas

foi este o discurso que sempre tive e pelo qual fui eleito Reitor.

Participar no desenvolvimento regionalJá defendeu publicamente que a U.Porto deve apostar em

quatro áreas, nomeadamente: saúde, mar e ambiente, energia e

manufactoring (como defi ne este conceito?)…

Quando falo nestes clusters refi ro-me a áreas em que, na minha

opinião, neste momento, com mais facilidade e menos esforço,

conseguiremos níveis de excelência internacional. No entanto,

a defi nição fi nal dos clusters a considerar na U.Porto deve ainda

ser discutida. Para tais clusters seriam dedicados maior atenção e

esforço. Tal, no entanto, não inviabilizaria o desenvolvimento das

outras áreas não escolhidas que poderiam continuar a evoluir até,

eventualmente, chegarem ao nível das primeiras.

É importante que na defi nição destes clusters se tenha em

consideração a grande abrangência da U.Porto, não os reduzindo

apenas às áreas tecnológicas e da saúde e tomando em atenção a

multidisciplinaridade.

Estão previstos programas internos de apoio fi nanceiro a

projectos de I&D de pequena dimensão e de sementeira de

projectos… Como se processarão?

Já estamos a trabalhar para encontrar fi nanciamento para tal, havendo

já perspectivas interessantes.. A ideia é lançar um concurso interno

em áreas alternadas – uma ou duas em cada ano, por exemplo ciências

e tecnologias num ano e artes e humanidades no outro – de modo a

abranger todas as áreas, mas com particular ênfase para as que vierem

a ser defi nidas como clusters prioritários. Um dos programas tem

por objectivo incentivar o aparecimentos de mais coordenadores de

projectos. O outro programa pretende incentivar o aparecimento

de projectos que venham a constituir-se como candidaturas a

programas internacionais, ajudando na identifi cação de programas de

fi nanciamento, na pesquisa de potenciais parceiros e de contactos que

contribuam para encaminhar o projecto – por exemplo, encontrar

condições para, através de um pequeno trabalho, verifi car se uma

ideia tem potencial para se transformar num projecto.

Globalmente, como acha que a Universidade pode ajudar o

Porto e a sua região a superar esta “crise”, segundo muitas

opiniões, de protagonismo?

Acho que nos falta uma estratégia para a região. Parece que

fi nalmente se trabalha nesse sentido. De facto, a CCDR-N tem

vindo a trabalhar na estratégia global Norte 2015 para a qual a

Uporto tem vindo a contribuir. Uma vez defi nida uma estratégia

é essencial que alguém lidere a sua execução e que essa liderança

seja respeitada continuamente, evitando-se o aparecimento

sucessivo de novos aspirantes a protagonistas. Cooperação,

competência, liderança e humildade para aceitar lideranças

reconhecidas são as palavras de ordem. Estamos disponíveis

para participar activamente neste exercício. Pretendemos

apoiar e intervir no desenvolvimento desses planos estratégicos

concertando, na medida do possível o nosso plano estratégico às

necessidades detectadas nesses documentos orientadores para

a região e para cidade. Estamos dispostos a participar activa e

empenhadamente na execução de tais planos, contribuindo para

o progresso da cidade, da sua área metropolitana e da região, se

necessário, assumindo o protagonismo conveniente.

Estamos dispostos a participar activa e

empenhadamente na execução de tais

planos, contribuindo para o progresso

da cidade, da sua área metropolitana e

da região, se necessário, assumindo o

protagonismo conveniente.

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Tem também vindo a defender uma maior intervenção política da

Universidade a nível nacional. No âmbito do CRUP ou fora dele?

Temos tomado atitudes que julgo serem fi rmes com o Ministério

e vamos continuar a fazê-lo, em defesa dos interesses que

consideramos legítimos e a que temos direito.. Não gosto do estilo

“lamechas do Norte”! Temos de lutar pelo que temos direito, mas

mostrando que o merecemos. Temos de saber defi nir projectos

ambiciosos, mostrar competência para os realizar e candidata-

los aos apoios necessários. Depois, com provas e números,

reivindicar um tratamento proporcional. Temos que assumir no

país a necessidade de tratar de modo diferente o que é diferente,

deixando emergir a excelência e não impondo um nivelamento por

baixo. Por isso, a UPorto pode ter que vir a tomar posições que não

mereçam a concordância de algumas outras.

Defende que a U.Porto deve sair do CRUP?

Não! De modo nenhum! Pretendemos, contudo, que o CRUP

tenha um papel activo. Francamente, também acho que não será

fácil, no âmbito do CRUP, encontrar soluções simultaneamente

satisfatórias para todas as universidades que o compõem.

As universidades que demonstrem ser melhores, através dos

parâmetros de avaliação defi nidos, devem ser tratadas como tal

na fórmula de fi nanciamento. Não sou contrário ao tratamento

especial para a interioridade e insularidade!... Mas que a

distinção seja feita usando um fundo diferente do que fi nancia

as universidades, de modo a não penalizar as que tenham direito

a um fi nanciamento superior! Este é um problema que atravessa

toda a sociedade. Se tratarmos de modo igual o que é diferente,

nivelamos sempre por baixo! Esse é outro problema de Portugal e

da Europa (e digo-o sabendo que vou ser polémico e muitos não

concordarão): estamos a tratar mal as nossas elites intelectuais,

ou melhor, não estamos a tratar delas! Perdemos lideranças,

porque nivelamos sempre por baixo! Ou seja, é preciso tratar

de modo diferente quem é diferente e dar oportunidades

proporcionais às capacidades de cada um. Podemos aproveitar

os segundos ciclos, na lógica de Bolonha, para respondermos

também a esta necessidade.

Lançou o desafi o de colocar a UPorto entre as 100 melhores

universidades da Europa até 2011. Se os cerca de 20 por cento

de artigos da UPorto que não referem o nome da instituição

o passarem a fazer, já se consegue um bom contributo para a

subida no ranking!...

É claro que sim! Um exemplo que surgiu já depois de ter sido

eleito Reitor. Recebi um pedido de apoio fi nanceiro de um recém

doutorado numa faculdade da Universidade do Porto para

deslocação a uma conferência no estrangeiro, onde pretendia

apresentar os resultados da sua investigação. O orientador

era dessa mesma faculdade. Fui ler o artigo correspondente à

comunicação que iria apresentar e a Universidade do Porto não

é referida uma única vez! Respondi que não havia verba mas,

mesmo que houvesse, não seria concedido o apoio porque o

nome da Universidade não surge no artigo. As pessoas têm de

começar a perceber que estas coisas têm consequências! É um

trabalho de persuasão, porque todos ganhamos com a referência

ao nome da Universidade.

Recentemente, soube-se que três licenciaturas da Universidade

do Porto deixariam de ser fi nanciadas pela administração central

– Engenharia de Minas e Geoambiente (FEUP); Geologia e

Engenharia Geográfi ca (FCUP) – que vai ser destes cursos?

As Faculdades envolvidas decidiram manter os cursos e,

portanto, suportarão os encargos daí resultantes. A Universidade

do Porto terá de escolher, de entre os cursos com poucos

candidatos, quais os que não deve extinguir por serem

estratégicos para o futuro e, nesses casos, os encargos deverão ser

assumidos pela própria instituição em bloco.

Os casos que referiu, entre outros, devem fazer-nos pensar

em possíveis articulações de esforços entre os organismos que

leccionam os cursos. Porque é preferível ter um curso que resulta

do contributo de duas faculdades - e fi nanciado -, do que dois,

um em cada faculdade, nenhum deles fi nanciado! Deixemos de

querer, cada um de nós, ter o seu quintal, cursos semelhantes

diferindo sobretudo no nome! Mas tenhamos também em

atenção que nestas coisas também há modas. Cursos que hoje

não têm procura, podem ver essa situação alterada dentro de

alguns anos! Mais uma vez, acredito que a melhor maneira de

estar ao abrigo destas modas é pela oferta, sempre que possível,

de cursos da espectro mais alargado resultantes da cooperação de

duas ou mais Faculdades. Deixemos para os segundo e terceiro

ciclos as ofertas mais diferenciadas e especializadas!

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UPORTO IDENTIDADES

Gonçalo Sampaio, nascido na Póvoa do Lanhoso em 1865 e falecido no Porto em 1937, foi uma fi gura cimeira da Botânica, na viragem do século XIX para o século XX. Na Academia Politécnica do Porto, enquanto estudante e a pedido de Amândio Gonçalves, seu professor de Botânica, começou a organizar um herbário. Nomeado em 1901 Naturalista Adjunto de Botânica e encarregado em 1902 de dirigir os trabalhos práticos da disciplina, assume em 1910 a sua regência. Em 1912, já na recém fundada Faculdade de Ciências do Porto, é nomeado professor de Botânica, assumindo, depois, a direcção do “Instituto de Investigações Botânicas”, e mais tarde, em 1935, a do “Instituto de Botânica Dr. Gonçalo Sampaio”. A exposição “Botânica. Gonçalo Sampaio”, que encerra o primeiro ciclo de exposições “Aventureiros, Naturalistas e Coleccionadores”que a Universidade do Porto promoveu dirigido principalmente a um público de estudantes do ensino secundário, está patente até 30 de Setembro no átrio do Departamento de Botânica, sito no palacete Andresen, à Rua do Campo Alegre, encimando o Jardim Botânico do Porto.

Na transição da Academia para a Universidade do Porto, coube a

Gonçalo Sampaio a organização e o desenvolvimento do ensino

prático da Botânica, actualizado pelas técnicas histológicas

aprendidas no estrangeiro. Na investigação distinguiu-se pelo

seu conhecimento sobre plantas vasculares e líquenes, tendo-se

notabilizado como sistemata e nomenclaturista.

A sua obra é ainda hoje uma referência. Especialista incontestado

do género Rubus, que integra as espécies a que vulgarmente

chamamos silvas, a que dedicou uma monografi a, escreveu

um “Manual da Flora Portugueza”, que começou a publicar em

fascículos logo em 1909 (até 1914) e uma “Epítome da Flora

Portuguesa” que se pensa ter sido escrita no Aljube por ocasião

de um encarceramento que se prolongou por vários meses devido

àquele que se considerou ter sido o seu envolvimento nos confl itos

que se sucederam à efémera restauração monárquica de 1919, fl ora

abreviada para ser utilizada no ensino da botânica sistemática,

que não chegou a ser publicada. Jubilado em 1935, ano em que foi

atribuído, em homenagem à sua pessoa, o seu nome ao instituto

de investigação por si criado de raiz. Quando morreu, com 72

anos de idade, deixou manuscrita uma nova versão da fl ora do

nosso país, que intitulou, “Flora Portuguesa”. Este manuscrito foi

Botânica. Gonçalo Sampaio

posteriormente utilizado para a edição póstuma de 46 da

“Flora Portuguesa”, editada por A. Pires de Lima, com uma

contribuição de A. Rozeira. Como nos explica João Paulo Cabral

(professor da Faculdade de Ciências e organizador da exposição),

“Há uma parte que é escrita pelo Prof. Rozeira, que descreve uma

série de géneros dentro das Compostas, de que Gonçalo Sampaio

nunca fez tratamentos taxonómicos” que torna completa esta fl ora.

O Museu do Departamento de Botânica da Faculdade de

Ciências guarda ciosamente o espólio deste investigador:

manuscritos, livros, cadernos vários, registos, correspondência. O

homem, as suas relações, o que reuniu, o que escreveu, consistem

numa peça essencial de um conhecimento científi co que ajudou a

fundar o prestígio de uma Universidade. A Botânica, na viragem

do século XIX para o séc. XX, foi-se autonomizando do domínio

demasiado amplo da História Natural, mais próximo de um

espírito enciclopedista do que do rigor das metodologias e das

práticas científi cas, também aqui, na Universidade do Porto, pelo

seu inestimável contributo.

O registo dos seus contactos no estrangeiro, constante de um

caderno exposto na mostra no terceiro sector, dedicado à sua

geração de botânicos, ajuda a compreender e enquadrar a

sua infl uência: “Gonçalo Sampaio era uma fi gura da Botânica

sistemática mundial”, diz-nos João Paulo Cabral, “correspondia-

se com os melhores botânicos da época. Na mostra expusemos

um livrinho em que conservava o registo dos correspondentes

aberto na página Portugal e Espanha. Os nomes que dele

constam são as fi guras cimeiras da Botânica de então. Temos um

grande núcleo de cartas de todas aquelas pessoas que não está em

exposição. Vê-se pelas cartas como era infl uente e respeitado”.

Hoje a Botânica, como disciplina, no quadro do ensino superior

na área das Ciências Naturais está integrada no domínio amplo

da Biologia.

Encerra ciclo “Aventureiros, naturalistas e coleccionadores”

Museu vivo, o Jardim Botânico

pode bem ser a imagem/ símbolo

desta iniciativa da U.Porto

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Page 41: PROJECTO ACADÉMICO DESENVOLVIDO PELOS FINALISTAS DE … Porto em 1952, doutorado em Ciências do Desporto pela Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da U.Porto,

AtmosferasAs pequenas salas de trabalho que se dispõem à volta do amplo

átrio da casa Andresen, sede do Departamento de Botânica,

agora ocupado pela discreta mas expressiva exposição dedicada

à Botânica na época de Gonçalo Sampaio, abertas para o jardim

por janelas rasgadas que tornam os espaços permeáveis, como

convém a uma casa que faz do estudo da vida das plantas o seu

leit-motiv, permitem, ainda hoje, sentir o tempo de recolhimento

e a atmosfera de estudo dos fundadores desta ciência na

Academia Politécnica do Porto.

O registo das peças e dos conteúdos expostos revela passo a passo

um processo de descoberta, estudo, classifi cação, e fi nalmente

de transformação em saber dos dados tratados, combinando-se

com o próprio espaço – a casa aberta sobre o Jardim Botânico,

também ele elemento matricial da mostra que encerra o ciclo

“Aventureiros, Naturalistas e Coleccionadores”, através do qual a

Universidade Júnior pretendeu dar a ver alguns dos tesouros que

as colecções da Universidade do Porto abrigam, homenageando

os seus fundadores. Museu vivo, o Jardim Botânico pode bem

ser a imagem/ símbolo desta iniciativa com a qual, convocando

fi guras e momentos do seu passado, a Universidade do Porto o

actualiza ao partilhá-lo com o público.

O núcleo mais íntimo da troca epistolar entre colegas,

refl ectindo o esforço de uma geração, mostra exemplarmente a

amplitude e a riqueza do diálogo “entre pares” do Portugal da

época, acompanhando até o eco que fora do país estes homens

de ciência mereciam, troca de conhecimentos, pedidos de

esclarecimento, estudo comparado das amostras que seguiam

junto com as missivas, numa complexa e viva arquitectura

dum conhecimento que se constrói também na circulação e na

comunicação, numa base de confi ança plena, e que procura as

suas vias de autonomização.

Imaginar o laboratórioEsta exposição, que vai ao encontro da Botânica de há cem

anos, entre a história natural e a biologia, mostrando as fontes

bibliográfi cas com as quais se enformava o ensino (núcleo 1),

os instrumentos e os processos do “laboratório” (núcleo 2)

e, fi nalmente, os agentes, os construtores de conhecimento

científi co, tem ainda o mérito de expor “uma forma de estar”

de uma geração, uma maneira de “fazer ciência”, na cartografi a

que reúne pelo interesse dos seus naturalistas as universidades

de Porto, Coimbra e Lisboa, Gonçalo Sampaio, Júlio Henriques

e D. António Xavier Pereira Coutinho, fi guras destacadas da

Botânica na viragem do século (núcleo 3). No terceiro e último

corpo da mostra está patente a correspondência nada ociosa

através da qual também avançava o conhecimento, a confi ssão

bem nítida das dúvidas, os pedidos de aconselhamento, a fi rmeza

e a contestação de pontos de vista, por vezes sarcástica, a cortesia

entre colegas que laboriosamente procuravam construir as bases

de um conhecimento rigoroso sobre a fl ora portuguesa, através

de meticulosos estudos taxonómicos dos géneros e das espécies

que baptizavam muitas vezes em homenagem a um colega.

«1 de Fevereiro 904

Exmo. Snr.

Recebi a carta de V. Exa. de 30 de Janeiro, que muito agradeço, bem

como a amavel lembrança de V. Exa., dedicando-me o novo Rubus

que estudou. Como digo na Introdução do trabalho ás Rosaceas,

todo aquelle estudo dos Rubus é apenas apresentado como um

prévio desbravamento do caminho, sem base solida, para a qual

nos faltavam, a mim e ao Conde de Ficalha, estudos especialisados,

livros, e exemplares completos. Toda essa parte do nosso trabalho

repousa sobre aproximações apenas; mais ou menos plausíveis.

Acredito que, principalmente no genero Rubus, o exame das

plantas vivaz é de primeira importancia para a classifi cação; e

acho que V. Exa. presta um assignalado serviço á nossa Flora

prosseguindo no estudo de um genero composto de especies tão

criticas e tão confusas.

Muito me obsequeia V. Exa. remettendo os exemplares que tiver

disponiveis das fórmas da nova especie, e peço desde já que se

não esqueça de me enviar um exemplar do seu artigo, que vou

lêr com o maior interesse, e desejo colleccionar ao lado dos outros

documentos da Flora Portugueza, que tenho reunidos.

Como V. Exa. se tem dedicado bastante ao estudo d’este genero

Rubus, tambem muito me obsequeia, quando tiver tempo e

“V. Exa. presta um assignalado serviço á

nossa Flora prosseguindo no estudo de um

genero composto de especies tão criticas e

tão confusas”.

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UPORTO IDENTIDADES

43 occasião para isso, enviando-me uma lista das especies e variedades

que encontrou até hoje em Portugal e não vêm mencionadas no

meu trabalho e do Conde de Ficalho, e bem assim incluindo as

especies marcadas néste trabalho, e que, segundo a sua opinião,

devem mudar de denominação específi ca.

É claro que se tiver disponivel alguns exemplares das especies alli

não mencionadas, muito as agradeço egualmente, para os incluir

no herbário da Polytechnica.

De V. Exa., com particular estima,

Att. (...) Antonio X. Pereira Coutinho»

(Carta de A. X. Pereira Coutinho para Gonçalo Sampaio)

Os três núcleos da mostra, organizados em fi leiras sóbrias no

átrio quadrado de passagem obrigatória, obrigam a atenção

a fi xar-se na banda preta que acompanha o percurso das

vitrinas, onde a branco se inscrevem notas sobre a evolução e a

modernização da Botânica, os livros, os manuais e os ensaios, os

instrumentos de recolha, o laboratório, o tratamento e análise

científi ca dos espécimes e fi nalmente os homens e a sua obra,

ou a comunicação e troca de ideias entre cientistas, informação

preciosa que esclarece passo a passo o visitante.

Esta articulação é, por vezes, grafi camente tão conseguida

que olhando o microscópio e, sequencialmente a célula que a

branco se desenha no negro, se estabelece uma cumplicidade

entre o procedimento científi co e o visitante, como se na

legenda se projectasse o que subjectivamente o instrumento

amplia e revela. João Paulo Cabral, responsável pela selecção,

organização das peças e produção de textos (tarefa na qual foi

assessorado por Elisa Folhadela), explica-nos que ao pensar a

exposição e colocação dos objectos, não sendo “possível incluir

naquele espaço o laboratório, o texto tenta complementar os

objectos revelando os procedimentos e as técnicas, de forma a

que o visitante possa assim imaginar o que seria o laboratório,

que estaria nas salas que ladeiam o átrio”. Foi sua intenção,

explica-nos, que “o discurso fi zesse o imaginário do laboratório”.

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Estórias da Universidade

No tempo em que os cursos de Engenharia eram constituídos

por seis anos, três na Faculdade de Ciências – situada na Praça

Gomes Teixeira – e três na Faculdade de Engenharia, na Rua

dos Bragas, o Assistente de uma das principais disciplinas

leccionadas na Faculdade de Ciências, ao preleccionar durante

as então chamadas aulas práticas, tinha a tendência de olhar,

disfarçadamente, para as pernas das alunas que nessa época

eram poucas, não atingindo a meia dúzia e que, por norma, se

sentavam na 1ª fi la das carteiras.

Perante este comportamento as nossas colegas decidiram reagir.

Uma primeira vez, levando jornais para as aulas e estendendo-os,

ostensivamente, por baixo das carteiras, sobre os seus joelhos.

Olhares embaraçosos

ILU

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ÃO

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GÉM

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Como o sistema não era prático, passaram a adoptar outro

expediente que resultou, ou seja, olhando, todas, insistentemente,

para os pés do Professor durante as aulas, de tal forma que a

determinada altura aquele já não sabia em que posição se devia

situar quando tinha de se levantar para se dirigir ao quadro preto,

a fi m de expor a matéria.

E desta forma, tão simples, acabaram com o inocente hábito do

Professor.

Outros tempos, outros hábitos…

Joaquim Emílio Torcato Barroca

Engenharia Electrotécnica

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Seis Fragmentos

IHá dias em que a terra se enfurece; os homens gritam: O vulcão

acordou! O chão treme!

E dias em que a terra sonha e se dedica ao paciente trabalho da

criação: água corre, brotam árvores e outras crescem, e envelhecem.

Devagar.

IIA árvore sonha acordada, repetindo num murmúrio as três sílabas

da sede: água, água.

III(Digo a palavra árvore – que é feita de aves e vento. Na seiva que a

percorre circula a mais verde consoante.)

IVAs árvores sorvem o ar, bebem o sol – e só na aparência cultivam o

silêncio: as árvores dançam, cantam, não dormem. E as suas raízes

penetram na água dos sonhos.

V(A tília, o choupo, a oliveira. O sobreiro e a cerejeira. Mais o plátano

e o ulmeiro. O cipreste, a nespereira…

Eu, que ainda não conheço o nome de cada árvore, passeio por entre

as sílabas escutando o rumor das folhas, sentindo a seiva correr no

tronco de cada palavra.)

VIEis a resina da infância. A grudar ainda os meus dedos no tronco

rugoso da árvore.

4544 |

UPORTO CRÓNICA

TEXTO DE JOÃO PEDRO MÉSSEDERILUSTRAÇÃO DE JOÃO MACHADO PARA O CARTAZ DO DIA MUNDIAL DA ÁGUA 2004

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46 | 47 Era uma vez… ciência e poesia no reino da fantasiaRegina Gouveia

Esta é a história de um extraterrestre

aventureiro. Com olhos a lembrar faróis

de autocarro. É também a história de uma

gota de orvalho que já foi lago, nevoeiro,

neve e chuva no Inverno. Lutou contra

incêndios, diz que foi um inferno, mas,

acima de tudo, e está sempre a acontecer,

diz que o que não gosta mesmo nada é

de ser lágrima sempre a correr. Antes do

fi m da história entra uma lua vaidosa e

o vento. Que “ora lento, ora agitado, ora

brisa ou ventania”, “não é mais do que ar

em movimento”, a soprar às vezes forte, às

vezes com lixo à mistura, uma diferente

“melodia”. E quem mais se queixa? Quem

é? Com os atropelos ao ambiente? É a

gaivota que fi ca triste e descontente.

Este é o primeiro trabalho de literatura

para crianças de Regina Gouveia.

Licenciada em Físico-Químicas, Mestre

em Supervisão e professora do Ensino

Secundário, tem tido colaborações com

o Departamento de Física da FCUP.

Publicou, na área da poesia, Refl exões e

Interferências e Magnetismo Terrestre, na

da fi cção, Estórias com sabor a Nordeste, e é

ainda autora do livro de didáctica Se eu não

fosse professora de Física. Algumas refl exões

sobre práticas lectivas e do livro de fi cção.

edição: Campo das Letras

preço: 12.60 euros

UPORTO A SABER

Comunicar a Ciência– um guia prático para investigadoresOrg. Sofia Jorge Araújo,

Mónica Bettencourt Dias,

Ana Godinho Coutinho

“A Ciência e a tecnologia fazem parte

do dia-a-dia de todos. Como envolver

o público na ciência e na tecnologia?

Como falar com jornalistas sobre o meu

trabalho? Como debater o meu trabalho

com o público? Como chamar a atenção

para a minha área científi ca?” Estas são

as perguntas, colocadas na boca dos

investigadores, a que o guia “Comunicar

a Ciência” e o projecto em que se insere

pretendem responder. Quem consulta o

guia tem duas abordagens possíveis, de

um lado, teórica, do outro, prática, na

perspectiva de se adaptar a diferentes

necessidades de leitura, mas tentando

constituir-se, no conjunto, como um meio

de consulta útil e rápida destinado a um

público que não tem tempo a perder.

Os conteúdos foram produzidos a

partir do material de apoio apresentado

nos workshops “Comunicar a Ciência”

realizados em 2003 e 2005, com apoio

do Serviço de Ciência da Fundação

Gulbenkian. O projecto “Comunicar

a Ciência” tem o apoio da Fundação

Calouste Gulbenkian e da Associação

Viver a Ciência.

O guia é distribuído gratuitamente e pode

ser pedido através do endereço e-mail

[email protected].

edição: Projecto “Comunicar a Ciência”

preço: gratuito

Uma Revolução na Formação Inicial de ProfessoresAmélia Lopes, Cristina Sousa,

Fátima Pereira, Rafael Tormenta

e Rosália Rocha

A obra considera que a formação

nos períodos revolucionário e “da

normalização” (entre 1974 e 1979),

aparece como a pedagogicamente

mais elaborada e mais consistente

no contexto da formação inicial de

professores do 1º Ciclo do Ensino Básico

nos últimos 30 anos. Para os autores, a

actual organização da formação inicial

destes professores corresponde a uma

evolução bastante positiva no que diz

respeito à sua componente científi ca,

mas também a algumas perdas no que

diz respeito à sua vertente pedagógica,

fenómeno normalmente identifi cado por

“academização” da formação. O livro

Uma Revolução na Formação Inicial de

Professores pretende tornar salientes

as dimensões que caracterizaram a

formação inicial nesse período, com vista

à possível integração de algumas das suas

componentes nos actuais projectos de

formação. Por essa via, o livro contribui

também, indirectamente, para a refl exão

sobre a pedagogia no ensino superior. Os

autores são investigadores do Centro de

Investigação e Intervenção Educativas

(CIIE), a funcionar na esfera da Faculdade

de Psicologia e Ciências da Educação da

Universidade do Porto. Amélia Lopes e

Fátima Pereira são ainda docentes desta

Faculdade.

edição: Profedições

preço: 11 euros

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Da Torre de Babel às Terras Prometidas– Pluralismo Religioso em PortugalHelena Vilaça

A refl exão sobre a evolução do fenómeno

religioso em Portugal abarca aspectos

como a composição religiosa do país, as

principais linhas de força do pensamento

religioso, as relações entre o Estado

e as instituições religiosas e o papel

desempenhado hoje pela religião na

esfera pública. Mas outras dimensões

foram aqui consideradas, como as atitudes

manifestadas quer pela Igreja Católica

quer pelas minorias religiosas perante

as transformações políticas e sociais e

os desafi os éticos e culturais e ainda as

atitudes dos portugueses face à diversidade

religiosa, através da análise dos resultados

de um inquérito realizado à escala europeia

sobre pluralismo religioso e moral.

Procurando uma ideia chave, Liliane Voyé

escreve no Prefácio que a obra mostra que

“a religião possui ainda uma relevância

social” na modernidade, mas sublinha uma

“mudança fundamental que caracteriza

o plano religioso: pluralismo e liberdade

de escolha desafi am a integração social”.

“Temos de gerir a diferença”, afi rma Helena

Vilaça, “particularmente difícil” num

contexto em que a “insegurança, nas suas

diferentes expressões, favorece a procura de

bodes expiatórios”, lembra Liliane Voyé. A

autora do livro, Helena Vilaça, é professora

auxiliar do Departamento de Sociologia da

Faculdade de Letras da U.Porto e coordena

a linha de investigação “Globalização,

valores sociais e políticas públicas”.

edição: Edições Afrontamento

preço: 16 euros

Águasfurtadas, número noveRevista de Literatura, Música

e Artes Visuais

O número nove da águasfurtadas contém

poesia de Emílio Remelhe, António Pedro

Ribeiro e Rui Lage, entre outros. Valério

Romão traduz “Uma novela não-escrita”

de Virgínia Woolf, e Margarida Vale de

Gato traduz “A fenomenologia da ira” de

Adrianne Rich. Júlio Dolbeth, docente

da Faculdade de Belas Artes, tal como

Emílio Remelhe, participa com um conto

desenhado. No teatro, Nuno F. Santos

marca presença com “Os condenados”.

Para além desta presenças, muitas mais

pode o leitor descobrir nesta edição.

No “muro” desta edição, termo usado pelo

editor de artes visuais para designar o

Prefácio, que importa saltar quanto antes

e entrar no conteúdo, Leandro Ribeiro

explica o princípio norteador desta edição:

“procurar e peneirar obras e obreiros que

construíssem, neste número nove, a mais

sólida águasfurtadas que já foi dada à

estampa. É neste número que a fotografi a

encontra no portfólio o único meio

de se apresentar”. O CD áudio contém

composições de Uma Espécie de Trio,

Alexandre Delgado, Ruben Andrade e do

grego, residente em Portugal, Dimitris

Andrikopoulos.

edição: Núcleo de Jornalismo Académico

do Porto/ Jornal Universitário do Porto

(NJAP/JUP)

preço: 12 euros

Lajes Aligeiradas com Vigotas Pré-Tensionadas

«Lajes Aligeiradas com Vigotas Pré-

Tensionadas» de Rui Camposinhos,

investigador da Faculdade de Engenharia

da Universidade do Porto e professor

do Instituto Superior de Engenharia do

Porto, e Afonso Serra Neves, professor da

Faculdade de Engenharia da Universidade

do Porto, resulta de investigações

desenvolvidas pelos autores nos últimos

anos. A obra abarca importantes estudos

que permitem um melhor conhecimento

científi co e uma mais correcta aplicação

dos sistemas de lajes “compósita”

semi-prefabricadas, contendo ainda vários

temas específi cos, manifestamente inéditos.

Os temas são pouco comuns noutros

tratados e, na abordagem adoptada,

desdobra-se com pormenor o conteúdo

técnico e teórico das lajes constituídas

por vigotas pré-esforçado. Este livro

deixa também algumas pistas para

prosseguimento da investigação,

contribuindo para ainda maior potenciação

do valor económico desta técnica.

Esta poderá ser adquirida online (área de

monografi as na página da FEUP Edições),

ou em qualquer livraria do país. O livro

contou com os patrocínios da ANIPC, da

TELHABEL, da MAXIT, da FCT, da CGD e

com os apoios da PAVIMIR e da VIPRAL.

edição: FEUP Edições

preço: 35 euros

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Page 48: PROJECTO ACADÉMICO DESENVOLVIDO PELOS FINALISTAS DE … Porto em 1952, doutorado em Ciências do Desporto pela Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da U.Porto,

UPORTO TOME NOTA

48 | 6 E 7 DE OUTUBRO MÚSICA E MATEMÁTICAO Centro de Matemática da U.Porto, a Casa da Música e a Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo organizaram este encontro sobre “Música e Matemática”. O seu principal objectivo é o de reunir Matemáticos e Músicos (profi ssionais, investigadores, estudantes ou simples amadores) para divulgar temas comuns e permitir uma aproximação entre áreas que interagem quer a nível da análise musicológica quer a nível das novas tendências na composição musical.O evento tem uma componente generalista e uma componente mais especializada, abordando as relações Matemática/ Música a nível da Composição, Análise e Física do Som. Incluirá ainda uma componente concertante com a colaboração do grupo Remix, e/ ou outros instrumentistas da Casa da Música. INFORMAÇÕES:www.fc.up.pt/cmup/musmat

9 DE OUTUBRO A 17 DE NOVEMBROCURSO DE ESCRITA CRIATIVA E OFICINA DE PERSONAGENSAntiga Reitoria da U.Porto (R. D. Manuel II). Parque gratuito.Organizados pela Reitoria da U.Porto e pela Editora Civilização, o curso e a ofi cina serão orientados por Pedro Sena-Lino, mestre em Literatura Românicas pela UNL, formador em Escrita Criativa e Português para estrangeiros, poeta e crítico de poesia. 9 A 23 OUTUBRO: 21H30 > 23H00Escrita CriativaMódulos: À procura da imaginação; O que é uma imagem; Técnicas em prática; Imaginação e real, divididos por oito sessões de 1 hora e 30 minutos cada.9 A 17 DE NOVEMBRO: 18H00 > 21H00Ofi cina de PersonagensConceitos e técnicas básicas para a construção de uma personagem a partir da leitura de contos e usando a autobiografi a como material de fi cção. A ofi cina vai desenvolver-se em três fases, durante os meses de Outubro e Novembro: de 9 a 12 e de 23 a 26 de Outubro e de 13 a 17 de Novembro. INFORMAÇÕES:Ana Martins: [email protected] + T. 223401549

12 E 13 DE OUTUBROTRACK FOR HIGH-SPEED RAILWAYSFaculdade de Engenharia da Universidade do PortoWorkshop internacional organizado pela Faculdade de Engenharia numa ocasião em que se encontra em vias de implementação no país a rede ferroviária de alta velocidade em articulação com a rede europeia. Este encontro permitirá ouvir especialistas internacionais, oriundos de Espanha, França, Itália, Áustria, Alemanha, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Suécia, que partilharão os seus conhecimentos científi cos e técnicos, cruzar experiências e discutir o comportamento estrutural e a performance das soluções existentes, avançando eventualmente com sugestões de melhoria.As palestras abordarão os tópicos:Materiais e propriedades mecânicas da via férrea; Manutenção da via e monitorização; Dimensionamento e geometria da via; Construção e sistemas de controlo,CUSTOS: 400 Euros (incluem o envio das actas, em livro e em Cd, dois almoços e um jantar)INFORMAÇÕES: Faculdade de Engenharia Engenharia Civil, Clotilde BentoT. 225081944 + F. [email protected]://www.fe.up.pt/HSRTrack

18 DE OUTUBRO A 15 DE DEZEMBROCURSO LIVRE DE DESENHOFaculdade de Arquitectura da U.Porto“Desenhar desenhando” é o título do Curso Livre de Desenho que a Faculdade de Arquitectura oferece entre o próximo mês de Outubro e Junho de 2007, orientado pelos professores José Grade e Luísa Brandão.O curso divide-se em quatro períodos de leccionação: 18 de Outubro a 15 de Dezembro, 3 de Janeiro de 2007 a 28 de Fevereiro, 2 de Março a 27 de Abril e, fi nalmente, 3 de Maio a 29 de Junho. INFORMAÇÕES: www.fa.up.pt

17 DE NOVEMBROHOMENAGEM A UMA FIGURA EMINENTE DA U.PORTO: PROFESSOR AUGUSTO NOBREReitoria da U.Porto, Praça Gomes Teixeira.Depois de Abel Salazar, Marques da Silva e Magalhães Basto, a Universidade homenageia Augusto Nobre.Augusto Nobre, um dos homens que acompanha a viragem da Academia Politécnica para a Universidade, foi um dos pioneiros do estudo da Biologia Marinha em Portugal. Criou um “laboratório marítimo” e um Museu de Zoologia, que hoje está integrado no Museu de História Natural da Faculdade de Ciências. A exposição, comissariada por Jorge Eiras, professor da Faculdade de Ciências e presidente do departamento de Zoologia/Antropologia, estará patente até Janeiro de 2007.

23 E 24 DE NOVEMBROPLURAL BECKETT PLURIELA CENTENARY CELEBRATION. UNE CÉLÉBRATION CENTENAIREFaculdade de Letras da U.Porto, 17H30No centenário de Samuel Beckett, a Faculdade de Letras com o apoio da embaixada da Irlanda e da Fundação para a Ciência e Tecnologia propõe-se refl ectir sobre a pluralidade da escrita deste autor e sobre as consequências artísticas e críticas da sua obra. Beckett nasceu em Dublin, em Abril de 1906 e morreu em Dezembro de 1989 em Paris. A sua obra vastíssima e plural é um marco incontornável do século XX. Beckett escreveu 6 romances, 4 peças longas e muitas peças curtas, histórias e novelas, poesia, ensaios, peças radiofónicas e televisivas, realizou um fi lme, entre muitas outras actividades e interesses. O encontro decorrerá em torno de alguns eixos de trabalho: Beckett e o teatro; Beckett e a Irlanda; Beckett e a fi losofi a; Beckett, a dramaturgia e a fi cção no sec. XX; Beckett, a música e as artes visuais, Beckett e a religião, Beckett, bilinguismo e tradução.O Colóquio é co-organizado pelo Instituto de Estudos Ingleses e pelo Instituto de Estudos de Literatura Comparada Margarida Losa, com o suporte do Departamento de Estudos Anglo-Americanos.INSCRIÇÕES: até 6 de OutubroCUSTO: 75 EurosINFORMAÇÕES: Instituto de Estudos Ingleses:T. 226077183 + [email protected]

PLURAL BECKETT PLURIEL

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