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1 Universidade Federal do Acre Departamento de Economia Curso de Economia Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto: Uma análise econômica dos custos de produção da atividade pecuária Lorena Rodrigues Barbosa Matrícula n.º 9731502 Orientadora: Nazira Correia Camely Co-orientador: Reginaldo F. Ferreira de Castela Rio Branco, julho de 2003.

Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

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Este estudo de caso analisa o desempenho econômico da atividade pecuária no Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto, analisando os custos de produção da atividade pecuária no período pesquisado (1996-1997) pelo Projeto Análise Econômica dos Sistemas Básicos de Produção Familiar Rural do Estado do Acre – ASPF, desenvolvido pelo Departamento de Economia da UFAC. [...]

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Universidade Federal do Acre Departamento de Economia

Curso de Economia

Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto: Uma análise econômica dos custos de produção da atividade

pecuária

Lorena Rodrigues Barbosa Matrícula n.º 9731502

Orientadora: Nazira Correia Camely Co-orientador: Reginaldo F. Ferreira de Castela

Rio Branco, julho de 2003.

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Lorena Rodrigues Barbosa

Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto: Uma análise econômica dos custos de produção da atividade pecuária

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Economia da Universidade Federal do Acre como requisito para a obtenção de Graduação em Bacharel em Ciências Econômicas.

Orientadora: Profª Msc. Nazira Correia Camely

Rio Branco, julho de 2003.

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Lorena Rodrigues Barbosa

Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto: Uma análise econômica dos custos de produção da atividade pecuária

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Economia da Universidade Federal do Acre como requisito para a obtenção de Graduação em Bacharel em Ciências Econômicas.

Aprovada em julho de 2003.

Nota:............

Banca Examinadora

_______________________________________________ Profª. Nazira Correia Camely (orientadora)

Departamento de Economia

_______________________________ Prof. Robinson Antônio da Rocha Braga

Departamento de Economia

__________________________________________ Prof. Carlos A. Franco da Costa

Departamento de Economia

Rio Branco, julho de 2003.

Page 4: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

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Dedicatória

Especialmente aos meus pais,

José Barbosa do Carmo e

Aldaíres Rodrigues Barbosa

pelos sacrifícios e incentivos a

mim dedicados.

Agradecimentos

Page 5: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

5

A Deus, pela minha boa condução ao longo de todos os meus estudos.

Aos meus pais, pela educação, compreensão e incentivos que me proporcionaram um

caminho mais suave.

Ao meu esposo, Francisco da Silva, companheiro em todos os caminhos percorridos.

A todos os professores do curso de economia, em especial aos professores Orlando

Sabino, Reginaldo Castela e Nazira Camely, por todos os seus conhecimentos e

ensinamentos repassados.

Ao colega e economista Fernando Sevá, pelo apoio, cooperação e oportunidade de

discussões e incentivo a este trabalho.

A toda equipe do Projeto ASPF, colaboradora direta para a elaboração e conclusão deste

trabalho, especialmente aos amigos Gisele Elaine, Claudia Lima e Elyson Ferreira, que

souberam compartilhar todos os momentos.

Enfim, agradeço aos órgãos envolvidos e a todos, que contribuíram direta ou

indiretamente para a conclusão deste trabalho, o qual fora concluído com os melhores

dados possíveis e disponíveis.

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SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS E FIGURAS .............................................................................. 7

RESUMO ......................................................................................................................... 9

INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 10

1 – DAS ESTRADAS DE SERINGA ÀS GRANDES PASTAGENS ....................... 12

1.1 - O processo de ocupação e as relações sociais de produção ...................................................... 13 1.1.1 – Auge e declínio da atividade gumífera .................................................................................. 14

2 – O ESTADO E AS POLÍTICAS DESENVOLVIMENTISTAS .......................... 20

2.1 – A política de colonização e o INCRA ........................................................................................ 22 2.1.1 – Planos e Programas: a formação dos Projetos de Assentamentos Dirigidos -PAD’s no Estado do Acre ................................................................................................................................... 24

2.2 – Os PAD’s - Projetos de Assentamento Dirigidos: formas e objetivos .................................... 27 2.3 - O PAD Pedro Peixoto e suas características ............................................................................. 29

2.3.1 – Formas de acesso e região de origem ................................................................................... 31 2.3.2 – Idade média dos produtores .................................................................................................. 32 2.3.3 – Distância média e nível de escolaridade ............................................................................... 33 2.3.4 – Área média e área desmatada ............................................................................................... 33 2.3.5 – Atividades agrícolas desenvolvidas ....................................................................................... 35 2.3.6 – A pecuária no PAD Pedro Peixoto ........................................................................................ 37

3 - CARACTERIZAÇÃO DA METODOLOGIA: O PROJETO ASPF E SEUS

OBJETIVOS .................................................................................................................. 39

3.1 – Amostra ....................................................................................................................................... 39 3.2 – Objeto de investigação ................................................................................................................ 40 3.3 – Unidade de Produção Familiar – UPF ...................................................................................... 41 3.4 - Determinação dos custos de produção das UPF’s ................................................................ 42 3.5 - Determinação das medidas de resultado econômico ................................................................ 48

4 - ANÁLISE ECONÔMICA DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO DA PECUÁRIA . 51

4.1 - Custos de produção da pecuária comercializada no PAD Pedro Peixoto .............................. 51 4.2 – Medidas de resultado .................................................................................................................. 56

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 63

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LISTA DE TABELAS E FIGURAS

TABELA 01 - Desapropriação de terras no Acre entre 1976 e 1981

TABELA 02 - Tamanho médio das áreas no PAD Pedro Peixoto

TABELA 03 - Principais produtos comercializados no PAD Pedro Peixoto

TABELA 04 - Comparação dos custos de produção da criação bovina com outros

produtos

TABELA 05 - Estrutura de custos da criação bovina

TABELA 06 - Indicadores econômicos de produtos do PAD Pedro Peixoto

TABELA 07 – Dados sobre a produção vendida, estocada e autoconsumo em relação

à produção total

FIGURA I: Região de origem dos residentes no PAD Pedro Peixoto

FIGURA II: Idade dos produtores residentes no PAD Pedro Peixoto

FIGURA III: Área desmatada no PAD Pedro Peixoto

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RELAÇÃO DE SIGLAS

BASA - Banco da Amazônia S/A

BCB - Banco de Crédito da Borracha

COLONACRE - Companhia de Desenvolvimento Agrário e Colonização do Acre

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

IBRA - Instituto Brasileiro de Reforma Agrária

INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

INDA - Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário

PAD - Projeto de Assentamento Dirigido

PIN - Plano de Integração Nacional

PND - Plano Nacional de Desenvolvimento

POLAMAZÔNIA – Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia

PROJETO ASPF - Análise Econômica dos Sistemas Básicos de Produção Familiar Rural

do Estado do Acre

PROTERRA - Programa de Redistribuição de Terras e Estímulo a Agroindústria do Norte

e Nordeste

RADAM – Projeto Radar da Amazônia

SPVEA – Superintendência do Plano de Valorização Econômico da Amazônia

SUDAM – Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia

UPF – Unidade de Produção Familiar

ZEE – Zoneamento Econômico Ecológico

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RESUMO

Este estudo de caso analisa o desempenho econômico da atividade pecuária no Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto, analisando os custos de produção da atividade pecuária no período pesquisado (1996-1997) pelo Projeto Análise Econômica dos Sistemas Básicos de Produção Familiar Rural do Estado do Acre - ASPF, desenvolvido pelo Departamento de Economia da UFAC. Abordamos desde o aspecto relacionado à mudança da atividade extrativa para a pecuária, a criação dos Projetos de Assentamento no estado, a diversificação das culturas desenvolvidas bem como alguns índices econômicos praticados pelas famílias até a comercialização dos produtos.

Palavras chaves: custos de produção, unidade familiar, pecuária.

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INTRODUÇÃO

Na década de 70, a base da economia acreana ainda estava assentada na

atividade extrativa da borracha natural, madeira e castanha do Brasil, existentes na

região. A falência de seringais nativos nesse período trouxe vários investidores do

centro-sul do país, que se tornaram os donos de grandes extensões de terras. Estes foram

atraídos pelo seu preço irrisório e, diferentemente dos moradores tradicionais, tinham o

objetivo não de dar continuidade à produção extrativa da borracha, mas sim de

desenvolver a pecuária extensiva, tornando-a a principal forma de exploração e uso da

terra na região.

Esses novos agentes econômicos fortificaram o antigo e mais perverso processo

de má distribuição de terras que tem marcado a história agrária do país, acentuando

ainda mais a já elevada concentração fundiária registrada na região. Neste contexto de

profundas transformações econômicas e sociais, é que uma minoria de proprietários

oriunda do sul do país se apropriaram deste meio de produção, objetivando desenvolver

a pecuária extensiva e ao mesmo tempo, assegurar a posse de terra como reserva de

valor.

Do ponto de vista econômico, a mudança da base produtiva contribuiu, a

princípio, de forma irrelevante para a reordenação do mercado de trabalho local, uma

vez que a pecuária, diferentemente de outras atividades, absorve pequena quantidade de

força de trabalho, favorecendo a expulsão dos moradores tradicionais e contribuindo

para a formação dos núcleos urbanos e suas periferias mal estruturadas, formadas pelos

"deserdados da terra", tangidos em fuga das precárias condições que lhes foram

impostas pela frente de expansão agropecuária de que foram vítimas. Movimento que,

em última instância, criou o cenário para suportar a política de ocupação dos "espaços

vazios" da Amazônia, conforme era vista a região pelo Governo Federal no período da

ditadura militar iniciada em 1964, cuja política de colonização dava ênfase aos Projetos

de Assentamento Dirigidos – PAD’s.

Diante destes fatos, este trabalho, procura analisar os custos de produção da

atividade pecuária e a mudança na reocupação produtiva das terras do PAD Pedro

Peixoto, dividindo-se da seguinte forma: no primeiro capítulo, enfocaremos o processo

de formação econômica das terras acreanas, bem como a sua ocupação pelos

Page 11: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

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nordestinos. No segundo, trataremos da política de colonização, a formação dos PAD's

no estado e as particularidades do PAD Pedro Peixoto. No terceiro, apresentaremos a

metodologia de avaliação do desempenho da atividade pecuária, aplicada com base nos

dados do Projeto ASPF, bem como a determinação dos custos de produção e das

medidas de resultado econômico. No quarto e último capítulo, analisaremos os custos

de produção da atividade pecuária no PAD Pedro Peixoto.

Finalmente, apresentaremos as considerações sobre a atividade pecuária no PAD

Pedro Peixoto, apresentando diferentes formas que ofereçam uma maximização dos

ganhos e conseqüente redução nos gastos, objetivando melhorar as condições de vida

dos produtores rurais.

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1 – DAS ESTRADAS DE SERINGA ÀS GRANDES PASTAGENS

O processo de formação econômica e ocupação das terras acreanas deveu-se em

grande parte, às riquezas naturais que o território oferecia, a principal delas era a

borracha natural, uma matéria-prima essencial para o desenvolvimento regional,

passando o látex a modificar o cenário econômico e social da região.

A borracha natural era considerada a principal droga do sertão, que despertou o

interesse econômico pelo Acre, pois se tratava de uma matéria-prima necessária para o

desenvolvimento do nascente capitalismo monopolista. A demanda por este produto

veio se fortaleceu após a descoberta dos pneumáticos em 1888, da bicicleta e do

automóvel, mas nenhuma outra atividade se compara ao extrativismo, onde este será o

carro-chefe do desenvolvimento econômico da região durante um certo período de sua

história.

Verificou se que grande parte da ocupação das terras não trouxe o retorno

esperado para a região, pois não houve uma preocupação sistemática com o

desenvolvimento regional e, tampouco, com os problemas sociais gerados pela entrada

de pessoas provenientes de vários recantos do país.

Nas décadas de 60 e 70, os paulistas1 foram atraídos para o Acre, com o intuito

de implantar empreendimentos agropecuários nas áreas rurais, sendo que muitos

seringais foram transformados em áreas de pastagens (RUIZ, 1995, p. 6). Com esta

iniciativa, o Governo Federal achou que este seria o melhor procedimento para se livrar

dos problemas fundiários ocorridos nas regiões sul e sudeste do Brasil, o que não

ocorreu, sendo o problema apenas transferido de um eixo para outro. (ZEE, 2000, p. 27).

A mudança significativa da economia da região trouxe também uma

interminável disputa pela posse da terra, envolvendo aqueles que já habitavam o espaço

– índios e seringueiros – os assentados e os grandes latifundiários. Durante esta fase da

ocupação, a degradação do meio ambiente foi ainda maior, uma vez que os fazendeiros

só se preocupavam com o aumento dos pastos, afastando a possibilidade de

reavivamento da atividade extrativista. (ZEE, op cit, p. 27)

1 Paulistas – Denominação comum a todos os pecuaristas e especuladores fundiários que chegaram no Acre no início da década de 70, embora muitos deles fossem oriundos de outros estados do Centro-Sul do Brasil e não apenas de São Paulo. (SEVÁ, 2002, p. 92).

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Dessa maneira, muitos seringueiros foram expulsos de suas colocações, ou em

muitos casos, retornaram aos seus estados de origem. Uma vez que com a mudança

significativa da economia regional, muitos seringalistas estavam endividados com o

BASA (Banco da Amazônia S/A), onde estes se viam obrigados a vender suas

propriedades para sanar tais débitos.

A transferência dos seringais do Acre aos compradores do centro-sul do país e os

conflitos advindos das mudanças que se verificaram na forma de uso da terra,

transformaram parcialmente as relações de produção do tradicional sistema de

aviamento e introduziram novas relações de trabalho no meio rural acreano (SILVA, F.

1982, p. 53).

1.1 - O processo de ocupação e as relações sociais de produção

O migrante nordestino foi a força de trabalho mais apropriada para o trabalho

nos seringais nativos da região amazônica, pois neste período, as grandes levas de

migrantes que aqui chegaram vieram devido as grandes secas que atingiram duramente

o nordeste desde 1877, fazendo com que aproximadamente 300 mil pessoas entre

fazendeiros, trabalhadores rurais e comerciantes migrassem para a região em busca da

alternativa mais promissora da época: a exploração da borracha.

Vale ressaltar que, antes do século XIX, ainda não existia o território do Acre e a

sua anexação ao Brasil, bem como a ambição de potências capitalistas em usufruir

matéria-prima, fez com que o “mundo amazônico”, no pensamento de Reis (1983), fosse

um espaço de constantes “barganhas”, possibilitando, segundo o autor, o início da

conquista da Amazônia.

O motivo central para que houvesse a colonização do Acre foi, sem dúvida, a

influência do interesse de outros países – especialmente a Inglaterra, em adquirir látex

daquela imensa proporção territorial chamada “tierras no discubiertas”.

Pertencentes à Bolívia e ao Peru, a região dos altos rios amazônicos era assinalada nos mapas do século passado como ‘Tierras no Discubiertas’. Somente a partir de 1860, começaram as expedições exploratórias que revelaram seu imenso potencial econômico,

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especialmente para a extração da borracha, matéria-prima essencial para o desenvolvimento da indústria da Europa e dos Estados Unidos. A partir de então, a colonização foi rápida. (ALVES, 2000, p. 01).

Para Tocantins (1984 apud ZEE, 2000, p. 18), o Acre foi uma realização

brasileira do século XIX, posto que a descoberta da vulcanização por Thomas Hancock

na Inglaterra em 1844 e por Charles Goodyear nos Estados Unidos, no mesmo ano,

permitiu amplo processo da industrialização da matéria-prima.

Com a criação do Departamento Boliviano no Acre, inicia-se a segunda fase

governamental. Após a assinatura do Tratado de Petrópolis, em 17 de novembro de

1903, o então território acreano foi anexado ao Brasil. (ZEE, op. cit, p. 18)

Desta maneira, a presença nordestina como um dos elementos formadores da

sociedade acreana, assim como força de trabalho explorada cada vez mais pelo capital

internacional aumenta após 1877, porque, com a grande seca nordestina ocorrida neste

ano e que se prolongou até 1879, já havia força de trabalho excedente em algumas áreas

do nordeste e esta já se direcionava para a Amazônia. Martinello (1988), ressalta que os

nordestinos foram atraídos para a região amazônica tendo a Amazônia como o “paraíso

perfeito”.

Para Cavalcanti, T. (1994), a atividade extrativa da borracha era dependente de

grande oferta de força de trabalho, e o desenvolvimento desta atividade veio a ser

favorecida através do intenso movimento migratório ocorrido a partir de 1907, pois a

região era considerada a maior produtora de látex.

1.1.1 – Auge e declínio da atividade gumífera

As relações sociais de produção que garantiam a comercialização da borracha se

davam sob a forma do aviamento2, relação específica de aprisionamento dos

seringueiros pela dívida. Este tipo de relação social vigente só beneficiava o

seringalista, e o seringueiro - extrator direto- era a pessoa mais prejudicada de todo o

sistema, sendo considerado o elemento multiplicador. (OLIVEIRA, 1982).

2 Aviamento era o sistema predominante na época, onde o seringalista adianta ao seringueiro (produtor direto) os meios de trabalho e os bens necessários à sua subsistência, recebendo o pagamento em borracha. (RÊGO, 2002, p. 269).

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Conforme Rêgo (2002, p. 269), “o capital comercial operava através das casas

aviadoras, que, financiadas pelas empresas exportadoras ligadas diretamente ao capital

internacional, forneciam mercadorias (bens de consumo, instrumentos de trabalho e

eventualmente dinheiro) aos seringalistas para serem repassadas aos seringueiros”.

A procura dos mercados externos pelo látex estimulou o aumento dos preços do

produto nativo da região amazônica, onde a parte acreana do seu território era a maior

possuidora de seringueiras. Assim, pelo sistema de aviamento, o seringueiro tornou-se

então um trabalhador escravo do patrão. De 1870 a praticamente 1920, se instalaram nas

cidades de Belém e Manaus as casas aviadoras que financiavam os empreendimentos na

selva acreana e eram as responsáveis pela exportação da borracha.(OLIVEIRA, 1982).

Sobre as casas aviadoras e o comércio que imperava na época, Cavalcanti, F.

(1983, p. 39 apud AQUINO) cita:

Através do empenho compulsório da totalidade da produção ao seringalista. Novo fornecimento se faz e assim o processo continua, sem que haja a mínima circulação de dinheiro. É o único instrumento de crédito e de valor, de transporte e de comunicação existente nos seringais da região. Este processo abrange desde o nível local às vinculações internacionais, do plano das relações comerciais ao das relações sociais de produção.

Nestes termos, os seringueiros eram proibidos de desenvolver outras atividades,

pois era considerada perda de tempo a ocupação da força de trabalho com as derrubadas,

as queimadas e outros preparos para o desenvolvimento da agricultura, estes extratores

deveriam se dedicar exclusivamente à extração do látex, aumentando as horas

trabalhadas e com isso a produtividade, obrigando o extrator a cada vez mais retirar o

látex, sendo considerado como um mero instrumento fabricante de borracha. Pois ao

desenvolverem outras atividades que não a extração do látex, o seringueiro estaria

reduzindo as compras no barracão, assim, os seringalistas estariam obtendo menores

taxas de lucros. Dessa maneira, não lhes era permitido o cultivo de outras culturas e os

produtos de que necessitavam vinham de outras cidades, como Belém e Manaus, através

das vias fluviais e, tudo era comercializado no barracão a preços exorbitantes.

À medida que o recrutamento da força de trabalho para os seringais cresciam, o

volume comercializado do produto aumentava, permanecendo seus preços em alta

Page 16: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

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durante toda a primeira década do século XX. Esta passagem é bem enfatizada em

Oliveira (1982, p. 34 apud PRADO Jr, 1965):

Em 1910 os preços atingiram o seu teto e a participação da borracha na pauta de exportação do Brasil que estivera em uma média anual de 28% no período 1901-1910 alcançou a quase 40%, chegando a um nível quase semelhante ao do café (377 000 contos para o valor da borracha exportada e 385 000 contos para o café). Em 1912 o volume exportado da borracha atingiu o nível mais alto (42 000 toneladas) e começou a cair a partir do ano seguinte. Os preços cresceram verticalmente no mercado internacional e a decadência foi irreversível, ao ponto que em 1919, o valor comercializado valeu quase que a quarta parte do de 1910.

A decadência da borracha, dentre outras conseqüências, provocou um êxodo

rural, pois a partir de 1912 a região amazônica viveu uma imensa crise no setor

gumífero, devido à concorrência com a borracha da Malásia. Tal fato veio repercutir na

falência de casas aviadoras instaladas nas cidades de Belém e Manaus e, por

conseguinte, da maioria dos antigos seringais nativos. Nesta época, muitos seringalistas

estavam em débitos com as casas aviadoras, e devido aos baixos preços pagos pelo

produto, não conseguiam sanar suas dívidas. (CAVALCANTI, F. 1983).

Martinello (1988, p. 208), ressalta sobre a queda considerável da população no

período de 1920 a 1940, afirmando:

Durante os anos de 1920 e 1940, a queda nos preços da borracha e a desarticulação da produção fizeram com que grande quantidade de migrantes nordestinos que aqui estavam trabalhando na produção deste produto, emigrasse para as suas regiões, onde é neste período que o estado perde considerável parte de sua população, fato que se deu devido às estiagens cíclicas e pelas crises que afetaram a região e a concorrência do produto com os mercados sendo que em 1920 existiam 92379 pessoas e em 1940 apenas 79768. Os que aqui permaneceram se voltam para o cultivo de pequenas lavouras, iniciando neste período a pequena produção no Acre, pois a queda dos preços da borracha, iniciada em 1912, contribuiu para que surgisse a produção de uma pequena agricultura familiar, embora esta atividade não fosse desenvolvida em grande escala.

Com os plantios sistemáticos de seringueiras na Malásia e os resultados obtidos,

a borracha da região amazônica conheceu um forte declínio, mas nem por isso as casas

aviadoras foram desativadas.

Page 17: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

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O Governo Federal, vendo toda essa crise e temendo piores resultados, cria o

Plano de Defesa da Borracha, em 1912, visando estimular a produção e industrialização

do produto na própria região, mas esse plano não foi bem sucedido, durando apenas um

ano, devido à situação financeira do país, além da própria concepção do mesmo que

estabeleceu metas por demais ambiciosas aliadas à escassez de capital e recursos

humanos. (CAVALCANTI, T., 1994, p. 10 apud CEDEPLAR: 1979, b).

No ápice da 2ª Guerra Mundial, a atividade extrativa tem um novo impulso

devido a invasão dos seringais asiáticos e a interrupção da concorrência que o produto

brasileiro vinha sofrendo. E os Estados Unidos, sabendo do enorme potencial gumífero

da região amazônica, comanda alguns trabalhos juntamente com empresas norte-

americanas com o objetivo de reativar a comercialização do produto, tendo para isso

que recrutar homens de outras regiões do país. (OLIVEIRA, 1982).

Ainda sobre o assunto, Oliveira (1982), enfatiza que foi nesse período que o

estado cresce demograficamente, pois com a chegado dos “soldados da borracha”3,

algumas estimativas indicam ter atingido a pelo menos 25 000 imigrantes no Acre.

De acordo com Cavalcanti, F. (1994, p. 10), “com a deflagração da II Guerra

Mundial em 1942 e com a ocupação dos seringais malaios pelos japoneses, o governo

americano firmou vários acordos com o Brasil que passaram à história com o nome de

‘Acordos de Washington’. Esses acordos visavam a recuperação dos seringais nativos, o

incremento da produção de borracha a ser fornecida aos aliados e os preços a serem

pagos à produção exportada”.

Com a efetivação do ‘Acordo’, fora criada em 1942, uma estrutura

administrativa encabeçada pelo Banco de Crédito da Borracha (BCB), objetivando

comercializar a borracha através de empréstimos aos seringalistas. Esse impulso que a

economia da borracha recebeu não durou uma década e o extrativismo entra novamente

em crise. Neste contexto, os seringalistas se encontravam em grandes dificuldades, pois

seus débitos cresciam junto ao banco. Em 1950, o Banco de Crédito da Borracha passa a

se chamar Banco de Crédito da Amazônia, objetivando desenvolver outras atividades e

atualmente Banco da Amazônia S/A (BASA) criado em 1966. (CAVALCANTI, T., op.

cit).

Page 18: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

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A Revolução Industrial veio impulsionar a região acreana para a crescente

fabricação de borracha, passando por um rápido, mas intenso desenvolvimento

econômico, haja vista que aqui se encontrava a maior reserva natural da Hevea

brasiliensis que despertava as atenções de grupos nacionais e internacionais. Da

segunda metade do séc. XIX até o final da primeira década do séc. XX a região foi

palco de intenso movimento de capital e trabalho, constituindo o chamado "ciclo da

borracha" caracterizado pela notável abundância de riqueza, sem, contudo, se

transformar em mudança e diversificação da base produtiva local, assim, o ciclo foi o

fenômeno econômico mais evidente que teve lugar na Amazônia. (MARTINELLO,

1988).

Sobre o período áureo da borracha, Oliveira (1982, p. 40) ressalta:

O período de auge da borracha não foi muito longo, onde é no período do pós-guerra e com a liberação das áreas asiáticas que haviam sido ocupadas pelo Japão, a borracha nativa refluiu para a sua posição anterior e uma grande parte dos ‘soldados da borracha’ emigram.

Diante disso, muitos destes seringueiros fugiram para terras bolivianas,

recebendo preços irrisórios pagos por suas terras, ou foram para os centros urbanos,

fortalecendo o processo de urbanização precária que, como resultado, fez surgir os

bairros periféricos de Rio Branco, com o crescimento de forma desordenada e sem

nenhuma estrutura para atender a demanda de pessoas oriundas do campo. (SEVÁ,

2002).

A reocupação acreana não foi um fenômeno simples e pacífico. Trata-se de lutas

intensas pela posse da terra, onde a partir da década de 60, os seringais começam a ser

desativados, passando estes a ser alvo de procura determinada pelos preços baixos em

que as terras poderiam ser adquiridas, favorecendo a aquisição de grandes extensões por

grupos vindos principalmente do centro-sul do país.

Podemos citar a título de exemplo, o grupo Bordon, Viação Garcia, Santana

Empreendimentos Agropastoris, Manasa, dentre outros, que foram atraídos não pela

atividade extrativa do látex, mas sim pelo preço irrisório a que as terras estavam sendo

3 Soldados da Borracha era a denominação dada aos homens que vieram de outros estados brasileiros, como Ceará, Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraíba e outros estados convocados pelo Presidente Getúlio Vargas nos anos de 1942 e 1943 para trabalharem no corte da seringa.

Page 19: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

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comercializadas, objetivando desenvolver a pecuária extensiva, fugindo das geadas do

sul, e, transformando os seringais em grandes propriedades agropecuárias. Oliveira (op.

cit, p. 42) enfatiza esta passagem dizendo que:

Assim é que, já em janeiro de 1967, no contexto da Operação de Valorização da Amazônia, o Governo Federal anunciou a suspensão da compra da borracha pelo Banco da Amazônia e nos anos seguintes assistiu-se a crescente insolvência de seringalistas, incapazes de pagar suas dívidas acumuladas junto ao Basa. Criava-se assim uma situação altamente favorável à penetração de novos grupos na economia acreana (e amazônica como um todo).

Como várias propriedades estavam vinculadas a débitos junto ao Banco da

Borracha, os seringalistas praticamente entregavam suas terras aos compradores do

centro-sul a preços baixíssimos, conseqüentemente, começavam as grandes penetrações

de fazendas e empresas agropecuárias do sul do país, que estavam preocupados apenas

com o desenvolvimento e exploração da pecuária extensiva, bem como a aquisição e

acúmulo de terras como reserva de valor, pois o que determinaram as suas aquisições

não foram os incentivos fiscais, e sim os preços de grandes extensões, onde o capital

comercial encontra suas condições de aplicação.

Destarte, nota-se posteriormente, não só a presença do seringueiro nordestino,

mas também do fazendeiro sulista, ocasionando uma concentração de terras nas mãos de

poucos e uma grande quantidade de pessoas sem terras para trabalhar, fortalecendo a

vinda destas pessoas para os centros urbanos.

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2 – O ESTADO E AS POLÍTICAS DESENVOLVIMENTISTAS

A década de 60 é marcada por intensas transformações na base econômica da

região. É nesse período que o Governo imprime um conjunto de políticas econômicas,

assumindo decisivamente a ocupação efetiva e nacional da Amazônia. (CAVALCANTI,

T. 1994).

Nesse período, o Estado passa a ser motivo de grandes implantações de empresas

privadas. De acordo com Cavalcanti, T. (op. cit, p.13 apud CEDEPLAR, 1979 b), “a

região passa a receber maior atenção, contando com um conjunto contínuo de planos de

desenvolvimento que a dotam de novos e poderosos instrumentos (econômicos,

financeiros, legais), que transformarão radicalmente o processo de ocupação

econômico-demográfica”.

O período pós-64, especialmente a fase de ascensão do ciclo econômico de

1968-1973, assinala um período de fortalecimento político nunca visto da burguesia

monopolista e de marcante influência nas políticas governamentais. (RÊGO, 2002, p.

287).

A inserção do capitalismo no campo se dá mediante o deslocamento do capital e

do fluxo de trabalhadores rurais para as terras acreanas, diante desse quadro de

incertezas e grandes desavenças provocadas pelo proletariado nas compras de grandes

extensões de terras a preços baixos, ocorre a concentração de grandes extensões de

terras nas mãos de poucos, onde conseqüentemente essa classe viria a ter a posse das

terras se transformando em grandes proprietários fundiários.

Sobre a intervenção do estado na expansão do capital monopolista, Rêgo (op.

cit), afirma que o capital se confronta com a ocupação das atividades tradicionais,

destarte a relação vigente não era uma relação capitalista, como a borracha, por

exemplo, que só beneficiava o seringalista, com a introdução do capital monopolista, a

burguesia mercantil extrativista é profundamente afetada pelo impacto do capital na

região. Assim, Rêgo (op.cit, p. 289) afirma que:

Os meios para atrair o capital compreendiam a instituição de incentivos fiscais e a reestruturação e adequação das agências governamentais para transformá-las em elementos propulsores do capital. Ao Estado, caberia o planejamento, a expansão da infra-

Page 21: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

21

estrutura econômica e social, a pesquisa de recursos naturais, as isenções fiscais e os incentivos financeiros para induzir a iniciativa dos capitais privados na indústria, agropecuária, agroindústria, comércio e serviços básicos rentáveis.

Um desses instrumentos de intervenção do estado na Amazônia foi a Operação

Amazônia, lançada pelo presidente Castelo Branco em 1º de novembro de 1966, visando

modernizar a economia regional de acordo com as relações capitalistas, substituindo a

economia extrativa, que era dominada pelo capital comercial pela concentração de

empresas multinacionais, fazendo com que a substituição de importações de bens

industriais fosse mais tarde concentrada na agropecuária e agroindústria. (RÊGO, op.

cit).

Sobre o assunto, Cavalcanti, T. (1994, p. 13 apud MAHAR, 1978) afirma que:

Com a mudança do governo em 1964, o desenvolvimento da Amazônia passa por uma nova fase política, caracterizada pelo desenvolvimento extensivo do capitalismo. Em 1965, o presidente Castello Branco cria uma comissão (Grupo de Estudos para a Reformulação da Política Econômica da Amazônia) encarregada de definir uma nova política de desenvolvimento para a Amazônia, bem como, os instrumentos necessários para sua implementação. O resultado desse trabalho foi a criação de um conjunto de leis aprovadas no final de 1966, conhecidas como ‘Operação Amazônia’ (1965 – 1967).

A presença da Operação Amazônia pode ser considerada o marco inicial da

grande investida de capital na região, atraindo a iniciativa privada, haja vista que a

intervenção do estado viria a fortalecer a mudança de um sistema que estava se

desfazendo e fortalecendo um sistema totalmente capitalista, definindo as bases para o

desenvolvimento. (RÊGO, op. cit).

Dentre algumas das criações objetivando desenvolver a Amazônia, Rêgo (op. cit,

p. 309), ressalta que houve a necessidade imediata de instituições expressivas para

atender às necessidades do capital comercial. Assim, podemos citar a SUDAM

(Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia), criada em 1966 em substituição

a SPVEA (Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia) de

acordo com a Lei n º 5173 de 27/10/1966. Este órgão veio a coordenar as ações do

Governo Federal na região, elaborando e executando planos e programas, criando

incentivos fiscais e financeiros para atrair capital nacional e estrangeiro para a região.

Page 22: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

22

2.1 – A política de colonização e o INCRA

Durante os primeiros anos da década de 70, a região acreana passa por inúmeras

transformações econômicas bastante visíveis, pois a partir desta data, a região começa a

ser ocupada por trabalhadores e empresários que, por sua vez, tinham como objetivo

desmatar nossas florestas para a formação de pastos, tornando-se o processo um desastre

do ponto de vista ambiental e econômico, prevalecendo apenas a ganância de seus

ocupantes, ocasionando, desta forma, o desenvolvimento da pecuária extensiva em

terras acreanas.

Desta maneira, a atividade extrativa da borracha sofre conseqüências imediatas,

como a limpeza da área a qualquer custo, com a destruição das poucas plantações e,

muitas vezes, a ocorrência de derrubadas até perto das casas dos moradores, e estes,

muitas vezes ficavam sem oportunidade de trabalho, aumentando o êxodo rural-urbano e

contribuindo para um aumento da marginalidade nas cidades que estavam se formando.

Sobre o assunto Cavalcanti, F. (1983, p.59), assinala que:

As terras que foram transferidas aos novos proprietários eram propriedades que os seringalistas perderam quando do seu endividamento junto ao principal agente financeiro da época, o BASA (Banco da Amazônia), sendo estas colocadas como única alternativa para saldar os crescentes débitos junto àquele agente, ocasionando a expulsão dos moradores tradicionais de suas colocações, pois estes não possuíam o título de propriedade, fortalecendo a formação de grandes propriedades, definidas por latifúndios, onde os seus novos proprietários procuravam desenvolver uma atividade que necessitava de grandes extensões favorecendo a formação de pastos para abranger a pecuária extensiva, derrubando milhares de seringueiras e castanheiras para dar lugar aos grandes pastos. O modo de exploração da agropecuária proposta e executada pelo Estado de forma criticável, ocasionou a destruição desenfreada da floresta, com fortes impactos negativos sobre o meio ambiente e a qualidade de vida da população residente.

Durante o governo Wanderley Dantas (1970 - 1974), as terras acreanas foram

motivos de grandes divulgações no resto do país, atraindo novos compradores, que além

de objetivarem desenvolver a pecuária tinham por trás um outro pensamento, o de

especulação da terra, comprando milhares de hectares a preços irrisórios e vendendo a

preços altíssimos, nunca se interessando em preservar a atividade inicial do

desenvolvimento da economia acreana, e sim em adquirir grandes extensões de terras,

Page 23: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

23

fazendo com que, em pouco tempo, a maioria dos seringais dos municípios acreanos

lhes pertencessem. Paralelo a esse processo de aquisição de terras surge o processo de

especulação fundiária, onde Silva, A. (1982), ressalta que esta foi a ‘mola propulsora’

do interesse da maioria dos compradores do centro-sul pelas terras do acre, objetivando

adquirir grandes extensões e revendê-las a preços extraordinários, proporcionando lhes

grandes lucros.

Ainda sobre o processo de mudança da atividade econômica, Silva, A. (op. cit),

ressalta que durante o governo Dantas, a pecuária foi considerada como atividade

economicamente importante, capaz de se constituir em atividade motriz do

desenvolvimento. Nessa época, Dantas fez um trabalho de propaganda em âmbito

nacional com o objetivo de chamar os empresários do sul do país, e, além disso,

elaborou planos para gerar condições necessárias para a implantação da pecuária no

estado, não se preocupando com a regularização fundiária das terras e os fatores edafo

climáticos que proporcionavam o desenvolvimento de tal atividade.

Há um consenso entre os pecuaristas sobre a existência de excelentes condições edafo climáticas no Acre para o desenvolvimento da pecuária. Um pecuarista de Presidente Prudente, que chegou ao Acre em 1972, considera que depois de Araçatuba (SP), Minas Gerais e Paraná, o Acre possui as melhores terras para a pecuária. Segundo ele, este Estado possui grandes vantagens para o gado engordar: clima quente o ano inteiro, não tem berne. O gado engorda até no verão, pois toma água duas vezes ao dia. Além disso, o verão é curto e o terreno argiloso, havendo umidade no solo durante o ano inteiro. (SILVA, A. 1982, p. 49).

O trecho acima se refere a uma entrevista concedida a Adalberto Ferreira da

Silva em sua obra intitulada: Raízes da ocupação recente das terras do Acre, quando

perguntou a alguns pecuaristas o motivo que os trouxeram para a região acreana,

reafirmando o período de inserção do capitalismo no campo, evidenciando apenas o

caráter meramente especulativo que culminou com a ocupação desenfreada de terras

improdutivas.

Sobre a desenfreada e desordenada ocupação das terras acreanas, Rêgo (2002, p.

320) ressalta a criação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

(INCRA), que fora criado de acordo com o Decreto Lei nº 1.110 de 09 de julho de 1970

durante o governo militar do Presidente Garrastazu Médici, como resultado da fusão do

Page 24: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

24

Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (IBRA) e o Instituto Nacional de

Desenvolvimento Agrário (INDA), devendo se encarregar de dirigir a colonização em

termos do Estatuto da Terra e de acordo com os propósitos do (PIN) Programa de

Integração Nacional.

Data de 1958 o início da construção da rodovia Br - 364 que liga o Acre e

Rondônia ao resto do país, cuja execução é uma das causas imediatas responsáveis pela

destruição de vastas áreas comandadas pelos projetos de exploração agropecuária

implementados na Amazônia Ocidental, coadjuvados pela implantação da política de

colonização desfraldada pelo Governo Federal sob os auspícios de um modelo de

desenvolvimento regional que visavam promover a integração da Amazônia ao espaço

econômico nacional e internacional. (CARVALHO, 2000).

Os projetos de assentamento, que caracterizam a política de colonização recente

da Amazônia, se baseiam em um tipo de exploração agropecuária que consiste na

completa destruição da floresta, através do desmatamento e queima para a formação de

lavouras e pastos, cuja produtividade tende a ser decrescente à medida que os anos vão

se passando após o início da exploração.

2.1.1 – Planos e Programas: a formação dos Projetos de Assentamentos Dirigidos -

PAD’s no Estado do Acre

O Governo Federal, objetivando acentuar uma divisão das terras e colonizar a

Amazônia, elabora vários planos e programas, criando estradas e projetos de

colonização agrária; resultando numa desordenada e acelerada ocupação da Amazônia.

Dentre eles, temos durante a década de 70, o estabelecimento do I Programa de

Integração Nacional (PIN), criado pelo Decreto Lei nº 1106 de 16 de junho de 1970, que

visava melhorar a expansão do capital e atenuar a crise do desemprego do nordeste e

centro-sul do Brasil, colonizando a Amazônia e aliviando as pressões do sul e

principalmente do Nordeste. Em curto prazo, esperava-se criar empregos para as

famílias nordestinas com a construção de estradas de leste para oeste, de forma a

amenizar a miséria da seca. Em longo prazo, diminuir as pressões sociais e

Page 25: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

25

demográficas com projetos de assentamento, favorecendo a ocupação amazônica.

(RÊGO, 2002).

De acordo com os incentivos dados pelo governo aos planos de desenvolvimento

na Amazônia, foram os projetos agropecuários que mais se beneficiaram com o PIN,

que fora instituído em 1970, fornecendo os recursos necessários para a construção de

cerca de 15.000 km de estradas, incluindo a Transamazônica, fazendo com que toda a

região norte do Brasil fosse integrada ao conjunto do sistema viário brasileiro,

providenciando os fundos necessários para a realização de assentamentos e sendo

também os maiores responsáveis pelos desmatamentos ocorridos na Amazônia,

promovidos tanto pelo poder público como pelos setores privados, mostrando que a

implantação de projetos agropecuários foi totalmente negativa, haja vista que as

peculiaridades regionais não foram levadas em conta. (CARVALHO, 2000).

Criado pelo Decreto lei nº 1106 de 16/06/1970, Rêgo (2002, p. 293) ressalta que

o PIN perseguia três objetivos básicos no que respeita à Amazônia:

a) A construção da Transamazônica, eixo rodoviário transversal, ligando o

Nordeste à Amazônia até a zona pré-andina, no Acre; e da Cuiabá-Santarém, eixo

longitudinal no sentido Norte-Sul, para conexão da região com o planalto central e o

Centro-Sul do país, permitindo a interligação com o sistema rodoviário interamericano.

b) A colonização oficial maciça em torno do eixo da Transamazônica: o

programa previa a implantação da colonização à base da pequena propriedade rural na

faixa contígua de dez quilômetros de cada lado da Transamazônica;

c) O levantamento dos recursos naturais da região, por meio do projeto Radar

da Amazônia (RADAM), obtendo cartas temáticas de sua topografia, cobertura vegetal,

geologia e geomorfologia, natureza e potencial dos solos, drenagem de superfície, etc.

Em 1971, complementando o I PIN, surge o Programa de Redistribuição de

Terras e Estímulo à Agroindústria do Norte e Nordeste (PROTERRA), criado pelo

Decreto Lei nº 1.179 de 06 de julho de 1971, objetivava criar condições de acesso à

terra para trabalhadores rurais e pequenos proprietários minifundiários, melhorando as

condições de emprego e de trabalhos rurais e promovendo a agroindústria no Nordeste e

na Amazônia. (RÊGO, 2000).

Page 26: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

26

Enfatizando o I PIN e o PROTERRA, foi fundamentado o I Plano Nacional de

Desenvolvimento (PND), plano que visava um desenvolvimento sócio-econômico da

região através da colonização das rodovias Transamazônica e Cuiabá-Santarém por

nordestinos e também outros colonos provenientes de outras regiões do país.

A decisão do governo em ocupar a Amazônia para desenvolvê-la e integrá-la ao

resto do país de acordo com Magalhães (1990, p. 23), como previa o I PND, provocou

grande impacto nacional e arrancou aplausos entusiasmados de muitos setores. Nesse

clima de euforia, ninguém pensava nas sérias conseqüências que os grandes

desmatamentos e a implantação da pecuária extensiva poderiam causar à região.

Sobre alguns dos fatores que contribuíram para o insucesso do I PND,

Magalhães (0p. cit., p.37 ), ressalta:

a) desconhecimento das peculiaridades regionais; b) abandono das atividades extrativas, que tinham importante papel na fixação do homem ao campo; c) a falta de técnicos conhecedores dos problemas regionais; d) as dificuldades de locomoção e de comunicação para os grandes centros; e) não aproveitamento do homem regional nas novas atividades econômicas que se tentava implantar; f) as deficiências de administrações locais.

Criado em 25 de setembro de 1975 pelo Decreto nº 74.607, durante o governo do

General Ernesto Geisel, o Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais da

Amazônia (POLAMAZÔNIA), foi um programa dirigido para a ocupação de áreas

desabitadas, privilegiando projetos agrominerais e agropecuários, incentivando grandes

proprietários nacionais e estrangeiros a ocupar as terras, gerando problemas fundiários.

(RÊGO, 2002). Sobre o POLAMAZÔNIA, Rêgo (op. cit, p.298-9), ressalta que:

O Estado decide, de fato reorientar a ocupação da Amazônia no sentido da grande empresa capitalista em detrimento da colonização oficial, com base na pequena propriedade familiar,... A política fundiária se orientaria para a regularização da propriedade da terra, com vistas ao desenvolvimento da agricultura empresarial e à colonização, visando apagar simplesmente os focos de tensão social.

Como essas políticas e programas desenvolvimentistas, criados e implantados

pelos Governos durante as décadas de 60 e 70, visavam, em geral, integrar a região

amazônica ao resto do país se fez necessário a construção de uma rodovia federal

Page 27: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

27

interligando o estado às demais unidades da federação. Com isso, em fins de 1972, fora

construído o primeiro trecho da estrada Transamazônica, com 1200 km de extensão.

Como perspectivas para os assentamentos, estes programas visavam assentar os

excedentes nordestinos, ou seja, pessoas que objetivando apenas fugir das suas tristes

realidades, encontravam na Amazônia o refúgio para a sobrevivência de suas famílias.

Estes programas criados pelo Governo Federal, objetivando colonizar e ocupar a

Amazônia trouxeram grandes e sérios problemas ambientais, pois ocasionaram uma

ocupação não sistemática da terra, colaborando com o desenvolvimento de atividades

que envolviam o desmatamento da floresta e, conseqüentemente, a formação de grandes

pastagens, modificando a forma de uso da terra.

2.2 – Os PAD’s - Projetos de Assentamento Dirigidos: formas e objetivos

Em meados de 1964, e dado o agravamento da crise do setor extrativista

gumífero, era visível a contraposição dos trabalhadores rurais com o governo. Com este

cenário, os seringueiros lutavam para que ocorresse o fim dos latifúndios e se fizesse

uma distribuição de terras, pois o quadro era de total insatisfação por parte das

populações tradicionais. Assim, os projetos de assentamento foram criados na tentativa

de amenizar as tensões sociais que já predominavam e que já eram visíveis.

E é nesse contexto de intrigas, objetivando amenizar as grandes especulações

fundiárias que já se faziam presentes em nosso estado e posteriormente regularizar os

assentados, que foram criados os Projetos de Assentamento Dirigidos (PAD’s), os

mesmos foram idealizados a partir de um estudo realizado em 1971, intitulado

Metodologia para Programação Operacional dos projetos de Assentamento de

Agricultores, o qual tinha com finalidade primordial:

(...) definir a política de ação adotada pelo INCRA em relação aos projetos de criação de unidades Agrárias ou de Assentamento e lançar uma base para racionalizar a execução destes projetos, face a uma perspectiva de colonização e de reforma agrária compatível com a realidade brasileira. (INCRA, 1971, p. 05 apud, SOUZA, 2002 p.8).

Page 28: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

28

Quando da elaboração de um Projeto de Assentamento Dirigido o INCRA

participava da execução direta de seis programas básicos, quais sejam: distribuição da

terra, organização territorial, organização administrativa do projeto, organização do

assentamento, organização das atividades agrícolas e promoção da execução de obras de

infra-estrutura. (CARVALHO, 2000, p. 108).

A criação dos PAD’s está ligada diretamente ao INCRA que não tinha, em seu

programa, planos para a implantação e desenvolvimento dos mesmos no Estado. Os

PAD's foram implementados no Estado do Acre, pelo Governo Federal, em meados da

década de 70, objetivando diminuir as tensões sociais existentes e assentar o excesso de

pessoas oriundas de outras regiões do país. A implantação dos projetos no Estado é

resultado direto de uma política de colonização, voltado para conter o fluxo migratório

regional. (CAVALCANTI, T. 1994).

O Governo Federal, entre 1976 e 1981, desapropriou no Acre um total de

990.944 ha de terras, objetivando resolver conflitos entre proprietários e posseiros e

implantar projetos de assentamento dirigido. A tabela 1 mostra tais desapropriações

realizadas no Estado do Acre:

Tabela 1 - Desapropriações de Terras no Acre entre 1976 e 1981

Ano

Gleba

Município

Área (ha)

1976 ______ Sena Madureira 292.000

1976 ______ Rio Branco 408.000 1980 Seringal Catuaba Rio Branco 33.600 1980 Seringais Quixadá,

Belmonte e São João Brasiléia 54.112 1980 Fazenda Santo Antônio Rio Branco 10.000 1980 Seringal Porvir Novo Xapuri e Brasiléia 29.386 1980 Seringal Santa Quitéria Brasiléia 71.985 1980 Seringal Humaitá Rio Branco 63.861 1981 Seringal Belo Horizonte Cruzeiro do Sul 28.000

TOTAL

990.944

Fonte: INCRA – Coordenação Especial da Amazônia Ocidental apud Rêgo (2000 p. 341).

Nas áreas desapropriadas foram implantados 5 (cinco) Projetos de Assentamento Dirigidos, são eles:

Page 29: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

29

PAD Pedro Peixoto (1977) - Abrangendo os municípios de Rio Branco,

Senador Guiomard, Plácido de Castro e Acrelândia, com uma área de 317.588

hectares;

PAD Boa Esperança (1977) - Abrangendo o município de Sena Madureira,

com uma área de 275.646 hectares;

PAD Quixadá (1981) - Abrangendo o município de Brasiléia, com uma área de

76.447 hectares;

PAD Santa Luzia (1981) - Abrangendo o município de Cruzeiro do Sul, com

uma área de 69.700 hectares;

PAD Humaitá (1981) - Abrangendo o município de Rio Branco, com uma área

de 63.861 hectares.

O INCRA, juntamente com vários outros órgãos, tinha como objetivo um

planejamento, estruturação e liberação de áreas onde deveriam ser assentados

produtores rurais sem terras, regularizando-as posteriormente junto ao órgão competente

(CARVALHO, 2000).

O governo estadual, quando da regularização dos PAD’s, não atentou para as

características do solo acreano, não havendo uma preocupação em relação às suas

condições climáticas, desde o acesso aos ramais para o escoamento da produção às

políticas governamentais para o “sucesso” e realização da produção.

2.3 - O PAD Pedro Peixoto e suas características

Com a construção da rodovia BR 364, interligando diversos estados e com a

implantação dos projetos de assentamento, o PAD Pedro Peixoto teve sua implantação

com início em janeiro de 1978, sendo considerado o segundo maior projeto em todo o

Brasil e o maior em todo o Estado do Acre. Quanto à sua localização, o Projeto está

localizado na regional do Baixo Acre, perfazendo uma área total de 317.588 hectares,

com capacidade para assentar 4025 famílias, localizado numa área que abrange os

municípios de Rio Branco, Senador Guiomard, Plácido de Castro e Acrelândia, tendo

sua sede no município de Senador Guiomard, localizado no Km 61 da Br-364, sentido

Page 30: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

30

Rio Branco – Porto Velho, perfazendo uma média por família de 79 hectares. A sua

implantação constituiu-se no marco inicial de um programa de colonização do INCRA

no Acre. (CARVALHO, 2000).

Ainda sobre a criação do PAD Pedro Peixoto Carvalho (op. cit.) ressalta que

tanto o PAD Pedro Peixoto como o PAD Boa Esperança, são oriundos da

desapropriação ocorrida em 1976, onde uma área de 408 mil hectares era destinada ao

PAD Pedro Peixoto, no município de Rio Branco e 292 mil hectares eram destinados ao

PAD Boa Esperança, no município de Sena Madureira. Ambos foram criados pela

reunião do Conselho Diretor do INCRA em 31 de outubro de 1977, visando conter o

fluxo migratório oriundos do sul do país. Ainda sobre a criação do Projeto, ressaltamos

que a sua criação foi regulamentada pela Lei n° 4.914/63 do Estatuto do Trabalhador

Rural e pelo Decreto nº 59.428/66.

Oficialmente implantado em 1977, o PAD Pedro Peixoto visava assentar

inicialmente 3.000 famílias originárias da própria região e selecionadas entre o

contingente de seringueiros e migrantes de outras regiões, constatou-se que no período

de sua implantação, a maioria dos moradores era provenientes de outros estados, em sua

grande maioria das regiões sul e sudeste do país. (CARVALHO, op. cit).

Quando da elaboração do PAD, o INCRA tinha em mente algumas metas principais, são elas: criação de oito centros comunitários dos quais sete são núcleos urbanos, dotados de infra-estrutura e lotes rurais destinados a produção de hortifutrigranjeiros para o abastecimento local; integração dos colonos na cooperativa local de produção e consumo; estabelecimento de um modelo de produção com o racional aproveitamento da parcela; utilização das linhas de crédito e a integração dos beneficiários ao sistema de produção nacional. (CAVALCANTI, F., 1994, p.32-3).

No auge do desenvolvimento do projeto, o capitalismo passa a dominar,

constituindo-se em um verdadeiro choque, uma profunda transformação na forma de uso

da terra, causando grandes tensões sociais, desigualdades entre os donos da terra e os

paulistas, pois este segundo, só se preocupava com a limpeza da área de qualquer

maneira, e é nesse quadro de intrigas e tensões sociais que o INCRA passa a atuar, com

o objetivo de apaziguar as partes envolvidas, tentando solucionar as contradições de

Page 31: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

31

uma região onde o desenvolvimento do capitalismo passa a expulsar os seringueiros do

campo.

2.3.1 – Formas de acesso e região de origem

Ao longo dos anos, alguns objetivos econômicos foram preconizados, e com

estes objetivos, tinha-se em mente um aumento dos índices sócio-econômicos da sua

comunidade, bem como uma melhor distribuição de terras onde o trabalhador estaria

sujeito a obter o título da posse das terras que cultivava. Dentre as formas de acesso ao

PAD, Carvalho (2000) afirma que 47,52% dos moradores possuem o título definitivo

das terras e 52,48% precisam ser tituladas de um total de 4066 parcelas4.

A titulação das parcelas, de um lado, e o fracasso da produção agrícola da área,

de outro, estimularam o nascimento de um mercado de terras dentro do PAD Pedro

Peixoto, propiciando um processo de reconcentração da terra, desvirtuando

completamente seus objetivos de criação. Para melhores esclarecimentos sobre a

política fundiária do INCRA na região do Acre e seus desdobramentos ver Paula (2003).

De acordo com dados da Embrapa Acre (1994), a análise dos produtores

segundo a região de origem, revela que atualmente predominam produtores originários

da região norte 36%, sudeste 24%, nordeste 23%, sul 14% e centro-oeste 3%. Neste

caso, observa-se uma população com valores culturais diversificada, que, sem o apoio

do Estado e interagindo com as precárias condições da região, tais como: insalubridade,

dificuldade de acesso, falta de transporte na comercialização da produção, além da

escassez de recursos e de tecnologias socialmente adaptadas, podem ter influenciado no

sistema de produção vigente, que reflete no acelerado processo de derruba, queima e

degradação dos solos, enfim, a utilização de modelos de exploração não sustentáveis.

4 Cada parte em que se divide a terra própria para a atividade rural. (HOUAISS E VILLAR, 2001).

Page 32: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

32

Figura 1 – Região de origem dos residentes no PAD Pedro Peixoto

Produtores residentes no PAD Pedro Peixoto segundo a região de origem

36%

23%

24%

14% 3%

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Fonte: Embrapa Acre, 1994.

2.3.2 – Idade média dos produtores

Em relação à idade média dos produtores, a Embrapa Acre (1994), afirma que é

de 45 anos. Tal fato, associado aos problemas de insalubridade, limita a capacidade de

trabalho do colono na prática de atividades que exigem grande esforço físico. Portanto,

a idade é uma variável que influencia na escolha do sistema de produção. Ressalta-se

ainda que em 63% das propriedades residem menos de seis pessoas (incluindo crianças).

Figura 2 – Idade dos produtores residentes no PAD Pedro Peixoto

Produtores residentes no PAD Pedro Peixoto, segundo idade

12%

26%

25%

23%

15%

Até 30 anos De 30 a 40 anos De 40 a 50 anos

De 50 a 60 anos Mais de 60 anos

Fonte: Embrapa Acre, 1994.

Portanto, é de fundamental importância que se considere a idade do usuário no

desenvolvimento das tecnologias, caso contrário haverá risco de excluir alguns

Page 33: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

33

agricultores, mantendo-los na prática de uma agricultura itinerante, associada à

exploração extensiva da pecuária. (Embrapa Acre, 1994).

2.3.3 – Distância média e nível de escolaridade

A distância média dos lotes em relação à cidade mais próxima é de 38 km e em

relação à rodovia mais próxima, a média apresentada é de 13 km. A força de trabalho

empregada está composta em sua maioria por membros da própria família, sendo que 87

% da força de trabalho empregada são adultos e 13 % são adolescentes, apresentando

uma média de idade respectivamente de 35 e 12 anos. (RÊGO, 1996).

Quanto ao nível de escolaridade, Carvalho (2000, p. 124) constata-se que o

subsistema pecuário, com relação à educação formal, vive uma situação razoável, pois

21,8% dos parceleiros têm mais de quatro anos de escola e 49% estudaram da 1ª a 4ª

séries do 1º grau. Os analfabetos representam 8% dos casos, situação esta que favorece

o desenvolvimento do sistema agropecuário, devido a força de trabalho se tornar

comum entre os membros da família, já que mais de 91% das UPF's utilizam como

força de trabalho para o desenvolvimento da atividade pecuária membros da família.

2.3.4 – Área média e área desmatada

Em relação à área média encontrada no PAD, Cavalcanti, T. (1994, p. 58),

ressalta que a área média do lote encontrada em 1984 era de 72,18 ha e as áreas mínima

e máxima foram de 50 e 150 ha, respectivamente. No ano de 1991, a área média

encontrada foi ligeiramente menor, de 71,47 e a mínima de 21,5 ha. A área máxima

manteve-se inalterada.

Page 34: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

34

Tabela 2 – Tamanho médio das áreas no PAD Pedro Peixoto

Anos Área Mínima (ha) Área Média (ha) Área Máxima (ha)

1984 50 72,18 150

1991 21,5 71,47 150

Fonte: Cavalcanti, T. 1994, p. 58.

De acordo com dados do ZEE (2000, p. 89), ocorreu no período de 1984–1996

um aumento na taxa anual de desmatamento e, conseqüentemente, na área total

desmatada, que projeta um aumento crescente e linear para os próximos 10 anos. Em

1992-1996, pode-se observar o avanço da área desmatada de forma generalizada sobre a

floresta, através de ramais de penetração e em colocações de seringueiros vizinhas ao

assentamento, indicando um aumento da taxa anual de desmatamento neste período, que

atingiu cerca de 2.6% ao ano.

Figura 3 - Área desmatada no PAD Pedro Peixoto

Área Desmatada no PAD Pedro Peixoto

10%

16%

23%

34%

0%

10%

20%

30%

40%

1984 1987 1992 1996

Fonte: Embrapa Acre, 1999 apud ZEE, 2000, p. 89.

Na figura 3, de acordo com dados da Embrapa Acre, 1999 apud ZEE, 2000, p.

89, percebe-se que em 1984, a percentagem da área desmatada chegava ao ínfimo índice

Page 35: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

35

de 10%, já em 1996, esse índice mais do que triplicou. Dessa maneira, pode ser

verificado que o aumento da área desmatada se dá em função do desenvolvimento da

atividade pecuária.

Em pesquisa realizada através de sensoriamento remoto pelo Instituto Nacional

de Pesquisas Espaciais (INPE) e outros órgãos, cobrindo uma área de 3.744 quilômetros

quadrados sobre a forma de uso das terras do PAD, foram observados, ao longo da

década de 90, algumas alterações, que podem ser citadas em função da baixa

produtividade que, aliadas aos solos pobres em nutrientes, obrigam o pequeno agricultor

a abrir novos roçados em áreas de florestas primárias, através do processo de derruba e

queima (LORENA et al.).

2.3.5 – Atividades agrícolas desenvolvidas

Em relação às explorações econômicas recomendadas pelo INCRA e contidas no

antiprojeto do PAD Pedro Peixoto a fim de serem desenvolvidas na área do projeto, T.

Cavalcanti (1994, p. 31), ressalta que foram as seguintes: a) Extrativismo - tendo em

vista o potencial de seringueiras, castanheiras e madeiras em geral; b) Agricultura - com

base na tradição agrícola da região e solos favoráveis. Entre as culturas recomendadas

destacam-se os do arroz, feijão, milho, mandioca, hortaliças (culturas temporárias),

seringueira, café, cacau, guaraná e cítricos (culturas permanentes); c) Pecuária - para

atender as famílias com produtos de origem animal e para trabalhos diversos”. As

principais culturas desenvolvidas são arroz, milho, feijão, mandioca, café e banana;

muitos destes produtos são consumidos pela própria família devido as dificuldades

encontradas em relação ao escoamento e comercialização.

Algumas práticas culturais são desenvolvidas no cultivo de lavouras anuais

pelos produtores, quais sejam: preparo da área, no período de junho a setembro; plantio,

nos meses de setembro e novembro: tratos culturais, de outubro a janeiro; e colheita,

realizada entre os meses de janeiro a fevereiro, no caso do arroz; de janeiro a maio, para

o milho; e os meses de maio a novembro para a mandioca. No cultivo do feijão, o

preparo da área é realizado em março/abril; o plantio em abril e alguns no começo de

Page 36: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

36

maio; os tratos culturais de abril a junho; e a colheita em junho/julho. (ZEE, 2000, p.

93).

O capim que domina a formação de pastos no PAD Pedro Peixoto, conforme

Carvalho (2000, p.128), em sua maioria são constituídas de Brizantão (71,75%),

Brachiaria (10,62%) e do Braquiarinha (8,57%). Observou se ainda a presença de uma

leguminosa que é muito importante na recuperação de solos, é a pueraria (Pueraria

phaseoloides), sendo uma boa opção no tocante ao aumento da qualidade do pasto.

Além da expansão da criação de gado no projeto, o aparecimento de plantas invasoras é

um fato, concorrendo com o capim do qual o gado se alimenta, fazendo com que o solo

se torne cada vez mais pobre, frágil e, assim, os seus nutrientes tendem a desaparecer.

Este fato começa a ocorrer geralmente a partir do 2º ano, já no 3º ano a produtividade é

tão baixa que o cultivo se torna inviável, dessa maneira, o desmatamento de áreas

virgens para a formação de novos pastos é um fato, onde predomina o plantio de capins

comumente utilizados em solo acreano, o Brizantão e a Brachiaria. O único trato que as

pastagens do projeto recebe é a limpeza, fazendo parte das etapas desse trato a queima

do pasto saturado (feito a cada 16 meses) e a roçagem (feita a cada dois anos).

Em muitos casos, observou se que o desenvolvimento da agricultura itinerante se

faz presente, onde ocorre o seguinte processo: após a derrubada e queima da floresta

primária, efetua-se o plantio de culturas anuais, como o feijão, milho, arroz e mandioca,

destinando a produção prioritariamente para o consumo próprio e o excedente,

destinado à comercialização. Após dois ou quatro anos de cultivo, os agricultores

geralmente abandonam a área inicial, devido a fatores como o empobrecimento químico

do solo, aumento da resistência do solo, surgimento de plantas invasoras, ocorrência de

pragas e doenças etc. Esta área é deixada em pousio5, para depois, em ciclos que variam

de 5 a 10 anos, serem novamente derrubadas e queimadas, para implantação de culturas

anuais, pastagens ou culturas perenes. Com o tempo, as áreas de pastagens evoluem

novamente para florestas secundárias, retornando ao ciclo de derrubada e queimada.

(ZEE, 2000, p. 88).

5 Consiste no descanso da área, interrompendo o cultivo por um ou mais anos, denominamos esta área de capoeira.

Page 37: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

37

2.3.6 – A pecuária no PAD Pedro Peixoto

Neste tópico, iremos enfatizar a atividade pecuária que predomina no PAD

Peixoto, ressaltando que o seu desenvolvimento está ligado diretamente às

características predominantes no solo acreano. Esta atividade, ao contrário das demais é

desenvolvida de inverno a verão.

Ainda sobre a atividade, Carvalho (2000, p. 129) ressalta que toda atividade

agropecuária segue uma seqüência mais ou menos invariável de procedimentos

rotineiros chamados de manejo6. No subsistema pecuário do projeto, o plano de manejo

obedece, esquematicamente aos seguintes passos: preparo do solo, plantio da pastagem,

tratos culturais, manejo dos animais e a ordenha. Já o uso do solo, segue o arranjo

cronológico abaixo:

o culturas temporárias: dois anos;

o pastagem: seis anos;

o pousio (capoeira): três anos.

De acordo com Carvalho (op. cit.), o desenvolvimento da atividade pecuária no

PAD é limitado pela infestação das pastagens com plantas invasoras que concorrem

com as gramíneas na retirada dos nutrientes do solo, tornando-o cada vez mais pobres

em termos de fertilidade.

O fato de que as queimadas já se tornaram uma constante naquela região,

assumindo valores superiores ao permitido 20%7, se faz perceber que os objetivos

iniciais foram totalmente distorcidos, não objetivando desenvolver culturas permanentes

na maioria dessas áreas, e sim a formação de pastagens, onde alguns colonos fazem a

divisão de suas áreas em média de cinco pastos que com a implantação de cercas

elétricas, podem facilmente aumentar a produtividade em suas terras, servindo o gado

como reserva de valor.

Sobre a área destinada à pecuária no estado, Cavalcanti, T. (1994, p. 24),

enfatiza que houve um crescimento acentuado, passando de 338 mil hectares em 1970

6 Manejo é a execução de atividades e o emprego de materiais pelo produtor seguindo certas normas técnicas.

Page 38: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

38

para l.733 mil hectares em 1980. Isso vem a mostrar que o solo não favoreceu o

desenvolvimento tão acentuado de culturas perenes, não permitindo que o estado

diminua a sua importação de produtos necessários à subsistência.

No tocante aos cuidados com os animais, Carvalho (2000), afirma que 90% dos

produtores utilizam a mineralização do rebanho e a prática de vacinação também

acontece em aproximadamente 70% do rebanho bovino daquele projeto.

Os pastos são formados através do método tradicional, ou seja, a etapa da

derruba seguida da queima, que aliada ao crescimento bovino e sem a adoção de

tecnologias que aumentem a produtividade e prolonguem a vida útil dos pastos, logo

existe a necessidade de aumento das áreas desmatadas.

Diante do exposto e como será analisada nos próximos capítulos, a atividade

pecuária no projeto é bastante difundida dentre as famílias que ali residem, ocupando

destaque em relação às demais culturas, sendo considerada uma atividade que nunca

para, sendo desenvolvida a qualquer época do ano, gerando resultados para os

parceleiros.

7 Medida provisória nº 1511 de 25/07/1996, que reduzia a área de corte raso de 50% para 20% das propriedades na área Amazônica.

Page 39: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

39

3 - CARACTERIZAÇÃO DA METODOLOGIA: O PROJETO ASPF E SEUS OBJETIVOS

A metodologia adotada tem como base de estudo o Projeto Análise Econômica

dos Sistemas Básicos de Produção Familiar Rural do Estado do Acre (ASPF),

desenvolvido, desde 1996, pelo Departamento de Economia da Universidade Federal do

Acre – UFAC.

Concebido por Rêgo (1996), o Projeto ASPF tem como um de seus principais

objetivos proceder a análise econômica e comparar o desempenho dos três sistemas

básicos de produção familiar, que foram determinados em consonância com a existência

das populações tradicionais, que são: agrícola, extrativista e o agroflorestal,

determinando os seus custos de produção e os resultados econômicos, mediante

metodologia específica, conhecendo a realidade dos produtores e propondo alternativas

econômicas que contribuam para o desenvolvimento sustentável local.

O estudo de caso tem como base o sistema agrícola, que acordo com Rêgo (op.

cit), é uma combinação de culturas anuais alimentares (arroz, feijão, milho e mandioca)

com a criação de animais, principalmente bovinos, podendo ser caracterizado com

sistema de cultivo múltiplo. Organizado na forma de produção familiar, caracteriza-se

por um grande uso de força de trabalho principalmente familiar e pelo uso ainda

limitado de insumos modernos e baixa eficiência econômica.

3.1 – Amostra

Esta monografia trabalha com os dados levantados pelo Projeto ASPF no PAD

Pedro Peixoto no período 1996/978. Optamos por analisar os dados referentes à área do

PAD Pedro Peixoto, que além de abranger o município de Rio Branco, abrange também

outros municípios, cujo levantamento integral não seria possível no âmbito desta

pesquisa para monografia.

8 Os municípios pesquisados na primeira etapa foram: Xapuri, Brasiléia, Assis Brasil, Acrelândia, Plácido de Castro, Rio Branco, Senador Guiomard, Porto Acre, Sena Madureira e Vila Califórnia pertencente a Rondônia. A escolha destes municípios como delimitação espacial obedeceu a um critério de logística, pois a falta de acesso via terrestre aos municípios que compunham o vale do Juruá tornava muito onerosa uma pesquisa que atingisse todo o estado. Somente em 2001, o Projeto ASPF estabeleceu os primeiros contatos com a região do Juruá, concluindo a pesquisa de campo em 2002. (SALDANHA, 2003, p. 48).

Page 40: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

40

De acordo com dados fornecidos pelo Projeto ASPF, foram entrevistadas 99

famílias, perfazendo uma área média encontrada para cada lote de 68,35 hectares.

Os ramais em que foram realizadas as entrevistas são: Ramal 8, 16, 20, 80, 85,

86, 400, 401, Enco, boa Esperança, Catarina, Catuaba, Granada, Igarapé Seco, L,

Mendes Carlos, Mendes Carlos II, Nabor Júnior, Nova Aldeia, Novo Horizonte, Oco do

Mundo, Olho d’água, Paraná, Reserva Nabor Júnior, São Francisco e São José.

3.2 – Objeto de investigação

Para o estudo realizado pelo ASPF e para o desenvolvimento deste trabalho,

adotou se como objeto de investigação a pequena produção familiar, onde o foco de

estudo se volta para a unidade de produção familiar, determinando os custos de

produção referentes ao desenvolvimento da atividade pecuária, sendo observados os

valores gastos pelos pequenos produtores depois que os produtos já foram gerados, ou

seja, uma análise ex-post, compreendendo um período de 12 meses, considerando o ano

agrícola dos produtores daquela região, período este compreendido entre maio de 1996 a

abril de 1997, pois o ciclo produtivo de algumas culturas passa de um ano para outro,

não podendo ser adotado como referência para a pesquisa o ano civil.

Analisaremos os custos de produção para o desenvolvimento da atividade em

questão observando-se que o uso da força de trabalho familiar predomina entre os

demais fatores de composição destes custos.

A análise econômica ex-post aqui levada a cabo consiste no dimensionamento

das entradas, que são os fatores de produção e das saídas, que são os produtos e

resultados de cada sistema de produção estudado. Compreende a determinação ex-post

dos custos de produção e das medidas de resultado econômicos que são o resultado

bruto, os resultados líquidos e os índices de eficiência ou relação, sendo fundamentais

para a determinação do desempenho econômico do sistema de produção.

Os resultados obtidos são baseados no salário mínimo vigente na época da

pesquisa, ou seja, o equivalente a R$ 120,00 (cento e vinte reais). Não se reportando à

pesquisa somente aos preços da capital Rio Branco, mas também dos municípios onde a

pesquisa fora realizada, perfazendo a média dos preços.

Page 41: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

41

3.3 – Unidade de Produção Familiar – UPF

Entendemos por Unidade de Produção Familiar (UPF), a família, organização

econômica e social capaz de produzir dentro de sua área determinados produtos

necessários à sua sobrevivência e em alguns casos, destinados à comercialização.

Lima e outros (1995 apud TEDESCO 2001, p. 63) descrevem unidades de

produção familiares como unidades essencialmente distintas da empresa capitalista

típica. Pois, a partir de uma base material e social específica e da forma como se

inserem no meio físico e sócio-econômico, buscam se reproduzir social e

economicamente, organizando e realizando a produção basicamente através da força de

trabalho familiar.

É na chamada UPF que os membros da família desenvolvem a agricultura, seja

destinada ao autoconsumo e ou à comercialização. Sandroni (1999, p. 18), define a

agricultura como atividade produtiva integrante do setor primário da economia.

Caracteriza-se pela produção de bens alimentícios e matérias-primas decorrentes do

cultivo de plantas e da criação de animais, sendo considerada agricultura extensiva

quando a terra é o fator fundamental.

Nesse aspecto, a agricultura familiar pode ser entendida como aquela em que os

membros da família participam do processo produtivo, estando presente em todo o

mundo.

Tedesco (2001, p. 62) ressalta que:

A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação – FAO – e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA (1996) definem a agricultura familiar com base em três características: a gerência da propriedade rural é feita pela família; o trabalho é desempenhado na sua maior parte pela família; os fatores de produção pertencem à família (exceção, às vezes, a terra) e são passíveis de sucessão em caso de falecimento ou aposentadoria dos gerentes.

Destarte, torna-se notável que o agricultor familiar tem na terra a sua principal

fonte de renda, onde a força de trabalho utilizada é por membros da família, exceto em

algumas épocas do ano onde a contratação de terceiros se tornam indispensáveis para o

desenvolvimento da atividade agrícola.

Page 42: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

42

3.4 - Determinação dos custos de produção das UPF’s

Denominaremos Custo de Produção a soma de todos os custos originados na

utilização de bens materiais (matéria-prima, força de trabalho e amortização de

máquinas, patentes, gastos diversos) de um produtor na elaboração de seus produtos.

Entendemos por Custo Total de Produção (CT) todos os encargos suportados

pelo agricultor para obter o produto, quando se trata de custo completo, ou seja, a soma

das despesas de exploração com o total de juros normais de todos os capitais utilizados

necessários para que todas as linhas de exploração se estruturem dentro de uma unidade

de produção, compreendem a soma dos custos fixos e a soma dos custos variáveis.

Sendo:

CT = CF + CV

Os Custos Variáveis (CV) são aqueles que variam de acordo com o nível de

produção da unidade (adubos, combustíveis etc.)

Os Custos Fixos (CF) são aqueles que não variam com a quantidade produzida

(juros sobre o capital empatado, imposto fixos, seguros, a parte da alimentação que é

utilizada na manutenção dos animais, as despesas de arrendamento etc.), tendo sua

magnitude independente do volume de produção, sendo determinados pela fórmula:

CF = CFe + CFc,

Então, os custos totais constituem:

CTs = CFe +CFc + CV

Fazendo CFe + CV = Ce

CTs = Ce + CFe

Sendo:

CTs = Custos Totais do sistema de produção;

CV = Custos Variáveis;

Page 43: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

43

CFe = Custos Fixos específicos; que são relacionados com uma linha de

exploração;

CFc = Custos Fixos comuns; são os que referem-se a fatores aplicáveis a várias

linhas de exploração;

Ce = Custos específicos.

O Custo da força de trabalho familiar temporária de uma linha de exploração é o

gasto com a manutenção da força de trabalho familiar temporária de uma determinada

linha de exploração.

O Custo de juros sobre o capital circulante (próprio ou de empréstimo) da linha

de exploração são os dispêndios com o aluguel do capital dinheiro, sob a forma de valor

dos bens de produção com gastos imediatos nas atividades produtivas específicas.

Determinado pela fórmula:

(Cjcc)i = {(Cim)i + (Cmi)i + (Cftf)i + (Cfta)i + (Ctbs)i} *r * k

Sendo:

Cim = Custo de insumos e materiais;

Cmi = Custo do aluguel de máquinas e implementos de uma linha de

exploração;

Cftf = Custo da força de trabalho familiar temporária de uma linha de

exploração;

Cfta = Custo da força de trabalho temporária assalariada utilizada na linha de

exploração;

Ctbs = Custo de transporte, beneficiamento e outros serviços da linha de

exploração;

r = Taxa mensal de juros (custo de oportunidade do capital dinheiro na região).

k = Ciclo produtivo da linha de exploração (em meses).

Os Custos Variáveis Comuns do consórcio repartidos para a cultura K são

determinados pela fórmula:

Page 44: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

44

(CVcr)k= (CVccs) * (Pr)k * (VM)k / (Pr)1 * (Pr)2 *(VM)2 + ... +(Pr)k * (VM)k

+ ...+ (Pr)n * (VM)n

Onde:

(CVcr)k = Custos Variáveis comuns do consórcio repartidos para a cultura K.

(CVccs) = Custos Variáveis comuns do consórcio;

(Pr)k = Produtividade física da cultura em consórcio;

(VM)k = Valor unitário de mercado do produto k;

(Pr) (1,2,...,n) = Produtividade física das diferentes culturas integrantes do

consórcio;

(VM) (1,2,...,n) = Valor unitário de mercado dos diferentes produtos integrantes

do consórcio.

Os Custos de Transporte, beneficiamento e outros serviços da linha de

exploração são representados pelos custos que o produtor pago para usufruir serviços

para o desenvolvimento de suas linhas de exploração. Determinado pela fórmula:

(Ctbs)i = (Ct)i + (Cb)i + (Cs)i,

Sendo:

(Ct)i = Fi * Qt

(Cb)i = (Qb)i * Pb

Onde:

(Ct)i = Custo de transporte da linha de exploração;

(Cb)i = Custo de beneficiamento do produto;

(Cs)i = Custo de outros serviços da linha de exploração

Fi = Preço do frete por Kg do produto;

Qt = Quantidade (em Kg) transportada do produto;

(Qb)i = Quantidade beneficiada do produto;

Pb = Preço unitário do beneficiamento.

Os Custos da força de trabalho temporária assalariada são os gastos com a

contratação de trabalhadores temporários para o cultivo de uma certa cultura.

Dada a fórmula:

(Cfta)i = Qfta * Pf, onde:

Page 45: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

45

Qfta = Quantidade da força de trabalho assalariada utilizada (h/d) na linha de

exploração, é a quantidade de trabalhadores contratados;

Pf = Preço unitário da força de trabalho (preço/h*d) - É o preço de um único

trabalhador, por horas contratadas.

Custo de aluguéis de máquinas e implementos de uma linha de exploração são as

despesas com pagamentos, por um determinado tempo, de máquinas e materiais

indispensáveis à uma determinada cultura. Sendo determinados pela fórmula:

n

(Cmi)i = {(Ta)y * Py

y = 1

Onde:

(Ta)y = Tempo de aluguel em horas de uma máquina ou implemento y é o

tempo de utilização de um bem alheio, necessário para a realização de determinada

atividade valorizada a preço de mercado;

Py = preço/hora de uma máquina ou implemento y é o dinheiro (expressão

monetária), que se dá pela utilização de determinadas horas de uma máquina para a

realização de uma atividade;

Y = espécie de máquina ou implemento utilizado no processo.

Custo de juros de financiamentos para custeio - são os custos financeiros (juros,

IOF, etc.) que a unidade de produção tem para despesa de custeio.

Os Custos fixos específicos são os relacionados apenas com uma linha de

exploração.

O Custo de depreciação dos capitais fixos específicos da linha de exploração é a

avaliação em unidades de dinheiro da redução do valor ativo em conseqüência de

desgasta pelo uso de máquinas, equipamentos, etc., dentro da atividade em que o

produtor atua para obter determinado produto. Determinamos pela fórmula:

n

(Cdp)i = { Pnv)k/ (Vut)k

k = 1

Page 46: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

46

Onde:

(Pnv)k = Preço total de um capital fixo específico k novo, se caracterizando pela

expressão monetária que designa o valor de compra de equipamentos a serem

empregados na produção no ano inicial;

(Vut)k = Vida útil (em anos) de um capital fixo específico k , se caracterizando

pelo temo de duração de equipamentos (máquinas, instalações, etc.), destinados à

produção de um dado produto.

k = item de capital fixo específico, é um bem de produção duradouro capaz de

prestar a sua cooperação em um ato produtivo particular.

Custo de juros sobre um capital fixo são os custos do aluguel do dinheiro

investido na compra dos bens de produção duradouros que são ligados nas diferentes

linhas de exploração. Onde:

(Cjcf)m = {(Pnv)m / 2} * R

(Pnv)m = Preço total de um capital fixo comum novo é a expressão monetária

que designa o valor de compra de equipamentos a serem empregados nas diferentes

linhas de exploração no ano zero.

m = item de capital fixo comum é um bem de produção duradouro capaz de

prestar a sua cooperação em diferentes atos produtivos;

R = Taxa anual de juro (custo de oportunidade do capital dinheiro na região) é a

remuneração ao ano que o tomador de empréstimo deve pagar ao proprietário do capital

ou bem emprestado para ser desenvolvido em uma dada região.

Custo de conservação de um capital fixo comum é a avaliação em unidades de

dinheiro para manter em funcionamento os bens de produção normais que são em

diversas linhas de exploração. Obedecendo a fórmula:

(Cnc)m = {0,03 * (Pnv)m}

Custo da força de trabalho assalariada permanente (específica) são os gastos da

força de trabalho fixa de um determinado produto ou cultura, sendo determinado:

(Cftp)i = Qft * Pft , onde:

Page 47: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

47

Qft = Quantidade (em h/d) da força de trabalho permanente utilizada na linha de

exploração, sendo o número disponível de força de trabalho fixa, utilizada para a

obtenção de determinado produto.

Pft = Preço unitário da força de trabalho permanente (preço por h/d), é o preço

único pago, pela realização do trabalho por determinada força de trabalho permanente,

levando em consideração a quantidade de horas trabalhadas por dia.

Os custos fixos comuns rateados são os gastos cuja magnitude independe do

volume da produção, se referindo a várias linhas de exploração.

Os custos fixos comuns rateados para n culturas são os que se refere a fatores

aplicados a várias linhas de exploração do sistema de produção proporcional a

determinada cultura.

O autoconsumo corresponde ao valor do bem consumido com seus próprios

meios, sendo considerado como um índice de crucial importância na avaliação do

desempenho econômico. O preço unitário de bem de autoconsumo produzido é o valor

de um único bem consumido, esse preço é estabelecido pelos seus próprios meios de

produção, já os itens de bens de autoconsumo produzidos são os bens produzidos por

seus próprios meios de produção. Determinado pela fórmula:

n

AC = {(Qbcp)v * Pv}.

v = 1

(Qbcp) v = Quantidade de um bem de autoconsumo produzido v representa o

número de bens produzidos por seus próprios meios de produção;

Pv = Preço unitário de bem de autoconsumo produzido v representa o valor de

um único bem consumido, estabelecido por seus próprios meios de produção.

v = itens de bens de autoconsumo produzidos, são os bens produzidos por seus

próprios meios de produção.

Page 48: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

48

3.5 - Determinação das medidas de resultado econômico

Constitui-se nos índices que, dados os custos de produção, permitem medir o

desempenho econômico do sistema de produção. Conceituamos desempenho econômico

como a diferença entre os valores de saída e os de entrada, ou seja, as diversas relações

entre os valores de saída e de entrada e as flutuações dos valores de saída do sistema de

produção.

Entende-se por Resultado Bruto a Renda Bruta, ou seja, o valor da produção que

é destinada ao mercado, podendo ser global ou parcial, que se determina para o conjunto

da unidade de produção e para as linhas de exploração individuais, sendo um indicador

da escala da unidade de produção.

A Renda Líquida é o valor excedente apropriado pela unidade de produção

familiar, ou seja, a parte do valor do produto que fica com a unidade de produção

familiar depois de serem repostos os valores dos meios de produção, dos meios de

consumo e dos serviços (inclusive salários) prestados à produção. Neste sentido, ela

não consiste em todo o acréscimo de valor que o produtor familiar faz aos meios de

produção e de consumo, uma vez que a maior parte deste é apropriada por

intermediários na comercialização dos produtos e na compra de insumos e bens de

consumo. Dada a fórmula:

RL = RB - DE

A Renda Líquida é o primeiro indicador de eficiência econômica e das

possibilidades de reprodução da unidade de produção familiar.

Se RL é maior ou igual a zero, a unidade de produção familiar se reproduz sem

afetar o seu patrimônio.

Se RL é menor do que zero, a unidade de produção familiar só se reproduz com

perda de patrimônio.

Page 49: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

49

Despesas efetivas são todos os valores efetivamente retirados no patrimônio e

consumidos de fato no processo de produção.

Lucro de Exploração é o chamado lucro puro. É a fração da renda bruta que fica

disponível depois de o produtor ter pago todos os custos reais, de ter atribuídos as

remunerações julgadas normais (custos de oportunidade) aos fatores utilizados, mas não

pagos: o seu próprio trabalho (executivo e gerencial), o trabalho familiar, os seus

próprios capitais; e de ter reservado determinada quantia para fazer face a prováveis

riscos. È determinado mediante a fórmula:

LE = RB - CT

Margem Bruta é o valor monetário que fica disponível para a unidade de

produção familiar depois de serem pagos ou imputados todos os custos variáveis.

Proporciona ao produtor uma elevação do nível de vida da família do pequeno produtor

e, eventualmente, suposto um desempenho superlativo, conservar e repor capitais fixos;

permite comparar os desempenhos das linhas de exploração individuais, segue sua

determinação:

MB = RB - CV

Os Custos Variáveis incluem o custo real da força de trabalho, definido como o

valor dos bens de consumo comprados, embora não incluam o autoconsumo.

A Margem Bruta Familiar é o resultado líquido específico e próprio para indicar

o valor monetário disponível para a subsistência da família, inclusive uma eventual

elevação do nível de vida, se o montante for suficiente, a fórmula para a sua

determinação é:

MBF = RB - (CV - Vbcc) sendo:

Vbcc = Valor dos bens de consumo comprados.

A Margem Líquida Familiar é o parâmetro que indica a situação financeira da

unidade de produção familiar. È o valor monetário disponível depois de pagos os custos

Page 50: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

50

variáveis não incidentes sobre o consumo familiar e feitas as amortizações de

empréstimos. Dada pela fórmula:

MLF = MBF - AA

AA = Amortizações Anuais de empréstimos, é o custo necessário para substituir

os bens de capital, quando tornados inúteis pelo desgaste físico ou quando perde valor

com o decorrer dos anos de um determinado empréstimo.

Iremos expor a seguir as relações entre a Margem Bruta Familiar, a Margem

Líquida Familiar, a Renda Bruta e a jornada de trabalho desenvolvida pelos

trabalhadores, levaremos em consideração o salário mínimo vigente na época R$ 120,00

(cento e vinte reais).

a) Relação MBF/RB é a relação mais apropriada para mediar a eficiência

econômica da produção familiar, pois mostra que proporção de valor a unidade de

produção tornará disponível para a família por cada unidade de valor produzido. Em

outros termos, que percentagem de renda bruta a unidade de produção é capaz de

converter em margem bruta familiar.

b) Relação MLF/RB é a relação que indica a situação financeira da unidade de

produção. Uma unidade de produção familiar pode, momentaneamente, em virtude de

obrigações onerosas de empréstimos, ter um fraco desempenho financeiro e, ao mesmo

tempo, exibir uma eficiência econômica satisfatória.

c) Relação MBF/Qh/d é o índice de remuneração da força de trabalho familiar.

Mostra a quantia de margem bruta gerada por unidade de trabalho familiar (1 h/d = l

jornada de trabalho). O valor deve ser comparado com o preço de mercado da força de

trabalho. Será calculado por linha de exploração e para o conjunto da unidade de

produção. Qh/d = quantidade de força de trabalho utilizada no ciclo produtivo da linha

de exploração a quantidade total anual de força de trabalho familiar utilizada pela

unidade de produção.

MARKUP representa a margem de rentabilidade para o produtor, é a relação

entre o preço pago ao produtor no mercado menos o custo unitário sobre o custo

unitário, representado em percentual. A diferença indica o custo da distribuição física,

ou seja, quanto custa levar o produto de onde está armazenado até as mãos do

consumidor final, mais o lucro do produtor dos intermediários e varejistas.

Page 51: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

51

4 - ANÁLISE ECONÔMICA DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO DA PECUÁRIA

Como expomos na metodologia no capítulo 3, a presente pesquisa se reportou

aos dados levantados pelo projeto ASPF que entrevistou 99 famílias assentadas ao longo

do PAD Pedro Peixoto. Os resultados demonstram que a pecuária e seus subprodutos

são as atividades de maior destaque entre os pequenos produtores do Peixoto, revelando

que o tamanho máximo, mínimo e médio encontrados foi de 150, 01 e 9 cabeças

respectivamente. A seguir, apresentaremos os resultados da pesquisa, apresentando os

custos de produção e as medidas de resultado da atividade pecuária em comparação com

outras culturas desenvolvidas no PAD.

4.1 - Custos de produção da pecuária comercializada no PAD Pedro Peixoto

A análise dos custos de produção da pecuária foi realizada em concomitância

com os custos de outras culturas desenvolvidas pelas famílias do Peixoto, culturas estas

consideradas importantes para o sustento das famílias assentadas, tais como: arroz,

feijão, milho, dentre outras.

De acordo com a tabela 3, os subprodutos da criação bovina, como leite e queijo

também fazem parte dos produtos mais comercializados pelas famílias do Peixoto,

sendo que a criação bovina foi comercializada por 64% das famílias, o leite 22% e o

queijo 10%. A criação de porcos e aves também se mostrou como uma atividade

importante, pois 26% das famílias entrevistadas comercializaram porcos e 44%

comercializaram aves. Um aspecto a ser considerado sobre a tabela 3, é que o seu

somatório excede o total de 100%, porque, por exemplo, as famílias entrevistadas que

comercializaram boi, podem também ter comercializado milho e banana.

Em relação aos demais produtos, considerados de importância crucial para o

sustento e comercialização, foram observados que 47% das famílias entrevistadas

comercializaram arroz, 32% milho, 31% feijão, 17% farinha de mandioca e 16%

comercializaram banana.

Page 52: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

52

Tabela 3- Principais produtos comercializados no PAD Pedro Peixoto

Produto

% Famílias

Bovino 64 Arroz 47 Aves 44 Castanha 33 Milho 32 Feijão 31 Porcos 26 Leite 22 Farinha de mandioca 17 Banana 16 Queijo 10

Fonte: Projeto ASPF/Deptº de Economia/UFAC – 1997.

A maioria dos produtores do PAD Pedro Peixoto explora uma variedade de

produtos que vão da lavoura até a criação de animais e extração de produtos florestais,

como a castanha. Entretanto, a expansão da atividade pecuária é um dos principais

objetivos de muitos produtores, enquanto que a implantação de culturas perenes ou

anuais não é o foco principal de suas intenções produtivas.

A presente pesquisa veio a nos esclarecer que de acordo com a atividade

predominante no sistema agrícola, o gado e seus subprodutos apresentam-se como o

principal produto na composição da renda das famílias, sendo explicada pela ausência

de perspectivas da produção agrícola, não obtendo apoio necessário dos órgãos

governamentais para o desenvolvimento da agricultura, ocasionando a diminuição da

área ocupada com a agricultura e o aumento da área ocupada com pastagens.

De acordo com a tabela 4, verificamos que a criação bovina e a comercialização

de leite foram os produtos que mais trouxeram despesas para o pequeno produtor. Os

custos variáveis médios do boi e do leite representaram 34,07% e 38,37% em relação

aos custos totais, respectivamente; já em contrapartida, a criação de porcos e aves não se

mostraram com custos totais elevados, haja vista que para a manutenção dessas criações,

não são exigidos tantos cuidados, sendo os custos variáveis para a comercialização

dessas criações foram de 20,13% e 20,17% em relação aos custos totais

respectivamente.

Page 53: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

53

Tabela 4 - Comparação dos custos de produção da criação bovina com outros

produtos

Principais produtos comercializados

Custos Totais (CT)*

Custos Variáveis

(CV)*

% CV/CT

Custos Fixos (CF)*

% CF/CT

Bovinos 1.517,84

517,22

34,07

1.000,61

65,92

Leite 1.926,25

739,09

38,37

1.187,16

61,63

Queijo 491,53

190,21

38,70

301,32

61,30

Porcos 191,02

38,45

20,13

152,57

79,87

Aves 166,22

33,53

20,17

132,69

79,82

Arroz 1.136,19

482,65

42,48

653,53

57,51

Milho 1.043,75

583,81

55,93

459,95

44,06

Feijão 699,22

315,51

45,12

383,69

54,87

* Valor médio (R$ / ano) Fonte: Projeto ASPF/ Deptoº de Economia/UFAC – 1997.

As lavouras brancas (arroz, milho e feijão) foram significativamente

comercializadas, onde os seus custos variáveis em relação aos custos totais se

mostraram com percentuais elevados, pois, na mesma área que é plantado o arroz, por

exemplo, são desenvolvidas outras culturas, além do que essas culturas possuem alguns

insumos em comum, sendo os seus custos variáveis bem representados na tabela 4.

Já os custos fixos para a comercialização de qualquer das culturas demonstradas

na tabela, podem ser verificados que estes são maiores em relação aos custos variáveis,

pois estes independem da quantidade produzida.

Na estrutura de custos da criação bovina (Tabela 5), verifica-se que os custos

totais médios praticados somaram R$ 1.517,84; onde os custos variáveis somam R$

517,22 (representando 34,08% em relação aos custos totais) e os custos fixos somam R$

1.000,61 (representando 65,92% em relação aos custos totais) praticados pelos

agricultores.

Dentre os custos variáveis da criação bovina, o que mais se sobressaiu foi o da

Força de Trabalho Familiar (CFTF), representando 14,03% dos custos totais.

Tornando-se notável que a força de trabalho familiar é de fundamental importância na

realização dos processos produtivos na UPF. Assim, a mão de obra familiar é um aliado

importante no desenvolvimento diário de atividades ligadas à pecuária.

A segunda maior categoria entre os custos variáveis é a de custos com insumos e

materiais (CIM) somando 12,13% dos custos totais, demonstrando uma dependência dos

Page 54: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

54

agricultores junto ao meio externo, em suma, significa os meios necessários (insumos e

materiais) que os produtores compram, uma vez que os mesmos não são produzidos em

seus lotes.

Os custos variáveis comuns rateados (CVCR) não foram praticados, tendo em

vista que para o desenvolvimento da atividade pecuária, os insumos não são rateados

com outras culturas. Os insumos necessários para a pecuária (vermífugos, herbicidas, sal

mineral, vacinas, capim, etc.), por exemplo, não são aplicados a outras culturas.

Os custos da força de trabalho assalariada (CFTA) representam 3,12% dos

custos executados frente aos custos totais, tal índice significa que em determinadas

épocas do ano como o período de formação de pastos, quando os trabalhos se

intensificam, a contratação da força de trabalho para a execução de tais serviços se torna

indispensável. Os demais custos variáveis se apresentaram como inexpressivos dados o

desestímulo gerado pelo isolamento, pela falta de apoio por parte de alguns órgãos e

pela intrafegabilidade dos ramais em determinadas épocas do ano, resultando: custo de

transporte, beneficiamento e serviços (CTBS) com 1,16%, juros sobre o capital

circulante (CJCC) com 2,29% e aluguéis de máquinas e implementos (CMI) com 1,32%

do custo total.

Ainda em relação a um custo variável que praticamente é inexpressivo frente aos

colonos do PAD, é o custo de juros de financiamento para custeio (CJFC),

representando os ínfimos 0,3% em relação aos custos totais, ou seja, poucos produtores

obtiveram empréstimos para custear a atividade pecuária em seus lotes.

Page 55: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

55

Tabela 5 - Estrutura de Custos da Criação Bovina

Especificação Valor Médio

R$ /Ano

% Em relação

ao CT

1. Custos Totais (CT) 1.517,84

100,00

1.1.Custos Variáveis (CV) 517,22

34,08

Custo da Força de Trabalho Familiar (CFTF) 212,94

14,03

Custo de Insumos e Materiais (CIM) 184,15

12,13

Custos Variáveis Comuns Rateados (CVCR) 0,00

0,00

Custo de Juros sobre o Capital Circulante (CJCC)

34,71

2,29

Custo de Transporte, Beneficiamento e Serviços (CTBS)

17,55

1,16

Custo da Força de Trabalho Assalariada (CFTA)

47,39

3,12

Custo de Aluguéis de Máquinas e Implementos (CMI)

20,07

1,32

Custo de Juros de Financiamento para Custeio (CJCF)

0,41

0,03

1.2 Custos Fixos (CF) 1.000,61

65,92

1.2.1 Custos Fixos Específicos (CFE) 144,53

9,52

Custo de Depreciação (CDP) 87,03

5,73

Custo de Juros sobre o Capital Fixo (CJCF) 26,73

1,76

Custo de Conservação (CCN) 21,96

1,45

Custo da Força de Trabalho Permanente (CFTP)

7,49

0,49

Custos Fixos Espec./Consórcios (CFCCSR) 0,00

0,00

1.2.2 Custos Fixos Comuns Rateados (CFCR) 855,79

56,38

1.2.3 Custos Fixos Comuns Rateados a n (CFCRN)

0,29

0,02

Fonte: Projeto ASPF/ Deptoº de Economia/UFAC – 1997.

Por outro lado, verifica-se que os custos fixos se destacam como os principais e

mais elevados custos praticados pelos produtores do PAD Pedro Peixoto que

comercializaram bovinos, chegando a somar 65,92% do total praticado no sistema de

produção. Merece destaque os custos que são rateados por várias culturas, os custos

fixos comuns rateados (CFCR), representando 56,38% dos custos totais. Ressaltamos

que o fato do CFCR se mostrar bastante expressivo está ligado ao volume patrimonial,

denominado como capital constante, que se refere aos quantus de bens de capital

Page 56: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

56

(benfeitorias, máquinas, equipamentos, implementos, etc.) que se encontram à

disposição do processo de produção.

Observamos ainda a existência dos custos fixos específicos (CFE) como

significativo, chegando a representar 9,52% do custo total, mostrando que os gastos com

as demais culturas em caráter individual foram significativos. Assim, os custos com

depreciação (CDP), juros sobre o capital fixo (CJCF), força de trabalho permanente

(CFTP), custos com a conservação (CCN), custos fixos comuns rateados a n culturas

(CFCRN) representam a pequena participação respectivamente de 5,73%; 1,76%;

0,49%; 1,45% e 0,02% do custo total praticado pelos produtores daquele projeto.

4.2 – Medidas de resultado

Neste tópico, iremos analisar os resultados médios mensais relativos aos

produtos mais vendidos pelos produtores do Peixoto. A análise se reporta a

comercialização dos principais produtos, demonstrando indicadores econômicos, como:

Renda Bruta, Renda Líquida, Margem Bruta Familiar dentre outros indicadores que se

destacaram.

A tabela 6 mostra que a renda bruta mensal do leite e em seguida a dos bovinos

foram as maiores rendas obtidas pelos produtores. Desta forma, a renda bruta, que é a

quantidade do produto destinada ao mercado (vendida mais o estoque) vezes o preço

unitário ao produtor, do bovino e do leite foi de R$ 157,02 e R$ 302,91

respectivamente. Em relação à renda bruta das demais culturas, como queijo, arroz,

milho e feijão, foram menores quando comparadas aos bovinos e ao leite, porém, os

índices de renda bruta mais baixo foram proporcionados pelos porcos e aves, sendo R$

25,99 e R$ 24,48 respectivamente.

Um outro indicador econômico de crucial importância e que também deve ser

destacado é a renda líquida, ou seja, é a parte do valor do produto que fica com a

unidade familiar depois de serem repostos os valores dos meios de produção, dos meios

de consumo e dos serviços prestados à produção. A maior renda líquida apropriada pela

unidade de produção familiar foi a do leite (R$ 174,07) e a menor foi a do milho.

O lucro da exploração, o chamado lucro puro, é a fração da renda bruta que fica

disponível depois de o produtor ter pago todos os custos reais, sendo o leite o produto

Page 57: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

57

que mais se destaca, proporcionando ao produtor um lucro de R$ 142,39 por mês e o

produto que proporcionou o menor lucro ao produtor foi o milho, acarretando-lhe um

prejuízo mensal de aproximadamente R$ 43,10 por mês, pois o preço deste produto

pago ao produtor foi de apenas R$ 0,28/kg.

Tabela 6 - Indicadores econômicos de produtos do PAD Pedro Peixoto

Indicadores Resultados Médios dos principais produtos

Um. Bovinos Leite Queijo Porcos Aves Arroz Milho Feijão

RB R$/mês 157,02 302,91 43,72 25,99 24,48 76,48 43,88 29,50 RL

R$/mês

58,42

174,07

11,5

14,75

14,82

4,04

-28,06

-16,25

LE

R$/mês

30,54

142,39

2,76

10,07

10,63

-18,20

-43,10

28,77

MBF R$/mês 131,66 269,02 35,76 25,40 23,06 52,38 23,46 22,78 IEE

Um.

1,24

1,89

1,07

1,63

1,77

0,81

0,50

0,51

MBF/RB

Um.

0,77

0,88

0,77

0,97

0,95

0,54

0,04

0,68

MLF/RB

Um.

0,69

0,87

0,74

0,97

0,95

0,54

0,04

0,68

MBF/Qh/d

R$

36,36

57,74

41,17

35,95

112,35

7,89

2,59

3,96

Custo unit.

R$

0,99

0,12

2,82

0,43

1,15

0,43

0,18

0,73

Preço produtor

R$

1,28

0,27

4,25

1,57

6,90

0,50

0,17

0,75

Markup

%

29,00

128,00

51,00

265,00

497,00

17,00

-6,00

1,00

Preço Comerciante

R$ 1,93 0,57 4,38 2,50 2,75 0,83 0,28 1,11

Margem de Comercialização

% 50,00 110,00 3,00 59,00 -60 65,00 65,00 48,00

Fonte: Projeto ASPF/Deptº de Economia/UFAC – 1997.

A Margem Bruta Familiar, o quarto indicador da tabela 6, é o resultado líquido

específico e próprio para indicar o valor monetário disponível para a subsistência da

família. A melhor MBF foi proporcionada pelo leite, com uma renda mensal de

aproximadamente R$ 269,02 e a menor renda fora proporcionada pelo feijão, sendo R$

22,78 por mês.

Em relação ao Índice de Eficiência Econômica (IEE) dos produtos da tabela 6,

verifica se que os bovinos, leite, queijo, aves e porcos, obtiveram bons ganhos com a

comercialização desses produtos. E em relação ao arroz, milho e feijão os produtores

tiveram perdas, já que o IEE desses produtos apresentaram valores inferiores a um.

Page 58: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

58

Tabela 7 - Dados sobre a produção vendida, estocada e autoconsumo em relação à

Produção Total

Cultura Un. % Produção

Vendida PV/PT

% Produção Estocada

PE/PT

%Produção Autoconsumo

PA/PT

Produção Total= PV+

PE+PT

Bovinos Kg 95,75

0

4,25

96.494

Leite Litro 82,80

0

17,20

357.655

Queijo Kg 60,33

0

39,67

1.742

Porcos Kg 50,16

0

49,84

11.562

Aves Un. 29,57

0

70,43

6.333

Arroz Kg 50,93

25,21

23,86

125.408

Milho Kg 49,71

9,12

41,17

183.835

Feijão Kg 51,83

8,52

39,65

29.506

Fonte: Projeto ASPF/ Deptº de Economia/UFAC – 1997. Obs: Dados estimados em R$.

Na tabela 7 serão apresentados dados de suma importância para a conclusão do

trabalho, pois mostra, em percentual, como a produção total se divide em vendida,

estocada e consumida. A maior parte da produção total de bovinos e seus subprodutos

(leite e queijo) foram destinados à comercialização, sendo representados por 95,75%;

82,80% e 60,33% respectivamente.

Em relação à produção estocada, podemos dizer que somente as lavouras

brancas foram encontradas em estoque, sendo que todas apresentaram índices de

estocagem abaixo de 50%, afirmando que a comercialização e o autoconsumo estavam

presentes.

Um último e crucial indicador do nível de vida das populações é o autoconsumo,

sendo este bem representado na tabela acima pelas criações, onde as aves aparecem com

70,43% e os porcos com 49,84% da produção consumida em relação à produção total.

Aqui, o consumo de carne bovina foi pouco apresentado dentre as famílias pesquisadas,

um índice de 4,25% em relação à produção total, pois a maioria da produção é destinada

à comercialização; o leite também é um subproduto pouco consumido, sendo em sua

maioria (82,80%) destinado ao mercado.

Page 59: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

59

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As políticas públicas desenvolvimentistas para Amazônia especialmente aquelas

concentradas no período do Governo Militar, conforme relatamos no capítulo 2,

resultaram na aceleração da desagregação das atividades econômicas tradicionais e na

exploração dos recursos regionais, causando um profundo desequilíbrio em seus

ecossistemas naturais. Ao mesmo tempo foram responsáveis pelo tipo de ocupação e

uso da terra que agravou o processo de degradação social e ambiental, levando a vários

conflitos fundiários e luta pela terra na região Amazônica e no Acre em particular. Neste

contexto surgem os Projetos de Assentamentos Dirigidos - PAD’s, como proposta de

amenizar os conflitos de terra na região e oferta de terras para a população oriunda dos

conflitos fundiários do centro sul.

A região amazônica possui uma flora riquíssima, tendo em seus múltiplos

potenciais de exploração econômica um diferencial em relação às outras regiões.

Inicialmente, o que se objetivava com os PAD’s era a produção de culturas perenes e

lavouras brancas. Mas o fracasso que resultou pôde, em pouco tempo, ser explicado

pelas particularidades e limitações que o solo apresentava para a agricultura, e a

pecuária sendo uma atividade menos sujeita a limitações naturais, além de demandar

menor quantidade de força de trabalho, expandiu-se cada vez mais tendo em um

primeiro momento os “paulistas” como maiores produtores desta atividade, sobrepondo-

se assim em relação à produção extrativista.

Com o agravamento da crise da borracha e o conseqüente endividamento dos

seringalista com os créditos obtidos na linhas de financiamento para a atividade

extrativista como o PROBOR, acarretou a venda das terras por preços baixos,

acentuando a ação de especuladores.

No período entre os anos de 1979 e 1986, acentuaram-se os investimentos nas

áreas de pastagens, assim, diversos órgãos se voltaram para esta atividade. O aumento

das áreas degradadas se faz presente e a introdução de gramíneas e leguminosas são

adaptadas às condições edafoclimáticas da região, permitindo o aumento da

produtividade e a manutenção destas áreas por mais tempo.

Muitos foram os fatores que contribuíram para essas mudanças, dentre os quais

podemos citar: a grande oferta de terras, associadas aos baixos preços e a facilidade de

Page 60: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

60

se agregar valor. Quando se fala no termo “agregar valor”, deve-se ter em mente a

possibilidade que a pecuária ofereceu aos parceleiros dos projetos de assentamento

como o PAD Peixoto, possibilidades de ganhos superiores aos obtidos com as atividades

agrícolas.

Nesta atividade os produtores muitas vezes incorriam em grandes prejuízos,

devido a fatores que comprometem a produção agrícola, fazendo com que muitas vezes

os produtos ficassem simplesmente estocados, pois os seus produtores não conseguiam

vender a bons preços, acarretando grandes perdas, ocasionadas pelos baixos preços

como também os graves problemas com o escoamento da produção.

Além das grandes dificuldades enfrentadas pelos parceleiros do PAD Peixoto em

relação à comercialização de seus produtos, inúmeros são os fatores que podemos citar

que contribuem diretamente para este quadro, como: a dificuldade de acesso a novas

tecnologias, ocasionado pela falta de créditos inadequados, alto custo de produção e

posteriormente enorme dificuldade na realização da venda de seus produtos. Dessa

maneira, só restam aos produtores duas opções: deixar o produto estocado ou realizar a

venda a preços baixos. Enfim, todos esses problemas são ocasionados pela fragilidade

de organização e falta de atividades de cooperativismo e associativismo dos moradores

e produtores locais.

Diante do exposto, os colonos eram estimulados a desenvolver essas e outras

atividades, cultivando algumas culturas que ao longo do tempo só mostraram resultados

insatisfatórios, constatando, perante a maioria dos produtores, alterações no seu modo

de vida.

Observou se que os produtores utilizam o gado como fonte de renda segura e

contínua, pois o mesmo auxilia na obtenção de crédito junto ao Banco da Amazônia e ao

Banco do Brasil, servindo como garantia de empréstimo, além, é claro, de funcionar

como uma “poupança”, podendo ser transportado para o abate a qualquer época do ano.

Ao contrário do extrativismo, cuja participação vem decrescendo com o passar

dos anos, a pecuária vai se consolidando cada vez mais entre os produtores, refletindo

no aumento significativo da renda das famílias assentadas.

O cultivo de culturas perenes permite a diminuição da rotatividade das áreas

cultivadas e a estabilização da área desmatada, além de potencializar o retorno

Page 61: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

61

econômico ao produtor rural. Dentre as culturas perenes presentes nas pequenas

propriedades rurais, destaca-se o café, enfrentando problemas edafoclimáticos locais,

sendo um problema que já vem sendo contornado pelo emprego de novas variedades já

lançadas no Acre pela EMBRAPA. Outras culturas como o mamão, maracujá, banana e

abacaxi são cultivados pelos colonos em pequenas áreas em suas propriedades.

De acordo com a pesquisa realizada, constatou-se que aproximadamente 2,5 ha

são destinados à produção agrícola; 28,3 ha são destinados às pastagens, havendo

divisões de pastos, sejam eles com cerca elétrica ou não; onde estes colonos

costumeiramente dividem suas áreas em média de cinco pastos; cada produtor possui

uma média de 9 cabeças de animais, que lhe proporcionam 1,6 litros de leite dia/cabeça.

Assim, a pecuária se apresenta cada vez mais como uma atividade que dá suporte à

economia das famílias do projeto.

A presença da atividade pecuária, não só na área do PAD Pedro Peixoto, mas em

algumas outras regiões, pode ser explicada, em parte, pela ausência de perspectivas de

aumento da produção agrícola. A partir de meados da década de 80, a principal estrutura

de apoio a esta atividade, a COLONACRE (Companhia de Desenvolvimento Agrário e

Colonização do Acre), entrou em decadência, ocorrendo a estabilização da área ocupada

com a agricultura e o avanço das áreas destinadas às pastagens.

O uso das terras no Acre apresenta diversas alterações ao longo dos anos, e com

isso, as atividades predominantes também. Nota-se que a maioria dos produtores

alteram o modelo de produção, dedicando ou pelo menos tentando se dedicar a

atividades economicamente mais rentáveis, e dentre elas, se destaca a exploração da

pecuária.

Vários fatores devem ser considerados quando se fala do desenvolvimento da

agricultura em terras acreanas, pois a estrutura de apoio a este setor produtivo apresenta

inúmeras dificuldades. Podemos citar a insalubridade do solo, falta de assistência

técnica, dificuldade de acesso aos ramais principalmente no inverno, falta de transporte

para a comercialização da produção, além, é claro, da escassez dos recursos e a falta de

tecnologias adequadas, fazendo com que os produtores procurem atividades mais

rentáveis com menor risco e maior liquidez.

Devem ser considerados alguns implementos nas áreas de pastagens que

favorecem o aumento dos rebanhos, contando com o trabalho de técnicos de órgãos

Page 62: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

62

competentes que avaliam esses desenvolvimentos, e através deles, divulgam e interagem

juntamente com os produtores visando sempre elevar a eficiência dos sistemas e obter

melhores resultados quanto ao desenvolvimento da atividade predominante, a pecuária.

Esta atividade se caracteriza por ser uma atividade que emprega pouca força de trabalho

e que apresenta resultados rápidos e satisfatórios, sendo que a utilização da força de

trabalho familiar é essencial para a obtenção de tais resultados.

Page 63: Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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