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ISSN 1679-5830 Disponível eletronicamente em www.revista-ped.unifei.edu.br Revista P&D em Engenharia de Produção Nº. 08 (2008) p. 01-12 Recebido em 08/09/2007. Aceito em 29/11/2008 PROJETO DO LABORATÓRIO DE ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS DE PETRÓLEO DA UNIFEI LEVANDO EM CONSIDERAÇÃO AS BOAS PRÁTICAS LABORATORIAIS Rafael Appoloni Zambom Engenheiro de Produção-Mecânica Universidade Federal de Itajubá - UNIFEI Instituto de Engenharia de Produção e Gestão [email protected] Luiz Fernando Barca Engenheiro Mecânico e Mestre em Engenharia de Produção Professor do instituto de Engenharia Mecânica da UNIFEI Universidade Federal de Itajubá - UNIFEI Instituto de Engenharia Mecânica [email protected] Marco Aurélio de Souza Engenheiro Mecânico e Mestre em Engenharia Mecânica Professor do instituto de Engenharia Mecânica da UNIFEI Universidade Federal de Itajubá - UNIFEI Instituto de Engenharia Mecânica [email protected]

PROJETO DO LABORATÓRIO DE ANÁLISES FÍSICO … · 2 Zambom et al. / Revista P&D em Engenharia de Produção Nº. 0 8 (2008) p. 1-12 RESUMO O laboratório de análises físico-químicas

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ISSN 1679-5830

Disponível eletronicamente em www.revista-ped.unifei.edu.br

Revista P&D em Engenharia de Produção Nº. 08 (2008) p. 01-12

Recebido em 08/09/2007. Aceito em 29/11/2008

PROJETO DO LABORATÓRIO DE ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS DE

PETRÓLEO DA UNIFEI LEVANDO EM CONSIDERAÇÃO AS BOAS PRÁTICAS LABORATORIAIS

Rafael Appoloni Zambom

Engenheiro de Produção-Mecânica

Universidade Federal de Itajubá - UNIFEI

Instituto de Engenharia de Produção e Gestão

[email protected]

Luiz Fernando Barca

Engenheiro Mecânico e Mestre em Engenharia de Produção

Professor do instituto de Engenharia Mecânica da UNIFEI

Universidade Federal de Itajubá - UNIFEI

Instituto de Engenharia Mecânica

[email protected]

Marco Aurélio de Souza

Engenheiro Mecânico e Mestre em Engenharia Mecânica

Professor do instituto de Engenharia Mecânica da UNIFEI

Universidade Federal de Itajubá - UNIFEI

Instituto de Engenharia Mecânica

[email protected]

2 Zambom et al. / Revista P&D em Engenharia de Produção Nº. 08 (2008) p. 1-12

RESUMO

O laboratório de análises físico-químicas de petróleo da UNIFEI realiza a caracterização

de propriedades físicas e químicas de petróleos e emulsões para dar suporte às pesquisas.

Nele são medidas grandezas como viscosidade, densidade, massa, tensão superficial,

tensão interfacial, concentrações, entre outras. O objetivo deste trabalho é elaborar um

projeto considerando as boas práticas laboratoriais. A BPL apresenta princípios que

asseguram confiabilidade das análises, bem como o uso seguro de produtos relacionados à

saúde humana e ao meio ambiente. Nesse contexto eleva a qualidade e confiabilidade dos

estudos realizados.

Palavras-chave: BPL, ISO/IEC 17025, FMEA, Sistema de Qualidade (SQ).

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PROJECT OF THE PHYSICO-CHEMICAL LABORATORY FOR CRUDE OILS AT UNIFEI IN COMPLIANCE WITH THE GOOD

LABORATORY PRACTICE

ABSTRACT

The physico-chemical laboratory for crude oil analyses at UNIFEI carries out the

characterization of physical and chemical properties of oils and emulsions. Measurements

like viscosity, density, superficial/interfacial tension, concentration and droplet sizes

distribution provide information for supporting the research activities involving phase

separation, multiphase flow and emulsion stability. In this work, the aspects of quality

assurance considering the GLP (Good Laboratory Practice) are described. By complying

with the precepts of GLP, the laboratory can demonstrate that its results are reliable and

nationally and internationally comparable.

Keywords: Good Laboratory Practice, Quality Assurance.

1. INTRODUÇÃO

1.1. Objetivos

Este trabalho objetiva o detalhamento do projeto do laboratório, com base nas BPL, norma ABNT ISO/IEC 17025, usando FMEA de processo para identificar possíveis falhas e atuar preventivamente nos processos de medição, delineando o Manual do Sistema de Garantia da Qualidade.

1.2. Justificativa

O enfoque do Sistema de Qualidade, que se iniciou nos processos produtivos e suas interfaces, têm se disseminado para outros setores, visando monitorar a qualidade dos produtos e transmitir segurança e credibilidade aos clientes.

Desta forma, pulveriza-se para outros setores que interagem e que estão relacionados. Abrange as funções que vão desde o planejamento de projetos, processos, laboratórios de controle, manutenção e serviços (Campos, 2004; Miguel, 2001).

O Sistema de Qualidade em serviços é um dos segmentos de relevante enfoque dentro das organizações. Permite a confiabilidade dos laudos emitidos, obtendo credibilidade e respeito da comunidade, evitando erros e retrabalhos, facilitando a rastreabilidade (Campos, 2004).

Os SQ’s, baseados nos padrões da ISO ou outros de reconhecimento internacional, são descritos e aplicados de forma genérica. Especificamente, a partir de padrões já existentes, promove a adequação em função das condições de trabalho. O laboratório de análises físico-químicas apresenta características exclusivas que são abordadas em atividades de manipulação de emulsões durante a preparação de amostras e atividades analíticas.

Desta forma, parte da premissa de que os atuais SQ’s para laboratórios, com ênfase nos princípios das BPL, não estão direcionados de forma abrangente para as atividades específicas do laboratório de separação de fases.

Os princípios do Sistema de Qualidade podem ser adaptados, incorporados e implementados nas atividades desenvolvidas por estes laboratórios, a fim de padronizar seus

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procedimentos de forma sistêmica, considerando os aspectos necessários para a implementação do Sistema de Qualidade. Utilizaram-se as normas e legislações que regulamentam os princípios das BPL e também as Boas Práticas de Fabricação (BPF).

1.3. Estrutura do trabalho

Consiste em uma exposição das normas, utilização da ferramenta FMEA para identificação de modos de falha nos processos, e recomendações para o laboratório.

2. EXPOSIÇÃO DA TEORIA: SISTEMA DA QUALIDADE

Do ponto de vista das ações, ferramentas e sistemas, o Sistema da Qualidade é considerado uma questão de relevância para as empresas com a preocupação de diminuir incompatibilidades e em oferecer produtos e serviços que atendam as necessidades do mercado. As exigências em relação à qualidade dos produtos e serviços promovem a adoção de técnicas equalizadas e a implementação de sistemas - melhoria contínua a partir de uma visão estratégica - para se manterem competitivas (Andrade, 2002).

O Sistema de Qualidade promove maior organização e introduz métodos mais eficientes, com sistematização das atividades (Malmfors et al., 2004).

Maranhão (1994) considera que o SQ representa um conjunto de recursos e regras, a serem implementadas adequadamente, visando orientar os membros da organização para executar de forma eficaz as atividades.

Em função da ampla discussão, pode-se considerar que o Sistema de Qualidade, promove os estudos das atividades operacionais, do comportamento humano e de recursos disponíveis, refletindo na padronização, nos comportamentos e processos.

O SQ é baseado em princípios que incorporam todas as atividades executadas pela empresa. Conforme Barquete (2000) constam de: satisfação do cliente (o cliente é a razão da existência de uma empresa, é preciso encantá-lo); gerência participativa (liberdade, apoio e estímulo para as pessoas manifestarem opiniões e sugestões); desenvolvimento humano (busca valorizar o ser humano); constância de propósitos (meios para atingir os objetivos); aperfeiçoamento contínuo; gerência de processos (a empresa é constituída de processos menores, que se interligam); delegação (deslocar a responsabilidade de decisão); disseminação de informações (proporcionar informações sobre a missão, estratégias e planos); garantia da qualidade (através de normas e procedimentos, para estabilizar os processos); não aceitar erros (ações preventivas, evitar desvios dos padrões).

De acordo com Mello et al. (2002) o SQ em pequenas organizações não se apresenta de forma sistematizada. A operacionalização das atividades está na cabeça das pessoas e na maioria das vezes, não está documentada, em função da quantidade de pessoas envolvidas. Quanto maior a organização, mais pessoas estão envolvidas. Portanto maior é a possibilidade de existirem procedimentos, instruções e registros documentados, para conduzir as atividades.

Segundo Barbêdo et al. (2003) a implementação do SQ é importante para pequenas e grandes organizações.

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2.1. Sistema de Qualidade em serviços

Para Kotler (1998) serviço é definido como qualquer ato ou desempenho que se possa oferecer de forma essencialmente intangível, podendo ou não estar vinculado a um produto físico. Segundo Las Casas (1999) são estabelecidos por atos, desempenho e ações. Apresentam características de serem intangíveis, inseparáveis, heterogêneos e simultâneos.

O Sistema de Qualidade compreende a sistemática dos procedimentos da prestação de serviço e a relação com o cliente.

Já Miguel (2001), considera a prestação de serviço ser relação entre cliente e fornecedor, onde os fornecedores devem atender as necessidades dos clientes, através do empenho e responsabilidade de todos. Sendo assim, o SQ estabelece a sistematização das atividades.

2.2. Boas Práticas de Laboratório

Os laboratórios sofreram grandes transformações devido ao desenvolvimento tecnológico das inspeções e dos equipamentos de análise, que proporcionaram a introdução de computadores e sistemas automatizados. Consumidores mais conscientes sobre a qualidade, também contribuíram para as transformações.

A implementação do SQ em laboratórios representa inúmeras vantagens como: melhoria da organização, através da formalização e aplicação de procedimentos, otimizando processos; definição da função e responsabilidades do pessoal; detecção e correção dos erros; confirmação da competência e qualidade; melhoria da imagem do laboratório para os clientes; facilidade para conduzir as reclamações.

Conforme o Inmetro (2003), Boas Práticas de Laboratório (BPL) é um SQ, composto por um conjunto de critérios que diz respeito à organização e às condições sob as quais os estudos em laboratório podem ser planejados.

Foram desenvolvidas para promover qualidade e validação de dados gerados em testes, usados para determinar a segurança de substâncias químicas e seus produtos (OECD, 1998).

A regulamentação brasileira que estabelece as Boas Práticas de Laboratório está contemplada na norma ABNT NBR ISO/IEC 17025 – Requisitos gerais para a competência e laboratórios de ensaio e calibração, de setembro de 2005, pelo Inmetro – DICLA (Divisão de Credenciamento de Laboratórios de Calibração e de Ensaio).

De acordo com o Inmetro (2003) são aplicáveis em estudos que dizem respeito ao uso seguro de produtos, com objetivo de avaliar, monitorar e proteger o meio ambiente de um modo geral, nos seguintes casos:

• concessão, renovação, modificação de registro e pesquisa, obtenção de propriedades físicas e químicas de produtos químicos, biológicos e biotecnológicos;

• petição para estabelecimento, modificação ou isenção de tolerância;

• estudos conduzidos em resposta aos questionamentos de órgãos governamentais;

• qualquer outra aplicação, petição ou submissão enviada aos órgãos competentes, com a intenção de solicitar a modificação de registro ou outra aprovação requerida.

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2.3. Boas Práticas de Fabricação

As Boas Práticas de Fabricação (BPF) ou Good Manufacturing Practices (GMP) asseguram os parâmetros básicos com o estabelecimento de procedimentos padronizados, que devem ser conhecidos e praticados por todos os colaboradores de uma organização.

2.4. Monitoramento e avaliação do sistema da qualidade

O processo de monitoração e avaliação consiste de atividades designadas para assegurar que a unidade operacional esteja atuando de acordo com os princípios e diretrizes do Sistema de Qualidade (Benoliel, 1999).

A verificação é realizada pela equipe de auditores, composta por membros do departamento de Garantia de Qualidade, provida de experiência formalizada para a aplicação do monitoramento e inspeção das ações de BPL. Os constituintes da equipe, não apresentam envolvimento na condução das atividades do laboratório, para evitar que a pessoa inspecione sua própria atividade (Inmetro, 2003).

As avaliações ou auditorias são realizadas em intervalos previamente planejados, através de um programa, de acordo com a situação e o grau de importância por parte da área a ser auditada, e dos resultados de verificações anteriores. São definidas por critérios, escopo, freqüência e métodos, divulgadas aos setores envolvidos da organização. (Calegare, 1999).

As não conformidades geradas na monitoração desencadeiam um processo em que a área auditada estabelece ações corretivas evitando reincidências. O processo termina quando todas as não conformidades geradas estiverem sido concluídas, quando as ações corretivas propostas forem executadas de forma eficaz (Inmetro, 2003; Mello et al., 2002).

Há três tipos de auditorias para o diagnóstico da funcionalidade do Sistema de Qualidade: auditoria de primeira parte (organização); de segunda parte (fornecedor); de terceira parte (entidade certificadora).

2.5. Ferramentas da qualidade

São métodos estruturados para implementação de sistemas, compostos por dispositivos, procedimentos gráficos, numéricos ou analíticos, formulações, esquemas de funcionamento e mecanismos de operação (Miguel, 2001). Este trabalho abordará especificamente uma ferramenta utilizada para identificar modos de falha do processo – FMEA.

2.6. FMEA

A ferramenta FMEA (Failure Mode and Effects Analysis) serve para identificar os modos potenciais de falhas, suas causas e seus efeitos, contribuindo para a garantia da qualidade do produto final. Sua aplicação permitiu uma visão geral do processo e o estabelecimento de ações preventivas.

Segundo Andery (1999), a análise dos modos e efeitos de falha permite: reconhecer o potencial de falha de cada etapa do processo e avaliar sua repercussão no produto final, encarado de maneira global e sistêmica; hierarquizá-las, pela determinação de um índice de risco atribuído a cada uma – as que apresentarem maior índice de risco serão objetos de planos de ação específicos.

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2.7. Metodologia

Foi estruturada uma planilha eletrônica com os seguintes campos e suas finalidades: Item - representa a quantidade do referido equipamento; Nome do componente - nome do equipamento que será analisado; Objetivo (função) do componente - o que o equipamento realiza; Modo de falha potencial - tipo de falha que pode ocorrer; Efeito potencial da falha - o que a falha ocasionará; Gravidade - escala de 1 a 5, onde 1 representa baixa gravidade e 5 alta gravidade; Causa principal da falha - apresentação dos diversos motivos de falha; Ocorrência - refere-se à freqüência de ocorrência, onde na escala de 1 a 5, 1 representa baixa ocorrência e 5 representa alta; Controles atuais - refere-se a o que é feito para controlar as causas principais de falhas; Detecção - refere-se ao nível de facilidade de constatação das falhas, onde na escala de 1 a 5, 1 significa facilidade de detecção e 5, extrema dificuldade de detecção das falhas; Risco - é a multiplicação dos índices (gravidade, ocorrência e detecção); Providências recomendadas - ações que busquem minimizar falhas.

Figura 1 - Modelo FMEA

2.8. O sistema proposto na ABNT NBR ISO/IEC 17025

A Norma ABNT NBR ISO/IEC 17025 estabelece os requisitos gerais para laboratórios de ensaio e calibração que desejam demonstrar competência técnica para suas atividades.

Seus principais objetivos: estabelecer um padrão internacional e único para atestar a competência dos laboratórios para ensaios e/ou calibrações, facilitando o estabelecimento de acordos de reconhecimentos mútuo entre os organismos nacionais; facilitando a interpretação e a aplicação dos requisitos, evitando opiniões divergentes e conflitantes; abrangendo também amostragem e desenvolvimento de novos métodos; estabelecendo relação mais estreita, clara e sem ambigüidades.

Divide-se em duas partes: a primeira corresponde às exigências que devem ser cumpridas pela gerência do laboratório (parte 4) e faz referência à ISO 9001:2000, com destaque para a relevância que a norma dá para que os laboratórios também desenvolvam um sistema de qualidade. Para que um laboratório seja certificado pela norma ISO/IEC 17025:2005, o mesmo também deve operar de acordo com a norma ISO 9001:2000: devem ser implementados os mesmos procedimentos obrigatórios. A segunda contém os requisitos técnicos que devem ser seguidos por quem busca a certificação (parte 5) e faz referência à

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ISO/IEC Guia 25. O laboratório deve ter implementado planos e procedimentos que assegurem a confiabilidade dos ensaios, como cálculo de incerteza de medição, rastreabilidade, validação dos métodos.

Tabela 1 - Sistema de qualidade para laboratórios de análise físico-químicas

BPL / ABNT ISO 17025 BPF Outros

Estrutura organizacional e responsabilidades X

Departamento de garantia da qualidade X

Localização e instalações X X X

Equipamentos e materiais X X X

Procedimento operacional padrão X X X

Amostra X

Pessoal manipulador das amostras X X X

Arquivos de documentos e registros X

Monitoramento e avaliação X X X

Fonte: Correia, 2005

Princípios das normas Itens do sistema de qualidade

Fonte: Correia, 2005

3. CARACTERIZAÇÃO DO LABORATÓRIO

As principais medições e análises realizadas, bem como equipamentos correspondentes:

• Malvern: distribuição em freqüência do tamanho de gotas (de 0,3 a 300 micrometros) em emulsões de água em óleo e de óleo em água através do espalhamento de luz laser;

• Horiba: concentração óleo em água (de 0 a 200 ppm) por absorção de infra-vermelho;

• Karl-fischer: concentração de água em óleo (de 0 a 20%) por titração coulométrica.

3.1. Localização e instalações

Devem ser estrategicamente planejadas, em áreas isentas de odores, fumaça, poeira, distúrbios eletromagnéticos, radiação, umidade, vibrações, com alimentação elétrica garantida, etc, proporcionando a realização correta dos ensaios e/ou calibrações (Inmetro, 2003). Além disso, devem favorecer ações do programa de gestão de resíduos (Jardim, 1998).

3.2. Condições ambientais

Carga térmica. Uma forma de classificá-la é quanto sua origem – interna (gerada no interior das edificações; tipicamente, provêm de pessoas, equipamentos, iluminação, recintos adjacentes), ou externas (provenientes da insolação através janela, diferença de temperatura das paredes, admissão ou infiltração de ar). Construído com pé-direito de cinco metros, paredes de tijolos tipo baiano, deitados, com revestimento de litofina e reboco de 20 mm de espessura por dentro e por fora, a área construída para o laboratório terá face para o norte geográfico, com 45m² de área propensa a radiação/insolação. Possuirá área envidraçada de 7m², com vidros de espessura de 4 mm, uma porta de 80x210cm e uma de 120x120cm; além de uma janela para recepção de amostra de 50x40cm. A partir desses dados, considerando ainda a presença de quatro colaboradores no ambiente, e da necessidade de climatização e

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controle das condições internas, chegou-se ao resultado de 45.000BTU instalados para a devida refrigeração do ambiente.

Controle do ar interno. De modo a assegurar correto funcionamento e prevenir contaminações e deteriorações, prevê-se a instalação de um desumidificador com capacidade de operar em um ambiente com taxa de renovação de ar de 500m³/h. O manuseio de reagentes no laboratório exigirá a instalação de capelas exaustoras que expulsem gases. Uma característica redundante para este fato é a operação do laboratório em um ambiente com insuflamento de ar e pressão positiva, facilitando escoamentos.

3.3. Layout

A partir da análise dos POP’s, FMEA’s e da experiência na realização de ensaios, foi projetado considerando os requisitos da NBR 17025, bem como os da BPL.

Distribuição de freqüência dos diâmetros das gotas, concentrações, tensões interfaciais e superficiais, viscosidade, foram os processos analisados com auxílio da ferramenta FMEA.

O layout proposto sustentou-se em algumas condições estratégicas para a obtenção de resultados finais de medições confiáveis. Controle de agentes externos, tais como fumaça, poeira, vibração, bem como o estudo da localização dos equipamentos (levando em consideração as particularidades de cada procedimento e instrumento – FMEA), visam a garantia do resultado final.

O número de colaboradores é uma variável importante para a disposição dos equipamentos, já que se deve analisar o trânsito e o espaço requerido para o seu manuseio.

A logística de itens de ensaio e de recebimento das amostras em consonância às características construtivas do laboratório também foram consideradas, visando o seu bom andamento.

Figura 2 - Proposta de layout

Fonte: Desenvolvido pelos autores

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3.4. Segurança

Antes de qualquer trabalho laboratorial o operador deve estar informado sobre os riscos dos produtos químicos e dos equipamentos, bem como conhecer as precauções de segurança e os procedimentos de emergência, para se proteger dos possíveis riscos. Deve ter por hábito planejar o trabalho, pois só assim poderá executá-lo com segurança. Todos os usuários devem seguir cuidadosamente as regras e normas de segurança vigentes, as instruções de segurança referentes à manipulação de reagentes e de equipamentos; bem como conhecer perfeitamente a localização e funcionamento de todo o equipamento de emergência, extintores, bocas-de-incêndio, fontes lava-olhos, chuveiros de emergência, entre outros.

3.5. Pessoal e atividades desenvolvidas

Devem-se definir períodos para treinamento e procedimentos. Colaboradores devem ser treinados para o manuseio dos equipamentos, localização das instruções e documentos, gerenciamento de arquivos, POP´s, bem como orientados a relatar inconformidades.

3.6. Programa de Gerenciamento de resíduos

Inicialmente, a conscientização quanto a importância do PGR deve partir da alta gerência, garantindo disposição com relação a efetivação do programa. Citamos os conceitos dos 3R’s:

• Reduzir a geração: para os processos de medição e geração de resultados em estudos laboratoriais, geração de resíduos é inevitável. No PGR deve constar uma forte base de treinamento, conscientização e incentivo a melhorias em POP’s, reduzindo ao máximo possível a geração de resíduos; sem interferir na realização de medições e obtenção de resultados confiáveis. A contra-partida é a diminuição de despesas e custos envolvidos.

• Reutilização: deve-se prever o que poderá ser reutilizado e o que não deverá ser. A partir do planejamento de um ensaio, com a estruturação de um POP, consegue-se listar materiais que serão utilizados e como poderão ser reutilizados.

• Reciclagem: parte inicialmente das condições estruturais do laboratório.

4. EQUIPAMENTOS E MATERIAIS

Os equipamentos utilizados no laboratório devem estar acompanhados de informações necessárias, serem limpos e inspecionados periodicamente, submetidos à manutenção preventiva e calibração; devem possibilitar rastreabilidade das medidas de grandezas físicas e apresentar um registro certificado de calibração, emitido por empresas especializadas (Inmetro, 2003).

5. PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO

Descreve como conduzir ensaios e atividades de rotina do laboratório (Inmetro, 2003). Também definidos como Standard Operating Procedure (SOP), são descritos para assegurar que todos os colaboradores executem a mesma atividade e conduzam o trabalho da mesma maneira (Garner et al., 1996).

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A padronização dos POP’s consiste na elaboração do esboço da seqüência correta das operações, descrita de forma resumida, contendo os passos críticos de forma pictórica, facilitando o entendimento (Campos, 2004).

Deve ser redigido por uma pessoa com experiência e conhecimento, considerando especificidades, tendo aprovação da gerência de acordo com a sistemática de controle das revisões (Garner et al., 1996).

6. AMOSTRA

Consiste de produtos (emulsões, em geral) ou materiais encaminhados para análise, sendo necessário manter o registro de caracterização da amostra, data, condições de armazenagem.

Deve ser preparada ou processada em condições que atendam aos requisitos básicos.

7. ARQUIVOS DE DOCUMENTOS E REGISTROS

Devem ser estruturados e equipados para o acondicionamento e armazenamento seguro, garantindo sua integridade. O material retido deve ser indexado de forma ordenada para promover a rápida recuperação - rastreabilidade. Somente o pessoal designado e autorizado formalmente pela gerência pode ter acesso (Inmetro, 2003).

8. MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO

Consiste da atividade do departamento de garantia da qualidade, realizada por auditores, definidos em programação, designados para assegurar por meio de auditorias, que a operacionalização do laboratório esteja de acordo com o SQ, quanto aos princípios das BPL.

As pessoas que farão a auditoria não devem estar envolvidas com suas atividades, a fim de evitar o conflito de interesses. Devem ter treinamento e experiência para desempenhar a função e habilidade para entender os conceitos básicos envolvidos (Inmetro, 2003).

9. METODOLOGIA DE IMPLEMENTAÇÃO

A implementação do Sistema de Qualidade no laboratório de análise físico-química deve ser realizada de forma gradativa e sistêmica, com a participação de todos os colaboradores da organização. Suas etapas podem ser desenvolvidas de acordo com a tabela.

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Tabela 2 - Etapas de implementação do sistema de qualidade.

Fonte: Correia, 2005

Um conjunto de documentos é proposto para o controle dos itens citados, criando-se um arquivo, com a utilização de ferramentas do Excel.

10. CONCLUSÃO

A elaboração de Sistemas de Qualidade específicos, a partir de padrões já existentes, promove a adequação em função das condições atuais de trabalho para o qual o laboratório de análises físico-químicas da UNIFEI apresenta características exclusivas.

Com base nos princípios das Boas Práticas de Laboratório, na norma ABNT ISO/IEC 17025, a partir da utilização da ferramenta FMEA para caracterização dos processos, delineou-se o Manual do Sistema de Garantia da Qualidade para o laboratório. A ferramenta FMEA foi utilizada para identificar modos de falha dos processos, suas causas e seus efeitos.

A norma ABNT ISO/IEC 17025 e BPL orientaram para a sugestão de procedimentos operacionais padrão, programa de segurança, gestão de resíduos, localização e instalações.

A implementação do Sistema de Qualidade promove às empresas maior organização das atividades, introduzindo métodos de trabalho mais eficientes, através da sistematização, tornando-se importante para qualidade dos resultados finais.

Uma sugestão para trabalhos futuros é o cálculo de incerteza de medições para os principais processos.

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