Projeto Político Pedagógico das Medidas Socioeducativas no

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Projeto Poltico Pedaggico

das Medidas Socioeducativas

no Distrito Federal

Internao

Braslia

2013

Secretaria daCriana

Subsecretaria doSistema Socioeducativo

Projeto Poltico Pedaggico

das Medidas Socioeducativas

no Distrito Federal

Internao

Braslia

2013

Secretaria daCriana

Subsecretaria doSistema Socioeducativo

Carta aos

socioeducadores

e socioeducadoras

GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERALAgnelo QueirozSECRETRIA DE ESTADO DA CRIANARejane PitangaSECRETRIA ADJUNTACatarina de ArajoSUBSECRETRIA DO SISTEMA SOCIOEDUCATIVOLudmila de vila PachecoCOORDENADORA DE ARTICULAO DO SISTEMA SOCIOEDUCATIVOFernanda Rabelo de Carvalho BeltroGERENTE DA MEDIDA DE INTERNAO PROVISRIA E ESTRITAMaria Yvelnia Arajo Barbosa

COMISSO ORGANIZADORACludia Mrcia Ramos Assessora da Unidade de Atendimento Inicial nia Maria de Souza - Assessora da Unidade de Internao de Planaltina Fernanda Rabelo de C. Beltro Coordenadora de Articulao do Sistema Socioeducativo Luana Alves de Souza Stemler - Assa da Unidade de Internao de Planaltina Luciana Dias de Oliveira Rauzis - Chefe do Ncleo de Ensino da Unidade de Interna-o do Recanto das Emas Maria Yvelnia Barbosa - Gerente de Medidas de Internao e Internao Provisria Rosilene Beatriz Lopes Assa da Coordenao de Articulao do Sistema Socioeducativo Rosimiro Honorio Candido Junior - Coordenador de Projetos da Subsecretaria do Sistema Socioeducativo Thas Alves Moreira - Assessora da Unidade de Internao do Plano Piloto

COORDENADORES DAS OFICINASAparecida Velasco do Nascimento Souza - Gerente de Assistncia Social Gabriela de Macedo Fiuza Machado - Gerente de Educao Julia Galiza de Oliveira Assessora Especial do Gabinete/SUBSIS Julio Cesar Cabral da Costa - Gerente de Esporte, Cultura e Lazer Leandro Navarro Bueno ATRS. Gerncia de Trabalho e EmpregabilidadeLuciene P. Matos de Figueiredo - Gerente de Trabalho e EmpregabilidadeMaria Yvelnia A. Barbosa - Gerente de Medidas de Internao Estrita e ProvisriaMiriam Caetana de S. Ferreira Assessora do Gabinete/SUBSISPollyana Moreira de Assis - Gerente de SadeRosilene Beatriz Lopes Assessora da Coordenao de Articulao do Sistema So-cioeducativo

DIRETORES DE UNIDADES Claudia Habli Brando Parise Unidade de Atendimento Inicial (UAI)Gabriella Ferreira Araujo da Silveira Unidade de Internao de Planaltina (UIP)Jose Reinaldo de S. Oliveira Unidade de Internao do Recanto das Emas (UNIRE)Simone Borba Guimares de Paiva Unidade de Internao de So Sebastio (UISS) Renato Villela de Souza - Unidade de Internao do Plano Piloto (UIPP)

Carta aos

socioeducadores

e socioeducadoras

| 7 |Projeto Poltico Pedaggico das Medidas Socioeducativas no DF Internao

Carta aos socioeducadores e socioeducadoras

Prezados(as) socioeducadores e socioeducadoras do Distrito Federal,

Estarmos frente da Secretaria de Estado da Criana e da Sub-secretaria do Sistema Socioeducativo enfrentar diuturnamente enor-mes desafios. Trabalhamos com uma das mais grandiosas tarefas, a ressocializao de adolescentes em cumprimento de medidas socioe-ducativas. Ns acreditamos que os adolescentes so pessoas em pro-cesso de desenvolvimento, que o ser humano agente de transforma-o do mundo e no desprezamos as relaes que so estabelecidas ao longo de sua histria. Assim, defendemos que o socioeducando no pode ser entendido como o marginal, mas como um sujeito que em razo de um contexto mais amplo, que envolve condies materiais e suas relaes histricas, cometeu um ato infracional.

Iniciamos frentes de debates, discusses, construes, que pre-cisamos consolidar. Dentre elas, concretizamos a elaborao dos Pro-jetos Polticos Pedaggicos das Medidas Socioeducativas do Distrito Federal. Participao democrtica, coletividade, garantia de expresso do pensame nto, debates, equipes multidisciplinares, fazem parte do discurso e da prtica da gesto do governador Agnelo Queiroz e subsi-diaram a construo destes projetos. Muitas mos servidores e ser-vidoras, socioeducandos e socioeducandas e famlias, se uniram para dar o carter inovador aos projetos, que foram assentados em valores ticos e alinhados s legislaes vigentes.

| 8 | Projeto Poltico Pedaggico das Medidas Socioeducativas no DF Internao

Carta aos socioeducadores socioeducadoras

Os resultados advindos dos diagnsticos presentes nos Projetos Polticos Pedaggicos, que foi objeto de discusso pela comunidade socioeducativa nas oficinas, retornam na forma desta publicao nas mos de vocs, para continuarem as reflexes. Eles mostram as difi-culdades encontradas e os avanos significativos desta gesto. Tam-bm projetam que os socioeducadores e socioeducadoras podem fa-zer mais e as Unidades de Medidas Socioeducativas do Distrito Federal podem se destacar em nvel nacional pelo trabalho diferenciado. Esta a nossa convico inabalvel. Ainda temos um longo caminho a ser trilhado, mas quando se caminha junto se torna mais leve alcanar o que se almeja: adolescentes com proteo integral.

A elaborao desses Projetos Polticos Pedaggicos e sua execu-o , com certeza, um passo decisivo para garantir o sucesso do cum-primento da medida pelo socioeducando(a). Para esta tarefa, temos certeza de contar com o compromisso de todos os socioeducadores e socioeducadoras que, no cotidiano da Unidade, acompanhando cada adolescente, incansavelmente, continuam construindo cidadania.

Agradecemos a todos e todas que ajudaram a construir esses Projetos Polticos Pedaggicos, que no so somente projetos de cada Unidade de Atendimento Socioeducativo, mas se integram como pro-posta do governo do Distrito Federal.

Secretria de Estado da Criana do Distrito FederalRejane Pitanga

Subsecretria do Sistema Socioeducativo Ludmila de vila Pacheco

Apresentao

Apresentao

| 11 |Projeto Poltico Pedaggico das Medidas Socioeducativas no DF Internao

Considerando que infncia e adolescncia tm de estar sempre na linha de frente, que no podem mais permanecer sobrevivendo ao descaso e ao desprezo, que o direito vida no meramente direito sobrevivncia, que crianas e adolescentes do Distrito Federal preci-sam viver para que a capital da Repblica seja o modelo humanstico, e no apenas urbanstico, da nacionalidade brasileira, o governo do Distrito Federal, gesto 2011-2014, por meio da Secretaria de Estado da Criana do DF, vem implementando aes para reverter o quadro negativo ora encontrado em relao s medidas socioeducativas, fruto de anos de descaso.

Buscando atender ao objetivo proposto pela Secretaria de Esta-do da Criana do DF, implantar polticas pblicas voltadas promoo dos direitos infanto-juvenis, garantindo os cuidados essenciais nes-ta etapa da vida, vrias aes esto sendo desenvolvidas, tais como: construo de novas unidades de atendimento socioeducativo de in-ternao e semiliberdade; adequao fsica das unidades existentes de internao, semiliberdade e meio aberto; concurso pblico; curso de formao continuada para os servidores do sistema socioeducativo; criao do Ncleo de Atendimento Integrado (NAI); formao e forta-lecimento da rede de proteo com as diversas secretarias do Distrito Federal; e outras. Dentre essas aes, se encontra a organizao dos projetos pedaggicos das medidas socioeducativas do Distrito Federal.

Apresentao

| 12 | Projeto Poltico Pedaggico das Medidas Socioeducativas no DF Internao

Assim, numa proposta democrtica, com a participao da co-munidade socioeducativa foram construdos trs projetos, a saber:

(i) Projeto poltico pedaggico das medidas socioeducativas em meio aberto do DF;

(ii) Projeto poltico pedaggico da medida socioeducativa de semili-berdade do DF; e

(iii) Projeto poltico pedaggico da medida socioeducativa de inter-nao do DF.

Este terceiro volume, o projeto poltico pedaggico das medidas socioeducativas de internao do DF traduz uma construo democr-tica, haja vista que houve a participao de servidores, socioeducan-dos e suas famlias. Todos contribuindo para a formulao de um mo-delo de atendimento que mantm estreita ligao entre os interesses do Estado e as expectativas dos operadores que atuam nas Unidades de Atendimento do Sistema Socioeducativo.

com uma resposta afirmativa e adequada que o Sistema Socio-educativo do DF emerge no debate sobre a questo da delinquncia juvenil e as polticas de proteo ao adolescente. O desafio seguinte instituir este projeto no cotidiano do trabalho nas unidades de inter-nao, como referncia para a organizao da ao pedaggica dessa medida socioeducativa, visto que expressa a intencionalidade poltico pedaggica de um projeto de socioeducao e de sociedade.

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Sumrio

1 INTRODUO ....................................................................................................... 17

1.1 Misso .................................................................................................................. 21

1.2 Objetivos ............................................................................................................. 25

1.3 A construo coletiva .................................................................................... 29

2 MARCOS LEGAIS E HISTRICO .................................................................... 35

3 DIAGNSTICO MEDIDA DE INTERNAO E INTERNAO PROVISRIA NO DF .............................................................................................. 49

3.1 As unidades de internao e internao provisria do DF ........... 51

3.2 Perfil dos adolescentes que cumprem medida de internao e internao provisria no DF ............................................................................. 54

3.2.1 Perfil dos adolescentes da Unidade de Atendimento Inicial ........................................................................................................................... 71

3.3 Atendimento ao adolescente ..................................................................... 74

3.3.1 Atendimento ao adolescente na Unidade de Atendimento Inicial ........................................................................................................................... 75

3.4 Recursos materiais e humanos disponveis ........................................ 76

4 PRESSUPOSTOS TERICO METODOLGICO NA PERSPECTIVA DA LEGISLAO VIGENTE ................................................................................. 77

4.1 Famlia, estado e sociedade: corresponsabilidade ........................... 79

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Sumrio

4.2 Incompletude institucional: articulao de polticas e servios ................................................................................................................... 80

4.3 Prticas restaurativas ................................................................................... 82

4.4 Adolescncias ................................................................................................... 83

4.4.1 Conceito de adolescncia ........................................................................ 83

4.5 Sociedade do controle .................................................................................. 87

4.6 Segurana socioeducativa ........................................................................... 88

4.6.1 Incolumidade, integridade fsica e segurana (artigos 124 e 125 do ECA) ............................................................................... 89

4.6.2 Prevalncia da ao socioeducativa sobre os aspectos meramente sancionatrios ................................................................................ 90

4.6.3 Uso punitivo da fora X uso protetor da fora ................................ 91

4.7 Comunidade socioeducativa ...................................................................... 92

4.7.1 O socioeducador .......................................................................................... 92

4.7.1.1 Equipe Multiprofissional ..................................................................... 96

4.7.2 O socieducando ............................................................................................ 97

4.7.2.1 Excepcionalidade, brevidade e respeito condio peculiar de pessoa em desenvolvimento ..................................................... 97

4.7.2.2 Protagonismo Juvenil ......................................................................... 100

4.7.3 A famlia ....................................................................................................... 101

4.7.3.1 A famlia na atualidade ...................................................................... 102

5 AES E ATIVIDADES SOCIOEDUCATIVAS .......................................... 105

5.1 Eixos norteadores ....................................................................................... 107

5.1.1. Acompanhamento ao adolescente, famlia e comunidade ....................................................................................................... 107

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Sumrio

5.1.2. Diversidade tnico-racial, gnero e orientao sexual ....................................................................................................................... 113

5.1.3. Educao .................................................................................................... 119

5.1.4. Esporte, Cultura e Lazer ....................................................................... 127

5.1.5. Sade ............................................................................................................ 131

5.1.6. Profissionalizao e Trabalho ........................................................... 138

5.1.7. Segurana ................................................................................................... 141

5.2 Instrumentais para registro das abordagens e acompanhamento aos adolescentes ........................................................... 146

6 RECURSOS HUMANOS E FSICOS ............................................................. 151

6.1. Capacitao introdutria e formao continuada ........................ 153

6.2. Superviso externa e acompanhamento das unidades .............. 156

6.3. Composio e dinmica das equipes .................................................. 157

6.3.1 O trabalho por fases ................................................................................ 159

6.4. Estrutura fsica das unidades ................................................................ 163

7 MONITORAMENTO E AVALIAO ........................................................... 165

8 PRXIMOS PASSOS ......................................................................................... 169

CONSIDERAES FINAIS ................................................................................. 173

REFERNCIAS ...................................................................................................... 181

ANEXOS ................................................................................................................... 187

ANEXO 01 - DOCUMENTOS DAS UNIDADES ............................................ 189

ANEXO 02 SERVIDORES E CONVIDADOS PARTICIPANTES DAS OFICINAS DE CONSTRUO DO PROJETO POLTICO PEDAGGICO ................................................................................... 191

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Sumrio

ANEXO 03 QUANTITATIVO DE SOCIOEDUCANDOS PARTICIPANTES DAS OFICINAS DE CONSTRUO DO PROJETO POLTICO PEDAGGICO .............................................................. 197

ANEXO 04 QUANTITATIVO DE FAMLIAS PARTICIPANTES DAS OFICINAS DE CONSTRUO DO PROJETO POLTICO PEDAGGICO ........................................................................................................ 197

Introduo

Introduo

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Introduo

A medida socioeducativa de internao constitui-se, segundo o Estatuto da Criana e do Adolescente - ECA Art. 121, medida privativa da liberdade, sujeita aos princpios de brevidade, excepcionalidade e respeito condio peculiar de pessoa em desenvolvimento.

Para desenvolv-la, o Sistema Nacional de Atendimento Socio-educativo - SINASE (2006) apresenta que (i) as Unidades e/ou pro-gramas de atendimento socioeducativo devero construir seu proje-to educativo contendo os princpios norteadores de sua proposta, o entendimento do trabalho que se quer, os objetivos e a organizao que vai se dar para alcanar estes objetivos (p.42); (ii) o projeto pe-daggico deve ser o ordenador de ao e gesto do atendimento so-cioeducativo, devem ter, obrigatoriamente, projeto pedaggico claro e escrito em consonncia seus princpios; (iii) sua efetiva e conseqente operacionalizao estar condicionada elaborao do planejamento das aes (mensal, semestral, anual) e consequente monitoramento e avaliao (de processo, impacto e resultado), a ser desenvolvido de modo compartilhado (equipe institucional, adolescentes e famlias) (p. 47); (iv) o espao fsico e sua organizao espacial e funcional, as edificaes, os materiais e os equipamentos utilizados nas Unidades de atendimento socioeducativo devem estar subordinados ao projeto pedaggico objetivando humanizar o atendimento e transformar as Unidades em ambientes verdadeiramente socioeducativos (p.48-49).

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Introduo

Assim, atendendo ao previsto no SINASE (2006), este documen-to apresenta os marcos legais, o diagnstico da medida de internao e internao provisria no Distrito Federal, os pressupostos tericos metodolgicos na perspectiva da legislao vigente, as aes e ativida-des socioeducativas.

Ao tratar esses temas, partiu-se de uma viso de mundo, de ho-mem e de educao aproximadas, comungando com os pensamentos de Makarenko, Freinet, Freire e Costa, que concebem o homem como agente de transformao do mundo e no despreza as relaes que so estabelecidas ao longo de sua histria e a educao como um processo, que possibilita ao homem situar-se no mundo e ser esse agente, sujei-to de seu prprio destino.

Ademais, considerando a diversidade de categorias profissio-nais e as diferentes correntes tericas que embasam as formaes e atuaes desses profissionais, e na perspectiva de garantir a autono-mia no que concerne a adoo de correntes terico-metodolgicas, a proposta apresentada tem como embasamentos a legislao brasileira vigente (Constituio Federal, Estatuto da Criana e Adolescente, Lei n. 12.594, que institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioe-ducativo) e as legislaes internacionais, tais como Regras de Beijing, Conveno dos Direitos de Crianas e Adolescente, dentre outras.

Ressalta-se que para a construo desse projeto foram retoma-das, ainda, propostas pedaggicas e outros documentos1 produzidos pelas Unidades, que apresentavam a organizao do trabalho realiza-do e experincias sistematizadas ao longo do tempo; a realidade vi-venciada em cada unidade, as aspiraes - objetivos que se desejam alcanar e sonhos a realizar, apresentados e debatidos pelos socioedu-cadores de forma coletiva.

1 Conforme Anexo 01.

Misso

Misso

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1 Misso

Promover a reintegrao social do adolescente em cumprimento de medida socioeducativa de internao ou em internao provisria e interferir, efetivamente, na trajetria do adolescente apreendido em flagrante por prtica de ato infracional, preparando-os para o convvio social; a partir da reflexo sobre as consequncias lesivas do ato infra-cional praticado, do desenvolvimento da autonomia, do aprendizado da cooperao e da construo de seu projeto de vida.

Objetivos

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Carta aos socioeducadores

Objetivos

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1.2 Objetivos

GeralImplementar uma proposta Poltico Pedaggica elaborada com

a participao da comunidade socioeducativa, coerente com a doutri-na da proteo integral e legislaes correlatas, proporcionando aos adolescentes privados de liberdade condies para o desenvolvimento da autonomia, o aprendizado da cooperao e da participao social.

Objetivos Especficos Propiciar a formao de uma comunidade socioeducativa

responsvel e comprometida com o processo educativo do adolescente;

Orientar as aes desenvolvidas pelos profissionais que atu-am com socioeducao, visando garantia dos direitos hu-manos e ao exerccio da cidadania;

Buscar a integrao das polticas pblicas, assegurando o acesso dos adolescentes e familiares rede de servios e programas sociais;

Corresponsabilizar e envolver a famlia em todas as etapas do processo de cumprimento da medida socioeducativa;

Ampliar a rede de atendimento, buscando parcerias pblico--privadas.

A construo

coletiva

A construo

coletiva

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1.3 A construo coletiva

O movimento de construo do PPP iniciou-se em dezembro de 2012, momento em que houve reunio com os diretores das unidades para definirem como, quando e de que forma seria essa construo. Em seguida, foi instituda comisso composta por um servidor de cada instituio para definir a metodologia a ser utilizada. Essa comisso foi a responsvel pela elaborao do diagnstico, pesquisa sobre o hist-rico da medida no DF, bem como pela anlise dos diversos documen-tos j elaborados pelos servidores nos ltimos anos (anexo 01). Assim, foi organizado o material que subsidiou as discusses nas oficinas de construo do PPP.

Entendendo que o projeto poltico pedaggico somente adquire legitimidade poltico institucional e pedaggica quando resultante da participao da comunidade socioeducativa, diretamente ou por representatividade, a partir do total de servidores lotados em cada unidade, organizou-se a representatividade de 10% de servidores, distribudos de maneira equitativa entre as diversas categorias. Esses servidores foram os multiplicadores, levando, ao longo do processo, as discusses para os demais profissionais das unidades. Alm desses, tambm participaram os servidores da Subsecretaria do Sistema So-

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A construo coletiva

cioeducativo, os representantes da Secretaria de Estado de Educao e dos ncleos de sade das Unidades. Assim, contou-se com a parti-cipao de 149 (cento e quarenta e nove) servidores nas oficinas de construo (anexo 02).

Inicialmente, foram apresentados para todos os participantes das oficinas os marcos legais, histrico e o diagnstico da medida de internao e internao provisria no DF. Em seguida, os participantes foram organizados em quatro grupos para a realizao das oficinas de construo do referencial terico metodolgico. Todos os grupos pos-suam material elaborado pela comisso para subsidiar as discusses.

Para trabalhar os eixos norteadores, utilizou-se da metodologia do painel integrado. De posse de um estudo de caso real2, da legislao vigente e, ainda, do referencial terico, os participantes, consideran-do cada eixo norteador, discutiram pontos fortes, avanos nos ltimos anos e fragilidades; bem como apresentaram sugestes para qualificar o atendimento ao adolescente.

Cabe destacar que, para subsidiar essa discusso, foram convida-dos profissionais do sistema socioeducativo e outros especialistas para apresentarem aspectos tericos e prticos das temticas de cada eixo.

Foram escolhidos relatores e coordenadores para cada grupo que apresentaram os textos produzidos em grupos distintos dos seus, viabilizando a discusso e contribuies de todos os participantes.

Por fim, o resultado dessa etapa foi sistematizado em texto e dis-ponibilizado via e-mail aos servidores das Unidades, para participa-rem da construo do projeto.

Ressalta-se que a Secretaria de Estado de Educao, tambm, se fez presente na construo deste projeto, por meio dos educadores que atuam nas escolas localizadas dentro das Unidades. Foram seis re-

2 Ressalta-se que, para o estudo de caso, foram modificadas todas as informaes que identifica-vam o adolescente, preservando o sigilo.

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A construo coletiva

presentantes, que contriburam, buscando-se construir sintonia entre o projeto poltico pedaggico das escolas e o da medida socioeducati-va de internao e internao provisria, haja vista que as atividades devem ser consequentes, complementares e integradas em relao metodologia, contedo e forma de serem oferecidas (SINASE, 2006, p.59). Para tanto, foi realizada oficina a partir da anlise documental dos projetos polticos pedaggicos dessas instituies e da reflexo so-bre o cotidiano da unidade e a situao escolar dos adolescentes.

Participaram, ainda, do processo de construo quatro profis-sionais da Secretaria de Estado da Criana que atuam nos ncleos de sade das Unidades. Com este grupo houve oficina subsidiada pelo Plano Operativo Estadual de ateno sade dos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de internao e internao provisria (POE).

Ambos os grupos, da educao e da sade, trabalharam levan-tando os pontos fortes, as fragilidades e sugerindo melhorias para es-ses eixos.

Para a participao dos adolescentes e de suas famlias foram realizados grupos focais. Projetaram-se vdeos para iniciar o trabalho e, em seguida, perguntas foram realizadas, buscando identificar o que eles consideravam como pontos positivos e pontos negativos, bem como ouvir suas sugestes. Participaram desses grupos focais 60 ado-lescentes, sendo 50 do sexo masculino e 10 do sexo feminino (anexo 3). Destes, cinco se encontravam em medida cautelar de internao provisria e 55 em medida socioeducativa de internao. Quanto aos familiares, foram 16 participantes, sendo 12 do sexo feminino e quatro do sexo masculino (anexo 4). Cabe informar que os adolescentes se en-contravam em privao de liberdade em quatro unidades Unidade de Internao de Planaltina - UIP, Unidade de Internao do Plano Piloto - UIPP, Unidade de Internao do Recanto das Emas - UNIRE e Unidade de Internao de So Sebastio - UISS - e alguns j haviam sido atendi-dos na Unidade de Atendimento Inicial (UAI).

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2 Marcos legais e histrico

Para um melhor entendimento do contexto em que se insere a medida socioeducativa de internao, faz-se necessrio compre-ender a trajetria percorrida na busca pela garantia dos direitos da criana e do adolescente. Para tanto, deve-se conhecer a histria do sistema socioeducativo a partir dos diferentes marcos legais, enten-dendo que as concepes de infncia e adolescncia, e as respectivas prticas adotadas em prol desse pblico so reflexo de um determi-nado momento histrico.

A Declarao Universal dos Direitos Humanos, de 1948, inau-gurou uma nova fase mundial no que tange concepo de homem e garantia de direitos individuais e coletivos. No Brasil, a legislao passou a assimilar a Declarao dos Direitos Humanos apenas com a promulgao da Constituio Federal, em 1988, e com o Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA), de 1990. Mais recentemente, destaca--se ainda a promulgao da Lei 12.594 (SINASE), o que representou uma grande conquista no percurso pela garantia dos Direitos da Crian-a e do Adolescente.

O artigo 227 da Constituio Federal define que dever da famlia, do Estado e da sociedade, assegurar criana e ao adolescente, com absoluta prioridade, o di-reito vida, sade, alimentao, educao, ao lazer, profissionalizao, cultura, dignidade, ao respeito,

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Marcos legais e histrico

liberdade e convivncia familiar e comunitria, alm de coloc-los a salvo de toda forma de negligncia, discrimi-nao, explorao, violncia, crueldade e opresso.

Em observao a este preceito Constitucional, foi criada a lei n 8.069 de 13 de julho de 1990 que dispe sobre o Estatuto da Criana e do Adolescente e da proteo integral de tais cidados. Elaborado a partir da Doutrina da Proteo Integral, o ECA traz como princpio a garantia de direitos aplicados pessoa humana (sade, educao, trabalho, lazer, habitao, dentre outros) e abarca a compreenso das necessidades diferenciadas que demandam a fase peculiar de desen-volvimento fsico, psquico, moral e social em que se encontram as crianas e os adolescentes. A lei determina ainda que as crianas e adolescentes devem ser alvo de leis especficas e prioridade na garan-tia de todos os seus direitos.

Em seu artigo 3, a citada lei estabelece ainda que a criana e o adolescente gozam de todos os direitos fun-damentais inerentes pessoa humana, sem prejuzo da proteo integral de que trata esta lei, assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e fa-cilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento fsico, mental, moral e espiritual.

Em se tratando de adolescente autor de ato infracional, a legisla-o, ao considerar sua condio peculiar de desenvolvimento, aplica--lhe medidas socioeducativas que no objetivam somente a punio, mas principalmente a mudana de comportamento atravs de uma perspectiva pedaggica.

Para se aplicar uma medida socioeducativa, dever ser levado em conta a capacidade do adolescente em cumpri-la, bem como as cir-cunstncias e a gravidade da infrao (art, 112, 1, ECA). Sobre a me-dida socioeducativa de internao, o artigo 121 do ECA preconiza que ela deve estar sujeita aos princpios de brevidade, excepcionalidade e respeito condio peculiar de pessoas em desenvolvimento.

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Marcos legais e histrico

A internao provisria, medida cautelar, aplicada antes da sentena, aos adolescentes acusados de cometimento de ato infra-cional, regida pelos mesmos princpios constitucionais da medida socioeducativa de internao, considerando-se os prejuzos que a privao de liberdade ocasiona na vida de um adolescente. Conforme o Art.108 do ECA a internao, antes da sentena, que no se caracte-riza como medida socioeducativa, pode ser determinada pelo prazo mximo de 45 dias.

Destaca-se que a internao provisria aproxima-se bastante da medida de internao, ainda que tenha finalidade totalmente diversa: enquanto esta tem carter sancionatrio e implica o reconhecimento de que o adolescente cometeu um ilcito penal, aquela tem o escopo de garantir a aplicao da lei e est ligada aos fins do processo judicial. Ambas as medidas, entretanto, retiram do jovem o direito de ir e vir e, portanto, devem ser aplicadas em ltimo caso, isto , somente quando imprescindveis para se atingir a finalidade pretendida.

Isto significa que os adolescentes que cumprem a internao provisria possuem os mesmos direitos daqueles que cumprem uma medida de internao, e as Unidades que atendem adolescentes inter-nados a ttulo provisrio e definitivo tm funcionamento coinciden-tes, principalmente quanto ao oferecimento de atividades de carter educativo-pedaggico.

Cabe ressaltar que, no obstante todos os avanos obtidos com a legislao, a implementao das medidas socioeducativas previs-tas pelo ECA tem sido um grande desafio para a sociedade brasileira. Diante da presso social em torno da temtica do adolescente autor de ato infracional e das dificuldades da implementao de uma pol-tica especializada, em 2006 iniciou-se um amplo processo de discus-so coletiva entre sociedade civil, Estado, especialistas e atores sociais do Sistema de Garantia de Direitos da Criana e do Adolescente nas diversas regies do pas, resultando na criao do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE). O documento foi publicado

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Marcos legais e histrico

como uma resoluo do Conselho Nacional dos Direitos da Criana e do Adolescente (CONANDA), tornando-se normativa.

No dia 18 de janeiro de 2012, aps novas discusses em mbito nacional, aprovao na Cmara e Senado Federal, alm de anexadas al-gumas emendas, o SINASE foi sancionado como a Lei Federal n 12.594.

O SINASE surge, portanto, como uma forma de regulamentar a poltica de atendimento a adolescentes em conflito com a lei em todo territrio nacional. um instrumento jurdico-poltico que comple-menta o Estatuto da Criana e do Adolescente em matria de ato in-fracional e medidas socioeducativas. Pode ser concebido como um conjunto ordenado de princpios, regras e critrios, de carter jur-dico, poltico, pedaggico, financeiro e administrativo, que envolve desde o processo de apurao de ato infracional at a execuo da medida socioeducativa.

A nova legislao traz consigo as normas para as entidades que so responsveis pelo desenvolvimento de programas de atendimen-to, bem como parmetros e diretrizes da gesto pedaggica no aten-dimento socioeducativo. Para tanto, estabelece que o adolescente deve ser alvo de um conjunto de aes socioeducativas que contribuam na sua formao, de modo que venha a ser um cidado autnomo e so-lidrio, capaz de relacionar-se consigo mesmo, com os outros e com tudo que integra sua circunstncia e seu reincidir na prtica de atos infracionais (SINASE, 2009).

No mbito do Distrito Federal, a ateno ao adolescente que era autor de infrao, iniciou em 1973, quando a ento Fundao do Ser-vio Social - FSS/DF encaminhou Fundao Nacional do Bem-Estar do Menor FUNABEM, um projeto de atendimento a Menor Autor de Ato de Infrao, solicitando um acordo de cooperao financeira para execuo do projeto arquitetnico que servisse de base referida pro-posta. Esta foi analisada pela FUNABEM, sofrendo as alteraes que aquele rgo julgou necessrias.

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Marcos legais e histrico

Ao trmino da construo do espao fsico, a FUNABEM mani-festou interesse em operacionalizar o atendimento, uma vez que essa Unidade seria considerada centro piloto para a implementao de me-todologias de tratamento em termos preventivo e teraputico e treina-mento de recursos humanos para a execuo da Poltica Nacional do Bem Estar do Menor PNBEM, na regio Centro-Oeste. Para esse fim, a FUNABEM elaborou projetos especficos, contratou pessoal e execu-tou o atendimento em 1979 e 1980. Ainda em 1980, a FUNABEM, por meio da Superintendncia Braslia, promoveu encontros com organis-mos do governo local envolvidos no atendimento a menores em situa-o irregular, visando analisar as atribuies detectadas, competindo FUNABEM normatizar o atendimento a menores em situao irre-gular, ao Juizado de Menores dispor sobre a assistncia, proteo e vigilncia a esses menores, e Fundao do FSS/DF operacionalizar as medidas indicadas pelo Juizado de Menores.

Dada impossibilidade da FSS/DF assumir de imediato suas atribuies, o Juizado de Menores que j executava a triagem de in-fratores, portanto com experincia em termos operacionais, pronti-ficou-se a administrar a Unidade de Internao, at que a FSS/DF se estruturasse para faz-lo, criando assim o Centro de Triagem e Atendi-mento ao Menor CETRAM.

Em 1983, a FSS/DF elaborou o Projeto de Atendimento ao Me-nor Infrator (PROAMI) o qual absorveu o Centro de Triagem e Aten-dimento ao Menor - CETRAM, subdividindo-se em trs Unidades Es-pecializadas, designadas como: Centro de Triagem e Observao de Menores (CETRO); Comunidade de Educao e Integrao e Apoio de Menores de Famlia (COMEIA) e Comunidade de Terapia e Educao de Menores (COTEME).

A Unidade COMEIA passou a coordenar o atendimento a adoles-centes autores de infraes, sendo a responsvel pelo seu acolhimento e tratamento, conforme preconizava a legislao poca.

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Em 1985, como parte do programa de atendimento ao menor no Distrito Federal, um grupo de especialistas elaborou uma proposta que identificava os bloqueios existentes e indicava as alternativas que viabilizariam a melhora, do ponto de vista qualitativo, com o fim de agilizar o fluxo pelo qual o menor passava nesse sistema.

De 1985 a 1990, essas propostas contariam com a participao de vrios rgos, buscando propiciar atendimento mais efetivo, eficaz e humanitrio. Os resultados de operacionalizao foram se desgas-tando em face da deficincia de recursos humanos, financeiros e ma-teriais. Assim, este atendimento foi priorizado em termos de proposta, mas no quando da execuo, seja por questes de ordem poltica, ad-ministrativa e/ou cultural, ou seja pela complexidade que este atendi-mento requeria.

Em 1990, face a promulgao do Estatuto da Criana e do Ado-lescente e ao aumento do nmero de adolescentes envolvidos em atos infracionais, a poltica e as propostas de atendimento ao adolescente em conflito com a lei passaram por um processo de reordenamento, que buscou atender aos aspectos constitucionais e legais, bem como propiciar um melhor atendimento aos adolescentes e seus familiares.

Nesse processo, desativou-se a COMEIA, passando-se a opera-cionalizao do atendimento ao adolescente autor de ato infracional para a responsabilidade do CETRO, que passou a denominar-se CERE Centro de Recluso de Adolescente Infrator. A partir de ento, as propostas de atendimento ao adolescente infrator foram reordenadas com o intuito de melhor se adequarem ao cumprimento da nova or-dem jurdica, configurando-se em:

Liberdade Assistida executada pelos Centros de Desenvol-vimento Social CDS, localizados nas Regies Administrati-vas de Braslia.

Semiliberdade executada pelas Unidades Domiciliares, lo-calizadas nas Regies Administrativas de Braslia.

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Internao executada por uma unidade de internao, o CERE.

Em setembro de 1991, a ento Secretaria de Desenvolvimento Social, procurando adequar a poltica de atendimento ao adolescen-te s exigncias da nova legislao, constituiu um grupo de trabalho que props a criao do sistema de atendimento das medidas socio-educativas.

Em 1992, como prosseguimento de tais aes, constituiu-se uma comisso de trabalho para elaborao de proposta para atendimento ao adolescente privado de liberdade no CERE, resultando na elabo-rao dos documentos: Plano de Interveno e a aprovao da Lei n 663, de 28 de janeiro de 1994, que dispe sobre a criao do Centro de Atendimento Juvenil Especializado CAJE, antigo CERE, cujas instala-es permaneceram as mesmas em sua base.

No ano de 1995 foi criada a Secretaria de Estado da Criana e As-sistncia Social do Distrito Federal - SECRAS, responsvel pela poltica de assistncia e execuo das medidas socioeducativas. Nesse perodo, foram construdas novas alas dentro do CAJE, alm da escola e galpo para refeitrio.

Em 1997, educao e profissionalizao estiverem em pauta, por meio de articulao com a Secretaria de Estado de Educao do DF e com a Fundao Airton Senna, havendo a implementao das ofici-nas profissionalizantes dentro da Unidade.

Houve muitas tentativas de se implementar um modelo mais pe-daggico e humanizado no CAJE, porm o crescimento da cidade e da violncia urbana, a insuficiente existncia de polticas preventivas, a falta de investimento nas medidas em meio aberto, a ausncia de con-cursos pblicos para as medidas socioeducativas e de um programa continuado de formao e treinamento dos servidores, alm das dis-putas polticas, e da falta de uma estrutura fsica adequada, impediram que as necessrias mudanas tivessem continuidade.

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Pela inadequao fsica para o trabalho socioeducativo, a ocorrn-cia de vrias mortes de adolescentes e relatos de maus tratos dentro do CAJE, desde 1992 existem aes judiciais solicitando sua desativao.

Diante das rebelies e mortes ocorridas na Instituio no ano de 1998, a Polcia Civil em conjunto com a Secretaria de Estado de Ao Social do Distrito Federal/ SEAS/DF realizou uma interveno na Uni-dade assumindo sua direo, e permanecendo at 2007.

Nesse perodo, em 2002, a SEAS era a responsvel pela coorde-nao da Poltica de Assistncia Social no Distrito Federal e pela exe-cuo das Medidas Socioeducativas aplicadas pela Vara da Infncia e Juventude a adolescentes autores de atos infracionais. Foi elaborado um documento que tratava da concepo geral da ao programtica da Poltica de Assistncia Social do Distrito Federal, instrumento pro-posto para garantir o atendimento populao, nos diversos segmen-tos sociais, inclusive para os adolescentes em medida socioeducativa.

At o ano de 2003, a nica Unidade destinada execuo da me-dida de internao dos adolescentes era o CAJE, quando houve o in-cio das atividades no Centro Socioeducativo Amigoniano - CESAMI ou CAJE II, mediante convnio do governo do Distrito Federal com a Con-gregao dos Religiosos Tercirios Capuchinhos de Nossa Senhora das Dores, administrada pelos padres Amigonianos e criado para alojar os adolescentes em cumprimento de internao provisria. Entretanto, o CESAMI logo se tornou insuficiente para alojar todos os adolescentes nessa condio, e, assim, o CAJE continuou a receber os adolescentes em internao provisria.

Em 2005, o CAJE, ainda estava vinculado Secretaria de Estado e Ao Social/SEAS, e, atravs de convnio, era administrado por servi-dores da Secretaria de Estado e Segurana Pblica. Nesse ano, estavam lotados no CAJE 18 agentes da polcia civil, alm da diretora e do vice--diretor, que eram delegados.

No final do referido ano, sob um contexto de violao de direitos dos adolescentes internados nessa Unidade, o Centro de Defesa dos

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Direitos da Criana e do Adolescente do Distrito Federal acionou a Co-misso Interamericana de Direitos Humanos da OEA, buscando a con-cesso de medida cautelar para obrigar o Estado brasileiro, por meio do Distrito Federal, a garantir a plenitude dos direitos das crianas e dos adolescentes.

A medida cautelar foi concedida em nove de fevereiro de 2006, com prazo de seis meses, prorrogveis por mais seis meses, para o cumprimento das seguintes aes: enfrentamento da superlotao; proteo dos adolescentes internos; melhoria das condies de insa-lubridade do CAJE; eliminao da privao do acesso ao ptio e visita de familiares como forma de punio; garantia de recursos judiciais para o controle da legalidade das causas da internao e preveno de afetaes vida e integridade fsica.

Mediante esse cenrio, nos anos seguintes foram inauguradas duas novas Unidades de Internao: o Centro de Internao de Adoles-centes Granja das Oliveiras CIAGO, em 2006, e o Centro de Interna-o de Adolescentes de Planaltina CIAP, em 2008. A primeira, quan-do inaugurada, foi gerenciada pelos padres amigonianos, depois pela Casa de Harmonia do Menor Carente e, ainda, pelo Instituto do Desen-volvimento Profissional (IDP). Em 2010 o Estado assumiu sua gesto.

A criao dessas Unidades teve como objetivo reduzir a superlo-tao no CAJE. No entanto, ao longo dos anos, houve um aumento das internaes de adolescentes e essas construes no foram suficientes para resolver a problemtica de superlotao.

No dia 01 de janeiro de 2007, a gesto e a execuo das medidas so-cioeducativas do Distrito Federal foram transferidas da SEAS, que a partir de 2007 passou a denominar-se Secretaria de Estado de Desenvolvimen-to Social e Transferncia de Renda / SEDEST, para a recm-criada Secreta-ria de Estado de Justia, Direitos Humanos e Cidadania do Distrito Federal SEJUS, pelo Decreto Lei n. 27.591, artigo 3, perodo em que tambm a Secretaria de Segurana Pblica deixou de gerenciar o CAJE.

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Em 2008, com a presso das instituies da sociedade civil orga-nizada: Ministrio Pblico - MP, Comisso de Direitos Humanos da C-mara Legislativa, dentre outros, foi realizado concurso para a carreira da assistncia social, depois do Governo do Distrito Federal assinar um Termo de Ajustamento de Conduta. Por meio desse concurso, houve, portanto, a contratao de atendentes de reintegrao social, psiclo-gos, assistentes sociais e pedagogos.

Ressalta-se que o ltimo concurso da carreira havia ocorrido em 1997, mas somente para o cargo de Atendentes de Reintegrao Social, e anterior a ele em 1993, que contemplou tambm vagas para psiclogos, assistentes sociais e pedagogos. Desde ento, a necessida-de crescente de novos servidores no sistema era suprida por meio de contratos terceirizados.

Nos anos de 2008 e 2009, foi realizado um curso de formao para os servidores do sistema socioeducativo pelo Programa de Estudos e Ateno s Dependncias Qumicas da Universidade de Braslia, em par-ceria com a SEDH e a SEJUS, com vistas a capacitar os servidores das diversas reas de atuao e aprimorar o atendimento realizado junto aos socioeducandos.

Em 2010, foi realizado outro concurso pblico pela SEJUS, para suprir os cargos de atendentes de reintegrao social, agentes admi-nistrativos, arquitetos, engenheiros, advogados, psiclogos, assisten-tes sociais e pedagogos. Aos novos servidores foi ofertado curso de capacitao inicial, perfazendo um total de 40 horas.

Com a mudana de governo, em janeiro de 2011, foi criada a Se-cretaria de Estado da Criana SECriana, por meio do Decreto Distrital n. 32.716, que lhe atribuiu a funo de gerir as medidas socioeducativas.

Sob a coordenao da SECriana, iniciou-se um processo de reestruturao de todo o sistema socioeducativo. Criou-se uma es-trutura de gesto na rea central, com nova composio de cargos, preenchidos, em grande parte, por servidores de carreira e tambm a

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Corregedoria da SECriana, o que tem permitido o acompanhamento qualificado do trabalho desenvolvido no sistema, o estabelecimento de parcerias com outras Secretarias e organizaes no governamentais e o planejamento das aes. Em relao s Unidades de Internao, es-tas tiveram sua nomenclatura alterada. CAJE, CIAGO e CIAP passaram a ser respectivamente: Unidade de Internao do Plano Piloto UIPP, Unidade de Internao do Recanto das Emas - UNIRE e Unidade de Internao de Planaltina - UIP.

Frente s dificuldades constantemente vivenciadas pela UIPP, decorrentes da superlotao e da estrutura fsica inadequada, em 2012, foi elaborado o Plano de Desocupao da Unidade, composto por trs eixos:

(1) aes voltadas aos adolescentes que cumprem medida socioedu-cativa de internao na UIPP: refere-se qualificao do atendi-mento e da rotina atual da UIPP;

(2) aes voltadas a solucionar a situao de superlotao da UIPP: inclui a implantao do Ncleo de Atendimento Integrado e da Unidade de Atendimento Inicial para atender os adolescentes apreendidos em flagrante, atualmente acolhidos pela UIPP; cons-truo/aluguel de imvel para implantao de nova unidade para Internao Provisria;

(3) Construo de outras 05 unidades de internao, a serem conclu-das at setembro de 2013.

Ainda em 2012, e na perspectiva de diminuir o quantitativo de adolescentes da UIPP, houve a transferncia das adolescentes do sexo feminino para a unidade de internao do Recanto das Emas.

Em agosto do mesmo ano, foram nomeados 141 servidores para o sistema socioeducativo, contemplando no apenas as unidades de internao, mas tambm as de atendimento em meio aberto.

Destaca-se, ainda, que, em fevereiro de 2013, houve a implanta-o do Ncleo de Atendimento Integrado NAI, no Distrito Federal, de

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acordo com o estabelecido no art. 88, inciso V, do Estatuto da Criana e do Adolescente ECA e no art. 4, inciso VII, da Lei 12.594/12 para o atendimento inicial ao adolescente autor de ato infracional. Esse Ncleo rene, no mesmo espao fsico, o conjunto de instituies do Sistema de Garantia de Direitos com objetivo de prestar atendimento imediato, eficaz, eficiente, humano e educativo ao adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional, garantindo, ainda, o exerccio da atividade jurisdicional no NAI.

Atualmente, vrias aes esto sendo desenvolvidas para garan-tir a rede de proteo integral aos adolescentes, tais como: (i) Elabo-rao da Minuta do Documento Orientaes para o atendimento aos adolescentes em cumprimento de Medida socioeducativa no mbito do SUAS- 20/05/2013 formulado pela SECriana e SEDESTE, que prope a integrao do atendimento do adolescente em cumprimen-to em medida socioeducativa e de sua famlia pelo Sistema nico de Atendimento Social (SUAS); (ii) Retomada das atividades do Grupo Gestor do POE, integrao entre a rede Secretaria de Estado de Sade (SES) SES e SECriana para acompanhar e avaliar as aes em sade realizadas nas unidades do Sistema Socioeducativo e (iii) Termo de Cooperao tcnica n 02/2013 e Portaria Conjunta n 08 de 16 de abril de 2013, publicada no DODF N 80, assinados pela Secretaria de Estado da Educao do DF e Secretaria de Estado da Criana do DF. Os documentos propem aes que visam garantir uma melhor qualida-de de atendimento escolar aos socioeducandos.

Diagnstico da

medida de

internao e

internao

provisria

no DF

Diagnstico da

medida de

internao e

internao

provisria

no DF

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3 Diagnstico da Medida de Internao e Internao Provisria no DF

O presente diagnstico encontra-se dividido em quatro sub-t-picos. No primeiro, discorre-se sobre a que estrutura as Unidades de Internao do Distrito Federal esto vinculadas e descreve-se, muito sucintamente, sobre cada uma dessas unidades. Em seguida, apresen-ta-se o perfil dos adolescentes em medida de internao do DF e em medida de internao provisria, com base nos dados da SINOPSE de 2011 e 2012. Por conseguinte, traou-se uma relao entre o quanti-tativo de servidores existentes nas unidades de internao e o pro-posto pelo SINASE e pela Lei 12.594, de 18 de janeiro de 2012. Por fim, descreve-se alguns dos principais desafios para implementao da medida socioeducativa de internao estrita e provisria no Distri-to Federal.

3.1 As unidades de internao e internao provisria do Distrito Federal

Conforme j mencionado, desde 2010, as medidas socioeducati-vas esto sob a responsabilidade da Secretaria de Estado da Criana do Distrito Federal (SECriana). Em sua estrutura, a SECriana contempla quatro Unidades de Internao, quais sejam:

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Diagnstico da medida de internao...

Unidade de Atendimento Inicial (UAI); Unidade de Internao do Plano Piloto (UIPP); Unidade de Internao de Planaltina (UIP); Unidade de Internao do Recanto das Emas (UNIRE); Unidade de Internao de So Sebastio (UISS).

A UAI est localizada no Setor de Armazenagem e Abastecimen-to Norte - SAAN, Braslia - DF em funcionamento desde fevereiro de 2013, tem capacidade para receber 28 adolescentes ao dia, sexo mas-culino e feminino, alcanando em mdia o acolhimento de 500 adoles-centes ao ms.

A UIPP est localizada na Asa Norte Braslia a unidade mais antiga do sistema socioeducativo, antes denominada de CAJE (Centro de Atendimento Juvenil Especializado). Tem capacidade para atender 165 adolescentes do sexo masculino, mas atende atualmente, uma m-dia de 350, entre adolescentes em medida socioeducativa de interna-o, internao provisria e sano. Nesse contexto, a UIPP encontra-se em processo de desativao em razo da precariedade e insalubridade de sua estrutura, alm da superlotao, e j foi alvo de diversas denn-cias por parte de conselhos de direitos e outras instituies que lidam com a garantia dos direitos de crianas e adolescentes.

A UIP est situada na regio administrativa de Planaltina, tem capacidade para acolher 80 adolescentes do sexo masculino em regi-me de internao estrita e internao sano, entretanto, a demanda que tem recebido vem sendo maior do que a prevista.

No Recanto das Emas, est localizada a UNIRE, que atende ado-lescentes do sexo masculino e feminino em medida socioeducativa de internao e sano e medida cautelar de internao provisria. Pos-sui capacidade de alojamento para 144 socioeducandos, mas a deman-da que tem recebido se encontra superior prevista.

Por fim, a UISS est localizada na regio administrativa de So Sebastio, atende apenas adolescentes do sexo masculino em regime

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Diagnstico da medida de internao...

de internao provisria e possui 120 vagas. a nica unidade de in-ternao do DF que possui gesto compartilhada entre a Congregao dos Religiosos Tercirios Capuchinhos de Nossa Senhora das Dores - Amigonianos e a Secretaria de Estado da Criana.

Em termos de vagas existentes, atualmente, o Distrito Federal possui a seguinte quantidade por tipo de internao: estrita e provisria (Quadro 01). Quanto internao provisria, ressalta-se que: (i) a UIPP tambm vem recebendo adolescentes em internao provisria quan-do a lotao na UISS ultrapassa o seu limite, embora essas vagas no estejam previstas; e (ii) a UNIRE somente recebe adolescentes do sexo feminino em internao provisria.

Quadro 01 Quantidade de vagas existentes para internao estrita, provisria e pernoite

Unidades Internao EstritaInternao Provisria

Flagrante e MBA Total

UIPP 160 0 0 165UIP 80 0 0 80

UNIRE 144 24 0 144UISS 0 120 0 120UAI 0 0 28 28Total 389 120 28 537

Fonte: Dados fornecidos pelas Unidades/Jun/2013.

Destaca-se que, segundo dados disponibilizados pela Sinopse Estatstica, em setembro de 2012, haviam 710 adolescentes cumpri-mento medida socioeducativa de internao estrita no DF, o que signi-fica 39,5% a mais da capacidade de acolhimento das unidades (consi-derando internao estrita e provisria).

Tendo em vista esse quadro de superlotao e o processo de de-sativao da UIPP, at 2014, est prevista a construo de 05 (cinco) unidades de internao no Distrito Federal: quatro para atendimento de adolescentes do sexo masculino e uma para adolescentes do sexo

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Diagnstico da medida de internao...

feminino, sendo esta ltima por meio de convnio firmado com a Se-cretaria de Direitos Humanos da Presidncia da Repblica. Tambm se encontra em construo uma Unidade, em rea contgua UNIRE, que receber 80 adolescentes que usufruem do benefcio de sada aos finais de semana; e, ainda, est sendo ampliado o espao fsico da UISS para receber mais 60 adolescentes em internao provisria.

3.2 Perfil dos adolescentes que cumprem medida de internao e internao provisria no DF

Segundo dados da Sinopse, o ano de 2011 iniciou com 485 ado-lescentes internados em regime estrito e 172 em regime provisrio. Os grficos 1 e 2, a seguir, demonstram o fluxo do quantitativo de adoles-centes admitidos/reinseridos e os desvinculados por ms; bem como a diferena entre admitidos e reinseridos/desvinculados, por ms. Cabe destacar que o ano finalizou com 488 adolescentes internados em regime estrito e 183 em regime provisrio, ou seja, o quantitativo de adolescentes que ingressou no sistema foi prximo ao que saiu.

Grfico 1 Nmero de adolescentes admitidos/reinseridos e desvin-culados em internao estrita por ms

Fonte: Sinopse estatstica de 2011.

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Diagnstico da medida de internao...

Grfico 2 Nmero de adolescentes admitidos/reinseridos e desvin-culados em internao provisria por ms

Fonte: Sinopse estatstica de 2011.

O grfico 3 mostra a evoluo do quantitativo de adolescentes em internao estrita ou provisria, por ms. Verifica-se que houve au-mento de adolescentes em internao estrita no 1 semestre de 2011, atingindo 568 adolescentes em julho e reduo gradual no segundo semestre. Com relao aos adolescentes em internao provisria, ob-serva-se aumento no primeiro semestre e no terceiro trimestre, com 218 adolescentes no ms de setembro.

Grfico 3 Nmero de adolescentes em internao estrita e provis-ria por ms.

Fonte: Sinopse estatstica de 2011.

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Diagnstico da medida de internao...

A maioria dos adolescentes internados em meio fechado foi ad-mitido como primeira medida (50,3%) ou por transferncia de unida-de (32,9%), totalizando 83,2%.

Grfico 4 Percentual mdio de adolescentes admitidos em interna-o estrita no ano de 2011.

Fonte: Sinopse estatstica de 2011.

Observa-se por intermdio do grfico 5 que 94,7% dos adoles-centes foram admitidos como primeira entrada ou retorno interna-o provisria. Nenhum adolescente foi admitido por reiterao em prestao de servios comunidade no ano de 2011.

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Diagnstico da medida de internao...

Grfico 5 Percentual mdio de adolescentes admitidos em interna-o provisria no ano de 2011.

Fonte: Sinopse estatstica de 2011.

O grfico 6 mostra que um tero dos adolescentes desligados da internao estrita no ano de 2011 foi por ofcio da Vara da Infncia e Juventude, que inclui liberao, revogao, extino ou desligamento do adolescente. Destacam-se, tambm, o elevado percentual de ado-lescentes evadidos, 32,2%, e que no houve nenhum adolescente des-ligado por alcance da maioridade.

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Diagnstico da medida de internao...

Grfico 6 Percentual mdio de adolescentes desligados da interna-o estrita no ano de 2011 segundo o motivo do desligamento.

Fonte: Sinopse estatstica de 2011.

O ndice mais alto relativo ao desligamento dos adolescentes da internao provisria foi por liberao.

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Diagnstico da medida de internao...

Grfico 7 Percentual mdio de adolescentes desligados da interna-o provisria no ano de 2011 segundo o motivo do desligamento.

Fonte: Sinopse estatstica de 2011.

Observa-se do grfico 8 que, em mdia, mais de 96% dos ado-lescentes em internao estrita ou provisria no ano de 2011 eram do sexo masculino. A maioria dos adolescentes em internao estrita pertencia faixa etria de 18 a 21 anos. Aproximadamente, 81% dos em internao provisria tinham entre 15 e 17 anos. A faixa etria de 12 a 14 anos tinha baixa representatividade, apenas 7 adolescentes internados em regime estrito e 24 em regime provisrio, por ms.

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Diagnstico da medida de internao...

Grfico 8 Percentual mdio de adolescentes vinculados segundo o sexo e o tempo mdio de cumprimento da medida.

Fonte: Sinopse estatstica de 2011.

Verifica-se do grfico 9 que as meninas em regime de internao es-trita apresentam o maior percentual de possuir filhos, 19%, sendo o me-nor percentual verificado entre os meninos em internao provisria, 6%.

Grfico 9 Percentual mdio de adolescentes vinculados com relao existncia de filhos.

Fonte: Sinopse estatstica de 2011.

Dos adolescentes em internao estrita, 49% cumprem a medi-da em at um ano e 95% cumprem em at trs anos e 5% em mais de trs anos, em mdia.

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Diagnstico da medida de internao...

Grfico 10 Percentual mdio de adolescentes em internao estrita, segundo o tempo mdio de cumprimento da medida.

Fonte: Sinopse/abril-out/ 2012.

Observa-se por intermdio do grfico 11 que, em mdia, os ado-lescentes do sexo masculino permanecem maior tempo na internao provisria do que as do sexo feminino. Enquanto os primeiros cum-prem a medida de internao provisria em at 45 dias, quase dois teros das meninas cumprem a medida em at 15 dias.

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Diagnstico da medida de internao...

Grfico 11 Percentual mdio de adolescentes em internao provi-sria segundo sexo e o tempo mdio de cumprimento da medida.

Fonte: Sinopse estatstica de 2011.

A maior parte dos adolescentes em internao estrita ou provi-sria apresenta renda familiar entre 1 e 2 salrios mnimos, enquanto que 4% dos em internao estrita e 3% em internao provisria pos-suem mais de 6 salrios mnimos.

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Diagnstico da medida de internao...

Grfico 12 Percentual mdio de adolescentes vinculados segundo a renda familiar.

Fonte: Sinopse estatstica de 2011.

Os grficos 13 e 14 demonstram os percentuais mdios de ado-lescentes em internao estrita e provisria segundo a raa/cor. Des-taca-se o percentual de adolescentes de raa/cor negra em internao provisria de quase 9% superior aos adolescentes em internao estrita. Ressalta-se que essa informao coletada com base na auto declarao dos adolescentes.

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Diagnstico da medida de internao...

Grfico 13 Percentual mdio de adolescentes em internao estrita segundo a raa/cor.

Fonte: Sinopse estatstica de 2011.

Grfico 14 Percentual mdio de adolescentes em internao provi-sria segundo a raa/cor.

Fonte: Sinopse estatstica de 2011

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Diagnstico da medida de internao...

Infere-se do grfico 15 que a maioria dos adolescentes est en-volvida com o uso de tabaco ou drogas ilcitas, atingindo o percentual de 89% em internao estrita e 80% em internao provisria. Dos adolescentes em internao estrita, 72% fazem uso de drogas ilcitas, sendo esse percentual de 69% na internao provisria.

Grfico 15 Percentual mdio de adolescentes vinculados segundo o uso de drogas lcitas e/ou ilcitas.

Fonte: Sinopse estatstica de 2011

Destaca-se no grfico 16 o percentual elevado de adolescen-tes em internao estrita no ensino fundamental (81,2%), apesar de 98,6% dos adolescentes apresentarem mais de 15 anos de idade (50% mais de 18 anos). Isso demonstra defasagem idade/ano de escolari-dade, indicando falhas de polticas pblicas em educao, quanto ao acesso e permanncia na escola de crianas e adolescentes. Com rela-o internao provisria, aproximadamente 41% dos adolescentes no esto estudando, e quase 52% esto no ensino fundamental.

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Diagnstico da medida de internao...

Grfico 16 Percentual mdio de adolescentes vinculados segundo a situao escolar.

Fonte: Sinopse estatstica de 2011

Dos cursos ofertados nas Unidades, 32,4% se interessaram por curso de informtica, seguido por mecnica (13,7%), panificao (11,5%), msica (8,8%) e artes (8,6%).

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Diagnstico da medida de internao...

Grfico 17 Percentual mdio de adolescentes inseridos em curso profissionalizante por especificao.

Fonte: Sinopse estatstica de 2011

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Diagnstico da medida de internao...

Os grficos 18 e 19 trazem os percentuais de adolescentes em internao estrita e provisria, segundo o ato infracional. Observa-se que roubo aparece com maior ndice de ambas as medidas (37,8% e 46,3%, respectivamente).

Grfico 18 Percentual mdio de adolescentes em internao estrita atendidos segundo o ato infracional.

Fonte: Sinopse estatstica de 2011

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Diagnstico da medida de internao...

Grfico 19 Percentual mdio de adolescentes em internao provi-sria atendidos segundo o ato infracional.

Fonte: Sinopse estatstica de 2011

Em relao ao local de residncia dos adolescentes atendidos em ambas as medidas, o Grfico 20 mostra que, no caso da internao estri-ta, 43,1% dos adolescentes residem nas regies administrativas de Cei-lndia (22,5%), Samambaia (12,3%) e Recanto das Emas (8,3%). J na internao provisria, 43,4% dos adolescentes atendidos residem tam-bm em Ceilndia (19,8%), Samambaia (12,2%) e Planaltina (11,4%).

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Diagnstico da medida de internao...

Grfico 20 - Adolescentes vinculados medida segundo local de resi-dncia.

Fonte: Sinopse estatstica de 2011

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Diagnstico da medida de internao...

3.2.1 Perfil dos adolescentes da Unidade de Atendimento Inicial

Considerando as particularidades do atendimento na Unidade de Atendimento Inicial, apresenta-se a anlise de alguns dados obti-dos por meio da Sinopse do ms de junho de 2013. Neste ms, houve grande fluxo de entradas e sadas de adolescentes na Unidade, 463 adolescentes.

Quanto residncia dos adolescentes, apenas 5% residiam no entorno ou em outro Estado. As regies administrativas que tiveram maior incidncia de adolescentes autores de atos infracionais foram: Ceilndia 18%, Samambaia, 13% , e Planaltina, 8%.

Sobre a tipificao de atos infracionais, a maior incidncia foi roubo, 32%, seguido de trfico de drogas, 18% e porte de arma, 9%.

Com referncia aos casos de flagrante, quantificado em 371 no total, verificou-se que os locais de maior prtica de atos infracionais so as cidades de Braslia e Ceilndia, 14,3% cada uma, seguidas por Taguatinga, 9,4%. Esses dados apontam para a necessidade de maior investimento da poltica de segurana pblica nas cidades de maior incidncia, e para maior ateno das demais polticas pblicas na pre-veno, no que se refere aos locais de moradia.

Sobre faixa etria, escolaridade e sexo predominam: faixa etria de 15 a 17 anos (Grfico 21), sexo masculino, 96% (Grfico 22) e a escolaridade entre o 5 e 7 ano do ensino fundamental (Grfico 23).

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Diagnstico da medida de internao...

Grfico 21 - Faixa etria dos adolescentes que ingressaram na UAI

Fonte: Sinopse/Junho/2013

Grfico 22 - Sexo dos adolescentes que ingressaram na UAI

Fonte: Sinopse/Junho/2013

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Diagnstico da medida de internao...

Grfico 23 - Escolaridades dos adolescentes que ingressaram na UAI

Fonte: Sinopse/Junho/2013

Quanto s medidas socioeducativas aplicadas aos adolescen-tes (Grfico 24), 40% receberam a medida de internao provisria, 14,7% medida socioeducativa em meio aberto. 19% dos adolescentes foram entregues famlia na prpria Unidade. Completam o efetivo, 19,8% dos adolescentes, provenientes de Mandado de Busca e Apre-enso - MBA. Comparando o alto percentual de jovens com aplicao de medida de internao provisria em relao ao baixo percentual com aplicao de medida em meio aberto, verifica-se que se faz neces-srio maior estudo sobre o perfil do ato e do jovem autor, na perspec-tiva de aprofundar o debate com o judicirio, sugerindo a aplicao preferencial de medidas em meio aberto, bem como, melhorar o acom-panhamento desta medida tornando-o mais efetivo.

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Diagnstico da medida de internao...

Grfico 24 - Medidas aplicadas aos adolescentes que ingressaram na UAI

Fonte: Sinopse/Junho/2013

3.3 Atendimento ao adolescenteA mdia de atendimentos realizados pelos especialistas men-

salmente ao adolescente aproximada entre as unidades. A UNIRE apresentou maior nmero de atendimentos realizados com os ado-lescentes, 3.8. J as unidades UIPP e UIP mantiveram a media de trs atendimento/ms pelos especialistas ao adolescente (Tabela 01).

Entretanto, a forma de atendimento realizada pelos especia-listas, se em equipe multidisciplinar ou individualmente, apresentou diferenas entre as unidades. Na UIPP predomina o atendimento indi-vidual ao adolescente, 2.7, enquanto na UNIRE em equipe multidisci-plinar, 1.6 (Tabelas 02 e 03).

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Diagnstico da medida de internao...

Tabela 01 Atendimentos realizados pelos especialistas individual-mente e em equipe muldisciplinar junto aos adolescentes,

UNIDADE ADOLESCENTES ATENDIMENTOS MDIA DE ATENDIMENTOSUIPP 255 767 3UNIRE 190 723 3,8UIP 92 279 3

Fonte: Sinopse/ jul/set/2012

Tabela 02 - Atendimentos realizados somente por um especialista

UNIDADE ADOLESCENTES ATENDIMENTOS MDIA DE ATENDIMENTOSUIPP 255 695 2,7UNIRE 190 415 2,1UIP 92 210 2,2

Fonte: Sinopse/ jul/set/2012

Tabela 03 Atendimentos realizados por equipe multidisciplinar

UNIDADE ADOLESCENTES ATENDIMENTOS MDIA DE ATENDIMENTOSUIPP 255 72 0,2UNIRE 190 308 1,6UIP 92 66 0,7

Fonte: Sinopse/ jul/set/2012

3.3.1 Atendimento ao adolescente na Unidade de Atendimento Inicial

Quanto aos atendimentos realizados pela equipe de especialis-tas, a mdia no ms de junho foi de 15 adolescentes ao dia. Este atendi-mento inclui o acolhimento, a entrevista, a elaborao de Estudo Pre-liminar com os objetivos de: instrumentalizar o judicirio acerca das

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Diagnstico da medida de internao...

decises; realizar encaminhamentos s polticas pblicas de garantia de direitos, alm de realizar de Estudos de Casos nas situaes em que so caracterizadas as reincidncias.

A equipe de especialistas alcanou a mdia de 89,9% de aten-dimentos realizados aos jovens apreendidos em flagrante durante o expediente jurisdicional, realizando 239 encaminhamentos para os parceiros da Sade, Educao, SEDEST e Conselhos Tutelares.

Foram realizados ainda 20 grupos de acolhimentos multifami-liares dirios, contando com a participao de 103 familiares.

Os atendimentos dos especialistas buscam: agilidade pelo cur-to espao de tempo que o jovem permanece na Unidade e utilidade em virtude da inteno de subsidiar o processo e a consequente deci-so judicial, bem como prover os parceiros de informaes suficientes para a abordagem e interveno necessrias.

3.4 Recursos materiais e humanos disponveis

No que tange aos recursos humanos, segundo dados da Direto-ria de Gesto de Pessoas/SECriana, em maro de 2013, existiam na internao estrita 1.258 (um mil duzentos e cinquenta e oito), sendo 43 assistentes sociais, 45 psiclogos, 29 pedagogos, 905 atendentes de reintegrao social, 98 tcnicos administrativos, 19 motoristas, e 119 em outras funes, como auxiliar operacional em servio social e auxiliar de cozinha. Dentre estes, 39 dos servidores efetivos esto compondo a gesto das unidades.

A respeito dos recursos materiais, as unidades, ainda, carecem de mobilirio, equipamentos de informtica, materiais de expediente, manuteno de equipamentos e estrutura adequada ao SINASE. Desta-ca-se, entretanto, os esforos da SECriana no sentindo de atender s demandas das Unidades.

Pressupostos

tericos

metodolgicos

na perspectiva

da legislao

vigente

Pressupostos

tericos

metodolgicos

na perspectiva

da legislao

vigente

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4 Pressupostos tericos metodolgicos na perspectiva da legislao vigente

4.1 FAMLIA, ESTADO E SOCIEDADE: corresponsabilidade.

Os artigos 227 da Constituio Federal e 4 do ECA abordam a corresponsabilidade da famlia, comunidade, sociedade em geral e do poder pblico em assegurar, por meio de promoo e defesa, os direi-tos de crianas e adolescentes.

Para cada um desses atores sociais existem atribuies distintas. Os papis atribudos a eles se conjugam e entrelaam:

(1) Sociedade e poder pblico - cuidar e promover meios de acesso para que as famlias possam se organizar e se responsabilizar pelo cuidado e acompanhamento de seus adolescentes, evitando a ne-gao de seus direitos, principalmente quando se encontram em situao de cumprimento de medida socioeducativa;

(2) Famlia, comunidade e sociedade em geral - zelar para que o Es-tado cumpra com suas responsabilidades, fiscalizando e acompa-nhando o atendimento socioeducativo, reivindicando qualidade

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Pressupostos tericos metodolgicos...

nas condies estruturais e de recursos humanos do programa de atendimento, melhoria das condies do tratamento e prioridade para esse pblico especfico (inclusive oramentria).

Todos devero se corresponsabilizar visando: Fortalecer as redes sociais de apoio, especialmente para a

promoo daqueles em desvantagem social; Garantir o comprometimento da sociedade, sensibilizando,

mobilizando e conscientizando a populao em geral sobre as questes que envolvem a ateno ao adolescente em con-flito com a lei;

Superar prticas que se aproximem de uma cultura predo-minantemente assistencialista e/ou coercitiva.

4.2 INCOMPLETUDE INSTITUCIONAL: articulao de polticas e servios

Uma instituio total pode ser definida como um local de residncia e trabalho onde um grande nmero de indiv-duos com situao semelhante, separados da sociedade mais ampla por considervel perodo de tempo, levam uma vida fechada e formalmente administrada (GOFF-MAN,1974, p.11).

Goffman chama de mortificao do eu o processo pelo qual a instituio total, por meio da disciplina, modifica a forma do sujeito se perceber e perceber os outros; esse processo serve para a docilizao das pessoas ao funcionamento institucional (NEVEZ, 2007).

Em muitas instituies totais, o sujeito perde seu nome (exem-plo: identificado por nmeros), modifica a sua aparncia (exemplos: corte de cabelo, uso de uniforme) e perde sua intimidade (exemplos: dormitrios coletivos, banheiros sem portas) (NEVEZ, 2007).

Goffman considera que ocorre um processo de infantilizao social nas instituies totais. Retira-se do sujeito sua autonomia, sua

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Pressupostos tericos metodolgicos...

capacidade de deciso e sua autodeterminao, ao passo que todas as suas atividades so reguladas pela equipe institucional. Essa infanti-lizao se mostra um grande obstculo transformao dos sujeitos, dificultando a sua emancipao (NEVEZ, 2007).

(...) atravs da dinmica institucional que se fabrica, quase sempre, o delinquente juvenil. A instituio, ao invs de recuperar, perverte; ao invs de reintegrar e ressocializar, exclui e marginaliza; ao invs de proteger, estigmatiza. Isto configura a perversidade institucional, por produzir o efeito contrrio ao proposto. (FALEIROS, 1987, apud CARVALHO, 2001, p.162)

No que se refere mudana do paradigma da instituio total para a incompletude institucional, o ECA prev um conjunto articula-do de aes governamentais e no-governamentais para a organizao das polticas de ateno infncia e juventude. Tambm o SINASE (2006) pressupe a participao dos adolescentes em diferentes pro-gramas e servios sociais e pblicos. Para tanto, os programas de exe-cuo de atendimento socioeducativo devero ser articulados com os demais servios e programas que visem atender os direitos dos ado-lescentes (sade, defesa jurdica, trabalho, profissionalizao, escola-rizao etc). Conforme o SINASE (2006, p.31):

A operacionalizao da formao da rede integrada de atendimento tarefa essencial para a efetivao das ga-rantias dos direitos dos adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas, contribuindo efetivamente no processo de incluso social do pblico atendido.

As polticas sociais bsicas, as polticas de carter universal, os servios de assistncia social e de proteo devem, portanto, estar ar-ticulados aos programas de execuo das medidas socioeducativas, vi-sando assegurar aos adolescentes a proteo integral.

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Pressupostos tericos metodolgicos...

4.3 Prticas restaurativas A Justia Restaurativa prope metodologias baseadas em encon-

tro, dilogo e reparao do dano, as quais no devem ficar restritas aos processos judiciais e atos infracionais classificados como de baixo potencial ofensivo.

A expresso prticas restaurativas define as mais diversas for-mas de tratar com conflitos a partir da viso, dos valores e dos proces-sos restaurativos, em qualquer situao em que forem aplicados.

Segundo Paul McCold (citado em BRANCHER; KONZEN; AGUINSKY, 2012b), os processos restaurativos em geral guardam al-gumas similaridades, embora possam variar a forma de serem abor-dados os fatos, o formato dos encontros, ou os mtodos adotados na sua conduo. Apesar dessas variaes, costumam ter em comum as seguintes etapas: (i) Reconhecimento da injustia (fatos discutidos); (ii) Compartilhamento e compreenso dos efeitos prejudiciais (senti-mentos expressados); (iii) Acordo sobre termos de reparao (repa-rao concordada); (iv) Atingir compreenso sobre o comportamento futuro (reforma implementada).

A observncia dessas etapas, associada fidelidade aos valores restaurativos, que vai estabelecer em que grau uma prtica pode ser considerada restaurativa.

A ambientao de um encontro restaurativo, seja com ou sem a participao da vtima, sempre proporcionar melhores condies para uma livre pactuao de com-promissos do que uma tratativa, por mais cuidadosa que seja, estabelecida diretamente entre o adolescente e os operadores do sistema de justia (promotor, defensor, juiz) (BRANCHER; KONZEN; AGUINSKY, 2012b, p.5).

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Pressupostos tericos metodolgicos...

4.4 AdolescnciasTinha que ter uma pessoa que ajudasse a gente a rever nossos valores, para quando sair a gente no cair na lbia errada (depoimento de socioeducando, durante a reali-zao do grupo focal).

Entendendo a adolescncia como uma fase de transio, onde transformaes e desenvolvimento de ordem biolgica, social e psi-colgica so latentes, torna-se fundamental considerar a influncia do contexto social e familiar do adolescente nesse processo de maturao e construo de sua personalidade.

Lidar com as mudanas, as dvidas, os medos, as exigncias sociais, perspectiva de futuro e com a prpria evoluo biolgica construir a sua identidade enquanto sujeito inserido em um contexto social, que lhe exigir posicionamentos ativos ou passivos diante das foras e fenmenos da sociedade, cuja dinmica lhe permitir vrias experimentaes.

Ao longo dessa jornada de vivncias, o adolescente enfrenta v-rios conflitos que podem lev-lo por caminhos saudveis e construtivos ou por veredas onde o cometimento de atos infracionais, por exemplo, torna-se sua possibilidade de protesto, estilo de vida ou apelo como-didade. Neste ltimo caso, aquele que opta por reproduzir aes e com-portamentos rebeldes e conflituosos com a lei se coloca numa situao de agravamento de sua vulnerabilidade, onde o Estado e as normas so-ciais o enquadraro em medidas socioeducativas, cujo objetivo apoiar o adolescente para que ele possa interromper sua trajetria infracional e reintegr-lo ao convvio social, atravs da socioeducao.

4.4.1 Conceito de adolescncia Vrios so os conceitos de adolescncia, destacam-se neste docu-

mento os autores Oliveira e Costa (2012a), que ampliam as questes da infncia e da adolescncia, considerando-as como um fenmeno social

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Pressupostos tericos metodolgicos...

que faz parte do processo histrico da sociedade. Acrescentam-se a es-ses conceitos os apresentados no Estatuto da Criana e do adolescente e do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo Educativo.

Infncia e adolescncia paralelamente s transformaes da fam-lia, da escola, das relaes de trabalho e da sociedade, a concepo de infncia e adolescncia modificou.

Fenmeno plural adolescncias - a adolescncia mantm uma rela-o ntima com os demais fenmenos sociais. Os aspectos que definem a adolescncia e o adolescente se transformam a cada poca, como efeito do processo histrico da sociedade.

ECA e OMS - A adolescncia, de acordo com os critrios adotados pelo Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA) e pela Organizao Mun-dial de Sade (OMS), o perodo da vida que vai dos 12 aos 18 anos. J a juventude caracterizada como o intervalo entre 15 -25 anos.

Idades cronolgicas e processos humanos - a correspondncia no natural, mas construda em um complexo processo histrico que, apoiado em critrios intelectuais e sociais de uma dada cultura, cria consensos que so progressivamente incorporados a crenas, valores e normas.

Adolescncia e sociedades urbanas industrializadas - os ritos de passagem especficos e nicos foram substitudos por vrios marca-dores simblicos de autonomia e desenvolvimento que, somados, con-tribuem para a mudana de auto-imagem e de status social pelos mais jovens, inserindo-os em imagens mais adultizadas. Exemplos desses marcadores em nossa sociedade: obter a chave de casa; terminar a educao bsica; dominar o espao pblico, frequentar eventos notur-nos; experimentar bebidas alcolicas ou drogas; realizar faanhas que envolvam comportamentos que transgridem limites sociais; viver as primeiras relaes amorosas e experincias no campo da sexualidade; tirar a licena de motorista; alistar-se no exrcito, alcanar o primeiro emprego; sair de casa para morar fora, casar, ser aceito em grupo de destaque, etc.

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Complexidade da adolescncia e da juventude na atualidade - mu-danas de perfil de idade quanto transio para a vida adulta, tais como, a maior expectativa de vida, as exigncias ampliadas de forma-o acadmica e profissional, entre outros fatores, contribuem para o alongamento da adolescncia, ainda que esse fenmeno atinja diferen-temente as distintas classes sociais.

Adolescncia e estruturas sociais fludas A adolescncia e a juven-tude so momentos crticos na construo da identidade da pessoa e requer parmetros claros em termos de valores tico-morais. A exis-tncia de estruturas sociais fortes e de figuras de identificao autnti-cas fundamental para a constituio dos valores pessoais e a forma-o do carter dos jovens. Na atualidade, as estruturas sociais cada vez mais fludas e inconstantes inibem as boas fontes de referncia social e comprometem a base de sua formao pessoal. Adolescentes sentem necessidade de construir um sistema prprio de valores que funda-mentem sua viso de mundo, o que pode implicar afastar-se da famlia.

Adolescncia e o grupo de pares - nesse perodo da vida, o grupo re-presenta o contato com outros valores e formas de vida distintas da sua. um meio de troca de informaes recolhidas em distintas situaes familiares e sociais, que so compartilhadas e negociadas entre os ado-lescentes, favorecendo a emergncia de novos significados, prprios.

Ao longo da adolescncia, o grupo de pares de idade passa a re-presentar objeto de crescente interesse e ateno. H estudos que indi-cam o aumento, em cerca de 50%, do nmero de horas livres passadas com os grupos em relao s que so destinadas ao convvio em famlia.

Entre os pares, o adolescente tende a encontrar mais acolhi-mento, e menos crtica e controle, do que em famlia. Os adolescentes tendem a eleger como amigos quem compartilha de seus interesses, valores e atitudes, aumentando a possibilidade de encontrar entre eles solidariedade e apoio. Desse modo, passam tambm a priorizar ativi-dades grupais sobre as realizadas individualmente.

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O grupo e as atividades transgressivas na adolescncia - a cumpli-cidade do grupo tem papel de fundamental importncia tambm na prtica de atividades infracionais. A lealdade intra-grupo, assim como a socializao da responsabilidade e da culpa entre seus membros, uma estratgia frequentemente adotada por adolescentes autores de infrao, objetivando diminuir o peso da responsabilidade individual e camuflar sua posio de autor. sob a influncia do grupo que adoles-centes e jovens tendem a experimentar e a fazer uso abusivo do lcool e de substncias psicotrpicas

No entanto, os estudos mais recentes evidenciam que a ocorrn-cia de condutas tais como rebeldia, comportamento de risco, infrao, entre outros comportamentos eventualmente caracterizados pela so-ciedade como imprprios para os jovens, reflete atividades humanas inseridas em complexas redes de valores e significados sociais, que no podem ser reduzidas a uma nica causa, no caso, a influncia di-reta dos pares. Esses aspectos alertam para a necessidade de intervir sobre as redes sociais de adolescentes e jovens para aprimorar a abor-dagem do fenmeno do conflito com a lei.

Por outro lado, considera-se impossvel compreender qualquer dimenso da adolescncia e juventude, sem considerar como parte da questo os outros adolescentes e jovens. A moda por eles seguida, o tipo de msica que apreciam, as atividades de lazer que preferem e o tipo de cultura que consomem so, em certa medida, definidos a partir de modelos encontrados nos grupos de pares, que atuam tanto positiva como negativamente na definio da trajetria e das possibilidades de desenvolvimento dadas ao adolescente. Ressalta-se, neste documento, que ao trabalhar com os adolescentes que cumprem medida socioedu-cativa, para alm das concepes citadas a priori, deve-se considerar, sobretudo o adolescente como sujeito de direitos. Essa concepo da criana e do adolescente como sujeitos de direitos comeou a ser fo-mentada a partir da dcada de 1970, na efervescncia da luta pelos di-reitos humanos no Brasil, sendo intensificada na dcada de 1980, com

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a luta pela democratizao do pas e pela garantia de direitos. Dois princpios fundamentam tal concepo: a igualdade perante a lei e o respeito diferena (SINASE, 2006).

4.5 Sociedade do controleDa modernidade para a contemporaneidade houve mudana

de um modelo de sociedade. De uma sociedade vista por Foucault como Disciplinar (1987), para um modelo de sociedade identifica-da como de controle (BOUDON; BOURRICAUD, 1993). Hoje, existe um momento de transio entre um modelo e outro, saindo de uma forma de encarceramento completo para uma espcie de controle aberto e contnuo.

A expresso controle social geralmente voltada para o estu-do do conjunto dos recursos materiais e simblicos de que uma so-ciedade dispe para assegurar a conformidade do comportamento de seus membros a um conjunto de regras e princpios prescritos e san-cionados (BOUDON; BOURRICAUD, 1993, p. 101). Isso significa que manter o controle social utilizar todos os recursos possveis para que os indivduos de uma determinada sociedade se conformem com o sta-tus quo legitimado por essa sociedade. So vrios os meios de contro-le social, eles podem ser pblicos ou privados e seu objetivo proteger a ordem e defender a sociedade dos comportamentos considerados perigosos (COUTINHO, 2010, p.2).

A sociedade do controle utiliza de diversos aparatos de seguran-a pblica, principalmente da tecnologia miditica. A mdia, da forma como vem sendo utilizada, pode produzir tanto a sensao de seguran-a quanto de insegurana, uma vez que a informao, quando apre-sentada por meio de imagens, suscita diferentes emoes coletivas.

(...) as imagens exercem um efeito de evidncia muito poderoso: mais do que o discurso, sem dvida, elas pa-recem designar uma realidade indiscutvel; mesmo que

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Pressupostos tericos metodolgicos...

sejam, igualmente, o produto de um trabalho mais ou menos explcito de seleo e de construo (CHAMPAG-NE, 1993, p. 62).

A segurana pblica passa tambm pelo vis da tecnologia e da vigilncia miditica. Entretanto, apenas a fora policial ou aparatos tecnolgicos no sero capazes de combater a violnci