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PROJETO PROVEDOR DE INFORMAÇÕES SOBRE
O SETOR ELÉTRICO
RELATÓRIO MENSAL ACOMPANHAMENTO DE CONJUNTURA:
PLANEJAMENTO1 NOVEMBRO DE 2011
Nivalde J. de Castro
2
Daniel Viana Ferreira
ÍNDICE
1- PROJEÇÕES PARA DISPONIBILIDADE DE ENERGIA....................................................................................4
1.1-CHUVAS E RESERVATÓRIOS ............................................................................................................................4
1.2-DEMANDA/CONSUMO.........................................................................................................................................6
1.3- OFERTA...................................................................................................................................................................... 7
2-PLANEJAMENTO E EXPANSÃO................................................................................................................................9
2.1-INVESTIMENTO........................................................................................................................................................ 10
2.2-FINANCIAMENTO.................................................................................................................................................... 10
2.3-PROJETOS FUTUROS ......................................................................................................................................... 11
3-ELETROBRAS................................................................................................................................................................. 12
4-LEILÕES............................................................................................................................................................................ 13
5-TERMOELÉTRICAS ..................................................................................................................................................... 15
5.1-ENERGIA NUCLEAR ........................................................................................................................................... 16
5.2-GÁS NATURAL ...................................................................................................................................................... 17
5.3-PETROBRAS........................................................................................................................................................... 18
6-OUTROS INSUMOS ...................................................................................................................................................... 19
6.1-ENERGIA EÓLICA ................................................................................................................................................ 19
6.2-BIOMASSA............................................................................................................................................................... 20
6.3-SOLAR....................................................................................................................................................................... 21
3
1 Participaram da elaboração deste relatório como pesquisadores Roberto Brandão, Bruna de Souza Turques, Rafhael dos
Santos Resende, Diogo Chauke de Souza Magalhães, Débora de Melo Cunha e Luciano Análio Ribeiro.
SUMÁRIO EXECUTIVO
Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), até 2020 o País receberá investimentos de R$ 1 trilhão para projetos nas áreas de energia elétrica, petróleo, gás e bicombustíveis. Nos próximos dez anos, haverá uma expansão de mais de 61 mil MW na oferta de energia elétrica sem prejuízo à participação das fontes renováveis na matriz elétrica nacional. Para o setor de transmissão de energia, está sendo considerada uma construção de 42.553 km de novas linhas de transmissão.
Entretanto, as boas perspectivas de modo algum são indícios de um consenso quanto aos caminhos a serem tomados. O debate em torno do planejamento do setor é intenso e envolve a necessidade modificações em critérios e metodologias adotados pelos órgãos federais, quais serão os incentivos dados à expansão, quem serão os beneficiados por estes incentivos, como reduzir a tarifa de energia sem prejudicar a continuidade do serviço e o meio ambiente, etc.
Para contextualizar o leitor que se interessa pelo debate sobre os rumos do setor elétrico, o GESEL/UFRJ publica mensalmente os relatórios de acompanhamento da conjuntura referente a área de planejamento do setor elétrico e traz uma breve análise do que ocorreu no mês, com notícias, publicações e opiniões de especialistas.
O relatório dividido em seis partes: I – Projeções para Disponibilidade de Energia; II – Planejamento e Expansão; III – Eletrobrás; IV – Leilões; V – Termelétricas; e VI - Outros Insumos; todas consideradas relevantes para o entendimento sobre os rumos do setor elétrico brasileiro.
Neste mês se destacaram as notícias relativas à possibilidade de folga no que se refere à capacidade instalada para o suprimento elétrico nos próximos anos e às expectativas quanto desenrolar dos próximos leilões de energia, em meio a um cenário onde usinas a gás e hidrelétrico passa por entraves.
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1- PROJEÇÕES PARA DISPONIBILIDADE DE ENERGIA
1.1-CHUVAS E RESERVATÓRIOS
Em seu Relatório Mensal de Previsão de Vazões e Geração de Cenários de Afluentes1
relativo ao mês de dezembro, o ONS observou anomalias negativas na temperatura da
superfície do mar – TSM no oceano Pacífico Equatorial. A diferença da TSM deste oceano nos
dois últimos meses mostra um resfriamento das águas superficiais, corroborando o reinício da
atuação do fenômeno La Niña. A maior parte dos modelos dinâmicos e estatísticos permanece
indicando o resfriamento da TSM do oceano Pacífico Equatorial nos próximos meses, sendo
esperadas anomalias negativas mais intensas no final do período úmido 2011/2012. A tabela 1
apresenta de forma resumida a previsão de precipitação para as bacias hidrográficas e a
temperatura para as capitais brasileiras para o trimestre dezembro-janeiro-fevereiro.
Tabela 1: Previsão para as bacias hidrográficas do SIN
1 Disponível em : http://www.ons.org.br/download/operacao/hidrologia/Relatorio_de_Previsao_de_Vazoes_PMO_dezembro_2011.pdf
5
Fonte: ONS
A evolução do nível de energia armazenada no SIN pode ser observada abaixo:
Gráfico 1: Energia Armazenada – 2011 ( em % )
Fonte: Elaborado pelo GESEL-IE-UFRJ com base nos dados do ONS
6
1.2-DEMANDA/CONSUMO
A demanda por energia no Brasil vai crescer a um ritmo mais acelerado do que na
China nas próximas décadas. Segundo o relatório anual da AIE, divulgado nesta semana, a
demanda por energia no Brasil vai crescer 2,2% ao ano, entre 2009 e 2035. Ao final do
período, a demanda alcançará 421 milhões de toneladas de óleo equivalente. O percentual de
crescimento é bem superior à média mundial, de 1,3% ao ano, e até à da China, de 2%. A
expansão brasileira somente perde para a Índia, que verá a demanda aumentar 3,1% ao ano.
Mesmo crescendo, o consumo de energia elétrica no Brasil dá sinais de perda de
velocidade. Apesar de ter aumentado 3,8% no acumulado até outubro, o consumo nacional no
período, que foi de 357.488 GWh, é inferior à média de crescimento do consumo anual de
5,3% ao ano apurada desde 2005. Em outubro, o Brasil consumiu 36.457 GWh. Apesar de
registrar crescimento de 3,7% em relação ao mesmo mês do ano passado, o percentual é
menor que os quase 3,9% verificados no mesmo mês de 2010 quando comparados com 2009.
As informações constam na Resenha Mensal do Mercado de Energia Elétrica, divulgada pela
EPE.
Na avaliação da EPE os números mostram desaceleração da atividade industrial
brasileira, cuja média anual vinha crescendo a taxas mais altas desde 2005. A indústria
consumiu no mês passado pouco mais de 15.600 GWh de energia elétrica, apenas 1,2% acima
do verificado em outubro de 2010, quando o crescimento foi de 3,14%. No Sudeste, a indústria
registrou queda de 1,2% no consumo em outubro, puxada pelo Rio de Janeiro (-15,3%) devido
à parada temporária de duas siderúrgicas, e Espírito Santo (-2,9%), onde também pararam
duas usinas pelotizadoras. Já São Paulo consumiu 0,8% a mais, um pouco acima de Minas,
onde o consumo foi apenas 0,3% acima do verificado em outubro do ano passado. O Centro-
Oeste e o Norte apresentaram maior crescimento absoluto devido ao início de novas unidades
de mineração.
7
1.3- OFERTA
A matriz elétrica do Brasil deve passar por uma transformação nos próximos anos, com
um espaço cada vez maior para a geração por plantas a gás natural e um crescimento
vertiginoso da participação dos parques eólicos. Enquanto isso, as hidrelétricas, que hoje
dominam o cenário, terão uma grande redução no ritmo de implantação devido a uma
campanha contra esse tipo de usina por parte de ONGs e das restrições e custos relacionados a
aspectos ambientais. Essa é a conclusão do estudo "Sistema Elétrico Brasileiro - Expansão
Hidrotérmica"2, elaborado pelo Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). O documento,
assinado pelos especialistas Adriano Pires e Abel Holtz afirma que, embora as usinas eólicas
tenham apresentado resultados expressivos nos últimos leilões de energia, com baixos preços
e grande contratação, "cerca de um terço" dos empreendimentos da fonte com outorga de
concessão está "com o cronograma oficialmente atrasado".
Além disso, o cenário de menor crescimento da economia brasileira em 2011 e 2012 e,
talvez, nos próximos três anos pode fazer com que o Brasil chegue a 2015 com excesso na
capacidade instalada de geração de energia. A desaceleração do crescimento do PIB este ano e
a perspectiva de que isso se repita no próximo ano fez o consumo deste insumo crescer abaixo
do projetado pela EPE, criando uma "folga" nas projeções oficiais. Segundo o estudo, nas
contas da EPE, tanto o consumo de energia como o PIB cresceriam 5% em média até 2015.
Este ano, a demanda por energia cresceu 3,8% até setembro e a projeção para o PIB é de uma
alta de 3,2%. Para 2012, os economistas esperam crescimento de 4% para a economia
brasileira. Diante dessa realidade, o professor Adilson de Oliveira, traçou cenários alternativos
ao da EPE para o consumo de energia e o PIB brasileiro3. "Enquanto o consumo de energia
cresce hoje perto de 3%, contra os 5% esperados, os investimentos em expansão já em
andamento até 2015 vão aumentar muito a nossa margem de reserva", diz Oliveira.
Mesmo com a folga no que diz respeito à geração, gargalos em obras do sistema de
transmissão já estão causando racionamento de energia no país. A mineradora Anglo
2Estudo disponível em: http://www.provedor.nuca.ie.ufrj.br/eletrobras/estudos/pires69.pdf 3 Apresentação do estudo foi disponibilizada em: http://www.cebri.com.br/midia/documentos/adilsondeoliveira.pdf
8
American terá de consumir 25% menos energia do que efetivamente contratou com a
geradora Cesp para usar em sua nova fábrica no norte de Goiás. A restrição é por tempo
indeterminado em função do atraso de obras estruturais. A empresa foi comunicada, em
setembro, que Furnas ainda sequer iniciou a construção de uma linha que ligaria a hidrelétrica
Serra da Mesa à região, além de problemas com transformadores da Subestação Brasília Sul. O
problema de escassez de energia em Goiás, entretanto, não se restringe ao norte do Estado.
Toda a região da grande Goiânia poderá ter problemas de suprimento em horários de pico de
consumo durante o ano de 2012, segundo a última ata publicada da reunião do CMSE.
O diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, diz que foi criado um grupo técnico de trabalho
para acompanhar a situação de atraso em nas obras para o sistema de transmissão em Goiás e
está confiante que os reforços sejam realizados no curto prazo a tempo de evitar problemas de
suprimento no próximo ano nessa região. Mas Chipp diz que não há solução emergencial
possível para suprir a necessidade de consumo específica da Anglo American. Os problemas no
Estado de Goiás já fizeram com que durante este ano o ONS determinasse a geração de energia
pelas usinas termelétricas na região, desde o mês de agosto quando o consumo de energia
aumentou no Estado por conta do calor. O diretor do ONS diz que existem alguns problemas
pontuais de concessão de licença ambiental pelo órgão estadual, mas o grupo de trabalho
Brasília/Goiás, que envolve técnicos de todas as áreas, está conseguindo trabalhar em busca
das soluções e deverá ter algumas alternativas até o fim do ano.
Com relação à universalização do fornecimento de eletricidade, o programa Luz Para
Todos ultrapassou a marca dos 14 milhões de brasileiros atendidos com energia elétrica no
meio rural. Ao fazer um balanço dos oito anos de lançamento do programa, o ministro de
Minas e Energia, Edison Lobão, informou que até o mês de setembro o programa permitiu o
acesso à energia a 2,8 milhões de domicílios, o que representa 14,3 milhões de pessoas. O
programa, que visa democratizar o acesso à eletricidade, conta com investimentos na ordem
de R$19 bilhões. Desse total, R$13,7 bilhões são recursos do governo federal, que até outubro
de 2011 liberou R$10,8 bilhões para as concessionárias de energia elétrica e as cooperativas
de eletrificação rural realizarem obras ligadas ao LpT. Segundo o MME, as intervenções do
programa geraram em todo o País 426 mil empregos diretos e indiretos. Em 8 de julho deste
9
ano, o Decreto Presidencial nº 7.520, prorrogou a vigência do Luz para Todos por mais quatro
anos, ou seja, até o fim de 2014.
2-PLANEJAMENTO E EXPANSÃO
A OCDE, formada por 34 países, acredita que o setor elétrico brasileiro tem como maior
desafio a necessidade de aumentar a capacidade de geração de energia para atender a uma
demanda "que deve crescer rapidamente nos próximos anos". A opinião aparece em um
estudo que se debruça sobre números da economia do Brasil e elogia os progressos sociais - ao
mesmo tempo em que alerta contra a inflação e sugere mudanças estruturais, como a reforma
previdenciária. Outro fato que chama a atenção dos especialistas do órgão é a força da estatal
Eletrobras, que tem participado de todos os leilões de geração. Para a organização, o governo
10
precisa avaliar se não há a necessidade de abrir mais o setor para os investimentos privados. O
relatório também aponta que "o licenciamento ambiental deve ser simplificado", embora
admita "muitos progressos”.
A EPE, órgão de planejamento do MME, colocou para download4, em seu site oficial, seis
conjuntos de arquivos de trabalho relativos às atualizações dos estudos de transmissão. Esses
dados são os que guiarão o Plano Decenal de Energia 2021, que apontará a expansão da matriz
e da rede nos próximos dez anos. Os dados foram elaborados pela própria EPE e por agentes
participantes dos estudos. A EPE ressalta que poderá vir a alterar as informações, "uma vez
que o planejamento é um processo dinâmico, cabendo aos agentes buscar a atualização mais
recente para a elaboração de suas investigações".
2.1-INVESTIMENTO A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, apresentou neste mês o balanço da
segunda etapa do PAC 2. A execução global do PAC até setembro desse ano era de R$ 143, 6
bilhões, ou seja, 15% do previsto para o período de 2011 a 2014. Em energia elétrica, os
investimentos chegam a R$ 16,1 bilhões. O PAC já ajudou a viabilizar 2.532MW em usinas para
geração de energia, 882 km de linhas de transmissão e três subestações. Ainda no setor
elétrico, em 2011, foram iniciadas as obras de 44 usinas que deverão totalizar 15.419 MW. São
seis hidrelétricas, que juntas vão somar 14.156 MW. Os destaques são Belo Monte; Teles Pires;
Santo Antônio do Jarí; Colíder; e Ferreira Gomes. Também foram iniciados os trabalhos para
erguer cinco termelétricas, com 502 MW; 28 parques eólicos, somando 676 MW; e cinco PCHs,
com 86 MW.
2.2-FINANCIAMENTO
4 Arquivos de trabalho disponíveis em: http://www.epe.gov.br/Transmissao/Paginas/Basededadosparaestudoseletromec%C3%A2nicos%E2%80%93PDE2020.aspx
11
O BNDES divulgou o volume de desembolsos dos últimos nove meses de 2011. No total
foram R$ 91,8 bilhões, resultado moderado e já esperado pelo banco de fomento. No período, a
infraestrutura liderou os desembolsos. Para este setor, foram destinados R$ 38 bilhões no
período, 41% do total liberado pelo banco. O setor de energia elétrica recebeu R$ 9,7 bilhões,
volume ainda inferior aos R$ 13,6 bilhões liberados para a área em 2010. Em relação ao
desembolso do mesmo período do ano passado, de R$ 128 bilhões, houve queda de 28%. No
acumulado dos nove primeiros meses de 2010, o desempenho do BNDES foi fortemente
influenciado pela operação de capitalização da Petrobras, no valor de R$ 24,7 bilhões,
realizada em setembro de 2010, e por grandes projetos do setor hidrelétrico. Excluindo-se a
operação de Petrobras, a queda dos desembolsos nos nove primeiros meses do ano foi de
11,1%.
Com relação ao financiamento para a obra de Belo Monte, o presidente do BNDES,
Luciano Coutinho, afirmou que a reestruturação da sociedade de propósito específico para a
hidrelétrica de Belo Monte caminha bem e que não vê problemas para que a montagem e
liberação do financiamento total para a UHE ocorra ao longo do próximo ano. Porém, o
executivo do BNDES não fez nenhuma previsão de quando a estruturação da composição
acionária da SPE que irá cuidar da usina sairá. Em julho, o consórcio Norte Energia,
responsável pela usina recebeu a última tranche do empréstimo-ponte para o
empreendimento. Esta operação foi concedida pelo próprio BNDES em uma operação
afiançada pelo BTG Pactual, em um total de R$ 1,087 bilhão. Porém, o financiamento total do
banco, avaliado em R$ 19,7 bilhões só deverá sair após a reestruturação societária citada. Os
investimentos totais na construção da UHE Belo Monte devem ser de aproximadamente R$ 26
bilhões.
2.3-PROJETOS FUTUROS
A mineradora Vale divulgou neste mês o seu plano de investimentos para 2012. Serão
US$21,4 bilhões, distribuídos entre execução de projetos (US$12,9 bi), pesquisa e
desenvolvimento (US$2,4 bi) e sustentação de operações existentes (US$6,1 bi). Os números já
receberam o aval do Conselho de Administração da companhia. No documento apresentado ao
12
público, a Vale destrincha as previsões de aporte por categoria, área de negócio e geografia.
Segundo esses dados, 3,6% do orçamento total - o equivalente a cerca de US$700 milhões - vai
para o setor de energia. Um dos projetos citados pela empresa é a construção de um parque
eólico de 65,7MW no Rio Grande do Norte. A companhia, porém, não dá dados sobre custo ou
datas da obra. O total de investimentos contemplará principalmente o Brasil, que terá 63,7%
dos recursos e o Canadá, com 11,7%. A América do Sul receberá 6%, enquanto África e Ásia
receberão, respectivamente, 9,1% e 5,7%.
3-ELETROBRAS
O orçamento para os investimentos da Eletrobras em 2012 ainda está sendo fechado,
mas a perspectiva é de que os recursos destinados à expansão dos negócios deverão alcançar
R$ 13 bilhões, um crescimento de 30% ante os R$ 10 bilhões estimados até o fim deste ano. A
13
empresa tem feito simulações com diversos cenários de performance da economia para
confirmar esse valor para 2012. No longo prazo, a empresa tem como foco manter a sua base
de fontes renováveis para geração de energia, incluindo reforço em eólicas e até mesmo
energia solar, que já está em estudo.
Para ajudar no financiamento desses aportes a companhia realizou uma captação de
US$ 1,75 bilhão, não havendo previsão de quando deverá ocorrer a próxima captação de
recursos. O presidente da Eletrobras, José da Costa Carvalho Neto, afirmou que essa previsão
de investimento para o ano que vem tem como base os compromissos já assumidos pela
companhia.
Carvalho Neto, também afirmou que a empresa deverá entrar forte em eólicas na
Região Nordeste e no Sul do País, o que dá uma dica dos próximos passos da empresa. Essa
diretiva tem como base a expectativa de que os aproveitamentos hidroelétricos brasileiros
tenham se exaurido em 2030. Outra forma de manter a base de ativos de geração e energia
renovável passa ainda pela energia solar. A estatal já começou a estudar a geração elétrica por
meio de usinas solares, mas para a geração de energia com turbinas movidas a vapor. Para isso
a empresa iniciou estudos para investir R$ 10 milhões em uma usina de 1 MW de potência
mais R$ 3 milhões para interligação à rede básica. O local ainda não foi escolhido, mas será no
nordeste. A fonte nuclear continua no alvo da empresa, até porque precisa seguir o plano para
2030 que determina a construção de quatro a seis centrais termonucleares nesse período.
4-LEILÕES
O leilão de energia A-5 vive momentos de incertezas. Isto porque existe a possibilidade
das térmicas não participarem da licitação, por não terem contrato de gás, e, além disso, o
14
Ibama suspendeu as audiências públicas da UHE São Manuel. No entanto, os agentes vêem o
leilão com otimismo e apostam nas fontes alternativas. Para o coordenador do GESEL/UFRJ,
Nivalde de Castro, não deverão ocorrer problemas, caso a hidrelétrica São Manoel não tenha
tempo de obter a LP. Ele explicou que outras fontes estarão disponíveis e sublinhou que as
usinas eólicas entrarão com uma forte concorrência. "Como esta indústria está sendo montada
agora ela entra com uma ociosidade muito grande. Então oferecer para elas um contrato de A-
5 é muito vantajoso e, consequentemente, o leilão tende a ser competitivo. Para os
empreendedores, que já trabalharam com um patamar de R$ 100 por MWh do leilão passado,
pode levá-los a explorarem um pouco mais a possibilidade de redução de custo de
equipamento, por ser um leilão A-5", salientou. Sobre as térmicas a gás, enfatizou que, se a
Petrobras manter a inflexibilidade mínima de 30%, as usinas que não contam com gás próprio
ficarão com suas participações inviáveis no certame, embora aponte que o país terá muita
oferta de gás no futuro. "A imprevisibilidade do despacho é tão grande que nenhum
empreendedor tem condição de bancar", esclareceu.
O leilão de energia A-5 deve acabar com uma contratação massiva de parques eólicos. O
vice-presidente da Abeeólica, Lauro Fiúza, afirmou que, “com certeza” o setor conseguirá
viabilizar mais de 2.000MW em usinas no certame, marcado para 20 de dezembro. A
expectativa vai de encontro aos planos da entidade, que acredita que uma contratação anual
na casa dos 2GW ou 2,5GW é o que vai dar segurança aos investidores do ramo – tanto para a
aposta em usinas quanto para a instalação de fábricas de equipamentos no País.
Para Fiúza, o novo padrão, que vem sendo adotado em hidrelétricas recentes, como as
do rio Madeira e Belo Monte, traz um novo patamar para a fonte. “A regra do jogo muda
completamente. Hidrelétricas, eólicas, solares e biomassa estão todas no mesmo time daqui
pra frente. Quer dizer: todas dependem da natureza”. A exceção fica por conta das
termelétricas e, nesse caso, o executivo diz que a preferência é sempre pelas movidas a gás
natural, por serem mais limpas, podendo servir como uma base de segurança para o sistema.
Entretanto, segundo o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, nenhum dos 34 projetos de
usinas a gás cadastrados para o leilão A-5, que ocorrerá em 20 de dezembro, deverá
apresentar proposta - como resultado do posicionamento da Petrobras com relação ao
fornecimento de gás para projetos termoelétricos.
15
5-TERMOELÉTRICAS
16
5.1-ENERGIA NUCLEAR
A rejeição da opinião pública global ao uso de energia atômica aumentou após o
acidente com a usina nuclear de Fukushima, no Japão, segundo indica pesquisa encomendada
pela BBC. Na média geral entre os 12 países que já têm usinas nucleares ativas - Brasil
incluído -, 69% dos entrevistados rejeitam a construção de novas usinas, enquanto 22%
defendem novas estações. No Brasil, 79% dos entrevistados dizem se opor à construção de
novas usinas. Esses 79% incluem pessoas que acham que o Brasil deve usar as usinas
nucleares que já tem, mas não construir estações novas (44%), e pessoas que acham que,
como a energia atômica é perigosa, todas as usinas nucleares operantes devem ser fechadas o
mais rápido possível. Apenas 16% dos entrevistados brasileiros acham que a energia nuclear é
relativamente segura e uma importante fonte de eletricidade e que, portanto, novas usinas
devem ser construídas.
Já a Advocacia-Geral da União (AGU), enviou ao Supremo Tribunal Federal uma
manifestação em defesa da constitucionalidade das resoluções do Conselho Nacional de
Política Energética (CNPE) que tratam da retomada da construção da usina nuclear de Angra
3, localizada no Estado do Rio de Janeiro. O assunto está sendo discutido em uma Ação de
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 242) proposta pela OAB. A AGU explicou
que em 1975 foi editado o Decreto nº 75.870, que concedeu a autorização para instalação e
construção da usina. Nesse sentido, uma vez que a construção da usina teve início sob outra
Constituição, não faria sentido a ação impetrada pela OAB, que alega que não foram cumpridas
disposições da Constituição de 1988.
O Comitê Gerencial de Resposta a Fukushima criado pela direção da estatal
Eletronuclear, gestora das usinas Angra 1 e 2, para estudar ações para aumentar a segurança
do complexo de usinas após o acidente com a central nuclear japonesa de Fukoshima-Daiichi
apresentou à diretoria da empresa um plano de 52 ações, orçado em aproximadamente R$
300 milhões. Segundo o engenheiro Paulo César da Costa Carneiro, assistente da diretoria
técnica da estatal, as ações mais imediatas deverão ser a instalação de motobombas e
geradores móveis, provavelmente instalados em plataformas flutuantes. Os equipamentos
serão reforços adicionais aos equipamentos já existentes para refrigeração das usinas e para a
17
manutenção em funcionamento das atividades necessárias a evitar o derretimento do núcleo
do gerador em caso de acidente extremo.
5.2-GÁS NATURAL
O gás natural terá um importante papel no desafio de atender à crescente demanda
brasileira. A AIE estima que o consumo cresça 6% ao ano no país, em resposta à maior oferta
de gás com a exploração das reservas do pré-sal. A demanda por energia nuclear também terá
um forte crescimento, de 5,1% ao ano, e o uso da biomassa, o que inclui a cana-de-açúcar para
a produção de combustíveis e geração de energia, crescerá 2,6% ao ano. Com isso, já em 2025
a procura por biomassa, ao atingir 121 milhões de toneladas de óleo equivalente, ultrapassará
a de óleo. As projeções da IEA consideram crescimento econômico anual médio de 3,6% para o
Brasil e para o mundo e assumem que os recentes compromissos políticos dos governos serão
implementados, ainda que cautelosamente. O percentual de fontes de energia renováveis na
geração de energia subirá de 3%, em 2009, para 15% em 2035 em todo o mundo. No entanto,
a IEA considera que a era dos combustíveis fósseis ainda está longe do fim, embora a sua
predominância tenda a declinar.
Já o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, afirmou que o atual panorama elétrico
do país dá margem para que o país fique até três anos sem contratar novos projetos de usinas
térmicas alimentadas por gás. “Temos estoque de térmicas que foram contratadas em leilões
anteriores. Isso nos dá uma tranquilidade de abastecimento do país”, comentou Tolmasquim,
ao responder sobre a tendência de que nenhum dos 34 projetos de usinas a gás cadastrados
para o leilão A-5 deva apresentar proposta no dia 20 de dezembro. Atualmente, as térmicas a
gás respondem por cerca de 9% da matriz energética nacional. Apesar de contar com o
abastecimento gerado por outras fontes de energia, a EPE não descarta a necessidade de se
leiloar novas usinas a gás, assim que as condições de abastecimento do combustível sejam
resolvidas.
Na avaliação de Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, é grave o fato do
Brasil não ter gás para gerar energia térmica, especialmente num momento em que o governo
18
opta pelas usinas a fio d'água, sem reservatório. A Hidrelétrica de Belo Monte, por exemplo, é
uma delas. Com a decisão da Petrobrás de não fornecer combustível, 34 projetos deverão ser
engavetados. "Mais de 80% da matriz brasileira é baseada em hidroeletricidade. É
indispensável ter uma complementação térmica para dar segurança ao sistema", avaliou
5.3-PETROBRAS
O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, disse nesta terça-feira que a empresa
não fará novos contratos de fornecimento de gás natural para usinas termelétricas. Segundo o
executivo, a Petrobras não tem garantias de que poderá fornecer o gás natural a partir de
2016. A declaração de Gabrielli contraria os empreendedores do setor, que devem participar
do leilão para a contratação de novos empreendimentos, marcado para o dia 20 de dezembro.
O edital de licitação prevê o início da oferta de energia cinco anos após a licitação, ou seja,
2016. Ele alega que a Petrobras ainda não sabe se terá gás suficiente para atender a demanda
das termelétricas. A partir da exploração das reservas do pré-sal, serão definidas a parcela da
produção de gás que será destinada à comercialização, e a parcela que será reinjetada no solo
como parte do processo.
Se a demanda por gás natural no Brasil crescer dos atuais 96 milhões de metros cúbicos
para 200 milhões em 2020, a Petrobras deverá construir um quarto terminal de Gás Natural
Liquefeito, informou o presidente da estatal. O executivo apresentou um estudo a
representantes da indústria do petróleo, em seminário promovido pelo Ibef (Instituto
Brasileiro de Executivos de Finanças). Gabrielli afirmou que a oferta de gás natural em 2020
vai girar em torno dos 173 milhões de metros cúbicos (somando a produção nos campos
brasileiros ao gás boliviano e ao GNL), o que pode gerar um déficit de 27 milhões de metros
cúbicos. Gabrielli negou problema de caixa para fazer frente aos investimentos de US$ 224
bilhões até 2015, apesar da crise que atingiu Japão, Europa e Estados Unidos. Para cumprir o
plano, a estatal precisa captar entre US$ 7 bilhões e US$ 12 bilhões por ano até 2015.
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6-OUTROS INSUMOS
O Brasil é o quinto maior investidor em energias renováveis do mundo, somando em
2010 cerca de US$ 7 bilhões. Os dados foram publicados pela ONU ontem e mostram que, pela
primeira vez na história, investimentos mundiais em inovação tecnológica em energias
alternativas superaram os investimentos em tecnologia para a energia fóssil. O levantamento
mostra ainda que parte substancial da expansão dessas fontes de energia está ocorrendo
justamente em mercados emergentes.
No total, os investimentos em energias limpas chegaram a US$ 211 bilhões, um salto
importante em relação aos últimos anos. Em 2004, por exemplo, o mundo investia apenas US$
33 bilhões. Em média, a expansão tem sido de quase 40%, enquanto a crise mundial tem
freado investimentos em todas as demais áreas. Hoje, o Brasil investe duas vezes mais em
energias renováveis do que todos os 53 países africanos juntos. Entre 2005 e 2010, a
capacidade instalada de geração de energia renovável no Brasil aumentou em 42%, uma das
mais altas do mundo. Hoje, a energia eólica no País produz 950 MW.
6.1-ENERGIA EÓLICA
Com preços mais competitivos, tratamento diferenciado à indústria e corrida dos
fabricantes internacionais para se instalarem no país em busca da lucratividade perdida
devido à crise nos EUA e Europa transformaram a fonte eólica na menina dos olhos dos
investidores do setor energético. Nos leilões realizados em agosto, os projetos de eólica
alcançaram os preços médios mais baixos, em relação às demais fontes de energia. Foram
contratados 78 projetos, com 832 MW. Considerando os leilões desde 2009, a capacidade de
geração de energia contratada atingirá cerca de 7 MW até 2014, com investimentos de R$ 30
bilhões. Sobra espaço para o crescimento de fornecedores brasileiros de equipamentos, como
a ABB, que atua no fornecimento de subestações de rede. A empresa fechou contrato com a
Galvão Energia, de US$ 14 milhões. “A ABB também se prepara para investir em infraestrutura
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para outras áreas de energia”, diz Manfred Hattenberger, gerente geral de energia eólica da
filial brasileira.
Em 2012, o setor eólico poderá contar ainda com uma nova tecnologia que promete
reduzir os custos de implantação de torres eólicas em até 20%. De acordo com o Grupo
ALKcom, empresa que atua com construções metálicas e desenvolveu o projeto, as novas
torres em aço treliçada surgem como uma solução para as dificuldades logísticas e de
montagem que o setor enfrenta na implantação de parques. Segundo o diretor executivo do
grupo, Manasses Mendes de Mattos, a torre vem sendo estudada há três anos e caminha para
se tornar uma realidade no próximo ano. Da base ao topo, a torre tem 100 metros de altura,
sendo 60 metros em formato piramidal (base) e outros 40 metros do trecho reto, que vai até o
topo. A estrutura suporta máquinas de 2,5MW de potência e pás de 40 metros. Segundo
Mattos, o investimento total no projeto está orçado em R$2,8 milhões. Ele explica que o
próximo passo é conseguir o apoio do governo para financiar a outra parte do projeto.
6.2-BIOMASSA
O Brasil vai dobrar nos próximos dez anos a capacidade de seu parque gerador de
energia elétrica a partir do bagaço de cana-de-açúcar. A informação consta do Plano Decenal
de Expansão de Energia da EPE. O País conta atualmente com 4.496 MW instalados, potência
que chegará a 9.163 MW ao final desta década. Além de representar renda a mais para as
usinas que produzem açúcar e álcool, a expansão da geração de eletricidade a partir do bagaço
de cana está atraindo empresas interessadas em consumir energia limpa e, assim, conquistar o
selo verde. O consumo de bagaço para gerar energia contribui para a redução das emissões de
gases de efeito estufa, comuns em termoelétricas que usam combustível fóssil. Outra vantagem
do uso dessa matéria-prima, de acordo com a Unica, é o fato de essa eletricidade ser produzida
no período da seca, de abril a novembro, quando ocorre a moagem da cana para a produção de
álcool e açúcar. Nesse período, os reservatórios das usinas hidroelétricas costumam
apresentar baixo nível de água. O País conta atualmente com cerca de 440 usinas de açúcar e
álcool.
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A Única propôs, neste mês, modificação nas regras de acesso as redes de distribuição
para os empreendimentos de bioeletricidade. Estudo da entidade mostra uma "demora
excessiva" no processo de conexão das usinas, além de custos elevados que ficam por conta
das usinas em razão de uma série de fatores ligados à distribuição. Por isso, a Unica fez uma
proposta de alteração na resolução 281/99 para adequar os procedimentos de acesso. A Unica
propôs que seja criada uma Comissão Coordenadora de Acesso às Redes de Distribuição, a ser
composta por quatro representantes da Aneel e quatro do ONS. A comissão teria como
atribuições acompanhar a negociação entre as usinas e as distribuidoras, dirimindo conflitos
entres as partes, além de acompanhar o cronograma de implantação do acesso.
6.3-SOLAR
A energia solar, renovável que mais cresce no mundo, começará a ganhar incentivos do
governo para sua adoção no Brasil, embora de forma muito mais tímida do que ocorreu com a
eólica. Seis distribuidoras de energia devem iniciar projeto-piloto de geração solar em 2012. A
ideia é aplicar um plano da Aneel para que donos de painéis fotovoltaicos liguem suas
instalações na rede e troquem energia com as concessionárias. Se a experiência der certo, o
governo começará a estudar a desoneração tributária de equipamentos do setor. O modelo
que o governo pretende implantar é o chamado "net metering". Ele consiste em medidores
inteligentes instalados entre o painel solar e a ligação elétrica de uma casa. De dia, eles
permitem que o painel jogue energia na rede. À noite, que a rede alimente a residência. Para
isso, será preciso obrigar as distribuidoras a fazer a conexão. As empresas hesitam, alegando
problemas de segurança na rede. O incentivo é um passo aquém do modelo adotado em países
como Japão e Alemanha, a chamada tarifa "feed-in", pela qual o gerador de energia solar pode
vender seu excedente para a rede.
A Copa-2014 deve ajudar a impulsionar a energia solar no Brasil. Por recomendação da
Fifa, os estádios do mundial terão de ser alimentados por painéis desse gênero. Estados como
o Rio de Janeiro querem aproveitar a oportunidade para atrair investimentos no setor. Em
setembro, o governador Sérgio Cabral decretou isenção de ICMS aos equipamentos para
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instalações fotovoltaicas. Hoje só os painéis solares contam com isenção de impostos, mas eles
representam apenas 30% do custo de uma instalação. O Rio espera, agora, autorização da
Aneel e da Light para conectar instalações solares na rede para dois programas: um que ligará
painéis fotovoltaicos em escolas públicas e outro que abastecerá o campus da UFRJ com 1
megawatt de eletricidade solar. "A ideia é criar um mercado e depois destrinchar a cadeia,
para que a gente se torne um polo de energia renovável", afirma a subsecretária de Economia
Verde do Rio, Suzana Kahn Ribeiro.