Proposta Curricular Sociologia Minas Gerais

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    SOCIOLOGIA Proposta Curricular

    (Ensino Mdio)

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    AUTORES Antnio Augusto Pereira Prates

    Geraldo lvio Magalhes

    Regina Maria Dias Carneiro ( Coordenadora)

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    Renan Springer de Freitas

    Governador Acio Neves da Cunha

    Vice- Governador

    Antnio Augusto Junho Anastasia

    Secretria de Estado de Educao Vanessa Guimares Pinto

    Chefe de Gabinete

    Felipe Estbile Morais

    Subsecretria de Informaes e Tecnologias Educacionais Snia Andre Cruz

    Subsecretria de Desenvolvimento da Educao Bsica

    Raquel Elizabete de Souza Santos

    Superintendente de Ensino Mdio e Profissional Joaquim Antnio Gonalves

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    SUMRIO Ensino Mdio

    1-Introduo 2-Aspectos Bsicos da Proposta 3-Proposta de Contedo Bsico Comum 4-Eixo Temtico I 5- Eixo Temtico II 6- Eixo Temtico III

    Bibliografia

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    APRESENTAO

    (Joo Filocre)

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    ENSINO MDIO I Introduo

    Os principais objetivos deste documento so: primeiro, a apresentao e definio de

    temas e tpicos considerados fundamentais para o ensino da disciplina Sociologia na educao

    de nvel mdio e, segundo, sugerir uma estratgia para tal ensino, enfrentando um problema

    de dupla face, o de no cair na excessiva simplificao ou no equvoco pedaggico de querer

    formar o cidado critico atravs da disciplina sociolgica e, de outra parte, o de no reproduzir

    a orientao academicista peculiar maioria dos Cursos de Sociologia no terceiro grau. Trata-

    se de uma tarefa nova para a rea da Sociologia em nosso pas mas que, embora difcil, j conta

    com algumas experincias esparsas e com textos que servem de referncia para o nosso

    empreendimento. 1 Os princpios gerais esboados nos documentos nacionais, especialmente

    nos Parmetros Curriculares Nacionais ( parte IV) e nas Orientaes Curriculares Para o

    Ensino Mdio ( Cincias Humanas e suas Tecnologias; cap. 4) necessitam ser operacionalizados

    e traduzidos em sugestes que possam favorecer e apoiar o trabalho dos professores.

    Estamos dando os primeiros passos para construir, gradativamente, uma cultura

    pedaggica que se mostre apropriada para a aprendizagem da disciplina sociolgica no ensino

    mdio. Ao fazer isso, os professores precisam levar em considerao o carter interdisciplinar da

    organizao curricular e o papel importante que a Sociologia pode ocupar na interlocuo com

    as outras disciplinas, procurando contribuir de forma integrada tanto para o projeto pedaggico

    das escolas, quanto para a formao mais ampla dos estudantes.

    Este um documento aberto que dever ser aperfeioado e reformulado, seja pela

    introduo de novos aspectos ou temas, seja pela discusso contnua de novas abordagens a

    serem desenvolvidas em sala de aula.

    II Aspectos bsicos da Proposta

    1 Parmetros Curriculares Nacionais PCN- Ensino Mdio; Ministrio da Educao, Braslia 2002. Orientaes Curriculares para o Ensino Mdio: Cincias Humanas e suas Tecnologias; Ministrio da Educao, Braslia, 2006. Ver tambm o site da Fapesp.

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    Acreditamos que o ensino da Sociologia no nvel mdio deve estar centrado nas

    dimenses que definem a perspectiva da anlise sociolgica frente aos fenmenos sociais e

    histricos, tendo como suporte a apresentao das doutrinas ou teorias gerais que marcam o

    campo disciplinar da Sociologia. Certamente, estes dois aspectos fundamentais para o ensino da

    sociologia no devem ser compreendidos como caminhos paralelos que nos obrigam a seguir em

    uma direo ou em outra mas, ao contrrio, eles podem e devem combinar-se em vrios

    momentos do processo de ensino.

    O primeiro aspecto assenta-se na proposio do necessrio distanciamento cognitivo da

    percepo do senso comum. Isto implica desenvolver uma atitude de estranheza frente s

    prticas da vida cotidiana trazendo, como conseqncia, a desnaturalizao 2 das concepes

    rotineiras de realidades sociais, permitindo que os estudantes possam desenvolver uma nova

    viso, de natureza sociolgica, reconhecendo em nossas idias comuns sobre a vida social a

    marca do vis prprio a cada cultura e as condies do tempo histrico em que se situam.

    O segundo aspecto composto de conceitos, teorias e mesmo das doutrinas que

    alimentam a identidade substantiva da Sociologia vista como disciplina cientfica. neste celeiro

    terico, especialmente o das teorias dos autores clssicos, que iremos buscar as ferramentas que

    auxiliam na formao de uma atitude de distanciamento cognitivo em relao ao mundo em

    que estamos imersos.

    Os aspectos acima delineados podem ser expressos de uma outra forma, atravs da

    seguinte distino: h uma grande e significativa diferena entre o que as pessoas, grupos ou

    governos definem como problema social e o que os socilogos chamam de problema

    sociolgico. No primeiro caso, o da definio do problema social, estamos diante da realidade

    cotidiana do cidado, do jogo do poder e da luta poltica e cultural para afirmar interesses,

    ideologias ou identidades na definio de quais so os problemas sociais dignos de ateno pela

    sociedade ou pelo governo de uma nao ou naes. No segundo caso, o do problema

    sociolgico, estamos frente a uma elaborao terica e sistemtica envolvendo a utilizao de

    conceitos e a seleo de vrios elementos de natureza social que esto presentes, compem ou

    produzem os fenmenos sociais. Um curso introdutrio de sociologia, como necessariamente

    ser o do ensino mdio, dever contribuir para desenvolver as habilidades cognitivas requeridas

    para compreender-se esta distino. Ela a chave para o distanciamento crtico do invlucro

    2 Estas proposies so bem discutidas nas Orientaes Curriculares para o Ensino Mdio; Vol. 3, cap.4

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    das percepes rotineiras sobre a vida em sociedade e para a desnaturalizao do mundo

    social.

    importante para o ensino da disciplina Sociologia o professor ter tambm presente a

    distino entre o que caracteriza fundamentalmente as Cincias Sociais e o que deve ser

    atribudo ao campo da engenharia social. De um modo geral, existe a expectativa de que um

    socilogo tenha algo a propor para solucionar problemas como a desigualdade social, a

    criminalidade ou a evaso e repetncia escolar, como tambm se espera dele uma opinio

    particularmente abalizada a respeito da pertinncia de polticas sociais. Tal expectativa no de

    todo despropositada, mas no se deve perder de vista o fato de que a tarefa prpria ao

    conhecimento e investigao da Sociologia no oferecer solues para os problemas que nos

    afligem mas, sim, converter esses problemas em objeto de anlise. Assim, antes de se preocupar

    em ter alguma soluo para o problema da desigualdade, cabe ao socilogo indagar sobre sua

    natureza, suas causas, as razes pelas quais elas diferem de uma sociedade para outra, se

    polticas sociais tm ou no sido eficazes e por qu. O ensino de sociologia deve, portanto,

    propiciar ao estudante uma oportunidade para aprender esses aspectos bsicos da anlise dos

    fenmenos sociais e do conhecimento sociolgico.

    As distines conceituais e as atitudes necessrias ao conhecimento mais objetivo da

    realidade social at aqui mencionadas tm um efeito pedaggico de extrema importncia:

    desvincular o ensino da sociologia das prticas pedaggicas voltadas para a tentativa de

    aliciamento poltico, ideolgico ou religioso em nome do conhecimento sociolgico.

    Certamente, muitos dos problemas sociolgicos de uma poca sero motivados pela

    definio dos problemas sociais que afligem a sociedade naquele momento, mas ainda assim o

    foco da sociologia no ser o de solucionar o problema, mas o de transform-lo em um objeto

    de estudo sistemtico. Ao assim proceder, a sociologia oferece sociedade polticos,

    organizaes civis, movimentos sociais, minorias, enfim, aos atores sociais - elementos de

    melhor compreenso crtica da sua realidade histrica, mas no, diretamente, as solues para os

    seus problemas.

    indiscutvel que o conhecimento cientfico estimula a atitude crtica e, por isso mesmo,

    em boa medida, contribui para o exerccio da cidadania nas sociedades contemporneas. Seria,

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    entretanto, uma mistificao imaginar que h algo de especial em relao sociologia que a

    torna particularmente apta a formar uma conscincia crtica.

    Um efeito particularmente pernicioso dessa mistificao, que infelizmente tem

    ocorrido em nosso meio, a imposio de nossas expectativas tericas sobre a realidade. Certas

    perspectivas tericas nos levam a esperar, por exemplo, que, em certas situaes, certas categorias

    profissionais promovam um movimento grevista. Se esta expectativa se frustra, ao invs de rev-

    la, isto , ao invs de considerar a possibilidade de haver algo de errado com o esquema terico

    utilizado para a anlise da situao, alguns so levados a se perguntar sobre o que h de errado

    com aquela categoria profissional por no se comportar em acordo com suas expectativas.

    III - Proposta de Contedo Bsico Comum CBC.

    A proposta de CBC aqui apresentada no deve ser entendida como uma estrita programao para o professor desenvolver em sala de aula. Como uma definio de

    contedo bsico, a proposta deve ser trabalhada pelo professor ajustando-a s suas

    condies e s de seus alunos, levando em considerao a realidade da comunidade

    escolar e de seu meio. Dessa forma, o professor no pode perder de vista que o

    ensino de sociologia no nvel mdio no deve ser similar ao que pretende formar

    profissionais da rea de Cincias Sociais. A disciplina de Sociologia, integrante da

    formao bsica dos estudantes, no poder ser um arremedo daquelas do curso de

    graduao no ensino superior. Mas, tambm, no dever ser uma simples discusso

    livre de temas e problemas variados desconectados de qualquer referncia terica

    mais ampla. A anlise de conceitos e de algumas das idias e argumentos bsicos dos

    autores clssicos, como tambm de outros cientistas sociais, devem ocorrer

    vinculados ao desenvolvimento dos temas e tpicos do programa em relao com os

    problemas deles derivados.

    Os temas complementares indicados na proposta, anotados paralelamente aos tpicos centrais do CBC, so sugestes de possveis desenvolvimentos e ampliaes

    para o estudo e a discusso em sala de aula. Tais sugestes, entretanto, devero ser

    consideradas e ordenadas de acordo com o planejamento de cada professor, o

    interesse dos seus alunos e o projeto da escola.

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    Alm dos livros didticos j disponveis para auxiliar e orientar o trabalho em sala de aula, os recursos didticos ainda precisam ser, em grande parte, imaginados e

    produzidos pelos prprios professores junto com seus alunos. So recursos que

    podem ser explorados de maneira eficaz pelo professor: promover atividades de

    observao e de investigao mais simples que permitam aos estudantes exercitar

    habilidades prprias da anlise sociolgica; desenvolver competncias associadas

    capacidade de identificar diferenas e semelhanas em aspectos da realidade social;

    treinar a leitura de dados estatsticos e a interpretao de fenmenos sociais e

    culturais em sala de aula.

    Ao planejar sua disciplina fundamental que o professor tenha conscincia que a forma de apresentar e de desenvolver os contedos programados est relacionada

    com o xito na aprendizagem e na compreenso desses contedos por parte dos

    estudantes. A maneira de ensinar, em grande parte, pode revelar ao estudante a

    importncia que o contedo trabalhado possui para a sua formao. Isto implica

    familiarizar o estudante, gradativamente, com a viso e procedimentos prprios da

    disciplina. O professor deve, portanto, considerar, ao planejar o seu trabalho, quais

    os caminhos pedaggicos que podem facilitar para os alunos a compreenso do

    objeto, das especificidades e da forma de conhecer de sua disciplina. Caber ainda a

    cada professor organizar os contedos e a sequncia dos eixos temticos da maneira

    que melhor se ajustarem e se integrarem sua programao de ensino

    IV - Eixo Temtico 1: A Sociologia como Disciplina Cientfica Autnoma: Conhecendo nosso Mundo Social

    Este eixo apresenta e sugere o desenvolvimento de um tema geral que se

    desdobra em duas dimenses: ele inicial na medida em que possui um carter introdutrio ao

    estudo das Cincias Sociais e, ao mesmo tempo, ele deve estar de alguma forma presente no

    tratamento a ser dispensado a todos os outros temas que integram a disciplina. O objetivo

    principal propiciar aos alunos, de forma apropriada e simples, um primeiro contato com o

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    modo de olhar a vida em sociedade que caracterstico do campo de conhecimento da

    Sociologia.

    importante que se desenvolva desde o incio da aprendizagem a perspectiva

    prpria que confere uma identidade especfica aos estudos sociolgicos e s cincias sociais de

    um modo geral. O estudo da sociologia possibilita que nos libertemos, em parte, da percepo

    cotidiana, muitas vezes ingnua, do mundo que nos cerca, ampliando nossa viso de uma forma

    sistemtica, baseada em instrumentos prprios de anlise. Isso requer o desenvolvimento e

    cultivo de um modo de pensar a que o grande socilogo americano C. Wright Mills chamou de

    imaginao sociolgica, o que envolve ter conscincia das ligaes que existem entre a vida

    pessoal e as estruturas que organizam e do forma vida social. Mills chama nossa ateno para

    o desenvolvimento necessrio de certas habilidades que nos permitam perceber e sentir o jogo

    que se processa entre os homens e a sociedade, a biografia e a histria, o eu e o mundo. Para

    que isso ocorra preciso que ultrapassemos a viso rotineira do nosso cotidiano, as percepes

    do senso comum, procurando desenvolver a habilidade de observar o que acontece na

    sociedade de uma maneira diversa, com um certo distanciamento do envolvimento natural a

    que estamos acostumados em nossos relaes sociais. Essa outra e nova maneira de olhar nosso

    ambiente social significa buscar maior objetividade, em contraposio a uma viso mais

    subjetiva, implicando uma atitude de estranheza em relao s prticas do dia-a-dia

    Podemos ilustrar o ganho que adquirimos em nossa compreenso da vida social

    quando adotamos uma maneira de ver e observar diferenciada daquela de nossa rotina,

    tomando como exemplo os vrios aspectos envolvidos no simples e corriqueiro ato de tomar

    uma xcara de caf. Esse exemplo, dado por A. Giddens em seu livro Sociologia, permite-nos

    considerar desde o valor simblico que tal ato possui como um primeiro passo essencial para

    comear o dia, como um ritual social dirio em companhia de outras pessoas, quando o

    cafzinho mais um motivo para bater um papo e interagir socialmente, at a complicada

    trama de relacionamentos sociais e econmicos que se estendem pelo mundo. So vrios os

    aspectos que podem ser observados e analisados a partir de um hbito simples como o de beber

    uma xcara de caf mas que est conectado a processos sociais complexos na produo e

    comercializao at as suas formas de consumo final. A partir desse exemplo simples j possvel

    perceber o quanto podemos ser influenciados em nossos hbitos e comportamentos pelo

    contexto social em que vivemos. Sob esse aspecto podemos nos perguntar: como nossas aes

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    esto relacionadas com a estrutura social, tanto nos nveis micro como macro? Por outro lado,

    podemos tambm considerar o quanto estamos livres para determinar nossas aes, apesar dos

    condicionamentos sociais que nos cercam, e o quanto nossa interao com o meio em que

    vivemos pode tambm ocasionar mudanas mais ou menos significativas. importante ter

    sempre presente que os seres humanos so autoconscientes e atribuem significado e propsito s

    suas aes. Por essa razo, as sociedades humanas esto sempre em processo de estruturao e,

    afinal, uma tarefa bsica da anlise sociolgica buscar a explicao da produo e recriao

    contnua da sociedade como resultante das aes humanas.

    Como possvel desenvolver essa viso, essa perspectiva prpria do conhecimento

    sociolgico? O que torna possvel essa compreenso ampliada, essa anlise enriquecida e

    aprofundada sobre as condies sociais de nossas vidas? Saber como podemos conhecer de um

    ponto de vista sociolgico uma tarefa complexa uma vez que somos seres complexos que

    procuram integrar percepes pessoais, nossa subjetividade, com vises exteriores mais objetivas

    do mundo que nos cerca. A busca permanente de maior objetividade em relao realidade

    externa a ns, implica um mtodo. Segundo as palavras do filsofo americano Thomas Nagel

    objetividade um mtodo de compreenso. E, embora no seja possvel obtermos uma viso

    completa de como o mundo ou de compreendermos na totalidade como as coisas funcionam,

    possvel avanar sempre na direo de uma viso menos imediatista, menos centrada no ponto

    de vista das nossas relaes pessoais, restrita a um mundo particular ou a uma viso de senso

    comum.

    A transio ou passagem para um ponto de vista menos pessoal e mais objetivo

    precisa ser constantemente trabalhada ao longo do estudo das Cincias Sociais. Isto requer o

    emprego de um pensamento terico, a aquisio de informaes e dados que possam ser

    analisados e interpretados com a confiana de que no nos enganamos, alm da avaliao lgica

    de argumentos que sejam convincentes como explicao para uma questo ou um tema

    especfico que buscamos conhecer mais corretamente. Para tanto, preciso adotar certos

    procedimentos metodolgicos que permitam controlar tanto a coleta de dados quanto a

    observao e a anlise das informaes, tornando mais eficaz o distanciamento necessrio e

    possibilitando, assim, maior objetividade no processo de investigao das questes em foco.

    O que caracteriza o conceito moderno de cincia a idia de um corpo terico,

    racionalmente construdo, articulado a um corpo emprico de dados sistemticos. Neste

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    sentido, somente a teoria no suficiente para que seja reconhecida uma cincia e, to

    pouco, um conjunto sistemtico de dados, sozinho, no pode ser tratado como tal. Se

    assim fosse, boas teorias racionalizadas sobre Deus ou sobre o Mal poderiam ser descritas

    como cientficas, da mesma forma banco de dados sobre compradores de um Shopping

    Center ou de freqentadores de bares em uma determinada cidade, poderiam ser

    considerados como informaes cientficas, ambas iniciativas, entretanto, esto

    completamente fora do mbito da formulao cientfica. Para que a articulao entre

    teoria e dados exista na forma preconizada pela cincia, necessrio que a teoria,

    composta por um conjunto de conceitos relacionados, explique o comportamento de um

    conjunto de dados sistematicamente pr-definidos pelos conceitos da teoria. Neste

    sentido, a cincia um tipo de conhecimento que articula atravs de uma linguagem

    prpria, lgicamente elaborada, teoria com dados empricos.

    Do ponto de vista estrito das cincias sociais, esta linguagem focaliza aspectos e

    dimenses analticas estranhas ao senso-comum. Melhor dizendo, o senso-comum

    objeto de anlise das cincias sociais. Consideremos, por exemplo, a diferena do

    tratamento sociolgico em relao ao do senso comum, de um fato como o aborto.

    No caso sociolgico este fato s tem sentido enquanto construdo como um fenmeno

    social, ou seja, referenciado s suas taxas de ocorrncia, aos lugares em que ocorre e aos

    tipos de pessoas que o realizam, sem se interessar pelos motivos individuais que esto

    envolvidos ou se essas pessoas esto certas ou erradas ao fazerem um aborto. Ao discutir

    este fato, a questo central para o senso comum justamente aquela que levanta os

    problemas descartados pela anlise sociolgica: os motivos das pessoas e a avaliao

    moral do comportamento.

    Desde o final do sc. XIX cientistas sociais como E. Durkheim, M. Weber, e no primeiro

    quartel do sc. XX, G. H. Mead, J. Dewey, R.E.Park, buscaram colocar a sociologia entre as

    disciplinas cientficas e desde ento a pluralidade e a controvrsia terica marcam o processo

    de desenvolvimento e amadurecimento da sociologia at os nossos dias. importante,

    portanto, ter em mente que o carter cientfico do conhecimento no elimina as tenses e

    diversidades das teorias que co-habitam e disputam entre si a melhor e mais convincente

    explicao do comportamento, do fenmeno ou objeto que focalizado pelos cientistas de

    uma mesma disciplina. A sociologia contempornea pode ser descrita mais como um mosaico

    de teorias e mtodos do que como um corpo integrado e compacto de conhecimento. Ao

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    mesmo tempo, contudo, encontramos na sociologia atual um enorme volume de pesquisas

    sobre o mais variado espectro de questes distribudas por culturas e sociedades diferentes.

    Estas informaes tm possibilitado estudos e anlises comparativas que, atravs de rigorosos

    procedimentos metodolgicos, compem uma base slida de conhecimento sobre as

    diversas formas de cultura e de organizao social das sociedades contemporneas.

    Nas ltimas dcadas do sc. XIX a Economia, a Psicologia, a Histria e o Direito j

    haviam se estabelecido como disciplinas do comportamento humano. Havendo j

    quatro disciplinas bem estabelecidas, desfrutando de grande prestgio, que necessidade,

    ou que espao, poderia haver para uma quinta - no caso, a ento candidata Sociologia?

    Este foi o principal desafio que a Sociologia precisou enfrentar para se estabelecer como

    mais uma disciplina do comportamento humano. Se a Sociologia pretende apresentar-se

    e manter sua posio como uma disciplina cientfica, especfica e autnoma, ela deve ser

    capaz de oferecer um conhecimento que nos permita desmistificar concepes

    equivocadas, embora bem aceitas, quer pelo senso comum, quer por alguma outra

    disciplina cientfica. Dois pensadores do sc. XIX se notabilizaram por enfrentar este

    desafio: mile Durkheim (1858 - 1917) e Max Weber (1864-1920). .

    Em seu primeiro livro, A Diviso do Trabalho Social, Durkheim procurou

    desmistificar a concepo, at ento bem aceita entre os economistas, de que a diviso

    do trabalho se explica pelos benefcios individuais que pode trazer. Uma pessoa sozinha

    no constri uma casa, mas dez pessoas, se dividirem as tarefas, podem construir dez

    casas. Ento, supunham os economistas, natural que essas dez pessoas se renam,

    dividam as tarefas, construam as dez casas e, uma vez prontas, cada um ter a sua.

    Durkheim mostrou o que h de errado com toda esta linha de raciocnio. Ele

    argumentou que as pessoas no aceitariam dividir tarefas se j no houvesse previamente

    uma coeso entre elas; se elas no pudessem de antemo acreditar umas nas outras e,

    nesse caso, seria necessrio explicar como se d esta prvia coeso. Somente a sociologia,

    ele argumentou, seria capaz de cumprir uma misso de tal natureza. Posteriormente, em

    seu livro O Suicdio, Durkheim procurou mostrar que as explicaes at ento oferecidas

    para este fenmeno eram claramente insatisfatrias. Ele se contraps a uma concepo

    cujo carter equivocado parecia-lhe bvio. Estamos nos referindo concepo de que o

    suicdio se explica pela trajetria individual de quem se matou. Com efeito, quando

    tomamos conhecimento de que algum se matou ocorre-nos imediatamente atribuir a

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    causa deste suicdio a fatores como distrbio mental, decepo amorosa, problema

    financeiro insolvel ou, mesmo, imitao o jornal noticiou um suicdio espetacular e

    outras pessoas seguiram a onda. Durkheim procurou mostrar que tudo isto pode

    explicar o suicdio apenas de forma bastante superficial. A chave para a explicao do

    suicdio, ele argumentou, est na natureza das sociedades em que as pessoas vivem e no

    na biografia dessas mesmas pessoas.

    Max Weber no foi menos ousado que Durkheim em seu esforo de mostrar que

    a sociologia, e somente ela, seria capaz de desmistificar concepes at ento bem aceitas.

    Weber enfrentou o desafio de explicar em termos sociolgicos a emergncia do

    capitalismo moderno. Isto envolveu distinguir tipos de capitalismo de modo a mostrar

    o carter nico do capitalismo que se desenvolveu a partir do sculo XVII no Ocidente.

    Quantas vezes j ouvimos que o capitalismo moderno um sistema cuja caracterstica

    fundamental a busca irrefreada pelo lucro? Pois foi justamente contra esta concepo

    que Weber se colocou: a busca pelo lucro a qualquer preo, Weber argumentou, algo

    que existiu em todas as pocas e em todos os lugares, nada h de particularmente

    capitalista neste padro de comportamento. O capitalismo moderno, ao contrrio,

    representou justamente uma moderao desta busca. Estamos, obviamente, nos

    referindo ao argumento central de Weber em seu A tica Protestante e o Esprito do

    Capitalismo e o aluno poderia ser exposto a este argumento como, tambm, pesquisa

    emprica atravs da qual Weber procurou corroborar sua tese (a comparao entre o

    comportamento de catlicos e protestantes empregados na indstria). O aluno deve ser

    convidado a refletir sobre as razes que levaram Weber a fazer tal comparao (mostrar a

    afinidade entre o protestantismo e a mentalidade peculiar ao capitalismo moderno). Esta

    seria um boa maneira de fazer o estudante perceber em que consiste um trabalho

    sociolgico.

    A temtica deste eixo introdutrio deve ser vista como apresentao de um quadro

    geral para a discusso dos fundamentos da sociologia como disciplina cientfica

    autnoma. Trata-se, em linhas gerais, de considerar as razes que justificam o enfoque e

    os procedimentos peculiares anlise sociolgica.

    importante salientar, contudo, que a discusso dos tpicos abaixo relacionados

    no implica o tratamento direto das obras dos autores clssicos. Fatos do dia-a-dia,

    prximos ao contexto social da escola e da comunidade, podero servir como referncia

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    para esta discusso. A focalizao, por exemplo, nos estilos de vida ou caractersticas

    scio-econmicas da comunidade escolar, poder produzir um bom material para ser

    tratado pelo professor buscando diferenciar as concepes de senso-comum das

    peculiares anlise sociolgica, poltica ou antropolgica do material levantado. A

    estratgia para trazer as questes levantadas pelos clssicos, especialmente por Durkheim

    e Weber, depender das circunstncias e do contexto escolar, dentro e fora da sala de

    aula.

    Tpicos Habilidades Bsicas Temas Complementares 1. A desnaturalizao das definies de realidade implicadas pelo senso-comum.

    1. Identificar os princpios que tornam uma abordagem sociolgica diferente de uma abordagem de senso-comum .

    1. O argumento durkheimiano sobre o carter social da diviso do trabalho e sobre as bases pr-contratuais do contrato, como forma de contrapor um argumento sociolgico a uma abordagem econmica. 2. O argumento desenvolvido por Luckmann e P. Berger, a partir da fenomenologia de A. Shutz, sobre a construo do mundo social. 3. O argumento weberiano sobre as caractersticas do capitalismo moderno.

    2. Senso-comum e conhecimento sociolgico (por exemplo: a abordagem sociolgica do suicdio em Durkheim e/ou a anlise de Weber sobre as principais caractersticas da reforma protestante relacionadas ao esprito do capitalismo)

    1. Compreender a diferena entre as categorias sociais utilizadas na convivncia do dia-a-dia e aquelas desenvolvidas a partir de uma atitude mais objetiva, distanciada do contexto em que vivemos.

    V - Eixo Temtico 2: Anlise Sociolgica do Mundo Moderno: a Sociedade em que Vivemos. Se os clssicos da disciplina enfrentaram, por um lado, o desafio de abrir espao para

    uma nova disciplina entre disciplinas do comportamento humano j existentes e bem

    estabelecidas, por outro, enfrentaram tambm, enquanto socilogos, o desafio de compreender

    o mundo em que viviam. Era um mundo de grandes e rpidas transformaes sociais, as quais

    colocavam na ordem do dia temas como desigualdade, mobilidade e controle social. As

    concepes de ordem social fundadas na Velha Sociedade, as idias de ordem divina, e de

    posio fixa na hierarquia estamental, j no eram capazes de explicar o que estava ocorrendo

    com a sociedade europia e americana no final do sc. XVIII e no decorrer do sc. XIX.

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    Os fenmenos relacionados s novas formas de trabalho coletivo, a fbrica, a

    concentrao populacional nas cidades, a emergncia de mercados nacionais e a ausncia de um

    estado poltico inclusivo, moldavam um cenrio de desordem e violncia to bem descrito por

    historiadores como Eric Hobsbowm e George Rud. este cenrio que os clssicos aceitaram

    como desafio para a explicao sociolgica. Assim, Weber notabilizou-se por desencadear esta

    discusso em seu Classe, Estamento e Partido. Mas Durkheim e Weber no foram,

    evidentemente, os primeiros a se ocupar das transformaes que abalaram as estruturas

    estamentais. J em meados do sc. XIX, o filsofo e economista alemo Karl Marx (1818-1883)

    props que a marca registrada do mundo moderno era o advento de um modo de produo

    que, em contraste com todos os precedentes, no podia admitir qualquer lao social que no

    fosse o de natureza econmica. Devemos lembrar que no Manifesto Comunista de 1848 Marx j

    afirmara que, no sistema capitalista, o nico lao que liga as pessoas o frio clculo

    instrumental. At mesmo as relaes familiares, Marx argumentou, resumem-se a relaes

    financeiras. Weber, posteriormente, manifestou-se sobre esta concepo afirmando que o trao

    distintivo do sistema capitalista moderno no seu carter de classe mas, sim, o carter

    racionalizado da empresa moderna. Aquilo que Marx via como um trao essencial do mundo

    moderno - o trabalhador inteiramente separado dos meios de produo - Weber via como um

    sintoma de um processo mais abrangente: o de racionalizao nas diferentes esferas da vida.

    Tratar da anlise das principais caractersticas da sociedade moderna implica expor os estudantes

    a esta discusso.

    Para trabalhar este eixo importante ter em mente o argumento do Manifesto Comunista,

    de que o advento do capitalismo significou uma ruptura radical com toda ordem precedente.

    Apesar de seu carter panfletrio, o Manifesto Comunista visto como um documento que

    pioneiramente descreve as caractersticas da modernidade, que podem ser resumidas na frase

    tudo que slido desmancha no ar. Este argumento tem vrios pontos de interface com o

    argumento weberiano de que a emergncia do capitalismo implica o advento de uma economia

    de larga escala, sem fronteiras nacionais, a qual requer uma administrao de molde racional,

    em contraste com administraes de carter tradicional (feudal ou patrimonialista), prpria de

    economias de subsistncia ou de alcance reduzido. A idia de uma sociedade moderna

    desprovida de sentido ou de esprito, caracterstica, tambm, da abordagem weberiana,

    aproxima, ainda que por razes distintas, as imagens de modernidade de Marx e Weber. Da

  • 19

    mesma forma, o argumento durkheimiano de que o antagonismo entre classes na sociedade

    moderna era fruto de um sistema forado de diviso do trabalho, projeta uma imagem

    pessimista da modernidade, onde o individualismo e o egosmo predominavam sobre a

    solidariedade e a integrao social.

    Toda esta discusso sobre modernidade deve ser o pano-de-fundo para uma reflexo

    sobre o Tradicional e o Moderno na sociedade brasileira: os contrastes entre a sociedade urbana

    e rural, entre os estilos de vida cosmopolita e local, entre estilos de poltica partidrio-ideolgico

    corporativa-clientelista e, enfim, como convivem o velhoe o novo na sociedade brasileira. Da

    mesma forma, importante discutir as questes relacionadas participao civil em movimentos

    sociais, ONGs, sindicatos e associaes comunitrias. Tal discusso deve considerar os principais

    aspectos que envolvem tanto a dimenso de solidariedade, presente nas vrias formas de

    participao social e poltica, quanto as questes relacionadas ao dilema da ao coletiva, o

    chamado problema do carona. Com efeito, a noo marxista de que nenhum lao liga os

    indivduos na sociedade capitalista alm do auto-interesse encerra outro problema crucial: o da

    ao coletiva. Na segunda metade do sc. XX o economista Mancur Olson dirigiu ao marxismo a

    crtica de que por mais precria que seja a situao que os membros da classe operria

    compartilhem, esta no se apresenta como uma razo suficiente para que os mesmos se renam

    para lutar por seus direitos porque, no caso de haver uma ao de carter coletivo, sempre

    possvel ser beneficiado sem tomar parte dela. Quando, por exemplo, h uma greve bem

    sucedida por melhores salrios, o trabalhador que no aderiu ao movimento tem o mesmo

    aumento de salrio que aquele que aderiu. Se assim, raciocinou Olson, por que o trabalhador

    participaria do movimento? No seria mais fcil tornar-se um carona isto , ser beneficiado

    sem participar do movimento que deu origem ao benefcio? O problema do carona vem desde

    ento sendo amplamente debatido na literatura sociolgica e se aplica a toda sorte de situao

    em que as pessoas so chamadas a participar em empreendimentos coletivos para a produo de

    bens em relao aos quais, independentemente da participao, recebero seu quinho, pois

    estes bens coletivos no so passveis de diviso de acordo com o investimento pessoal na sua

    produo. Exemplos tpicos, alm do j mencionado, so: um melhor equilbrio ecolgico, a

    melhoria urbana ou a melhoria da qualidade de vida.

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    Tpicos Habilidades bsicas Temas complementares

    1. Tipos de sociedade: as sociedades tradicionais e a sociedade moderna: caractersticas bsicas.

    1. Identificar os elementos de contraste entre sociedades tradicionais e modernas, tendo como referncia maior os contrastes na realidade brasileira entre a sociedade rural e a moderna sociedade urbano-industrial.

    1. O argumento weberiano de que h trs modos possveis de dominao: o racional, o tradicional e o carismtico. 2. O argumento weberiano de que no mundo moderno o modo racional universalizou-se, em razo de ser o nico capaz de se ajustar economia de grande escala. 3. A anlise de Srgio Buarque de Holanda, em Razes do Brasil, a respeito da relao entre dominao tradicional e dominao racional no Brasil; a apropriao privada da esfera pblica no Brasil; nepotismo na atualidade brasileira.

    2. As grandes mudanas do perodo moderno e as conseqncias para a vida social: a industrializao, a urbanizao, as classes sociais, grupos tnicos e a desigualdade.

    1. Relacionar a industrializao e urbanizao aceleradas no Brasil: os problemas do desemprego, dos transportes pblicos, das desigualdades na ocupao do solo e da habitao. 2. Analisar e interpretar tabelas de dados simples referentes s desigualdades sociais no Brasil.

    1 . Crescimento populacional e industrial e a problemtica do meio-ambiente. 2. Pobreza, excluso e mercado de trabalho. 3. A questo do emprego para o jovem no Brasil de hoje. 4. A distino entre os argumentos marxista e weberiano a respeito das classes sociais na sociedade moderna. 5. Sociedade da informao e globalizao.

    3. Valores, normas e a diversidade cultural; identidades grupais e sociais; diferenas e tolerncia.

    1 Identificar focos e bases de identidade que mobilizam pessoas e grupos dentro da sociedade. (gnero, faixa-etria, raa, classe, grupos tnicos, etc.)

    1.A diversidade familiar no Brasil: novas formas de famlia. ( Os pais solteiros, unio civil homosexual) 2 A diversidade religiosa na atualidade brasileira.

    4. Estado de Direito e a democracia moderna: cidadania, direitos e deveres; eleies e partidos polticos. Participao e representao (os problemas da ao coletiva: solidariedade e interesse).

    1 Identificar as tenses entre os direitos e os deveres da cidadania. 2 Distinguir um sistema poltico representativo de um autoritrio 3 Identificar situaes nas quais se aplica a lgica do caroneiro.

    1. Corporativismo e liberalismo na poltica brasileira 2. O velho e o Novo Sindicalismo no Brasil: a questo da participao e da representatividade 3. Os novos movimentos sociais em busca de identidade.

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    VI - Eixo Temtico 3: A abordagem sociolgica de questes sociais no Brasil contemporneo

    Anlises e discusses prprias ao pensamento sociolgico devem ser desenvolvidas

    visando ao melhor entendimento da sociedade brasileira. Tratar de temas importantes e de

    grande interesse para o nosso pas contribuir, tambm, para que os estudantes percebam com

    clareza o contraste e as diferenas entre a abordagem sociolgica das questes em foco e as vises

    do senso-comum.

    Dentre vrias possibilidades, quatro temas podem ser privilegiados: raa, gnero,

    criminalidade e sub-culturas juvenis. Em relao ao primeiro tema, os estudantes podem ser

    expostos discusso a respeito dos efeitos da raa sobre a estratificao social e da relao entre

    raa e mobilidade social. Sobre o tema gnero, um dos aspectos relevantes diz respeito aos

    efeitos que a condio do gnero possui sobre o diferencial de salrios no mercado de trabalho.

    No mundo contemporneo, desde a emergncia do movimento feminista na dcada de 60 do

    sculo passado, a questo da discriminao da mulher na sociedade em geral e no mercado de

    trabalho em particular vem adquirindo centralidade na agenda social e poltica dos pases

    modernos e industrializados. Esta discriminao manifesta-se, no mundo do trabalho, pelo

    baixo acesso das mulheres aos postos de trabalho com mais alto prestgio e pelo diferencial mais

    baixo de salrio quando ocupando os mesmos postos de trabalho que os homens. H inmeros

    estudos sobre o tema realizados por especialistas do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada

    IPEA - e disponveis no site desta instituio.

    O tema da criminalidade uma questo da segurana pblica e constitui um dos

    maiores problemas atuais de nossa sociedade. Encontra-se, com freqncia, opinies exasperadas

    a respeito, tanto sobre suas causas, como sobre solues imaginadas para o problema. A

    abordagem sociolgica sobre a criminalidade tem procurado evitar duas posies extremas, a

    reducionista atribuindo criminalidade causas exclusivamente econmicas, relacionando-a com

    a pobreza e sugerindo, assim, que apenas a reduo ou a extino da pobreza eliminaria a

    criminalidade, e a moralista, atribuindo criminalidade a ausncia de valores morais que

    refreiem as atitudes desviantes.

    Finalmente, a temtica da cultura juvenil constitui no mundo atual uma questo

    privilegiada nas agendas das agncias internacionais voltadas para a educao e o fomento

  • 22

    cultural. De um lado, este tema remete diretamente s novas formas de expresso e de

    identidade de grupos juvenis denominados de tribos, galeras, o hip-hop, o movimento

    punk, ou o funk etc. Por outro lado, este tema est relacionado discusso da incluso ou

    integrao multicultural nas sociedades contemporneas.

    Nessa perspectiva, as diferenas de identidades e estilos de vida devem ser tomadas

    como objeto de exame em si mesmas e, no, como manifestaes de um padro mais abrangente

    de desigualdade social o Hip Hop, por exemplo, no se resume a uma manifestao cultural

    de grupos de classe baixa ou de periferias urbanas.

    Tpicos Habilidades bsicas Temas complementares 1. Raa e seus efeitos sobre desigualdade e discriminao racial no Brasil; Raa e mobilidade social.

    1. Identificar os processos de preconceito e discriminao racial no Brasil 2. Ler e analisar tabelas simples sobre dados de mobilidade e estratificao social no Brasil

    1. A constituio multi-racial da sociedade brasileira. (A concepo de Gilberto Freyre) 2. A questo da discriminao de minorias na sociedade brasileira: ndios, gays, idosos.

    2. Gnero como fator de desigualdade de oportunidades

    1. Distinguir entre os efeitos de gnero de outros fatores que afetam diferenas ocupacionais e salariais no Brasil.

    1. Desigualdade e discriminao da mulher na cultura brasileira. 2. Os movimentos feministas. 3. Homossexualidade masculina e feminina. 4. O jovem, a jovem e a gravidez na adolescncia

    3.Delinqncia e criminalidade

    Diferenciar entre explicaes sociolgicas e as de senso comum sobre as taxas de criminalidade

    1.As gangues, o trfico e a criminalidade violenta. 2.O crime organizado 3. Drogas: o mercado das drogas e sua relao com a violncia; as conseqncias sociais do uso de drogas lcitas e ilcitas; a poltica de reduo de danos.

    4. As manifestaes culturais e polticas dos jovens nas assimetrias do espao urbano brasileiro

    Identificar as novas formas de identidade e expresso dos jovens nas tribos, galeras, etc. - atravs da msica, esttica e estilos de vida.

    1 sociabilidade no ciber-espao, 2 a mdia e as comunicaes de massa

  • 23

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