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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE DA FAMÍLIA FABIULA TEIXEIRA DOS SANTOS PROPOSTA DE INTERVENÇÃO EM VISITA DOMICILIAR CORINTO MINAS GERAIS 2013

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO EM VISITA DOMICILIAR · modalidade de atenção. Assim, a articulação com os outros níveis da atenção e a intersetorialidade é fundamental para a construção

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE

DA FAMÍLIA

FABIULA TEIXEIRA DOS SANTOS

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO EM

VISITA DOMICILIAR

CORINTO – MINAS GERAIS

2013

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FABIULA TEIXEIRA DOS SANTOS

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO EM

VISITA DOMICILIAR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Especialização em Atenção

Básica em Saúde da Família, Universidade

Federal de Minas Gerais, para obtenção do

Certificado de Especialista.

Orientadora: Prof.ª Eunice Francisca Martins

CORINTO – MINAS GERAIS

2013

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FABIULA TEIXEIRA DOS SANTOS

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO EM

VISITA DOMICILIAR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Especialização em Atenção

Básica em Saúde da Família, Universidade

Federal de Minas Gerais, para obtenção do

Certificado de Especialista.

Orientadora: Prof.ª Eunice Francisca Martins

Banca Examinadora

Prof.ª Eunice Francisca Martins

Prof.ª Matilde Meire Miranda Cadete

Aprovada em Belo Horizonte, em 23/11/2013

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RESUMO

Este trabalho apresenta uma proposta de intervenção, para a equipe de Saúde da Família da Estratégia de Saúde da Família (ESF) Esperança, município de Presidente Juscelino/MG, sobre a prática da visita domiciliar (VD) como instrumento essencial em atenção primária. Tem por objetivo instaurar um plano de ação para sanar problemas que envolvam dificuldades e obstáculos a uma melhor abordagem da visita feita pela equipe. A metodologia empregada para o resgate das bases conceituais que envolvem o tema foi a consulta à Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), na modalidade de revisão integrativa. Foram encontrados cinco artigos de relevância sobre a VD, que relatam seus benefícios e vantagens em relação ao atendimento em consultório ou ambulatório. O plano de intervenção propõe melhorias para facilitar a comunicação e o acesso à casa dos usuários. Espera-se que seja possível a conquista de uma atenção domiciliária holística, humanizada e equitativa.

Palavras-chave: Visita domiciliar. Saúde da Família. Atenção primária à saúde.

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ABSTRACT

this paper presents a proposal for intervention for team health family of the health family strategy (hfs) esperança, the municipality of presidente juscelino/mg, on the practice of home visits (hv) as an essential tool in primary care. aims to establish a plan of action to remedy problems involving difficulties and obstacles to a better approach of the visit made by staff. the methodology used for the redemption of concepts that involve the theme was to consult the virtual health library (vhl), in the form of an integrative review. five articles were relevant on the hv, which reported its benefits and advantages in relation to attendance at clinic or outpatient. the intervention plan proposes improvements to facilitate communication and access to home users. expected to be able to conquer a homecare holistic, humane and equitable.

Keywords: Home visit. Family Health. Primary health care.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACS- Agentes Comunitários de Saúde

APS- Atenção primária à saúde

BDENF - Base Dados em Enfermagem

BVS- Biblioteca Virtual em Saúde

CISMEV- Consórcio Inter Municipal de Saúde do Médio Rio das Velhas

CONASEMS - Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde

CONASS- Conselho Nacional dos Secretários de Saúde

DSS - Determinantes sociais de saúde

ESF- Estratégia de Saúde da Família

LILACS - Literatura Latino-americana e do Caribe

MEDLINE - Literatura Internacional em Ciências da Saúde

MS- Ministério da Saúde

NOB- Norma Operacional Básica

OMS - Organização Mundial de Saúde

PACS - Programa Agentes Comunitários de Saúde

PNAB -Política Nacional de Atenção Básica

PSF -Programa Saúde da Família

SIAB -Sistema de Informação de Atenção Básica

SRS -Superintendência Regional de Saúde

SUS - Sistema Único de Saúde

UBS- Unidade Básica de Saúde

VD- Visita domiciliar

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SUMÁRIO

1 Introdução ..............................................................................................................8

2 Justificativa ..........................................................................................................13

3 Objetivos ..............................................................................................................14

4 Metodologia ..........................................................................................................15

5 Referencial teórico ......................................................….....................................16

6 Proposta de intervenção ......................................................…............................31

7 Considerações finais .......................................................……....…......................44

Referências .........................................................................…....…..........................46

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1 Introdução

A família é uma subunidade social que contém o indivíduo e é contida pela

comunidade na qual está inserida. Porém, o termo é mais complexo e ultrapassa os

limites da consanguinidade.

Desse modo, é fundamental o conhecimento dos conceitos e discussões que

permeiam as práticas do membro de uma Equipe de Saúde da Família.

O Brasil tem uma madura estrutura jurídica que envolve o tema da assistência

à saúde como um direito social e dever do Estado.

Nesse enfoque da saúde, a nossa Carta Magna (1988) explicita que o Estado

deve garantir a saúde a todos “mediante políticas sociais e econômicas que visem à

redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário

às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988).

O mesmo dispositivo legal, em seu art. 198, exige a organização, por parte do

Estado, das ações e serviços públicos, priorizando as atividades preventivas do

atendimento integral e o atendimento assistencial, destacando a participação da

comunidade.

Sob este prisma, Chapadeiro, Andrade e Araújo (2012, p.12) mencionam que:

Abordar a questão da família como centro da Atenção Primária à Saúde é uma situação prioritária, especialmente se a colocarmos na estratégia de reorganização do sistema de saúde. É necessário, também, conhecer as configurações dessa família, seus arranjos, seus contextos, seu processo social de trabalho e vivência, sua cultura de características bem peculiares, nesse nosso tempo de diversidade e de transição demográfica e epidemiológica. Enfim, compreender a família como unidade de produção social.

É por meio da contribuição dos movimentos sociais por uma saúde mais

direta, holística e humanizada que a área social pode ser mais bem acolhida nas

decisões políticas. E em um momento de grande euforia por mais direitos e que

essas mobilizações levaram à concepção de que a saúde deve ser levada aos

usuários.

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Assim, surge a questão da família como a base desse processo de mudança

nos paradigmas do acesso à saúde. No momento em que o ordenamento jurídico

pátrio dispõe de um conjunto de direitos e deveres resultantes dos anseios da

sociedade, a família é tida como a base dessa sociedade, tendo especial proteção

do Estado, como exposto no art. 226 da Constituição Federal (BRASIL, 1988).

O novo tratamento dado à família, como unidade constituída por indivíduos

dotados de semelhanças culturais peculiares (e não apenas por similitude genética)

e que, por sua vez, é formadora da sociedade, exige do Poder Público uma atenção

especial. As famílias possuem necessidades diferenciadas e, portanto, demanda

tratamento diferenciado nas relações interpessoais a serem estabelecidas, para a

formação de um elo com os serviços do Estado. Essa unidade social transforma-se

na base para qualquer intervenção estatal, principalmente no que envolve a área da

saúde.

Pelo fato de haver vários arranjos familiares, todos protegidos pelo não

excludente texto constitucional, esta unidade se torna plural e complexa, dotada de

função afetiva e humanizadora do sujeito social. Nesse contexto, Menezes (2008, p.

2) explica que:

A família promove o desenvolvimento da personalidade de seus membros [...] A proteção deferida à família pelo Estado se funda na importância que este grupo social desenvolve na formação psicossocial do indivíduo. É na família que a pessoas recebe as primeiras orientações para a vida coletiva e é neste organismo que os atos de solidariedade e de ajuda mútua acontecem mais recorrentemente. Não sem razão, a família tem deveres constitucionais, como o de assegurar ás crianças a sociabilidade, a educação básica e a saúde, bem como o de proteção e cuidado com a pessoa do idoso.

No âmbito dessa discussão, a família, como um constituinte fundamental da

sociedade, precisa ser encarada de forma diversa e ampla. Portanto, a visita

domiciliar no cenário da saúde é convertida em ação básica para a organização de

um serviço essencial às pessoas, cuja formatação é pautada, por comando

constitucional, na integralidade, equidade e universalidade.

Em um relatório elaborado pela Organização Mundial de Saúde (OMS,

2008, p.27), em 2008, é dito que “o passo mais fundamental que um país pode dar

para fomentar a equidade em saúde é promover a cobertura universal: acesso

universal a todo um leque de serviços de saúde necessários, pessoais ou não

pessoais, com proteção social da saúde”.

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Atender a família dentro de suas singularidades e complexidades, de maneira

holística e humana, com respeitos às suas características e sem causar lesão ao

seu formato natural de vivência apenas legitima o papel da assistência domiciliar na

atenção primária à saúde (APS).

A portaria nº 2.029, de 24 de agosto de 2011, do Ministério da Saúde

(BRASIL, 2011, p. 1), em seu artigo 2º, inciso II, considera a Atenção Domiciliar, na

qual está inserta a visita domiciliar, como uma:

Nova modalidade de atenção à saúde substitutiva ou complementar às já existentes, caracterizada por um conjunto de ações de promoção à saúde, prevenção e tratamento de doenças e reabilitação prestadas em domicílio, com garantia de continuidade de cuidados e integrada às redes de atenção à saúde.

Há indícios de cuidados de saúde no domicílio no Egito e Grécia antigos. Na

Europa, antes dos adventos dos hospitais e ambulatórios, a modalidade de cuidado

praticada era na casa do paciente. No Brasil, médicos liberais legais atendiam nos

lares de forma humanizada e de qualidade a quem podia pagar. Aos mais carentes,

restava a filantropia e demais práticas, como o curandeirismo e a medicina caseira,

que eram realizadas nas casas ou estabelecimentos não nosocomiais (BRASIL,

2012, p.12 - 13).

Historicamente, as visitas médicas sempre foram realizadas, contudo a

Estratégia Saúde da Família deu o impulso e o estímulo para elevar a frequência

das idas de profissionais de saúde às casas de pacientes. Conforme documento

original do Ministério da Saúde (BRASIL, 2012, p. 12), “o cuidado domiciliar à saúde

é uma prática que remonta a própria existência das famílias como unidade de

organização social”.

O mesmo documento (BRASIL, 2012, p. 21) diz que:

A participação ativa do usuário, família e profissionais envolvidos na assistência domiciliar constitui traço importante para a efetivação dessa modalidade de atenção. Assim, a articulação com os outros níveis da atenção e a intersetorialidade é fundamental para a construção coletiva de uma proposta integrada de atenção à saúde, bem como para aumentar a resolutividade dos serviços e melhorar a qualidade de vida das pessoas.

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Vasconcelos (ANO apud BRASIL, 2012, p.44) comenta que a vida familiar:

Constitui um espaço importante para a elaboração de um destino comum, para o amadurecimento de um saber sobre o espaço, o tempo, a memória, para a transmissão de conhecimentos e informações e para a compensação da pouca escolarização com outros aprendizados transmitidos oralmente e por contato direto.

É nesse aspecto da necessidade da atenção primária, tomando como

ferramenta para o alcance da qualidade nos serviços a ida de um profissional de

saúde às casas dos moradores, que o respectivo trabalho pretende discorrer sobre

as virtudes de tal instrumento.

Presidente Juscelino é um município brasileiro do estado de Minas Gerais.

Localiza-se a uma latitude de 18º38’14” sul e a uma longitude 44º03’30” oeste,

estando a uma altitude de 596 metros. Sua população estimada pelo Sistema de

Informação de Atenção Básica (SIAB) (BRASIL, 2013) é de 3.953 habitantes. Possui

uma área de 698,874 km². O município foi emancipado de Curvelo em 1 de março

de 1963, onde era o distrito de Ponte do Paraúna – Município limítrofes Monjolos,

Curvelo, Inimutaba, Santana de Pirapama, Gouveia, Santo Hipólito. Tem como

acessos rodoviários a BR 135, a BR 259 e a BR 040, conforme dados do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010).

• Inserção no Estado: Microrregião do Médio Rio das velhas

• Macrorregião: Centro Belo Horizonte

• Superintendência Regional de Saúde (SRS) Sete Lagoas

• Consórcio Inter Municipal de Saúde do Médio Rio das velhas (CISMEV)

• Prefeito Municipal: Warley Pereira Rosa

• Secretario Municipal de Saúde: Ricardo de Castro Machado

No âmbito local, a Secretaria Municipal da Saúde de Presidente Juscelino

trabalha na reorientação do modelo assistencial com a intensão de mudança do

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modelo centrado na assistência médica individual curativa para um modelo que

contemple uma atenção integral do individuo, tendo por base a saúde coletiva.

Estão implantadas duas equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF) da

Unidade Básica de Saúde (UBS) desmembrada em Urbana (ESF Renascer) e Rural

(ESF Esperança), sendo quatro Agentes Comunitários de Saúde (ACS) da Zona

Urbana e sete Agentes Comunitários de Saúde (ACS) da Zona Rural.

A ESF da Zona Rural, pelo Sistema de Informação de Atenção Básica (SIAB),

acessado em março de 2013, cobre 602 famílias, o que equivale a 1.904 pessoas.

As ESF´s consolidaram a reorganização da Atenção Básica no município,

tendo 100% de cobertura. Tendo como cliente a família inserida numa comunidade,

a saúde dessa família não pode ser objeto de trabalho apenas da equipe, mas é

também um conjunto de intervenções da comunidade.

A visita domiciliar (VD) é uma das atividades mais importantes do processo de

trabalho da equipe de Saúde da Família. Numa casa vive a família, com seus

códigos de sobrevivência, suas crenças, sua cultura e sua própria história. A

sensibilidade em compreender o momento certo e a maneira adequada de haver

aproximação e o estabelecimento de uma relação de confiança se configura numa

habilidade essencial. Contudo, é uma ação essencial no sentido de promover a

orientação do modelo de atenção que muda a ordem dos serviços de saúde, ao

esperar a postura passiva dos usuários pela demanda espontânea nos serviços.

Em geral, as VD devem ser realizadas de forma planejada pelo ACS e pela

equipe de saúde. Esta VD deve ser contínua e dinâmica, na função de orientar,

monitorar, esclarecer e ouvir, passando a exercer também um papel de educativo.

Assim é fundamental que seja compreendido a importância da VD na ESF.

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2 Justificativa

Este trabalho visa discutir a importância da visita domiciliar (VD) inserida no

contexto da Estratégia de Saúde da Família (ESF) como um dos principais

instrumentos de prestação de assistência á saúde.

A VD propicia importante aproximação com as famílias, seus membros e

equipe de saúde, além de permitir o conhecimento das condições ambientais dos

riscos e dos danos aos quais as pessoas estão expostas. Constitui um conjunto de

ações sistematizado para viabilizar o cuidado a pessoas com algum nível de

alteração no estado de saúde.

Este estudo contribuirá para aprimorar o conhecimento da prática diária da

visita domiciliar por meio da realização da mesma com ética, respeito, acolhimento,

postura, diálogo, compreensão e confiança.

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3 Objetivos

3.1 Objetivo geral

Elaborar um plano de intervenção para melhoria da visita domiciliar para a

equipe da ESF Esperança, no município de Presidente Juscelino/MG.

3.2 Objetivos específicos

Revisar a literatura sobre a importância da visita domiciliar na atuação da

equipe de Saúde da Família;

Discutir a operacionalização da visita domiciliar na ESF;

Sugerir possíveis mudanças na abordagem da VD pela equipe de Saúde da

Família.

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4 Metodologia

Como mecanismo de consulta para a obtenção de estudos relevantes sobre o

tema, lançou-se mão da estratégia para a busca de referências a consulta à

Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), através do site http://regional.bvsalud.org. Os

descritores utilizados para a pesquisa foram “visita domiciliar” AND “saúde da

família” AND “atenção primária à saúde”. Para detalhar a seleção, filtraram-se

artigos em língua portuguesa, com textos completos disponíveis, das bases de

dados da Literatura Latino-americana e do Caribe (LILACS) e Base Dados em

Enfermagem (BDENF) cujo assunto principal escolhido foi “visita domiciliar”, sendo

os trabalhos produzidos nos últimos 10 anos. A modalidade da pesquisa bibliográfica

foi a revisão narrativa.

Após o colhimento do conhecimento produzido nesse período, foi elaborado

um projeto de intervenção conforme preconizado pelas diretrizes da Política

Nacional de Atenção Básica (PNAB) (BRASIL, 2012).

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5 Referencial teórico

A Estratégia Saúde da Família, antigo Programa Saúde da Família ou PSF,

foi lançado em 1994 pelo governo federal como medida para implementar a

assistência preventiva, uma forma de atenção centrada na pessoa e não mais no

doente, sendo este um preceito da assistência hospitalar. Com o advento da Norma

Operacional Básica de 1996 (BRASIL, 1996), passou a constituir, sobre base

normativa, como estratégia na reorganização do sistema de saúde do Brasil.

O Programa Nacional de Atenção Básica (PNAB) (BRASIL, 2012) apresenta

as especificidades da Estratégia Saúde da Família, que visam à:

Reorganização da atenção básica no País, de acordo com os preceitos do

Sistema Único de Saúde, e é tida pelo Ministério da Saúde e gestores estaduais e

municipais, representados respectivamente pelo CONASS e CONASEMS, como

estratégia de expansão, qualificação e consolidação da atenção básica por favorecer

uma reorientação do processo de trabalho com maior potencial de aprofundar os

princípios, diretrizes e fundamentos da atenção básica, de ampliar a resolutividade e

impacto na situação de saúde das pessoas e coletividades, além de propiciar uma

importante relação custo-efetividade.

A Declaração de Alma-Ata, constituída pela Conferência Internacional sobre

Cuidados Primários à Saúde (1978) referendou a atenção primária à saúde como

mecanismo de atendimento à peculiar necessidade dos cidadãos dos países em

desenvolvimento, excluindo antigos paradigmas e conceituando essa estrutura de

cuidado como essencial, que é baseada em:

Métodos e tecnologias práticas, cientificamente bem fundamentadas e socialmente aceitáveis, colocadas ao alcance universal de indivíduos e famílias da comunidade, mediante sua plena participação e a um custo que a comunidade e o país possam manter em cada fase de seu desenvolvimento, no espírito de autoconfiança e autodeterminação ( CITAÇÂO).

Starfield (2002) descreve os quatro atributos da atenção primária – atenção

ao primeiro contato, longitudinalidade, integralidade e coordenação (integração) –

como características principais dessa modalidade de atenção.

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Como criticado pela OMS (2008, p.35):

O aumentar do rendimento médio nacional, uma oferta crescente de prestadores de serviços de saúde e uma promoção acelerada da cobertura universal não são, infelizmente, suficientes para eliminar as iniquidades em saúde.

Além disso, a OMS (2008, p.53) também concorda que:

Compreender as pessoas e o contexto onde elas vivem é não só importante para se desenvolver uma resposta compreensiva, orientada para a pessoa, mas também como condicionante da continuidade dos cuidados. Os prestadores comportam-se frequentemente como se a sua responsabilidade começasse quando um doente chega ao local de consulta e terminasse quando o abandona. Os cuidados não podem, nem devem, estar limitados ao momento da consulta, nem confinados às quatro paredes de um consultório.

Nesse contexto mundial de convenções dos conceitos e concepções de

saúde, bem como das propostas de modelos de assistência no âmbito

governamental, o PSF expandiu e consolidou-se como estratégia prioritária do

Ministério da Saúde (MS), que aprovou a Portaria Nº 648 (2006), deixando de ser

uma Política de Governo para tornar-se Política de Estado, elevando seu status de

programa - pelo fato de ter objetivos, etapas e modalidades definidas - para

estratégia - na qual existe a combinação e o planejamento das ações efetivas à

saúde (BRASIL, 2006).

O Ministério da Saúde (BRASIL , 1997, p. ) introduz que:

Embora rotulado como programa, o PSF, por suas especificidades, foge à concepção usual dos demais programas concebidos no Ministério da Saúde, já que não é uma intervenção vertical e paralela às atividades dos serviços de saúde.

Tido pelo Programa Nacional de Atenção Básica (BRASIL, 2012, p.19, p.21)

como princípio e diretriz geral, a atenção básica qualifica-se, conforme o esse

mesmo documento, por:

Um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, [...] É desenvolvida com o mais alto grau de descentralização capilaridade, próxima da vida das pessoas. [...] um processo de vinculação de pessoas e/ou famílias e grupos a profissionais/equipes, com o objetivo de ser referência para o seu cuidado. [...] São atribuições comuns a todos os funcionários (dentre outras): [...] VI - Participar do acolhimento dos usuários realizando a escuta qualificada das necessidades de saúde, procedendo à primeira avaliação (classificação de risco, avaliação de vulnerabilidade, coleta de informações e sinais clínicos) e identificação das necessidades de intervenções de cuidado, proporcionando atendimento humanizado, responsabilizando-se pela continuidade da atenção e viabilizando o estabelecimento do vínculo; IX - Praticar cuidado familiar e dirigido a

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coletividades e grupos sociais que visa a propor intervenções que influenciem os processos de saúde-doença dos indivíduos, das famílias, das coletividades e da própria comunidade; XI - Acompanhar e avaliar sistematicamente as ações implementadas, visando à readequação do processo de trabalho; [...]”. (Grifo nosso)

A família é o núcleo central das ações de diagnóstico, planejamento e

intervenção por parte da equipe de saúde. Dotada de características definidoras de

seu contexto inserido na sociedade, a investigação do modo de vida familiar para a

identificação dos estilos de proteção ou de risco a doenças é fundamental para as

propostas de atividades a serem implantadas.

Segundo documento do Ministério da Saúde (BRASIL, 1997, p. 14), a visita

domiciliar tem como finalidade:

Monitorar a situação de saúde das famílias. A equipe deve realizar visitas programadas ou voltadas ao atendimento de demandas espontâneas, segundo critérios epidemiológicos e de identificação de situações de risco. O acompanhamento dos Agentes Comunitários de Saúde em microáreas, selecionadas no território de responsabilidade das unidades de Saúde da Família, representa um componente facilitador para a identificação das necessidades e racionalização do emprego dessa modalidade de atenção.

A visita dos profissionais de saúde da família não se restringe apenas à sua

ida às casas. É também a oportunidade de construção de um vínculo de relações de

segurança, afeto e confiança entre a equipe e os usuários do sistema de saúde,

capaz de transpor as resistências impeditivas da efetividade das medidas a serem

prescritas.

Os bons cuidados têm a ver com pessoas e essa deve ser a prioridade do

atendimento, pois os cuidados primários orientados às pessoas possuem

características muito distintas dos cuidados de saúde convencionais.

A Portaria 2.029 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2011), no artigo 5º, atribui

as seguintes diretrizes à atenção domiciliar:

I - ser estruturado na perspectiva das redes de atenção à saúde, tendo a atenção básica como ordenadora do cuidado e da ação territorial;

II - articular com os outros níveis da atenção à saúde, com serviços de retaguarda e incorporado ao sistema de regulação;

III - ser estruturado de acordo com os princípios de ampliação do acesso, acolhimento, equidade, humanização e integralidade da assistência;

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IV - estar inserido nas linhas de cuidado por meio de práticas clínicas cuidadoras baseadas nas necessidades do usuário, reduzindo a fragmentação da assistência; (Grifamos)

V - adotar modelo de atenção centrado no trabalho de equipes multiprofissionais e interdisciplinares; e

VI - estimular a participação ativa dos profissionais de saúde envolvidos, do usuário, da família e do cuidador. (Grifo nosso)

Para dar consistência à ESF, a visita domiciliar surge como responsabilidade

das equipes saúde da família, haja vista a necessidade de “ultrapassar os limites

classicamente definidos para a atenção básica no Brasil, especialmente no contexto

do SUS”. “A expansão e a qualificação da atenção básica, organizadas pela

estratégia Saúde da Família, compõem parte do conjunto de prioridades políticas

apresentadas pelo Ministério da Saúde e aprovadas pelo Conselho Nacional de

Saúde” (BRASIL, 2013).

São essas as razões pelas quais é imprescindível a adoção dos objetivos

acima mencionados para investigação, na literatura científica, dos valores insertos

na visita domiciliar para a equipe multidisciplinar poder traçar o plano de atuação. A

nossa preocupação nesse estudo surge na medida em que a política adotada pelo

governo federal vem procurando, cada vez mais, empregar os princípios doutrinários

do Sistema Único de Saúde (SUS).

Conhecer de forma pragmática os valores agregados a essa atividade

essencial da equipe permitirá definir as prioridades, tanto da atenção primária como

da própria visita domiciliar.

Prosseguindo e como resultado da pesquisa utilizando a metodologia citada,

foram encontrados cinco artigos, sendo todos da LILACS e dois, simultaneamente,

do BDENF. São artigos que trazem uma gama de informações pertinentes ao nosso

trabalho na averiguação da importância da VD com a finalidade de elaborar-se o

planejamento das ações a serem propostas. Serão apresentados os principais

pontos (problemas, sugestões e reflexões) abordados pelos autores dos trabalhos

sobre o tema visita domiciliar, acrescidos de nossas críticas e considerações feitas.

Inicialmente, Mano (2009) desenvolve em seu artigo de revisão uma reflexão

do ponto de vista histórico-poético da casa e do lar, trazendo à baila a prática da

visita como embutida de valores técnicos que precisam ser conhecidos pela equipe,

e não apenas como uma ação assistencial que envolve indivíduo somente em seu

bem estar físico. A casa é o edifício destinado à habitação, porém nem sempre pode

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ser considerado como lar. Somente se chama de lar aquilo que atende as demandas

emocionais e psicológicas de seus proprietários. A moradia é tida como um ser

“quase vivo”, que protege e fornece aconchego à família que ali é abrigada, que “vê”,

“ouve” e “vivencia” as histórias felizes ou tristes das pessoas e que, certamente,

participa do desenvolvimento do aspecto psicoemocional e social de seus

habitantes.

A mesma autora nesse trabalho cita a importância de profissionais da Saúde

da Família entender o domicílio, pois esse é um dos contínuos ambientes

formadores da identidade nacional histórica brasileira, que reflete o funcionamento

de toda a sociedade. As características do ambiente da casa definem o período

infância e as relações familiares quanto à forma de organização dos espaços, os

sonhos e desejos, tendo o poder de moldar o que as pessoas serão por dentro,

transcrevendo nossas emoções e sentimentos e traduzindo-os para nossas

manifestações e expressões.

Mano (2009) discute sobre o termo atenção domiciliaria, colocando-o como

um termo que engloba tanto a visita domiciliar como a assistência e a internação

domiciliar. A VD é a que melhor exprime tal significado, já que o particular ato de

visitar consiste também em fornecer a assistência como sede da atenção primária

em saúde, premissa que inexiste nas outras duas.

Essa observação contrapõe à definição da Portaria 2.029 do Ministério da

Saúde (BRASIL, 2011), que institui a atenção domiciliar no âmbito do SUS, cujo

documento cita, para o alcance das metas, as modalidades de atenção, apenas,

centradas na doença e complementares à internação hospitalar e ao atendimento

ambulatorial, distorcendo um termo de amplo significado.

Na visita domiciliar, é importante a equipe verificar todas as condições e

fatores que intervêm na vida e, consequentemente, na saúde da família. Como

referido por Mano (2009), a condição de pobreza e aglomeração familiar influência

no sono, que assim interfere na produtividade escolar e laboral de menores e

maiores de idade, respectivamente. Também nessas condições, os acidentes

domésticos podem passar despercebidos e não ser comunicados pela família.

Um espaço familiar congestionado não é apenas uma elevação das

possibilidades de compartilhamento de doenças. Todas essas questões citadas são

estressantes, criam dificuldades e atritos que impactam no processo de saúde-

doença da família, além de serem razões suficientes para a subnotificação dos

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casos à ESF, justificando a essencialidade da visita domiciliar como única forma de

detecção e atuação sobre esses problemas. Às vezes, se compartilha, além das

brincadeiras, o almoço, o banho, as roupas, a cama e noites de sono.

Mano (2009, p. 465) faz uma observação importante, mencionando que

“somente um profissional atento e sensível consegue entender a complexidade

dessa realidade. Realidade que, certamente, é melhor dimensionada caso seja

visitada, no sentido literal da palavra”.

De acordo com Minuchin (ANO apud Mano, 2009, p. 460), “a aura de

autoridade que caracteriza um ambiente oficial é silenciada, enquanto a realidade do

ambiente em que a família vive é conhecida”.

Como ferramentas da abordagem familiar, tão importante quanto um

genograma é o ecomapa, que possibilita entender o espaço e as relações

estabelecidas entre uma família e as pessoas e estruturas sociais ao qual está

inserida, bem como conhecer o modo e estilo de vida de cada um, seus horários, as

possiblidades e impedimentos, apoios e suportes, crenças e dores. Um ecomapa

bem esquematizado, que contem as redes e parceiros de uma família em sua

comunidade, apenas pode ser confeccionado após uma escuta ativa, cuja prioridade

do cuidado é a figura da pessoa humana e em ambiente aberto e que inspire

confiança ao usuário, ou seja, dentro de sua própria casa.

Em Eufrásio et al. (2010), cujo estudo foi um relato de experiência de

detecção precoce de carcinoma basocelular em um idoso mediante a atenção

primária da visita domiciliar, em Rio Branco/Acre, verificou-se a importância da

atividade itinerante dos serviços de saúde para a investigação e constatação de

problemas e necessidades que não são evidenciadas em ambulatórios, em

contraposição ao precário e excludente modelo assistencial clássico.

Essas autoras ainda referem sobre “a relevância de um acompanhamento

domiciliar adequado com ênfase no caráter preventivo e integral da Atenção

Primária à Saúde”. Somente com a visita domiciliar é oportunizado a precaução a

patologias crônicas, degenerativas e silenciosas. O ato de verificar a utilização

correta de medicamentos, a colheita de uma boa história clínica, o aconselhamento

de ações acessíveis do ponto de vista aquisitivo, a detecção ensejada de recidivas,

os esclarecimentos, a quebra de conceitos e crenças errôneas, as medidas

comportamentais e o conhecimento da real dificuldade do utente são atividades

perceptíveis na casa e não num consultório ou ambulatório.

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Eufrásio et al. (2002) ainda discorrem sobre o caráter intermediador da visita

entre o domicílio e os prestadores de saúde. Condições clínicas debilitantes podem

prejudicar o deslocamento, principalmente de idosos. A assistência apropriada deve

promover a manutenção “da perspectiva de vida pessoal e social”, e não apenas no

aspecto biológico.

Outro importante ponto destacado por essa autora é a possibilidade de

intermediação, a partir da proximidade ocasionada pela visita entre o paciente e o

sistema de saúde, entre a integração e atuação dos serviços de saúde (sistema

formal) na redução do tempo e da burocracia, por exemplo, dos exames prioritários,

e estabelecer os parceiros do suporte familiar e social do usuário (sistema informal),

formando e conhecendo os vínculos de apoio de cada indivíduo. A agilidade é uma

forma imprescindível para estimular a confiança, a adesão e o otimismo com o

tratamento a ser implementado, reforçando o “vínculo paciente-terapêutica-

profissional”.

A inspeção domiciliar do profissional de saúde é o mais instrumento

adequado na contemplação das quatro características da APS: a porta de entrada, a

continuidade do cuidado, a integralidade e a coordenação desse cuidado

(STARFIELD, 2002).

Ademais, a VD é uma ferramenta de saúde que preenche os requisitos de

uma ação completa para o alcance da saúde plena das pessoas, “e não apenas a

ausência de enfermidades” (OMS, 1946). Cuidar do indivíduo, da família e de seus

contextos e cenários permite viabilizar o conforto social e mental que somente a

atenção primária pode proporcionar. Mesmo na doença, incurável ou não, as

pessoas precisam apenas de bem-estar psicológico, intelectual, emocional, familiar

e social. Muitas vezes, é necessário estar bem fisicamente para estar bem

mentalmente, porém é possível superar esse arranjo com um bom suporte da

equipe de saúde que diagnostique e atue de forma competente, o que fortalece o

papel da visita ao lar e a torna indispensável.

Dessa forma, pode ser tomado como base o PNAB (BRASIL, 2012, p. 43), no

qual é expresso que é atribuição comum a todos os profissionais da atenção básica

“desenvolver ações intersetoriais, integrando projetos e redes de apoio social

voltados para o desenvolvimento de uma atenção integral”. Isso nos remete ao

ângulo social quanto à visão sobre a integralidade do acesso à saúde, que cada vez

envolve a instituição familiar para a busca de soluções diversas e mais complicadas

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para seus problemas e dá nova configuração às atividades a serem exercidas pela

equipe de Saúde da Família.

Borges e Oliveira (2011), partindo de entrevistas e observações participantes

da visita domiciliar, tanto de profissionais médicos quanto de usuários e familiares,

na cidade Florianópolis, Santa Catarina, salientaram o caráter comunicativo e

interativo que deve ser incorporado ao ambiente da relação profissional-paciente

para o alcance da efetiva terapêutica, que por vezes são diversas das prescrições

protocolares. Os autores preconizam uma “relação intersubjetiva”, capaz de gerar a

compreensão das linguagens para o desencadeamento das atitudes. Isso acontece

quando há o entendimento, de ambos, quanto a um sobre o outro. Os participantes,

seja o profissional ou o usuário, devem ser proativos e democráticos, a fim de

poderem decidir, juntos, as possibilidades e o melhor caminho das ações.

Esses autores comentam sobre a ampliação do entendimento da vida

cotidiana das pessoas quando o médico de família evade de seu nicho de trabalho

em consultório. Elucidam sobre o erro de atuação estratégica do médico, quando

este apenas busca alcançar um objetivo e se esquece do mérito da “ação

comunicativa”, desvalorizando o saber leigo, mesmo que paute seu comportamento

na franqueza e na boa-fé.

Borges e Oliveira (2011) analisam também sobre o êxito técnico da atividade

médica, propiciado pelo saber teórico do profissional, e o êxito prático das ações,

favorecido pelo processo comunicativo, já que depende das relações dos indivíduos

e populações envolvendo fatores sociológicos importantes, pois muitas vezes as

intervenções prescritas podem não estar dentro das condições econômicas e

mesmo culturais das pessoas.

Frisam, inclusive, que o diálogo permite o compartilhamento de

responsabilidades, onde a relação e o vínculo se (re) fazem a cada dia, criando

“novas possibilidades técnicas e novos sucessos práticos”. O profissional não pode

cair na armadilha de objetivar apenas o sucesso pessoal e restringir a autonomia do

paciente e família nas decisões que interessam, afinal, ao usuário, dando espaço

para a negociação e evitando o “engano inconsciente” e uma distorção na

comunicação.

Em um dos relatos documentados no artigo de Borges e Oliveira (2011, p.

468), retirou-se a seguinte fala de um dos médicos entrevistados:

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[...] Na faculdade a gente aprendia tanta coisa pra orientar e o paciente não fazia. Ou porque não tinha possibilidade, ou porque era impossibilitado por alguma coisa dentro de casa. Ao fazer a VD, acho que talvez tenha trazido mais essa discussão. Se o paciente pode ou não pode fazer algumas coisas.

A realidade fora do ambiente acadêmico, ou do consultório ou de um

ambulatório é contrastante com realidade socioeconômica e até cultural da

população que mais demanda de cuidados de saúde. As tecnologias leves são a

cerne das relações de acolhimento, autonomização e inserção de responsabilidades

a todos os envolvidos em um atendimento de saúde primário. E a VD oportuniza a

quebra de qualquer ambiente oficial, autoritário, imprimido de desconfiança e

coibidor das liberdades e vontades dos pacientes.

Infere-se que a medicina tecnológica e especializada não oferece meios de

visualização do panorama social e cultural que geram situações que trazem

desconforto à família, como a violência, pobreza, tráfico de drogas e estresse

ocupacional, desencadeadores ou complicadores de diversas doenças.

Borges e Oliveira (2011, p.470) ainda conclui que a visita tem um elevado “potencial

de realidade”, preconiza o trabalho em equipe articulado e intersetorial, com atuação

de todos os profissionais e cita que o plano terapêutico deve ser desenvolvido “com

os pacientes” e não “para os pacientes”.

Propondo a racionalidade comunicativa da ação, Habermas (ANO apud

Borges; Oliveira, 2011, p. 463) reporta o seguinte:

Na ação comunicativa os participantes não se orientam primariamente ao próprio êxito; antes perseguem seus fins individuais sob a condição de que seus respectivos planos de ação possam harmonizar-se entre si sobre a base de uma definição compartilhada da situação. Daí que a negociação de definições de situação seja um componente essencial da tarefa interpretativa que a ação comunicativa requer.

Todos os sentimentos de uma pessoa são mais bem percebidos quando em

seu estado de maior tranquilidade, que é fácil de ser atingido na sua intimidade, pois

é nesse momento que o indivíduo sintoniza sua mente em consonância com o

ambiente a qual está acostumado e atinge sua paz interior. Desse modo, ele

consegue ter lembranças mais refinadas e abrir-se sobre os problemas que seriam

inibidos pela timidez causada se estivesse em um ambulatório ou consultório. No

recinto doméstico, o profissional tem a chance de visualizar de perto a situação e

medir o peso dos relatos, que às vezes são carregados de sentimentos que

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poderiam passar despercebidos. Em geral, pelo usuário, ocorre a relativização

emocional de determinadas percepções por haver diferentes formas de

interpretações de uma condição física, patológica, social e econômica no qual está

introduzido. Devido às questões socioeconômicas, culturais gerais e, principalmente,

culturais no âmbito familiar, os grupos de pessoas podem embutir variados valores a

um problema ou dificuldade, e o que pareceria solução em uma família se

transforma em “pesadelo” a outra.

Igualmente, alguns prejulgamentos podem ser mais bem avaliados quando o

profissional visita a família em sua casa, permitindo saber seus sentimentos em

comunhão. A concepção de uma circunstância é relativa. Por exemplo: em algumas

famílias, a sensação de felicidade surge quando momentos felizes ou de sucesso

são mais intensos e/ou frequentes do que momentos de tristeza ou de fracasso, ou

mesmo quando, no mínimo, a tristeza está ausente; outras atribuem a felicidade à

quantidade de dinheiro que possuem e, assim, o desejam cada vez mais; já outras

se sentem plenamente satisfeitas se tiverem o suficiente para viver. São

constatações que são percebidas no lar de uma família, no momento de

harmonização e afeto, onde é identificado o modo de sentir, pensar e agir de cada

um, principalmente quando há a ligação, o vínculo e o compartilhamento de

pensamentos com o profissional.

Em referência a outro trabalho, de Mandú et al. (2008), o foco da pesquisa foi

os usuários do PSF e modo deles enxergarem a visita domiciliar, por meio de

entrevistas e análise de conteúdo. Pelos utentes, a estratégia da visita é vista

também como mecanismo de intermediação entre as famílias e o programa,

valorizando a sua relevância nos cuidados clínicos e vigilância à saúde e, não

menos importante, é acolhida como uma proposta de humanização do atendimento,

buscando-se atentar e colaborar na resolução das dificuldades e atender às

expectativas que permeiam o cuidado assistencial, uma forma de atenção

“abrangente à diversidade e singularidade das necessidades e demandas das

famílias”. Além disso, é reconhecido como um meio de facilitação do acesso, de

reconhecimento da vivência dos problemas de saúde dos membros e suas

consequências externas ao campo biológico do doente, como a baixa produtividade

escolar ou trabalhista e os gastos e atenção adicionais dispendidos ao enfermo.

Essa mesma autora expõe que os usuários entendem também que a visita

permite atender as pessoas que estão impossibilitadas de ir a um serviço de saúde

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por motivo de doenças, desconforto, urgência ou tempo. Inclusive, há o caráter

motivador do direito á assistência à saúde quando da visita e fala persistente do

ACS. Ou seja, a visita é um “meio facilitador do acesso aos serviços de saúde”.

No Brasil, a aumento da expectativa de vida da população tem elevado a

prevalência de doenças crônico-degenerativas e outras debilidades decorrentes da

senilidade, como diabetes, hipertensão e a redução da autonomia e independência.

Essa alteração no perfil demográfico e epidemiológico do país, bem como sua vasta

área territorial e diferenças regionais históricas e a diversidade étnica existente

obrigam o Poder Público a intervir mais incisivamente na perspectiva da vida das

pessoas, com o fito de entender melhor como agir perante as pluralidades de

contextos. A compreensão da produção, dos processos de vida e as contradições

que envolvem cada ente familiar entre si e diante os demais e como se relacionam

com próprio ambiente legitimam o ato da VD como meio capaz de englobar todas as

possíveis atividades de diagnóstico para planejamento das intervenções, não

somente no tratamento das causas e sintomas patológicos, mas também na esfera

social e mental, como recomendado pela definição de saúde da OMS.

Mandú et al. (2008, p.134), porém, alertam para o processo de “dependência

da população dos profissionais (especialmente médico)” que pode instaurar-se caso

não haja otimização dos recursos humanos. Brasil (1997, p. 14) sustenta que o

acompanhamento dos ACS “representa um componente facilitador para a

identificação das necessidades e racionalização do emprego dessa modalidade de

atenção”.

No que tange à vigilância e acesso à assistência, Mandú et al (2008, p. 135)

salientam que a medicina tecnológica tradicional (medicamentos, consultas,

procedimentos clínicos e solicitação de exames complementares) ainda faz frente ao

modelo inovador que a ESF pretende invocar quando é averiguada as pretensões

dos usuários, inclusive exigindo a atuação das especialidades, o que faz parte das

conquistas sociais históricas. A autora assinala o fato preocupante dos ACS,

atualmente, serem os responsáveis pelas visitas rotineiras, “cabendo aos demais

profissionais a sua realização em situações específicas definidas”, já que estes

possuem conhecimento clínico e técnico superior, o que pode provocar o risco de

descontinuidade no cuidado e falhas nas comunicações e no entendimento por parte

da equipe da real situação, prejudicando o delineamento das prioridades.

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De acordo com Mandú et al. (2008, p. 135):

Certamente não é possível negligenciar direitos, sobretudo considerando condições de saúde-doença e dificuldades enfrentadas de acesso à atenção no âmbito do SUS e PSF. Porém, é preciso reconhecer que essas ideias refletem e reforçam o perfil presente de atuação das USFs locais, perfil esse que se busca transformar através do SUS e PSF. Assim, o PSF e a práticada visita precisam enfrentar esta questão, com a efetiva participação crítica dos envolvidos – famílias e trabalhadores – o que certamente requer a produção de novas experiências que sirvam como novas referências assistenciais, sobretudo para as famílias. [...] No processo de territorialização, são tidos como essenciais: a identificação de problemas e riscos de grupos, famílias e indivíduos; a atualização de informações sobre condições de vida e saúde-doença; a realização de busca ativa e notificações de doenças e agravos; e o encaminhamento de ações preventivas e promocionais de saúde. A visita é tida como um dos meios de viabilização dessas ações, devendo participar da atenção a demandas, de ações programadas, estratégicas e de vigilância. (Grifo nosso)

Essas autoras enunciam que o “controle-estímulo à adoção de práticas de

autocuidado e prevenção (valorizando-se o controle do uso de medicamentos, da

prática de imunização, realização de exames preventivos etc.)” são as ações de

vigilância em saúde mais praticadas pelo ACS, além da execução de importantes

ações estratégicas, como o “acompanhamento do desenvolvimento infantil e da

gestação, de prevenção do câncer genital; e de controle da imunização, hipertensão

e diabetes, dentre outras”, tornado a VD ainda mais essencial na educação em

saúde da população.

Nessa mesma pesquisa, os relatos dos entrevistados evidenciam a função

educativa e informativa da VD. A autora afirma, entretanto, que as ações de

“monitoramento da saúde-doença, proposta pela política de atenção básica, não

deve consolidar como uma prática de controle sobre a vida e os comportamentos em

saúde das pessoas”. A visita precisa atender às demandas das necessidades da

vida em geral, não podendo, no entanto, significar a “intromissão do setor de saúde

na vida das pessoas, interferindo em sua liberdade”.

Mandú et al. (2008) e Mano (2009) concordam que o domicílio é o local onde

as pessoas encontram o ambiente de relações que geram os fatores de

desencadeamento ou de enfrentamento das dificuldades de qualquer natureza.

Mesmo que a concepção da atenção primária no que concerne à visita

domiciliar abranja prioritariamente as tecnologias leves no trabalho em saúde, é

errôneo conceber à Estratégia de Saúde da Família o atributo de leviandade.

Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL,1997), no introito do documento do

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Programa Saúde da Família, que objetiva a reorientação do modelo assistencial a

partir da atenção básica, o programa deve ser entendido como:

Modelo substitutivo da rede básica tradicional – de cobertura universal, porém assumindo o desafio do princípio da equidade – e reconhecido como uma prática que requer alta complexidade tecnológica nos campos do conhecimento e do desenvolvimento de habilidades e de mudanças de atitudes. (Grifo nosso)

Por último, foi encontrado e selecionado o artigo da autoria de Kebian e

Acioli (2011), que pesquisaram, por meio de coleta de dados a partir de entrevistas a

profissionais (enfermeiros e ACSs), a prática de saúde desenvolvida por esses

trabalhadores na visita domiciliar de uma Estratégia Saúde da Família do município

do Rio de Janeiro/RJ. Observou-se que a tarefa do enfermeiro tende a ser

investigativo e assistencial do ponto de vista das necessidades. Já o ACS tende a

identificar esses problemas e repassá-los ao enfermeiro, além de acompanhá-los.

Os autores abordam a escuta ativa, o conforto e as orientações dadas pelo

enfermeiro como “fortalecedores dos laços entre a equipe e as famílias”, facilitado

pelo “conhecimento social” local do ACS. A escuta ativa, a observação do domicílio,

da alimentação, da relação familiar e a educação em saúde foram atribuições

exercidas por ambos profissionais da equipe.

Nesse estudo, o cuidado é tido forma de interação e oportuniza a

substituição do modelo tradicional. Exaltam a priorização de “ações de acordo com

os problemas identificados pela população”, dentro do seu “contexto e

necessidades”. Incentivam a atuação multidisciplinar para o desenvolvimento de

práticas mais complexas através da interação profissional, com a finalidade de

atender necessidades múltiplas (biológicas, psicológicas e sociais) de todos os

níveis de organização que compõe a comunidade.

Como aludido por Waldow (ANO apud KEBIAN eACIOLI, 2011, p. 404), “o

cuidado transcende os procedimentos técnicos, pois abrange dimensões como a

família, as necessidades psicoemocionais, a comunidade, as relações interpessoais

e interprofissionais, o afeto, a escuta e a política institucional”.

Kebian e Acioli (2011), de acordo com os relatos profissionais dos membros da

equipe dessa estratégia, frisam que o enfermeiro possui melhor capacidade

educativa, porém é o ACS que detém o saber apropriado à realidade daquela

população, o que exige complementaridade entre os dois profissionais, de forma que

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o ACS não deva apenas acompanhar o enfermeiro. Citam que a função mediadora

do ACS fortalece o desenvolvimento de ações de mobilização e participação social,

sendo estas ações uma das atribuições da equipe de saúde da família. Mencionam

ainda, nessa estratégia, que o ACS traz a demanda das famílias ao enfermeiro que,

por sua vez, investiga e o processo desencadeador da necessidade e assiste.

Criticam que o ACS tem a oportunidade de visitar doentes e sadios enquanto

enfermeiros mais frequentemente visitam aqueles que necessitam de cuidados, o

que geralmente é os doentes, devido às suas prioridades de saúde, não havendo

oportunidade de o enfermeiro orientar sobre atitudes preventivas.

Como observados em especial, os autores Kebian e Acioli (2011) concordam

com Borges e Oliveira (2011) no que tange à indispensabilidade da participação do

paciente e da equipe, conjuntamente, na busca da melhor solução para seu

problema, o que pode ser conseguido através da interação comunicativa. Tal fato é

mais bem articulado quando o utente está no aconchego de seu lar e o profissional

pode enxergar as dificuldades pessoais dos membros da família. Isso é a plena

equidade da atenção em saúde, corolário da visita domiciliar.

Por último, Kebian e Acioli (2011, p.407) enaltecem a “observação da

estrutura física do domicílio” como uma das atividades inerentes de forma

incondicional à visita domiciliar, que também possibilita suprir a equipe

multidisciplinar de saúde das informações sobre todos os fatores que são

examinados como determinantes sociais de saúde (DSS). No caso da estratégia em

questão, constatou-se que a VD admite o ACS reparar a “existência de água potável

e de saneamento básico, a segurança do ambiente, a luminosidade, a ventilação e a

higiene do ambiente doméstico”, que fazem parte dos DSS.

Conforme a Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde

(2008), os determinantes se vinculam aos fatores de análise da situação de saúde

que compreendem os elementos comportamentais individuais e estilos de vida, além

das condições socioeconômicas, ambientais, de trabalho e culturais.

Assim, se deduz que a habitação, a situação do emprego para aqueles que

trabalham em casa ou próximo dela, a poluição dentro e entorno da moradia, bem

como o grau de urbanização em que esta fica localizada, somente podem ser

aferidos, de fato, quando da ida de um profissional de saúde ao domicílio do usuário

desses serviços.

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30

Diante da relevância e potencialidades da VD para a ESF e busca da atenção

integral ao indivíduo, sadio ou doente, propõe-se a seguinte proposta de intervenção

a ser desenvolvida na equipe da ESF Esperança, no município de Presidente

Juscelino/MG.

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6 Proposta de intervenção

O plano de ação é construído a partir do diagnóstico situacional, com o intuito

de se organizar as etapas das medidas a serem implementadas e elevar a

efetividade destas.

6.2 Definição dos problemas

Esse primeiro passo possibilita identificar os problemas apontados no

diagnóstico da ESF Esperança (Presidente Juscelino/MG) para a definição das

prioridades. Os problemas levantados foram os seguintes:

Transtornos na abordagem da VD pelas dificuldades acesso às famílias;

Ausência de banheiro;

Péssimas condições de moradia;

Baixa renda;

Desemprego;

Falta de rede de esgoto;

Falta de lazer.

6.3 Priorização dos problemas

De acordo com Campos, Faria e Santos (2010), os problemas devem ser

pontuados conforme a importância, urgência e capacidade de enfrentamento para,

assim serem classificados em ordem de seleção. O Quadro 1 mostra a classificação

dos problemas apontados em ordem de prioridade:

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Quadro 1 – Classificação das prioridades para os problemas identificados no diagnóstico da ESF Esperança (Presidente Juscelino/MG).

Principais problemas Importância Urgência Capacidade de

enfretamento

Seleção

Transtornos na

abordagem da VD pelas

dificuldades de acesso às

famílias

Alta 7 Parcial 1

Ausência de banheiro Alta 7 Parcial 2

Péssimas condições de

moradia

Alta 6 Parcial 2

Baixa renda Alta 6 Parcial 3

Desemprego Alta 6 Parcial 3

Falta de rede de esgoto Alta 4 Fora 4

Falta de lazer Alta 4 Parcial 5

6.4 Descrição do problema selecionado:

Para definir a dimensão e apresentação dos problemas envolvendo os

transtornos na abordagem da VD pela dificuldade de acesso da equipe de saúde às

famílias, foi elaborado o Quadro 2, o qual apresenta a descrição da quilometragem e

número de famílias de cada microárea:

Quadro 2 – Descritores do problema transtornos na abordagem pela dificuldade de acesso às famílias da ESF Esperança (Presidente Juscelino/MG). 2013

Microáreas Extensão territorial (em Km2) Número de famílias

1 126.767 118

2 22.582 129

3 109.637 51

4 60.958 77

5 38.938 67

6 111.164 99

7 122.295 66

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6.5 Explicação do problema

Os transtornos na abordagem na visita domiciliar gerados pela dificuldade de

acesso do ESF às famílias da comunidade rural inicia-se pela grande quilometragem

de uma microárea para atingir o número de pessoas designadas pelo programa (750

pessoas). O meio de transporte destinado para esse acesso não condiz com as

diretrizes do programa, por exemplo: bicicleta ou a pé. Na aquisição de um meio de

transporte adequado pelo profissional, a manutenção e despesas ficam a cargo do

ACS, enquanto os demais elementos da equipe se dispõem de automóvel.

A via de acesso é estrada de chão, o que provoca grandes contratempos

devido à poeira, buracos, mata-virgem e falta de sinalização, além do fato de

existirem moradores em locais distantes e de difícil transação, como grotas, morros

e cerrado denso. O meio de comunicação como rádio local e telefonia não existe

para 95% dos usuários da localidade. O meio de transporte para as famílias

chegarem à UBS, que fica localizada na zona urbana, existe em uma ou outra

localidade, realizado por empresa particular e que transita duas vezes por semana.

O Quadro 2 permite sintetizar o problema, no qual podemos observar mais

especificamente a microárea 3, onde há um pequeno número de famílias (51),

porém uma grande extensão territorial (109.637 Km2) a ser percorrida, exigindo

demasiado deslocamento e desgaste da equipe.

O município, por ser pequeno, não tem recurso para viabilizar este transporte

diário. Ele existe em momentos de urgência e agendado mensalmente em uma

determinada localidade.

Outro fato importante é o número de visitas que o programa preconiza (uma

visita/mês). Em muitos domicílios acontecem mais de três vezes por vários motivos:

entrega de resultados, marcação de consulta, aviso de reuniões extraordinárias, etc..

Porém, o ACS, especialmente, não tem tempo de realizar uma visita de forma

holística.

Portanto, com a precariedade das vias de acesso e transporte, a equipe fica

impossibilitada de despender um atendimento adequado e que englobe os diversos

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aspectos da vida social e mental da família, inclusive deixando de lado

questões extras biológicas importantes, mas que influenciam de forma

decisiva no processo saúde-doença dos membros da casa, pois o tempo

perdido que isso causa no transporte da equipe (enfermeiros, médicos e

ACS’s) acaba encurtando a atenção familiar a ser oferecida.

6.6 Seleção dos “nós críticos”

Para problema ser enfrentado, é necessário conhecer suas causas, e

para intervir na resolução ou minimização de tal problema é preciso combater

seus motivos, desde que o alcance dos objetivos de resolução esteja dentro da

governabilidade ou possibilidade de enfrentamento por meio do planejamento

criterioso (CAMPOS, FARIA e SANTOS., 2010). Os “nós críticos” são

problemas secundários que impactam sobre o problema escolhido. Foram

considerados como “nós críticos” os seguintes problemas:

Meio de transporte;

Meios de comunicação;

Deficiência das vias de acesso rural.

6.7 Desenho das operações

Após solucionar e identificar as causas consideradas relevantes,

iniciou-se a elaboração do plano de ação a partir das reflexões quanto as

soluções e estratégias voltadas para defrontar o problema. Para encarar o

problema, são necessários operações que demandam diversos recursos,

destacados no Quadro 3:

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Quadro 3 – Desenho das operações para os “nós críticos” do problema dos transtornos na abordagem pelas dificuldades de acesso às famílias.

Nó crítico

Operação/ projeto

Resultados esperados

Produto esperado

Recursos necessários

Meio de

transport

e

+ Transporte

Elaborar projeto

municipal para

aquisição do

meio de

transporte

adequado.

Meios de

transportes

adequado e digno

para realização do

trabalho com

qualidade,

efetividade e

autoestima, de

modo a facilitar a

realização das

visitas domiciliares.

Que todos os

ACS’s sejam

comtemplados

com uma

motocicleta para

facilitar a

realização do

trabalho

Econômicos

Organizacional

De Poder

Meios de

comunic

ação

+ Contato

Fornecer

antenas

telefônicas e

radiais que

cubram a zona

rural.

Facilitar o trabalho

da equipe e

usuários do SUS

com informações,

divulgações e

orientações,

sendo uma forma

de contato rápido e

eficiente.

Programa

governamental

para ampliação

dos meios de

comunicação na

localidade rural.

Econômicos

Organizacional

De Poder

Deficiênc

ia das

vias de

acesso

rural.

Caminho da

Saúde

Fornecer

máquinas

adequadas ao

município para

realização das

atividades.

Estradas

adequadas pra

transporte e

acesso a todas as

residências de

forma humanizada.

Programa

governamental e

municipal que

ampliam e de

manutenção

necessária às

estradas,

facilitando o

deslocamento

das pessoas.

Econômicos

Organizacional

De Poder

Page 36: PROPOSTA DE INTERVENÇÃO EM VISITA DOMICILIAR · modalidade de atenção. Assim, a articulação com os outros níveis da atenção e a intersetorialidade é fundamental para a construção

36

6.8 Identificação dos recursos críticos

A transformação de uma realidade existente para outra exige o consumo

de recursos indispensável para essa mudança. Como preconizado por

Campos, Farias e Santos (2010, p. 67), os recursos críticos são “aqueles

indispensáveis para a execução deuma operação e que não estão disponíveis

e, por isso, é importante que a equipe tenha clareza de quais são esses

recursos, para que se possa crias estratégias para que se possa viabilizá-los”.

Após a identificação dos recursos críticos de cada operação/projeto, os

mesmos são apresentados de forma resumida no Quadro 4, abaixo:

Quadro 4 – Recursos críticos para o desenvolvimento das operações definidas para o enfrentamento dos “nós críticos” do problema dos transtornos na abordagem pelas dificuldades de acesso às famílias.

Operação/projeto

+ Transporte Financeiro> recurso para a compra de motocicletas

para cada agente comunitário

Político> aprovação do projeto

Equipamento> motocicleta

+ Contato Financeiro> para aquisição de antenas radiais e

telefônicas em toda a área rural

Estrutura física> o município responsabiliza pelo local

para a fixação do equipamento

Politico> aprovação do projeto

Caminho da Saúde

Financeiro> recurso municipal para realização do

trabalho

Equipamento> aquisição da máquina

Político> aprovação do projeto

Page 37: PROPOSTA DE INTERVENÇÃO EM VISITA DOMICILIAR · modalidade de atenção. Assim, a articulação com os outros níveis da atenção e a intersetorialidade é fundamental para a construção

6.9 Análise de viabilidade do plano

Essa etapa do processo de planejamento possibilita a avaliação da

exequibilidade e pertinência do plano, uma vez que não há disponibilidade de

todos os recursos, fazendo-se necessário a identificação dos demais atores

controladores de tais recursos, para analisar suas motivações com o projeto e

as possíveis estratégias a serem empregadas para inverter possíveis

desmotivações ou indiferenças. O plano é uma ferramenta que nos municia em

situações de baixa autonomia em relação aos recursos indispensáveis.

O Quadro 5 mostra os atores controladores dos recursos críticos para

cada projeto, bem como suas motivações e as propostas às respectivas ações

estratégicas

Page 38: PROPOSTA DE INTERVENÇÃO EM VISITA DOMICILIAR · modalidade de atenção. Assim, a articulação com os outros níveis da atenção e a intersetorialidade é fundamental para a construção

38

Quadro 5 – Propostas de ações para a motivação de atores

Operação/projeto

Recursos críticos

Controle de recursos

críticos

Ator que

controla

Motivaçã

o

+ Transporte

(Fornecer veículos

motorizados para

elevar a eficácia e

eficiência do trabalho

dos ACS’s)

Financeiro> recurso para a

compra de motocicletas para

cada agente comunitário

Político> aprovação do projeto

Equipamento> motocicleta

Gestor

municipal

Conselho

Municipal

Fundo Nacional

da Saúde

Favorável

Favorável

Favorável

+ Contato

(Ampliar o acesso às

informações por meio

da telecomunicação)

Financeiro> para aquisição de

antenas radiais e telefônicas em

toda a área rural

Estrutura física> o município

responsabiliza pelo local para a

fixação do equipamento

Politico> aprovação do projeto

Ministério da

Saúde

Gestor

Municipal

Ministério da

Saúde

Favorável

Favorável

Favorável

Caminho da Saúde

(Reorganizar o

processo de trabalho a

fim de melhorar as

estradas que dão

acesso às famílias)

Financeiro> recurso municipal

para realização do trabalho

Equipamento> aquisição da

máquina

Político> aprovação do projeto

Gestor

Municipal

Ministério da

Saúde

Gestor

Municipal

Favorável

Favorável

Favorável

Page 39: PROPOSTA DE INTERVENÇÃO EM VISITA DOMICILIAR · modalidade de atenção. Assim, a articulação com os outros níveis da atenção e a intersetorialidade é fundamental para a construção

6.10 Elaboração do Plano Operativo

A confecção do plano operativo configura em um momento do planejamento

onde há a definição dos agentes responsáveis pelo gerenciamento das operações e a

estipulação de prazos para o término das de cada uma. O Quadro 6 assinala os

respectivos responsáveis e prazos para cada ação:

Quadro 6 – Plano Operativo

Operações Resultados Produtos Ações

estratégicas

Respons

ável

Prazo

+ Transporte

(Fornecer

veículos

motorizados

para elevar a

eficácia e

eficiência do

trabalho dos

ACS’s)

Facilitar em no

mínimo 60% do

trabalho diário dos

ACS’s em relação

às VD’s.

Fornecer o

veículo

motorizado ao

ACS.

Capacitação

dos ACS’s

nas práticas

de VD.

Apresentação

de projeto.

Gestor

Municipal

Warley

Enfermeira

Fabiula

Indeterminado

para a execução

da ação e 6

meses para a

apresentação do

projeto.

Contato

(Ampliar o

acesso às

informações

por meio da

telecomunicaçã

o)

Cobertura de

100% das

microáreas quanto

às informações de

educação em

saúde e as

demais

necessárias.

Instalação

das antenas

radiais e

telefônicas.

Campanhas

educativas na

rádio local.

Horário

determinado

na rádio local

para

divulgação do

trabalho de

saúde do

município

(informações

necessárias).

Apresentação

do projeto.

Gestor

Municipal

Warley

Enfermeira

Fabiula e

Educadora

em Saúde

Alessandra

Secretário

Municipal

de Saúde

Ricardo

Indeterminado

para a execução

da ação e 6

meses para a

apresentação do

projeto.

Page 40: PROPOSTA DE INTERVENÇÃO EM VISITA DOMICILIAR · modalidade de atenção. Assim, a articulação com os outros níveis da atenção e a intersetorialidade é fundamental para a construção

40

Operações Resultados Produtos Ações

estratégicas

Responsá

vel

Prazo

Caminho da

Saúde

(Reorganizar o

processo de

trabalho a fim de

melhorar as

estradas que dão

acesso às

famílias)

Reforma de 100%

das estradas que

dão acesso aos

domicílios.

Máquinas

específicas

para os

trabalhos de

reforma das

vias.

Encontro da

equipe com o

Gestor

Municipal e

Secretário de

Obras.

Apresentação

do projeto.

Gestor

Municipal

Warley

Secretário

Municipal

de Saúde

Ricardo e

Gestor

Municipal

Warley.

Indeterminado

para a

execução da

ação e 6

meses para a

apresentação

do projeto.

6.11 Gestão do plano

Os produtos gerados por cada operação precisam ser gerenciados, com o

propósito de direcionar o processo de trabalho em caso de desvios. O desenho de

um modelo de gestão facilita a análise e solução dos problemas, tornando possível

alocar e canalizar os recursos estrategicamente, permitindo um maior controle das

atividades e auxiliando na tomada de decisões.

Os resultados esperados vão ao encontro dos pressupostos do processo de

trabalho das equipes de atenção básica (BRASIL, 2012) e da atribuição da equipe e

abordagem multiprofissional (BRASIL, 1997).

Campo et al. (2010, p.73) afirmam que “esse sistema de gestão deve também

garantir a eficiente utilização dos recursos, promovendo a comunicação entre os

planejadores e executores”. Tudo isso edifica um plano com altas chances de êxito

dos objetivos delineados. O Quadro 7 explicita o esboço de uma gestão de plano de

ação através de uma planilha, em que pode-se revelar os rumos adotados pela

Page 41: PROPOSTA DE INTERVENÇÃO EM VISITA DOMICILIAR · modalidade de atenção. Assim, a articulação com os outros níveis da atenção e a intersetorialidade é fundamental para a construção

ação, o estado que esta se encontra, a explicação do obstáculo e os prazos para

serem corrigidos ou resolvidos:

Quadro 7 – Planilha para acompanhamento de projetos

Operação +Transporte

Coordenação: Fabiula T. S. – Avaliação após 6 meses do início do projeto

Produtos Responsável

Prazo Situação

atual

Justificativa Novo

prazo

Fornecer o

veículo

motorizado

ao ACS.

Gestor Municipal

Indeterminado

para a execução

da ação e 6

meses para a

apresentação do

projeto.

No momento,

não se aplica.

No momento,

não se aplica.

No momento,

não de aplica.

Capacitação

dos ACS’s

nas práticas

de VD.

Enfermeira

Fabiula

Indeterminado

para a execução

da ação e 6

meses para a

apresentação do

projeto.

No momento,

não se aplica.

No momento,

não se aplica.

No momento,

não se aplica.

Operação +Contato

Coordenação: Fabiula T. S. – Avaliação após 6 meses do início do projeto

Produtos Responsável Prazo Situação

atual

Justificativa Novo prazo

Page 42: PROPOSTA DE INTERVENÇÃO EM VISITA DOMICILIAR · modalidade de atenção. Assim, a articulação com os outros níveis da atenção e a intersetorialidade é fundamental para a construção

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Instalação das

antenas radiais

e telefônicas.

Gestor

Municipal

Warley

Indeterminado No momento,

não se aplica.

No momento,

não se aplica.

No momento,

não se aplica.

Campanhas

educativas na

rádio local.

Enfermeira

Fabiula e

Educadora em

Saúde

Alessandra.

No ato da

execução da

ação.

No momento,

não se aplica.

No momento,

não se aplica.

No momento,

não se aplica.

Horário

determinado na

rádio local para

divulgação do

trabalho de

saúde do

município

(informações

necessárias).

Secretário

Municipal de

Saúde Ricardo.

No ato de

execução da

ação.

No momento,

não se aplica.

No momento,

não se aplica.

No momento,

não se aplica.

Page 43: PROPOSTA DE INTERVENÇÃO EM VISITA DOMICILIAR · modalidade de atenção. Assim, a articulação com os outros níveis da atenção e a intersetorialidade é fundamental para a construção

Operação +Caminho

Coordenação: Fabiula T. S. – Avaliação após 6 meses do início do projeto

Produtos Responsável Prazo Situação

atual

Justificativ

a

Novo

prazo

Máquinas

específicas

para os

trabalhos de

reforma das

vias.

Gestor Municipal

Warley

Indeterminado

para a execução

da ação e 6

meses para a

apresentação do

projeto.

No momento,

não de aplica.

No momento,

não de aplica.

No momento,

não de aplica.

Encontro da

equipe com o

Gestor

Municipal e

Secretário de

Obras.

Secretário

Municipal de

Saúde e Gestor

Municipal.

Indeterminado

para a execução

da ação e 6

meses para a

apresentação do

projeto.

No momento,

não de aplica.

No momento,

não de aplica.

No momento,

não de aplica.

Crítica importante pode ser inferida com relação aos profissionais de saúde

de nível superior (médico e enfermeiro), já que estes fazem visitas apenas quando

da demanda por procedimentos médicos e de enfermagem, contrariando em alguns

pontos certas finalidades da VD, como a de prevenir e promover a saúde. Maior

efetividade seria alcançada caso esses membros da equipe realizassem a visita

rotineira, sem pré-requisitos e de forma natural, como uma “boa conversa”.

Page 44: PROPOSTA DE INTERVENÇÃO EM VISITA DOMICILIAR · modalidade de atenção. Assim, a articulação com os outros níveis da atenção e a intersetorialidade é fundamental para a construção

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7 Considerações finais

O respectivo estudo analisou a importância da visita domiciliar (VD) e

constatou ser uma das atividades mais relevantes para o alcance das mudanças

pretendidas pela atenção primária. O modelo assistencial tradicional, baseado na

medicina tecnológica, vem sendo substituído pelo modelo assistencial atual,

fundamentado na comunicação, na relação interpessoal, no estreitamento de vínculo

e na autonomia do paciente.

A visita à moradia dos usuários dos serviços de saúde objetiva contemplar a

plenitude do significado “saúde”, atendendo os diversos aspectos da vida do

paciente, como a relação familiar, sua perspectiva sociocultural e econômica e o

estado mental dos indivíduos, além do âmbito biológico de cada um. Há o caráter

observacional da visita, uma vez que se pode examinar pessoalmente a casa da

família e estabelecer o nível de fidedignidade dos relatos fornecidos pelos pacientes.

A VD permite ao profissional reconhecer o impacto da rotina de trabalho das

pessoas, oportuniza uma melhor memória e conforto à família-usuário quando este

está em casa, possibilita a visualização pessoal do problema e o estabelecimento de

empatia mais estreita com paciente, sendo um instrumento de projeção de

prioridades já que o profissional pode observar a presença de fatores de risco, fato

que pode passar despercebido, menosprezado ou ser omitido em uma consulta em

consultório.

Poder avaliar as condições de saúde e de vida e alcançar a continuidade da

atenção, pautados no sentimento de confiança, são qualidades de um trabalho

voltado para pessoas, e para conhecer o âmbito familiar é imprescindível esse tipo

de trabalho.

Para se ter um atendimento domiciliar humanístico e holístico, de modo a

atender os princípios do SUS, é preciso tempo, motivação e recursos para que a

equipe da ESF tenha as condições propícias para fazer uma visita qualificada. A

ESF Esperança, do município de Presidente Juscelino/MG, possui vasta área de

abrangência, estradas de terra em situação aquém do admissível, falta de veículos

de transporte para os ACS’s e ausência de meios de comunicação entre ESF e

população adscrita. Esses fatos dificultam o desenvolvimento de uma VD que

preencha os requisitos de uma atenção em saúde pública pautada nos mais

valorosos conceitos de prevenção e promoção de saúde.

Page 45: PROPOSTA DE INTERVENÇÃO EM VISITA DOMICILIAR · modalidade de atenção. Assim, a articulação com os outros níveis da atenção e a intersetorialidade é fundamental para a construção

Há de salientar o pequeno número de visitas exercido pelo enfermeiro e

médico, que estão restritas somente às situações que necessite de atenção

complexa do ponto de vista prático e científico, deixando de lado a visita amistosa e

orientada à prevenção, orientação e fiscalização.

Portanto, o plano de ação apresentado busca sanar esses problemas,

propondo as soluções e intervenções de forma esquematizada e programada,

projetando ações que potencializem o alcance das metas e dos propósitos da VD.

Espera-se que seja possível a concretização desta proposta facilitando o

acesso a saúde de forma integral, incluindo o domicílio.

Page 46: PROPOSTA DE INTERVENÇÃO EM VISITA DOMICILIAR · modalidade de atenção. Assim, a articulação com os outros níveis da atenção e a intersetorialidade é fundamental para a construção

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